Uma História Como Esta (cap. II-IV)

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CAPÍTULO II !Ӂ Alvo: o futuro Ӂ! Dezenas de olhares fixam, lá no fundo, a partir de uma ponte, o que parece ser um cadáver. Pelos contornos e pelas roupas, o aparente cadáver é feminino quanto ao sexo e adulto quanto à faixa etária. As questões como caiu?, há quanto tempo está aí? e será que vive aqui perto? são interrompidas pela chegada de duas mulheres perto do corpo estendido. As mulheres têm andar desequilibrado, embriagado. Viram o provável cadáver, revistam-no, desamarram-lhe o pano que cobre a cintura e as pernas e retiram-lhe o que parece ser uma quantia avultada de dinheiro. Há gritos de protesto na boca das pessoas na ponte. Há linguagem ultrajante na boca das duas mulheres em resposta. Protestos disputam contra linguagem ultrajante por momentos, até que alguns da ponte atiram pedras contra as mulheres. Elas afastam-se em fuga insurrecta. As pessoas na ponte não param de lhes jogar pedras até que elas desaparecem de seu campo de visão. No meio daquela situação revoltante e da escuridão nocturna, duas coisas escapam à percepção daquelas pessoas: A primeira: O estado embriagado e irascível das duas mulheres não lhes permite ver que, no pano em que tiram o dinheiro ao aparente cadáver, há um bilhete com as seguintes palavras: Quantos hojes de tua vida se transformaram em ontens, perderam-se em anteontens, mas afectarão consideravelmente os teus distintos amanhãs? A segunda: Para as dezenas de indivíduos da ponte, a vontade de agredir aquelas duas mulheres é tanta que não se apercebem que, no momento em que a mulher que parece ser um cadáver recupera os sentidos e tenta se levantar, uma das pedras atinge-lhe a testa e ela volta a cair, sangrando.


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