Série The Return of the Highlanders 01 – O Guardião 02 – O Pecador 03 – O Guerreiro 04 – O Laird
Quatro guerreiros destemidos retornam para reivindicar suas terras e seus legados. Mas todas as suas façanhas no campo de batalha não são suficientes para prepará-los para o seu maior desafio: Conquistar os corações de quatro belas escocesas. Da ilha de Skye aos campos de batalha da França, Duncan
MacDonald nunca esqueceu o verdadeiro amor que deixou para trás. Considerado indigno da filha de um Laird, Duncan abandonou a encantadora Moira para provar sua coragem em batalha. Agora, quando chamado para resgatá-la de um clã rival, uma coisa é certa: o que sente por Moira é mais forte do que nunca.
Vendida em casamento a um homem violento, Moira fará de tudo para garantir que ela e seu filho sobrevivam. Quando um guerreiro enorme chega para salvá-la, acha que suas preces foram ouvidas, até
que percebe que é Duncan, o homem que há anos dilacerou seu coração e agora é a sua única esperança. Moira prometera nunca mais se entregar – ou revelar seus segredos – ao feroz guerreiro, mas enquanto navegam pelo mar, o perigo e o desejo os aproximam cada vez mais.
Um livro que rouba nossa respiração a todo momento. Uma mocinha mimada e que foi obrigada a amadurecer entre dor, golpes, sofrimento e senso de sobrevivência. Em alguns momentos a antiga moça mimada ressurge e temos vontade de sacudi-la como forma de alerta. Um mocinho honrado e TDB maravilhoso. Sofrido pela
paternidade não reconhecida e que foi a sua salvação. Um amor cheio de desencontros por armadilhas de terceiros.
Um menino que já demonstra se tornar um grande guerreiro. Um cachorro-lobo que é um grande guardião.
Batalhas, emboscadas, estratégias e vingança correm em paralelo na trama.
Cenas românticas e hots na medida certa as esperam.
Pallas Athenas
Bidh um t-Ubhal ar como fheàrr um'
mheangan como àirde. A melhor maçã está no galho mais alto.
Ilha de Skye, Scotland 1508 Duncan MacDonald poderia derrotar qualquer guerreiro no castelo e, no entanto, ele era impotente contra a filha de dezessete anos de seu Laird. — Assim que meu pai sair do salão, — Moira sussurrou, inclinando-se perto o suficiente para fazê-lo tonto, — eu vou encontrálo lá fora do lado freixo1. Duncan sabia que ele deveria recusar, mas também poderia tentar impedir que seu coração batesse. — Eu disse a você para não falar comigo aqui, — disse ele, olhando sobre a longa sala cheia de membros do clã e convidados do Laird da Irlanda. — Alguém pode notar. Quando Moira se virou para olhar diretamente para ele com seus olhos azuis escuros como a meia-noite, Duncan sentiu como se um punho batesse em seu peito. Isso aconteceu na primeira vez que ela olhou para ele — realmente olhou para ele — e todas as vezes desde então. — Por que alguém notaria se eu falasse com o melhor amigo do meu irmão Connor? — Ela perguntou. Talvez porque ela o tenha ignorado nos primeiros dezessete anos de sua vida? Ainda era um mistério para ele como isso havia mudado.
1
Fraxinus é um gênero botânico da família Oleaceae. Ocorre na área subtropical temperada do hemisfério norte. É comumente chamado freixo, embora esse nome também se aplique, mais especificamente, à espécie Fraxinus excelsio.
— Vá agora, Ragnall está nos observando, — disse ele quando sentiu os olhos de seu irmão mais velho sobre si. Ao contrário de Moira e Connor, Ragnall tinha o cabelo claro do pai, a constituição de um touro e o temperamento volátil. Ele também era o único guerreiro do clã que Duncan não tinha certeza se poderia derrotar nas armas. — Eu não vou até que você diga que vai me encontrar mais tarde. — Moira cruzou os braços, mas a diversão se ergueu nos cantos de seus lábios carnudos, lembrando a Duncan que isso era um jogo para ela. No entanto, se o Laird soubesse que Duncan estava se esgueirando com sua única filha, ele o mataria no local. Duncan se virou e saiu do corredor sem se incomodar em responder. Moira sabia que ele estaria lá. Enquanto ele esperava por ela no escuro, ele ouviu o suave barulho do mar na praia. Não havia neblina naquela noite na Nebulosa Isle of Skye, e o castelo de Dunscaith era lindo, iluminado por tochas contra o céu claro da noite. Ele havia crescido no castelo e visto essa visão mil vezes, mas Duncan era um jovem que não dava nada como garantido. Sua mãe servira como babá dos filhos do Laird, e ele e Connor eram amigos desde o berço. A partir do momento em que conseguiram erguer espadas de madeira, os dois e os primos de Connor, Alex e Ian, haviam treinado na arte da guerra. Quando eles não estavam praticando com suas armas, eles estavam fora procurando por aventura — ou problemas — e eles geralmente encontravam. Moira sempre foi separada, uma princesa mimada vestida com elegância. Duncan tinha pouco a ver com a adorável e pequenina criatura cujo riso muitas vezes enchia o castelo.
Duncan ouviu o farfalhar de saias de seda e se virou para ver Moira correndo na direção dele. Mesmo no escuro e coberta da cabeça aos pés com uma capa, ele poderia distingui-la entre mil mulheres. Embora ela não pudesse ver o que estava em seu caminho, Moira corria livre, sem nenhum impedimento. Nenhuma pedra para tropeçar, pois até mesmo as fadas favoreciam essa moça. Quando Moira jogou os braços ao redor de seu pescoço, Duncan fechou os olhos e se perdeu em sua suavidade feminina. Ela impregnava o ar com o cheiro do cabelo dela, e era como se ele estivesse em um campo de flores silvestres. — Já faz dois dias, — ela disse. — Eu senti tanto a sua falta. Duncan ficou surpreso com o quão desprotegida Moira era. A moça dizia o que quer que viesse à sua cabeça, sem cautela, sem medo de rejeição. Mas então, quem iria recusá-la? O Laird mandou Duncan frequentar a universidade nas Terras Baixas com Connor e os seus primos, e ele aprendeu sobre Helena de Tróia lá. Moira tinha um rosto assim — do tipo que poderia iniciar uma guerra de clãs. E pior, para seu coração ciumento, ela tinha curvas exuberantes e uma sensualidade inata que fazia com que todo homem a quisesse. Os outros homens só a cobiçavam por sua beleza. Mas para Duncan, Moira era a faísca brilhante em seu mundo. Moira puxou-o para um beijo profundo que o fez cambalear. Antes que ele percebesse, suas mãos estavam vagando por cima das ondas femininas de seu corpo, e ela estava gemendo em sua boca. Eles corriam o risco de deitarem na grama, onde qualquer um poderia aparecer, então ele quebrou o beijo. Um deles tinha que manter a cabeça e não seria Moira.
— Não aqui — disse ele, embora soubesse muito bem o que fariam se fossem para a caverna. A antecipação fazia com que cada fibra de seu ser pulsasse com necessidade. Durante as primeiras semanas, eles haviam encontrado maneiras de agradar um ao outro sem cometer o último e irrevogável pecado — aquele que poderia custar a vida de Duncan se seu Laird soubesse disso. Ele se sentia culpado por tomar o que legitimamente pertencia ao futuro marido de Moira. Mas foi um milagre que ele tenha resistido a ela tanto tempo. Pelo menos ele estava confiante de que Moira não sofreria pelo que haviam feito. Ela era uma moça inteligente — ela não seria a primeira a derramar um frasco de sangue de ovelha em seus lençóis de casamento. E Moira não seria incomodada pela culpa. Uma vez que eles estavam dentro da caverna, eles espalharam o cobertor que eles mantinham lá, e Duncan a puxou para seu colo. — O filho do Laird irlandês é bastante divertido, — disse Moira, apontando o dedo para o lado. O pai de Moira não havia tomado outra esposa depois que a mãe de Connor e Moira morreram. Então, quando tinham convidados, Moira sentava-se de um lado do pai, encantando-os, enquanto seu irmão mais velho, Ragnall, sentava-se do outro lado, assustando-os. — O homem estava olhando para a frente de seu vestido durante todo o jantar. — E Duncan pensava que Moira permitiu. — Eu queria esmagar a cabeça dele entre as minhas mãos. Durante toda a sua vida, ele se importou com seu temperamento, tanto porque ele era mais velho do que outros rapazes quanto porque sua posição era precária. Ele odiava o jeito que Moira o fazia perder o controle.
— Isso é doce. — Ela riu e beijou sua bochecha. — Eu estava tentando fazer ciúmes a você. — Por que você faria isso? — Para ter certeza de que você viria me encontrar, porque precisamos conversar. — Sua voz era séria agora. — Duncan, eu quero que nos casemos. Duncan fechou os olhos e, por um breve momento, deixou-se fingir que era possível. Imaginou como seria ser o homem tão abençoado a ponto de dormir com essa moça em seus braços a cada noite e acordar todas as manhãs com seu sorriso radiante. — Isso nunca vai acontecer, — disse ele. — Claro que vai. Moira estava acostumada a fazer o que queria. Seu pai, que não tinha outra fraqueza, a havia estragado, mas ele não cederia a ela em um assunto tão importante. — Seu pai nunca permitirá que sua única filha se case com o filho bastardo da babá, — disse ele. — Ele vai usar o seu casamento para fazer uma aliança para o clã. Duncan tirou o frasco de uísque e tomou um longo gole. Com Moira falando bobagem, ele precisava disso. — Meu pai sempre me deixa ter o que eu quero no final. E o que eu quero — ela disse, com o hálito quente no ouvido dele enquanto passava a mão pelo seu estômago — é você, Duncan Ruadh MacDonald. Com todo seu sangue correndo para seu pênis, ele não conseguia pensar. Ele puxou-a para os braços e eles caíram sobre o cobertor, as pernas emaranhadas. — Estou desesperada por você, — disse ela entre beijos frenéticos.
Ele ainda achava difícil acreditar que Moira o queria, mas quando ela colocou a mão em seu pênis, ele acreditou. Por quanto tempo ela o quisesse, ele seria dela. Duncan passou os dedos pelo cabelo de Moira enquanto ela estava deitada com a cabeça no peito dele. Ele fixou todos os momentos de seu tempo juntos em sua lembrança para lembrar mais tarde. — Eu amo-o tanto, — disse ela. Uma sensação estranha de pura alegria borbulhou dentro de Duncan. — Diga que me ama, — disse ela. — Você sabe que sim, — ele disse, embora não fizesse diferença quanto ao que aconteceria. — Eu nunca vou parar de amá-la. Seus sentimentos não vinham e iam como os de Moira. Uma semana, ela amava seu cavalo marrom, na semana seguinte o pintado e, na semana seguinte, não gostava de cavalgar de jeito nenhum. Ela sempre foi assim. Eles eram o oposto de muitas maneiras. Duncan se obrigou a sentar-se para poder ver o céu fora da caverna. — Ach, é quase amanhecer, — disse ele e amaldiçoou a si mesmo. — Devo estar de volta ao castelo rapidamente. — Vou convencer meu pai, — disse Moira enquanto se vestiam. — Ele não é bobo. Ele pode ver que um dia você será um famoso guerreiro conhecido em todas as ilhas ocidentais. — Se você contar a seu pai sobre nós, — disse ele, colocando suas mãos em seu rosto, — será o fim disso. Moira não podia ser tão ingênua quanto fingia. — Ele nos deixaria casar se eu carregasse seu filho, — disse ela em voz baixa. O coração de Duncan parou em seu peito.
— Diga-me que você está tomando a poção para evitar conceber? — Sim, — ela disse, parecendo irritada. — E eu tive meus ciclos. Ele passou o polegar pela bochecha dela. Era estranho, mas ele adoraria ter um filho com ela — uma menina pequenina com os olhos sorridentes
de
Moira.
Ele
não
tinha
nenhum
negócio
tendo
pensamentos assim. Levaria anos até que ele pudesse sustentar uma esposa e um filho, e ele nunca seria capaz de prover uma mulher acostumada a roupas finas e criados. O susto que ela lhe deu o fez resolver, mais uma vez, para acabar com isso. Moira podia esconder a perda de sua virgindade, mas uma criança era outra questão. — Se meu pai não concordar, podemos fugir, — disse ela. — Ele enviaria meia dúzia de galeras de guerra atrás de nós, — disse Duncan enquanto prendia o manto dela. — Mesmo se nós escapássemos, o que não faremos, você nunca seria feliz distante do nosso clã e vivendo em uma casa humilde. Eu amo você demais para fazer. — Não duvide de mim, — disse Moira, segurando a frente de sua camisa. — Eu moraria em qualquer lugar com você. Ela acreditava nisso porque nunca viveu com dificuldades. Duncan sabia desde o começo que ele nunca poderia mantê-la. Moira era como uma borboleta colorida, pousando em sua mão por um momento sem fôlego. O céu estava ficando mais claro quando chegaram à entrada da cozinha atrás da fortaleza. — Eu amo você, — disse Moira. — E eu prometo, de um jeito ou de outro, que vou me casar com você.
Duncan era um homem de sorte por ter seu amor, mesmo por pouco tempo. Ele puxou-a para um último beijo sem pensar e se perguntou como viveria até a próxima vez. Ele vivia no precipício do desastre, nunca sabendo o que aconteceria com ele ao ser pego ou ter que acabar com isso. E, no entanto, ele nunca se sentira mais feliz em sua vida. Ele teve que parar de assobiar enquanto atravessava o pátio do castelo até a cabana de sua mãe. Porra, havia luz de velas na janela. Duncan era um homem adulto de quase vinte anos e não precisava responder a sua mãe. Ainda assim, ele desejou que ela não estivesse acordada para vê-lo entrar com o sol nascente. Ela fazia perguntas e ele não gostava de mentir para ela. Duncan abriu a porta e seu estômago caiu como uma pedra a seus pés. Seu Laird e Ragnall sentavam-se em ambos os lados da mesa de sua
mãe,
com
suas
longas
espadas
claymore
descansando,
desembainhadas, sobre as coxas. A raiva rolou para fora dele. Com seus cabelos e olhos dourados ferozes, pareciam um par de leões. Duncan esperava que eles não o matassem na frente de sua mãe e irmã. Embora ele não tirasse os olhos dos dois guerreiros que estavam no pequeno chalé, percebeu que a mãe estava encolhida no chão no canto, chorando. Sua irmã de onze anos estava com a mão no ombro da mãe. — A velha vidente predisse que você salvaria a vida do meu filho Connor um dia. — A voz do Laird possuía a ameaça suficiente para derrubar pássaros do céu. — Essa é a única razão pela qual eu não te matei no momento em que você passou por aquela porta. Duncan suspeitou que ele seria açoitado dentro de sua cabana em vez disso. Mas uma surra, por pior que fosse, não significava nada.
Ele era forte; sobreviveria. O que pesava sobre seus ombros era a percepção de que ele nunca mais seguraria Moira em seus braços. Seu Laird estava falando de novo, mas Duncan achou difícil escutar com o poço da tristeza subindo em seu peito. — Eu suspeito que Connor e meus sobrinhos soubessem que você estava violando minha filha! Quando o Laird começou a levantar-se da cadeira, Ragnall pôs a mão no braço do pai. — Estamos tirando Knock Castle dos MacKinnons hoje, então pegue sua espada e escudo, — disse Ragnall. — Assim que a batalha terminar, você, Alex e Ian velejarão com Connor para França. Você pode aprimorar suas habilidades lá, lutando contra os ingleses. — No momento em que você voltar, — disse o Laird, com os olhos estreitos de ódio, — Moira estará longe de Skye, vivendo com seu marido e filhos. Duncan sabia desde o começo que ele perderia Moira. E, no entanto, ele sentiu a perda tão intensamente como se tivesse sido o noivo expectante cuja noiva é arrancada de seus braços em sua noite de núpcias. A faísca brilhante foi embora de sua vida para sempre.
The Glens,2 Irlanda; Janeiro de 1516 — A Ilha de Skye está lá. — Moira ficou na beira do mar segurando a mão do filho e apontou para o horizonte vazio ao Norte. — Essa é a nossa verdadeira casa. Nunca se esqueça de que somos MacDonald de Sleat. Seu filho Ragnall, a quem ela deu o nome de seu irmão mais velho, deu-lhe um aceno grave. Depois de um momento, ele perguntou: — Se eles são o nosso clã, por que eles não vêm por nós? Por que, de fato. Ela odiava essa sensação de estar presa. Se ela escapasse do marido, ela nunca deixaria tudo acontecer de novo. Nunca. Tudo o que ela queria nesta vida era estar segura com seu filho no Castelo Dunscaith. Uma vez, ela quisera mais. Não, ela esperava o que fosse devido. Proibida e indesejável, a imagem de Duncan MacDonald, o homem cuja deserção levou-a a toda essa miséria, encheu sua cabeça. Ninguém tinha visto um jovem guerreiro tão promissor quanto seu irmão Ragnall, que era dez anos mais velho. Moira lembrou-se dos cabelos de cobre de Duncan brilhando à luz do sol, as linhas duras de seu rosto que suavizavam quando ele olhava para ela, o corpo do guerreiro que lhe ensinara prazer. Ela ficaria melhor sem essas lembranças. Och, ela tinha sido uma moça tola e confiante aos dezessete anos. Ela lera devoção nos silêncios
2
Glens - vales
de Duncan, confundia sua luxúria por amor e contava com sua força para lutar por ela. Infelizmente, ela estava errada em todos os aspectos. — Dane-se, Duncan Ruadh Mòr3! — Moira disse baixinho enquanto olhava para o mar vazio. — Como você pôde me deixar? Duncan lhe trouxera pior sorte do que um espelho quebrado. Sete anos de miséria, sem fim à vista. Moira relembrou o dia de seu casamento. Todos estavam reunidos no salão à espera da noiva, enquanto ela estava na muralha do castelo ainda à procura de uma vela à distância. Até o último momento, quando seu pai veio buscá-la, ela estava esperando e rezando para que Duncan voltasse a tempo de salvá-la. Mesmo assim, ela teria se esgueirado até a praia — e depois de lhe dar uma surra de língua que ele não esqueceria tão cedo — ela teria entrado em seu barco e ido a qualquer lugar com ele. Ela estava tão certa de que ele voltaria por ela. Mas somente cinco anos depois Duncan MacDonald retornou a Skye. Ela nunca iria perdoá-lo. Moira afastou a velha dor e observou Ragnall jogar um graveto para seu cachorro, Sàr, um gigantesco cão de caça com duas vezes o peso de Ragnall e o tamanho de um pequeno pônei. Por um momento, seu filho pareceu como se fosse um rapaz despreocupado, e ela se sentia culpada por ele não poder estar. Seu doce e jovem rosto tinha os olhos de um homem velho. Ragnall levantou o braço para jogar o graveto de novo, mas parou e olhou para o topo do penhasco. — Pai está aqui. Moira estremeceu como sempre fazia quando ouvia Ragnall chamar aquele homem imundo de seu pai. Quando ela se virou e viu a
3
Mòr – grande, enorme em gaélico.
forma de urso de Sean acima deles, ela lutou contra a onda de náusea que subiu em sua garganta. Mesmo dessa distância, ela sentiu problemas. Ela não queria Ragnall aqui. — Você sabe como ele odeia Sàr. Leve-o embora, — ela disse. Quando Ragnall hesitou e lhe lançou um olhar preocupado, ela o empurrou. — Rapidamente agora! — Venha — gritou Ragnall, e Sàr se arrastou ao lado dele pela praia. Moira forçou seu corpo a relaxar quando Sean desceu o caminho do penhasco em direção a ela. Mostrar medo apenas o encorajava. Infelizmente, Sean podia sentir o medo dela como a besta selvagem que ele era. Quando Sean chegou a ela, ele ficou muito perto, elevando-se sobre ela com as mãos nos quadris e as pernas afastadas em uma postura ampla. Ela sorriu para ele. — Minha querida esposa — disse Sean, com os olhos tão frios quanto o vento gelado que sai do mar de inverno, — tem algo a me dizer? O medo fechou sua garganta, então ela iluminou seu sorriso até que pudesse falar. — Só que estou contente por poder sair para dar um passeio. Eu sei que homem ocupado você é. O cheiro de uísque emanava dele, aumentando seu alarme. Era cedo para uma bebida forte, mesmo para Sean. — Vi o modo como meu irmão Colla olhava para você no corredor no café da manhã — disse Sean. Isso de novo, não. Houve um tempo em que Sean gostava que os homens a olhassem e até provocassem fazendo comentários indecentes sobre ela. Agora isso só o deixava irritado.
Sean sempre foi difícil, mas ele piorou desde a morte de seu pai e irmão Ragnall na Batalha de Flodden. Como resultado de suas mortes, as fortunas de seu clã caíram, e com elas, a sua própria. Sean respeitava o poder e ela perdeu o dela. Moira ouvira rumores de que seu clã estava recuperando lentamente sua força sob o comando de irmão Connor. No entanto, Connor não a visitou uma só vez para demonstrar a Sean que ele valorizava muito seu bem-estar. Ela teria implorado a seu irmão que viesse se Sean tivesse permitido que ela enviasse uma mensagem. — Eu não posso evitar se os homens olham para mim, — disse ela no que esperava que fosse uma voz leve. Sean agarrou o braço dela com força, enviando apreensão através dela. — Você os encoraja, — disse ele. — Eu vejo como você se exibe para eles. — Eu não o faço. — Ela deveria ter ficado em silêncio, mas ela não conseguia se ajudar. Ela estava cansada das falsas acusações, cansada de fingir que ele estava sempre certo e doente até a morte dele. — Você está chamando seu marido de mentiroso agora? Ela fechou os olhos e se preparou para o tapa. — Pare! — Gritou Ragnall. — Solte-a! Moira abriu os olhos quando ouviu a voz do filho. Ragnall estava de pé com os pés separados e com o bastão que estivera brincando com seu cachorro cerrado em seu punho, um menino pequeno imitando a posição de batalha do guerreiro que um dia seria. O pavor pesou no peito de Moira. — Estou bem, — disse ela, encontrando o olhar preocupado de Ragnall. — Largue isso. Por favor.
O medo transformou o interior de Moira em líquido, enquanto ela observava o rosto de Sean se encher de violência iminente. Seu mundo estava suspenso pelo fio fino do controle do marido. Quando Sean jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada, os
joelhos
de
Moira
ficaram
fracos.
Pela
primeira
vez,
a
imprevisibilidade de Sean funcionara a seu favor. — Você será um guerreiro feroz como seu pai, — disse Sean. Ragnall apertou a mandíbula quando Sean assanhou seu cabelo. — Uma vez, vou deixar você desafiar seu pai, — disse Sean, apontando o dedo no rosto de Ragnall. — Mas, se voltar a levantar a mão para mim de novo, eu vou ensinar-lhe uma lição não vai esquecer tão cedo. Moira ouviu o rugido baixo de um rosnado e se virou para encontrar Sàr se aproximando com os dentes à mostra. — Mas, como punição, você vai se livrar desse cachorro, — disse Sean. — Por favor, não, — disse ela. Ragnall adorava Sàr. Isso iria quebrar seu coração ao perdê-lo. — Chega — disse Sean, olhando para ela. — Eu não vou fazer isso, — disse Ragnall. — Você não pode me obrigar a fazê-lo. Ah não. — Sean, ele é apenas um bebê, — ela implorou: — Ele não pretende desafiá-lo Sean puxou a cabeça de Moira pelo cabelo com tanta força que lágrimas caíram de seus olhos. Apesar da dor, seu primeiro pensamento foi que ela conseguiu desviá-lo de atirar sua ira sobre Ragnall. Mas o pânico renovado inundou-a quando Sean começou a arrastá-la pela costa rochosa até a água.
— Me solte! Por favor! — Ela chorou quando ele a puxou para a água gelada. Ragnall tentava segui-lo, mas o wolfhound 4 bloqueava seu caminho toda vez que se aproximava da água. — Faça uma escolha, Ragnall — gritou Sean. — Sua mãe ou aquele cachorro? O peso da água se arrastou nas saias de Moira quando Sean a arrastou para as ondas. Ela tropeçou nas pedras e caiu de joelhos, então ofegou quando uma onda gelada a pegou no rosto. Quando Sean a colocou de pé, seu lenço caiu e foi levado com a próxima onda. Ela podia ouvir Ragnall gritando sobre o barulho das ondas enquanto Sean a arrastava ainda mais longe. Quando ele finalmente parou, eles estavam na altura da cintura, e as ondas elevavam sobre a cabeça dela. — Devo dar-lhe o teste da bruxa? — Perguntou Sean a Ragnall. Então ele agarrou Moira pela nuca e disse: — Vamos ver se você está mentindo para mim sobre Colla. Teste da bruxa? Ele queria afogá-la? Moira mal teve tempo de respirar fundo antes que Sean mergulhasse sua cabeça sob a água. O choque do frio quase a levou a sugar a água do mar em um suspiro. Ele segurou-a por tanto tempo que seus pulmões estavam gritando por ar. Em pânico absoluto, ela agitou os braços e arranhou-o, mas sem sucesso. Quando ele finalmente levantou sua cabeça, ela tossiu e ofegou. Ela não conseguia ar suficiente. Ela sentiu como se o frio tivesse congelado seus pulmões, permitindo que ela respirasse apenas brevemente. Seu cabelo escorria pelo rosto, cegando-a, enquanto ela sufocava e tremia incontrolavelmente. Wolfhound - O lébrel irlandês, também chamada wolfhound irlandês, é uma raça canina oriunda da Irlanda. Foi utilizado originalmente na caça aos lobos, de onde herdou seu nome oficial. 4
— Pare! Pare! — Os gemidos de Ragnall vieram até ela sobre a água. Através de riachos de água do mar e fios de cabelo molhado, ela viu seu filho chorando na praia. Ele ainda estava tentando entrar atrás dela, mas o wolfhound barrava seu caminho. — Eu vou dar Sàr! — Ele gritou. — Eu vou, eu vou! — Tem certeza? — A voz de Sean explodiu ao lado dela. — Eu não quero descobrir que você mudou de ideia depois. Ragnall passou por Sàr e entrou na água. — Ragnall, não! — Moira gritou pouco antes de Sean mergulhar sua cabeça debaixo d'água novamente.
Castelo de Dunscaith, Ilha de Skye, Escócia Chuá! Chuá! Chuá! A chuva atingiu o rosto de Duncan, enquanto ele lutava de costas, um contra o outro, com Connor, contra os dez guerreiros que os rodeavam. Não era uma boa chance, mas o número de seus oponentes os deixava muito seguros de si mesmos. Quando Duncan bloqueou uma lâmina atrás da outra, ele observou o primeiro homem cometer um erro fatal. Ele não precisou esperar muito. No instante em que um de seus atacantes limpou a chuva que corria em seus olhos, Duncan lançou sua claymore com tanta força contra o escudo do homem que ele caiu sob sua bunda e quicou no chão. — Você não prestou atenção ao que eu tenho ensinado? — Duncan se inclinou e gritou para o homem deitado a seus pés. — Você se deixaria ser morto por um pouco de chuva em seus olhos? Duncan bateu no ombro de outro jovem guerreiro que estava olhando para seu amigo no chão quando deveria estar balançando sua espada. O humor de Duncan estava tão ruim quanto o tempo. — Você acha que os MacLeods vão esperar por um dia seco para nos atacar? — Duncan perguntou quando ele atingiu outro homem com a parte plana de sua lâmina. Então ele forçou um par deles de volta, gritando: — Ou os MacKinnons? Ou os Macleans? Ou...
— É o suficiente para hoje, rapazes, — Connor chamou e levantou a mão. Enquanto os outros se afastavam, ele abaixou a voz e disse a Duncan: — Não há necessidade de descontar seu temperamento sobre eles quando é de mim que você está com raiva. Duncan largou a ponta da espada para descansar no chão. — Não me peça para ir para a Irlanda. Ele não suportaria ver Moira morando lá com o marido. Quase o matara quando soube que ela se casara com o filho do Laird irlandês apenas quinze dias depois dele partir para a França. Seu coração mudara rapidamente. No entanto, sete anos depois, sua lembrança ainda andava ao lado dele todos os dias. — Eu não pediria, — disse Connor, descansando a mão no ombro de Duncan, — mas você é o único homem que posso enviar. — Eu sou o capitão de sua guarda, — disse Duncan. — Você precisa de mim aqui para treinar os homens. Como você pode ver, eles têm muito a aprender. Mesmo quando disse isso, Duncan estava ciente de que era uma causa perdida. Connor era seu melhor amigo assim como seu Laird. Ambos sabiam que ele faria o que Connor precisasse, não importava o que isso lhe custasse. Isso significava que Duncan não tinha que gostar disso. — Posso limpar a chuva dos meus olhos agora, — perguntou Connor, — ou você vai dar um soco em mim? Duncan se lançou tão forte e rápido que ele quase pegou Connor desprevenido. Pelos próximos minutos, eles cruzaram espadas pelo pátio e mostraram aos outros como uma verdadeira luta era feita. No momento em que pararam, a chuva caía em lençóis gelados e o vapor subia do calor de sua pele.
— Eu gostei disso. — Connor sorriu para ele quando ele limpou o rosto com a manga. As responsabilidades da chefia pesavam muito sobre Connor, por isso era bom vê-lo despreocupado. — Depois de desperdiçar o meu dia tentando forjar guerreiros desse gosto, — disse Duncan, lançando seu olhar para os homens que tinham permanecido na chuva para observá-los, — é um alívio ver que meu Laird ainda sabe como lutar. — Eles são bons guerreiros, — disse Connor, dando um tapa no ombro de Duncan. — Eles só não são tão bons como nós somos. Enquanto caminhavam pelas poças até a fortaleza, Duncan se lembrou de passar por elas um dia quando eram jovens rapazes. Duncan parava quando Moira descia os degraus da fortaleza parecendo um brilho de sol com seu vestido amarelo brilhante. Connor não a notou e espalhou a lama nela da cabeça aos pés. Aquela moça poderia parar de gritar! Moira bateu em Connor até que seu irmão mais velho Ragnall a levantou e a carregou para dentro. No entanto, a maioria de suas lembranças de Moira não eram da infância, mas do verão que ela era de tirar o fôlego aos dezessete anos. Enquanto subia os degraus da fortaleza, Duncan olhou para a janela do quarto que era dela. Moira contou-lhe como ela o havia visto naquele dia de verão, visto ele praticando com os outros homens, e decidiu que ele era o que ela queria. Daquele momento em diante, ela virou o mundo dele de cabeça para baixo. Fazia dois anos que haviam retornado da luta na França e retirado o Castelo Dunscaith do tio de Connor. E ainda assim, todos os cantos e todas as pedras do castelo o faziam lembrar dela. E maldito idiota que ele era, alimentou as lembranças. Ele não podia desistir das lembranças porque elas eram tudo o que a tinha dela — e tudo o que ele teria.
E a moça havia se esquecido dele em quinze dias. O pai de Moira a estragara descaradamente. Se ela não estivesse disposta a casar com o filho do Laird irlandês, ele não a teria forçado. Quando Duncan entrou na fortaleza atrás de Connor, ele viu que sua irmã Ilysa estava esperando os homens, entregando-lhes toalhas e aconselhando-os a não trazerem lama para o salão ou ela esqueceria onde escondia o uísque. Duncan não tinha certeza de como tinha acontecido que Ilysa tivesse assumido a administração da casa do Laird e
ele
suspeitava
que
Connor
também
não
soubesse.
Independentemente disso, a sua pequena irmã de dezoito anos cumpria o dever com uma mão firme. Quando ela apontou para suas botas enlameadas, tanto o Laird quanto o capitão do guarda as limparam antes de entrar no salão. — Você pode mandar alguém nos trazer o uísque? — Connor perguntou a ela. — Está na mesa alta esperando por você, se seus dois primos não beberam tudo — disse Ilysa com um pequeno sorriso. Com sua mãe morta, Duncan deveria falar com Ilysa sobre seu futuro, mas ele se sentia totalmente inadequado para a tarefa. Parecia estranho que sua irmãzinha tivesse se casado, embora brevemente, enquanto ele estava na França. Embora tivesse perdido o marido há mais de dois anos na Batalha de Flodden, não demonstrou interesse em se casar novamente. Ainda assim, ela teria que encontrar algo para consigo mesma quando Connor finalmente tomasse uma esposa. Os primos de Connor, Ian e Alex, estavam descansando na lareira com as longas pernas estendidas diante deles e copos de uísque nas mãos. Ian tinha o mesmo cabelo preto que Connor, enquanto Alex tinha os cabelos louros dos vikings que geraram crianças, enquanto aterrorizavam essas costas nos velhos tempos.
Embora ainda
parecessem os tipos de homens que um pai sábio mantinha longe de suas filhas, Ian e Alex eram ambos homens de família dedicados agora. — Vocês deveriam ter se juntado à prática, — disse Duncan em saudação. — Se tudo o que fazem são bebês, ficaram fracos e não serão úteis para nós em uma luta. — Grandes guerreiros como nós? — Alex se desdobrou de sua cadeira e se espreguiçou. — Och, nós não precisamos de prática. Alex jogou a taça no ar, sacudiu a espada pelo ar várias vezes, girou em círculos e, em seguida, pegou a taça pela alça com os dentes, quase não derramando uma gota. O salão explodiu quando os homens gritaram e bateram no punho de suas espadas no chão, mas Duncan ignorou a exibição. Apesar da tolice de Alex, ele manteve suas habilidades afiadas. Connor estava junto à mesa principal, com o cabelo preto molhado como o de uma foca, e encheu as duas taças vazias com o uísque do frasco. Quando sinalizou para seus primos e Duncan se juntar a ele, os outros no salão se afastaram a uma distância respeitosa. Todos entendiam que eram os homens em quem o Laird confiava para aconselhá-lo em assuntos importantes. Os quatro estavam mais próximos do que irmãos desde que eram crianças. O vínculo forjado em sua infância havia sido fortalecido pela luta lado a lado em incontáveis batalhas. Se vivessem para serem homens velhos, eles poderiam ter homens jovens contando suas histórias por horas ao redor desta lareira em longas noites de inverno. E Alex provavelmente contaria vantagem. — Conseguimos muito desde que voltamos da França para encontrar meu pai e meu irmão mortos e nosso clã em perigo, — disse Connor depois de se instalarem à mesa. — Nossas terras aqui na
Península Sleat de Skye são protegidas pelo Castelo de Dunscaith a Oeste e pelo Castelo de Knock a Leste. Eles levantaram suas taças para Ian, que mereceu a maior parte do crédito por seu sucesso em arrebatar Knock Castle dos ladrões MacKinnons e Dunscaith Castle do tio de Connor, Hugh. Infelizmente, depois de perder tanto Dunscaith quanto o posto de Laird, Hugh escapou e voltou à pirataria, o que lhes causou muitos problemas. — Nosso pessoal na ilha de North Uist está seguro agora também, — continuou Connor. Desta vez eles levantaram suas taças para Alex, que era o novo guardião do castelo do clã em North Uist. Embora tivessem conseguido expulsar os piratas que haviam invadido North Uist e as ilhas vizinhas, Hugh havia escapado naquela época também. — Mas não podemos descansar até recuperarmos as terras que os MacLeods roubaram de nós, — disse Connor. — É a hora de agirmos. Era isso que todos esperavam. Como um, eles levantaram suas taças e gritaram: — Um phlàigh oirbh, um Chlanna MhicLoid! Uma praga caia nos MacLeods! Os MacLeods de Dunvegan eram seus principais rivais na Ilha de Skye, e havia uma história sangrenta entre eles. Mais recentemente, o astuto Laird MacLeod, Alastair Crotach, aproveitou a fraqueza de MacDonald após a Batalha de Flodden para capturar as terras e o castelo de MacDonald na península Trotternish da ilha. — Não vai ser fácil, — disse Ian, inclinando os antebraços sobre a mesa. — Os MacLeods têm mais homens e galeras de guerra do que nós. Além disso, Alastair MacLeod não tem seus parentes miseráveis tentando tomar a chefia dele como Connor.
— Am medo nach eil làidir's fheudar DHA ' bhith carach, — Alex disse. Aquele que não é forte deve ser astuto. — Os MacLeods são fortes demais para que possamos combatêlos sozinhos, — disse Connor. —
Temos
uma
poderosa
possibilidade
em
Campbell,
especialmente agora que eles têm a autoridade da Coroa sobre as Ilhas Ocidentais, — disse Ian. — Eles podem ser persuadidos a lutar conosco? — Só se formos atacados, — disse Connor, passando as mãos pelos cabelos úmidos. — Eles não enviarão guerreiros para nos ajudar a recuperar nossas terras roubadas. — Há um risco dos outros clãs rebeldes ficarem do lado dos MacLeods contra nós, — disse Duncan, e imediatamente se arrependeu de ter falado quando Connor fixou seu olhar nele. — É por isso que eu preciso de você para visitar nossos 'aliados' na Irlanda, — disse Connor. — Precisamos saber de que lado eles estarão quando a luta começar. — Envie outra pessoa, — disse Duncan e tomou um gole. — Hugh tem espiões aqui em Dunscaith. — Connor se inclinou para frente e falou em voz baixa. — Até descobrir quem são, não posso confiar em ninguém além de vocês três. Eu preciso de Ian aqui em Skye para defender Knock Castle e Alex em North Uist para proteger nosso povo lá. Isso deixa você, Duncan. — Talvez se você ver Moira, possa finalmente esquecê-la, — disse Alex com sua falta de tato habitual. Pelo menos desta vez ele não acrescentou seu apelido pessoal para ela, Mar da Amargura. — Não é hora de você e Connor terem noivas? — Sim, — disse Ian. — Connor, você coloca o clã em perigo por não ter um herdeiro.
— Eu preciso fazer a melhor aliança possível com o meu casamento, — disse Connor. — Eu não posso saber qual clã escolher até que a poeira assente depois que essa maldita rebelião acabar. — Suponho que o filho de Moira seja o seu herdeiro por enquanto, — disse Ian. — Essa é outra razão pela qual estou enviando Duncan para a Irlanda, — disse Connor, voltando-se para ele. — Hugh mostrou que está disposto a matar qualquer um que esteja entre ele e a chefia. O pai do rapaz deve ser avisado do perigo. Droga. Droga. Droga. — Então você está indo para a Irlanda. — Alex levantou sua taça para Duncan e piscou. — Boa sorte ao contar a Rhona. Aquela mulher que me assusta. — Esta é a hora de mostrar a ela a porta de qualquer maneira — disse Ian. — Mas eu te aconselho a tirar o punhal dela primeiro. Eles estavam falando bobagens, mas Duncan os deixou rirem. De repente, as portas da fortaleza se abriram com uma rajada de vento e chuva e bateram contra as paredes. Duncan estava de pé com sua claymore nas mãos antes de ver a silhueta curvada na entrada. Deus no céu, o que a velha vidente estava fazendo no castelo? Teàrlag era tão velha quanto a névoa e com dois anos a mais, como dizia o ditado. Ela nunca havia deixado seu chalé pela lembrança de Duncan. — Eu tive uma visão! — Teàrlag lamentou. — Ah, trago notícias terríveis!
Sean finalmente soltou Moira e deixou-a para fazer o seu próprio caminho de volta à costa. Ela olhou para suas costas enquanto tossia água salgada e lutava contra a força da ressaca marítima. — Se eu ver aquele cachorro de novo, cortarei sua garganta — gritou Sean para Ragnall quando ele passou por ele na água. Ragnall estava de joelhos, com cada onda ameaçando derrubá-lo, mas Sean continuou a andar sem olhar para trás. — Não venha mais longe! — Moira disse a seu filho. Ela tropeçou e caiu de cabeça na água e ficou ofegante. Seus joelhos e palmas das mãos foram cortados pelas cracas e estavam sangrando, mas ela se concentrou no rosto do filho e continuou se movendo. Finalmente, quando ela estava a poucos metros dele, Ragnall correu para os seus braços. Uma onda bateu nela arremetendo-a para trás, quase fazendo com que ela perdesse o equilíbrio novamente na rocha escorregadia. Ragnall pegou a mão dela e puxou-a para a margem. Uma vez que eles estavam na praia além do alcance das ondas, ela desabou na areia. Ragnall correu para pegar o cobertor que trouxeram para a praia, depois o jogou ao redor dos seus ombros e se arrastou até o colo dela. Seus dentes batiam incontrolavelmente quando ela balançou seu filho, uma bola de calor que ela envolveu em seu corpo gelado. A água do mar de seus cabelos escorria para se misturar com as lágrimas no rosto. — Não podemos ficar aqui por mais tempo, — disse ela.
Moira sentiu o chicote da língua de Sean quase desde o início do casamento, mas essa era a primeira vez que ela temia por sua vida. Embora Sean tivesse se tornado cada vez mais volátil nos últimos meses, ela se enganara acreditando que poderia controlá-lo, bajulando e lisonjeando-o, como sempre fizera. No momento em que Ragnall levantou o pau para Sean, tudo mudou. Ela deveria saber que seu filho tentaria protegê-la. Ragnall tinha um senso inato de honra que Sean não compreendia e colocaria seu filho em perigo. — Eu não sei como ainda, mas iremos para o Castelo de Dunscaith. Nós estaremos seguros lá. — Ela esfregou a cabeça do filho e olhou para o mar vazio em direção a Skye. O que quer que tivesse que fazer para deixar seu filho em segurança, ela faria. — Eu gostaria que ele não fosse meu pai. — Ragnall fez uma pausa, então perguntou em voz baixa: — Eu vou ser como ele? — Não. — Moira pegou o rosto de Ragnall em suas mãos e olhou duro em seus olhos. — Você não é nada como ele, e você nunca será. — Como você sabe? — Ragnall perguntou, preocupando-se com seus olhos azuis escuros, a única parte dele que ele conseguiu dela. — Porque aos seis você já é um homem melhor do que ele. — Ela tirou o cabelo do rosto dele. — Você crescerá para ser um excelente guerreiro e o melhor dos homens. Você fará sua mãe orgulhosa. Sàr reapareceu e deitou-se ao lado dela, cheirando a cachorro molhado. — Ele está tentando aquecê-la, — disse Ragnall. — Ele é um bom cachorro, — ela disse, coçando a cabeça peluda do wolfhound, — mas você terá que deixá-lo ir. Sean matará Sàr se ele o vir.
Och, Sean era um demônio para forçar uma criança a escolher entre seu amado cão e a vida de sua mãe. — Meu pai nunca vai pegá-lo, — disse Ragnall. — Sàr é muito rápido. — Até que possamos escapar, devemos fazer o melhor possível para não provocar Sean, — disse ela. — Você entende? Ragnall enterrou o rosto contra ela. — Mas como Sàr vai comer? — Sempre que pudermos, vamos deixar comida para ele em nosso lugar especial no antigo forte. Ragnall ficou quieto por um longo tempo, depois perguntou: — Podemos levar o Sàr conosco quando formos para Skye? Moira estava tentada a mentir, mas ela havia sido criada em mentiras e falsas esperanças, e ela não faria o mesmo com Ragnall. Ela tirou o cabelo do rosto dele com os dedos e beijou sua testa. — Eu não penso afirmar, mo chroí.5 — Meu coração. — Mas você e eu vamos escapar. Não importa o que ela tivesse que fazer, ela salvaria seu filho.
5
mo chroí – meu coração em gaélico irlandês e mo chridle meu coração em gaélico da Escócia.
Enquanto todos abriam espaço para Teàrlag, que estava na entrada do salão gemendo e agitando os braços, Niall o irmão de dezessete anos de idade de Ian entrou atrás dela e puxou as portas fechando-as. — Você é o idiota que trouxe Teàrlag com esse tempo? — perguntou Ian enquanto Connor e Ilysa ajudavam a velha vidente sentar na cadeira mais próxima da lareira. — Você poderia tê-la matado. Niall parecia envergonhado e parou ao lado de Duncan. — Eu tentei dizer a ela que não, — Niall sussurrou para ele, — mas a velha mulher ameaçou lançar um feitiço que faria minhas partes masculinas encolherem a nada. Duncan riu. Teàrlag era bem conhecida por sua predição e, sem dúvida, tinha o dom, mas ela fazia uso de sua reputação para adequar a si mesma. — O que você viu que é tão importante que a fez deixar sua casa de campo, e em tão mau tempo? — Connor perguntou, ajoelhando-se ao lado da velha vidente. Ela olhou em volta com o olho bom. — Ninguém vai buscar uma taça de uísque para uma mulher velha antes que morra de frio? Ilysa retirou o frasco da mesa principal e serviu uma pequena taça a Teàrlag. Todos os olhos estavam voltados para a velha vidente esperando para ouvir suas notícias enquanto ela bebia.
Teàrlag limpou a boca nas costas da mão e lançou um olhar triste para Connor. — Meu próprio jarro está pateticamente baixo... — Vou mandar um novo jarro com você para casa, — disse Connor, acariciando seu braço e mostrando a paciência de um santo. — Você está pronta para nos dizer agora? Duncan não confiava no que ela podia ver. Sua mãe tivera visões estranhas de vez em quando — ou pensava que era assim — e todo o negócio o deixava desconfortável. E ele com certeza não gostava que sua irmã estivesse aprendendo os Antigos Caminhos da Vidência. — Eu vi uma grande tempestade no mar. — Teàrlag balançou em seu assento e acenou com as mãos retorcidas no ar. — O trovão veio rolando sobre a água e o raio se rompeu. Não precisava da visão para ver que havia uma tempestade lá fora. Duncan olhou para as escadas, desejando poder deixar o salão sem ser notado, embora com seu tamanho isso nunca seria possível. Och, ele estava saindo de qualquer maneira. Antes que Duncan desse dois passos, as próximas palavras de Teàrlag o detiveram. — Pouco antes da tempestade, ouvi a voz de Moira. — Minha irmã? — Connor perguntou. — Ela está segura? — Eu deixaria minha casa pela primeira vez em uma dúzia de anos para dizer que tudo está bem? — replicou Teàrlag. Duncan atravessou a sala e empurrou os outros para o lado para ficar na frente de Teàrlag. — O que você viu? — Ele perguntou. Teàrlag fechou os olhos e fez um zumbido antes de falar novamente.
— Eu não posso ver Moira, mas ouço sua voz... e então eu vejo uma poça de sangue. Duncan sentiu como se tivessem dado um soco no seu peito. — Muito sangue! — Teàrlag lamentou. — Mas é o sangue de Moira? — Connor perguntou. — Eu não tenho noção de quem é o sangue, — disse Teàrlag, saindo de seu “transe” com uma velocidade alarmante. Ela se levantou, mas estava tão curvada que não parecia mais alta do que sentada. — Agora vou tirar um cochilo antes de voltar para a minha cabana. — Fique aqui esta noite, — disse Ilysa, descansando a mão no ombro da velha. — Não. Minha vaca vai precisar de leite. — Teàrlag fixou seu bom olho em Duncan. — Você, rapaz, me ajude a subir por uma cama. Duncan a conduziu pelo corredor até as escadas a um ritmo extremamente lento e se perguntou se machucaria o orgulho da velha vidente pegá-la e carregá-la nos braços. — Você se lembra — disse Teàrlag entre respirações ofegantes enquanto subiam a escada de pedra circular — quando eu previ que você sofreria uma grande tristeza? — Sim. Isso não era algo que um rapaz de onze provavelmente esqueceria. Teàrlag parecia mais velha do que a névoa já naquela época, então ele, Connor, Alex e Ian foram para o chalé dela, esperando que ela previsse o futuro deles antes de morrer. Sendo rapazes, tudo o que queriam ouvir era que grandes guerreiros eles se tornariam. Em vez disso, suas previsões foram sobre amor e mulheres. A velha vidente sempre foi em contrário.
— Eu disse a você que às vezes um homem pode mudar seu destino, — disse ela quando parou para recuperar o fôlego. — É hora de você mudar o seu, Duncan Ruadh MacDonald. Ele havia mudado — ele não era mais apenas o filho sem pai da babá. Quem o gerou violou a tradição das Terras Altas que exigia que um homem reivindicasse seu filho, independentemente de ele estar casado com a mãe. Duncan havia se levantado daquela vergonha para se tornar capitão da guarda de seu Laird, um respeitado guerreiro de reputação assustadora. — Você tenta a paciência de uma velha mulher. Você estava fadado desde o começo a ser um grande guerreiro. — Teàrlag esticou o braço acima da cabeça para com seu dedo acariciar no peito dele. — Mas você é corajoso o suficiente para confiar no amor de uma mulher? Porque essa é a sua única esperança de realmente mudar seu destino. Isso mudaria seu destino, tudo bem. Para pior. — Você ainda carrega aquela velha flauta de ossos? — Ela perguntou. Och, a mente da velha estava ficando fraca com o modo como vagava de uma conversa a outra. — Sim, — disse ele, tocando a flauta de oito polegadas que estava amarrado a uma correia de couro em volta do pescoço. Foi um presente de sua mãe, e ele sempre carregava com ele. — Bom, — disse Teàrlag. — Você vai precisar antes que sua viagem termine. Sua flauta? — E no tempo de necessidade do nosso clã, sua música fornecerá a resposta. Moira odiava ter que fazer isso. Seu coração batia em seus ouvidos enquanto ela olhava para Sean novamente para ter certeza de que ele
estava imerso no conto fabricado que ele estava dizendo aos homens do outro lado dele. Então ela encontrou os olhos de Colla do outro lado da mesa e lentamente passou a língua pelo lábio superior. Colla se inclinou para frente com a boca aberta como um peixe. Och, ela deveria ter escolhido um homem capaz de sutileza. Uma vez que ela cortou os homens com esposas e filhos de sua lista, havia poucos para escolher que possuíam seus próprios barcos. Além disso, Colla a desejava há anos. Não demoraria muito para convencê-lo a levála embora e ela estava com pressa. Moira levantou-se da mesa e pôs a mão no ombro do marido. Quando Sean virou o rosto para ela, ela se lembrou de como ele era bonito e charmoso quando o conheceu pela primeira vez. O charme tinha evaporado há muito tempo, mas a bebida ainda não havia debilitado seu corpo de guerreiro ou feito a pele sobre as maçãs do rosto manchadas. Ele tinha os olhos de uma cobra. — O vinho está ficando baixo, — disse ela. — Eu vou pedir que um novo barril seja aberto. — Seja rápida sobre isso, — disse Sean. Ela cerrou os dentes quando ele bateu no traseiro dela. Och, ele tinha as maneiras de um porco. Ela não podia arriscar um rápido olhar para Colla quando saía ao corredor.
Mesmo
bêbado,
Sean
poderia
notar.
Ela
desceu
apressadamente os degraus de pedra para o frescor úmido da cripta. À sua esquerda, a cozinha era barulhenta e iluminada por tochas e fogueiras. Ela virou para a direita, para o corredor escuro que levava aos depósitos. Usando a chave presa ao cinto, abriu a porta do quarto onde guardavam o uísque, o vinho e a cerveja. O cheiro de álcool e terra
úmida encheu seu nariz quando ela entrou. Seu coração martelou enquanto esperava e observava através da fenda na porta. Seria Colla vindo? Ela não sabia o que temia mais — se ele viesse ou se não viesse. Brincar com o desejo de um homem sem deixá-lo ter o que queria era um jogo difícil, e as apostas não poderiam ser piores. Passos ecoaram contra as paredes de pedra. Seu peito se apertou observando as botas e depois as pernas de um homem aparecerem enquanto ele descia as escadas. Um momento depois, ela viu que era Colla. Depois de parar para olhar furtivamente para as cozinhas, ele caminhou em direção aos depósitos. — Rapidamente! — Ela abriu a porta para ele e depois fechou atrás dele. Colla puxou-a contra ele imediatamente, antes que ela estivesse preparada para isso. Ela virou o rosto quando ele tentou beijá-la. — Eu a interpretei mal? — O fôlego de Colla em seu rosto cheirava a cebola e cerveja. — Ou você está brincando comigo? Ela tentou afastá-lo. — Você não me interpretou mal, mas... — Deus, como eu queria você, — disse ele quando começou a plantar beijos molhados e desleixados ao lado de sua garganta. Quando ela estremeceu, ele confundiu sua repulsa por excitação e aumentou seus esforços. Os homens viam o que queriam ver. Eles eram todos vaidosos como pavões. — Nós não temos tempo para isso agora. — Moira agarrou seus ombros e deu-lhe um forte empurrão. — E não é seguro aqui. — Você pode sair e me encontrar no campo atrás do castelo hoje à noite? — Colla perguntou, respirando em seu rosto novamente. — No campo atrás do castelo? É tudo o que você quer de mim? — Ela não teve que fingir estar afrontada.
— Eu posso cogitar o mundo por você, — disse Colla, inclinandose muito perto novamente. — É muito perigoso para nós aqui, — disse ela. — Se Sean nos pegar, ele mataria a nós dois. — Se você pudesse escapar por uma tarde — disse Colla, — há uma baía tranquila a alguns quilômetros a Oeste. — Você acha que eu deixaria meu marido por um homem que só quer deitar na grama comigo uma ou duas vezes? — Ela perguntou. — Deixar seu marido? — Colla se endireitou e piscou para ela. Ela tinha julgado mal o quanto ele a queria? Moira não tinha muito tempo para convencer Colla a levá-la e seu filho embora. Sean era como um pote de óleo em um fogo quente pronto para explodir. Ela pegou a mão de Colla e colocou em seu seio. — O shluagh, — Colla murmurou, chamando as fadas para ajudálo. Moira engoliu seu desagrado. Mesmo através do tecido de seu vestido, sua mão estava quente e úmida. — Por favor, Moira, eu quero você há tanto tempo. Apenas me diga onde você quer me encontrar. Quando isso vai acabar? Sua mão estava em seu seio como uma lapa. — Eu quero que você me leve para longe daqui, — disse ela, — para um lugar onde Sean nunca poderia nos pegar. — Encontre-me amanhã e vamos conversar sobre isso. — A respiração de Colla ficou dura quando ele esfregou o polegar sobre seu mamilo. Isso estava demorando mais do que ela antecipara. — O único lugar em que estaremos seguros é no castelo do meu irmão em Skye, — disse ela e tirou sua mão do seio. — Meu irmão é o Laird do meu clã e nos receberia.
Connor amaldiçoaria bem melhor do que receberia, depois de tudo que ela passou. — Você me aceitaria como seu novo marido? — perguntou Colla. — Meu coração tem sido seu por anos, mas não ousei pensar que você considerasse se casar comigo. Colla poderia ter se convencido de que seu coração estava comprometido, mas Moira sabia exatamente que parte ele esperava envolver nela. E, típico do homem, ele nem percebeu que ela não havia respondido à sua pergunta. — Eu não vou me separar do meu filho. — Ela cruzou os braços sob os seios para chamar a atenção dele para eles. — Och, eu não sei nada sobre tirar o filho de um homem... — Eu não vou sem Ragnall, — disse ela. Colla arrastou o olhar dos seios para o rosto dela. — O que você quiser, Moira. Ela soltou a respiração lentamente. Desta vez, quando Colla a puxou para seus braços, ela rangeu os dentes e deixou-o abraça-la por um momento. — Eu preciso esperar por uma oportunidade, — disse ela, inclinando-se para trás. — Você não pode contar a uma alma. Sean é um homem perigoso. — Ah, eu não tenho medo de Sean, — disse Colla, estufando o peito. — Estou disposto a lutar com ele por você. Homens. Ela lhe dissera isso para fazê-lo cauteloso, não para picar seu orgulho. Ela segurou o queixo dele com a mão e sorriu para ele. — Por favor. Eu não quero uma luta. — Tudo bem, — disse ele.
O pânico cresceu em sua garganta quando Colla a esmagou contra ele. Ela sentiu frio e umidade quando ele começou a passar as mãos sobre ela. — Preciso ir antes que Sean mande alguém me procurar. — Fingindo relutância, ela o afastou. — Teremos todo o tempo que quisermos quando estivermos longe daqui. — Como vou saber quando e onde te encontrar? — Perguntou Colla. — Quando eu usar meu vestido vermelho escuro, isso significa que vou tentar fugir naquela noite, — disse ela. — Você sabe onde fica o antigo forte de madeira? — Sim. — Eu vou encontrá-lo lá à meia-noite.
— Vou sair para a Irlanda na parte da manhã, — disse Duncan. Ele e Connor estavam sentados sozinhos tomando um último gole. Alex levara Teàrlag para sua vaca e Ian fora para Sìleas e seus bebês. Depois de toda a comoção anterior, o salão se assentou em um zumbido silencioso de vozes. — As tempestades de inverno ainda estão sobre nós, — disse Connor. — Espere mais um mês ou dois. — Depois do que Teàrlag disse, sabe que não posso, — disse Duncan. — O significado da visão de Teàrlag não estava claro, e ela está ficando velha e confusa, — disse Connor. — Eu espero que você descubra que tudo está bem com Moira. Durante todos os anos de miséria de Duncan, seu único consolo era que ele fizera a coisa certa ao partir. Ele acreditava que Moira se casaria com um Laird e teria o tipo de vida que a faria feliz — do tipo que ele nunca poderia lhe dar. Mil vezes a imaginara como ama de um belo castelo, com criados, joias e vestidos bonitos. E em sua mente, ela sempre sorria e ria. Se ele estivesse errado e tivesse feito o sacrifício por nada, não poderia suportar. — Mesmo assim, eu vou pela manhã, — disse Duncan, olhando para a taça. O caso de Duncan com Moira era o único segredo que ele guardara de Connor. Ian estivera na corte em Stirling naquele verão, então ele
também não sabia disso. Mas Alex estava por perto de Dunscaith e, sendo Alex, adivinhara o que estava acontecendo entre Duncan e Moira muito antes do pai de Connor. O Laird deles esperara para contar a Connor até eles embarcarem no barco para a França. Connor se recusou a acreditar em seu pai até que ele o confrontou, e Duncan admitiu que era verdade. Essa foi a única vez que Connor havia golpeado Duncan com raiva. Mesmo quando jovem, Connor sempre teve uma cabeça fria. Quando Connor o derrubou no fundo do barco e começou a socálo, Duncan não se defendeu. Ele sabia que ele merecia isso. Eventualmente, Alex e Ian conseguiram arrastar Connor dele. — Use sua cabeça, — Alex gritou no rosto de Connor quando ele estendeu o braço para apontar para Duncan. — Quem você acha que seduziu quem? Nosso homem, morte-antes-desonra Duncan? Ou a princesa Moira, que espera que o mundo se curve à sua vontade? Och, digo-lhe, Duncan não teve uma chance. — Você a ama? — Connor perguntou a ele. — Sim, — respondeu Duncan. E esse foi o fim de tudo. Tão próximo quanto ele e Connor eram, eles nunca mais falaram sobre o relacionamento de Duncan com Moira novamente. Meses depois, porém, Connor compartilhou a carta agressiva de seu pai com a notícia do casamento de Moira. A carta levara muito mais tempo para alcançá-los do que a mera quinzena que levara para que Moira dissesse os votos de casamento a outro homem depois de professar seu amor por Duncan. Connor colocou a mão no ombro de Duncan enquanto lia a carta. Mas ele não disse nada, porque não havia nada a dizer.
— Sou grato a você por ir para a Irlanda, — disse Connor. — Quando você ver minha irmã, saberá se algo está errado. Só porque eles nunca falaram dos sentimentos de Duncan por Moira, não significava que Connor não os conhecesse. — Vou levar a galera que roubamos de Shaggy Maclean, — disse Duncan. — É pequena, mas é rápido e desliza pela água como uma lontra do mar. — Você não pode levar muitos homens, — disse Connor. — Isso é uma vantagem, — disse Duncan. — Já que você não pode dar homens suficientes para eu lutar com os irlandeses, é melhor ter muito poucos para colocá-los em guarda. — Quantos homens quer? — Perguntou Connor. — Eu poderia usar um segundo par de mãos no barco, — disse Duncan. — Isso é tudo. — Você sabe que eu não posso liberar Ian ou Alex. — Connor estreitou os olhos enquanto olhava para o fogo. — Tome o irmão de Ian, Niall. Duncan reprimiu um gemido. O irmão de dezessete anos de Ian estava se tornando um bom guerreiro, e ele tinha muita coragem, mas ele era tão sério. — Niall não é muito mais jovem do que éramos quando partimos para a França, — disse Connor. — Ele lutou em Flodden. — Sim, mas... — Eu sei, ele é tão ingênuo a ponto de ser doloroso. — Connor tomou um gole de sua taça. — É difícil acreditar que éramos jovens não há muito tempo. Duncan nunca fora ingênuo e não tomava nada pelo valor aparente. Ao contrário de Niall e Ian, que haviam crescido em um lar amoroso com pais que os protegiam, Duncan teve que aprender a
cuidar de si mesmo ainda jovem. Ele não se arrependeu; as duras lições o tornaram forte. — As pessoas confiam em Niall, — disse Connor. — Eles vão dizerlhe qualquer coisa, e isso pode ser útil. Duncan se inclinou para frente e esfregou a cabeça. — Ele é um bom rapaz, suponho. Niall fará isso. — Sua primeira tarefa é descobrir se os MacQuillans e os outros irlandeses vão lutar a favor ou contra nós quando enfrentarmos os MacLeods, — disse Connor. — Eu não quero arriscar nossa aliança com eles durante um pequeno conflito que Moira está tendo com o marido. — E se for mais do que uma pequena briga? — Duncan perguntou. — Já temos muitos inimigos, — disse Connor. — Faça o que puder para trazê-la para casa sem começar uma guerra de clãs. Eu não me importo se você tiver que mentir, enganar ou encantá-los para fazê-lo. — Hmmph. Mentira, enganar ou encantar? Você deveria mandar um dos outros — disse Duncan. — Eu sou um homem de luta. — Você é isso e muito mais, — disse Connor, apertando seu ombro. — Seja cuidadoso. Não posso me dar ao luxo de perder você. — Milo fàilte oirbh. — Mil boas-vindas. Moira deu a saudação tradicional ao Laird MacLeod. Ela estava furiosa por Sean ter convidado o pior inimigo do seu clã para a casa deles. Esta era mais uma afronta e esperavas que fosse a última. Ela passou os dedos sobre a saia de seu vestido vermelho como vinho para lembrar a si mesma que estava partindo hoje à noite. Duas vezes antes, ela havia usado. Nas duas vezes ela teve que cancelar seu plano quando Sean subiu as escadas, em vez de adormecer bêbado no
salão, como costumava fazer. Esta noite ela estava determinada a ter sucesso. Ela pegou o olho de Colla e deu-lhe um leve aceno de cabeça. — Beannachd air an taça. — Uma bênção sobre esta casa. Alastair Crotach MacLeod falou em voz profunda e rouca enquanto a avaliava com os olhos frios. Ele não parecia estar mais satisfeito com a perspectiva de dividir uma refeição com uma MacDonald do quer ela em compartilhar com ele. O Laird
MacLeod carregava uma
lembrança constante e
provavelmente dolorosa de seu ódio pelo clã dela. Ele se chamava Alastair Crotach, “Alastair, o jubarte,” devido um ferimento de machado terrível que recebera quando jovem, de um MacDonald, que deixara seu ombro deformado. Alastair MacLeod era o Laird de seu clã por quase quarenta anos, e ele usava seu poder como uma segunda pele. Ele tinha sessenta e poucos anos, mas parecia muito mais jovem. Paradoxalmente, seu ombro deformado o fez parecer mais formidável e adicionado à sua mística. — Você se parece com sua mãe, — disse o MacLeod. — Você a conhecia? — Moira não tinha a intenção de conversar com o homem, mas sua observação a surpreendeu em deixar escapar a pergunta. — Ela era a jovem mais bonita das três lindas irmãs Clanranald, — disse ele. — Eu a vi apenas uma vez, mas ela não era uma mulher que um homem esquece. Moira não tinha lembrança de sua mãe. — É uma vergonha que ela tenha deixado um bom homem pelo seu pai, — disse MacLeod, — e depois morreu tentando deixá-lo.
Como ele ousa falar mal da minha família na minha cara? Só os mortos sabiam a verdade do que aconteceu entre seu pai e sua mãe no final. — E dizem que são mulheres que espalham boatos e fofocas — disse Moira, dando ao Laird MacLeod um sorriso falsamente doce. — Moira! — Sean apertou seu braço dolorosamente e a levou para fora do salão. — Eu espero que você seja cortês com meus convidados. Moira mordeu a língua para não dizer que seu convidado foi rude primeiro. — Eu vou lidar com você mais tarde, mulher. — Quando Sean a tinha através da porta para as escadas, ele deu-lhe um empurrão. — Suba as escadas. Tenho assuntos importantes para discutir com o MacLeod e não posso causar problemas. Ela nunca teria imaginado que ficaria grata pela visita de MacLeod ou por sua grosseria. Mas graças a ele, ela teria mais tempo para escapar. Os dois Lairds provavelmente falariam e beberiam até tarde da noite, e Sean não descobriria que ela se foi até a manhã seguinte. Ragnall estava dormindo no catre, no chão, ao lado da cama. — Acorde, — ela sussurrou e apertou seu ombro. Quando ele abriu os olhos, ela disse: — Estamos indo embora, mo chroí. Ela recolheu as últimas coisas, empurrou-as na bolsa de pano e jogou-as por cima do ombro. Depois de pegar a mão do filho, ela colocou a orelha na porta. Ela não ouviu ninguém na escadaria de pedra, então abriu a porta. Com a mão no trinco, ela parou para olhar de volta para o quarto que tinha sido a fonte de tanta miséria para ela. Boa viagem, Sean MacQuillan. Que você possa queimar no inferno por toda a eternidade.
— Você está empacotando? — Rhona perguntou. — Humh. — Duncan grunhiu afirmativamente, embora fosse óbvio o que ele estava fazendo. — Quanto tempo você vai ficar fora desta vez? — Ela perguntou. — Eu não sei. — Ele pegou um machado da parede e testou a nitidez da lâmina antes de colocá-la na mesa com as outras armas e suprimentos que estava pegando. — Onde você pode estar indo no meio das tempestades de inverno? — Rhona perguntou. Ele lançou-lhe um olhar. Fazer tantas perguntas era contrário ao entendimento entre elas. Ele nunca contou a ela os negócios do Laird. Na verdade, ele nunca discutiu isso com ninguém, exceto Ian e Alex. E ele nem sequer diria se Connor lhe pedisse para não dizê-lo. — Talvez eu não esteja aqui quando você voltar — disse Rhona, cruzando os braços. — Faça o que quiser. — Eles se davam bem o suficiente, mas se ela quisesse ir, podia. — É tudo o que você tem a dizer para mim? — Ela disse e agarrou o braço dele. — Eu tenho compartilhado sua cama por dois anos. Duncan achava que o arranjo deles era adequado para ela. Ele deveria ter escutado quando Alex o avisou que Rhona poderia pensar que haveria mais do que isso. Alex entendia as mulheres. Duncan suspirou. Não era culpa de Rhona que houvesse apenas uma mulher que ele iria querer mais do que uma companheira de cama.
E aquela mulher havia se esquecido dele em quinze dias. — Você se arrependerá de não me encontrar quando voltar, — disse Rhona. Duncan amarrou a espada nas costas, pegou a bolsa e se virou para encará-la. Era irônico que ele estivesse dormindo com a ex-serva de Moira. Claro, foi Moira quem desenvolveu o plano de Rhona fingir que era ela quem escapava do castelo para se encontrar com ele. Rhona não tinha nenhuma da beleza vibrante de Moira, mas ela era uma garota curvilínea com cabelos escuros e olhos azuis. Foi por causa da semelhança superficial de Rhona com Moira que eles puderam continuar o tempo que tinham sem Moira ser descoberta. Também foi a razão pela qual ele deixou Rhona entrar em sua casa quando ela começou a vir depois que ele voltou da França. Och, ele era um homem triste. Pelo menos ele nunca fingiu que ela era Moira no escuro. Bem, quase nunca. Moira se abraçou mais contra o frio que crescia dentro dela do que o vento frio que vinha do mar enquanto observava o barco de Colla. Sete anos ela esperou. Certamente, Deus não deveria pedir mais um dia dela. Durante a primeira hora que ela e Ragnall esperaram, Moira teve que se forçar a não pensar no preço que teria que pagar com seu corpo por esta viagem de barco para casa em Skye. Colla não era ruim, mas não queria que ele a tocasse. Talvez ela pudesse persuadi-lo de que uma boa ação era sua própria recompensa. Haha! Eles esperaram tanto tempo que ela temia que Colla não viesse. — Onde está o barco? — Ragnall perguntou com uma voz sonolenta. Sentou-se no chão encostado no cão de caça, que se juntara a eles pouco depois de entrarem nas ruínas do antigo forte.
Moira enfiou as unhas nas palmas das mãos para não chorar na frente do filho. — Vamos esperar um pouquinho mais, — disse ela. — Se ele não vier, encontraremos outro jeito. Tap, tap, tap. Moira saltou ao som de passos nas lajes de pedra que outrora tinham sido o piso da antiga fortaleza. Finalmente, Colla tinha vindo. Ela queria acreditar, mas a cada passo ecoante, sentia o desastre se aproximando. Tap, tap, tap. Maria, Mãe de Deus, por favor, seja Colla. Das sombras surgiu a figura de um homem. Não era Colla. Ela ouviu Ragnall sussurrar: — Vai! — E o wolfhound desapareceu na escuridão. Apesar do frio entorpecedor, as palmas das mãos de Moira estavam úmidas e o suor ardia sob seus braços. Sua mente trabalhou febrilmente para encontrar uma explicação que ela pudesse dar a Sean por estarem no velho forte a noite. Mas não havia nenhum. — Esperando outra pessoa? — A voz de Sean saiu da escuridão. A calma da voz de Sean a assustou mais do que se ele tivesse gritado. Ela não queria o filho dela aqui. — Vá em frente, procure o barco de Colla — disse Sean, balançando o braço em direção ao mar. Como ele descobrira que era Colla quem a levaria embora? — Você não vai vê-lo novamente. — Sean fez uma pausa. — Ninguém irá. Colla está alimentando os peixes. Moira respirou fundo. — Não! Você não faria isso. Não ao seu próprio irmão. Mas ela sabia em seu coração que Sean falou a verdade. Deus querido, ela não queria causar a morte de Colla.
Disse a si mesma para não desabafar, fingir que não sabia por que Sean havia assassinado Colla, mas não conseguiu. Em vez disso, ela se ajoelhou no chão duro e frio e se inclinou, tentando recuperar o fôlego. Ragnall correu para ela e jogou os braços ao redor dela. Embora Moira não tivesse lembranças reais de sua mãe, ela havia sido atormentada quando criança por sonhar com o corpo de sua mãe flutuando de bruços no mar com seu longo cabelo escuro girando em torno dela. Aquelas imagens de sua mãe afogada voltaram para ela agora, mas com o corpo de Colla flutuando ao lado dela. Maria, Mãe de Deus, por favor me ajude. Ela teria a chance de tentar uma fuga novamente? Sean a observaria ainda mais vigilante do que antes. Tudo estava perdido. Ela estava muito esgotada para temer o temperamento de Sean. Certamente, não havia nada pior que ele pudesse fazer com ela do que mantê-la presa com ele em seu castelo.
Moira ouviu o tilintar da chave girando na fechadura e empurrou Ragnall para trás. Quando Sean entrou, sua grande estrutura pareceu ocupar todo o espaço vazio no quarto de dormir. Ele a deixou a noite toda a esperar e se perguntar qual seria o castigo dela por tentar deixá-lo. Na luz cinzenta da manhã que entrava pela janela estreita, a expressão de Sean ainda parecia anormalmente calma. Não augurava nada de bom. Seja qual for o mal que ele tinha decidido, agradou-lhe. — Decidi promover nosso filho, — disse Sean. Era uma prática comum para as altas famílias mandarem seus filhos para treinamento em outros clãs como forma de fortalecer suas alianças. Meses atrás, Moira sugeriu que Sean mandasse Ragnall para seu próprio clã. Embora ela soubesse melhor, a esperança aumentava em seu peito contra todas as probabilidades, como uma folha de grama que cresce na rocha. — Meu irmão ensinaria Ragnall a ser um guerreiro forte, — disse ela, tentando manter a voz firme. — Eu não enviaria um filho meu para o seu clã, — disse Sean. — Os MacDonalds da Sleat são fracos e condenados. Ela queria discutir, mas isso funcionaria contra ela. — Onde então? Ragnall era tudo pelo que ela tinha que viver e sentiria falta dele com todo o coração. Ainda assim, ela o queria longe de Sean, em qualquer lugar onde estivesse seguro.
— O Laird MacLeod concordou em treinar Ragnall. — Você não pode mandá-lo para os MacLeods, — ela deixou escapar. — Eles são os piores inimigos do meu clã! — Eles não são meus inimigos, — disse Sean, com um sorriso de satisfação. — Os MacLeods serão um aliado útil para nós, MacQuillans. — E a aliança que seu pai fez com a minha? Você não tem motivo para quebrá-la. — Apesar do perigo, Moira foi criada como filha de um Laird, e era seu dever falar pelo seu clã. — Você não pode enviar Ragnall para os MacLeods, ele é o herdeiro de meu irmão. — Pelo menos, ela não tinha ouvido falar que Connor tinha um filho próprio. — Ragnall é meu filho e meu herdeiro. — Sean se inclinou para frente, sua pretensão de bom humor se quebrando. — Eu posso mandá-lo para os MacLeods ou para o próprio diabo, se eu quiser. Ragnall estava agarrado à cintura dela e chorando. Moira segurou-o contra ela, tentando consolá-lo, enquanto sua mente girava. Pareceu-lhe que Sean não estava fazendo isso para ameaçar seu irmão e seu clã, mas ela. — É melhor você aprender a me tratar com o respeito que eu mereço, — disse Sean entre os lábios apertados. — Se você alguma vez tentar me deixar novamente, eu vou ter certeza de que nunca mais verá nosso filho. — Punir-me é mais importante do que proteger o nosso filho? — Mesmo quando ela fez a pergunta, ela sabia a resposta. Sean tinha encontrado a única punição que a faria sofrer a cada hora de cada dia, e ele pretendia usá-la. — Ragnall, diga adeus à sua mãe, — disse Sean. — E pare de chorar como uma maldita moça.
— Não faça isso. Por favor, — ela implorou a Sean enquanto segurava seu filho contra seu lado. — Você não pode confiar nos MacLeods com meu lindo garoto. — Os MacLeods estão prontos para zarpar, — disse Sean. — Ragnall, junte suas coisas e vá para a praia, ou sua mãe pagará por sua desobediência. Sean bateu a porta atrás dele, deixando-os sozinhos para dizer adeus. Por um longo momento, ela e Ragnall choraram e se abraçaram. Então Moira limpou o nariz e os olhos na manga e pegou o rosto do filho entre as mãos. Ela sabia que o que diria para ele agora era importante. Teria que sustentar os dois até que pudessem se reunir. — Nunca se esqueça que você é um MacDonald de Sleat e que vem de uma longa linhagem de guerreiros famosos, incluindo Somerled e os Lordes da Isles, — disse ela. — Aprenda tudo o que puder dos MacLeods, pois pode ser útil um dia, mas não confie em ninguém, exceto em um MacDonald. Ragnall enxugou os olhos e assentiu, mas seu lábio inferior tremia. — Eu não quero ir. — Eu não sei quanto tempo você vai ter que ficar com os MacLeods. — Ela roçou o cabelo para trás e olhou em seus olhos. — Mas eu prometo, eu irei por você ou mandarei alguém para trazê-lo para mim assim que eu puder. Ragnall assentiu novamente. Och, ele era um menino tão corajoso. Ela o puxou para perto e beijou seu cabelo. — Não me esqueça, — ela sussurrou, embora fosse pedir demais. Ele tinha apenas seis anos. — Eu não vou, — disse ele. — Eu amo você, mamãe.
— Um chloe mo chroí, você é o pulsar do meu coração — disse ela e abraçou o filho pela última vez.
Uma onda diferente caiu sobre a proa, encharcando Niall da cabeça aos pés. — Essa tempestade vai passar em breve, — disse Duncan sobre o vento chicoteando contra seu rosto. — O céu está claro à frente. — Eu não me importo de um pouquinho do tempo, — Niall gritou de volta com um sorriso. Niall era um bom rapaz, apesar de ser um pouco alegre demais. Duncan também não se importava com o mau tempo. Navegar pelo mar agitado desviava seus pensamentos. Uma vez que passaram pela tempestade e a navegação se tornou fácil, ele não pôde evitar pensar em ver Moira pela primeira vez depois de todos esses anos de saudade. Se Deus tivesse alguma piedade, ela teria crescido e perdido sua aparência. No entanto, não faria diferença. Moira estava gravada em sua alma, e nunca haveria outra mulher que ele quisesse do jeito que ele queria. Isso não significava que ele iria deixá-la fazê-lo de tolo novamente. Não que ela se incomodasse em tentar. Apesar da visão da velha vidente, Duncan esperava encontrar Moira vivendo feliz em seu belo castelo com seu marido Laird. — Eu o vejo, — Niall chamou e apontou para onde um castelo estava no alto dos penhascos vermelhos que emergem das nuvens. — Vamos arrumar nosso barco para longe da costa e ir para o castelo, — disse Duncan.
Niall lançou-lhe um olhar questionador. — Você não confia neste clã? — Eu não confio em nenhum clã além do nosso, — disse Duncan. — E também não confio em todos os nossos membros do clã. Duncan conduziu o barco até uma pequena enseada e o arrastaram pela costa até o mato. — Eu suponho que você vai nos fazer dormir aqui no frio e molhado, — disse Niall, — quando poderíamos estar dormindo ao lado da lareira rugindo dentro de sua fortaleza. — Um homem cauteloso vive mais. Och, ele parecia um homem velho. Mas as muralhas do castelo apenas protegiam aqueles que pertenciam ao clã, e Duncan geralmente evitava ser fechado com homens nos quais ele não confiava. Além disso, ele não suportaria dormir no castelo sabendo que Moira estava na cama com o marido em um dos andares acima dele. Uma garoa fria estava caindo na fria tarde de inverno enquanto ele e Niall subiam o caminho que corria ao longo do topo dos penhascos vermelhos. À frente deles, o castelo MacQuillan parecia escuro e agourento, sentado em um afloramento que se projetava para o mar. — Viemos em nome do nosso Laird, Connor MacDonald, de Sleat, — disse Duncan aos guardas quando chegaram ao portão. — Leve-nos ao seu Laird. Os guardas cheiravam a uísque, um sinal seguro de um líder negligente. Enquanto escoltavam Duncan e Niall pelo pátio até a fortaleza, Duncan se preparou para ver Moira com o marido e as crianças que ela e Duncan deveriam ter tido juntos. — É um salão sombrio — disse Niall em voz baixa quando entraram no castelo. — Poderia usar flores como sua irmã coloca em Dunscaith.
Flores? Deus salve-o. — Mantenha sua mão perto do seu punhal, Niall. Duncan examinou os guerreiros que estavam reunidos em pequenos grupos nas longas mesas ou perto do fogo crepitante na lareira. — Qual deles é o marido de Moira? — Niall perguntou em voz baixa. Um dos guardas que os trouxera do portão falou com um guerreiro alto de cabelos escuros que estava de costas para eles. — É ele, — disse Duncan quando o homem se virou e fixou os olhos cinzentos sobre eles. Este era o lindo filho do Laird que Moira tinha sentado ao lado dele no jantar em sua última noite juntos. A lembrança dela rindo e flertando enquanto este homem olhava para seus seios nunca o deixara. O marido de Moira era o Laird agora, o que deveria agradá-la. Quando o anfitrião cruzou o corredor para cumprimentá-los, Duncan notou que seu rosto estava mais duro e seu corpo mais musculoso do que há sete anos. — Mil boas-vindas a você, — disse o homem, embora não houvesse nada de acolhedor em sua expressão. — Eu sou Sean, filho de Owen e Laird dos MacQuillans. — Este é Niall. Ele é primo de sua esposa e de nosso Laird, Connor MacDonald, de Sleat — disse Duncan, dispensando as costumeiras saudações inúteis. — Eu sou Duncan Ruadh MacDonald, capitão da guarda do nosso Laird. — Não é muito bom para o seu Laird você estar aqui, é capitão? perguntou Sean.
O homem estava bêbado — não cambaleando, nem babando de bêbado, mas turbulento e lutando com a embriaguez. E Duncan ficou tentado a limpar o sorriso do irlandês com o punho. — Você parece familiar — continuou Sean, estreitando os olhos frios e cinzentos para Duncan. — Eu me encontrei com você quando Moira e eu nos casamos em Dunscaith? — Não, — disse Duncan. — Nós carregamos uma mensagem do nosso Laird para sua irmã. — Você pode dar para mim. — Sean plantou as mãos nos quadris e se balançou para trás em seus calcanhares enquanto falava. — Moira não está bem hoje. — Bem ou não, devemos vê-la, — disse Duncan. — Nosso Laird espera que nós demos nossos respeitos a sua irmã. — Não posso deixar que perturbe o repouso da minha esposa quando ela está doente. — Sean não parecia nem um pouco preocupado com a saúde de sua esposa, e Duncan se perguntou por que não ele queria que eles vissem Moira. Independentemente disso, Duncan estava perdendo a paciência com este jogo. — Seria uma pena se meu Laird tivesse que fazer essa viagem com uma dúzia de galeras de guerra. — Connor não tinha uma dúzia de galeras de guerra, mas Duncan esperava que Sean não soubesse disso. Sean segurou os olhos de Duncan por um bom tempo. Aparentemente, ele foi persuadido de que Duncan realmente quis dizer suas palavras como uma ameaça. — Och, não há razão para ficar chateado por tão insignificante assunto, — disse Sean, acenando com a mão. — Moira tem uma dor de cabeça pequena. Você sabe o que as mulheres são reclamantes. — Ele se virou e gritou para uma das mulheres que serviam:— Diga à minha esposa para vir ao salão imediatamente.
Duncan se virou para o lado de seu anfitrião, de modo que ele estivesse posicionado para ver Moira quando ela entrasse pela porta da escada. Por sete anos ele havia esperado por isso. Ele precisava ver o que havia nos olhos de Moira no primeiro momento em que ela o visse, antes que ela tivesse a chance de cobrir sua reação. — Estou surpreso que você tenha velejado de Skye nesta época do ano, — disse Sean enquanto esperavam. — Você foi pego em alguma tempestade? Duncan ignorou a tentativa de Sean de envolvê-lo em uma conversa. Ele tinha uma missão aqui, e discutir o tempo não fazia parte disso. Niall olhou para ele de lado e levantou uma sobrancelha, mas Duncan também ignorou isso. — Eu vejo que seu amigo é um homem de poucas palavras, — disse Sean para Niall. — Sim, — disse Niall. — Mas a eloquência de Duncan com uma espada mais do que compensa isso. Se Duncan soubesse que Niall tinha uma língua de prata, ele teria deixado toda a conversa com ele. Sean se remexeu no silêncio que caiu entre eles na sequência da observação de Niall. Sean estava desconfortável com o silêncio e Duncan preferia que ele se sentisse desconfortável. Através da porta aberta, Duncan ouviu um leve passo na escada. A dor em seu coração lhe disse que era Moira. Moira escondeu o rosto em uma das camisas de Ragnall e respirou fundo, mas passara uma semana desde que o filho fora tirado dela, e o cheiro dele quase desaparecera. Sean prometera levá-la aos MacLeods para ver Ragnall em um ano ou dois, mas ele sempre ameaçava mudar de ideia.
Ela rapidamente colocou a camisa longe enquanto a porta do quarto se abria. — O Laird quer você no salão, — disse a serva da porta. — Os membros do seu clã vieram. Os santos sejam louvados! Moira imaginou seu irmão no vestíbulo vestido com as roupas de Laird e flanqueado por duas dúzias de seus guerreiros, com mais cem esperando na praia com suas galeras de guerra. Connor a levaria para casa e a ajudaria a arrancar Ragnall dos MacLeods. — Quantos guerreiros meu irmão trouxe? — Perguntou Moira enquanto endireitava o vestido. — Seu Laird não veio, — disse a mulher. — Ele enviou dois homens. Moira piscou para a mulher. — Dois? Que estratégia é essa? Dois homens nunca poderiam tirá-la deste castelo. Sua única esperança agora era dar-lhes uma mensagem para Connor, implorando-lhe que enviasse suas galés de guerra para resgatá-la.
Enquanto
Moira
descia
as
escadas,
tentou
desesperadamente pensar em como poderia fazê-lo. Ela parou no final da escada para estudar seu rosto antes de entrar no corredor. Quando ela atravessou a porta, sentiu como se todo o ar fosse sugado do salão. Ela não conseguia respirar. Duncan MacDonald, o homem responsável por arruinar sua vida e por tirar toda a felicidade dela, encheu sua visão. Aos dezenove anos, Duncan já era um guerreiro feroz e poderoso. Agora ele carregava mais vinte quilos de músculos duros e exalava a confiança de um guerreiro que havia derrotado tantos homens em batalha que ele não precisava mais provar a si mesmo.
Seu cabelo ruivo roçava os ombros largos e usava argolas de ouro ao redor dos bíceps como se ele fosse um dos antigos guerreiros lendários. No entanto, não havia dúvidas sobre ele. Este foi o homem cuja deserção levou-a diretamente à sua atual existência miserável. Quando ela encontrou os olhos castanhos de Duncan, eles queimaram
com
uma
fome
que
fez
seu
pulso
saltar
descontroladamente. Como ele poderia olhar para ela assim depois do que ele fez? Como ele ousava? Ela passou por ele para ficar ao lado do marido. Moira se obrigou a sorrir para Sean imaginando que estava enfiando um punhal no olho dele. — Você desejou me ver? — Esses homens do seu clã estão aqui para cumprimentá-la. Moira evitou olhar para Duncan e, em vez disso, fixou o olhar no homem mais magro e mais novo ao lado dele, que tinha cabelos e profundos olhos castanhos. — Você não me reconhece? — O jovem disse. — Eu sou seu primo Niall. — Niall? — Ela abriu um largo sorriso. — Ah, você deve ter crescido um metro desde que eu o vi pela última vez. — Bem, você não mudou. Você é tão bonita como sempre. — Niall tinha mais de um metro e oitenta, mas corou como se fosse um rapaz de doze. — É bom vê-lo, primo. — Moira decidiu que deveria ter a oportunidade de dar-lhe a mensagem de que ela precisava de ajuda e se inclinou para frente como se para beijar o rosto de Niall. Mas antes que ela pudesse sussurrar no ouvido do primo, Sean pôs o braço em volta dela e puxou-a para o seu lado. O bastardo tinha um sexto sentido que lhe permitia prever todas as tentativas de fuga.
— E quanto a mim? — Perguntou Duncan. Com um sorriso falso colado em seu rosto, Moira tomou seu tempo mudando o olhar para Duncan. Ela se preparou para não demonstrar reação e, no entanto, vacilou por um instante. Tão perto, Duncan era tudo o que ela lembrava, ampliado. Ele era maior, mais alto, mais bonito. Sua poderosa presença irradiava através da sala, atraindo todos os olhos. — Diga-me que você lembra quem eu sou, — disse Duncan quando ela não conseguiu responder. Ela se lembrava de tudo. Cada toque, cada olhar, cada conversa, cada prazer que ele lhe dava. Mas a lembrança mais clara de todas estava de pé na muralha de Dunscaith, no dia de seu casamento, com as entranhas cortadas e sangrando como se ela tivesse engolido cacos de vidro. — Temo não ter nenhuma lembrança de você, — ela disse. — Eu sou um amigo próximo de seu irmão, — disse Duncan como a tensão entre eles. — Certamente você se lembra de algo de mim. Ela ouviu o desafio em sua voz e encolheu os ombros, como se ele estivesse sob sua atenção. Mas quando a luz das velas brilhou em seu cabelo ruivo, ela sentiu uma pontada aguda quando recordou como o sentia entre os dedos. O cabelo de Duncan tinha a mesma textura que o filho dela… Deus tenha piedade! E se Sean visse a semelhança entre eles? O cabelo de Ragnall tinha vários tons mais brilhantes e seus olhos eram azuis, mas seu rosto era uma versão mais suave e infantil de Duncan. A semelhança era clara para qualquer um que visse.
Moira tentou se acalmar. O cabelo ruivo era comum entre os do sangue celta, é claro, e Duncan era um gigante comparado com Ragnall. Não havia razão para Sean fazer a conexão. O coração de Moira martelou, mas ela manteve o sorriso suave fixo em seu rosto. Ao longo do casamento, ela passou a praticar uma fachada falsa. Sean era como um cão, porém, farejando qualquer coisa contra ele. Se ele suspeitasse quem realmente era o pai de Ragnall, ele não a deixaria viver. — Na verdade, não me lembro de você, — disse Moira em uma voz clara. — É um longo tempo desde que saí de Skye. Duncan estava olhando para ela como um leão faminto e assustando-a até a morte. Deus a ajudasse, ele a entregaria. Moira olhou de lado para o marido. Um arrepio de medo passou por ela quando viu as feias manchas vermelhas no rosto e no pescoço de Sean. Ela rezou para que elas fossem devido ao seu ciúme habitual de raiva e não porque ele tinha adivinhado a verdade que ela tinha escondido dele todos esses anos. Sean olhou para ela, a pergunta em seus olhos de cobra. — Agora que nossos convidados satisfizeram sua curiosidade, você pode retornar ao seu leito de doença. — Queremos uma palavra sozinha com Moira. — A voz profunda de Duncan reverberou através dela. — Não precisa, — disse Moira rapidamente, sabendo que Sean nunca permitiria isso. O medo fez sua boca ficar seca e sua língua grossa quando ela deu um tapinha no braço de Sean. — Não há nada que eu diga a você que não poderia dizer na frente do meu querido marido. Duncan nunca tirou os olhos dela. — Connor está preocupado com você.
— Ele está em casa há mais de dois anos, — ela disse, a dor deixando sua voz tensa. — Se ele queria me ver, sabia onde me encontrar. Suas emoções estavam correndo muito altas. Ela tinha que sair do salão antes de perder o controle. — Eu preciso descansar agora, — disse ela. — Qualquer negócio que você quiser pode discutir com meu marido. Moira sentiu o olhar de Duncan perfurando suas costas quando ela saiu do salão. Por favor, Deus, ela não sofreu o suficiente? Ela mal sabia o que era pior — sentir-se como se estivesse morrendo por dentro ao ver Duncan depois de todo esse tempo ou temer que Sean tivesse adivinhado a verdade. Duncan não achara isso possível, mas Moira era ainda mais adorável do que antes. A menina cedera inteiramente a mulher e o resultado tirou o fôlego. Seu corpo estava mais cheio, com curvas tão voluptuosas que suas palmas coçavam para correr sobre elas. Embora seu rosto tivesse perdido sua suavidade juvenil, as linhas mais fortes lhe davam uma beleza real que teria um príncipe dobrando o joelho para ela. Mas a mulher que Moira havia se tornado era séria e fria. Ele sentia falta dos lampejos de travessuras e alegria que ele costumava ver em seus olhos violeta. — Vocês são bem-vindos para passar a noite — disse Sean, chamando a atenção de Duncan da porta vazia pela qual Moira havia ido. Ao sugerir que eles só foram convidados a permanecer em sua casa por uma noite, o Laird MacQuillan estava perigosamente perto de violar o dever quase sagrado de um Highlander de receber os convidados.
— Não queremos impor sua generosa hospitalidade, — disse Duncan. — Se você tem algum negócio para discutir, vamos ouvi-lo. — Sean olhou significativamente para as escadas e disse: — Com uma esposa tão bonita quanto a minha, tenho certeza que você entende por que eu quero ir para a cama. A raiva de Duncan, já ardendo, brilhou como um inferno furioso ao pensar em Sean tocando Moira de todas as maneiras que Duncan já fez e queria desesperadamente de novo. Niall salvou Duncan de socar o rosto presunçoso de Sean, cutucando seu cotovelo no lado de Duncan e dizendo: — Nosso Laird pede que você considere promover seu filho em Dunscaith. Connor fez com que eles fizessem esse pedido como um meio de determinar se o Laird MacQuillan ainda estava comprometido com a aliança. — Podemos levar o rapaz conosco agora, — disse Duncan, — a menos que você ache que ele é jovem demais para ser separado da mãe. — Ragnall já foi promovido, — disse Sean. — A quem você mandou o moço? — Duncan perguntou. Sean fez uma pausa antes de responder, seus olhos brilhando com diversão. — Eu o enviei para o Laird MacLeod. — MacLeod de Lewis? — Niall perguntou, referindo-se ao ramo dos MacLeods com quem os MacDonalds estavam em bons termos. Sean sacudiu a cabeça, um sorriso puxando os cantos da boca. — MacLeod de Harris e Dunvegan. Quando Duncan passou a mão em torno do punho de seu punhal, os guardas do Laird MacQuillan tomaram seus lugares ao lado dele.
— Você deveria ter sabido que seria um grave insulto para o nosso Laird mandar seu único sobrinho para treinamento com seu pior inimigo, — disse Duncan. — Moira concordou com isso? — Você parece excessivamente preocupado com a opinião da minha esposa. — Sean estreitou os olhos para Duncan, examinando-o como se o estivesse vendo pela primeira vez. Então seus olhos de repente se arregalaram e seu rosto ficou vermelho escuro. Duncan sorriu porque achava que Sean ia lhe dar a luta que ele desejava. Um movimento e meu punho estará em seu rosto. — Vamos oferecer-lhe boa noite e adeus, — disse Niall, agarrando o braço de Duncan. — Nós vamos embora de manhã.
Moiraaa! O cabelo na parte de trás do pescoço de Moira levantou-se quando a voz do marido subiu as escadas e ecoou pelas paredes de pedra. Antes que ela pudesse se preparar, a porta se abriu. Sean entrou no quarto e bateu a porta atrás de si. — O que o preocupa, querido? — Ela tentou fazer sua voz calma, mas saiu alta e fina. — Não faça jogos comigo! — Gritou Sean. — Eu sei o que você fez. Moira deu um passo involuntário para trás quando ele se aproximou dela. — Eu não sei o que você quer dizer, Sean. — Você fingiu ser uma virgem inocente enquanto carregava o filho daquele homem! Sua prostituta! Ele deu um tapa no rosto dela com tanta força que Moira cambaleou para trás e caiu contra o lado da cama. Ela agarrou a cabeceira da cama e lutou para se manter nos pés. Na última semana, ela havia aprendido que não havia nada pior do que cair no chão e tentar proteger a cabeça de chutes. Suas costelas ainda não haviam se curado da última vez. — Você vai pagar por isso, — disse Sean quando ele a empurrou contra a cama. Sean estava sempre acusando-a de erros ou insultos, e ela o vira com raiva inúmeras vezes. Mas isso era diferente. A raiva em seus olhos brilhava como uma fera e anunciava assassinato.
Moira olhou em volta desesperadamente procurando algo para usar para se proteger. — Eu deveria saber que o garoto não era meu. Ele não é nada como eu. — Sean segurou-a pelos ombros e sacudiu-a. — Você me disse que ele nasceu cedo! — Você se lembra do sangue no lençol, — disse Moira. — Claro que Ragnall é seu. — Então por que ele parece exatamente aquele grande guerreiro MacDonald ruivo? — Sean exigiu saber. — Ele não é! — Disse Moira, sua voz soando desesperada. — Ragnall parece meu pai e irmão mais velho. Ambos eram justos. — Você mentiu — Sean sibilou uma polegada de seu rosto. — Aquele Duncan MacDonald olhou para você como se acreditasse que você pertencia a ele. — Eu disse a você que não posso impedir dos homens olharem para mim. — Outros homens olham para você como se a quisessem... — disse Sean. — Mas aquele homem olhou para você como se ele tivesse tocado cada centímetro de sua pele e a tivesse memorizado. Moira estremeceu quando Sean deslizou a mão em volta do seu pescoço em uma carícia ameaçadora. Seus dedos grossos se curvaram ao redor do pescoço dela enquanto ele esfregava o polegar sob o seu queixo, forçando a cabeça para trás. — Não, Sean. Por favor. — Você me fez de bobo por todos esses anos. — Ele a beijou rudemente na boca. Ela se contorceu e tentou afastá-lo. Quando ele começou a apertar sua garganta lentamente, ela tentou gritar, mas saiu como um som
patético e abafado contra sua boca. Finalmente, ela conseguiu afundar seus dentes em seu lábio inferior. Ele recuou com um grito e soltou-a. — Maldita! Ela ofegou por ar. Mas então ele deu um soco nos olhos dela com tanta força que tudo ficou preto. Ela se sentiu caindo. Sean a pegou e a remeteu contra a parede. Sua cabeça saltou contra ela, ofuscando-a novamente. Ela piscou para limpar as estrelas acendendo em sua visão de um só olho. O outro olho ela não conseguia enxergar. — Você nunca mais verá Ragnall! — Gritou Sean. Desta vez ele bateu na sua mandíbula. A dor se projetou para cima e explodiu dentro de sua cabeça. Moira sentiu como se estivesse se observando de longe. Ele vai me matar desta vez, passou por seus pensamentos, mas ela se sentiu indiferente a isso. — Você me ouviu? — Sean gritou. Seu rosto estava a apenas alguns centímetros do dela, mas ela não conseguia ver claramente. Quando a cabeça dela tombou para o lado, ele segurou o queixo dela e apertou-o. Seus dedos cravaram em sua bochecha, enviando dores do seu maxilar ferido ao ouvido dela. Ela provou o sabor do sangue em sua língua. — Também vou matar o seu filho — disse Sean. — Ragnall? — Sua voz era um sussurro áspero. — Não, você não pode! — Eu vou, — disse Sean. — E quando ele estiver morto, não haverá mais nada de você nesta terra. Moira lutou através das camadas de névoa em sua cabeça. Ela sabia que precisava fazer alguma coisa, mas seu corpo demorava a
seguir seus comandos. Ela tinha que se concentrar para bater os punhos contra o peito de Sean, mas seus esforços eram fracos. — Vou trazer Ragnall para casa e espremer a vida do pequeno bastardo — disse Sean com os dentes cerrados. — Bem assim. Quando Sean fechou as mãos ao redor da garganta de Moira, o pânico se apoderou dela e afastou a névoa que a debilitava. Ela tinha que viver para proteger seu filho de Sean. Ela cravou as unhas e arranhou as mãos dele que estavam ao redor de sua garganta. Quando isso não o impediu, ela deu uma joelhada na sua virilha. — Huuh! — Sean grunhiu e se dobrou. Moira sugado em golfadas de ar. Quando ele veio para ela novamente, ela lutou com ele, chutando e arranhando o rosto com as unhas. Mas Sean era muito mais pesado e mais forte, e logo ele colocou as mãos ao redor de sua garganta novamente. Seus olhos estavam selvagens e inchados. Gotas de cuspe saiam de sua boca como um cachorro louco. Seus pulmões queimavam enquanto lutava por ar contra seu aperto cada vez mais forte. As faíscas brilhantes cruzaram sua visão novamente, e ela sabia que estava perto de desmaiar. Por favor, Deus, me ajude! Algo duro cutucou seu estômago. O punho do seu punhal! Suas mãos estavam ficando dormentes quando ela fechou os dedos em volta e puxou o punhal. Então, com uma última onda de força nascida do desespero, ela mergulhou no lado de Sean. — Argh! — Sean fez um alto som de animal entre um rugido e um gemido e jogou as mãos para cima. A garganta de Moira queimou e sua cabeça latejou com uma violência que fez seu estômago revirar. Ainda assim, ela segurava o
punho da lâmina quando Sean se afastou. Ele cambaleou e se inclinou, segurando o lado dele. O sangue se infiltrou entre os dedos. Mas Sean se manteve sob os pés. Ele não estava gravemente ferido. Quando ele levantou a cabeça, a raiva brilhava em seus olhos como um demônio do inferno. Se ela tivesse sorte, teria mais uma chance. Apenas uma. Ela ainda segurava o punhal, mas não tinha ideia de onde colocá-lo. Ela amaldiçoou seu pai e irmãos por não lhe ensinar como se proteger. Sua cabeça estava começando a girar e ela estava se preparando. Com o desespero arranhando sua barriga, ela segurou o punhal na frente dela. Então tudo aconteceu de uma só vez. Sean rugiu e se lançou para ela com tanta força que ela estava voando pelo ar para trás. Seus gritos ecoando nas paredes pareciam ter vindo de outra pessoa. A parte de trás de sua cabeça bateu no chão, sacudindo sua mandíbula ferida e desencadeando uma explosão de dor cegante. Um instante depois Sean caiu em cima dela, seu peso forçando o ar para fora de seus pulmões com um ooof. Deus não. Ela não queria morrer com Sean deitado em cima dela. Do outro lado das chamas do fogo, Duncan viu os olhos do wolfhound brilhando na escuridão. Ele pegou outro pedaço de carne seca e jogou-o por sobre o fogo na escuridão além e ficou satisfeito quando não o ouviu atingir o chão. O cachorro foi rápido. — Eu nunca vi você assim, — disse Niall, dando-lhe um olhar de lado. — Parecia que você pretendia lutar contra o Laird em seu próprio salão com uma centena de seus guerreiros assistindo. — Hmmph. — Duncan se orgulhava de nunca deixar seu temperamento interferir em seu julgamento ou fazer com que ele
esquecesse seu dever. Mas ele não conseguiu controlar isso hoje à noite. Na verdade, suas mãos ainda coçavam para assassinar o marido arrogante de Moira. — Moira não é como eu me lembrava dela, — disse Niall. — O que você achou? — Sobre o que? — Sobre Moira, — disse Niall, soando como se Duncan estivesse tentando sua paciência. Moira não lhe dera nada. Nem mesmo um olhar suave. Não me lembro de você. — Você acha que ela está bem? — Niall perguntou. — Aquele Sean é um idiota. — Ele é. — Duncan tomou um gole de seu frasco. — Mas ele era o homem que Moira queria. — Seu pai adorava sua princesinha, ele não a teria forçado a se casar com Sean MacQuillan contra sua vontade. Havia outros filhos de Lairds adequados. Uma chuva gelada começou, fazendo a fogueira assobiar e esfumaçar. Quando o temperamento de Duncan esfriou com a temperatura, ele pensou no primeiro momento em que Moira entrou no corredor e o viu. Nesse breve instante, tudo o que tinha acontecido uma vez entre eles brilhou em seus olhos. Mas rapidamente foi embora quase antes dele vê-lo, e então Moira estava tão fria quanto aquela chuva de inverno que corria pela nuca dele. Niall estava certo. Moira havia mudado. Embora seus olhos fossem da mesma tonalidade surpreendente de violeta, não carregavam riso neles. A mulher cautelosa que ele tinha encontrado no salão que mediu suas palavras estava muito longe da moça despreocupada que corria de cabeça erguida no escuro, acreditando que nada e ninguém poderia impedi-la.
Duncan jogou pedaços de carne seca ao cão de caça, aproximando o cachorro, enquanto ele ponderava a questão do que poderia ter causado tal mudança na natureza de Moira. Como um homem quieto que manteve seu próprio conselho, Duncan normalmente era um observador atento dos outros. Ele estava tão zangado e absorto em sua própria dor que não havia conseguido examinar o comportamento de Moira com sua habitual percepção fria. Passando por cima seu breve encontro em sua mente agora, ele recordou a tensão no pescoço de Moira e como ela repetidamente alisava a saia de seu vestido com as mãos. Sua maneira indiferente e desdenhosa o enganara. Embora ela tivesse coberto bem, Moira estava assustada. Quem ou o que poderia deixá-la com medo? E por que diabos o marido não a fazia se sentir segura? Apenas uma resposta veio a ele. Duncan ficou de pé. — Fique aqui com o barco e esteja pronto. — Pronto para o que? — Niall perguntou, sentando-se em linha reta. — Uma partida rápida. — Duncan se debruçou dentro do barco por um rolo de corda e enfiou dentro de sua manta. — Você pode lidar com o barco sozinho? Niall encolheu os ombros. — Se for preciso, sim. Por quê? Och, Duncan não gostava da ideia de Niall navegando sozinho a tal distância no mar tempestuoso, mas se Duncan estivesse morto ou na masmorra do castelo, Niall teria que fazê-lo. — Se eu não voltar uma hora antes do amanhecer, — disse Duncan, — parta para Skye sem mim e diga Connor o que aconteceu.
— Como posso contar a Connor o que aconteceu — perguntou Niall, abrindo os braços, — quando não tenho noção disso? — Algo está errado, — disse Duncan. — Moira pode estar em perigo. Enquanto
conversavam,
o
wolfhound
tinha
chegado
silenciosamente ao lado de Duncan, provavelmente pelo pouco calor que o fogo molhado emitia. O cachorro estava magro e esfarrapado. — Deixe a carne extra para o wolfhound. — Duncan deu um tapinha na cabeça do cachorro quando ele saiu. Ele esperava que os guardas o deixassem entrar sem nenhum problema já que seu Laird o recebeu mais cedo, mas ele pegou uma pedra por via das dúvidas. Se ele tivesse interpretado mal Moira, ele estava prestes a causar muitos problemas desnecessários para Connor. Ele não podia se sentir muito mal com isso. Sean jogou sua sorte fora ao se meter com os MacLeods, o que o tornou um inimigo. Quando Duncan bateu no portão, um dos guardas abriu a pequena porta ao lado dele. A luz de sua tocha se derramou na noite chuvosa. — Mudou de ideia sobre dormir na chuva fria? — Perguntou o guarda. — Sim, — disse Duncan. — Não há necessidade de incomodar ninguém. Eu vou para o salão e durmo no chão com o resto dos homens. — Você fez sua escolha e pode congelar até a morte por tudo que eu me importo, — disse o guarda. — Eu não posso deixar você entrar sem a permissão do meu Laird, e ele foi para a cama. Antes que o guarda pudesse fechar a porta ou respirar para gritar, Duncan o puxou para fora pela frente de sua camisa, colocou um braço em volta de sua garganta e bateu na cabeça dele com a pedra.
— Simon? — Outro guarda chamou de dentro. Duncan se encostou na parede do castelo e esperou. Assim que o segundo guarda enfiou a cabeça para fora da pequena porta da guarita, Duncan bateu nele com a mesma rocha. Trabalhando rapidamente, ele amarrou os dois homens com a corda e arrastou-os a alguns metros para a escuridão, longe da muralha do castelo. Ele sacou o punhal e entrou na guarita sem emitir nenhum som. Antecipando que poderia precisar fazer uma fuga rápida, ele removeu a barra pesada que mantinha o portão fechado. Quando ouviu passos, ele parou até passarem. Um único conjunto de botas. Duncan treinou seus homens para trabalharem em pares quando eles estavam de guarda e não por que dois homens pudessem tê-lo parado. Os guardas nas muralhas estariam olhando para fora, para os atacantes, se eles estivessem acordados de tudo. Para evitar levantar suspeitas, Duncan atravessou o pátio como se ele pertencesse ao lugar Dentro da fortaleza, alguns homens ainda estavam bebendo perto da lareira. Sean não estava entre eles. Permanecendo nas sombras, Duncan seguiu a parede ao redor da sala até chegar à porta que levava às escadas. Esta era a parte mais arriscada, até agora, porque ninguém além de membros da família e alguns servidores de confiança teriam bons motivos para ir aos quartos acima a esta hora tardia. Duncan esperou até que houvesse uma explosão de risos dos homens ao redor da lareira, então caminhou através da entrada e começou a subir as escadas. Quando ele estava na metade do caminho, o grito de uma mulher veio de cima, perfurando o ar e seu coração. Era Moira. Duncan subiu as escadas de pedra em espiral, três degraus de cada vez. A porta do andar seguinte estava fechada. Sem parar, ele bateu com o ombro contra ela. A porta se abriu e bateu contra a parede.
Moira estava deitada no chão em uma poça de sangue com um homem em cima dela. Duncan estava do outro lado da sala a dois passos. Ele puxou o homem pela parte de trás de sua túnica com uma mão enquanto ele levantava seu punhal com a outra para cortar a garganta do homem. Ele parou seu braço no meio. O homem que ele estava segurando era Sean, e ele já estava morto. Duncan olhou para Moira. Oh, Jesus. Um de seus olhos estava inchado e púrpura como uma ameixa madura, e o resto do rosto estava machucado. Seu vestido estava rasgado e aberto. O sangue estava em todo lugar. Nos cabelos dela. Em suas mãos e rosto. Encharcando o vestido dela. Duncan caiu de joelhos ao lado dela. O pesar varreu por ele. Deus não! Ele estava muito atrasado para salvá-la.
Moira gemeu e lutou para se sentar. Louvado seja Deus, ela está viva. Duncan colocou o braço sob os ombros dela. — Você está ferida gravemente, mo leannain? Minha querida. — Sean está morto? — Ela parecia atordoada. — Sim, — disse ele. — Você pode andar? Temos que deixar o castelo imediatamente. Mesmo quando ele disse isso, ouviu som de botas na escada. Se os homens encontrassem Moira coberta de sangue e seu Laird morto, isso não seria bom para ela. Duncan a colocou de pé. Segurando-a com um braço e sua espada na outra, ele começou a sair com ela assim que um dos guerreiros MacQuillan encheu a porta. Mais dois estavam bem atrás dele. Duncan precisava despachá-los rapidamente antes que eles levantassem o alarme e trouxessem os cinquenta homens dormindo no salão para a luta. — O que você fez para... Duncan cortou o primeiro homem antes que as palavras saíssem de sua boca. Então ele empurrou o próximo para trás jogando em cima do terceiro, enviando o par descendo as escadas. Segurando Moira ao seu lado, Duncan saltou sobre os homens rolando e continuou descendo as escadas. O barulho atraiu mais três guerreiros para o fundo da escada. Mas os tolos não tinham suas lâminas prontas. Antes que eles pudessem desembainhá-las, Duncan
chutou um no intestino, girou sua claymore em outro e bateu no terceiro com o ombro. Droga.
A
comoção
estava
acordando
os
outros
homens
MacQuillan. Quando Duncan começou a atravessar o salão, alguns deles já estavam de pé e pegavam suas espadas. Duncan levantou Moira por cima do ombro e correu como o inferno pela porta. Ele irrompeu através dela, saltou os degraus em um salto e correu com dificuldade pela escuridão do pátio até o portão. Sabendo que ele havia removido a barra, ele rebateu no portão correndo. Era feito de carvalho pesado, mas se abriu contra seu peso. Depois de alguns metros, ele estava em escuridão total. Os homens MacQuillan estavam em seus calcanhares e Duncan não conseguia ver o caminho para a praia. Ele estava correndo cego. Um cachorro latiu. Um momento depois, ele viu o wolfhound na frente dele, liderando o caminho, sua pele dourada apenas visível na noite. Moira gemeu, e Duncan pensou em seu rosto machucado e inchado batendo contra suas costas. Mas ele não tinha escolha. Ele tinha que tirá-la daqui a todo custo. Os gritos atrás deles estavam se aproximando, mas também o som das ondas batendo na praia. Enquanto ele subia uma colina atrás do cachorro, ele viu a espuma branca do mar ondulando na escuridão. — Niall! — Ele gritou enquanto seguia o wolfhound pelo penhasco até a praia. — Por aqui! — Niall chamou. Duncan viu a forma preta do barco. — Lá estão eles! — Uma voz veio detrás dele. — Parem-nos! Niall já estava empurrando a galera para fora quando Duncan a alcançou.
— Entre! — Gritou Duncan. Assim que Niall pulou no barco, Duncan empurrou Moira para os braços de Niall e segurou a lateral do barco. — Prepare-se para levantar a vela, — Duncan disse para Niall. Enquanto se esforçava para empurrar o barco mais para dentro do mar, uma enorme forma escura passou por ele e aterrissou dentro do barco. O wolfhound. Por cima do ombro, Duncan viu homens com tochas descendo o penhasco até a praia. — Agora! — Gritou Duncan ao se jogar no barco. Niall desdobrou a vela com o vento forte e a embarcação avançou. Ele estava inclinando para o lado antes que Duncan pudesse agarrar o leme. Ele endireitou o barco rapidamente e eles foram para o mar. Quando Duncan olhou para trás novamente, as tochas encheram a praia. Os MacQuillans conheciam essas águas muito melhor do que ele. Mas com alguma sorte, eles esperariam até a luz do dia para zarpar atrás deles. Ele desejou que Alex estivesse com eles. O velho sangue Viking era forte em Alex, dando-lhe um sexto sentido na água que seria útil navegando através de baixios 6 desconhecidos no escuro. Duas vezes o barco raspou as pedras, e foi somente pela mão de Deus que eles chegaram a águas profundas. Assim que se sentiu seguro, ele colocou o leme no lugar, encontrou um cobertor e foi checar Moira. Ela estava tremendo e chorando quando ele envolveu o cobertor em volta dela, então ele colocou os braços em volta dela também. Apesar do perigo em que estavam, uma sensação fugaz de paz tomou conta dele. Não era assim
6
Baixios - Banco de areia ou rochedo, que fica submerso nos mares e rios, constituindo perigo para a navegação.
que ele sonhava que aconteceria, mas ele tinha Moira em seus braços novamente. Moira dormiu irregularmente, atormentada por sonhos que a fizeram sentir como se estivesse caindo no tempo. Ela cochilou e acordou tantas vezes que não sabia o que era real e o que era sonho. Não! Não! O peso de Sean estava esmagando-a, e ela estava implorando a Deus para não deixar que seu último momento na terra tivesse com o cheiro de Sean em seu nariz e seu corpo tocando o dela. Então o peso se foi e Duncan MacDonald ficou acima dela em toda a sua glória. Duncan tinha fogo em seus olhos e sua lâmina brandia, assim como ela o imaginava toda vez que ela esperava e rezava para que ele viesse. Mas ela deve ter sonhado com ele, chamou-o para o pesadelo que era sua vida. Como sempre, Duncan estava muito atrasado para salvála. Moira sentiu o movimento das ondas abaixo dela e flutuou no mar ao lado de sua mãe. Então Sean estava vivo novamente, e suas mãos estavam se fechando em sua garganta. — Está tudo bem. — Duncan segurou Moira contra ele, acalmando seus braços agitados. Ele odiava despertá-la de novo, mas era perigoso deixá-la dormir por mais do que um curto período de tempo, após o quão duro ela havia sido atingida na cabeça. — Beba, — disse ele, segurando o frasco de cerveja em seus lábios. Moira bebeu com avidez, mas a metade desceu pelo queixo porque o lado da boca estava inchado. Ele limpou suavemente com o canto do cobertor. — Duncan? — Ela disse. — Sim, sou eu.
— Você está muito atrasado, — ela murmurou. — Eu o esperei, mas você não veio. Moira estava fora de si. Ela estivera dizendo isso para ele a noite toda. Ele espantou o wolfhound, que continuava a cheirar o rosto dela. — Deixe-a ou eu vou atirá-lo para o lado. — Não! — Moira gemeu. — Shh. Eu não quis dizer isso. — Duncan passou os dedos pelo cabelo dela, que ainda estava pegajoso de sangue, enquanto ele a embalava em seus braços. — Ele é um bom cachorro. Ele me levou pelo caminho até a praia. — Ele é o cachorro do meu filho, — disse ela em um sussurro abafado. A próxima vez que Duncan olhou para ela, a madrugada estava quebrando, e Moira parecia alerta. Och, seu lindo rosto estava uma bagunça. Ele a ajudou a se sentar. — Diga-me onde você está ferida, Moira. — Minha cabeça dói como o próprio diabo, e eu não posso abrir meu olho esquerdo, — ela disse com uma voz forte, — mas eu acho que ele não quebrou nenhum osso. Deus no céu. Se Sean não estivesse morto, Duncan voltaria e o mataria agora. — Havia muito sangue. Se tens uma ferida, devemos costurá-la. Ele a checou por algum novo sangramento o melhor que pôde durante a noite e não encontrou nenhum, mas precisava ter certeza. — O sangue é dele, — disse ela. — A lâmina que eu estava segurando deve ter entrado nele quando ele me derrubou e caiu em cima de mim.
Duncan tinha lutado contra todos os tipos de homens, bons e maus, e ele tinha visto muito mal. Ainda assim, chocou-o como qualquer homem poderia atacar violentamente uma mulher. — Ele tinha machucado você antes? — Ele perguntou. — Mas não assim, — disse ela. Ele engoliu em seco. — O que aconteceu? Moira se afastou dele e puxou o cobertor firmemente ao redor dela. — Sean viu como você olhou para mim, foi o que aconteceu, — disse ela com uma voz dura. Ela o culpava. — Sean estava sempre com ciúmes sem nenhuma causa, — ela retrucou. Duncan se deixou afundar. — Eu vou pegar outro cobertor, então você deve tentar descansar um pouco mais. — Tenho que levar meu filho para casa em Dunscaith — ela disse enquanto olhava para o mar. — Tenho certeza de que o rapaz está seguro, — disse Duncan. — Mesmo o MacLeod não iria prejudicar uma criança que ele concordou em promover. Essa era a única garantia que ele poderia dar a ela. Mesmo que não houvesse tamanha animosidade entre os MacDonald e os MacLeod — e logo haveria mais, — um menino pertencia ao clã de seu pai. É improvável que os MacQuillans concordassem em deixar que Moira ficasse com o filho de seu Laird, especialmente quando acreditavam que ela, ou o homem com quem ela fugira, havia assassinado seu Laird. — Duncan! — Niall chamou da frente do barco. — Eles estão nos seguindo.
Erik MacLeod estreitou os olhos enquanto observava os guardas de seu Laird escoltar o visitante para o Grande Salão de Dunvegan Castle. Os guardas o detiveram a uma distância respeitosa do palanque, onde o grande Alastair Crotach MacLeod estava sentado olhando cada centímetro do outro Laird, apesar do seu ombro encurvado. Era incomum, para dizer o mínimo, ver um MacDonald de Sleat em Dunvegan Castle, exceto na masmorra. Se o Laird ficou surpreso, ele não demonstrou. O visitante era um homem grande e louro de trinta e poucos anos que ganhara o nome de Hugh Dubh, Black Hugh, por seu coração negro. Se os rumores eram para ser acreditado, Hugh tinha uma mão na morte de seu ex-Laird e do filho mais velho do Laird, que era respectivamente seu meio-irmão e sobrinho. Erik admirava a crueldade do homem em perseguir suas ambições. O Laird de Erik desaprovava Hugh, mas Alastair MacLeod nunca teve que lutar pelo seu lugar neste mundo. Ele nasceu para ser um Laird e morreria sendo um. É claro que a antipatia de MacLeod por Hugh não o impediria de usar o homem para beneficiar seu clã. — Meu sobrinho Connor está planejando tirar a península de Trotternish de você — disse Hugh após as saudações formais. — Se eu fosse o Laird dos MacDonald de Sleat, como deveria ser, ficaria contente com as terras que temos.
— Como guardião do Castelo Trotternish — disse o Laird, virando o olhar para Erik, — você está estou preocupado com esse filhote Connor por querer nos tomar Trotternish? Erik trabalhara obstinadamente durante anos para ganhar a confiança e o respeito de seu Laird. Ele tinha muito a superar. Seu pai tinha sido um guerreiro mais conhecido por beber do que por sua habilidade com uma espada, e sua mãe era uma mulher sem importância alguma. Depois que Erik liderou o ataque quando eles tomaram o Castelo Trotternish dos MacDonalds, seu Laird finalmente deu a ele sua justa recompensa. Não havia nada que Erik não faria para manter o castelo e sua posição como guardião. — Eu não perdi uma piscadela de sono por causa disso, — Erik mentiu e forçou uma risada. — Pelo que ouvi, o novo Laird MacDonald tem tão poucos homens e galeras de guerra que ele seria um idiota em lançar um ataque contra nós. Erik sabia que seu Laird estava satisfeito com sua resposta, embora o rosto de MacLeod permanecesse inexpressivo. Seu Laird não queria que Hugh acreditasse que ele tinha algo de valor para oferecêlos. — Eu aconselho que você não subestime Connor — disse Hugh. — Através de surpresa e astúcia, ele ganhou batalhas contra números maiores antes. — Por que você nos adverte? — Perguntou MacLeod. — Connor é responsável pela morte de dois dos meus meiosirmãos, — disse Hugh. — Eu quero que ele pague por isso com sua vida. O MacLeod levantou uma sobrancelha.
— Eu tinha a impressão de que você não gostava muito dos seus irmãos. Erik soprou. Havia rumores de que Hugh havia assassinado um segundo irmão além do que fora Laird. — Como sabe dos planos do teu sobrinho? — O MacLeod perguntou e sinalizou para a sua taça. — Tenho espiões no castelo dele — disse Hugh, parecendo um pouco satisfeito consigo mesmo. Quando o copeiro lhe trouxe a taça de madeira esculpida, o Laird tomou um gole profundo. Embora ele nunca se permitisse beber em excesso, ele tomava o uísque pela dor que sofreu ao longo do machado MacDonald que dividiu seu ombro. — Eu te apoiei uma vez antes contra o seu sobrinho. Isso me custou a vida de alguns dos meus melhores guerreiros e não me rendeu nada. — O MacLeod olhou para Hugh de sua cadeira alta, o calor de seu temperamento queimando em seus olhos. — O que é que você veio me pedir para este tempo, e por que eu deveria dar a você? — Ouvi dizer que você está promovendo o filho da minha sobrinha Moira. O MacLeod estreitou os olhos para Hugh. — O rapaz é o herdeiro de Connor, — disse Hugh. — Eu quero ele. Porra, os MacQuillans eram persistentes. Duncan olhou para as três galés de guerra que os seguiam por dois dias, depois se virou para observar as nuvens negras rolando na direção do Oeste. Raios de relâmpagos brilhavam na faixa estreita do horizonte entre as nuvens de trovoada e o mar. Isso teria o resultado de uma tempestade que os marinheiros falavam por anos. Infelizmente, os MacQuillans haviam habilmente posicionado suas galeras de guerra entre o barco de Duncan e o abrigo
das ilhas a Leste. Eles estavam forçando-o a escolher entre ir para terra onde eles certamente o pegariam ou navegariam diretamente para a tempestade. Arriscar a própria vida era uma coisa, mas Duncan não podia entrar naquele vendaval com Moira e Niall. Ele virou o barco em direção aos perseguidores e à ilha mais próxima. — Quando os MacQuillans nos pegarem, — disse ele a Niall, — eu matei Sean. Entendido? Niall assentiu. A única boa notícia era que Moira parecia estar se recuperando de seus ferimentos. Duncan a observou enquanto ela se inclinava ao vento e cruzou o barco para onde ele e Niall estavam na popa. — O que você está fazendo? — Ela perguntou quando chegou até eles. Quando Duncan não respondeu, ela agarrou a manga dele. — Não, eu não vou voltar. Eu prefiro morrer. Seu cabelo estava estalando em seu rosto machucado e inchado. Um de seus olhos não era mais do que uma fenda. Mesmo com Sean morto, ele podia entender por que ela estava relutante em retornar. — Eu espero que eles nos joguem na masmorra para apodrecer, — disse Niall. — Estou para enfrentar as nossas chances no mar. Se Duncan pudesse ter certeza de que os MacQuillans puniriam apenas ele pela morte do Laird, ele iria para a ilha e deixaria que eles o levassem. Mas Niall estava certo. Depois que o Laird deles foi assassinado debaixo de seus narizes, os MacQuillans poderiam não estar dispostos a distinguirem a culpa entre os três. Orando que ele não estivesse fazendo a escolha errada, Duncan virou o barco novamente, desta vez em direção ao mar aberto e à tempestade que se formava. Em pouco tempo, as galeras de guerra atrás deles foram para o Leste para se abrigarem em uma das enseadas
protegidas das ilhas. Os MacQuillans não eram tolos o suficiente para arriscar suas vidas e barcos para capturá-los. Enquanto eles navegavam para mais perto da tempestade, o vento levou gotas de chuva contra o rosto de Duncan. Thump. Thump. Thump. A galera deles subiu e caiu nas ondas. Em pouco tempo eles colidiram com a tempestade e o mar se tornou uma torrente. O vento girava em torno deles e jogava o barco com violência crescente. — Niall, pegue o leme. — Duncan teve que gritar para ser ouvido. — Estou baixando a vela antes que o mastro se quebre. Ele pegou a mão de Moira e envolveu-a no pedaço de corda que amarrara no pescoço do cão lobo. — Fique abaixada e segure-se em Sàr até que eu volte por você. O mar caiu sobre o barco, encharcando Duncan enquanto ele largava a vela. Trabalhando rápido, ele pegou duas bobinas de corda do fundo do barco e voltou para as outras. — Moira, eu estou amarrando você ao mastro para que você não seja lavada pelo mar, — ele gritou. — Enquanto todos permanecermos no barco, ficaremos bem. Se o barco virasse, não importaria que ela estivesse amarrada e não pudesse nadar. Não haveria esperança. Duncan levou Moira ao mastro, depois amarrou a corda ao redor de sua cintura, tomando cuidado para evitar suas costelas machucadas. — Fique, — ordenou ao cão, que obedientemente sentou-se e encostou-se a Moira. — Nós vamos fazer isso, — disse ele, e segurou a bochecha de Moira por um momento antes de deixá-la.
O barco rangeu e balançou quando cada onda crescente batia nele. Duncan teve que segurar o lado do barco enquanto ele trabalhava em volta de Niall. — Eu vou conduzir, — ele gritou. Quando ele pegou o leme de Niall, ele sentiu o poder total do mar empurrando contra ele. — Agora, amarre-se ao mastro com Moira. Quando ele empurrou a corda para Niall, uma parede de água de seis metros de altura caiu do lado da galera. — Niall! — Duncan gritou e estendeu a mão para ele. O tempo se moveu devagar quando Duncan assistiu Niall esticar os braços para agarrar algo antes que a gigantesca onda os atingisse. Então a parede de água caiu sobre o barco, levantando Niall de seus pés e jogando-o de ponta-cabeça como um galho em um redemoinho. A onda de água varreu Duncan depois de Niall e bateu de novo ao lado do barco. Duncan segurou o corrimão, seus braços lutando contra a força da água passando por ele. Quando a ondulação recuou, lavando de volta o topo do barco, Duncan ouviu os gritos de Moira sobre o vento. Isso significava que ela ainda estava segura, amarrada ao mastro. Mas Niall fora embora.
— Niall! Niall! — Gritou Duncan enquanto se inclinava para o lado do barco, procurando no mar agitado por ele. Uma vida inteira pareceu passar antes que o braço de Niall saísse da próxima onda. Um momento depois, uma cabeça escura subiu à superfície e desceu novamente. Niall ainda estava vivo. De alguma forma, Duncan ainda segurava a corda nas mãos. Ele rapidamente amarrou um laço em um dos braços e prendeu-o em um gancho ao lado do barco. Mas o barco estava vagando perigosamente. Antes de tomar a próxima onda de lado e virar, Duncan jogou seu peso contra o leme. O barco balançou quando Duncan o virou contra a força do mar empurrando-o para o lado. A próxima onda caiu sobre a proa. Quando ele olhou para Moira, ela parecia uma boneca de pano com seus cabelos e membros batendo ao vento. Duncan lutou para manter a proa deslizando nas ondas da frente, enquanto aliviava o barco para perto de onde ele havia visto Niall pela última vez na água. Então ele viu a cabeça de Niall balançar na superfície novamente, graças a Deus. Niall começou a nadar em direção ao barco,
mas ele parecia
machucado.
Suas braçadas eram
desajeitadas. Uma onda gigante ondulou e caiu sobre Niall, levando-o para baixo. O coração de Duncan golpeou em seu peito enquanto ele observava a cabeça de Niall reaparecer. Quando finalmente conseguiu,
Niall começou a nadar novamente, mas suas braçadas pareciam mais fracas do que antes. Sua cabeça baixou de novo e de novo, e cada vez mais Duncan temia que Niall estivesse perdido. — Niall! — Duncan gritou e jogou a corda com toda a força. Ela se desenrolou, levada ao vento, e caiu no mar agitado não muito longe de Niall. Mas quando Niall nadou em direção a ela, a corrente levou a corda mais longe de seu alcance. Duncan puxou a corda, enrolando-a em volta do braço. Antes que ele pudesse tentar novamente, ele teve que pegar o leme para estabilizar o barco para a próxima onda. Assim que a galera bateu na onda, Duncan virou-se para jogar a corda. Niall havia desaparecido. Longos momentos se passaram antes que sua cabeça aparecesse novamente. O rapaz já não parecia capaz de levantar os braços para nadar. Niall não tinha muita força. Se ele não pegasse a corda dessa vez, não haveria outra chance. Com um objetivo cuidadoso, Duncan jogou a corda para ele. Desta vez, a ponta chegou perto o suficiente para Niall agarrá-la. — Espere aí! — Duncan gritou quando o barco caiu em outra ondulação gigante. Então, segurando o leme com a perna firme, Duncan começou a puxar a corda. Duncan não era um homem que orava muito, mas estava rezando por tudo que valia a pena. Dê ao rapaz a força para aguentar. Outra onda quebrou sobre a proa e a tensão na corda se afrouxou por um momento doentio. Quando ela puxou as mãos de Duncan, o alívio surgiu através dele. Niall ainda segurava o outro lado. Duncan puxou a corda na mão até que Niall estava ao lado do barco. Duncan esperou que a próxima onda passasse para que Niall não fosse atingido pela força enquanto o puxava para fora da água.
Niall estava agora perto o suficiente que Duncan podia ver que seus lábios estavam azuis e ele tinha sangue escorrendo pelo lado do rosto. Duncan puxou a corda, levantando Niall da água. Enquanto observava, as mãos de Niall começaram a escorregar pela corda. Duncan se inclinou para o lado do barco para ajudá-lo, mas Niall estava fora de seu alcance. — Espere, droga! — Gritou Duncan. A próxima onda pegou Niall e ele começou a cair. Moira se sentia impotente amarrada ao mastro enquanto observava Duncan tentando salvar a vida de Niall. Quando Niall começou a cair de novo na água, ela pensou que toda a esperança para ele havia desaparecido. Seu grito de angústia se perdeu no vento. Mas quando a onda passou, Duncan estava pendurado perigosamente na lateral do barco e ele segurava o pulso de Niall. Ela podia ver os músculos de Duncan se esticarem embaixo da túnica encharcada enquanto ele segurava o peso morto de Niall contra a força do mar agitado. Moira desatou a corda em volta dela, pegou a coleira improvisada de Sàr e começou a atravessar o barco para ajudar Duncan. A galera balançou para o lado, derrubando-a de joelhos. Quando ela olhou para cima, Duncan ainda estava inclinado precariamente sobre o lado do barco. Sobre o vento, ela o ouviu gritando o nome de Niall. Apoiandose em Sàr, ela se levantou e cambaleou para a parte de trás do barco. Por fim, chegou a Duncan e colocou os braços ao redor das pernas dele para ajudar a ancorá-lo com seu peso. Com todos os seus músculos esforçando-se, Duncan segurou Niall quando outra onda caiu sobre eles. Ele grunhiu com o esforço final de içar o corpo flácido de Niall para cima e para o lado do barco. Todos os três caíram no fundo do barco quando ele se lançou para trás.
Antes que Moira pudesse se endireitar, Duncan tinha virado Niall de barriga para baixo e começou a empurrar ritmicamente suas costas. Moira se agachou ao lado dele enquanto ele trabalhava para salvar Niall. Ele empurrou uma vez, duas vezes, três vezes. O shluagh!7 Respire, Niall, respire! Não pode ser tarde demais. Finalmente, Niall tossiu, ofegou e vomitou água do mar. — Deus me ajude, eu pensei que o tinha perdido, — disse Duncan, olhando para ela. — Você pode cuidar dele? Eu preciso tomar o leme. Moira estava tão concentrada em Niall que não percebeu que o barco estava se inclinando perigosamente para o lado novamente. — Vai. Eu cuido de Niall, — disse ela. Niall ofegou e tossiu quando Moira esfregou as costas dele. — Você pode ver onde ele está sangrando? — Duncan chamou acima dela. Niall tinha um longo corte na lateral do rosto, mas não parecia profundo. Ela examinou o resto dele, tentando discernir de onde vinha todo o sangue. Uma nuvem vermelha escura estava se espalhando por sua túnica molhada sobre a coxa. Quando Moira levantou o pano, ela teve que engolir a bile que subia pela garganta ao ver a carne rasgada. — Precisamos parar o sangramento, — disse Duncan, olhando para a perna de Niall. — Pegue meu punhal e corte uma tira de pano para uma bandagem. Ela estendeu a mão sobre o corpo de Niall para tirar o punhal da mão de Duncan, em seguida, rapidamente cortou duas longas tiras de pano da bainha de seu vestido. Quando ela os preparou, Duncan caiu de joelhos para ajudá-la a enrolar a bandagem improvisada ao redor da coxa de Niall. 7
No folclore irlandês e escocês, os Sluagh (irlandês /sɫuə/; escocês gaélico /sɫuaɣ/) eram os espíritos dos mortos sem descanso. Algumas vezes eram encarados como pecadores, ou, geralmente, pessoas maléficas que não eram bem-vindas seja no céu seja no inferno, ou mesmo no Outro Mundo pagão, tendo sido rejeitados pelas divindades celtas e pela própria terra.
— Passamos o pior da tempestade, — disse Duncan. — Com sorte e a graça de Deus, vamos vencer o resto. Quando Moira olhou para cima, viu que era verdade. As ondas já não eram tão altas e o céu estava iluminado à frente. Ela estava certa de que todos morreriam. Suas mãos tremiam quando ela enrolou a segunda tira ao redor da perna de Niall e deu um nó para amarrá-la. Niall gemeu quando Duncan a ajudou a puxar o nó com força. — Você vai ficar bem, — disse ela à Niall, e rezou para que fosse verdade. Ela deu outro olhar para Duncan. Foi graças a sua habilidade com o barco, a sua força excepcional, e a força de vontade dele que eles tinham sobrevivido. Moira levantou a cabeça de Niall em seu colo e limpou o sangue que escorria de seu rosto. — Ele ainda está tão frio, — disse ela. Duncan pegou um cobertor e gentilmente colocou-o ao redor de Niall. Então ele estalou os dedos para Sàr e o lobo caiu ao lado de Niall. — O cachorro vai ajudar a mantê-lo aquecido. Niall abriu os olhos e deu a Duncan um leve sorriso. — Você se parecia com o próprio Cúchulainn8 quando estava me puxando nessa corda. — Deite-se e descanse. — Duncan falou em uma voz suave como se estivesse colocando um bebê pequenino na cama. Ele alisou o cabelo molhado do rosto de Niall até que Niall fechou os olhos novamente. A comparação de Niall a Duncan com o mítico guerreiro celta da lenda era apropriada. Sua poderosa constituição e vontade indomável
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Cú Chulainn, também chamado Cú Chulaind ou Cúchulainn e às vezes conhecido em inglês como Cuhullin, é um herói mitológico irlandês que aparece nas histórias do Ciclo de Ulster, bem como no folclore escocês e da Ilha de Man. Acredita-se que ele seja uma encarnação do deus Lug, que também é seu pai.
foram o que atraiu Moira para ele e agitaram seu sangue quando ela tinha dezessete anos. Mas foi esse lado gentil de Duncan que roubou seu coração. Duncan tentava escoar o barco com uma mão enquanto conduzia o melhor que podia com um leme quebrado. A pequena galera, um barco tão bom quanto ele já havia navegado, estava se segurando com saliva e uma oração. Pelo menos o mar estava calmo agora. Se eles pegassem outra tempestade, ele temia que a galera se partisse em pedaços. Duncan respirou fundo. Isso estava muito perto. Deus o ajudasse, ele quase perdeu o irmão de Ian. E Niall não estava fora de perigo ainda. A ferida na perna era profunda e ele perdera muito sangue. Moira pairou sobre Niall, que estava gemendo em seu sono. Suas sobrancelhas estavam apertadas com preocupação, e seu belo rosto parecia dolorido. O inchaço diminuiu um pouco, mas as contusões coloririam sua pele por um longo tempo. — Nós roubamos este pequeno barco de Shaggy Maclean quando escapamos de sua masmorra, — disse Duncan em uma tentativa de tirar sua mente de Niall e sua situação precária. — Nós quatro tivemos uma longa discussão sobre quem tinha o melhor direito a ela. — Como você foi parar na masmorra de Shaggy? — Ela perguntou. — Saímos da França assim que ouvimos sobre a desastrosa batalha contra os ingleses em Flodden. — Duncan olhou para o horizonte, lembrando-se de tudo. — Não sabíamos que seu pai e irmão Ragnall estavam mortos ou que seu tio Hugh Dubh havia assumido o controle do Castelo Dunscaith e se proclamara o novo Laird. — Eu só ouvi falar disso depois, — disse Moira. — Hugh temia que o clã escolhesse Connor como Laird se ele voltasse, — continuou Duncan. — Ele sabia que teríamos que passar
pela fortaleza Maclean a caminho de casa, então ele pediu a Shaggy para ficar de olho em nós e ver que nunca chegássemos a Skye. — Meu tio queria que Connor fosse assassinado? — Ela perguntou. — Ele ainda quer. — Duncan continuou escoando enquanto conversavam, mas a água estava penetrando pelas rachaduras quase tão rápido quanto ele a esvaziava. — Conseguimos expulsar Hugh de Dunscaith e Connor foi feito Laird. Mas Hugh ainda é uma ameaça. Ele tentou matar Connor mais de uma vez e tentará novamente. — Certamente o clã não faria Hugh o Laird se ele assassinasse Connor, — disse ela. — Eles não teriam muita escolha, — disse Duncan com um encolher de ombros. — O clã seguirá a tradição e escolherá um homem de sangue do Laird. Se Connor estivesse morto, isso deixaria apenas Hugh e seu outro miserável meio-tio. — E meu filho, — disse Moira. — Sim, — disse Duncan. Moira esfregou as orelhas do wolfhound enquanto o silêncio caía entre eles. — Ragnall ama esse cachorro. — O lábio de Moira tremia enquanto ela falava. — Sean fez Ragnall desistir dele. Isso explicava por que o cachorro estava tão magro. — Ele é um cachorro grande para um rapazinho. — Duncan voltou seu olhar para o mar e fez sua pergunta como se a resposta não fosse importante. — Quantos anos tem esse seu filho? — Cinco, — disse ela. — Ragnall tem cinco anos. Moira mentiu instintivamente para proteger o filho, mas não se arrependeu. Duncan não merecia a verdade. Depois de viver com Sean, Ragnall estava com fome de um homem que ele poderia olhar e se
espelhar. Ele olharia para este grande homem que tinha uma força imensa e as habilidades de luta dos guerreiros das lendas. Ela nunca daria a Duncan o poder de desapontar Ragnall como ele tinha feito com ela. — Você disse que os quatro tiveram uma disputa sobre este barco, — disse ela para mudar de assunto. — Como você o conseguiu? — Eu fiz uma aposta com Alex que ele iria se casar dentro de seis meses. — Um sorriso raro iluminou o rosto de Duncan. — Ele se casou em três. — Och, pobre mulher. — Alex era seu primo, mas ele era um mulherengo nato. — Sua esposa Glynis está feliz, — disse ele. — Alex é um marido e pai dedicado. Tantas mudanças em sua casa. Ela se lembrou de que sentia falta de todos por causa de Duncan. Enquanto estava extremamente grata que ele a salvou, ela não precisaria de resgate se ele tivesse feito a coisa certa sete anos atrás. Ele falhou com ela quando mais importava. Moira olhou para o mar vazio e se perguntou se ela morreria ali com ele. Ela quase podia ouvir as fadas rindo.
Moira estava desesperada para sair deste barco maldito gotejante. Duncan a estava distraindo com sua gentileza e auto sacrifício. Depois de entregar o restante da metade de sua carne seca e bolo de aveia encharcados, ele guardou o resto, poupando para quando Niall acordasse. — Você não vai comer nada disso? — Ela perguntou. — Eu não preciso disso, — disse Duncan. — Eu fiquei sem comida por muito mais tempo que isso. Eu sou treinado para isso. — Você é um mentiroso. Seu estômago está roncando como um urso desde ontem. — Eu não disse que não estava com fome, — disse ele com um meio sorriso. Och, o homem achava que ele era invencível. Era além de irritante. Ela compartilhou sua carne com Sàr, na esperança de obter uma reação dele, mas Duncan não pareceu invejar o cão por uma parte. Duncan colocou o braço sob os ombros de Niall, gentilmente levantou-o e levou o resto da cerveja aos seus lábios. Niall estava queimando de febre, e ela suspeitava que a preocupação era metade do motivo pelo qual ela estava explodindo Duncan. — É bom estarmos nos aproximando da terra, — disse Duncan. — Precisamos encontrar ajuda para ele. Moira saltou de pé. Quando ela viu a terra à distância, seu coração bateu rápido. Por sete anos ela esperou para ver sua casa novamente.
— Isso é Skye? — Ela perguntou. — Não parece com o que me lembro disso. — A tempestade nos deixou milhas fora do curso, — disse Duncan. — Isso é Skye, mas estamos indo para o lado MacLeod da ilha. — Meu filho está com os MacLeods, — disse ela — Sermos feitos como reféns não ajudaria a levar seu filho para casa em Dunscaith, — disse Duncan. Mas talvez ela pudesse estar com ele. Ela desejava saber se os MacLeods tinham Ragnall aqui em Skye ou em sua fortaleza na ilha de Harris. — Veja essa pequena baía? — Duncan apontou para a margem. — Pertence aos MacCrimmons. O Laird MacLeod deu a eles como recompensa por servir como flautistas hereditários dos MacLeod. É aí que vou tentar atracar. — Esses MacCrimmons não vão nos entregar aos MacLeods? — Ela perguntou. — Espero que eles não o façam já que eu sou parente de tipos, — disse ele. — A mãe da minha mãe era uma MacCrimmon. Por que ela não sabia disso? O que mais ela não sabia sobre ele? — Mesmo assim, não vamos tentá-los, dizendo-lhes que você é a única irmã do Laird MacDonald, — disse Duncan. Não que Connor se importasse com o que aconteceu com ela. Duncan tocou a parte de trás de seus dedos na testa de Niall. Então, usando um remo no lugar do leme quebrado, ele guiou o barco em direção à enseada MacCrimmon. Ao mesmo tempo, ele cuidou da vela e escoou com uma mão. Ele achava que ela era inútil? — Deixe-me fazer isso, — disse Moira, pegando o balde dele. Duncan pegou uma grande tigela de madeira que estava flutuando no porão e começou a socorrer com isso. A terra estava mais
distante do que parecia, e parecia que eles haviam fugido por horas. Apesar da névoa fria do inverno, Moira estava suando quando eles finalmente entraram na enseada. Uma pequena multidão se reunia na praia. Os homens estavam com suas lâminas desembainhadas. — Suas relações com os MacCrimmon não parecem amigáveis para mim, — disse ela. Duncan atracou o barco e pulou para o lado. Ao arrastá-lo para a praia, vários homens com lâminas desembainhadas o cercaram. As mulheres e crianças reunidas na praia olhavam para ele por trás de seus homens. — Eu sou o bisneto de Duncan MacCrimmon, — disse Duncan. — Eu tenho um homem ferido com uma necessidade desesperada de uma curandeira. Sem esperar por permissão, Duncan levantou o corpo inerte de Niall para fora do barco. Uma jovem mulher de cabelos louros empurrou os homens e olhou para Niall. — Ele não está nada bem, — disse ela e depois se virou para um dos guerreiros. — Leve-o para minha cabana. A sorte finalmente estava com eles. Haviam encontrado uma curandeira. Duncan deixou o homem MacCrimmon tirar Niall dele para que ele pudesse ajudar Moira a sair do barco. — Você deve vir para a minha cabana também. — A jovem mulher pegou o braço de Moira e deu a Duncan um olhar azedo. — Que grande companheiro você é, deveria ter vergonha de si mesmo. Pelos santos, a curandeira achava que ele havia feito isso no rosto de Moira. Moira tocou a mandíbula inchada, como se tivesse esquecido seus ferimentos.
— Estou bem, — disse ela. — E não foi ele quem fez isso. — Não é seu marido? — Duncan ouviu a curandeira dizer enquanto seguia atrás das duas mulheres em direção a uma linha de casas construídas ao longo da costa. — Essa é uma história que eu quero ouvir. Era estranho ouvir a curandeira confundi-lo com o marido de Moira. Pela primeira vez, percebeu que Moira estava livre. A esperança era uma coisa tola. Não tinha motivos para acreditar que Moira o consideraria agora ou, se o fizesse, que ele pudesse mantê-la. No entanto, apesar dos desastres incessantes desde que eles se encontraram, a esperança acendeu no peito de Duncan pela primeira vez em sete anos. Moira sentou-se na beira da cama segurando uma compressa com cheiro vil ao olho enquanto sentia a testa de Niall com a mão livre. Louvado seja Deus, sua febre diminuiu. Apesar de toda a comoção no pequeno chalé, ele estava dormindo profundamente. Duncan teve que segurar Niall enquanto a curandeira limpava e costurava a ferida em sua perna, e o processo tinha minado a força de Niall. — Como sabemos que você é quem diz ser? — Um dos homens perguntou a Duncan. — Minha mãe deu isso para mim. — Duncan puxou a flauta de seis buracos que ele sempre carregava em um cordão de couro em volta do pescoço dentro de sua camisa e o estendeu para eles verem. — Ela me disse que pertencia ao seu avô, do qual tenho o mesmo nome. Uma mulher idosa, de cabelo branco e selvagem, arrastou-se até Duncan e examinou a flauta a um centímetro do nariz. Ao girá-lo na mão, Moira lembrou-se de que a flauta tinha um cardo entalhado nas costas dele.
— Este é a flauta do Velho Duncan, mas você poderia tê-lo roubado. — A velha recostou a cabeça para trás e examinou Duncan com a mesma cautela que fizera com a flauta. — Se você é seu neto, não conseguiu ficar do tamanho dele. Os MacCrimmons sussurravam entre si por um tempo, depois um homem bonito, de cabelos grisalhos, perguntou: — Você pode tocar aquela flauta pequenina? Duncan sentou-se em um banquinho que era pequeno demais para ele, colocou os dedos nos orifícios da flauta e começou a tocar. Sua música estava tão entrelaçada com as lembranças de Moira do verão que eles eram amantes que a primeira nota a levou de volta àquele tempo. — Och, ele tem sangue MacCrimmon nele com certeza, — o homem com cabelos grisalhos disse quando Duncan terminou a música. — Você deveria ter aprendido a tocar a gaita de fole. — Eu toco a gaita de fole um pouquinho, — disse Duncan, — embora não tão bem quanto a harpa. — O homem está se gabando agora, — disse à velha. Ela acenou para um rapaz no canto. — Busque a harpa de Caitlin e vamos ver o que esse grande sujeito pode fazer. Quando Duncan tocou as cordas da harpa, os sons fizeram Moira pensar em asas delicadas de fada e nos campos de flores em um dia de verão em casa. Ela fechou os olhos e deixar a música levá-la de volta para uma época em que era uma moça jovem com nada para se preocupar, do que o vestido para vestir. — Quem te ensinou a tocar? — Perguntou o mesmo homem depois que Duncan terminou a música. — Um dos MacArthurs me ensinou a gaita de fole, — disse Duncan, referindo-se a outra família de instrumentos de sopro bem
conhecida. — Minha mãe tocava um pouco de harpa. Eu aprendi o resto por conta própria. — Eu me lembro bem de sua mãe, — disse o homem. — Ela era uma ótima mulher e uma beleza, mas ela não tinha o dom. — Está no sangue dele, — disse uma mulher gorda ao lado de Moira. Ela balançou as sobrancelhas e cutucou Moira. — Os homens MacCrimmon têm música em suas almas e magia em seus dedos. Moira lembrou-se. A lembrança tinha arruinado seu casamento. — É uma vergonha que sua mãe não o tenha enviado para nós, — disse o homem. — Eu nasci para ser um guerreiro, não um flautista, — disse Duncan. — Och, as Highlanders estão cheias de guerreiros, — disse o homem, acenando com a mão. Então ele sorriu. — Se você tivesse o treinamento que deveria ter, você poderia ser um flautista famoso como eu. Meu nome é Uilleam, a propósito. Eu sou o pai de Caitlin. — Eu já ouvi falar de você, — disse Duncan. — Espero ter o prazer de ouvi-lo tocar antes de sairmos. — Você não vai levar seu amigo a lugar nenhum por alguns dias, — a curandeira interrompeu. — Agora, se todos vocês satisfizeram a curiosidade, permitam-me cuidar deste pobre homem ferido em paz. Duncan esperava dormir com a vaca em uma das cabanas. Em vez disso, uma das mulheres o levou e a Moira até a última cabana na fileira. — Nós mantemos esta casa pronta para visitas dos gaiteiros, — a mulher explicou quando abriu a porta para eles. — Gaiteiros de toda a Highlanders vêm aqui para melhorar suas habilidades, embora não tenhamos nenhum conosco no momento.
A mulher abriu a porta e se apressou pela pequena cabana, acendendo a lamparina sobre a mesa e derramando a jarra de água que trouxera em uma tigela para asseio corporal. — Você vai encontrar turfa na lareira e cobertores quentes na cama, — disse ela. Havia apenas uma cama. Duncan disse a si mesmo que nada de interessante iria acontecer naquela cama. Por um lado, Moira ficou viúva há mais de três dias. Mas seu pênis não estava ouvindo a razão. Quando ele olhou para a cama, sete anos de anseio reprimido o fizeram quase tremer de desejo. Seu corpo se arrepiou com a consciência de Moira tão perto dele. Quando o braço dele roçou o dela, uma sacudida passou por ele como o relâmpago na tempestade que eles atravessaram. — Caitlin disse para dar-lhe este unguento, — a mulher disse, entregando um pote para Moira. — Obrigada, — disse Moira enquanto a mulher saía. Duncan ouviu a porta se fechar. Os dois estavam sozinhos.
Moira olhou envolta do pequeno chalé, mas havia apenas uma cama. Duncan estava olhando para ela como se estivesse morrendo de sede e ela fosse a última gota de água na terra de Deus. Se alguma vez houve um homem que poderia tentá-la, era Duncan MacDonald. — Moira. — Ele disse o nome dela como se ela fosse tudo o que queria neste mundo. Mas ela agora sabia melhor. Ela tinha estado nessa estrada antes. — A escada para o sótão está lá. — Ela apontou para ele e virou as costas. Enquanto escutava Duncan subindo a escada, ela se forçou a lembrar como ela ficara na muralha de Dunscaith, com suas roupas de casamento, o esperando como uma moça tola e confiante que tinha sido. — Como ele pôde fazer isso comigo? — Moira disse a sua serva, Rhona, que fora sua confidente desde o início de seu caso com Duncan. — Como ele pôde me deixar? — O filho deste Laird irlandês é um homem bonito e ele vai fazer de você uma boa esposa, — disse Rhona, acariciando seu braço. Então seus olhos ficaram grandes quando ela olhou por cima do ombro de Moira. — Seu pai está vindo. Vou esperar por você no corredor. Moira se virou e viu seu pai. Rhona balançou a cabeça e passou apressada por ele.
— O que você está fazendo aqui em cima? — Perguntou o pai dela. — Todo mundo está esperando por você. — Da!9 — Ela jogou os braços ao redor de sua cintura. — Ora, ora. — Seu pai roçou seu cabelo para trás. — Isso é sobre o quê? — Ele não veio, — disse ela contra seu peito. — É com o maldito Duncan que você está se preocupando? Ela chorou por três dias depois que Duncan partiu antes de confessar ao pai que estava apaixonada por ele. Ele tinha sido o homem mais raivoso que ela tinha visto quando lhe disse que dera a virgindade a Duncan e não se casaria com mais ninguém. Mas isso foi antes de descobrir que estava grávida. Quando ela contou ao pai que estava grávida, ele rapidamente conseguiu um casamento com um homem que por acaso era seu convidado na época e que possuía a linhagem apropriada. — Eu pensei que Duncan voltaria para mim, — ela sufocou. — Pode ver agora que ele não a merecia. — Duncan é o que eu quero, Da, — disse ela em sua camisa. Ele a inclinou para longe dele e enxugou as lágrimas de suas bochechas. — Eu estou dizendo a você, que Duncan é uma semente ruim. — Você não sabe disso, Da, — disse ela. — E eu não me importo com quem é o pai dele, de qualquer maneira. — Você deveria. Seu sangue fala. — Seu pai tomou seu rosto em suas mãos grandes e ásperas e olhou diretamente em seus olhos. — Eu não disse a você antes para poupar seus sentimentos, mas eu dei a Duncan a escolha de ir com os outros para a França ou ficar. Ele escolheu ir.
9
Da – forma carinhosa de PAI.
Agora Moira afastou as lembranças dolorosas daquele dia e tirou o vestido para se lavar na água que a mulher tão gentilmente havia deixado para eles. Ela delicadamente lavou os cortes e arranhões em seu corpo que a curandeira não tinha visto. Mesmo depois de ter sido encharcada naquela tempestade no mar, ela encontrou sangue nas dobras dentro dos cotovelos. Moira cobriu o rosto com as mãos molhadas, caiu no chão e chorou. Ela não se arrependia de ter matado Sean, mas a lembrança ainda era terrível. Então ela chorou por todos aqueles anos tentando apaziguá-lo, sempre tendo que ser cuidadosa e constrangida. E agora Duncan estava aqui, trazendo de volta aquelas outras lembranças. E então havia Niall para se preocupar. E o mais difícil de tudo, ela sentia falta do filho. Ela não era de ceder à auto piedade, mas estava tão cansada de ser forte. Duncan estava deitado olhando para o telhado de palha acima de sua cabeça. Seus músculos se esticaram enquanto se esforçava para ouvir o suave toque de água cada vez que Moira torcia a toalha na tigela. Enquanto ela se lavava, ele se torturava imaginando seus dedos longos e delgados passando a toalha molhada pela garganta e pelos seios. Seus pensamentos eróticos foram interrompidos por outro som, como um gatinho choramingando. Moira estava chorando? Ai! Duncan bateu a cabeça em uma viga de madeira quando se sentou. O telhado era tão baixo que ele teve que se rastejar através da madeira em suas mãos e joelhos até o buraco onde a escada estava. Olhando através dela, ele viu Moira sentada no chão com a cabeça nos joelhos. Seus ombros estavam tremendo.
Ela não olhou para cima quando ele desceu. Quando se sentou ao seu lado e colocou os braços ao redor dela, ela se inclinou para ele. O coração de Duncan bateu muito rápido, e seu peito estava muito apertado para respirar. Ela estava apenas com sua camisa. — Shh. Você está bem agora, — ele disse enquanto ela chorava em seu peito. Palavras raramente ajudaram em algo, mas ele tentou. — Se é com Niall que você está preocupada, ele é durão. É preciso mais do que uma ferida como essa para matar um MacDonald. Não havia nada que ele pudesse dizer sobre o marido morto, a não ser uma boa viagem. Ele beijou o topo de sua cabeça. As lembranças de beijar sua pele cremosa inundaram sua mente, enquanto ele respirava o cheiro do cabelo dela. Sua mão tremia enquanto ele passava os dedos pelas brilhantes mechas negras. Ele não deveria tirar vantagem por ela estar angustiada para poder tocá-la, mas ele não podia se conter. Quando ela enterrou o rosto contra o peito dele, o calor de sua respiração através de sua camisa deixou sua pele em chamas. Ele nunca pensou em segurá-la novamente, e disse a si mesmo para se contentar com isso. Mas tê-la em seus braços só o fez quer tocá-la de todas as formas que ele fizera durante aquele longo verão. Ele queria beijar cada centímetro de sua pele e torná-la sua mil vezes. Quando ela inclinou a cabeça para trás e olhou para ele com seus profundos olhos violeta, ele segurou sua bochecha com a palma da mão e se maravilhou com sua suavidade. Os cílios negros de fuligem emoldurando seus olhos estavam molhados. Ele pegou uma lágrima com o dedo antes de cair. As contusões em seu rosto doíam e ele queria beijar cada ferida. Ele pressionou os lábios levemente contra a testa dela, e o som suave de seu suspiro foi como uma resposta para todas as orações que ele fez
nos últimos sete anos. O tempo ficou parado quando ele se inclinou para mais perto de sua boca. Ele hesitou logo acima dos lábios vermelhos para lhe dar uma chance de dizer não. Beijá-la seria um erro. Isso só faria com que ele sentisse falta dela depois. Seu coração se apertou quando seus lábios tocaram os dela. Eles eram tão doces quanto em suas lembranças. Como ela estava triste e queria o conforto dele, ele manteve o beijo suave. Mas seu coração estava sangrando por ela, como sempre. Ele iria deixá-la cortá-lo em pedaços novamente. Quando ele quebrou o beijo, olhou em seus olhos adoráveis e se perguntou o que ela estava pensando. Provavelmente, Duncan MacDonald era o mais tolo dos muitos outros homens tolos que a amavam. Mas então ela deslizou as mãos pelo peito dele, apertou-as na sua nuca e puxou-o para outro beijo. Sua boca se suavizou contra a dele e ele morreu um pouco mais por dentro. Ele segurou a parte de trás do pescoço dela e aprofundou o beijo. Por um longo tempo, ele estava perdido em um beijo sem fim. Mas quando ela gemeu em sua boca e pressionou seus seios contra seu peito, a luxúria por muito tempo negada surgiu através dele como um rio rugindo. E aquele rio de desejo varreu todas as barreiras que ele construiu durante todos os anos longe dela. Para ter essa mulher, ele morreria mil mortes, enfrentaria qualquer inimigo, lutaria contra o próprio demônio. Ele nunca poderia ter o suficiente dela. Duncan bebeu de seus suspiros e gemidos quando beijou sua boca, sua sobrancelha negra arqueada, seu nariz perfeito, seu queixo
determinado. Muito, muito suavemente, ele roçou os lábios sobre a mandíbula ferida. — Moira, — ele disse o nome dela várias vezes. Ele passou a língua sobre ela, saboreando sua pele, enquanto se movia para o lado de sua garganta. Então ele se deitou de costas no chão e enterrou o rosto entre seus seios. Por favor, Deus, deixe-me tê-la novamente só desta vez. Ele havia esperado tanto tempo e sentia muita falta dela. Mesmo quando ele implorou a Deus por mais uma vez, ele sabia que uma vez nunca seria o suficiente. Moira deveria ser dele. Ela deveria pertencer a ele agora e para sempre. Suas mãos estavam sob a camisa dele, em sua pele. Sim, sim. Esperança e um desejo desesperado tomaram conta dele enquanto ele puxava a saia de seu vestido. Finalmente, sua mão estava na pele sedosa de sua coxa nua. O paraíso estava ao seu alcance. — Não! Através do sangue batendo em seus ouvidos, Duncan mal a ouviu. Mas ele não podia ignorar de como Moira se endureceu embaixo dele. E, ela estava chorando de novo. Oh, Jesus, o que ele fez de errado? Ele rolou para longe dela e tentou puxá-la para o peito, mas ela se esticou contra ele. — Não me toque! Não faça isso! — Ela se sentou e cobriu o rosto. Ele se sentou ao lado dela, mas deixou cair os braços para os lados. Ela não o queria depois de tudo. Embora soubesse que ela estava aflita e buscando conforto dele, ele deixara que a esperança tola o cegasse. — Eu sinto muito. Eu não deveria ter...
Ele se deteve. Embora ele se sentisse mal por tê-la aborrecido, ele não seria mais tolo de novo — não mais do que ele já era, de qualquer maneira. Duncan se levantou e alimentou o fogo, depois subiu a escada até o sótão. Ele se esticou na palha e escutou o assobio do vento através do telhado de palha sobre sua cabeça. Apesar de sua rejeição, ele ainda a queria tanto que doía. Duncan não havia conhecido um homem que pudesse derrotá-lo desde que ele tinha crescido. E ainda assim, essa moça de cabelos negros com metade do seu tamanho poderia arrancar seu coração com seu toque aveludado. Moira abraçou os joelhos ao peito. Quando Duncan passou os braços ao redor dela, ela se sentiu segura pela primeira vez em anos. Ela deveria ter aceitado isso e agradecido. Mas quando ela olhou para ele e viu o desejo em seus olhos, despertou sentimentos que ela acreditava estarem enterrados muito fundo para qualquer homem alcançar. Ela queria conhecer esses sentimentos novamente. E ela conheceu, por um tempo. Quando Duncan a beijou, ela sentiu aquela sensação maravilhosa e antiga de ser arrastada e ainda ciente de cada centímetro de seu corpo. Seus toques febris queimavam através das camadas e camadas do casulo protetor que ela havia construído entre ela e seu corpo para sobreviver à vida que tivera. Mas quando Duncan puxou suas saias, imagens encheram sua cabeça de Sean grunhindo sobre ela. Sua garganta se fechou e o pânico surgiu em suas veias. Ela havia sobrevivido com Sean. Mais que isso, ela não o deixara destruir seu orgulho ou seu senso de valor próprio. Ela estava orgulhosa de ter sido forte o suficiente para ser a mãe que seu filho precisava.
Mas Sean a arruinara para suportar o toque de um homem melhor. Ele a arruinara para nĂŁo sentir prazer. Essa era a parte de si mesma que nĂŁo pudera salvar. Para sentir aqueles sentimentos maravilhosos e intensos novamente, ela teria que se tornar vulnerĂĄvel a um homem. E para isso, ela teria que confiar nele. Moira nunca pretendeu confiar em um homem novamente. E menos ainda em Duncan MacDonald.
Duncan esperava que Niall se curasse rapidamente para que pudessem dar o fora dali. A tensão entre ele e Moira era espessa como um denso nevoeiro enquanto eles caminhavam para a cabana da curandeira pela manhã. — Como ele está? — Duncan perguntou a curandeira assim que ela abriu a porta. — Você mesmo pode perguntar a ele — disse ela, acenando com o braço para onde Niall estava deitado na cama apoiado em travesseiros. Duncan ficou aliviado ao ver que Niall estava alerta e sua cor melhorou muito. A única outra pessoa na sala era a velha que reconhecera a flauta de seu bisavô. Duncan acenou para ela. — Caitlin é tão boa curandeira quanto à velha Teàrlag — disse Niall, olhando para a jovem com olhos negros. — Mas ela tem um toque muito mais gentil. Och, Niall estava gostando completamente de sua lesão. — Em quanto tempo ele estará pronto para viajar? — Perguntou Duncan. — Não por alguns dias, — disse Caitlin. — Eu vou ter o barco consertado até então. — Ele se virou para sair. — Eu vou estar na praia. — Se você se sentar, — disse Caitlin, apontando para sua pequena mesa, — eu vou dar a você e sua esposa um café da manhã. Sua esposa, ahran.
— Obrigada pela gentileza, — disse Moira e sentou-se à mesa com a velha. Duncan estava morrendo de fome, como de costume, então ele se juntou a elas e fez um rápido trabalho na tigela fumegante de mingau de aveia que Caitlin colocou na frente dele. Quando ele olhou para cima, esperando que houvesse mais, a velha estava olhando para ele com seus olhos esbugalhados. Ela parecia ter esquecido a colherada de mingau que segurava na mão trêmula na metade da boca. — Você nasceu aqui, sabe, — disse ela. Ele não sabia. Até onde ele sabia, sua mãe nunca disse a uma alma onde ela estava no ano em que dera à luz. Ela certamente não lhe contara. — Ah, vejo que ela manteve seu segredo, — disse à velha. — Uma mulher de opinião. — Eu me lembro do nosso bardo contando a história da mãe de Duncan que desapareceu na praia com um amante secreto, — disse Moira com um olhar distante em seus olhos. — Era um grande mistério e um conto favorito em longas noites de inverno em nosso castelo. — A verdade não é um conto romântico, — disse a velha, balançando a cabeça. — Eu nunca acreditei mesmo assim. — Duncan odiava que essa velha estranha soubesse mais sobre seu nascimento do que ele. E odiava ainda mais por que queria saber. Ele soltou as palavras: — O que aconteceu? Duncan se enrijeceu quando a velha se aproximou da mesa e tocou seu braço com a mão em forma de garra. Ele não precisava da pena de uma mulher velha. — Tudo o que eu quero é a verdade, — disse ele.
— Sua mãe, um dia, foi roubada da praia perto do Castelo Dunscaith, mas grande parte do conto é verdade, — disse ela. — Um MacLeod a levou. — Minha mãe fugiu com um MacLeod? — Och, isso era pior do que ele pensava. — Ela não foi de bom grado. — A velha parou, dando-lhe tempo para absorver isso. — Sua mãe era uma sonhadora e não notou a galera cheia de guerreiros MacLeod até que eles estavam sobre ela. Aos dezesseis anos, sua mãe era uma beleza rara, com certeza. Um dos homens MacLeod decidiu levá-la embora com ele. Duncan apoiou os cotovelos na mesa e segurou a cabeça entre as mãos. Seu pai era um MacLeod e um estuprador. Cristo, ajudasse-o. Não era de admirar que sua mãe tenha se recusado a contar a ele. — Como era chamado esse MacLeod? — perguntou ele sem levantar os olhos. — O nome do diabo é Erik, — disse à velha. — E ele não está morto, se é isso que você pensa. Duncan se endireitou. — Ele está vivo? — Sim, — a velha disse, balançando a cabeça. Erik MacLeod. Duncan rolou o nome do pai e do inimigo em sua cabeça. Ele ia matar esse homem. — Onde vou encontrá-lo? — Erik é o guardião do Castelo MacLeod em Trotternish, — disse à velha. O próprio castelo que os MacLeods haviam roubado de seu clã. Quando os MacDonalds lutassem para recuperá-lo, Duncan mataria Erik MacLeod e vingaria sua mãe.
— Como Duncan veio a nascer aqui entre os MacCrimmons? — Moira perguntou. — O avô de sua mãe, o velho Duncan, era o flautista do Laird MacLeod na época. Como eu tenho certeza que sabem, que é uma posição de grande respeito, — a velha disse, recostando-se na cadeira. — Quando o velho Duncan soube que sua neta estava sendo usada por um dos guerreiros MacLeod, ele procurou alguém da família do Laird, que ordenou que Erik se casasse com ela ou a libertasse para o avô dela. O porco escolheu libertá-la, o que eu tenho certeza que era o melhor para a pobre moça, e Erik foi forçado a fazer um pagamento pelo que ele fez. Um pagamento. A amargura comeu o estômago de Duncan quando ele se lembrou do lamentável tesouro de moedas de prata de sua mãe. Entendia agora por que ela às vezes olhava para ele do jeito que fazia. Enquanto Duncan sabia que ela o amava, também estava ciente de que ele a deixava desconfortável. Ela deveria ter temido que ele se tornasse como o pai dele. Moira passou o dia ajudando Caitlin a esmagar ervas e misturálas para fazer remédios. — A que distância estamos da fortaleza dos MacLeod? — Moira perguntou a Caitlin enquanto trabalhavam. — Castelo Dunvegan? É apenas uma curta distância daqui, — disse Caitlin. — E andando? — Perguntou Moira. — Och, eu não sei. Um dia, talvez mais, — disse Caitlin. — O caminho que vai ao longo da costa começa atrás do chalé onde você mora, mas nunca fui até Dunvegan. Nas ilhas, as pessoas raramente viajavam a pé quando podiam pegar um barco.
— Por que você pergunta? — Caitlin perguntou. — Eu só queria saber se estamos a uma distância segura do covil do Laird MacLeod. — Moira deu-lhe uma piscadela. — Veja, eu fui criada ouvindo histórias sobre ele comer crianças pequenas. Niall, que estava deitado na cama atrás delas, riu. — Disseram-nos que ele prefere comer crianças MacDonald assadas. Moira se virou e sorriu para ele, agradecida pelo desvio. Seu primo se transformara em um jovem encantador e gostava de se familiarizar com ele. — Para onde foram todas as moças? — Ela perguntou para provocá-lo. — Toda mulher MacCrimmon entre as idades de doze e dezoito anos já visitou minha casa hoje, — disse Caitlin. — Elas ainda estariam aqui se eu não as tivesse enxotado antes do jantar. — Eu deveria ir também para que você vá para a cama, — disse Moira. — A menos que você pense que eu deveria ficar aqui, as pessoas podem falar. — Enquanto Niall não puder andar, acho que estou a salvo dele, — disse Caitlin, reprimindo um sorriso. — Eu nunca pressionaria minhas atenções com uma moça, — disse Niall, parecendo tão ofendido que Moira não podia arriscar olhar nos olhos de Caitlin por medo de rir. — Além disso, — disse Caitlin, — minha avó está aqui. Moira olhou para a velha, que roncava em um catre no canto por horas, e dessa vez ela riu. Pareceu-lhe que ela não conseguia se lembrar da última vez que havia rido. Estava tão bem. Ela estava colocando o velho manto que Caitlin havia lhe emprestado quando Duncan chegou à porta.
— Boa noite, — disse Duncan para Caitlin e Niall, então para ela: — Vamos. A julgar pela expressão de pedra de Duncan, ele ainda pensava no que a velha lhe contara sobre seu pai. — Você já comeu alguma coisa desde o café da manhã? — perguntou Moira enquanto caminhavam até o chalé. — Algumas mulheres me trouxeram comida enquanto eu estava trabalhando nos vazamentos do barco. Algumas coisas não mudavam. Moira lembrou como as mulheres em Dunscaith estavam sempre trazendo comida para Duncan, na esperança de chamar sua atenção. — Sinto muito pelo seu pai, — disse Moira. Duncan deu-lhe um olhar feroz e lateral que desencorajaria uma mulher menor. — É sempre melhor saber a verdade, — disse ele. — É? — Ela não tinha tanta certeza. — Sabe, Duncan, você não é nada parecido com ele. — Hummm. Eles caminharam o resto da curta distância em silêncio. Quando chegaram ao chalé, Duncan a fez esperar do lado de fora enquanto ele entrava com o punhal na mão. — Isso não pode ser necessário, — disse ela enquanto pendurava o manto emprestado no cabide ao lado da porta. — É o que um homem faz. — Duncan disse de costas para ela enquanto se ajoelhava ao lado da lareira e cutucava o fogo para se avivar. — Não é o que todos os homens fazem, — disse ela. — Você acha que Erik colocaria a segurança dos outros antes da dele? Sean nunca fez isso.
Duncan continuou cutucando o fogo, então ela puxou um banquinho ao lado dele. A luz do fogo disparou os vermelhos quentes em seu belo cabelo ruivo, mas seu rosto era de linhas duras. — Você é um homem, Duncan MacDonald, — disse ela. — A vergonha de seu pai não é sua. — Eu sou um homem de espada como ele é, — disse Duncan sem olhar para ela. — Não importa o quanto eu tente ser diferente ou o que eu realizo, o sangue dele corre nas minhas veias. Sem pensar, Moira se inclinou para frente e tocou sua bochecha com os dedos. Ela sentiu os músculos de sua mandíbula se apertarem sob a barba áspera. Antes que ela pudesse se afastar, Duncan cobriu sua mão com a dele e fechou os olhos. Ele virou a cabeça e deu um beijo na palma da mão dela, que provocou um formigamento quente no braço dela. Então ele abriu os olhos e olhou diretamente para os dela. O desejo queimando nele era como um fogo quente sugando o ar da sala. Claramente, Duncan não estava mais pensando em seu pai. Como ela poderia se esquecer, mesmo que por um momento, da ofensa que Duncan lhe causara? Ele parecia tão direto e confiável, mas sempre foi assim. Era tão fácil para uma mulher confundir a luxúria de um homem com algo mais. — Eu tenho uma fraqueza por você, como bem sabe, — disse Duncan, sua voz rouca e perigosa. — Eu não preciso da sua simpatia. E se você não for cuidadosa, posso confundi-lo com algo que eu preciso. Duncan a queria muito. E havia algo que ela queria dele também. Ansiedade se formou no estômago dela. Isso lhe custaria caro, mas ela tinha que tentar. — Leve-me ao Castelo Dunvegan para pegar meu filho.
— Você quer ir para a fortaleza MacLeod? — Duncan se afastou dela. — Não podemos fazer isso. — Por que não? — Ela perguntou. — Niall parece estar fora de perigo. Certamente você pode deixá-lo por tempo suficiente para me levar a Dunvegan. — Seria pura tolice para um MacDonald de Sleat entrar voluntariamente na fortaleza MacLeod, — ele disse, levantando a voz. — Não há fortaleza em todas as ilhas mais fortes que Dunvegan. E você nem sabe se seu filho está lá. Ele também poderia estar na ilha de Harris. Mas Ragnall poderia estar em Dunvegan. Se havia uma chance de que ele estivesse lá, Moira tinha que ir até ele. — Você não precisa entrar em Dunvegan comigo, — disse ela. — Apenas me deixe dentro do campo de visão do castelo. — Deixar você lá? — Duncan perguntou, parecendo ofendido. Então ele descansou as mãos nos ombros dela. — Quando eu tiver você e Niall segura em Dunscaith, eu conversarei com Connor, e nós descobriremos como conseguir seu filho para você. Duncan esperava que Moira continuasse discutindo, embora isso fosse inútil. Em vez disso, Moira trancou o olhar no dele, depois estendeu a mão e soltou o cabelo. Quando ele caiu sobre seus ombros em uma massa escura brilhante, o cheiro de flores silvestres de verão trouxe de volta lembranças tão fortes que os joelhos de Duncan quase se dobraram. Sua respiração ficou rasa enquanto ela passava as pontas dos dedos sobre a pele nua acima do decote de seu vestido. Quando chegou ao vale entre os seios, passou o dedo ao redor do pequeno laço no centro
do corpete. Duncan estava vagamente ciente de que sua boca estava aberta, mas ele não tinha concentração para fechá-la. — Eu sei o que você quer, — disse Moira com uma voz rouca e deu um puxão no laço. — E eu vou lhe dar, se você me levar ao meu filho. Com todo o sangue correndo para seu pênis, levou algum tempo para a mente confusa de Duncan absorver as palavras de Moira. E demorou ainda mais para compreender que ela estava se oferecendo a ele, não porque queria, mas porque queria algo dele. — Você está me oferecendo uma troca? — Ele não podia acreditar. — Você se entregou a mim livremente antes. Não se atreva a bancar a prostituta comigo. Duncan estava com tanta raiva que sua visão ficou turva. Ele saiu da casa, batendo a porta atrás dele. Como ela pôde?
Moira fingiu estar dormindo quando Duncan voltou ao chalé uma ou duas horas depois e subiu a escada até o sótão. Depois de esperar que os sons acima dela se acalmassem, ela saiu da cama e calçou seus sapatos.
Ela
já
estava
completamente
vestida.
Movendo-se
rapidamente, ela levantou a capa do gancho e abriu a porta. Sàr ergueu a cabeça de onde estava, em frente à lareira quente. Quando ela sinalizou, ele se levantou e saiu na frente dela. Ela fechou a porta atrás de si e parou para ouvir. Tudo estava quieto. Ela soltou a respiração que estava segurando e começou a andar. A lua brilhava entre as nuvens que corriam pelo céu noturno, dando a ela luz suficiente para seguir o caminho. Os sons do vento soprando sobre as colinas e as ondas na praia abaixo pareciam mais altos. Animais correram pelos arbustos ao longo do caminho, deixandoa contente com a companhia de Sàr. Viajar à noite era sinistro, mas Moira estava determinada a estar longe o bastante quando Duncan acordasse pela manhã e não conseguisse alcançá-la antes de chegar a Dunvegan. Moira apostaria que ela era a única moça em todas as ilhas que não sabia como navegar em um maldito barco. Se ela soubesse como, ela poderia ter tomado “emprestado” um dos MacCrimmons e chegado a Dunvegan em pouco tempo. Como o pai e os irmãos dela poderiam deixá-la tão mal preparada? Mais uma vez, ela amaldiçoou sua educação mimada. Se tivesse uma filha, Moira teria certeza de que ela sabia como matar um homem
com um punhal e navegar em um barco sozinha. No final, uma moça não poderia contar com ninguém além de si mesma. — Estou cansada de esperar que os homens me ajudem, — ela disse em voz alta. Sàr deu-lhe um olhar preocupado por cima do ombro. Moira ainda usava os delicados sapatos que combinavam com seu vestido agora esfarrapado e seus pés doíam como o diabo. Ela estava congelando também. Sàr saltou à frente dela, sem se deixar perturbar pelo frio. Ela andou pelo que pareceram horas e estava cansada até os ossos quando o céu ficou mais claro e sombrio, sinalizando o amanhecer. Quando seu pé ficou preso em um buraco, ela ouviu seu vestido rasgar quando caiu de joelhos na lama. Seu vestido já era um trapo e ela estaria seminua quando chegasse a Dunvegan. Pelo menos ela seria notada. Sàr andou de um lado para o outro até que Moira se levantou da lama. — É hora de um descanso e café da manhã, você não acha? — Ela encontrou uma pedra para se sentar. Então deu a Sàr metade do peixe seco e os bolinhos de aveia que uma das mulheres deixara no chalé para Duncan. Ele não teria problemas para conseguir mais. — Você também sente falta de Ragnall, não é? — Ela esfregou as orelhas de Sàr. — Bem, não vamos vê-lo mais cedo se continuarmos sentados aqui. Eles beberam dos pequenos poços e cachoeiras que corriam pelas colinas das chuvas de inverno. Seus sapatos e a bainha de suas saias eram uma bagunça lamacenta.
Moira se arrastou atrás de Sàr enquanto o caminho subia uma colina íngreme. No topo, onde a trilha se estreitava e corria ao longo de uma ravina íngreme, Sàr parou abruptamente. — Você é um grande bebê, — disse ela, rindo dele. — Tudo bem, eu vou primeiro. Sàr latiu e mordeu sua saia. — Pare com isso! Você é tão ruim quanto Duncan, — ela disse. — Se você não quer ir para Dunvegan comigo, pode voltar. De repente, os pés de Moira saírem de debaixo dela, e ela foi arremessada para baixo do barranco. Ela jogou os braços para fora, tentando agarrar a alguma coisa quando caiu no meio do mato. Ramos se quebraram. Seu corpo bateu e saltou quando ela se inclinou pela encosta como uma rocha caindo. — Hugh MacDonald poderia ser útil para nós, — disse Erik e observou a reação de seu Laird cuidadosamente. — Eu não confio em um homem que é um traidor de seu próprio clã. — O olhar de Alastair MacLeod se aprofundou. — Ele me insultou, sugerindo que eu entregaria o filho de Sean MacQuillan para ele depois que eu concordei em criar o rapaz. — O menino é o herdeiro do Laird MacDonald... — Erik se aventurou. — E ele está sob minha proteção, — o Laird explodiu. Erik temeu que ele tivesse ido longe demais. Enquanto seu Laird era implacável em batalha, ele tinha uma suavidade antinatural quando se tratava de mulheres e crianças. Erik havia sofrido por essa fraqueza de seu Laird antes. — De qualquer forma, o rapaz não será o herdeiro MacDonald por muito tempo, — disse o Laird. — Connor MacDonald é um jovem e terá seus próprios filhos.
— Não se ele estiver morto. — Erik fez uma pausa. — Se Hugh fosse seu Laird, teríamos uma boa chance de expulsar os MacDonalds de Skye. — Isso é o suficiente. — O Laird bateu os dedos no braço de sua cadeira elaboradamente esculpida. — Mas se Hugh não conseguiu matar seu sobrinho ainda, é improvável que ele faça isso. Erik esperou enquanto seu Laird tomava um longo gole de sua taça. — De acordo com Hugh, Connor tem três guerreiros que têm sido seus companheiros mais próximos desde que eram jovens rapazes. Hugh disse que ninguém pode chegar a Connor sem matá-los primeiro. Hugh também dissera que os quatro que voltaram da França estavam dispostos a morrer, mesmo pelos membros mais humildes de seu clã, mas isso era tolice demais para se acreditar. Alastair MacLeod colocou as mãos sob o queixo e fixou seus olhos azuis como gelo em Erik. — O que mais você sabe deles? — Eles treinaram e lutaram juntos por tanto tempo que podem ler a mente um do outro, — disse Erik. — Lutar contra os quatro é como lutar contra vários guerreiros. — Eu ouvi o mesmo, — disse o Laird. — Dois são primos de Connor, — disse Erik. — Suas mães eram irmãs. — As irmãs Clanranald eram beldades famosas em sua época, — disse o Laird, assentindo. — Um primo detém o Castelo Knock e o outro é o guardião do Castelo de Dunfaileag, na ilha de North Uist, então eles não fazem mais parte da guarda pessoal de Connor, — disse Erik. — Ainda assim, se houver uma batalha, os dois vão participar da luta.
— E o terceiro homem? — Perguntou o Laird, erguendo uma sobrancelha desgrenhada. — Ele é o capitão da guarda pessoal de Connor e o mais formidável guerreiro dos quatro — disse Erik. — Hugh disse que o homem nunca foi derrotado, mas provavelmente está mentindo. O Laird olhou para a lareira, deixando Erik se perguntando qual a direção de seus pensamentos. — É bom que você esteja de olho em Hugh Dubh — o Laird finalmente disse. — Não gosto que ele tenha descoberto tão rápido que o rapaz MacQuillan está aqui. Descubra como ele conhece os negócios de MacLeod. — Eu irei. — Erik disse ao próprio Hugh, mas seria fácil encontrar alguém em quem ele poderia colocar a culpa.
Duncan ainda estava zangado quando acordou, então foi bom que Moira já houvesse partido para a chalé da curandeira. Ele se preparou para vê-la quando fosse ver como Niall estava. Quando ele enfiou a cabeça pela porta, encontrou Niall na cama, cercado por meia dúzia de jovens moças rindo. — Eu vejo que você está bem cuidado, — disse Duncan. — Sim, — disse Niall com um sorriso largo. — Estou quase curado. — Boa. Então nós vamos partir em breve. — Duncan se virou para Caitlin. — Onde está Moira? Caitlin sacudiu a cabeça. — Eu ainda não a vi hoje. A inquietação se instalou em seu estômago. Para onde Moira iria? Duncan começou a sair para procurá-la, mas parou com a mão no trinco. — Existe um caminho que se possa caminhar a pé por perto? — Sim, o caminho que leva a Dunvegan começa logo atrás da casa onde você está hospedado, — disse Caitlin. — Moira estava perguntando sobre isso ontem. Deus a preservasse, Moira foi sozinha pegar seu filho. A moça era tão imprevisível e perigosa para si mesma como sempre. Como capitão da guarda de seu Laird, Duncan estava acostumado a ter seu julgamento respeitado e suas ordens obedecidas. Ele dissera a Moira que ir a Dunvegan era pura tolice, mas ela escutou?
Não.
Ela
fez
exatamente o que quisesse sem
considerar
as
consequências. — Niall, — disse ele. — Eu vou atrás de Moira. A idiota foi para Dunvegan sozinha. — O quê? — Niall se encolheu quando ele tirou as pernas da cama. — Eu vou com... — Você vai ficar bem ali naquela cama, — disse Duncan, apontando o dedo para ele. — Se voltar ferir a si mesmo, vai responder a mim. A dupla de primos era mais problemática que Hugh MacDonald e seus piratas. Algo áspero e molhado continuou esfregando contra o rosto de Moira. Quando ela abriu os olhos, o nariz preto de Sàr estava a um centímetro acima dela, e sua língua cobria metade do seu rosto. — Droga! — Moira tentou se sentar, mas doía demais para se mexer. Ela sentiu como se um rebanho de gado a tivesse atropelado. — Pare de me lamber, — ela disse, batendo no cachorro. Sàr descansou a cabeça em suas patas ao lado de sua orelha e começou a choramingar até que o som foi tão chato que ela se forçou a sentar-se. Ela cuspiu os pedaços de sujeira e folhas de sua boca e olhou para a colina — ou penhasco — que ela havia caído. Era tão íngreme que ela não conseguia ver o caminho acima. — Estamos em uma boa dificuldade, — disse ela para Sàr. Ela tinha arranhões da cabeça aos pés, embora fosse um milagre que ela não tivesse quebrado o pescoço. Sàr enfiou o nariz no rosto dela até que ela se levantou. Ela se sentiu rígida, como se tivesse ficado no chão frio por um longo tempo. Ela provavelmente tinha.
O que estava errado com Sàr agora? O wolfhound tinha parado de choramingar, mas ele estava andando de um lado para o outro na frente dela e rosnando. Então ela ouviu — um uivo longo e alto que enviou um arrepio de terror em sua espinha. Um lobo. Não havia dúvidas sobre o som, pois não havia mais nada parecido. Com o coração martelando, Moira pegou uma vara. Dois uivos de resposta ecoaram contra a encosta. Os lobos estavam próximos. Duncan estava correndo ao longo do caminho há uma hora. Sem diminuir o ritmo, tomou um gole do frasco e se perguntou até que ponto Moira estava à frente. Ele amaldiçoou a si mesmo novamente por não a ouvir sair da cabana. Não era para ele ser tão negligente. Duncan pensou nos sapatos extravagantes de Moira. Pelo menos ela não poderia estar fazendo um bom tempo naqueles sapatos. Ele deveria alcançá-la em breve. Mais à frente, no alto da colina, o caminho fora levado por um deslizamento de terra das chuvas. Duncan examinou as colinas, procurando outro caminho. Então, por cima de sua respiração, ele ouviu um latido de cachorro. Louvado seja Deus, ele os encontrou. Ele parou e ouviu. O latido vinha das árvores na base da ravina. O shluagh! Moira e o cachorro devem ter caído no deslizamento de terra. O sangue de Duncan congelou quando ele ouviu os uivos sinistros de lobos, chamando um ao outro. Ele deixou o caminho e subiu a encosta em direção ao barranco. A julgar pelos latidos constantes de Sàr, os lobos ainda não haviam atacado. Duncan tinha que acreditar nisso. Ele não se permitiu considerar que Moira já poderia estar morta da queda.
— Moira! — Duncan saltou sobre árvores caídas e pedras e entrou no mato ao entrar no vórtice da ravina. De repente, os latidos de Sàr se tornaram ferozes e frenéticos. Duncan tirou sua claymore de suas costas e correu mais rápido. Através das árvores, ele viu o cachorro e um lobo cinzento brigando. Os dois animais estavam em suas patas traseiras, trancados em uma luta de morte, tentando morder a garganta um do outro. Atrás deles, Duncan teve um vislumbre do vestido vermelhosangue de Moira. Do canto do olho, ele viu um movimento e se virou. Quatro lobos estavam se esgueirando pelas árvores em direção a Moira. Moira não viu o lobo até que ele saltou pelo ar, atacando a garganta de Sàr. Ela gritou e agarrou a vara, pronta para acertar e proteger o cachorro. Mas antes que as mandíbulas do lobo atingissem sua garganta, Sàr atacou o lobo com uma maldade que a assustou. Esta fera rosnando e atacando era um animal diferente do cão gigante e gentil que ela conhecia. Os dois lutaram em suas patas traseiras, mordendo um ao outro em uma dança brutal. Com uma investida feroz, Sàr pegou o pescoço do lobo em suas mandíbulas. O estômago de Moira se revirou quando Sàr balançou a cabeça para frente e para trás até que o corpo do lobo ficou mole. Moira caiu, aliviada por a luta ter acabado e, por ela e Sàr estarem a salvo. Mas então ela viu duas formas cinzentas e elegantes se deslizando pelas árvores. Quando um dos lobos virou a cabeça e fixou seus olhos amarelos nela, o sangue de Moira congelou. No momento seguinte, Sàr estava na frente dela, rosnando e mostrando os dentes. Ela gritou
quando os dois lobos atacaram Sàr de uma só vez. Enquanto Sàr lutava com um lobo, o outro tentou morder a parte de trás de sua perna. Moira ouviu um latido e se virou para encontrar outro par de formas escuras e elegantes nas árvores. Enquanto Sàr lutava por sua vida, os dois novos lobos observaram e esperaram. Moira rezou. Jesus, Maria e José nos protegem. Um rugido encheu o ar, e Duncan atravessou as árvores brandindo sua claymore. Com a parte plana, ele bateu no primeiro e depois no outro lobo atacando Sàr. Os lobos se viraram para Duncan, latindo e disparando para ele entre seus balanços com o claymore. Um pulou, e seus dentes estavam a um centímetro de afundar no braço de Duncan. Mas Duncan foi rápido como um relâmpago e bloqueou com a parte chata de sua espada. Em rápida sucessão, os dois lobos desistiram da luta e se retiraram para encontrar presas mais fáceis. Quando Moira se virou para ver onde os outros lobos estavam esperando, suas formas escuras já estavam se escorregando entre as árvores como focas na água. Moira se jogou nos braços de Duncan e ele a abraçou com força. Seu coração se agitou em seu peito enquanto pensava em quão perto ele chegara de vê-la rasgada diante de seus olhos. — Você está bem? — Ele perguntou. Quando ela assentiu, Duncan a pegou e assobiou para Sàr. Ele estava ansioso para tirá-la da floresta antes que os lobos decidissem retornar. Ele ficou aliviado quando o cachorro correu à frente, sem mostrar nenhum sinal de ferimentos graves. — Eu posso andar agora, — disse Moira depois que eles deixaram a ravina, e ele estava carregando-a através da encosta gramada. — Eu vi o penhasco que você caiu, e não andará a qualquer lugar até que eu dê uma boa olhada em você.
Quando ele julgou que eles estavam a uma distância segura, Duncan soltou seu manto, espalhou-o no chão e colocou-a sobre ele. Ele ajoelhou-se em um joelho ao lado dela, enquanto Sàr se deitou do outro lado. O cão sobrevivera à batalha sem um arranhão. Moira, no entanto, parecia um inferno. Ele mal podia ver os hematomas no rosto dela pela a lama, e ela tinha galhos no cabelo. — Estou perfeitamente bem, — disse Moira. — Eu não tenho nada pior do que arranhão ou dois. Duncan soprou. — O que você poderia achar divertido sobre isso? — Ela perguntou. — É que você não se parece muito com uma princesa no momento. Moira se inclinou para frente e olhou para ele. — Eu sei do que vocês, rapazes, costumavam me chamar. Duncan lutou com um sorriso enquanto passava as mãos pelos tornozelos dela. — O que você está fazendo? — Ela bateu em suas mãos quando ele começou a subir por suas pernas. — Verificando para ter certeza de que nada está quebrado. — Nada está quebrado. — Como se para provar isso, ela começou a se erguer, mas ofegou. — Aahh. — Se dói, eu vou levá-la, — disse Duncan quando ele a ajudou a ficar em seus pés. — É melhor começarmos de novo. — Obrigada por vir em meu auxílio, — disse Moira. — Mas continuo indo para Dunvegan. Duncan agarrou seu braço antes de dar um único passo. Seu humor se fora. — Você não tem sentido comum, mulher, — disse ele. — Foi somente pela graça de Deus que você não se matou.
— Eu pedi para você vir comigo, — disse Moira. — Não é minha culpa se não aceitou. — Você não pode simplesmente fazer o que quiser, toda vez que uma ideia surgir — disse Duncan. — A última coisa que Connor precisa é ter uma relação mais aproximada com seu pior inimigo. Você não vê o que isso faria?? — Eu sei, — disse Moira, seus olhos cuspindo fogo. — Os MacLeods descobririam o que eu já sei, que Connor não dá a mínima para o que acontece comigo. — Claro que ele dá. — Connor não se incomodou em visitar a mim e seu único sobrinho nos dois anos que ele voltou da França. — Você não pode ver além de si mesma quando há tanta coisa em jogo? — Duncan perguntou. — Você não entende o perigo para Connor e o clã. — Então, talvez você devesse explicar para mim, — ela disse, colocando a mão no quadril, — em vez de gritar comigo. — Eu não grito com mulheres, — disse ele. — Vocês estavam gritando, — disse ela. Duncan suspirou porque ela estava certa. Moira era a única mulher que podia irritá-lo. — Eu vou contar qualquer coisa que você queira ouvir enquanto voltamos para os MacCrimmons, — disse ele. — E o meu filho? — É lamentável que os MacLeods o tenham, mas, como eu lhe disse, ele está seguro sob a proteção de Alastair MacLeod. — Duncan pegou suas mãos. — O mesmo não pode ser dito de você. O que você acha que os MacLeods fariam com você se soubessem da morte de
Sean? Muito provavelmente, eles a levariam ao clã do seu marido para a punição. Duncan pensava que eles primeiro usariam a ameaça de devolvêla aos MacQuillans contra Connor e depois que eles conseguissem o que queriam dele, mandariam Moira para os MacQuillans de qualquer maneira. — Isso não ajudaria o seu filho, — disse ele. — Eu suponho que não. — Moira não tinha derramado uma lágrima antes, apesar da queda e dos lobos, mas uma trilha molhada estava se deslizando em seu rosto lamacento agora. — Sinto falta dele. Duncan levantou seu queixo com o dedo. — Vamos obter o seu filho de volta. — Promete? — Ela perguntou, seu olhar solene fixo nele. Duncan fez uma pausa. Ele não deu sua palavra de ânimo leve, mas não conseguiu tirar a esperança dela. — Eu prometo.
— Connor é a única esperança para o nosso clã, — disse Duncan depois de tomar-lhe o braço e começando a descer o caminho. — Nossos inimigos sabem disso, e você também deveria saber. — Meu irmão teve a sorte de sempre ter sua lealdade. — Moira não conseguiu manter a amargura em seu tom. — Ele merece minha lealdade e a sua também, — disse Duncan. — Connor e eu nunca fomos próximos quando crianças, — disse ela. — Ele manteve distância para evitar problemas com seu pai, — disse Duncan. — Uma palavra sua de queixa, e Connor era punido. Moira sempre soubera, como sabiam as crianças, que seu pai a favorecia e a seu irmão Ragnall em vez de Connor. Mas ela nunca deu muita atenção. Era exatamente como a família dela era, assim como ele gostava de sua mãe morta. — Ele deve se ressentir de mim, — disse ela. — Connor nunca segurou nada contra você, — disse Duncan. Enquanto caminhavam, Duncan explicou em que situação o clã se encontrava quando os quatro retornaram da França. Embora Moira tivesse ouvido pedaços disso antes, ela estava longe e absorvida por seus próprios problemas. Duncan respondeu a todas as perguntas que ela fez sobre os perigos que o clã ainda enfrentava. — Você só teve um filho? A pergunta de Duncan a assustou e trouxe de volta a antiga dor familiar.
— Eu concebi duas outras vezes, mas perdi os bebês, — disse ela, lutando para manter a voz equilibrada. — Sean até me culpou por isso. — Sinto muito, — disse Duncan. Foi difícil, muito difícil. Moira virou o rosto e fingiu olhar para as colinas até poder confiar em sua voz novamente. Então, para mudar de assunto, ela perguntou a Duncan sobre os membros do clã que se casaram, morreram ou tiveram mais filhos. As respostas de Duncan foram extremamente breves e pouco informativas. — O que aconteceu com minha antiga serva? — Ela tentou novamente. — Rhona deve ter logo contraído casamento. — Não. Ah, bem, Duncan nunca foi de se engajar no que ele via como fofoca ociosa. Moira não perguntou por que ele a deixou, embora estivesse em sua mente. Sua pergunta antes sobre a idade de Ragnall a deixara inquieta. Ela não podia arriscar uma discussão que mergulhava em seu passado e poderia levá-lo a descobrir seu segredo. Além disso, ela não confiava em Duncan para lhe dizer a verdade; nem ela queria ouvir suas desculpas. E havia alguma resposta que ele pudesse dar que faria alguma diferença? Havia algo que ele pudesse dizer que apagaria o sofrimento dos últimos sete anos? Não, não havia sentido em se aborrecer. Seu pai havia dado a Duncan a escolha, e ele escolheu Connor e perseguiu a glória de um guerreiro na França. O passado não poderia ser desfeito. Quando ela e Duncan entraram em um longo silêncio, Moira não se importou. Com Sean, todas as conversas foram repletas de perigos. Ele tinha sido tão volátil que ela teve que observar cada palavra dela,
nunca sabendo o que poderia desencadear. Na verdade, ela achava reconfortante andar com Duncan e não falar nada. Seu corpo doía e ela estava ficando mais cansada a cada passo. Ela fora espancada, perdida no mar, caíra de um penhasco e atacada por lobos. Desta vez, quando Duncan a levantou, ela não se opôs a ser carregada. Antes que ela percebesse, ele estava colocando-a na frente da cabana de Caitlin. A julgar pela maneira como os olhos de Niall se arregalaram quando ela entrou pela porta, Moira sabia que devia parecer assustada. — O que você precisa é de um bom e longo banho, — disse Caitlin. — Eu espero que você não queira se banhar na frente de Niall, mesmo que ele seja seu primo. — Definitivamente não, — interrompeu Duncan. — Então você é bem-vindo para rolar minha tina para a outra casa. — Caitlin entregou a Moira um pequeno pote de uma substância cremosa que cheirava a urze e mel. — Depois de tomar banho, peça ao seu marido que esfregue essa pomada em você. Ela vai aliviar suas dores e arranhões desta queda. Moira engoliu em seco. Depois que ela já tinha dormido sozinha na cabana com Duncan, ela supôs que era tarde demais para confessar que eles não eram casados e pedir a Caitlin para ajudá-la com a pomada. — É uma bela pomada, — sussurrou Caitlin ao ouvido de Moira, enquanto Duncan retirava a tina do canto mais distante da cabana. — Eu acredito que você vai me agradecer de manhã. Quando ela e Duncan saíram pela porta, ela ouviu a voz de Niall atrás dela: — Mas ele não é seu marido.
— Silêncio, — disse Caitlin. Moira tinha cem arranhões e seu vestido grudado neles em todos os lugares em que ela havia sangrado. — Ai! — Ela disse quando Duncan tirou o vestido, deixando-a com sua camisa. Antes que Moira pudesse lhe dar instruções, Duncan a levantou e colocou seus pés na banheira de água morna. Ela mexeu os dedos dos pés e suspirou. — Och, parece celestial. Duncan segurou uma toalha entre eles. — Você precisa de mim para ajudá-la a tirar a sua camisa também? Ela não perdeu a nota esperançosa em sua voz. — Não. — Mas seu ombro doía tanto que ela ficou presa com a maldita camisa e cobrindo a cabeça. — Eu preciso de uma mão, mas não olhe. Um puxão e a camisa estava sobre a cabeça dela e ela estava nua como no dia em que nasceu. Ela estremeceu quando se sentou na banheira. A água quente fez seus arranhões doerem por apenas um momento, então o calor começou a encharcar seus músculos doloridos. — Ah, isso é bom, — ela disse exalando enquanto inclinava a cabeça para trás e fechava os olhos. Ela ouviu Duncan derramar outro balde de água que ele tinha aquecido na lareira. — É uma pena que eu não possa contar a todos em Dunscaith como o capitão da guarda cuidou de mim e do meu pé melhor do que qualquer serva que eu já tive. — Ela sorriu para si mesma. Depois de um tempo, ela abriu os olhos para ver o que Duncan estava fazendo. — Você não fechou seus olhos! Duncan soprou. — Você esperava que eu fizesse?
— Você poderia pelo menos fingir que sim, — disse ela e cobriu os seios com as mãos. — Deixe-me lavar o cabelo para você. — Ele pegou um fio longo e girou-o entre os dedos. — Você ainda tem galhos nele. Seu
cabelo
estava
tão
imundo
que
coçava
de
maneira
insuportável. Mantendo os braços cruzados sobre o seio, ela se sentou e inclinou a cabeça. Os dedos fortes de Duncan massagearam seu couro cabeludo enquanto ele lavava o cabelo com o sabão. Era tão bom. Deu-lhe um pano dobrado para cobrir os olhos antes de despejar o balde sobre sua cabeça. Quando ele terminou de enxaguar o cabelo, Duncan aliviou suas costas e colocou o pano atrás da cabeça para protegê-lo contra a borda da banheira. O gesto era tão gentil. Lágrimas deslizaram pelos lados de seu rosto quando Duncan esfregou as têmporas e depois os ombros e o pescoço. Ninguém cuidou dela em tanto tempo. — Shh, — ele silenciou ela. — Você foi uma moça valente. Moira deve ter cochilado, pois acordou assustada quando Duncan disse: — A água está esfriando. Vamos sair daqui. Ela estava muito cansada para lutar quando ele deslizou o braço por baixo dela, levantou-a e colocou a toalha em volta dela. Quando ela caiu contra ele, ele pegou-a e levou-a para a cama. — Não temos nada limpo para você colocar. — Antes que ela pudesse protestar, ele removeu a toalha e a deslizou por baixo da roupa de cama, nua. — Aqui está uma pedra quente. — Mmmm, — ela gemeu quando ele colocou a pedra embrulhada ao lado de seus pés inchados. Moira adormeceu com o salpico da água. Quando ela acordou, Duncan estava sentado na beira da cama seminu, exceto pela toalha
enrolada em torno de sua cintura. Seu cabelo molhado estava penteado para trás de seu belo rosto, e os músculos de seus braços e ombros eram impressionantes. Duncan tirou um dos braços de debaixo dos cobertores e começou a esfregar a pomada de Caitlin sobre ela. Enquanto ele trabalhava na pomada, o calor se espalhava pelos músculos de seu braço, e a fragrância de mel e urze encheu a sala. Duncan olhou para cima e encontrou seus olhos. — Estou machucando você? Moira balançou a cabeça. Como um homem que parecia a cada centímetro do corpo um poderoso guerreiro tinha mãos tão gentis? Ela assistiu, hipnotizada, enquanto Duncan massageava cada um dos seus dedos e depois a palma da mão. Ela reprimiu um suspiro enquanto ele lentamente subiu pelo braço, acalmando cada dor com a magia em suas mãos. Moira nunca pensou que ela gostaria de ter um homem tocandoa novamente. O mais surpreendente era que ela desejava tocá-lo também. Imaginou passar as mãos pelo peito largo e sentir os pelos ásperos e os músculos duros sob as palmas das mãos. Ela baixou o olhar para sua barriga musculosa. Quando ela viu seu eixo duro se empurrando contra a toalha, ela não sentiu a onda usual de pânico e desgosto. Longe disso. Ela queria remover a toalha. Quando Duncan enfiou o braço no qual ele estava trabalhando debaixo dos cobertores e alcançou o outro, Moira levantou-o para ele. Ela segurou seu olhar enquanto ele massageava seus dedos, um por um. Seus seios doíam e sua respiração tornou-se superficial enquanto ele lentamente massageava do pulso até o ombro. Ela queria se afogar no desejo dos olhos de Duncan, sentir todas as coisas que ele costumava fazê-la sentir.
Antes que ela pudesse se conter, levou a mão ao rosto dele. Era errado enganá-lo, errado em deixá-lo acreditar que ela era uma mulher inteira que poderia lhe dar tudo o que ele quisesse. Mas ela queria muito ficar inteira de novo. Ela havia construído tantas camadas entre ela e seu corpo para sobreviver aos anos com Sean. Ir para a cama de Duncan MacDonald seria completamente diferente. Ele fora o único homem que lhe dera prazer, e ela queria desesperadamente que ele despertasse seu corpo de seu sono profundo. Mas ela poderia se entregar a ele sem perder seu coração novamente? — Eu percebi você ponderando sobre isso, — disse Duncan em uma voz rouca que reverberou em algum lugar baixo em sua barriga. — O que é, Moira? Sim ou não? Duncan esperou por sua resposta, querendo-a tanto que suas mãos tremiam. Mas, que Deus o ajudasse, ele não imploraria a ela. — É uma pergunta simples, — disse ele. — Ou você me quer ou não. — Você vai me abraçar? Ele gemeu. Ela deveria tornar isso tão difícil para ele? Ela teve um tempo difícil, e se ela queria conforto, ele deveria lhe dar. Ele respirou fundo, deitou-se em cima da roupa de cama e a envolveu em seus braços. Quando ela se inclinou para ele, todas as suas curvas suaves o pressionando, ele enterrou o rosto em seu pescoço e respirou seu perfume. — Sua pele cheira exatamente o mesmo, — ele murmurou. Quando Moira colocou os braços em volta do pescoço dele, ele decidiu que servia como um sim e a beijou. Ele fez isso devagar e profundamente, saboreando o gosto dela. Seus seios, macios e cheios,
pressionavam contra seu peito, enquanto suas línguas se moviam juntas num ritmo lento e tentador. Em cima da roupa de cama, ele passou a mão por cima do quadril dela, descendo pela curva da cintura dela, e subiu pelo lado até sentir o volume do lado do seio. Ele precisava de mais. Ele retirou a roupa de cama dentre eles e gemeu de prazer quando a puxou contra si. Pele a pele, finalmente. Seu pênis latejava contra sua barriga, e ela estava fazendo aqueles pequenos sons eróticos que sempre o levaram selvagem a luxúria. Duncan desceu seus dedos entre eles, procurando o calor úmido dela. — Não! Eu não posso fazer isso. — Moira se esforçou para se sentar, mas Duncan a segurou rapidamente em seus braços. Ela deixou a cabeça cair para trás e disse: — Me desculpe, eu pensei que poderia. — O que você quer dizer com não pode? — Duncan perguntou, mantendo a voz baixa e calma. — Eu quero, — disse ela. — Mas eu simplesmente não posso. Duncan tirou uma mecha de cabelo molhado do rosto dela. — Diga-me o porquê. Moira fechou os olhos e balançou a cabeça. Duncan esperou e finalmente ela disse: — Sean arruinou isso para mim. Eu… O bastardo. Duncan finalmente entendeu. Ele pegou a mão dela. — Mas você quer? — Eu não sei, — disse ela, virando o rosto para longe dele. — Eu quero, mas... eu tenho medo. Ele poderia fazer isso por ela? Ele era forte o suficiente para lhe dar isso e depois perdê-la novamente? Para mostrar a ela o prazer de
estar com um homem só para ela se recuperar e se casar com outra pessoa de novo? Ah, quem eu estou enganando? Se Moira lhe desse a chance de tocá-la, estar com ela, ele aceitaria, não importando que inferno viesse depois. — Nós vamos levar isso devagar, pouco a pouco, — disse Duncan quando ele correu um dedo até o braço dela. — E nós vamos parar sempre que você disser. Ele se inclinou e roçou os lábios contra o ponto sensível logo abaixo da orelha dela, depois sussurrou: — Lembra-se de todas as coisas que fizemos naquele verão? Moira lembrou-se. Durante semanas, eles encontraram maneiras de agradar um ao outro antes dela finalmente persuadi-lo a tirar sua virgindade. — Não fui eu quem queria parar naquele verão, — disse ela, tentando sorrir. O lado da boca de Duncan se arqueou. — Agora você está machucando meu orgulho viril. — Eu tenho uma confissão a fazer. Eu coloquei uma poção na sua cerveja naquela noite. — Moira estava desesperada. O senso de honra de Duncan o detinha, apesar de todos os seus esforços. Em vez de estar com raiva, Duncan riu profundamente em sua garganta. — Och, moça, acabei de ser virtuoso. Você não precisava de uma poção. Eu não poderia ter feito isso outro dia. A pele de Moira se arrepiou quando ele se inclinou e respirou em seu ouvido. — Você vai confiar em mim? — Ele perguntou.
Essa era a questão. Depois que ela deu a ele tudo antes, Duncan a deixou. Ela não podia — ela não iria — confiar nele com seu coração e alma novamente. Mas ela acreditava que podia confiar nele com seu corpo. Na cama, ele só lhe dera prazer, e ela desejava sentir isso de novo. Depois de todo o sofrimento que ele causou, não lhe devia isso? Tudo o que ele teve que dar a ela era luxúria e paixão, e isso era tudo o que ela queria dele agora. — Eu vou tentar, — disse ela. Duncan começou com as pontas dos dedos. Ela sentiu sua respiração em cada um deles primeiro, depois a suavidade de seus lábios roçando sua cabeça, um homem poderoso e apaixonado, tocando-a levemente como asas de borboleta. Ele estava lhe dizendo que ela podia confiar nele para ser gentil. Quando ele raspou os dentes da frente sobre a ponta do polegar, ela sentiu todo o caminho até os dedos dos pés. — Está tudo bem? — Ele perguntou. Ela assentiu, e ele chupou o dedo indicador em sua boca. Sua língua correu sobre ela, trazendo a mente suas línguas entrelaçadas em beijos profundos. Duncan fez isso como se tivesse todo o tempo do mundo — ao contrário de Sean, que não tinha paciência ou interesse em nada além de agarrar seus seios e empurrar dentro dela. No começo, ela tinha sido tola o suficiente para pensar que Sean iria querer agradá-la. Quando ela tentou mostrar-lhe como, ele tinha se sentido insultado e extremamente irritado. Ele era um porco egoísta e esse era o menor dos seus defeitos. — O que quer que você esteja pensando, pare. — Duncan segurou seu rosto, forçando-a a olhar em seus olhos. Tão perto, ela podia ver as manchas douradas e quentes neles.
Com seus dedos mágicos, ele começou a esfregar suas têmporas, acalmando as lembranças feias. Ele massageava a testa e o aperto no pescoço dela, depois deu um beijo carinhoso no ombro nu dela. — No seu estômago, — disse ele. — Eu preciso esfregar a pomada nas suas costas e no seu estômago. Ele esfregou com firmeza, aliviando todas as dores e sofrimentos. Gradualmente, Moira entregou-se ao ritmo de suas mãos. Ela se sentia fraca, mas sua fraqueza não a fazia se sentir ameaçada. As horas pareciam passar. Quando Duncan empurrou o cabelo para o lado e beijou seu pescoço, ela começou a se retesar, mas depois relaxou novamente. — Sua pele é como cetim, — disse ele, correndo os dedos sobre suas costas em círculos largos, em arcos. Moira se sentiu vagamente culpada, como se ela estivesse fazendo algo para ganhar suas atenções. Mas ela se sentia tão bem, e fazia tanto tempo desde que um homem a fizera se sentir bem. Desde o dia em que Duncan a deixou, para ser exata. Quando Duncan se inclinou para beijá-la, seu cabelo roçou seu ombro e enviou arrepios em sua pele. Suas grandes mãos agarraram seus quadris, enquanto sua boca se movia por suas costas. Anseios antigos se agitaram profundamente dentro dela, enquanto seus lábios alcançavam a base de sua espinha. — Mmm — saiu de sua boca quando ele envolveu sua mão ao redor de sua coxa e mordeu levemente seu traseiro. O relaxamento profundo e gradualmente deu lugar a uma tensão sensual que começou entre suas pernas. Ela queria que ele a tocasse lá como costumava fazer. Em vez disso, ele brincou com ela, segurando sua coxa em sua grande mão enquanto corria os lábios e a língua ao longo das costas de sua perna.
Ele sentou-se e acalmou-a mais uma vez massageando seus pés e os dedos dos pés. Ela sentiu como se estivesse flutuando em uma piscina de calor líquido, enquanto ele subia suas pernas com suas mãos seguras. Ele podia tocá-la em qualquer lugar agora, e ela não objetaria. Embora suspeitasse que não sabia nada sobre o homem em quem Duncan se tornara, acreditava que ainda o conhecia aqui, na cama. E ela sabia que Duncan iria querer mais do que sua submissão. Ele queria uma união completa, seu prazer golpeando em seus corpos e ressoando em seus corações e almas. Moira rolou de costas e estendeu os braços para ele. Duncan fez um som baixo na garganta, e o jeito faminto que ele olhou para ela fez seus mamilos se erguerem e apertarem. Antecipação e trepidação a encheram em igual medida, enquanto ela esperava por ele. Exceto pela subida e descida de seu peito, ele permaneceu congelado acima dela. — Eu quero sentir você em cima de mim, — disse ela. — Isso seria um plano miserável, — disse ele com a voz tensa. — Por quê? — Porque eu disse que iríamos levar isso pouco a pouco, e eu sou um homem que mantém sua palavra. Ele era? Duncan não prometera que se casaria com ela, mas dissera que a amaria para sempre, o que, para ela, equivalia à mesma coisa. Aquelas feridas se afastaram de sua mente quando Duncan baixou a cabeça para seu seio. — Sim, — disse ela em uma forte respiração quando ele circulou e passou a língua sobre o mamilo. Finalmente, ele chupou a ponta do seio dela em sua boca. O prazer alagou através dela enquanto seu corpo
despertava
sob
suas
ministrações.
Logo
ela
estava
gemendo,
arqueando e segurando o cabelo dele nas mãos. Sua mão se deslizou por sua coxa, e ela ofegou quando seus dedos encontraram seu centro. A tensão cresceu dentro dela enquanto seus dedos circulavam sem parar. Ele chupou mais forte em seu seio, e ela se sentiu à beira da liberação. Ela se lembrava de como era e queria. Queria agora mesmo. E, no entanto, flashes das vezes com Sean a faziam se sentir envergonhada e desajeitada com a reação do corpo, mesmo quando estava tão frustrada que queria gritar e chutar com as pernas. Duncan se levantou em suas mãos e joelhos e soprou em sua pele úmida, trazendo toda sua atenção para a sensação. Então ele se deitou ao lado dela e começou a sussurrar coisas em seu ouvido, palavras reconfortantes a princípio e depois as que a excitavam. Eu amo a sensação da sua pele, seu cabelo. Você é tão linda, m’ eudail 10. Meu tesouro. É tão bom tocar em você. Enquanto ele falava com seus medos e desejos, ele traçava seus dedos sobre seu rosto e garganta e depois sobre seus seios, fazendo-a doer por ele. — Eu quero ouvir você encontrar a sua libertação, — disse ele. — Você sabe que me deixa louco. Ele beijou o cabelo dela e o lado do seu rosto quando ele começou a mover a mão entre suas pernas novamente. Depois de todo esse tempo, Duncan sabia exatamente como tocá-la. — Confie em mim. — Sua respiração estava entrecortada em seu ouvido, enquanto a tensão aumentava e construía até que ela pensou que iria se quebrar em duas. — Oh! Oh!
10
m’ eudail – gaélico escocês: minha alegria, meu tesouro.
Duncan a segurou firme enquanto seu corpo convulsionava em ondas de prazer. Finalmente. Ela sentiu vontade de chorar com a alegria disso. Ao mesmo tempo, suas barreiras foram abaladas, deixando seu coração muito vulnerável a ele. Duncan a puxou com força contra o peito e a beijou com uma paixão feroz que não deixou dúvidas de que lhe dar prazer o excitou. Se ele quisesse fazer amor com ela totalmente agora, Moira não seria capaz de dizer não. Mas ela estava com medo de estar tão perto dele, de se unir como um só. Ela queria ser como um homem e ceder à luxúria sem se perder. Quando Duncan se afastou e respirou lenta e profundamente, Moira ficou ao mesmo tempo aliviada e desapontada. Então ele enfiou a cabeça sob o queixo e passou os dedos pelo cabelo dela. Enquanto ela estava apertada em seus braços, a pergunta bateu em sua cabeça como um eco de seu batimento cardíaco contra seu ouvido até que ela teve que perguntar, embora soubesse que era um erro. — Por que você me deixou? Seu peito subiu e caiu em uma respiração profunda. Ela ficou muito quieta, enquanto Duncan a mantinha esperando por uma resposta que ele deveria ter preparado. — Seu pai descobriu sobre nós, — disse ele em voz baixa. — Ele ordenou que eu fosse com os outros para a França. Ele não me deu escolha. Não foi isso que o pai dela lhe disse, e ele nunca mentiu para ela. Nunca. Ela sabia que não deveria ter perguntado. Contra sua vontade, as coisas que seu pai disse sobre Duncan no dia de seu casamento passaram por sua cabeça repetidas vezes. Ele não merecia você. Aquele Duncan é uma semente ruim. O sangue fala.
Até seu pai havia traído sua confiança? Era mais uma amarga decepção, mas ela finalmente aceitou que era possível que seu pai tivesse mentido para ela. No entanto, não mudava nada se Duncan tivesse sido ordenado a partir. Este era o homem que conseguiu se esgueirar em um castelo desconhecido, tirar o corpo morto do marido dela e levá-la embora com cem guerreiros perseguindo-os. Se Duncan quisesse, ele poderia ter encontrado um jeito de voltar para ela ou conseguir que ela se encontrasse com ele. Em vez disso, ele partiu e não retornou. — Eu senti sua falta todos os dias, — disse Duncan com uma voz suave. Ele soava sincero. Talvez ele sentisse falta dela — ou pelo menos sentisse falta dela nos lençóis, — mas isso não o trouxera de volta antes. Nem poderia desfazer um dia do sofrimento dela ou de seu filho. Moira era grata a Duncan pelo prazer curativo que ela encontrara em seus braços, e ela se deixaria aproveitar. Mas ela nunca lhe daria o poder de machucá-la novamente. Duncan observou Moira dormir na luz da manhã. Quanto tempo ele a teria dessa vez? Ele sabia que deveria levá-la para Dunscaith assim que Niall estivesse bem o suficiente para ir embora e o barco fosse consertado, mas ele temia. Ela estava em seus braços porque queria esquecer as coisas terríveis que aconteceram com ela, pelo menos por um tempo. Mas isso acabaria quando eles saíssem daqui. Duncan não sabia como ele suportaria isso. Connor sempre foi um melhor juiz de caráter do que seu pai e irmão mais velho, e ele se certificaria de que o filho do próximo Laird ou Laird que se casasse com ela fosse um bom homem. Duncan tentou se consolar com isso, mas ele falhou miseravelmente.
Isso o deixou furioso ao ver as profundas manchas roxas estragando sua pele perfeita. Os machucados e arranhões de sua queda de ontem se curariam rapidamente, mas ele temia que as marcas que Sean deixou sobre ela — por dentro e por fora — estivessem com ela por muito tempo. Antes de se separarem, havia algo mais que ele precisava fazer por ela. Moira abriu os olhos e se esticou, dando-lhe um sorriso lento. — Fora da cama, — disse Duncan. — É hora de suas aulas. — O quê? — Moira perguntou com uma risada em sua voz, então ela balançou as sobrancelhas para ele. — Será que esta lição envolve receber estilhaços em minha parte traseira na porta? — Ter o seu caminho perverso comigo é tudo o que você pode pensar, moça? — Duncan perguntou. Moira revirou os olhos para ele. — A moça deveria saber como se proteger, — ele disse. — Seu treinamento a esse respeito tem sido extremamente insuficiente, então vou ensiná-la a matar alguém com um punhal. — Essa é a coisa mais doce que um homem já disse para mim, — disse Moira em uma voz séria e mortal. Duncan jogou a cabeça para trás e riu alto. Quando Moira riu, oh, Deus, ele se sentiu bem. — O que seu pai estava pensando, não ensinando a uma moça como você a usar uma lâmina? — Ele perguntou. — Uma moça como eu? — Ela perguntou, inclinando a cabeça. — Sim. Uma moça que corre de cabeça para o perigo sem pensar duas vezes. — Duncan apontou o dedo para ela. — Cair naquela ravina não foi a pior coisa que poderia ter acontecido com você por estar vagando pelas colinas por conta própria.
— Och, não me dê outro sermão tedioso. — Moira saiu da cama nua e ficou com uma mão no quadril, como se quisesse torturá-lo. — Apenas me mostre como usar o punhal. Duncan pegou seu vestido de onde estava secando na frente da lareira e jogou para ela. — Coloque-o rapidamente, ou não posso garantir que chegaremos à lição.
— Eu vou estar longe de Skye por um tempo, — disse Alastair Crotach MacLeod a Erik. — Quando eu voltar, quero que você me conte sobre Hugh Dubh. Erik tinha cultivado uma rede de informantes e ouviu um sussurro que seu astuto Laird negociava para mudar de lado na rebelião e lançar seu apoio à Coroa — por um preço. Isso seria uma medida sábia agora que estava claro que a rebelião estava falhando. O que perturbou Erik foi que seu Laird não havia confiado seus planos a ele. Ainda assim, a ausência de seu Laird de Skye daria a Erik a oportunidade que ele precisava. — Eu posso tirar o rapaz MacQuillan de suas mãos enquanto você está fora, — disse Erik, tomando cuidado para fazer parecer que era um fardo que ele não gostava. — Sim, leve o rapaz para o Castelo Trotternish. — O canto da boca do Laird ergueu uma fração no que se passava por um sorriso. — Temos o dever de treiná-lo, mas não lhe ensine tudo o que sabe, ele poderá ser nosso inimigo um dia. Erik não lhe ensinaria nada por muito tempo. Um homem MacDonald com o sangue do Laird a menos seria bom para os MacLeods, tanto quanto ele estava preocupado. Seu Laird não tinha estômago para fazer o que precisava ser feito, então Erik faria isso por ele.
Na distância do Castelo de Trotternish, Erik tinha tanto poder quanto o seu Laird para lidar com as questões como bem entendesse. Ele teria cuidado, é claro, para que a culpa não pudesse ser atribuída à sua porta. — Ninguém poderia se igualar em uma batalha a um guerreiro como você, apesar do tempo, — disse seu Laird, levantando-se para apertar a mão no ombro de Erik. Erik acenou com a cabeça para reconhecer o elogio, mas o seu principal comentário o havia cortado. Embora Erik estivesse mais perto dos cinquenta anos, poucos homens estavam dispostos a desafiá-lo para uma luta. Ele ainda era mais forte que a maioria e duas vezes mais desonesto que o resto. Duncan acordou com Moira em seus braços. Ele descansou a bochecha contra o topo da cabeça dela e observou a luz do final da tarde penetrar pela fresta nas persianas. Fazia anos que ele não sentia essa satisfação. Nos últimos três dias, ele e Moira mal saíram da cabana. Eles passaram o tempo alternadamente cochilando, praticando com o punhal e redescobrindo coisas interessantes para fazer na cama, a não ser uma união completa de seus corpos, que, no final, eram bastante satisfatórios para os dois. Trouxe-lhe uma alegria indescritível ao ver a sensualidade inata de Moira florescer sob suas mãos. Toc! Toc! Toc! Duncan saltou da cama e pegou sua claymore de onde ele a mantinha pronta no chão. — Quem é? — Ele chamou pela porta fechada. — Sou eu, Uilleam. Duncan abriu uma fresta da porta.
— Não está vestido, e o dia ainda está quase acabando? — Perguntou Uilleam. — Eu suspeitava que vocês dois não eram casados ainda, e agora eu sei disso com certeza. Duncan não pôde deixar de sorrir. — Que negócio urgente existe para você estar me tirando da cama agora? — Niall se recuperou tão bem que os vizinhos estão começando a falar sobre minha filha Caitlin, — disse Uilleam. — Se você não o tirar de sua cabana pela manhã, eles vão esperar que eu exija um casamento e não sei se Caitlin iria concordar com isso. — Meu barco está pronto, então vamos partir amanhã cedo, — disse Duncan. — Sou grato a sua filha. Espero que Niall não esteja incomodando muito. Ele parece gostar dela. — Ele não é o primeiro, — disse Uilleam, balançando a cabeça. — Traga seu flauta para a cabana de Caitlin esta noite. Nos divertiremos bebendo uísque e tocando música. Duncan sentiu vontade de comemorar. Moira bateu o pé na melodia animada que os homens estavam tocando enquanto se sentava com Caitlin na lareira. De manhã, eles estariam a caminho de casa para Dunscaith. Em casa. Fazia tanto tempo. Ela olhou para Duncan, e ele piscou quando sentiu o seu olhar nele. Ela não conseguia se lembrar de tê-lo visto tão despreocupado. Tocar música lhe dava tanto prazer, e ele realmente tinha um dom para isso. Os outros homens pararam de tocar e Duncan tocou a harpa. — Och, eu conheço essa música, — disse Caitlin e deu uma cotovelada em Moira.
Arrepios surgiram na pele de Moira quando a voz forte de Duncan encheu a pequena cabana. Era uma música antiga, mas ela sentiu como se tivesse inventado as palavras para cantar só para ela. O preto é a cor do cabelo do meu verdadeiro amor Seus lábios são como algumas rosas justas Ela tem o sorriso mais doce e as mãos mais suaves E eu amo o chão onde ela está Eu amo meu amor e bem, ela sabe Eu amo o chão onde ela vai Espero que o dia chegue logo Quando ela e eu viveremos como um. Duncan baixou a harpa, disse algo no ouvido de Uilleam e depois parou na frente de Moira. Quando ela olhou para ele, lhe deu um de seus raros sorrisos que foi direto para o coração dela e estendeu a mão. — Dance comigo, Moira MacDonald. — Eu... — Vá em frente, moça! — Uma das mulheres gritou. — Quando um homem bonito lhe pede para dançar, você deve pular para os seus pés antes que ele vá à procura de uma moça que queira. — Há apenas uma moça com quem quero dançar, — disse Duncan, com os olhos quentes nos dela. — É Moira e nenhuma outra. Ele disse isso como se quisesse dizer mais do que dançar. Duncan continuou dizendo coisas assim para ela, sugerindo que ele não a havia tirado do coração — como se não fosse ele quem tivesse partido. — Apresse-se moça, — disse Uilleam. — Estamos prontos para dançar.
Moira deu a mão a Duncan e deixou que ele a levantasse. Dois homens moveram a mesa contra a parede e a pequena cabana se encheu com uma explosão de música. A alegria na vida que ela costumava sentir todos os dias se espalhou quando ela e Duncan pularam e dançaram, de braços dados, em um círculo apertado no pequeno quarto. Duncan fez um movimento ágil dos pés, mas seu corpo se movia com uma graça natural ao ritmo da música. Quando ele a girou em seus braços, Moira deixou a cabeça cair para trás, rindo. A porta se abriu e fechou quando as pessoas das casas vizinhas se espremeram para ouvirem a música e assistirem a dança. Aqueles que não estavam dançando aplaudiam. Moira e Duncan dançaram até que ela estava suada e sem fôlego. Duncan não estava nem respirando com dificuldade. — Por favor, — ela ofegou, — eu não posso mais. Duncan encontrou um espaço vazio em um dos bancos e puxoua para o seu colo. — Eu posso me sentar sozinha, — disse ela. — Não há assentos suficientes, — disse ele, ainda sorrindo. Ela não podia resistir quando ele estava despreocupado assim; era tão inesperado. Caitlin veio com taças de uísque. — Cha deoch-slàint, i gun a tràghadh! — Não é a saúde se a taça não for esvaziada! Moira tomou de uma vez. Na terceira vez que o uísque foi passado, Moira balançou a cabeça. Sua cabeça girava agradavelmente. — Och, eu estou tão quente! — Ela se abanou com a mão. — Vamos dar um passeio fora para se refrescar, — disse Duncan.
Antes que ela pudesse responder, ele a conduziu pela porta. Quando ele fez uma parada para levantar as capas dos pregos, Moira pensou ter pegado Uilleam dando uma piscadela para Duncan. O ar fresco da noite era bom em suas bochechas quentes. Pela primeira vez, não estava chuviscando ou soprando. — Ah, isso foi adorável, — disse ela. Exceto por Ragnall não estar aqui, tudo estava perfeito esta noite. Moira sentiu-se um pouco instável e ficou grata quando Duncan colocou o braço em volta dela. Estar com ele era tão fácil. Ela não tinha que ouvir o que se dizia ou sequer falar. Embora soubesse que se sentira exatamente assim antes que ele a deixasse, ela afastou essa preocupação por enquanto. Naquela noite, ela se sentia feliz e só se permitiria aproveitar. — Isso foi uma curta caminhada, — brincou ele quando a levou direto para sua cabana no final das outras. A antecipação correu por ela enquanto observava Duncan acender uma vela, cutucar as brasas na lareira e colocar uma nova turfa no fogo. A luz das chamas brilhou em seu cabelo. Ele se moveu com a facilidade e segurança de um homem cujo corpo foi moldado e treinado como uma arma para fazer o que ele comandasse. Uma vez que ele acendeu o fogo, Duncan chegou onde ela estava e colocou as mãos contra a parede em ambos os lados da sua cabeça. Ela achou difícil respirar quando ele olhou em seus olhos por um longo momento. — Há algumas coisas que ainda não tentamos, — disse ele e arrastou o dedo ao longo de sua mandíbula. — Coisas que você costumava gostar muito...
Em vez de beijá-la imediatamente, ele deixou a tensão crescer entre eles até que ela quisesse tanto seu beijo que agarrou a túnica dele e o puxou para ela. Para um homem tão musculoso e intransigente, seus lábios eram suaves. Ela se inclinou para ele com um suspiro. Seus braços vieram ao redor dela, não a restringindo, mas envolvendo-a em um calor delicioso. Duncan segurou Moira enquanto ela dormia e se perguntou se esta seria sua última vez. Ele tinha pouco mais a oferecer agora do que quando tinha dezenove anos. Embora ele tivesse uma posição de respeito como capitão da guarda de seu irmão, o respeito não era suficiente para manter uma mulher como Moira. Ela estava destinada a adornar uma mesa alta, usar as melhores sedas e ter criados para cuidá-la. Ela carregava o sangue do Senhor das Ilhas e os antigos reis antes deles, enquanto ele era o filho não reclamado de um estuprador MacLeod. Ainda assim, ele sussurrou: — Por favor, Deus, não a tire de mim. De novo não.
Moira piscou contra a picada em seus olhos ao ver o Castelo de Dunscaith
sentado
majestosamente
em
sua
ilha
rochosa
no
promontório. Ao chegarem mais perto, a chuva clareou, revelando as colinas verdes atrás do castelo e as montanhas roxas do outro lado da baía a Noroeste. — Eu tinha esquecido como é bonito, — disse ela. Ao crescer, Moira tinha tomado a beleza de sua casa e sua felicidade como garantia. — Sim, é uma bela vista, — disse Duncan, de pé ao lado dela. — E Dunscaith é uma fortaleza forte também. Tinha sido fácil ser destemido aqui. Os guardas que estavam na parede do castelo reconheceram o barco de Duncan e acenaram. Moira acenou de volta com os dois braços. Finalmente, ela estava voltando para casa. Se apenas Ragnall estivesse aqui com ela, tudo ficaria bem. — Quando tiver meu filho em segurança atrás dos muros de Dunscaith, — ela disse, — ele nunca mais estará em perigo. — Ragnall tem sangue MacDonald nele, — disse Niall atrás dela, onde estava sentado com a perna ferida apoiada. — Uma vez que ele cresça, não vai se contentar em se esconder atrás das muralhas quando for a hora de lutar. Moira não pensaria nisso agora. — Parece que toda a família está saindo para nos receber, — disse Duncan.
Um fluxo constante de pessoas atravessava a ponte estreita entre Dunscaith e a ilha principal e descia até a costa. O coração de Moira bateu rápido quando ela tentou ver seu irmão. Connor era o Laird agora, então, talvez, ele esperasse para cumprimentá-la formalmente no corredor de familiares que se estendia. Apesar da explicação de Duncan para o fracasso de Connor em visitá-la, Moira sentia-se desconfortável se ele ficaria feliz em vê-la. — Moira! Ela ouviu alguém chamar seu nome, e então ela viu Connor correndo pelas ondas para encontrar o barco com o cabelo preto soprando atrás dele. Quando ele chegou, estendeu os braços para ela. Rindo, ela pulou e jogou os braços ao redor do pescoço dele. Ela pensou em seu amado pai e irmão mais velho Ragnall, que não estavam aqui, e segurou mais firmemente Connor enquanto ele a levava para praia. — Bem-vindo a casa, — disse Connor e deu-lhe um largo sorriso quando ele a colocou em seus pés. Eles seguraram as mãos um do outro e se inclinaram para olhar um pouco mais perto. Connor parecia o mesmo, esguio e musculoso, mas seu rosto tinha ângulos mais agudos e a desenvoltura de sua juventude dera lugar a uma poderosa presença. — É bom ter você de volta — disse Connor, e ele parecia genuinamente feliz em vê-la. — Eu nunca vou partir de novo, — ela disse a ele. — Nunca. Connor levantou uma sobrancelha, mas então seu olhar se desviou para algo atrás dela. — Isso é um cavalo ou um cachorro com Duncan? — Ele perguntou com uma risada em sua voz. Moira se virou e viu que Sàr, o traidor, permanecera no lado de Duncan no barco.
— Esse é o lobo do meu filho. — Niall está ferido? — perguntou Connor quando Duncan ajudou Niall a sair do barco. — Sim, — ela disse. — Ele teria morrido se não fosse por Duncan. — Duncan é o melhor homem para se ter quando o problema vem, — disse Connor e fugiu para ajudá-lo com Niall. Moira seguiu cumprimentando todos que haviam descido para a praia para recebê-la. Do jeito que eles a olhavam, ela deveria ter mudado mais do que percebeu. Mas as mulheres deram-lhe sorrisos afetuosos quando Moira exclamou pelos novos bebês e as crianças que cresceram em sua ausência. Depois de algum tempo, uma jovem vigorosa com um feio vestido marrom pegou seu braço. — Você deve estar cansada de sua jornada, — disse a jovem. — Gostaria de entrar agora? — Eu conheço você? — Moira perguntou. — Eu espero que você não me reconheça porque eu tinha apenas onze anos da última vez que me viu, — disse a jovem com um sorriso caloroso. — Eu sou Ilysa, a irmã de Duncan. Era difícil acreditar que essa pequena moça era irmã de Duncan. — Tenho certeza que podemos encontrar um dos seus velhos vestidos para você se trocar, — disse Ilysa. Moira olhou para a roupa suja que usara nos desastres dos últimos dias e riu. Não é de admirar que todos a olhassem. — Um vestido limpo e um banho seria adorável. Duncan observou seus homens cercarem Moira, dando as boasvindas à sua princesa retornando para casa. Ela sempre foi uma das favoritas. Sorrisos e explosões de gargalhadas a seguiram enquanto ela caminhava lentamente pela multidão. Moira falou para cada um,
cumprindo seu dever como membro da família do Laird sem fazer ninguém sentir que era por dever que ela o fazia. Sàr choramingou ao lado dele. — Não precisa se preocupar, — disse Duncan e deu um tapinha na cabeça do cachorro. — Ela está segura agora. Duncan se perguntava se ele a trouxe para a segurança apenas para perdê-la. Agora que eles estavam de volta ao clã, o tempo deles no MacCrimmons parecia um mundo de distância. Talvez, se Moira tivesse se entregado a ele completamente, Duncan saberia que ela queria mais do que esquecer Sean por alguns dias. Ele tinha sido paciente, esperando que ela lhe dissesse que estava pronta. Ela nunca o disse. Connor fez um sinal para Duncan, Niall e Ian permanecerem na praia enquanto os outros voltavam para o castelo. Duncan observou as costas de Moira enquanto ela e sua irmã caminhavam de braços dados do alto da colina até a ponte do castelo. — É mais seguro falar aqui — disse Connor quando a praia estava vazia, exceto pelos quatro. — As paredes de Dunscaith têm ouvidos. — Você e Moira parecem um inferno de ferimentos, — Ian disse para Niall, que tinha o braço sobre seu ombro para tirar o peso de sua perna ferida. — Mas eu posso dizer que alguém te alimentou bem. — Isso seria Caitlin MacCrimmon, — disse Niall em uma voz melancólica. — Estou apaixonado por ela. Esta era uma doença bastante comum para Niall, então eles ignoraram a observação e passaram a discutir assuntos sérios. — Quero saber por que minha irmã voltou para casa sem o marido — disse Connor — e como ela e Niall foram feridos.
A expressão de Connor ficou mais e mais escura quando Duncan lhe contou sobre os maus tratos de Sean MacQuillan sobre Moira e sobre como Sean havia morrido. — Haverá um inferno a pagar por isso, mas você fez bem em trazêla para casa, — disse Connor. Duncan então fez um breve relato da tempestade e sua permanência com os MacCrimmons, deixando de fora as partes que ele e Moira passaram nus. Ele deu a Niall um olhar duro para encorajá-lo a ficar de boca fechada sobre eles dividindo uma casa de campo. — Você descobriu alguma coisa sobre os MacLeods com os MacCrimmons? — perguntou Connor. — Eu descobri, — Niall falou. — As moças que visitaram a casa de Caitlin, foi onde eu fiquei porque ela é uma curandeira, estavam de língua solta sobre os MacLeods. Duncan sentiu o olhar de Connor nele e temeu que ele estivesse prestes a perguntar onde ele e Moira haviam dormido. Felizmente, Niall continuou falando. — Eles ouviram que o Laird MacLeod deixou Dunvegan com uma dúzia de suas galeras de guerra, — disse Niall. — Elas não acreditavam que ele estava indo para a sua fortaleza na ilha de Harris, porque ele deixou sua esposa e filhas para trás. — As pessoas sempre vão dizer alguma coisa ao meu irmão encantador, — disse Ian. — Especialmente garotas falantes. — Eu me pergunto onde o MacLeod estava indo com tantas galeras de guerra, — disse Connor, estreitando os olhos. — Se ele quisesse nos atacar, já estaria aqui. — Se há um bom tempo para tentarmos tomar Trotternish, — disse Duncan. — É agora, enquanto Alastair MacLeod e centenas de seus guerreiros estão longe causando problemas para algum outro clã.
Os outros ficaram em silêncio por um longo momento enquanto consideravam sua sugestão. — Devemos tomar o castelo primeiro, — disse Ian. — Sem isso, não temos esperança de tomar a península, ou de mantê-la assim que o fizermos. — Eu concordo, — disse Connor. — Todos nós estivemos no interior do castelo, mas não sabemos nada sobre quantos homens os MacLeod têm lá, quão bem treinados eles são, ou que tipo de homem os comanda. Nós poderíamos cegamente ter um banho de sangue rolando. — É uma pena que não tenhamos espiões lá, — disse Ian. — Essa é uma lição que podemos aprender com o Hugh. — Sim, — disse Connor. — O que eu não daria para saber se os MacLeods fortificaram a muralha fraca que meu pai nunca havia consertado. Niall estava olhando para Duncan desde que Connor mencionou o guardião do castelo. Duncan hesitou em dizer o que sabia, mas ele já mantinha um segredo de Connor e não queria manter outro. — Eu sei algo sobre Trotternish Castle, — disse Duncan. — O que é? — Connor perguntou. — O guardião é meu pai. Moira estava no centro de seu antigo quarto de dormir e virou-se lentamente em um círculo. — É quase como eu deixei, exceto que não há vestidos espalhados pela cama e as cortinas da cama estão um pouco desbotadas. Era estranho achar que o antigo aposento dela tinha mudado tão pouco quando ela mal conseguia se lembrar da moça que tinha sido quando morava ali.
Moira sorriu para Ilysa quando notou o galho de azevinho em uma jarra na mesinha lateral. — Isso deve ser seu feito. — É difícil encontrar algo que floresça nesta época do ano, então pensei que as bagas de azevinho enfeitariam a sala — disse Ilysa e baixou o olhar para os pés. — Connor nunca menciona as flores que eu coloco nas mesas e em seu quarto no verão, mas acho que ele as aprecia do mesmo jeito. Moira duvidou disso. — O azevinho é adorável. — Como ele não tinha mais ninguém para fazer isso, eu tenho administrado o castelo para Connor, — disse Ilysa com um leve tremor em sua voz. — Espero que você encontre tudo em boa ordem. — Tenho certeza de que você fez um bom trabalho. — Como você estará planejando os menus com os cozinheiros, — Ilysa se apressou em dizer antes que Moira pudesse dizer mais alguma coisa, — Connor não gosta de comer o fígado de ganso, embora ele nunca diga nada. Ele nunca é de reclamar. Och, não. A pobre moça se apaixonou por Connor? Isso nunca seria possível. Mesmo que Ilysa atraísse os olhos de Connor — o que parecia improvável pelo gorro que ela usava de mulher idosa e no vestido marrom mal ajustado, — Connor nunca agiria assim. Seu pai não tinha tais escrúpulos quando se tratava de mulheres, mas Connor nunca se divertiria com a irmã de seu melhor amigo. E quando ele se casasse, colocaria o dever em primeiro lugar e faria uma aliança para o clã. — Eu devo avisá-la que Tait é o mais ousado dos guardas — continuou Ilysa, — mas ele é sempre o primeiro a ajudar quando se
precisa. E então há... — Ilysa parou de falar e juntou as mãos. — Eu sinto muito. Tenho certeza de que você não precisa do meu conselho. Claramente,
essas
responsabilidades
se
tornaram
muito
importantes para Ilysa. — Bom Deus, — disse Moira. — Espero que Connor não espere que eu administre sua casa para ele. — Você não deseja? — Ilysa perguntou, seus olhos ficando incrivelmente largos. — Você se importaria de fazer isso por mais algum tempo? — Perguntou Moira. — Estou tão distraída com a preocupação sobre o meu filho que seria um fardo indesejável para mim. — Eu ficaria feliz em ajudar, — disse Ilysa. — Duncan me contou que perdeu seu marido em Flodden — disse Moira. — Você é tão jovem. Certamente você vai querer se casar novamente e montar sua própria casa em breve. Ilysa baixou o olhar para o chão novamente e sacudiu a cabeça. — Bem, Connor é obrigado a se casar em breve, ele já deveria ter feito isso, — disse Moira em uma voz suave e tocou o braço da mulher mais jovem. — Você sabe que quando Connor se casar, sua esposa assumirá esses deveres? — Claro, — disse Ilysa. Connor sempre foi tediosamente responsável. Na verdade, Moira suspeitava que a única razão pela qual Connor havia esperado tanto tempo para se casar, era que a hora ainda não estava propícia para fazer a melhor escolha possível. Como ela e Connor eram diferentes desde crianças. Moira tinha se precipitado nas coisas, deixando seu coração levá-la aonde quer que fosse, enquanto Connor pensava sobre as coisas. Viver com Sean ensinara a Moira a ser cautelosa e calculista como seu irmão.
Moira não poderia ajudar Ilysa a conquistar Connor, mas havia muitos bons guerreiros no castelo. Ilysa era uma coisa pálida, mas ela tinha um rosto bonito. Se ela não usasse essas cores mais fracas e vestidos folgados que não fizessem nada para ressaltar sua figura esbelta. Com a intenção de dar a Ilysa algumas dicas, Moira a puxou para o espelho, um presente que seu pai trouxera de Edimburgo para ela. — Deus tenha piedade! — Moira chorou quando pegou seu próprio reflexo no espelho. — Olhe para mim! — Seu rosto é tão doloroso quanto parece? — Ilysa perguntou, franzindo as sobrancelhas delicadas. — Doloroso? É horrível! — O rosto dela era uma massa disforme de hematomas, variando em cor de roxo a amarelo-esverdeado doentio. E o vestido dela parecia ainda pior do que ela imaginara. Moira sentou-se no banco nas proximidades com um baque. Och, antes ela deve ter parecido ainda pior. Ela pensou em todas as horas que passou com Duncan. Especialmente as horas na cama. De tarde, quando estava claro. Moira não fingiu que não sabia que ela era linda. Os homens a desejavam desde os treze anos, então ela estava bem ciente de como era sua aparência que os atraía tanto. Mas apesar de quão revoltante ela parecia agora, Duncan a queria. Na verdade, ninguém nunca a fez se sentir mais bonita, nem mesmo o próprio Duncan, quando ela tinha dezessete anos. Ela foi tocada estando machucada. Isso significava que ele realmente se importava com ela? Moira não tinha certeza, mas de repente ela queria ver Duncan. Parecia que se passaram horas desde que ela estava ao lado dele no barco.
— Ah, aqui está seu banho, — disse Ilysa, acenando para os criados que levavam a banheira e os baldes de água quente. — Antes de deixar você, eu vou colocar na cama alguns dos seus velhos vestidos para você escolher. Moira apressou-se a banhar-se e, com a ajuda das criadas, espremeu-se num velho vestido de veludo azul-escuro que combinava com os olhos dela. Depois de procurar pelo corredor por Duncan, ela saiu para o pátio para procurar por ele. Ela encontrou Connor em seu lugar. — Você parece um pouquinho melhor, — disse Connor com um sorriso e beijou sua bochecha. — Onde está Duncan? — Perguntou Moira. — Ele foi para casa, — disse Connor. — Para o chalé de sua mãe? — Eles sempre o chamavam de chalé, embora fossem apenas dois cômodos construídos contra a parede externa do castelo. — Não, Ilysa mora lá, — disse Connor. — Duncan geralmente dorme no corredor com os homens, mas ele tem sua própria casa. — Onde? — Ela perguntou. Connor apontou para uma cabana branca que ela mal podia ver perto do topo da colina atrás do castelo. — Duncan diz que pode ficar de olho em alguém que se aproxime de Dunscaith lá de cima, mas sei que ele só precisava de um lugar próprio. — A vista deve ser linda, — disse ela. — Eu gostaria de ver isso. Acho que vou fazer-lhe uma pequena visita. — Por quê? — Connor perguntou, estreitando os olhos para ela. — Existe algo entre os dois que eu deveria saber? — Claro que não. — Não era da conta de Connor.
— Você deve esperar até que seja convidada, — disse Connor. — Para quê? — Moira perguntou com uma risada. — Duncan gosta de sua privacidade. Você deveria...— Ele ficará feliz em me ver. — Moira piscou para o irmão por cima do ombro enquanto saía, sentindo-se como se fosse mais velha. Duncan abriu a porta do chalé. Ele tinha orgulho de ter uma casa, um lugar que lhe pertencia. Ele manteve-a caiada e em bom estado de conservação, e sua irmã havia plantado rosas caninas11 na porta que florescia no verão. Mas quando ele parou na porta e olhou para ela com olhos diferentes — com os olhos avaliativos, — viu que era apenas uma cabana humilde de dois cômodos. Duas cadeiras e uma pequena mesa que se encaixavam confortavelmente na sala principal e uma lareira. Ilysa proclamara que era aconchegante, mas ele podia ver agora que era simplesmente minúscula. Ele se sentou em uma das cadeiras e descansou a cabeça entre as mãos. Que tolo ele tinha sido. Moira viveu toda a sua vida como a ama de castelos finos. Ele nunca poderia pedir a ela para morar com ele aqui. Seus vestidos ocupariam todo o segundo cômodo. — Duncan, você está em casa! Ele levantou a cabeça com o som da voz vindo do outro do quarto e se virou. O que diabos Rhona estava fazendo aqui?
11
Rosas caninas - Rosa canina é uma variedade da espécie nativa da Europa, do nordeste da África e da Ásia Ocidental conhecida pelos nomes de rosa-canina ou rosa-mosqueta.
Antes que Duncan pudesse detê-la, Rhona correu através do quarto e atirou-se sobre ele. Ele destrancou as mãos dela ao redor de seu pescoço e a colocou de pé. — Você disse que iria embora quando eu retornasse. — Uma mulher pode mudar de ideia, — Rhona disse, inclinando a cabeça para o lado, — e um homem sábio não a lembra o que ela disse. Quando ela estendeu a mão para correr os dedos pela bochecha dele, Duncan pegou a mão dela. — Está terminado entre nós. — Terminado? — Os olhos de Rhona se arregalaram. — Isso foi feito antes que eu partisse. — Ah, bem, eu decidi te perdoar. — Ela olhou para ele debaixo de seus cílios e deu-lhe um sorriso lento. — Eu sei como você pode fazer isso para mim. — Eu quero que você vá, — disse Duncan. — Agora. — Você não quis dizer isso, — disse ela dando-lhe um sorriso tímido. Duncan fez uma pausa. Ele também poderia deixar claro. — Moira está aqui. — Moira? — Rhona disse seu nome em um grito, então ela estreitou os olhos como fendas. — Eu deveria saber. Sempre foste um tolo por ela. Ele era, mas não havia sentido em discutir isso.
— E a princesinha lhe deu prazer na cama como costumava fazer? — disse Rhona. — Isso é tudo no que Moira acha que você é bom. Ela não será vista com você à luz do dia. — Não, — Duncan avisou. — Você não gosta de ouvir a verdade? — Os olhos de Rhona estavam queimando quando ela enfiou o dedo em seu peito. — Moira nunca pensou que você fosse bom o suficiente para ela. — Se você tiver alguma coisa em minha casa, leve-a com você agora, — disse Duncan. — Você não vai voltar. Quando Rhona não se mexeu, Duncan pegou a grande sacola de pano do gancho na parede e começou a jogar as quinquilharias que ela tinha deixado em sua casa. Ele nunca tinha realmente notado antes. — Assim que você partiu para a França, Moira começou a se esgueirar com aquele belo Laird irlandês, — disse Rhona. — Ela usou minhas roupas, fingindo que era eu, assim como ela tinha feito com você. — Isso é o suficiente. — Duncan não queria ouvir, não queria acreditar. — Enquanto estavas sangrando por ela enquanto cruzavas o mar para a França, tive que escutar Moira tagarelando sobre seu importante amante irlandês e que homem ele era — disse Rhona, acenando com a mão no ar — e sobre todas as coisas que poderia dar a ela. Duncan empurrou a bolsa para Rhona e abriu a porta. — Fora! — Ela esqueceu você assim. — Rhona estalou os dedos na frente de seu rosto quando ela saiu. — E ela vai fazer de novo. Uma sugestão de primavera estava no ar, e a vista do caminho para a cabana de Duncan era de fato maravilhosa. Moira estendeu os braços e girou. Quando estava perto do topo da colina, parou no meio
do campo aberto para olhar para os Cuillins12 e ficou satisfeita consigo mesma quando se lembrava dos nomes da maioria dos picos. Não havia lugar na terra de Deus que ela preferiria estar do que aqui. Ela sorriu enquanto continuava o caminho. Logo à frente, a cabana de Duncan era uma bonita vista com sua cal fresca e teto de palha. Sàr estava deitado de um lado da porta, e alguém havia plantado rosas caninas no outro lado que seria adorável no verão. Quem teria adivinhado que o mais feroz dos guerreiros MacDonald tinha uma fraqueza por cachorros e flores? Quando se aproximou da cabana, ouviu vozes elevadas. Pelo contrário, uma voz. Uma de mulher. Seu estômago caiu. Duncan não havia mencionado que ele tinha uma mulher esperando em casa. Quando Duncan a tocou, ele a fez acreditar que não havia outra. Talvez ela só quisesse que isso fosse verdade. Só agora Moira admitia para si mesma por que ela tinha ido ao seu chalé. Ela queria dar o último passo e deixá-lo fazer amor com ela completamente. Ela não era mais uma moça de dezessete anos de idade no rubor do primeiro amor. Ela pensava que Duncan não tinha o poder de machucá-la agora. Mas ela estava errada. Ela deveria saber que um homem tão bonito quanto Duncan não estaria sozinho. Mesmo sem o rosto bonito e o corpo de guerreiro, Duncan era o tipo de homem que intrigava as mulheres, pelo menos as bravas. Elas eram atraídas por sua escuridão e silêncio, cada uma esperando ser a única mulher com quem compartilharia seus segredos.
12
O Cuillin é uma cadeia de montanhas rochosas localizada na Ilha de Skye, na Escócia. O cume principal de Cuillin também é conhecido como Cuillin Negro para distingui-lo do Red Cuillin, que fica a leste de Glen Sligachan.
Antes que Moira pudesse começasse a descer a colina, a porta se abriu e uma mulher de cabelos negros saiu. Sua cabeça estava virada e ela estava gritando de volta para a cabana. — Você é um idiota maldito, Duncan Ruadh! A princesa Moira nunca teria ficado com você antes, e ela não vai ficar agora. A mulher ajustou o grande saco de pano que pesava sobre seu ombro, depois começou a descer a colina com a cabeça baixa. Moira não tinha onde se esconder no campo aberto. Depois de alguns passos, a mulher olhou para cima e os duas respiraram fundo. — Rhona! — Moira não conseguia pensar em uma única palavra para dizer à sua ex-serva. — Duncan virá rastejando de volta para mim depois que você quebrar o coração dele novamente, — disse Rhona. Moira ficou ali, atordoada demais para se mexer, quando Rhona passou por ela. Então ela observou a figura de Rhona, se balançando sob o fardo da sacola pesada, enquanto ela descia a colina. Depois de um tempo, ela sentiu os olhos sobres ela e se virou para encontrar Duncan em pé, na frente da porta de sua cabana. — Não ligue para ela, — ele disse. Moira esperou que Duncan lhe desse uma explicação, mas o homem não disse nada. Este era um daqueles momentos em que ela achou seu silêncio sombrio muito mais irritante do que intrigante. — Então você sentiu a minha falta todos os dias, não foi? — Ela retrucou. — Eu vejo que seu sofrimento não inclui dormir sozinho. Duncan encolheu os ombros. — Rhona e eu satisfizemos as necessidades um do outro por um tempo, só isso. — É tudo o que você tem a dizer sobre isso? — Moira colocou as mãos nos quadris. — A julgar pelo quão chateada Rhona estava e
aquela bolsa pesada pendurada no ombro, vocês têm satisfeito as necessidades um do outro por algum tempo. Och, ela parecia uma harpia. Ela esperava que Duncan tivesse vivido como um monge nos últimos sete anos? Mas saber que ela não tinha motivo para se sentir magoada não a fazia sentir menos dor. Moira virou a cabeça e fixou o olhar nas ovelhas que pastavam na encosta. — Você vai entrar? — Duncan perguntou. Bem, ela veio até aqui e estava curiosa sobre onde ele morava. Além disso, ela não terminou com essa conversa. Duncan deu um passo para o lado para deixá-la entrar e depois fechou a porta atrás deles. Sàr, que deve ter entrado na cabana durante a confusão, estava deitado em frente à lareira e ocupando a metade da sala. Ele ergueu as orelhas para ela e abanou o rabo. — Do lado de fora, — disse Duncan, e o cão de caça passou por ela com um olhar culpado. Moira sentou-se na beira de uma das duas cadeiras e olhou o quarto, que era pequeno, mas limpo e agradável. Ela tamborilou as pontas dos dedos no joelho e esperou para falar de novo até Duncan se sentar também. — Por que Rhona? — Perguntou Moira. — Me desculpe se ela te irritou, — disse Duncan, o que não era resposta. — Ela era uma mulher irritada, — disse Moira. — E ela estava errada. Eu teria ficado com você para sempre se você não tivesse partido para a França. Ela não estava falando isso somente pela a acusação de Rhona de que não iria ficar com ele agora. Se Moira tivesse algum bom senso, ela estaria descendo a colina.
— Você não estava aqui, — disse Duncan. — O quê? — Perguntou Moira. — Essa é a razão pela qual eu estava com Rhona, — disse Duncan, encontrando seus olhos com seu olhar direto. — Você é a única mulher que importava para mim. Rhona sabe disso. Todo mundo sabe. — O shluagh. — Apenas quando ela estava pronta para sair, ele disse algo assim para ela. Pior, Duncan pensava que ela acreditaria nisso. E pelas próximas horas, Moira se permitiria acreditar também. Ela pegou a harpa de onde descansava ao lado de sua cadeira e entregou a ele. — Toque aquela música para mim, — disse ela. — Aquele sobre a moça de cabelo preto. Duncan tocou as cordas algumas vezes enquanto afinava. Então ele olhou para ela com seus quentes olhos castanhos, e sua voz bela encheu a pequena cabana com a canção de amor e desejo. O preto é a cor do cabelo do meu verdadeiro amor Seus lábios são como algumas rosas juntas Ela tem o sorriso mais doce e as mãos mais suaves E eu amo o chão onde ela está Eu amo meu amor e bem, ela sabe Eu amo o chão onde ela vai Espero que o dia chegue logo Quando ela e eu vamos ser como um. Duncan não deveria ter cantado aquela canção para ela novamente e mostrar sua alma completamente. No entanto, não havia sentido em tentar esconder seus sentimentos. Moira sabia que ele havia
perdido o coração para ela sete anos atrás, e ele não era um homem cujos sentimentos mudariam. Vê-la aqui em sua casa humilde tornou a situação clara para ele. No entanto, quando Moira ficou na frente de sua cadeira e olhou para ele com olhos violetas tão macios quanto seu vestido de veludo, Duncan sabia que daria sua vida para mantê-la. Ela pegou a harpa dele, colocou-a no chão e estendeu-lhe as mãos. — Me leve para a cama.
Estou feliz que você tenha vindo. Duncan emoldurou o rosto dela com as mãos e deu-lhe um beijo longo e demorado. Quando ele a pegou e levou-a para o outro quarto, Moira riu porque ele teve que se virar de lado e abaixar a cabeça para passar pela porta baixa. Uma simples cama de madeira coberta de cobertores grossos enchia a maior parte de seu quarto de dormir, o que Moira imaginou ter sido convertido do que costumava ser a metade de uma casa de campo ou abrigo de uma vaca. Atrás da cama, uma única janela estava bem fechada contra os ventos de inverno. Moira imaginou que, quando estivesse aberta em um belo dia, Duncan poderia deitar na cama e ter uma bela vista do mar e das montanhas. Sem trocarem uma palavra, tiraram a roupa rapidamente no pequeno espaço ao lado da cama. Enquanto se arrastavam sob os pesados cobertores, as cordas que seguravam o colchão rangiam sob o peso deles. O quarto era tão pequeno e a cama tão aconchegante que Moira se sentiu como se estivesse trancada com Duncan em um casulo quente. Ela colocou os braços em volta do pescoço dele e olhou para o seu rosto. Suas feições eram todos ângulos duros e sua expressão era séria, mas seus olhos cor de avelã manchados de ouro estavam quentes. Quando ele deslizou a mão sobre a curva de seu quadril, ela suspirou. Com os MacCrimmons, Duncan tinha sido paciente com ela, dando-lhe tempo para confiar em seu toque. Sob suas ministrações
gentis, seu corpo voltou a ser vivo. E agora que ela se viu no espelho, sabia que não era apenas sua beleza que o fazia querê-la. Você é a única mulher que importava para mim. Rhona sabe disso. Todo mundo sabe. A cabana, a cama rangendo e o forte corpo de guerreiro de Duncan a faziam se sentir protegida. E depois de Sean, ela precisava se sentir segura e desejada antes que pudesse compartilhar seu corpo completamente. Ela estava pronta? Ela passou as mãos sobre o peito de Duncan, apreciando a sensação dos músculos tensos e pelo áspero sob as palmas das mãos. Quando ele estendeu a mão contra as costas dela e a puxou para um beijo profundo, ela fechou os olhos e se derreteu nele. Sim, ela estava pronta. Moira se moveu contra ele como uma gata para sentir o atrito de seu peito em seus seios sensíveis. Ele gemeu e puxou-a mais firmemente para ele. Seus beijos ficaram mais febris, e a dureza de seu pênis cutucando contra sua barriga despertou nela uma profunda necessidade. Ela o segurou com força, precisando estar mais perto ainda, enquanto suas línguas se moviam juntas em um ritmo tão antigo quanto o tempo. Quando ele a rolou de costas, ela colocou as pernas ao redor de sua cintura, instintivamente, empurrando-o para frente. Sim, isso era o que ela queria. Não há mais espera. Flashes daquele verão longínquo voltaram para ela — de Duncan dentro dela, gritando seu amor por ela quando ele não podia dizer isso em nenhum outro momento. Como ela o queria assim de novo. Ela gemeu em voz alta quando a ponta do seu eixo tocou seu centro. Por um longo, longo momento, Duncan se manteve ainda acima dela, os músculos de seus ombros esticando sob seus dedos. Quando
a tensão entre eles se tornou insuportável, ela enfiou os dedos nos ombros dele e ergueu os quadris. — Por favor, Duncan. Em vez de fazer o que ela pediu, ele cobriu seus seios com as mãos calosas e desceu pelo corpo dela. Ele brincou com os mamilos entre os dedos e os polegares, enquanto beijava sua garganta e passava a língua pelo seio. O calor líquido acumulou-se profundamente em sua barriga enquanto ele se movia mais e mais baixo com seus lábios e língua quentes. A antecipação cantou através de seu corpo quando ele levantou sua perna por cima do ombro e beijou o interior de sua coxa. Um gemido alto veio da parte de trás de sua garganta quando ele finalmente passou a língua sobre o ponto sensível entre as pernas dela. Enquanto ele trabalhava sua magia com seus lábios e língua, ela agarrou a roupa de cama em suas mãos e mordeu o lábio. Ela gozou em ondas de luz branca. Era maravilhoso, mas desta vez não era suficiente. Quando Duncan se moveu para se deitar ao lado dela, Moira o puxou para baixo com as pernas. — Eu quero sentir você dentro de mim, — disse ela, ainda respirando com dificuldade. Oh, Jesus. Ela quis dizer isso? — Você está certa disso? — Duncan forçou a pergunta. — Nós não temos que fazer isso ainda. — Eu quero que sejamos como um só, — ela disse, ecoando as palavras da música que ele havia cantado para ela. — E eu não quero esperar mais um momento. Desta vez, quando ela apertou as pernas ao redor dele, instigandoo a avançar, Duncan não resistiu. Ambos ofegaram quando ele se
empurrou dentro dela em um golpe. O suor escorria em sua testa enquanto ele se forçava a respirar longa e profundamente e a ficar quieto. Seu corpo estava tão faminto por ela, e por liberação, que a vontade de se mover dentro dela, de novo e de novo, até que ele explodisse em gozo era quase irresistível. E Moira não estava facilitando isso para ele. Ela estava quente, molhada e se contorcendo debaixo dele. Lentamente, muito lentamente, ele puxou quase todo o membro. Quando ele deslizou de volta para dentro dela, a onda de prazer quase o cegou. Ele segurou o rosto dela entre as mãos e olhou em seus olhos azul-meia-noite,
enquanto
entrava
e
saía
com
uma
lentidão
excruciante. — Isso é bom? — Ele perguntou, embora pudesse dizer que era. — Sim, — disse ela e ofegou quando ele empurrou profundamente dentro dela novamente. — E para você? Ele quase riu. — Nunca me senti tão bem. Quando ele aumentou seu ritmo, ela fez aqueles sons estridentes que o deixavam louco. Ela levantou os quadris para encontrá-lo quando ele empurrou nela mais rápido e mais forte. Ele não podia mais segurar. Ele a queria para sempre. Através do sangue batendo em seus ouvidos, ele ouviu Moira chorar seu nome, enquanto seus músculos vaginais se apertavam ao redor dele. Por fim, Moira era dele novamente. Ele gozou, explodindo dentro dela. Duncan a queria novamente. Ele havia sido privado de Moira por tanto tempo que ele era como um animal faminto. Quando ele correu o dedo até a pele sedosa da parte interna da coxa para fazer a pergunta, sua respiração engatou.
Então ela rolou em cima dele, dando a ele precisamente a resposta que ele queria. Miraculosamente, Moira parecia quase tão faminta por ele quanto ele por ela. Eles fizeram amor durante toda a tarde até ficarem muito doloridos e fracos para fazê-lo novamente. Mas depois, enquanto ela cochilava em seus braços, as palavras de Rhona ecoaram de um lado para o outro na cabeça de Duncan. Será que a princesinha lhe deu prazer na cama como costumava fazer? Isso é tudo no que ela acha que você é bom para... Moira se esqueceu de você assim, e ela vai fazê-lo novamente. Duncan pensava que se ela desse seu corpo completamente para ele, lhe daria também seu coração. Mas ele teve seu amor uma vez, brevemente, e ele sabia a diferença. Ele olhou em volta de seu pequeno quarto de dormir, grande o suficiente para sua cama. Por quanto tempo Moira iria querer fugir do castelo em buscar de prazer com ele aqui? Seu clã precisava de aliados, e Connor certamente a pressionaria a fazer um novo casamento para beneficiar o clã. E Connor tinha um jeito de conseguir o que queria. Eventualmente, Moira concordaria em casar com um dos homens convidados por Connor para visitá-lo, um Laird que poderia dar-lhe todas as coisas que estava acostumada. Duncan não havia cantado o último verso da canção para ela, a parte triste. Mas ele a ouviu em sua cabeça. Eu vou para o mar, e choro e choro Para satisfazê-la, ela nunca será Então eu escrevo uma música para ela, Apenas algumas linhas curtas E sofro a morte mil vezes.
Duncan não tinha certeza se poderia sobreviver sendo separado dela pela segunda vez. Ele estava disposto a sofrer as mil mortes para estar com ela agora. Mas droga, isso não era o suficiente. Como ele estava vendo a única mulher que ele amaria para sempre dormir em seu peito, Duncan se decidiu. Ele não estava desistindo dela. Desta vez, ele encontraria uma maneira de dar a Moira todas as coisas que ela precisava. Desta vez, ele encontraria uma maneira de mantê-la. Quando Moira abriu os olhos, encontrou Duncan em pé ao lado da cama totalmente vestido e cheirando ao ar livre. Em sua mão, ele segurava um jarro com um punhado de urze. Ele beijou sua testa e se inclinou sobre a cama para colocar a urze no parapeito da janela. — Eu não sabia que a urze já estava florescendo. — Ela se sentou e colocou o nariz para respirar o cheiro. — Você só precisa saber onde procurar, — disse Duncan e sentouse na beira da cama. Moira sentiu suas defesas desmoronarem. Depois de fazer amor com ela até que ficasse sem sentido, Duncan estava mostrando a ela esse lado gentil dele que apertava seu coração. Quando ele estava assim, ela quase podia confiar nele. Quase. Moira sentiu uma pontada de culpa por não contar a ele sobre Ragnall. Ela sabia que quanto mais esperasse para lhe dizer que Ragnall era seu filho, mais difícil seria. Mas apesar de seu amor apaixonado e gestos gentis, uma parte dela ainda não acreditava que ele merecesse saber. Ela não esquecera que Duncan a deixara ou tudo o que ela sofrera por causa disso — os anos de viver com medo e ter seu corpo usado por um homem que ela detestava. E como ela teve que lutar de mil maneiras sutis contra a
influência de Sean sobre seu filho. Ela vencera a batalha pela alma de seu filho e fizera tudo sozinha. Duncan pegou uma mecha de cabelo entre o dedo e o polegar e o girou. — Você é ainda mais adorável do que costumava ser. Ela soprou. — Eu me vi em um espelho. — Eu acho que sabe que eu iria querê-la, não importa que aparência tenha, — disse Duncan, fazendo Moira se sentir toda macia por dentro novamente. Moira não conseguia esquecer o passado, nem ela queria deixar a amargura arruinar sua felicidade do momento. E, milagrosamente, ela estava feliz. — Eu espero ficar fora por alguns dias em uma missão para Connor, — disse Duncan. — Você precisa ir? — ela perguntou e passou a mão pelo peito dele. — Sim, — disse ele e afastou o cabelo do seu rosto. — Antes de ir, preciso dizer a você que eu... Moira colocou os dedos sobre os lábios dele. — Não diga isso. Palavras sem sentido, era tudo o que elas eram. Ela não queria que ele arruinasse o que havia entre eles com palavras de amor que equivaliam a falsas promessas. Todos aqueles anos atrás, ela acreditava que aquelas palavras significavam que ele ficaria com ela, que estaria sempre lá, que ele não iria falhar com ela. — Vamos aproveitar ao máximo isso enquanto durar, — disse ela. — Enquanto durar? — Duncan perguntou, com uma ponta de dor em sua voz.
— Sim. — Isso era tudo com que alguém poderia contar. Esperar mais apenas levava à decepção. — E quanto tempo você acha que vai ser? — Duncan disse entre os dentes. — Eu não sei. — Ele estava ficando irritado, mas ela não ia mentir. Até ter seu filho de volta, ela não queria pensar no futuro mais do que no passado. Ela esfregou a mão na coxa de Duncan. — Tudo o que sei é que estou feliz com você agora. — Você gosta de compartilhar uma cama comigo. — Eu gosto. — Ela não podia esconder o sorriso se espalhando em seu rosto, apesar do olhar ameaçador que Duncan estava dando a ela. — Eu quero ficar aqui na cabana com você até que parta. Talvez eu fique aqui enquanto você estiver fora. Você pode me ajudar a trazer algumas das minhas coisas? — Você não pode ficar aqui, — disse Duncan, levantando a voz, apesar de seu esforço para ficar calmo. — E você não pode ficar morando na minha casa enquanto eu estiver fora. A mulher iria deixá-lo louco. Não importava o que mais ela dissesse, seu plano de ficar em seu chalé tinha que significar que ela pretendia se casar com ele. Já que ela não se importava em ouvir suas palavras de amor, ele só podia supor que ele a agradou na cama ainda mais do que pensava. — Por que eu não posso ficar aqui? — Ela perguntou. — Por uma coisa, é mais seguro no castelo. Por outro lado, seria impróprio e indecoroso. E para um terceiro, Connor teria minha cabeça em uma bandeja. — Indecoroso? — Perguntou Moira, parecendo indignada. — Eu não sou solteira há sete anos.
Ela se inclinou para o lado da cama e começou a recolher suas roupas do chão. — Venha, Moira, sabe que não pode ficar aqui sem nos casarmos. Duncan tinha formado um plano, mas ele não queria discutir o casamento com ela até ter certeza de que seu plano teria sucesso e até que ele tivesse a permissão de Connor. Essa era a única maneira honrosa de fazer isso. — Eu não sei nada disso, — disse Moira quando ela empurrou sua camisa sobre a cabeça. — Ninguém, nem você, nem meu irmão, nem ninguém, vai me dizer o que posso ou não fazer. — Não podemos ter todos acreditando que você está se entregando a mim sem nos casarmos. — Mas eu estou me entregando a você sem me casar. — Ela passou por ele com o resto de suas roupas em suas mãos. — Esse não é o ponto, — disse Duncan, seguindo-a para o outro quarto. — Você não se preocupa com a sua reputação? — Não, — disse ela, voltando-se para olhar diretamente para ele. — Eu não. Ela entrou em seu vestido e, deixando-o solto nas costas, jogou sua capa sobre ele. — Se você vai agir tolamente sem nenhuma consideração pelas consequências, — disse Duncan, sacudindo o dedo no seu rosto, — então você pode esperar que aqueles que cuidam de você e que têm muito mais sentido, digam-lhe o que fazer. — Você é um idiota Duncan MacDonald! — Moira gritou. — Nos últimos sete anos, estive sob o polegar de um homem, cada movimento meu assistido e censurado, e nunca deixarei que isso aconteça novamente.
— Eu não sou como Sean, — Duncan opôs, abrindo os braços para fora. — Mas eu não vou ter todos os nossos membros do clã pensando mal de você por causa do que está fazendo comigo. — Eu pensei que isso é o que você queria, — ela retrucou. — Você certamente pareceu gostar, repetidamente, há pouco tempo. — Eu quero você, — disse ele. — Você sabe muito bem que eu quero. Ela o ignorou e se dirigiu para a porta. — Eu duvido que vou ter algum problema, — disse ela por cima do ombro quando abriu a porta, — de encontrar um homem que aprecie uma moça imprópria como eu. — Você deixe outro homem apreciá-la, e eu vou matá-lo. A porta bateu atrás dela.
Erik estava esperando na costa rochosa abaixo do Castelo Trotternish na noite marcada até ver o contorno do barco de Hugh pairando no mar. — Aqui, — Erik chamou, depois de olhar para trás novamente para se certificar de que ninguém o seguiu. — Deixe seus homens no barco. Ele ouviu um barulho e viu a forma escura de Hugh vindo em sua direção. — Onde está o garoto? — perguntou Hugh quando chegou a Erik. — Eu não o trouxe, — disse Erik. — Você me disse que ele estaria aqui. Tínhamos um acordo. — Hugh parecia indignado como se nunca tivesse alterado um acordo. — Eu não posso entregá-lo a você ainda — disse Erik. — Então, quando? — Perguntou Hugh. — Quando você me der informações que valem a pena, — disse Erik. — Eu pensei que você queria se livrar do rapaz tanto quanto eu. — Eu não me importo de uma forma ou de outra, — Erik mentiu. — Mas meu Laird ficará descontente se algo lamentável acontecer ao rapaz. Eu preciso de uma razão muito boa para assumir o risco. Eu preciso de informação. — Perder Trotternish é como uma ferida infeccionada para meu sobrinho, — disse Hugh. — Eu sei que ele está planejando tomá-lo de volta.
— E talvez eu esteja planejando foder a rainha das fadas, — disse Erik. — Se você quer o rapaz MacQuillan, você terá que me dizer mais do que o seu sobrinho está sonhando. — Connor tentará tomar o castelo, — disse Hugh. — Quando ele planeja fazer o ataque, eu ainda vou ouvir sobre isso. Ele parecia confiante, mas Erik não confiava em Hugh mais do que Hugh confiava nele. — Quando me trouxer o plano do seu sobrinho para atacar o meu castelo — disse Erik, — vou dar-lhe o rapaz. Duncan se encolheu quando outro grito horripilante ecoou pelas escadas do castelo de Knock. Ele olhou para Ian para ver se eles deveriam ver as feridas, mas Ian recostou-se em sua cadeira e bebericou seu uísque, sem demonstrar preocupação com o caos no andar de cima. — Essas moças pequenas têm bons pulmões — disse Connor, erguendo a voz para que pudesse ser ouvido por causa das contínuas objeções das gêmeas em cochilar. — Sim, — Ian disse com um sorriso, como se fosse um elogio. — Elas são moças de temperamento forte, como sua mãe. Connor estremeceu quando outro grito chegou até eles. E Duncan achava que seria bom para Connor escapar de Dunscaith por algumas horas, em vez de mandar chamar Ian. — Agora que estamos aqui, — disse Connor, voltando-se para ele, — o que você queria falar? — Eu sei como entrar no Castelo Trotternish, — disse Duncan. — Como? — Connor perguntou. — Com minha gaita de fole, — disse Duncan. — Sua gaita de fole? — Ian riu. — Eu pensei que você estava falando sério.
— Eu estou, — disse Duncan. — Quando Teàrlag veio para Dunscaith antes que eu partisse para a Irlanda, ela me disse que minha música forneceria a resposta do que precisamos. Isso os silenciou por um tempo. As previsões de Teàrlag geralmente se realizavam, embora nem sempre como seria de se esperar. — Ela estava certa sobre Moira estar em perigo, e eu a encontrei em uma poça de sangue, assim como Teàrlag disse, — Duncan disse a eles. A velha vidente também previu que Duncan precisaria de sua flauta e, na verdade, isso levou os MacCrimmons a aceitá-lo. — Então ela pode estar certa sobre a minha música também. — Vá em frente, — disse Connor. — Bem, eu estive pensando sobre o que Ian disse sobre nós estarmos precisando de espiões em nossos inimigos, — disse Duncan. Ian gemeu. — Eu posso adivinhar o que você vai propor. — Eu vou fingir que sou um flautista a caminho de visitar os MacCrimmons, — explicou Duncan. — Quando eu estiver dentro, vou dar uma olhada. Se eles tiverem uma fraqueza, eu a encontrarei. — Você acredita que pode enganá-los? — Connor perguntou. — Eu sou um bom flautista, — disse Duncan com um encolher de ombros. — Você toca bem o suficiente, mas parece um guerreiro. — Ian apertou o braço de Duncan. — Um homem não faz músculos como este soprando gaita de fole. — As pessoas veem o que esperam ver, — disse Duncan. — Se eu tocar uma gaita de fole e me vestir com simplicidade, ninguém vai olhar além disso.
— Alguém poderia reconhecê-lo de uma batalha ou reunião, — disse Connor. — Eu não gosto da ideia de você ir lá sozinho. — Um homem sozinho é menos propenso a levantar suspeitas, — disse Duncan, dizendo a Connor o que ele já sabia. — E nenhum de vocês poderia tocar uma música para salvar suas vidas. — Também não gosto de ele ir sozinho, mas é um bom plano — disse Ian, olhando para Connor. — Não temos outra maneira de descobrir se o castelo é vulnerável. — É muito arriscado, — disse Connor, balançando a cabeça. — Se os MacLeods descobrir quem você é, eles não vão dar-lhe uma morte rápido. — Esse é um risco enfrentado por um guerreiro. — Eu preciso tomar o castelo de Erik MacLeod, — disse Duncan, encontrando o olhar de Connor. — Eu lutei por este clã desde que eu tinha idade suficiente para segurar um claymore. Você me deve essa chance de vingança. — Tudo bem. — Connor soltou a respiração e descansou a mão no ombro de Duncan. — Se você descobrir uma fraqueza nas defesas do castelo, precisaremos reunir todos os guerreiros que pudermos para a batalha. Vou mandar uma mensagem para Alex em North Uist. Quando você voltar, ele estará aqui com seus homens. — Vou encontrar uma fraqueza, — disse Duncan. — Enquanto isso, devemos manter isso entre nós três, — disse Connor. — Se um sussurro chegar aos MacLeods, encontraremos o corpo quebrado de Duncan no mar abaixo dos penhascos do Castelo de Trotternish. Duncan se recostou na cadeira. Se eles conseguissem tomar o Castelo Trotternish, Connor certamente faria dele o novo guardião. Então ele finalmente estaria em posição de se casar com Moira.
Tudo ficaria bem. AtĂŠ as gĂŞmeas pararam de gritar. Certamente isso era um sinal.
Duncan arrastou o barco até a margem, numa enseada tranquila a alguns quilômetros do Castelo Trotternish e escondeu-o nos arbustos baixos. Com um suspiro de arrependimento, ele soltou sua claymore e colocou-a cuidadosamente no fundo do barco. — Guarde-a bem enquanto eu estiver fora, Sàr. — Ele coçou as orelhas do cão e pegou seus gaita de fole. Ninguém deveria saber que Duncan estava indo, mas sua irmã Ilysa tinha aparecido em seu chalé com o cachorro quando ele estava partindo. Ela alegou que tinha tido uma visão, ou alguma tolice, e insistiu que ele trouxesse o wolfhound com ele. Embora Duncan não acreditasse que Ilysa tinha o dom da visão — ou pelo menos, ele esperava que não — ficara feliz pela companhia do cão nos dois dias de navegação no barco a vela. Ele deixou Sàr acompanhá-lo até que eles estavam à vista do Castelo de Trotternish, então ordenou que ele ficasse. Como os wolfhound geralmente pertenciam aos primogênitos e eram distintos de outros cães, ele não podia levar o cachorro com ele. Quando Duncan atravessou o amplo campo gramado que levava ao castelo, ele pôde ver as ondas do mar estendendo-se por quilômetros, até as ilhas externas. Aqui no penhasco, com o vento forte soprando o cabelo para trás, ele teve a sensação de estar no limite do mundo. Ele entendeu a atração que seus ancestrais vikings devem ter sentido para navegar para o oeste, rumo ao desconhecido.
Duncan tinha ido ao Castelo de Trotternish várias vezes quando estava na posse dos MacDonalds. Mas desta vez, ele veio como um inimigo. O castelo estava construído em uma ponta do penhasco, com elevações de rochas de quinze metros em três lados. Havia apenas duas maneiras de atacar. Do mar, os guerreiros tinham que subir em escadas íngremes que eram cortadas na rocha e curvadas no penhasco a partir da praia adjacente. A abordagem do mar era quase impossível, a menos que você tivesse muitos homens e estivesse disposto a perder muitos deles. Pelo que Duncan ouvira, fora isso que os MacLeods haviam feito. A única outra abordagem era através desta expansão aberta no penhasco, o que dava aos defensores do castelo muitas advertências. Na verdade, Duncan podia sentir os guardas observando-o agora. Um ataque daqui teria que ser feito sob a cobertura da escuridão ou em condições climáticas extremamente precárias. Quando Duncan cruzou os últimos metros até o castelo, a terra caiu de ambos os lados dele. Este trecho final de terra que levava ao ponto em que o castelo se encontrava era estreito e tinha uma vala escavada sobre ele, aumentando a defensa do castelo. Duncan não se incomodou em chamar ou bater no portão, já que os guardas estavam observando sua lenta chegada por algum tempo. Em vez disso, ele abriu a bolsa e ergueu a gaita de fole para os guardas verem. Sentiu-se meio nu, sem sua claymore, amarrada às costas. Entrando no covil de seu inimigo sem nenhuma arma além de seus gaita de fole, ele poderia muito bem-estar segurando seu pênis em sua mão.
Os guardas abriram o portão sem sequer questioná-lo. Quando Duncan voltasse para Dunscaith, ele se certificaria de que os guardas MacDonald não fossem tão facilmente enganados pelas aparências. — Espero que você seja melhor do que o último gaiteiro que passou por aqui, — disse um guarda. — Vá ao salão e alguém vai alimentá-lo. Duncan puxou o capuz para baixo sobre os olhos enquanto entrava no castelo. Ele se tornou bastante conhecido por suas habilidades de luta. Ele estava contando que tanto os guerreiros MacLeod de dentro, como os guardas no portão, vissem apenas um homem com gaita de fole — e sem claymore — e não viessem olhar mais de perto. O salão estava barulhento, e parecia que a refeição do meio-dia acabara de terminar. Bandejas quase vazias de comida estavam nas mesas, e cerca de metade das pessoas no salão ainda estavam sentadas, enquanto as outras estavam se mexendo antes de se prepararem para as tarefas da tarde. Quando Duncan se dirigiu a uma mesa, algumas pessoas olharam para ele com curiosidade, mas ninguém tentou detê-lo. Ele decidiu que poderia comer enquanto observava os MacLeods e encontrou um lugar vazio na frente de uma travessa que ainda tinha uma boa quantidade de comida. Ele esfaqueou um pedaço de carne de porco assada com a faca de comer. Antes que a suculenta carne chegasse à sua boca, uma voz profunda ressoou pelo salão. — Você deve tocar primeiro para ganhar o seu jantar, gaiteiro! Havia um MacLeod, afinal, que tinha a inteligência para testar um estranho que entrava no castelo. Relutantemente, Duncan baixou a faca.
Quando a sala barulhenta ficou em silêncio, os sentidos de Duncan ficaram em alerta. Lentamente, ele se virou na direção da qual a voz havia chegado. O sangue escorreu de sua cabeça quando ele encontrou o olhar do homem sentado no centro da mesa alta. Se o Laird MacLeod estivesse no castelo, ele estaria sentado na cadeira decorada de encosto alto no centro. Mas Duncan já havia visto Alastair MacLeod antes, um homem de sessenta e poucos anos com uma corcunda, e não era ele. Na ausência do Laird, o homem que teria a honra de se sentar naquela cadeira seria o guardião do castelo e, o homem que Duncan procurara a vida toda. Pela primeira vez, Duncan olhou para o rosto de seu pai. Seu inimigo. Erik MacLeod provavelmente tinha quarenta e poucos anos, embora ainda parecesse forte como um boi. Exceto por sua constituição, a semelhança entre ele e Duncan não era forte. Erik tinha cabelos grisalhos que usava curto e uma barba para combinar. Ainda assim, Duncan podia se ver na dureza dos olhos do homem mais velho. Cada fibra de seu corpo o incitou a alcançar o punhal escondido em sua bota e atacar seu inimigo, dando seu grito de guerra. Duncan era rápido com uma lâmina. Ele poderia afundar seu punhal na garganta de Erik antes que alguém pudesse detê-lo. Mas ele estava aqui em uma missão para seu clã, e sua vingança pessoal teria que esperar um pouco mais. Sua hora vai chegar, meu velho. E em breve. Todos esses pensamentos correram pela cabeça de Duncan em um instante. Rapidamente ele baixou o olhar e forçou seus músculos para relaxar como ele se inclinou e tirou a gaita de foles do saco de couro oleada para carrega-la.
— Seu tamanho é desperdiçado em ser um gaiteiro, — disse Erik em uma voz estrondosa. — Quem é você, flautista? — Eu sou um MacKay. — Duncan considerou escolher os MacArthurs, outra família nas ilhas, mas ele se estabeleceu nos MacKays porque suas terras estavam longe, no Norte do continente escocês. — Você está muito longe de casa, — disse Erik, estreitando os olhos para Duncan. — Estou a caminho dos MacCrimmons, — disse ele. — Com a sua permissão, eu vou passar por este caminho novamente no meu retorno. Duncan esperava que, quando voltasse, estivesse invadindo os portões, em vez de carregar sua gaita de fole, mas parecia sensato facilitar o caminho se precisasse usar o truque de novo. — Qual é o seu negócio com os MacCrimmons? — Erik perguntou. — Ouvi dizer que eles são os melhores gaiteiros, — disse Duncan. — Eu quero ver por mim mesmo se é verdade e negociar algumas músicas com eles. — Eu também não sou uma alma confiante, — disse Erik. — Vamos ouvir você tocar essa gaita de fole. Erik estava forçando as regras da hospitalidade, exigindo que seu convidado se apresentasse, mas o homem cometeu pecados muito piores. Os dedos de Duncan encontraram seus lugares na gaita de fole e da melodia, ou ponteira,13 de tubo longo. Quando ele colocou o bocal em sua boca, fechou os olhos para se concentrar. Se ele quisesse ficar fora da masmorra do castelo, ele precisava dar uma performance persuasiva. Como de costume, seu humor afetou sua música, e ele
13
Ponteira ou chanter - A ponteira funciona como uma flauta presa ao fole. Feita de madeira e geralmente com 11 buracos, oito usados na melodia e três para a afinação, ela recebe parte do fluxo de ar do fole e é manuseada pelo gaiteiro para tocar as notas.
tocou uma música que soou como uma tempestade com chuva e granizo. Quando ele terminou e abriu os olhos, o salão estava em silêncio. O aplauso começou com algumas palmas e depois se espalhou pela sala. — Eu nunca ouvi uma música como essa antes, — disse Erik quando os aplausos cessaram. — Mas você ganhou o seu jantar, gaiteiro. E você ganhou a morte pela minha espada. Antes que você sinta a minha espada, vou me certificar de que você sabe quem tirou o seu castelo de você. Duncan saiu do salão assim que acabou de comer. Ele contou cem guerreiros MacLeod dentro. Isso seria mais do que suficiente para manter uma fortaleza forte, a menos que descobrisse uma fraqueza — uma muralha em ruínas, uma porta fraca, guardas bêbados. Enquanto passeava pelo pátio, fingindo desfrutar do frio congelante, Duncan notou que as pesadas portas de carvalho do portão eram reforçadas com ferro. Ele olhou ao longo do topo das muralhas; a meia dúzia de guardas pareciam estarem alerta e vigilantes. Droga. Se o castelo tivesse uma fraqueza, ele não podia ver. Vil como Erik era, ele fez seu trabalho de manter as defesas do castelo. Depois de escurecer, Duncan iria para dentro das salas de armazenamento construídas contra a muralha externa e procuraria por buracos mal remendados. Ele não esperava encontrar nenhum. Ele deveria encontrar uma maneira de tomar este castelo. Tudo dependia disso. Quando um dos guardas notou que Duncan estava examinando a estrutura do castelo com muita atenção para um músico, Duncan se virou para voltar para dentro. Ao subir os degraus, ele passou o olhar
pela velha torre de quatro andares e depois pelo prédio de dois andares fixo em ângulo reto. Este edifício mais baixo corria ao longo da borda do penhasco com vista para o mar. Uma ideia começou a se formar na cabeça de Duncan. — Acredito que temos cerveja e vinho suficientes para durar até a primavera. Ilysa estreitou os olhos enquanto corria o olhar pela fileira de barris, depois estalou a língua. — Mas estamos com um pequeno barril de uísque. Isso nunca será suficiente. Moira encontrara Ilysa em uma das salas de armazenamento na cripta, avaliando o que restava dos suprimentos de inverno do castelo e se ofereceu para ajudar. — Os homens podem sobreviver sem uísque por algumas semanas, — disse Moira. Ilysa deu-lhe um olhar duvidoso. — Eles chamam isso de uisge-beatha, água da vida. Moira riu. — Eu suponho que você tenha um plano para conseguir mais. — Vou mandar uma mensagem para o padre Brian pedindo-lhe para trazer um barril quando ele vier em sua visita anual à ilha, — disse Ilysa. Och, a irmã de Duncan era um modelo de competência. Moira esperava que seu irmão apreciasse o quanto Ilysa era boa, mas suspeitava que Connor, como a maioria dos homens, não notava uma casa que funcionava bem, tanto quanto, não notava uma que funcionava corretamente. — Você sabe onde seu irmão foi ou quando ele estará de volta? — Embora Moira ainda estivesse louca o suficiente para cuspir nele, ela se sentia desconfortável sem saber onde ele estava. Duncan a
surpreendeu, saindo sem tentar falar com ela novamente — e ele até levara seu cachorro! — Eu não sei onde Duncan está, — disse Ilysa. Isso fez com que Moira ficasse furiosa toda vez que pensava em Duncan falando sobre decoro e sobre o que ela podia e não podia fazer. Como ele ousava? Ela era uma mulher adulta. Se ela escolhesse dividir a cama com um homem, não era da conta de ninguém, mas dela mesma. Se ela quisesse ser ordenada e criticada, ela tomaria outro marido. Pelos santos, ela não sofreria mais aquela desgraça. — Diga-me, — disse Moira. — Seu irmão tenta dizer a você o que fazer? — Sim, — disse Ilysa enquanto ela limpava a poeira de suas mãos. — Será que não a irrita com isso? — Perguntou Moira. — Não muito. — O que você faz? — Perguntou Moira. — Primeiro, sorrio para ele, porque sei que quer meu bem, — disse Ilysa enquanto conduzia Moira para o próximo depósito. — E então, a menos que ele tenha me persuadido, levantando algum ponto sobre o qual eu não tinha pensado, o que é raro, eu faço como pretendia desde o princípio. Moira desatou a rir. — Isso é muito mais inteligente do que discutir com ele. — Você sabe como era minha mãe, — disse Ilysa com um encolher de ombros. — Eu aprendi a tomar decisões por mim mesmo em uma idade jovem. Enquanto Ilysa contava os sacos de aveia empilhados contra a parede, Moira pensou na mãe de Ilysa e Duncan, uma mulher amável, mas amedrontada. Moira se sentiu culpada por ter ignorado as
tentativas da pobre mulher de guiá-la. Ela tinha sido muito mimada e obstinada para uma babá tão mansa. — Quando eu era criança, Duncan geralmente estava com os outros jovens, — disse Ilysa quando terminou de contar os sacos de aveia. — E então ele nos deixou. Moira não pensara nas consequências de seu caso na mãe e na irmã de Duncan. Na época, Moira era apenas um ano mais nova do que Ilysa era agora, mas não podia ser mais diferente do que essa jovem responsável e contida. Mas, por mais selvagem e indisciplinada que Moira fosse, ela amava Duncan profundamente. Moira olhou para as feições delicadas de Ilysa e esperou que ela não sofresse tanto pelo amor como ela. Duncan entrou na torre de menagem,14 mas em vez de atravessar o segundo conjunto de portas até o corredor, abriu a porta à direita que levava ao prédio adjacente. Quando os MacDonalds tinham a posse do castelo, os aposentos privados do Laird estavam aqui, e Duncan nunca havia estado lá antes. Se alguém o visse nessa parte do castelo, ele precisaria de uma explicação. Duncan lamentou não ter prestado atenção quando Alex falou longamente sobre quais mentiras funcionavam melhor em tais situações. Antes de seu casamento, Alex estava sempre se esgueirando dentro e fora de aposentos ele não deveria estar. Por sorte, o prédio parecia estar vazio. Quem quer que tenha esses quartos agora deveria estar no salão. Duncan olhou para a grande sala que compunha o primeiro andar. A parede de frente para o pátio estava coberta de tapeçarias e sem janelas, como ele sabia que seria. Mas ele amaldiçoou em voz baixa quando viu as janelas estreitas e as seteiras
14
A torre de menagem, em arquitetura militar, é a estrutura central de um castelo medieval, definida como o seu principal ponto de poder e último reduto de defesa, podendo em alguns casos servir de recinto habitacional do castelo
do lado que davam para o mar. Muito provavelmente, as janelas do andar de cima seriam as mesmas, mas ele queria checar antes de desistir de seu plano. Duncan subiu as escadas rapidamente, mantendo os ouvidos atentos. Quando ele ouviu as vozes das crianças, ele hesitou. Mas ele só precisava de um rápido olhar, e as crianças pareciam absorvidas em sua brincadeira. Quando ele se inclinou em torno da entrada da escada, viu um menino e uma menina brincando com espadas de madeira. O garoto usava um capuz e estava de costas para Duncan. A garota, que tinha um palmo a menos de um metro, tinha olhos azulverão e belos cachos saltitantes. O quarto em que eles estavam brincando media a largura do prédio estreito, como a sala abaixo, mas tinha janelas dos dois lados. Uma janela tinha vista para o penhasco do mar, enquanto os da parede oposta estavam em direção às muralhas do castelo e aos campos gramados. Droga, droga, droga. As janelas tinham menos de 30 centímetros de largura. Ele teria que encontrar outro caminho. Duncan sabia que deveria sair antes que as crianças o vissem, mas algo o fez parar na porta para observá-los. — Não é assim, sua tola! — O menino disse. Duncan considerou intervir até que ele viu a diversão no rosto da menina. — Segure-a assim para que eu não possa mergulhar minha lâmina em sua barriga. — O menino pegou o braço da menina e mostrou-lhe como segurar sua espada de madeira. — Você não gostaria disso, gostaria? A moça balançou a cabeça, enviando seus cachos justos saltando.
— Você não faria isso comigo. — Claro que não, — disse o rapaz. — Mas outra pessoa pode tentar um dia, e eu não estarei aqui para protegê-la. A garota largou a ponta da espada no chão. — Por que não? — Eu disse a você antes, — disse o rapaz. — Estou voltando para a Irlanda. A garota esticou o lábio inferior. — Eu não quero que você vá embora, Ragnall. Ragnall. O coração de Duncan parou em seu peito. Ele havia tropeçado no filho de Moira? — Eu preciso voltar, — disse o rapaz. — Minha mãe precisa de mim.
Rapaz, você é Ragnall MacQuillan? — Duncan perguntou quando ele passou na porta para mostrar a si mesmo. As crianças pararam a brincadeira e o menino se virou para olhálo. Duncan recuou um passo, como se tivesse levado um duro golpe e ele se sentiu como se tivesse sido acertado. Naquele instante, ele sabia a verdade. E que Moira mentiu para ele. O menino tinha os olhos azuis da meia-noite de Moira, mas todas as suas outras características eram de Duncan, incluindo seu cabelo ruivo brilhante. Embora o cabelo de Duncan fosse um ruivo profundo agora, tinha sido aquela cor exata quando ele era um bebê. — Sim, eu sou Ragnall. — A postura do rapaz era dura, os olhos cautelosos. — Quem é Você? Duncan ficou atordoado demais para falar por um momento e depois não teve certeza de como responder. Finalmente, ele disse: — Meu nome é Duncan. Eu toco os gaita de fole. Ele entendia agora que não era coincidência que o marido de Moira tivesse explodido em uma fúria assassina na mesma noite em que Duncan chegou. Quando Sean o viu, ele deve ter chegado à mesma conclusão que Duncan tinha acabado de ter. — Quantos anos você tem? — Duncan perguntou, precisando confirmar. — Eu tenho oito anos, — disse a menina, inclinando a cabeça e mandando seus cachos saltando novamente.
— E você? — Duncan perguntou a Ragnall. Ragnall fez uma pausa, como se quisesse responder, antes de dizer: — Seis e meio. Duncan ouviu a voz de Moira em sua cabeça. Ragnall tem cinco anos. Ela o havia enganado propositalmente, e ela continuou com a mentira todos os dias desde então. Se Moira mentiria para ele sobre seu filho, ela mentiria sobre qualquer coisa. Como ela pôde fazer isso? Não foi por falta de oportunidade que ela não lhe contou a verdade. Duncan pensou em todas as vezes que ela mencionou seu filho — e o pior, todas as horas que ela deitou em seus braços — e optou por não contar a ele. Como poderia Moira deixá-lo tocá-la de todas as maneiras íntimas e ainda manter esse segredo dele? Quando eles faziam amor, ele acreditava que suas almas se tocavam, mas agora ele podia ver que era apenas a sua que estava nua. — Qual é o seu nome? — Duncan perguntou à menina. — Eu sou Sarah, — a garota disse com um sorriso brilhante. — Alguém lá embaixo estava chamando por você, — disse Duncan. — Och, essa é minha babá, — disse Sarah e revirou os olhos. Duncan apostaria que Sarah fugira da pobre mulher esfarrapada. — É melhor você ir até ela. — Espere aqui, — disse Sarah para Ragnall enquanto voava para fora da porta. — Eu voltarei assim que puder. Ragnall olhou para ele como se Duncan fosse um quebra-cabeça que ele estava tentando resolver.
— Eu sou um MacDonald, — disse Duncan, — e um amigo de sua mãe. — Onde ela está? — Ragnall perguntou, com os olhos arregalados. — Ela está segura? Ragnall parecia tão preocupado que Duncan pôs instintivamente a mão na cabeça do rapaz. Uma inesperada onda de calor passou por ele. Este era seu filho, um presente que Moira não lhe negaria mais. — Sua mãe está segura com o nosso clã no Castelo de Dunscaith, — disse Duncan. Ragnall estudou-o. — Você poderia estar mentindo. Ele era desconfiado para um rapaz tão jovem. Isso era obra de Sean. — Vamos olhar para fora da janela, e eu vou mostrar-lhe que falo a verdade. — Duncan levou o menino para uma das janelas que davam para os amplos campos por trás do castelo e levantou-o no joelho. — Olhe atentamente para lá, para o Sudeste, na beira do campo. — Duncan se inclinou para perto de modo que suas cabeças apenas tocaram quando ele apontou. — Você pode vê-lo? Ele está lá, agachado na grama. O garoto ficou quieto e apertou os olhos enquanto procurava no campo distante, então ele respirou fundo. — Sàr! — A única palavra era tão cheia de emoção que Duncan sentiu sua garganta se fechar. Talvez esta fosse a Visão ou qualquer outra coisa que fizesse Ilysa sugerir que ele trouxesse o cachorro, Duncan ficou grato. Ragnall virou-se para ele, de modo que ficaram frente a frente com os rostos a poucos centímetros de distância quando ele fez sua pergunta.
— Você veio me levar para minha mãe? O rosto jovem de Ragnall parecia tão esperançoso que doía em Duncan. Ele queria levar seu filho para fora do castelo neste exato momento, mas ele não podia. Os guardas não permitiam que ele tomasse o filho do Laird MacQuillan, e lutar contra a saída seria tolice. Não só ele falharia em sua missão para seu clã, mas colocaria o menino em perigo. Ele lembrou a si mesmo que Ragnall estava sob a proteção do Laird MacLeod e estava em segurança. — Você pode manter um segredo? — Duncan perguntou, sabendo que ele estava assumindo um risco enorme confiando em uma criança pequena com informações tão importantes. — Mesmo da sua amiga Sarah? Ragnall assentiu. — Eu sou bom em guardar segredos. Duncan estava apostando sua vida nisso. — Eu não posso fazer isso agora, — disse ele, — mas eu voltarei em breve com um grande número de guerreiros MacDonald para tomar este castelo dos MacLeods. Vou levá-lo para casa para sua mãe então. As sobrancelhas de Ragnall se ergueram. — Um ataque? — Ele perguntou, parecendo animado. — Como você vai fazer isso? — Eu esperava encontrar uma janela de frente para o mar que fosse larga o suficiente para um homem passar, — disse Duncan. — Mas as janelas são muito pequenas. Ragnall ficou quieto por um momento, depois seu rosto se iluminou. — A janela da torre é maior. — Que torre? — Perguntou Duncan.
— Você não pode vê-la da frente do castelo, — disse Ragnall. — Ninguém vai lá porque é assombrada, mas Sarah mostrou para mim. Nós brincamos lá às vezes. Duncan tentou não esperar muito. — Você pode me mostrar? — É por ali, — disse Ragnall, apontando para uma porta baixa no canto mais distante da sala. Duncan abaixou a cabeça enquanto seguia Ragnall pela porta baixa e subiu três degraus até uma pequena sala redonda. A janela curva parecia ter dois metros de largura e dois metros de altura. Duncan se inclinou e olhou pelo penhasco até o mar abaixo. Isso poderia ser possível. — Sarah disse que a babá deixou o bebê cair dessa janela, — disse Ragnall. — É por isso que ela não pode descansar. Duncan sentia muito pela mulher e pelo bebê, mas a história de fantasmas seria útil. Ragnall ouviu com uma expressão séria quando Duncan explicou seu plano. — Vou sair logo de manhã, — disse Duncan. — Quando eu voltar, ainda estarei fingindo ser um flautista. Deve ter cuidado para não me entregar. Ragnall assentiu. — Haverá uma batalha pelo castelo, — disse Duncan, — mas vou tirá-lo em segurança. Foi a primeira promessa de Duncan para seu filho, e ele pretendia ser um pai que cumpria suas promessas. Nesse meio tempo, ele tinha algumas palavras bem escolhidas para dizer à mãe mentirosa do rapaz.
O olhar de Erik continuou voltando para o flautista enquanto ele tocava para eles depois do jantar. O grande músico ruivo o intrigava, e Erik não tinha subido à sua posição ignorando quebra-cabeças. Ao ouvi-lo tocar, Erik teve que admitir que o homem era um verdadeiro músico. Na verdade, o flautista estava tão envolvido em sua música que parecia não perceber que todas as moças suspiravam por ele. Ainda assim, o flautista não conseguia que os músculos ondulassem nas costas largas ao soprar em seus gaita de fole. Ele se movia com a graça e o poder de um leão ou um guerreiro das Terras Altas. Era hora de um teste. Erik pegou uma maçã do prato à sua frente e esperou até que o gaiteiro estivesse no meio de uma melodia animada. — Gaiteiro! — Erik gritou enquanto jogava a maçã rápida e dura diretamente em sua cabeça. O flautista segurou a maçã com uma das mãos, sem largar o instrumento, deu uma mordida e continuou sua música, quase perdendo o ritmo, para um rugido de aplauso. Erik estreitou os olhos. Assim como ele suspeitava, esse gaiteiro tinha os reflexos rápidos de um homem que precisava deles para se manter vivo. Talvez não significasse nada. Mas com a constituição daquele guerreiro, Erik apostaria que esse flautista poderia lutar. Ele era como um homem com uma natureza debochada que se torna padre. Embora o padre pudesse dizer preciosas orações, ele ainda teria as mãos nas moças. O flautista disse que estava saindo de manhã e Erik ficaria feliz em ver as costas dele.
Moira ainda se sentia estranha por estar em seu antigo lugar na mesa principal quando tudo tinha mudado — especialmente ela. Ela olhou para Connor, que estava sentado ao lado dela na cadeira do seu pai. Havia um constrangimento entre eles, e não era só porque ela não estava acostumada a ele ser Laird ou porque eles estavam separados há sete anos. Justo ou não, Moira não o havia perdoado por esperar tanto tempo para enviar alguém à Irlanda para verificar seu bem-estar. A tristeza se instalou sobre ela enquanto olhava para Connor e para onde seu irmão mais velho, como tānaiste, o sucessor do Laird, sempre sentara. Ragnall era tão parecido com o pai dela, ousado, corajoso e cheio de vida. Connor chamou sua atenção e disse: — Sinto falta dele também. Connor sempre foi tanto observador quanto perspicaz. Quando eram jovens, ela sentia como se ele a julgasse e encontrasse suas falhas. Mas então, ela tinha sido mimada por seu pai, que nunca encontrou falhas nela. Lembrou-se de que Connor também estivera perto de Ragnall, embora não pudessem ser mais diferentes, e pôs a mão sobre a dele. — Estou feliz que você esteja em casa, — disse Connor e sorriu para ela. Moira estava se impedindo de perguntar a ele sobre Duncan. Ela não gostou do tom de Connor quando ele a pressionou naquele
primeiro dia sobre se havia algo entre ela e Duncan, mas o calor de seu irmão a fez pôr de lado sua cautela. — Onde você mandou Duncan? — Ela perguntou. A expressão de Connor não mudou, exceto por um ligeiro aperto em torno de sua boca, mas o calor que ela sentiu nele um momento antes se foi. — Eu estive querendo falar com você sobre o seu futuro, — disse Connor, ignorando sua pergunta completamente. — Vamos falar em particular. Ele se levantou e estendeu a mão, não lhe dando escolha. Com os dedos pousando levemente no braço de Connor, atravessaram o salão até a porta em arco que levava ao quarto do Laird. Uma onda de emoção subiu na garganta de Moira quando ela entrou no que tinha sido o santuário particular de seu pai. Ela quase podia ouvir sua voz estrondosa chamando por ela. O choque substituiu as recordações afetuosas enquanto olhava para o antigo aposento. Connor o despojara. Foram-se as belas tapeçarias, as ornamentadas mesas laterais, as almofadas de veludo e a enorme cama com cortinas. Em seu lugar havia cadeiras simples e mal ornadas, uma pequena mesa, um baú surrado que parecia ter sido retirado do mar e a cama que ela reconheceu como a que Connor dormira quando menino. Ela estava magoada e curiosa para saber por que seu irmão estava tão decidido a remover cada pedaço da lembrança do pai de seu quarto de dormir. Antes que pudesse observá-lo, Connor fechou a porta e falou primeiro. — Você deve ser mais cautelosa sobre o que diz e onde diz isso — disse Connor, fixando sua intenção, e os olhos azul-prateados nela. — Alguém poderia ter ouvido você perguntar onde eu enviei Duncan.
— Onde você o mandou? — Ela perguntou. — Você não está me ouvindo, Moira, — disse Connor. — Hugh tem espiões no castelo. Você poderia colocar Duncan e o clã em perigo, falando desse jeito. — Se alguém tivesse me dito onde ele foi e por quê, — ela disse, cruzando os braços, — eu não teria que perguntar. Connor suspirou como se ela estivesse fora do julgamento. — Ele está em negócios importantes do clã, e é tudo o que você precisa saber. — Eu estava ajudando o pai com negócios importantes do clã, enquanto os quatro estavam fora para terem suas aventuras, — disse ela, — por isso não me dê esse olhar como se eu não fosse entender. — Se o nosso pai quisesse a minha ajuda, eu teria dado. — Connor falou em um tom desprovido de emoção quando ele se serviu de uma taça de uísque do jarro sobre a mesa. Ele tomou um gole e disse: — Eu mandei Duncan sozinho para o Castelo Trotternish. Moira colocou a mão no coração. — Você o que? Quando Connor contou o resto, Moira sentou-se com força em uma das cadeiras. Ela teve dificuldade em recuperar o fôlego ao pensar em Duncan em um castelo cheio de inimigos, sua vida dependente somente dessa artimanha. — Você não deve soltar uma palavra disso, — disse Connor. — Se Duncan for descoberto, os MacLeods o esfolarão vivo. — Então, por que você o mandou? — Moira exigiu uma resposta. — Ele tem sido seu melhor amigo a vida toda. — Foi ideia dele, — disse Connor. — Como você pode ser tão frio? — Ela perguntou. — Você não se importa com nenhum de nós?
— Eu me preocupo com todos os membros deste clã, e é por isso que o deixei ir, — disse Connor em uma voz tão calma que Moira queria dar um tapa nele. — E enquanto estamos discutindo Duncan, o que você pretende fazer sobre ele? — Eu não sei do que você está falando, — disse Moira, ficando de pé. — Ah, você era melhor em cobrir seus rastros quando tinha dezessete anos. — Connor tomou outro gole de seu uísque. — Você quer se casar com ele? — Eu nunca vou me casar de novo, — disse Moira, colocando as mãos nos quadris. — Nem com Duncan. Nem com ninguém. — Então você está apenas brincando com ele de novo? — Connor perguntou. — Brincando com ele? — ela disse, sua voz subindo. — Quem você pensa que é, falando comigo desse jeito, Connor MacDonald? O que eu faço não é da sua conta. — Eu sou o Laird deste clã, o que significa que tudo é minha preocupação, — disse Connor no mesmo tom calmo. — E, como minha irmã, o que você faz reflete em mim. — Se nossos membros do clã não respeitarem vocês por si mesmo, nada do que eu fizer mudará isso. — E porque ela estava com raiva, ela acrescentou: — Mesmo depois do que nossa mãe fez com ele, nosso pai ordenou que todos os clãs das ilhas a respeitassem. Então não me culpe se eles não te respeitarem. — Eu suponho que você está certo sobre isso. — Connor soltou um suspiro e se virou para olhar pela janela estreita. De repente, Moira percebeu como seu irmão parecia preocupado e percebeu o quanto o fardo de liderar o clã pesava sobre ele. Seu pai não havia sofrido o mesmo.
— Se tomarmos o Castelo Trotternish, espero que tenhamos alguns reféns MacLeod, — disse Connor. — Vou tentar fazer uma troca pelo seu filho. — Obrigada, — disse ela. — Essa foi a ideia de Duncan também, — disse Connor, ainda olhando pela janela. — Ele disse que fez uma promessa para você. — Com todos os planos para tomar Trotternish, temi que ele tivesse esquecido, — disse Moira em voz baixa. — Duncan não se esquece das promessas — disse Connor, ao se virar e fixar seu penetrante olhar sobre ela. — E eu nunca soube que ele deixou de manter uma. Pouco tempo atrás, Moira teria discordado. Mas Duncan apenas dissera que a amaria para sempre. Foi ela quem pensara que era uma promessa de casamento e uma vida inteira juntos. — Eu ainda precisaria convencer os MacQuillans a deixarem o rapaz se criar aqui, — disse Connor, esfregando a testa. — Temo que não será tarefa fácil, — disse Moira. — Uma coisa é certa — Connor deu uma risada seca e balançou a cabeça, — a menos que eu queira uma trilha de MacQuillans mortos, eu não enviarei você e Duncan para falarem com eles. Duncan invadiu o pátio de Dunscaith e atravessou as portas da fortaleza. Ao entrar no salão, ele não percebeu — nem se importou — se havia dez pessoas ou uma centena. Havia apenas uma pessoa que ele estava procurando. Depois de saber que ele tinha um filho, teve que passar por uma noite interminável no Castelo Trotternish, tocando melodia após outra como um rei dos tolos. Depois levou dois dias para viajar para casa, com impaciência e indignação queimando sua alma durante todo o caminho.
Ao atravessar o salão, Ilysa apareceu ao seu lado. — Você parece um pouco chateado, — disse ela, pegando suas saias para andar rápido o suficiente para acompanhá-lo. — Existe algo que eu possa fazer? — Onde no inferno está Moira? — Ela está com Connor, mas... Isso era tudo que ele precisava saber. Os homens que guardavam a porta de Connor tentaram o afastar. Duncan bateu na porta e não esperou para abri-la. Assim que ele abriu, Moira encheu sua visão. Ela estava no centro da sala com a luz das janelas longas e estreitas iluminando suas feições. A fúria que Duncan suportara desde que ele descobriu a verdade sobre Ragnall irrompeu na superfície, fazendo sua cabeça doer e sua pele parecer muito apertada. Nos recessos distantes de sua mente, o guerreiro sempre alerta nele estava ciente de alguém fechar a porta atrás dele. Ele marchou até Moira até que ele estivesse perto o suficiente para queimar sua pele com o calor de seu temperamento. Os olhos de Moira se arregalaram, mas ela se manteve firme. Não por coragem que ela não tinha, mas qualquer coisa perto do senso de lealdade e honra. — Por que você não me disse que Ragnall era meu filho? — Duncan perguntou, cerrando os punhos para evitar pegá-la e sacudila. A boca de Moira se abriu e sua mão voou para o peito. — Você viu Ragnall? — Eu o vi, — Duncan disse, — e o rapaz tem seis anos e meio de idade, não cinco como você me disse. Ele tem cabelo vermelho flamejante, Moira!
— Onde ele está? — Moira se inclinou para o lado para olhar para trás. — Você trouxe meu filho para casa? Duncan empurrou-a de frente para ele para obter toda a sua atenção. — Ragnall está no Castelo de Trotternish, e ele não é apenas seu filho. — Você não estava aqui para reivindicá-lo, — disse ela, estreitando os olhos em fendas irritadas. — Então, sim, Ragnall é meu filho. — Como eu poderia reivindicá-lo se eu não soube sobre ele? — Duncan gritou. — Você não me disse que estava grávida. Moira se libertou dele. Seus seios subiram e desceram em respirações duras enquanto seus olhos deixavam furos nele. — Você não se incomodou em ficar sabendo, não foi?
Duncan saiu, batendo a porta atrás dele. Moira tinha esquecido que Connor estava no quarto até que ele correu atrás de Duncan e a porta bateu uma segunda vez. Moira se afundou na cadeira mais próxima, o coração batendo descontroladamente no peito. Muitas emoções rodavam dentro dela. Alívio por que Duncan encontrou seu filho. Raiva que Duncan havia deixado Ragnall no Castelo de Trotternish. Confusão sobre Duncan saber que ele era o pai de Ragnall. E, finalmente, lamentar como ele descobriu a verdade. Ela não sabia quanto tempo ficou sentada ali, incapaz de se recompor a sair, quando ouviu o trinco na porta. Surpreendida por seus pensamentos, ela olhou em volta e viu que a luz filtrada pelas janelas estreitas tinha diminuído do meio-dia até o final da tarde. Connor entrou sozinho, parecendo sombrio. No tenso silêncio que pairava entre eles, o barulho do uísque do jarro ao encher sua taça parecia anormalmente alto. Então, ele se inclinou sobre a mesa e fixou seu duro olhar de aço azul nela. — Eu pensei que você tinha amadurecido, mas é tão egoísta como era quando criança, — disse ele, com uma voz firme. — Como você não pôde dizer a Duncan que ele tinha um filho? Ela deveria saber que seu irmão tomaria o lado de Duncan nisso. — Não se atreva a me julgar, Connor MacDonald — disse ela, apertando a beirada da mesa. — Você não sabe como foi para mim. Você não sabe nada sobre isso.
— Você não negou que soubesse que a criança era de Duncan o tempo todo, — disse Connor. — Você deveria ter contado a ele. — Eu tinha minhas razões para não fazer isso. — Moira foi até a janela e cruzou os braços. — Espero que sejam boas, mas não é a mim que você precisa explicar, — disse Connor. — Vamos sair em breve para tomar Trotternish Castle, então você não tem muito tempo. — Não banque o Laird comigo, — disse ela. — Eu sou seu Laird, — disse Connor, em uma voz de comando, — e eu estou dizendo a você para fazer isso direito. — Moira apertou os lábios e olhou para o irmão. — Quando um homem vai lutar por seu clã, nunca se pode estar certo de que ele vai voltar, — disse Connor. — Não o deixe assim. Och, não era justo para Connor usar esse argumento contra ela. — Onde ele está? — Ela retrucou. Connor pegou sua bebida e tomou um gole. — Eu espero que ele tenha ido para sua casa de campo. Moira subiu a colina, a lama agarrada às saias como a culpa e o ressentimento que ela carregava. Quando chegou ao chalé, abriu a porta sem se incomodar em bater. Duncan estava no centro da sala. Sua raiva era como uma criatura viva enchendo a pequena cabana. — Vou perguntar de novo, — disse ele: — Por que você não me disse que eu tenho um filho? — Eu poderia ter dito antes de você ir ao Castelo de Trotternish —disse ela — se você tivesse se incomodado em compartilhar a notícia comigo de que estava fazendo uma visita aos MacLeods. — Isso era negócio do clã, — disse Duncan. — Eu não podia contar a ninguém, e não menti para você.
— Eu aposto que você confiou a Ian a informação, — disse ela. — E Alex também, se você o viu. — Você mentiu para mim sobre o meu filho, — disse Duncan, cerrando os punhos. — Eu quero saber o porquê. — Tudo bem, vou dizer-lhe. — Era hora de colocar tudo para fora na mesa e ver onde as peças se encaixavam. — Você não merecia saber a verdade. Moira ficou furiosa porque as lágrimas estavam ardendo nas costas de seus olhos. — Você tirou suas roupas para mim, mas você não podia me dizer a verdade sobre Ragnall? — Duncan questionou, sua voz ficando mais alta. — Ir para a cama com você não tem nada a ver com isso, — disse ela. — Nada a ver com isso? — Ele gritou. — Por que eu deveria confiar em você sobre meu filho, que é mais precioso para mim do que qualquer coisa nesta vida, depois que você me deixou sozinha e grávida? — Eu perguntei a você aquela noite, antes que seu pai me mandasse embora — disse Duncan — e você me disse que não estava grávida. — Eu não sabia até depois que você foi embora, — Moira deu de ombros. Duncan passou as mãos pelo cabelo enquanto começava a andar pelo pequeno quarto, fazendo com que parecesse ainda menor do que era. — Então como pode me culpar por não saber?
— Nunca lhe ocorreu que eu poderia descobrir que estava grávida depois que você foi embora? — Moira perguntou, sua voz tensa. — Você poderia ser tão ignorante? Duncan parou seu ritmo. Ele não respondeu por um longo tempo, e quando o fez, soou como se as palavras fossem arrancadas de seu peito. — Eu achei que você se cuidasse. Mas sim, eu sabia que era possível. Ela sabia disso o tempo todo. — Mas você não se importou o suficiente para ficar por mim ou o nosso filho, — disse ela, sufocando as palavras. — Você me deixou para enfrentar tudo sozinha. Duncan olhou para longe dela, mas ela podia ver sua emoção crua na tensão em sua mandíbula e o pulso batendo descontroladamente em sua garganta. — Por que você me deixou? — Moira se aproximou dele e cerrou os punhos em sua camisa. — Por que, Duncan, por quê? O silêncio se estendeu entre eles como uma corda desgastada enquanto ela esperava que ele finalmente lhe dissesse. — Eu disse a você antes. Seu pai descobriu sobre nós — disse Duncan em voz baixa. — Ele era meu Laird, e ele me mandou ir com os outros para a França. Era obedecer ou morrer. Moira olhou em seus olhos procurando a verdade. Duncan estava segurando algo que não queria dizer. — Você é o homem mais teimoso e determinado que conheço, — disse ela. — Se você realmente me quisesse, teria encontrado um caminho. Duncan apertou os lábios em uma linha apertada. — Você me deve a verdade, Duncan.
— Eu me importei o suficiente para partir, — disse ele entre os dentes. — Não, — disse ela. — Você não se importou o suficiente. — Você acha que deixar você foi fácil para mim? — Ele gritou, seu controle estalando. Ele segurou os braços dela e apoiou-a contra a porta. — Você acha que eu queria deixar algum outro homem ter você? — Você é o único que me deixou, — disse ela, sua voz grossa em sua garganta. — Eu queria morrer em vez de deixá-la, — disse ele, seus olhos selvagens. — Então por que você fez isso? — Ela gritou de volta. — Porque nós teríamos que deixar o clã, — ele disse, — e eu não poderia fazer isso com você. — Eu não acredito em você, — disse ela. — Mesmo se meu pai ameaçou bani-lo, isso não seria motivo suficiente. Seus olhos ardiam nela e o pulso em sua têmpora latejava, mas ele não disse nada. — Esperei sete anos pela verdade, — disse Moira. — Você me deve isso, Duncan MacDonald. — Tudo bem, — disse Duncan em uma voz dura. — Eu te amei de todo meu coração, mas eu conhecia a moça mimada que você era. Você estava acostumada a ter tudo fácil e como você queria. Você gostava das tuas joias e vestidos de seda, servos a servi-la de mãos e pés, enquanto estavas sentada à mesa alta. Eu não poderia te dar nada disso. — Você me deixou para que eu pudesse ter vestidos de seda e servos? — Moira não podia acreditar que estava ouvindo. — É por isso que você me abandonou?
— Você não sofreu nem um dia em sua vida, — disse ele. — Você teria me deixado em uma semana. — Eu nunca teria deixado você. — Você não poderia ter vivido o tipo de vida que teríamos tido, banidos do nosso clã e vivendo de lugar em lugar enquanto eu lutava por quem poderia me pagar mais. — Duncan descansou as mãos na porta de cada lado de sua cabeça e inclinou o rosto para perto do dela. — Eu estou lhe dizendo, eu não tive escolha. — Não, Duncan. Você fez uma escolha — disse ela, batendo o dedo no peito dele. — Deixá-la foi a coisa mais difícil que eu já tive que fazer, — disse Duncan, sua voz tensa. — Quase me quebrou. — Eu teria vivido em qualquer lugar, ido a qualquer lugar, só para estar com você. Isso é o quanto eu o amava, — disse ela, segurando as lágrimas. — Mas você não teve fé em mim. — Eu não tinha fé em você e não estava errado, — disse Duncan, com os olhos ferozes. — Você mudou, Moira. Talvez você esteja disposta a fazer esses sacrifícios hoje, mas não na época. — Você nunca me deu uma chance, — disse ela. — Você deveria ter dado. — Tudo o que eu queria era que você fosse feliz, — Duncan segurou sua bochecha com a palma da mão. — Eu não poderia ser responsável por fazer você sofrer. — Isso é precisamente o que você fez, — disse ela, com a voz embargada. — Seu pai adorava você, — disse Duncan. — Eu acreditava que ele iria casá-la com um bom homem, quando chegasse a hora. — Bem, ele não fez. — Ela empurrou-o para longe com as duas mãos e abriu a porta.
As esperanças e sonhos de Duncan estavam desmoronando sob seus pés enquanto Moira abria a porta. Ele a estava perdendo de novo, e desta vez seria para sempre. — Não me deixe. — Ele agarrou a mão dela e caiu de joelhos. — Sinto muito pelas coisas indescritíveis que aconteceram com você depois que eu parti para a França. Embora Duncan não quisesse que nada disso acontecesse, ele entendia por que ela o culpava. Ele estava muito preocupado em defender sua decisão, quando deveria ter se desculpado desde o início. — Eu nunca machucaria você de propósito, — ele disse. — Você sabe disso. Os olhos de Moira estavam nadando com lágrimas não derramadas, mas suas costas estavam rígidas e ela ainda tinha uma mão na porta. — Eu amo você, Moira MacDonald. Eu sempre amei, — disse ele. — Temos um filho que devemos criar juntos. Estou pedindo que você confie em mim e me dê outra chance. — Eu não posso estar contigo, a menos que você confie em mim também, — disse Moira. Duncan não tinha noção do que ela queria dizer, mas se Moira estava estabelecendo as condições, em vez de recusá-lo, isso era um bom sinal. Levantou-se, aproximou-se dela e fechou a porta. — Eu amo você, — disse Moira, os olhos brilhando, — mas eu nunca estarei novamente com um homem que não me respeita.
Ela o amava. Duncan temia que ele nunca a ouvisse dizer aquelas palavras novamente. Apesar de seu tom irritado, elas eram um bálsamo de cura para sua alma. — Diga-me o que você quer, mo leannain, - minha querida, — ele disse, pegando a mão dela novamente, e eu vou fazer. — Eu não sou uma flor frágil. Eu me defendi por sete longos anos sem você, — disse ela. — Não se atreva a me tratar como se eu fosse uma moça mimada que não poderia sobreviver sem vestidos finos e taças de prata. Ele ainda pensava nela dessa maneira? Duncan refletiu sobre como ele a encontrou na Irlanda, espancada e deitada em uma poça de sangue; a perigosa viagem a Skye, que ela suportou sem reclamar; e houve a sua tola, mas corajosa tentativa de chegar ao Castelo Dunveganan a noite sozinha. — Você disse que eu sou um homem teimoso, e está certa, — disse Duncan. — Você mudou e eu demorei para aceitar. — Eu queria que você entendesse isso, Duncan, — disse ela, prendendo-o com um olhar duro. — Eu não quero que você pense em mim como uma criança irresponsável que irá fugir quando as coisas ficarem difíceis. Duncan adorava vê-la cheia de vida assim. Pelos Santos, ela era linda quando estava com raiva, embora ele não fosse tolo o suficiente para dizer isso. — Eu sei que você é tão forte e corajosa quanto é linda, — disse ele, puxando-a com força contra si. — E acredite em mim, eu não penso em você como uma criança. Duncan apertou sua boca sobre a dela e a beijou com toda a paixão em seu coração. Depois de um momento, ela envolveu seus
braços ao redor de seu pescoço e o beijou de volta com tal fogo que ele queria cair no chão e tomá-la ali mesmo. Quando ela se afastou, ele estava sem fôlego. Duncan não acreditava que pudesse amar Moira mais do que quando ela era uma moça encantadora de dezessete anos, mas ele amava ainda mais essa mulher apaixonada em seus braços. — Se você me deixar de novo, — disse ela. — Eu juro, eu vou matar você. Dado o que ela fez com seu último marido, Duncan acreditou que ela quis dizer exato isto. Enquanto faziam amor, Moira finalmente soltou seu coração. Ela estava ciente de que Duncan, sendo um homem, sabia que o que tinha lhe dado, quando eles fizeram amor pela primeira vez, era o mesmo que quando se encontraram novamente. Mas confiar nele com o coração era um salto muito maior para ela do que confiar nele com seu corpo. Depois de tudo o que passou, não era fácil reprimir seus temores de que o casamento a sufocasse. Mas Duncan reconheceu que as cicatrizes em sua alma a fizeram forte, e ele não precisava que ela fosse fraca. Ele não tentaria fazê-la ser algo menos, uma sombra de si mesma, como Sean tentara fazer. Deixou que todas as camadas de proteção se dissolvessem lentamente em seus braços. — Eu amo você, — Duncan disse repetidamente enquanto se movia dentro dela, reprimindo seu último pingo de dúvida. — Eu amoa para sempre. Não importa o que venha. Não importa o que venha. — Eu o amo, também, — ela disse, segurando seu rosto entre as mãos. — Para todo o sempre.
Pela primeira vez desde que Moira tinha dezessete anos, ela se entregou a Duncan sem conter nenhuma parte de si mesma. — O capitão da guarda de Connor desapareceu novamente e ninguém sabe para onde, — disse Hugh. — Estou certo de que a suas idas e vindas em segredo está levando a um ataque. — Parece-me que ele está se esgueirando para a esposa de outro homem, — disse Erik. — Não, Duncan MacDonald, — disse Hugh com uma risada. — Ele é reto como uma flecha, o tipo que escolheria a morte sobre a desonra. — Hmmph, — Erik soprou. — Este Duncan é um lutador temível, eu o vi, — disse Hugh, balançando a cabeça. — E não há ninguém em quem Connor confie mais. Erik deu de ombros. O que apenas um homem poderia fazer? — Eu suspeito que Connor tenha enviado Duncan para os outros inimigos do seu clã para buscar sua ajuda em um ataque a Trotternish. — Suas suspeitas são inúteis, — disse Erik. — Eu já disse antes, eu preciso de informações. — Eu tenho meus espiões observando, — disse Hugh, — mas Connor está mantendo isso muito escondido. Moira estava do lado de fora da cabana com o vento chicoteando seus cabelos ao redor do rosto enquanto observava Duncan. Desde seu retorno de Trotternish ontem, suas emoções foram tão selvagens quanto o tempo, constantemente flutuando de ansiedade sobre seu filho, e temor por Duncan e os outros homens que logo iriam para a batalha, para um deslumbramento de felicidade sobre o amor entre ela e Duncan. Sim, ela o amava.
Mesmo assim, colocar sua confiança em Duncan a fez ter vontade de fechar os olhos e pular de um penhasco. Mas ela estava fazendo esse salto de boa vontade. — Duncan! — Ela chamou, agitando os braços quando ela finalmente o viu subindo o caminho. Quando ela correu para encontrálo, ele a levantou nos braços. — Você não deveria estar esperando do lado de fora no frio — disse Duncan, mas pelo jeito que ele estava sorrindo, ela sabia que isso o agradava. — Eu gostaria de ter mais tempo, mas Ian mandou dizer que Alex chegou ao Castelo de Knock. Connor e eu estamos indo para lá esta tarde. Apesar do que Duncan disse sobre não ter muito tempo, eles acabaram na cama. Moira estava quente e aconchegante em seus braços, ouvindo o vento bater contra as persianas e pensando em como estava feliz. Embora ela não tivesse dúvidas de que Duncan queria se casar, ela estava começando a se perguntar por que ele não falou sobre isso. — Connor está sendo difícil em dar sua aprovação para nos casarmos? — Moira inclinou a cabeça para trás para sorrir para Duncan. — Eu disse a ele que nunca iria me casar novamente, então talvez ele precise ouvir de mim que eu mudei de ideia. — Ainda não falei com Connor — disse Duncan, parecendo nitidamente desconfortável. Moira se levantou em um cotovelo para olhar melhor para ele. — Por que não? Quando Duncan apertou os lábios e não respondeu, Moira sentiu como se o chão estivesse afundando sob ela. — Que tola eu sou, — disse ela, — eu pensei que você pretendia se casar comigo desta vez.
— Não há nada que eu queira mais nesta vida. — Duncan pegou a mão dela, mas ela se afastou. — Então o que você está esperando? — Ela perguntou. — Eu devo ter um lar melhor para você do que isso, — disse Duncan. — Você vai se casar comigo quando tiver uma casa melhor? — Ela perguntou com uma ponta de dor à sua voz. — E se você nunca tiver? — Eu vou ter. — Você não pode saber disso, — disse ela. — Vamos nos casar assim que eu estiver cuidando do Castelo Trotternish, — disse Duncan. — Isso não vai demorar muito. Estamos planejando nosso ataque hoje. — Você está dizendo que não vai se casar comigo a menos que você tome o castelo e Connor faça de você o guardião dele? — Só estou dizendo que precisamos esperar um pouquinho, — disse ele. — Por quê? — A raiva começou em sua barriga e se espalhou pelo resto do corpo até que ela sentiu como se fosse explodir com isso. — Contanto que eu tenha você, Ragnall e um teto sobre nossas cabeças, ficarei feliz. — Droga, mulher, — disse Duncan. — Você não tem respeito pelo orgulho de um homem? — Eu acho que se importa mais com seu orgulho do que com você mesmo, — ela disse, sua voz baixa e grossa de emoção. — Quer se casar comigo um dia, quando for conveniente para você, depois de ter feito todas as outras coisas sangrentas que são mais importantes. — É porque me importo tanto que quero esperar, — disse ele. — E me deixou para ir para a França porque se importava muito, — disse ela, lutando contra a emoção que ameaçava sufocá-la.
— Você não pode entender que eu preciso ser capaz de fornecerlhe uma casa adequada? — Duncan perguntou. — Por quê? — Ela perguntou. — Se eu não me importo, por que a você incomoda? — Eu não posso explicar melhor. — Ele segurou o rosto dela entre as mãos. — Isso importa para mim. Apenas importa. — A verdade é que você não confia em mim para conhecer meu próprio coração e nunca o conheceu, — disse ela. — Eu não disse isso, — disse ele. — Acha que eu vou mudar de ideia sobre você se não pode me dar um bom castelo para viver, — disse ela. — É por isso que você me deixou antes e por que não vai se casar comigo agora. — Moira, eu só quero ser capaz de fazer você feliz, — disse ele em voz baixa. — Você ainda não acredita que sou capaz de amá-lo sem tudo isso? — ela disse. — Depois do que eu passei, você acha que eu me importo com vestidos e servos? — Eu... — Não vou casar com um homem que pensa tão pouco de mim. — Ela empurrou as roupas de cama, pulou no chão e começou a se vestir. — Você poderia ser o rei da Escócia, e ainda assim, eu não o teria! — Eu acho que o meu mundo é seu, — disse Duncan. — Você não acha, — disse ela. — Eu vivi com um homem por sete anos, que me tratou como se eu não fosse nada, e eu não farei isso de novo. Duncan saiu da cama e agarrou o braço dela quando ela começou a sair do quarto.
— Tire suas malditas mãos de cima de mim! — Ela estava tão brava que sua visão estava borrada. — Eu confiei em você! Como você pôde fazer isso comigo de novo? — Eu quero dar-lhe todas as coisas que deve ter, as coisas que merece, — disse ele. — Você ainda pensa em mim como uma garota superficial e mimada, — disse Moira. — Eu nunca fui apenas isso, e certamente não é o que eu sou agora. Ela pegou o manto da estaca e abriu a porta sem ter tempo de colocá-lo. — Não saia assim, — disse Duncan. — Eu a amo, Moira. — Você não é diferente dos outros homens que queriam se deitar comigo, — disse ela por cima do ombro. — Você não me ama. Pelo amor de Deus, Duncan, você nem me conhece.
Moira estava tão confusa e chateada que não sabia o que fazer consigo mesma. Como poderia Duncan acreditar que ele a amava e ainda assim pensar tão mal dela? Ela secou as lágrimas antes de entrar no castelo para fazer uma visita a Ilysa. Talvez a irmã de Duncan pudesse ajudá-la a entendê-lo. Depois de procurar na fortaleza e não encontrar Ilysa, Moira atravessou o pátio até o que era a casa de sua babá. — Você se importa com um pouco de companhia? — Moira perguntou quando Ilysa respondeu à sua porta. — Eu adoraria, — disse Ilysa. — Eu estou apenas fazendo um pouco de costura. Moira suspeitava que se Connor estivesse em casa, Ilysa estaria fazendo suas tarefas na fortaleza. — Eu sinto que você veio aqui com um propósito, — disse Ilysa depois que Moira se sentou com ela. — É sobre o meu irmão? Moira apreciou a franqueza da mulher mais jovem. — Duncan disse que meu pai o forçou a sair, — disse Moira, decidindo começar com isso. — Eu gostaria de saber se é verdade. — Meu irmão tem suas falhas, mas ele não mente, — disse Ilysa em sua voz tranquila e segura. — Eu achava que meu pai não mentia para mim também, — disse Moira.
— Eu não saberia o que é isso, já que nunca conheci meu pai, — disse Ilysa, lembrando a Moira que, embora Ilysa parecesse jovem, ela tivera sua parcela de tristezas e lutas. — A perda de sua mãe deve ter sido difícil. — Moira se virou para olhar pela pequena janela e suspirou. — Se ela estivesse aqui, eu perguntaria o que aconteceu naquele dia entre Duncan e meu pai. — Eu estava aqui e vi tudo, — disse Ilysa. — O que você quer saber? — Você? — Perguntou Moira. — Ora, você ainda era uma criança. — Eu tinha idade suficiente, — disse Ilysa. — Och, seu pai estava em uma fúria terrível naquela manhã. — Você pode me dizer o que aconteceu? — Perguntou Moira. — O Laird e seu irmão Ragnall acordaram minha mãe e eu enquanto ainda estava escuro. — Ilysa parou de costurar, mas manteve o olhar fixo na camisa em suas mãos. — Sei que os amava, mas eram homens duros e irados. Quando perguntaram onde Duncan estava, minha mãe começou a chorar. — Sinto muito que eles tenham te assustado, — disse Moira. — Eu tentei consolar minha mãe, mas ela estava inconsolável, — disse Ilysa. — Dissemos ao Laird que não sabíamos onde Duncan estava, mas suspeito agora que minha mãe achava que ele estava com você. — O que meu pai e meu irmão fizeram quando viram que Duncan não estava aqui? — Eles se sentaram nestas cadeiras em nossa mesa, — disse Ilysa, apontando para elas. — Eu sentia como se as paredes da nossa cabana explodiriam com sua raiva.
Moira poderia muito bem imaginar isso. Seu pai e irmão mais velho tinham sido poderosos guerreiros há muito acostumados à autoridade deles sobre o clã. — Quando Duncan abriu a porta — Ilysa fez uma pausa e lambeu os lábios, — eu pensei que seu pai ia assassiná-lo aqui mesmo nesta sala. — Ele não o teria, — disse Moira. — Ele disse que a única razão que não o faria era que Teàrlag previu que Duncan salvaria a vida de Connor. — Ilysa encontrou os olhos de Moira com um olhar inabalável. — Eu acreditei nele, e ainda acredito. Moira se inclinou e tocou a mão de Ilysa. — Sinto muito por ter causado tanto sofrimento para você e sua mãe. — Dói quando não se pode ajudar a quem você ama. — Ilysa limpou a garganta. — Seu irmão Ragnall disse a Duncan que ele estaria navegando para a França naquele dia, logo após a batalha pelo castelo de Knock. Então ele e o Laird levaram Duncan para longe, sem sequer deixá-lo dar um beijo de despedida em nossa mãe. Moira e Ilysa ficaram em silêncio por um longo tempo. — Meu pai poderia forçar Duncan a deixar o clã, mas ele não poderia forçá-lo a ir para a França ou ficar lá, — disse Moira. — Duncan poderia ter me dito para se juntar a ele em algum lugar, mas ele não acreditava em mim. — Eu não acho que esse foi o motivo, — disse Ilysa em uma voz suave. — Era ele mesmo que não acreditava em si. — O que você quer dizer? — Perguntou Moira. — Duncan partiu porque acreditava que seu pai estava certo em mandá-lo embora, — disse Ilysa. — Ele pensava que não a merecia.
Moira encarou cegamente a pequena janela. Embora ela não tivesse prestado muita atenção na época, ela se lembrava de ter ouvido os homens falarem besteiras sobre a paternidade desconhecida de Duncan quando eram crianças. Talvez houvesse alguma verdade no que Ilysa dissera sobre por que ele a deixara. — Isso não explica por que ele não tem fé em mim agora, — disse Moira. — Duncan é o capitão da guarda do nosso Laird e tem uma reputação assustadora como um grande guerreiro. — É assim que os outros o veem, — disse Ilysa. — Mas Duncan ainda está tentando provar para si mesmo que ele é digno. Uma batida forte na porta interrompeu a conversa. Sem esperar por uma resposta, Tait, um membro baixo e magro da guarda, invadiu o local. — Eu estive procurando por você por toda parte, — disse ele à Ilysa. — O que é? — Perguntou Ilysa. — Há uma frota de galeras de guerra vindo para aqui, — disse ele. O medo frio subiu pela espinha de Moira. Ela pensara que estaria a salvo aqui em Dunscaith. — Você contou a Connor? — Perguntou Ilysa. — Ele e Duncan atravessaram a península até o castelo de Knock, — disse Tait. — Mandei um homem atrás deles, mas essas galeras de guerra chegarão antes deles. — Você reconhece os barcos? — Ilysa perguntou, calma como poderia ser. — Eu conheço o estandarte, — disse Tait. — Pertence a Alexandre de Dunivaig e aos vales. As mãos de Moira ficaram geladas como gelo. Alexandre era o Laird de um dos ramos mais poderosos dos MacDonald e um
descendente de um Senhor das Ilhas, o que os tornava parentes distantes. Além de suas terras nas Ilhas Ocidentais das Terras Altas da Escócia, ele governou os vales na Irlanda, onde ele era um aliado dos MacQuillans. — Ele veio por mim, — disse Moira. — Estamos sob ataque? O que está acontecendo? — As mulheres gritaram para Moira e Ilysa enquanto corriam atrás de Tait pelo pátio até a muralha do castelo. — Nós ainda não sabemos, — Ilysa disse a eles. — Fiquem calmas, mas levem as crianças para dentro da fortaleza. O pátio estava em confusão, com homens gritando e correndo para recolher armas. Moira pegou as saias e subiu a escada ao lado da muralha do castelo. A muralha que corria ao longo do topo estava cheia de guerreiros, e ela teve que abrir caminho através deles para olhar para fora. Quando ela avistou uma dúzia de galeras de guerra navegando diretamente para o castelo, Moira respirou fundo. Os primeiros estavam tão perto que ela podia ver os rostos ferozes dos guerreiros acima de seus escudos. Ela tinha consciência quando Tait e Ilysa se juntaram a ela, mas manteve o olhar nas galeras enchendo a baía. — Aquele é o Laird deles, — disse Tait, apontando para a galera com a cruz do guerreiro em sua vela e uma cabeça de dragão em seu arco. Um homem alto de cabelos dourados escuros estava no centro do barco do Laird, um pouco afastado dos outros guerreiros, e examinava as colinas como um falcão. Quando o barco deslizou para a praia, escoltado por uma galera em ambos os lados, ele foi o primeiro a pular para o lado.
— Estou indo para a praia, — disse Moira e virou-se para descer a escada. — Não, você não deve! — Ilysa disse, segurando o braço de Moira. — Não há sentido em sacrificar a vida de nossos homens quando sou eu que eles querem, — disse Moira. — Se houver um preço a ser pago por tirar a vida miserável do meu marido, eu serei a única a pagálo.
Os pensamentos de Duncan estavam em Moira quando ele e Connor voltaram para Dunscaith escoltados por uma dúzia de membros da guarda de Connor. Não adiantava falar com Moira até ele tomar o castelo de Trotternish. Teàrlag disse que ele poderia mudar seu destino, e ela estava certa. Tomar o castelo resolveria tudo com seu pai, com os MacLeods e com Moira. Mas o que diabos Moira quis dizer que ele não a conhecia? Ele conhecia cada humor dela, cada expressão que cruzava seu rosto, como a respiração dela mudava quando ele a tocava. Ainda assim, teve que admitir que havia uma coisa que não havia entendido antes. Sua cega determinação de atravessar a noite e entrar sozinho no covil do Laird dos MacLeod para obter Ragnall parecera tolice absoluta dele. Mas no momento em que ele conheceu seu filho, Duncan entendeu por que ela fez isso. Embora Duncan soubesse que Ragnall estava sob a proteção do Laird MacLeod, cuja palavra era lei dentro de seu clã, Duncan compartilhou a necessidade de Moira de trazê-lo para casa. Ragnall era mais uma razão pela qual Duncan estava aliviado por estar navegando para o Castelo de Trotternish hoje à noite. Duncan viu um cavaleiro subindo a colina vindo em sua direção e puxou sua claymore antes de reconhecer o homem como um dos seus. — Parece problema, — disse Connor e levantou a mão, sinalizando para que os guardas parassem.
O cavaleiro veio na direção deles a todo galope, depois puxou o cavalo com força, fazendo-o se erguer. — As galeras de guerra estão se aproximando de Dunscaith! — Gritou o homem. Duncan afundou os calcanhares no cavalo, assumiu a liderança e cavalgou para Dunscaith a uma velocidade vertiginosa. Embora estivessem a apenas três quilômetros do castelo do Laird, parecia que eram cinquenta. Quando Duncan finalmente quebrou a última colina, a vista familiar de Dunscaith em sua rocha saliente no meio de quilômetros de costa se espalhou diante dele. Mas desta vez, um enxame de galeras de guerra apareceu perto da costa, ameaçando Dunscaith e todos, incluindo Moira e Ilysa. — Esta visita deve se relacionar com a morte de Sean MacQuillan, — gritou Connor ao trazer seu cavalo para o lado de Duncan. Ambos haviam reconhecido os navios, é claro, como pertencentes aos poderosos MacDonald de Dunivaig e dos vales, que eram aliados dos MacQuillans menos poderosos. Antes da rebelião, seus dois ramos dos MacDonalds também eram aliados. — Eles ainda não atacaram, — continuou Connor, — então, eles podem estar dispostos a conversar. — Vale a pena uma chance, — Duncan gritou de volta. — Vou convidar o Laird a ficar no castelo como meu convidado, — disse Connor. Os
costumes
de
hospitalidade
das
Terras
Altas
eram
sacrossantos. Se o outro Laird aceitasse a oferta de Connor, não haveria ataque hoje. Claro, a restrição duraria apenas até os convidados partirem. — O que diabos a minha irmã está fazendo? — Gritou Connor.
Duncan desviou o olhar das galeras de guerra para o castelo e viu uma figura saindo da ponte do castelo. Deus tenha misericórdia, era Moira! Proteger seu Laird era o primeiro dever de Duncan, mas ele tinha que parar Moira. — Mande-a de volta para dentro! — Gritou Connor. — Se eles a virem, eles vão tentar pegá-la! Duncan virou seu cavalo para o castelo e eles voaram sobre a grama alta. Os olhos de Moira se arregalaram quando ele se aproximou dela. Inclinando-se para baixo, por sobre o lado de seu cavalo, ele a pegou pela cintura e levantou-a na frente dele. Ele continuou até a ponte do castelo e depois desmontou com ela. — Você estava tentando facilitar para eles levarem você? — Ele gritou, sacudindo-a pelos ombros. — Eu o conheço, — disse Moira. — Eu só ia falar com ele. Duncan soltou uma série de juramentos que fariam o diabo corar. — Você está colocando em risco a si mesma e a todos os outros. Entre agora!
Moira pressionou o rosto na fresta oculta, o que proporcionou uma boa visão da mesa alta. — Eu usei essa fresta muitas vezes a pedido do meu pai, — ela sussurrou para Ilysa, que se agachou ao lado dela. Ao contrário de Duncan e Connor, seu pai valorizava sua ajuda com hóspedes difíceis. Agora mesmo, parecia que Connor precisava desesperadamente de ajuda. As expressões de seu irmão e de seu convidado eram friamente educadas, mas tinham adagas em seus olhos. Como ela havia adivinhado quando o viu em pé na cozinha, o visitante alto e de cabelos dourados não era o Laird do clã, mas seu filho mais velho, James. — Você terá que levar a palavra do capitão da minha guarda a respeito do que aconteceu no castelo MacQuillan naquela noite — disse Connor, parecendo tão imóvel quanto o granito. Moira lamentava ter perdido a versão dos eventos que Duncan dera, enquanto trocava de roupa. — Eu não conheço o seu capitão, — disse James, seu tom igualmente inflexível. — Eu devo ouvir isso diretamente de sua irmã. — Eu atesto a palavra do meu capitão, — disse Connor, aumentando as apostas. — E eu não vou permitir que aborreça minha irmã questionando-a. Ela sofreu o suficiente. Och, ela não precisava de Connor para protegê-la de responder às perguntas de James, mais do que ela precisava que Duncan protegesse sua reputação de fofoca.
Onde estavam os dois quando ela realmente precisava de proteção? Os dentes de Duncan doeram de apertar sua mandíbula com tanta força. Ele desejava que as regras rígidas da hospitalidade não o impedissem de desafiar esse James com o broche cravejado de joias e o rosto bonito demais para resolver o assunto com espadas. Quando o salão de repente ficou quieto, Duncan se virou para ver quem atraíra a atenção de todos, temendo que ele visse a velha Teàrlag agitando os braços e lamentando na porta novamente. Em vez disso, Moira entrou no salão parecendo uma rainha das fadas, coberta da cabeça aos pés em uma capa prateada e capuz combinando, com o cão lobo ao lado. A capa flutuou atrás dela enquanto atravessava a sala e parou diante do centro da mesa principal. — Mil boas-vindas a você, James, filho de Alexandre de Dunivaig e dos vales e tataraneto de João, o primeiro Senhor das Ilhas, — disse Moira, dando a saudação formal. — É uma honra e um prazer vê-lo novamente. Já faz tempo demais. James saltou de pé e começou a andar pela mesa. Duncan estava meio fora de seu assento com a mão no cabo de seu punhal antes de Connor pará-lo. — James não vai machucá-la aqui no meu salão, — disse Connor em voz baixa, com um aperto de aço no braço de Duncan. — Moira fez sua escolha. Vamos ver como isso se desenrola. Duncan cerrou os dentes quando James alcançou Moira e beijou a mão dela como um cortesão. — Estas não são as circunstâncias em que eu esperava que nos encontrássemos novamente, — disse James. — E, claro, é a infeliz morte do seu marido que me traz aqui para falar com você.
James não soltou a mão dela. — Eu vejo que você trouxe o wolfhound que dei ao seu filho, — disse James. — Eu sou muito apegada a Sàr, — disse Moira, passando os dedos delgados sobre a cabeça do cachorro. — Eu não podia deixá-lo para trás. — Moira o tem na palma da mão, — sussurrou Connor para Duncan, soando excessivamente satisfeito. — Se você tivesse uma justificativa para o que fez, não deveria ter fugido, — disse James. — Eu e meu pai sempre gostamos de você, mas só podemos pensar o pior. — Aí, — disse Moira, olhando para James por baixo dos cílios, — os homens de Sean não estavam propícios de ouvirem explicações naquela noite. — Venha, Moira, — disse James, seu tom era familiar demais. — Diga-me o que aconteceu. Moira recuou de James. Lentamente, ela empurrou o capuz e soltou a capa que havia sido amarrada confortavelmente sob o queixo. Deixou a capa cair no chão e ficou diante de todos com um vestido decotado que revelava os hematomas no pescoço. Várias pessoas na mesa ofegaram e Connor xingou baixinho. Ouvir que o marido de Moira tentou matá-la não era o mesmo que ver a evidência disso em seu esbelto pescoço. — Jesus! — As narinas de James se alargaram e os músculos de sua mandíbula flexionaram quando ele apertou os lábios. Depois de um longo momento, ele perguntou: — Sean fez isso com você? — Ele tentou me estrangular, — disse ela. — Você pode ver as marcas dos seus dedos.
Ela virou a cabeça para o lado e levantou o cabelo por trás. A maioria das contusões no rosto de Moira haviam sarado, graças às habilidades de Caitlin e Ilysa e cataplasmas malcheirosos, mas o lado esquerdo de seu rosto ainda mostrava o dano que Sean havia causado a ela. — Eu sinto muito por ele machucá-la, — disse James. — Estou muito melhor, — disse Moira, sua voz vacilando um pouco. — Você pode imaginar como eu estava na noite em que escapei. Se eu não tivesse matado Sean primeiro, ele teria me assassinado. — Mas por que Sean te machucaria? — James pegou a capa, envolveu-a e descansou as mãos nos ombros dela. — Como alguém poderia te machucar? Duncan rangeu os dentes para não gritar com o homem para tirar as mãos dela. — Sean tinha medo de me machucar enquanto eu tinha protetores poderosos. Eu não fiquei a salvo dele quando você e seu pai saíram da Irlanda. — Ela voltou seu olhar para Connor. — Sean não acreditava que meu próprio clã estivesse preocupado com meu bemestar. Connor segurava o copo com tanta força que os nós dos dedos estavam brancos. Ele trabalhou com uma devoção sincera para proteger seu clã que Duncan sabia que golpe das palavras de Moira eram para ele. — Eu acredito em você, Moira, — disse James e soltou o fôlego. — Mas isso não é assim tão fácil. Ter seu Laird morto por uma moça em sua própria fortaleza retribuição.
humilhou os
MacQuillans.
Eles querem
— E se meu irmão estivesse disposto a fazer um pagamento modesto aos MacQuillans? — Perguntou Moira. — Para compensá-los por sua... 'perda' Tais pagamentos eram feitos às vezes em casos de estupro e assassinato, para evitar brigas de sangue. — Isso é inteligente, — disse Connor em voz baixa para Duncan, antes de finalmente intervir na peça de Moira. — James, estou preparado para oferecer uma quantia modesta, como minha irmã sugere. — Isso ajudaria a acalmar o orgulho deles, — disse James. — Embora eu espere um em troca do dano que seu Laird causou à minha irmã, — acrescentou Connor. — Eu vou sair e deixar vocês, homens, discutirem isso, — disse Moira como se não tivesse orquestrado tudo. — Obrigada, James, por me ouvir com o coração aberto. — Você é uma moça valente, — disse James e beijou a mão dela novamente, desnecessariamente. — Eu sempre a admirei. Duncan queria amordaçá-lo — ou melhor ainda, cortar a língua de prata de James de sua garganta. Moira estava deitada na cama, exausta. Antes de seu casamento, ela poderia ter levado essa performance sem sentir que sua alma estava sangrando no chão. A exibição de suas feridas era necessária e o drama efetivo, mas ela subestimou o pedágio que ela levaria. Fazer amor com Duncan a fez acreditar que ela havia se recuperado de Sean. Mas, embora, ela sempre tenha gostado de James, teve a sensação de desmaio quando ele se aproximou demais e continuou baixando o olhar para seus seios. As fadas travessas devem ter lançado um feitiço para o divertimento delas. Ela não apenas amava um homem que achava que
ela era inútil, boba e totalmente carente de caráter, mas parecia que nenhum outro homem podia tocá-la sem que ela entrasse em pânico. Uma batida na porta a fez se endireitar. — Quem é? Ela reprimiu seu desapontamento quando Connor enfiou a cabeça pela porta. — Podemos conversar? — Ele perguntou. Quando ela assentiu, ele entrou e fechou a porta atrás dele. — Eu aprecio o que você fez, — disse Connor. — Eu suspeito de que você era de mais ajuda para o nosso pai quando ele era o Laird do que eu jamais percebi. Pelo menos seu irmão estava começando a ver seu valor, mesmo tardiamente. — Eu sinto muito por não ter mandado Duncan para a Irlanda mais cedo. — Connor veio e ficou ao lado da cama e pegou a mão dela. — Eu acreditava que você estava segura, e havia tantos perigos para o nosso clã que eu… Bem, não há desculpa para isso. Eu deveria ter encontrado um jeito. Connor tinha tanta tristeza em seus olhos que ela sentiu o seu próprio se rasgar. — Obrigada por dizer isso. Eu pensei que você não se importasse com nada. — Nunca foi assim, — disse Connor quando ele afastou uma mecha de seu cabelo de sua testa. — Ao crescer, sempre me pareceu como se você tivesse uma magia especial ao seu redor, e que nada de ruim poderia te acontecer. Moira deu uma risada sem graça. — O que as fadas dão elas levam duas vezes. — Duncan ama você, e ele é um bom homem, — disse Connor.
— Hmmph. — Moira cruzou os braços e desviou o olhar. — Dê a ele uma chance, Moira. — Isso é uma ordem do meu Laird? — Ela perguntou. — É um conselho de um irmão que quer ver você feliz, — disse Connor. — E agora, se você tiver pena de mim, estou desesperado por sua ajuda com nosso convidado. — Eu tenho outra coisa que preciso discutir com James, — disse Moira, sorrindo para seu irmão. — E eu acho que poderia gostar de enciumar Duncan um pouco mais.
Duncan sentou-se junto à grande lareira do salão, afiando o punhal em uma pedra de amolar, enquanto observava Moira flertar com James. Pelo menos ela havia mudado aquele vestido decotado, embora nada pudesse esconder curvas como as dela. Ele esvaziou sua taça de uísque e a encheu de novo. Se tudo corresse bem, ele seria o guardião do Castelo Trotternish em uma semana. Então ele poderia se casar com Moira e dar a ela o tipo de casa que merecia. Se ela não fugisse com aquele maldito James, filho de um Laird, primeiro. Connor se aproximou e sentou ao lado dele. — Eu tive uma longa conversa com James, — disse ele em voz baixa. — Graças a Moira, ele está cooperativo agora. — Hmmph. — Duncan tomou outro longo gole de seu uísque. — De acordo com James, Alastair MacLeod e Shaggy Maclean deixaram a rebelião e estão provando sua recente lealdade à Coroa, perseguindo seu antigo aliado, Donald Gallda, — disse Connor, referindo-se ao líder da rebelião. — Eles ainda não pegaram Donald, mas capturaram seus irmãos e os entregaram à Coroa para serem executados. — Agora sabemos onde Alastair MacLeod foi com suas galeras de guerra, — disse Duncan. — É uma boa notícia para nós que ele está ocupado em outro lugar.
— A má notícia é que a Coroa recompensou Alastair MacLeod concedendo-lhe uma carta de posse real às terras que ele roubou de nós em Trotternish. — Mas nós nunca nos juntamos à rebelião! — Duncan disse, batendo sua taça. Connor assumiu um risco considerável por não pegar em armas com seus clãs vizinhos contra a Coroa. — Certamente se lembra da parábola do filho pródigo — disse Connor, sacudindo a cabeça. — Esqueça a maldita carta, — disse Duncan. — O que mais importa é quem detém a terra. Tinha sido muito mais fácil para a Coroa emitir cartas reais — na verdade, era sabido que emitia cartas de posse à mesma terra para clãs rivais — do que remover um clã de suas terras. — Eu deveria ajudar minha irmã com nosso convidado, — disse Connor, deslocando o olhar para Moira, que ainda estava tendo uma conversa excessivamente amigável com James do outro lado do salão. — Eu sei que logo terei que perguntar a ela, mas eu me pergunto se ela consideraria James como seu próximo marido. Duncan apertou o copo na mão fingindo que era o pescoço de James. Rhona entrou no salão vindo das cozinhas carregando uma garrafa de vinho e taças. Depois de servir Moira, James e Connor, ela foi até onde Duncan estava sentado. — Eu vejo que ela foi ainda mais rápida para encontrar um novo homem desta vez, — disse Rhona, inclinando-se para falar em seu ouvido. — Eu disse a você que isso aconteceria. Rhona deu-lhe um olhar divertido por cima do ombro enquanto se afastava.
Duncan observou como Moira e James inclinaram suas cabeças juntas e olharam nos olhos um do outro, enquanto falavam sobre Deus sabia o quê. Mas foi a sua gargalhada, um momento depois, que o levou ao limite. Quando seu rosto se iluminou, ele pôde sentir o pulso em suas têmporas latejar. Sua trança preta brilhante caiu sobre o ombro quando ela se aproximou de James e riu. Naquela noite, antes de ser forçado a partir para a França, Duncan a observou rir daquele jeito com o homem que se tornou seu marido. O temperamento que Duncan passou sua juventude aprendendo a controlar explodiu. Ele subiu por suas veias, martelou em seus ouvidos e encobriu sua visão até que tudo o que ele podia ver eram os dois rindo. Duncan marchou pelo salão, ciente, mas não dando a mínima que estava causando uma ruptura. Ele tinha o suficiente. Quando ele se aproximou do par, alguns dos homens de James começaram a se levantar de seus assentos — Fiquem onde estão! — Duncan disse, virando-se para encarálos. — Não é de James que eu estou atrás. Pelo menos ainda não. James era apenas um peão no jogo de Moira. Quando Duncan chegou a Moira, ele a agarrou pelos braços e a levantou do assento. — O que você acha que está fazendo, Duncan MacDonald? — Ela disse, enquanto ele a arrastava para longe. — Connor! Faça alguma coisa! — Pare! — James chamou e começou a ir atrás deles, mas pensou melhor quando todos os MacDonalds de Sleat começaram a pular e aplaudir.
Duncan estava muito cheio de fúria para se sentir gratificado pelos aplausos. — Eu vou estrangulá-lo em seu sono! Vou queimar sua casa de campo! — Moira estava vomitando um fluxo de ameaças inúteis. Ele arrastou-a pela porta em arco até a escada, depois a jogou por cima do ombro e subiu as escadas. Ela estava batendo nas costas dele e chamando-o de todos os tipos de nomes desprezíveis, o que por alguma razão perversa lhe trouxe uma certa satisfação. Duncan abriu a porta para o adaptado e sacrossanto quarto de dormir pertencente à filha do Laird, o quarto que ele nunca foi autorizado a violar com a sua presença humilde, mesmo quando criança. Quando jovem, ele teria sido espancado até a morte se tivesse sido pego invadindo este lugar sagrado. Bem, ele estava aqui agora. Duncan chutou a porta atrás dele. Assim que ele colocou Moira em pé, ele agarrou seus braços antes que ela pudesse arranhar seus olhos. A julgar pelo fogo nos dela, era precisamente isso que ela desejava fazer com ele. Boa. Ele estava com vontade de lutar. — O que diabos você estava fazendo lá no salão? — Ele gritou para ela. — O que eu estava fazendo? — Ela perguntou. — Eu estava desfrutando de uma conversa civilizada, com um homem civilizado, antes de nos interromper agindo como um louco. — Eu não vou fazer seus jogos, Moira. Eu os tive quando tinha dezenove anos, mas não agora — ele disse enquanto a apoiava contra a porta. — Eu não vou ficar parado enquanto você flerta e bate seus olhos e Deus sabe o que mais com outro homem!
— Temos um convidado importante, — disse ela entre os dentes. — Eu estava apenas sendo uma anfitriã graciosa, não que isso seja da sua conta. As bordas de sua visão ficaram vermelhas de sangue. — Ser uma anfitriã graciosa envolve levar nosso convidado para a cama? Ele soltou os braços dela, o que foi um erro. Moira tentou dar um tapa no rosto dele, mas anos de prática com uma espada o fizeram rápido demais para ela. Ele pegou seus pulsos novamente e os prendeu contra a porta. — O que você quer dizer, com não é da minha conta? — disse ele a um centímetro do rosto dela. — Eu pensei que nós tínhamos um entendimento. — Um entendimento? — Ela disse, seus olhos estreitos em fendas de fogo azul. — E que entendimento seria esse? — Que você é minha. Duncan a beijou — não os beijos doces e ternos que ele estivera dando a ela, mas com força na boca. Ela disse que não era uma flor frágil, e ele esperava por Deus que ela estivesse certa, porque ele não estava com disposição para cautela. Sua necessidade por ela era tão violenta quanto a tempestade que havia destruído seu barco. Desde que a encontrou novamente, ele tinha desbancado sua paixão, fez-se o amante gentil que ela precisava que fosse. Mas ele não podia mais se conter. O controle estava além dele. Sua fome por ela era ilimitada. Ele queria desnudar à sua alma e fazê-la sua, total e completamente. Moira agarrou com as mãos o cabelo dele e segurou-o, enquanto ele empurrava sua língua na boca dela e a devorava com seus beijos.
Suas unhas cravaram em seus ombros através de suas roupas. Quando ele agarrou suas nádegas e levantou-a contra sua ereção latejante, ela envolveu suas pernas ao redor dele. Ele queria desesperadamente tomá-la agora, rápido e forte contra a porta. Mas ele passou muitas noites em seus anos mais jovens sonhando com ela naquela cama. Sem levantar a boca da dela, ele a levou até a cama. Quando ele quebrou o beijo para puxar as cortinas da cama e colocá-la no chão, ela olhou para ele com olhos de veludo que estavam escuros de desejo. — Você não parece tão preocupado com decoro agora, — disse ela em uma voz rouca e sua boca se curvou em um sorriso lento. Quando ela correu a ponta da língua sobre os lábios inchados, todo o sangue em sua cabeça foi direto para seu pênis. Essa era a velha Moira. Sem perceber, Duncan estava esperando por ela: a selvagem e livre Moira pela qual ele havia se apaixonado pela primeira vez. E, no entanto, ela era muito mais agora. Ele amava essa mulher complexa e profunda, ainda mais, do que amara a garota despreocupada. — Só porque eu quero protegê-la, — disse ele entre respirações duras, — não significa que eu acho que você é fraca. Moira apertou as mãos em sua camisa e puxou-o para baixo. Eles caíram na cama, pernas emaranhadas e mãos rasgando as roupas um do outro com um desespero frenético. Duncan ignorou o som de seu vestido rasgando quando ele puxou o corpete para baixo e encheu as mãos com os seios cheios e arredondados. Enquanto ele esfregava os polegares sobre os mamilos, ele desceu pela garganta dela com a boca, deixando sua marca nela com beijos sugadores. Ela gemeu e arqueou as costas, incitando-o. Sua, ela era dele.
Ele lambeu o sal de sua pele, respirou o cheiro de seu desejo. Enquanto procurava mais pele nua sob suas roupas, ele beijou seus seios e pressionou seu pênis contra sua coxa. Havia muito pano entre eles e ele estava desesperado por ela. — Depressa, Duncan, depressa, — Moira implorou em respirações irregulares quando ela puxou suas saias, tentando ajudar a libertá-la delas. — Eu quero você agora. A moça ia matá-lo. Com um puxão final, ele a envolveu pela cintura. — Eu a amo muito, — disse ele. — E eu conheço você. Moira apertou as pernas ao redor dele e levantou os quadris para encontrá-lo. Enquanto mergulhava nela, ele fechou os olhos contra a onda de prazer que surgiu através dele. Ele fez uma pausa, dentro dela, divertindo-se com a sensação. Este era o lugar onde ele deveria estar. Ela era dele. E Deus sabia que ele era dela. Ele era desde o começo dos tempos. — Sim, sim, — ela ofegou quando ele começou a se mover dentro dela. Ela era tudo o que ele queria, e ele estava reivindicando-a, corpo e alma. Ela jogou a cabeça de um lado para o outro e segurou-o, fazendo pequenos barulhos frenéticos enquanto ele empurrava profundamente, de novo e de novo. — Não pare, — ela implorou quando ele chegou ao limite de seu controle. Eles gritaram o nome um do outro enquanto se juntavam em uma explosão de prazer que era tão intensa que o cegou. Ele descansou a testa na cama ao lado dela, ofegando por ar. Ele estava tentando não a esmagar, mas ele mal conseguia se segurar. Finalmente, ele desistiu e
desmoronou ao lado dela. Eles se deitaram lado a lado, respirando com dificuldade, com a pele úmida pela transpiração. Duncan olhou para as cortinas extravagantes que pendiam em torno de sua cama. Isso não resolveu nada, mas ele se sentiu muito melhor. — Estou saindo para tomar Trotternish Castle agora, — disse ele. — E é melhor você estar aqui esperando por mim. — E se eu não estiver? — Disse Moira, erguendo as sobrancelhas. — Eu vou encontrá-la. — Ele segurou sua bochecha com a mão e segurou seu olhar. — Você e eu somos um e sempre seremos.
Duncan fez o seu caminho descendo a colina para encontrar o barco de Alex, ele estava feliz com o denso nevoeiro que tinha caído com a noite, cobrindo o mar e a costa. Ninguém os veria saindo da baía. Duncan estava a vinte passos de onde o barco de Alex estava ancorado na praia, antes que seu contorno preto emergisse da névoa cinzaescura. Quando Duncan se aproximou, ele pôde distinguir as figuras dos homens no barco e um homem encostado nele. Ele sabia que era Connor mesmo antes de estar perto o suficiente para reconhecer a longa e magra figura. — Duncan, — Alex chamou em voz baixa do barco, e Duncan levantou a mão em saudação. — Precisamos conversar, — disse Connor. — Em particular. Duncan suspirou internamente. Connor estava furioso com ele — e com razão — por ter retirado Moira para fora do salão como o fez, declarando ao mundo que ele iria se deitar com a irmã do Laird. Embora Duncan soubesse que eles deviam ter essa conversa, ele esperava adiar até que tivessem tomado o Castelo Trotternish. — Você não deve deixar o castelo sem guardas, — disse Duncan quando eles andaram através da névoa para longe o suficiente e estar fora do alcance dos ouvidos dos outros. Connor se irritava com as restrições de sua proteção pessoal que veio com o fato de ser Laird, mas ele entendia o que sua morte significaria para o clã, então ele geralmente obedecia.
Mas não esta noite. — Eu tenho negócios importantes com você. — Connor colocou a mão no ombro de Duncan, mas não havia dúvidas sobre o aço em sua voz. — Precisamos discutir sobre a minha irmã. Embora ele e Connor fossem seus melhores amigos desde o berço, Connor colocaria os interesses do clã antes de sua amizade. O dever para o clã estava enraizado na alma de Connor, e isso pesava ainda mais sobre ele agora que era o Laird. — O que você deseja saber? — Duncan perguntou, adiando o inevitável. Connor apertou seu ombro com mais força e se inclinou para perto. — Você sabe muito bem o que estou pedindo. Connor, Ian e Alex sempre trataram Duncan como um igual, mas outros não, porque seu pai era desconhecido. Duncan tinha trabalhado duro — mais do que qualquer um — até que ele se tornou um guerreiro de tal força e habilidade que adquiriu o respeito como direito próprio. Ainda assim, pedir para casar com a irmã de seu Laird estava acima dele. — Eu sei que isso não é o que você quer para Moira ou para o clã, — disse Duncan. — Mas eu não posso viver sem ela. — Isso é um pouco vago, — disse Connor, e Duncan podia sentir os olhos de Connor perfurando-o através da escuridão. — O que, exatamente, você pretende fazer sobre isso? — Eu o respeito como meu Laird, e você está mais perto do que um irmão para mim, — disse Duncan. — Mas não posso deixar você casar Moira com outro homem. Se preciso, vou lutar por ela até com você.
A perspectiva de perder a amizade de Connor era como uma lâmina quente perfurando seu coração. Se ele perdesse essa ligação vitalícia, Duncan nunca se sentiria inteiro novamente. Mas por mais que doesse, ele estava escolhendo Moira. — Eu pretendo casar com ela desta vez, — disse Duncan e se preparou para enfrentar a fúria de Connor. — Teria sido uma vergonha ter que lhe matar, — disse Connor, seus dentes se mostrando, brancos, na escuridão quando ele abriu um sorriso. — Com o modo como vocês dois estão se saindo, todo o clã está falando e isso foi antes de você levá-la para cima na frente de Deus e de todos hoje. — Você está dizendo que eu tenho a sua aprovação? — Duncan estava atordoado. — Eu pensei que você gostaria que Moira fizesse uma aliança matrimonial para o clã. — Och, casá-la com alguém fora do clã tem seus perigos, — disse Connor. — Se Moira enfiar um punhal em você como ela fez com seu último marido, não vou ter que me preocupar com isso causando uma guerra de clã. — Não é isso, — disse Duncan com uma risada seca. — Você sempre subestimou seu valor para mim e para o clã, — disse Connor, seu tom sério. — Se você é o único com que Moira quer se casar, eu estou feliz por isso. — Bem, — disse Duncan, e limpou a garganta. — Moira não concordou com isso, precisamente. — Não precisamente? — Connor perguntou. — Ela vai concordar. — Ela tinha que concordar. — Eu disse a ela que não poderíamos nos casar até tomarmos Trotternish e você me fazer o guardião do castelo.
— Moira estava pronta para casar, e você a colocou fora e estabeleceu condições sobre ela? — Connor jogou a cabeça para trás e riu, um som raro nos dias de hoje. — Eu me perguntava qual era o problema. Och, vocês são teimosos como mulas. — Ela sempre teve uma boa casa para morar, — disse Duncan, defendendo-se. — Se conseguirmos tomar o Castelo Trotternish, será necessário um guardião, — disse Connor. — Você é o único homem a quem eu confiaria. — Teremos sucesso, — disse Duncan. — Você perguntou a Moira o que ela estava discutindo com James quando você os interrompeu? — perguntou Connor. — Eu não quero saber. — Ela estava dizendo a ele que Ragnall é seu filho, não de Sean, — disse Connor. — Ela pediu a ele que compartilhasse essa notícia com os MacQuillans para que eles não exigissem o retorno do rapaz depois que o trouxéssemos para casa em Dunscaith. O peito de Duncan estava apertado. Enquanto ele não se arrependia de levá-la para seu quarto, ele se sentiu como um idiota por gritar com ela. — Nós devemos ir, — Alex chamou por eles. Quando Duncan e Connor voltaram para o barco, Alex disse: — Depois da sua exibição no salão, Duncan, alguns de nós fizemos apostas quando você e Moira se casariam. — Você o quê? — Duncan perguntou. — Não me dê esse olhar mal-humorado, — disse Alex. — Eu careço lembrá-lo de que você era o único a fazer apostas antes que eu me casasse. Duncan também coletara um bom saco de moedas.
— Seu Laird apostou uma moeda de prata em seu casamento em três semanas — disse Connor, passando o braço pelo ombro de Duncan. — Um homem sábio se lembraria disso. — Vamos ver você e Ian nos portões do Castelo de Trotternish em quatro dias, — disse Duncan a Connor e subiu no barco. — Vamos tomar os MacLeods por terra e por mar, — gritou Connor, levantando os punhos e repetindo o lema do clã MacDonald. — Air muir 's air tir! Por terra e por mar! — Estamos a alguns quilômetros do Castelo Trotternish agora, — Alex alertou Duncan. Eles tinham feito bom tempo e chegaram em menos de dois dias inteiros. — Traga-nos para a costa, — disse Duncan, — e eu andarei o resto do caminho. Uma chuva enevoada e fina caía e a luz da tarde desvanecia, o que era bom, porque tudo dependia de ninguém ver uma galera de MacDonald cheia de guerreiros. Quando Connor e Ian chegassem com suas galeras, tomariam o maior cuidado de ficar no mar até escurecer. — Calma, rapazes, — disse Alex enquanto guiou a galera em direção a uma faixa de praia sem casas à vista. O barulho suave e regular de seus remos era o único som que os homens faziam quando o barco se aproximava da costa. Como um, eles levantaram seus remos, e Duncan sentiu o raspar macio do casco nas rochas enquanto eles se deslizavam para orla. — Duas noites a partir de agora, depois que a casa for para a cama, eu vou sinalizar a partir da janela da torre, se é seguro para prosseguir, — disse Duncan a Alex, embora eles tivessem repassado isso uma dúzia de vezes antes.
— Eu estarei esperando, — disse Alex. — Quando eu ver o sinal, vou mandar um homem para dizer a Ian e Connor para terem seus homens prontos. O plano era que Duncan soltasse uma corda da sala da torre. Depois que Alex e um punhado de homens subiram, eles iriam até o portão do castelo, subjugariam os guardas e deixariam a força principal entrar pelo portão. — Eu espero que você não tenha ficado muito fraco com o seu treinamento para escalar uma corda, — Duncan o repreendeu. Alex apenas riu. — Se o mar estiver agitado, — disse Duncan com mais seriedade, — será difícil aproximar o barco o suficiente do penhasco para alcançar a corda. — Och, eu poderia fazê-lo com os olhos fechados, — disse Alex. No escuro da noite, seria o mesmo que fazer cego, mas ninguém era melhor marinheiro que Alex. — Até então, o povo do castelo deve estar acostumado a me ver e não vão estar me observando de perto. — Ou assim Duncan esperava. — Eu aposto que algumas das mulheres ainda estarão de olho em você, — Alex disse com diversão em sua voz. — Você geralmente é cego para a atenção das garotas, mas você deveria estar atento desta vez. Eu aconselho você a escolher uma delas quando chegar, e isso desencorajará as outras. — Eu vou me casar em breve, — disse Duncan, ofendido. — Eu não estou dizendo que você precisa ir a cama da moça, — disse Alex. — Apenas flerte e faça os outros acreditarem que ela é a única que você quer, para que eles não o sigam. — Vou me certificar de que ninguém me siga, — disse Duncan e mudou de assunto. — Com alguma sorte, nós cercaremos os MacLeods,
enquanto eles ainda estiverem dormindo no salão, e a luta terminará rapidamente. — Devemos esperar isso, — Alex disse, parecendo duvidoso. — Caso contrário, isso está fadado a ser sangrento. — Lembre-se, — disse Duncan, segurando o braço de Alex, — o guardião do castelo é meu. — E você se lembra — disse Alex — de que os reféns MacLeod são mais valiosos para nós vivos do que mortos. Não este aqui. Duncan pegou a sacola que continha sua gaita de fole e se preparou para cair sobre o costado do barco em águas rasas. — Tudo vai ser tão suave como creme na garganta de um gato, — disse Alex, mas ambos sabiam que era uma mentira, e colocou a mão no ombro de Duncan. — Mesmo assim, você estará sozinha lá, meu amigo, então tenha cuidado.
Moira podia ver a névoa quando ela parou para olhar as nuvens que viajam sobre as colinas verdejantes molhadas com a chuva. Duncan não acreditava nisso, mas preferia viver aqui na Península Sleat de Skye em uma pequena cabana do que viver em um castelo ou em qualquer outro lugar. Para ela, este era o lar, e nunca haveria um lugar que ela amava tanto. Ela se virou para olhar através da ampla entrada em direção aos picos nebulosos dos Cuillins. Além deles, no canto mais distante da ilha, ficava a península de Trotternish. Duncan e Alex deveriam estar chegando lá agora. Trotternish era mais escura, menos verde que Sleat. O castelo,
no alto de seu penhasco,
lembrou-a
demais dos
MacQuillans. Moira vagou por horas pelas colinas com Sàr. Desde a saída de Duncan dois dias atrás, ela tinha muito a pensar. Ela entendeu que Duncan deve servir como o guardião do Castelo Trotternish. Depois de arrancá-lo das mãos de ladrões dos MacLeods, o clã precisava do seu guerreiro mais feroz para ser o protetor e defensor do castelo. Mas ela iria com ele? Sim, ela sabia que sim. Talvez ela pudesse viver sem ele, mas não queria. Ela tinha fé que Duncan tomaria o Castelo de Trotternish, mas ela desejou ter fé suficiente nela para viver com ele sem se casar. Pelo menos ele não pensava mais nela como frágil. Ela sorriu para si mesma.
A maneira como ele havia feito amor, feroz, antes de partir era bastante persuasivo nesse ponto. Quando começou a chover, ela de repente se lembrou que Connor estava partindo para Trotternish com a maioria de seus guerreiros hoje à noite. O dia tinha fugido dela. Ela recuou, esperando chegar a Dunscaith a tempo de ver Connor e os outros partirem. Enquanto corria pelo caminho lamacento ao longo do cume, ao vento da colina, Moira percebeu um barco e duas figuras na costa de uma pequena enseada abaixo dela. Toda a Península Sleat estava firmemente nas mãos dos MacDonalds, então estes seriam seus membros do clã. Navegar de volta para Dunscaith seria muito mais rápido e estava ficando escuro. Ela decidiu aproveitar-se de ser a irmã do Laird e pedir-lhes que a levassem de volta a Dunscaith em seu barco. A chuva caía mais forte o tempo todo. Ela deixou o caminho e foi escorregando e deslizando pela encosta através da grama alta e molhada com Sàr em seus calcanhares. Quando ela alcançou a encosta perto da costa, ela teve que diminuir seu ritmo. Moira estava perto o suficiente agora para chamar a dupla, mas ela parou quando reconheceu a mulher. O que Rhona está fazendo aqui? — Calma, garoto, — Moira sussurrou quando ouviu o baixo rosnar de Sàr ao lado dela. Ela se ajoelhou e colocou o braço ao redor dele para segurá-lo. Enquanto observava, Rhona abraçou o homem e deu-lhe um longo beijo. — Hmmph. Não demorou muito para Rhona encontrar uma maneira de se consolar com a perda de Duncan, — ela sussurrou para Sàr. — Pelo menos não vou ter que me preocupar com ela envenenando minha comida agora.
Moira se resignou em caminhar pelo resto do caminho de volta a Dunscaith na chuva e de dizer adeus a Connor. Ela não iria interromper o encontro na praia. Com um suspiro, ela se levantou para sair. Só então, o homem com Rhona quebrou o beijo e se virou, mostrando seu perfil. Moira congelou. Por um longo momento, ela pensou que estava vendo o fantasma de seu pai. Mas não, sua lembrança estava enganando-a na luz fraca da tarde de inverno chuvosa. Moira sentiu uma pontada profunda de tristeza. O homem na praia, era apenas um homem com uma grande estrutura e cabelo dourado escuro da cor do pai, quando Moira era uma menina. Seu pai estava morto. Quando Moira subiu a colina, ela suspeitou do que desencadeou a lembrança de seu pai, ainda mais, do que a cor do cabelo e da constituição do homem, foi vê-lo em um abraço ilícito com uma mulher. Seu pai sempre teve mulheres. Alguns disseram que suas infidelidades quebraram o coração de sua mãe. Outros disseram que sua mãe amaldiçoou seu pai, o que ela pode ter feito. Apesar de todas as suas mulheres, Moira fora sua última filha. Pelo menos, ela não sabia de nenhum outro. Quando chegou a Dunscaith, Moira estava gelada e encharcada até os ossos. E ela sentiu falta de se despedir de Connor. Em breve vou ser mestre aqui. As palavras ecoaram na cabeça de Duncan quando ele passou pelo portão do Castelo de Trotternish. Enquanto atravessava o pátio do castelo, um homem vindo para o outro lado deu-lhe amplo espaço, e Duncan percebeu que estava andando como normalmente fazia. Embora fosse contra todos os instintos, ele encolheu os ombros e abaixou a cabeça.
Uma vez dentro da fortaleza, ele examinou o salão debaixo do capuz, instintivamente contando homens e armas e não encontrando mais do que a última vez. Seu olhar parou abruptamente na mesa alta. Ragnall estava sentado ao lado de sua amiga Sarah, a apenas alguns lugares de distância de Erik. Duncan não deveria ter sido pego de surpresa por Ragnall ser convidado a sentar-se na mesa alta, embora ele não estivesse lá da última vez. Afinal, os MacLeod acreditavam que Ragnall era o único filho do Laird dos MacQuillan. Mas Duncan podia sentir o mal emanando de Erik MacLeod, e ele não gostava de ter seu filho em qualquer lugar perto dele. Ragnall estava encostando a cabeça no queixo e tinha uma carranca no rosto. Quando ele viu Duncan, sua expressão se iluminou e ele se endireitou. Por mais que aquecesse o coração de Duncan que o rapaz tivesse prazer em vê-lo, isso poderia significar um desastre. Se Ragnall agisse excessivamente amistoso com ele ou chegasse perto demais, era possível que alguém notasse a semelhança entre eles. Quando Duncan sacudiu a cabeça levemente, Ragnall soltou o sorriso e desviou o olhar. A rápida percepção de Ragnall do sinal de Duncan falava das lições aprendidas de viver sob a ameaça do temperamento de Sean. Embora fosse útil no momento, isso perturbou Duncan. Ele tinha muito a compensar seu filho. — Eu vejo que você voltou para comer minha comida, gaiteiro, — Erik falou, chamando a atenção de Duncan para o centro da mesa alta. — Vamos ter uma música animada. A grosseria de Erik era ilimitada. Duncan se forçou a baixar os olhos para que Erik não visse assassinato neles. Quando uma das servas trouxe a Duncan um banquinho e deu-lhe uma piscadela atrevida, ele se lembrou do conselho de Alex.
— Qual é o seu nome, moça? — Ele perguntou alto o suficiente para aqueles próximos ouvirem. — Mòrag, — disse ela, jogando o cabelo por cima do ombro. — Mas para você, eu responderei a qualquer coisa. Felizmente, a moça não precisou de muito encorajamento. Agora, se alguém o pegasse em uma parte do castelo, que não deveria estar, ele poderia dizer que achava que era onde Mòrag havia dito para encontrá-la. Duncan sentiu o olhar de Erik queimando buracos nele quando ele começou a tocar. Porra a natureza do homem era de suspeita. Quando Erik jogou aquela maçã na última vez, ele deveria ter deixado bater na cabeça dele. Duncan tinha visto pelo canto do olho e pegou instintivamente. Ele não podia permitir mais erros assim. Erik estava ciente de que um dos guardas de plantão no portão da frente tinha entrado no salão e ficou atrás dele, mas o fez esperar. Ele estava vigilante sobre lembrar os homens da importância de sua posição. Enquanto ele mantinha o guarda esperando, ele observava o flautista. — O que traz vocês de volta dos MacCrimmons tão cedo? — Ele gritou quando o gaiteiro terminar uma melodia. — Bem, — disse o flautista, — os MacCrimmons são um pouco protetores demais com suas filhas para o meu gosto. Erik riu. Isso era verdade demais. Com a certeza de que, pelo menos, o flautista tinha sido onde ele dissera, Erik se recostou na cadeira e acenou para o guarda avançar. — Aquele pirata MacDonald está aqui, — disse o guarda perto do ouvido de Erik.
Hugh Dubh deve finalmente ter notícias sobre os planos de seu sobrinho. — Mande-o entrar, — disse Erik.
Com o olhar de Erik fixos nele, Duncan manteve o seu próprio em seus tubos da gaita de fole e continuou tocando. Mesmo assim, ele percebeu quando alguém entrou no salão e se aproximou da mesa alta. — Ragnall, — Erik gritou. — Venha conhecer o tio da sua mãe. Duncan perdeu uma nota e se esforçou para pegar a música novamente. De costas, o visitante diante da mesa alta podia ser um dos tios do Clã MacDonald de Moira e Connor do lado de sua mãe. Duncan não rezava com frequência, mas ele rezava muito para que, qualquer que fosse o tio, não o reconhecesse. Ele tocou suavemente, usando sua música como um escudo invisível enquanto deixava flutuar por trás das conversas no salão. — Este é o seu tio Hugh Dubh, — disse Erik. Hugh.
Eles
deveriam
ter
adivinhado
que
Hugh
estaria
consorciando com os MacLeod novamente para causar problemas. — Venha, rapaz, — disse Erik, acenando para Ragnall. Dedos gelados roubaram a espinha de Duncan enquanto observava Ragnall ficar ao lado de Erik com apenas a largura da mesa entre ele e Hugh. Seu filho parecia tão pequeno e vulnerável, como um pequeno coelho preso entre dois falcões circulando. Cada músculo de Duncan ficou tenso, pronto para lutar para proteger seu filho. Imaginou-se roubando uma claymore, atravessando a sala para chegar a Ragnall, jogando-o por cima do ombro e depois escapando com ele para fora do salão, do outro lado do pátio, do portão
e dos campos abertos em segurança. Ele nunca faria isso, mas por um longo momento, ele considerou. Duncan não percebeu que havia parado de tocar até que Erik gritou: — Outra música, gaiteiro, para receber meu convidado! O tempo pareceu diminuir quando Hugh se virou e olhou diretamente para Duncan. Os olhos de Hugh se arregalaram. Duncan já estava de pé quando Hugh abriu o braço e apontou para ele. — Eu conheço esse homem, — gritou Hugh. — Esse é Duncan MacDonald! Mesmo sem sua claymore, Duncan derrubou meia dúzia dos MacLeods que vieram até ele. Mas havia muitos deles e, eventualmente, eles o seguraram pelo tempo suficiente para amarrar suas mãos atrás dele. Através do tumulto de homens agarrando e empurrando e mulheres gritando, Duncan teve um vislumbre de Ragnall. A expressão de seu filho estava fechada, mas seus olhos pareciam absorver tudo, e sua pequena amiga, Sarah, segurava a mão dele. A próxima vez que Duncan olhou, as duas crianças tinham ido embora. Moira e Ilysa discutiram o cardápio da semana enquanto derretiam sebo para as velas. Servos geralmente faziam essa tarefa — e o cheiro era terrível, — mas manter-se ocupada ajudava a manter a mente afastada da preocupação com os homens que tinham ido a Trotternish. Depois que a cozinha estava limpa da refeição do meio-dia, Ilysa tinha enxotado os criados, então eram apenas as duas. Moira gostava da irmã de Duncan e ficou feliz pelo tempo sozinha com ela. — Nós vamos ficar sem carne fresca em breve, — disse Ilysa. — Tait mandou alguns rapazes soltarem as linhas do portão do mar, então talvez tenhamos peixe para o jantar.
— Falando do diabo, — disse Moira, dando a Tait uma piscadela amigável quando ele entrou na cozinha. — Bom dia para vocês duas, — disse Tait. — Viu o jovem Fergus? — Hoje não, — disse Moira e olhou para Ilysa, que balançou a cabeça. — Por quê? — Ele desapareceu. — Tait se inclinou para frente, descansando as mãos sobre a mesa de trabalho, e falou em voz baixa, embora ninguém mais estivesse na cozinha. — Ninguém viu Fergus desde que ele esteve de guarda na noite passada. — Eu não posso acreditar que Fergus é o nosso espião, se é isso que você está sugerindo, — disse Ilysa, puxando suas delicadas sobrancelhas juntas. — Ele é um jovem muito simples. — O que mais eu devo pensar? — Tait perguntou. — Connor deixou muito claro que ninguém deveria deixar o castelo até que ele retornasse. Ele não queria dar nenhuma chance de os MacLeods serem prevenidos. — Eu vi Fergus com Rhona ontem, — disse Ilysa. — Talvez ela saiba. — Que negócio Rhona tem com um guarda de dezesseis anos? — Um pavor frio se instalou na barriga de Moira. — Vamos nos separar e procurar no castelo pelos dois. — Não há necessidade de alarmar a casa, — alertou Ilysa. Meia hora depois, eles se encontraram, como combinado, no quarto de Connor. — Nenhum deles está na fortaleza, — relatou Moira. — Eu chequei todos os depósitos ao longo da muralha, — disse Ilysa.
— Eu também não os encontrei. Mas os homens que guardavam o portão com Fergus na noite passada viram ele e Rhona fodendo e... — Tait parou no meio da frase e ficou vermelho. — Desculpe. — Pelos santos, Tait, apenas nos diga, — disse Moira. — Bem, quando os outros guardas viram que Fergus e Rhona estavam... hum, ocupando- se contra a muralha, eles se afastaram, — disse Tait. — Os outros guardas se afastaram? — Ilysa perguntou, arqueando as sobrancelhas. — Och, isso acontece, — Tait disse, se contorcendo sob o olhar de Ilysa. — O dever da guarda noturna é longo e tedioso, e se uma moça disposta... — Apenas nos fale sobre Fergus e Rhona, — interrompeu Moira. — Quando os outros guardas retornaram, o par sumira, — disse Tait. — Os homens presumiram que Rhona e Fergus haviam encontrado um lugar mais privado para continuar seus negócios. — Os guardas não relataram que Fergus tinha deixado o seu posto? — Ilysa perguntou, com a mão no quadril. — Os homens cobrem um ao outro por algo assim, esperando, ou pelo menos esperando, que precisem do favor retornado. — Tait estava mudando seu peso de um pé para o outro, claramente desconfortável explicando isso a Ilysa de cara doce. — Eles não ousariam se Duncan estivesse aqui com medo de que ele os esfole vivo quando descobrisse e era o que ele faria, mas Duncan está muito longe ultimamente. — Independentemente disso, os dois se foram, — disse Moira. — Mas se eles são espiões, por que fugir de Dunscaith agora? É tarde demais para avisar os MacLeods. Connor saiu com nossas galeras de guerra há dois dias.
— Eu não posso acreditar que Fergus seria desleal, — disse Ilysa. — Se ele está envolvido, Rhona deve tê-lo enganado para ajudá-la. — Fergus não é a faca mais afiada da cozinha, se sabe o que quero dizer, — disse Tait, olhando para Moira. — Rhona estava aqui em Dunscaith quando Hugh assumiu o castelo, — disse Ilysa. — Eu nunca tive certeza, mas suspeitava que ela fosse uma das mulheres que era amiga de Hugh naquela época. Depois que os quatro voltaram da França, no entanto, Rhona se ligou ao meu irmão como uma sanguessuga. Enquanto Tait falava sobre o perigo de uma mulher desprezada — como se soubesse — Moira tentou decifrar o enigma. — Vi Rhona se encontrar com um homem a alguma distância do castelo pouco antes de Connor sair — disse ela. — Eu pensei que ela estava encontrando um amante para um encontro, mas eu suponho que poderia ter outro propósito também. — Quem era o homem? — Perguntou Ilysa. — Por um momento, pensei que fosse o fantasma do meu pai. — Moira começou a rir de si mesma por sua tolice, mas depois agarrou o braço de Ilysa. — Você acha que poderia ter sido meu tio? Eu não o vejo desde que era criança e não me lembro dele. — Se seu pai e Hugh não tivessem se separado há quinze anos, — Tait disse, — eles seriam muito parecidos. — Então o homem que vi com Rhona poderia ter sido Hugh, — disse Moira. — Mas se ela é a espiã de Hugh, por que iria embora agora, dois dias depois que Connor partiu para Trotternish? — Eu não sei, mas sinto problemas, — disse Ilysa. — Precisamos encontrar Rhona e Fergus e pará-los, — disse Moira. — Eu vou atrás deles, — disse Tait.
— Não, Connor deixou você no comando da defesa do castelo, — disse Ilysa. — Nós não sabemos até que ponto Rhona representa um perigo, e com a maioria dos nossos guerreiros longe, Connor não iria querer que você se afastasse. — Ele tomou a maioria dos homens fisicamente aptos, — disse Tait. — Eu gostaria de saber com certeza quais dos guerreiros que ele deixou para trás são confiáveis... — Ilysa estreitou os olhos, considerando.
—
Devemos
ter
muito
cuidado
com
quem
compartilhamos isso. — Sim, — Moira concordou: — Precisamos de um homem em quem possamos confiar totalmente. Em uma batida na porta, os três pularam como conspiradores culpados. Um momento depois, Niall entrou mancando e usando uma vara grossa como uma bengala. — Eu tenho o barco de Duncan tão bom quanto antes, — ele disse. — Algum de vocês querem confiar em uma vela pequenina e experimentá-la? Niall era perfeito. — Aqui está o nosso homem, — disse Tait, dando um tapinha nas costas de Niall. Ninguém era mais confiável e Niall era forte e bem treinado. E, no entanto, o olhar de Moira continuava mudando entre o rosto jovem e aberto e a perna machucada. Enquanto os outros dois lhe contavam sobre Rhona e Fergus, ela reuniu coragem. — Eu vou com Niall, — disse Moira e se levantou. — Você? — Ilysa piscou para ela. — Olhe para ele, — disse Moira, apontando para a perna de Niall. — Ele não pode navegar no barco sozinho.
Mais do que isso, Niall era muito bom quando se tratava de mulheres. Ele não seria páreo para Rhona. Moira não teria o mesmo problema. Hugh estava bebendo grandes quantidades do melhor uísque de Erik. — Eu espero o pagamento para alertar-lhe da presença de um espião MacDonald em seu meio, — Hugh disse quando ele serviu-se de mais uísque. Droga, Erik sabia que algo não estava certo sobre aquele flautista. Erik sentia uma admiração relutante pelo destemor de Duncan MacDonald ao entrar no castelo de seu inimigo sozinho e sob tal truque. Se Erik não estivesse tão furioso, daria uma boa risada sobre isso. — Isso foi pura sorte, — disse Erik. — Você não tinha ideia de que ele estava aqui. — É verdade que não esperava encontrar o capitão da guarda de Connor em seu castelo fingindo ser um flautista. — Hugh apontou o dedo para Erik. — Mas eu sabia que ele deixou Dunscaith no escuro da noite. Isso significa que o ataque virá em breve, então vim avisar vocês. Hugh não sabia nem metade do que fingia. — O que eu preciso saber é por que seu sobrinho enviou o capitão de sua guarda aqui. — Ele está explorando as coisas em preparação para o ataque. — Hugh se recostou e esticou as pernas como se tivesse o direito de estar aqui no castelo de Erik. — Por que mais ele estaria aqui? — Você viu as galeras de guerra MacDonald zarpar? — Erik perguntou.
— Não, mas me disseram que os homens estavam carregando os barcos. — Hugh espetou um arenque no prato que havia sido deixado na mesa e começou a comê-lo. — Eu espero que eles estejam aqui a qualquer momento agora. Hugh estava adivinhando, mas era possível. Erik dobraria o guarda. — O primo de Connor, Ian, também estava preparando seu barco no castelo de Knock. — Enquanto falava, Hugh cravou os dentes com o punhal como um pagão. — Mas você não sabe nada sobre como eles planejam fazer o ataque? — Erik perguntou. — Não, mas você tem o capitão da guarda de Connor em sua masmorra — disse Hugh, enquanto seu olhar seguia uma moça com um amplo traseiro. — Tire isso dele. — Meus homens já tentaram por uma noite e um dia, — disse Erik. — Ele não disse uma palavra, e eu não acredito que dirá. Era inútil para Duncan MacDonald manter a boca fechada agora que ele tinha sido descoberto. Qualquer que fosse sua tarefa aqui, ele não tinha chance de completá-la, e o ataque certamente falharia. Erik achava que a honra do homem não tinha sentido, mas admirava sua teimosia. — Alimente-o com carne de porco salgada sem água, — disse Hugh e tomou de outro bocado da comida. — Um homem morrendo de sede vai falar se não enlouquecer primeiro. — Isso leva muito tempo, — disse Erik. Além disso, Duncan MacDonald provavelmente conheceria esse truque. Embora a maioria dos homens não pudessem deixar de comer a carne de porco salgada de qualquer maneira, Erik suspeitava que
MacDonald era forte o suficiente para se recusar a comê-la, não importando o tempo que passasse de fome. — Mostrei-te o espião e trouxe-te uma informação valiosa — disse Hugh, interrompendo os pensamentos de Erik. — Dê-me o rapaz agora. — Os MacDonalds não têm guerreiros suficientes para tomar este castelo, — disse Erik. — Mas se você estiver certo e os MacDonalds atacarem, você pode ter o rapaz então. Ninguém me culpará se ele for morto ou desaparecer no caos da batalha. Erik havia pensado muito no rapaz MacQuillan, mas ele imaginou-o em sua mente agora. Ele era um rapaz de boa aparência, alto para a idade e surpreendentemente silencioso por ter cabelos ruivos flamejantes. Cabelos ruivos... Não, não poderia ser. Havia homens e rapazes em toda a Escócia e Irlanda de cabelos ruivos. No entanto, quanto mais Erik pensava nisso, mais lhe parecia que havia uma semelhança entre o espião MacDonald e o rapaz. E a mãe do rapaz era Moira MacDonald. — Você disse que nosso espião tem sido amigo do Laird MacDonald desde que eles eram rapazes? — Erik perguntou. — Ele era amigo da irmã do Laird também? — A mãe de Duncan era babá de Connor e sua irmã Moira, — disse Hugh com um encolher de ombros. — Todos eles cresceram juntos em Dunscaith. Então era possível... O rapaz deveria ser do MacQuillan, mas, Deus sabia, as mulheres eram enganosas. Erik não arriscaria a vida por um filho, mas muitos homens o fariam. Este Duncan MacDonald o atingiu por ser esse tipo de homem. — Pelo que ouvi, há mais entre Duncan e Moira do que lembranças de infância — disse Hugh, inclinando-se para a frente para
pegar outro arenque com o punhal. — Dizem que Moira é uma rara beleza como sua mãe e que ela é a única fraqueza de Duncan. Erik sorriu para si mesmo. Se ele estivesse certo, ele sabia como obter o plano de ataque do espião MacDonald. Era quase simples demais.
Duncan chutou furiosamente o rato que se arrastava na direção do pé dele. A frustração queimava através dele. Deus o ajudasse, ele falhou em grande escala. Enquanto a segurança de seus membros do clã, incluindo seu filho, seu Laird e seus melhores amigos, dependiam dele, Duncan estava na masmorra do Castelo Trotternish acorrentado à maldita parede como um animal. — Arrgh! — Ele puxou a corrente novamente, embora não servissem para nada, além de fazer com que a corrente ferisse seus pulsos já sangrentos. Ele tentou adivinhar quanto tempo esteve nesse buraco esquecido por Deus. A julgar pela quietude acima dele, era noite novamente. Isso significava que Alex estaria em seu barco, observando o sinal e esperando pela corda que nunca seria largada. Duncan encostou a cabeça na parede para evitar que o sangue corresse em seus olhos. As surras estavam ficando mais fortes, mas ele sofreu piores. Embora ele estivesse acorrentado, os homens pareciam receosos de chegar perto o suficiente para causar-lhe sérios danos. O silêncio foi quebrado pelo eco das botas nos degraus de pedra do outro lado da grade de ferro. Apenas um homem dessa vez, então ele era mais corajoso do que os outros. Duncan ficou de pé. Ele estaria preparado se o guarda lhe desse a menor chance de dominá-lo. Quando o homem chegou ao último degrau, a luz da tocha que ele carregava brilhou em seu rosto e Duncan viu que era Erik. Raiva rugiu em seus ouvidos.
Erik esperou para falar até que destrancou a porta da grade de ferro e entrou. Infelizmente, as correntes de Duncan não eram longas o suficiente para ele alcançar Erik. — Você pode nos salvar de dois problemas e me dizer agora o que eu quero saber, — disse Erik. — Ou você pode esperar que vou trazer o rapaz aqui em baixo. Um choque estranho de medo passou por Duncan. Não, Erik não sabia sobre Ragnall. — Que rapaz? — Duncan tentou um tom indiferente, embora seu coração estivesse batendo tão forte que Erik provavelmente poderia ouvir. — Estou falando do seu filho, — disse Erik. — Ragnall Erik andou na frente de Duncan, um pouco além de seu alcance. Alguns centímetros mais perto, e Duncan envolveria sua corrente na garganta de Erik e o estrangularia. — Ele é apenas uma criança, — disse Erik. — Não me faça machucá-lo. — Você não iria. — Duncan se obrigou a falar com calma. — Seu Laird assumiu um dever solene de protegê-lo. — Seu dever é para os MacQuillans, — disse Erik. — Mas Ragnall não é um MacQuillan, é? — Que homem poderia realmente saber se uma criança é dele? — Duncan encolheu os ombros. — Os MacQuillans acreditam que Ragnall é o filho de seu Laird, assim como Alastair MacLeod, e é isso que importa. — É verdade que o meu Laird se sente na obrigação do rapaz. — Erik cruzou os braços e balançou a cabeça. — Mas há muitas maneiras pelas quais uma criança pode sofrer um acidente. E se parecer
suspeito, posso culpar Hugh Dubh. O tolo, tanto quanto disse ao meu Laird, quer Ragnall morto. Duncan acreditava que Erik era capaz de ferir uma criança, e ele sabia com certeza que Hugh mataria o garoto. Juntos, eles eram como uma víbora de duas cabeças. — Se você quer salvar seu filho, deve me dizer as coisas que eu preciso saber. Deus tenha piedade de mim. Para ganhar tempo, Duncan disse: — Eu deveria informar sobre qualquer fraqueza eu vi no castelo, isso é tudo. — Talvez essa tenha sido a sua tarefa na primeira vez em que você entrou no meu castelo — disse Erik, e então ele fez suas perguntas em seus dedos. — Com que propósito o seu Laird mandou você aqui uma segunda vez? Como ele planeja me atacar? E onde ele tem seus homens esperando agora? Duncan tentou desesperadamente pensar em mentiras que Erik acharia convincentes. E, no entanto, ele sabia que não faria diferença. Erik não era confiável para manter sua palavra. Mesmo que Duncan fosse tolo o suficiente para dizer a verdade a Erik e sacrificar os outros, Erik não pouparia Ragnall. Duncan encontrou o duro olhar de seu inimigo e considerou dizerlhe que ele era seu filho. Ele tinha imaginado contar a Erik depois que ele tomasse este castelo dele e enquanto ele segurasse uma lâmina na garganta de Erik. Confessar a verdade como um apelo por simpatia enquanto ele era humilhado em correntes era a última coisa que Duncan queria fazer. Ele duvidava que Erik acreditasse nele. E se ele acreditasse, Duncan não tinha nenhuma ilusão que Erik iria poupá-lo. Mas a pergunta que Duncan teve que fazer a si mesmo era se havia uma
chance de que a verdade pudesse mover esse homem de coração frio para salvar seu neto. — Pense nisso esta noite, — disse Erik. Voltarei de manhã com o rapaz e depois veremos o que você tem a dizer. — Um dos pequenos barcos que os jovens usam para pescar está faltando na costa, — relatou Tait. — Espero que seja o que Rhona e Fergus tomaram. — Eles vão estar se movendo devagar nisso, — disse Niall. — Ainda assim, eles estão meio dia à frente. E o pior, não sei para onde eles foram. — Eu odeio enviá-los em uma corrida de ganso, — disse Ilysa. — Vá ver Teàrlag primeiro. Ela pode ser capaz de dizer-lhe onde Rhona e Fergus foram. E porque — Mas Connor disse que ninguém deveria sair, — disse Tait. — Ele não quis dizer a mim e a Niall, — disse Moira, sem se preocupar em esconder sua impaciência. — Nós não somos espiões. — Nós? — Niall disse, levantando uma sobrancelha. — Duncan e Connor, ambos, vão ter a minha cabeça se eu a levar comigo para ir atrás de Rhona e Fergus. — Estamos indo apenas para Teàrlag agora, — disse Moira e se dirigiu para a porta. — Tome Sàr com vocês, — Ilysa chamou atrás deles. Estava escurecendo quando Moira e Niall chegaram à enseada abaixo do chalé de Teàrlag. Moira seguiu Niall pelos degraus do penhasco
íngreme
até
a
antiga
cabana.
Niall
conseguiu
surpreendentemente bem, usando seu bastão como uma bengala, mas Moira escorregou várias vezes. Finalmente, ela chegou ao topo e quase mergulhou para o mar quando uma voz saiu da escuridão. — Você veio saber sobre o tempo!
Moira olhou para a escuridão e viu a velha vidente parada acima dela no degrau mais alto. — Olá, Teàrlag. Sou eu, Moira. Niall está aqui também. — Eu sei quem você é. — Teàrlag se virou e caminhou em direção a sua cabana, murmurando: — Moça ingrata. Moira a seguiu para dentro com Niall, esperando que ela fosse bem-vinda. Niall contara-lhe no barco que Teàrlag deixara o chalé pela primeira vez em muitos anos para fazer uma previsão sobre Moira e pedir que Duncan partisse para a Irlanda sem demora. — Deixe sua besta aí fora. Não quero que ele assuste minha vaca — disse Teàrlag enquanto se arrastava até sua mesinha e acendia a lamparina. Não havia espaço na minúscula casa de campo para Sàr, em todo caso. — Me desculpe, eu não vim para agradecer-lhe. — Moira deixou a cesta de comida que havia trazido na pequena mesa e cuidadosamente pegou o banquinho em frente Teàrlag. O vidente parecia mais velha que a névoa desde que Moira se lembrava. Exceto por encolher um pouco mais, ela não mudou muito. — Eu sabia que o sangue na minha visão não era seu. — Os ombros de Teàrlag subiram e desciam enquanto ela fazia um som que só poderia ser chamado de gargalhada. — Mas eu sabia que você precisava de ajuda, e consegui que aquele grande rapaz tomasse seu barco. Apenas Teàrlag chamaria Duncan de — aquele rapaz grande. Moira ficou aliviada porque a velha vidente parecia ter aceitado seu pedido de desculpas. Teàrlag gostava de ameaçar e amaldiçoar alguém pelo que ela considerava falta de cortesia.
— Acho que você veio me perguntar sobre aquela garota problemática, Rhona — disse Teàrlag enquanto espiava a cesta de comida o que provavelmente foi o que ganhou o perdão de Moira. — Ilysa não poderia dizer a você? Moira se virou e ergueu as sobrancelhas para Niall, que se juntou a elas na pequena mesa. — Ilysa está aprendendo os velhos costumes de Teàrlag — Niall sussurrou, seus joelhos batendo nos dela enquanto ele se inclinava para frente. — Alguns dizem que ela desenvolveu a visão. A calma, circunspecta Ilysa era uma vidente? Moira não podia imaginá-la tecendo de um lado para o outro e agitando os braços como Teàrlag fez quando tinha uma visão. Mas então, Teàrlag entendia a maior parte de seu dom. — A visão vem e vai com Ilysa, — disse Teàrlag, sacudindo a cabeça. — Ela não tem fé em si mesma. Não era algo que Teàrlag sofresse. — Você pode nos dizer por que Rhona e Fergus deixaram o castelo? — Niall perguntou. — Eles são um perigo para o clã? — Rhona não é o perigo, — disse Teàrlag. — Mas há um perigo para os nossos guerreiros que retornarão, e Rhona sabe o que é. — Temos de encontrá-la então, — disse Moira. — Você sabe onde ela e Fergus estão? Teàrlag revirou os olhos e fez um barulho estranho, enquanto se balançava em seu assento. Depois de um tempo, ela parou e piscou várias vezes. — Bem? — Niall perguntou. — Não consigo ver o destino deles, — disse Teàrlag. — Mas eles estão navegando para o Sul ao longo da costa de Sleat em direção ao ponto da península.
— Há mais alguma coisa que você possa nos dizer? — Perguntou Moira. — Rhona tem vingança em seu coração, — disse Teàrlag. — E ela está procurando por Hugh Dubh.
Um som tocou as orelhas de Duncan. Passos. Pareciam muito leves e nenhuma luz de tocha brilhava na escada. Clik, click. Duncan ouviu uma chave girando na fechadura, seguida pelo lento rangido da porta de ferro se abrindo. Talvez os guardas tivessem voltado para outra tentativa de derrotar os planos do ataque, embora já devessem saber que era inútil. Alguns homens não podiam ser quebrados e Duncan era um deles. Ele nenhum tinha orgulho especial nisso, mas sabia que era verdade, no entanto. Ele fechou os olhos por um momento, preparando-se para suportar a dor que viria. — Ele está aqui! Os olhos de Duncan se abriram com o som inesperado da voz aguda de uma menininha. Era tão negro na masmorra que ele não conseguia ver nada. — Silêncio! Essa era a voz de Ragnall dessa vez. Duncan pensou que ele deveria estar tendo um sonho acordado, como os homens fazem quando são espancados e mantidos na escuridão, mas então ele sentiu alguém de pé ao lado dele. — Ragnall? — Ele perguntou. — Trouxemos um martelo para as correntes, — disse Ragnall. — Essa foi minha ideia, — disse a menina. Duncan sentiu o riso borbulhar dentro dele, como um louco. Certamente, Deus estava fazendo uma piada com ele — ou dando ao
famoso guerreiro uma lição de humildade — enviando duas crianças para resgatá-lo. Ele pegou o martelo da mão de Ragnall e sentiu a corrente que prendia suas pernas à parede. Então ele bateu o martelo contra a corrente de novo e de novo até que um dos elos se quebrou. Ele fez o mesmo com a corrente que segurava seus braços na parede, e ele estava livre. — Devemos ficar muito quietos enquanto subimos, — advertiu Duncan às crianças. — Ragnall, você vem comigo. Sarah, vamos tê-la em segurança na porta do seu quarto primeiro. Onde? Sarah fora autorizada a sentar-se à mesa alta com Ragnall, e parecia ter liberdade de correr pelo castelo e tempo para brincar. Isso significava que ela era de uma família de alto nascimento e dormia em um dos quartos, e não no salão ou nas cozinhas. Ela provavelmente estava sendo adotada aqui como Ragnall. — Eu não vou para a cama, — disse Sarah. — Eu vou ficar com você e Ragnall. — Haverá problemas hoje à noite, e você deve estar segura em sua cama com as mulheres do clã, — disse Duncan. — Agora, qual quarto é o seu? — Eu não vou dizer. Och, ela era teimosa o suficiente para ser uma garota MacDonald. — Ragnall, onde é? É muito perigoso para ela vir conosco. — Dois andares acima do salão, — disse Ragnall. Sarah fez um som como um grunhido, que Duncan ignorou. Com isso resolvido, ele conduziu a dupla através da porta de barras de ferro, por um conjunto de degraus de pedra íngremes e por uma passagem estreita. No final, a luz brilhou em torno das bordas da porta baixa de madeira que levava à parte inferior. Duncan colocou o ouvido na porta.
Deve ser tarde de fato, pois não havia vozes ou sons de panelas batendo nas cozinhas. — Onde você está levando Ragnall? — Sarah perguntou. — Para a mãe dele, — sussurrou Duncan, gastando o último de sua paciência. — Agora cale-se, Sarah. Nem outra palavra a menos que você queira me ver de volta naquela masmorra. Duncan abriu a porta e certificou-se de que ninguém estava à vista, depois os três caminharam silenciosamente pela cozinha e subiram as escadas que levavam aos andares superiores da fortaleza. Duncan ouviu os roncos e sopros dos homens adormecidos quando passaram pela entrada do vestíbulo e continuaram subindo as escadas. Duncan deu um tapinha na cabeça de Sarah e a deixou do lado de fora da porta do quarto que ela provavelmente dividia com várias mulheres do clã. Ele ficou aliviado por ter feito essa tarefa. Agora ele poderia ir para o quarto da torre. Ele esperava que sua família não a punisse severamente quando souberam que Sarah os ajudara, mas eles nunca saberiam a menos que ela confessasse, o que parecia improvável. Duncan pegou a mão de Ragnall e correu de volta para o andar térreo, o tempo todo rezando para que os guardas já tivessem feito a última verificação do prisioneiro durante a noite. Ele meio que esperava ouvir gritos e ver homens vindo correndo de todas as direções. Com muito cuidado, ele abriu a porta que levava ao prédio ao lado da fortaleza. Os MacLeods não esperavam nenhuma ameaça de dentro, então esta porta interna estava desprotegida. Ele e Ragnall subiram as escadas até a grande sala onde ele havia encontrado as crianças brincando com espadas de madeira. Estava vazio, como ele esperava. Ele havia descoberto que era ali que Alastair MacLeod dormia quando chegou ao castelo. Se o fantasma
existisse, aparentemente ela era graciosa o suficiente para ficar em sua torre e não perturbar o sono do Laird. Antes de abrir a porta do outro lado da sala, Duncan verificou que o pedaço de madeira que havia colocado no dia em que chegou não foi perturbado. O alívio surgiu através dele quando ele descobriu que ainda estava lá. Ninguém entrou na sala da torre depois que ele esteve aqui. Assim que fechou a porta atrás deles, Duncan se ajoelhou para recuperar a corda, a pedra e a lamparina que escondera debaixo da cama estreita. Então ele abriu as persianas e rezou para que Alex ainda estivesse esperando pelo sinal. — Se os guardas tiverem a chance de ver uma luz que vem e vai, — disse ele à Ragnall enquanto acendia a lamparina, — eles acreditarão que é o fantasma. — Ou assim ele esperava. Ele levou a lamparina até a janela, contou até cem, depois abriu e fechou o obturador. Então ele fez tudo de novo mais três vezes. — Você está me levando para minha mãe agora? — Ragnall perguntou. —- Os outros guerreiros MacDonald e eu devemos primeiro tomar este castelo dos MacLeods — disse Duncan, agachando-se para descansar as mãos nos ombros do filho. — Você deve esperar aqui por mim até a luta acabar. Você não tem medo do fantasma, não é? Ragnall sacudiu a cabeça. Como a maioria do pessoal do castelo tinha medo de entrar na sala da torre, Ragnall deveria estar a salvo aqui. — Assim que tivermos garantido o castelo, eu voltarei por você, — disse Duncan. — Você estará no primeiro barco navegando de volta para Dunscaith.
Duncan amarrou uma extremidade da corda ao redor da perna da cama, e então ele se inclinou para fora da janela para soltar a corda. O som das ondas quebrando nas rochas a cinquenta metros de distância encheu seus ouvidos enquanto observava a corda desaparecer na escuridão. O negrume do mar abaixo só era quebrado pela espuma branca. Duncan ficou na janela, esperando. Ele estava horas atrasado com o sinal. Os outros poderiam ter assumido que as coisas deram errado — o que aconteceu durante algum tempo — e partiram. Venha, Alex. Depois do que pareceu um longo tempo, Duncan viu a sombra de um barco abaixo dele. Do jeito que estava deslizando impossivelmente perto do penhasco, tinha que ser Alex. Duncan sacudiu a corda para facilitar a visão dos homens do barco. Um momento depois, sentiu a corda ficar tensa. — Eles estão aqui, — disse Duncan, voltando-se para acenar para Ragnall. Alex foi o primeiro a aparecer na corda, seu cabelo claro visível mesmo na calada da noite. Foi uma longa subida e o vento soprava forte. Quando Alex estava a poucos metros de distância e perto o suficiente para ouvi-lo, Duncan fez o som suave de uma pomba para que ele soubesse que era seguro. Quando Alex finalmente chegou ao topo, Duncan pegou sua mão e puxou-o através da pequena janela. Então ele puxou a corda para sinalizar para o próximo homem começar. Duncan não conseguira encontrar uma única corda longa o suficiente para escalar o penhasco, então ele tinha amarrado três juntas, formando uma só. Como os nós se tornavam mais fracos, os homens subiam um de cada vez para ter certeza de que a corda aguentaria seu peso.
Quando Alex viu Ragnall, seus olhos se arregalaram; então ele olhou para Duncan e levantou uma sobrancelha. Duncan ignorou a pergunta. — Sou Alex MacDonald, primo de sua mãe, — disse Alex. Ragnall examinou Alex, mas não disse nada em resposta. — O rapaz poupa palavras e sorrisos. — Alex esfregou a parte de trás do seu pescoço. — Me lembra de alguém… Duncan deu-lhe um olhar destinado a terminar a conversa. Alex era um bom amigo, mas ele nunca sabia quando ficar quieto. Alex deu as costas para Ragnall e disse em voz baixa: — Você contou ao rapaz? Duncan sacudiu a cabeça. — Isso é para a mãe dele contar. — Não deve esperar. É melhor que você diga a ele antes que alguém mais diga sobre isso. — Alex olhou por cima do ombro para Ragnall. — Eles vão perceber, você sabe. Duncan não respondeu, mas considerou o conselho de Alex enquanto ajudava o próximo homem pela janela. A pequena sala logo ficou apertada com os guerreiros MacDonald, então ele levantou Ragnall para ficar de pé na cama. Quando o último homem subiu a corda, Alex sacudiu novamente para sinalizar aos homens que permaneceram no barco para partirem. — Espero que neste inferno escuro eles não raspem meu barco contra o penhasco. — Há meia dúzia de guardas no portão e mais meia dúzia patrulhando as muralhas, — disse Duncan, transmitindo rapidamente as informações críticas. — Eles não dormem, por isso devemos ser cautelosos. — Tudo bem, — disse Alex, e os outros assentiram.
— Esses guerreiros MacLeod são bem treinados, — continuou Duncan. — Nós vamos esperar por Connor e Ian no portão. Se algo aconteceu e eles não vierem, podemos escapar dessa maneira. Não tem sentido morrer por nada. Duncan, no entanto, teria que voltar aqui primeiro por Ragnall. — Eu preciso de um momento com o rapaz, — disse Duncan para Alex. — Leve os homens para a sala logo abaixo. — Seja rápido, — Alex disse enquanto conduzia os outros para fora. Duncan colocou as mãos nos ombros estreitos de Ragnall. — Você é minha relação de sangue também? — Ragnall perguntou. Duncan encontrou o olhar direto de seu filho e prometeu a si mesmo que nunca mentiria para ele. — Sean não era seu pai, — disse ele. — Eu sou. Ragnall piscou várias vezes, depois deu um lento aceno de cabeça. — Eu não sabia disso até pouco tempo atrás, — disse Duncan, e ele esperava que um dia Ragnall e Moira pudessem perdoá-lo por seus anos com Sean. — Estou muito feliz por ser seu pai. Alex inclinou a cabeça do quarto ao lado. — Duncan, devemos ir! O que um homem diz a seu filho quando ele está indo para a batalha? Duncan nunca teve um pai para mostrar a ele. — Eu devo deixá-lo agora para lutar pelo bem do clã, — disse Duncan. — Eu faço por você, pela sua mãe e por todos os membros do nosso clã. Och, que coisa banal e inútil de dizer a um rapaz de seis anos. Duncan se sentia completamente inadequado, mas ele não sabia mais o que dizer.
— Minha mãe disse que é o que um homem de honra faz, — disse Ragnall. — Sua mãe te ensinou bem, — disse Duncan, e pela primeira vez pensou em como deve ter sido difícil para Moira manter Ragnall sob o teto de Sean. — Eu voltarei por você assim que puder. — Tenha cuidado, — disse Ragnall. Duncan agitou o cabelo do filho. — Vou fazer um trabalho rápido com esses MacLeods e volto antes que você perceba. Ragnall surpreendeu-o, em seguida, jogando os braços ao redor do pescoço de Duncan. Enquanto Duncan segurava seu filho, ele percebeu o quanto ele já se importava com essa criança, sangue de seu sangue, gerado por um amor jovem. Duncan havia colocado sua vida em perigo pelos outros mil vezes, porque isso era o que a honra e o dever exigiam. Mas ele sabia com absoluta certeza que não havia nada que ele não faria para proteger essa criança.
Duncan e Alex se rastejaram pelo pátio até o portão, silenciosos como sombras enquanto os outros quatro guerreiros MacDonald subiam na muralha para derrubar os guardas acima. Havia mais guardas no portão do que Duncan havia contado antes, mas eles não esperavam um ataque de dentro. Antes que os homens soubessem que estavam em perigo, Alex e Duncan os amarraram e amordaçaram. Duncan empurrou a barra que sustentava as portas de madeira do portão. Assim que os guerreiros MacDonald que subiram na muralha se juntaram a eles, Duncan fez sinal para dois deles entrarem na guarita e levantarem a ponte levadiça. O peso da grade de ferro, que tinha pontas na parte inferior para empalar os atacantes, facilitava a queda rápida, mas demorava a subir. Enquanto a corrente de ferro rangia e gemia, fazendo um ruído impiedoso, Duncan ficou ao lado de Alex de costas para o portão, com a claymore pronta e todos os sentidos alertas. Com cada virada da manivela, ele esperava ver MacLeods saindo da fortaleza. Finalmente, a ponte levadiça estava levantada. Duncan e os outros homens vigiavam o pátio, enquanto Alex saía para alertar Connor e Ian. Se algo desse errado, Duncan e Alex saberiam disso agora. Duncan reconheceu o som da chamada de pomba de Alex. Pouco tempo depois, ele ouviu duas chamadas fracas de pomba ao longe. — São eles? — O guerreiro MacDonald ao lado de Duncan sussurrou. — Sim, — disse Duncan. — Esteja pronto.
Seu sangue pulsava em suas veias em antecipação quando ouviu os passos abafados de cem guerreiros MacDonald correndo até o portão. A hora finalmente chegou. Nesta noite, os MacDonalds retomariam o Castelo Trotternish dos MacLeods. Hoje à noite, Duncan iria tirá-lo de Erik e ser feito guardião em seu lugar. Embora
estivesse
escuro,
Duncan
reconheceu
as
formas
familiares de Connor, Ian e Alex enquanto atravessavam o portão na frente dos homens. Connor apertou o braço de Duncan em saudação. — Eu não sei se ele ainda está, mas Hugh estava aqui, — disse Duncan em voz baixa. — Hugh? — Connor disse. — Pegá-lo aqui seria boa sorte. Já passou da hora de resolver as coisas com o meu tio. — Os MacLeods devem nos ouvir em breve, — disse Duncan. — Devemos ir rapidamente para a fortaleza. — Mostre o caminho, — Connor sussurrou de volta. — Você merece a honra. Duncan levantou sua claymore mais alto e acenou para os homens verem na escuridão, então começou a correr para a fortaleza. Como planejado, eles não lançaram seu grito de guerra. Surpresa e astúcia ganhariam esta noite. Duncan irrompeu no castelo e atravessou as portas do salão. Alguns dos guerreiros MacLeod, que estavam dormindo no chão e nos bancos, ficaram de pé com as armas nas mãos, enquanto outros pareciam lentos em reconhecer a invasão. Em momentos, os membros do clã de Duncan cercaram a sala. — Abaixe suas armas e vocês não serão machucados! — Duncan gritou.
O barulho de espadas e gritos de alarme encheu o ar quando alguns dos MacLeods começaram a lutar. Alguns reconheceram que muitos de seus guerreiros foram pegos desprevenidos para que eles prevalecessem e abandonassem suas armas. Outros correram para as portas para escapar.
Duncan sabia que os MacDonalds não
capturariam todos eles, mas manter muitos cativos tinha seus próprios riscos e, em geral, era mais um problema do que valia a pena. Depois de lutar por pouco tempo, Duncan pôde ver que a vitória estava perto. Ele cerrou o punho da claymore com uma fúria frustrada enquanto examinava a sala. Onde estava Erik? Connor apareceu ao seu lado e gritou pelo barulho. — Viu o Hugh? — Eu não o vejo nem Erik, — disse Duncan. — Hugh poderia ter deixado o castelo antes desta noite, mas Erik está aqui em algum lugar. Eu vou encontrá-lo. O diabo me leve, isso é um desastre. Um vislumbre do salão e Erik pode dizer que o castelo estava perdido. Embora soubesse que precisava sair rapidamente, ficou parado por um longo momento olhando para Duncan MacDonald. Como ele poderia ter sido levado a acreditar que esse poderoso guerreiro era um flautista? Os homens de Erik estavam caindo diante da espada do homem como aveia em uma foice. No entanto, o capitão do guarda MacDonald não era tão duro quanto deveria ser. Qualquer guerreiro MacLeod que entregasse sua espada para ele, Duncan poupou. Ele tinha uma fraqueza por honra que poderia ser usada contra ele. Erik se lembrou do rapaz. Um refém aumentaria suas chances de fuga e que melhor refém ele poderia esperar do que o herdeiro do Laird de MacDonald. Se ele
segurasse uma lâmina na garganta do rapaz, eles o deixariam sair do portão. Mais tarde, ele decidiria se daria o menino a Hugh Dubh ou se cortaria sua garganta. Ele gostaria de dizer a Duncan MacDonald como ele fez isso na próxima vez que se encontrassem. E Erik garantiria que eles se encontrassem novamente. Erik devia estar dormindo quando o ataque começou, mas Duncan se perguntou por que ele não desceu quando ouviu a luta. Bem, Duncan levaria a luta até ele. Como guardião, Erik deveria ter o quarto logo acima do salão. Duncan empurrou os homens para o lado enquanto corria para a porta em arco que levava às escadas. Depois de subir os degraus circulares de pedra, ele parou do lado de fora do quarto no andar seguinte. Ao contrário do guardião, os homens que guardavam a porta do quarto tinham deixado o posto para se juntarem à batalha no andar de baixo. A luxúria de batalha pulsou através de Duncan quando ele lentamente levantou o trinco. Finalmente, ele teria sua vingança pela vergonha que Erik MacLeod trouxera sobre ele e sua mãe. Todos os anos de luta para se provar digno e elevar-se a uma posição de respeito dentro de seu clã chegariam ao fim neste quarto com a morte de Erik. Duncan abriu a porta. Sua espada fez um suave whoosh quando ele balançou na frente dele e entrou. Ninguém estava esperando do outro lado. Com o coração acelerado, Duncan esperou até que seus olhos se ajustassem e pudesse distinguir a cama com cortinas. Por mais que Erik merecesse uma morte ignóbil, Duncan não o mataria em sua cama. Não pela honra de Duncan que o deteve tanto quanto seu orgulho. Duncan queria lutar com seu inimigo, combatê-lo de guerreiro a guerreiro e esmagá-lo.
Quando ele ouviu o farfalhar de roupas de cama, ele ficou tenso. Ele segurou sua claymore, pronto, esperando que Erik emergisse através das cortinas da cama com uma lâmina na mão. Mas nada aconteceu. — Eu vou dar tempo para pegar sua espada, — disse Duncan, — e então eu vou matar você. — Eu não tenho espada! A voz era feminina. Duncan recuou, virando a cabeça de um lado para o outro, procurando nas sombras por Erik. — Não me mate! A moça parecia aterrorizada. Duncan afastou a cortina com a ponta da espada. Ela era loira, bonita e jovem demais para estar aqui. E ela estava sozinha na cama. — Eu vim por Erik, — disse Duncan. — Onde ele está? — Eu não sei, — disse ela. — Ele saiu quando ouvimos os gritos vindos do corredor. Então ele voltou furioso e disse que estava procurando o rapaz. O sangue de Duncan se transformou em gelo. — Que rapaz? — O tranquilo com o cabelo vermelho, — disse ela. — Sarah é sua amiga. Por favor, Deus, não deixe Erik encontrar Ragnall antes que eu o alcance. Certamente, Erik não pensaria em olhar na torre por ele. Duncan voou pelos degraus circulares de pedra, três de cada vez. Ele estava se movendo tão rapidamente que quase colidiu com a pequena figura antes de vê-la. Na hora certa, ele a levantou. Ele a levou vários passos antes que ele pudesse parar. — Sarah, — disse ele enquanto a colocava de pé novamente, — o que, em nome de Deus, você está fazendo vagando pelo castelo?
— Eu estava procurando por você, — disse ela, deslizando sua pequena mão na dele. — Erik tem Ragnall, então você deve vir rapidamente. Não! O diabo tinha seu filho. — Onde, Sarah? — Eu segui Erik para o outro prédio e para a torre. — Volte para o seu quarto e fique lá! — Ele gritou e tomou o resto das escadas em um salto. Quando chegou à longa sala que levava à torre, o coração de Duncan estava batendo forte o suficiente para explodir. Ele abriu a porta da torre e congelou. O quarto estava vazio.
Duncan puxou seu cabelo. Onde poderia Erik ter levado Ragnall? Os guerreiros MacDonald estavam guardando o portão para que ele não pudesse sair dessa maneira. Erik poderia ter levado Ragnall por cima da muralha. Era uma longa queda, mas foi assim que muitos dos outros escaparam. Do canto do olho, ao sair do quarto da torre, viu a corda que haviam deixado pendurada pela janela. Algo o incomodava. Ele começou a descer os três degraus para a outra sala, depois parou abruptamente e olhou para trás. A corda estava tensa. — Não! — Ele gritou e correu para a janela. O vento úmido açoitava seu rosto enquanto ele se inclinava para fora, tentando ver a corda através da escuridão. Uma onda de terror passou por ele quando imaginou Ragnall caindo, descendo pelo lado do penhasco até as ondas negras bem abaixo. Então, finalmente, ele viu o que estava procurando, um movimento na metade do penhasco. Na escuridão, ele mal conseguia distinguir uma forma contra a rocha negra. Ele não sabia se era uma pessoa ou duas. Duncan saiu pela janela e começou a descer. Movendo-se perigosamente rápido, ele deixou a corda deslizar por suas mãos enquanto ele se erguia do lado úmido e escorregadio do penhasco com os pés. Ele sentiu o esforço da corda sob suas mãos e esperava que os nós segurassem o peso dos três.
— Não chegue mais perto, — Erik gritou quando Duncan estava a cinco metros acima deles, — ou eu vou largar o rapaz. — Você faça isso, e sua vida acabou, — gritou Duncan de volta. — Você está bem, Ragnall? — Eu estou assustado! Senhor, ajude-o. Duncan estava perto o suficiente agora para ver que Ragnall estava nas costas de Erik e segurando o seu pescoço, o que significava que ele não tinha uma mão na corda. — Eu vou deixar você ir, Erik, — gritou Duncan. — Apenas deixeme ter o menino. Erik continuou descendo pela corda. Logo ele estaria perto o suficiente da água para arriscar-se a cair. Não era longe da costa para um homem adulto e um forte nadador. Mas neste mar agitado, um menino nunca conseguiria. E se Ragnall caísse, não era certo que Duncan
pudesse
encontrá-lo
na
água
antes
que
seu
filho
desaparecesse sob as ondas negras do mar. Ele pensou no sofrimento de Moira se ele não salvasse seu filho e sabia que ele simplesmente não poderia falhar. — Deixe-o ir, Erik, — disse Duncan ao vento enquanto ele fechava a distância entre eles. — Ele é apenas um rapaz pequenino, um inocente. — Não há inocentes! — Erik gritou. — Eu não posso lutar com você e também salvar o menino, — gritou Duncan. — Deixe-me levá-lo e você pode escapar. — Como eu sei que você vai escolher a vida dele e não tomar a minha? — Erik gritou de volta enquanto continuava a descer. — Ele é meu filho! — A angústia rasgou o coração de Duncan. Duncan estava quase perto o suficiente agora para agarrar Ragnall. Ele esticou o braço para fora, rezando para que Erik não
jogasse o menino no mar antes que os dedos de Duncan agarrassem a camisa de Ragnall. Erik soltou uma mão da corda para golpear o braço de Duncan com seu punhal. Quando o corpo de Erik se inclinou para o lado, Ragnall gritou. O coração de Duncan parou quando seu filho foi batido contra o penhasco rochoso. — Espere, Ragnall! — Gritou Duncan. Em um movimento, Duncan chutou o rosto de Erik com a bota e se abaixou para pegar Ragnall pelas costas de sua camisa. Ele sentiu sua camisa rasgando, enquanto empurrava o menino para cima. Antes de ceder, ele pegou o pequeno corpo de seu filho entre ele e a corda. — Eu tenho você. — Duncan segurou seu filho contra o peito e ofegou por ar. — Arrgh! — Erik começou a subir pela corda, passando o punhal nas pernas de Duncan. Por que diabos não estava Erik descendo pela corda e fugindo por sua vida enquanto ele tinha a chance? Erik estava vindo para ele como um louco. Duncan o chutou na cabeça, com força suficiente para atordoá-lo. Desta vez, Erik caiu como uma pedra. O som do respingo foi perdido no vento e o rugido da queda veio aos ouvidos de Duncan. Duncan temia que os braços finos de Ragnall estivessem cansados demais para segurar o pescoço de Duncan — e ele simplesmente não queria soltá-lo — então começou a subir pela corda com uma das mãos. Foi lento, puxando os dois para cima com um braço, depois enrolando os pés na corda para dar-lhe a força para se erguer e agarrar a corda mais para cima novamente. A mão de Duncan escorregou na corda. Ragnall gritou quando eles soltaram um pé antes que Duncan pudesse apoiar seus pés e parar seu deslizamento para baixo.
— Está tudo bem, — disse ele. — Está tudo bem. Droga. Sua mão estava molhada de sangue. A lâmina de Erik deve ter cortado o braço dele. Agora toda vez que Duncan subia, ele tinha que parar e limpar o sangue em sua camisa para que ele pudesse segurar a corda novamente. Duncan estava respirando com dificuldade quando finalmente chegou ao topo e subiu pela janela. A luz da lamparina ainda ardia na sala da torre com um brilho acolhedor. Quando ele olhou para baixo para levantar Ragnall para dentro, viu que os olhos do menino estavam fechados e seus dedos estavam presos na camisa de Duncan como cracas em uma pedra. — Você pode abrir agora, filho, — disse Duncan. — Conseguimos. Erik fixou o olhar no castelo que perdera enquanto o barco de Hugh o levava cada vez mais longe. Enquanto observava o contorno do castelo desaparecer contra a luz do amanhecer, ele pensou em todos os anos perdidos. Ele dedicou-se, total e completamente, sacrificando todo o resto ao seu objetivo de levantar-se dos seus pobres começos para a exaltada posição de guardião de uma das fortalezas de seu clã. Em uma noite, aquele maldito Duncan MacDonald arruinou tudo. Erik havia escapado com sua vida e nada mais. Depois de perder Trotternish Castle, ele nunca mais teria o respeito de seu Laird ou clã. Isso não melhorou o humor de Erik em saber que ele tinha o diabo escorregadio ao lado dele para agradecer por sua fuga. Ele ficou tentado a matar Hugh Dubh por esse favor negro. — Você vai querer vingança. — Hugh disse. — Vingança, — Erik repetiu, e a palavra provou ser doce em sua língua. — Eu sei como você pode obtê-la, — disse Hugh.
Um novo propósito se enraizou nas cinzas de sua ruína. Erik iria persegui-lo tão impiedosamente quanto ele perseguiu sua ambição de subir em seu clã. Ele iria destruir Duncan MacDonald e todos com quem ele se preocupava.
Moira não estava no melhor dos humores. Não estava acostumada a dormir com as vacas e a de Teàrlag tinham mugido metade da noite. Então nuvens negras de chuva tinham soprado enquanto eles saíam de sua cabana esta manhã. Depois de procurar no litoral por horas, eles não viram nenhum sinal da dupla perdida ou do barco que haviam roubado. Moira estava congelada e encharcada. Pelo menos a chuva estava lavando o cheiro de vaca dela. E ela estava aprendendo a navegar. — O tempo está piorando, — disse Niall, observando o céu a Oeste. — Talvez devêssemos voltar atrás. — Não. — Então, observe se há uma fogueira ao longo da costa, — Niall disse com um suspiro em sua voz. — Eles estão naquele pequeno barco. Eles desembarcarão para esperar que o tempo passe. Duas horas depois, eles estavam chegando ao ponto da península, e a tempestade estava explodindo com força total. — Teàrlag deve ter errado sobre eles navegarem para o sul, — disse Niall. — Devemos voltar para Dunscaith. — Só um pouquinho mais. — Moira limpou a chuva dos olhos enquanto procurava na praia. — Niall! Olha lá, isso é uma fogueira? A coluna de fumaça mal se distinguia pela chuva e pela luz cinzenta da tarde de inverno. — Sim, é, — disse Niall. — Deixe-me falar com Fergus quando atracarmos. Ele e eu somos próximos e treinamos juntos.
Quando Niall trouxe o barco para a costa, Moira pôde distinguir duas figuras amontoadas sob uma manta ao lado do fogo. O alívio inundou através dela. Eles haviam encontrado Fergus e Rhona finalmente. — Fergus! — Niall gritou. — Sou eu, Niall! Rhona e Fergus se levantaram e pareciam estar discutindo. Mas então, Fergus colocou o braço em volta de Rhona e acenou de volta para Niall. Assim que a galera arrastou areia no fundo, Moira saltou para as ondas agitadas. Embora o barco de Duncan fosse uma pequena galera, era uma luta para apenas os dois puxarem por causa da perna machucada de Niall. Enquanto Moira puxava o barco, ela virou a cabeça para olhar para Fergus perto do fogo, esperando que ele desse uma mãozinha. Quando ela olhou, Fergus caiu na areia. Então Rhona decolou em uma corrida mortal. A mente de Moira pareceu lenta enquanto tentava compreender o que acabara de acontecer na praia. Tudo o que ela sabia com certeza era que não queria que Rhona fugisse. — Sàr, pegue-a! — Ela gritou. O wolfhound saltou para a água com um grande esguicho e depois galopou como um cervo pela praia na direção em que Rhona havia ido. Assim que tiveram o barco em segurança na praia, Moira veio até para Fergus, que ainda estava deitado ao lado do fogo. Niall se juntou a ela e caiu de joelhos do outro lado do homem que se queixava. Quando viu o sangue jorrando da garganta de Fergus, pressionou a mão contra a ferida. — Fergus, o que aconteceu? — Niall perguntou. — Ela me apunhalou, — disse Fergus, com os olhos arregalados de incompreensão. — Por que ela faria isso? Ela disse que me amava.
Niall encontrou os olhos de Moira, e ela pôde ver que ele achava que Fergus não poderia ser salvo. Embora Niall tivesse apenas dezessete anos, ele era um guerreiro experiente e vira a morte com frequência suficiente para saber. Uma mistura de tristeza e raiva inundou Moira. Ela pegou a mão de Fergus e segurou-a na bochecha. Um desperdício da vida de um homem jovem! — Você pode nos dizer onde Rhona estava o levando? — ela perguntou em uma voz suave. — Ela disse que nunca tinha visto o Castelo Maol antes, — disse Fergus com uma voz fraca. Moira e Niall trocaram outro olhar. O Castelo Maol era a fortaleza dos MacKinnons, que eram aliados próximos dos MacLeods. — Rhona me implorou para levá-la. — A voz de Fergus estava tão fraca agora que Moira teve que se inclinar para ouvi-lo. — Eu sabia que não deveríamos sair de Dunscaith, mas ela disse... Lágrimas borraram a visão de Moira enquanto observava a luz deixar os olhos de Fergus. — Eu nunca teria acreditado que Rhona fosse capaz disso, — disse Moira, enxugando o nariz na manga. — Eu me pergunto o que está no Castelo Maol, — disse Niall, — que Rhona acredita que vale a pena ter assassinado. Uma explosão de latidos e gritos de mulher encheram o ar. — Eu pretendo descobrir, — disse Moira e saltou para seus pés. — Espere por mim. — Niall fez uma careta enquanto lutava para ficar de pé. — Ela é perigosa. Moira pegou o braço de Niall e ajudou-o a levantar. Juntos, eles seguiram as barcas e gritos sobre o solo áspero em direção aos arbustos grossos que cresciam perto da costa. Quando eles romperam o
emaranhado de arbustos, Moira viu que Sàr tinha Rhona apoiada contra uma pedra. O wolfhound era tão alto que suas mandíbulas estavam niveladas com o peito de Rhona, e ele claramente tinha a mulher aterrorizada. — Sàr, para mim! — Moira gritou. Quando Moira segurou a coleira de corda do cão de caça, ele recuou, mas um rosnado baixo ainda retumbou em sua garganta. — Devemos deixar o cão wolfhound rasga-la com os dentes depois do que fez com Fergus, — disse Niall. Rhona olhou Niall de cima a baixo com um sorriso de escárnio no rosto. — Você não tem colhões para matar uma mulher. — Eu tenho, — disse Moira, mal contendo sua raiva. Rhona encontrou o olhar de Moira e seu desdém se desvaneceu. — Duncan sempre subestimou o quão dura você é. — Diga-me por que você estava indo para o Castelo Maol, — disse Moira. — Eu ia visitar alguns conhecidos, — disse Rhona. — Você não é uma nobre das Terras Baixas que “visita conhecidos”, — disse Moira, dando um passo na direção dela. — Eu sei que você está espionando para o meu tio Hugh porque eu a vi com ele. Essa revelação pareceu surpreender Rhona. — É tudo culpa sua, — disse Rhona. — Se você não tivesse deixado seu marido e levado Duncan para longe de mim, eu nunca teria voltado para Hugh. — Você nunca teve um pingo de lealdade, — disse Moira, e de repente ela soube o que Rhona tinha feito sete anos atrás. — Foi você quem contou ao meu pai sobre Duncan e eu, não foi? Rhona riu.
— Então você finalmente descobriu isso? — Que informação deu a Hugh? — Não havia muito que eu pudesse dizer a ele, exceto que Duncan havia desaparecido novamente, — disse Rhona com um encolher de ombros. — Hugh já sabia que Connor estava preparando os homens e as galeras para zarpar. Ele imaginou que eles iam atacar o Castelo Trotternish e disse que ele estava indo para avisar os MacLeods. — Eu entendo como você poderia me trair, — disse Moira. — Mas como poderia trair seu clã e assassinar o pobre Fergus? Ele achou que você o amava. — Amor? — Rhona zombou. — Isso não é o que os homens querem. — Então, o que você queria de Hugh? — Perguntou Moira. — Ele deve ter prometido algo a você. — Quando Hugh se tornar Laird, ele vai me fazer a Senhora de Dunscaith, — disse Rhona, levantando o queixo. — Talvez eu deixe você ser minha serva. — Você é uma tola se acredita que Hugh faria isso, — disse Moira. — Se Hugh foi para Trotternish — disse Niall — por que você ia ao Castelo Maol? Rhona olhou para trás e para frente entre Niall e Moira. Claramente, essa era a única pergunta que ela não queria responder. — Eu farei o que for preciso para proteger este clã. — Moira puxou seu punhal. — Duncan me ensinou como matar um homem com isso. Se você tem coração, imagino que esteja no mesmo lugar. — Não podem deter Hugh sendo apenas vocês dois, — disse Rhona, mas seus olhos estavam fixos no punhal de Moira. — Diga-nos agora! — Moira exigiu e deu um passo à frente com Sàr.
Rhona levantou as mãos. — Mantenha esse animal longe de mim! — Se você quer viver, — disse Moira, — é melhor me dizer rapidamente o que eu quero saber. — Hugh disse que as forças de Connor estariam muito enfraquecidas depois da batalha pelo Castelo de Trotternish, quer ganhassem ou perdessem — disse Rhona, deslocando o olhar entre a lâmina de Moira e os dentes de Sàr. — Ele planeja encontrá-los ao Norte do Castelo Maol e emboscá-los, enquanto eles voltam para casa. O Castelo Maol era fronteira o canal entre Skye e o continente. Os barcos MacDonald teriam que navegar por ele para voltar de Trotternish. — E eu senti pena de você porque pensei que realmente se importava com Duncan, — disse Moira. — Você o mataria, junto com todos os nossos homens. — Hugh diz que ele só quer Connor, — disse Rhona. — Ele me prometeu que não vai machucar Duncan. — E você acreditou nele? — Moira perguntou, sua voz subindo em descrença. — Você e o Hugh se merecem. Vocês são mentirosos, traidores e assassinos. — Deveríamos enterrar Fergus antes de irmos — disse Niall, depois inclinou a cabeça para Rhona. — Mas o que fazemos com ela? — Este é um ótimo dia para os MacDonald de Sleat! — gritou Connor, parado diante de todos os homens no corredor, ladeado por Duncan, Ian e Alex. — Graças a Duncan Ruadh Mòr, o melhor capitão da guarda que qualquer Laird já teve, nós tomamos este castelo que foi roubado de nós. Os guerreiros MacDonald ergueram os punhos e o chão vibrou com seus gritos.
— Duncan Ruadh! Duncan Ruadh! Duncan levantou sua claymore para reconhecer seus gritos. Sentia-se satisfeito por terem tomado o castelo com tão poucas perdas de vida, mas a ligação com Ragnall ainda pesava sobre ele. — Nossos antigos hóspedes MacLeod gentilmente deixaram nossas cozinhas bem abastecidas, — gritou Connor. — Então hoje nós nos deliciaremos com as bebidas MacLeod, carne de porco e de carneiro. — Estou ansioso para descobrir se o uísque MacLeod é tão bom quanto dizem, — disse Alex, provocando uma gargalhada. Era cedo do dia, mas os homens ficaram acordados a noite toda com o ataque e estavam morrendo de fome. Enquanto os outros desfrutavam de sua celebração pela vitória, bandejas cheias de carnes assadas, e uísque que era tão bom quanto os MacLeods afirmavam, Connor fez um sinal para Ian, Alex e Duncan segui-lo para fora do salão. No caminho, Duncan parou para falar com Sarah, que estava sentada no final de um dos bancos comendo. — Por que você não foi com os outros? — Ele perguntou quando se ajoelhou ao lado dela. Connor manteve os guerreiros MacLeod capturados como reféns, mas ele permitiu que os criados e todas as mulheres e crianças juntassem seus pertences e deixassem o castelo. Duncan ficou irritado consigo mesmo por não perceber que a criança havia sido deixada para trás. — Eu quero ficar aqui com Ragnall, — disse ela, balançando as pernas. Sarah era tão pequena que seus pés não tocaram o chão. — Quanto tempo ele vai ficar dormindo?
— Ragnall está cansado depois do... do que aconteceu, — disse Duncan. — Você deveria estar com seu próprio clã. Sarah encolheu os ombros, aparentemente despreocupada por estar em uma sala cheia de guerreiros de seu clã inimigo. Duncan suspirou.
Não
seria
fácil
devolvê-la
aos
MacLeod
agora.
Ela
provavelmente teria que permanecer aqui até que um acordo fosse feito para os reféns. — Tormond. — Duncan acenou para um jovem guerreiro que tinha meia dúzia de irmãs mais novas em casa. — Você cuidará de Sarah até que tenhamos algumas de nossas próprias mulheres aqui. Quando Tormond parecia que ia reclamar, Duncan deu-lhe um olhar duro e o jovem fechou a boca. Duncan subiu as escadas e encontrou Connor, Ian e Alex em profunda discussão na câmara que tinha sido de Erik até algumas horas antes. — Decidi ficar aqui e fazer do Castelo Trotternish minha casa — disse Connor, enquanto Duncan se abaixava na cadeira vazia da pequena mesa. Duncan sentou-se com força. — Ficar aqui? Por quê? — Ao fazer deste o castelo do Laird, estou enviando uma mensagem para os MacLeods, a Coroa e nosso próprio povo que eu pretendo manter este castelo, e tomar toda a Península Trotternish de volta para o nosso clã, — disse Connor. — Isso fará os MacLeods ainda mais decididos a retomar este castelo, — disse Ian. — Deixe os MacLeods virem — disse Connor. — Eu não vou me esconder dessa luta nem deixar que os outros fiquem à minha frente. Eu sou Laird e tomei minha decisão.
Duncan viu que não adiantava apontar o risco para a segurança de Connor. De seus rostos, ele poderia dizer que Ian e Alex já haviam feito o argumento e perdido. — Duncan, eu preciso que você tome conta de Dunscaith, — disse Connor. A imagem de Dunscaith, sentada em sua ilha rochosa com o mar e as montanhas atrás dela, entrou na cabeça de Duncan. Era o castelo onde Scáthach, a mítica rainha guerreira, tinha sua lendária escola de heróis. Não havia lugar na terra que Duncan amava mais. — É uma honra além de mim, — disse Duncan. — Não, é uma honra que você merece, — disse Connor. — Eu juro para você, — disse Duncan, batendo com o punho contra o peito, — ninguém vai tirar Dunscaith do nosso clã, desde que eu seja guardião. — Há uma condição, — disse Connor levantando o dedo. — Você deve se casar com minha irmã em quinze dias, e eu voltarei para Dunscaith para garantir que você faça isso. Alívio e alegria se espalharam por Duncan. Se ele pudesse dar Dunscaith a Moira, ela nunca o deixaria. — Se Moira der algum problema com isso, você pode dizer a ela que eu mesmo vou ordená-la, — disse Connor. — Se você disser isso a Moira, eu aposto que ela não vai casar-vos por mais seis meses, não importa o quanto ela queira, — Alex disse, e os outros riram. — Eu temo que funcione contra mim, — concordou Duncan. — Vamos zarpar para casa, — disse Ian, colocando a mão no ombro de Duncan. — A defesa da Península Sleat depende de nós e sinto falta da minha esposa.
Erik olhou para os homens de Hugh. Suas embriaguezes e falta de disciplinas — que começava com o próprio Hugh — o enojava. — Não se misturem com eles, — disse Erik, voltando sua atenção para a dúzia de guerreiros MacLeod ainda sob seu comando. Enquanto a maioria de seus homens estava no Castelo Trotternish na época do ataque, Erik manteve um grupo menor em um antigo assentamento de MacDonald na costa Leste da Península de Trotternish para manter o controle lá. Tinha sido fácil reunir os homens a caminho da ilha. Apesar dos modos desleixados de Hugh, Erik teve que admirar a esperteza do homem. Seu plano para emboscar os MacDonalds enquanto navegavam por este estreito canal em sua rota para casa era brilhante. Depois de pegar os MacDonalds de surpresa e matar seu Laird, eles navegariam pela Península Sleat e pegariam o Castelo Dunscaith. Hugh era uma cobra não confiável, mas Erik também era. Depois de tomar Dunscaith, ele ia matar Hugh e assumir o controle da fortaleza MacDonald. Uma dúzia de guerreiros MacLeod disciplinados valia cinquenta dos homens de Hugh, que eram piratas sem clã. Uma vez que Hugh estivesse morto, a maioria deles fugiria. Tomando a lendária fortaleza dos Lairds MacDonald, Erik se redimiria com seu Laird e seu clã. E ele também teria sua vingança. Hugh dissera-lhe que Duncan provavelmente permaneceria em Trotternish como seu guardião, por isso Duncan não morreria na emboscada.
Erik sorriu para si mesmo. A vingança que ele planejara seria muito pior do que a morte de Duncan MacDonald. Quando Erik pegasse o Castelo de Dunscaith, ele cortaria a cabeça de Moira MacDonald e o jogaria no portão do Castelo de Trotternish. — Há o Castelo Maol, à frente. — Niall apontou com uma mão enquanto segurava o leme com a outra. O coração de Moira foi para sua garganta enquanto ela olhava para a fortaleza MacKinnon, que ficava em um promontório com vista para o estreito entre a ilha de Skye e o continente. — O canal é tão estreito que é um lugar perfeito para prender nossos barcos, — disse Moira. — Talvez devêssemos ter trazido Rhona. Ela poderia ter nos mostrado onde Hugh montou sua emboscada. Eles tinham deixado Rhona, onde a encontraram e empurraram o barquinho que ela roubou para o mar. — Bem, eu sei que dormi melhor quando acampamos ontem à noite sem ter que nos preocupar com ela cortando minha garganta, — disse Niall, soando alegre. — Além disso, ela teria tentado causar problemas e alertar Hugh assim que chegássemos aqui. — Você está certo, — disse Moira. — Estamos melhor com as milhas longe dela. — Nossos homens não estarão esperando um ataque nas terras de MacKinnon, — disse Niall. — Tivemos alguns problemas com os MacKinnons logo depois que os quatro retornaram da França, mas nenhum desde então. — Os MacKinnons deixarão Hugh atacar nossos barcos em suas terras? — Perguntou Moira. — Os MacKinnons não querem uma guerra de clã conosco, mas eles não são nossos amigos, — disse Niall. — Eles fecharão os olhos
para os barcos de Hugh e depois fingirão que não sabiam que Hugh estava lá ou por quê. O coração de Moira acelerou quando o barco deles se aproximou do castelo MacKinnon. Ela meio que esperava ouvir os guardas nas muralhas darem o alarme. — Você já ouviu falar de Saucy Mary? — Niall perguntou. — Conte-me sobre ela. — Moira conhecia a história, mas ela estava agradecida pela distração. Dizem que o Castelo Maol foi construído nos velhos tempos pelos invasores nórdicos, e chegou aos MacKinnons através do casamento de seu Laird com uma princesa nórdica, conhecida como Saucy Mary. Esta princesa e seu marido MacKinnon cobravam um pedágio de todos os barcos que passaram por este estreito. Alguns dizem que forçavam o pedágio ao amarrar uma linha de barcos do Castelo Maol ao continente, enquanto outros dizem que era uma cadeia de ferro. De qualquer forma, os marinheiros pagavam alegremente. Quando davam a moeda, olhavam para o castelo, e a Saucy Mary os recompensava expondo seus amplos seios. O conto humorístico parecia em marcado contraste com o sombrio e sinistro guarda de pé sobre o estreito. — Se os MacKinnons tentarem nos impedir, — disse Niall, — você pode distraí-los fazendo o que Saucy Mary fazia. — A atrevida Mary não deve ter se importado de mostrar seus amplos atributos, — disse Moira e puxou o manto sobre a cabeça contra a chuva. — Não diga a Duncan que eu sugeri isso, — disse Niall. Moira estava prestes a dizer que não era da conta de ninguém, mas dela própria o que ela fazia — não que ela quisesse expor seus seios para estranhos, — mas ela se conteve. Duncan não tentou dizer-
lhe o que fazer porque teve prazer em controlá-la como Sean, mas porque queria protegê-la. Claro, isso não significava que ele não estivesse enganado em sua preocupação ou que ela faria o que ele desejasse. Talvez Moira pudesse aprender algo com Saucy Mary. Quando Duncan descobrisse o que ela estava fazendo agora, mostrar seus seios poderia não ser um truque ruim para distraí-lo. Estavam ao lado do castelo agora, a poucos metros das muralhas da formidável fortaleza. Moira segurou a respiração. Quando eles deslizaram sem incidentes, ela deixou escapar uma rápida oração de agradecimento. Então ela olhou para o litoral para os barcos de Hugh. — Onde você acha que Hugh fez sua emboscada? — Perguntou Moira. O canal era tão estreito que ela quase podia atirar uma pedra do barco e acertar os dois lados. — É onde eu estaria se fosse o Hugh. — Niall apontou para um ponto coberto de árvores que se projetava para o estreito a alguma distância à frente. — Eles poderiam esconder seus barcos deste lado do ponto em que nossas galés entrando no estreito pelo Norte não os veriam e postariam mirantes do outro lado para vigiar as velas dos nossos barcos. Moira imaginou uma saraivada assassina de flechas disparadas das árvores que atingiam de perto um barco que passava. Sim, aquele ponto era o lugar perfeito para uma emboscada. — Nosso problema agora é se Hugh conhece esse pequeno barco de Duncan, — disse Niall. Era um barco incomum, menor que uma galé de guerra, e especialmente construído para velocidade e capacidade de manobra.
— Os homens de Hugh provavelmente estão esperando neste momento, — disse Moira. — Como podemos passar por eles para avisar nossos homens antes que eles entrem na emboscada? — Ou esperamos até o escuro para navegar por... — Mas é apenas de manhã, — objetou Moira. — Hoje à noite poderia ser tarde demais. — Ou baixamos em terra aqui e circulamos atrás dos homens de Hugh a pé, — disse Niall. — Podemos subir a colina que se eleva atrás do ponto e sair bem da costa, onde podemos observar nossos barcos e saudá-los. — É o que teremos que fazer, — disse Moira. Niall conduziu seu barco até uma pequena enseada. Quando ele saltou do barco, Moira pegou uma careta em seu rosto e sabia que sua perna estava doendo. Depois que arrastaram o barco sob os arbustos para escondê-lo, Niall sentou-se em uma pedra. — Vamos dar uma olhada nessa perna. — Moira se ajoelhou ao lado dele, empurrou a túnica até a coxa sem que ele pudesse objetar. — Está tudo bem, — disse Niall. — Eu só preciso descansar um pouquinho antes de começarmos a subir a colina. — Och, o sangue está passando pela bandagem. — Moira desenrolou a bandagem e respirou fundo quando viu a ferida. — Oh, Niall. Você não vai andando a lugar nenhum com esta perna. A ferida se rompeu completamente e parecia ruim. — Apenas amarre de novo, — Niall disse, seus olhos fixos nos dela. — Devemos advertir nossos homens da emboscada. — Eu posso fazer isso sozinha. — Quando Niall começou a se opor, ela disse: — É uma caminhada pela floresta e eu não vou morrer apenas por estar sem companhia. — Eu vou com você, — disse Niall e começou a se levantar.
Moira colocou as mãos nos ombros dele. — Eu serei muito mais rápida sem você. Se você quiser salvar os outros, ficará aqui.
Moira ajudou Niall a se inclinar usando um cobertor que encontrou no barco. A chuva diminuiu para um chuvisco, e isso deveria servir bem o suficiente para mantê-lo seco. — Eu quero que você descanse enquanto eu estiver fora, — ela disse enquanto cortava tiras de sua camisa para uma nova bandagem. — Você deveria ter me dito que a ferida reabriu. Ela olhou para o rosto pálido dele e se perguntou quanto tempo ele estava escondendo isso dela. Och homens. — Deveríamos passar pelos homens de Hugh esta noite, em vez de você fazer isso sozinha — disse Niall, mas ambos sabiam que, se tudo tivesse corrido bem em Trotternish, os barcos deles deveriam estar atravessando o estreito hoje. — Não se preocupe. É uma pequena caminhada pela floresta, e eu vou ter Sàr comigo. Moira colocou o cabelo de Niall para trás e beijou sua testa. — Você se tornou um bom homem, Niall MacDonald, e tenho orgulho de te chamar de primo. Ele era uma preocupação para ela, mas não havia mais que pudesse fazer por ele agora. Quando ela saiu do abrigo da cabana, Sàr estava esperando por ela. Ele deu a ela um olhar desesperado por baixo de suas sobrancelhas grossas. Mas quando ela assobiou, ele a seguiu colina acima. Moira sabia que ela estava entrando em perigo. Enquanto subia a colina íngreme entre as árvores, ela pensou em todas as vezes que estivera na praia da Irlanda, desejando levar seu filho para seu clã em
Skye, onde eles estariam seguros. Então ela pensou no perigo que aguardava os guerreiros que retornavam. Se Hugh conseguisse, seu clã seria destruído e nenhum deles estaria seguro. Nem Connor, nem seus primos Ian, Alex e Niall, nem Duncan, nem seu filho. Moira se arrependia tanto. Finalmente, ela e Duncan poderiam estar juntos, se ela fosse capaz de perdoá-lo pelo passado. Ela estava muito machucada e com muito medo de confiar nele. Mas quando se lembrou de como ele olhava para ela, enquanto cantava a música sobre seu amor de cabelos escuros, ela sabia em seu coração que ele realmente a amava. Se ela vivesse para vê-lo novamente, não iria desperdiçar outro dia negando o vínculo deles. Moira apertou o cabo de sua lâmina enquanto subia a colina. Ela pretendia viver uma vida longa com Duncan e Ragnall. Quando isso acabasse, ela seria a mulher mais feliz de toda a Escócia, e nada e ninguém a impediriam. O som de vozes masculinas chamou sua atenção abruptamente de volta ao presente. Ela sinalizou para Sàr ficar perto e ficar quieto. Depois deu alguns passos descendo a colina para espiar através de uma abertura nas árvores. O shluagh! Os homens de Hugh não estavam a mais de trinta metros abaixo dela. Eles pareciam estar se divertindo, jogando dados e bebendo ao redor de fogueiras, como se estivessem comemorando um dia de festa em vez de esperar para matar seus parentes. Mas então, os piratas de Hugh eram homens rudes e sem clã, que invadiam a costa e roubavam os abastecimentos de inverno de pessoas pobres cujos filhos passavam fome. E tomavam qualquer mulher que pegassem. Hugh tinha muito mais homens do que Moira esperava, o que tornava ainda mais importante que ela não deixasse de alertar os membros do clã.
Moira subiu a colina mais alta para fazer um círculo mais amplo em volta do acampamento. Quando ela estava acima das árvores, ela examinou o mar ao Norte. Longe no horizonte, o céu havia clareando e raios de sol brilhavam nas velas de três galeras. Eles estavam longe demais para que Moira os reconhecesse, e ainda assim ela sabia que eles eram os barcos MacDonald que retornavam de Trotternish. Nas árvores, os homens não seriam capazes de ver as galeras ainda, mas não demoraria muito para que seus vigias os avistassem. O coração de Moira bateu forte. Ela tinha que chegar à costa ao Norte da emboscada a tempo de sinalizar para os barcos de seu irmão. Ela correu o mais rápido que pôde do outro lado da colina com Sàr em seus calcanhares. Seus pulmões doíam e sua respiração ficou ofegante, mas ela continuou correndo. Ela olhou para trás e para a frente, entre o acampamento de Hugh e os barcos que chegavam, tentando avaliar a rapidez com que ousava descer até a praia. Ela tinha que descer logo para avisar os barcos MacDonald, mas não tão cedo que os homens de Hugh pudessem alcançá-la e levá-la embora antes que ela desse o aviso. Erik não havia surgido do nada sendo frouxo. Enquanto Hugh contava com um par de homens para vigiar a passagem para o estreito — e jogava dados e bebia com o resto de seus homens — Erik permanecia vigilante a cada som ao seu redor. Foi por isso que ele foi o único que viu a moça de cabelos escuros escorregando pelas árvores bem acima deles. Um calafrio subiu pelas suas costas quando viu a fera seguindo em seus calcanhares. Por um momento ele pensou que os cães do inferno estavam vindo atrás dele, mas era apenas um daqueles cachorros gigantes da Irlanda. A mulher provavelmente era uma moça local em uma missão. Mas havia uma urgência em seus passos que o fez suspeitar. E esse
cachorro era uma afronta. Um guerreiro que ignorava seus instintos não viveu muito tempo, então ele a seguiu. Ele não devia uma explicação aos seus homens e não deu nenhuma. Depois que a moça foi para cima da linha das árvores, ela começou a correr. Erik correu em um caminho paralelo abaixo dela, mantendo-se nas árvores. Depois de meio quilômetro por terrenos acidentados, nos quais ela não afrouxou o passo, desceu perto das árvores. Ele se escondeu atrás de uma pedra para que ela não o visse. Um grunhido baixo tirou a atenção de Erik dela. Quando ele se virou, ele pegou uma pedra grande. O cachorro estava a três metros dele, com os dentes à mostra. Antes que pudesse saltar sobre ele, Erik atirou a pedra. Atingiu o cachorro entre os olhos e jogou o animal no chão. Como um dos maiores guerreiros MacLeod que já viveu, não era o destino de Erik ser morto por um cachorro maldito, não importava quão grande fosse. Ele se voltou a tempo para ver a moça correndo em direção a ele enquanto descia a colina e ele prendeu a respiração. Ela era a mulher mais linda que ele já tinha visto. Seus olhos eram de uma cor incomum, eram violeta, seus lábios eram cheios e vermelhos, e seu cabelo era preto como a meia-noite. Era um testemunho da beleza surpreendente de seu rosto que ele foi incapaz de tirar os olhos de suas curvas voluptuosas. Ela continuou passando por ele e não diminuiu a marcha até chegar à margem. Apesar de seu vestido sujo, não era filha de um fazendeiro. Ela se movia com a autoconfiança de uma princesa. Erik apostaria sua vida que esta moça era parente próxima de um Laird. Parentes muito próximos — uma esposa, uma irmã ou uma filha. E
geralmente, uma mulher tinha um só parentesco, ela tinha todos os três. Então, o que essa moça linda e bem-nascida estava fazendo aqui? Quando ele seguiu o olhar dela e viu as três galeras de guerra de MacDonald entrando no estreito, ele soube imediatamente quem ela era. O Laird MacDonald não tinha esposa. Esta tinha que ser sua irmã, Moira MacDonald, a garota mais famosa das ilhas por sua beleza. Erik quase lamentou que ele fosse cortar sua garganta. Moira subiu em uma pedra e acenou com os braços. As galés estavam apenas cinquenta metros de distância. O vento enchia suas velas e elas estavam se movendo rapidamente. Ela olhou por cima do ombro. Ela achava que tinha chegado longe o suficiente para que os homens de Hugh não pudessem vê-la, mas não podia ter certeza. Os homens de MacDonald eram cegos? Ela estava começando a se perguntar se teria que mostrar seus seios como Saucy Mary para chamar a atenção deles, quando o primeiro barco finalmente virou na direção dela. Ao aproximar-se da margem, ela viu que o homem de pé na proa não era seu irmão ou Ian. Era Duncan! A alegria encheu seu coração quando Duncan saltou pelo o lado da galera. Enquanto ele corria em sua direção através das ondas, ela pulou da pedra e, segurando as saias nas mãos, correu pela praia para encontrá-lo. Quando eles colidiram, ela saltou em seus braços, e ele a ergueu em um abraço esmagador. — O que em nome de Deus você está fazendo aqui? — Duncan perguntou quando ele quase espremeu a vida fora dela. Então ele a beijou e tudo pareceu certo novamente. A praia, os piratas, todos os seus medos e preocupações desapareceram, e ela se sentiu segura e amada. — Vocês dois vão parar?
Quando eles relutantemente romperam o beijo, Moira viu que Ian estava de pé ao lado deles e que os outros dois barcos haviam chegado à praia. — Agora então, — disse Ian, cruzando os braços — talvez Moira possa nos esclarecer como diabos ela chegou até aqui e por quê. — Niall e eu viemos para avisá-lo que estão navegando para uma armadilha, — disse Moira. — Hugh tem seus homens escondidos logo à frente desse ponto, esperando para emboscar Enquanto Moira continuava a explicar sobre Niall, ocorreu-lhe que Duncan não voltaria para casa a menos que eles tivessem perdido a batalha pelo Castelo Trotternish. Och, pobre Duncan. Ele colocaria toda a culpa pela perda em si mesmo. Então ela percebeu que uma das galés estava faltando. Querido Deus, quantos de seus homens haviam perecido? Moira procurou seu irmão entre os guerreiros MacDonald que agora estavam lotando a praia. Lágrimas brotaram de seus olhos quando ela não o viu. — Onde está Connor? — Ela não pôde perguntar se seu irmão havia sido morto. — Ele está ferido? — Connor está em segurança e bem, — disse Duncan, apertando seus ombros. — Eu vou contar tudo sobre o que aconteceu depois que lidamos com Hugh e seus piratas. — Há mais alguma coisa que você possa nos dizer sobre essa emboscada? — disse Ian. Moira disse rapidamente a eles exatamente onde havia visto os homens de Hugh acampados e quantos imaginava que estavam ali. — Mãe! O tempo parou quando Moira ouviu a voz de seu filho chamando por ela. Quando ela se virou, viu cabeça de cobre brilhante de Ragnall inclinando-se sobre o lado do barco que Duncan havia navegado.
Um thighearna bheannaichte! Bendito Senhor! — Não pule, eu vou buscá-lo, — Duncan falou, e ele trotou de volta para levantar Ragnall para fora do barco. Os joelhos de Moira ficaram fracos quando Duncan trouxe seu filho para ela. Finalmente, ela tinha Ragnall em seus braços. — Duncan trouxe você seguro para mim, — ela disse e o segurou perto. — Eu senti tanto sua falta! — Nós devemos ir, — disse Ian depois de um momento. — Você e você, — disse Duncan, apontando para dois guerreiros. — Fiquem e proteja-os com suas vidas. Duncan bagunçou o cabelo de Ragnall e, em seguida, levantou Moira para mais um beijo. Moira segurou a mão de seu filho enquanto observava Duncan liderar os guerreiros MacDonald subindo a colina. Eles a lembravam dos lobos, correndo silenciosos e rápidos pelas árvores. Por favor, Deus, cuide do meu amor. Vigie todos eles. Erik sorriu para si mesmo. O grande guerreiro ruivo abraçara Moira MacDonald como se ela fosse o seu próprio paraíso. Finalmente, a sorte de Erik se transformou. A vingança seria doce, de fato.
Duncan correu por entre as árvores, saltando sobre rochas e troncos caídos, com Ian bem atrás dele, até que se aproximaram do lugar onde Moira disse que os homens de Hugh estavam acampados. Depois de esperar que os outros homens o alcançassem, ele sinalizou para eles serem cautelosos, depois se adiantou. Os piratas de Hugh eram vis, mas Duncan não cometia o erro de subestimar suas habilidades de luta. Assim que avistou o acampamento inimigo, ele acenou para os homens se espalharem pelas árvores. Eles avançaram em silêncio, formando uma rede pela qual nenhum de seus inimigos poderia passar. Duncan trocou olhares com Ian. Quando Ian acenou com a cabeça, Duncan levantou sua claymore acima de sua cabeça. Quando ele a derrubou, os MacDonalds invadiram o acampamento gritando seu grito de guerra, — Fraoch Eilean!
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Os piratas lutaram por suas armas. Duncan balançou sua claymore em golpes rápidos e poderosos e os cortou quando chegaram a ele em dois e três. Enquanto ele lutava, Duncan notou um grupo de homens que nem olhavam nem lutavam como piratas e lutavam na direção dele. Ele tirou a espada das mãos de um deles e prendeu-o no chão.
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Fraoch Eilean - Literalmente significa " ilha de urze " em gaélico escocês, é um nome de ilha escocesa comum. Pode também representar o nome próprio " Fraoch " da mitologia gaélica.
— Quem são vocês? — Duncan gritou no rosto do homem. — Um MacKinnon ou um MacLeod? — Eu sou um MacLeod. — Quem trouxe você aqui? — Duncan exigiu. — Erik, o guardião do Castelo de Trotternish. Erik está aqui. Assim que Duncan soube da emboscada de Hugh, ele deveria saber que Erik faria parte dela. Ele não era de aceitar a derrota de ânimo leve. Ansiedade esbarrou em seu estômago enquanto ele examinava a batalha caótica em torno dele e não via Erik. Embora dezenas de homens estivessem no acampamento, Duncan o veria se estivesse aqui. Erik era um homem que se destacava e dava ordens. Duncan agarrou a frente da camisa do guerreiro MacLeod. — Onde está Erik? Ao longe, ele viu o movimento na praia. Fiel à sua reputação de evitar a captura, alguns dos piratas estavam correndo para seus barcos, agora que o resultado da batalha estava claro. E o primeiro deles era Hugh Dubh. Duncan
rugiu
em
frustração
enquanto
observava
Hugh
empurrando seu barco. Quando ele voltou sua atenção para o guerreiro MacLeod, cujo peito ele estava sentado, o homem tinha terror em seus olhos. — Eu não sei onde Erik foi, — disse o homem. — Ele subiu a colina através das árvores como se estivesse perseguindo uma corça. O coração de Duncan parou em seu peito. — Ian! — Ele gritou quando ele ficou de pé. — Estou voltando para nossos barcos. Moira e Ragnall estão em perigo!
Ian olhou para cima de onde ele estava amarrando as mãos de um pirata enquanto descansava o joelho nas costas do homem. — Vai! Eu vou assim que puder! Duncan já estava correndo. Ele pulou sobre um par de homens amarrado no chão e empurrou alguns outros para fora do caminho quando ele saiu do acampamento. O coração de Duncan parecia bater no ritmo de seus passos enquanto corria a meia milha de volta para onde havia deixado Moira e Ragnall. Embora ele tivesse escolhido dois dos seus melhores guerreiros para protegê-los, ele não conseguia afastar a sensação de que os deixara expostos e vulneráveis. Enquanto corria, ele orou a todos os santos que ele pudesse pensar para protegê-los, e então ele chamou as fadas também. Erik era um homem paciente. Ele esperou até ter certeza de que os guerreiros MacDonald teriam chegado ao ponto e se engajariam em uma batalha para não ouvirem gritos ou pedidos de socorro. Ele fixou seu olhar na moça de cabelos escuros e seu filho, que estava sentado em um cobertor, apoiando-se um no outro e conversando. Duncan MacDonald havia cometido um grave erro. Um bom guerreiro deve saber que os afetos a mulheres e crianças tornam o homem vulnerável. Erik cuidaria para que Duncan pagasse caro por sua fraqueza. Todos os MacDonalds pagariam. Erik usaria a bela moça de cabelos escuros e seu filho para recuperar o que lhe pertencia. E então os mataria devagar para que o conhecimento de como eles morreram torturasse Duncan MacDonald pelo resto de seus dias. Moira suspirou de felicidade e sorriu para o filho quando ela tirou as mechas rebeldes da testa dele.
— Eu não posso esperar para ver Sàr novamente, — disse Ragnall e descansou a cabeça contra ela. — Eu o trouxe aqui comigo, — disse ela. — Ele deve ter fugido perseguindo um cervo, mas ele estará de volta em breve. Em toda a excitação, ela não havia notado que o wolfhound havia desaparecido. Isso era estranho. Embora Sàr frequentemente saísse sozinho, ele tinha uma grande sensação de perigo. Ela ficou surpresa por ele ter saído do lado dela com os piratas próximos. — Fique atrás de nós! O grito de um de seus guardas surpreendeu Moira. Ela se virou e ofegou quando viu um guerreiro alto e musculoso vindo na direção deles com sua claymore nas mãos. O estranho guerreiro se portava como um homem que era um lutador formidável e sabia disso. Embora seus cabelos estivessem grisalhos, seu estômago era plano e os músculos dos braços e do pescoço se flexionavam enquanto ele balançava a claymore de um lado para o outro. Mas não foi o seu tamanho que fez a boca de Moira secar tanto quanto seus olhos. Eles eram duros e frios e exatamente como ela imaginou que Duncan parecia quando ele lutava contra um inimigo. Ele segurou seu olhar, como se os dois guerreiros que estavam entre eles não fossem de preocupação para ele. Moira puxou o filho para mais perto. — É Erik MacLeod, — disse Ragnall em voz baixa. O pai de Duncan. Erik se moveu tão rapidamente que Moira nem sequer viu sua lâmina golpear um de seus guardas, mas de repente o guerreiro MacDonald desmoronou a seus pés. Quando ela olhou para os olhos vazios e viu o sangue se infiltrando entre os lábios, ela finalmente gritou.
O outro guarda estava envolvido em uma luta desesperada com Erik. Medo e pânico tomaram conta de Moira, pois ela podia prever o resultado. Erik lutava com força e agilidade que ela reconheceu. Era óbvio que as habilidades naturais de Duncan como guerreiro vieram de seu pai. O barulho das espadas se encontrando ecoou pelo ar quando Erik forçou o guerreiro MacDonald a recuar. Por um momento, parecia que o guerreiro MacDonald tinha a vantagem quando Erik não conseguiu bloquear sua espada. Mas Erik se abaixou, deixando a lâmina do seu oponente cortar o ar vazio acima dele. Então Erik ficou de pé e afundou a lâmina de seu punhal sob o osso do homem. Erik levou seu tempo limpando a lâmina na camisa do bravo guerreiro que acabara de matar. Então ele levantou o olhar para ela. O sangue de Moira congelou com o sorriso de satisfação em seus olhos. Ela empurrou Ragnall atrás dela.
Erik riu para si mesmo quando a moça MacDonald puxou seu punhal. Ela parecia ainda mais bonita de perto. — Onde está seu protetor agora? — Ele a provocou. — Duncan está lutando contra a escória assassina com quem você está viajando, — disse Moira, com os olhos cuspindo fogo. — Eu sugiro que você vá embora antes que ele volte. Erik riu novamente. Ela era uma mulher de sangue quente. — A escória assassina serve a um propósito, — disse Erik, descansando as mãos no cinto. — Eles manterão os MacDonalds ocupados enquanto desaparecemos em um de seus barcos. — Nós não vamos a lugar algum com você, — disse Moira. O rapaz tinha os braços ao redor da cintura da mãe e espiou por trás dela para gritar: — Se você nos tocar, meu pai vai chutar você na cabeça de novo! A pequena merda. Erik não gostou de ser lembrado desse chute. Ele havia apagado e poderia ter se afogado se a água gelada não o tivesse acordado. Erik se sentiu melhor quando pensou em como seria fácil controlar a mãe assim que pusesse as mãos no pirralho. — Sem nós, você tem a chance de escapar, — disse Moira. — Você pode subir no barco ou eu posso lhe atirar nele, — disse Erik. — Não faz diferença para mim. — Se você acha que pode nos levar e fugir, então não conhece Duncan, — disse Moira. — Ele é implacável. Ele seguiria você até os portões do inferno para nos trazer de volta.
— O homem tem uma fraqueza por você, eu vou te agradecer isso. — Erik estava contando com isso. — Você gostaria de fazer uma aposta, se ele desistirá do Castelo Trotternish para vê-la viva novamente? — Você não pode pedir a ele para escolher entre seu dever para com o clã e nós — disse Moira, seus olhos se arregalando de indignação. A moça era divertida. — Eu posso fazer o que eu bem quero, — disse Erik. — Nós vamos descobrir em breve o que é mais importante para Duncan: você e o garoto, ou sua ambição. Erik considerou se deveria chutar o punhal da mão da moça. Och, ele simplesmente pegaria. — Você não sabe quem é Duncan, não é? — Moira disse, quando Erik deu um passo em direção a ela, e o brilho em seus olhos o deteve. — Ele não contou a você. — Eu sei quem ele é, — disse Erik cuspindo no chão. — Ele é o MacDonald que roubou Trotternish Castle de mim. — Ele é mais do que isso para você. — Moira fez uma pausa. — Ele é seu filho. Erik era um guerreiro treinado e escondeu sua reação, mas sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. — Você está mentindo, — disse ele. — Você roubou sua mãe da praia perto do Castelo Dunscaith, — disse Moira. — O pai dela era um MacDonald, mas o avô dela do lado da mãe era um flautista MacCrimmon. Como ela sabia sobre a neta do flautista MacCrimmon? Isso foi anos e anos atrás. Era possível que o que ela disse fosse verdade? Não. E mesmo que fosse, que diferença fazia?
— Aquela moça me causou um monte de problemas, — disse Erik entre os dentes. — Infelizmente para você, eu não compartilho a fraqueza de Duncan por amantes ou parentes. — Duncan é seu filho! — Os olhos violetas de Moira estavam atentos aos dele, como se ela achasse que poderia fazer Erik acreditar que suas palavras mudariam tudo. Mas ela estava errada. — Um homem pode sempre ter outro filho, — disse Erik. — Um castelo é consideravelmente mais difícil de encontrar. Por fim, Duncan viu a abertura nas árvores que levavam à enseada onde ele havia deixado Moira e Ragnall. Ele puxou sua claymore da bainha nas costas. Ele explodiu das árvores a todo vapor, depois parou na vista que o encontrou na praia. Os dois guerreiros que ele deixou para trás estavam esparramados no chão nas posições desajeitadas dos mortos. Moira e Ragnall estavam sozinhos na praia com o homem que matara os dois guardas. Duncan havia encontrado Erik MacLeod. Moira e Ragnall estavam apoiados na lateral de uma das galeras e encarando Erik, que estava a poucos metros de distância deles de costas para Duncan. Já que Erik não os matou ainda, Duncan assumiu que Erik deveria levá-los como reféns. Duncan estava muito longe e tinha que ser cauteloso. Se Erik o visse, ele poderia decidir matá-los para escapar rapidamente antes que Duncan pudesse alcançá-los. Abaixando-se, Duncan percorreu os arbustos e a grama alta que crescia acima da costa rochosa até ficar tão perto dos três na praia quanto podia ficar sem ser visto. Moira estava falando com Erik. Com sorte, ela estava tentando mantê-lo calmo. Duncan avançou com os cotovelos através da grama
alta. Ele queria ouvir o que eles estavam dizendo para julgar melhor quando fazer o seu ataque. — Você me enoja! — Disse Moira. — Você é tão inútil quanto os piratas. Duncan não podia arriscar esperar. Porra, Erik estava muito perto de Moira e Ragnall. Ele teria que se mover muito rápido, ou Erik poderia pegar um deles para usar como escudo. — Duncan irá mandá-lo direto para o inferno, onde você pertence! — Moira gritou. No instante em que Erik se adiantou, levantando o braço para atingi-la, Duncan ficou de pé. Ele ouviu Moira e Ragnall gritarem enquanto se lançava no ar. Ele e Erik caíram no chão. Antes que Erik tivesse tempo de enfiar o punhal no lado de Duncan, ele rolou para fora de Erik e ficou de pé. — Levante-se! — Duncan rugiu enquanto permanecia sobre seu inimigo. — Nós vamos terminar isso agora. Erik levantou-se devagar e, mantendo os olhos fixos em Duncan, pegou sua claymore. — Moira me disse que você é o filho daquela moça problemática que eu tirei da praia naquele dia, — disse Erik quando eles começaram a circular um ao outro. — Ela era uma coisa bonita, justa e leve como uma criança fada. Duncan se balançou com tanta força que quando suas espadas se encontraram a força vibrou em seus braços. — Eu gostava de dormir com ela, por um tempo, — disse Erik. — Mas ela ficou cansativa. — Minha mãe era uma boa mulher. — Duncan balançou sua claymore, mas Erik encontrou sua lâmina novamente. — Você vai pagar com a sua vida pela vergonha e miséria que você trouxe.
Duncan estava constrangido pela proximidade que tinham de Moira e Ragnall. Enquanto ele e Erik chocavam as espadas, ele tentou afastar Erik mais e mais deles para que ele pudesse lutar sem cautela. — Você sabia que ela estava grávida quando você a mandou para os MacCrimmons, não era? — Duncan disse. — Poderia ter sido qualquer um, — disse Erik. Duncan sabia que Erik estava tentando incitá-lo a cometer um erro. Mas a raiva de Duncan era como sua espada: fria, dura e mortal. — Sua mãe era fraca, — disse Erik. — Eu não esperava que ela me desse um filho que valesse a pena reivindicar. — A única boa ação que você fez foi não me reivindicar. Duncan sabia disso agora. Não ter um pai deu a ele uma espécie de liberdade. Quando menino, ele havia olhado ao seu redor, para os homens bons e os maus entre seus homens do clã, e fez uma escolha sobre o tipo de homem que ele queria ser. — Se eu soubesse que você viria atrás de mim, eu o teria reivindicado, — disse Erik. — Eu não vim atrás de você da maneira que lhe importa. Duncan atacou de novo e de novo, mantendo um olho em Moira e Ragnall, que estavam presos entre suas espadas e o lado da galera. — Você é o guerreiro que é porque tem o meu sangue, — disse Erik, e então grunhiu com o esforço de lançar sua espada na direção da coxa de Duncan. Duncan bloqueou o golpe e forçou Erik a dar outro passo. Finalmente, Duncan tinha distância suficiente de Moira e Ragnall para lutar sem se preocupar com eles sendo machucados na luta. Ele girou e se esquivou, golpeando de novo e de novo em uma fúria incontida. Então Duncan veio direto para Erik. De um lado para outro, para frente e para trás, ele lançou a espada com as duas mãos em arcos
mortais. Embora seu oponente encontrasse cada golpe, Duncan o forçava a recuar e voltar. Erik era forte, mas ele estava se cansando sob o ataque da lâmina implacável de Duncan.
Duncan
sentiu o fim
da
batalha
se
aproximando. E pela primeira vez, ele se perguntou se poderia matar seu pai. Sim, ele iria matá-lo sem remorso se precisasse. Erik não merecia piedade. Mas se Duncan pudesse simplesmente desarmá-lo, ele o faria. Erik tentou golpear Duncan no peito, e eles cruzaram as espadas, os braços esticados e faces a centímetros de distância. Quando eles se apoiaram um no outro, estavam tão perto que Duncan podia ver as gotas de suor na testa de Erik. — Você é um MacLeod, — disse Erik, seus músculos do rosto e pescoço esticando com o esforço de segurar sua espada contra a de Duncan. — Reivindique sua herança sanguínea e o Castelo Trotternish para os MacLeods! — Eu vou viver e morrer como um MacDonald, — disse Duncan entre os dentes e empurrou Erik de volta com sua espada. — Assim seja, — disse Erik. Duncan lançou a espada com toda a força para o lado de Erik. Mas Erik era rápido apesar de seus anos e no último momento se abaixou sob a lâmina em movimento de Duncan. Duncan sabia o que Erik faria em seguida. E misericórdia não era mais uma escolha. Quando Erik pulou de volta com o punhal, o de Duncan já estava em sua mão, pronto para mergulhar na garganta de Erik. Mas assim que Duncan estava prestes a atacar, ele teve um vislumbre do movimento pelo canto do olho. Era Ragnall e ele estava correndo direto para Erik.
Tudo aconteceu tão rápido que Duncan agiu em puro instinto. Ele pulou para o filho e o pegou no ar quando Ragnall se lançou em Erik. Depois de rolar no chão com ele, Duncan ficou de pé, colocando-se entre Ragnall e onde Erik estivera no momento anterior. Ele conseguiu fazer tudo sem que nenhum deles fosse pego pela espada de Erik. Mas seu inimigo também havia se movido rapidamente. Erik segurava Moira contra ele e sua espada estava em sua garganta. Duncan morreu mil mortes quando viu o medo em seus olhos. — Você a machuque — disse Duncan — e eu vou matá-lo antes de tomar sua próxima respiração. — Eu acredito que tenho a vantagem aqui, e estou levando-a comigo, — disse Erik quando a arrastou em direção ao barco. — Faça um movimento que eu não goste, e vou cortar a garganta da moça. — Não tome a saída do covarde, — disse Duncan. — Lute comigo. — Houve um tempo em que eu poderia tê-lo aceitado, — disse Erik. — Mas eu não preciso lutar contra você agora que a tenho. — Você não se importa com a sua própria vida? — Duncan perguntou. — Se você, levá-la, vou caçá-lo e mata-lo. Você nunca teria me aceitado no seu apogeu, e certamente não poderia agora. Duncan se segurou, cada músculo tenso com a necessidade de matar este homem que ousou ameaçar a mulher que ele amava. Mas Erik estava usando o corpo de Moira como escudo, e sua lâmina era um fio de cabelo do pescoço de marfim. — Você ajustou suas visões ainda mais alto do que eu, se rastejando para a cama da única filha do seu Laird e deixando-a com um filho — disse Erik. — É uma pena que não a tenha levado ao casamento vantajoso que sempre se espera, mas foi um grande esquema. Talvez eu tente o mesmo.
— Você não vai machucá-la, — disse Duncan, tremendo de raiva. Moira lutou contra Erik quando ele começou a arrastá-la para trás em direção ao barco. O pânico subiu por Duncan. Ele tinha que parálos. Se Erik a colocasse no barco, ele temia que nunca mais a visse viva. Duncan deixou cair a espada no chão. — Leve-me em vez dela. Erik não afrouxou seu aperto em Moira ou abaixou sua lâmina, mas ele parou para encarar Duncan. — Eu sou o único que tomou Trotternish Castle de você, — disse Duncan quando removeu os punhais de suas botas e o oculto amarrado à sua coxa e jogou-os de lado. — Vingue-se de mim. — Você faria isso por uma mulher? — Erik perguntou. — Sim, — disse Duncan quando ele começou a andar em direção a Erik. — Não há nada que eu não faria por ela.
Duncan andou devagar e deliberadamente em direção a Erik. Ele mataria o homem com as mãos nuas ou morreria tentando. — Fique para trás, — avisou Erik. Duncan hesitou, julgando o risco para Moira. Então ele viu os olhos de Erik se arregalarem. Um instante depois, ele sentiu uma rajada de vento correr ao lado dele como um borrão de cinza passando. Era o wolfhound. — Não! — Duncan gritou, temendo que a lâmina de Erik deslizasse na garganta de Moira. Mas antes que a palavra saísse de sua boca, o wolfhound saltou no ar e derrubou Erik e Moira. Sàr estava mordendo e rosnando sobre eles como uma fera selvagem, enquanto Moira e Erik se contorciam no chão. Os gritos de Moira encheram o ar quando Duncan correu para eles. Quando chegou até eles, o cachorro estava com os dentes no pescoço de Erik. Duncan ergueu Moira com uma mão e agarrou a coleira de corda de Sàr com a outra. Enquanto Sàr latia e forçava contra a coleira, Moira jogou os braços ao redor de Duncan e enterrou o rosto no pescoço dele. Seus joelhos pareciam fracos quando o alívio passou por ele. Ela estava bem. — Chega! — Ele comandou Sàr, que ainda estava puxando seu braço, lutando para chegar a Erik.
Ele se ajoelhou ao lado de Erik, que estava ameaçadoramente parado no chão. A julgar pelo sangue jorrando dos cortes irregulares em sua garganta, os dentes de Sàr haviam encontrado um vaso vital. Erik estava sufocando em seu próprio sangue. Duncan deveria estar contente com isso, mas não estava. Erik estava lutando para falar, então Duncan se inclinou para ouvi-lo. — Você é um homem que cuida dos seus, — disse Erik entre respirações gorgolejantes. — Eu quero que você cuide de Sarah. — Sarah? - Duncan perguntou, perplexo com
o pedido
inesperado. — Ela é sua meia-irmã. — Sarah é sua filha? — Duncan perguntou. Como poderia um homem tão malvado ter gerado um pequenino anjo como Sarah? — Sua família ameaçou ir ao meu Laird quando a mãe dela morreu, então eu tive que cuidá-la. — A voz de Erik estava ficando fraca. — Eu não pretendia deixá-la se tornar uma fraqueza, mas... — Eu vou cuidar dela. Sempre — disse Duncan e apertou a mão do pai enquanto a luz desaparecia de seus olhos. Duncan ficou animado ao descobrir que seu pai tinha um núcleo de decência. Embora ele não demonstrasse nenhuma consideração por seus filhos na vida, Erik usou seu último suspiro para assegurar o bem-estar de sua jovem filha. Duncan enterrou o pai na praia e com ele sua amargura. Ele era grato a Ian por manter os outros homens em volta. Ian entendeu que Duncan precisava fazer isso sozinho. Com cada pá de areia, ele se sentiu aliviado dos fardos de sua infância. Durante toda a sua vida, ele sentiu que algo estava errado com porque seu pai se recusou a reivindicá-lo. Depois que passou da infância, Duncan entendeu que a culpa não estava com ele, mas com
o homem que o havia gerado. Agora Duncan finalmente acreditava em seu coração, bem como em sua cabeça, que o fracasso de seu pai não era reflexo de seu valor. Duncan era seu próprio mestre e ele escolhera ser um homem de honra. Erik estava certo sobre uma coisa. Ter que se provar para todos, especialmente para si mesmo, levou Duncan a se tornar um renomado guerreiro. Mas ao contrário de seu pai, Duncan empregou suas habilidades para a proteção dos outros, e mostrou misericórdia a seus inimigos quando pôde. Duncan pensou em seu próprio filho vivendo sob a influência opressiva de Sean MacQuillan, e fez uma parada em sua pá para descansar a mão no ombro de Ragnall. — Você vai me ensinar a lutar como você faz? — Perguntou seu filho. Ragnall explicou que ele correu para Erik porque o viu fazendo o mesmo movimento que matou um dos homens que Duncan tinha deixado para guardá-los. Embora a interferência do rapaz quase causasse um desastre, mostrava que ele tinha o instinto natural e a bravura que o serviriam bem como um guerreiro. — Sim, — disse Duncan, encontrando o olhar sério de seu filho. — É dever de um homem das Terras Altas proteger seu clã e sua família, e por isso vou ensiná-lo a ser um grande guerreiro. Mas Duncan esperava ensiná-lo muito mais do que como manejar uma claymore. Ele queria ir velejar e caçar com ele e se sentar ao lado da lareira ouvindo a seannachie16 contar as velhas histórias de seu clã. Talvez Ragnall quisesse aprender a tocar harpa.
16
Seannachie – contadora de histórias.
Duncan terminou de cobrir o túmulo e colocou o braço ao redor de Moira enquanto ela fazia uma breve oração. Então ele deixou seu pai para Deus. Depois de ajudar Duncan a desdobrar a vela, Moira se acomodou ao lado dele e levantou Ragnall em seu colo. Duncan colocou o braço ao redor dela, puxando-a para perto, enquanto ele segurava o leme com a outra mão. Quando Sàr se juntou a eles na popa, ele deitou-se sobre os pés de Moira, mantendo-os aquecidos. A chuva havia parado e parecia que ia ser fácil navegar até Dunscaith. Moira suspirou e encostou a cabeça no braço de Duncan para observar as nuvens passando por cima. Ficaram em silêncio por um longo tempo, desfrutando do deslizar pacífico do barco e do conforto de estarem juntos após a tensão dos últimos dias. Quando Ragnall caiu no sono em seus braços, parecia tão bom. — Espero que Niall se recupere rapidamente, — disse ela em voz baixa, para não acordar Ragnall. — Ele não parecia pior do que quando eu o deixei. — Exceto por estar muito aborrecido por perder a luta com os piratas. — Os cantos da boca de Duncan se inclinaram quando ele deu a ela um olhar de lado. — Estou feliz por ser apenas nós três e a Sàr navegando para casa neste pequeno barco, — disse Moira. Um dos outros homens capitaneava a galera de guerra que Duncan navegara de Trotternish e Ian levava Niall em sua galera de guerra. — Ragnall teve alguns dias difíceis, — disse Duncan, olhando para o rosto adormecido. — Você deve estar cansado também, mo leannain.
— Estou cansada até os ossos, mas estou muito feliz em não dormir, — disse ela, sorrindo para ele. — Eu quero ficar acordada e aproveitar. — Você foi corajosa em vir nos avisar. — Duncan a puxou para perto e beijou seu cabelo. — Você salvou muitas vidas hoje. O coração de Moira inchou ao explodir com o elogio dele. Ela estava tentando decidir a melhor forma de falar sobre a perda do Castelo Trotternish, que ela sabia ser um grande desapontamento para ele. Sua observação deu-lhe a abertura que ela precisava. — Ameacei matar uma mulher, discuti com um homem que queria me matar, naveguei na chuva gelada por incontáveis horas e até dormi com a vaca de Teàrlag, — disse Moira. — Então eu espero que você possa ver que eu não sou uma princesa maldita. Duncan riu. — O que você é, m’ eudail, meu tesouro, é uma princesa guerreira. Moira gostou do som disso. — O que eu estou tentando dizer é que você não precisa me dar coisas boas para me manter, — disse Moira, olhando nos olhos dele. — Tudo que eu preciso para ser feliz é você e Ragnall. — Eu sei disso agora, — disse Duncan. — Sou abençoado por ter o amor da moça mais forte e valente de todas as ilhas. — Eu sinto muito que você não tenha conseguido tirar o Castelo Trotternish dos MacLeods. — Moira descansou a mão na coxa de Duncan. Eu sei o quanto isso era importante para você. Mas vou me contentar em morar na sua cabana na colina. — Conseguimos tomar o castelo, — disse Duncan. Moira engoliu sua decepção por ter que deixar Sleat. Sua casa seria onde Duncan estivesse. Era Duncan, e não as paredes de Dunscaith, que a faziam se sentir segura.
— Eu estou tão orgulhosa de você. — Moira o puxou para baixo para que ela pudesse beijar sua bochecha sem perturbar Ragnall. — Mas por que você não está no Castelo de Trotternish agora? Se meu irmão não escolheu seu melhor guerreiro para ser seu guardião, ele responderá a mim. — Connor decidiu fazer de Trotternish Castle sua casa, — disse Duncan. — Eu sou o guardião de Dunscaith. Dunscaith! Moira ficou aturdida demais para reagir por um longo momento, depois jogou a cabeça para trás e riu. Depois de torturá-la por sete anos, as fadas finalmente sorriam para ela, fazendo com que cada desejo secreto se tornasse realidade. — Pegue o leme, e eu vou deitar Ragnall onde ele pode dormir melhor, — disse Duncan quando ele se desdobrou e se levantou. Duncan levantou Ragnall dos braços e levou-o até a proa, onde ele fez uma cama para ele com cobertores. Então ele estalou os dedos, e Sàr se levantou dos pés de Moira e foi se deitar ao lado do filho deles. Quando Duncan retornou, ele se ajoelhou em um joelho na frente dela e pegou a mão dela. — Eu sei que estou sete anos atrasado e vou tentar compensar isso todos os dias, mas Moira MacDonald, um chuisle mo chroí — Pulso do meu coração, você quer se casar comigo? — Claro que vou casar com você, — disse Moira, sorrindo para ele. — Agora que eu sei navegar, você não poderia ficar longe de mim mesmo se tentasse. — Eu a amo com todo o meu coração, — disse Duncan, tocando seu rosto com a mão. — Eu sempre amei. — Estou ansiosa por toda essa demonstração, — disse Moira e puxou seu guerreiro para baixo em um longo beijo. — Acredito que quero recuperar estes sete anos e meio.
Quando o barco se virou rapidamente para o lado, Duncan quebrou o beijo para pegar o leme, que ela havia abandonado. Então ele a beijou de novo e de novo. — No momento em que chegarmos em Dunscaith — disse Moira, com a voz sem fôlego entre os beijos, — chamaremos todos do castelo para o salão, faremos nossos votos antes deles e teremos uma grande festa para celebrar. — Eu gostaria que pudéssemos, — disse Duncan. — Mas isso deve ser em breve. — O quê? — Moira se inclinou para trás e deu-lhe um olhar duro. — É melhor você ter uma maldita boa razão para me manter esperando de novo, Duncan Ruadh Mòr MacDonald.
Duas semanas depois — Mmmm. — Moira se aconchegou ao lado de Duncan. É claro que ele estava certo de que deveriam esperar até que Connor chegasse para fazerem seus votos. Pareceu-lhe grosseiro não o esperar quando estava vindo especialmente para isso e depois de lhes dar Dunscaith. Além disso, Moira estava aproveitando esses últimos dias de encontros clandestinos. Embora todos no castelo soubessem, eles fingiam que não. — Eu vou sentir falta de fugir para o seu chalé, — disse Moira, passando a mão sobre o peito de Duncan. — Podemos vir até aqui a qualquer hora que quisermos depois que nos casarmos, — disse Duncan. — Mas será tão divertido quando nos casarmos? — Ela brincou com ele. Duncan rolou para o lado e pegou o rosto dela entre as mãos. — Tudo vai ser melhor quando estivermos casados, — disse ele, fixando seus olhos sérios nela. — Eu prometo. — Como pode ser melhor que isso? — Ela perguntou, sua garganta de repente apertada. — Estou tão feliz agora. — Isso é tudo que eu sempre quis, — disse Duncan e, em seguida, beijou-a com uma ternura que a deixou saber como ela era preciosa para ele. Seu corpo era todo músculo duro, e ainda assim seus lábios eram suaves e quentes nos dela. Moira suspirou contra sua boca e se
pressionou contra ele. Eventualmente, o beijo deles se aqueceu. Não importava quantas vezes eles fizessem amor, eles queriam um ao outro novamente. Depois de todo o tempo distante e o quanto ambos sofreram, ela apreciava esses momentos íntimos juntos. Se essa alegria entre eles tivesse sido fácil, talvez Moira não soubesse o seu valor. Mas agora, ela nunca iria dar como admitido. Algum tempo depois, ela desabou em cima de Duncan, seus membros frouxos e cada músculo relaxado. Ela pensava que para fazêla se mover somente se a casa tivesse pegando fogo, mas só era somente alguém batendo nas persianas. — Saiam da cama, seus pecadores! Eu percorri um longo caminho para um casamento! Moira riu quando reconheceu a voz de Alex. — A galera de Connor está quase no castelo. — Desta vez, era a voz de Ian que chamava pelas venezianas. — Sìleas e Ilysa nos enviaram para buscar a noiva para que elas possam ajudá-la a se vestir. — Isso é o fim disso. — Moira sorriu para Duncan e deu-lhe um beijo rápido. — De agora em diante, estou apenas fazendo amor com meu marido. Duncan estava diante de seu clã, no castelo em que ele havia crescido e amado, mas que nunca fora verdadeiramente seu lar até hoje. Ele conhecia todas as pedras de sua fortaleza e todas as colinas e montanhas que podiam ser vistas de suas muralhas. Connor encarou-o, segurando uma nova claymore, um presente caro e simbólico para marcar a ocasião. A folha da lâmina desembainhada, que descansava em suas palmas, brilhava à luz das lamparinas e velas que enchiam o salão.
— Como Laird dos MacDonald de Sleat, confio este castelo e meus membros do clã e sua proteção a um grande guerreiro — disse Connor, numa voz que atravessava a sala. — Que nossos inimigos tomem cuidado com o fato de Duncan Ruadh MacDonald agora ser o guardião do Castelo de Dunscaith! O rugido das vozes e o bater dos pés eram tão altos que pareciam sacudir as paredes quando Duncan aceitou a espada. Felizmente, seus membros do clã conheciam Duncan e não esperavam um discurso. — Eu sou grato por esta honra para servi-lo e a nosso clã, — disse Duncan a Connor sobre o clamor contínuo. Ele segurou o olhar de seu amigo e Laird e viu o orgulho que ele sentia refletido nos olhos de Connor. — Quem pensou que veríamos esse dia, meu amigo, que eu seria o Laird e você o guardião de uma fortaleza MacDonald? — disse Connor, com seus olhos azul-prateados cintilando. — E agora, você é meu irmão. No sinal de Connor, o salão ficou quieto e, em seguida, a música maravilhosa de Uilleam e a gaita de fole dos MacCrimmon encheram a sala. Duncan mandou avisá-lo assim que ele e Moira retornaram a Dunscaith e ficou satisfeito por Uilleam ter recebido a mensagem a tempo de vir. Duncan colocou a nova claymore na bainha amarrada às costas, depois se virou e estendeu a mão para a noiva. Como sempre, Moira o deixou sem fôlego. Ela estava deslumbrante em um vestido de veludo azul escuro que combinava com seus olhos vibrantes, destacava seu cabelo escuro e pele de marfim, e se agarrava a suas curvas completamente como um amante.
Mas foi o brilho sobre ela, como quando ele se apaixonou pela primeira vez, o que a fez verdadeiramente bonita para ele. Sua querida Moira estava destemida e cheia de risadas mais uma vez. Moira tocou o ramo de urze branca em seu cabelo, como o que estava preso em sua manta, e piscou para ele. — Eu ouvi dizer que não é fácil encontrar urze nesta época do ano, — ela sussurrou sob a música da gaita de fole, — a menos que você saiba onde procurar. A urze branca, que era um sinal de casamento para a boa sorte, fora especialmente difícil de encontrar. Duncan acenou para Alex e Ian quando eles vieram para ficarem em ambos os lados de Connor. Ragnall, Sarah e a filha de Alex, Sorcha, estavam na frente da multidão, onde podiam ver tudo. Ilysa estava com eles, junto com a esposa de Ian, Sìleas e seus bebês. A esposa de Alex, de quem Duncan gostava muito, estava grávida e estava muito perto de dar à luz. Quando Uilleam terminou sua música, Duncan e Moira se viraram um para o outro. O casamento deles seria abençoado pela igreja, juntamente com todos os outros que tiveram lugar ao longo do último ano, quando o padre Brian veio em sua visita anual à ilha. Como o contrato de casamento já havia sido assinado, tudo o que restava era que eles fizessem os votos antes das testemunhas. No contrato, Duncan havia dado a Moira sua casa de campo, que era tudo o que ele tinha. Moira tinha ficado extraordinariamente satisfeita, embora seu dote valesse muito mais. Duncan e Moira trocaram anéis, argolas que representavam amor eterno. Depois levantaram as mãos direitas e juntaram-na, palma a palma, entrelaçando os dedos. Moira fechou os olhos, enquanto ele
enrolava uma longa tira de linho cor de creme nos pulsos de ambos, três vezes. — Eu, Duncan MacDonald, tomo você, Moira Catriona, bisneta do Senhor das Ilhas, neta de Hugh... — Duncan começou. O nome de Moira levou muito mais tempo do que o dele para recitar por causa de sua ilustre linhagem. Ele viu a diversão nos olhos dela enquanto se concentrava para dizer tudo corretamente. Finalmente, ele alcançou a promessa essencial, — ...ser um marido fiel e leal até que Deus nos separe pela morte. Duncan disse as palavras finais tradicionais, embora acreditasse que até a morte não poderia separá-los. Suas almas estavam entrelaçadas e unidas como suas mãos estavam agora. — Eu, Moira MacDonald, — ela disse simplesmente, quebrando as regras como gostava de fazer, — tomo você, Duncan Ruadh MacDonald, para ser meu marido, diante de Deus, nosso Laird e todos os nossos membros do clã. Prometo ser uma esposa fiel e leal até que Deus nos separe pela morte. Uma sensação de paz se estabeleceu sobre Duncan. Finalmente, Moira era realmente dele. Quando ele se inclinou para beijar sua esposa, o salão explodiu em aplausos. O beijo foi como entrar no sol quente de verão no frio inverno que tinha sido sua vida sem ela. Uilleam MacCrimmon pegou sua flauta novamente quando seus membros do clã os cercaram, desejando-lhes felicidade com as bênçãos tradicionais. — Guma fada beò sibh. — Longa, vocês dois podem viver. — Guma slàn dhuibh. — Saúde para vocês dois. — Móran làithean dhut is sìth. — Que vocês sejam abençoados com vida longa e paz.
— Le mhaitheas é le do nì bhith fàs. — Que vocês envelheçam com bondade e com riquezas. Sob o olhar de Duncan, os homens foram cautelosos com os beijos tradicionais na noiva e limitaram-se a beijar a bochecha de Moira. — Você tirou o meu melhor homem de mim, — disse Connor chegou à sua vez de beijar sua irmã. — Eu tirei, — disse Moira, sorrindo para Duncan de uma forma que o fez se sentir todo macio por dentro. Connor se virou para ele e agarraram os antebraços na antiga saudação de guerreiros e amigos. — Não sei o que vou fazer sem você — disse Connor, com os olhos fixos em Duncan. — Mas aquece meu coração vê-lo feliz. Nenhum homem merece mais. Ian e Alex se juntaram a eles, completando o quarteto. — Bem, Connor, é óbvio para o resto de nós o que você deve fazer, — Alex disse, seus olhos verdes brilhando com diversão. — É tempo de encontrar uma moça para tirar esse olhar triste de seu rosto. — Como Laird, você está relaxando o seu dever de produzir herdeiros, — Ian acrescentou. — Se você se esqueceu, — disse Alex, — a atividade de que estamos falando é bem mais agradável com uma parceira. A risada de Connor estava tensa. — Os tempos ainda são muito incertos para eu saber qual aliança de casamento será melhor para o clã. Ele continuou falando sobre a rebelião e as facções da corte lutando, mas eles tinham ouvido as razões de Connor, antes, para esperar e nenhum deles estava ouvindo agora.
— Não há nada que diga que quando você escolher uma esposa — disse Ian, batendo nas costas de Connor, -— não poderá servir ao clã e agradar a si mesmo. — Meu pai e meu avô se agradaram, e olhem o que isso fez, — disse Connor. As relações dos Lairds anteriores com várias mulheres haviam causado ao clã intermináveis lutas e luto. Connor estava determinado a não seguir o mesmo caminho. — Eu acredito que eu ganhei nossa aposta, — Connor continuou, mudando de assunto. — Paguem, rapazes. — Não é justo quando você ordenou a Duncan quando se casar — disse Alex. — Uma das poucas vantagens de ser Laird, — disse Connor, e estendeu a mão. Duncan ficou contente ao ver o humor de Connor retornando. — Eu não sei o que o fez trazer Sarah com você, já que não sabia que ela é irmã de Duncan, — disse Moira, e descansou a mão no braço de seu irmão. — Mas eu estou feliz que você o fez. — É difícil dizer não a essa moça pequenina — disse Connor, sacudindo a cabeça. — Sarah chorou e lamurio até eu desistir e trazêla. Duncan esperava que houvesse gritos, às vezes, entre Moira e Sarah, já que ambas tinham força de vontade e Sarah não estava acostumada com a mão firme de uma mãe. Mas ele estava igualmente certo de que haveria muito amor entre elas também para facilitar o caminho. — O banquete de casamento está pronto, — disse Ilysa, depois de chegar silenciosamente atrás deles. — Todos estão esperando por você para tomar seus lugares.
Duncan estava morrendo de fome. — Ilysa pretende ir para Trotternish e montar a casa de Connor lá — sussurrou Moira para Duncan enquanto se encaminhavam para a mesa alta. — Eu não vou permitir isso! — Quando Moira enfiou os dedos em seu braço, Duncan baixou a voz. — Se ela estiver administrando a casa do Laird sem sua própria família lá, todo mundo vai pensar que ela é sua amante. — Encontrar um marido para ela resolverá o problema, — disse Moira em voz baixa. — Hmmph. Vou deixar isso para você — disse Duncan. — Preciso ajudar Connor a escolher um homem confiável para ser o novo capitão de sua guarda. Tait é leal e um bom lutador, mas ele não é líder. Duncan não gostava da ideia de Connor sentado no Castelo de Trotternish cercado por MacLeods. E havia Hugh, que estava decidido em assassiná-lo. Alex havia se informado que Hugh estava reunindo mais homens nas ilhas com promessas de pilhagem e havia um boato de que Rhona estava com ele. Amanhã, os quatro discutiriam sobre Hugh e como forçar os MacLeods a abandonarem as terras que haviam roubado. Mas hoje era o dia do casamento de Duncan, e era um dia glorioso. — Vamos nos sentar e aproveitar nosso banquete de casamento, — disse Moira, sorrindo para ele. Foi uma grande refeição, com muita comida e gargalhadas. — Eu tenho sorte de ter um marido com um apetite voraz, — disse Moira e deu-lhe uma piscada enquanto ele espetava outra fatia de carne de porco assada.
Ele apertou a coxa dela debaixo da mesa e desejou que fosse hora da parte do casamento de para a cama. Mas depois que a comida foi retirada, houve música e dança. Antes de Caitlin MacCrimmon concordar em dançar com Niall, ela insistiu em levantar sua túnica para ter certeza de que sua ferida havia cicatrizado bem o suficiente. Como a ferida era bastante alta na coxa de Niall, isso causou um pouco de agitação. — Todas as três moças de MacNeil parecem desapontadas, — disse Moira no ouvido de Duncan depois que a mãe das garotas as repreendeu por olharem e as arrastou para longe. Duncan esperou impaciente por algumas músicas antes de pegar o olhar de Uilleam MacCrimmon. Uilleam assentiu e entrou no centro do salão, tocando sua gaita de fole. Quando ele tinha a atenção de todos, ele parou de tocar e anunciou: — O noivo tem uma canção para cantar para sua noiva. Duncan ficou onde estava e cantou desacompanhado. O preto é a cor do cabelo do meu verdadeiro amor Seus lábios são como algumas rosas justas. Ele pegou a mão de Moira e ajudou-a a ficar de pé. Então ele a ergueu em seus braços e continuou cantando enquanto a carregava pelo salão. As bochechas de Moira ficaram rosadas, mas ela estava rindo e se divertindo. Ela tem o sorriso mais doce e as mãos mais suaves E eu amo o chão onde ela está
Quando as pessoas no salão perceberam que Duncan a levava para o quarto, aplaudiram e aplaudiram. Eu amo meu amor e bem, ela sabe Eu amo o chão onde ela vai. Duncan chutou a porta atrás dele. O quarto era dificilmente reconhecível desde quando passou a ser de Connor. Moira e Ilysa tinham decorado toda o quarto com azevinho e outras hortaliças, e os móveis e tapeçarias do grande e antigo Laird haviam sido devolvidos a ela. A noiva de Duncan olhou para ele com olhos violetas cheios de amor. Ele esperou até que ele e Moira estivessem sozinhos para cantar as linhas finais de sua música para ela. Agora o dia finalmente chegou Quando você e eu viveremos como um. Duncan sentiu como se tivesse esperado a vida inteira para se tornar um com Moira. Depois de amá-la por tanto tempo, ela era sua e para sempre.
Moira ouviu a voz do marido saindo pela janela do pátio abaixo e parou para ouvir. — Você não prestou atenção no que eu tenho ensinado a você? — Duncan disse. — Vocês se deixariam serem mortos com um pouco de chuva em seus olhos? Isso era estranho. Moira podia imaginar Duncan usando essas palavras enquanto treinava os homens, mas seu tom não era suave e razoável. Moira enfiou a cabeça pela janela, imaginando se as fadas haviam roubado seu marido guerreiro. Quando ela viu que ele estava com Ragnall e Sarah, ela sorriu. As duas crianças estavam olhando para Duncan através da chuva e segurando suas espadas de madeira na frente deles. Duncan também segurava uma espada de madeira que, pelo seu tamanho, o fazia parecer um pouco ridículo. — Vocês acham que os MacLeods vão esperar por um dia seco para nos atacar? — Duncan perguntou enquanto cruzava as espadas com um primeiro e depois o outro. — Ou os MacKinnons? Ou os Macleans? Ou... — Duncan, — Moira disse, — está chovendo um pouco forte agora. Duncan olhou para ela e abriu um sorriso. — Eu suponho que sim. — Posso limpar a chuva dos meus olhos agora, Da? — Sarah perguntou com uma expressão irritada no rosto.
Sarah decidira chamá-los de mãe e pai, o que parecia certo para eles. Embora Duncan fosse obrigado a estragar Sarah e suas futuras filhas de outras maneiras, ambos estavam determinados que suas meninas aprendessem as habilidades de luta para se defenderem. Eles viviam em tempos perigosos em um mundo perigoso. Se as meninas precisarem, elas saberiam como roubar um barco e usar um punhal. — Deixe-me ajudar, — disse Duncan para Sarah e enxugou seu rosto com a manga. Moira deu um tapinha em Sàr ao lado dela. Duncan era como o wolfhound — profundamente leal e gentil com sua família e como o mais feroz dos guerreiros em protegê-los. — Vocês dois se saíram bem hoje. — Duncan pegou uma criança em cada braço e esfregou o nariz neles. — O que vocês acham de encontramos sua mãe na cozinha e nos deleitarmos com alguma coisa gostosa? Moira desceu as escadas com o lobo em seus calcanhares. Pouco tempo depois, ela e Duncan estavam na porta da cozinha observando as crianças comerem nozes e conversar com os cozinheiros. Toda vez que Ragnall sorria para algo que um deles dizia, o coração de Moira parecia mais leve. Ele sempre teria uma natureza mais séria do que Sarah, mas a nuvem escura que pairava sobre ele desaparecera. — Eu tenho um tipo diferente de tratamento em mente para nós. — O hálito quente de Duncan fez cócegas em sua orelha quando ele se inclinou e sussurrou para ela. — O que você me diz de se esgueirar para sua cabana comigo, princesa? — Você sabe que se cantar para mim primeiro, — ela sussurrou em seu ouvido, —pode me convencer de qualquer coisa. Muito mais tarde, Moira estava deitada nos braços de seu guerreiro, pensando em todas as suas bênçãos.
— Teàrlag me disse que o nosso novo bebê será outro menino, — disse ela, descansando a mão sobre a nova vida dentro dela, — e o próximo será uma menina. — Então deve ser verdade, — disse Duncan e segurou seu rosto com a mão. — Eu tenho muita fé na velha vidente, pois ela é quem me disse que se confiasse no amor de uma mulher mudaria meu destino. Moira sorria com os olhos. Seu marido tinha um coração verdadeiro que ela sempre poderia depender. Ele prometera que tudo ficaria melhor depois que se casassem, e ele era um homem que cumpria suas promessas.
Eu sempre tenho momentos — aha! — Quando faço minha pesquisa para um livro. Geralmente, isso acontece quando me deparo com um personagem histórico que posso usar para adicionar um toque intrigante ao meu enredo. Com este livro, meus grandes achados foram um cachorro e uma música. Uma vez que decidi incluir um cachorro nessa história, procurei uma raça que existisse na Escócia no início dos anos 1500. Considerei fazer dele um deerhound17 escocês até me deparar com o primo o wolfhound irlandês, que minha heroína poderia ter adquirindo na Irlanda. Eu não sabia muito sobre a raça, então me encontrei com uma mulher local que possuía três. Que cachorros incríveis! O dono me disse que eles são apropriadamente descritos pela frase: Gentil quando acariciado, feroz quando provocado. A devoção silenciosa do wolfhound, as proezas de combate e o enorme tamanho faziam parecer uma versão canina do meu herói, Duncan. Eu o chamei de Sàr, que significa — guerreiro — em gaélico. Duncan era musico nos livros anteriores, mas eu não tinha planejado que ele cantasse até que eu ouvi as palavras — Black Is the Color of My True Love's Hair18, — uma música tradicional dos Apalaches que se acredita ter se originado na Escócia. O desejo do homem e a descrição da mulher faziam uma música perfeita para Duncan. Continuando na tradição popular, mudei algumas palavras.
17
Deerhound - O deerhound ou lébrel escocês, oriundo do Reino Unido, é uma raça primordialmente pertencente aos chefes dos clãs escoceses. Com o fim desse sistema sua população entrou em declínio, foi reavidada pelo criador Duncan McNeil e acabou por tornar-se mais comum na África do Sul que em seu país nata 18 Preto é a cor do cabelo do meu verdadeiro amor
Leitores meticulosos podem lembrar que a flauta de Duncan era feito de metal no The Guardian (O Guardião). Eu descobri que foi um erro e, consequentemente, mudou para osso nesta história. Peço desculpas aos apreciadores do “whisky” escocês por usar o uísque ortográfico, que é mais familiar para a maioria dos leitores. Como retratei neste livro, os clãs das Terras Altas das Ilhas Ocidentais tinham estreitas relações culturais e de parentesco com a Irlanda do Norte. Os MacQuillans irlandeses eram aliados com os MacDonalds de Dunivaig e os Glens, um ramo do MacDonalds que tinha terras na Escócia e na Irlanda. Sean e seu irmão Colla, no entanto, são pura ficção. Como mencionei antes, pesquisar histórias de clãs de quinhentos anos atrás apresenta desafios e oportunidades para o escritor de ficção. Para a minha história, eu assumi que os MacCrimmons já estavam servindo como flautistas hereditários para os MacLeods e que eles estavam apenas começando sua famosa escola, mas eu não tenho certeza quando realmente ocorreu isso. Os MacLeods de Dunvegan e os MacDonalds de Sleat tinham uma longa e sangrenta rivalidade. Confesso que mudei a luta para Península Trotesterniana por vários anos. E até onde sei, os MacDonalds não tomaram o castelo em Trotternish antes de tomar o resto da península. Finalmente, mudei o nome deste castelo de Duntulm para Trotternish Castle para facilitar a distinção entre o leitor de Dunvegan, Dunscaith e todos os outros castelos que começam com Dun. O castelo está em ruínas, mas o local é lindo. O dia que minha filha e eu visitamos, o sol estava apagado, e parecia que poderíamos ver para sempre as ruínas no topo do penhasco. O Laird dos MacLeod, Alastair Crotach, casou-se tarde e viveu uma vida extraordinariamente longa. Espero que os leitores encontrem
esse caráter histórico real tão fascinante quanto eu, porque você verá mais dele no The Chieftain – O Laird.