INFORME SER TÃO VIVO #3

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SerTãoVerde Publicação Especial do Núcleo Sertão

do Instituto de Permacultura da Bahia Edição 3 Abril 2015

Tiragem: 1000 exemplares

O USO SUSTENTÁVEL DA ÁGUA CHEGA ÀS PROPRIEDADES PARTICIPANTES DO PROJETO ÁGUAS DO JACUÍPE

“Água é essencial em qualquer lugar. No caso do semiárido, o período de estiagem não pode significar total falta de água. Mesmo chovendo pouco, é possível armazená-la.” Dirce Almeida, coordenadora do Projeto Águas do Jacuípe

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CAPTAR E ECONOMIZAR ÁGUA É ESSENCIAL EM QUALQUER LUGAR

Cisterna de produção

As tecnologias sociais de captação e economia de água desenvolvidas pelo Projeto Águas do Jacuípe em Várzea da Roça mostram que o semiárido não é o lugar de seca e terra rachada pintado pela mídia. Mesmo irregulares, as chuvas locais de inverno e trovoada podem oferecer boa quantidade de água para as produções agrícolas. Mas é preciso saber geri-las. “Água é essencial em qualquer lugar. No caso do semiárido, o período de estiagem não pode significar total falta de água. Mesmo chovendo pouco, é possível armazená-la”, afirma Dirce Almeida, coordenadora do projeto. Neste ano, oito cisternas de produção e duas barragens foram construídas em propriedades da região.

Unindo o uso sustentável da água a uma gestão inteligente desse líquido precioso, os agricultores contemplados com as tecnologias têm condições de contribuir para o reflorestamento de matas ciliares locais, além de melhorar a produção de alimentos nos quintais agroflorestais. Cada estrutura de captação da água da chuva demandou dos técnicos do projeto a identificação de características naturais dos terrenos -- relevo, inclinação, umidade, proximidade da área a ser irrigada --, para definir a tecnologia mais favorável ao espaço. Nas terras do agricultor Renato, por exemplo, em que o solo arenoso permite um bom armazenamento da água, foi instalada a barragem subterrânea. O projeto Águas do Jacuípe é realizado pelo Instituto de Permacultura da Bahia (IPB) e patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

NOVA TECNOLOGIA REAPROVEITA ÁGUA DA PRODUÇÃO DE LATICÍNIOS Barragem subterranea

Um sistema inédito feito para reaproveitar a água utilizada na produção de laticínios do agricultor Nelson Araújo de Souza está sendo desenvolvido pelo Projeto Águas do Jacuípe. Ao passar por três filtros biológicos, 1.500 litros de água utilizada diariamente na lavagem de baldes e latões de leite voltam a ficar limpos e são armazenados em uma caixa. “Essa água vai poder garantir a irrigação da nossa produção e das árvores frutíferas”, diz Nelson.

“Com o reaproveitamento da água do laticínio, Nelson e sua família vão poder realizar a irrigação de salvação no seu quintal agroflorestal, correspondente a 3,4 hectares.” Dirce Almeida, coordenadora do Projeto Águas do Jacuípe


ÁREA DE ALAGAMENTO RECEBE BARRAGEM SUBTERRÂNEA Na propriedade do agricultor Reinaldo Silva Leal, conhecido como Renato, pequenos riachos convergem para uma área que alaga com as chuvas -- ou seja, o lençol freático fica próximo à superfície. As características foram favoráveis à instalação de uma barragem subterrânea de 2,7 metros de profundidade, incluindo um poço de 2,5 metros para medir a água acumulada. Além disso, na estiagem o terreno pode ser irrigado com a água armazenada em uma caixa instalada em um ponto mais alto. “Já cavei muito poço para retirar água com balde, mas agora ela vai durar mais tempo e ainda vou poder usar essa da caixa”, diz o agricultor.

BARRAGINHA DE TERRA É A TECNOLOGIA MAIS BARATA PARA ACÚMULO DE ÁGUA O solo argiloso e compacto é ideal para a barragem de terra – ou barraginha --, tecnologia barata de captação da chuva. Trata-se de uma bacia escavada por um trator que, de um lado recebe a correnteza da chuva, armazenando a água, e do outro tem uma trincheira de terra. “O solo precisa ter profundidade e ser rochoso no fundo para a água não filtrar”, diz Gerivaldo Santana, técnico agrícola do Projeto Águas do Jacuípe. Com a barraginha, o agricultor Jacinto Carneiro da Silva vai poder irrigar os plantios sem depender apenas de chuvas esporádicas.

“Em dois dias de chuva, a barragem de terra já acumula 50% do seu volume, que passa de 300 mil litros de água.” Gerivaldo Santana, técnico agrícola do Projeto Águas do Jacuípe Barraginha

LAGEDOS DO SEMIÁRIDO SÃO USADOS COMO TANQUES DE PEDRA

A sabedoria dos agricultores e as necessidades geradas pelo bioma da caatinga fizeram com que se criassem, décadas atrás, tecnologias de contenção de água até hoje usadas no semiárido. “Uma delas, replicada pelo Projeto Águas do Jacuípe, é o tanque de pedra”, feito através de um muro de contenção construído na base de um lajedo inclinado - uma grande superfície de pedra, comum no solo local. Impermeável, esse tanque reserva até mesmo a água de chuvas finas.

Tanque de pedra feito em 1959

CISTERNAS DE PRODUÇÃO DÃO ESPERANÇA E ALENTO A AGRICULTORES

Cisterna de produção 2

Mais comum no semiárido, a cisterna calçadão coleta até 52 mil litros de água da chuva através de um terreiro de cimento construído ao lado de um reservatório. O agricultor José Fernandes de Souza, o Zeca, interligou sua nova cisterna à antiga, usada para consumo da casa. Assim, o excedente da chuva, antes desperdiçado, passa a encher a cisterna calçadão e melhora a irrigação da propriedade. “Essa obra está me dando um dos maiores prazeres da vida”, diz Zeca.


Localizado no centro-norte do Estado da Bahia, o município de Várzea da Roça faz parte do Território de Identidade Bacia do Jacuípe. O Núcleo atua desde 2009 através do projeto Umbuzeiro: Escola Sustentável do Semiárido, construiu relações de parcerias locais com prefeituras, Sindicatos, Associações Comunitárias e a UNAVAR - União das Associações de Várzea da Roça. Atualmente realiza os projetos “Mulheres Organizadas: Um Desejo, Nossa Ação!” e “Águas do Jacuípe”.

Em mais de duas décadas de trabalho, o IPB já realizou dezenas de projetos estruturantes e educacionais, tendo suas metodologias reconhecidas no âmbito da Convivência com o Semiárido, no fortalecimento da Educação Contextualizada, na consolidação de Tecnologias Sociais para o Saneamento Ecológico e na promoção da Transição Agroecológica. Apoiou diversas iniciativas para a construção de um mundo pautado pelo paradigma da sustentabilidade e da solidariedade.

BANHEIRO SECO: ECONOMIZA ÁGUA E GERA ADUBO É comum famílias brasileiras envelhecerem usando bacias ou pinicos no lugar do banheiro, inclusive em Várzea da Roça. Mas através do Projeto Águas do Jacuípe, pela primeira vez alguns agricultores vão ter banheiro em casa. Só que será um banheiro seco – ou sanitário compostável. Nele, as fezes e o papel higiênico são depositados em uma câmara, e cobertos com serragem e outras matérias orgânicas secas até virar adubo para os plantios. E mais: não gasta água com descarga nem contamina o solo.

“O banheiro seco é ideal para a nossa casa. Não tem mau cheiro, não precisa ser lavado o tempo todo, vai gerar adubo para o quintal e diminuir o custo de água.”Delma Rios de Souza, agricultora participante do Projeto Águas do Jacuípe

EQUIPE TÉCNICA | COORDENAÇÃO GERAL | Dirce Almeida | ASSESSORIA PEDAGÓGICA | Maricélia Silva | ASSESSORIA TÉCNICA | Paulo das Mercês | TÉCNICOS DE CAMPO | Alajaque Souza e Gerivaldo Santana | AUXILIARES TÉCNICOS | Jucelio Santana e Romilton Cintra | ADMINISTRATIVO | Roselma Santana| E-mail: aguasdojacuipe@gmail.com

EXPEDIENTE | EDIÇÃO E REVISÃO | Débora Didonê | PROJETO GRÁFICO | Ravi Santiago | FOTOS | Arquivo IPB | TEXTOS | Dirce Almeira e Débora Didonê

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