A Revista da Família Ano XLII nº 67 OUTUBRO | NOVEMBRO | DEZEMBRO 2011
Consumo colaborativo O escambo do século XXI
Dia Mundial dos Animais
Doar vida
25 de novembro: Dia Nacional da Doação Voluntária de Sangue na IPI de Brasil
É possível desassociar a vida cristã da luta em prol dos direitos dos animais?
Aids
Cristãos são os mais infectados no mundo
Casamento É uma instituição falida? Pra muita gente, não. É um presente de Deus
Família
A ausência do pai na vida do filho
Crer em Jesus
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EDITORIAL
Fazer por Jesus SHEILA DE AMORIM SOUZA
Tudo de bom que recebemos e tudo o que é perfeito vêm do céu, vêm de Deus, o Criador das luzes do céu. Ele não muda, nem varia de posição, o que causaria a escuridão (Tg 1.17).
Reunião com agentes, em São Paulo
No dia 10 de setembro, por iniciativa da Coordenadoria Nacional de Adultos (CNA), tivemos, no Escritório Central, nossa primeira reunião com agentes da revista Alvorada aqui de São Paulo. Essa reunião é fruto de um sonho antigo. O objetivo é conhecer, trocar informações e confraternizar com as pessoas que têm trabalhado na divulgação da revista nas igrejas e fora dela. Acolhemos também propostas e sugestões para melhorar o ttrabalho de divulgação. A CNA está estudo a viabilidade de reallizar estes encontros durante suas visitas aos presbitérios. Neste encontro, conhecemos os agentes Adailza do Prado Abreu (Franco da Rocha), Presb. Walter Molina (1ª de Santo André), Roseli Mello de Souza (3ª de Santo André), Rosimeire Bernini Angelocci de Figueiredo (Vila Sônia), Orlanda Borges da Silva (Vila Aparecida), Ester Maria de Souza (2ª de São Bernardo do Campo) e reencontramos a Presba. Isva Ruth dos Santos (1ª de São Paulo) e a Presba. Noemi Machado (Vila Aparecida). Foi gratificante ouvir os relatos de que a revista tem sido utilizada como instrumento de evangelização. A Roseli compartilhou conosco uma experiência que deixou a todos emocionados. No ano de 2009, ela fez 3 assinaturas da revista e presenteou duas vizinhas não evangélicas. Ao final do período de assinatura, uma das vizinhas se tornou assinante e a outra, que estava de mudança, confidenciou que conheceu a Jesus através da Alvorada e que estava se filiando a uma igreja no bairro onde iria morar. Em meio a um mundo que sofre, devemos estar cientes de que a vida às vezes é difícil, mas Deus é sempre bom. Sejamos cooperadores de Cristo. Só então seremos capazes de encontrar a verdadeira esperança e força para realizarmos com primazia tudo o que ele colocar em nossas mãos. Vamos compartilhar com as pessoas tudo de bom que recebemos do nosso Pai, dando oportunidade para que recebam e respondam ao maravilhoso e misericordioso amor que Deus tem derramado sobre nós. Vamos demonstrar que faz toda a diferença crer em Jesus. Mostremos que seguirmos o seu exemplo de vida pautado no amor, ética, gentileza e cuidado com as pessoas e com toda a criação não é apenas um conceito que pouco mobiliza alguma prática. O Rev. Wanderley de Mattos Júnior nos alerta que "somos convidados a agir pelo outro nas coisas mais simples como, por exemplo, tornar o trânsito um lugar menos hostil, o ambiente de trabalho menos traiçoeiro, os serviços públicos mais dignos, o mundo mais agradável de se viver por meio da prática da misericórdia, da graça e do amor de Cristo, como expressão prática de nossa fé". Então, aí estão nossos valores. Temos mostrado a imagem do filho de Deus em nós? (Rm 8.29) Agradecemos a Deus tudo de bom que temos recebido diante de desafios tão grandes. Somos gratos também a cada um dos agentes, que são instrumentos do Senhor para abençoar vidas. Façamos tudo por Jesus. Boa leitura!
Sheila alvorada@ipib.org
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Reflexão
Expectativa da redenção de toda a criação
Inclusão social
Uma das maneiras de inclusão é através da educação ambiental
Escola Dominical
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O que a Escola Dominical deve ser para a criança
Voz do Coração
Quem continuará nossas igrejas?
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Reflexão
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Dia do Músico
Comportamento
As mudanças tecnológicas e a Pastoral Urbana . As igrejas deveriam investir na formação dos músicos?
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Saúde
Narguilé: os perigos do modismo
Diabetes
Quais as causas e o tratamento para o Diabetes Infantil
A defesa dos animais como cidadania
Gratidão
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Dia de Ação de Graças.No No Brasil, a comemoração foi estabelecida em 1949
Doação
SUMÁRIO
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Dia 25 de novembro: Dia Nacional da Doação Voluntária de Sangue na IPI de Brasil
Reflexão
Como Ana, confie em Deus quando estiver passando por momentos difíceis. Ore e ele te responderá!
Família
Consciência Ecológica
O novo escambo do século XXI: consumo colaborativo. O que é seu também pode ser meu.
Casamento é uma instituição falida? Pra muita gente, não.
Secretaria da Família
A ausência do pai na vida do filho.
Pais e Filhos
Crianças com dificuldades na aprendizagem. Será que ela é hiperativa?
Consciência Negra
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O personagem Cascão contribui para a igualdade racial no Brasil ou reforça a desigualdade e diferença de oportunidade?
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Cristianismo
Islamismo um desafio para a igreja hoje
Protestantismo Poesia sobre a Reforma Protestante
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Estudo
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Dia da Bíblia
Sendo revitalizado por Jesus A Bíblia para o Jovem é o tema deste ano
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Espiritualidade
Crer em Deus no Brasil faz diferença?
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Natal
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Espaço Litúrgico
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Drogas
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Missões
Jesus e as crianças rejeitadas pelos pais e por nós Sugestão para um Natal mais solidário. Árvore de cestas básicas Maconha Por que não legalizar? Avante IPI do Brasil
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Combate a AIDS
Cristãos são os mais infectados pela Aids no mundo.
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Fitoterapia
O uso das plantas
Saúde
Cuidado com a quantidade de sal
Alimentos integrais Mais nutritivos e essenciais para manter a saúde
Pilates
Boa forma e qualidade de vida
Homenagem
Enilde Figueiredo
Alvorada A Revista da Familia
Órgão Oficial da Secretaria Nacional de Forças Leigas da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Registrado, em 7/11/ 1974, no Instituto Nacional de Propriedade Industrial sob o n° 289 - CNPJ n° 62.815.279/0001-19 - Fundada em 3/2/1968 por Rev. Francisco de Morais, Maria Clemência Mourão Cintra Damlão, Isollna de Magalhães Venosa. Ministério da Comunicação: Fabricio Guilherme. Secretário da Família: Rev. Alex Sandro. Coordenadoria Nacional de Adultos: Ione Rodrigues Martins e Odair Martins. Coordenadoria Nacional do Umpismo: André Lima. Editora: Sheila de Amorim Souza. Revisor: Rev. Gerson Correia de Lacerda. Arte e Diagramação: Seiva D’Artes. Foto capa: vibe images_fotolia.com. Fotos e ilustrações: Fotolia, stock.xchng e Éber Evangelista. Colaboraram nesta edição: Wanderlei de Mattos Júnior, Odair Martins, Ezequiel Luz, Evandro Rodrigues, Dulce Vieira Franco de Souza, Alex Sandro dos Santos, Lidia Sendin, Noemi Machado Alves, Wesley Zinek, Ari Botelho, Claudete Niel de Castro, Sandra Regina M. Vilhagra Faria, Fabiana Lopes de Souza, Fernanda Laurides R. O. Lomeu, Douglas A. dos Santos, Vinicius Silva de Lima, André Tadeu de Oliveira, Fernando Hessel, Ruth Bremgartner Alencar Neto, Rosana S. Salabai, Ruth Campos, Vera Roberto, Evandro Lucchini, César Anunciação, Thiago Gigo Pereira, Jonas P. Souza, Allison de Carvalho, Cibele Montosa, Viviane Marques S. Gomes, Priscila Luz, Gabriela Spósito Souza e Elisângela da Silveira Lopes. Redação: e-mail alvorada@ipib.org - Fone: (11) 2596-1903. Assinaturas na Editora Pendão Real - Rua da Consolação, 2121 -CEP 01301-100 - São Paulo/SP Fone/Fax (11) 3105-7773 - E-mail: atendimento@pendaoreal.com.br. Assinatura anual Individual (4 edições): R$37,00, acima de 10 assinantes R$ 33,00, para receber através do (a) agente ou R$ 55,00, para receber em casa. Número avulso: R$ 9,50. Depósito no Banco Bradesco - Agência 095-7 - Conta Corrente 174.872-6. Tiragem: 2500 exemplares. Os artigos assinados não representam necessariamente a opinião da revista. Permitida a reprodução de matéria aqui publicada, desde que citada a fonte.
REFLEXÃO
A expectativa
da criação EZEQUIEL LUZ
“Sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora” (Rm 8.22). Tivemos dias de frio intenso neste ano. Em nossa região, a temperatura despencou provocando uma sensação térmica há muito tempo não percebida. O inverno tem o seu charme. Quando se reúnem, as pessoas ficam mais próximas umas das outras. Pode ser em volta de uma mesa com a família ou amigos apreciando um bom vinho; pode ser em volta de uma fogueira com o chimarrão correndo de mão em mão. Nessas ocasiões, há muita história,
muito causo, muita conversa, muito aconchego, muitas gargalhadas. Além disso, as pessoas ficam mais elegantes com roupas de inverno. Mas o verão também tem suas peculiaridades. Céu azul, calor, nuvens brancas. Muitos preferem esta estação por terem a água como aliada. Podem lavar as mãos, o rosto, jogá-la pra cima, tomar vários banhos ou ir à praia. Assim também são as outras estações: o outono com seus frutos e a primavera com suas lindas flores. No entanto, nada existe de mais agradável do que viver intensamente os dias que o Senhor nos concede, seja no inverno, verão, outono ou primavera. Cada dia é um presente, uma dá-
diva, uma maravilha que Deus concede aos seus filhos. Sabemos que, junto com a beleza da criação, há muito sofrimento e dor. Há muita violência, atos desumanos, muita poluição no ar, nos rios, muito desmatamento, muita destruição causada pelo ser humano. Também a natureza geme e sofre como nós sofremos. Ela aguarda com paciência e esperança o futuro de Deus. Nós também aguardarmos o estabelecimento definitivo do Reino de Deus, quando todos os espinhos, todas as ervas daninhas, todo o pecado, toda corrupção, toda lágrima, morte, tristeza desaparecerão. Participaremos, então, da libertação gloriosa que Deus iniciou com seu filho Jesus Cristo. Hoje, toda a criação geme, sofre. Por esta razão precisamos fazer diferença no ambiente em que estamos inseridos, utilizando cada vez mais o amor, a bondade, a solidariedade, o gesto de carinho e amizade para com o próximo; adotando medidas eficientes para economizar água, energia, combustível; agindo com sabedoria em relação ao lixo que produzimos; participando ativamente de movimentos que lutam pela preservação das nossas florestas. Isso é ter os olhos no futuro de Deus e os pés no chão, é esperar a nossa redenção e agir como cidadão consciente e responsável. O dia de hoje é passageiro. Pode estar calor, frio ou chovendo. Devemos aproveitar bem o dia que Deus nos dá, testemunhando sobre o Reino de Deus. A cada dia, com palavras e gestos, devemos anunciar a expectativa da redenção de toda a criação. Soli Deo Gloria O Rev. Ezequiel é pastor da Congregação Presbiterial de Dourados, MS
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INCLUSÃO SOCIAL
DE 3 DEZEMBRO
CIONAL DIA INTERNA ORES DOS PORTAD IA DE DEFICIÊNC FÍSICA
Educação ambiental inclusiva REV. VINICIUS SILVA DE LIMA
A inclusão social é uma expressão bastante usada hoje em dia que denota a construção de uma sociedade para todas as pessoas, mesmo diante de diferenças físicas, intelectuais ou comportamentais. Se, portanto, a expressão existe é porque a sociedade vive uma realidade de exclusão, onde algumas pessoas não usufruem seus direitos como cidadãos de maneira plena. Isso é particularmente verdade para as pessoas com deficiência (mental, visual, auditiva ou motora). No contexto da igreja evangélica, a situação não é diferente. Embora existam experiências onde a deficiência é lembrada na construção dos templos (como a elaboração de rampas de acesso a cadeirantes ou o uso de linguagem de sinais em eventos), ainda não é comum a presença de pessoas com deficiência nas comunidades. A igreja, de alguma forma, acompanha a sociedade 4 Alvorada
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no que diz respeito à dificuldade de inclusão. Segundo dados do IBGE, cerca de 14% da população brasileira é constituída por pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. Mas, apesar da suposta “diferença” em relação à maioria da população, essas pessoas devem ter assegurados seus direitos fundamentais, como saúde, educação, trabalho e lazer. Devem ser concedidas, ainda, iguais oportunidades de participação social, segundo suas capacidades. Ao considerar, então, a distância entre os direitos formalizados de uma minoria da população e a real efetivação desses direitos, criou-se o movimento de inclusão social. De acordo com Romeu Sassaki, uma das referências em inclusão social no Brasil, a sociedade, em todas as culturas, atravessou diversas fases no que se refere às práticas sociais. Ela começou praticando a exclusão social de pessoas que, por causa das condições atípicas, não lhe
Mãos a obra Como é possível perceber, a educação ambiental e a inclusão social estão bem próximas. Deste diálogo, pode-se extrair a educação ambiental inclusiva, cujo propósito é utilizar práticas educativas baseadas na perspectiva socioambiental para promover a inclusão de minorias da população na sociedade a que pertencem. Ela é um novo conceito que se estabelece no contexto ambiental, a partir do qual se visualiza no sujeito as possibilidades inerentes a ele, em uma ampla valorização da vida humana. Nesse sentido, diferentes estudos têm apontado para a influência positiva do contato com a natureza para a saúde física e mental das pessoas, desenvolvendo uma maior coordenação motora, melhor capacidade de
concentração e diminuição do estresse causado pelo fluxo intenso das grandes cidades. Assim, a educação ambiental pode, através de exercícios físicos, recreação, práticas de jardinagem e contemplação da natureza, promover a auto-estima, a serenidade e a socialização de pessoas com deficiência, além de contribuir para a formação de indivíduos com valores sociais, conhecimentos, habilidades e atitudes voltadas para a conservação e uso sustentável do ambiente natural. Uma ação possível de ser realizada na perspectiva da educação ambiental inclusiva é integrar alunos e professores de uma escola regular com alunos e professores de uma escola especializada (como a APAE, por exemplo), em atividades de educação ambiental. A mesma situação pode acontecer na igreja. Com essa integração, espontaneamente
ocorrerá troca de conhecimentos e habilidades entre as duas realidades, além da quebra de preconceitos. Nesse sentido, podem ser elaboradas trilhas, práticas agroecológicas em hortas, jardins ou pátios, ações ambientais na comunidade (como a limpeza e arborização de uma praça pública) e atividades lúdicas ao ar livre. Para que essa ação, porém, resulte em inclusão efetiva, ela deve ser realizada dentro de um programa continuado, onde a escola ou a igreja se proponham a, verdadeiramente, incluir pessoas com deficiência. O caminho para a educação ambiental inclusiva está aberto. Com dedicação e respeito às diferenças, todos os desafios poderão ser transpostos para que a sociedade passe a desfrutar de situações onde a justiça social e a sustentabilidade ambiental sejam uma realidade.
Segundo dados do IBGE, cerca de 14% da população brasileira é constituída por pessoas que apresentam algum tipo de deficiência. pareciam pertencer à maioria da população. Em seguida, desenvolveu o atendimento segregado dentro de instituições; passou para a prática da integração social; e, recentemente, adotou a filosofia da inclusão social para modificar os sistemas sociais gerais. A dificuldade de inclusão de pessoas com deficiência na sociedade, porém, é uma realidade. E não está ligada à falta de legislação. Ela, na verdade, está relacionada à prática cultural de uma sociedade que, aparentemente, não sabe lidar com pessoas consideradas “diferentes”. Apesar de muitos evidenciarem falta de preparo adequado para trabalhar ou se relacionar com pessoas com deficiência, a inclusão continua sendo uma necessidade e, com certeza, uma pos-
sibilidade. Uma das maneiras dessa inclusão acontecer é através do diálogo com a educação ambiental, que tem como pressuposto a valorização da vida em todas as suas formas. Além disso, ela percebe que a base das relações é a diversidade, vista na própria realidade do meio ambiente. Nessa perspectiva, a sociedade deve ser um espaço de completa participação social e de inclusão das diferenças. A educação ambiental, portanto, faz parte de um processo de mudanças, onde novos paradigmas podem ser incorporados à sociedade. É interessante notar que, embora esse tema esteja presente nos principais tratados internacionais de educação ambiental como a Carta da A Revista da Família
Terra e o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, ele é ainda pouco trabalhado nos projetos de educação ambiental. Nesse caminho, recentemente, a Carta da Praia Vermelha, fruto do VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental (REBEA, 2009), exigiu dos governantes “a promoção do diálogo entre a educação ambiental e a diversidade, garantindo espaços de participação e decisão efetivas às pessoas com deficiência, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, pequenos agricultores e outros atores em condições sociais vulneráveis”. O Rev. Vinicius, educador, é pastor da IPI de Viamão, RS
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CONSCIENCIA ECOLÓGICA
O escambo do século XXI Consumo colaborativo: uma alternativa para o consumismo sem limites e a degradação do meio ambiente FABIANA LOPES DE SOUZA
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Desde o pecado de Adão e Eva, o ser humano traz consigo a cobiça e a obstinação por acumular riquezas e por fazer do verbo “ter” o sinônimo do verbo “ser”. Esse desejo humano não é novo e é tratado diversas vezes na Bíblia, porém, entre as muitas transformações já vividas pela sociedade, vivemos hoje o ápice da cultura do consumo, inserida em um mundo capitalista totalmente voltada para o eu e que, por muitas vezes, ignora a responsabilidade sustentável. O Rev. Ricardo Agreste, da Comunidade Presbiteriana Chácara Primavera, em Campinas, fala com propriedade sobre esse cenário em que estamos inseridos. Na série "Uma Igreja na Cidade, implicações na ecologia", ministrada em sua igreja no dia 17/7/2011, ele lembra que, como cristãos, é preciso encarar essa realidade com maior preocupação e responsabilidade, já que, quanto mais se consome, mais se degrada o meio ambiente. “Assim como Deus criador produziu por seis dias e descansou no sétimo, ele convida o ser humano a ter limite na produção. Se as indústrias não trabalhassem 24 horas por dia, nós teríamos um ambiente mais equilibrado, consumiríamos menos energia e teríamos menos rios poluídos”, diz. Segundo ele, em Êxodo 23.10, a palavra de Deus deixa claro que é necessário limitar a demanda e a produção: “Plantem e colham em sua terra durante seis anos, mas, no sétimo, deixem-na descansar, sem cultivá-la”, disse. Neste contexto, já há algumas alternativas para aqueles que se preocupam com essa demanda e produção crescente, e com a finitude dos recursos naturais. Uma das novidades é o consumo colaborativo, tendência na Europa e modelo que começa, ainda que devagar, a chegar aqui ao Brasil.
O que é seu também pode ser meu No consumo colaborativo, o objetivo é evitar a produção de novos itens. O conceito parece remontar à época em que a moeda não existia e que o escambo era um dos caminhos para consumir. Neste caso, no entanto, os traços do passado somam-se à tecnologia do presente, que é a sustentação desse modelo, já que, lá fora, há diversos sites que intermediam a troca ou aluguel de produtos, ao invés da venda. Nos Estados Unidos e, principalmente, na Europa, já há muito sites que intermediam esses negócios e o fazem seguros com o pagamento de uma taxa de administração. No Brasil, também já há iniciativas como essa e, em junho, foi lançado no País o site DescolaAí.com, uma plataforma voltada especificamente para o consumo colaborativo. O criador do site, Guilherme Brammer, já trabalhava com transformação de resíduos, mas percebeu que, além de tratar do problema da expansão do lixo, poderia tratar a causa deste problema: o consumo em constante crescimento. Há um mês no ar, o site já tem 2.000 usuários e a expectativa, segundo Brammer, é terminar o ano de 2012 com 100 mil usuários. “Tenho certeza que o consumo colaborativo virará tendência no mundo e no Brasil
e que grandes empresas perceberão que consumir colaborativamente é muito inteligente”, disse ele à reportagem da Revista Alvorada. O conceito de consumo colaborativo, de acordo com Brammer, surgiu em 2000, mas ganhou muita força em 2008 com a crise econômica, quando os países que mais sofreram com a recessão começaram a repensar o modelo de consumo atual. “Muitas pessoas perderam suas casas e, na mudança, tinham containers de tranqueiras que nunca usaram. Aí vinha a pergunta: Será que precisava mesmo ter consumido dessa forma?”, explica. Em entrevista à Revista Alvorada, Fábio Mariano Borges, professor da Pós-Graduação em Ciências do Consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), diz ainda que, na Europa, o consumo colaborativo é aceito mais facilmente, principalmente porque há muitos países que passaram por guerras e aprenderam a lidar com a escassez e com o não desperdício. “Em Paris, na Suécia e na Noruega, por exemplo, eles instituíram o consumo colaborativo de bicicletas e já há estudos para o consumo colaborativo de carros”, explica. No caso das bicicletas, há pontos da cidade em que há diversas delas presas em estruturas de
Como funciona? Imagine que você tenha um livro que não use mais, porém está precisando de outro livro que ainda não possui. No consumo colaborativo, você pode trocar o livro antigo pelo livro que deseja.
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metal. O usuário passa seu cartão de crédito e paga uma taxa simbólica como garantia da devolução do veículo. Pode, então, ficar com ela por um período pré-determinado e devolver em outros pontos da cidade. Ou seja, não é preciso comprar uma bicicleta para poder usufruir dela. Aqui no Brasil, porém, além da questão cultural, o professor acredita que seja difícil instituir alguns modelos de consumo colaborativo também por conta do tamanho das cidades. Por outro lado, pequenos itens podem ser trocados com facilidade, sem gerar grandes problemas. No DescolaAí.com, por exemplo, o item mais trocado, por enquanto é livro. Parece uma volta ao passado, mas é, na verdade, uma iniciativa para construir um futuro melhor. “A questão é que passamos alguns anos cegos, achando que os recursos naturais não se esgotariam, e criamos um conceito de consumo distorcido. No passado, nossos avós compravam quando necessário e muitas vezes trocavam ou emprestavam dos vizinhos. Não defendemos a volta ao passado e o abrir mão de tecnologia, mas, sim, o uso da tecnologia a nosso favor”, diz Brammer. O consumo colaborativo, portanto, permite o acesso ao produto e não necessariamente a posse deste.
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Produção em escala, destruição em série O assunto é muito sério e deve ser trazido para dentro da igreja. O Rev. Ricardo Agreste alerta para a responsabilidade dos cristãos em relação a esse assunto. Ele lembra que, já no primeiro capítulo de Gênesis, no versículo 28, Deus entrega a sua criação ao ser humano quando diz: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a terra, e sujeitai-a; e dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra”. Portanto, Deus colocou o ser humano como grande responsável por cuidar do seu jardim, mas não nos ordenou que fizéssemos desse espaço o que bem entendêssemos. Nosso papel, segundo Agreste, é o de sermos mordomos da criação. “O mordomo lida com a casa da melhor maneira possível, porém, com a consciência de que a casa não é dele. O universo também não é nosso. É do Deus criador. E Ele nos deu a responsabilidade de cuidar bem desse espaço”, exemplifica. A grande questão é que, dentro da sociedade de consumo, está sendo impossível manter o jardim em bom estado. Cada novo produto consumido por nós carrega consigo um ciclo de produção e distribuição que tem impacto diretamente sobre o meio ambiente. Para fazer uma
televisão, por exemplo, são necessários diversos componentes que são trazidos da natureza. Depois, o processo de transformação e montagem do produto exige alto consumo de energia e produz uma série de resíduos industriais nem sempre descartados da melhor maneira possível. Então, a televisão é colocada entre isopores em um caixa de papelão e transportada por quilômetros, enquanto mais gás carbônico é jogado na atmosfera. Ela chega à sua casa e você, novamente, produz mais resíduos, jogando o papelão e o isopor no lixo. Além disso, daqui uns anos, quando esse mesmo aparelho não funcionar mais, ainda será preciso resolver mais um problema: como descartar esse tipo de lixo que tem muitos componentes tóxicos em sua estrutura? Não haveria problema algum nesse ciclo, se ele não se tornasse cada vez maior e se mostrasse cada vez menos sustentável. Para se ter uma idéia, somente no pólo industrial de Manaus, segundo dados da Superintendência da Zona Franca de Manaus, de 2007 a 2010, o números de televisores LCD produzidos subiu quase 1.000%, passando de 803,5 mil para 8,1 bilhões, sem contar os outros tipos de aparelhos.
Nosso papel é o de sermos mordomos da criação. O mordomo lida com a casa da melhor maneira possível, porém, com a consciência de que a casa não é dele.
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Frustrar a Deus ou sustentar o plano da criação? A questão é que, além de destruir os recursos que sustentam a vida, o ser humano também está destruindo o plano original de Deus. O Rev. Ricardo Agreste lembra que, no Apocalipse, fica claro que, no projeto redentor do Deus Criador, a natureza também é alvo de seu cuidado. “No último livro da Bíblia, a natureza volta a usufruir de uma relação perfeita com o Criador, que foi destituída por
Adão e Eva”, diz, lembrando, portanto, que aqueles que afirmam ser Deus o criador dos céus e da Terra devem também assumir a responsabilidade de cuidar de seu jardim. Fazer isso implica em apagar a luz desnecessária, não desperdiçar água, reciclar o lixo e também minimizar o impacto do consumo no meio ambiente, conscientizando-se de que os recursos naturais não são infinitos. Mais
do que isso, é preciso ter sempre em mente que a natureza é parte integrante e crucial do plano da criação. Por enquanto, porém, o ser humano está à frente de um fluxo de consumo e irresponsabilidade que frustra todos os dias o desejo inicial de Deus para com o universo. É preciso, então, parar para pensar: estamos decepcionando o Criador ou sustentando a sua obra? A Fabiana é jornalista
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COMPORTAMENTO
DE 5 OUTUBRO
DIA MUNDIAL DOS
Elaine Tan
ANIMAIS
Os animais, companhe ANDRÉ TADEU DE OLIVEIRA
“O justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Pv 12.10).
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A Alvorada relembra, entre outras importantes datas, o Dia Mundial dos Animais. Haverá motivo para nós, seres humanos, comemorarmos esse dia? Será que estes companheiros de criação estão sendo respeitados? Uma breve análise no mercado pet,
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termo que designa a vasta gama de produtos direcionados aos animais, transmite a falsa impressão de que os animais não humanos atingiram uma expectativa de vida caracterizada pela dignidade. A gama oferecida por este mercado é vastíssima, indo desde o essencial, como alimentação, até itens que não possuem nenhuma
Defesa dos animais como cidadania Além do aspecto religioso, o engajamento na luta pelo direito dos animais reflete a consciência de uma cidadania plena. Para que nosso planeta sobreviva, todo o ecossistema deve ser preservado. Os animais, como integrantes do mesmo ecossistema, necessitam ser contemplados com políticas de defesa pública. Tal afirmação encontra consonância nas próprias leis brasileiras. Desde 1934, os animais encontram amparo na legislação nacional. Durante o governo do presidente Getúlio Vargas, foi promulgado o seguinte decreto: “Todos os animais existentes no país são tutelados pelo estado”. A atual Constituição Federal Brasileira, em seu artigo 225, afirma que é dever do estado proteger o meio ambiente. Para a real aplicação da lei, penalidades são previstas em caso de desobediência a este artigo contido na carta magna nacional. Portanto, qualquer mau trato aos animais deve ser considerado uma agressão à própria natureza. Em 1998, foi aprovada a lei fe-
deral de número 9.065 que, em seu artigo 32, qualifica como crime ambiental qualquer mau trato cometido contra os animais. Nos dias atuais, vários estados da federação estão implantando leis direcionadas à questão dos direitos dos animais. Não obstante os claros avanços legislativos, a notória impunidade existente no Brasil impede a aplicação de penalidades aos infratores. Casos não faltam. Cruéis “tradições culturais”, como a vaquejada, na região Nordeste, e a farra do boi, em Santa Catarina, assim como os grandes rodeios que marcam presença em importantes cidades de nosso interior, demonstram que os animais ainda se encontram desprotegidos no Brasil. Junto com estes deploráveis acontecimentos, somamos a crueldade existente no cotidiano de nossas cidades Visando defender animais abandonados nos grandes centros, inúmeras associações surgem em todo território brasileiro. É o caso do “Projeto Anjos
iros na criação divina vinculação com a natureza do animal, como hidratações capilares, sessões de ofuro e outras extravagâncias similares. De acordo com especialistas em medicina veterinária, esse tipo de comportamento, além de ser responsável por gastos excessivos por parte do dono, acaba criando graves transtornos no animal. “Logicamente
os animais não precisam, e nem gostam, de tudo que é lançado. Quem gosta são seus tutores que, por um forte consumismo e desejo de agradar aos próprios caprichos, prejudicando o bem-estar do próprio animal, gastam quantias enormes de dinheiro. Muitas vezes tais quantias são absolutamente desnecessárias em relação A Revista da Família
à saúde e ao bem-estar do animal”, afirma Fernanda Beda, médica veterinária formada pela Unifesp, ativista da causa ambiental e diaconisa da 1ª IPI de São Paulo. Assim, torna-se claro que determinados mimos não possuem como causa primária a qualidade de vida do animal, mas apenas a satisfação da pessoa que o tem
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US$
1.5 bihão
Segundo dados fornecidos pela Associação de Produtos e Prestadores de Serviço ao Animal, itens direcionados aos chamados animais caseiros, como cachorros, gatos, pássaros e peixes, experimentam, desde 1995, um crescimento em torno de 17%, concedendo um faturamento de aproximadamente US$ 1.5 bilhão às principais indústrias do ramo. Não obstante, parcela significativa desse mercado não busca proporcionar uma melhor qualidade de vida aos bichinhos de estimação, mas visa, na maioria das vezes, garantir excelentes lucros aos grupos atuantes no mercado.
de Bigodes”, que tem como área de atuação a região leste da capital paulista. Organizado no final de 2010, foi idealizado por Rita Angélica Steter e Eliana Weber. Mesmo com pouca idade, muito já foi realizado pelo Projeto Anjos de Bigode. Através de uma página na internet, notícias a respeito da situação dos animais são divulgadas diariamente. Contudo, o grande diferencial do site encontra-se na publicação de denúncias enviadas pelos próprios visitantes. “Da violência ao abandono, qualquer pessoa pode enviar uma foto e um texto. Fazemos questão de publicar todo o material que nos é enviado. É uma forma de engajar nosso público na questão da defesa animal”, afirma Rita Steter. No mesmo portal, há espaço para artigos educativos, tendo como meta conscientizar o maior número de pessoas em questões referentes aos direitos dos animais. De acordo com Eliana Weber, a simples existência de leis não é capaz de proporcionar proteção aos animais, estejam nas ruas ou até mesmo em confortáveis residências: “Mesmo que existam leis de proteção aos animais, que em nosso país são insuficientes, casos gritantes de crueldade estão acontecendo. Portanto, projetos como o nosso são fundamentais”, conclui a ativista. Além da campanha virtual, o “Projeto Anjos de Bigode” abriga aproximadamente 45 animais
Rita e Lia, ativistas do Projeto Anjos de Bigode
Mesmo que existam leis de proteção aos animais, que em nosso país são insuficientes, casos gritantes de crueldade estão acontecendo.
Projeto Anjos de Bigode:
http://anjosdebigode.wordpress.com/tag/projeto-anjos-de-bigode sob seus cuidados. Em uma sociedade marcada pelo individualismo, os animais, muitas vezes, estão servindo como válvula de escape para atenuar a própria incapacidade humana em estabelecer relacionamentos sérios, responsáveis e duradouros com outras pessoas. Obviamente o animal deve ser tratado com todo amor e carinho, mas nunca pode ser confundido com outro ser humano. Tal
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distinção é fundamental, não apenas para o bom andamento da vida humana, mas para o equilíbrio emocional do próprio animal. Segundo Fernanda Beda, um comportamento excessivamente paternalista por parte do dono pode marcar, negativamente, o animal por toda sua vida. “Tutores que costumam mimar em excesso seus animais acabam prejudicando-os. Estes sofrem muito quando ficam sozinhos e alguns chegam a adoecer quando
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ficam longas horas sem ver os seus donos. Os animais devem e merecem todo o nosso amor e proteção, mas devemos sempre mostrar que eles têm o cantinho deles, devendo haver limites quando são filhotes. Caso contrário, na idade adulta, terão se habituado a diversas práticas tais como: só comer quando o dono estiver perto, rasgar coisas para chamar atenção, adquirindo, em muitos casos, uma patologia chamada Alergia Psicossomática,
CARTAS A revista está ótima. E que bom ver o texto da gente assim tão bem tratado... Claudete Niel Castro, São Paulo, SP
Lolita, cadelinha resgatada pelo "Projeto Anjos de Bigode". Faleceu recentemente
abandonados, entre gatos e cachorros. Devidamente alimentados e assistidos por um veterinário, encontraram um lar marcado pelo amor e respeito. Segundo Rita Steter, todos foram vítimas de atrozes crueldades: “Além do abandono, que já é traumatizante para o animal, vários foram vitimas de violência física, emocional e, até mesmo, abuso sexual”, relata Rita. O projeto tem alvos ambiciosos; além da mudança da sede para uma chácara, a fim de melhor acomodar os animais, a criação de um hospital veterinário é um sonho acalentado, dependendo do apoio de colaboradores sistemáticos. Será que, após tantas evidências, é possível desassociar a vida cristã da luta em prol dos direitos dos animais? Acreditamos que não. Portanto, saibamos conviver, de forma saudável, com nossos irmãos animais. Também não hesitemos em defendê-los de todo tipo de atrocidade. Esta é a vontade de Deus.
Muito obrigada por enviar um exemplar da nova edição da revista Alvorada. Está melhor ainda do que a outra. Que bom poder ler material de irmãos em Cristo que não são batistas. Vemos que em Cristo somos realmente um! Aprecio como a IPI é uma comunidade aberta aos problemas sociais do Brasil e não está fechada em si mesma, buscando apenas o seu crescimento interno, porém, está cumprindo seu chamado de alimentar e vestir o pobre. Gostei muito da matéria sobre “O recanto”. Uma das coisas mais preciosas de ser cristão é o compartilhar as bênçãos com os irmãos e outros ao redor, e usar nossos bens para o serviço do Senhor. A matéria sobre relacionamento familiar veio ao encontro dos problemas que tenho vivido aqui em casa. A abordagem da entrega total do crente é espetacular. Ainda não acabei de ler a revista, mas está sendo um grande prazer ter esse material rico e abundante, um deleite para o coração, transbordando a bondade, o amor e a santidade dos irmãos presbiterianos. Muito obrigada. Um abraço. Ruth B. A. Netto, Brasília, DF
NA MÃO DE DEUS LÍDIA SENDIN
onde o animal coça-se e, muitas vezes, chega a ferir-se apenas para ter a atenção de seu dono. Uma relação saudável é aquela de muito amor, mas com limites para o bem-estar de ambos”, afirma a veterinária paulistana. O André, membro da 1ª IPI de São Paulo, é jornalista e formado em teologia. Atualmente, encontra-se em período de estágio na IPI do Parque Ipê e Congregação do Jardim Santa Fé, visando à licenciatura e posterior ordenação ao ministério
Por minha vez, Na tua mão, O sim, o não, Ou um talvez, Deixo Senhor, Buscando paz. Procuro a esmo, O meu caminho, Como se sozinho E por mim mesmo, Sem teu favor, Fosse eu capaz. A Revista da Família
Descubro assim Que a esperança E a confiança Não estão em mim, Mas no amor Que só Deus traz. A Lídia é membro da IPI de Piracicaba, SP
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ESPIRITUALIDADE Entre quase 19.000 pessoas, em 23 países, 51% dos entrevistados acreditam na existência de uma divindade, contra 18% que não acreditam e 17% que não têm certeza.
Crer em Deus
no Brasil faz alguma diferença? WANDERLEY DE MATTOS JÚNIOR
Segundo pesquisa feita pelo Instituto Ipsos e divulgada pela agência de notícias Reuters, o Brasil ocupa o 3° lugar dentre os países que acreditam na existência de Deus ou de um Ser Supremo. Em 1° lugar está a Indonésia, com 93% dos entrevistados, seguido pela Turquia, com 91%, e o Brasil, com 84% dos pesquisados. O instituto de pesquisa ouviu quase 19.000 pessoas em 23 países, concluindo que 51% dos entrevistados acreditam na existência de uma divindade, contra 18% que não acreditam e 17% que não têm certeza. Outro ponto levantado pela pesquisa é que, em todo o mundo, 28% se definiram como criacionistas, ou seja, crêem que os seres humanos foram criados por Deus e não por um processo evolutivo das espécies. E, nesta categoria, o Bra14 Alvorada
sil está em 5º lugar, com 47% dos entrevistados. Em contrapartida, apesar de o Brasil ser um país notadamente religioso, tem aumentado o número de cristãos evangélicos que preferem não ter conexão formal com igrejas ou freqüentam várias igrejas sem vincular-se a nenhuma delas. Segundo matéria publicada pela Folha de São Paulo, a pesquisa feita pela Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE revela que, “entre 2003 e 2009, a fatia de fiéis que dizem não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%” – o que corresponde a mais de 4 milhões de pessoas que reforçam o crescente processo de desinstitucionalização da fé – um fenômeno cunhado pela socióloga britânica Grace Davie com o termo “believing without belonging” (crer sem pertencer), para explicar o esvaziamento das igrejas que ocorre na Europa Ocidental, ao mesmo tempo em
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que se mantêm as crenças religiosas, complementa a matéria. As duas pesquisas nos oferecem um retrato de boa parte da sociedade brasileira em sua expressão de fé em Deus: a maioria crê, mas... e daí? Para a grande maioria das pessoas, crer em Deus é antes uma questão conceitual em vez de prática, ou seja, elas admitem que têm um pacote de crenças que pode ou não fazer com que se agreguem a outros que possuem o mesmo pacote, sendo que tal pacote pouco influencia na sua forma de se portar em sociedade,
num sentido mais abrangente que o meramente individual. Por outro lado, não é incomum encontrar pessoas que vivem na mais absoluta pobreza e que, ainda assim, são capazes de afirmar que estão vivas, “graças a Deus”, ou que, “enquanto Deus der forças”, seguirão vivendo, o que revela uma esperança e fé arraigada num Deus que, de alguma forma, cuida delas, mesmo que lhes falte instrução formal ou experiência de conversão. Nesse sentido, crer em Deus faz, sim, muita diferença, pois caracteriza nosso povo como
um povo esperançoso e otimista, em vez de pessimista. Entretanto, focando nas camadas com instrução formal, a crença na existência de Deus é basicamente conceitual – não altera tanto a prática, nem garante uma ética ilibada. Prova disso, no campo político, é a bancada evangélica brasileira, uma das maiores vergonhas nacionais, pois se intitula evangélica – o que, teoricamente, significaria ser cristã em suas práticas e propostas – mas a realidade de suas ações comumente aponta para outra direção. Portanto, no Brasil (e fora, também) crer
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O IBGE revela que, entre 2003 e 2009, a fatia de fiéis que dizem não ter vínculo institucional saltou de 4% para 14%” – o que corresponde a mais de 4 milhões de pessoas sem igreja
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em Deus pode não representar uma grande diferença na ética, na política, no trânsito, no trato com o outro, no comércio, na justiça. Tudo isso porque esse crer quase sempre deságua na religião apenas e por lá permanece. E, enquanto religião, cada um busca cumprir os ritos da sua, seguir o manual, afugentar a culpa, livrarse dos problemas e ter algum tipo de resultado, seja ele financeiro, psicológico, emocional e/ou, claro, espiritual. Assim, via de regra, a relação que se estabelece entre o crer e o fazer é bem individual: busco a Deus, cumpro os rituais, agrego-me – ou não – aos que crêem como eu (numa igreja), alimento-me do ensino que me
garanta qualidade de vida e sigo vivendo como o centro de minha religiosidade. Pouco, muito pouco, é direcionado ao coletivo fora do grupo de fé, seja do ponto de vista social, político, econômico ou ambiental. A pesquisa mostrou que o Brasil é um dos países em que grande parte da população crê num Deus criador. Apesar disso, o fato de crer que Deus criou o mundo e o ser humano quase não mobiliza os que assim crêem no sentido de defender e preservar a criação de maneira ativa e engajada. Mas o conceito do Deus Criador, sim. Este é largamente defendido. Criacionistas atacam veementemente
os evolucionistas, mas raramente vemos criacionistas envolvidos em projetos ou grupos de defesa do meio ambiente, protestando contra as emissões de CO2 na atmosfera, defendendo a causa de animais que correm risco de extinção ou tendo uma atitude consciente e concreta em relação à reciclagem de lixo e baixa emissão de poluentes. Na prática, deixam essa parte para os evolucionistas. De fato, os evolucionistas fazem o trabalho que os criacionistas deveriam fazer, pois a crença no Deus Criador é apenas um conceito que pouco mobiliza alguma prática. Novamente, um crer que não desemboca em ação que visa ao coletivo.
Cresce o número dos sem igreja Por fim, a pesquisa mostra o crescimento daqueles que não querem se vincular a uma instituição religiosa, mas que também não abrem mão de sua fé. Isso pode se dar por vários motivos: discordância doutrinária, desejo de liberdade, desconfiança da manipulação institucional, não importa. O que importa é o que isso revela: a crescente desvalorização do vínculo institucional. Tal fenômeno pode ser facilmente observado em nossas igrejas. Crer sem pertencer e crer sem transformar parece serem as palavras de ordem da religiosidade individualizada e autoconstruída dos nossos tempos. To-
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davia, parece que, em alguns desses grupos que preferem o isolamento religioso, reside um sentimento de alienação da igreja institucionalizada frente às reais necessidades do mundo que tal igreja não atende por estar demasiado envolvida consigo mesma. Daí, distinguem-se dois grupos: os profundamente engajados na fé, porém críticos da instituição religiosa formal, e os adeptos à desvinculação religiosa por pura falta de profundidade em sua relação com Deus. No meio de toda essa avalanche de pensamentos, condições, posturas, opiniões e práticas religiosas encontra-se a igre-
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ja local que tem de, ao mesmo tempo, lidar com suas questões internas e com a crescente mudança no comportamento religioso do país, que a atinge de cheio, qualquer que seja o tamanho de sua membresia, lançando sobre ela e sua liderança, novos desafios. Um dos pontos positivos das mudanças do nosso tempo é a autenticidade. Foi-se o tempo das aparências. Ninguém mais vai à igreja para manter aparências. Vai porque quer. Vai se gosta. Vai se vale a pena. E, se não valer, vai para outra ou simplesmente deixa de ir. Isso gera um vínculo muito mais frágil com a instituição, para desespe-
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ro de sua liderança. Por outro lado, o sentimento de liberdade cresce e isso não precisa ser totalmente ruim, pois a liberdade chama à responsabilidade pessoal. Não creio que seja papel da igreja segurar as pessoas lá dentro a todo custo. Jesus várias vezes disse aos seus seguidores que poderiam ir embora quando quisessem. Quanto mais livre as pessoas se sentirem para ir e vir, mais alegria terão em permanecer onde sabem que estão por vontade e não por pressão ou coação. O papel da igreja é ensinar as pessoas a amarem a Deus e ao próximo, e a se virarem lá fora, ajudando na construção de um mundo
Mais importante do que vir ou não à igreja é saber se estão de fato vivendo uma espiritualidade cristã autêntica e transformadora ou meramente uma religiosidade ritualística e individualista que não gera nada de bom para a sociedade.
melhor que reflita, de maneira prática, a fé que têm em Deus. Nesse sentido, mais importante do que vir ou não à igreja é saber se estão de fato vivendo uma espiritualidade cristã autêntica e transformadora ou meramente uma religiosidade ritualística e individualista que não gera nada de bom para a sociedade.
O mundo mudou!
E é preciso que a igreja se dê conta disso. Pode ser uma grande oportunidade para a igreja ensinar seus membros a lutarem e defenderem a criação de Deus, reciclando o lixo ou fazendo protestos contra uma fábrica que
polua o ar, ao invés de ficar apenas levantando a bandeira de que Deus é criador, sem fazer nada por sua criação. Pode ser uma grande oportunidade para a igreja abrir espaços não institucionais para que pessoas possam se reunir em lares, escolas, trabalho, entre amigos em ambientes neutros, para saber que existem opções fora dos templos para se partilhar a fé, até que se sintam seguras o suficiente para irem a uma igreja institucionalizada, sem medo de que lhes arranquem a carteira do bolso. Pode ser uma grande oportunidade para a igreja ensinar que Deus age em prol do
coletivo (pois chove e sai sol para todo mundo) e não apenas em prol do individual (afinal, não é à toa que a oração do Pai Nosso é toda feita na primeira pessoa do plural e não na primeira do singular!) e que, como filhos que crêem nele, também somos convidados a agir pelo outro nas coisas mais simples como, por exemplo, tornar o trânsito um lugar menos hostil, o ambiente de trabalho menos traiçoeiro, os serviços públicos mais dignos, o mundo mais agradável de se viver por meio da prática da misericórdia, da graça e do amor de Cristo, como expressão prática de nossa fé.
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Se uma pequena parcela da população que crê em Deus começar a fazer coisas desse tipo, parcela esta tão pequena quanto nosso “arraial presbiteriano independente” quando comparado ao tamanho do universo religioso do nosso país, o Brasil terá mais chances de deixar de ser apenas um país que crê em Deus, para se tornar um país que, por crer em Deus, traz à terra o seu Reino e a sua justiça, bem como luta por sua criação e, por isso, faz toda a diferença. O Rev. Wanderley é tradutor, intérprete e membro do Presbitério São Paulo da IPI do Brasil wmattosjr@uol.com.br
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GRATIDÃO “Porque todas as coisas existem por amor de vós, para que a graça, multiplicando-se, torne abundantes as ações de graças por meio de muitos, para glória de Deus” (2 Coríntios 4.15).
Dia de Ação de Graças EVANDRO RODRIGUES
Nos Estados Unidos e Canadá, é comemorado, anualmente, o Dia de Ação de Graças, feriado celebrado como um dia de gratidão a Deus pelos benefícios alcançados durante o ano. As origens da solenidade remontam ao ano de 1621, quando a população de Plymouth, Massachusetts, obteve uma excelente colheita de milho, após péssima colheita no ano anterior. Os habitantes daquela região da Nova Inglaterra reconheceram que a boa colheita era uma intervenção divina sobre a natureza, que os havia castigado severamente na safra anterior. O acontecimento foi festejado com muitos alimentos, dentre eles, patos e perus. Assim, até hoje o peru tem sido o prato-símbolo desta data. No Brasil, a comemoração foi estabelecida em 1949, por sugestão do então embaixador em Washington, Joaquim Nabuco, após participar das celebrações na Catedral de São Patrício, em 1909. A data escolhida foi a quarta quinta-feira do mês de novembro. Desde então, comunidades de origem estadunidense, igrejas protestantes e algumas universidades relembram a data, anualmente. 18 Alvorada
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DE 4 2 RO B M E V O N ÇÃO GRAÇAS
DIA DE A DE
Aqueles irmãos do século XVII tinham um motivo real para render graças a Deus. Porém, no Dia de Ação de Graças, teríamos nós, cristãos brasileiros, motivos para dar graças? Humanamente falando, talvez o cenário atual inspirasse mais a lamentação do que a celebração. Nos últimos anos, o crescimento numérico dos evangélicos foi nitidamente sentido em nosso país. Teoricamente, esperava-se uma contrapartida, com a diminuição dos números de casos de violência e injustiça. Infelizmente, esses fatores continuam vívidos e alarmantes em nossa sociedade. Conclui-se que nosso crescimento foi apenas numérico, e não qualitativo. Sem contar os dados levantados pela POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), do IBGE, que apontam para um salto de 4%, em 2003, para 14% em 2009, de pessoas que se declaram evangélicas sem filiação a nenhuma denominação. Entre os motivos para não pertencerem às igrejas está a decepção com a liderança e com o comportamento dos
membros. Por outro lado, mesmo diante dos problemas que enfrentamos, temos, sim, muitos motivos para agradecer a Deus. O dom misterioso da vida, o planeta e sua natureza exuberante e perfeita, a família, os amigos e, principalmente, a certeza da vida de Cristo em nós (esperança da glória) impele-nos a glorificarmos a Deus. Dentre os piores sentimentos que a natureza humana produz, podemos incluir a ingratidão. Sentimento recorrente no povo de Deus ao longo de sua trajetória. Por isso, os profetas sempre se levantavam para relembrar ao povo os benefícios de Deus em seu favor, a começar pela miraculosa saída do Egito opressor. Com relação à ingratidão, Jesus contou uma parábola na qual um homem teve uma grande dívida perdoada. Porém, logo em seguida, não foi capaz de perdoar alguém que lhe devia (Mt 18.23-35). Um amigo, recentemente, teve uma amarga experiência. Por muitos meses, ajudou financeiramente uma pessoa em situação de calamidade. Ao acreditar que já estava pronta para caminhar sozinha, esta pessoa o tratou com grande desprezo e agressividade. Ele lhe interpelou: “Coloque a mão na consciência e veja se o que está fazendo é correto”. A resposta foi fulminante: “Pobre não tem consciência, pobre tem fome!”. Se para nós, humanos e pecadores, a ingratidão tem um sabor amargo, como um Deus santo enxerga nossa ingratidão? Neste dia de Ação de Graças, precisamos refletir sobre ela. Temos sido sim, ingratos para com Deus. Depois de recebermos A Revista da Família
tanto, não somos capazes de compartilhar. Estamos escondidos em nossos guetos, em nossas igrejas, em nossas teologias, ensimesmados em uma ortodoxia que em nada contribui para a transformação de uma realidade tão cruel. O número de evangélicos aumenta, mas a pobreza, a fome e a violência não recuam. Com a permissão do leitor, gostaria de evocar as palavras de um teólogo do passado: “Como seu Cristo, a igreja precisa encarnar”. Precisamos sair dos nossos relicários, ganharmos as ruas e mostrarmos ao outro que há um motivo para se alegrar. Temos sido aquele homem da parábola de Jesus. Após recebermos o que não merecíamos, não somos capazes de perdoar, de nos condoer e de chorar a dor do próximo. Evidentemente, no contexto bíblico, a expressão “ação de graças” refere-se a ações cúlticas. Mas a palavra “ação” para dizer que nossa gratidão a Deus deve ser expressa para além de uma ceia com peru assado; para além das paredes frias do templo; para além dos cânticos perfeitamente executados e liturgias primorosamente elaboradas. Por que não fazermos do Cia de Ação de Graças um dia para perdoar os que nos ofenderam, ou mesmo os que nos devem dinheiro; um dia para compartilhar o amor de Jesus, vestindo os que padecem frio e alimentando os famintos, física e espiritualmente? Sejamos gratos, reconhecendo que “Deus é tudo, em todos”. Feliz dia de Ação de Graças, com a graça de Deus em ação.
O Evandro é membro da IPI de Vila Brasilândia, São Paulo, SP evandro_enops@hotmail.com
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+AÇÃO
Doar vida? Dia 25 de novembro: Dia Nacional da Doação Voluntária de Sangue na IPI de Brasil
ODAIR MARTINS
Quando falamos sobre doação de sangue, somos muitas vezes questionados por pessoas que nos perguntam se é seguro e o que a palavra de Deus fala sobre o assunto. Doação é segura? Ficamos preocupados com certas perguntas, mas a resposta vem conforme Deus quer responder e, em muitos casos, através de um familiar querido precisando de sangue, internado em um hospital, sem poder ser operado por falta de sangue. Quando a resposta chega, ficamos mais convictos do nosso trabalho. Sem dúvida, “doar sangue é doar vida”. É seguro e eficaz, salva dezenas de milhões de pessoas, que não têm outro remédio senão na transfusão de sangue. O povo cristão deve se conscientizar de que doar sangue é um ato autêntico de amor. É um dever e uma prova de bom testemunho do que temos pregado. Devemos correr para ajudar os que estão em perigo de vida e oferecer generosamente. “Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é necessário auxiliar os enfermos, e recordar as palavras do Senhor Jesus, que disse:
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Mais bem-aventurada coisa é dar do que receber” (At 20.35). Devemos trabalhar ajudando na conquista de uma política de saúde pública onde não faltem leitos nos hospitais e os pacientes sejam prontamente atendidos, com dignidade e qualidade, onde os estoques nos bancos de sangue e hemocentros sejam suficientes para atender a todos. Nós, povo escolhido por Deus, temos a oportunidade de doar. A doação é, sem dúvida, uma das formas de sairmos dos templos ou abri-los para atender aos necessitados. Doar sangue é considerado um gesto simples de pessoas dispostas a ajudar o próximo. Contribuímos para a cura de enfermos, quando doamos voluntariamente. É um ato de profundo humanismo e respeito ao próximo. Hoje, o que o povo precisa é de atitudes que ajudem o próximo a viver e conviver em paz e com saúde, porém, vivemos numa sociedade cada vez mais hedonista, na qual o ato de ajudar o próximo é algo cada vez menos praticado. Independentemente da religião, classe social, etnia, o que realmente deve ser re-
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A falta de sangue não é um problema só nosso Algumas curiosidades sobre doações
• Aproximadamente 5% da população norte-americana doam sangue • Cerca de 1,5% da população doa sangue no Brasil • 75% dos doadores norte-americanos doam 1 vez por ano • Um homem pode doar sangue a cada 60 dias, ou até 4 vezes ao ano • Uma mulher pode doar a cada 90 dias, ou até 3 vezes ao ano • Uma pessoa de 70kg tem aproximadamente entre 10 a 12 bolsas de sangue em volume de sangue circulante • Normalmente o volume de sangue doado é reposto em 24 horas após a doação • Se a média de doadores doasse sangue pelo menos 2 vezes ao ano, não haveria falta de sangue • Se você começar a doar sangue e mantiver a regularidade, a falta de sangue deixará de existir em pouco tempo
levante é a importância que damos ao próximo e como tratamos a vida. Um exemplo de ajuda é o ato de doar, seja uma palavra, um prato de comida, uma roupa e, mais do que isso, doar realmente o direito de viver. Como? É simples: doe sangue. Os hemocentros brasileiros sofrem muito com o déficit de sangue em seus hospitais, principalmente os que realizam cirurgias e transfusões. Doar é simples, não dói, não mata e não custa nada. Pense nisso e doe você também. O Presb. Odair, membro da IPI de Porto Feliz, SP, é coordenador nacional de adultos da IPI do Brasil
Vermelha, são necessárias 38.000 bolsas de sangue diárias. A cada dois segundos um norte-americano precisa de sangue para algum tipo de tratamento. O Hemocentro São Lucas, em São Paulo, SP, realizou pesquisa para traçar o perfil do doador brasileiro:
A Fundação Pró-Sangue, ligada à Secretaria de Saúde do Estado e à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, coleta em média 12.000 bolsas mensalmente, volume de sangue equivalente a aproximadamente 32% do sangue consumido na Região Metropolitana de São Paulo, 16 % do Estado e 4% do Brasil, segundo informação da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. No Brasil, são necessárias 5.500 bolsas de sangue por dia. O Ministério da Saúde informa que, no Brasil, apenas 1,9% da população é doadora de sangue. É urgente e possível aumentar o número de brasileiros doadores: se cada pessoa doasse duas vezes ao ano, não faltaria sangue para transfusão no país. Mas este não é apenas um problema brasileiro. Nos Estados Unidos, segundo informação da Cruz
1,5%
• No Brasil, apenas 1,5% doam anualmente • Entre eles, 75% são população de baixa renda • 60% possuem renda de até 3 salários mínimos • 70% estão na faixa etária de 26 a 45 anos • 58% possuem ensino médio incompleto • Apenas 8% possuem ensino superior • Os homens representam 78% das doações
de brasileiros são doadores anuais
Algumas razões para doar transfusões Mulheres recebem 53% Homens recebem 47% Em média, nos EUA, 1.280 bebês nascem prematuros (com menos de 37 semanas de gestação) Um bebê prematuro necessita 1 a 4 unidades de glóbulos vermelhos durante o período de internação
O seu sangue é fundamental para o tratamento de: Vítimas de acidentes Pacientes com câncer Hemofílicos Pacientes de cirurgias 1 a cada 10 pacientes hospitalizados necessitam transfusão 4.5 milhões de pessoas são salvas anualmente nos EUA graças às
Mais informações
0800-61-1997
Disque-Saúde do Ministério da Saúde: www.saude.gov.br | www.inca.gov.br www.filantropia.org/DoeSangue.htm A Revista da Família
| www.prosangue.sp.gov.br
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A VOZ DO CORAÇÃO
Cristãos são os mais infectados pela
Aids no mundo
FERNANDO HESSEL
O sol aponta no horizonte e invade o quarto. Em seguida, os pássaros começam a cantar e o barulho do dia invade os ouvidos como o despertador natural para mais um dia de trabalho. Ainda na cama, pego o celular e começo a checar as informações das principais agências de notícias nacionais e internacionais. Uma delas dispara na tela. Era a ONU anunciando a mais nova estatística de 2010 sobre a AIDS no planeta: Terra, claro! Tomo banho, engulo o café e chego ao escritório. Com mais tranqüilidade, abro o computador para maior reflexão e analiso as tabelas estatísticas; frias, por sinal. E o dado ainda alarmante: mais de 33 milhões de pessoas estão infectadas pelo vírus macabro que dribla todos os feitos para destruí-lo. Impressionante ver o mapa mundial manchado em diferentes tons de vermelhos. 22 Alvorada
A Revista da Família
Numa primeira análise, vemos o borro predominando em regiões denominadas abaixo do nível de pobreza e desenvolvimento. Lugares inóspitos, desprovidos de qualquer evolução tecnológica e de acesso facilitado. Refiro-me a boa parte da África e da antiga nº 67 outubro/novembro/dezembro, 2011
URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). O resultado estampa os olhos; o fato é trágico, mesmo diante de volumosa publicidade sobre o tema que tem por objetivo conscientizar aqueles que ainda não foram infectados.
DE º 1 O R B M E Z DE
IAL DE D N U M A DI AA R T N O C LUTA
AIDS
Já aos doentes o próprio vírus se incumbiu desta tarefa de dar um quase atestado de óbito. Os casos de pessoas infectadas têm crescido mais de 25 % em países como: Armênia, Bangladesh, Geórgia, Cazaquistão e outros. Já Angola, Argentina, França, Alemanha, Esta-
Os casos de pessoas infectadas têm crescido mais de 25 % A Revista da Família
dos Unidos, Congo e outros têm números estabilizados devido a projetos patrocinados por países ricos que investem em estudos de campo. O fato é que, diante deste panorama, o que mais me fez deitar sobre o encosto da cadeira do escritório foi perceber que os países mais infectados são os considerados cristãos. De braços cruzados, vejo que os mulçumanos e judeus se saem bem melhores nesta constatação. Pelo que vemos, os países que professam a referida fé dos aiatolás estão com nota dez especificamente no quesito prevenção. Um tapa na cara dos cristãos que, em muitos países, se acham os melhores. Mesmo no Brasil, eu também me achava o supra-sumo, mas agora vejo que colocar a pseudo-razão cristã no meio das pernas foi a melhor solução para se ter uma análise mais próxima da realidade. O que estaria por trás de tão bom desempenho neste cenário? Eis aí um tema palpitante para refletirmos o papel da igreja neste contexto da doença ainda sem cura. Mas surge então o outro lado da moeda. O que poderíamos falar sobre os países mulçumanos na África? Eles também têm altos índices de contaminação e, neste caso, a religião mulçumana não conseguiu impedir o crescimento de infectados. Está colocada à mesa uma discussão que merece ser amplamente propagada neste importante meio de comunicação da igreja. nº 67 outubro/novembro/dezembro, 2011
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O desespero do governo da África é tão grande que exite um projeto de lei para que aqueles que forem diagnosticados com a doença sejam marcados com um logotipo na nádega para identificação
E, por or falar em África, enen contramos mos neste contin continente o país com o maior índice de infectados dos pela AIDS na população proporcional proporcionalmente do mundo. Estamos amos fala falando de 25,9% dos nativos em Suazilândia contaminados minados pela AIDS. O desespero do o governo daquele país é tão grande ande que q políticos estão em fasee de aaprovação de uma lei para ttentar conter esta onda de infecção deste vírus mortal. O primeiro-ministro Timothy Myeni quer aprovar um projeto para que aqueles que forem diagnosticados com a doença sejam marcados com um logotipo na nádega para identificação. O procedimento a priori seria simples. Cada pessoa que realizasse o teste anti-HIV e fosse constatado soropositivo receberia imediatamente um carimbo tipo tatuagem com o símbolo do laço vermelho, marca mundial da luta contra o HIV. Este símbolo ficaria na pessoa para sempre. Fico imaginando: se sociedade médica encontrar a cura da AIDS, como ela faria para arrancar esta marca. Sabemos hoje que, mesmo com tanta tecnologia estética, muitas pessoas não conseguem remoção total de tatuagens do 24 Alvorada
corpo humano. Mas a finalidade deste ste projeto é tentar reduzir a propagação da AIDS que, segundo gundo a ONU, ultrapassa a média dia registrada nos países p que lutam utam contra este mal m na população. A Suazilândia ândia está div dividida frente ao projeto ojeto do primeiropri ministro, quee tam também recebe apoio de vários executivos do atual governo, inclusive da Universidade Federal. Em contrapartida, existe uma forte resistência no próprio país e de organizações internacionais que defendem os direitos humanos repudiando este projeto. Enfim, a luta contra este mal é diária, desenfreada e desesperada. Cabem obrigatoriamente reflexões e discussões sobre o tema, sem qualquer pudor. No final desta reportagem pergunto-me: De que maneira podemos ajudar a não comemorar mais este Dia Mundial de Combate à AIDS?
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O Fernando, jornalista, especializado em Diplomacia Brasileira pela USP, Pós-Graduado em Administração Gestão de Negócios e diretor da TV Bandeirantes no Tocantins, é membro da IPI Central de Palmas, TO Twitter: @fernandohessel; E-mail: hessel@band.com.br nº 67 outubro/novembro/dezembro, 2011
REFLEXÃO
O pedido de uma
mulher
Leitura inspirativa: 1 Samuel 1.1-19
RUTH BREMGARTNER ALENCAR NETO
Quantas vezes buscamos ao Senhor, com nossos anseios, com nossos pedidos e nos assemelhamos a Ana, angustiada, deprimida, chorosa, pedindo a Deus algo humanamente impossível? Quantas vezes encharcamos nosso travesseiro com lágrimas e abafamos nossos soluços para que ninguém perceba a profundidade da nossa tristeza? Eu já fiz isso muitas vezes. Muitas vezes abri Bíblia e a tornei um livro amarrotado, procurando em suas páginas as respostas de Deus às minhas indagações, procurando ali a certeza de que Ele me ama e de que estaria interessado no meu sofrimento. E já encontrei, sim, todas as respostas. Ele já me respondeu repetidamente, dia após dia, ano após ano, que irá mudar a minha sorte, que está atento ao meu clamor, que trabalha por mim enquanto espero nele. Muitas vezes Ele também me confrontou com uma pergunta: Por que você está com
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tanto medo? Ainda não tem fé? Nesses momentos, assemelho-me aos discípulos de Jesus, que andavam com ele diariamente, compartilhando sua vida em todos os momentos mais íntimos e vendo milagres acontecerem diante seus olhos, percebendo a provisão e proteção de Deus, e, mesmo assim, permitindo que a dúvida e o medo tomassem conta de seus corações em momentos difíceis. Jesus, algumas vezes, demonstrou sentir-se cansado com essa atitude que demonstrava a pouca fé dos discípulos: “Respondeu Jesus: Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?” (Mc 9.19). Às vezes, sinto que o Senhor também se sente assim em relação a mim, quando insisto em ter uma atitude chorosa e derrotada diante dele. Chega um momento na nossa caminhada com Cristo em que devemos parar de ser como as crianças, que correm para o quarto dos pais com medo do escuro, e devemos nos firmar em tudo o que já conhecemos de Deus, em tudo o que Ele já
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revelou sobre si mesmo em sua palavra, e crer em suas promessas, colocando em prática aquilo que já conhecemos. É claro que não podemos ser imaturos e tirar da Bíblia promessas fora de contexto e promessas feitas a determinado grupo de pessoas de determinada época, ou sem cumprir as condições que algumas promessas impõem, e usá-las indiscriminadamente com o fim de suprir nossos anseios e carência emocional. Podemos crer nas promessas de Deus, lembrando que Ele é fiel para cumpri-las e que não é necessário que cobremos dele, como se não tivesse boa memória ou como se nós pudéssemos forçá-lo a fazer alguma coisa antes do tempo que Ele mesmo determinou: “Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim, e por ele o Amém, para glória de Deus por nós” (2Co 1.20). Devemos nos apropriar, sim, das promessas de Deus, mas não precisamos reivindicá-las, como fazem os trabalhadores enganados pelos políticos nas eleições. Acho que jejuar também não é fazer greve de fome para obrigar a Deus a nos dar o que pedimos. Jejum dever ser feito com reverência, como demonstração de grande contrição, de muita humildade diante de Deus, dizendo a Ele: “Ó Deus, tu és o Senhor, eu me humilho diante de ti, seja feita a tua vontade e não a minha, porém veja a minha situação, atenta para o meu sofrimento, Paizinho!” Ana aparentemente jejuou também e não comia: “E assim fazia ele de ano em ano. Sempre que Ana subia à casa do Senhor, a outra a irritava; por isso
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O que pode ser mais importante que a minha vida? O que pode ser mais importante que a vida com minha família, com meus filhos? Será que todos os motivos pelos quais me angustio são tão sérios que me farão desistir da própria vida?
chorava, e não comia” (v. 7). Também não precisamos andar sozinhos em nossa vida, quando enfrentamos lutas. Podemos buscar nos nossos irmãos em Cristo o auxílio em forma de conselhos, de palavras inspiradas pela Bíblia. Se percebermos que a tristeza nunca passa, pode ser necessário buscar o auxílio profissional, de um psicólogo cristão, de preferência, ou mesmo de um psiquiatra, se for constatada depressão. Podemos compartilhar nossos problemas e ouvir os problemas de outras pessoas; podemos compartilhar os sonhos e as alegrias, orando juntos, levantando um clamor ao Senhor junto com os irmãos da igreja. A palavra do sacerdote Eli foi fundamental para que Ana se levantasse e seguisse o seu caminho: “Então respondeu Eli: Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste” (v. 17). Depois de ter ouvido a voz do Espírito Santo, depois de ter lido e compreendido as suas promessas, e depois de ter orado e compartilhado os problemas com outros irmãos,
como Ana, devemos mudar o nosso semblante: “E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste” (v. 18). O Senhor agrada-se de que nos aproximemos dele com nossas petições, com nossas lágrimas, com nosso clamor, mas Ele quer que, depois disso, ouçamos a sua voz, nos enchamos de esperança de que Ele nos ouviu e de que, em sua soberania e bondade, fará o melhor por nós. Então, chega de choradeira, chega de lamentação! Aparta de ti o teu vinho de amargura de alma e toma o cálice da salvação! Levanta a tua voz em louvor e agradecimento, mesmo antes de enxergar a bênção. Agrade ao Senhor com demonstração de fé e coragem, enfrente o mar bravio da tua vida, sabendo que Jesus está com você no barco. O mais importante a pensar é isso: o que pode ser mais importante que a minha vida? O que pode ser mais importante que a vida com minha família, com meus filhos? Será que todos os motivos pelos quais me angustio são tão sérios que me farão desistir da própria vida, me farão pular do barco de meu casamento, da minha família, me farão abandonar até a igreja? Serão os meus pecados impossíveis de serem perdoados? Confie em Deus! Ele é perdoador. Ele permite que recomecemos. Ele é o Deus que ressuscita até pessoas que morreram. Ele pode fazer renascer relacionamentos que já morreram, restaurar famílias que se quebraram e finanças que se arruinaram! "Eu sou o Senhor, o Deus de toda a humanidade. Há alguma coisa difícil demais para mim?” (Jr 32.27). A Revista da Família
O ditado popular diz: “Apenas para a morte não há solução. Enquanto há vida, há esperança”. Há alguma sabedoria nesse ditado. Porém, não podemos esquecer que a vida que Deus está nos oferecendo através de Cristo não é apenas a vida que vivemos neste corpo físico, que terminará um dia. Os planos de Deus para nós não se resumem apenas a dar-nos uma vida boa e confortável, aqui na terra. Tudo pelo que passamos visa o nosso bem: “Todas as coisas contribuem conjuntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28). O nosso bem também inclui sofrimentos que Deus nos permite passar, para que o conheçamos melhor, para aprendermos a depender dele e para que o nome de Deus seja glorificado pela nossa vida: “Foi-me bom ter sido afligido, para que aprendesse os teus estatutos” (Sl 119.71). Podemos viver uma vida maravilhosa, enquanto seres humanos com corpos físicos, e podemos desde já viver alegres, tendo no coração a esperança de uma vida perfeita, rica, eterna, quando o Senhor enxugará dos nossos olhos toda lágrima: “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 2.14). Confie em Deus, quando estiver passando por momentos difíceis. Ore e ele te responderá! “E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e deu à luz um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor” (v. 20). A Ruth é servidora pública em Brasília, DF
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FAMÍLIA ROSANA SALVIANO SALABAI
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m dezembro de 2010, o Rev. Tiago Paulo dos Santos Silva e a bioquímica Maria Fernanda Nass realizaram o que até então era seu maior sonho e entraram para o rol dos jovens casados. Hoje, estão felizes morando em Chapadão do Sul, MS - onde ele é pastor auxiliar - e vivem o que eles consideram ser “um presente de Deus”. “Em todas as coisas temos visto como o casamento é o sonho de Deus para a humanidade, pois nos sentimos completos, felizes, realizados; depois de conhecer a Jesus como Senhor da minha vida, sem dúvida, o casamento foi a melhor coisa que me aconteceu”, diz Maria Fernanda. E, para completar a felicidade do casal, há menos de um mês veio a notícia inesperada: ela está grávida. “Não estávamos planejando um filho ainda, mas Deus quis assim e Ele é maravilhoso”, resume a futura mamãe. “A melhor parte do casamento é ter alguém para compartilhar, viver e trilhar junto essa linda e surpreendente estrada da vida”. Tiago e Maria Fernanda fazem parte de uma estatística do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que espantou muita gente: apesar de toda campanha contrária por parte da mídia e daqueles que pregam a falência dessa instituição familiar, o número de casamentos no Brasil cresceu 25% entre 2003 e 2010. “Casar está na moda”, afirma a produtora de 28 Alvorada
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Rev. Tiago Paulo e Maria Fernanda
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eventos Samara Chioreze. A pesquisa do IBGE também revela que 85,2% do total de casamentos realizados nesse período ocorreram entre solteiros. Destes, 30% estão na faixa etária de 20 a 24 anos, no sexo feminino, e 25 a 29, entre os homens. Traduzindo os números: os jovens continuam se lançando de cabeça nesse modelo de família. “Podem falar o que quiserem, mas o sonho do casamento ainda é verdadeiro. É plano de Deus. Então, como não querer isso?”, diz a jovem Ana Paula Dai, solteira “por enquanto”. “Só até que eu encontre aquele que Deus separou para mim, que eu sei que é o melhor”, afirma. Mas, apesar de tantos adeptos e muita euforia, nem tudo é festa quando o assunto é casamento. Infelizmente, o divórcio ainda é o principal recurso para ‘resolver’ os problemas dos relacionamentos conjugais. Segundo a mesma pesquisa do IBGE, o número de separações judiciais cresceu 1,4% em 2006 em relação ao ano anterior e o número de divórcios aumentou 7,7% no mesmo período. Ou seja, as pessoas continuam se casando, mas o ideal “até que a morte nos separe” nem sempre é mantido. Parece que em lugar do “felizes para sempre” nossa sociedade pós-moderna está mais interessada no
“eterno, enquanto dure”, como já dizia o poeta. “Nosso desafio, enquanto igreja, é mostrar que casamento na visão de Deus é aliança e não apenas contrato”, diz Elaine Bussato, coordenadora do Curso de Casais Aliança, disponibilizado em várias igrejas, de diferentes denominações, através da chamada Universidade da Família. “Contrato você pode desfazer quando a outra parte não cumpre o que prometeu, mas a aliança é inquebrável e incondicional”, completa. Biblicamente, aliança é uma promessa, um compromisso em que cada parte está disposta a fazer pela outra tudo aquilo que quer que seja feito para si mesma. Deus, por exemplo, pediu a Abraão o sacrifício de seu único filho, Isaque. Nessa aliança, estaria disposto a fazer o mesmo e o fez (ainda que tenha livrado Isaque da morte): enviou seu filho unigênito, Jesus Cristo, para sacrificar-se em favor da humanidade. É interessante pensar no valor da aliança e no seu significado perante Deus. A aliança de Deus com seu povo é inviolável e independe da humanidade, dos nossos pecados ou nossas vontades. Na sua carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo enfatiza que nada, “nem a lei”, “poderá invalidar a aliança previamente estabelecida por
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A pesquisa do IBGE
revela que 85,2% do total de casamentos realizados nesse período ocorreram entre solteiros. Destes, 30% estão na faixa etária de 20 a 24 anos, no sexo feminino, e 25 a 29, entre os homens.
Casamento é uma instituição falida? Pra muita gente, não. Pelo contrário: é um presente de Deus.
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Deus de modo que venha anular a promessa” (Gl 3.17). E um casamento, ao receber a bênção do Senhor, estabelece uma aliança eterna. Então, não importa se anos depois um dos cônjuges ‘descobrir’ (ou achar) que se casou com a pessoa errada. Se houve a bênção de Deus, nada poderá invalidar essa aliança. E a melhor notícia é que, da mesma forma, nada também poderá anular as promessas decorrentes dessa bênção – ainda que o casal não as esteja vivendo no momento. Não é fácil renunciar e abrir mão de suas vontades em favor do cônjuge para viver essa aliança. Mas é preciso. “Casamento pra mim se resume em união emocional, espiritual e física, onde há um compartilhar e cada um abrindo mão de si mesmo para completar o outro”, afirma o Rev. Diones César Braz, pastor auxiliar na IPI de Dourados, MS. Em outras palavras, o que o Rev. Diones está dizendo é que num casamento não deve haver a anulação de sua personalidade ou caráter, mas é de suma importância que exista disposição para tratá-los, com a finalidade de que os dois
tornem-se um. Isso significa deixar de lado uma de suas partes para suprir o espaço vazio com a do outro. Quando se aprende a praticar isso, o relacionamento não fica só mais fácil, mas, principalmente, bem mais prazeroso. E, por isso, quem vive essa aliança garante: casamento é mesmo um presente de Deus, uma experiência divina. “A definição mais intensa que tenho do casamento é a palavra cumplicidade. Cúmplice não no sentido de compartilhar erros, mas o de se acertar apenas no olhar”, declara o Rev. Caio Batista, da IPI Morumbi, em Sorocaba, SP. Então, se você já vive essa maravilhosa jornada que é o casamento ou pretende se aventurar por esses caminhos, não se esqueça que a família é mesmo “a menina dos olhos de Deus” e, por isso, é possível, sim, ser feliz para sempre com seu marido ou esposa. Mas, como escreveu Charles Swindoll, “uma família de sucesso não surge do nada; ela é o resultado da intenção, da determinação e da prática”. Que assim seja!
“Podem falar o que quiserem, mas o sonho do casamento ainda é verdadeiro. É plano de Deus. Então, como não querer isso? Ana Paula Dai, solteira
Divórcios
Cresceu 1,4% em 2006 em relação ao ano anterior e o número de divórcios aumentou 7,7% no mesmo período. Ou seja, as pessoas continuam se casando, mas o ideal “até que a morte nos separe” nem sempre é mantido.
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10 Conselhos práticos para um casamento feliz e duradouro Está no início da vida a dois ou já tem um cônjuge há muitos anos? Não importa. Casamento é sempre um aprendizado. Então, aproveite as dicas e seja feliz para sempre! 1 Não se sinta diferente Em primeiro lugar, se surgirem discussões, não pense que isso só acontece com vocês. É preciso tentar evitar os conflitos, mas eles surgirão em maior ou menor intensidade. Conscientize-se disso e será bem mais fácil resolvê-los. Em nenhum momento, arrependa-se de ter se casado e o principal: não desista. A paciência será sempre uma aliada. 2 Renuncie Descubra o prazer de deixar de fazer algumas coisas ou fazer outras em prol da pessoa amada. Quem entende o valor da renúncia pára de apontar os erros do outro e volta o espelho para si mesmo. 3 Fale menos de seus problemas É importante refletir um bom relacionamento. Não há nada pior para um casamento que a superexposição de seus fatores negativos. Não deixe que mentiras se tornem verdade em seu coração. Valorize as coisas boas.
se casou. Mas amar também é uma decisão. Valorize esse ensinamento. 6 Seja uma boa companhia Não abandone os amigos, mas separe a maior parte do tempo livre para estar a sós com a pessoa amada, principalmente no início da jornada a dois. Isso os fará mais próximos e fortalecerá os laços. 7 Tire os olhos de si mesmo Em se tratando de casamento, é necessário que sua visão amplie. Você precisa olhar para o cônjuge até mais do que para si mesmo. Você pode estar feliz e satisfeito, mas precisa saber se o outro se encontra na mesma situação. 8 Ame ao outro como a si mesmo Quando se trata de vida a dois é necessário sempre fazer pelo outro ou para o outro somente aquilo que você gostaria que o mesmo fizesse por você. 9 Namore Não perca a alegria que é estar apaixonado! Nunca deixe de demonstrar seu amor através de palavras e atitudes.
4 Coloque-se em seu lugar Da mesma forma que devemos refletir os bons aspectos do casamento, é preciso estar atento para não nos comportarmos como “professores” ou “pais” do marido ou esposa. Se você é mulher, lembre-se que seu marido precisa sentir-se homem, varão. E, se você é homem, não se esqueça que sua esposa é uma princesa!
10 Alegre seu coração Cuide do seu interior. Suas palavras devem soar como música aos ouvidos de quem quer conquistar, mas a boca sempre fala daquilo que o coração está sentindo. Se estiver ocupando sua mente com dúvidas e insegurança, mude isso. Ocupe-a com o que é bom. Ore, leia a Bíblia e sinta tranqüilidade com as promessas de Deus para suas vidas. Decida ser feliz ao lado do seu cônjuge e seja!
5 Decida amar Muitos se esquecem que a conquista é diária e não se importam mais em magoar ou desrespeitar aquele ou aquela com quem
A Rosana é jornalista, casada com o Rev. Fabrízio Salabai, da IPI de Chapadão do Sul, e autora do livro “Dias Felizes virão – como alcançar a felicidade no casamento” salabai@chapnet.com.br
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Só amor RUTH DE CAMPOS SANTOS
O amor é como um fogo. Não há água que apague a chama do amor. Nenhum rio é capaz de afogar o amor. “Se alguém, querendo comprar amor, oferecesse toda a sua fortuna, isso ainda não seria suficiente.” Ele está chegando! Pudera! Os 89 anos estão começando a pesar para o Bem. É assim que o chamo. Estava aguando os 80 pés de ipês que plantou e já viu florescer duas vezes. É um espetáculo nas cores rosa, amarelo e branco. Olho para ele com ternura e começo a relembrar. Foi há muito tempo! Aconteceu tanta coisa, mas está tão nítido e indelével. Parece que foi ontem e vale a pena recordar, Ano de 1935. Eu tinha 8 anos e ele 17, quando seu irmão Luís Baiano foi buscá-lo lá na Bahia. A expectativa era grande. Três irmãs, espanholinhas, estavam brigando para ver quem ia namorá-lo. Eu só escutava. O trem da Estrada de Ferro Sorocabana chegou atrasado como de costume. Os viajantes desembarcaram. Dá pra imaginar como chegavam de tão longe? Uma a uma foi desistindo. Estava tão judiado! Não só da viagem, mais ainda pela perda da mãe, quando tinha só cinco anos. Não verbalizei, mas pensei. Criança também pensa: Eu quero! Deixa pra mim! Isto fui só tirar do baú de recordações muitos anos depois. Tia Isaltina, cunhada dele, deu logo colo, cuidou como se fosse mãe. Não demorou muito, ficou outra pessoa. Como era (e é) trabalhador, o irmão dava dinheiro e aí ficou saliente. As meninas deram em cima dele e ele não achava ruim. Brinco agora: Você namorou a Liga das Nações da Vila Marcondes! E eu? Fiquei na reserva, no banco, esquecida da torcida! Quando resolveu ir trabalhar em São Paulo, comprou presentes para meus irmãos. Já gostava deles. Para mim, deu a miniatura de um quadro. Pisei nos tamancos. Desaforo! Não via que eu era moça nos meus 12 anos. Aí trocou por um anel de ouro com pedras de rubi, relíquia que guardo há 67 anos. Em 1944, foi para Itália, como soldado, lutar na 2ª Guerra Mundial. No dia 20/1/1945, escrevilhe uma carta a pedido da minha tia. Convideio para ser padrinho de formatura do Curso Normal, dois anos depois. Foi muita fé! Terminada a guerra, voltou vitorioso. A cidade se engalanou para receber seu filho herói. Foi feriado municipal para o povo festejar seu regresso. A banda estava na estação. A recepção que a 32 Alvorada
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LBA preparou fez-me passar o maior sufoco. Os costumes eram muito diferentes de hoje. Quase morri de vergonha quando disse em voz alta: -Todo mundo me abraçou. Você, não. Casou ou está esperando minha volta? Então me abraçou... Queria morrer! Era a tarde de 4/10/1945 e, desde então, estamos gostosamente presos um ao outro, vivendo um grande amor que o tempo só fez fortalecer e aperfeiçoar. Antes da formatura em 1947, nos casamos no dia 14/12/1946, na IPI Central de Presidente Prudente, perante o Rev. Sherlock Nogueira. Neste ano de 2011, se Deus permitir, completaremos 60 anos de casamento (Bodas de Rubi), que dão 23.413 dias vividos juntos pela graça de Deus! Ah! Se não fora o Senhor que esteve (está e estará) ao nosso lado, não estaríamos aqui agora! É verdade que nem tudo foram só flores. Quantos espinhos! Tivemos lutas com vitórias e fracassos, desencontros e acertos, mas o perdão, a compreensão e o que cobre uma multidão de pecados são invencíveis e nos mantém unidos. As maiores bênçãos, entre milhares, foram e são os três filhos que agora nos carregam: Val, Samuel e Ruth Maria, que nos deram muitas alegrias, e os netos Felipe e Ricardo, lindos por fora e por dentro. Que darei ao Senhor por estas preciosas bênçãos e por todos os benefícios que nos tem feito? Somos muito diferentes. Ele é esbelto, elétrico, impulso. Tudo é para ontem. Sou calma, penso muito antes de agir, sou da paz. Mas as diferenças que nos atraíram nos conservam juntos. Ele é romântico e me surpreende com buquês de flores para enfeitar a mesa e traz agrados da cidade, pois moramos no sítio. Somos uma espécie em extinção porque, para nós, o amor é eterno. É tudo em tudo. Quando me deito e ele já está dormindo, toco seu ombro com carinho e agradeço a Deus que o deixa comigo e eu com ele. Não sei quanto tempo ainda teremos para, olhos nos olhos, repetir pela enésima vez: -Meu amor! Como te amo! Viva o amor!
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A Ruth é membro da IPI Central de Presidente Prudente, SP
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FAMÍLIA
ALEX SANDRO DOS SANTOS
Há momentos que marcam nossa vida. Estes momentos podem parecer simples, contudo trazem lições profundas. A lição que eu quero compartilhar com você ocorreu em uma tarde de quinta-feira. Eu estava no gabinete pastoral, fazendo algumas anotações para um estudo bíblico, enquanto aguardava a chegada de uma mulher que havia marcado um aconselhamento. Aproximadamente às 16h00, a secretária bateu à porta e anunciou a chegada daquela jovem. Ela pediu licença e entrou. Era uma jovem de, aproximadamente, 35 anos, media por volta de 1m65, tinha cabelos pretos, longos e enrolados, seus olhos eram castanhos e sua pele morena. Pedi para que sentasse, ofereci um café e, em seguida, prosseguimos com a conversa. Perguntei seu nome... Ela imediatamente me respondeu. Falei para ela ficar à vontade, dizer o que estava pensando e precisando, sem nenhum constrangimento. Em seguida, ela me comunicou que a razão que a motivou a estar ali naquela tarde não era surpreendente. Acredito que seja por isso que fiquei surpreso. O assunto era tão comum e rotineiro que me dei conta de que estamos deixando passar despercebido, e acabamos nos adaptando a situações semelhantes à dela: a ausência do pai na vida do filho. Este problema está tão comum que não damos a devida atenção a ele. Falamos sobre como nos relacionarmos com pessoas difíceis, como perdoar aqueles que estão à nossa volta, de que forma desenvolver um ministério frutífero na igreja, como liderar com excelência e nos esquecemos de ensinar os pais a se relacionarem com seus filhos.
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O fato é que aquela mãe e seu filho, de 7 anos, estavam sofrendo. A criança estava agindo com agressividade com os colegas de sala de aula; seu precisam rendimento e aprendizado estavam sendo prejuentender que a ação disciplinar tamdicados; e suas palavras acerca do pai eram de bém é um compromisso deles e não somente das mães. críticas e de revolta. Como já sabemos, a ausência Portanto, diga ao seu marido que ele precisa aplicar a dos pais provoca sérios problemas. Em um diálo- disciplina, explicando ao filho o que está sendo corrigigo marcado por perguntas e respostas de ambos do e o porquê. Os pais devem exercer a disciplina com os lados, compartilhei com ela o seguinte: bastante equilíbrio e bom senso. Infelizmente há pais "Primeiramente, você precisa conscientizar seu que são exagerados... Alguns aplicam uma disciplina marido de que ele precisa estar disponível para o severa para casos em que bastaria uma simples conseu filho. Diga-lhe que há pais que têm tempo para versa e são omissos para casos profundamente sérios. executivos, funcionários, telefonistas de telemar- Recorde os ensinos de Salomão em Provérbios 19.18: keting, mas que não têm tempo para seus filhos. "Discipline o teu filho enquanto há esperança". Oriente-o a Lembre-o que o maior investimento que ele pode não cometer o erro de anular a disciplina que foi aplifazer na vida de um filho não são os presentes que cada por você, mesmo que vocês discordem (converele compra, mas, sim, o tempo que investe nesse sem em particular, posteriormente). E, após a aplicarelacionamento. Explique que o seu filho sente a ção da disciplina, orem com seu filho. Acredite! Vocês necessidade de conversar e brincar com o pai. Que conseguirão! não importa a idade do filho, ele pode ser criança, Alerte-o para que seja uma pessoa alegre. Diga adolescente, jovem ou adulto, sempre precisará da para ele: Não deixe que o mau humor tome conta de presença do pai. Insista nas idéias de que ele prevocê! Há famílias que são destruídas devido ao mau cisa dedicar tempo na vida de seu filho, fazer pelo humor crônico. Pais que estão insatisfeitos com a famenos uma refeição diária com ele. Mesmo que seu mília e a vida, que guardam mágoas de todos, que marido tenha retornado cansado do trabalho, de nutrem sentimentos de vingança e acabam criando vez em quando, peça-lhe para ajudar com os deveum ambiente de insegurança e insatisfação. Uma coires escolares; motive-o a praticar pelo menos uma sa é certa: os pais que estão sempre de mau humor vez por semana algum esporte com o filho; peça para acabam criando barreiras com seus filhos. Os filhos reservar um tempo para tirar dúvidas que ele tenha olham para os pais e, ao verem seu rosto transtornasobre qualquer assunto (sexualidade, relacionamendo, evitam conversa. A Palavra de Deus diz que a tos, conhecimentos gerais, etc.), pois a qualidade do pessoa alegre tem um rosto formoso (Pv 15.13). Astempo que os pais investem em seus filhos fará toda sim, a alegria quebra barreiras e contribui para uma a diferença. aproximação (Pv 18.24). Quando os pais estão mais Não o deixe confundir atenção com aprovação de alegres, eles evitam exageros, não criando uma temtodos os atos praticados pelos filhos. Falo isto porque pestade em um copo d'água". alguns pais estão tentando compensar sua ausência Naquela tarde, pude orientar aquela mulher negligenciando a disciplina. Contudo, você precisa sobre o que ela poderia falar ao seu marido para lembrá-lo de que a disciplina é uma demonstração de melhorar a relação entre eles. Contudo, naquela amor e o objetivo é o benefício do próprio filho. Ammesma tarde, ela me ajudou a retornar para casa bos precisam saber disto. Ao disciplinarmos nossos fimais cedo e atentar para todas as minhas ações lhos, estamos cumprindo nosso papel na formação de como pai. seu caráter. Sempre reforce a idéia de que, com disciplina, o filho aprenderá a ter responsabilidades, a resO Rev. Alex, pastor da 1ª IPI de Machado, MG, é o secretário da Família da IPI do Brasil peitar autoridades e ter limites. Lembre-se que os pais
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Crianças com dificuldades na aprendizagem
Será que ela é hiperativa? NOEMI MACHADO
“Deixar cada um tornar-se o que for capaz de ser; expandir, se possível, até seu pleno florescimento, suportar todas as limitações, rejeitar tudo o que for estranho, especialmente nocivo; e mostrar-se em toda a grandeza de sua dimensão e estatura, ser aquilo que possa” (Thomas Carlyde-1827). Voltamos neste número a conversar um pouco sobre as dificuldades na aprendizagem. Falaremos sobre o TDAH (Transtorno, Déficit, Atenção, Hiperatividade), de que você já deve ter ouvido falar e que causa dificuldades sérias no aprendizado. Mas o que é esse transtorno? Como se manifesta? Vários autores têm se pronunciado a respeito deste assunto. Edyleine Bellini Peroni Benczik, em seu livro sobre esse tema, observa que o TDAH tem um grande impacto na vida familiar, escolar e social da criança. Muitas crianças são chamadas de preguiçosas, desatentas, desligadas. Dizemos que elas não querem aprender. Os pais as comparam com o irmão, mais velho ou mais novo, que consegue se desenvolver na es36 Alvorada
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Alguns sintomas relevantes: |
cola e concluem que “esse aí” não quer saber de nada. A criança, que não sabe o que acontece com ela, sofre e carrega essa carga de culpa que lhe foi lançada. Na escola, normalmente ela é excluída. As crianças dizem à professora: “Não adianta! Ele ou ela não sabe”. Isso gera indisciplina, humilhação, discriminação. Você já viu algo parecido? Como perceber se a criança tem TDAH? Um dos sintomas é a desatenção. A criança distrai-se facilmente, não consegue focar nem se concentrar nas atividades em aulas, nas brincadeiras. Tudo é motivo para “desligar-se”, ficar no mundo da lua. Estou simplificando bastante o sintoma. A palavra hiperatividade está em moda. Dizer que uma criança é hiperativa pode ser um equívoco. Pensemos na questão do ambiente onde a criança vive e na classe onde estuda. Se na sua casa não há organização, limites, horários, etc., e ela vive “livre e solta”. Não foi ensinada a respeitar os horários e os lugares adequados para o estudo, alimentação, brincadeiras e entretenimentos. Se você coloca limites e ensina a criança, ela desenvolve seu autocontrole e vai se ajustando. É importante pensar também na questão neurológica e prestar atenção nas ações da criança. Às vezes, é necessário um diagnóstico multidisciplinar com profissionais que juntos fazem uma avaliação precisa. Entre em contato conosco. Podemos te ajudar.
Déficit de atenção
Ser desligado nas atividades do dia-a-dia. Perder objetos necessários (brinquedo, material). Dificuldade na organização escolar. Dificuldade em seguir instruções de seu material, tarefas. Não terminar as tarefas.
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Hiperatividade
Mãos e pés inquietos. Contorcer-se nos assentos. Fala excessiva. Parece sempre estar com os motores ligados. Correr, subir, descer, persistentemente.
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Impulsividade
Responder antes que as perguntas sejam terminadas. Não esperar sua vez (falar, brincar, escola, família). Interromper conversas alheias ou jogos. Se você identificou alguns desses sintomas, procure ajuda. Lembre-se que estamos apenas apontando alguns sintomas. Não encare como diagnóstico. A situação é muito séria. Esse texto é apenas um alerta. Você, mamãe ou papai, deve procurar um profissional para ter o diagnóstico correto. Nem sempre o que os priminhos, vizinhos, colegas de sala apresentam seu filho também tem. Pode até ser parecido, mas é um perigo copiar receitas, remédios, etc., só porque deu certo com os outros. Seu filho ou filha é um ser único. Portanto, deve ser respeitado e diagnosticado individualmente. Procure o professor de seu filho, peça encaminhamento a um profissional ou procure alguma organização que poderá cuidar dele.
Instituições abalizadas para diagnosticar TDAH INEF www.inef.com.br PUC www.pucsp.br USP www.usp.br MACKENZIE www.mackenzie.br
A Noemi, psicóloga, é presbítera da IPI de Vila Aparecida, São Paulo, SP (CRP 06/ 38925) noemi.ma@itelefonica.com.br)
Consultório: R. Paulo Alves da Silva Telles, 86 - B. do Limão - São Paulo/SP A Revista da Família
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Alvorada 37
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Cascão um modelo a ser seguido? VERA ROBERTO
No mês de outubro, em que se comemora o “Mês das Crianças”, convido-os a refletir sobre modelos de comportamentos (criados há anos), como metodologia de ensino para serem seguidos. Inicio essa breve reflexão, descrevendo alguns personagens da Turma da Mônica. Como o nome indica, a líder da turma é a Mônica, menina líder nata, forte, briguenta e impaciente, mas sempre com pessoas à sua volta; se irrita, quando mexem com o seu coelhinho, especialmente se o Cebolinha (que não sabe
falar “dileito”) dá um nó em suas longas orelhas. Mônica tem uma turma difícil de liderar. Por exemplo, Magali, menina boa, tranqüila, porém muito gulosa, tem um apetite voraz capaz de comer uma melancia sozinha; ela come de tudo e muito rápido. Magali é a única personagem canhota da turma. Chico Bento, menino simples que fala de maneira errada, sem concordância (como caipira da roça), anda descalço, com roupas simples e chapéu de palha, gosta de roubar goiabas do Nhô Lau, é acomodado, às vezes preguiçoso e mentiroso quando relata suas aventuras. Anjinho é um anjinho de verdade que caiu do céu, lourinho, de olhos azuis e sempre usa roupas azuis; ele veio para proteger as crianças. O Cebolinha (talvez o personagem mais próximo da Mônica), até mesmo porque gosta de provocá-la, pois, além de dar nós nas orelhas de Sansão (coelho de estimação), está sempre em busca de planos infalíveis para derrotá-la por ela achar ser “a dona da rua” e querer mandar em todos. Cebolinha, que foi criado antes da Mônica, tem dislalia (troca o R pelo L), tem cinco fios de cabelo e se sente superior intelectualmente a todos da turma. Além disso, é líder do clubinho dos meninos da rua, garantindo assim o espaço masculino. Bidu é um cãozinho esperto e
Porque modelos tão negativos são atribuídos a personagens afrodescendentes? 38 Alvorada
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sempre acompanha a turma (animal de estimação do Franjinha), criado na época em que Maurício de Sousa era repórter policial no jornal hoje intitulado “Folha de São Paulo”; este foi o primeiro personagem do cartunista (1959). Em entrevista à Revista Almanaque Saraiva, nº 42, ano 4 (outubro/2009) o entrevistador pergunta a Maurício de Sousa qual o segredo para a Turma da Mônica atravessar tantas gerações e manter o sucesso. O cartunista responde: “Talvez tenha a ver com a dinâmica das nossas criações. Nossos personagens estão sempre vivendo situações próximas das que vivem o nosso público e desejando as mesmas coisas”. E, quando questionado se os personagens foram inspirados em seus filhos, o cartunista responde: “Felizmente, meus filhos se prestavam para ótimos personagens”. Lembremos que Mônica é um personagem/filha de Maurício assim como a Magali. A entrevista segue e relata que o cartunista é reconhecido mundialmente pelo seu trabalho cuidadoso, dissipador de valores que contribuem na educação. A Mônica (personagem) recebeu o título de Embaixadora da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para Criança e Adolescente) pela influência que exerce sobre crianças, professores e famílias. Destaca-se que os valores da Turma da Mônica são amizade, importância da educação e convivência familiar. Diante destas declarações, preocupo-me como educadora em especial com o personagem Cascão, pois, entre os mais de 200 personagens criados pelo renomado e premiado cartunista Maurício de Sousa, o
O que será do Cascão? Quando bebê, criança, adolescente seu comportamento não era o mais indicado e, ao crescer, nada ou quase nada se modificou escolhi para essa reflexão. Cascão, criado há mais de 50 anos, integrante da Turma da Mônica, é um menino negro, alegre, sempre brincalhão, porém um menino medroso, não gosta de estudar, não gosta de tomar banho e sempre leva a vida “numa boa”. Segundo o cartunista, esse personagem foi inspirado em um menino que Maurício conheceu em Mogi das Cruzes, SP, por ser muito sujo. Mas Cascão tem qualidades, apesar de ter paixão pela sujeira: adora jogar futebol (é o mais habilidoso da turma); amigo do Cebolinha que sempre que o ajuda nos planos para derrotar a Mônica. Esses planos, no final, sempre dão errado. É curioso e decepcionante saber que, enquanto Mônica tem um coelhinho como animal de estimação, Franjinha tem o Bidu, Cebolinha, o Floquinho, Cascão tem como animal de estimação o Porco Chovinista, que odeia água e tem medo de chuva. É quase uma cópia de seu dono. Na edição de lançamento, nº 1 (novembro/2009) da Turma da Mônica Jovem, o cartunista adapta a turma para os adolescentes. Todos cresceram, alguns estudaram, algumas características de criança permaneceram quase inalteradas e Cascão (nosso principal personagem nessa
reflexão) continua um adolescente sujo, medroso, não gostando de estudar e, como diz sua própria namorada, “meu covardão fofo (p. 70)”. A intenção não é apenas destacar que um personagem negro está sendo utilizado como mau exemplo e, sim, por que modelos tão negativos são atribuídos a personagens afrodescendentes? Preocupa-nos quando tomamos conhecimento que estes modelos estão em mais de um milhão de revistas publicadas, mais de 200 personagens, espalhados em 120 países, inclusive na China, onde Maurício de Sousa Produções participa de um Projeto de Pré Alfabetização. Seus personagens encontram-se estampados em produtos como gibis, alimentos (animais e humanos), produtos de higiene (neste, o Cascão foi excluído porque sua imagem não venderia), edição do Estatuto da Criança e do Adolescente. São mais de três mil produtos com a marca Maurício de Sousa. Os personagens do cartunista fazem enorme sucesso. Como exemplo, é só lembrarmonos do extrato de tomate Elefante, da Cica (anos 70/80): “Oh! Mônica abrace o elegante e beija ele bastante Você vai adorar...”. Quais modelos estamos disseminando nos meios educacionais e de A Revista da Família
comunicação? São modelos a serem seguidos ou a serem estudados? Esses modelos contribuem para a igualdade racial no Brasil ou reforçam as desigualdades e diferenças de oportunidades? Que tipo de literatura está sendo oferecida e incentivada a nossos filhos, alunos, crianças ou adolescentes como valores? Quem são os educadores no Brasil e quem tem se projetado como educadores fora do Brasil? Em Provérbios 22.6, há um texto muito especial para os educadores: “Ensina a criança no caminho em que deve andar e, ainda quando for velho, não se desviará dele". Tememos que, em breve, o cartunista lance a Revista Turma da Mônica Adulta ou até mesmo para a Terceira Idade. O que será do Cascão? Quando bebê, criança, adolescente seu comportamento não era o mais indicado e, ao crescer, nada ou quase nada se modificou. Teria o conhecido cartunista atitude para mudar esse personagem e transformá-lo num modelo a ser seguido? A Profa. Vera, coordenadora da Pastoral de Negritude do CLAI Brasil e membro do Grupo de Referência da Pastoral Afrodescendente Latino Americana e Caribenha do Conselho Latino Americano de Igrejas (CLAI), é membro da IPI da Brasil representante junto a CENACORA
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Alvorada 39
EDUCAÇÃO CRISTÃ
Tudo quanto fizermos pela criança é pouco... CLAUDETE NIEL DE CASTRO
Ao longo de 44 anos “respirando” Escola Dominical (ED) como professora de todas as idades, e mais 14 anos anteriores como aluna, tenho convivido com acertos e erros, os meus e os alheios. A esta altura, sinto a necessidade e a responsabilidade de compartilhar preocupações com o futuro da educação, sobretudo de crianças, em nossa igreja. Compartilho, assim, com os irmãos minha necessidade, minha responsabilidade e minha esperança. Na fé de que Deus chama e ilumina verdadeiros educadores. A Claudete, educadora, psicóloga, é membro da 1ª IPI de São Paulo, SP
“"Tudo quanto fizermos pela criança é pouco. O cristianismo ainda tem muito a fazer pela criança. Ver a criança é ver a Jesus. Amar a criança é amar a Jesus, é amar a Deus” (Rev. Jorge Bertolaso Stella). 40 Alvorada
A Revista da Fa Família am a míllia ia
nºº 6 n 67 7o outubro/novembro/dezembro, utub u ttu ubro/novembro/dezembro, 2011
Em sua teologia sobre a imagem de Deus no ser humano, Calvino viu o ser humano como um ser que aprende inerentemente. Deus depositou no ser humano “a semente da religião” e também o deixou exposto à estrutura total do universo criado e à influência das Escrituras. Portanto, qualquer pessoa pode aprender, desde o mais simples camponês ao indivíduo mais instruído nas artes liberais.
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Ai de nós, educadores, se deixamos de sonhar sonhos impossíveis... Os profetas são aqueles ou aquelas que se molham de tal forma nas águas da sua cultura e da sua história, da cultura e da história do seu povo, que conhecem o seu aqui e o seu agora e, por isso, podem prever o amanhã que eles, mais do que advinham, realizam” (Paulo Freire).
“Havíeis, não há muito, voltado a fazer o que é reto perante mim, apregoando liberdade cada um ao seu próximo; e tínheis feito perante mim aliança, na casa que se chama pelo meu nome” (Jr 34.15).
O que a ED não deve ser
• A ED não deve ser um parque de diversões, competindo com a sociedade e a mídia. O aspecto lúdico, próprio da criança, promove a aprendizagem, mas deve ser um meio e não um fim. Devemos formar um servo de Deus que sente prazer em estar na casa do Pai, mas com consciência crescente de que está ali se preparando para a Missão de Deus. • A ED não deve ser um espaço competitivo. Estimulando competitividade, reproduziremos aquilo que a sociedade forma: a idéia de que somos adversários. Uma atitude adversária é contrária à atitude de cooperadores de Deus. Competições terão seu momento, na idade certa e no lugar adequado (esportes, acampamentos, etc). • A ED não deve ser um espaço onde o conhecimento se dá só pela razão. A verdadeira aprendizagem chega pelos sentidos e um educador, para qualquer idade, inclusive para adultos, não deve praticar “educação bancária”, fazendo de seus educandos um mero depósito de informações. • A ED não deve ser uma vitrine de técnicas, ou cairá no exagero do pragmatismo, onde pessoas assemelham-se a máquinas e o planejamento torna-se engessamento, não oferecendo espaço para o acolhimento do inesperado, do espontâneo. • A ED não deve ser o lugar onde alunos aprendem e professores ensinam, pois assim temos sofrido de estagnação. Não se forma nem educador nem educando. Vivemos um círculo vicioso que está levando a Educação Cristã à extinção. • A ED não deve ser um espaço que destrua a individualidade. Se ensinarmos que as pessoas devem se “conformar” com um ideal de “personalidade cristã”, terão dons e talentos sufocados pelo “medo do senhor” (vide parábola), sem renovação de suas mentes. • A ED não deve ser um espaço abandonado pelo seu docente maior, o pastor, pois isto destrói a identidade doutrinária e o relacionamento com o rebanho.
O que a Escola Dominical deve e pode ser
• A ED é o espaço onde se desenvolve prazerosamente a educação por respeito à capacidade inerente de aprender, considerando as condições de caráter coletivo (cada idade) e de caráter individual (cada criança). • A ED é o espaço onde se desenvolve a consciência de que Deus é amor, união, cooperação, partilha. É o espaço do reconhecimento da individualidade, onde cada um doa o seu melhor. “O esforço nunca será inútil, quando o hoje for melhor que o ontem... Esforcemo-nos sempre por sermos melhores do que somos...” (Calvino). A única pessoa que devo superar sou eu mesmo. • A ED, pedagogicamente, deve ser, até em sua arquitetura, o espaço onde o ser humano possa viver plenamente seu corpo. Tudo o que o ser humano aprendeu ou aprende passa pelos sentidos. Crianças que aprendem a priorizar o racional terão aprendizagem deficitária e uma infância perdida, que fará muita falta mais tarde. E, pelo contato corporal, exercitarão o afeto (“entranháveis afetos”), sem o que seu amor será só discurso. • A ED deve esmerar-se na técnica, recorrer à ciência, sobretudo as humanas, e fazer disto um meio para alcançar almas. O educador não tem alma; ele é alma. • A ED é o lugar onde se vive e se deixa viver, onde nos acolhemos, brincamos, choramos, ensinamos e aprendemos, desenvolvendo virtudes. É o espaço da simplicidade. • A ED é o celeiro de dons e talentos, onde o Espírito age e não se entristece. A ED é espaço de edificação, de transmissão de graça; espaço onde floresce e se revela o caminho que Deus escreveu para cada um, caminho de autonomia. • A ED é o espaço onde o pastor de almas cuida de seu rebanho desde a mais tenra idade; cuida da qualidade do “leite” para que se possa oferecer mais tarde o “alimento sólido” sem indigestão. É o espaço onde a individualidade é cultivada, para que a coerência doutrinária seja uma escolha saudável, fortalecendo a identidade de cidadãos do Reino de Deus.
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A VOZ DO CORAÇÃO
Dulce e a família
DULCE VIEIRA FRANCO DE SOUZA
“Nosso modelo é Jesus (...) de oficinas, estradas, multidões, as clamorosas exigências e certamente oposições, a falta de paz e privacidade, as interrupções. Pois esta (...) é a vida divina operando sob condições humanas” (C. S. Lewis). Eu ainda não conhecia este trecho do autor, quando contei a história de Amy Carmichael. É a biografia de uma inglesa missionária na Índia. Nossa filha, uma jovenzinha, estava nesta classe. Ela passou a ter vontade de ser missionária também. Assustei! Como aluna, teve mais fé que eu professora ao ministrar. Começamos então uma longa conversa, por anos, sobre: “Jesus indo pelo caminho...”. Veio Jesus... caminhando junto ao mar... entraram em... saindo eles da sinagoga... foram para a casa de... trouxeram a Jesus todos os enfermos e endemoniados... saiu para um lugar deserto... foi para sua casa... etc. Nunca consegui imaginar um Jesus engessado, tremendamente preso a lugares, horários, agenda rígida. Sempre o imaginei aberto a possibilidades. Podemos ter a “vida divina operando sob
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condições humanas”, aqui ou lá longe. Quando nossa jovem estava terminando o colegial, surgiu a interrogação: Vou para um seminário ou para a faculdade? Foi para a faculdade, na área de saúde, porta aberta para entrada em muitos países que restringem a entrada de religiosos. Casou-se com um colega e hoje faz especialização em psiquiatria. Irá para um distante campo missionário? Exercerá seu ministério aqui? De que forma? Ainda não sabemos. Creio que Deus usa pessoas, com qualquer profissão, em qualquer lugar, desde que se entreguem em suas mãos. Como mãe, vivi intensamente um drama. A alegria de ter uma filha de coração entregue à obra e o medo de que ela parta para um lugar distante. Nosso filho ainda cursa odontologia e se formará brevemente. Quando criança, se espelhava no pai, querendo ser bóia fria, goleiro, pastor e também na mãe, querendo ser dentista, pois dizia que dentista era mulher. Tem participado de missões (assistência à saúde e evangelismo) pelo interior do Brasil, coopera no louvor em nossa igreja, joga futebol. Só anda desanimado com a agricultura.
Alguns anos atrás, fiquei ansiosa com a demora dele, em uma tarde de sábado, pois tínhamos um compromisso. Logo ao chegar, fui dando-lhe uma bronca. Ouviu e disseme: “Posso falar?” Então relatou que estivera ajudando um senhor idoso a trocar um pneu. Ainda estava com as mãos sujas. Não havia esquecido o compromisso. Valorizo o quê? Qual prática é louvada? Nossos filhos estão sendo preparados para difíceis concursos. Precisam saber mais de duas línguas e ter um diferencial. O mercado de trabalho é cada vez mais exigente. Se passarem em um vestibular ou concurso difícil, poderão ir para bem longe. Queremos nossos filhos em ministérios dentro ou fora do Brasil? As empresas, muitas vezes, pagam bem e compram o tempo da família, da igreja. Concordamos? Desde que paguem bem? Quando será o tempo de viver, de fazer sua biografia? Quem continuará nossas igrejas? Nossos filhos poderão ficar para ter uma vida simples, honesta, compromissada com a casa do Senhor? Julgaremos que são também um sucesso? O que realmente desejo de nossos filhos? O que é
sucesso do ponto de vista de Deus? Nossos filhos estão com os dentes corrigidos ortodonticamente, impecáveis. Estão felizes? Suas fotos mostram sorriso sincero ou mecânico? Seu olhar e sua fala mostram alegria de viver? Atamos fardos? Talvez queiramos para nossos descendentes um mundo sem dores. Evitamos que eles visitem doentes, asilos, hospitais, velórios. Sem palavras, pregamos a cultura do prazer. Talvez queiramos um mundo sem doação. Ensinamos apenas a receber e exigir. Sem palavras, os preparamos para a cultura do egoísmo. Que coisa absurda seria hoje trazer para Jesus, numa tarde, “todos os enfermos e endemoniados” (Mc 1.32). “E ele curou muitos” (Mc 1.34). A biografia de Paul Bread, de Philipy Yansey, também trouxe impacto em nossa casa. Carreira promissora? Servir? Agenda? Bagunça? Abertura a possibilidades? Vida divina em condições humanas. Entrega. Deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor (2Co 8.5). A Dulce é da IPI de Botelhos, MG
Quem continuará nossas igrejas? Nossos filhos poderão ficar para ter uma vida simples, honesta, compromissada com a casa do Senhor?
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CRISTIANISMO
O desafio para a igreja hoje EVANDRO LUCCHINI
Quando ouvimos as terríveis notícias vindas de países de maioria muçulmana sobre homens bombas ou relatos do tratamento dado às mulheres, reagimos com perplexidade e desprezo. Corremos o risco de generalizar e concluirmos, erroneamente, que todos os muçulmanos são maus e merecem nosso desprezo. Esta reação é enganosa e não condiz com a mensagem do evangelho. Nós, brasileiros em geral e em particular a igreja brasileira, conhecemos pouco
sobre o Islamismo. Por isso, generalizamos em nossa avaliação e colocamos todos os muçulmanos em um só “pacote”. Por muitos anos, a igreja brasileira não teve os muçulmanos como um grupo prioritário para esforços evangelísticos e missionários, o que tem mudado aos poucos. A razão, em grande parte, se deve ao fato de não haver uma porcentagem significativa de muçulmanos em nosso país (menos de 0,5% da população). “Longe dos olhos, longe do coração”. No entanto, precisamos estar atentos à
realidade; e ela tem mudado. Há cerca de 100 mesquitas espalhadas nas principais cidades brasileiras. Segundo as autoridades islâmicas no Brasil, já existe 1 milhão de seguidores de Maomé no país, sendo estes não somente descendentes de árabes como no passado, mas muitos brasileiros convertidos ao Islamismo. A fé islâmica não está restrita aos árabes. Nem todo árabe é muçulmano e nem todo muçulmano é árabe. Há muitos árabes cristãos, assim com há muitos asiáticos ou europeus que professam a fé em Alá.
Como surgiu o Ismamismo O Islamismo nasceu com Mohamed ou Maomé, que teria recebido as revelações do Alcorão (“recitação”) entre 610 a 623 dC. Os cinco pilares do Islamismo são:
32Jejuar no Ramadã (30 dias com je-
12Fazer a declaração de fé: “Não
até Meca (considerada a cidade sagrada na Arábia Saudita) pelo menos uma vez na vida.
há outro deus senão Alá, e Maomé é o seu profeta”;
22 Orar cinco vezes ao dia (orações
que devem ser feitas em árabe, ajoelhado e voltado para Meca);
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jum do amanhecer ao por do sol);
42Dar esmolas; 52Peregrinar
Há irreconciliáveis aspectos nas declarações de fé entre o Islamismo e o Cristianismo. Para eles, a nº 67 outubro/novembro/dezembro, 2011
Bíblia foi adulterada com o passar dos anos e, por isso, não é a maior revelação disponível. Esta posição é dada ao Alcorão. Outro tema diz respeito à divindade de Cristo. Para eles, Jesus foi apenas um profeta e não Deus encarnado. Por isso, para eles é blasfêmia dizer que Jesus é Deus. Referem-se a Jesus apenas como homem. A doutrina da Trindade é também categoricamente rejeitada pelo Islamismo. Eles afirmam que Alá é apenas uno e não aceitam
O Islamismo é uma religião que busca avançar e conquistar novos adeptos. Neste sentido, é missionária – e sua missão é que o mundo todo seja muçulmano. É notório o crescimento do Islamismo na Europa e América do Norte, como também na África e Ásia. Este avanço se dá por novos convertidos e pelo alto índice de natalidade. Enquanto uma mulher ocidental tem 1 ou 2 filhos, uma muçulmana tem 4 a 6 filhos. Podemos imaginar o que isso produzirá em algumas décadas. Para o Islamismo, as leis do Al-
que se fale de Deus como ser triúno. Afirmam que este conceito foi tirado da idolatria e inventado pelo homem. Afirmam que os cristãos adoram três deuses. Confundem as definições de trindade e triteísmo. Outra doutrina fundamental para os cristãos, mas rejeitada pelos muçulmanos, é a crença na morte e ressurreição de Cristo. Para eles, Cristo não ressuscitou, pois nem mesmo morreu. Afirmam que Ele apenas foi elevado aos céus. A Revista da Família
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Ex-muçulmanos convertidos ao , s o s e r p o ã s o m is n a ti is r c ia r p ó r p la e p s o d ta a r lt a m s. to r o m s e z e v s à e ia íl m fa corão devem reger todos os aspectos da vida. Isto, se levado ao extremo, elimina a liberdade em nome da submissão a Alá. Em muitos países muçulmanos, as normas do Alcorão e da tradição religiosa (Hadith) vigoram como código nacional. A sharia, como é chamada neste caso, é a constituição baseada no Alcorão. É a lei religiosa aplicada a todos. Um dos problemas é que a interpretação da Sharia depende dos líderes, de cada país ou corte religiosa. Por isso, ouvimos de países que tratam de forma absurda as mulheres e os que se convertem ao cristianismo. Extremistas se utilizam desta lei para apoiarem a guerra santa ou guerra em nome de Alá (Jihad). Qual deve ser nossa atitude como cristãos? Em primeiro lugar, não podemos ver os muçulmanos como inimigos nem nos amedrontarmos com o seu crescimento, mesmo sabendo que há muita perseguição ao cristianismo em países de maioria muçulmana e esta perseguição tem crescido.
Ex-muçulmanos convertidos ao cristianismo são presos, maltratados pela própria família e às vezes mortos. Devemos orar pela igreja perseguida nos países muçulmanos. Precisamos de muita oração intercessória. Orar para que os olhos espirituais dos muçulmanos sejam abertos. Jesus nos alerta a olhar os campos que já branquejam para a ceifa. Também precisamos orar por mais missionários para estes povos. Vistos de permanência não são facilmente concedidos nestes países para missionários no estilo tradicional. Alternativamente precisamos de missionários “fazedores de tendas” ou profissionais cheios do amor de Cristo para irem a eles. O famoso pastor canadense Oswald Smith disse categoricamente: “Ninguém deve ter o privilégio de ouvir o evangelho duas vezes, até que todos ouçam pelo menos uma vez” Nossa atitude deve ser de amor e respeito, e não entrar em discussões que beiram à rejeição. O apóstolo
Pedro nos exorta: “Antes, santificai a Cristo como Senhor em vossos corações, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (1Pe 3.15-16). Preocupe-se com eles e não apenas com suas almas. Se você conhece algum muçulmano, construa relacionamentos de amizade, gaste tempo e convide-o para o seu mundo. Sirva-o como servo de Cristo e evite “empurrar goela abaixo” suas convicções. Todavia, não tenha medo de falar de sua fé. Está aí uma grande oportunidade e um grande desafio para a igreja brasileira. Vamos abrir os olhos e o coração para os muçulmanos. O Rev. Evandro é vice-presidente da Agência Missionária CCI-Brasil, cujo foco é a plantação de igrejas entre povos não alcançados (especialmente árabes, curdos, turcos e ciganos). Com sua esposa Jane, dedica-se ao cuidado pastoral de missionários. É pastor da IPI do Brasil há 28 anos e pastor auxiliar da IPI Central de Presidente Prudente, SP, há 18 anos.
Igreja perseguida Nos 15 países onde há mais perseguição aos cristãos, 14 são muçulmanos
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A falta de liberdade para a fé cristã nestes países se contrasta com a total liberdade concedida a eles de praticarem suas crenças nos países ocidentais. Dos 15 países do mundo onde há mais perseguição aos cristãos, 14 deles são de maioria muçulmana. Cristãos são impedidos de possuir a Bíblia, reunir-se como igreja, mesmo em suas casas, e são proibidos de propagar sua fé. Filhos convertidos podem perder direito a herança e empregados podem perder seus empregos.
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IGREJA REFORMADA
31 DE OUTUBRO
DIA REFORMA PROTESTANTE
Comunidade reformada! ARI BOTELHO
Com a graça que Cristo oferece, Outorgada na morte da cruz, Multidões, ao longo da história, Usufruíram da vida plena em Jesus! Nunca esmoreceram, não se descuidaram, Inteirados da responsabilidade, plenos de poder, Dedicaram-se ao estudo da ciência e dela aprenderem... Agregados na Reforma e orientação de Calvino, Destruíram as amarras da escravidão e seu destino, Eleitos em Cristo para, com Ele, viverem em glória! Responsáveis e atuantes, Ensinadores e influentes, Fortalecidos e vibrantes, Observadores e insinuantes, Reformando aos andarilhos da vida Mediante Cristo, em obediência à sua Palavra, Atuaram e influenciaram na lida, Dando exemplos àquele que a terra lavra, Amando ao Senhor e servindo-o com alegria incontida! O Rev. Ari é pastor da IPI do Brasil
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ESTUDO
Sendo
revitalizados por
Jesus
CÉSAR SÓRIA DE ANUNCIAÇÃO
Gostaria de pensar com você sobre a necessidade de revitalizar a fé pessoal, da família e, principalmente, da Igreja de Cristo. No texto bíblico acima indicado, ela passa necessariamente por estas duas palavras-chave: o espírito e a verdade.
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Em espírito
O poço e a fonte (v. 5-14) Você já reparou como a maioria das pessoas tem dificuldades para enfrentar mudanças? Sentimo-nos tão seguros e tranqüilos em nossa “zona de conforto”! Sempre que chegamos em casa, depois de um dia de trabalho, começam as velhas
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rotinas: tirar o sapato dos pés, jogar o corpo no sofá (ou na cama), tomar uma ducha, verificar os serviços domésticos que ficaram pendentes do dia anterior, etc. Mesmo quando as coisas não caminham muito bem na vida, família e igreja, não nos sentimos à vontade para as mudanças. Nossa vida é feita de rotinas.
E isto não aconteceu de um dia para o outro. Não! Muito antes disso, desde a nossa infância, hábitos (saudáveis ou não) nos foram inculcados! Um desses hábitos é que aprendemos a buscar, nós mesmos, a nossa água no poço. Ou seja, conseguirmos grandes proezas com o nosso esforço. Isto se tornou um círculo vicioso. Há tempos, ouço os pais dizendo que dão o melhor estudo para os filhos na esperança de se tornarem “doutores”. E, se não for possível acumular riquezas, pelo menos que não passem fome, sabendo “tirar a água do poço”. Não era diferente com a mulher de Samaria. Este início de conversa nos ajuda na compreensão de que somos levados a nos acostumar com esta realidade. Somos constantemente treinados e levados à presença dos poços para não desfalecermos na caminhada do dia-a-dia. Mais e mais poços, sempre! Aquela mulher foi ensinada, desde criança, a ir buscar água no poço. Era uma prática que vinha desde o Antigo Testamento, com Jacó. O curioso é que ela precisava da água para renovar as forças, mas tinha de fazer muita força para conseguir a água. Depois de obtê-la, estava cansada e sobrecarregada. Nós também vivemos assim. Desde a infância, aprendemos que somos um braço produtivo a mais para a sociedade. A mensagem que recebemos é que podemos esperar dias melhores, se nos esforçarmos até ficarmos fadigados. Mas isto nunca acontece. Nunca alcançamos a graça e, fatalmente, nunca a desfrutaremos. Jesus tem algo muito melhor para a vida daquela mulher. Ele é a fonte de água viva e, se ela beber da água que Ele tem, jamais voltará a ter sede de novo. Ele é maior que qualquer costume, forma de ver o mundo ou
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realizar tarefas. O primeiro passo para sermos revitalizados em nossa fé é dado por Ele mesmo. Ele é maior que todos os hábitos que nos afastam de Deus. É maior que a nossa decepção com as pessoas, maior que as frustrações de um lar com sérios problemas de relacionamentos, que casamentos cheios de brigas. Enfim, Ele é maior que as nossas dores e nos devolve o desejo de viver uma realidade santa, abençoada e servidora. Por isso, mesmo que você fale “não consigo mudar”, não desista, porque Jesus é quem nos transforma. E confiar nisto já nos revitaliza. Ele é maior que tudo em nossa vida. Confie e deixe-o fazer por você.
Em verdade
Água e espelho (15-24) Richard Foster, escritor cristão de vários livros, entre eles “Celebração da Disciplina”, certa vez pregou uma mensagem sobre pessoas que não oram a Deus com confiança. O motivo, segundo ele, seria por causa do nosso coração que nos condena (1Jo 3.18-21). Seria da seguinte forma: • Algumas pessoas se condenam pela sua aparência. Não gostam do que vêem diante do espelho. A indústria de cosméticos ganha muito dinheiro com elas. Não se acham boas o suficiente, e culpam a Deus por isso. Forte desejo de mudanças físicas. • Outras não gostam do lugar onde estão. Por que esta família? Por que esta casa? Por que esta igreja? Por que trabalhar aqui? Eu quero um novo lar, uma nova esposa. Sinto vergonha dos meus pais. Forte desejo de mudança geográfica. • E a condenação pelo que faz ou diz. E, neste ponto, não há como
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sidath
Mesmo quando as coisas não caminham muito bem na vida, família e igreja, não nos sentimos à vontade para as mudanças. Nossa vida é feita de rotinas.
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Medite em Jo 4.5-30, 40-42
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Três passos importantes para Jesus poder agir em sua vida:
1 2 3
Primeiro: Beba da fonte – Jesus. Medite em sua Palavra, tenha uma vida de oração para ouvir a voz de Deus e tenha comunhão com a igreja de Cristo. Segundo: Fale a verdade consigo mesmo. Isto é essencial para Deus produzir libertação em sua vida (Jo 8.32). Terceiro: Seja um verdadeiro adorador. Confie. Fale do amor de Deus em todo o tempo para todas as pessoas, e você será uma bênção nas mãos do nosso Pai Celeste.
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encontrar outros culpados. A culpa pode existir por causa de um pecado secreto, camuflado. E há também a culpa por erros que não são pecados (por exemplo, trocar de emprego e ser despedido). Jesus mostra que a relação da mulher com o poço era um espelho dos relacionamentos dela com as pessoas. Teve 5 maridos, sempre atrás de saciar a sede da alma. E, quando Jesus fala com ela, dá-lhe a esperança de mudar de vida, não mais ser a mesma com o mesmo estilo de vida. Ela precisa enfrentar sua verdade, precisa da água viva no seu interior. Muitas pessoas, famílias e igrejas passam por dramas na vida e, como a samaritana, gostariam que não fosse assim. Talvez a fé esfriou, houve decepção com um líder da igreja, ou tenha confiado em alguém que indignamente contou segredos de sua vida para Deus e o mundo. Talvez o vício do álcool ou o tabagismo ou as drogas. Ou ainda aqueles que, sinceramente, toda a vez que se aproximam de Deus, sentem que tudo fica mais difícil. Afinal, por quê? Qual é a verdade? Você pode mudar de cidade, igreja, família, cônjuge e carro. Pode ir pra melhor cidade do mundo, para a igreja da moda, aonde todo mundo vai. Mas a verdade é que, se o seu coração não for realmente transformado pela água viva, que só Jesus pode dar, tudo o que você fará é ir de poço
»
em poço, para saciar uma sede que sempre voltará a incomodar você. Precisamos deixar os poços para trás e encontrar a Fonte da Vida – Jesus.
O verdadeiro adorador
(28-30; 40-42) Quando estamos acomodados, desanimados, deprimidos, a maior marca que temos é a indiferença. Não sentimos vontade de continuar nem de mudar. Não temos força em nós mesmos para nada. A Palavra que Jesus deu àquela mulher mudou a sua vida. Ela deixou o cântaro junto à fonte, não se importava mais com a água do poço. Foi à cidade falar aos seus amigos, vizinhos, parentes e ex-maridos sobre o Messias que eles tanto esperavam. Este falar a todos sobre o amor de Deus é essencial para a revitalização. Se não pregamos, talvez seja porque não confiamos mais em Deus. Mas, se você tem esta fé confiante, não deixe de anunciar este maravilhoso amor, para não desfalecer na fé. Anunciar seu encontro com Jesus foi a prova que ela voltou a viver. O verdadeiro adorador prioriza um relacionamento em espírito e em verdade com Deus. Sendo assim, sejamos revitalizados por Jesus O Rev. César, pastor da IPI de Mandaguaçu, PR, é secretário de Evangelização da IPI do Brasil
Falar a todos sobre o amor de Deus é essencial para a revitalização. Se não pregamos, talvez seja porque não confiamos mais em Deus. Mas, se você tem esta fé confiante, não deixe de anunciar este maravilhoso amor, para não desfalecer na fé.
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PALAVRA DE DEUS
A Bíblia para o Jovem é o tema do
Dia da Bíblia 2011 LUCIANA GARBELINI E DENISE LIMA
O Dia da Bíblia
Criado em 1549, na GrãBretanha pelo Bispo Cranmer, o Dia da Bíblia começou a ser celebrado no Brasil em 1850, quando chegaram da Europa e EUA os primeiros missionários evangélicos. Porém, a primeira manifestação pública aconteceu quando foi fundada a Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), em 1948. Graças ao trabalho de divulgação das Escrituras Sagradas, desempenhado pela SBB, as comemorações se intensificaram e diversificaram, passando a incluir a realização de cultos, carreatas, shows, maratonas de leitura bíblica, exposições bíblicas, construção de monumentos à Bíblia e ampla distribuição de Escrituras - formas que os cristãos encontraram de agradecer a Deus por esse alimento para a vida.
“A Bíblia para o Jovem” é o tema que vai orientar as celebrações do Dia da Bíblia 2011, no segundo domingo de dezembro. Todas as igrejas brasileiras podem participar da campanha proposta pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Baseada em Provérbios 3.6 - Lembre de Deus em tudo o que fizer, e ele lhe mostrará o caminho certo -, tem o objetivo de conectar a juventude com a Palavra de Deus e enfatizar a importância dos princípios bíblicos para a vida. “Desenvolvemos uma série de ferramentas para ajudar igrejas, congregações e ministérios a colocar a Bíblia no dia a dia dos jovens brasileiros. É importante que os líderes desses jovens também sejam envolvidos na preparação de uma grande
DE 1 1 DEZEMBRO DIA DA
BÍBLIA
celebração em torno do Livro Sagrado”, diz o secretário de Comunicação e Ação Social da SBB, Erní Seibert. A SBB disponibiliza cartazes, material para evangelização de jovens, cofrinho para crianças, envelopes para arrecadação de ofertas pela distribuição da Bíblia, modelo para confecção de camisetas do Dia da Bíblia e Planos de Leitura da Bíblia segmentados: para crianças e jovens, além de um para a leitura da Bíblia completa em um ano. Este material pode ser solicitado através do hotsite www.sbb. org.br/diadabiblia, onde também estão reunidas informações detalhadas sobre como usar essas ferramenta e idéias para marcar o Dia da Bíblia 2011. “As igrejas também poderão utilizar o hotsite do Dia da Bíblia para divulgar suas programações. Mas é importante que elas se mobilizem para comunicar suas ações ao maior número de pessoas possível, utilizando seus próprios meios de comunicação: boletins, jornais, informativos, programas de Rádio e TV, Internet e redes sociais”, orienta Seibert. O Dia da Bíblia é celebrado no segundo domingo de dezembro e durante toda a semana que o precede. A SBB estará engajada na divulgação de eventos e programações, realizadas por igrejas de todo o País. A Luciana e a Denise são assessoras de imprensa da SBB
Acesse m www.sbb.org.br/diadabiblia A Revista da Família
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Alvorada 51
REFLEXÃO
PASTORAL
TECNOLOGIA
As mudanças tecnológicas e a Pastoral Urbana O mundo está em permanente transição. Com a corrida tecnológica, a internet, cabos de fibra ótica e sofisticadas invenções cibernéticas, o globo terrestre tem se tornado mais uniforme e informado. A comunicação ultrapassou os limites geográficos e as distâncias continentais com a ascensão dos computadores mobiles, microprocessadores cada vez mais velozes, plataformas de internet sofisticadíssimas e invencionices científicas cada vez mais diversificadas. A igreja evangélica brasileira, especialmente, também tem acompanhado esse momento histórico mundial.
52 Alvorada
A Revista da Família
THIAGO GIGO PEREIRA
A igreja também tem absorvido várias tecnologias, bem como as influências da contemporaneidade. Historicamente, ela sempre acaba aspirando as mudanças culturais, políticas e, agora, tecnológicas. Isso se torna evidente quando analisamos os períodos vividos no Brasil e as respostas dos movimentos evangélicos. Por exemplo: no tempo da ditadura militar, proclamava-se, mais enfaticamente, a parousia; sem preterir os fatos históricos, da década de setenta até os dias atuais, aconteceram muitas alterações no modus operandi da igreja. Talvez
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o movimento neo-pentecostal e suas idiossincrasias simbolizem essas absorvências com mais clareza. A pós-modernidade e seus sub-valores foram, sem dúvida, os maiores responsáveis pelo surgimento de uma mentalidade evangélica utilitarista, pragmática e sincrética, bem como coresponsável pela confecção de teologias pobres e anti-exegéticas. Embora muitas interpretações dualísticas de alguns religiosos desprezem tais influências sociológicas, separando a igreja do mundo, a igreja está no mundo, faz parte dele e acompanha seu desenvolvimento histórico, sóciocultural, político e, não menos
importante, tecnológico. Diante de tais considerações, poderíamos salientar várias assimilações, alterações na rotina pastoral e o quanto as mudanças tecnológicas desafiam a pastoral urbana, especialmente a pessoa do pastor urbano. Um dos desafios da pastoral urbana é contextualizar os ministérios bíblicos à realidade do cotidiano. Fazer leituras das realidades, dos tempos, da cidade e das pessoas a fim de que sejamos mais profícuos na pregação do Evangelho do Reino de Deus. Jorge Barro chama isso de exegese da cidade: “Precisamos também aprender a fazer exegese da cidade, para que a Palavra de Deus tenha sentido e pertinência às pessoas”. Numa leitura superficial, mesmo sem a necessidade de uma pesquisa de campo minuciosa,
é evidente a importância das ferramentas tecnológicas para o ministério pastoral urbano. Torna-se cada vez mais comum a presença de equipamentos sofisticados nas igrejas, tais como: projetores, telão eletrônico, ar condicionado, aparelhos eletrônicos para sonoplastia de última geração, instrumentos musicais que utilizam processadores e microcomputadores, câmeras para monitoramento, TVs de plasma e até cartões magnéticos para controle da saída e entrada das pessoas. É comum a utilização de sites para a evangelização e divulgação de atividades, transmissão via satélite, mala direta eletrônica para a comunicação com os fiéis. Até as igrejas mais ortodoxas, com templos em arquitetura medieval, aderem às novas tecno-
logias do mundo hodierno. Um exemplo disso é o visível contraste na 1ª IPI de Bauru entre o arcaico e contemporâneo. Seu templo em estilo arquitetônico gótico francês possui sala de multimídia, equipamento para divulgação dos cultos on-line, projeção com telão eletrônico, piano eletrônico além de vários outros aparelhos que aperfeiçoam as atividades eclesiásticas. E não é somente a igreja que absorve os benefícios da tecnologia. O pastor rural é cada vez mais raro. Após o êxodo rural, as grandes cidades tiveram um expressivo crescimento. Juntamente com ele, vieram os problemas sociais. Um exemplo clássico é a notória expansão do mercado de segurança eletrônica, batendo recordes de crescimento. Num Brasil quase
Torna-se cada vez mais comum a presença de equipamentos sofisticados nas igrejas, tais como: projetores, telão eletrônico, ar condicionado, aparelhos eletrônicos para sonoplastia de última geração, instrumentos musicais que utilizam processadores e microcomputadores, câmeras para monitoramento, TVs de plasma e até cartões magnéticos para controle da saída e entrada das pessoas.
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Alvorada 53
100% urbanizado, com o surgimento das grandes cidades e seus desafios, tais como: falta de segurança, isolamento pessoal, estresse, depressão, dentre outros, a pessoa do pastor urbano se tornou uma necessidade para a pregação do evangelho de maneira eficaz. O pastor urbano não consegue viver privilégios de que o pastor rural desfrutou no passado, tais como tempo hábil para dar atenção aos membros, igreja pequena e membros com relativo tempo para servir. O mundo mudou e, com as alterações histórico-sociais, vieram as tecnologias que facilitam, ou não, as atividades pastorais. O pastor urbano deve dominar inúmeras tecnologias para a execução de atividades do ministério. É cada vez mais comum a utilização de e-mails, em detrimento do telefonema para a comunicação com os membros. O celular se tornou um companheiro inseparável e o pastor pode ser encontrado em qualquer lugar. Programas para exegese (como o Bible Works) para a confecção de sermões, Bíblias eletrônicas e softwares práticos para administração eclesiástica são cada vez mais utilizados por pastores que não andam sem o notebook. O computador se tornou uma ferramenta tão indispensável quanto a Bíblia. O carro possui GPS para
facilitar a localização dos membros nas grandes cidades. As atividades pastorais têm sido profundamente influenciadas pelas novas tecnologias. O ostracismo do pastor urbano avesso à tecnologia pode prejudicálo no ministério. O mundo moderno não tolera mais pastores sem celular, desinformatizados e desconectados do mundo cibernético. O que Jesus faria em nosso lugar? Ele seria um pregador que polarizaria o mundo tecnológico e a igreja ou utilizaria das coisas do mundo para apresentar o Reino de Deus? Jesus demonizaria a tecnologia? Ao analisar as parábolas do Mestre, nota-se que o Senhor Jesus Cristo utilizou-se das novidades do seu tempo, da cultura semita e das realidades do seu sitz in lebem (lugar vivencial) para expor as verdades do Reino de Deus. Os quatro evangelhos apresentam Jesus como um profundo intérprete das necessidades do seu tempo. O Sermão da Montanha, por exemplo, é também um modelo de pregação que assimila perfeitamente as coisas e realidades contextuais com a mensagem emitida, ou seja, a linguagem de Jesus é repleta de exemplos retirados da agricultura, da ordem política, do comportamento ético-moral do povo e da religiosidade da época. Jesus, modelo
supra de comportamento pastoral, não desprezou a importância da cultura e dos costumes do povo, antes, compreendia que a conscientização do discípulo do Reino acontecia por meio das coisas simples cotidianas como ferramentas úteis para a pregação do evangelho. Jesus utilizou-se das “tecnologias” e recursos do seu tempo, de maneira consciente, para a promoção do Reino de Deus, sem alterar a essência do evangelho. Sendo assim, as mudanças supracitadas servem para a reflexão sobre o comportamento do pastor urbano diante dos desafios do mundo presente. Felizmente ou não, a relevância das novidades tecnológicas é indiscutível. A igreja deve se preparar para expor as verdades do evangelho, fazendo uso dos meios tecnológicos disponíveis. Seria uma desventura não fazer uso da velocidade proporcionada pelos meios tecnológicos para pregar a Palavra de Deus, mesmo com suas esquisitices. A comunicação do evangelho precisa acompanhar as mudanças culturais, históricas e psicossociais, sem receber suas influências maléficas. Esse talvez seja um dos maiores desafios da pastoral urbana da igreja evangélica brasileira. O Rev. Thiago é pastor da 5ª IPI de Bauru, SP
Equipamentos e tecnologias cada vez mais comuns em igrejas e atividades pastorais Para a Igreja
Projetores Telão eletrônico Ar condicionado Aparelhos eletrônicos para sonoplastia Instrumentos musicais com processadores e microcomputadores Câmeras para monitoramento
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TVs de plasma Cartões magnéticos para controle da saída e entrada das pessoas. Sites para a evangelização e divulgação de atividades, transmissão via satélite Mala direta eletrônica para a comunicação com os fiéis.
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Para o Pastor/Pastora
Celulares Programas para exegese Bíblias eletrônicas Softwares práticos para administração eclesiástica Notebook GPS para realizar visitas
DE 0 2 NOVEMBRO DIA DO
MÚSICO do mestre/dirigente, é possível, viável e louvável o investimento em formação musical. No entanto, outra reflexão se faz necessária: qual é o “modelo” do músico a ser formado? Os primeiros versículos do Salmo 33 dão subsídio para montar o perfil deste ministro: justo, reto, cantor ou instrumentista, disposto a entoar um cântico novo, hábil em sua arte e jubiloso em sua função. Isto mostra que caráter, ética, vida com Deus e musicalidade andam juntos, porém, à exceção da musicalidade, todos estes atributos podem ser “ministrados” pela igreja na vida de todos os seus membros, ficando mais fácil para aquele que eventualmente demonstrar dom para a música preparar-se para este ministério com mais embasamento. Em resumo, ao formar caráter cristão, é possível formar bons cristãos. Identificando dons musicais em bons cristãos e promovendo sua formação musical, haverá bons músicos cristãos (que é o que qualquer igreja quer). O músico formado segundo estes princípios irá, sem dificuldade, assessorar sua comunidade na tarefa de cantar este “cântico novo”. Finalmente, a reflexão sobre este tema se faz bem oportuna, uma vez que vivemos num mundo globalizado e sujeito a todos os tipos de influência. Logo, se as igrejas não abraçarem a causa da formação de seus músicos, a autodidática ou “outras” escolas de formação se encarregarão deste papel.
JONAS PEREIRA DE SOUZA
Para iniciar a análise da história da música no meio do Povo de Deus, é interessante notar que o louvor a Deus através da música já se fazia presente na vida do povo de Israel de uma forma natural (Êx 15.1-21). O rei Davi, em um outro momento, organizou o serviço dos músicos no tabernáculo. Um fato importante é que houve a designação de dirigentes do canto (1Cr 6.31-48; 1Cr 25.1-31), líderes que encabeçavam a ministração da música. Aqui, pode-se observar uma transição que acompanhou a trajetória de Israel. A nação estabilizada em sua terra veio a organizar os elementos do culto a Deus e, particularmente na questão musical, delegou a tarefa a especialistas, por assim dizer. Notadamente, em 1 Crônicas 25, a função dos cantores vem logo após a dos sacerdotes, seguida dos porteiros. Quanto às orientações dos Salmos, dentre os muitos incentivos a que se louve a Deus com música, no Salmo 33.3 está escrito: “Tangei com arte e com júbilo”, outra tradução diz: “Tocai bem e com júbilo”. Aqui, entendese que o músico deve ampliar ao máximo sua habilidade para fazer um trabalho bem feito e, assim, prestar bem o seu culto. A relação a ser estabelecida com os nossos dias é que um culto organizado requer um respaldo musical de qualidade, tanto quanto for possível. À vista disso, se investimento for entendido como valorização à função do músico, incentivo à qualificação e normatização/recompensa monetária ao serviço de qualidade
O Jonas, teólogo, músico, compositor, é membro da IPI de Cidade Patriarca, na Congregação da Cidade A. E. Carvalho, São Paulo, SP
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Alvorada 55
REFLEXÃO
DE 5 2 DEZEMBRO
NATAL
JESUS
e as crianças rejeitadas pelos pais e por nós SANDRA REGINA MORAES VILHAGRA
“Ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2.7). “Eis que o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos, dizendo: Levantate, e toma o menino e sua mãe, e foge para o Egito... porque Herodes há de procurar o menino para o matar” (Mt 2.13).
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Uma noite como outra qualquer, numa cidade chamada Belém, um casal chega à porta de um hospital procurando atendimento, pois a mulher estava prestes a dar à luz. Porém a resposta que ouviu foi: “Não há lugar aqui. Tudo está lotado”. Eles saíram à procura de outro atendimento hospitalar, onde receberam informação semelhante. Então, o marido aflito chamou o Corpo de Bombeiros que prontamente os levaram de volta ao primeiro hospital para outra tentativa, mas foi em vão. Os gêmeos nasceram mortos no caminho. Além de alegar a superlotação, um dos profissionais médicos de plantão afirmou que as crianças já estavam mortas antes mesmo de nascerem. Se verdadeiro ou não, isso não justifica esse ato da omissão de socorro, pois a gestante nem mesmo foi examinada na ocasião, apesar de a Constituição Federal do Brasil, estabelecer que "a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário
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às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação" (Art. 196). Apesar de ser direito, não se pode negar que há desigualdades sociais e falta de qualidade no acesso aos serviços médicos. Em primeiro lugar, se essas crianças conseguissem sobreviver, apesar de pobres, elas teriam um pai e uma mãe que os amariam. Eis o relato do pai em entrevista a uma emissora de TV local: “Dormi pouco. Acordei chorando ao sonhar com meus filhos. Amava-os como se eles já tivessem nascido”. Ganhando menos de um salário mínimo, ele começou a comprar o enxoval das crianças quando a sua esposa estava no terceiro mês de gravidez. Os gêmeos seriam os primeiros filhos do casal. Em segundo lugar, esse fato foi divulgado, mas muitos outros não são divulgados. E, em terceiro, inúmeras crianças sobrevivem, mas são mal recebidas pela sociedade, resultando num mal em nossa realidade, o que é o assunto que queremos abordar, aproveitando o ensejo do Natal.
NÃO HÁ LUGAR (Lc 2.7)
Recebendo-O na glória, Onde um trono lhe preparou.
ANTONIO OLIVEIRA FARIA Belém estava cheia Pessoas de todos os lados Para Belém vieram alistar-se Os hotéis estavam lotados De visitantes Grandes, pequenos, ricos e pobres Não havia mais lugar para ninguém
Os povos de todos os tempos Continuaram a rejeitá-lo Não cedendo em suas vidas, Sequer um pequeno lugar. Mas Jesus incansavelmente Batendo à porta do teu coração Pede-te um lugar: Para fazer a sua habitação.
Um casal humilde ali chega, Manso e tranqüilo, percorre as hospedarias Em cada porta que batem, Ouvem dizer: não há lugar! Vão embora!
Qualquer semelhança não é mera coincidência!
O fato que comentamos acima é semelhante ao ocorrido numa outra Belém, há mais de dois mil anos. Um casal sem influência na sociedade bateu em várias portas em uma noite, à procura de um lugar para seu filho nascer. O que ouviram? “Não há lugar!” Foram parar em um curral onde dormiam alguns animais e ali nasceu o seu filhinho, que se chamou Jesus. Depois, o menino foi perseguido pelo malvado Herodes, mas, por providência de Deus, Ele foi livre de ser morto ainda bebê. Jesus não morreu na infância, porém foi morto na fase adulta, porque esse era o propósito de Deus para a humanidade, propósito esse que se cumpriu na vida, morte e ressurreição de Cristo. No seu ministério, o Mestre recebeu as crianças para as abençoar com todo amor, colocando-as como as mais especiais no Reino de Deus. No entanto, hoje em nossas “Beléns” brasileiras, ainda não há
E foi assim, porta fechada aqui, Porta fechada ali, Que foram parar no curral, cheio de animais Oferecido a contra gosto, àquele casal que De um lugar precisava para repousar. Foi naquele curral sujo e malcheiroso Que uma criança conhece o mundo dos homens Ao nascer, ela vê que nesse mundo, Nem tudo são flores. São mais espinhos que flores É mais ódio que amor É mais violência que justiça É mais guerra que paz É mais incredulidade que fé É mais rejeição que aceitação. No mundo dos homens, Deus é rejeitado O irmão é rejeitado Nele não há lugar para Deus, Nele não há lugar para mim, nem para você. Jesus, ainda no ventre materno, Ouve dizer: Não há lugar para você, Jesus!
Você quer recebê-lo em sua vida Para com Deus ir morar? Ouça a sua voz e convide-O a entrar. Grande júbilo no céu, Onde os anjos põem-se a cantar, Pois o pecador procurou se salvar. Em tempos remotos Nem todos o rejeitaram No Oriente sabendo, Os magos vieram visitá-lo. Com seus presentes, ouro, mirra e incenso A seus pés se prostraram. De Belém, os pobres pastores, Recebendo a notícia, Foram adorá-lo, Com eles, um coro de anjos, Cantando e louvando, Todos se alegraram. Muitos sinais e prodígios Jesus realizou, Para mostrar ao mundo, Que o Pai o visitou.
Jesus cresceu e foi novamente rejeitado Chegou a ser expulso da sua própria cidade; Foi rejeitado pelos seus irmãos; Foi rejeitado pelo seu povo. Ele veio para o seu povo, Mas o seu povo não quis recebê-lo.
O seu amor pelo mundo Foi sem medida, Como maior prova, Deu-lhe a sua vida. Ali, cravado naquela cruz, A todos, perdoou Jesus.
Por ser rejeitado, foi levado à prisão Esteve diante dos poderosos, Que lhe negaram absolvição. Resolutos, rejeitarm-nO, Condenando-O à cruz, Onde morreu por todos nós.
E você, recusa-lhe um lugar? Saiba, perderá um amor sem par. Jesus te convida: Filho meu, dá-me o teu coração, Pois em mim, encontrarás a salvação!
Deus, no entanto, muito O amou! Por isso, no terceiro dia O ressuscitou. Após quarenta dias O exaltou,
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O Rev. Antonio é pastor da IPI de Votuporanga, SP
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lugar para muitas crianças nascerem. Vivemos numa sociedade apática, onde também existem muitas igrejas acomodadas. O resultado desse “cruzar de braços” faz com que as ruas recebam esses pequeninos de “braços abertos”. Isso está claro numa matéria intitulada “Crianças filhas do crack”, dizendo assim: “Nove crianças, entre elas sete meninas e dois meninos, com idades entre seis e 12 anos, suspeitas de participar da gangue que aterroriza comerciantes na Vila Mariana, na zona sul de São Paulo, foram presas”. A reportagem mostrou um dos policiais segurando o braço de um dos meninos, que gritou: “Solte meu braço! Está parecendo pai!” Mas qual a imagem que essa criança pode ter do que é ser um pai? Foram levadas ao Conselho Tutelar e colocadas em uma sala em que ficaram gritando: “Rebelião, rebelião!” Em seguida quebraram tudo que havia pela frente. Uma pedagoga entrevistada disse o seguinte: “Precisamos com urgência encontrar uma forma de conseguir algo dentro de um ambiente seguro, que seja mais atraente para as crianças do que a rua, de forma que elas não queiram voltar para lá”. Os profissionais estão buscando uma resposta que nós cristãos já temos. Caso não conseguirem, tais crianças que sobreviverem vão crescer e gerar filhos disformes como eles. E justamente por causa de uma rejeição sofrida e lares desfeitos é que eles não conseguem mais saber o que é ter um pai ou mãe. Assim, vamos nos deparar cada vez mais com cenas chocantes como essas. Como exigir mudança no coração de uma criança que nunca teve alguém que lhe desse amor verdadeiro. É como tratar de uma pessoa com certa enfermidade e mandá-la de volta para seu convívio sem tratar do seu ambiente. O risco de recaída é fatal. Seus pais já foram bebês e muitos se tornaram pais adultos sem estrutura. Um dia, esses filhos vão crescer e também serão pais que não terão com quem se identificar. Jesus foi rejeitado pela sociedade. No entanto, teve um lar cheio de amor que lhe deu estrutura como ser humano. Maria e José lhe deram compreensão e lhe ensinaram o temor a Deus. E o que leva uma pessoa a rejeitar a criança nascida especialmente para a salvação da humanidade? Simplesmente a superlotação nos corações, egoísmo, ambição, abuso de
poder. Enquanto não se desocupar a “casa do coração” e fazer lugar para Jesus nascer, não se pode esperar que a sociedade faça lugar para as crianças nascerem. O mundo precisa perceber que o Natal só existe por causa de uma criança que nasceu especialmente para esse fim, mas que raramente está presente na ocasião de seu aniversário. Precisamos estender a toda criatura o privilégio que nós, que já somos salvos, temos de poder relembrar a história mais conhecida de toda humanidade. Em minha cidade, há uma instituição que todo ano faz uma campanha intitulada: “Faça uma criança feliz”, em que se doa um brinquedo a uma criança carente. Mas tal presente não traz a felicidade verdadeira, o que a afastaria das ruas. Nós temos a resposta que aquela pedagoga e tantos outros profissionais procuram: Dar lugar para Jesus. Jesus é a solução para que elas não voltem para as ruas. Outro aspecto é que, assim como em Belém havia um Herodes para matar as crianças sem dó nem piedade, hoje há “Herodes” por todos os lados, fazendo de nossas crianças filhos sem pais. “Herodes” fazendo de nossos filhos verdadeiros escravos de tráficos de drogas, da pedofilia e violência. “Herodes” que atacam a inocência de nossos filhos, como se ataca frutos verdes de uma árvore precocemente. E a mais trágica realidade: ceifando jovens de nossas próprias igrejas. Façamos uma “faxina” em nosso coração neste Natal. Não podemos nos omitir e dizer que isso nada tem a ver conosco. Não podemos ficar apáticos como cidadãos e, principalmente, como cristãos. A volta de Jesus está próxima e muitos ouvirão: “Não há lugar para você no Reino de meu Pai”. Jesus quer nascer nos corações. “Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando eles prenderam os social-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse” (Rev. Niemoleer, na Alemanha nazista). A Sandra é membro da IPI de Votuporanga, SP
Hoje há “Herodes” por todos os lados, fazendo de nossas crianças filhos sem pais. “Herodes” fazendo de nossos filhos verdadeiros escravos de tráficos de drogas, da pedofilia e violência. 58 Alvorada
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Sugestão para
Árvore de Natal ALLISON DE CARVALHO
Para celebrar o Natal no ano de 2010, a 1ª IPI de São Paulo, através do ministério de Ação Social e Diaconia, montou uma árvore diferente. Ao invés de galhos e bolas coloridas, a decoração foi realizada com caixas de cestas básicas, arrumadas em uma estrutura de ferro tubular apropriada, em formato triangular como se fosse um pinheiro. Durante todo o mês de dezembro, os membros da igreja foram convidados a contribuir com um valor de R$50,00. O dinheiro era convertido em uma caixa de cesta básica. Conforme chegavam as doações a árvore ia sendo montada.
Não existia limite para doação. Os diáconos ficaram responsáveis pelo dinheiro arrecadado. Após o Culto das Luzes, tradicional culto de Natal da igreja, todas as cestas arrecadadas, tanto as que formaram a árvore, como as demais que não couberam, foram doadas às famílias atendidas pelo PROMOVER (organismo responsável pelos projetos sociais da igreja). Foram tantas as doações, que com certeza conseguimos deixar muitas famílias com um Natal mais festivo. O Allison é fotógrafo e coordenador do Ministério de Comunicação da 1ª IPI de São Paulo, SP
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SAÚDE
Maconha
Por que não legalizar?
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Argumento que apóia a legalização da maconha é o de que o álcool e o tabaco, que causam maiores danos do que a maconha, são liberados. Mas quais têm sido as conseqüências disso?
WESLEY ZINEK
Depois que o filho se envolveu com a criminalidade, ela percebeu que todo aquele discurso de erva natural, filosofia Bob Marley, legalize já, libertar a mente, só serviu para engano próprio.
No sábado, dia 30/7/2011, cerca de 800 pessoas se reuniram no vão do MASP na Avenida Paulista, São Paulo, para marchar em favor da liberação da maconha. No Senado, há uma forte proposta de legalizar a droga por grande parte dos deputados e senadores. No dia 3/6/2011, estreou um documentário chamado Quebrando o Tabu, que tem como apresentador o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendendo a liberação da maconha com uma profunda análise política, social e biológica, juntamente com especialistas como o Dr. Dráuzio Varella. Dos assuntos a serem decididos no Brasil, a questão da maconha é uma importantíssima pauta, que deve ser levada em consideração por todo brasileiro. Neste artigo, pretendo abordar a questão não com um discurso moralista de um crente que se interessa em preservar apenas a identidade evangélica, mas pensar qual é o impacto que isso pode causar na sociedade e suas esferas.
A maconha
Condenada por uns, aprovada por outros, a maconha tem expandido seu espaço no Brasil e já é comercializada legalmente em países como Holanda e Estados Unidos. A maioria dos dependentes químicos em processo de recuperação abomina o seu uso. A mesma opinião têm os pais que perderam seus filhos para o tráfico ou para a Cracolândia. Por outro lado, há manifestações pela legalização por parte dos “fora da lei”, que são contra qualquer tipo de proibição, com o apoio de políticos, que apóiam seus argumentos em favor da saúde A Revista da Família
pública. Quem está certo? Quem está errado? E como você defenderia ou argumentaria sua opinião? Com um discurso “evangeliquês” que apenas diz que é pecado e ponto final e que os maconheiros vão todos para o inferno ou como um cidadão que acredita que Cristo está regenerando todas as esferas da sociedade e que defender o evangelho é posicionar-se politicamente contra a legalização? Certa vez, uma mãe disse estar incomodada porque o filho estava fumando maconha. Ela sabia que fazia mal e proibia-o de fumar, mas ele tinha tantos “bons” argumentos a favor da droga que ela acabou concordando que não fazia muito mal. Depois que o filho se envolveu com a criminalidade, ela percebeu que todo aquele discurso de erva natural, filosofia Bob Marley, legalize já, libertar a mente, só serviu para engano próprio. Sabemos que, quando alguém se envolve com a maconha, envolve-se também com aqueles que a comercializam e seus grupos de convivência nas festas, baladas, nos becos, nos cantos das escolas, e sempre quem financia é a criminalidade. No documentário Quebrando o Tabu, o ex-presidente FHC fala que uma das questões a serem resolvidas com a liberação da maconha é impedir que o usuário se envolva com a criminalidade porque, hoje, quem comercializa é o narcotráfico. Legalizando, o usuário poderá, então, comprar em comércios específicos, como acontece em outros países, sem que o jovem precise buscar em uma boca de fumo ou biqueira (lugares em que se com-
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Sabemos que o problema não é a maconha em si, mas o que faz com que os nossos jovens cheguem a procurar a droga e defendê-la.
A maconha e seus efeitos
A maconha (Cannabis Sativa) é uma erva que tem suas utilidades medicinais, porém, com maior amplitude, é usada como forma para alteração dos sentidos, com o intuito geralmente de fugir dos problemas objetivos ou subjetivos da vida. Ou seja, utilizando-a como droga. A maconha, também conhecida como baseado, fininho, verde, erva, pacau, geralmente é fumada em papel de seda e causa efeitos variados, dependendo da quantidade, tais como sonolência, relaxamento, risos sem motivo, memória e movimentos lentos, desequilíbrio e perda da noção do tempo. A pessoa fica com os olhos vermelhos, boca seca, pressão baixa e muita fome, chamada de Larica. Em uma maior quantidade, pode causar alucinações e perda dos neurônios, que são irrecuperáveis. A maconha causa dependência e há necessidade do aumento do uso para suprir o efeito que não mais tem como da primeira vez. E, para se ter um efeito maior, passa-se para outras drogas mais pesadas, as químicas. Por isso é dito que a maconha é porta de entrada para outras drogas. A grande maioria dos usuários de crack ou cocaína começou pela maconha. Há uma grande quantidade de opinião de que a maconha não é mais tida como droga, tendo em vista a cocaína e o crack. Ouvimos dizer que, quando a pessoa estava fumando maconha, tinha controle sobre ela, mas percebeu que estava enganada por ter buscado um maior efeito nas drogas mais pesadas, sobre as quais não tem controle como na maconha. 62 Alvorada
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pra e usa). Mas e quanto às drogas mais pesadas? E quanto à cocaína e o crack, já que a maconha é a porta de entrada? Serão legalizadas todas as drogas? Serão legalizadas oportunidades de overdoses, de viver exclusivamente para o consumo de drogas? Infelizmente, o tráfico é forte demais para acabar através da aprovação de uma nova de lei de descriminalização. O tráfico mobiliza muitas coisas no sistema em que vivemos. Muitos poderosos estão envolvidos. Quais desses que ganham com o tráfico dividirão com os impostos o que eles podem lucrar integralmente? Mais do que um interesse de saúde pública, há um interesse político de poder em detrimento da saúde pública. Outro argumento que apóia a legalização da maconha é o de que o álcool e o tabaco, que causam maiores danos do que a maconha, são liberados. Mas quais têm sido as conseqüências disso? Exemplos práticos esclarecem o quão destrutivo é o fato de o tabaco e o álcool serem legalizados. Uma pesquisa feita pelo Instituto Nacional do Câncer no início desse ano mostra que a morte causada pelo tabagismo e seus efeitos em doenças vêm aumentando, chegando a 200 mil óbitos por ano no Brasil, sendo que, em cada 10 mortos, 7 são fumantes.
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Em Diadema – município que era considerado um dos mais violentos de São Paulo – o número de homicídios, que era 31,2 por mês, foi reduzido para 12,5. Isso por causa de um decreto para fechar os bares mais cedo. Diante de tudo isso, chegamos a uma postura e conclusão. Sabemos que o problema não é a maconha em si, mas o que faz com que os nossos jovens cheguem a procurar a droga e defendê-la. Tampouco, o problema é a legalização em si, mas a corrupção no nosso país que utiliza a política de legalização como artimanha de manipulação do poder. E, diante dessa conclusão, temos o desafio de lidar com dependentes químicos, ter conversas francas com nossos parentes, amigos e filhos, nos envolver com grupos de apoio (como Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Celebrando a Recuperação, Amor Exigente, etc), apoiar projetos que atuam tanto na recuperação quanto na prevenção, e cobrar dos governantes o compromisso com o cidadão, garantindo a valorização à saúde e denunciando as injustiças, porque esse é o papel do cristão: anunciar o evangelho e denunciar as injustiças. O Wesley (Mindu), missionário na missão CENA, é membro da IPI Vila Cisper, São Paulo, SP (minduza@hotmail.com)
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SAÚDE Segundo a OMS, uma única rodada do fumo de origem oriental, equivale ao consumo de 100 cigarros.
s o g i r e p Os o m s i d o do m
narguilé REV. DOUGLAS ALBERTO DOS SANTOS
O narguilé é formado por uma peça central, que parece um vaso, onde se coloca a água. Conectada à base está uma peça cilíndrica que sustenta o fornilho, onde se coloca o tabaco e, em cima do tabaco, o carvão (em brasa). A mangueira, por onde se aspira a fumaça, resfriada pela água, se encaixa na parte superior do narguilé e termina numa piteira. Pode haver mais de uma mangueira para várias pessoas fumarem juntas. Ele funciona quando é aspirado por um tubo que reduz a pressão no interior do aparelho, ¬fazendo com que o ar aquecido pelo carvão passe pelo fumo, produzindo a fumaça. Essa fu-
maça desce até a base, onde é resfriada e filtrada pela água, que retém algumas partículas sólidas. A fumaça segue pelo tubo até ser consumida pelo usuário com o sabor da essência escolhida. O tradicional cachimbo d´água, usado há milênios nos países do Sudeste Asiático e Oriente Médio, agora é a nova moda entre os jovens no Brasil. Tudo começou com a exibição na televisão de uma novela. Em seguida, bares e restaurantes aderiram à onda para agradar aos clientes. Assim, de boca em boca, o que era moda tornou-se uma febre e já atinge os índices de consumo de 37% dos paulistanos, com idade média de 25 anos, segundo estatísticas da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo.
“Mas, se o Senhor criar alguma coisa inaudita, e a terra abrir a sua boca e os tragar com tudo o que é seu, e vivos descerem ao abismo, então, conhecereis que estes homens desprezaram o Senhor” (Nm 16.30). 64 Alvorada
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A origem
Por conter diversas toxinas, pode causar câncer de pulmão, além de doenças cardíacas, tuberculose, herpes, e hepatite. “A única forma de minimizar os males causados pelo narguilé é evitar o uso e não aspirar a fumaça”
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O narguilé tem origem no Oriente. Uma das versões é a de que teria sido inventado na Índia do século XVII. Na China, passou a ser utilizado para fumar o ópio e assim permaneceu até a revolução comunista, no fim da década de 40. Com os árabes, passou a ser utilizado em grupo, acompanhado de café. As cruzadas também espalharam o narguilé pelo mundo, quando os guerreiros sobreviventes traziam-no para seus países. No Brasil, o narguilé foi trazido por turcos, libaneses e judeus. Para fumar, é utilizado o tabaco. Maconha e crack também estão sendo fumados no narguilé. Há grupos de adolescentes que estão trocando a água do narguilé por bebida alcóolica – causa da perigosa euforia entre eles. O narguillé é feito com um fumo (tabaco) especial (melaço / subproduto do açúcar) e é composto por nicotina, alcatrão e monóxido de carbono, “camuflados” por assim dizer, com vários aromas e essências de frutas. Ao ser queimado, o narguilé libera metais pesados e cancerígenos, como o arsênico, chumbo, cobalto e cromo. Em virtude da mistura de inúmeras essências, o narguilé tem aromas variados. Segundo o médico Sérgio Ricardo Santos, presidente da Comissão de Tabagismo da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), o narguilé causa ainda mais males do que o cigarro, pelo potencial de transmitir também doenças infecciosas – já que é usado por mais de uma pessoa ao mesmo tempo, sem a devida esterilização. Vale lembrar que, desde 2009, é proibida a venda do aparelho utilizado para o consumo desse fumo para menores de 18 anos em todo o estado; bem como o seu uso é proibido e é enquadrado dentro da Lei Antifumo, que proíbe o consumo em ambientes fechados e de uso coletivo em São Paulo. O narguilé pode causar diversas
doenças, sendo as respiratórias as mais observadas. Especialistas em doenças respiratórias advertem que 50 tragadas são suficientes para viciar. Isso ocorre devido à nicotina, que causa a chamada sensação de bem-estar, adverte o médico José Eduardo Delfini Cançado, presidente da SPPT. Estudos recentes contrariam a crença popular de que a água ajudaria a filtrar as impurezas do fumo, tornando-o menos nocivo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que a fumaça inalada em uma sessão de narguilé, que pode durar entre 20 minutos e uma hora, corresponde à inalação de 100 a 200 cigarros e são consumidos até 10 litros de fumaça, pois a presença da água faz com que se aspire mais fumaça e, com isso, uma maior quantidade de toxinas. Erroneamente, muitos pensam que esse tipo de fumo não é tão prejudicial à saúde. Por conter diversas toxinas, pode causar câncer de pulmão, além de doenças cardíacas, tuberculose, herpes, e hepatite. “A única forma de minimizar os males causados pelo narguilé é evitar o uso e não aspirar a fumaça” alerta o médico Sérgio. O ideal mesmo é nem experimentar. “A indústria revestiu com cheiro e gosto o consumo do tabaco para atrair um público cada vez mais jovem e, assim, substituir o grupo mais velho que está sofrendo com os males do fumo”, afirma Stella Martins, diretora do Programa de Atenção ao Tabagista do Centro de Referência em Álcool Tabaco e outras Drogas (Cratod). “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1Pe 5.8). Para que os nossos filhos não sejam tragados e nem devorados por ele e nem por essas drogas malditas, sejamos vigilantes. Os modismos vêm em vão, mas nossos filhos não. O Rev. Douglas, pastor da IPI de Osvaldo Cruz, SP, é secretário de Diaconia da IPI do Brasil
Fonte: •Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo •http://www.infoescola.com/drogas/narguile/ •ARGUILE (NARGUILÉ) ou SHISHA. Disponível em: < http://www.khanelkhalili.com.br/arguile.htm> Acesso em 30 jan. 2010. •KHATKAR, Perminder. Narguilé pode ser 450 vezes mais perigoso do que o cigarro, diz estudo. Disponível em: < http://www.diariodasaude.com.br/news.php?article=narguile-450-vezes-mais-perigoso-cigarro&id=4478> Acesso: 18Ago2011 •NOVACZYK, Khadine. Tão perigoso quanto o cigarro. Conselho Nacional Antidrogas – CONAD. Disponível em: < http://www.obid. senad.gov.br/portais/CONAD/conteudo/web/noticia/ler_noticia.php?id_noticia=102774> Acesso: 18Ago2011. •PORTAL DO NARGUILÉ. Disponível em: < http://www.portaldonarguile.com.br> Acesso: 18Ago2011.
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PAIS E FILHOS
Diabetes infantil CIBELE MONTOSA
Diabetes Mellitus é uma doença em que ocorre distúrbio no metabolismo dos açúcares (glicose), caracterizada pela hiperglicemia, ou seja, um aumento do nível de açúcar no sangue. Para entendermos melhor precisamos, saber o que acontece no organismo saudável. O pâncreas é o órgão responsável por produzir o hormônio insulina. A insulina, por sua vez, é responsável por entrar em contato com os receptores das células, como se fosse uma chave, abrindo as portas das células para receberem o açúcar. O açúcar é a fonte de energia indispensável para o bom funcionamento do organismo e é obtido através de doces, massas, frutas, grãos, entre outros. No organismo com diabetes acontece a ausência (diabetes tipo I) ou deficiência da produção de insulina (diabetes tipo II). Quando existe pouca ou nenhuma insulina, o açúcar não
consegue entrar nas células e se acumula no sangue. Com isso, aumenta a glicemia, ou seja, aumenta o nível de açúcar no sangue, o que pode trazer conseqüências graves como perda da visão e amputação de membros. As causas possíveis desta doença são: história familiar (tendência genética), obesidade, vida sedentária, má alimentação. Há uma interação entre elas que desencadeia a doença em algum momento da vida. A má notícia é que crianças com propensão genética a sofrer diabetes estão desenvolvendo o mal muito mais cedo do que o esperado. Isto se deve à grande quantidade de produtos industrializados e ricos em açúcar, como doces, biscoitos recheados, chocolates, refrigerantes e também aos carboidratos das comidas tipo fast-food, como hambúrgueres, pizzas, salgadinhos e afins, presentes no dia alimentar da maioria das crianças de hoje. Somam-se ainda as facilidades do
As causas possíveis desta doença são: história familiar (tendência genética), obesidade, vida sedentária, má alimentação. Há uma interação entre elas que desencadeia a doença em algum momento da vida. 66 Alvorada
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Existem dois tipos de diabetes: tipo I e tipo II
0Tipo I: Prevalece em crianças, mais raro em lactentes e mais freqüente em crianças de 5 a 8 anos e nos adolescentes. É uma doença auto-imune, em que o corpo produz anticorpos contra as células do pâncreas que produzem insulina. O pâncreas se torna incapaz de produzir insulina. 0Tipo II: Mais comum em adultos (mais freqüente a partir dos 40 anos). Relacionada à obesidade, esse tipo de doença manifesta-se mesmo com o pâncreas ainda funcionando. Em volta da célula do organismo, cria-se uma carapaça que dificulta a entrada da insulina. Isso acontece devido ao excesso de gordura. É o que se chama resistência à insulina. Por isso, as células não conseguem absorver a glicose e ficam enviando permanentemente mensagens para que o pâncreas produza insulina. O órgão obedece ao pedido até entrar em exaustão.
mundo atual, onde as crianças, ao invés de irem correr e brincar na rua, ficam horas sentadas jogando videogame. A conseqüência é o aumento da obesidade infantil que também aumenta as taxas glicêmicas, contribuindo para o aparecimento do diabetes. Portanto, uma boa prática para pais e responsáveis é incentivar e cobrar dos filhos uma alimentação mais saudável e alguma prática física que os levem a queimar calorias. Claro que, para isso, estes mesmos pais e responsáveis precisam dar o exemplo! O diabetes é uma doença que aparece de repente. Portanto, os pais precisam saber quais são os principais sintomas para suspeitar aos primeiros sinais. A criança passa a urinar muito devido à hiperglicemia; conseqüentemente, passa a beber mais água que o normal e, mes-
Ilustração: Éber Evangelista
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mo assim, continua sedenta. Apesar de comer muito, a criança não engorda e ainda passa a perder peso. Quanto antes se diagnostique o diabetes, mais eficaz será o controle da doença. Em recém-nascidos e lactentes, estes sinais são mais difíceis de serem observados pelo uso de fraldas e muitas vezes o diagnóstico é feito em uma fase mais adiantada cujos sintomas são desidratação e até choque. Em adolescentes, a dificuldade acontece porque os pais não acompanham os hábitos dos filhos e o diagnóstico é feito quando já existem desidratação acentuada e nível de consciência comprometido. O diagnóstico é feito mediante uma análise dos níveis de glicose no sangue. A análise se realiza estando em jejum na noite anterior. O tratamento parece não ser difícil, mas, na prática, requer muito esforço, tanto para a criança e adolescentes quanto para os pais. A criança precisa de uma dieta rica em fibras e pobre em açúcar, com seis refeições ao dia. Se não é fácil nem para adultos, quanto mais para as crianças e adolescentes, que precisam resistir a guloseimas o tempo todo: no lanche da escola, na dispensa da própria casa, nas festinhas (onde o estrago é maior). Além do controle alimentar, precisamos do controle diário do nível glicêmico e, para isso, os pais contam com o auxílio do glicosímetro, aparelho que faz a leitura e registra, no visor, o valor da glicemia (a quantia de açúcar no sangue). Este controle deve ser feito de duas a seis vezes ao dia. Imagine a dificuldade em picar o dedo de uma criança várias vezes todos os dias. Acrescentam-se as injeções 68 Alvorada
DE 4 1 O R B M E V NO
DIAL N U M A I D E AO T A B M O DE C S DIABETE
Dra. Cibele Montosa
O tratamento parece não ser difícil, mas, na prática, requer muito esforço, tanto para a criança e adolescentes quanto para os pais. A criança precisa de uma dieta rica em fibras e pobre em açúcar, com seis refeições ao dia. Se não é fácil nem para adultos, quanto mais para as crianças e adolescentes diárias de insulina, de acordo com prescrição médica. Também inclui atividades físicas regulares e em horários programados. Percebe-se que, para o sucesso do tratamento, precisamos englobar o fator emocional, social, além do médico e do paciente. Para que um tratamento seja efetivo, é necessário um trabalho educativo realizado entre pais, familiares, médicos, professores, psicólogos, nutricionistas e todos que tenham um contato mais direto com as crianças. A Cibele, médica pediatra, faz parte do corpo pastoral da 1ª IPI de Londrina, PR
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Guilherme com os pais, Viviane e Sérgio
A rotina de uma família que convive com o diabetes O Guilherme tem 6 anos. Embora seja diabético, não o consideramos uma criança doente ou o tratamos de forma diferente. Ele é tratado como uma criança normal, sujeito a disciplinas inclusive, porém existem alguns cuidados necessários para que tenha uma vida saudável. Ele acorda às 6h00 e imediatamente preciso fazer o dextro (uma picada na ponta de dedo) para verificar sua glicemia e fazer as devidas correções. Aplico uma injeção de insulina de ação lenta para controlar o dia dele e, logo após o café da manhã, outra injeção de insulina de ação rápida para queimar os carboidratos ingeridos no café da manhã. Vai para a escola e, antes do lanche, outro exame de dextro e, depois de comer, outra injeção de insulina para queimar os carboidratos. Ao chegar em casa, antes do almoço, mais um dextro e, depois, injeção pra queimar os carboidratos do almoço. Assim, sempre que faz uma refeição, é necessário esse procedimento. À noite, antes do jantar, uma injeção de ação lenta para o controle da noite. Quando vai a uma festa de aniversário, faço o dextro e tudo o que comer ele já sabe que tem que falar para que eu possa contar os carboidratos e queimar. Durante a festinha, tenho que repetir o exame porque, muitas vezes, mesmo ele comendo, a glicemia pode cair por causa das brincadeiras que acabam queimando a glicemia alta, sem que seja necessária a aplicação da insulina. Quando pratica natação, preciso estar bem atenta. Faço o exame antes e depois do esporte e, se o resultado estiver abaixo de 100, é preciso dar um lanchinho para que não haja nenhum risco de hipoglicemia. Esses exames também são realizados pelo menos 3 vezes na semana durante as madrugadas. Ele segue uma dieta montada por uma nutricionista. No seu cardápio, não é usado nenhum alimento light, pois é uma criança e não é obeso. Somente os líquidos ingeridos é que devem ser diet. De 3 em 3 meses, são necessários exames de sangue (hemoglobina
glicada) para verificação da média das glicemias. Nas festinhas, não há restrições. Ele come o que quiser, já sabe dos seus limites e me fala tudo o que comeu para que eu possa aplicar a quantidade de insulina necessária. Nunca tive problemas por causa das restrições, até porque elas causam estresse, o que aumenta a glicemia, pelo menos nele. O que faço é ensinar o que é bom para ele e o que não é. Ele se alimenta muito bem, adora a pirâmide alimentar e procura sempre comer tudo dela. É um menino maravilhoso, lutador e vencedor. É um milagre de Deus! Quando descobri que estava diabético, a glicemia descompensou e chegou a 700, quase entrou em coma diabético. Já convulsionou duas vezes com a glicemia em 21. De luta em luta, vitória em vitória, a rotina de toda a minha casa acaba girando em torno do Guilherme, o que acaba sendo algo bom, pois todos comemos bem, sempre comida saudável, tudo diet, muita fruta, legumes e verduras. Não faço muito bolos, doces, mas, de vez em quando, ele também tem liberdade! Nossa meta é conseguir uma bomba de infusão de insulina. Será uma bênção! Essa bomba ficará ligada nele e não haverá mais a necessidade de injeções, além do bom controle do diabetes que ela proporciona. Tenho o apoio e ajuda de todos que me cercam. Minha irmã, Lucilene, sempre me acompanha nas palestras, algumas consultas, sabe aplicar insulina e contar carboidratos. O vovô não falta nas consultas com a endócrino e sempre está com a gente. Além do maridão e da vovó, a família toda sabe fazer os exames. Outra ajuda importante é a da médica dele, Adriana, sempre pronta aos meus gritos por socorro. Outra bênção é a ADJ (Associação dos Diabéticos Juvenis), da qual o Guilherme, o nosso docinho, é sócio. Viviane Marques Sanches Gomes, mãe do Guilherme e do Felipe
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SAÚDE
PRISCILA ESPÓZITO DE SOUZA LUZ
Segundo o Dicionário Aurélio da língua portuguesa, a palavra fitoterapia significa “tratamento de doença mediante o uso de plantas”. Desde a antiguidade, temos relatos sobre o uso das plantas para tratar os diversos problemas de saúde. Afinal, os “medicamentos” que conhecemos hoje são coisa moderna, graças à tecnologia e ao avanço da medicina e das ciências farmacêuticas, mas principalmente graças ao nosso Deus que concede e permite ao ser humano a inteligência e a busca do conhecimento para a melhoria no cuidado com nosso corpo. O uso da fitoterapia não foi e nem deve ser esquecido; muito pelo contrário, devemos aprimorar o seu uso para que esse tipo de terapia seja cada vez mais efetivo e com menos chances de erros, para resolver e não provocar problemas. Digo isso, pois é necessário tirarmos da nossa mente que plantinhas não fazem mal para nossa saúde. Temos que utilizar todos os recursos que nosso Deus nos concedeu de maneira consciente e com sabedoria. Esse é o motivo pelo qual a união da sabedoria popular e o conhecimento científico das plantas medicinais é tão importante, além de continuarmos estudando para podermos usufruir desse tão maravilhoso presente que Deus nos deu – as plantas medicinais. Existem diversas maneiras de usar as plantas para o benefício da saúde: chás, cápsulas ou comprimidos, tinturas, elixires, cremes, pomadas, loções e etc. Vamos começar com os 70 Alvorada
Fitoterapia O uso das plantas para o benefício de nossa saúde
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“E disse Deus: Produza a terra erva verde, erva que dê semente, árvore frutífera que dê fruto segundo a sua espécie, cuja semente está nela sobre a terra; e assim foi. E a terra produziu erva, erva dando semente conforme a sua espécie, e a árvore frutífera, cuja semente está nela conforme a sua espécie; e viu Deus que era bom” (Gn 1.11-12).
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Lembre-se: Boa alimentação, bons hábitos de vida, atividade física regularmente e boa orientação na saúde são caminhos para um corpo - templo do Espírito Santo - com muita disposição e saúde para a caminhada na obra de nosso Deus. chás, isto é, com a forma de utilizar essas plantas extraindo seus componentes ativos utilizando água. Mas será que os chás devem ser preparados de formas diferentes? De modo geral, utilizamos duas maneiras para fazer o chá: infusão e decocção. Infusão é quando fervemos a água, desligamos o fogo e, somente depois, colocamos a planta nesta água fervente e abafamos por alguns minutos, ou podemos verter essa água em outro recipiente contendo a planta. Essa é a forma mais utilizada quando estamos usando as partes da planta – folha e flores. Já
Guaçatonga (Casearia sylvestris)
A guaçatonga é popularmente conhecida como chá-de-bugre, cafezinho-do-mato, pau-de-lagarto, ervade-bugre, cafeeiro-domato, guassatunga e guassatonga. Suas aplicações são inúmeras devido à riqueza de seus constituintes químicos com diversas propriedades medicinais. Dentre elas destacam-se as propriedades antisséptica e antimicrobiana, cicatrizante e antiulcerogênica. A guaçatonga pode ser utilizada em casos de gastrite e úlcera gástrica (podendo ser associada a outra planta chamada Espinheira Santa), em herpes labial para acelerar a cicatrização das feridas, em picadas de inseto para não “levantar calombo”, em feridas como antisséptico e cicatrizante, em lavagens íntimas (pode ser associada a outra planta chamada Barbatimão), entre outros casos.
decocção é o método de preparação de chás onde fervemos a água junto com a planta. Geralmente é utilizada para as partes mais duras como cascas, caules e raízes. Ah! Não devemos colocar açúcar nos chás com finalidade terapêutica! As plantas de que vamos falar neste e nos próximos artigos, embora citando o uso na forma de chá, também podem ser utilizadas de outras maneiras, como cápsulas ou tinturas (gotinhas que pingamos na água) e, mesmo colocando suas indicações terapêuticas, é necessário uma avaliação de um profissional da saúde,
A forma de se fazer o chá é o método da infusão. Para uma xícara de chá (200 a 250 ml) de água quente, utilizar uma colher de sobremesa (10g) da planta (folhas secas). É contra-indicada em caso de gravidez.
principalmente quando já exista o uso de outros produtos naturais ou medicamentos homeopáticos ou alopáticos.
Caso queira sugerir uma planta para os próximos artigos favor enviar um e-mail para: priscilaespozito@hotmail.com ou bioarte.farmacia@gmail.com, ou pelos fones (11) 5575-0872 e 5573-1003. A Priscila, membro da IPI de Cidade Patriarca, é farmacêutica (CRF 32.327)
(200 a 250 ml) de água quente, utilizar uma colher de sobremesa (10g) da planta (folhas secas). Como estamos falando muito de gastrites e úlceras gástricas e estas patologias geralmente são associadas ao estresse e agitação, o uso de chás de plantas medicinais com propriedades calmantes como Maracujá (Passiflora incarnata), Valeriana (Valeriana officinalis) ou Mulungu (Erythrina mulungu) são indicadas.
Espinheira Santa (Maytenus ilicifolia)
A propriedade medicinal da Espinheira Santa que se destaca é a antiácida, sendo indicada por esse motivo para casos de gastrite crônica e úlcera gástrica com muito sucesso. Pode ser associada à guaçatonga. É contra-indicada em caso de gravidez. A forma de se fazer o chá é o método da infusão. Para uma xícara de chá
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SAÚDE Segundo a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), deveríamos consumir de 5 a 6 gramas de sal por dia. No entanto, alcançamos o dobro com muita facilidade, sendo que pessoas hipertensas chegam a atingir até o triplo deste valor.
Cuidado com a
quantidade de sal que você consome FERNANDA LAURIDES RIBEIRO DE OLIVEIRA LOMEU
“A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl 4.6). Um dos temperos mais utilizados na culinária mundial e que exige um equilíbrio muito interessante para sua utilização é o conhecido sal, que tem o poder de realçar o sabor dos alimentos e preparações. Sua falta na refeição ou o seu excesso logo são notados. Mas, infelizmente, não é puramente uma questão de paladar! O consumo excessivo de sal pode trazer uma série de problemas e complicações para nossa saúde. Além de alterações na pressão arterial e retenção de líquidos, favorecendo inchaços, novas pes72 Alvorada
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quisas já comprovam que o consumo excessivo de sal pode disparar crises de asma, por favorecer o fechamento dos brônquios, tornando a respiração mais difícil. Além disso, pode ocorrer sobrecarga no músculo do coração, tornando a circulação mais complicada, e também estimular as atividades da bactéria Helicobacter pylori, que pode provocar gastrite e úlceras. Então, o melhor a fazer é reduzir gradualmente as quantidades de sal ingeridas para adaptar o paladar. Esta adaptação pode levar até três meses, pois as papilas gustativas, presentes na língua, precisam de tempo para isso. O ideal seria comer o mínimo de tempero desde a nossa primeira papinha. A Fernanda, nutricionista, esposa do Albert e mãe do Mateus, é membro da IPI de Areado, MG
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Dicas para reduzir o consumo de sal • Retire o saleiro da mesa e evite aquelas pitadas extras na comida já pronta; • Compre sempre verduras e legumes frescos, evitando os enlatados; • Use e abuse de alho e cebola in natura para temperar os alimentos, pois, além desta função, eles também protegem as artérias; • Não utilize temperos prontos que possuem sal na sua formulação; • Tempere as saladas com limão e azeite; isso ajudará a espantar a vontade de comer sal; • Realce o sabor dos pratos usando ervas e especiarias: salsinha, cebolinha, alecrim, manjericão, coentro, cominho, orégano, hortelã, entre outras; além de temperar, elas contribuem para o funcionamento de todo o organismo; • Evite temperos industrializados em sachês e tabletes, pois possuem muito sódio; • Cuidado com a quantidade de queijo ralado colocada nas massas; • Evite também adoçantes e refrigerantes que contenham sódio na formulação;
Alimentos integrais
Mais nutritivos e essenciais para manter a saúde em dia GABRIELA SPÓSITO DE SOUZA
• Leia atentamente o rótulo dos alimentos e prefira aqueles com menos sódio; • Evite preparações instantâneas, congeladas ou enlatadas; • Elimine o sal no momento de cozinhar o macarrão; • Use margarina sem sal; • Reduza a quantidade de mostarda, catchup e outros molhos industrializados; • Prefira carnes grelhadas ou assadas, evitando as à milanesa, churrascos e carnes com molho; • Evite pratos ou molhos com queijos amarelos como o parmesão; • Evite embutidos (linguiça, salsicha, toicinho defumado, mortadela, presunto, salame); • Evite alimentos em conserva como picles, azeitona, aspargo, patês, palmito; • Evite carnes salgadas como bacalhau, charque, carne seca e defumados; • Não consuma sopas prontas de pacote, pois elas contêm uma grande quantidade de sal e glutamato monossódico; • Dê preferência a queijos brancos, tofu ou ricota sem sal; • Evite shoyu, salgadinhos de pacote e salgadinhos para aperitivos como batata frita e amendoim salgado.
Quem quer ter uma vida mais saudável deve sempre optar pelos cereais integrais. Além de serem mais nutritivos (vitaminas e nutrientes essenciais, como zinco, vitaminas do complexo B, cálcio e ferro), estudos científicos apontam excelentes benefícios como o controle do colesterol, do diabetes e do peso, e podem ajudar na prevenção de problemas cardíacos e regularização das funções intestinais. A aveia é um dos cereais integrais que se destaca por fornecer a medida exata de nutrientes indispensáveis ao organismo humano. O consumo de farinha e farelo de aveia afeta de maneira benéfica a saúde humana, em razão da elevada concentração
de fibras solúveis. Os produtos contendo fibra de aveia reduzem o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e obesidade. Os estudos afirmam que 60g de farinha de aveia ou 40g de farelo seriam necessários para alcançar esses resultados.
Dica Você pode acrescentar o farelo ou farinha de aveia em sobremesas, como salada de frutas ou iogurte. Basta uma colher de sopa cheia para suprir a necessidade nutricional do dia.
Agora que você já sabe da importância da aveia para sua saúde, anote e prepare esta receita e se delicie!
Receita Hambúrguer de aveia e lentilha Ingredientes: • ½ xícara de lentilha • 1 xícara de farelo de aveia • 1 abobrinha pequena • 1 cenoura pequena • 1 batata pequena • 1 cebola pequena • • 1 talinho de cebolinha verde • • 1 raminho de salsinha •
1 pitada de curry ¼ xícara de azeite de oliva Sal a gosto
Modo de preparo Cozinhe a lentilha até ficar macia e escorra. Reserve. Rale a abobrinha e a cenoura e esprema um pouco para retirar o excesso de líquido. Refogue a cebola com um pouco do azeite. Em uma vasilha, junte todos os ingredientes, acerte o tempero e molde os hambúrgueres no tamanho desejado. Leve ao forno em temperatura média até que a parte de baixo tenha dourado. Dica 2 Sirva no pão de hambúrguer ou sírio com folhas verdes e tomate. A Gabriela, nutricionista (CRN-3:32.126/P), é membro da IPI de Cidade Patriarca, São Paulo, SP
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nº 67 outubro/novembro/dezembro, 2011
Alvorada 73
SAÚDE
Pilates
Boa forma e qualidade de vida
ELISANGELA DA SILVEIRA LOPES
O Pilates é um sistema de exercícios que visa melhorar a flexibilidade, consciência corporal, equilíbrio e força, sem a hipertrofia muscular (aumento de massa muscular). Tem a função de combinar a respiração com os movimentos do corpo. Os exercícios desenvolvem os músculos mais profundos do abdômen e das costas, dando uma melhor postura. Os equipamentos do Pilates se utilizam da resistência das molas para criar a dificuldade nos exercícios, trabalhando de forma mais precisa os grupos musculares.
A aula
É realizada com exercícios suaves e eficazes, que são dificultados gradativamente, dependendo do empenho de cada aluno; poucas repetições de cada movimento; grande repertório de exercícios; aulas únicas, evitando monotonia; uso de aparelhos e acessórios criados especialmente para os exercícios; construção de uma postura correta e natural; exercícios sem impacto.
Studio de Pilates: Rua São Paulo, 2042
2 São Caetano do Sul – SP - D (11) 4224-1111 74 Alvorada
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Fotos: Divulgação
Elisângela realizando exercícios
Quem pode fazer esta aula?
Os exercícios podem ser feitos por qualquer indivíduo, desde o super treinado ao sedentário, do idoso ao adolescente, inclusive das grávidas aos pacientes em fase de reabilitação, sendo recomendado como condicionamento, prevenção e tratamento de lesões para todos os indivíduos.
Benefícios
Aumento da resistência física; alongamento e maior controle corporal; correção postural; aumento da flexibilidade; tônus e força muscular; alívio das tensões, estresse e dores crônicas; melhora da coordenação motora; maior mobilidade das articulações; facilita a drenagem linfática e eliminação das toxinas; aumento da concentração; trabalha respiração; promove o relaxamento. A Elisangela, fisioterapeuta (CREFITO 32606), é membro da IPI de Água Rasa, São Paulo, SP lisa.lopes@ig.com.br
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HOMENAGEM
As tardes com a minha vó Para Vó Enilde (in memoriam) As tardes com a minha vó... Começavam com um abraço, Um convite para entrar. Era forte o nosso laço. Sentávamos para almoçar. Preces pelo alimento, Logo depois, descansar. Na rede em que se deitava, Pra mim cedia lugar. Falava pra Israel Tito: - Vovó vai conversar. Vá brincar lá fora Que, depois, vamos lanchar.
Pegava o seu caderno, Poesias a recitar, Sentava-se na cama De frente para me olhar, Ligava o ventilador, Posicionando lugar.
A minha, emocionante, Muito a desvendar. "Abre as tuas janelas" Sempre de par em par. Era um conselho de vó Para a vida enfrentar.
Sempre muito feliz Com alguém para escutar Todos aqueles versos, Coisa bela, salutar. Lia e relia trechos De palavras a rimar.
Entre um poema e outro Pausa pra perguntar: - Como vai a vida no Rio? - Estás conseguindo estudar? - Quero ver-te realizado. Ansiosa pra celebrar.
Poesias para o vovô, Mais de cem, se contar. Para os netos e filhos, Várias a declamar. Para meu pai, dentre todas, Começava a chorar.
Quando lia os meus poemas, Na minha vez de falar, Ouvia orgulhosa e atenta, Com uma alegria estrelar. Um belo sorriso no rosto Começava a ostentar. Mulher de esperança e fé, Serva de Deus a cantar, Viu em "lenta sinfonia" A vida toda passar, Aproveitando os momentos Da família sem se queixar. As tardes com a minha vó...
Enilde Figueiredo faleceu na madrugada do dia 6 de julho. Tudo indica que tenha sido resultado de uma dengue hemorrágica. A família está abalada porque tudo aconteceu muito rápido e a vó Enilde, apensar dos seus 78 anos, tinha uma saúde incrível. Mas cremos que ela está descansando em paz, nos braços do Senhor, agora ao lado do vô Adiel (Figueiredo), a quem ela tanto amava.
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Terminavam com um café, Pão na chapa a esquentar. Uma despedida saudosa: - Logo em breve, vais voltar. Outro abraço e um: - Te amo. - Vá com Deus, que vou orar. Rivo André Figueiredo Simões, neto
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