Monitor do Déficit Tecnológico Análise Conjuntural das Trocas Tecnológicas nos Serviços e no Comércio Exterior Brasileiro
1º semestre de 2011
Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Apresentação
O
déficit tecnológico da indústria brasileira ficou em US$ 50 bilhões no primeiro semestre de 2011, valor 33% superior ao do mesmo período de 2010. Nos últimos quatro anos, o avanço total foi de 82%. A previsão é de que o indicador ultrapasse a cifra dos US$ 100 bilhões até o fim do ano, podendo chegar aos US$ 120 bilhões. A análise detalhada do saldo comercial mostra que os grupos industriais de alta e média-alta tecnologia se mantém negativos nos seis primeiros meses do ano, atingindo déficits de US$ 14,8 bilhões e de US$ 23,8 bilhões, respectivamente. A balança comercial foi sustentada no período pelos produtos de baixa tecnologia e produtos não industriais, que continuam com superávits crescentes. O primeiro grupo registrou, no semestre, saldo de US$ 19,5 bilhões (10% superior ao mesmo período de 2010) e o segundo, US$ 31,5 bilhões (55% se comparado aos primeiros seis meses do ano passado). O grupo de média-baixa tecnologia manteve superávit de US$ 0,5 bilhão de janeiro a junho. O resultado se deve à recuperação das exportações de produtos metálicos, que registraram saldo de US$ 4,6 bilhões contra US$ 2,1 bilhões em igual período de 2010. Também se explica pela venda externa da primeira plataforma de perfuração produzida no Brasil, o que contribuiu para o setor de construção naval exportar US$ 1 bilhão no período. As três contas de serviços que compõem o déficit tecnológico acumularam, no primeiro semestre de 2011, saldo de US$ 11,2 bilhões negativos. A conta de aluguel de equipamentos foi a principal responsável pelo resultado, com déficit de US$ 7,8 bilhões, devido especialmente aos investimentos no pré-sal e no setor de minérios. Esta edição do Monitor do Déficit Tecnológico apresenta, ainda, estudo da evolução dos preços de 18 commodities. O crescimento acumulado foi de 83% ao longo dos últimos 15 anos. Porém, em volume comercializado, o percentual de aumento foi bem superior: 254%. Os números levam a concluir que o movimento de reprimarização da pauta exportadora brasileira se deve mais ao aumento do volume de commodities exportadas do que à elevação dos preços. O fato torna o comércio exterior brasileiro cada vez mais refém do crescimento dos compradores externos.
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Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Conceitos básicos O indicador Déficit Tecnológico foi criado pela Protec para verificar a competitividade dos segmentos industriais brasileiros de maior intensidade tecnológica no comércio exterior de mercadorias e serviços. O número indica o saldo comercial dos grupos de produtos de alta e de média-alta intensidade tecnológica, somado ao saldo comercial das contas de serviços tecnológicos (“royalties e licenças”, “computação e informação” e “aluguel de equipamentos”).
Déficit tecnológico
= saldo comercial de produtos de alta intensidade tecnológica
+ saldo comercial de produtos de média-alta intensidade tecnológica
+ saldo comercial de serviços tecnológicos
A metodologia utilizada pela Protec segue os parâmetros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que classifica os produtos pelos seguintes grupos de intensidade tecnológica: • Alta – setores aeroespacial e aeronáutico; farmacêutico; material de escritório e informática; equipamentos de rádio, TV e comunicação; e instrumentos médicos de ótica e precisão. • Média-alta – setores de máquinas e equipamentos elétricos; automobilístico; químico; equipamentos para ferrovia e material de transporte; e máquinas e equipamentos mecânicos. • Média-baixa – setores de construção e reparação naval; borracha e produtos plásticos, petróleo refinado e combustíveis; e produtos minerais metálicos e não-metálicos. • Baixa – setores de produtos reciclados (sucata metálica e não metálica); manufaturados não específicos (jóias, instrumentos musicais, bens esportivos, brinquedos etc), além dos grupos de madeira, papel e celulose; de alimentos, bebidas e tabaco; e de têxteis, couro e calçados. • Produtos não industriais – não utilizam processos industriais.
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Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Comércio exterior por intensidade tecnológica .
A indústria brasileira registrou déficit tecnológico de US$ 50 bilhões no primeiro semestre de 2011, resultado 33% superior ao do mesmo período de 2010. O indicador, que se manteve estável até 2006, desde então sobe progressivamente. Nos últimos quatro anos, o avanço total foi de 82%. Como resultado, a previsão é que o déficit tecnológico da indústria ultrapasse os US$ 100 bilhões até o fim do ano, podendo chegar aos US$ 120 bilhões.
Crescimento do déficit tecnológico (US$ milhões FOB) Previsão Máxima
2º Semestre
Previsão Mínima
1º Semestre
Taxa de Câmbio média
Déficit tecnológico
Taxa de câmbio média
-140.000
3,5
-120.000
3
-100.000
2,50
-80.000
2
-60.000
1,5
-40.000
1
-20.000
0,5
0
0 1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
Fonte: Secex, BCB e OCDE (Stan Indicators 2003). Elaboração própria.
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Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Indicadores Tecnológicos do Brasil (milhões US$ FOB) - 1º Semestre
Saldo dos Grupos Tecnológicos
1º Semestre
1º Semestre
1º Semestre
1º Semestre
1º Semestre
1º Semestre
2006
2007
2008
2009
2010
2011
699,96
505,09
797,44
50,14
310,20
-249,18
-1.200,84
-1.758,34
-2.082,95
-1.987,62
-3.335,64
-3.079,02
Material de escritório e informática
-994,09
-1.055,69
-1.522,55
-1.040,35
-1.681,62
-1.929,44
Equipamentos de telecomunicações
-2.558,31
-2.843,45
-4.602,77
-2.816,24
-5.110,99
-6.775,60
Instrumentos médicos de ótica e precisão
-1.371,34
-1.793,24
-2.506,60
-1.911,23
-2.710,07
-2.780,43
-5.424,62
-6.945,62
-9.917,43
-7.705,30
-12.528,12
-14.813,66
-501,20
-584,94
-1.097,02
-932,72
-1.953,15
-2.734,57
3.933,44
3.118,99
1.561,75
-842,60
-2.029,43
-3.238,89
-2.656,56
-4.234,37
-8.526,48
-4.846,20
-6.277,87
-9.601,73
Equipamentos para ferrovia e material de transporte n.e.
-21,24
-48,56
-301,35
-136,13
-388,21
-735,68
Máquinas e equipamentos mecânicos n.e.
-597,16
-1.486,84
-3.468,36
-4.276,16
-5.285,98
-7.453,43
Média-alta tecnologia
157,28
-3.235,72
-11.831,46
-11.033,80
-15.934,65
-23.764,30
Construção e reparação naval
-0,77
-15,63
17,36
-30,93
-56,99
978,01
Borracha e produtos plásticos
-66,41
-109,44
-433,59
-408,43
-826,87
-1.264,95
Produtos de petróleo refinado e outros combustíveis
775,14
164,76
-876,58
-38,13
-3.148,29
-3.644,39
Outros produtos minerais não-metálicos
690,64
712,96
507,18
208,47
216,22
-110,26
4.550,55
5.586,59
5.270,91
2.994,32
2.112,87
4.554,81
5.949,15
6.339,25
4.485,28
2.725,30
-1.703,06
513,22
Produtos manufaturados n.e. e bens reciclados
502,67
457,42
334,90
150,59
81,04
-101,93
Madeira e seus produtos, papel e celulose
2.847,68
3.178,01
3.385,17
2.406,80
3.291,65
3.284,92
Alimentos, bebidas e tabaco
8.464,77
11.368,18
14.021,62
12.471,96
14.241,88
16.806,72
Têxteis, couro e calçados
1.837,22
1.772,26
1.147,46
192,37
146,26
-486,19
13.652,34
16.775,88
18.889,15
15.221,72
17.760,83
19.503,51
Produtos não industriais
5.199,09
7.650,41
9.667,72
14.697,33
20.291,18
31.527,90
Total Balança Comercial
19.533,24
20.584,20
11.293,25
13.905,24
7.886,18
12.966,67
Aviação e aeroespacial Farmacêutico
Alta tecnologia Máquinas e equipamentos elétricos n. e. Indústria automobilística Produtos químicos,excl. farmacêuticos
Produtos metálicos Média-baixa tecnologia
Baixa tecnologia
Saldo dos Serviços Tecnológicos
1º Semestre 2006
1º Semestre 2007
1º Semestre 2008
1º Semestre 2009
1º Semestre 2010
1º Semestre 2011
Computação e informação
-988,79
-1.066,13
-1.413,92
-1.259,21
-1.628,17
-2.107,10
Royalties e licenças
-700,29
-830,44
-1.145,10
-866,14
-1.196,05
-1.252,23
-2.352,15
-2.740,87
-3.052,40
-4.371,06
-6.188,16
-7.832,84
Total de serviços tecnológicos
-4.041,23
-4.637,43
-5.611,42
-6.496,41
-9.012,38
-11.192,16
Saldo Tecnológico 1º Semestre
-9.308,56
-14.818,78
-27.360,31
-25.235,51
-37.475,16
-49.770,13
-21.050,25
-34.991,86
-63.738,51
-58.981,06
-84.980,92
de -117.823,18 a -104.888,37
Aluguel de equipamentos
Saldo Tecnológico Anual
(Previsão 2011)
Fonte: Secex, BCB e OCDE (Stan Indicators 2003). Elaboração Própria.
Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Saldo comercial – A balança comercial brasileira fechou com saldo de US$ 13 bilhões de janeiro a junho, superando o resultado registrado no mesmo período do ano passado (US$ 7,9 bilhões). Porém, os grupos industriais de alta e média-alta tecnologia continuaram negativos, atingindo, respectivamente, déficits de US$ 14,8 bilhões (18% de aumento em relação ao primeiro semestre de 2010) e de US$ 23,8 bilhões (49% maior que o mesmo período do ano passado). Por outro lado, o superávit dos produtos de baixa tecnologia e de produtos não industriais continua crescendo, tendo chegado a US$ 19,5 bilhões no primeiro grupo (10% a mais que o primeiro semestre de 2010) e a US$ 31,5 bilhões no segundo grupo (55% de aumento em relação a igual período). Este resultado serviu de sustentação para a balança comercial. O grupo de média-baixa tecnologia manteve superávit de US$ 0,5 bilhão de janeiro a junho. O resultado se deve à recuperação das exportações de produtos metálicos, que passaram de US$ 2,1 bilhões no primeiro semestre de 2010 para US$ 4,6 bilhões em igual período de 2011. O setor de construção naval também contribuiu para o superávit total do grupo. O segmento exportou US$ 1 bilhão no período – fato inédito no comércio exterior do País – graças à venda externa da primeira plataforma de perfuração produzida no Brasil. Na série analisada, o País importou US$ 3,05 para cada dólar exportado. Este descompasso se mostrou inferior em outros anos. Em 1996, o Brasil importou US$ 2,53 por cada dólar exportado. A relação melhorou em 2005, quando US$ 1,39 em importação equivalia a US$ 1 exportado.
. Exportações – Nos primeiros seis meses do ano, US$ 23,8 bilhões das vendas ao exterior foram do grupo de alta e média-alta tecnologia, o equivalente a apenas 20% do total das exportações. Destaca-se a queda nas exportações da indústria aeronáutica, o que vem ocorrendo desde 2008, quando atingiram US$ 2,8 bilhões no primeiro semestre daquele ano. No mesmo período de 2011, as exportações caíram para US$ 1,8 bilhão. Essa baixa é reflexo da crise econômica mundial, que inclusive afetou o faturamento da Embraer, principal empresa do setor.
. Importações – Os grupos de alta e de média-alta tecnologia representaram 59% (US$ 62,4 bilhões) das compras brasileiras no exterior. De 1996 até o fim do primeiro semestre de 2011, esse percentual sempre flutuou em torno dos 60%.
. Serviços tecnológicos – As três contas de serviços que compõem o déficit tecnológico acumularam, primeiro semestre de 2011, saldo de US$ 11,2 bilhões negativos, aumento de 99% em comparação com o primeiro semestre de 2008.
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Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
A conta de aluguel de equipamentos é a principal fonte de déficit nos serviços e nem a crise foi suficiente para impedi-la de crescer. Em 2011, foram registrados US$ 7,8 bilhões negativos, valor 157% maior que o de 2008. Os investimentos no pré-sal e no setor de minérios são os principais fatores que explicam este resultado. Os serviços de computação e informação contabilizaram US$ 2,1 bilhões negativos de janeiro a junho de 2011, um aumento de 29% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o resultado foi de US$ 1,6 bilhão negativo. O déficit da conta pode ser ainda maior, uma vez que softwares embarcados em produtos como veículos, aviões, máquinas e equipamentos não são incluídos na conta de serviços. O déficit de royalties e licenças apresenta crescimento mais brando entre os serviços tecnológicos. No primeiro semestre de 2011, o resultado da conta foi de US$ 1,2 bilhão negativo, contra US$ 1,19 bilhão negativo no mesmo período de 2010.
Comportamento das commodities – Os produtos primários vêm aumentando participação na pauta de exportações brasileira. A partir de uma seleção de 18 commodities, é possível mapear 52% do total das exportações do País no primeiro semestre de 2011. Em 2000, a participação do mesmo grupo no total das vendas externas era de 29%.
Exportação de commodities selecionadas Commodities
(US$ milhões FOB)
1996
2000
2005
2008
2009
Exportação de commodities selecionadas
2010
2011 1º Semestre
Café em grão
1.718,58
1.559,12
2.516,09
4.131,47
3.761,27
5.181,63
3.639,06
Soja em grão
1.017,92
2.187,88
5.345,05
10.952,20
11.424,28
11.043,00
8.809,44
Farelo de soja
2.730,94
1.648,38
2.865,04
4.363,52
4.592,65
4.719,37
2.905,21
Óleo de soja em bruto
685,33
299,57
1.022,02
1.984,50
1.040,87
1.190,19
916,61
Suco de laranja
1.396,84
1.033,65
1.110,50
1.996,85
1.619,17
1.774,76
1.056,90
Açúcar em bruto
1.190,74
761,49
2.382,15
3.649,55
5.978,59
9.306,85
4.096,24
Açúcar refinado
418,01
437,62
1.536,68
1.833,41
2.399,23
3.454,83
1.323,91
Celulose
990,77
1.590,69
2.033,90
3.917,37
3.315,28
4.758,12
2.432,83
Alumínio
526,80
1.067,71
945,87
1.019,78
1.417,47
1.013,46
1.109,21
Carne suína "in natura"
121,73
162,76
1.123,15
1.364,47
1.112,21
1.226,58
666,25
Carne bovina "in natura"
194,31
503,30
2.419,11
4.006,25
3.022,57
3.861,04
2.026,67
Carne de frango"in natura"
840,01
805,74
3.324,25
5.821,98
4.817,76
5.789,27
3.442,26
Fumo em folhas
1.016,93
812,92
1.660,50
2.683,20
2.991,82
2.706,73
1.136,53
Minério de ferro
2.695,21
3.048,24
7.296,64
16.538,54
13.246,90
28.911,88
18.381,20
13,00
158,58
4.164,45
13.682,76
9.350,88
16.293,24
10.004,05
2,42
31,93
449,72
696,06
684,58
821,61
95,01
Petróleo em bruto Algodão Milho
71,78
9,47
120,93
1.405,17
1.302,15
2.215,55
733,21
Etanol
95,42
34,79
765,53
2.390,11
1.338,15
1.014,26
376,55
16.267,64
16.031,99
41.155,47
82.834,88
73.011,81
105.378,13
62.568,70
Total das commodities selecionadas Total das Exportações Brasileiras % das Commodities Selecionadas nas Exportações Brasileiras
47.746,73
34,07%
55.085,60
29,10%
118.308,27
197.942,44
152.994,74
201.915,29
118.303,51
34,79%
41,85%
47,72%
52,19%
52,89%
Fonte: SECEX/MDIC, elaboração própria. *Dados podem estar ligeiramente diferentes do MDIC, devido a atualização dos valores na base de dados AliceWeb **Dados até 2006 não eram acompanhados pelo MDIC.
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Monitor do Déficit Tecnológico • 1º semestre de 2011
Analisando o preço desse conjunto de 18 produtos ao longo dos últimos 15 anos, o crescimento acumulado no período foi de 83%. Por outro lado, a quantidade exportada no período teve aumento consideravelmente superior, de 254%. Portanto, o movimento de reprimarização da pauta exportadora reflete, principalmente, o aumento do volume de commodities exportadas e não a elevação dos preços – o que torna o comércio exterior brasileiro cada vez mais refém do crescimento dos compradores externos. Outro fato a se considerar é que o aumento de 83% nos preços de 1996 a 2010 correspondem a um acréscimo anual de 4,5%. Isto é, as commodities podem estar apenas sofrendo correção monetária.
Fonte: MDIC, elaboração própria
A análise do índice de preços indica dois momentos distintos. Até 2002, os preços estavam em queda e atingiram, no ano, 64% dos preços de 1996. Já o volume exportado dobrou. Após 2002, os preços começaram a subir, com destaque para o ano de 2008, quando os cresceram 35% em relação a 2007. Os produtos que mais exerceram pressão sobre os preços, no período de 1996 a 2010, foram o minério de ferro e o petróleo bruto, com crescimento acumulado de 345% e 322%, respectivamente. O terceiro preço que mais subiu na série histórica foi o do óleo de soja em bruto, com 59%.
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