Pheha #08

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Álbum de Figurinhas da Equipe da Pheha

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Editorial

E

ntão, meu povo, vivemos o período mais esperado dos últimos 4 anos: os maravilhosos e bucólicos momentos pré-Copa do Mundo. Nesse clima de futebol, sexo, cerveja e rock’n’roll, no qual todos trocaríamos alegremente nossos empregos e mulheres (ou homens) e afins por uma pelada (A.K.A. rachão) falar das peraltíces que andamos aprontando nos últimos tempos, como a nossa viagem para Tiraspol, capital da Pridnestróvia, no último carnaval. Sério, foi supimpa. Cadu Simões e Pérola, sem sair do conforto se seus respectivos lares, também viajaram: Cadu para uma equivocada Grécia na qual Hades é tido como maligno e Pérola para Miami, paraíso do serial killer Dexter Morgan. Pérola ainda nos traz um pouco da magia do popstar Kanye West, sem interrupções engraçadinhas. João Márcio Dias relembra a todos uma das grandes verdades da vida, e não estamos falando do mito do “leite com manga”, mas a terrível verdade sobre os fãs de bandas, cantores e afins. Bernardo Costa nos apresenta à Janelle Monáe, a novata que conquistou o mundo após uma apresentação no programa de David Letterman. Para abrilhantar e inebriar nossa oitava edição, temos o retorno da diva do Twitter! Maysa nos conta com muito bom humor o quanto é importante viver nesse gracioso estado de espírito. João Márcio Dias também expõe as visceras da intolerância sexual, e mostra que as pessoas às vezes se importam demais com a vida alheia. E com a idéia de “cu doce” em mente, Julio “antiambiente” de Castro reclama do excesso de açúcar em todas as coisas. Morgana Mastrianni coloca seu cotiano em cheque, pincelando como nossa vida louca vida nos transforma em zumbis. Tudo isso sem esquecer de nossa estrela do mês, a entrevista com o jornalista Sidney Gusman, editor do site Universo HQ. Apresentamos também a resenha a revista Subversos. Wes Samp, Jussara Nunes, Rafael Marçal e Lokaz juntam-se a nós com suas divertidíssimas tiras. E para fechar a tampa da cumbuca, Marcello Caetano registra o “Arte y color”, série de intervenções urbanas em Belo Horizonte. Então, galëre, demoramos, mas fizemos desta edição a mais cremosa de todas. E é isso aí.

04 - Crítica: Fúria de Titãs 06 - Volta ao mundo em 80 litros 12 - Kanye West - The King 17 - Glacê e outras camadas populares 18 - Capa: Sidney Gusman 24 - Coluna da Maysa 26 - Bandas com fãs babacas 34 - Arte Y Color 40 - Sangue de Dexter tem poder 42 - Machismo Alfa 44 - Janelle Monáe 48 - Tirinhas 49 - Resenha: Revista Subversos 50 - Zumbizando


A visão deturp no novo “Fú U

ma das coisas que moti varam o meu gosto por mi tologia e cultura grega anti ga, a ponto de hoje eu ter me tornado um historiador helenista, foi ter assistido, quando criança, ao Fúria de Titãs original, de 1981. Por isso, tenho um grande apego por esse filme, e quando soube da notícia de que iriam fazer um remake dele, um misto de excitação e temor se abateu sobre mim. Fiquei excitado pois, ainda que o filme original possua excelentes animações em stop-motion, feitas por Ray Harryhausen, seria interessante ver como ficaria um remake feito com as tecnologias de computação gráfica de hoje. E de fato, ao ver o trailer do novo Fúria de Titãs em que mostrava o Kraken pela primeira vez, minha empolgação pelo filme aumentou. No entanto, o meu temor continuava a me acompanhar, já que ainda havia a possibilidade desse remake não estar a altura do original. E dado o histórico de remakes ruins feitos por Hollywood, a probabilidade de termos mais um era alta, justificando o meu temor. Mas eu tinha esperança (bem guardada em minha caixa de Pandora) de que esse “Fúria de Titãs” seria um bom remake. Esperança essa que escapou da caixa logo que assisti aos primeiros minutos de filme, no qual é narrado a titanomaquia e a divisão do mundo entre os três crônidas: Zeus, Poseidon e Hades. Uma narração “em off” nos conta que após vencer-

em os titãs, Zeus se tornou o rei do céus e Poseidon o rei dos mares. Até aí, tudo bem. O problema apareceu quando o narrador seguiu contando que Hades foi enganado por Zeus, e deixado para governar o mundo inferior. Quando ouvi esse trecho, comecei a desconfiar que haviam cometido nesse Fúria de Titãs o que considero o pior erro que Hollywood costuma cometer em seus filmes baseados em mitos gregos. E conforme o filme prosseguiu, veio a confirmação: eles de fato transformaram o deus Hades em um vilão maligno e cruel (erro esse que também foi feito no filme de “O Ladrão de Raios”, mas que felizmente não acontece no livro escrito por Rick Riordan do qual ele foi adaptado). Quando será que os produtores de Hollywood vão aprender que não é porque o Hades é o deus do mundo dos mortos, que isso signifique que ele é um deus mau. Muito pelo contrário. Os diversos registros da tradição helênica que chegaram até nós mostram que o Hades era considerado pelos antigos gregos como um deus justo, por vezes, mais até do que seu irmão Zeus. Essa visão deturpada que muita gente tem do Hades acontece porque o comparam ao Diabo, e seu reino ao inferno. E essa é uma comparação completamente errada e anacrônica. A concepção post mortem da tradição helênica é completamente diferente da concepção judaico-cristã. Para os gregos

antigos, todos que morriam desciam como åéäùëï í (que seria a sombra astral do ser humano) para o reino do Hades, independente do comportamento moral e ético que teve em vida. Chegando ao Hades, cada åéäùëï í seria julgado por um dos juízes, Minos, Radamanto ou Éaco, e conforme o julgamento, eram mandados para os submundos que haviam dentro do próprio reino dos mortos. Dentre esses submundos, havia os Campos Elísios, para onde eram enviados os justos; a Ilha dos Bem Aventurados, para onde costumavam ir os heróis após a morte (mas isso não era uma regra. Por exemplo, Aquiles, como podemos ler no Canto XI da Odisséia, após a sua morte ficou nos Campos de Asfódelos. Outros heróis nem mesmo chegaram a ir pro Hades, e ascenderam como deuses e foram morar no Olimpo junto aos outros deuses, como é o caso de Hércules). Havia também no Hades o Tártaro, que era um tipo de prisão no qual foram enclausurados vários monstros, titãs, entre outros seres que ousaram desafiar os deuses. O próprio modo como a morte era encarada na grécia antiga é bem diferente da forma como é feita atualmente. Em geral, a morte é vista nos dias de hoje como algo triste e ruim. Os antigos gregos, por outro lado, não enxergavam a morte como algo necessariamente penoso e lamentável. Eles acreditavam que uma pessoa só poderia ser considerada feliz após uma vida plena, o que, obviamente, só acontecia com a morte. Portanto, era


pada de Hades úria de Titãs” Por Cadu Simões

comum na grécia antiga, sobretudo no período micênico, os funerais serem uma grande festa em homenagem a vida que o defunto teve, ao invés de uma lamentação de sua morte, como costuma ser atualmente. E especificamente entre os espartanos, morrer em batalha era considerado a maior honra que um homem poderia ter. Outra coisa que me descontentou nesse Fúria de Titãs foi a trama principal, em que Hades tenta destronar Zeus para assumir o trono do Olimpo. Além disso ser um clichê horrível (inclusive, a mesma trama tinha acabado de ser usada no filme “O Ladrão de Raios”), isso vai também completamente contra a tradição helênica. Não há nenhum mito em que Hades tente usurpar o Olimpo. E se entendermos como os antigos gregos concebiam a divisão do mundo entre os deuses, veremos porque não havia motivos pro Hades querer o Olimpo. Diferente do que é mostrado no começo desse Fúria de Titãs, segundo a Teogonia de Hesíodo, a divisão do mundo entre os cronidas teria sido feita pela sorte (e não pela vontade de Zeus), pois nem mesmo os deuses podiam contrariar a vontade do Destino (ora representado nos mitos por um único ser, Moros, filho de Nix, ora representado na figura das três Moiras, Cloto, Láquesis e Átropos). Hades, ao contrário do que é mostrado nesse filme, não foi enganado por Zeus a reinar sobre o mundo dos mortos, como

se esse reino fosse inferior aos céus. Não era essa a visão da tradição helênica, como podemos confirmar em uma passagem da obra “Fasti”, de Ovídio. Nesta passagem, Zeus diz: “Eu governo sobre os céus, mas meu reino não é em nada superior ao de Poseidon ou de Hades”. Hades, portanto, não tinha porque almejar o Olimpo, pois seu reino em nada devia ao de Zeus. Pelo contrário, a tradição grega considerava o reino de Hades como o maior de todos, pois Hades simplesmente reinava sob todos que um dia já viveram (o que não é pouca gente). Não é à toa que um dos epítetos de Hades era Plutão (rico, abastado). E percebam que as críticas que estou fazendo neste texto não é pelo fato de “Fúria de Titãs” não ser exatamente igual aos mitos gregos. Seria até estupidez da minha parte exigir isso, pois mesmo o Fúria de Titãs original toma diversas liberdades com relação a tradição grega, e mesmo assim considero um excelente filme. E isso se deve ao fato do filme original respeitar a essência, a identidade, o comportamento e o caráter dos deuses e heróis (características que no grego antigo são definidas por uma única palavra, èïò, como podemos ver na poética de Aristóteles). Mesmo na antiguidade, os autores em suas obras representavam cada um a seu modo os mitos e as figuras míticas, mas sempre respeitando o èïò de cada personagem. Por exemplo, ainda que o Odisseu repre-

sentado nas obras de Homero não seja exatamente igual ao Odisseu que aparece em Euripides, e muito menos igual ao Odisseu de Sêneca, todos esses autores mantém em suas obras o &èïò de Odisseu, que é o fato dele ser um herói astuto, que sempre vence os inimigos e obstáculos através da inteligência, e não pela força bruta. Para aqueles que não estão familiarizados com a literatura antiga, vou pegar um exemplo moderno que todos com certeza devem conhecer, o Super-Homem. Ainda que haja diferenças entre a história do SuperHomem nos quadrinhos, nos filmes, e nos seriados, todas essas obras mantém o &èïò do Super-Homem, que ó fato dele ser um herói justo, que não mede esforços em ajudar os outros, um verdadeiro escoteiro. Se fizessem um filme do Super-Homem em que ele fosse um egoísta, escroto e sacana, contrariando completamente sua &èïò, isso certamente iria desagradar os espectadores. Pois transformar o Hades num deus maligno é o mesmo que transformar o Super-Homem num herói sacana. Enfim, essa visão deturpada de Hades apresentada nesse novo Fúria de Titãs parece ter sido algo que só desagradou a mim, dado a excelente bilheteria que o filme vem fazendo lá fora, e acredito que também fará no Brasil, quando estrear no dia 21 de maio. Talvez se eu não fosse um helenista não teria ligado pra nenhum desses problemas apontados aqui e teria gostado do filme. Mas a única certeza que tenho é que continuo preferindo o Fúria de Titãs original.



Por Joรฃo Mรกrcio Dias


E

nquanto muitos dos mortais aproveitavam o carnaval pra conquistar novas DSTs pro curriculo, a Pheha, engajada em seu jornalismo gonzoverdade, percorreu uma série de países para agradecer o carinho e a receptividade nesses meses de existência. Nunca entedemos bem por que somos tão lidos em países como a Guatemala e Romênia. Mas agradecemos assim mesmo. Para mostrar todo nosso afeto fizemos um incrível tour que será relatado em uma série de três emocionantes reportagens. Lógico que para tal recebemos apoio dos respectivos governos de seus países. E como somos pobres, porém arrogantes, começamos pela Europa, pra depois cair o nível. Pegue seu passaporte, enrole o cachecol no pescoço e apertem os cintos! Capítulo 1 - Chegando na Europa A tríade quase masculina da Pheha, imbuída do desejo de conhecer seus incontáveis fãs, preparou sua mala rumo a Europa saindo do impressionante aeroporto de Jacarepaguá em um tecoteco rumo a África. Na mala muitas saudades, cds do Caetano Veloso e sandálias havaianas para vender e fazer uma graninha no exterior. De fome não morreriamos caso os governos daqueles países não pagassem nossas contas. Após uma paradinha de duas horas em um aeroporto qualquer em Casablanca, nosso experiente piloto Tcheco, Ribamar Yhannovisch, pousou tranquilamente nas gélidas terras européias. Infelizmente tivemos que vender Ribamar para o tráfico internacional de órgãos para pegar o táxi até o nosso hotel. Pelo menos uma noite em Paris a gente queria passar, né? Pegamos uma noite em um pulgueiro só para

carimbar no passaporte e esfregar na cara dos amigos e alugamos um carro com nossas identidades europeias falsas. Óbvio que não devolveremos jamais o carro. Saímos de Paris para parar na Holanda, afinal, queremos ter o direito de comer um Space Cake sem correr da DRE. Devidamente comidos e logicamente atordoados, rumamos a Suíça para aproveitar a larica com chocolates dos Alpes. Mas após tanto Space Cake, nossa bilateralidade bateu com força, erramos a direção e paramos só na República Tcheca, onde João Márcio entrou em um tédio profundo, enquanto Julio e Murilo se fartaram com tantos trocadilhos. Carro abastecido, nossa próxima parada deveria ser nas colinas verdejantes do Leste Europeu, afinal, estavam pagando pela nossa viagem, queriam logo ver trabalho. Algumas vodkas vagabundas depois e alguns acidentes de trânsito que multaram nossas identidades falsas, chegamos ao nosso primeiro destino: a maravilhosa República Moldávia da Pridnestróvia! Capítulo 2 - Pridnestróvia Calor, céu azul, verde mar! Nada disso encontramos nesse país. Na verdade, a Pridnestróvia não é exatamente um país. É um território da Moldávia que declarou a indepêndencia e esqueceu de avisar ao resto do mundo. Mas somos muito aclamados por lá, o que não nos possibilita falar de suas mazelas. O povo feliz, contente, e notoriamente bebado, gritava nossos nomes nas ruas, quebrando pratos e gesticulando.

Chegamos a tal nível de fama naquele país que decidimos dar autógrafos em notas de 1 rublo, a moeda local. Não entendíamos o porquê da felicidade, e por que todo aquele povo se ajoelhava e começava a baixar nossas calças, mas como até que estava legal tudo aquilo, continuamos. Não é todo dia que conseguimos um gracejo desses a R$ 0,27.


Após distribuir aproximadamente 100 rublos pelas ruas da capital Tiraspol, decidimos encarar o nosso luxuoso hotel, ainda com cheiro de Gorbatchev e toda aquele romantismo da União Soviética. A Pridnestróvia viveu sob o regime da União Soviética por anos, até tentar a independencia da Moldávia no início da década. Grande parte de sua arquitetura ainda é ranso daqueles anos de ferro. E por falar no regime, decidimos que era hora de procurar as comidas típicas da Pridnestróvia. Passando por um mercado no centro da capital Tiraspol, lembramos com saudades de quando iamos ao mercado negro na Feira de Acari para comprar celulares, armas de fogo e vodcas importadas a preço de vagabundas. Encontramos pratos muito parecidos com os brasileiros, como calangos, gatos no espetinho e alguns doces a base de ovos. E francamente, esperávamos coisas exóticas como grilos, gafanhotos e escorpiões. Fica a dica pra China pagar nossas próximas férias. Devidamente recheados, nosso próximo compromisso de campanha era assistir a montagem socialista da obra de Shakespeare, Hamlet, com o jocoso título "Ser ou Não Ser Capitalista" no Teatro Nacional de Tiraspol. Sinceramente não lembramos muito do enredo, muito menos do elenco, quem dirá se a peça era boa ou ruim. Ressaca. Quem curte? Para gastar todo aquele Schnapps que tomamos e não bateu legal, o rumo era caminhar pelos pontos turísticos de Tiraspol. Ao pedir informações, além de autógrafos, nos confundiamos com as localizações. Sempre nos indicavam estátuas de Lenin como pontos de referência. Muito dificil encontrar o Museu na terceira rua após duas estátuas de Lenin com o braço esquerdo levantado. Com aquele monte de álcool, direita, esquerda, centro, PT, PSDB, PMDB, era tudo a mesma merda. Após três dias de fama, glória e poder, decidimos partir para nosso próximo destino, deixando para trás nossos fãs. Mas lógico, antes de qualquer coisa, compramos alguns exemplares da Pheha em um camelô na praça central. Ficamos impressionados.


Capítulo 3 - Na estrada, rumo a Nagorno-Karabakh ou Alto Karabakh, como você preferir. Com saudades da nossa nova terra natal, Pridnestróvia, pegamos nosso carro parisiense roubado descaradamente, e tomamos a estrada pela Ucrânia, onde não somos famosos, mas acreditamos estrelar um reality show de baixa qualidade ao melhor estilo Show de Truman. Era muito estranho o povo ucraniano olhando para nosso carro enquanto passávamos por lá. E nem adianta falar que é culpa da bebida, por que aqui todo mundo bebe e ninguém faz esse tipo de coisa. Murilo até sugeriu que o cd que ouviamos, com os maiores sucessos de Pimpinela, estaria afugentando todo aquele povo. Blasfémia! Todo mundo ama Pimpinela. Conseguimos a incrível proeza de cruzar a Ucrânia em um dia, tomando

apenas 7 multas por excesso de velocidade e duas por não ter dinheiro para o pedágio. O primeiro momento de tensão em nossa viagem foi quando ao tentar entrar na Rússia, para poder chegar até Nagorno-Karabakh, encontramos uma Blitz da Operação Lei Seca. Teriamos que ficar presos por um dia na fronteira da Ucrânia e a Rússia caso não passassemos pelo teste do bafômetro. Estávamos o dia inteiro sem beber, o que poderia denotar que somos pessoas sérias e abstêmias, justamente o que a Operação Lei Seca Garrafas não permite. O melhor a fazer é roubar um litro de gasolina do nosso carro, fazer uma batida com morangos que roubamos no mercadinho de Tiraspol e tentar a sorte. Mesmo com alto teor de sangue no álcool, após um teste oral, o simpático guarda deixou que seguissimos viagem. Muita neve, muita ventania e muita cachaça embalou nossa rápida passagem pelo maior país do mundo. Não nos atemos aos detalhes e dormimos com uma população

super simpática embaixo de um viaduto em troca de dois pares de havaianas (que por ali valiam muito) e seis doses de vodca nacional. E quando digo nacional, me refiro a Natasha, Sputinik e Kovak, que no caso deles, significa um produto importado e de altíssimo valor. Baterias recarregadas, era hora de visitar a Geórgia, maneira mais segura de chegar até Nagorno-Karabakh. Quisemos tentar alguma intimidade com o povo local cantando Ray Charles, mas a galera não curtiu nossa versão de "Georgia on my mind". Uma lástima. Estávamos prestes a fundar o Glee Club da Geórgia. Após 3 dias viajando sob neve, vodka, mendigos e favores sexuais para não rolar espancamento gratuito, um banho era mais que merecido. E como o valor d a água não-congelada nessa região é altissimo, achamos por bem procurar um local bem baratinho para voltar para a estrada com um cheiro melhor que cebola. Um lindo luminoso vermelho chamou a atenção de Julio Cesar, nos indicando que algumas moças de familia prestavam serviços em troca de coxinha de galinha. Pela nossa lógica, ali era o melhor


lugar do país para tomar um delicioso banho que durasse mais de 3 minutos e meio. Era só contratar uma garota, pedir para ela gemer sozinha (afinal, queriamos impressionar o país) enquanto nos acabávamos debaixo do chuveiro. Mas que fique bem claro: cada um no seu quarto, com sua garota e seu chuveiro. Ao terminar os serviços, para nossa surpresa, encontramos aquele que, se não estivesse na Europa ganhando um extra com venda de animais raros para estrangeiros, seria o quinto ferreiro. Gabriel Ramalho, nosso poser predileto, decidiu que embarcaria em nossa fama. O cabeludo estava curtindo uma temporada no leste europeu para fortalecer seus serviços. Largou as araras, preferiu as piranhas. Agora sim, nós quatro, enfim juntos, poderiamos desbravar o Nagorno-Karabakh. Viva! Mas mal sabiamos que ao atravessar a Geórgia, enfrentariamos o maior desafio de nossas vidas: o rally de NagornoKarabakh. Um país destruído pela guerra civil, sem estradas, sem paz, sem um Mc Donalds para que pudéssemos pedir um Cheddar McMelt. NagornoKarabakh prometia ser o mais temível carnaval de nossas vidas. Acompanhe na próxima Pheha como foi nossa incrível viagem até lugares nunca dantes navegados!



Por PĂŠrola


V

ocê pode até dizer que “Imma let you finish” é a primeira coisa que vem à sua cabeça quando o assunto é Kanye West e, assim sendo, eu responderei que ele vai muito além de tal paradigma ao redefinir o sentido de “multimídia” em sua classe artística. Filho de um ex-membro dos Panteras Negras e uma professora, Mr. West cansou da vida de estudante na Universidade de Chicago e, como é público e notório, lançou-se, com cara, coragem e sede de vitória, como produtor musical. Preparou, (re)inventou e concebeu, com precisão cirúrgica, Common, John Legend, Lupe Fiasco e Alicia Keys, mas, ao produzir Jay-Z, o atual Rei Midas do mercado fonográfico americano, encontrou o seu mapa do tesouro. Munido de vasto conhecimento musical, ímpeto de gladiador e um contrato com a Roc-AFella Records

(isso mesmo, a gravadora do já mencionado big pimpin’ Jay-Z), em 2004, lançou “The College Dropout”, confrontando e combatendo a mesmice medíocre do cenário hip-hop dominado por 50 Cent, Ja Rule e Nelly. Com batidas implacáveis, composições engenhosas e samples de modernidade retrô, Kanye imprimiu sua marca registrada em “Jesus Walks”, single oscilante entre seu vocal ávido e um coro cristão, remetendo à infância de Mr. West em meio às igrejas protestantes de Oak Lawn. “The College Dropout” ainda rendeu

“Diamonds from Sierra Leone” que, embora não tenha alçado vôo no ranking da Billboard, tem um videoclipe com fotografia imbatível, ar de curta-metragem e arte digna de Sebastião Salgado. Nesse meio-tempo, Jay-Z, mais interessado em fazer seus milhões renderem do que em cantar, anunciou sua aposentadoria estrategicamente, abrindo um clarão entre os rappers que, atiçados, sequer imaginaram que já havia uma majestade veementemente nata entre eles.


Eis que, em 2005, “Late Registration” sai do forno e Kanye West, sempre ladeado por samples antigos e sua mente inquieta, faz de “Gold Digger” o hit do ano numa insólita parceria com Jamie Foxx, encarnando o vocal de Ray Charles. Em tom provocativo, Mr. West versa sobre uma garota que só se interessa por seu dinheiro, tendo ela, anteriormente, também seduzido Usher e Busta Rhymes, conhecidos antigos de Kanye, mas que, ao contrário dele, cairiam no ostracismo juntamente com a aludida libertina. Dois álbuns lançados, respeito conquistado e parcerias consolidadas. Isso ainda não bastava para Mr. West. Em 2007, 50 Cent, intimidado pela crescente popularidade de Kanye, lançou publicamente o desafio que, caso seu álbum “Curtis” vendesse menos que “Graduation” (sim, o terceiro e mais memorável álbum de Mr. West) na semana de lançamento, ele se aposentadoria mais cedo. O embate resultou na pior surra musical que 50 Cent poderia ter levado, já que “Stronger”, primeiro single de “Graduation”, reinou absolutamente tanto no ranking da Billboard quanto no da MTV americana e, assim, firmou Kanye West como o artista multimídia mais completo da década. Com videoclipe dirigido por Hype Williams, o mais tradicional e vanguardista profissional em termos de hip-hop, “Stronger” ainda tem samples de “Harder, Better, Faster, Stronger” do Daft Punk, reinventando o rap e a ele atribuindo algo

que jamais esteve em seu contexto: o requinte. Após décadas de guerra civil entre as costas Leste e Oeste, dentes de ouro, camisas largas e com estampas de times de basquete, bonés virados para trás e, por fim, carros rebaixados e sacolejantes, o rap, caracterizado como sendo de protesto, usado para dar voz aos oprimidos, modernizou-se e ganhou notoriedade nas mãos de Kanye. Recheado de hits sequenciais, “Graduation” é, sem sombra de dúvida, o diploma com louvor, após muita espera, suor e sede de vitória, pelo qual Mr. West sempre esperou. Celebrando e, de certa forma, ironizando o delírio que o dinheiro proporciona, “Good Life”, dueto com T-Pain (sim, aquele cara que baseia sua carreira inteira em parcerias constantes), apresenta a tão falada faceta multimídia de Kanye, uma vez que, sempre acompanhado por seu Wayfarer, resgatado das profundezas do mundo retrô, Mr. West passou a ser referência de estilo e a ditar moda. Surgem parcerias com Nike e Louis Vouitton e, para deixar os demais rappers comendo ainda mais poeira, Kanye lança “Flashing Lights” com direito a três versões diferentes e, não obstante, fecha a divulgação de seu álbum com “Homecoming”, single em que Chris Martin, vocalista do Coldplay e amigo de Jay-Z, dá o ar de sua graça. Encerrando as atividades de “Graduation”, Mr. West tem dois novos projetos: colaborar com a grife japonesa “Bape” e trabalhar em seu próximo álbum. Workaholic confesso, Kanye só interrompe seu recesso para produzir e remixar, em parceira com Pharrell Williams, “Everyone’s Nose”, faixa que satiriza as muitas party-girls que se escondem em banheiros de festas com a intenção de retocar mais do que apenas a maquiagem. Tido como arrogante e até elitista, sem compromisso com as “verdadeiras raízes do hip-hop”, Kanye também investe em duetos incrivelmente ruins, com Lil Wayne e Young Jeezy, com o puro intento de

lucrar às custas de quem só sustentará uma ou duas faixas entre as mais tocadas. Não obstante, investindo em parceiras aparentemente furadas, Mr. West dissemina-se entre o público que ainda não consome sua música. Tacada de gênio coorporativo, claro. Em 2008, “808’s & Heartbreak” é lançado e, com ele, pela primeira vez, a introspecção e até o luto, gerado pela morte da mãe de Kanye durante a turnê de “Graduation”, aparecem nas entrelinhas de suas novas composições. Inspirando-se diretamente na década de 80, musical e visualmente, e a projetando em 2008, ele investe em arranjos sublimes, fincados em influências africanas, lançando “Love Lockdown” como primeiro single. Novamente ovacionado, especialmente pela audácia de apostar num álbum simples e sem os aparatos anteriores, Kanye alia-se a Kid Cudi, figura nova e de voz deliciosamente melodiosa no hip-hop, concebendo “Welcome to the Heartbreak”, faixa tão intimista quanto a anterior. Ainda celebrando a dor da perda – e cantando para exorcizar seus males – Mr. West lança “Heartless” e “Amazing”, essa segunda em parceria com Young Jeezy. Por fim, sai “Paranoid”, single inquietante, assim como seu videoclipe, que conta com a participação de uma Rihanna recém-surrada por Chris Brown e com a carreira agonizante. Com o mainstream conquistado, Kanye deixou claro que, ao fazer parcerias, vislumbra ao muito mais precioso do que o top ten da Billboard: os contatos do mundo da música. Também em 2008, fez dueto com a iniciante Estelle (sim, aquela mesma que ainda não decidiu se quer ser Kelis ou Santogold) na faixa “American Boy”. Como participações especiais sempre preenchem as folgas de sua agenda. Kanye ainda gravou “Gifted” com Santogold (sim, aquela que eu mencionei no parágrafo anterior), no álbum de estréia do N.A.S.A, time de DJ’s brasileiros e devidamente reverenciados no exterior.


Mas, já que aquele era o ano das transformações na carreira de Mr. West, ele descolou o contato mais cobiçado do mercado fonográfico: Madonna. Se Jay-Z é um Rei Midas que surte efeito hipnótico em todos que desejam fama e fortuna, imagine o que é ser chamado, por intermédio de Pharrell Williams, para participar de “Hard Candy”, de 2008. Madonna, sempre interessada em quem a repagine e revigore, chamou Timbaland (sim, o cara recorta e cola uma batida só), Pharrell (antigo gênio do N.E.R.D) e Kanye, ou seja, os três produtores que encabeçam a lista dos mais cobiçados, e

os misturou sem medo ou pudor. O resultado foi um álbum de sucesso, acompanhado da turnê mais rentável de 2009. A ironia? Madonna, o ícone multimídia camaleônico, ao lado de Kanye West, o responsável pela releitura de tal conceito. Para arrematar as muitas faces do artista que quase se faz um cubo mágico musical, só precisamos lembrar se sua participação em “Ego”, título muito apropriado para uma das faixas de “I am... Sasha Fierce”, álbum mais recente da primeira dama da Roc-A-Fella Records.

Aliás, é pensando no referido dueto, e sabendo o sangue de Kanye fervia para que Beyoncé fosse coroada no VMA’s 2009, que torna-se mais do que legítimo desejar que Mr. West fizesse bem mais do que arrancar o microfone de uma teenager insossa, na acepção literal do termo, durante a cerimônia. Produtor, compositor, rapper, garoto proparanga e gladiator. Isso sim é ser merecidamente multimídia. Pode chegar mais e me interromper, Kanye. Aqui você é quem manda, cara.


Por Julio de Castro

D

as lendárias feijoadas nas escolas de samba cariocas aos “podrões” que costumam salvar a noite de quem não sabe beber, passando pela inexplicável insistência pelo consumo da praga alimentar que é a pipoca, é incognocível a preferência das pessoas por certos pratos ou ingredientes. Juro que, por mais noites de sono que tenha perdido pensando no assunto, não entendo. Por que glacê é tão bom? é só uma pasta doce, sem porra de sabor algum. Que facínio é esse que todos temos por esses horrendos sabores brutos, que facilmente saturam o paladar?

“Isso é doce de quê?” essa pergunta é recorrente e, faça cara de surpresa, vazia. Açúcar com corante alimentar amarelo pode ser qualquer coisa: banana, manga, abacaxi... abacaxi não, por que eu sou alérgico. Enfim, não importa. Para a maioria esmagadora das pessoas desse mundão velho sem porteira, açúcar é a verdade e a vida, e somente através dele alcançaremos o reino dos céus. Mascavo, refinado, cristal, de confeiteiro, além de clicoses, sacaroses e micoses em geral estão em nossos corações e mentes, e diariamente eles reafirmam seu domínio (e não, não é doce.com, ok?)

sobre (quase) todos nós. Parece dramático demais, mas sê atento, pois a história não é tão doce quanto parece. A galera ignora que a função do açúcar nas guloseimas é, antes de tudo, para dar liga aos pratos. Deixar “doce” é efeito colateral. Quem são sabe disso isso não sabe comer, malzaê. Julio de Castro é afro-visigodo, botafoguense e não entende porque batata doce não é tão doce quanto qualquer doce de batata.


Across the Universo HQ Por Julio de Castro

A revista Pheha, tomada pelo espírito ragatanga, entrevista Sidney Gusman, o homem que, apesar de dispensar apresentações, apresentaremos assim mesmo: Editor-chefe do maior fenômeno em termos de mídia quadrinhística da década, o UniversoHQ, que já levou para a Universo-caverna oito prêmios HQMix, o site há dez anos reúne notícias, colunas e resenhas sobre praticamente tudo de quadrinhos que é lançado no Brasil e no mundo. Sidney nos conta um pouco sobre a história do UniversoHQ, sua rotina de trabalho e a equipe do site. Além disso, fala sobre o mercado de quadrinhos e que transformações o cenário nacional sofreu nos últimos anos, além de algumas projeções animadoras para o futuro da HQ nacional. E, com vocês... Sidney Gusman!



Pheha - O que motivou a criação do UniversoHQ? Do que vocês sentiam falta? Sidney Gusman - O Universo HQ surgiu como um site de fã, criado em 05/01/2000, pelo hoje meu ex-sócio Samir Naliato, de Petrópolis/RJ. Como sempre tive um excelente contato com os leitores de meus artigos, sempre que podia, o ajudava, colaborando com textos ou dando dicas de revisão. Como o site estava crescendo e eu havia acabado de sair da AREA-51, ele me propôs assumir o site, tornando-o, efetivamente, um site jornalístico. Aí, chamei o Sérgio Codespoti (também da AREA) e o Marcelo Naranjo, um leitor que ficou meu amigo e se mostrava um cara muito interessado, além de ser um "rato" de sebo e dono de uma coleção invejável. Desde então, dei ao site um foco jornalístico, com um diferencial em relação aos demais existentes: o Universo HQ é um site sobre quadrinhos, e não sobre este ou aquele gênero de quadrinhos. Entre outras coisas, temos muito orgulho de afirmar que somos o maior veículo de divulgação de HQs nacionais, pois isso ajuda a fortalecer nosso tão combalido mercado. O site não dá grana, e é resultado da abnegação e paixão pelos quadrinhos dos quatro sócios e de nossos valorosos colaboradores, que sempre estão do nosso lado, pro que der e vier. Mas a gente chega lá! Felizmente, o trabalho tem sido muito reconhecido pelos leitores (o número de acessos não para de crescer), pela imprensa (saímos constantemente em jornais, além de pautar vários colegas de profissão sobre matérias interessantes) e pelos prêmios (o mais importante de todos foi o octacampeonato do HQ Mix). E isso faz valer a pena! Este ano, com os dez anos do UHQ temos várias coisas a caminho.

PH - Além da internet, o UniversoHQ planeja explorar outras mídias? Para ser objetivo: Vocês pensam em no futuro ter uma versão impressa e periódica? SG - Já pensamos mais nisso, hoje, não. Afinal, pra isso, só se o site estivesse dando uma grana bacana - o que não é o caso. PH - Como você entende as mudanças no cenário de quadrinhos no Brasil (e no mundo)? SG - Como consequências naturais do que vem acontecendo com a mídia história em quadrinhos. Com o advento da internet e a "concorrência" que as HQs ganharam de outras mídias (em ônibus e metrôs, por exemplo, é mais fácil encontrar gente ouvindo Ipod do que lendo gibi), o mercado mudou como um todo. Os scans alteraram a lógica da compra e venda. Mas, ao mesmo tempo, a net se tornou uma baita vitrine pros autores. Os quadrinhos migram cada vez mais livrarias - à exceção de Mauricio de Sousa e dos mangás. Essas mudanças precisavam ser mais bem compreendidas pelas editoras nacionais e estrangeiras. Nos EUA, por exemplo, é nítido que Marvel e DC se conformaram em se tornar "fornecedoras" de material pra cinema, mesmo que suas vendas não aumentem quando seus personagens pintem na telona. Os royalties compensam. Aqui, no entanto, em 10 anos de UHQ vimos a Abril deixar de ser a maior editora do Brasil, pra Panini, que em 2000 nem estava nesse mercado, assumir o posto. A Conrad teve momentos excelentes e hoje mingua. Várias editoras fecharam. Enfim, faltou planejamento e uma análise mais apurada dessas mudanças que ocorriam no mercado de HQs. PH - Você entende, nesse caso, que uma mudança no cenário de

quadrinhos no Brasil não viria das editoras, mas dos autores independentes? SG - Não. Explico: os autores independentes (ainda) não têm força para executar esta mudança. Mas podem devem - se aproveitar dela, como estão fazendo. No Brasil é impossível se chegar a um grande número de leitores sem o apoio de uma editora; e quem faz HQs independentes aqui sabe bem disso. Exemplo: as adaptações literárias, que se tornaram um grande filão, só virou porque as editoras entraram nisso de cabeça. E aí autores nacionais se beneficiaram, pois surgiu uma grande frente de trabalho.


surgir algo como o iTunes? SG - Acho que será mais um espaço para divulgação dos quadrinhos, mas não creio no fim do papel, não. Não imagino o fim do colecionismo de quadrinhos, por exemplo. Quanto à produção, muita gente já está produzindo de olho nesse novo mercado que se abre. Vai ser bem interessante. PH - Como você vê o movimento de autores que, ao invés de publicarem em periódicos, partem de um meio independente, site, blog ou outro, para álbuns. A migração da revista para o livro? SG - Vejo isso como uma saída natural para a falta de espaço que havia para esses autores. E o resultado foi um crescimento grande da produção nacional - e da sua difusão. E uma prova de que está dando certo é que muitos (os bons, claro) passaram a publicar por editoras que viram seu talento.

PH - Daí o surgimento dos "selos" de quadrinhos que algumas editoras vem criando nesses últimos tempos? SG - Exato. E que se tornaram um grande mercado para autores nacionais. Uns tempos atrás, se você experimentasse falar de adaptar literatura pra HQs, alguns autores torciam o nariz. Hoje, é um nicho que está empregando - e divulgando muita gente boa! PH - E quanto aos dispositivos portáteis de leitura digital? Como você projeta o impacto deles no modo de produzir e difundir os quadrinhos na próxima década? Na sua opinião, pode

PH - Fale um pouco sobre a equipe. Além dos já citados, quem mais já participou? SG - Hoje são cerca de 20 colaboradores "quase fixos", mas mais de 100 pessoas já nos ajudaram no site. Nesses dez anos, o site ultrapassou a marca de cem colaboradores - e sempre serei extremamente grato a todos eles! E outra coisa que me deixa orgulhoso demais é saber que vários deles escreveram jornalisticamente pela primeira vez no Universo HQ e, tempos depois, estavam publicando em jornais e revistas do Brasil inteiro. Eu me orgulho de ter no time gente como Eduardo Nasi, Marcus Ramone, Zé Oliboni, Diego Figueira, Lielson Zeni, André Sollitto, Delfin, Ronaldo Barata e Guilherme Kroll Domingues. Esses são os parceiros de dia a dia. Amigos na acepção da palavra. PH - Como é a rotina de trabalho da galera, se houver?

E um sinal de alerta é que essa migração do meio independente para o mercado editorial propriamente dito tem ocorrido mais com autores que "publicam" na internet do que com quem faz revistas independentes em papel.

SG - É comum eu receber e-mails de leitores de outros estados que, quando vêm a São Paulo, querem conhecer a “redação” do Universo HQ. Quando explico como as coisas funcionam no site, geralmente, a reação é algo do tipo: “Vocês são mais loucos do que eu pensava”.

PH - Falando um pouco mais sobre os 10 anos do UniversoHQ, como surgiu a idéia desse feedback com os quadrinhistas e demais leitores?

Então, aqui vai um resumão de como funciona o dia-a-dia do UHQ.

SG - Por conhecer muita, muita gente deste mercado, tive a ideia de pedir um "presente" para alguns desses nomes. E, em seguida, abri para leitores e outros profissionais que não consegui convidar diretamente. O resultado, emocionante para nós, foi aquela batelada de homenagens bacanas. Foram mais de 200. De feras do mercado a leitores que nem conheço. Mas o importante foi a intenção. É o tipo de reconhecimento ao teu trabalho que vale mais do que qualquer premiação.

Primeiro: como falei, o site não dá grana pra nenhum de nós. Fazemos porque somos apaixonados por quadrinhos e porque (por favor, não entenda como falsa modéstia) temos certeza de que faríamos bastante falta pro mercado se, por exemplo, resolvêssemos parar amanhã. Tanto pro fã em geral, como para as editoras e - especialmente - para quem produz quadrinho nacional, que tem no site uma grande vitrine. É absolutamente fantástico quando encontro autores pelo Brasil e eles me dizem que o UHQ ajudou a tornarem seus trabalhos mais conhecidos.


Hoje, ao menos, não precisamos tirar do bolso pra pagar o site, algo que fizemos por bastante tempo.

um arquivão ao Ronaldo Barata, nosso webmaster, que coloca tudo online no dia seguinte, logo cedo.

É bem verdade que todos temos certeza de que o site tem potencial (vide número de acessos, prêmios e reconhecimento da mídia) para dar uma boa grana, mas como os três sócios trabalham, nenhum tem tempo para sair “vendendo” o Universo HQ. Mas a gente ainda vai dar um jeito nisso.

Pois bem, assim que a atualização do site vai ao ar, eu exerço meu papel de editorchefe e chato de plantão e reviso a capa, os títulos e todas as notas e peço pra corrigirem os erros. E, sim, tem bronca das grandes quando sai alguma lambança (e é inevitável, elas acontecem).

No começo, chegávamos a fazer todas as notas da semana num dia só e dividíamos pelos cinco dias úteis de atualização.

Pra facilitar a nossa vida, há uns sete anos, desenvolvi uma série de macros no word que possibilitam que, enquanto eu e o Naranjo estamos editando os textos, possamos colocar todos os códigos html (negrito, itálico, links etc.), o que facilita um bocado a vida do Barata.

Mas o volume de notícias foi crescendo, o leque de nossa cobertura se ampliando (no início falávamos quase totalmente de super-heróis) e vários colaboradores foram se juntando ao nosso time. Mas voltando a falar do esquema de trabalho do site hoje... O Codespoti (que mora em Luxemburgo), o Ramone (que vive em Maceió), eu, o Naranjo e outros colaboradores mandam diariamente as mais diversas notícias sobre quadrinhos, com suas respectivas imagens. E quando é reprodução de algo que saiu lá fora ou um release de uma editora brasileira, temos a preocupação de não fazer uma simples tradução estilo “ctrl c + ctrl v” e de dar uma limpada geral no texto, respectivamente. O Naranjo (que, além de trabalhar numa atividade não ligada à área, ainda estuda direito à noite) chega de um curso que faz à noite e vai editar os textos. Atualmente, é só com ele que consigo falar diariamente, pra botarmos as ideias em dia e jogarmos conversa fora. Com o Codespoti em Luxemburgo, o fuso horário nos coloca quase incomunicáveis. Muito raramente conseguimos nos achar num skype da vida. Restam os e-mails... Bem, terminado a tarefa do Nara, ele envia

Na quinta-feira e na sexta-feira, respectivamente, eu e o Ramone substituímos o Naranjo na confecção das notas diárias. Eu e ele também fazemos nossas notas, mas quando o tempo está curto (como ultimamente) só conseguimos editar o texto. Durante a semana, enquanto o Naranjo “doma” as notas, eu me encarrego da edição das resenhas, que representam um volume absurdo de material. Mas como é o setor mais visitado do site, é preciso um cuidado extra. Além da edição do texto, sou eu que coloco todos os negritos, itálicos, links de editoras e de edições anteriores ou de notícias que já saíram no Universo HQ (acho vital isso e somos um dos poucos veículos de internet que faz isso), caço as capas e verifico se a revista está disponível para venda no Submarino. Aliás, qualquer dia eu conto o trabalho que dá manter aquela vitrine giratória de produtos que entra no rodapé de todas as nossas páginas. Também é minha responsabilidade editar o checklist e todas as matérias, entrevistas e colunas.

Cansa? Pra caramba! Mas vale a pena. Não apenas pelo reconhecimento dos leitores (tem uns manés que acham que o mais importante mesmo é ganhar prêmios...), mas porque (quase todos) meus colaboradores acabaram se tornando grandes amigos. É graças a esse pessoal fantástico que temos um dos maiores acervos de resenhas online sobre quadrinhos do planeta - e de revistas dos mais variados gêneros, nacionais ou estrangeiras. Não é pouca coisa. Bom, é isso. Ainda não conseguimos parar pra desenvolver um sistema (tipo blog) que permita que cada um de nós coloque notícias a hora que quisermos (até porque, sem revisão, nem a pau entra no ar!). Não ganhamos pra manter nosso leitor bem informado (e ainda temos que aturar cada “mala” de vez em quando). Nem temos redação ou equipe de venda de anúncios. Mesmo assim, colocamos no ar, por semana, o equivalente a um pequeno livro, de 100 páginas. E com um cuidado editorial e com a língua portuguesa que muita revista que chega às bancas mensalmente não possui. Foi assim que, felizmente, conseguimos fazer do Universo HQ uma referência não só no Brasil, como para sites do exterior. E quer saber? A gente não ganha nada, mas se diverte! PH - Para encerrar: é verdade que há toda uma polêmica sobre pizzas doces nos encontros do UQH ou isso é lenda? SG - Hahaha, é verdade! Eu sou da Mooca, um bairro tradicionalmente italiano de Sampa. E, como sempre digo, PIZZA DOCE NÃO EXISTE; É TORTA! Mas o Naranjo e alguns outros adoram essa porcaria. Rs. Então, sempre tem essa brincadeira!



A RECEITA DO Por Maysa (@meumundocaiu) Pheha, rebolai e temei: EU VOLTEEEI! Após um merecido descanso, cá estou eu novamente. Até porque, como vocês sabem, cuidar dessa cútis de (licor de) pêssego requer dias de folga e brisa em Maricá. RÁ! Mas vamos ao que interessa. Mui saudosa estou desse meu cantinho etílico na revista mais cheia de INFÂÂÂMIA do Brasil. E escolhi o tema que mais recorrente de minha atual rotina: o bom-humor. Como vocês já sabem, a vida que levei era de uma infinita amargura. Parecia que eu acordava mais cedo e dormia mais tarde para que meus dias fossem pautados em mágoa, reclamações infinitas e um mau-humor digno de quem despertava virada no Jiraiya. Tudo bem que eu até tinha motivos para reclamar, vejam bem, mas a grande questão é que eu reclamava mais do que devia.

Meu maior vício não era apenas o álcool, mas a mania incessante de maldizer sem motivos. Minha rotina era baseada em achar que a grama do vizinho era mais verde e, consequentemente, olhar o meu jardim como se ele nada fosse. Felizmente, o tempo passou, eu me tornei uma entidade de muita luz e aprendi que a receita da vida reside no bom-humor. Sabe aquela velha premissa de que, se a vida lhe oferecer limões, que você faça com eles uma bela caipirinha docinha? Pois bem, amores. Rir de si é uma arte milenar, digna de quem já aprendeu, aos trancos e barrancos que não, o cabelo não ficará sem frizz em dias úmidos e que não adiantará amaldiçoar a garoa ou a humanidade por isso. Com esse mesmo desprendimento, e até leveza de alma, deve-se encarar aquela pisada generosa em cocô de cachorro, justamente quando você está usando seu par de chinelos brancos.

Não, meu bem. O trânsito não fluirá mais depressa se você tiver ataque de pelanca, o elevador não chegará mais rápido se você socar a botoeira e o espelho não refletirá uma aparência sem olheiras diante de um chilique seu. Ao contrário do que se imagina, o mau-humor é uma patologia séria, estudada e tratada por correntes diversas da psicologia. Tal doença atinge diversos graus e, em casos crônicos, quando falamos dos ranzinzas gratuitos que respondem “Bom dia, por quê?”, ao serem cumprimentos, desencadeia efeitos colaterais, tais como a rejeição. Coisa boa gera coisa boa, certo? Logo, coisa ruim só atrai negatividade. Seguindo essa linha de raciocínio, tornase explícito que gente mal-humorada é companhia da qual a maioria das pessoas foge. Isolamento, solidão e ostracismo


O BOM-HUMOR são conseqüências imediatas para quem não se esforça para se mostrar agradável e receptivo. O toque, elemento essencial para a maioria afável das pessoas, também torna-se obstáculo aos sisudos, uma vez que, no fluxo e refluxo energético, contato direto é repelido e substituído por frieza e distância. Agora me diga: de quê adianta agir com tanto azedume, como se o mundo fosse um fardo? Sorrir e, mais ainda, rir de si, abre portas, sendo, aliás, o segredo de quem é realizado e feliz. Fazer piada sobre a tempestade, especialmente quando o seu guardachuva vira do avesso numa forte ventania, é sempre mais válido do que amaldiçoar os trovões que caem do céu. Falar entre os dentes, como se fosse o Mutley, e

estragar a felicidade dos outros não lhe oferecerá um emprego melhor, a simpatia das pessoas e, principalmente, o respeito delas. Obviamente, não estou sugerindo que você, leitor fiel, se torne um bobo alegre, rindo aleatoriamente, como se tivesse comido cocô ou usado dorgas. Estar de bem com a vida é mui diferente de ser um panaca completo, não é mesmo, amados meus? Ter o riso frouxo não incorre em levar a vida com menos seriedade. Como sabemos, o segredo disso tudo é a suavidade com a qual achamos graça nas pequenas coisas, sem nelas criarmos contendas. Algum sábio disse, certa vez, que “a vida é grande demais para ser insignificante”. Logo, ria sem temor do leite que ferve e derrama sobre o fogão, da cabeçada

esperta no vidro do box, da topada chorada na quina da cama, do cabelo que acordou revoltado e até do chefe com Godzilla feelings que testa a sua paciência. Problemas todos nós temos, caríssimos. A questão é não fazer deles campos de batalha e, em casos piores, justificativas para mau-humor e recalque. Além disso, na minha época dizia-se que cara feia era sinal fome. Assim sendo, vá fazer uma omelete caprichada e ser feliz, Brasil! Beijocas etílicas para quem lê a revista e faz dela a minha delícia cremosa e infame predileta! Vejo vocês em Junho, com quentão, vinho quente e bandeirolas esvoaçantes! MA ÔE!



Por João Márcio Dias

Q

uem nunca odiou uma banda gratuitamente que atire a primeira pedra. A não ser que você seja algo muito próximo a Madre Teresa de Calcutá, certamente você já morreu de antipatia de uma bandinha. Seja por que ela está na moda, seja por que você não topou com o som, ou até mesmo por que aquele seu amigo chato do segundo ano amava Bjork e você criou uma incrível resistência a tudo que vem da Islândia. No mais, criamos expectativas negativas de bandas que não suportamos ouvir o nome, sem antes mesmo parar para analisar seu trabalho. Eu mesmo assumo, até bem pouco tempo odiava ouvir o nome daquela menina, a Sandyjunior, pois eu tinha tantos amigos que a amavam, que eu criei um escudo a todo seu trabalho. Não sei se fui eu quem amadureci, ou se o som dela melhorou, mas seu acústico, último trabalho feito com o irmão dela que até hoje não sei o nome, é uma pérola que deve ser ouvida sem qualquer preconceito. Há também um capricho por ser praticamente um documento de despedida, uma carta de suicidio daquela famigerada carreira iniciada por hits modernos como “Maria Chiquinha” e “Roça Roça”, mas o que é inegável é que o talento daquela menina pulsa, e que esse álbum é irretocável. Mas algo que me agride profundamente é a questão do nome dela. Com tanto nome bonito, ela precisava assinar como Sandyjunior? Sorte que ela vem com um novo CD, e dizem que adotará o nome de “Sandy”. Deve ser alguma relação com numerologia, sei lá. O ser humano é preconceituoso por natureza. E nem adianta vir com um discurso politizado que você é livre de qualquer preconceito, que você ama todo mundo igualmente e que os Ursinhos Carinhosos formaram seu caráter. Todo mundo sofre de alguma mazela preconceituosa. E não falo dos preconceitos rotineiros como negros, gays, judeus, nordestinos, mulheres, botafoguenses, ex-presidiários, ou qualquer outra pseudo-minoria massacrada pela sociedade judaico-cristã-ocidental. Temos preconceito, principalmente, no que tange a arte. Nós da Pheha bem sabemos como é isso. Passamos anos de nossas vidas na Escola de Belas Artes, aprendemos um bocado sobre o assunto, e mesmo assim, quando decidimos fazer uma intervenção sempre tem um acéfalo para tacar pedra na Geni e dizer “e isso por acaso é arte?”. Deal with it! Musicalmente é onde mais temos preconceito. E muito disso se deve aos fãs de algumas bandas que tinham tudo para serem boas, mas seus fiéis seguidores as tornam insuportáveis. E como nem só de “opinião travestida de informação” e rum vive a Pheha, decidimos de maneira marota e sorrateira fazer uma incrivel seleção das quatorze bandas ou artistas com os fãs mais irritantes da face da Terra. Prepare seu Prozac, por que a gente vai fundo nessa!


14- Roberto Carlos Nossa imagem de fã de Roberto Carlos é sempre uma velha varizenta, com vestido de viscose, uma rosa murcha na mão, chorando quando toca “Detalhes” e imaginando como um dia no Cruzeiro do Rei, em pequenas e suaves parcelas de 2000 reais, seria incrivel. Ou então associamos aos infinitos especiais de fim de ano, onde sempre encontramos os mesmos artistas babando ovo da Majestade, o Sabiá, entoando todas as suas músicas lembrando dos áureos tempos da TV Tupi. Sim, fãs de Roberto são insuportáveis, e provavelmente sua mãe (assim como a minha) engloba esse time de velhas desocupadas que perdem a noite de Natal na frente da TV chorando a cada acorde da Osquestra do Maestro Zezinho. Agora ignore os fãs e analise friamente a história de Roberto Carlos e suas músicas. Poucos artistas no Brasil têm um repertório tão rico quanto ele, e poucos homens nesse país, ainda em vida, tem tamanha habilidade com as palavras. Em um dia apaixonado, pegue a letra de “Outra Vez” e perceba se ela toca seu coraçãozinho de pedra. Todo mundo que teve “o maior dos casos, de todos os abraços, o que nunca esqueceu” pode (e deve) derramar uma sincera lagrima ao Rei. Roberto Carlos é eterno. Seus fãs são dispensáveis.

13 – Beatles Nem vou perder meu tempo criticando os Beatles, pois sei que possivelmente você não vai querer ler o resto do texto com mágoa. Beatles são geniais, suas músicas nunca saem de moda e entra ano, sai ano, um novo legado de fãs é arrebatado pelas suas infinitas coletâneas. E esse é o maior dos problemas. Os fãs acham, sinceramente, que nenhuma banda no mundo será capaz de superar a fama dos meninos de Liverpool, e que eles realmente são mais famosos que Jesus Cristo. Isso sem contar que Yoko Ono é uma vaca que separou os quatro e ela merece a morte. Eu preciso confessar que dedico um espaço generoso do meu coração a Yoko. Sim, ela encheu o saco e separou o grupo e fez com que eles se tornassem eternos. Se dessem a chance de mais dois discos aos Beatles, eles cairiam no ostracismo, bem como Michael Jackson, que não soube a hora de parar (nem a carreira, muito menos as plásticas). Beatles, assim como Pelé, terminaram no auge, não dando a chance para cheirar o lugar-comum. Fãs de Beatles, normalmente, gostam de mostrar um vintagismo (oi, inventado palavras) desnecessário, fantasiando-se de qualquer coisa que remeta a Inglaterra e jurando, por tudo que é mais sagrado do mundo, que aquilo é lindo, puro estilo. E quando você abre a boca pra elogiar Rolling Stones ou Beach Boys (esse agrava bastante a situação), os beatlemaníacos curtem um bullying musical. Gostam de imprimir uma rivalidade que nunca existiu, como se fossem marcas concorrentes, dois sabões em pó que dividem a mesma prateleira. E juram que tudo isso é arte. Aham, Cláudia... Senta lá.


11- Los Hermanos Fãs de Los Hermanos insultam a inteligencia de qualquer pessoa. Os fãs, não a banda. A banda é maravilhosa. Uma das poucas bandas nacionais que se dão ao direito de experimentar sem parecer idiota. Em sua curta carreira de quatro discos, os barbudos cariocas conseguiram juntar uma multidão formada por artistas frustrados, apaixonados nãocorrespondidos, pseudopoetas e indies fajutos. Passei pela péssima experiência de ir a dois shows de Los Hermanos. Os shows foram ótimos, mas eu poderia passar incolume pela experiência de dividir meu chope com os fãs. O primeiro show se deu em um evento promovido por uma empresa de telefonia celular que promovia encontros de artistas. Nesse dia os marmanjos subiram ao palco com Ney Matogrosso e Adriana Calcanhoto. Estava tudo lindo, até Ney resolver fazer seu maravilhoso show sozinho. Sua apresentação, como sempre, foi incrivel, mas os respeitosos fãs de Los Hermanos resolveram ignorar a presença de palco do ex-Secos e Molhados e pedir a volta dos barbudos. Uma situação bastante desconfortável. E no ano passado, após anos de espera, Radiohead cantou no Rio de Janeiro, com abertura de Los Hermanos. Ingressos a R$ 200,00 e tive a grata surpresa de encontrar alguns Manosmaniacos perguntando quem era Radiohead, o que eles estavam fazendo ali, e uma linda menina (com o típico visual de fã-de-Los-Hermanos, com saia de qualquer tecido duro, uma blusinha cafona, o cabelo intencionalmente desarrumado e um tênis que custa bem mais que a sua roupa inteira, mas mesmo assim jura ser comunista) me indaga se “esses malucos aí estão copiando Los Hermanos”. Ali minha antipatia cresceu de maneira absurda.

12 – Madonna Nove em cada dez gays acham que Madonna é a maior Diva da história da música de todo o mundo. E quando são bichinhas sem qualquer tipo de refêrencia musical, esse índice aumenta para 11 em cada 10. Não posso ignorar a importância histórica musical de Madonna, mas ela não é tudo isso. A começar que sua carreira, lá nos idos da década de 80, ela chupava (ooops) descaradamente o estilo musical de Cyndi Lauper. Lógico, à posteriori, ela encontrou seu caminho e fez sua carreira com uma identidade própria, lançando hit após hit. Após vagabundagens como Like A Prayer, Like a Virgin, Material Girl e outras polêmicas baratas, Madge resolve tomar vergonha na cara e, enfim, fazer um CD fantástico, com os geniais dedinhos de Bjork: ela lança “Bedtime Stories”, sem sombra de dúvidas, seu melhor CD. E seus fãs rejeitam miseravelmente seu melhor trabalho. Quer dizer... Fãs de Madonna são extremamente previsíveis. Irritamente previsiveis. Qualquer vagabunda loira que apareça com um microfone na mão já é comparada a ela. De Lady GaGa a Eliana de Lima (undererêêê!). Queridos fãs, aprendam, ela não é a única referencia desse mundo. É possivel sim fazer algo que fuja daquela vaca loira. Óbvio que temos exemplos claros de neo-ícones que usam descaradamente Madonna como âncora da carreira. Christina Aguilera é um ótimo exemplo disso. Mas de resto, é muito mais comum, hoje em dia, ver Madonna copiando algo de alguém, do que o inverso. Chegou a um momento que a camaleoa não tem mais pra onde fugir, e vive de pequenos escandalos que em uma semana e meia já se apagaram. Eu sou tão cretino que sou capaz de definir dois perfis de fanzocas de Madonna: bichas velhas que dividem seu amor entre Cher e Madonna e sempre alegam que a fase piranha da Madonna é insuperável e que ela é pura atitude; Bichas novinhas que não tem qualquer referencia e utilizam Madonna como RG Gay para serem inseridos em grupinhos de conversa, e logo pensam que “não tem quem não goste de Madonna” e isso é a melhor arma para se enturmar.

10 – Placebo Por que alguns fãs acreditam que para gostar de fulano ou cicrano é necessário se fantasiar como tal. Um exemplo bem claro é Placebo. A banda liderada pel@ mulhomem Brian Molko é uma das empreitadas de maior sucesso da última década, emplacando hits e criando uma geração de fãs enlouquecidos em calças apertadinhas, sobrancelhas bem feitas e uma pele fantasmagoricamente lotada de pó compacto. Os fãs de Placebo, diferente de todos até o momento, gostam de mostrar o quanto a vida pode ser sombria, mal interpretada e odiosa. E qualquer relacionamento, que tende ao fracasso desde o primeiro encontro, será embalado por “Without You, I’m Nothing”. Essa previsibilidade é que me mata. 09 – Maria Bethânia Bethânia é incrivel. Uma das poucas estrelas nacionais que tem uma carreira irretocável. Mas seus fãs são questionáveis. Fãs de Bethânia limitam-se a sua musa e ignoram qualquer outra coisa, aguardando lançamentos da Biscoito Fino como criança que vai viajar. Seus shows, sempre lotados, são um mar de homens e mulheres de meia idade (ou com cabeça de) e que acham que Bethânia canta especialmente para eles. Como se Bethânia pensasse na senhora quando entoa “Negue”. Francamente. O incrível e vasto repertório dos fãs de Maria Bethânia é capaz de irritar qualquer pessoa, causando uma antipatia automática e gerando uma vontade absurda de querer cantar junto com a letra errada, só para irritar seu algoz. A verdade é que qualquer música a exautão irrita. E os fãs de Bethania parecem não entender isso.


08 – NXZero Bem amigos, entramos em uma zona de tensão. Pela primeira vez, nessa lista, dedico um texto a uma banda que não gosto. Além do som não ser dos melhores, os maiores expoentes do emocore no Brasil tem uma legião de fãs insuportáveis. Meninos que parecem meninas e meninas que parecem meninos de todo o país estão perdendo sua juventude em shows repletos de lágrimas, riffs mediocres e uma gralha no vocal. Eu confesso não identificar muito bem a diferença entre NxZero, CPM 22, Hori, Cine e Restart. Pra mim é tudo a mesma coisa e todos vão cair no esquecimento muito em breve, com direito a todos os seus fãs, daqui a dez anos, morrendo de vergonha de assumir que um dia já usaram lápis de olho e choraram pelo fim da banda.

06 – Daniel As fãs de Daniel, sim, no feminino, veem no sertanejo o homem perfeito. Mas ninguém lembra o quanto ele é estranho e péssimo ator. Essas mulheres, normalmente quarentonas solteiras, ou jovens caipirinhas, são elegantes ao ponto de guardarem o anúncio dele para as cuecas Mash, uma das piores campanhas publicitárias de todos os tempos. Aquelas letras açucaradas, as caras e bocas, o amor no ar... Essas mulheres carentes não precisam de mais um cd de Daniel, ou de uma apresentação na Praça é Nossa. E sim de algo que eu não posso falar nesse horário em uma revista dedicada a públicos de todas as idades. Sei lá, vai que a Classificação Indicativa do Governo Federal resolve pegar a Pheha pra Cristo?

07 – Britney Spears Você já tentou argumentar com algum fã de Britney Spears que algo que ela fez é ridiculo? Mesmo nos tempos de raspar a cabeça, roubar isqueiro, escrever 666 na testa e alegar ser o anti-Cristo, ou bater com guarda-chuva em repórter, os fãs, fiéis escudeiros da Princesinha do Pop, não largaram o osso. Essa cria é capaz de jurar que tudo que ela faz, por mais mediocre que seja, é um mundo de genialidade. No começo foi a polêmica da virgindade, que ninguém poderia contestar, com a ameaça de passar o dia inteiro com um discurso do quão importante é o sexo só depois do casamento, com alguém que amamos. Pouco tempo depois tudo vai por água abaixo e que se danem as filosofias românticas sobre a vida. O negócio é prostituição. E falar que Britoca copiou alguém, ou cogitar que ela fez alguma cagada na carreira é sentença de morte. É muita paixão gratuita.


05 – Funk Carioca Seremos abranjentes em um nivel nunca antes visto na história desse país. Vamos generalizar de tal forma que poderemos ofender metade do Rio de Janeiro. Juro que não vou me alongar, nem dedicar meu texto aos péssimos hábitos dessa gente que resolve misturar bermuda florida com casaco de soft com alguma marca falsificada. A minha questão é: o que aconteceu, em que momento do tempo e espaço, que os funkeiros cariocas esqueceram os fones de ouvidos em casa? Sério. É muito irritante você, após um cansativo dia de trabalho, entrar no metrô, trem, ônibus ou barca e esbarrar com uma pessoa ouvindo funk em seu celular, dividindo com todos aquele momento que era pra ser só dele. Mas a pergunta que não quer calar é: pobre não tem dinheiro pra comprar um adstringente ou desodorante, mas sempre tem como comprar o celular mais barulhento do universo?

04 – Legião Urbana Será só imaginação, será que nada vai acontecer? Sim, acontece. E nem é no meu coração quando cruza a Ipiranga com a Avenida São João. Então o que acontece? Rodinhas. Não, não falo de aulas de bicicleta para inadequados a sociedade como eu, mas de rodinhas de violão. Sou da teoria que algo mágico acontece no mundo quando três, ou mais, fãs de Legião Urbana se encontram. Milagrosamente, alguma entidade de baixa casta envia para esse encontro um violão de baixa qualidade e uma rodinha de violão nasce nos momentos mais inóspitos de nossas vidas. Legião Urbana sempre vai aparecer em rodinhas, luais e viagens de adolescentes. Todos com visões utópicas sobre o mundo e problemas graves em cordas vocais. A qualquer momento do seu dia você pode encontrar um adolescente (ou um adulto que ainda acredita ter 17 anos, ou até mesmo ainda tem essa idade mental) vai estar com um violão em punhos para começar três intermináveis acordes e cantarolar “não tinha medo tal João de Santo Cristo...”. Só Deus sabe o tanto que sofri com essa música e meu nome. Mas vou contar um segredinho para vocês: sempre que alguém tiver um discurso altamente homofóbico, gritando que “odeia viado”, lembre esse fulano: você curte Legião Urbana, né? A resposta, em 97,35% das vezes é positiva. Daí você faz o favor social de lembrar que Renato Russo, ícone maior dessa gente bonita, era homossexual assumido. BANG NA SUA CARA!


03 – Raul Seixas Pior que encontrar uma rodinha de violão com Legião Urbana, é encontrar um fulano no meio da rodinha de Legião esbravejando: TOCA RAUL! Sério. Quem inventou esse bordão não deve ter um pingo de amor a própria mãe. Raul Seixas é outro exemplo de artista de chegou a exaustão. Isso sem contar que todo mundo se acha no direito de ser íntimo do baiano, dando os criativos apelidos de “Raulzito” e “Maluco Beleza”. Por favor, me poupem da obviedade. Não que Raul Seixas seja ruim. Eu confesso não curtir, mas respeito o seu valor histórico para nossa música. Não nego. Mas assim como qualquer coisa em exagero, torna-se sacal. E os fãs de Raul são tão apaixonados, que impregnam nosso cérebro, tornando-o um pézão grandão no saquinho. Fãs de Raul, parem com isso e procurem vida sentimental.

02 – Engenheiros do Hawaii Posso definir nosso segundo lugar com uma das mais belas frases do cancioneiro nacional: “Somos suspeitos de um crime perfeito, mas crimes perfeitos não deixam suspeitos”. Agora me diz a senhora dona-de-casa. Dá pra respeitar o fã de alguém que escreve algo deste quilate? Não, obrigado.


01 – Gospel Oba! Enfim cheguei na hora da polêmica. Pensei em ser muito bacana e pegar alguém pra Cristo, mas falando em música gospel, essa expressão seria clichê demais. Decidi generalizar como o funk, e colocar todo mundo no mesmo balaio. Fãs de música gospel merecem esse carinho. Afinal, é muito fácil ser fã de música gospel, afinal, basta ser evangélico, abençoado e ungido para estar girando nos louvores. Assim como toda religião, a Igreja Protestante deve utilizar a música como instrumento de adoração, sem o menor problema. Mas por favor, respeitando um certo limite de decibéis. Não obstante no som ensurdecedor que as igrejas emanam, ainda temos que enfrentar bandas de péssima qualidade, produções pífias e templos de beira de estrada querendo converter você, que vive muito bem tomando sua cervejinha, falando palavrão e fazendo sexo deliberadamente, a uma vida de retidão e glória. Já disse Elke Maravilha, que quando o diabo não quer mais, entrega pra Deus, e isso é uma enorme verdade. Grande parte dos músicos da indústria Gospel (indústria essa que movimenta milhões em plena crise de pirataria) são oriundos da “musica do mundo”, como gostam de chamar os evangélicos. Ora! Se eu, pessoa capitalista que sou, trabalhasse na música, e visse que essa vida de tocar na noite estava me levando ao ostracismo, não pensaria duas vezes antes de entrar de cabeça nos “aleluias” e “glorias a deus”. A religião proíbe o download e a compra de mídia pirata, alegando ser algo danoso as leis de Deus. Eu, sinceramente, nunca vi na bíblia alguma passagem como “não baixarás”. Mas, como estamos tratando de verdadeiros magos das palavras, é capaz que Jesus Cristo tenha falado algo sobre ovelhas e possamos interpretar como internet.


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ARCELLO CAETANO twitter: @thellofilipe










á alguém, na radiante Miami, que, envolto em brumas noturnas, dedica-se a tirar de circulação quem não se faz merecedor do brilho do sol da referida cidade.

H

Morgan. Dexter Morgan. Poderia ser aterrorizante caso não despertasse tanto fascínio. Perito forense especialista em análise sanguínea, Dexter é, em tese, o único sobrevivente do massacre em que sua mãe, uma hippie fã de The Doors, foi feita aos pedaços sob a mira de uma serra-elétrica, no container CBAN-3489 no porto de Miami, em 1973. Então com três anos de idade, Dexter é resgatado da cena do crime, onde permaneceu por dois dias chorando, coberto de sangue e faminto, por Harry Morgan, policial exemplar, morto vítima de câncer, dez anos antes da narrativa ter início, que o adota e, assim, o faz irmão de Debra Morgan.

polícia de Miami juntamente com Debra, sua irmã adotiva e desprovida de qualquer sorte de brilhantismo. Viciado em comida cubana, sanduíches de carne de porco e Donut’s, nosso serial killer mantém seu laboratório num departamento que também comporta Maria LaGuerta, a tenente ávida por poder e reconhecimento público, Angelo Batista e Vince Masuka, respectivamente, o cubano e o geek, ambos tragicômicos, e, por fim, James Doakes, o sargento que usa “mothafocka” como vírgula e, desde o início, tem certeza de Dexter esconder segredos pérfidos entre seus tubos de ensaio, microscópios e laudos periciais. Para mascarar seu vazio interior e passar despercebido, nosso serial killer namora Rita Bennet, dona de casa separada e mãe de duas crianças, que, por suas muitas mazelas, torna-se seu par ideal. Suas “vítimas” são sempre criminosos que desfrutam de suas liberdades impunemente ou, ex-presidiários que não se regeneraram no período de reclusão.

Dexter, com o passar o tempo, começa a mostrar-se uma criança diferente das demais, incapaz de exprimir emoções e, mais ainda, matando animais de pequeno porte e os escondendo no jardim de sua casa. Harry, com seus instintos de pai e policial em alerta, pressente que seu rebento pode ser um monstro em potencial e, assim, ensina um código de sobrevivência ao filho: usar sua sede por sangue e terror para eliminar a escória das ruas de Miami. Dexter aprende com o pai o manuseio de armas diversas, a sempre ter certeza sobre quem eliminar e, mais ainda, a como apagar os rastros de seus crimes.

Após certificar-se de que tais sujeitos merecem morrer, Dexter investe no intoxicante ritual de preparar, com lençóis emborrachados, mesa cirúrgica e lâminas afiadas, o destino final dos facínoras em Miami. Os corpos são dispensados no mar e, como todo assassino em série coleciona souvenirs para não perder seu legado de vista, Dexter mantém, como troféus, uma infinidade de amostras de sangue escondidas em sua casa. Nosso serial killer sabe, no entanto, que o anonimato de sua rotina não durará para sempre, mesmo não que reste vivo qualquer ser que conheça o seu segredo.

Ao contrário dos muitos serial kilers em atividade nos Estados Unidos, Dexter Morgan é treinado para nunca matar sem razão ou arrependimento e, não obstante, por considerar-se incapaz de sentir, aprender a falsear emoções e, assim, ser facilmente aceito socialmente, sem nunca despertar suspeitas.Tendo Harry como ídolo, Dexter começa a trabalhar na

Diante da impossibilidade de dividir com o mundo seus pontos de vista e até suas angústias, Dexter percebe que seu isolamento se torna incômodo e anseia por entrar em contato direto com o mundo. Tal desejo torna-se quase uma ordem instantânea quando seu cemitério submarino é descoberto e Dexter vê-se dividido entre sentir-se honrado por agora

a humanidade conhecer sua “obra” e, ao mesmo tempo, devastado ao temer pelos que o amam. Como sabemos, ter um serial killer como amigo, colega de trabalho, irmão, namorado ou padrasto não soa convidativo. Com o Sargento Doakes farejando seus rastros, uma séria crise em seu relacionamento com Rita e, de quebra, a polícia de Miami sempre a um passo de descobrir que ele é o responsável pelo mortuário aquático, Dexter se vê momentaneamente impedido de varrer as ruas de sua respectiva escória. Personagens entram e saem da trama, mas, no decorrer dos episódios, o serial killer continua trajando camiseta verde musgo e de manga longa, calça cargo e cortunos marrons em suas noites de matança. Outra constante são flashbacks que remetem ao passado de Dexter, sempre mencionando Harry e, em dado momento, questionando se o pai foi um herói ao domar os instintos do filho ou se o serial killer nada mais foi do que uma marionete nas mãos do policial morto. No mote de mistérios cáusticos, ainda há a morte de sua mãe biológica e os motivos que a vitimaram no massacre de 1973. Dexter entra em choque não só com o código que seguiu sua vida toda, mas, principalmente, se seu coração sempre foi tão vazio e duro quanto ele acreditou. Entre crises existenciais e revoluções pessoais, o serial killer, sempre solitário e sem se permitir dividir suas agruras, fica amigo de Miguel Prado, acreditando finalmente que o mundo e a humanidade lhe sorriem receptivamente. Aos trancos e barrancos, Dexter descobre que relacionar-se, a luz do dia, com pessoas que o amam e admiram, lhe arranca de uma solidão cômoda e, de quebra, o catapulta para emoções que não carecem de premeditação ou falseamento. Nessa mesma cadência evolutiva, o serial killer se casa, tem um filho e delicia-se ao contar ao bebê sua faceta sortuna, sem


Por Pérola que o pequeno se assuste diante dos segredos sinceros, e sanguinários, do pai. Por fim, como a fome de Dexter sempre anseia por novidades constantes, ele se depara com o Arthur Mitchell, pai de família devotado e pastor de meia-idade amado por sua comunidade. Nosso serial killer favorito descobre em Mr. Mitchell, no entanto, o paradoxo do sonho de consumo e seu mais nefasto pesadelo, uma vez que, o cabelo grisalho de Arthur, seu falar manso e seu sorriso convidativo, nada mais compõe do que a máscara que esconde seus trinta anos de assassinatos em série e o codinome de Trinity. Dexter encara Arthur com certa reverência, levando em conta seus muitos anos de prática e, mais ainda, o louvável talento que o fez ser aceito e respeitado socialmente. Contudo, Trinity mata por compulsão, vaidade e crueldade, ao contrário de Dexter e, assim, torna-se o topo da cadeia alimentar que o perito forense visa alcançar, atingir e eliminar. Pronto para encarar a saga de um herói errante e genialmente fascinante? Então prepare a pipoca, já consciente de que, com o passar dos capítulos, você vai mesmo é se viciar em Donut’s e o ruído da serrinha-elétrica de Dexter fatiando seus escolhidos. Outra dica? Leia “Darkly Dreaming Dexter”, de Jeff Lindsay, e descubra as delícias da obra que originou a série. E trate de não andar fora da linha, caso contrário, cedo ou tarde, Dexter Morgan e suas lâminas aparecerão para uma visita derradeira.


C

hegou um dos momentos que mais me divirto aqui na Pheha. É hora de baixar o nível e mandar ver no rala e rola. Ou rôla. É hora de colocar as roupas no canto e falar sobre sexo. Tabu para uns, muito normal para outros, mas a verdade é que todo mundo, a todo tempo, em qualquer lugar, pensa nisso. Somos pervertidos, isso é um fato. Dia desses, em um papo pós-praia com um amigo (insira aqui a maneira como você interpreta a palavra “amigo” nesse caso), conversamos sobre prostíbulos. Nunca fui a um, mas confesso que sempre tive grande curiosidade em conhecer esses renomados estabelecimentos. Chegou um momento em que meu amigo indagou: seu pai nunca te levou em um puteiro? – E qual foi a surpresa do meu amigo ao descobrir

que não, eu não passei por esse rito de iniciação. Ali um milhão de questões vieram a minha mente, mas a mais latente era: por que raios eu deveria conhecer um lugar desses? Simples, eu deveria conhecer por que homem que é homem, uma vez na vida, paga por sexo para se fartar. Por que um cara só é um homem de verdade depois que inicia sua vida sexual. Por que se o rapaz não comer uma menininha logo, o povo vai desconfiar e o pai ficar mal falado na vizinhança. E por que o homem, ser supremo, tudo pode contra a mulher, ser inferior e que deve submissão a todas as benécies que nós as entregamos, como o fogão de seis bocas, o ferro de passar com jato d’água e o detergente que faz mais espuma.

O Brasil é um país machista e isso é ponto pacífico em nosso debate. Nossa cultura impõe que meninos com 16 anos, que ainda não fizeram sexo, são pessoas de brilho inferior, não importando o quão brilhante sejam. Quem era mais respeitado na sua sala de aula no segundo grau? O fulaninho que tirava as maiores notas e que agregava o povo na hora do trabalho final do bimestre ou aquele outro que não era tão inteligente assim, mas já impunha em seu curriculo umas sete exnamoradas e perdeu a virgindade com a vizinha mais velha aos 13 anos? Óbvio que aquele que mantinha a calça em chamas era o mais popular, o mais desejado e o mais incrível. Lembro que na minha escola isso era muito claro. O cara inteligente, assumidamente virgem, não tinha um pingo de respeito e muito menos uma namorada, afinal, ninguém


Por João Márcio Dias

queria associar sua imagem a um cara que fica em casa tocando punheta em sites pornôs gratuitos. Já o mais popular era um branquelo alto, até que bem bonitinho, que já tinha tirado a virgindade de umas três meninas da sala de aula. Ele sim era um exemplo de bom garoto. Vale comentar que o tal branquelo era repetente pela segunda vez. Guiamos nossa vida em sexo. E isso não é motivo algum de orgulho. Temos esse hábito horroroso de colocar o sexo a frente do carater desde muito novos, e até de maneira desapercebida. Quem nunca viu um cara ser chamado de “viadinho” por que fez algo não muito nobre? Ou seja, quando alguém pisa na bola, logo entra no nicho da pior espécie possível de comportamento sexual. Nem sabemos por que o chamamos assim, só sabemos que ele merece essa

alcunha. E existe a situação inversa: encontramos pessoas incríveis, com diversas habilidades e que são reduzidas a sua sexualidade. Não é um tanto quanto insano? E por que gostamos tanto de chamar nossos desafetos com esses gentis apelidos para homossexualidade? Simples: nossa sociedade prega o machismo sob qualquer circunstancia. Um homem deve ser homem de verdade, falar grosso, bater em mulher e cuspir no chão. Quando um macho alfa demonstra qualquer variação disso, passa a ser alguém inferior. E só há uma coisa inferior ao homem: a mulher. Ser comparado a uma mulher é algo deplorável, desprezível e incabível. Então, quando um homem tem um comportamento feminino, ou seja, aponta qualquer indício de delicadeza, ou pior ainda, quando ele tem o

comportamento sexual que implica em penetração de outro homem, como é o papel meramente sexual da mulher, esse ser é tratado como um traídor do movimento macho alfa, precisando ser afastado do resto, com violência física, mental, moral e o que mais vier por aí. Homem de verdade é aquele que não respeita o desejo alheio. O prazer é dele. Nossa cabeça funciona assim. E mesmo em um mundo que respira o século XXI, ainda pensamos nesse cânone. Temos o péssimo hábito de não precisar pensar. Sempre foi assim, sempre será. Bem mais prático. Acordem! Não vale a pena esse reducionismo sexual. Não vale a pena pensar naquilo o tempo todo. Nossa vida não é só sexo. Existe espaço para muito mais que isso. Utilize bem mais que a cabeça do seu falo. Vai lá. Você consegue.


por Be


ernardo Costa (@BernardoCosta)


A

música pop descobriu o eletrônico e parece estar estagnada por aí. Todas as cantoras, não importa raça ou religião, todas fazem o mesmo som. Algumas inserem um pouco de algum gênero qualquer, mas no fundillho do buraco é tudo a mesma coisa (não que seja ruim, pelo contrário, amamos!).

menina e assinou Monáe em sua distribuidora, a Bad Boy, o que deixou muita gente com pé atrás, mas Puff Daddy-P.Diddy-Diddy-Sean Combs deixou a imaginação de Janelle correr solta e ela viajou muito e decidiu lançar os dois EP’s seguintes juntos, com o nome de The Archandroid.

Você, menina gatinha, que gostaria de viver da música, qual seria a fórmula recomendada? Socar nos sintetizadores e ir embora, né? Pois bem. Janelle Monáe estava encaminhada para trilhar um rumo como muitas outras cantoras de contemporâneas. O "caminho fácil". Tirar a roupa, gemer e cantar com muita facilidade e auto-tune, e ser mais uma freak a la Lady Gaga ou uma femme fatale como Beyoncé. Ao invés disso, preferiu assumir sua alma geek e usar toda sua referência cultural para criar uma imagem que fosse ao mesmo tempo interessante e nada sexual (difícil atualmente). "Pelada eu fico em casa!", reafirma numa entrevista.

E como é esse álbum gente?

E como as referências eram muitas, Janelle resolveu de cara criar um conceito. Uma história inspirada no revolucionário filme cult da década de 30, Metropolis de Fritz Lang (NERD!). Assim ela cria uma personagem, seu alter-ego Cindi Mayweather, um andróide que vive num mundo distópico futurístico combatendo líderes corruptos. Janelle lançaria ao todo 4 EP’s pra contar a saga de Mayweather. O primeiro EP, chamado Metropolis Suite I of IV: The Chase lançado em 2007, foi muito bem recebido pela crítica, juntamente com o videoclipe de Many Moons (a menina faz um moonwalk de deixaria Michael Jackson preto de inveja). Monáe também chamou atenção pelo seu cabelo todo armado, com um enorme topete, e também por andar por aí (esteja quente ou frio) vestida de terninho, calça comprida e uma gravatinha borboleta. Outro fator é que Monáe se transforma no palco. Ela se joga na platéia, faz dancinha estranha, bate palma, ela recebe Pazuzu no corpo, mas ela entretém. Mas porque raios estamos falando dessa nega maluca que não sente calor? Porque simplesmente Monáe lançou um dos melhores álbuns da década. E isso não seria tão impressionante se não fosse apenas o primeiro álbum de sua carreira. Logo após o lançamento do primeiro EP, Puff Daddy-P.Diddy-Diddy-Sean Combs (acredite, estamos falando de uma única pessoa) ficou abismado com o talento da

Ele já começa ousado, com uma salva de palmas. E uma orquestra num crescente que mantém um clima de mistério. Você está prestes a ouvir um filme sonoro. Sem intervalos começa Dance or Die num baixo marcante e gritos quase tribais ‘Oh these dreams are forever’. Monáe dispara em versos rápidos. Um convite pra dançar. DOD conta com a participação do músicopoeta Saul Williams, responsável por uma parceria de sucesso com Nine Inch Nails. O ritmo continua frenético com Faster. Não tem como ficar parado. Depois, chega a agradável Locked Inside, que poderia ter sido tranqüilamente gravada por Michael Jackson nos tempos de Off The Wall. O ritmo é quebrado com a curta e melancólica Sir Greendown. Um pequeno descanso, pois a seguir vem os dois primeiros singles: a tensa Coldwar e a viciante e funkadelic Tightrope, que tem um dos vídeos mais bacanas desse primeiro semestre. O clipe se passa num manicómio com toda crew da cantora de visual monocromático dançando loucamente num passinho dificílimo de fazer (minha gordura não me deixa tentar). Depois de Tightrope, tem uma interlude curiosa, Neon Gumbo é Many Moons ao contrário, e o mais legal, é que mesmo reversa, ela é interessante de se ouvir. Oh Maker chega com calminha, com belas harmonias ao fundo. Uma vibe space-folk (gostei disso). Come Alive é rock n’ roll. A afinada Monáe surpreende com gritos animalescos de se ficar bege. É ROCK N ROLL MANO! Uma das melhores faixas do álbum. Continuamos no rock, pois Mushrooms and Roses (adoro esse título) é psicodelismo puro. Com muito LSD na mente, Janelle recebe Hendrix e canta sobre o amor entre andróides. A instrumental é um primor. Outro destaque. M&R é a última faixa do segundo LP. O terceiro LP (ou segunda parte do álbum) começa também com uma luxuosa abertura. Começa então Neon Valley Street (outro nome que adoro) com um pedido "Deixe essa canção chegar no seu coração".

Outra simpática composição que lembra muito Ex-Factor, da sempre prenha Lauryn Hill. Make The Bus é a única canção dispensável do álbum. Mais precisamente porque é mais o estilo do Of Montreal do que da cantora. Kevin Barnes troca versos com Monáe e é quase impossível distinguir quem canta. A alto astral Wondaland, que vem logo após, é uma jóia. Indescritível. Arte pop. O clima novamente muda com a sombria 57821, que tipo, GRITA MUITO Simon and Garfunkel. Os vocais quase fantasmagóricos de Monáe e da dupla Deep Cotton (dois caras da banda de Monáe que serão lançados futuramente) grudam na sua cabeça. Mas o refrão é de uma doçura ímpar. A penúltima música do CD Say You’ll Go pode a princípio parecer de difícil audição. É apenas mais uma balada consistente, mas que possui uma bela surpresa em seu fim: um trecho da obra de Claude Debussy, Clair de Lune. É ou não é de um bom gosto essa Janelle? Pra terminar, um jazz nos moldes das trilhas de James Bond. BaBopByeYa é grandiosa. Em pouso mais de 8 minutos de música, Monáe demonstra toda sua elegância e voz bater de frente com as principais divas do gênero. E com ela, de forma majestosa encerra esse belíssimo álbum. A trilha sci-fi dos sonhos. Arranjos luxuosos, influências do rock ao jazz, do pop a música eletrônica e até bossa nova, Janelle, com uma invejável versatilidade e criatividade, rapeia e canta como poucas cantoras da atualidade. The ArchAndroid é uma obra-prima da música pop. O álbum vem como um testamento. É possível sim fazer música pop de qualidade. Com apenas um álbum lançado, Janelle Monáe consegue o que muito artista demora anos para conseguir. ArchAndroid é como um ar fresco no meio de tantos sintetizadores, muito barulho e conteúdo duvidoso. A música negra passa por uma revolução, e Janelle passa a ser uma figura importante nesse time da nova geração que tem como objetivo principal diminuir esse vangloriado da bunda e do sexo. Recomendo escutar/baixar ou até mesmo comprar o The ArchAndroid, se possível. É uma viagem muito satisfatória ao admirável mundo novo de, talvez, uma das artistas mais cool do momento e que pretende deixar marcado seu nome na música e convenhamos, já está conseguindo.



TIRINHAS

Wes Samp - Os Levados (www.oslevadosdabreca.com)

Jussara Nunes (quadrinhosgonzo.wordpress.com)

Rafael Marçal - Proféticos (www.profeticos.net)

Lorena Kaz - Lokaz (www.lokaz-tirinhas.blogspot.com)


por Julio de Castro

Revista Subversos O cotidiano em quadrinhos

S

upimpas! Quando finalmente li as duas edições mais recentes da Revista Subversos (5ª e 6ª), da qual já havia ouvido falar nas esquinas da internet, mais que uma leitura divertida, vi uma publicação com uma proposta poderosa: trazer quadrinhos preferencialmente, mas não obrigatoriamente, brasileiros, e cuja temática era o cotidiano urbano. Essa proposta, já de saída, abre espaço para uma série de propostas narrativas e gráficas que não são, infelizmente, campeões de audiência. Independente da oscilação na qualidade de alguns dos trabalhos, o conjunto é imperdível. Entre as HQs que achei sensacionais na sexta edição, estão “Pra Sempre Vou Te

Amar” de Elaine Bozza, “El Tiempo Perdido”, de Natalia Medrano & Alejandro Farias e “Amely – Uma Mulher de Verdade”, tira da simpaticíssima Pryscila Vieira, entre outras. Suas primeiras seis edições foram patrocinadas pela VAI (programa para valorização de iniciativas culturais da prefeitura de São Paulo), e as três primeiras estão disponíveis para download no blog oficial da revista http:// revistasubversos.blogspot.com/ Já as edições #04, #05 e #06 podem ser adquiridas através do site http:// www.ligahq.com.br Autor, quer ver seu quadrinho resenhado na Pheha? Envie um email para revista.pheha@gmail.com e saiba como.



Um belo dia você acorda. Levanta, dá uma boa olhada no espelho e magicamente gosta muito do reflexo: finalmente conseguiu aquele visual junkie, amassado e levemente fantasmagórico dos filmes Cult. Mas ao se encarar um pouquinho mais, percebe que não tem a menor idéia do que está fazendo nesse mundo. Você não vai a lugar nenhum e não vê mais aquele sentido todo no que faz. Mesmo aquelas atividades nas quais investiu tempo e esforço você jogaria pela janela se pudesse dormir por uma semana. Ah, sim, isso seria legal. Anestesia geral da mente. De repente não existe mais vontade. Não dá pra cumprir prazos, se divertir, é difícil até cumprimentar a família. A comida não tem gosto e não é só a gripe. O corpo está mole e não é só a cólica. Tem outra coisa. Canais de TV dançam e diversos pedaços de filmes e seriados vão te fazendo empurrar com a barriga aquele assunto que incomoda. E não é o namorado. Not this time. O problema é você mesma. Já não sabe que tipo de pessoa é. Tem zilhões de coisas pra fazer

e continua sem fazer nada, sem querer nem ao menos pensar nisso. E quando alguém diz que vai melhorar bate aquele pensamento terrível: E se não melhorar? E se os dias passarem, passarem e ainda assim as pilhas de responsabilidades só crescerem e você continuar zapeando a sua TV, vestindo pijama e se afogando numa maré de lenços usados? De repente você tem medo de ter mudado para pior. Não sabe o que quer e tem medo de ter fabricado tudo o que é, algo que já foi uma espécie de orgulho. Não sabe se gosta do que faz. E amanhã? Amanhã terá que sair de casa, não tem como. Pensa em evitar professores para não dar vexame, não suportaria cobranças nesse estado. De repente lembra de quando era criança e preferia sempre sentir raiva a tristeza. No fim não tem tanta diferença, chora do mesmo jeito. Só muda a reação das pessoas. Mas acho que o pior mesmo é quando você sai de casa. Anda por aí dentro de um metrô lotado e percebe que está cercado de pessoas frustradas. Finge ser um deles para sobreviver ao caminho e

então só fica pior. Professoras idosas se dopando para aguentar lecionar em escolas sucateadas, degradação da família em todo lugar. Multidões de pessoas que não chegaram onde queriam e simplesmente pararam de tentar. E é exatamente por ter contato com essas pessoas que você se apavora tanto com a idéia de desistir de um sonho. A cada momento você percebe que não é melhor do que nenhuma delas. Que cada uma dessas sombras já foi de alguma forma jovem e promissora e você pode muito bem acabar assim. Começa a duvidar da existência das pessoas realizadas. Você quer ser diferente e especial e está sozinho. Completamente sozinho como num filme de zumbi barato. Daqueles em que o personagem pula de pavor quando alguém bate na porta. Aí você lembra que vai ficar três semanas sem terapeuta. Great. Morgana Mastrianni está se sentindo num filme de zumbi e gostaria que aqui vendessem shotguns no supermercado.



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