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Mulheres vítimas da violência – como esperançar nesta situação?

MULHERES VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA Como esperançar nesta situação?

Arquivo pessoal

Para o encontro, preparar um altar sobre uma mesa ou mesmo no chão com um tecido na cor roxa, cruz, Bíblia, flores, vela e recortes de notícias sobre a temática. Providenciar uma vela para cada participante. No momento em que escrevo este texto, o Supremo Tribunal Federal (STF), em votação histórica na sexta-feira (12/03/2021), finalmente, decidiu por unanimidade invalidar o uso da tese de legítima defesa da honra em casos de feminicídio. Os 11 ministros do STF avaliaram que a tese contraria princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da proteção à vida e da justiça de gênero, e que portanto não pode ser aplicada Pastora Márcia Helena Hülle é nos tribunais do júri como argumento de assessora teológica da Associação defesa em casos de feminicídio. Nacional dos Grupos de OASE Se olharmos para a Bíblia, Jesus presencia uma tentativa de feminicídio, conforme relato no Evangelho de João 8.1-11, no apedrejamento da mulher adúltera. Jesus coloca-se ao lado da mulher e questiona a atitude das pessoas em sua volta – penso que na sua maioria homens – bem como provoca a reflexão quanto à lei em sua época, a qual era determinada/feita dentro de uma estrutura social patriarcal. Esse encontro entre Jesus e a mulher surpreendida em adultério não nos revela apenas a misericórdia de Jesus, mas também sua capacidade de defender a mulher em meio a uma cultura e suas leis que marginalizam e justificam a condenação das mulheres. Essa atitude de Jesus nos testemunha o esperançar perante essa realidade da violência contra a mulher, que se agravou no tempo da pandemia da Covid-19. Jesus nos ensina a rever nossas atitudes, que tiram a dignidade e o valor

de toda pessoa. Jesus se opõe à violência. Ele diz não à violência. Para Jesus, nada justifica uma atitude de violência, muito menos de morte. E cabe a nós, pessoas cristãs, seguidoras de Cristo, viver e praticar esses ensinamentos. Agir conforme Jesus é esperançar. E esperançar é não julgar, é colocar-se ao lado da mulher, é questionar para provocar reflexão, é desconstruir preconceitos, é fortalecer para seguir a vida, é denunciar as formas de violência. Esperançar tem a ver com ação, com dinamismo, como escreve Paulo Freire. “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer diferente, é somar forças em prol de algo melhor”. E como OASE, como mulheres da OASE, a partir do Batismo, somos chamadas a testemunhar e a viver o esperançar. A auxiliar aquelas que sofrem algum tipo de violência. O aumento da violência contra as mulheres e da subnotificação dessa violência é uma evidência mundial, e o Brasil não é exceção. É para dentro dessa triste realidade que somos chamadas a ser sinais de esperança, de transformação de vidas e realidades de mulheres. E nos perguntamos:

 Como auxiliar mulheres vítimas de violência doméstica?  Como esperançar nessa situação?

Se você quer ajudar uma amiga, uma irmã de fé, familiar, conhecida ou mesmo uma vizinha em situação de violência doméstica, é preciso, antes de tudo, não julgar e claramente demonstrar que está ao lado da mulher que sofre violência. Foi o que Jesus fez. Ele se agachou, ficou no mesmo nível da mulher e demonstrou, ao escrever no chão, às pessoas que julgavam que isso não era o importante. Compreender a vítima, acreditar nela, ouvi-la é a primeira maneira de ajudá-la. Respeitar o relato e acreditar no que ela está dizendo. Pergunte o que você pode fazer e coloque-se à disposição para buscar uma solução. Ao ser ouvida e acolhida em sua situação de violência, a mulher organiza suas ideias e se dá conta da gravidade da situação que está vivendo e que precisa buscar ajuda. Nesse processo se faz importante não julgar. É preciso ter cuidado para não culpar a mulher que sofreu violência, ela é a vítima. Pois, muitas vezes, se atribui a responsabilidade pela violência a quem a está sofrendo, com dizeres como: “O que você fez para ele agir assim com você?” Ou: “Mas por que você não larga dele?”. Diversos motivos podem prender uma mulher numa relação de violência, como a dependência financeira e o medo de prejudicar filhos e filhas. O agressor desqualifica a vítima constantemente até convencê-la de que ela jamais teria condições de viver sem ele e isso tudo com muitas ameaças. Com a autoesti-

ma baixa e com medo, ela não consegue se imaginar em um relacionamento saudável e acaba aceitando a situação.

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, a violência física não é a única forma de agressão à mulher.

Veja os 5 tipos de agressão previstos na Lei Maria da Penha Moral:

caluniar, injuriar, difamar

Física:

empurrar, chutar, amarrar, bater, violentar

Psicológica:

humilhar, insultar, isolar, perseguir, ameaçar

Patrimonial:

reter seu dinheiro, destruir ou ocultar seus bens e objetos, não deixar trabalhar

Sexual: pressionar a fazer sexo, exigir práticas que você não gosta, negar o direito a uso de qualquer contraceptivo

Outro passo importante para nós, mulheres da OASE, membros da Igreja de Cristo, é sabermos que não precisamos fazer tudo. Importante é saber que há movimentos, instituições públicas e privadas, onde a mulher pode encontrar apoio, orientação e encaminhar suas situações. É importante informar-se e trabalhar em REDE na superação da violência. Nesse acolhimento e nessa escuta amorosa, devemos auxiliar na busca por ajuda em instituições onde a mulher possa conhecer seus direitos. Vítimas da violência não têm direito apenas ao acesso à justiça. Elas podem contar, também, com os serviços de assistência social garantidos pela Lei Maria da Penha. Em muitas cidades, há os centros de referência de atendimento à mulher, e/ou o Centro de Referência Especializado de Assistência (CREAS). São locais que ofertam acompanhamento técnico especializado, desenvolvido por uma equipe multiprofissional, de modo a potencializar a capacidade de proteção da mulher e da família, a favorecer a reparação da situação de violência vivida ou de como sair dessa relação de violência. Em casos em que a violência já escalou para agressões físicas ou se há ameaças de morte, cabe denunciar. Lembre-se que qualquer pessoa pode fazer uma denúncia anonimamente. Ligue para o 180, serviço gratuito, informe-se quais são os serviços disponíveis em seu município, como Delegacia da Mulher, Polícia Militar. O ditado de que em briga de marido e mulher não se mete a

colher vai contra os ensinamentos de Jesus. Quanto menos alguém se mete, piora a situação, pois, infelizmente, o ciclo da violência é crescente. Esperançar é meter a colher, sim, para que a vida seja preservada. E isso é tarefa de cada um e uma de nós como pessoas cristãs, seguidoras de Cristo! Que como OASE, como mulheres, possamos nos engajar em prol de vida digna para todas as mulheres, refletindo, vencendo tabus, tirando o tema de dentro das quatro paredes e abordando, com sensibilidade, mas também com coragem, o tema da violência contra as mulheres. Criando formas, ações que auxiliam e fortalecem as vítimas de violência, denunciando, apoiando, orientando, sendo amiga e companheira. Que possamos, nas comunidades, nos grupos, proporcionar diálogos, estudos, reflexões sobre o tema violência doméstica. Para isso há em nossa igreja propostas, materiais, ações disponíveis para se trabalhar o tema, como o gibi Valentina. (Momento para compartilhar, dialogar sobre a temática apresentada, levando em conta os recortes no altar e a realidade local).

Dinâmica

Convido-te a acender tua vela na vela do altar, simbolizando a luz de Cristo na vida de todas as mulheres, em especial na vida daquelas que estão na escuridão da violência, e juntas orar: Deus da graça e amor! Intercedemos por nossas famílias, para que nossas casas sejam de fato local de segurança e abrigo, não de medo e temor. Que tenhamos um olhar mais amoroso e menos preconceituoso com as mulheres que estão vivenciando esse enfrentamento da violência. Intercedemos por toda mulher que sofre com a violência, de todas as idades, etnias e religiões, vítima dos mais diferentes tipos de violência pelo fato de ser mulher. Por cada história, rogamos pela tua misericórdia e também te pedimos: não nos deixes indiferentes. Concede-nos, por meio do teu Santo Espírito, força e resistência nas adversidades e o esperançar na luta; que homens e mulheres possam trabalhar em teu nome, buscando relações saudáveis e espaços seguros para todas as pessoas. Em nome de Jesus. Amém.

Pª Márcia Helena Hülle Blumenau/SC

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