RAUL CÓRDULA artespaço

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RAUL Cร RDULA 1989


Projeto Grรกfico Atual Pedro Alb Xavier


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RAUL Cร RDULA 1989


Caos e construção em Raul Córdula Alberto Beuttenmüller

A arte moderna e pós-moderna ampliaram a cartilha da linguagem artística, tanto na gramática quanto na semântica. A cor não só colore, mas é expressão em si própria. Esta e uma das descobertas da arte contemporânea. Outra, também importante é que a forma é uma estrutura em movimento, dinâmica esta que tanto poderá ser física quanto metafísica. Raul Córdula realiza um trabalho contemporâneo exatamente por executar tais descobertas, empregando formalmente uma geometria tão exata quanto mística, obrigando-nos a entender sua obra como uma ordenação mítica – usa apenas formas plenas: triângulos, quadrados e círculos. Ao mesmo tempo tais formas, vale dizer tais estruturas em movimento buscam a emoção da desordem – física e metafísica, daí o gesto desregrado, o caos que se constrói a partir daquelas formas geométricas. Assim, entre o caos construído e a ordem desregrada flui a obra de forte acento tropical de Raul Córdula. Nessa mostra atual se misturam duas fases principais de córdula: as experiências de um workshop com artistas alemães no MAC-USP, em São Paulo, quando segundo o artista “parece que eu via o mundo de longe” e a fase de seu reencontro consigo próprio – “Capibaribe”. Esta última nos parece mais mística, formada de mandalas, verdadeiras cartografias simbólicas do seu destino


preso, agora, ao rio Capibaribe, com suas águas profundas, mas que nos deixam os olhos rasos d’água, a emoção sempre a caotizar a ordem, uma sempre diante da outra na busca da verdade do ser. O Ser o Outro. A fase “germânica” de Córdula é mais construtiva, mais racional. Os triângulos não buscam ser simbólicos, são só figuras geométricas conhecidas e reconhecidas. Na fase “Capibaribe” tais figuras são sagradas e consagradas. Há uma cosmologia que se faz linguagem, ora se construindo, ora se desconstruindo, numa tentativa de compor e recompor o ser na sua expressão. Há confronto entre o formal e o informal do gesto, mas não há conflito. A cor vale por si e descontrai o ritmo racional da organização geométrica, cosmogônica e, agora cosmogênese. Sim, porque Raul Córdula nasceu de novo a partir de Capibaribe. Seja benvindo, Raul. Recife, 1989










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