Alvorada 2014 jul|ago|set

Page 1

A Revista da Família Ano XLV nº 78 JULHO | AGOSTO | SETEMBRO 2014

Anos dourados

Preparando-se para a melhor idade

Doença da pressa

Alta ansiedade, dificuldade para relaxar, problemas de saúde e nos relacionamentos

O prazer na melhor idade

Filhos são flechas boas

Não devem ser usados como arma em briga de casal

Geração Y

E o mercado de trabalho


assine

Essencial como o carinho da sua família.

via agente acima de 10

via agente apenas

3x R$

18

apenas

3x R$

16

sua casa apenas

3x R$

25

NOME____________________________________________________________________________________________________________ RUA ____________________________________________________________ Nº ___________ COMPLEMENTO_____________________ BAIRRO___________________________________________________ CIDADE_____________________________________ UF________ CEP____________________ -___________ E-MAIL_______________________________________________________________________ TEL. COMERCIAL ( CEL.(

) ___________________________________ TEL. RESIDENCIAL (

) _______________________________

_______________________________ ) ____________________________ DATA NASC. ____________________ PROFISSÃO_______________________________

IGREJA __________________________________________________________________________________________________________ ________________ __ _

|11| PASTOR (A) (

)

PRESBÍTERO (A)

(

)

DIÁCONO (ISA) (

)

OUTRO

(

) _______________________________ _______ _

www.arevistadafamilia.com.br

3105.7773

ncha a ficha Por favor, pree gue para seu tre en e , abaixo e seja enviada agente para quefira, a ficha pr so Ca a nós. rá ser enviada também pode ra a Pendão Real, pa te en diretam mail através de e- pendaoreal.com.br) @ ação, (atendimento ua da Consol ou correios (R ação – ol ns Co ). 2121 – – 01301 -100 São Paulo/SP


EDITORIAL

Prazer na melhor idade é presente de Deus SHEILA DE AMORIM SOUZA

"... Enquanto você viver neste mundo de ilusões, aproveite a vida com a mulher que você ama. Pois isso é tudo o que você vai receber pelos seus trabalhos nesta vida dura que Deus lhe deu." (Ec 9.9). Olhando para a capa deste trimestre, fiquei pensando no meu casamento e no versículo acima, que foi base da mensagem deste importante dia para mim. O desejo de aproveitar a vida, ter alegrias, viver gostosamente e ao lado da pessoa amada são expectativas que buscamos realizar. Pensei no meu casamento porque desejo também chegar à melhor idade, com a alegria e a leveza que a foto expressa, ao lado da pessoa que amo, se Deus assim permitir. Também pensei o quanto as pessoas idosas sofrem repressões e preconceitos, principalmente quando o assunto é sexualidade. Na matéria "Como o casal pode se preparar para a velhice", a psicóloga Devanira afirma “que a maior barreira sexual é, em qualquer idade, a mordaça que se coloca na voz do coração. Tirar esta mordaça é reconhecer a existência real do amor que manteve esta caminhada do casal por tantos anos. Podemos dizer que a sexualidade do casal faz parte de sua vida. Nascemos e morremos com a nossa sexualidade. A vida sexual de um casal na terceira idade pode ser plena e feliz”. O envelhecimento fisiológico é certo e produz mudanças que afetam todas as pessoas que chegam à melhor idade, mas elas podem manter, se desejarem, a atividade sexual. "A sexualidade do casal, independentemente da idade, está tanto no corpo quanto na alma, como algo de prazer, de bem estar, de satisfação", esclarece a psicóloga. É preciso chegar preparado a esta fase da vida. Então, é bom parar de perdemos tempo com coisas negativas. Há tantas coisas boas para falar, construir e aproveitar. Aceitar a amizade e brincar um com o outro são atitudes simples e prazerosas. Nessa perspectiva, devemos olhar as possibilidades criativas construídas pelo corpo vivo. Entendo que é disso que fala o versículo: Aproveite a vida com quem você ama. As formas diferentes de amar na melhor idade são legítimas, nem melhores nem piores, se comparadas a outras etapas da vida. Mesmo que você não tenha o seu amado mais ao seu lado é bom saber o que o sábio Salomão entendeu e nos ensina: "a melhor coisa que uma pessoa pode fazer durante a curta vida que Deus lhe deu é comer e beber e aproveitar bem o que ganhou com o seu trabalho. Essa é a parte que cabe a cada um" (Ec 5.18). Nossa vida e tudo que temos e desfrutamos é presente de Deus. Para Salomão, alegria tem a ver com Deus e não com aquilo que se tem ou se possa buscar. Tudo é dado por Deus. Aproveite todas as matérias desta edição, reflita e dê passos de mudanças, se forem necessários, para uma melhor qualidade de vida sua e da sua família. Relacione-se com Deus. Conviver numa relação honesta e mais presente com Deus faz, realmente, toda a diferença na vida. Ele nos dá cada dia de presente. “Viva a cada dia de forma a poder ter a calma e toda fé necessária para que, em seu último dia nesta vida, a qualquer hora e a qualquer tempo, você possa sorrir satisfeito com a vida que o Pai o presenteou e esteja pronto para encontrá-lo”, enfatiza a autora Chris Ayres em “Anos Dourados”. Boa leitura!

Sheila alvorada@ipib.org


3 4

Qual o seu nome? A memória pode falhar e nos enganar.

Cotidiano

A Doença da Pressa ou a “Tecnoestresse” tem atrapalhado a vida de muitas pessoas.

7

Família

8

Pais e filhos

14 SUMÁRIO

Reflexão

18

34 38

Doença

Alguém na sua família tem TOC?

53

Saúde

Depressão: doença, e não pecado.

Qualidade de Vida

Sono? Terapias alternativas que auxiliam as mulheres na menopausa e pós menopausa com queixa de insônia.

64

Secretaria da Família

Os velhos e os novos pecados. Dois novos pecados foram acrescentados à lista já bem conhecida dos sete pecados capitais.

Ver um lar sendo destruído causa uma dor profunda na consciência dos que levam a vida a sério. A essência do relacionamento pai e filho.

Alienação parental

Usando a criança como instrumento de vingança.

Adolescentes

Restabelecer o vínculo desses jovens com os adultos é uma questão fundamental.

22

Família Líquida

26

Psicanálise e Esperança

32

Comportamento

Há uma realidade a ser percebida na sociedade e na família hoje. O ódio: para que serve?

Pessoas ressentidas causam uma desordem, na experiência dos valores, gerando sentimentos desarranjados e desencontrados.

10

Pais e filhos

Filhos são flechas do bem, não devem ser usadas em briga de casal

42 46

Alzheimer

É necessário cuidar, amar, amparar, providenciar, renunciar.

Melhor Idade

Anos dourados: preparando-se para a melhor idade

50

Vida Conjugal O prazer na melhor idade.

58 60

Motivação

O Prof. Gretz aborda o círculo virtuoso da motivação

Atualidade

Já ouviu falar de braggie, selfie? Quais são as reais intenções do coração humano?

70

Geração Y

Um potencial que necessita encontrar no ambiente de trabalho liberdade, flexibilização, regras claras entre outras coisas.

68

Cristianismo

Talento e fé terceirizada. A terceirização é uma prática, no meio empresarial, que visa ao aumento da qualidade nas atividades e produtos. E na igreja?

Alvorada A Revista da Familia

Órgão Oficial da Secretaria da Família da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Rev. Wellington Barboza de Camargo. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro dos Santos. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Coordenadoria Nacional de Adolescentes: Rev. Rodolfo Franco Gois. Coordenadoria Nacional de Crianças: Rev. Rodrigo Gasque Jordan. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: Bst2012 - pt.depositphotos.com. Fotos e ilustrações: Allison de Carvalho, pt.depositphotos.com. Fotolia, stock.xchng, brusheezy e dreamstimefree. Colaboraram nesta edição: Wanderley de Mattos Júnior, Daniel Dutra, Leontino Farias dos Santos, Alex Sandro dos Santos, Wívian L. C. Brojato, Wag Ishii, Dulce Vieira Franco de Souza, Zeneide Ribeiro de Santana, Devanira Domingues Demarque, Kleber E. B. Dias, Estevam Fernandes, Mario Sérgio Lambert Soares, Vírginia Martin, Ademir Almeida, Elizabeth Monteiro, José Neivaldo de Souza, Roberta Machado Cavalcanti de Souza, Magali A. Henriques Leoto, Chris Ayres, Ébe Monteiro. Ariadne Souza, Prof. Gretz, Odair Martins e Evandro Rodrigues. . Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$45,00, acima de 10 assinantes R$ 40,00, para receber através do (a) agente ou R$ 65,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 11,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.


REFLEXÃO

Qual é o seu nome? ZENEIDE RIBEIRO DE SANTANA

A Zeneide, professora aposentada, é blogueira e congrega na 1ª IPI de São Caetano do Sul, SP. Casada, é mãe de 2 filhos e avó

kalinovsky

Li este texto num Blog em que, infelizmente, não se mencionou o autor: Durante meu segundo mês na escola de enfermagem, nosso professor nos deu um questionário. Eu era bom aluno e respondi rápido a todas as questões, até chegar a última que era: “Qual o primeiro nome da mulher que faz a limpeza da escola?” Sinceramente, isso parecia uma piada. Já tinha visto a tal mulher várias vezes. Ela era alta, cabelo escuro, lá pelos seus 50 anos, mas como eu ia saber o primeiro nome dela? Entreguei meu teste deixando essa questão em branco e, um pouco antes de a aula terminar, um aluno quis saber se a última pergunta do teste ia contar na nota. “É claro!”- respondeu o professor. “Na sua carreira, você encontrará muitas pessoas. Todas têm seu grau de importância. Elas merecem sua atenção, mesmo que seja com um sorriso ou um simples ‘alô’”. Nunca mais esqueci essa lição e também acabei aprendendo que o primeiro nome dela era Dorothy. É muito comum acontecer isso! Pouca gente se preocupa em identificar e chamar as pessoas pelo nome,

especialmente aquelas que ocupam cargos menos expressivos. Agora, por exemplo, prevalece a moda do tio: “a tiazinha do café”, “o tiozão da portaria”… É claro que há casos de dificuldade de memorização ou de troca de alguns nomes. Tenho me esforçado para que isso não aconteça, mas às vezes… Encontrei uma conhecida num supermercado e logo nos abraçamos dizendo “Quanto tempo!” Aí ela me perguntou de uma colega em comum e pediu que eu lhe transmitisse um abraço. Enquanto isso, tentava me lembrar do nome dela, mas não consegui. Então, falei: -Dou seu abraço, sim, mas me desculpe, como é mesmo seu nome? Ela me disse e completou: -Não se preocupe, pois eu também me esqueci do seu… A idade é caso sério! Bom mesmo é saber que Deus nunca nos confunde, pois nos conhece pelo nome e sua Palavra garante: “O seu nome está escrito na palma da minha mão” (Is 49.16).

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 3


COTIDIANO

Menos é mais

Os psiquiatras já discutem uma nova doença chamada “doença da pressa”, cujos sintomas seriam a alta ansiedade, dificuldade para relaxar e, em casos mais graves, problemas de saúde e nos relacionamentos

4 Alvorada

DANIEL DUTRA

Cerca de dois séculos atrás, Charles Spurgeon deu este conselho aos seus aprendizes de pregador: “Na longa caminhada, devemos empenhar-nos para, de vez em quando, fazer menos”. Os psiquiatras já discutem uma nova doença chamada “doença da pressa”, cujos sintomas seriam a alta ansiedade, dificuldade para relaxar e, em casos mais graves, problemas de saúde e nos relacionamentos. É comum ouvirmos: "Se não corrermos para pegar o ônibus, não chegaremos ao serviço no horário"; "Precisava correr para pegar a fila menor no supermercado”; "Nós comemos rápido

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

para termos mais tempo para fazer as outras coisas”. Os especialistas já sugerem algo chamado de “Tecnoestresse”. Seria a definição para a quantidade de tecnologia que temos em nossa vida atual e, muitas vezes, causando mais cansaço e desgaste. Você já passou pela situação de ter um dia estressante, e você decidiu desligar o celular, e alguém te diz no outro dia: “Tentei falar o dia todo com você. Por que você tem celular, se você não atende?” Podemos perguntar neste momento: quem adquiriu um celular está obrigado a estar 24 horas disposto a atender um telefonema? O celular representa bem a modernidade: junto com a liberdade vem o aprisionamento.


Necessidade do descanso

Você já parou para pensar que Deus, depois de ter terminado a criação, descansou (Gn 2.2). Isto mesmo! Deus, o próprio ser Todo Poderoso que não se cansa e nem se fatiga (Is 40.28), descansou. E, se Deus descansou, por que nós não devemos descansar? Ouvi falar de um pastor que não tirava férias. Ele dizia que a obra de Deus não tem férias. Mas a Bíblia relata que o próprio o dono da obra parou para descansar. Todos sabem que a qualidade de vida exige um número mínimo de horas de descanso e de horas de sono. O monge Dalai Lama afirmou algo que continua atual: “O homem perde toda a sua saúde para ganhar dinheiro; depois, gasta todo o dinheiro para recuperar a saúde. Vive como se nunca fosse morrer, e morre como se nunca tivesse vivido”. Essa frase deveria estar sempre em nosso campo visual! Há um tempo encontrei um texto circulando na internet com o título: 12 conselhos para ter um infarto feliz. O texto é atribuído ao Dr. Ernesto Artur, cardiologista. Depois acrescentaram mais três conselhos:

Quem não se lembra do filme Um dia de fúria (1993) em que o ator Michael Douglas interpreta um homem estressado que, depois de perder o emprego e amargar um grande congestionamento, abandona seu carro e sai enfurecido pelas ruas da cidade sem controle emocional. Assim como no filme, muitos hoje estão à beira de um ataque de fúria devido à sobrecarga de trabalho, excessos de barulho, problemas financeiros, trânsito interminável, etc. Assustamos quando vemos no noticiário casos de morte de filhos recém-nascidos, que foram esquecidos no carro sob o sol forte, e isto devido a uma mudança na rotina. É claro que isto demonstra que o exces-

• 1. Cuide de seu trabalho antes de tudo. As necessidades pessoais e familiares são secundárias. • 2. Trabalhe aos sábados o dia inteiro e, se puder, também aos domingos. • 3. Se não puder permanecer no escritório à noite, leve trabalho para casa e trabalhe até tarde. • 4. Ao invés de dizer não, diga sempre sim a tudo que lhe solicitarem. • 5. Procure fazer parte de todas as comissões, comitês, diretorias, conselhos e aceite todos os convites para conferências, seminários, encontros, reuniões, simpósios etc. • 6. Não se dê ao luxo de um café da manhã ou uma refeição tranquila. Pelo contrário, não perca tempo e aproveite o horário das refeições para fechar negócios ou fazer reuniões importantes. • 7. Não perca tempo fazendo ginástica, nadando, pescando, jogando bola ou tênis. Afinal, tempo é dinheiro. • 8. Nunca tire férias! Você não precisa disso. Lembre-se que você é de ferro. • 9. Centralize todo o trabalho em você, controle e examine tudo para ver se nada está errado. De-

so de informação e preocupação acaba por impedir o raciocínio saudável e equilibrado em atividades simples do nosso dia a dia, como deixar um filho na creche. Resumindo: alto nível de estresse!

E a família, onde fica nesta situação?

Sabemos que a família é o nosso maior patrimônio. A questão é que, quando estamos estressados, acabamos jogando todo lixo emocional que nos sufoca em cima daqueles que mais amamos. Nunca podemos esquecer que os filhos são herança do Senhor (Sl 127.3), e quem encontra uma esposa encontrou um tesouro

• •

legar é pura bobagem; é tudo com você mesmo. 10. Se sentir que está perdendo o ritmo e o fôlego, e pintar aquela dor de estômago, então tome logo estimulantes e energéticos. Eles vão te deixar tinindo. 11. Se tiver dificuldades em dormir, não perca tempo: tome calmantes e sedativos de todos os tipos. Agem rápido e são baratos. 12. Não se permita ter momentos de oração, meditação, audição de uma boa música e reflexão sobre sua vida. Isto é para crédulos e tolos sensíveis. 13. Não tenha medo de fumar; afinal, este negócio de que cigarro é prejudicial à saúde é total intriga da oposição. 14. Coma de tudo. Permita-se este prazer. Você merece! Quem come mato é boi. 15. Check-up? Cai fora! Isto é uma invenção de gente que quer se aproveitar de você. Está cheio de gente chegando aos 90 anos sem nunca sequer ter ouvido falar de check-up.

(Pv 19.22). A família é nossa maior riqueza e nosso ancoradouro! Um pastor, durante um retiro da liderança, realizou um pequeno teste e fez aos membros da equipe a seguinte pergunta: “Se você soubesse que tem apenas um mês para viver, o que mudaria?”. Entregou uma agenda a cada um e os desafiou a viver os trinta dias seguintes como se fossem os últimos, pedindo que tomassem nota do que havia acontecido. Os resultados foram nada menos que transformadores de vida! No final dos trinta dias, todos haviam desenvolvido maior clareza de propósitos e paixão renovada pelo que é de fato importante. Algumas pessoas fizeram coisas realmente notá-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 5


veis: passar as férias dos sonhos com o cônjuge; levar a sério um estilo de vida saudável e perder alguns quilos; reconciliar-se com o pai ou a mãe depois de muitos anos de distanciamento; ter mais tempo com a família, etc.

Hoje, há uma grande tensão entre o urgente e o importante. Não poucas vezes, sacrificamos no altar do urgente as coisas importantes. Nosso relacionamento com Deus e com a família são coisas importantes e não podem ser negligenciadas.

Uma ilustração para ajudar a refletir

Um homem contratou um carpinteiro para ajudar a arrumar algumas coisas na sua fazenda. O primeiro dia do carpinteiro foi bem difícil. O pneu do seu carro furou fazendo com que ele deixasse de ganhar uma hora de trabalho; depois, a sua serra elétrica queimou; e, finalmente, no final do dia, o seu carro não funcionou. O homem que contratou o carpinteiro ofereceu uma carona e, durante o caminho, o carpinteiro não falou nada. Quando chegaram em casa, o carpinteiro convidou o homem para entrar e conhecer a sua família. Quando os dois homens estavam caminhando para a porta da frente, o carpinteiro parou junto a uma pequena árvore e gentilmente tocou as pontas dos galhos com as duas mãos. Depois de abrir a porta da sua casa, o carpinteiro transformou-se. Os traços tensos do seu rosto transformaram-se em um grande sorriso, e ele abraçou os seus filhos e beijou a sua esposa. Um pouco mais tarde, o carpinteiro acom-

panhou a sua visita até o carro. Assim que eles passaram pela árvore, o homem perguntou por que ele havia tocado na planta antes de entrar em casa. "Esta é a minha árvore dos problemas", respondeu o carpinteiro. E continuou: "Eu sei que não posso evitar ter problemas no meu trabalho, mas estes problemas não devem chegar até os meus filhos e minha esposa. Então, toda noite, eu deixo os meus problemas nesta árvore quando chego em casa, e os pego no dia seguinte. E você quer saber de uma coisa? Toda manhã, quando eu volto para buscar os meus problemas, eles não são nem metade do que eu me lembro de ter deixado na noite anterior". Hoje, há uma grande tensão entre o urgente e o importante. Não poucas vezes, sacrificamos no altar do urgente as coisas importantes. Nosso relacionamento com Deus e com a família são coisas importantes e não podem ser negligenciadas. “Na longa caminhada, devemos empenhar-nos para, de vez em quando, fazer menos.” Sim, temos que reduzir a velocidade. Não aumentar, mas, ao contrário, diminuir. Menos é mais. Spurgeon tinha razão! O Rev. Daniel Dutra é psicólogo e pastor da IPI de Rondonópolis, MT Referências bibliográficas: SHOOK, Kerry e Chris. Um mês para viver LUCADO, Max. Aliviando a bagagem para as mães

0 www.pastordanieldutra.blogspot.com

6 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


A família na

UTI

ESTEVAM FERNANDES

Hasenonkel

Uma das maiores frustrações deste início de século é a crise que se abate sobre a família. A desagregação do lar tira o brilho do progresso, das conquistas e da expansão do conhecimento que se promoveu nos últimos anos. Ver um lar sendo destruído causa uma dor profunda na consciência dos que levam a vida a sério. O desmoronamento da família coincide com a crise da afetividade. A essência de nossa vivência está nos relacionamentos significativos, especialmente naqueles que se dão no âmbito de vida familiar. A afetividade é uma espécie de cimento na construção das relações humanas, mas o ser humano do nosso século está preso às garras do individualismo. Sob o ponto de vista terapêutico, cuidar da família implica um cuidado urgente conosco mesmos, especialmente no que se refere aos nossos sentimentos, pois eles é que dão sentido e consistência à nossa

vida. Sentimentos sadios implicam relacionamentos sadios. Isto é uma questão de aprendizagem que exige um esforço de cada um de nós para o bem da família. Aprender a amar, a valorizar os outros, a respeitar, a perdoar, a esvaziar-se de si, a abraçar e a valorizar os pontos positivos das pessoas são coisas simples que poderão produzir mudanças profundas na vida em família. Dizer “eu o amo” é muito mais fácil do que alimentar o ódio. Nenhuma família sobrevive sem amor, pois somente este promove a tolerância, a misericórdia, a paciência, a confiança, o perdão e a renúncia. Um segundo cuidado urgente para salvar a família está na solidificação da relação entre marido e mulher - o eixo básico dos relacionamentos familiares. Infelizmente, muitos filhos crescem sem ver sequer seus pais juntos; e outros jamais viram os pais abraçados, vivenciando afeto e ternura. O modo de viver dos pais afeta diretamente o modo de ser dos filhos. Por isso assistimos a um crescimento assustador de filhos dro-

gados, rebeldes, agressivos, apáticos e inseguros. Mas, quando se fortalecem as bases, toda a estrutura familiar fica mais segura. Para a saúde da família, é fundamental uma revisão dos nossos valores, os quais devem ultrapassar o limite do material e das coisas transitórias. Quando um filho precisa de um brinquedo para se sentir amado pelos pais ou uma esposa precisa de uma jóia para se sentir amada pelo marido, é sinal de que nesta família os valores estão invertidos, pois as pessoas devem ser valorizadas pelo que são e sentem, e não pelo que possuem ou possam oferecer. Dentro dessa escala de valores, não podemos subestimar a fé, a esperança e o louvor. Tentar salvar a família de uma crise aguda, sem a presença de Deus e a força do amor, é, como disse Jesus, construir a casa sobre a areia; ao primeiro vento forte, tudo cai (Mateus 7.24-27).  O Rev. Estevam, pastor da 1ª Igreja Batista de João Pessoa, PB, é psicólogo clínico, escritor, conferencista motivacional. Casado e pai de 2 filhos.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 7


PAIS E FILHOS

A essência do relacionamento pai e filho

MARIO SÉRGIO LAMBERT SOARES

SergeyNivens

O relacionamento está presente em nossa vida desde o Éden. Lá fomos criados para nos relacionarmos com Deus, que já desfrutava de um intenso relacionamento com o Filho e o Espírito Santo (Gn 1.26-27). Esta era a relação que Deus ansiava para o ser humano, revelada nas palavras

8 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


do próprio Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn 1.26). Assim, temos um modelo de relacionamento no qual existe amor, confiança, respeito, intimidade e submissão. O que muitas vezes questionamos é como podemos desenvolver esta relação em nosso lar. Um dos sinônimos para a palavra relacionamento ou relação é ligação. Para ligarmos algo, precisamos ir em direção a, tocar, conectar. Entendo que, para construirmos relações, precisamos ser, cada vez mais, intencionais, ter o desejo e nos esforçar para que estas relações se tornem fortes, saudáveis e duradouras. Muitas famílias estão sofrendo nos dias de hoje por não desfrutarem em suas casas de bons relacionamentos e, infelizmente, isto tem ocorrido também de uma maneira muita intensa nos lares cristãos. Casais estão em crise nos relacionamentos. Pais estão em crise com os filhos. E nós nos perguntamos: por que isto está acontecendo? Creio que uma das principais causas, se não a principal, destas crises na vida familiar é o modo como pai e mãe têm se relacionado com Deus. Nosso relacionamento com o Senhor é essencial, e isso será determinante em nossas relações pessoais e familiares. À medida que crescemos na intimidade com o Senhor, cada vez mais o seu caráter, o seu amor, a sua bondade e a sua misericórdia serão refletidos em nós. Nossos relacionamentos conjugais e paternais terão um novo brilho, uma nova luz e alcançaremos relações em que o respeito, a confiança, a transparência e o amor estarão sempre presentes.

Como homem e pai, entendo que outro fator para estas crises na família é a omissão do homem em cumprir o seu verdadeiro papel no lar. No âmbito cristão, antes de ser esposo ou pai, o homem é filho de um Deus Todo Poderoso e só esta relação com o Pai nos levará a uma compreensão do esposo e do pai que o Senhor deseja que nós nos tornemos. Vivemos uma época de grandes conquistas, com avanços na ciência e na tecnologia que não cessam. Arrisco a afirmar que nunca tivemos pessoas de tão grande capacidade intelectual, empreendedora, administrativa entre outras. Mas, por outro lado, é impressionante a quantidade de filhos que estão enfrentando problemas emocionais ou comportamentais pela falta de uma boa relação com os pais. O desejo de viver em uma sociedade que ofereça mais conforto e mais segurança está levando cada dia mais os pais a se distanciarem dos filhos, correndo risco de os perderem para a sociedade que estão construindo. Cabe a nós, homens e pais, não permitirmos que isto aconteça em nosso lar. Devemos a cada dia buscar nos relacionarmos com nossos filhos. É preciso ser intencionais e nos aproximarmos e nos conectarmos a eles. Isto não nos impedirá que continuemos trabalhando, cumprindo aquilo que nos é proposto; contudo, tenhamos sempre em nossa mente o Salmo 127, que nos ensina que, se o Senhor não edificar a nossa casa, tudo será em vão e que nossa maior herança não está naquilo que o trabalho nos dá, mas, sim, naquilo que Ele nos presenteou, nossos filhos. Se nos submetermos ao Senhor, Ele nos levará a construirmos rela-

cionamentos saudáveis e prazerosos com nossos filhos. Nossa presença no cotidiano de nossos filhos, através do diálogo, da interação, do cuidado e do companheirismo, é fundamental para que eles percebam que os amamos e desejamos estar com eles. Precisamos abraçá-los, beijá-los, ouvi-los e olhar nos olhos deles para que vejam que damos atenção a eles, nos importamos com eles e que sempre estaremos por perto, não importando as circunstâncias. Desenvolveremos em seus corações a confiança e a segurança nesta relação, tornando-a mais saudável, forte e duradoura. Acredito que podemos conquistar o que foi dito no parágrafo anterior. A Palavra nos mostra, em Gênesis 22, a história de um pai e um filho, Abraão e Isaque, que, em minha opinião, é um dos mais lindos relacionamentos entre pai e filho. Abraão amava tanto a Isaque que o Senhor o colocou à prova, pedindo que oferecesse Isaque em holocausto. Vemos um pai submetendo-se e fazendo a vontade do Senhor. Um filho obedecendo e não resistindo à vontade de seu pai. Um pai que ouvia e tinha intimidade a ponto de ser chamado amigo de Deus. Um filho que respeitava e confiava em seu pai. Enfim, um pai e um filho que andavam e permaneciam juntos, sobretudo nas adversidades, e sabiam que o Senhor não os desampararia, pois Ele é um Deus Provedor. O Mario é cirurgião dentista, especialista em desenvolvimento e orientação à família. Pai de 2 filhos, Maria Fernanda (13 anos) e Pedro (7 anos), é casado há 17 anos com Liliam e juntos coordenam a área de apoio a casais da 1ª IPI de Londrina, PR Telefones (43) 3024-3956 / 8434 6133

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 9


Como são lançadas

flechas

as de sua aljava?

10 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


Filhos são como flechas que carregamos na aljava. E eu gosto muito desta comparação feita por Davi: “Como flechas na mão do guerreiro, assim são os filhos da mocidade. Feliz o homem que enche delas a sua aljava; não será envergonhado quando pleitear com os inimigos à porta” (Sl 127.5 e 6). Aljava era uma espécie de saca, um estojo ou equipamento usado para carregar as flechas usadas pelos arqueiros desde a antiguidade. Quem porta uma aljava cheia de flechas está bem munido. Mas flechas não são apenas armas de combate ou mesmo de esporte, mas instrumentos magníficos que exigem técnica, preparo, concentração para quem faz uso delas. Nossos filhos podem ser flechas certeiras, aquelas que lançamos com precisão, usando força e sensibilidade na medida certa. É preciso ter um bom arco, assim como um olhar apurado para a mira. Pais que sabem usar flechas estão quase sempre bem acompanhados. Lançam seus frutos que cortam o ar, atravessam o mundo com sua força a fim de atingir o melhor alvo. Se você é divorciado e tem filhos, tenha

certeza de que será uma tolice dizer que seu casamento foi um engano, um erro. Afinal, seus filhos surgiram desta união. São a melhor parte do que você e seu ex-cônjuge construíram. Celebre! Se você é casado e divide as responsabilidades diárias para a criação da prole com seu amado ou amada, saiba que você vive um privilégio porque, mesmo com todos os desafios, seus filhos são seu maior campo missionário, sua significativa prioridade, sua melhor produção em vida. Festeje! Sim, filhos representam uma poderosa herança, flechas sendo preparadas e afiadas. Sem eles, sua aljava seria diferente, talvez empobrecida. Não sabemos. Com eles, você transformou-se em um melhor guerreiro na vida. E criar filhos atualmente representa estar em uma guerra constante. Quem está de fora da tarefa de criar filhos sequer imagina o acúmulo de demandas que eles trazem ao cotidiano de pais - divorciados ou não -, independentemente da idade ou do número da prole. Sejam ainda bebês, crianças, adolescentes ou jovens, eles são a prioridade, o foco central de quem mora com eles e, consequentemente, acompanha de perto a evolução do destino. E, como nunca foi fácil

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 11

alphaspirit

VIRGÍNIA MARTIN


Filhos também precisam ser poupados. Seria repetitivo, mas urgente dizer que não devem ser usados como armas de briga entre o casal separado. Afinal, são flechas do bem e não do mal.

ser pai ou mãe, a meta é superar a “loucura”, “matar um leão por dia” e prosseguir na boa missão de educar, de preferência, sem reclamar. Tive a oportunidade de conhecer homens e mulheres que deixaram de sair, seja para o lazer, seja para uma necessidade urgente, porque não tinham com quem deixar seus filhos e, mesmo assim, sentiam grande prazer em estar com eles. Também lamentei por mães que cuidavam exaustivamente de crianças pequenas, enquanto o ex-companheiro desfilava despreocupadamente como se nem filho tivesse. Certa vez, vi um homem divorciado participar de uma reunião de pais na escola dos filhos, fantasiado de “bom pai", ostentando um ar de responsabilidade diante de uma situação que mal conhecia. Era tão distante do contexto dos filhos que, consciente ou inconscientemente, não conseguia imaginar o tamanho de sua omissão frente às inúmeras necessidades de seres que tinham seu próprio sangue. Mas também lembro de ter conhecido pais - e não são poucos - que, sozinhos, criaram seus filhos desde pequenos. Muitos zelavam em tudo, bancando tudo, sendo o melhor pai do mundo, alicerçado no amor e na alegria de poder administrar pessoalmente o seu maior bem. Homens assim são admiráveis e, felizmente, não estão em extinção. Pelo contrário, estão se avolumando no cenário social e familiar. Palmas para eles! Meninos e meninas em fase de crescimento possuem uma velocida12 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

de incrível de apelos. Estão sempre requerendo nosso preparo, nossas reações, nossas respostas e nossas soluções rápidas para suas demandas de formação. Quanto mais o tempo passa, mais devastadores podem ser os efeitos de problemas e anseios mal trabalhados. Como estão em crescimento físico, espiritual e emocional, não dá para supor que terão a mesma maneira de pensar e agir que um adulto. Nem dá para fugir de ser pai e mãe. É inevitável agarrar a realidade com as unhas para que não seja tarde demais e todas as flechas saiam tortas da aljava, antes mesmo de serem lançadas para o futuro. Quem foge desta responsabilidade é, sem exageros, uma pessoa de mau caráter. Filhos também precisam ser poupados. Seria repetitivo, mas urgente dizer que não devem ser usados como armas de briga entre o casal separado. Afinal, são flechas do bem e não do mal. E, embora a gente saiba que “trocentos” pais usam seus filhos para punir seus “ex”, o bom senso grita a todo momento que alguma coisa seja feita contra esta anomalia “performática”. E eu confesso que não tenho tanta certeza de que a igreja nota ou reage frente aos sinais de sofrimento mudo estampado no semblante de muitos filhos do divórcio. Vou fazer um pedido. Pare e crave algo em sua cabeça: toda justiça pertence a Deus. É com Ele e por Ele que todas as mazelas emocionais serão sanadas. Volte a lembrar de que “aqui se faz e aqui se paga”. E o que tem de gente arrependida por aí...


Sejam pais que perderam o melhor tempo com seus filhos, sejam aqueles que não cumpriram minimamente seu papel, muito menos usufruíram do que tinham na aljava. De longe, apenas viram as flechas sendo disparadas para a vida, foram expectadores do maior espetáculo da terra que é formar um ser vivo, dentro e fora da barriga. Filhos existem para serem amados, polidos a cada dia, preparados para o voo certeiro. Pais emocionalmente saudáveis criam filhos emocionalmente saudáveis, não importa a dor que foi gerada na família, e todo mundo sabe disso. Assim como creio no amor para homens e mulheres de famílias desajustadas, creio no amor para os filhos destas pessoas. Filhos precisam ser educados com o melhor de nós mesmos, e não com o pior. E isso é possível, mesmo no meio de imensas dificuldades. Germine verdade, cumplicidade, amor, alegria e serenidade em casa e você verá gente rindo debaixo do seu teto, pois “ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimentos; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais não haja vacas, todavia, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Hc 3.17-18). Viva a alegria de Habacuque! Viva a alegria de nossos filhos, garantida por Deus, frutificada em uma família que vive de perdão, de esperança, de união.  A Virgínia é jornalista, escritora e palestrante  www.divorciadoscuradosebemhumorados.com

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 13


PAIS E FILHOS

Alienação parental

Usando a criança como instrumento de vingança ADEMIR ALMEIDA

Vivemos em um mundo complexo e problemático, que influencia diversas áreas que constituem o ser humano. Uma delas, a área familiar, tem sido, como nunca, alvo de severas crises: infidelidade matrimonial; pais que abusam dos filhos ou os rejeitam na gestação e na concepção; filhos que se rebelam contra os pais e que sofrem com o divórcio deles. Enfim, a lista é grande. Mas gostaria de refletir neste artigo sobre um assunto que tem sido cada vez mais comum tanto no meio evangélico como fora dele: a Alienação Parental. Você sabe o que significa isto? Em definição mais simplificada, Alienação Parental (AP) é quando um dos pais, em processo de separação ou não, tenta posicionar seus filhos contra o outro genitor.

»

As consequências causadas nos filhos por essa alienação são descritas como Síndrome de Alienação Parental (SAP). Esta síndrome foi o termo proposto pelo médico psiquiatra infantil Richard Gardner, nos anos 80. Em 26/8/2010, foi publicada a Lei Nº 12.318 sobre Alienação Parental. O Art. 2º traz um parecer sobre o assunto: “Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este”. Em uma entrevista veiculada no programa Fantástico, da rede Globo, em 10/3/2013, a advogada

Atitudes que estimulem a criança à rejeição de um de seus genitores podem trazer sérias consequências psicológicas e físicas para ela. Vemos isso na prática do atendimento psicológico e do aconselhamento pastoral.

© Vibe Images

14 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


Ana Gerbase ressaltou: “A Alienação Parental é a prática do pai ou da mãe em afastar o outro da vida da criança. O pai ou a mãe usa a criança como instrumento de vingança”. Em compatibilidade com a ideia de Gardner, inferimos que a Alienação Parental é um processo de “lavagem cerebral”, que induz a criança a voltar-se contra um de seus genitores. Lamentavelmente, esta questão aflora no contexto familiar de nossos dias. Quantos casais em crise optam pelo divórcio ou ainda vivem juntos, mas incluem seus filhos em suas brigas? Quantos pais, mesmo casados, semeiam ódio no coração de seus filhos em relação às mães, e vice-versa? Atitudes que estimulem a criança à rejeição de um de seus genitores podem trazer sérias consequências psicológicas e físicas para ela. Vemos isso na prática do atendimento psicológico e do aconselhamento pastoral. Em alguns casos, todo “encanto” da criança por um dos genitores pode desaparecer rapidamente. A criança alienada passará a cultivar sementes de raiva e ódio contra o genitor ou a genitora. Desafeto será uma das marcas registrada do coração do alienado. Provavel-

mente a criança que vive este encalço poderá apresentar dificuldade em demonstrar respeito, afeição ou admiração por outras pessoas ao longo da vida. Diante disto, em casos consolidados, podemos nos deparar, em algumas situações, com indivíduos que apresentam certos traços de transtornos de conduta, classificados na Psicologia como desafiador e de oposição. De acordo com o CID F91.3 (Classificação Internacional de Doenças), o indivíduo apresenta características de comportamento provocador, desobediente ou perturbador e não acompanhado de comportamentos delituosos ou de condutas agressivas ou dissociais graves. Ainda na reportagem do Fantástico, Ana Gerbase afirmou que a lei Federal protege as crianças que enfrentam certos tipos de trauma: “O juiz deve advertir o pai ou a mãe que está alienando. Ele pode indicar acompanhamento terapêutico e até inversão da guarda: tirar a guarda desse pai ou dessa mãe que está alienando e entregar para a parte que está sendo alienada. Essa é a penalidade mais grave que pode acontecer. Hoje a dificuldade de se tratar da alienação parental, judicialmente, é a dificuldade de identificar essa prática”. Ainda de acordo com a referida

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 15


»

A Justiça dá às mães a guarda das crianças em quase 90% dos casos. Mas o número de guardas compartilhadas vem crescendo nos últimos anos: de 2,7% em 2000 para 5,5% em 2010, segundo o IBGE

reportagem, é relevante destacar: “A Justiça dá às mães a guarda das crianças em quase 90% dos casos. Mas o número de guardas compartilhadas vem crescendo nos últimos anos: de 2,7% em 2000 para 5,5% em 2010, segundo o IBGE”. Mas como os pais devem encarar esse quadro de alienação? Se eles, de forma imprudente, promovem tais alienações, é preciso que tenham consciência de que tal atitude não trará benefícios para si próprios nem para os filhos; pelo contrário, provocará problemas maiores. Seja qual for a situação, os pais não devem envolver os filhos em suas desavenças como casal. A Bíblia diz: “Vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor” (Ef 5.4). E os filhos, como devem reagir? Eles devem ter sempre o princípio de honrarem seus pais, e não apenas um deles, independentemente de qualquer situação. “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êx 20.2). Para a família, como um todo, podemos destacar o que está em Hebreus 12.14,15: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe e, por meio dela,

16 Alvorada

muitos sejam contaminados”. Para que se viva em paz com todos, inclusive no âmbito familiar, é preciso haver a cura de Deus no coração de cada pessoa contra qualquer ressentimento e a restauração de valores morais no seio familiar. Acima de tudo, é preciso ter a sabedoria que vem de Deus para afastar do lar atitudes e palavras facciosas. Posicione-se contra a Alienação Parental em sua casa. Você é chamado para somar e não dividir. Siga a instrução do Mestre Jesus: “Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles” (Lc 6.31). Seja um bom exemplo! Sua família agradece! O Ademir, missionário da Congregação da IPI de Areado, MG, é capelão prisional e graduando Psicologia (UNIFENAS). É casado. www.missionarioademir.com.br

Disponível em: http://www. alienacaoparental.com.br/o-que-e; acesso em 6/2/2014. Disponível em: http://g1.globo.com/ fantastico/noticia/2013/03/alienacaoparental-pode-resultar-em-perdada-guarda-do-filho.html. acesso em 6/2/2014. CID F91.3 (Classificação Internacional de Doenças) Filme: A Morte Inventada (Documentário) www.alienacaoparental.com.br

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 17


PAIS E ADOLESCÊNCIA

Adolescência littleny

18 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


»

Atualmente, aumentou o número de divórcios e as famílias passaram por transformações, além de pouco se reunirem. O jovem vive fechado em seu mundinho tecnológico e virtual.

ELIZABETH MONTEIRO

A adolescência é um período do desenvolvimento psíquico do ser humano. Uma fase em que o jovem parece viver uma grande guerra interna e externa – consigo e com o mundo. Em nossa sociedade, percebo que o adolescente é um indivíduo estigmatizado. Observo muitos adolescentes tranquilos sendo forçados a exercer os “papéis” que a sociedade lhes impões: “rebeldes”, “aborrescentes”, “drogados”, “desordeiros”, etc. O incrível (e que quase ninguém nota) é que existem adolescentes calmos, que não vivem tantos conflitos. Geralmente são aqueles que tiveram uma boa infância, têm uma família estruturada, boa estrutura egóica, ou ainda que se submeteram a um tratamento psicoterapêutico infantil bem sucedido. A história da humanidade nos mostra que a “rebeldia” sempre foi a marca da adolescência. Eles sempre foram vistos como aqueles que entram em conflito com o mundo adulto. Acontece que é na adolescência que ocorrem as grandes mudanças hormonais e na estrutura cerebral do ser humano. Para você ter uma ideia do que acontece, imagine, por exemplo, pesar 30 quilos a mais e crescer 50 centímetros em apenas três anos. Eu acho isso muito complicado!

Ainda mais que as áreas cerebrais também vão mudando. Umas amadurecem antes, outras depois... Ele pode ter uma excelente memória, mas dificuldades de raciocínio! Num momento, ele está entediado e, no outro, agitado... É duro isso! E a sociedade ainda o chama de “aborrescente!? E tem mais... Esse jovem precisa de 9 horas de sono (no mínimo). Gosta de dormir tarde, mas precisa acordar com os pássaros para ir à escola. O que acontece? Além de ficar irritado, dorme nas primeiras aulas e o rendimento escolar vai para as “cucuias “. Está vendo só? E, novamente, ainda o chamam de “aborrescente”. Acredito que parte do comportamento complicado e problemático de muitos jovens deve-se à tendência da sociedade em não lhes dar crédito, confiança, importância e responsabilidade. Se a sociedade envolver esses jovens com trabalhos voluntários, a indisciplina, o uso de drogas, a agressividade e a criminalidade serão bem menores, porque ele se sentirá útil, importante e valorizado. É preciso mostrar aos jovens que eles são importantes. Questão de elevar a sua estima. O pior tipo de bullying é aquele que acontece dentro da própria casa, quando os adultos rotulam os jovens como preguiçosos, folgados, relaxados, chatos e outras “cositas mas”. Nas sociedades pré-industriais, os

adolescentes trabalham. É certo que ele tem de estudar, mas os pais poupam muito os seus filhos. Os adolescentes precisam aprender a crescer, a ser adultos, convivendo com o mundo adulto. Onde há um bom vínculo afetivo com os adultos, os jovens querem crescer e ser como eles. Atualmente, aumentou o número de divórcios e as famílias passaram por transformações, além de pouco se reunirem. O jovem vive fechado em seu mundinho tecnológico e virtual. A escola os nivela e todos recebem os mesmos ensinamentos, deixando de lado o modo de aprender de cada um. Os pais, por sua vez, são muitos ausentes... Delegam à escola funções que são da família. E, assim, o jovem se afasta cada vez mais do núcleo familiar. Restabelecer o vínculo desses jovens com os adultos é questão fundamental: é dar a eles a opção de se tornarem adultos, participando da vida deles. Se você der ao seu filho a oportunidade de crescer e dar um passo em direção à vida adulta, ele lhe mostrará que tem capacidade para seguir em frente. Infelizmente, muitos pais querem mostrar aos filhos que só eles são os donos do saber. Não confiam em seus filhos e só lhes dão sermão. Não os escutam e nem os entendem. Então, nesse exato momento em que o jovem precisa se aproximar dos pais, ele se afasta. Os pais perderam os seus papéis.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 19


Não sabem o que fazer e ficam buscando modelos nos outros e na mídia. Errado! Os pais devem se guiar pelos seus valores! Foi justamente nesse espaço de transformação das famílias que os antigos valores educacionais, éticos e morais foram deletados e que os pais se perderam. Eu sou favorável a todas as medidas que protejam os nossos jovens. Limites são importantes. Precisam ser firmes! Não precisa gritar nem brigar! A firmeza não exclui a delicadeza. Trate o seu filho com respeito, que você receberá isso em troca. Estude, busque orientação, busque conhecimento. É preciso que você se atualize. Os filhos adoram e respeitam pais inteligentes. Pais que os contenham e os orientem com boas argumentações. É disso que os jovens precisam. Principalmente de bons modelos. A Elizabeth, especialista em Psicopedagogia, é psicóloga e autora de vários livros. É casada. Tem quatro filhos e dois netos.

»

A firmeza não exclui a delicadeza. Trate o seu filho com respeito, que você receberá isso em troca. Estude, busque orientação, busque conhecimento. É preciso que você se atualize.

20 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

O amor parental não é estático: ele muda com o tempo e com os filhos. Por isso, os pais precisam atualizar seu modo de sentir e amar. Com uma linguagem direta e delicada, Elizabeth Monteiro fala sobre a necessidade de proteger os adolescentes de ameaças como as drogas e, ao mesmo tempo, incentivar a autonomia deles. Sem fórmulas mágicas, a autora estabelece com pais e educadores um diálogo amplo e profícuo. Numa época em que reina a falta de limites e os jovens são vistos como irresponsáveis, o diálogo entre pais e filhos é fundamental. Para a psicóloga Elizabeth Monteiro, nunca foi tão importante dar exemplos. No livro Criando adolescentes em tempos difíceis (176 p., R$ 51,90), lançamento da Summus Editorial, ela revela que o jovem precisa de modelos seguros para enfrentar a árdua etapa da adolescência. Já os pais devem parar de estigmatizar os filhos, oferecendo-lhes a oportunidade de mostrar seu valor. “O objetivo do livro é resgatar a dignidade do adolescente que é discriminado pelos próprios pais”, afirma a autora. Baseada em sua experiência como psicóloga, psicopedagoga e mãe, a autora fala da necessidade de proteger os adolescentes de ameaças como as drogas e, ao mesmo tempo, de incentivar a autonomia deles. O amor parental não é estático. Ele muda com o tempo, conforme os filhos crescem. Por isso, segundo Elizabeth, os pais precisam


Criando adolescentes em tempos difíceis atualizar seu modo de sentir e amar os adolescentes. O livro é resultado de um trabalho que durou seis anos. Nesse período, ela colheu experiências em seu consultório e observou, em diferentes lugares e momentos, o comportamento de pais e adolescentes. “Trata-se de uma constatação de tudo que eu vivo”, revela a psicóloga. Sem fórmulas mágicas e com uma linguagem leve, a autora estabelece com pais e educadores um diálogo amplo e profícuo, abordando temas como sexualidade, irmãos, amizades, aprendizagem, futuro profissional e distúrbios físicos e psicológicos comuns na puberdade. Para mostrar a fragilidade do adolescente, ela incluiu na obra trechos de poemas de Fernando Rinaldi escritos quando ele tinha 16 anos. A autora acompanhou o desenvolvimento do jovem, que hoje tem 18 anos, desde a infância, quando ele já demonstrava paixão pela literatura. Elizabeth sugere uma reflexão sobre os poemas e afirma que não existe trabalho melhor contra o uso das drogas, pela prevenção da violência e formação do bom cidadão, do que aquele exercido dentro da família. Afinal, nada supera uma boa estrutura e um bom modelo familiar. Em oito capítulos, a autora mostra que educar exige bom senso. No Brasil, segundo ela, as mães são as maiores influenciadoras dos filhos, principalmente das meninas, servindo de modelo a elas. Uma falha nesse modelo gera consequências na imagem corporal, na autoestima e nos relacionamentos das meninas.

A autora revela também que os pais unilaterais prejudicam muito seus filhos, pois é preciso saber ser “doce” e “enérgico” ao mesmo tempo. Alerta ainda para o risco de confundir os jovens com mensagens contraditórias. Para ela, é importante deixar claro para os filhos as regras e os limites adotados pela família. Mas, se for necessário, eles devem ser transformados e adaptados. Não se trata de tarefa simples, mas a autora mostra que, com um pouco de dedicação e paciência, tudo é possível.

A autora

Elizabeth Monteiro iniciou sua carreira lecionando para crianças do ensino fundamental. Cursou Pedagogia e especializou-se em Psicopedagogia, tendo em seguida se formado psicóloga. Ao mesmo tempo que estudava e trabalhava, cuidava de sua família. É casada há quarenta anos, tem quatro filhos e dois netos. É autora de Criando filhos em tempos difíceis – Atitudes e brincadeiras para uma infância feliz (Mercuryo, 2002) e defende o respeito aos jovens e o resgate da dignidade humana. Hoje, dá cursos e palestras por todo o Brasil e atende crianças, adolescentes, adultos, famílias e escolas. Nas poucas horas livres, trabalha como modelo fotográfico e atriz. Ainda assim lhe sobra tempo para curtir a família, bagunçar com os netos, brincar com os cachorros, cavalgar, viajar e ouvir música (uma de suas paixões).

Título: Criando adolescentes em tempos difíceis Autor: Elizabeth Monteiro Editora: Summus Editorial Preço: R$ 51,90 Páginas: 176 ISBN: 978-85-323-0645-6 Atendimento ao consumidor: 113865-9890 Site: www.summus.com.br Mais informações com Ana Paula Alencar imprensa@gruposummus. com.br 11-4787-1322 11-7869-7169 – ID 55*38*211844

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 21


REFLEXÃO

Família e a vida líquida Esta reflexão tem como objetivo levantar alguns problemas referentes à realidade da família hoje. Trata-se de uma abordagem da família frente a questões de individualismo e consumo. Tendo em vista tais dificuldades, nos deixaremos iluminar por textos bíblicos que julguem esta realidade e buscaremos pistas de ação para nossa reflexão.

22 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


JOSÉ NEIVALDO DE SOUZA ROBERTA MACHADO CAVALCANTI DE SOUZA

SergeyNivens

1) A ideologia do descartável

“Cada um por si e Deus por todos”. O que significa para a sociedade e para a família este chavão? Os hábitos atuais, decorrentes do estilo de vida moderno, em sua grande maioria, excluem a intimidade familiar. Por exemplo, o tempo que antes se gastava ao redor da mesa, muitas vezes é utilizado diante da televisão, do computador e do celular. Não é raro vermos grupos de indivíduos ao celular que acessam centenas de amigos, mas ignoram a presença do outro a seu lado. Quanto mais se busca um relacionamento real, por vias virtuais, menos intimidade se tem. A quantidade de pessoas, com sintomas de pânico, buscando terapeutas, não estaria ligada a esta angústia que a falta de intimidade real pode trazer? Afinal, são tantos amigos e, ao mesmo tempo, nenhum. Na esteira do individualismo, a família se depara na corrida do consumo excessivo. Zygmunt Bauman1 observa que o consumismo não só traz uma resposta aos desafios de uma sociedade de indivíduos, mas lhe é o principal motor. Esta realidade gera uma ansiedade diante dos objetos que supostamente posicionarão o sujeito na sociedade: “Você é o que você tem”. Não se trata mais, numa sociedade de consumo, de ser cidadão e, sim, consumidor. A

ideologia do descartável se aplica também às relações pessoais reduzindo-as a objetais e isso se constata no “ficar” dos jovens ou no “estar” ou “não estar” casado dos adultos.

2) A verdade que liberta

Através das Sagradas Escrituras, encontramos luzes para enxergar, com mais clareza, esta realidade e nos libertar dela. Nosso propósito é buscar, no Novo Testamento, principalmente na passagem de Lucas 4.1-13, inspiração para encontrarmos saídas que tragam mais sentido à vida. Em poucas palavras, sem copiar aqui todo o texto, podemos narrar o episódio: Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto e, em jejum durante quarenta dias, foi tentado pelo Diabo. Primeiro, o Diabo questiona Jesus sobre sua condição de Filho de Deus e manda que ele transforme pedra em pão, mas Jesus responde: “Não só de pão vive o homem”. Depois, o Diabo mostra-lhe todos os reinos da terra e os oferece a Jesus em troca de submissão, mas Jesus responde: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e só a ele prestarás culto”. Por último, o Diabo leva Jesus ao pináculo do templo de Jerusalém e manda que ele se atire para baixo. Jesus responde: “Não tentarás ao Senhor teu Deus”. Este episódio se dá antes da entrada de Jesus na sinagoga de Nazaré, onde iniciara sua missão (Lc 4.16-21). Ali, no dia de sábado, recebe o livro sagrado e, depois de ler a passagem do profeta Isaías (61.1-2), diz: “Hoje se cumpriu aos

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 23


vossos ouvidos essa passagem da Escritura”. Sua missão específica, como indica, é anunciar um novo “Reino” onde os cegos veem, os pobres são evangelizados e os cativos libertos. O foco de Jesus é claro: anunciar o Reino de Deus ainda que isso implique em denunciar e renunciar às situações de cegueira, opressão e escravidão. No deserto, a tentação que surge como solução para os impasses e necessidades humanas nada mais é do que a manutenção deste status quo vigente. Será que realmente temos necessidade de comer tudo o que comemos? Será que os poderes deste mundo realmente são a solução para todos os problemas? Queremos, a qualquer custo, evitar o encontro com a morte e nos colocamos à disposição de uma vida eterna, ainda neste mundo?

3) Nova criatura

Todas as vezes que lemos a Escritura, atualizamos a palavra de Jesus. Nele, o “Espírito do Senhor está sobre mim” e sua “Palavra se cumpre”. A família, unida, pode enxergar, além desta realidade, outro Reino,

»

onde as necessidades físicas e interesses pelo poder e riquezas são subjugados. Antes de anunciar e iniciar o Reino de visão e libertação, Jesus experimentou na carne as privações e as suportou. Mostrou que, pela fé, as pessoas podem fazer grandes coisas assim como ele. Muitas vezes, na comida, concentramos todas nossas fomes: fome de amor, de segurança, de esperança e de eternidade. Engordamo-nos literalmente de alimentos que se tornam verdadeiras pedras em nosso organismo e perdemos grande oportunidade de jejuar em função de algo muito maior. A fome de Deus não pode ser saciada a não ser na relação de fidelidade; a fome do amor mútuo não pode acabar senão na abundância do amor próprio. Não há, nos poderes e riquezas deste mundo, a solução para todos os problemas humanos e familiares. Jesus renunciou à tentação de reduzir tudo à comida, ao poder e à riqueza. Que a mesa seja o lugar da partilha de bens, não só materiais, mas espirituais; que o poder a ser buscado não seja outro que o poder de Deus;

que a riqueza que nos reduz a meros indivíduos consumidores não seja outra senão algo a ser colocado a serviço do Reino de Deus. Há uma realidade a ser percebida na sociedade e na família hoje, e esta se apresenta na dupla: individualismo e consumismo. Tal realidade gera uma “coisificação” de tudo e, por fim, uma sensação de vazio, pois a pessoa não “é o que tem”. Ao enfrentar as tentações no deserto, Jesus inicia sua missão. Anuncia e inicia o Reino de Deus, levando as pessoas a se confrontarem com as próprias tentações e renunciá-las. São muitas as tentações hoje e estas, na sociedade pós-moderna, estão ligadas a uma realidade individualista e consumista. Reverter a fome de comida, de poder e riqueza em fome de Deus parece-nos ser a saída para uma nova vida.

O Prof. Dr. José Neivaldo leciona teologia e filosofia na FEPAR E FTBP e sua esposa, Roberta, é teóloga e psicanalista, com especialização em Bioética. São membros da 1ª IPI de Curitiba, PR.

Há uma realidade a ser percebida na sociedade e na família hoje, e esta se apresenta na dupla: individualismo e consumismo. Tal realidade gera uma “coisificação” de tudo e, por fim, uma sensação de vazio, pois a pessoa não “é o que tem”. Citação: BAUMAN, S. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009, p. 36.

24 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 25


PSICANÁLISE E ESPERANÇA

O Ódio

artem_furman

para que serve?

26 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


LEONTINO FARIAS DOS SANTOS

O ódio – Conceito e significado

Do ponto de vista etimológico, o ódio deriva do latim – odium – que, definido como um substantivo masculino, é considerado um sentimento de aversão, de rejeição intensa dirigido a alguma coisa, a memórias e ideias, a uma pessoa, associado à raiva e à disposição para reagir de forma hostil; é um tipo de violência que leva alguém a desejar o mal a outrem, com possibilidades de gerar consequências destrutivas e perigosas, inclusive com agressões físicas a si próprio. O ódio, como fenômeno possível a todos os seres humanos, pode ser considerado uma vontade implícita ou explícita de separação e destruição capazes de envolver todos os atos de reprovação presentes no comportamento de um indivíduo. Se manifesto meu desprezo, minha vontade de condenar, escarnecer, desaprovar, desvalorizar alguém ou alguma coisa, isto é, meu ódio, deixo transparecer, mais ou menos, a tentativa de levantar uma barreira entre mim e o objeto ou pessoa censurado ou odiado. Há quem afirme que, enquanto o amor é um processo de identificação que se dirige para os valores mais altos e nobres de uma pessoa ou de um objeto, o ódio é o processo inverso pelo qual nos destacamos do objeto ou pessoa e não lhe reconhecemos qualquer valor. Em síntese, pode-se dizer que o ódio é uma atitude destrutiva que tenta impedir ou dificultar a realização do outro. Quando não trabalhado no sentido de uma possível reversão no ser humano para dar lugar ao amor, o ódio pode desenvolver-se de maneira mórbida, destruidora do indivíduo ou objeto de sua raiva, criar rixas, impedir possibilidades de diálogos e avanços pelo bem-estar do próximo.

O ódio é uma atitude destrutiva que tenta impedir ou dificultar a realização do outro. O problema do ódio na tradição bíblica

De modo geral, o ódio é caracterizado na tradição bíblica como o oposto do amor. Vários textos do Antigo e do Novo Testamento condenam o ódio em todas as situações possíveis. Há fatos narrados de amor que se transforma em ódio e de ódio que se transforma em amor. Textos bíblicos contrapõem de maneira absoluta o binômio amor/ódio (Mt 5.43; 6.24). Os dois testamentos deixam claro que o fenômeno do ódio sempre existiu na história humana. Do ponto de vista axiológico, o ódio é considerado um mal, fruto do pecado, nascido da inveja e tende a suprimir o outro e a destruí-lo; é tido como satânico. Na tradição bíblica, os “justos” tornam-se objeto de ódio, em suas várias manifestações: Caim, com inveja, mata Abel; Jacó usurpa o direito de primogenitura de Esaú, enganando o pai; os irmãos de José, com inveja, o vendem para ser escravo; o próprio Jesus tornou-se vítima do ódio da multidão ao ser julgado como impostor, o que lhe causou a morte na cruz do Calvário.

O que filósofos e cientistas têm dito sobre o ódio

Montaigne, escritor e pensador francês, considerou o ódio como uma paixão que

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 27


Odiar é uma maneira de se autoconservar, até a destruição do outro, ao passo que amar é um modo {...} de fazer existir o outro

ultrapassa e atravessa antigas pedagogias, um transbordamento que compromete a consciência e inibe o desempenho natural da razão. Desta forma, o ódio estraga o coração humano. “É uma arma de uso novo, pois as outras armas nós manejamos e esta nos maneja; nossa mão não a guia, é ela que guia nossa mão; ela nos domina, nós não a dominamos”. Muitos pesquisadores têm procurado encontrar os fundamentos neurológicos do ódio. A “ressonância magnética funcional” (RMF) já oferece estudos sobre o ódio como paixão e forte emoção que se inicia no cérebro. De acordo com o trabalho desenvolvido por Katherine Harmon (publicado por Scientific American Brasil), o neurobiólogo Semir Zeki, do Laboratório de Neurobiologia da University College London, tem estudos sobre o mapeamento de 17 pessoas adultas enquanto contemplam imagens de indivíduos que eles admitiam odiar. Percebe-se nesse trabalho que áreas no giro frontal medial, putâmen direito, córtex pré-motor e insula medial foram ativados. A conclusão a que chegou, com outros pesquisadores, é que partes do chamado “circuito do ódio” estavam envolvidas no início de um comportamento agressivo, mas sentimentos intrinsecamente agressivos (raiva, perigo e medo) apresentam padrões cerebrais diferentes do ódio. Ainda de acordo com o trabalho de Harmon, o ódio pode surgir de sentimentos positivos, como o amor romântico – na figura de um ex-parceiro ou rival em potencial. O amor, porém, tudo indica que parece desativar áreas tradicionalmente associadas com o julgamento, enquanto que o ódio ativa áreas do córtex frontal que podem estar relacionadas com a avaliação de outra pessoa e previsão de seu comportamento.

O conceito de ódio na psicanálise

Na psicanálise, o ódio coexiste ao amor na formação do complexo de Édipo. Este, na visão de S. Freud, acontece entre os 3 e 5 anos, na fase fálica, quando a mãe se torna o objeto de desejo do menino, e o pai é o rival que impede seu acesso ao objeto desejado (a mãe). Contudo, por

28 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


medo de perda do amor do pai, o menino “desiste” da mãe, isto é, a mãe é trocada pela riqueza do mundo social e cultural. Em relação à questão do ódio, portanto, no contexto do complexo de Édipo, o menino ama... até que irrompe o ódio por aquele que lhe interdita o corpo da mãe e que é o destinatário de seu desejo. O ódio surge, portanto, quando o menino se dá conta de que o desejo da mãe está endereçado a outro lugar. A menina, por outro lado, sofre o mesmo processo, tendo, porém, no amor ao pai, o objeto de seus desejos. Ao descobrir que esse amor ao pai não é correspondido na mesma dimensão, esse amor é transformado em “ideal do eu” e, desta forma, guardará, para sempre, essa marca de ódio que acompanha os ideais. Na psicanálise freudiana, o ódio é um estado do eu que quer romper com a fonte de sua infelicidade. Desta forma, é definido como um sentimento de tipo duradouro de muita profundidade, que age sobre a intensa expressão de animosidade, raiva e hostilidade em relação a um objeto, um grupo de pessoas ou uma pessoa em particular. Do ponto de vista da psicanálise, o ódio, enquanto relação com o objeto, é mais antigo que o amor, uma vez que esse sentimento encontra sua origem nas pulsões de conservação do eu e não nas pulsões sexuais. Desta forma, “odiar é uma maneira de se autoconservar, até a destruição do outro, ao passo que amar é um modo {...} de fazer existir o outro”. O ódio traduz sempre as pulsões de conservação e tanto a vontade de potência como o desejo de dominação têm sua origem no ódio. Como se percebe, o ódio opõe-se radicalmente ao amor. Mas há entre um e outro um parentesco indiscutível. De acordo com Roger Dorey (1986), “não somente o ódio precede o amor, mas, sem dúvida, só existe amor porque existe ódio nas próprias origens do sujeito”. Freud afirma que, “na origem, o amor é narcísico (amor a si próprio); depois, se estende aos objetos que foram incorporados ao Eu ampliado e exprime a tendência motora do Eu em reação a esses objetos, na medida em que são fontes de prazer”. Em síntese, na psicanálise não há amor sem um rastro de ódio.

Consequências do ódio na experiência humana

O ódio é capaz de provocar e gerar, em várias pessoas e situações variadas, a aversão, a autodestruição, os sentimentos de destruição e até mesmo a perda do equilíbrio harmônico. A lógica do ódio, segundo Remo Cantoni, “transforma o mundo em um estabelecimento penal onde a única alternativa é a de dar prisioneiros ou carcereiros, perseguidos ou perseguidores”. Dito de uma outra forma, faz do ser humano um prisioneiro de si mesmo ou um perseguidor contumaz do semelhante, sem chance para diálogos que amenizem o impacto sobre as relações sociais.

Alternativas para a superação do ódio

Em se tratando de um fenômeno identificado, em sua origem, como um problema ligado ao desenvolvimento emocional do indivíduo, podemos imaginar possibilidades de superação com a chamada “terapia do amor” ou “terapia da alma” expressa, por exemplo, tanto nas teorias e técnicas da psicanálise humanista como principalmente aparece nos evangelhos de Jesus. Na psicanálise humanista, a terapia tenta tornar o indivíduo mais humano, saindo da inumanidade, da irracionalidade, capacitando-o para harmonizar-se consigo mesmo e aceitar a sua própria humanidade. Erich Fromm, pai da psicanálise humanista, propõe, para ajudar o indivíduo na superação de suas crises, um método existencial, criativo. Chama a atenção para o papel do analista, nesse processo, que deve ser um confidente capaz de humanizar a raiva, a mágoa, o ressentimento, levando o indivíduo, desta forma, a vencer o ódio, com a interpretação de suas atitudes desprazerosas e autodestrutivas. Ele propõe, como prática, que se leve em consideração a experiência do amor e do afeto na clínica analítica. Entende que o ser humano é complexo, influenciado por princípios culturais, religiosos e sociais, sujeito ao domínio e valores excludentes do capitalismo selvagem que marcam a sociedade industrializada e capazes de gerar barbaridades, desequilíbrio harmonioso, concor-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 29


No exercício do amor produtivo, o indivíduo aprende a lidar com as frustrações, desenvolve a capacidade de perdoar, de pedir ajuda, de repensar as suas práticas diante de situações desagradáveis

30 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

rência feroz e desleal entre as pessoas. Nesse tipo de análise, está implícita a possibilidade da pessoa ressignificar a sua vida através da “terapia da alma” tendo por base a experiência do “amor produtivo”, que inclui o desafio do indivíduo aprender a amar a si mesmo, amar o outro e reencontrar a alegria de viver. O amor produtivo, aqui recomendado, é mais do que qualquer produção material, mas uma “atitude do ser”; é, portanto, mais do que ser ativo, é mais do que atividade, porém, em outros termos, é o que faz o indivíduo tornar-se capaz de aprender a ouvir um “não”, por exemplo, sem se desestruturar, sem fazer drama, sem perder o equilíbrio, sem enraivecer-se, sem guardar ressentimentos em relação ao outro. No exercício do amor produtivo, o indivíduo aprende a lidar com as frustrações, desenvolve a capacidade de perdoar, de pedir ajuda, de repensar as suas práticas diante de situações desagradáveis que lhe trouxeram constrangimento, fracasso, limitações. Trata-se de um amor que inclui desvelo, responsabilidade, respeito e conhecimento de si e do outro. O amor, como fundamento dessa terapia, procura promover a cura levando em consideração o fato de que é através de sua capacidade de amar que o indivíduo pode ser capaz de livrar-se do medo de permitir-se amar e ser amado, afastando de si tudo que possa causar ressentimentos, desprazer, vontade de destruir a si, aos outros, ao que aparecer em sua frente. Esse amor, quando se torna produtivo, diz Fromm, “não é um simples ‘afeto’ no sentido de ser afetado por alguém, mas um esforço ativo pelo


crescimento e felicidade da pessoa amada, enraizada na própria capacidade de amar que alguém possui. Amor é preocupação ativa pela vida e crescimento daquilo que amamos. Onde falta essa preocupação ativa não há amor. Se verdadeiramente amo alguém, então amo a todos, amo o mundo, amo a vida”. Nesse projeto humanista, o terapeuta torna-se um cooperador no sentido de ajudar o seu paciente para que ele se sinta acolhido, amado no ambiente terapêutico, sem o que os sentimentos de aversão, raiva, ódio não serão anulados. O princípio básico aqui é o de que, sem amor, não há possibilidade de se vencer o ódio! Vencidas suas neuroses no trabalho terapêutico baseado no amor produtivo, o indivíduo passa a viver amando-se a si mesmo, estando pronto para dar e receber amor, por estar livre do medo e dos efeitos danosos da psicopatologia resultantes de situações anteriores de vivências mal resolvidas no desenvolvimento de seu caráter. A base, porém, para o desenvolvimento da terapia do amor (antídoto contra o ódio) estaria nos pressupostos da fé cristã. Nos evangelhos de Jesus Cristo, somos ensinados a odiar o mal e não às pessoas. De acordo com o pensamento de Cristo, somos todos desafiados a amar a Deus, sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Lc 10.27). Aprendemos que só o amor faz viver e nos aproxima de Deus e do próximo. É também o que nos ensina João em sua carta (1Jo 3.1124) quando aconselha o “amor aos irmãos e o ódio ao mundo”. A terapia do amor baseada nos

evangelhos nos remete, em primeiro lugar, ao amor de Deus por nós, considerados “miseráveis pecadores”, sujeitos a todo tipo de maldade, ao ódio, inclusive. Aprendemos aqui que o verdadeiro amor vem de Deus. Este amor nos credencia a amar o outro sem que deixemos de amar a nós mesmos. Essa realidade pode nos levar a amar os que nos odeiam, os que tentam nos destruir, os que concorrem conosco, os que não creem em Deus; um amor incondicional, portanto. O ambiente da igreja, do culto, as relações fraternais entre os fiéis ou o espaço de aconselhamento no gabinete pastoral, embora desprovidos tecnicamente dos recursos utilizados na terapia analítica, podem exercer papel muito importante na transformação do ódio de uma pessoa, desde que experiências de amor cristão se tornem realidade, na prática da vida religiosa no exercício da espiritualidade. De igual modo, no ambiente familiar, essa reversão de ódio em amor pode acontecer no mesmo espírito do amor de Deus por nós, revelado em Cristo. O amor, quando fraternal, alicerça todos os tipos de amor porque se trata de um sentimento de responsabilidade, de respeito por qualquer outro ser humano, o seu conhecimento, o desejo de aprimorar-lhe a vida. Somente pelo exercício do amor, do cuidado, do interesse pelo outro, na arte de ouvir e escutar é que ódio poderá ser vencido.

»

O amor, quando fraternal, alicerça todos os tipos de amor porque se trata de um sentimento de responsabilidade, de respeito por qualquer outro ser humano, o seu conhecimento, o desejo de aprimorarlhe a vida. Somente pelo exercício do amor, do cuidado, do interesse pelo outro, na arte de ouvir e escutar é que ódio poderá ser vencido.

O Rev. Leontino, pastor da 1ª IPI de Mauá, SP, é psicanalista. Casado e pai de 2 filhos.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 31


COMPORTAMENTO

A desarmonia entre o sujeito ressentido e as outras pessoas causa uma desordem na experiência dos valores, gerando sentimentos desarranjados e desencontrados.

Ainda algumas notas sobre o ressentimento KLEBER E. B. DIAS

“É próprio do homem magnânimo não ambicionar as coisas que são vulgarmente acatadas, nem aquelas em que os outros se distinguem; [...]Deve ser incapaz de fazer com que sua vida gire em torno de um outro, a não ser de um amigo, pois isso é próprio de um escravo, e daí o serem servis todos os aduladores, e aduladores todos aqueles que não respeitam a si mesmos. [...] Nem guarda rancor por ofensas que lhe façam, já que não é próprio do homem magnânimo ter a memória longa, particularmente no que toca a ofensas, mas antes relevá-las [...]Tampouco é dado a conversas fúteis, pois não fala nem sobre si mesmo nem sobre os outros, porquanto não lhe interessam elogios que lhe façam nem as censuras dirigidas aos outros[...]” (Aristóteles, Ética a Nicômaco, Livro IV, cap. 3) Qualquer ressentimento se alimenta da impotência do sujeito que é acompanhado por sentimentos escondidos de auto desprezo contra os outros. A desarmonia entre o sujeito ressentido e as outras pessoas causa uma desordem na experiência dos valores, 32 Alvorada

gerando sentimentos desarranjados e desencontrados. Ao contrário, o indivíduo com uma personalidade fortalecida não tem necessidade de comparar-se com os outros, mesmo quando estes últimos são superiores em habilidades específicas. O indivíduo superior está sempre pronto e aberto para aceitar os valores mais elevados, que os transcendem e os quais ele ainda não os vivencia, mas os almeja. E, quando digo indivíduo superior, não digo aquele que pensa a si mesmo melhor do que os outros, mas aquele que elevou a si mesmo pelo desenvolvimento das virtudes morais e intelectuais. O indivíduo que tem uma postura de prontidão para os valores superiores e sente estes valores num sentido mais profundo não é facilmente embaraçado ou envergonhado a respeito de si mesmo. Ele caminha em direção a uma realização e aperfeiçoamento do seu próprio ser. O ressentido, no entanto, se irrita por não conseguir alcançar os valores que os outros representam, pois suas experiências interiores estão em cons-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

tantes desajustes. A “ordem do coração”, de que Blaise Pascal nos fala, é perdida pelo ressentido que vive então seu oposto, que se caracteriza por uma aberração desta ordem. Max Scheler ilustra esta experiência interior do ressentimento, aludindo à fábula de Esopo chamada “A raposa e as uvas”. Nesta fábula, existem algumas uvas doces que parecem tentadoras para raposa. Esta tenta alcançá-las, porém suas tentativas são frustradas. Não conseguindo, a raposa desiste. Deixando a cena, a raposa convence a si mesma de que as uvas não eram tão doces assim. Max Scheler1 demonstra, então, que o ressentimento é uma mentira para si mesmo que atua através de uma detração emotiva subconsciente de um valor positivo para um valor negativo, isto é, se algo é bom em si mesmo, o ressentido persuade-se de que este algo não é tão bom assim. O ressentido despreza e deprecia. Basicamente, o procedimento do ressentido é inverter os valores, fazendo do ato de desprezar um ato de superioridade.


Feverpitch

Por motivo de ódio e de desprezo, o ressentido procura satisfação na vingança e na retaliação. O ressentido não quer perdoar. Não é porque não consegue, mas em razão de estar subjugado pelo ressentimento que ele deixou se formar no seu interior pela habitualidade de suas escolhas. Quer se vingar. Mas, como também não encontra força para tal, interioriza o ódio e o rancor. O que faz ele então? Procura um meio para canalizar o seu desejo de vingança e culpar alguém pelo seu sofrimento. Não é de se estranhar que você encontre muitos ressentidos nos movimentos revolucionários. Pensam eles: “Alguém é culpado pelo nosso sofrimento”. Os revolucionários possuem belos discursos humanitários e libertadores. Quando eles falam, parece que você está diante de um profeta, de alguém iluminado. Mas, depois de um pouco de tempo com eles, você logo percebe que está diante de pessoas miseráveis emocionalmente, com desejos sórdidos, sem respeito para com os mais próximos de sua convivência, sem pudor para os bons costumes e valores

morais mínimos. As soluções dadas por eles sempre giram em torno de mudanças e transformações da ordem vigente. Querem transformar o mundo. São grandes moralistas nos discursos, mas imorais na vida prática. É interessante notar que Deus também pode ser encontrado nos belos discursos do ressentido. Há milhares de religiosos que buscam a Deus com o objetivo de amenizar suas impotências e canalizar nele algum tipo de ressentimento e desejo de vingança que eles têm com a vida, família, sociedade, etc. Há também experiências religiosas baseadas no ressentimento. Isso acontece quando não compreendemos que a impotência e a fraqueza que sentimos diante da natureza é parte da nossa condição humana no cosmos. O sofrimento, para ele, tem que ser negado e superado a todo custo2. O indivíduo que se tornou ressentido, a todo custo, quer se ver livre de seu mal-estar. Só que o faz projetando seu sofrimento por meio de hostilidades que podem estar travestidas de

belos discursos políticos, revoluções e, talvez, de aparente religiosidade e espiritualidade. São, como dizia o apóstolo, nuvens sem água, ondas bravias do mar que espumam toda a sua sujeira, estrelas errantes, ovelhas sem pastor. Eis algo notório: todo ressentido é um retórico orgulhoso, um candidato a revolucionário que abriu mão da ordem de seu coração e escolheu a vaidade do poder como pele para aquecer sua alma. O Kleber, advogado, professor universitário na UNIFIL (Centro Universitário Filadélfia da cidade de Londrina), é membro da 2ª IPI de Londrina, PR

1

SCHELER, Max. On feeling, knowing and valuing: selected writings. The University of Chicago Press. 2 As doutrinas das seitas gnósticas que se infiltram na igreja primitiva são exemplo de doutrinas baseadas no ressentimento. A igreja, com muito custo, lutou contra estas doutrinas durante sua história para extirpá-las do meio de seu rebanho, mas elas sempre voltam como vírus sazonais, revestidas de aparentes doutrinas cristãs. Aquele que dedicar um tempo de sua vida a estudar a teologia da igreja cristã e sua luta contra tais seitas não deixará de ficar chocado com o quanto tais doutrinas estão presentes hoje nos púlpitos e corredores de nossas igrejas. Hoje, como as pessoas, em sua maioria, desconhecem a teologia cristã em seus fundamentos, as seitas gnósticas estão se tornando praticamente o ar que respiramos.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 33


COMPORTAMENTO

Alguém na sua família tem "TOC"? Transtorno Obsessivo-Compulsivo MAGALI A. HENRIQUES LEOTO

Quem não tem ou nunca teve manias, que atire a primeira pedra... Algumas pessoas não saem de casa sem verificar se todas as portas e janelas estão totalmente trancadas. Outras não guardam os sapatos que acabaram de usar sem limpá-los antes de guardá-los. Ainda há os que guardam embalagens, jornais, revistas, tampinhas ou os que têm ideias de exatidão ou alinhamento de objetos como quadros, roupas, materiais em cima da mesa do escritório ou produtos dentro de um armário... Ter uma pequena mania aqui outra ali, até certo ponto, não traz tantas complicações. Quase todo mundo as têm em menor ou maior grau. A dificuldade existe quando tais atitudes interferem na vida da pessoa, trazendo limitações e prejuízos aos seus relacionamentos familiares, afetivos, sociais, no trabalho, na vida acadêmica. Enfim, perturba o indivíduo de uma maneira que o faz sofrer e também às pessoas com quem ele convive. Quando tais manias chegam a um ponto em que se tornam incontroláveis e a um nível grave, trata-se de uma disfunção mental, denominada TOC: Transtorno Obsessivo34 Alvorada

-Compulsivo. Alguns a interpretam como esquisitice e excentricidade. Mas quem tem o problema, por vezes, sente-se envergonhado, acha que suas ideias e atitudes são tolas, ridículas e, por isso, tenta escondê-las. Isso impossibilita que parentes e amigos possam ajudar esta pessoa a sair dessa situação. Nos dias atuais, estima-se que de 3% a 4% da população mundial sofrem deste transtorno. Mas bem poucos têm informação correta sobre o TOC para poderem buscar ajuda. Hoje existem tratamentos com resultados bastante eficazes, fazendo com que a pessoa possa ter uma vida saudável e sem tantos prejuízos. Temos notícias de casamentos desfeitos, nos quais um dos cônjuges tinha o TOC em nível grave, mas, por ser resistente, não admitiu ter o transtorno e nem mesmo buscar tratamento. O outro cônjuge chega a um limite, não aguenta mais o seu sofrimento e dos filhos, e termina por optar pela separação. Infelizmente, casos como estes continuam acontecendo. Por isso, a informação é imprescindível para um melhor entendimento do problema. A busca de um tratamento correto pode aliviar e reduzir o sofrimento da pessoa em si e das demais que convivem com ela.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


O que diferencia uma pessoa com TOC? A mídia tem dado destaque ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo. Há filmes, seriados, reportagens, personagens de novelas, desenhos animados e depoimentos de pessoas famosas. Muitas vezes aparecem em tom de brincadeira e como algo engraçado, até mesmo bizarro. Mas, de certa forma, contribuem para despertar em algumas pessoas pelo menos a suspeita de que algo não vai bem. A diferença entre alguém que não tem o TOC e quem tem o transtorno está na esfera quantitativa e não na qualitativa. Ou seja, o indivíduo afetado tem um sofrimento mental maior que os demais. Ele pensa muito mais em situações desagradáveis e tem uma falta de controle em suas atitudes. Estas se tornam repetitivas para aliviar a tensão e a angústia que trazem em suas percepções e pensamentos negativos. A pessoa acredita que suas ideias possam vir a acontecer efetivamente na realidade. Assim, desencadeia comportamentos que se tornam rituais. No estudo da Biologia, descobriu-se que nosso organismo possui um sistema que faz com que o indivíduo, ao cometer um erro, tenha uma sensação de grande desconforto. Há um processo químico e perceptivo que gera comportamentos e esquemas cogniti-

»

vos que até nos possibilitam prever possíveis erros. Quem já não cometeu uma gafe e ficou todo vermelho e suado, querendo que ninguém o percebesse, mas seu corpo insistia em denunciá-lo? A pessoa com TOC tem um circuito detector de erros que funciona muito mais do que uma pessoa sem o transtorno. Ou seja, enquanto uma pessoa não afetada pede desculpas pelo ocorrido e continua em frente, quem tem o TOC tende a não cessar sua atividade quando o erro é detectado e corrigido. Ela fica com a sensação de que algo ainda está errado, sente-se compelida a corrigir repetitivamente seus erros, sejam eles reais ou imaginários. Todos nós precisamos tentar corrigir nossos erros e evitá-los. Mas o problema está na intensidade e frequência, pois é isto que caracteriza o transtorno. Quando há uma ruminação mental, gerando ideias e pensamentos repetitivos, estes causam muita ansiedade. Surgem, então, comportamentos e atitudes compulsivas que trazem certo alívio momentâneo. Porém, o resultado é que gera grande sofrimento à pessoa, que entra num círculo vicioso que tende a cristalizar-se com o tempo. A pessoa não consegue parar com este jeito de ser.

A pessoa com TOC tem um circuito detector de erros que funciona muito mais do que uma pessoa sem o transtorno. Ou seja, enquanto uma pessoa não afetada pede desculpas pelo ocorrido e continua em frente, quem tem o TOC tende a não cessar sua atividade quando o erro é detectado e corrigido. A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 35


Obsessões e Compulsões As obsessões são os pensamentos repetitivos, que se tornam desagradáveis, indesejáveis, intrusivos e fazem a pessoa sentir uma pesada culpa por tê-los, além de provocar um intenso desconforto emocional na forma de ansiedade. As compulsões são os comportamentos e atitudes repetitivas que, pelo menos no início, trazem certa sensação de alívio. As obsessões são pensamentos da própria pessoa que desencadeiam as compulsões. Se você conhece alguém que a toda hora verifica se os seus livros estão alinhados e, mesmo após checá-los, continua ansiosa, voltando a conferir outras vezes, e ainda tem a impressão de que algo ruim possa lhe acontecer, se os livros não estiverem na posição correta, desconfie dessa pessoa... . Ela pode estar com pensamentos obsessivos, desenvolveu rituais que a fazem perder tempo com isso. Sua vida já pode estar prejudicada, atrasando-se em seus compromissos, comprometendo sua vida conjugal, social e seu trabalho. Existe uma variedade de obsessões na forma de apresentação do TOC, mas as pesquisas na prática clínica comprovam que há uma tendência das mais comuns, como salienta Ana Beatriz Barbosa, em seu livro "Mentes e Manias": • Obsessão de agressão: preocupação em ferir os outros ou a si mesmo, seja por insultos ou impulsos de agredir.

»

• Obsessão por contaminação: preocupação constante com

36 Alvorada

sujeira, germes, contaminação por vírus e bactérias, pó, apertos de mão, medo de ser contaminado em locais que frequenta. • Obsessão de conteúdo sexual: pensamentos persistentes de fazer sexo com pessoas impróprias ou em situações estranhas, pensamentos obscenos, imagens pornográficas recorrentes. • Obsessão de armazenamento e poupança: ideia fixa em colecionar ou acumular objetos. Dificuldade de desfazer-se de qualquer coisa por achar que poderá ser útil no futuro (embalagens, papéis velhos, jornais, revistas, etc). • Obsessão de caráter religioso: pensamentos recorrentes com muitos escrúpulos sobre pecado, certo/errado, de falar obscenidades, pensar que tudo é o diabo, etc... • Obsessão de simetria: ideias constantes de exatidão ou alinhamento de objetos, roupas, decoração, etc. Há um incômodo de ver coisas desarrumadas e desalinhadas. • Obsessão somática: preocupação excessiva com doenças. Uma simples dor no peito e já começa a pensar em alguma cardiopatia.

• Obsessão ligada a dúvidas: preocupação constante com o fato de não confiar em si mesmo, como não ter certeza se fez algo direito ou se realizou determinada tarefa (fechar a janela, desligar o gás, etc). As compulsões são os rituais que acompanham os pensamentos obsessivos. Estes também são repetitivos. Os rituais, as compulsões e as manias quase sempre se assemelham com o grupo dos pensamentos obsessivos: • Compulsão de limpeza e lavagem: lavar as mãos em excesso, a ponto de irritar e ferir a pele, tomar banhos intermináveis, usar em excesso produtos de limpeza como álcool, água sanitária, detergente, entre outros. • Compulsão de ordenação e simetria: guardar ou arrumar determinados objetos sempre da mesma forma, na mesma posição, mantendo uma proporção ou simetria em relação a outros objetos. A pessoa consome muito tempo com isso e experimenta grande sofrimento caso não consiga realizá-lo ou dúvida de tê-lo feito perfeitamente. • Compulsão de verificação ou checagem: conferir inúmeras vezes janelas, portas, torneiras, botões de fogão, bicos de gás, se o ferro está desligado, se o despertador está progra-

É preciso agir com muita compreensão e paciência com alguém com quem você convive e que tenha o TOC. É possível ter esperança. A ciência tem conseguido fazer com que a maioria dos pacientes funcione bem tanto no trabalho, bem como na vida social e afetiva

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


mado para tocar na hora certa, se o filho já chegou em casa, está coberto durante a noite, etc. • Compulsão de contagem: contar até dez em ordem crescente ou decrescente, assim que o pensamento ruim vem à mente. Ou ainda, realizar uma ação, cinco, dez, vinte vezes ou qualquer quantidade que a pessoa julgue suficiente para aliviar-se. • Compulsão de colecionamento: guardar caixas, embalagens, jornais, vidros, agendas antigas, papéis e laços de presentes, etc., ocupando espaços livres da casa ou de circulação, afetando o funcionamento da família. • Compulsões diversas: repetições de ações menos específicas, como ligar e desligar interruptor, entrar e sair pela mesma porta, sair do quarto e ir até a cozinha e voltar diversas vezes. Rezar ou orar por horas a fio, a fim de evitar que algo ruim ocorra; pensar em frases, palavras, números ou símbolos, para afastar as idéias desconfortáveis. Transformar superstições em atos repetitivos e obsessivos, como só vestir roupas de determinada cor, usar a mesma roupa em véspera de provas ou concursos, comprar carros da mesma cor, entre outros. As pessoas com TOC sofrem por ter seus pensamentos obsessivos e por executar ações para neutralizar seus medos e ansiedade. Isso lhes toma tempo, paciência e saúde, além de levar a relacionamentos difíceis e conturbados.

Causas e tratamento Ana Beatriz Barbosa revela em seu livro que pesquisadores norte-americanos concluíram que certas formas de TOC têm sua origem em fatores genéticos. Os estudos sugerem que não existe um único gene responsável pelo transtorno e, sim, vários. Uns com maior, outros com menor influência. O importante é que, independentemente da causa, é preciso quebrar o círculo vicioso dos rituais. Atualmente, há uma combinação de medicamentos adequados e psicoterapia cognitivo-comportamental que tem trazido ganhos e benefícios para o tratamento, o que permite que a pessoa possa ter uma vida saudável, reduzindo de maneira eficaz o comportamento obsessivo-compulsivo. A psicoterapia consiste em expor gradativamente o paciente às situações geradoras de grande ansiedade. É necessário que os familiares e pessoas próximas também participem da implantação dos procedimentos terapêuticos para o sucesso do tratamento. É preciso agir com muita compreensão e paciência com alguém com quem você convive e que tenha o

TOC. É possível ter esperança. A ciência tem conseguido fazer com que a maioria dos pacientes funcione bem tanto no trabalho como na vida social e afetiva. O TOC basicamente está fundamentado na ansiedade. É importante considerarmos que temos um Deus em quem podemos confiar e que nos ajuda em nossas aflições, sejam elas quais forem. Busque ajuda profissional. Peça orientação a Deus a fim de que Ele abra as portas para encontrar o tratamento adequado e pessoas idôneas que possam dar um bom encaminhamento. Recomendo também a leitura do livro "Mentes e Manias", de Ana Beatriz Barbosa da Silva, Editora Objetiva, RJ, para uma pesquisa mais ampliada e conhecimento de serviços de utilidade pública para atendimento à pessoa com TOC e seus familiares. A Magali é psicóloga e escritora. Ela e seu esposo, Rev. Sergio Leoto, dão cursos na área de família a convite das igrejas.

Site: www.sergioemagalileoto.com.br Agendamento - E-mail: smleoto@uol.com.br

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 37


SAÚDE

Depressão doença, e não

pecado

38 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


A depressão é hoje considerada o mal do século. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), mais de 350 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão. Estima-se que grande parte da população mundial já passou, passa ou enfrentará ainda, ao longo de sua vida, ao menos um episódio da doença depressão.

GIANCARLO BROJATO E WÍVIAN R.L.C. BROJATO

Ela sempre existiu, mas creio que hoje está muito mais presente no seio da sociedade. Alguns cristãos ainda veem a depressão com certo preconceito, entendendo que aquele que está em comunhão com Deus não pode ter depressão. Quero chamar a atenção para o engano dessa concepção. A depressão nada tem a ver com a ausência ou a presença da fé em Deus, embora, para aqueles que possuem fé no Deus vivo, o enfrentamento desta e de qualquer outra dificuldade seja facilitado. Assim, o cristão também está sujeito a passar, ao longo de sua vida, por um ou mais episódios de depressão.

ção no apetite, insônia ou hipersônia (aumento do sono), perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, irritabilidade, pensamentos suicidas (ou até mesmo tentativas) por um tempo duradouro. Não é necessário apresentar todos estes sintomas para que seja diagnosticada a depressão. A depressão é caracterizada pela presença de mais de um destes sintomas por tempo razoável. Todos nós passamos por momentos de tristeza, desânimo, ou ainda sentimos outros sintomas da depressão de maneira esporádica. Isto é natural e faz parte da vida. Mas podemos considerar que estes sintomas se tornam uma doença quando eles são persistentes e quando começam a afetar a nossa qualidade de vida.

1) Mas o que afinal é depressão?

2) Consequências da depressão na vida da pessoa

É importante compreendermos que nem todas as crises e momentos de tristeza que enfrentamos referem-se à doença depressão. A depressão é um transtorno mental que se caracteriza pela presença de alguns sintomas como tristeza e/ou angústia profunda, altera-

O deprimido tem sua vida profundamente afetada em diversas áreas. Ele fica mais sujeito ao aparecimento de uma série de outras doenças. Isso ocorre porque a depressão tende a comprometer o sistema imunológico, deixando a pessoa mais debilitada. Além disso, é bem comum que

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 39


aquele que tem depressão conviva constantemente com um sentimento de infelicidade, incapacidade, baixa autoestima e culpa. Em geral, tem também, em decorrência da depressão, dificuldade para relacionar-se bem, o que vai tornando-o cada vez mais solitário. A família nem sempre está preparada para lidar com o comportamento do deprimido e, por este motivo, muitos casamentos são rompidos e relações familiares prejudicadas quando o indivíduo está com depressão. Ao procurar ajuda na igreja, é comum que o deprimido se depare novamente com incompreensão e julgamento, o que contribui para que ele se isole ainda mais, tendo abalada até mesmo a sua fé.

3) O papel da igreja e do cristão frente aos deprimidos

Hoje é sabido por muitos cristãos que a depressão não é um “problema espiritual”, mas uma doença. Mesmo assim, as pessoas com depressão ainda comumente sofrem com o preconceito e a falta de misericórdia por parte da igreja. Até mesmo os “problemas espirituais” sempre foram tratados

40 Alvorada

de maneira amorosa por parte de Jesus. Enquanto os fariseus julgavam as pessoas, classificando-as como “pecadoras”, Jesus dizia que seu ministério consistia em cuidar das pessoas doentes – em sentido espiritual. Mas o fato é que depressão não é pecado e muitos cristãos estão enfrentando este mal. Há muitas famílias cristãs que passam por este sofrimento. Diante disto, na igreja deve prevalecer o modelo pastoral de Jesus, e ser um lugar de acolhimento e não de exclusão. As pessoas doentes precisam de cuidado e não de juízes de plantão para as sentenciarem como culpadas. Na época de Jesus, os religiosos compreendiam que a doença era um “castigo” de Deus por causa de um pecado cometido ou pelo doente ou por um de seus familiares (até mesmo os antepassados). Jesus rompe com esta “tradição”. Em João 9, diante da pergunta de seus discípulos sobre “quem havia pecado”, o Senhor explica que “ninguém pecou” para que aquele pobre homem padecesse de falta de visão, mas que tudo havia sido permitido para se manifestar nele a “glória de Deus”. Com base no ensino de Jesus, diante de um depressivo, não é necessário pergun-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

tar qual foi o motivo da doença, mas compreender que a pessoa depressiva necessita urgentemente da ação da igreja em acolhê-la com amor. Muitas pessoas estão se afastando da igreja porque não estão encontrando na comunidade as atitudes de Jesus. A igreja deve ser o local onde o principal e mais eficiente remédio é ministrado: o amor. O deprimido deveria, tão logo adentrasse as portas da igreja, ser submetido à terapia do amor, da aceitação, da compreensão. Porém, infelizmente isso não acontece e, por vezes, o paciente de depressão é submetido a críticas, incompreensão e uma ampla gama de conselhos inaplicáveis vindos de sabichões.

4) Os que podemos fazer para ajudar àqueles que sofrem com depressão

Já sabemos que julgamentos, incompreensão e críticas não ajudam em nada àquele que sofre com depressão. Sabemos também que a igreja é local de cura e misericórdia e que, como cristãos, precisamos ter uma disposição genuína de coração para ajudar aos que sofrem. Mas como podemos ajudar àqueles que sofrem deste mal?


» 1

Ofereça ajuda: Coloque-se à disposição para conversar sempre que o deprimido se sentir angustiado, desesperado. Muitos suicídios poderiam ser evitados se o suicida deprimido tivesse contado com um ouvido amigo no momento de desespero. Não julgue: Nossa atitude perante aquele que sofre deve ser de misericórdia. Não somos juízes, embora tenhamos a tendência de nos comportar como se o fossemos. Apenas ouça. Procure compreender. Ore com ele e por ele: Lembre-se que, embora a depressão não seja sinônimo de falta de fé ou comunhão com Deus, nosso Deus é Senhor de todas as situações e Ele tem poder e autoridade para curar ou aliviar todos os males.

2 3

A presença constante de Deus ao nosso lado não nos exonera dos sofrimentos, mas certamente renova a nossa esperança e nos proporciona a certeza de que não estamos sós, mesmo quando passamos por lutas e aflições

mente tristes e amargurados. Porém, não devemos jamais nos esquecer que, embora passemos por momentos de aflição (e isto já nos foi alertado pela Palavra), nosso bom ânimo se firma na promessa de Deus de que estará sempre conosco. A presença constante de Deus ao nosso lado não nos exonera dos sofrimentos, mas certamente renova a nossa esperança e nos proporciona a certeza de que não estamos sós, mesmo quando passamos por lutas e aflições. Se você sente que suas forças se esvanecem e você não está conseguindo carregar este fardo sozinho, tenho para você algumas palavras de recomendação:

as nossas próprias mazelas. Apoie-se em sua fé. Depressão não é sinônimo de falta de fé, porém, a esperança em Jesus e o consolo do Espírito Santo são bálsamo para a alma de todos aqueles que sofrem, inclusive para os deprimidos. Creia nisto! Não fique distante neste momento tão doloroso. Ore, leia e medite na Palavra de Deus diariamente.

Finalizando...

Não se feche em seu mundo. Saia de casa. Converse.

Envolva-se com atividades prazerosas.

Faça um exercício físico.

Peça ajuda! Em alguns estágios da depressão podemos nos sentir sem forças até mesmo para fazer algo para nos ajudar. Se você sente que este é o seu caso, peça ajuda: de um amigo, de um parente, do pastor ou de um irmão da igreja, ou mesmo de um profissional médico psiquiatra ou psicólogo. Não se esqueça: a depressão é uma doença, e pode requerer a ajuda de um profissional especializado para seu tratamento.

O cristão também passa por dificuldades e pode passar por períodos de angústia extrema e até mesmo depressão. Por vezes, precisa ir ao psicólogo e até ao psiquiatra. Mas o nosso conforto é que, apesar de não estarmos imunes às doenças e às tribulações, sabemos que há um Deus poderoso que cuida de nós e nos sustenta. No mundo, teremos aflições, passaremos por perdas e por muitos sofrimentos. Por isso nos angustiamos. Muitas grandes pessoas de Deus também se angustiaram diante do sofrimento. Mas sabemos que Deus está no controle; sabemos que os pensamentos dele são mais altos e que são pensamentos de bem, e não de mal. A Bíblia nos fala de pessoas que passaram por situações de extrema angústia e estas situações são sempre contrastadas e remediadas com o melhor remédio: a esperança. A igreja deve ser o local onde este remédio seja distribuído generosamente.

Ajude os outros. Muitas vezes, curar as feridas dos outros é a melhor maneira de tratarmos

O Rev. Giancarlo é pastor da 1ª IPI de Cruzeiro, SP, e a Wívian, sua esposa, é psicóloga clínica

5) Uma palavra aos que sofrem de depressão

Por vezes, durante as crises da vida, tendemos a nos desesperar, a não conseguir enxergar saída ou possibilidade de alívio para os sofrimentos. Nestas situações, perdemos a esperança ou nos tornamos cronica-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 41


A VOZ DO CORAÇÃO

Alzheimer ou Demência Senil: Importa?

42 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


»

Cuidar continua sendo difícil. Mundo moderno, casas pequenas, correria. Não importa se Alzheimer, Demência Senil, doença ou deficiência. É necessário cuidar, amar, amparar, providenciar, renunciar.

DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA

Dona Tereza fazia um prato de comida e o levava até ao espelho onde via refletida sua própria imagem. Chorava porque aquela velhinha não aceitava a gentileza. Não se servia. Dizia: “Ela não pode ficar sem comer. Está muito fraca”. O “seu” Nicolau, nos seus 90 anos, era educado e amável com sua esposa e filhos. Para o pastor, era um momento significativo levar a ceia para ele, em sua casa. Afinadíssimo, escolhia os hinos pela numeração. Corrigia algum deslize musical, se necessário. Também declamava Salmos. Quase todas as outras coisas havia esquecido. Dona Maria, esposa do “seu” Nicolau, quando passou dos 80, também vacilou. Mas transbordava afeto. Retribuía um tchau com acenos de abraços e beijos. Dizia para quem a visitava: “ Não vá embora, pois é cedo e faz tempo que você não aparece. Volte logo”. Juca Bento não fora um homem criado dentro de rígidos padrões morais. Cuidar dele era tarefa difícil para suas filhas. Mesmo assim, havia restado poesia e beleza próximo ao seu centenário. Tal qual Cora Coralina, conhecia o ciclo do milho. Precisava preparar a terra, semear, carpir, colher. Não se orientava pelo calendário, mas conhecia o ar, a chuva, a estiagem. Sabia a época da visitação da terra. Ficava muito nervoso porque ninguém queria deixá-lo trabalhar. Que absurdo! Procurou seu cavalo muitos anos. Nenhum dos que lhe mostravam era o dito cujo e não era mesmo. Qual teria sido? Não havia foto. Ficara

o registro só em sua memória. Sá Nica, já bem idosa, numa época anterior ao avanço dos laboratórios farmacêuticos, caminhou preservando sua bondade. Depois de um bom cochilo à tarde, levantava dizendo estar bem cansada, pois havia costurado, torrado farinha e fiado. Costumava convidar todos que passavam por sua casa para as refeições, embora trocasse os horários. Ao convidar para pousar dizia: “Soltem os animais”, embora as visitas tivessem chegado de Jeep e não a cavalo. Diariamente, arrumava no meio da sala a mudança, para ir para o sertão, fato que fora o mais marcante em sua vida. À noite, após dormir um sono, acendia uma vela e percorria todos os quartos da casa. Dizia estar cobrindo as crianças. Havia sido mãe de treze filhos. Dona Olinda, filha de Sá Nica, aos 70 anos começa a perder as chaves, dinheiro e documentos. Fora roubada? As dificuldades foram aumentando ao executar as tarefas rotineiras, como cozinhar e fazer quitandas. Ficou na defesa. Sabia estar perdendo espaço e não queria interferências. Lutava contra seus aliados. Na verdade, lutava contra a perda de autonomia. Fora muito viva, parecia ter radares. No processo de desorientação, fora ficando repetitiva e agitada. Houve um tempo sofrido até que a família e amigos aprenderam a lidar com essa nova pessoa. Remédios acertados, estratégias adequadas e união de esforços ajudaram paciente e cuidadores. Hoje revela seu lado mais doce, brando. Vibra com crianças. Não perdeu o senso de certo ou errado.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 43


Qualquer pessoa pode seguir seus conselhos sobre criação de filhos ou relacionamento conjugal. Princípios inalterados. Fé em oração. Consola a muitos com o Salmo 23. Continua sendo uma grande pessoa. Hoje, quase chegando aos 90, é uma senhora forte, elegante. Continua a não gostar da cor verde, cor ingrata, pois desbota. Ivone está começando a perder a memória. Está em tratamento. Um dia destes me disse: “Ore por mim. Às vezes, não sei onde estou nem o que fiz e isto é muito difícil. Por outro lado, me vejo mais afetuosa com os filhos e netos. Parece que nossos conflitos desapareceram”. Quanta dor, beleza e poesia no apagar das luzes da memória. Os sentimentos ficam. Ainda existe alegria ou tristeza. Há percepção do tipo de zelo recebido hoje. Há gosto e preferências por cores e sabores. Estes fatos relacionados a pessoas de nossa convivência me fazem pensar em algumas citações bíblicas. “Educa a teu filho e te dará descanso, dará delícias à tua alma” (Pv 29.17). Imagino ser delicioso ser cuidada por um filho(a) amoroso(a), capaz de amar o imperfeito, o diferente. Que privilégio! “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Ex 20.12). Damos muita ênfase a este mandamento, na

44 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

classe de crianças e jovens. Penso que ele foi dado também a nós adultos, com pais idosos. Respeito concretamente os meus pais? “Sonda-me, ó Deus, e conhece meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos, vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.23 e 24). Faço esta oração com convicção. Por razões diversas, posso dementar. Caducarei elegantemente como “seu” Nicolau e dona Maria? Vacilarei bondosamente como Sá Nica e dona Tereza? O que vai realmente no íntimo de meu ser? Quem sou? “Educar as crianças para quê? Para dar-lhes a chance de aprenderem o quanto antes a difícil arte de conviver na dificuldade. Não se aprende a conviver melhor no passar das décadas. Aprende-se que é difícil, mas, com tolerância e paciência, vem a aceitação da dificuldade e do valor de se ficar junto, simplesmente isso" (Roberta E. Kelly, psicanalista). Cuidar continua sendo difícil. Mundo moderno, casas pequenas, correria. Não importa se Alzheimer, Demência Senil, doença ou deficiência. É necessário cuidar, amar, amparar, providenciar, renunciar. Creio que somos os pés e as mãos de Deus nesta caminhada. A Dulce é da IPI de Botelhos, MG (Os nomes mencionados são fictícios)


POESIA

A história de meu pai CARLOS MORAIS E SILVA

Meu pai era assim: Um homem austero, Porém, benevolente; Não admitia qualquer divergência, Rusgas ou contendas, Por menor que fossem. Tínhamos de andar na linha; Já que éramos pobres, A família tinha de ser unida e correta, Onde prevalecesse a decência, a moral e os bons costumes. Por isso, o respeitávamos muito, Sentíamos até um certo temor, Sem medo, claro e evidente; E achávamos que ele estava certo. Quem diria o contrário? Dizia enfático: “O homem tem de ser honesto No trato, nos negócios, na família, Custe o que custar”. Ante as dificuldades, Mostrava-se pensativo e emocional. Quando atingimos a maioridade, Orgulhava-se de nós. Abençoava-nos, beijando as mãos, Mútua e reverentemente. Hoje, está nos céus, ao lado de Deus Pai. Obrigado, meu pai, pelas lições e o respeito. Graças, Senhor, pelo pai que nos deste. O Carlos é presbítero da 1ª IPI de Fortaleza, CE

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 45


MELHOR IDADE

Anos dourados:

Preparando-se para a melhor idade

46 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


CHRIS AYRES

Cedo ou tarde, quando olhamos para trás, avaliamos o que construímos no decorrer dos anos já vividos. Chegamos a um ponto onde sabemos que não conseguiremos dar a volta ao mundo ou realizar todos os nossos desejos dos tenros anos de nossa juventude. Conforme os anos avançam, esquecemo-nos dos vagalumes, do sabor da comida de nossa avó, do som das vozes de nossos filhos quando pequenos. Conforme envelhecemos, também ganhamos experiência, entendimento e autocontrole, seja pelo fato de que já experimentamos a vida de várias formas e sabemos o que é melhor para nós ou pelo desenvolvimento da tolerância em aceitar nossas dores e perdas. O tempo é implacável. Chega sem pedir licença para todas as criaturas. O mundo tenta de todas as formas eternizar a juventude da pele, do corpo. O verniz da modernidade tenta por todos os lados restaurar os anos de tudo o que um dia existiu. Alguns lutam contra o relógio para parecer jovens enquanto outros tornam-se amargos através das muitas dificuldades que atropelam o sonho de vida. Mas uma coisa é certa: envelhecer não faz ninguém mais sábio a não ser que aprendamos as muitas lições que a vida traz a cada um de nós. Talvez não tenhamos chegado exatamente onde queríamos, mas, com certeza, estamos onde precisamos.

Se você recebesse hoje a notícia de que possui apenas alguns meses de vida, o que faria?

Há alguns anos, conheci com uma pessoa que recebeu este diagnóstico. Era um homem cristão exemplar, na faixa dos 60 anos, saudável, sem vícios e um responsável pai de família. Um câncer raro havia tomado conta de vários órgãos. Havia a possibilidade de algumas cirurgias e tratamentos de quimioterapia e radioterapia que poderiam retardar em 3 ou 4 meses sua partida, mas isso demandaria muito dinheiro, tempo e os resultados seriam apenas temporários. Sua primeira preocupação foi sobre como sua família ficaria na sua ausência. Ele chegou em casa, abriu as gavetas e organizou todos os documentos, listou telefones, senhas de banco e escreveu procedimentos. Notou que poderia quitar algumas dívidas para que a esposa e os filhos não as tivessem quando partisse. Tratou de consertar o que materialmente daria algum conforto a sua família. Em seguida, contatou familiares e renovou os laços de amizade e amor. Buscou os amigos e lhes disse como lhe eram importantes. Passou um tempo com cada filho e com cada neto ensinando, guiando e inspirando-os a buscarem o seu melhor na vida. Desculpou-se como podia, deixou as preocupações de lado e focou no que era mais

importante. Amou sua esposa e juntamente com a família, filhos e netos, construíram memórias que não serão esquecidas jamais pelos que ficaram. Ele também fez suas pazes com Deus. Sabia que o encontraria. Ansiava por esse encontro. Pediu perdão, tentou consertar como pode os erros do passado. Nos últimos meses, os filhos tentaram de todo modo realizar alguns de seus sonhos, mas, conforme a doença avançava e a resistência física diminuía, ele sabia e dizia que o mais importante ele já tinha: a família por perto. Eu tive o privilégio de conversar com ele 3 dias antes de seu falecimento. Ele me disse: “Estes últimos meses após ter recebido aquele fatídico diagnóstico foram os mais felizes de minha vida. Assim eu tivesse vivido todos os meus anos focando no que me era mais importante, deixado as coisas sem valor eterno de lado, e amando mais a quem realmente importa: minha família”. Ele faleceu com um sorriso nos lábios. Ele estava pronto para partir e encontrar o Pai Celeste. A separação era apenas temporária. Isso me fez pensar. E se a morte nos chegar sem aviso e sem tempo algum para organizarmos nossa vida, pedirmos perdão a quem ofendemos, perdoar a quem nos ofendeu e preparar o caminho para os que nos seguem e ficarão um pouco mais?

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 47


Alguns lutam contra o relógio para parecer jovens enquanto outros tornam-se amargos através das muitas dificuldades que atropelam o sonho de vida. O medo de morrer deriva-se do medo de viver

Provérbios 16.31 diz: “Coroa de honra são as cãs, quando elas estão no caminho da justiça”. Se vivemos bem, estaremos preparados para merecer os anos que nos vierem e nossos cabelos brancos serão como uma coroa de glória, se vivermos em retidão. Então, como podemos nos preparar para viver da melhor forma possível e envelhecer pessoas melhores? Independentemente da idade que você tem neste momento, você pode começar a viver de forma mais plena. Alguns exemplos:

Cuide de sua saúde  Evite qualquer tipo de vício

Qualquer coisa que altere sua natureza estará em algum momento entre você e aqueles que ama, bem como o que é necessário para viver uma vida mais feliz.

 Consulte um médico regularmente

Não tenha medo dos resultados de exames. Qualquer doença pode ser tratada com maior sucesso se diagnosticada no início; por isso é importante checar a saúde regularmente.

 Durma cedo, acorde cedo

Estabeleça uma rotina saudável de dormir pelo menos 7 a 8 horas por noite. Se tem a possibilidade de tirar uma soneca à tarde, ainda melhor

48 Alvorada

para sua saúde.

 Faça algum tipo de exercício

Escolha algo de que você gosta como caminhada, natação, hidroginástica, ciclismo. Consulte um profissional caso apresente algum problema físico sobre os melhores exercícios e como fazê-los corretamente. Convide um amigo, o cônjuge, um filho. Aproveite as oportunidades do dia a dia como subir as escadas ao invés de usar o elevador, estacionar mais longe para caminhar um pouco mais.

 Prefira alimentos naturais

Fuja dos alimentos gordurosos, açucarados, refrigerantes, conservantes e anabolizantes presentes em algumas carnes e alimentos. Prefira frutas, verduras, legumes, cereais integrais, carnes frescas e brancas. Use filtro solar. Consulte sempre um médico antes de se medicar.

 Mantenha sua mente ativa

Faça um curso, aprenda uma nova habilidade. O ser humano tem a capacidade de aprender em qualquer idade. Aprenda a usar o computador, a ter um hobby, vá em busca de coisas que você sempre quis fazer. Crie. Descubra seus talentos.

Esteja preparado  Planeje com disciplina

Seja previdente, viva com o que precisa para garantir seu futuro.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

 Faça uma reserva extra

No Brasil, há a aposentadoria por idade, idade rural, por tempo de contribuição e por tempo de contribuição da pessoa com deficiência. Procure saber as idades de cada uma, carência e informe-se sobre a melhor forma de requerer a sua para garantir sua subsistência no futuro.

 Poupe e economize

Não somente para curtir a vida, mas para emergências, gastos diversos que, com certeza, virão.

 Pague as dívidas

Faça o possível para sanar suas dívidas o mais rápido possível, não deixando acumular para os anos maduros de sua vida.

 Pesquise sobre fundo de garantia e investimentos

No site da Previdência Social, há como tirar os extratos de todas as contribuições feitas, bem como do FGTS no site da Caixa Econômica Federal. Procure informar-se sobre investimentos onde possa aplicar o dinheiro para render e lhe trazer algum conforto.

Alimente seu espírito  Seja grato

Reconheça as pessoas que lhe ajudaram na vida, os melhores amigos, os melhores momentos.


 Seja positivo

 Conheça a Deus

Encontre o lado positivo nas experiências do dia a dia e não murmure.

Ele está sempre presente em cada passo de sua jornada e é o melhor amigo que você pode ter.

 Nutra o lado emocional de maneira saudável

Através da arte de viver, talvez não possamos controlar o tempo, mas podemos controlar nossa atitude em relação à vida e manter nosso espírito jovem a cada ano que vivemos. Talvez alguns anos não serão tão bons quanto outros. Seja gentil com você mesmo. Tenha paciência. Viva cada dia de sua vida de forma inteira. Aproveite os momentos. Desligue-se do que lhe causa estresse. Desapegue-se do que não necessita. Peneire suas opções e escolha o que lhe traz mais próximo de quem você ama, de quem ama você e de quem realmente você serve. Passe a admirar novamente os vagalumes, a saborear a comida que alguém especial lhe prepara, a apreciar a voz de seus netos e bisnetos. Viva a cada dia de forma a poder ter a calma e toda fé necessária para que, em seu último dia nesta vida, a qualquer hora e a qualquer tempo, você possa sorrir satisfeito com a vida que o Pai o presenteou e esteja pronto para encontrá-lo.

Busque a paz de espírito, a compreensão e tolerância. Tente enxergar as pessoas como o Senhor as vê.

 Cultive um amor genuíno

Um relacionamento de sucesso é um time formado entre você, a pessoa amada e o Senhor.

 Cerque-se de pessoas do bem

Cultive amizades, familiares, vizinhos e conhecidos que se alegram com suas conquistas, que sejam positivos.

 Seja a luz que outros precisam

Faça sua parte para melhorar o mundo, preencha seu interior com coisas boas.

 Desenvolva o bom humor

Eclesiastes 11.10 diz: “Afasta, pois, a ira do teu coração, e remova da tua carne o mal, porque a adolescência e a juventude são vaidade”. Você merece cada idade conquistada e não perde as anteriores.

 Sirva o próximo

Sua felicidade será medida através de suas boas ações.

Chris Ayres é esposa e mãe, escritora e fotógrafa. Para conhecer seu trabalho, visite

www.chrisayresauthor.com

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 49


VIDA CONJUGAL

O prazer na

DEVANIRA DOMINGUES DEMARQUE

Felicidade é saber que nossa vida não está se passando inutilmente, pois temos os propósitos de Deus. Desde que nascemos, envelhecemos a cada dia. Podemos considerar o envelhecimento como um processo no qual a capacidade e a potencialidade do indivíduo desabrocham e se realizam – e, neste contexto, ele adquire sua maior expressão de individualidade. Temos uma imagem da velhice formada a partir das observações, de vivências ou daquilo que nossa família de origem e sociedade nos passaram. A maior parte das características do idoso não é peculiar a uma faixa etária. A pessoa não passa a ter determinada personalidade só porque envelheceu; ela simplesmente mantém ou acentua características que já possuía antes. No momento em que o idoso usa a experiência adquirida ao longo da vida, ele aprende a conviver com suas doenças crônicas e próprias da idade; ele elabora suas perdas, não esquecendo seus ganhos; ele dribla o preconceito; ele aprende a utilizar seu tempo. E aí ele continuará curtindo a vida, gozando as coisas boas e sendo feliz. Envelhecer é passar para uma nova etapa da vida, que deve ser vivenciada da maneira mais positiva e saudável possí-

50 Alvorada

vel, pois “ser jovem é saber envelhecer”. É preciso investir na velhice da mesma maneira que se investe nas outras faixas etárias. O idoso é uma pessoa que tem uma história, que já tem uma base testada. Podemos até dizer que ele é mais lento do que o jovem e que não consegue percorrer determinada distância com a mesma velocidade de antes, mas, com certeza, tem condições de vencer, de chegar lá. Por outro lado, a falta de memória não é uma característica apenas do envelhecimento; o que ocorre frequentemente é que ela passa a ser menos exigida, piorando pela falta de uso. É preciso exercitar a memória, as relações, a troca de afetos, enfim, mexer o corpo, os olhos, a boca, a mente e a afetividade. O casal idoso, que não se exercita e não vive a sua afetividade e sua sexualidade, é semelhante à criança pobre de nariz encostado na vitrine de doces sem poder provar, quanto mais saciar a fome. À medida em que a idade avança, os preconceitos vêm, principalmente na área da sexualidade do casal. E estes se constituem num dos piores e mais cruéis para homem e mulher, pois limitam a busca dos seus prazeres, gratificações físicas e emocionais. Neste ponto, é importante falar sobre a sexualidade do idoso, visto que a Bíblia nos

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

© altanaka - Fotolia.com

melhor idade


»

Em todo o tempo, sexo é toque, carícia, afago, aconchego, abraço, grandes abraços, beijos, massagem, cafuné, etc. A sexualidade do casal, independentemente da idade, está tanto no corpo quanto na alma, como algo de prazer, de bem estar, de satisfação.

diz, em 1 Coríntios 7.5: “Não vos defraudeis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes à oração. Depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente por causa da incontinência”. Tem uma frase que diz: “sem amor, não há sexo”. E tem uma pergunta assim: “Por que tantos casais não fazem mais sexo na velhice tendo boa saúde?” Melhor seria perguntar: “Eles ainda se amam?” Porque, onde há saúde e amor, casais se completam e se saboreiam com prazer. Podemos afirmar que a maior barreira sexual é, em qualquer idade, a mordaça que se coloca na voz do coração. Tirar esta mordaça é reconhecer a existência real do amor que manteve esta caminhada do casal por tantos anos. Podemos dizer que a sexualidade do casal faz parte de suas vidas. Nascemos e morremos com a nossa sexualidade. Em todo o tempo, sexo é toque, carícia, afago, aconchego, abraço, grandes abraços, beijos, massagem, cafuné, etc. A sexualidade do casal, independentemente da idade, está tanto no corpo quanto na alma, como algo de prazer, de bem estar, de satisfação. Na juventude, o poder de atração vem do peso, das medidas e das aparências – vem de fora. Na velhice, o poder de atração vem do coração, do compromisso, do sentimento de amor e do desejo vestido de ternura e de afeto – vem de dentro.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 51


Muitos idosos acreditam que a juventude é um atestado de validez como homem e como mulher e, quando chega a velhice, pensam que perderam tudo, se enchem de angústia na pergunta que se fazem a cada momento: “Serei ainda homem? Serei ainda mulher?” A resposta é: SIM. Somos homens e somos mulheres até o nosso último suspiro ou gemido. O tempo passa, e o casal que construiu ao longo do tempo um relacionamento focado no seu melhor (em termos de saúde física, emocional, espiritual, financeira e conjugal) hoje se vê capaz de redefinir metas de vida, novos planos e ideias para que a vida fique novamente plena de sentido. Neste momento do casal, na velhice, se faz necessário trabalhar outros parâmetros de sedução, de conquista, de agrado, através da descoberta da beleza do corpo maduro e da própria experiência de vida, vivendo uma maior integração entre corpo, emoção, sentimento e pensamento. Isto é “transformar terra seca em manancial” (Is 35.7). Tudo vai depender de como nos movimentamos pela vida e no peso que colocamos nos pratos da nossa balança existencial. Quem dá mais peso às perdas e às experiências

52 Alvorada

ruins irá construir muito sofrimento e amargura, acumulando queixas e desilusões. Quem dá mais peso às coisas boas e valoriza cada etapa da vida como oportunidade de novas descobertas irá construir uma vida melhor e com mais alegria. Independentemente da duração desta vida, importa que cada dia seja uma celebração. Devemos pensar que caminhar a dois ao longo dos anos faz parte da alegria de viver. Não podemos nos esquecer que o nosso poder interior reside em fortalecer o olhar naquele no qual tudo podemos sobre a vida (Fp 4.13) e tomando a iniciativa de fazer mudanças benéficas para o casal. O casal idoso deve se envolver com atividades remuneradas ou não, com ocupações prazerosas ou trabalhos voluntários em favor de pessoas. Ainda preservamos a ideia errada de que só tem valor quem produz bens materiais e dinheiro. Ninguém nos diz que também é importante produzir felicidade como forma de ser e de se buscar como seres humanos. Os velhos são sábios porque a idade traz a compreensão. Sophia Loren disse: “Há uma fonte de juventude: é sua mente, são seus talentos, a cria-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

tividade que você traz para sua vida (...) Quando você aprender a explorar esta fonte, você terá verdadeiramente derrotado a idade”. Então, planejar a velhice e preparar-se para a velhice é para aqueles que não querem morrer jovens; é cuidar diariamente da saúde em todos seus aspectos – físico, emocional, psicológico e espiritual; é ter moderação em todas as coisas; é aprender a produzir felicidade em todo o tempo e em tantas circunstâncias; é não se aposentar da vida e não envelhecer o seu viver; é viver a vida em todo o tempo de vida; é acreditar que há um tempo para se despedir e para partir, mas que este tempo está nas mãos de Deus – e o que está nas mãos do ser humano é viver caminhando na direção de tudo que a Palavra de Deus nos ensina. Seja aquele casal idoso que você gostaria de ter encontrado em sua mocidade, e deixe aos seus entes queridos a herança desta figura. Assim, você verá sua contribuição na melhora da caminhada e da convivência dos casais que envelhecem juntos. A Devanira, psicóloga clínica, sexóloga e terapeuta de casal e família, é presbítera da 2ª IPI de Londrina (Filadélfia), PR


QUALIDADE DE VIDA

Sono?

Terapias alternativas que auxiliam as mulheres na menopausa e pós menopausa com queixa de insônia ARIADNE SOUZA E ÉBE SANTOS MONTEIRO

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 53


»

Quase 80% das mulheres na menopausa apresentam algum tipo de sintoma clínico e, em 40% dos casos, os sintomas são suficientemente intensos para levar o paciente a procurar assistência médica

O climatério, de acordo com Danieli Giacomini e Eliane Mella, corresponde ao período de vida da mulher compreendido entre o final da fase reprodutora e o início da senilidade, ou seja, ocorre dos 40 anos aos 65 anos, envolvendo três eventos, quais sejam: Pré-menopausa, na qual cessa a função reprodutiva e as ovulações regulares, mas os estrogênios continuam sendo secretados em quantidades variadas; Menopausa, que se associa com a interrupção da menstruação resultante da perda da função folículo ovariana, ou seja, das unidades básicas do sistema reprodutor feminino; Pós-menopausa, fase mais prolongada, onde as mulheres estão mais vulneráveis aos distúrbios devido à diminuição do hormônio estrógeno. Quase 80% das mulheres na menopausa apresentam algum tipo de sintoma clínico e, em 40% dos casos, os sintomas são suficientemente intensos para levar a paciente a procurar assistência médica. Os distúrbios se manifestam principalmente na forma de sintomas vasomotores (calores e suor noturno) e psicológicos, tais como: irritabilidade, insônia, diminuição da libido e oscilações de humor. O sono, por sua vez, segundo a Liga Acadêmica do Sono da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), trata-se de um processo ativo envolvendo múltiplos e complexos mecanismos fisiológicos e comportamentais em vários sistemas e regiões do sistema nervoso central. A qualidade do sono influencia na vida cotidiana e no bem estar geral do indivíduo e seus distúrbios acarretam uma série de prejuízos à saúde e à qualidade de vida das pessoas. Conforme Jaime Monti, dissonias são desordens, caracterizadas por uma dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, produzindo uma sonolência diurna excessiva; dentre tais, encontramos a insônia. De acordo com Poyares, a insônia é um sintoma que pode ser definido como a dificuldade em iniciar e/ou manter o sono, presença de sono não reparador, ou seja,

1 2 3

54 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

insuficiente para uma boa qualidade de alerta e bem estar físico e mental durante o dia, com o consequente comprometimento do desempenho nas atividades diurnas. Helena Hachul analisou, por meio de estudos epidemiológicos realizados no estado de São Paulo, que a ocorrência de insônia em mulheres com mais de 30 anos, oscila entre 26 a 45% e, em outros estudos, há análise de que o aumento da incidência após a menopausa varia entre 28 e 63%. Um estudo abrangendo 121.700 mulheres, publicado no New England Journal of Medicine em 1995, revelou que as mulheres, que tomaram hormônios por mais de cinco anos, têm de 30 a 40% mais chances de desenvolver câncer de mama. Nas mulheres com idade entre 60 e 64 anos, este risco aumentou para 70%. A conclusão desta pesquisa científica é a de que as mulheres que usaram terapia de reposição hormonal por um período maior do que cinco anos têm 45% mais chances de morrer de câncer de mama do que aquelas que não usaram ou que o fizeram por um período menor. (Sociedade Brasileira de Análises Clínicas, 2007). Cláudio Soares verificou em estudos que a maioria de tratamentos com repositores hormonais não apresentaram impacto positivo sobre parâmetros objetivos de sono em mulheres com insônia na pós-menopausa. Ademais, a reposição hormonal traz uma série de contra indicações para seu uso, tais como: doença coronariana estabelecida, hipertensão arterial severa, tromboembolismo venoso prévio, diabetes mellitus não controlada, antecedentes familiares de câncer de mama e endométrio, doenças autoimunes em atividade, mioma uterino, doença da vesícula biliar, entre outras. Além dos indesejáveis efeitos colaterais, mastalgia (dor na região mamária), náusea, dores de cabeça, ganho de peso, retenção de líquidos, risco de câncer de mama e tromboembolismo, segundo visto por Danieli Giacomini e Eliane Mella. Entretanto, as terapias alternativas apresentam a vantagem ao tratamento farmacológico, o baixo risco de efeito colateral e a manutenção da melhora a longo prazo, além de atingir diretamente a melhora da qualidade de


Mônica Müller e Suely Guimarães explicam que as consequências dos distúrbios de sono se desdobram em pelo menos três níveis, que afetam a qualidade de vida da pessoa acometida. 

1

nível - estão as variáveis biológicas, que trazem consequências imediatas ao organismo, incluindo alterações como cansaço, fadiga, falhas de memória, dificuldade de atenção e de concentração, hipersensibilidade para sons e luz, alteração do humor.

2

o

nível - estão as variáveis funcionais; há implicações nas atividades cotidianas, como um primeiro desdobramento dos problemas com o sono, incluindo aumento de afastamento no trabalho, aumento de riscos de acidentes, problemas de relacionamento e cochilo ao volante.

3

o

nível - estão as variáveis extensivas observadas a longo prazo, como um segundo desdobramento dos distúrbios do sono, incluindo a perda do emprego, sequelas de acidentes, rompimento de relações, surgimento e agravamento de problemas de saúde. o

Diante de tais sintomas, existem os tratamentos medicamentosos, basicamente consistentes em reposição hormonal, e as terapias alternativas, ou seja, não medicamentosas. Vejamos, pois, cada uma delas. De acordo com Zahar, uma opção de tratamento e prevenção dos sintomas e doenças após a menopausa é a terapia de reposição hormonal, que pode melhorar as condições de saúde e de qualidade de vida da mulher.

vida das pacientes que aderem a este tipo de tratamento. Outra vantagem é que, além do médico, outros profissionais da saúde, como os fisioterapeutas, podem atuar nesta intervenção, facilitando a acessibilidade da população, buscando uma terapêutica que mantenha a integridade do organismo de forma natural e valorizando o indivíduo em todas as dimensões, instituindo intervenções menos agressivas. O aumento da utilização de intervenções não-farmacológicas apoia fortemente o uso da massagem como recurso terapêutico, o que, além de contribuir para a saúde, é seguro. Estudos têm creditado à massagem o alívio dos sintomas de ansiedade, reduzindo os efeitos colaterais, melhorando o relaxamento e o sono, aliviando os sintomas do climatério e reduzindo a insônia e o estresse, conforme estudado e analisado através de artigos científicos por Helena Hachul e colegas. Ressalte-se que o treinamento aeróbico melhora a qualidade do sono e reduz a quantidade de ondas de calor, causando diminuição dos distúrbios do sono entre as mulheres de meia idade. De igual modo, alongamentos específicos e técnicas de relaxamento, além de minimizar o uso de medicações para dormir, pode diminuir o problema de adormecer, melhorando a qualidade do sono por meio do aumento da flexibilidade reduzindo a rigidez muscular, agindo de forma semelhante como relaxamento progressivo do músculo atuando nos padrões objetivos e subjetivos da insônia. Ante a alta prevalência, a gravidade e as consequências da insônia, oriunda da menopausa e, ainda, diante dos efeitos colaterais do tratamento medicamentoso, constata-se que os tratamentos secundários e alternativos, aplicados pelo profissional de fisioterapia, entre outros a massagem terapêutica e atividades físicas, podem ser efetivos na melhora do sono e da qualidade de vida destas mulheres, com vantagem em relação à redução dos eventuais efeitos colaterais como o desenvolvimento de um possível câncer. A Ariadne e a Ebe são fisioterapeutas e atuam no hospital São Camilo, São Paulo, SP

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 55


QUALIDADE DE VIDA

Imãs que atraem a saúde e são usados no tratamento de doenças

Magnetismo - uma energia natural

O magnetismo é a energia natural que governa o universo e todos os planetas, bem como, tudo que o compõe. Tudo no universo gera e emite emanações magnéticas. A Terra, por exemplo nosso principal elo de vida , é por si só um imenso imã natural, que transmite seu magnetismo à todos os organismos vivos nele existentes e consequentemente, é o alimento, o calor e o remédio essencial no tratamento e cura da maioria das doenças. Devido as tecnologias retirando os metais e minérios do sub-solo, utilizando nas construções de máquinas e equipamentos, estradas ferroviárias, edifícios, veículos, ficando o homem isolado do solo e com isto a Terra enfraqueceu e o homem com facilidade está adoecendo.

colesterol e pressão arterial, evitando o derrame e o enfarte, com certeza melhorando a circulação e oxigenação do sangue, que é eficiente contra inflamação, dores e febre. Além do Magnetismo e Infravermelho Longo, com a evolução da tecnologia chinesa, está adaptado no colchão a Energia Bioquântica.

Energia Bioquântica

É uma noção nova na ciência e a Medicina Quântica, que surgiu na Rússia na década de 80, utilizada nos hospitais. A medicina quântica parte do conceito de que cada doença, muito tempo antes de ser diagnosticada mediante a medicina convencional, surge em função do desequilíbrio da corrente de energia no corpo humano. Se o sistema de energia se altera, acontecem as mudanças físicas na célula, e por consequência, surge a doença. A criação do potencial energético da célula, é através da Energia Bioquântica que é a radio frequência de baixa intensidade recuperando e revitalizando as células, auxiliando no tratamento de muitas doenças e ao mesmo tempo evitando muitas doenças.

Os imãs demonstram ser com certeza altamente benéficos contra doenças e desde tempos imemoriais eles eram usados para aliviar a rigidez dos músculos e articulações ou mitigar as dores corporais de forma imediata. O magnetismo melhora a qualidade química-física do sangue, melhorando a circulação sanguínea, deixando as pessoas imunes as doenças .Para resolver o enfraquecimento da Terra e melhorar a saúde, os japoneses inventaram colchões magnéticos para ajudar na prevenção das doenças . Com o avanço da tecnologia japonesa, além do magnetismo fazer parte do colchão, também faz parte integrante o Infravermelho Longo.

São vibrações rápidas de pulsos e ondas eletromagnéticas massageando todo o corpo com 18 posições de massagens com controle remoto, auxiliando no relaxamento dos músculos e ativando a circulação sanguínea, aumentando a função de oxigenação e nutrição das células.

Infravermelho Longo

Health Life

Adaptado no colchão magnético, foi desenvolvido através de um processo científico altamente sofisticado, uma mistura de platina, titânio e alumínio. Com a temperatura do corpo humano, a pessoa deitada no colchão, essas pastilhas de Infravermelho Longo emanam ondas eletromagnéticas idênticas aos raios de Infravermelho Longo, emitidos pelos sol, entre as 8 e 11 horas da manhã. O Infravermelho Longo refina e purifica o sangue, revitalizando as células e a pele, desobstrui as artérias, eliminando as toxinas, nivela os índices de triglicerídeos,

Massagem Vibro Eletrônica

Com a ideia de adaptar o Magnetismo, Infravermelho Longo, Energia Bioquântica e Sistema Vibroterápico, a Health Life, que fabrica colchões, tem a qualidade, o conforto e a durabilidade que você procura. Uma perfeita combinação entre a anatomia humana e o peso corporal, pois a densidade é progressiva devido a construção do colchão em 12 camadas. O colchão proporciona um sono profundo e reparador com ações que contribuem para a restauração do equilíbrio do corpo e da alma.

Vasile Bacov Jr. Especialista em Magnetoterapia, Infravermelho Longo e Energia Bioquântica

www.colchoesquanticos.com.br


QUALIDADE DE VIDA TERAPIA DO SONO

Em paz me deitarei e dormirei, porque só Tu, Senhor, me fazes dormir em segurança.

Combata a grande tribulação de uma noite mal dormida, com Colchões Terapêuticos e Bioquânticos

COLCHÕES COM DUAS VERSÕES DE TERAPIAS:

Colchão Tradicional

Salmos 4:8

Magnético, Ortopédico, Terapêutico com Infravermelho Longo

Colchão Quântico Magnético, Ortopédico, Terapêutico com Infravermelho Longo. Energia Bioquântica e Sistema de Vibroterapia com Controle Remoto

Credibilidade Durabilidade de 35 anos Garantia de 15 anos Produto aprovado pela OMS

QUEM DORME BEM, TEM O DIA MELHOR! MAIS PRODUTOS E BENEFÍCIOS EM: www.colchoesquanticos.com.br contato@colchoesquanticos.com.br

(11) 2509-1206 | 3819-8803 | 99273-3882

Já que passamos 1/3 de nossas vidas sobre um colchão, é bem melhor que seja num Health Life

Frete Grátis para todo Brasil

Á vista 20% de desconto

ou em até 12x S/Juros

Formas de

pagamento: A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 57


MOTIVAÇÃO

O círculo virtuoso da motivação PROF. GRETZ

Gosto de começar meus artigos e palestras contando uma história. Fazendo isso estou apenas seguindo o exemplo do maior comunicador que o mundo conheceu. Certa ocasião, ele resumiu os Dez Mandamentos em apenas um: “Amarás a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo”. Então, para colocá-lo à prova, alguém perguntou: “Quem é o meu próximo?” E ele respondeu com uma história: Um homem que viajava de Jerusalém para Jericó foi surpreendido por assaltantes que roubaram tudo o que ele tinha e o deixaram muito ferido. Algum tempo depois, um sacerdote passou, viu o homem desfalecido, mas seguiu sem fazer nada. Depois, veio um levita, que também passou sem socorrê-lo. Passou, depois, um samaritano, que se compadeceu ao ver o homem caído, limpou seus ferimentos e o levou para uma hospedaria, onde tratou dele. No dia seguinte, procurou o dono da hospedaria, a quem pagou para cuidar do homem até que ele se recuperasse. Os levitas e os sacerdotes tinham muito prestígio entre os judeus dessa época, mas os samaritanos eram considerados pessoas de nível inferior – e esse era o principal sentido da história. Quando Jesus acabou de contá-la, perguntou: “Qual desses três parece ser o próximo do homem assaltado?” A resposta não poderia ser outra: “Aquele que teve misericórdia e lhe deu socorro”. Tem gente que se comove ao ver notícias de flagelados em lugares distantes, mas, para ajudar ao próximo, não é preciso ir longe nem abandonar os afazeres diários. Como a palavra “próximo” já 58 Alvorada

diz claramente, bem pertinho da nossa casa existem pessoas precisando de ajuda. Para fazer a nossa parte, não precisamos esperar que os outros façam a sua parte e nem devemos esperar do governo a solução de todos os problemas que estão acontecendo ao nosso redor. Reclamar de braços cruzados é fazer parte de um círculo vicioso, que mantém tudo como está. Num bairro pobre, morava uma garotinha que frequentava a escola pública local. Ela era muito bonita, mas quase sempre se apresentava suja, com roupas velhas e maltratadas. O professor ficou com pena da menina. Separou algum dinheiro do seu salário e lhe deu um vestido novo. Ela ficou linda no vestido azul. Quando a menina chegou em casa, sua mãe sentiu que não podia deixar que a filha fosse tão suja para a escola naquele vestido. Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos e cortar suas unhas. No final da semana, o pai observou a filha e falou: “Mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, tão bonita e bem arrumada, more em um lugar caindo aos pedaços? Vamos arrumar melhor a casa. Nas horas vagas vou pintar as paredes, consertar a cerca e plantar um jardim”. Logo a casa se destacou pela beleza do jardim e pelo cuidado em todos os detalhes. Os vizinhos ficaram envergonhados e resolveram também arrumar as suas casas, com flores, pintura e criatividade. Em pouco tempo, o bairro todo estava transformado. Um líder comunitário, que acompanhava os esforços daquela

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


Ajuda humanitária não é só dinheiro. É motivação para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos, no sentido mais profundo. Somos todos iguais perante Deus, e o bom samaritano não procurou saber a origem social do homem assaltado. Ajudou sem olhar a quem.

gente, viu que eles mereciam auxílio, foi ao prefeito expor suas ideias e saiu de lá com a incumbência de formar uma comissão para indicar melhoramentos necessários ao bairro. A rua foi asfaltada, os esgotos a céu aberto foram canalizados e o bairro ganhou ares de cidadania. O círculo virtuoso da motivação, que contagiou a todos e mudou a vida de toda a comunidade, havia começado com um simples vestido azul… Não era intenção daquele professor consertar toda a rua, nem criar um organismo que socorresse o bairro. Ele fez o que podia, deu a sua parte, e acabou fazendo outras pessoas se motivarem a lutar por melhorias. É difícil reconstruir um planeta, mas é possível dar um vestido azul de presente para uma criança pobre. Há moedas de amor que valem mais do que os tesouros bancários, quando endereçadas no momento próprio e com bondade. Motivação faz surgir o entusiasmo, palavra de origem grega que significa acolher Deus dentro de nós. Bem perto de nós, há muitas formas de ajudar. Nem sempre temos condições de arregaçar as mangas como voluntários em uma instituição de caridade, mas podemos nos reunir para viabilizar ações comunitárias. Esta prática tem sido bem-su-

cedida em muitas empresas, onde surgem grupos de voluntários. Além de ajudar a minimizar o sofrimento dos necessitados, quem colabora realiza-se internamente e isso vai repercutir favoravelmente em sua vida. Inclusive na sua vida profissional e na performance da sua empresa, pois os companheiros de trabalho, atuando juntos em um projeto social, adquirem mais espírito de equipe. A empresa, por outro lado, exerce sua responsabilidade social e passa a ter presença mais harmoniosa na comunidade. Ajuda humanitária não é só dinheiro. É motivação para melhorar a qualidade de vida dos seres humanos, no sentido mais profundo. Somos todos iguais perante Deus, e o bom samaritano não procurou saber a origem social do homem assaltado. Ajudou sem olhar a quem. Simplesmente, ajudou. Fazendo assim, todos nós estaremos contribuindo para que o mundo seja realmente um jardim de Deus. O Prof. Gretz é autor de 14 livros e conferencista. Tetracampeão do prêmio Top of Mind Estadão-RH, na categoria Palestrante do Ano, em 2004, 2010, 2011 e 2012 – como o palestrante mais lembrado do Brasil, com os votos de milhares de profissionais de Recursos Humanos

www.gretz.com.br

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 59


ATUALIDADE

Braggie, selfie e as intenções do coração humano WANDERLEY DE MATTOS JÚNIOR

Imagine-se num lugar paradisíaco, ou numa tarde ensolarada, ou saboreando um prato delicioso, ou fazendo a viagem dos seus sonhos. Junte a isso um celular com uma boa câmera e uma conexão de internet. O que você faz?! Tira uma foto sua com a vista maravilhosa ao fundo e compartilha! Claro! Até aí, nada demais. Mas... o que está por trás dessa atitude? Simplesmente a vontade de compartilhar seu momento de alegria com seus amigos ou o desejo de mostrar-se, exibir-se e fazer com que os outros vejam como você é diferenciado a ponto de ficarem morrendo de... inveja?! Essa segunda possibilidade mencionada acima é o “braggie”, a nova onda que começa a se espalhar pelas redes sociais. Uma pesquisa realizada no Reino Unido mostrou que os “braggies” tendem a substituir os “selfies” muito em breve. Well, talvez eu esteja falando grego – ou melhor, inglês – então, vamos tentar traduzir. Selfie é o termo usado para aquelas fotos que tiramos de nós mesmos com o celular. Você vai a um lugar bacana ou está com os amigos, pega seu celular, estica bem o braço e... click! Faz um selfie! Depois, posta nas redes sociais e seus amigos curtem! Assim, o selfie se caracteriza por compartilhar com as outras pessoas algo bacana que você está fazendo. O braggie, entretanto, vai um passo além – ou aquém! Não basta tirar uma foto de si mesmo apenas para compartilhar sua alegria com os amigos virtuais. A ideia por trás 60 Alvorada

do braggie (do inglês, brag, que significa vangloriar-se) é a de ostentar e gabar-se por poder estar num lugar lindo, ou com gente bacana ou simplesmente se mostrar de maneira a causar inveja em quem vê você se exibindo, seja numa piscina ou praia ou qualquer outro lugar interessante, enquanto a grande maioria daqueles que vão ver a foto vive ou se encontra num contexto muito distante dessa realidade. A tecnologia e as mídias sociais mudaram definitivamente a maneira como nos relacionamos no mundo real – aliás, será que ainda existe essa distinção? Parece que, cada vez mais, a fusão entre o mundo real e o virtual vai tomando conta da forma como interagimos uns com os outros – Lembra do Matrix? A fim de escrever este artigo, tive de pesquisar um pouco acerca desse tipo de fenômeno contemporâneo para poder entendê-lo, porém, esse é simplesmente o dia a dia e a forma de se comunicar das atuais gerações de adolescentes e jovens que nem pensam a esse respeito, simplesmente o fazem. O que aparenta ser apenas mais uma onda passageira nessa constante ebulição do mundo da tecnologia e das redes sociais pode acentuar algo que é bastante delicado no coração humano e sobre o que Jesus nos adverte: a vanglória! A ostentação - que nada mais é do que exibir aos outros o que você tem (seja material ou não) – é uma forma bastante explícita de vanglória que tem por objetivo final – ainda que inconsciente, às vezes – provocar inveja em

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Braggie do Alex com a filha Thais


quem o vê. Tal atitude carrega vários valores subjacentes, tais como: sentimento de superioridade (que também pode ser um sentimento de inferioridade disfarçado), demonstração de poder, futilidade, exibicionismo – bem como gera reações, tais como: cobiça, competição, raiva, frustração. O convite de Jesus para segui-lo, pressupõe uma espiritualidade “low-profile”, em que ninguém deve considerar-se superior ou melhor do que ninguém. E quem fosse melhor que o outro (por ter mais dinheiro ou mais dons espirituais que o outro) não deveria fazer braggie algum – quer dizer, não deveria gabar-se ou gloriar-se em si mesmo. Toda e qualquer glória, por qualquer conquista ou capacidade, deveria ser creditada a Cristo Jesus, que é quem nos abençoa, supre as nossas necessidades e nos dá muito além do que realmente precisamos. Mas a atual espiritualidade cristã, tão influenciada por estranhos valores como sucesso e busca de riqueza, ajuda a transtornar uma ética da simplicidade e do contentamento com o pouco (essa da qual os evangelhos e as cartas de Paulo falam exaustivamente) numa ética da superioridade e do contentamento, que só acontece quando se consegue ter cada vez mais. Assim, assistir a um programa que carrega o nome de cristão na TV e ver pessoas contando que antes não tinham onde cair mortas e agora possuem 4 SUVs na garagem, moram numa casa de 500m2 e já abriram 3 filiais da empresa outrora falida, pode ser considerado uma espécie de braggie gospel, que ostenta um evangelho alienígena no qual a cruz é de ouro com um Jesus (?) que parece mais um gênio da lâmpada, pronto pra realizar não três, mas trezentos dos meus mais opulentos desejos. De fato, apesar de todo avanço tecnológico e todo acesso à informação, o coração humano continua exatamente o mesmo e abriga valores tão contra-

ditórios dentro dele que são facilmente revelados ao olharmos de perto para as nossas atitudes! O melhor da vida com Deus é alegrar-se e compartilhar (com sinceridade) essa alegria. Por isso, espero que o braggie não supere o selfie jamais. Recentemente tive a alegria – inusitada – de testemunhar a realização de um selfie que, para mim é o melhor de todos – melhor até que o do Barack Obama com a Angela Merkel! Num casamento que realizei em janeiro deste ano, o pai e a noiva vinham entrando por um lindo gramado e, momentos antes de se aproximarem do corredor de cadeiras que levaria ao local da cerimônia, o Alex Fogaça parou, sacou do bolso seu celular e calmamente fez um selfie com a filha, a Thais, minutos antes de entregá-la ao futuro marido. O fotógrafo fez belo registro do momento em que o Alex fazia o selfie com a filha. Certamente, é uma das fotos mais bonitas do álbum! Isso é festejar a vida e compartilhar a alegria de um momento especial com os amigos! Tomara que possamos viver a vida assim: com leveza e simplicidade, celebrando a alegria, compartilhando os momentos bons, mas também os tristes, quando houver. Alegrando-nos com quem está alegre e chorando com quem está triste. Dividindo fardos para que estes sejam possíveis de serem carregados em solidariedade. Postando fotos das férias, do arroz com feijão no boteco ou do culto abençoado de domingo. Mas tendo sempre na simplicidade e na gratidão profunda no coração, seja com o pouco ou com o muito, como diz Paulo, a motivação de celebrar a Cristo e viver a vida junto dele e dos nossos amigos, seja no mundo virtual ou no mundo real, mas longe de qualquer desejo de vanglória ou ostentação. Apenas viver sabendo que somos todos iguais, pois é assim que o Pai nos vê! O Wanderley é tradutor e intérprete

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 61


Série Facebible

Relacionamentos

virtuais 62 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Parte 1

A reinvenção do modo de se relacionar


»

A mania de se gabar virtualmente é tão ostensiva que já despertou a atenção da ciência. Começam a aparecer os resultados de uma série de estudos destinados a entender por que as redes sociais podem despertar nossos piores sentimentos – de soberba a inveja.

WAG ISHII

Um estudo buscava uma resposta no ser humano: O que, de fato, faz uma pessoa ser saudável? A conclusão é surpreendente! O aspecto que tem a maior influência no nível de saúde das pessoas não é a genética, finanças, sucesso, rotina diária, escolha profissional, alimentação. São os seus relacionamentos. Relacionamentos são fundamentais na construção do caráter e personalidade de qualquer indivíduo. O cristianismo se resume em relacionamentos, como está escrito no Evangelho de Mateus 22.34-40. O ser humano foi criado com uma total dependência por relacionamentos. O relacionamento vertical - entre o ser humano e Deus – e o relacionamento horizontal – entre as pessoas. Viver sem relacionamentos é como uma planta arrancada da terra: ela seca e morre. Vivemos um tempo de reinvenção do significado de relacionamento. Um impacto histórico de mudança desse significado tem sido causado pelas redes sociais. Junto ao novo conceito vêm novos vocabulários como postar, curtir, compartilhar, seguir, feeds, adicionar amigos... formando assim um novo estilo de vida e modo de se relacionar. Hoje, existem mais de um bilhão de pessoas conectadas ao Facebook, a rede social mais popular atualmente. Estar na rede social é se relacionar com o mundo, sem limite de tempo e espaço. Uma pesquisa afirmava que jovens passavam em média de 3 a 5 horas por dia conectadas ao Facebook. Com a acessibi-

lidade de conexões e smartphones, cada vez mais cresce o número de pessoas conectadas 24 horas por dia. Milhares de amigos, novas publicações a cada minuto, curtidas, chat de conversa... consomem o tempo e o foco dessa geração de amigos online. Entrar na rede social é a primeira ação diária de muitos, antes mesmo de irem ao banheiro ou escovarem os dentes. Uma atividade cumprida como um ritual todos os dias – e noites. Em um estudo, 21% dos entrevistados admitiram que se levantam durante a noite para verificar se receberam mensagens. Dependência? Cerca de 40% dos usuários já se declaram dependentes das redes sociais. Os álbuns publicados nas redes sociais conciliam o individualismo e as trocas. Um se alimenta do outro. Há um ciclo: exponho minha individualidade, acompanho a do outro e ele a minha e, assim, somos incentivados a produzir e expor, cada vez mais, as nossas imagens. O Facebook - ponto de encontro da carência humana - se torna o reflexo máximo do individualismo. Não basta acontecer; tem que contar para alguém. Assim, o "eu legal" toma conta das postagens e das notícias diárias. A mania de se gabar virtualmente é tão ostensiva que já despertou a atenção da ciência. Começam a aparecer os resultados de uma série de estudos destinados a entender por que as redes sociais podem despertar nossos piores sentimentos – de soberba a inveja. A vida no Facebook deixa de ser como ela é para ser como as pessoas gostariam que fosse. Assim, o verbo ter, que

há anos vem sufocando o verbo ser, agora disputa espaço com a superficialidade do verbo registrar. Nunca houve uma preocupação exagerada em registrar um momento e mostrar para o mundo como se vê hoje. Pensamos, primeiramente, em fotografar o momento, para depois vivê-lo. Imagens substituem momentos e atuam como disfarces de uma realidade angustiante: estamos realmente felizes conosco mesmos? Novos estudos mostram que é mais difícil resistir à tentação de acessar sites como Facebook e Twitter do que dizer não ao álcool e ao cigarro e, quanto mais tempo pessoas passam conectadas, mais insatisfeitas são com a própria vida. O vício em redes sociais é forte como o da dependência química. Como o viciado em drogas que, com o tempo, precisa de doses cada vez maiores de uma substância para ter o efeito entorpecente parecido com o obtido no primeiro contato, o viciado em Facebook também necessita se expor e ler as confissões de amigos com cada vez mais frequência para saciar sua curiosidade e narcisismo. Baseado em 2 Coríntios 2.11 que diz: a fim de que Satanás não tivesse vantagem sobre nós; pois não ignoramos as suas intenções – estaremos, numa sequência de estudos, abordando, segundo a luz da Palavra de Deus, qual deve ser a postura da igreja frente a esse tão grande desafio, as redes sociais. O Wag trabalha com os jovens da IPI de Rolândia, PR. É casado e pai de um filho (wagner@ventoimpetuoso.com.br Facebook: www.facebook.com/prwagishii

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 63


SECRETARIA DA FAMÍLIA

Os velhos e os novos pecados

64 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


Definições dos pecados capitais e dos novos A definição de cada um deles é simples:  ganância é a ânsia por ganhos exorbitantes;  gula é o vício de comer e beber em excesso;  soberba é o comportamento excessivamente orgulhoso;  luxúria é o comportamento desregrado em relação aos prazeres do sexo;  ira é o desejo por vingança;  preguiça é a aversão ao trabalho;  inveja é o desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia;  ostentação é a exibição de luxo, poder e riqueza;  intolerância é a intransigência com relação a opiniões, atitudes e crenças de outros. Infelizmente, alguns desses pecados podem fazer parte de sua vida. Independentemente se estes pecados estão encarnados em seu cotidiano devido ao seu temperamento, traumas ou natureza pecaminosa, é fato que você precisa clamar por restauração.

ALEX SANDRO DOS SANTOS

A personalidade humana é formada com o passar dos anos. Nos anos de formação, você recebe influência de muitas pessoas. Pais, avós, tios, amigos, professores e outros são alguns personagens que impactam sua vida. Eles lhe ensinaram muitas coisas boas, mas também deixaram alguns traumas. Estas impressões somadas ao seu temperamento e à sua natureza pecaminosa o impulsionam a ações e reações lógicas e até mesmo irracionais. O meio em que você foi criado e está vivendo interfere em suas atitudes. Seus comportamentos errôneos são reflexos da natureza pecaminosa que você herdou, da sua imaturidade em lidar com seu temperamento e dos traumas que sofreu em sua história. Apesar desta triste constatação, não se desespere, pois Deus

concede graça e auxílio para que você vença as dificuldades. Sabe-se que o pecado afasta qualquer um do caminho da integridade. Se o seu desejo é ter uma boa qualidade de vida, será preciso lidar de forma franca com assuntos que o incomodam. Uma palavra de motivação para ajudá-lo nesta decisão é que uma vida emocionalmente doentia provocará muitos males a você como aos que você ama, enquanto uma reflexão profunda e um tratamento real produzirá cura para todos. No século 6 d.C., o papa Gregório, inspirado pelas cartas paulinas, desenvolveu a tese de que há "sete pecados capitais". Com esta expressão, ele afirmava que setes desvios de conduta conduzem à prática de outros erros. Os sete pecados capitais são: ganância, soberba, ira, preguiça, inveja, luxúria e gula. Além destes conceitos teológicos, a revis-

ta Você/AS, de novembro de 2012, acrescenta a intolerância e a ostentação como pecados que também prejudicam o ser humano em seu desenvolvimento pessoal. Todos os pecados citados, no quadro acima, são justificados com argumentos que maquiam a sua vergonha. O ganancioso se defende alegando que sua meta é sempre a superação, pois ele busca a excelência a qualquer custo. O glutão confessa que melhor é comer e beber porque amanhã ele morrerá mesmo; portanto, é melhor satisfazer o prazer do paladar e saciar a ansiedade. O soberbo interpretara suas ações como reflexo de uma boa autoestima, algo que ele considera importante para o sucesso. O que ostenta poder e riquezas atribui seu estilo de vida ao grupo so-

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 65


»

O seu impulso imediato é continuar repetindo aquilo que você sempre fez. Contudo, você pode pedir ajuda a Deus para que o Espírito Santo o fortaleça na mudança de mentalidade e comportamento. Somente através da ação do Espírito Santo, você conseguirá reagir de forma positiva.

cial de que participa e jamais entenderá suas ações como esbanjadoras. O desregrado sexualmente entende a sensualidade como moda e defenderá a concepção de que, havendo amor, tudo é permitido e, caso não haja amor, tudo é natural. O que explode de raiva se convence de que a tentativa de controlá-la será somatizada e produzirá uma doença coronária ou outra qualquer. O preguiçoso transfere sua responsabilidade para a falta de motivação em seu trabalho. O invejoso fala que apenas observa as injustiças. O intolerante se satisfaz na ideia de que sua dificuldade de convivência se deve à sua sinceridade. A auto confrontação é algo doloroso, mas necessário. O seu impulso imediato é continuar repetindo aquilo que você sempre fez. Contudo, você pode pedir ajuda a Deus para que o Espírito Santo o fortaleça na mudança de mentalidade e comportamento. Somente através da ação do Espírito Santo, você conseguirá reagir de forma positiva. Anime-se, pois os bons resultados virão. Sua qualidade de vida será melhor e seus re-

66 Alvorada

lacionamentos mais saudáveis. Sempre que optar pelas atitudes opostas aos pecados capitais, você se assemelhará a Cristo Jesus. Reproduza as atitudes seguintes ao invés de seus opostos à direita: generosidade moderação humildade pureza mansidão diligência contentamento simplicidade tolerância

ganância gula soberba luxúria ira preguiça inveja ostentação intolerância

Você depende de Deus em todo tempo, mas, além desta carência humana, você poderá e deverá fazer sua parte. Primeiramente, investir tempo em sua comunhão com Deus por meio da oração e leitura da Palavra diariamente. Sem intimidade com Deus, suas ações serão limitadas. Em segundo lugar, mudar seus hábitos, pois há exercícios que podem ser feitos para superar os pecados.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

A sinceridade diante de Deus, de você e do próximo é necessária para a cura de sua alma. Relacionamentos familiares, eclesiásticos, corporativos e outros podem trazer realização e satisfação, se você buscar restauração para seus traumas causados por esses pecados. O desafio é a superação da inspiração maquiavélica em que se dissemina o falso conceito de que os fins justificam os meios. A maior dificuldade que você encontrará serão pessoas tentando convencê-lo das mudanças de conceitos deste século, incentivando-o a ter posturas e pensamentos diferentes em locais distintos. Nesta batalha, não se esqueça que pecados, sendo velhos ou novos, continuam sendo pecados. Reveja seus conceitos, analise seu comportamento e confesse seus pecados. "Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça" (1Jo 1.8-9). O Rev. Alex, pastor da 1ª IPI de Machado, MG, é o secretário da Família da IPIB. É casado e pai de 2 filhos.


Mudança de hábitos Algumas sugestões poderão ajudá-lo neste processo. Ao que sofre com a:  Ganância: pratique o desprendimento. Lembre-se diariamente que não é necessário aproveitar todas as oportunidades que surgem. Portas se abrem, mas você não precisa entrar em todas.

 Luxúria: tenha uma vida sexual equilibrada, compartilhe suas necessidades e fantasias com seu cônjuge e, se for preciso, procure um médico, se houver alguma disfunção ou distúrbio sexual.

 Ira: fale de seus sentimentos sem exigir mudanças das outras pessoas. Evite concluir que você está certo e outro errado antes de uma reflexão sincera e  Gula: consulte um nutricionista profunda. para elaborar uma dieta balanceada e, caso seja preciso, consulte  Preguiça: dose o seu ritmo de trabalho um médico para ter orientações e descanso. O excesso de trabalho é profissionais no controle da prejudicial, mas a negligência a ele ansiedade. também.  Soberba: cuide-se para não  Inveja: alegre-se com as conquistas dos alimentar o excesso de confiança, que estão à sua volta e não os impeça a presunção e o menosprezo pelos de terem sucesso. Caso você não outros. consiga agir desta forma, procure um tratamento.  Ostentação: não molde seu estilo de vida com base nas opiniões  Intolerância: faça acordos com os seus de pessoas que valorizam coisas familiares e colegas de trabalho ao invés fúteis; desenvolva a autocrítica e de impor suas vontades e ser simplista reconheça seus exageros. a ponto de achar que todos estão contra você.

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 67


CRISTIANISMO

ODAIR MARTINS

Talento

terceiri

e fé

RAPHAEL FOTOGRAFIA

zada

68 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

A terceirização é uma prática, no meio empresarial, que visa ao aumento da qualidade nas suas atividades e produtos. Pode ser usada para atividade-meio e atividade-fim. É considerada como uma forma de redução de custos com os trabalhadores das atividades-meio da empresa, pois, ao se contratar uma empresa terceirizada para fornecimento da força de trabalho de um profissional, este está sob a responsabilidade da firma contratada, não tendo nenhum vínculo empregatício com a empresa contratante. Esta modalidade pode ser usada em larga escala por grandes corporações e é observada principalmente em empresas de telecomunicações, mineração, indústrias, etc. Pequenas e médias empresas também podem se beneficiar dessa prática, uma vez que elimina burocracias internas com as atividades-meio. No Brasil, a atividade de terceirização ainda não é regulamentada, o que gera certa insegurança jurídica na área trabalhista. Usa-se, para resolver conflitos, os meios de que o mercado dispõe, ou seja, a CLT, o Código Civil, sumulas e jurisprudências para resolver as lides entre os empregados e as empresas que prestam serviços de terceirização. O processo de terceirização deve levar em conta diversos fatores de interesse, tais como a re-


»

dução de custos e principalmente o foco na sua atividade que se tem interesse em terceirizar. A terceirização precisa estar em conformidade com os objetivos estratégicos da organização, os quais irão revelar em que pontos ela poderá alcançar resultado compatível com os serviços orgânicos, sem os problemas burocráticos. Existe um debate no Congresso brasileiro com relação à questão da regulamentação da terceirização de atividade-fim. Em um processo de terceirização de atividade-fim, corre-se o risco de perder sua identidade, caso haja subordinação hierárquica. Na atividade-meio só é permitido terceirizar quando não houver subordinação hierárquica. A terceirização também chegou às igrejas onde antes usávamos pessoas que se dedicavam voluntariamente ao trabalho para o reino de Deus aqui na terra. Hoje, muitos cargos, como regente para o coral, administrador, tesoureiro, secretários, zeladores e outros, estão sendo terceirizados. A terceirização de algumas atividades, até certo ponto, é benéfica, mas, quando o povo de Deus perde o interesse em participar de uma forma mais efetiva e abrangente do corpo de Cristo, dos trabalhos para Cristo, do desejo de estar presente desenvolvendo um trabalho para sua comunidade, é algo que nos preocupa. E se, daqui algum tempo, não terceirizarmos os próprios membros, barateando

assim a nossa fé? Estaríamos com as igrejas lotadas de pessoas terceirizadas. Muitos, talvez, diriam não ter problema. Afinal, o verdadeiro sentido da palavra terceirização é transferir uma determinada atividade, que passará a ser realizada por um especialista na área, o que se traduz em aumento de produtividade e maior eficiência. Quem sabe poderíamos até chegar mais perto de Deus com esta “eficiência” terceirizada! A igreja, além de um organismo vivo, pois é o corpo de Cristo na terra, é também uma organização e, como tal, deve se sujeitar às leis, não devendo presumir que está desobrigada dos preceitos legais, incluindo os direitos trabalhistas daqueles que lhe prestam serviços mediante remuneração, habitualidade e pessoalidade, tais como porteiros, vigilantes, secretários, faxineiros, administrador, etc. Alguns destes serviços, às vezes, são prestados por pessoas que se apresentam como voluntárias. É fato que, posteriormente, ao saírem ou serem dispensadas do trabalho que prestavam, muitos destes voluntários ingressam com ações trabalhistas contra a igreja, exigindo todas as verbas rescisórias, asseguradas por lei e que lhes foram negadas. A conduta por parte da instituição religiosa, mais do que qualquer outra instituição, deve primar pela defesa do direito, da justiça e da dignidade da pessoa

humana, e não violar direitos, explorando o trabalho alheio, com o agravante de ser a instituição religiosa beneficiária de inúmeros benefícios fiscais assegurados pela Constituição. Assim sendo, a igreja deve buscar estar em dia com os seus deveres diante da sociedade, cumprindo todas as leis, incluindo aqui as trabalhistas. A terceirização nas igrejas, principalmente para as de maior porte e poder aquisitivo, pode acontecer em certas atividades consideradas secundárias ou atividades-meio, como limpeza, portaria, vigilância e administração. No entanto, existem algumas atividades que são vitais para a igreja enquanto organismo vivo, que dizem respeito à sua saúde e, portanto, têm que ser desenvolvidas por seus membros. A falta destas atividades faz com este organismo definhe, enfraqueça e morra. A igreja pode, sim, terceirizar algumas atividades, mas a evangelização, a oração, o cuidado de uns para com os outros, o amor, a assiduidade à programação e aos eventos da mesma não podem, em hipótese alguma, ser transferidos para terceiros. O que for de competência dos membros da igreja, corpo de Cristo, jamais deverá ser feito por empresa terceirizada para que a fé não venha a ser barateada. O Presb. Odair, membro da IPI de Porto Feliz, é coordenador nacional de adultos da IPIB. Casado e pai de 5 filhos.

A igreja pode, sim, terceirizar algumas atividades, mas a evangelização, a oração, o cuidado de uns para com os outros, o amor, a assiduidade à programação e aos eventos da mesma não podem, em hipótese alguma, ser transferidos para terceiros. A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 69


REFLEXÃO

A geração Y e o mercado de trabalho EVANDRO RODRIGUES

As pessoas que vivem no século 21 estão marcadas indelevelmente por transformações radicais e profundas que ocorreram em todas as áreas das relações humanas: política, economia, religião, comunicação, esportes, desenvolvimento acadêmico e científico e, principalmente, o desenvolvimento tecnológico que hoje domina todo o saber e fazer humano. Convivem atualmente, então, gerações distintas. Pessoas que antecederam às transformações; as que passaram por elas e as que nasceram sob seu escopo. Assim como nos eventos passados da história, hoje se estabelece o mesmo conflito geracional. Gerações que enxergam o trabalho, a família, as instituições por prismas distintos. Esse conflito, como não poderia ser diferente, atinge as relações organizacionais do trabalho. As pessoas nascidas no fim da década de 1970 até a década de 1990 são chamadas pelo mercado de trabalho de geração Y, sucedendo a denominada geração X, formada pelos nascidos entre 1960 e 1980. Esta geração é formada por pessoas que só conhecem a democracia como forma de organização social, e o capitalismo como modelo das relações econômicas – falando dos nascidos

70 Alvorada

no Ocidente. Porém, mesmo sem a motivação das ideologias que impulsionaram grandes mudanças nas gerações anteriores, também desejam provocar transformações, principalmente com relação aos valores tradicionais, solidificados pelo dossel da religião, política e economia. É uma geração que nasceu em meio à relativização de valores como a família, a espiritualidade e o trabalho, como dom ou ofício. Uma “(...) característica marcante da nova geração é a abertura à diversidade – os ‘Y’ aceitam muito bem diferenças de raça, sexo, religião e nacionalidades em seus círculos de relação” (ENGELMANN, 2009), o que lhes proporciona uma grande capacidade de lidar com a inovação e com o diferente. Por conta do conflito de gerações, os Y enfrentam dificuldades no mercado de trabalho. Quando ingressei no mercado de trabalho, há 20 anos, lembro-me que a prioridade de vida para um adolescente como eu era conseguir um emprego para ajudar em casa e arcar com minhas pequenas despesas. A geração atual possui mais recursos para aproveitar a infância e adolescência e se preparar melhor para o mercado. Muitos começam a trabalhar apenas quando ingressam na Universidade e precisam realizar estágios. Porém, o mercado ainda preza pela experiência prática que falta a essa geração, olhando com desconfiança para o jovem com

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014


capacitação teórica, mas sem vivência laboral. Na intenção de criar pontes para o ingresso dos jovens no mercado de trabalho, existem programas no Brasil como a Lei da Aprendizagem (Lei 10.097/2000), determinando que as empresas de médio e grande porte contratem um número de aprendizes equivalente a 5%, no mínimo, até 15%, no máximo, do seu quadro de funcionários. Para usufruir da Lei, o jovem deve estar matriculado em instituição de ensino profissionalizante, conveniada à empresa. Existem ainda, a partir da iniciativa privada, programas de investimento social que capacitam jovens empreendedores, para que desenvolvam seus próprios negócios. Desta forma, o jovem atual enfrenta uma realidade diferente para se desenvolver profissionalmente, mas que continua exigindo valores como engajamento, ética profissional, força de vontade, honestidade, disciplina e superação. Essas características serão sempre fundamentais para aquele que deseja ingressar no mercado via empresas privadas, públicas ou mesmo montando seu próprio negócio. Por outro lado, não são apenas os indivíduos da geração Y que sofrem no mercado de trabalho. As gerações anteriores também são tocadas pelo conflito geracional e precisam aprender a conviver, respeitar e explorar a grande capacidade dos jovens. Para isso, precisam compreender as características dessa geração para dirimir os conflitos e revertê-los em bons resultados. O fato de ter nascido sob total implementação tecnológica nos campos do saber e do trabalho fez com que esta geração passasse a desenvolver um senso de urgência e,

ao mesmo tempo, uma capacidade ímpar de lidar com mudanças rápidas e transformações repentinas. Abandonou o desejo de estabilidade e segurança, tão marcante nas gerações anteriores, e não se sente ameaçada pelos desafios propostos. Nota-se que os profissionais da geração Y, grosso modo, possuem um grande potencial para o trabalho em equipe, são ambiciosos, prezam pelo aprimoramento acadêmico, falam mais de um idioma, dedicam-se aos projetos da organização em que estão inseridos, possuem uma liderança nata e buscam, ao mesmo tempo, reconhecimento e crescimento profissional de maneira rápida e dinâmica e, principalmente, prezam pela qualidade de vida. Outra característica marcante da geração Y é o fato de conhecerem um mundo relativamente estável. Cresceram em uma década de valorização intensa da infância, com internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores. Eles desfrutam de uma proteção exacerbada dos pais que, geralmente, tendem a não os contrariar, satisfazendo de forma rápida a maior parte de seus desejos. Com isso, ganharam elevada autoestima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido em longo prazo. Sendo assim, a concepção tradicional de hierarquia civil, militar, religiosa e familiar não lhes faz grande sentido, passando a desenvolver um conceito de autoridade bastante distinto. Para eles, o líder não é o detentor total do conhecimento nem deve ser respeitado por sua posição, tendo todas as suas demandas atendidas sem questionamento. Não se sentem intimidados em questionar as autoridades e as regras por

elas estabelecidas. Entendem o líder apenas como mais um componente do grupo que busca atingir determinado objetivo comum. “Esta nova geração não está acostumada a ter que esperar e a lidar com ambientes autoritários. Além disso, não gosta de muitos direcionamentos, mas, ao mesmo tempo, precisa do estímulo, como dos jogos eletrônicos, para que possa reagir ao invés de agir” (MACEDO, 2009). Torna-se, assim, imprescindível suprir as necessidades dessa geração, tendo em vista a grande habilidade que ela possui em resolver problemas. Em contrapartida, a necessidade em ser reconhecida funciona como mola propulsora para criar, desenvolver e mesmo estimular-se para manterem seus empregos. Desta forma, atualmente as empresas não podem apenas vislumbrar o resultado financeiro, muitas vezes com custo baixo e parcos investimentos em atualização e modernização tecnologica. Contar com colaboradores comprometidos da geração Y, tendo em vista seu perfil impaciente e imediatista é desafiador. É preciso fazer com que esses colaboradores sintam-se parte da empresa; que as propostas sejam claras e bem definidas, com objetivos concretos e com reconhecimento rápido e palpável. Esta geração necessita encontrar no ambiente laboral liberdade para expor suas ideias; flexibilização de horários, bem como regras claras e, ao mesmo tempo, flexíveis para que o máximo potencial possa ser explorado pelas empresas. O Evandro, da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, SP, é contabilista, presta serviços na cidade de São Paulo (11) 4304-7406. É casado e tem uma filha. evandroalpha@hotmail.com

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014

Alvorada 71


72 Alvorada

A Revista da Família  nº 78 julho/agosto/setembro, 2014



4 Alvorada

A Revista da Família  nº 65 abril/maio/junho, 2011


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.