Diário do pedestre

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diรกrio

do pedestre



Universidade de Brasília Brasília, Brasil

FAU

Avaliação Pós Ocupação

Orientação

Professora Gabriela Tenório

Autor

Pedro Vitor Almeida SIlva


“Vou te contar, aqui em Brasília se você não tiver um carro pra ter um lazer, você não sai de casa.” - Autora que eu conheci, mas esqueci o nome.


do céu ao caos Uma semana sem carro parecia um desafio imenso pra mim que estou acostumado à doutrinação do carro. Mesmo tendo passado dois anos andando de ônibus - em Brasília e no Rio - desde que eu ganhei meu carro, nunca tinha tirado days-off do conforto do meu querido 1.0. A experiência brasiliense dos transportes públicos outrora tão presente veio à tona. Na minha cabeça, o céu de Brasília, lá tão poético da janela do carro voltaria a se apresentar em forma de sol escaldante: o desafio de quem tem que subir do ICC a L2 diariamente ao meio dia voltaria a frequentar os meus dias. - Pedro Vitor Almeida


primeiro dia

segunda-feira

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Bom mesmo é estrear com chave de ouro. Peguei uma bike emprestada de um amigo e o pneu estava um pouco murcho. Então saí no sol de meio dia, literalmente, da minha casa na 213N em direção ao posto de gasolina mais próximo. Descobri que a bicileta podia pesar muito mais que o normal até chegar ao posto de gasolina. Um frentista se negou a abrir o calibrador pra mim alegando “não abrimos pra bicicletas”. Percebemos por aí o quão erradas estão as coisas. No posto seguinte descobri que o pneu estava furado e voltei frustrado, sujo e suado pra casa.

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Devido à situação do item 1, fiz uma reunião do trabalho por hangout e caminhei até a L2 e peguei um ônibus até a parada mais próxima da Unb.

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No final da tarde voltei pra casa subindo até a L2 e tomado ônibus até a parada mais próxima da minha quadra. Um trajeto que levo em torno de 30 minutos entre caminhada e transporte público.

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Nesse dia percebi que não respeitam ciclistas, fui mal tratado em um posto de gasolina que costumo ser bem tratado quando estou de carro. Além disso, as distâncias de Brasília fazem com que um trajeto que levo 5 min de carro demore 30 minutos.

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CONEXÃO ENTRE CICLOVIAS

SOMBREAMENTO


segundo dia

terça-feira

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Saí bem cedo de casa porque eu precisava imprimir um trabalho e estar antes das 08:00 na Unb. Dez minutos de caminhada e eu peguei um ônibus até a parada mais próxima da Unb. Já estava calor mesmo nesse horário, contudo o trajeto a partir da L2 pra UnB foi agradável atravessando o edifício da Secretaria da Educação e descendo pela FT até o ICC.

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Na volta, o trajeto não foi tão agradável assim. A falta de arborização e a insolação dessa época inviabilizaram uma caminhada tranquila até a parada de ônibus. A volta aconteceu por volta de 12:00.

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Às 19:00 eu fui até a 104N participar de uma reunião de amigos. O desafio foi atravessar a passagem subterrânea do eixão sem iluminação. O trajeto levou poucos minutos e a viagem de ônibus foi agradável.

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Já marcava 23:00 no relógio e a volta aconteceu após atravessar o eixão pela pista, que a essa hora já estava mais tranquila. A escolha foi motivada pela presença de um homem na entrada da passagem subterrânea.

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A Dominos cobra 10 reais pra entregar uma pizza, o que representou um preju imenso nesse dia.

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PAVIMENTAÇÃO ADEQUADA

PARQUES ABERTOS 24H

SEGURANÇA


terceiro dia

quarta-feira

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Dez minutos de caminhada e um ônibus na L2 pra poder chegar até a academia na 207N.

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Após a academia e um almoço ali perto, mais alguns minutos de caminhada no sol de 13:00 até o ICC.

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Não resisti! Nessa tarde aconteceu uma carona da UnB pra casa de uma amiga pra fazer trabalho.

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Após o trabalho, por volta de 17:50, eu tive outra carona até a L2 Sul, na altura do “Setor Leste”.

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Lá eu tomei um ônibus até a L2 Norte, próxima a Unb. Cheguei na Universidade somente às 18:40, já que nesse horário havia maior trânsito. Apesar disso, o ônibus não estava tão cheio

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Às quartas-ferias tenho aula de 20:50 até 22:30, portanto, tive que fazer o trajeto ICC-L2 à noite, o que não é uma experiência agrádvel e segura. Passando tantas vezes pela FT, é impossível não perceber o quanto o edifício é agradável aos fluxos e aproveita tão bem a topografia. Além disso, escutei uma história no ônibus daquelas pessoas que costumam pedir esmola, o que me fez pensar um pouco na vida.

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ILUMINAÇÃO PÚBLICA


quarto dia

quinta-feira

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Nesse dia saí de casa atrasado, somente às 07:50, no entanto, ainda consegui chegar à tempo do início da aula que aconteceu em torno de 08:20.

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Novamente trecho ICC-L2 extremamente desagradável sob um sol escaldante. Após pegar o ônibus grande circular, aproveitei o tempo de viagem até o trabalho (512 sul) para fazer um telefonema pra minha mãe. Dessa forma, consegui otimizar o tempo no transporte público.

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Enquanto estava no trabalho choveu bastante. O caminho até o ponto de ônibus foi dividido entre saltar poças e desviar dos espirros de água dos carros. Apesar disso, foi tranquila a volta pra casa em um grande circular novamente até a L2 e caminhada pra casa.

A chuva só deixa mais claro os problemas de acessibildiade evidenciando os buracos e desconexão entre as vias de pedestre. Esse assunto foi bem recorrente no dia, já que tivemos na firma uma reunião com cadeirante e um degrau na calçada dificultou seu acesso.

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ACESSIBILIDADE

CONEXÃO ENTRE TRANSPORTES


quinto dia

sexta-feira

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Hoje tem APO! 10 minutos de caminhada + alguns poucos de ônibus e mais caminhada até o ICC.

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Nesse dia tive uma reunião no conjunto às 12:30. Andei no 110 que foi do ICC Norte até a rodoviária em 18 minutos. E claro, lotado.

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Após a reunião, fui de metrô até a estação da 112. Eu poderia ter pegado também um ônibus que fosse pra W3, no entanto queria andar de metrô na semana da mobilidade.

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No metrô eu conheci um rapaz que precisava ir pra 513 Sul. Eu estava indo pro trabalho na 512, então desci com ele na estação da 112 e subimos juntos caminhando. Essa experiência me permitiu conhecer uma pessoa nova, orientá-lo e ainda descobri que mesmo morando 9 anos em Brasília, ele nunca havia andado de metrô.

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Após os compromissos do trabalho, tomei um ônibus até a rodoviária, porque enquanto estive no conjunto tinha reservado um sapato pra mim e precisava buscá-lo. No caminho, conheci uma senhora no ônibus. Conversamos sobre mobilidade e eu contei pra ela a respeito do trabalho do “Diário do Pedestre” e ela me deu algumas dicas.

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Além de passar no conjunto, precisava fazer impressões em uma gráfica no setor comercial norte. Caminhei até o Edifício Central Park e realizei minhas impressões. Após isso, caminhei mais aluns metros e tentei atravessar a passagem subterrânea até o Eixinho, no entanto a passagem estava alagada e eu tive uma grande dificuldade de atravessar a pista, já que o horário (em torno de 18:00) não era propício.

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Após atravessar, tomei um ônibus até a parada próxima de casa (213N).

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Embora o tempo estivesse propício pra edredom e Netflix, saí de casa às 20:40 pra aula. Muitos postes estvam sem luz e não havia quase ninguém no trajeto L2-ICC, o que trouxe uma insegurança imensa e aflição nesse trajeto.

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Na volta não pude recusar uma carona pra casa, devido principalmente ao horário (22:30) e falta de iluminação das vias.

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Já havia esquecido como o transporte público aproxima as pessoas. Nesse dia conheci duas pessoas bastante diferentes e pude absorver coisas novas. O moço que nunca havia pegado metrô estava muito perdido, o que aponta ainda uma deficiência na acessibilidade visual e na clareza de informações do transporte público. A senhora no ônibus me disse que havia ficado viúva e que estava tirando CNH obrigada, já que a família depende do carro e só o marido dirigia.


sexto dia

sábado

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O mapa ao lado é um retrato da minha vida social nesse final de semana. Eu saí apenas pra ir à padaria tomar café de manhã. A minha quadra (213N) não possui padaria, então atravessei eixão-eixinho e fui até a 312N pra comer. No trajeto pude observar várias pessoas aproveitando o final de semana para utilizar a superquadra, fazer exercícios e passear com os cachorros.

Esse dia coloca em discussão o fato do morador de superquadra não utilizar carro pra fazer suas atividades básicas. No sábado eu tinha tempo pra ir à padaria um pouco afastada e tomar café por lá, mas a deficiência do comércio de algumas quadras, como a minha, faz com que mesmo morando no plano piloto, o morador ainda tenha que utilizar o carro pra realizar atividades diárias.

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ÔNIBUS NOS FINAIS DESEMANA


sétimo dia

domingo

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O meu final de semana continuou bombando, como pode se perceber. O único momento que saí de casa foi pra visitar o Festival de Brigadeiro que estava acontecendo no eixão, quase em frente à minha quadra.

As ocupações do eixão tornam a via mais humana. Visitá-lo nesses dias de feiras ou pra caminhar, andar de bicileta nos domingos e feriados sempre me faz pensar o quão contrastante é a barreira física que a via representa nos dias úteis e o parque linear que se torna aos domingos. Nessa semana isso ficou mais evidente, já que atravessei algumas vezes o eixão, tanto pelas passarelas, quanto pela via e pude aproveitá-lo no domingo.

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RESPEITO ÀS FAIXAS DE PEDESTRE

OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS VAZIOS


galeria

extra



sei que no final fica tudo bem É fato que o exrcício soa quase como uma brincadeira pra quem enfrenta filas e ônibus todos os dias e enromes distâncias entre as regiões administrativas e o plano piloto, mas a experiência é mais que válida para um futuro urbanista. Pelo menos pra mim, foi um exercício de fulga da zona de conforto. Com dois dias eu já mudei meu jeito de se vestir e substitui minha bolsa estilosa por uma mochila que fosse mais confortável. Eu fiquei bem mais alerta durante quase todo o dia, principalmente quando não haviam pessoas nas ruas. No final da semana, eu percebi que não havia realizado algumas atividades, como ir à academia todos os dias e ir ao mercado. Inclusive, me alimentei mal durante alguns desses dias. Apesar disso, conheci pessoas novas, pude vivenciar a cidade por um outro ângulo e principalmente, lembrei que na cidade das distâncias, empatia é um exercício diário.




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