Barão de Mauá: um brasileiro a frente do seu tempo

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PERSONAGEM

Um

Brasileiro além de seu tempo Barão de Mauá é, ainda hoje, pouco conhecido, mas sua trajetória foi fundamental para o desenvolvimento econômico do Brasil Um homem à frente do seu tempo, comparável a Warren Buffett, Bill Gates e Carlos Slim, alguns dos maiores e mais ricos empreendedores do mundo atualmente. Para alguns pode parecer incrível tratar-se de um gaúcho, mas ao escrever a história de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, o jornalista e escritor Jorge Caldeira recuperou esse brasileiro esquecido e pouco conhecido. Em suas palavras, certamente o maior empresário da história do Brasil e um dos homens mais ricos do planeta.

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Pe r f o r m a n c e

ÍDER - Set / Dez 08

Por quase dez anos Caldeira manuseou cerca de 15 mil documentos e cartas, recortes de jornais e editorais durante suas idas e vindas a Londres, Montevidéu e Buenos Aires. O resultado foi o lançamento, em 1995, do livro “Mauá – Empresário do Império”, importante biografia desse gaúcho que, ao realizar seus sonhos, provocou a inveja do Imperador D. Pedro II e da corte, assim como dos maiores empresários europeus da época. Acabou sendo vítima de complôs, expropriações, calotes públicos, interesses internacionais e da intervenção do Estado na economia. Fatos que se repetiram inúmeras vezes ao longo da história brasileira abatendo vários de seus principais empresários e líderes.

foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

por Amundsen Limeira

Industrial, banqueiro, político e diplomata, Mauá é apontado como símbolo do capitalismo empreendedor do século XIX no mundo, um exemplo de empresário que, com desassombro e coragem pessoal, criou oportunidades de negócios inéditas naquele Brasil então rural, escravocrata, latinfundário e estatal. Ao embrenhar-se em suas próprias picadas, chegou a ter 18 empresas na Argentina, Uruguai, Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil, controlou oito das 10 maiores empresas do País, com negócios espalhados do Amazonas ao Rio Grande do Sul, entre bancos, empresas de comércio exterior, estaleiros, mineradoras, fazendas de gado, usinas de gás, ferrovias e sócios na Europa. “Entre 1851 e 1875 acumulou ativos maiores que o próprio Império. Foi dono de uma fortuna pessoal que corresponderia a 30% do PIB nacional. Um homem com tanto poder passou a ser visto como perigosíssimo pelas autoridades brasileiras e principais banqueiros e empresários europeus da época”, acrescenta Jorge Caldeira. Para se ter dimensão do “nível da ação empresarial de Mauá”, até o escritor francês Julio Verne (1828-1905), o pai da ficção científica moderna, curvou-se ao arrojo do empresário. Depois de ter a idéia de construir um foguete, um dos personagens do livro “De la Terre a la Lune”, escrito em 1873, que na tradução brasileira recebeu o título de ”Viagem à Lua”, Verne reconhece que o Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, seria um dos “poucos homens visionários no mundo” capazes de financiar seu projeto. “Este é o nível da ação empresarial do Mauá da qual estamos falando”, completa Caldeira. Como demonstra pesquisa realizada pelo jornalista e escritor, a revista inglesa The Economist não economizou elogios a Mauá em vários editoriais. Os principais banqueiros ingleses o consideravam “o único banqueiro confiável do Hemisfério Sul”. Para conceder empréstimos a D. Pedro II exigiam Mauá como avalista. Os banqueiros europeus não acreditavam que o Império honrasse seus compromissos, mas reconheciam a credibilidade e capacidade de Mauá para tanto. Apesar de ter

atendido ao pedido, Mauá foi atacado pela mais comezinha das fraquezas humanas: a inveja do imperador e dos seus pares que, somada às suas posições políticas contrárias ao governo imperial, foi aos poucos minando seus negócios. Seu arrojo e visão empresarial incomodavam. Só que a cada tentativa de derrubá-lo, Mauá ressurgia mais forte. Na biografia “Barão de Mauá – o empreendedor”, lançada recentemente, o pesquisador e professor Gilberto Marigoni escreveu: “Mauá exibiu inegáveis talentos como homem de negócios, industrial e banqueiro, em um ambiente de transição econômica, quando as relações capitalistas se consolidavam entre nós. Em quatro décadas saiu da pobreza para tornar-se a maior fortuna do País. Conheceu o sucesso e a ruína. Foi um homem de seu tempo, dotado de audácia, de habilidade e de visão únicas. Sua capacidade para coordenar iniciativas simultâneas e ousadas ficou como prelúdio de uma economia industrial complexa, que só teria lugar no Brasil a partir de 1930”.

Início em boas mãos Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai, teve suas fábricas como alvo de sabotagens e seus negócios abalados pela legislação que sobretaxava as importações e pelos calotes dos governos brasileiro, uruguaio e paraguaio. Foi necessário vender as empresas a grupos estrangeiros, depois de decretada a falência do Banco Mauá, em 1875. O sucesso conquistado pelo empresário do Império resultou de trabalho sério e tino comercial. Começou a acumular conhecimento aos 11 anos de idade quando, órfão, deixou a cidade onde nasceu em 1813, na fronteira com o Uruguai, Arroio Grande, então distrito de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, com destino ao Rio de Janeiro, a bordo de um navio mercante capitaneado por um tio. O primeiro emprego do garoto Irineu na capital do Império foi como balconista de uma loja de tecidos de um grande atacadista que, além de comprar arroz e charque

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Brasileiro além de seu tempo Barão de Mauá é, ainda hoje, pouco conhecido, mas sua trajetória foi fundamental para o desenvolvimento econômico do Brasil Um homem à frente do seu tempo, comparável a Warren Buffett, Bill Gates e Carlos Slim, alguns dos maiores e mais ricos empreendedores do mundo atualmente. Para alguns pode parecer incrível tratar-se de um gaúcho, mas ao escrever a história de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, o jornalista e escritor Jorge Caldeira recuperou esse brasileiro esquecido e pouco conhecido. Em suas palavras, certamente o maior empresário da história do Brasil e um dos homens mais ricos do planeta.

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Por quase dez anos Caldeira manuseou cerca de 15 mil documentos e cartas, recortes de jornais e editorais durante suas idas e vindas a Londres, Montevidéu e Buenos Aires. O resultado foi o lançamento, em 1995, do livro “Mauá – Empresário do Império”, importante biografia desse gaúcho que, ao realizar seus sonhos, provocou a inveja do Imperador D. Pedro II e da corte, assim como dos maiores empresários europeus da época. Acabou sendo vítima de complôs, expropriações, calotes públicos, interesses internacionais e da intervenção do Estado na economia. Fatos que se repetiram inúmeras vezes ao longo da história brasileira abatendo vários de seus principais empresários e líderes.

foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

por Amundsen Limeira

Industrial, banqueiro, político e diplomata, Mauá é apontado como símbolo do capitalismo empreendedor do século XIX no mundo, um exemplo de empresário que, com desassombro e coragem pessoal, criou oportunidades de negócios inéditas naquele Brasil então rural, escravocrata, latinfundário e estatal. Ao embrenhar-se em suas próprias picadas, chegou a ter 18 empresas na Argentina, Uruguai, Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil, controlou oito das 10 maiores empresas do País, com negócios espalhados do Amazonas ao Rio Grande do Sul, entre bancos, empresas de comércio exterior, estaleiros, mineradoras, fazendas de gado, usinas de gás, ferrovias e sócios na Europa. “Entre 1851 e 1875 acumulou ativos maiores que o próprio Império. Foi dono de uma fortuna pessoal que corresponderia a 30% do PIB nacional. Um homem com tanto poder passou a ser visto como perigosíssimo pelas autoridades brasileiras e principais banqueiros e empresários europeus da época”, acrescenta Jorge Caldeira. Para se ter dimensão do “nível da ação empresarial de Mauá”, até o escritor francês Julio Verne (1828-1905), o pai da ficção científica moderna, curvou-se ao arrojo do empresário. Depois de ter a idéia de construir um foguete, um dos personagens do livro “De la Terre a la Lune”, escrito em 1873, que na tradução brasileira recebeu o título de ”Viagem à Lua”, Verne reconhece que o Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, seria um dos “poucos homens visionários no mundo” capazes de financiar seu projeto. “Este é o nível da ação empresarial do Mauá da qual estamos falando”, completa Caldeira. Como demonstra pesquisa realizada pelo jornalista e escritor, a revista inglesa The Economist não economizou elogios a Mauá em vários editoriais. Os principais banqueiros ingleses o consideravam “o único banqueiro confiável do Hemisfério Sul”. Para conceder empréstimos a D. Pedro II exigiam Mauá como avalista. Os banqueiros europeus não acreditavam que o Império honrasse seus compromissos, mas reconheciam a credibilidade e capacidade de Mauá para tanto. Apesar de ter

atendido ao pedido, Mauá foi atacado pela mais comezinha das fraquezas humanas: a inveja do imperador e dos seus pares que, somada às suas posições políticas contrárias ao governo imperial, foi aos poucos minando seus negócios. Seu arrojo e visão empresarial incomodavam. Só que a cada tentativa de derrubá-lo, Mauá ressurgia mais forte. Na biografia “Barão de Mauá – o empreendedor”, lançada recentemente, o pesquisador e professor Gilberto Marigoni escreveu: “Mauá exibiu inegáveis talentos como homem de negócios, industrial e banqueiro, em um ambiente de transição econômica, quando as relações capitalistas se consolidavam entre nós. Em quatro décadas saiu da pobreza para tornar-se a maior fortuna do País. Conheceu o sucesso e a ruína. Foi um homem de seu tempo, dotado de audácia, de habilidade e de visão únicas. Sua capacidade para coordenar iniciativas simultâneas e ousadas ficou como prelúdio de uma economia industrial complexa, que só teria lugar no Brasil a partir de 1930”.

Início em boas mãos Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai, teve suas fábricas como alvo de sabotagens e seus negócios abalados pela legislação que sobretaxava as importações e pelos calotes dos governos brasileiro, uruguaio e paraguaio. Foi necessário vender as empresas a grupos estrangeiros, depois de decretada a falência do Banco Mauá, em 1875. O sucesso conquistado pelo empresário do Império resultou de trabalho sério e tino comercial. Começou a acumular conhecimento aos 11 anos de idade quando, órfão, deixou a cidade onde nasceu em 1813, na fronteira com o Uruguai, Arroio Grande, então distrito de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, com destino ao Rio de Janeiro, a bordo de um navio mercante capitaneado por um tio. O primeiro emprego do garoto Irineu na capital do Império foi como balconista de uma loja de tecidos de um grande atacadista que, além de comprar arroz e charque

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Brasileiro além de seu tempo Barão de Mauá é, ainda hoje, pouco conhecido, mas sua trajetória foi fundamental para o desenvolvimento econômico do Brasil Um homem à frente do seu tempo, comparável a Warren Buffett, Bill Gates e Carlos Slim, alguns dos maiores e mais ricos empreendedores do mundo atualmente. Para alguns pode parecer incrível tratar-se de um gaúcho, mas ao escrever a história de Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, o jornalista e escritor Jorge Caldeira recuperou esse brasileiro esquecido e pouco conhecido. Em suas palavras, certamente o maior empresário da história do Brasil e um dos homens mais ricos do planeta.

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Por quase dez anos Caldeira manuseou cerca de 15 mil documentos e cartas, recortes de jornais e editorais durante suas idas e vindas a Londres, Montevidéu e Buenos Aires. O resultado foi o lançamento, em 1995, do livro “Mauá – Empresário do Império”, importante biografia desse gaúcho que, ao realizar seus sonhos, provocou a inveja do Imperador D. Pedro II e da corte, assim como dos maiores empresários europeus da época. Acabou sendo vítima de complôs, expropriações, calotes públicos, interesses internacionais e da intervenção do Estado na economia. Fatos que se repetiram inúmeras vezes ao longo da história brasileira abatendo vários de seus principais empresários e líderes.

foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

por Amundsen Limeira

Industrial, banqueiro, político e diplomata, Mauá é apontado como símbolo do capitalismo empreendedor do século XIX no mundo, um exemplo de empresário que, com desassombro e coragem pessoal, criou oportunidades de negócios inéditas naquele Brasil então rural, escravocrata, latinfundário e estatal. Ao embrenhar-se em suas próprias picadas, chegou a ter 18 empresas na Argentina, Uruguai, Inglaterra e nos Estados Unidos. No Brasil, controlou oito das 10 maiores empresas do País, com negócios espalhados do Amazonas ao Rio Grande do Sul, entre bancos, empresas de comércio exterior, estaleiros, mineradoras, fazendas de gado, usinas de gás, ferrovias e sócios na Europa. “Entre 1851 e 1875 acumulou ativos maiores que o próprio Império. Foi dono de uma fortuna pessoal que corresponderia a 30% do PIB nacional. Um homem com tanto poder passou a ser visto como perigosíssimo pelas autoridades brasileiras e principais banqueiros e empresários europeus da época”, acrescenta Jorge Caldeira. Para se ter dimensão do “nível da ação empresarial de Mauá”, até o escritor francês Julio Verne (1828-1905), o pai da ficção científica moderna, curvou-se ao arrojo do empresário. Depois de ter a idéia de construir um foguete, um dos personagens do livro “De la Terre a la Lune”, escrito em 1873, que na tradução brasileira recebeu o título de ”Viagem à Lua”, Verne reconhece que o Barão de Mauá, no Rio de Janeiro, seria um dos “poucos homens visionários no mundo” capazes de financiar seu projeto. “Este é o nível da ação empresarial do Mauá da qual estamos falando”, completa Caldeira. Como demonstra pesquisa realizada pelo jornalista e escritor, a revista inglesa The Economist não economizou elogios a Mauá em vários editoriais. Os principais banqueiros ingleses o consideravam “o único banqueiro confiável do Hemisfério Sul”. Para conceder empréstimos a D. Pedro II exigiam Mauá como avalista. Os banqueiros europeus não acreditavam que o Império honrasse seus compromissos, mas reconheciam a credibilidade e capacidade de Mauá para tanto. Apesar de ter

atendido ao pedido, Mauá foi atacado pela mais comezinha das fraquezas humanas: a inveja do imperador e dos seus pares que, somada às suas posições políticas contrárias ao governo imperial, foi aos poucos minando seus negócios. Seu arrojo e visão empresarial incomodavam. Só que a cada tentativa de derrubá-lo, Mauá ressurgia mais forte. Na biografia “Barão de Mauá – o empreendedor”, lançada recentemente, o pesquisador e professor Gilberto Marigoni escreveu: “Mauá exibiu inegáveis talentos como homem de negócios, industrial e banqueiro, em um ambiente de transição econômica, quando as relações capitalistas se consolidavam entre nós. Em quatro décadas saiu da pobreza para tornar-se a maior fortuna do País. Conheceu o sucesso e a ruína. Foi um homem de seu tempo, dotado de audácia, de habilidade e de visão únicas. Sua capacidade para coordenar iniciativas simultâneas e ousadas ficou como prelúdio de uma economia industrial complexa, que só teria lugar no Brasil a partir de 1930”.

Início em boas mãos Liberal, abolicionista e contrário à Guerra do Paraguai, teve suas fábricas como alvo de sabotagens e seus negócios abalados pela legislação que sobretaxava as importações e pelos calotes dos governos brasileiro, uruguaio e paraguaio. Foi necessário vender as empresas a grupos estrangeiros, depois de decretada a falência do Banco Mauá, em 1875. O sucesso conquistado pelo empresário do Império resultou de trabalho sério e tino comercial. Começou a acumular conhecimento aos 11 anos de idade quando, órfão, deixou a cidade onde nasceu em 1813, na fronteira com o Uruguai, Arroio Grande, então distrito de Jaguarão, no Rio Grande do Sul, com destino ao Rio de Janeiro, a bordo de um navio mercante capitaneado por um tio. O primeiro emprego do garoto Irineu na capital do Império foi como balconista de uma loja de tecidos de um grande atacadista que, além de comprar arroz e charque

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no Rio Grande do Sul, fazia tráfico de escravos, a exemplo dos homens mais ricos da colônia. No auge da crise pela independência do País, a empresa para a qual trabalhava foi comprada por um comerciante escocês, Ricardo Carruthers, que percebendo o potencial de Irineu logo começou a ensinar ao adolescente economia, contabilidade, a arte de vender e comprar, língua inglesa e o pensamento dos escritores clássicos. Não demorou para, aos 23 anos, tornar-se gerente e em seguida sócio da importadora de Carruthers, que tinha uma sólida formação em economia, conhecedor profundo de Adam Smith e das teorias econômicas de Ricardo. Dessa forma, o jovem Irineu conseguiu ter uma visão muito à frente de seu tempo em relação à economia brasileira, diferente daquela ensinada nos manuais da época.

“Ele acumulou uma enorme fortuna empreendendo e fazendo arbitragem de câmbio. Na ocasião, ninguém sabia o que era empreender e muito menos arbitragem, que mesmo hoje em dia é uma operação complicada para leigos”, conta Caldeira. Ao fim da Regência já era o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo. Já na época, o governo não honrava os contratos e para equilibrar a balança de pagamentos esqueceu o que tinha estabelecido como lei e aumentou as tarifas de importação. Mesmo sendo afetado pelo descumprimento da lei, Mauá demonstra seu senso de empreendedor atento às oportunidades e realiza lucrativos negócios. Intuitivo e independente do senso comum, ignora as orientações dos economistas de então, que insistiam no desenvolvimento das exportações agrícolas, e encerra suas operações comerciais para investir na atividade industrial. Isso era totalmente contra a ordem estabelecida da época, a ponto de ser taxado como louco.

Inicia-se no setor em 1846 com uma modesta fábrica de navios, o estaleiro Mauá, em Niterói (RJ). Um ano depois, emprega mais de mil trabalhadores e produz navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos utilizados na rede de esgoto e na drenagem de mangues.

Competência e agilidade Mauá sempre esteve muito à frente do seu tempo. Demonstração clara disso foi quando o governo proibiu, em 1850, o tráfico de escravos, atividade em que estava concentrada a maior parte do

dinheiro em circulação no País. Naquele momento, esse mercado correspondia ao comércio de cerca de 50 mil escravos por ano. Mauá percebeu a oportunidade, então, de um novo negócio. Não demorou e abriu um banco para captar os recursos até então aplicados no comércio de escravos. Funda, em 1851, o Banco do Brasil, utilizando o dinheiro aplicado na instituição para investir em novos empreendimentos como uma companhia de gás no Rio de Janeiro, uma companhia de navegação no Amazonas e a primeira estrada de ferro do Brasil, a estrada de ferro Mauá. “Tudo isso foi montado simultaneamente em três anos. Ele era muito bom nisso, extremamente competente”, entusiasma-se Jorge Caldeira.

foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

Imagem do início do século 20 do Porto Mauá, marítimo-ferroviário


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no Rio Grande do Sul, fazia tráfico de escravos, a exemplo dos homens mais ricos da colônia. No auge da crise pela independência do País, a empresa para a qual trabalhava foi comprada por um comerciante escocês, Ricardo Carruthers, que percebendo o potencial de Irineu logo começou a ensinar ao adolescente economia, contabilidade, a arte de vender e comprar, língua inglesa e o pensamento dos escritores clássicos. Não demorou para, aos 23 anos, tornar-se gerente e em seguida sócio da importadora de Carruthers, que tinha uma sólida formação em economia, conhecedor profundo de Adam Smith e das teorias econômicas de Ricardo. Dessa forma, o jovem Irineu conseguiu ter uma visão muito à frente de seu tempo em relação à economia brasileira, diferente daquela ensinada nos manuais da época.

“Ele acumulou uma enorme fortuna empreendendo e fazendo arbitragem de câmbio. Na ocasião, ninguém sabia o que era empreender e muito menos arbitragem, que mesmo hoje em dia é uma operação complicada para leigos”, conta Caldeira. Ao fim da Regência já era o homem mais rico do Brasil e um dos mais ricos do mundo. Já na época, o governo não honrava os contratos e para equilibrar a balança de pagamentos esqueceu o que tinha estabelecido como lei e aumentou as tarifas de importação. Mesmo sendo afetado pelo descumprimento da lei, Mauá demonstra seu senso de empreendedor atento às oportunidades e realiza lucrativos negócios. Intuitivo e independente do senso comum, ignora as orientações dos economistas de então, que insistiam no desenvolvimento das exportações agrícolas, e encerra suas operações comerciais para investir na atividade industrial. Isso era totalmente contra a ordem estabelecida da época, a ponto de ser taxado como louco.

Inicia-se no setor em 1846 com uma modesta fábrica de navios, o estaleiro Mauá, em Niterói (RJ). Um ano depois, emprega mais de mil trabalhadores e produz navios, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, prensas, armas e tubos utilizados na rede de esgoto e na drenagem de mangues.

Competência e agilidade Mauá sempre esteve muito à frente do seu tempo. Demonstração clara disso foi quando o governo proibiu, em 1850, o tráfico de escravos, atividade em que estava concentrada a maior parte do

dinheiro em circulação no País. Naquele momento, esse mercado correspondia ao comércio de cerca de 50 mil escravos por ano. Mauá percebeu a oportunidade, então, de um novo negócio. Não demorou e abriu um banco para captar os recursos até então aplicados no comércio de escravos. Funda, em 1851, o Banco do Brasil, utilizando o dinheiro aplicado na instituição para investir em novos empreendimentos como uma companhia de gás no Rio de Janeiro, uma companhia de navegação no Amazonas e a primeira estrada de ferro do Brasil, a estrada de ferro Mauá. “Tudo isso foi montado simultaneamente em três anos. Ele era muito bom nisso, extremamente competente”, entusiasma-se Jorge Caldeira.

foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

Imagem do início do século 20 do Porto Mauá, marítimo-ferroviário


foto: Ita Kirsch

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Jorge Caldeira manuseou 15 mil documentos, cartas e recortes de jornais para escrever biografia

Na avaliação do escritor, esses empreendimentos eram tão bons que todos funcionam até hoje, inclusive o Banco do Brasil, que o governo da época estatizou sob a alegação de que era perigoso deixar tanto dinheiro na mão de um empresário. Com o mercado financeiro no País estatizado, sobrou o de Londres, ao qual ele recorreu para financiar seus negócios no Brasil. Foi assim com a estrada de ferro Santos-Jundiaí, financiada já naquela época com ações negociadas na Bolsa de Londres, cujo traçado é até hoje o mesmo projetado por ele, “transformando em realidade a idéia, que parecia estranha em 1855, de que o porto de Santos seria o principal do Brasil, absorvendo as riquezas transportadas por aquela ferrovia”; o estaleiro Mauá está onde sempre esteve; e a estrada de ferro Mauá hoje é a estrada de ferro Leopoldina. “Todas as idéias exóticas pensadas por ele, como a Sociedade Anônima, entre outras, estão aí”. Mauá teve sua falência decretada em 1875. Três anos depois publica “Exposição aos credores e ao público”, em que faz relato detalhado dos empreendimentos em que se lançou a partir de 1846. Nesse trabalho considerado como sua autobiografia, ficou claro que a falência foi causada pelos governantes brasileiros, uruguaios, paraguaios que, além de não honrarem suas partes em compromissos assumidos, criaram contínuas omissões e exigências uma atrás da outra, que o empresário não teve como cumprir. Irineu Evangelista de Souza recebeu o título de Barão em 1854. O título de Visconde veio em 1874. Mesmo tendo perdido tudo, trabalhou e refez sua fortuna, morrendo rico, na cidade de Petrópolis (RJ), em 21 de outubro de 1889, por coincidência no dia do Baile da Ilha Fiscal, o regabofe que marcou o fim do governo imperial no Brasil.

Nobreza constrangida Entraram para a história brasileira a pá de prata e o carrinho entregues a Dom Pedro II por Mauá, durante inauguração da primeira ferrovia no País. O gesto de um constrangido imperador cavando foi visto como uma grande provocação à época. Há quem especule que esse ato de valorização do trabalho – atividade indigna à nobreza – tenha ferido de morte a relação de Mauá com o imperador. foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

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Pe r f o r m a n c e

ÍDER - Set / Dez 08

Escola do passado a serviço do presente por Ana Petry Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor. Impossível caminhar por esta estreita via dos tempos do Império e não recordar do homem que um dia a iluminou. Líder forjado pelo trabalho árduo, pelo aprendizado constante e por uma vontade obstinada, o Barão de Mauá é o precursor do que mais tarde o mundo conheceria como a filosofia da livre iniciativa. Motivado pelo progresso do seu País, Mauá estruturou a primeira fundição, construiu a primeira estrada de ferro, fundou o primeiro banco. Realizava sofisticadas operações econômicas num período em que imperavam os resquícios de uma economia essencialmente rural e escravocrata. A história deste grande homem do passado é lição viva para muitos no presente.

comportamento diplomático. Mauá nunca falava mal do rei em público, mas freqüentemente cometia gafes sociais, como cumprimentar com mais cerimônia os empregados da casa do que as autoridades presentes, e desejava mostrar a todos que seu banco financiaria o desenvolvimento do País, com ou sem o apoio do governo. Mas a maior provocação foi ter entregado ao imperador, na solenidade de inauguração da estrada de ferro, uma pá de prata e com a qual o rei cavou algumas vezes, num gesto de valorização do trabalho. Algum tempo depois, mudanças legais levariam à bancarrota o Banco do Brasil de Mauá, que entregou a instituição para uma fusão que resultaria no Banco do Brasil como o conhecemos hoje. Certo ou errado, o império tinha sua força - e a usou.

Do jovem Irineu Evangelista de Souza, seu nome de batismo, pode-se aprender como construir um líder. Sua história ensina o estilo de vida de quem pretende chegar ao comando. Ele aprendeu e desenvolveu um ofício até atingir a excelência; aprendeu a língua, os hábitos e a cultura do ambiente em que vivia; percebeu quais eram as pessoas de relevo com quem seria interessante fazer negócios. Como aprendiz, era dedicado, curioso, estudioso, trabalhador.

Outro risco que grandes homens de negócio enfrentam são as relações comerciais com outras inteligências, culturas que conhecem o jogo econômico há muitos séculos. A Inglaterra possuía uma elaborada estratégia de negócios: permitia competição aberta somente nos setores em que tivesse muita vantagem e mantinha elevado controle nos setores onde fosse mais fraca.

Para os jovens empresários que ambicionam a liderança do mercado, o Barão de Mauá ensina a crescer, expandir e inovar nos negócios. Mauá era incansável e atento às oportunidades que o momento oferecia. Combinava ousadia financeira com investimentos prudentes, não gastando com a mesma velocidade com que levantava fundos, valendo-se de estudos técnicos e bom planejamento, dois hábitos raros na época. Tinha prazer em construir, produzir, servir. Entre 30 e 40 anos, construiu muito, mas sabia que não podia parar, porque a inteligência deseja a ação e a novidade infinita. Além disso, tinha um estilo de gestão único: valorizava a responsabilidade individual, delegava autoridade, cobrava providências e estimulava seus colaboradores a terem suas próprias iniciativas empresariais. Além de obter riqueza para seus cofres, oferecia produtos e serviços úteis à população e, não raro, ajudava o governo em questões políticas nacionais e internacionais. Como empresário era ágil, inovador, ousado, eficiente e meritocrático. Mas Mauá não ensina somente pelo exemplo; ensina também com problemas que viveu. Atingidos níveis elevados de ganho, abrem-se também outros tipos de riscos. Um deles é o sistema. Ele construiu desafetos no círculo de poder e vaidades da corte. Afinal, era um sujeito difícil de ser compreendido e seu crescimento intrigava as pessoas. Todo grande homem gera polêmica e contraposição, exatamente por isso deve ter cuidados redobrados nas relações com o poder, optando por um

A habilidade de Mauá para fazer negócios, identificar oportunidades e construir riqueza foi conhecida nas altas rodas de negócio da Inglaterra e, em pouco tempo, ele tinha novos sócios estrangeiros, desta vez maiores, mais poderosos e mais estrategistas. Mas Mauá não viu que atrás da sociedade e de fatos aparentemente sem importância havia uma grande organização. Os mesmos sócios ingleses que subvencionaram o Barão não hesitaram quando encontraram um modo de ganhar sem ele, ou com a sua ruína. Mauá tinha fascínio pelos ingleses e seu exemplo pode servir de conselho a empresários que sonham com negócios internacionais, mas esquecem que não podem ser ingênuos na economia internacional, que exige refinamento e responsabilidade ulterior na gestão dos negócios. Nem nacionalismos, nem estrangeirismos, o que conta é simplesmente a lógica vencedora. Uma das personalidades mais complexas e controversas é aquela do líder empreendedor. Muitas das acusações que ele recebe são frutos da dificuldade de entender este conjunto de força, vontade, ambição, inteligência e capacidade operativa. Os mais despreparados acham que ele trabalha por dinheiro, os mais superficiais acham que é por status, os mais românticos acham que ele trabalha porque tem um sonho. Os mais inteligentes simplesmente sabem que ele trabalha porque é um luxo realizar, construir e participar daquilo que é útil à humanidade. E por um único motivo: porque ele é capaz. O poder deriva de um tipo de psicologia. Mauá foi um líder e sua trajetória ainda hoje é um exemplo para os jovens, um estímulo para os que já estão na estrada e um alerta para futuros grandes homens. Ana Petry é consultora empresarial.

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foto: Ita Kirsch

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Jorge Caldeira manuseou 15 mil documentos, cartas e recortes de jornais para escrever biografia

Na avaliação do escritor, esses empreendimentos eram tão bons que todos funcionam até hoje, inclusive o Banco do Brasil, que o governo da época estatizou sob a alegação de que era perigoso deixar tanto dinheiro na mão de um empresário. Com o mercado financeiro no País estatizado, sobrou o de Londres, ao qual ele recorreu para financiar seus negócios no Brasil. Foi assim com a estrada de ferro Santos-Jundiaí, financiada já naquela época com ações negociadas na Bolsa de Londres, cujo traçado é até hoje o mesmo projetado por ele, “transformando em realidade a idéia, que parecia estranha em 1855, de que o porto de Santos seria o principal do Brasil, absorvendo as riquezas transportadas por aquela ferrovia”; o estaleiro Mauá está onde sempre esteve; e a estrada de ferro Mauá hoje é a estrada de ferro Leopoldina. “Todas as idéias exóticas pensadas por ele, como a Sociedade Anônima, entre outras, estão aí”. Mauá teve sua falência decretada em 1875. Três anos depois publica “Exposição aos credores e ao público”, em que faz relato detalhado dos empreendimentos em que se lançou a partir de 1846. Nesse trabalho considerado como sua autobiografia, ficou claro que a falência foi causada pelos governantes brasileiros, uruguaios, paraguaios que, além de não honrarem suas partes em compromissos assumidos, criaram contínuas omissões e exigências uma atrás da outra, que o empresário não teve como cumprir. Irineu Evangelista de Souza recebeu o título de Barão em 1854. O título de Visconde veio em 1874. Mesmo tendo perdido tudo, trabalhou e refez sua fortuna, morrendo rico, na cidade de Petrópolis (RJ), em 21 de outubro de 1889, por coincidência no dia do Baile da Ilha Fiscal, o regabofe que marcou o fim do governo imperial no Brasil.

Nobreza constrangida Entraram para a história brasileira a pá de prata e o carrinho entregues a Dom Pedro II por Mauá, durante inauguração da primeira ferrovia no País. O gesto de um constrangido imperador cavando foi visto como uma grande provocação à época. Há quem especule que esse ato de valorização do trabalho – atividade indigna à nobreza – tenha ferido de morte a relação de Mauá com o imperador. foto: Acervo do Instituto Histórico e Geográfico

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Escola do passado a serviço do presente por Ana Petry Rio de Janeiro, Rua do Ouvidor. Impossível caminhar por esta estreita via dos tempos do Império e não recordar do homem que um dia a iluminou. Líder forjado pelo trabalho árduo, pelo aprendizado constante e por uma vontade obstinada, o Barão de Mauá é o precursor do que mais tarde o mundo conheceria como a filosofia da livre iniciativa. Motivado pelo progresso do seu País, Mauá estruturou a primeira fundição, construiu a primeira estrada de ferro, fundou o primeiro banco. Realizava sofisticadas operações econômicas num período em que imperavam os resquícios de uma economia essencialmente rural e escravocrata. A história deste grande homem do passado é lição viva para muitos no presente.

comportamento diplomático. Mauá nunca falava mal do rei em público, mas freqüentemente cometia gafes sociais, como cumprimentar com mais cerimônia os empregados da casa do que as autoridades presentes, e desejava mostrar a todos que seu banco financiaria o desenvolvimento do País, com ou sem o apoio do governo. Mas a maior provocação foi ter entregado ao imperador, na solenidade de inauguração da estrada de ferro, uma pá de prata e com a qual o rei cavou algumas vezes, num gesto de valorização do trabalho. Algum tempo depois, mudanças legais levariam à bancarrota o Banco do Brasil de Mauá, que entregou a instituição para uma fusão que resultaria no Banco do Brasil como o conhecemos hoje. Certo ou errado, o império tinha sua força - e a usou.

Do jovem Irineu Evangelista de Souza, seu nome de batismo, pode-se aprender como construir um líder. Sua história ensina o estilo de vida de quem pretende chegar ao comando. Ele aprendeu e desenvolveu um ofício até atingir a excelência; aprendeu a língua, os hábitos e a cultura do ambiente em que vivia; percebeu quais eram as pessoas de relevo com quem seria interessante fazer negócios. Como aprendiz, era dedicado, curioso, estudioso, trabalhador.

Outro risco que grandes homens de negócio enfrentam são as relações comerciais com outras inteligências, culturas que conhecem o jogo econômico há muitos séculos. A Inglaterra possuía uma elaborada estratégia de negócios: permitia competição aberta somente nos setores em que tivesse muita vantagem e mantinha elevado controle nos setores onde fosse mais fraca.

Para os jovens empresários que ambicionam a liderança do mercado, o Barão de Mauá ensina a crescer, expandir e inovar nos negócios. Mauá era incansável e atento às oportunidades que o momento oferecia. Combinava ousadia financeira com investimentos prudentes, não gastando com a mesma velocidade com que levantava fundos, valendo-se de estudos técnicos e bom planejamento, dois hábitos raros na época. Tinha prazer em construir, produzir, servir. Entre 30 e 40 anos, construiu muito, mas sabia que não podia parar, porque a inteligência deseja a ação e a novidade infinita. Além disso, tinha um estilo de gestão único: valorizava a responsabilidade individual, delegava autoridade, cobrava providências e estimulava seus colaboradores a terem suas próprias iniciativas empresariais. Além de obter riqueza para seus cofres, oferecia produtos e serviços úteis à população e, não raro, ajudava o governo em questões políticas nacionais e internacionais. Como empresário era ágil, inovador, ousado, eficiente e meritocrático. Mas Mauá não ensina somente pelo exemplo; ensina também com problemas que viveu. Atingidos níveis elevados de ganho, abrem-se também outros tipos de riscos. Um deles é o sistema. Ele construiu desafetos no círculo de poder e vaidades da corte. Afinal, era um sujeito difícil de ser compreendido e seu crescimento intrigava as pessoas. Todo grande homem gera polêmica e contraposição, exatamente por isso deve ter cuidados redobrados nas relações com o poder, optando por um

A habilidade de Mauá para fazer negócios, identificar oportunidades e construir riqueza foi conhecida nas altas rodas de negócio da Inglaterra e, em pouco tempo, ele tinha novos sócios estrangeiros, desta vez maiores, mais poderosos e mais estrategistas. Mas Mauá não viu que atrás da sociedade e de fatos aparentemente sem importância havia uma grande organização. Os mesmos sócios ingleses que subvencionaram o Barão não hesitaram quando encontraram um modo de ganhar sem ele, ou com a sua ruína. Mauá tinha fascínio pelos ingleses e seu exemplo pode servir de conselho a empresários que sonham com negócios internacionais, mas esquecem que não podem ser ingênuos na economia internacional, que exige refinamento e responsabilidade ulterior na gestão dos negócios. Nem nacionalismos, nem estrangeirismos, o que conta é simplesmente a lógica vencedora. Uma das personalidades mais complexas e controversas é aquela do líder empreendedor. Muitas das acusações que ele recebe são frutos da dificuldade de entender este conjunto de força, vontade, ambição, inteligência e capacidade operativa. Os mais despreparados acham que ele trabalha por dinheiro, os mais superficiais acham que é por status, os mais românticos acham que ele trabalha porque tem um sonho. Os mais inteligentes simplesmente sabem que ele trabalha porque é um luxo realizar, construir e participar daquilo que é útil à humanidade. E por um único motivo: porque ele é capaz. O poder deriva de um tipo de psicologia. Mauá foi um líder e sua trajetória ainda hoje é um exemplo para os jovens, um estímulo para os que já estão na estrada e um alerta para futuros grandes homens. Ana Petry é consultora empresarial.

Pe r f o r m a n c e

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