Impulso ao crescimento que vem do Oriente e busca por expansão

Page 1

SA B E R E P O D E R

Impulso ao crescimento que vem do Oriente e busca por expansão da Redação O avanço da China sobre a economia mundial é assistido com atenção por todo o mundo. Para alguns, significa oportunidade de novos negócios, enquanto, para outros, uma competição difícil de ser vencida. O fato é que a ascensão do dragão do Oriente demonstra ter força para ser um dos balizadores da história do nosso milênio em uma expansão que não apresenta sinais de cansaço. Com a experiência de quem, há décadas, pesquisa não só a psicologia do povo chinês, mas também trabalha o desenvolvimento de líderes nesta nação, o Acadêmico Professor Antonio Meneghetti demonstra nesta entrevista, que inaugura a seção Saber e Poder na Performance Líder, uma visão clara sobre o avanço da China frente ao mundo ocidental. Como base, conta com a observação realizada no contato direto com diferentes nações e consultorias prestadas para empresários e lideranças políticas de todo o mundo. Em que se constitui a base da força econômica que a China possui hoje? A atual China começa com Deng Xiaoping, quando Deng mostra que ser rico é uma coisa boa e introduz o princípio da dialética da riqueza em diversos modos dentro do próprio 42

Pe r f o r m a n c e

ÍDER - I Semestre 2011

governo, do único grande partido. A China, materialmente e produtivamente, torna-se potente porque copia o made in Italy. O gênio da tecnologia em diversos campos do made in Italy é apreendido e copiado pelas diversas cadeias de produção chinesa que, depois, tornam-se completamente autônomas, por exemplo, da dependência do empresariado italiano, e produzem as melhores coisas em qualquer campo. Esse aprendizado por parte da China acontece porque, em um primeiro momento, a Itália e outras nações produziam em território chinês aquilo que depois vendiam no nosso mercado ocidental. Após certo período, os chineses tiveram bom senso e eles mesmos passaram a produzir e exportar diretamente. Afinal, sabiam e tinham tudo: as máquinas e a maestria. Esse foi o grande momento, que continua ainda hoje. Do ponto de vista da psicologia empresarial, é possível explicar a invasão chinesa em diversas economias do mundo? A China possui mais de 1 bilhão de habitantes que são operadores ativos, não dependem do assistencialismo. Deve-se considerar que na China o assistencialismo não existe. Há uma provocação constante à responsabilidade individual. É forte o conceito de que se deva trabalhar e manter a própria família.


SA B E R E P O D E R

Impulso ao crescimento que vem do Oriente e busca por expansão da Redação O avanço da China sobre a economia mundial é assistido com atenção por todo o mundo. Para alguns, significa oportunidade de novos negócios, enquanto, para outros, uma competição difícil de ser vencida. O fato é que a ascensão do dragão do Oriente demonstra ter força para ser um dos balizadores da história do nosso milênio em uma expansão que não apresenta sinais de cansaço. Com a experiência de quem, há décadas, pesquisa não só a psicologia do povo chinês, mas também trabalha o desenvolvimento de líderes nesta nação, o Acadêmico Professor Antonio Meneghetti demonstra nesta entrevista, que inaugura a seção Saber e Poder na Performance Líder, uma visão clara sobre o avanço da China frente ao mundo ocidental. Como base, conta com a observação realizada no contato direto com diferentes nações e consultorias prestadas para empresários e lideranças políticas de todo o mundo. Em que se constitui a base da força econômica que a China possui hoje? A atual China começa com Deng Xiaoping, quando Deng mostra que ser rico é uma coisa boa e introduz o princípio da dialética da riqueza em diversos modos dentro do próprio 42

Pe r f o r m a n c e

ÍDER - I Semestre 2011

governo, do único grande partido. A China, materialmente e produtivamente, torna-se potente porque copia o made in Italy. O gênio da tecnologia em diversos campos do made in Italy é apreendido e copiado pelas diversas cadeias de produção chinesa que, depois, tornam-se completamente autônomas, por exemplo, da dependência do empresariado italiano, e produzem as melhores coisas em qualquer campo. Esse aprendizado por parte da China acontece porque, em um primeiro momento, a Itália e outras nações produziam em território chinês aquilo que depois vendiam no nosso mercado ocidental. Após certo período, os chineses tiveram bom senso e eles mesmos passaram a produzir e exportar diretamente. Afinal, sabiam e tinham tudo: as máquinas e a maestria. Esse foi o grande momento, que continua ainda hoje. Do ponto de vista da psicologia empresarial, é possível explicar a invasão chinesa em diversas economias do mundo? A China possui mais de 1 bilhão de habitantes que são operadores ativos, não dependem do assistencialismo. Deve-se considerar que na China o assistencialismo não existe. Há uma provocação constante à responsabilidade individual. É forte o conceito de que se deva trabalhar e manter a própria família.


Por isso, na psicologia de um chinês, é impensável não ter um trabalho, estar desempregado. Caso isso aconteça, o chinês prefere suicidar-se para não se submeter à desonra de não ter sido capaz de sustentar os seus familiares. A psicologia chinesa, diferentemente daquela de muitos outros povos, possui um forte incentivo, incremento e responsabilidade de ter que produzir, trabalhar, merecer. A meritocracia individual é um conceito altíssimo, deriva de uma civilização milenar. Esse, sobretudo, é o estímulo que caracteriza a expansão econômica chinesa. Isto é, a psicologia empresarial está presente em cada pequeno chinês, é fortíssima. Não obstante que, em um primeiro momento, muitos observadores políticos e econômicos falem de um iminente crash do país, eu digo que a China progredirá ainda mais. Mesmo que não seja admitido, atualmente a China é o maior propulsor econômico no mundo, mais que os Estados Unidos.

AIO

enorme vantagem ao ingresso chinês. Os chineses, quando saem de seu país, trabalham sempre para si, não trabalham para os outros, visto que na psicologia chinesa existe o conceito da raça eterna: uma forma de primado tranquilo, simples e absoluto. Sua sabedoria não se compara a uma grande árvore, mas a uma folha de grama: de qualquer modo que seja o vento ou a tempestade, ela resiste sempre. É uma raça humana que, como quer que sejam as outras, permanece imperturbável e tranquila. Não é racista, no sentido de querer ocupar os outros. Porém, na sua essência, ela se sente soberana. É difícil ver um chinês que trabalhe para pessoas de outra nacionalidade. Portanto, quando se deslocam, o fazem com toda a sua família, amigos, empresa. Por exemplo, é difícil comparar-se aos chineses no Brasil, no sentido de que eles podem comprar vastas áreas de terra que estão abandonadas ou deixadas como pasto, porque A China elegeu o Brasil podem pagar qualquer preço, como um país estratégico no qualquer cifra. O Brasil ainda fornecimento de commodities está repleto de ex-fazendeiros e alimentos. Essa estratégia falidos e pobres. Ainda hoje inclui a compra de terras existem latifundiários que brasileiras e a participação possuem enormes dificuldades. em empresas nacionais. Como Essas enormes terras são bem o senhor analisa esse avanço pagas pelos chineses, talvez Acad. Prof. Antonio Meneghetti em conferência dos chineses no agronegócio por duas, três, quatro vezes o no XXVIII Congresso Internacional de Psicologia, brasileiro? em Pequim, em 2004 preço que valem, mantendoA China se sente segura, se sempre dentro das leis forte, e a sua necessidade logística é produzir ainda mais. Por brasileiras. O mesmo acontece quando alugam ou compram isso, precisa de espaço e investimento. Sua necessidade, mais edifícios que estão em mau estado, isto é, os chineses compram do que de novos mercados, é sobretudo de encontrar novos essas propriedades e instalam dentro delas pequenas fábricas espaços, novos territórios, qualquer tipo de matéria-prima, de produção de qualquer coisa: sapatos, joias, roupas. Dentro porque a própria China é um enorme mercado. Por exemplo, de um edifício qualquer, moram, trabalham e permanecem fiéis o Brasil é uma ótima terra para a China, acima de tudo uns aos outros, ninguém trai o grupo. Há uma unanimidade porque não é muito evidente que exista uma grande vontade compacta à produção para dar soberania econômica às suas de trabalhar por uma considerável parte dos brasileiros. Além linhas de presença e de distribuição. disso, o Estado extraordinariamente civil do Brasil consente Outro fator é que eles podem produzir a um preço uma grande liberdade, e muita assistência: justamente os mais menor do que o nosso, menor do que o custo local. Existe pobres são muito favorecidos. Esse sistema de fatos dá uma um forte desejo, uma grande concorrência. Faz parte da

Pe r f o r m a n c e

ÍDER - I Semestre 2011

43


SA B E R E P O D E R

psicologia deles, que é extraordinária, popular. Existe a vontade, a necessidade de serem eles mesmos e de crescerem, conquistando espaço, terrenos para o futuro, para produzirem infinitas coisas. A China está, ainda hoje, em enorme expansão, é uma enorme ponta de avanço. E é irrefreável, porque o elevado consumismo, que também pode ser observado no Brasil, é exatamente o que torna necessária a produção com menor custo e a venda imediata no mercado corrente. Este e outros fatores dão um enorme privilégio ao ingresso e primado econômico da China.

de produzir, trabalham sós. Não podem estar com os outros. Os outros trabalham pouco, trabalham apenas seis horas por dia, cinco dias na semana.

44

Pe r f o r m a n c e

ÍDER - I Semestre 2011

AIO

Quais conselhos o senhor dá aos empresários brasileiros no que se refere à negociação com empresários chineses? Devemos olhar para o futuro, consolidando que um país maravilhoso e grande como o Brasil talvez deva entrar mais na psicologia democrática, na psicologia social de compreender melhor os deveres sociais, a responsabilidade, o sentido de reciprocidade. O governo É possível falar sobre o papel mantém e ajuda a todos, os que os governos nacionais ricos pagam os impostos, podem desempenhar tudo bem; porém, aqueles no enfrentamento à que sempre são assistidos tamanha concorrência e devem se lembrar de que, competitividade chinesa? partindo-se do princípio da A única possibilidade reciprocidade, eles também de contê-la seria rever poderiam fazer algo a as leis sociopolíticas, mais pela sociedade que isto é, rever as posições os mantêm e protege, pois, laborais, as distribuições justamente com base neste do trabalho, o modo do princípio, todos os cidadãos assistencialismo. Os nossos são iguais, não somente no sistemas ocidentais de sentido de que quem trabalha A partir da direita: Prof. Jan Fenghi, vice-diretor da Capital democracia social não são, mais contribui mais, porém University of Medical Sciences; Prof. Guo Nianfeng, absolutamente, competitivos também como uma forma diretor do Instituto de Psicologia Clínica da Chinese Academy com a dinâmica capilar e de que não se aproveite of Sciences; Prof. Antonio Meneghetti; Prof. Jing Qincheng, formidável da China. O excessivamente dos bens que vice-presidente mundial da I.U.Psy.S. (International Union empreendedor não pode o Estado oferece. Portanto, Psychological Sciences) e presidente da Associação dos Psicólogos da China fazer nada sozinho, a aumentar o sentido de menos que intervenha uma dever, de reciprocidade e mudança de psicologia social geral, uma política de governo de responsabilidade. Talvez ao incrementar esses aspectos, o que busque reeducar, responsabilizar melhor o próprio povo, grande e maravilhoso Brasil possa estar tranquilo. o próprio território. Os chineses são capazes de imensos Sozinhos, os governos também não podem fazer muito sacrifícios, de trabalhar dia e noite, mas essa é a natureza deles. se não existir antes uma coesão, uma responsabilidade. Além disso, não têm os sindicatos. Para eles, trabalhar pelo Não se pode esquecer de que, quando falamos da China, ganho é nobreza. Para nós, trabalhar é sempre um esforço. estamos diante de um povo que trabalha de 12 a 16 horas por dia, seis ou sete dias por semana. Além disso, o nosso Não há, então, a possibilidade de contribuição entre a força de avançado consumismo, a indiferença liberal dos indivíduos, trabalho chinesa e a de outros países? pode ser um direito de natureza, mas se não está ligado Eles podem fazer negócios com todos, mas quando se trata a uma responsabilidade, a uma reciprocidade e a uma


consciência de serviço social, não será suficiente para deter este impulso ao trabalho e ao ganho, que é típico em todo o mundo chinês desde sempre e que, especialmente hoje, está em enorme impulso. Não há como se iludir que possam existir situações de retrocesso; a China progredirá ainda mais, porque tem como vantagem o seu povo que ama e vê a necessidade de trabalhar como ato de nobreza. Em sentido de filosofia existencial, possuem uma força para o trabalho e não se sentem em segundo lugar em relação a ninguém. Livremente, dentro do que as leis e as possibilidades de mercado consentem, eles progredirão. Além disso, o grande benefício que os chineses têm em todo o mundo é que nós estamos aumentando o mercado e o consumismo em todos

os lugares. No Brasil, é evidente esse consumismo em todos os seus aspectos. O mercado é cada vez mais voraz. Por consequência, os chineses sabem priorizar o fornecimento e a constituição cada vez mais de massa, de serviço cada vez mais capilar, com menor preço e custos de trabalho mais baixos. Com isso, é óbvio que possuem uma liderança facilitada para invadir qualquer tipo de mercado. Em síntese: devemos perceber que todos os mercados do mundo, para corresponder ao consumismo cotidiano das massas – os maiores consumidores são, sobretudo, os mais pobres e os jovens – todos os dias precisam de mercadorias abundantes; e a China está sempre pronta a responder a isso e com menor custo.

Antonio Meneghetti é filósofo, sociólogo, cientista, artista e empresário. Dentre seus diversos títulos acadêmicos destacam-se: Doutorado Clássico em Filosofia e em Ciências Sociais (Pontifícia Universidade São Tomas de Aquino - Roma), em Teologia (Pontifícia Universidade Lateranense - Vaticano); láurea em Filosofia com abordagem psicológica (Universidade Católica Sacro Cuore - Milão); Grand Doktor Nauk em Psicologia pela Suprema Comissão de Avaliação Interacadêmica da Federação Russa. É Presidente da Associação Internacional de Ontopsicologia, ONG com status Consultivo Especial junto ao Conselho Econômico e Social (ECOSOC) das Nações Unidas. Pela relevância da sua contribuição para o desenvolvimento do país, foi reconhecido em 2010 como Cidadão Honorário Brasileiro.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.