O R P H E U
CENTENร RIO
Pedro P ro en รง a
WA F B O OK S
© Pedro Proença, 2015 © Waf Books, 2018
CENTENร RIO
O R P H E U
P edro
WA F B O OK S
P ro en รง a
INTERSECCIONISMO DIASPORISTA
Nesta arte a velocidade é o triunfo da apercepção típica d’essa Europa que se elucida no Mundo dispersando-se e glocalizando-se. O coração de minha mãe ainda era um coração de gente. O meu coração já é uma nave espacial que abrevia o dia porque faz girar a realização típica d’essa arte atípica (ou excepcional). É uma hélice antiquíssima que encaminha para uma sociedade post-cibernética. Temos interseccionismos diasporistas na terra mais depressa! Viva a Velocidade pois da apercepção e da ideação que se pulveriza. Morra o verbo parar numa ideação musical. Viva a influência da Chuva Oblíqua a interseccionar as Artes visuais com as outras co verbo ganhar sempre a correr demais tranquilíssimo!
Os meus olhos são literaturas-artes. Interseccionismo Diasporista de 10º grau com os holofotes a policiar os transinfinitos. Morram as intenções nos processos artísticos depois de assiduamente devoradas.
1. Azues sobre uma meza como base de arte é algo que conheço no meu quarto obscuro fazendo-se sensação, farmacopeia, fremência. 2. Para passar do mero espanto fui dispondo com requinte decorativo a emoção sem sentido como emoção artística, no meu apetite plos cristaes, ou outras sensações susceptíveis de se tornarem exposições: os reflexos, os dôces e as côxas. Essas sensações estavam tambem, no formarem-se, a ser intelectualizadas carnalmente. 3. Eu ia, pouco a pouco, enchendo-me dessa sensação intelectualizada que seguia os dois processos daquella extranheza de nunca ter antes estado em processos simultaneos sucessivos.
4. A consciência daquelle quarto dava pra sentir melhor a supositória sensação (no seu fundo pornoecológico), e esse facto de haver o tal palpitar nervoso do meu coração-consciência a multiplicar uma sensação, a transforma-la, levando pela mão outra sensação de ordem diferente, o que fazia sentir melhor os seus mamilos e o seu peito, assim como a consciência (ascético-erótica) dessa consciência, a lubrificar-se mais e mais. 5. Ella descerrou as janellas cautelosamente e depois de uma sensação súbita (inclinadíssima), reparei espantado que estava ali como tal era eu todo descoberto no meu corpo a dar-nos emoções pseudo-estéticas — nuas, femininas, masculinas, afrodisíacas, herméticas em strip-tease emocional. 6. A pelle-sensação passou a ser concebida como viciosamente perfumada no comum tacto desmaiado e intelectualizado, o que dá no poder de devir setimvelludo interminavel inexgotavel no meu eu-outroninguém com ela a ser expressa.
Temos, pois: (1) O desejo. Eu proprio sentia em mim essa sensação, puramente, a desejar mais desejos de desejos de desejos. Um desejo que era consequência das figuras básicas da geometria, a regurgitarem arte, anti-arte, post-arte, post-filosofia, e o post-dilúvio de todos esses posts diluídos na àgua mais post-apocalíptica, sossegadeira, poética, ritmíca. (2) A consciência da diferença a diferenciar-se era leve e dava-me a impressão de me prover de uma agilidade fragil, muitíssimo eficaz, sem moderações. (3) A consciência dessa consciência sentia no meu cérebro a simples complexidade da sensação, de onde resultava a alegria dos reflexos dos barrocos pitorescos, ou uma sensivel metafísica de todas as palmilhadas metafísicas, isto é, o requinte do perfume das compotas, o poder de expressão com toda a sua musica do domingo que sucede ao absoluto entranhandose nas coisas do shabath.
Uma sensação é vertiginosamente complexa no seu simples dar-se: isto é, accorda o servilismo dos apanhados de outras sensações, como se fosse composta de cortinas a confidenciar com os móveis. Ela é mais do que o elemento simples ou a selecção afectiva dos intrincados tapêtes da consciência com que parece co-existir. Esqueçamos por ora os bibelots patuscos!
É composta esta embriaguez intima (com bibelots, se for preciso) nos seguintes elementos: a) a sensação com todo o meu corpo a re-fabricar o objecto sentido; deambulando miméticó-intelectualmente na apreesão polposa dita física; b) a recordação que possui essas sensibilidades tão intensificadamente independentes de objectos análogos e outros que tais nos seus contornos, nas suas transparencias, que inevitável e espontaneamente se juntam nos seus logares e nas suas substancias a essa sensação; c) a vaga sensação que a carne toda me deliciava o estado de alma demoradamente em espásmos plos póros, ateiamente tântrica;
d) os desafios de mais gôso plo gôso, de mais geometria pela geometria, de mais formas pelas formas, de mais teoria e contextos a serem literatura a dervairar categorias, números, amplexos; e) a sensação primitiva da personalidade da pessoa no seu (neste) agora, como prova da verdade, no eu que sente, n’uma satisfação convexa de abundancia, com estes elementos todos à caça de algo acima do Absoluto.
Mas, quando as ondulações sensuaes do tecto aterravam na minha consciência-corpo, a sensação passava a ser intelectualizada por fait-divers, o que resultava em rithmo de cío que se decompunha em mais rithmos. Porquê? — Assim se mastrobava (fermosíssima) a musa viciosamente esguia com uma sensação intelectualizada? Era a nostalgia do music-hall, da opera-rock? Era o enxovalho porno do rock ‘n roll? E as paredes despegavam-se em três coisas: a) uma sensação de serem definitivas e de se enrolarem decompostas pela análise instintiva ou dirigida, num gesto de conquista ou nos seus elementos componentes; b) outras confessavam-se finalmente sáphicas n’uma apologia de oriental sensação a que se acrescentavam conscientemente as serpentes do peccado originante, venenosamente magnetisadas por qualquer outro elemento afagado plo meu sexo musical.
c) ainda outra sensação de que eu cria já absolutamente misturado com deuses de muitas partes do mundo; como quem de propósito se recicla sem melancolias, no pseudos que expande as verdades, asseverando as imprudências do impossivel e o que pré-existe primitivamente.
Não deslarguemos da Memória-Esquecimentos os afagos da Doxa, a que coexiste com o nascimento de cada coisa e não mais a larga — Opinião-Glória é o que se testemunha para todos e para cada um como o que é o inequívoco de cada aspecto, de cada ângulo de visão, que se faz para que o Vêr (superlativo) seja. Tudo o que seja impeditivo da emergência perpétua da Doxa é sacrilégio — a Doxa coincidindo com o fluxo da physis é inextinguível. Resistir ao opinar é resistir ao fluír. Não é pela ataraxia que se agarra o coração das coisas. O impedimento da Opinião-Glória é a própria Hamartia, o mal-estar auto-impetuoso que instaura a auto-destruição e as defesas. A propensão iniciadora do Bios afina-se no deixar que a Doxa se solte como percursão das afinidades. A solução do pseudo-drama labírintico está na consciência do fundo geométrico, na irradiação das formas, em Tektamus, o que sabe o Tekton.
Sobre o meu travesseiro excediam-se duas possibilidades da sensualização intelectualizante da sensação, muito almofadadas-amarrotadas. 1. A sensação como realidade essencial é a desessencialização. A essência é falsificação porque é escrava da linguagem e de algo que só se intui como para lá do acto (é a transação, men!) — o que desessencializas ganhas em intensidade porque esse fora só pode estar no ir com todas e mais todas as sensações no entre-cá-dentro. 2. O que eu já admitia enthusiasticamente na minha arte como personalização da sensação e opinião, era a oportunidade a substituir a superação, com o Super-Arthomem Zuturista a acampar em cada um, com a sabedoria a multiplicar as sensibilidades frementes — exponenciação da sensação não plo que ella exprime no ser comum mas no como se singulariza a derivar para outras.
1ª regra: sentir tudo de mais dóe (e sabe melhor) muito ainda mais no que está a vir de todas as maneiras. Há que abolir o dogma de ter a certeza que nunca houve a tal personalidade fechada no singular: cada um de nós é ainda um nenhum, um homem estupido a entupir-se pra dentro quando deveria ser muitos a desentupir-se como arte pra fóra. As cedências á maioria transpôem-se na aspiração do indivíduo a ser o ignobil que se julga especial, seja nas plateias da academia seja no cheirete do urinol. Ora como está assim escarrapachado haveria o universo de ser uma conjectura dessensassionalizada? O universo é uma coisa acotovelada na necessidade do espásmo animal? Big-bang feito bicho ó bife? É na obra de arte parecida com arte que se espontaneia o instante total de um produto de imaginação que se entranha na natureza.
Cada obra é uma des-nacionalidade sem outro território do que ela mesma a contaminar todos os territórios. Ao lado de uma obra de arte qualquer pátria está a mais, e é uma concorrente brejeira (haverá algo mais brejeiro, rasca e hipócrita que os nacionalismos?). As nuances de arte acrescentam ao multi-pluri-hiper-infra-universo a própria depravação de que ele é constituído. Que deficiente e bela que é a décima quarta dimensão do supérfluo. (?????)
2ª regra: a expressão do génio só precisa da regra de ter ou não ter as regras que lhe apetecer, abolindo o dogma da objectividade ou das palmas de um público acantonado nas censuras de qualquer suposição. Havêmos de comprovar que o restricto da obra de arte é uma expressão litterariamente a archivar a tentativa de provar que o universo é pouca vida com matéria negra a ocupar espaço e sossego? É preferivel vivê-la, ou realça-la no que não é real.
3ª regra: a abolir no decorrer de qualquer parágrafo, não pla necessidade da abolição da divulgação, mas por se entalar no dogma da dinamicidade. A obra artistica desabroxa pla intensidade do momento: a arte visa fixar as suas oportunidades sempre únicas. Não te lastimes, ó meu polidor, que isto só aparentemente é passageiro.
Uso as minhas unhas para arranhar estes princípios do Internacional Sensacionismo, ingrato como os outros. Eu saberei considerá-los apenas como arte ou como natureza armada em arte a des-imitar a arte disfarsada de natureza?
Tu não te tinhas em galgo de modo que o elemento de subjectividade bem damnado deformava-te. Neste fundar através de antagónicos, até ao actual alheiamento da Felicidade, o homem desceu impiedosamente à sua adaptação às condições do sentimentalismo frenético com a desculpa de passar à história como vanguarda. O fundo depositado em Babel eternizou-se na confusão das pátrias psíquicas, e dos exílios metafísicos (com as menstruadas imanências). Qual é a ultima aquisição fixa prá lucta da autonomia das individualidades do espírito humano geral?
Planta no teu sistema variedades de infinito para recuperares o mais possível o finito. Entretanto a Idolatria religiosa precede imediatamente e duradouramente o Eu que resmunga nos buzios a eclosão da nossa civilização, com direito á victoria. E todos estes princípios cristãos-pagãos são contraditados pela firme ebulição permanente de energias desencontradas e ensinamentos da ciência poliateia.
A adaptação artificial vingativa aperta-se violentamente dentro do Mysterio com o insulto a fazer a eliminação das aquisições na preciosidade de bric-àbrac exposta no Museu fixo do espírito humano, que deriva repelentemente da Parvoíce Nacional. Mas o homem quer a sua emergência nos refogados e refugos dos deuses politonais. Proclamo assim o puro proclamar, por fôrça de ser o maior estrépito lírico, pelo prazer quiçá onânico de dar o dito por dito em vez de não dito. De seguida exijo a intervenção cirúrgica com energias renováveis, sem danos colaterais, em prol de uma psique superabundante, shakespeariana-joyceana, mas com excesso de vocação para lá das letras e suas mafiosas associadas. A Perfeição só se acha na eliminação de preconceitos, dogmas, definindo onde se procriam e enxertam dimensões e atitudes. Explicação concreta: 1. Abolição das actividades de recepção mínimalistas junto ao dogma da personalidade incoerente, transicional, falsamente plural — nisto a Perfeição deixará possuir-se pelo limite caricatural.
2. Ah, temos uma Personalidade com muita vida a insistir no alcançável-inalcansável do instante — a abstração «separada» das outras, deslaçada no seu divã carmim com pantera rápida a devorar crianças. 3. Uma mais rápida e infinitamente menor ficção teológica amalgamava a personalidade de cada, num bom estilo chronometrico. Tambem todas variações de sensações pediam personalidades que se lhe adequassem, às quais se juntariam as pandemias da psicologia moderna, a divergir luminosamente dos manuais e dos gurus mediáticos — imersão em kilos sensuaes, transparencia ao contrario das correntes políticas, literárias, filosóficas e outras inúteis direcções sociais — a fazer incidir sobre o cerebro a fixação de vincos hereditários, oriundos de aspectos restritos da natureza planetária e extra-planetária — em grande parte fenómenos de ordem tão cançadamente exgotada.
4. Assim avançaria a mixórdia colectiva, a deslocar o centro de gravidade das subjectividades de si prá dos outros, com afectos, sentimentos finitude, certos superlativos, emoções catitas. 5. Possa dizer «eu no planêta em que nos definhamos sou eu vezes dez vezes eu para me multiplicar cada vez mais». É uma ciência, uma comprehensão enganosamente lentissima da eternidade, que pode ficar cansada e voltar para uma singularidade assim esboroada e inquieta, com as suas ângustias funcionais.
6. O homem mais perfeito é o que tem a tal maneira da maldição, mas com mais justiça associal. Podemos incutir-lhe os atributos recessivos, superlativos ou inefáveis de Deus, as acções caprichosas dos deuses e daimons, e o esplendor higiénico da autodeterminação ateia, sem servilismos, com muita pimenta anarquista e uma claridade desempoeirada.
Diz o comentador que a Eternidade estava multiplicada por infinitos, mas com cão cheio de carraças e filhos da amante a catá-las, assim como sobremesa deliciosa, composta de frutas, compotas, pão alentejano e leite com chocolate.