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O sacerdócio geral do meu pai

O SACERDÓCIO GERAL DO MEU PAI Falar sobre o legado de uma pesArquivo pessoal soa é gratificante, mas também se trata de uma grande responsabilidade, principalmente quando essa pessoa é o próprio pai.

Vivemos em uma época na qual bons exemplos de vida são cada vez mais raros. Mas nossos jovens e as pessoas que convivem conosco precisam conhecer relatos de bom testemunho e, assim, procurar viver uma vida autêntica e bonita. Quero falar do exemplo de vida Olga Kappel Roque e seu pai. Olga integra o do meu pai, Oscar Kappel, que faleceu conselho redatorial do Roteiro da OASE em 2020 aos 96 anos e quatro meses, deixando sete filhos, noras, genros, 14 netos e 11 bisnetos. Foi casado durante 61 anos com minha mãe, Elvira Sebastiana Kappel, falecida em 2008, e sempre viveu para a família, a comunidade, o trabalho e os amigos. Foi, de fato, um homem que serviu. Depois da morte da esposa, permaneceu morando na mesma casa, sozinho, pois não queria modificar a rotina dos filhos. Permaneceu ali e zelou pelas lembranças da vida e com a família. Sempre recebendo toda a atenção dos filhos e netos. Não teve oportunidade de estudar, foi até a quarta série do chamado primário, mas sempre se esmerava no que fazia. Trabalhou em diversas áreas e chegou ao cargo de responsável pelo Departamento de Qualidade de uma firma de origem americana, que trabalhava com produtos cirúrgicos.

Aos 78 anos de idade, lançou um livro, “140 anos de história”, registrando a origem da Igreja Luterana de Juiz de Fora/MG, para assim resguardar um pouco da memória da comunidade local, já que os mais idosos estavam se despedindo e os mais jovens não tinham muito conhecimento dos fatos históricos. Meu pai também era muito dedicado à poesia e, dessa forma, ingressou na Academia de Letras Manchester Mineira, ocupando a cadeira número 36. Aos 87 anos lançou o livro “Desvaneio: Um sonho de vida”, e aos 92 anos escreveu sobre o bairro onde morava. Sempre mostrava sensibilidade ao que acontecia à sua volta, interessando-se e envolvendo-se.

Na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Juiz de Fora, Minas Gerais, foi assíduo desde criança e sua contribuição para a igreja local foi uma constante. Encaminhou todos os filhos na fé de Jesus, o mais velho estudou Teologia na Escola Superior de Teologia, em São Leopoldo/RS, e cumpriu com muito zelo seu trabalho no ministério pastoral. Depois de completar 95 anos, papai começou a esmorecer e, durante um ano, foi cuidado pela família. Nesse período de dificuldades, seu semblante era sempre sereno e não teve uma palavra de murmuração. Após enfrentar as dificuldades de saúde, no dia 06 de outubro de 2020, nosso pai faleceu, deixando um belo exemplo de vida e o desafio para seguirmos o seu exemplo. Depois de sua morte, a família recebeu muitas mensagens falando do testemunho de vida e da influência dele na vida das pessoas. Palavras amigas, palavras de desafio, palavras de conforto e palavras de fé. Nós, como sua família, não podíamos imaginar a abrangência do testemunho de vida e de fé que ele deixou na vida dos que o rodeavam. Um exemplo que chegou mais recente, uma aluna da pós-graduação da UFJF, em Ciências da Religião, escreveu em sua introdução: “Ao querido amigo, agora na casa do Pai, Oscar Kappel”. Por que escrever sobre um homem comum que viveu uma vida modesta numa cidade do interior de Minas Gerais? Em 1 Pedro 2.9 diz: Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Crendo em Jesus, somos o seu povo e propriedade de Deus para proclamar as virtudes que vêm do Senhor, seguir seus passos e ser exemplos para os que estão ao nosso redor. A palavra e a presença do Senhor na vida de quem crê transformam a existência e conduzem os caminhos. E essa tarefa continua: transmitir a mensagem aos outros. Uma vez que aprendemos e crescemos no conhecimento e na intimidade com Deus, nossa tarefa é passar adiante o que temos recebido, é proclamar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a luz. Essa tarefa é para todos! É o sacerdócio geral das pessoas que creem, ser exemplo, testemunhar em palavras e em vida desafios de fé, com amor.

Para nós ficam as perguntas:  O que vou deixar para os que vêm depois de mim?  Qual o testemunho de vida vai falar alto depois de minha morte?

Que o nosso brilho e o nosso testemunho continuem falando depois de nossa partida, tal como o céu que ainda brilha depois que o sol se vai. Que Deus nos ajude nessa caminhada!

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