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O primeiro cristianismo ibérico, questões em aberto

JORGE QUEIROZ Sociólogo

Ahistória de um território não é a de um povo e da sua religião, a narrativa nacionalista e o sectarismo religioso levaram a destruições e à apropriação abusiva de patrimónios e espaços. O surgimento de três religiões monoteístas no Médio Oriente, em épocas diferentes, provocou alterações no relacionamento comercial, cultural, competição teológica e bélica. Estas religiões têm enormes semelhanças, são estudadas pelo método analítico-comparativo.

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O cristianismo, religião iniciática, penetrou na Ibéria a partir do séc. II a.C através de mercadores e marinheiros vindos do Mediterrâneo, soldados que percorriam as vias romanas, colonos das “villae” que se relacionavam com os locais. A diáspora judaica é anterior, sobre o Islão peninsular são raramente referidas as mobilidades de populações vindas do Magrebe antes de 711 quando o fenómeno do Islão não existia. Questiona-se como Tarik e Musa poderiam, com exércitos tão pequenos, conquistar a

Península em cinco anos sem apoio das populações hispano-godas.

A nova religião, o cristianismo, incorporou tradições pagãs, promoveu a substituição das divindades locais por Santos, mártires canonizados, caso de Mâncio que residiu em Évora, desenvolveu o monaquismo, fomentou a catequese popular, decretou restrições ao uso do sagrado, leis condenatórias dos heréticos e de apropriação dos seus bens, dos desvios morais, como a magia e adivinhações, feitiçaria, maus olhados. Elucidativas são as posturas da CM de Lisboa de 1385, as decisões de D. João I proibindo prantos a mortos, as Janeiras e os Maios…

Paulo Orósio (395 d.C - 420 d.C), teólogo nascido em Braga, autor “Historiarum adversus paganus”, foi uma personalidade destacada do cristianismo peninsular. Elaborou uma História Universal cristã, divulgou a teoria dos quatro Impérios, Babilónia, Macedónia, Roma pagã e Cartago, segundo ele o quinto seria a Roma cristã. Próximo de Santo Agostinho viajou pelo Norte de África, teve influência na geografia histórica medieval.

A ocupação territorial e formação de reinos cristãos, como Portugal no século XII, ocorreu com o apoio das ordens religiosas militares, cruzados e milícias senhoriais. A luta pela reconquista de Jerusalém e dos lugares santos, pelo controlo da rota comercial de entrada dos produtos da China, da Índia e da Pérsia, mobilizou nove cruzadas entre 1096 e 1272, sempre derrotadas.

Incorporando crenças do mundo Antigo, pagão, helénico, hebraico e outras, o cristianismo foi uma revolução social, doutrina ecuménica contra a injustiça, a pobreza e a exclusão das mulheres, abalou as estruturas da ordem esclavagista. Multidões seguiram Jesus de Nazaré pela verdade e coragem das suas mensagens, seria o Messias que os hebreus esperavam.

Em 325 d.C., no primeiro Concílio Ecuménico em Niceia, actual Turquia, dirigido por Constantino reuniu 318 bispos, foi instituído o “credo niceno”, dogmas sobre a natureza divina de Jesus, a Encarnação, a Santíssima Trindade, a Igreja Santificada, a manutenção da Páscoa judaica.

Teodósio em 390 d.C decretou o cristianismo religião oficial do Império Romano, os bárbaros estavam já nas fronteiras, era necessário o apoio dos cristãos.

Roma caiu em 476 d.C, o brilho de Constantinopla sobreviveu e permaneceu durante mil anos, o Império Romano do Oriente.

A Igreja investida de poderes temporais, aliada dos Imperadores, perseguiu as heresias cristãs, como os gnósticos, corrente filosófica dos séculos I e II ligada aos cultos e mistérios greco-romanos, os arianistas anti-nicénicos seguidores de Ário diácono de Alexandria, para quem Cristo era filho de Deus, mas não o próprio Deus, os priscilianos que influenciaram as ordens monásticas medievais, permitiam a presença de mulheres e eram contra a opulência da igreja.

Em 1940 foram descobertos os “Manuscritos do Mar Morto” (séc. II a.C a I d.C), uma Bíblia hebraica e outros textos dos Essénios, seita judaica messiânica, mas logo ocorreu outra extraordinária descoberta, despertam hoje a investigação e também a ficção.

Em 1945 nas montanhas de Luxor, camponeses egípcios encontraram numa gruta treze livros em copta, papiros encadernados a couro, a biblioteca de Nag Hammadi. Depositados no Museu Copta do Cairo, foram datados com carbono 14, analisados por filólogos e outros especialistas.

Eram cópias dos evangelhos apócrifos gnósticos do século IV, de Tomé e Filipe, da Verdade, o Evangelho aos egípcios, extractos da “República” de Platão. O Evangelho de Maria Madalena relata a presença da mulher na vida de Jesus de Nazaré, a interdição dos textos da evangelista poderá explicar, como a transmissão de bens, causas do “cristianismo masculino” e do celibato. Com o poder temporal e a partir do século IV, a Igreja transformou-se no mais poderoso pilar da ordem feudal na Europa, as normas pós-Niceia baniram a heterodoxia do cristianismo original.

A história dos séculos I a IV d.C ou “primeiro cristianismo”, a vida de Jesus histórico, a herança da tradição oral, os evangelhos apócrifos, analise filológica de documentos, continua em aberto, o estudo desse período na Península e em Portugal é ainda pouco esclarecedor.

O cristianismo teve e tem grande influência na cultura portuguesa, mas no estudo não podemos excluir os contributos do paganismo, do judaísmo, do Islão e outros, patrimónios do País.

*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

> os barcos da sua frota. Em 1936, temos conhecimento do projecto de doca seca no estaleiro da Júdice Fialho em S. Francisco. Em 23-5-1983, o Instituto Português de Conservas de Peixe, informava que a fábrica fora desmontada e demolida, sendo cancelada a sua inscrição a 23-6-1983.8

- pátio central, 5 - adega do azeite, 6 - casa de enlatar o azeitar, 7 - casa para depósito de lata vazia, 8 - casa de ebulição, 9 - casa de secadores do vapor e depósito de carvão, 10 - armazém de lata cheia, 11 - armazéns depósito de madeiras e oficina de tanoeiras, 12 - casa do descabeçar, 13 - casa do sal, 14 - casa do salgar, 15 - hangar para alcatroar redes, 16 - poço para alimentação da fábrica, 17 - torre de ferro com depósito de ferro para distribuição de águas para a fábrica, 18 - casa do gasómetro de acetileno, 19 - casa de habitação do pessoal e residência do mestre da fábrica, 20 - depósito de vários utensílios, 21 - cocheira, 22 - eira de secagem de desperdício de peixe, 23 - prensas para prensar desperdícios de peixe, 24 - caldeiras para coser cabeças e desperdícios de atum, 25 - eira para o desperdício [mar?], 26armazém depósito do desperdício [?] do peixe, 27 - servidão para o rio com duas linhas férreas, 28 - comporta com adufa para esgoto de águas para o rio e tanque, 29 - comporta auto- mática para esgoto de águas para o rio e tanque, 30 - chaminé de tijolo de 23 m de altura, 31 - chaminé de tijolo de 10 m de altura, 32 - chaminé de tijolo de 10 m de altura, 33 - logradouro.

Nos terrenos desta fábrica, estava implantado um grande estaleiro, onde a empresa construía ou reparava cf. Para esta fábrica de conservas de atum e sardinhas de S. Francisco, consulte-se a monografia de Luís Miguel Pulido Garcia Cardoso de Menezes - João António Júdice Fialho (1859-1934) e o Império Fialho (1892-1981), Lisboa: Academia dos Ignotos, 2022, pp. 36-39.

2cf. José Gonçalves Vieira - Memoria Monographica de Vila Nova de Portimão, Porto: Typographia Universal, 1911, p. 90.

3cf. Museu Municipal de Portimão (MMP), Arquivo Júdice Fialho, «Documentos Oficiais»: “Escritura de arrendamento da Quinta da Foz do Arade”, caixa 431, A 37, documento n.º 5859 de 29-12-1903 e MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.º 4172 de 15-10-1923; Luiz Mascarenhas - Indústrias do Algarve, Lisboa: Centro Typographico Colonial, 1915, p. 15; e Jorge Miguel Robalo Duarte Serra - O Nascimento de um império conserveiro: “A Casa Fialho” (1892-1939) [Texto Policopiado], tese de Mestrado em História Contemporânea pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade do Porto, 2007, pp. 57-58. 4cf. Jorge Miguel Robalo Duarte Serra, op. cit., pp. 93-94 e 96 e MMP, Arquivo Histórico, 5ª Circunscrição Industrial, Processo n.º 183: S. Francisco (Júdice Fialho), Alvará n.º 4172. 5cf. Ministério do Mar, Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM), Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934. 6cf. Ana Rita Silva de Serra Faria - A organização contabilística numa empresa da indústria de conservas de peixe entre o final do século XIX e a primeira metade do séc. XX: o caso Júdice Fialho”, Tese de Mestrado, Universidade do Algarve / Universidade Técnica de Lisboa, Faro, 2001, Anexos, quadro II. 6, p. 14. 7cf. Cada caixa levava 100 latas de conservas de peixe. 8cf. Ministério do Mar, DGRM, Arquivo do Instituto de Conservas de Peixe (1936-1986), Júdice Fialho, Conservas de Peixe, SARL. Portimão (S. Francisco). Fab. 4.701.108, 1934.

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