Revista 'A Catraia' - Ed. 01

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A CATRAIA

PENSAR A AMAZÔNIA REVISTA DO PET DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS DEZ 2019 ANO 1, 10 EDIÇÃO

Rios

os caminhos da Amazônia Revista do PET de Comunicação da UFam

Fotografia: Ana Beatriz Fonseca


A Catraia é uma publicação do Programa de Educação Tutorial – Comunicação (PETCom) da Universidade Federal do Amazonas

REDATORES: Andrezza Rebelo Ana Beatriz Fonseca Daniel Oliveira Airton Paiva Daniel Oliveira Elânny Vlaxio Gabrielle Cristina Peixoto Kaio Miguel Nicoly Ambrosio Pedro Vinicius Priscila Nunes Társis Luz

EDITORES: Ana Beatriz Fonseca e Daniel Oliveira

TUTORA: Professora Célia Carvalho

Navegue pelos rios da floresta

REVISÃO DOS TEXTOS: Professoras: Aline Lira e Célia Carvalho

EDITOR GRÁFICO: Greice Vaz

AGRADECIMENTOS: Professora Carla Mara

PERIODICIDADE: Anual

Fotografia: Gleilson Medins A Catraia

Revista do PET de Comunicação da UFam


O

Por: Ana Beatriz Fonseca e Daniel Olviera

dicionário Aurélio de Língua Portuguesa define catraia como um “pequeno barco tripulado por um homem”, uma embarcação de pouco calado, movida à vela ou remo, podendo ser do tipo canoa motorizada, que se emprega no transporte de passageiros, e que é geralmente manobrada por apenas uma pessoa, ou seja, o catraieiro. Esse tipo de atividade típica dos rios da Amazônia é o sustento de diversas famílias ribeirinhas, que viram na atividade de transporte de passageiros algo rentável e, mais do que isso, a única forma de comunicação fluvial possível nas águas da floresta. Na Manaus de antigamente, o catraieiro era figura presente na vida da população que morava nos bairros afastados do Centro, pois atravessar os igarapés que cortavam a cidade era recorrente e necessário. Hoje, a profissão está quase extinta, isso devido à criação de pontes, como a Fábio Lucena, que liga os bairros São Raimundo e Aparecid. Aos poucos os catraieiros foram perdendo suas funções. Mas em alguns bairros mais afastados de Manaus e no interior da floresta ainda se encontram esses trabalhadores nos rios, levando as populações dessas regiões para seus destinos A revista A Catraia, produzida pelos alunos de Jornalismo e de Relações Públicas da Universidade Federal do Amazonas, integrantes do Programa de Educação Tutorial – PET Comunicação, assim como os catraieiros que levam o povo da Amazônia pelos rios, convidamos o leitor a embarcar pela imensidão dos rios da Amazônia, a maior bacia hidrográfica do mundo, e ver como é rica a vida de seu povo, de sua cultura, de sua fauna e de sua flora...

Fotografia: Carlos Enock Martins Revista do PET de Comunicação da UFam

Editorial - Olho d’água

OS RIOS DA SELVA


História e contemporaneidade 8

Catraia: símbolo de uma cultura que permanece através do tempo

Lamparina 14

Amazônia de todas as cores

Tarrafa 18

Caminho das águas

Travessia 26

A imensidão da Amazônia e a comunicação entre seus habitantes; Desconectividade nos rios

Piracema 31

Rio Amazonas: o sustento de vidas; Flutuantes e o sucesso com o público amazonense; Venda de peixes: Cultura e subsistência

Banzeiro 44

Bototerapia

Papo Cabôco 48

Histórias de beiradão

Como eu vejo a Amazônia 49 Murmúrios do rio

Igaraté 52

Quando o rio não corre para o mar

Zagaia 58

A vida entre terra e água

Na beira do rio 62

Orlas de Manaus

Afluentes 66

A complexidade Amazônica

Na balsa 68

Entre rios e histórias, conheça sobre questões ambientais no Amazonas

Fotografia: Gleilson Medins


História e contemporâneidade

História e contemporâneidade

Catraia antigamente

CATRAIA: SÍMBOLO DE UMA CULTURA QUE PERMANECE ATRAVÉS DO TEMPO

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Por: Ana Beatriz Fonseca

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A Catraia

Revista do PET de Comunicação da Ufam

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A palavra catraia é de origem portuguesa e veio para Manaus com os primeiros navios a vela que aportaram aqui, com a abertura dos nossos portos para o mundo. Originalmente a catraia era um pequeno barco a vela para transportes fluviais em Portugal e colônias. Possuía um mastro central com velas de painel em um mastro e outro mastro na popa para vela catita, onde se içava também a bujarrona. O uso efetivo da catraia tornou-se necessidade imperiosa a partir da grande e permanente afluência de navios estrangeiros que mensalmente aportavam as águas das nossas praias fronteiras no fim do século passado, para transportar borracha, castanha e madeira, couro e

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óleos vegetais produzidos no chamado ciclo áureo da borracha. Aí por volta de 1885 não havia ancoradouro, nem muros de arrimo, de cais flutuantes, e os navios que chegavam a Manaus para receber a borracha baixavam a âncora muito distante das praias livres que contornavam a margem esquerda do Rio Negro em toda sua extensão desde o igarapé dos Educandos até São Raimundo. No princípio do século, todos ou quase todos os catraieiros eram portugueses da província da Póvoa de Varzim, de onde trouxeram esse tipo característico de veículos e se aglomeravam na antiga praia da Imperatriz, em frente a Igreja da Matriz, onde hoje está construído o cais flutuante da Portobras, antiga ManáosHarbour. Naquela época as catraias eram de extrema necessidade, pois os passageiros e cargas só poderiam desembarcar através desses veículos fluviais que eram pequenos barcos com aproximadamente 8 metros de comprimento, dotados de um banco inteiriço de mais ou menos 35 centímetros de largura em volta do barco, onde os passageiros se acomodavam sentados. A popa era adornada com uma placa de madeira, de forma semi-circular, onde estavam escritos os nomes das pequenas embarcações, geralmente de origem portuguesa, talvez como recordação da terra distante. Todos os barcos portavam uma bandeirinha com nome do proprietário ou da entidade que servia, eram pintados de cores múltiplas lembrando barcos que singram o rio Tejo, ou barcos pesqueiros das praias de Póvoa de Varzim e Nazaré em Portugal. As catraias originais ficavam esperando os seus eventuais fregueses ao longo da praia fronteiriça à Igreja da Matriz até o aterrado igarapé do Espírito Santo, exatamente no trecho onde ancoravam A Catraia

Seus tripulantes e proprietários, todos portugueses, usavam camisa de mangas compridas e geralmente quadriculadas, à moda dos pescadores de Póvoa de Varzim, com a cabeça sempre coberta com um boné de lã portuguesa. A construção do moderno cais pelos ingleses determinou a extinção dos catraieiros, porque já não necessitavam mais desse pequeno barco que tanto e inestimáveis serviços prestaram ao Amazonas e ao Brasil, no tempo em que no Amazonas se “amarrava cachorro com linguiça” e se “acendia charuto com nota de 100.000 réis”. Eu mesmo cheguei a conhecer muitos portugueses que trabalharam nesse meio de transporte no ano de 1946, entre eles: Maravalhas Campos, Aurélio e Milhases, alguns já na quarta geração trabalhando no mesmo serviço, o Maravalhas e o Campos, só que agora a prestação de serviços é feita somente para firmas como Abraham Pazuello, Isaac BenzecrySerfaty, Sefair J. A. Leite, JG Araújo, J. S. Amorim, Abrahim& Irmãos e BoothLine, entre outras. Os remanescentes dos antigos barcos são: “Luz do dia”, “Sempre Federal”, “União”, “Maravalhas”, “Campos”, “Aurélio”, “Portugal”, “Brasil”, entre outros que continuam levando e trazendo trabalhadores para o serviço de estivas em navios ancorados e onde é feito o serviço de escolha e seleção de castanha para embarque. Outro tipo de serviço de catraia que agora Revista do PET de Comunicação da Ufam

está se extinguindo, é o feito diariamente nos igarapés de São Raimundo e Educandos, trazendo principalmente trabalhadores para o Centro da cidade, e do Centro da cidade para os referidos bairros. Muita gente pensava que com a construção da ponte de São Raimundo que liga a cidade ao bairro de Santo Antônio através da avenida Leopoldo Neves, o serviço de catraia iria desaparecer, o que não aconteceu, embora tenha diminuído muito com a quantidade de pessoas que se deslocam utilizando esse tipo de transporte. No bairro de São Raimundo o serviço de catraia é ininterrupto, se desloca da rua 5 de Setembro sobre o igarapé de mesmo nome até a rua Doutro Aprígio do lado norte da serraria Hore. Os catraieiros se revezam trabalhando 24 horas por dia numa escala determinada por portaria da Capitania dos Portos do Amazonas, Acre e territórios federais de Rondônia e Roraima. No bairro de Educandos, embora a Prefeitura Municipal de Manaus tenha construído recentemente uma ponte de concreto armado sobre o referido igarapé, ligando a rua Quintino Bocaiuva, no Centro de Manaus, ao bairro de Educandos, o serviço de catraia continua da Manoel Urbano até a rua dos Andradas ao lado da cidade, também nas mesmas condições, isto é, revezandose ininterruptamente de acordo coma determinação da Capitania dos Portos. O pagamento de cada passagem custa um terço do preço da passagem de ônibus, a razão por que da escolha do grande público que prefere se transportar em catraia ao utilizar o serviço de ônibus, três vezes mais caro, principalmente para os que moram nas proximidades dos igarapés de Educandos e São Raimundo.

ANDRADE, Moacir. Manaus das Catraias. Manaus, Jornal do Comércio, 23 e 24 de outubro de 2005.

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História e contemporâneidade

História e contemporâneidade

Dois grandes igarapés cortam a cidade no sentido norte-sul; o igarapé de São Raimundo, que separa aquele populoso bairro por uma largura de aproximadamente duzentos metros, próximo a sua foz; o segundo é o igarapé de Educandos que tem três tributários, o da primeira ponte, também conhecido como igarapé de Manaus, cuja nascente despontava nas proximidades da rua Tarumã e desembocava ao lado do Palácio Rio Negro, no chamado de igarapé da segunda ponte, teve o seu curso interrompido várias vezes, ao longo de seu comprimento por aterros executados pela Prefeitura de Manaus, para dar lugar ao procedimento das ruas Apurinã, Tarumã e Leonardo Malcher, cujo trecho se chamava “Buraco do Pinto”, Ramos Ferreira, avenida Ipixuna e finalmente a Avenida 7 de Setembro, por onde desliza sob uma ponte de pedra em estilo romano. A segunda, a partir da sua foz, no entroncamento com os igarapés da segunda ponte, também denominado de igarapé da rua Jonathas Pedrosa, e o igarapé da Cachoeirinha, o trecho até a sua confluência com o Rio Negro, que era livre de pontes ou aterros, daí, a necessidade dos catraieiros.

os navios que aqui aportavam. Com a construção do muro de arrimo e também do lado da ponte do igarapé em que o povo chegava rente as catraias, e do cais flutuante, pela antiga ManáosHarbour, as catraias se aglomeravam ao longo do trecho do cais que liga a parte que recebe os grandes navios e o continente. Aí se podiam ver as pequeninas e policrômicas embarcações balouçarem ao sabor das ondas do Rio Negro, num bonito espetáculo de balé aquático.


a travessia de populares nos diversos igarapés que cortavam a cidade ou à comercialização de bebidas e pães nas diversas embarcações ancoradas à margem do rio e para as populações ribeirinhas. Tamanha expansão da cidade, muitos foram excluídos das melhorias que ocorriam no espaço urbano, visto que as catraias ainda forneciam o melhor transporte alternativo para essas pessoas, principalmente por causa do seu preço 50% mais barato.

O

texto acima foi publicado entre 23 e 24 de outubro de 2005 no Jornal do Comércio pelo escritor, artista e célebre figura da Academia Amazonense de Letras Moacir Andrade (1927-2016), pela ocasião do aniversário da cidade de Manaus. Em “Manaus das Catraias”, o autor, por meio de pesquisas e de memórias que datam da década de 1940 até 1980, elabora um sucinto histórico de um dos mais antigos meios de transporte, que por anos a fio fez e, ainda faz, parte do dia a dia da população amazonense. Porém, bem antes disso, a catraia embarcação que suportava entre 10 e 20 passageiros e que ajudava a encurtar a distância entre os moradores do Educandos e de São Raimundo para a zona urbana de Manaus - já era relatada pelos portugueses habitantes da cidade de Manaus. As catraias e alvarengas (pequenas embarcações) foram de significativa relevância no trabalho de estivação até, aproximadamente, os anos 1860, quando se concluiu a construção de um cais flutuante, o Roadway. Até aquele momento, as catraias funcionavam como interposto entre o cais e as grandes embarcações que ancoravam no meio do rio, a vários metros da margem.

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Nessa época, os denominados catraieiros eram formados por um número considerável de portugueses. Uma referência relembra essa questão, em 1895, com a fala de um cronista português quando ele chega à Manaus: Quando aí fundeou o nosso Imperatriz Thereza a ele encostou uma dúzia de botes, vistosamente pintados. Eram todos de catraieiros portugueses. Os nomes estampados à popa em caracteres de fantasia, bem atestavam quanto o patriotismo lusitano não decresce com o auxílio em longes terras e por dilatado tempo. Bem hajam. Recorda-nos que entre esses bateis havia um Vasco da Gama, um Avenida da Liberdade, um Minho, um Torre de Belém e um Luiz de Camões. E os costumes são tão portugueses que mais de uma vez se nos tem afigurado estarmos na pátria do cantor dos Luzíadas. (Fonseca, 1985: 85)

Com a modernização do porto de Manaus, o uso das catraias, mesmo não sendo excluído totalmente, ficou mais voltado para A Catraia

Quando se trata do lado político, a participação dos catraieiros é referência pioneira. Ainda no século XIX, na realização de uma greve em Manaus, evento que os habitantes do município não conheciam. A primeira greve que se tem noticiada na cidade é a desta categoria de trabalhadores, em 1884, quando integrados ao processo abolicionista, não aceitaram o transporte de escravos em suas catraias, tão quanto não permitiram o embarque e o desembarque de escravos dos navios chegados ou de saída do porto. A catraia marcou a vida da população amazonense, principalmente nas lembranças dos mais velhos e no cotidiano dos ribeirinhos, para quem hoje ela ainda é muito presente. Thiago de Mello, poeta e tradutor nascido em Barreirinha, registrou: C das catraias, tantas, pássaros bailando serenos nas pétalas da água. Atravessavam os igarapés da cidade, avançavam pelo Rio Negro, tripuladas por um só homem, o catraieiro, que remava em pé, o dorso arqueado sobre a dança das faias compridas. O toldo de lona muito branca brilhando como um cântico de luz. Catraias de São Raimundo. O porto das catraias dos Educandos. Os operários da serraria chegavam de manhãzinha nas catraias que encostavam na beirada da Quintino Bocayuva. Num tempo em que quase todos os catraieiros eram portugueses. Um deles o Joaquim Adão. De Vila Nova de Gaia, tinha um orgulho Revista do PET de Comunicação da Ufam

danado de sua catraia, sempre muito limpa, os bancos laterais de itaúba lisinha, era gostoso passar a mão. Senhora dos Navegantes era o nome da catraia que fazia a última viagem noturna. (Mello, 1983:108)

Para relembrar melhor ainda o passado, um dos principais portos de catraias na cidade de Manaus foi o do bairro Educandos, de onde saiam as embarcações antes da construção da Ponte Padre. Na imagem ao lado, datada de 1958, ao fundo pode-se observar o galpão que servia para armazenar a borracha que chegava no município. Além dele, no bairro Aparecida, as catraias também fizeram parte da cultura de transportar pessoas pelos rios. De acordo com Roberto Bessa, autor do livro Síntese da História de um Bairro, a tumultuação começava bem cedo, antes mesmo do nascer do sol, e permanecia durante o dia todo. Duas catraias ficavam até altas horas da noite para emergências noturnas. De acordo com o autor, “a travessia demorava entre dez e quinze minutos, dependendo da disposição e da condição física do remador”. Entretanto, com a construção da ponte Fábio Lucena, que liga os bairros São Raimundo e Aparecida, os catraieiros foram perdendo espaço, função. “Mesmo a travessia a pé pela ponte era mais rápida do que por meio da catraia. Os homens que faziam daquela atividade seu meio de sustento aos poucos, foram morrendo. Já os outros acabaram mudando de profissão”.

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História e contemporâneidade

História e contemporâneidade

Porto das catraias do educandos - 1958


Lamparina

Lamparina

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02 01 - COR DA ÁGUA DO RIO NEGRO, MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL DA CACHOEIRA - AM 02 - IGARAPÉ DA CACHOEIRINHA, ESTRADA DA CACHOEIRINHA, ENTRE O RAMAL 2 E 3 Foto: Dr. Sérgio Bringel

Cerca de 40% das terras brasileiras são ocupadas pela Bacia Hidrográfica Amazônica, considerada a maior do mundo. Além do Brasil, também abrange territórios internacionais, sendo eles o Peru, a Colômbia, o Equador, a Venezuela e a Bolívia.

AMAZÔNIA DE TODAS AS CORES Por: Pedro Vinícius

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A Catraia

Não é de se surpreender que uma bacia hidrográfica tão vasta como essa é composta por inúmeros rios. O Rio Amazonas é o principal, considerado a espinha dorsal da bacia e que possui como afluentes outros grandes rios, tais como o rio Negro, o Solimões, o Xingu, o Içá o Tapajós e o Madeira. Cada um possui características específicas que os diferem, seja por volume de extensão ou por suas cores. Esse último quesito é uma das principais bases para o estudo do pesquisador Sérgio Bringel, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Em conversa especial com A Catraia, o pesquisador apresentou como se deu a classificação utilizada para definir as colorações predominantes nos rios da região e, consequentemente, as particularidades que as definem. Revista do PET de Comunicação da Ufam

Iniciada em 1956, pelo também pesquisador do INPA, Harold Sioli, estipulada a primeira classificação dos rios da Amazônia a partir de suas cores. Divisão essa que perdurou ao longo do tempo e continua sendo utilizada até os dias de hoje. São três as diferentes cores das águas dos rios da Amazônia: branca, negra e clara. Há 47 anos dedicando seu tempo ao estudo das águas, Bringel utilizou os estudos de Harold como base para as suas pesquisas. Para explicar as diferentes tonalidades entre os rios da Amazônia, o pesquisador esclarece que “A água é o sangue da terra e tudo o que tem no solo tem na água. Ela reflete a geologia de cada local”. Na bacia Amazônia há três diferentes regiões geológicas que definem as três diferentes formas de classificação:

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composição química é diferente: o rio Negro é ácido, o rio Solimões é neutro-alcalino, e o Tapajós está em um nível intermediário entre os rios Negro e Solimões.”

Em 2012, o pesquisador, junto com a pesquisadora Domitila Pascoaloto,

Águas Brancas

Águas negras

Águas Claras

São as águas barrentas da região que recebem a denominação de águas brancas, tendo os rios Solimões e Madeira como seus representantes. Abundantes em nutrientes, elas nascem em lugares montanhosos. São rios que em sua maioria se originam nos Andes e sua coloração vêm da terra que arrancam quando descem das suas nascentes.

Já os rios de águas escuras têm o rio negro como seu principal exemplo. São águas de tonalidade mais escura e não carregam tantos sedimentos quanto aos de águas brancas. É rico em material orgânico, os conhecidos ácidos húmicos e fúlvicos provenientes da decomposição dos vegetais, que explicam a sua coloração.

Nessa categoria temos como exemplo os rios Xingu e Tapajós, as quais não são águas tão comuns na região. Possuem coloração esverdeada e transparente e nascem, em sua maioria, na região central do Brasil. Diferente dos rios de águas negras, apresentam material orgânico mínimo, o que determina suas cores mais claras, além de possuírem menos sedimentos.

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A Catraia

ao realizarem estudos em rios transfronteiriços do munícipio de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, criaram uma nova classificação para a coloração dos rios da Amazônia: as águas vermelhas. “Os rios de águas vermelhas são encontrados em quase toda região Amazônica, principalmente na bacia do rio Negro. As águas da nascente do rio Negro são transparentes e límpidas, à medida que ele adentra na floresta dissolve as substâncias húmicas dessas regiões e começa a adquirir uma coloração

Revista do PET de Comunicação da Ufam

avermelhada que ao longo do seu percurso se transforma na tonalidade mais escura vista nas águas envolta da cidade de Manaus”, afirma o pesquisador.

Lamparina

Lamparina

Sérgio Bringel ressalta que: “A

Sem pressa para diminuir a quantidade de trabalhos, Bringel continua desenvolvendo projetos que se relacionam com as águas da Região. Atualmente, atua no desenvolvimento de um projeto

de monitoramento ambiental da bacia hidrográfica do bairro Educandos. O empenho no desenvolvimento de estudos como esse mostra a importância desse tipo de classificação para as questões de gestão dos recursos hídricos regionais e nacionais. Entender os elementos e as características físico-químicas que as compõem ajudam, futuramente, a promover a preservação de qualidade e o uso sustentável dos recursos das bacias hidrográficas brasileiras.

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OS IGARAPÉS

• Tarrafa

• Tarrafa

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS CAMINHO DAS ÁGUAS

Passeio do Mindu. Foto Gabrielle Peixoto

OS IGARAPÉS

Casas Palafita Bairro Raiz Foto Eduardo Knapp Folhapress

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS

CAMINHO DAS ÁGUAS OS IGARAPÉS

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CAMINHO DAS ÁGUAS

A Catraia

Revista do PET de Comunicação da Ufam

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A cidade divide-se em quatro grandes bacias hidrográficas: São Raimundo, Educandos, Puraquequara e Tarumã. As bacias hidrográficas são as áreas de drenagem de um rio e seus afluentes, formada por diferentes processos geossistêmicos como o clima, o solo, o relevo, a hidrografia e a sociedade. Segundo a Secretaria

Municipal de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMMAS), essas quatro bacias destacam-se por sua extensão territorial e pelo número de indivíduos, visto que estão parcialmente inseridas no perímetro urbano de Manaus.

• Tarrafa

• Tarrafa

M

anaus, Paris dos Trópicos, é a capital do Amazonas e está situada na confluência dos rios Negro e Solimões na região do Médio Amazonas. A cidade é recortada por águas tem e traz dentro de si um tesouro natural: os igarapés. A palavra Igarapé significa “canoa”, termo provindo do tupi, mas pode representar também um canal entre duas ilhas, importante via de transporte.

A bacia do São Raimundo, talvez a mais conhecida, engloba 33 bairros da cidade e possui o maior curso de água em extensão, sendo composta pelos igarapés: do Franco, localizado na Avenida Brasil; do BIS, no bairro São Jorge; dos Franceses, conhecido por transbordar na época de chuva; do Bindá, no bairro Parque 10; e o do Mindu, que recebeu ao longo do seu leito diversas construções, como o Parque do Mindu, o Parque das Nascentes, o Corredor Ecológico do Mindu e o Parque dos Bilhares.

Jacaré em meio ao lixo-Igarapé do Mindu. Foto Reprodução Gabrielle Peixoto Avenida Eduardo Ribeiro em 1896. Foto divulgação SEC.

Igarapé do Mestre Chico- Centro de Manaus. Foto Reprodução Gabrielle Peixoto

Igarapé do Espirito Santo. Foto divulgação SEC

Igarapé dos Frances em meio a área residencial. Foto Reprodução Gabrielle Peixoto

A bacia do Educandos compõe-se de quatro igarapés, sendo eles: os igarapés de Manaus, do Bittencourt, do Mestre Chico e do Quarenta. Localizados na zona central da cidade esses canais ocupam uma área de 44.87km² e desaguam no Rio Negro ajudando a compor a hidrografia local. Os igarapés dessa bacia participam do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim. Entretanto, mesmo com o programa o descarte de lixo nos igarapés é frequente, o que ocasiona a diminuição do nível da água e o aumento do mal cheiro e da poluição que contrasta com as praças e parques construídos ao longo do leitos dos igarapés.

Igarapé do Franco na Avenida Brasil. Foto Reprodução Gabrielle Peixoto

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A Catraia

A bacia do Puraquequara, localizada dentro do limite da porção leste da área urbana de Manaus, possui de uma área de drenagem de 684.834 km², sendo uma das duas únicas bacias que conta com orientação norte-sul. Revista do PET de Comunicação da Ufam

O rio Puraquequara, principal representante dessa bacia, é afluente da margem esquerda do Rio Amazonas e apresenta uma área considerada como de uso agrícola. A bacia hidrográfica do Tarumã, localizada na zona oeste de Manaus é uma macrobacia considerada mista, visto que, parte encontrase na área urbana e parte na área rural e pertencente a uma Área de Proteção Ambiental (APA) correspondendo a mais de 1,9% do município de Manaus. Essa bacia é formada pelos igarapés do Gigante, com cerca de 21. 84 km2, igarapé Tabatinga e do próprio igarapé do Tarumã. Entretanto muitos igarapés da bacia do Tarumã e seus afluentes como os igarapés Varig, Escadinha, Redenção entre outros sofrem com o esgotamento sanitário e o assoreamento decorrente dos assentamentos do bairro tarumã mirim.

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A Manaus da década de 1970 guarda em sua memória boas recordações dos igarapés. Nessa época, era costume que as famílias frequentassem aos finais de semana balneários localizados às margens dos rios e dos igarapés. Na capital ou no interior, tomar um banho de igarapé era a diversão favorita da população amazonense. Hoje em dia para tomar um banho de igarapé em águas limpas é preciso optar por um balneário distante da capital, mas que ainda sim permanece como uma das opções favoritas de lazer dos amazonenses. Dia a dia Manaus possui nos dias de hoje cerca de 29 mil residências em área de risco, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE). A população que carece de moradia constrói casas palafitas* à beira dos 148 igarapés que recortam o município. Em decorrência da grande poluição dos igarapés, juntamente com a cheia dos rios, a população amazonense sofre com doenças advindas da contaminação desses corpos d’água, como a leptospirose, a hepatite, a febre tifoide, a diarreia e a dengue. Nos igarapés do 40 e do São Jorge, duas áreas extremamente afetadas pela poluição, é possível encontrar sacolas, garrafas e até objetos velhos, como estofado, fogão e geladeira. Essas áreas receberam um nome pejorativo “Bodozal”, inspirado no peixe bodó, que é revestido por uma carapaça dura, capaz de viver na lama. * Construções sobre estacas de madeira muito utilizadas às margens dos rios, na Amazônia.

CURIOSIDADE

Igarapés Manauaras

A Eduardo Ribeiro, uma importante avenida localizada no Centro de Manaus, era um corpo hídrico chamado Igarapé do Espírito Santo, até que, em 1892, o então governador Eduardo Ribeiro decidiu modernizar a cidade e ordenou que aterrassem o igarapé dando origem à avenida. As obras incluíam a construção de pontes e edifícios públicos e privados para embelezar a capital e melhorar a higiene, tudo inspirado nos modelos europeus de arquitetura e urbanismo.

Obras que aterraram e canalizaram os principais igarapés de Manaus desde o governo de Eduardo Ribeiro

Poema Igarapé Antigo sem poderes cristalinos,

passar a minha infância

sem o movimento apurado

em suas águas de cristal,

das ondas originais,

mudou de rumo.

com águas que passam o tempo

Passou a sustentar palafitas,

exercitando correntes

encher garrafas e latas atiradas

É rio que já não é tão rio

Por fim, passado à limpo, ressurgiu numa versão domada,

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Por: Airton Paiva

Esse pequeno rio que viu

que lhes davam relevos sombrios.

Fotografia: Ana Beatriz Fonseca

• Tarrafa

• Tarrafa

Momentos de lazer

agora livres de detritos. e eu também, quando passo por ele,

M

anaus sempre foi uma cidade repleta de igarapés que servem para alimentar os rios da região Amazônica. Durante a história da capital amazonense foram realizadas obras de aterramento em igarapés que resultaram em modificações no espaço urbano da cidade aos padrões que conhecemos hoje. As principais alterações na geografia urbana da cidade ocorreram no período da Belle Époque, entre o fim do século XIX e o início do século XX. Durante o governo de Eduardo Ribeiro (1890 – 1896), a capital do Amazonas vivia uma

já não sorrio Rosa Clement A Catraia

Revista do PET de Comunicação da Ufam

crescente financeira devida à exportação da borracha, que estava em seu auge. As obras nos igarapés tinham o objetivo, primordialmente, estético, e visavam o embelezamento que o período inspirava. Assim, os projetos de aterramento dos igarapés resultavam em novas vias públicas para a cidade. Eduardo Ribeiro, em seu mandato, autorizou o aterro de vários igarapés do núcleo central de Manaus. Dentre os igarapés canalizados e aterrados estavam o do Espirito Santo, o da Ribeira, o dos Remédios e o do São Vicente.

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O igarapé da Ribeira foi aterrado para a construção da Praça da Imperatriz, conhecida hoje como a Praça da Matriz. O igarapé dos Remédios foi canalizado para dar origem à Avenida Floriano Peixoto e à Avenida 13 de Maio, atual, avenida Getúlio Vargas. O aterro do igarapé São Vicente se deu para a construção, em parte, do bairro São Vicente, hoje como ponto mais conhecido está a rua Saldanha Marinho. Outra proposta para embelezamento da cidade surgiu ainda mais tarde, na virada do século XXI, no governo do prefeito Alfredo Nascimento (1997 – 2004). O então prefeito tinha como meta o projeto “Nova Veneza”, com o intuito da canalização de alguns igarapés localizados no centro

• Tarrafa

O maior e principal destes, o igarapé do Espirito Santo, tinha sua nascente próxima de onde depois se construiria o Teatro Amazonas. O igarapé foi aterrado para dar lugar ao que se conhecia na época como “Avenida do Palácio”, onde hoje é a avenida Eduardo Ribeiro. As galerias utilizadas para o aterro e a canalização do igarapé ainda estão sob essa via do Centro da cidade.

histórico. O projeto não foi totalmente efetivado em seu mandato, mas o ideal se manteve e foi realizado no governo de Eduardo Braga. Durante os mandatos do governador Eduardo Braga (2002 – 2010), foram implantados projetos nas áreas social e ambiental da cidade de Manaus. A partir do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), que visava o aprimoramento das condições sanitárias do meio urbano, assim como, obras no sistema viário, paisagismo e substituição das moradias em palafitas por conjuntos populares habitacionais. As obras de requalificação do sistema viário e de saneamentoe a construção de casas próprias iriam sobrepor os igarapés existentes da zonaSul da Capital em canalizações e encurtamento de seus cursos d’água. Os igarapés afetados foram o de Manaus, o do Bittencourt e o do Mestre Chico.

Tarrafa

Igarapé sendo drenado

Igarapé do 40 - Prosamim

Encontro dos canais igarapé de Manaus e Bittencourt, registro aéreo feito em 2019 por Alciney Maia

As obras de canalização nos igarapés de Manaus e do Bittencourt foram finalizadas até o ano de 2013. A canalização do igarapé de Manaus se estendeu desde onde se encontra

Igarape do 40 - Bruno Zanardo_ Secom

Igarapé do Mestre Chico

hoje a avenida Tarumã e rua Leonardo Malcher, passando pelo Parque Residencial Manaus, até a avenida Sete de Setembro, no Parque Senador Jefferson Péres. O igarapé Bittencourt deu espaço ao Parque Bittencourt e as águas de seu canal se encontram com as do igarapé de Manaus no Parque Jefferson Péres. A revitalização do igarapé Mestre Chico ocorreu em partes. O trecho próximo à ponte Benjamim Constant foi entregue ainda em 2008, por Eduardo Braga, em que o processo de canalização deixou o leito do igarapé menor, mas com velocidade de vazão maior. A segunda etapa

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do Parque Residencial Mestre Chico, localizada próximo às avenidas Ramos Ferreira e Castelo Branco, foi canalizada e finalizada para novas moradias ainda neste ano de 2019. Por toda a cidade, muitos dos igarapés tiveram os trechos de seus leitos apenasrevitalizados e encurtados, como é o caso do igarapé do Quarenta, do igarapé da Cachoerinha, do igarapé do Bombeamento, do igarapé dos Franceses e do igarapé do Passarinho.

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Por: Pedro Vinícius

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singularidade da região Amazônica e de todos os municípios que a compõem torna distinta toda forma de comunicação, transporte e integração entre a sua população nativa, principalmente se comparada ao restante do país. A sua geografia recortada por diversos e gigantescos rios proporciona um cenário comunicacional particular a fim de que os habitantes de regiões mais longínquas da capital não vivam isolados e que, consequentemente, o fluxo de informações aconteça de ambos os lados. Essa configuração favorece a utilização do rádio como principal veículo de comunicação para as cidades que se localizam no interior dos estados. Mesmo que tenha tido sua época de ouro entre as décadas de 20 e 60, o rádio manteve a sua relevância e papel social sobrepondo as inovações tecnológicas surgidas ao longo do tempo. E são nessas regiões em que é possível enxergar de que forma o rádio impacta 26

o modo de viver de pessoas que, muitas vezes, não possuem um abastecimento de energia elétrica eficaz e veem no rádio de pilha a sua única forma de comunicação. A doutora Ierecê Barbosa destaca que o rádio no Amazonas sempre teve um papel de integração social entre os habitantes da região. “O rádio nasceu em um momento que não havia uma forma mais eficaz de comunicação massiva. Ele foi o companheiro, conselheiro, acalentador do ribeirinho por muito tempo. Uniu famílias que estavam separadas. Mostrou um mundo que muitos não sabiam que existia por peio das ondas sonoras”

Travessia

Travessia

A IMENSIDÃO DA AMAZÔNIA E A COMUNICAÇÃO ENTRE SEUS HABITANTES

quanto do estado do Amazonas e também nacionais e internacionais. Os assuntos são os mais diversos, desde o noticiário policial até os programas de entretenimento, a agenda cultural e todos os eventos que acontecem no município. Waillem Freitas, radialista da Rádio Vitória, esclarece em conversa com A Catraia, o porquê da popularização da rádio entre os moradores da cidade. “É de grande relevância a existência de rádios comunitárias em cidades como a nossa porque muitas pessoas no interior do Estado ainda não possuem o costume de usar as redes sociais, talvez por falta de acesso ou capital, e ainda se prendem ao meio de comunicação mais usado até hoje, o rádio” Freitas também destaca que a Rádio Vitória está sempre empenhada em aumentar a aproximação com o público, participando e apoiando grandes eventos da cidade, como a Feira da Laranja, e promovendo diversos sorteios de prêmios para os moradores da localidade.

Há 8 anos em funcionamento, uma tradição da rádio é levar o prefeito da cidade para uma conversa todos os sábados. No programa de Waillem, ele relembra as ações que foram feitas pela prefeitura durante a semana. A partir disso, carinho e aproximação do público com a rádio é construída dia após dia. O que pode ser visto em momentos singelos, como no último desfile cívico de Sete de Setembro, em que os locutores e o fundador da rádio foram homenageados. A Rádio Vitória é um apenas um exemplo da atuação e de um veículo como o rádio em cidades do interior do Estado. Se em um ambiente que não se distancia de forma tão grandiosa da capital já é possível entender a função social, política e de integração com o público por meio do rádio, em regiões ainda mais longínquas essas características tendem a crescer cada vez mais.

E mesmo em cidades não tão distantes da capital, já é possível enxergar o papel social do rádio para seus ouvintes. A rádio comunitária Vitória, em Rio Preto da Eva, é um dos exemplos que demonstram a utilidade do veículo de comunicação para o dia a dia de seus habitantes. Distante 78 km da capital, os moradores de Rio Preto da Eva têm a possibilidade de acesso às notícias tanto da cidade A Catraia

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Fotografia: Ana Beatriz Fonseca

A desconectividade

NOS RIOS Por: Kaio Miguel

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região Amazônica, além de sua riqueza em biodiversidade, possui a maior bacia hidrográfica do mundo. Diariamente, milhares de pessoas viajam em embarcações a caminho de outros municípios para lazer, visitar parentes, buscar atendimento, médico etc. Segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), em pesquisa divulgada em 2018, cerca de 9, 8 milhões de pessoas e 3, 4 milhões toneladas de cargas são transportadas em um ano na Amazônia. Isto ocorre pois o transporte fluvial é o principal meio de locomoção da Região, devido à faltade estradas que liguem todos os Estados da região Norte com o resto do Brasil.

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No entanto, por mais que não seja rápida a chegada ao destino, viajar de barco permite que as pessoas apreciem a imensidão da Floresta Amazônica, a fauna, os rios, o alvorecer e o pôr do sol. Diariamente, pessoas costuram os rios amazônicos com destino a outros Estados ou municípios. Não se compara à uma viagem de carro ou avião, isso porque os passageiros têm o privilégio de conhecer e admirar a Amazônia e de se desconectar do mundo, já que a internet não funciona no meio do grande rio, o que possibilita que as relações presenciais se intensifiquem. Tem-se uma enorme chance de se conhecer novas pessoas,de se travar novas amizades e de se viver novas experiências.

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Também conhecemos o Sr. Francisco, de 71 anos. Ele, que reside em Manaus, estava viajando para Santarém – PA, com a missão de visitar os túmulos de sua ex-esposa e seus pais no feriado do Dia dos Finados, além de reencontrar seus sobrinhos que moravam no município. Gosta de sentir o vento durante a viagem, e se distrai olhando a natureza, conversando e conhecendo outras pessoas que ficam nas redes ao lado. “Nós falamos com as pessoas, aqui quase ninguém perde tempo mexendo em celular”

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Sergiely, 28 anos, acompanhada de sua filha. Foto: Kaio Nunes

Sr. Francisco, 71 anos, aguardando o início da viagem. Foto: Kaio Nunes

Fotografia: Gleilson Medins

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Durante uma viagem de barco, podemos conhecer histórias completamente diferentes. Como a da Sergiely, de 28 anos,que viaja constantemente pelos interiores do Pará e do Amazonas, juntamente com a sua filha de dois anos, para acompanhar seu marido que é lutador profissional de MMA. Na sua opinião, o tempo em que passa no barco é o melhor momento das viagens, pois ela pode observar as belezas naturais e conhecer os caminhos dos rios da Região.

Abordando o tema da destruição da Amazônia e poluição dos rios, Francisco justifica que é contra: “é um lugar muito rico”. Já o seu Alberto, de 50 anos, trabalha num navio que realiza transporte fluvial de cargas e passageiros há mais de 20 anos, fazendo o percurso de Manaus a Santarém toda semana. Ele ressalta a importância dos rios para o povo amazônida e que possuímos o privilégio de viver em meio a tanta riqueza natural. “Eu moro em santarém, mas a minha vida está neste barco, fico mais aqui do que em casa” Alberto ainda diz que uma hora ou outra, nas suas pausas durante as viagens, se vê tomando seu cafezinho e admirando a natureza que o cerca.

o sustento de vidas Por: Andrezza Rebelo e Ana Beatriz Fonseca

O CONTEXTO DAS FEIRAS DO CENTRO Alberto, 50 anos. Há 20 trabalha com transporte fluvial. Foto: Kaio Nunes

O principal ponto de compra e de venda de mercadorias no Amazonas são os portos fluviais, por muitas vezes sendo a única fonte de renda das comunidades e municípios da região,a venda de produtos trazidos pelos rios e seus afluentes. Em Manaus, essa fonte de renda não é mais o único modo de produção econômica, porém ainda possui extrema importância para a cidade, que é de cultura portuária. Como característica da Região, o Porto de Manaus, localizado no bairro Centro, possui mercado, lojas e feiras anexados à sua estrutura.

“A Amazônia é enorme, é muito difícil isto aqui acabar, mas temos que ter consciência e cuidar bem dela”. Para quem vive em cidades, navegar pelos rios vai muito além de um passeio, significa entrar em contato com outra atmosfera, onde a vida conturbada da cidade dá lugar aos sons dos animais das matas e à calmaria dos rios. 30

Rio Amazonas:

O Mercado Municipal Adolpho Lisboa foi o primeiro mercado da cidade, no século XIX, tempo áureo da borracha, em que preocupações a respeito das condições A Catraia

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higiênicas na comercialização de alimentos criaram a necessidade da construção de mercados públicos em vários municípios, incluindo Manaus, que inaugurou o espaço no ano de 1883. Posteriormente, no século XX, com o aumento de demanda na Região Norte, um grande projeto de modificação da capital, na década de 1960, originou a área conhecida como Manaus Moderna. A adequação do espaço às margens do Rio Negro e a construção da Feira Coronel Jorge Teixeira, conhecida popularmente como a Feira da Manaus Moderna, foi parte desse planejamento urbano, em que os governantes tiveram a preocupação de dinamizar o transporte de materiais alimentícios e não-alimentícios,

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Piracema que são descarregados na área portuária e transportados para o Distrito Industrial. A ascensão da Zona Franca de Manaus e o desenvolvimento do comércio na área central da cidade foram a alavanca para o estabelecimento do que hoje temos por conhecimento como Feira da Manaus Moderna. Ainda por consequência do crescimento demográfico da cidade e do seu desenvolvimento econômico, outro anexo foi acrescentado à região portuária da cidade: a popular Feira da Banana. MERCADO ADOLPHO LISBOA Fundada no ano de 1883, o Mercado Adolfo Lisboa foi, por décadas, o principal lugar de compra e venda de produtos e alimentos. Atualmente, a economia do lugar gira em torno da venda de artesanatos indígenas, comidas regionais, carnes e peixes específicos, sendo não somente um mercado, mas também um ponto turístico da cidade. As peças de artesanato oriundos do interior e de aldeias indígenas dependem significativamente da translação pelo rio. Os vendedores do mercado compram dos indígenas e dos ribeirinhos suas peças e os revendem. Quando o rio está seco em alguns pontos dos trajetos feitos pelos compradores, não é possível ter acesso às aldeias distantes, encarecendo o preço dos produtos e até tornando-os escassos em época de várzea. Ao conversar com Luciano, vendedor de artesanato no Mercado Municipal, ele conta a procedência do seu artesanato e a sua

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dependência do rio para o transporte dos produtos comercializados: “Os produtos vêm de Parintins, Itacoatiara, Tefé, Janauari. Vem tudo por meio fluvial”.

rio cheio, os peixes se deslocam com maior facilidade e isso dificulta a pesca, diminui a quantidade de peixes pescados e aumenta o valor final do preço na feira.

Com isso, a sua dependência influencia diretamente na sua venda e no seu estoque de variados tipos de artesanato. Ao ser questionado se alguma vez deixou de comercializar ou teve problemas com a chegada das peças por causa da cheia ou várzea do rio, Luciano relata: “Sim. O artesanato indígena que vem da região de Benjamin Constant, Tabatinga, Atalaia, onde vivem os índios Tikuna, na seca sempre demora para chegar.”

Com 15 anos de experiência na área comercial e de onde seu sustento é retirado, o senhor Vanderlei da Silva, peixeiro na feira, ressalta a influência do nível do rio no seu trabalho e na dinâmica econômica estabelecida, na qual a cheia é o melhor período, pois a concorrência diminui e o preço encarece.

FEIRA DA MANAUS MODERNA

Afirma, também, que para ter acesso ao seu produto necessita da revenda de peixe na Feira da Panair.

A Feira da Manaus Moderna da sua fundação, no ano de 1967, até os tempos atuais depende do Rio Amazonas para seguir em funcionamento. Os períodos de enchente e de vazante dos rios influenciam diretamente nos preços de verduras, peixes e frutas vendidas. No primeiro semestre de 2019, a cheia ocorreu meses mais cedo e prejudicou a venda de verduras, que chegaram a ter um aumento no preço de até 30%. Isso ocorreu porque a época de colheita ocorre no período final da várzea, que se antecipou e tornou grande parte desses alimentos inapropriados para o consumo. Com poucas verduras e frutas boas para o comércio, o preço precisou aumentar. O mesmo acontece com a venda de peixes, mas o motivo é diferente: com o A Catraia

“Quando dá muito peixe fica ruim de vender, sabe? Todo lugar tem venda. Aqui quebra mais. Quando dá a cheia, ‘aí sim fica melhor pra gente vender, porque fica mais caro”, destaca Vanderlei.

FEIRA DA BANANA A Feira da Banana leva este nome pela grande quantidade da fruta em si que fica exposta para os clientes. Ela surgiu após ambulantes passarem a se reunir ao lado da Feira da Manaus Moderna, que não tinha mais espaço para abrigar novos vendedores. Com o tempo, a Prefeitura de Manaus fez uma intervenção, dando melhores condições de trabalho para os pequenos comerciantes.

forma de receber produtos, os quais em sua maioria chegam por via terrestre, pelas estradas de Boa Vista e Itacoatiara. Quando não é época de colheita em Roraima, a chegada de frutas é oriunda apenas do interior do Estado do Amazonas por rio, mas com menor qualidade e tamanho, e são vendidas por um preço abaixo do praticado no mercado, o que diminui a margem de lucro dos feirantes. O feirante identificado como João, ao ser questionado sobre a influência dos movimentos dos rios sob a venda das suas frutas, alega: “Na verdade acho que não muda nada. Tem uma média de 8 a 9 meses que a gente trabalha com a melancia de Boa Vista. Na época do inverno, lá para. Aí é quando a gente usa a regional, mas a prioridade é trazer de Boa vista”. Quando a melancia é regional, o feirante explica: “Ela vem de duas formas, de barco e de caminhão, e depende de qual interior. Se for de um interior localizado no Rio Madeira vem de barco, aqui mais próximo também. E tem Manacapuru que agora é caminhão, fora isso não tem outra forma.” Ainda que na mesma região da cidade, o mercado e as duas feiras se diferenciam quando o assunto é a forma de se obter os produtos que serão comercializados. Dessa forma, a dinâmica de precificação é distinta para cada tipo de produto e de suas finalidades.

Na feira, a venda de frutas se destaca e, assim como no Mercado Adolpho Lisboa e a Feira da Manaus Moderna, fazem o translado das mercadorias pelo rio, porém não é a principal Revista do PET de Comunicação da Ufam

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F lutuantes e o sucesso com o Por: Pedro Vinícius

público amazonense

Uma delas é baseada em como os moradores da capital e seus arredores escolhem passar o seu tempo livre e de lazer. Nesse caso, os flutuantes da região têm se tornado cada vez mais populares e uma das opções preferidas para aqueles que desejam se divertir e relaxar tomando um banho de rio e conhecendo pessoas novas, ao som de música e comida regional.

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capital amazonense, por si só, diferencia-se do restante das cidades brasileiras pela sua localização geográfica rodeada pela floresta Amazônica e por seus inúmeros rios caudalosos. Essa realidade modifica as práticas cotidianas dos manauenses e lhes atribui características específicas que não são encontradas em nenhuma outra região do país. 34

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E não há muita demora em encontrar opções de flutuantes na cidade. Após um breve levantamento, já é possível encontrar flutuantes como o Recanto da Amazônia, o Peixe-boi e o Paraíso das Águas, que são alguns exemplos de casas flutuantes que foram inauguradas recentemente, e beneficiadas pelo crescimento desse tipo de empreendimento na capital amazonense. 35


“O grande diferencial do Flutu é que oferecemos objetos de decoração como cortesia. Então, o cliente já consegue economizar uma média de R$ 200 reais com as peças que já estão disponíveis. Além do estilo do flutuante, que foi pensado para que as pessoas pudessem adentrar no universo amazônico”, afirma a empresária. Entre os objetos de decoração que fazem mais sucesso entre o público estão as caudas de sereia e as boias de flamingo

Os três flutuantes oferecem basicamente como serviços: programação variada de músicas, das mais regionais até as conhecidas pelo grande público, podendo até contar com som ao vivo, comidas e bebidas mediante pagamento e, é claro, as mais lindas vistas para o pôr do sol amazônico e os maravilhosos banhos de rio. Outros oferecem algumas atrações que podem fazer a diferença na escolha pelo público, como o Flutuante Sup Cabana que conta com uma piscina de borda infinita e um chafariz de 10 metros, e o Abaré Supand Food, lugar ideal para quem quiser conhecer e praticaro Stand UpPaddle, esporte caracterizado por manter o praticante em pé em uma prancha enquanto rema. Mas como todo mercado em expansão, a popularização de seus negócios demanda que os empreendedores do ramo sempre estejam em busca de novos elementos e 36

e de cavalo alado. Em relação às pinturas, a casa possui duas marcantes: a que faz referência à sereia Iara (das lendas amazônicas) e a pintura de um cocar indígena. Desse modo, o Flutu consegue se destacar entre outros flutuantes na cidade e gerar curiosidade e atenção do público manauara, fortalecendo ainda mais o ramo de casas flutuantes na capital. Sejam alugados ou públicos, os flutuantes já conquistaram um espaço no coração do amazonense e oferecem uma opção de lazer entre as mais acessíveis e vantajosas para todos que desejam ocupar o seu tempo livre aproveitando as riquezas naturais da Região Amazônica.

atributos que os diferencie da concorrência e para que, assim, consigam conquistar o seu público cativo. Pensando nisso, empreendedoras como aJuliana Almeida e a Katy Ferreira começaram a trabalhar a ideia de uma casa flutuante exclusiva para aluguéis, que aposta na decoração, na qualidade e no conforto de sua estrutura para a aproximação dos clientes. Em entrevista para A Catraia, Juliana explicou que, primeiramente, o espaço era somente para ela e sua família mas que, ao longo do tempo, foi adquirindo status de negócio particular. Hoje, com o seu público já consolidado e quase 30 mil seguidores em suas redes sociais, o Flutu, como é chamado, é normalmente alugado para confraternizações e aniversários. Segundo a proprietária, o que o diferencia de outras casas flutuantes são os itens de A Catraia

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decoração que são disponibilizados, além das pinturas e ornamentações na estrutura do flutuante que celebram a cultura indígena.


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Venda de Peixes:

CULTURA e SUBSISTÊNCIA

Por: Airton Paiva

de pescado para venda e distribuição em atacado é a piscicultura, que é o sistema de cultivo de peixes especialmente de água doce. Esse cuidado de reprodução em massa de espécies nativas é controlado em tanques, açudes ou represas e localizam-se, geralmente, na área rural dos municípios.

A economia da venda de peixes e a importância da pesca Em se tratando da Amazônia, a pesca é uma das atividades mais importantes, constituindo-se em fonte de alimento, comércio e renda da população que reside às margens dos rios. No Amazonas há uma diversidade de espécies de peixes e abundância de pescado, propício para o extrativismo animal, que é um dos principais setores que movimenta a economia na Região.A pesca é essencial naforma de sustento de muitas famílias por todo o Estado, seja para sua própria subsistência, seja para o comércio na capital e no interior.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), quando estão crescidos o suficiente para comércio, os peixes da pisciculturadevem ser distribuídos congelados para as cidades de destino e, durante o armazenamento e

Em Manaus, a principal responsável pelo fornecimento

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o transportea temperatura não deve estar superior a -25ºC até a chegada às bancas, às feiras e aos Supermercados. Como o pescado é um produto perecível e sensível à deterioração, até a mesados clientes deverá permanecer no gelo próximo a -0,5ºC. A piscicultura está presente por todo o Estado do Amazonas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, a produção de peixes foi de 8,1 milhões de quilos, e com expectativa de crescimento para dez milhões em 2019. A maior parte da criação dos peixes está situada na região

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A produção de tambaqui em cativeiro chegou a 6,07 milhões de quilos no AMAZONAS, dividindo-sepor Rio Preto da Eva (996 toneladas), Manaus (840 toneladas), Iranduba (810 toneladas), Manacapuru (600 toneladas) e Itacoatiara (600 toneladas). A de Matrinxã chegou a 1,83 milhões de quilos, e se distribuiu por Rio Preto da Eva (795 toneladas), Manaus (300 toneladas), Manacapuru (180 toneladas) e Presidente Figueiredo (180 toneladas). O pirarucu também está na lista

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Enfrentava de tudo para voltar com o peixe para casa, comoas carapanãs e o temporal de chuva”, completa o peixeiro.

O vendedor Francisco Batista, 29, que atua na feira da Manaus Moderna, explica que mesmo com todo esse volume de pescado, a produção do Estado ainda é insuficiente para prover a demanda do mercado e atender aos clientes.“Os vendedores aqui ainda precisam pedir de fora. Para não faltar para os clientes, a gente pede de fora.Esses peixes aqui vem lá de Ariquemes, em Rondônia, através da balsa e em contêiner,e no prazo de cinco dias está aqui; de Roraima chega em um dia”, conta.

A volta para casa sem o pescado do dia ainda é comum para as famílias no interior. “Tinha dias que a gente não encontrava nada. Quando chegava em casa a minha mãe perguntava onde estava o peixe, e o meu pai inventava umas histórias para ela”, relata o senhor Arlindo.

Pesca de subsistência

Jorge Rodrigues, de 53 anos, morador do município de Manaquiri e, atualmente, pescador que vive exclusivamente da pesca de subsistência, acrescenta que quando o rio sobe, garantir o alimento é mais simples. “No período de cheia edevazante dos rios fica mais fácil, até as crianças com cinco ou seis anos conseguem pegar até dois quilos de peixes com a malhadeira.Ésó saber pescar no local certo, como por exemplo, perto dos manguezais, local onde se encontra os peixes amontoados”.

Diferentemente da piscicultura, a pesca de subsistência ou artesanal se diferenas técnicas utilizadas e na quantidade de pescado colhido. Os moradores do interior do Estado, desde pequenos, aprendem a manusear os equipamentos para acaptura dos peixes na natureza. A pesca é uma importante fonte de renda e dealimento das famílias ribeirinhas. Arlindo Silva Santos, de 55 anos, que nasceu e cresceu em Autazes, mas há 33 anos está na capital como vendedor de peixes, explica um pouco de suas vivências ede suasexperiênciasna sua cidade natal. Segundo Arlindo, os dias eram difíceis, mas os esforços para se manter eram recompensados no fim da noite.“Trabalhava de dia e pescava a noite, até às 21horas. Nós chegávamos e aí só então nós íamos buscar nossa janta. Muitas das vezes, o vento apagava a lamparina e nós pescávamos assim mesmo no escuro, no breu, na habilidade. Sentia o peixe fisgando e puxava.

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Dois fatores que podem influenciar a volta para casa sem o pescado: chuvas fora do comum, com muitos raios podem ser perigosas para apesca ao ar livre; e em determinadas épocas, como a seca dos rios, pode haver insuficiência de peixes circulando nas águas da região.

Na feira da Panair a taxa é mensal e custa R$ 13 para os serviços de manutenção como limpeza e segurança. O consumo de água e energia na feira é subsidiado pela prefeitura. O subsídio de energia engloba apenas uma geladeira/freezer por feirante. Arlindo Silva relata ainda um pouco de suas vivências vendendo peixe na capital, o passar dos anose como vê de forma positiva a venda. “Agora eu tô com 33 nessa vida de peixe. É um ramo muito bom. É uma coisa que a gente vende rápido porque o povo daqui gosta muito de comer peixe.Amazonense, né. É lucrativo. O lucro do peixe chega a gerar 70%, aí você tira as despesas de tudo e ainda fica bom”. O maior fluxo de pessoas à procura de pescado na capital é durante a Semana

Custeio e experiências com a venda de peixe O custeio para manterumestabelecimento na feira da Manaus Moderna é cerca de R$ 30 semanalmente por feirante. A taxa é paga ao Comitê de Gestão da Feira para contribuir com a manutenção do lugar e o pagamento dos zeladores e vigias, assim como custear as reformas no piso, notelhado e nacolocação de cerâmicas nas paredes.

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metropolitana de Manaus, sendo 92% de cultivo do Tambaqui, 5% da Matrinxã e o excedente de 3% em outras espécies e somente as duas primeiras foram responsáveis por R$ 67 milhões de R$ 69,4 milhões totais proporcionados de valor de produção no Estado.

nas cidades de Codajás (42 toneladas), Manacapuru e Coari (40 toneladascada) e Manicoré (13,4 toneladas).


“A venda no período da Semana Santa triplica praticamente, pois a procura é muito grande. A gente, geralmente, abastece o estoque uns três dias antes, deixa no gelo, mantem a temperatura e frescor que é para não faltar para o cliente, né. A gente vende várias quantidades de peixe e é a parte do ano que nós mais temos lucro”, explica Arlindo. O vendedor de peixes ainda explica a diferença entre os peixes da natureza, próprio dos nossos rios, e ospeixes de viveiro, oriundos da piscicultura. Eo porquê de os peixes de rios, em geral, serem mais caros. “O sabor do peixe que vive na natureza é diferente, é muito melhor. O peixe na natureza, come as frutinhas e as sementes ou as algas nos rios, além de que, os peixes nos rios se movimentam e nadam muito, estão em exercício

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constante. Já os que vivem em cativeiro comem determinado tipo de ração para crescer mais rápido e forte, e como têm um ambiente delimitado acabam se movimentando menos, o que faz com que esse tipo de peixe tenha uma gordura localizada. Só que em comparação, os peixes da natureza são mais caros, porque o pescador precisa ir até lá longe, diretamente onde eles vivem, e o transporte dessas espécies até a venda aquideixa o preço alto”, finaliza Arlindo.

Más condições das feiras em Manaus A maior reclamação dos permissionários das feiras da capital do Amazonas diz respeito à precariedade de sua estrutura física, à falta de estacionamento e à sujeira que assola os ambientes onde estão os boxes. Como se trabalha com alimentação, o ambiente deveria ser provido de todas as condições necessárias para o condicionamento dos produtos, sejam de origem animal ou vegetal. Sem uma

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estrutura adequada, como rede tratamento de esgoto, manutenção da rede elétrica e serviços de limpeza, a queda no número de compradores é uma realidade. Período de defeso no Amazonas Atualmente, o calendário do defeso compreende o período de 15 de novembro a 15 de março. Nessa época, quando acontece a reprodução dos peixes, é proibida a pesca do pirarucu, dotambaqui, damatrinxã, dapirapitinga, dasardinha, dapacu, daaruanã e damapará paracomércioe,assim, garantir sua renovação na natureza. Durante esse período, apenas peixes oriundos da piscicultura podem ser comercializados. Nessa modalidade a pesca está liberada, desde que a origem do pescado seja comprovada. A Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura (Sepa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) são os responsáveis por definir as regras para o defeso. Cabe ao Ibama a fiscalização sobre a pesca no período.

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Santa. Para esta semana do ano, os produtores e osvendedores se preparam com antecedência para que não falte ao consumidor.

Período de defeso no Amazonas Atualmente, o calendário do defeso compreende o período de 15 de novembro a 15 de março. Nessa época, quando acontece a reprodução dos peixes, é proibida a pesca do pirarucu, dotambaqui, damatrinxã, dapirapitinga, dasardinha, dapacu, daaruanã e damapará paracomércio, garantndo, assim, sua renovação na natureza. Durante esse período, apenas peixes oriundos da piscicultura podem ser comercializados. Nessa modalidade a pesca está liberada, desde que a origem do pescado seja comprovada. A Secretaria Executiva de Pesca e Aquicultura (Sepa) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) são os responsáveis por definir as regras para o defeso. Cabe ao Ibama a fiscalização sobre a pesca no período.

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uitas crianças portadoras de necessidades especiais ou com doenças vêm melhorando de vida com uma nova terapia complementar de tratamento de saúde na região de Manaus, no Amazonas.Iniciada em 2005, pelo fisioterapeuta Igor Simões Andrade, a Bototerapia atende crianças no baixo Rio Negro, no rio Ariaú, zona rural de Iranduba, a cerca de 20 quilômetros de Manaus, de barco.

BOTOTERAPIA Por: Daniel Oliveira e Priscila Nunes Foto: Diogo Lagroteria/Divulgação

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As crianças interagem, brincam e conhecem mais sobre o meio ambiente dos botos, o que ajuda a trazer autoestima, amenizar efeitos de certos problemas e proporciona um senso de independência em relação às suas dificuldades. Acompanhados dos pais, os jovens são levados em grupos de cinco ao encontro dos botos, uma vez por mês.A bototerapia não tem foco em ser uma substituta para os tratamentos tradicionais, necessários para crianças com problemas motores,deficiência auditivas e visuais, síndrome de Down, leucemia, mas sem dúvida tem auxiliado no desenvolvimento daqueles que são assistidos pela prática.

Semelhante à técnica da bototerapia, há também a delfinoterapia, técnica que começou a ser desenvolvida no ano de 1960, em Miami, por John Lilly, um investigador norte-americano que estudou a comunicação entre os golfinhos e os seres humanos. A diferença é que nessa versão, os golfinhos ficam em cativeiro e que são domesticados, enquantona bototerapia amazonense, os botos vermelhos, naturais da Amazônia, ficam livres em seu habitat natural e interagem com as crianças de forma bem mais alegre. Em entrevista a BBC News Brasil, o fisioterapeuta e idealizador da técnica de Bototerapia no Amazonas Igor Simões Andrade enfatizou que ao entrar no ambiente dos animais é necessário aprender com eles e manter respeito para com os mesmos e, destaca ainda que são seres que estão há cerca de 15 milhões de anos na Amazônia. Segundo Igor, a Bototerapia consiste em criar uma metodologia segura, elos de confiança em relação aos animais, conhecer muito da

Foto: Divulgação

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A técnica da Bototerapia, ou Terapia Assistida por Golfinhos de Rio, como também pode ser chamada, utiliza o potencial terapêutico dos botos-vermelhos ou botos-cor-de-rosa, que caracterizam por serem alegres, em atividades com crianças portadoras necessidades especiais, que se encontram ou não em tratamento fisioterapêutico.

biologia, do comportamento dos animais, estudar as patologias que acometem as crianças, os adolescentes, órfãos e portadores de necessidades especiais, além de possuir princípios básicos que várias psicoterapias também trabalham. Recursos da própria fisioterapia, como alinhar coluna ea realização de massoterapia nas crianças antes de entrarem na água estão presentes na terapia assistida por golfinhos. Além disso, há a atenção as normas de segurança pré-estabelecidas, como critérios de inclusão e exclusão das crianças que podem participar; se a criança estiver com febre, ferimentos ou fobia a água, por exemplo, não há a possibilidade de sua participação. Ao longo dos anos de realização da Bototerapia na região, muitas crianças já puderam ser atendidas, como é o caso de crianças do Abrigo Moarcy Alves e da Fundação Cecon, que continuam a receber auxilio da atividade. Os resultados são cada vez mais positivos, pois se percebe a melhoria na qualidade de vida das mesmas. A técnica é gratuita, mas é necessário arcar com os custos do flutuante e da embarcação para chegar até o local, por isso, o projeto conta com a doação de recursos.

Foto: Diogo Lagroteria/Divulgação

Foto: Divulgação

A Bototerapia, portanto, de forma lúdica tem transformado a vida não só de crianças com necessidades especiais, mas também de suas famílias que acompanham de perto as mudanças e melhorias que acontecem a partir do momento que há o contato com a terapia. Assim, é importante destacar o quanto os rios da região são fundamentais para o acontecimento de atividades como essa, que ajudam a transformar a vida das pessoas. E preservá-los é estar contribuindo para gerar vida e desenvolvimento social.

Foto: Divulgação

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Como vejo a Amazônia

Papo Cabôco

Histórias de beiradão Por: NIcoly Ambrosio

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rescer no interior de algum lugar é uma experiência, muitas vezes de imersão na cultura de um povo. A cidade pequena carrega características provincianas que podem ser percebidas no cotidiano (a velha história de que na cidade todos se conhecem), nas tradições e nos hábitos. A vida em uma cidade de interior que fica à beira do rio é ainda mais enriquecida de experiências que norteiam grande parte do dia-a-dia das pessoas que ali vivem. Histórias ancestrais repassadas oralmente, lendas e mitos, pequenas anedotas de quem disse ter presenciado tal acontecimento fazem parte do cotidiano dos moradores dessas localidades. No interior é de conhecimento de grande parte da população histórias com pano de fundo sobrenatural e que têm ligações com o folclore da região. No Amazonas não é diferente. As lendas aqui contadas mexem com o imaginário popular amazônico e atravessam gerações. Muitas dessas lendas e mitos estão ligados também aos rios. Rios esses que, apesar de terem uma presença marcante na vida dos ribeirinhos, são cercados de mistérios devido às suas imensidões. Quem nunca ouviu, por meio de seus pais e avós, da história do boto que à noite vira um elegante rapaz e seduz as moças virginais de cidades ribeirinhas? Ou, então, da temível Cobra-Grande, ou Boiúna, que é a história de uma imensa cobra presente em vários mitos indíge-

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nas, sendo um ser que aterroriza comunidades ribeirinhas por viver em áreas inundáveis e ser dotada de uma força sobrenatural, a qual usa para atacar embarcações. De acordo com cada comunidade, essas histórias ganham alterações, mais características e personagens, como a história contada por Reinaldo Augusto da Silva, 49, agricultor morador da Comunidade Rio Anebá, em Itacoatiara. Segundo ele, os mais antigos falavam de uma certa “sereia do rio”, e que, certo dia, um homem de nome Benício avistou uma moça sentada à beira do rio e encantou-se com sua beleza a ponto de convidá-la para ir à sua casa. A moça reagiu, tentando afogá-lo. Depois disso, dizem que Benício ficara aterrorizado, perdendo o controle de suas faculdades mentais. A moça em questão era protetora do rio e não gostava de ser cortejada. A história contada acima tem características parecidas com a famosa lenda da sereia Iara, descrita como uma morena de cabelos negros a qual exerce grande fascínio nos desavisados pescadores que a vêem banhar-se à beira dos rios, e atiram-se na profundeza das águas para nunca mais voltarem. O folclore amazônico é um dos mais ricos dentre as tradições regionais do Brasil, e essa manifestação popular é de suma importância para caracterizar o povo amazônida, sempre à espreita de uma nova história para contar. A Catraia

Foto: Gleilson Medins

MURMÚRIO DOS RIOS Por: Airton Paiva

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expressão “Murmúrio (mūrmur, ŭris)”” deriva do latim e tem significado de “ruído incessante das águas que correm”, “sussurros dos ventos que agitam árvores e folhagens”. Os murmúrios podem ser aqueles conselhos sábios dados individualmente e ditos em voz baixa para melhor entendimento. Por meio dos rios da Amazônia, esses murmúrios ecoam pelas Revista do PET de Comunicação da Ufam

correntezas e afluem conhecimento, como herança cultural, para nossa gente. Os rios são essenciais na vida dos amazonenses. Para destacar esta importância e compreender a visão de cada um sobre nossos rios, esta editoria apresenta oito depoimentos de habitantes de diversos setores da sociedade.

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Como vejo a Amazônia

Como vejo a Amazônia

Os múmurios de nossos viajantes perpassam pelo Mercadão

Nosso retrato desses rios

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Raimundo Oliveira, 42, natural de Maués: Feirante na Feira do Campos Elíseos – Os rios tratam muito bem os peixes aqui, porque, com certeza, os mais saborosos pescados do país são das águas da Amazônia. Juvenal Botelho, 61: Professor de Geografia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) – Nossa maior e mais bonita bacia hidrográfica, com uma grande biodiversidade fluvial digna de sua extensão.

Belk Souza, 29, Manauara: Segurança no Porto de Manaus – O Amazonas é muito grande e não existe estrada suficiente para percorrer ele inteiro, então os rios Negro, Solimões e Amazonas são as nossas estradas. José Mendes, 46, de Manaus: Vendedor de frutas na Manaus Moderna – Durante a travessia por esses rios, a gente conhece os mais diversos tipos de pessoas e fazemos amizades, pois quem atravessa sempre é uma boa companhia e tem sempre boas histórias.

Conversas e experência dos nossos cidadão.

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Océlio Pereira, 49, de Manaus: Vendedor de passagens na orla da Manaus Moderna – A primeira coisa que os turistas pedem para ver é o Encontro das Águas, que possui uma beleza única e é o cartão de visitas da cidade, e que todos aqueles que vêm a Amazônia querem presenciar.

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Henrique Monteiro, 63: Mecânico de Embarcações no Porto de Manaus – Com os rios servindo de estrada para o interior, não precisa desmatar ou queimar boa parte dessa floresta para construir mais e mais (estradas de asfalto).

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Nei Reis, 49, morador de Manaquiri: Autônomo (Dono de Embarcação) no Porto de Manaus – Do rio, o ribeirinho sustenta com fartura a família, o rio é a riqueza dos ribeirinhos, é a riqueza da Amazônia.

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Jorge Rodrigues, 53, morador de Manaquiri: Pescador – Rio Amazonas é vida, é variedade de espécies que só se encontra aqui, desde o pirarucu ao boto, é nossa principal fonte de vida.

Diálogos com conhecimento são transmitidos em roda de conversa. Revista do PET de Comunicação da Ufam

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UMA ANÁLISE DA ADMINISTRAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NA AMAZÔNIA

Por: Társis Luz

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região Amazônica é conhecida por sua diversidade étnica. Antes, quando os primeiros homens iniciaram a vivência nessas terras, desenvolveu-se uma relação transcendental com a natureza, como sendo uma extensão de seus corpos. É claro que não havia uma unanimidade cultural, cada povo era único

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em suas peculiaridades; entretanto, o elemento comum em todos esses grupos era a veneração da floresta e de tudo o que a compõe, sendo muito importante para a construção da identidade dos indivíduos, a qual era definida pela religião, e esta por sua vez explicava o mundo por meio de lendas, como por exemplo a que conta a origem do rio Amazonas. De acordo com essa estória, a Lua e o Sol eram um casal apaixonado e cada um se vestia de um metal precioso que os representasse, a prata e o ouro, respectivamente. Além disso, a Lua governava a noite e o Sol o dia, e por esse motivo eles não poderiam ficar juntos, pois desse modo o mundo seria destruído pelo calor do amor do Sol e as lágrimas da Lua causariam uma inundação na Terra. Conformados com sua situação, eles decidiram se separar. E então a Lua chorou durante todo um dia, e suas lágrimas caíram na Terra pelos montes correndo em direção ao Mar. Entretanto, o Mar rejeitou toda essa água com um grande brado. Após isso, magicamente as lágrimas da Lua escavaram um grande vale que deu origem ao hoje conhecido rio Amazonas. Posteriormente, os homens europeus tiveram a experiência do contato com os chamados “indígenas”, trazendo de outro continente uma cosmovisão bastante distinta, o que provocou um choque cultural. A partir desse momento, ocasionou-se um processo de troca de informações e desse emaranhado se formou uma nova civilização amazônica. Contudo, a forma de tratamento para com meio ambiente nunca mais foi a mesma. Isso teve influência direta no folclore, difundindo-se em vários estados Revista do PET de Comunicação da Ufam

brasileiros como pode ser visto por meio de outras lendas, como a do Curupira. De acordo com essa narrativa, havia um anão de cabelos como fogo, com os pés invertidos e calcanhar para frente. Essa entidade tem o papel de proteger as florestas, e realiza tamanha atividade de forma muito severa. Para os malfeitores era aplicado o castigo de se perderem dentro da selva e jamais encontrarem o caminho de volta para casa. Outra estratégia utilizada pelo curupira é transformar-se em algum animal para atrair a atenção dos caçadores, desaparecendo logo após sem deixar vestígios. As populações originais viam nos seres sobrenaturais a solução para diversos problemas sociais, entre eles a questão da degradação dos bens naturais. Entretanto, do ponto de vista jurídico no Brasil, apenas a partir de 1930 houve algumas ações nesse sentido, devido às pressões internacionais provindas da Organização da Nações Unidas (ONU), de ONGs etc. A datar desse momento surgiram medidas importantes, como o Código das Águas (Decreto no 24.643/1934) e o Código Florestal (Decreto no 23.793/1934); porém, nesse primeiro instante, toda essa atenção era voltada para o âmbito econômico e no que se refere ao uso dos solos para fins agrícolas, e por esse motivo essa demanda passou para os cuidados do Ministério da Agricultura. Com o intuito de integrar-se e responsabilizar-se com a questão tratada, um dos eventos mais importantes do ponto de vista ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento no ano de 1992, a qual o Brasil se propôs a sediar, na conhecida RIO-92. Foram expostos

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QUANDO O RIO NÃO CORRE PARA O MAR:


Um dos principais resultados desse encontro foi a criação do Dia Mundial da Água, comemorado no dia 22 de março, que visa a resgatar os valores da conscientização de um dos recursos mais prejudicados dos últimos tempos. Com isso surgem os questionamentos: o Estado brasileiro tem absorvido essas disposições? E como tem se dedicado a tratar sobre o tema conservação hídrica?

O PROBLEMA DOS RIOS EM PIRÂMIDE INVERTIDA O assunto da água no mundo sempre foi de grande relevância devido à vitalidade desse recurso para todos os seres vivos. Do ponto de vista humano, em muitos lugares simboliza a detenção de poder, gerando assim diversos conflitos. Ainda na atualidade, existem exemplos dessa situação em algumas regiões, como a divisa entre a Palestina e o Estado de Israel e principalmente em países do continente africano.

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Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstram que mais de um bilhão de pessoas no mundo sofrem com a escassez de água, sendo esse o motivo de 80% das causas de morte em países emergentes. Já em outros países economicamente desenvolvidos difundiram-se políticas de proteção ambiental, como na Inglaterra, a qual desenvolveu projetos de conservação e restauração, a exemplo do que ocorreu no rio Tâmisa. Este foi conhecido durante séculos por seu intenso mal cheiro consequente da urbanização sem sustentabilidade, entretanto, após várias tentativas, hoje o rio se mantém vivo, sendo motivo de orgulho no país. Outro que pode ser usado como exemplo é o Canadá, o qual teve nos anos 2013 e 2014 dois desastres ocasionados pelo rompimento de barragens de duas minas, Obed e MountPolley, poluindo os rios que os circundam. A partir de então, foram desenvolvidas medidas protetivas e pesquisas periódicas como forma de prever os impactos ambientais causados, e isso fez com que o governo se posicionasse de forma mais rígida justamente como forma de evitar futuras situações como essas. Já na América Latina, o cenário hídrico é bem mais caudaloso, sendo a principal região detentora de água doce do mundo. Em contrapartida a toda essa ostentação, a poluição caminha em números alarmantes, e esses efeitos são explicados pela grande utilização desse recurso pela agricultura e pela mineração, A Catraia

além do recebimento de dejetos provindos do esgoto doméstico. O crescimento populacional desenfreado também pode ser enumerado como um dos grandes causadores da crise hídrica, problema esse que revela uma outra questão de importante, a desigualdade social. A água se faz mais presente em domicílios de pessoas mais abastadas do que em outros mais humildes. Isso explica as estatísticas da ONU que revelam que 2,4 bilhões de pessoas no mundo sequer dispõem de saneamento básico. Toda essa informação resume o significado da incompetência da gestão do bem mais precioso que a humanidade poderia dispor. No Brasil, o quadro é de peculiaridade. Possuidor de dimensões geográficas continentais, o País se mostra divergente em relação à forma que lida com esse líquido. Sendo assim, cada região revela uma necessidade a ser suprida. Tomemos como exemplo no Nordeste: a localidade é conhecida por causa de seus ambientes áridos, de poucas temporadas de chuva (mesmo que essa não seja a realidade de todos os Estados) e carece de sistema de distribuição hídrica bem mais planejado; foi a partir disso que nasceu a ideia de transposição do maior rio destas paragens, o São Francisco. No entanto, ocorreu uma falha importante na administração desse projeto, pois não houve estudos mais minuciosos sobre as deficiências que o “Velho Chico” apresentava. Ainda assim, pessoas de diferentes cidades se utilizam direta ou indiretamente do rio, fora que o Revista do PET de Comunicação da Ufam

mesmo também gera energia elétrica por meio de suas usinas, sendo de muita importância econômica. Todavia, a utilização sem as devidas precauções já apresenta sérias consequências, pois os mananciais de abastecimento desse rio principal dependem das chuvas que caem em períodos específicos, não sendo comum a ocorrência no restante do ano. Quase do outro lado do país, na região metropolitana de São Paulo, temse como uma das principais bacias a do rio Tietê. Seu curso percorre praticamente todo o Estado de São Paulo e como consequência do crescimento demográfico se tornou um grande depósito de lixo e esgoto nas partes com maior concentração populacional. Além disso, as regiões de várzea são utilizadas para a construção de habitações, o que implica em alagações no momento de cheia. Historicamente, já houve medidas para sanar esses problemas, como o “Projeto Rio Tietê” elaborado em 1992, que já contabilizou mais de dez bilhões de reais em investimentos, promovendo a coleta e o tratamento de esgoto para milhões de lares; ainda assim, a realidade está bem distante do que se espera. Outros causadores do mal da degradação são a quantidade gigantesca de partículas sólidas produzidas pelos carros e óleos que saem do escapamento que, no momento da chuva, são completamente escoados para os leitos, fazendo com que o rio seja mais ainda inabitável por seres vivos.

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ROTEIRO CINEMATOGRÁFICO • Igaraté

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projetos que enfatizavam o retrocesso da exploração indiscriminada de recursos naturais, e como contraposição a esse empecilho foi propagado pioneiramente o termo “sustentabilidade” (que consiste em um desenvolvimento econômico atrelado à conservação da natureza), devendo ser implantado em países emergentes tanto quanto pelas maiores potências mundiais, diminuindo a disparidade de desenvolvimento entre as nações e tendo como consequência a diminuição da poluição ambiental.


jorra água infindavelmente. Essa situação é paradoxal, pois enquanto alguns bairros da cidade de Manaus, por exemplo, há a presença desses tubos dispendiosos, em outros há falta d’água. Essa realidade revela a ineficiência da gestão pública e um descaso com a população que muitas das vezes paga as taxas de saneamento básico e não recebe o mínimo proposto.

UMA PREOCUPAÇÃO AMAZÔNICA

Por outro lado, há aqueles que moram nas proximidades de rios ou igarapés que convivem com esse turbilhão, e por esse motivo deixam de prestar o devido tratamento com o despejo dos dejetos e de lixo diretamente no curso de água, com o pensamento de que a própria natureza se encarrega de “limpar” o leito. Isso é reflexo da questão habitacional no Brasil, pois uma vez que não se oferece moradia digna, limita-se também o acesso a tratamento de esgoto.

Diversas mídias ao redor do mundo já divulgaram sobre a impressionante grandeza do Rio Amazonas. Ele está presente na maior rede hidrográfica do planeta, a qual detém 85% da água doce superficial do Brasil: os rios dessa área atravessam quilômetros abrangendo diversos estados da jurisdição brasileira e também percorrendo regiões internacionais, tais como os países sulamericanos Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana e Bolívia. Aqui no Brasil, o Estado que mais comporta essa bacia é o Amazonas, devido à sua extensa geografia. Isso explica o comportamento da população, o qual é diferente de outras regiões. Como há uma grande oferta de água, não se observa uma cautela quanto à sua utilização: o desperdício é comum em diversas áreas, desde as torneiras até o sistema de encanamento mal conservado que racha com facilidade e

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Essa ineficiência também se revela na administração da água provinda da chuva, pois esse excedente necessita de solo para ser escoado, entretanto não há uma congruência entre as políticas públicas desenvolvidas pelas hierarquias governamentais para drenagem ou redistribuição deste recurso, revelando um erro gigantesco que deixa de beneficiar uma boa parte da população.

Nesse sentido, é importante lembrar que a educação ambiental também faz parte desse processo, e é um grande desafio a ser enfrentado e de urgente necessidade. Entretanto, para isso é necessário que haja uma ação conjunta entre todas as esferas do poder público de forma séria e, em casos necessários, punitiva, pois a finalidade de oferecer a dignidade ao homem também depende da capacidade dele de compreender seu lugar no espaço e seus deveres, mesmo que a princípio o cause medo. A Catraia

O professor doutor Rogério Fonseca, da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), integrante Faculdade de Ciências Agrárias, dá sua contribuição sobre o assunto ao afirmar que:

“Na constituição do nosso País, nos artigos 23 e 24, discute-se sobre o gerenciamento de água e dá o endereço correto de quem deve ser a gestão da água: do município.” De acordo com o professor, há a necessidade de união entre as formas de poder executivo em certos aspectos. Contudo, em relação a questão do cuidado com o seu próprio abastecimento de água, deve ser do município, uma vez que se entende a necessidade da população devido a uma maior proximidade com a mesma. Essa prática de autoridade federal já demonstrou tragicamente que pode ser danosa. O professor exemplifica usando o que aconteceu no Rio Madeira, onde duas hidrelétricas foram construídas muito próximas uma da outra, prejudicando muitos moradores, sem que se tenha sido ao menos pedida a opinião dos municípios circunvizinhos sobre o projeto.

“Estamos vivenciando isso hoje no sul do Amazonas, onde um dos principais rios do Amazonas colapsou em 40% o estoque de peixes, onde há pessoas que culturalmente o consomem. Ou seja, o Estado Brasileiro cometeu um crime de Lesa-Pátria”, afirma o especialista.

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Por conta de tanta irresponsabilidade, a Amazônia tem sido foco da imprensa Internacional, que tem feito duras críticas à forma de governo do atual presidente Jair Bolsonaro, pelo fato de um afrouxamento de punições a grandes empresas e latifúndios. No entanto, o beneficiamento de instituições de grande poder aquisitivo não é recente e sempre existiu na história do Brasil;. As poucas conquistas que o meio ambiente teve nos últimos tempos, como zoneamento de áreas industriais e de áreas de proteção ecológicas, começou a enfraquecer na queda de braço com o sistema. Esse ciclo apenas poderá ser findado quando o indivíduo tomar consciência do seu poder frente ao Estado e ser mais participante na administração, tanto por meio de seu voto quanto na constante cobrança pelos serviços, que, por direito devem ser prestados ao cidadão com excelência, além de um posicionamento mais consciente quanto a natureza. Esse despertar deve ser provocado enquanto se praticar a atividade tão característica da nossa cultura, que é o mergulho no rio, antes que as únicas gotas possíveis sejam as de lágrimas de arrependimento.

“O ambiente é o que somos em nós mesmos. Nós e o ambiente somos dois processos diferentes; nós somos o ambiente e o ambiente somos nós.” JidduKrishnamurti

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Toda essa negligência é reflexo de uma administração ineficaz, que não fiscaliza ou faz vista grossa para irregularidades cometidas, como ocorre em meio a muitas indústrias e empresas que intentam a burlar a legislação em vigor e, consequente a toda essa articulação criminosa, são presenciados eventos tais como ocorreram nas cidades de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), que tragicamente assistiram ao rompimento de barragens. Todavia, diferentemente do posicionamento firme que as autoridades canadenses tomaram com os desastres que lá aconteceram, a primeira situação de Mariana, após anos ainda não teve nenhum condenado, promulgando a impunidade que infelizmente é muito presente em nosso País.


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a Amazônia, a importância dos rios é levada em conta pela relação humana presente nestes, historicamente com a presença de povos originários como os indígenas, e tempos depois com o surgimento de povos tradicionais que passaram a habitar as margens de alguns rios da Região, por questões de necessidade. Essa população, conhecida como ribeirinha, é aquela que sobrevive, principalmente, da pesca, da caça, do extrativismo e do roçado.

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Por questões geográficas, a maior parte dos ribeirinhos do Brasil está concentrada na Região Amazônica, onde além dos povos nativos, também se inclui os descendentes de migrantes do Nordeste. A vida desses indivíduos é ditada pela dinâmica de enchente e vazante do rio, e por residirem em um ambiente onde a força da natureza é o motor das relações, aprenderam a lidar com as limitações e osdesafios de se viver com a floresta e o rio. Isso se reflete no modo como as pessoas organizam sua vida social, o cotidiano, a arquitetura de suas moradias e a busca pelos meios de subsistência. É comum que as moradias do modo de vida ribeirinho sejam construídas com madeira, popularmente denominadas como palafitas, casas construídas sobre grandes estacas de madeira, acima do nível do rio, para evitar que durante a cheiasejam arrastadas ou invadidas pelas águas. Muitas vezes, esses ambientes carecem de energia elétrica, de saneamento básico e de água encanada.

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O papel fundamental do rio na vida dos ribeirinhos permeia todo o seu modo de vida, pois é por meio dele que se estabelecem as ligações de locomoção de um lugar para o outro, e por meio do rio também há a atividade da pesca, uma das principais fontes de renda e de subsistência. Essa relação diferenciada com a natureza é destacada por Thalia Costa Cruz, 22, acadêmica de Geografiado Centro de Estudos Superiores de Parintins, da Universidade do Estado do Amazonas (CESP/UEA). Oriunda do Distrito de Mocambo, comunidade São Tomé do Mocambo, interior do município de Parintins, no Amazonas, a universitária relata sua vivência no interior pautada a partir da vida ribeirinha e darelação direta com o rio. Os pais de Thalia, Miguel Cruz e Francinete Cruz, são pecuaristas há 22 anos e ao longo desse período tiveram que aprender a lidar com a instabilidade do rio que banha o local onde moram, o grande Rio Amazonas. Nascida e criada na comunidade do Mocambo, Thalia descreve algumas das atividades que ela e sua família realizam no local. “No período da enchente, ficamos em terra firme, cuidando do gado, plantando e pescando.

Na vazante, vamos para a área de várzea, continuando as mesmas práticas, mas sempre acompanhando essa dinâmica do rio, de cheia e vazante. Meus pais ainda continuam essa prática (pecuária), e eu os acompanho sempre que vou ao interior”, diz. As dificuldades encontradas pelos moradores desses locais estão relacionadas diretamente também aos períodos de vazante e decheia do rio, como a de locomoção durante a vazante. Na Comunidade São Tomé, o acesso fluvial que dá entrada ao lugar permanece fechado, e apenas pequenas embarcações chamadas de “bajaras” conseguem entrar, dificultando a vida das famílias que ali vivem, pois elas têm um gasto maior com combustível, por exemplo. Na enchente, os problemas se estendem às práticas da pesca, à inundação das plantações feitas na área de várzea, à morte do gado devido à lama e até a casas alagadas pela força das águas.

passam mais rápido, tudo em um piscar de olhos. No interior é diferente, o ar é mais leve, o rio é mais limpo, tem mais conversa, tem mais olho no olho”, conta. No seu local de nascimento, as pessoas aprendem a respeitar a natureza pois dependem dela para tudo, eessa relação de respeito vai ao encontro dos valores tradicionais cultivados por comunidades quevivem àsmargens dos rios. “No interior temos bastante respeito pelo o que é natural, e os mais velhos dizem que tudo tem ‘mãe’. O rio tem mãe, a floresta tem mãe, e devemos sempre respeitar. Cuidamos do rio porque precisamos. Durante o período de vazante, por exemplo, fazemos a limpeza, coletando resíduos que as pessoas jogam,” completa. Em Manaus, são comuns as comunidades que se constituíram na beira de igarapés e do rio, e ao longo do tempo e do crescimen-

Um dos bairros mais antigos da capital amazonense, o Aparecida, foi construído entre igarapés e quase as margens do Rio Negro, na região central de Manaus.As pessoas que moram mais próximas aos locais alagados convivem com as dificuldades das enchentes todos os anos, como é o caso de Erika Letícia dos Santos Silva, 20 anos. Erika mora no Aparecida há 20 anos, desde que nasceu, em uma área alagada onde os problemas das enchentes são anuais. “Onde eu moro é uma área que sabemos que vai alagar na época de enchentes, o nosso maior problema é esse. Como já passamos muitas vezes por isso, algumas pessoas que tem casas mais baixas já começam a se programar dentro do período da seca, para que no período da enchente não tenham tantos problemas”, descreve.

Para além das dificuldades, há também a forma única como essa população relaciona-se com a natureza àsua volta. Como relata Thalia, a vida da estudante mudou bastante quando saiu da comunidade para morar na zona urbana de Parintins. "Na cidade, é uma situação totalmente diferente. Aqui as coisas

Além das casas alagadas, há também dificuldades na locomoção da população desse local durante o período de enchente, pois são construídas pontes de madeira altas, improvisadas pelos mesmos ou pelo poder público, o que acaba impedindo a mobilidade de moradores mais idosos. Outraadversidade são os animais que aparecem próximos as casas, como jacarés. Acontece também de o local ficar mais acessível para ladrões, que roubam as casas e jogam-se no rio para não serem pegos.“Ainda existem pessoas que não tem muito o fazer, por falta de verbas. Na minha casa chegou a entrar água 2 vezes apenas, por ser um pouco mais alta, porém sempre alaga na frente de casa nos primeiros dias. A gente vai se virando, pegando umas tábuas, fazendo passagem, e quando não dá mais para ficar fazendo isso, a prefei60

to capital, esses lugares acabaram se tornando comunidades irregulares e cercadas pela poluição.

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tura vem e constrói as pontes. As tábuas que vêm pra essas pontes são tão finas que no primeiro dia já estão quebradas”, diz. Esses contratempos afetam diretamente a vida dos habitantes de tais comunidades, culminando em mudanças de seus hábitos e da sua moradia, pois é necessário se adaptar ao processo de tempo das enchentes. Algumas pessoas precisam mudar de suas casas até o período de seca chegar.“Aqui é um bom lugar para se morar, porém quando chega essa época fica meio complicado. Algumas pessoas precisam se mudar, e quando entra água na casa precisamos suspender tudo. Geladeira, fogão, armário. Quando alagou minha casa tivemos de ir dormir em outro lugar, pois o banheiro ficou inutilizável”, finaliza.

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RIO COMO IDENTIDADE


Na Beira do Rio

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Manaus é uma cidade que nasceu dos rios, banhada pelos rios Negro e Solimões, e a sua população sempre esteve ligada com as águas. Atualmente,as regiões da cidade que se encontram com os rios, as chamadas ‘orlas’, vivem o contraste entre complexos revitalizados, voltados para o lazer e cultura, com bastante atração turística, pontos comerciais e espaços para se apreciar as belezas dos rios e da floresta; com espaços abandonados pelo poder público e sem projetos de desenvolvimento para a região e a sua população.

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Por: Daniel Oliveira

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Na Beira do Rio

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Ponta Negra Um dos principais complexos turísticos da cidade é a praia da Ponta Negra. São mais de 5 km de calçada feita de pedra portuguesa, com um desenho que remete ao encontro das águas dos rios Negro e Solimões. Hoje, depois de uma revitalização, a praia da Ponta Negra se tornou um grande complexo arquitetônico, com calçadão, anfiteatro e restaurantes. Você pode curtira praia em qualquer época do ano e curtir um belo visual, observar a Ponte Rio Negro, assistir aos shows e eventos culturais que acontecem por lá ou caminhar ao ar livre.

Orla da Glória

Orla do Amarelinho

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Diferente das orlas anteriores, no bairro do Educandos, na Zona Sul, palafitas, lixo e mato são o retrato da Orla do Amarelinho, mostrando para quem vai com destino aos portos do Centro da cidade o descaso e abandono da região. O local que já foi espaço de lazer para os moradores está como ladrilho do chão todo quebrado e dificulta a passagem dos pedestres, sem grades de segurança e se tornando um ponto de criminalidade. Ao ser procurada, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Manaus (SRMM) e a Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), informaram que não há nenhum projeto ou programa em andamento de revitalização para esta área da cidade.

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Localizada no bairro da Glória, a região foi toda revitalizada pelas obras do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), realizado pelo Governo do Amazonas e conta atualmente com o projeto “Faixa Liberada”, realizado também em outras partes da cidade. Além de fechar uma pista para que a população possa praticar caminhada e corrida, na orla também ocorrem aulas de aeróbica e ritmos, futebol de rua, tênis de mesa, jiu-jítsu e pula-pula, promovendo o bem-estar e a qualidade de vida da população do bairro.

Orla da Manaus Moderna Na orla da Manaus Moderna, Zona Sul, turistas e trabalhadores que desembarcam na capital amazonense também se deparam com o abandono e o descaso. Na orla está localizada a famosa Feira da Manaus Moderna, que se tornou um ponto tradicional para a população adquirir os ingredientes principais da culinária típica da região, como peixe, açaí e farinha de tapioca. Mas quem vai nessa região precisa disputar espaço com vendedores que ocupam as calçadas, muitos flanelinhas,caminhões de carga e descarga, trânsito e espaços vandalizados.

Parque Rio Negro Em contraponto, na orla do bairro São Raimundo, zona Oeste,está localizado o mais recente complexo de lazer e cultura da cidade, o Parque Rio Negro, um agradável espaço para se apreciar a beleza do Rio Negro. O parque possui 36.590 m² de área urbanizada, com pistas de caminhada ao ar livre, tendas para a população, quatro mirantes, quiosques, praças, uma academia ao ar, playground, iluminação ornamental, pistas para caminhada e um belo jardim. No local onde o parque foi construído havia um porto irregular e residências em situação de risco. Essa revitalização é um exemplo que deveria se repetir em outras regiões da cidade.

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te-americano Thomas Lovejoy, considerado um estudioso da Amazônia há mais de 40 anos, enfatizou a importância de se aproveitar os recursos próprios de região e desenvolver os rios como se fossem estradas ecológicas. Ou seja, já que grande parte da região é banhada por rios é necessário voltar o olhar para esses elementos e priorizar investimentos em relação a utilização dessas águas de maneira sustentável, pois se a região possui acesso a muitas áreas unicamente por esse caminho, diferente de outras regiões que possuem mais acessos por meio de estradas, espera-se que se fomentem e viabilizem recursos para melhor exploração e utilização dessas águas.

A complexidade Por: Priscila Nunes

Algumas atividades permitem perceber a função fundamental dos rios para região e é necessário priorizar, no que diz respeito o investimento na infraestrutura para o tráfego sobre as águas. Isto é, o investimento no conhecimento da natureza e a utilização de tecnologias que ofereçam solu-

Amazônica

ções mais sustentáveis em relação à exploração econômica da floresta, e principalmente os rios da região é essencial. Os rios são elementos que geram renda não só para a população que vive à sua margem como também para os quem repassam produtos que provém deles. A pesca, transportes fluviais com funções turísticas, tráfego comercial de produtos são apenas algumas das diversas possibilidades de expansão de negócios que os rios amazônicos proporcionam. Por exemplo, atualmente o aluguel de flutuantes é cada vez mais realizado, o que permite mais uma forma de sustento para proprietários desses estabelecimentos.

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Alto Rio Negro - São Gabriel da Cachoeira Fonte: Carlos Enock Martins

Enfim, pensar a Amazônia vai muito além do que somente refletir sobre assuntos que influenciam sua existência, pensar novos horizontes para a utilização dos rios amazônicos requer antes de qualquer atitude dar prioridade para essa imensidão que é como visto a maior bacia hidrográfica do mundo.

Alto Rio Negro - São Gabriel da Cachoeira Fonte: Carlos Enock Martins

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uando se fala em Amazônia duas imagens de imediato vêm à mente: floresta e rios, dois componentes essenciais para a existência deste Bioma. A reprodução de milhares de espécies de animais, a quantidade expressiva de vegetação e de muitos outros recursos fazem da região uma abundante fonte de riquezas naturais. As águas da região são verdadeiras fontes para realização de pesquisas científicas, atividades de comércio, transportes e principalmente para sustento da população que vive as suas margens. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente¹ a bacia amazônica é a maior bacia hidrográfica do mundo: cobre cerca de 6 milhões de km² e tem 1.100 afluentes. Rio Negro, Rio Solimões e Rio Amazonas são alguns dos principais rios que

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cortam a região e sem dúvida, são caminhos primordiais para o desenvolvimento da Amazônia. Diante desta extensão com números tão expressivos é necessário pensar novas perspectivas para o crescimento e aproveitamento de forma sustentável deste bioma especialmente em relação à sua área fluvial. Pensar em investimentos sustentáveis para desfrutar das possibilidades que são disponíveis por meio dos rios é fundamental, visto que proporcionam o acontecimento de muitas atividades, além de ser a principal base para o desenvolvimento de muitas profissões presentes neste contexto. Em discurso realizado no 2º Simpósio Internacional sobre Gestão Ambiental e Controle de Contas Públicas, ocorrido em outubro de 2019 em Manaus, o ambientalista e biólogo norA Catraia

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Por: Elânny Vlaxio

Águas e Realidades

Considerada uma das maiores riquezas do mundo, a Amazônia é alvo de constantes transformações, carregando uma grande biodiversidade e paisagens que colorem regiões. Pela sua significativa importância para a sociedade, faz-se necessária uma maior atenção quando se trata da preservação e conservação dessas fontes naturais. Por isso, é interessante a leitura de artigos e livros que discutem sobre a notoriedade desses rios.

1. Árvore de Rios: A história da Amazônia

Carregada de raízes históricas, a Amazônia é alvo de grandes pesquisas no que tange à sua diversa galeria de cultura, cercada de personagens que contribuem para ser conhecida como um espetáculo natural. O livro Árvore de Rios: a história da Amazônia se desenvolve a partir de relatos e de observações desde o período das relações entre os europeus e nativos até o início do século XVI. Por meio desta obra, um mapa de informações para além do cotidiano é exposto, desde os seus rios e povos até a sua rica biodiversidade.

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2. Rio Babel: Histórias das línguas na Amazônia

SOBRE O AUTOR

John Henry Hemming (1935) nasceu na cidade de Vancouver e é um historiador e pesquisador especialista em incas e povos indígenas da Bacia Amazônica. Foi agraciado com o Prêmio Literário Robert Pitmane o Christopher Award, pela publicação de seu primeiro livro, A conquista dos Incas.

A Catraia

Traçado entre os séculos XVII e XX, o livro aborda os percursos de uma Amazônia não indígena, onde a língua Nheengatu prevalece como língua geral da Região pontuando as interfaces da língua portuguesa e sendo reconhecida na língua Tupinambá. Lançado na cidade de Manaus, em 2004, a obra explica a implementação da língua portuguesa e a relação criada entre tribos indígenas, desconstruindo ideias sobre a linguística no Brasil e enfatizando questões sociais e a sua representação para o povo amazonense.

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SOBRE O AUTOR

José Ribamar Bessa Freire é professor do Programa de Pós-Graduação em Memória Social da Universidade Federal Do Estado do Rio de Janeiro (UNI-Rio) e Doutor em Letras pela Universidade Estadual no Rio de Janeiro (UERJ). O livro “Rio Babel: a história das línguas na Amazônia” foi resultado da investigação acerca das línguas indígenas da região e constitui a tese de doutorado do autor em Literatura Comparada. Além de ter escrito e colaborado com diversos livros e artigos, o autor mantém uma coluna semanal em jornais do Amazonas desde 1984.

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Entre rios e histórias, conheça sobre questões ambientais no Amazonas


SOBRE O AUTOR

João Meirelles Filho (1960) nasceu na cidade de São Paulo. É escritor e empreendedor social. Desde 1984, dedica-se a movimentos ambientalistas,sendo diretor do Instituto Peabiru, uma organização sem fins lucrativos que valoriza a diversidade cultural. O autor já escreveu 18 obras, sendo o livro “O Abridor de Letras” a mais recente vencedora do Prêmio SESC de Literatura. Evaristo Eduardo de Miranda (1952). É formado em Agronomia na França e tem mestrado e doutorado em Ecologia pela Universidade de Montpellier. Atualmente é pesquisador da Embrapa e atua nas áreas de Meio Ambiente, Gestão Territorial, Agricultura e Ecologia.

Propondo uma viagem pelos ares do território das Amazonas, o autor apresenta relatos e histórias que se misturam entre o homem e sua região. Em seus escritos, aponta detalhes que permeiam a Amazônia, os sons que emitem os pássaros desde o raiar do dia até o anoitecer, os movimentos das águas que se entrelaçam com o vento, sendo em sua totalidade um convite para quem quer conhecer a cultura amazonense e o que os cerca. São relatos e histórias que se misturam entre o homem e sua região. SOBRE O AUTOR

Amadeu Thiago de Mello (1926) nasceu em Barreirinha, no Amazonas. É poeta, tradutor e ensaísta. Ainda criança se mudou para o Rio de Janeiro para estudar Medicina, que após um tempo abandonou para seguir como poeta. Conhecido por ser um dos mais influentes ícones da literatura regional, tem como facetas de suas obras: lirismo, luta política, amores e relações familiares. Suas obras foram traduzidas para mais de 30 idiomas e reconhecidas com os prêmios Jabuti, Livro do Ano e Nacional da Poesia Olavo Bilac.

5. Amazônia- Belezas e Verdade dos Rios Publicado em 2013, Amazônia – Belezas e verdades dos rios convida o leitor, por meio de estudos de pesquisa, a conhecer um panorama detalhado sobre os impactos ambientais e sociais causados por complexos hidrelétricos na Amazônia, em regiões como Madeira, Rio Xingu, Tocantins e a bacia do Tapajós. Apresenta capítulos vivenciados pelo autor, em que são apresentadas interfaces de um cenário cultural. SOBRE O AUTOR

Jânio Felix Filho (1973) nasceu em Lages-RN. Iniciou a carreira de escritor com a publicação o seu primeiro livro , O diário de uma Colegial. Suas obras e seus trabalhos giram em torno do meio ambiente, com foco na Amazônia, onde realizou pesquisas por duas décadas. Entre seus diversos prêmios estão: Prêmio Destaque Cultural, Troféu Imprensa Jornal Sem Fronteiras, Prêmio Melhores do Ano.

1. Artigo- Revista Brasileira de História. Vol.39) – Os “hidronegócios” nos rios da Amazônia Iane Maria da Silva Batista e Leila Mourão Miranda (Faculdade de Arquivologia Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas – UFPA) Discutindo sobre o desenvolvimento o desenvolvimento regional nos anos de 1950 a 1985, o presente artigo apresenta parte da história dos rios na Amazônia, envolvendo questões como a ligação dessas águas e a sociedade humana, trazendo focos,como por exemplo, em projetos industriais e a forma que este lugar é ocupado, tendo em vista o resultado do uso socioambiental. 2. Os rios e a vida: percepções para uma educação ambiental Wagner Fonseca e Carlos Renato Carola (Universidade Federal do Rio Grande – FURG) Com a finalidade de apresentar diferentes olhares construídos sobre a utilização e história dos rios, o artigo analisa o lado geográfico eo lado humano,

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A ACATRAIA Catraia

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6. Os historiadores e os rios: natureza e ruína na Amazônia brasileira

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Publicado em 2016, a obra traz uma reflexão de grande importância para o século atual, a qual permeia entre a história e a utilização dos rios e suas águas. Navegando pelas oito grandes bacias hidrográficas do País, os autores chamam a atenção para questões geológicas e ambientais que resultam em um livro que pretende aumentar o interesse do leitor a rspeito do tema a partir do lado social brasileiro.

4. Amazonas: águas, pássaros, seres e milagres

Iniciando na cidade de Airão, o livro nos traz em formato de ensaio a história da Amazônia, com o enfoque no processo de arruinamento definitivo em determinadas terras, destrinchada entre fontes documentais, bibliográficas, orais e visuais sobre a região. Voltado para a relação entre natureza, sociedade e memória, o autor contribui para agregar conhecimentos sobre o local, percorrendo períodos da Amazônia. A obra explora desde os contatos de tribos indígenas e a história social do extrativismo até o estudo econômico e a reflexão dessas análises nos dias atuais. SOBRE O AUTOR

Victor Paes de Barros Leonardi (1942) nasceu na cidade de Araras, interior do estado de São Paulo. Estudou na Universidade de Paris e lecionou em locais, como Unicamp, UFB, UFAM e na Universidade da Califórnia em Berkeley. O autor já publicou diversas obras, entre ensaios, contos, poesias, fábulas e capítulos coletivos.

trazendo a reflexão,em especial, sobrea educação. Propõe um debate acerca da importância do aprendizado de alunos e davivência a partir da sua relação com a água, voltada também para as questões econômicas. 3. A Dinâmica entre as águas e terras na Amazônia e seus efeitos sobre as várzeas Sandra Helena Silva e Sandra Nascimento Noda (UFAM) Este artigo tem como objetivo apresentar uma análise sobre as transformações ambientais, com foco nas ilhas de Valha-me-Deus e Chaves – Juruti (PA), envolvendo todo o ecossistema, tal como a fauna e a flora, além da relação entre seres humanos e a maneira como eles influenciam na terra, de forma que os sistemas ambientais sejam também trabalhados para possíveis processos que se desenvolvam tanto de forma social como cultural.

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3. Rios do Brasil: História e Cultura


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