OPINIÃO
Ana Rita Saramago, fisioterapeuta Andreia Rocha, fisioterapeuta Leonor Enes, fisioterapeuta
B3 – da Barriga ao Berço e ao Brincar Desenvolvimento embrionário
habilidades e competências é gradual, feita de avanços e recuos e de forma única para cada bebé. Este artigo de opinião centra-se no desenvolvimento motor do bebé e da criança, que constitui uma das áreas do desenvolvimento global, mas importa desde já salientar que as componentes motora, sensorial, vestibular, cognitiva e comportamental estão relacionadas e influenciam-se mutuamente, como veremos mais à frente. O desenvolvimento motor na primeira infância carateriza-se pela aquisição de um amplo espetro de competências motoras, que possibilitam à criança um domínio do seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas), movimentando-se pelo meio ambiente e manipulando objetos (Campbell, 2006). Este desenvolvimento não é linear, deve ser olhado numa perspetiva de “janelas de crescimento” e está diretamente ligado à variedade de padrões motores disponíveis que a criança pode escolher para fazer frente a novos desafios que a estimulam a continuar a aprender. É um processo que evolui ao longo do tempo e da maturação, como uma espiral onde a estrutura e a função maturam em simultâneo mas nem sempre com a mesma amplitude, levando a regressões, assimetrias e reorganizações (Shumway-Cook, 2007). Ao longo do tempo e, de acordo com a evolução do conhecimento científico, vários modelos teóricos tentaram explicar o desenvolvimento e o controlo do movimento. A compreensão atual do desenvolvimento humano progrediu no sentido de deixar de dar destaque a qualquer um dos lados da divisão nos ‘argumentos’ sobre o desenvolvimento, como por exemplo, natureza versus criação, estabilidade versus instabilidade ou continuidade versus descontinuidade, para reconhecer que a evidência aponta agora para um processo que funciona como um sistema completo, com componentes relacionais e integrados (Guralnick, 2011). Falamos então na Teoria dos Sistemas Dinâmicos que, na forma mais genérica, significa sistemas de elementos que mudam ao longo do tempo. Assim, enquadrando o desenvolvimento motor nesta perspetiva, o movimento surge da interação ao longo do tempo de vários fatores – do ambiente, da criança e da própria tarefa, que vão influenciar a sua realização adequada, sendo necessária a combinação de componentes motores, sensoriais,
O desenvolvimento embrionário ocorre desde a conceção até ao nascimento e pode ser dividido em 3 fases/ períodos. O primeiro, o período germinativo ou pré -embrionário, que corresponde às 2 primeiras semanas de gestação e durante as quais se originam as camadas germinativas primitivas que darão origem ao embrião. Segue-se o período embrionário, que decorre desde a 3ª semana de gestação até ao final da 8ª, durante as quais se formam os principais órgãos e sistemas. Por último, o período fetal que corresponde às últimas 30 semanas do período pré-natal, em que se desenvolvem e maturam os órgãos e sistemas que começam a exercer as suas funções (Moore, 2008). É neste período que se iniciam os primeiros movimentos fetais, a partir das 8 semanas de gestação (Einspieler, 2008). A maioria dos padrões de movimentos fetais desenvolvem-se durante a primeira metade da gravidez e continuam não só até ao termo, mas também após o nascimento. Nenhum padrão de movimentos fetais difere dos padrões de movimento pós-natais, a principal mudança é a passagem da submersão no líquido amniótico à exposição da força da gravidade (Einspieler, 2008). Em geral, a duração da gravidez de termo é considerada de 40 semanas após o início da última menstruação (38 semanas após a fertilização) (Sadler, 2005) . Os bebés que nascem antes das 37 semanas de gestação são considerados prematuros e classificados de acordo com o tempo de gestação e peso à nascença. Devem ser considerados uma população muito peculiar, também no que diz respeito ao seu desenvolvimento.
Desenvolvimento sensório-motor
Desde o primeiro dia de vida e durante os primeiros anos ocorrem grandes mudanças ao nível das funções motoras, cognitivas e sensoriais que se devem principalmente ao desenvolvimento/maturação neural (Campbell, 2006). O desenvolvimento motor do bebé e da criança é influenciado por diversos fatores internos, tais como mudanças no sistema músculo-esquelético ou cardiorrespiratório, assim como fatores externos, tais como estímulos e meio ambiente. Apesar da similaridade entre a motilidade do feto e a do recém-nascido, o repertório após o nascimento aumenta rapidamente. A aquisição de 31