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Não deixem as platibandas e as chaminés morrer
Mauro Rodrigues
Membro da ALFA
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- Associação Livre Fotógrafos do Algarve
Abrir os olhos e os cordões à bolsa a todos, especialmente a governantes é o objectivo deste artigo, que infelizmente mostra a triste realidade que assombra um dos mais importantes traços da cultura tradicional portuguesa, o contínuo risco de extinção da arte envolvida nas platibandas, das chaminés, das portas e janelas... essencialmente todos os pormenores arquitectónicos da casa tradicional típica portuguesa algarvia. Um símbolo que visa mostrar a individualidade distinta de cada proprietário. Quanto mais elaborada, minuciosa e única a arte em disposição, mais demonstrava a riqueza inerente do dono da casa. Esta arte e perícia popular de grande originalidade são o resultado da relação das populações com o território e do aparecimento de técnicas e materiais de construção mais modernizados na altura, aparecem nos finais do século XIX e inícios do século XX num período de prosperidade económica na região. A platibanba e as chaminés elevavam literalmente a casa dando-lhe mais imponência e significado visual, criando a ideia de um status social mais proeminente. Existem exemplares únicos espalhados um pouco por todo o litoral e interior algarvio, autênticas pérolas que merecem ser fotografadas e conhecidas do público em geral e são cada vez mais difíceis de encontrar. Além de que, de vez em quando, vêm-se muitos outros exemplares completamente ao abandono. As características mais presentes na casa algarvia, são em primeiro lugar as cores: faixas coloridas em volta da casa e em redor das janelas, principalmente o azul ultramarino, o óxido amarelo, ocre e o óxido de ferro; o laranja, o verde e o vermelho eram usados mas com menos proliferação. O restante da casa é o branco, originalmente pintado com cal, o que dá uma luminosidade e cor fantásticas à mancha geral da vila. Algumas das casas são preenchidas com azulejos, telhas moura também elas características e o mármore. No litoral são típicos os terraços e as açoteias, mais cúbicos com escadaria no lado exterior para aceder às próprias, que eram usadas como mirantes aos barcos que vinham da pesca, estender a roupa ou fazer a secagem do figo, amêndoas, milho ou de peixe por exemplo. Mas as platibandas são mesmo o elemento principal de destaque, com desenhos abstractos, com motivos florais, geométricos ou que identifiquem algo importante ou distinto em relação à casa ou à profissão, como por exemplo a agricultura ou a produção de pão. As chaminés de igual importância eram normalmente rendilhadas, em forma de catavento, de pombal, de torres de igreja ou minaretes arábicos. Até as saídas para escorrer as águas da chuva tinham pormenores particulares de cerâmica ou barro. Pelo que pude perceber existe muito pouca informação destinada ao público em geral e aos turistas para poder descobrir estas precisiodades cada vez mais raras, ao que é urgente catalogar, fazer um levantamento e criar rotas turísticas para que possam ser descobertas, um apelo que as Câmaras Municipais, que deveriam estar mais atentas à cultura urbana e há identidade algarvia, podiam já ter feito à bastante tempo, além de igualmente fazer um esforço ou criar mecanismos para as preservar, restaurar e suportar a sua própria existência. Obviamente, o ideal mesmo, seria a possibilidade de esta arte ser continuada a ser enriquecida com casas novas e nova arte por novas gerações, mas isso é tudo uma questão de agilização e vontade política, tudo se consegue com novas ideias e decisões apesar das adversidades da economia que vivemos atualmente. Finalmente, não me vou esquecer de mencionar e louvar o trabalho do fotógrafo Filipe da Palma, que recentemente lançou o livro “Platibandas do Algarve” com um excelente levantamento fotográfico da diversidade artística presente na casa algarvia. A ALFA (Associação Livre de Fotógrafos do Algarve) recomenda vivamente aos fotógrafos amadores e profissionais a pegar nas suas câmaras e partir à descoberta desta particular identidade algarvia