DIÁLOGOS DIÁLOGOS
Projeto Diรกlogos - PRAXIS Escola de Arquitetura - UFMG Ano 2013 - Belo Horizonte - MG
introdução PRAXIS é um grupo de pesquisa da Escola de Arquitetura da UFMG que objetiva investigar as condições contemporâneas de projeto, produção e uso do espaço urbano e desenvolver práticas compartilhadas através da mediação entre tecnologia, projeto, construção, informação, vivência e criatividade em torno dos agentes envolvidos nesses processos. A ocupação Eliana Silva iniciou-se em abril de 2012, quando cerca de 200 famílias, organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam um terreno público na periferia de Belo Horizonte. As famílias permaneceram no terreno em barracos de lona por pouco menos de um mês, quando foram desejadas. Em agosto de 2012, com o apoio do MLB, as famílias realizaram uma outra ocupação, em uma nova tentativa das famílias de buscar pelo direito à moradia adequada e à cidade. Com o objetivo de apresentar soluções urbanísticas e arquitetônicas adequadas à demanda das famílias, a pesquisa investiga os meios passíveis de comunicação entre os envolvidos, promovendo uma relação interativa, compartilhada, adequada e desejada, em um processo que desfaz as hierarquias existentes entre os saberes científicos e não científicos.
BELO HORIZONTE - MG
ocupação eliana silva
sumário Mutirões_________________________________01 Soluções de esgotamento_______________02 Cartilhas_______________________________03 creche__________________________________04 Oficina de mosaico_____________________05 CAMISA ELIANA SILVA_____________________07 Crianças e espaço público____________08 Autoconstrução_______________________14 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA________________17 Concurso Internacional EME3_________19 EQUIPE___________________________________21
mUTIRÕES A parceria entre os moradores da ocupação e pesquisadores da universidade ocorreu inicialmente com orientações para o parcelamento do terreno. A partir de então, os assuntos relacionados à ocupação foram incorporados ao grupo de pesquisas PRAXIS e à disciplina do curso de arquitetura e urbanismo noturno Problemas de Requalificação e Urbanização de Assentamentos Precários, na qual os estudantes desenvolvem projetos para os espaços comuns da ocupação, executados em mutirões geridos em conjunto com os moradores e os pesquisadores.
Confecção de lixeiras e horta comunitária - Agosto de 2013
Outros mutirões executados em parceria com o grupo PRAXIS: TEVAP e círculo de bananeiras (dezembro 2012), mapeamentos coletivos (março 2013), parque infantil (abril 2013), recuperação de erosão (agosto 2013).
01
Soluções de esgotamento O tratamento de esgoto não é fornecido pelo poder público e as famílias utilizam um banheiro comunitário. Foram apresentadas propostas alternativas, o círculo de bananvvveiras trata águas cinzas e o tanque de evapotranspiração (TEVAP) trata águas negras. As soluções foram executadas em mutirões com a participação da comunidade, dos alunos da disciplina de Assentamentos Precários e dos pesquisadores do grupo PRAXIS.
TEVAP: Os rejeitos são depositados no interior dos pneus, onde sofrem decomposição. A água evapora, e as partículas sólidas ficam retidas nas camadas de diferentes granulometrias.
CÍRCULO DE BANANEIRAS: Os troncos, galhos e folhas filtram as impurezas e a bananeira absorve grande parte da água. O restante, já tratado, infiltra no solo. 02
Cartilhas Os sistemas de esgotamento propostos foram adotados por grande parte da comunidade, que passou a reproduzi-los por conta própria. Preocupados com a sua correta execução, elaboramos cartilhas explicativas que podem ser impressas a baixo custo, para serem distribuídas livremente.
Cartilhas: Tevap e Círculo de Bananeiras
03
CRECHE A creche foi uma das primeiras construções de alvenaria, por sua importância social. A principio erguida sem planejamento, mobilizou moradores e apoiadores em vários mutirões. Para a reforma da creche, o grupo PRAXIS prestou assessoria técnica, ajudando em questões como o orçamento, conforto ambiental, previsão de expansão – dentro de um processo compartilhado de tomada de decisões.
04
oficina de mosaico Ter um endereço é essencial para exercitar a cidadania e ter acesso a muitos dos serviços públicos. Diante dessa necessidade, o grupo PRAXIS realizou uma oficina de confecção de placas de numeração feitas de mosaico, no sábado, dia 21 de julho. Os mosaicos foram confeccionados utilizando material reciclado recolhido na ocupação e em doações recebidas por apoiadores. A oficina contou com a participação de várias crianças da ocupação, que após aprender a técnica, continuam a produzir as placas.
05
OFICINA DE MOSAICO
Cartilha:: Mosaico
06
CAMISA ELIANA SILVA Estampa de camisa desenvolvida pelo PRAXIS para ajudar na arrecadação de recursos para a ocupação Eliana Silva.
07
CRIANÇAS NO ESPAÇO PÚBLICO
Para estudar o território vivido pelas crianças e engajá-las no projeto do espaço comunitário, adotamos, em seguida, metodologia de observação participante e registramos suas práticas espaciais, focando nas brincadeiras, depois inventariadas. Buscando maneiras de fazer emergir características espaciais que não são evidentes em um primeiro momento e envolver os agentes que atuam no território, optamos pelo uso de ferramentas de cartografia na segunda etapa de nossa pesquisa. Iniciou-se então um processo de mapeamento coletivo da ocupação segundo o ponto de vista das crianças, em duas etapas: uma oficina de desenho e uma oficina audiovisual. Pretendemos que os produtos dessa pesquisa levem a uma inclusão das crianças na negociação com os adultos em defesa de características territoriais que elas consideram interessantes: muni-las de argumentos para que possam debater sobre o espaço de forma igualitária.
08
08
Crianças e espaço público Oficinas realizadas com as crianças da ocupação como instrumento para investigar as formas como elas leem o território e participam da construção da ocupação.
Oficinas de video e desenho.
09
Crianças e espaço público
3
2
1
4
6
5
brincadeiras com material de construção
1. 2. 3. 4. 5. 6.
Tijolo_resto de obras Elementos verticais_postes e árvores Rastros espaciais da brincadeira Carretel_aproveitado da pipa Montinho de brita ou areia_estoque para obra Pesca de tijolo
10
Crianças e espaço público brincadeiras de chão de terra
2 3
4
1
1. Arquibancada 2. Carros_fluxo reduzido; velocidade baixa; respeito às crianças 3. Casa aberta para a rua_olhos da rua: segurança 4. Chão de terra_não machuca quando cai; não esquenta 5. Zaga de bonecas
11
5
Crianças e espaço público brincadeiras ligadas ao processo construtivo
2
3 4
5 1
6
1. TEVAPS em construção_os buracos são usados como cadeia na polícia e ladrão enquanto ainda não estão concretados. 2. Casas em construção_são permitidas como esconderijo: entendimento dos edifícios em construção como espaço público. 3. Tiro-ao-alvo 4. Laje em construção_apropriada para brincadeira 5. Pedaços de tijolo_resto de obra 6. Esconde-esconde/polícia e ladrão
12
Crianças e espaço público brincadeiras de chão de terra
2
3
4 1
1. Chão de terra_não machuca quando cai; mais emoção na brincadeira. 2. Declividade_mais velocidade na descida 3. Fios de eletricidade_conflito com as linhas de pipa 4. Conflito entre idades_crianças mais velhas roubam a pipa das mais novas. 6. Esconde-esconde/polícia e ladrão
13
AUTOCONSTRUÇÃO A autoconstrução corresponde a um percentual expressivo em relação às obras que ocorrem pela cidade. O projeto visa, portanto, diminuir a visão tecnocrática dos métodos de construção, através da aproximação entre os arquitetos e os construtores. A metodologia consiste em elaboração de assembleias para levantamento de demandas, oficinas de percepção e representação espacial, rodadas de mediação coletiva e proposta de instrumentos informacionais por meio de desenhos, maquetes, fotografias e modelos 3D.
Casa de Altaciro - Ocupação Eliana Silva- Belo Horizonte - MG
14
autoconstrução
Localização
Morador Responsável
Seu José
Ocupação Eliana Silva, Barreiro Belo horizonte MG
Mora sozinho Outros Moradores
Ocupação da moradia
Seu José
A casa possui um cômodo, sem acabamento. A área externa foi aproveitada para dar espaço a diversos bancos adquiridos por doação. Formaram-se 2 salas nesse ambiente. A árvore que já existia no lote foi mantida. Formou-se uma varanda para Construção da moradia lavar roupa na sombra.
Próprios e emprestados
15
Chegou ao Eliana Silva um dia após a ocupação. Não possui documento de posse do terreno ou da casa. Inicialmente, montou uma barraca até que obtivesse o registro com a coordenação e recebesse o lote. Depois da barraca de lona, construiu de madeirite.
Seu José Quem construiu?
Processos de decisão
Equipamentos
BH
Uso da moradia
Dormir, descansar, lavar-se
....................... Futuro
AUTOCONSTRUÇÃO
Casa do Seu José - Moradora da Eliana Silva - Belo Horizonte - MG
16
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA
Em uma segunda etapa da disciplina Reabilitação de Assentamentos Precários, os alunos desenvolvem projetos individuais para moradores ou espaços comunitários da ocupação. Mantêm-se um contato intenso com os moradores, compreendendo suas reais demandas e possibilidades técnicas/financeiras para a execução. No segundo semestre de 2013 o estudante Victor Alencar desenvolveu um projeto para a biblioteca comunitária da ocupação, uma demanda real que partiu das próprias lideranças. O lote do projeto foi escolhido devido sua localização estratégica para a vida comunitária da ocupação: próximo à creche, e à árvore onde costumam acontecer as reuniões ao ar livre. Já havia se instalado ali uma família, porém a topografia do entorno não permite que ali haja a possibilidade de acesso para automóveis, argumento que facilitou a negociação para realocar os moradores. O aluno detalhou o projeto tendo em vista materiais e técnicas conhecidos pelos moradores da ocupação e de fácil aquisição. O pneu foi escolhido por ser um material comumente descartado em borracharias da redondeza, e o bambu por ser encontrado na área vegetada da ocupação. Victor realizou também um estudo do escoamento do projeto, e preocupado em torná-lo factível, planejou sua montagem. Além disso, parte do mobiliário também foi projetada e detalhada, de forma a reduzir mais o custo.
17
biblioteca comunitária
arquibancada e contenção de pneus
arquibancada
125 cm
ADMINISTRAÇÃO
ÁREA PARA EXPOSIÇÃO EXTERNA
móvel para leitura ACERVO
395 cm
955 cm
195 cm
240 cm
ÁREA PARA EXPOSIÇÃO EXTERNA
móvel para acervo móvel para exposição do acervo painel de bambu
contenção de bambu talude 300 cm
350 cm 650 cm
18
EME3
Em 2013 o grupo PRAXIS foi finalista do festival internacional de arquitetura EME3 em Barcelona. O EME3 se caracteriza como um fórum para discussão e troca de experiências em ambito internacional sobre práticas arqutietônicas de vanguarda. No ano de 2013 teve como recorte curatorial o tema ‘‘Topias: Utopias Becoming Real’’, reunindo projetos relacionados a novos usos so espaço público, moradia em tempos de crise (política, econômica, climática, demográfica) e o espaço de trabalho em evolução.
19
EME3
Equipe
PROFESSORES DENISE MORADO (coordenadora) dmorado@gmail.com JUNIA FERRARI jmfl2009@gmail.com MESTRANDOS – NPGAU/UFMG Cecília Reis Alves dos Santos Eduardo Moutinho Ramalho Bittencourt DOUTORANDOS – NPGAU/UFMG Marcela Silviano Brandão Lopes GRADUANDOS – BOLSISTAS IC Barbara Peret Almeida de Oliveira Ceci Nery Batista Milena Lara Reis Ferreira Thiago Duarte Flores GRADUANDOS – BOLSISTAS EXTENSÃO Izabella Rago Castro Mariana Conforti Domingos Carneiro COLABORADORES Samy Lansky Victor Alencar Fernanda Comparth Rafael Gomes Duarte
21
APOIO