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A publicidade na campanha de vacinação contra o HPV: análise dos elementos aristotélicos de persuasão Diego Gomes da SILVA1 Vera Lucia SOMMER2 Universidade do Vale de Itajaí, Santa Catarina/SC
RESUMO Este trabalho envolve a campanha de vacinação contra o câncer do colo do útero (HPV), deflagrada pelo Ministério da Saúde, no início de março deste ano, com o objetivo de imunizar 80% do público-alvo, composto por 5,2 milhões de meninas de 11 a 13 anos de idade. A campanha vale-se do tema ¨Cada menina é de um jeito, mas todas precisam de proteção¨, composta por cartazes, spots de rádio, filmes para TV, anúncios em revistas, folderes, outdoors e peças para internet e redes sociais. Diante desse universo, analisa-se o fôlder dessa campanha, a partir do processo aristotélico de persuasão. Originalmente escrito para a sustentações orais no senado ateniense, o processo quadrifásico aristotélico pode ser entendido com um método de persuasão aplicável à publicidade. Assim, procura-se saber se a campanha publicitária do governo atende aos requisitos do processo de persuasão e, consequentemente, é eficaz em sua mensagem de convocação das garotas à vacinação contra o HPV. PALAVRAS-CHAVE: publicidade; campanha de vacinação; processo aristótelico; persuasão publicitária.
Introdução Pela primeira vez, o Ministério da Saúde disponibiliza gratuitamente a vacina contra o HPV para garotas de 11 a 13 anos. A campanha em tom informativo busca orientar a população sobre a importância da prevenção contra câncer de útero, o terceiro mais comum entre as mulheres. Com o tema “Cada menina é de um jeito, mas todas precisam de proteção", as peças publicitárias convocam as garotas a se vacinarem ao longo do ano em todo o país. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), ainda em 2014 devem surgir 15 mil novos casos e 4,8 mil vítimas fatais do câncer de colo de útero. Esta vacina, contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) e usado na prevenção, passou a ser oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde o dia 10 de março. A estratégia de vacinação do governo inclui as unidades da rede pública do país e as escolas, além da própria campanha de mobilização junto ao público-alvo. 1
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Estudante de Graduação do 6º período do Curso de Publicidade e Propaganda. E-mail: diegogomesgs@yahoo.com.br.
Professora do curso de Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relaçoes Públicas da Univali. Graduada em Comunicação Social Habilitação Jornalismo, especialista em Estudos
Culturais, mestre em Comunicação Social e doutoranda em Ciências da Linguagem. E-mail: verasomer@yahoo.com.br.
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A vacina deve estar disponível nos 36 mil postos da rede durante o ano todo. O Ministério da Saúde incentiva as secretarias estaduais e municipais de Saúde para que promovam a imunização gratuita em escolas públicas e privadas. É meta do Ministério da Saúde vacinar 80% do público-alvo, composto por 5,2 milhões de meninas de 11 a 13 anos de idade. Para isso, conta com 15 milhões de doses divididas em três etapas: a 1ª no incío da campanha; a 2ª, seis meses após ter tomado a 1ª; e a 3ª dose, 60 meses após a 2ª dose (5 anos). O Ministério da Saúde preparou uma campanha informativa para orientar a população sobre a importância da prevenção contra o câncer do colo de útero (HPV). As peças convocam as meninas para se vacinarem, mas as mulheres também são alertadas sobre a importância da prevenção do câncer de colo de útero. As informações são veiculadas por meio de cartazes, spots de rádio, filmes para tevê, anúncios em revistas, outdoors e campanhas na internet, especialmente nas redes sociais. O período de veiculação estende-se de 10 de março a 31 de dezembro de 2014. A proposta deste artigo é analisar esta campanha do governo a partir de uma peça – o folder – uma vez que saúde e publicidade são áreas de interesse deste pesquisador, além da própria relevância do assunto diante do desafio do governo em vacinar um público tão amplo. A idéia é contribuir, de uma forma com este estudo para a academia, cruzando a pesquisa da comunicação com a da saúde. Será que os elementos visuais e verbais usados no fôlder estão de acordo com o perfil do público-alvo? Sáo efetivamente persuasivos para convencerem as garotas brasileiras de 11 a 13 anos de idade a se imunizarem contra o HPV? A linguagenm está apropriada a esta faixa etária? Estas são algumas questões que norteiam esta pesquisa. Para analisar a fôlder a partir do processo quadrifásico de Aristóteles, que explicamos mais adiante, contextualizamos a campanha publicitária e as peças usadas pelo governo para atingir o público-alvo; depois, trazemos alguns conceitos-chave para este estudo, tais como Comunicação Pública e Campanha Publicitária; em seguida, expomos alguns dados estatísticos sobre o público-alvo em relação ao comportamento sexual. Tendo feito isso, expomos a metodologia – opções de abordagem e instrumentos de coleta de dados –, o processo aristotélico de persuasão e a análise propriamente dita do folder. A proposta de analisar somente o fôlder se justifica diante da amplitude da campanha, uma vez que tomar como objeto de estudo mais peças poderia redundar na impossibilidade de concluir os estudos dentro do prazo estipulado. Comunicação pública Como observa Duarte ( 2007, p. 67 ), ¨as pessoas que mais precisam de informação em
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geral são as que têm menos acesso aos mecanismos de transmissão e orientação, ou possuem mais dificuldades de compreender seu significado¨. Justamente por isso o governo federal lançou mão de uma campanha informativa sobre a necessidade da vacinação de meninas de 11 a 13 anos de idade. Tambémo Brandão (2007, p. 3) observa que o objetivo da comunicação é “criar canais de integração da ciência com a vida cotidiana das pessoas, ou seja, despertar o interesse da opinião pública em geral pelos assuntos da ciência”. Mais importante, a promoção da saúde demanda uma ação coordenada entre todas as partes envolvidas: governo, saúde e outros setores sociais e econômicos, organizações voluntárias e não governamentais autoridades locais, indústria e mídia. As pessoas, em todas as esferas da vida, devem se envolver neste processo como indivíduos, famílias e comunidades. ¨Os profissionais e grupos sociais, assim como o pessoal de saúde, têm a responsabilidade maior na mediação entre os diferentes, em relação à saúde, existentes na sociedade¨. (OPAS/OMS, 1986, p. 2,). A comunicação pública tem como objetivo lançar as questões públicas na arena pública, no espaço de informação, discussão e transformação, onde os receptores tomam lugar de cidadãos. Este processo é em grande medida desempenhado pela grande mídia, devido a seu alcance. Daí a campanha envolver os diferentes veículos – rádio, tevê, revista e internet – na mobilização a favor da vacinação das garotas de 11 a 13 anos, de norte a sul do país, ao longo de todo o ano de 2014. O modelo contextual reconhece os indivíduos como capazes não somente de receber informações, mas também de reinterpretar e negociar o sentido e significado delas no próprio contexto cultural, social e de vivência individual. Este modelo, de acordo com Lewenstein (2005), mostra que as pessoas conpreendem melhor quando os fatos e as teorias têm significado em suas vidas, pois os indivíduos processam informações de acordo com seu conhecimento prévio e experiências anteriores.
Campanha publicitária Para
explicar
no
que
consiste
uma
campanha
publicitária,
introduzimos,
primeiramente, o conceito de publicidade. De acordo com Santos (2005, p. ), publicidade significa tornar público algum fato, dar visibilidade a algum acontecimento. “Publicidade é todo o processo de planejamento, criação, produção, veiculação de anúncios pagos e assinados por organizações especificas”, sejam públicas, privadas ou do terceiro setor. Nessa acepção, as mensagens têm a finalidade de predispor o receptor a praticar uma ação especifica.
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Dessa forma, a publicidade, além de informar sobre produtos e serviços, faz parte da comunicação social e abarca tais características desse campo de estudo. Ela representa, apresenta e reapresenta valores, práticas e atores sociais para essa mesma sociedade. Ao analisá-la, busca-se compreender também como se dá a comunicação. Para que se possa compreender a questão da significação e da linguagem em uma publicidade é preciso saber a quem ela se dirige, para qual ou quais sujeitos quer comunicar. Como essa campanha do governo federal junto ao público das meninas de 11 a 13 anos de idade sobre a importância da vacinação contra o HPV. Juventude brasileira e a sexualidade Na adolescência, a sexualidade se relaciona a um campo de descobertas e experiências que implicam a tomada de decisões, requerendo responsabilidade e exercício da autonomia. A sexualidade também “deve ser abordada em sua dimensão socialmente construída, contemplando as perspectivas físicas, psicológicas, emocionais, culturais e sociais, evitando, contudo, o reducionismo biológico”. (NOGUEIRA et AL: 2012, p.123)
A iniciação sexual constitui um rito importante na vida dos indivíduos, normatizada de acordo com parâmetros sobre a juventude, o ciclo privilegiado na simbologia de consumo, mitificada por meio da valorização do corpo e da saúde perfeita (VIANNA, 1992. Também representa o controle sutil dos corpos e da sexualidade (FOUCAULT, 1984). É comum, ao se discutir a iniciação sexual, dar-se ênfase ao lugar da individualidade, como construto da modernidade ou da afirmação da razão, do querer individual. E se afirma de acordo com controles culturais. Conforme a lei 8.069/90, do Estatuto da Criança e do Adolescente, adolescente é a pessoa com idade entre 12 e 18 anos. Já para a Organização Mundial da Saúde, a adolescência compreende a faixa etária entre os 10 e 20 anos. Didaticamente, a adolescência pode ser dividida em três etapas: a primeira, chamada “adolescência inicial”, dos 10 aos 14 anos, caracterizada essencialmente por transformações corporais e suas consequências psíquicas; em seguida, a “adolescência média”, entre os 14 e os 17 anos, caracterizada por questões relativas à sexualidade, especialmente a definição da orientação sexual; e, finalmente, a “adolescência final”, entre os 17 e 20 anos, quando se estabelecem novos vínculos com os pais, envolvendo a questão profissional, a aceitação de um esquema corporal novo e dos processos psíquicos do mundo adulto. A Pesquisa Nacional sobre a Saúde do Escolar (PeNSE) da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, realizada em 2009, pelo IBGE, em parceria com o Ministério da Saúde,
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destaca-se por ser um estudo abrangente, pioneiro e por ter investigado fatores de risco e proteção à saúde do adolescente. O instrumento foi aplicado numa amostra de 60.973 escolares do 9º ano do Ensino Fundamental, com idade entre 13 e 15 anos, nas escolas públicas e privadas das 26 capitais de estados brasileiros e no Distrito Federal. Ele forneceu subsídios para políticas públicas de promoção de saúde, dirigidas a essa população (MALTA et al, 2010a, 2010b). Em Belo Horizonte, a amostra da pesquisa foi composta por 65 escolas privadas e públicas, 111 turmas e 3105 escolares regularmente matriculados, frequentes no 9º ano do Ensino Fundamental. Do total de alunos estudados, 47,5% são do sexo masculino e 52,5% feminino, sendo que, na maior parte das capitais, houve ligeira predominância do sexo feminino; 79,2% dos escolares estudavam em escolas públicas e 20,8% nas escolas privadas; 89,1% dos alunos frequentavam a 9ª série do Ensino Fundamental (EF) e tinham idade entre 13 e 15 anos (BRASIL, 2009; INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009). Gráfico1. Percentual de escolares do 9º ano do EF, no Brasil e em Belo Horizonte, que já tiveram relação sexual alguma vez
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2009.
No que se refere à comparação entre os sexos, de acordo com as informações prestadas pelos adolescentes, no Brasil, o grupo de escolares masculinos tem sua primeira relação sexual mais cedo (43,7%) do que o grupo das estudantes femininas (18,7%). Esses
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dados instigam a pensar que a educação em sexualidade deveria iniciar-se mais cedo do que vem ocorrendo para os meninos. Embora as proporções de escolares, que informaram sobre o uso do preservativo, indiquem que se mobilizam para se cuidar e se proteger. A autora assinala que a iniciação sexual masculina vem ocorrendo mais cedo do que a feminina em pelo menos dois anos (16,2 contra 17,9). Esses apontamentos corroboram os resultados apresentados na PeNSE sobre a iniciação sexual. É importante ressaltar que a iniciação sexual na faixa etária dos escolares entrevistados (13 a 15 anos) ocorre em cerca de um terço da amostra, sendo maior para o sexo masculino, que, em localidades como Belo Horizonte, chega a ser o dobro para homens (41,3%) em relação às meninas (20,2%). Daí porque a campanha do governo federal de prevenção contra o HPV envolver principalmente meninas de 11 a 13 anos de idade. Metodologia Durante o desenvolvimento deste estudo aqui apresentada, analisar-se os elementos do processo aristotélico presentes no fôlder da campanha de vacinação contra o HPV. Entretanto, é fundamental lembrar que, antes, foi realizada pesquisa exploratória desenvolvida com objetivo de proporcionar uma visão geral sobre o tema. Na concepção de Gil (2002), as pesquisas exploratórias constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico, torna-se necessário seu esclarecimento e sua delimitação, o que exige revisão da literatura, discussão com especialistas e outros procedimentos. Também foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, que reside no fato de permitir ao autor a cobertura de uma gama de fenômenos ampla do que poderia pesquisar diretamente devido à campanha de vacinação contra o HPV trabalhar em âmbito nacional. Com a finalidade de realizar um trabalho completo e com embasamento suficiente, foi utilizada a pesquisa bibliográfica para fornecer a fundamentação teórica necessária. Para que se desenvolver a pesquisa, pode-se fazer uso de todo o material existente sobre o tema abordado. São considerados materiais de pesquisa: publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, monografias, sites, teses, meios de comunicação oral, fitas e gravações audiovisuais, enfim tudo que possa ser comprovada sua existência. ( MARCONI et al, 2002 p. 71). Também constitui uma pesquisa documental, que se assemelha muito a pesquisa bibliográfica. A única diferença entra ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre o determinado assunto, a pesquisa documental vale–se de matérias que não receberam ainda o
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tratamento analítico, ou ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. Neste artigo, valemo-nos da pesquisa documental justamente porque o folder da campanha de vacinação contra o HPV, destinada a meninas de 11 a 13 anos, foi o objeto de estudo específico deste artigo. Documento, pois faz parte do conjunto de peças que constitui toda a campanha publicitária do governo. Processo aristotélico Para realizar este trabalho de análise do folder da campanha de vacinação contra HPV, usamos o processo aristotélico de persuasão. De acordo com Figueiredo (2005, p.54), trata-se do mais antigo, com algo em torno de 2.300 anos, e foi proposto por Aristóteles na Grécia antiga. O sábio grego afirmou que, para persuadir uma pessoa, é necessário passar por quatro etapas: exórdio, narração, provas e peroração. Originalmente escrito para as sustentações orais no senado ateniense, o processo quadrifásico aristotélico pode ser entendido com um método de persuasão aplicável à publicidade da seguinte maneira: exórdio, que tem por função chamar a atenção do consumidor; narração, que objetiva envolver a pessoa em determinada história ou situação; provas, que vêm logo em seguida e são responsáveis por confirmar tecnicamente que o produto oferecido é bom; e, por fim, a peroração, que visa confirmar a mensagem que esta sendo transmitida e reforçada a marca do anunciante. Por essa razão, a maioria dos anúncios tem a assinatura ao final da peça. Em um anúncio tradicional, teríamos a função de exórdio representada pelo título e pela imagem, que busca fisgar a atenção do leitor, de interessá-lo pelo assunto que está sendo tratado na peça publicitária. A narração pode aparecer na imagem e no início do texto, geralmente contextualizando a situação para envolver o leitor, seja na história que está sendo contada, seja na busca da solução do conflito proposto. Nas provas, são oferecidas informações objetivas acerca da marca ou produto anunciado. É uma afirmação mais clara, mais direta das características físicas ou subjetivas do produto ou serviço oferecido e funciona como uma confirmação da importância e da qualidade do que está sendo anunciado. Concluindo a peça de comunicação, surge a peroração, composta pela assinatura da campanha, o slogan, a logomarca do anunciante. É como se o anúncio reiterasse a marca anunciada num último esforço para gravar aquele nome na mente do consumidor e incentiválo à ação.
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Análise do folder pelo processo aristotélico de persuasão Como determina o processo aristotélico de persuasão publicitária, ele está desenvolvido em quatro a partir dos seguintes elementos das etapas: Exórdio, Narração, Provase Peroração. Vamos aplicar este processo ao folder que integra a campanha vacinação contra o HPV. Figura 01: Ministério da saúde– Folder Vacinação contra HPV
FONTE: Frente e verso do folder. Ministério da Saúde, 2014.
Modelo de comunicação, processo aristotélico e persuasão publicitária iniciam com conceito exórdio, pois tem a função de representar o título e a imagem, buscando fisgar a atenção do leitor, de fazê-lo se interessar pelo assunto que está sendo tratado na peça publicitária. Tendo em vista isto, vemos que, no folder da campanha de vacinação contra o HPV, a etapa do exórdio está cumprindo perfeitamente. No folder, a tipografia utilizada está entre a Crayon e a Cursive com três tons de rosa
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e imagem de um recorte de caderno no entorno, no tamanho seis centímetros superior da página, que remetem ao colégio. Na sua composição, há três imagens de meninas com perfis diferentes. Observa-se que a primeira, no lado esquerdo, está com tênis preto, meia calça, short jeans, fones de ouvido, camisa preta e cabelos longos. No entorno desta imagem de menina, há elementos como um violão, boneco cor de rosa, celular, boneco Paul McCartney e um submarino amarelo, fazendo referência à música e ao álbunm Yellow Submarine, de 1966, dos The Beatles. Também há material escolar envolvido em um retângulo roxo, com uma pequena textura no tamanho aproximado de 18cm x5cm. Busca, com todos esses elementos, fazer com que o público-alvo da campanha de vacinação se identifique com o perfil da imagem desta garota “bem descolada”. No segundo perfil, temos a imagem de uma garota mais delicada, vaidosa, com cabelos longos, vestido amarelo e sapatilha verde. Observam-se sapatilhas de bailarina, estojo de maquiagem, livros, tiara, rabicó, porta-jóias e bolsa. Tudo isso envolvido um retângulo rosa com textura ao fundo bem no centro do folder, deixando haver uma identificação das meninas de 11 a 13 anos de idade com o perfil dessa menina. Em seguida, aparece o perfil da garota que representa a cultura nerd, vestindo camisa xadrez verde, calça jeans, e sandálias. Em sua volta, temos revista em quadrinhos, livros, vários lápis de colorir, gorros, cubo mágico, enfim, tudo isso envolvido num retângulo laranja de 18cmx5cm. As três meninas representadas no folder dizem respeito direto com o slogan da campanha: “Cada menina é de um jeito, mas todas precisam de proteção". No lado inferior esquerdo do folder, há um boton roxo, com tipografia cursiva, devidamente posicionado, chamando a atenção do público a ser atingido. Todos esses elementos relatados caracterizam os vários públicos de meninas, para quem a campanha é destinada em esfera nacional. Esta pode ser encarada como sendo a etapa do processo Exórdio, como mostramos no quadro abaixo (Quadro1). As imagens definem com clareza vários perfis de garotas, com tipografia que lembra o período escolar, cores do universo feminino, destacando cada menina em seu universo a partir de elementos sua volta.
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Quadro1:Processo aristotélico PROCESSO ARISTOTELICO E A PERSUSÃO PUBLICITARIA Etapa do processo
Localização no anúncio
Função
Exórdio
Titulo e imagem
Narração
Imagem e inicio do texto
Envolver o observador na situação proposta
Miolo do texto
Justificativa racionalmente as vantagens do produto anunciado
Provas
Peroração
Chamar a atenção do observador
Fim do texto, assinatura de Concluir o raciocínio, campanha, logomarca, slogan incentivar a ação lembrar a marca anunciante.
FONTE: FIGUEIRED, 2008, p..
A etapa seguinte, a Narração, pode aparecer na imagem e no início do texto; geralmente contextualizando a situação do conflito que está sendo proposto. A narração tem objetivo de envolver a pessoa em determinado história ou situação. A Narração do folder diz respeito à imagem de uma garota de pele branca, cabelos longos e vestido amarelo em fundo rosa com leve textura. No lado superior, aparecem elementos do universo feminino de uma garota delicada, uma boneca, kit maquiagem, agenda, bolsa tudo isso esses elementos em tons de rosa. Alias, repete a imagem de uma das meninas da capa. Logo em seguida, apresenta uma caixa branca contextualizando a campanha vacinação contra o HPV. O texto contem dois parágrafos com uma tipografia entre calibri a helvética sem serifa, de leitura fácil, explicando ao público a campanha. Mostra ainda, no quadro inferior do folder, o cronograma de vacinação, o local, num quadro com a frase ¨Anote na sua agenda para não esquecer¨, fazendo ligação ao universo feminino da campanha. O texto relata envolvimento com o público da campanha, explicando sobre o tema proposto da vacinação, com doses, locais, como mostra o Quadro1. Em seguida, temos, no processo aristotélico de persuasão publicitária, a etapa Provas. São responsáveis por confirmar tecnicamente se o produto ou serviço oferecido é bom. Nelas são oferecidas informações objetivas acerca de produto ou serviço anunciado. É a afirmação mais clara, mais direta das características físicas ou subjetivas do serviço oferecido, funcionando como uma confirmação da importância e da qualidade do que esta sendo
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anunciado. Nesta imagem, a menina está no lado superior direito com camisa xadrez verde, calça jeans, sandálias, óculos, cabelos longos, segurando um livro. É aquela que apareceu também na capa do folder. No fundo, uma textura em cor laranja realçando a identidade, observando-se vários elementos, tais como a mochila. No lado superior esquerdo, há livros e caderno, dando ênfase a uma menina dedicada. Já na parte inferior, apresentam-se vários itens do material escolar, revista em quadrinho, cubo mágico. Mostra aí o perfil de uma garota concentrada. Todos esses elementos destacam um dos perfis feminino a ser atingido. O texto justifica o raciocínio da campanha contra o HPV de proteção contra o câncer do colo de útero. Na imagem (Figura 1) acima, detecta-se com clareza informações objetivas, realçando o compromisso para o beneficio da vacina contra o câncer do colo de útero. Sendo assim, a etapa Provas, do processo aristotélico de persuasão publicitária, se conclui, como mostra o Quadro1. Por fim, concluindo a peça de comunicação, há a estapa da Peroração, composta pela assinatura da campanha, slogan a logomarca do anunciante. O folder trabalha, no seu fundo, com três cores, roxo, laranja, assocciados aos perfis destacados na capa do folder. No lado superior esquerdo, apresenta uma imagem de boton roxo com tipografia cursiva a respeito do “saiba mais sobre o HPV”. Os subtítulos estão em destaque na cor rosa em caixa branca, concluindo o raciocínio e tirando dúvidas: Como o vírus é transmitido? Qual é a vacina que você vai tomar? Por que as jovens da sua idade foram escolhidas para serem vacinas? Observa-se, na parte inferior do folder, uma caixa em tom de laranja, relatando como é importante a vacina. A sua diagramação está bem leve, sem serifas nas letras, facilitando a leitura tornando mais fácil e rápida a sua compreensão. A Peroração visa confirmar a mensagem que está sendo transmitida e reforça a marca do anunciante. É com essa razão que grande maioria dos anunciantes tem assinatura ao final da peça. Neste folder, não pode ser diferente, apresentando Peroração do processo aristotélico de persuasão publicitária, podendo observar no Quadro 1.
Considerações finais Este artigo teve a intenção de verificar se o processo aristotélico de persuasão publicitária esteve presente no folder da Campanha de Vacinação contra o HPV. O governo federal busca efetiva participação da sociedade e envolvimento da população sobre esta campanha, com foco informativo, buscando orientar sobre a importância da prevenção contra este tipo de câncer. O público alvo são as meninas entre 11 a 13 anos de idade. A campanha
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trabalha o universo dessas garotas com as cores, elementos do seu cotidiano, tipografia e imagens. Mostra que, independente do perfil, todas essas meninas adolecentes devem participar da vacinação. No caso estudado, ficou visível que os elementos do processo aristotélico de persuasão estão de acordo e contem as quatro etapas: Exórdio, Narração, Prova, e Peroração. Ou seja, os autores da campanha valeram-se dos elementos necessários para despertar interesse do publico-alvo com vários elementos de seu universo particular. Seria relevante para esta pesquisa acompanhar a campanha até final do ano, quando ela se encerra, para verificar se a idéia ou a proposta do governo teve boa aceitação. Ou seja, saber dos números do universo imunizado. Com isso, saberíamos se a campanha foi eficaz, respaldada pela participação das adolescentes nos números finais da campanha de vacinação contra o HPV. Interresante se o governo também trabalhasse com campanha voltada as mães, pois elas são as responsáveis pelas filhas, assim aumentado o nível de aceitação e de adesão à imunização. A realização do trabalho em questão foi importante para que se pudesse conhecer um pouco mais sobre processo aristotélico de persuasão publicitária e perceber que as áreas da saúde, do governo federal e da publicidade trabalham em harmonia. Por este estudo, pode-se entender que há uma preocupação real, valendo-se de profissionais entendidos no processo de comunicação pública e social e também publicitária, em acertar na campanha que busca a imunização dessas garotas. Pois, quanto mais conhecerem o seu público, os costumes desse público tão diverso, mais chances de sucesso o governo terá em suas campanhas de prevenção e conscientização da população-alvo.
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