Uma publicação da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica
ANO III Nº 7 - 2012
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Equipamentos para saúde, o novo foco do governo Congresso inédito debate as políticas de inovação planejadas para o setor
Especial Complexo Industrial da Saúde
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Pró-Inovação na Indústria Brasileira
Inovação na indústria brasileira
editorial
Uma publicação da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica
Sociedade Brasileira Pró-InovaçãoTecnológica Presidente:
João Carlos Basilio Vice-presidentes: Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, Jorge Lins Freire, Paulo Skaf, Robson Braga de Andrade e Rodrigo Rocha Loures Conselheiros: Armando Monteiro Neto, Carlos Alexandre Geyer, Franco Pallamolla, Celso Antônio Barbosa, Humberto Barbato, José Manuel de Aguiar Martins, Luiz Aubert Neto, Luiz Guedes, Luiz Amaral, Merheg Cachum, Paulo Godoy e Paulo Okamotto Diretoria: Roberto Nicolsky, Marcos Oliveira, Fabián Yaksic e Joel Weisz Pró-Inovação é a revista da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica Expediente Coordenação editorial: Natália Calandrini Textos: Natália Calandrini Foto de capa: Fabio Chieppe Colaboração: Fernanda Magnani Luciana Ferreira Projeto e produção editorial: Ricardo Meirelles Diagramação: Jessica Gama Estagiária: Indira Rodrigues Comercial e Marketing: Alexandre Nicolsky
Engajamento de resultados O Complexo Industrial da Saúde está passando por um momento especialmente produtivo em termos de articulação política e de crescimento econômico. A importância que o setor assumiu na política do Ministério da Saúde, por meio da aplicação de mecanismos de compras públicas e de parcerias de desenvolvimento produtivo (PDP), é a maior prova disso. Nesta edição, mostramos o avanço na área, mas também apontamos que há muito que fazer, pois o déficit comercial continua crescente.
Foto: Divulgação/Protec
editorial
No que se refere ao segmento de equipamentos para saúde, o engajamento dos produtores, por meio de sua entidade representativa (Abimo), tem se mostrado a atitude correta para interromper os obstáculos. Por isso, a Abimo promoveu com a Protec o 1º Congresso Nacional de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes), nos dias 10 e 11 de abril, em São Paulo. Os principais debates realizados no evento têm sua cobertura neste número da Pró-Inovação. O anúncio de que o governo pretende divulgar as margens de preferência nas licitações ainda em junho animou o setor. Detalhamos o fato na reportagem de capa, apontando em números as vantagens de o governo usar seu poder de compra em favor da indústria nacional, além de mostrar as práticas cotidianas que entravam esse tipo de aquisição. Como não poderia deixar de ser em um evento como o Cimes, a identificação das tendências tecnológicas mundiais e dos desenvolvimentos feitos recentemente no Brasil tiveram destaque na programação, podendo ser conferidos nas próximas páginas. Muito acertado no formato escolhido, o que pode ser confirmado pelo sucesso de público, o Cimes acontece em uma grata hora, quando a Abimo completa 50 anos, conferindo pelo terceiro ano seu Prêmio Inova Saúde. A longa vida da entidade nos faz ter a certeza de continuar a mobilização pelo fortalecimento da indústria nacional, persistindo no debate sobre a inovação. Por isso, trazemos ainda a entrevista com o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Dirceu Barbano, sobre como o órgão pretende conduzir a exigência do Certificado de Boas Práticas de Fabricação tanto para produtos e componentes nacionais, como para os importados. E divulgamos o investimento necessário para sanar o gargalo da liberação de patentes. São questões que merecem entrar na ordem do dia para impulsionar ainda mais o Complexo Industrial da Saúde. Roberto Nicolsky Diretor-Geral da Protec
Circulação: 2.500 exemplares
Sumário Protec - Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica Av. Churchill, 129 - Grupo 1101 - Centro Rio de Janeiro - RJ CEP 20020-050 Tel.: (21) 3077-0800 Fax.: (21) 3077- 0812 revista@protec.org.br www.protec.org.br
Tendências – As novas tecnologias em equipamentos de saúde................................................... 2 Especial – Braile Biomédica leva Prêmio Inova Saúde nos 50 anos da Abimo...................................3 Patentes – Fim do backlog custa caro, mas é necessário....................................................................5 Capa – Compras públicas devem impulsionar setor de equipamentos para saúde...........................6 Entrevista – Presidente da Anvisa: Exigência de BPF é igual para todos os produtos.....................8 Comércio exterior – Déficit na saúde cresce, e setor reage com incentivo às exportações..............10 Espaço Rets..................................................................................................................................12
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CONGRESSO DE INOVAÇÃO EM MATERIAIS E EQUIPAMENTOS PARA SAÚDE
O futuro das tecnologias para saúde
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ivre do contágio da crise econômica mundial e com o poder de compra das classes médias em expansão, a América Latina é o mercado mais promissor para investimentos em tecnologia para cuidados com a saúde. Nos países da região, a indústria do setor chegará a movimentar US$ 121 bilhões em 2015, com crescimento anual de 12,2%. A estimativa foi apresentada em abril por Eduardo Golisano, diretor da consultoria Frost & Sullivan, durante o 1º Congresso Nacional de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes), em São Paulo. A tendência, apontada em pesquisas globais feitas pela consultoria, é que o consumidor fique
cada vez mais disposto a pagar por serviços personalizados de saúde e bem-estar, em especial por tecnologias baseadas na internet. O segmento de healthcare (cuidados com a saúde) se tornará e-healthcare. A expansão maior, prevê Golisano, será nas áreas de telessaúde, softwares, aplicativos de celular, aplicativos de fitness, coaching de saúde e simulação. Alguns exemplos do que o consultor fala são dispositivos móveis a serem desenvolvidos para monitorar a pressão arterial ou o nível de glicose no corpo, e que comunicará diretamente à unidade de saúde no caso de identificação de riscos. Já comercializado e com sucesso de vendas, um aplicativo para smartphone que lembra o usuário de tomar
Panorama das oportunidades no Brasil
6º mercado global da saúde em 2015
Gasto médio de US$ 300 bilhões em cuidados com a saúde
Pró-Inovação em Revista - Ano III - nº 7 - 2012
seu remédio ajuda a garantir o nível de vendas das farmacêuticas. "São funções que permitem você tomar medidas preventivas em casa", observa Golisano. Outra grande tendência mundial é o crescimento do homecare, transferindo os cuidados hospitalares para casa. De acordo com o diretor da Faculdade de Engenharia Biomédica da George Washington University, James Hahn, a área de visualização médica também tende a crescer. Já são muitas as pesquisas em andamento sobre sistemas para simulação de cirurgias. Os pesquisadores da equipe de Hahn, por exemplo, desenvolveram um simulador de crioterapia para câncer de próstata. Mais sofisticado, outro sistema simula a interação do cateter com as veias. A resistência que o médico sentiria no procedimento é idêntica à proporcionada pela simulação. Apesar das pesquisas surpreenderem pelo grau de avanço, elas ainda não apontaram para uma solução que atenda plenamente às necessidades do mercado. "Estamos fazendo muitas pesquisas. Há uma empresa que produz um simulador, mas o mercado ainda é pequeno, diferente dos simuladores de voo. Falta a simulação certa para a atividade certa", avalia Hahn, mencionando que um dos desafios da área é a impossibilidade de simular o caso de um paciente específico.
especial o
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CONGRESSO DE INOVAÇÃO EM MATERIAIS E EQUIPAMENTOS PARA SAÚDE
A pulsante trajetória da Braile Biomédica para implante minimamente invasivo, a Braile investe em inovação 15% de seu faturamento, que hoje está na ordem dos R$ 60 milhões por ano. Fundada em 1977, a empresa fica em São José do Rio Preto, interior do estado de São Paulo, sendo a única no segmento de equipamentos eletromédicos com tecnologia 100% nacional. “O Prêmio Inova Saúde, da Abimo, tem importância muito grande por ser um reconhecimento recebido dos nossos pares. Isso nos deixou especialmente contentes, chega a ser difícil colocar em palavras a alegria de todos os nossos colabora-
dores. Quando um pesquisador na área médica percebe que o trabalho dele resultou num prêmio para comunidade, não há nada mais gratificante”, comemora Domingos Braile, presidente do Conselho da empresa. O Prêmio Inova Saúde, que na edição 2012 contou com 25 empresas concorrentes ao troféu e o cheque de R$ 50 mil, tem o objetivo de estimular a pesquisa e o desenvolvimento de novas tecnologias pelas empresas associadas à Abimo, aumentando o patamar tecnológico da indústria brasileira em benefício da saúde humana. Foto: Divulgação / Abimo
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m seus 50 anos, a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo) homenageou a Braile Biomédica pelo desenvolvimento da válvula Inovare, com o Prêmio Inova Saúde 2012. A cerimônia de entrega foi realizada no dia 9 de abril, véspera do 1º Congresso de Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes). A inovação permite restaurar o coração de pacientes graves sem a necessidade de cirurgias de grande porte. Pelos benefícios à saúde, Inovare tem conquistado o reconhecimento da comunidade médica internacional. O produto é usado na substituição, via cateter, da válvula aórtica, procedimento necessário nos quadros de estenose aórtica grave – um estreitamento irregular da dessa válvula e que dificulta o fluxo sanguíneo do coração para o corpo. A válvula pode ser implantada por um corte mínimo e, durante o procedimento, o coração continua batendo, portanto não há necessidade do equipamento de circulação extracorpórea. A recuperação é rápida e o tempo de internação, mais curto. Indústria brasileira fabricante da primeira válvula cardíaca nacional
Braile recebe o Prêmio Inova Saúde pelo desenvolvimento da Inovare
Do idealismo às realizações Uma instituição com forte identidade humana, formada acima de tudo por homens idealistas, que vão além da figura de empresário. É desta forma que Franco Pallamolla define os 50 anos de existência da Abimo, da qual é presidente. Fundada em 1962, quando 25 fabricantes de produtos médicos e odontológicos decidiram se unir para fortalecer, organizar e regulamentar o segmento, hoje a entidade se estendeu para outros setores e une mais de 300 empresas em torno de uma mesma causa.
Uma causa que, de tão legítima, mereceu mensagem do secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Carlos Gadelha, por ocasião do aniversário da Abimo. “De nossa parte, passamos a considerar a área de equipamentos e materiais médicos do mesmo nível de importância da área farmacêutica (...) Nossa parceria é promissora e está no centro da política nacional de desenvolvimento. (...) Temos tido na Abimo um aliado importante e estratégico que, com desprendimento, tem apoiado toda a estratégia para o desenvolvimento do complexo industrial da saúde”.
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Fim do backlog de patentes depende de R$ 70 milhões ao ano
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O custo é alto, mas temos que pensar no custo da perda da inovação
INPI pretende implantar o depósito de patente online e a opinião preliminar, que será um serviço de busca de patentes já existentes e a elaboração de opinião preliminar sobre a patenteabilidade, indicando se o usuário deve seguir com o pedido ou desistir do investimento. Hoje, o inventor aguarda nove anos até ter essa primeira posição do INPI. Só no ano passado, 57 mil pedidos, depois de muita espera de seus inventores, foram classificados em situação irregular e arquivados. Foto: André Telles
Outras frentes Soluções alternativas que vêm sendo implantadas pelo INPI são a virtualização de serviços e a harmonização de diretrizes, normas e procedimentos internos. No primeiro caso, Flávia explica o e-INPI, sistema informatizado que já inclui o módulo de marcas. Agora está em implan-
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s análises pendentes de pedidos de patente, o chamado backlog, talvez sejam o maior entrave no campo da propriedade industrial no Brasil. O saldo dessa fila no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) em 2011 foi de 173 mil pedidos, que precisam ser analisados por apenas pouco mais de 200 técnicos. Segundo Flávia Elias Trigueiro, coordenadora-geral substituta de patentes e chefe da Divisão de Farmácia do INPI, será necessário o investimento de R$ 70 milhões ao ano para a contratação de pessoal. "O custo é alto, mas temos que pensar no custo do backlog e da perda da inovação", afirma. Nessa conta, ela inclui também a desvalorização do pedido de patente, o desestímulo em depositar patentes devido ao longo tempo de espera e as expectativas de direito para pedidos não patenteáveis, o que leva ao bloqueio de mercado. Sem a abertura de concurso público para a contratação de 460 examinadores (necessidade calculada pelo INPI), o instituto não conseguirá atingir a meta de, em 2015, reduzir para apenas um ano a emissão de opinião técnica e de decidir sobre os pedidos de patente no prazo médio de 2,5 anos após o depósito. Atualmente, os técnicos do INPI ainda estão analisando processos de patente iniciados em 2003. Mesmo diante do cenário alarmante, o instituto conseguiu autorização para abrir apenas 65 vagas este ano.
Flávia Elias Trigueiro
tação o de pedidos de patentes (sistema ePatentes). Outras funcionalidades são o eParecer, e-Carta Patente, e-Vista (em fase piloto com a Anvisa para disponibilizar pedidos de anuência prévia), e o sistema de acompanhamento de pedidos. Ainda para 2012, o
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Foto: Fabio Chieppe
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Equipamentos de saúde na agenda das compras públicas
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overno e setor produtivo já chegaram ao ponto pacífico de que o uso do poder de compras do Estado é fundamental como instrumento indutor do desenvolvimento da indústria. As Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) são uma das formas de aplicar esse princípio. Segundo o Ministério da Saúde, elas geram economia da ordem de R$ 400 milhões ao ano aos cofres públicos, e ainda asseguram a qualidade da produção, feita por laboratórios oficiais. Outra aplicação se dá por meio das compras públicas. Nos dois casos, falta regulamentação para que a política se expanda. O debate ocupou a agenda do Ministério, que depois de anos de intensas atividades junto às farmoquímicas e às farmacêuticas, agora se volta para os equipamentos
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de saúde, graças às reivindicações do setor. Durante o 1º Congresso Nacional da Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes), Zich Moysés, diretor da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, anunciou que a pasta vai oficializar em junho as margens de preferência a serem adotadas nas licitações públicas para compra de materiais e equipamentos de saúde. A proposta, que entrará em consulta pública, prevê índice de até 25% para produtos com concorrência predatória (luvas, seringas, coils e outros), de 20% para produtos com integração produtiva mínima de 60%; e 5%, por no máximo dois anos para os somente montados no Brasil. O Ministério da Saúde soma hoje
R$ 4 bilhões ao ano em aquisições e gera uma economia média estimada de R$ 1,7 bilhão a partir do uso de seu poder de compra. Isso pode gerar R$ 700 milhões de economia de divisas, segundo números apresentados por Moysés. "Vamos usar nossos instrumentos de compra. O ministro da Saúde já autorizou, portanto esta é a prioridade do plano estratégico", declarou. As diretrizes do trabalho serão os investimentos nas Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs), as compensações tecnológicas, as margens de preferência e a cooperação com o setor privado. Dentro do plano de usar as demandas do Sistema Único de Saúde (SUS) para incentivar a indústria nacional, está prevista, por exemplo, ampliação dos serviços de radioterapia, com a
Sustentabilidade O governo pretende também centralizar as compras para fomentar a fabricação de produtos de alto valor agregado, conseguindo dessa forma também ampliar o acesso da população aos serviços de saúde. Dar a oportunidade dessas empresas se qualificarem para fazer produtos de alta tecnologia significa também aproveitar o mercado interno e reduzir o déficit comercial. Hoje, 55% dos produtos que abastecem o Brasil são importados, o que gera dependência externa. "Quando o mercado internacional está aquecido ou acontece uma crise, falta produto aqui. O Brasil tem porte econômico, escala produtiva e segurança de investimentos para sustentar até a exportação para seus vizinhos", defendeu Moysés. "Queremos usar o poder de compra para todos os produtos da saúde que nos interessa", enfatizou. Segundo o gerente da Divisão de Equipamentos do Ministério da Saúde, Murilo Contó, para que o plano tenha sucesso, tanto produtores como gestores públicos precisam estar atentos ao processo de liberação de recursos para
financiar a compra de equipamentos. Os critérios estabelecidos são o equipamento ter durabilidade maior que dois anos e ser relevante para o SUS. A autorização pelo Ministério segue determinadas etapas de avaliação - análise de mérito, da infraestrutura disponível e técnico-econômica. Se o equipamento requerer um novo procedimento no SUS, a
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Queremos usar o poder de compra para todos os produtos da saúde que nos interessa
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compra de aceleradores lineares. O repasse financeiro para a aquisição de equipamentos de saúde para o Sistema Único de Saúde (SUS) este ano será de R$ 700 milhões, valor superior aos R$ 500 milhões de 2011.
Foto: Fabio Chieppe
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Zich Moysés
proposta de compra terá que passar por um processo interno para ser inserido na tabela de pagamento. Especificações técnicas insuficientes ou mal elaboradas, preços superestimados, e incoerência entre equipamento e especificação causam dificuldade na emissão do
parecer, indica Contó. As categorias enquadradas nas compras públicas são equipamentos, materiais permanentes e unidades móveis de saúde. Fazem parte da lista aproximadamente 700 itens, de estetoscópios até os de maior tecnologia. O equipamento mais comprado em 2011 foi o ventilador pulmonar, em um investimento total de mais de R$ 51 milhões. Contó diz que a pasta estuda a possibilidade de centralizar as compras do SUS e priorizar o repasse para equipamentos com P&D subsidiados. "O próprio governo investe no desenvolvimento, mas não incentiva a compra desse equipamento. Isso pode ser feito, por
Ato pela compra de produtos brasileiros A Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratório (Abimo) está desenvolvendo um projeto de lei no estilo Buy American Act, instituindo a preferência obrigatória da indústria nacional nas compras públicas sempre que existir produção local. O presidente da entidade, Franco Pallamolla, defende que as margens de preferência sejam usadas por todo o SUS, incluindo órgãos que têm competências sobre as próprias compras, como o
caso das Santas Casas. Ele relata outros problemas, como prefeituras que não têm profissionais para ajudar no descritivo dos equipamentos para os editais de licitação. Pallamolla aponta ainda a necessidade de envolvimento do Ministério da Educação (MEC), para evitar que os hospitais escola sejam exclusivamente equipados com importados, como acontece hoje. Lei aprovada em 1933 pelo Congresso norte-americano para garantir empregos no país. Assinada pelo presidente Herbert Hoover, obriga o governo dos Estados Unidos a dar preferência aos produtos nacionais em suas compras.
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entrevista o
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Dirceu Barbano
Anvisa na política industrial da saúde Foto: Divulgação/Anvisa
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agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ultrapassou sua função fiscalizadora para também contribuir com a sustentação da atividade econômica. Esta é a visão do diretor-presidente do órgão, Dirceu Barbano. Partindo deste novo princípio, ele comenta na entrevista a seguir as ações da Anvisa para estimular a indústria nacional, além de detalhar o posicionamento adotado quanto à exigência do Certificado de Boas Práticas de Fabricação para produtores estrangeiros de equipamentos para saúde.
entrevista
A Anvisa pretende exigir o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (CBPF) para produtos e componentes importados? Dirceu Barbano: A exigência de BPF é feita de forma igualitária para produtos nacionais e importados. Quaisquer fabricantes de produtos para saúde, sujeitos a registro na Anvisa, já precisam dispor do CBPF no momento do registro e sua renovação. De forma geral, o risco está presente em qualquer produto para saúde humana, em menor ou maior grau. Por esta razão, queremos avançar na fiscalização e nos mecanismos de pós-comercialização.
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A agência estuda a possibilidade de exigir que órgãos públicos estabeleçam como critério a apresentação do certificado de BPF nas licitações? D.B.: Do ponto de vista sanitário, o produto com registro válido tem condições de segurança e efetividade para serem utilizados pela população, seja no acesso ao tratamento por vias públicas ou privadas. Todas as linhas de produção destes materiais passam por certificação em algum momento, seja para realizar o primeiro registro, seja para renovar o registro. Exigências relativas à habilitação das empresas para participação em processos licitatórios fogem das atribuições legais da agência. Estas definições são estabelecidas pelos órgãos compradores e pelas leis que orientam os processos de compras públicas. Entre estas leis, se destaca a 8.666/93. Que medidas a Anvisa está tomando no sentido de estimular a fabricação local? D.B.: A Anvisa está inserida nos programas do governo federal para desenvolvimento da produção nacional. Exemplo disso é o plano Brasil Maior, que é a política industrial, tecnológica e de comércio exterior do governo Dilma Rousseff. O mercado de produtos para saúde tem uma importância estratégica por ser um mercado de alto valor agregado e com impacto na pesquisa e produção de conhecimento nacional.
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Como exemplo comparativo, podemos destacar o caso dos medicamentos nacionais, em que os avanços na regulação sanitária nos últimos anos contribuíram para que nossas indústrias tivessem acesso ao mercado internacional. O governo incluiu a indústria da saúde entre os setores estratégicos para o desenvolvimento do País. Qual é o papel da Anvisa neste processo? D.B.: Como autoridade regulatória, a Anvisa tem papel fundamental na criação de um ambiente seguro e previsível do ponto de vista normativo. Isto significa pavimentar o caminho por onde as indústrias possam conduzir o seu desenvolvimento sem sobressaltos ou surpresas e com nível excelente de qualidade. Ou seja, a regulação sanitária deve ser um instrumento que promova a qualidade da indústria porque isso projetará a nossa produção no ambiente internacional. Em última instância, o objetivo da Anvisa é fazer com que as normas sejam atendidas, pois isso significa maior capacidade técnica para a indústria nacional e redução do risco à saúde para os usuários destes produtos. A vigilância sanitária, mais do que uma ferramenta de controle do Estado sobre o mercado, pode se dar em uma instância de amparo à atividade econômica. Um exemplo concreto desse trabalho foi a assinatura recente do acordo de cooperação técnica voltado para inclusão produtiva com segurança sanitária nos municípios. O documento, assinado entre Anvisa e a Frente Nacional dos Prefeitos, prevê a elaboração de um plano de ação junto aos municípios com maiores índices de pobreza. Temos também o caso de sucesso da articulação da Anvisa com as Parcerias Público-Privadas para produção de medicamentos, em que conseguimos realizar o registro em tempo recorde sem prejudicar a segurança dos produtos.
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Medicamentos e equipamentos médicos ampliam déficit
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déficit tecnológico da indústria brasileira alcançou o recorde de US$ 105,4 bilhões no ano de 2011, valor 24,1% maior que o do ano anterior, segundo o Monitor do Déficit Tecnológico, estudo produzido pela Sociedade Brasileira PróInovação Tecnológica (Protec). Do ponto de vista do saldo comercial, a indústria registrou déficit de US$ 43,2 bilhões. No período, os segmentos de produtos farmacêuticos e de equipamentos para saúde figuraram entre os dez mais deficitários da balança comercial. O primeiro registrou US$ 6,5 bilhões negativos, 1,7% a mais que em 2010, e o segundo US$ 2 bilhões negativos, crescimento de 8,5% em relação ao ano anterior. No primeiro trimestre de 2012, a trajetória deficitária teve continuidade. O setor de equipamentos e materiais médicos, hospitalares e odontológicos exportou US$ 78 milhões e importou US$ 1,9 bilhão, perfazendo o saldo negativo de US$ 1,89 bilhão. Já o setor de produtos farmacêuticos exportou US$ 478 milhões e importou US$ 2,17 bilhões, resultando no déficit de US$ 1,7 bilhão. Na análise do economista Fernando Varella, responsável pelo Monitor, o agravamento do déficit comercial nos segmentos de alta e de média-alta intensidade tecnológica, como é o caso da indústria da saúde, se deve à apreciação cambial e aos elevados custos de produção. O
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processo tem como resultado o contágio dos produtos de médiabaixa tecnologia. "Estamos verificando o desmantelamento das cadeias produtivas. Trata-se de um problema muito sério, pois é extremamente difícil remontá-las no futuro", explica Varella. Ainda segundo Varella, a balança comercial do País vem acentuando a dependência em relação aos produtos não industriais. O grupo teve saldo de US$ 73,1 bilhões positivos, o que sustentou o superávit de toda a balança comercial de 2011, com o valor total de US$ 29,8 bilhões. "A economia brasileira está voltando no tempo, se assemelhando
à situação dos anos 80", avalia. "Com freqüência, vemos empresários dizerem que não conseguiram resistir à concorrência do similar chinês e resolveram retirar certos componentes de sua linha de produção, substituindo-os por importados. Com o passar do tempo, eles foram trocando outros componentes até não produzirem mais nada, passando a ser uma simples linha de montagem. Depois que isso acontece, não tem mais volta. O pior é que o fenômeno se repercute em cadeia, arrefecendo a produção nacional e, mais ainda, a inovação", enfatiza o consultor da Protec.
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Ganhando o mundo 40 países e a indústria brasileira de produtos para a saúde era pouco conhecida internacionalmente. Hoje ela exporta para mais de 180 países e o resultado das vendas externas em
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A Abimo projeta incluir a indústria brasileira entre as cinco maiores fabricantes de equipamentos médicos, odontológicos, hospitalares e de laboratórios até 2020
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studo da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), com base em dados da Secretaria do Comércio Exterior, revelou que o setor registrou déficit comercial de US$ 3 bilhões em 2011. Apesar do resultado negativo, os esforços da entidade para remar contra a maré de importações favorecidas pelo câmbio têm se revelado profícuos. As exportações do setor cresceram mais que as importações no ano passado – 13% contra 11%, respectivamente. Um dos fatores que impulsionou a evolução foi a parceria que a Abimo mantém há dez anos com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Em 2001, o setor exportava US$ 195 milhões para aproximadamente
Foto: Divulgação/Abimo
Franco Pallamolla
2011 foi de US$ 707 milhões, um crescimento de 260% nos últimos dez anos. O segmento de equipamentos médicos, hospitalares e odontológicos representa atualmente 35% do complexo industrial da saúde, gerando de mais de cem mil empregos no Brasil. Diante dos bons números, o convênio entre Abimo e Apex, consolidado no projeto de promoção de exportações Brazilian Health Devices, foi renovado com a previsão de investimento de R$ 11
milhões nos próximos dois anos. Esta nova fase contará com ações inovadoras, como um programa de incentivo à obtenção de certificações internacionais. Mais um exemplo é o estimulo à aceitação da certificação brasileira em outros países, por meio do convite a órgãos regulatórios para visitar o Brasil e conhecer o processo regulatório do país. “A Abimo projeta incluir a indústria brasileira entre as cinco maiores fabricantes de equipamentos médicos, odontológicos, hospitalares e de laboratórios do mundo até 2020. O apoio da ApexBrasil será essencial para essa conquista”, afirma o presidente da Abimo, Franco Pallamolla. A meta do projeto é auxiliar as empresas a exportar, em 2012, US$ 766 milhões e, em 2013, US$ 843 milhões. O grande objetivo do setor, por meio desta parceria, é atingir US$ 1 bilhão em exportações até 2014. Ações estratégicas, como marketing setorial, estudos de inteligência comercial e competitiva e presença em feiras, missões comerciais, projetos comprador e imagem, serão desenvolvidas nos mercados-alvo do Brazilian Health Devices: Chile, Peru, EUA, Angola, Arábia Saudita, Rússia, Índia e México. E, pela primeira vez, o setor participará de feiras na Rússia (Dental Expo 2012) e na África do Sul (África Health 2013), com o objetivo de conquistar espaço para os produtos brasileiros nestes mercados. “Esse é um setor importante para os resultados das exportações brasileiras, pois reúne produtos manufaturados de alta intensidade tecnológica e alto valor agregado que ampliam a competitividade brasileira no mercado internacional e mostram a capacidade do Brasil de produzir alta tecnologia e de inovar”, avalia o
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Troca de experiências no 1º Cimes
As sessões temáticas do 1º Congresso Nacional da Inovação em Materiais e Equipamentos para Saúde (Cimes) abriram espaço para as indústrias do setor mostrarem suas estratégias de inovação, como percebem o mercado e os produtos lançados. Conheça algumas dessas histórias.
Associados da Rets Abendi – Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção Abifina - Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades
Consultório portátil
Marcelo Schettini detalhou o produto, que é um equipamento odontológico de quatro pontas compatíveis com todos os equipamentos indispensáveis para o atendimento ao paciente. O consultório móvel Odontocase possui como diferenciais a mobilidade e o bom custo/benefício. A apresentação de Schettini também incluiu o reciclador da ONG SOS Dental, que trata a água coletada das cuspideiras. Os consultórios dentários gastam em média 700 litros de água por dia.
Diagnóstico 100% nacional Especializada em equipamentos e sistemas para angiografia digital, a XPRO produz o equipamento de maior porte no setor já desenvolvido no país com tecnologia nacional até hoje, segundo o diretorexecutivo da empresa, Pablo Melgaço. Ele dedica o sucesso das inovações às características técnicas e custos compatíveis com o mercado, o domínio das tecnologias aplicadas ao produto, a parceria com universidades, a assistência técnica eficiente e o relacionamento com os clientes. A XPRO investe continuamente 7% de sua receita líquida anual, a partir de recursos próprios, em pesquisa e desenvolvimento.
Seringa protegida A BD, especializada nos segmentos médico, de diagnóstico e de biociências, desenvolveu a Seringa SoloMed com Dispositivo de Segurança, aproveitando a demanda de profissionais de saúde que se acidentavam com materiais perfuro cortantes. De acordo com o diretor de assuntos corporativos da empresa, Walban Damasceno de Souza, não existia similar nacional e os importados tinham alto custo. Por isso, a BD percebeu a necessidade de o Sistema Único de Saúde (SUS) ter acesso a um produto simples, seguro e alinhado com sua realidade de custos.
Abimo – Associação Brasileira das Indústrias de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos Abiquim – Associação Brasileira da Indústria Química ABM – Associação Brasileira de Metalurgia, Materiais e Mineração Abraco – Associação Brasileira de Corrosão Abravest – Associação Brasileira do Vestuário Abripur – Associação Brasileira da Indústria do Poliuretano ABTCP – Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel CT-Dut - Centro de Tecnologia em Dutos FBTS – Fundação Brasileira de Tecnologia da Soldagem IBTeC – Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro, Calçado e Artefatos IPDEletron – Instituto de Gestão de Pesquisa e Desenvolvimento para a Indústria Elétrica e Eletrônica IPD-Farma – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Fármacos e Produtos Farmacêuticos IPD-Maq - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos ITeB – Instituto Tecnológico da Borracha Itehpec – Instituto de Tecnologia e Estudos de Higiene Pessoal, Perfurmaria e Cosméticos
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Pró-Inovação em Revista - Ano III - nº 7 - 2012
Trabalho e parceria: a fórmula para a inovação
Nosso compromisso é desenvolver medicamentos inovadores e de qualidade a um preço justo. Para isso, acreditamos que o trabalho em conjunto é capaz de oferecer resultados rápidos que beneficiam a todos. Por meio de parcerias com universidades, centros de pesquisas, órgãos públicos e laboratórios internacionais, oferecemos ao mercado brasileiro as mais modernas opções de tratamento em diversas especialidades médicas. Foi assim que lançamos mais de 100 produtos e conquistamos o reconhecimento da classe médica.
www.biolabfarma.com.br
Saúde ao Alcance de Todos
E, como a medicina do futuro não pode esperar, somos a farmacêutica que mais investe em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos no Brasil. Isso é fazer diferente. É construir uma nova era.