RAUL CÓRDULA assembleia legislativa da paraíba

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30 de setembro - 15 de outubro / 1993

RAUL CÓRDULA

Assembléia do Estado da Paraíba Governo do Estado da Paraíba



30 de setembro - 15 de outubro / 1993

RAUL CÓRDULA

Assembléia do Estado da Paraíba Governo do Estado da Paraíba



O pássaro, 20 anos depois Na Assembléia Legislativa nem a arte imita a vida

Deputado GILVAN FREIRE

e nem vice-versa. É que falta arte.

Presidente da

Faltava, aliás, porque no prédio novo da Casa, erguido sobre os es-combros do antigo prédio de A União, a arte primorosa de Raul Córdula reluz no inox da logomarca do Poder, onde um pássaro aparentemente preso toma altura no es-paço sideral. Se o povo e até os parlamentares não extraírem a melhor interpretação da obra de Raul Córdula - um composto escultural de formas suaves, harmônicas e simétricas - nada se perdeu, porque a arte é para ser sentida. Ela não é uma frase, é um símbolo sem legenda, que fala a língua não-convencional. Assim como milhares de pessoas passam pela calçada da Assembléia sem se darem conta da arte sobre a qual estão pisando, no frontal do prédio a logo-marca assiste indiferente a tudo. Mas entre o povo e arte há uma comunicação muda, sentida, provocativa, que tem em Raul Córdula um elo de ligação. Há 20 anos.

Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba



Pássaro: uma sacada Kubitschek Pinheiro Cabo Branco, 10 de setembro de 1993 O pintor Raul Córdula presenteia a Capital parai-

Na inauguração do edificio foi lançado um álbum de

bana com uma exposição que há vinte anos vem

serigrafias com tampas de cinco artistas paraiba-

percorrendo seu universo artístico e político.

nos sendo Flávio Tavares, Miguel dos Santos, Régis

Em 1973, início de uma década em que a ditadura

Cavalcanti, Roberto Lúcio e Raul Córdula. O texto

marchava pelas ruas, ele e o pintor Flávio Tavares

do álbum foi escrito pelo cronista Virginius da Gama

foram convidados por Noaldo Dantas, secretário

Mello. Uma obra daquela época do artista plástico

para assuntos extraordinários do Governo Ernani

Chico Pereira também compõe o acervo de arte contem-

Sátyro, para apresentarem projetos de murais

porânea de grande vulto existente nesta casa.

que ornamentassem o novo prédio da Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba.

O resultado plástico do traBAlho de Raul Córdula foi um belíssimo pássaro com o design definido, as

Flávio é responsável por uma pintura a óleo,

asas aparecem em alto relevo (em aço inoxidavel

intacta e bela - um quadro deslumbrante que

sobre o mármore travertino. Essa história que há

retrata entre outras coisas “as guerras de con-

duas décadas prende o pássaro liberto pelo pró-

quistas”, Nossa Senhora das Neves e os labores de

prio signo que exerce acompanha um quadro idem,

nossa insuperável Paraíba. Digo outras coisas,

desenhado por Raul, e feito pelas tapeceiras Isis

porque a Casa de Epitácio Pessoa repercute entre

Gaivão e Heidelice exposto no gabinete da presi-

aplausos e vaias contudentes. O quadro de Flávio é

dência da Assembléia Legislativa.

de frutas, peitos e cinturas humanas.

O pássaro com seu bico tico segue as instruções do

Raul percorrendo o projeto arquitetônico do então

artista e suportado todas as temperaturas. Mesmo

artista Tertuliano Dionísio (já falecido) adentrou

preso, apoiado por uma árvore suspensa, que não

a base política-filosófica da Casa e acima de tudo

dá para definir se são pétalas ou penas, armadas

definiu sua participação calcada numa frase célebre

também em aço, ele consegue ecoar seu canto. Por

do escritor José Américo de Almeida, que diz ser

que isso então, Raul? “Utilizei um pássaro para

João Pessoa cidade mais vegetal que urbana.

simbolizar o homem, pois é habitante da árvore que ali representava a cidade. Mas pássaro também é


símbolo de liberdade, assim como a Assembléia é

públicos. Resolvi que este é um momento impor-

lugar do povo”, frisa.

-tante para mim e para os que se interessam por

Mas esse pássaro é um viajante, instalado na sacada do Poder Legislativo ele tem a praça João Pessoa, um lugar a mais para pousar. E mesmo submetido a uma circunferência, o céu para ele é perto, sublinhando sua imagem, essa natureza viva em cada ponto de silên-cio frente à impossibilidade do abismo. Sim, esse pássaro vem resistindo a todas as legislaturas, projetos de lei e as resoluções. Ao sol e à chuva, e aos mendigos das calçadas alheias. Resistindo às festas, às glórias e derrotas. Ao sim e ao não de cada parlamentar. Tem a calçada como testemunha também pelas mãos do artista. O pássaro que Raul Córdula criou e permanece emoldurado, às vezes triste, às vezes prateado, toma por realidade esse curto espaço de tempo e talvez sonhando com sonetos Shakespe-reanos, tão óbvios como as tragédias e comédias do povo paraibano.

minha obra artística e pintei uma série de quadros retomando o tema plástico em homenagem a essa idéia, vinte anos depois”. Tempos oprimidos, o pássaro resistiu! A fome e as inúmeras justas greves, ele ultrapassou! O primeiro e o não último dis-cursos, jamais poético, ele assistiu! O edifício da Assembléia Le-gislativa substituiu o mais belo prédio do jornal A União, onde inúmeros jornalistas, poetas e escritores desfilaram seus textos com os efeitos mais originais, dizem os que sobreviveram. Lá no topo da União vivia uma águia fogosa que não pensava em morrer jamais. Contam que ela era tão acintosa que o seu olhar descartava o verbo e fazia o mesmo com outras tolices e conselhos universais. Ah, velha União desunida.

Sendo histórico, esse pássaro de aço, o que ele

O pássaro criado por Raul Córdula, a propósito,

traz em seu vôo, Raul? “Nesse tempo multas refle-

não é sinônimo de águia morta e a águia não é

xões ocorreram. Uma delas diz respeito à arte

nenhuma mentira estranha a nos dizer bom dia

pública. Os edifícios, não podemos esquecer, são

todos os dias. Hoje quem acena para a cidade é um


pássaro de vinte anos, evitando essa forma esquálida do desespero urbano, deixando de ser morto por algum forasteiro. Sim, esse pássaro que já foi capa do Legislativo, ano 2, n° 2, em março de 1975, uma matéria assinada por Wills Leal - supera a palavra significância, na época. Muitos vôos pedem atitudes renovadas e inteligentes, que dão sempre uma nova leitura da natureza, das pessoas e da própria vida. Parabéns, Raul, o pássaro é uma sacada.


nota biográfica RAUL CÓRDULA, 50 anos, natural de Campina Grande, Artista eclético, tem na pintura sua principal atividade, mas pratica também com intensidade gravura em várias técnicas, desenho, escultura, multimídias contemporâneas (xerox, VT, fotografia) e mais estamparia, joalheria, tapeçaria, artes gráficas e arte aplicada à arquitetura. Foi cenógrafo de televisão no Rio (TUPI e GLOBO). Diretor Fundador do Museu de Arte Assis Chateaubriand de Campina Grande, Supervisor da Casa da Cultura de Pernambuco em 1978 onde criou o Núcleo de Arte Popular e Artesanato, Supervisor do setor de Artes Plásticas do Dep. Cultural da UFPB em 1963/65 e Coordenador do Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB em 1979/84. Foi ainda diretor artístico da Oficina Guaianases de Gravura de Olinda em 1982/84. Membro da Comissão Nacional de Artes Plásticas da FUNARTE em 1986/88 e da Associação Brasileira de Críticos de Arte ABCA. Fundou a primeira Associação de Artistas Plásticos da Paraíba em 1967. Dirigiu por aclamação o 1° Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste em Salvador (1980) e secretariou o 1° Encontro Nacional de Artistas Plásticos (1° ENAP) no Rio de Janeiro, em 1981.


Participou como conferencista do 2° ENAP, em Porto Alegre, e dos três Simpósios Nacionais de Artes Plásticas produzidos pela FUNARTE. Participou de dois WORKSHOPS com artistas alemães (em São Paulo e João Pessoa) e organizou o WORKSHOP Campina Grande 1990. Foi representante do Brasil na 9a Conferência Mundial de Artesanato realizada no México pelo Conselho Mundial de Artesanato, ONG que veio a- representar no Brasil entre 1980/86. Coordena o Intercâmbio Cultural França-Brasil nas Artes Plásticas proposta pela Associação Cultural de Marselha LE HORS LÁ, da qual é representante, É autor de textos, curadorias de exposições e monografias sobre arte contemporânea brasileira. Integrou júris de seleção e premiação de salões de arte destacando-se o Salão Baiano, o Salão de Arte Jovem de Olinda e o Salão Municipal de João Pessoa. Exposições individuais em João Pessoa, Recife, Natal, Fortaleza, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Foz do lguaçú, Caxias do Sul e Paris. Exposições coletivas e salões em diversas cidades do Brasil, no Chile, México, Paris, Marselha, Cones-Sur-Mer, La Garde, Berlin e Hamburgo. Prêmios em Salões, entre eles o Prêmio de Viagem à Europa do 2° Salão de Arte Global de Pernambuco. Sua obra foi objeto de Tese de Mestrado defendida em 1992 com nota máxima e louvor na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro pela mestranda-arquiteta Eleine Bourdette.


Realização Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba Apoio Escritório de Arte da Paraíba Fotos Marco Veloso Projeto Gráfico Pedro Alb Xavier



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