Jornal Marco - Ed. 260

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Muitos atletas amadores que participam de competições correm atrás de patrocínio e conseguem se transformar em profissionais. Pág. 15

YONANDA DOS SANTOS

AMANDA ALMEIDA

GUSTAVO ANDRADE

Pela primeira vez em três anos, a Região Noroeste não lidera o ranking de números de casos da dengue na capital mineira. Pág. 2

Vans transportam pacientes de diversos municípios do interior de Minas Gerais para fazerem tratamentos médicos na capital Pág. 9

marco jornal

Ano 36• Edição 260

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Setembro • 2008

ESTUDO ABRE PORTAS PARA PRESAS YONANDA DOS SANTOS

Quando foram aprovadas no processo seletivo para o segundo semestre deste ano do Centro Universitário Izabela Hendrix, detentas da Penitenciária Industrial Estevão Pinto comemoraram o ingresso à faculdade, por abrir uma possibilidade concreta de inserção futura na sociedade. Para transformar o sonho em realidade, no entanto, Beliza (foto ao lado) e três colegas tiveram de superar obstáculos, como falta de transporte e de alimentação, contando com a decisiva ajuda do Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Página 13 nestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaediçãonestaedição

Reflexões sobre o atual momento político brasileiro YONANDA DOS SANTOS

Deficientes físicos superam novas barreiras Pessoas portadoras de necessidades especiais podem dirigir graças às possibilidades de adequações nos carros executadas por algumas oficinas mecânicas especializadas na capital. A medida é comemorada por boa parte dos portadores de deficiência

física, por causa da praticidade e da autonomia adquirida pelos mesmos. Porém, não reflete a realidade de boa partes dos deficientes físicos de Belo Horizonte, que ainda precisam do transporte público para se deslocarem pela cidade. Mesmo com as adap-

tações feitas para os deficientes, eles ainda enfrentam muitos obstáculos, como as dificuldades para subir no ônibus, tendo em vista que nem todos os veículos têm elevador e que faltam pessoas disponíveis para ajudálos nessa tarefa. Página 7

GUSTAVO ANDRADE

Trajetória de sucesso apesar das dificuldades Quem observa o tímido barbeiro Evandro Lima, morador da Vila São Vicente, não imagina a quantidade de títulos que ele já ganhou ao longo da sua trajetória na queda de braço. O de maior repercussão, até agora, foi o de “Homem mais forte de Minas Gerais”, em 2004. Outros feitos alcançados em sua vida, como ter trabalhado em carvoaria, na construção civil, e hoje ser dono do seu próprio negócio, também são igualmente comemorados pelo atleta, que sonha competir em um mundial de queda de braço. Página 5 GUSTAVO ANDRADE

Participação popular, maior interesse por iniciativas públicas e maior compromisso com a política nacional são diretrizes que, para o doutor em Ciências Sociais Malco Camargos, servem como alternativas para melhorar o atual cenário político do Brasil. Em entrevista ao MARCO, ele comenta esses aspectos, o processo de midiatização dos escândalos políticos no Brasil e também a relação do público com a exposição excessiva dos governo antes. Cobrar mais e fiscalizar as instituições são necessidades para o melhor funcionamento da sociedade. “A impunidade ocorre principalmente devido ao fato de que as instituições políticas são muito corporativas”, avalia. No ano em que se comemora os 40 anos de uma das gerações que marcou a história do país e do mundo, a geração de 68, Malco fala a respeito do envolvimento dos jovens com o atual momento político e sobre como eles dispõem de mecanismos tecnológicos para se manterem informados quanto ao cenário da política e a vida pública dos governantes. Página 16

Carroceiro guarda o cavalo em sua casa José André Luiz, mais conhecido como Ticão, há oito meses guarda seu cavalo dentro de casa. Tudo começou quando um de seus animais foi roubado e o outro, envenenado. Tiozinho, como se chama o cavalo, divide o espaço com Ticão e, segundo o mesmo, recebe um tramento especial, à base de uma ração de “boa qualidade”, muitas verduras, legumes, vitaminas, além da preocupação do dono com os remédios, vermífugos, desinfetantes para o maucheiro e com a higiene. Única fonte de renda de Ticão, devido aos carrretos que realiza, Tiozinho agora está machucado e faz caminhadas diárias com o dono para se recuperar. Página 3


2 Comunidade

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EDITORIAL

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Inclusão e iniciativa como forma de transformação social n CAMILA LAM,

REDUÇÃO DOS CASOS DE DENGUE NO DOM CABRAL Ao longo de três anos, esse é o primeiro momento em que a Regional Noroeste deixa de ser a campeã de casos da virose n DANIELA GARCIA,

4ºPERÍODO

4 º PERÍODO

Incluir socialmente um indivíduo significa possibilitar que ele tenha oportunidades para encontrar o seu lugar na comunidade, na sua cidade e no seu país. A inclusão social é indispensável para que a sociedade possa conviver em harmonia com as diferenças, deficiências e as dificuldades de cada pessoa. Para isto é essencial que o preconceito seja deixado de lado, pois ele é um dos vários obstáculos que precisam ser vencidos para que a inclusão seja completa. No MARCO deste mês, destacamse histórias não só de inclusão, mas também de superação pessoal. A manchete principal desta edição chama para a história das mulheres que, mesmo cumprindo pena na penitenciária, passaram no vestibular e estão na sala de aula construindo um futuro diferente. A matéria mostra o apoio fundamental de pessoas que acreditaram na perseverança destas mulheres, acreditaram na vontade delas de lutarem para crescerem e não acomodarem com os erros do passado. Hoje elas fazem um curso superior e anseiam por mais, muito mais. Um exemplo de dedicação e força de vontade. Nas páginas de 2 a 5, os repórteres vão ao encontro dos moradores das regiões próximas às unidades da PUC do Coração Eucarístico e do São Gabriel, sendo porta-vozes de problemas e demandas da comunidade. O resultado são reportagens que mostram problemas estruturais dos bairros, como a falta de asfalto em trechos de ruas, que não parecem ter solução, além de outras questões que são um risco para a saúde, como a dengue e escorpiões nas ruas. Na página 7, a situação de deficientes físicos que tem a possibilidade de se locomoverem com liberdade graças aos carros adaptados. Apesar de certas limitações e de um outro fator relevante, o custo, os carros adaptados são práticos e contribuem para a independência deles. A matéria ainda traz as deficiências do sistema de transporte público que ainda não supre as necessidades dos cadeirantes. As eleições estão chegando e um exemplo de democracia foi o debate entre os candidatos a prefeito de Belo Horizonte, sediado no teatro da PUC Minas, unidade Coração Eucarístico, transmitido ao vivo pela rádio CBN, TV Horizonte, pela PUC TV e registrado pela equipe do MARCO. Os estudantes dos cursos de jornalismo e de publicidade e propaganda tiveram a chance de questionar os candidatos sobre propostas para problemas municipais. Outra contribuição para este momento fundamental da democracia é a entrevista o doutor em Ciências Políticas, Malco Braga Camargos. A intenção é que ela ajude a induzir uma reflexão para todos aqueles que vão escolher os próximos representantes da cidade, prefeito e vereadores. Afinal, vivemos sob um regime democrático e para que ele funcione bem é preciso que todos cumpram seus deveres de cidadãos. Que os eleitores se informem para fazer uma boa escolha, e que os eleitos correspondam à confiança neles depositada.

EXPEDIENTE

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jornal marco Jornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: jornalmarco@pucminas.br Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920 Sucursal PucMinas São Gabriel: Rua Walter Ianni, 255 CEP 31.980-110 Bairro São Gabriel Belo Horizonte MG Tel:(31)3439-5286 Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Ivone de Lourdes Oliveira Chefe de Departamento: Profª. Glória Gomide Coordenador do Curso de Jornalismo: Profa. Maria Libia Araújo Barbosa Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª. Daniela Serra Editor: Prof. Fernando Lacerda Subeditor: Profª. Maria Libia Araújo Barbosa Editor de Fotografia: Prof. Eugênio Sávio Monitores de Jornalismo: Camila Lam, Cíntia Rezende, Daniela Garcia, Diana Friche, Guyanne Araújo, Laura Sanders, Lorena Karoline Martins, Patrícia Scofield, Raquel Ramos, Renard Vasconcelos, Alba Valéria Gonçalves (São Gabriel) Monitores de Fotografia: Gustavo Andrade e Yonanda dos Santos Monitor de Diagramação: Marcelo Coelho Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

Setembro • 2008

O relatório de agosto da Secretaria Municipal de Saúde revelou significativa queda no número de casos de dengue na região atendida pelo Centro de Saúde Dom Cabral. São 21 casos confirmados até o mês de agosto contra 137 do ano de 2007. Pela primeira vez em três anos, a Regional Noroeste não lidera o triste ranking de maior número de casos da virose. Bairros da região, entretanto, ainda apresentam um alto índice de casos confirmados. Nesse mesmo relatório foram notificados 92 casos no Centro de Saúde Padre Eustáquio e 44 casos no Centro de Saúde Califórnia. Segundo Nancy Rebouças, coordenadora de zoonoses do Centro de Saúde Dom Cabral, a redução de casos de dengue atendidos pelo Centro se deve principalmente aos reforços dos agentes de zoonoses e saúde na conscientização da comunidade. "Nós otimizamos esse contato direto com a população", afirma.

Maria Aparecida Valadares, encarregada de zoonoses do Centro, constata ainda a importância do Centro Dia do Idoso, que cedeu espaço para realização de palestras e o apoio de igrejas católicas e evangélicas da região. "O Padre Milton (pároco da Igreja Bom Pastor) falava na missa que era uma vergonha a região estar em 1º lugar em casos de dengue", conta. Outra ação apontada por Aparecida, foi um mutirão na comunidade em que foram recolhidos 1 mil pratinhos de

vasos de planta. De acordo com ela, são os pratinhos e as caixas d'água destampadas as maiores brechas para o mosquito na região. Segundo os agentes de zoonoses, deve-se ainda ter cuidado com a limpeza dos quintais. "Em garrafas pet, tampinha de refrigerante, até em uma casca de ovo, se chover, pode virar um depósito de ovos", explica Leonardo Otávio, agente de zoonoses. O agente, que é também morador do Dom Cabral, foi uma das vítimas do mosquito no ano passado. Ele lembra

que teve que se ausentar do trabalho durante alguns dias para sua recuperação. O trabalho dele e de mais três agentes de zoonoses do Centro de Saúde do Dom Cabral é visitar os 4.226 imóveis no Dom Cabral, Coração Eucarístico, Vila 31 de Março e uma parte do João Pinheiro. Os trajetos na maioria são feitos a pé. Com uma mochila a tiracolo e galocha nos pés, eles têm a meta de visitar cada imóvel cinco vezes ao ano. A essa altura, eles já estão no que chamam de quarto tratamento focal.

GUSTAVO ANDRADE

Maria Aparecida e agentes de saúde conscientizam os moradores quanto à importância de combater o mosquito

Zelo com vasos de plantas para evitar larvas "É importante que o morador aceite a visão do agente", enfatiza Leonardo Otávio, agente de zoonoses. Ele pontua a situação em que as pessoas rejeitam sua visita de prevenção e preferem fingir que não estão em casa. Maria Antônia de Souza não é uma delas. Moradora do Bairro Dom Cabral desde 1965, em sua casa há vários vasos de plantas por toda área externa. Ela, que já teve dengue duas vezes, toma algumas pre-

cauções para evitar os focos. "Eu furei vários pratinhos para não ficar água parada", explica Antônia a Leonardo. E ainda há vários pratinhos virados para baixo. No entanto, resta um pratinho com água parada. Para garantir, Leonardo despeja um preparado que mata a larva do mosquito. Depois de checar a caixa d'água, Leonardo registra a visita no cartão de controle. É constada como a segunda visita do ano.

Na mesma rua fica a casa de Maria Pinheiros. A bemhumorada Maria mora há 40 anos no bairro, e não quer saber de ficar com dengue. "Eu até ouço falar dela, mas não quero conhecer", brinca. Na área externa de sua residência há várias plantas também. "Os pratinhos? Eu tirei todos", garante. São várias as medidas preventivas de Maria. O ralo da cozinha está tampado, a fim de não manter água parada. "Quando chove, eu subo

na laje e tiro a água com um pano", completa. Mesmo com toda a dedicação da aposentada Maria, Leonardo encontrou larvas do Aedes aegypti na sala de estar. A cascata eletrônica, que serve como decoração, é um desses lugares inusitados onde o mosquito pode depositar seus ovos. "Essas fontes de água ficam girando, mas é a mesma água", explica Maria Aparecida Valadares, encarregada de zoonoses do Centro de Saúde Dom Cabral.

Dança ajuda idosos a exercitar n IZA CAMPOS RAMOS, 1º PERÍODO

Vânia Auxiliadora Almeida Papa, 61 anos, conta que a dança a ajudou na superação de uma crise de depressão. Aluna do Centro de Convivência do Idoso, situado no Bairro Dom Cabral, que oferece oficina de dança de salão para a comunidade e regiões próximas, ela afirma que dançar é a coisa que mais gosta de fazer. O projeto, que é coordenado pela voluntária Waneide Caricate da Silva, 59 anos, nasceu de uma solicitação da própria comunidade, que impulsionada pela vontade de uma atividade extra, escolheu a dança, por ser de gosto comum. O ritmo escolhido pelo professor

Walter Martins Costa, 47 anos, foi o bolero, que, segundo ele, é o mais fácil para aprender no início curso. O professor, que tem 17 anos de experiência, sente-se gratificado em dar aulas para idosos. “É muito gostoso ver os idosos fazendo alguma coisa por eles mesmos, espero fazer o mesmo quando for um também”, diz. Sem finalidade lucrativa, a oficina de dança de salão cobra um valor mensal de R$30, que, de acordo com a coordenadora, é destinado ao pagamento do professor. Segundo Waneide Silva, parte do dinheiro é utilizada também para a manutenção do espaço. As aulas acontecem duas vezes por semana, normalmente com a presença de todos os alunos, que se esforçam para comparecer, pois para eles a dança é uma fonte de lazer e bem-estar.

Como afirma Maria Madalena Braga de Moura, 82 anos, as aulas são como um “remédio”. “Depois que sofri um acidente de carro, fiz aulas de hidro, mas ainda sentia dores na perna, e só melhorei depois que comecei com a dança”, comenta. Mesmo sem o apoio do marido, Maria Madalena freqüenta, todas as aulas. A faixa etária do grupo varia de 49 a

82 anos, e apesar da pequena quantidade de homens na aula, o grupo é bem unido e segue sempre de bom-humor os passos do “mestre”. O professor Walter, a fim de interagir seus alunos de diferentes regiões, promove bailes na Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, no Bairro João Pinheiro, que acontecem sempre na segunda sexta-feira do mês.

GUSTAVO ANDRADE

Aulas de dança no Centro de Convivência ocorrem duas vezes por semana


Comunidade Setembro • 2008

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MORADOR DIVIDE CASA COM CAVALO Depois de ter um cavalo roubado, José André, o Ticão, passou a guardar seu cavalo em casa. O morador do Bairro Dom Bosco conta que gasta grande parte de sua renda com o animal GUSTAVO ANDRADE

n RENARD VASCONCELOS, 3º PERÍODO

José André Luiz, o Ticão, como é mais conhecido no Bairro Dom Bosco, cria um cavalo dentro de casa. Sua paixão pelo animal começou há oito meses. Após ter um cavalo roubado e outro envenenado, Ticão resolveu proteger seu "patrimônio", guardando o cavalo, que se chama Tiozinho, em uma área dentro de casa. Isaíra dos Santos, vizinha de Ticão, conta que agentes da Prefeitura de Belo Horizonte chegaram a sugerir que José André retirasse o animal de dentro de casa, mas que devido à dificuldade de encontrar um local seguro para colocar o cavalo, Tiozinho continua dormindo na porta do quarto de Ticão. "Ele cismou com esse cavalo", conta Isaíra. A única fonte de renda de Ticão provém de carretos que ele faz com ajuda de Tiozinho, R$15

por viagem, mas por se preocupar com o bemestar do animal, que já tem 29 anos, não gosta de fazer muitos carretos por dia. "Trabalho com ele só de manhã, senão ele fica muito cansado", adverte Ticão. Ele conta que só compra ração de boa qualidade para o cavalo, a R$35 o pacote, mas que Tiozinho tem uma preferência maior por verduras e legumes. "De dia eu dou ração, mas à noite, antes dele ir dormir, eu dou cenoura, beterraba e tomate, ele tem que comer coisas leves para estar bem disposto pela manhã", conta. Além de alimentos, Ticão gasta boa parte do dinheiro que ganha comprando outras coisas para o cavalo. "Dou vitaminas, passo remédio, e jogo repelente", enumera. Ticão conta que no dia 16 de agosto levou Tiozinho para dar uma volta e pastar em um terreno próximo a sua casa e ao se distrair um pouco

Ticão trabalha fazendo carretos com ajuda de seu cavalo “Tiozinho” apenas pela manhã, para não cansar o animal percebeu que seu amigo cavalo estava caído. "Achei que ele estava passando mal, mas quando cheguei perto vi que ele havia caído em um buraco e machucado a perna", diz Ticão, chateado.

O carroceiro conta que agora o cavalo é levado todos os dias para fazer caminhadas. "Como ele está machucado, não posso trabalhar, e se o Tiozinho ficar muito parado, vai demorar ainda

Alta incidência de escorpiões em rua do Bairro Dom Cabral n JOYCE EMANUELLE, RENATA ANDRADE, CLARISSE ALVES, 2° PERÍODO

Assustados com o grande número de escorpiões, os moradores da Rua Oswaldo Gattoni, localizada no Bairro Dom Cabral, Região Noroeste de Belo Horizonte, reivindicam medidas de combate ao animal, que é encontrado com freqüência nas residências e imediações daquela via. O pedreiro Antônio Sebastião de Souza, 53 anos, afirma que já foi picado pelo bicho duas vezes no pé. "A primeira vez eu fui (ao hospital), porque fiquei muito ruim da perna. A segunda vez, já não fui, porque já sabia o remédio que tomava", relata Antônio, com naturalidade. Morador do bairro há 23 anos, Valdemar Francisco Ferreira, 51 anos, também confirma a existência de escorpiões no local e guarda um vidro repleto deles como prova da ocorrência do mesmo na área em que ele reside. Alguns moradores reclamam da ineficiência do órgão responsável pelo controle dos escorpiões na região. Letícia Lima Diniz, 23 anos, diz que “o pessoal da vigilância sanitária já esteve no local, mas eles não fazem nada. Só falam para o pessoal limpar. Alguns vizinhos limpam, mas outros não. Então não adianta". De acordo com informações do Centro de Zoonoses, órgão responsável pelo controle de escorpiões e outros animais, em 2008 verificam-se, na Região Noroeste, 41 notificações de

moradores com relação à incidência de escorpiões. No entanto, apenas 27 foram atendidas até o mês agosto. De acordo com a bióloga da Gerência de Controle de Zoonoses da Regional noroeste, Pollanah Martins Lira Moreira, o atendimento às ocorrências relacionadas a escorpiões pode ser realizado de três maneiras diferentes. A primeira é por meio de notificações de acidentes vindas do Hospital João XXIII; a segunda e feita pelo Sistema de Atendimento ao Cidadão (SAC), através do número 156, e a terceira por meio do Tratamento Focal (Dengue). No terceiro caso, ao visitar as residências a procura de focos de dengue, o agente também observa se o ambiente é propício à proliferação de escorpiões, e caso sejam encontrados locais com entulho, lixo acumulado, insetos que servem de alimento para esse animal peçonhento, são distribuidos panfletos educativos. “Orientam a mudança de ambiente que não favoreça a proliferação nem permanência dos escorpiões", explica Pollanah. Ao ser questionado sobre a origem dos escorpiões no bairro, Antônio Sebastião de Souza sugere que os artrópodes estejam surgindo da mata pertencente à PUC Coração Eucarístico e da madeireira Itaú. Elias de Araújo, funcionário da madeireira Itaú, garante que medidas positivas são tomadas. “A gente pulveriza periodicamente, de quinze em quinze dias, para matar o cupim, bicho da madeira" conta. Ele salienta que essa ação afasta os escorpiões do local. De acordo

com Pollanah Martins Lira Moreira, eliminar o cupim, que é um dos insetos que alimentam o escorpião, é uma das soluções para eliminá-lo, mas ressalta que "não pode ser usado inseticida líquido, pois ele não mata o escorpião. Aliás, ainda não existe inseticida com eficácia comprovada contra escorpiões. O inseticida líquido apenas desaloja o animal, aumentando o risco de acidentes", diz. Pollanah orienta que em caso de acidentes com escorpião, a primeira providência é procurar o hospital João XXIII, que possui um centro de Toxicologia , em no máximo três horas, para que a vítima seja devidamente medicada. Os escorpiões são artrópodes carnívoros que se

alimentam exclusivamente de animais vivos como cupins, baratas, grilos, aranhas e pequenos vertebrados. Possuem hábitos noturnos e aparecem com maior freqüência em épocas de calor e umidade. Em 65% dos casos, as picadas são na mão e antebraço, devido à manipulação com os entulhos e demais lugares onde os escorpiões se alojam. Os sintomas são dor no local da picada, de início imediato e intensidade variável. Para prevenir o aparecimento e a proliferação do artrópode é preciso não acumular lixo, entulho e materiais de construção; combater os insetos que servem de alimento e preservar os predadores naturais, como corujas, lagartixas e galinhas.

GUSTAVO ANDRADE

mais para sarar", avisa Ticão, que pagou uma veterinária para aplicar injeções contra a dor em Tiozinho, mesmo tendo quem possa fazê-lo de graça. "Prefiro pagar para que cuidem dele direito",

ressalta. De acordo com as informações da Secretaria de Saúde de Belo Horizonte, não existe nenhuma lei que proíba uma pessoa de ter um cavalo em casa, desde que o animal fique em condições de higiene, não esteja doente e nem incomode os vizinhos com barulho ou mau-cheiro. Embora cavalos possam ser hospedeiros do carrapato-estrela, transmissor da febre maculosa, a vigilância sanitária só fiscaliza caso haja denúncia. Tiozinho não parece incomodar os vizinhos. Segundo Ticão, o lugar onde o cavalo fica é lavado freqüentemente com desinfetantes. O cavalo toma vermífugos, vitaminas e é pulverizado com repelentes contra insetos mensalmente. O irmão de Ticão, Jair de Souza Vieira acha que o cavalo sai caro "Só um pacote dessa vitamina custa R$20", mas Ticão rebate imediatamente: "Para cuidar do Tiozinho acho que é até barato".

CINTIA REZENDE

n A BH Trans realizou no dia 3 de setembro, no Colégio Santa Maria, uma reunião onde compareceram 53 moradores do Coração Eucarístico, para apresentação das propostas de mudanças previstas no bairro , e também colher opiniões dos moradores. De acordo com José Celso Lana, técnico de transporte e trânsitda BH Trans, as alterações vão ocorrer em duas etapas. Na primeira, que tem previsão de início nos próximos 30 dias, Avenida dos Esportes, próximo a Via Expressa, a Rua Dom João Antônio dos Santos e a Rua Dom Prudêncio Gomes passarão a ter sentido único. Ainda serão colocados redutores de velocidade ao longo da Avenida Ressaca, nas Ruas Dom Lúcio Antunes, Dom João Antônio das Santos e na Avenida dos Esportes. Na segunda fase, ainda em fase de elaboração, serão escolhidos cinco membros da comunidade para ajudar na fiscalização das obras, além da sinalização ao longo da Avenida Ressaca.

YONANDA DOS SANTOS

n

Valdemar Francisco Ferreira exibe a coleção de escorpiões achados na rua

A estrutura de banheiro localizada na Praça Maria Luzia Viganó, no Coração Eucarístico, foi removida no dia 12 de agosto, após reclamações freqüentes dos moradores do bairro. Citado na última edição do MARCO, o banheiro foi construído para utilização dos funcionários do Sistema de Limpeza Urbana (SLU),e após ser desativado, continuou sendo usado por moradores de rua que faziam suas necessidades ali, muitas vezes do lado de fora.


4 Comunidade

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Setembro • 2008

MUTIRÃO ALERTA PARA OS EXAMES Por meio de palestras, o Centro de Saúde do Dom Cabral conscientiza mulheres sobre a importância do exame que ajuda a prevenir doenças como, por exemplo, o câncer de colo de útero YONANDA DOS SANTOS

n ALEXANDRE ALMEIDA, RAPHAEL VIEIRA PIRES, JOSÉ CÂNDIDO PEREIRA JÚNIOR, 1° PERÍODO

Levantamento de dados feitos pelo Centro de Saúde do Dom Cabral indicou que cerca de 500 mulheres estão com o exame do Papanicolau em atraso. O resultado da pesquisa fez os agentes comunitários agilizarem o processo de conscientização, indo de casa em casa convidar os moradores para palestras sobre o assunto. As palestras têm a intenção de esclarecer possíveis dúvidas sobre a realização do exame, explicando como ocorre o procedimento e respondendo o porquê de fazer o exame. O Papanicolau, exame preventivo do câncer do

Palestras para mulheres esclarecem dúvidas sobre o Papanicolau; muitas delas estão com os exames atrasados colo uterino e de outras doenças sexualmente transmissíveis, consiste em coletar amostras de mucosa vaginal para análise

em laboratório. A maior importância do exame é detectar o tumor precoce, pois assim há maior chance de cura. O exame,

que é gratuito na rede pública de saúde, deve ser feito anualmente em mulheres até com 69 anos. Na ocasião, a paciente não

pode estar menstruada nem ter tido relações sexuais até 48 horas antes do exame. Médicos ginecologistas e enfermeiros são habilitados para fazer o exame. O câncer de colo uterino é o mais comum entre as mulheres do Brasil, correspondendo a 24% de todos os cânceres, e pode permanecer de dois a três anos sem causar nenhum incômodo a portadora. Por isso a prevenção deve ser feita por todas as mulheres. No dia 18 de agosto ocorreu uma palestra no Centro de Saúde, no qual a enfermeira Maria Helena Oliveira Nogueira falou para moradoras do Bairro Dom Cabral. “É de extrema importância a presença de todas as mulheres da comunidade, pois assim podemos pre-

venir e evitar a prolifereação do câncer de colo do útero”, disse Maria Helena. Segundo a moradora Teresinha Francisca, 63 anos, a palestra foi muito importante para toda a comunidade e para ela mesma, pois ela havia feito o exame mas não sabia o porquê, e ficou com medo no momento, pois também não sabia dos procedimentos adotados pelos enfermeiros na hora do exame. “Foi realmente muito bom. Antes eu pensava que o exame era um bicho de sete cabeças, mas agora sei que é uma coisa comum que deve ser feita por todas, independentemente da idade”, explica. Os exames podem ser feitos no Centro de Saúde do Dom Cabral, tendo apenas que marcar o dia no próprio local.

Samu terá casa nova no Bairro Coração Eucarístico MARCELO COELHO

n MARCELO COELHO DA FONSECA, 4º PERÍODO

O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) vai ganhar uma nova sede, localizada no Coração Eucarístico. A obra, que teve início em junho desse ano e tem previsão para acabar em abril de 2009, terá uma área total de 2.117,28 m², distribuída em três pavimentos, e é feita com recursos dos Fundos Municipal e Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde, em um total de mais de R$ 2,5 milhões. O terreno escolhido no Bairro Coração Eucarístico foi previamente preparado para permitir o rápido acesso das ambulâncias à central e também a vias importantes da cidade. O projeto inclui recursos acústicos e de

climatização e sistema de segurança. Segundo a assessoria da Secretaria de Saúde de Minas Gerais, o novo espaço vai proporcionar aos trabalhadores da emergência um ambiente adequado para as suas atividades. Segundo Elias Manuel de Carvalho, mestre de obra responsável pela construção, o andamento está correndo conforme o planejamento e a obra trará vários benefícios para a comunidade. “Antes a área era um terreno baldio, cheio de sujeira e entulhos, o que deixava muita gente insatisfeita. Agora esta situação pode mudar com essa obra”, conta. O mestre de obras se diz muito feliz em participar da construção. “É sempre motivo de grande orgulho trabalhar em obras públicas da área da saúde, é bom realizar trabalhos que contribuem

para todos”, conta Elias, que já participou de outras obras de centros de saúde anteriormente. Para Leandro Ambrósio, que trabalha próximo à futura sede do SAMU, as obras devem trazer boas melhorias para o Coração Eucarístico. “Acho que essa é uma obra que vai acrescentar para a região. O movimento de pessoas deve aumentar muito, o que é bom, e acredito que o melhor será em relação á segurança do bairro, que deve aumentar também”, avalia Leandro. Outro morador que também acredita em melhorias para o bairro é Jarbas de Carvalho, que vive na região há 44 anos e se diz muito otimista sobre a nova sede do SAMU. “Do meu ponto de vista será ótimo para o bairro. Há muito tempo que o local é um verdadeiro matagal, tinha até

tráfico de drogas e ladrões que usavam o lote para se esconder. Agora isso vai acabar, o que é muito positivo”, conta Jarbas. No entanto, ele ressalta que alguns detalhes devem ser observados para evitar problemas. “Meu único receio é quanto ao barulho que as ambulâncias ligadas podem gerar, talvez o som em horas inoportunas possa incomodar muito a vizinhança”, conclui.

MUDANÇA

Segundo Carolina Trancoso, coordenadora da sede do SAMU, a atual sede, que se localiza no Bairro Funcionários, na Região Centro-Sul, não atende mais as necessidades exigidas para operacionalização do sistema. “As sedes devem obedecer a várias especificações descritas pelo Ministério da Saúde e um projeto contemplando todas essas particulari-

A nova sede do Samu, já em construção, permitirá acesso rápido a ambulâncias dades foi elaborado para a nova sede. Ela será construída em terreno da PBH no Bairro Coração Eucarístico e permitirá uma estrutura mais adequada para as centrais, assim como melhores condições de trabalho da nossa equipe”, diz. Carolina acredita que o barulho não será problema e o projeto só tem a acrescentar para a região. “Além

disso, nessa sede ficará locada uma ambulância tipo suporte avançado por tratar-se de um local que dá acesso a várias vias de trânsito rápido. As demais unidades têm suas bases descentralizadas em toda a cidade e, portanto, é pouco provável que ocorra ruído que gere transtorno à população da região”, diz.

Cruzamento no Minas Brasil recebe sinalização RENARD VASCONCELOS

n DIANA FRICHE, 3º PERÍODO

O cruzamento das Ruas Carioca e Itamarati, no Bairro Minas Brasil, Região Noroeste de Belo Horizonte, é marcado por acidentes freqüentes. O cruzamento dessas ruas é perigoso já que a Rua Carioca é íngreme e os motoristas descem em alta velocidade. Já a Rua Itamarati, onde há a parada obrigatória, tem a visão prejudicada por um muro alto na esquina das ruas e grande parte dos moradores não respeitam a sinalização. Há nove meses, a BHTrans colocou

duas novas placas no local, já que as antigas estavam velhas e com o letreiro desgastado. Porém, o problema não foi resolvido. Moradores da região acompanharam na manhã de sábado, dia 25 de agosto, um acidente que resultou em três pessoas feridas e no estrago do portão de um prédio. A batida envolveu uma Kombi e um Palio que, segundo testemunhas, não respeitou a parada obrigatória. Segundo a moradora do prédio atingido pelo Palio, Damaris Navarro, 51 anos, o acidente assustou os moradores que se encontravam no local no momento da batida. “Por

pouco o carro não bateu na estrutura do prédio, o que poderia causar uma grande tragédia. O que ajudou foi que havia três vasos na frente de um dos pilares da construção”, afirma. “Acidentes como esse continuam a ser comuns mesmo com a colocação de novas placas no local”, diz Elisabeth Ribeiro Costa, 40 anos, dona de um bar situado na Rua Itamarati. Ela ainda conta que batidas de trânsito são freqüentes no cruzamento. “Normalmente, todo mundo que mora aqui na região vem para socorrer as vítimas. A gente aqui do bar sempre acompanha de

perto e faz o possível para ajudá-las”, conta. Moradores da região afirmam que a nova sinalização foi colocada a partir de um pedido feito à BHTrans que foi atendido parcialmente, pois não foi instalado o quebra-molas. “O quebra-molas ajudaria bastante na redução de acidentes na nossa rua”, esclarece Ellen Rose Costa Moreira da Silva, 50 anos, moradora do Minas Brasil. Segundo a assessoria de comunicação da BHTrans, foram colocadas uma placa “Pare” maior na esquina e uma placa de advertência antes do local, para alertar o motorista quanto ao perigo do cruza-

Mesmo com a sinalização, cruzamento no Minas Brasil é local de acidentes mento. Também foram repintadas as sinalizações no chão. Não há previsão de colocação de quebramolas no local e, de acordo com a assessoria, todas

as providências para a diminuição de acidentes foram tomadas e se o motorista for pego infringindo essas regras, poderá de ser autuado.


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PATROCÍNIO PARA QUEDA DE BRAÇO Atleta da Vila São Vicente precisa de apoio financeiro para viabilizar sua participação no campeonato mundial de queda de braço. Em Minas, ele ganhou 10 dos 12 campeonatos que participou n TATIANA LAGÔA, 6º PERÍODO

Um braço forte e uma mão machucada contam grande parte de uma história que se inicia no Norte de Minas, em uma fazenda próxima à cidade de Pirapora, e que está próxima de seguir para o exterior. Evandro Lima da Silva, aos 32 anos, após uma série de trabalhos pesados, conseguiu resistência suficiente para se tornar o vice-campeão brasileiro de queda de braço. As mãos que hoje se machucam por causa do treino diário com um equipamento improvisado, já se calejaram em carvoaria, capina, garimpo, construções e em inúmeras outras atividades. Atualmente, o atleta da Vila São Vicente tem uma barbearia e luta pela realização de um sonho: conseguir patrocínio para participar do campeonato mundial que acontecerá em 27 de setembro, no Canadá. "Com certeza um dia eu vou competir em um mundial”, afirma. “Com certeza antes dos 40 ainda vou conseguir. Vou treinar bastante para isso", acrescenta o atleta. No braço esquerdo uma tatuagem evidencia a paixão pelo esporte ao qual Evandro se dedica há nove anos. A marca, que o acompanha há seis anos, reproduz uma bandeira do Brasil com dois braços competindo no centro e os dizeres “Braço de ferro”. Braço de ferro pode ser uma

boa definição para o atleta que ganhou dez dos 12 campeonatos estaduais dos quais participou. Em nível nacional, competiu oito vezes alcançando o terceiro lugar em três torneios, sendo que este ano ficou com a vice-liderança. Além disso, Evandro exibe o troféu do título de "Homem mais forte de Minas". Essa última competição ocorreu em 2004, no Expominas, e incluiu provas como levantamento de carro, tombamento de pneu por um percurso de 50 metros, suspensão de pedras com peso aproximado de 150 quilos a uma determinada altura, entre outras atividades cronometradas. Quando alcançou o título de “Homem mais forte de Minas”, Evandro competiu com homens tão grandes que ele compara com “homens das cavernas”. O atleta acredita que a vitória se deu não só pela força, mas também pela resistência física adquirida quando ainda estava no Norte de Minas, apesar da dificuldade financeira que enfrentava no período da competição. Naquele ano, o competidor havia saído do emprego e estava com alguns aluguéis atrasados. A premiação que recebeu, de R$ 500, foi suficiente para quitar essa dívida. Apesar das dificuldades financeiras, nesses anos de disputa, Evandro conheceu, por intermé-

dio do esporte, quatro estados: Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. Para isso, contou com a ajuda de empresas patrocinadoras e da amiga Soraia Mantovani, que conheceu em um dos campeonatos que participou. Soraia é árbitra e técnica da Equipe Mantovani, um grupo mineiro de bracistas, do qual é coordenadora. Evandro encontrou apoio nessa equipe para treinar e captar recursos necessários para arcar com as despesas das viagens. "Ele é um excelente atleta, que corre atrás do que quer. É extremamente persistente e se esforça para conseguir

dinheiro para se manter nas viagens. O que a equipe pode fazer por ele é ajudar em algumas passagens de ônibus, o resto é por conta dele", conta Soraia. Essa ajuda viabilizou a participação de Evandro no Campeonato Brasileiro das Seleções, em Recife, segunda seletiva para a disputa no Canadá. O atleta pediu a carta de convocação desse mundial para a Confederação Brasileira de Luta de Braço, a fim de buscar patrocínios a partir da posse do documento. Evandro aguarda que os interessados em patrociná-lo entrem em contato pelo telefone: (31) 9385-5694.

GUSTAVO ANDRADE

Apesar das dificuldades, Evandro Lima sonha em competir mundialmente

Muito esforço para realizar um sonho A luta de braço foi apresentada para Evandro Lima da Silva ainda na infância pelo pai. A irmã, Geani Lima lembra que, quando moravam na fazenda, o irmão observava disputas em que participavam o pai e os demais trabalhadores do lugar. "Mas meu pai nem imaginava que um dia ele ia participar de competição", recorda. "Eu ainda era pequeno e ficava vendo meu pai ganhando de todo mundo", lembra Evandro. Geani conta ainda que a infância do atleta foi bastante difícil. "A água era do rio, não tinha luz, só tinha para comer o que plantava. A cidade mais próxima era Pirapora, que ficava a 100 quilômetros", recorda. Essas dificuldades são confirmadas por Evandro: "Passei por todo tipo de dificuldade. Eu fui morar em uma casa com energia elétrica quando eu tinha 16 anos e televisão com 18 quando eu fui trabalhar fora e dei de presente para minha mãe". A necessidade de trabalhar para sustentar a família impediu que Evandro estudasse. Mesmo assim, conseguiu se alfabetizar com a ajuda das irmãs que estudaram até a quarta série. "O estudo faz falta mas não reclamo porque com esforço a gente vai conseguindo as coisas. Hoje, vejo que a meninada nasce dentro das escolas e muitos não querem saber de nada", diz Evandro. A trajetória dele confirma essa visão quanto a possibilidade de conseguir melhorar a vida através de esforço. Geani conta que o irmão tem como uma das qualidades a persistência. "Ele não se deixa abater. Quando alguém

fala para ele que não vai conseguir, que não dá, aí é que ele tenta mesmo", comenta. Por outro lado, a irmã acredita que o maior defeito dele seja a timidez que o faz ficar muito calado. O amigo Roberto Coelho Bertoldo, que mora próximo à barbearia, não vê a timidez de Evandro como defeito. Ao contrário, classifica como reflexo de simplicidade. "Ele é muito humilde. Quando ficou em segundo lugar no campeonato brasileiro não contou a ninguém. Acho até um erro ele ficar calado diante do que ele é", afirma. Evandro comenta que, na verdade, não gosta muito de se abrir com as pessoas e por isso fica mais calado. Com seu o jeito mineiro de ser, o retraído Evandro saiu do interior rumo à Belo Horizonte para conseguir melhores oportunidades de emprego. Na capital foi morar com a irmã Geani, que havia se casado, trabalhou como servente de pedreiro e faxineiro em uma academia. Passado um tempo juntou dinheiro para montar a barbearia onde trabalha até hoje. "Me considero uma pessoa vitoriosa. Agora está faltando comprar uma casa própria para mim. Já consegui minha moto e minha habilitação de motorista". O dia-a-dia do atleta é puxado. Ele corta, em média, 10 cabelos. Nos horários de folga, treina na barbearia com equipamentos que improvisou, como o alicate que usa para dar força as mãos. À noite, Evandro continua se exercitando, parte da semana faz musculação e, nos demais dias, treina na mesa com os bracistas da Equipe Mantovani.

Via asfaltada pela metade incomoda moradores YONANDA DOS SANTOS

n RENARD VASCONCELOS, 3º PERÍODO

A Avenida Itaú, no Bairro Dom Cabral, originalmente foi planejada para ser uma via larga e com duas pistas, mas o que se vê atualmente é brita, poeira e reclamações. Só metade da avenida foi asfaltada, a outra parte continua em terra batida e é motivo de queixas entre os moradores e frequëntadores da região. Maria Carmem Fonseca, que mora no Bairro Dom Cabral há 20 anos, conta que na Avenida Itaú não tem tempo bom, quando chove a via se transforma em um verdadeiro lamaçal, e se o tempo está seco a poeira invade as casas. “Quando lavo a minha varanda, sai até barro, tamanha a quantidade de terra que vem de fora”, diz. A parte da avenida sem asfalto chegou a ser coberta de brita, com o objetivo de reduzir os transtornos cau-

sados pela terra, mas devido ao intenso tráfego de veículos já se percebe que a cobertura está completamente fora do lugar. “Quando me mudei para o bairro, solicitei diversas vezes uma solução da prefeitura, mas como nenhuma providência foi tomada acabei desistindo e aprendendo a conviver com o problema”, lembra Maria Carmem. Como a parte não calçada da avenida é extremamente irregular, não é utilizada como passagem para os carros e acabou sendo aproveitada como estacionamento, o que se tornou um transtorno adicional para os moradores da Avenida Itaú. As queixas são muitas, carros estacionados em frente às garagens, em cima do passeio, meio-fio quebrado e mais poeira. “Tem gente que faz questão de cantar os pneus quando vai arrancar o carro, só para levantar poeira e espalhar ainda mais a brita”, conta Wagner

Parte da Avenida Itaú, no Bairro Dom Cabral, não tem asfalto e acaba sendo aproveitada como estacionamento Miguel, morador do local há 15 anos. A quantidade de pessoas que utilizam o espaço como estacionamento é grande. Segundo Wagner, a maior parte é composta por funcionários das empresas localizadas na avenida. “Eu não me importo que as pessoas utilizem esse espaço como estacionamento, desde que seja respeitada a

entrada das garagens”, ressalta o morador. PROBLEMA De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, Armando Sandinha, um ofício foi enviado para a Regional Noroeste no primeiro semestre de 2007, explicando o problema existente na Avenida Itaú e pedindo

uma solução, mas até o momento, nenhuma posição foi dada por parte da prefeitura. “Alguns moradores já estão utilizando a parte sem asfalto como entrada para as residências, colocando canteiros e grama, mas agora queremos que a prefeitura resolva o problema de forma definitiva, asfaltando toda a avenida”, diz Armando.

Os moradores da Avenida Itaú lembram que o problema de infra-estrutura no local é antigo. Uma suposta divergência sobre a responsabilidade do trecho, que margeia o Anel Rodoviário, existiria entre a prefeitura e o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT), fazendo com que a avenida fique fora dos projetos de melhoria no Bairro Dom Cabral. “Tudo aqui é difícil, serviço de água e esgoto demorou a chegar, só conseguimos depois de muita luta”, lembra a moradora Maria Carmem. O engenheiro supervisor do DNIT em Belo Horizonte, Alexandre Oliveira, garantiu que a responsabilidade da Avenida Itaú cabe à Prefeitura de Belo Horizonte, e não ao órgão federal. O MARCO tentou, sem sucesso, obter informações sobre o assunto junto à Administração Municipal, por meio de sua Assessoria de Imprensa, pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) e também pela Regional.


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Setembro • 2008

DANÇA NO SAGUÃO DA RODOVIÁRIA Quinzenalmente, às sexta-feiras, grupos de dança de diversas modalidades se apresentam no terminal rodoviário. As apresentações são uma opção de entretenimento para passageiros YONANDA DOS SANTOS

n BRUNA CRUZ, GABRIELA DE SOUZA, JÚNIA PIMENTA, LUÍSA MELO, 1º PERÍODO

Desde a criação da "Plataforma da Arte", as tardes de sexta-feira já não são mais as mesmas para quem passa pelo terminal rodoviário de Belo Horizonte. Através deste projeto, desenvolvido pelo SESC/Laces-JK em parceria com a rodoviária, o saguão principal tornou-se palco para manifestações artísticas que proporcionam momentos de cultura e descontração para os passageiros que ali chegam ou aguardam a partida do ônibus. Embora exista desde maio de 2005 apenas com espetáculos de balé clássico, foi em 2008 que o projeto se expandiu e apresentou ainda vários tipos de dança: contemporânea, jazz, dança fol-

Passageiros assistem à apresentação de frevo, carimbó e maracatu do Grupo Guararás enquanto esperam o embarque clórica, street dance, forró, samba, entre outros, conforme explica Heleno Augusto, responsável pela programação. As apresentações ocorrem quinzenalmente, sempre às sextas-feiras a partir

das 16 horas. Uma delas foi realizada no dia 22 de agosto, Dia do Folclore, com a apresentação do grupo de pesquisa e projeção folclórica Guararás, o qual apresentou espetáculos de Carimbó, Frevo e

Maracatu. De acordo com a gerente do Laces-JK, Janice Fortini, o principal objetivo da “Plataforma da Arte” é democratizar a cultura e levá-la a quem não tem acesso. É uma iniciativa

inovadora, pois o projeto foi idealizado para se realizar especificamente no terminal, algo que não existia em BH. "Já experimentamos outros tipos de arte, porém a dança foi a que mais se adequou ao espaço disponível", informou Eliane Guedes, assessora de eventos do terminal. Além de oferecer lazer e entretenimento, o projeto traz também benefícios para os grupos de dança que se apresentam, pois estes divulgam o seu trabalho e experimentam a reação de um público distinto do qual estão habituados. "Primeiramente, as pessoas ficam intimidadas com a apresentação, mas depois se acostumam e até interagem conosco", diz Leonardo Augusto, dançarino do Guararás. A apresentação do grupo, em geral, teve uma boa aceitação, como pode ser observado pela avali-

ação da espectadora Otília Oliveira: "O espetáculo é bom e necessário". Magali Araújo, também espectadora, destaca a importância cultural do projeto. "Foi muito bonito, resgatou uma cultura que nem todos conhecem, nunca vi uma apresentação de arte como esta. Achei a iniciativa do projeto interessante, pois acontece em um local em que há pessoas de vários estados do Brasil", diz. Renomados grupos de dança já se apresentaram pela “Plataforma da Arte”, como, por exemplo: Primeiro Ato, Grupo Mimullus, Sarandeiros, Seraque? e Aruanda. O projeto, através de suas apresentações, possibilita ainda o intercâmbio cultural entre os grupos de dança e as quase 30 mil pessoas que passam pela rodoviária todos os dias, afirma Janice.

Inclusão para pessoas com Síndrome de Down n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 3º PERÍODO

Lidsy Mol Lopes, 44 anos, quando deu a luz a um bebê com Síndrome de Down, há cinco anos, em Belo Horizonte, deixou de exercer a profissão de decoradora para dedicar-se quase que exclusivamente à filha e, mais ainda, à causa de pessoas com Síndrome de Down. “Aceitando sua criança, a sociedade também a aceita”, diz. Hoje, a função de Lidsy como coordenadora é atuar na divulgação do Instituto Meta Social, no desenvolvimento de projetos de informação e na busca de parcerias junto ao meio acadêmico e empresas, visando a inclusão da pessoa com Síndrome de Down. O Instituto Meta Social (IMS) é uma organização não-governamental (ONG), cuja missão é promover e disponibilizar o conhecimento sobre as pessoas com deficiência para sociedade, por meio de ações positivas e inovadoras, buscando uma mudança de comportamento com relação às diferenças. O IMS não recebe verbas governamentais, não possui sede e não faz atendimento direto ao público. A instituição sobrevive com patrocínios empresariais e apoios de voluntários. A cada ação, uma onda de conscientização vai se formando, permitindo que novos espaços sejam conquistados. Uma dessas ações foi a recente exibição de uma novela com o tema , atuação de uma atriz com Síndrome de Down e a participação de familiares prestando depoimentos. “O Brasil todo assistiu 'Páginas da Vida' e a sociedade viu que a pessoa com Síndrome de Down é capaz, renegando essa carac-

terística pessoal como doença, pois há hoje muita informação médica e científica. Essa exposição provocou uma grande abertura, fazendo com que a sociedade se sinta livre para expor a criança, nos dia-a-dia, nas tarefas”, enfatiza Lidsy. DIFERENÇA “Ser diferente é normal”. Este é o slogan de uma campanha publicitária do IMS, visando mostrar à sociedade que a pessoa com Síndrome de Down é alguém capaz e tem condições de exercer normalmente as atividades. Através desse Projeto, o IMS promoveu, em maio último, apresentação numa casa de espetáculos na Zona Sul da capital da Banda Despertar, composta por 40 jovens e adultos com Síndrome de Down, Essa apresentação teve participação da Banda Isoldina, do cantor Vander Lee e Podé, vocalista da Banda Tianastácia. ”Participar de projeto 'Ser diferente é normal' foi inesquecível e gratificante para todos nós da Isoldina. Ficamos impressionados com o carinho e atenção das crianças e organizadores do evento. Uma campanha como esta é de fundamental importância de conscientização para todos que não conhecem e nunca tiveram contato com alguém que 'não segue os padrões de normalidade'. Acreditamos que todas as pessoas deveriam conhecer o projeto e ter a oportunidade de conhecer as crianças com de Síndrome de Down”, comenta Rafael, guitarrista da Banda Isoldina. São vários os projetos desenvolvidos pelo IMS, como a “Turma da Clarinha”, que são bonecos com características de Síndrome de Down para crianças, produzidos pela primeira vez no Brasil em escala industrial,

Oficina das Fraldas, Oficina de Técnicas de Massagem e a realização do documentário “DO LUTO À LUTA”, direção de Evaldo Marcazel, patrocínio da Petrobrás e produção do Espaço Unibanco de Cinema. O filme retrata o mundo da visão do ser com Síndrome de Down. OBJETIVOS Fundado há cinco anos, funcionando no Bairro Sion, Zona Sul de BH, o Instituto Educacional Despertar “tem o objetivo de integrar no mercado de trabalho, pessoas com Síndrome de Down, deficiência auditiva, autistas, problemas de coordenação motora, dentre outros”, explica a coordenadora pedagógica Vânia Miranda. Dentre várias atividades, dois projetos são enfatizados: o primeiro, a Banda Despertar, composta por mais de 40 integrantes, sob a maestria do Professor João de Bruçó, músico e ator, que trabalha com o grupo “desenvolvendo a música e os movimentos, não especificamente a dança”, salienta o professor. “Deve-se tratá-los como pessoas 'normais'.. na Banda, é necessário ter disciplina”, explica João. Outro projeto desta Escola envolve jovens que formam uma turma onde aprendem Produção Gráfica e estão sendo preparados para atuar no mercado gráfico. Ministrando a disciplina de Programação Visual e Gráfica Rápida, a Professora Paola Teixeira os prepara, enquanto aguarda um patrocínio para concretizar essa atividade. “Eles são capazes de executar trabalhos em Photoshop e Corew Draw, como esse convite que nesse momento eles estão desenvolvendo, para uma feira que será realizada pela Escola”, salienta a professora.

YONANDA DOS SANTOS

Crianças com ou sem Síndrome de Down participam do ensaio da “Banda Despertar” regido pelo Prof.João de Bruçó

Causa é alteração genética “Síndrome de Down é um evento genético relacionado com o fenótipo, com identificação característica facial. Ela é descrita como oriental, que outrora fora denominada como mongolismo”, relata o Dr. Zan Mustashi, médico especializado em Síndrome de Down, no documentário 'Do luto à luta', que trata do tema. “Hoje, quando denominamos uma criança com Síndrome de Down, nós caracterizamos que o contexto evolutivo e os limites descritos ou definidos pela literatura e pela sociedade. São limites impostos e, se não forem impostos, eles serão, sem dúvida, vencidos”, completa o médico. Todos os seres humanos são formados por células que possuem em sua parte central um conjunto de pequeninas estruturas, chamadas cro-

mossomos, que determinam as características de cada um, como cor de cabelo, cor da pele, altura, etc. O número de cromossomos presente nas células de uma pessoa é 46 (23 do pai e 23 da mãe), e estes se dispõem formando 23 pares. No caso da Síndrome de Down, ocorre um erro na distribuição e, ao invés de 46, as células recebem 47 cromossomos. O elemento extra fica unido ao par número 21. Daí também, o nome de Trissomia do 21. Ainda não se conhece a causa dessa alteração genética. Sabe-se que não existe responsabilidade dos pais para que ela ocorra, nem problemas registrados durante a gravidez são causadores da Síndrome de Down, pois esta já está presente logo na união do espermatozóide (célula do pai)

com o óvulo (célula da mãe). Conforme Lidsy Mol Lopes, coordenadora do Instituto Meta Social, há avanços na legislação contra a discriminação social, tais como a Lei n° 9.394, de 20/12/1996, do Ministério da Educação, que estabelece diretrizes e bases da educacionais no Brasil, cujo CAPÍTULO V versa sobre educação especial, incluindo a pessoa com Síndrome de Down no contexto educacional, com suas particularidades. Outro avanço vem do Ministério da Saúde, que alterou os dados do Cartão da Criança do Sistema Único de Saúde (SUS), com informações de medidas e pesos específicos da criança com Síndrome de Down, pois, até então, usavam-se os mesmos dados aplicados para os não portadores da Síndrome.


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ADAPTAÇÕES AJUDAM DEFICIENTES Portadores de deficiências recuperam independência e mobilidade com auxílio de carros adaptados, que podem ser comprados com isenções de impostos fiscais e descontos de até 28% DAVID LUIZ PRADO

n CRISTIANO MARTINS, DAVID LUIZ PRADO, EMERSON CAMPOS, 8° PERÍODO

Em 1986, o contador Jader Caser, 45 anos, sofreu um grave acidente de carro, e, por conseqüência, teve ambas as pernas amputadas. Desde então, ele passou a conviver freqüentemente com desafios relacionados ao seu transporte. Após algumas tentativas frustradas de se adaptar a próteses, Jader passou a se locomover por meio da cadeira de rodas. Para se adaptar à nova realidade e buscar uma forma de lazer, ele procurou um grupo de cadeirantes que praticavam o basquete. A limitação física, no entanto, foi apenas o primeiro obstáculo a ser vencido. “Eu treinava três vezes por semana, sempre ia de ônibus, e sabia que, com um carro, teria muito mais liberdade e comodidade”, conta o cadeirante, que passou a se dedicar ao tênis há três anos, período no qual já conquistou quatro títulos, entre eles uma etapa do campeonato brasileiro da categoria. Assim como Jader, muitas outras pessoas vêem nos carros adaptados o melhor caminho para driblar as limitações do cotidiano e adquirir mais independência. É o caso de portadores de

Hélio Moura, proprietário de uma oficina no Bairro Floresta, é mecânico especialista em adaptações. Ele mostra a instalação do pomo giratório, acessório removível amputações, paralisias e limitações de movimentos, dentre outras lesões, sejam elas de nascença ou adquiridas durante a vida. De acordo com a legislação vigente no Brasil, indivíduos com dois membros totalmente prejudicados ou até três parcialmente afetados podem conduzir veículos especiais modificados, automáticos ou semi-automáticos. Os portadores de necessidades especiais que desejam adquirir seu carro

próprio são beneficiadas por um conjunto de leis que facilitam o financiamento da compra e abatem alguns impostos, como o IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados), IOF (Imposto Sobre Operações Financeiras), ICMS (Imposto Sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e IPVA (Imposto Sobre a Propriedade de Veículos Automotores) do valor total do automóvel. Apesar dessa vantagem,

Transporte coletivo ainda necessita de adaptações Apesar da evolução no sistema de transporte coletivo em Belo Horizonte, pegar uma lotação parece não ter ficado muito mais fácil para quem possui necessidades especiais. Quem conta é Rafael Medeiros Gomes, de 18 anos, paraplégico. O estudante joga tênis no mesmo grupo de Jader Caser e, hoje, vive na pele as dificuldades que o colega contador vivia na época em que começou a praticar esportes para cadeirantes. Rafael depende de ônibus para o seu transporte até o local dos treinos, e reclama da má qualidade e da falta de acessibilidade dos veículos públicos na capital. “Existem várias linhas que têm até elevador, mas muitas vezes está estragado, ou o cobrador não tem treinamento adequado. Além disso, às vezes o ônibus pára muito longe da calçada, e aí preciso da ajuda de outras pessoas, fica complicado”, avalia o estudante. Apesar dos benefícios e facilidades para a aquisição de um carro, o contador e o estudante defendem que a melhor solução para o problema da locomoção dos cadeirantes seria um transporte público mais eficiente. Ambos citam a Europa como modelo para

mudanças. “O melhor esquema que eu vi até hoje é o da Suécia. Lá, os ônibus têm a entrada para a cadeira de rodas no mesmo nível do chão, no ponto”, explica Rafael, que recentemente representou o Brasil em um campeonato de tênis no país. “O ônibus não tem que ter elevador, porque isso torna a adaptação mais cara e mais complicada de utilizar. Tem que ter a entrada no mesmo nível, na porta do meio, como é na Europa”, reforça Jader. Já na opinião de Leonardo Fernando da Silva, de 27 anos, secretário voluntário da União dos Paraplégicos de BH, a maioria das linhas de ônibus está bem adaptada, e

o que costuma haver é uma postura passiva do deficiente. “Muitas vezes a pessoa prefere ficar em casa ao invés de sair, porque já tem esse preconceito, e acha que vai ter muito problema, que vai demorar, passar por humilhação. Mas ela não pode esquecer que tem o direito ao transporte igual a todo mundo”, argumenta Leonardo. Segundo Edson Rios, assessor de imprensa do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte, todas as empresas que atuam na cidade promovem cursos e treinamento constante aos funcionários para lidar com os passageiros cadeirantes.

GUSTAVO ANDRADE

Depender do transporte público para se locomover é um desafio para Rafael

Jader lembra que, mesmo com o desconto, que pode representar até 28% do preço total, o valor elevado dos carros automáticos ainda dificulta o acesso. “Hoje, eu não posso comprar um carro, por exemplo, de R$ 10 mil e adaptar a embreagem nele para dirigir. A lei só me permite comprar um carro automático, e ele é muito mais caro. Mesmo sem os impostos, os veículos mais baratos saem por aproximadamente R$ 38 mil”,

explica. MODIFICAÇÕES As alterações necessárias em cada veículo variam de acordo com as necessidades do motorista, que são constatadas após um teste realizado no simulador no Departamento de Trânsito (Detran). Cada uma dessas modificações, ou até mesmo mais de uma, simultaneamente, são incorporadas ao veículo por uma oficina credenciada, com base no laudo

médico, e então passam por uma vistoria técnica, para que sejam verificadas sua qualidade e segurança. Desde meados da década de 1970, Hélio Moura é proprietário de uma oficina credenciada que realiza alterações em veículos para atender às necessidades dos portadores de deficiência. Após um acidente de automóvel, uma cunhada de Hélio ficou paraplégica, e, por isso, surgiu a idéia de adaptar um veículo para que ela continuasse a dirigir. Durante o mesmo período, um aluno também paraplégico do Colégio Técnico (Coltec), onde o mecânico dava aulas, precisava se locomover com mais agilidade. O professor acabou realizando outro projeto de adaptação veicular e, desde então, se especializou na atividade. Atualmente, a oficina realiza cerca de 30 adaptações por mês, e muitas pessoas chegam a vir do interior de Minas e até de outros estados para realizar as modificações. Até mesmo caminhões já foram adaptados na oficina. O preço das modificações varia entre R$ 95, para a colocação do pomo giratório, e R$ 2.400, para a instalação do sistema completo, com freio e acelerador manuais, pomo giratório no volante e embreagem semi-automática.

Auto-escola para deficientes Já foi aprovado em todas as comissões e aguarda votação o projeto de lei 1398/07, do deputado estadual Diniz Pinheiro (PSDB), que propõe que os Centros de Formação de Condutores (CFC’s) da capital, com uma frota superior a dez veículos, adaptem pelo menos um para o atendimento aos portadores de necessidades especiais. Para isso, o carro deve apresentar o maior número possível de adaptações, para que mais alunos sejam atendidos. A grande maioria das auto-escolas de Belo Horizonte ainda não conta com veículos adequados para que deficientes físicos façam as aulas e aspirem à habilitação. Apenas três centros na cidade possuem automóveis destinados para esse fim. Dependendo da necessidade de adaptação do veículo, muitos condutores acabam utilizando carros particulares para realizar os exames práticos no Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran -MG). De acordo com Cícero Alves, instrutor de um centro de formação em Belo

Horizonte, quando um aluno com necessidades especiais procura a autoescola, geralmente é encaminhado para alguma das poucas que possuem os veículos adequados. Em alguns casos, chega a haver listas de espera pelas aulas nessas escolas. Para o instrutor, as principais dificuldades que os centros enfrentarão, caso a lei seja aprovada, estão no fato de existirem adaptações diferentes para cada tipo de deficiência e de que, em muitos casos, os carros são particulares. “Nem todos os veículos são de propriedade das auto-escolas. Alguns CFC’s agregam os instrutores e seus respectivos veículos, e por isso é mais difícil ter carros adaptados para as aulas práticas de direção”, argumenta. Segundo Hélio Moura, proprietário de uma oficina especializada em adaptações de veículos para deficientes físicos, existe a possibilidade de instalar, em um mesmo veículo, diversos dispositivos que possam atender uma maior quantidade de pessoas. “Alguns tipos de alterações, como a colocação de

pomos, alavancas, inversões dos pedais e alongamentos, são móveis e, por isso, vários equipamentos podem, sim, ser utilizados em situações diferentes”, explica. Para o cadeirante Rafael Medeiros Gomes, que pretende tirar a carteira de motorista, a legislação, caso seja aprovada, será muito útil, sobretudo para as pessoas que, como ele, dependem dos carros automáticos, que são mais caros. “Essa mudança seria um grande passo, porque, hoje, se a pessoa não tem condição de comprar o próprio carro automático, já tem pelo menos a possibilidades de tirar a carteira. Eu tenho um amigo que está na fila de espera há um mês”, comenta Rafael. Segundo o deputado Diniz Pinheiro, o projeto pode não apresentar ainda todas as soluções, mas, caso seja aprovada, a lei será um importante avanço para o aperfeiçoamento da situação. “O principal é que, com isso, vamos despertar mais a sociedade para as necessidades dessas pessoas”, explica o autor do projeto.


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Setembro • 2008

NOVA RODOVIÁRIA DIVIDE OPINIÕES Pesquisa de estudantes do 5º período de Ciências Sociais da PUC Minas revela que moradores do Calafate estão divididos quanto a transferência do terminal rodoviário para a região GUSTAVO ANDRADE

n PATRÍCIA SCOFIELD, 6º PERÍODO

Pesquisa realizada por cinco alunas do 5º período de Ciências Sociais da PUC Minas constatou que 51,1% dos entrevistados rejeitam a transferência do Terminal Rodoviário de Belo Horizonte do centro para o Bairro Calafate. Desse total, 35,9% consideraram péssimo e 15,2% estimaram como ruim. Por outro lado, a aprovação é de 32,6%, dentre os quais 19,6% disseram que a mudança da rodoviária é boa e 13% classificaram como ótimo. A pesquisa foi feita como atividade da disciplina de Metodologia Quantitativa e trabalhou com seis variáveis: ótimo, bom, regular, ruim, péssimo e não sabe/não respondeu. Durante o primeiro semestre deste ano foram ouvidas 92 pessoas que moram no Calafate e na vila, próxima à linha do metrô. De acordo com a aluna Joyce Gesuilo Gonçalves, uma das responsáveis pela pesquisa, os moradores que consideraram a proposta da PBH como péssima justi-

Moradores protestam carregando faixas na Afonso Pena e fazem parada em frente a Prefeitura de Belo Horizonte ficaram, em primeiro lugar, a insegurança no Calafate, por exemplo, o aumento de assaltos e roubos. Em segundo lugar, a consideração mencionada para justificar esse conceito é a "piora" do trânsito, seguida por motivos como aumento do lixo nas ruas e o crescimento do número de pessoas estranhas circulando

no bairro. As estudantes Joyce Gesuilo, Tábata Christie Freitas, Rejane de Oilveira, Ana Carolina de Oliveira e Beatriz de Fátima Domingues descobriram que a pesquisa quantitativa contrariou a expectativa de que o comércio seria afetado de forma negativa, já que 38% dos entrevista-

dos disseram que esse setor de serviços vai melhorar, devido à construção do shopping e à recente instalação de bancos na região. "Tem rejeição, mas não como a mídia e os líderes comunitários têm falado”, afirma Joyce. Segundo ela, existem muitas pessoas favoráveis. De acordo com as alunas do

5º período de Ciências Sociais, elas já haviam feito, durante o 1º e o 3º períodos, análises antropológicas sobre o terminal rodoviário. Sob a orientação do professor Malco Camargos, as estudantes resolveram aliar essa teoria ao problema da transferência da rodoviária. Joyce relembra que, por meio do MARCO, elas descobriram que os moradores não tinham voz na negociação com a prefeitura. A aluna Rejane de Oliveira completa que a pesquisa indica um fato que "vai contra a reclamação". "Os moradores do Calafate não dão margem para a escuta. Não é a associação de moradores que faz pesquisas, são as pessoas de fora", ressalta Rejane. Para o professor Malco Camargos, as pessoas são muito benevolentes com as mudanças. "Elas têm a impressão de que tem a ver com o progresso. Na realidade, não é bem assim", observa. Malco destaca que quem propõe o projeto (da rodoviária do Calafate) é o mesmo que deveria fiscalizá-lo, e que o plano geral do empreendimento "aconteceu de maneira menos controlada". O professor lança uma reflexão

aos belo-horizontinos: "Como o Coração Eucarístico, o Prado...vêem isso? Fica a pauta para a cidade". NOTA DA PBH Por meio da sua Assessoria de Comunicação, a Prefeitura de Belo Horizonte divulgou nota em que afirma que o projeto da nova rodoviária está de acordo com a legislação municipal e dentro das diretrizes urbanísticas da cidade. "A Prefeitura escutou as sugestões dos moradores em audiência pública realizada em julho deste ano, atendendo a exigência da legislação de licitações. O fato de a rodoviária migrar para a região do Calafate vai melhorar muito o tráfego na cidade e não impactará de forma negativa o trânsito no local", ressalta o texto. A prefeitura informa que o objetivo principal da retirada da rodoviária do centro da capital está inserido no contexto de requalificação e revitalização da região central da cidade. "Essa é uma visão que há 30 anos vem sendo discutida e pautada na sociedade. O atual terminal está obsoleto, não acomoda mais os ônibus e oferece pouco conforto aos usuários”, revela a nota.

Moradores usam nariz de palhaço nas ruas para protestar Uma movimentação de moradores da Região do Calafate se destaca no ambiente da Avenida Afonso Pena, no centro de Belo Horizonte, numa manhã de quinta-feira. Em meio a pedestres transitando com pressa e a carros trafegando, 40 manifestantes oponentes à construção da rodoviária no Calafate faziam um apitaço e seguravam faixas com mensagens irônicas e de indignação em relação à proposta do governo municipal.

A caminhada, na faixa mais à direita da avenida, teve início na Praça Sete e seguiu até a prefeitura da capital (PBH), depois até a rua Goiás. À frente, o carro de som, ecoando a indignação de líderes comunitários que falavam ao microfone frases como "Você é à favor ou contra a rodoviária?". Eles diziam que a PBH quer levar a rodoviária para o Bairro Calafate sem saber a opinião do cidadão. Além de apitos, foram dis-

tribuídos narizes de palhaços por Carlos Raimundo Gonçalves, morador do Calafate. Indignado com a proposta de transferência da rodoviária para o bairro em que reside, ele desabafou: "Nós somos palhaços. Não dá né?! Vai fazer o quê?". Durante os minutos em que os manifestantes fizeram uma parada em frente ao prédio da administração municipal, a equipe de reportagem avistou apenas um senhor grisalho que olhou para baixo,

da sacada do edifício. Nesse momento, o presidente da Associação de Moradores do Bairro Dom Cabral, da Região Noroeste da capital, Armando Sandinha, reparava a cena enquanto fumava, distraído. Ele confessou que esperava mais pessoas na manifestação. "O pessoal não está nem aí, e até hoje a prefeitura não se dispôs a nos ouvir. Eu duvido que hoje eles mandem algum representante vir aqui dizer alguma coisa. Com a presença de poucas

pessoas eles não vão sair lá de dentro", salienta. Moradora do Bairro Coração Eucarístico desde 1964, Sirlei Santos Freire percebeu que o Coração Eucarístico não comporta o tráfego de carros dos alunos e funcionários da PUC. "Hoje, a partir das 16h30 já não tem trânsito livre", reclama. "Se a rodoviária for transferida para o Calafate, vai ficar um ambiente horrível, com mendigos e traficantes na porta da rodoviária. Não

acho isso certo", acrescenta. Rodrigo Freire, filho de Sirlei, compartilha da mesma opinião que a mãe. "O trânsito na Via Expressa está caótico demais, por causa da PUC e do Expominas. Já é ruim, vai piorar muito (se o terminal for para o Calafate) e não vai resolver a questão da rodoviária", analisa. A proposta da passeata do dia 7 de agosto, de acordo com o membro do Conselho da SOS Bairros, major Ernani Ferreira Leandro, foi "sustar o processo”.

GUSTAVO ANDRADE

Novas lojas são alternativas que ajudam a complementar renda n ANDERSON MENDES, 2º PERÍODO

Em 2005, a desempregada Aparecida Elias da Silva, 35 anos, passou por uma gravidez complicada: fez tratamento contra préeclâmpsia – moléstia que restringe a circulação sanguínea para o bebê – e teve princípio de depressão pósparto. Preocupada em estar próxima ao filho recémnascido e em exercer atividades que ocupassem sua mente, Aparecida sentiu a necessidade de trabalhar em alguma função com flexibilidade de horários e que tivesse proximidade de sua casa. "Eu estava organizando as roupinhas do meu filho e vi que elas já estavam pequenas. Foi então que pensei em vendê-las para minhas amigas", conta. Começava a nascer assim a Lojinha da Formiguinha, um bazar com mercadorias usadas e vari-

adas que funciona há quase três anos no Bairro São Gabriel, na Região Nordeste. Aparecida já havia trabalhado com carteira assinada em outras oportunidades. Na última delas, como ajudante de produção numa fábrica de peças para celulares, a atual comerciante julgava como único incentivo para o trabalho formal o plano de saúde que a empresa disponibilizava. "Meu marido trabalha numa empresa que oferece plano de saúde para toda minha família e isso já não é motivo de preocupação", explica. Morar e trabalhar no mesmo local, na Rua Augusto José de Araújo, no Bairro São Gabriel, tem como maior vantagem, para Aparecida, a disponibilidade de contato com o crescimento dos filhos. "Tive minha segunda filha e os cuidados redobraram. Eu fecho a loja todos os dias no horário de levá-los à escola e, quando

necessário, para ir ao posto de saúde", conta. Para ela, o grande diferencial do trabalho informal é a freqüente rotatividade de dinheiro. "Nas empresas, eu trabalhava o mês inteiro para esperar chegar o salário. Aqui, na Lojinha, eu sempre recebo um 'trocadinho'. Isto faz toda a diferença quando estou precisando comprar algo pra casa ou um remédio pras crianças", declara. A aposentada Lúcia Oliveira Geralda, 53 anos, conta que visita o bazar sempre que necessita comprar algum presente para os familiares e explica que os produtos da Lojinha da Formiguinha, apesar de serem usados, estão em bom estado e têm preços baixos. "Compro brinquedos para meus netos e sobrinhos. É aqui perto de casa e não tem nada caro". Cida, como é conhecida na comunidade, ressalta que

o trabalho independente, na própria varanda e garagem de casa, tem seus pontos negativos, como a aparição de clientes em horários e ocasiões indevidas. "Às vezes já é tarde da noite ou feriado, domingo e aparece algum cliente. Mas eu não deixo de atender bem", explica. Também na Região Nordeste de Belo Horizonte, no Bairro União, Ildete de Souza Melo, 54 anos e Rosa Maria Menezes Vale, 55, são duas amigas que mantêm e organizam o Bazar Luxus. O negócio começou há um ano e meio e oferece desde bijuterias a roupas de cama. A idéia surgiu certo dia, enquanto faziam uma e conversavam sobre uma caixa de roupas usadas que estava chegando do exterior, doadas por uma amiga em comum. A partir da conversa, decidiram vender as peças da caixa por preços bem acessíveis. Seria só o começo do bazar

Trabalhando na sua loja, Aparecida da Silva consegue ficar próxima dos filhos que, segundo as amigas, tem função de acrescentar renda e de atuar como ocupação terapêutica. Ildete Melo conta que sempre gostou de comércio: trabalhou em lojas de departamento e parou aos 24 anos, quando decidiu casar-se. Daí, foram 30 anos sem trabalhar. Rosa Vale nunca havia mantido uma relação empregatícia. Segundo elas, integrar o mercado de trabalho a partir de uma loja independente é vantajoso pois permite participar de uma rotina menos cansativa e que permite alcançar, além de dinheiro, um bom convívio social. "Fazemos de tudo aqui. Comércio e amizades. Limpamos, cuidamos da organização dos

fornecedores de roupas e do dinheiro que entra e sai. Não necessitamos da renda do bazar para sobreviver, porém, é uma renda extra que faz diferença. Sem esquecer, é claro, das amizades que mantemos aqui. É uma terapia. Amo o que faço", afirma Ildete. Jaqueline Moraes Torres Ribas, 38, freqüenta a loja desde a sua inauguração e afirma haver um grande potencial em comércios como o Bazar Luxus. "Aqui o atendimento é diferenciado, as peças têm qualidade e criamos um vínculo entre cliente e comprador. Acaba sendo uma relação de amizade", conclui Jaqueline, moradora do Bairro Cidade Nova.


Cidade Setembro • 2008

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EM BUSCA DE TRATAMENTO EM BH É muito grande o número de pacientes que precisam sair do interior e viajar para a capital mineira em busca de cuidados médicos que não estão disponíveis em suas cidades de origem YONANDA DOS SANTOS

n ISABELLA LACERDA, LILA GAUDÊNCIO, LÍVIA ALEN, 2° PERÍODO

A dona-de-casa Aparecida de Fátima da Silva Borges, moradora de Córrego Fundo, na Região Centro-Oeste de Minas, vem mensalmente à capital mineira para buscar remédios de uso controlado para o seu filho Edmilson da Silva Rocha, 12 anos. Ela conta que o garoto tem diagnóstico de hiperatividade e que sofre com variações de temperamento, ficando nervoso e agitado em algumas ocasiões, chegando a provocar reações violentas contra a família. A cidade onde eles moram, distante três horas e meia de Belo Horizonte, não oferece tratamento psiquiátrico. Aparecida Borges está longe de ser uma exceção. Ela engrossa uma longa lista de pessoas que utilizam periodicamente o serviço de vans, na maioria das vezes bancadas pelas prefeituras, que partem de diversas cidades no interior de Minas em busca de tratamento médico em Belo Horizonte. Os pacientes que não precisam de tratamentos longos passam apenas o dia na capital mineira. Para garantir uma vaga nos veículos, o interessado precisa comparecer à prefeitura do município onde reside para solicitar o agendamento das consultas médicas e o transporte. Mediante a marcação da consulta, parte uma van da cidade com todos que irão ser atendidos no mesmo dia.

Geraldo Ferreira de Oliveira, motorista da van da cidade de Dionísio no Vale do Aço, que traz em média 15 pessoas, conta que ele chegou à capital por volta das 8h e só poderá ir embora quando todos já tiverem sido atendidos. Segundo ele, em alguns dias chega a esperar mais de oito horas. Na maior parte do tempo as pessoas ficam a espera do atendimento dos outros pacientes que vieram nas vans. Como são pessoas simples na maioria dos casos, ficam quase todo o dia deitados dentro dos veículos ou nos arredores dos hospitais. De acordo com Geraldo Ferreira, quando finalmente podem iniciar a viagem de volta, muitas vezes encaram estradas em condições ruins e trânsito intenso, ocasionado pelos sucessivos acidentes. “A gente vem na BR-381. Acontece muito acidente nessa estrada”, comenta. Tudo isso atrasa ainda mais o retorno para casa e traz mais transtornos aos usuários dessas vans. Lucilene Natalina da Silva, professora de biologia em Dionísio, acredita que a estrutura de atendimento na capital é melhor. “O interior praticamente não tem especialistas”, opina. A professora, que veio acompanhar a mãe em um exame de eletroneuromiografia no Hospital do Instituto de Previdência dos Servidores de Minas Gerais (Ipsemg) para verificar um possível problema nas pernas em função de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), sofrido há dois anos, diz

que, apesar de muitas vezes encontrarem os hospitais cheios, a mãe consegue ser atendida rapidamente em função das consultas marcadas com antecedência. “O atendimento é bom demais”, aprova Dionísia de Jesus, mãe de Lucilene. Apesar do bom atendimento nos hospitais e da boa qualidade das vans, as despesas como alimentação são pagas pelos pacientes. “A alimentação é por conta própria”, comenta a dona-de-casa Rosilene Ermelinda Silva Dias, também de Dionísio, que veio trazer a filha de 12 anos para um exame oftalmológico. Muitas pessoas não podem pagar pela alimentação quando passam o dia na capital. Alguns hospitais oferecem aos pacientes um café da manhã, o que acaba não sendo, na maioria dos casos, suficiente para mantê-los alimentados durante todo o dia. Aparecida de Fátima, que não tinha como custear outras refeições, teve que se contentar com a alimentação oferecida pelo hospital. “São quase quatro horas da tarde e eu estou só com o café da manhã”, lamenta. O motorista da van de Dionísio, entretanto, diz nunca ter passado por problemas graves com os usuários desse transporte. Segundo ele, casos de pessoas passando mal dentro da van não são comuns, já que pacientes que precisam de tratamento urgente são encaminhados de ambulância para as cidades com melhor estrutura hospitalar. “Nas vans é tranqüilo. O povo só vem para fazer consultas”, ressalta.

Vans fornecidas pelas prefeituras de cidades do interior ocupam as vagas de estacionamentos do hospitais da capital

Pensões hospedam pacientes Pousadas localizadas na Região Hospitalar de Belo Horizonte recebem pessoas que vieram do interior para se tratar na capital. Conveniadas com prefeituras de cidades mineiras como Itambacuri, Almenara, Frei Gaspar, Padre Paraíso, José Gonçalves de Minas e Ouro Verde, entre outras, elas oferecem estadia e café da manhã aos hóspedes que não têm condição de custear suas despesas. Essas pensões recebem, na maioria das vezes, pessoas que necessitam fazer exames, consultas de retorno e tratamentos demorados que não requerem internação. “Em geral, o público da pousada é de adultos de ambos os sexos, raramente vêm idosos e crianças”, diz Adriana Alves de Novaes, recepcionista da Pousada Santa Efigênia, localizada na Rua Piauí, no Bairro Santa Efigênia. Essa pensão tem capaci-

dade para alojar 49 pessoas, em quartos coletivos que se encontram no segundo andar da casa, com capacidade para seis ou sete pessoas, separados por sexo. Não há banheiros individuais. Há apenas um sanitário para todos os hóspedes da pousada. Há a possibilidade dos clientes usarem o fogão, a geladeira e o tanque de lavar roupas e assistir à televisão também em uma sala coletiva. A roupa de cama é fornecida pela pensão e é proibido fumar, andar sem camisa, além de levar pessoas que não são hóspedes aos quartos. As diárias, por pessoa, custam R$15. “Os hóspedes ficam em média cinco dias, mas tudo depende da duração do tratamento”, explica Adriana. Algumas prefeituras financiam, além da hospedagem, a alimentação e o transporte dos seus pacientes e acompanhantes. Algumas vezes a estadia das pessoas acaba

se prolongando mais do que o esperado. Foi o caso de Maria das Dores Álvares Cardoso, de José Gonçalves de Minas, no Vale do Jequitinhonha, que acompanhava a filha Evanilda em um tratamento de anemia falciforme, doença hereditária nas hemácias que causa fadiga, fraqueza e palidez devido à deficiência no transporte de gases. “Combinaram que vinham domingo (17 de agosto) e ainda não chegaram. E hoje já é terça-feira (19)”, diz. Procurada novamente pelo MARCO, no dia 25 de agosto, Maria das Dores ainda estava em Belo Horizonte, mas informou que a van já havia sido enviada e a levaria de volta no dia seguinte, para sua casa, na zona rural de José Gonçalves de Minas. Todo o período de estadia na pensão Santa Efigênia e a alimentação foram custeados pela prefeitura do município.

Associações oferecem apoio a latino-americanos n CELSO FREITAS, POLLYANNA DIAS, 1º PERÍODO

"O objetivo principal é promover, difundir e fortalecer o espírito de união dos compatriotas", diz Benjamin Garcia Estrada, presidente da Casa Bolívia, ao explicar o papel de instituições de apoio a imigrantes bolivianos em Belo Horizonte. Existem outras organizações que buscam a integração latino-americana e caribenha na capital mineira, como a Casa Latina e o Círculo Peruano de Minas Gerais. “Devemos esquecer um pouco que viemos aqui a trabalho e tentar tirar um tempo para mostrar nossa cultura e nossas produções artísticas”, comenta o paraguaio Adolfo Fernandez, 49 anos. Segundo o artista, autodenominado “Índio Sul-americano”, é importante que os imigrantes organizem-se para manter viva sua cul-

tura, visando tanto a ajuda mútua dos compatriotas quanto demonstrar que o latino possui um papel importante dentro da sociedade brasileira. Os motivos que levam os latinos americanos a residirem fora de suas pátrias são diversos. "Acredito que os motivos econômicos sejam a principal causa para nós sairmos de nossa terra. Geralmente mudamos com o intuito de mandar remessa à família", diz a boliviana Melvi Maceda, 38 anos,

que difunde a cultura da nação com a venda de artesanatos indígenas por grande parte da América do Sul. Outro argumento apresentado ressalta o interesse em estudar no Brasil. Para Hugo Sanabrias, 42 anos, após visitar o país e gostar da capital mineira, resolveu estudar engenharia no Centro Fedral de Educação Tecnológia de Minas Gerais (Cefet). O engenheiro lembra que antigamente muitos bolivianos participavam de intercâmbio cul-

YONANDA DOS SANTOS

Benjamin Estrada, presidente da Casa Bolívia, em evento da entidade

tural enquanto hoje a maioria vem por conta própria sem a ajuda do governo. Dentro desse contexto, essas organizações possuem um papel fundamental de apoio aos imigrantes. Os bolivianos recém chegados ao Brasil são instruídos por outros imigrantes a se cadastrarem na Casa Bolívia, que atende cerca de 200 pessoas. A partir daí recebem orientações necessárias às suas necessidades e juntos possibilitam sentirem-se em casa. Uma das atividades da associação, por exemplo, é monitorar aluguel e compra de imóveis para a fixação de residência e para a abertura do primeiro negócio de seus associados. A entidade informa, por exemplo, como chegar à Polícia Federal e em qual faculdade devem se matricular. De maneira mais ampla, a Casa Latina procura divulgar a cultura latina em geral, por meio de eventos, oficinas e exposições. Para tal, a ONG trabalha em

conjunto com outras organizações do mesmo gênero no Brasil e com instituições consulares. CELEBRAÇÃO Foi realizada em 20 de agosto último a celebração do 183º aniversário da Proclamação da República da Bolívia. A data é anualmente comemorada pela comunidade boliviana residente em Belo Horizonte. Este ano, a reunião contou com palestras e debates com a presença do cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o boliviano Antônio Mitre, e do advogado Pedro Ottoni, que analisaram a atual conjuntura política e socioeconômica da Bolívia. Durante o evento, uma exposição artesanal apresentou os trabalhos de artistas do país, como os da boliviana Melvi Maceda, que colocou à venda parte dos produtos trazidos do seu país. Para finalizar a comemoração, o conjunto

latino musical Quartier Latim tocou músicas folclóricas bolivianas ao lado do harpista paraguaio Adolfo Fernandez, o Índio Sul-americano. O evento foi organizado pela Casa Latina, em conjunto com a Casa Bolívia, no Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário Federal do Estado de Minas Gerais (Sitraemg). A comemoração foi idealizada anos antes, por bolivianos organizados na Casa Bolívia, oficialmente criada em 2002. Essa ONG procura ser um instrumento de aproximação, integração e fraternização em prol do intercâmbio cultural, das artes plásticas, educação e tecnologia a nível profissional de brasileiros e bolivianos. O ambiente familiar é valorizado e resguardado, uma vez que inserem maridos, esposas, filhos e netos, tanto nativos quanto imigrantes no cotidiano do projeto.


10 Cidade

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Setembro • 2008

PROJETO LEVA ARTE PARA JUVENTUDE O Programa Parque-Escola Caríunas oferece ensino integrado por meio de aulas de dança, música e teatro, e cria nova perspectiva para para crianças e adolescentes de baixa renda GUSTAVO ANDRADE

n RAQUEL RAMOS DE CASTRO, 4º PERÍODO

Quem passa pela Rua Luiz de Melo Matos, no Bairro Planalto, pode ouvir de longe o som de músicas sendo tocadas por saxofone, trompa, flauta, trompete, trombone, entre outros instrumentos. Ali funciona a nova sede do ParqueEscola Cariúnas, um projeto mantido pela Sociedade Mirim e que oferece a crianças e adolescentes de baixa renda ensino integrado por meio da música, dança e teatro. Breno Cruz é um dos alunos do programa. Ele conta que conheceu o Cariúnas por acaso, quando tinha sete anos. “Um dia eu estava andando na rua com minha mãe e meu irmão e a gente ouviu um barulho. Meu irmão, que é muito curioso, olhou por baixo do portão e viu o pessoal cantando e tocando”, relembra. Na época, só o irmão se interessou em entrar no projeto; mais tarde, porém, ele também quis participar. Hoje, com 12 anos, Breno vai ao programa três vezes por se-

mana, faz teatro, aulas de musicalização (uma atividade que integra a música ao teatro), participa de uma das três bandas que existem no Cariúnas e toca trompete. “É uma coisa que vou levar para a vida toda”, garante. Outro aluno beneficiado pelo projeto é Welerton Nobert, 16 anos. Ele entrou no programa no início de 2000 e atualmente participa da banda do Cariúnas e tem aula individual de saxofone todas as quintasfeiras, durante uma hora. “Estou tendo que ralar muito para aprender sax, mas é o que eu mais gosto”, relata. O sonho de Welerton hoje é fazer medicina. Apesar disso, ele não descarta a possibilidade de fazer música no vestibular e diz que pretende continuar no projeto enquanto puder.

HISTÓRIA Tânia Mara Lopes Cançado, idealizadora do projeto e diretora do Cariúnas, conta que enquanto cursava Música na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) percebeu que não havia nenhum programa direcionado às cri-

anças. Assim, tomou a iniciativa de criar o Centro de Musicalização Infantil, que começou a funcionar em 1985 e existe até hoje. “O Cariúnas surgiu em 1997, como extensão desse trabalho feito na UFMG. Eu tinha um sonho em trabalhar para oferecer o que eu tinha ganhado ali um dia, só que estes cursos eram pagos. Foi ai que nós fomos para a periferia”, diz. Inicialmente o trabalho era feito com as crianças de até 12 anos dentro de creches. “Nós estávamos perdendo os meninos na fase da adolescência. Então tomamos coragem, saímos da creche e continuamos o projeto dentro de uma casa alugada, no Bairro Primeiro de Maio”, diz Tânia. Ela, que foi diretora da Escola de Música da UFMG de 1990 a 1994, conta que em 1998 a Prefeitura de Belo Horizonte cedeu um terreno de 12.800 m² para a construção da sede do projeto. Apenas em 2005 foi possível iniciar a construção, com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), além de

Vila inaugura centro cultural MARIANA FARIA

n JEFFERSON UBIRATAN, MARIANA FARIA, TÚLIO SILVA,

outras instituições públicas e privadas. Em outubro do ano passado o Cariúnas se mudou para a nova sede. Atualmente, a área construída corresponde a 1.200 m², e a expectativa é que até o final do ano fique pronto o pavimento superior onde funcionará um teatro com 200 lugares, além de mais salas para aulas. Na inauguração desse novo espaço está prevista a apresentação, em dezembro, de um musical intitulado “O Presépio”, com participação das 150

3° PERÍODO

Com a conquista no OP, moradores passam a ter maior acesso à cultura cadeiras, coisa que antes a gente não tinha", diz. O espaço agrada também artistas como o pintor José Marinho, que recentemente expôs seu trabalho em uma das salas do centro e ministra oficinas de pintura e desenho. "Estou muito feliz de poder ter espaço para expor meus trabalhos e passar um pouco dos meus conhecimentos para crianças e jovens da comunidade", comenta. BATISMO A primeira atividade do centro ocorreu no último dia 16 de agosto, com o batizado e troca de graduação dos alunos do grupo de capoeira Santa Rita Social, presidido pelo líder comunitário José Antonio Tito, mais conhecido como mestre Tito. Essa cerimônia ocorre

uma vez por ano e denota todo o comprometimento e o desempenho dos alunos e praticantes do jogo. Na opinião do morador Alessandro Gomes da Silva, o centro desmistifica a imagem de que a cultura está ao alcance somente de pessoas com maior condição financeira. "Mestre Tito é prova viva de que trabalho social feito com responsabilidade e dedicação pode surtir efeitos benéficos na sociedade", afirma Alessandro. Mestre Tito atua como parceiro da Escola Municipal Jonas Barcellos Correia, ministra aulas de capoeira em sua própria casa e já participou de inúmeros encontros de capoeira em prol da cidadania em todo o estado.

crianças que hoje integram o Cariúnas. Os interessados em participar podem se cadastrar para a seleção. O aluno que entra no Cariúnas terá que passar pelas três etapas do programa. Dos 6 aos 10 anos ele fará aula de dança, musicalização e teatro, além de aprender o primeiro instrumento, que é a flauta doce. Na segunda, o aluno poderá escolher outro instrumento de sopro e terá aulas de percepção musical. Aos 16 anos, inicia-se a terceira etapa e o aluno é orientado para o trabalho de mo-

nitoria. Hoje, 12 dos 15 professores e monitores do projeto são ex-alunos. Paloma Roberto Bispo das Mercês, 21 anos, faz parte desse grupo. Ela entrou no programa há dez anos e permanece até hoje, só que agora dá aula de dança clássica e contemporânea. “Vale muito a pena trabalhar aqui. É muito bom ver os meninos passarem pelo que eu já passei e repassar o conhecimento. Não me imagino fazendo outra coisa ou trabalhando em outro lugar”, garante Paloma.

Conhecer , fiscalizar e votar bem n DÉBORA TEIXEIRA, JOANA FERREIRA,

1ºPERÍODO

Obtido pela comunidade da Vila Santa Rita por meio do Orçamento Participativo e inaugurado em junho, o novo centro cultural da região possui uma ampla infra-estrutura: auditório para 80 pessoas, salas para projeção de filmes e uma biblioteca que, apesar de recente, já possui um fluxo semanal de 100 pessoas. "Achei muito legal. Nas oficinas podemos conhecer coisas diferentes, apresentamos contos, poesias e trava-línguas que a gente mesmo faz, fora que ela nos ajuda a fazer novas amizades no bairro", afirma Jéssica Caroline Ferreira, que participa das oficinas literárias. De acordo com a diretora do novo Centro Cultural do Barreiro, Aida Neves de Araújo, a função do mesmo é despertar a juventude para processos culturais que os rodeiam, a fim de torná-los cidadãos. Thales Augusto Neves, que já foi ao centro duas vezes, fala que o projeto está sendo muito importante para o bairro. "Mesmo sendo novo, já mudou muito a rotina do bairro, as crianças da minha escola comentam das oficinas, das brin-

Integrante do Projeto Cariúnas há 10 anos, Paloma Roberto das Mercês agora participa como professora de ballet

Os cidadãos irão às urnas em outubro escolher os vereadores e prefeitos dos municípios. Entretanto, a função desses representantes muitas vezes é desconhecida pelo eleitorado, prejudicando a escolha e na fiscalização dos eleitos. “De maneira geral, as pessoas não têm muita noção do que o legislativo pode fazer, acreditam que só o executivo pode fazer. Dão mais importância ao executivo. Existe o risco de escolher com menos importância”, afirma o doutor em ciência política e professor da UFMG, Carlos Ranulfo Féliz de Melo. Segundo o coordenador de projetos da Escola do Legislativo, Sulavan Fornazier, o poder legislativo municipal atua no campo das idéias, sendo responsável pela criação e aprovação de leis, fiscalização do executivo municipal, abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs), enfim, pela apuração de responsabilidades. Os vereadores são, portanto, os representantes do cidadão na esfera municipal e devem zelar pelo bem-estar dos moradores locais. A

Câmara Municipal é dividida por comissões permanentes que são eleitas no primeiro dia de legislatura e variam em números e denominações. Em Belo Horizonte, o eleitor pode acompanhar o funcionamento da câmara e quais projetos estão sendo discutidos ou votados, por meio do site www.cmbh.mg.gov.br ou do Diário Oficial do M u n i c í p i o (http://www.pbh.gov.br/do m), responsável por publicações legais e oficiais do executivo e do legislativo. Pode, ainda, assistir as reuniões diárias. Contudo, as atribuições dos vereadores nem sempre foram essas. Antes de ser estabelecida a constituição de 1988, eles exerciam funções meramente decorativas, sendo responsáveis somente por homenagens e projetos para denominação de ruas. Assim, quando a constituição entrou em vigor, o município ganhou mais autonomia e atribuições, como a gerência da educação fundamental e dos postos de saúde. Desde então, foram instituídos projetos importantes para a melhoria da cidade, como o Código de Postura do Município, que regulamenta a utilização do espaço urbano, impondo regras para a construção de calçadas e garagens, por exemplo; e o Plano Diretor

da Cidade, que é um projeto a longo prazo que define o futuro do município, em aspectos políticos, culturais, entre outros. Se os vereadores fiscalizam o prefeito, os cidadãos precisam acompanhar o trabalho dos vereadores. Assim, fica mais fácil escolher em quem votar. Porém, “no caso de depararmos com uma sociedade mais apática a fiscalização vai depende de órgãos de controle federal. Isso depende da capacidade de se eleger bons vereadores, e que eles tenham boas condições de trabalho”, cita o professor da UFMG. A fim de aproximar a população da Câmara Municipal, foi criada há cerca de um ano a Escola do Legislativo, que forma e capacita agentes políticos, servidores e cidadãos com o objetivo de fortalecer o Parlamento e educar para a cidadania. Para isso, promove seminários, fóruns e visitas escolares à Câmara Municipal. “Sabemos que promover a aproximação do Legislativo com a sociedade e desenvolver a cidadania coletiva é uma tarefa árdua e de longo prazo. Entretanto, temos certeza de que nosso trabalho tem contribuído para estes avanços”, avalia Fátima de Oliveira Magalhães, Gerente da Escola do Legislativo.


Cidadania Setembro • 2008

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DECISÃO QUE VEM A PARTIR DO DEBATE Promovido pela PUC Minas e CBN, debate entre sete candidatos à Prefeitura da capital deu oportunidade aos candidatos de exporem suas idéias para ajudar o eleitor a decidir seu voto GUSTAVO ANDRADE

n GUYANNE ARAÚJO, PATRÍCIA SCOFIELD, 6ºPERÍODO

O debate entre sete dos nove candidatos a prefeito de Belo Horizonte, realizado no dia 12 de setembro último, no teatro da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), foi uma oportunidade para eleitores questionarem as propostas e esclarecerem as dúvidas sobre o programa dos candidatos por meio de uma inovação: ser transmitido, ao vivo, pela Rádio CBN, parceira nessa iniciativa. O gerente de jornalismo do Sistema Globo de Rádio, Luís Henrique Yagelovic, definiu esse evento como um canal de aproximação do eleitor, que ele acredita que tem de ser crítico. "É uma maneira para ele entender quem vai colocar na gestão de Belo Horizonte", afirmou. De acordo com Yagelovic, o objetivo da ponte entre a escola e a Rádio CBN é ampliar o debate de idéias e "deixar claro o compromisso da instituição com seu público". A aluna do 1° período de jornalismo, Bárbara Ferreira, é um exemplo da importância do debate político em um ambiente de aprendizado. Ela argumentou que como não teve acesso às propostas de todos os candidatos, durante o debate houve espaço para eles falarem e para os estudantes escutarem. "Muitas coisas que não sabia, fiquei sabendo lá. Deu para conhecer todo mundo. Foi muito bom", avaliou. Iza Campos, colega de sala de Bárbara, achou a idéia do debate muito interessante, já que não atingiu só os alunos, mas também as pessoas que ouviram pelo rádio. "Foi 10. Atingiu as minhas expectativas, tanto a transmissão pela rádio quanto o comportamento do pessoal da platéia. Só que uns candidatos não foram", lamentou.

Por outro lado, o aluno do 3° período de jornalismo, Marcelo Augusto Batista de Souza, tinha uma opinião desfavorável à realização do debate, antes de ele começar. Ele acreditava que os candidatos responderiam apenas o que quisessem. Mas, ele mudou de opinião após o evento. "Saiu da mesmice. Cada candidato deixou de responder apenas aquilo que queria que os outros soubessem porque sortearam as perguntas", observou Marcelo. O estudante, que não é eleitor na capital, disse que se votasse em Belo Horizonte já teria um candidato em mente a partir do debate, mas ressalvou que ainda pesquisaria mais sobre o seu escolhido. A coordenadora do curso de comunicação social da PUC Minas, Glória Gomide, considerou que a discussão fez com que os direitos de cidadão fossem exercidos. "Foi uma participação de cidadania incrível, porque a gentileza com que os alunos trataram os candidatos foi uma coisa paradigmática", disse. A discussão no teatro da universidade instigou a participação do público, que fez perguntas por escrito e reagiu espontaneamente com vaias e aplausos às intervenções dos candidatos. Quando anunciado pelo mediador do debate e apresentador da CBN, Marcelo Guedes, que o candidato Márcio Lacerda (PSB) não estaria presente, a platéia vaiou. O aluno Paulo Cerqueira, do 6º período de publicidade e propaganda, esperava ouvir de Lacerda, antes de o debate começar, sobre a aliança de Pimentel e Aécio Neves. Outro candidato que também descartou a possibilidade de discutir idéias foi André Alves (PT do B). Durante duas horas, aconteceram blocos em que os candidatos responderam perguntas de alunos de comunicação social da PUC

Minas, outros em que as indagações foram feitas por ouvintes da CBN, pela internet e aqueles em que os candidatos, sorteados, perguntaram aos outros, com direito à réplica e tréplica. Em geral, os temas das perguntas giraram em torno de problemas ou ausências nos programas dos candidatos. Os assuntos que tiveram destaque dentre as falas dos políticos têm relação com mobilidade urbana (soluções para o trânsito, principalmente), programas sociais para jovens, políticas de segurança pública, além da ausência do candidato Márcio Lacerda. "Gostaria de fazer uma pergunta para Márcio Lacerda: Porque é que ele não comparece?", disse Sérgio Miranda (PDT), ao ser sorteado para indagar algum concorrente. A platéia reagiu com aplausos e gritos. O candidato Jorge Periquito (PRTB) ressaltou a importância da participação da juventude na política. "O futuro de uma Nação está nas mãos dos jovens", afirmou. Já o candidato Pedro Paulo (PCO) priorizou a defesa dos direitos dos operários e o papel de articulação que segundo ele um bom prefeito deve ter. Marcelo Guedes, jornalista e apresentador da CBN, classificou o debate como positivo. "Nós conseguimos abordar todas as questões que eram importantes não só para o meio universitário, mas para a cidade de uma maneira em geral", analisou. “Os candidatos todos mantiveram uma postura muito respeitosa, e teve só um pedido de resposta no finalzinho, mas foi respondido em 20 segundos. Não vi maiores problemas não", completou. Vanessa Portugal (PSTU) contemplou que em um debate os ouvintes passam a participar, direcionando a resposta do candidato na

Transmitido pela CBN, PUC TV e TV Horizonte, no debate discutiu-se temas como tranporte público e a atual gestão medida em que perguntam. "Como no debate a gente não sabe o que vai ser perguntado, as respostas tendem a ser mais autênticas", explicou. Sobre a função do debate, a candidata defendeu que a realização desse evento se aproxima do que deva ser o papel da imprensa. "Ajudar a formar e a informar a população, que não é o que acontece, principalmente no nosso estado", comentou. "Acho que debates como esse fortalecem a democracia e a efetiva participação do cidadão belo-horizontino na construção de uma cidade melhor", observou Gustavo Valadares (DEM). O candidato defendeu que a iniciativa de promover esse debate tem que ser copiada e reeditada pelos mesmos participantes. Ele considerou que a discussão foi produtiva e que o objetivo de levar aos ouvintes da CBN e aos jovens belohorizontinos a proposta de cada candidato foi atingido e ajudou a construir a imagem de cada um. Jô Moraes (PC do B) reiterou essa questão ao afirmar: "A eleição não é só escolher, é construir projetos". Na avaliação do candidato Leonardo Quintão (PMDB),

o debate foi uma chance de ampliar o acesso dos candidatos ao eleitorado. "Era impossível nós falarmos para os eleitores se não tivéssemos o acesso a essa comunicação", disse. Sobre o voto da juventude, Quintão enfatizou que o estudante pode mudar esta eleição. ORGANIZAÇÃO O planejamento feito para concretizar este evento foi "tranqüilo", de acordo com a coordenadora da disciplina seminários (cursada pelos alunos de comunicação social de 1º a 4º período), Adelina Martins. Segundo ela, a montagem da infra-estrutura para a transmissão de rádio e da TV exigiu um tempo de dedicação maior e levou dois dias para ficar pronta. Todos os passos da organização para a realização do evento, como infra-estrutura, planejamento, montagem e confirmações envolveram a coordenadora. Ela teve de explicar aos alunos, por meio do Sistema de Gestão Acadêmica (SGA), de cartazes e informativos da PUC, como agir segundo as normas estabelecidas, para que eles tivessem consciência do processo.

Segundo Adelina, o comportamento dos alunos durante o debate foi excelente. "O nível de questionamento foi impressionante, eles estavam conscientes de seu papel enquanto cidadãos e alunos. As perguntas estavam bem diretas", avaliou. Além da participação de alunos de jornalismo e publicidade e propaganda na platéia. Dentre os 56 alunos da disciplina produção e organização de evento - do curso de relações públicas- sete foram sorteados para participarem no dia do evento, auxiliando na organização. Eles receberam os candidatos, encaminharamnos para seus respectivos lugares, auxiliaram no recolhimento das perguntas na platéia e no palco, ou seja ,na condução do debate em si. "Esta foi uma boa oportunidade para eles verem em que eles vão atuar no mercado ", disse. Devido ao tamanho do evento, foi necessário o credenciamento de todas as pessoas presentes no teatro. Como a procura seria maior, Adelina afirma que o objetivo foi fazer uma organização do espaço. Um telão foi instalado ao lado da entrada do teatro para que mais pessoas pudessem acompanhar o debate.

ONG resgata cidadania de dependentes químicos n ANTONIO ELIZEU DE OLIVEIRA, 3º PERÍODO

A Abreci é uma entidade filantrópica, mantida com doações e colaborações financeiras, que funciona à Rua São Dimas, 25, Bairro São Gabriel. A entidade conta com apoio e voluntariado de vários profissionais como psicólogos, psicopedagoga, fonoaudióloga, advogados, assistente social, permitindo atendimento amplo aos dependentes químicos e seus familiares. "Dependente químico não é apenas quem faz uso de drogas proibidas, mas também álcool, antidepressivos; tem drogas prescritas que a pessoa começa usa, mas não consegue parar de usar necessitando de tratamento adequado", explica a médica Adriana Cristina Soares, doutora em farmacologia pela UFMG . Atualmente, um grupo de 40 pessoas é acompanhado na instituição nesse trabalho de reintegração. "Fui dependente químico, vítima de

tratamento com excesso de medicamentos, cheguei até pensar em suicídio, mas tomei uma decisão: abandonei aqueles mais de dez medicamentos, num corte brusco", afirma o pastor Mário Franco, colaborador da ONG. Hoje, a Abreci tem parceria

com a Comunidade Terapêutica Jeová-Nissi, em Vespasiano-MG, para onde são encaminhados pacientes envolvidos com drogas e que desejam o tratamento e a reabilitação. "Em mais de 20 anos participando de vários grupos e

entidades assistenciais, jamais vi igual à Abreci, que tem em seu quadro de voluntariado tantos profissionais liberais, graduados em diversas habilitações", fala Carmélia Felizardo Ribeiro. Ela própria passou por problemas graves e encontrou nessa ONG o

ANTONIO ELIZEU

Membro da ONG ABRECI, Adriana Cristina atua no atendimento e orientação aos dependentes químicos no São Gabriel

apoio e consolo para superálo, tornando-se então uma entusiasta colaboradora. AÇÕES A associação promove várias atividades, dentre elas, a Feira Solidária, com exposições pelos próprios artesãos do Bairro São Gabriel, oficina de pintura em tecidos, bonecas e sacolas ecológicas, o funcionamento do grupo da terceira idade 'Anos Dourados', e a promoção de palestras sobre temas relacionados à dependência química A médica Adriana Cristina Soares fez, em junho, uma longa explanação abordando vários tratamentos de dependentes químicos, suas conseqüências e evoluções. O encontro foi no salão da Igreja Batista localizada na Rua Nossa Senhora de Lourdes, no Bairro São Gabriel. A platéia foi composta por pessoas que já foram vítimas das drogas, mas que conseguiram se libertar e hoje trabalham para resgatar outras pessoas vítimas do mesmo mal. Segundo Adriana, a pessoa precisa de ajuda para sair

dessa dependência química. Ela destacou o fato de que os antidepressivos são drogas usadas nos tratamentos, aliviando os sintomas da doença acometida, de forma a melhorar o humor da pessoa. Contudo, vivemos numa sociedade que impõe a ditadura da felicidade total, como se fosse proibido ficar triste, chorar ou ficar angustiado, banalizando assim os medicamentos antidepressivos, que estimulam a alegria constante. A indústria farmacêutica induz a compra de determinados medicamentos, mas todos são igualmente efetivos, tendo vantagens e desvantagens, o que poderá ser avaliado pelo profissional da área. A Abreci quer ampliar a sua atuação com novos serviços para a comunidade. "Pretendemos instalar um 'telecentro' para o cidadão tirar suas dúvidas sobre contas de luz, telefone, água, INSS, dentre outros serviços de utilidade pública, necessitando de equipamentos próprios", anseia Cleone de Lourdes Guimarães, psicóloga.


12 Cidadania • Cultura

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Setembro • 2008

CASA DE PROTEÇÃO PARA JOVENS A Casa Dom Bosco atende adolescentes do sexo masculino, com idade entre12 e18 anos, que estejam em situações de risco, como falta de moradia e envolvimento com tráfico de drogas YONANDA DOS SANTOS

dade.

n LORENA KAROLINE MARTINS, RENARD VASCONCELOS , 3º PERÍODO

“Para fazer entrevista, tem que pagar R$1”, brinca Ricardo Bernardino de Jesus, 15 anos, um dos dez educandos do Centro de Passagem Casa Dom Bosco, localizado no Bairro Ipiranga, Região Nordeste de Belo Horizonte. Ele conta que fugiu de casa e ficou cinco meses na rua, cheirando cola. Hoje, há quase quatro meses no abrigo, ele gosta de jogar bola, nadar e não pensa em voltar para casa. O Centro de Passagem é um programa de abrigo que, no Estatuto da Criança e do Adolescente, é considerado como uma medida de proteção. O Centro atende adolescentes do sexo masculino, de 12 a 18 anos que estejam em situação de risco. “Antes, muitos meninos tinham como situação de risco o fato de morarem nas ruas, pedindo dinheiro e trabalhando no sinal. Hoje, a situação já é outra, geralmente são meninos ameaçados, envolvidos com o tráfico de drogas e atos infracionais”, conta Sandra Regina Ferreira Barbosa, 45 anos, assistente social e coordenadora da Casa Dom Bosco há 11 anos.

No Centro de Passagem, Bernardino recebe abrigo e desenvolve diversas atuvidades com instrução dos educadores Esses adolescentes são encaminhados para o centro por meio do Juizado da Infância e Juventude, do Conselho Tutelar e do Programa Miguilim, um projeto da Prefeitura de Belo Horizonte que beneficia crianças e adolescentes moradores das ruas da capital. A Casa Dom Bosco conta com duas unidades. Uma localizada no Bairro Ipiranga, chamada Centro de Passagem, que atende até 15 garotos que podem

permanecer no local por um período de até três meses. “Esse tempo serve para identificar o problema do garoto. Se ele não for de Belo Horizonte, o transferimos para seu município e, em certos casos, encaminhamos para a outra unidade da casa, na qual poderá permanecer durante um ano”, explica a coordenadora. Segundo Sandra, 95% dos jovens que chegam até o abrigo estão envolvidos com drogas e muitos desses

estão em Belo Horizonte porque foram ameaçados na sua cidade de origem e geralmente não podem voltar. Ao ingressar no centro, os educadores identificam a situação do adolescente, tentam localizar a família e fazer contato com o Conselho Tutelar de sua cidade, caso não sejam da capital. Sandra conta que, no ano passado, dez jovens que passaram pela casa voltaram para o tráfico de drogas e se envolveram novamente com a criminali-

A CASA O trabalho, que existe há mais de 20 anos, é uma obra da inspetoria São João Bosco, pertencente a ordem dos Salesianos e conveniados com a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social. O Centro de Passagem recebe R$18.900 por mês, empregados nas despesas de 15 meninos. Além disso, o abrigo recebe também doações de entidades privadas. Hoje, a equipe do Centro de Passagem conta com 15 educadores e duas coordenadoras. Segundo Sandra, três educadores foram meninos de rua e hoje trabalham no local educando outros garotos. Como é apenas uma medida de proteção, os educandos do Centro de Passagem podem sair sozinhos durante o período da tarde, de segunda à sextafeira. “A casa de passagem não é um centro de internação por isso não são privados de liberdade” , explica a coordenadora. Por mais que haja fiscalização do Centro, existem jovens que ainda são envolvidos na rua com algum tipo de droga. “Sabemos que eles não vão largar as drogas da noite

para o dia, mas aqui dentro da casa não pode”, explica. ROTINA Durante as manhãs, o Centro promove um momento espiritual chamado “Bom Dia”, destinado à reflexão, sem interesse em catequizar ou doutrinar os educandos. Após ajudar na limpeza da casa, eles têm as oficinas de informática, praticam esporte, fazem artesanatos e discussões sobre o uso de drogas. No Centro de Passagem os garotos não estudam, porque “não ficam aqui por muito tempo, então o centro matriculava o garoto na escola, mas daí há três meses ele tinha que sair. A escola não aceitava isso”, diz a coordenadora. Iracema Santos Medrado, 30 anos, é professora de informática do local há cinco anos. Ela conta que a aula de informática “serve como complemento para o menino não ficar ocioso”, já que, pelo pouco tempo de permanência do local, a matrícula na escola não era possível. Sandra diz que no centro há jovens que estão com 16 anos e não sabem nem ler e escrever e, por isso, em breve os educadores iniciarão um método para alfabetizar os alunos em três meses, tempo que um educando permanece na casa.

FREDERICO PENA

A aluna Juliana Cristina da Silva, do 3° período do curso Comunicação Integrada da PUC Minas São Gabriel, foi a terceira colocada no concurso "Comunicador do Futuro" com a matéria publicada abaixo. O concurso, promovido pelo Governo de Minas, foi realizado no final do semestre passado. Juliana foi premiada com R$ 2 mil reais, além de garantir sua participação em uma expedição pelo Rio São Francisco e um diploma. Segundo a aluna, o tema da matéria foi proposto pela organização do Concurso, mas ela teve a liberdade para dar ênfase à cultura e a aspectos ambientais daquela região.

Carrancas contam a história dos ribeirinhos do velho Chico Curupan, Salaô, Jerome, Muturãn e Muanê são algumas das carrancas do Rio São Francisco, esculpidas por Francisco Guarany, considerado o mais importante carranqueiro do Vale do Rio São Francisco, falecido em 1985. As carrancas ficavam na proa das barcas, embarcações onde trabalhavam os remeiros. Eles acreditavam que elas protegiam as embarcações contra os maus presságios e seres mitológicos. Com a substituição das barcas pelos navios a vapores, as figuras esculpidas com traços de animais e humanos, características peculiares das carrancas de Pirapora, passaram a ser utilizadas somente como objetos de decoração de casas e escritórios. A navegação no São Francisco sofreu rigorosa redução devido à implantação do transporte

rodoviário, à construção das usinas hidrelétricas que reduziram consideravelmente o volume de água, além do assoreamento, que arruinou muitos trechos do rio, extinguindo assim a profissão dos remeiros. ADAPTAÇÃO De acordo com o antropólogo Zanoni Eustáquio Roque Neves, natural de Pirapora, Região do Médio São Francisco, a cultura é dinâmica e os ribeirinhos adaptaram-se às transformações culturais ao longo do tempo, criando condições para sobreviver. “Novas tecnologias, novas formas de organização social, favorecem a adaptação e a transformação da realidade sociocultural”, completa Neves. O piraporense realizou diversas pesquisas sobre a região sanfranciscana e revela que ama a terra

natal, mas que esse fato não interfere nas pesquisas que realiza sobre Pirapora e região. “É necessário certo cuidado para que as relações afetivas não interfiram nos estudos, que devem ser conduzidos com o máximo de objetividade”, argumenta o pesquisador. Zanoni relata que, para efetivar suas pesquisas sobre o trabalho dos remeiros, contou muito com a memória deles, que na época já exerciam outras profissões. “A metodologia de pesquisa em Ciências Sociais fornece ao pesquisador um instrumental que lhe permite superar alguns obstáculos como, por exemplo, o etnocentrismo, a idealização do passado, etc., muito presentes no discurso dos informantes. É evidente que a objetividade plena e total é difícil de ser alcançada, mas fazemos um esforço para produzir um conhecimen-

Os ribeirinhos acreditavam que as carrancas protegiam as embarcações de maus presságios to imparcial”, Neves.

explica

MEMÓRIA O antropólogo discorre sobre a importância da preservação da memória social para a Ciência da História e para a Antropologia Histórica, para que as novas gerações conheçam o que foi realizado no passado para evitar a repetição de males e equívocos. “Uma sociedade sem conhecimento sobre o seu passado fica limitada em termos de aprendizagem. Como evitar novos genocídios contra os índios do São Francisco e de outras regiões sem uma reflexão sobre o passado?”, exemplifica. Zanoni Neves já escreveu vários livros sobre a região Sanfranciscana, entre eles, Navegantes da Integração: os remeiros do Rio são Francisco (1998, Ed. UFMG). Na carreira do

Rio São Francisco (2006, Ed.Itatiaia), além de escrever artigos para jornais e revistas científicas. Atualmente está organizando um Núcleo de Estudos do Vale do São Francisco que terá um espaço para exposição com acervo de peças artesanais, sala para palestras e outras atividades, com inauguração prevista para 2009. Segundo o antropólogo, para conter as conseqüências maléficas do progresso, é preciso que haja vontade política dos governantes e que esta só existirá quando a sociedade civil se organizar. “Os meios de comunicação e, sobretudo, o sistema educacional deverão ser sensibilizados para a educação ambiental. Certamente, as novas gerações de ribeirinhos estão tendo informações sobre os ecossistemas sanfranciscanos que minha geração não teve.

Assim, acredito, mudanças substanciais estão em gestação”, conclui. De acordo com Jeter Jaci Neves, professor de lingüística da PUC Minas, os seres fantásticos que habitavam o “Velho Chico” e assombravam o espírito dos remeiros e ribeirinhos não eram o verdadeiro inimigo a ser temido e esconjurado. “Quem sabe esses fossem até mesmo seus deuses tutelares - aqueles que cuidam do rio: de suas águas e de seus filhos, os frágeis seres que o habitam e que fazem sua beleza infinita. Seu verdadeiro inimigo era o bicho-homem, esse que devastou suas matas ciliares, meteu-lhe fogo, assoreou-lhe o leito, caçou-lhe os bichos de todas as cores e formas e pescou-lhe predatoriamente seus filhos muito amados, todos os peixes”, profetiza o professor.


Comportamento Setembro • 2008

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DETENTAS SÃO LIVRES PARA ESTUDAR Quatro mulheres que cumprem pena por tráfico na Penitenciária Estevão Pinto superam obstáculos, diariamente, para fazer curso superior no Izabela Hendrix, concretizando os sonhos YONANDA DOS SANTOS

n ALINE SCARPONI, IZABELLA LACERDA, STEFÂNIA AKEL,

drix, explica que, após tomar conhecimento da falta de estrutura encontrada por essas detentas para estudar, o grupo teve de buscar uma solução. "Eles dão todo o apoio nesse momento intermediário, oferecendo passagem, lanche. E a instituição está oferecendo as bolsas de estudos. O nosso compromisso tem sido esse", esclarece. "A gente estudou durante mais ou menos um mês, mas estudamos muito", lembra Jeniver, aprovada para o curso de Administração e que garante estar disposta a superar todos os problemas para conseguir estudar. Para ela, o vestibular é só o começo. Jeniver conta ter planos para o futuro. Após cumprir sua pena e concluir o curso, ela pretende fazer pós-graduação em comércio exterior e um curso complementar de inglês.

2º PERÍODO,

CINTIA REZENDE, 7º PERÍODO

Sem transporte oficial e sem dinheiro para pagar passagem, Jeniver Cristina da Silva, de 24 anos, se viu obrigada a percorrer a pé os cinco quilômetros que separam a Penitenciária Industrial Estevão Pinto (PIEP), no Bairro Horto, na Zona Leste da capital mineira, até o Centro Universitário Izabela Hendrix, na região da Praça da Liberdade, para iniciar seu curso superior de Administração. Ela é uma das quatro detentas aprovadas no processo seletivo do segundo semestre de 2008 dessa instituição de ensino e têm enfrentado e superado uma série de problemas práticos com materiais escolares, transporte e alimentação para concretizar o sonho de estudar. Como solução provisória para esses obstáculos, o Grupo de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade, que trabalha junto a PIEP há três anos, tomou a frente da situação. Virgílio de Mattos, coordenador do Grupo, informa que não houve nenhuma participação da Secretaria de Defesa Social do Estado em todo o processo. A professora Genilma Boehler, coordenadora de Direitos Humanos e professora do Instituto Metodista Izabela Hen-

APOIO Para que as detentas pudessem iniciar as aulas, foi necessária uma autorização judicial, uma vez que nem todas se encontravam em regime semi-aberto. "A participação do Juiz das Execuções Criminais da Capital, doutor Herbert Carneiro, foi decisiva para que pudessem fazer o concurso do vestibular e agora assistirem às aulas", explica Virgílio de Mattos. Todas as detentas se inscreveram para os cursos matutinos. Entretanto, o curso de Fisioterapia não

mas usuária. "Eu nunca tive envolvimento diretamente com o tráfico. Eu era usuária. Estava com uma pequena bucha de maconha e quatro pedras de craque", relata.

Mesmo cumprindo pena, Beliza tem a oportunidade de freqüentar às aulas fechou turmas para o turno da manhã, o que obrigou a aluna Beliza da Costa Correia, 22 anos, aprovada em 4° lugar, a esperar por uma autorização especial do juiz para que pudesse estudar no período da noite. Como ela tem de retornar à Penitenciária Estevão Pinto depois das aulas, foi preciso que seu pai e irmão se comprometessem diante do juiz a buscá-la todos os dias no centro universitário, o que vem sendo cumprido. "É uma coisa muito bonita. A gente percebe que nesse intuito, a idéia é de inserir, incluir uma pessoa que está absolutamente excluída. O interessante é perceber que a educação superior significa abrir um outro horizonte de possibilidades de reinclusão social, e abre outras possibilidades de

Livro de MV Bill aborda vida de mulheres ligadas ao tráfico tinha que ter uma continuidade. A partir das mais de 90 horas de filmagens, além de um vasto material em áudio, foi feita uma releitura do papel da mulher na história. Assim como na sociedade, no tráfico a mulher também encontra o preconceito. "Quem aceitaria ser comandado por uma mulher?", questiona o rapper. Mas se em vários setores a mulher vem conquis-

NDA

DOS

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t a n do seu lugar, nas favelas não poderia ser diferente. "É uma ascensão contrária, paradoxal, dentro de uma tragédia, mas dentro daquele mundo isso é uma ascensão. E a exemplo de outras (mulheres), outras posições, outros lugares, ela não é aceita. Ninguém aceita ser comandado por mulher. Mas ela tem que impor sua força através do que o tráfico permite a ela, a força pelas armas de fogo", afirma MV Bill. "O conteúdo desse livro pode chegar a qualquer lugar e pode contribuir de várias formas para várias pessoas. Agora, eu não tenho a pretensão de mudar, com uma obra de literatura, o que foi estabelecido em 500 anos dentro do nosso país. Acho que é uma pequena ontribuição. Acho que a mudança vai ser feita através do coletivo, da mobilização de todos", acrediMV Bill: mudança virá com mobilização ta o rapper.

YONA

Apesar de ser uma atividade predominantemente masculina, o tráfico também exerce influência nas mulheres, pelo o que é mostrado em livro por MV Bill e Celso Athayde, “Falcão - Mulheres e o tráfico”. Na obra, os autores contam histórias de mulheres que pegam em armas e comandam bocas de fumos em favelas do Brasil. "O tráfico é uma questão altamente masculina, na maneira de se levar. Mas é impossível uma movimentação de tráfico de drogas sem a presença de mulheres, fazendo algum tipo de coisa, algum tipo de papel. E são essas coisas que a gente traz no livro", relata MV Bill, em entrevista ao MARCO. O tema, de acordo com o rapper, foi um caminho natural a ser percorrido, tendo em vista que os protagonistas do livro Falcão - Meninos do Tráfico, em sua maioria morreram, e a história

solidariedade, porque pessoas se juntam nesse processo", afirma Genilma. Assim como a maior parte das mulheres reclusas na Penitenciária Estevão Pinto, as detentas que hoje estudam no Izabela Hendrix também estão cumprindo penas por envolvimento no tráfico de drogas. Condenada a três anos de detenção, Jeniver afirma que foi apresentada às drogas por pessoas de seu bairro em um período difícil de sua vida, quando havia perdido seu emprego. "A situação financeira foi apertando e as latas ficando vazias. O que apareceu na hora para garantir a minha sobrevivência foi o tráfico. Eu passei então a vender drogas", conta. O caso de Beliza foi diferente. Condenada a nove anos de prisão, ela afirma que não era traficante,

VESTIBULAR Com apenas um mês para se prepararem para as provas e com uma rotina diária de estudos, as cinco detentas da PIEP tiveram de vencer obstáculos para já participarem do processo seletivo do Centro Universitário Izabela Hendrix. As quatro aprovadas estão cursando, desde o início de agosto, Administração, Enfermagem e Fisioterapia. Para as detentas, até a ida ao centro universitário para a prova do vestibular significou uma grande alegria. "A gente estava no mesmo carro. Nós vimos coisas que não via há muito tempo. Passamos pela Andradas e notamos que o Arrudas está coberto. Fomos relembrando e, ao mesmo tempo, observando cada detalhe", comenta Beliza. Ela afirma que mesmo tendo estudado muito, ficou nervosa no dia da prova. "Nossa, eu passei mal e tive náuseas. Eu fiquei a noite toda acordada. Sentei nesse banco aqui (na penitenciária) e disse: eu não vou! Não vou, não vou!", relata. Genilma diz que o vestibular foi um processo legítimo, uma vez que as detentas fizeram a mesma prova que os outros can-

didatos. "A única diferença foi que nós oferecemos uma sala separada, porque vieram com escolta. A escolta ficou no corredor, enquanto nós fiscalizamos a prova. A sala específica foi um pedido do próprio juiz", explica. A professora conta ainda que desde que as aulas começaram não houve nenhuma reclamação por parte dos colegas nem das detentas. Participativas, elas têm se empenhado para se integrarem à rotina de estudos e ao ritmo da sala. "Até o momento não tivemos queixa nenhuma, nem delas nem de ninguém aqui no centro universitário. Elas têm sido participativas, têm dado retorno e também, aqui para nós, elas não são vítimas. A gente tem procurado conversar isso com elas. São alunas como quaisquer outras aqui dentro e fazem parte dos processos como outras alunas", esclarece. Ainda de acordo com Genilma, por meio dessa iniciativa o Instituto Metodista Izabela Hendrix está contribuindo para uma sociedade mais inclusiva e humana, minimizando a violência e o tráfico de drogas. "Sabemos que tudo isso é um grande risco, mas a vida é um grande risco. E se nós não nos arriscarmos, como é que vamos fazer a diferença?", indaga.

Envolvimento com drogas é comum entre maioria das presas Tudo começou quando o namorado de Silvana Cristina Resende Faria, 40 anos, lhe ofereceu maconha pela primeira vez. Depois veio o contato com o crack. "A partir daí fiquei escrava da droga", relata. Silvana, que era dona de uma loja de bijuterias, conta que passou a fazer pequenos roubos em estabelecimentos para sustentar seu vício. "Cheguei a roubar o capacete do meu cunhado. Minha família não acreditava nisso", desabafa. Há sete meses cumprindo pena na Penitenciária Industrial Estevão Pinto (PIEP) por ter sido pega roubando para sustentar o vício, ela acredita que os problemas sofridos na infância ajudaram-na a se envolver com o tráfico, e que, por isso, hoje mantém um diálogo

franco com suas três filhas. "Eu sempre conversei muito com minhas filhas. Acho que devemos sempre falar a verdade com os filhos", diz. Grávida, Taissiani Amâncio Lopes, 18 anos, mãe de duas filhas, está há oito meses na penitenciária, após ser abordada pela polícia com uma amiga que portava drogas e que a acusou de ser a dona do produto. Próximo do nascimento de seu filho, ela relata a preocupação com o futuro das suas filhas. "Tenho medo das minhas filhas se envolverem e correrem o risco de serem presas ou mortas por estarem devendo", revela. Diretora da PIEP, Isnáia da Silva Gomes conta que a maioria das mulheres que cumprem pena no local possui histórias de vida parecidas. "Noventa por cento estão presas devido ao

envolvimento com o tráfico de drogas", confirma. Chefe de produção da penitenciária, Paula Simone Viana de Medeiros diz que no local existe a preocupação com o processo de ressocialização das detentas, por meio da ocupação e da geração de renda destinada às famílias. Após pesquisa que revela o interesse das detentas quanto à realização das atividades, elas são escolhidas para desenvolver as funções de confecção de uniformes, fabricação de bijuterias, fôrmas para bolos, artesanatos e fabricação de bandeiras para as festas juninas. Paula conta que a cada três dias de atividades, desconta-se um dia de pena. Para participar da seleção é exigido que as mesmas estejam estudando regularmente. "Só pode trabalhar quem está estudando”, explica.


14 Comportamento

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Setembro • 2008

ALUGUEL DE LIVROS NA SALA DE CASA A locadora de livros “Expresso Cultural”, situada dentro da casa de Teresa Maria de Castro, disponibiliza a um preço acessível obras raras e lançamentos aos clientes leitores da região n LORENA KAROLINE MARTINS, RICARDO MALLACO, 3º E 2º PERÍODOS

“O que me levou fazer isso foi o amor pelos livros”, diz Teresa Maria Delazari Telles de Castro, 56 anos, sobre o Expresso Cultural, uma loja de aluguel de livros improvisada na própria sala de sua casa, localizada no Bairro Santa Mônica, na Região da Pampulha, Zona Norte de Belo Horizonte. A loja possui cerca de quatro mil livros, em prateleiras separadas por literatura brasileira, estrangeira e infanto-juvenil, organizadas por ordem alfabética de autor. O valor da locação do livro por um período de quinze dias varia entre R$5,00 e R$7,00 para lançamentos. O “Expresso Cultural” possui 1200 clientes cadastrados, sendo que 30% desse número são clientes fixos, ou seja, aqueles que são freqüentes e conhecem o acervo. É o caso da psicóloga Maria do Rosário Araújo Trindade, 50 anos. Ela conta que acompanha o trabalho de Teresa desde o

início, em 2000, e acha “extremamente cômodo a facilidade que esse tipo de prestação de serviço permite”. Segundo Teresa, “as pessoas preferem locar livros aqui a outras bibliotecas, pela flexibilidade de horário e pela variedade de livros contida no Expresso Cultural”. O técnico químico industrial, Carlos José da Luz, 50, é cliente há cinco anos e conta que locar livros no Expresso é melhor, porque o deslocamento até o centro da cidade requer muito tempo. A locadora funciona de segunda a sábado, das 8h às 19h30, porém, a maioria dos clientes do local são amigos da proprietária. “Os (clientes) mais conhecidos vêem a hora que podem, e quando tenho um compromisso e não estou aqui, deixo o livro reservado e meu marido entrega para mim. Com isso, mantenho a fidelidade do cliente”, conta. O Expresso Cultural recebe de cinco a dez pessoas por dia vindo geralmente de bairros vizinhos como Copacabana, Santa Amélia e São João Batista.

Porém, o movimento é maior no início das aulas e em épocas de vestibular, quando o local não consegue atender todos os clientes, fazendo com que alguns deles fiquem na lista de reserva. É o caso do estudante Bruno Garkauskas Neto, de 21 anos, que conta que a locadora sempre tem exemplares de livros pedidos pelas principais universidades de Minas Gerais, como UFMG, PUC e UFV. “Acho o Expresso extremamente importante porque aqui se encontram livros raros e lançamentos, e o aluguel é barato”, completa. HISTÓRIA Criado em 2000, o Expresso Cultural foi uma forma que Teresa encontrou de promover a leitura sem abrir mão dos seus livros. No início, ela resolveu concretizar a idéia do Expresso junto com um vizinho que possuía uma grande quantidade e paixão pelos livros. Hoje, parte do seu acervo é derivada de doações de alguns clientes que não possuem espaço em suas casas para guardar os livros. “À medida que o

cliente vai pedindo um livro, eu compro e assim o acervo vai aumentando”, afirma. Quando a aposentada abriu a locadora, seu filho, que na época era adolescente, estava desempregado e, na tentativa de lhe dar um serviço, buscava e levava os livros na casa dos clientes, daí o nome “Expresso”. Teresa lembra que com esse serviço não seria possível manter o valor da locação. “É muito dispendioso e não deu muito certo, porém, o nome ficou”, acrescenta. Em princípio, Teresa divulgou durante dois anos a locadora por intermédio do jornal que circula na Região da Pampulha e depois passou a ser de “boca em boca”. “As pessoas que ficaram conhecendo o meu trabalho falaram com as outras e é por isso que hoje eu tenho clientes de bairros mais distantes e de outras regiões”, afirma. “Meu amigo já alugava livros aqui, eu fiquei sabendo e contei para o meu pai. Agora, ele também traz meus irmãos para locar livros”, conta o estudante Luiz

Otávio Matias, 15 anos. PLANOS Ao ser questionada sobre abrir uma livraria, ela conta que nunca pensou sobre isso, mas, se fosse ter uma, seria na região em que mora, pois é muito precária de literatura. Receosa, Teresa confessa que tem “medo de investir em algo grande e depois não dar certo”.

Teresa está ampliando o local para abrigar todos os seus livros e pensa futuramente em voltar a divulgar o Expresso, após as reformas. Enquanto isso, a proprietária está satisfeita com o resultado do seu projeto e completa dizendo que “o retorno financeiro é baixo, mas é muito prazeroso”.

LORENA KAROLINE MARTINS

Maria Tereza mostra seu acervo, organizado nas estantes de sua residência

Restauração de fotos antigas eternizam histórias GUSTAVO ANDRADE

n DIANA FRICHE, LORENA KAROLINE MARTINS, 3º PERÍODO

Convivendo com diversas novidades tecnológicas existentes nos dias de hoje, Duílio Guerra de Figueiredo Júnior, 49 anos, mantém um trabalho de restauração não só de fotos, mas também de memórias. Há quinze anos, ele iniciou o seu trabalho, sendo uns dos percursores da técnica de restauração de fotografias em Belo Horizonte. Depois de cursar desenho na Escola Guignard, viu na restauração a possibilidade de unir a técnica da arte plástica com a fotografia. Atualmente, Duílio mantém seu trabalho na sua própria casa, localizada no Sion, Zona Sul da capital. Em princípio, sem a existência do computador, Duílio iniciou o seu trabalho artesanalmente, fazendo retoques à mão com o uso de tintas próprias para fotografia. Ele conta que mesmo com o uso do computador e dos programas digitais, as técnicas que aprendeu com o desenho

não foram descartadas. Duílio afirma que 90% de seus clientes são mulheres acima de 50 anos, que procuram seus serviços com o intuito não somente de reconstituir uma foto, mas sim de recompor sua história familiar. O restaurador acha a profissão muito prazerosa já que, por meio dela, conhece histórias de vida diferentes. “Senhoras de mais idade que não têm um círculo familiar convivendo em volta dela entram numa nostalgia de rememorar o tempo. Elas chegam aqui e falam muito pouco da fotografia e muito dos tempos antigos, da família, das avós”, afirma. Haydeê Carvalho Silva Telles, 92 anos, é cliente fixa de Duílio. Ela afirma que gosta do trabalho feito pelo restaurador, já que dessa forma suas futuras gerações podem ter conhecimento sobre seus antepassados: “Sempre levo fotos para o Duílio restaurar. Atualmente ele está trabalhando em duas fotos minhas”, diz. Haydeê revela que ainda não aderiu a fotografia digital por preferir as fotos tradi-

Duílio relembra os métodos de restaurar fotos, antes do uso do computador cionais. Geralmente, as fotos que chegam até o restaurador podem ser recuperadas por retoques manuais ou tratamento digital. O estado das fotografias varia muito e

algumas não podem ser recuperadas. “Quando constato que a foto não tem solução, eu digitalizo e guardo. Falo com a pessoa que até então não tem jeito, mas que mais para frente pode ter”, salien-

ta. Na maioria dos casos, as fotografias sofrem problemas relacionados a conservação, sendo danificadas por mofo, manchas e rasgos. Além de restaurar fotos, Duílio também faz digitalização e manipulação de imagens. Este é o serviço procurado pelo fotógrafo Odilon Araújo, 55 anos, cliente há sete. O fotógrafo utiliza os serviços de Duílio que, por meio de ferramentas digitais, faz retoques, painéis e montagens, acrescentando ou retirando partes da imagem. A tecnologia digital contribui para o trabalho de profissionais como Duílio. “O trabalho que antes demorava três dias para fazer hoje eu posso em fazer em três horas”, conta. Mas há pessoas que, mesmo com as facilidades que as novas tecnologias podem oferecer, preferem os métodos tradicionais, como a película fotográfica: “Há oito meses que passei para a máquina digital, isso porque não fabricam mais o filme que eu utilizo”, conta Odilon Araújo. “Sou romântico com foto. Tenho saudade da

película, mas tenho que me adaptar ao digital”, completa. Pessoas que como Odilon ainda não acostumaram com o digital, gostam do caráter palpável que a revelação proporciona. “Muita gente chega aqui reclamando que está cansado da fotografia digital, perguntando se eu tenho para vender aqueles álbuns com cantoneiras”, pontua Duílio. Duílio conta que recentemente um casal de idosos foi procurá-lo com uma pequena fotografia quase impossível de reconstituir, por estar cheia de furos de grampeador. Ao tomar conhecimento sobre a história da foto, o restaurador não mediu esforços para consertá-la: “A única coisa física que sobrou de toda história da família deles foi essa foto de dois centímetros. Então eu pensei que precisava fazer alguma coisa para ajudar e fiquei uns quinze dias até conseguir arrumar a foto. Eles chegaram, viram o serviço pronto e choraram”. Se deparar com histórias como esta é comum no cotidiano de Duílio.

Lojas de fotografias aderem ao formato digital As redes de fotografia existentes no mercado também começaram a fazer a restauração de fotos digitais. É o caso das lojas Retes, que divide as restaurações em grau de dificuldade: a complexa, que corrige problemas de maior

gravidade e a iluminação simples, para pequenas correções. O preço varia entre R$33 e R$75. Henrique Ranilfo, 19 anos, é vendedor da Retes da Rua Rio de Janeiro, Região Central de Belo Horizonte. Ele acredita que

a tecnologia digital está dominando o mercado, mas que ainda há compradores de máquinas analógicas e filmes fotográficos. “Enquanto existirem compradores, iremos continuar vendendo filmes e revelando-os”, diz.

O restaurador Duílio Guerra de Figueiredo Júnior, 49 anos, acredita que seu diferencial em relação às grandes empresas é o fato de ainda restaurar fotos manualmente, apesar de grande parte de seu trabalho ser feito de forma digital.

Em média, Duílio faz vinte restaurações mensais e o custo do serviço mais simples fica em torno de R$20. Duílio acredita que a fotografia de papel vai se tornar objeto cada dia mais precioso e raro: “Não sei o que vai ficar de memória da

família, já que quem tira fotos digitais não chega a mandar para o laboratório nem 10% do que fotografa. Acaba que se perde muita coisa digital, os CDs perdem a leitura muito fácil, aquilo não é permanente como os álbuns”, defende.


Esporte Setembro • 2008

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ATLETAS AMADORES FAZEM CARREIRA Corredores de rua conquistam espaço em competições profissionais, ganham incentivos como patrocínio, ingressam em equipes de clubes mineiros e alguns fazem do esporte sua profissão n AMANDA ALMEIDA, 8° PERÍODO

William Gomes de Amorim, 32 anos, já perdeu a conta de quantas corridas disputou em nove anos de atletismo. Já Bruno Franco Ricci Faria, 19 anos, sabe dizer com exatidão que participou de 19 corridas. Em momentos diferentes da vida esportiva, os dois têm em comum a paixão pela corrida de rua. Bruno correu pela primeira vez em 2005 na Volta da Pampulha. “Pode parecer bobo, mas eu achava bonito pela televisão cenas, como por exemplo, dos atletas pegando o copo de água dos apoiadores da corrida, enquanto estavam na disputa. Então, comecei a me interessar”, explica. O garoto conta que, antes de entrar para o universo das corridas, achava que só existia a Meia Maratona do Rio de Janeiro, a São Silvestre e a Volta da Pampulha. Após a primeira participação em uma corrida, Bruno se entusiasmou e procurou se inteirar do assunto. Pesquisou na internet e entrou em redes virtuais, como comunidades de pessoas que correm do site de relacionamento Orkut. Através do site, descobriu que existem várias corridas menos divulgadas em Belo Horizonte. Bruno começou, então, a treinar por conta própria. Inscrevia-se nas corridas e largava atrás, sem treinador. Durante todo o ano de 2007 teve que abandonar as pistas por conta de um problema de saúde, fez uma cirurgia e precisou se recuperar. Mas Bruno não desanimou e voltou a participar das corridas em 2008. “Esse ano, eu estou ligado a todas”, conta animado. Prova dessa animação é a iniciativa de Bruno em levar uma proposta de patrocínio na empresa em que trabalha. “Expliquei para eles que eu participa-

va de corridas e poderia divulgar o nome da empresa. Eles toparam”, relata. O próximo passo é arrumar um treinador. “É muito difícil melhorar o tempo sem treinador”, diz Bruno que tem como meta um pódio por mês. Ele se enquadrada na categoria de iniciantes. Mas considera a corrida mais que uma brincadeira. “Para ser profissional tem que viver para isso. Não faço isso, mas a corrida também não é apenas um hobby para mim”, explica. De fora da paixão nacional, Bruno prefere disputar uma corrida a jogar futebol. Bruno também incentiva os amigos a correr: três já começaram por causa dele. Foi também a partir de um incentivo que William Gomes de Amorim começou a correr no final de 1999. Ele trabalhava em uma construção como servente de pedreiro. O responsável pela obra era atleta de corrida e o chamou para correr também. "Ele falava que eu tinha um estilo de queniano e que poderia ter sucesso nessa caminhada", conta. Willian tinha 24 anos na época e nunca tinha pensado em ser atleta. Após a primeira corrida, ele se animou e passou a disputar várias corridas. Em 2003, começou a se destacar no cenário do atletismo e largou todas as outras atividades para se dedicar aos treinamentos e competições. "Como profissional, dá para ganhar a vida no atletismo. Mas tem que incorporar mesmo, dedicação total", adverte. Seu objetivo agora é chegar à próxima São Silvestre.

DESTAQUE Natural de São Paulo, mas residente em Formiga desde os três anos, Andréia de Lima vem conquistando espaço no atletismo mineiro e nacional. Ainda criança, Andréia já se destacava nos esportes que praticava na escola. Influenciada por um tio que era corredor

profissional, ela começou a correr aos 16 anos. “No início, eu só corria lá na região: Formiga, Divinópolis, Campo Belo”, detalha. A atleta parou sua promissora carreia esportiva aos 18, quando se casou. Aos 23 anos, após ter duas filhas, Andréia retomou a carreira. “Meu marido não gostava que eu corresse de jeito nenhum. Mas não tenho outro jeito: eu gosto. Estou na batalha com ele até hoje”, ri do caso. Segundo a atleta, seu primeiro passo para a profissionalização foi disputar corridas em Belo Horizonte. "Porque aqui a gente quer crescer mais. Lá a gente está naquele mundo pequeno, ganhando todas as corridas. Lá você está bem; agora, quando você vem para cá, o nível é outro", justifica. A atleta conta que percebeu que era preciso melhorar e investir em treinamentos para disputar na capital mineira. Nessa época, então com 23 anos, Andréia trabalhava como empregada doméstica em

Formiga. Como começou a se destacar em Belo Horizonte, resolveu largar o emprego e se dedicar apenas à corrida. "Porque eu ia à uma corrida e o dinheiro que eu ralava o mês inteiro para ganhar, às vezes eu vinha à uma corrida e ganhava o dinheiro do mês todo", relata. O próximo passo para a profissionalização, segundo a atleta, foi entrar para a equipe do Cruzeiro. A atleta ficou três anos na equipe, hoje ela compete pela equipe da Cultura Inglesa. Ainda, assim, continua morando em Formiga. "O pessoal até acha que eu moro aqui, porque todo fim de semana eu estou aqui disputando corridas. Formiga fica a três horas e meia daqui", explica. O responsável pela preparação da equipe manda o treinamento por e-mail. Além disso, Andréia é avaliada nas corridas e, em algumas épocas do ano, fica em Belo Horizonte para treinar com a equipe. Após percorrer todo o caminho da profissionali-

AMANDA ALMEIDA

Bruno Franco, animado com o esporte, conseguiu patrocínio onde trabalha

zação, Andréia explica como funciona uma corrida. Segundo ela, as categorias de uma corrida servem como um incentivo aos atletas que disputam sem um compromisso profissional. “As pessoas mais velhas, por exemplo, têm que ter uma motivação para participar. A categoria por idades é uma boa justificativa”, relata. Andréia acredita que o mesmo acontece para os iniciantes. Quando

eles sobem no pódio por alcançar um bom tempo para a sua idade, querem disputar mais vezes. A atleta deseja que o atletismo seja mais divulgado para atrair mais esportistas. “Não há muito interesse em incentivar os atletas, principalmente em um esporte pouco popular como é o atletismo. Mas eu nunca desisti”, incentiva Andréia.

Trajétoria marcada pelo esforço e sorte Quando era criança, Flávio Augusto Pessoa Vianna, 27 anos, achava que seria jogador de futebol. Ele chegou a quase se profissionalizar. Até que por determinação do pai teve de escolher entre a faculdade e o esporte. Flávio, então, fez a opção pelo curso de Educação Física. Arrumou um estágio em uma academia de musculação e novamente se viu envolvido com o esporte. "Meu monitor, a pessoa que me orientava lá, disputava corridas e sempre me chamava para treinar", lembra. Em uma das Voltas da Pampulha, Flávio topou a proposta do monitor, conseguiu um patrocínio e correu com ele. O curioso é que Flávio ficou na frente do amigo que já corria. "Então, todo mundo riu da cara dele e eu comecei a treinar mesmo", conta. Flávio agora se dedica à corrida de aventura. "Infelizmente essa modalidade ainda não é conhecida", lamenta. Corridas de aventuras são competições que envolvem várias modalidades de esportes de aventura. As mais comuns são: trekking (caminhadas em trilha), moutain bike (trecho percorrida em bicileta), canoagem (trechos em rios, mar ou lagos em canoas, caiaques ou balsas) e atividades verticais (tirolezas, ascenções e rapéis). Em geral, são realizadas em ambiente natural e têm como característica um funcionamento complexo, tanto na organização dos

eventos como na formação e preparação das equipes. A organização do evento oferece mapas e cartas topográficas com o trajeto a ser percorrido. As competições podem durar algumas horas ou vários dias. Em muitas provas, é somente a menor parte das equipes inscritas que consegue completar a prova. As equipes são formadas por homens e mulheres. Normalmente, os competidores navegam de dia e noite, ao ritmo decidido pela equipe. "O diferente da corrida de rua é que conta mais a resistência do que a velocidade. A gente tem que superar os limites físicos, psicológicos e as surpresas da natureza", observa. A primeira equipe completa que cruzar a linha de chegada é a vencedora. Ainda que se dedique à corrida de aventura, Flávio continua correndo na rua. "Meu foco é a aventura. Uso a corrida de rua para treinar", explica. O atleta relata que tem um tempo bom para um amador, mas não chega a um tempo profissional. Ele trabalha também como treinador de corrida de rua. "Não dá para viver só de corrida de aventura. Porque, como é uma modalidade desconhecida, dificilmente conseguimos patrocínio", pontua. Flávio considera que o atleta profissional é aquele que consegue se sustentar apenas com o dinheiro que ganha com as disputas.

Bailarina mineira se destaca em dança no exterior n LUÍZA SERRANO 2ºPERÍODO

Pernas alongadas, pés calejados em função dos longos ensaios, corpo magro e definido para suportar as belas coreografias executadas nas pontas dos pés. Essas são algumas características da bailarina Luiza Viana, de 15 anos, que embarcou recentemente rumo ao seu grande sonho: dançar no exterior. A realização deste desejo foi como uma recompensa para a jovem

artista, após todos os anos de dedicação e entrega ao balé clássico. Luiza nasceu em Belo Horizonte, e até um mês atrás residia com seus pais e sua irmã no Bairro Floresta. Influenciada pela primogênita da família, a jovem bailarina começou a dançar ainda criança, praticou sapateado, jazz, até encontrar a sua verdadeira paixão: o balé clássico. "Sempre foi uma aluna dedicada e disciplinada", relata sua professora e coreógrafa Renata Araújo. Quando questio-

nada sobre sua dura vida de ensaios que ocupam a maior parte do seu tempo, Luiza diz: "Hoje, me dedico à dança, ela está em primeiro lugar. Mas isso não significa que eu não tenha uma vida fora dela, saio com minhas amigas e com minha família normalmente". Em 2007, ela foi recompensada por todo seu esforço. Ao participar de uma seletiva de nível internacional no Brasil, o Grand Prix, a bailarina foi selecionada para participar da etapa realizada em

Nova York. Ao chegar aos Estados Unidos, Luiza concorreu, através de uma audição, a uma vaga para bolsistas na escola Harid Conservatory, uma conceituada instituição de ensino de balé na Flórida. Renata, que a acompanhou, conta que ficou tão ansiosa quanto a candidata.“Sempre que dava olhava pela janelinha da porta para saber como ela estava indo", revela. Após a concorrida vaga para selecionar os bolsistas, Luiza teve a resposta que significava todo o seu esforço,

ela era um dos escolhidos para ficar três meses na escola. Passada a temporada no Harid, a bailarina regressou ao Brasil, porém sabia que iria voltar para concluir a sua formação como bailarina clássica. Durante três anos, ela irá integrar o seleto grupo que compõe a escola. "O que eu mais quero é seguir essa carreira, quero dançar até sentir que meu corpo já não pode mais agüentar a dura rotina de ensaios. Esse é apenas o início de

um sonho, desejo ir para as grandes escolas da Europa, onde a dança é realmente valorizada. Pretendo voltar ao Brasil para passar as férias, provavelmente nos meses de dezembro e julho. A arte da dança em nosso país ainda é pouco reconhecida, e conta com um incentivo mínimo. Conheço bailarinos brasileiros fantásticos, mas que assim como eu, acreditam que para seguir essa profissão, o exterior é a melhor saída", comenta.


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Malco Braga Camargos

Entrevista

PROFESSOR DE CIÊNCIAS POLÍTICAS jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas.jornalmarco

n A política ainda é considerada muito distante das pessoas. Como podemos tornar a política mais atraente para o cidadão comum? Quanto mais o cidadão perceber o resultado das ações da política, mais ele vai participar. Então, se as pessoas perceberem uma inoperância do sistema, tende-se que se distanciem os eleitores dos representantes. Quanto mais você perceber que a partir da sua participação você tem resultados disso, mais você tem incentivos para participar. Então a palavra chave é resultado. Mais resultados, maior participação. Menos resultados, menor participação. n Os escândalos políticos, principalmente nos últimos anos, têm afetado essa participação popular? Escândalos políticos sempre tiveram. Eles não ficaram maiores nos últimos anos. E a participação sempre esteve no nível que está hoje. As pessoas ficarem sabendo dos escândalos até tem um lado positivo, porque elas podem refletir mais sobre o seu comportamento e, a partir daí, tomar decisões mais sérias quanto à política. Quando você não ficava sabendo de escândalos, você não tinha capacidade de avaliar se aquelas pessoas que você escolheu estão envolvidas ou não com escândalos, e isso pode aprimorar o voto. Então, ficar sabendo de escândalos faz com que se preste mais atenção e não reeleja pessoas envolvidas em escândalos. n Mas o senhor considera que os eleitores têm memória curta? Não os eleitores, mas o ser humano tem memória curta. Se seu namorado te trai, depois você o perdoa também. Então você não pode querer com um ato negativo de um político dizer que isso é culpa da política. As pessoas têm a capacidade de perdoar, e ainda bem que é assim. Você é capaz de reavaliar posições e resultados e, a partir daí, tomar novas decisões. Então ,as pessoas têm memória para a política igual têm para as outras coisas, nem mais nem menos. n E qual o senhor acha que é a melhor maneira do cidadão cobrar mais respeito na política? Participando mais. Quanto mais ele participar, mais ele pode cobrar. E ele é convocado a participar de quatro em quatro anos. Caso ele não participe do processo durante três anos e meio, nos últimos seis meses ele é convocado quando a eleição chega até ele através da mídia. Ela chega até a casa dele pelo horário gratuito. Então, ele reflete sobre ela e depois toma sua decisão. Nessa decisão, ele pode punir maus representantes e premiar bons representantes. n O senhor considera que a impunidade seja um estímulo para a corrupção na política? Sem dúvida. Instrumentos de coerção e de fiscalização devem ser aprimorados no país. Então, o Judiciário, o Legislativo e o Executivo têm que ser mais ágeis tanto na apuração, quanto na punição em relação aos desvios políticos. É importante lembrar também que desvios de corrupção na política acontecem em todo e qualquer país. Todo e qualquer país tem corrupção. n Por que está havendo tanta impunidade? O senhor atribui isso a que? A impunidade ocorre, principalmente, devido ao fato de que as instituições políticas são muito corporativas ainda, muito preocupadas com seus próprios interesses e de seus pares. Então, sempre se preserva alguém, visando que você mantenha suas boas relações. Mas isso não acontece só na política. Acontece nos sindicatos, nas relações entre professores, entre alunos. Um aluno não denuncia o outro quando ele cola. Ele fica quieto, você vai proteger seus pares. Se um professor brigar com um aluno, todo mundo vai contra o professor. Assim como o professor também não fala mal de outro professor, mesmo sabendo que é um mau professor. Também o deputado protege outro deputado. Agora, o que é fundamental? Que as instituições tenham mais agilidade no processo de fiscalização e punição. Aí não tem espaço para o corporativismo. Se você consegue comprovar tudo, e os processos de punição não passam pelo julgamento dos seus pares e sim por leis que são mais claras nesses processos, aí a impunidade diminui. Não se pode deixar a cargo dos iguais julgarem seus iguais. n Como o senhor avalia o papel da mídia na discussão política? A mídia é fundamental para dar clareza ao eleitor dos caminhos percorridos pelos parlamentares e representantes durante o seu mandato. Então, a mídia que faz esse

DESAFIOS PARA A POLÍTICA ATUAL n ANA LUISA, STEFÂNIA AKEL, 2º PERÍODO CÍNTIA REZENDE, 7° PERÍODO

Retomar a confiança e a participação do eleitor é um dos maiores desafios da atual política nacional. È o que acredita o doutor em Ciências Políticas, Malco Braga Camargos. Nesta entrevista, o também professor da PUC comenta como é possível incentivar o cidadão comum a participar mais do processo político e a ter mais confiança em seus representantes. “Quanto mais o cidadão perceber o resultado das ações da política, mais ele vai participar. Então a palavra chave é resultado. Mais resultados, maior participação. Menos resultados, menor participação”, afirma Malco. Corrupção, impunidade e falhas nos instrumentos de fiscalização contribuem para o desinteresse da população em relação à política. “Instrumentos de coerção e de fiscalização devem ser aprimorados no país. O judiciário, o Legislativo e o Executivo têm que ser mais ágeis tanto na apuração quanto na punição em relação aos desvios políticos”, acredita o professor de políticas, Ciências Sociais Aplicadas e Políticas. Malco Braga Camargos vê a exposição de escândalo políticos pela mídia como um processo de amadurecimento da democracia que reflete em uma melhor escolha pela população dos seus representantes. “As pessoas ficarem sabendo dos escândalos tem um lado positivo, porque elas podem refletir mais sobre o seu comportamento e a partir daí tomar decisões mais sérias quanto á política. Então ficar sabendo de escândalos faz com que se preste mais atenção e assim não reeleja pessoas envolvidas em escândalos”, conclui. papel. Os eleitores mais interessados vão chegar ali sem depender da mídia. Vai ver a TV Senado, a TV Assembléia e, a partir daí, vai acompanhar os representantes. Mas quase nenhum de nós tem tempo, porque você tem que trabalhar, cuidar de menino, tem que tomar cerveja, tem atividades de lazer. E você vai ter que compartilhar isso com seu envolvimento com a política. Nós não temos tempo para ficar acompanhando CPIs, etc.. Mas a mídia tem o papel de resumir isso e trazer isso para o eleitor. E as diversas mídias, não só a mídia televisiva, mas a inter- Y net, os sites especializados, blogs, são todos canais de pessoas que têm interesse na política, mas que não podem ficar 24 horas ligadas, acompanhando o que acontece na política. A gente pede demais. Pedimos que o cidadão vá assistir sessões na Câmara dos Vereadores. ON

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bem que não brigamos mais por liberdade, porque temos liberdade.

n Então o senhor não vê isso como falta de iniciativa política dos jovens? Não, mas como resultado do processo de melhoras seletivas na democracia. Nós não temos mais que brigar por isso.

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n O senhor considera que a abordagem feita pela mídia é positiva? Depende dos interesses dos seus telespectadores e leitores. Se eles tiverem mais interesse sobre o tema, certamente ela vai cobri-lo. Na sua lógica de mercado ela age dentro do que cabe a ela mesmo.

Podemos brigar por outras coisas agora. Isso permite que o movimento Gays, Lésbicas, Simpatizantes, Trans e Bisexuais, o GLSTB, por exemplo, brigue por suas bandeiras. Ótimo, então o movimento hoje é casamento gay. Vamos brigar por isso. Agora, essa briga é de poucos. Briga por liberdade, todo mundo entra nela.

[ ] A IMPUNIDADE

n Que viés, então,

tem o envolvimento do jovem de hoje OCORRE PRINCIPALMENTE com a política? Dado o volume de DEVIDO AO FATO DE informação e a QUE AS INSTITUIÇÕES relação que ele tem POLÍTICAS SÃO MUITO com a mídia, ele tem n Mas em relação à polítiuma informação muica, isso é positivo? O CORPORATIVAS to difusa. O jovem cidadão se sente mais infornão tem uma linha mado ou ele tem a sende ação pela qual ele interessa. Eu acho sação de estar havendo mais escândalos? O cidadão tem a sensação de estar haven- que são muito poucos os jovens hoje do mais escândalos. Mas o cidadão ainda envolvidos com cultura, movimentos de não percebeu que o fato de ele ver mais arte, muito poucos assistem cinema alterescândalos é mérito das instituições nativo. Cada vez mais o jovem vai nessa democráticas. E não demérito dos gover- massificação do que vem pela mídia. É a nantes atuais, que são mais corruptos do internet, os blogs, o Orkut, que vêm trazendo informação nesse sentido. Então, que outros. o jovem vai ficando cada vez mais apolitizado, talvez pela relação que ele tem com n A que o senhor atribui a diferença do os meios de comunicação hoje. Isso me engajamento dos jovens da geração atual impressiona muito. Para vários dos meus em comparação com os jovens de 1968, alunos, o principal meio de informação por exemplo? Em 1968 você tinha uma bandeira muito são as mensagens por celular, as SMS. As mais clara, um resultado muito maior pelo operadoras mandam as informações e em qual lutar. Você lutava pela sua liberdade, quatro linhas eles ficam sabendo tudo o pela sua independência. Hoje, graças à que está acontecendo no mundo. Então luta deles, essa bandeira já está resolvida você tem informação de tudo, mas não para vocês. Qual é a grande causa do tem um foco de concentração. Eu acho jovem de hoje? Você não tem que discutir que isso atrapalha o jovem. Ele já lê o comunismo mais, isso não passa mais pouco, não lê literatura, não lê história. pela cabeça dos jovens. Você não tem que Ele está mais preocupado em ler Harry discutir o anarquismo mais, os movimen- Potter. Claro que não são todos os jovens, tos hoje são muito mais estéticos. Onde existem belíssimas exceções. Agora, a você freqüenta, com quem você anda, do maioria está indo por esse caminho. que o que você pensa do país que você quer viver. Mas por que isso acontece? n Qual o perfil do eleitor de Belo Porque as questões básicas foram resolvi- Horizonte? Porque aqui estão acontecendo das, felizmente. Então, hoje se permite coisas muito diferentes na política... que se façam movimentos estéticos. Ainda É, mas não é culpa do eleitor. A sucessão

de Belo Horizonte hoje, com o número de indecisos que está tendo, o eleitor esperando para ver e reconhecer os candidatos, passa exatamente por uma articulação que as elites fizeram. O eleitor foi deixado à margem desse processo. Os interesses do eleitor não foram considerados na hora de definir o processo eleitoral.

n O senhor acredita que uma reforma política possa ser a solução? A reforma política não vai melhorar, não vai resolver os problemas atuais. Não se resolve nada de uma hora para outra na política. Não é na caneta, numa reunião de elites, que você vai decidir o futuro do país em relação à política. Então a reforma política vai poder melhorar algumas fragilidades que nosso sistema eleitoral e político tem. Agora, resolver não vai, nunca. A gente vai melhorando continuadamente. E quando você melhora, aparecem novas demandas. Quando que se pensava que a gente teria, por exemplo, a Comissão de Participação Popular na Assembléia, na qual o cidadão pode ir lá e incrementar uma lei? Nunca. Isso é porque, com os avanços, essas coisas vão tomando mais corpo e a gente vai tendo novas demandas para a política.

n Mas a reforma política poderia aumentar a confiança dos eleitores em relação aos políticos? Mais do que confiança, a reforma política pode diminuir a incerteza da política. Porque hoje quando você vota em alguém, você não tem muita idéia do que ele vai fazer. O fortalecimento dos partidos políticos, que é a principal meta da reforma política, faz com que você tenha mais controle, mais esperança de que aquela pessoa eleita vai de fato trabalhar em relação àquilo que você acredita. Então o fortalecimento das instituições políticas é para que cada vez mais a política dependa menos de participações individuais das pessoas.

n Então como se pode ampliar a confiança do cidadão com a política? O envolvimento e a confiança vão aumentar na medida em que tivermos melhores políticos. Quanto mais nós desenvolvermos nossos políticos, e quem vai desenvolver não são eles, somos nós, filtrando bons políticos, a confiança aumenta. Quanto mais seguro você estiver da sua representação, mais tranqüilo você fica. Então, se você fica inseguro com ela, você tem que participar o tempo todo. Então isso vem com o tempo. Agora, é fundamental que a mídia, por exemplo, possa cada vez mais revelar as fragilidades dos nossos governantes, para que a gente possa tomar decisões confiáveis na hora do voto.

n Como o cidadão pode fiscalizar os políticos nos quais ele votou? É muito difícil. O que você tem que fazer é olhar o site do mandato dele, o que é um bom caminho, é fácil. Eu acho que têm órgãos de avaliação do trabalho de parlamentares, que também são muito legais. Tem o DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), tem o Transparência Brasil, que vai te falar quem está envolvido em escândalos e quem não está. A declaração de bens dos candidatos está disponível. Então, você pode sempre acompanhar isso. Agora, o cidadão vai ter paciência para isso? Vai ter vontade de fazer isso? Dificilmente. Nós temos tantos outros problemas, que a política é só um deles. Então, nesse sentido, o que eu recomendo ao cidadão para acompanhar é, principalmente na época de eleição, converse com as outras pessoas, veja o que o candidato já fez e pense se o que ele está propondo é de fato o que você quer. Não só para você. Pense na sua família, pense na cidade que você quer daqui a quatro anos, olhe para frente e avalie o seu voto hoje. Se você olhar só o curto prazo, o voto vale muito pouco. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) está sendo muito feliz nas propagandas que está fazendo. Aquela abelhinha que fica na cabeça do cara... É exatamente isso. O custo da baixa participação e da participação errada é muito alto, principalmente em relação ao tempo de resposta que você vai ter. É uma decisão que dura segundos para votar e depois você demora quatro anos pagando por ela.

n O que o senhor acha que o eleitor mais avalia na hora de decidir por um candidato? O eleitor é muito instrumental. Ele faz o cálculo de custo-benefício. E na hora que ele faz esse cálculo, ele pensa o que é melhor para a casa dele, a rua dele, a família dele. Então ele está preocupado com aonde ele vai ter mais retorno para aqueles mais próximos dele. Ou seja, o eleitor é extremamente egoísta no seu cálculo.

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