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Esperançar nas noites escuras da alma
audição e leitura da Palavra. Com certeza, seremos reanimadas e fortalecidas para testemunhar e servir a causa do Senhor Ressurreto. E poderemos retomar a vida normal conforme nos é concedida.
Oração: Bondoso Deus, por Jesus Cristo, agradecemos-te por nos convidares para o encontro contigo. Ajuda-nos sempre de novo a aceitar e compartilhar a notícia de que tu vives e nós podemos viver contigo. Fortalece nossa fé por meio do Espírito Santo e guarda-nos na certeza da vida eterna. Amém.
Claudete Lausmann Cristalina/GO
ESPERANÇAR NAS NOITES ESCURAS DA ALMA
(Dedicado a Arivaldo Weissheimer, falecido no dia 9 de agosto de 2021)
Trazer à memória o que pode dar esperança, conforme lemos no livro de Lamentações 3.21-24, não é um exercício fácil quando se está acompanhando alguém muito querido que luta para viver, luta para superar as dores e o mal-estar advindos de tratamentos para vencer o câncer. O mais in-crível, quer dizer, quase não-crível, é que, sim, é ali diante da certeza da morte, também da nossa, que algo se acende em nós e nos põe fogo na alma. É preciso apostar na vida, é preciso pôr-se de pé, é preciso seguir, porque a vida pede para ser vivida. Escolher viver é sempre a melhor escolha. Esperançar é saber que haverá um túnel escuro, um vale de sombras, mas não estaremos sozinhos nessa jornada, somos carregadas e carregados caso nossas forças faltem.
Arquivo pessoal
Vera Cristina Weissheimer, teóloga e psicóloga
Tive a oportunidade, sim, oportunidade, de me revezar no hospital no acompanhamento ao irmão do meu marido. Um câncer que já chegara aos ossos o fazia sentir muita dor. Morfina e diversos medicamentos foram utilizados para deixá-lo confortável e com uma qualidade de vida possível. Numa madrugada em que fiquei ao lado dele, ele orou: “Jesus, vem me buscar, estou pronto”. Ele desistiu? Não, ele viveu o quanto pôde e se entregou quando sentiu que era a hora da entrega nas mãos do Pai. Acompanhar alguém que está morrendo é aprender que a esperança é algo que brota apesar da dor, apesar da doença, mesmo quando nossa alma está atravessando noites escuras de sofrimento, depressão ou luto. É ali que mais intensamente sentimos a força do sopro de vida em nós nos pedindo para não desistirmos da vida e de nós mesmos. A palavra ESPERANÇA vem das miudezas da vida e do dia a dia, brota da terra ressequida, do horizonte que foge de nosso alcance. Vem do pão duro, como poetiza Pablo Neruda. Esperançar é tirar flor de pedra. Esperançar é um verbo difícil de se conjugar, porque nos exige ação e não espera tão somente. A esperança não pode cair no lugar comum, ter esperança é um exercício. Esperança é irmã da fé e prima-irmã da resiliência, essa capacidade que nos faz levantar das quedas, ressurgir das crises e nos reinventar quando já não resta muita coisa, ou quase nada em nossa vida. Esperançar é forjar um sentido para viver quando tudo parece apontar o contrário. Compartilho dois exemplos da natureza que me inspiram a esperançar. Em julho de 2020, compramos pinhão; o inverno passou e chegou a primavera e os pinhões ficaram esquecidos. No mês de setembro, encontrei araucárias em pleno crescimento em um saco plástico. Eu me emocionei ao ver que a vida brota apesar de tudo. Isso me fez lembrar o conceito de natência, do poeta Manoel de Barros, o poeta das coisas miúdas. Para ele, natência é a força de se fazer nascer de novo e de novo apesar do que possa estar nos sufocando, podando e limitando. O segundo exemplo é do pé de ipê que se negou ser poste de luz na cidade de Porto Velho em Rondônia. Há muitos anos, a companhia de energia local usou postes de madeiras nativas da região. Depois de ter sido transformado em poste, levou meses para se refazer, criou raízes, verdejou e floresceu. A Secretaria do Meio Ambiente (SEMA) foi vencida pela natureza, e solicitou a colocação de um poste de cimento ao lado, retirando toda fiação do pé de ipê.
Não se cansem de ter esperança, não se cansem de verdejar e florescer, não se cansem de teimar pela vida, é o que lhes desejo. E, para todas as pessoas enlutadas, deixo esta prece:
Uma prece em memória
(Rabina Naomi Levy)
Eu não esqueci você, embora já faça tempo que não vejo seu rosto, toco sua mão, ouço sua voz.
Você está comigo o tempo todo. Eu costumava pensar que você me abandonou. Hoje, entendo melhor. Você vem até mim. Às vezes, em momentos fugazes, sinto sua presença próxima. Mas ainda sinto sua falta. E nada, ninguém, nenhuma alegria, nenhuma realização, nenhuma distração, nem mesmo Deus, pode preencher o imenso vazio que sua ausência causa em minha vida. Mas, junto com toda esta minha tristeza, há uma grande alegria por tê-lo conhecido. Quero agradecer a você pelo tempo que compartilhamos, pelo amor que me deu, pela sabedoria que espalhou. Obrigada pelos momentos magníficos e pelos comuns também. Havia beleza em nossa simplicidade. Santidade em nossos dias singelos. E levarei para sempre as lições que você me ensinou. Sua vida terminou, mas a luz nunca poderá ser extinta. Continua a brilhar sobre mim, mesmo nas noites mais escuras, ilumina meu caminho. Acendo esta vela em sua homenagem e em sua lembrança. Que Deus o abençoe como você me abençoou com amor, generosidade e paz. Amém.
(Extraído de: Healing News. Núcleo de Healing e Bikur Cholim. Comunidade Shalom, São Paulo: Nissan, 5766, abril 2006.)
Vera Cristina Weissheimer Florianópolis/SC