Tal genro, tal sogro

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TAL GENRO, TAL SOGRO

Written by

CanetaWolf

Sexta-feira, 08/Julho/2015

Address: Alvalade, Luanda - Angola Phone Number:

932 033 876/919 736 875


FADE IN: INT. CASA DA SAMBITA - QUINTAL - DIA A Sambita, de 18 anos, está sentada sobre um banco pequeno, lavando a louça. Há uma panela onde há um maxariku (colher grande de madeira). Ambos estão sujos de funji. Há uma mesa e duas cadeiras à frente dela e o portão está entreaberto. SAMBITA (zangada) Aqui tipo receberam feitiço de comer, ya? Desde manhã até à noite louça só fica suja? A Sambita solta um mixoxu. SAMBITA (CONT’D) (zangada) Uma gaja quer ir ficar no bem bom com o meu broto... A criança1, de 8 anos, a partir da rua, espreita, colocando o rosto no espaço permitido pelo portão. CRIANÇA1 (murmurando) Mana Sambita! SAMBITA (zangada) ...mas ainda tem de ficar aqui a lavar isso! CRIANÇA1 (gritando) Mana Sambita! A Sambita volta-se para ele. CRIANÇA1 (CONT’D) Vem agora! Mingo tá pagar churra numa mboa! SAMBITA (admirada) Ohó! E isso tem o quê? E nem sabes cumprimentar? Não te deram educação, né?


2. CRIANÇA1 Bom dia! É aquela mboa que gosta de roubar homem das outra. A Sambita faz uma expressão de admiração e zanga. SAMBITA (admirada) Aquela gaja! A Sambita levanta-se, pega o maxariku e anda em aproximação da criança1, enquanto o Jorge, de 45 anos, e o António, de 60 anos, entram, saindo do interior da casa. O Jorge está a segurar um garrafão de vinho e o António, dois copos. JORGE (alegre) Vais aonde com esse maxariku, filha? A Sambita responde, sem olhar para o Jorge. SAMBITA (zangada) Resolver o problema do povo! A Sambita sai. EXT. RUA À FRENTE DA CASA DA SAMBITA - DIA O Mingo, de 20 anos, está de pé ao lado da Ngeve, de 22 anos, a entregar uma nota de quinhentos Kwanzas à senhora que está à frente deles. Há um fogareiro com brasas acesas entre o Mingo, a Ngeve e a senhora e há uma grelha com pernas de frango sobre o fogareiro. A senhora recebe o dinheiro da mão do Mingo, enquanto a Ngeve recebe o saco de churrasco da mão da senhora e a Sambita, que está a segurar um maxariku sujo de funji, e a criança1 se aproximam deles. A Ngeve beija a face do Mingo com paixão. NGEVE (sedutora) Brigada, fofo!


3. SAMBITA (zangada, gritando) Ó sua minha besta da Ngeve! A Ngeve volta-se e vê a Sambita aproximando-se dela com expressão zangada. NGEVE (zangada, confrontando) Xé! Besta é quem? Besta é a mãe que deixaste lá em casa, ouviste? A Sambita levanta o maxariku com olhar furioso. O Mingo coloca-se à frente da Ngeve, enquanto três crianças se aproximam da criança1, apreciando a cena com sorrisos. MINGO (parcialmente sério, parcialmente amedrontado) Calma, Sambita. É o quê então? SAMBITA (autoritária, rabugenta, para o Mingo) Você me cala essa boca, Mingo! Já num te falei pra num dar confiança nessas vampira? (zangada, sanzaleira, para a Ngeve) Tás falar pra quem que mãe dela é besta, hã? NGEVE (rabugenta) Pra matumba que me chamou de besta primeiro! A Sambita tenta atingir a Ngeve com o maxariku, mas o Mingo agarra a mão da Sambita. SAMBITA Me deixa, Mingo! MINGO Vai mbora, Ngeve! A Ngeve sorri. SAMBITA Me deixa preu lhe acabar bem com essa boca dela! MINGO Vai, we! Pra evitar confusão!


4. A Ngeve começa a andar em afastamento deles com pompa e sorriso zombeteiro. NGEVE (gargalhando) Vou desfrutar desse churra longe da filha da besta! SAMBITA (zangada) Vou te matar sua... O Mingo interrompe a Sambita. MINGO Deixa, Sambita! A Sambita larga o maxariku e segura o Mingo pelos colarinhos. SAMBITA Ah, é? Lhe deixo? Então você vem cá! Pra quê?

MINGO

A Sambita puxa-o até ao portão da sua casa e a criança1 e as três crianças seguem-nos, rindo do Mingo. SAMBITA (zangada) Vem cá, seu gajo. Entra! MINGO (amedrontado) Mas queres pra eu entrar então porquê? Me perdoa só já. SAMBITA (irritada) Não, Mingo! Vem memo!

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INT. CASA DA SAMBITA - QUINTAL - DIA

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O António e o Jorge estão sentados sobre cadeiras de plástico no quintal, bebendo vinho, à frente de uma mesa em que há alguns copos e pratos. Sobre o chão, há um garrafão de vinho e uma catana.


5. MINGO (V.O.) (amedrontado) Teu pai bem mau vai só nos ouvir. Me perdoa, Sambita. Entra, pá!

SAMBITA (V.O.)

A Sambita entra, segurando o Mingo pelos colarinhos que está a fazer resistência. MINGO (amedrontado) Mas eu não fiz nada. Me larga então... SAMBITA (zangada) E estás a pedir desculpas se não fizeste nada porquê? ANTÓNIO (sério, autoritário) Eh, pá! Isso é quê no meu quintal? Esse aí fez quê dessa vez? SAMBITA (irritada) Anda a me trair, avô. Tá armado em malandro! Tá se dar que come todas! O Jorge levanta-se, com expressão de indignação. JORGE (irritado e autoritário) Xé, rapaz! Você não tem juízo? Vem cá! O Mingo faz uma expressão de susto. A Sambita solta os colarinhos dele. O Mingo engole em seco, endireita as roupas e começa a andar em aproximação do António e do Jorge, amedrontado. As quatro crianças espreitam pelo portão que está aberto, sorrindo. JORGE (CONT’D) (sério) Vai lá dentro, filha. ANTÓNIO (zangado) Não conhece essa família esse rapaz, né?


6. A Sambita olha com desprezo de cima a baixo para o Mingo, solta um mixoxu e dá as costas para a câmera, andando em aproximação do portão. As quatro crianças fogem. A Sambita fecha o portão e começa a andar em aproximação da casa. O Jorge retira um dos copos sobre a mesa e entrega-o ao Mingo, que o recebe. O Jorge aponta para o chão e fala para o Mingo. JORGE (sério) Senta aí e serve um pouco de vinho. O Mingo olha para o chão e faz uma expressão de que não quer sentar para não sujar as roupas e engole em seco ao ver a catana. ANTÓNIO (autoritário, gritando) Senta! O Mingo senta-se rapidamente sobre o chão, assustado, e olha com desconfiança para o copo. ANTÓNIO (CONT’D) (sério) Serve, rapaz. Não tem veneno. O Mingo olha para os copos na mão do António e do Jorge, pega o garrafão e começa a servir o vinho. O jorge pega a catana e põe-na sobre o seu próprio colo. JORGE Deixa eu e o meu sogro te contarmos uma história bem curta sobre os homens que se dão de malandros. 3

INT. BARRACA - NOITE. O Jorge está a beber com um amigo que não se vê o rosto. Ambos estão sentados. O Jorge tem uma aliança na mão esquerda. A mão esquerda do amigo tem um relógio e o seu dedo anelar tem uma aliança. Há a mulher1 e a mulher2, que estao trajadas de roupas curtas, comendo pinxo e bebendo cerveja, sentadas atrás deles. Os dois brindam. JORGE (V.O.) Isso aconteceu há uns bons meses.

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7. AMIGO (alegre) Temos que curtir de todo o dinheiro porque...? JORGE (sorrindo) ... porque nós somos quê? AMIGO (sorrindo) Nós somos machos de verdade, pá! Ambos dão um gole nos copos em suas mãos. A mulher3, corpulenta e de roupas curtas, entra. O Jorge olha para ela com desejo. JORGE Kota, a mboa chegou. O amigo levanta-se e faz um sinal para a mulher1 e para a mulher2. Elas levantam-se e andam em aproximação dele. AMIGO (admirado) Eh! Ainda estás a andar com essa garina? JORGE (sorrindo, convencido) Ah! Já sabes a dica: Já não é meu mambu, mas ainda arrasto! O amigo choca o seu punho contra o punho do Jorge enquanto ambos dão gargalhadas. A mulher3 abraça a cintura do Jorge. AMIGO (alegre) Arrasta então! Vamo se vê naquela base, ndenge. O Jorge levanta-se, dá as costas e começa a andar em afastamento do amigo com a mulher3. JORGE Ya, vamo se vê depois. FADE TO BLACK.


8. 4

INT. MOTEL - QUARTO 1 - NOITE

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A mulher3 e o Jorge estão deitados sobre a cama, parcialmente despidos. Ela está com a mão e a cabeça sobre o ventre dele. O Jorge está segurando o telefone na orelha. JORGE (alegre) Já devoraste, kota? AMIGO (V.O.) (animado) Ah, é rápido! 5

INT. MOTEL - QUARTO 2 - NOITE

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O amigo está de pé, aparece apenas a imagem dos seus pés e da sua mão esquerda com o relógio e a aliança segurando o telefone perto da orelha. A mulher1, parcialmente nua, está na janela, de costas voltadas para a câmera, fumando. A mulher2, de sutiã, com o resto do corpo coberto pelo lençol, está deitada sobre a cama, sorrindo. AMIGO (satisfeito, orgulhoso) Trabalho feito! Todas patinhas nadaram bem aqui. JORGE (V.O.) (sorrindo) Você é o mestre dos ngombidi, mais velho! AMIGO (satisfeito, orgulhoso) Ainda bem que sabes, ndenge! Então, está na hora de voltar pra casa, não? BACK TO: 6

INT. MOTEL - QUARTO 1 - NOITE

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A mulher3 e o Jorge estão deitados sobre a cama, parcialmente despidos. Ela está com a mão sobre o peito dele, olhando de forma apaixonada para ele. O Jorge está segurando o telefone na orelha.


9. JORGE (admirado) Ainda agora? Nada... AMIGO (V.O.) (sorrindo) Você! A tua mboa então já anda a te desconfiar... E depois?

JORGE

AMIGO (V.O.) (gozando) Quando te apanharem, vais ver o diabo a assar sardinha! JORGE (convencido) Se acontecer, te mando aquela mensagem de urgência... AMIGO (V.O.) Se eu chegar tarde e te enxovalharem, a culpa não vai ser minha. JORGE Você baza só, kota... AMIGO (V.O.) Eu mbora já te avisei... JORGE Vou aproveitar bem a sexta! Depois te encontro lá em casa. AMIGO (V.O.) Está fixe então! O Jorge larga o telefone sobre a cama e beija a mulher3. FADE TO BLACK. 7

INT. CASA DA SAMBITA - SALA - DIA A partir do exterior, o Jorge abre a porta com as chaves e entra. Retira as chaves com cautela, para não fazer barulho, fecha calmamente a porta e começa a andar lentamente.

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10. A Mimi, gorda e de cabelo desmanchado, de 40 anos, aparece à frente do Jorge, segurando um maxariku. MIMI (irritada) Tavas aonde?

Eu?

JORGE (assustado e engasgado)

MIMI Eu de quê? Vem cá! JORGE Nada, Mimi. Estás assim má porquê? MIMI (gritando, zangada) Vem! JORGE Eh, pá! Não quero discussão contigo. Vou embora. O Jorge dá as costas, aproxima-se da porta e coloca a chave na fechadura. A Mimi cruza os braços e sorri. O Jorge abre a porta e o irmão1, de 25 anos o irmão2, de 20 anos, o primo, de 33 anos, a mãe, de 50 anos, e a irmã, de 32 anos, aparecem à sua frente do Jorge. O irmão2 e o primo empurram-no para dentro. JORGE (CONT’D) (amedrontado) Eh! Mimi, tua família está a entrar aqui essa hora pra quê? IRMÃ (rabugenta) Já sabes... JORGE (amedrontado) Tem óbito? A Mimi bate-lhe levemente com o maxariku sobre o ombro, por duas vezes. Ele vira-se para ela. MIMI (sanzaleira) Meu senhor, vai ter teu óbito se não me contares onde estiveste!


11. O Jorge engole em seco, amedrontado. JORGE (impaciente, amedrontado) Mas assim então vou te contar quê, mô Deus? O Jorge coloca a mão no bolso, retira o telefone e prime rapidamente as teclas. IRMÃO1 (zangado) Inda por cima tá mexer no telefone. Falta de respeito! O primo bate no telefone e o telefone cai. MÃE (zangada) Merece levar surra esse mulherengo! A irmã dá uma bofetada no rosto do Jorge, enquanto ele tenta apanhar o telefone. Aiwe!

JORGE

Ele desequilibra-se e continua a tentar apanhar o telefone, desesperadamente. Vê o telefone ao lado do pé da mãe e aproxima-se para apanhálo, mas a irmã apanha o telemóvel antes dele. Ele tenta receber o telemóvel das mãos da irmã, mas ela coloca-o no sutiã. Ele intenta colocar a mão no sutiã, e a irmã tenta esbofetear-lhe novamente o rosto. Ele segura a mão da irmã em impedimento. JORGE (CONT’D) (zangado) Xé! Queres me tirar a cara com essa tua mão de pedreiro ou quê? MIMI (zangada) Larga a minha irmã, pá! A Mimi bate a mão do Jorge com a colher de pau. Ai!

JORGE


12. 8

INT. CASA DA SAMBITA - QUARTO - DIA

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O António está sentado sobre a cama, olhando para o telemóvel na sua mão. Aparece apenas a imagem da sua mão segurando o telemóvel. IRMÃO2 (V.O.) (zangado) Inda quês mandar boca? Queres morrer já, né? O António abaixa-se, retira uma catana em baixo da cama. JORGE (V.O.) (zangado) Comé então? Você é meu cunhado e falas assim comigo? O António levanta-se, segurando a catana. IRMÃO2 (V.O.) (irritado) Cunhado de quê? Não sou cunhado de malandros, pá! O António sai do quarto, andando apressadamente, fechando a porta com violência. PRIMO (V.O.) (zangado) Cês tão a falar muito. Lhe agem já! JORGE (V.O.) (zangado) Mas vão me agir porquê? Fiz quê? BACK TO: 9

INT. CASA DA SAMBITA - SALA - DIA

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O Jorge, a Mimi, o irmão1, o irmão2, o primo, a mãe e a irmã estão de pé. O irmão2 fala com expressão zangada, olhando para o Jorge. MIMI (zangada) Mô senhor, então você me fica dois dia fora de casa sem ligar na tua mulher, hã, e inda se finge que não aconteceu nada?


13. IRMÃO1 (irritado) Você vamo te matar hoje, você! Repentinamente, o António entra, escondendo a mão esquerda que segura uma catana atrás de si. ANTÓNIO (furioso) Mas vocês querem o quê? MIMI Papá, tamo a... O António interrompe a Mimi. ANTÓNIO (gritando, zangado) Estão aqui a fazer o quê? MÃE (zangada) Estamos a endireitar esse teu genro traidor, marido! ANTÓNIO (gritando) Saem daqui! IRMÃO2 (zangado) Comé, papá? Não dá pra deixar esse gajo assim, se não... O António olha para o irmão2 com expressão furiosa. ANTÓNIO A casa é minha... e eu sou o sogro, não? O irmão2 suspira, olhando de forma zangada para o Jorge. PRIMO (sério) Sim, ti António. O António mostra parcialmente a catana, sem mostrar a mão. ANTÓNIO (zangado) Então ele vai se ver comigo! Deixam que eu vou lhe tratar bem da saúde. A Mimi lança um olhar com sorriso maléfico para o Jorge.


14. ANTÓNIO (CONT’D) (gritando, zangado) Rua! O irmão1 bate na nuca do Jorge e os familiares e a Mimi andam em aproximação da porta. Todos saem, lançando um olhar com sorriso maléfico para o Jorge. A Mimi fecha a porta. O António lança um olhar furioso para o Jorge. O Jorge fica amedrontado. O António põe a mão direita sobre a boca e começa a sorrir em tom baixo. O Jorge faz o mesmo. O António aponta-lhe a catana enquanto sorri. Só neste momento é que se vê o anel e o relógio na mão do António e se descobre que ele é o amigo com o qual ele estava na barraca. ANTÓNIO (CONT’D) (sério, sussurrando) Ndenge, isso pode dar graça, mas temos que parar com isso. JORGE (admirado, sussurrando) Oh, porquê então? ANTÓNIO Se eles descobrem que nós dois andamos na nguenda, vão nos matar! JORGE Ehé! Tás a exagerar! ANTÓNIO Se um dia não nos acreditarem, ninguém vai nos acudir! JORGE Vão nada! Lhes damos um bilingue e eles acreditam. ANTÓNIO Já pensaste em alimentar duas mulheres? DISSOLVE TO: INT. CASA DA SAMBITA - SALA DE ESTAR - DIA O Jorge está de pé, com expressão triste. A Mimi e a mulher3 estão à frente dele, de pé, com expressão zangada.


15. MIMI (zangada, gritando) Falta saco de arroz, de açucar, caixa de coxa... MULHER3 (zangada, gritando) Quero dinheiro pro cabelo, pras unhas e pras roupas! BACK TO: INT. CASA DA SAMBITA - SALA - DIA O Jorge e o António estão de pé. O António está a segurar uma catana. JORGE (zangado) Se uma já estou a passar mal, vou aguentar duas? ANTÓNIO (sério) Mesmo se aguentasses, já pensaste se fossem as nossas mulheres a nos fazer o mesmo? DISSOLVE TO: INT. BARRACA - NOITE. A Mimi está a beber com um amiga que não se vê o rosto. Ambas estão sentadas. A Mimi tem uma aliança na mão esquerda. A mão esquerda do amigo tem uma pulseira e o seu dedo anelar tem uma aliança. Há o homem1 e o homem2, corpulentos, que estão trajados de roupas justas, comendo pinxo e bebendo cerveja, sentados atrás delas. A Mimi e a amiga brindam. AMIGA (alegre) Temos que curtir de todo o dinheiro porque...? MIMI (sorrindo) ... porque nós somos quê?


16. AMIGA (sorrindo) Nós somos gajas de verdade, pá! Ambas dão um gole nos copos em suas mãos. O homem3, de corpo mais volumoso e atlético, entra. A Mimi olha para ele com desejo. MIMI Kota, o broto chegou. A amiga levanta-se e faz um sinal para o homem1 e para o homem2. Eles levantam-se e andam em aproximação dela. AMIGA (admirado) Eh! Ainda estás a andar com esse rapaz? JORGE (sorrindo, convencido) Ah! Já sabes a dica: Já não é meu mambu, mas ainda arrasto! A amiga choca a sua palma da mão contra a palma da mão da Mimi enquanto ambas dão gargalhadas. O homem3 segura as ancas da Mimi. Neste momento, aparece o rosto da amiga e vê-se que é a Mãe, sendo beijada em cada face pelo homem1 e pelo homem2. BACK TO: INT. CASA DA SAMBITA - SALA - DIA O Jorge e o António estão de pé. O António está a segurar uma catana. JORGE (irritado) Xé! Comé então? Matava os gajos que se metessem com elas! ANTÓNIO Já vês! Essas nossas mboas já aguentaram muito connosco: juntar dinheiro para construir casas DISSOLVE TO:


17. INT. CASA DA SAMBITA - SALA DE ESTAR - DIA O Jorge e a Mimi estão sentados, colocando dinheiro sobre a mesa, com expressão alegre. ANTÓNIO (V.O.) Juntar dinheiro para construir casas... MIMI Aumenta esse dinheiro que consegui do mô negócio do carvão para se comprar cimento. INT. CASA DA SAMBITA - SALA DE ESTAR - DIA O Jorge está deitado sobre um luandu e o António sobre o outro luandu. Ambos estão com expressão adoentada. A mimi está a dar de comer o Jorge e a Mãe está a dar um comprimido ao António que está a tossir. ANTÓNIO (V.O.) ...doença... BACK TO: INT. CASA DA SAMBITA - SALA - DIA O Jorge e o António estão de pé. O António está a segurar uma catana. ANTÓNIO (sério) ...vamos lhes respeitar por isso! JORGE (zangado) Hum, às vezes queimam comida, são muito rabugentas e nos estressam! ANTÓNIO (sério) Nós também lhes estressamos e nem por isso queremos que elas tenham outros! JORGE (zangado) Comé então, kota! Não estou a te reconhecer: minha sogra te cozinhou, né?


18. ANTÓNIO Nada disso... JORGE Homem pode papar quantas quiser, por isso é que fica na rua a trabalhar... Ah, é?

ANTÓNIO

JORGE ..mulher so pode ter um, por isso e que ela fica em casa para ser trabalhada. ANTÓNIO E a dignidade e o respeito ficam a onde? Vais ensinar o quê aos teus filhos? Queres que o homem que manter com a Sambita fica assim? JORGE Claro que não! ANTÓNIO Se não queres fazer nada pela minha filha, faz pelo teu amigo, faz por mim! JORGE (sério) Só estás a falar isso por ela ser tua filha, mas pronto só já, né? Depois essas damas com quem andamos a nos meter têm muita birita! Já vês!

ANTÓNIO

JORGE Se uma fica grávida... Ah!

ANTÓNIO

JORGE Aí mesmo é que vão nos matar bem! ANTÓNIO Então está combinado: Vamos parar!


19. JORGE (alegre) Vamos parar porque...? ANTÓNIO (sorrindo) ... porque nós somos quê? Os dois chocam os punhos um contra o outro com alegria. JORGE (sorrindo) Nós somos machos de verdade, pá!

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INT. QUINTAL DA SAMBITA - DIA

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O António e o Jorge estão sentados nas cadeiras de plástico do quintal, bebendo um garrafão de vinho, a frente de uma mesa em que há alguns copos e pratos. O Mingo está sentado entre eles, sobre o chão, segurando um copo de vinho. JORGE Então essa é a história. ANTÓNIO Eu e esse meu genro aqui somos grandes kambas. Yá.

JORGE

ANTÓNIO Farinha do mesmo saco. JORGE Queres entrar nessa familia e casar com a minha filha? MINGO Quero, Ti Jorge. JORGE Vais ser meu genro então. ANTÓNIO Mas se entrares, fica já a saber que essa familia aqui não poupa malandros!


20. JORGE Ou é homem de uma mulher só... ANTÓNIO Ou não é homem de nenhuma. JORGE Então pensa bem pra ganhar juízo. A Sambita aparece na janela da casa, espreitando. O Mingo baixa a cabeça e suspira. Entendi...

MINGO

ANTÓNIO Somos machos de verdade e... MINGO ...macho de verdade não trai. É por aí!

ANTÓNIO

O Mingo levanta a cabeça e vê que a Sambita o observa da janela. ANTÓNIO (CONT’D) Então toma cuidado, meu jovem. Dá um gole de vinho e sorri para a Sambita. Ela sorri para ele. olha para os dois MINGO Está bem, kota.

FADE OUT.


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