Roma: referência do gênio arquitetônico humanista

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Piazza Navona. A esquerda, Palรกcio Pamphili, sede da Embaixada brasileira.


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Roma

referência do gênio arquitetônico humanista por Paolo Garcia

A Piazza Navona, em Roma, é, sem dúvida, umas das mais belas praças do mundo, e certamente a mais bela praça barroca da cidade. Ocupa a pista do antigo Stadio di Domiziano, também chamado “Circo Agonale”. Ao lado da Igreja de Sant’Agnese, em Agone, encontra-se o imponente palácio Pamphili. Admiráveis afrescos de Pietro de Cortona, uma galeria de Borromini e outras apreciáveis obras de arte adornam as belas salas do palácio que, há quase noventa anos, é a sede da Embaixada Brasileira.

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Exatamente neste local, passeando ao longo da estrada em frente ao palácio, por volta das cinco horas da tarde, enquanto o sol se aproxima do anoitecer, alguns brasileiros e brasileiras, entre os melhores empresários e profissionais em seus campos, olhando sua bandeira erguer-se no mastro, começam a cantar em coro triunfal o seu hino nacional. E na magia do cenário, um funcionário da mesma Embaixada se apresenta, aplaude, canta, pega a bandeira e a faz rodopiar, comove-se, levanta os braços em sinal de

alegria e depois, assim como saiu, volta para dentro. Parece um sonho de olhos abertos. Mas aconteceu realmente no dia 31 de outubro último, quando alunos do MBA – Business Intuition da Faculdade Antonio Meneghetti visitam Roma. Encontrar Roma, para estes empresários e profissionais, significava ir em busca do coração pulsante do genius loci da Roma antiga, a ideia que ainda hoje significa civilidade no mundo. Roma antiga é, acima de tudo, uma


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Piazza Navona. A esquerda, Palรกcio Pamphili, sede da Embaixada brasileira.


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Vista panor창mica de Moscou.

Mercado de Trajano


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cidade. Roma é Urbe, é a civitas onde fazer e ser sociedade. Roma foi pensada e construída para ser bela e funcional para os seus cidadãos. Então, continuemos este sonho imergindo na arquitetura da Roma antiga e no estilo de vida de seus cidadãos. O cidadão romano é, acima de tudo, um homem que usa diversas vestes: militar, política, forense, artística, agrícola, artesã. Como quer que seja, cada atividade é voltada a exigências de domínio, tanto privado quanto público: o cidadão romano encarna o conceito de Dominus, de senhor responsável do seu mundo. O que prevalece nos testemunhos artísticos são os aspectos estéticos, práticos e celebrativos. Para os romanos, o objetivo estético, a busca do belo, tem um significado diverso daquele que tinha para os gregos, e jamais é separado de uma finalidade prática: disto surge a indiscutível personalidade na expressão artística e nas ciências arquitetônicas e urbanísticas dos romanos, que oferecem uma enorme utilidade prática na organização racional da grande extensão dos territórios sob seu domínio. Genius Loci de Roma

Estradas e pontes, fóruns e escolas, aquedutos e escoadouros, balneários e termas, teatros e anfiteatros, templos e circos, colunas e arcos comemorativos de vitórias militares representam o ápice da produção arquitetônica urbanística romana. Como é evidente ainda hoje, as estruturas arquitetônicas e urbanísticas vinham ao encontro das necessidades da população, por isso deviam apresentar critérios de funcionalidade e praticidade. Mas o extraordinário é que foram tão bem edificadas que ainda podem ser utilizadas em nossos dias. Tecnicamente, os arquitetos romanos serviam-se principalmente de duas tipologias construtivas que diferenciavam a sua produção da greco-clássica: a alvenaria e o arco. A alvenaria é a utilização de materiais como o tijolo produzido em olarias, desconhecido pelos gregos, que era combinado ao cimento, e que permitia a construção de grandes muralhas, capazes de suportar enormes pesos. O arco, por sua vez, permitia cobrir amplos espaços vazios e abrandar a estética

de algumas estruturas muito angulares. Exatamente o arco pleno, que em parte os etruscos já usavam, é o principal sinal característico da arquitetura romana. Os arcos são acompanhados, quase sempre, pelas colunas, e são usados pelos romanos também como monumentos, para o ornamento da cidade, com certo valor simbólico: o arco é o símbolo do triunfo do condutor, e a coluna é um monumento comemorativo dos grandes empreendimentos de Roma. Do ponto de vista urbanístico, a cidade romana espelha o traçado de um acampamento militar: um tabuleiro de estradas que se cruzam perpendicularmente, posicionadas sobre a cruz de duas vias principais, chamadas cardo e decumano. O centro da cidade é constituído por uma praça, na qual se apresentam os principais edifícios públicos, sedes de atividades políticas, administrativas, comerciais e religiosas. Ainda hoje, muitas cidades europeias conservam esta estrutura, e outras no mundo são idealizadas com o mesmo critério. O espaço interno da cidade é enorme, imponente, como se quisesse exprimir a estabilidade do Estado e afirmar a potência e a imutabilidade. Roma desenvolveu uma consistente organização de estradas, que seguiu a expansão territorial do Estado romano. Por volta do final da idade republicana, a rede de estradas já ligava Roma a todas as principais cidades da península itálica, e na idade imperial alcançou nas províncias a mesma capilaridade que tinha na Itália, com uma extensão de mais de 120.000 km. Cada estrada importante tinha o seu “curador”, ao qual era confiada a total responsabilidade da gestão, e que podia se ocupar inclusive de diversas estradas. Os nomes das estradas frequentemente dependiam de sua função: por exemplo,

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Acima: Coliseu e Vista da Cidade Antiga

Boca da Verdade

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a via Salaria era a “via do sal”, portanto, uma verdadeira artéria comercial. A construção, propriamente dita, de uma estrada devia ser precedida pelo estudo da morfologia do terreno, de modo a apurar a necessidade de eventuais obras de defesa ou de consolidação para proteger a infraestrutura, tanto das infiltrações de águas da superfície, quanto dos efeitos e das pressões laterais que elas poderiam sofrer após desmoronamentos, movimentos sísmicos e inundações. Quase sempre as estradas eram pavimentadas com placas de pedras poligonais e desiguais, de basalto ou de calcário, niveladas na parte superior e delineadas com cunha na parte inferior, cuidadosamente encaixadas. Além disso, as estradas deviam garantir a passagem de dois carros contemporaneamente. Nas estradas, as distâncias eram indicadas por grandes pedras cravadas no terreno ao lado da estrada, à distância de uma milha uma da outra, por isso são chamadas “marco miliário”. Roma era ligada a todo o mundo conhecido até então. E a maior parte das estradas, embora modernizadas, existe ainda hoje. Outra riqueza de Roma eram os estabelecimentos termais, tanto públicos quanto privados. Sua construção, que modificou o arranjo urbanístico da cidade, forneceu a oportunidade de desenvolver uma vida de relacionamentos proveitosa a quem os frequentava, sobretudo para o desenvolvimento dos negócios. Nas termas era possível banharse em três momentos, correspondentes a diversas temperaturas da água: quente, tépida e fria. Na época imperial, foram construídos verdadeiros complexos termais abertos a toda a população, sem qualquer distinção de classe social. Além disso, os locais eram embelezados com mármores e ladrilhos decorativos;

ao redor havia bibliotecas, academias e jardins ornamentais. Um verdadeiro prazer para o corpo, para os olhos e para a mente. Outro problema que não escapou à inteligência dos romanos foi de distanciar os próprios dejetos, seja para conservação da higiene do próprio território, seja para a prevenção de doenças; ou simplesmente, para evitar seu odor. Assim iniciou a construção das redes de escoamento: os esgotos. Inicialmente eram canais a céu aberto e seguiam o percurso sinuoso dos cursos d’água e das torrentes afluentes do Tevere, posteriormente, o crescimento das cidades impôs a cobertura dos canais. O mais famoso, o Canal Massimo, tem paredes em blocos de pedra; ao longo do percurso existem aberturas onde deságuam escoadouros menores, sempre recobertos. Os bueiros em geral, eram colocados a pouca distância um do outro, e decorados com baixo-relevo em mármore, dos quais o mais famoso é, certamente, aquele que se conserva no átrio da igreja de Santa Maria em Cosmedin, mais conhecido como “a boca da verdade”. Em suma, mesmo os escoadouros requeriam sua estética. Tecnicamente ainda estariam funcionando, mas naturalmente a modernidade exigiu novas estruturas de acordo com a regulamentação das normas higiênicas. No que se refere às obras monumentais, o templo romano possui características dos templos coríntios ou etruscos, mas com uma diferença fundamental: a tradição grega modela os edifícios em modo plástico e impacta visualmente, sobretudo pelos “exteriores”, apresenta um caráter retilíneo, possui elementos verticais nas colunas e elementos horizontais nos entablamentos. A tradição romana, ao invés, define sobretudo os “interiores”, modelando-os no espaço


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com suaves curvas desenhadas pelos arcos e pelas abóbadas, e é por isso que os elementos gregos, como a coluna e os entablamentos, de elementos estruturais se tornam simples decorações. Os Fóruns, por sua vez, deviam representar as principais qualidades da arte romana: a perfeita união entre funcionalidade e estética. De fato, observamos elementos como o domínio do espaço, a solidez dos volumes e a potência cenográfica. Lamenta-se que os restos monumentais à nossa disposição sejam muito escassos, devido aos contínuos saques sofridos durante séculos, em virtude da sua riqueza de mármores e metais preciosos. Os Fóruns eram sede da administração judiciária romana e lugares de encontro para os negócios. Nas

praças forenses, frequentemente surgiam magníficas Basílicas, habitualmente de planta retangular, circundada por uma fila de colunas e centros de intensas atividades comerciais. O problema mais difícil que os urbanistas deviam enfrentar em Roma era o habitacional, visto que milhares de pessoas chegavam continuamente, com a esperança de encontrar novas ocupações ou de fugir da miséria. Por outro lado, a atenção às estruturas habitacionais já era uma necessidade inderrogável antes da constituição do Império. Roma já possuía um milhão de habitantes. Para a plebe eram construídas as insulae, edifícios de vários andares com uma planta de aproximadamente 300m2, e uma expansão vertical de 18 a

20 metros. Em pequenos locais, viviam muitas pessoas. Entrava-se nos andares superiores (as cenacula) por meio de estreitas e íngremes escadas comuns, para fazer as refeições ou para dormir. As salas recebiam luz de um pátio interno ou de janelas abertas para a rua. No térreo, em geral, havia lojas e laboratórios artesanais. As classes sociais mais ricas, ao contrário, viviam na domus, uma ampla casa reservada a apenas uma família, com diversas salas destinadas a diferentes funções. Se a domus estava no campo, era chamada villa, que era construída em zonas de ampla visibilidade e era dotada de toda comodidade: termas, jardins, bibliotecas, etc. A villa era circundada por amplos alpendres, e era, por antonomásia,


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o lugar dedicado ao trabalho intelectual ou ao verdadeiro “ócio” (em latim: otium), isto é, o momento de regeneração antes e depois do trabalho, chamado, ao invés, “negócio” (em lat. nec otium, isto é, “não ócio”). Os trabalhos agrícolas e artesanais eram realizados pelos feitores e escravos, cuidados pelos próprios patrões. Lugar de diversão para os romanos era o anfiteatro, onde se desenvolviam jogos, competições atléticas, desafios entre gladiadores, lutas com animais ferozes. O anfiteatro tinha forma elíptica e se expandia em altura, às vezes em três ordens. Podia receber milhares de espectadores: o anfiteatro Flavio, mais conhecido como Coliseu, tinha capacidade para cerca de 50.000 pessoas. Outro lugar de diversão para os romanos era o circo: nele se desenvolviam as corridas de carros puxados por cavalos, ou também eram encenadas batalhas terrestres ou navais. E nessa época já existiam os grupos de apoiadores que incentivavam os diversos corredores, como uma antiga torcida. A forma dos circos também era elíptica, mas muito mais alongada em relação à do anfiteatro. Entre os exemplos mais significativos,

Detalhe da Coluna de Trajano

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Ruinas do centro histórico de Roma. Ao centro Coluna de Trajano

existe o Circo Massimo e o Circo Agonale (a “nossa” Piazza Navona). Existiam ainda os teatros. Deve-se salientar que a representação teatral tinha uma função lúdica para os romanos, diferente da função sacra e ritual que tinha na Grécia. Os atores eram frequentemente escravos ou libertos. Em Roma existiam muitas obras de caráter celebrativo. Por meio de grandes esculturas, são contadas as vitórias de Roma nas empreitadas militares, valha como exemplo a Coluna de Trajano. De fato, os romanos usavam a imagem também como uma forma de publicidade, bem sabendo que é um meio de comunicação mais simples e imediato que a palavra. Mas a usavam sempre com gosto da funcionalidade e da estética. Um exemplo deste costume, chamada representação contínua, é exatamente a já citada Coluna de Trajano: um tipo de “filme” antigo contido em uma faixa que se desenrola por mais de 200 metros em espiral sobre a superfície da coluna, onde são narrados os acontecimentos da vitória contra os Dácios. A arte se torna também um instrumento para a manifestação do poder de Roma. O imperador Augusto foi o primeiro a vislumbrar na cultura e na arte

uma forma de propaganda celebrativa do primado político-militar do Império: em sua honra, numerosos arcos do triunfo foram erguidos nas províncias. Roma, que permaneceu ofuscada pelas obras arquitetônicas e esculturais da Grécia, queria demonstrar ser herdeira legítima da civilização helênica. Qualquer imperador, caso quisesse impressionar a imaginação das massas, devia ser representado em proporções gigantescas, com um corpo atlético, em atitudes retóricas e cativantes. Outro elemento muito difundido no mundo romano é o mosaico, como pintura sobre louças ou pavimentação de salas com mosaicos. Estes, sobretudo, deviam impressionar pela precisão do desenho e pela riqueza de tons e de tintas. O que confirma que em Roma inicia-se o sentido da arquitetura dos interiores. Este, portanto, é o paradigma arquitetônico do gênio romano. Basta pensar que Roma, toda vez que concluía uma conquista militar, ocupava-se principalmente em abrir e pavimentar estradas, reabastecer as cidades com água abundante, edificar pontes, construir serviços higiênicos públicos, como termas, balneários e escoadouros, instituir escolas e locais para os negócios, criar um habitat


AZIONE

CONSULTORIA AO LÍDER. civil para os novos cidadãos do mundo romano. Para prover o desenvolvimento de seu gênio intelectivo, os Romanos, no curso dos séculos, organizaram um sistema de educação dos jovens que começava por volta dos sete anos. Sem dúvida, tivemos que esperar o Império para ter as primeiras e verdadeiras escolas; até então estudava-se em casa com um preceptor. As crianças romanas começavam a sua formação nos ludi litterarum ou tabernae letterarie, que, de certa forma, correspondem as nossas escolas elementares. O primeiro professor ensinava a ler, a escrever e a fazer os primeiros cálculos. Outros professores ensinavam aritmética e proviam o andamento da aprendizagem da leitura e da escrita. As aulas eram desenvolvidas em salas de aulas e ao ar livre. Quando se concluíam os estudos elementares, seguia-se a escola do grammaticus, que pode corresponder às nossas escolas médias e aos nossos liceus ou escolas superiores. O grammaticus ensinava a história, a geografia e a literatura, latina e grega. Depois se podia prosseguir a própria instrução superior em escolas de retórica e preparar-se para a vida política e judiciária, aprendendo a falar em público. Portanto, saía-se destas escolas conhecendo bem as duas línguas fundamentais do mundo romano: o latim e o grego. E, sobretudo, saía-se instruídos e prontos para a vida pública. As famílias mais privilegiadas frequentemente enviavam seus filhos ao exterior para se aperfeiçoarem, na Grécia, especialmente em Atenas e Rodi, ou no Egito, em Alexandria; isto é, nos maiores centros do mundo helenístico. Somente com esta preparação poder-se-ia ser capaz de prover as responsabilidades que o mundo social romano exigia. Enquanto nos acordamos do nosso sonho, uma última anotação: salvo alguns casos, quase nunca se conhece os nomes dos artistas romanos, mas isto não deve nos surpreender. Acima de tudo, em Roma era importante o valor da Cidade e da sua magnificência nos séculos, a força do seu gênio na História: Roma Caput Mundi1.

Azione

all Punto

Paolo Garcia é Secretário do Conselho Diretivo da Associação Internacional de Ontopsicologia, Doutor em História Econômica, especialista em Psicologia com endereço Ontopsicológico pela Universidade Estatal de São Petersburgo – Rússia, especialista em História do Pensamento Filosófico, História das Religiões e História das Línguas Antigas e professor da disciplina Inteligência Legal Contemporânea do MBA Business Intuition da Faculdade Antonio Meneghetti. 1

Roma capital do mundo.

Porto Alegre | Rua Marquês do Pombal, 1710/502 Tel + 55 51 3342.3291 | www.azione.com.br | azione@via-rs.net Obra de A. Meneghetti, “Il Saggio Verde”


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