A ONG Casa Rosal, localizada no município de Nova Lima, oferece ajuda por intermédio de atividades para pacientes de câncer. Pág. 11
GUSTAVO ANDRADE
GUSTAVO ANDRADE
MAIARA MONTEIRO
Praça Maria Luiza Viganó gera incômodo aos vizinhos por causa do mau cheiro de urina exalado de um banheiro desativado. Pág. 2
Apesar de ter passado por revitalização, a Praça Tejo ainda oferece insegurança aos moradores do Bairro Padre Eustáquio. Pág. 4
marco jornal
Ano 36 • Edição 259 LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas
Junho • 2008
NOVE ANOS DE ESPERA POR MORADIA GUSTAVO ANDRADE
O Movimento Pró-Moradia, em Contagem, comprou um lote de 164 mil metros quadrados com o objetivo de construir 350 casas populares para as famílias associadas no Bairro Monte Verde. Sem a aprovação da Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente daquele município, essas famílias estão há nove anos, esperando para tomar posse do loteamento e, dessa forma, realizar o sonho da casa própria. Margarida Maria da Silva (foto) é uma das associadas que pagou 40 parcelas de R$50 para adquirir uma quota. Na casa onde mora estão amontoados os móveis de seus dois irmãos, que foram incentivados por ela a se associarem. Página 10 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
Serra do Cipó tem guardião em prol do seu território GUSTAVO ANDRADE
Violência contra crianças acontece em casa Casos de violência física e sexual contra jovens ainda são freqüentes, mesmo após 18 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A pesquisa Violações dos Direitos das Crianças, realizada pela assistente social Luciene Leão Ávila, como tese de mestrado na PUC Minas, constata que
a maioria dos casos de abuso e maus tratos na capital mineira ocorrem dentro de casa, cometido pelos familiares, em diferentes classes sociais. Página 9 JOELMIR TAVARES
Não há previsão para fim de alagamentos As ruas Dom Prudêncio Gomes, Dom José Pereira Lara e Dom João Antônio dos Santos, no Bairro Coração Eucarístisco, esperam há décadas pela obra de rebaixamento do Ribeirão
Arrudas para dar fim aos alagamentos na região, que atingem casas e estabelecimentos comerciais. Segundo a Copasa, a obra será feita, mas não há previsão para seu início. Página 5
Apoio familiar nas Olimpíadas do Oriente Em meio às dificuldades de conservação do Parque da Serra do Cipó, o engenheiro civil e de agrimensura Henri Dubois Collet é um verdadeiro guardião do local. Situado à cerca de 100 quilômetros de Belo Horizonte, o parque reúne diversas espécies em extinção, como o lobo-guará, e plantas como canela-de-ema, espécie típica do cerrado brasileiro. Utilizado por pesquisadores de todo mundo, o Parque da Serra do Cipó possui laboratórios equipados, além de uma estrutura para abrigar até 20 pessoas. A retirada do gado, que era criado ilegalmente no parque, é uma das vitórias apontadas por Henri Collet. Página 16
nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição
O preço de uma viagem à China não cabe no bolso das famílias de todos os atletas brasileiros que participarão das próximas Olimpíadas. A mãe do
nadador Thiago Pereira, Rose Vilela, conseguiu um patrocínio para viajar à Pequim. Já os pais e amigos do maratonista de Sete Lagoas, Franck
Caldeira, acompanharão os passos do atleta pela televisão ou pela internet. Para eles, apesar de não ser o ideal, a torcida à distância é positiva. Página 12
CAMILA LAM
Corredor de história e cultura para jovens O Projeto Corredor Cultural Rua da Bahia, fruto da idéia de conclusão de curso da turismóloga Bernadette Bittencourt, resgata a história de uma importante via da capital, a Rua da
Bahia. Voltadas para alunos de escolas municipais da cidade, as excursões permitem que os jovens conheçam sobre a arquietura e as curiosidades de cada ponto turístico. Página 7
2 Comunidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
EDITORIAL
editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorial
A participação e o compromisso como trunfos da população n GUYANNE ARAÚJO, 5°
ESPORTES E GINCANAS CONQUISTAM JOVENS Projeto Segundo Tempo proporciona lazer e momentos de integração para crianças e adolescentes do Bairro Dom Cabral n FERNANDA BRUGGER,
PERÍODO
3° PERÍODO
Conquistas dependem de mobilização. As melhorias proporcionadas para as comunidades em prol de um bem comum são geradas a partir de ações tomadas pela união entre as pessoas. A notoriedade desse tema é legitimada quando os indivíduos se mostram capazes de se envolverem com uma causa que mudará a vida de muitos outros. Viver em comunidade é isso. É ajudar o vizinho a conquistar melhorias para o bairro, discernir o que está certo ou errado, para viver bem e em harmonia. A participação se mostra importante quando o envolvimento tem um resultado positivo ou quando a falta dele reflete a não realização de um objetivo. Nesta edição, o MARCO contempla, como sua marca registrada de um jornal comunitário, temas de caráter social. Com o propósito de ajudar ao próximo, muitas vezes, a questão social se encontra como pano de fundo das histórias. Nesse caso, o voluntariado se torna peça fundamental para concretizar um projeto e tornar melhor a vida do assistido além de sua própria. Instituições filantrópicas demonstram a solidariedade com a execução de projetos, como é o caso da Casa Rosal, que fica em Nova Lima. Essa ONG traz benefícios a todos que a freqüentam, tentando minimizar o sofrimento das pessoas. Lá são oferecidos, por meio de voluntários, diversas oficinas para pessoas que tiveram câncer. Outra instituição que promove ajuda é a Fundamigo. Motivados pela falta de emprego de muitas mães de família, a Fundação e o Senai vão dar início à construção de uma escola profissionalizante de domésticas ainda este ano. A manchete desta edição retrata o sonho da busca pela casa própria. A matéria demonstra a situação de pessoas, que unidas, compraram um lote, há nove anos, na Região de Contagem e que não conseguiram construir suas casas, por não ter tido a aprovação do projeto pela Secretária de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente. O Projeto Pró-Moradia possui 350 associados. Uma sugestão da leitora Rosângela Braga reflete como um incômodo dos moradores pode gerar diversas ações. A praça Maria Luzia Viganó possui ponto de apoio com estrutura de banheiro da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) e está situada entre a Rua Coração Eucarístico e a Via Expressa. Agora, abandonada, é usada por transeuntes, vendedores ambulantes e moradores de rua para fazerem suas necessidades. A vizinhança reclama do mau cheiro que o lugar exala e tenta que a Prefeitura de Belo Horizonte assuma a manutenção do local. Os resultados positivos ocasionados pela organização das pessoas são retratados também no MARCO, como o caso da comunidade do Bairro Dom Cabral, que se uniu para arrecadar recursos para as obras do salão paroquial da Paróquia Bom Pastor. Uma construção que se iniciou há cinco anos e que sempre pára por falta de verba foi o motivo de os fiéis organizarem festividades e conseguirem o dinheiro para adiantar a obra. Já os moradores do Bairro São Gabriel conquistaram uma nova praça, por meio do Orçamento Participativo, que trará desenvolvimento a um lugar aparentemente abandonado.
EXPEDIENTE
expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpediente
jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Editor Gráfico: Prof. José Maria de Morais Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Cíntia Rezende, Daniela Garcia, Fernanda Brugger, Guyanne Araújo, Laura Sanders, Matheus Maciel, Natália Ferreira, Patrícia Scofield, Raquel Ramos, Alba Valéria Gonçalves (São Gabriel) e Letícia Fiúza (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Gustavo Andrade e Yonanda dos Santos Monitor de Diagramação: Vinícius Mattiello Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares
Desenvolvido a partir do Programa Esporte Esperança, o Projeto Segundo Tempo atende, no Bairro Dom Cabral, a 170 crianças e adolescentes dos seis aos 17 anos. De segunda a sextafeira, pela manhã ou à tarde, os funcionários do projeto organizam na Praça da Comunidade do Bairro Dom Cabral a prática de esportes e gincanas com os alunos. O projeto, que é dividido
em núcleos, atende em toda Belo Horizonte, a cerca de 15 mil alunos. A Prefeitura de Belo Hozironte fornece o material necessário para as aulas esportivas, contrata professores e estagiários e oferece diariamente um lanche aos participantes. A coordenadora do Segundo Tempo no Dom Cabral, Patrícia Fajardo Xavier, avalia a melhora ocorrida desde o início do ano, quando foi contratada. "Hoje estou muito feliz com o programa. Já conseguimos conquistar muitas pessoas.
Nós damos experiência de vida para as crianças. Eles aprendem a respeitar regras, limites", diz. Patrícia enfatiza a importância do projeto para os alunos. "A maioria deles é de classe social mais baixa. Os pais saem para trabalhar, eles ficam muito tempo sozinhos. As crianças vêm para cá para não ficarem à toa", comenta. Pais que possuem seus filhos matriculados no Segundo Tempo acreditam na importância dos esportes para a formação pessoal. "A criança precisa de lazer e esporte. En-
quanto eles estão aqui brincando, muita coisa de ruim deixa de acontecer. Meu filho, Maike, freqüenta as aulas de futebol há cinco anos", conta Adriane Cerqueira Melo. Elaine Cristina Pereira Leão, que possui dois de seus filhos matriculados no Segundo Tempo, também acredita na importância do esporte para as crianças. "É uma mão na roda! Para meu filho, que é hiperativo, vai ser muito bom. Nós vivemos em uma área de risco, e com o esporte eles aprendem cidadania, a serem amigos", afirma.
GUSTAVO ANDRADE
O projeto tem beneficiado 170 crianças e adolescentes da comunidade. O esporte é visto pelas famílias de forma postiva já que ocupa o tempo de seus filhos
Programa busca apoio do Centro de Saúde Por iniciativa da coordenação do Projeto Segundo Tempo no Bairro Dom Cabral, a Creche Ação Social Paróquia Bom Pastor realizou uma parceria para levar seus alunos a praticarem esportes. Nas segundas, quartas e sextas-feiras, o horário de educação física da creche acontece do lado de fora. A coordenadora Patrícia Fajardo Xavier comenta que, além de poder oferecer esportes às crianças, a creche também colabora. "Como não
temos vestiário, eles ofereceram o banheiro do local para ser utilizado, e também nos oferecem água filtrada", explica. Os professores da creche se preocupam por não terem apoio de um centro de saúde. "O projeto aqui é ótimo, ajuda e ensina muito às crianças. Nossa preocupação é com o apoio do centro de saúde quando uma criança se ferir. Quem vai socorrê-la?", indaga a professora Eunice dos Reis Mainarte.
Adílson de Castro, coordenador da Regional Noroeste, afirmou que o pedido foi feito verbalmente. "Conversei com a Patrícia. Vamos agendar com o centro de saúde e conversar com a gerente", diz. A dificuldade em manter a parceria ocorre com o tipo de atendimento a ser feito caso um aluno se machuque. "Às vezes o centro não consegue atender porque são fraturas, por exemplo, e aí tem que chamar uma ambulância e levar para o hospital", explica.
Mau cheiro incomoda moradores n RAQUEL RAMOS DE CASTRO, 3° PERÍODO
Quem passa pela Praça Maria Luzia Viganó, localizada entre a Rua Coração Eucarístico e a Via Expressa, pode sentir o forte cheiro de urina por causa de um ponto de apoio à varrição (uma estrutura de banheiro) construída ali para ser utilizada por uma empreiteira que presta serviço ao Sistema de Limpeza Urbana (SLU). O local atualmente está desativado e permanece trancado. O problema é que moradores de rua, vendedores ambulantes e pessoas que passam pela rua continuam usando o lugar para fazer ali suas necessidades, mesmo que do lado de fora. Rilza Cardoso mora há 34 anos no edifício Pio IV, localizado ao lado da praça. Três janelas do seu apartamento são viradas para a Via Expressa e ela reclama do mau cheiro que costuma entrar em sua casa. "O pessoal da SLU é muito bacana
e educado. O problema são os pivetes que arrancam o cadeado e usam o lugar para tomar banho e fazer outras coisas", diz. Ela conta, ainda, que muitas pessoas que passam pela rua costumam utilizar a área para urinar. "A gente chega na janela e eles não estão nem aí. Eles não têm respeito pela família", afirma. A dona da banca de jornal que fica na praça, Karina Ferreira, relata que já viu por diversas vezes pessoas usarem
o lugar como banheiro. "Eles aproveitam a parte de trás que fica mais escondida e é escura. Quem passa por aqui sente o cheiro nitidamente", diz. Rosângela Braga, síndica do prédio Pio IV, explica que o odor piora no outono e no inverno, épocas em que as chuvas são mais escassas. Além disso, ela aponta outros problemas da praça, como por exemplo, o fato de o lixo ser depositado nos canteiros. No dia 6 de junho, Ro-
MAIARA MONTEIRO
Praça Maria Luzia Viganó é alvo de reclamações dos moradores da região
sângela fez uma solicitação à Prefeitura de Belo Horizonte para que fosse feita a manutenção da área. Por meio do telefone 156, ela soube que seu pedido continua sem resposta e que o mesmo seria reenviado para a Gerência para que fosse feita a vistoria do local. Outra providência tomada por Rosângela foi o envio de um e-mail ao gabinete da prefeitura (gabpref@pbh.gov.br), no dia 11 de junho, pedindo a limpeza da praça e que a estrutura de banheiro fosse retirada dali. Entretanto, seu e-mail ainda não foi respondido. "Nós não sabemos a quem mais recorrer", desabafa. A Assessoria de Comunicação da SLU explica que pelo fato de o ponto de apoio à varrição se tratar de um patrimônio público, a diretoria de operação da prefeitura está analisando a situação para que sejam tomadas providências a curto prazo, mas que ainda não foi definido o que será feito.
Comunidade Junho • 2008
3
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
OBRA NA IGREJA É FRUTO DE UNIÃO Moradores do Bairro Dom Cabral organizaram festividades e arrecadaram recursos necessários para terminarrem a construção de salão paroquial que tinha sindo iniciada há cinco anos n JOELMIR TAVARES, 2° PERÍODO
Os R$ 11.344,11 arrecadados pela comunidade do Bairro Dom Cabral em maio já estão sendo aplicados nas obras do Salão Catequético e Centro Social da Paróquia Bom Pastor. Todos os fins-de-semana do mês passado foram dedicados às barraquinhas de jogos e comidas típicas de festa junina, na Praça da Comunidade, promovidas pelos fiéis com um único objetivo: terminar a construção do salão. Quem organiza a campanha é a aposentada Licidir Garcia da Silva Costa, de 73 anos. Ela conta que a participação dos moradores foi positiva. "Nós quase não tivemos gastos com a festa, porque ganhamos todas as prendas e comidas. E as mesmas pessoas que doaram ainda foram depois consumir nas barraquinhas", destaca Licidir, responsável pelas promoções e eventos da paróquia. Segundo ela, a quermesse de maio é tradição há mais de 20 anos. De uns tempos para cá, a renda está sendo destinada às obras do salão paroquial, que fica ao lado da igreja. A construção começou há cinco anos, mas pára toda vez que o dinheiro termina.
"O valor do dízimo não é suficiente para todas as despesas da paróquia. Então nós temos que fazer promoções de todo tipo, como bailes, almoços e bingos", explica a moradora. Com a verba arrecadada nas barraquinhas, as paredes externas do prédio começaram a ser rebocadas. Além disso, os paroquianos estão contando com o dinheiro para concluir a colocação das janelas e o acabamento do lado de fora. A etapa seguinte deve ser o rebaixamento do teto. Dentro do edifício, as obras estão mais adiantadas. Algumas das nove salas do segundo andar já são usadas para aulas de catequese e crisma, reuniões paroquiais e encontros da equipe do posto de saúde do bairro com a população. Um amplo salão de festas, com cozinha e banheiros, ocupa o andar térreo e é utilizado pela igreja. No futuro, a idéia é alugá-lo para terceiros. Quando estiver pronto, o prédio também vai ser usado para atividades das Pastorais da Criança, da Saúde e da Família, entre outras. "O sonho de todo mundo é ver as obras terminadas e o salão funcionando. Ainda falta muito para isso, mas eu tenho certeza de que vamos conseguir", afirma Licidir. Morador do Dom Cabral há 42 anos, o aposentado
Paulo Lucas, 71 anos, diz que sua participação na campanha é pequena, mas tudo que faz "é de boa vontade". Ele ressalta que a cooperação dos paroquianos é fundamental. "Com o pouquinho de cada um, é que se forma o todo. Nossa comunidade é, em sua maioria, carente, mas o empreendimento que estamos levando adiante é enorme", avalia Paulo, que também é vocalista do conjunto Irani e Banda. Em abril, o grupo tocou no salão paroquial, animando um baile beneficente que teve a renda revertida para as inicia-
tivas da igreja. "Outras pessoas, como a dona Licidir, ajudam muito mais. São elas que 'seguram' toda essa mobilização, nos incentivando e estimulando", comenta. A mulher de Paulo, Hilda Augusta da Conceição Alves, de 65 anos, sempre participou das tradicionais barraquinhas do mês de maio, seja trabalhando ou prestigiando. A dona de casa é a maior sortuda dos bingos na paróquia e leva muitos prêmios para casa. "Eu aviso para ela que se chegar em casa sem prenda, ela não entra", brinca o marido. Hilda já ganhou frangos,
pernis, cestas de frutas, pudins e enfeites, tudo oferecido por outros moradores. "Teve até uma vez que eu participei do bingo e ganhei um frango que eu mesma tinha doado", lembra. Ela diz que, apesar de usufruir pouco da estrutura da paróquia, faz questão de colaborar com a campanha. "Tudo que é para a melhora da comunidade é bom", acredita. Os moradores que têm um contato mais direto com a igreja também atuam nas promoções em favor das obras do salão. É o caso de Glória Miriam Guimarães, 56 anos,
JOELMIR TAVARES
A verba arrecadada nas barraquinhas servirá para o reboco das paredes externas do salão, segundo Licidir Costa
Comunidade discute possíveis soluções para a nova rodoviária
que nesse ano trabalhou na barraca de caldos. "Gosto de fazer essa atividade voluntária porque a gente vê o retorno", diz a dona de casa. Além de caldos, a festa tem canjica, churrasco, pastéis, brincadeira da pescaria e bingo. "Meu filho Alysson também participou fazendo a locução todas as noites", acrescenta Glória. Ela informa que, recentemente, algumas ruas do bairro fizeram campanha para comprar as janelas do salão. Outros devotos contribuem para as obras pagando um carnê mensal, com a quantia que puderem. De acordo com a organizadora das barraquinhas, a Praça da Comunidade fica lotada nos fins-de-semana do evento, que tem hora certa para terminar: 23h. Ela destaca que a Polícia Militar fez ronda e não registrou ocorrências durante a festa. Apesar da mobilização comunitária, o prédio do salão, mesmo em obras, foi alvo de vândalos que quebraram os vidros das janelas. "Nós procuramos combater isso, chamando essas pessoas para fazer parte da igreja", diz. "Eu me dedico de corpo e alma e me sinto gratificada”, afirma Licidir, que tem o apoio do marido, José Tavares da Costa, 73 anos. Segundo ela, apróxima atividade beneficente deverá ser um baile, provavelmente em agosto.
Missa em alemão preserva os costumes de países europeus GUSTAVO ANDRADE
n LETÍCIA FIUZA, 3° PERÍODO
A construção do novo Terminal Rodoviário no Bairro Calafate continua mobilizando moradores e suas entidades representativas. No início deste mês, o vice-presidente da Associação de Moradores e Amigos do Prado e Calafate (Amaprac), professor Renato de Leme, coordenou um seminário para os moradores e associações de bairros da região, no auditório do Clube dos Oficiais da Polícia Militar, no Prado,em que o tema foi mais uma vez amplamente discutido. O seminário contou com a presença de especialistas de áreas relacionadas ao projeto, que trocaram opiniões com a comunidade da região, e mostraram as conseqüências da mudança da Rodoviária para o Calafate, que ainda se encontra em processo de licitação. “Não chamamos nenhum representante da prefeitura ou pessoas que fizeram parte da elaboração da proposta de construção da
nova rodoviária”, conta Renato de Leme. Segundo ele, os moradores, na maioria contra a instalação do projeto na Região do Calafate, têm medo de expor suas opiniões e o encontro acabaria se transformando em palestras. O presidente do Instituto Nacional de Defesa do Contribuinte e do Cidadão, Joel Gomes Moreira Filho, um dos convidados do evento, considera que Belo Horizonte precisa de outra rodoviária, mas questiona a escolha do local. “Nós podemos fazer um investimento mais prudente e mais bem estudado. Belo Horizonte precisa de mais de uma rodoviária, e elas devem ser construídas em pontos estratégicos, como as saídas da capital para as estradas mais importantes que ligam Minas a outros estados”, diz. Ele critica a forma como o processo foi conduzido. “Nenhum morador sabe precisamente a respeito dessa construção. Houve a decisão, mas somente por parte de seus criadores. A população não participou”, afirma.
GUSTAVO ANDRADE
Seminário reuniu moradores e representantes de associações de moradores
A arquiteta Jurema Rugani, Diretora de Cidades do Instituto de Arquitetos de Brasil (IAB-MG), que também participou do seminário, defende a necessidade de Belo Horizonte ter terminais rodoviários dispostos nos principais pontos da cidade. Ela defende a não destruição da atual rodoviária e o investimento em outras menores. Renato de Leme observa que as ruas do Calafate não foram feitas para suportar as exigências de uma rodoviária. “Os vários ônibus por dia, além dos outros automóveis que buscam e levam pessoas para o terminal trarão grande congestionamento para a região, que não é capaz de suportar", revela. Durante o seminário a situação dos moradores das Vilas Calafate e Amizade, que serão totalmente e parcialmente removidas para a construção do novo Terminal Rodoviário, também foi abordada. RESISTÊNCIA Um documento contendo argumentações técnicas e jurídicas contrárias à instalação da Rodoviária no Calafate está sendo elaborado pelas associações comunitárias da região, com a participação de arquitetos, urbanistas, advogados, entre outros especialistas. Esses argumentos servirão de sustenção para um processo judicial. No entendimento das lideranças comunitárias a rodoviária não pode ser transferida à localidade desejada. A reivindicação é que sejam construídos terminais rodoviários nas principais saídas de Belo Horizonte.
n RAQUEL RAMOS DE CASTRO, 3° PERÍODO
Na capela Santíssimo Sacramento, localizada à Avenida Trinta e Um de Março, acontece uma missa aos domingos que tem como característica peculiar o fato de ser celebrada em alemão. Há cerca de 50 anos, o padre Pater Jun Resfeld procurou famílias alemãs, austríacas e suíças que moravam em Belo Horizonte e as convidou para participar das reuniões, que na época eram realizadas na paróquia São José. A austríaca Helene Fink foi uma dessas pessoas. Ela chegou ao Brasil em 1952, depois de passar 28 dias em um navio, juntamente com seu marido e uma filha. Helene ainda se lembra das primeiras reuniões que participou. "Naquela época tinha um coral e nós cantávamos. O padre dava aula de alemão para as crianças e ensinava a parte da doutrina também", relembra. Helene conta que a comunidade que se reunia era grande, mas que muitos faleceram com o passar do tempo e que a nova geração prefere freqüentar missas em português. Hoje, com 78 anos, ela continua indo às reuniões em alemão. "A missa em nossa língua é algo maravilhoso. Esse é um pedacinho que ficou da terra da gente", afirma. Herta Kohlhoser, austríaca de 77 anos, veio ao Brasil a passeio, em 1954. Entretanto, seu marido gostou do país e não quis retornar à Áustria. Foram nessas reuniões que Herta e
Helene Fink e Herta Kohlhoser assistem à missa em alemão na comunidade Helene se conheceram e tornaram-se amigas. Herta reconhece a importância da missa em sua vida. "É muito bom. Isso une a gente", diz. Quem celebra a missa atualmente é o padre Fernando Anuth. Seus pais eram alemães e vieram ao Brasil em 1920, época em que a Alemanha sofria um período de grande depressão. Em 2001, ele foi convidado para dirigir as reuniões em alemão. "Eu aprendi a língua dentro do ambiente familiar. Quando comecei ainda estava muito cru. O alemão técnico é outra coisa", explica. Toda a missa é feita em alemão, com exceção do sermão, que o padre prefere fazer em português. Quem não compreende a língua pode acompanhar no folheto, que é em português. O padre Fernando tem consciência da importância do trabalho que realiza. "O que fazemos aqui é um ato
religioso e cultural. Isso enriquece a nossa convivência e mostra como as diversas culturas podem se somar em vez de se predicar mutuamente", afirma. O padre conta que é muito fiel ao compromisso que assumiu, mas lamenta a falta de disponibilidade de tempo para chamar mais pessoas para assistirem à missa. "Mas mesmo assim vale a pena. É uma oportunidade que nós temos de manter a união deles, e a união em nome da religião", conclui. Pessoas brasileiras também freqüentam o lugar. Uma delas é Lucia Sousa Lima, 82 anos. "Eu gosto de ir lá por ser um ambiente restrito. O sacerdote é muito educado e o pessoal muito amável", diz. Lucia não conhece a língua, mas não se incomoda com isso. "Eu me sinto em casa", garante.
4 Comunidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
FALTA DE SEGURANÇA NA PRAÇA TEJO Com o intuito de promover melhorias para o Bairro Padre Eustáquio, a praça foi revitalizada. No entanto, a reforma não inibiu a presença de pedintes e de usuários de drogas no local GUSTAVO ANDRADE
Olho Vivo, porque assim irá inibir a presença dos marginais aqui na praça, que atrapalha quando voltam as aulas à noite na escola, há muitos usuários de drogas, ladrões e pessoas diferentes, de outras áreas que vêm pra cá; o Olho Vivo é o principal item necessário”, afirma João Gilberto.
n ALINE MOREIRA ALMEIDA, LOLA CAMAROTA MOURA, 1° PERÍODO
A Praça Tejo ou Praça do Aeroporto passou por uma restauração há dois anos, permitindo aos moradores que voltassem a freqüentá-la. Apesar do esforço de alguns deles em preservar e cuidar da área, a segurança ainda é uma questão a ser resolvida. A iniciativa da reforma partiu do jornaleiro Wagner Geraldo de Souza, dono da banca São Judas Tadeu, localizada na praça. Após um trabalho escolar de educação ambiental em que os alunos da Escola Estadual Professor Morais pintaram os bancos e mesas da área, Wagner se interessou pela idéia da mudança. Alguns moradores alegam que sua atitude seria para benefício próprio, com o objetivo de aumentar os lucros com a banca. "Eu olhei por dois lados, primeiramente, é lógico, para melhorar o meu comércio e ao mesmo tempo pra melhorar para as pessoas aqui”, explica Wagner Sousa. “Quando eu mudei pra cá, aqui era sujo, es-
Localizada no Bairro Padre Eustáquio, a Praça Tejo, que há mais de dois anos passou por reformas, ainda é motivo de insegurança para toda comunidade curo e cheio de marginais", acrescenta. Após o contato com a prefeitura, que deu início ao processo de reforma, o jornaleiro, juntamente a outros moradores do bairro, arrecadou fundos para a compra de brinquedos e contratação de um jardineiro para a manutenção da área verde. Entre os colaboradores, está João Carlos da Silva Simão, advogado res-
ponsável pelo processo de adoção da praça, requerido por Wagner. Foram inúmeros os benefícios alcançados com a remodelação desse espaço público, como a implantação de outras mesas e bancos, brinquedos, lixeiras, iluminação e rebaixamento para deficientes em cada ponta. O diretor da Escola Estadual Rafael Maria de Oliveira, afirma
que todas essas mudanças foram positivas para os alunos, que a partir daí puderam ter contato com um ambiente mais seguro e cômodo enquanto aguardam o início das aulas. Além disso, a banca os favorece na medida em que podem comprar jornais e revistas para os trabalhos escolares. No entanto, a revitalização foi insuficiente para
agradar toda a comunidade. Os moradores Reginaldo Andrade e João Gilberto reclamam que isso não é o suficiente para garantir a segurança dos transeuntes. Uma das reivindicações seria a colocação de uma câmera de vídeo monitorada pelos polícias militares, chamadas de Olho Vivo, como forma de aumentar a segurança. "Queremos um
ESTUDOS O representante da Polícia Militar, cabo Nísio Lourenço, afirma que para a colocação de um Olho Vivo, devem ser feitos estudos de análise criminalística e geoprocessamento do local, a fim de comprovar a real necessidade de inserção e que a Praça Tejo não foi constatada nesses estudos. Caso os moradores percebam um aumento dos índices, podem estar dialogando sobre a colocação da câmera de Olho Vivo juntamente às autoridades competentes. O jornaleiro acredita e persiste na idéia de que a praça ainda precisa de novos cuidados e que não somente ele, mas todos os habitantes dali poderiam contribuir para a benfeitoria daquele espaço.
Coração Eucarístico ganhará escola para domésticas CINTIA REZENDE
n CÍNTIA REZENDE, NATÁLIA CECOTTI, 6° E 3° PERÍODOS
Daqui a mais de um mês a Fundação Espírita Divino Amigo (Fundamigo) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) darão início à construção da escola profissionalizante para doméstica que será feita no terreno da fundação. "O nosso objetivo é ajudar a muitas mães de família que estão desempregadas, muitas mães que não tem nem marido através de uma profissão", relata Simone Junqueira Rugani, diretora administrativa da Fundamigo. Mulheres como Sandra Conzid Mendes, que há dois meses ficou viúva e vem enfrentando dificuldades para sustentar a si e a seus quatro filhos, sendo que a filha mais nova tem nove meses. Ela conta que o marido foi assassinado no Rio de Janeiro após um assalto a moto. "É interesse meu aprender uma profissão", relata Sandra, que atualmente se mantém com bicos e diárias. Sandra conta que as dificuldades vão além da falta de uma trabalho. "Para chegar aqui eu tenho que pedir o dinheiro do vale. O leite da minha menina mais nova eu ganho no posto lá perto de casa", relata. Se há quem queira aprender a ser uma dona de casa para ter um ofício, há também quem queira aprender pelo simples prazer de conhecer os truques da profissão. É o caso de Liliane da Silva, que há mais de 10 anos freqüenta a fundação e hoje trabalha no local como voluntária. O tempo todo preocupava com a limpeza do uniforme que usava, Liliane relata que tem um prazer especial em ser voluntária e de servir as pessoas que vão à Fundamigo. "Quero aprender a cuidar bem de uma casa", relata a jovem de 22 anos que relata estar sendo alfabetizada. A idéia da construção de uma escola profissionalizante veio a partir de uma demanda detectada pelos psicólogos que atendem no local. "Eles sempre viram que
havia uma lacuna em relação às mulheres auxiliadas, quanto à falta de uma profissão que as ajudasse nas despesas da casa", afirma Simone. Para a administradora do local, outro fator determinante para reforçar a idéia de se criar uma escola profissionalizante para domésticas foi a grande demanda de uma boa profissional na área. "Muitas das voluntárias da fundação moram aqui no bairro e muita vezes reclamavam da falta de uma boa doméstica que soubesse como administrar uma casa", relata Simone. Para a o construção da escola, a Fundamigo também recebeu o apoio da Polícia Militar que realizou a planta em troca de cerca de 6.500 m² para construção da chamada Casa do Zelador da Polícia Militar. Ao Senai também foi cedido parte do terreno, e ao mesmo está a responsabilidade de construir no primeiro andar, obra que está estimada em R$150.000. No local está prevista a construção de dois andares, além de uma creche, sala de aula com capacidade de 30 pessoas, sala de computação, banheiro em estilo vestiário e a também uma lavanderia. A novidade do projeto é uma sala onde as alunas poderão aprender a passar a tingir, a costurar, dentre outras atividades." Neste local, elas vão poder colocar em prática os problemas vivenciados por uma doméstica no dia-dia", afirma Simone. PARCERIAS O que era para ser um simples acordo de concessão, de acordo com o gerente de construção do Senai, Nelson Boechat Cunha Júnior, será uma grande obra que beneficiará toda a população carente do entorno e também os moradores do bairro. "A iniciativa é muito importante, tendo em vista que une três grandes entidades: a Fundamigo, a Polícia Militar, que vem atuando de forma eficaz na comunidade, além do Senai, que tem como objetivo ampliar suas ações", relata Nelson.
Famílias carentes e moradores de rua alimentam-se da sopa oferecida todo sábado de manhã pela Fundamigo
Mães aprendem enquanto seus filhos recebem cuidados Com cerca de 1370 pessoas atendidas, a Fundamigo mantém hoje um trabalho de assistência aos mais necessitados e também de apoio às famílias carentes do bairro. Sua mais nova iniciativa, a escola profissionalizante para domésticas, além do projeto base de ensinar um ofício, terá também uma creche para que as mães
que estejam em aula tenham tranqüilidade ao saber que seus filhos se encontram em uma creche no mesmo local. Outra preocupação é com a formação pessoal das mulheres que participaram do curso que, além das aulas práticas, terão aulas teóricas sobre ética e etiqueta. Junto às aulas a Fundamigo também de-
senvolve atividades como a distribuição de sopa aos sábados e a produção de artigos como cestas de café da manha para obtenção de renda. De acordo com a administradora, hoje são assistidas cerca de 400 famílias além de 30 pessoas voluntárias e por volta de 80 homens de rua que visitam a casa aos domingos.
Comunidade Junho • 2008
5
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
OBRAS DEVEM EVITAR ALAGAMENTOS Copasa promete fazer rebaixamento no canal do Ribeirão Arrudas para evitar que água da chuva retorne e provoque inundações em prédios e estabelecimentos comerciais na região do Coreu JOELMIR TAVARES
n JOELMIR TAVARES, 2° PERÍODO
Moradores do Bairro Coração Eucarístico esperam a solução para um problema que persiste há décadas: os alagamentos nas Ruas Dom Prudêncio Gomes, Dom José Pereira Lara e Dom João Antônio dos Santos. A Copasa deve fazer obras que vão evitar as inundações. Atrás do supermercado Carrefour Bairro, por exemplo, forma-se uma verdadeira lagoa em dias de chuva. É o que afirma o gerente Célio de Lima Bento. Ele conta que a água empoçada chega a atingir 20 centímetros de altura dentro do estabelecimento. "Já acionamos a prefeitura que desentupiu as bocas-delobo, mas não adiantou nada", garante. No início de março, a enchente invadiu o estoque e destruiu alimentos. Amando Ferreira Botelho, morador do bairro há 58 anos, diz que os alagamentos na Dom Prudêncio Gomes sempre aconteceram. "Já lutei muito para tentar resolver essa questão, mas até hoje
nenhuma providência foi tomada", reclama. O comerciante relembra o episódio em que ajudou a salvar um vizinho idoso ilhado na própria casa. Amando explica que a água pluvial retorna pelos bueiros, pois o canal do Ribeirão Arrudas, sob as pistas da Via Expressa, fica cheio muito rápido e não comporta o volume. De acordo com ele, carros estacionados na rua correm o risco de ser inundados e até arrastados. PREJUÍZOS Quase todas as lojas e revendedoras de automóveis das proximidades já foram afetadas com as enchentes. Walcir Guimarães Lima, dono de uma agência de carros na esquina das Ruas Dom João Antônio dos Santos e Dom Prudêncio Gomes, teve mais de R$ 30 mil em prejuízos com as chuvas de março. Foram 28 carros completamente danificados pela lama. "Também perdi aparelho de telefone, fax e computador. E agora, quem vai pagar os gastos?", questiona Walcir. Nos prédios perto da agência, outras pessoas foram prejudicadas. A
Marcas foram deixadas na garagem do prédio na região do Coreu após enchente, trazendo prejuízo aos moradores água na garagem do Edifício Prata chegou a subir cerca de um metro. Os dois carros do aposentado Luiz Ulisses Bittencourt foram invadidos pela enxurrada até a altura do volante. "Perdi o aparelho de som e tudo que estava dentro dos veículos. Sem contar que os carros agora vivem na oficina", relata. O alagamento atingiu também os cômodos de despejo que ficam no mesmo nível da garagem, destruindo vários objetos, inclusive de
valor. Depois da enchente, moradores do Edifício Prata pensam até em se mudar. É o caso da dona de casa Dácia Oliveira Magalhães Dias, que ficou indignada ao ver seu automóvel submerso. Ela diz que o carro precisou ficar cerca de dez dias na oficina. "O sistema de vidro elétrico estragou e o controle remoto do portão, que estava dentro do veículo, queimou. Foi um horror", revela a dona de casa. No dia seguinte
ao alagamento, além de atender a emissoras de televisão e jornais que deram destaque ao drama, os moradores tiveram de remover o barro que invadiu o prédio. SOLUÇÃO A Copasa informou que serão realizadas obras em 3.180 metros do Ribeirão Arrudas na altura do Bairro Coração Eucarístico, o que deve ajudar a resolver o problema. Segundo a divisão de imprensa da companhia, serão feitos o rebaixamen-
to e a execução do fundo do canal em 2.320 metros, além de 860 metros de desassoreamento. "Essas intervenções visam à proteção dos interceptores de esgoto ao longo do Ribeirão Arrudas, os quais conduzem os efluentes à respectiva Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)", esclarece a nota. A obra, que ainda não tem previsão de início, está orçada em R$ 42 milhões, financiados pela Copasa e Prefeitura de Belo Horizonte. Para o secretário de Serviços Urbanos da Regional Noroeste, Reuter Ferreira, a pouca declividade na área atingida é, geograficamente, um agravante. Ele aponta que a solução seria justamente a ampliação do canal do Arrudas, para dar mais velocidade à vazão da água. Os moradores consideram, ainda, que é importante a prefeitura desentupir periodicamente os bueiros. Mas eles pedem que a população colabore e não jogue lixo na rua, pois o acúmulo de garrafas plásticas e sacolas, dentre outros, impede o escoamento da enxurrada.
Ofertas de apartamentos são escassas no Coreu n CÍNTIA REZENDE, 6° PERÍODO
Em sua primeira busca por um apartamento no Bairro Coração Eucarístico, Elcilene Araújo Carvalho se deparou com um problema, a pouca oferta de imóveis. A aposentada veio de Dores do Indaiá, centro-oeste de Minas, em busca de um local para o filho e a sobrinha, próximo à universidade, e durante a procura se deparou com a oferta de um único apartamento, que por sua vez não estava de acordo com seus anseios. "Não sabia que era difícil assim conseguir apartamento no bairro", afirma a aposentada. Mesmo sem encontrar o imóvel, Elcilene continua na procura por um apartamento no bairro. Dono de uma corretora de imóveis no bairro, Juliano Couto conta que a pouca oferta de apartamento no Coração Eucarístico reflete uma situação nacional. "Existe um déficit nacional, porque construir no Brasil ainda é caro" afirma. De acordo com o corretor, mesmo com os incentivos fiscais concedidos pelo atual governo, ainda é muito difícil conseguir capital para realização das obras. Outro fator apresentado por Juliano é que o Coração Eucarístico não consegue absorver a demanda tendo em vista que todo semestre é grande número de estudantes que procuram apartamentos no bairro. Mesmo sendo difícil encontrar um apartamento no bairro, o corretor de imóveis afirma que existe a época certa para procurar um imóvel, que é no começo e no
fim do semestre, onde a rotatividade de pessoas no bairro é maior, visto que alguns estudantes concluem o curso ou mudam para outras áreas. PROCURA Da cidade de Sete Lagoas, o estudante de publicidade André Gravito Pimenta passa pelo mesmo problema. Procurando apartamento há mais de seis meses, ele conta que FREDERICO PENA
saiu de uma república para procurar um lugar para morar no bairro e não encontrou. A única saída para o estudante foi morar na casa dos avós, no Bairro Gutierrez. "Agora eu fiquei sabendo que o menino que está morando no apartamento que eu morava vai sair no fim do semestre, aí eu devo voltar para lá", conta o estudante. O também estudante de publicidade Julio
César da Silva, morou no bairro há um ano e há menos de seis meses decidiu retornar. Agora, Júlio procura por apartamentos, porém diz que não quer ir às imobiliárias para fugir da lista de espera e também da burocracia prevista para locação dos aluguéis. Ele lembra que na primeira vez conseguiu um lugar para morar muito mais fácil, mas que desta vez ainda não ficou sabendo de nenhum local para locar. Procurar por uma casa. Esta foi a decisão do estudante de engenharia mecânica Danilo Pêsso do Carmo, após procurar por um apartamento de quatro quartos para morar com os amigos e não obter êxito. O estudante conta que por diversas vezes buscou por um apartamento, mais que além do fato de não ter encontrado um imóvel com quatro quartos, os locais que ele encontrou eram muito caros. "O apartamento que eu achei, era de três quartos e o preço era muito alto", é difícil encontrar um apartamento no Coração Eucarístico, geralmente você encontra lugares próximo como o Minas Brasil, mas são apartamentos muito mal localizados", comenta o estudante. Só colocar o nome na tradicional procura por apartamentos não bastou para a estudante de jornalismo da PUC Minas, Camila Alvarenga Assis da Silva. Após procurar por vários apartamentos e ter que morar um longo período com a tia, a universitária encontrou um apartamento no mesmo prédio que um amigo, e assim começou a arrumar a documentação para locação. Camila
conta que mesmo com o negócio fechado, a imobiliária começou a emprestar a chave para outras pessoas visitarem. Diante disso, a estudante não teve dúvida, se reuniu com os amigos que moram no apartamento de cima e começaram a fazer bagunça para espantar os pretendentes. "A gente começou a pular sem parar em todos os cômodos do apartamento só para o pessoal achar que o prédio é barulhento", conta a universitária. A tática parece ter dado certo porque desde fevereiro deste ano a universitária mora no local escolhido. ALTERNATIVAS Vindo do Espírito Santo há pouco mais de um mês, o estudante de pósgraduação em estudos religiosos, Gabriel Elias de Oliveira, decidiu morar em uma pensão devido às dificuldades de se encontrar um apartamento que se adequasse as suas condições financeiras e também pessoais. "No começo eu achava ruim, mas agora eu até gosto, a privacidade é grande, e isso me agrada muito", afirma o estudante. Quem também decidiu optar por uma pensão foi o também universitário Henrique Augusto Santiago Guimarães, que apesar de ter alugado um quarto próximo a universidade, decidiu procurar um apartamento para dividir com os amigos. "Eu até acho que morar em uma pensão é bom devido a privacidade, mais não pretendo continuar aqui por que às vezes eu quero colocar um som alto e não posso, dentre outras coisas", desabafa Henrique.
6 Comunidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
MORADORES PEDEM POSTO DE SAÚDE Residentes do Bairro Minas Brasil reclamam da demora para conseguir marcar consultas e exames, mas Secretaria Municipal garante que posto do Padre Eustáquio consegue atender a todos n DANÚBIA FRANÇOISE, LETÍCIA ALVES,
5° PERÍODO
"Muito obrigada, mas minha filha fez um plano de saúde para mim. Você poderia passar meus exames para outra pessoa", isso foi o que Bernadete Cassim Fernandes, de 56 anos, moradora do Minas Brasil, respondeu à funcionária do posto de saúde do Padre Eustáquio que telefonou para confirmar a marcação de alguns exames que foram solicitados há oito meses. Como não são todos os moradores do bairro que podem aderir a um plano de saúde particular, a única alternativa é o Sistema Único de Saúde (SUS). O posto mais próximo do Minas Brasil é o do Padre Eustáquio, localizado na Vila São Vicente, que atende cerca de 300 pessoas por dia, segundo a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde. De acordo com o vice presidente da Associação de Moradores do Minas Brasil, Camilo Jesuíno, existe a necessi-
dade da construção de um posto no bairro o que irá propiciar um melhor atendimento não só aos moradores desse bairro, mas também para os do Padre Eustáquio. PROJETO Camilo Jesuíno ressalta que um projeto para solicitação de um centro de saúde para os moradores do Minas Brasil está em fase de elaboração e será proposto no Orçamento Participativo de 2008/2009. A área para construção ainda não foi definida, porém Camilo afirma que existem terrenos da prefeitura disponíveis na região. Ele diz que o atendimento do posto do Padre Eustáquio é bom, mas a demanda é muito grande. Camilo ressalta que o crescimento da região é resultado da construção da PUC Minas, em 1958. Segundo ele, houve muito desenvolvimento, como a melhoria do transporte a partir da construção da Via Expressa, porém ainda há muito a fazer. "O bairro cresceu e é preciso acompanhar esse crescimento",
Novo centro de ensino infantil no Ouro Minas n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA,
2° PERÍODO
O Bairro Ouro Minas terá até o final do ano uma UMEI - Unidade Municipal de Ensino Infantil. A unidade, localizada na Rua Ursulinas esquina com Rua Madre de Deus, cria expectativas entre os moradores. Waldirene Vieira, três filhos, acredita que "a construção da UMEI vai melhorar e valorizar o bairro", o que é confirmado pela vizinha, Sara da Silva, 25 anos, sete meses da sua segunda gravidez. Prevendo já que será beneficiada por aquela obra, Sara diz que "a construção de uma escola infantil é boa, ajuda, além da construção, a valorizar os nossos imóveis e ocupa aquele local, antes um lote vago com seus
transtornos". Segundo Júlio César Nogueira Soares, Gerente de Comunicação da Regional Noroeste, o término está previsto para novembro próximo, com um investimento de R$2.048.000,00. "Logo após o término, no início de 2009, há a previsão de cadastrar as famílias. Serão atendidas 270 crianças, de zero a seis anos", relata Júlio César. "A UMEI Ouro Minas, com certeza, será um marco na educação da nossa região. É grande o número de famílias que se deslocam com seus filhos para bairros vizinhos, muitas vezes com despesas de transporte, e esta unidade irá resolver este problema", constata Arizio Alves das Neves, presidente da Associação Comunitária do Bairro Ouro Minas, ASCOM.
YONANDA DOS SANTOS
revela. Bernadete Fernandes relata que exames mais complicados podem demorar meses ou até anos para serem realizados. Ela conta que o seu marido realizou uma consulta no posto e foi encaminhado para a marcação de uma endoscopia. Após um ano, ligaram para ela avisando do exame do marido, ela então agradeceu e disse
EXPLICAÇÃO A assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde esxplicou que o Posto do Padre Eustáquio foi projetado para atender além do Padre Eustáquio,
os Bairros Calafate, Carlos Prates, Coração Eucarístico, Dom Bosco, Minas Brasil, Mon Senhor Messias, Pedro II e Prado. De acordo com Ministério da Saúde, através do ABC do SUS de 1990, para dimensionamento do número de consultas médicas deve ser considerada a concentração de duas consultas médicas/habitantes/ano para a popu-
GUSTAVO ANDRADE
Sem previsão para o início das obras, moradores se reúnem para buscar alternativas para falta de um posto local
lação da área de abrangência. Belo Horizonte possui, em média 2,4 consultas/habitante/ano, mesma média brasileira. A partir desses dados, estima-se que o número de consultas para atender a toda população da região seria, no mínimo, 160.000 por ano, 100% a mais do que são disponibilizadas hoje (cerca de 80.000). A Secretaria Municipal de Saúde informou, ainda, que não há previsão para construção de um posto de saúde no Minas Brasil, já que o Centro de Saúde do Padre Eustáquio está conseguindo atender a demanda da região. A Assessoria de Comunicação ressalta que, apesar de os moradores acharem que cada bairro precisa ter um posto, isso é uma opinião equivocada, pois a construção só acontece quando há demanda. O requisito para um projeto ser aprovado no Orçamento Participativo é, justamente, a necessidade de que a obra atenda um elevado número de pessoas.
Moradores do Bairro São Gabriel ganham praça por meio do Orçamento Participativo ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA
n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 2° PERÍODO
Uma nova praça está sendo construída no Bairro São Gabriel, na Rua José Toledo de Oliveira, antiga Rua "Y", próximo à ponte em construção junto ao local denominado "Beira Linha". Neide de Oliveira Gonçalves Maciel, presidente da Associação de Desenvolvimento do Bairro São Gabriel (DESG), diz que "progresso e desenvolvimento dependem de parceria, da união do povo". Lindacy Alves Pinto, residente na Rua "Y", ao lado da praça em construção, atualmente delegada representando o Bairro São Gabriel no Orçamento Participativo, faz uma análise mostrando que quando há união e determinação as reivindicações são atendidas pelo Poder Público. "A construção desta praça valorizou pra caramba os lotes, 100% de melhoria, visto que antes era tudo abandonado, muitos ratos e outros bichos, carroceiros faziam daqui ponto de botafora, usuários de drogas ficavam no local", enfatiza Lindacy. "São 11 anos de luta, se não fosse o OP, não melhoraria", conclui.
PREOCUPAÇÃO Outra mo-
Nova unidade de educação para crianças começa a ser construída
que o marido já estava bem. "Pessoas que possuem problemas mais graves se forem esperar pelo SUS estão perdidos", ressalta Bernadete.
radora Eliane Rodrigues Gonçalves, 49 anos, cabelereira, relembra que participou de um abaixo-assinado, mas tem uma ressalva: "Bom, vejo na construção dessa praça, a desvantagem que pode ter é de a violência aumentar, ocorrer mais assaltos. Eu até assinei uma lista
As obras da praça na antiga Rua Y já começaram. A construção atenderá o desejo da comunidade que mora no local para a melhoria, vai ser uma boa", comenta. "O pessoal já deve ter falado tudo, mas a construção da praça vai ser uma boa", observa Jose Geraldo Sampaio, 54 anos, comerciante ambulante. Paralelo à construção da praça, está sendo realizada uma obra de urbanização da Rua Y, com investimento no valor de R$1.286.898,45, também votada no Orçamento Participativo 2007/2008. Conforme informações de José Adeilson Colares, da Gerência do Orçamento Participativo da Regional Nordeste, essa obra tem previsão de término para o dia 04/07/2008. "Lembrando que é uma previsão, caso haja alguma interferência este prazo poderá ser alterado", afirma Colares.
Aumenta a participação de moradores na CLAS n LAURA SANDERS, PATRÍCIA SCOFIELD, 3° E 5° PERÍODOS
A comunidade assistida pela Comissão Local de Assistência Local IV, CLAS IV, começa a dar sinais de interesse quanto à discussão das necessidades sociais. A última reunião, realizada no dia 12 de junho, no centro de convivência Dia do Idoso, Bairro Dom Cabral - contou com a participação de cinco pessoas, segundo a representante governamental Andréia Alves de Oliveira, que dirigiu o encontro. Em matéria publicada na edição passada do jornal Marco, número 258, foi abordada a
falta de interesse dos moradores em se reuniram para discutir assuntos nessa área. No encontro da CLAS IV do mês de maio, nenhum morador da comunidade compareceu. Para Andréia, a última reunião "foi produtiva", já que os presentes indicaram formas de planejamento para incrementar a mobilização social. Entre as idéias apresentadas para melhorar o envolvimento da comunidade estão o convite a entidades - atitude que já é feita pela titular da CLAS IV, Zélia Maria de Jesus - , peças de teatro representando o controle social e ainda foram discutidos temas de palestras e sugestões de palestrantes.
Cidade Junho • 2008
7
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
ROTA CULTURAL NA RUA DA BAHIA Alunos de escola municipal participam de visita guiada pela Rua da Bahia. O percurso ressalta os pontos turísticos e arquitetônicos da capital e conta com a participação de guias e contadores de histórias CAMILA LAM
n CAMILA LAM, 3º PERÍODO
"Paparapam...", canta o guia de turismo e historiador, Keller Bim. "Pam pam!", respondem os alunos da quinta série da Escola Municipal Herbert de Souza e a professora Marylane Ferreira Cruz. Em frente à Estação Ferroviária, na Praça da Estação, eles respondem ao chamado de atenção combinado entre Keller e as crianças para escutar a explicação da importância do monumento em que se encontram. O projeto Corredor Cultural Rua da Bahia: Educação Patrimonial e Memória Urbana é fruto de uma pesquisa para um projeto de conclusão de curso da turismóloga Bernadette Bittencourt Rodrigues e, por meio dele, foi definido um roteiro para excursões destinadas aos alunos de escolas municipais. Para Bernadette, a empreendedora do projeto, existe uma carência nos roteiros turísticos de Belo Horizonte, pois são limitados e sempre levam as pessoas aos mesmos lugares. Por isso seu projeto tem como principal objetivo resgatar e valorizar a história da cidade através de uma de suas ruas mais importantes, a Rua da Bahia. "Além de aprender sobre a arquitetura e curiosidades dos locais, os alunos se tornam agentes de informação. Realizada a excursão, eles relatam para os pais, familiares e amigos sobre o que viram e aprenderam no centro da cidade", explica.
Após a apresentação da praça, do Museu de Artes e Ofícios, foi oferecido um lanche e em seguida todos subiram ao ônibus para chegar à Rua da Bahia. Durante o percurso, um mapa com o roteiro foi distribuído para cada aluno. Os principais patrimônios arquitetônicos e históricos estão em destaque no mapa e as crianças começaram a identificá-los no ônibus. A turismóloga Mariana Rodrigues de Souza é produtora cultural do projeto e conta que cada turma que participa da excursão é uma experiência única. "As turmas não repetem esse passeio e essa é a primeira vez que um cadeirante participa. É muito legal, pois um dos objetivos do projeto é mostrar o que a Rua da Bahia tem para todas as crianças", explica. SELEÇÃO As turmas que vão participar do projeto são préselecionadas. Durante o Encontro de Educação Patrimonial, que acontece na Secretaria Municipal de Educação, o projeto é apresentado para educadores da rede municipal de ensino e os interessados cadastram a escola. Após o cadastro, são definidas quais escolas poderão ter suas turmas participando do passeio. Marylane diz que se interessou pelo projeto durante o encontro e acha que é uma forma interessante de passar a história da cidade para os alunos. "Além do mais, estou aproveitando o passeio junto com as crianças", comenta. "Quem gosta de ir ao cinema?", pergunta Keller. A
garotada levanta a mão e antes mesmo dele conseguir fazer uma pegadinha, de que ele iria distribuir ingressos para assistirem um filme no Cine Metrópole, Euler Iago Nogueira Lima, 11 anos, disse: "O Cine Metrópole não existe mais". Como nem todos ouviram, o guia explica que o Banco Bradesco foi construído no local que situava o cinema e por isso, não é possível assistir filmes. Durante todo o passeio ele estimula a imaginação das crianças e ressalta diversos valores. Desde preservar patrimônios culturais, a atravessar a rua na faixa de pedestres. Após essa parada, começa a subida à Rua da Bahia, o trajeto é todo feito a pé até a Praça da Liberdade. Ana Luiza Faria Jardim, 10 anos, reclamou de cansaço, mas entendeu a importância de conhecer pontos da cidade que ela não conhecia. "É, dentro do ônibus não daria para reparar nos lugares direito," afirma. PARADA Na praça localizada em frente ao Museu Inimá de Paula e situada perto do Edifíco Malleta, os alunos sentaram para escutar o guia falar e outras pessoas se aproximaram atraídas para escutar as histórias contadas por ele. Entre elas, estava Wilson Alves da Silva. Ele é de Juatuba e estava em Belo Horizonte para comparecer a uma audiência e interrompeu seu caminho para escutar o que estava sendo passado para as crianças. "É importante obter ensinamentos sobre a história da cidade fora da sala de aula", opina.
O passeio pela Rua da Bahia percorre pontos turísticos da capital, tendo como ponto de chegada a Praça da Liberdade Wilson gostou da idéia e acha que é uma ótima maneira de mostrar a cidade para as crianças. "Eu mesmo, gostaria de conhecer mais sobre Belo Horizonte", diz. Museu Mineiro, Arquivo Público Mineiro, Academia Mineira de Letras, para Larissa Guimarães Bento, 11 anos, são lugares novos, que ela nunca teve oportunidade de conhecer. Como ela mora na Região Norte, perto do colégio, explica: "Acho que já passei por aqui e não reparava direito na rua. É bem legal saber o que é cada prédio e a história dele". Os alunos entraram na Basílica Nossa Senhora de Lourdes e ficaram deslumbrados com o estilo gótico da igreja e com o órgão de 40 tubos. A importância de manter o silêncio dentro da igreja foi
atendida pelas crianças e Carlos Eduardo da Silva Alves, 11 anos até aproveitou para rezar para sua avó, que está doente. Seu colega, Hugo Frederico Rodrigues, até brincou que na sua igreja não tem silêncio para rezar, que todos cantam e falam alto. Durante a conversa, eles perceberam como existem diferentes igrejas e concordaram que a Basílica de Lourdes é muito bonita. O passeio estava chegando ao fim e quando eles passaram em frente ao Museu de Mineralogia Keller deu uma dica para a professora. A turma tem que conhecer o museu e Marylane aceitou a sugestão com entusiasmo. Na Praça da Liberdade fizeram uma roda e sentados, observaram o Edifício Niemeyer. Foram duas horas e
meia de passeio e os 30 alunos conheceram a história da Rua da Bahia, passando em frente aos espaços e aprendendo sobre seus significados culturais. No caminho de volta para o colégio, revistinhas em quadrinhos são distribuídas para os alunos com os lugares que eles visitaram para serem coloridos. As visitas guiadas são realizadas com o financiamento da Lei Municipal de Incentivo à Leitura e apoio da Secretaria Municipal de Educação e PUC Minas. A primeira etapa, concluída no ano passado, teve 29 visitas e foram atendidas 780 estudantes de 8 a 13 anos, de 10 escolas municipais da capital. Na segunda etapa espera-se que 930 crianças participem das visitas até agosto.
Cultura enriquece a educação em escolas integradas n GUYANNE ARAÚJO, 5º PERÍODO
A Escola Municipal Aurélio Pires, localizada no Bairro Liberdade, recebeu no dia 19 de junho uma exibição comentada do curta-metragem "Viagens de papel". Após a apresentação, o diretor do curta, Maurício Gino, conversou com alunos de seis a 12 anos presentes na platéia. "O tema é adulto, mas por ser de animação também abarca o público infantil", ressalta o diretor do curta. A história retratada tem como característica a nostalgia de um homem idoso que vendo sua própria foto quando criança lembra de suas brincadeiras na infância. Essa foi a primeira vez que o curta foi apresentado em uma escola. "Acho que as contrapartidas são interessantes para os meninos, mas para mim também, porque é o retorno do trabalho. Esse trabalho é importante", pontua Maurício. Ações da Fundação Municipal de Cultura nas escolas integradas de Belo Horizonte têm aproximado alunos e cultura. São levadas para a rede municipal de ensino contrapartidas sócio-culturais provenientes da lei municipal de incentivo à cultura ligadas às artes-cênicas. A iniciativa teve início em 2007 com atividades como idas ao teatro, apresentação de músicas e concertos, visita ao conservatório de música da UFMG, exibição de curtas e exposição de minerais. Algumas dessas já foram realizadas e outras ainda estão em andamento nas escolas. "O retorno tem sido muito
positivo. É uma oportunidade que as escolas não têm, muitas crianças não foram em teatro. É uma oportunidade de dialogar com autores, músicas", explica a coordenadora do Programa Escola Integrada na Fundação Municipal de Cultura, Rosália Diogo. O FILME Segundo o diretor do curta, é na exibição que percebe se o que foi planejado deu certo. "Cada um interpreta o filme a sua maneira. Quando vê que a criança consegue perceber isso, é sinal que os caminhos tomados deram certo", conta. O roteiro do curta foi idealizado a partir da adaptação de um livro infantil da escritora mineira Irlanda Silva Gino."Viagens de papel" foi produzido com recursos da lei de incentivo municipal à cultura e já participou de alguns festivais, até mesmo fora do país, como Collec-
tivo Penca, na Argentina e participará do festival de cinema independente em Patras, na Grécia, no segundo semestre deste ano. Além disso, o curta já ganhou dois prêmios, como melhor filme brasileiro na escolha do público na Mostra Múmia BH 2007 e o 1° lugar na categoria de animação no XV Festivídeo, em Terezina. Recursos como fotografia, desenhos animados e massinhas foram utilizados durante os seis minutos do curta. CURIOSIDADE Após a exibição, os estudantes tiraram dúvidas com o diretor e esclareceram algumas curiosidades. A primeira pergunta foi quanto a duração do curta, uma criança perguntou a ele porque o filme era pequeno. Após explicar que se tratava de um curtametragem, o diretor ouviu a outras questões como o porque ele utilizou
YONANDA DOS SANTOS
O curta “Viagens de Papel” é uma das atrações oferecidas pela Fundação Municipal de Cultura
de massinhas no filme, quais eram os personagens, quando foi feito, quantas pessoas participaram, quais foram as dificuldades em fazê-lo, quem fez o aviãozinho (brinquedo utilizado pelo personagem do filme), quantos anos tinha o personagem, o que o diretor tinha achado de mais interessante, como ele conseguiu fazer o curta, quanto tempo gastou e como o avião parava no ar. Esse último foi o questionamento que mais chamou atenção do diretor. Ele explicou que para fazer essa filmagem, foi preciso colocar um arame para deixá-lo imóvel que depois foi removido no computador. "Ele já entendeu a técnica", completa. O estudante Davison Douglas Furo Mafra, de 14 anos, diz ter gostado da apresentação e que a conversa com o diretor foi boa, por descobrir como foi realizada a técnica de como parar o aviãozinho no ar e saber que são necessárias 30 fotos por segundo para dar movimento. Ele afirma que gosta de ver filmes. "Vejo 5 filmes por semana, pego emprestado e vejo na televisão", diz. Com relação ao diálogo com o diretor, comenta: "Dá para pegar idéias e fazer trabalhos". Glecielle Ferreira Gonçalves dos Santos, de 11 anos, adora assistir filmes e diz ter gostado da história desse curta. "Achei muito legal, quando você pega as fotos do passado e relembra o que aconteceu", garante. Já a aluna Jenifer Lorrainy Ferreira, de 10 anos, que não costuma ver muitos filmes, achou esse curta interessante. "Não tinha visto desse jeito", diz. Ela diz gostar de assistir filmes, mas vê com sua
família quando têm tempo. Quanto à conversa com o diretor, ela diz que esclareceu muitas dúvidas. "Acho que as dicas que ele deu foram muito interessantes", conta. Durante a conversa, Maurício também explicou sobre a técnica de realizar uma filmagem, dizendo que são feitas várias fotografias até que essas dão continuidade e movimento e formem um filme. Essa foi a técnica realizada em uma das atividades que as crianças participam na escola na oficina de massinhas. E esse foi um dos motivos para que a escola recebesse a exibição de um curta. O curta foi escolhido pela aproximação do trabalho na escola. "Sabia do trabalho de animação que estudantes de belas artes fazem pela escola", afirma Rosália Diogo. Para a professora comunitária da escola integrada Renata Maria Silva dal Ferro, a discussão da técnica faz as crianças pensarem como é a produção de um trabalho. Por isso são promovidos na escola oficinas como arte e educação ambiental, desenho, massinhas, dança, ginástica, língua estrangeira, esporte e capoeira, atividades culturais, oficinas de teatro, intervenção de pintura e informática. Além de oficinas de jornal e rádio. Desde o começo do ano, foi realizada a rádio EMAP, que é interna com uma programação diversificada, feita pelos alunos e transmitida durante a hora do almoço, de 11:30 á 13 horas, diariamente e com participações ao vivo. Segundo a professora, em todas as atividades "os alunos estão muito empenhados de ver e aprender... Eles tem que se ver, se achar no mundo", completa.
8 Cidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
TOPA-TUDO RESISTEM NO MERCADO Lojas que comercializam mercadorias usadas e de segunda mão ainda atraem consumidores, apesar da concorrência de empresas que vendem produtos novos à preços populares em BH ALEXANDRE PATRUS
n ALEXANDRE PATRUS, BÁRBARA MENDES, 4° PERÍODO
Mesmo sem ter os preços mais acessíveis, Sheila afirma ter encontrado o que queria apenas nas lojas topa-tudo
Localização das lojas gera concorrência e praticidade Na Avenida Amazonas, a partir do número 3400, encontra-se uma grande quantidade de lojas deste ramo. A localização agrada muito aos vendedores e compradores. Juvenildo dos Reis, 43 anos, diz que só vai a Avenida Amazonas comprar em topa tudo, pois lá tem tanta loja que fica mais fácil achar o que quer sem ter que se deslocar muito. "Quando eu não acho algo que quero em uma loja, tem outra do lado para procurar. Sem
contar que faço uma breve pesquisa de preço", afirma. A loja Armazém dos Móveis Usados mudou recentemente sua localização. Ao ir para a Avenida Amazonas, o dono Luciano de Castro notou rapidamente um aumento de público. "As pessoas não querem perder tempo e aproveitam o grande número de lojas da avenida para ficar por aqui mesmo e procurar o que querem", justifica.
Cama, guarda-roupa, máquina de lavar e escrivaninha, são essas as compras de Sheila Pereira da Silva nos topa-tudo da Avenida Amazonas. Ela afirma ter pesquisado em várias lojas de venda de móveis, mas revela que encontrou o que queria somente em um topatudo. Funcionária do estacionamento da PUC Minas, Sheila diz preferir os móveis mais modernos. “Os móveis mais antigos são bonitos, mas eu gosto mesmo são daqueles com estilo moderno. Eu prefiro vir a um topa-tudo e comprar móveis novos com pequenas avarias aos antigos de madeira mais chique”. Mesmo existindo lojas com preços mais acessíveis ela afirma ter encontrado o que queria nos topatudo. Ao falar de lojas topa-tudo as pessoas costumam se questionar sobre como este tipo de comércio consegue ter lucro vendendo seus produtos com preços tão acessíveis e comprando objetos usados. Na verdade, esta estrutura não tem segredo. Barato mesmo é o preço que os donos dessas lojas compram as mercadorias de segunda mão. É o que também acredita Leandro de Castro, que há três trabalha no
topa tudo do pai. Ele explica que o processo de revenda é bem simples. "As pessoas procuram as lojas topa-tudo oferecendo produtos como eletrodomésticos e móveis de todos os gêneros e as lojas enviam um avaliador, que vai até a casa da pessoa, avalia as condições da mercadoria e faz uma proposta de preço que julgue ser compatível ao estado do produto", observa. Quando a compra é efetuada, a loja pode vender, por exemplo, um móvel antigo, com a faixa de lucro que varia de 30% a 300%, como apurado. Leandro conta que o topa tudo do pai existe há 13 anos, e que o público de compradores varia muito. "A classe média baixa costuma procurar produtos que tenham mais utilidade diária e que custeam muito caro em grandes lojas. Já a classe média alta procura, com freqüência, móveis antigos com preços mais acessíveis que em antiquários", completa. Além dos móveis antigos serem alvo para decorações da classe média alta, são eles que ditam a pequena concorrência entre este segmento de lojas e as grandes redes de móveis. Vanilda de Jesus trabalha há dois anos com topa tudo e não compra móveis nestas grandes redes. "Os móveis novos são feitos de uma madeira que não dura nada. Você compra um armário hoje e daqui a um ano
seu estado está horrível. Este problema eu nunca tive com madeira antiga e como essa madeira é cara, eu procuro lojas topa-tudo que vendem mais barato", justifica. De acordo com André Sudano, gerente das Casas Bahia, o número de pessoas que preferem comprar um móvel usado é pequeno, visto que a loja pode oferecer bons produtos por um preço mais acessível. "As pessoas preferem comprar coisas novas e o pequeno número daquelas que preferem a qualidade da madeira antiga, não muda nada em nossas vendas", conclui. André Linhares, vendedor da loja topa tudo Prado, diz que em seu estabelecimento a procura de eletrodomésticos é maior que a procura por móveis. Ele oferece garantia em seus produtos para agradar e atrair clientes e ainda afirma que o único momento de concorrência com grandes lojas do ramo é quando estas fazem as grandes promoções. Em contra ponto, o gerente da Ricardo Eletro do BH Shopping, Jilmar Batista Nuvem, afirma que não há nenhuma concorrência com Topa Tudo. "Aqui na loja trabalhamos com produtos top de linha, já os topa tudo trabalham com mercadorias usadas, com pequenos defeitos e geralmente, de qualidade baixa", explica.
Cemitério pode ser tranformado em ponto turístico Má conservação será resolvida com projeto n
ALEXANDRE CARNEIRO, LEONARDO MOTTA,
3° PERÍODO
Esculturas, arte sacra e nomes ilustres marcam o caminho de quem vai ao Cemitério do Bonfim, na Região Noroeste de Belo Horizonte. O primeiro cemitério da capital é uma referência para os habitantes da cidade e agora poderá se tornar um ponto turístico reconhecido, conforme o projeto de lei do vereador Valdivino (PSDCMG), que tem previsão de ser votado este ano na Câmara dos Vereadores. Segundo o projeto, a iniciativa é uma forma de divulgar a história e a cultura de Belo Horizonte além de movimentar a economia local ao atrair turistas. O gerenciamento do novo ponto turístico ficaria a cargo do poder executivo, responsável pelas necessárias reformas e adaptações para o recebimento de turistas pela Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte (Belotur). A localização próxima ao centro da cidade, a estrutura já existente e a arte tumular presente no cemitério seriam motivos para o investimento nesse sentido e o público esperado seria não só de Belo Horizonte, mas de todo o Brasil e mesmo de outros países. Segundo o projeto, o cemitério é um museu ao céu aberto, pelo grande número e pela qualidade das obras que adornam os jazigos, tornando-se comparável aos cemitérios da Recoleta em Buenos Aires e Pére-Lechaise, em Paris, também famosos pelo aspecto monumental que possuem. O projeto também inclui um cunho social, em que adolescentes que se encontram em risco seriam guias mirins das atrações do Bonfim, conciliando a escola com um trabalho próprio. Já existe um público cativo do cemitério, especialmente para visitar nomes ligados à religião, como a Irmã Benigna, cujo túmulo recebe 35 mil pessoas por ano, e Padre
Eustáquio, que recebe 25 mil pessoas. No entanto, seriam necessárias campanhas publicitárias e de conscientização para atrair um publico mais abrangente. "Nós queremos atrair um público de Brasília, São Paulo, que irá lá ver o que ele viu na divulgação", afirmaValdivino. Os funcionários do cemitério do Bonfim revelaram opiniões diferentes em relação ao projeto. O coveiro Anhambira Lucas da Cunha avalia de forma negativa a entrada de turistas nas dependências do Bonfim. "O cemitério é um lugar que envolve o sentimento das pessoas, acho que o turismo não combina com isto", comenta. Por outro lado, ele acha que o projeto pode ajudar a melhorar a imagem dos coveiros, profissionais que, segundo Anhambira Cunha, sofrem com o preconceito. "Talvez seja bom para que as pessoas não fiquem com aquele sentimento ruim sobre coveiro", conclui. Porteiro do prédio administrativo do cemitério do Bonfim e excoveiro, Adir Ferreira João acredita que a aprovação do projeto trará benefícios, como melhoria na infraestrutura, dentre as quais manutenção mais freqüente e a instalação de câmeras de segurança. Adir João não duvida do potencial turístico do cemitério. "Existem muitas obras de arte, muitos trabalhos antigos. Eu acho bonito", ressalta. O funcionário contou ainda que é possível encontrar turistas no Bonfim, e que recentemente viu uma norte-americana tirando fotos das sepulturas.
O CEMITÉRIO São 17.500 exemplares de arte tumular registradas e o cemitério abriga diversas personalidades que marcaram não só Minas Gerais, mas também o país, como Raul Soares, Silviano Brandão, Bias Fortes, Júlia Kubistchek e Irmã Benigna, cujo túmulo é o mais visitado do cemitério. As lápides e os jazigos incluem peças feitas de mármore
de carrara, sendo várias as obras encomendadas de artistas da Europa. São cruzes, representações de anjos e vasos que caracterizam o Bonfim e o distinguem de outros cemitérios. Ele foi fundado juntamente com Belo Horizonte e, inicialmente, tratava-se de um cemitério público, planejado para abrigar toda a população local, o que mais tarde se tornou impossível pois ela cresceu além de seus limites. O cemitério não é tombado ou preservado como patrimônio histórico. Somente a capela central é tombada pelo Instituto Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). O que existe é um processo de tombamento aberto pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município, que reconhece a importância do Bonfim em relação ao projeto original da cidade, ao bairro e região em que se localiza e que vê a relevância da preservação dos bens móveis e imóveis do cemitério, do seu traçado original e de seu acervo documental, neste caso os seus livros de óbitos. Dessa forma, uma equipe técnica que já faz estudos e a catalogação dos bens do acervo do Bonfim para o eventual tombamento.
São comuns as reclamações de quem visita e trabalha no cemitério sobre falta de segurança e de roubos de peças e gravações das lápides. A Fundação de Praças e Parques da Prefeitura é a responsável pelo Cemitério do Bonfim e existe um projeto ligado ao processo de tombamento que estabeleceria uma iluminação apropriada à movimentação do cemitério, de arborização, além de uma reforma de integração da área de velório ao cemitério em si. Não há, no entanto, previsão para que as melhorias sejam executadas. A gerente do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, Michelle Arroyo, considera que o projeto de lei proposto irá reforçar o Bonfim como um espaço que guarda a memória de Belo Horizonte, além de um equipamento de serviço essencial para o funcionamento da cidade. Mas, ela relembra que "não basta só
ALEXANDRE CARNEIRO
O primeiro cemitério da capital poderá se tornar ponto turístico, a partir de um projeto de lei
disponibilizar esse acesso, mas assegurar a conservação e a adequada manutenção desse acervo". Para Arroyo, o projeto é uma forma de reconhecer, por intermédio da Câmara dos Vereadores, o Cemitério do Bonfim, mas vê que as mudanças estruturais devem ocorrer logo e que todas as ações a serem tomadas devem ser feitas em parceria com os órgãos que têm interesse na preservação do cemitério. "Antes de chegar ao turismo, é importantes que todas essas ações sejam implementadas para assegurar a vitalidade, possibilidade de acesso, conservação do Bonfim", pondera. Andando pelo cemitério, é possível constatar vários problemas de manutenção em suas dependências. A capela velório, tombada pelo Iepha, está fechada por risco de desabamento. Muitas sepulturas precisam de manutenção. Em alguns casos, trata-se da ação natural do tempo, mas em grande parte delas é perceptível a ação de vândalos e, principalmente, de ladrões, interessados nos objetos de bronze que ornamentam os jazigos. Quando começa a anoitecer, o cemitério fica deserto rapidamente, não só devido ao término do horário de funcionamento, das 8 às 18 horas, mas também por causa da iluminação deficiente. Existem poucos postes de luz. Neste horário também começam a surgir muitas baratas no interior do Bonfim. Até mesmo a sede da administração carece de cuidados. Os funcionários atendem o público em um ambiente escuro, sobre guichês velhos e cercados por paredes sujas.
Cidade Junho • 2008
9
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
MAPA REVELA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA Dissertação de mestrado em Tratamento da informação espacial constata que agressões físicas e sexuais contra crianças e adolescentes são, muitas vezes, cometidas pelos próprios pais n LETÍCIA ALVES,
5° PERÍODO
Mesmo após 18 anos da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, a violência física e sexual contra essa pessoas continua presente e praticada, em sua maioria, pelos próprios familiares. Foi o que revelou o estudo Violações dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes em Belo Horizonte, realizado pela assistente social Luciene Leão Ávila, sob orientação do professor Alexandre Diniz, como resultado da dissertação de mestrado do programa de pós-graduação em Geografia – Tratamento da Informação Espacial da PUC Minas. O estudo buscou identificar a dimensão espacial da violência física e sexual contra crianças e adolescentes em Belo Horizonte, tomando como base o ano de 2005. Foram utilizados dados dos conselhos tutelares de Belo Horizonte, nas nove regionais da capital. (Leia quadro ao lado). Os dados mostram que os conselhos tutelares registraram 1095 casos de violência: 858 físicas e 273 sexuais. Como resultado, a assistente social obteve mapas divididos por bairros que mostram que a violência está distribuída. "Não de forma homogênea, porque há um bairro ou outro em que existem mais ocorrências
registradas, mas nós não temos a justificativa para isso, pois o objetivo era identificar", observa a pesquisadora. Segundo Luciene Ávila, a violência contra crianças e adolescentes é um tema que permanece atual e que merece respaldo, tendo a pesquisa nesse campo grande importância para o desenvolvimento de ações que garantam seus direitos. "Esse tipo de pesquisa funciona como um catalisador para poder estimular um avanço", analisa. Segundo a coordenadora Especial das Políticas Pró-crianças e Adolescentes da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese), Fernanda Flaviana de Souza Martins, a violência contra
crianças e adolescentes está presente em todas as classes sociais, sendo que se uma região possui um maior número de registros isso não significa que nessa área esteja presente um maior número de casos, pois esse número pode ser muito maior. "A vigilância social é maior nas vilas, nos meios mais populares, onde você tem o posto de saúde que vai às casas, o sistema único de saúde que vai de casa em casa, você tem o Conselho Tutelar que normalmente está nessas regiões e aí você tem um número maior de denúncias", explica. De acordo com a pesquisa, o perfil do violado e do violador não mudou. A maioria das agressões físicas são praticadas pelos próprios pais, 64,86%, mãe, 42,34%, e pai,
22,52%. Já a maior parcela das agressões sexuais tem como maior violador o pai 18,18%, seguido pelos padrastos e madrastas 15,61%, a mãe aparece em 6° lugar com 1,09%. A maior parte das vítimas possuem de sete a 14 anos, 53,37%, nos casos de violência física e, 60,00%, nos casos de sexual, seguido dos de 0 a 6 anos, 32,77%, nos casos de violência física e, 22,35%, nos casos de sexual. As mulheres, 80,8%, também continuam sendo as mais atingidas nos casos de violência sexual. Fernanda Martins afirma que a violência, em sua maioria, está dentro do próprio lar, sendo o pai ou o padrasto o principal violador, que geralmente está envolvido com alcoolismo e drogas.
TOTAL DE CASOS DE VIOLÊNCIA FÍSICA E SEXUAL REGISTRADOS NOS CONSELHOS TUTELARES EM 2005
6° PERÍODO
Ao voltar para casa no Bairro Prado, por volta das 21h, a médica Lúcia Nunes Moreira, que normalmente retornava do trabalho de carro, se deparou com um motoqueiro e um carona, sendo que o último, para sua surpresa, tentou roubar sua bolsa. "Ele até chegou a pegar a minha bolsa, mas eu consegui recuperá-la logo em seguida", conta Lúcia. O episódio aconteceu há dois meses e muito mais que um caso, ele foi um dos motivos que encorajaram Guilherme Neves, presidente da SOS Bairros, a lançar a campanha Conheço uma Vitima, contra assaltos com motos, iniciativa que tem como intuito reunir depoimentos de pessoas que foram assaltadas nos últimos meses. A proposta da campanha é colocar em prática um projeto de segurança desenvolvido pelo SOS Bairros, que visa uma parceria com as polícias Militar e Civil, cujo objetivo é tornar as ruas mais iluminadas e também propor a colocação de câmaras na região. A campanha que teve início no começo do mês de junho, tem sido divulgada pelo presidente da associação dos moradores nas reuniões que acontecem há cada 15 dias. Além do lançamento da campanha, o presidente da SOS Bairros conta que no começo de agosto será realizado um treinamento com os moradores do bairro para que eles saibam lidar com o crescente número de assaltos que vem acontecendo no Prado. Lúcia, apesar de ter sido vítima de assalto com motos, preferiu não registrar ocorrência, fato que, para Guilherme é um dos problemas que deve ser resolvido na campanha. "As
O primeiro passo para se acabar com a violência contra crianças e adolescentes, de acordo com Fernanda Martins, da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social (Sedese), é quebrar com o paradigma da violência. Ela afirma que a violência é uma questão cultural e que o Estatuto da Criança e do Adolescente veio para ser um marco na história social. O segundo passo é dizer não para as agressões cotidianas, denunciando e fazendo valer os direitos previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. As denúncias de violência contra crianças e adolescentes podem ser feitas pelo Disque Denúncia Estadual, por meio do telefone 0800 - 311119 ou do Disque 100 do Governo Federal. Fernanda Martins ressalta que nesse casos o procedimento correto é ligar para o Disque Denúncia ou para o Conselho Tutelar mais próximo do ocorrido, para que estes tomem as providências previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente. A Sedese, de acordo com Fernanda Martins, possui o serviço de abrigo e a Casa Lar, que disponibilizam abrigo temporário para crianças e adolescentes que foram violentados e correm perigo em suas casas. Nesses casos, o Conselho Tutelar junto com o Juizado da Infância e da Juventude devem decidir se eles voltarão para a família ou irão para adoção. Outro serviço é o de Enfrentamento ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, que disponibiliza atendimento psicosocial para criança, o adolescente e a família. Este serviço é utilizado quando a criança não precisa sair de sua casa. BOM EXEMPLO "É muito bom trabalhar com criança. É recompensador". É assim que a coordenadora pedagógica do abrigo infantil Vovó Dudú, Helena Silva, define a sua satisfação no trabalho. O abrigo foi o desejo de Olímpia Campos, mais conhecida como vovó Dudú. Logo após seu falecimento, seu esposo José Antônio de Campos fundou a instituição em 27 de junho de 1983, no fundo de sua residência no Padre Eustáquio. Helena Silva ressalta que desde o início o fundador da creche preocupou-se em fazer dali um espaço onde as crianças pudessem ser criadas e educadas. Hoje, o abrigo atende a 70 crianças, com até seis anos, que são encaminhadas pelos Conselhos Tutelares ou de mães que se inscrevem no próprio abrigo para deixar seu filhos enquanto trabalham.
Campanha alerta contra alto índice de de assaltos com motos no Bairro Prado n CÍNTIA REZENDE,
Medidas que podem conter as agressões
pessoas não registram queixa, seja por medo, ou pelo fato de achar que nada vai acontecer", conta. Para que os casos de assaltos com motos não fiquem impunes, ele orienta toda população do bairro a registrar ocorrência e entrar em contato com a polícia em caso de pessoas suspeitas na redondeza. Foi em uma conversa com a trocadora da linha de ônibus, que geralmente pega para voltar para casa, que Lidiane Cândida Dias descobriu que os assaltos com motos no bairro vêm se tornando cada vez mais freqüentes na região. Assim como a trocadora, a universitária ao voltar da aula, por volta das 22h, foi assaltada por um rapaz de moto. Ela teve roubada a sua bolsa, contendo o celular e documentos. Revoltada com a situação, Lidiane conta que após fazer a queixa, teve que retornar ao local do assalto para fazer a ocorrência. "Fiquei com muito medo de voltar ao local do assalto, não sabia que a Policia Militar só registra ocorrência no local da crise. Tive medo de ser assaltada de novo”, relata. A universitária conta que a violência no bair-
ro vem aumentando a cada ano. "Eu mesma já fui assaltada três vezes, uma delas o assaltante tentou me assaltar pela janela", relata Lidiane. Mesmo com o medo, Lidiane acha importante que as pessoas passem a denunciar os assaltos com motos como forma de inibir a prática. Com o objetivo de inibir o crescimento acelerado da violência no bairro, o major Helton Gonçalves Silva, comandante do 125° Batalhão da Polícia Militar, conta que a PM disponibilizou um número, 78170590, onde os moradores do Prado e do Calafate podem entrar em contato com os policiais caso haja suspeita de assalto ou reclamações referentes ao atendimento. "Como existe uma impossibilidade de aumentar o número de viatura nas ruas, a gente vem investindo em ações como esta que unem mais a população à polícia", relata Helton. O comandante destacou, ainda, que após receber a denúncia de um morador, a polícia prendeu um motoqueiro suspeito de ser responsável por vários assaltos na região, reforçando a importância da participação da comunidade.
YONANDA DOS SANTOS
Major Helton acredita que a participação da comunidade é fundamental para a redução dos assaltos no Prado
Brincadeiras de crianças ainda têm espaço em BH n ALBA VALÉRIA GONÇALVES, 5° PERÍODO
Brincar na rua, que no passado, era uma combinação bem-sucedida, ainda é prática que acontece em alguns bairros de Belo Horizonte, apesar do crescimento da cidade. Jogar bola, andar de bicicleta e skate, soltar papagaio, são as brincadeiras mais comuns. Wesley Alves, Harley Gomes e Kenedy Almeida são garotos que buscam ruas menos movimentadas da Região Nordeste como lazer. “É muito bom, é da hora”, ressalta Kenedy. No Bairro Ouro Minas, por causa da falta de praças e áreas de lazer, as crianças utilizam as ruas para brincar. Isso, de certo modo, preocupa os pais que ficam apreensivos em relação a riscos de atropelamentos. Por isso, alguns deles acompanham os filhos. "Os meus filhos só brincavam acompanhados”, conta Maria da Consolação Miranda Goulart Oliveira. De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Ouro Minas (Ascom), Arízio Alves das Neves, o bairro não tem praças nem equipamentos públicos de lazer. "A aprovação do bairro saiu em 1981 sem a existência de um planejamento específico para a criação de espaços de lazer”, explica. Segundo ela, o trânsito representa o maior perigo. “Quanto à violência não ouço relatos", afirma o presidente da entidade. Também no Bairro São Gabriel as ruas menos movimentadas são as mais utilizadas, segundo Neide de Oliveira Gonçalves Maciel, presidente Associação de Desenvolvimento do Bairro São Gabriel, Segunda Secção (Adesc). "Vejo crianças brincando de bola,
soltando pipa, andando de bicicleta", conta. A recente obra da praça da Rua Y possibilitou o uso de mais uma área de recreação para os pequenos. Neide enfatiza a necessidade de cuidar e manter esses espaços. "Na rua Codajás há algumas quadras desativadas que servem de atalho devido à falta de segurança e iluminação. Se tivessem arrumadinhas, com redes de vôlei, bancos, pessoas cuidando poderiam ser outra alternativa para os moradores", diz a presidente da associação. O Serviço Social do Comércio (Sesc) desenvolve os projetos "Ruas de Lazer" com o objetivo de levar recreação até as comunidades. Segundo a coordenadora Elizabeth de Cássia, as atividades ocorrem em ruas ou em pátios de escola. “Depende da localização da rua, já nem sempre a praça tem espaço de montagem”, diz. Em 1961 as brincadeiras não eram tão diferentes quanto às de hoje. Lizette Machado Costa Santiago de Souza adolescente na época e moradora do Bairro Floresta relembra das brincadeiras de infância. "Boneca, pique-esconde, queimada e bola", lembra Lizete, então adolescente, diz que seus irmãos brincavam mais. "Eles jogavam bola na frente da casa". Para ela, brincar é fundamental para o desenvolvimento da criança. "Antigamente se podia brincar tranquila, não tinha bandido, as drogas eram mais escondidas", afirma. Os pais e avós aprovam as atividades infantis, mas ficam apreensivos por causa da grande movimentação de carros, ônibus e motos. Maria Meirelles se peocupa com as crianças brincando na movimentada rua São João da Serra, no São Gabriel.
10Cidade
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
SONHO FRUSTRADO DA CASA PRÓPRIA O Movimento Pró-Moradia iniciou suas atividades em 1999 com a compra de um terreno em Contagem. Porém, sem a aprovação do projeto, 350 famílias ainda esperam para tomar posse GUSTAVO ANDRADE
n DANIELA GARCIA, THIAGO DE CASTRO, 3° PERÍODO
Depois de verificar a documentação dos lotes e freqüentar algumas reuniões, Eliane Serafim, 26 anos, resolveu associar-se ao Movimento Pró-Moradia (MPM). Para ela, parecia "coisa certa". Na época, casada e grávida, Eliane viu no movimento um meio para possuir a casa própria e não pagar mais aluguel. "Eu comprei o lote porque eu achei que a gente ia ter nossa casinha", explica a mulher ao filho mais velho, Cristhian Serafim, que hoje tem nove anos. Afinal, a idade de Cristhian é o tempo em que esperam Eliane e mais de 300 famílias pela posse desse loteamento. "Um movimento que era para ajudar, fez a gente perder dinheiro", critica Eliane. Ela pagou durante 40 meses, parcelas de R$50 por um lote com 200 m² para morar no conjunto habitacional no Bairro Monte Verde, localizado próximo ao Cemitério Parque Renascer, em Contagem. Sem emprego fixo, ela trabalha como faxineira e lembra que passou por muitas dificuldades para pagar as parcelas e contou com ajuda financeira da mãe para quitar o lote. Hoje, divorciada, Eliane mora de favor com seus dois filhos no barracão do seu ex-sogro. Segundo o presidente do movimento, Lourival de Souza Neto, o MPM começou sob a influência do padre Pierluigi Bernareggi, o Padre Piggi, pároco da Paróquia Todos os Santos, do Bairro 1º de maio em Belo Horizonte. O religioso é um militante da defesa do direito à moradia e atuou em várias ocupações, dentre elas a do Conjunto Felicidade e a de uma pequena ocupação no Bairro 1º de Maio, na Vila, no local onde hoje fica a Rua dos Trabalhadores e a Rua Sebastião Correa. "O Padre Piggi dizia que você pode comprar a terra para depois
viabilizar a construção da sua casa própria", explica Lourival. O MPM é um desmembramento da organização do Padre Piggi. E, a partir de 1999, iniciou suas atividades à procura de uma terra passível de loteamento que comportasse seus associados. Eles compraram a Fazenda Tapera, da família Magalhães, em Contagem, e desde então, criaram uma poupança na Caixa Econômica Federal para que os associados pagassem em prestações. Cada associado pagou 40 parcelas de R$50 cada e mais R$187 de juros em quatro meses. O contrato de adesão dessa área de 164.000 m² foi elaborado em 1999 pelo Procon de Contagem. Uma das cláusulas é que a construção de moradias só poderia acontecer após a aprovação dos projetos e desde que a infra-estrutura básica estivesse pronta. Enquanto não há aprovação desse projeto, essas 350 famílias têm enfrentado dificuldades de moradia. DESILUSÃO "Eles não tiraram só o nosso lote, mas também vários projetos e vários sonhos", ressalta a associada Ursula Maciel, 37 anos. Antes de se associar ao movimento, ela já estava cadastrada no Movimento Pró-Moradia da Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). E conta que acreditava que o processo no MPM de Contagem seria mais rápido. Além de não conseguir sua casa por meio de ambos os movimentos, nesses nove anos de espera, Ursula ainda perdeu o padastro, um irmão e a mãe, que era também associada. "Minha mãe comprou o lote porque queria montar tipo um prédio, um andar para cada filho", lembra. Ursula, o marido e a filha moram no porão na antiga casa da mãe. Em mãos, ela mostra um projeto dos tipos de tijolos que utilizariam para a construção das casas.
Nove anos de impasses para aprovação do projeto do MPM
Margarida Maria da Silva em meio aos objetos que pertencem aos dois irmãos que têm quotas do lote no MPM
Quitados os lotes, feitos os planos, no entanto, sem lar No caso da associada Márcia Diniz, 32 anos, sem ter condições de pagar aluguel e não ter familiares a quem pedir ajuda, está morando em um barracão na Vila Novo Boa Vista, em Contagem. "Eu tive que desviar meu caminho e vir para cá", diz. Márcia comenta que participou ativamente das reuniões do MPM, e que até se esforçava para pagar duas, três parcelas em um mês para acelerar o pagamento do lote. Ela conta que planejava fazer uma casa simples com três cômodos e como se imaginava quando terminasse de pagar as prestações. "Aos 26 anos, já vou ter a minha casa", lembra. A casa de Margarida Maria da Silva, 54 anos, segundo ela, "está uma bagunça". Na área externa vê-se uma geladeira desativada, latas de tinta e vários móveis amontoados. Mar-
garida explica que esses móveis pertencem a seus dois irmãos. Eles adquiriram quotas do lote, incentivados por ela mesma. Há dois anos, seu irmão Sebastião do Carmo sofreu uma grave queda e ficou surdo. Com isso, ele fica aos cuidados de Margarida. Há ainda os móveis de seu irmão José do Carmo, que não tem muito espaço onde mora de aluguel, no Bairro Veneza. "Ó meu Deus me dá coragem! Me dá cara de pau de pedir ajuda", conta Margarida sobre suas orações diárias. Ela, junto à amiga Inês de Souza, também associada, dizem que ligam várias vezes para a Prefeitura de Contagem e para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma) para ter informações sobre o andamento do processo. Além disso, as duas mostram
envelopes em que guardam documentos da escritura e uma agenda com telefones a quem recorrem para pedir auxílio. Inês, que ajuda na conta de telefone da amiga, lembra que não foi fácil pagar as parcelas. "Tirava com luta todo mês R$ 50", afirma. Margarida, orgulhosa, ainda mostra um saquinho com todos os recibos das parcelas pagas. A vice-presidente do MPM, Maria Inêz Diniz, 63 anos, conta que diante da estagnação do processo, as reuniões semanais que eram realizadas até o ano de 2006, no Bairro Sebastião, em Contagem, foram canceladas. "É um movimento lindo, que está morrendo", ressalta. Segundo Maria Inês, havia uma grande interação entre os associados, dos quais ela "sabia o nome de cada um".
Passados nove anos do início do Movimento PróMoradia (MPM), várias questões burocráticas que não são resolvidas continuam impedindo que os associados do movimento possam tomar posse do seu terreno. Lindomar Gomes, advogado do MPM há um ano, explica que há três licenças que devem ser conseguidas para que seja feito o loteamento da área. Em ordem, a Licença Prévia, a Licença de Instalação e a Licença de Operação. De acordo com o advogado, "a primeira licença foi concedida em 2000, mas estranhamente cassada em 2001". Lindomar ainda afirma que durante todo esse tempo, passaram três governos e que o responsável por tanta demora para a resolução da questão é "a falta de competência dos profissionais das áreas". A solução, para Lindomar, é conseguir revalidar a primeira licença, para dar continuidade aos outros processos burocráticos. A atual Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente de Contagem, desde de julho de 2006, chefiada por Carlos Vanderley Soares, informou, por meio do seu assessor de imprensa, Elivélton Moreira da Costa, que "o próprio MPM está atrasando a solução, já que não apresenta um novo projeto." Elivélton explica que o atual projeto do MPM foi rejeitado em uma reunião entre o presidente do movimento, Lourival de Souza Neto, e o Conselho Municipal do Meio Ambiente (Comac), realizada em abril.
Sítios na capital: uma opção de qualidade de vida n ALINE MOREIRA ALMEIDA DA SILVA, 1° PERÍODO
A agitada vida diária faz com que cada vez mais pessoas procurem locais onde possam ter paz e tranqüilidade. É assim o dia-a-dia de quem vive em sítios ou chácaras dentro da cidade. Além do sossego encontrado existe a vantagem da proximidade dos diversos locais que compõem o cenário urbano. Natureza e qualidade de vida são as principais características citadas por aqueles que escolheram esse modo de viver. A possibilidade de se criar animais, fazer plantações, além de ter uma área grande que permite caminhadas e reuniões familiares são colocados pelos moradores como pontos positivos. A professora aposentada Maria Luiza Campos das Neves, moradora de um sítio no João Pinheiro, destaca algumas dessas características. "Vantagem para mim é que adoro espaço, planta. É um privilégio de vida morar num local desses. Sossego, paz, tranqüilidade, ar puro e área grande, o que posso dizer é que é uma qualidade de vida
inigualável", afirma. Priscila Freire, diretora do Museu de Artes da Pampulha, moradora de um sítio naquela região, também destaca a qualidade de vida. "Viver em meio a esta vegetação, acompanhando o florescer anual de cada espécie, poder andar todas as manhãs por uma alameda de sombras, é muito agradável. Inclusive ter frutas, uma horta pequena com legumes apa-
nhados na hora, ovos frescos e um franguinho caipira por semana. Acho que tudo isso explica um prazer especial, meu, uma opção minha. Muitas pessoas se surpreendem e preferem viver em apartamento", comenta. Sebastião Dinelli Lopes, advogado, morador de um sítio também no Bairro João Pinheiro concorda. "A vantagem é o ar puro, ficamos
GUSTAVO ANDRADE
Maria Luiza é uma das pessoas que desfrutam da tranqüilidade de morar em sítios em BH
afastados de ruídos pela área grande, é um lugar agradável para receber visitas. A casa passa a ser um ponto de contato", acrescenta. Visualmente o local é um convite ao convívio com a natureza e com o natural: vários tipos de plantas, pássaros, galinheiros, área de lazer, são algumas características dos sítios. Priscila Freire diz que seu terreno foi considerado pela prefeitura como área de preservação ambiental. "Temos não só pássaros como joão-de-barro, sabiás, rolinhas, gaviões, garças e saracuras, além de animais como micos, gambás e esquilos", enumera. São inúmeras as qualidades descritas pelos moradores, no entanto, algumas questões como a manutenção ou a insegurança, são citadas como desvantagens. "Financeiramente é só gastar", afirma Maria Luiza. Para promover a conservação da área são necessários jardineiros e, em alguns casos, caseiros. "Como o terreno é grande, tenho que ter dois empregados homens para mantê-lo, roçar, capinar, tirar pragas das árvores como cipós e ervas de passarinho”, ressalta Priscila Freire.
Maria Luiza tem algumas idéias que poderão ajudar a diminuir os gastos com a manutenção do sítio. Ela tem um projeto de construção de uma mini-fazendinha, que seria aberta para visitações escolares. Mas ela afirma que ainda é apenas uma idéia e que só será desenvolvida se for de forma segura e planejada. A questão da segurança, hoje, é um problema que inquieta grande parte das pessoas e não somente os moradores de sítios. Sebastião comenta que o processo de urbanização, por meio da construção de prédios em torno de seu terreno, contribuiu para a diminuição da insegurança causada anteriormente. Atualmente, a busca por sítios como local para lazer e descanso, é grande. Dessa forma, moradores de sítios nas cidades enumeram as qualidades de vida do local, com a vantagem de não serem obrigados a viagens para usufruir tais prazeres, além de estar próximo de locais como trabalho ou escola. “As vantagens estão praticamente já explicadas, para quem gosta, de ouvir o canto do galo de madrugada e dos sinos nas aves marias", conclui Priscila Freire.
Cidadania Junho • 2008
11
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
INCENTIVO E APOIO NA CASA ROSAL Organização não-governamental localizada em Nova Lima oferece atividades diárias para portadores de câncer. A convivência entre pacientes e voluntários gera maior qualidade de vida GUSTAVO ANDRADE
n LAURA SANDERS, 3° PERÍODO
Quando começou a participar das oficinas de artesanato na Casa Rosal, a professora de bordado, Ivonete Rossi Passos Ferreira conta que Cristina Aparecida de Almeida, 34 anos, vinha acanhada, ficava olhando as outras alunas. Hoje, a paciente que passou por um transplante de medula óssea, aprende rápido tudo o que a professora ensina e é uma "simpatia", conta Ivonete. Cristina lembra que quando chegou à casa, em 2005, viu a primeira aula, veio na seguinte e não parou mais. "Era difícil falhar", afirma. Hoje, ela faz tricô e bordado, mas só pode participar das oficinas de quarta-feira, porque trabalha em casa e não pode estar na associação todos os dias. "Mais para frente, se Deus quiser eu vou poder vir mais", garante. Cristina é uma das pacientes que sofrem ou sofreram de câncer e que buscam ajuda na Associação Casa Rosal, uma organização não governamental (ONG), localizada no centro de Nova Lima. A instituição, fundada em 2001, já teve 302 cadastrados, e hoje atende 188, oferecendo assistência social, medicina alternativa e terapia ocupacional. Entre as atividades estão oficinas de trabalhos manuais, dança do ventre, aplicação de reike, relaxamento e serviço psicológico, individual e ou em grupo.
Segundo a diretora da instituição, Maria das Graças Reis Couto, como todos os profissionais são voluntários as atividades são direcionadas de acordo com sua linha de trabalho. A sede atual, uma casa alugada pintada de rosa, tem cozinha onde os voluntários ou mesmos os pacientes preparam lanches, salas multifuncionais, quintal com mesa onde ocorrem oficinas e, atualmente, uma horta. A assistente social Maria de Lourdes dos Santos Borges explica que a idéia da horta surgiu para atrair os homens para a casa, já que eles costumam ser mais resistentes, principalmente a atividades manuais oferecidas. Ela considera a horta e os serviços de jardim como uma terapia. Maria das Graças diz que a tentativa é "minimizar as dores da alma, conforme o momento que o paciente e a família estão”. Maria de Lourdes conta que muitas vezes o paciente chega para o cadastro e está bem disposto e a família não, ou ao contrário. Há ainda aqueles, principalmente idosos, que não são informados que estão sofrendo de câncer. "O primeiro atendimento é comigo. Depois de um tempo visitando a casa a gente percebe o quanto mudou", explica Maria de Lourdes. Ela garante que o primeiro passo é aceitar a doença. Maria José Alves, de 56 anos, passou por um câncer de mama e está há quatro anos na ONG. Ela valoriza
a amizade que conquistou na casa. "Não tem maior psicólogo que Jesus e o encontro com as pessoas. Tem dia que a gente está para baixo e vem pra cá e fica bem", afirma a paciente, enquanto terminava uma boina de tricô, durante a oficina de trabalho manual de quarta feira. A aluna Maria Isabel Secondino, 52 anos, já participou de várias atividades da casa. "O dia que eu não venho é muito triste", diz. Ela conta que antes das aulas de trabalho manual, as professoras passavam mensagens e música, mas como o aparelho de som foi roubado, isso não tem acontecido.
Cristina Aparecida e Maria José Alves fazem tricô na Casa Rosal. Essa é uma das oficinas oferecidas pela entidade
Instituição sobrevive de doações Além das atividades, os pacientes cadastrados ganham benefícios como cesta básica de legumes, alimentos e leite, fraldas geriátricas, vales-transporte e a disponibilidade de um veículo para levar os pacientes em tratamento. Maria das Graças Reis Couto explica que todo tratamento é em Belo Horizonte, já que a cidade de Nova Lima não possui especialistas na área. A associação também empresta muletas, bengalas, perucas, cadeiras de roda, colchões e camas hospitalares a pacientes que necessitam. De acordo com a assistente social Maria de Lourdes dos Santos Borges, há uma avaliação sócio-econômica da família, incluindo visita à residência do paciente, para só então liberar os benefícios a quem precisa. Toda verba da ONG vem de doações, de associados (pessoa física ou jurídica), de uma subvenção da prefeitura, que
também disponibiliza funcionários e de eventos e feiras realizadas pela casa para arrecadar fundos. Nessas feiras são vendidos produtos produzidos nas oficinas de trabalho manual. O dinheiro arrecadado é dividido em três partes: uma destinada à compra de material, outra para despesas da ONG e o restante é dividido entre as pacientes como forma de incentivo. Algumas delas aproveitam o que aprendem na casa para confeccionar mais produtos e vender por conta própria. Maria Jose é uma delas. "Ganho pouco, mas gosto de fazer. A coisa que mais gosto é esse trabalho", afirma. Outra forma de arrecadação de fundos é o bazar permanente montado na própria sede, onde são vendidas roupas, bijuterias e tudo aquilo que as pessoas doam. Segundo a diretora Maria das Graças, é uma forma
das pessoas "desentulharem" suas casas e de outras comprarem peças por um preço acessível. Atualmente as principais demandas da ONG são outro automóvel, já que o de propriedade da instituição roda 12h por dia; e uma sede própria onde teriam mais salas, evitando as salas multiuso. Maria das Graças também chama mais voluntários a participar. Segundo ela, a rotatividade é grande. Como a Casa Rosal há pouco tempo passou a focar também na campanha de prevenção da doença, visando o diagnóstico precoce e realizando palestras educativas, Maria de Lourdes também destaca a importância da parceria com médicos, que são voluntários nessa iniciativa. As pessoas interessadas a fazer doações ou ser voluntárias devem entrar em contato no telefone (31) 3541- 0042.
Mesários voluntários dão exemplo de cidadania n FABIANA SÂMARA, 1° PERÍODO
A cada eleição existe uma tarefa importante que praticamente todos os cidadãos brasileiros que possuem título de eleitor estão sujeitos a realizar: ser mesário. Responsáveis pelo atendimento dos eleitores e liberação das urnas para o recebimento dos votos, os mesários têm um dos trabalhos mais importantes nas eleições. Além de garantirem o sigilo do voto e a tranqüilidade no ambiente de votação, também têm que zelar pela segurança da urna eletrônica durante o processo eleitoral. Só em Minas Gerais foram necessárias aproximadamente 176 mil pessoas para trabalhar junto às seções eleitorais do estado em 2006. Para trabalhar como mesário existem duas possibilidades: a convocação formal ou a opção de se oferecer como voluntário. No primeiro caso, o convocado recebe uma carta em sua residência com todas as informações necessárias para o desempenho da função. Já no segundo, o interessado deve fazer sua inscrição no site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). O não comparecimento dos mesários convocados, se não for devidamente justificado até o prazo, é considerado crime
de desobediência e resulta em multa ou detenção de até seis meses. É importante lembrar que o mesário nomeado não pode indicar outra pessoa para o seu lugar e que o trabalho não é remunerado. Kátia Valência Madureira, integrante da comissão de mesário voluntário e responsável pelas campanhas do TRE-MG, afirma que 25% dos 176 mil mesários de Minas Gerais inscreveram-se voluntariamente nas eleições de 2006. Segundo Kátia Valência, as campanhas publicitárias que incentivam as inscrições de pessoas como mesários têm dado retorno e as expectativas para as eleições de 2008 são de 50% de crescimento dos mesários voluntários. "Os mesários voluntários trabalham com mais vontade, dão menos furo e é vantagem para nós e para eles que trabalham mais satisfeitos", afirma. A proposta do mesário voluntário surgiu nas eleições de 2004, em Minas, com pouco enfoque publicitário. O primeiro ano teve 45 dias de campanha, mas hoje as campanhas contam com apoio de propagandas em televisão, rádio, internet e jornais. o advogado Walter Moreira César, 73 anos, há mais de 40 anos é mesário voluntário. "É o exercício pleno da cidadania. É uma colaboração, uma prestação de
serviço extremamente importante, que cada cidadão deve fornecer. É por isso que eu me sinto prazerosamente prestando esse serviço", justifica Walter Moreira, o mesário mais antigo de Belo Horizonte. PAPEL IMPORTANTE Há pessoas que gostam de ser mesárias e se sentem desempenhando um papel muito importante para a democracia. É o que deseja Débora Cabral, de 19 anos. Apesar de estar no começo de sua vida eleitoral, já que participou apenas de uma
eleição, a presidencial, quando o voto lhe era facultativo, ela tem grande interesse em ser mesária voluntária. "Minha tia foi mesária e gostou, disse que é uma experiência legal e resolvi experimentar", afirmou. Ana Lúcia Cabral, 39 anos, tia de Débora, disse que se sente bem como mesária, apesar de não ser remunerada por isso. Com bom humor ela brinca: "Não recebo pra ir, mas tenho que agüentar dois dias a menos de sufoco". Ela se refere aos dois dias de folga por eleição trabalhada.
Mas os casos de Ana Lúcia e Débora são exceções. A maioria das pessoas ainda tem muita resistência quanto a ser mesário. É o caso de Ricardo Almeida Soares, 28 anos, que afirma que é muito chato. "Você perde o domingo inteiro, que poderia ser melhor aproveitado para curtir com a família, jogar bola com os amigos", afirma Ricardo Soares. Ele argumenta também que os dois dias de folga não ajudariam muito, pois não trabalha no domingo que é o dia que pode se reunir com os fami-
MAIARA MONTEIRO
Walter Moreira César é o mesário mais antigo da capital. Ele diz que presta o serviço prazerosamente há 40 anos
liares e amigos. "Ser mesário é um saco, não pretendo voltar a ser", disse. Para motivar um número maior de pessoas a se tornarem mesários, a Legislação prevê algumas vantagens em participar dessa tarefa, como, por exemplo, o direito à dispensa do serviço sem prejuízo salarial pelo dobro dos dias trabalhados nas eleições e, no caso de segundo turno, esse direito continua válido. Outra vantagem é a utilização da prestação desse serviço à Justiça Eleitoral como critério de desempate em concurso público, desde que essa previsão conste do Edital. A estudante Denise Lopes Leal, 23 anos, já foi convocada duas vezes para exercer a função. Ela, no entanto, não conhecia a vantagem no critério de desempate em concurso público. "Não conhecia essa vantagem. Sabia apenas que se ganha dois dias de dispensa no serviço", diz. Denise Leal também conta que durante os dias em que foi mesária deu tudo certo em sua seção eleitoral. Segundo ela, o que lhe chamou a atenção foi a quantidade de eleitores que ainda têm dificuldade para utilizar a urna eletrônica. "Há muitos que se assustam com a urna. Para muitos ela ainda é um 'bicho'. Isso me impressionou", comenta a estudante.
12Esporte
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
É DIFÍCIL CHEGAR AO OUTRO LADO Em Pequim ou no Brasil, pais dos esportistas estarão na torcida pelos filhos. Para acompanhá-los eles se informam pela internet, pela TV e até conseguem patrocínio para ir às competições n AMANDA ALMEIDA, 7° PERÍODO
Desde que disputava campeonatos amadores, o nadador Thiago Pereira conta com a presença da mãe Rose Vilela, vibrando nas arquibancadas. Das competições em Volta Redonda, cidade de Thiago no interior do Rio de Janeiro, Rose já foi parar em Atenas, nas Olimpíadas de 2002, na torcida pelo filho. Todo esse acompanhamento sempre foi sustentado com suas economias. Ir às Olimpíadas de Pequim, em julho deste ano, era um sonho mais distante porque os custos são muito altos. Rose, porém, não desistiu. Correu atrás de patrocínio e conseguiu. "É a primeira vez que vou patrocinada acompanhar o Thiago. O Bradesco está me levando à Pequim", comemora Rose, lembrando que o banco é também patrocinador do filho. Mas a conquista de Rose é exceção. Famílias de outros esportistas acompanharão os filhos em casa, no Brasil. Após assumir o posto de brasileiro com maior número de medalhas de ouro (seis) em uma única edição dos Jogos Pan-Americanos (2007), o nadador Thiago Pereira é uma das esperanças brasileiras para as Olimpíadas de Pequim. Quem acompanhou o Pan, ainda não se esqueceu da torcida animada de Rose, durante as competições. "Quando era criança, o Thiago ficava com vergonha da gritaria que eu arrumava. Hoje tenho certeza de que ele gosta muito", revela. A mãe do nadador da equipe do Minas Tênis Clube considera muito importante para o filho a presença da família. "É bom porque ele sente que tem muita gente nadando com ele", explica. Rose está muito animada para as Olimpíadas, mas diz que não preparou nenhuma torcida especial. "Em Pequim, estarei com a mesma bandeira do Brasil, o mesmo chapéu e o mesmo grito de guerra: 'Vai, Thiago'. Podem esperar", diz. Ela ainda não sabe muitos detalhes sobre sua estadia na China. "Não sei nem que tipo de contato terei com o Thiago. Visitar a arena, por exemplo, é muito difícil. É bem burocrático", afirma a já experiente Rose. Foi a mãe quem matriculou o filho nas aulas de natação. "Thiago quase se afogou com um ano e meio. Nós estávamos em um sítio e, enquanto almoçávamos, ele foi para a piscina. Um sobrinho viu tudo e nos avisou. Depois disso, falei a ele que natação era seguro de vida", lembra Rose. Ela conta que Thiago sempre gostou de água e era um 'perigo' em terra. "Nos planos terrestres, ele aprontava. Sempre quebrava braço. Para ele acalmar, sempre ia ao clube", lembra. Admiradora de seu único filho, Rose diz nunca ter forçado Thiago a competir.
Aos 12 anos ele decidiu que gostava mesmo da natação e que queria participar de competições. Animada para as Olimpíadas também está a família do maratonista Franck Caldeira. Porém, a mãe do atleta, Vera Lúcia Caldeira, acompanhará tudo pela televisão em Sete Lagoas. "Não dá para gente ir porque é muito caro. Patrocínio é só para o Franck mesmo", lamenta. Vera já acompanhou o filho nas competições, por meio das transmissões televisivas e também pessoalmente. "De perto é bem melhor. A gente pode incentivar”, observa. Segundo Vera Lúcia, a família e os amigos de Franck se reunirão na casa dela para torcer pelo filho durante as Olimpíadas. "Ele sabe que a gente estará unido torcendo por ele. Então, eu acho que a nossa força chega até ele", afirma. Ela lembra que pediu ao filho um presente especial para o seu próximo aniversário. "Comemoro 65 anos de vida no dia 29 de agosto, mesmo dia em que ele competirá em Pequim. Já falei que quero a vitória dele como presente", brinca. Segundo Vera, Franck prometeu fazer o melhor que pode. A irmã de Franck, Vera Caldeira Almeida Oliveira, também acha que a força transmitida pela torcida distante é a mesma. "Ele sabe que a gente está aqui rezando por ele", relata. Ela pondera apenas que, quando a torcida é ao vivo, os torcedores se sentem mais importantes. "É como se a gente fizesse mais diferença no desempenho dele", explica. Vera lembra que é um orgulho ver o irmão crescer no atletismo. Natural de Sete Lagoas, Franck Caldeira treina desde os 16 anos em Petrópolis no Rio de Janeiro. Aos 19 anos, foi o segundo melhor brasileiro na Meia Maratona do
Rio de Janeiro em 2002. Desde então tem se mantido na elite brasileira, em provas de 10 mil metros e corridas de rua. Em 2007, Franck conquistou a medalha de ouro na maratona masculina nos Jogos Pan-Americanos do Rio.
DOIS NO TATAME Assim como Rose Vilela, o pai do judoca Luciano Côrrea, Raimundo Côrrea, ficou famoso pela torcida animada durante as competições. "Arrasta, Luciano!" é o grito de incentivo ao filho. Isso se repete desde os quatro anos, quando o judoca do Minas Tênis Clube começou nos tatames. Raimundo não irá à Pequim acompanhar os ippons do filho. "A gente não arruma patrocínio nem para ele, quanto mais para a gente", compara. Ele lembra que a torcida é importante para o desempenho dos esportistas. "Eu tenho um amigo que brinca que é injusto lutar contra o Luciano, porque são dois contra um. Eu fico tão concentrado que é como se estivesse com ele no tatame", ri. Em Brasília, cidade do judoca, Raimundo garante que a torcida nas Olimpíadas será a mesma. A mãe do judoca, Antônia Côrrea, confirma que a animação do marido não muda. "É impressionante. Para o Raimundo, é como se estivesse lá. Ele continua gritando da mesma forma em frente à televisão", reforça. A torcida da mãe é mais 'quietinha'. Ela prefere ficar observando a luta e rezando pela vitória do filho. "Toda forma de torcida é positiva", explica. Matriculado pela mãe, Luciano logo se apaixonou pelo judô. Os principais títulos dele são o Ouro no Mundial Sênior 2007, o Ouro no PanAmericano 2005 e o Ouro na Copa do Mundo de Lisboa 2006.
MAIARA MONTEIRO
Vera Lúcia, mãe de Franck Caldeira, diz que completará 65 anos no dia que atleta disputará em Pequim
Familiares de atletas paraolímpicos terão maiores dificuldades Se ir à Pequim para acompanhar os competidores nas Olimpíadas já é difícil, torcer para os atletas das Paraolimpíadas é quase uma missão impossível. Essa é a constatação de Roga Figueiredo, esposa do mesatenista Carlo Michel. Conhecido como Carluxo, o atleta está selecionado para as Paraolimpíadas, desde o Parapan-Americano do Rio de Janeiro, em que conquistou a medalha de ouro. "A gente custa a conseguir patrocínio para o atleta paraolímpico. Eles conseguem competir através de uma bolsa-atleta oferecida pelo governo", explica a esposa do atleta. Roga não irá às Paraolimpíadas de Pequim por falta de recursos. A solução para ausência não é tão feliz quanto à da família de Luciano Côrrea ou Franck Caldeira que acompanhará os atletas pela televisão. "As dificuldades não param por aí. A TV não transmite os jogos paraolímpicos. Nem na internet é possível acompanhar ao vivo", lamenta. Roga explica que só sabe do resultado dos jogos, quando sai uma nota na internet ou, ainda, quando o marido telefona. É ela quem liga para os pais do atleta para contar o resultado dos jogos, após o marido a avisar. "É uma torcida diferente, uma mistura de ansiedade e apreensão. Quando dá o horário do jogo, a gente pensa 'ele está jogando' e começa a ansiedade", revela. Ela lembra que mesmo assim não deixa de enviar pensamentos positivos.
Geralmente, Roga só acompanha de perto jogos que são em Belo Horizonte. "Estar presente é bem melhor porque só assim vejo ponto a ponto", explica. Roga e Carluxo são casados há 11 anos. Na mesma época em que casaram, Carluxo começou a competir profissionalmente. Ele é portador de uma doença rara chamada artrogripose, que o levou a enfrentar mais de 50 cirurgias e anos de fisioterapia. Ele superou os obstáculos com bastante força de vontade e determinação. Desde os três anos, a mãe fez questão de o matricular na natação para que exercitasse a musculatura. O atleta começou a praticar tênis de mesa aos 14 anos. Aos 15, já fazia parte da seleção mineira infantil e, aos 26, descobriu o esporte paraolímpico. Desde então, faz parte da seleção brasileira e hoje é o destaque da equipe. Em 2006, venceu o Campeonato Brasileiro Paraolímpico de Tênis de Mesa. Também foi medalha de bronze no Aberto da Argentina e ficou em 4º lugar no Aberto da Alemanha, que são algumas das principais competições internacionais paraolímpicas. Roga constata "é muito difícil ele perder". Ainda assim, a esposa reforça que é muito difícil conseguir patrocínio. Quando ele precisa comprar materiais para competir, faz planilhas com custos. "Então, ele leva para várias empresas e, de pouquinho em pouquinho, consegue comprar", pontua.
Futebol americano encontra seu espaço em BH GUSTAVO ANDRADE
n CAMILA MARA DE AMORIM PINTO, 5° PERÍODO
"Futebol americano é muito emocionante, porque a cada jogada é necessário muita atenção e dedicação para alcançar as jardas e, conseqüentemente, os pontos", afirma Henrique Gomes, atleta da equipe Minas Locomotiva, apaixonado por essa prática esportiva. Recentemente, o futebol americano está ampliando o número de praticantes e admiradores desse esporte no Brasil. Em meados de 1990, iniciou um projeto de fundar alguns clubes de futebol americano no país para que os jogadores pudessem praticar o esporte e iniciar um novo tempo de disputas. Uma década depois, já havia algumas equipes estruturadas e um campeonato
regional organizado, o Carioca Bowl. Em Belo Horizonte, somente em outubro de 2005, com a ajuda da Redzone – maior lista de discussão do futebol americano em português –, que foi criado um time, BH Goldminers, composto por oito pessoas. No ano seguinte, os praticantes mineiros do esporte decidiram alterar o nome da equipe para Minas Locomotiva. Atualmente, o time mineiro é formado por cerca de 43 atletas, que realizam os treinamentos para as competições no Parque Ecológico Promotor José Lins do Rego – Parque Ecológico da Pampulha – aos sábados durante à tarde. Minas Locomotiva já participou de campeonatos regionais e nacionais, como a Copa Vienne de Futebol Americano e o Pantanal Bowl.
Lucas Rocha Miranda, atleta do Minas Locomotiva, acredita que o time é um grupo de conhecidos que se unem para realizar a prática de um esporte emocionante. A atração pelo esporte, ele conta que veio por meio da televisão, tendo em vista que sempre acompanha os jogos. "Sempre gostei do esporte e descobri isso através da televisão", relata Lucas. Segundo Rodolfo Ventura, diretor esportivo do Minas Locomotiva, o futebol americano é um esporte muito estratégico, violento e complexo, pois o jogo tem como objetivo realizar o touchdown. As jogadas feitas durante a partida, no entanto, são de curta duração e exigem dos atletas grande especialização e rigor as táticas específicas para que sejam alcançadas o mínimo de 10 jardas por jogada.
Equipe Minas Locomotiva, formada por cerca de 43 jogadores, treina aos sábados, no Parque Ecológico da Pampulha
Junho • 2008
Educação • Saúde
13
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
PROFISSIONAIS BUSCAM QUALIFICAÇÃO É cada vez mais comum profissionais formados buscarem novos cursos de graduação em diferentes áreas de conhecimento, por frustação, complementação ou para ocupar o tempo vago GUSTAVO ANDRADE
n NÁDIA DE ASSIS, 5° PERÍODO
"Os testes psicológicos voltados para orientação profissional, como qualquer outra técnica, têm a ver com o domínio de quem o utiliza e com a emoção de quem recebe", essa é a opinião de Delba Teixeira Rodrigues Barros, conselheira da Associação Brasileira de Orientação Profissional, sobre como os testes vocacionais podem colaborar na escolha de uma carreira. Profissionais graduados, até mesmo pós graduados ou aposentados, estão cada vez mais a procura de um novo curso superior. As razões que motivam essa escolha são as mais variadas, e podem ser uma frustração, uma complementação ou até mesmo uma maneira de ocupar o tempo disponível. Para Michelle Beckman, 24 anos, estudante de Jornalismo da PUC Minas, e formada em Nutrição e Publicidade e Propaganda, as condições financeiras foram um obstáculo para que ela cursasse Jornalismo aos 17 anos, ao se formar no Ensino Médio. "Desde os 14 anos já tinha certeza que queria ser Jornalista. Porém, como sou de Barbacena, cidade do interior de Minas, meu pai desempregado não tinha condições financeiras para me manter estudando na
Flávia Cruz trabalhava meio horário como farmacêutica e aproveitou o tempo livre para ingressar no curso de Letras capital", afirma. Ao concluir as duas graduações no interior, a estudante veio para Belo Horizonte estudar jornalismo, motivada por uma proposta de trabalho na área de Comunicação, porém logo percebeu que seu trabalho, além de mal remunerado, não estava relacionado a essa área. "Cheguei a pensar em retornar a Barbacena assim que cheguei aqui, porém meu pai e o restante da minha família sempre me incentivaram a permanecer e a realizar o meu
sonho", revela. Flávia Cruz, 27 anos, farmacêutica, e estudante de letras da Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG, decidiu fazer outro curso depois que se formou em farmácia, porque passou a ter mais tempo livre. "Assim que me graduei, trabalhava em uma drogaria somente meio horário. Dessa maneira, entrei em um cursinho preparatório e comecei a estudar para o vestibular de Letras, já que sempre gostei muito de ler e escrever", explica. Ela
ainda exerce a profissão de farmacêutica na Prefeitura de Betim, onde continua trabalhando meio horário. DESAFIOS De acordo com Delba, muitos daqueles que buscam caminhos diferentes daqueles escolhidos inicialmente, o fazem devido a um amadurecimento natural e também por sentirem necessidade de novos desafios. Em outras ocasiões há o esgotamento de possibilidades em determinadas áreas, bem como impossibilidades
pessoais, como acidentes e doenças. "Alguns indivíduos são excelentes em suas profissões, porém não encontram oportunidades e acabam mudando de carreira. Esse foi o caso da publicidade mineira, que há poucos anos ficou muito abalada devido aos escândalos de corrupção. Há também profissões como a datilografia, que foram extintas com o passar do tempo", analisa. A especialista acredita que aos 18 anos, idade na qual a maioria dos jovens entra em uma faculdade, seja possível fazer uma escolha responsável e consciente, porém com a maturidade que se tem nessa idade. "O que leva o jovem a fazer a escolha mais acertada é um processo de reflexão, que pode ser aliado a ajudas profissionais, com os testes psicológicos voltados para orientação profissional", ressalta. Em contrapartida, Flávia pensa que a maioria dos jovens não está preparada para essa escolha. "Na idade em que prestamos vestibular, ainda somos muito sem bagagem, tirando algumas exceções que são mais dinâmicas e se informam mais com relação ao mercado de trabalho. Porém, a maioria sabe pouco a respeito das profissões e seu campo de atuação". Para Michelle é possível fazer uma escolha acerta-
da, tanto que muitos acabam seguindo em frente com a primeira opção. Entretanto, a maior parte não tem maturidade para aproveitar o curso da maneira mais adequada e acabam preferindo os barzinhos, calouradas e churrascos às aulas. TESTES Os testes psicológicos voltados para orientação profissional, testes vocacionais, verificam essencialmente elementos da personalidade e os interesses do jovem, e não a inteligência. Esse tipo de avaliação só pode ser feita por um psicólogo, tanto que parte de sua eficiência pode ser atribuída à competência do profissional que o aplica. Delba diz que não houve, ao longo dos anos, aumento significativo na demanda por estes testes. "Pode-se dizer que a medida que se descobrem novas técnicas, e que essas são aplicadas, mais pessoas são atendidas". Enquanto Michelle sempre desejou fazer o curso de Jornalismo, Flávia teve algumas dúvidas e procurou ajuda especializada na hora de prestar vestibular "Eu fiz orientação vocacional tanto na escola em que estudava, quanto fora. No resultado, deu que tinha afinidade para artes. Acredito que os resultados desses testes podem ser tendenciosos", conclui a farmacêutica.
Consciência na hora de descartar os remédios n GABRIEL COSTA DUARTE, 1° PERÍODO
O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama), promulgou, por meio da resolução número 358, de 29 de abril de 2005, diretrizes que obrigam os estabelecimentos geradores de resíduos de saúde a destinarem de forma adequada os medicamentos que estejam com data de validade vencida, visando a conservação do meio ambiente e a não proliferação de agentes infecciosos. Segundo Micheline Rosa Silveira, professora de legislação farmacêutica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as normas sobre a destinação de resíduos são muito novas e não há um controle direto dos governos. "Não há controle do governo sobre os remédios, se esse despejo está sendo feito de forma correta, eles não sabem", afirma. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, o recolhimento dos resíduos de saúde é feito por empresas terceirizadas. Os resíduos são recolhidos nos estabelecimentos e devem estar de acordo com as resoluções do Conama e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As unidades de saúde são obrigadas à apresentarem todo ano à Anvisa, o Plano de Geren-
ciamento de Resíduos dos Serviços de Saúde (PGRSS), formulário onde são especificadas o cronograma do estabelecimento sobre o descarte de seus produtos. Júnia Célia de Medeiros, tesoureira do Conselho Regional de Farmácia e responsável na comissão de resíduos de saúde de Betim, afirma que o PGRSS é um indicador da responsabilidade ou não da empresa com seus clientes e com o próprio
meio ambiente, "A empresa que tem em seu estoque remédios vencidos sinaliza não planejar seu cronograma, contribuindo para a poluição do meio ambiente", diz. Júnia também comenta que o papel de conscientização sobre o descarte adequado não é apenas da mídia e do governo, mas, principalmente, do farmacêutico. "O profissional farmacêutico tem uma extrema importância para a conscientização da população, por isso nós
do conselho sempre aconselhamos o estudo e a integração do assunto para sermos promotores da saúde", relata. A conscientização da população sobre a maneira adequada de se descartar resíduos da saúde, parece ainda não ter sido despertada, como no caso da aposentada Amábia Castro, que diz que joga os remédios que utiliza no vaso sanitário. "Eu jogo os remédios vencidos no vaso sanitário, pois tenho medo que
GUSTAVO ANDRADE
Segundo Conselho Nacional de Meio Ambiente os fabricantes terão que instruir os consumidores quanto ao destino dos remédios vencidos
alguém mexa no lixo e tome-os", afirma. CONSEQUÊNCIAS Esse tipo de atitude, como muitos não sabem, pode gerar inúmeros problemas à população, como afirma a farmacêutica de um estabelecimento da Região Noroeste da capital mineira, Miriam dos Reis Carvalho. "As pessoas não perguntam sobre isso, eu vejo as pessoas descartarem em lixo comum, e a conseqüência disso é a contaminação da população por doenças infecto-contagiosas", ressalta. No caso de Semir Pereira Campos, dono de farmácia no Bairro Padre Eustáquio, ao invés do simples descarte dos remédios, esses são vendidos a preço de custo quando faltam seis meses para seu vencimento. "A cada três meses são retirados os remédios a serem vencidos no semestre, e são vendidos a preço de custo, para não haver prejuízo da farmácia e uma maior acessibilidade do cliente", diz. Para evitar danos ao meio ambiente e à própria população, as pessoas que utilizam medicamentos, devem pedir orientações ao farmacêutico ou se dirigir ao estabelecimento de saúde mais próximo e entregar os remédios para serem destinados adequadamente como a resolução do Conama aconselha.
14Meio Ambiente
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
Junho • 2008
AQUECEDOR AO ALCANCE DE TODOS Curso desenvolvido por desenhista-projetista tem objeitvo de produzir artesanalmente o aquecedor solar. Contudo, especialista adverte à respeito da qualidade e economia dos aparelhos GUSTAVO ANDRADE
n PATRÍCIA SCOFIELD,
Ex-alunos contam suas experiências com o curso
5° PERÍODO
Instigado pela dificuldade que os participantes de cursos sobre energia alternativa encontravam para fazer um aquecedor solar caseiro, o desenhista-projetista Eduardo Rocha aceitou o desafio de desenvolver um método artesanal para construir o equipamento. A partir da experiência profissional de mais de 10 anos em projetos de equipamentos mecânicos, leituras e participações em palestras sobre o assunto, Eduardo desenvolveu um curso, de um dia de duração, que ensina a fabricação e instalação do aparelho. Esse pode ser construído com materiais simples como latas de óleo ou de tinta, tubos de PVC e chapas galvanizadas - peças de metal que se tornam boas condutoras a partir de um tratamento químico que cobre o aço com uma camada de zinco. "Qualquer pessoa pode fabricar e montar seu aquecedor a baixo custo", afirma o criador do curso. Para Eduardo, o maior erro dos brasileiros é usar a energia elétrica para aquecer a água, já que "o sol é de graça" e que há incidência de raios solares no país ao longo do ano todo. Ele destaca que com o uso do aquecedor solar artesanal "a economia na conta de luz pode chegar a 80%". Isso porque o sistema de aquecedor solar capta a energia térmica ou o "calor" dos raios do sol para transferi-la à água, de forma que a esquente. A economia nas contas de luz é comprovada por Eduardo, que instalou um aquecedor artesanal em casa. Antes da instalação do equipamento, a conta de setembro de 2005 da residência dele foi de R$101,84. Em outubro do mesmo ano, já instalado o aquecedor solar, o taxa foi de R$ 39,84. Esse valor apresentou pouca variação em relação à conta mais recente apresentada por Eduardo, de abril de 2008, que foi de R$ 37,22.
O professor Eduardo Rocha explica, passo a passo, o método artesanal à turma de junho POLÊMICA O engenheiro do Grupo de Estudos em Energia Solar (Green Solar) da PUC Minas, único laboratório do Brasil que faz ensaios de aquecedores solares para o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), Alexandre Salomão de Andrade, polemiza que a economia de 80% na conta de luz não é verdade. "O aquecimento de água representa de 30 a 40% do valor da conta de energia e o solar (não-artesanal) reduz 70% desses 30%. A economia efetiva é de 20% na conta", explica. Alexandre esclarece que não é possível saber se a economia constatada nas contas da casa de Eduardo foram proporcionadas somente pelo aquecimento solar. O engenheiro do Green Solar da PUC Minas diz que é preciso avaliar uma série de questões, por exemplo, se houve mudança nos hábitos de consumo das pessoas que moram na residência de Eduardo, se as lâmpadas comuns foram substituídas por incandescentes ou se a geladeira foi substituída por um modelo que consome menos energia. Outra questão relevante, ainda segundo Alexandre Salomão, é que quando o consumo de energia cai para menos de 100 kW/h o preço
passa a ser subsidiado, ou seja, a tarifa passa de R$0,59 para R$0,39. Cursos como estes preocupam o engenheiro, porque "podem detonar a tecnologia. É a mesma coisa que ter um produto falsificado", compara. Para ele, cursos de aquecedor solar artesanal vão sempre surgir, já que o preço da energia tem subido cada vez mais e que existe uma tendência de buscar alternativas que também contribuam para o meio ambiente. O problema, segundo o engenheiro, é que "muitos estão vendo isso como negócio". "Não tem mais espaço para coisa amadora no mercado de comercialização de aquecedor solar. Está sendo estudado para ser plano de governo", pondera. Alexandre Salomão alerta para os riscos que aquecedores solares artesanais podem apresentar: não duram muito tempo; os tubos de PVC suportam só até 40°C, mas a água pode atingir até 50°C, e os problemas quanto à limpeza e à infiltração, já encontrados em aquecedores de materiais nobres e que se multiplicam nos sistemas caseiros. "Um aquecedor solar de 200 litros custa R$1.500 reais mas dura 15 anos. Fica mais caro, mas tem cinco vezes a vida útil do outro", acrescenta.
No curso de Eduardo, dentre os cuidados recomendados em relação à segurança estão o uso de óculos e luvas para a fabricação do equipamento, além da utilização de materiais que não estejam enferrujados e nem contaminados com produtos químicos nocivos. A placa coletora dos raios solares também deve receber um cuidado especial, já que, de acordo com o criador do curso, a melhor posição é virada para o lado norte, a fim de aproveitar o sol das 6h da manhã às 18h. Eduardo conta que um dos motivos que levam as pessoas a fazerem seu curso, que ensina a utilizar peças que tenham preço acessível, é o alto custo dos aquecedores solares industrializados. Outro motivo apontado por ele é o de quem compra tubos de plástico para compor o aquecedor artesanal. Segundo Eduardo, o plástico não tem tanta eficácia na absorção dos raios solares em dias nublados e não é um bom condutor de calor, por isso o desenhista-projetista recomenda o uso de peças galvanizadas. Há quem procure o método para praticar uma terapia ocupacional, para usá-lo no processo de pasteurização do leite ou para ter água aquecida para lavar sala de ordenho, por exemplo. Ex-aluno de Eduardo há três anos, o pequeno empresário Fernando Souto decidiu abrir o próprio negócio nessa área. "O primeiro coletor que eu aprendi a fazer com o Eduardo está instalado na minha casa até hoje", revela. Porém, a empresa de aquecedores de Fernando, que hoje tem um quadro de sete funcionários e "já está bem estabelecida", não produz à maneira artesanal. "Fabrico aque-
cedores industrializados, tenho uma linha de produção até bem sofisticada e pratico os preços do mercado", afirma. Em relação ao curso de Eduardo, Fernando pondera que "ele ensina a fabricar coletores solares que são, de certa forma, a parte mais simples do sistema". E acrescenta: "ele não ensina a fabricar reservatórios". Eduardo aconselha o uso de recipiente do tipo "tambor", não-usado, para servir de reservatório. Além disso, Fernando observa que há riscos de vazamentos no coletor solar ensinado nesse curso em um prazo de dois ou três anos após a fabricação, devido à maneira artesanal de soldar as peças. O ex-aluno observa também que a recomendação do uso de materiais galvanizados atende à proposta do curso de baratear os custos da produção, mas que esses não tem um desempenho tão eficaz quanto o alumínio ou o cobre. "Desde que a pessoa siga com bastante atenção as instruções da apostila do curso, o produto terá uma qualidade aceitável, porque é artesanal", afirma Fernando. Para o pedreiro Francisco da Silva, aluno do curso ministrado no dia 17 de junho deste ano, um dia foi suficiente para aprender todo o processo de construção e instalação do aquecedor solar, pois "o Eduardo é muito atencioso, explica tudo nos mínimos detalhes". Francisco explica que buscou o curso de Eduardo para fazer um aquecedor para si e futuramente para fabricar e comercializar o produto. "Fiquei muito satisfeito. Estou empolgado para começar a fazer o meu, pegar a prática e contar para os vizinhos", expressa.
Dificuldade do jornalista quando a pauta é ciência n RENATA ALVES, 3° PERÍODO
Relatar para a sociedade as descobertas científicas e os avanços da tecnologia tem sido, cada vez mais, um desafio de vários jornalistas. O jornalista científico Roberto Carvalho, 52 anos, que escreve para a revista Ciência Hoje, aponta entre as principais dificuldades do jornalista científico ou jornalista de ciência, como ele sugere, o conflito existente entre o fator tempo de conhecimento de determinados assuntos relacionados à ciência e à tecnologia que serão publicados, e a cobrança dos veículos de comunicação sobre esses jornalistas. Roberto Carvalho esclarece que o fator tempo interfere diretamente na qualidade das matérias veiculadas, especialmente em publicações diárias em jornais, TV, rádio e internet. "Em veículos mensais ou em cadernos especiais, normalmente preparados com antecedência, o repórter tem condições de voltar às fontes, se necessário, para reapurar detalhes que estavam pouco claros. Um dos grandes problemas da cobertura jornalística de ciência e tecnologia é que o repórter, muitas vezes, tem que com-
preender rapidamente, em algumas poucas horas, quando não em alguns minutos, um trabalho que a fonte levou anos para fazer, quando não décadas ", afirma o jornalista. Cientistas que se dedicam a pesquisas levam anos, até mesmo uma vida toda, para desenvolver e compreender técnicas, processos e o vocabulário próprio. Esses cientistas têm a seu favor o tempo e a compreensão. Já os jornalistas que se empenham em divulgar a ciência e a tecnologia, vêem esses dois fatores contra eles, principalmente o tempo, pois geralmente os veículos de comunicação exigem muito em pouco tempo. Para que essa situação seja menos conflituosa, Roberto Carvalho sugere que essa discrepância seja compensada com o esforço das duas partes, do pesquisador e do repórter. O primeiro deve falar o essencial de seu trabalho com o repórter, usando uma linguagem simples, pensando sempre no leitor. Já o repórter deve ter se preparado para a entrevista e dominar minimamente o assunto sobre o qual irá escrever. "Ao sair de uma entrevista, ele deve ter claro em sua cabeça o essencial para escrever a
matéria. Do contrário, as chances de um desastre são muito grandes", conclui. PREPARAÇÃO A jornalista Vanessa Fagundes, coordenadora da assessoria de comunicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, Fapemig, conta os desafios que teve para trabalhar nesse órgão. "Quando eu vim trabalhar aqui eu tive que conhecer melhor esse campo, ciência e tecnologia; o que eu fiz foi começar a acompanhar debates, pesquisas sobre ciência, para melhor compreender e poder dar um tratamento melhor para as nossas matérias", esclarece. A Fapemig produz uma revista mensal de circulação nacional que trás, além dos fatos mais relevantes da ciência e tecnologia, destaque para os projetos mais significativos e que tiveram um bom desenvolvimento. Vanessa diz que "pela Fapemig financiar pesquisas das universidades do estado, então eu tive que conhecer também esse público, saber que tipo de pesquisas eles fazem, tive que entender para pensar as estratégias de comunicação, como iria atingir essas pessoas, qual a melhor maneira de aproveitar o trabalho que
eles fazem". Já acostumada com o meio, Vanessa conta que sempre colabora com outros jornalistas repassando informações e indicando pesquisadores para entrevistas. "Nosso banco de dados é muito bom, sempre conseguimos um pesquisador para falar das mais diferentes áreas. Quando não conseguimos, em geral indicamos outra instituição que provavelmente irá atender. A gente nunca teve problemas com isso, o outro lado sempre é compreensivo também", explica. Para a jornalista, outra dificuldade encontrada é o vocabulário científico. Algumas palavras nem sempre são repassadas de forma sim-
plificada, o que dificulta o entendimento do texto. “Alguns termos, inevitalmente, vão se incorporando ao vocabulário do leitor/espectador, tal o número de vezes em que aparecem nos noticiários, como DNA, genoma, nanopartícula, buraco negro, transgênico, etc", esclarece Vanessa. Ela ainda diz que até mesmo esses termos que já são mais populares, e especialmente os menos conhecidos, devem ser adequadamente conceituados ou explicados em uma matéria jornalística. Os leitores só poderão absorver satisfatoriamente novos conceitos se eles forem apresentados de modo claro e interessante. ADEQUAÇÃO Roberto Car-
YONANDA DOS SANTOS
A jornalista Vanessa Fagundes diz que se preparou melhor após entrar na Fapemig
valho completa dizendo que ao escrever uma matéria científica tenta simplificar ou adequar termos para que se tenha um maior entendimento dos leitores, o que é essencial no trabalho do jornalista de ciência. "A 'história' tem que ser simples, bem contada (interessante) e, se possível, curta. Para explicar detalhes mais complexos sobre o assunto em exposição, é comum o repórter lançar mão do recurso da analogia, por exemplo, talvez um dos mais explorados para explicar algo que um leitor/espectador/ouvinte desconhece. Parte-se de algo conhecido para informar alguma coisa que não é de conhecimento amplo", conclui Roberto. Uma última dificuldade destacada por Vanessa é a falta de preparação dos jornalistas para cobrirem esse tema. "Apesar de hoje tudo indicar para uma especialização, o jornal quer alguém que entenda tudo e que esteja preparado para fazer tudo a qualquer hora, e isso é ruim porque quando você se especializa, você se prepara, você tem mais facilidade de lidar com as fontes, compreende melhor o que está acontecendo, essa preparação também é falha", conclui Vanessa.
Junho • 2008
Meio Ambiente • Comunicação
15
jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas • jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas
NATUREZA SURPREENDE BRASILEIROS Fenômenos naturais como ciclones, tornados e tremores de terras, antigamente inesperados no país, passam a acontecer em cidades brasileiras, mesmo que de forma menos intensa n ALEXANDRE PATRUS, BÁRBARA MENDES, 4° PERÍODO
Recentemente, foram vistos e sentidos no Brasil eventos naturais inesperados pelo povo brasileiro. Tremores de terra em Minas e São Paulo, ciclones em Santa Catarina e tornados no Paraná são exemplos destes. As crianças aprendem nas escolas que o Brasil é um país livre desses tipos de catástrofes, mas os casos recentes levantam a dúvida sobre a veracidade desses fatos. "No Brasil sempre houve tremores de terra, mas nunca o foco inicial deste. Não é que fomos enganados, mas sim mal informados", justifica Ione Mendes Malta, professora de geomorfologia da PUC Minas. Ela ainda completa que alguns tremores são muito pequenos e as pessoas podem sentí-los em forma de vertigem e nem sabem que são sismos (abalos de terra). Ruibran dos Reis, meteorologista do MG Tempo e professor de climatologia da PUC Minas, concorda que o problema
é a falta de informação, mas no caso do clima, o aumento de catástrofes está relacionado a fenômenos como o aquecimento global, expansão urbana, o El Niño e o La Niña. O cardiologista Carlos Álvaro dos Santos de 60 anos não esperava viver estes acontecimentos como furacões, mas sabe que no país ocorrem pequenos tremores de terra. "São tão pequenos que não causam grandes estragos. Não estamos em área de movimentação de placas tectônicas, e só acredito em catástrofes, como a que ocorreu na
chegam por propagação. "As chances de termos um tremor muito forte são bem remotas, pois no caminho ele perde a força", observa. Outras formas dos abalos serem sentidos no Brasil são por acomodação de camadas do solo e problemas relativos à mineração. Devido à localização do Brasil em meio a uma placa tectônica, as autoridades não se preocupam com este problema e, com isso, aqui casas e edifícios não são preparados para tal tipo de fenômeno. Judith Lemos Maia, aposentada de 74 a-
nos, fica aliviada em saber que estes abalos não são de origem brasileira. "Confesso ter ficado assustada com esta novidade em plenos 74 anos. Preocupei-me muito, pois vivi acreditando não existir isso no Brasil e não quero que meus netos e bisnetos passem por isso. FREDERICO PENA
China, se acontecer uma mudança na estrutura do globo terrestre", explica. Essa opinião do médico é confirmada pela professora Ione. Segundo ela, os tremores de terra no Brasil sempre são reflexo de outros. Estes têm origem nos Andes ou no Oceano Atlântico e aqui
Mas fico aliviada em saber que só recebemos reflexos e que a chance de ter algo grande é rara", comenta. É raro, mas é bem possível e já aconteceu antes. Em 1955, no Mato Grosso ocorreu um tremor com magnitude de 6,6 pontos na escala Richter e foi registrado por mais de 100 estações de monitoramento em todo o mundo. A magnitude é considerável já que o tremor da China, ocorrido recentemente, atingiu 7,5 pontos na escala Richter. De acordo com Ruibran dos Reis, os cientistas não previam formação de furacões ou tornados no Brasil, apenas discutia-se que poderia estar acontecendo formações destes no Paraná. "Desconfiavase pelo rastro de locais onde árvores estavam caídas. Mas ninguém nunca tinha filmado e nem tirado fotos, então não poderia ser confirmado", conta. Em 2004 apareceu o primeiro furacão do Atlântico Sul nos litorais de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os ventos chegaram a 150Km/h e o
fenômeno foi batizado como Catarina. O QUE MUDOU? Ruibran dos Reis afirma que até início da década de 80 não ocorriam variações significativas em temperatura e nas chuvas. Segundo ele, a quantidade de dióxido de carbono aumentou muito a partir dessa década e, com isso, a temperatura global aumentou em 0,6ºC nos últimos 30 anos. Há 100 anos, a temperatura máxima de Belo Horizonte chegava a 32ºC, agora chega a 36ºC. "Cientistas chegaram a um consenso de que temperatura da Terra tem tendência de subir 1ºC nos próximos 20 anos", explica. Segundo Ruibran, outra grande preocupação dos cientistas para este ano é de que o fenômeno La Niña mascare o aquecimento global e faça com que as pessoas se descuidem ao tentar combatê-lo. Tal fenômeno consiste no esfriamento da temperatura da água do mar na costa do Peru e do Equador. Como a temperatura fica baixa na região, o clima do mundo todo é influenciado.
Novas formas de mídia tomam conta da cidade n ANA CAROLINA AMARAL, FILIPE CALIJORNE DINIZ, 5° PERÍODO
Novas formas de mídia estão presentes nos postos de gasolina, na parte interna dos ônibus e até mesmo no vidro traseiro de alguns táxis de Belo Horizonte. "As formas tradicionais de comunicação não têm alcançado os resultados que os anunciantes desejam", afirma Mucio Servolo, professor da disciplina Mídia, do quinto período do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Minas. De acordo com Mucio, as novas mídias, também chamadas de alternativas ou extensivas, são maneiras inéditas de se promover a veiculação publicitária, que surgem em função do desenvolvimento das grandes cidades e da busca por diferentes padrões de mercado. "São outros canais que temos para nos comunicarmos com os consumidores", enfatiza. Criado em Vitória, no Espírito Santo, desde o ano passado, o Mídia in Bus - anúncios colocados entre as lâmpadas e o visor de "parada solicitada" dentro de alguns ônibus que circulam em Belo Horizonte - chegou à capital mineira em março de 2008 e está em período de experimentação. Segundo Andréia Monteiro, 32 anos, publicitária e gerente da empresa Mídia in Bus, a partir da boa aceitação em Vitória a idéia foi trazida para Minas Gerais, pois "o mercado mineiro é considerado bom para a realização de testes". O projeto de implementação
desta mídia é uma parceria entre a Mídia in Bus, a BHTrans e as empresas de ônibus. Andréia conta que são colocadas seis peças publicitárias por veículo, utilizando as calhas que são luminosas. O preço de cada um é de R$ 320 por mês e envolve a produção e colocação nos ônibus. Dos anúncios pioneiros, participam empresas como Ricardo Eletro, Lojas Móbile, Faculdade Pitágoras, e a própria BHTrans. OPINIÕES A estudante do quarto período do curso de Direito da Faculdade Milton Campos, Érica Bahia, 31 anos, utiliza diariamente a linha 2104-Nova Gameleira/Faculdade Milton Campos. Ela afirma que tem o costume de prestar atenção nos diversos tipos de publicidade, e considera os novos anúncios veiculados nos ônibus de "fácil percepção". Entretanto, outra usuária da linha 2104, a também estudante Bárbara Braz, 20 anos, acredita que as propagandas dentro do ônibus são uma
forma de poluição visual. "Já temos um monte espalhadas pela cidade, agora junta todo o desconforto do ônibus e parece que o espaço interno foi diminuído. Me deu a sensação de lugar abafado, sufocado", ressalta. Em Belo Horizonte, para a implantação de qualquer tipo de mídia nos ônibus, é necessário consultar a prefeitura. De acordo com Rodrigo Magalhães, assessor de marketing da BHTrans, tanto os anúncios veiculados dentro dos ônibus como nas traseiras dos táxis representam uma grande tendência do mundo contemporâneo. "A intenção é que o usuário comum do transporte coletivo em geral veja a propaganda nos veículos como utilidade pública", afirma. Segundo o assessor, 20% do conteúdo publicado na parte interna dos ônibus tem a finalidade de prestar serviços à população. Rodrigo ressalta que 80% dos cidadãos belorizontinos anda de ônibus todos os dias ou eventualmente. Esse dado é uma motivação a mais para que o
YONANDA DOS SANTOS
Posto Vera Cruz - Ipiranga, é um dos que utiliza a mídia alternativa em suas instalações
Mídia in Bus se firme e supere a atual fase de teste. "É esperado um resultado melhor (do Mídia in Bus) do que o de outras mídias. Dentro do ônibus as pessoas têm mais tempo de observar as propagandas", diz. Gilberto Antônio Martins, gerente operacional da Viação Nova Suíssa, estima que nos próximos meses sejam colocados mais anúncios em pelo menos 30 veículos de sua empresa. "Por enquanto só alguns 'carros' abriram espaço para esses anúncios", afirma. Gilberto observa que uma média de 62 mil pessoas são transportadas diariamente na viação e considera interessante a utilização do ônibus como forma de publicidade e pontua as vantagens das mídias alternativas: "Não estragam os ônibus, não poluem e ainda geram empregos", conclui. MÍDIA POSTO Na tentativa de cumprir o papel de anunciar sem poluir o espaço urbano, alguns postos de gasolina de Belo Horizonte também estão investindo em formas alternativas de publicidade. A mídia posto, como ficou conhecida, começou a ser implantada em Belo Horizonte no final de 2007 e é produzida através de uma parceria entre os donos de postos de bandeiras como Petrobrás, Texaco, Esso e Ipiranga e as empresas que confeccionam as peças. Geralmente são objetos de aproximadamente um metro e 30 cm de altura, com três ou quatro faces - nas quais se localizam os anúncios, que podem girar ou apenas transmitir a sensação de que isso ocorre. "A propaganda é importante
para gerar divisas e empregos", afirma Kelson dos Santos, 49 anos, administrador da empresa Primeiro Movimento - KIS Painéis. Ele conta que a tendência é que a mídia posto se espalhe rapidamente para todo o país. O administrador diz que muitas empresas estão buscando este tipo de publicidade e que obtêm um retorno interessante. O custo para anunciar é em torno de R$ 500 por mês. "A mídia posto não veio para substituir o outdoor, é uma nova proposta de mídia em movimento e é limpa, não polui", avalia Kelson. No entanto, o professor Mucio Servolo, chama atenção para o cuidado que se deve ter para não confundir os conceitos de mídia alternativa e mídia limpa. "Toda mídia é suja, umas mais, outras menos. Uma mídia em outdoor polui a cidade, pois incomoda quem transita pelas ruas. O mesmo podemos dizer de uma mídia em postos de gasolina. Ela pode ser menos agressiva, mas não deixa de ser uma interferência dentro das cidades", observa. Há seis meses o posto Vera Cruz - bandeira Ipiranga, localizado no Bairro Floresta, Regional Leste de Belo Horizonte, alugou um espaço para a implantação da mídia posto. De acordo com o gerente Vinícius Silva Freitas, o posto não tem responsabilidade nenhuma sobre os anúncios colocados na mídia posto, tudo é administrado pela empresa. "Nós cobramos mil reais por mês pelo aluguel do espaço mas não participamos da escolha de nenhum anunciante", afirma o gerente.
entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista
Henri Dubois Collet
Entrevista
ENGENHEIRO CIVIL E AGRIMENSOR jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco
n Quando surgiu o interesse do senhor pela questão ambiental? Olha, na realidade foi mais depois que eu assumi o parque mesmo, porque antes a gente trabalhava em várias outras atividades e a gente não tinha assim essa preocupação. No ramo da engenharia, na minha época, não se falava em meio ambiente. Quando você tinha um projeto você fazia aquele projeto, esse projeto estava para desmatar tudo. Você limpava tudo que tinha primeiro, limpava tudo, aí começavam as construções, depois é que você pensava: "ah, ali precisa de recuperar, ali a gente tem que plantar uma árvore e tal". Naquela época era assim que funcionava. Hoje não, hoje já começa a pensar "olha, como é que é a proteção? Como é que está a área? Tem rio, tem nascente? A gente precisa proteger essa nascente, aquele rio?" A gente começa a fazer esses estudos em cima dessa base toda ecológica, depois então é que você vai desmatar.
n E desde então quais foram os trabalhos desenvolvidos pelo senhor nessa área? A primeira questão que a gente começou a defender foi realmente as áreas de preservação permanente. Uma outra questão que está começando a ser discutida, é a área de preservação permanente de topo de morro. Você na região por exemplo de Nova Lima, a quantidade de casas que estão exatamente nos topos de morro. Estão todas erradas em função da legislação, quer dizer, a legislação federal é muito clara em dizer que o topo de morro deve ser protegido, é uma APP (Área de proteção permanente). Então você vê muitos locais, muitas cidades no interior, mesmo São Paulo, por exemplo Campos do Jordão. Campos do Jordão é praticamente todo na serra, na encosta da serra, praticamente todo em área de preservação permanente, em APP.
EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE n GUYANNE ARAÚJO, PATRÍCIA SCOFIELD, 5° PERÍODO Diretor do Parque Nacional da Serra do Cipó desde 18 de setembro de 2003, o engenheiro civil e de agrimensura Henri Dubois Collet está vinculado à região e à sua comunidade desde a década de 60, quando seu pai adquiriu uma propriedade no local. Consciente das questões ambientais, Henri ressaltou com preocupação, durante entrevista ao MARCO, as dificuldades em se administrar o parque, que sofre com a divisão irregular dos terrenos rurais – o chamado parcelamento do solo – e com o fogo feito pelos criadores de gado. A fiscalização da área é o “calo” para a administração do parque.“Nossos maiores problemas estão no entorno, principalmente com parcelamento do solo”, comentou. O parque, situado a cerca de 100 Km de Belo Horizonte, tem recebido pesquisadores de várias partes do país, que contam com uma estrutura de apoio, para estudos sobre o lobo-guará, a capivara e o arbusto canela-de-ema.
n Em que consiste o trabalho do senhor como diretor do Parque? A gente tem participado de muitas reuniões em torno do parque todo. No parque são quatro municípios e na APA (Área de proteção) são oito municípios então a demanda é muito grande. Nós tivemos recente uma mudança, com a criação do Instituto Chico Mendes, que ficou responsável pelas unidades de conservação. Com isso foi criada agora uma nova chefia da Área de Proteção Ambiental do Morro da Pedreira, que é o Sérgio Fortes Machado. Apesar de a APA estar no entorno do parque, a gente trabalha bem junto, bem próximo. O escritório continua sendo o mesmo, os veículos são os mesmos, a gente tem que estar compartilhando isso porque os interesses são comuns. A APA está no entorno do Parque Nacional, na zona de amortecimento do parque. É uma área de muito conflito, então a gente tem que trabalhar mesmo totalmente integrado.
n Como fiscalizar toda a área? Posso dizer que isso seria nosso calo, porque são 100 mil hectares em torno do parque. Dentro do parque a gente não tem muito problema, mas os nossos maiores problemas estão no entorno, principalmente com parcelamento de solo urbano. As fazendas até são fazendas pequenas, não é uma região de solo fértil para ter muitas pastagens ou grandes plantações. Por ser um solo fraco e estar próximo de Belo Horizonte, isso facilita que as pessoas procurem a água, o descanso, uma região para fazer seu sítio, sua casa de campo. Então essa pressão de parcelamento do solo é o maior problema que a gente tem.
n Quais são os principais problemas do Parque? Do parque, um grande problema que a gente tinha, eu falo "tinha", que era o gado, porque quando eu assumi o parque a gente tinha em torno de 1.200, 1.300 cabeças de gado dentro do Parque Nacional. E o parque não é um local para
n Quais são os projetos de conservação ambiental na região? O que vai acontecer agora vai ser definido no plano de manejo do parque e no zoneamento na APA Morro da Pedreira. O zoneamento da APA, a gente espera estar com ele pronto até o fim do ano. É preciso definir desde as características do solo, do relevo, você tem várias situações aí que você tem que analisar. Então a proposta é no zoneamento, falar assim, essa região, por exemplo, dos campos rupestres, não vão permitir o parcelamento para fins urbanos, e sim para proteger o campo rupestre, que são aqueles campos do alto de serra. Toda essa região de altitude de campo rupestre, alto da serra, é uma área que queremos proteger, é uma área que tem que ser protegida em módulos, não inferiores a 40 hectares ou a 60 hectares. Ainda não achamos o ponto de equilíbrio que ideal para isso, porque a gente também não pode proibir completamente o uso dessa terra, porque ele é proprietário. Se não a gente teria que desapropriar.
GUSTAVO ANDRADE
n A convivência com vizinhos (fazendeiros, pequenos sitiantes) é harmônica?
n E como começou a relação do senhor com o Parque Nacional da Serra do Cipó? Há muitos anos porque a gente tem propriedade aqui. Meu pai tem uma propriedade aqui na Serra do Cipó desde 1964 e a gente já tinha essa preocupação de o que vai acontecer com a serra no futuro em função do turismo. Saí para estudar e depois eu voltei pra ficar mais perto do meu pai, que faleceu agora, há poucos dias. Aí comecei com o restaurante na ACM (Associação Cristã de Moços),na minha volta, no meu retorno para a Serra do Cipó. Depois eu era gerente da ACM também. Fui me envolvendo na comunidade, você começa a participar de mais reuniões e me convidaram para ser presidente da Associação Comercial. E aí o próprio grupo local me indicou, através do projeto Manuelzão, para chefiar o parque, porque queriam uma pessoa daqui da região.
têm que continuar ligando, tem vários telefones, vários endereços aí que a pessoa pode ligar, para que a gente possa fazer uma verificação se realmente está degradando, depredando.
área que vai ter visitação, cria a infrater gado. Parque não é pasto. A gente começou a fazer um trabalho porque o estrutura para essa visitação. Para a região gado trazia o fogo. Depois que o vaqueiro, é a mesma coisa: você precisa de ter mais que vem tratar do gado, põe o sal, ele vem informações para não ter esse dano ambie começa a colocar fogo. Ele é colocado ental, porque o que acontece é que o pesporque nesse alto de serra, com a umidade soal chega, quer ir numa cachoeira. "Tem que tem, o capim cresce muito rápido. uma cachoeira bonita? Ah,vamos para lá?" Então ele põe fogo, queima, aí com esse Vamos". E a notícia corre que é impressiosereno que tem de madrugada, o capim nante. Você pega por exemplo a cachoeira volta muito rapidamente e alimenta o da Capivara. Ela não era uma cachoeira gado nesse período de seca. Então o assim tão conhecida, depois foi aumentangrande problema que tinha era o gado, aí do o fluxo de turista; tinha fim de semana na conseqüência era o fogo. ou feriado, princiCom a retirada do gado, a palmente no períogente já conseguiu reduzir do de verão, que esse fogo e, esse ano, pelos tinha 200, 250 pessobrevôos que a gente já fez, soas sem nenhum “A NOSSA META É a gente já viu que não tem controle, sem negado praticamente nenhum. GADO ZERO NO nhum banheiro, sem No sobrevôo que eu fiz há nada, sem nenhum P ARQUE N ACIONAL 15 dias a gente encontrou responsável e a desete cabeças. Você imagina, DA SERRA DO CIPÓ” gradação acontecende 1.300 para sete. A nossa do. Então a gente meta é "gado zero"no Parque tem condição de Nacional. controlar, tem condição de fazer um bom trabalho, desde n Como tem sido a que você organize todos esses atrativos. influência do turismo nessa região? Nós temos muitas outras cachoeiras na Acho que poderia ser mais bem aproveitaSerra do Cipó. Se começar a olhar as do. Na realidade, o que a gente vê é que as cachoeiras que nós temos daqui até Sanpessoas que eram os antigos proprietários tana do Riacho, é capaz de ter aí mais de ou os antigos moradores, as pessoas mais 30 cachoeiras só nesse trecho. simples, vendem a terra e o dinheiro não dá para ele fazer o que achava que faria, n Há denúncias de corte de árvores, então com isso ele acaba sendo jogado construções ilegais e de venda de aves para a margem. Ele começa a ser só um silvestres. Como o senhor avalia essas funcionário a mais na pousada. Às vezes denúncias? vai para Belo Horizonte, compra uma casa Eu acho que ela é muito importante, essa ou um lote, mas ele começa a ficar desiludenúncia é muito importante porque é a dido, aí começa voltar. Quando ele volta, nem sempre tem mais aquele terreno que única maneira que você tem realmente de tinha. Então, ele compra um lote, fica saber aonde estão os problemas. A gente numa casinha, vive praticamente da sua não tem um helicóptero para sobrevoar aposentadoria. A gente tem vários casos todo dia, para poder ver o que está aconaqui de pessoas que foram, quando tecendo. Os veículos, a gente tem uma voltaram já não tinham terra mais. A certa demanda, então você não vai em gente vê que o turismo traz alguns benefítodas as estradas, você não passa todo mês cios mas também eu acho que segrega em todas as estradas para ver como está o bem. Das 70 pousadas que têm aqui, desenvolvimento. O sistema que a gente talvez tenha umas dez, 12 só que sejam tem de imagens de satélites, elas não são mesmo daqui da região. O outro pessoal atualizadas para data, para o dia, são imatodo é gente que veio de fora. gens de três anos, quatro anos, cinco anos. Então você imagina, em cinco anos quann Como evitar que as atividades ta coisa que não pode ser degradada? turísticas causem dano à natureza? Então é a única maneira que existe de ser A atividade turística sem planejamento comunicado à gente que está havendo causa danos. Mas se ela estiver no planejauma degradação nesses locais. Então acho mento ela não vai causar danos. Se tiver as suas áreas protegidas. Você define uma que é muito importante isso, as pessoas
[ ]
Não é harmônica, porque normalmente nossa ação é sempre repressiva. Tem mudado muito, foi muito pior, porque no início da criação do parque e da APA, era uma época ainda que se usavam muito carabinas, armas, revólver na cintura. Hoje, já não existe mais essa situação e os meios de comunicação têm divulgado muito a questão ambiental, a preocupação ambiental. E o pessoal da região começou a observar que o mato está crescendo mais, a mata está voltando, a onça está voltando, os animais estão voltando, o lobo está voltando. Estão voltando, porque ninguém está mexendo com eles. Se isso aqui não tivesse se transformado em parque, essa baixada hoje já era só loteamento, pode ter certeza disso, teria loteamento daqui até o canyon, 11 quilômetros aí, uma serra bonita dessa aí, pode ter certeza que essa baixada já estava toda cheia de casa. Então é uma situação que a gente conseguiu melhorar bem, mas de qualquer maneira é complicado porque só vê a gente como repressor e que na realidade não é, nós estamos fazendo cumprir uma legislação que já vem de muitos anos.
n Como evitar que donos de propriedades privadas próximas causem problemas ao parque, como por exemplo, incêndios? A legislação até já prevê que ele pode fazer o fogo, o incêndio não. Colocar o fogo para poder queimar a sua área, é chamado de fogo controlado, e tem que fazer a solicitação, há um acompanhamento das equipes, não só do Ibama, pode ser pelo próprio estado, pelo IEF, pode fazer o acompanhamento. O problema é o fogo criminoso, mesmo, ele quer pôr o fogo lá porque acha que aquele fogo vai trazer benefícios para ele e perde o controle. Ele não se preveniu com aceiros, com a proteção e o fogo entra para o parque, esse é um grande problema.
n Quais as mais recentes pesquisas feitas no parque? Tem pesquisas com o lobo-guará, com a onça. Os pesquisadores têm feito trabalho para identificar através das pegadas quais são os animais que a gente tem no parque. Tem pesquisa com as capivaras, agora tem uma que deve começar justamente para ver a questão do carrapato na capivara, para ver se realmente tem maculosa (febre). Até hoje não foi comprovado que tivesse essa doença. Estamos fazendo um estudo no Córrego Soberbo, que passa dentro da vila e que era um córrego limpo. Hoje, têm várias casas que lançam esgoto diretamente nesse córrego.
n Há alguma descoberta recente relativa à fauna e flora? Foi feito um estudo com o projeto Boticário para a identificação das vellozia gigantes, que eles chamam de canela-deema gigante. A gente viu com esse estudo que ela está espalhada em toda a Serra do Cipó até na Região de Itabira, então em vez de dois hectares, a gente identificou em torno de dois mil hectares que ela ocorre. Então, está muito bonito no alto da serra, você vê assim que realmente ela está maravilhosa essa canela de ema, muito bonita mesmo. Ela atinge hoje uma área em torno de dois mil hectares. São árvores que só tem uma folhinha na ponta, não sei se vocês já viram, a canela-de-ema, ela tem uma folhazinha assim em cima.
entrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevistaentrevista