SAÚDE E BEM-ESTAR
A fadiga pandémica e a população ligada à deficiência A pandemia da covid-19 afeta todos e sem exceção. À conversa com a Plural&Singular, o psicólogo Jorge Pereira analisou os desafios que a pandemia coloca às pessoas com deficiência e deixou-lhes recomendações que se estendem a cuidadores, organizações e decisores Texto: Paula Fernandes Teixeira Fotos: Gentilmente cedida
“Esta situação que vivemos é uma catástrofe e afeta-nos a todos, sem exceção”, as palavras são do psicólogo Jorge Pereira especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações, com especialidade avançada nas Necessidades Educativas Especiais que colaborou com a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) na elaboração de um documento que tem como objetivo alertar para as dificuldades a que uma população, muitas vezes discriminada e estigmatizada, está exposta por diversos motivos. Em causa as pessoas com deficiência. Mas, em entrevista à Plural&Singular, o especialista recorda também os desafios dos cuidadores, agregados familiares, instituições e funcionários de organizações. Esta é uma comunidade cujas “vulnerabilidades se acentuam nesta situação de pandemia covid-19”, como se lê na introdução do documento da OPP que recorda que, “em Portugal, mais de 630 mil pessoas vivem com algum tipo de deficiência e enfrentam, diariamente, barreiras à comunicação, ao acesso à informação, serviços sociais, assistência médica, inclusão social e educação”. Convidado a analisar os principais desafios neste tempo de pandemia que enfrentam as pessoas com deficiência, Jorge Pereira aponta que “são vários”, desde logo por em causa estarem “grupos mais vulneráveis”: “Em termos gerais, as pessoas com deficiência podem ter um maior risco de infeção pelo coronavírus”, refere. “E todos reagimos de forma diferente perante as adversidades que sentimos desde março. Todos nós temos uma capacidade de resiliência diferente. Temos as pessoas com deficiência que têm dificuldades de compreensão e aquelas que não têm dificuldades cognitivas. A dificuldade intelectual, mas compreendem o que se está a passar (…). É um grande desafio para os psicólogos promover e desenvolver a capacidade de resiliência de cada pessoa, o que inclui as pessoas com deficiência. E o que é a capacidade de resiliência? É responder a perguntas como: de que forma vamos fazer face às barreiras? De que forma vamos ultrapassar as dificuldades? Temos de 26
promover as estratégias de ‘coping’, estratégias positivas para fazer face às dificuldades”, acrescenta o psicólogo. Entre essas estratégias estão conselhos aparentemente simples que Jorge Pereira estende a cuidadores formais e informais como uma “melhor filtragem” da informação, a escolha por uma boa alimentação, atividade física e/ ou lúdica, conforme as situações e condições de cada pessoa, bem como o recurso à rede de contactos. “Fala-se muito do isolamento social, eu falo mais no isolamento físico. Entendo que estejamos em confinamento e temos de estar separados, mas podemos manter-nos ativos socialmente, usando os contactos telefónicos e fazendo uso das videochamadas. A rede de suporte de amigos é fundamental. E as organizações, sabendo disso, recorreram e continuam a recorrer à tecnologia para minimizar os efeitos das pessoas que estão integradas em lar. Isso é essencial para minimizar no futuro o que podem ser as sequelas desta pandemia”, aponta o especialista. Sobre o conselho da “filtragem” de informação, Jorge Pereira aconselha que “as pessoas não vejam notícias mais de uma vez por dia, no máximo duas” porque, frisa, “é preciso cuidar da saúde mental da sociedade em geral,