FOTóGRAFOS Nuno Sá Luis Ferreira Humberto Ramos Ricardo lourenço
COLUNISTAS FOTOGRAFIAS ESCRITAS RODRIGO BELAVISTA PEQUENOS CLIENTES MARTA FERREIRA NOVA YORK PAULO CÉSAR
Ricardo Guerreiro
MUNDO INDIA LUIS LOBO HENRIQUES BIODIVERSIDADE SERRA DA ESTRELA PEDRO RIBEIRO TEATRO MEDIEVAL SANTA MARIA FEIRA SANDRA PINHO PHOTO TOURS RIO TINTO SONIA GUERREIRO
special guest
CONCURSOS ÁGUA REDONDO TRANSIÇÕES GALERIAS IMAGENS QUE INSPIRAM
Número 08 – Setembro 2012
fotógrafos & projectos Nuno Sá Luis Ferreira Ricardo Lourenço Ricardo Guerreiro Humberto Ramos convidado especial Steve McCurry Revista do grupo phocal photo visions www.facebook.com/groups/phocalphotovisions/ Foto de capa: Nuno Sá Tubarão Azul | Ilha do Faial - Açores DATA: 30/09/2010 Equipamento: Canon Eos 7D Lente Tokina AT-X DX 10-17mm Caixa estanque Aquatica 2 strobes Ikelite DS 160. Exif: f/9.0 - 1/250 - ISO - 160
Edição e Direção da Revista Pedro Sarmento Editorial Pedro Sarmento Colaboradores nesta Edição Marta Ferreira Paulo Cesar Rodrigo Belavista Sandra Pinho Luís Lobo Henriques Pedro Miguel Sónia Guerreiro Periodicidade mensal Distribuição On-line Contactos: Email phocal.photovisions@gmail.com revista.phocal.photovisions@gmail.com Website http://phocal-photovisons.weebly.com/index.html
sumário
03 04 12 14 26 28
editorial pedro sarmento galeria imagens que inspiram pequenos clientes marta ferreira pedro miguel serra da estrEla | biodiversidade paulo césar viagens | nova york teatro medieval sandra pinho fotografias escritas rodrigo belavista
30 32
Sónia Guerreiro photo tour’s | rio tinto
36
luís lobo henriques mundo | india
Concursos & Desafios
92 93 94 95
água redondo transições
PROJECTOS & FOTÓGRAFOS
16 Ricardo Lourenço 40 Humberto Ramos 52 Ricardo Guerreiro 64 Luís Ferreira 72 Nuno Sá 80 Steve McCurry
Domingueiros
pedro sarmento| “ninho de amor” | set 2010 | alcacér do sal | pentax k-m | pentax 50-200 | F6.7 1/125 ISO 200 2 | phocal photovisions
editorial
PEDRO SARMENTO
MAIA – PORTUGAL APNSARMENTO.SANTOS@GMAIL.COM | HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/PEDRONSARMENTO | WWW.PEDROSARMENTO.COM TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © PEDRO SARMENTO
Acabaram as férias chamadas grandes, a praia cada vez fica mais longe dos nosso pensamentos e começamos a focar as nossas atenções naquilo que obriga á maioria de nós a não descurar. Trabalho, escola, etc. um novo período de normalização de tarefas, de re-entrar no “ram ram” habitual de todos os finais de férias. Cientes de que não é fácil regressar a este estado de “obrigações” nós na Phocal trabalhámos durante as férias para que Setembro vos trouxesse uma grande Revista. Nada melhor que depois da praia e dos dias passados eventualmente em natureza, fazer e levar até vós um número recheado de grande fotos, e grandes fotógrafos que com o seu trabalho nos mostram emoções, momentos e tantas espécies que deliciam o nosso olhar e a nossa curiosidade, tantos lugares por esse nosso Portugal fora que muitos de nós nunca visitámos. E esse, é também um dos objectivos desta Revista, levar até ao conhecimento de todos, aquilo que de melhor há em Portugal e que merece ser visitado e fotografado. Já o fizemos várias vezes, quer com trabalhos temáticos sobre lugares específicos, quer através das imagens que os membros e os
fotógrafos convidados nos presenteiam todos os meses. Este mês decidimos “estender” o “ISO” - Convidámos 5 fantásticos fotógrafos de vida Selvagem e Natureza com trabalhos de grande qualidade, prémios, publicações, etc, e mais do que isso pessoas prontas a dar o seu contributo a esta Revista que já é uma referência, pois é reconhecidamente uma grande Revista de Fotografia, com muita qualidade de temas, fotografias e com uma impressão de alto nível. Mas em Setembro fomos ainda mais longe e trazemos a Portugal, Steve McCurry..... Sim ele mesmo !!! Steve McCurry tinha sido contatado por mim logo ao 2º número da revista. Na altura viajava e não estava em condições de me responder da forma que gostaria, pediu-me que voltasse ao seu contato no Outono, e a dias desse mesmo Outono começar assim fiz. O resultado está aí, um homem que corre o mundo em busca de histórias e que nos mostra através das suas imagens, o que se passa no Mundo, um homem simples e de grande coração, um exemplo a seguir por muito Fotógrafo Portuga que se acha importante. Afinal para quem tem paixão por fotografia, o mais importante é mesmo fotografia. A sua disponibilidade foi de tal forma que nos presenteou com DUAS FOTOS INÉDITAS. Steve adora partilhar o seu trabalho e chamar a atenção para os reais problemas da sociedade. E assim se faz história e assim continuamos a crescer, e agora que a Phocal de Setembro já está nas vossas mãos, já estou a pensar na de Outubro, que tal pensarem também e darem uma ajuda!!!
PEDRO CARMONA SANTOS| “the curious squirrel” | CANON 300D + CANON 75-300 f4 -5.6 6.3 1/250 200mm ISO 100 phocal photovisions | 3
Cร SAR TORRES |Lagarto-de-รกgua (Lacerta schreiberi)|NIKON D90| SIGMA 180mm MACRO | F/7.1 - 1/400sec - ISO 400 Fรกtima Mendes | Descanso na folha da aboboreira | Canon Powershot SX20 IS | F/5.7 1/320 ISO 200
4 | phocal photovisions
Hugo Marques | Deslizando | Canon 7D, F/8, 1/250seg, 214mm, ISO 400
imagens que inspiram
phocal photovisions | 5
ETÃ SOBAL COSTA | Nikon D60 | Nikon 18-55 | f/5.6 1/2 ISO 100 PEDRO RIBEIRO| CANON 550D | SIGMA 55-200 F4-5,6 | | F8 - 1/2160 ISO 200
6 | phocal photovisions
Ricardo Mendes |Dragonfly |Nikon D3000 | SIGMA 70-300mm | 1/500 - f/5.6 - ISO 400 MARIO MEDEIROS SANTOS | ABRANTES | CANON EOS 50D | CANON 100 MACRO | 1/50s, f/2.8, ISO 400
phocal photovisions | 7
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PEDRO OLIVEIRA | Pentax K-5 | Pentax FA*200mm/2.8 | F8 - 1/160 - ISO 800
PATRICIA ALVES | PEO |Nikon D90 | Nikon 55-200 | F9 - 1/320- ISO 320 PAULO MENDONÇA | LIZARD IN THE WALL | SONY SLT-A33 | 100MM/2.8 | F16 - 1/160 ISO 800
phocal photovisions | 9
Rogério Ferreira | Ave Azul | Nikon D90 | Tokina 70-200mm 2.8 | F 2.8 | 1/125 seg ISO 100 LUÍS MATA | “Are you looking at me?” | CANON 450D | CANON 18-200 mm | F5.6, 1/640 seg, ISO 200
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luciano magno | flamingo | nikon d60 | sigma 18/ 200mm | f6 - 1/800 s | iso 200
MARTA FERREIRA
pequenos clientes
valongo – PORTUGAL mf@mfotografia.com | https://www.facebook.com/mf.mfotografia | www.mfotografia.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © MARTA FERREIRA
Por trás de uma maquina, só eu sei o que vejo” | Marta Ferreira tem 33 anos, é aquariana nasceu em Valongo, e fotografa desde os 27 anos de idade. A fotografia é para ela mais que uma profissão, é uma paixão que transformou toda a sua vida e que deu asas a muitos projetos e sonhos. O principal mérito dos seus trabalhos é que todos exploram não somente a luz, mas também expressões, arrepios, performances, sonhos e a dança corporal, facilmente dirigidos pela sua criatividade e imaginação. Mais uma vez o dia de apresentar o texto aproxima-se e os meus dedos não sintonizam com os meus pensamentos! Eu quero escrever mas fico sem saber bem o quê e perguntei no facebook o que sugeriam… entre varias ideias (que vou aproveitar para os próximos meses), surgiu uma em que dizia, e passo a citar: Ana Teresa Dias - Sugestão, aproveita o nome da revista e faz um trocadilho, em que è que tu te focas neste momento? Ora bem… neste momento o meu Foco está nos clientes mais pequeninos, que aos poucos vão enchendo o meu estúdio e ganhando cada vez mais espaço no meu coração. Os pais trazem-nos e entre cenários idealizados pela minha Super Produtora Carla Lourenço, alguns acessórios feitos á medida pela nossa colega e amiga Alba Luna, com quem tenho tido o prazer de trabalhar ultimamente, saem coisas simples mas com um encanto que deixam os papás babados e a fotógrafa mais babada ainda. Trabalhar com os mais pequeninos é algo que me deixa deliciada, e perco-me entre sorrisos e amuos, passo todo o tempo a falar com eles e a pedir-lhes paciência pois só preciso de mais uma ou duas fotos… (claro esta que nunca é só mais uma ou duas) e alguns deles, ralham-me e tenho de abrandar e aguardar pelo melhor momento.
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Todos os meses lá vem eles, para registar a evolução e poder fazer o álbum do ano… todos os meses o cenário muda, as cores, o tema, a posição, o riso, o choro, as rotinas… e vê-los a crescer e a dar pequenos passos, faz de mim uma quase tia assumida, que se derrete sempre que aponta a máquina e um enorme sorriso se rasga na minha direção. Deixo-vos com dois grandes momentos, que demorei imenso a escolher mas que penso fazerem a diferença neste momento. O Joãozinho com 1 mês, que me esticou o dedo, e eu não resisti em captar, e em dizer a mama dele, que não deve ensinar aqueles pequenos gestos aos bebes… e logo de seguida ele larga um sorriso maroto, como se estivesse a perceber a nossa conversa e a divertir-se com isso. E a Maria, sempre muito simpática, agora com 7 meses, que se ri bastante e já quer falar comigo, quando me meto com ela, é já uma modelo quase profissional, e os flashes não a incomodam minimamente, até vai mudando de posição para me facilitar a vida e deixar a mama sobre aviso durante toda a sessão. Esta foi a 8º sessão que fez, pois a primeira estava ainda na barriga, e é sempre um prazer ver o sorriso sincero, quando lhe aponto a máquina. (o gorro que a Maria esta a usar na foto é da autoria da Alba Luna, a qual agradeço, pois fez toda a diferença nesta foto )
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PEDRO MIGUEL Seia - PORTUGAL PEDROEVT1@GMAIL.COM | HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/PEDRO.RIBEIRO.7547031| HTTP://500PX.COM/PEDRORIBEIROPHOTOGRAPHY TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © PEDRO MIGUEL RIBEIRO
Para Pedro Ribeiro, a paixão pelo mundo da fotografia nasce desde criança, ainda na escola começa a frequentar o clube da fotografia e natureza, desde ai a paixão nunca mais parou. Apesar de inicialmente não existir uma preferência definida no estilo fotográfico, neste momento a natureza acabou por falar mais alto. Os seus trabalhos estão centrados sobretudo no mundo minúsculo, na macrofotografia e também na fotografia de paisagem. Neste momento tem por objectivo criar uma base fotográfica de toda a Fauna e Flora do Parque Natural da Serra da Estrela, sobretudo nas zonas do Sabugueiro, Vale do Rossim e Sandomil (margens do Rio Alva) para posteriormente lançar um livro. É entre cascatas, paisagens graníticas, cursos de água que passa o seu tempo livre, pois para ele a essência da vida está mesmo ali. Tem como missão passar a mensagem da importância da biodiversidade e da necessidade da sua preservação. As borboletas e insectos são a sua preferência no mundo minúsculo, no entanto gosta muito de fotografar cursos de água e esporádicamente paisagens costeiras. Já participou em vários cursos e workshops de fotografia, nomeadamente com o fotógrafo Pedro Martins e em alguns concursos de fotografia nacionais e internacionais. Serra da Estrela - Biodiversidade De origem glaciar, a Serra da Estrela, com os seus 1993 metros de altitude, detém o estatuto de maior montanha de Portugal continental, possui também a maior riqueza em património ecológico do interior de Portugal. É formada principalmente por granitos na sua parte central e por alguns xistos à sua volta, a sua cobertura sustenta matos, prados, lagoas, cursos de água, promovendo uma enorme riqueza natural de habitats que garantem uma diversidade de seres vivos ao nível da fauna e da flora. Para além de todos estes aspectos alberga uma orografia de proporções colossais (Cântaro Magro) bem como riqueza humana, cultural, histórica e gastronómica. O grande crescimento de fotógrafos de natureza nos últimos anos em Portugal, muito tem contribuído para a divulgação desta fauna e flora através de exposições fotográficas, reportagens e artigos, alertando a população para a sua preservação e conservação. O Centro de Interpretação da Serra da Estrela criado na cidade de Seia conta com uma fantástica equipa que muito contribui para a educação ambiental dos jovens e adultos que o visitam, promovendo assim o respeito pelos seres vivos existentes no Parque Natural da Serra da Estrela e em Portugal. A flora é constituída principalmente por Quercus super (sobreiro), Quercus rotundifólia (azinheira), Quercus robur (carvalho alvarinho), Fraxinus angustifolia (freixo) e Alnus glutinosa (amieiro), Quercus pyrenaica (carvalho negral),bosques de Bétula celtibérica (vidoeiro), Taxus baccata (teixo) e Llex aquifolium (azevinho), zimbrais-rasteiros, urgueiras e caldoneiras. Quanto à sua fauna alberga cerca de 40 espécies de mamíferos, 100 espécies de aves, 30 espécies de répteis e anfíbios, 8 tipos de peixes e numerosas espécies de invertebrados. As paisagens graníticas são o habitat perfeito para a Lacerta monticola (lagartixa-de-montanha) uma vez que só se encontra neste lugar no continente português. No outono a Serra enche-se de cores e contrastes, criando uma das mais ricas paisagens de Portugal, já o inverno é marcado pela neve e pela sua magia que atrai todos os anos um grande número de turistas. A primavera ostenta flores de urse, que criam um cenário perfeito em tons de rosa, O verão é tempo de passear e marcar encontro com a natureza. 14 | phocal photovisions
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STEVE McCURRY Nova Iorque - USA INFO@STEVEMCCURRY.COM | HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/STEVEMCCURRYSTUDIOS | WWW. HTTP://STEVEMCCURRY.COM/
ALL RIGHTS RESERVD - © STEVE McCURRY
Steve Mccurry, é universalmente considerado como um dos maiores criadores de imagem, e sobretudo reconhecido pelas suas fotografias tão evocativas da presença de cor. Olhando para aquilo que é a melhor tradição documental, Mccurry capta a essência profunda da luta e alegria humanas. Nascido em Filadélfia, Steve Mccurry graduou-se com distinção no Colégio de Artes e Arquitetura da Universidade do Estado da Pensilvânia. Depois de ter trabalhado durante 2 anos num jornal, partir para a Índia como freelancer. Foi precisamente na Índia que Steve Mccurry aprendeu o significado de observar e esperar na Vida. “Se souberem esperar” constatou “as pessoas esquecerão as câmaras fotográficas nas vossas mãos e a sua alma virá à tona”. Lançou-se na sua carreira quando, disfarçado com traje nativo, cruzou a fronteira paquistanesa em direção ao Afeganistão então controlado pelos rebeldes e mesmo antes da invasão russa. Quando reapareceu, tinha rolos de fotografia cozidos na sua roupa com imagens que percorreriam o mundo como as primeiras a ilustrar o que ali se passava. Essa cobertura de imagens fê-lo ganhar o prémio Robert Capa Gold for best Photographic Reporting from Abroad, um prémio reservado a fotógrafos distinguidos pela sua extraordinária coragem e empenho. Recebeu inúmeros prémios, incluindo o Magazine Photographer of the Year, concedido por National Press Photographers Association, no mesmo ano em que ganhou algo sem precedentes: 4 primeiros prémios no Concurso de World Press Photo e ainda o prémio Olivier Rebbot por duas vezes. Mccurry fez a cobertura fotográfica de várias áreas de conflitos internacionais e civis, incluindo Beirute, Cambodja. Filipinas, a Guerra do Golfo, a primitiva Jugoslávia, Afeganistão e Tibete. Direcionou o seu trabalho para as consequências humanas da guerra, mostrando o seu impacto no ambiente, mas sobretudo no rosto das pessoas. O seu trabalho foi mostrado em grandes e conhecidas revistas mundiais e aparece frequentemente no National Geographic, com recentes trabalhos sobre o Tibete, Afeganistão, Iraque, Iémen, e os templos de Angkor Wat no Cambodja. Um ponto alto na sua carreira foi a redescoberta da não identificada rapariga, refugiada afegã, que muitos consideraram ser a fotografia mais conhecida do Mundo até hoje. McCurry publicou já vários livros tais como - The Imperial Way (1985), Monsoon(1988), Portraits (1999), South Southeast (2000), Sanctuary (2002), The Path to Buddha: A Tibetan Pilgrimage (2003), Steve McCurry (2005), and Looking East(2006). Pedro Sarmento - Steve, para nós na Phocal é uma enorme honra poder contar contigo na nossa revista, bem como algumas das tuas fotografias e muitas das tuas histórias de vida. És fotógrafo há mais de 30 anos. Como começou esta aventura na sua vida? Steve Mccurry - Bem o meu pai sempre foi um interessado pela fotografia. Tinha até uma velha máquina Argus C-3 35mm e uma caixa de slides que tinha feito enquanto jovem. No meu segundo ano de Colégio tirei um curso de cinematografia, e no meu terceiro ano um curso de fine Art Photography. Eu nem sequer tinha uma máquina, mas o departamento tinha máquinas que nos podiam emprestar. Tinhamos objectivos concretos: retratos e o nosso próprio projecto independente. Surgi com a ideia de fotografar janelas e portas. Durante esse tempo, comecei a fazer trabalhos para o jornal do Colégio. Também estudei o trabalho de fotógrafos como Diane Arbus, Dorothea Lange, Henry Cartier-Bresson e Andre Kertesz. A minha primeira aproximação à fotografia foi influenciada por estes nomes. Sempre tive tendência para Street Photography. PS - Quando começaste como Fotógrafo, 30 anos atrás, qual era o tipo de fotografia que gostavas de fazer? SMc - Sempre fui atraído por uma grande necessidade de vaguear e explorar. Poder trabalhar com uma câmara mostrou ser uma ótima maneira de poder atingir esse objectivo, proporcionado-me a hipótese de continuar o meu trabalho. Foi esta necessidade que me incitou primeiramente a entrar em campo e que permaneceu sempre como força impulsionadora até hoje. PS - Há 30 anos a arte de fotografar era muito diferente daquilo que é hoje. Iniciaste-te com o sistema analógico e agora existe o sistema digital. Qual a tua opinião sobre os equipamentos e 16 | phocal photovisions
software atuais em comparação com o que existia antes? SMc - Não consigo exprimir o quão importante foi a mudança que o sistema digital nos trouxe, nomeadamente em relação a poder fotografar com pouca luz. Podemos agora fazer coisas de máquina na mão, onde antes obrigatoriamente teríamos que utilizar um tripé. Pode fotografarse agora com níveis de luz muito baixos e ainda assim congelar o momento em vez de usar um tripé com meio segundo. Para mim, a imagem é muito mais importante do que o processo, e o digital permitiu-me obter imagens que até então não eram possíveis. PS - Já viajaste pelo mundo, creio que por todos os Continentes, conhecendo gentes e culturas diferentes. Tens ideia de quantos países já visitaste enquanto fotógrafo? SMc - O meu interesse nunca foi acumular carimbos no meu passaporte. Fui sítios que me interessavam. Existem muitos sítios aos quais eu não fui. Tenho tendência para voltar a locais onde já fui vezes sem conta, pois acabo por descobrir sempre coisas diferentes. PS - Posso pedir-te que indiques 3 países da tua preferência e perguntar-te o porquê de tal escolha? SMc - A Índia é o país com mais diversidade cultural que existe no mundo. Era capaz de passar lá uma eternidade e nunca me aborrecer, ou ficar sem coisas novas para descobrir. A Birmânia é também um sítio único, onde o modo de vida está intrinsecamente ligado ao ensino da doutrina Budista, parte integrante da sua cultura. Mas de todos os sítios do mundo, talvez seja o Afeganistão aquele com o qual tenho uma ligação mais profunda. Foi lá que comecei a minha carreira, fotografando um dos mais importantes acontecimentos do meu percurso profissional, durante a invasão soviética. Tenho voltado ao Afeganistão vezes
sem conta, e cada nova vez detecto grandes mudanças, mas o indomável espírito afegão e o seu inesperado sentido de humor estão sempre presentes. PS - Na maior parte das tuas fotografias existem pessoas. É importante para ti contar histórias através dessas fotografias? SMc - Gosto que a fotografia expresse como é que significa ser essa pessoa. Eu quero ter. algum tipo de conhecimento intimo da condição Humana da pessoa. Como seres humanos que somos, temos uma ligação imediata e visceral com outros seres humanos. Fotografar tem a maravilhosa faceta de poder revelar a universalidade dessa experiência humana, apesar das diferenças existentes a nível cultural, étnico, económico e geográfico. PS - Analisando o teu trabalho, constata-se que não és um fotógrafo virado para a fotografia a preto e branco. Achas que a cor descreve melhor o dia a dia? SMc - Enquanto trabalho não tenho a preocupação da cor. O facto de não B&W parece-me mais lógico visto que o Mundo tem cor. O preto e branco chegou primeiro devido á tecnologia então existente, mas a cor é a forma como vemos o Mundo, mas isto não é o meu interesse principal. Claro que eu reparo nas cores e como elas se encaixam, mas não saio para fotografar a pensar conscientemente nas cores. Para mim, a fotografia é mais sobre vaguear, explorar, histórias humanas e momentos fortuitos ocasiões especiais que se traduzem numa espécie de comentários interessantes sobre a vida deste planeta. Obviamente, há momentos em que somos confrontados com uma forte componente de cor e trabalhamos com ela, mas não é efetivamente a minha motivação principal.
PS - Já visitaste Portugal em férias ou em trabalho? Se ainda não, tencionas fazê-lo? SMc - Sim já visitei Portugal. Já aí fiz uma série de workshops e é um daqueles lugares para o qual estou ansioso por voltar. Gostaria de passar mais tempo aí e de desenvolver um projeto real sobre a cultura portuguesa. PS - Tens tantas publicações já apresentadas como Fotógrafo, existem mais projetos para o futuro próximo? SMc - Estou presentemente a trabalhar mua série de projetos de livros neste momento com o meu editor Phaidon Press. Estou também a reunir elementos para um trabalho sobre o Budismo - este é um trabalho sobre o amor e estava já há muito tempo para ser feito. PS - - A minha última pergunta é sobre uma das tuas melhores fotos, um retrato de Sharbat Gula, uma mulher afegã, tirada em 1984. Penso que reencontraste Sharbat decorridos 17 anos. Como foi esse reencontro, e tinha ela a percepção da quantidade de pessoas que tinham admirado o seu retrato? SMc - Foi extremamente emocionante reencontrá-la. Ficámos atónitos. Foi um milagre encontrar esta rapariga em particular no meio de milhares de pessoas, e finalmente ter a oportunidade de a ajudar. Durante a guerra, os seus pais tinham sido mortos e ela tinha fugido para o Paquistão, onde ficou a viver num campo de refugiados durante muitos anos. Quando lhe dissemos que o seu retrato tinha sido publicado por todo o mundo, ela ficou meia aturdida, pois no local remoto do Afeganistão onde estava a viver não havia contacto com jornais ou revistas. Mais nenhum contacto com o mundo, para além do marido e família, não existia de todo.
India
PS - Steve, tens uma galeria que eu admiro em particular e que é “ Last Roll of Kodachrome”. Como é fotografar alguém como Robert de Niro? SMc - Para esse projeto procurei captar os temas mais icónicos que conseguisse encontrar e Robert de Niro exemplificou este ideal. Eu abordei-o para participar no meu projeto e ele ficou mais do que satisfeito em poder colaborar comigo. Foi muito fácil trabalhar com ele e demonstrou uma paciência enorme enquanto eu tentava encontrar exatamente o que pretendia.
PS - Tens muitos trabalhos sobre a Índia. Tão reais que quase conseguimos sentir os cheiros nas suas fotografias. Achas que países como a Índia têm um significado especial? SMc - Sim existe realmente algo de especial em relação à Índia. Em mais parte alguma no mundo podemos encontrar tanta gente, de tantas religiões diferentes, origens, etnias - em qualquer outro lado seria o verdadeiro caos. Na Índia, por algum motivo, funciona.
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Steve McCurry, recognized universally as one of today’s finest image-makers, is best known for his evocative color photography. In the finest documentary tradition, McCurry captures the essence of human struggle and joy. Born in Philadelphia, McCurry graduated cum laude from the College of Arts and Architecture at the Pennsylvania State University. After working at a newspaper for two years, he left for India to freelance. It was in India that McCurry learned to watch and wait on life. “If you wait,” he realized, “people will forget your camera and the soul will drift up into view.” His career was launched when, disguised in native garb, he crossed the Pakistan border into rebel-controlled Afghanistan just before the Russian invasion. When he emerged, he had rolls of film sewn into his clothes and images that would be published around the world as among the first to show the
conflict there. His coverage won the Robert Capa Gold Medal for Best Photographic Reporting from Abroad, an award dedicated to photographers exhibiting exceptional courage and enterprise. He is the recipient of numerous awards, including Magazine Photographer of the Year, awarded by the National Press Phtographers Association. This was the same year in which he won an unprecedented four first prizes in the World Press Photo contest. He has won the Olivier Rebbot Award twice. McCurry has covered many areas of international and civil conflict, including Beirut, Cambodia, the Philippines, the Gulf War, the former Yugoslavia, Afghanistan, and Tibet. He focuses on the human consequences of war, not only showing what war impresses on the landscape, but rather, on the human face. McCurry’s work has been featured in every major magazine in the world and frequently appears in National Geographic, with recent articles on Tibet, Afghanistan, Iraq, Yemen, and the temples of Angkor Wat, Cambodia. A high point in McCurry’s career was the rediscovery of the previously unidentified Afghan refugee girl that many have described as the most recognizable photograph in the world today. McCurry has published books including The Imperial Way (1985), Monsoon(1988), Portraits (1999), South Southeast (2000), Sanctuary (2002), The Path to Buddha: A Tibetan Pilgrimage (2003), Steve McCurry (2005), and Looking East(2006).
Pedro Sarmento - Steve for us at Phocal it is an honor to have you in our magazine, and some pieces of your story as a photographer. You are a photographer for over 30 years. How have you started this adventure in your life? Steve McCurry - My father had always been interested in photography. He had an old Argus C-3 35mm camera and a box of slides he had taken when he was a young man. In my second year of college I took a cinematography course, and in my third year I took a fine-art photography course. I didn’t even own a camera, but the department had cameras we could borrow. We had a couple self-assigned projects: portraits and our own independent study. I came up with an idea of shooting windows and doors. During that time, I started doing assignments for the college newspaper. I was also studying photographers like Diane Arbus, Dorothea Lange, Henri Cartier-Bresson, and Andre Kertesz. My first approach to photography was influenced by these photographers. I was always drawn to street photography.
nection to other humans. Photography has a wonderful way of revealing the universality of that human experience, despite the cultural, ethnic, economic and geographical differences.
PS – When you started as a photographer, 30 years ago, what kind of photo did you like to do? SMc - I have always been driven by a need to wander and explore. Working with a camera has proven to be a wonderful way of accomplishing that goal, and providing me with a means to continue my work. It was this desire that first set me on my path, and the remains the driving force behind my work. PS – 30 years ago, photography was different from today. You started in the analogic system and now we have the digital system. What do you think about the improvement in equipment and software today comparing whit those years? SMc- One can’t emphasize enough the significant difference that digital has brought to low light shooting. We can do things handheld now that used to need a tripod. You can shoot in extremely low light levels and actually stop action, as opposed to being on a tripod at half a second. For me, the image is much more important than the process, and digital has allowed me to create images that never used to be possible. PS – You have already traveled around the world, I believe in all continents, and you met so different people, so many cultures. Do you know how many countries have you already visited as a Photographer? SMc - I’ve never been interested in accumulating stamps in my passport. I’ve gone to places that have interested me. There are a lot of places that I haven’t gone to. I tend to go back to the same places over and over again, because I always discover new things. PS – Can I ask you, to chose 3 Countries of your preference to visit and photograph, and why those Countries? SMc - India is one of the most culturally diverse places in the world. I could spend a lifetime there and never get bored or run out of new things to see. Burma is also a unique place, where the way of life is intrinsically tied to Buddhist teachings which are an integral part of the culture. But of all the places in the world, perhaps Afghanistan holds the deepest ties with me. It was here that I began my career, photographing one of the most imporatant stories of my career during the Soviet Invasion. And I’ve returned time and time again over the years. Each time, I’ve witnessed great changes, but the indomitable Afghan spirit, and unexpected humor, is always present. PS – Almost all your photos have people, is it important to you to tell a story through your photographs? SMc - I like to have the photo communicate what it’s like to be that person. I want to have some sort of insight into the human condition of the subject. As human beings, we have an immediate and visceral con18 | phocal photovisions
PS – Analyzing your work, we can see that you are not a black & white photographer. Any special reason? Do you think that the color best describes the daily lives? SMc - I never really think of color when I’m working. It seems more logical to me, since the world is in color. Black and white came first, because of the technology, but color is the way we see the world. But it’s not my primary interest. Of course I notice colors and how they fit together, but I don’t really consciously go out to make color photographs. For me photography is more about wandering and exploring, human stories, unusual serendipitous moments that make some interesting comment about life on this planet. Obviously, there are times when you are confronted with a situation that has a strong color component and of course you work with that, but it’s not my main motivation. PS – You have a gallery that I love in particularly, that is “Last Roll of Kodachrome”. How is to photograph some one like Robert De Niro ? SMc - For that project, I wanted to capture the most iconic subjects I could find, and De Niro for me really exemplified this ideal. I approached him about participating in my project, and he was more than happy to collaborate. He was very easy to work with, and was patient with me as I worked towards making just the right frame. PS – You have many work from India, they are so real that we almost can feel the smell in your pictures. Do you believe that countries like India have a special meaning? SMc - There is certainly something special about India. No where in the world do you have so many people, of so many different religions, backgrounds, ethnic groups - anywhere else in the world, it would be utter chaos. In India, somehow, it works. PS – Did you already visit Portugal in work or in vacations?? If not do you intend to came some day? SMc - I have visited Portugal before. I have done a couple of workshops there, and it’s one of those places that I always look forward to going back to. I would love to spend some more time there and develop a real project about Portuguese culture. PS – You have so many publications in your life as a Photographer until now, do you have more projects for the near future? SMc - I am working on a several book projects right now, with my publisher Phaidon Press. I’m also gathering work for a project about Buddhism - this is a labor of love and has been a long time in the coming. PS – My last question is about one of your best photos, a portrait from Sharbat Gula an Afghan woman that you take in 1984. I Know that you met again Sharbt 17 years after, how was that meting, and had she the perception that how many people in the world have admirde that picture? SMc - It was very emotional finding her. We were really quite astonished. It was a miracle, finding this one unknown girl amongst millions, and finally having the opportunity to help her. During the war, her parents had been killed, and she escaped to Pakistan where she lived in a refugee camp for many years. When we told her that the picture had been published all over the world, she was a bit bewildered, as in the remote part of Afghanistan where she was living, she wasn’t familiar with magazines or newspapers. She didn’t have any contact with the world outside of her husband and family.
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Gula “- Afghan Girl - Afeganistão - 1984
Kashmir Kashmir
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Marrocos Kashmir
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Sri Lanka PerĂş
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picture never published before | foto nunca antes publicada | Omo Valley of Ethiopia India
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picture never published before | foto nunca antes publicada | Omo Valley of Ethiopia
Kabul, Afghanistan
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viagens - nova york
PAULO CÉSAR lisboa – PORTUGAL PCESARPHOTO@HOTMAIL.COM | https://www.facebook.com/paulo.cesar.photografia | WWW.PAULOCESAR.EU TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © PAULO CÉSAR
Todos deveríamos ter o prazer de pelo menos uma vez na vida estar na “ Grande Maçã “ , a par de Londres e Paris, Nova Iorque deve ser das cidades mais filmadas e fotografadas, passear pelas avenidas é como estar nos cenários das séries, filmes, vídeos de música que tantas vezes vemos por todo lado, tantas canções a ela dedicadas, livros, documentários, que mesmo quem ainda não foi tem a sensação de conhecer a cidade. É a cidade que nunca dorme, imensa e tão diversificada que tudo se encontra por lá, nos primeiros dias e falo por mim devemos parecer uns tótos de tanto andar de cabeça no céu a tentar descobrir as pontas dos arranha céus, infelizmente as Torres Gémeas já não existem, mas tive o privilégio de ser um
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entre muitos e muitos milhares que subiu ao topo e conseguiu ter aquela vista fabulosa da cidade. Em Times Square a sensação que tenho, principalmente à noite, é de estar num dos centros do Mundo ( talvez por isso a chamam de “ encruzilhada do mundo “ ), com todos aquelas luzes e milhares de pessoas a passear, por falar em passear... muitos dos milhares de taxistas da cidade... não falam inglês, mas o certo é que ninguém fica sem chegar ao seu destino :) dizem as estatísticas que se falam 800 idiomas nesta cidade !!!!!! sendo assim a cidade com a maior diversidade linguística do mundo. Já lá estive, mas quero seguramente lá voltar.
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SANDRA PINHO OVAR – PORTUGAL sandra.pinho2@gmail.com | https://www.facebook.com/sandra.pinho.18 TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © Sandra Pinho Sandra Pinho nasceu em Ovar, cidade situada junto à ria de aveiro, onde se podem apreciar os pitorescos barcos moliceiros e as magníficas regatas da ria. Descobriu o prazer da fotografia apenas em 2012 no 2º Aniversário dos Devaneios Fotográficos que se realizou no Sanatório de Valongo. Foi qualquer coisa que a despertou para a “arte”, já que o seu percurso profissional não teve até aí qualquer relação com a fotografia, mas a partir deste momento a fotografia passou a fazer parte da sua vida, tendo já participado em passeios fotográficos organizados pelo Phocal photovisions e daí tambéma sua vontade de participar na Revista. É a imagem que os seus olhos vêem e que a fotografia permite captar para não mais esquecer. Peça de Teatro “NA SOMBRA DE MEU PAI “ SÉC. XII – XIII - REINADO DE D. SANCHO I Convento dos Loíos – Encenador Manuel Ramos Costa Depois da morte do rei fundador, Afonso Henriques, o que esperam os portugueses do rei que lhe sucede? Esta terá sido a pergunta que assombrou todo o reinado de D. Sancho I, que terá condicionado as suas decisões e influenciado quem sobre ele escreveu séculos depois. O rei povoador e organizador do território, o rei das querelas com a Igreja e os barões; os amores do rei e uma doença fatal - a melancolia. 1185 - E chegando D. Sancho, com 31 anos de idade, a rei dos Portugueses, em que foi alevantado como rei no seu escudo e pela graça de Deus foi aclamado e coroado em Coimbra, era já casado com D. Dulce de Aragão, havendo com ela já três filhas. 1189/91 – Depois de Alvor, a importante praça de Silves é submetida a um prolongado cerco montado pelas hostes portuguesas, ajudadas por Cruzados vindos do norte da Europa, que vão auxiliar na ocupação efetiva da tomada da cidade. Depois desta conquista, D. Sancho passa a intitular-se pela graça de Deus, Rei de Portugal, de Silves e do Algarve. Na viragem do séc. XII, o reinado de D. Sancho I foi marcado por largos períodos de perturbação social e conflitos militares decorrentes da assunção do poder e da soberania dos reinos peninsulares. As catástrofes naturais, interpretadas como castigo de Deus, foram também uma constante na década de noventa e seguinte, causando grandes fomes e epidemias, em especial na Terra de Santa Maria, onde morreu um em cada três habitantes. Apesar destas perturbações, el-Rei, o segundo de Portugal, homem guerreiro de espírito ativo e destemido, vai percorrendo o reino intensamente, fundando terras e concedendo cartas de foral, no intuito de semear e povoar todo o território. Fomenta a prosperidade pública e dela tira proveito para satisfazer as necessidades do seu governo, sem nunca pressionar ou condicionar o seu povo, consegue reunir somas avultadas em dinheiro, guardadas nas tesourarias reais. Fortalece o poder régio na figura solene do rei, aparecendo em atos públicos vestido de manto e saio escarlata e com coroa real. Em tempo de paz e lazer, promove na sua Corte momentos de festa e de cultura, com a representação de arremedilhos e sessões de poesia e de música, cantadas por jograis e trovadores, personagens frequentes na sua casa. O reino de Portugal é assolado por diversas catástrofes e calamidades naturais. 1191- Grande surto de peste na Terra de Santa Maria (…) vieram grandes pestilências, e outras dores espantosas e de 28 | phocal photovisions
mortal perigo, especialmente em Terra de Santa Maria, Bispado do Porto, onde a peste foi tão crua e danosa que em grandes povoações e lugares de muitas pessoas escassamente ficaram três vivos. 1200 – D. Sancho I concentra-se na organização e administração do reino, deixando de se envolver em guerras. Surgem desavenças com o bispo do Porto e depois com o de Coimbra, chegando até à Santa Sé. 1208 - O bispo do Porto recusa-se a receber os noivos reais, D. Afonso de Portugal e Urraca de Castela, por considerar este casamento incestuoso. Graves questões surgem entre D. Sancho e membros da alta nobreza: Pedro Poiares e Lourenço Fernandes da Cunha. A corte de D. Sancho I encontra-se no Castelo de Santa Maria, um dos lugares de eleição. No seu primeiro testamento, ditado em 1188, doa o castelo e a Terra de Santa Maria a sua mulher e filhas. Mais à frente, temendo que algo lhe aconteça, aconselha as senhoras da casa real a refugiarem-se em cinco dos seus castelos: Alenquer, Montemor, Viseu, Guimarães e o de Santa Maria. No entanto, aconselha a escolha do de Santa Maria, desde que possam viajar até ao castelo em segurança, pois os seus possuidores irão recebê-las com a mesma fidelidade como se dele próprio se tratasse. Após a morte de D. Dulce, el-rei tomou como amantes: primeiro, Maria Pais de Fornelos e depois Maria Pais da Ribeira. A existência destas senhoras é confirmada em diversos documentos régios, especialmente de “Ribeirinha”, que viveu com el-rei os últimos dez anos de vida, acompanhando-o por todo o reino. Maria Pais da Ribeira, ligada a antigas famílias do Norte, é filha de Paio Moniz da Ribeira, alferes do reino, oriundo de uma família da Terra de Santa Maria - os senhores de Grijó, que ao tempo de D. Afonso Henriques lutaram pela causa independentista do ainda Condado Portucalense. 1209 – Continuam os conflitos entre famílias nobres, eclesiásticos e outras autoridades. É a guerra civil. D. Sancho I toma providências para cessarem todos os abusos. 1210 – El-rei está doente e, temendo morrer, reconcilia-se com a Igreja, aceitando as suas exigências e legando uma série de bens. 1211, Março – Morre D. Sancho, legando ao primogénito o reino de Portugal. Vinda de Coimbra, do enterro de seu amado rei, Maria Pais da Ribeira é raptada por um nobre enamorado, Gomes Lourenço de Alvarenga, que a leva para o reino de Leão.
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fotografias escritas
RODRIGO BELAVISTA
lisboa – PORTUGAL aminhacaixademail@gmail.com| https://www.facebook.com/ruimaosdecenoura TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © RODRIGO BELAVISTA
Tardes lisas, conversas brancas. - Sabe, comadre Maria, consta que a neta do vizinho Almeida se sente mais brilhante que uma joia preciosa e ainda mais quente que o próprio Rei Sol, de tal forma que encanta qualquer serpente venenosa e cega os atrevidos olhares de quem ousa com eles despi-la. Parece, ainda, que não há melhoras na saúde do nosso vigário, desde que soube que o céu é pesado e lhe pode cair em cima dos ombros, mesmo que ele jure a pés juntos que é o veículo do Senhor na Terra e que sempre se sentiu um missionário, até prova em contrário, que foi o que aconteceu. Mas ainda não morreu. Diz-se por aí que este tempo é obra nossa, que há calor quando devia fazer frio e que se gelam os nós dos dedos quando devíamos andar de leque a tiracolo – coisas de entendidos, claro está, porque eu não me vejo a alterar seja o que for, muito menos algo que ainda me possa fazer crescer mais dor. De maleitas sei eu, o meu corpo é um pomar, de onde cada fruto que sai é uma doença e os galhos de todas as árvores já me tatuaram em cicatrizes. No final de contas, serão as crenças só para os felizes? - Olhe, comadre Joaquina, do que eu sei e me deixa ver, vossemecê é mulher de fibra, mãe e avó da vida e não serão muitas as doenças que a consigam derrubar. Há-de andar, umas vezes, de olhos em baixo, outras, com eles no ar, mas tudo é vida, tudo o que começa tem que acabar. Dor, tristeza, são apenas o anúncio de uma subtil leveza. Já me tinha chegado o ‘zum zum’ da Verinha do Almeida e parece que a rapariga não tem estradas que lhe sirvam, constrói ela mesma os seus caminhos e ai de quem se lhe colocar a jeito. Há quem diga que é dos olhos, outros da pose, há ainda quem lhe gabe a pele mas, cá para mim, é do que lhe sai do peito. Quem cochicha pecados alheios começa por ver um largo canal, mas acaba perdido na última parte de um funil muito estreito. Eu também ando de temperaturas trocadas, embora muitas sejam por mim fabricadas, sabe? Esta luz que me penetra a pele põe-me febril num instante, já a chuva que me ensopa os ossos, não me faz mal o bastante. Mas, segundo dá nas notícias, andamos a enviar muitos gases lá para cima e a inundar o chão de lixo e muitas mais coisas que eu não fixo. Naturalmente, a Terra zanga-se. Deve estar doente como nós, não acha? Isto do padre Amado parece precisar de exorcismo, tal é a descrença do homenzito. Será que o ‘Nosso Deus’ o fez cair num abismo? A tarde não padece de pausas, prefácios ou intervalos. É uma pedra branca e lisa, onde ecoam palavras que hão-de ser levadas pelo vento. Se o tal Deus quiser e o tempo maluco o conceder, amanhã será semeada outra, tão lisa e alva como a que aconteceu hoje, a semana passada. E sempre.
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Os descaminhos. O velho, amarrotado, perguntou-se onde ia, mesmo antes de tentar saber que espaço era aquele e o momento que o ocupava. Caíram três raios todos no mesmo sítio, evento mais raro que a união de um trevo de quatro folhas e a aparição de uma sereia em banho-maria. Mau, esgravatou no pensamento, estaria perdido nas auto-estradas da mente ou andaria desencontrado das horas, companheiro da má sorte e dos raios trovejados. As coincidências não existem, disse-lhe ao ouvido um grilo que era surdo, mudo e pouco enxergava ao longe. No momento em que caiu, estrondo no chão e nem um ai por parte daquela gente, percebeu tudo. E nada disse. Porque não se lembrava de ali querer estar. Por não saber o que raio três raios ali foram fazer. Porque a manhã era filha da noite e pouco havia a dizer. Por não ter uma muda de lembranças, azar. Esquecida a direcção, tornou a voltar atrás, convicto. Dizem que as convicções são as sementes de um carácter forte e determinado. E ele, ditas as coisas que se dizem, apenas se tinha enganado. Acontece, gritou-lhe o grito sem fala, ao mesmo tempo que nada acontecia. E o velho, amarrotado, continuava a perguntar-se onde ia.
Da secura de uma sombra. Se não transpirares o que está para acontecer, Se te esqueceres das direcções e do cuidado; O que te move e de tudo o que há para fazer, As vezes dentadas em que te embrulhas, magoado. Se já não acordares na abertura do meigo olhar, Se te fugir a dor dos fogos, das águas e o que cai do céu; E o tudo e o nada a pairar na inversão de maravilhar. Se isto te acontece e não se lamberem as gotas, Se o corpo inerte não aguentar o peso dum par de botas; Se assim te parece e acontece, o fio do Mundo morreu.
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photo tour’s - hot spot
SÓNIA GUERREIRO LISBOA – PORTUGAL iinfo@soniaguerreiro.com | https://www.facebook.com/soniaguerreiro.photo | www.soniaguerreiro.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © SÓNIA GUERREIRO Sónia Guerreiro nasceu em Lisboa, em Dezembro de 1979. A fotografia sempre foi um dos seus principais interesses, arte à qual se tem vindo a dedicar com mais intensidade nos últimos anos. Considera a fotografia “uma representação intemporal do seu estado de espírito”. É, simplesmente, “uma forma de estar”. A par do seu projecto de fotografia de autor, Sónia é formadora certificada e promove vários workshops de fotografia bem como passeios fotográficos, em Portugal e Espanha. Recentemente faz também parte da direção da Natugrafia.com, a única Associação de Fotografia de Natureza em Portugal onde tem vindo a desenvolver alguns projectos na área da fotografia de natureza e paisagem. Os seus trabalhos têm sido merecedores de destaque e de reconhecimento nacional e internacional, tendo sido nomeada como finalista no Photography Masters Cup – International Color Awards e nos Black and White Spider Awards. Para além de várias menções de relevo em revistas e livros da especialidade, já realizou várias exposições, colectivas e individuais nomeadamente no Ministério da Defesa Nacional com a exposição “Saber a Mar”. RIO TINTO… VERMELHO PAIXÃO O Rio Tinto localizado em Espanha é um local único no mundo. Como o nome indica é um rio de cor vermelha, cor da paixão. Nas suas margens acontece magia... Formas, texturas, detalhes e cromatismos singulares revelam-se a cada passo nosso. Fotograficamente falando, este rio é um paraíso e simultaneamente um desafio criativo para qualquer fotógrafo. O Rio Tinto, localizado em Huelva, Espanha, pertence à bacia do Guadiana, nascendo na Serra de Padre Caro e depois de correr quase ao longo de 100 km chega à Ria de Huelva onde se une ao Rio Odiel. É também nas margens do Rio Tinto que se situa um dos maiores parques de exploração mineira a céu aberto da Europa, tendo sido principalmente explorado pelos Romanos – As Minas de Rio Tinto. O desenvolvimento da exploração mineira ao longo da história neste local criou paisagens fotograficamente aliciantes e ecossistemas singulares. Neste momento a exploração mineira encontra-se desativada. O Rio Tinto é único no mundo pela sua beleza cromática, pelas suas excecionais condições ambientais com um ecossistema peculiar e pela história que encerra. A tonalidade vermelha das suas águas deve-se ao alto teor de minerais ferruginosos e contaminação por sulfato de ferro desde os primórdios da história que juntamente com a falta de oxigénio, criam um pH muito ácido. Mesmo que estas condições sugiram que não exista vida nas suas águas, as mesmas acolhem uma grande diversidade de microrganismos, muitos deles ainda não catalogados, que se alimentam apenas de minerais e que se adaptam a habitats extremos. É essa a principal razão para este local ter sido escolhido pela NASA para estudar estas formas de vida tão raras, devido à sua similaridade entre as suas condições ambientais e as que poderão ser encontradas no planeta Marte. É também a riqueza cromática das suas águas que torna este local num destino fotográfico inovador, desafiante e que acima de tudo potencia o lado criativo de cada um, em que a imaginação é literalmente o único limite. As cores variam entre o vermelho, cor de sangue, passando pelos tons alaranjados, dourados, e mais amarelos à medida que 32 | phocal photovisions
nos aproximamos das suas margens. Encontramos também, ainda que esporadicamente, toques de verde quase esmeralda que não são mais que pontos de oxidação de cobre. Esta paleta fica completa com o contraste dos céus azuis ou cinzentos... Não interessa! Ali, qualquer cor contrasta bem com o vermelho. É no entanto necessário um olhar atento e uma boa dose de criatividade para perceber como tudo se revela aos nossos olhos. Basta um único e simples passo em qualquer direção para que a paisagem mude completamente. Algo que não era imediatamente visível começa a assumir contornos claros, assim o nosso olhar e expressão criativa o permitam. Entre formas, texturas e detalhes singelos que a natureza nos revela, há ainda a complexidade das paisagens feitas à mão, que oscilam entre a arquitetura industrial proveniente de séculos de atividade mineira com as quais a natureza teima em competir ganhando o seu espaço próprio e onde até podemos encontrar, imagine-se, cascatas em verdadeiros cenários naturais. Nisso, o Rio Tinto, é indubitavelmente surpreendente. Este local é um paraíso fotográfico enaltecido pelas suas características únicas no mundo inteiro. Para o fotógrafo constitui um verdadeiro desafio quer em técnica quer em visão criativa. É nestas paisagens peculiares que já foram rodados alguns filmes sendo “El Corazón de La Tierra” o mais conhecido de todos que conta a história das minas ao longo de todo o período da sua exploração pelos Ingleses. É também este o local que é considerado o berço do futebol em Espanha, desporto trazido pelas colónias britânicas que geriam as Minas. Por fim, e devido à sua singularidade importa referir que Rio Tinto é uma das paisagens protegidas de Espanha desde 18 de Janeiro de 2005, e é agora também um forte candidato a Geoparque Europeu.
PHOTO TOUR MINAS DE RIO TINTO
De 12 a 14 de Outubro
Mais informações: www.soniaguerreiro.com/phriotino
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LUÍS LOBO HENRIQUES
mundo
LEIRIA – PORTUGAL luis.mlobo@gmail.com| https://www.facebook.com/luis.lobohenriques | http://lloboh.zenfolio.com/ TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © luís lobo henriques
Luís Lobo Henriques, nasce em Luanda, em 1960. É licenciado em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra em 1983. Residente em Leiria, onde é professor. Começa a fotografar aos 16 anos. Frequenta um curso de Fotografia na Associação Académica de Coimbra em 1981. Desde então tem participado em exposições coletivas em diversas salas e galerias por todo o país; É premiado em dezenas de concursos nacionais e franceses de fotografia; tem vários trabalhos editados em revistas portuguesas e francesas de fotografia, revistas de viagens (com textos e imagens suas), livros e catálogos de agências de viagens, discos e dvds. Foi membro de júris em concursos de fotografia e é membro de websites de fotografia nacionais e estrangeiros, onde os seus portfolios podem ser visitados. Fotógrafo eclético, com especial inclinação para o retrato. Desde muito cedo evidenciou tendência para fotografar pessoas. Fá-lo quer a nível particular quer no âmbito da sua pesquisa sobre gentes e povos do mundo. Breves notas: Apresenta a sua exposição individual de fotografia “Viagem a um pequeno mundo ” a convite da Câmara Municipal de Leiria, no Teatro José Lúcio da Silva, de janeiro a março de 2009 e no Bar FalArt do Teatro de Carnide, em Lisboa, a convite da Junta de Freguesia de Carnide, em maio e junho 2009. A mesma exposição é apresentada no Instituto Politécnico de Peniche no âmbito do Congresso Internacional de Turismo em novembro e dezembro de 2011. Em abril 2009 assina um contrato fotográfico com uma cadeia de hotéis portuguesa. Em abril 2010 integra a colectânea de fotografia “Sensibilidades 25” editada em livro pelo CEPAE, Centro do Património da Estremadura de onde saem as exposições itinerantes homónimas. Em Dezembro 2010 é vencedor do Concours International de Photographie da revista francesa PHOTO Magazine na categoria “Votre perception du design”.
ÍNDIA, UMA VEZ NÃO BASTA Aproxima-se a terra desejada. Foram uns anos a sonhar com este momento. Para trás ficaram umas doze horas de céu e outras tantas de espera pela mudança de voo na escala feita em Frankfurt. Nova Deli está a meus pés e é meia-noite quando desembarco na inquieta e inquietante capital da Índia, o segundo país mais populoso do mundo. É Abril, mês muito seco, ideal para visitar o país. Lá fora, o calor húmido, os mosquitos e uma interminável fila de táxis deixam já antever o cenário que espera ser fixado nas minhas quase quatro mil fotografias nos dez dias que se seguem. Eu até imaginava como ia ser, porém não contava ser arrebatado pela beleza e multiplicidade das cores; a simpatia e afabilidade das gentes; os olhares fundos e raiados de vermelho; os cabelos lisos de seda negra; os adereços dourados ou garridos; o ruído frenético do trânsito e das buzinas; as crianças deambulando de mão estendida; a quietude implacável dos templos e sua sumptuosidade; o cheiro inebriante das especiarias de tons ocre, vermelho e amarelo – as cores que no fundo encarnam a alma indiana; os incensos incandescentes na atmosfera mesclando-se com nauseabundas poças de lixo e água estagnada; os fritos que proliferam na rua – toda a gente faz chamuças na rua; os barbeiros inusitados; os alfaiates imparáveis; os saris surpreendentes; as vacas que parecem ser donas das vielas; a condução no mínimo assustadora, mas cheia de perícia; os rituais sagrados e os profanos; o perfume inebriante das incontáveis flores à entrada dos locais sagrados; os inesquecíveis e vibrantes gaths de Varanasi e o povo em orações e posições para nós quase acrobáticas; os banhos dos peregrinos quase em transe no seu intocável Ganges; 36 | phocal photovisions
Um Taj Mahal mítico, todo ele vestido de branco imaculado que nos enleva para lendas de puro amor ancestrais; o mistério e o respeito que envolvem as cremações; os fortes, os minaretes, as mesquitas, os palácios, os mausoléus, os mercados e os bazares mais inesperados; a azáfama das multidões ruidosas, intermináveis; os milhares de riquexós e as motorizadas que se dirigem não se sabe para onde; as estações ferroviárias gigantescas onde se acumulam passageiros exóticos de pele tisnada e indumentárias variadas; os comboios onde não se imagina poder amontoar-se tanta gente; o choque de roçar nas ruas com vidas devastadas pelo elevado nível de pobreza; o caos, de novo o caos; mas toda a beleza e exotismo duma terra apaixonante… Acreditamos que esta, que é uma das civilizações mais antigas do mundo, nos fica na pele para sempre e se fixa na retina, para quando fecharmos os olhos a revermos emocionadamente. É o inequívoco efeito do fascínio. Acreditamos que os sabores e os aromas vão ficar presos aos nossos sentidos para nos tornar mais ricos. Acreditamos que vamos voltar. Definitivamente queremos voltar para junto do hinduísmo. Continuar a eternizar esta terra através das nossas lentes fotográficas. Respirá-la de novo, ainda que por vezes sufocante. Ela cai em nós e inesperadamente, em três dias que sejam, já nos povoou e roubou a alma. Sim, ela aguarda o nosso regresso… Porque a Índia, uma vez não basta.
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RICARDO LOURENÇO portalegre – PORTUGAL RLOURENCO82@GMAIL.COM| HTTPS://WWW.FACEBOOK.COM/RLOURENCO82 | WWW.RICARDOLOURENCOPHOTOGRAPHY.COM TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © RICARDO LOURENÇO
Ricardo Lourenço nasceu a 21 de Dezembro de 1982, na cidade de Portalegre. Viveu toda a sua vida em contacto permanente com o meio natural e foi através dessa simbiose que foi construindo a sua perceção do mundo. Em 2007, muito pelo fascínio de querer conhecer “in loco” a vida selvagem que o rodeava, e a sua crescente paixão pela fotografia, aliou estas duas áreas e começou por captar momentos usuais de vida selvagem. Fotografia após fotografia, começou a dar mais importância aos processos, metodologias e produtos resultantes do seu trabalho. O mundo das aves, principalmente, aguçou-lhe o apetite por imagens singulares de vida selvagem. Em 2009, foi co-fundador da Natugrafia.com - Associação de Fotografia de Natureza, projeto que abraçou até finais de 2011. Com os seus trabalhos espera ajudar para o crescimento desta atividade no nosso país, e sensibilizar para a conservação de espécies e espaços ameaçados. Pedro Sarmento - Ricardo uma pergunta simples que se impõe, como é que a fotografia aparece na tua vida? Ricardo Lourenço – Inicialmente, a fotografia aparece como uma necessidade académica, como uma ferramenta de trabalho. É óbvio que a minha curiosidade, o prazer que tinha em fotografar e um “boom” de informação acerca de fotografia digital fizeram o resto na tarefa de me viciar nesta arte. PS - Sempre foste uma pessoa muito virada para a naturezaFoi isso que te levou a optar por fotografia de vida selvagem? RL – Sim, sem dúvida. Cresci em contacto permanente com o meio natural e todos esses anos foram determinantes no momento em que decidi que era este tipo de fotografia que desejava fazer. Além disso, de todo o tipo de fotografia que experimentei depressa concluí que este era o mais desafiante e recompensador. PS - Na tua atividade de fotógrafo tens preocupações ambientais, achas que existe essa preocupação entre fotógrafos? RL – Grande parte do meu trabalho e o da maioria dos fotógrafos de natureza assenta em valores que, direta ou indiretamente, estão relacionados com preocupações ambientais. Se o Homem só teme (ou persegue) aquilo que desconhece, como se diz, tenho a motivação de dar a conhecer o que de mais belo há na natureza. Baba Dioum, um conservacionista senegalês tem uma frase extraordinária na qual revejo o meu trabalho: “No final nós vamos conservar apenas o que amarmos. Nós vamos amar apenas o que compreendemos e vamos compreender apenas aquilo que nos mostrarem”. PS - Quando decidiste fotografar a vida Selvagem, sabias exatamente o que fazer, ou é um processo evolutivo que demora tempo a atingir bons resultados? RL – Para ser sincero, e sabendo o pouco que sei hoje, quando comecei a fotografar não sabia nada do que andava a fazer. Era um processo bastante aleatório e baseado no acaso. Limitavame a ir para algum lado com a máquina às costas à espera de encontrar alguma “coisa” para fotografar. Rapidamente percebi que a metodologia (ou falta dela) 40 | phocal photovisions
não me dava os resultados desejados e sentia que precisava de informação que me pudesse ajudar nesse sentido. A motivação para fazer melhor e a vontade de ser criativo ajudaram-me no meu processo evolutivo. O facto de perceber que a maioria das boas fotografias que fazia começavam com o trabalho de casa, lendo e pesquisando sobre o animal a fotografar foi o primeiro passo para mudar a forma como hoje trabalho. Actualmente, faço um planeamento relativamente organizado com as devidas metodologias a utilizar para cada espécie. Ainda assim, nos momentos mais desesperantes, continuo a perguntar-me se sei o que ando a fazer. PS - Dentro deste tipo de fotografia há várias variantes, quais são aquelas que mais te entusiasmam? RL – No fundo, dentro da abrangência que é a fotografia de natureza e da subjetividade que o termo pode definir, todas as áreas me entusiasmam. É óbvio que a maioria dos fotógrafos tende a encontrar muitas vantagens ou factores que determinam como mais entusiasmante a área que precisamente dominam e onde obtém os melhores resultados. Nesse prisma, sem dúvida que a fotografia de aves e a macrofotografia são as minhas “praias”. PS – Quando se opta por esta atividade é preciso uma enorme dose de paciência, corre sempre tudo bem ou tens dias em que te sentes pouco recompensado? RL – Na verdade são mais os dias em que me sinto pouco recompensado. A exigência e expectativas são (e devem ser) bastante elevadas, por isso, à partida sei que será preciso ter alguma sorte para me sentir plenamente recompensado. Muito de vez em quando, há dias “épicos”, que me fazem sentir recompensado por todos os outros dias. A paciência não é mais do que um pré-requisito para se ser fotógrafo de natureza, tal como a sorte. Contudo, em relação a esta última, já percebi o que Thomas Jefferson queria dizer quando afirmou: “quanto mais trabalho, mais sorte tenho”. Contudo, muitas das frustrações são resultantes de algumas histórias mirabolantes que mais tarde acabam por ter piada. Se essas histórias forem partilhadas com alguns amigos que me
acompanham nas saídas fotográficas, o tempo acaba por não ser totalmente perdido. Trabalho habitualmente a solo, mas sempre que posso desenvolvo alguns projectos com colegas e amigos que se transformam em verdadeiras aventuras. Essas aventuras acabam por fortalecer os laços de amizade e parceria entre nós, e consequentemente, ajudam-nos a crescer como fotógrafos. PS – Ainda na fotografia de vida selvagem, quais são os maiores obstáculos que enfrentas, para além da necessária paciência? RL – Pela especificidade da atividade os obstáculos são inúmeros. Os animais selvagens encontram-se com frequência em terrenos particulares, com as vicissitudes que isso representa. Por outro lado, existe muita desconfiança das pessoas em relação à atividade de um fotógrafo de natureza. O planeamento de um fotógrafo de natureza pode ir “por água abaixo” se por ventura as condições climatéricas não ajudarem ou se existir intervenção humana nas zonas onde o animal se encontra (Caça, agricultura, pesca, desportos motorizados, etc…). Para além disso, os custos inerentes ao trabalho de observação, preparação e saídas fotográficas, bem como a falta de tempo para todo este trabalho são talvez os maiores obstáculos com que me deparo atualmente. PS – Equipamento, és uma pessoa em constante movimento, novidades etc, tens aquilo que precisas e não vais atrás de todas as novidades. Que material utilizas com mais regularidade? RL – Não sou obcecado pela venda/compra de material fotográfico. Vou adquirindo algum material de acordo com as minhas necessidades mas obviamente gosto de me manter informado sobre as últimas novidades. Sumariamente, faço-me acompanhar por uma Canon 7 D, uma lente zoom Sigma 150500 mm e uma Sigma 180 mm 3.5 macro. PS – Recentemente construíste um equipamento com um nome muito castiço o “Hidrohide”. É uma ideia parece-me a mim inovadora de camuflagem, foi um projeto teu, ideia concepção nome etc? RL – O “Hidrohide”, “Floating Hide” ou abrigo flutuante é um conceito fantástico. De facto, já existe este conceito há alguns anos noutros países e o que fiz foi aproveitar a ideia e adaptá-la às minhas necessidades. Neste momento, tenho 3 modelos que fui construindo de acordo com algumas variantes: peso, tamanho, estabilidade, etc. Não inventei o conceito, mas talvez através do making-of e alguns artigos que publiquei no meu site, o tenha desmistificado e ajudado na proliferação desta técnica no nosso país. PS – Pensas que por exemplo é um projeto que possas produzir e rentabilizar? Tens feed-back nesse sentido de colegas teus? RL – Para além de um feedback positivo, existiram, inclusive, algumas propostas para que construa e venda alguns “Abrigos Flutuantes”. Nesse sentido, é claro que já pensei nessa possibilidade mas existem alguns obstáculos que me impedem de concretizar essa ideia, nomeadamente a falta de tempo e o facto de se tratar de um investimento arriscado. Contudo, ainda não me abstrai totalmente da ideia e se algum amigo me pedir, ou o ajudo a construir ou construo para ele. PS – Tu continuas a tua atividade de professor, nunca pensaste em dedicar-te á fotografia em exclusivo? RL – Penso todos os dias nessa possibilidade. Apesar de já
tirar alguns dividendos da fotografia, quando faço o balanço entre as receitas e despesas os resultados não são os mais animadores. A conjuntura não é favorável e de facto não me permite dar esse passo, por isso tenho uma grande admiração pelos fotógrafos de natureza profissionais que temos em Portugal, pelo facto de terem que apresentar muita qualidade e criatividade para cativar o pouco mercado que existe nesta área. PS – Formação, tens dado WS sobre fotografia de natureza, como tem corrido, dá-te prazer ensinar e partilhar conhecimentos ? RL – Pela minha formação e profissão a pedagogia está-me “no sangue” e os WS que tenho ministrado são para mim fontes de regozijo pessoal. O conhecimento empírico é na fotografia de natureza mais imediato e a simbiose que tento criar entre mim e os outros fotógrafos tem-se revelado encantadora e proveitosa para ambas as partes. Sinto que as pessoas estão conscientes da urgência de conservar e preservar o ambiente e de como a imagem pode ser bastante poderosa para alcançar esses objectivos. PS - Como vês o panorama Português em termos fotográficos, numa recente entrevista um fotografo disse-me que achava que não havia muitos fotógrafos em Portugal, mas sim muitas máquinas digitais, qual é o teu entendimento desta realidade? RL – É certo que existem algumas lacunas no que diz respeito à cultura fotográfica e ao conceito de estética. Confunde-se, com frequência, o conceito de arte inerente a uma fotografia e o disparar de uma máquina de forma quase aleatória, mas não me surpreende dada a subjetividade que é dada à definição de arte. As fronteiras são cada vez mais ténues no mundo da fotografia e tudo se resume a opiniões. Pessoalmente, acho que grande parte do problema passa pela falta de massa crítica que ajude na evolução dos fotógrafos. Tenho a ideia que o ego pode fazer um bom fotógrafo (pela motivação que a valorização do mesmo acalenta) mas podes destruir os melhores fotógrafos de natureza (pelo cegueira no reconhecimento dos erros). É neste equilíbrio emocional que o fotógrafo deve evoluir. PS - Tens feito exposições, participado em publicações, tens tido algum convite de interesse para novos projetos? RL – Felizmente tenho alguns projetos em mão que me vão dar imenso trabalho durante o próximo ano. Espero realizar a próxima exposição no final do ano de 2012 e até lá publicar alguns artigos que tenho preparados. Para além disso, vou trabalhar com uma empresa de Turismo de Natureza no sentido de criar um pequeno documentário sobre o Alentejo e Algarve Selvagem. No início do próximo ano tenho agendados alguns WS de fotografia de aves, também no Algarve. Por fim, estou concentrado na produção do meu primeiro livro de fotografia de natureza que poderá sair entre o final de 2012 e inícios de 2013, mas não posso adiantar muito em relação a isso. PS – Para terminar, um local no Mundo ou uma espécie animal, que não devas perder em termos fotográficos? RL – Ocorrem-me inúmeras espécies que gostava de fotografar mas que no fundo aproximam-se da utopia. Qualquer fotógrafo de natureza gostaria de fotografar um leopardo-dasneves, por exemplo. Contudo, se um dia conseguisse fotografar um Lince-ibérico em estado selvagem no meu Alentejo, essa seria pelo seu significado, uma experiência inesquecível. phocal photovisions | 41
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Rouxinol grande dos Campos
Guarda Rios Mergulh達o de Crista
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Sapo de unha negra phocal photovisions | 45
Cobra de รกgua viperina Lagarto de รกgua
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Letargia Mergulh達o de crista
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Peneireiro das torres Rolieiro
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trit達o marmorado Alfaiate
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R達 de focinho pontiagudo phocal photovisions | 51
HUMBERTO RAMOS portalegre – PORTUGAL ramos.humberto@hotmail.com| https://www.facebook.com/1bertoramos?ref=ts | www.humbertophoto.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © Humberto Ramos
Humberto Ramos nasceu em Portalegre em 1975, formou-se em saúde ambiental em 1993, actualmente trabalha na Unidade de Saúde Publica de Portalegre e é um fotógrafo amador de natureza e vida selvagem que dedica-se exclusivamente a esta vertente da fotografia desde Janeiro de 2010. Apesar de realizar imagens por todo o território nacional, foi no distrito de Portalegre que fotografou a maioria das imagens que compõem o seu portfólio, mais propriamente no Parque Natural da Serra de S. Mamede e áreas circundantes. Gosta de fotografar diversos assuntos e motivos que vão desta a paisagem à macrofotografia, mas é na fotografia de vida selvagem, principalmente aves que desenvolve esta sua grande paixão. Ainda no ano de 2010, torna-se um dos fundadores da “NATUGRAFIA.COM - Associação de fotografia de Natureza”, a primeira associação de fotografia dedicada exclusivamente à fotografia de natureza e vida selvagem em Portugal. Com uma ainda curta estadia no meio, conta já com várias imagens publicadas em revistas da especialidade quer nacionais quer internacionais, assim como uma fotografia semi-finalista na edição de 2011 e uma fotografia finalista na edição de 2012 do prestigiado concurso de fotografia de natureza e vida selvagem da BBC, “Wildlife Photographer of The Year”, entre outras destacadas em diversos concursos quer nacionais quer internacionais. Em Junho de 2012 foi convidado para integrar a agência internacional de fotografia de aves BIRDIMAGENCY, uma agência composta por alguns dos nomes sonantes na fotografia de aves a nível mundial. Pedro Sarmento - Humberto vamos começar pelo principio e isso significa saber como começou a fotografia na tua vida? Humberto Ramos – Nem sempre fiz fotografia de vida selvagem, comecei pelo retrato. Em 1999 comprei a minha primeira câmera reflex, quase na véspera de uma “deslocação” que fiz a Timor Leste integrado numa missão de ajuda humanitária do então chamado “Serviço Nacional de Bombeiros”, agora “Autoridade Nacional de Protecção Civil”. Apesar de já na altura comprar bastantes revistas de fotografia, a experiência era mínima, contudo decidi fazer esse investimento e iniciar-me na fotografia. PS - Dedicaste-te á Fotografia de natureza porque? HR – Desde pequeno que ao ver as séries/documentários do Rodríguez de la Fuente e do David Attenborough sobre vida selvagem que se tornara para mim um sonho retratar a nossa biodiversidade. A fotografia foi o veículo que me permitiu atingir esse mesmo sonho. PS - Qual foi a ideia que te levou com outros fotógrafos a fundar a Natugrafia, e quais são os objectivos do Grupo? HR – O principal objectivo foi o de criar uma associação de fotografia de natureza, para ajudar a desenvolver esta difícil arte em Portugal. Quando alguém se inicia, não tem muitas vezes maneira de evoluir, alguém a quem recorrer, não existia no nosso país um local de partilha de conhecimentos. Em fotografia de natureza a evolução é muito lenta, os segredos e as técnicas normalmente não se divulgam... PS - Como fotografo de natureza, tens preocupações ambientais, quando fotografas e também quando mostras os teus trabalhos tentas trazer o assunto ao público? HR – Sem dúvida, ao divulgar através das imagens que realizo a beleza da nossa fauna, considero que estou a contribuir para 52 | phocal photovisions
a sua protecção e preservação, mostrando pequenos detalhes, comportamentos. Os trabalhos que realizo são divulgados no meu site pessoal, nele existe um blog onde faço questão de ir relatando algumas “aventuras” e onde vou colocando informações sobre as espécies que vou fotografando, sempre numa perspectiva de protecção e preservação da nossa biodiversidade. PS – Em termos de equipamentos, ser um fotografo de natureza exige um investimento muito grande em equipamento? HR – Sim e não. Tudo depende do objectivo, por exemplo, uma lente fixa com uma grande distância focal é cara, tem a vantagem de permitir fotografar com grande qualidade a distâncias ao sujeito maiores, e ao mesmo tempo isolando o sujeito do meio que o rodeia, qualquer câmera pode ser utilizada para fotografar a vida selvagem, sendo que hoje em dia as diferenças são principalmente em relação à velocidade e precisão da focagem e número de disparos contínuos. Existem grandes fotógrafos que utilizam lentes fixas ou zoom na ordem dos 400mm com excelentes resultados. Existe também a possibilidade de realizar imagens recorrendo a uma lente grande ângular e um comando à distância, valorizando neste caso o sujeito enquadrado no seu habitat, não sendo neste último caso o investimento assim tão elevado. PS – Ser fotografo de natureza é um trabalho de paciência ou consegues programar aquilo que queres fazer num determinado local e dia? HR – Muito dificilmente se consegue fazer o que se programou num determinado local ou dia. Algumas das imagens do projecto de Águia de Bonelli que realizei este ano demoraram mais de 4 meses a concretizar. Não é possível com espécies selvagens pedir esta ou aquela pose, este ou aquele comportamento, as situações procuram-se, algumas vezes temos sucesso, muitas outras não.
PS – Portugal é amigo dos fotógrafos de natureza, ou seja, o país oferece-nos locais fantásticos para este tipo de fotografia? HR – Sim, felizmente em Portugal ainda existem locais fantásticos com uma grande biodiversidade, mas não é isso que faz uma boa fotografia, por vezes espécies mais comuns e frequentes nos nossos jardins urbanos fazem fotografias excelentes, costumo dizer que mais vale uma boa foto de uma espécie comum do que uma má de uma espécie rara... PS – Que tipo de fotografia te dá mais gozo fazer e porquê? HR – Faço principalmente fotografia de aves, no nosso país existe uma grande variedade de aves, temos uma avifauna muito rica. Já mamíferos são em menor número e a grande maioria de hábitos noturnos, sendo por isso a sua fotografia bastante mais difícil. Não estou neste ramo por ser fácil, mas quando se é amador e apenas se fotografa ao fim de semana, temos de fazer opções. PS – Este teu trabalho como fotografo obrigou-te também a um estudo e aprofundar de conhecimentos em termos de espécies etc, já te aconteceu teres fotografado uma animal que não consigas identificar? HR – Nos insectos é bastante comum isso acontecer, são tantas as espécies que é difícil conhecer todas. Quando me iniciei a dificuldade era grande e por vezes tive de recorrer a amigos para me ajudarem na identificação, tento estudar uma espécie ao máximo antes de sair para o campo, mas por vezes temos surpresas. PS – Portalegre e o Parque Natural da Serra de S. Mamede são um oásis para a tua fotografia? HR – Uma das vantagens de se viver no interior e em zonas menos humanizadas/desenvolvidas é exatamente a capacidade de nesses locais se proporcionar um melhor equilibro entre o homem e o meio. O distrito de Portalegre possui a paisagem típica alentejana a sul, com o montado e as planícies agrícolas e a norte com uma paisagem típica de Beira, o PNSSM e zonas envolventes possuem um microclima único onde a biodiversidade ainda vai estando de boa saúde, sendo por isso mesmo um pequeno oásis para a natureza e para a sua fotografia. PS – Que locais no mundo gostarias de não perder a oportunidade de fotografar, e porque razão? HR – Gostaria de fotografar espécies quer no Ártico quer no Antártico, pois com o aumento das temperaturas a nível global não sabemos quanto tempo durarão esses frágeis ecossistemas terrestres. Provavelmente o declínio destes ecossistemas levará ao declínio de muitos outros e a desaparecerem será tipo bola de neve, mas ainda assim se tivesse essa possibilidade era por eles que optaria em primeiro lugar. PS – E um animal? Algum especial que sonhasses poder fotografar? HR – Para além das espécies do Ártico e Antártico, um dos meus grandes sonhos está aqui bem mais perto, gostaria de um dia fotografar um Lince ibérico selvagem e em liberdade em Portugal... Reconheço que é um sonho difícil de concretizar, apesar dos grandes esforços de conservação deste felino quer em Portugal quer em Espanha, na minha opinião as perspectivas não são nada animadoras. Sou da opinião que para preservar uma espécie devem ser
tomadas medidas também para a preservação do seu habitat, isto implica também a preservação das suas presas. A principal presa do Lince Ibérico é o Coelho Bravo, que como todos sabemos é uma espécie cinegética, se não tomarmos medidas drásticas para preservar o coelho bravo dificilmente conseguiremos salvar o Lince da extinção... PS – Voltando á fotografia e aos fotógrafos, como vês o panorama fotográfico português, estamos bem servidos de bons profissionais? HR – Considero que existem fotógrafos de natureza com grande qualidade em Portugal. Uns mais conhecidos outros menos, no entanto e porque estou no meio, noto que são muito poucos aqueles que vivem exclusivamente da fotografia de natureza, numa altura de expansão mundial da fotografia, acompanhada também por um aumento da consciencialização ambiental a nível global, que levou a um aumento de procura de serviços nas várias vertentes de fotografia de natureza, workshops, viagens fotográficas, publicações especializadas, entre outros, em Portugal, mesmo com o aumento de praticantes, o número de profissionais quase que estagnou. Não existe neste momento mercado, não existem revistas de especialidade e a procura pelos serviços é baixa, podemos culpar a conjectura atual, mas isso apenas servirá para tapar o sol com a peneira. É necessário na minha opinião uma reflexão grande sobre o que se passa em Portugal, cujos caminhos não estão a acompanhar a tendência mundial. PS – És um fotografo que tem a preocupação de ver o que te rodeia? Segues o trabalho de outros fotógrafos, tens gente que te inspira no teu trabalho ou é possível seguir uma linha própria? HR – Uma das minhas maneiras de passar o pouco tempo livre de que disponho, é apreciar portfólios nesta área, com isto aprendo bastante e melhoro o meu estilo, ao mesmo tempo fico a conhecer o que existe obrigando-me desta forma a fazer melhor e diferente. Faço um grande esforço para que em cada saída consiga criar algo de único tentando não cair em cliché, nem sempre é fácil, mas tendo conseguir diferentes abordagem, poses e situações nas espécies que acompanho, com isto não me refiro a fazer melhor ou diferente que qualquer outro português, sou um cidadão do mundo, falo a nível global. PS – Para terminar Humberto Ramos, projetos para o futuro? HR – Bem para o futuro, espero conseguir vir a melhorar ainda mais aquilo que já faço. Eu não coleciono espécies, coleciono situações, e é desta forma que continuarei a transmitir a minha perspectiva, captando momentos únicos e diferentes da nossa fauna. Tenho também intenção de retratar todas as “grandes” rapinas..... Este ano gastei uns meses com a Águia de Bonelli, e para o futuro espero retratar também a Águia Real, Águia Imperial e também a Águia Cobreira, são um projecto ambicioso e que me levará bastante tempo, provavelmente anos... A partir de Novembro irei também começar a vender no meu site um dos equipamentos indispensáveis a qualquer fotógrafo de vida selvagem, abrigos camuflados, na minha opinião pessoal dos melhores que já vi e a um preço bastante acessível, quem sabe se não será este o primeiro passo que a maioria dos fotógrafos amadores anseia, a profissionalização... phocal photovisions | 53
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Garรงa Real - Ardea Cinerea phocal photovisions | 55
Ă guia de Bonelli - Aquila fasciata MergulhĂŁo pequeno - Tachybaptus ruficollis
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Cegonha Branca - Ciconia ciconia Garรงa Real - Ardea cinerea
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Milhafre Real - Milvus milvus Abelharuco comum - Merops apiaster
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Colhereiro europeu - latalea leucorodia
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Ă guia de Bonelli - Aquila fasciata phocal photovisions | 61
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Chapim Azul - Parus caeruleus
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Garรงa Boieira - Bubulcus ibis
RICARDO GUERREIRO ALMADA – PORTUGAL mail@rguerreiro.com| https://www.facebook.com/rguerreiro77 |http://www.rguerreiro.com/ TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © RICARDO GUERREIRO Ricardo Guerreiro cresceu e vive atualmente em Almada. Desde novo nutriu interesse pelos temas relacionados com o mundo natural, o que o levou à frequência da Licenciatura em Física na Universidade de Lisboa. Contudo, a sua ocupação profissional viria ser na Ornitologia, um hobby que cultivava há muito. Por entre projetos de investigação nessa área, foi desenvolvendo a fotografia de natureza como complemento e esta é de momento a sua ocupação principal, incluindo a fotografia propriamente dita e também o filme. Tem publicado imagens em revistas e livros da especialidade e tido algumas menções honrosas em concursos de fotografia internacionais como o Europe’s Countryside Alive da UE e o Save Our Seabirds da Birdlife South Africa. Ricardo nos últimos dois anos tem desenvolvido essencialmente trabalho fotográfico na área da vida selvagem em meio urbano, acreditando que faz falta reparar e valorizar mais os tesouros naturais que temos “ao virar da esquina”. Pedro Sarmento -Ricardo como é que um Licenciado em Física realizar exposições, dar cursos, palestras, publicar artigos, etc. se torna num fotografo a tempo inteiro, ainda por cima espeNão julgo que seja possível fazer um trabalho, ainda que bom, cializado em vida selvagem? e ter reconhecimento só porque sim sem fazer mais nada com Ricardo Guerreiro – Bom, começo por desfazer um equívoco. Eu esse trabalho. É preciso depois promovê-lo em várias frentes, frequentei a licenciatura em Física mas não terminei. Comecei a especialmente se se pretende viver disso. trabalhar nos Açores, na observação de cetáceos quando terminei o terceiro ano e quis o andamento dos anos seguintes que PS -Quando decides fotografar não tens ali o modelo á espera, entretanto não voltasse à faculdade (até hoje). A conjugação vais á procura mas acredito que nem sempre és bem sucedido. desse trabalho, com os trabalhos em ornitologia que fiz nos anos Aproveitas esses momentos para sempre registar momentos, seguintes, permitiram que a fotografia de natureza fosse tomando pormenores que queres preservar na tua memória fotográfica? cada vez mais peso nas minhas atividades, até que em 2009 decidi RG – A maioria das vezes que vou para o campo, levo ideia do dedicar-me a tempo inteiro a ela. que quero fazer e que espécies vou trabalhar. Vou portanto com algum planeamento feito e com o local e a espécie já estudada, PS -Desde cedo que te dedicaste à natureza, mas nem sempre que serve de linha orientadora para as sessões fotográficas. via fotografia. Quando a espécie em concreto não aparece ou não se comporta Como é que decidiste dar esse rumo á tua vida? como esperava, muitas vezes aproveito para fotografar outros animais que apareçam ou a paisagem do local. Contudo, outras RG – Desde miúdo que me interessei por temas relacionados com vezes prefiro não o fazer, para me manter focado porque também o mundo natural. A vontade de partilhar algumas das histórias que já perdi boas hipóteses fotográficas por “desistir” cedo demais da ia conhecendo, de animais ou locais, levou-me a apostar cada vez espécie alvo e mudar o foco para outra. Depois a espécie alvo mais forte na fotografia. Como é por esta via que quero estar na afinal voltou e comportou-se como eu queria, mas já tinha fotografia de natureza, contar histórias, ajuda se a atividade for mudado de definições na câmara, de lente, etc., e acabo por não levada a tempo inteiro: maior foco e também maior pressão em fazer nem a que tinha planeado nem a outra. Como sempre a ter narrativas completas em vez de coleções de imagens aleatórias, paciência e não se perder no deslumbre de fotografar outra coisa que embora possam ser maravilhosas não constituem um corpo podem ser essenciais mas como em tudo, há que saber quando coerente que contem a tal história. Por esta razão, optei por este o risco vale a pena, e aproveitar para fazer outras coisas se o caminho e para já mantenho principal não estiver a render. PS -Para quem segue o teu trabalho vê nele uma enormidade de espécies diferentes., quer ao nível marinho, quer de aves repteis etc. Tens ideia de quantas espécies já fotografaste? RG -Bom, podia fazer batota e ir ver assim por alto a minha biblioteca de imagens mas como estou no campo no momento em que escrevo esta resposta, não o posso fazer. (= E assim, a resposta é mais verdadeira: não tenho ideia. mas acho que não são assim muitas espécies, comparando com alguns colegas que vejo em galerias da net. Não é algo que sequer me tenha ocorrido anteriormente “quantas espécies já terei fotografado?”. Não faço, digamos, coleção de espécies e não me tinha nunca ocorrido essa interrogação mas fico curioso. (=
PS – Tens locais preferidos para fotografar ou corres á procura de novas oportunidades? RG – Não tenho por hábito fazer grandes explorações à procura de sítios para fotografar, digamos, só por lazer. Também não se pode dizer que tenha locais preferidos embora o Sul de Portugal seja a zona onde me movimento mais. A minha procura de novos locais ou temas, não é aleatória. Geralmente, já vou explorar um local, com uma ideia de projeto ou trabalho que quero fazer. Isto também acontece porque eu não tenho outra fonte de rendimento e portanto, tenho de associar o gosto de fazer esse projeto, com ter algum retorno. Percorrer país a fotografar “só porque sim”, não dá para quem não tem outro emprego.
PS -Para se ser um fotografo de vida selvagem reconhecido como tu és, que tipo de conhecimentos para além da fotografia é necessário ter? RG – É preciso conhecer o mundo natural, os animais, fenómenos da natureza, etc. Penso que qualquer fotógrafo de natureza, precisa de ser também um naturalista mas ainda assim não quer dizer que depois se seja reconhecido, mesmo tendo um bom trabalho. Essa parte tem muito trabalho de casa por trás. É preciso bater a muitas portas, estar em cima dos acontecimentos, pedir apoios,
PS – O teu projeto “Almada Natureza Revelada” é uma forma de identificar melhor o local onde vivemos? Qual foi a aceitação do público? RG – Sim. Esse projeto teve uma motivação altamente pessoal de achar que devemos valorizar mais e estar mais atentos ao que temos aqui perto, sem projeções ou sonhos do que está longe, remoto. É aqui e agora que vamos viver mais de 90% das nossas vidas, por isso, valorizar o que está aqui perto e agora, é valorizar a maioria do tempo que por cá passamos. Isto não desvaloriza,
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obviamente, o querer viajar ou ter sonhos de ir a outros locais. Apenas valoriza mais o tempo que estamos onde vivemos, como já disse, a maioria. Dum ponto de vista menos pessoal, estamos também num período que pela primeira vez na História há mais pessoas a viver em meios urbanos que em meios rurais ou selvagens. Por isso, acho que é um tema relevante para “oferecer” às pessoas: através de as tocar (espero) com estas imagens, motivá-las a descobrir as riquezas naturais da sua própria cidade (vila, aldeia...). A aceitação do público tem sido ótima e muitas vezes recebo comentários e incentivos que pelo tom mostram alguma surpresa em quem os profere, algo tipo “não fazia ideia que tínhamos estas espécies todas logo aqui ao virar da esquina.. obrigado pela ‘chamada de atenção’”. PS – Também te dedicas ao vídeo sempre na área da natureza, tens uma paixão maior que outra em termos de vídeo vs fotografia? RG – Acho que não... Tenho fases em que estou mais entusiasmado com o vídeo e outras com a fotografia. Mas isso tem mais a ver com a envolvência com que estou com os projetos que podem ser de fotografia (stills) ou filme. Acho que o tipo de coisas que se podem contar, ou a forma de transmitir podem ser diferentes mas no fim, o que espero é sempre partilhar boas histórias com o público. Mas já houve tempos, essencialmente quando era mais novo, em que tinha preferência clara pela imagem animada. Cresci a ver filmes de história natural mas consumi muito pouca fotografia até há bem pouco tempo. Hoje em dia, tanto me deleito com livros como com filmes. No trabalho, tenho projectos a decorrer nas duas áreas mas não é pelo formato que digo que gosto mais de um ou de outro. PS – Tens também já participação no National Geografic: Como é que apareceu o convite e achas que é uma “montra” importante para um fotografo de vida selvagem ? RG – A publicação desse artigo, do projeto Almada Natureza Revelada aconteceu por submissão minha da ideia e das imagens. A equipa editorial considerou a ideia interessante e sentiu que as imagens eram fortes e representativas do conceito e que faziam sentido no âmbito da revista e publicaram. Diria que a National Geographic (Portugal), é uma montra importantíssima, se não mesmo um dos maiores cartões de visita, para qualquer fotógrafo desta área. A NG é histórica e qualquer pessoa associa no seu imaginário, a publicação nesta revista como um dos reconhecimentos mais importantes ou relevantes no mundo editorial de história natural. PS – Tens em andamento vários projetos fotográficos e de vídeo e penso até que um livro e um filme sobre vida selvagem para a televisão, queres desvendar algo sobre isso? RG – Sim. No caso concreto do projeto Almada Natureza Revelada, estou neste momento a editar as imagens para começar a maquetar o livro (datas de publicação ainda não estão certas mas será ao longo do próximo Outono, com certeza). Tenho outro projeto fotográfico alinhavado para o sul de Portugal mas ainda sem certezas concretas de avançar; encontro-me em fase de busca de apoios. Na área do filme, estou neste momento a trabalhar na montagem de um filme sobre o património natural da serra da Arrábida, realizado pelo Luís Quinta e rodado em conjunto por nós os dois, com o objectivo primeiro de transmitir na televisão. PS – Entendes a vida de um fotografo como sendo importante para a história de uma pais, tendo em conta a documentação que é possível fazer de lugares, fauna etc? RG – Sim. Acho que não faltam exemplos na História que provem o poder e potencial que a fotografia (seja “stills” ou animada -filme) pode ter para alertar, mudar opiniões e mentalidades, revelar o desconhecido. Acredito que no fim, a cultura de um povo, o que tem de mais único, é moldado pela história natural local, embora isto esteja talvez bastante diluído hoje em dia e mais difícil de ver por vivermos nos meios urbanos. No Alentejo,
existem costumes e detalhes culturais associados à cortiça, porque é uma região onde há muito sobreiro. É só um exemplo que, espero, ilustre que negligenciar a natureza é no fundo negligenciar as raízes da nossa cultura. Sabendo o que a fotografia pode fazer para a promoção destes tesouros naturais, penso que os fotógrafos poderão ter peso, sim, na história de um país... se conseguirem que o seu trabalho chegue a e toque muita gente. PS – Desde 2009 que te dedicaste a tempo inteiro á fotografia, era para ti já difícil conciliar fotografia com o teu trabalho profissional? RG – Não era tanto uma questão da dificuldade de conciliação em termos de tempo mas mais uma vontade de fazer mais na fotografia pois como disse anteriormente, não o fazia só com a vontade de ter imagens boas. Queria partilhar as histórias com as pessoas e quer do ponto de vista do tempo que necessito de dedicar à fotografia como do próprio foco nos temas, era muitas vezes desviado porque ia estar semanas a fazer outro trabalho, em ornitologia por exemplo, em que nessas semanas provavelmente a concentração no tema fotográfico seria quase nula. Bom, isto acaba por ser à mesma uma dificuldade de conciliação... Não por falta de tempo mas se calhar por falta de disponibilidade mental . PS -Voltando á fotografia, tens algum animal que já tenhas fotografado, que te tenha apaixonado? RG – Vários. Alguns já vou apaixonado para o trabalho mas outros surpreendem-nos pelos seus comportamentos. Um exemplo foi quando fotografei gralhas (Corvus corone) para o projeto de Almada, no seminário de São Paulo. Passei várias tardes no esconderijo e pude observar comportamentos que não conhecia. Quando um bando se aproximava, vinham sempre umas à frente, uma espécie de batedores, diria, a palpar terreno. Uns minutos depois, chegava sempre uma que no meu entender seria “a chefe” do bando. As que tinham vindo antes, mostravam-se algo submissas ou pelo menos assim me parecia. Aproximavam-se desta última, com um tom suave de “vassalagem”. Esta última por outro lado tinha assim um ar altivo, com a cabeça meio em direção ao céu, pescoço esticado. Mas tudo muito tranquilo. Não me pareceu que fosse uma tirania. Presenciar isto vários dias e pensar sobre a complexidade social que estes animais podem ter, fez-me, pelo menos durante algum tempo, estar apaixonado pel’aquela espécie. Será com certeza um comportamento bem documentado pois é uma espécie bem estudada mas eu nunca tinha lido sobre o assunto e gostei da surpresa. PS -Que locais no Mundo pela sua beleza natural e ou pela sua fauna, não gostarias de perder a oportunidade de fotografar? RG – Há locais no mundo que gostaria de visitar porque fazem parte do meu imaginário de tanto os ver nos filmes da NG ou BBC. Mas não tenho assim um estímulo em particular de ir fotografar algo lá fora. Se fizer uma lista das coisas que quero fotografar, das histórias que quero contar às pessoas, é tudo cá (Portugal, incluindo ilhas). Penso que isso se prende com a minha ligação emocional com certas zonas e/ ou temas naturais e que daí me imprime a motivação para os projetos. Lá fora, há coisas lindíssimas e que me fascinam, claro. Mas mais duma perspectiva de ir conhecer e não de ir fotografar. PS – Um grande foto, tens uma definição para ela? RG – Uma que me faça dizer “tch, que barbaridade!!!”. Não há uma foto-tipo para mim, acho. Vejo fotos que à partida não me diriam muito e que fico mesmo incrédulo por me tocarem de alguma forma. Outras, que até poderiam dizer muito e não tocam cá dentro. Acho que vem do sentimento que despoleta em mim e não de uma lista de características que deve ou não ter para ser “uma grande foto”. Penso que no limite, é impossível dizer o que é uma boa foto. Como já disse um dos “mestres”: “Não há regras para boas fotografias... apenas boas fotografias”. phocal photovisions | 65
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papoilas no Funchalinho, Costa da Caparica
peneireiro (Falco tinnunculus) SeminĂĄrio de SĂŁo Paulo, Almada ganso-patola (Morus bassanus) ao largo de Aljezur
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cobra-de-ferradura (Coluber hippocrepis) Costa da Caparica libĂŠlulas - Parque da Pa - Almada
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Osga (Tarentola mauritanica) Almada Velha Alforva-Brava (Euphorbia sp.) Mata dos Medos, Fonte da Telha
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flausina (Phylloscopus collybita) Seminรกrio de Sรฃo Paulo - Almada pardela-balear (Puffinus mauretanicus) ao largo de Aveiro
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guarda-rios (Alcedo atthis) no Parque da Paz, Almada
LUÍS FERREIRA Vilvoorde - Bélgica lois_ferreira@netcabo.pt| https://www.facebook.com/lois.ferreira |http://www.luis-ferreira.com TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © luís ferreira
Luís Ferreira nasceu a 14 de Março de 1982. Fotógrafo de Natureza, o seu trabalho revela um mundo quase invisível e de uma beleza raramente vista. A relação que cria com os seres que fotografa, ajuda-o a fazer a ponte entre o homem e a natureza para a sensibilização das pessoas no que respeita à conservação e valorização das espécies. É frequente a sua participação em exposições de fotografia colectivas, criando igualmente as suas próprias exposições com o apoio de empresas como Epson, HP e Caniço Shopping. Dinamiza ações de sensibilização sob o tema: “Educar a preservar!” em escolas, com crianças com idades a partir dos 5 anos, promovendo assim a conservação da natureza em Portugal. Publicou diversos artigos de fotografia em revistas como Super Foto Prática, Foto Digital, Zoom, Azulejo Cultural Almanaque, Pardela e NATIONAL GEOGRAPHIC. Continuem a preservar! Pedro Sarmento - Luís a fotografia em ti começa cedo, ainda com o analógico, alguma razão especial te levou e começar a fotografar? Luís Ferreira – É verdade, foi aos 16 anos que fui inspirado por uns tios de parte da minha mãe, que já tinham viajado por meio mundo. Voltavam sempre repletos de fotos e vídeos dos locais mais fantásticos. Nesse momento fui até à Eslováquia e decidi comprar a minha primeira máquina fotográfica. Tudo começou assim. PS - E a fotografia de natureza foi logo um amor á primeira vista? LF – Não! Sempre fui um amante das atividades ao ar livre e dos animais em geral, mas, apenas ao ver as macro fotografias fantásticas de alguns colegas fotógrafos Portugueses me fez entrar no mundo fantástico da fotografia de natureza. PS - Depois enveredaste dentro da natureza por outros caminhos – Macro . Sentiste alguma necessidade de mostrar pormenores? LF – Sim, principalmente de explorar, descobrir novas formas e cores da natureza. O mostrar veio sempre após o sentimento de ter descoberto algo interessante. PS - Ser fotografo de natureza parece-me a mim, tem características próprias, paciência, persistência etc, achas que um fotografo de natureza que está condicionada a tanto facto externo pode também ele inovar no seu trabalho? LF – Óbvio que sim! Existe muito por fazer e mostrar. Claro que esses projetos inovadores demoram tempo a preparar e realizar, mas, tudo é possível neste meio! PS - Imagino eu que para um fotografo como tu, será necessário muito trabalho de investigação, nomeadamente na identificação de espécies. Ou seja não basta fotografar, como é que essa parte acontece? LF – Sim é verdade! Recorro regularmente aos meus inúmeros guias de identificação e guias de campo para as reconhecer as espécies fotografadas. Mas normalmente já vou tentar fotografar a espécie depois de a ter estudado. Não posso deixar de referir que trabalho muito com equipas de biólogos e cientistas que me ajudam a aprender. 72 | phocal photovisions
PS – Já te aconteceu fotografar animais que não tenhas conseguido de todo identificar ? LF – Sim, especialmente no grupo dos insectos. Tenho com certeza raridades nos meus discos externos que ainda não foram identificadas. PS – Tens abraçado vários projetos quer na fotografia quer também em questões ambientais, como foi por exemplo o “Educar e Preservar” com as escolas? LF – Sim, o trabalho que fazemos pode ser apenas por prazer, para ganhar dinheiro ou porque acreditamos que o que fazemos pode mudar mentalidades. Acredito mais na última hipótese, então, comecei esse projeto pessoal de sensibilizar crianças em escolas através das imagens que realizo. PS – Tens alguns projetos em andamento neste momento, quer ao nível de exposições e ou publicações? LF – Publicações especialmente. Os apoios andam escassos neste momento, mas não tenho pressa... PS – Recentemente fizeste um documentário em vídeo sobre o “Corvo em Metamorfose”. Qual foi a aceitação das pessoas a esse trabalho? LF – Gostaram muito, especialmente os Corvinos. É um documentário para eles e para quem quer conhecer melhor aquela rocha plantada no centro do Atlântico. Foi um projeto super interessante de desenvolver. Vivi no Corvo durante mais de um ano para o realizar. PS – Tens tido experiências fotográficas noutras paragens, qual foi o local que mais prazer te deu fotografar? LF – Marrocos, França, Espanha, contudo as Ilhas Selvagens do arquipélago da madeira continuam a ganhar pela diferença. É um lugar único e bem conservado. PS – Tens projetos para outras paragens em termos fotográficos? Por exemplo o Oriente fascina-te? LF – Índia, é a minha viagem de sonho. Especialmente para fotografar a vertente humana. Quanto ao Oriente fico maravilhado pelo Japão e alguns locais da Rússia. Um dia passo por lá. PS – Portugal é um bom local para um fotografo de vida selvagem? LF – Sim é um local único. Já viajei por imensos países e cada
vez mais acredito que o nosso pais é dos melhores para fotografar Natureza. Especialmente porque este fenómeno é recente em Portugal. PS – E África, de algum modo sentes-te tentado, ou ainda tens muito para fazer por cá? LF – Já fui duas vezes a Marrocos em trabalho. Na primeira vez fui ao Deserto do Sahara e da segunda dei uma volta completa, passando pelas mais altas e belas montanhas. Fomos em busca de escaravelhos e borboletas para uma universidade. África tem um encanto especial! Espero visitar um dia as grandes manadas e os “big five”. Mas sim... tenho muito por fazer por cá.
PS – Para terminar Luís que projetos tens em andamento para um futuro próximo? LF – Estou em testes para fazer umas filmagens através de helicóptero telecomandado. Os testes correram bem. Agora é continuar e filmar. Aguardem novidades...
Guarda Rios - Goís
Golfinho - Ilha do Corvo
PS – O ano passado surgiu a tua participação na National
Geographic. É de algum modo também o reconhecimento pelo teu trabalho? LF – Julgo que sim. Principalmente porque era um tema único e recente, nunca antes retratado nas revistas do tema. A “Freira do Bugio” é uma ave marinha e migratória que escolhe o topo da ilha do Bugio, na Madeira, para nidificar. A minha vida não mudou depois dessa publicação, contudo, foi um reconhecimento fantástico que elevou o nível de exigência do meu trabalho, bem como os pedidos de imagens e exposições.
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Teide - Ilha de Tenerife Veado - Serra da Lous達
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Teide - Ilha de Tenerife
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Mergulhão de Pescoço Preto - bélgica Cagarros - Ilhas Selvagens
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Abetouro Americano - Ilha do Corvo
Caravela Portuguesa - Madeira Abetarda - Alentejo
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Borboleta - Marrocos
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NUNO SÁ PONTA DELGADA | ILHA DE S. MIGUEL - AÇORES fotonunosa@gmail.com| https://www.facebook.com/nuno.sa.50 |http://www.photonunosa.com/ TODAS AS IMAGENS ESTÃO PROTEGIDAS POR DIREITOS DE AUTOR - © NUNO SÁ
Nuno Sá, nasceu em Montreal, Canadá no ano de 1977. Em 1988 regressa, com a sua família, para Portugal quando tem a idade de onze anos. O seu contacto com o mundo subaquático inicia-se em 1997, quando tira o seu primeiro curso de mergulho. Licencia-se em Direito na Universidade Católica Portuguesa de Lisboa no ano de 2001. Em 2002 muda-se para os Açores, ilha de São Miguel para seguir o seu sonho de uma vida em contacto direto com o mar. Fotógrafo profissional desde 2004, especializou-se em fotografia de vida selvagem de temas marinhos. Conta com 6 livros editados, e é colaborador regular de várias revistas Nacionais e Internacionais, entre elas a National Geographic Portugal. Conta com imagens expostas em alguns dos maiores museus de história natural do mundo tais como London Natural History Museum e Smithsonian National Museum of Natural History, em Washington. Conta com cerca de uma dezena de distinções em alguns dos principais concursos internacionais de fotografia de natureza, sendo hoje o mais premiado fotógrafo de natureza a nível Nacional. Entre vários outros destacam-se duas imagens premiadas no Wildlife Photographer of the Year, o maior e mais prestigiante concurso de fotografia de vida selvagem a nível mundial onde se mantêm como único Português premiado, bem como uma imagem vencedora da categoria Oceanos no maior concurso de fotografia de natureza dos EUA – Windland Smith Rice Internacional Awards. Membro da International Environment Photographers Association (IEPA), é regularmente convidado para fazer parte do júri em vários concursos de fotografia de vida selvagem. As suas imagens têm sido amplamente utilizados para promover as ilhas dos Açores em revistas, exposições, cartazes, feiras de turismo, etc. Nuno Sá é membro da equipa europeia de elite de fotógrafos de natureza, Wild Wonders of Europe, o maior projeto de fotografia de natureza a nível mundial, com um público esperado de mais de 100 milhões de pessoas, um projeto apoiado pela National Geographic Society. Pedro Sarmento - Nuno a tua aventura subaquática começa em 97 com o tua primeira formação em mergulho, e a fotografia aparece na tua vida porque razão? Nuno Sá – Sinceramente foi o contacto com a vida marinha que levou ao aparecimento da fotografia na minha vida. Os primeiros mergulhos feitos enquanto ainda frequentava o curso de direito ocuparam gradualmente o meu imaginário e levaram a uma mudança de rumo no meu futuro. Recém licenciado mudei-me para os Açores com o objectivo de viver uma vida em contacto direto com o mar... e com o sonho de me tornar um dia fotógrafo ou videógrafo de vida selvagem (não tinha máquina ou experiência em nenhuma das áreas). Três meses depois de chegar aos Açores já me tinha matriculado no curso de biologia marinha e trabalhava numa empresa de observação de cetáceos... e via os primeiros golfinhos e baleias da minha vida. A fotografia nasce nessa altura da minha vida. Senti a necessidade de que os momentos que pela primeira vez vivia fossem captados para recordar e poder mostrar à família e aos amigos essas experiências novas e incríveis pelas quais passava todos os dias. Do hobby à obsessão pela fotografia perfeita foi um pequeno passo. PS – Sabemos que em 2004 te tornaste fotógrafo profissional.... foi o mergulho que te empurrou para a profissionalização em fotografia? NS – Na verdade até bem recentemente fazia muito mais imagens fora de água, em especial a cetáceos, do que debaixo de água, em mergulho. O meu primeiro livro foi publicado quase em exclusivo com fotografias de cetáceos fora de água, e nessa altura a fotografia de natureza era feita nos tempos livres com a fotografia de divulgação turística e cultural a pagar as contas. Foi apenas no final de 2008 que tive a oportunidade de de80 | phocal photovisions
cidir o rumo que queria tomar na fotografia. No ano anterior li um artigo num jornal local, o “Açoriano Oriental” que dava conta que um fotografo Australiano chamado Wade Hughes tinha sido premiado no maior concurso mundial de fotografia de vida selvagem a nível mundial, o Wildlife Photographer of the Year, com uma fotografia de uma baleia fina tirada nos Açores. Decidi que no ano seguinte iria concorrer ao concurso e para minha grande surpresa fui premiado. Maior foi a surpresa quando soube que nos mais de 40 anos de história do concurso nunca nenhum fotógrafo Português havia sido premiado. Nesse momento o grande aumento de convites em Portugal e no estrangeiro permitiu que tomasse as opções sobre que tipo de fotografia queria de facto fazer. A decisão foi dedicar-me à fotografia orientada para a conservação e sensibilização ambiental, tentando revelar aos Portugueses a nossa vida marinha com especial incidência nas ilhas e com base nos Açores. PS – Para levares por diante este projeto foi essencial ires para os Açores? A riqueza do mar dos Açores é muito superior em espécies marinhas relativamente ao Continente NS – Essa foi uma decisão que em 2008 tive de tomar quando decidi dedicar-me a tempo inteiro à fotografia de natureza. E talvez o factor mais importante tenha vindo de um dos fotógrafos da National Geographic cujo trabalho seguia e conhecera pessoalmente e a quem enviei um e-mail a perguntar exatamente qual pensava que deveria ser o meu próximo passo para enveredar numa carreira na fotografia de natureza com projeção a nível Internacional. A sua resposta foi simples: Nuno, vives num dos locais com maior biodiversidade a nível mundial e que dezenas dos melhores fotógrafos do mundo visitam todos os anos, por que raio hás de sair daí? À medida que os anos foram passando e o rol de experiências passadas neste mar aumenta percebo que recebi o melhor concelho possível.
PS – Na tua fotografia e também no teu discurso há um preocupação constante nas questões ambientais. Achas que a tua fotografia serve também para avivar as mentes dos que decidem no Mundo sobre estes temas? NS – Penso que um fotógrafo de vida selvagem é acima de tudo um porta voz da nossa vida natural. O seu objectivo deve ser partilhar a sua paixão pela vida natural e tentar que outros se apaixonem igualmente por ela. E é evidente que a força das imagens é uma das ferramentas mais poderosas para conseguir que o público se interesse, identifique e crie uma ligação sentimental com a nossa incrível vida natural. PS – Em termos de fotografia, quais são as principais diferenças entre a fotografia que fazes sub aquática e dita fotografia normal que todos nós fazemos? Equipamentos, técnicas etc NS – Penso que um bom fotógrafo de superfície rapidamente se torna um bom fotógrafo subaquático. A maior dificuldade estará provavelmente em dominar a combinação de luz natural e luz ambiente nas fotografias utilizando lentes grande angular. Mas como é evidente com a vinda e globalização da fotografia digital a curva de aprendizagem é hoje muito rápida. PS – É muito diferente fotografar debaixo de água acredito? Quais são as maiores dificuldades que enfrentas? NS – A fotografia de natureza é um tipo de fotografia muito difícil de atingir e muito imprevisível, especialmente de temas marinhos. Para além do material fotográfico e técnica temos que acertar nas condições de mar, condições de luz, presença da espécie marinha que queremos fotografar (por exemplo um tipo de tubarão que sabemos ser frequente num certo sítio) e que essa espécie tenha um comportamento que dê uma imagem especial. A regra de ouro é mesmo a preparação. Conseguir imagens deste tipo, em mar alto, requer muita preparação e a previsão de todos os cenários possíveis. É imprescindível fazer, primeiro, investigação. Passo, hoje em dia, mais tempo no escritório a investigar e a preparar as minhas missões do que no mar. Tenho de estudar muito sobre comportamento, sobre biologia, sobre cada uma das espécies e sobre rotas migratórias, para conseguir rentabilizar ao máximo o meu trabalho. Porque não é possível passar um mês atrás de uma espécie a confiar na sorte em mar alto. De modo que, o meu trabalho, passa muito pelo contacto com biólogos e universidades para desenvolver ao máximo o trabalho de investigação, preparar todos os materiais que preciso para fotografar cada espécie. No Verão aproveito, ao máximo, as condições para rentabilizar o meu trabalho. PS – Técnicas de fotografia, aplicam-se idênticas ás que a maioria de nós usa ou é totalmente diferente? E em termos de equipamentos, o que é que utilizas para a tua fotografia? NS – Sem dúvida que as técnicas a utilizar são as mesmas o ambiente é que é outro... a principal dificuldade é adaptar-se ao meio subaquático. O equipamento é o sonho e pesadelo de qualquer fotógrafo que faça fotografia subaquática. Existe uma imensidão de equipamentos que queremos ter e experimentar e acabamos com literalmente dezenas de quilos de material e um inferno logístico para os transportar. Para além dos corpos de máquina (eu utilizo canon), uma infinidade de lentes, tripés e todo o tradicional material de fotografia somam-se caixas estanques, flashes para utilização debaixo de água, domos, extensores, braços para os flashes etc... Isto já para não falar em todo o material de mergulho.
PS – Quais são os principais perigos que enfrentas na tua profissão? Sabendo que o mar é belo e traiçoeiro, dás muito valor á segurança, pensas muito nisso? NS – O facto é que nunca vivi nenhuma situação de perigo nem nas nossas águas nem ao longo dos anos que mergulho. Claro que os momentos de adrenalina são muitos como por exemplo estar frente a frente com uma Orca, tubarão ou Cachalote marca-nos para toda uma vida. Mas regra geral os picos de adrenalina prendem-se mais com o facto de saber que estou a viver um momento único e a oportunidade de fazer uma imagem marcante e que não posso falhar… pois posso nunca mais viver outra experiência semelhante. PS – Dentro das espécies que já tiveste oportunidade de fotografar qual e aquela que te dá mais gozo fazer e porquê? NS – Eu penso que até hoje a espécie mais interessante de fotografar foi a foca-monge nas Ilhas Desertas, na Madeira. Tanto profissionalmente, como do ponto de vista pessoal, foi muito importante para mim. Foi uma experiência incrível estar numa ilha deserta só com os vigilantes de natureza durante 15 dias e estar perto da foca mais rara do mundo, o mamífero marinho em maior perigo de extinção a nível mundial. Correspondeu àquela imagem um pouco heroica que se tem das experiências que o fotografo da natureza tem de passar para conseguir “a imagem”. Foi muito importante também porque fiz a minha primeira capa para a National Geographic Portugal e foi a primeira vez que publiquei uma imagem na National Geographic internacional. Por outro lado recentemente tenho desenvolvido um grande interesse em fotografar espécies de tubarão. Penso que será talvez o tipo de fotografia mais exigente em termos de ter de conciliar a técnica fotográfica com a constante interpretação dos comportamentos do animal, o que torna o tema mais interessante. PS – Ganhaste dois prémios dos mais prestigiados com fotos que fizeste logo na primeira vez que nadaste no meio de tubarões azuis. De que é que te recordas desse dia? NS – O primeiro contacto com uma nova espécie é sempre uma experiência inesquecível, em especial com predadores oceânicos cujos comportamentos ainda não sabemos interpretar. Esse dia, no final do verão de 2010 foi de facto inesquecível, tanto pela importância que viria a ter em termos de vida profissional como marcante em termos pessoais. Já há alguns anos que tinha encontros em alto mar com tubarões azuis e tentava fotografá-los sem sucesso. Nesse dia fui convidado pelo meu grande amigo Norberto Serpa a acompanhá-lo num mergulho experimental com a espécie já que ele tinha acabado de fazer o seu primeiro mergulho de sucesso com tubarões azuis em conjunto com investigadores da universidade dos Açores. Hoje já mergulhei várias vezes com tubarões azuis mas penso que nunca voltei a ter um dia como aquele. O mar parecia um espelho a perder de vista com a Ilha do Faial no horizonte longínquo e as barbatanas dos tubarões a circular tranquilamente em volta do barco. Assim que entrámos na água os raios de sol proporcionavam um cenário edílico ao ambiente enquanto penetravam na superfície calma do mar desaparecendo em direção ao abismo interrompidos apenas pelas sombras dos tubarões a nadar vagarosamente em redor dos mergulhadores. E claro que com condições destas as imagens foram acontecendo e todos os elementos bateram certo para conseguir as fotografias que há muito perseguia. phocal photovisions | 81
PS – Foi muito importante para ti esses dois prémios, foi de alguma forma o cimentar de uma carreira? NS – Sim, sem dúvida. É claro que em termos de divulgação do nosso trabalho os concursos Internacionais de fotografia de natureza são o palco por excelência e podem mudar de um dia para o outro o nosso percurso profissional devido à grande exposição que proporcionam e nesse sentido o ano de 2011 foi extremamente gratificante. Acima de tudo voltar a ser premiado no Wildlife Photographer of the Year era o meu grande objectivo desde que fui premiado em 2008 e ainda para mais na categoria de imagem subaquática à qual cada vez mais me dedico. E claro que ser premiado no Wildlife Photographer of the Year significa ter a imagem exposta num dos maiores museus de história natural do mundo e integrar uma exposição itinerante que corre museus por todo mundo, sendo vista literalmente por milhões de pessoas. Por outro lado o facto de ter vencido a categoria “Oceanos” do Winland Smith Rice International Awards, da Natures Best Photography, considerado o maior concurso de fotografia de natureza dos EUA, foi também de grande importância para mim e permitiu ter a imagem patente, em grande formato, no Smithsonian’s National Museum of Natural History, numa exposição visitada por mais de 2 milhões de pessoas. E nesse sentido o ano de 2011 foi um ano particularmente bom, penso que ter imagens simultaneamente em exposição em 2 dos maiores museus de história natural a nível mundial é um feito que dificilmente voltarei a alcançar ao longo da minha carreira.
NS – A grande maioria do meu trabalho é planeado antecipadamente de modo a abordar temas fortes que têm uma história por contar e uma mensagem a passar. Hoje em dia, também muito pela minha colaboração com a National Geographic, os temas que escolho para fotografar são ligados à conservação ambiental e, aliás, quase todos os artigos que tenho feito com essa revista são ou com espécies que estão em vias de extinção ou que são consideradas vulneráveis pelo IUCN um organismo que dá uma ideia do estado de saúde de cada população/ espécie a nível mundial. A minha fotografia é cada vez mais orientada para a conservação e para isso conto cada vez mais com o contacto com pessoas ligadas à investigação científica, bem como aos operadores de centros de mergulho, pescadores ou mesmo vigias de cetáceos, é a todos eles que devo grande parte do meu trabalho. Por outro lado se pensarmos que apenas uma pequena parte dos Portugueses sabem que existe nos nossos mares desde o maior animal do mundo (a baleia azul), o maior peixe de mundo (o gigantesco tubarão baleia), e já agora o segundo maior peixe do mundo (o tubarão frade) e quase um terço das espécies de baleias e golfinhos existentes no planeta, torna-se claro que temos muito trabalho pela frente em termos de sensibilização e valorização do nosso património natural. Isto para além de uma imensidão de aves marinhas, cinco das sete espécies de tartarugas marinhas do nosso planeta, graciosas jamantas, elegantes tubarões, várias espécies de grandes peixes pelágicos e a maior comunidade de cavalos marinhos do mundo (na Ria Formosa) - e tudo no nosso Portugal.
PS – Foste reconhecido como um dos Portugueses que mais se distinguiram em Portugal e no estrangeiro, e logo através da fotografia, por ocasião das comemorações do Dia de Portugal. O que significa para ti esse reconhecimento ? NS – É excelente saber que o nosso trabalho não passa despercebido no nosso País, claro. E é evidente que ser recebido pelo Presidente da República é uma grande honra. Mas acima de tudo é um sinal que a divulgação do nosso património natural não passa despercebida e que precisamos de mais e melhor divulgação, seja através da fotografia, vídeo ou escrita.
PS – Nuno Sá para terminar, depois de tantos prémios e publicações quais são os teus projetos mais imediatos. NS – De momento o projeto “Oásis by Nuno Sá.. a incrível vida marinha do mar do Açores” tem sido a minha grande prioridade e ocupado muito do meu tempo. A ideia é dar uma visibilidade nunca antes conseguida à vida marinha dos Açores e mostrar que esta região tem uma vida marinha equiparável às Galápagos ou qualquer outro local sobre os quais tanto ouvimos falar e sobre os quais muitos Portugueses sabem mais do que o nosso próprio património natural. Estamos a tentar fazê-lo através de uma exposição de rua em formato monumental (que esteve durante um mês frente ao Oceanário e corre agora as ilhas dos Açores), bem como um exposição interior com itinerância Internacional, site, aplicação para i-phones e i-pads, redes sociais etc...
Tubarão baleia – Rhincodon typus
PS – És autor de várias publicações e colaboras regularmente com inúmeras publicações, nomeadamente o National Geographic, a partilha do teu trabalho é muito importante para ti?
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Moreão – Gymnothorax unicolor
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Ilha do Corvo phocal photovisions | 85
Tubarão azul – Prionace glauca Golfinhos comuns em alimentação – Delphinus delphis
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Orca – Orcinus orca Tubarão azul – Prionace glauca
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Cachalotes – Physeter marcocephalus Peixe raĂnha - Thalassoma pavo
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Manta – Manta birostris Canårio do mar - Anthias anthias
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Tubarão azul – Prionace glauca phocal photovisions | 91
14º concurso phocal - água Vencedora ANITA NUNES | Mata-me a sede Local- Lisboa
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2º lugar: Mário Medeiros Santos | Água é VIDA | Abrantes
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3º Lugar: HELENA LAGARTINHO |Arcos água
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04 - José Sobral | Não desperdice, stop! | Saragoça 05 - Luís Mata | “Colla del Caballo” | Pq. Naci. Ordesa 06 - PEDRO SARMENTO | O REPUXO | JARDIM BOTÂNICO 07 - PAULO MENDONÇA | DROP OF WATER | SEIXAL 08 - luis felicio | sempre em movimento 09 - Sandro Porto | BLACK | CANTANHEDE 10 - Ricardo Mendes | FArol | Estoril 11 - João Vaz Rico | “Ribeiro” | Gerês 12 - FÁTIMA MENDES | IRREQUIETUDE | COSTA CAPARICA 13 - César Torres 14 - Dina Baltazar -| “Fluidez na corrente” | Beira-Baixa
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2º lugar Mário Medeiros Santos | The Eye | Abrantes 3º lugar Luís Mata | “Dente de leão” | Aguieira
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04 - Anita Nunes | Show-me the way | Lisboa 05 - PEDRO SARMENTO | CHEVROLET | MATOSINHOS 06 - SANDRO PORTO | “REDONDO E QUADRADOS” | METRO DE LISBOA 07 - Maria Fernanda | “nas asas do vento” | Sintra 08 - Patricio Nave | Suspensas | Guarda | Julho 09 - Graça Quaresma | Através de ti... | Ilha das Flores 10 - José Sobral | Vinte e dois | França
VENCEDOR JOÃO VAZ RICO | BLUE SUN | ABRANTES | AGOSTO 2012
15º concurso phocal - redondo
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01 - 1º LUGAR - JOÃO VAZ RICO | ESSÊNCIA | TOMAR 02 - 2º LUGAR - MARIA FERNAND | Côncavo-convexo | LISBOA 03 - 3º LUGAR - PEDRO SARMENTO | DA PONTE PARA O DOURO | VN GAia
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04 - ANITA NUNES | Qual dos dois gosto mais? Lisboa 05 - RICARDO VILELA | Da noite para o dia | Porto 06 - MARIO MEDEIROS | Between Religions | Albufeira
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desafios domingueiros 1º desafio domingueiro “ simetrias urbanas” MARIA JOSE CHABY LARA
2º desafio domingueiro “ Animais JOSÉ SOBRAL
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DESIGN & COMUNICAÇÃO É nosso objectivo criar as mais eficientes estratégias de comunicação adaptadas à realidade e dimensão do nosso cliente. Uma identidade gráfica coerente deve manter a mesma eficiência em todas as suas aplicações, desde o cartão pessoal até à brochura institucional. Conscientes do valor de uma marca, procuramos responder às necessidades do nosso cliente de forma séria e eficaz. É fundamental que, preservando a sua identidade gráfica lhe acrescentemos valor, só assim podemos criar uma relação benéfica para ambas as partes. Estaremos sempre disponíveis para o aconselhar na sua estratégia de comunicação. Podemos assim: Criar e gerir identidades corporativas Logótipos Imagens institucionais Manuais de normas Compor e editar peças de comunicação gráfica. Brochuras Flyers Catálogos Relatórios de contas
PRODUÇÃO GRÁFICA Encaramos cada nova encomenda como um novo desafio. Com 10 anos de experiência, estamos convictos que aconselhamos, sempre, a melhor técnica de produção e garantimos o acompanhamento gráfico, salvaguardando desta forma o melhor resultado ao produto final. Catálogos Brochuras Flyers Cartões comerciais Relatórios de contas Posters Desdobráveis Economato Álbuns fotográficos Direct mailings Etc
MEIOS PUBLICITÁRIOS Num mundo em constante mudança, a rapidez de resposta é essencial para se afirmar perante o mercado. A nossa equipa está consciente disto, pelo que se encontra sempre à disposição para responder em tempo útil às solicitações mais exigentes dos nossos clientes.
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Decoração de Stands de feiras e exposições. Outdoors Roll-ups Stand-ups Decoração de espaços comerciais. Decoração de montras ou vitrinas. Revestimento decorativo de paredes interiores. Revestimento de pavimentos com fim publicitários (Floor Graphics) Decoração de viaturas comerciais Cobertura total ou parcial de viaturas comercias.
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