O Museu do Futuro

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Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de BrasĂ­lia Orientadora: Professora Maribel Aliaga Ensaio teĂłrico Pedro Vitor Almeida



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Resumo

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Justificativa Métodos Cap. 1 - Introdução: entendendo o mundo dos trends

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Cap. 2 - O novo usuário do museu Cap. 3 - Trends de comportamento e tecnologia e como eles têm afetado museus pelo mundo.


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Espaços híbridos e multidisciplinares

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Big Data

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Branding

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Acessibilidade

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Consumo

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Museus itinerantes

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Museu como objeto de atração

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Movimentos políticos

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Presença nas redes sociais

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Imigração

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Interatividade

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Novas perspectivas históricas

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Realidade virtual / Realidade Aumentada

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Considerações finais

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Inteligência Artificial

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Design Thinking / User Experience

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Bibliografia


RESUMO

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Tendência é um movimento. É a insistência de alguns corpos em penderem para certa direção. O mercado, instituições políticas e não governamentais estão interessadas em entender as transformações e fazer previsões para otimizarem seus planejamentos. Dessa forma, ensaio pretende introduzir o Universo das Tendências explorando a inovação social e tecnológica com foco nos Museus. Para isso, diferencia fads, micro e macrotendências, bem como introduz o Futurismo e novos campos de trabalho como o Design Thinking e User Experience. Além disso, este ensaio pretende compreender o homem, suas relações orgânicas (com a natureza e entre o indivíduos) e inorgânicas (com as ferramentas e o meio digital), bem como as suas transformações sociais e tecnológicas e as interações entre estes e os museus e as instituições culturais. Dessa forma, estudamos o homem como novo usuário do museu, tendo em vista as consequências de uma população que envelhece mais e melhor, a “hiperconcectividade” promovida pela internet e as redes sociais e a influência dos algoritmos e da inteligência O Museu do Futuro

artificial. Além disso, analisamos o campo político por meio da contracultura e da força dos movimentos políticos promovendo a Descolonização do saber e da estrutura social. Para exemplificar e legitimar as transformações citadas e especificamente na relação humana com os museus, apresentamos 15 tendências no campo social e tecnológico. As informações apresentadas foram obtidas por meio de sinais de mudança identificados na internet, nos movimentos sociais, estudos de Futurismo e incluem Inteligência Artificial, Big Data, Movimentos Políticos, Interatividade, dentre outros temas. Palavras chave: museu, futuro, tendência, tecnologia, inovação.


JUSTIFICATIVA A arquitetura é uma disciplina das ciências humanas, de acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Portanto, apesar de possuir um caráter tecnológico, exigir conhecimentos em matemática e física, o seu foco está sobre o homem, a sociedade e a sua relação com o espaço em diferentes escalas. Dessa forma, as atualizações sociais, a antropologia, os movimentos sociais e a inovação tecnológica são conhecimentos que devem ser incorporados pelos arquitetos para se projetar. Ao se conceber um museu, centro cultural ou qualquer espaço público, há ainda uma responsabilidade especial. O compromisso de se projetar para o povo, construir um espaço para o diálogo com a arte, política e educação. O fazer do arquiteto exige uma responsabilidade social. Por isso, esse artigo mapeia tendências de comportamento e tecnologia, podendo gerar novos programas de necessidades para o Museu, com um olhar especial sobre o comportamento humano, as transformações sociais, as relações virtuais e físicas com obras de arte, artefatos históricos e os espaços de exposição Tendências de comportamento e tecnologia

de uma forma geral. Esse mapeamento é realizado para distinguir, conceituar e quantificar as tendências que vão determinar e transformar a estrutura dessas instituições tão necessárias para formação cívica de populações ao redor do planeta.

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MÉTODOS Para desenvolver este ensaio, foi utilizado material literário, acadêmico e digital de livros, artigos, blogs, redes sociais e outros canais de colaboração online. Autores como Yuval Harari – professor de história israelense e autor de Sapiens: uma breve história da humanidade - nos oferecem predições de um futuro muito próximo a partir de análises históricas e conhecimentos diversificados que vão desde a filosofia clássica de Epicuro às tecnologias desenvolvidas pela Google. A partir deste autor, bem como de Zygmunt Bauman, Alain de Botton e outros protagonistas do estudo do homem e sua relação com a contemporaneidade e o futuro é que se desenvolve esta pesquisa, principalmente no que tange às mudanças sociais e o perfil do novo usuário do museu. Para pesquisa de tendências e Futurismo foram necessárias análises de dados atualizados, dessa forma os dados foram obtidos durante o tempo de pesquisa (primeiro semestre de 2019) monitorando as mudanças de comportamento e a produção democrática e 8

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infinita de conteúdo. Por isso, foram analisados as redes sociais e os conteúdos publicados por professores, profissionais e usuários que se transformaram em importantes fontes desta pesquisa. Sites como o Medium e agências digitais especializadas em futurismo e pesquisa de tendências como a brasileira Float Vibes também tiveram importância sobre o conteúdo atual sobre tendências e inovação. Além disso, o Instagram de Museus, o Twitter de especialistas em inovação de museus como Neal Stimler (consultor de artes para o Metropolitam Museum of Art) e Dana Mitroff (especialista em Experiência de Usuário para museus) foram importantes fontes de conhecimento e atualizações para o material proposto a seguir. Acredita-se na importância acadêmica e nas pesquisas desenvolvidas por universidades, bem como na relevância do conteúdo colaborativo e democrático, nas experiências promovidas por especialistas dessas disciplinas (tendências, inovação e tecnologia) na análise de dados para o conhecimento do futuro. Para o mapeamento de tendências, é importante registrar a influência do método desenvolvido por Lucas Liedke e André Alves como grande inspiração para essa pesquisa. O processo dos agentes da Float foi aprendido em um curso em que participei em outubro de 2018 denominado “RISE – Pesquisa de Tendências”.


Existem 7 etapas das quais esse trabalho utilizou a Delimitação do Universo da Tendência - definição de museus e centros culturais como Universo da pesquisa; Coleta de sinais – mapeamento de informações via redes sociais, análise de hashtags, leitura de conteúdo de livros, revistas, jornais e blogs; Análise e edição dos dados – subtração de conteúdos menos relevantes para a pesquisa, Formulação de tese – definir quais seriam as tendências e propor nomes para cada uma delas e a Formatação – edição gráfica do conteúdo em forma de livreto. Dessa forma, são apresentadas a seguir 15 tendências encontradas no Universo dos museus. Além desse procedimento para coleta de conteúdo, entre março e junho de 2019 foram realizadas entrevistas com pessoas envolvidas diretamente na produção e pesquisa de museus: Gustavo Torrezan, pesquisador e professor pelo SESC de São Paulo e Paulo Vicceli, diretor institucional na Pinacoteca de São Paulo. Por meio dessas pesquisas foi possível obter diferentes visões sobre a arte, as pessoas e os museus. Na primeira delas, a visão de um artista e pesquisador com maior influência acadêmica e visão social e política pautada nas experiência da arte e das instituições de pesquisa. Na segunda entrevista, a visão de mercado e do funcionamento dos Museus de Paulo Vicceli confirmou algumas das teorias abaixo, bem como agregou imensamente ao estudo de caso da Pinacoteca de São Paulo, uma dos maiores museus do Brasil.

Imagem 1: Lucas Liedke e André Alves, curso RISE - Pesquisa de Tendências, 2018. Créditos: Vivi Morais

Tendências de comportamento e tecnologia

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CAP.1 Introdução: entendendo o Mundo dos Trends.


Tendência é uma palavra bem difundida e pode ser conhecida até mesmo pelos menos familiarizados com inovação. De uma forma geral, está associada geralmente à moda e aos padrões de cores, cortes e estampas da próxima estação. Segundo o Dicionário Aurélio, Tendência pode ser uma “Ação ou força pela qual um corpo tende a mover-se para alguma parte.” Ou mesmo “Propensão; inclinação; disposição; propósito.” Percebemos que o termo pode ganhar maior amplitude e considerar qualquer sujeito ou objeto que tenha disposição à algo. O termo pode se referir a algo concreto, como a tendência conservadora dos partidos de direita ou à inovação, como a tendência de que mulheres ganhem mais postos de liderança na contemporaneidade e no futuro. As tendências em inovação, ou tendências de mercado possuem um grande interesse na sociedade capitalista do século XXI. Entender o comportamento do consumidor, bem como quais são os produtos, assuntos e serviços que esse público consome abrange todo o mercado. Da mesma forma, instituições governamentais ou outras organizações políticas se interessam em prever os movimentos de um futuro próximo para se posicionarem e estabelecerem suas métricas. Assim, “a disseminação da indústria de previsão de tendências , e sua trajetória utilizada meramente para aconselhamento do estilo da moda, 12

torna-se política e de efeito sobre os grandes operadores da sociedade” (PETERMANN, 2014). Apesar de inicialmente ser um termo associado estritamente ao mercado, com ênfase no mundo da moda, o universo das tendências se tornou uma disciplina de interesse até mesmo de grandes universidades como Harvard. A Instituição possui Laboratórios de Pesquisa de Tendência e oferece cursos como o “Growth Strategies: Identifying Opportunities in Market Trends”, lecionado em Cambridge. No Brasil, a agência Float Vibes realiza pesquisa de tendências para grandes marcas. No site da agência é possível encontrar o conceito para o que eles chamam de “previsão de tendência”: a aptidão para coletar e analisar os sinais atuais para entender melhor os padrões emergentes e como eles influenciam a estética, mudanças culturais, marketing e comportamento do consumidor. Nesse sentido, a quantificação e qualificação de dados, bem como a capacidade de conectá-los em torno de um movimento é o que conceitua o trabalho de um pesquisador de tendências. Dentro da disciplina dos Trends, ainda podemos diferenciar fad, microtendências e as macrotendências. Embora todas estejam relacionadas a um transformação, elas podem ser conceituadas em diferentes escalas e períodos O Museu do Futuro

de tempo. Uma fad, por exemplo, é um movimento rápido. Comportamentos, produtos ou características estéticas que ganham alta popularidade e somem rapidamente. Pode ser exemplificada pela adoção de certo modo de vestir por uma ou duas temporadas ou produtos que entram e saem do mercado rapidamente, como a paleta mexicana. Já uma microtendência é a influência sobre determinados grupos em seu consumo e cultura por um prazo de aproximadamente 5 anos, normalmente associada a itens que podem ser consumidos. São comportamentos ou estéticas mais específicos que podem mudar a forma como se expressam ao longo do tempo. Por exemplo, os “loucos por plantas” são uma geração de jovens da contemporaneidade que cuidam de muitas plantas em seus apartamentos. Essas pessoas possuem comunidades nas redes sociais, dividem dicas de como cuidar das suas espécies e se auto fotografam com seus jardins urbanos. Esse grupo pode ter sido influenciado por uma série de macrotendências como a conectividade a redes sociais, a sustentabilidade e o individualismo. A terceira subdivisão são as macrotendências, grandes movimentos que alteram a sociedade, a maneira como nos comportamos


e nos relacionamos com o outro. São movimentos que unem pessoas de personalidades, lugares e etnias diferentes em torno de uma vivência parecida, por exemplo a era digital, a hiperconectividade e o envelhecimento das populações. Para os museus, é mais interessante estabelecer suas métricas, programações e estudos a partir dessas últimas tendências citadas, já que apresentam maior universalidade. Uma macrotendência não é apenas um movimento estético ou comportamental, mas uma mudança significativa na forma como nos comportamos socialmente. Sabendo disso, para entender melhor o que é tendência e conectá-las aos museus, podemos traçar um paralelo entre Vegetarianismo e uma ecobag vendida no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. Aqueles que são vegetarianos não comem carne, e é cada vez mais comum encontrar pessoas que adotam a prática como ideologia, no entanto, pessoas vegetarianas já existem desde a Antiguidade por motivos religiosos e outras crenças. Nas décadas de 60 e 70, os movimentos hippie e o punk propõe um anticomunismo e o vegetarianismo se torna mais conhecido. E porque o movimento ganha mais adeptos a partir da década de 80? Pois é justamente nessa época que as questões ambientais ganham a mídia. As pes-

soas estão mais preocupadas com a sua saúde e a qualidade de vida associada ao respeito do meio ambiente. Pela primeira vez se discutem assuntos como emissão de carbono e a camada de ozônio em uma escala global. Em 1992 acontece a Eco-92, no Rio de Janeiro – a maior conferência ambiental do mundo conta com a presença de 178 países. Durante o evento, foram debatidas metas para controlar as emissões de CO2 na atmosfera e a criação de parâmetros para a proteção da biodiversidade. Já no século XXI, há plena consciência da emissão de gases de efeito estufa pelos bovinos, além do grande consumo de água para a produção de carne e outros produtos. Em 2015, a agência “Box1824” lançou o termo “Lowsumerism” como uma grande tendência para o futuro: de forma resumida, o conceito se refere a reavaliação dos hábitos de consumo e a adoção de um estilo de vida mais minimalista e consciente. A partir das redes sociais e do contragendamento (influência do grande público para produção de mídias), os movimentos de contracultura ganham mais força. Os vegetarianos de diferentes países se unem em um grupo no Facebook, os protestos são organizados online e ideais antes marginalizados ganham a massa e a atenção das mídias tradicionais. A partir daí, grandes instituições públicas e privadas direcionam sua atenção para essas questões porque já não se trata de Tendências de comportamento e tecnologia

um pequeno grupo marginal e pouco importante, mas de um movimento, uma tendência. O Metropolitam Museum of Art, em Nova York, além de acompanhar os movimentos por sustentabilidade e as discussões de grandes conferências, percebe o quanto seu visitante-consumidor da Geração Z já nasce conectado a essas questões e propõe produtos eco-friendly, inclusive adicionando opções vegetarianas ao cardápio do seu restaurante. O consumidor entende aquele produto como uma expressão dos seus valores e ideais, posta uma foto em suas redes sociais usando a ecobag do museu em uma exposição interativa e assim o ciclo se repete muitas vezes. Uma massa consumidora adere ao movimento dos museus, do vegetarianismo ou mesmo do “lowsumerism”, em uma controvérsia relação. Portanto, a partir desse exemplo, é possível perceber como os museus e as instituições culturais, assim como o mercado precisam mapear e traduzir tendências para entender melhor o futuro de suas organizações. Por isso, existem conferências por todo o mundo para se discutir o futuro dos museus com base na educação, as transformações digitais e culturais dos países. A iniciativa “We Are museums” reúne profissionais de inovação em museus de diferentes escalas para compartilhamento de suas 13


ideias e experiências. No evento, além de palestrantes de grandes museus como o Tate, em Londres ou o Museu Van Gogh, em Amsterdam, existem oficinas e outras programações para que os profissionais possam propor um museu com propósito social, inovadores e viáveis. Após a conferência, são disponibilizados materiais para o público em geral, denominados “Take away” ou “Para levar” (utilizado em restaurantes). O conteúdo reúne as principais tendências percebidas naquele ano e contribui de maneira pública e democrática para o desenvolvimento de outras instituições. Da mesma maneira, o “Center for the Future of Museums”, parte da American Alliance of Museums produz anualmente um conteúdo denominado “Trends Watch”. Nele, é possível ler sobre as principais tendências percebidas naquele ano por profissionais dos museus como Inteligência Artificial, Descolonização e Fake News. A Conferência Museum Connections e a Association of Academic Museums and Galleries Conference são outros exemplos de encontros anuais de profissionais interessados em inovação em museus.

“O Futurismo é a antecipação de um futuro breve, a imersão em movimentos sociais, políticos e econômicos com base científica para projetar previsões de uma realidade próxima.”

Dada a sua importância, a pesquisa de tendências inaugura novas disciplinas e gera conferências também fora do universo dos museus. “A tentativa de prever, por meio de uma abordagem científica, o futuro sócio-político, 14

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econômico e ambiental da humanidade” é chamada também de Futurismo (ANDRÉ ALVES, LUCAS LIEDKE, FLOAT VIBES, 2018). Os estudiosos dessa área podem ser historiadores, comunicadores e profissionais que relacionam diferentes áreas de estudo. O Futurismo é a antecipação de um futuro breve, a imersão em movimentos sociais, políticos e econômicos com base científica para projetar previsões de uma realidade próxima. Ele surgiu nos anos 40 por motivos de guerra e tem grandes nomes como Ray Kurzweil, autor de Singularity is Near e o brasileiro Tiago Mattos (cofundador da escola criativa Perestroika e autor do livro “Vai lá e Faz”). Todas as questões que envolvem inovação são de interesse de grandes corporações, novos negócios e organizações governamentais. Elas dão origem a novas áreas de estudo e de trabalho todos os dias. Grandes eventos como o SXSW (South by Southwest) reúnem milhares de pessoas todos os anos à procura de ideias inovadoras, de tendências de comportamento e tecnologia que serão aposta para investidores de todo o mundo. Portanto, ciente dessa importância, os capítulos seguintes pretendem apresentar o novo usuário do museu, bem como as tendências de comportamento e tecnologia que abrangem essas instituições.


Imagem 2: Colagem com base em manchetes e jornais para explicar a relação entre o movimento vegetariano e a ecobag do Metropolitam Museum of Art, em Nova York. Fonte: Época, Youtube, store.metmuseum.org Tendências de comportamento e tecnologia

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“Os “loucos por plantas” são uma geração de jovens da contemporaneidade que cuidam de muitas plantas em seus apartamentos. Essas pessoas possuem comunidades nas redes sociais, dividem dicas de como cuidar das suas espécies e se auto fotografam com seus jardins urbanos.”

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Imagens 3,4,5 e 6: Fotos do perfil @boyswithplants no Instagram. A página apresenta reposts de jovens com as suas plantas. Fonte: Instagram

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Imagem 7: Evento SXSW (South by Southwest) Fonte:sxsw.com/marketing/exhibitions-opportunities/


CAP.2 O novo usuรกrio do museu.



Segundo a Revista Istoé, “o Museu do Louvre recebeu 10,2 milhões de pessoas em 2018” (“Museu do Louvre bate recorde de visitantes em 2018”, 2019), um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Mais pessoas tem visitado museus, permanecendo por mais tempo e realizando um número maior de atividades. Mas quem são essas pessoas de hoje e como elas vão demandar desses espaços novas opções para os próximos anos? Quem é o usuário do museu do futuro? Em 30, 40 anos qual vai ser a relação entre humanos e a inteligência artificial? Quais profissões não existirão mais e quantas novas surgirão? Como será o dia-a-dia em grandes centros urbanos? O número de pessoas em museus está aumentando ou diminuindo? Para compreender melhor esse novo usuário, é importante ter um olhar sobre as gerações segundo a sociologia e as características que elas carregam. O individualismo, narcisismo ou até mesmo “umbiguismo”(RITA LOIOLA) como definiu a Revista Galileu em 2015 apontam os millenials como a primeira geração centrada nas suas vontades, colocando seu estilo de vida acima da carreira e outras responsabilidades. Esses que também são definidos por geração Y nasceram entre 1978 e meados da década de 90 e formam a maioria do público 22

consumidor dos anos 2000. Durante a formação desses indivíduos, o acesso à informação 24 horas por meio da televisão e posteriormente a internet é usual. Dessa forma, a capacidade cognitiva e a forma de absorver conhecimento, ideologias e desenvolver atividades também se diferenciam das gerações passadas. Os millenials são multitasking, atualizados para a velocidade da era digital, instáveis e fluidos, como define Bauman(BAUMAN; DENTZIEN, 2007) em seus livros. Acreditam na horizontalidade das relações em rede, conectados à diversidade e a multidisciplinaridade de informações, mas são só a ponta do iceberg no estudo dos indivíduos do futuro. A geração Z, indivíduos nascidos nesse milênio, já vem sendo estudada por sociólogos e pelo mercado e se diferencia dos millenials por serem indivíduos que nasceram na era do touchscreen, dos smartphones com integração máxima entre câmera, aplicativos, internet e outros dispositivos à palma da mão. Há um grande impacto sobre a capacidade cognitiva de humanos que nunca experimentaram a vida antes da internet. A geração Z é diversa, ligada nativamente a uma consciência global, consciente dos movimentos sociais e das transformações O Museu do Futuro

tecnológicas na era digital. Isso tudo se deve à internet. O famoso termo “World Wide Web” ou em português “Rede Mundial de Computadores” mudou não só a nossa forma de absorver conteúdo, mas como nos relacionamos, a nossa capacidade de memória - cada vez mais decrescente - e a nossa aptidão pelo visual – em constante crescimento, já que somos expostos a “8 horas de exposição eletrônica total de multimídia diária” (ANTHONY TURNER, 2015). Arquitetos como Guto Requena afirmam que nós “somos a primeira geração de ciborgues” (“Esculpindo Memórias Afetivas | Guto Requena | TEDxBlumenau - YouTube”, 2018), pois já não há uma distinção tão grande entre o nosso corpo físico e a tecnologia. Seja pelo marca-passo, braços mecânicos, controle de aparelhos pela mente, microchips ou interatividade entre corpo e dispositivos, nós somos cada vez mais parte desse mundo inorgânico. Nesse sentido, o historiador israelense Yuval Harari, autor de “Sapiens: uma breve história da humanidade” e “Vinte e uma lições para o século XXI” aponta a inteligência artificial e a biotecnologia como responsáveis pela criação de um novo homem para o futuro. Para ele, será possível projetar a vida. A nanotecnologia nos permitirá utilizar micro robôs para matar células de câncer, seremos capazes de imprimir


órgãos e regenerar tecidos, o que prolonga a nossa vida em muitos anos. O autor não descarta nem mesmo a possibilidade da imortalidade e utiliza a empresa Calico como exemplo dessa realidade tangível. A organização é uma empresa parte da Google que recebe milhões de dólares em investimentos para “enfrentar o envelhecimento”, como cita o próprio site da empresa. Portanto, além de uma sociedade de jovens conectados, as nossas populações estão envelhecendo na maioria dos países devido às inovações em tecnologia da saúde e qualidade de vida. O Museu do Amanhã (Rio de Janeiro) apresenta um totem em que se lê “o ser humano que atingirá 150 anos já está entre nós”. E o que isso reflete nas organizações dos museus? Os museus têm de estar prontos para pessoas diferentes, com mobilidade reduzida e necessidades específicas. Além disso, o crescimento dessa faixa etária desperta o interesse dos museus por atividades que propõe encontros entre idosos e entre estes e os mais jovens, geram um intercâmbio intelectual e sociabilidade para as futuras gerações. Por outro lado, as pessoas confiam cada vez mais suas decisões a algoritmos. Algoritmos são “especificações da sequência ordenada de passos que deve ser seguida (por um computador) para a realização de uma tarefa, garantin-

do a sua repetibilidade.” Essas “especificações” garantem um processo chamado automação. “A automação é o processo em que uma tarefa deixa de ser desempenhada pelo homem e passa a ser realizada por máquinas, sejam estes dispositivos mecânicos, eletrônicos (como os computadores) ou de natureza mista.” (“Algoritmo e Lógica de Programação”, 2004) Portanto, é dessa forma que o Google Maps define qual é o melhor trajeto, bem como a Netflix entende o gosto pessoal do seu usuário ao nos sugerir filmes. Enquanto estamos passeando pela plataforma, quando clicamos em uma nova aba ou paramos de assistir pela metade uma série, os algoritmos aprendem sobre o nossos gostos e até mesmo sobre a nossa sexualidade. Quanto maior a quantidade de dados fornecidos pelos usuários, mais eficiente vai ser a compatibilidade entre estes e os produtos, serviços e experiências oferecidas. E o que isso tem a ver com os museus? A obtenção de dados por meio de aplicativos e programas de fidelização de visitantes já é uma realidade em grandes museus do mundo. Por meio deles, as instituições podem rever suas programações e propor experiências mais inclusivas e específicas para seu público. No futuro, sensores biométricos podem ser capazes de converter processos biológicos que acontecem dentro do nosso corpo em informação eletrônica. Dessa forma, os museus Tendências de comportamento e tecnologia

saberiam quais foram as galerias mais interessantes e aquelas que não geraram nenhuma emoção ao visitante apenas pelos batimentos cardíacos. No campo político, é um termo denominado “Descolonização” que tem chamado atenção da mídia e de estudiosos da sociedade. A internet, as redes sociais e a expansão da contracultura fez com que os movimentos sociais como o movimento negro, LGBTQ e o Feminismo ganhasse força e influenciasse a lógica de produção de conteúdo e serviços. Além da garantia dos direitos de toda as pessoas, está acontecendo a revisão de todo um sistema. Não basta dar visibilidade às minorias e às pessoas colonizadas na América Latina, África e Ásia. É preciso rever quem produz conhecimento, incluir as pessoas em mais espaços de atuação política e influência global. A descolonização retira do centro de conhecimento a narrativa europeia ou norte americana da história. Dessa forma, o poder de influência, a capacidade de influenciar, os métodos, a cultura e os procedimentos são revisitados sobre um olhar multiétnico e inclusivo. No caso dos museus, o desafio é ainda maior já que muitas das coleções, doações e os próprios edifícios foram construídos a partir de recurso de colônias, do roubo de obras de arte e peças históricas. Para essas institui23


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Imagem 8: Os millenials e a geração do entretenimento. Fonte: unsplash.com Tendências de comportamento e tecnologia

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ções, não basta incluir um público mais diverso ou exibir artistas antes esquecidos, mas há a necessidade de dividir a autoridade sobre seus acervos e sobre a narrativa a qual a história daqueles povos é contada. O Museu Field de História Natural, por exemplo, convidou indígenas nativos americanos como Bunky Echo –Hawk e Chris Pappan para exibir suas obras no museu. A iniciativa tinha intenção de perpetuar a história dos povos aos quais esses artistas pertencem e não apenas exibir a história deles como se a história tivesse terminado. Portanto, um desafio para os museus do futuro é gerar conexões e interação entre pessoas no mundo real em um era de “hiperconectividade” digital. Gerar experiências únicas e prazerosas para os nascidos na era do consumo, enquanto atende a maior diversidade de pessoas, conecta culturas, gerações e etnias diferentes. Os museus estão se posicionando a favor das pessoas, assumindo papéis políticos em assuntos como a imigração e a sustentabilidade. Essa postura assumida pelas instituições se divide entre o campo econômico e ideológico, mas ambos os campos têm em comum esse novo usuário como centralidade.

Um desafio para os museus do futuro é gerar conexões e interação entre pessoas no mundo real em um era de “hiperconectividade” digital. Gerar experiências únicas e prazerosas para os nascidos na era do consumo, enquanto atende a maior diversidade de pessoas, conecta culturas, gerações e etnias diferentes. Imagem 9: As crianças nascidas a partir dos anos 2000 já crescem conectadas à internet e em contato com telas touchscreen. Fonte: unsplash.com

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CAP.3 Trends de comportamento e tecnologia e como eles tĂŞm afetado Museus pelo mundo.


ESPAÇOS HÍBRIDOS E MULTIDISCIPLINARES Para melhor compreensão das tendências no universo dos museus, este capítulo cita, explica e exemplifica 15 tendências de comportamento e inovação tecnológica que caracterizam grande parte dos museus no futuro a partir de sinais presentes no agora e nas experiências de milhões de pessoas no mundo.

Entender os museus contemporâneos a partir das transformações na dinâmica da sociedade ao longo da história nos auxilia a justificar as recentes mudanças pelas quais os museus têm passado. A sociedade contemporânea é caracterizada pelo dinamismo, produtividade, conectividade entre as pessoas e entre o corpo e os equipamentos digitais. No entanto, a maior parte da nossa história é marcada pela rigidez, estabilidade de regimes autoritários e hierarquização de funções e informações. “Os museus, enquanto instituições culturais, partilharam destas características durante grande parte da sua existência, procurando agora acompanhar as mudanças que lhe são impostas pela sociedade onde estão inseridos.” (MARQUES, 2013) “O atual sistema de produção, o capitalismo avançado, integra em si a globalização dos mercados de trabalho, o aumento de cor-

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porações multinacionais, o consumo de massa e a intensificação dos fluxos do capital.” (MARQUES, 2013) A potência desse sistema associado ao interesse das pessoas por entretenimento como forma de consumo tornou permeável as relações entre economia e cultura. “A produção cultural passou a fazer parte da produção de bens em geral: a pós-modernidade transformou o lugar da cultura, atribuindo-lhe uma importância e centralidade na vida económica inéditas, contribuindo também para a sua crescente politização” (LIPOTEVSKY E SERROY, 2010, 11-37). Dessa forma, a ideia do museu como arquivo de história ou de obras de arte se transforma na ideia do museu como entretenimento, como serviço à sociedade do hibridismo. A partir desse conhecimento, os museus passam a abarcar atividades antes encontradas nos shoppings ou centros comerciais, enquanto procuram conservar o seu papel educativo e formador na sociedade. Assim, os museus contemporâneos apresentam essencialmente dois tipos de programação: a programação de eventos – ligada à gestão cultural das coleções, exposições, mostras, espetáculos, encontros – e a


programação de serviços, que cria e gere a oferta, sobretudo comercial, que surge à volta das instituições e dos seus conteúdos (MARQUES, 2013). A loja de souvenir ganha espaço e se fragmenta ao longo das galerias, como é o caso do Museu do Louvre e do British Museum. Os equipamentos pagos se diversificam em torno de guias impressos, áudio e vídeo guias e as programações ganham mostras de cinema, apresentações, tours especiais e noturnos; É esta rede de atividades e de serviços que legitima hoje a existência dos museus. O museu entra numa lógica de prestação de serviços que permite além de legitimar-se, tornar-se mais atrativo, fidelizar públicos e aumentar os valores de bilheteira (SCHUBERT 2009). Além disso, diante da programação de eventos, é importante perceber o papel das exposições temporárias e atividades efêmeras na dinâmica de museus tradicionais, tanto quanto nos museus de arte moderna, contemporânea e os centros culturais. São “exposições blockbuster” ou “pop up”, bem como apresentações de música e festas que atraem um grande público e garantem a satisfação dos visitantes. Os museus estão cientes do aumento da concorrência na oferta de entretenimento e por isso agem

estrategicamente na atração de visitas.

“A coleção mantém a função de conteúdo principal, mas tornou -se insuficiente para garantir uma vasta abrangência de pú blicos e de pro gramação. Para manter uma coleção viva atual mente não basta acrescentar peças à coleção, é preciso pen sar a sua combinação, inovar e dinamizar a sua exposição e existência. E é ainda necessário garantir a sua rotatividade, por meio de empréstimos institucio nais, assim como a sua renova- ção.” (MARQUES, 2013)

Para entender melhor a multidisciplinaridade desses espaços, podemos analisar dois museus importantes no cenário nacional e internacional: a Pinacoteca de São Paulo e o British Museum. Embora tenham perfis e escalas diferentes, podemos levantar estratégias semelhantes nas suas transformações recentes. A Pinacoteca de São Paulo, museu de arte moderna e contemporânea, contará em breve com três espaços pela cidade de São Paulo aumentando seu raio de atuação sobre a cidade e possibilitando uma diversidade maior de atividades, leTendências de comportamento e tecnologia

vando o museu a um número maior de pessoas. Além disso, atividades como apresentações de jazz, oficinas e atividades educativas, bailes, instalações e apresentações de teatro e dança fazem parte da sua programação. Na Inglaterra, O British Museum (um dos museus de história e arte mais tradicionais do mundo) passou por uma expansão em 2014, onde tem aberto mais espaços às exposições temporárias com atenção maior sobre Oceania, Austrália, América do Sul e África. As crianças e jovens inseridos no seu plano “Young Friends” podem participar da experiência de dormir no museu entre tumbas egípcias e famílias possuem atividades educativas para passarem tempo juntas aprendendo sobre história e arte. Entre os serviços oferecidos no Museu Britânico, estão lojas de souvenires, um restaurante de luxo, mais de 4 cafés, uma pizzaria e área para refeições familiares, indicando grande interesse pela permanência dos visitantes ao longo do dia nas suas galerias. Além das adaptações, temos os novos espaços que já nascem no âmbito da pós modernidade. O Australian Centre for the Moving Image (ACMI) abriga o ACMI X – um coworking de mais de dois mil metros quadrados com laboratórios de mídias e infraestrutura para estudos de imagens em movimento. Seus associados são profissionais de audiovisual, designers 31


gráficos, curadores, desenvolvedores web e produtores. A associação entre a instituição cultural e o escritório no centro artístico de Melbourne formam um hub de inovação e mercado colaborativo e cultural. Portanto, o que percebemos com esses movimentos é a apropriação da lógica capitalista de entretenimento e consumo pelas instituições de cultura. A multidisciplinaridade de atividades e de espaços cresce para atender as carências de um visitante consumidor. “O público que era, até então, uma questão secundária para as instituições museológicas passou a ser o indicador essencial na validação do seu sucesso, obrigando-as a criar novas estratégias para conseguir atingir altos níveis de bilheteira.” (MARQUES, 2013). Desse modo, é importante entender o papel fundamental do indivíduo para compreender as demais tendências que se desenvolvem nesse capítulo.

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“ A sociedade contemporânea é caracterizada pelo dinamismo, produtividade, conectividade entre as pessoas e entre o corpo e os equipamentos digitais.”

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Imagem 10 e 11: As crianças e jovens inseridos no plano “Young Friends” do Brtish Museum podem participar da experiência de dormir no museu entre tumbas egípcias. Fonte: medium.com/@tomstandage/night-at-the-museum-ce1288600ec3

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Imagem 12 e 13: O Australian Centre for the Moving Image (ACMI) abriga o ACMI X – um coworking de mais de dois mil metros quadrados. Fonte: wearemuseums.com/sharing-your-offices-with-the-next-generation-of-creatives-an-interview-with-acmix/

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BRANDING Para entender o que é branding, consultei o “Brand-it – Guia sobre Branding para pequenos e futuros empreendedores” elaborado por Giulia Pires na sua tese final da graduação em Comunicação, na UnB. Objetivamente, segundo o material, “branding vem do inglês e é derivado de brand, que em português significa marca ou o ato de marcar algo permanentemente. Mas o sentido real da palavra faz referência à gestão e construção de marcas. Por isso, branding é o ato de construir estratégias bem elaboradas para que negócios cresçam e prosperem no mercado, gerando um valor para as marcas e seus produtos” (GIULIA PIRES, 2018). Dessa forma, compreendemos que o termo está associado ao mercado e a forma como uma marca pode carregar valores, conceitos e ideais a respeito da instituição que ela faz referência. E o que isso tem a ver com os museus? A partir do exemplo da Pinacoteca de São Paulo, podemos entender o quanto a marca do 36

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Museu tem sido explorada como transcrição iconográfica dos valores dessas instituições e o potencial de mercado que ela carrega. Para isso, eu tive a oportunidade de conversar com Paulo Vicceli – Diretor Institucional da Pinacoteca, onde discutimos o rebrand (renovação de marca) da Pinacoteca em 2016. Ele afirma que, quando assumiu a Instituição, em 2013, o Museu era um museu tradicional e não explorava o seu nome como marca. Para ele, o rebrand foi um processo de rejuvenescimento, uma maneira de se comunicar com públicos que o museu não conversava, bem como atrair novos doadores. Nas palavras de Paulo, a Instituição precisava “dar ao público a sensação de que a Pina não está parada no tempo”. Era um momento em que a Instituição precisava se expandir, receber mais doações bem como visitantes e interações em redes sociais. Dessa forma, o museu adota “Pina” como um apelido que assina a sua presença em redes sociais, mídias, ingressos e outros itens que identificam a instituição. A abreviação já usada pelos paulistas informalmente ganhou a mídia e gerou novas discussões a respeito do museu. O nome se manteve, mas a marca mudou como um ato de renovação da identidade do museu. Contudo, nessa mesma conversa foi possível perceber como a mudança de mar-


ca precisa estar acompanhada de atividades que legitimem essa renovação. Paulo relembra ações que confirmam a Pinacoteca como um museu do seu tempo. Nesse mesmo ano, na semana da Parada Gay de São Paulo, a Instituição convidou Rodolpho Parigi para performar Fancy. A personalidade criada pelo artista posou como modelo vivo para uma aula de desenho. Durante duas horas artistas desenhavam a modelo em referência aos tempos da Faculdade de Belas Artes no mesmo edifício onde hoje funciona a Pina Luz – uma das sedes da Pinacoteca. No campo de consumo, a Pina_ renova seus produtos com frequência. Ecobags, lápis, mantas, camisetas e até mesmo suporte para plantas formam os itens que carregam a marca do museu. As ações educativas, a contratação de funcionários trans, blocos de carnaval, parcerias com a Google e a IBM, uso de inteligência artificial e outras programações variadas refletem o branding realizado pelo museu. Assim como a Pinacoteca, muitos outros museus se dedicam ao branding de suas instituições. O Metropolitan Museum of Art (MET), de Nova York, além de explorar a sua marca por meio de produtos, produz o MET Gala, evento que recebe mídia de todo o mundo por receber celebridades famosas como Beyoncé, Lady Gaga e Gisele Bündchen. O baile é uma

maneira de levantar fundos para o museu. Da mesma forma, a lojinha de souvenir do MAAT (Museu de arte, arquitetura e Tecnologia), de Lisboa, vende canecas e garrafas de água com a sua marca, proposta pelo designer Pedro Falcão. Em matéria para o Portuguese Matters, o designer explica o desafio de traduzir em uma marca atemporal dois edifícios completamente diferentes que compõem o novo museu de Lisboa ( A velha central elétrica e o edifício contemporâneo em formas orgânicas proposto pela arquiteta Amanda Levete). O resultado é, segundo a própria matéria, “uma combinação ritmada e harmoniosa de formas contrastantes.” (“MAAT - Atelier Pedro Falcão”,). Portanto, o que vemos é a assimilação de Instituições Culturais de processos conhecidos há anos pelo mercado. As marcas tem passado por transformações para se comunicarem com as novas gerações e os museus não estão longe desse diálogo. Pelo contrário, além de se renovarem como arquitetura e design gráfico tem renovado suas atividades e programações para serem museus do seu tempo.

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“Branding é o ato de construir estratégias bem elaboradas para que negócios cresçam e prosperem no mercado, gerando um valor para as marcas e seus produtos”. 37


Imagens 14 e 15: O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa e a sua programção visual. Fonte: nit.pt/coolt/teatro-e-exposicoes/maat-vai-receber-18-exposicoes-no-proximo-ano

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CONSUMO Aplicativos, compra online, publicidade nas redes sociais e pop-ups saltando na tela o tempo todo com ofertas de produtos chineses a poucos centavos de dólar. Nunca foi tão fácil consumir quanto nos dias de hoje. “Compre com um clique” é a promessa de um consumo rápido, fácil e sem peso na consciência. Vivemos a era do consumo em massa desde a Revolução Industrial, a produção em larga ecala gerou a necessidade de de consumo. O surgimento de novos produtos e a exploração de novos materiais ampliou também a escala de consumidores. Após a Segunda Guerra Mundial, o Fordismo potencializa a capacidade de produção em série, aumentando o volume de produtos a um custo mínimo. Esse modelo se difunde pelo mundo e aumenta a necessidade de uma massa consumidora. Com o advento do marketing, a invenção do rádio e a televisão e a massificação das mídias, a publicidade se torna um vetor de influência sobre a sociedade. “Logo, o consumidor 40

e suas necessidades tornaram-se o novo centro de equilíbrio do sistema capitalista.” (LUCIANE OZELAME RIBAS COLOMBO; THAIS BRANDT FAVOTO; SIDNEY NASCIMENTO DO CARMO, 2008) Esse último período do texto é muito importante para entender a lógica de mercado e consumo dos dias de hoje. Segundo SANTOS (2004) no período pós guerra inicia-se a pós-modernidade, quando os meios de comunicação começaram a explorar o espetacular, o prazer no consumo, erotizando o dia-a-dia com fantasias e desejos de posse.” A partir dos anos 80 se consolida os conceitos da efemeridade e do descartável, tornando os produtos obsoletos e o ritmo de compra ainda mais acelerado. Hoje, a sustentabilidade e o consumo consciente são valores contidos na sociedade. Comprar ainda é necessário para manutenção de um sistema capitalista, mas como o fazer de maneira consciente, valorizando a cadeia de produção e gerando menos impacto? A imaterialidade e fluidez são o “hype” do momento. A geração Y nasceu na era do compartilhamento: a UBER, Yellow Bike, Hostels e Airbnb são exemplos de sucesso de consumo compartilhado. Nesse momento, é a indústria do entretenimento e das experiências que cresce em detrimento do consumo material. Na década de 90, os autores B. Joseph Pine II e James H. Gilmore O Museu do Futuro

conceituaram a teoria de “economia da experiência”, baseada na entrega de experiências, em contraste com uma economia derivada em grande parte da fabricação de bens e prestação de serviços (Pine & Gilmore, 1999). Inerente a esse movimento, os museus e instituições culturais tem gerado “espetáculos” como modo de entretenimento, como forma de consumir imagens e sensações. Além disso, a necessidade de receita potencializada pela falta de apoio público a essas instituições culturais diversificam os canais de arrecadação do museus. Por vezes, as grandes instituições abrem suas portas gratuitamente para um grande público como é o caso do Tate Modern, em Londres ou o Reina Sofia, em Madrid (gratuito Segundas das 19h às 21h / De quinta a sábado: 19h às 21h / Domingos: 13h30 às 19h.). Contudo, apesar do acesso gratuito, esses museus contam com grandes lojas onde o visitante pode comprar uma ecobag escrito “Donde el arte Reina” (REINA SOFIA) por cerca de 11 euros ou um bottom cubista do Picasso (TATE MODERN) por 19 libras. Em Boston, o Instituto de Arte Contemporânea tem o térreo acessível ao público. Lá o visitante pode utilizar o restaurante e a livraria sem ter que pagar entrada, garantindo o consumo mesmo daqueles que não visitaram as exposições.


Nesse sentido, os restaurantes têm desempenhado um papel importante no que a EXAME (2018) chamou de experiência cultural completa. O National Museum of African American History and Culture possui um café chamado Sweet Home. Nele, o visitante pode ter contato com a culinária do povo afro-americano, por meio de pratos tradicionais e novas proposições gastronômicas. Seu menu é dividido por regiões e reflete a cultura de cada uma delas. Em 2019, a programação do MASP (Museu de Arte de São Paulo) é feminina. Somado a essa programação, a Instituição abre um novo restaurante em que Manuelle Ferraz é quem está à frente da cozinha com uma equipe formada exclusivamente por mulheres. No seu restaurante, os pratos são tipicamente brasileiros como a tradicional feijoada. A escolha por esse restaurante reflete os valores e as escolhas realizadas também para sua programação: além de exposições de artistas mulheres, o MASP redesenhou o layout de sua Pinacoteca, trazendo para o início da galeria artistas populares. Portanto, é preciso refletir a necessidade de consumo dentro de Instituições Culturais. Apesar de propiciar a expansão dos museus, a compra de novas obras e a diversificação de atividades culturais, o “espetáculo” pode estar tomando lugar da arte como apelo educativo

e formador da sociedade. Por isso, deixo abaixo um trecho da entrevista realizada com Glenn D. Lowry, diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) por Raquel Garzón do “El País”. (“Folha de S.Paulo - + cultura: ‘Somos o melhor museu do mundo’ - 22/02/2004”) (Raquel Gorzón “El País”) Mas há quem afirme que, para sobreviver, os museus devem aproximar-se do espetáculo. O que o senhor acha desse debate? (Glenn Lowry - Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) Eu penso exatamente o contrário. Acho que o esforço consciente e contínuo de assemelhar a arte ao espetáculo acarreta um grande risco: competir não contra outros museus, e sim contra a indústria do espetáculo. Uma luta que os museus não têm como ganhar. O entretenimento tem a ver com distrair o sujeito e fazê-lo pensar em outra coisa. Os museus têm a ver com a educação e a experiência. Sua sobrevivência dependerá de sua capacidade de se diferenciar do espetáculo, de deixar bem claro que as obras de arte são objetos poderosos, que preservam sentimentos e ideais únicos, que não podem ser experimentados em outros âmbitos.

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Imagens 16 e 17: À esquerda, a página web do Museu Reina Sofia, à direita, a página web do Tate Modern. Fontes: http://tienda.museoreinasofia.es/ | https://shop.tate.org.uk/gifts



MUSEU COMO OBJETO DE ATRAÇÃO Além da sua programação e as atividades integrantes de um museu, em muitos casos o próprio edifício é objeto da experiência do usuário, como explica Doris Bittencourt: “O museu também é um objeto cultural, mas também um objeto de uso cotidiano. Enquanto espaço urbano, é um produto submetido ao processo de compra e venda. Quando localizado nos centros das cidades, tem melhor acessibilidade aos bens e serviços. É um produto urbano de alta qualidade e um instrumento de publicidade social.” (DORIS MARIA M. DE BITTENCOURT”, 1994). Nesse sentido, aqui estudamos como os museus evoluíram de símbolos nacionais para vetores de requalificações urbanas e produtos de mercado turístico e imobiliário. Elizabeth Diller, arquiteta no Diller Scofifio + Renfro realizou a seguinte afirmação “Desde Bilbao, o museu é a primeira peça na coleção do museu”. 44

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A frase pode ser polêmica, já que antes do Gugenheim, de Gehry, outros museus são marcos arquitetônicos para atrair visitantes. O Museu Guggenheim de Nova York, em 1937, já funcionava como objeto arquitetônico e artístico para os Estados Unidos quando Frank Gehry ainda era criança. Para Frank Lloyd Wright, arquiteto responsável pelo Guggenheim de Nova York, o museu é “um templo do espírito, um monumento” (WRIGHT, 1986, p. 242). As rampas internas do edifício propõe um passeio arquitetônico, são elas espaço de fluxo e permanência. O cone invertido e formas arredondadas que compõem seu volume são um objeto arquitetônico icônico para a Quinta Avenida. Além do Guggenheim de Nova York e o Guggenheim de Bilbao, podemos considerar o Centro Georges Pompidou (Renzo Piano + Richard Roger) como um edifício parte dessa lógica de museus como atração de visitantes e edifícios como a própria experiência expográfica. Contudo, apesar da afirmação polêmica, Elizabeth Diller não está sendo equivocada quando trata o Guggenhein de Bilbao como um marco para o movimento de museus como vetores urbanos e potenciais pontos turísticos. Esse movimento se deu em muitas cidades durante o período pós-guerras: os centros esvaziados foram requalificados e valorizados pelo mercado devido às suas vantagens de localiza-


ção e atração pela lógica imobiliária. No caso da cidade espanhola, a construção do museu fez parte de um plano de revitalização urbana (BILBAO RIA 2000) que envolvia a recuperação da estrutura urbana, a incorporação de grandes áreas abandonadas pelas indústrias em locais centrais e estratégicos ao longo da beira do Rio Nervión, redesenho viário e ferroviário, recuperação e reincorporação do rio à vida da cidade e a transformação econômica em uma metrópole de serviços e comércio contemporâneo. A construção do museu, localizado estrategicamente no centro antigo e às margens do rio da cidade de Bilbao, apesar de fazer parte de um plano maior, foi o fator decisivo para atração de turistas para cidade. Após ser amplamente divulgado pela mídia internacional, a instituição recebeu 2,5 milhões de visitantes nos seus dois primeiros anos de funcionamento. (BORDOLON, 1999). O modelo de sucesso de Bilbao é chamado pelo Professor David Sperling, professor da FAU-USP, de “museus enquanto acontecimentos urbano-midiáticos” (DAVID SPERLING, 2012) e tem sido replicado em muitas cidades desde então. Podemos citar a cidade do Rio de Janeiro (Museu do Amanhã, Calatrava); Lisboa (Museu de Arte Arquitetura e Tecnologia- MAAT, Amanda Levete) e Valencia (Ciudad de Las Artes y Ciencia, Calatrava). Além da lógica urbana, ainda podemos ver a arquitetura do ponto de vista da imagem

e da exploração dela como recurso midiático e atração de visitantes. Apenas no Instagram, são geradas mais de 95 milhões de fotos por dia (HOOTSUITE, 2019). A cada dois minutos, o mundo tira mais fotos que todas as imagens geradas no século XIX (HIGHT TABLE, 2012). Vivemos a era da imagem: produzimos e consumimos imagens em grande escala. E os novos museus sabem disso: já na concepção arquitetônica são levados em consideração fatores como engajamento e participação do usuário com a interface do edifício e perspectivas que possibilitem fotografias e exploração da imagem do museu. Segundo MARQUES, “com a necessidade de se legitimar e com a politização da cultura, a arquitetura tornou-se uma das estratégias adotadas pelos museus para aumentarem o seu prestígio e conquistarem mais um segmento de público potencial, tornando-se também uma parte vital da dinâmica dos museus. Para além de ser o seu cartão-de-visita, o edifício deixou de ser apenas o contentor de uma instituição, para ser, antes de mais, uma forma de afirmar o seu prestígio.” (MARQUES, 2013). Portanto, vemos nessa tendência o museu contemporâneo figurando em dois papéis importantes: o museu como vetor urbano, implicando na requalificação de áreas específicas de algumas cidades e intervindo sobre a lógica Tendências de comportamento e tecnologia

imobiliária. E o museu como ícone, como imagem a ser vista e explorada pelas mídias tradicionais e as redes sociais. De acordo com o texto de MARQUES “Museus contemporâneos: locais de contágios e hibridismo”, o papel dessas instituições não é muito diferente do que faziam as “catedrais” ao se tornarem símbolos de prestígio e poder público. A autora escreve:

“Os novos museus são edifícios para ‘serem vistos’. Mas são, an- tes de mais, monumentos ao prestígio dos poderes públicos que apoiam a criação contem- porânea como símbolo de uma política cultural que opta de- cididamente pela modernidade e que assim constrói as suas ‘ca- tedrais’.” Seja na dimensão sim- bólica ou física, os museus tem construído imagens daquilo que as instituições desejam ser para essa sociedade; engajando e for- mando um público, bem como gerando experiências a estes visitantes parte da sua comuni- dade. (MARQUES, 2013).

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Imagens 18: Museu Guggenheim, em Bilbao. Fonte: guggenheim-bilbao.eus/en/the-building



PRESENÇA NAS REDES SOCIAIS Para entender o papel das redes sociais na sociedade contemporânea, precisamos nos atentar a alguns dados: 1.1 bilhão de pessoas usam o Instagram todos os dias (HOOTSUITE, 2019) – esse número equivale a um sétimo da população mundial ou mais de 5 países como o Brasil. A popularização da rede social aumenta todos os anos, sobretudo em países emergentes como o Brasil. Aqui, o poder de consumo aumentou 22,6% entre 2003 e 2008 (“Renda do brasileiro cresceu mais do que o poder de consumo, diz FGV - Economia”, Estadão, 2010), o que incluiu digitalmente uma parcela maior da população. Os brasileiros possuem 230 milhões de smarthphones em uso (ÉPOCA, 2019), um número que excede em 29 milhões a quantidade de habitantes. Além disso, as pessoas estão conectadas por mais tempo e realizam posts com maior frequência, quinhentos milhões de pessoas usam a função “stories” todos os dias (HOOTSUITE, 2019). A função permite que o usuário transmita instantaneamente o seu dia a dia com a sua “audiência.” Com um crescimento 48

tão grande de usuários, as instituições públicas e privadas também se posicionam e interagem com o seu público por meio das redes sociais, 70% das empresas dos EUA usam o Instagram como canal de comunicação (HOOTSUITE, 2019). O poder das redes sociais, a democratização da fotografia por meio dos smarthphones, e a invenção da “selfie” potencializaram uma tendência humana de comportamento: a necessidade de ser visto. Há alguns séculos, os teatros representavam fisicamente a vitrine virtual que o ambiente digital proporciona hoje. Como um espaço cultural burguês, os espaços luxuosos dos teatros eram locais para ver e ser visto. Da mesma forma, na era moderna os camarotes e a ostentação continuaram sendo formas de auto afirmação. Na contemporaneidade, são as redes sociais a forma mais acessível de exibir suas conquistas e ostentar consumo e experiências. Para Levy (2002) as comunidades virtuais são uma nova forma de fazer sociedade. Nesse sentido, o mercado, bem como museus e instituições de entretenimento e cultura tem tornado suas experiências “instagramáveis”, o termo se refere a tudo aquilo com potencial imagético de compartilhamento: a apresentação de um prato por um restauranO Museu do Futuro

te, a cenografia de uma festa ou a interatividade de uma exposição. Além de instigar a participação do usuário, o objeto ou experiência “instagramável” aumenta o engajamento, uma maneira de “viralizar” o seu serviço ou produto e ganhar marketing gratuito. Ciente desse processo, Maryellis Bunn (empresária da Califórnia) idealizou o “Museu do Sorvete” – uma experiência de imersão cenográfica em que os visitantes se fotografam com imensos picolés, cerejas e arco-íris feitos de plástico. Além disso, as pessoas recebem sorvetes e algodão doce durante a visita. A experiência U$39, o que equivale a mais de R$94 em 2019. O projeto surgiu pela primeira vez em Nova York, de maneira temporária, no último verão norte-americano. Os ingressos para os 45 dias esgotaram-se rapidamente e o “museu” encerrou suas atividades com 200 mil pessoas na lista de espera. Nesse mesmo modelo, a exposição “Color Factory”, de São Franscisco reuniu diversos artistas, ilustradores e designers em torno de uma exposição que explora a cor como elemento visual. Com mais de 20 mil metros quadrados, a instalação conta com uma imensa piscina de bolinhas mostarda, mais de 16 quartos imersivos, um café com bebidas coloridas e até mesmo uma experiência onde você pode descobrir sua cor pessoal. O projeto pop up que


duraria quatro semanas teve na sua primeira edição oito meses com ingressos esgotados e abre a sua segunda sede no Soho, em Nova York. Esse fórmula do mercado baseada na “viralização” de produtos e serviços não se limita às organizações privadas. Os museus adotaram exposições “pop-ups” ou “blockbusters” em suas exposições temporárias como forma de atrair mais visitantes, e assim, financiar o seu funcionamento e expansão. Até mesmo o clássico Museu de Artes Decorativas, localizado na ala oeste do Palais du Louvre abriu seu pátio para uma instalação contemporânea interativa em comemoração aos 50 anos da grife Colette. O projeto denominado “The Beach” se trata de um grande espaço com paredes brancas preenchido por milhares de bolinhas de plástico transparente, cadeiras, bóias e outros itens de praia. Nele, os visitantes se fotografam mergulhando no grande espaço branco enquanto interagem com os objetos cenográficos. Os responsáveis pelo projeto são os artistas do esúdito The Snarkitecture , de Nova York. Além de proporcionar a experiência e instigar os usuários a fotografarem suas coleções criando “selfie” points, os grandes museus criam tags para que os visitantes possam ga-

nhar visibilidade para milhares de pessoas por meio de suas contas nas redes sociais. A Pinacoteca de São Paulo utiliza a hastag #EuNumQuadro em que os seus visitantes que tenham semelhança física com a figura de um quadro se fotografam ao lado da obra e sejam repostadas pela instituição para mais de 252 mil seguidores (2019). O Museu Paulista também foi um dos primeiros do Brasil a disponibilizar o seu acervo digitalizado em alta resolução na plataforma Google Arts and Culture. A plataforma conta com milhares de obras de galerias pelo mundo e sua conta no Instagram possui 196 mil seguidores (2019). Já The Metropolitan Museum of Art , em Nova York é o museu com mais seguidores em redes sociais, totalizando em 2019 mais de três milhões de usuários.

te, a experiência transcende o espaço físico e cria no meio digital uma maneira de absorver conteúdo e compartilhar ideias e conceitos das obras e experiências promovidas. A partir dos dados obtidos pelo engajamento as instituições podem otimizar suas atividades e proporcionar novas, ampliando seu público e a sua atuação sobre a sociedade.

A partir dessas informações, é possível perceber que “as mídias sociais oferecem oportunidades significativas para as instituições museológicas se relacionarem com públicos diversos e heterogêneos, iniciando diálogos personalizados com o seu público com o objetivo de aumentar o envolvimento com o museu, promovendo a participação e fornecendo informação mais direcionada para o seu público” (BARBOSA, 2014, p.11). Vemos aqui um ciclo: os número de usuários de redes sociais e as visitações em museus crescem proporcionalmenTendências de comportamento e tecnologia

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Imagem 19: Museu do Sorvete, em Miami. Fonte: museumoficecream.com

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Imagem 20: The Beach, Paris. Fonte: http://genarobardy.com/portfolio/reportages/colette-20-ans-x-snarkiteckure/

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INTERATIVIDADE Interagir leva em consideração a permuta entre a ação de alguém com o outro ou desse alguém com o espaço, se trata de uma troca. Desse modo, a interatividade nos museus nada mais é que a troca entre o usuário e a experiência que o museu proporciona. Embora esteja associada hoje a tecnologia e a dispositivos eletrônicos, desde a década de 60 a interatividade faz parte da expografia. A arte contemporânea e a inserção da performance como objeto de arte são sinais que apontam a interatividade como uma tendência artística desde essa época. O conceito é utilizado fortemente em museus de ciência em que a ação mecânica desse usuário provoca um fenômeno qualquer, mas pode ser reconhecida também em museus de arte e história. Para entender interatividade, podemos ler o conceito em dois significados distintos: a interatividade como ação analógica e a interatividade digital, um conceito mais recente. Apesar de se tornar um grande movimento no contexto museológico devido aos su54

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portes digitais e a força de engajamento oferecido por eles, a interatividade não deve ser vista apenas como conexões digitais entre indivíduos e máquinas. Para MANOVICH, há o perigo de interpretar ‘interação’ literalmente, associando-a à interação física entre um usuário e um objeto midiático (apertar um botão, escolher um link, mover o corpo) (MANOVICH, 2001). A interação pode ser realizada entre corpo e objeto de arte, entre corpo e espaço ou mesmo as instalações e performances podem sugerir a interação entre corpo e corpo, como é o caso da performance Rhythmo realizada por Marina Abramović em 1974. A artista sérvia disponibilizou seu corpo como objeto por seis horas para que os visitantes realizassem o que bem entender. A performance aconteceu em uma sala do Estúdio Morra, em Nápoles (Itália). Em uma mesa 72 objetos divididos em objetos de prazer como uvas e flores e objetos de dor como facas e tesouras foram disponibilizados para os participantes. Durante esse período, o corpo-objeto foi beijado e abraçado, mas também violentado de tal maneira que fez da performance uma obra conhecida internacionalmente. Em entrevista realizada por mim, em maio de 2019, com Gustavo Torrezan, professor e pesquisador pelo SESC - SP, pude conversar sobre um conceito que ajuda a entender a inte-


ratividade no contexto da arte: a Estética Relacional, de Burriot. Dentro desse conceito, a arte depende do subjetivo, da relação do público com a obra. “Os artistas que se englobam na esfera da Estética Relacional tentam descobrir novas formas de habitar o mundo, com novos modelos de vida dentro da realidade, em vez de tentarem alterar o seu ambiente.” (ARANDA, 2012) Desse modo, essas obras dependem do engajamento desse expectador e se formam a partir da integração desses sujeitos. “A obra, aberta ao espectador, necessita da sua colaboração para se completar.” (ARANDA, 2012) Na década de 60, Helio Oiticica é um expoente desse movimento, propondo novas maneiras de experimentar a arte e definir o objeto artístico. Em sua obra denominada Parangolé, o artista propõe uma vestimenta feita para a dança e a ginga. Para que o objeto fosse completo, os tecidos costurados pelo artista dependiam do dançarino, criando uma relação entre o indivíduo e a obra de arte. De mesmo modo, Lygia Clark cria uma série de peças denominadas “Objetos relacionais” em que “o “objeto relacional” não tem especificidade em si. Como seu próprio nome indica é na relação estabelecida com a fantasia do sujeito que ele se define. O mesmo objeto pode expressar significados diferentes para diferentes sujeitos ou

para um mesmo sujeito em diferentes momentos.” (CLARK, 1980). Além desses já citados, temos Erwin Warm, Yayoi Kusama, Yoko Ono, entre outros artistas contemporâneos propondo instalações em que a participação do visitante é imprescindível para que a obra esteja completa. Ambos os artistas (Warm, Kusama e Yoko Ono) possuem o engajamento do público como um fator viral que faz dessas exposições sucesso em número de visitações. Enquanto isso, na era digital a interatividade está fortemente ligada aos aparelhos tecnológicos e às telas. São as luzes piscando, as interações touchscreen e a realidade virtual que engajam o público a contribuir com as instalações. Diferente dos conceitos anteriores, não necessariamente existe a busca por reflexão do público nessas exposições. Por vezes, a experiência por si só engaja milhares de pessoas a participarem das exposições e compartilharem em suas redes sociais suas vivências. Um bom exemplo é o trabalho do “TeamLab Planets” – laboratório japonês que conta com uma equipe de mais de 500 pessoas explorando a convergência entre arte, tecnologia, design e mundo natural. O estúdio é responsável por criar exposições completamente digitais e interativas. Nelas, os visitantes andam sob lagos de luz que se movem enquanto eles caminham, e imergem Tendências de comportamento e tecnologia

em imensas florestas artificiais em que tudo se move conforme o movimento das pessoas nas salas de exposição. Segundo o próprio diretor, a proposta do museu digital, em Tokyo é “uma experiência diferente todo dia. Há monitores e projetores de diferença e as pessoas podem se tornar parte do trabalho” (LAB MEDIA, 2018). Portanto, a interatividade ou relação estabelecida entre indivíduos e objetos de arte são conceitos de mais de 50 anos, mas que ganharam maior engajamento com os suportes digitais. As redes sociais, as possibilidades dos suportes com o advento do touchscreen, da realidade virtual e a realidade aumentada fazem com que essas interações sejam absorvidas pelas novas gerações de maneira natural. A relação com a tela para os nascidos nesse milênio começa já nos primeiros anos de vida, portanto, utilizá-la como mediação entre obras de arte e as pessoas irá se expandir nos próximos anos. Resta saber se essa interatividade tem provocado reflexões, incentivado a construção de uma obra social e verdadeiramente colaborativa ou se essas produções recentes não são atividades protocoladas e experiências passivas as quais a lógica capitalista e de consumo produzem.

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Imagem 21: Exposição realizada pelo TeamLab Planets, em Tokyo. Fonte: borderless.teamlab.art/

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Imagens 22,23 e 24: Obras interativas de Erwin Warm. Fonte: erwinwurm.at/artworks.html

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Imagem 25: Galeria Interativa de Yayoi Kusama. Fonte: dezeen.com

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REALIDADE VIR TUAL REALIDADE AUMENTADA Com um crescimento de receita projetado para atingir US $ 150 bilhões até 2020, Realidade Aumentada e Realidade Virutal estão na lista de muitas listas de “tecnologias para assistir” de museus (MEREL, 2015). Para compreender as duas tecnologias e seus usos, é relevante entender a diferença entre cada uma delas. A realidade virtual cria experiências de imersão em ambientes criados por computador; utilizando óculos ou capacetes os usuários visualizam ambientes tridimensionais ao seu redor e conforme se movimentam podem explorar o espaço digital. São exemplos os Óculos Rift, desenvolvidos pela Oculus VR, e utilizados para jogos e outras experiências. Enquanto isso, a realidade aumentada sobrepõe objetos 3D, imagens ou outras informações e signos sobre a realidade existente. Nessa experiência, o usuário pode utilizar óculos, como o Google Glass, desenvolvido pela Google ou o próprio smarthphone ou tablet. São exemplos o jogo Pokemon Go e os filtros de Snapchat e Instagram. Ambas propõe novas realidades e têm sido in60

troduzidas em jogos, experiências recreativas, atividades turísticas, treinamentos e educação. Dessa forma, um fundamento crucial para que a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada seja introduzida nos espaços de exposição é o aumento do engajamento e a otimização da educação nos museus. Os museus essencialmente possuem esse papel formador e educador na sociedade. Portanto, atividades que auxiliem a interpretar as obras já vem sendo exibidas por museus de todo mundo há algum tempo por meio de “ferramentas interpretativas como etiquetas descritivas de parede, brochuras, guias de áudio, sites e aplicativos móveis. (FINK, 2017). O papel dessas tecnologias é oferecer um novo suporte para que a relação entre os visitantes e as obras de arte sejam intermediadas por meio digital. O seu poder de engajamento e a possibilidade de intervenção no espaço por meio do seu próprio smartphone tornam obsoletos os áudio guias e vídeo guias utilizados anteriormente. Segundo Brendan Cieko, em entrevista para um artigo de Charlie Fink “AR em museus”, a “Realidade Aumentada criou uma nova ‘lente’ para descoberta, investigação mais profunda e prazer de arte e cultura. Os museus estão em busca contínua de novas maneiras de O Museu do Futuro

envolver seus visitantes, e tecnologias como Realidade Aumentada aumentam seu arsenal de ferramentas educacionais e de contar histórias ”. Brendan é CEO da Cuseum, desenvolvedora de uma plataforma de Realidade Aumentada para museus, atrações públicas, e outras organizações sem fins lucrativos culturais. A organização já desenvolveu tecnologia para museus como a White House Historical Association e o San Francisco Museum of Modern Art. No museu de arte de Cleveland, todos os objetos do museu estão incluídos em um catálogo digital no aplicativo próprio da Instituição. Por meio do escaneamento da tela 2D, o usuário recebe informações sobrepostas às figuras com vídeos, textos e legendas que permitem que o visitante observe a obra enquanto recebe mais informações sobre ela. Da mesma forma, a National Portrait Gallery, em Londres, utiliza uma plataforma denominada Smartify, onde os visitantes podem “dar play” em cada um dos quadros e ainda salvar as suas obras favoritas em sua própria galeria do aplicativo. Outra plataforma que permite a participação do usuário é o Sketchfab. Uma biblioteca de objetos tridimensionais. Utilizando fotometria na criação de obras de arte tridimensionais, os museus podem disponibilizar suas peças


nessa biblioteca publicamente. Dessa forma, os museus permitem a cocriação e reprodução dos seus conteúdos 3D para outras instituições e também para os seus visitantes. Por exemplo, em uma visita recente pela plataforma, percebi o comentário de um usuário que utilizou o “Apollo Belvedere” da National Gallery of Denmark para um projeto audiovisual em seu Instagram. As novas realidades também são uma maneira de democratizar a arte, ao passo que aumentam sua capacidade de reprodução e reinvenção por pessoas comuns. Há ainda as galerias que propõem uma exposição completamente virtual, bem como aquelas que podem ser transportadas para a casa do usuário - uma grande tendência para os próximos anos. Em 2017, o Museu de História Natural de Los Angeles exibiu The Blu, uma experiência de realidade virtual em que os visitantes exploram o mundo abaixo da água em busca por seres dos oceanos. A exposição temporária produzida pela Wevr– plataforma de tecnologia em Realidade Virtual – recebeu milhares de visitantes. No mesmo ano, a empresa de jogos Wargaming usou a realidade mista para recriar o tanque Tiger da Segunda Guerra Mundial, usado pela Alemanha nazista. O The Tank Museum , no Reino Unido tinha intenções de exibir a peça, a única que faltava em

uma coleção de tanques Tiger, mas o veículo é uma peça rara e difícil de ser transportada. A Wargaming solucionou esse problema criando uma experiência de Realidade Aumentada em que os visitantes não só podiam ver o tanque de guerra, como vê-lo em funcionamento. Na conversa com Paulo Vicceli, diretor da Pinacoteca de São Paulo, refletimos sobre um futuro em que as pessoas vão poder projetar de uma maneira muito fiel obras icônicas na sala de casa ou em eventos particulares. A realidade virtual e aumentada não só aumenta a interação entre o usuário e otimiza atividades educativas, mas significa o rompimento da relação necessariamente física entre as peças de arte e os espaços dos museus. A manipulação, cocriação e reprodução das obras é uma realidade tangível.

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Um fundamento crucial para que a Realidade Virtual e a Realidade Aumentada seja introduzida nos espaços de exposição é o aumento do engajamento e a otimização da educação nos museus. 61


Imagem 26: Smartify App na The National Portrait Gallery, em Londres. Um exemplo de realidade aumentada. Fonte: virtualrealitypop.com/ar-in-museums-890b0a48e7a5

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Imagem 27: Modelo 3D de Apollo Belvedere, da National Gallery of Denmark Fonte: sketchfab.com

Imagem 28: Visitantes utilizando o ARtGlass em uma galeria. CrĂŠdtos: ArtGlass

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INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL “O termo inteligência artificial representa um conjunto de software, lógica, computação e disciplinas filosóficas que visa fazer com que os computadores realizem funções que se pensava serem exclusivamente humanas, como perceber o significado em linguagem escrita ou falada, aprender, reconhecer expressões faciais e assim por diante.”(“O que é inteligência artificial?”,HPE). Ou seja, inteligência artificial são sistemas de computador inteligentes, que exercem atividades de maneira semelhante a um cérebro humano. Na prática, esses sistemas complexos cruzam uma grande quantidade de dados obtidos na internet e oferecem como resposta aquela que possui maior chance de acerto. A Siri, assistente digital do iOs – sistema da Apple – é uma das aplicações mais conhecidas de inteligência artificial, mas o reconhe64

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cimento facial, atendimento por chatboot, supervisão de plantações e da saúde são outras aplicações já utilizadas da Inteligência produzida por computadores. Alguns veem a tecnologia como um futuro promissor para a resolução de problemas e otimização da vida humana, já outros preveem a desestruturação social por meio do desemprego em massa, onde robôs ocupariam postos de trabalho dos seres humanos. O fato é que a inteligência artificial já faz parte da nossa vida. Quando decidimos ir por determinado caminho por orientação do Google Maps estamos confiando nosso direcionamento a inteligência obtida pela ferramenta. Nesse sentido, a Google já testa os seus primeiros carros autônomos – um veículo auto dirigível denominado Google Driveless Car que não possui nem mesmo um volante. Os veículos autônomos são outra aplicação de Inteligência Artifical muito próxima de se tornar usual. E como os museus têm utilizado essas tecnologias para transformar suas experiências? O projeto Voz da Arte, da Pinacoteca de São Paulo ganhou 3 Leões no Festival de Cannes 2017 por utilizar Inteligência Artificial para estabelecer literalmente um diálogo entre as obras de arte e seu público. Em parceria com a IBM, a equipe de tecnologia ensinou a inteligência Watson (antes usada na medicina) sobre


arte brasileira e algumas peças selecionadas do museu. Esse projeto contou com a colaboração entre a equipe de curadoria e os especialistas em Inteligência Artificial. No serviço oferecido, as pessoas podem perguntar o que quiserem para as obras: no vídeo de divulgação, um menino aparece perguntando para o Mestiço, de Portinari, se ele gosta de jogar futebol, por exemplo. Em maio de 2019 realizei uma entrevista com o idealizador do projeto, Paulo Vicceli. Para ele, a iniciativa é uma maneira de “falar com o público que não frequenta o museu”. Segundo o diretor da Pinacoteca de São Paulo, isso é algo que permeia todos os seus projetos. No Brasil, mais de 70% da população nunca foi a um museu. (IPEA, 2010). Portanto, ferramentas que permitam o diálogo com públicos que não se identifica com arte e com os ambientes dos museus é uma maneira original de democratizar o conteúdo dos museus e abrir mais espaço para cultura. O Projeto Voz da Arte é um bom exemplo de tecnologia utilizada como intermédio da educação. A ferramenta propicia uma experiência com algum fim que não apenas o entretenimento. Para Paulo Vicceli, o projeto foi uma maneira do museu se estabelecer como um museu de arte moderna do Século XIX “com os pés no Século XXI”.

Em Amsterdam, The Anne Frank House oferece uma conversa interativa pelo Messenger para os seus visitantes. Por meio de um chat comum do Facebook, uma pessoa pode receber informações sobre Anne, sua família, o diário e as condições de vida da sua época, bem como obter orientações básicas sobre a visitação do museu. Os chatboots (bate papos com inteligência artificial) são ferramentas utilizadas por muitos museus da atualidade para fornecer informações úteis para os seus visitantes. Ainda na Holanda, computadores foram capazes de ir além do fornecimento de informações: o projeto “The Next Rembrandt” criou uma pintura completamente nova a partir das técnicas utilizadas pelo artista holandês. Em um primeiro passo, scanners 3D coletaram informações pixel por pixel de centenas de obras do pintor. Com a base de dados formada, foi possível analisar as características físicas das pessoas retratadas, sendo a figura mais encontrada um homem caucasiano, de barba, entre 30 e 40 anos de roupas pretas e chapéu olhando para a direita. Além disso, algoritmos analisaram as proporções das faces retratadas, bem como a geometria, composição e os materiais de pintura utilizados em cada um dos quadros. A partir desses padrões foi possível determinar uma figura bidimensional, mas o projeto foi além: A Tendências de comportamento e tecnologia

partir de um mapa 3D que media a altura das camadas de tinta, foi possível elaborar uma composição tridimensional do quadro. Esse “mapa” foi impresso em camadas sobrepostas de tinta para a criação de uma obra completamente nova ao estilo Rembrandt. O quadro inédito obteve mais de 1,8 bilhões de impressões na mídia. O feito holandês contém no seu próprio vídeo institucional uma reflexão final: “What’s next?”. O que vem depois disso? A inteligência artificial e a sua capacidade de analisar milhares de dados por segundo colocam computadores em patamares que a inteligência humana não conseguiria de forma natural. O que um cérebro humano demora anos para aprender é assimilado em milésimos de segundo por um computador. Já vivenciamos no dia-a-dia o resultado da interação entre inteligência artificial e as nossas atividades, mas só saberemos em alguns anos o verdadeiro impacto da introdução dessas soluções inorgânicas nas nossas vidas.

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Imagem 29: Projeto Voz da Arte, Pinacoteca de SĂŁo Paulo. Fonte: ogilvy.com.br/cases/a-voz-da-arte

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Imagens 30 e 31: The Next Rembrandt. Fonte: nextrembrandt.com

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de História Natural dos Estados Unidos ,

DESIGN THINKING USER EXPERIENCE

“As práticas incorporadas no design de serviço oferecem uma maneira de avançar o diálogo sobre estratégia digital além (e inclusive) de uma abordagem centrada no visitante e no projeto.”

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Esses dois conceitos são novos, mas se relacionam entre si no sentido de ter o usuário e a sua experiência como centro das suas disciplinas. Dessa forma, Design Thinking é uma abordagem colaborativa para solução de problemas. Por meio de dinâmicas, post-its e prototipagem de produtos e serviços, questões relacionadas a marcas ou instituições são solucionadas. Esse trabalho exige não só o engajamento de designers gráficos, mas designers de experiência, engenheiros e pessoas de outras disciplinas que tragam novos métodos para solução de determinado problema. Já o profissional de UX (User Experience) é responsável por desenhar online e offline a experiência de determinado usuário em torno de um serviço ou produto. A prática dessas disciplinas nos museus tem acompanhado a inserção de recursos digitais como sites, aplicativos, realidade virtual e realidade aumentada. Esses produtos, como citado, personalizam a experiência do visitante, bem como fornecem dados para as instituições. Para Ariana French, do Museu Americano O Museu do Futuro

“as práticas incorporadas no design de serviço oferecem uma maneira de avançar o diálogo sobre estratégia digital além (e inclusive) de uma abordagem centrada no visitante e no projeto. A compreensão profunda do comportamento dos visitantes do museu é absolutamente fundamental para a boa estratégia digital, mas não termina aí. Para realmente transformar o relacionamento de uma organização com seus visitantes, os museus devem se modificar no processo. Para esse fim, o design de serviços oferece um conjunto de ferramentas e conceitos para ajudar os museus a descobrir, identificar e implementar mudanças organizacionais.” (ARIANA FRENCH, 2016). O consumidor visitante é a centralidade das atividades que se dedicam a otimizar as experiências desses espaços de exposição e entretenimento. Entender, melhorar e manter as interações positivas de serviços entre a organização e o visitante são conceitos centrais no pensamento de design de serviços. Essas interações se reúnem em uma “jornada do visitante”, que é um mapa representacional que


descreve uma série de pontos de contato entre um visitante e a organização, nos horários e locais em que ocorreram. Cada ponto de contato é considerado uma oportunidade em potencial para melhoria organizacional e feedback dos visitantes. No contexto do museu, a jornada do visitante começa antes da visita ao museu, contém interações de pontos de contato dentro da visita ao museu e continua depois que o visitante deixa o museu. (ARIANA FRENCH, 2016) Ou seja, equipes que trabalham com essas disciplinas precisam estar cientes de todos os pontos de contato entre o Museu a o seu visitante. A instituição deve analisar em meio físico e digital toda a jornada do usuário desde a sua intenção em visitar o espaço, a compra de ingressos, a sua orientação dentro do edifício, as suas galerias preferidas e os produtos que esse consumidor levou para casa. Receber e analisar esses dados aumenta a performance das Instituições no sentido de tornar a experiência do seu visitante a melhor possível. Para realizar tal feito, FRENCH alerta em seu artigo “Service design thinking for museums: Technology in contexts” para a importância de se atentar as inovações digitais, bem como entender a interação física e real entre as pessoas e a cultura do Museu.

“Para dar às iniciativas digitais voltadas para o visitante sua melhor chance de sucesso, é essencial entender a cultura institucional. Enquanto a jornada do visitante e uma estratégia focada no visitante continuarão a ser centrais para a adoção do diálogo e da estratégia digital, o contexto mais amplo das operações do museu é cada vez mais reconhecido como um fator crítico.” (ARIANA FRENCH, 2016). Um exemplo bem sucedido da associação entre digital e analógico é o design sprint realizado pela equipe de Design de Produto do British Museum. A equipe responsável pelo aplicativo, audio e video guides e o layout do site do museu foram para o edifício e em dois dias e meio experimentaram o contato direto com as pessoas. Lá eles puderam saber se os visitantes tinham dificuldades de se encontrar no museu ou quais eram suas galerias preferidas. Dotados de post-its e plaquinhas, eles tiveram conversas com os visitantes e viram que muitos deles não tinham interesse por uma peça em si ou certa galeria, ao invés disso, muitos apenas queriam saber onde deixar o casaco ou encontrar o banheiro. O processo está descrito na plataforma MEDIUM, no artigo “The British Museum: Running Design Sprints in Museums”, escrito por Tendências de comportamento e tecnologia

Dana Mitroff Silvers – especialista em design thinking e experiência de usuários para museus. Portanto, dentro dessa tendência, vemos a preocupação de especialistas quanto a interatividade real e a assimilação do público do espaço e das exposições dos museus. Apesar do advento das ferramentas digitais, é imprescindível que a experiência do usuário se baseie no contato direto entre humanos. Os canais de comunicação como as redes sociais ou os aplicativos das instituições permitem que o usuário avalie e interaja com o museu instantaneamente e toda essa produção de dados tem otimizado como essas instituições podem atender os seus visitantes. Isso porque conhecer o perfil desses usuários faz com que os museus possam se atentar a públicos emergentes e desenhar atividades para essas pessoas de uma maneira personalizada. Dessa forma, o museu se torna um espaço mais democrático e pronto para receber grupos de pessoas diferentes em torno de atividades educativas e sociais.

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BIG DATA

O conceito de Big Data se refere aos dados recebidos por empresas e organizações todos os dias. Contatos telefônicos, cadastros de clientes, trajetos realizados pelos motoristas da Uber, as milhões de fotos postadas no Instagram todos os dias, arquivos, comprovantes de pagamento e toda natureza de dados compreende o universo de Big Data. Todas essas informações computam trilhões de megabytes e estão armazenadas em hardwares e nuvens, cada vez mais comuns no dia-a-dia de qualquer um que tenha um smarthphone. O assunto se popularizou a partir dos anos 2000, quando a produção de informações na era digital ganhou uma proporção global. Hoje, pessoas ligadas a tecnologia e economia já afirmam que “os dados são o novo petróleo” (Maurício Ruiz, em entrevista para ISTOÉ, 2018). É por meio deles que recebemos sugestões de compras cada vez mais personalizadas nas nossas redes sociais. A Netflix, o Youtube e o Spotify também são capazes de sugerir conteúdo com base no que já assistimos. Os resultados de pesquisa do Goo72

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gle também variam de um usuário para outro, de acordo com seu histórico de interesses. O “Maps” e o “Waze” definem o trajeto mais rápido a partir da trajetória de milhões de usuários que os fornecem dados todos os dias. De fato, Big Data está possibilitando que grandes empresas como a Google e o Facebook cresçam exponencialmente por meio da coleta e revenda de dados dos seus usuários. Dessa forma, questões como a privacidade e segurança das informações tem sido tema de fóruns e conferências políticas internacionais. E como esses dados estão sendo utilizados por museus? Ao utilizar aplicativos, sites e outros sistema digitais, eles tem coletado dados que podem dizer quais são as peças preferidas dos seus visitantes, quais as galerias em que eles passam mais tempo, quais produtos tem maior potencial e compra em suas lojas, bem como receber feedbacks dos seus visitantes em relação aos seus produtos e serviços. No aplicativo do Cleveland Museum of Art, por exemplo, o usuário pode tocar em imagens de vários objetos da coleção e adicionar as suas próprias coleções, salvando seus itens favoritos e compartilhando com outros usuários. Dessa maneira, o museu sabe quais são as peças que os seus visitantes desejam mais ver e adicioná-las aos seus mapas físicos e digitais, facilitando


a localização delas dentro do museu. No Museu Britânico, cientistas de dados da Microsoft analisou dados do público para propor um mapa da experiência do usuário. Esse mapa começa muito antes da entrada do edifício, no site da instituição e termina depois da visita, por meio dos feedbacks e avaliações dos serviços nas redes sociais. O Art Institute of Chicago utiliza os seus dados coletados para prever a presença de visitantes com base no clima, eventos turísticos, horários de escolas públicas, etc. Todos esses métodos adotados pelos museus fazem parte do conceito de Big Data e contribuem para o aumento da receita e consequentemente a expansão dessas instituições.

museus de história do país recebia menos de US$ 100 mil (em torno de R$300 mil) por ano para manter seu funcionamento. O museu foi praticamente destruído por um incêndio em 2018 pelo seu mau estado de conservação. Dessa forma, como os museus menores em países subdesenvolvidos e emergentes poderão estar incluídos na era do Big Data, onde há ainda carência por cientistas de dados? Os recursos analógicos, o conhecimento do público, envolvimentos de suas comunidades e o contato humano-humano vai ser fundamental em um futuro onde os museus crescem e expandem com base em métodos de mercado.

É importante lembrar que a coleta de dados não é feita apenas em meio digital. Os antigos formulários feitos de papel e caneta, as entrevistas, o contato direto entre equipes de Design de Experiências e o público podem fornecer dados importantes para quem está propondo as ferramentas digitais. Apesar disso, sabe-se que as diferenças entre os pequenos museus e grandes instituições como o Metropolitam Museum of Art (orçamento anual de US$ 305 milhões) e o Art Institute of Chicago (orçamento anual acima de US$ 300 milhões) são gigantes. Para se ter uma ideia, o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, um dos principais Tendências de comportamento e tecnologia

Ao utilizar aplicativos, sites e outros sistema digitais, os museus tem coletado dados que podem dizer quais são as peças preferidas dos seus visitantes, quais as galerias em que eles passam mais tempo, quais produtos tem maior potencial e compra em suas lojas, bem como receber feedbacks dos seus visitantes.

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ACESSIBILIDADE

Para entender acessibilidade em museus e as iniciativas históricas e contemporâneas para que o museu seja mais acessível para diferentes públicos, é preciso compreendê-los como instituições sociais. Como tal, a comunicação e fornecimento de informação e conteúdo são responsabilidades que os competem, independente da qualidade desse público. Para isso, é preciso considerar não só a acessibilidade do espaço, mas acessibilidade da informação e do acervo. No Brasil, por exemplo, a NBR 9050 (Norma Brasileira de Acessibilidade) normatiza as construções para que possam ter espaços acessíveis por meio pisos táteis e rampas de acesso para cadeirantes. Contudo, a norma não garante que no campo cognitivo, as instituições se preocupem em integrar cegos, surdos, pessoas com Síndrome de Down ou outra condição especial. Desse modo, a inovação em acessibilidade não se refere necessariamente a acessibilidade física das pessoas com deficiência, mas 74

a inclusão universal das pessoas nos museus. Por meio de atividades, ferramentas analógicas ou digitais essas instituições querem que qualquer pessoa, independentemente de suas condições, se sinta parte das suas programações. Viviane Panelli vai chamar esse processo de “desenvolvimento de pertencimento cultural” (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2008). Em seu artigo “Reabilitação do Museu: Políticas de Inclusão Cultural por meio da Acessibilidade”, ela aponta as exposições de artista contemporâneos, museus de ciências e expografias de mostras temáticas como possíveis estratégias de mediação em museus, já que essas atividades utilizam “recursos tecnológicos com a intenção de transpor as pessoas para situações inusitadas.” (VIVIANE PANELLI SARRAF, 2008). A partir dos casos seguintes, podemos conhecer um pouco mais sobre como museus tem buscado ser espaços que atendem pessoas com diferentes condições. A Pinacoteca de São Paulo, por exemplo, possui em seu espaço uma Galeria Tátil de Esculturas Brasileiras. Além de receber informações sobre as obras em braile, o visitante com deficiência visual pode tocar livremente as obras, podendo sentir a forma e a texturas das peças. Essa é uma maneira interativa de compreender melhor a expressão dos artistas como Victor Brecheret e Bruno Giorgi, O Museu do Futuro

presentes na galeria. Além disso, segundo Paulo Vicceli – Diretor Institucional da Pina – hoje uma pessoa com deficiência consegue chegar no estacionamento da Pinacoteca e subir até a galeria tátil sem contar com a ajuda de ninguém. Aqui, temos um exemplo de edifício que corresponde às normas técnicas – por meio do uso de piso tátil – bem como propõe atividades que sejam acessíveis no âmbito cognitivo e sensorial. No High Museum, em Atlanta, Marquetta Johnson produz oficinas e ferramentas palpáveis para visitantes com deficiências visuais e transtornos de processamento sensorial. O programa familiar da Instituição tem como objetivo quebrar as barreiras existentes entre a arte e as pessoas, bem como entre os próprio indivíduos da sociedade. O trabalho de Marquetta tem somado a esses objetivos. A pedagoga utiliza suas habilidades artísticas para criar livros e painéis táteis em referência às exposições do museu. Nas suas oficinas, as crianças e famílias são estimuladas pelos formatos e cores, estimulando a absorção de seus conteúdos. Na declaração seguinte, podemos entender melhor as intenções da profissional: “Os livros táteis que eu criei são projetados para todos os alunos, espe-


cialmente aqueles que estão vivendo com deficiências de desenvolvimento ou problemas de processamento sensorial. Todos os alunos são envolvidos pela cor e pelo design, porque esses elementos artísticos estimulam e desafiam os sentidos da visão, do som e do toque. Experiências sensoriais aumentam o pensamento criativo e ajudam os alunos a se conectarem com seu mundo de uma forma mais profunda.” (“Please Touch the Art”, MEDIUM 2018) Além de deficientes físicos, os museus têm focado no envelhecimento da sociedade e estão facilitando o acesso a idosos por meio de condições físicas e atividades que acolham as necessidades dessa faixa etária. O Museu do Futebol, em São Paulo, criou o Projeto Amigo do Idoso. Segundo o artigo “Museu Amigo do Idoso: um espaço intergeracional de memória, afeto e aprendizagem”, escrito por Ialê Pereira Cardoso (coordenadora do Núcleo Educativo do Museu do Futebol) e Marcelo Continelli (assistente de coordenação do Núcleo Educativo do Museu do Futebol), “trabalhar com o público idoso se justifica por uma série de razões”. Segundo eles,

“um museu é um lugar de memória. Não somente a memória do tema do museu, mas a memória do indivíduo, que se vê refletido na história contada dentro do museu”. Por isso, o museu contratou idosos para a equipe do projeto, se associou a Núcleos de Convivência, Unidades Básicas de Saúde e asilos para o desenvolvimento de produtos e serviços que acolhessem melhor os idosos no Museu. Os resultados são quatro itens: “(1) a elaboração de uma cartilha de formação para novos orientadores focada no olhar atento para o acolhimento deste público; (2) o desenvolvimento de um formulário de pesquisa específico para o idoso que visita o Museu, com o objetivo de avaliar o atendimento da equipe de orientação; (3) Futebocha, uma atividade lúdico-esportiva que mistura as modalidades do futebol com a bocha, acessível a todos; e (4) Museu de Mim, uma atividade lúdica que trabalha com a memória afetiva para ser desenvolvida com instituições agendadas de idosos.” (Museu Amigo do Idoso: um espaço integracional de memória afeto e aprendizagem”, IALÊ PEREIRA CARDOSO, MARCELO CONTINELLI, 2017) Tendências de comportamento e tecnologia

Dessa forma, temos uma solução que utiliza alta tecnologia para solucionar o problema de mobilidade e acesso a museus por pessoas com deficiência. Na Holanda, um robô torna as visitas ao Van Abbe Museum possíveis mesmo à distância. Para fazer a visita por meio dos olhos do robô, basta ir ao site da Instituição, agendar sua visita, pagar 13 euros (preço igual ao de uma visita regular) e baixar o software responsável por conectar a webcam do usuário à tela do robô. Na vivência realizada por computador, o visitante pode controlar o tempo todo as direções para onde o museu se direciona e ainda contar com um guia particular por uma taxa extra. No vídeo institucional da iniciativa é apresentada a história de uma senhora que, por motivo de uma doença degenerativa, possui mobilidade restrita e não pode mais ir aos museus. Graças a tecnologia implantada pelo Van Abbe, Theke Beeks recebe uma visita guiada por um ser humano, mas movimentando-se e vendo pelos “olhos” de um robô.

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Imagem 32: Visita guiada por meio de um robĂ´, Van Abbe Museum. Fonte: ed.nl/eindhoven/vanuit-je-huis-het-van-abbemuseum-in-eindhoven-per-robot-bekijken-video~a3f6bda6/75273196/

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Imagem 33: Oficina guiada por Marquetta Johnson . Fonte: medium.com/high-museum-of-art/please-touch-the-art-tactile-learning-and-accessibility-at-the-high-museum-ac2e9503f5fa

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MUSEUS ITINERANTES A era pós-moderna é caracterizada pelo efêmero, a fluidez de informações e o alto fluxo de dados, pessoas e informações que circulam facilitados pela internet, bem como os modais de transporte interligados. Dessa forma, as exposições itinerantes são produtos da cooperação entre instituições e pessoas para a divulgação de conteúdo educativo para uma quantidade maior de pessoas, tornando o conteúdo artístico, histórico e cultural acessível em diferentes lugares. Esse movimento iniciou no século XIX com grandes museus realizando empréstimos de algumas obras entre eles. A atividade enriquecia a coleção de museus menores, como divulgava o acervo dos museus mais conhecidos. O Victoria and Albert Museum foi um dos primeiros museus a realizar esse tipo de atividade em 1850. Na época, o Museu emprestava de 50 a 200 peças pelo período de um ano, atuando geralmente dentro do território do Reino Unido. Hoje, a cooperação é feita em escala global, enviando peças para museus de todo mundo em um período curto de 4 a 6 semanas. 78

Ao longo dessa prática de empréstimos entre museus, as instituições receptoras de obras variaram, bem como a escala das exposições. Assim, escolas, pequenas galerias, associações de trabalhadores e até mesmo espaços públicos começaram a receber exposições itinerantes. No período pós-guerra, a UNESCO (A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) teve um papel importante em discutir e divulgar exposições itinerantes como ferramenta de educação e democratização da cultura. Em 1953 e 1963 divulgou manuais que instruem instituições culturais a respeito do transporte e segurança de peças de arte, bem como alcance geográfico, os cuidados com montagem e desmontagem das exposições e o espaço necessário para a atividade. Além disso, entre 1950 e 1958, a Instituição promoveu cinco exposições de ciência que viajaram pela Ásia em países como o Japão, Indonésia, Índia, Singapura e Vietnã. Essas exposições tinham objetivo de educar população de locais remotos com base no conhecimento científico, trazendo tecnologias que garantissem a qualidade de vida mínima para essas populações. Dentre as disciplinas interativas estava o uso e purificação da água, por exemplo. Dessa forma, as exposições ganharam espaço em locais não habituais, dando origem O Museu do Futuro

a uma nova categoria de museu: os museus autoportantes realizados em caminhões e containers. São eles o transporte bem como o próprio local de exposição. Para Denise Walter Xavier, “A banalização de exposições itinerantes, sua apresentação em locais não habituais, a utilização de réplicas e também de obras originais, a construção e emprego de museus móveis e a utilização das novas tecnologias propiciadas, por exemplo, pelo advento da internet, que expandiu grandemente a percepção e a área de atuação dessa metodologia, tornando-a cada vez mais dinâmica e mais inserida nos contextos em que é utilizada.” (DENISE WALTER XAVIER, 2012). Nos parágrafos seguintes, estão exemplificados três maneiras de se expor de forma itinerante: as exposições temporárias de museus realizadas em áreas fora do seu ambiente de exposição, os museus móveis – aqueles que são eles mesmo o transporte e o ambiente de exibição de obras e também uma terceira categoria: as exposições pensadas por instituições culturais ou políticas para locais públicos, não necessariamente administrados por museus.


O primeiro exemplo é a bolha proposta pelo Jewish Museum de Frankfurt, em 2017. Por 11 dias a instituição ocupou a Willy-Brandt-Platz, praça pública da cidade, com uma grande membrana transparente em que os visitantes podiam entrar e acessar a informações sobre a cultura judaica. A iniciativa foi parte de um Festival e recebeu pessoas para filmes e discussões. Da mesma forma, o Centre Pompidou propôs entre 2011 e 2013 o Centre Pompidou Mobile. A estrutura de ferro, coberto por tendas de cores diferentes cobria uma área de 650m². A sua estrutura modular colorida era uma referência direta ao trabalho de Renzo Piano e Richard Rogers no edifício original. O museu viajante se movimenta pelo país instalando-se em praças públicas, levando arte contemporânea da coleção de um dos maiores museus de arte moderna e contemporânea do mundo gratuitamente. São esses exemplos de museus que transpõe as barreiras dos seus edifícios na intenção de tornar seu conteúdo acessível a um maior público.

tura onde os curadores promovem rodas de leitura, exposições individuais de artistas, exposições coletivas e atividades educativas. Segundo o próprio site do projeto, é dessa maneira que eles “levam arte contemporânea a lugares onde ela não pode ir”. Assim como a iniciativa americana, o Governo Brasileiro bem como Instituições de Educação e Cultura como o SESC e o SENAI realizam exposições que viajam o Brasil, principalmente no âmbito da ciência. Em 2004, por meio de incentivos do Ministério da Ciência e Tecnologia, o projeto Ciência Móvel em parceria com Universidades levou diversas atividades para cidades menores e áreas rurais do país. Os experimento realizados eram uma maneira de estimular a população, ensinando de uma maneira estimulante conceitos científicos em atividades do dia-a-dia. São esses exemplos de museus autoportantes. A sua dinâmica facilita o acesso democrático ao conteúdo das exposições, embora tenha que ser levado em consideração os limitantes de espaço, transporte e segurança das suas peças.

Em outra escala, “The Travelling Museum” é a iniciativa de Lisa e Andrew Nordin, do estado de Minnesota, nos Estados Unidos. A pequena estrutura de um container que mais parece uma “tiny house” pode ser guinchada por um carro comum. É nessa pequena estru-

Em mais um exemplo, o “Pop Up Museum” é um iniciativa privada como tantas outras exposições desenhadas para espaços não convencionais. O projeto foi realizado pela Noterik BV em cooperação com a Sound and Vision para a Europeana Space, projeto de incenTendências de comportamento e tecnologia

tivo à cultura criativa financiado pelo Programa de Apoio às Políticas de TIC da União Europeia. A instalação interativa consiste em três telas widescreen e um aparato cenográfico em torno delas onde o usuário, por meio do seu smarthphone, pode controlar a exposição enquanto recebe instruções em seus fones de ouvido. O projeto defende o uso de acervos digitalizados disponíveis em grande número na internet para a proposição de exposições. Em uma das suas locações públicas, a iniciativa realizou uma exposição sobre moda onde era possível interagir, responder perguntas e personalizar sua experiência. Esse tipo de exposição “pop up” tem sido realizada em shoppings e outras tipologias comerciais para atingir um grande número de pessoas. Contudo, a função educativa e a democratização de conteúdo não são levadas em consideração. Geralmente a compra de ingressos é necessária para o acesso a exposição e o conteúdo não é relevante do ponto de vista da educação, sendo a experiência e o espetáculo os objetivos da curadoria.

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Imagem 34: Exposição realizada em praça pública pelo Jewish Museum de Frankfurt. Fonte: http://popupmonument.juedischesmuseum.de/index-en.html

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Imagem 35: The Travelling Museum. Fonte: thetravelingmuseum.com

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MOVIMENTOS POLÍTICOS Entender a relação dos movimentos políticos e dos museus é também entender como o papel dessas instituições mudou. Ao longo do tempo, o museu da memória foi uma estrutura hierarquizada, onde um edifício resguardava a memória dos mais abastados. Esse museu pouco dinâmico narra a história por um ponto de vista privilegiado, eurocentrado, exercendo um papel autoritário e disciplinador sobre história da sociedade. No século XXI, o museu tem se ressignificado, a democratização da cultura e a da educação são questões centrais e a história tem sido revisitada. Os museus buscam abrir suas portas para todas as pessoas, bem como oferecer representatividade por meio dos artistas em exposição. “Já não se trata apenas de democratizar o acesso aos museus instituídos, mas sim de democratizar o próprio museu compreendido como tecnologia, como ferramenta de trabalho, como dispositivo estratégico para uma relação nova, criativa e participativa com o passado, o presente e o futuro.” (MÁRIO CHAGAS, 2011). 82

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Contudo, é possível nos questionar o porquê dos museus assumirem esse papel na contemporaneidade. Se os movimento sociais já existem há anos – o Sufragismo (luta pelo direito ao voto pelas mulheres) data o século XVIII – porque as exposições vinculadas a movimento políticos se popularizaram apenas nesse século? A primeira exposição abrangente que analisou e exibiu arte sob influência do feminismo foi “WACK! A arte e a revolução feminista”. A mostra contava com 120 artistas de 120 países eaconteceu em 2007, no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles. Nesse ano, mais da metade da população brasileira já tinha acesso à internet em suas casas. ( “Pela primeira vez mais da metade da população já teve acesso ao computador”, NCI,2018) O papel da mídia (e sobretudo das mídias não tradicionais) na visibilidade de movimentos sociais é fundamental para entender como exposições feministas e LGBT entram para o radar dos curadores de grandes museus. Dentro do universo da mídia, podemos compreender o “contra-agendamento” como movimento fundamental para a expansão dos movimentos sociais à nível global. O termo refere-se a mudança de direcionamento dos vetores da informação, ou seja, a mídia tradicional antes disciplinava a sociedade por meio da te-


levisão e do rádio. Era uma parcela pequena da sociedade quem filtrava e reproduzia os conteúdos. Enquanto isso na contemporaneidade, com o advento da internet, é o público em redes sociais, blogs e outros canais quem direciona a mídia. São as pessoas que avaliam se determinado conteúdo é relevante ou não. A sociedade não se informa apenas pela Mídia, encontra informações em outros âmbitos, como na Internet e em suas relações interpessoais (BARRETTA, 2012). Portanto, o contra agendamento rompe com a comunicação unidirecional e abre portas para que os movimentos sociais se expressem de maneira independente. São frutos dessa ruptura a Primavera Árabe; as Jornadas de Junho (ou Manifestações dos 20 centavos), em 2013, no Brasil, bem como “twittaços”, ocupações de espaços públicos agendados por evento no Facebook e outras manifestações políticas mediadas pela internet. Considerados relevantes pela mídia, os movimentos políticos conseguem influenciar pessoas massivamente. Etnias e grupos marginalizados passam a ser vistos e a representatividade na publicidade, cinema e nas artes passa a acontecer de forma mais recorrente. Consequentemente, as pessoas mudam também a forma como consomem produtos, serviços e conteúdo. O mercado percebe os movimen-

to políticos como detentores de uma parcela maior de consumidores e passa a gerar produtos com os quais a militância se identifica. E está justamente nessa lógica em que, muitas vezes, os museus estão inseridos hoje: a lógica de mercado. O consumo se tornou individualizado e centrado no indivíduo e, do mesmo modo, as programações dos museus e as atividades em torno delas se voltam para a satisfação dos visitantes. Para ilustrar a absorção dos movimentos sociais pelo mercado e pelos museus, podemos realizar um paralelo entre a página web da loja online do Metropolitan Museum of Art, de Nova York e seu baile denominado MET GALA. Em comemoração ao mês do orgulho LBGTQ (junho de 2019), a loja online exibe em sua página inicial uma série de produtos com a bandeira gay estampada. Tal postura poderia significar uma preocupação da instituição pela visibilidade do movimento LGBTQ e a sua representatividade. Do mesmo modo, nesse mesmo ano, o baile de levantamento de fundos para o museu (MET GALA) teve o conceito “Camp” como tema. A inspiração vem do ensaio “Notes on Camp” da escritora e filósofa americana Susan Sontag. No texto, é possível perceber como a palavra remete a um movimento estético exagerado que dialoga com o movimento queer, a marginaliTendências de comportamento e tecnologia

dade e a androginia. Contudo, o baile contou com baixa representatividade LGBTQ, cobrou 35 mil dólares pelo ingresso, além de ser um espaço de ostentação e extravagância por um público bastante seleto. O museu recebeu críticas nas redes sociais e nas mídias tradicionais pela contradição entre o tema, as intenções de ser um evento inclusivo e a realidade tangível do baile. De todo modo, existem políticas públicas para que o museu cumpra sua função social, integrando pessoas, democratizando a arte e formando cidadãos. Nesse sentido, o texto abaixo tem a intenção de exemplificar como os movimentos sociais têm sido absorvidos pela programação dos museus por meio de exposições e atividades. Para isso, foram selecionados três destes: o movimento LBGTQ, o movimento negro e o feminismo.

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MOVIMENTO LGBTQ A Pinacoteca de São Paulo, em 2019, contratou cinco pessoas trans para o seu quadro de funcionários. Essas pessoas são responsáveis por funções internas, bem como atender diretamente o público. A iniciativa foi uma parceria do Museu com o Projeto Transcidadania. O projeto oferece bolsas para travestis e transexuais completarem a educação básica. Também são oferecidos cursos profissionalizantes, acompanhamento jurídico e psicológico e encaminhamento profissional. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019). Para a admissão de pessoas trans, a Pinacoteca se preocupou não apenas em inserir essas pessoas no seu corpo de trabalho, mas também sensibilizou a sua equipe para a novidade. Além disso, os banheiros do museus receberam plaquinhas de auto identificação. Nelas havia o recado “Sinta-se à vontade para usar o banheiro correspondente à sua identificação de gênero.” Dessa forma, a Pina não só promove a diversidade como mídia, mas integra a sua realidade a vida de pessoas marginalizadas. Também em São Paulo, o Museu da Diversidade Sexual é uma das três instituições no mundo que se dedicam a história LGBTQ e o primeiro museu da América Latina no tema. Segundo o próprio site, a missão da instituição 84

é é “preservar o patrimônio sócio, político e cultural da comunidade LGBT do Brasil por meio da pesquisa, salvaguarda e comunicação de referências materiais e imateriais, com vistas à valorização e visibilidade da diversidade sexual, contribuindo para a educação e promoção da cidadania plena e de uma cultura em direitos humanos.” A cidade de São Paulo recebe uma das maiores paradas gays do mundo. Em Londres, o British Museum hasteou a bandeira gay no alto do seu edifício do dia 7 a 9 de julho de 2017. Tal feito pode ser considerado um ato político importante para o movimento LGBTQ, já que se trata da demonstração de apoio de um dos museus mais tradicionais do mundo ás pessoas gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e queer. No blog do Museu, é possível encontrar a seguinte declaração de George Benson (assistente de coleções na Instituição): “O Museu pode conectá-lo a alguém que você nunca soube que existia, e a Bandeira do Arco-Íris pode fazer o mesmo. Assim como numismatistas, arqueólogos, egiptólogos e curiosos em geral podem encontrar pessoas com ideias parecidas no Museu Britânico, uma pessoa gay, lésbica, bissexual, transgênero ou gay pode encontrar solidariedade na divulgação de uma bandeira.” Dessa forma, o museu também tem organizado exposições temporárias como “DeO Museu do Futuro

sire, love, identity exploring LGBTQ histories” em que o British exibiu objetos históricos para narrar a história LGBTQ ao redor do mundo. Dentre as exposições, também temos iniciativas como a do Museo del Prado, em Madrid, que em 2017 propôs 6 itinerários temáticos em sua coleção permanente, para refletir sobre temas e relacionamentos LGBT. A programação aconteceu durante a Parada do Orgulho Gay de Madrid e muitos museus aproveitam esse evento em suas cidades para propor programações parecidas. Já a LGBTQ Alliance, parte da Aliança Americana de Museus lançou em 2016 o “Welcoming Guidelines for Museums” para instruir museus sobre a melhor maneira de incluir pessoas LGBTQ, propiciando a melhor experiência de inclusão e acessibilidade a todos os gêneros e sexualidades. Nesse documento estão inclusos desde instruções sobre uso do banheiro até as nomenclaturas para diferentes gêneros e expressões da sexualidade. Portanto, vê-se museus e instituições culturais propondo iniciativas efetivas e programas educacionais que não só deem visibilidade para pessoas LGBTQ, mas incluam elas verdadeiramente no seu trabalho e também nas suas programações por meio de exposições, eventos e atividades educativas.


Imagem 36: George Benson (assistente de coleções no British Museum) e a bandeira gay. Fonte: blog.britishmuseum.org/a-symbol-of-pride-raising-the-rainbow-flag/

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Imagem 37: Videoclipe Apeshit, Beyonce e Jay Z. Fonte: youtube.com/watch?v=kbMqWXnpXcA

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MOVIMENTO NEGRO Em 2018 o casal Beyonce e Jay-Z, celebridades da música pop internacional, lançaram o clipe Apeshit, onde dançavam e posaram em frente a obras de arte no Museu do Louvre, em Paris. O vídeo é uma performance artística política com provocações anticolonialistas. Dentre as diversas interpretações realizadas por antropólogos, sociólogos, artistas e youtubers, destaca-se o texto de Hélio Menezes para o Jornal Nexo. “O Louvre é talvez o maior símbolo de poder, cuja história é permeada de saque colonial – como das obras do setor egípcio, onde eles aparecem algumas vezes –, frequentado, como são os museus de modo geral, por pessoas brancas, com obras de artistas, em sua grande maioria, brancos e também maioria de personagens brancos pintados nas telas”. (HÉLIO MENEZES, JORNAL NEXO, 2018). Para o estudioso, a forma como os artistas relacionaram seus corpos a obras específicas, como “Monalisa”, “Vitória de Samotrácia” é uma forma de os colocarem no mesmo nível. Seriam eles, como artistas negros, tão icônicos quanto às obras de arte antigas. Em vários momentos do clipe, corpos negros ocupam escadas, corredores e galerias de um dos museus mais tradicionais do mundo. No mesmo sentido, a obra “Retrato de uma negra” de Marie-Guillemine Benoist (1800)

aparece repetidas vezes dando visibilidade a uma das raras obras que retrata negros realizada por uma mulher. Nesse mesmo ano, o Louvre recebeu mais de 10 milhões de visitantes: um recorde para museus no mundo. Acredita-se que grande parte desse sucesso se deve justamente ao videoclipe do casal “The Carters” e seu videoclipe com mais de 175 milhões de acessos no Youtube (2019). Nesse fato vemos o sucesso de uma mulher negra proporcionando maior número de visitantes a um museu formado por peças “adquiridas” pelo Colonialismo Francês. A potência desse movimento de revisão histórica, de luta pela visibilidade de etnias e sociedades tem produzido exposições em Museus pelo mundo, dando visibilidade a coletivos e artistas negros. São exemplos Ex-África (Centro Cultural Banco do Brasil, 2018), Basquiat (Centro Cultural Banco do Brasil, 2018), Djanira (MASP, 2019), Black Refractions: Highlights (Studio Museum, Harlem, 2019), Dentro e fora do estúdio: Retratos fotográficos da África Ocidental (The Metropolitan Museum of Art, Nova York, 2016) Making Place: “A Arquitetura de David Ajaye” (Art Institute of Chigago, 2016), dentre muitas outras exposições que tem ganhado espaço na contemporaneidade.

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Na Holanda, O Rijksmuseum alterou grande parte dos títulos das obras do seu acervo onde haviam termos considerados ofensivos e racistas. Uma de suas pinturas, por exemplo, ante chamada “Young-negro girl” (Garota negra jovem, 1900) passa a se chamar “Young girl holding a fan” (Garota jovem segurando um leque,1900). Segundo Martine Gosselink, em entrevista ao jornal Independent, “o objetivo não é usar nomes dados por brancos a outros”. (CHRISTOPHER HOOTON, 2015) A iniciativa do museu foi chamada de “Adjustment of Colonial Terminology” e reflete o posicionamento político da Instituição. No Brasil, ainda há uma extenso trabalho para que a inclusão de negros no dia-a-dia dos museus seja efetivo. Além das exposições, são necessárias políticas públicas e programações que dialoguem com esse público e sobretudo sobre o público periférico que muitas vezes não se sente parte do espaço do museu. O reflexo disso estampou a fachada do MASP em 2018, quando Coletivo Frente 3 de Fevereiro pendurou uma faixa que dizia “Onde estão os negros?” nas esquadrias de vidro que dão frente para Avenida Paulista. A iniciativa contou com a colaboração do museu, que na data exibia a exposição “Histórias afro-atlânticas”.

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FEMINISMO Em 2014, na Suécia, abriu o Kvinnohistorikt Museum (Museu da História das mulheres), considerado pela mídia um dos primeiros museus feministas do mundo. O país onde está em quarto lugar no índice global de Igualdade de Gênero. O museu não possui acervo fixo, mas exibe exposições referentes aos diferentes papéis do gênero ao longo da história, o envelhecimento, dentre outros assuntos. Apesar de ser considerado novidade pela mídia, em 1982 já estava aberto o Kvindemuseet (Museu das Mulheres) em Aarhus, na Dinamarca e nos anos 90 o National Women’s History Museum (Museu Nacional da História das Mulheres), nos Estados Unidos. Assim como esses, outros museus também se dedicam às mulheres, como o Museu das Mulheres (Turquia), Museu do Gênero (Ucrânia) e o Museo de la Mujer (Argentina) ou o National Museum of Women in the Arts, em Chicago. Essas propostas contam com diretorias e equipes inteiras de curadoras, assistentes e administradoras mulheres. Além de Museus abertos com essa finalidade, outros grandes museus do mundo tem revisitado suas programações, bem como sua estrutura interna para educar uma socieda88

de mais igualitária e feminista. Para entender como essas instituições podem ser apoiadoras do movimento, podemos utilizar a Pinacoteca de São Paulo como exemplo. Em 2018, o museu incorporou obras ao seu acervo de artistas como Dora Longo Bahia e Ana Dias Batista. Além disso, duas exposições de artistas mulheres tiveram destaque: “Hilma af Klint: Mundo Possíveis” e “Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1985”. A primeira exibe o trabalho de KLINT, artista sueca que integrou o “As cinco”, grupo de artistas mulheres que “acreditavam ser conduzidas por espíritos elevados que desejavam se comunicar por meio de imagens” (PINACOTECA DE SÃO PAULO, 2018). Já “Mulheres Radicais” reúne o trabalho de artistas feministas latino-americanas. Foram exibidas ao todo mais de 120 artistas. O recorte histórico abrange ditaduras em países latino-americanos, a revisão da arte por meio da arte contemporânea, a performance e as mídias na arte. Dessa forma, a exposição contempla obras que revisam o corpo como campo político e a sua força como luta contra o patriarcado e a violência social dessa época. Além da exposição, o Museu de Arte de São Paulo, em parceria com a Pina propuseram o seminário “Histórias feministas, Mulheres radicais”. O evento foi aberto ao público e tinha como objetivo discutir o tema da exposição, bem como prever a agenda de O Museu do Futuro

2019 do Museu de Arte Paulista, centrada nas mulheres e na sua história. Por fim, a Pinacoteca ainda incluiu na sua programação pré-carnaval o Bloco Pagu, grupo carnavalesco com mais de 80 ritmistas que tocam apenas músicas de artistas brasileiras. Para que a igualdade de gênero e os direitos garantidos das mulheres sejam uma realidade, o museus precisam realizar mais que exposições. Por isso, revisitar a sua estrutura de trabalho é um ponto importante. Os grandes museus do mundo ainda contam com equipes de liderança masculinas. A programação, bem como a proposição de atividades educativa precisam se propostas por mulheres. Pensar um museu democrático e acessível é também pensar por meio dos olhos delas. O museu como instituição social e também como espaço físico precisam ser palco para a expansão criativa e cognitiva das mulheres, bem como lugares onde seus corpos estão seguros.

Imagem 38: Exposição Mulheres Radicais, Pinacoteca de São Paulo. Fonte: deskgram.net/explore/tags/mulheresradicaisnapina


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IMIGRAÇÃO

Segundo dados da União Europeia 4,4 milhões de pessoas migraram para Europa em 2017, sendo hoje a população de imigrantes igual a 22,3 milhões de pessoas. (“Migration and migrant population statistics - Statistics Explained”, European Union). Em uma pesquisa realizada em 2017 pela Standard Eurobarometer onde se perguntava “Quais são as duas questões mais importantes que a União Europeia enfrenta nesse momento?” as duas respostas mais obtidas foram Imigração e Terrorismo. A imigração é hoje uma das questões centrais nas políticas públicas europeias e um assunto discutido no mundo todo. Mesmo no Brasil, segundo dados da Polícia Federal, em 10 anos o aumento da população imigrante foi de 160%. Além disso, a ascensão de Donald Trump ao cargo de presidente dos Estados Unidos e o seu posicionamento rígido quanto ao assunto, bem como a questão de sírios, palestinos, egípcios e outros povos da África e do Oriente Médio submetidos a guerras e governos autoritários colocam a imigração na mídia todos os dias. 90

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Para Yuval Harari, historiador israelita, a “tecnologia vai gerar colapsos em determinados países e o caos resultante, a violência e as ondas de imigração irão desestabilizar o mundo inteiro”. (HARARI, 2018) Desse modo, artistas e instituições culturais têm se mobilizado dando visibilidade e oferecendo acesso à cultura a refugiados por meio de exposições e atividades educativas. No Stedelijk Museum, em Amsterdam, a instalação “The Crossing”, de Carlos Motta propõe um diálogo entre os visitantes e refugiados homossexuais na Holanda. Uma sala escura com onze telas onde onze indivíduos diferentes dividem suas histórias antes, durante e depois da migração dos seus países para os Países Baixos. Nos vídeos, as pessoas falam sobre a necessidade de escapar da guerra e da opressão política e social sofrida nos seus países em relatos com grande impacto sobre o público. O mesmo museu recebeu outra exposição denominada “Solution or Utopia?” onde arquitetos e designers conceberam soluções reais para a situação de vulnerabilidade dos refugiados. Os projetos apresentados continham desde abrigos temporários à bandeira da “Nação de Refugiados” concebida pela síria Yara Said durante os últimos Jogos Olímpicos.


No campo da educação, o “Louisiana Museum of Modern Art” tem utilizado a arte como maneira de auto expressão e integração de refugiados na sociedade dinamarquesa. O projeto tem mentoria da antropóloga Line Ali Chayder, a mulher responsável por conduzir grupos de crianças e jovens nas visitas no museu e nas dinâmicas propostas pela instituição. A intenção do projeto é abrir espaços para troca, onde os jovens possam se expressar na sua língua, mas também saber um pouco mais sobre a cultura do país onde vivem. Entre as atividades propostas, estão previstos um auto retrato, o desenho de algumas peças do museu, atividades musicais e um desenho de memórias afetivas.

tinham seus objetos exibidos. Originalmente, a exposição foi montada na Grécia como maneira de agradecimento ao povo grego pela recepção desses refugiados. Os objetos eram literalmente ferramentas que tornaram a vida dessas pessoas mais maleáveis e suportáveis na sua adaptação de suas novas realidades. Portanto, o que se vê nessa tendência é a centralidade do papel formador dos museus na sociedade. Em tempos de crises políticas e sociais, os museus têm um papel protagonista na formação de pensamento, na democratização de acesso à cultura e educação e Instituições de todo o mundo tem assumido esse local de fala.

Em Nova York, a exposição “Museum whitout a home” foi instalada na Herald Square pela Oxfam International (organização não governamental que luta no combate à pobreza e a desigualdade social). Na instalação feita em parque público, objetos cotidianos como uma bola de futebol ou um tênis foram exibidos em caixas de vidro com os nomes dos seus donos, refugiados em situação de vulnerabilidade social na Grécia. Em vídeo institucional, é possível ouvir relatos de pessoas tocadas pela iniciativa, citando o contraste entre a qualidade de vida em NY, em contraste com a vida daqueles que Tendências de comportamento e tecnologia

O que se vê nessa tendência é a centralidade do papel formador dos museus na sociedade. Em tempos de crises políticas e sociais, os museus têm um papel protagonista na formação de pensamento, na democratização de acesso à cultura e educação e Instituições de todo o mundo tem assumido esse local de fala.

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Imagem 39: Exposição “The Crossing”, de Carlos Motta. Fonte: www.stedelijk.nl/en

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NOVAS PERSPECTIVAS HISTÓRICAS

eventos e na mídia de uma forma geral. Ainda há um longo caminho pela frente para que a justiça social entre as etnias seja verdadeira e a história dos povos perseguidos ganhe visibilidade global, mas os museus exercem um papel fundamental nessas missões.

A Worth Global Style Network (WGSN) é uma das maiores plataformas de previsão de tendências do mundo. O seu material “O Consumidor do Futuro 2020”, escrito por Andrea Bell, contém as seguintes informações: “A identidade dos EUA está mudando – até 2020, mais da metade dos americanos com menos de 18 anos pertencerá a minorias, e haverá mais brancos envelhecendo do que nascendo. Até 2040 os caucasianos serão minoria. A Europa está se tornando etnicamente e racialmente mais diversa – o número de casamentos inter-raciais têm aumentado ano após ano na Inglaterra, País de Gales e França, enquanto na Itália o crescimento foi de 172% desde 2001, de acordo com o Instituto de Estatísticas Italiano.” A diversidade étnica e cultural promovida pela miscigenação e a globalização tem mudado a forma como as pessoas consomem os produtos e experiências. A representatividade, bem como a visibilidade de grupos considerados marginalizados e invisibilizados pela história são levados em consideração em campanhas,

A partir da reconfiguração espacial de três museus, acompanhado de revisões de programação e apresentações do acervo, podemos perceber como esse é um movimento que faz parte de uma tendência mundial. O MoMa – Museu de Arte Moderna de Nova York vai fechar suas portas por quatro meses em 2019. A reforma realizada pelo Diller Scofidio + Renfro e prevê a ampliação e criação de novas galerias. A reabertura prevê a apresentação de arte latino-americana e exposições de artistas afro-americanos (William Pope.L e Betye Saar) muitas vezes ignorados pelo meio artístico. Em entrevista para O Globo, o presidente do conselho do museu afirma “Nós não queremos esquecer nossas raízes como os donos da maior coleção modernista. Mas o museu não dava ênfase ao que artistas mulheres e de grupos minoritários estavam fazendo, e era limitado pela geografia. Enquanto antes esses eram sempre exceções, eles agora devem fazer parte da realidade em que vivemos, em uma sociedade multicultural” (“MoMa, em Nova York, vai fechar por quatro

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meses este ano; saiba quando visitar”, 2019). A postura demonstra uma Instituição atenta aos movimentos sociais e as carências do seu público.

acervo: “Estamos ficando para trás o que nós e nossos visitantes gostaríamos de ver”. (“British Museum plans sweeping redisplay of world cultures”, The Art Newspapper, 2017)

Nesse sentido, o British Museum recebe diariamente comentários no seu Instagram solicitando a devolução de artefatos egípcios e outras peças históricas aos seus países de origem. Questões como essa são motivos para polêmicas na mídia há alguns anos. Em 2018, um arqueólogo egípcio realizou a seguinte afirmação: “Quem não protege nossa arte deve devolvê-la”FELLET - BBC, 2018). A declaração foi feita para a BBC após o incêndio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro e a consequente perda de peças históricas como o Sarcófago da Dama Sha-Amun-em-su. Portanto, a representação étnica e o cuidado político de Museus Europeus precisa ser ainda maior, já que muitas vezes as obras de arte ou peças históricas são símbolos de uma história desprezível em que os países as quais as instituições pertencem são responsáveis por genocídios e exploração econômica e social. Dessa forma, em 2017, o British Museum reviu seu acervo em exposição para dar mais visibilidade à Oceania, Américas e África. Em entrevista ao “The Art Newspapper”, o diretor do museu Hartwig Fischer reforça o papel dos visitantes como definidores das exposições do

Por fim, o museu brasileiro MASP (Museu de Arte de São Paulo), além de prever em 2019 e 2020 programações voltadas para mulheres, reconfigurou o layout do acervo na sua pinacoteca. A exposição denominada “Acervo em Transformação” traz pro início da galeria artistas populares latino-americanos, brasileiros e obras com mensagens políticas. A recepção antes feita por corpos brancos e europeus cedeu lugar a um casal de negros, de Dalton Paula. É louvável que uma Instituição Cultural reconfigure suas exposições como atos políticos. A visibilidade de um corpo negro, atividades culturais que garantam identificação de um público marginalizado e a visibilidade de artistas de diferentes etnias são demonstrações de posicionamento político por parte do Museu, reforçando seu compromisso social.

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A visibilidade de um corpo negro, atividades culturais que garantam identificação de um público marginalizado e a visibilidade de artistas de diferentes etnias são demonstrações de posicionamento político por parte do Museu, reforçando seu compromisso social.

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Imagens 40,41 e 42: Na páginaesquerda, a expsição Djanira (MASP). À direita, exposição “Acervo em Transformação” (MASP). Fotos autorais. Tendências de comportamento e tecnologia

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CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo desse trabalho, foi possível perceber os museus figurando em papéis diferentes, contudo, é preciso compreender o que são e o que não são museus. O turismo em grandes centros e os interesses econômicos das pessoas transformam qualquer loja de cerveja no Museu da Cevada. O Ice Cream Museum, citado nesse texto, é outro exemplo de produto de entretenimento que recebe o nome de museu de forma equivocada. Apesar de não serem mais apenas edifícios pomposos onde uma seleto público burguês pode acessar suas memórias, os museus ainda precisam cumprir certas demandas para que assim sejam considerados. Os museus precisam cumprir sua função social e educativa. Assim como as escolas, os hospitais públicos e a prefeitura esses edifícios existem para exercer um papel fundamental na dinâmica da cidade: formar cidadãos, fornecê-los aquilo que necessitam e têm como direito. Apesar de alguns museus exercerem o papel de agente na gentrificação de áreas urbanas, eles precisam continuar sendo espaço de encontro, educação gratuita, transformação social, lazer e cultura. 98

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As transformações políticas e econômicas por meio do triunfo do liberalismo econômico faz com que muitas vezes o museu figure no papel de espetáculo. A lógica de aumento da receita por meio de lojas, experiências virais, exposições blockbuster e expansão de grandes Instituições como a Guggenheim Museums and Foundation, estão se espalhando pelo mundo. Alguns já começam a chamar esse processo de “mc donaldização” das instituições de cultura. De forma crítica, algumas pessoas já consideram a absorção da lógica capitalista por essas organizações um desvio do verdadeiro papel dessas instituições. E de fato, ao longo deste trabalho se percebeu a influência do consumo em praticamente todas as tendências. Portanto, é preciso reconhecer que há sim a necessidade de receita. O dinheiro arrecadado na bilheteria, na lojinha e nos restaurantes dos museus viabiliza projetos sociais e educativos. No entanto, até que ponto a programação é desenvolvida em torno da arrecadação? O quanto a satisfação do visitante consumidor deve ser o centro dos interesses do museu? É louvável que uma instituição cultural se preocupe com a sua comunidade, queira saber o que ela mais gosta e se aproximar dessas pessoas, mas também é preciso lembrar do papel formador que elas têm. Algumas vezes as demandas não vão


surgir a partir do público, é o museu quem vai perceber a necessidade de educar e transformar a sua população. Em tempos de regimes nacionalistas e autoritários eleitos pelo povo, os museus também precisam exercer sua autoridade. No campo da tecnologia, os profissionais que trabalham educação em museus já perceberam como Inteligência Artificial, Realidade Aumentada e Virtual, Aplicativos, Filtros e outras interações são meras ferramentas. Se utilizadas como entretenimento, serão experiências vazias pouco efetivas. Contudo, os museus também podem utilizá-las para promover o conhecimento, o interesse das pessoas por artes e história, aumentar a acessibilidade e inclusão e sobretudo, conectar pessoas a pessoas. Na era da individualidade, a tecnologia precisa estar a favor da construção coletiva. O caminho para a personalização do usuário precisa ser revisto. Os museus precisam concentrar-se na sua função fundamental de perpetuar a história e cultura das sociedades, promover o diálogo entre as pessoas e as suas diferenças. Para isso, a tecnologia deve estar no mesmo sentido, sendo meio e não protagonista das transformações sociais. Para que tudo isso aconteça, as políticas públicas devem estar presentes nessas insti-

tuições. O trabalho conjunto dos Museus e do Estado garante que ambos cumpram sua função social e seus deveres com a sociedade. O apoio financeiro e facilitador dos governos garantem a expansão dos museus, para que eles alcancem mais pessoas em uma diversidade maior de programações. Por sua vez, mais pessoas têm acesso à cultura e a informação. Por meio dos museus, o povo se conhece e relembra sua história, abrindo caminho para o progresso e a superação de jornadas políticas infelizes. O Estado apoia o museu, bem como a ação deste sobre o povo forma cidadãos parte da nação. Dessa forma, as últimas considerações se destinam ao Brasil e aos museus do nosso país: antes de experiências virtuais e telas sensíveis ao toque, nós precisamos que a arte e a história sejam democratizadas. Mais mulheres, negros, periféricos, gays, lésbicas e pessoas marginalizadas precisam construir museus. O povo no sertão nordestino e no Amazônia precisam saber que a sua história está viva e os valores que a sua cultura tem. O museu precisa formar cidadãos no Brasil. O povo brasileiro precisa conhecer mais a sua história para saber que o que estamos construindo hoje um dia pode envergonhar alguém em uma galeria. Mais que isso, os museus precisam lembrar as nossas ditaduras e as dores de muitos. Por fim, eu desejo que o museu do futuro nesse país seja uma museu livre e sem censura onde a gente se orgulhe da nossa história.

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Tendências de comportamento e tecnologia

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OBRIGADO

Mãe, eu dedico esse trabalho a você. Ao seu amor. Obrigado por ser meu porto, minha força, obrigado por ter me dado o mundo. Gui, eu dedico ese trabalho à sua luz, que do céu me ilumina. Obrigado pela sua sabedoria, por ter me feito um ser melhor enquanto estava aqui comigo. Você foi o melhor amigo que eu já tive. Obrigado vó, você é a melhor vó do mundo. Obrigado João, por me aguentar todo esse tempo, por ser meu parceiro nos dias de luta, Obrigado por me acordar todo dia de manhã, por ser minha família aqui em Brasília. Obrigado Lu, você é minha inspiração. Obrigado às “brise tudo,” por serem tão amigas e parceiras desde o primeiro semestre. Obrigado a todos os amigos que essa faculdade me deu. Obrigado Gabriel. Obrigado Maribel, por ser a orientadora que eu sonhei. Obrigado Edna, pela parceria e paciência durante esse semestre. Gracias Juan, por su cariño, por haberme encontrado y por enseñarme tanto. 102

O Museu do Futuro


TendĂŞncias de comportamento e tecnologia

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