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O imperador Dom Pedro II e os luteranos

Convido, pois, para refletir:  Nossa comunidade, nosso grupo tem sido lugar de esperança?  Como temos semeado esperança no lugar em que vivemos?

E o Deus da esperança encha vocês de toda alegria e paz na fé que vocês têm, para que sejam ricos de esperança no poder do Espírito Santo (Romanos 15.13). Amém.

Ismar Schiefelbein Pastor sinodal do Sínodo Espírito Santo a Belém Vitória/ES

O IMPERADOR DOM PEDRO II E OS LUTERANOS

No Brasil Império, a igreja oficial era a Católica Apostólica Romana. Mesmo porque não havia outras igrejas antes da chegada dos imigrantes alemães. Havia as religiões africanas e indígenas, mas não outras igrejas cristãs. As demais igrejas eram permitidas, mas com restrições em sua forma externa, como nos diz o Artigo 5º da Constituição do Império de 1824: “A Religião Católica Apostólica Romana continuará a ser a religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma de culto exterior de templo”. Isso hoje pouco importa. Qualquer porta de qualquer local pode abrigar o que se considera uma igreja. Mas, naquela época, para ser igreja cristã de fato, o templo deveria ter torre e sinos, bem como um órgão. Isso nos leva a pensar que havia animosidade entre o império brasileiro e nossa igreja. Mas isso não era bem assim, principalmente no que diz respeito ao imperador D. Pedro II.

Precisamos lembrar que, de novembro a março, a capital do império ficava em Petrópolis, pois a cidade do Rio de Janeiro tinha e ainda tem o clima muito quente e Petrópolis possui um clima bem mais ameno até mesmo no verão. Até hoje se sente o frescor da natureza nos jardins do palácio imperial de Petrópolis. A igreja luterana foi construída a cerca de mil metros do palácio do imperador. Assim, D. Pedro II conhecia os pastores da nossa igreja. Esses vinham da Alemanha e se destacavam pela sua formação acadêmica e liderança. O imperador D. Pedro II também era uma pessoa culta. Lia muito. “Dentre os diversos aspectos que nos são apresentados sobre Dom Pedro II, a erudição e a atração pela cultura merecem atenção especial. Desde cedo, Dom Pedro II adquiriu o ótimo hábito de leitura e também de estudos, mas, mais do que apenas um costume, a leitura e o estudo tornaram-se também suas grandes paixões. Poliglota desde muito novo, sabia inglês, francês, latim, grego, árabe e até tupi-guarani. Estudou história, filosofia, religião, geografia, matemática, biologia.” (<http://obviousmag.org/pensando_palavras_pulsantes/2017/dompedro-ii-um-intelectual-na-politica-brasileira.htm>). Por isso logo teve contato e simpatia pelos pastores luteranos alemães que aqui chegaram.

O livro “1º centenário da inauguração da Igreja Evangélica de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro” nos traz as seguintes informações: “Conforme anotações no Arquivo Nacional – Registro de Estrangeiros, Coleção 381, volume 13, registrou-se no dia 4 de setembro de 1840 (que) o Dr. Julius Friedrich Lippold, alemão, naturalista, com 50 anos de idade, solteiro, residente à Rua Atrás do Carmo nº 4, veio da Ilha da Madeira, na corveta ‘Courrier’, chegada no corrente mês”. Em 1857, salientou o primeiro escrivão da Colônia Damcke: “Os habitantes de Petrópolis daquele tempo se lembrarão ainda com que afabilidade o Monarca o distinguiu, lendo com ele os clássicos alemães”. Quando adoeceu em 1852, o

imperador lhe ofereceu a vultosa im- P. Georg Gottlob Ströele, pastor em Petrópolis/RJ

Templo inaugurado em 1863

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Igreja Luterana de Petrópolis em 2021 portância de 500$000 para que se submetesse a uma intervenção cirúrgica no Rio de Janeiro. Foi operado com êxito; morreu, porém, no Rio em consequência da febre amarela que contraíra em plena convalescença (p. 05 e 06). No livro não há maiores informações sobre o relacionamento do imperador D. Pedro II com os demais pastores. Mas a simpatia do imperador para com a igreja luterana permaneceu. Quando da inauguração da nave do templo da nossa igreja, em 24 de maio de 1863, o P. Georg Gottlob Ströele escreveu: “Ontem, Sua Majestade o Imperador, a quem eu dirigira uma petição, mandou entregar-me 500$000 (1.500 francos) para a Igreja” (p. 10). O total do custo da construção da nave do templo custou 45.000 francos (p. 09). Assim, vemos que, mesmo sendo a Igreja Católica Apostólica Romana a igreja oficial do Brasil Império, o imperador D. Pedro II tinha alta estima pelos luteranos, de forma a manter amizade e diálogo com os pastores de Petrópolis, auxiliando inclusive financeiramente na construção do nosso templo.

P. Elton Pothin Petrópolis/RJ

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