Jan/Fev/Mar - 2022 Nº 271 - Ano 49
O NOVO PATAMAR DA DEFESA AÉREA BRASILEIRA ENTREVISTA
REPATRIAÇÃO
F-39 GRIPEN
Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Luiz Rodrigues fala sobre interoperabilidade no âmbito do Ministério da Defesa
Em aviões da FAB, brasileiros e estrangeiros que estavam na Ucrânia retornam ao Brasil
Saiba como estão sendo os preparativos para a chegada das novas aeronaves de caça ao País
Aerovisão
Abr/Mai/Jun/2021
3 ARTE: Subdivisão de Publicidade e Propaganda / CECOMSAER
Plano de voo Suboficial Alexandre Manfrin / Agência Força Aérea
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Sargento Felipe Viegas / Agência Força Aérea
Edição nº 271 Ano 49 Janeiro / Fevereiro / Março - 2022
ENTREVISTA
O então Chefe de Logística e Mobilização do EstadoMaior Conjunto das Forças Armadas, Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Luiz Rodrigues, fala sobre interoperabilidade no âmbito do Ministério da Defesa e as expectativas com o novo cargo no Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE)
OPERAÇÃO REPATRIAÇÃO O alívio e a esperaça de volta ao Brasil
O retorno à Pátria é marcado por emoção e gratidão. Sessenta e oito brasileiros e estrangeiros que estavam na Ucrânia foram transportados para o Brasil em duas aeronaves da FAB, um KC-390 Millennium e um VC-99B Legacy
EXPEDIENTE Publicação oficial da Força Aérea Brasileira, a revista Aerovisão é produzida pela Agência Força Aérea, do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER). Esplanada dos Ministérios, Bloco M, 7º Andar CEP: 70045-900 - Brasília - DF
Tiragem: 18 mil exemplares.
Período: Janeiro / Fevereiro / Março 2022 - Ano 49 Contato: redacao@fab.mil.br
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Chefe do CECOMSAER: Brigadeiro do Ar Adolfo Aleixo da Silva Junior
Diagramação: Suboficial R/1 Cláudio Bomfim Ramos
Vice-Chefe do CECOMSAER: Coronel Aviador Luis Felipe da Silveira e Eliseu
Revisão Ortográfica e Gramatical: Suboficial SST Rogerio Braga Bandeira
Chefe da Divisão de Comunicação Integrada: Coronel Aviador João Gustavo Lage Germano
Estão autorizadas transcrições integrais ou parciais das matérias, desde que mencionada a fonte.
Chefe da Subdivisão de Produção e Divulgação: Tenente-Coronel Aviador Igor Correa da Rocha
Distribuição Gratuita Acesse a edição eletrônica: www.fab.mil.br/publicacao/listagemAerovisao
Edição: Tenente Jornalista Flávia Rocha (DRT - 1354/PI) Tenente Jornalista Cristiane dos Santos (MTB - 35288/SP)
Aerovisão
Impressão: Edigráfica.
Suboficial Johnson Barros / Agência Força Aérea
Veja a edição digital
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DEFESA AÉREA IRIS-T, Meteor e Harpoon: mísseis reforçam a defesa do espaço aéreo brasileiro
Os três mísseis reforçam a capacidade de combate e de patrulha nas aeronaves F-39 Gripen e P-3AM Orion, desempenhando atribuições singulares e complementares nos céus brasileiros com o objetivo de defender e proteger a Pátria
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PODER AÉREO FAB amplia capacidade de inteligência, vigilância e reconhecimento Com a aquisição de mais duas aeronaves remotamente pilotadas RQ-900, que estão entre as mais modernas da sua categoria, é dado mais um passo na construção da FAB do futuro
GRIPEN A preparação para a nova geração da defesa aérea brasileira
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TECNOLOGIA MILITAR Drones: parceiros na navegação aérea
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BUSCA E SALVAMENTO Sempre alerta!
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TRAJETÓRIA Da FAB para o mundo
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AJUDA HUMANITÁRIA O apoio dos militares às vítimas das enchentes na Bahia
Com o foco na excelência, o F-39 Gripen, novo vetor supersônico de última geração da Força Aérea Brasileira (FAB) permitirá um salto na Aviação de Caça. Como será o processo de recebimento desta aeronave?
Em prontidão, 24 horas durante todo o ano, a FAB está sempre pronta para atender os acionamentos de uma missão de busca e salvamento. Conheça os procedimentos em casos de acidentes aeronáuticos e de embarcações
Uma força-tarefa mobilizou as três Forças Armadas para ajudar milhares de pessoas atingidas pelas enchentes no estado da Bahia. Militares da FAB somaram esforços para promoverem o socorro por meio aéreo
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O uso de aeronaves remotamente pilotadas nas inspeções dos Indicadores de Trajetória de Aproximação de Precisão (PAPI) ganha maior importância, pois os drones permitem maior segurança na pilotagem e na navegação
Conheça a história de um Tenente-Coronel que deu seus primeiros passos no militarismo como soldado da FAB e hoje é Oficial da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF)
VOO MENTAL A Cooperação Civil-Militar Internacionalista Giulia Scortegagna explica como funciona a Coordenação Civil-Militar do Contingente Brasileiro nas Missões das Nações Unidas e destaca a atuação dos militares na Operação Acolhida
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Aos Leitores
NOSSAS CAPACIDADES EM PLENA PROPULSÃO Bem, chegamos ao primeiro trimestre de 2022. E há 81 anos, nesse mesmo período, ocorria o início de uma nova era. No entanto, apenas as mentes de alguns geniais precursores do então Ministério da Aeronáutica poderiam prever esse futuro ou imaginar que chegaríamos tão longe, com tantos avanços e realizações em prol da defesa aérea da nossa Pátria. Chegamos, enfim, a uma era em que tudo é mais veloz: as comunicações, os processos produtivos, os avanços da tecnologia e, também, os progressos nos múltiplos, convergentes e mais rápidos meios de defesa. Nessa conjuntura, esta edição da Aerovisão destaca o reforço de peso que a Força Aérea Brasileira (FAB) ganhou com a aquisição de novos mísseis: o Iris-T, o Meteor e o Harpoon. Com esses e outros meios, o poder do nosso espaço aéreo, sem dúvidas, chega a um patamar sem precedentes. Adicionalmente, trazemos outra pauta essencial: os preparativos para a chegada do novo vetor de caça do País, o F-39 Gripen. Na matéria, mostramos que militares e civis de organizações da FAB cuidam, minuciosamente, de cada detalhe para o recebimento dos aviões que chegarão da Suécia. Em uma reportagem especial, documentamos como foi a Operação Repatriação, que transportou para o Brasil 68 refugiados que estavam na Ucrânia. Além dessas e de outras reportagens, nesta publicação apresentamos uma entrevista com o então Chefe de Logística e Mobilização do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, o Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Luiz Rodrigues, que fala sobre diversos assuntos no contexto do Ministério da Defesa e, também, acerca das expectativas com o novo cargo de Comandante do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE). Por fim, o leitor poderá verificar no Plano de Voo, e nas próximas páginas, muitos dos valores que nos movem relatados por nossa equipe de jornalistas, fotógrafos, revisores e diagramadores, que trabalham com afinco para mantê-lo cada vez mais informado com as principais ações e os bastidores da Força Aérea Brasileira: As Asas que Protegem o País. Boa leitura!
Brigadeiro do Ar Adolfo Aleixo da Silva Junior Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica
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Nossa capa: A ilustração da capa desta primeira edição do ano destaca os mísseis IRIS-T, Meteor e Harpoon, que, juntos, promovem um grande salto na defesa do espaço aéreo brasileiro, reforçando a capacidade de combate e de patrulha nas aeronaves F-39 Gripen e P-3AM Orion. O míssil Harpoon permite a proteção do mar territorial brasileiro. Já o IRIS-T se diferencia pela possibilidade de acompanhamento do alvo na mira do capacete do piloto. Enquanto isso, o Meteor oferece capacidade contra alvos a longa distância.
Palavras do Comandante INVESTIMENTOS EM PROL DA SOBERANIA DO ESPAÇO AÉREO Novas tecnologias, ameaças, vetores e concepções desafiam constantemente a evolução histórica do poder aéreo de qualquer nação. A junção desses diversos cenários impõe à Força Aérea Brasileira (FAB) a necessidade de sempre ampliar sua capacidade de defesa, de controle e de vigilância do espaço aéreo, com o objetivo de manter a soberania do País. Novas medidas têm nos colocado em posição de destaque diante das maiores forças aéreas do mundo. Recentemente, firmamos parceria com a indústria nacional para a aquisição de duas Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP). O objetivo é ampliar a frota de aeronaves RQ-900, aumentando a capacidade operacional da Força, principalmente na tarefa de inteligência, vigilância e reconhecimento. O Sistema Aéreo Remotamente Pilotado (SARP) da FAB tem auxi-
liado e otimizado várias frentes de trabalho do País, como, por exemplo, os de reconhecimento de áreas de desmatamento na Amazônia Legal, na Operação Samaúma, que detecta indícios de ilícitos ambientais em vários estados. Em outra frente que amplia o nosso sistema de defesa e que torna a FAB operacionalmente moderna e com grande poder dissuasório, está a junção de lotes de três mísseis de forte impacto. Juntos, o IRIS-T, o Meteor e o Harpoon promovem um grande salto na capacidade de combate e de patrulha nas aeronaves F-39 Gripen e P-3AM Orion, desempenhando atribuições singulares e complementares. As inovações no campo do poder aéreo tornaram-se fundamentais para o emprego do poder militar na medida em que esse universo também transforma a rotina da sociedade.
Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior Comandante da Aeronáutica
Somos sabedores de que apenas o investimento em equipamentos inteligentes e a constante valorização do fator humano nos manterão preparados e prontos para o emprego real em defesa da Pátria.
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ENTREVISTA
Perfil O Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo é natural de Mirandópolis (SP). Praça de 12 de janeiro de 1980, foi declarado Aspirante em 10 de dezembro de 1983 e foi condecorado em 2020 com a Ordem do Mérito Aeronáutico (OMA), no Grau de Grã-Cruz
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Suboficial Alexandre Manfrin / Agência Força Aérea
COORDENAÇÃO DA MOBILIZAÇÃO E LOGÍSTICA DENTRO DAS FORÇAS ARMADAS
Em entrevista à Aerovisão, o então Chefe de Logística e Mobilização do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (CHELOG), Tenente-Brigadeiro do Ar Heraldo Luiz Rodrigues, fala sobre como a CHELOG coordena os assuntos relacionados à logística, mobilização, geoinformação, aerolevantamento no território nacional, catalogação, serviço militar e a interoperabilidade entre os Sistemas de Mobilização e Logística das Forças Armadas. O Oficial-General, que assumiu, no dia 28 de março, o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), Organização Militar da Força Aérea Brasileira (FAB), também comenta sobre as expectativas com a nova missão. TENENTE JORNALISTA MARAYANE RIBEIRO E TENENTE JORNALISTA FLÁVIA ROCHA
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Foto: CHELOG Foto: ESG
CHELOG atuando na Operação Acolhida, em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela
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O Estado-Maior
Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) é responsável pela coordenação do emprego conjunto das Forças
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A Chefia de Logística e Mobilização do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (CHELOG) desempenha diversas funções no âmbito do Ministério da Defesa. O senhor poderia explicar quais são as principais competências dessa Unidade? De uma forma sintética, podemos visualizar o MD como uma estrutura que possui duas grandes áreas de atuação, além, é claro, das três Forças Singulares. Uma delas é a Secretaria-Geral, que é responsável pelas atividades administrativas, orçamentárias e de apoio ao funcionamento do Ministério e das Forças, possuindo quatro Unidades subordinadas: a Secretaria de Orçamento e Organização Institucional (SEORI), responsável pelo trato dos assuntos orçamentários, das relações com os órgãos externos ao MD e pelo trato dos assuntos internos de administra-
Armadas, missões de paz
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e logística conjunta.
ção, documentação e patrimônio; a Secretaria de Pessoal, Ensino, Saúde e Desporto (SEPESD), responsável pelas interações do Ministério da Defesa e das Forças com os órgãos externos no tocante à saúde, ensino e desporto militar; a Secretaria de Produtos de Defesa (SEPROD), que é encarregada do relacionamento junto às empresas de defesa do país sobre produtos de defesa, suas potencialidades de venda junto aos outros países, promoção comercial e também a tecnologia e inovação; e o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM), responsável pelas atividades de monitoramento do Sistema Amazônico, por meio de informações satelitais e com relacionamento constante com órgãos externos ao MD, como, por exemplo, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
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No início da Operação
COVID-19, houve a ne-
cessidade de ativação do Centro de Coordenação de Logística e Mobiliza-
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ção (CCLM), a cargo da CHELOG.
tações dos conselhos militares. Agora, aprofundando nas atividades do CHELOG, dentre as diversas competências, estão a integração e a interoperabilidade logística, a defesa alimentar, a medicina operativa, a
geoinformação, o aerolevantamento, a meteorologia, o serviço militar, a gestão do ciclo de vida de sistemas e produtos de defesa; a mobilização Nacional; a coordenação da logística nas operações conjuntas; e a catalogação de produtos de defesa. Durante a pandemia, a Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira somaram suas capacidades e esforços para ajudar o país a enfrentar os desafios oriundos do Coronavírus e suas variantes. Qual foi, e ainda é, o papel da Chefia de Logística e Mobilização do EMCFA no esforço de guerra das Forças Armadas no apoio à Operação COVID-19? No início da Operação, houve a necessidade de ativação do Centro de Coordenação de Logística e Mobilização (CCLM), a cargo da CHELOG. O CCLM ficou encarregado de atender às demandas logísticas dos dez Comandos Conjuntos ativados especificamente para o combate à pandemia e Foto: CHELOG
A outra grande área de atuação no MD é o Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA), responsável pela coordenação do emprego conjunto das Forças Armadas, missões de paz e logística conjunta. Para o trabalho, o chefe do EMCFA conta com três Chefias. Umas delas é a Chefia de Operações Conjuntas (CHOC), responsável pelo planejamento de exercícios conjuntos, coordenações de comandos operacionais e de atendimento às diversas solicitações recebidas pelo MD, em missões de caráter humanitário, de garantia da lei e da ordem, com emprego conjunto das forças, além do gerenciamento das missões de paz nas quais o Brasil está envolvido. Outra Chefia é a de Assuntos Estratégicos (CAE), responsável pelos assuntos de política e estratégia militar junto a outros países, além da coordenação junto aos Organismos Internacionais e controle dos Adidos Militares de Defesa. É responsável, também, pela representação na Junta Interamericana de Defesa, nos EUA, e pelas represen-
Refugiados venezuelanos são recepcionados pelas Forças Armadas brasileiras, entes federativos, agências da ONU, organismos internacionais e organizações da sociedade civil
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Abrigos montados durante a Operação Acolhida oferecem alimentação, proteção, segurança, saúde e atividades sociais e educativas aos imigrantes
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A unidade coordenou, também, a remoção e a transferência de pacientes de regiões
devido à alta taxa de
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coordenou as solicitações de apoio de missões aéreas junto ao Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), possibilitando a alocação do material necessário, no local correto e no prazo requisitado. Além disso, no auge da pandemia, coordenou a confecção de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como máscaras e face shields, junto às indústrias, bem como a produção e distribuição de álcool em gel. A unidade coordenou, também, a remoção e a transferência de pacientes de regiões devido à alta taxa de ocupação de leitos. Para tanto, o CCLM acompanhou, diariamente, os índices de todos os Estados, bem como a tendência de ocupação, sugerindo ações de expansão ou ativação de novos leitos. Coube, também, ao CCLM o assessoramento para a definição sobre
ocupação de leitos.
o local de instalação e funcionamento dos Hospitais de Campanha. Mais recentemente, foi o responsável pela coordenação da vacinação contra a COVID-19 de indígenas nas regiões mais remotas do Brasil, trabalhando em estreito relacionamento com o Ministério da Saúde. Além da Operação COVID-19, há operações relevantes sob a responsabilidade do MD e supervisão direta da CHELOG, como a Operação Carro-Pipa e a Operação Acolhida. O senhor poderia discorrer um pouco sobre essas operações? Sobre a Operação Acolhida, sabemos que a crise vivida pela Venezuela há alguns anos deixou milhões de refugiados, principalmente pela América do Sul. No Brasil, a intensificação
Sargento Bianca Viol / Agência Força Aérea
Foto: CHELOG
A FAB prestou apoio na Operação Acolhida, produzindo refeições diárias nos abrigos
Cabo André Feitosa / Agência Força Aérea
Cabo André Feitosa / Agência Força Aérea
A FAB atuou, ainda, no Posto de Atendimento e Recepção aos migrantes e refugiados desabrigados
desse fluxo ocorreu a partir de 2016, com o aprofundamento da instabilidade no país venezuelano, tendo como porta de entrada o estado de Roraima – sobretudo as cidades de Pacaraima e Boa Vista. Em 2018, foi criado um Comitê Federal Emergencial, coordenado pela Casa Civil, para acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade decorrente do fluxo migratório provocado pela crise humanitária. No mesmo ano, foram instituídas, no âmbito do MD, a “Operação Controle”, atuando em conjunto com a Polícia Federal, a Receita Federal e o estado de Roraima, para o fortalecimento da proteção das fronteiras no Estado; e a “Operação Acolhida”, que é a primeira operação humanitária das Forças Armadas em território nacio-
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Essa Chefia também coordena os assuntos relacionados à interoperabilidade entre os Sistemas de Mobilização e Logística das Forças. Como é realizado esse trabalho? É realizado com base em dois sistemas: o Sistema de Logística de Defesa (SISLOGD) e o Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB). O SISLOGD, que tem como órgão central a CHELOG, tem como finalidade proporcionar adequado e contínuo apoio logístico à Expressão Militar do Poder Nacional, em situação de paz ou de guerra, caracterizando-se pelo conjunto de pessoas, instalações, equipamentos, doutrina, procedimentos e informações, suportado por uma infraestrutura de tecnologia da informação e comunicações, que é o Sistema APOLO, onde é encontrado o Módulo de Empresas Mobilizáveis, que contém a base de dados das empresas de interesse da mobilização nacional. O SINAMOB, por sua vez, consiste no conjunto de ministérios e órgãos
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Foto: CHELOG
A CHELOG acompanhou, de perto, em 2021, a atuação dos militares nas regiões mais castigadas pela seca
A Operação Carro-Pipa atende, todos os anos, mais de 600 cidades em dez estados, beneficiando cerca de três milhões de pessoas
que atuam de modo ordenado e integrado, a fim de planejar e realizar as fases da mobilização e da desmobilização nacionais. Esse sistema tem como órgão central o MD e se estrutura para atender as necessidades da mobilização nacional nas áreas política, econômica, social, psicológica, de segurança e inteligência, de defesa civil, científico-tecnológica e militar. O CCLM faz a interface entre os Comandos Operacionais ativados, as Forças Singulares (FS) e o SINAMOB, visando à tomada de providências
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para a obtenção dos recursos logísticos não disponíveis nas estruturas das FS. As atividades desenvolvidas no Sistema de Catalogação de Defesa (SISCADE) possuem fundamental relevância para desenvolver o potencial da Logística de Defesa e de Mobilização Nacional. Como é feita a supervisão dessas atividades? A CHELOG exerce a mais elevada instância na governança operacional do SISCADE, realizando a supervisão geral, a formulação de políticas, estra-
Foto: CHELOG
nal, que tem o objetivo de recepcionar e apoiar o imigrante, por meio de medidas assistenciais, como distribuição de alimentos, apoio de saúde e vacinação. Já em 2012, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), em parceria com o Ministério da Defesa, criou a Operação Carro-Pipa, que ficou integralmente sob responsabilidade do Exército Brasileiro. O objetivo da operação foi o de auxiliar as Ações de Defesa Civil Municipais, complementando a distribuição de água realizada pelas prefeituras nas regiões do semiárido brasileiro atingidas pela seca e pela estiagem. Entre as ações efetivadas por meio da operação estão a distribuição de água potável, preferencialmente, por meio de carros-pipa, às populações rurais e urbanas atingidas por estiagem, com prioridade para os municípios que se encontram em situação de emergência ou estado de calamidade pública.
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O aumento exponencial da
quantidade de operadores de drones resultou em um aumento significativo de solicitações por autorizações junto ao
MD, exigência legal para a execução desta atividade. Vale destacar que mesmo aqueles que possuem tal competência dependem de habilitação legal junto ao Ministério da Defesa, ao Departamento de Controle
do Espaço Aéreo e à Agência Nacional de Aviação Civil.
à atuação das unidades de catalogação, em consonância com o Marco Regulatório da Base Industrial de Defesa (BID), representando o fortalecimento dessa atividade, ao mesmo tempo em que agrega valor logístico às exportações da BID nacional, contribuindo para o seu desenvolvimento, além de proporcionar a potencialização da logística de defesa e a mobilização nacional, gerando 2,9 milhões de empregos diretos e indiretos, representando 4,78% do PIB nacional, o que equivale a mais de R$380 bilhões. Uma das competências da Chefia de Logística e Mobilização é o controle do aerolevantamento no território nacional. O senhor poderia explicar quais os principais desafios na área de aerolevantamento no Brasil? Os grandes desafios do controle do aerolevantamento estão relacionados ao alto nível de desenvolvimento tecnológico na área de vetores e sensores imageadores, bem como à adequação da legislação às novas tecnologias e demandas da sociedade brasileira. O aumento exponencial da quantidade de operadores de drones resultou em um aumento significativo de soliciFoto: CHELOG
No que diz respeito à Política de Catalogação de Defesa, quais foram as últimas atualizações e o que isso significa para o país? O manual do SISCADE consolidou, em um único instrumento normativo, as disposições acerca da atividade de catalogação, estabelecendo conceitos, políticas, métodos, processos e recursos de tecnologia da informação que permitem o perfeito entendimento sobre a catalogação e o exercício da governança operacional do Sistema. Outra melhoria no processo refere-se
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tégias e diretrizes sobre a atividade de catalogação. Nesse contexto, cabe ao Centro de Apoio a Sistemas Logísticos de Defesa (CASLODE) executar a direção técnica e gerencial desse sistema e a interlocução brasileira junta à OTAN. A adoção conceitual desse modelo confere diversos benefícios, tais como incremento da interoperabilidade entre as Forças Armadas e redução dos custos logísticos. Esses fatores contribuem para a garantia da capacidade do MD cumprir suas missões constitucionais e a promoção da autonomia tecnológica e produtiva na área de defesa.
Forças Auxiliares cooperam com Forças Armadas na Operação Carro-Pipa
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Em resumo, para o senhor, quais foram nos últimos anos as maiores contribuições da Chefia de Logística e Mobilização para a defesa nacional? A CHELOG é responsável, em sua área de atuação, pela revisão e atualiza-
ção dos diversos manuais doutrinários de emprego conjunto das Forças Armadas, que definem, entre outros aspectos, a atuação logística das Forças em situações de conflito e a coordenação das ações logísticas quando da criação dos comandos conjuntos. Além disso, a CHELOG participa do planejamento e da execução de diversos exercícios operacionais conjuntos, tanto no nível nacional quanto internacional, visando atender às necessidades e carências das Forças Singulares. A CHELOG recentemente realizou a coordenação logística da missão de repatriação dos brasileiros oriundos da Ucrânia, bem como o transporte de aproximadamente 12 toneladas Foto: CHELOG
tações por autorizações junto ao MD, exigência legal para a execução dessa atividade. Vale destacar que mesmo aqueles que possuem tal competência dependem de habilitação legal junto ao Ministério da Defesa, ao Departamento de Controle do Espaço Aéreo e à Agencia Nacional de Aviação Civil. Diante do crescimento dessa área, a CHELOG colocou à disposição da sociedade brasileira o Sistema de Cadastro de Levantamentos Aeroespaciais do Território Nacional (SisCLATEN), que disponibiliza à sociedade, por meio do módulo “Cidadão”, a possibilidade de consulta aos dados básicos dos aerolevantamentos realizados. O SisCLATEN está disponível na web no endereço https://sisclaten.defesa.gov.br//.
Foto: CHELOG
A CHELOG realizou a coordenação logística da missão de repatriação dos brasileiros oriundos da Ucrânia
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de carga para a capital polonesa, Varsóvia. O MD criou a Diretriz de Obtenção Conjunta de Produtos e Sistemas de Defesa, cabendo à CHELOG acompanhar, junto às Forças, o processo de obtenção conjunta dos equipamentos de defesa. Já a Mobilização Nacional consiste no estabelecimento de programas, normas e procedimentos relativos à complementação da Logística Nacional, e na adequação das Políticas Governamentais à Política de Mobilização Nacional, funcionando como um seguro de vida para a Nação. Assim, a Mobilização Nacional contribui não só para a Defesa, mas também com o desenvolvimento do país, além de
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se apresentar como uma ferramenta eficiente de dissuasão. O senhor ocupava um cargo de liderança no Ministério da Defesa, e acabou de assumir uma nova função, Comandante do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), que é estratégico para a Força Aérea Brasileira (FAB) e que tem como missão empregar o Poder Aeroespacial com vistas a garantir a soberania do Espaço Aéreo e a integração do Território Nacional. Diante dessa nova missão, quais são as expectativas e os principais desafios a serem enfrentados? As expectativas são as melhores possíveis. Será marcante para mim, que durante a maior parte da carreira atuei em Unidades Operacionais, especialmente na Aviação de Caça e na Defesa Aérea do país, poder contribuir diretamente nas atividades operacionais, por
meio da coordenação de operações de defesa aérea, transporte aéreo, missões humanitárias e tantas outras atividades nas quais a Força Aérea, por intermédio do COMAE, envolve-se diretamente. Acredito que, dentre os maiores desafios, estará a manutenção da vigilância do espaço aéreo brasileiro e o planejamento e a utilização dos meios disponíveis da Força Aérea para atender às necessidades logísticas e operacionais, no tocante ao transporte de material e pessoal em apoio à Marinha do Brasil, ao Exército Brasileiro, aos diversos órgãos do governo federal e nas diversas missões que a FAB esteja envolvida, tais como as de apoio humanitário, de transporte de órgãos, de transporte de urnas para as eleições, de missões de resgate e de transporte de pacientes em estado grave. Desafio de magnitude similar será o gerenciamento dos meios disponíveis no
Ao assumir o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), o Tenente-Brigadeiro Heraldo acredita que será um dos maiores desafios de sua carreira
setor espacial, no controle dos satélites existentes e no auxílio às necessidades dos órgãos do Governo Brasileiro. O emprego de satélites está evoluindo rapidamente e seu uso está, cada vez mais, ligado ao meio ambiente, à agricultura, à vigilância, às comunicações, à internet, ao controle de aeronaves, entre outros. Coube à Força Aérea, de acordo com a Política e Estratégia Nacional de Defesa, a condução da evolução dos meios na área espacial, e, especificamente, ao COMAE conduzir parte significativa desse processo. Sem dúvida alguma, o envolvimento no setor espacial ocorrerá de forma crescente e rápida, o que exigirá uma atenção especial do Comando da Aeronáutica.
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O ALÍVIO E A ESPERANÇA PARA
BRASILEIROS E ESTRANGEIROS QUE Em aviões da FAB, Operação Repatriação resgatou 68 refugiados, que pousaram no dia 10 de março em Brasília (DF) TENENTE JORNALISTA FLÁVIA ROCHA E TENENTE LETÍCIA FARIA
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Chegada ao Brasil
Em território nacional, a aeronave multimissão KC-390 Millennium que transportou os refugiados foi interceptada por dois caças F-5M
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ara muitas famílias, alívio e esperança ao deixarem o cenário de guerra na Ucrânia. Para a Força Aérea Brasileira (FAB), mais uma missão cumprida com sucesso. Em clima de emoção, 68 refugiados pousaram no dia 10 de março, na capital do Brasil, em duas aeronaves da FAB. Em um KC-390 Millennium e um VC-99B Legacy, os passageiros, acompanhados também de oito cachorros e dois gatos, decolaram de Varsóvia, na Polônia, no dia anterior, com o apoio da diplomacia brasileira. A ação interministerial, denominada Operação Repatriação, ocorreu de forma integrada entre os Ministérios da Justiça e Segurança Pública (MJSP), da Defesa (MD), das Relações Exteriores (MRE), da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), da Saúde (MS) e da Infraestrutura (MINFRA). A recepção contou com a presença do Presidente da República, Jair Bolsonaro; do Ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto; do Comandante da Força Aérea Brasileira, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior; dentre outras autoridades civis e militares. Na chegada à Brasília (DF), o KC-390 Millennium foi escoltado por dois caças F-5M da FAB, momento em que um dos pilotos transmitiu uma mensagem aos passageiros. “O Governo Brasileiro dá as boas-vindas aos brasileiros e estrangeiros resgatados, que agora se aproximam do pouso em nossa capital. É motivo de orgulho para a Força Aérea Brasileira – As asas que protegem o País – concluir esta missão, trazendo todos em segurança para a nação que os acolhe. Que os novos dias sejam de paz, tranquilidade e esperança na Pátria Amada Brasil”.
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Multimissão Aeronave, pertencente ao Primeiro Grupo de Transporte de Tropa - Esquadrão Zeus - foi especialmente preparada para a missão, aproveitando as capacidades e espaços do multimissão da FAB
Sargento Müller Marin / Agência Força Aérea Sargento Müller Marin / Agência Força Aérea
Sargento Müller Marin / Agência Força Aérea
Cerimônia de Boas-Vindas Autoridades civis e militares receberam, na Base Aérea de Brasília (BABR), os brasileiros e estrangeiros que vieram da Ucrânia
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Um pousou técnico foi realizado na Base Aérea de Recife (BARF), na manhã do dia 10 de março e, em seguida, os aviões decolaram para a Base Aérea de Brasília (BABR), onde 42 brasileiros, 20 ucranianos, cinco argentinos e um colombiano foram recepcionados. KC-390 Millennium O KC-390 Millennium, uma das aeronaves que transportou os brasileiros repatriados, é um avião militar multimissão desenvolvido e fabricado no Brasil, com capacidade de realizar diversas missões, como Transporte Aéreo Logístico e Reabastecimento em Voo (REVO), dentre outras. O avião foi desenvolvido para atender aos requisitos operacionais da FAB, provendo mobilidade estratégica às Forças de Defesa do Brasil. Segundo o Comandante da aeronave, Major Aviador Anderson Dias Santiago, do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT) – Esquadrão Zeus, o vetor foi especialmente equipado para a Operação Repatriação. “Instalamos mais um banheiro e uma galley para o preparo de comissaria em apoio a todos os passageiros, para que tivessem o máximo
Missão cumprida com sucesso A ação interministerial, denominada Operação Repatriação, ocorreu de forma integrada entre os Ministérios da Defesa, das Relações Exteriores e da Saúde
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Gratidão e emoção Com esposa, enteada e netos, Rodrigo Rocha Coutinho retornou ao Brasil enquanto a Ucrânia enfrentava o 15º dia de guerra
de conforto possível, aproveitando as capacidades e espaços da aeronave”, explicou. Retorno à Pátria: gratidão e emoção O pastor Rodrigo Rocha Coutinho, nascido em Campos dos Goytacazes (RJ), chegou ao Brasil com sua esposa Elena Rocha Coutinho, enteada e netos. Ele comenta que não há palavras para descrever o alívio de retornar à Pátria, enquanto a Ucrânia enfrenta o seu 15º dia de guerra. “Vivemos em uma cidade que está sendo muito bombardeada. Pela graça de Deus conseguimos fugir em meio aos ataques”, contou o repatriado. O jogador de futebol Jackson Fernando Soares Junior relatou a situação na Ucrânia, em meio aos confrontos com a Rússia. “Foram quase dois dias para sair da Ucrânia e passar até a fronteira da Polônia. A situação é delicada”, salientou. A médica Amarilis Tomaz Cabral, de 28 anos e que morava há cinco na Ucrânia, chegou ao Brasil com sentimento de gratidão. “Fizemos uma ótima viagem e só temos a agradecer. Realmente fomos resgatados e estamos de volta ao Brasil
Sargento Müller Marin / Agência Força Aérea
Tenente Felipe Bueno / Agência Força Aérea Sargento Figueira / Agência Força Aérea
Sargento Müller Marin / Agência Força Aérea
Ajuda Humanitária No voo de ida para cumprir missão de resgate de refugiados, KC-390 Millennium transportou 11,6 toneladas de mantimentos em ajuda humanitária à Ucrânia
para ficar entre amigos”, ressaltou. O treinador de futebol Luiz Jurescu contou, também, da satisfação de retornar ao Brasil. “Por causa dessa tragédia que ocorre na Europa, estamos de volta. Apesar do contexto, essa experiência com a FAB foi maravilhosa, todos estão de parabéns em trazer os brasileiros, em relação ao tratamento com os animais e é uma satisfação estar de volta”, finalizou. Após o pouso em Brasília, todos os brasileiros e estrangeiros receberão suporte, por parte do governo brasileiro, para retornarem aos estados de origem e encontrarem seus familiares. KC-390 Millennium transporta 11,6 toneladas de mantimentos em ajuda humanitária para Ucrânia O multimissão KC-390 Millennium da FAB decolou no dia 7 de março, de Brasília (DF), para cumprir missão de resgate de brasileiros que deixaram a Ucrânia – com o apoio da diplomacia brasileira. Na ocasião, a aeronave também transportou 11,6 toneladas de donativos, por solicitação daquele país. O destino da aeronave foi Varsóvia,
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na Polônia, de onde os cidadãos embarcaram conforme definições do Ministério das Relações Exteriores. Foram realizadas paradas técnicas em Recife (PE); Cabo Verde, país localizado na costa do continente africano; e Lisboa, em Portugal. Antes da decolagem, houve uma cerimônia na Base Aérea de Brasília (BABR) com a presença de autoridades do governo brasileiro. Na ocasião, o Ministro da Defesa, Walter Souza Braga Netto destacou a importância da Operação e a atuação do Brasil diante deste cenário. “Desde o início do conflito na Ucrânia o Governo Brasileiro tomou medidas concretas com o objetivo de cuidar da segurança dos nossos companheiros em áreas de risco e viabilizar as condições de retorno ao Brasil. Nesse sentido, destacam-se as medidas diplomáticas, jurídicas e sanitárias”, ressaltou. Na cerimônia, o Comandante da Aeronáutica falou sobre a importância da ajuda humanitária para os brasileiros que estão em situação de conflito. “Essa missão é também a comprovação da característica de pronta-resposta da nossa Força Aérea. Desde o início, nós conseguimos disponibilizar esses dois aviões, além de outros se forem necessários, com características de chegarem a locais longínquos. Então, essa é mais uma missão real que comprovamos a utilização do poder aéreo na guerra e na paz”, completou o Tenente-Brigadeiro Baptista Junior. Ajuda Humanitária A ajuda humanitária enviada para Varsóvia continha 50 purificadores de água, de tecnologia e fabricação nacionais (com capacidade combinada para purificar cerca de 300 mil litros de água por dia); 50 kits voltaicos com painel solar para abastecer o equipamento de energia de forma autônoma; dez toneladas de alimentos desidratados de alto teor nutritivo (400 mil refeições); e cinco kits de medicamentos para
emergências médicas, oriundos dos estoques públicos administrados pelo Ministério da Saúde, sem comprometer o abastecimento nacional. Antes de decolar, o Comandante da aeronave, Major Aviador Santiago, do Primeiro Grupo de Transporte de Tropa (1º GTT), comentou sobre a relevância de participar da ação de ajuda humanitária. “Para nós é um orgulho muito grande participar dessa missão. Saber que fazemos parte de uma tripulação da Força Aérea Brasileira, representando a Nação Brasileira em uma aeronave 100% brasileira é uma emoção muito grande e me dá muita honra saber que estou capitaneando esta missão”, disse. Missões anteriores Em fevereiro de 2020, aeronaves da FAB participaram também da Operação Regresso à Pátria Amada Brasil, para a repatriação dos brasileiros que estavam em Wuhan, na China, o epicentro da pandemia da COVID-19. Nesta ação interministerial realizada pelo Ministério da Defesa, por meio da FAB, em Clique aqui para baixar a imagem original conjunto com o Ministério da Saúde, Ministério das Relações Exteriores e demais órgãos do governo, a Base Aérea de Anápolis e os seus hotéis de trânsito foram preparados para receber os 34 brasileiros e familiares estrangeiros, que passaram por um período de quarentena antes de retornaram, com segurança, ao seio de seus familiares. Já em agosto de 2020, dois aviões da Força Aérea Brasileira tiveram como destino a cidade de Beirute, em cumprimento à missão de Assistência Humanitária à República Libanesa. Nessa ocasião, o KC-390 Millennium realizou pela primeira vez uma missão internacional tripulado apenas por militares da FAB, transportando cerca de seis toneladas de medicamentos, alimentos e equipamentos de saúde para o atendimento emergencial às famílias afetadas.
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OS PREPARATIVOS PARA O ADVENTO DA NOVA GERAÇÃO DA DEFESA AÉREA BRASILEIRA 26
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Soldado Anderson Soares / Agência Força Aérea
Com o foco na excelência, o novo vetor supersônico de última geração da Força Aérea Brasileira (FAB) permitirá que o País dê um salto na sua Aviação de Caça. Capazes de atingir duas vezes a velocidade do som e suportar até nove vezes a força da gravidade durante manobras, as aeronaves F-39 Gripen poderão executar missões de defesa aérea, de ataque e de reconhecimento no mesmo voo, sem necessidade de retorno à base. Com tanta capacidade assim, como está sendo montada a infraestrutura no Brasil para o recebimento desse marco no desenvolvimento da aviação militar do País? Para ficar por dentro desses e de outros detalhes, acompanhe a reportagem.
Sargento Bianca Viol / Agência Força Aérea
F-39 Gripen sobrevoando o Rio de Janeiro (RJ), durante campanha de ensaios e desenvolvimento do novo caça
TENENTE JORNALISTA FLÁVIA ROCHA
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Gripen matrícula FAB 4100, o primeiro dos 36 novos caças adquiridos pela FAB
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Foto: SAAB AB
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enhuma autoridade chega ao País sem preparativos dignos e coerentes com a sua reputação e importância. Para o recebimento do F-39 Gripen não é diferente. Representando um marco na história da Aviação de Caça do Brasil, o Projeto F-X2 tem exigido da FAB um esforço coordenado de diversas áreas – operacional, logística, de infraestrutura, de pessoal e de ensino – para que o objetivo final seja alcançado. Em 2022, duas unidades do caça devem aportar em solo brasileiro nos primeiros meses do ano, e outras duas desembarcam ainda no decorrer do primeiro semestre. No total, 36 unidades do F-39 Gripen serão entregues à Força Aérea Brasileira. As 13 primeiras estão sendo fabricadas na Suécia, sendo que oito terão a produção iniciada na Suécia e concluída no Brasil. Já os 15 últimos caças serão fabricados integralmente no Centro de Projetos e Desenvolvimento do Gripen, na unidade da Embraer em Gavião Peixoto (SP). Já a primeira aeronave multimissão F-39 Gripen, ostentando a matrícula 4100, chegou ao Brasil ainda em 2020, no dia 20 de setembro, pelo Porto de Navegantes, em Santa Catarina (SC), após ter sido transportada em um navio, desde Norrköping, na Suécia. No entanto, tratava-se de uma unidade de testes equipada com instrumentos para a continuidade da campanha de ensaios, que teve início em agosto de 2019 naquele país. Enquanto isso, a Base Aérea de Anápolis (BAAN) está passando por diversas adaptações para sediar não só o Gripen, mas também o KC-390 Millennium, além de continuar sendo a base de operação das aeronaves E/R-99. “Isso é um grande desafio porque cada uma dessas plataformas tem suas exigências particulares em termos de hangar de manutenção e infraestrutura de apoio, mas também existe muita comunalidade, principalmente no que se trata de produtos de Guerra Eletrônica, de Reconhecimento e de Inteligência”, explicou o Presidente do Grupo de Trabalho Fox (GT-FOX), Tenente-Coronel Aviador Felipe Bombarda Guedes.
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Foto: GAC INFRA-AN
Grupo Fox O Grupo de Trabalho FOX, nome da equipe de pilotos de caça dedicada à gerência operacional do projeto FX-2, trabalha desde janeiro de 2017 no Comando de Preparo (COMPREP), em Brasília (DF), na coordenação da implantação operacional do novo avião de combate da FAB. Ou seja, o GT-FOX é responsável por entender todas as tecnologias e capacidades que virão com o novo avião de caça, além de planejar como a FAB deverá se adaptar para tirar o maior proveito das novas funcionalidades. Segundo o Presidente do Grupo, o GT-FOX iniciou o seu trabalho interagindo com a Comissão Coordenadora do Programa de Aeronave de Combate (COPAC) – Organização da FAB responsável pelo contrato de aquisição do Gripen – e com a Saab para definir as características e as funcionalidades ideais para a operação no Brasil. “Participamos
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de etapas de estabelecimento de requisitos e de desenvolvimento de sistemas, quando definimos como alguns itens, tais como armamentos, sistemas de comunicação e sistemas de autoproteção, dentre outros, deveriam ser implementados no F-39 para que ele atenda totalmente às nossas necessidades, deixando o Gripen com a ‘cara da FAB’”, detalhou. Além dessa interação com a empresa fabricante do avião, outras ações importantes foram: selecionar os pilotos, mecânicos e operadores de equipamentos de suporte, verificar quais seriam os treinamentos prévios que eles precisariam para começar a atuar nas suas áreas; e providenciar para que esse treinamento fosse executado. Nesse contexto, o GT-FOX também analisou todo o rol de missões que o Gripen será capaz de fazer e levantou o que pode ser mudado, tanto nos conceitos atuais de emprego quanto na infraestrutura de apoio, para que a FAB
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Foto: GAC INFRA-AN
Foto: GAC INFRA-AN
Hangar em fase de finalização para o recebimento dos novos vetores de caça, na Base Aérea de Anápolis (BAAN), no estado de Goiás
possa utilizar o avião e seus sistemas de maneira inovadora. “É esse novo conceito de operação que vai garantir a vantagem no cenário de combate que vislumbramos para o futuro”, comentou o Tenente-Coronel Bombarda. Os preparativos para o recebimento do Gripen envolveram, ainda, estudos e planejamentos para definir a infraestrutura ideal para a implantação de laboratórios de guerra eletrônica e também de análise de imagens, de modo que esses produtos possam ser aproveitados por todas as plataformas. Entre outras atuações, o GT-FOX prestou assessoria na reforma do prédio do Primeiro Grupo de Defesa Aérea (1º GDA), que será a primeira Unidade Aérea operadora do Gripen. Nesse trabalho, buscou-se realizar a alocação dos espaços de trabalho de maneira a facilitar a rotina de operação, delineando a quantidade e a distribuição das salas de planejamento,
briefing e debriefing de missão, bem como a disposição dos simuladores de forma a facilitar o voo isolado ou em conjunto entre as duas cabines de simulação que serão instaladas no 1º GDA. Em Anápolis, reformas não se restringem aos prédios A preparação para a chegada do Gripen compreendeu, especialmente, a reforma do espaço aéreo da Base Aérea de Anápolis (BAAN) e de seus arredores. Como o Gripen possui sistemas de detecção e armamentos muito mais potentes que os anteriores, houve a necessidade de uma área com dimensões maiores para conseguir executar as missões de treinamento de forma proveitosa. Com isso, até a área restrita SBR-601 (Área Dourada) – que é um setor de treinamento – está sendo adaptada e logo contará com uma nova área de treinamento disponível para os voos.
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Voo de ensaio do GRIPEN F-39 sobre a Ponte JK, em Brasília (DF)
O poderoso Gripen O F-39 Gripen é um caça de última geração que representa um grande salto tecnológico para a aviação brasileira. O processo de aquisição das aeronaves teve início a partir do projeto FX-2, conduzido pela Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate (COPAC), para substituir os F-5M e A-1M em operação na FAB, represen-
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tando uma revolução na capacidade de combate da Instituição, tais como na área de guerra centrada em rede, por exemplo, equiparando-a às mais modernas Forças Aéreas do mundo. O avião é dotado de um complexo sistema de combate e funcionalidades que extrapolam as capacidades de qualquer outra
aeronave já operada pelo Comando da Aeronáutica. O supersônico realiza, quase que simultaneamente, vários tipos de missões. Assim, é um caça que redefine as regras do jogo em um teatro de operações. “O processo empregado, advindo da experiência acumulada na COPAC e do esmero do efetivo envolvido,
Soldado Wilhan Campos / Agência Força Aérea
permitiu que o Brasil tomasse a melhor decisão com base nas informações disponíveis”, destaca o Presidente da COPAC, Brigadeiro do Ar Antônio Luiz Godoy Soares Mioni Rodrigues. Outro ponto importante é que o F-39 Gripen tem possibilitado um grande aprendizado na gestão de projetos de alta complexidade. Desde os primór-
dios do Projeto, uma ala da SAAB vem funcionando a pleno vapor dentro da EMBRAER, na cidade de Gavião Peixoto (SP), onde profissionais suecos e brasileiros se juntam para projetar essa máquina impressionante. Unidos em prol de um mesmo objetivo, mostram que essa miscigenação profissional já apresenta excelentes resultados.
Diante desse cenário, a aeronave F-39 terá um papel vital na história da Defesa Nacional e no cumprimento da missão da Força Aérea Brasileira. Em síntese, o Gripen é um sistema de armas que mudará de maneira decisiva o conceito de emprego do Poder Aeroespacial Brasileiro.
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35 ARTE: Subdivisão de Publicidade e Propaganda / CECOMSAER
Foto: Boeing
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Foto: MBDA
Após ser lançado de seu vetor, o Harpoon voa próximo à superfície do mar para evitar ser detectado
Míssil Meteor sendo lançado da aeronave Rafale
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COM IRIS-T, METEOR E HARPOON, FAB ATINGE NOVO PATAMAR NA DEFESA DO ESPAÇO AÉREO BRASILEIRO O processo de tornar a Força Aérea Brasileira (FAB) operacionalmente moderna, com grande poder dissuasório e atuando de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais, ganhou um novo capítulo com a junção de lotes de três mísseis de grande impacto para o poder aéreo brasileiro. Em conjunto, os mísseis IRIS-T, Meteor e Harpoon reforçam a capacidade de combate e de patrulha nas aeronaves F-39 Gripen e P-3AM Orion, desempenhando atribuições singulares e complementares nos céus brasileiros com o objetivo de defender e proteger a Pátria. TENENTE JORNALISTA MARAYANE RIBEIRO
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Foto:Diehl
m divisor de águas para o poder aéreo nacional. É assim que a aquisição de lotes de três mísseis de grande poder dissuasório faz a FAB atingir um novo patamar na defesa do território nacional. Juntos, o IRIS-T, o Meteor e o Harpoon promovem um legítimo game changer, dando um salto nunca visto na capacidade de combate aéreo do Brasil. Os dois primeiros mísseis serão utilizados nas aeronaves de caça F-39 Gripen, sendo que o Iris-T agregará a possibilidade de acompanhamento do alvo com integração na mira do capacete do piloto, e o Meteor ampliará as capacidades contra alvos a longa distância. Já o Harpoon é empregado no ambiente naval, sendo capaz de neutralizar embarcações de guerra a uma distância além do alcance visual. A arma equipa a aeronave P-3AM Orion, que atua na Aviação de Patrulha.
Míssil IRIS-T sendo lançado Aerovisão
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Cabo Silva Lopes / Agência Força Aérea
P-3AM
Harpoon e o radar que corrige a rota até o alvo Com mais de 124 km de alcance, o míssil Harpoon permite a proteção do mar territorial brasileiro. O armamento tem 3,8 metros de comprimento e 526 quilos e é movido por uma turbina, chegando a atingir 850 km/h. Para se ter uma ideia do alcance da nova arma, seria como um avião lançar o míssil da cidade de Aracaju (SE) para atingir um alvo em Maceió (AL), por exemplo. Também é a mesma distância entre a cidade do Rio de Janeiro (RJ) e Ubatuba, no litoral de São Paulo. O míssil utiliza dados dos sistemas da aeronave lançadora para calcular a sua rota até o alvo e conta ainda com um radar próprio para corrigir a rota. Depois do lançamento, o Harpoon voa próximo ao mar para evitar ser detectado. Somente a ogiva tem 226 quilos de material explosivo, o suficiente para o Harpoon causar danos e levar um navio a afundar. A ferramenta utiliza dados dos sistemas da aeronave lançadora para calcular a sua rota até o alvo e conta, ainda, com um radar próprio para corrigir a rota.
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Foto: Boeing
Vetor de vigilância marítima, aeronave será equipada com mísseis Harpoon para garantir a soberania do espaço aéreo da região oceânica sob jurisdição brasileira
IRIS-T e a alta capacidade de manobra
Foto: SAAB
Míssil inteligente, de curto alcance e de última geração, o IRIS-T é equipado com sensor infravermelho e empuxo vetorado. A ferramenta possui alta capacidade de manobra e é resistente a contramedidas eletrônicas. Um de seus diferenciais é a possibilidade de acompanhamento do alvo na mira do capacete do piloto, bem como a integração entre sensores. É, ainda, caracterizado pelo alcance de aquisição aprimorado e pela maior precisão de acerto. Essas características proporcionam o engajamento com sucesso de alvos durante operações de combate em um ambiente com maciça interferência de contramedidas eletrônicas.
Míssil IRIS-T
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Meteor: um míssil além do alcance visual O Meteor é um míssil BVR (do inglês, Beyond-Visual-Range - que signifi ca “além do alcance visual”) que oferece capacidade contra alvos a longa distância, como caças, Veículos Aéreos Remotamente Pilotados (VARP) e mísseis de cruzeiro, em um ambiente com maciça interferência de contramedidas eletrônicas. Essa qualidade é alcançada por meio da motorização. Os mísseis convencionais são equipados com foguetes que os aceleram a velocidades supersônicas, mas, com o passar dos segundos, vão perdendo potência. Assim, a capacidade de o míssil alterar sua rota em busca do alvo ou de fazer manobras vai se perdendo. O equipamento é produzido pela fabricante europeia MBDA e conta com um link de dados bidirecional, que permite à aeronave de lançamento fornecer atualizações de destino no meio do curso, ou redirecionamento, se necessário, incluindo dados de outras aeronaves. O novo míssil pode, inclusive, acelerar ao chegar mais próximo do alvo, tornando qualquer tentativa de manobra completamente inútil. Dentre os países que já operam com o míssil estão a Espanha, a França, o Reino Unido e a Suécia.
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Força Aérea do futuro Os mísseis integrarão o moderno sistema de armas da FAB, aumentando o poder de dissuasão e as chances de evitar um confronto próximo com aeronaves inimigas. A dissuasão é entendida como o esforço de um ator estatal para ser capaz de desencorajar ou restringir ações cinéticas ou cibernéticas de um adversário, real e potencial, em prol de manter o estado de segurança desejado pelo Estado. A dissuasão é dependente da capacidade logística das Forças Armadas, na medida em que estas precisam obter, distribuir e gerenciar meios de força de índole
combativa. É este potencial ofensivo o ingrediente responsável por criar o efeito desencorajador-restritivo próprio da dissuasão. Assim, a junção das aeronaves F-39 Gripen e P-3AM Orion – equipadas com os armamentos - fará com que a Força Aérea garanta, ainda mais efetivamente, a manutenção da soberania do espaço aéreo com vistas à defesa da Pátria, cumprindo, assim, o objetivo de ser uma Força Aérea de grande poder dissuasório, operacionalmente moderna e atuando de forma integrada para a defesa dos interesses nacionais.
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Foto: MBDA
Meteor equipando a aeronave Gripen na Força Aérea Sueca
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Vigilância e defesa
RQ-900 em operação nos céus de Santa Maria (RS)
FAB AMPLIA CAPACIDADE DE
INTELIGÊNCIA,VIGILÂNCIA E RECONHECIMENTO COM AQUISIÇÃO DE MAIS DUAS AERONAVES REMOTAMENTE PILOTADAS RQ-900 42
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Sargento Januário / Força Aérea Brasileira
Aeronave Remotamente Pilotada (ARP), de modelo RQ-900, da Força Aérea Brasileira (FAB)
Em dezembro de 2021, o Comando da Aeronáutica formalizou um contrato com a empresa brasileira AEL Sistemas para a aquisição de duas Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP), que serão utilizadas pelo Esquadrão Hórus, localizado na Base Aérea de Santa Maria (BASM), em operações de inteligência, vigilância e reconhecimento (IVR) no País, especialmente nas regiões de fronteira. A parceria é mais um passo na construção das capacidades necessárias à Força Aérea Brasileira (FAB) do futuro, visto que a aeronave RQ-900 está entre as ARP mais modernas da sua categoria, permitindo a operação por satélite em qualquer ponto do território nacional. TENENTE JORNALISTA MARAYANE RIBEIRO
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A assinatura deste contrato de ampliação da nossa frota de aeronaves remotamente pilotadas é mais um passo na construção das capacidades necessárias à Força Aérea Brasileira do futuro. Tais capacidades são construídas pela combinação de meios materiais, pessoais, infraestrutura e doutrina de emprego, dentre vários fatores.
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la permite a operação, via link satelital, em qualquer ponto do território nacional e possui autonomia de mais de 30 horas de voo. Foi adquirida e empregada pela primeira vez no Brasil em 2014, durante a Copa do Mundo FIFA. Trata-se da aeronave RQ-900, utilizada pelo Primeiro Esquadrão do Décimo Segundo Grupo de Aviação (1º/12º GAV) – Esquadrão Hórus, localizado na Base Aérea de Santa Maria (BASM), em operações de inteligência, vigilância e reconhecimento (IVR) em pontos de interesse brasileiro, especialmente em regiões fronteiriças. Desde a sua criação, em 2011, o Esquadrão Hórus tem participado de diversas ações e eventos de grande vulto, como Operação Ágata, Operação Ostium, Rio+20, Jornada Mundial da Juventude, Copa do Mundo de 2014, Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2016, Operação Verde Brasil 2 e
Tenente-Brigadeiro do Ar Carls de Almeida Baptista Junior
Operação Samaúma, demonstrando uma necessidade crescente por Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP). Essa demanda foi atendida, em dezembro de 2021, com a assinatura de um contrato para aquisição de dois RQ-900, ampliando a capacidade e cobertura da FAB. Na ocasião, o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Junior, destacou a importância da ampliação da frota das ARP, também conhecidas como Veículos Aéreos Não Tripulados (VANT). “A assinatura deste contrato de ampliação da nossa frota de aeronaves remotamente pilotadas é mais um passo na construção das capacidades necessárias à Força Aérea Brasileira do futuro. Tais capacidades são construídas pela combinação de meios materiais, pessoais, infraestrutura e doutrina de emprego, dentre vários fatores. No caso dos meios materiais,
Sargento Rezende / Força Aérea Brasileira
Aeronave Remotamente Pilotada RQ-900 decolando para mais uma missão de inteligência, vigilância e reconhecimento
Sargento Rezende / Força Aérea Brasileira Sargento Januário / Força Aérea Brasileira
Suboficial Nery / Agência Força Aérea
nosso maior desafio é a priorização daquilo que precisamos adquirir, frente aos recursos que nos são disponibilizados. O contrato comprova a prioridade que estamos dando para esses sistemas remotamente pilotados, que têm se mostrado muito importantes não só para a defesa do Brasil, mas para as ações de combate a crimes transnacionais, mineração ilegal, controle de queimadas e desmatamentos. São sistemas de grande relevância para o nosso País”, explicou. O Hermes 900 é uma ARP de grande porte, com avançado sistema, e com alta confiabilidade e segurança nas operações. Com o voo controlado remotamente, ele possui grande autonomia, além da possibilidade de ser equipado com diferentes configurações. Anteriormente, o voo era feito com a necessidade de uma linha de visada entre a ARP e a estação de solo. Ou seja, havia algumas limitações de dis-
Sargento Viegas / Agência Força Aérea
FAB assina contrato com AEL para ampliação da frota das aeronaves RQ-900
tância para a operação da aeronave, pois, à medida que a distância aumentava, a aeronave começava a ficar abaixo do horizonte, interrompendo essa linha de visada. Agora, utilizando-se de equipamentos com link satelital, a antena não aponta mais diretamente para a aeronave, e sim para o satélite, que faz a ponte com a ARP. Desenvolvida por uma empresa israelense, o Hermes 900 está entre as aeronaves remotamente pilotadas mais modernas da sua categoria e tem como principais operadores os seguintes países: Chile, Colômbia, Islândia, Israel, México e Suíça. O Comandante de Operações Aeroespaciais e Comandante de Preparo, Tenente-Brigadeiro do Ar Sergio Roberto de Almeida, explicou que, até o momento, essa aeronave era operada como uma espécie de prova de conceito. “O recebimento dessas duas novas aeronaves nos colocará no nível de um
Acima, em Santa Maria, Esquadrão Hórus realiza primeiro voo de uma aeronave pilotada por satélite Ao centro, equipe de militares no Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) auxiliam nas operações com a aeronave RQ-900 Abaixo, RQ-900 aterrizando na pista da Base Aérea de Santa Cruz
esquadrão operacional, que passará a ter a capacidade de cumprir ainda mais efetivamente a missão, podendo fazer uma substituição de aeronaves em voo, que é muito comum no emprego de ARP, prolongando o tempo de operação”, completou. Já o Comandante do 1º/12º GAV, Tenente-Coronel Aviador Ricardo Starling Cardoso, frisou que o Esquadrão Hórus está se preparando para o recebimento das aeronaves, tanto na formação de novos tripulantes quanto na formação de mais equipes de manutenção. Além disso, informou que as ARP devem ser entregues dentro de 16 meses, a partir da assinatura do contrato.
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PARCEIROS DA INSPEÇÃO DE EQUIPAMENTOS QUE AUXILIAM NA NAVEGAÇÃO AÉREA Luzes brancas e vermelhas, localizadas geralmente à esquerda das cabeceiras da pista dos aeroportos. Elas fazem parte de um aparelho de iluminação com focos calibrados. Isto é, um sistema de auxílio visual que objetiva orientar os pilotos quanto à precisão para o pouso por meio da indicação da altitude correta para a rampa de aproximação para o pouso. Por isso, esse aparelho é denominado Indicador de Trajetória de Aproximação de Precisão (PAPI, sigla em inglês para Precision Approach Path Indicator). TENENTE JORNALISTA LETICIA FARIA
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Foto: IEAV
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O estudo comprovou fatores preponderantes para a utilização de drones, como a capacidade de transportar diferentes tipos de sensores e o tempo de autonomia. Além disso, mostrou que a FAB consegue inovar sendo, até o momento, uma das poucas Forças Aéreas do mundo que possuem capacidade de realizar inspeção com drone
m constante relação com a evolução tecnológica, a Força Aérea Brasileira (FAB), por meio do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e do Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), realizou um estudo conjunto com o Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), o Instituto de Estudos Avançados (IEAv) e o Grupo Especial de Inspeção em Voo (GEIV). A pesquisa, que teve início ainda em 2016, utilizou aeronaves remotamente pilotadas (RPA, sigla em inglês para Remotely Piloted Aircraft), mais conhecidas como
drones, que fizeram a inspeção em voo de equipamentos de auxílio à navegação aérea, como os PAPI’s. Atualmente, o responsável pela homologação e inspeção dos PAPI’s nos aeroportos do Brasil é o DECEA, por meio do GEIV, Esquadrão da FAB que realiza uma espécie de fiscalização no ar. São eles que atuam na testagem, aferição e verificação dos auxílios e dos procedimentos de navegação aérea e integra o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB). E, quando da concepção do projeto, buscava-se compreender se seria possível realizar inspeção de auxílios visuais à navegação aérea com drones.
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Fotos: IEAV
Os Papi’s são visíveis das aeronaves a cinco milhas (9,3 km) durante o dia. À noite, podem ser vistas a 20 milhas (37 km) de distância
Funcionalidades do PAPI O PAPI, geralmente, é composto por quatro caixas, cada uma contendo um sistema óptico de luzes que alternam entre o branco e o vermelho. Elas são visíveis a cinco milhas, o equivalente a 9,3 quilômetros, durante o dia. À noite, podem ser vistas a 20 milhas (37 quilômetros de distância). Em relação ao ângulo de aproximação do avião à pista, as luzes podem variar. Evolução tecnológica: o uso dos drones O Coordenador do projeto no IEAv, Tenente-Coronel Aviador Mateus Habermann, explica que a ideia ganhou importância na medida em que os drones foram evoluindo e permitindo maior segurança na pilotagem e na navegação. “A capacidade de transportar diferentes tipos de sensores e o tempo de autonomia também foram fatores preponderantes. Outra questão que sobressai e impulsiona ainda mais a inovação são os custos reduzidos em comparação com o uso de aeronaves convencionais”, comenta.
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O estudo contou com o envolvimento de militares do DECEA, do DCTA, do ICEA, do IEAv e do GEIV
Projeto testado e segurança comprovada Para a devida concepção da solução, foi instalado um sistema na área do IEAv, onde o protótipo foi, exaustivamente, testado. Comprovada a segurança, a equipe que desenvolveu o estudo passou a efetuar testes nos aeroportos de São José dos Campos, Campo de Marte e Pirassununga (SP), Santos Dumont (RJ), Uberaba e Uberlândia (MG), São Luis (MA), Joinville e Navegantes (SC), Pelotas (RS), Vitória (ES), Maceió (AL) e Ilhéus (BA). “O GEIV participou de todas as campanhas. O objetivo era justamente comparar os resultados obtidos com a aeronave e sua tripulação com aqueles feitos pelo drone e a equipe em solo”, esclarece o Chefe do Escritório de Projetos do IEAv, e pesquisador responsável pela resolução geoespacial do projeto, Major Engenheiro Gabriel Dietzsch.
Fotos: IEAV
A FAB precisava verificar se era, ou não, possível realizar a mesma inspeção então feita pelas aeronaves do GEIV, levando em conta a segurança e a acurácia necessárias, com um drone. “Todos os aeroportos que pretendem receber determinados tipos de aeronaves, em determinados horários, condições meteorológicas e de operacionalidade devem possuir o PAPI. Atualmente, todos os aeroportos internacionais e de grande porte possuem esse equipamento. O Brasil conta com aproximadamente 166 aeroportos com o sistema instalado, o qual deve ser inspecionado periodicamente”, completa o Tenente-Coronel.
Economia e benefícios alcançados O estudo comprovou que, ao utilizar os drones para a inspeção dos PAPI’s ao invés das aeronaves tripuladas, foi possível gerar diversas economias, como de tempo para a inspeção: com o GEIV são necessárias quatro horas em média, e com o drone, 30 minutos; de recursos financeiros; e de emissão de gás carbônico, visto que com o drone, o carregamento das baterias não emite compostos químicos na atmosfera. O Major Dietzsch salienta que o projeto revela à sociedade que a Força Aérea conta com profissionais que atuam no campo técnico para as soluções das demandas e, também, para redução de custos e aumento da eficiência. “Não há como frear o emprego das novas tecnologias. O futuro é realizar as mesmas tarefas de forma mais rápida, precisa e com menor custo. Além desses fatores mais tangíveis para a sociedade como um todo, existe a projeção do poder perante outras nações. Ou seja, mostramos com isso que a FAB consegue inovar sendo, até o momento, uma das poucas Forças Aéreas do mundo que possuem capacidade de realizar inspeção com drone”, garante o Oficial.
Repasse à indústria O protótipo do projeto foi devidamente testado em ambiente operacional e obteve êxito. Hoje, está em fase de avaliação de pedido de patente. “A equipe desenvolvedora entende que a solução deve ser repassada para a indústria com o intuito de dar escalabilidade de produção e, sobretudo, suporte técnico para o usuário final, que poderá ser tanto os próprios administradores locais de aeródromos, quanto o DECEA por meio do GEIV ou de outra Organização Militar”, explica o Major. Para a efetiva utilização do protótipo, em caso de aceno positivo por parte da indústria, sua utilização ocorre a depender do tempo de resposta para produção e organização de suporte. Já por parte da Força Aérea, caso deseje usar em caráter experimental, o emprego pode ser feito imediatamente. Desse modo, as aeronaves do GEIV realizam apenas um sobrevoo nas pistas dos aeroportos para checagem.
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BUSCA E SALVAMENTO
SEMPRE ALERTA! Conheça os procedimentos para busca e salvamento de acidentes aeronáuticos e de embarcações, desde o acionamento até o encerramento das atividades.
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
TENENTE JORNALISTA CRISTIANE DOS SANTOS
A FAB está em estado de alerta, 24 horas por dia, sete dias por semana, sempre pronta para atender um chamado de missão de busca e salvamento
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m estado de alerta, 24 horas por dia durante todo o ano, a Força Aérea Brasileira (FAB) está sempre pronta para atender os acionamentos de uma missão de busca e salvamento. Em ocorrências relacionadas à aeronaves e embarcações em perigo, quando surge a necessidade de localizar, resgatar e trazer à segurança os sobreviventes, a FAB é acionada e, então, são iniciados os primeiros procedimentos para a realização da missão. Por meio de operações de Busca e Salvamento (SAR, do inglês, Search And Rescue), nos últimos dez anos, a FAB localizou 431 pessoas vítimas de acidentes aeronáuticos e marítimos. Somente em 2021, foram realizadas 25 buscas, localizadas 10 embarcações, nove pessoas foram encontradas com vida e receberam algum tipo de assistência do Siste-
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ma de Busca e Salvamento Aeronáutico Brasileiro (SISSAR). Sob a gerência do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), o Sistema normatiza, coordena e controla as ações de Busca e Salvamento. O indício de que um desaparecimento e/ou emergência de aeronave ou embarcação pode chegar ao conhecimento da Força Aérea por alguns meios, como segue: Em se tratando de aeronaves: • Por meio da perda de comunicações e/ou contato radar junto aos órgãos de controle; • Por meio do recebimento de sinal de Emergency Locator Transmitter (ELT) no Centro Brasileiro de Controle de Missão COSPAS-SARSAT (BRMCC), que está localizado em Brasília (DF), nas dependências do Primeiro Centro Inte-
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grado de Defesa e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I); (veja infográfico) • Por parte da comunicação do operador e/ou familiares informando da falta de notícias de uma aeronave sem plano de voo. Esse relato pode ser feito para quaisquer organismos de segurança pública, que por sua vez comunicam a Força Aérea. Em se tratando de embarcações: • A comunicação de embarcação em perigo/emergência ou homem ao mar vem por meio da Marinha do Brasil (MB). Essas embarcações se comunicam diretamente com a MB, ou outra em-
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Assim como os equipamentos apropriados, empregar recursos humanos qualificados também é imprescindível para sucesso da missão
emitem sinais a partir de equipamentos embarcados nas aeronaves. “Ou, ainda, por telefonemas de familiares, pilotos, amigos, proprietários da aeronave que não recebem notícias e percebem o desaparecimento ou até mesmo de alguém que possa ter presenciado o evento”, complementa o Oficial. FAB integrada Quando da hipótese de desaparecimento de um meio de transporte, de um acidente aeronáutico ou de uma emergência, uma série de procedimentos ocorre de forma ordenada, integrada e simultânea, com o envolvimento de diversas Organizações da FAB, com o objetivo de confirmar a ocorrência. Se de fato procede, de imediato, o Centro de Coordenação de Salvamento Aeronáutico (SALVAERO) é acionado. O órgão é subordinado aos Centros Integrados de Defesa Aérea e Controle
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Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
Sargento Johnson Barros / Agência Força Aérea
barcação que esteja nas proximidades informando que se encontra em uma condição de perigo/emergência; • Por meio do recebimento de sinal de Emergency Position Indicating Radio Beacon (EPIRB) no Centro Brasileiro de Controle de Missão COSPAS-SARSAT (BRMCC) (veja infográfico) As agências de segurança pública atuam, de forma conjunta e integrada, sendo elas a Marinha do Brasil (SALVAMAR), o Exército Brasileiro, as Polícias Militares e Civis, o Corpo de Bombeiros dos estados, dentre outras organizações públicas, privadas e não governamentais. Conforme explica o Chefe da Divisão de Busca e Salvamento do DECEA, Major Aviador Bruno Vieira Passos, a informação chega aos Centros de Coordenação de Busca e Salvamento Aeronáutico (ARCC) por meio de órgãos de controles, como ACC, APP, rádios e torres de controle; por sinais de balizas de emergências, que
do Tráfego Aéreo (CINDACTA), que atuam na execução das atividades de controle do tráfego aéreo civil e militar, na vigilância do espaço aéreo e no comando das ações de defesa aérea no Brasil. Após averiguar as informações recebidas dos órgãos envolvidos, como matrícula da aeronave, provável localização da queda, se há sobreviventes ou não, dentre outras, é iniciado o acionamento dos Esquadrões de Busca e Salvamento da FAB. É o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) que disponibiliza os meios aéreos para executar as missões, como, por exemplo, os helicópteros H-36 Caracal e H-60L Black Hawk e os aviões P-95 Bandeirulha, SC-105 Amazonas, P-3 Orion e KC-130 Hércules. Normalmente, quando ciente da emergência, o SALVAERO solicita
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Atuação dos Esquadrões de Busca e Salvamento Com marcante atuação em todo o território nacional e no exterior, o Esquadrão Pelicano (2º/10º GAV) é a única Organização Militar das Forças Armadas cuja função precípua é a salvaguarda da vida humana. Ao longo de sua história, tem atuado em diversas missões de resgate, desde as menos conhecidas até aquelas de extensa divulgação na mídia, como as buscas ao Varig 254, em 1989; ao
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Treinamento prepara militares para lançamento de botes salva-vidas e mantimentos para sobreviventes
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apoio de aeronaves de Busca e Salvamento. No entanto, a definição do meio aéreo mais adequado depende de alguns fatores, como, por exemplo, se a aeronave da emergência possui o ELT, que pode ser traduzido como Transmissor Localizador de Emergência. A função deste equipamento é emitir sinais de emergência, facilitando a localização. “Quando é uma missão com ELT, ou seja, já é conhecido o local do acidente, é possível solicitar apenas a aeronave de resgate. Entretanto, de maneira geral, sempre que é solicitado uma aeronave de busca, também é solicitado uma de salvamento para otimizar o tempo”, explica o Major Vieira. Atualmente, a FAB conta com dez Esquadrões que atuam em missões de Busca e Salvamento,localizados em Campo Grande (MS), Parnamirim (RN), Rio de Janeiro (RJ), Santa Maria (RS), Manaus (AM), Canoas (RS) e Belém (PA). Eles atuam de forma sinérgica com o SALVAERO, que também está presente em pontos estratégicos do território nacional: Brasília (DF), Curitiba (PR), Atlântico/Recife (PE) e Manaus (AM). Assim como os equipamentos apropriados, empregar recursos humanos qualificados também é imprescindível para o sucesso da missão. Nesse caso, o Comando de Preparo (COMPREP) tem envolvimento ímpar no processo. Para tanto, promove capacitação técnico-profissional dos recursos aéreos e aeroterrestres para que sejam engajados em atividades SAR. Assim, de forma contínua, os militares são treinados e preparados para a localização ou resgate a bordo de aeronaves equipadas.
Sargento Paulo Rezende / Agência Força Aérea
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A FAB emprega também aviões P-95 Bandeirulha como vetores de Busca e Salvamento
Gol 1907, em 2006; e ao Air France 447, em 2009. Paralelamente, atua no atendimento às populações atingidas por desastres naturais, como aconteceu após o terremoto no Peru, em 1972; nas enchentes na Bolívia, em 2007; dentre outros atendimentos no território nacional. Para o Comandante do Esquadrão, Tenente-Coronel Aviador Emanuel Patricio Beserra Garioli, salvar vidas é a razão de existir do 2°/10° GAV. “Salvar Vidas tem sido o motivo pelo qual nossos tripulantes se preparam e se dedicam incessantemente. Preparam-se para utilizar aeronaves modernas com sensores de última geração e se dedicam no emprego em missões reais. O Esquadrão está de prontidão durante 24 horas por dia, sete dias da semana. A abnegação dos nossos militares, juntamente com coragem, dedicação, espírito de corpo, persistência
e prontidão, faz do Esquadrão Pelicano uma referência na prestação do serviço de Busca e Salvamento”. Outro Esquadrão da FAB que atua nas missões de Busca e Salvamento é o Puma (3º/8º GAV). A Unidade Aérea esteve bastante presente no apoio às vítimas do ciclone na Bahia no início de 2022. O Comandante da Unidade Aérea, Tenente-Coronel Aviador Bruno Cesar Guimarães de Oliveira, reafirma que o diferencial para o cumprimento de cada missão é o treinamento dos militares. “O efetivo envolvido passa por complexa e extensa rotina de treinamentos. Existem cursos para coordenadores, pilotos, mecânicos, operadores de equipamentos especiais, observadores SAR e homens de resgate. Qualquer dessas funções demanda vários cursos prévios e anos de formação. Além da capacitação, a
Força Aérea realiza diversos treinamentos anuais para manter seus militares em condições de uma rápida resposta em caso de um incidente”, comenta o Oficial. Por fim, vale destacar que as buscas são encerradas somente quando ocorre o salvamento das vítimas e encaminhadas ao hospital, ou quando há confirmação de óbito. Após um período de buscas, caso permaneça o desaparecimento de alguma vítima, a atividade pode ser suspensa. No entanto, podem ser reativadas a qualquer momento, quando novos indícios surgirem. O resumo dessa nobre missão que move esses homens e mulheres e os fazem trabalhar diuturnamente sem pensar em si próprio em prol dessa atividade de Busca e Salvamento, se traduz nessa frase que trazem como lema: Para que outros possam viver,... Busca!!!
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AJUDA HUMANITÁRIA
A AJUDA EM MEIO A DOR Militares da Força Aérea Brasileira (FAB), de diversos cantos do Brasil, juntaramse a outros profissionais, dentre eles especialistas em resgate e desobstrução de vias interditadas por alagamento, além de técnicos da saúde para uma missão de ajuda humanitária. O destino: o sul da Bahia, no final de 2021, quando foi registrado o maior acúmulo de chuvas para dezembro, nos últimos 32 anos. Deslizamentos de pedras provocaram o bloqueio total em diversas estradas. Populações ficaram isoladas, e a única alternativa de socorro era por meio aéreo, com o emprego dos helicópteros da FAB, transportando alimentos e profissionais para atender milhares de vítimas.
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TENENTE RELAÇÕES PÚBLICAS WANESSA LIZ
ob a coordenação do Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE), a Força Aérea Brasileira (FAB) foi uma das primeiras instituições a prestar apoio às cidades castigadas pelas chuvas no sul da Bahia. A força-tarefa é realizada por meio de cooperação entre o Ministério da Defesa, o Ministério da Saúde e o Ministério do Desenvolvimento Regional na ajuda humanitária ao Estado. Entre os dias 11 de dezembro a 1º de janeiro, foram enviadas cestas básicas, água potável, kits de primeiros-socor-
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A aeronave H-36 Caracal realizou no dia 12/12 o transporte de cerca de 800 quilos de cesta básica e água, além de oito militares do Corpo de Bombeiros, entre as cidades Jucuruçu e Itamaraju
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Vetor de transporte aéreo da FAB, o C-130M Hércules, do Primeiro do Primeiro Grupo de Transporte (1º/1º GT), levou toneladas de medicamentos de Guarulhos (SP) até Teixeira de Freitas (BA)
Primeiros voos para a Bahia O primeiro voo com ajuda humanitária à Bahia ocorreu no dia 11 de dezembro. A aeronave H-36 Caracal, operada pelo
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A Força Aérea atua em diversas ações de apoio ao País e a humanitária é uma delas. Temos um País vasto e que está sempre demandando esse tipo de apoio. Sendo assim, qualquer que seja o local que a nossa população necessite de socorro vamos tomar as providências e assegurar que a ajuda chegue o mais rápido possível
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ros, remédios, equipes médicas, roupas e produtos de higiene. Além disso, houve o transporte de profissionais especializados em resgate e especialistas para desobstruir as vias interditadas pelos alagamentos. A ajuda foi enviada aos moradores dos munincípios da Bahia, de Caravelas, Dário Meira, Eunápolis, Guaratinga, Ibicuí, Ibirapuã, Ilhéus, Ipiaú, Itabuna, Itagimirim, Itajuípe, Itamaraju, Itanhém, Itapebi, Jucuruçu, Lajedão, Macarani, Medeiros Neto, Mucuri, Nova Viçosa, Porto Seguro, Prado, Santa Cruz Cabrália, Teixeira de Freitas e Veredas.
Capitão Aviador Ítalo de Holanda de Oliveira
Esquadrão Falcão (1º/8º GAV), foi deslocada para Porto Seguro (BA), pólo base de atuação da força-tarefa de assistência às localidades. No dia 12, o mesmo helicóptero transportou uma comitiva do Poder Executivo para avaliar a situação das regiões afetadas. Foram sobrevoadas as cidades de Jucuruçu, Nova Alegria e Itamaraju para averiguação do impacto das fortes chuvas. No mesmo dia, o helicóptero realizou o transporte de cerca de 800 quilos de cestas básicas e água, além de oito militares do Corpo de Bombeiros de Goiás, entre as cidades Jucuruçu e Itamaraju. O C-130 Hércules, operado pelo Esquadrão Gordo (1º/1º GT), decolou de Guarulhos (SP) para Teixeira de Freitas (BA), no dia 13 de dezembro, com apro-
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8º GAV
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8º GAV
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8º GAV
Foto: Esquadrão Gordo / 1º/ 1º GT
Dia 28/12, dez pacientes foram removidos da cidade de Jucuruçu para os municípios de Porto Seguro (BA) e Itamaraju (BA). Além disso, foram entregues mais de duas toneladas de carga, dentre cestas básicas e fardos de água na cidade de Dário Meira (BA)
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Helicóptero H-36 Caracal do Esquadrão Falcão prestou apoio à população castigada pelas chuvas no Sul da Bahia Aerovisão
Em uma das missões, o DTCEA-PCO enviou duas equipes e duas viaturas para ajudar a Defesa Civil a chegar nas localidades que necessitavam de ajuda
Foto: DTCEA / PCO
Transporte e distribuição de donativos Durante todo o período de envolvimento da FAB na força-tarefa para levar apoio aos moradores da Bahia e de Minas Gerais, foram transportados insumos, bombeiros, profissionais e vítimas como parte da força-tarefa em apoio às cidades atingidas por enchentes nos dois estados. Aviões, helicópteros e caminhões da Força Aérea atuaram nas regiões. Conforme balanço da Instituição, mais de 70 toneladas de donativos, insumos e equipamentos, além de mais de 130 pessoas (Bombeiros Militares, Defesa Civil e vítimas) foram transportadas. O helicóptero H-36 Caracal, ope-
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8ø GAV
ximadamente 2,5 toneladas de medicamentos. O comandante da aeronave, Capitão Aviador Ítalo de Holanda de Oliveira, destacou a emoção de cumprir a missão, levando ajuda aos moradores durante o momento que mais necessitam. “A Força Aérea atua em diversas ações, e a humanitária é uma delas. Temos um País vasto e que está sempre demandando esse tipo de apoio. Sendo assim, qualquer que seja o local que a nossa população necessite de socorro vamos tomar as providências e assegurar que a ajuda chegue o mais rápido possível”, disse o piloto. Um KC-390 Millennium também integrou a força-tarefa. A tripulação decolou da Base Aérea de São Paulo (BASP), em Guarulhos (SP), com destino a Teixeira de Freitas (BA), com a missão de transportar aproximadamente 15 toneladas de donativos alimentícios (perecível e não-perecível) para atender às populações mais atingidas pelas enchentes nas cidades do extremo sul da Bahia.
Foto: Esquadrão Zeus / 1º GTT
Ação mobilizou o efetivo, familiares e amigos que colaboram com as iniciativas da Instituição. O Comando da Aeronáutica conseguiu amenizar o sofrimento dessas pessoas
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8º GAV
Foto: Esquadrão Falcão 1º/8º GAV
rado pelo Esquadrão Falcão (1º/8º GAV); um H-60L Black Hawk, do Esquadrão Pantera (5º/8º GAV); um C-130 Hércules, operado pelo Esquadrão Gordo (1º/1º GT); um KC-390 Millennium, do Esquadrão Zeus (1º GTT); um H-36 (3º/8º GAV), do Esquadrão Puma e uma carreta do Centro de Transporte Logístico da Aeronáutica (CTLA), atuaram na ação.
Petrópolis Em apoio à operação de resgate às vítimas do desastre ambiental em Petrópolis (RJ), ocorrido em fevereiro de 2022, a FAB disponibilizou efetivo e recursos tecnológicos para dar suporte e garantir a segurança da população afetada nas ações de busca e salvamento na região. A chuva invadiu casas, transbordou rios, derrubou árvores e causou vários deslizamentos de terra pela cidade. Diante do cenário, o Destacamento de Controle do Espaço Aéreo de Pico do Couto (DTCEA-PCO) empregou, no dia 15/02, sete militares e duas viaturas no transporte de materiais, dentre colchões e equipamentos, em apoio à Defesa Civil na Região Serrana do estado do Rio de Janeiro. Entre as ações, foi providenciada a instalação de uma Unidade de Serviço de Informações Aeronáuticas (AFIS, do inglês Aerodrome Flight Information Service) – também conhecida como estação-rádio. Também foram entregues pela Diretoria de Administração do Pessoal (DIRAP) da FAB cerca de duas toneladas de alimentos não-perecíveis, água mineral, produtos de higiene e roupas. Aerovisão
Ajuda de todo o Brasil Diante da situação no estado da Bahia, o Brasil se mobilizou e diversas campanhas foram realizadas, com o intuito de arrecadar itens para atender às famílias. Dentre as ações, a Base Aérea de Salvador (BASV) promoveu a Campanha “Todos pela Bahia”, arrecadando móveis, eletrodomésticos, água mineral e cestas básicas; donativos necessários para o restabelecimento das famílias atingidas pelas tempestades no estado. A ação mobilizou o efetivo, familiares e amigos que colaboraram com as iniciativas da Instituição. O Comandante da Base Aérea de Salvador, Coronel Aviador Marcello Borges da Costa, destacou o empenho dos militares da FAB, atuando em prol dos demais moradores. “Conseguimos montar três postos para arrecadação de mantimentos, colchões, móveis, dentre outros, e atingir um resultado positivo para ajudar famílias atingidas pelas chuvas neste estado tão representativo para o País. Assim, a Base Aérea, como representante do Comando da Aeronáutica no estado, conseguiu amenizar o sofrimento dessas pessoas”, afirmou o Oficial. Jan/Fev/Mar/2022
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DA FAB PARA O MUNDO Conheça a história do Tenente-Coronel Heleno Souza da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), que iniciou sua carreira militar na Força Aérea Brasileira (FAB). á 18 anos servindo na Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), o Tenente-Coronel Heleno Souza, de naturalidade e coração brasileiros, deu seus primeiros passos no militarismo no Brasil, especificamente, na Base Aérea de Santa Cruz (BASC), no Rio de Janeiro. Filho de paraquedista do Exército Brasileiro, foi incentivado pelo pai a servir à Pátria. Alistou-se aos 17 anos e iniciou seu voo como soldado na Força Aérea Brasileira. “Fui soldado de segunda-classe por dois anos com muito orgulho. Eu gosto de destacar minha patente, pois foi a partir daí que eu comecei a minha vida militar. A FAB sempre me encantou com suas aeronaves e pela sua nobre missão”, contou o Tenente-Coronel. Paralela à função na FAB, o TenenteCoronel Souza formou-se em Química, porém, seu desejo de alçar voos mais altos o levou a graduar-se em Fisioterapia. Dedicou grande parte do seu conhecimento em pesquisas na área de Revitalização Celular. O militar foi convidado a aprimorar seus estudos nos Estados Unidos. No intuito de expandir seus anseios acadêmicos e científicos, graduou-se em dois mestrados e um doutorado. Especializou-se também em Tratamento de Feridas com Certificação de Especialista em Cicatrização Tecidual, assim como Ergonomia e Mecânica Corporal. Devido à relação direta entre cuidados com feridas e socorro às vítimas de desastres e assistência humanitária, o Tenente-Coronel Souza continuou promovendo cursos avançados em Cicatrização e Revitalização Tecidual através de reposição de pele artificial, não só nos EUA, mas em vários
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países, incluindo Brasil. No início de sua vida na América, o militar determinou que retribuiria ao país que lhe recebeu de braços abertos por meio do serviço militar. Após ser selecionado para servir na Força Aérea Americana (USAF), ele realizou o Curso de Formação de Oficiais. Atualmente, o militar é Especialista em Saúde Internacional e ocupa o cargo de Chefe de Serviços Médicos Hospitalares e Administrativos e Chefe de Operações
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Ser militar é uma profissão que abre fronteiras, principalmente fazendo o que eu e minha equipe fazemos na área da saúde. Os sonhos podem ser realizados, basta acreditar e ter força de vontade. Não me arrependo de absolutamente nada e faria tudo de novo, do mesmo jeito Tenente-Coronel da USAF Heleno Souza
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TENENTE JORNALISTA RAQUEL ALVES
Médicas Internacionais da Base Aérea Luke - Asa de Caça 944 (944th Fighter Wing), Esquadrão 944th de Preparação Aeromédica e Movimento de Pacientes, localizado no Arizona (EUA). “Ser militar é uma profissão que enobrece, abre fronteiras, molda o mundo, principalmente fazendo o que eu e minha equipe fazemos na área da saúde. Os sonhos podem ser realizados, basta acreditar, ter coragem de enfrentar novos desafios, e reviver das cinzas quando necessário. Não me
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arrependo de absolutamente nada e faria tudo de novo se preciso fosse, da mesma forma, cavando masmorras aos vícios e erguendo templos as virtudes”, relatou. O Tenente-Coronel Souza é o autor do Anexo Médico do Sistema de Cooperação entre as Forças Aéreas Americanas (SICOFAA), que tem como principal objetivo estabelecer processos e procedimentos normalizados e de interoperabilidade entre as Forças Aéreas Americanas que pertencem ao Sistema. Durante o Exercício Cooperación VII, realizado entre setembro e outubro de 2021, na Colômbia, o militar foi o Comandante das Operações Médicas. Ele liderou os treinamentos entre equipes de profissionais de saúde, organizadas em módulos com integrantes militares de diferentes países. “As pessoas que necessitam de ajuda em casos de desastres naturais precisam de um atendimento o mais rápido e eficaz possível, por isso nós treinamos vigorosamente em exercícios para alinharmos as técnicas, processos e a assistência necessárias”, explicou o militar. Muitas histórias e experiências estão na bagagem de vida do militar, que iniciou sua carreira na FAB. Ao ser perguntado sobre um momento marcante na carreira, o Tenente-Coronel Souza emocionou-se. “Dois momentos importantes se destacam em minha vida militar: fazer o juramento à bandeira com meu filho quando ele ingressou na USAF; e o segundo, quando transportamos as urnas funerárias de alguns dos nossos irmãos de farda que prestaram ao sacrifício maior servindo à pátria”, finalizou.
Acervo pessoal
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Hoje servindo na Força Aérea dos Estados Unidos, o TenenteCoronel Souza orgulha-se do passado: o início da carreira militar como soldado da FAB
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Os artigos publicados nesta coluna são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente a opinião do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica
OPERAÇÃO ACOLHIDA: COOPERAÇÃO CIVIL-MILITAR E A PARTICIPAÇÃO DA FAB Acervo pessoal
Por GIULIA DABUL SCORTEGAGNA DE MEDEIROS Formada em Relações Internacionais, primeira mulher a ser desdobrada na Missão de Reconhecimento da Operação Acolhida e mestranda do Institut de Hautes Études Internationales e du Development em International Affairs, e da PUC-Rio, em Análise e Gestão de Políticas Internacionais.
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Cooperação Civil-Militar, também conhecida pelo seu acrônimo em inglês CIMIC, é uma capacidade militar que visa o desenvolvimento do relacionamento entre os atores militares, organizações civis e a população nos níveis operacional e tático. Pode ser também interagências, fruto da interação entre os componentes civil e militar. Já sua característica militar se dá, entre outros aspectos, por ter o objetivo voltado para a missão integrada. No entanto, é diferente da pasta de Assuntos Civis (As Civ) e da Comunicação Social (Com Soc). Por meio do caso da Operação Acolhida, força-tarefa logística humanitária em Boa Vista (RR), Pacaraima (RR) e Manaus (AM), este artigo pretende difundir o trabalho de excelência realizado pelos militares brasileiros no acolhimento de migrantes venezuelanos no País. Operação Acolhida De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a Venezuela é, atualmente, o país que origina o segundo maior fluxo migratório de pessoas em busca de refúgio em países vizinhos. A Força Tarefa Logística
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Humanitária teve o seu início a partir da intensificação do processo migratório na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, em Pacaraima (RR). O grande número de migrantes gerou pressão nas autoridades locais e sobrecarga nos serviços prestados à população. Dessa maneira, para organizar a cidade, melhorar a segurança e a economia e prover apoio adicional aos serviços locais, o Governo Federal criou a Operação Acolhida com três bases. A primeira é em Pacaraima, em Roraima, geralmente o primeiro ponto de contato com os migrantes; a segunda é em Boa Vista, capital do mesmo estado; e a terceira é na cidade de Manaus, no Amazonas. A escolha, em grande parte, deve-se à geografia por ser o caminho terrestre utilizado da Venezuela ao Brasil. Para ir ao interior ou a outras cidades brasileiras, é necessário pegar um barco ou então um voo a partir de Manaus, uma vez que a estrada, através da BR-319, fica inacessível ao menos seis meses ao ano por conta das chuvas. Além disso, para prover toda a assistência necessária para os migrantes, o Governo está em coordenação com mais de 100 organizações não-governamentais (ONGs) e organizações internacionais (OIs), como, por exemplo, a Cruz Vermelha Brasileira, a Organização Internacional para as Migrações (OIM), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Assim, os integrantes da missão precisam trabalhar juntos para identificar, regularizar o estado migratório, realizar inspeção sanitária (e imunização), bem como promover inserção socioeconômica.
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Assuntos Civis na prática e a participação da FAB A Força Aérea Brasileira (FAB) tem um papel significativo para a Operação Acolhida por meio do transporte de migrantes venezuelanos, remédios e equipes médicas, além da distribuição de refeições em abrigos, atuação na área da saúde e da administração. No caso dos militares da área de saúde da FAB, há geralmente uma rotatividade mensal de profissionais devido à intensidade do trabalho e à grande presença de organizações militares dessa Força em Manaus (AM). É necessário também enfatizar o seu papel na Comunicação Social em informar a população sobre o que é a Operação Acolhida e como as Forças Armadas estão atuando para apoiar os migrantes venezuelanos no País. As três capacidades, Assuntos Civis, Cooperação Civil-Militar e Comunicação Social, são relevantes para o estabelecimento e a manutenção do relacionamento entre os atores militares e civis, assim como a sua coordenação em contexto de operações interagências. A Operação Acolhida tem servido como uma grande prática para essas capacidades e é motivo de elogios de organismos internacionais como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR Brasil). É preciso continuar difundindo a importância do assunto, assim como a atuação dos militares brasileiros na Operação Acolhida, para promover a expansão desse conhecimento em um ambiente de operações cada vez mais de caráter conjunto e interagência.
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