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Despreocupar e confiar (1 Pedro 5.7

Pare e pense

DESPREOCUPAR E CONFIAR

Entreguem todas as suas preocupações a Deus, pois ele cuida de vocês (1 Pedro 5.7).

Nas colônias de descendentes alemães, antigamente, era costume bordar um pano com um provérbio e pendurá-lo na parede, principalmente atrás do fogão, o chamado Wandschoner (protetor de parede). Muitos dos provérbios usados eram tirados da Bíblia, como 1 Pedro 5.7: Entreguem todas as suas preocupações a Deus, pois ele cuida de vocês. Esse pano bordado, pendurado na cozinha, atrás do fogão – local de encontro da família toda, era uma confissão de fé e testemunho. Essa palavra foi originalmente dirigida pelo apóstolo Pedro aos líderes na comunidade cristã, dando instruções de como deveria ser o servir cristão: ser feito de boa vontade, não por dinheiro, não ser dominador, dar exemplo, não ser arrogante, ser humilde, colocando-se sob a mão poderosa de Deus.

Não se negam as preocupações, as dificuldades, o sofrimento na vida e no serviço cristãos. Afirma-se, sim, que não estamos sozinhos, por nossa própria conta, e que a força e o ânimo de viver e servir como pessoas cristãs vêm de Deus, que cuida de nós. No serviço cristão, somos chamadas a cuidar de outras pessoas, e Deus cuida de nós todos. Em Mateus 6.25-34, temos a promessa de que Deus sabe tudo de que necessitamos e que por isso não precisamos nos preocupar. O apóstolo Paulo aconselha: Não se preocupem com nada, mas em todas as orações peçam a Deus o que vocês precisam e orem sempre com o coração agradecido (Filipenses 4.6).

Entregar tudo nas mãos de Deus em confiança é um exercício de fé e humildade e dá um testemunho de quão poderoso e amoroso é nosso Deus.

Oração: Querido Deus, dispõem-nos a servir e a viver com humildade, que possamos aprender a nos “despreocupar”, colocando nossa vida totalmente em tuas mãos, confiando em teu cuidado amoroso. Que oremos sempre de coração agradecido a ti por todas as bênçãos recebidas. Amém.

Brunilde Arendt Tornquist São Leopoldo/RS

Arquivo OASE

F E V E R E I R O

Flashes do Encontro Nacional da OASE, 05 a 07 de abril de 2019, em Blumenau/SC

Datas importantes

04 – 1906 – *Dietrich Bonhoeffer, teólogo, mártir do nazismo (+09/04/1945) 11 – 1868 – Fundação do Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul 14 – 1546 – Última pregação de Lutero, sobre Mateus 11.28 16 – 1487 – *Philipp Melanchthon, colaborador de Lutero (+19/04/1560) 22 – 1956 – Fundação da Associação Diacônica (ADL), Serra Pelada/ES 26 – Quarta-Feira de Cinzas 28 – 1997 – Reestruturação da IECLB, extinção dos distritos e das regiões, criação dos sínodos

A fé é um contínuo e persistente olhar para Cristo.

Martim Lutero

FEVEREIRO

FEVEREIRO

Deus comprou vocês por um preço, portanto não se tornem escravos de seres humanos. 1 Coríntios 7.23

Meditação

DA ESCRAVIDÃO PARA A LIBERDADE D esde muito pequenos, nós seres humanos apreciamos a liberdade. Quando ainda crianças, a palavra que mais Arquivo pessoal incomodava e irritava era “não”. Não sobe aí. Não pode fazer isso. Não corre. Não mexe aí. Não vai ali. Os educadores e as educadoras estavam certos em dar limites, pois sabiam que esses limites nos protegeriam de perigos. Mas isso incomodava, porque, de certa forma, tirava um pouco a liberdade. Na fase adulta, as pessoas passam a compreender que a liberdade deve ser exercida com responsabilidade. Em 1 Coríntios 7.23 lemos: Deus comprou Vera Cristina Luckner Beling vocês por um preço, portanto não se tornem escravos de seres humanos. Conforme o dicionário da Língua Portuguesa, escravo é a pessoa que, privada da liberdade, está submetida à vontade de um senhor, a quem pertence como propriedade. Certamente não foram essas as intenções dos educadores e das educadoras quando insistentemente nos privavam de liberdade dizendo tantos “não”. O intuito era o de cuidar, proteger e ensinar a viver com responsabilidade, mesmo que isso soasse como um cerceamento da liberdade. O reformador Martim Lutero disse: “Um cristão é senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém. Um cristão é servidor de todas as coisas e sujeito a todos”. A liberdade que Deus concede à pessoa cristã também a compromete com a proposta do reino de Deus, com o servir. O texto de 1 Coríntios 7.23 ajuda a entender que Deus pagou um preço muito alto pela liberdade do ser humano com o sacrifício de Jesus Cristo na cruz.

Isso quer dizer que a pessoa cristã não deve se deixar escravizar por ninguém. Ela está livre para, nessa liberdade, servir e adorar única e exclusivamente o seu Senhor, Deus criador e libertador. Em todos os tempos e lugares, assim como também hoje, existem muitas formas de escravidão. Do mesmo modo, existem vários motivos que levam as pessoas a se deixar escravizar. Dessa forma, quando a liberdade é vivida sem nenhuma reflexão, ela pode ser transformada em escravidão. Quando não há consciência do preço que essa liberdade custou, é comum não valorizá-la.

Deus concede a liberdade a todos os seus filhos e suas filhas para que a exerçam com amor e responsabilidade. Ser grato a Deus por conceder essa liberdade compromete todas as pessoas cristãs a viver na comunhão, no testemunho e no serviço.

Vera Cristina Luckner Beling Santa Maria de Jetibá/ES

REPENSAR A EDUCAÇÃO

– Papai, eu vi um lenhador na lua! – Eu vi uma ovelha lá no céu. Olha, naquela nuvem, mamãe. – Muito bem... e quem sabe localizar a Via Láctea no céu? – Eu sei! – Ajuda, papai! Dá pistas e a gente descobre.

Para repensar a educação como famílias, como integrantes da nossa comunidade, como escola, não precisamos de “grandes” teorias: as respostas podem estar bem perto de nós. Exigem somente um pouco de investimento em tempo, ou talvez até a palavra correta seja otimização das horas. A queixa em relação aos muitos fazeres tornou-se uma bengala de apoio para seguirmos correndo, dizendo a nós mesmos que a vida está cada vez mais agitada e que as horas, aparentemente, estão mais curtas.

Absurdos com os quais justificamos a falta de tempo para caminhar e brincar com as crianças, para apreciar uma noite e conversar acerca da lua e das

estrelas, perguntar sobre o que foi o mais interessante naquele dia de aula, quem são os amigos da escola, por que esses são legais, do que brincam quando estão juntos... E, naturalmente, sentar com os filhos e as filhas para conversar sobre o tema. Intencionalmente usei “conversar”. Não basta olhar as tarefas, muito menos fazê-las pela criança. O segredo está no ato de sentar juntos, em posição de estudos, como uma hora muito especial, em que adulto e criança dialogarão sobre o conhecimento. E, se conduzido com paciência e amor, certamente será prazeroso para os dois, porque lerão as propostas em conjunto, pesquisarão sobre o tema, levantarão hipóteses para encontrar as soluções e o principal: olharão nos olhos um do outro. No espelho dos olhos se verão, vivenciando o respeito, cuja origem latina significa respectus, particípio passivo do verbo respiciō, da composição de re- (“novamente”) + speciō (“olhar”). Ou seja, eu te vejo como pessoa, você me vê e nós nos respeitamos e valorizamos. Esse processo significa estudar e nos conecta diretamente com o tema repensar a educação, proposta do presente artigo. O sociólogo francês Edgar Morin, considerado o arquiteto da complexidade, em 1999, lançou o livro A cabeça bem feita – repensar a reforma, reformar o pensamento. Observemos que há 20 anos ele já enfatizava a ideia de termos que repensar a educação e que para isso seria necessário mexer e reconfigurar nosso pensamento. Conectado ao movimento de (re)pensar e reformar a educação está nosso compromisso de contemplar o cenário para entender os porquês das “coisas” tomarem determinado rumo. Na verdade, nós “humanos” podemos decidir sobre as travessias de um futuro mais justo, todavia, muitas vezes, o sentimento de “não querer se comprometer” e de manter um pensamento individualista sem foco no bem coletivo nos impede de transformar pensamentos em ações. Que sociedade é esta? Quem somos? Que educação estamos dando aos nossos filhos, às nossas filhas, aos alunos e alunas, e com que intenção? A falta de respostas claras talvez nos choque no primeiro momento, mas, em determinadas situações, somente a indignação provocará reações e mudanças de comportamento. Reconhecer que não temos as respostas é um bom sinal. Pelo menos, estamos pensando e não seguimos no fluxo das vozes ocultas que nos persuadem e comandam, nos tornam invisíveis e, mesmo assim, as seguimos. Repensar a educar pressupõe (re)ligar o presente com o passado e o futuro. Tecer conhecimentos interligados para significar a vida. Como isso pode acontecer? Pelo diálogo. Retornemos ao diálogo inicial: olhar o céu. O poeta Olavo Bilac já dizia:

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Imaginemos uma noite, um momento em que a família (ou parte dela) está reunida. Provavelmente smartphones estarão por perto, pois, em muitos casos, já são considerados membros. A mãe sugere ir até o pátio para apreciarem em conjunto a lua cheia e suas amigas estrelas. Todos sentam na grama e contemplam o céu, ouvindo o silêncio. Depois de alguns minutos, a mãe pergunta sobre o que viram e o que sentiram. Trocam ideias. Sonham. Imaginam. Depois desse momento de conversa, a mãe sugere que peguem os celulares e lança uma tarefa apontando para o céu: pesquisem, vamos descobrir que estrela é aquela! A de brilho forte. Adultos presentes acompanham e dão dicas sobre localização, sobre em que sites podem pesquisar, que itens precisam considerar... A investigação é realizada em conjunto, analisando, pensando e questionando sobre aspectos visíveis no céu e informações obtidas pela internet.

Vejam, (re)ligamos hábitos, muitas vezes considerados do passado: observar o céu com o momento presente em comunhão familiar. E o futuro? Esse está nas palavras inquiridoras e respeitosas que foram trocadas durante o momento investigativo, no sonho de uma convivência alegre e de construção de saberes coletivos que não estão num mundo abstrato e que podem ajudar a solucionar problemas do presente e do que está por vir.

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