BETTI ROSEWOOD
Tradução: Line Revisão Inicial: Natalia Revisão Final: Luma Leitura Final: Dalila Conferencia: Suli & Ariella Formatação: Ariella
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Para toda alma quebrada e danificada por aí, Porque você merece ser feliz. xo Betti
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Ela é a garota má. Eu sou o nerd. Este ano, ela caiu em desgraça e eu subi no ranking de nossa escola. Agora ela está perdida e eu estou no topo. Minha paixão por ela ainda está lá, mas agora ela está mais fora dos limites do que nunca. A única pessoa que está no meu caminho é o namorado dela ...
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1 DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 04H LOCAL: FESTA DE ANIVERSÁRIO
DA
TINSLEY
MILO
Mereço ser aceito em Eastvale porquê... As palavras me encararam do papel pautado, zombando de mim. Amassei a folha vazia com um gemido, jogando-a na lata de lixo no canto do meu quarto e errando. Pelo amor de Deus. Voltei minha atenção para o meu computador, onde um rascunho igualmente inacabado esperava que eu acrescentasse minhas razões para querer entrar na faculdade dos meus sonhos. Por que eu pensei que escrever à mão seria mais fácil? Todo mundo simplesmente mente nessas malditas redações, Milo, a voz do meu irmão ecoou na minha cabeça do que ele disse há algumas horas, quando estava saindo para uma festa e eu ainda estava preso na mesma pergunta. Por que você não pode simplesmente inventar algo? Foi tudo tão fácil para o meu irmão. Ele sempre foi o tipo de cara descontraído que não se importava se entraria na faculdade dos seus sonhos, ou em qualquer faculdade. O sucesso de nossos pais com seu aplicativo de entrega de comida, Yummers, foi o suficiente para conseguir um ingresso para qualquer escola que ele quisesse. Mas não queria entrar só porque meus pais tinham dinheiro. Eu queria que minha carta de aceitação importasse. Parecia errado até considerar isso. Eu não era um cara emocional. Eu era a rocha da família. O racional. E eu ia terminar essa redação estúpida, nem que fosse a última coisa que fizesse. Apesar das minhas melhores intenções, acabei pegando meu telefone e caí na cama enquanto passava pelas minhas notificações.
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Líderes de torcida com sede, geeks esperançosos e alguns amigos de lacrosse entraram nas minhas DMs1. Nada de novo. A perspectiva de ir para Eastvale era o ponto mais brilhante do meu futuro. Nada mais me animava. A vida era chata quando você tinha tudo. Enlouquecedoramente entediante. Tem que haver algo que eu possa colocar nessa maldita página, eu disse a mim mesmo. Algo sobre crescer com pais gays, aprender a importância da família, blá-blá-blá-blá-blá. Mas o pensamento não se manteve. Minha mente percorreu ideia após ideia, mas nada se destacou. Suspirei de frustração, passando a mão pelos meus cabelos negros e empurrando meus óculos mais alto na ponte do meu nariz. Foda-se Eastvale, e foda-se esta redação. Mais uma vez, lembrei do convite para a festa de aniversário de Tinsley Sullivan que recebi naquela semana. Todo mundo estava lá, e até eu me permiti a opção de aparecer. Mas não assim, com a redação inacabada e com raiva de mim mesmo por não saber o que escrever. O prazo para as admissões antecipadas era na manhã seguinte, e eu já tinha inventado desculpas à senhorita James, forçando-a a me dar seu endereço residencial para que eu pudesse entregar as páginas impressas pela manhã. Mas nada ajudou, nem mesmo a sensação iminente de desgraça, sabendo que eram quatro da manhã e eu mal tinha começado. Mudando minha atenção do documento vazio no meu PC e telefone, tentei encontrar algo que me distraísse. Uma lasca de inspiração, uma imagem que sacudiria minha mente como normalmente acontecia. Mas não havia nada, nem mesmo no vasto terreno baldio da Internet que pudesse me fazer escrever essa maldita redação. Eu estava bem e verdadeiramente exausto, esgotado por aquela pergunta que me fez querer escrever a verdade.
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Direct Messages – ou popularmente conhecida como Direct do Instagram.
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Não mereço ser aceito em Eastvale. Meu telefone tocou com uma notificação e eu o peguei, olhando para a tela. Você ainda está acordado? Eu mandei uma mensagem para Natan, mas ele não está respondendo. Outro gemido, outro rolar dos meus olhos. Exatamente o que eu preciso. Uma princesa mimada e egoísta pedindo mais um favor que ela nunca pagará de volta. Não, estou dormindo, digitei em resposta, parando por um momento antes de adicionar a última parte. Por que você está atualmente em uma situação de risco de vida? Porque não há outra maneira no inferno de me defender de você. A resposta voltou em um segundo, me fazendo sorrir com o pensamento dela digitando em um ritmo vertiginoso. Sim. É melhor você vir me buscar. E traga alguns hambúrgueres. Você se acha, não é? Não, esqueça. Por favor, Milo! Te devo para sempre. Que tal você não me dever nada e me deixa voltar a dormir? Ainda me lembro da sua insônia, idiota, ela escreveu. Não minta para mim. Não estou mentindo. Se eu for buscá-la, você me deve uma. Entendeu? A resposta dela chegou um minuto depois. Eu podia imaginá-la mexendo no telefone, tentando pensar em algo inteligente para dizer em resposta.
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Entendi. Eu te devo uma. O que você quiser. Combinado? Sem esperar pela resposta dela, joguei meu telefone para o lado, caminhando até a minha porta e andando na ponta dos pés pelo corredor até o quarto do meu irmão. Eu queria dar a ela algum tempo para esperar. Se eu a deixasse esperando um pouco mais, ela estaria realmente desesperada para que eu fosse buscá-la, e eu poderia ganhar muito com esse favor. Pressionei meu ouvido contra a porta e esperei até ouvir o ronco pacífico de Natan. Estranho. O que ele está fazendo em casa? Ele não deveria estar com sua namorada? Voltei para o meu quarto e encontrei meu telefone novamente. Três novas mensagens estavam esperando. Milo, por favor? Eu pago de volta pelos hambúrgueres. Tudo bem, eu vou com você para comprá-los. E você pode ter os palitos de muçarela também. Mas NADA daquele molho nojento. MILOOOOOOO eu preciso de você, por favor... Você não pode simplesmente me deixar abandonada na beira da estrada assim! Revirei os olhos quando respondi: Alguém já lhe disse que princesa você é? Só você e eu gostamos disso, amigo ;) Olhei para a tela vazia novamente, suspirando enquanto lhe mandava uma mensagem para me dizer o endereço. Em um segundo, ela me enviou sua localização usando o aplicativo. Eu apenas hesitei por um momento antes de pegar minha jaqueta de lacrosse e colocá-la. Eu poderia ter acordado Natan. Eu deveria ter acordado Natan. Afinal, ele é o namorado dela, não eu. Mas algo me parou, talvez a necessidade
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desesperada de uma dica, um pouco de inspiração. Deixei tudo como estava e desci as escadas, passando pelo quarto dos meus pais, onde dormiam profundamente. Tudo estava tranquilo lá fora. O carro de meu irmão, um brilhante Escalade, contrastava muito com o meu, uma Benz vermelha fodida que chamei de Gertie, pela qual insisti em pagar sozinho. As estatísticas dizem que a maioria dos acidentes acontecem no seu primeiro carro, e eu não queria arriscar foder um bom carro. Melhor que o acidente aconteça em um pedaço de merda espancado, assim não teria problema em me despedir, uma vez que inevitavelmente o destruísse. No entanto, se eu estava sendo honesto comigo mesmo, fiquei estranhamente apegado a Gertie desde que a comprei. Adicionei o endereço que Estella havia me dado no meu telefone, coloquei algumas músicas e comecei a dirigir para o meu destino. Era o mesmo endereço que Tinsley havia dado para a festa dela, e eu supunha que Stells tivesse ficado até o último momento. Estranho, dado que o irmão mais querido já estava em casa roncando que nem uma tempestade. Demorei cerca de quinze minutos para chegar no endereço e, quando o fiz, vi uma forma curvada na calçada. Seu cabelo castanho escuro estava por todo o rosto, e ela estava usando esse minúsculo vestido de lantejoulas que não deixava exatamente nada para a imaginação. Eu parei ao lado dela e abri a porta, e ela entrou no carro gemendo. ─ Noite difícil? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas para ela. ─ Você não tem ideia. ─ Ela continuou esfregando o pulso, onde um círculo branco de pele decorava sua pele bronzeada. ─ Clancy's?
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─ Ah, certo, eles têm aquela coisa de drive-in agora ─ lembrei. ─ Sim. Mas você está pagando. E eu vou pedir molho. ─ Ugh, nojento ─ ela revirou os olhos, prendendo-se no assento quando eu dei a ela um olhar de aviso. ─ Sim, sim, eu vou colocar o cinto de segurança. Deus, Milo, você é como um pai. Comecei a dirigir para o nosso local de encontro enquanto ela brincava com a música. ─ Você tem um gosto musical horrendo ─ ela me informou. ─ Você não reconheceria um bom gosto nem se isso te mordesse na bunda, princesa. Mas cara, você sabe como ligar o encanto. ─ Eu não preciso te encantar. ─ Ela me deu um sorriso brilhante. ─ Você veio me buscar, não foi? P.S.: ninguém mais me chama de princesa. Esse apelido morreu em 2014. ─ Assim como a nossa amizade? ─ Eu não pude me conter. Ela me deu um olhar ferido. ─ Como você pode dizer isso? ─ Por favor ─ eu zombei. ─ Como se não fosse verdade. Você largou a mim e a Pandora no momento em que decidiu que não éramos legais o suficiente para você. ─ Você não sabe nada Jon Snow. ─ Tanto faz. Parei na entrada da lanchonete do Clancy e ela se inclinou pela janela para pedir nossa comida, oferecendo-me uma visão de sua bunda gordinha e a calcinha que mal cobria nada. Desviei o olhar, sentindo-me um pouco enjoado por ter olhado. ─ Sim, oi, dois cheeseburgers, duas porções de batatas fritas grandes, alguns palitos de muçarela, um milk-
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shake de chocolate e um de morango. E... molho. Dois pacotes. ─ Ela fez uma careta para mim antes de se sentar no carro. ─ Espero que esteja feliz. ─ Muito. ─ Eu gostei que ela soubesse o que eu queria, mesmo sem perguntar. Puxei para a janela seguinte e esperamos que nossa comida estivesse preparada, enquanto ela continuava brincando com o lugar vazio em seu pulso. ─ Por que você continua mexendo na sua mão assim? Ela olhou para o pulso como se tivesse acabado de perceber que estava fazendo isso. ─ Ah. Eu nem percebi que estava fazendo isso. Não é nada. Pegamos nossa comida e eu dirigi até um local no estacionamento para podermos comer. Ela cavou em seu cheeseburger como uma mulher possuída enquanto eu mergulhava minhas batatas no molho. ─ Conte-me. ─ Te contar o que? ─ Você costumava usar algo ai ─ gesticulei para o pulso dela. ─ Tipo uma pulseira estranha. ─ Como você sabe disso, esquisito? ─ Você sempre brincou com ela. Para onde foi? ─ Eu tirei ─ ela murmurou com relutância. ─ Deixei lá, na casa da Tinsley. ─ Por quê? ─ Porque... ugh, você tem que fazer as perguntas mais irritantes? ─ Sim, é tipo, minha especialidade.
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─ Era uma pulseira de amizade. ─ Ela engoliu uma mordida no hambúrguer, afastando o resto. ─ Ela não é mais minha amiga. ─ Por que não? ─ Porque eu disse isso ─ ela latiu. ─ Você pode parar de me interrogar? ─ Tanto faz. ─ Dei de ombros, terminando minhas batatas fritas. ─ Você acabou? ─ Ela esperou em seu assento, recusando-se a olhar para mim. ─ Vamos lá, Stells. Não seja tão deprimente. ─ Ugh. ─ Ugh, o quê? ─ Ugh, nada. Podemos ir? ─ Não. ─ Eu dei a ela um sorriso perverso. ─ Ei, por que estou levando você para casa em vez de Natan? Como ele ronca como uma maldita serra elétrica no quarto dele, acho que vocês não deixaram a festa juntos. ─ Eu fiquei um pouco mais ─ ela murmurou. ─ Então... ─ Então... ─ Eu balancei minhas sobrancelhas para ela. ─ Você e meu irmão. Vocês são oficiais agora? ─ Eu... eu não tenho certeza. Eu acho? ─ Como você pode não ter certeza? ─ Ele não perguntou. ─ O que você tem, doze? ─ Eu ri. ─ Ele tem que pedir para você ficar com ele oficialmente? ─ Seria bom ─ ela murmurou.
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─ Bem, você está esperando demais de Nate ─ eu disse a ela. ─ Talvez. Veremos. ─ O que você quer dizer? ─ Huh? ─ Ela olhou para mim, com os olhos vidrados, como se estivesse pensando em outra coisa. ─ Nada, esquece. ─ Eu deixo você em casa agora? ─ Tanto faz. ─ Um agradecimento seria legal. ─ Um vá se foder, parece mais apropriado. ─ Você é tão rude, Estella ─ eu disse a ela, ligando o carro. ─ Alguém realmente deveria lhe ensinar algumas maneiras. Lembre-se de como você agiu hoje da próxima vez que precisar de um maldito favor. Porque eu tenho certeza que não vou estar lá para pega-la quando você cair. ─ Não preciso de você. ─ Tudo bem por mim ─ eu resmunguei. ─ Melhor mesmo. Não tenho tempo para lidar com sua bunda malcriada. ─ Ei Milo ─ ela ronronou. ─ Você ainda joga xadrez? Lutei contra o desejo de pisar no freio e chutá-la para fora de Gertie. ─ Por que você se importa? ─ Porque se bem me lembro, eu sempre ganhava quando jogávamos. ─ Eu sou o campeão do condado ─ eu assobiei para ela. ─ Consegui o primeiro lugar em...
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─ Que bom. ─ Seus olhos brilhavam com travessuras. ─ Você nunca conseguiu me vencer, no entanto. Suspirei, dando-lhe um olhar de soslaio. ─ Você ainda joga? ─ Não ─ ela murmurou. ─ Não há um tempo. ─ Bem, quando você começar de novo, eu ficaria feliz em levar sua bunda malcriada para dar uma volta. ─ Nojento. ─ Ela não pôde evitar o sorriso em seu rosto. ─ Por que você está tão obcecado com a minha bunda? Talvez porque você esteja andando com uma saia curta o suficiente para fazer qualquer homem perder a cabeça? ─ Talvez porque você esteja colocando na minha cara. O mundo não precisa saber que você está usando uma calcinha fio dental, Estella. Ela corou, murmurando: ─ Você não deveria estar olhando. Eu estava prestes a falar, mas mudei de ideia, acenando com a mão com desdém. ─ Tudo bem, eu não deveria. ─ ela está certa. Ela é tão proibida quanto possível. ─ Acho que a alegria é toda de Natan agora. Ela murmurou algo baixinho. ─ O quê? ─ Perguntei. ─ Você acha que eu sou assim tão fácil? ─ ela perguntou. A pergunta não era acusatória, mas quase triste. ─ Você acha que eu deixei qualquer um... você sabe... ─ E não? ─ Ela não respondeu. ─ Você e Crispin não...? Ela balançou a cabeça. ─ Não, claro que não.
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─ Mas você e Natan... ─ Ela olhou, me fazendo sorrir como um tolo. ─ Eu entendi. ─ Não é engraçado. ─ É um pouco ─ sorri antes de ficar sério novamente. ─ Stells... Por que você coloca essa cara para todo mundo? ─ O que você quer dizer? ─ Vamos lá, você sabe o que eu quero dizer. Você não é... você não é mais Estella Hernandez. ─ Não ─ ela balançou a cabeça. ─ Não há um tempo agora. ─ E não é só porque seu pai mudou seu sobrenome ─ insisti. ─ Você não é mais você. ─ Claro que sou. ─ Você está se escondendo ─ eu disse. ─ Do mundo. ─ Você não tem ideia do que está falando. Eu olhei para ela pelo canto dos olhos. Ela estava olhando pela janela, com os braços cruzados e os olhos vidrados. Eu sabia que não deveria pressioná-la mais. Felizmente, estávamos perto de sua casa, e ela me parou alguns quarteirões antes. ─ Aqui está bom. ─ Mas ainda estamos a dois quarteirões de distância. ─ Está bom, eu posso ir andando para casa.
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─ Stells.- Eu ri em descrença. ─ Não me diga que você ainda está fazendo a mesma coisa há cinco anos? A velha rotina toda vez que você volta para casa? ─ E daí se eu estou? ─ Ela já estava na defensiva, então eu sabia que tinha atingido o ouro. ─ De qualquer forma, não é da sua conta. Eu não discuti, puxando para o lado do bairro chique, um pouco melhor do que o que eu morava, embora minha casa também não fosse tão ruim, com uma casa de hóspedes de vidro e uma banheira de hidromassagem que eu tenho que compartilhar com meu irmão. Eu acho que valeu a pena ter um pai celebridade como Estella, mesmo que ele fosse rigoroso pra caralho. Ela saiu do carro e eu esperei antes de olhar para ela pela janela. ─ Você vai ficar bem? ─ Sim. ─ Ela olhou na direção de sua casa, e algo passou por seu rosto, um breve olhar de medo que me deixou preocupado. ─ Quer que eu te leve para casa? ─ Não. Sim. Não. ─ Ela suspirou, enfiando os calcanhares na calçada de concreto. ─ Ugh. Tudo bem. Se você precisa. Deus, eu odeio isso. ─ Ela se abaixou, desafivelando as pequenas tiras em suas sandálias e tirando-as. Ela as segurou na mão e caminhou na minha frente. Parei o carro e saí. A noite ainda não havia terminado e eu ainda estava tão desesperado por inspiração quanto quando ela entrou no carro. Ela correu na minha frente, tão rápido sem os saltos que eu mal conseguia acompanhar. Eu mantive um passo vagaroso atrás dela, e
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depois do primeiro quarteirão, até isso a irritou, e ela correu de volta para mim, olhando de novo. ─ Por favor se apresse. ─ Por quê? São cinco da manhã. Não me diga que alguém está esperando por você. Ela apertou os lábios. ─ Estou cansada e tenho medo de andar sozinha. ─ Eu pensei que você nem queria que eu fosse com você. ─ Bem, estou feliz que você tenha vindo ─ ela murmurou, a coisa mais próxima de um elogio que eu receberia naquela noite. ─ Você tem algo melhor para fazer hoje à noite? Pensei no documento vazio no meu computador e dei de ombros. ─ Na verdade não. ─ Eu olhei para ela, lembrando que ela queria entrar em Eastvale também. ─ Ei, você entregou sua redação para Eastvale, certo? ─ Sim ─ Ela me deu um olhar desconfiado. ─ Por quê? Senhorita James disse alguma coisa? ─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ Eu... eu não entreguei a minha ainda. ─ O quê? Mas amanhã é o prazo final. Quero dizer, hoje, eu acho. ─ Eu sei ─ eu murmurei. ─ Eu simplesmente não sei sobre o que diabos eu deveria escrever. ─ Um pouco tarde para isso. ─ Não preciso de um lembrete, mas obrigado. ─ Você sabe que todo mundo mente nessas redações, certo?
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─ Eu não ─ Eu olhei em seus olhos castanhos escuros. ─ E eu acho que você também não. ─ Eu sei ─ ela riu. ─ É por isso que você é meu único rival. Porque na verdade temos alguma integridade. ─ Então, sobre o que você escreveu? ─ Como se eu fosse te contar. ─ Por que não? ─ O que, para que você possa me copiar? ─ ela riu. ─ De jeito nenhum, querido, sonhe. Continuamos andando em silêncio e eu finalmente murmurei: ─ Acho que não vai ser feito então. A menos que eu tenha uma súbita explosão de inspiração. ─ Apenas escreva sobre seus pais ─ ela sugeriu. ─ Crescer com seu irmão de verdade e pais gays adotivos é muito legal. ─ Não ─ eu rejeitei a ideia. ─ Eu não quero que seja sobre eles. É a minha redação. E eu não quero usar isso em Eastvale. ─ O que você quer dizer? ─ Não vou usar meus pais como uma razão para entrar lá, Stells. ─ Entendi. ─ Ela bateu uma longa unha lilás nos lábios. ─ Por que você não escreve sobre tudo o que conseguiu até agora? ─ Como o quê? O que diabos eu estou trazendo para eles, afinal? Eu sou um jogador de lacrosse comum. Eu tenho ótimas notas, mas você também. Qual é o meu talento? Em que eu sou realmente bom? ─ Frustrado, chutei uma pedra no cascalho, saltando para Estella. Ela chutou de volta para mim.
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─ Você realmente não consegue pensar em nada? ─ ela perguntou, e eu balancei minha cabeça enquanto chutávamos a pedra para frente e para trás. ─ Nada mesmo? ─ Não ─ eu admiti miseravelmente. ─ Eu não sou você, Estella. ─ O que você quer dizer? ─ Eu não tenho... tudo isso. A família perfeita. O namorado perfeito. O futuro perfeito. Eu nem sei o que quero. ─ Tudo bem. Escreva sobre isso. ─ O quê? Minha capacidade de não decidir nada, nunca? Eu não posso nem escolher um curso, Stells. ─ Então? Enrole. Você sabe contar uma história, não é? Apenas diga a eles que não decidir o que fazer é sua especialidade. E que você os escolheu não porque sabia o que queria estudar, mas porque sabia que sua melhor educação estava esperando ali, em Eastvale. Não importa qual a especialidade que você escolha. ─ Droga ─ eu reclamo. ─ Quer escrever para mim? ─ Até parece... ─ ela coloca a língua para fora. ─ Além disso, nós dois não podemos entrar. E você terá que se esforçar muito para fazer sua redação melhor que a minha, porque a minha esta foda, querido. ─ Ela piscou. Paramos na rua dela e ela pegou a pedra que estávamos passando e a entregou para mim. ─ Este pode ser o começo de sua vida, Milo Earnshaw ─ disse ela. ─ A primeira pedra no seu caminho para a grandeza. ─ Isso é uma linha da sua redação? ─ Você nunca saberá ─ ela riu, me mandando um beijo e acenando antes de ir para sua casa.
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Eu me virei, voltando para o meu carro e deslizando a pedra no meu bolso. Ela estava certa. Eu ainda poderia mudar isso. Se não fosse por mais nada, eu faria isso para vencer a rainha Estella em seu próprio jogo. Deus sabia que ela precisava ser reduzida. E o jogo começa, Stells.
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2 DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 05H LOCAL: CASA
DA
ESTELLA.
ESTELLA
A casa estava escura quando cheguei, e eu só podia esperar que todos já estivessem dormindo. Na ponta dos pés, levantei um dos vasos de planta de uma palmeira e vasculhei por baixo dela até encontrar a chave reserva do galpão. Armada com isso, segui para o jardim, ignorando a casa da piscina iluminada e me dirigindo para o fundo do espaço onde ficava um galpão no jardim, há muito esquecido e envolto em sombras. Abri a porta e entrei. Com o puxar de uma corda, uma lâmpada ganhou vida acima de mim, cobrindo o espaço com luz dourada. Eu preciso me apressar, lembrei a mim mesma. Papai já pode estar de pé. Abrindo o zíper do meu vestido, deslizei as lantejoulas prata pelo meu corpo e deixei o tecido se acumular aos meus pés. Os saltos se juntaram ao vestido no chão, e eu tirei a calcinha antes de esconder em uma caixa de armazenamento no galpão e tirar uma camisola rosa estampada de corações. Coloquei-a com pressa, bagunçando meu cabelo enquanto fazia isso e pegando um maço de lenços de maquiagem que escondi atrás dos esfregões e baldes no canto. Eu fiz um trabalho rápido de remover minha maquiagem, me livrando de todos os vestígios da cor nos meus lábios, bochechas e olhos. Os lenços de maquiagem saíram sujos, manchados com rímel, delineador e batom, e eu tomei um momento para olhar para os restos da minha noite em minhas mãos. Que noite foi aquela.
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Lavei meu rosto na pia no canto e sequei com uma toalha que mamãe mantinha ao lado. Então, peguei o hidratante e ensaboei o rosto nele, certificando-me de não perder um lugar. Se eu não pudesse mentir que estava dormindo de verdade, pelo menos eu poderia fingir com meu ritual de beleza. Assim que terminei minha rotina, guardei meu vestido e saltos, juntamente com os lenços de maquiagem manchados, em um dos baldes no canto. Eu assisti o vestido afundar no fundo, os sapatos se enredando no tecido. ─ Adeus ─ eu murmurei antes de fechar a tampa. O vestido sumira e os sapatos também. No dia seguinte, eles seriam levados pelo lixeiro, um cara com quem eu fiz esse negócio há pelo menos dois anos atrás. Ele recolhia nosso lixo toda semana e não dizia uma palavra aos meus pais quando adicionei meus próprios segredos aos escombros de nossa vida. Nunca usei o mesmo vestido ou salto alto duas vezes. Os que eu usava estavam apenas penduradas no meu guarda-roupa. Mas essa não foi a verdadeira razão pela qual eu estava tentando me livrar dos restos da noite passada. Quando estava pronta, saí do galpão, colocando cuidadosamente a chave de volta onde a encontrei e dobrando a esquina até encontrar as portas francesas que conduziam para dentro da casa. Meus dedos envolveram a maçaneta e eu puxei, pronta para entrar. A porta não se mexia. Minhas sobrancelhas franziram e eu puxei com mais força. Nada. Novamente. Nenhum sinal da porta ceder. Estava trancada por dentro. Porra. Porra. Porra. O que devo fazer agora? Romilly prometeu que deixaria aberta para mim. O que diabos aconteceu?
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Meu coração acelerou, batendo mais rápido no meu peito enquanto eu lutava para fazer a porta se mover. Mas era inútil. Isto é, até que uma figura escura apareceu do outro lado do vidro e a chave girou na fechadura. Meu coração afundou. A porta se abriu e entrei com o rabo entre as pernas. Eu sabia que o que iria seguir não seria bom, mas também sabia que não havia como evitar isso. Nem agora, nem nunca. ─ O que você está fazendo lá fora, mija2? ─ A voz do meu pai era calma e refletida, e eu sabia que tinha motivos para ter medo. Ele pairava sobre mim enquanto eu entrava, meus membros tremendo sob o tecido rosa da minha camisola. ─ Eu só... ─ Comecei, lutando para procurar na minha mente por uma resposta. ─ Eu queria tomar um pouco de ar fresco. ─ No meio da noite? ─ Sim, meu quarto estava apenas... abafado. ─ Mostre-me. Meu coração afundou ainda mais, mas consegui um sorriso fraco e um aceno de cabeça, fazendo sinal para papai me seguir pelas escadas e em direção ao meu quarto. Ele deu um passo atrás de mim e senti seus olhos em mim, me observando, calculando seu próximo passo. Papai nunca agiu irracionalmente. Suas ações foram bem pensadas, criadas para machucar, causar impacto. Foi isso que o deixou tão aterrorizante. Continuei andando pelo corredor, meus olhos dançando sobre as outras portas. Por favor, Deus, deixe alguém, alguém, estar acordado. Deixe-os me ajudar.
2
Minha filha – em espanhol.
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A porta à minha direita, o quarto da minha mãe, estava aberta e eu olhei atentamente para o espaço escuro entre a porta e a moldura da porta. Eu quase conseguia ver sua forma, de pé nas sombras, nos observando atentamente. Ou seja, até o papai dar um passo à frente e fechar a porta, a trava clicando no lugar. Ele trancou a mamãe lá. ─ Seu quarto, mija, ─ ele me lembrou. Eu balancei a cabeça, engolindo em seco e continuei andando até a minha porta. Abri, a maçaneta rangeu quando entrei. A sala estava doentia em sua glória infantil, e eu odiava. Era rosa sobre rosa. Rosa em todos os lugares. Paredes cor de rosa, roupas de cama cor de rosa, travesseiros cor de rosa e até uma penteadeira rosa pink com luzes de maquiagem ao estilo de Hollywood. Papai me deu tudo o que eu queria quando era mais jovem. Mal sabia eu, haveria um preço a pagar por sua gentileza. ─ Não parece muito quente aqui ─ comentou papai. ─ Você nem tentou abrir uma janela? Ele apontou para a janela, que estava fechada. ─ Não, eu só queria um pouco de ar fresco do jardim e um copo de água ─ eu gaguejei, e ele assentiu, atravessando a sala e abrindo a janela apenas um pouco. ─ Talvez isso ajude. ─ Ele olhou para a cama e eu agradeci minhas estrelas da sorte que eu tinha mexido com as almofadas e edredons antes de sair naquela noite. Agora parecia que eu tinha acabado de me levantar, em vez de voltar para casa de uma festa que eu não tinha permissão para ir em primeiro lugar. ─ Obrigada, papai ─ eu sussurrei, subindo na cama e encostandome na cabeceira de minha princesa. ─ Você se importa se eu for dormir agora?
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─ Em breve ─ disse ele, naquele tom calmo que me assustou. ─ Apenas me responda algumas perguntas primeiro. ─ O que é, papai? ─ Meu coração batia forte no peito enquanto eu o observava, esperando o inevitável. ─ O que você quer me perguntar? ─ Como você saiu, Estella? ─ Ele queria saber. ─ Eu, uh... eu passei pelas portas francesas no salão. ─ Mas eu tranquei essas quatro horas atrás. Empalideci. ─ Ah, eu devo ter perdido a noção do tempo, eu... ─ Não minta para mim. ─ Essas palavras simples traziam um aviso que eu sabia que teria que seguir. Pelo menos se eu não quisesse me machucar. ─ Diga a verdade, mija. Diga-me a verdade e eu farei que tudo fique bem. ─ Eu só, eu... ─ Eu estava lutando para tirar as palavras, forçá-las a sair da minha boca. Murmurei algo, mesmo sabendo que isso o perturbaria. ─ Fale ─ ele exigiu em voz baixa e calma. ─ Não estou ouvindo você, Estrellita. ─ Eu... eu não sei ─ consegui. ─ Sinto muito, papai. ─ Você está mentindo para mim de novo? ─ Não, eu... ─ Você nem consegue inventar uma boa mentira. ─ Eu não estou mentindo, eu... ─ Apenas pare. ─ Ele olhou para mim, seus olhos cheios de raiva contida que ele nunca iria desencadear em mim. Ah, não, papai tinha
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uma maneira diferente de me punir, e era ainda mais cruel do que se ele tivesse me atingido. ─ Saia da cama. Fique na minha frente. Minhas mãos tremiam quando me afastei do edredom rosa. Eu sabia que não devia discutir com o papai. Ele não aceitaria isso. ─ Fique na frente da cama ─ ele instruiu, e eu forcei meu corpo trêmulo a se submeter, fazendo o que ele disse. ─ Feche os olhos. ─ Respirei fundo e forcei meus olhos a fecharem. Eu o senti me abençoar, seus dedos frios contra a minha pele. ─ Em nome do pai, do filho e do espírito santo. Eu estava tremendo quando ele terminou, sabendo exatamente o que viria a seguir. Sempre foi o mesmo com o papai. Seus castigos foram cruéis, mas pelo menos eu sabia o que esperar. Sua voz veio a mim como se fosse de outro mundo, suave, mas insistente. ─ Bata em si mesma. Eu levantei minha mão acima de mim, examinando minha palma trêmula. ─ Agora ─ papai insistiu, e eu abaixei a mão com um tapa alto na minha bochecha. ─ Você acha que isso é forte o suficiente para o que você fez, Estella? Por mentir para o seu pai? Você acha que já bateu forte o suficiente? ─ Não, papai ─ eu sussurrei, deixando meu braço cair e lutando contra o desejo de acalmar a picada na minha bochecha. ─ Eu sinto muito. ─ Não, você não sente ─ ele disse calmamente. ─ Ainda não. Mas você sentirá.
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Ele fez sinal para eu fazer de novo. Mais uma vez, levantei minha mão, o assobio do tapa me transportando de volta à minha realidade horrível, longe da vida que eu construí nas nuvens. Essa era a verdade. Essa foi a minha vida. Eu arrumei minha cama e agora tenho que dormir nela. ─ Você vai me dizer a verdade? ─ Papai exigiu. ─ Sinto muito ─ eu sussurrei entrecortada. ─ Me desculpe. ─ Não foi o que eu pedi ─ ele respondeu friamente. ─ Mais um tapa em cada bochecha, mija. Eu tentei acabar com isso o mais rápido possível, a picada do tapa fazendo meus olhos lacrimejarem. ─ Sinto muito, papai. Eu serei melhor para você. Ele deu um passo mais perto. Mesmo que ele nunca tivesse me atingido em sua vida, eu me encolhi, não querendo estar perto dele e a possibilidade de ele me machucar de verdade. ─ Você vai dizer a verdade? ─ Ele perguntou, e meus dedos tremiam enquanto eu lentamente balancei a cabeça negativamente. ─ Não? Você se recusa a me dizer? ─ Eu... eu não posso ─ eu sussurrei. Eu sabia que, se eu falasse, o castigo seria pior. Deus sabe o que o papai faria se descobrisse que eu estava em uma festa com uma garota que ele não gostava, tomando bebida e drogas aos dezessete anos. ─ Sinto muito, papai. ─ Você precisa aprender uma lição ─ ele murmurou. ─ Receio que o que tenho feito com você, para mostrar como as coisas devam ser, não seja mais suficiente. ─ O que você quer dizer? ─ Eu gaguejei.
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Ele passou a mão pelo cabelo escuro e ralo. ─ Tire a roupa. ─ O-o quê? ─ Todo o sangue foi drenado do meu rosto. ─ Por que papai? ─ Faça ─ ele exigiu, olhando para mim com nojo. ─ Agora mesmo. Meus dedos tremiam quando toquei a barra da minha camisola. Ele não iria. Ele não vai. Ele não pode. ─ Papa, por favor, eu... ─ Tire. Agora. Soltei um gemido antes de levantar o pijama por cima da cabeça, cobrindo meu peito nu e me encolhendo diante dele em nada além de minha calcinha. E assim que ele viu o que eu estava vestindo por baixo, eu sabia que ele me machucaria mais do que nunca. Eu estou usando uma calcinha fio dental, lembrei-me com medo. Ele nunca vai me deixar escapar disso. Ele olhou para mim com nojo. Não havia nada sexual em nossa troca de olhares, nada pervertido, mas me senti profundamente perturbada pela maneira como ele me olhava, como se eu fosse uma criminosa por usar uma simples peça de roupa com a qual ele não concordava. ─ Ajoelhe-se ─ ele exigiu. Caí de joelhos, inclinando a cabeça, olhando para qualquer lugar, menos para ele. ─ Testa no chão ─ disse ele, e eu me inclinei para frente até meus lábios encontrarem o chão. Eu sabia que ele não acharia nada menos do que isso aceitável. ─ Ore.
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Comecei a murmurar uma oração, as palavras se misturando enquanto meu medo aumentava. Eu passei por isso uma vez. Duas vezes. Três vezes. Ele não me parou. Minhas palavras ficaram cada vez mais rápidas, mais frenéticas a cada vez que as repetia. Lágrimas escorriam pelas minhas bochechas pela décima vez, e eu estava chorando quando cheguei ao vinte e dois. ─ Papai... ─ eu disse, mas ele voltou à vida. ─ Ore por sua salvação, mija. Eu não posso mais te ajudar. Agora você precisa pedir perdão a Deus. Você fará cinquenta orações. E eu vou ficar aqui até você terminar. Eu continuei, e ele olhou para mim no chão, repassando as palavras várias vezes. Senti vergonha queimando a boca do estômago, lembrando-me uma e outra vez da decepção que eu era para minha família. Quando terminei, minha voz rouca e quebrada, ele estendeu a mão para mim e eu a peguei, deixando-o me ajudar a levantar. Eu me odiava por fazer isso. Por precisar dele, mesmo depois de me machucar como sempre fazia. ─ Me dê seu telefone ─ ele exigiu. Timidamente, peguei meu telefone e entreguei a ele. Por favor, não peça a senha. Por favor. ─ Você receberá de volta quando aprender a agir com mais responsabilidade -papa disse. ─ Diga-me que você entende. ─ Eu entendo. ─ As palavras vieram em um sussurro. ─ Vá para a cama ─ ele me disse. ─ Não quero mais olhar para você.
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Com essas palavras, ele virou as costas para mim e saiu do meu quarto. O alívio tomou conta de mim assim que ouvi o clique revelador da fechadura. Eu era prisioneira mais uma vez. Corri para um local próximo ao meu guarda-roupa e bati na tábua do chão. Eu gentilmente tirei a tábua do chão e olhei para o meu esconderijo embaixo da madeira. Peguei meu telefone, um modelo antigo que eu mantinha em caso de emergência, depois fechei cuidadosamente a tábua do piso. Meu corpo inteiro estava tremendo quando eu apaguei as luzes e subi na cama, segurando meu telefone antigo. A essa altura, o sol estava nascendo do lado de fora e a luz iluminava meu quarto. Eu me senti suja, errada quando subi entre os lençóis. Eu me escondi embaixo deles, me cobrindo até o queixo. Trazendo meu telefone, comecei a digitar uma mensagem. Demorei um minuto para perceber que estava escrevendo para Milo e, com culpa, excluí o que escrevi antes de iniciar uma nova mensagem, endereçada a Natan. Ei. Papai pegou meu telefone novamente :( Você já está acordado? Eu realmente preciso de alguém agora). Eu esperei pela resposta pelo que pareceram horas, enquanto minhas pálpebras ficavam cada vez mais pesadas. Quando adormeci, meu telefone ainda estava silencioso e me senti mais sozinha do que nunca.
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3 DATA: 20 DE OUTUBRO DE 2018 – 10H LOCAL: CASA
DO
MILO
E DO
NATAN.
MILO
─ Ei, você está bem aí? Nunca tirando os olhos da tela, acenei para minha mesa, murmurando: ─ Tudo bem, obrigado. Você é um salva-vidas, pai. Você pode simplesmente colocar o café aí, obrigado. Senti papai se aproximando, depositando a caneca na minha mesa e batendo nas minhas costas. ─ Mais perto do fim? ─ Estou prestes a terminar ─ murmurei, ainda digitando como um louco, estendendo a mão para a caneca com a mão esquerda e tomando três goles escaldantes, sem tirar os olhos da tela. ─ Apenas uma hora atrasado. ─ Você quer que eu leve você ao escritório da senhorita James para que você possa dar a carta a ela? ─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ Eu vou fazer isso, não se preocupe. Só mais um momento... ─ Eu digitei as últimas palavras e sorri para mim mesmo ao pressionar a última tecla no meu teclado. ─ Pronto. Está feito. ─ Sucesso! ─ Papai deu um soco no ar e eu gemi com a visão. ─ Pai, por favor, leve seus movimentos de dança de volta aos anos 90 e mantenha-os lá. ─ Até parece ─ ele sorriu.
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─ Você está dizendo isso errado. ─ Você não é legal o suficiente para entender. Eu ri alto enquanto imprimia as páginas. ─ Mas sua fé em mim é devidamente notada e muito apreciada. ─ Você herdou isso de mim ─ ele sorriu. ─ Você sabe que sou o cérebro da família. ─ Claro, pai. ─ Peguei as impressões e fiz uma careta para elas, murmurando: ─ Vamos torcer para que a redação seja boa o suficiente para me levar para dentro. ─ Você vai arrasar com mais força do que Madonna e Britney no MTV Video Music Awards de 2003. - Ele me deu um abraço, e eu aceitei pela primeira vez. ─ Vá buscá-los, campeão. ─ Obrigado pela confiança e pelas curiosidades de Madonna. Caramba, eu digo isso com muita frequência por aqui. ─ De nada ─ papai murmurou. ─ Vejo você em breve, garoto! Peguei minha jaqueta antes de correr pela casa. Natan e meu outro pai estavam sentados na cozinha da ilha. ─ Croissants quentes ─ papai chamou. ─ Pegue seus croissants quentes! ─ Terminei a redação, saindo! ─ Gritei, correndo pela porta. ─ Cuidado com a estrada! ─ veio o aviso do papai atrás de mim. Natan veio correndo atrás de mim, sorrindo enquanto empurrava o croissant na minha mão. ─ Você precisa de um ou eles irão me fazer comer outro. Redação feita?
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─ Sim. ─ Eu mordi, segurando a massa com a boca enquanto agarrava as chaves do meu carro e o boné de beisebol. ─ Me parabenize mais tarde. ─ Que tal agora, desde que você decorou o endereço da senhorita James ─ Natan assobiou. ─ Que tal não falar sobre isso ─ lembrei a ele. ─ Alguns dos caras de lacrosse estão tentando me subornar para conseguir isso de você. ─ Boa sorte com isso. ─ Nem mesmo para o seu irmão favorito? ─ Eu dei a ele um olhar duvidoso antes que ele finalmente se afastasse do meu caminho. ─ Seu único irmão. ─ Falando em favores fraternos ... ─ eu falei. ─ O que há com sua namorada me mandando mensagens no meio da noite? ─ Merda, desculpe. ─ Ele coçou a parte de trás da cabeça. ─ Eu já estava dormindo. Ela acabou pegando um táxi para casa, então está tudo bem. ─ Um táxi? ─ Minhas sobrancelhas se ergueram. ─ Ah, certo. Bem... é melhor eu continuar. ─ Tudo bem, vá ─ disse ele. ─ Mas eu ainda quero esse endereço! Corri para o meu carro e bati meus dedos no volante todo o caminho até a casa da senhorita James. Eu praticamente tive que implorar pelo endereço dela quando soube que minha redação chegaria atrasada e já tinha uma ligação perdida dela no meu telefone.
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Por que Estella mentiria para Natan? A pergunta continuava surgindo em minha mente, não importa o quanto eu tentasse afastá-la. Em vez disso, tentei me distrair com a senhorita James. Ela era nova em Wildwood, tendo chegado apenas naquele ano letivo e imediatamente havia encantado os caras dos quatro anos de colegiais. Com seus longos cabelos cor de cobre, olhos verdes e pele pálida, ela era um maldito sonho molhado que ganha vida. Não que eu tenha pensado nisso. Quando parei na frente da casa dela, ela já estava de pé na varanda, com os braços cruzados e os lábios contraídos. Eu não notei as pilhas de caixas ao seu redor até entrar na garagem dela. Quando ela me viu parando, ela deu um suspiro de alívio, e eu saí do carro com um sorriso enorme no rosto. ─ Feito, feito e feito ─ eu gritei. ─ Aqui estão as páginas. Muito obrigado por me dar esta extensão. ─ Você sabe que eu estou te protegendo ─ ela sorriu, pegando as páginas de mim. Os olhos dela estavam vermelhos. ─ O que lhe deu o impulso de fazer isso? Intervenção divina? Pensei em Estella, com uma mancha de ketchup no vestido reluzente e o cabelo lustroso no rosto. ─ Algo parecido. ─ Bem, estou feliz que você tenha terminado ─ a Srta. James sorriu. ─ Tão feliz, Milo. Eu sabia que você poderia fazer isso. ─ Ei, você está bem? ─ Franzi minhas sobrancelhas, apontando para as caixas, escolhendo não mencionar a vermelhidão em seus olhos. ─ O que está acontecendo aqui? ─ Ah, eu... ─ Ela mordeu o lábio inferior. ─ É... um pouco ruim.
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─ Por que? ─ Milo, eu não acho... ─ Ela corou, olhando para longe quando um pequeno soluço escapou dela. ─ Acabei de terminar com meu namorado. ─ Ah, merda. ─ Eu mudei meu peso de um pé para outro. ─ Desculpe, senhorita James. Ela estava tão bonita naquela manhã que eu mal podia imaginar alguém querendo terminar com ela. Ela usava um vestido vermelho e sandálias, com os cabelos ruivos caindo nas costas em ondas. Pela primeira vez, me perguntei qual era o primeiro nome dela. ─ Obrigada. Vou levar isso imediatamente ao chefe de admissões em Eastvale ─ prometeu. ─ Você gostaria... ─ ela hesitou, olhando de volta para sua casa. ─ Você quer uma xícara de café ou algo assim? É muito cedo para eu pensar direito. ─ Errr... ─ eu hesitei. ─ Sem ofensa, mas é melhor eu ir. ─ Você está certo ─ ela riu nervosamente. ─ O que eu estava pensando? Obrigada por trazer isso, Milo. ─ Obrigado ─ sorri. ─ Eu sei que está em boas mãos daqui em diante. ─ Vejo você na segunda-feira na escola? ─ Você verá ─ ela assentiu. ─ Tenha um ótimo final de semana, Milo. Ela acenou para mim quando eu saí da garagem dela, mas foi só quando eu já estava na estrada que olhei no meu espelho retrovisor para vê-la melhor. Ela realmente era um belo pedaço de bunda, aquela Srta. James. Completamente fora dos limites também. Apenas o meu tipo.
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4 DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 09H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD. ESTELLA
No momento em que pisei no limiar de Wildwood sabia que as coisas seriam diferentes desta vez. Era o meu último ano. Eu estava pronta para ter o melhor momento da minha vida, mas logo ficou óbvio que Tinsley Sullivan havia arruinado tudo para mim. Eu vi as dicas em todos os lugares. Os contornos fracos de borboletas nos pulsos das pessoas, os sussurros que me seguiam onde quer que eu fosse. Eu os ouvi conversando, mas mantive minha cabeça erguida e ignorei o que eles diziam sobre mim. Eu tinha tomado algumas decisões durante o verão que os estudantes, sem dúvida, iam julgar, mas eu não dava a mínima. Eu queria ser temida. Era mais seguro do que ser ridicularizada e zoada, como Tinsley tinha sido no ano passado quando ela começou em Wildwood. Eu me encontrei com a Inca de manhã, e o ciúme torceu meu estômago em mil nós quando a vi. Ela esteve fora no verão e voltou bronzeada e bonita. Ela realmente floresceu desde que eu a conheci, não apenas porque eu a estava ajudando com seu guarda-roupa. Ela tinha uma beleza natural que eu nunca poderia reproduzir. Inocente, doce e tímida, adjetivos que ninguém jamais usaria para me descrever. ─ Como foi seu verão? ─ Perguntei a Inca enquanto seguíamos para a nossa primeira sala de aula. Ela estava tendo aulas avançadas de inglês, o que nos colocava na mesma classe, mesmo sendo mais jovem. ─ Se divertiu?
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─ Foi ótimo ─ ela admitiu. ─ Estou tão feliz por ter ido a esse acampamento para estudantes talentosos. Eu fiz uma careta com as palavras dela. Deus, ela está realmente animada em ir a um acampamento para o verão. Que trágico. Não comentei e continuamos andando enquanto ela me contava sua triste experiência. Na sala de aula, senti a tensão desde o momento em que entramos. Todo mundo ficou quieto, todos os olhos estavam em mim. Inca e eu encontramos nossos assentos nas mesas ao lado uma da outra, e enquanto ela se ocupava em preparar o livro e o caderno da aula, eu me arrastei até a líder de torcida, Harlem. ─ Ei, garota ─ eu ronronava. ─ Há quanto tempo. ─ Ela me deu uma longa olhada, colocando uma mecha de cabelo ruivo atrás da orelha, mas sem responder. Eu hesitei, sem saber por que ela estava me dando tratamento frio. Mas eu não me importei. Ela não tinha sido coroada rainha do baile, eu tinha. Se ela pensava que iria governar a escola, estava completamente errada. Esse era o meu domínio, não o de alguns aspirantes a idiotas. ─ Como foi seu verão? ─ Eu perguntei a seguir. ─ Divertido ─ ela respondeu, com os olhos vidrados enquanto suspirava e folheava seu caderno. Vi as borboletas na capa de seu livro, desenhadas por todas as páginas. Ela com certeza trocou de lado rápido. Não era preciso ser um gênio para saber que garotas como a Harlem eram seguidores, não líderes. O problema era que ela estava me seguindo há três anos e, de repente, parecia que sua atenção havia mudado. Agora era tudo sobre Tinsley. Tinsley, que nem sequer foi a Wildwood. Com minha boca em uma linha fina, saí da mesa da Harlem e voltei para a minha. A sala ficou cheia antes do sinal tocar, sinalizando o inicio da aula. Lá vamos nós novamente.
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O professor Cabot entrou alguns minutos depois do sinal, e todos nos acomodamos em nossos assentos. Peguei minha caneta e abri meu caderno, pronta para começar a aula. ─ Certo ─ Cabot gemeu. ─ Vamos começar com o nosso plano de estudos. O primeiro livro, que vocês foram designados para ler durante as férias de verão, é Crime e Castigo. Eu levantei minha mão imediatamente, e Cabot suspirou, esfregando as têmporas quando ele fez um sinal para eu falar. ─ Eu não sabia que deveríamos ler alguma coisa durante as férias de verão ─ eu disse, franzindo as sobrancelhas. ─ Isso ficou claro antes do início do ano letivo? Suspiros e gemidos ecoaram na sala de aula. Pela primeira vez, senti olhos de desaprovação em mim e não fazia ideia do que se tratava. ─ Senhorita Hawthorne ─ começou Cabot. ─ Esta é a aula de inglês avançado. É a sua primeira vez em uma aula avançada? ─ Não ─ eu assobiei, franzindo as sobrancelhas. ─ Eu só estava dizendo... ─ Você deve ter recebido um aviso da escola ─ continuou ele. ─ Havia seis livros que você deveria ler nas férias de verão. ─ Bem, eu não recebi o aviso ─ cruzei os braços defensivamente. ─ Então, eu não li nada. Risinhos percorreram pela aula quando Cabot se virou para mim, seu rosto bonito cansado. ─ Bem, esse não é meu problema, senhorita Hawthorne. Então, suponho que você não possa responder a nenhuma das perguntas deste questionário?
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Ele levantou um pedaço de papel e eu empalideci. ─ Eu também não fazia ideia de que haveria um questionário. ─ reclamei. ─ Ninguém me disse. ─ Infelizmente, esse é seu problema, não meu ─ disse-me Cabot friamente. ─ E você pode reclamar com o conselho da escola, mas agora, você precisa fazer esse teste. ─ Mas eu não sabia! ─ Eu argumentei. ─ Eu não quero ouvir os seus resmungos ─ ele interrompeu, levantando a mão. ─ Ou leve isso para a secretaria da escola ou preparese para fazer o teste. ─ Eu não posso ─ disse com os dentes cerrados. ─ Você não pode fazer o teste? ─ Não. ─ Então você ficará incompleta na tarefa de hoje. Olhei ao redor da sala, sentindo meu coração bater no peito. ─ O que isso significa? ─ Mais uma vez, todos riram. ─ Não é engraçado. ─ Mais risadas se seguiram. Olhei para Inca, que estava olhando para mim com uma expressão de desculpas, dizendo eu achei que você sabia. ─ Isso significa que sua pontuação para o dia é um F, Srta. Hawthorne
─
explicou
Cabot,
fazendo-me
entrar
em
pânico
imediatamente. ─ E contará para sua média no final do ano letivo. ─ O quê? ─ Eu olhei para ele. ─ Isso é completamente, totalmente inaceitável.
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─ Reclame com a secretaria, não comigo ─ Cabot suspirou. ─ Podemos continuar agora, por favor? ─ Não ─ argumentei. ─ Eu preciso chegar ao fundo disso. Mais risadinhas, e então, por trás, ouvi Harlem sussurrar: ─ Ah, como os poderosos caíram. Eu me virei, olhando para ela e sussurrando: ─ É melhor você cuidar da sua língua Harlem, antes de eu arrancá-la da sua garganta. Ela empalideceu quando Cabot chegou à minha mesa, batendo um livro nela. ─ Senhorita Hawthorne! Sugiro que você vá direto ao escritório do diretor. Pegue minha cópia de Crime e Castigo, talvez você possa realmente começar o trabalho que todo mundo fez durante o verão. ─ Não vou ao escritório do diretor ─ falei horrorizada. ─ Eu não fiz nada de errado! ─ Vá ─ insistiu Cabot. ─ E eu espero que você volte amanhã a essa mesa, depois de ler os seis livros do currículo. Entendido? ─ Hijo de puta ─ murmurei baixinho. ─ Desculpe? ─ Entendido, professor Cabot. ─ Juntei minhas coisas ao som de uma risada contida, sentindo o sentimento de traição corar nas minhas bochechas quando peguei o livro dele da minha mesa e fui para a porta. Ele não tinha o direito de me tratar assim. ─ Vou falar com o diretor sobre a maneira como você me tratou hoje. Só para você saber. Ele me deu um olhar incrédulo antes de rir na minha cara, me fazendo corar ainda mais. ─ Bom, faça isso, Srta. Hawthorne. E você saberá que sou diferente do tipo de professor que você está acostumada, porque não vou permitir que nenhum dos meus alunos, nem dos pais
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deles, me intimide, me obrigando a fazer algo que não acho certo. Então, boa sorte com isso. Eu olhei para ele antes de murmurar outro insulto espanhol baixinho e indo para a porta. A sala de aula inteira estava olhando, e ouvi Harlem gritar: ─ Não esqueça sua coroa, rainha do baile! Todo mundo riu de novo, e eu saí da sala me sentindo irritada como o inferno. Eu tinha acabado de ser expulsa da minha primeira aula, e não estava gostando nada disso. Se Cabot e Harlem pensaram que poderiam me tratar assim, eles estavam completamente errados. Ninguém colocou Estella Hawthorne no canto. Comecei a caminhar até o escritório da secretaria, passando pelo escritório da assistente de admissão no meu caminho. A senhorita James estava conversando com um membro da faculdade em frente a ela, e quando ela me viu, ela me chamou, dizendo: ─ Ah, Estella. Você poderia vir aqui um segundo? ─ Eu? ─ Olhei em volta e ela assentiu. ─ Claro, isso é importante? ─ Sim, ela assentiu ─ depois de se despedir da mulher com quem estava conversando. ─ Por favor, entre. Tem a ver com Eastvale e sua admissão. ─ Ah ─ eu sorri. ─ Claro, eu vou entrar. No escritório dela, eu deixei minha bolsa com os livros didáticos no chão, cruzando e descruzando minhas pernas nervosamente, enquanto a Srta. James passava um bom tempo regando uma orquídea no canto da sala. Ela tinha apenas cerca de um ano, mas rapidamente se popularizou entre os outros estudantes. Os caras a amavam porque ela era gostosa, e as meninas a apreciavam desde que ela era agradável e gentil. Eu não tinha nada contra ela. Mas isso estava prestes a mudar nos próximos minutos.
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Ela terminou de regar as flores e me ofereceu um pouco de água, o que
eu
aceitei,
lamentando
quando
ela
desapareceu
na
sala
compartilhada. Deus, isso está levando muito tempo. Ela não pode apenas me dizer o porquê ela me chamou? ─ Você disse que isso era sobre a minha admissão em Eastvale? ─ Perguntei quando ela voltou, colocando uma garrafa de Evian e um copo na mesa diante de mim. Ela assentiu, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto se sentava na minha frente. ─ Como você sabe... ─ ela começou ─ Eastvale é conhecida por ser uma universidade muito prestigiada e exclusiva. ─ Claro. ─ Muitas escolas oferecem bolsas de estudos, mas Eastvale é a única que eu conheço que é apenas para convidados ─ continuou ela. ─ Eu sei que você e outro aluno foram convidados a se inscrever na primavera. ─ Sim ─ eu assenti. ─ Milo Earnshaw e eu. ─ De fato. ─ Ela corou, empurrando os óculos de leitura mais alto na ponta do nariz. Era irritante o quão bonita ela era. Não era justo. ─ Como você sabe, você e o Sr. Earnshaw entraram cedo na admissão. E um de vocês entrou cedo. ─ Eu sorri, prestes a falar, mas ela me parou segurando a palma da mão. ─ Agora, antes de prosseguir, Estella... Você sabe que é extremamente raro Eastvale aceitar mais de um aluno da mesma escola, não é? ─ Eu sei ─ eu disse com orgulho. ─ E será uma honra representar a Wildwood em uma universidade tão prestigiada.
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Ela me deu um pequeno sorriso antes de dizer baixinho: ─ Milo entrou, Estella. ─ O quê? ─ Milo Earnshaw ─ ela repetiu lentamente. ─ Ele foi aceito em Eastvale mais cedo. ─ Mas... ─ Lutei para encontrar as palavras certas, meu coração e minha cabeça latejando de medo. Quando meu pai descobrir isso, ele vai me matar. Ele nunca aceitará que eu não fui boa o suficiente e terei que pagar caro por isso. ─ Mas isso simplesmente não pode ser verdade. A senhorita James me deu um sorriso simpático, empurrando uma caixa de lenços de papel em sua mesa em minha direção. ─ Não há problema em ficar chateada, Estella. Mas você precisa se lembrar de que esse não é o fim do mundo. Nem todos são aceitos na primeira universidade que escolheram. E ainda há muitas escolas que gostariam que você frequentasse seus programas. ─ Mas eu não quero nenhuma outra escola ─ insisti, ouvindo o quão teimosa eu parecia, mas não dando a mínima. ─ Como isso é possível? Entreguei minha redação mais cedo. Milo nem estava pronto no prazo! ─ Sinto muito ─ a Srta. James disse com firmeza, franzindo as sobrancelhas para mim. ─ Mas a escolha foi deles, não minha, e já foi decidido. Eu ficaria feliz em aconselhá-la sobre o que fazer a seguir, Estella. Mas, por favor, não descarte as realizações de seu colega apenas porque você não entrou. ─ Eu não estou colocando ele no chão. Eu simplesmente não entendo. ─ Eu pisquei com as lágrimas lutando para sair. Eu não vou chorar. Eu não vou chorar. Eu não vou chorar.
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─ Você sabia que só havia espaço para uma pessoa de Wildwood, certo? ─ Sua voz era gentil, e eu me vi balançando a cabeça, me sentindo esmagada. ─ Sinto muito, sinceramente, Estella. Mas acho que você ainda pode ir para uma escola incrível e obter o diploma que deseja. Ok? ─ OK. ─ Minha voz estava áspera e quase inaudível. Eu me senti derrotada. Totalmente destruída. ─ Posso sair agora? ─ Claro ─ ela assentiu gentilmente. ─ Não se preocupe, Estella, ainda podemos resolver isso. Por que você não marca uma consulta comigo no site nesta semana? Podemos passar por outras escolas, talvez sua segunda e terceira escolha. ─ Claro ─ eu consegui falar miseravelmente enquanto pegava minhas coisas e me levantava. ─ Senhorita James? ─ Sim? ─ Milo já sabe? ─ Eu perguntei, sentindo o nó na garganta. Ela me deu um sorriso, dizendo: ─ Ele está prestes a entrar para que eu possa contar a ele. ─ Ok ─ eu assenti. Então, ele está prestes a descobrir. E ele nunca vai me deixar ouvir o final disso. Pensar que ele nem teria terminado sua redação se eu não tivesse tentado ajudá-lo.. Deus, que bagunça. — Vejo você ainda esta semana, senhorita James. — Vejo você em breve, Estella. Saí do escritório dela, fechando a porta suavemente atrás de mim. Até então, restavam apenas alguns minutos antes do intervalo para o almoço, e eu sabia que os corredores estavam prestes a ficar cheios de pessoas. Lutei contra o desejo interno de gritar, engolindo meu grito de desespero a tempo de ouvir a campainha tocar. Joguei meu cabelo por
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cima do ombro, me arrumei e levantei o queixo alto. Ninguém mexe com Estella Hawthorne. Apesar do mantra que eu repetia para mim mesma enquanto caminhava pelos corredores lotados, sabia que não era verdade. Papai não gostaria disso nem um pouco, e logo teria que pagar o preço pelo meu fracasso. Um corpo bateu no meu enquanto eu caminhava, e eu gritei, caindo de bunda no chão. ─ Merda, desculpe! ─ Idiota ─ eu assobiei, meus olhos se conectando com um par que eu conhecia muito bem. ─ Milo. Claro, porra. ─ Desculpe ─ ele murmurou, oferecendo-me a mão e me ajudando a levantar. ─ Estou meio que com pressa. Não tive a intenção de fazer isso. Tirei o pó do meu uniforme com uma expressão de nojo, examinando meus sapatos. ─ Porra, Milo ─ eu murmurei. ─ Você quebrou o salto nos meus sapatos. Estes são Giuseppe Zanottis, pelo amor de Deus! Ele me deu um olhar vazio e eu gemi. Para um sabe tudo, ele com certeza não tem sabe o que é isso. ─ Boa sorte com a senhorita James ─ acrescentei amargamente. ─ Como você sabia que é para onde eu estava indo? ─ ele perguntou, me dando um olhar desconfiado. ─ Acabei de vir do escritório dela ─ admiti, sentindo-me arrasada.
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─ Ah ─ ele ofereceu, passando a mão pelos cabelos escuros. ─ Ei, está tudo bem? ─ Claro, Milo ─ cuspi. ─ Está tudo muito bem. ─ Você viu meu irmão? ─ Não. ─ Suspirei. Natan nem se preocupou em me encontrar naquele dia ainda. Nós éramos oficiais há oito meses e ele ainda não dava a mínima. Eu com certeza sei como escolhê-los. ─ Por quê? ─ Ah ─ disse Milo, aparentemente surpreso com o que eu disse. ─ Esquisito. ─ Não há nada de estranho nisso ─ eu lati. ─ Agora, por favor, sai da frente. Eu tenho que ir. ─ Tchau ─ ele disse, revirando os olhos. ─ Uau, continua tão vaca como antes, não é, Estella? ─ Foda-se ─ eu murmurei, passando por ele e indo até o escritório do diretor. Espero que sua vida arda em chamas como a minha, Milo.
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5 DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 11H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD MILO
Depois do meu encontro com Estella, balancei a cabeça com a grosseria dela e continuei andando até chegar ao escritório da senhorita James. A namorada do meu irmão estava em espiral, e eu tinha certeza que sabia o motivo. Estella odiava ser julgada. Ela odiava não ser a mais popular, e agora, mesmo com Tinsley e Crispin, as mesas viraram, e ela não era tão importante quanto no ano passado. Sua raiva era óbvia, e eu poderia dizer que ela estava lutando com seu novo papel como a garota má, a cadela principal e nada mais. Ela era a única pessoa que as meninas queriam ser e os caras eram desesperados para tê-la apenas meses atrás, e agora tudo estava a seus pés como um castelo de cartas. Bati na porta do escritório da senhorita James, e ela me chamou para entrar. Meu coração estava batendo forte enquanto eu entrava, fechando a porta atrás de mim. A senhorita James levantou-se da mesa dela, completamente de tirar o fôlego, com uma blusa branca e uma saia lápis preta. Seu cabelo estava preso, com algumas mechas escapando do coque bem enrolado e emoldurando seu lindo rosto. Ela não poderia ser mais de dez anos mais velha que eu, mas ela parecia ainda mais jovem. ─ Olá ─ eu disse, aproximando-me da mesa dela. ─ Você queria me ver, senhorita James? ─ Sim ─ ela assentiu, seu entusiasmo me pegando também. ─ Sente-se, Milo.
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Sentei-me na frente da mesa dela, afundando no couro do assento. Eu sabia que o que ela tinha para me dizer tinha a ver com Eastvale, e meu coração não me deixou esquecer. O que ela disser a seguir moldaria meu futuro para sempre. ─ Milo, você se inscreveu em Eastvale ─ disse ela, me dando um olhar longo e inquisitivo. ─ Como você sabe, tivemos dois candidatos iniciais à faculdade, você e a senhorita Hawthorne. ─ Eu sei ─ assenti, o nó na garganta tornando mais difícil de engolir. Eu também sabia que apenas um de nós conseguiria o lugar, um pensamento que eu tinha empurrado para o fundo da minha mente durante o verão. Eu estudava na mesma escola que Estella desde que éramos crianças. O pensamento de que estaríamos separados em um curto ano me fez sentir estranho. Ela sempre fez parte da minha vida. Seria um ajuste estranho ficar sem ela perto de mim. ─ Então, você já teve uma resposta de Eastvale? ─ Sim ─ a senhorita James assentiu com um sorriso extasiado. Porra, não me dê falsas esperanças, mulher. ─ E o que eles disseram? ─ Meu coração pulou uma batida. Eu quero mesmo ser aceito em Eastvale? Eu balancei minha cabeça para tirar o pensamento. Claro que sim. É o que eu tenho trabalhado o tempo todo em Wildwood. Eastvale é o sonho. ─ Você entrou! ─ A senhorita James bateu palmas. ─ Eles aceitaram sua inscrição e você foi convidado a participar de Eastvale no próximo outono. Parabéns, Milo! Algo tomou conta de mim. Um sentimento entre alegria e medo fez meus joelhos parecerem geleia. Levantei-me, soltando uma risada surpresa quando a senhorita James deu a volta na mesa e tocou meu
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ombro. Ela tinha unhas longas e rosa claro, e elas cavaram o tecido do meu blazer da escola enquanto ela sorria para mim. ─ Estou tão orgulhosa de você, Milo ─ disse ela. ─ A redação que você escreveu foi verdadeiramente especial. Eu sabia que isso o levaria. ─ Obrigado ─ eu consegui dizer, minha mente de repente em branco. ─ Estou... estou feliz que tenha funcionado dessa maneira. A sensação esmagadora do que aconteceu me atingiu um momento depois. Eu entrei... o que significa que ela não. ─ Vamos preparar tudo para você em breve ─ a Srta. James continuou como se nada tivesse acontecido, a mão dela ainda descansando no meu ombro. ─ Vou ter algumas impressões para você, bem como folhetos de Eastvale. É claro que tudo o mais, incluindo o plano de estudos, poderá chegar alguns meses depois, mas farei o possível para ajudá-lo a se preparar para isso antes do prazo final. ─ Eu... ─ eu comecei, minhas palavras diminuindo em nada. ─ Obrigado, senhorita James. Eu realmente aprecio a ajuda. ─ Claro ─ ela sorriu, alisando o vinco na minha jaqueta. ─ Estou tão feliz por você, Milo. Ninguém merecia ou queria isso mais do que você. Como você sabe disso? Estella queria isso. E talvez ela até merecesse mais do que eu. Eu não disse nada disso em voz alta. Eu apenas engoli o nó na garganta, conseguindo um sorriso fraco enquanto assentia. ─ Quando eu tenho que dar a eles minha resposta? ─ Eu perguntei em seguida, minha voz levemente trêmula. ─ Suponho que tenho algumas semanas pelo menos?
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─ O que você quer dizer? ─ A senhorita James riu inquieta. ─ Obviamente já aceitei a oferta em seu nome, Milo. ─ Ah ─ eu consegui dizer sem convicção. ─ É o que você queria, não é? ─ ela se perguntou em voz alta, e eu apenas olhei para a distância contemplando sua pergunta. É isso? ─ Certo. ─ E eu tenho algumas notícias sobre mim também ─ a Srta. James continuou, um leve rubor tingindo suas bochechas. ─ Eu também me inscrevi para uma posição em Eastvale, como orientadora escolar. ─ Ah? ─ Consegui, lutando para parecer interessado no que quer que ela quisesse me dizer, já que eu tinha meus próprios problemas para lidar. ─ E...? ─ E eu consegui ─ ela anunciou com orgulho, sorrindo mais do que nunca. ─ Vou para Eastvale com você, Milo! Começo no próximo ano letivo, para que você tenha uma cara familiar pela qual ansiar todos os dias. ─ Ótimo. ─ Eu consegui um sorriso tenso. Mas você não é Estella. Espere, o que diabos eu estou pensando? Por que eu me importaria se ela está lá ou não? Eu balancei minha cabeça para tirar os pensamentos. Qualquer outro cara ficaria emocionado com uma gostosa como a Srta. James dando em cima deles. Isso tudo me pareceu estranho. ─ Vai ser muito divertido ─ a Srta. James falou, finalmente tirando a mão do meu ombro. ─ Estou tão empolgada por nós dois, Milo. E estou determinada a fazer da sua experiência em Eastvale algo que você nunca esquecerá. ─ Ótimo ─ eu disse novamente.
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─ Agora, se você se sentar ─ ela apontou para a mesa. ─ Podemos passar pelos formulários que você precisa preencher. ─ Eu... ─ lutei para encontrar as palavras certas. Senti algo estranho acontecendo no meu corpo, minha cabeça e coração batendo. Eu mal podia respirar. O sangue corria pela minha cabeça em um ritmo alarmante, me deixando tonto. ─ Senhorita James, podemos fazer isso outro dia? ─ Por quê? ─ Ela parecia genuinamente intrigada. ─ Está tudo bem, Milo? ─ Eu... eu só preciso de um pouco de ar fresco, eu acho. ─ Você quer que eu vá com você? ─ Não. ─ Eu percebi o quão duro minha resposta deve ter soado e suspiro, esfregando a ponte do meu nariz. ─ Quero dizer, está tudo bem. Eu realmente deveria... verificar alguém. ─ Este é um ótimo momento para você, Milo ─ Srta. James insistiu. ─ Você realmente deveria estar comemorando. ─ Mas já que eu entrei... presumo que Estella não. O sorriso dela empalideceu, mas só um pouco, e ela balançou a cabeça. ─ Não, infelizmente ela não entrou. Acabei de lhe contar as novidades. ─ Como ela recebeu? ─ Meu coração estava batendo de novo. Eu estava preocupado. Preocupado com a garota que eu não deveria dar a mínima. Não apenas porque ela era minha concorrente, mas porque ela estava namorando meu maldito irmão. ─ Ela está bem? ─ Bem, você conhece Estella ─ a Srta. James riu, balançando a cabeça. ─ Ela nunca recebe bem as más notícias, não é?
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─ Não ─ eu murmurei. ─ Suponho que não. Merda, eu me sinto um pouco enjoado. A senhorita James pegou um copo de água da mesa dela, correndo para o meu lado. Eu estava vendo manchas, minha visão escurecendo quando peguei o copo dela e tomei gole após gole de água. Momentos depois, voltei a mim, notando o contorno fraco do batom rosa da senhorita James na borda do copo. Ela me deu sua própria bebida. Sua voz veio de algum lugar distante, e eu me virei para o lado, meus olhos se fixando nos dela. ─ ...pode ligar para a enfermeira, se quiser, mas acho melhor se você esperar... ─ Eu realmente deveria ir ─ murmurei. Ela veio para ficar na minha frente, dizendo: ─ Ah, Milo, eu sei o quanto isso é emocional. Eu realmente acho que você só precisa de um abraço. Fiquei quieto quando ela se adiantou, e de repente ela estava no meu espaço pessoal. Ela me envolveu em um abraço, enchendo meu nariz com seu perfume. Ela cheirava a algodão limpo e lavanda, e isso me deixou um pouco enjoado. ─ Está tudo bem ─ ela sussurrou. ─ Tudo vai ficar bem, Milo, apenas respire. Ela não recuou por muito tempo, fazendo-me sentir desconfortável. Mas a senhorita James parecia inconsciente disso, e quando ela finalmente tirou as mãos de mim um momento depois, eu estava tremendo, sentindo que ia ficar doente.
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─ Você precisava disso — ela me disse. Eu consegui acenar com a cabeça fraca enquanto seus dedos permaneciam nas minhas roupas, endireitando a lapela do meu blazer. ─ Você vai ficar bem, Milo. É apenas emoção por tudo o que aconteceu. Você deve estar tão extasiado. Por que suas mãos ainda estão em mim, Srta. James? Como se tivesse acabado de perceber a mesma coisa, ela olhou para sua própria mão. ─ Oh Deus, me desculpe, Milo ─ ela murmurou, dando um passo para trás. ─ Estou tão... bagunçada por causa da minha separação. Eu não deveria ter feito isso. ─ Ela se afastou. ─ Está tudo bem. Como está indo com a separação, afinal? ─ Eu me peguei perguntando antes que eu pudesse me parar. Ela puxou a mão para trás, me dando um sorriso tímido enquanto colocava o cabelo atrás da orelha. ─ Tipo um pesadelo. Eu devo me mudar de casa na próxima semana. ─ Ela fez uma careta, franzindo o nariz. É meio fofo. ─ Eu não sei como vou fazer tudo sozinha, honestamente. ─ Bem, se você precisar de ajuda, eu ficaria mais do que feliz em ajudar ─ ofereci. ─ Realmente? ─ Os olhos dela estavam brilhando de excitação. ─ Ah, Milo, se você pudesse fazer isso, ficaria eternamente grata. ─ Claro ─ eu disse com um sorriso. ─ Apenas me diga quando preciso aparecer, e eu vou ajudá-la com a mudança. ─ Este fim de semana seria incrível. Eu realmente aprecio isso, Milo. É bom saber que alguém está nas minhas costas, não importa o que aconteça. Me faz sentir tão ...
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─ Senhorita James, eu consegui o formulário que você queria! Nós nos afastamos e um sentimento de culpa tomou conta de mim, mesmo que não tivéssemos feito nada de errado. A porta do escritório da senhorita James bateu e entrou o meu irmão. ─ Ah, ei, mano ─ ele sorriu, batendo o punho no meu ombro. Murmurei algo em resposta, esfregando o ponto agora dolorido no meu braço. ─ Estou apenas deixando algumas inscrições para a faculdade. ─ Três meses atrasado, devo acrescentar ─ Srta. James disse friamente, mas a única resposta que Natan teve foi um sorriso largo. ─ O que posso dizer ─ ele deu de ombros. ─ Lacrosse me mantém ocupado. ─ Você não joga durante o verão ─ lembrei-o, e ele me lançou um olhar assassino. ─ Tanto faz. Estou saindo daqui. Fui até a porta, sentindo a senhorita James me encarando. Um momento depois, outro par de passos se juntou a mim no corredor, e meu irmão passou um braço em volta dos meus ombros. ─ Por que o rosto emburrado, nerd? ─ ele perguntou, e eu suspirei. ─ Não é nada. Está tudo bem. ─ Oh merda ─ Natan lembrou. ─ Você não recebeu nenhuma notícia de Eastvale, recebeu? ─ Eu recebi ─ eu disse miseravelmente. ─ Eu entrei. ─ O quê? ─ Natan gritou e me deu um tapa nas costas. ─ Isso é tão incrível, mano! Estou tão feliz por você. Eu olhei para ele, murmurando: ─ Você não se importa em como Estella se sente agora?
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─ Por quê? ─ Ele parecia completamente alheio. ─ Ela também se candidatou a Eastvale, e não entrou. E provavelmente também não vai. Eles só aceitam um aluno de Wildwood. ─ Ah, merda ─ Natan esfregou a parte de trás da cabeça, acrescentando: ─ Acho que nunca mais vou ouvir o fim disso. Milo isso, Milo aquilo. ─ Ela fala de mim? ─ Sim ─ ele sorriu. ─ Ela reclama de você o tempo todo. Porra, essa rivalidade entre vocês dois está ficando realmente velha, sabia? ─ Tanto faz ─ eu murmurei enquanto continuávamos andando. ─ Ei, a propósito. ─ Natan parou na frente do seu armário e eu me inclinei contra a parede enquanto ele procurava algo. ─ Marquei um encontro duplo na sexta-feira. ─ O quê? ─ Revirei os olhos. Absolutamente incrível. Essa é a última coisa que preciso agora. ─ Um encontro duplo? O que é isso, escola primária? ─ Você deveria estar me agradecendo. ─ Ele fechou o armário com força, colocando um livro na mochila enquanto piscava para mim. ─ Eu marquei você com uma garota gostosa como pecado. Você estará beijando o chão em que eu ando quando você colocar as mãos nela. ─ Quem é essa? Ele se inclinou para mais perto, me batendo com o cotovelo. ─ Harlem. ─ Harlem? ─ Eu gemi. ─ Deus, a cadela residente em segundo comando?
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─ Eu pensei que você ficaria feliz, mano. Ela é um belo pedaço de bunda. ─ Eu... ─ Soltei um suspiro frustrado. ─ Eu simplesmente não tenho tempo para namorar agora. ─ Por que não? ─ Natan parecia genuinamente intrigado. ─ Nós vamos nos divertir. Você e a senhorita líder de torcida suprema, eu e minha garota. ─ Estella também vai? ─ Dã ─ ele me deu um olhar estranho. ─ É um encontro duplo, aberração. ─ Eu não quero ir. ─ Que pena. Você precisa de um pouco de boceta antes que todos esses livros virem sua cabeça, mano. ─ Ele levantou os olhos para alguém nas minhas costas, sorrindo amplamente. ─ Ei, querida. Parecendo gostosa como sempre. Estella passou por mim, deixando para trás um leve toque de doçura. Ele se foi no momento seguinte enquanto ela caminhava até meu irmão, e ele a agarrou pelos quadris, puxando-a para perto e dando-lhe um profundo beijo sensual. ─ Nojento ─ eu murmurei. Eles continuaram se beijando e eu balancei minha cabeça, pronto para me afastar da demonstração pública de afeto exagerada. ─ Ei, nerd ─ Natan chamou. ─ Hoje às sete. Clancy's. Não esqueça. ─ O que vai acontecer lá? ─ Estella olhou entre nós dois. ─ Encontro de irmãos?
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─ Vamos a um encontro duplo ─ disse Natan. ─ Isto é, se o irmão mais querido não der para trás antes. ─ Eu não estou dando para trás ─ eu rosnei. ─ Eu só não quero fazer isso. ─ Por que? ─ Estella exigiu. ─ Porque... ─ eu gemi. ─ Vai ser estranho como o inferno. Eu não gosto da Harlem. ─ Harlem? ─ Estella riu. ─ Deus, Natan, você não poderia escolher mais ninguém? Você sabe que estou brigando com ela agora. ─ Eu teria..., ─ Natan deu de ombros, me dando um sorriso perverso. ─ Isto é, se a senhorita Harlem não estivesse de quatro pelo Milo aqui. ─ Harlem está afim de mim? ─ Eu olhei para Estella. Seus lábios estavam apertados e ela não parecia muito satisfeita com o fato. ─ Isso é novidade para mim. ─ Sim, porque você é cego ─ Natan riu. ─ Ela está encarando você o ano passado inteiro. ─ Ugh ─ Estella revirou os olhos. ─ Eu preciso comprar uma roupa nova então. Vejo você depois da escola, Natan? ─ Claro, querida. ─ Outra sessão de beijos se seguiu antes de Estella sair, me lançando um olhar imundo quando ela passou por mim no corredor. Notei que ela estava tremendo quando saiu, mas não mencionei. ─ Você nem perguntou a ela sobre Eastvale ─ eu disse a Natan.
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─ O quê? ─ Ele ergueu os olhos do telefone, obviamente em outro mundo. ─ Ah, certo. Falaremos sobre isso mais tarde, eu acho. ─ Natan ... ─ eu disse. ─ Isso era realmente importante para ela. Você não pode simplesmente agir como se não fosse nada. Você é o namorado dela, pelo amor de Deus. ─ Sim, bem... ─ ele deu de ombros, um sorriso diabólico assumindo seu rosto. ─ Não tenho certeza de quanto tempo será esse o caso. ─ O que você quer dizer? ─ Vamos apenas dizer que estou ficando inquieto, e ela não está me dando o que eu quero. Se você me entende. ─ Eca, Natan. Os malditos corredores te entenderam. ─ Eu fiz uma careta. ─ Então, vocês ainda não...? ─ Não ─ ele gemeu, dando um passo ao meu lado. ─ E não parece que iremos em breve. Ela está, tipo, decidida em esperar. ─ Então, espere ─ sugeri. ─ Eu não sou religioso ─ ele me lembrou. ─ E eu mereço me divertir. ─ Apenas não... ─ Não o quê? Escolhi minhas palavras com cuidado antes de dizer: ─ Não quebre o coração dela, Natan. Ela não merece isso. ─ Não, ela não merece ─ ele concordou. ─ Você está certo. Terei cuidado. Embora eu ache que você a veja... como outra pessoa. ─ O que você quer dizer?
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─ Ela não é a garota que você lembra, Milo ─ ele deu de ombros. ─ Eu sei que vocês costumavam sair quando eram crianças, mas... ─ Mas o quê? ─ Ela simplesmente não é mais aquela garota. Confie em mim. Eu a conheço melhor do que ninguém. ─ Você? ─ Eu levantei uma sobrancelha interrogativa. ─ Você tem certeza disso? ─ Sim. E eu estou lhe dizendo agora... ─ Ele se inclinou para mais perto. ─ Estella Hawthorne não é uma pessoa legal. ─ Grande coisa a dizer sobre ela, já que você está namorando ela. ─ Apenas tentando poupar seus sentimentos ─ ele deu de ombros. ─ Eu tenho que ir para a aula de educação física. Vejo você em casa? ─ Claro ─ eu murmurei, acenando para ele enquanto ele saía para a academia. Fui até a próxima aula, minha cabeça nadando com uma infinidade de pensamentos, mas, dentre todos, um se destacou, lembrando-me que Natan pode estar certo sobre algumas coisas, mas não tudo. Porque ele não conhece Estella Hawthorne como eu.
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6 DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 16H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD &SHOPPING
DE
WILDWOOD.
ESTELLA
─ Por aqui, querida! Fui até o Range Rover estacionado em frente à escola. Mamãe estava sorrindo timidamente para mim por trás de um par de óculos de sol Gucci. ─ Vamos lá ─ ela me pediu. ─ Vamos indo. Entrei no carro, colocando minha bolsa no banco de trás e colocando
o
cinto
de
segurança
enquanto
mamãe
saía
do
estacionamento. Ela estava radiante, sua cantora espanhola favorita estava no rádio e o sol brilhava acima de nós. ─ Eu não entrei em Eastvale ─ murmurei. Ela mordeu o lábio inferior, me lançando um olhar preocupado por baixo dos óculos escuros. ─ Você já contou ao seu pai? Eu balancei minha cabeça. ─ Por favor, não conte a ele ainda. Vou tentar encontrar outra maneira de entrar. Ela assentiu, mas não precisava dizer o que estava pensando, nós duas sabíamos o que era. Eu tinha feito um acordo com o papai no ano anterior. Entre em Eastvale, a faculdade dos meus sonhos, ou deixe que ele decida meu futuro para mim. E eu sabia o que aquilo significava. Eu me casaria aos vinte anos, a esposa troféu de um empresário mais velho que fodia sua
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secretária pelas minhas costas, presa a uma família que eu não queria e a um futuro que tentara escapar por toda a minha vida. Descemos na Baker Road, a parte da cidade onde estavam localizadas todas as butiques caras. Mamãe era a única que sabia sobre meus hábitos de me vestir e, até agora, ela mantinha isso em segredo do papai. Quando chegamos à porta de uma butique cara e bem conhecida, o segurança nos reconheceu e abriu a porta. Eu assisti seus olhos seguirem mamãe enquanto ela entrava na loja. Ela ainda era uma mulher deslumbrante, com o tipo de beleza trágica que fazia os homens pararem. Afinal, meu pai ainda contava histórias de querer estar com ela desde o momento em que a conheceu. ─ O que você acha disso? ─ Mamãe perguntou, puxando uma bolsa de couro com tachinhas de cor marrom da prateleira. ─ É muito você. ─ Sim ─ eu respondi, distraída. ─ Fofa. Passamos por toda a loja, mas eu não estava me sentindo lá. No final, mamãe estava com as mãos cheias, com dois assistentes de vendas carregando as mercadorias que ela havia escolhido no caixa, mas eu ainda não tinha nada. ─ Você quer que eu escolha algumas coisas para você? ─ Mamãe ofereceu, e eu dei de ombros. ─ Eu realmente não tenho para onde ir. ─ Não há oportunidades chegando? ─ Bem... ─ Eu brinquei com a bainha do meu blazer da escola. ─ Eu vou para um encontro duplo com Natan. ─ Ah, que emocionante! ─ Mamãe bateu palmas. ─ Quem mais está indo?
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─ Harlem. ─ Eu fiz uma careta. ─ E o irmão de Natan, Milo. ─ Como ele está? Ah, eu não o vejo há tanto tempo, mija. É uma pena que você deixou de ser amiga dele. Você sabe, eu sempre pensei que... ─ O quê? Ela riu timidamente, acrescentando: ─ Eu pensei que vocês dois terminariam juntos. ─ Eu e Milo? ─ Eu fiz uma careta. ─ Como se isso fosse acontecer. ─ Nunca diga nunca. ─ Ela caminhou até uma prateleira de vestidos brancos, passando pelos cabides até encontrar o meu tamanho. ─ Isso seria perfeito para o seu encontro duplo. Acho que nem seu pai iria contra este. Ela tirou o vestido do cabide para mim, e eu o olhei com ceticismo. Mas ela estava certa. O vestido era na altura dos joelhos, com mangas curtas e flores cortadas a laser na saia. Era bonito, mas o corpete justo também dava alguma sensualidade. ─ Você tem certeza que o papai aprovaria? ─ Eu perguntei, e ela piscou para mim. ─ Nós o convenceremos. Vamos lá, precisamos encontrar alguns sapatos que combinem. Vamos de loja em loja e o segurança da primeira boutique acabou carregando nossas compras para o carro. No final da nossa viagem, meu humor havia melhorado, e eu me peguei rindo mais, deixando-me relaxar pelo menos um pouco. Encontramos sandálias de tiras prateadas para combinar com meu vestido, além de uma bolsa de vime que eu amei à primeira vista. O
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segurança estava empilhando tudo no banco traseiro quando outro carro parou, um Mercedes Benz familiar demais. ─ Querido! ─ Mamãe gritou quando a porta se abriu e meu pai apareceu, vestindo um terno cinza e óculos de sol escuros. ─ Estávamos prestes a almoçar juntas. Que bom que você decidiu aparecer. Papai se aproximou dela e, a partir do momento em que ele parou na nossa frente, eu sabia que isso não seria uma boa notícia. Ele olhou para o segurança, empurrando os óculos escuros pelo nariz e conseguindo assustá-lo tanto que o sujeito fugiu, se perdendo e deixando a última bolsa largada na calçada. Agora, papai a pegou e colocou no carro. ─ Estamos indo para casa ─ ele nos disse em sua voz profunda e estrondosa. ─ Entrem no carro. Eu vou atrás de vocês. Falaremos sobre isso quando voltarmos. Mamãe deu um aceno sem palavras e eu subi no banco do passageiro com o coração batendo forte. Nenhuma de nós disse uma palavra quando mamãe saiu do estacionamento e começou a dirigir em direção à nossa casa. Um olhar no espelho retrovisor revelou que o papai estava nos seguindo, exatamente como ele disse que faria. A viagem foi tranquila e sufocante e, quando chegamos, eu me senti um caco. ─ Deixem as compras no carro ─ o papai nos disse no momento em que abrimos nossas portas. ─ Mabel virá buscá-las mais tarde. Entrem. Agora. Nenhuma de nós se opôs, deixando que ele nos conduzisse para dentro de casa. A porta da frente se fechou atrás de nós com um estalo retumbante, e senti meu coração falhar. Ele vai nos fazer pagar pelo que ele acha que fizemos de errado agora. E não vai ser bonito.
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─ O que vocês estavam comprando? ─ Ele perguntou, sua voz ainda nivelada e calma, mas eu conhecia papai o suficiente para ver as bordas se desgastando. ─ Compraram algo legal? ─ Comprei um vestido para mais tarde ─ consegui dizer. ─ Vou ao Clancy's estudar com alguns amigos. Papai não sabia sobre Natan e eu, embora eu estivesse determinada a derramar o feijão em um futuro próximo. Mas admitir agora seria como uma missão suicida. ─ Com quem você vai? ─ Ele estreitou os olhos comigo. ─ Natan, Milo Earnshaw e Harlem ─ eu disse a ele, sem tirar o olhar dele. Eu aprendi há muito tempo que esse era o truque para convencê-lo de que não estava mentindo. Isso, e dando a ele pedaços da verdade, mas nem tudo. O que o papai não sabia não poderia machucá-lo. ─ Ok ─ ele finalmente disse, e um peso caiu dos meus ombros. ─ Vou verificar o vestido que você comprou mais tarde. E você, Carla? ─ Eu... ─ Mamãe lutou com suas palavras. ─ Acabei de pegar algumas roupas novas. ─ Gastando meu dinheiro de novo? ─ Não ─ ela conseguiu. ─ É meu próprio dinheiro. ─ O que é seu é meu ─ papai lembrou-lhe pacientemente, e eu engoli em seco ao ouvir o perigo se aproximando. Eu só queria fugir, mas eu não era uma gata assustada como a mamãe. Das três mulheres da nossa família, eu era a única, além da minha irmã, Romilly, disposta a enfrentar o papai. Se mamãe estivesse sozinha com ele, ele a atropelaria como uma escavadeira.
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─ Mamãe comprou algumas coisas legais ─ entrei. ─ Acho que você vai gostar muito, papai. Ela comprou uma roupa adorável para igreja lá também. ─ Que bom. ─ Pelo seu tom, era óbvio que ele pensava que era tudo, menos agradável. ─ E o homem que estava ajudando vocês duas? O segurança. ─ Ele apenas se ofereceu para ajudar ─ disse mamãe rapidamente. ─ Com nossas compras, quero dizer. ─ Eu vi o jeito que ele estava olhando para você ─ disse papai, com a voz calma enquanto colocava as chaves na mesa do console no corredor. ─ Te comendo com os olhos dele. Despindo você mentalmente. ─ Eu não acho isso... ─ Não me diga o que vi ou o que não vi ─ ele a interrompeu. ─ Acho que sou inteligente o suficiente para chegar à minhas próprias conclusões. Ou você não acha, Carla? ─ Mamãe estava apenas... ─ eu interrompi. ─ Tentando chegar em casa o mais rápido possível, papai. Ela mencionou a festa de caridade que você vai hoje à noite. ─ Que gentil da parte dela lembrar ─ papai disse calmamente, seus olhos nela. Percebi um momento depois que eu estava tremendo. O medo estava me consumindo viva e, mais do que nunca, eu desejava que Romilly, minha irmã, voltasse para casa do que quer que esteja fazendo agora. Desde o início, ela era a única pessoa que conseguia enfrentar o papai e fazer o que diabos ela queria. Mas mamãe e eu ainda estávamos presas no purgatório, tentando agradá-lo a qualquer custo.
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─ Estella, por que você não vai para o seu quarto? ─ o papai sugeriu. ─ Sua mãe e eu temos algumas coisas para conversar. ─ Eu... ─ Eu olhei entre os dois nervosamente. Tive a sensação de que a conversa que eles estavam prestes a ter, era mais a ver com o segurança do que o jantar que ambos deveriam comparecer naquela noite. Antes que eu pudesse terminar minha frase, papai olhou para mim e ficou dolorosamente claro que essa não era minha batalha. ─ Ok, eu vou. Lancei um olhar de desculpas para mamãe antes de subir as escadas. Ouvi suas vozes suaves enquanto discutiam, e senti a culpa fazendo um buraco no meu estômago quando eu fechei a porta do meu quarto. Eu realmente espero que ele não a machuque. Eu balancei minha cabeça para tirar o pensamento. Eu não podia me deixar pensar assim. Que eu saiba, ele nunca bateu nela, mas eu estava preocupada que ele estivesse fazendo jogos malucos com a mamãe, assim como ele fazia comigo. Uma vez no meu quarto, coloquei minha bolsa no chão e puxei meu telefone
alternativo
antigo.
Não
há
novas
mensagens.
Minha
popularidade estava diminuindo, e o pensamento me assustou. Eu me sentia mais segura quando as pessoas me temiam. Provavelmente foi a única coisa que herdei do meu pai. Agora, a sensação de estar segura deslizava entre meus dedos, e eu estava aterrorizada. Um momento depois, uma de nossas criadas, Mabel, bateu na porta e trouxe as compras que mamãe e eu deixamos no carro. Ela estava com uma expressão ilegível, e eu sabia que, mesmo que a questionasse sobre o que estava acontecendo lá embaixo, ela não me diria. Ela era uma das contratadas do papai, uma das pessoas que adoravam o chão em que ele pisava. Eu conheci meu quinhão deles na minha vida, já que o papai
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era semi-famoso. Mas nunca entendi a adoração quase ofuscante que eles tinham por ele. Peguei o vestido que mamãe havia escolhido para mim em camadas de papel de seda rosa pálido. Era realmente bonito, mas só me deixou mais nervosa com o encontro que eu deveria ter. Eu não quero ver Milo com outra garota. Eu balancei minha cabeça para tirar o pensamento. De onde diabos isso veio? Desde quando me importo com o que Milo faz? Meus lábios formaram uma linha quando tirei meu uniforme escolar e o substituí pelo vestido branco. Coloquei as sandálias de tiras e me sentei na frente da minha penteadeira para fazer minha maquiagem. Não gostava de me olhar, não porque não gostasse do que via, mas porque sabia que o papai nunca aprovaria. Era difícil agradá-lo, e às vezes eu sentia que Deus havia pregado uma peça doentia em mim, me dando um corpo que meu pai não aprovava. Apliquei uma fina camada de brilho rosa nos lábios, evitando olhar para as curvas traiçoeiras do meu corpo. Meus seios começaram a chegar quando eu tinha doze anos, e aumentaram para um tamanho 36, o que me deixou mais constrangida do que confiante. Minha cintura era estreita, mas meus quadris eram largos, dando-me um corpo que papai havia chamado de pecador antes. Era como se eu tivesse sido amaldiçoada, forçando-me a olhar assim e tentar convencer o papai de uma coisa muito importante que ele não parecia entender, que eu não pedi para nascer assim. Que eu nem queria isso. Eu adicionei um pouco de rímel nos meus cílios, depois deixei o espelho antes que eu pudesse mudar de ideia. Natan sempre me dizia que eu parecia dar água na boca. Seus olhos me devoravam, seus dedos adoravam rastejar pela minha pele, e eu sabia que ele estava ficando
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impaciente. Ele me queria. Ele queria ser o meu primeiro. E, no entanto, lutei contra a ideia, sabendo que nunca poderia dar a ele o que ele queria, mas estava com muito medo de dizer a verdade. Você não é o cara. Mas quem é? Enchi minha bolsa com algumas coisas necessárias e desci as escadas. Andei na ponta dos pés nas escadas, com muito medo da reação potencial do papai quando ele me visse. Mas ele não estava em lugar algum. Em vez disso, esbarrei em Mabel com cara de pedra mais uma vez no corredor, e sua expressão não revelou nada. ─ Você viu minha mãe? ─ Eu perguntei e ela deu de ombros sem compromisso. ─ Por favor, Mabel. Apenas me diga que ela está bem. ─ É claro que a Sra. Hawthorne está bem ─ disse ela, robótica. ─ Seus pais foram jantar. ─ Ok ─ eu consegui dizer desconfortavelmente. ─ Eu pensei que o papai iria me checar. Ela desviou o olhar, sem encontrar meus olhos. ─ Ele estava ocupado com sua mãe. Eu não perguntei o que isso significava. ─ Eu também vou sair. Ela parou na minha frente, franzindo as sobrancelhas. ─ Seus pais sabem que você está saindo? ─ Sim. ─ Eu olhei para ela. Não é da sua conta. ─ Você está mentindo para mim? ─ Ela perguntou. ─ Ugh, não ─ revirei os olhos. ─ Ligue para eles, se quiser, mas eu vou sair agora ou vou me atrasar. ─ Eu me sentia cada vez mais como um pássaro preso em uma gaiola dourada. Eu não conseguia nem esticar
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minhas asas. As barras estavam muito perto. ─ Vejo você mais tarde, Mabel. E, pelo amor de Deus, relaxe um pouco. ─ Não diga o nome do senhor em vão ─ ela gritou atrás de mim, e eu gemi quando entrei no meu carro. Se você soubesse, Mabel.
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7 DATA: 03 DE SETEMBRO DE 2019 – 19:30H LOCAL: LANCHONETE CLANCY MILO
Eu sabia que esse encontro duplo era uma péssima ideia antes de chegar ao Clancy's. Mas quando entrei no estacionamento e vi os três sentados em uma cabine lá dentro, meu estômago estava com um nó e era tarde demais para desistir. Natan me viu imediatamente, acenando para mim por trás da janela e me pedindo para entrar. Eu me forcei a respirar fundo e entrar na lanchonete. ─ Hey ─ eu murmurei quando me aproximei da mesa. ─ Você está atrasado ─ Estella sussurrou, me fazendo mudar minha atenção para ela. Ela estava usando um vestido branco elegante e adequado, mas isso não tirou o quão gostosa ela parecia. Minha boca ficou em uma linha fina quando eu respondi. ─ Desculpe, alguns de nós têm atividades após a escola para participar. ─ O Natan também, e ele chegou aqui a tempo ─ respondeu Estella. ─ Ignorou o treino de lacrosse de novo? ─ Perguntei ao meu irmão quando deslizei para o assento ao lado de Harlem. ─ Qual foi a desculpa agora? Outro compromisso falso de dentista? ─ Você me conhece tão bem ─ disse Natan, apertando o coração. ─ É tão doce.
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─ É bom que seus dentes pareçam tão perfeitos ─ murmurei. ─ Caso contrário, você poderá ser pego nessa mentira. Talvez mudar de vez em quando, ou algo assim. Ele deu de ombros no momento em que a garçonete largou os menus em nossa mesa, estalando um chiclete e parecendo entediada como o inferno. ─ Vou tomar um milk-shake de baunilha ─ disse a ela como de costume, sem sequer olhar para o menu. O resto da turma fez o pedido, e a garçonete entediada saiu, mas não antes de revirar os olhos para nós. ─ Qual é o problema dela? ─ Harlem perguntou. ─ Ela provavelmente é de Silverside ─ Natan piscou, e eles riram alto. Silverside era a escola rival de Wildwood, e eles eram eterno ponto sensível para quem estudava em Wildwood. A rivalidade entre nós nunca acabou. ─ Então, querido ─ Harlem ronronou enquanto Estella lançava seus olhares sujos do outro lado da mesa. ─ Como está indo o seu último ano até agora? ─ Muito bom ─ eu respondi com um grunhido, apesar de sentir qualquer coisa, menos que estava ótimo. ─ E você Natan? ─ Incrível ─ meu irmão sorriu. ─ O que mais você espera? Estou jogando lacrosse, tenho a namorada mais gostosa do mundo. A vida é boa pra caralho. ─ Ele apertou Estella, pressionando um beijo em sua bochecha. Ela não retribuiu, apenas o encarou com uma expressão perturbada no rosto.
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─ Bem, meu ano também está incrível ─ disse Harlem com um sorriso largo. ─ Eu acho que posso conseguir ser a rainha do baile este ano. ─ Estella zombou, e minha companheira deu a ela um olhar sujo. ─ Por que isso? ─ Você realmente acha que vai conseguir ser a rainha do baile? ─ Estella ergueu as sobrancelhas com pena. ─ Ah, pobre menina ingênua. ─ Você acha que pode me derrotar? ─ Harlem perguntou com uma voz doce como xarope. ─ Ah, Estella. Você está vivendo em negação. ─ Negação? ─ Bem, caso você não tenha notado, você não é mais a rainha. ─ Harlem estava falando devagar, como se estivesse falando com uma criança que não entendia muito bem. ─ Ah, os poderosos caíram. E acho que você pode cair ainda mais se não tomar cuidado. ─ Você não tem ideia do que está falando. ─ Estella estava olhando furiosamente, mas Harlem não se importou, rindo com facilidade e abrindo caminho sobre a mesa quando a garçonete se aproximou com nossas bebidas. ─ Veremos. ─ Senhoras, senhoras. ─ Natan levantou as mãos, tentando acalmá-las. ─ Estamos aqui para nos divertir e não para brigar como os idosos depois de cinquenta e sete anos de casamento. ─ Eu não me casaria com ela nem se você me pagasse ─ Harlem murmurou baixinho. ─ Nós entendemos ─ Natan sorriu. ─ Agora podemos começar a nos divertir e esquecer essa discussão? ─ Talvez se ela parar de ser uma vadia ─ Harlem murmurou.
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─ Talvez você deva seguir seu próprio conselho. ─ Todo mundo olhou para mim, surpreso, e eu dei de ombros. ─ Alguém tinha que dizer isso. ─ Estella riu, e eu atirei-lhe um olhar surpreso, mas ela já estava muito ocupada com seu milk-shake para perceber. ─ Então, por que estamos aqui de novo? ─ Porque eu queria conhecê-lo melhor. ─ Harlem piscou para mim. Ela com certeza era corajosa. Eu meio que gostei. ─ Pensei que passamos tantos anos juntos na escola e ainda não o conheço tanto quanto eu quero. ─ Bem, pergunte se você quer saber alguma coisa ─ eu falo. ─ Qualquer coisa que você quiser. ─ Tudo bem ─ ela ronronou. — O que aconteceu na noite em que Pandora Amberly desapareceu? A mesa ficou em silêncio. Vi Natan engolindo em seco e Estella distraidamente
colocando
seu
milk-shake
na
boca.
Seus
olhos
encontraram os meus e nos encaramos. ─ Eu não sei por que você acha que sei alguma coisa sobre essa noite ─ murmurei enquanto Harlem me encarava. ─ Eu não tive nada a ver com o desaparecimento de Pandora. ─ Claro que não ─ disse ela. ─ Eu apenas pensei que você poderia saber mais do que estava dizendo, já que vocês eram melhores amigos e tudo. Estella ficou olhando para mim, e tirei os olhos de Harlem antes de responder: ─ Não é minha culpa que Pandora tenha desaparecido. ─ Então de quem é? ─ Harlem exigiu.
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Fechei os olhos, esfregando a ponta do nariz. Eu não posso lhe dizer a verdade. Não posso contar a verdade a ninguém. ─ Você disse que eu poderia perguntar qualquer coisa ─ ela reclamou após uma pausa de um momento. ─ Estou apenas fazendo o que você me disse para fazer, Milo. ─ Talvez um tópico menos sensível seria melhor ─ Natan interrompeu, rindo facilmente. Voltei minha atenção para ele. Era raro sentir raiva de meu irmão, mas esse era um daqueles momentos. Se não fosse por você, talvez eu pudesse dizer a verdade. Mas então, novamente, não é minha verdade para dizer, é Natan? ─ Tudo isso foi há muito tempo ─ Eu disse a Harlem. ─ E não devemos conversar sobre isso. Eu já falei com a polícia quando aconteceu. ─ E ...? ─ Harlem perguntou. Meu irmão pigarreou, estendendo a sua mão para a mão dela sobre a mesa. Os olhos de Estella o seguiram, estreitando quando eles fizeram contato. ─ Vamos deixar para lá, Harlem. Um tópico para outro dia, talvez. Vamos conversar sobre outra coisa agora. ─ Tudo bem ─ ela deu de ombros nem aí, olhando para o meu irmão, mesmo depois que ele puxou a mão para trás. ─ Eu vou deixar passar. Mas só para você saber, é dolorosamente óbvio que você está escondendo alguma coisa. ─ Claro que sim ─ Estella interrompeu pela primeira vez, com um tom amargo. ─ Esses meninos Earnshaw sempre ficam juntos. Fiquei quieto, sabendo que ela estava certa, mas Natan não estava entendendo. ─ Tudo isso é história antiga ─ ele riu. ─ Eu pensei que tínhamos seguido em frente.
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─ É difícil seguir em frente quando sua melhor amiga está desaparecida há quatro anos ─ murmurou Estella. ─ Especialmente quando você sabe... ─ Nada ─ Natan se apressou em dizer. ─ Especialmente quando você não sabe nada sobre o desaparecimento dela. Certo, Estella? ─ Certo ─ ela murmurou, mexendo a bebida e olhando para mim por cima do copo. ─ Nada mesmo. O silêncio que estava sobre a mesa era desconfortável, e todos nós tivemos um momento para verificar nossos telefones. Foi só quando terminei meu milk-shake que senti uma mão na minha coxa. Eu levantei meus olhos para a Harlem, que estava sorrindo para mim como o gato de Cheshire. ─ Hum ... ─ eu murmurei, mas ela pressionou um dedo nos lábios, me fazendo calar a boca. Eu me mexi desconfortavelmente, mas a mão dela ficou parada. Olhei para Estella do outro lado da mesa, percebendo que seus olhos estavam colados em mim. Ela sabe o que o Harlem está fazendo debaixo da mesa? Isso a irrita? Deus, eu espero que sim. Eu levantei uma sobrancelha para ela e coloquei minha mão em cima da de Harlem. Eu podia sentir Estella se eriçando do outro lado da mesa, e agora ela se inclinou para mais perto do meu irmão, que ainda estava olhando para seu telefone. Ela o agarrou pelo queixo e, no momento seguinte, seus lábios estavam nos dele e eles estavam se beijando no assento. ─ Ugh, demonstrações públicas, sério? ─ Harlem gemeu. — Vamos lá, Milo. Vamos escolher uma música na jukebox. Levantei-me e a mão dela escorregou da minha coxa e veio tocar meus dedos. Porra, estamos de mãos dadas agora? Este encontro duplo está tão confuso. Ela colocou os dedos em volta dos meus e me levou para
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a jukebox no canto da sala. Senti o olhar ardente de Estella nas minhas costas quando nos afastamos deles. Na jukebox, a Harlem escolheu uma música e eu paguei por ela. Então, ela colocou os braços em volta do meu pescoço. ─ Eu quero dançar ─ ela me disse. Sem saber o que fazer, coloquei minhas mãos em volta da cintura dela, rezando a Deus que meu pau não cooperasse naquele dia. A última coisa que eu precisava era sentir tesão pela Harlem. Ela ficou me encarando, e eu olhei para qualquer lugar, menos nos olhos dela, enquanto dançávamos a música. Eu não aguentava o peso do seu olhar. Eu não aguentava mais nada, não depois da pergunta que ela jogou na mesa. Por que diabos ela perguntaria sobre Pandora? Pandora estava fora dos limites. Todos sabiam que o assunto era proibido. ─ Eu sei que você sabe mais do que está revelando ─ Harlem me disse em um sussurro suave agora. ─ Eu realmente não dou a mínima para Pandora Amberly, você sabe. Eu apenas gosto de apertar os botões de Estella. ─ Por quê? ─ Eu perguntei em voz alta. ─ Porque é tão sordidamente óbvio que ela gosta de você, ─ Harlem revirou os olhos, rindo. ─ Quero dizer, ela está namorando seu irmão, pelo amor de Deus, e o tempo todo está olhando para você. ─ Ela não gosta de mim ─ eu solto uma risada. ─ Ela nunca gostou. ─ Você é cego, Milo Earnshaw ─ Harlem me disse. ─ Cego como um maldito morcego. Mas pelo menos você me tem, e eu sei como fazer isso direito. Você quer deixá-la com ciúmes?
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Eu contemplei a pergunta dela, e antes que eu pudesse me parar, a resposta escapou dos meus lábios, tão fácil que me fez pensar se era isso que eu estava tentando fazer o dia todo de qualquer maneira. ─ Sim. ─ Bom. ─ Ela se inclinou para mais perto, e antes que eu pudesse detê-la, seus lábios estavam nos meus. Ela estava me beijando, seus lábios macios e suaves, sua língua gentilmente abrindo meus lábios. Eu não pude detê-la. Eu estava congelado no local, com a mais nova garota malvada da escola grudada na minha boca e ainda assim, tudo que eu conseguia pensar era em Estella. Meu pau acordou e eu gemi. Harlem confundiu isso com querer mais, e ela se inclinou para mim, me beijando longa e duramente enquanto eu apenas estava lá. Porra, isso é a última coisa que eu preciso no mundo agora. Depois que ela terminou, ela se afastou, dando-me uma piscadela de satisfação antes de pegar minha mão e me puxar de volta para a mesa. Quando voltamos, Estella estava encolhida no colo de Natan e ele estava com a mão na nuca dela. Um sentimento estranho e agridoce torceu meu estômago em mil nós. Ela não olhou para nós. ─ Acho que já é hora de irmos ─ murmurei e Harlem rapidamente concordou. ─ Sim. Milo, você pode me dar uma carona para casa? ─ ela perguntou. ─ Minha amiga me deixou aqui mais cedo. ─ Ela golpeou seus cílios. ─ Por favor? ─ Claro. ─ Levantei-me, meus olhos fixos em Estella, que estava distraidamente brincando com o colar de Natan. ─ Vejo você em casa, Nate? ─ Claro ─ ele assentiu, acenando para nós. ─ Divirtam-se e não se metam em muitos problemas.
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Eu segui Harlem para fora do Clancy’s, e ela parou na frente do meu carro, fazendo uma careta. ─ Este é o seu carro? ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Desculpe. Ela não disse mais nada, apenas olhou esperançosamente o carro novo do meu irmão antes de entrar no meu carro próprio batido. Liguei o rádio, que continuava pulando a cada segundo, e comecei a dirigir. ─ Onde você mora mesmo? ─ Avenida Rockford ─ disse ela. ─ Você esteve lá em uma festa no ano passado, não se lembra? ─ Claro ─ eu menti entre os dentes. ─ Eu lembro. Tudo o que eu lembrava daquela festa era do vestido rosa pecaminoso que Estella usava. Durante o trajeto, Harlem conversou sobre Wildwood, e eu falei sobre meus pensamentos quando ela se dirigia a mim, mas ela parecia muito feliz em apenas falar sobre coisas. Demorou vinte minutos para chegar à sua casa, e quando chegamos, ela se inclinou e me beijou na bochecha antes de pegar a maçaneta da porta. Eu me senti um idiota por estar tão distraído, e chamei o nome dela quando ela já estava fora do carro. Ela se inclinou para olhar para mim. ─ Ei, você quer fazer isso de novo? ─ Eu ofereci lamentavelmente. Ela sorriu, dizendo: ─ Não, Milo. Eu não quero. ─ Eu fui um encontro tão ruim assim? ─ Franzi minhas sobrancelhas. ─ Não ─ ela sorriu. ─ Apenas um pouco distraído. Tipo, é óbvio que você gosta de outra pessoa.
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─ Sinto muito ─ eu consegui. ─ Eu acho que não, sério. Eu só ... ─ Lide com isso, Milo ─ ela sugeriu. ─ Melhor agora que mais tarde. E se você mudar de ideia, sabe onde me encontrar. ─ Ela piscou, fechando a porta e correndo em direção à sua casa. Fiquei ali por alguns minutos, certificando-me de que ela entrasse, antes de me afastar do meio-fio. A viagem de volta para casa foi tranquila e sem intercorrências, mas minha mente estava girando. Meus pensamentos estavam nadando com o que ela disse, sobre gostar de outra pessoa. Eu realmente não gosto de ninguém, não é? Faz muito tempo desde que eu senti algo por alguém. Pandora se foi. Estella está completamente fora dos limites. Não tenho mais ninguém que me interesse. Ou tenho? Parei na frente da nossa casa e peguei minha jaqueta antes de entrar. Chamei quando entrei e as vozes dos meus pais responderam da cozinha. Eu sorri, entrando e me juntando a eles enquanto faziam o jantar. ─ O que está cozinhando, bonito? ─ Perguntei a papai enquanto ele mexia duas panelas de uma só vez. ─ Estamos fazendo um chile de uma panela hoje. ─ Mas você tem duas panelas aí ─ apontei o óbvio. ─ Tivemos alguns problemas ─ papai gritou do outro lado da sala. ─ Prepare-se, podemos pedir comida esta noite. ─ Uma pizza realmente parece incrível ─ eu disse. ─ Os jantares costumavam ser incríveis, mas até eles erravam às vezes.
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Papai olhou para as duas panelas, uma contendo um monte de vegetais de aparência estranha que estavam cozidos demais e a outra cheia de carne picada, o suficiente para uma família de oito pessoas. ─ Ok, admito a derrota ─ disse ele, suspirando. ─ Pizza então. Fomos para a sala e pedimos o de sempre. Papai ligou a TV e eles perguntaram sobre a escola. Eu contei a eles sobre o meu dia antes de mencionar o encontro duplo que eu tinha passado. ─ Harlem? ─ Papai fez uma careta para mim. ─ Aquela ruiva? ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Ela sempre me pareceu uma intrometida ─ papai admitiu. ─ Ela ainda fofoca tanto quanto costumava fazer? ─ Definitivamente ─ eu ri. ─ Ela é seu tipo? ─ Papai se perguntou em voz alta. ─ Nunca teria pensado nisso. ─ Ela... Natan armou tudo ─ eu admiti. ─ Mas eu não estou afim de ninguém agora, então pensei: que diabos? ─ Você não está afim de ninguém? ─ meu outro pai perguntou do outro lado da sala. ─ Eu peço desculpas, mas não concordo. ─ Estou muito ocupado com a escola ─ suspirei. ─ E a senhorita James está me ajudando com as coisas de Eastvale. ─ Alguma notícia nesse quesito? Eu estava prestes a mentir, mas decidi contar a verdade. ─ Eu entrei.
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─ O quê? ─ Papai gritou no sofá, sorrindo para mim. ─ Por que você não nos contou? ─ Porque... ─ eu gemi. ─ Isso significa que Estella não entrou. ─ Ah ─ papai disse fracamente. ─ Você está preocupado com ela? ─ Eu apenas sei como é a família dela ─ suspirei. ─ Eles vão pegar muito pesado com ela, e eu não quero ser o motivo de ela ter problemas. ─ Você entrou de forma justa ─ disse papai com firmeza. ─ Não é sua culpa. ─ Eu sei ─ eu disse, mas o pensamento ainda me dava uma sensação estranha. Eu entreguei minha redação tarde. Estella trabalhou tanto na dela... Eu realmente mereço entrar? ─ Eu apenas me sinto mal por ela. ─ Ela vai ficar bem ─ papai gritou antes de ir para a cozinha pegar alguns pratos. ─ Estella é uma garota durona. Meu outro pai não parecia tão convencido e me lançou um olhar preocupado, murmurando: ─ Se você quiser falar sobre isso, eu estou sempre aqui. ─ Obrigado, pai ─ eu consegui dizer. ─ Eu sei. Entrei de forma justa, como papai disse, lembrei a mim mesmo. Isso não é minha culpa. No entanto, a dor no meu peito não iria embora.
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8 DATA: 07 DE SETEMBRO DE 2019 – 18:47H LOCAL: CASA
DA
ESTELLA
ESTELLA
Eu havia tomado uma decisão naquela semana e estava determinada a continuar. Com o aniversário de nove meses do meu namoro com Natan chegando, decidi que era hora de contar a meu pai sobre ele. Eu sabia as implicações da minha decisão, mas estava cheia de guardar segredos. Eu tinha quase dezoito anos e estava pronta para finalmente enfrentar a ira do papai. Além disso, quão bravo ele poderia ficar? Eu não tinha feito nada errado. Todos os meus amigos já estavam namorando, mesmo aqueles com pais super rígidos. Eu só teria que fazer o papai ver as coisas através dos meus olhos. De qualquer maneira, eu era boa em me livrar das coisas. Estávamos sentados para um jantar em família, com minha irmã Romilly se juntando a nós pela primeira vez. Ela estava glamorosa como sempre em um conjunto todo branco e com saltos finos como lápis. Ela e papai nunca se deram bem, então o ar na sala de jantar ornamentada estava tenso enquanto todos nós nos perdíamos na comida que Mabel havia preparado. ─ Como estão as coisas na Universidade? ─ mamãe perguntou à minha irmã, esperançosa. Mas Romilly apenas deu de ombros, olhando para o papai antes de voltar para a comida sem dar uma resposta. ─ Responda à sua mãe ─ disse o papai. ─As coisas estão bem ─ Romilly murmurou roboticamente.
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─ Cuidado ao elaborar? ─ o papai sugeriu, erguendo as sobrancelhas enquanto batia nos lábios com um guardanapo de pano, gravado com o nome da nossa família. O falso. Não fazíamos parte da família Hernandez há anos, desde a escalada do papai à fama. ─ Não ─ disse Romilly, e eu segurei uma risadinha. Minha irmã não se
importava
com
ninguém,
muito
menos
papai.
Ela
estava
constantemente tentando me convencer a deixar tudo para trás, mas eu sabia que não havia chance de eu fazer isso. Eu precisava proteger mamãe. Agora que minha irmã havia se mudado, nós apenas tínhamos uma a outra, e se eu fosse embora, ela ficaria à mercê do papai. E eu sabia tão bem quanto qualquer um que ele não tinha muito disso. Papai zombou da minha irmã, mas Romilly não se importou. Mamãe olhou para mim do outro lado da mesa, implorando com os olhos que eu dispersasse a tensão. Era uma situação em que me encontrei várias vezes antes e sabia exatamente o que fazer. Eu queria manter minhas grandes notícias escondidas até a sobremesa, mas disse a mim mesma que não havia tempo como o presente, enquanto limpei a garganta e dobrei o guardanapo no colo. ─ Na verdade, tenho algumas novidades ─ eu disse. ─ Sobre Eastvale? ─ Papai ergueu os olhos de cortar sua enchilada. ─ Eu pensei que você já teria recebido sua carta de admissão, mija. ─ Não. ─ Meus dentes cravaram no meu lábio inferior, sabendo que eu estava mentindo. Mas antes que papai pudesse notar, eu balancei o pensamento e dei a ele um sorriso brilhante. ─ Na verdade, eu queria contar sobre um garoto que eu tenho saído. ─ Um garoto? ─ Papa repetiu.
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─ Ah, Natan? ─ Romilly perguntou, me dando um sorriso de sua cadeira ─ Isso é ótimo, Stells. Você já está saindo com ele há um tempo, não é? Um silêncio mortal estava sobre a mesa. Merda, ela acabou de estragar meu disfarce. Lancei-lhe um olhar de advertência e ela empalideceu quando mamãe riu nervosamente, se intrometendo. ─ Oh, Romilly querida, você deve estar confundindo-o com Milo Earnshaw, seu irmão. Ele e Estella eram melhores amigos! ─ É claro ─ Romilly tentou salvar a cara. ─ Sim, eu lembro agora. Eu misturei tudo. ─ Então, com quem você está saindo, Estella? ─ papai perguntou com sua voz de aço. ─ Milo? ─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ O irmão dele, Natan. ─ Ele não é um ano mais novo que você? ─ papai se perguntou em voz alta, e eu assenti. ─ Isso não é bom, Estella. Você quer encontrar um garoto capaz que seja um pouco mais velho. Caras da idade dele só têm uma coisa em mente. ─ Não é assim ─ argumentei, mesmo sabendo que era exatamente assim. Natan estava me pressionando sobre sexo há meses. Não perguntando diretamente, mas deixando sugestões que eu derrubei em segundos. Eu poderia dizer que ele estava ficando chateado, não apenas por ter sido negado essa parte de mim, mas também pelos meus esforços para reprimir esse tópico antes mesmo de discuti-lo. ─ Natan não se importa com essas coisas. ─ Então com o quê, por favor diga, ele se importa? ─ Papai perguntou. ─ Lacrosse?
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─ Sim ─ eu disse em voz baixa. ─ Ele está indo muito bem na equipe, provavelmente receberá uma bolsa para... ─ Provavelmente? ─ Papai fez uma careta. ─ Não é bom o suficiente, Estella. Engoli suas palavras como uma pílula amarga, silenciosamente me ordenando a não discutir com ele. Eu nunca poderia vencer nesta situação, de qualquer maneira. Papai encontraria uma maneira de me fazer perder. ─ Bem, ele é um garoto muito legal, pelo que me lembro ─ mamãe disse depois de um momento de pausa. ─ Claro, lembro-me de Milo um pouco melhor... Mas tenho certeza de que conheceremos Natan em breve. ─ Há quanto tempo isso vem acontecendo? ─ papai exigiu, espetando uma batata crocante com o garfo. ─ Esse garoto Natan. Há quanto tempo você o vê? ─ Algumas... semanas ─ eu consegui, esperando que ele não me pegasse na minha mentira. ─ E você não pensou em pedir permissão primeiro? ─ Ele ergueu as sobrancelhas para mim, obviamente descontente. ─ Então, quando você está saindo com esse garoto, você está mentindo para nós sobre isso? ─ Não exatamente mentindo ─ eu sussurrei. ─ Eu disse que estava com amigos. ─ Parece-me que ele é mais do que um amigo para você, mija ─ papai disse calmamente, olhando para mim enquanto comia. ─ Pareceme que ele é muito mais do que apenas um amigo.
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─ Ricardo ─ mamãe disse gentilmente. ─ Está tudo bem. Tenho certeza que Estella sabe manter as coisas apropriadas entre os dois. ─ Claro que sim ─ Romilly acrescentou com confiança, me dando um sorriso. ─ Eu confio em você, maninha. ─ Obrigada ─ eu murmurei. ─ Não tenho tanta certeza ─ disse papai, afastando o prato e cruzando os braços. ─ E eu não gosto que você tenha mentido para nós por semanas, também. Oh papai, se você soubesse a verdade. ─ Sinto muito ─ eu disse, engolindo meu orgulho. Eu sabia que não havia como discutir com ele. Eu tive que aceitar que estava errada aos olhos dele. ─ Eu só tenho uma pergunta ─ continuou o papai. ─ Você foi inapropriada com esse garoto? ─ Ricardo... ─ mamãe disse, mas ele levantou a mão para ela. ─ Eu só quero saber se minha filha ainda é pura ─ disse ele. ─ Acho que todo pai tem direito a isso. ─ Dificilmente ─ Romilly bufou, mas até ela ficou sem palavras quando ele a encarou. ─ Estella, responda minha pergunta ─ papai disse calmamente. ─ Você dormiu com esse garoto? Meus lábios formaram uma linha fina e eu olhei para os três antes de murmurar: ─ Claro que não. ─ Bom ─ papai disse, pela primeira vez não me questionando. ─ Você sabe o que aconteceria se você tivesse dormido, Estella? ─ Descruzei
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minhas pernas e olhei para o meu prato desconfortavelmente. ─ Eu fiz uma pergunta, mija. ─ Você pararia de me apoiar ─ eu sussurrei. ─ E você me cortaria. E eu não teria permissão para ir a Wildwood ou Eastvale. ─ Exatamente ─ papai assentiu. ─ Ao contrário de sua irmã egoísta, que tem a infelicidade de ser minha primogênita, então eu tenho que apoiá-la, não importa o quê, aparentemente. ─ Papa! ─ Gritei quando o garfo de Romilly caiu na mesa. ─ Não faça isso, por favor. ─ Você está me dizendo o que fazer? ─ ele perguntou, olhando para mim primeiro, depois minha irmã. ─ Romilly, alguma atualização sua? Você encontrou o caminho de volta para casa ou ainda é um cordeirinho perdido? ─ Ricardo- mamãe implorou. ─ Por favor, não hoje à noite. ─ Eu só quero uma resposta honesta de pelo menos uma de vocês – disse o pai. ─ Eu sei que vocês são todas mentirosas, mas pelo menos vocês duas ainda não se prostituíram. ─ Eu não sou uma prostituta – A voz de Romilly saiu entre dentes. ─ Só porque eu não sou religiosa, louca por religião, não significa que sou uma pessoa ruim. ─ Você responderá isso a Deus ─ disse-lhe papai. ─ Mas você me responde por todo o resto, pelo menos enquanto eu estiver pagando suas contas. Romilly engoliu em seco, olhando para ele do outro lado da mesa. ─ Estou praticamente acabando com isso agora.
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─ Você não vai embora ─ papai disse calmamente. ─ Nós vamos terminar este jantar como uma família. ─ Já cansei das suas besteiras. ─ Romilly jogou o guardanapo sobre a mesa, empurrando a cadeira para trás. ─ E chega dessa merda de farsa. ─ Sente-se ─ papai ordenou em voz baixa. Eu sabia que isso significava problemas. Ele sempre ficava calmo e assustador antes de virar totalmente. ─ Termine seu jantar. ─ Não, acho que não ─ cuspiu minha irmã. ─ Acho que estou cheia. ─ Eu não entrei em Eastvale ─ falei de repente. Todo mundo ficou parado. Foi um momento congelado no tempo, e fechei os olhos com força, desejando não ter dito nada. Mas agora já era. Sem mais mentiras, sem mais fugas. Eu mantive meus olhos fechados enquanto prosseguia. ─ Descobri há alguns dias. Milo Earnshaw entrou, não eu. Eles só aceitam um aluno de Wildwood. ─ Eles aceitaram Crispin Dalton e Tinsley Sullivan no ano passado ─ disse o papai. ─ Foi pontual ─ consegui. ─ Quero dizer, eles são as malditas celebridades. Seu punho caiu sobre a mesa, sacudindo os talheres e fazendo todos nós pularmos. ─ Inaceitável, Estella. Completamente, totalmente inaceitável. Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu me senti tão sozinha, tão humilhada. ─ Eu sei ─ eu sussurrei. ─ Eu juro que dei o meu melhor. Não tenho ideia do que aconteceu. Você sabe que eu trabalhei naquela redação noite e dia.
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─ Não basta ─ disse-me o pai, friamente. ─ Obviamente. Não. Foi. Suficiente. ─ Não ousei olhar para ele. Esta foi possivelmente a forma mais irritada que eu já o vi, e já o tinha visto muito louco antes. Ele esfregou a ponta do nariz, fechando os olhos enquanto prosseguia. ─ Obviamente, você está de castigo. E teremos uma longa conversa sobre o modo como você tem se apresentado. Agora vá para o seu quarto e espere por mim lá. A pele na parte de trás do meu pescoço formigou e eu assenti, prendendo a respiração quando me levantei. ─ Espere. ─ Romilly falou, e eu silenciosamente desejei que ela parasse, sabendo que isso só poderia piorar daqui em diante. ─ Não é culpa dela que ela não tenha entrado! Você deveria confortá-la, não a fazer se sentir uma porcaria por isso. ─ Ela veio para ficar ao meu lado, me puxando para seu abraço, mas meu corpo estava rígido contra o dela. ─ Você está tratando-a horrivelmente. Ela tem dezessete anos, papai! Ninguém merece isso. Queria soluçar contra ela, mas me forcei a segurar tudo, caso contrário, sabia que estaria com mais problemas ainda. ─ Não fique no meio disso ─ disse o papai, apontando para a mamãe levá-la para fora. ─ Estella, seu quarto. Agora. A menos que você queira que as duas vejam isso. Eu não precisava ser informada duas vezes. Correndo para fora da sala de jantar, subi as escadas, dois degraus de cada vez até chegar ao meu quarto. Meu corpo inteiro tremia quando ouvi seus passos pesados atrás de mim. A porta se fechou com um rangido sinistro e eu me virei para encarar o papai, chorando. ─ Papa, me desculpe, eu... O golpe veio do nada. A primeira vez que ele me bateu. Eu temia isso a maior parte da minha vida, e agora estava finalmente aqui, a
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lembrança permanentemente gravada em minha mente e significava que nunca mais confiaria em um homem. ─ Papa! ─ Eu gritei, um soluço pesado forçando a saída do meu peito. ─ Cale a boca ─ ele rosnou para mim, esfregando a palma da mão enquanto eu tropeçava para trás. ─ Eu não quero ouvir outra palavra sua. Você está de castigo até eu dizer o contrário. Se eu te pegar saindo furtivamente, uma surra, que você praticamente está implorando, será o menor dos seus problemas. ─ Meus dentes bateram e eu o vi recuar, sentindo-me mal do estômago. ─ Ah, e outra coisa. ─ Ele permaneceu com a mão na maçaneta da porta. ─ Você não tem permissão para usar maquiagem no futuro próximo. Ele fechou a porta calmamente, e uma parte de mim desejou que ele a batesse. Pelo menos então eu saberia que ele estava liberando sua raiva em um objeto inanimado em vez de um membro da família. Amassei-me em uma bola ao pé da minha cama. Eu ainda estava tremendo por toda parte e tive que me arrastar para o meu esconderijo embaixo das tábuas do chão. Olhando continuamente para a porta para me certificar de que ele não estava assistindo; Peguei o quadro do chão e peguei meu telefone secreto do compartimento escondido. Coloquei-o ao meu lado, sentada na frente da minha penteadeira, examinando a mancha vermelha brilhante na minha bochecha. Depois, peguei o pó compacto na superfície branca e cobri cuidadosamente a pele latejante. Eu tinha a sensação de que o papai não me oporia usando esse tipo de maquiagem. Era para salvar sua bunda, de qualquer maneira. Pronto. Ninguém jamais será capaz de dizer nada agora. Eu olhei para o meu reflexo perfeito no espelho quando ouvi os gritos flutuando do andar de baixo. Toquei as pontas dos dedos no meu rosto já
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machucado, sentindo o calor emanando de baixo. E eu disse a mim mesma que tinha tido sorte. Pelo menos ele não era tão horrível comigo quanto ele era com mamãe.
Deitada na minha cama, virei de bruços enquanto examinava os números salvos no meu telefone antigo. As pontas dos meus dedos hesitaram sobre o número de Pandora. Eu nunca tentei ligar para ela desde que ela desapareceu anos atrás. Apertei o botão de chamada. Antes do primeiro toque, eu encerrei a ligação. Eu gemi, esfregando meus olhos sem maquiagem e caindo nas minhas costas. O lustre no meu teto brilhava na escuridão. Estou sozinha, percebi com um sobressalto. Ninguém me conhece mais. Eu até empurrei Tinsley para longe... Mais uma vez, peguei meu telefone, meus dedos digitando uma nova mensagem. Ei, querido. Ugh, meu pai me castigou de novo:( Você quer entrar furtivamente pela janela?) Aguardei ansiosamente sua resposta, meu coração batendo tão rápido que pensei que atravessaria meu peito. Por favor escreva de volta. Por favor, escreva de volta agora mesmo. Meu telefone permaneceu silencioso e suspirei antes de colocar alguma música no meu laptop. Um som suave e frio encheu meu quarto e eu balancei meus quadris ao som da música. Nesse momento, meu telefone começou a tocar. Eu pulei de
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volta
para
ele,
agarrando-o
com
minhas
mãos
impacientes
e
empalidecendo quando vi o identificador de chamadas piscando na tela. Pandora Amberly. Eu desliguei a ligação, sentindo a bile subir na minha garganta. Um momento depois, a resposta à minha mensagem de texto chegou. Desculpe, eu não quero arriscar minha vida, caso eu encontre seu pai ... LOL Revirei os olhos, meu lábio inferior tremendo enquanto digitava outro texto e o enviava. Eu me forcei a não pensar na situação de Pandora. Certamente eu apenas a imaginei ligando de volta. Algo ruim aconteceu. Eu esperei menos de um minuto antes da resposta chegar. O que aconteceu? Você pode vir aqui? Eu mandei uma mensagem de volta. Sim. Alguém vai me deixar entrar? Mordi meu lábio inferior, escrevendo de volta. Diga a eles que é sobre Eastvale ou algo assim. Peguei um roupão fúcsia fofo da prateleira do meu banheiro de mármore rosa, me envolvendo no tecido reconfortante. Eu não estava de forma alguma vestida para visitantes, meu rosto sem maquiagem, cabelo selvagem e uma tira de poro no nariz, mas não me importei. Eu precisava de algo, alguém. Eu precisava lembrar que não estava sozinha no mundo. E havia apenas uma pessoa que já me fez sentir como se eu pertencesse. Demorou cerca de trinta minutos para ouvir a campainha. Eu me preparei para o pior, papai meio convencido, que também o socaria, mas
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ouvi a voz de Milo e as risadas de papai um momento depois. E então veio a batida na porta, após a qual se abriu sem esperar pela minha resposta. Mal tive tempo de enfiar meu telefone de reposição debaixo dos travesseiros. ─ Estella ─ papai disse, apontando para a porta. ─ Seu amigo Milo está aqui com algumas informações sobre a faculdade que você vai. ─ Eu não entrei, papai ─ murmurei. ─ Bem, de acordo com Milo, tudo isso pode mudar. ─ Papai disse, seu rosto sem emoção. ─ Vou deixar vocês dois discutirem isso. Milo, por favor, saia em 25 minutos. ─ Claro, senhor ─ Milo sorriu, entrando no meu quarto e empurrando os óculos de armação grossa pela ponta do nariz. ─ Vou me certificar de ser rápido. ─ Obrigado. ─ Papai bateu nas costas dele. ─ O mundo precisa de mais jovens como você, Milo Earnshaw. Ele se afastou e Milo olhou por cima do ombro, esperando-o sair antes de vir em minha direção. Eu balancei a cabeça, acenando com a cabeça para ele me seguir até a área de estar no meu quarto. ─ Você está bem? ─ ele perguntou no momento em que nos sentamos no sofá rosa. ─ Você disse a eles que não entrou? ─ Sim ─ eu murmurei, e a primeira lágrima escorreu pela minha bochecha. Eu olhei para minhas mãos no meu colo, me odiando por ser tão fraca na frente dele. Jurei para mim mesma que essa lágrima solitária seria a última que Milo Earnshaw veria. ─ Oh, Stells ─ ele murmurou, dando um tapinha desajeitado nas minhas costas. ─ Sinto muito. Eles não aceitaram bem?
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─ Não ─ eu balancei minha cabeça, fungando e me forçando a permanecer fiel ao juramento que fiz a mim mesma. ─ Não muito bem. ─ Você tentou chamar o Natan? ─ ele perguntou suavemente, e eu olhei para ele, raiva brilhando nos meus olhos. ─ Eu tentei. Ele não viria. ─ Antes ou depois de mim? ─ ele exigiu, e eu empalideci sob seu olhar minucioso. ─ Entendo. Talvez eu deva ir. Já que nem fui sua primeira escolha. Ele se levantou, mas eu me levantei para detê-lo, meus dedos envolvendo seu blazer. ─ Não vá. ─ Você está chorando. ─ Ele estendeu a mão, enxugando a lágrima do meu olho, e eu não pude deixar de estremecer quando ele me tocou, um tremor que eu ainda não entendia, viajou para a boca do estômago. ─ Por que você estremeceu? ─ Eu não... ─ Sim, você estremeceu. ─ Ele estava olhando, me forçando a sentar novamente. Ele examinou a mão dele. ─ Por que você está usando maquiagem se está usando esse adesivo de nariz? ─ Não... ─ Minha voz estava trêmula, e eu esperava que ele não sondasse mais. Ele estendeu a mão para mim novamente, e eu levantei minhas mãos como se para impedi-lo de me bater. Firmemente, o polegar e o indicador apontaram para o meu pulso, e ele tocou a mão livre na minha bochecha novamente, o mais suave possível. Ainda assim, isso me fez estremecer quando ele esfregou minha pele. ─ Puta que pariu.
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─ Shhh. ─ Eu lancei a ele um olhar suplicante. ─ Não diga isso tão alto. ─ Seu pai fez isso? ─ Desviei o olhar, culpada demais para responder. ─ Eu vou matá-lo, porra. ─ Não ─ implorei. ─ Você é o único dos meus amigos que ele não odeia. Preciso da sua ajuda com isso. ─ Você precisa ir à polícia ─ ele murmurou. ─ Ou eu vou levar você embora daqui amarrada, se for preciso. ─ Eu ainda não posso. Ele... ele poderia machucar a mamãe se eu tentasse. ─ Porra. ─ Ele andou pelo quarto, passando as mãos pelos cabelos escuros enquanto eu olhava nervosamente para a porta. ─ Olha, Milo, não temos muito tempo. ─ O que você precisa que eu faça? ─ Ele não conseguia nem olhar para o meu rosto machucado. ─ Apenas fique quieto sobre isso até eu descobrir alguma coisa ─ eu disse. ─ Eu vou ver minha avó amanhã. Talvez ela saiba algo que possa me ajudar... me afastar dele. Você pode vir comigo. ─ OK. ─ Isso o fez sorrir. ─ Eu sinto falta dela. ─ Ela também sente sua falta. ─ Suspirei. ─ Eu não a vejo tantas vezes quanto deveria. ─ Stells, quando... ─ Ele parecia tão preocupado. ─ Quando seu pai começou a fazer isso? Machucar você? Eu olhei para o meu colo novamente. ─ Assim? Hoje foi a primeira vez. De outras formas? Há um tempo atrás.
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─ Por que você não contou a ninguém? ─ ele perguntou. ─ Eu... não consegui. O que você disse a eles sobre Eastvale? Ele olhou para mim, as sobrancelhas unidas. ─ Eu disse a eles que estou desistindo do meu lugar. Por você. ─ Jesus ─ eu murmurei. ─ Isso é loucura, Milo. Como diabos você acha que eles vão reagir quando perceberem que é uma mentira descarada? ─ Mas não é. ─ Ele olhou para mim intensamente. ─ Eu vou desistir. Por você. ─ Por quê? ─ Eu olhei para ele, incrédula. ─ É tudo o que sempre quisemos. ─ Sim. Mas juntos ─ ele me lembrou, e meu estômago revirou. ─ Eu não queria concorrer com você pelo lugar. ─ Você sabe que eles levam apenas uma pessoa por ano. ─ E daí? ─ Ele encolheu os ombros. ─ Crispin e Tinsley entraram juntos. ─ Você deveria ir ─ eu sussurrei. ─ Eu vou. ─ Ele se levantou, me encarando. ─ Pense bem. E mais duas coisas. ─ Sim? ─ Mordi meu lábio em expectativa. ─ Você está realmente bonita assim ─ ele murmurou. ─ O quê? ─ Bonita. Você. Sem maquiagem. Você parece a garota que eu conhecia.
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Corei e rezei para Deus, minha maquiagem também esteja ocultando minha bochecha em chamas. ─ Obrigada. ─ Vejo você na escola. ─ Parecia que ele estava prestes a me abraçar, mas mudou de ideia no último minuto. ─ Ah, a outra coisa, princesa. Se eu descobrir que ele bateu em você de novo, vou machucálo muito. Você promete me dizer se ele o fizer? Seu olhar era tão intenso que me vi assentindo sem querer. ─ Tudo bem. ─ Boa menina. ─ As palavras me deram palpitações no peito. ─ Até logo. Ele saiu do quarto, sorrindo largamente para Mabel que estava passando pela minha porta. Ela olhou para mim, segurando a maçaneta. ─ Hora de dormir, Srta. Estella. ─ Boa noite ─ eu sussurrei atordoada. ─ Até mais tarde, xequemate.
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9 DATA: 8 DE SETEMBRO DE 2019 – 10H LOCAL: CASA
DA
ESTELLA
ESTELLA
Não demorou muito para o papai me deixar ir visitar a abuelita3. Eu até consegui convencê-lo de que Milo deveria me levar. Eu pensei que papai parecia um pouco arrependido pela noite anterior, mas até agora, ele não pediu desculpas ou mencionou o que aconteceu nenhuma vez. Meu pai ligou para o próprio Milo, providenciando para que meu amigo me pegasse às 10 horas da manhã. Naquela manhã, Milo chegou no horário, pintando um sorriso no rosto estrito do meu pai. Eles apertaram as mãos enquanto eu corria para fora de casa, carregando minha bolsa e um buquê de flores que eu tinha colhido em nosso jardim. Havia um arbusto de peônia no quintal que vinha da propriedade da abuelita no México. Era praticamente a única coisa que guardávamos desde que papai havia mudado nosso sobrenome. ─ Ah, aqui está ela agora — papai disse quando cheguei à entrada da garagem. ─ Certifique-se de trazê-la de volta para o almoço, Milo. Absolutamente nenhum desvio é permitido, como eu disse. Quero-a em casa na hora. Vejo você mais tarde. Eu cerrei os dentes, odiando o fato de que ele falou sobre mim como se eu não estivesse lá. Mas não disse nada, apenas engoli meu orgulho e entrei no carro ao lado de Milo, que ofereceu um sorriso amigável ao meu pai antes de buzinar duas vezes e sair da garagem. Uma música suave
3
Vó em espanhol.
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estava tocando no rádio quando começamos a dirigir para o nosso destino, mas nenhum de nós disse uma palavra. ─ Estaremos lá em cerca de uma hora ─ Milo me disse enquanto encostava na estrada. ─ Duvido que tenhamos tempo para fazer outra parada. O caminho para lá e o de volta será de duas horas, pelo menos, e isso sem complicações. E temos talvez uma ou duas horas lá. ─ OK. ─ Minha voz era suave enquanto eu examinava minhas unhas rosa pastel. ─ Obrigada por fazer isso, a propósito. ─ Não tem problema nenhum. ─ Você não precisava ─ eu murmurei sem olhar para cima. ─ Hã? ─ Eu disse que você não precisava me levar. Eu poderia ter pego nosso motorista para me levar. ─ Bem, eu não queria que você fizesse isso ─ ele respondeu com firmeza. ─ Além disso, eu não vejo sua abuelita há anos. Desde que ela viveu com vocês. Há quanto tempo ela mora em Maple Woods agora? ─ Provavelmente, uns cinco anos ─ eu murmurei. ─ Eu acho que Pandora ainda estava por perto quando ela se mudou. Ele assentiu, colocando o rádio mais alto. Eu não tinha certeza se interpretara sua jogada como ele querendo que eu calasse a boca, mas ele falou sozinho. ─ Espero que ela ainda se lembre de mim. Quantos anos ela tem agora? ─ Setenta e dois ─ eu ri. ─ E eu tenho certeza que ela vai. Ela tem uma ótima memória. ─ Por que ela está no asilo?
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Eu olhei para ele pelo canto do olho. ─ O que você quer dizer? ─ Quero dizer, por que ela não mora com vocês? ─ Foi uma decisão do papai. ─ E nenhuma de vocês discutiu com ele sobre isso? ─ Não. ─ Eu cerrei os dentes. ─ Acho que nós dois sabemos o quão bem isso teria sido. Ele chegou até mim, apertando minha mão enquanto murmurava: ─ Você está certa, me desculpe. Eu não deveria ter mencionado isso. Me ignore. Eu gostaria de poder te ignorar, pensei miseravelmente. Mas há algo em você que me faz sentir tonta e como se eu precisasse muito mais do que você está disposto a me dar. Dirigimos em silêncio por um tempo até a cidade que nos cercava ficar mais e mais distante, e o mar aparecer à nossa esquerda. Eu sorri para mim mesma. Eu sempre amei o caminho para Maple Woods. Eu não fui lá o suficiente ─ não porque não queria, mas porque o papai nos disse que a abuelita estava cansada demais para lidar conosco todo fim de semana. Era uma mudança com a qual eu ainda estava me adaptando, já que minha avó morava na mesma casa que nós desde que eu era bebê. Senti falta dela e fiquei grata pela oportunidade de vê-la novamente. ─ Seu machucado ainda está doendo? Toquei as pontas dos dedos na carne inchada sob os olhos. ─ Não está tão ruim agora. ─ Você contou a mais alguém sobre o que aconteceu? ─ ele perguntou.
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─ Não. ─ Nem Natan? Mordi meu lábio inferior, balançando a cabeça que não. ─ Eu... eu não pude. ─ Compreendo. ─ Eu desejei que ele pegasse minha mão novamente, mas ele não o fez. ─ Eu também não contei a ninguém, mas isso vai mudar se eu o vir machucá-la novamente. ─ Ok ─ eu murmurei fracamente. ─ Precisamos encontrar uma maneira de tirá-la dessa casa. Eastvale teria sido perfeito. Por que seu pai estava envolvido com isso, afinal? Pensei que ele gostaria de ficar de olho em você. ─ Ele quer ─ estremeci. ─ Ele só gosta da ideia de Eastvale porque é sua alma mater4. Mas confie em mim, ele ficaria de olho em mim. ─ Isso não é bom, então. Temos que encontrar uma maneira de você ficar em segurança naquela casa. Mas acho que nenhuma de vocês deve ficar lá mais tempo do que o necessário. ─ Ele me olhou pelo canto dos olhos. ─ Você é a única em quem ele bate? Minhas mãos formaram punhos ao meu lado, uma observação defensiva pronta para irromper pelos meus lábios. Mas me forcei a engolir a resposta sarcástica. Tudo o que eu consegui na sua ausência foi balançar a cabeça. ─ Romilly? ─ Milo perguntou. ─ Não por enquanto.
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Eles usam está frase em latim como significado de que por ele ter se formado nesta faculdade, quer que seus filhos sigam seu caminho na mesma instituição.
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─ Sua mãe? ─ Eu balancei minha cabeça. ─ Ele ameaçou fazer isso? Com que frequência? ─ Eu não sei ─ eu murmurei. ─ Mais frequentemente agora do que ele costumava. ─ Ele está batendo nela há um tempo? O que significa um tempo? Eu o questionei silenciosamente. Nunca houve um tempo em que ele não a batesse. ─ Eu acho. ─ Estella, isso é importante ─ ele insistiu. ─ Você precisa me dizer a verdade ou eu nunca serei capaz de ajudá-la. Eu preciso conhecer os detalhes para que eu possa... Stells? Eu olhei para ele para vê-lo olhando para os meus dedos. Eles estavam brancos como neve pela forma que eu estava segurando na minha bolsa. Prometi a mim mesma que não choraria na frente dele, mas isso não era muito melhor. Eu estava a segundos de hiperventilar. ─ Estou bem ─ eu disse no piloto automático. ─ Está tudo bem. ─ Estou encostando. ─ O quê? Não, não chegaremos a tempo. ─ Eu olhei para ele quando ele virou à esquerda, puxando para a praia. ─ Milo, não. Não temos tempo para isso. ─ Faça o que eu digo ─ ele me disse, estacionando o carro em um local improvisado no cascalho. ─ Saia do carro. ─ O quê, aqui? ─ Eu olhei para ele, cruzando os braços no banco do passageiro. ─ No meio do nada? ─ Sim. Agora.
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Fiz o que ele disse, mas nem tentei esconder o quanto estava com raiva, batendo a porta do passageiro do carro. Não havia nada ao nosso redor, a não ser a rodovia, quilômetros de areia e mar, com gaivotas cruzando acima de nós. ─ Que diabos, Milo? O que você está tentando fazer, me matar aqui fora? ─ Eu preciso que você faça algo por mim. ─ Ele veio ficar ao meu lado, suas mãos descansando em meus ombros e arrepiando minha espinha. Finja que nada aconteceu. Finja que isso não afeta você. ─ O que você quer que eu faça? ─ Grite. ─ Ele sorriu. ─ Gritar? ─ Sim. ─ Ele apontou para o mar e a estrada. ─ Ninguém vai se importar ou até ouvir você por aqui. ─ Por que eu faria isso? ─ Confie em mim, será bom. Deixe tudo sair. ─ Isso é ridículo ─ eu ri nervosamente. ─ Eu não vou apenas gritar para... ─ Grite, Estella. Eu dei a ele um olhar duvidoso antes de chutar a areia e instantaneamente me arrependo da minha decisão quando meus pés se encheram de pequenos grãos dourados. ─ Ugh, tanto faz, Milo. ─ Você quer que eu faça você fazer? ─ Ele ergueu as sobrancelhas para mim e eu engoli em seco. ─ Podemos ir se eu fizer? ─ Revirei os olhos.
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─ Claro. ─ Bem. ─ Eu continuei olhando, limpando a garganta antes de soltar um gritinho. Não estava nem perto do que eu realmente queria fazer, mas eu precisava ficar elegante na frente dele. Eu era uma dama, não uma garota selvagem que gritava ao vento em uma praia abandonada. ─ Isso é o melhor que você pode fazer? ─ Milo sorriu para mim antes de segurar sua boca e gritar o mais alto que pôde, me fazendo gemer de vergonha. ─ Alguém vai pensar que você está me matando aqui ─ eu disse a ele. ─ Apenas faça isso, princesa. Algo na maneira como ele disse me fez reconsiderar. Eu dei a ele outro olhar duvidoso antes de gritar um pouco mais alto. Com outro olhar para ele, revelou um enorme sorriso no rosto. Eu gritei novamente. ─ Lindo garota ─ MIio gritou. ─ Mais uma vez, juntos. Ele pegou minha mão, seus dedos entrelaçados com os meus, e nós dois respiramos fundo antes de gritar com o mar se chocando contra a costa. Minha voz estava ficando áspera, mas de repente eu não conseguia parar. Eu gritei e gritei até não ter mais voz. Milo me observou e, quando comecei a tremer, ele me puxou para um abraço. Eu queria me deixar desmoronar em seus braços como se não quisesse mais nada na vida. Mas não consegui me forçar a deixá-lo ver essa parte crua de mim. ─ Obrigada — eu sussurrei trêmula. ─ De nada, Stells.
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Ele me guiou de volta para o carro, prendeu-me com o cinto de segurança e colocou uma música do rádio do carro antigo. Nós não falamos uma palavra pelo resto do caminho até Maple Woods, mas o silêncio foi fácil, agradável. E por todo o caminho até lá, a mão esquerda de Milo repousou no volante, mas a direita cobriu minha mão trêmula no meu colo.
─ Estrellita! Eu sorri largamente, correndo em direção à minha avó quando ela se levantou da poltrona com estampa floral. Maple Woods era ainda mais sombrio do que eu lembrava. Por alguma razão, eu pensei que era uma instituição de alto nível, um lugar que deixou a abuelita feliz e a manteve ocupada, mas, em vez disso, era deprimente, com funcionários de aparência irritada e móveis antigos. ─ É tão bom ver você, abuela, ─ eu disse a ela honestamente. ─ Eu sei que faz tanto tempo. Ela acenou a mão com desdém, como se isso não importasse. ─ Estou tão feliz que você está aqui. E quem é esse jovem bonito que você trouxe com você? ─ Olá, señora Hernandez ─ sorriu Milo. ─ Eu não sei se você se lembra de mim... eu costumava visitar Estella o tempo todo. Meu nome é Milo Earnshaw. ─ Milo! ─ ela parecia quase mais satisfeita em vê-lo do que eu. ─ Eu não acredito! ─ Ele foi apertar a mão dela, mas ela não aceitou isso e foi puxando-o para um abraço rápido. Milo riu e eu reprimi uma risadinha quando abuela piscou para mim por cima do ombro. ─ Vamos,
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vamos para a marquise. É o lugar mais bonito nesta casa oprimida. Podemos conversar sobre tudo lá. Venga, venga! Fomos até a marquise, que estava tão vazia quanto o resto da casa. Eu me perguntava se eles tinham alguma equipe disponível para garantir que os moradores fossem atendidos. ─ Devo dizer que não esperava outro visitante logo depois da última vez ─ continuou abuela. ─ Você sabe que alguém veio me ver, não é? ─ Papai? ─ Eu perguntei, franzindo as sobrancelhas. ─ Eu teria vindo com ele se soubesse que ele estava vindo. ─ Não, boba ─ ela riu, apontando entre Milo e eu. ─ Havia três de vocês, não? Milo, você e a outra garota. Milo e eu trocamos olhares. Eu me perguntei se eu parecia tão pálida quanto ele antes de virar o rosto para abuelita novamente. ─ Qual outra garota, avó? ─ Pandora, não era? ─ Ela sorriu inocentemente, obviamente não percebendo o que suas palavras estavam fazendo com nós dois. ─ Ela veio me ver há apenas algumas semanas. Uma garota tão legal. Estou tão feliz que ela teve tempo para me fazer uma visita. ─ Ela deu um tapinha na minha mão. ─ Eu sei que você gostaria de vir mais vezes também, querida. Se não fosse pelo seu pai. ─ Eu... ─ eu engoli. O quarto estava abafado ou eu estava imaginando? Parecia que alguém sugou todo o ar, deixando-me sem fôlego. ─ É bom que ela tenha vindo visitar, vovó. Me desculpe, por eu não ter vindo por tanto tempo. ─ Oh, Cariño, eu entendo completamente -abuela sorriu. ─ Eu sei que seu pai pode ser um pouco... superprotetor.
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─ Señora Hernandez, é por isso que estamos aqui ─ saltou Milo, oferecendo-me um sorriso calmante. ─ Posso contar a ela o que aconteceu, Stells? ─ O-Ok ─ eu gaguejei, corando e olhando para longe. ─ O que é isso na sua bochecha, mija? ─ abuela perguntou imediatamente, e eu me senti corar. Ela sempre teve um olho de águia para os detalhes. ─ Ele... ─ As palavras dela sumiram, mas Milo foi rápido em falar. ─ Infelizmente, parece que o Sr. Hawthorne está perdendo o controle ─ ele murmurou. ─ Eu queria que viéssemos vê-la hoje para ver se você tinha algum conselho. Minha avó olhou para as mãos no colo. Foi só então que eu notei que elas estavam tremendo, apenas por alguns segundos até que elas agarraram seu vestido. ─ Eu disse a ele que tudo acabaria quando isso acontecesse. ─ O que você quer dizer? ─ Milo perguntou gentilmente. ─ Eu disse a ele que ele nunca deveria bater em vocês meninas — abuela balançou a cabeça em descrença. ─ Eu sabia da sua mãe. Como eu podia não saber, vivendo sob o seu teto? É por isso que ele me mudou para cá, Estella. Então, eu ficaria fora dos negócios dele. ─ Mas abuela... ─ comecei. ─ Ele é seu filho. Você não acha que ele te ama? Não foi... a melhor decisão? ─ Olhe em volta, mijita — abuela riu. ─ Este lugar está desmoronando. Teria sido melhor viver sozinha, mas ele me fez assinar um documento que o torna responsável por mim. Eu nem li, apenas assinei. Porque confiava nele, Estella. Assim como você.
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A mão de Milo esfregou círculos nas minhas costas, o único local onde a dormência não havia tomado conta. Eu não podia acreditar nisso. Papai havia se aproveitado da abuela da pior maneira possível, e não apenas isso ─ ele propositalmente nos mantinha separadas. ─ Me desculpe, eu não imaginava. ─ Eu sussurrei, corando de vergonha. ─ Não é sua culpa, corazon ─ abuelita bateu na minha mão. ─ Ele escondeu de você. Esse garoto tem sido um ovo ruim desde o começo. Eu não deveria dizer isso, mas é verdade. ─ O que posso fazer para ajudar? ─ Milo perguntou. ─ Eu tenho dinheiro. Eu posso ajudar Estella, sua mãe e irmã a sair de lá, não posso? Ela balançou a cabeça. ─ Eu acho que ele nunca vai deixar você fazer isso, jovem. ─ Tem que haver um jeito. ─ A urgência em minha própria voz me surpreendeu. ─ Quero nos afastar dele, abuela. E também quero tirar você daqui. ─ Existe algo que você possa pensar que seria útil? ─ Milo insistiu. ─ Até a menor coisa que você ouviu ou pensou... Isso poderia nos ajudar. ─ Bem, houve um telefonema... ─ Ela bateu um dedo no queixo, balançando a cabeça. ─ Não, tenho certeza que não é nada. Ele não faria isso. ─ Fazer o quê? ─ A voz de Milo era gentil, mas firme, e abuela deulhe um longo olhar antes de suspirar e falar. ─ Um homem ligou para ele quando ele me visitou meses atrás. ─ Um homem? ─ Milo a encorajou.
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─ Um Sr. Jenkins. ─ Esse é o gerente de fundos do Angels of Hope ─ murmurei enquanto Milo me lançou um olhar confuso. ─ Ele é o cara que administra a caridade do pai para crianças. ─ Ok ─ Milo assentiu. ─ O que você ouviu, Señora Hernandez? ─ Ele falou com o homem sobre os contratos ─ disse abuela. ─ Que eles se tornarão válidos em alguns meses e ele finalmente terá acesso ao dinheiro. ─ Que dinheiro? ─ Eu questionei. ─ Eu não sei — abuela encolheu os ombros se desculpando. ─ Algo sobre ativos se tornarem acessíveis. ─ Como funciona a caridade do seu pai, Estella? ─ Milo perguntou. ─ Eu... eu sei que é para crianças aprendendo braile ─ eu disse. ─ Papa coleta dinheiro durante seus sermões, em seu site, em todas as aparições na mídia que ele faz. ─ Como funciona a coleta de dinheiro? ─ É uma dedução mensal da conta bancária do cliente ─ eu sussurrei. ─ E o dinheiro que ele teria acesso em alguns meses? ─ A única coisa que consigo pensar... ─ Mordi meu lábio inferior enquanto eles me observavam com expectativa. ─ O aniversário anual dos Angels of Hope está chegando. Talvez o papai tenha acesso ao dinheiro que essas pessoas doaram? ─ Como o dinheiro é gasto? ─ Milo perguntou.
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─ Eu posso responder a isso ─ respondeu abuela orgulhosamente. ─ Meu filho doa os procedimentos para países do terceiro mundo, para a construção de escolas e hospitais. ─ Ele está planejando um grande projeto para este inverno? ─ Milo dirigiu sua pergunta para mim. ─ Indo a algum lugar para ajudar? ─ Não este ano ─ expliquei. ─ Próximo ano. ─ Então, por que importa que o dinheiro esteja acessível agora? ─ ele perguntou. ─ Não sei ─ eu disse. ─ A menos que... ─ Ele olhou para baixo, incrédulo. ─ A menos que ele esteja planejando gastá-lo com outra coisa. ─ Ele nunca usaria esse dinheiro para si ─ disse abuela, com a voz embargada pelas palavras. ─ Eu pensei que ele nunca iria me bater ─ eu consegui dizer. ─ Acho que sempre há uma primeira vez para tudo. Ficamos ali sentados em um silêncio miserável antes de abuela respirar fundo, dizendo: ─ Eu não sei sobre vocês dois, mas eu poderia fazer isso com uma dose de tequila! ─ Abuela ─ eu ri. ─ Você não está tomando medicação? ─ Claro que não ─ disse ela. ─ Estou tão saudável como deve ser. Agora, deixe-me mostrar uma coisa. Ela se levantou, ajeitou o vestido floral e foi até o armário. Ela procurou até pegar uma pequena garrafa e uma xícara de café. ─ Tequila em uma casa de repouso ─ Milo sorriu. ─ Eu gosto disso.
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Abuela riu enquanto se servia de uma dose pesada. ─ Nada para você, você é muito jovem. Eu sufoquei o riso quando ela bebeu o dobro de tequila e o colocou de volta no armário, cruzando os braços. ─ Aqui está o que vocês devem fazer, mijos. Vocês devem descobrir mais sobre esse negócio dos Angels of Hope. Você me liga, e nós criamos um plano. Eu quero sair daqui. ─ Pode deixar, abuela ─ eu disse a ela. ─ Nós vamos trabalhar nisso. Eu prometo. E obrigado por nos ajudar. ─ Claro ─ ela assentiu gravemente. ─ Por favor, me avise quando algo novo acontecer. Ninguém nunca me diz nada. ─ Eu mesmo vou trazer Estella aqui ─ prometeu Milo. ─ Assim que tivermos boas notícias. ─ Obrigada, Milo. ─ Eu estava imaginando, ou estava abuelita... flertando com Milo? ─ Você cresceu e se tornou um jovem maravilhoso... Bonito também, não é, Estrellita? ─ Abuela ... ─ eu assobiei um aviso, mal segurando uma risada. ─ Shhh. ─ É a verdade ─ disse ela. ─ Vocês dois são um casal tão bonito. Muy guapo. ─ Ela piscou para mim. ─ Oh, nós não somos um casal. ─ Eu ri alto. ─ Milo é bom demais para alguém como eu. ─ Bom demais? ─ ele levantou uma sobrancelha para mim. ─ Milo é um esnobe, abuelita ─ eu ri. ─ Ele nunca me tocaria. ─ Eu senti o silêncio gelado vindo dele, e eu sabia que tinha ferrado as coisas.
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─ Se você diz — abuela olhou entre nós. ─ Mas eu conheço um casal apaixonado quando vejo um. Vejo vocês em breve, espero? ─ Claro. ─ Eu balancei a cabeça, abraçando-a com força. Depois que nos despedimos, Milo e eu fomos para o carro. Ele não disse uma palavra, mantendo teimosamente suas respostas para sim ou não, mesmo quando eu fazia perguntas. Eu o irritei durante toda a volta para casa, mas ele não quis falar comigo. Foi a viagem mais longa de todas. Finalmente, desistindo na metade do caminho, eu estava fazendo beicinho quando paramos em frente à minha garagem. ─ Você não precisa vir comigo ─ eu disse a ele quando ele destravou o carro. ─ Eu quero ter certeza de que você não escape novamente ─ ele murmurou sem encontrar meus olhos. ─ Ou seu pai vai me culpar. ─ Milo, me desculpe pelo que disse. ─ O que? ─ Ele olhou quando saímos, caminhando até a porta. ─ É o que você pensa, não é? Dei de ombros. ─ Você acha que eu tenho medo de tocar em você? ─ Suas palavras eram quase inaudíveis, saindo em um rosnado ameaçador. ─ Eu segurei sua mão. ─ Você nunca faria mais do que isso. ─ Cruzei os braços defensivamente na frente do meu corpo. ─ Você nem olha para mim. ─ Fico triste em olhar para você. ─ Suas palavras fizeram meu coração afundar. ─ Fico triste ao ver o que não posso ter. ─ E assim, meu coração saltou de volta, ameaçando me sufocar no processo.
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─ Você não pode dizer esse tipo de coisa. ─ Você não acha que eu sei disso? ─ Ele deu um passo mais perto, me fazendo ir para trás até eu bater na parede, minhas costas pressionadas contra ela firmemente. ─ Você não sabe o quanto eu tento, para não escorregar? Dizer algo estúpido? ─ Algo estúpido como o quê? ─ Eu sussurrei. ─ Tipo eu já estou cheio de salvá-la ─ ele sussurrou, prendendo meu corpo sob seus braços enquanto colocava as palmas das mãos na parede de cada lado da minha cabeça. ─ Tipo que eu estou cheio de fazer coisas que o meu irmão deveria estar fazendo. E você me pede para fazer as coisas, não a ele. É estúpido. ─ Muito estúpido. ─ Minha voz estava ofegante, meu corpo desesperado para pressionar o dele. ─ Eu ainda acho que você está com medo. ─ Eu sabia exatamente o que estava fazendo. Milo Earnshaw me deu a dica ─ e foi exatamente isso que me colocou um passo à frente quando jogamos xadrez. E agora, foi a dica que me disse que eu o estava pressionando, o levando ao limite, e ele estava prestes a explodir. O canto de sua boca puxou para o lado, e eu sabia que ele estava se segurando, como antes de um grande movimento no xadrez. ─ O quê, você está dizendo que não está? Você fala de um grande jogo, mas não... ─ Antes que eu pudesse terminar, sua mão firme envolveu minha garganta. Seu toque era suave, mas firme, e ele me prendeu enquanto eu lutava para recuperar o fôlego do choque de suas ações. ─ Você estava dizendo? ─ ele trincou entre dentes. ─ Covarde ─ eu cuspi, desesperada por mais. Eu sabia exatamente o que estava fazendo. Eu sabia tudo o que Milo tentava esconder dos outros. Eu era sua amiga mais antiga, afinal. ─ Você está apenas tentando me intimidar.
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─ Você está intimidada? ─ ele perguntou, inclinando-se para mais perto. Minha respiração ficou presa na garganta quando percebi que ele estava prestes a me beijar, mas seus lábios nunca tocaram os meus. Em vez disso, eles permaneceram acima dos meus lábios, enchendo meu nariz com o cheiro do chiclete. ─ Você está com medo que eu faça isso, Estella? ─ Eu balancei minha cabeça, impotente, quando suas mãos deixaram meu pescoço, deslizando sobre meus braços, até meus quadris, através das minhas curvas e finalmente se estabelecendo na parte externa das minhas coxas. ─ Você está tão desesperada por mais. ─ Não estou ─ eu falei. ─ Talvez, se você parasse de mentir, eu realmente te desse o que você precisa desesperadamente. ─ Eu não preciso de você. ─ E é por isso que você não pode ter mais, sua pequena mentirosa. ─ Eu sabia que ele iria recuar, mas não podia deixá-lo fazer isso. O pensamento de perdê-lo, seu toque, me fez sentir mal. Eu queria mais. Todo o resto desapareceu no fundo. Os problemas em casa, Natan, Pandora. Tudo se transformou em ruído branco quando eu olhei nos olhos de Milo. ─ Não me deixe solta. ─ Eu não admitiria que essas palavras tinham saído dos meus lábios. Mas reconheci minha própria voz desesperada quando a ouvi. ─ Não me tente. ─ Ele puxou meu cabelo, puxando minha cabeça para o lado, perigosamente perto de seus lábios abertos. Eu podia sentir seu hálito frio contra meus lábios. Eu quase podia provar o chiclete. Mas ele nunca diminuiu a distância entre nós. ─ Me escolha. ─ O quê?
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─ Escolha-me ─ ele repetiu. ─ Por que você está com Nate? Você sabe que não pertence a ele. Vou te dar tudo o que você quiser. ─ Você irá? ─ Era uma fantasia, uma fantasia doentia e distorcida que fazia meus joelhos fracos e minha cabeça enevoada. ─ Você promete? Ele não respondeu. Em vez disso, ele gentilmente passou o braço em volta dos meus quadris e me puxou contra ele. O primeiro toque de seus lábios nos meus foi um choque, despertando uma necessidade profunda dentro de mim que ameaçava me matar com sua intensidade. Murmurei contra seus lábios, mas ele me calou, me beijando profundamente. Meu coração estava batendo, alarmes soando na minha cabeça enquanto ele aprofundava o beijo, reivindicando o que ele pensava ser dele. Eu deveria ter me afastado, e ele nunca deveria ter me beijado. Mas nenhum de nós parou. Finalmente, um movimento do outro lado da porta fez nós nos separarmos. Desviei o olhar com culpa, sentindo Milo me encarando. As faíscas ainda estavam voando e fogos de artifício disparavam na boca do meu estômago. ─ Eu vou desistir do meu lugar em Eastvale ─ ele sussurrou. ─ E eu serei tudo para você, porque você já é minha... ─ Eu não quero seu lugar. ─ Eu usei toda a minha força para afastá-lo, olhando para ele. ─ Por que você acha que eu preciso da sua caridade? ─ O quê? ─ Ele olhou para mim, obviamente confuso. ─ Eu só estou tentando lhe dar o que você quer, princesa. ─ Eu te disse. Não me chame assim. Eu não gosto mais disso.
BETTI ROSEWOOD
Eu sabia que o machucara antes que seus olhos se tornassem duros e cruéis. Mas eu ainda não esperava que as palavras que ele diria a seguir fossem tão profundas quanto foram. ─ Tudo bem. Sabe, eu nunca acreditei nas pessoas quando me disseram que puta você se transformou. Eu sempre a defendia. Isso termina hoje. ─ Seus olhos estavam cheios de desprezo quando ele se virou. ─ Continue vivendo seu pequeno conto de fadas perfeito. Apenas não me ligue quando tudo desmoronar. ─ Não vai ─ eu gritei enquanto ele se afastava. ─ Você está construindo castelos no ar ─ ele sorriu. ─ O que mais vai acontecer? Ele me deixou ali, fechando a porta firmemente atrás dele. Parecia que o primeiro castelo já havia caído, me fazendo sentir mais vazia do que nunca. Um castelo abaixo... Quantos faltam?
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10 DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 18:47H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD MILO
─ Ei ─ eu chamei meu irmão. ─ Onde está o Finn? ─ Bem aqui. ─ Uma figura vestida com jaqueta de couro apareceu debaixo das arquibancadas, apagando um cigarro no gramado embaixo de suas botas militares cravejadas. ─ Isso é ruim para o gramado ─ Natan gemeu. Finn deu a ele um olhar que dizia, eu não me importo e acendeu outro cigarro. Olhei em volta e passei a mão pelo meu cabelo. ─ Vocês... viram alguém? ─ Não ─ Finn deu de ombros. ─ Estou aqui há um tempo também. Ninguém à vista. ─ Estranho ─ eu murmurei. ─ Encontrei alguma coisa ─ Natan murmurou, puxando um pedaço de papel. Tirei-o das mãos dele e Finn, me concentrando na escrita impressa na página. Pague ou então... Outros dez mil. Semana que vem. Deixe como da última vez. ─ Merda ─ eu murmurei. ─ Isso mesmo, merda ─ Finn gemeu. ─ Onde diabos vamos conseguir outros dez mil?
BETTI ROSEWOOD
─ Poderíamos pedir a Crispin ─ sugeriu Natan. ─ Ele não faz mais parte dos Lords. ─ Esfreguei a ponta do meu nariz.
─
Porra.
Como
diabos
isso
aconteceu?
Estamos
sendo
chantageados? De novo? ─ Precisamos encontrar um substituto para Crispin ─ ponderou Nate. ─ Alguém rico. ─ Ei, talvez você deva perguntar à senhorita rainha do baile, ─ Finn riu. ─ Isso é de alguma forma engraçado para você? ─ Eu assobiei para ele. ─ O quê? Ela é rica ─ ele deu de ombros. ─ Ela não sentiria falta desses dez mil, e isso poderia nos livrar de problemas. ─ Não podemos continuar pagando a essa pessoa ─ Nate murmurou. ─ Quero dizer, chegaremos a vinte e cinco mil quando pagarmos essa rodada. ─ Você tem uma ideia melhor? ─ Os dois ficaram quietos e revirei os olhos. ─ Foi o que pensei. Sentamos na arquibancada e Finn rolou um baseado em silêncio, passando entre nós três. Dei tragos longos e profundos da erva, enchendo meus pulmões de fumaça e rezando para que a nebulosidade familiar assumisse o mais rápido possível. Normalmente, eu não me deixava fazer merdas como essa, mas a carta significava que estávamos na merda. A sala de bate-papo já havia sido comprometida, mas agora parecia que a escola também não era segura, já que nosso chantagista claramente tinha acesso ao local.
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─ Você já ouviu falar de Crispin? ─ Eu perguntei a Nate, e ele assentiu. ─ Ele está gostando de Eastvale? ─ Ele adora, ─ meu irmão assentiu. ─ Disse que ele terminou esse drama do ensino médio. Ele até disse que deveríamos... você sabe. Dizer a verdade sobre aquela noite. ─ Fácil para ele dizer ─ eu murmurei. ─ Ele mal estava envolvido. ─ Eu estava pensando sobre isso ─ admitiu Nate. ─ Dizer a verdade? ─ Finn ergueu as sobrancelhas, assobiando. ─ Conte-me, porra. ─ Você não pode falar tudo sem foder com todos nós ─ eu disse a Natan. ─ E você não quer fazer isso, não é? ─ Qual é ! ─ meu irmão gemeu. ─ Em quantos problemas entraremos? ─ Eu realmente não quero descobrir ─ eu murmurei, voltando minha atenção para Finn. ─ Como vão as coisas com sua garota? Ela percebeu que você ainda está perseguindo ela? ─ Não é perseguição. ─ Ele deu uma tragada no baseado antes de passá-lo para o meu irmão. ─ É só... garantir que eu esteja no mesmo lugar que ela. ─ Certo. ─ Certo. ─ Cale a boca, como se vocês dois fossem o epítome da honestidade. ─ Finn soprou fumaça em nossos rostos. ─ Enfim... e Estella? ─ O que tem ela? ─ Nate e eu respondemos em uníssono novamente, depois trocamos olhares.
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─ Porra, temos que parar de fazer isso ─ eu ri. ─ Estella está bem ─ respondeu Natan, me dando um olhar estranho. ─ Você sabe, o de sempre. Eu sabia que estava longe da verdade, mas mordi minha língua. ─ E essa garota Andrômeda? ─ Eu perguntei a Finn. ─ Ela vai ser problema? ─ Além do fato de ser a irmã de Pandora ─ disse ele ─ não vejo problema. Ela parece bem mansa agora que Tins se foi. ─ Você ainda sai com ela? ─ Nate perguntou, e nosso amigo assentiu. ─ Legal. Ela é muito fofa. ─ Ela é gostosa, sim ─ Finn assentiu. ─ A garota peculiar? ─ Eles assentiram. ─ Sim, ela é legal. ─ Pelo menos concordamos em uma coisa ─ disse Finn, esmagando o baseado sob sua bota. ─ Eu ainda não sei o que você vê... ─ Nate começou, mas Finn o interrompeu. ─ Tenho que ir ─ disse ele. ─ Vejo vocês mais tarde. Tentem encontrar algumas maneiras de reunir o dinheiro. Nós acenamos para ele, permanecendo no campo por mais um tempo. ─ Você realmente acha que Andie é fofa? ─ Eu perguntei a Nate. ─ O quê? ─ Ele franziu as sobrancelhas para mim. ─ Ah, sim. Ela é, não é? ─ Um sorriso pateta tomou conta de seu rosto. ─ Cristo. Você tem uma queda por ela ou algo assim?
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─ O quê? ─ Ele empalideceu. ─ Claro que não, não seja ridículo. E... pelo amor de Deus, não mencione isso para Estella. Ela odeia aquela garota. ─ Meus lábios estão fechados ─ me vi dizendo. Parece que estou repetindo muito essa frase ultimamente. ─ Eu tenho que ir. ─ Encontro quente? Harlem? ─ Não ─ Eu sorri para ele. ─ Senhorita James. ─ Filho da puta sortudo ─ meu irmão gemeu. ─ Quero os detalhes completos mais tarde. Incluindo o que ela estava vestindo e a aparência de seus seios. Sutiã ou sem sutiã. Esteja atento. ─ Alerta de pervertido ─ gritei por cima do ombro enquanto me afastava, balançando a cabeça.
Lá fora, o sol estava se pondo, colorindo o céu na cor de amêndoas torradas. Parei na entrada da casa da senhorita James e a encontrei esperando na varanda de sua casa suburbana. Ela estava usando um vestido floral verde que a fazia parecer muito mais jovem, talvez até a minha idade, e ela estava descalça. Seus cabelos ruivos caíam pelas costas em ondas, e ela usava um par de óculos de sol com estampa de leopardo no topo da cabeça. Os padrões se chocavam, e isso me fez sorrir. ─ Pensei que você estivesse me dando o bolo ─ ela gritou quando eu saí do meu carro. ─ De jeito nenhum ─ respondi. ─ Só me atrasei um pouco fazendo outra coisa.
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Ela me olhou, brincando, perguntou: ─ Algo que eu deveria me preocupar? ─ Quando desviei o olhar, sua expressão vacilou e ela pigarreou, mudando de assunto. ─ Você quer uma bebida gelada primeiro? Está tão quente hoje. ─ Eu adoraria um chá gelado ─ respondi, abrindo a mala do meu carro. ─ Esvaziei isso para que tivéssemos espaço de sobra para transportar tudo. Você está se mudando para longe? ─ Algumas ruas daqui. ─ Ela pegou um copo de chá para mim e tomei vários goles agradecidos pelo líquido doce. ─ Muito obrigada novamente por fazer isso, Milo. Eu sei que é um pouco... estranho. ─ Não, se não deixarmos as coisas estranhas. Agora, deixe-me começar a pegar suas caixas. ─ Ela me levou para a varanda onde todas as suas coisas estavam alinhadas. Choveu alguns dias antes e notei que algumas das caixas estavam ensopadas. ─ Merda, o que aconteceu aqui? Ela olhou para mim nervosamente. ─ Nada, eu acidentalmente deixei algumas lá fora. ─ Elas estão encharcadas. Você acabou se esquecendo de todas? ─ Sim ─ ela sussurrou. ─ Senhorita James... você está bem? ─ Minhas sobrancelhas se uniram em preocupação. ─ Claro, por quê? ─ Bem, você não parece muito bem. Você dormiu nesta casa? ─ Fiz um gesto para a casa atrás de nós. ─ Ou em outro lugar? ─ Eu não tenho permissão para dormir aqui ─ ela murmurou. ─ Eu... eu dormi no meu carro nos últimos dias.
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─ Caramba ─ eu murmurei. ─ Mas você está se mudando para a nova casa hoje? Ela assentiu. ─ Por favor, não conte a ninguém sobre isso: é tão embaraçoso. ─ Os meus lábios estão selados. ─ Parecia ser o meu mais novo bordão. Depositei caixa após caixa no porta-malas do meu carro, enquanto me perguntava que tipo de idiota o ex-namorado dela era para deixá-la deslizar por entre os dedos. Sem mencionar a coisa toda dormindo no carro dela. Que tipo de idiota faz isso com uma mulher? ─ Ah, quase esqueci ─ gritei. ─ Isso é potencialmente estranho, mas... meus pais fizeram uma caçarola para você. ─ Peguei um prato coberto com papel alumínio. ─ Dependendo do pai que a fez, está deliciosa ou intragável. ─ Eu ofereci a ela um olhar de desculpas. ─ Aproveite. ─ Isso é tão querido. ─ Ela riu, mas o som era desconfortável. ─ Você disse aos seus pais que estava me ajudando? ─ Sim ─ eu dei de ombros. ─ Eu digo a eles quase tudo. Carregamos meu carro e, quando colocamos tudo lá dentro, eu estava ficando com calor, então tirei minha camisa e limpei minha testa com ela. Eu podia sentir gotas de suor escorrendo pelas minhas costas, reunindo-se nas cavidades acima da minha bunda. Olhando para a senhorita James, eu sorri quando a vi olhando. Mesmo que não tivesse sido minha intenção, era lisonjeiro como o inferno. ─ Outra bebida? ─ ela perguntou, e eu assenti. Ela trouxe outro copo e eu tomei tudo em um gole só.
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─ Isso é uma dádiva de Deus ─ eu disse a ela. ─ Você faz um ótimo chá gelado, senhorita James. ─ Ah ─ ela riu nervosamente. ─ Você deveria me chamar de Jenny Mae. ─ Jenny Mae? ─ Eu repeti. ─ Mesmo na escola? ─ Talvez não lá. ─ Ela mordeu o lábio inferior. ─ Você precisa de uma toalha ou algo assim? ─ Eu vou usar isso ─ eu disse, puxando a toalha do chá que ela tinha amarrada no cinto do vestido e usando-a para limpar meus lábios. Ela olhou para mim, aparentemente hipnotizada antes de voltar um momento depois. ─ Milo, eu odeio perguntar isso... ─ Ela estava mordendo o lábio inferior. ─ Mas eu tenho que devolver minhas chaves para o meu ex e estou muito nervosa. Você pode esperar comigo? ─ Claro ─ eu concordei. A situação era além de embaraçosa, mas eu não podia simplesmente dizer não. Ela olhou por cima do meu ombro e engoliu em seco. ─ Merda. É ele agora. Parece que ele está adiantado. Um Benz entrou na entrada da garagem, um forte contraste tanto com o meu carro quanto com a casa atrás de nós. Quem quer que fosse o namorado da Srta. James, ele se importava mais com o carro do que onde ele morava. Para algumas pessoas, realmente é tudo sobre aparências. O carro parou e um cara com óculos de sol rosa reflexivo saiu do banco do motorista. Depois que eu o olhei melhor, meu queixo caiu. ─ Sr. Cabot?
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─ Milo Earnshaw? ─ Ele empurrou os óculos de sol pela ponta do nariz, confirmando que ele era realmente o professor de inglês de Wildwood. ─ Bem, eu não posso acreditar. O que, estamos envolvendo estudantes agora, Jenny? ─ Cale a boca, Trevor ─ senhorita James ─ Jenny Mae ─ murmurou. ─ Ele está me ajudando na mudança. Aqui estão suas chaves de volta. ─ Uau, legal ─ ele sorriu, puxando as chaves dos dedos dela. Ele se virou para mim, piscando enquanto me cutucava. ─ Ei, o que é preciso para você fazer isso, garoto? Boquete rápido? Ou ela deixa você ir até o fim? ─ Trevor! ─ Jenny Mae sibilou. ─ Só imaginando ─ o Sr. Cabot piscou para mim. ─ Agora saiam do meu gramado. ─ O lábio inferior de Jenny Mae tremeu quando ela atravessou a grama para ficar ao meu lado. ─ Ei, prostituta. Você esqueceu os saltos de vagabunda. Olhei para cima e vi o Sr. Cabot jogando um par de saltos de tiras para nós. Eles bateram no ombro de Jenny Mae, e ela estremeceu. Uma imagem do rosto bonito e machucado de Estella passou pela minha cabeça, e eu vi vermelho. Em vários passos, cheguei ao Sr. Cabot e o agarrei pelo colarinho. ─ Você, peça desculpas a ela agora ─ eu rosnei para ele. ─ Acalme-se, garoto ─ ele sussurrou. ─ Jesus, saia de cima de mim. ─ Milo, por favor ─ Jenny Mae implorou. ─ Ele não vale a pena. Eu o solto, olhando para a minha professora. ─ Sim ─ ele sorriu. ─ Não que você aguente, de qualquer maneira.
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Eu nunca fui do tipo que briga, mas esse cara apertou todos os botões certos. Meu punho bateu contra o lado de seu rosto, fazendo-o voar até que ele atingiu sua própria casa em ruínas. ─ Vamos ─ eu rosnei para Jenny Mae, e ela sem palavras me seguiu até o meu carro. Não esperei que o Sr. Cabot se levantasse, acabei de sair da garagem e dirigi-me para sua nova casa enquanto ela me dava o endereço com uma voz trêmula e chocada. Quando chegamos à sua casa, ela me convidou para jantar, e eu aceitei. Eu nem tinha certeza se estava fazendo isso apenas para ser educado. Eu também gostei de olhar para Jenny Mae. Especialmente naquele vestido verde. Ela nos serviu a caçarola que meus pais haviam feito e, felizmente, estava deliciosa. Jenny Mae tomou uma taça de vinho no jantar, mas fiquei com o chá gelado. A nova casa dela era um pouco mais velha, mas mais agradável que a do Sr. Cabot, e eu contei isso a ela. ─ Obrigada ─ ela disse com um sorriso radiante. ─ Estou tão feliz por estar fora daquele lugar terrível. Nunca me senti em casa lá. ─ Eu não culpo você ─ eu admiti. ─ E se o Sr. Cabot alguma vez a incomodar na escola, você me diz ou a meu irmão. ─ Natan? ─ Ela riu, balançando a cabeça. ─ Não, eu não confio nele como em você, Milo. ─ Você confia em mim? Ela assentiu. ─ Por que não? Você não foi nada além de legal comigo. ─ Alguns podem dizer que é um pouco ingênuo confiar em um estranho ─ sorri.
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─ Isso foi o que me causou problemas com Trevor, para ser justa. ─ Ela fez uma careta. ─ Bem, eu prometo que não sou como esse cara. ─ Mais uma vez, a lembrança do rosto de Estella me fez desviar o olhar, a preocupação vincando minha testa. ─ Tudo certo? ─ Jenny Mae perguntou. ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Só estou preocupado com uma amiga. Ela está tendo alguns problemas. ─ Que tipo? ─ Pai abusivo, esse tipo ─ eu murmurei, e ela franziu as sobrancelhas. ─ Isso é terrível, Milo. Alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? ─ Ainda não ─ eu admiti. ─ Mas eu vou manter isso em mente. Obrigado. Significa muito. ─ De nada. ─ Ela estendeu a mão sobre a mesa para tocar minha mão e senti uma faísca acender entre nós. Nós trocamos olhares, e ela mordeu o lábio inferior novamente. ─ Desculpe... eu realmente não deveria. ─ Você pode. ─ Minha voz era suave, gentil. ─ Você deve. Ela balançou a cabeça, mas não moveu a mão. ─ Realmente não acho que seja uma boa ideia... ─ Não é uma boa ideia, mas isso não significa que não seja bom. ─ Eu podia ouvir meu coração batendo forte no meu peito. Meus pensamentos estavam nadando com Estella. Eu estou fazendo tudo isso para machucá-la?
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─ Nós não deveríamos estar fazendo isso. ─ Então se afaste. Podemos parar agora. Finja que nada aconteceu. ─ Eu... não quero. ─ Seus olhos brilhavam na semiescuridão. ─ Você quer que eu te toque? ─ ela sussurrou. Quarto rosa. Coroa do baile. Aqueles olhos magoados e bonitos acima de uma bochecha machucada. Os fragmentos de pensamentos encheram minha mente, e eu pisquei para tirar os pensamentos. ─ Talvez ─ eu admiti. ─ Tente e veja o que acontece. Um entendimento passou entre nós, então, e eu sabia que ela iria fazer isso. Ela puxou a cadeira para mais perto e seus dedos seguiram meu braço, meu ombro e meu peito. ─ Mais baixo ─ eu gemi. Seus dedos estavam tremendo quando eles subiram no meu peito. ─ Mais baixo. ─ Onde, Milo? ─ Você sabe onde. ─ Fechei os olhos, coloquei as mãos atrás das costas e recostei-me. ─ Você sabe exatamente onde. Ela continuou, dolorosamente devagar. Finalmente, as pontas dos dedos alcançaram o cós da minha calça jeans e ela brincou com a fivela do meu cinto. Ela continuou se movendo, e um momento depois, ela colocou a palma da mão em volta do meu pau endurecido. ─ Aqui? ─ Bem aí ─ eu gemi. ─ É isso, senhorita James. Não pare...
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11 DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 23H LOCAL: CASA
DA
ESTELLA
ESTELLA
─ Pssst, Stells. Acorde. Vamos lá, eu não tenho o dia todo. Eu gemi, jogando e virando na minha cama até que meus olhos finalmente se abriram. Romilly estava sentada na beira da minha cama, sorrindo largamente. ─ Ugh, o que você quer? ─ Eu gemi. ─ É o meio da noite. ─ São onze da noite ─ ela me disse. ─ O quê? Você vai dormir cedo de repente? Levante-se! ─ Por quê? ─ Eu bocejei. ─ Você esqueceu que eu estou de castigo? ─ Não. ─ Ela sorriu maliciosamente. ─ Mas o que o papai não sabe não vai machucá-la. Vamos. Tenho uma festa de influenciadores para ir. Sentei-me na cama, esfregando meus olhos turvos. ─ Como eu vou entrar? Não estou nem perto dos vinte e um. ─ Você entrará porque estará comigo ─ Romilly me assegurou. ─ E eu acho que você merece um tratamento depois do jeito que o papai te tratou. Agora vamos lá. Eu comprei uma roupa para você e tudo mais. ─ Ela puxou o edredom de cima de mim e eu bocejei novamente antes de me levantar. ─ Sapatos, vestido... ─ disse ela, acenando para a pilha. ─ E eu vou fazer sua maquiagem. Agora se apresse. ─ Não pude evitar o arrepio de excitação que percorreu minha espinha. Tirei a roupa na frente da minha
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irmã, examinando o vestido vermelho sangue que ela me comprou. Era curto e um número menor, então era apertado em todos os lugares certos, e eu entrei no tecido sedoso com facilidade. ─ Não coloque os sapatos ainda, ainda temos que descer da sua janela. Eu ri e assenti em concordância. ─ Parece que você elaborou todo o plano. Ela me sentou na frente do meu espelho de maquiagem rosa e começou a trabalhar no meu rosto. Levou apenas dez minutos, mas quando me olhei, pude ver que ela praticamente me transformou. Eu estava bonita, apesar do machucado na minha bochecha, que quase não era visível sob as camadas de corretivo em que minha irmã o afogou. Ela pintou meus lábios com um batom vermelho cereja e acrescentou delineador preto e rímel nos olhos. Eu parecia mais velha. Mais experiente. ─ Vamos lá ─ ela fez um gesto, pegando nossos sapatos com uma mão. ─ Precisamos sair, rapidamente. ─ Eu a segui até a janela, olhando ceticamente para os galhos do carvalho do lado de fora do meu quarto. Ela deslizou sobre a grade sem nenhum problema, estendendo a mão para mim. ─ Vamos, gata assustada. Eu tenho você. Excitação inundou meu estômago, e eu percebi que queria fazer isso. Pela primeira vez, eu queria esquecer minha vida miserável e me divertir. Estendi a mão para a dela e a deixei me puxar para os galhos da velha árvore. Estávamos rindo baixinho quando descemos a escada que a família anterior que morava aqui havia colocado na árvore para seus filhos. Em instantes, estávamos no chão, correndo pela esquina para onde o Land Rover de Romilly estava estacionado. Entramos no carro e antes que eu conseguisse fechar a porta do carro, ela já estava saindo. ─ Onde fica essa festa, afinal? ─ perguntei a ela no caminho.
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─ Downtown. Você vai adorar. ─ Ela sorriu para mim se desculpando. ─ Apenas uma maneira de compensar o que papai fez. Eu gostaria de poder tê-lo parado. ─ Eu não acho que alguém poderia ter feito isso ─ eu admiti. ─ Nós vamos ─ ela me assegurou. ─ Encontraremos uma maneira de escaparmos nós três. Como foi a visita a abuelita? ─ Boa. Ela nos disse algo que poderia ser interessante... ─ Comecei a explicar a conversa que abuela ouviu pelo telefone do papai. ─ Hmm. Você deveria colocar Milo nisso ─ sugeriu Romilly. ─ O que você quer dizer? ─ Ele não é um tipo de gênio da tecnologia? ─ ela perguntou, e eu dei de ombros sem compromisso. ─ Bem, acho que você deveria pedir a ele para descobrir o que isso significa. Se descobrirmos algumas discrepâncias nos negócios do papai, pelo menos teremos alguma influência. ─ Não quero contar com a ajuda de Milo ─ admiti. ─ Ele ofereceu? ─ Sim. ─ Então aceite! ─ Romilly me aconselhou. ─ Confie em mim. Todo mundo precisa de ajuda de vez em quando. Isso não a torna menos se você aceitar. E nós duas sabemos que o garoto Earnshaw faria qualquer coisa por você. ─ Ela piscou para mim, mas não deu mais detalhes, e fiquei agradecida por isso. A última coisa que eu precisava era lembrar que eu tinha escolhido o garoto errado. E que aquele que eu realmente queria provavelmente me odiava, e foi tudo culpa minha.
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Nesse momento, chegamos a uma movimentada rua no centro da cidade. Romilly deixou o manobrista pegar o carro dela depois de calçarmos os sapatos e sorriu para mim. ─ Vamos, irmãzinha. Hora de se divertir. Eu a segui até a porta, onde o segurança mal olhou para mim antes de abrir a corda vermelha que separava os meros mortais da entrada do bar. Romilly piscou para mim, me agarrando pela mão e me puxando para dentro do prédio. Era um mundo diferente lá dentro, com luzes esmaecidas e música tocando no volume perfeito e íntimo. O lugar era enorme e lotado. Romilly foi direto para o bar, onde pediu um mojito e uma pina colada virgem para mim, me dando um olhar rigoroso. ─ Não beba. E eu falo sério. ─ Tudo bem ─ murmurei, aceitando minha bebida deliciosa e dando um longo gole pelo canudo de metal. ─ Ei, mana. Obrigado por me trazer hoje à noite. ─ De nada. ─ Ela bateu seu quadril contra o meu. ─ Eu pensei que você poderia precisar de uma distração. Não é essa a verdade. Ela me guiou até suas amigas sentadas no canto e as apresentou uma após a outra. Os rostos e nomes se misturaram. Elas eram todas bonitas, ridiculamente ricas e enfeitadas com nomes de marcas da cabeça aos pés. Assim que Romilly chegou, elas a receberam com gritos e abraços. Fui aceita imediatamente, apenas por ser sua irmã. Isso me fez olhar para ela com admiração. Ela sempre foi uma durona, mas aqui fora, ela era uma rainha durona, não uma serva como todas nós éramos em casa. Servas eternas, temendo a ira do papai a cada segundo do dia. Depois de uma hora com as amigas de Romilly conversando, fiquei entediada. Fui até o bar depois de terminar minha bebida, sentindo
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vários pares de olhos me seguindo. Eu endireitei minhas costas, empurrei meus peitos e bunda e bati meus cílios no barman. Ele nem pediu minha identidade, apenas deslizou uma piña colada regular pelo balcão para mim. Eu me acomodei no banco do bar, bebendo a cena diante de mim. Romilly desapareceu há um tempo atrás com um cara bonito, mas não antes de me lançar olhares de advertência que eu tinha escolhido ignorar. Uma bebida não vai machucar ninguém. Nem a segunda, nem a terceira... ─ Qual é o seu veneno de escolha hoje à noite? ─ Eu me virei para o bar, meus olhos bebendo no belo estranho que havia falado comigo. Ele era mais velho em pelo menos dez anos, com cabelos castanhos claros e grossos e olhos castanhos escuros. Ele se elevou sobre mim, mesmo sentado, e senti um arrepio no estômago enquanto ele sorria para mim. ─ Pina colada ─ eu disse, apontando para a minha bebida. ─ Ah ─ ele riu. ─ O sinal revelador de que é uma garota muito jovem para estar em um lugar como esse a essa hora da noite. ─ Você vai me entregar? ─ A preocupação torceu meu estômago em nós, mas o homem apenas balançou a cabeça, sorrindo para mim. ─ Agora, qual seria a graça nisso, bonita? ─ Mexi minha bebida, mantendo meus olhos focados nele enquanto tomava outro gole. ─ Embora eu ache um pouco chocante ─ e quase criminoso ─ você estar tomando um coquetel insignificante. ─ Eu gosto disso. ─ Você vai gostar mais disso. ─ Ele empurrou minha bebida e fez sinal para o barman aparecer. Eu tive que esperar para pedir minha bebida, mas o homem chamou atenção e não precisou esperar mais do que alguns segundos. ─ Um rum e coca-cola para a dama e rum com gelo para mim. Você é o melhor. Nada dessa besteira de capitão Morgan.
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Eu ri enquanto o barman preparava nossas bebidas, examinando o estranho pelo canto do olho. ─ Você parece conhecer o seu álcool. ─ Faz parte do trabalho. ─ O que você faz? ─ Eu administro este lugar. É a empresa do meu pai e eu sou dono da cadeia. Este é o nosso terceiro clube no estado. ─ Isso é incrível! ─ Aceitei a bebida do barman e tomei um longo gole. O álcool estava definitivamente mais forte nesta bebida, indo direto para a minha cabeça. ─ Oh meu Deus, e assim é. Tão bom. ─ Estou feliz que você aprove. ─ Ele girou o líquido âmbar em seu próprio copo, olhando apreciativamente minha roupa antes de tomar um longo gole. ─ Você parece muito deliciosa também. Alguém já provou? ─ Eu... Err. ─ Eu ri nervosamente. ─ Não é bem assim. Estou aqui com minha irmã. ─ Eu entendi. ─ Seus olhos ainda estavam me absorvendo, e pelo jeito que ele olhou para mim, pensei que ele definitivamente gostasse do que viu. ─ Quem é sua irmã, bonita? ─ Romilly. ─ Coloquei meu copo de volta no chão. ─ Ela usa Hernandez, mas nosso sobrenome é Hawthorne. ─ Tenho certeza de que há uma história por trás disso. ─ Há ─ eu suspirei. ─ Mas prefiro não falar sobre isso agora, se você não se importa. ─ Claro. Há muitas outras coisas que eu prefiro discutir com você. Por exemplo, qual é esse perfume delicioso que você está usando?
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Pensei em Romilly me arrastando para fora do meu quarto. ─ Eu não estou usando nenhum... ─ Perfeito. ─ Seus olhos brilhavam com travessuras. ─ É você então. Apenas o que eu queria ouvir. Eu procurei na minha bolsa o meu telefone antigo, de repente corada de vergonha. Ele era tão direto, nada como os garotos de Wildwood, e definitivamente nada como Natan. Ou Milo, para esse assunto. ─ Desculpe, apenas para verificar se alguém me ligou. ─ Eu olhei para a tela vazia, fingindo ver algo lá. ─ Então, qual é o seu nome, bonita? ─ o homem perguntou. ─ Fui incrivelmente rude e nem me apresentei adequadamente ainda. Meu nome é Harlan. ─ Estella ─ eu chiei, me odiando pela óbvia insegurança em minha voz. Eu estava acostumada a interagir com estudantes do ensino médio, mas esse era um jogo completamente diferente. ─ Estella Hawthorne. ─ Prazer em conhecê-la. É um nome tão bonito também. Tão perfeitamente adequado. Corei quando ele bebeu sua bebida e segui o exemplo, terminando a minha também. Ele me deu um olhar apreciativo enquanto fazia sinal para o garçom nos trazer mais. Meus olhos examinaram a multidão e se estabeleceram em uma figura que estava olhando diretamente para mim. Romilly. ─ Acho que minha irmã está me procurando. Você se importaria se eu corresse e falasse com ela por um segundo? ─ Você não precisa ─ ele me disse. ─ Se isso for sobre você ir embora, eu vou garantir que você volte bem. ─ Eu... Hum, ela é minha carona ─ murmurei desconfortavelmente.
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─ Não se preocupe com isso. ─ Ele acenou com a mão com desdém no ar. ─ Vou garantir que tudo corra bem. Apenas fique comigo… Deslizei da cadeira, dando-lhe um olhar de desculpas. ─ Vou demorar apenas um segundo. ─ Tudo bem, se você precisa. Deixei-o sentado perto do bar e corri para onde minha irmã estava parada na área VIP. Seus braços estavam cruzados e ela parecia preocupada, sibilando para mim quando me aproximei. ─ Você tem alguma ideia de com quem está falando? ─ Harlan? ─ Eu perguntei, olhando por cima do ombro. Os olhos do homem estavam colados em mim, seguindo todos os meus passos. ─ Sim, acabamos de nos conhecer... acho que ele é o dono desse lugar. ─ Porra, ele é. ─ Romilly assentiu. ─ E ele é o motivo de eu estar aqui esta noite também, já que ele pagou para eu vir. Não me estrague tudo, Stells. ─ Eu não estava... ─ me defendi. ─ Eu estava falando com ele. Além disso, ele se aproximou de mim, e não o contrário. ─ Essa é a outra coisa. ─ Romilly me puxou para mais perto para sussurrar no meu ouvido. ─ Eu ouvi dizer que esse cara é um idiota. Fique longe dele. Lancei outro olhar por cima do ombro e encontrei Harlan aceitando nossas bebidas do barman. ─ Eita, dá pra você se acalmar? Ele não tem sido nada além de educado desde que começamos a conversar. ─ Confie em mim, Stells. ─ Romilly me pegou pelos ombros. ─ Caras como ele estão atrás de uma coisa, e é algo que você não deve dar a ele. Você sabe o que eu quero dizer?
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─ Eu acho que o bar inteiro sabe o que você quer dizer ─ eu murmurei. ─ Tudo bem, Romilly, tanto faz. ─ Estella. ─ Ela fez sinal para eu olhar para trás. Olhei para trás a tempo de ver Harlan misturando minha bebida com um canudo de metal. ─ Por que você acha que ele está misturando sua bebida? ─ Provavelmente para que esteja gelada quando eu voltar? ─ Dei de ombros. ─ O que isso importa mesmo? ─ Ele está fazendo isso porque colocou algo lá ─ Romilly assobiou. ─ Deus, eu não deveria ter trazido você aqui. ─ Ela remexeu na bolsa e tirou uma nota de cem dólares. ─ Aqui, para o seu táxi para casa. ─ Por quê? ─ Franzi minhas sobrancelhas. ─ Onde você vai? Ela teve a decência de corar antes de apontar para o grupo de amigos atrás dela. ─ Estou saindo com meus amigos. ─ Uau. ─ Engoli a pílula amarga de sua traição. ─ Muito divertida nossa noite de irmãs, Romi. ─ Stells, você é jovem demais para vir conosco ─ ela insistiu. ─ E eu também não quero que você fique com aquele cara, o tal do Harlan, ok? ─ Tanto faz ─ eu murmurei, me sentindo mais excluída do que nunca. ─ Pelo menos ele me trata como uma adulta. ─ Exatamente ─ minha irmã suspirou. ─ E ele não deveria, porque você tem dezessete anos. Eu nunca deveria ter trazido você aqui em primeiro lugar. Promete que vai sair em breve, Stells? Eu cerrei os dentes, odiando como ela estava me pressionando. ─ Seja como for, tudo bem, eu prometo. ─ Cruzei os dedos atrás das costas.
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Como diabos eu ia fazer o que ela pediu. Foi ela quem me trouxe aqui, pelo menos. ─ Então você está indo embora? ─ Sim. ─ Ela beijou minha bochecha. ─ Não conte ao papai. Revirei os olhos, mas ainda senti aquela reviravolta familiar no meu estômago enquanto a observava acenar e sair. Ela me abandonou e isso me fez sentir mais sozinha do que nunca. Um momento depois, eu me virei e voltei para o bar. Harlan sorriu largamente quando viu eu me aproximando. ─ Que bom ter você de volta, linda. Por um momento, fiquei preocupado por ter perdido você. ─ Não, ainda não. ─ Eu sorri. ─ Minha irmã está indo para outro lugar e, aparentemente, não fui convidada. ─ Ah é mesmo? ─ ele riu. ─ Bem, eu vou cuidar bem de você, linda. Não precisa se preocupar. Sentei-me no banquinho do bar e tirei meu telefone da bolsa mais uma vez, murmurando um pedido de desculpas a Harlan. Ele parecia irritado, mas me deu um breve aceno quando comecei a digitar um texto. Estou no bar Heartbreak. Se eu não lhe enviar uma mensagem de texto em uma hora, algo está errado. Disparei o texto antes de voltar para Harlan e sorrir largamente. ─ Esta é a minha bebida? ─ Claro ─ ele assentiu. Eu estava imaginando o brilho nos olhos dele quando peguei a bebida? Minha irmã estava certa sobre ele colocar algo no meu copo? ─ O que você me diz de irmos para a sala VIP, Estella? ─ Claro ─ eu assenti, olhando a bebida novamente. Havia pequenos pedaços flutuando no líquido, como poeira. — Deixe-me terminar minha bebida.
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Meu coração estava batendo forte enquanto eu engolia tudo. Uma voz na minha cabeça me lembrou que ninguém se importava com o que acontecia comigo, de qualquer maneira. Nem Romi, nem meus pais, nem mesmo meu namorado. O único que já cuidou de mim foi Milo, e ele nem se deu ao trabalho de responder ao meu texto. Eu senti a necessidade de me autodestruir. Arruinar tudo e mostrar às pessoas ao meu redor o quanto elas me machucaram. Coloquei o copo vazio no balcão e estendi a mão para Harlan. ─ Estou pronta.
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12 DATA: 12 DE SETEMBRO DE 2019 – 23H LOCAL: CASA
DA SRTA. JAMES.
MILO
─ Porra. ─ Mordi meu lábio inferior quando seus dedos envolveram meu pau. Eu já estava latejando, sentindo minhas veias pulsarem com a necessidade desesperada de ela puxar meu jeans e expor minha dureza. Senhorita James lambeu os lábios, olhando para mim antes de deslizar para o chão, de joelhos. Nesse momento, meu telefone vibrou e eu gemi, pegando-o da mesa e olhando para a tela. Estou no bar Heartbreak. Se eu não lhe enviar uma mensagem de texto em uma hora, algo está errado. ─ Tudo certo? ─ A senhorita James perguntou sem fôlego, e eu guardei meu telefone, fechando os olhos para bloquear tudo. Por que Estella sempre tinha que sair da madeira quando as coisas finalmente estavam indo para algum lugar? Era como se ela quisesse foder com a minha cabeça. ─ Está tudo ótimo ─ eu gemi. ─ Continue, porra. Ela não precisou ser avisada duas vezes. Seus dedos envolveram a fivela do meu cinto, e ela desfez o zíper da minha calça depois, deslizando sobre o contorno do meu pau sob o tecido. ─ Milo... ─ Continue ─ eu pedi a ela novamente. ─ Quero que você veja. Tireo. Seus olhos se arregalaram quando ela puxou meu pau. Campainhas de alarme estavam disparando na minha cabeça, mas eu as
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coloquei em segundo plano, fazendo o possível para ignorar as batidas no meu peito. Mas eu não conseguia tirar Estella da cabeça. ─ Você é tão grande ─ a Srta. James sussurrou, olhando para mim latejando na mão dela. ─ Porra, eu não sei se você vai caber dentro de mim. Uma necessidade desesperada de acionar os freios irrompeu em minha mente, mas eu me senti congelado no local. Minha mente queria que ela parasse, mas meu pau não, a julgar pela maneira como latejava entre seus dedos delicados. Estella apareceu em minha mente mais uma vez, me provocando com seus grandes olhos de boneca, seus lábios carnudos se formando na forma do meu nome. ─ Eu tenho que ir. ─ Levantei-me e as mãos da senhorita James se afastaram de mim como se ela tivesse sido queimada. ─ Por quê? ─ ela perguntou sem fôlego, os dedos demorando-se sobre os cabelos ruivos, o peito corado. — Por favor, não saia agora, Milo... eu sei que isso estava errado, tão errado. Eu não comentei, apenas me fechei e peguei meu telefone da mesa. ─ Está tudo bem, senhorita James. ─ Eu disse para você me chamar... ─ Eu não posso te chamar assim ─ eu a interrompi, me encolhendo com o quão cruel eu parecia. ─ Confie em mim, você é o sonho molhado de todos em Wildwood, que ganha vida, mas eu... eu não posso. ─ É por causa de... ─ Ela corou. ─ Porque eu trabalho na sua escola? ─ Não. ─ Fiz um gesto para o meu telefone. ─ Meu amigo está com problemas.
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─ Ah. ─ Ela se levantou também, ajeitando o vestido. ─ Sinto muito, Milo... Há algo que eu possa fazer para ajudar? ─ Está tudo bem ─ eu murmurei, indo para a porta. ─ Eu só preciso sair daqui. ─ É Natan? ─ ela gritou atrás de mim, me fazendo parar no meu caminho. ─ O amigo que está com problemas, é seu irmão? ─ Não. ─ Hesitei antes de dizer a verdade. ─ É a Estella. ─ Hawthorne? ─ Ela estreitou os olhos para mim. ─ Milo, por que você está ajudando essa garota? Ela não fez nada por você. ─ Ela fez mais do que você imagina! ─ Eu a ataquei, me arrependendo no mesmo instante e esfregando a ponta do meu nariz. ─ Olha. Eu sinto muito. Só sei que preciso sair agora. Ela assentiu em silêncio e me seguiu até a porta. Eu não disse outra palavra enquanto caminhava para o meu carro e saía da garagem dela. Eu nem olhei para trás, mas algo me disse que ela me viu sair até que meu carro não passasse de um ponto no horizonte.
O Heartbreak estava cheio e eu rapidamente percebi que me destacava ─ e não de um jeito bom. Essas pessoas estavam vestidas com roupas de grife e marcas, e parecia atrair uma multidão um pouco mais velha que eu. Quando encontrei um lugar para estacionar na rua, eu estava atormentado pela preocupação e meu coração estava disparando um milhão de quilômetros por minuto enquanto eu caminhava até o
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segurança, um cara enorme com a cabeça raspada e um cavanhaque. Eu tentei entrar, mas ele me parou com uma mão no meu ombro. ─ A fila está lá atrás, amigo ─ ele me disse com um sotaque irlandês, me olhando com desconfiança. ─ Você tem certeza de que tem idade suficiente para estar aqui? ─ Eu preciso entrar ─ eu disse a ele. ─ Minha amiga me enviou uma mensagem e estou preocupado que ela esteja com problemas. ─ A taxa de entrada é duzentos e cinquenta. E eu preciso de uma identificação. ─ Duzentos e cinquenta? Você está falando sério? ─ Eu olhei para ele, mas o homem não se mexeu. Eu gemi, puxando minha carteira e tirando notas de cem dólares. ─ Isso vai cuidar disso? Eu não tenho uma identificação comigo. Ele me olhou desconfiado. ─ Tenho a sensação de que você vai me causar problemas, garoto. Você tem mais algumas destas? Eu olhei para ele antes de dizer: ─ Não, mas vou ligar para todos os membros da minha equipe de lacrosse e acabar com esse lugar se você não me deixar entrar. Agora. Porra. ─ Relaxe com as ameaças ─ o segurança sibilou. ─ Estou apenas tentando fazer meu trabalho aqui. ─ Bom, então você deve saber que essa garota tem dezessete anos ─ eu assobiei. ─ E se eu ─ ou os pais dela ─ descobrir que algo aconteceu com ela em seu bar precioso, eles não só fecharão toda essa merda e o culparão por isso, mas também será deportado. ─ Ele empalideceu. ─ Ah, toquei uma corda, não é? Estou assumindo que seu visto expirou.
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─ Foda-se ─ o cara gemeu. ─ Está bem. Entre. Mas não se meta em encrenca, garoto. E tente se misturar, pelo menos. ─ Certo. ─ Eu o empurrei para entrar no bar. Música alta me envolveu instantaneamente. O chão do bar estava pegajoso de bebidas derramadas, com pessoas se beijando em todos os cantos. Analisei o local à procura de Estella, mas não a vi em lugar nenhum. Dando uma volta, eu vi várias garotas que me lembravam ela, mas nenhuma delas era minha Stells. A preocupação torceu meu estômago enquanto eu continuava andando. ─ Ei, bonito ─ uma loira bêbada ronronou quando me aproximei do bar. ─ Quer uma bebida? ─ Não, obrigado ─ eu murmurei em resposta. ─ Mas ei. Você viu essa garota? ─ Percorri meu telefone até encontrar uma foto de Estella. ─ Ummm... o que é isso para você? ─ a loira riu. ─ Apenas deixe-a e divirta-se comigo. Eu gemi interiormente. ─ Pagarei uma rodada pra você e suas amigas se você me disser para onde ela foi. Seus olhos brilharam e ela apontou para a parte de trás do clube. ─ Ela foi lá para trás com Harlan. ─ Harlan? Quem diabos é Harlan? ─ Peguei mais uma nota de cem e bati no bar. ─ Somente o dono deste lugar ─ a loira ronronou.─ Ele é tipo, muito importante por aqui. ─ Aproveite suas bebidas ─ eu murmurei, sentindo seus olhos nas minhas costas enquanto fazia meu caminho para onde ela havia apontado.
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Havia um tapete dourado que levava às escadas a uma área isolada. Eu me senti mal pensando no que Estella estava fazendo lá atrás. Uma necessidade possessiva de jogá-la por cima do ombro e carregá-la dali me alcançou quando parei na frente de dois guarda-costas com expressões de pedra. Atrás deles, uma cortina brilhante separava o clube do espaço privado. Os guardas bloquearam imediatamente meu caminho, mas não foram rápidos o suficiente. Uma música diferente estava tocando dentro do espaço, lenta e sexy. Havia um sofá longo ali, e um homem estava sentado, pernas abertas e uma bebida descansando em seu joelho. Na frente dele, uma garota girou e dançou sensualmente ao som da música, puxando o vestido cada vez mais enquanto se movia na frente do estranho. E ela não era apenas uma garota estonteante. Ela era a minha mulher deslumbrante. ─ Estella! ─ Gritei quando os dois seguranças desceram sobre mim. ─ Stells, por aqui! Ela se virou para mim, e a preocupação se instalou na boca do meu estômago com mais firmeza quando vi seus olhos vidrados. Ela estava chapada ou bêbada com alguma coisa. ─ Stells, dê o fora daqui ─ eu gritei enquanto os dois homens tentavam me forçar a sair dali. ─ Estou te levando para casa, princesa, vamos lá, porra. Lutei com os dois homens corpulentos e, um momento depois, ela apareceu na porta, seguida pelo canalha que a assistia dançar. ─ Stells ─ eu implorei. ─ Vamos lá, precisamos sair daqui. Ela estava linda de partir o coração naquela noite, e meu estômago revirou ainda mais quando o cara colocou uma mão proprietária em volta da cintura.
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─ Por que você está perturbando minha festa particular, garoto? ─ o homem gritou comigo. ─ A garota está aqui por sua própria vontade. O que você é, um namorado ciumento? ─ Milo! ─ Estella riu, correndo até mim, ignorando completamente os seguranças e se jogando em mim. ─ Senti sua falta. Eu sinto falta de tudo. Sinto falta de castelos infláveis. Eu gemi, mas a segurei. ─ Vamos tirar você daqui! ─ Onde diabos você pensa que está indo? ─ O homem de cabelos claros ─ Harlan, presumi ─ apareceu na minha frente, olhando furioso. ─ Ela está comigo. ─ Olhe para ela ─ eu assobiei. ─ Ela está totalmente bêbada. Você a embebedou? ─ Ela só tomou um drinque ─ o homem riu com desdém. ─ Não é meu problema, ela é uma merda fraca. Agora saia. ─ Você não me diz o que fazer ─ eu disse. ─ Se vou embora, ela vem comigo. O homem passou a mão em volta do meu antebraço e eu olhei para seus dedos grossos. Previsivelmente, havia uma aliança de casamento em um deles, me fazendo balançar a cabeça e rir alto. ─ Você está interrompendo um evento privado ─ Harlan rosnou. ─ Vá. Embora. Agora. Porra. ─ E você está atacando uma garota de dezessete anos ─ eu cuspi de volta. ─ Você quer que eu chame a polícia? Diga a eles que o dono do bar Heartbreak é um molestador de crianças? Ele empalideceu. ─ Ela não tem dezessete anos. Ela disse que tinha dezoito anos.
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─ Sim, porque ela está em ótimo estado para dizer a verdade ─ cuspi. ─ Você deveria ter vergonha de si mesmo. ─ Veja como você está falando comigo. ─ Você deve seguir seu próprio conselho. ─ Eu arranquei meu braço fora de seu alcance e ele se encolheu quando me aproximei dele, fazendo sinal para que seus guardas me cortassem. ─ Faça isso de novo e eu chamarei a polícia, seu pervertido. ─ Saia ─ ele rosnou. ─ Agora. ─ De bom grado. ─ Passei um braço em volta da cintura de Estella. ─ Diga adeus, Stells. ─ Adeus senhor maldito pervertido! ─ Stells riu bêbada. Eles nos encararam, seus olhos disparando adagas enquanto saímos do bar. Ninguém nos incomodou na saída e, momentos depois, estávamos do lado de fora ao ar livre. ─ Eu peguei você, Stells ─ murmurei em seu ouvido enquanto a carregava até o meu carro. ─ Não se preocupe, eu tenho você. ─ Ela apoiou a cabeça no meu ombro, gemendo enquanto eu a fazia continuar andando. ─ Você precisa me dizer o que fez, Stells. Você tomou alguma coisa. ─ Não ─ ela soltou. ─ Apenas rum e coca-cola… ─ Alguma pílula? ─ Eu questionei. ─ Você fumou alguma coisa? Ela balançou a cabeça, fazendo uma careta quando chegamos ao meu carro e eu o destranquei. ─ Pílulas muito bonitas. ─ Que pílulas? ─ Ela olhou para mim sem entender. ─ Stells. Que pílulas?
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─ Romi disse que havia uma ─ ela murmurou. ─ Na bebida ... ─ A bebida que ele te deu? ─ Eu questionei, e ela assentiu. Fúria borbulhou na boca do meu estômago como um monstro furioso pronto para atacar. Se ela não dependesse de mim, eu teria saído e transformado o rosto do Harlan em uma polpa. ─ Você bebeu? ─ Tudo ─ ela sussurrou. ─ Precisamos levá-la a um hospital. ─ Não! ─ Ela me agarrou, me encarando com olhos cheios de lágrimas. ─ Não, Milo, por favor... papai... descobrirá. ─ Ela parecia verde, e eu gemi quando ela se inclinou e vomitou por toda a calçada. ─ Boa menina, Stells ─ eu disse a ela. ─ Se livre de tudo, você precisa expulsá-la. Eu sabia que tínhamos duas opções ─ ou eu a levaria para o hospital, ou a fazia vomitar até que o pedaço de merda que havia colocado em sua bebida tivesse deixado seu sistema. E tive a sensação de que Estella não me deixaria fazer a primeira opção. Não queria que ela tivesse problemas com o pai dela, não antes de termos certeza de que a família dela estava segura. Mas eu também não poderia deixá-la sozinha. ─ Vamos lá ─ eu murmurei, abrindo a porta dos fundos. ─ Vamos levá-la para casa. Ajudei-a a entrar no carro, e ela deitou no banco de trás, gemendo enquanto esfregava os olhos. Seu rosto estava manchado de rímel agora, seu batom manchado. Cobri-a com o cobertor de piquenique que mantinha no porta-malas e entrei no banco do motorista ─ respirei fundo, desejando me acalmar. Eu não ajudaria se estivesse em pânico. Eu precisava reunir minhas coisas e ajudá-la.
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─ Stells, vou levá-la para minha casa ─ eu disse a ela. Ela murmurou algo que não consegui entender do banco de trás e começou a roncar no segundo seguinte. Continuei dirigindo, mentalmente fazendo algumas contas para ver quando estaríamos de volta. Era pelo menos quinze minutos de carro até nossa casa. Colocando o telefone no viva-voz, liguei para Natan. Eu não queria, mas não sabia mais o que fazer. Além disso, ele ainda era o namorado dela, embora eu tenha sido o único a salvá-la nas últimas vezes. Ele atendeu, parecendo grogue. ─ Mano. Você está bem? ─ Ele nem teve tempo de fazer uma piada. Ele pareceu perceber que isso era sério. ─ Estou dirigindo para casa ─ eu disse a ele. ─ Prepare o quarto de hóspedes. Acorde nossos pais. ─ O que diabos está acontecendo? ─ Natan questionou, e eu percebi que ele estava se levantando pelo farfalhar de seus lençóis. ─ Algo aconteceu na casa da senhorita James? ─ Estella está comigo ─ eu disse a ele, e um silêncio se seguiu. ─ História longa, mas ela está... ela foi drogada ou algo assim, não tenho certeza. ─ Porra ─ Natan murmurou. ─ Por que você não a leva para o hospital? ─ O pai dela ─ eu o lembrei. ─ Ele não é tão ruim, é? ─ Eu podia imaginar meu irmão andando pelo quarto agora. ─ Isso não é culpa dela. ─ Confie em mim, Nate, ele transformará tudo isso em culpa dela ─ murmurei. ─ Estaremos aí em dez. Prepare tudo.
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─ Claro. ─ Eu desliguei, checando Estella no espelho retrovisor. Ela estava desmaiada ou dormindo, embora o som de seu ronco suave me convenceu de que era o último, então pelo menos eu não precisava me preocupar muito ainda. Os eventos da noite vieram à minha cabeça, terminando no momento em que chegamos na entrada da minha casa. Nate já estava do lado de fora com meus pais em suas roupas com monogramas e meu irmão em nada além de shorts do pijama. ─ Ela está bem? ─ Nate me questionou quando parei o carro. Ele olhou para o banco traseiro. ─ Puta merda. Como diabos isso aconteceu? ─ Ajude-me. ─ Fiz um gesto para ele tirá-la de lá e, então nós dois, pegamos Estella. Ela gemeu. ─ Milo, ela precisa ir ao hospital ─ meu pai me disse. ─ Ela pode precisar de uma lavagem estomacal... ─ Ela vomitou ─ eu disse. ─ Três vezes. Ela está apenas grogue, eu acho ─ eu espero. Precisamos observá-la a noite toda. Todos eles assentiram. Ninguém mencionou mandá-la de volta para casa. Um acordo silencioso passou entre nós. Stells não estava voltando para casa, isso era uma certeza. Nós a colocamos no quarto de hóspedes e eu ajudei Nate a deitá-la na cama. Ela abriu os olhos brevemente quando a abaixamos, olhando diretamente para mim. ─ Eu sabia que você me salvaria, Milo ─ ela sussurrou. ─ Você sempre salva. Corei, olhando para meu irmão e esperando que ele não tivesse ouvido.
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Mas seu rosto machucado me disse tudo o que eu precisava saber.
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13 DATA: 15 DE SETEMBRO DE 2019 – 10H LOCAL: CASA
DO
MILO
ESTELLA
─ Stells? Stells, você está bem? Meus olhos se abriram e eu gemi quando senti o bater na minha cabeça. Porra. O que aconteceu? Onde estou? Sentei-me na cama em que estava, esfregando os olhos, ainda carregada de rímel. Isso nunca aconteceu ─ eu sempre tomei um cuidado especial para remover minha maquiagem antes de dormir. ─ Onde... onde eu estou? Uma figura nublou minha visão, sentada na cama. Quando meus olhos se ajustaram à luz do quarto, a pessoa apareceu. Por um momento, o alívio me inundou, pensando que era Milo. Mas logo as semelhanças desapareceram, e eu percebi que Natan estava sentado ao meu lado. ─ Nate ─ eu resmunguei. ─ Eu... ─ Está tudo bem ─ disse ele, pegando minha mão na dele. ─ Você está bem agora. ─ O que aconteceu? ─ Eu perguntei, embora estivesse começando a ter uma ideia das coisas terríveis que fiz na noite anterior. Porra. ─ Meu... meu pai sabe? ─ Não, você está na minha casa ─ Natan bateu na minha mão. ─ Está tudo bem. ─ Porra, eu deveria ir para casa ─ eu murmurei.
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─ Espere, querida. ─ O quê? ─ Eu olhei para ele, franzindo as sobrancelhas. ─ Nate, eu sei que estraguei tudo a noite passada... Você não tem ideia de como eu sinto muito. Acho que só... ─ Stells, está tudo bem ─ ele me interrompeu, levantando a mão e me parando. ─ Você realmente não me deve uma explicação. ─ Mas eu quero ─ eu sussurrei. ─ Você me ajudou e você é meu namorado. ─ Mesmo que eu não trate você assim. Ele sorriu, recuperando o braço. Arrepios percorreram minha espinha, a premonição de algo ruim acontecendo me alertando para ficar quieta. ─ Stells ... ─ ele começou, suspirando. ─ Eu não sou mais seu namorado. ─ O que você quer dizer? ─ Meu coração estava batendo forte, o pânico se instalando. ─ Por que você não seria? ─ Porque acabou. ─ Ele encolheu os ombros. ─ Qual é, Stells, não podemos mais fingir. ─ Fingir? ─ A palavra saiu em um sussurro quebrado, mas meu coração ainda estava batendo forte, aterrorizada com o que ele estava prestes a dizer. ─ Nós não estávamos fingindo. ─ Isso é mentira, querida. ─ Ele se levantou, foi até a janela e fechou as persianas para que a luz entrasse no quarto. Eu apertei os olhos contra o sol. ─ Olha, não adianta mentir um para o outro. Nós dois sabíamos que isso não iria durar. ─ Fiquei quieta quando ele veio ficar ao meu lado, ajoelhando-se ao lado da cama. ─ Nós dois sabíamos que era Milo o tempo todo, não eu, não é?
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Fiquei quieta, meu lábio inferior tremendo. Eu não sabia o que dizer a ele. Eu não queria que ele ficasse chateado, mas nós dois sabíamos que sua afirmação era verdadeira. ─ Sinto muito, Natan. ─ Não sinta. ─ Ele sorriu para mim, o velho Nate que eu conhecia. ─ Olha, essa coisa tinha uma data de validade. É melhor cortarmos as coisas agora, antes que alguém se machuque. E você quer meu conselho, Estella? Dei de ombros, rindo inquieta. ─ Eu não tenho certeza que é realmente o momento para... ─ Ele gosta de você, Stells. ─ Q-quem? ─ Não faça joguinhos ─ ele disse. ─ Ele não gosta disso, e é tudo o que você faz há anos. Milo merece a verdade. E se você o machucar... confie em mim, eu vou ficar do lado dele, não do seu. ─ Eu balancei a cabeça entorpecida, muito chocada para dizer mais alguma coisa. ─ Olha, você pode ficar até se sentir um pouco melhor. Os nossos pais estão no trabalho, mas Milo está na sala assistindo alguma coisa. ─ Obrigada ─ eu murmurei, minha mente apagando qualquer outra coisa para dizer. ─ Você deveria ir vê-lo ─ ele sugeriu. ─ Onde você vai? ─ Eu tenho um encontro. ─ Ele me lançou um olhar desafiador. Uma pontada de ciúme me atingiu, mas desapareceu no momento seguinte, como um lembrete triste do que costumávamos ter. ─ Com quem?
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─ Harlem. ─ Harlem? ─ Você não pode me julgar, rainha do baile. ─ Ele sorriu maliciosamente para mim. ─ Vejo você na escola. Não se preocupe com os rumores. Vou dizer que foi amigável, o rompimento. ─ Obrigada ─ eu consegui dizer novamente, exatamente quando ele me acenou e desapareceu no corredor. Eu me levantei, gemendo. Eu ainda estava usando o vestido da noite passada, agora todo sujo e enrugado. Estive na casa de Milo e Natan com frequência suficiente para reconhecer o quarto de hóspedes e o banheiro que ficava ao lado. Eu me forcei a me levantar e entrar no banheiro, onde tirei minhas roupas e entrei no chuveiro frio. A água me acordou e me senti melhor em alguns instantes, embora tudo o que tivesse acontecido na noite anterior ainda fosse um borrão. Depois do meu longo banho, saí, percebendo que não tinha nada para vestir. Encontrei uma pilha de roupas no canto da sala ─ o banheiro também era uma lavanderia ─ e peguei uma camiseta. Eu não sabia que era do Milo até ver o logotipo do clube de xadrez de Wildwood. Eu apenas hesitei por um momento antes de puxá-la sobre minha cabeça. Foi quase até os meus joelhos. Eu estava ficando nervosa, sabendo que teria que descer as escadas em breve. Milo e eu estávamos sozinhos em sua casa e eu tinha algumas desculpas sérias para pedir. Era como se a noite anterior tivesse ligado um interruptor dentro da minha cabeça. Eu finalmente cheguei ao fundo do poço, mas agora, eu estava determinada a não deixar as coisas tão fodidas como elas já estavam. Lentamente, desci as escadas, demorando-me quando vi Milo no andar de baixo, assistindo a um documentário sobre animais na enorme
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tela da TV. Ele estava usando boxers e uma blusa de colete, os óculos presos no nariz e ele parecia... Ele parecia tudo o que estava faltando na minha vida. ─ Eu posso sentir você olhando para mim da escada, sua maluca ─ ele gritou sem mover a cabeça, e eu ri, dando os últimos passos até que eu estava ao lado dele, sentando no sofá. ─ O que estamos assistindo? ─ Eu perguntei, alcançando a tigela de pipoca em seu colo. ─ Documentário sobre tigres ─ disse ele, apontando para a tela antes de me dar uma olhada. ─ Sentindo-se melhor? ─ Sim. ─ Eu brinquei com um pedaço de pipoca antes de colocá-lo na minha boca. ─ Milo... Sinto muito pela noite passada. ─ Ele assentiu, sem dizer uma palavra. ─ Eu não deveria ter ligado para você. Eu não deveria ter feito o que fiz. ─ Aquele cara com quem você estava... ─ continuou Milo. ─ Você o conhece? ─ Não, eu o conheci ontem à noite. Romilly trabalha para ele ... mais ou menos. ─ Ele é um cara mau ─ Milo murmurou. ─ Ele estava querendo tirar vantagem de você. ─ Eu sei. ─ Eu mordi meu lábio inferior. ─ Eu... eu sabia que ele colocaria algo na minha bebida. ─ Você sabia? ─ Ele olhou para mim, obviamente confuso. Seus olhos estavam prestes a desviar quando ele notou minha roupa, e ele me bebeu, sorrindo para si mesmo. ─ Sim. Eu bebi de qualquer maneira.
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─ Por que diabos você faria isso, Stells? ─ Porque... ─ Torci a barra da camiseta entre as pontas dos dedos. ─ Porque eu queria que alguém me salvasse. E eu queria que esse alguém fosse você. ─ Você não precisa que te salve, Stells ─ Milo balançou a cabeça, os olhos fixos na TV. ─ Você só precisa parar de pedir ajuda e fazer alguma coisa sobre essa merda. Fiquei teimosamente quieta, fixando o olhar na TV e assistindo um tigre devorar uma gazela na TV. ─ Isso é nojento. Podemos assistir a outra coisa? ─ Okay. ─ Ele pegou o controle remoto, desligando a TV antes de se virar para mim. ─ Eu não quero assistir TV, de qualquer maneira. ─ O que você quer fazer? ─ Seus olhos escureceram ao ver minhas pernas nuas, e fiquei dolorosamente ciente do fato de que eu não estava usando calcinha por baixo de sua camisa. ─ Natan me dispensou. ─ Ele disse que iria ─ disse Milo sem perder o ritmo. ─ Eu acho que você merece. ─ Eu também acho. ─ Eu ri nervosamente. ─ Eu meio que estava esperando por isso mesmo. ─ Como você está se sentindo? ─ Dei de ombros, levantando cuidadosamente os olhos para ele mais uma vez. Seu olhar estava escuro, intenso. Eu não queria nada mais do que me aproximar e sentar no colo dele, mas me forcei a afastar esses pensamentos. ─ Stells... Você precisa que eu te leve para casa?
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─ Meu pai vai me matar quando me vir. ─ Eu murmurei, vendo as mãos de Milo se fecharem em punho com as palavras. ─ Enquanto eu estiver aqui, eu estou segura. ─ Então fique o tempo que precisar. ─ Ele estendeu a mão e, como se estivesse mudando de ideia, puxou a mão para trás. ─ Você é sempre bem-vinda aqui, você sabe disso. ─ Por que você não me toca? ─ Hã? ─ Agora mesmo ─ gesticulei para a mão dele. ─ Você estava prestes a me tocar, mas mudou de ideia. Por quê? ─ Por quê? ─ Ele gemeu, empurrando os óculos para cima. ─ Por que você acha, Stells? ─ Eu não sei ─ eu sussurrei. ─ Diga-me por favor. ─ Bem, você está sentada no meu sofá, seminua, vestindo minha camiseta ─ ele resmungou. ─ O que você acha, princesa? Meu coração pulava toda vez que ele me chamava assim. Eu disse a ele que odiava, mas não odiava. Eu realmente gostava e queria que ele dissesse isso de novo e de novo. E agora, finalmente, não havia mais nada nos separando. Nem Nate, nem meu pai ─ pelo menos por enquanto. Milo poderia me ter se quisesse. Eu estava mais do que disposta. ─ O que você quer fazer? ─ Eu perguntei a ele, minha voz baixa e rouca. ─ Eu quero... ─ Ele desviou o olhar, suspirando enquanto esfregava as têmporas. ─ Porra, eu não sei a coisa certa a dizer. ─ Apenas diga.
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─ Quero garantir que você nunca faça nada estúpido novamente ─ ele murmurou. ─ Eu quero saber que você nunca cometerá um erro estúpido como ontem à noite. Quero ter certeza que você não vai sair com caras estranhos e perigosos como esse. ─ Eu não vou ─ eu sussurrei. ─ Eu só quero ter certeza que você se importa comigo ─ ele continuou, sua voz quebrando sobre as palavras. ─ Não seu pai. Ou sua mãe. Ou sua irmã. Ou meu irmão. Ou qualquer pessoa na escola. Apenas. Eu. ─ Eu... ─ Mordi meu lábio inferior. ─ Eu me importo. Ele olhou para mim com aqueles olhos que derretia meu interior. ─ Sério? ─ Sim. ─ Bom. ─ Ele assentiu, colocando a tigela de pipoca na mesa de café. Ele olhou para mim antes de se recostar, com a mão no joelho. ─ Milo... ─ O quê? ─ Torne isso melhor ─ eu disse. ─ Melhorar como? Eu olhei para ele antes de pegar sua mão e gentilmente guiá-la por cima de sua camisa, no meu peito, onde meu coração estava batendo loucamente. ─ Isso. ─ Como faço para melhorar isso, Stells? ─ Toque-me.
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Ele balançou a cabeça, suas palavras ficando presas na garganta. Mas então ele engoliu, acenando para mim e batendo no joelho. ─ Venha pra cá. Hesitei por um momento, mas seus olhos exigiram minha obediência. Lentamente, levantei minha bunda do sofá e mudei de posição, então estava sentada no colo dele, encolhida. Ele respirou fundo e profundamente antes de tocar no meu cabelo, penteando suavemente os fios escuros com os dedos. ─ Você é uma bagunça, Estella ─ ele sussurrou. ─ Eu sei. ─ Eu quero beijar você. ─ Então beije. Ele olhou para mim, seus dedos no meu cabelo e seu pau começando a pressionar contra minha bunda nua. ─ O que você tem por baixo, Stells? ─ Sinta ─ eu consegui dizer. Ele gemeu, mas obedeceu. Sua mão flutuou para minha coxa, gentilmente abrindo minhas pernas. Minha respiração estava fora de controle quando ele lentamente subiu pela minha coxa. ─ Tem certeza? Eu balancei a cabeça concordando, e ele continuou fazendo isso até que seus dedos se aventuraram mais, e tocaram um ponto sensível. Então, mordi meu lábio e desviei o olhar. ─ Olhe para mim, princesa ─ ele insistiu. ─ Eu quero que você anseie. Implore por isso. ─ Por favor. ─ Engoli em seco. ─ Por favor, me toque mais.
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─ Aqui? ─ Ele pressionou a palma da mão contra o meu centro. Eu podia sentir cada um de seus dedos com tanta intensidade que pensei que desmaiaria com a sensação. ─ Onde você quer meus dedos, Stells? ─ Mais ─ me vi dizendo. Minhas reservas estavam saindo pela janela. Tudo estava mudando, e eu queria desesperadamente mais. ─ Por favor, me toque mais. Bem aí. Seu dedo indicador vagou sobre minha pele nua. Eu tinha me depilado na noite anterior. Eu me senti tão vulnerável. Ele separou os lábios da minha boceta e eu ofeguei alto, mas ele me calou com os seus lábios. Seu beijo foi egoísta, não se importando se eu estava gostando, mas simplesmente pegando o que ele queria de mim. Eu derreti em seu abraço quando as pontas dos dedos exploraram meu corpo, e ele gemeu, me fazendo montá-lo para que estivéssemos nos tocando em ainda mais lugares. ─ Você não tem ideia do que está fazendo comigo ─ ele murmurou. ─ Quão louco você me deixa... O quanto você me faz querer te despir e só... porra... te olhar por horas? ─ Faça isso ─ implorei. ─ Não. ─ Ele balançou sua cabeça. ─ Vamos fazer isso direito, Estella. Não vou te perder de novo. ─ Você nunca me perdeu. ─ Eu disse, pressionando meus lábios no pescoço dele e sentindo o pulso lá. ─ Eu sempre fui sua. Ele gemeu, me puxando para mais perto. Meu cabelo caiu ao nosso redor em uma cortina que nos dava alguma privacidade e seus lábios encontraram os meus novamente. ─ Nunca mais fuja de mim. ─ Eu não vou ─ prometi baixinho.
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─ Eu cansei de ficar atrás de você ─ ele rosnou. ─ Eu não cansei disso ainda ─ respondi. Ele riu, beliscando meu lábio inferior e enchendo meu estômago com borboletas. Eu me senti feliz. Mais feliz que nunca. As peças do quebra-cabeça finalmente começaram a se encaixar novamente. ─ Milo... ─ O quê? ─ Sua voz era ofegante, irregular. Eu sabia que ele estava se segurando. Que ele queria muito mais, assim como eu. ─ Eu realmente gosto... A porta se abriu e viramos a cabeça para o intruso que invadia a casa dos Earnshaw: meu pai. Minhas pupilas dilataram e em um momento, ele agarrou meu cabelo, me arrastando para fora do colo de Milo. ─ Solte ela, porra! ─ O grito enfurecido de Milo veio de algum lugar distante, quando meu pai me jogou no chão, longe do garoto que eu estava prestes a confessar meu amor. ─ Não ouse tocar na minha filha ─ papai gritou, avançando em Milo. ─ Papai, não! ─ Gritei, levantando-me e puxando a camisa de Milo para baixo para cobrir mais do meu corpo. ─ Por favor, ele não fez nada errado! ─ Não? ─ papai rugiu, virando-se para mim. ─ Nada de errado, Estella? Ele não estava apenas... profanando você como uma prostituta comum? ─ Soltei um soluço, vendo Milo dar um passo em direção ao meu pai, fervendo de raiva.
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─ Você não irá machucá-la mais ─ ele rosnou para o papai. ─ Eu vou... ─ Antes que ele pudesse terminar, papai deu-lhe um murro na cara, e Milo tropeçou para trás. ─ Não! ─ Eu gritei, mas já era tarde demais. Papai se virou para mim, uma expressão calma pousando em seu rosto quando ele agarrou minha mão e meio carregou, meio me arrastou para fora de casa enquanto eu gritava. ─ Milo! Por favor, não! Milo! Ele veio correndo atrás de nós, apertando o nariz. Estava derramando sangue. Comecei a soluçar loucamente, mas papai não se importou. Milo o atacou, tentando tirá-lo de cima de mim, mas papai me escondeu no carro, agarrando Milo pela camisa e empurrando-o para trás. ─ Se eu te vir perto da minha filha novamente, eu vou te matar ─ ele disse calmamente. ─ E eu vou ter certeza de que esses seus pais idiotas também fiquem em chamas. Milo olhou para ele, correndo até o carro. Pressionei minhas mãos na janela, soluçando incontrolavelmente quando papai entrou no carro. ─ Deixe-me sair! Deixe-me sair, papai! ─ Ele trancou as portas no momento em que Milo tentou abri-las e saiu da garagem como um louco. ─ Milo! Ele estava gritando algo que eu não conseguia ouvir, e papai partiu, os freios guinchando na calçada dos Earnshaw. Eu assisti a figura desaparecendo de Milo pela janela de trás, soluçando desalmadamente com o coração batendo forte. Papai ficou mortalmente silencioso o tempo todo. Sentei-me no banco de trás, olhando para meu pai com uma expressão de puro ódio.
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─ Eu cansei de você, Estella ─ ele me disse. ─ Eu cansei de você ser uma prostituta. ─ Eu cansei de você também ─ eu sussurrei. ─ Eu cansei de tudo isso, papai. ─ Vamos ver isso ─ ele rosnou em um aviso, olhando para mim pelo espelho. ─ Você vai se arrepender disso. Vou me certificar disso. Eu fiquei quieta. Eu sabia que estava condenada. Mas quando me acomodei no banco do carro, um pensamento continuou correndo em minha mente. Eu serei amaldiçoada se não lutar pelo garoto que lê. Porque ele pertence a mim e eu pertenço a ele. Agora e sempre. Eu nunca estive mais certa disso.
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14 DATA: 16 DE SETEMBRO DE 2019 – 19H LOCAL: CASA
DA SENHORITA JAMES.
MILO
Parei na frente da casa, sentindo meus nervos tirando o melhor de mim. Eu não queria estar lá. Eu não queria falar sobre o que quase aconteceu entre nós. Mas eu devia à senhorita James, corrigir as coisas. Desligando a ignição, saí do carro e caminhei lentamente até a porta, batendo nela bruscamente. Ela se abriu um momento depois, e uma Senhorita James de aparência perturbada apareceu no batente da porta. Mais uma vez, ela estava usando um daqueles vestidos de verão que eu agora associava exclusivamente a ela. ─ Ei! ─ eu murmurei. ─ Milo. Porra. Seu nariz... ─ Sua voz estava tensa e ela se afastou, apontando para eu segui-la até a parte de dentro da casa, o que eu fiz indo para a sala da frente. Pelo menos ela me deixou entrar... ─ Sinto muito por aparecer sem avisar ─ eu disse, finalmente olhando para ela. ─ Mas sinto que deixamos algumas coisas inacabadas da última vez. ─ Oh ─ ela disse corando. ─ Sim, você poderia dizer isso... ─ Eu só queria esclarecer tudo. ─ Eu a encarei, e suas bochechas ficaram mais e mais vermelhas a cada segundo. ─ Eu não acho que isso... seja o que for... deva realmente acontecer. ─ O quê?
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─ O que fizemos foi inadequado, senhorita James ─ eu gemi. ─ Convidei você para minha casa... ─ Eu sei que você fez. ─ Eu balancei minha cabeça, esfregando minhas têmporas. ─ Você não deveria. ─ Você não queria saber por quê eu te convidei? ─ Eu... não importa. Não deveríamos estar fazendo isso. Você é minha orientadora de admissões e, no próximo ano, estaremos em Eastvale. ─ Eu sei ─ ela sussurrou. ─ Isso é o que eu queria o tempo todo. ─ Hã? ─ Eu estreitei meus olhos para ela. ─ O que você quer dizer? Ela balançou a cabeça, me dando um sorriso trêmulo. ─ Olha, pelo menos, venha tomar um chá gelado. Acabei de fazer uma jarra. Você quer um copo? Eu sabia que era uma má ideia, mas também não queria machucála e me peguei acenando com a sugestão e seguindo-a até a cozinha apertada, onde uma pequena mesa redonda estava posta orgulhosa. ─ Como estão as coisas com o Sr. .. hum ... seu ex? ─ Eu perguntei quando ela me serviu um copo gelado de chá. ─ É estranho na escola? ─ Sim, como você pode imaginar. ─ Ela fez uma careta quando colocou o copo alto na minha frente. ─ Ele não tem sido incrível por estar por perto. ─ Me desculpe, por você estar passando por isso. ─ Tomei um gole da bebida e tentei me acalmar antes de olhar nos olhos dela. ─ Olha, nós realmente precisamos conversar.
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─ Eu sei ─ ela assentiu, virando os olhos para a mesa. ─ Eu esperava que tivéssemos a chance de discutir coisas... ─ Só acho que isso não deveria acontecer ─ continuei. ─ É tão inapropriado, senhorita James... ─ Se esse é o único motivo... ─ ela começou, mas eu levantei minha mão e ela se acalmou. ─ Não é a única coisa ─ eu disse com firmeza. ─ O que mais, então? ─ Suas sobrancelhas franziram e ela olhou para mim. ─ Você não me quer? ─ Eu... eu estou apaixonado por outra pessoa. ─ Porra. Dizer em voz alta realmente fez parecer real. ─ Quem? ─ Ela estreitou os olhos para mim e eu desviei o olhar desconfortavelmente. ─ Ela é mais bonita que eu? ─ Senhorita James, por favor. ─ Não ─ ela interrompeu. Eu poderia dizer como ela estava magoada pela dor em sua voz. ─ E a última vez? Você acabou de me deixar fazer isso, e você está me dizendo que não tem sentimentos por mim? ─ Foi um erro ─ eu murmurei. ─ Sinto muito, mas realmente foi, e nós dois sabemos disso. ─ Como você pode dizer isso? ─ Seus olhos lacrimejaram, mas eu fiquei olhando para ela, sabendo o quão importante era essa conversa. ─ Eu fiz tudo por você, Milo. Tudo. Para que pudéssemos ficar juntos. ─ Nós não podemos ─ lembrei a ela. ─ Seria um enorme escândalo, além de todo o resto.
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─ Quem é a garota? ─ O quê? ─ Quem é a garota, Milo? ─ ela repetiu, obviamente fervendo. ─ A que você está me trocando. ─ Eu não vejo como... Ela bateu com o punho na mesa. ─ Conte-me! ─ Credo... ─ Eu balancei minha cabeça. ─ É Estella. ─ Estella? ─ ela repetiu em descrença. ─ Estella Hathorne, eu deveria saber. Mais uma vez, é ela. ─ Eu... acho que devo ir ─ murmurei. ─ Eu só vim lhe contar antes que as coisas ficassem super estranhas na escola. ─ Ela sabe sobre nós? ─ Senhorita James interrompeu. ─ O que fizemos? ─ Não ─ falei com os dentes cerrados. ─ Você vai contar a ela? ─ Eventualmente. ─ Ela merece saber. ─ Sim, mas é minha decisão quando contar a ela. ─ Eu a lembrei. ─ Por favor, não estrague tudo. ─ Estragar tudo. ─ Ela riu amargamente. ─ Você é igual ao meu ex. Você é a mesma coisa. Fiz tudo isso por nada. Nada! ─ O que você fez? ─ Eu perguntei. ─ Eu não pedi para você fazer nada.
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─ Eu sabia que pertencíamos um ao outro! ─ ela gritou. ─ Essa é a razão pela qual eu fiz isso. ─ Fez o que? ─ Eu insisti, e ela olhou para mim. ─ A inscrição... ─ ela disse triunfante. ─ A inscrição de Estella para Eastvale. ─ O que tem isso? ─ Meu coração estava batendo de preocupação, mas ela não respondeu. Dessa vez, foi meu punho que caiu sobre a mesa já vacilante. ─ Conte-me! ─ Eu nunca enviei ─ ela anunciou, me dando um olhar vitorioso. ─ Não tinha como ela entrar naquela faculdade, porque eu enviei apenas a sua inscrição. ─ Você o quê? ─ Senti a raiva pulsando em minhas veias. ─ Você fez o quê? ─ Não se faça de bobo, Milo, ─ ela riu amargamente. ─ Você merecia aquele lugar de qualquer maneira, não aquela putinha mimada. ─ Não a chame assim ─ eu rosnei. ─ Você não vê? ─ Ela estendeu a mão para mim. ─ Esse era o plano o tempo todo, para que pudéssemos ficar juntos em Eastvale quando eu começar meu novo emprego no próximo ano... Tirei minha mão dos dedos dela. ─ O que você fez é imperdoável ─ disse a ela claramente. ─ Se o conselho da escola descobrisse isso, você seria demitida imediatamente. ─ Talvez sim ─ ela murmurou, me dando um olhar desonesto. ─ Mas eu também teria que contar a eles sobre o nosso pequeno... jogo. E então eles saberiam tudo, e você não seria capaz de ficar em Wildwood durante o último ano.
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─ Você está sordidamente... louca ─ eu murmurei. ─ Talvez sim ─ ela encolheu os ombros. ─ Mas parece que você está preso comigo por mais um tempo, Milo Earnshaw. Levantei-me, olhando para ela com nojo. ─ Você realmente quer construir um relacionamento baseado em mentiras e em seus próprios erros? Não me parece tão saudável, senhorita James. ─ Me chame pelo meu nome ─ ela implorou novamente. ─ Não, acho que não. ─ Cruzei os braços na frente do meu corpo. ─ Quero que você avise a Eastvale que você cometeu um erro. Quero que envie a inscrição de Estella agora. E quero que você se arrependa para que nós dois entremos nessa escola. ─ Ou então o quê? ─ Ou então ─ eu me aproximei. ─ Vou divulgar ao público o que você fez. Acha que eu dou a mínima se meu nome ficar em sujo? Tudo o que me importa é a garota com quem você fodeu. Então é melhor você fazer isso direito, e talvez eu vá deixar você se safar do que fez com aquela pobre garota. ─ Tudo bem ─ ela cuspiu. ─ Tudo bem ─ eu disse. ─ Espero ouvir algum resultado até a próxima semana. Ela não respondeu, apenas olhou para mim do seu assento à mesa. ─ Não vá ─ ela de repente falou. ─ Fique para o jantar. ─ Porque eu faria isso? ─ Porque eu farei qualquer coisa. ─ Ela se levantou, os quadris balançando enquanto se aproximava de mim, a meros centímetros de
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distância. ─ Eu farei qualquer coisa se você ficar, e eu vou deixar você ter tudo, Milo. ─ Eu não quero tudo ─ eu a lembrei. ─ Eu só quero que você faça as coisas certas para a minha garota. ─ Você não me quer? ─ Havia uma ponta de desespero em sua voz: ─ Eu não sou sua garota? ─ Não ─ eu disse com firmeza. ─ Você definitivamente não é. Com essas palavras, eu a deixei em pé na cozinha e saí de sua casa. Minhas mãos formaram punhos ao meu lado, minhas juntas brancas quando entrei no carro. Respirei fundo antes de sair da garagem da senhorita James. A realidade do que ela fez apenas me atingiu quando eu já estava dirigindo para casa. Porra. Isso era péssimo. Eu não podia deixar Estella descobrir. Nem agora, nem nunca.
─ Porra, pelo amor de Deus, ─ eu murmurei, olhando para a tela do meu computador. Um artigo sobre Ricardo Hawthorne estava olhando para mim do outro lado da tela. Não havia sujeira no cara ─ para os olhos do público, o pregador estava completamente limpo. Mas eu continuaria procurando, prometi a mim mesmo que continuaria até encontrar algo, precisava afastar Estella e sua família desse monstro.
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Cliquei de volta no site de e-mail em que estive anteriormente. Eu tentei sem sucesso invadir a conta do pai de Stells há dias, mas não estava funcionando. Todos os meus esforços foram em vão, e eu não tinha nada para mostrar. E eu sabia que precisava afastá-la de seu pai. Mais cedo ou mais tarde. Eu brinquei com um fidget spinner5 que estava ao lado da minha mesa, me perguntando o que fazer a seguir. Eu tentei de tudo para entrar na conta do Sr. Hawthorne, exceto adivinhar sua senha. Se eu tentasse isso, sabia que só teria três palpites antes de ser preso. Mas, visto que nada mais estava funcionando, eu também poderia tentar. Coloquei o botão giratório de agitação e deixei meus dedos permanecerem no teclado. Eu peguei o e-mail dele com Estella depois do nosso tempo na casa de repouso. Tudo o que restava era quebrar a senha. O que diabos eu sabia sobre o Sr. Hawthorne, afinal? Ele era um maluco religioso. Ele aparentemente se importava com sua família. Ele era super protetor e mudou o sobrenome da família para parecer mais genuíno, ironicamente. Digitei o nome anterior, Ricardo Hernandez. Estremeci quando o site me informou que a senha estava errada. Eu tinha duas tentativas restantes. Em que mais eu poderia me concentrar? Estella costumava dizer que a família vinha em primeiro lugar, mas a carreira de seu pai estava em segundo. E mesmo antes de ambos, havia sua fé.
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Hesitei antes de digitar Deus salve a todos nós. Uma mensagem apareceu dizendo que a senha havia sido alterada há três semanas. Franzi minhas sobrancelhas. Provavelmente uma daquelas medidas de segurança que fazem você mudar sua senha. O que significava que a senha provavelmente era similar, mas eu também tinha apenas uma tentativa ─ uma chance de acertar. Fechei os olhos, deixando minha mente funcionar e, de repente, uma onda de inspiração me atingiu, e abaixei as pontas dos meus dedos contra o teclado novamente. Dios Salva Me, digitei, clicando e me preparando para outra mensagem de erro. Em vez disso, o e-mail foi carregado na minha frente e eu quase caí da cadeira em um esforço para baixar o conteúdo de sua caixa de correio. Eu sabia que atividades suspeitas apareceriam em sua conta em instantes. Eu precisava trabalhar rápido. O conteúdo começou a baixar e eu procurei rapidamente os e-mails para ver se havia algo digno de nota. Não havia nada suspeito no que eu podia ver. A única coisa que se destacou foi uma reserva que ele fez online. Franzi minhas sobrancelhas, clicando no e-mail de confirmação. Parabéns! A sua estadia no Greenvale Valley Apartments foi confirmada. Eu cliquei no link assim que a conta piscou em vermelho. Simples assim, eu estava fora. ─ Porra ─ murmurei baixinho. Tanto para isso. O site do Greenvale Valley abriu no meu computador e franzi minhas sobrancelhas. Ficava a dois estados daqui, nas montanhas. Por que diabos o Sr. Hawthorne reservaria um lugar lá? Ele estava tendo um
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caso? Seria possível que ele estivesse mentindo para Estella, sua irmã e sua mãe? Havia outra mulher? O site foi carregado na minha frente. Os apartamentos não eram nada de especial, lembrando-me mais um motel barato. A localização era remota, acessível apenas por uma estrada de cascalho pelo que eu podia ver. Por que diabos o pai de Estella reservaria um lugar como esse? Ele estava planejando fugir da cidade? Eu cliquei no site, salvando-o nos meus favoritos para o caso de acabar sendo importante. Eu ainda estava com raiva de mim mesmo por foder com os downloads de e-mail. Eu poderia ter feito muito mais se o servidor não tivesse me bloqueado tão rápido. Houve uma batida na minha porta um momento depois, e me virei na cadeira, meus olhos ainda colados na tela do computador. ─ O que você está tramando? Eu olhei para cima e encontrei Nate parado no batente da porta do meu quarto, sorrindo amplamente para mim. ─ Nada ─ murmurei, fechando rapidamente a janela do navegador. ─ Só... hum... procurando algumas coisas de Eastvale online. ─ Desde quando mentimos um para o outro? ─ Natan entrou, sentando na minha cama. ─ Você pode me dizer a verdade, você sabe. Eu vou julgar, mas é para isso que servem os irmãos mais novos, certo? Eu ri, girando na minha cadeira e dando-lhe um olhar duvidoso. ─ Promete que não vai ficar bravo? ─ Isso é sobre Estella? ─ As sobrancelhas dele se ergueram. ─ Sim ─ eu admiti culpado.
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─ Eu deveria saber. Olha, eu sei que vocês são amigos ─ disse ele, encolhendo os ombros e enviando outro arrepio de culpa na minha espinha. ─ Faz sentido que você esteja tentando ajudá-la. Então, é sobre o maluco do pai dela? Ouvi o que aconteceu ontem quando ele a arrastou para fora daqui. Além disso, esse machucado que você está exibindo parece muito desagradável. ─ Sim. ─ Eu balancei a cabeça, abrindo a janela do navegador novamente e mostrando a ele o que eu estava procurando. ─ Estou tentando encontrar algo dele. Precisamos afastar Stells o mais longe possível dele. Ele é problema. ─ Eu tive um pressentimento. Esse cara é assustador pra caralho. ─ Conte-me sobre isso. Inspecionamos a tela juntos. ─ Então, o que são esses apartamentos? ─ Nate perguntou. ─ Ele reservou uma estadia aqui ─ continuei. ─ Pago com quatro meses de antecedência. Estranho, não é? ─ Um pouco. Encontrou mais alguma coisa? ─ Ainda não ─ eu admiti. ─ Você está apaixonado, não está? ─ O quê? ─ Eu gaguejei. ─ Por quem? O pai de Estella? ─ Não se faça de bobo, Milo ─ meu irmão me repreendeu. ─ O mínimo que mereço é alguma honestidade depois de tudo o que aconteceu. Você não acha? ─ Eu não estou apaixonado... eu acho que não ─ eu consegui. ─ Eu só... eu não posso... Realmente... parar... de pensar nela e...
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─ E o que? ─ Ficar longe. Deixá-la ir. ─ Interessante ─ ele bateu o dedo no queixo. ─ Então você não acha que isso é amor? ─ Eu não sei o que é amor ─ murmurei. ─ Eu nunca me apaixonei antes. ─ Isso é o que você pensa ─ Nate me corrigiu. ─ Oh, perdoe-me, todo poderoso. E você tem muita experiência em se apaixonar? ─ Talvez não ─ ele deu de ombros. ─ Mas eu conheço um tolo apaixonado quando vejo um. ─ Ele me deu um olhar significativo, me fazendo sorrir em resposta. ─ Agora vamos lá, eu tenho que sair daqui. Me acompanhe escada abaixo. Eu o segui pelo corredor. Meu irmão pegou sua jaqueta de lacrosse no corredor e sorriu para mim. ─ Então, você vai fazer algo sobre a minha ex? ─ Como o quê? ─ Eu me senti ficando nervoso, sentindo a culpa imediatamente. ─ Tipo, perceber que você é a pessoa a quem ela pertence. Tipo, vá para cima, porra, finalmente. Desviei o olhar, incapaz de segurar o peso do seu olhar. ─ Quem diz isso? ─ Alguém que olha para você, talvez? Olha, eu não vou ficar bravo. ─ Você realmente acha que nós daríamos certo? ─ Eu perguntei baixinho. ─ Ela é tão diferente de mim.
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─ Não é tão diferente. E vocês costumavam ser amigos. ─ Isso foi há muito tempo ─ eu murmurei. ─ E além disso, podemos ter acabado com tudo isso. Para sempre. ─ Não minta para si mesmo ─ Nate interrompeu. ─ Nós dois sabemos que você sempre esteve mais próximo dela do que eu. ─ Dei de ombros sem compromisso, não querendo confirmar o que ele havia dito. ─ Você precisa ir pela Estella, ─ ele continuou. ─ Tipo, de verdade. Não apenas algumas brincadeiras quando ninguém está olhando. ─ Você sabe disso? ─ Meio que percebi. ─ Sinto muito ─ eu consegui. ─ Eu só... não consigo ficar longe dela. ─ Então? ─ Ele encolheu os ombros. ─ Apenas vá em frente. ─ E você ficaria legal com isso? ─ Eu dei a ele um olhar longo e duvidoso. ─ Quero dizer, ela é sua ex-namorada... eu realmente não quero te atrapalhar. ─ Isso iria acontecer eventualmente. ─ Nate sorriu para mim. ─ Sério, você realmente pensou que íamos ficar juntos para sempre? Ela pertence a você, mano. Não a mim. Meu coração inchou de gratidão, e eu lhe dei um tapa nas costas, puxando-o para um abraço. ─ Obrigado, cara. ─ Eu só tenho uma condição ─ continuou Nate, sorrindo para mim perversamente. ─ Qual? ─ Você tem que pegar a calcinha da senhorita James.
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─ O quê? ─ Você me ouviu. ─ Ele piscou, rindo alto. ─ Eu quero a calcinha dela. ─ Claro ─ eu ri alto, balançando a cabeça. ─ Boa, Nate. ─ Eu não estou brincando. ─ Sua expressão ficou séria, embora os cantos dos lábios ainda estivessem aparecendo. ─ Eu quero essa calcinha, mano. E eu não me importo como você a conseguirá. Lembrese, você me deve uma por roubar minha garota. ─ Jesus ─ eu murmurei. ─ Você sabe que vai me causar problemas, certo? ─ Espero que sim ─ ele riu alto. ─ Me traga essa calcinha, e eu não direi uma palavra sobre você seguir em frente com a minha garota. Usada, se você puder. ─ Um pouco nojento ─ eu murmurei. ─ Mas tudo bem, vou ver o que posso fazer. ─ Esse é o meu irmão favorito ─ Natan sorriu, afastando-se de mim. ─ Seu único irmão! ─ Gritei atrás dele, balançando a cabeça quando ouvi a porta da frente fechar. Porra. Isso não daria certo, eu já sabia.
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15 DATA: 17 DE SETEMBRO DE 2019 – 09H LOCAL: ACADEMIA DE WILDWOOD. ESTELLA
─ Saia do carro. Peguei minha bolsa, puxando a saia do meu uniforme. Eu nem olhei para o papai quando abri a porta, recusando-me a reconhecê-lo ou dizer adeus. ─ Estrellita. Respirei fundo, finalmente olhando por cima do ombro o homem que eu conhecia. ─ O que você quer? ─ Eastvale ─ ele me lembrou. ─ Não desista do seu sonho. Hoje, fale com a senhorita James para levá-la de volta ao caminho certo. Eu não vou deixar esse garoto ir para lá em vez da minha filha. ─ Eu não quero ─ eu murmurei. ─ Eu nem quero mais ir para Eastvale. ─ Parece que eu me importo? ─ ele perguntou do banco da frente. ─ Saia e não ouse voltar sem falar com a técnica de admissão. Você se lembra das regras, não é? Se você não entrar em Eastvale, eu escolho seu marido no próximo ano. O que eu realmente deveria. O fato de eu deixar você ir para a faculdade é uma benção, Estella. Entendido? Fechei os olhos, contei até três, depois sorri brilhantemente e assenti. ─ Entendido, papai. Sua mandíbula se apertou e ele me encarou. Como sempre, fui a primeira a desviar o olhar, incapaz de suportar o peso do seu olhar. Ele
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sabia que eu estava fingindo o tempo todo? ─ Comporte-se na escola, mija. E eu estarei aqui às três da tarde em ponto para buscá-la. Você sabe o que acontece se você se atrasar. ─ Não é como se você pudesse tirar qualquer outra coisa de mim ─ murmurei baixinho. ─ Com licença, o que você disse? ─ Nada ─ eu suspirei. ─ Vejo você às três. Até mais tarde, papai. ─ Saí do carro e fiquei na frente da escada que levava à Academia Wildwood. Senti o papai me observando quando ele saiu da frente da escola, indo para o trabalho. Fechando meus olhos com firmeza, deixei-me respirar fundo. Eu estava nervosa. Eu, Estella Hawthorne, tremendo na frente da entrada da escola que eu costumava governar. A voz de Harlem ecoou em minha mente, me lembrando o quão longe eu caíra, mas fiz o meu melhor para ignorá-la. Esmaguei meus medos e subi as escadas em direção ao prédio. Os sussurros começaram assim que cheguei à escola. Olhares, risadinhas e sorrisos seguiram-me todo o caminho dentro do corredor da frente. Eu sabia que estava me misturando, e eu nunca me misturei. Mas no meu uniforme regular, sem maquiagem e meu cabelo em um coque liso, eu mal me sentia como eu. No entanto, não havia como papai me deixar sair de casa com uma aparência diferente. Eu já lutei com ele pela minha chance de continuar em Wildwood. Ele estava decidido a me mandar para uma escola em outro lugar, e, para ele, esse era meu período de liberdade condicional. ─ Ei, Estella! O Museu Nacional de História ligou, eles querem suas roupas velhas de merda.
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Eu segui o comentário para uma garota que eu mal conhecia, observando-a rir em seu pequeno grupo de aspirantes. Elas nem eram veteranas. Porra. Eu atravessei o corredor quando vi Nate em pé ao lado de seu armário com alguns caras da equipe de lacrosse. Soltei um suspiro de alívio e fui até eles, puxando o blazer de Nate. ─ Graças a Deus você está aqui ─ eu ri. ─ Todo mundo está me tratando como uma porcaria, porque eu não estou arrumada hoje. Os três ficaram completamente quietos, e Nate finalmente se virou para olhar para mim. ─ Desculpe o quê? Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha, olhando em volta nervosamente. ─ Meu pai. Ele me castigou, e eu não tenho permissão para usar maquiagem. Ele basicamente apenas... ─ Sinto muito, Stells. ─ Natan me deu seu sorriso brilhante. ─ E eu devo me importar, porquê? ─ Eu... ─ Eu o encarei, incrédula. ─ Eu sinto muito? ─ Sim, agora vá para a aula ─ ele fez um sinal para eu sair. ─ Eu tenho coisas importantes para discutir e, caso você tenha esquecido, nós terminamos. ─ Sim ─ eu disse. ─ Amigável, lembra? ─ Não será tão amigável se você não for ─ ele piscou, virando as costas para mim. Afastei-me, sentindo tanta raiva que poderia ter estourado. Claro que ele estava guardando rancor. Por que eu estava esperando uma coisa na minha vida seguir o caminho que eu queria que fosse?
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Fui para a minha primeira aula, rezando silenciosamente que ninguém me pegasse, o tempo todo, sabendo que eu esperava o impossível. Assim que entrei na sala de aula, as fofocas começaram, algumas das quais foram direto para o meu rosto. No momento em que eu me acomodei no meu assento habitual ─ centro da sala, que eu costumava amar, mas agora odiava com todas as minhas forças ─ eu tinha sido chamada de freira, vagabunda e puta. A professora entrou momentos depois e eu dei um suspiro de alívio. Concentrei-me na lição, fazendo o meu melhor para seguir até sentir algo batendo na parte de trás da minha cabeça. Eu ignorei as primeiras bolinhas, mas na quarta, me virei, olhando para duas garotas rindo atrás de mim. ─ Viu algo engraçado, Bex? ─ Eu assobiei. ─ Seu reflexo, talvez? ─ Vá se foder ─ sua amiga jogou de volta. ─ Desculpe, Ruth ─ revirei os olhos. ─ Não percebi que você estava aí, você é tão sem importância. ─ Estella. ─ Eu olhei para cima e encontrei o professor olhando para mim. ─ Eu não estava conversando ─ argumentei. ─ Estella, não... ─ Elas me atacaram! ─ Eu insisto. ─ Estella, você tem chiclete no cabelo. ─ O quê? ─ Eu sussurrei, minha mão indo para a parte de trás do meu pescoço e sentindo três pedaços pegajosos emaranhados no meu coque. ─ Eu...
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─ Você deveria ir ao banheiro ─ disse a professora, e eu pude sentir a pena na voz dela. ─ Está tudo bem. Apenas vá. Corando profundamente, peguei minhas coisas da mesa e corri para fora da sala de aula ao som de uma risada silenciosa. Eu não me permitiria chorar, nem mesmo quando tropeçava em minhas sapatilhas de balé simples e quase me fazia voar. Finalmente, cheguei ao banheiro das meninas, largando minhas coisas e deixando meus cabelos soltos para inspecionar os danos. A
goma
estava
alojada
ali,
mastigada
e
molhada
e
permanentemente presa às minhas madeixas. Eu realmente pensei que ia chorar então, mas eu segurei tudo e me forcei a puxá-lo para fora. Eu gritei quando puxei uma grande mecha de cabelo, assim que ouvi o barulho da descarga e a porta do cubículo se fechar. Andrômeda Amberly saiu do cubículo, seus olhos olhando para mim. Ela zombou quando me viu, e eu me virei, me protegendo dela. ─ O quê? Você não tem nada a dizer? ─ ela perguntou enquanto lavava as mãos. ─ Não tem nenhum nome novo para me chamar hoje? ─ Apenas me deixe em paz ─ eu murmurei. ─ Tanto faz ─ ela revirou os olhos, me dando um olhar lateral. ─ O que diabos aconteceu com seu cabelo? ─ Nada ─ eu sussurrei. ─ Nada. ─ Isso é chiclete? ─ Tanto faz. ─ Você precisa molhá-lo. ─ Ela se aproximou e eu me encolhi quando ela pegou a tesoura que eu estava pegando da minha bolsa e longe de mim. ─ Você não precisa cortar.
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Baixei minha cabeça contra a pia e Andrômeda me ajudou a molhála. Depois disso, o chiclete saiu facilmente. ─ Por que você está me ajudando? ─ Perguntei a ela depois, virando meu rosto sem maquiagem para ela. ─ Porque eu já passei por isso ─ disse ela. Ela não mencionou que era culpa minha, mas nós duas sabíamos que era. ─ Sinto muito ─ eu sussurrei. ─ Com licença? ─ Ela riu. ─ Eu ouvi isso certo? ─ Eu era uma vadia com você ─ continuei. ─ E... e Pandora. Ela me deu um longo olhar de descrença. ─ Você está sendo sincera agora? ─ Eu estou ─ assenti. ─ Cem por cento sincera. Sinto muito. ─ Uau ─ ela sorriu. ─ Obrigada, Estella. ─ Ela saiu do banheiro balançando a cabeça e eu terminei com meu cabelo sentindo alívio e medo bombear através de mim na mesma medida. Esta foi a primeira vez que eu percebi o quão desagradável os estudantes em Wildwood poderiam ser. Eu estava percebendo agora que era muito fácil ir de um lado do grupo de provocação para o outro. Quando terminei de secar meu cabelo sob os secadores de mãos, eu ainda tinha vinte minutos antes da próxima aula. Eu sabia que tinha que fazer o que papai me dissera, caso contrário, seria punida novamente quando chegasse em casa. Saindo do banheiro, fui para o terceiro andar, onde ficava o escritório da senhorita James. Bati na porta duas vezes, mas não houve resposta. Por fim, tentei a porta, que se abriu em um escritório vazio.
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Mordi meu lábio inferior, me perguntando se o que eu estava fazendo era realmente muito ruim. Mas não pude evitar. Entrei no escritório, dizendo a mim mesma que esperaria até a senhorita James voltar. Coloquei meus livros e minha bolsa em uma das cadeiras em frente à mesa dela, depois passei pela sala, verificando as coisas em suas prateleiras. Ela tinha algumas molduras. As fotos lá dentro eram dela, sempre sozinha, geralmente tirando uma selfie na frente de alguma maravilha natural ou o que diabos fosse. Havia um com um elefante bebê que era muito fofo, até eu tive que admitir. Eu me perguntei por que ela estava sozinha na maioria das fotos brevemente antes de parar em frente ao arquivo no canto da sala. Olhei para fora pela janela da porta, mas não havia ninguém por perto. Meu coração começou a bater forte. Eu queria ver o ensaio de Milo. O ensaio que o colocou na faculdade no meu lugar. Sem me dar um segundo para pensar sobre isso, abri a gaveta do armário marcada com 'Aplicações'. Eu procurei, finalmente encontrando uma pasta fina chamada Eastvale. Puxando para fora, vi menções do meu nome e do Milo e, finalmente, peguei uma cópia do ensaio de Milo. Quando o fiz, um envelope grosso caiu da pasta e o peguei, franzindo as sobrancelhas. Reconheci minha própria caligrafia, bem como o envelope que eu havia embalado com tanto cuidado alguns meses antes. Era a minha candidatura a Eastvale. Minha boca caiu em choque, mas antes que eu tivesse um momento para processar meus sentimentos, a maçaneta da porta começou a se mover. Coloquei o envelope de volta e fechei rapidamente a gaveta, procurando um lugar para me esconder. Peguei meus livros e minha bolsa e me arrastei para debaixo da mesa bem a tempo.
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Alguém entrou no escritório, e eu me encolhi contra a madeira da mesa, rezando para que não me encontrassem e me xingando por me esconder em primeiro lugar. Eu deveria ter jogado bem. Ninguém disse uma palavra e, a julgar pela maneira como seus passos soaram, essa pessoa não estava usando salto. A senhorita James sempre usava. Então, quem estava em seu escritório agora? Eu espiei na esquina, mas rapidamente puxei minha cabeça para trás quando notei que o estranho estava ainda mais perto do que eu pensava. Meu coração estava batendo forte. Como isso era possível? Por que a senhorita James guardou a minha inscrição? Ela havia enviado um diferente pelo correio? Não, ela não poderia ter feito isso. Incluí uma carta pessoalmente escrita ─ e o envelope foi selado. Eu ouvi alguém cavando as coisas da senhorita James, mas me forcei a não olhar na esquina até que eu realmente não aguentasse mais. Espiei pelas pernas da mesa, meus olhos se arregalando quando vi quem estava no escritório comigo. ─ Milo? Ele olhou para baixo, puxando algo do armário da senhorita James. ─ Que diabos está fazendo? ─ Saí de debaixo da mesa dela, meus olhos se arregalando enquanto eu via a visão. O garoto que eu estava beijando um dia atrás, parado na minha frente... vasculhando as coisas da nossa oficial de admissão. ─ Que porra é essa?
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16 DATA: 17 DE SETEMBRO DE 2019 – 09H30. LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD. MILO
─ Ei ─ eu consegui. ─ Eu estava apenas... ─ Eu investiguei o armário da senhorita James, ficando sem ideias. ─ Eu estava apenas procurando um formulário que a senhorita James me pediu para preencher. Você a viu por aí? ─ Não. ─ Estella me lançou um olhar desconfiado e senti a cor drenar das minhas bochechas quando ela me encarou. ─ Eu estava procurando por ela também. ─ Claro. ─ Eu balancei a cabeça com um sorriso. ─ É por isso que você estava escondida debaixo da mesa dela. Ela corou, murmurando algo enquanto eu caminhava em sua direção, minha mão persistindo em seu quadril direito. Toquei meu polegar na pele sob sua blusa, esfregando suavemente sua pele sedosa. ─ Você não deveria fazer isso aqui ─ Stells sussurrou. ─ Você não deveria fazer isso. ─ Por que não? ─ Eu sussurrei contra sua orelha, apreciando a sensação de seus cachos sedosos contra minha bochecha. ─ Você não gosta, princesa? ─ Eu gosto ─ ela gemeu. ─ Mas você sabe que meu pai te mataria. ─ Perdoe-me se eu não der a mínima para isso ─ eu gemi em seu ouvido. ─ Como estão as coisas em casa?
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─ Difíceis ─ ela sussurrou. ─ Ele está vindo me trazer e me buscar na escola agora. Pegou meus telefones e trancou minhas roupas. Estou sob supervisão constante. ─ Porra. ─ Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. ─ Tentei entrar em contato. Devo ter ligado para o seu telefone pelo menos vinte vezes. ─ Eu sinto muito. ─ Fechamos os olhos e me vi sorrindo. Eu queria mais. Para tocá-la, senti-la. Agora que não era tão proibido como antes, me vi desejando sentir a pele dela contra as pontas dos dedos. Isso me assustou e me excitou ao mesmo tempo. ─ Não é sua culpa ─ murmurei. ─ Stells, eu... A porta do escritório se abriu e nos separamos. Senti o peso do olhar da senhorita James quando ela entrou no escritório, sentando-se à mesa e folheando alguns papéis. ─ Posso ajudar? ─ ela perguntou secamente, sua voz gelada. A culpa é minha, lembrei a mim mesmo. ─ Eu estava apenas... ─ Stells e eu falamos ao mesmo tempo, e ela riu nervosamente quando assumi a liderança. ─ Estávamos apenas tentando ver se você tem alguma notícia de Eastvale ─ eu finalmente disse. ─ Estella ainda está na corrida, certo? ─ Sim, para as admissões regulares ─ disse a senhorita James, me dando um longo olhar. ─ Claro, como vocês dois sabem, as chances de ela entrar são muito pequenas, agora que você foi aceito, Milo. ─ Claro. ─ Eu sorri e dei de ombros para Estella. ─ Parece que é melhor irmos embora.
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Saímos do escritório mal segurando nossas risadas. Uma vez lá fora, virei-me para encará-la e perguntei: ─ O que você estava realmente fazendo lá? ─ Reconhecimento ─ ela respondeu, estreitando os olhos para mim. ─ E você? Por que você estava revistando as coisas da senhorita James? ─ Eu estava apenas procurando minha... carta de admissão ─ eu disse a ela, e ela assentiu. ─ Eu estava com pressa, então pensei em procurar por mim. ─ Certo, certo ─ ela assentiu, me olhando desconfiada. Eu não poderia dizer exatamente a verdade ─ que estava procurando a calcinha da senhorita James, poderia? Eu prometi a Natan que a pegaria, o que ele não deixou de me lembrar esta manhã. ─ Quando posso te ver? ─ Eu perguntei a seguir, meu coração batendo forte no peito enquanto a inspecionava. ─ O papai basicamente me transformou em prisioneira ─ ela gemeu. ─ Mas vou tentar fugir o mais rápido possível. Talvez hoje à noite? ─ Hoje à noite eu... ─ peguei minhas palavras com cuidado. Eu tinha que pegar aquelas calcinhas se quisesse que Natan aceitasse Estella e eu estarmos juntos. ─ Eu tenho um compromisso prévio. ─ Ah. ─ Ela me olhou, e eu quase me senti corar. ─ Que tipo de compromisso? ─ Eu... tenho algo a fazer pelo meu irmão ─ eu consegui. ─ Mas eu vou te ver na aula de álgebra, certo? ─ Certo. ─ Ficamos ali sem jeito até que finalmente reuni coragem para puxá-la contra mim. ─ O que você está fazendo?
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─ Senti sua falta ─ sussurrei contra seu pescoço. ─ Estou preocupado com você. ─ Ajude-me a sair de lá ─ ela disse suavemente. ─ Não quero mais ficar presa em casa. Tenho medo dele... O que ela disse fez meus cabelos arrepiarem, e eu percebi o quanto eu odiava o pai de Estella. Ele era uma péssima pessoa, e eu precisava encontrar uma maneira de afastá-la dele. ─ Estou fazendo o meu melhor, Estella. Vou continuar tentando. ─ Nós nos separamos, e eu senti seu olhar persistente em mim quando o sinal da escola tocou, anunciando o fim da aula. Quando o corredor se encheu de pessoas, percebi que ela estava nua, vestindo o uniforme clássico de Wildwood, não uma versão personalizada que mal cobria sua bunda. ─ Você está bonita hoje. ─ Realmente? ─ Ela estremeceu. ─ Hoje? Eu não estou usando maquiagem... ─ Bonita ─ eu assenti. ─ Tão linda. Ela sorriu antes que um colega de classe, Ryan, me desse um tapinha nas costas. ─ Milo, meu homem. ─ Ele olhou para Estella, olhando mais de perto quando notou como ela era. ─ Cara, o que aconteceu com você? Embora sua pergunta tenha sido feita para Estella, eu não pude evitar, responder por ela. ─ Nada aconteceu com ela, mas algo pode acontecer com você, se você a zoar assim. ─ Eita, acalme-se ─ Ryan franziu a testa. ─ Não precisa tirar sua calcinha da bunda. Estamos atrasados para a educação física. Você vem? ─ Claro ─ eu murmurei, meus olhos ainda firmemente fixos em Estella. ─ Até mais, princesa.
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Ela acenou quando saímos, e eu senti seu olhar na parte de trás do meu pescoço. Eu me virei, mas eu não podia mais vê-la através da multidão no corredor. A necessidade de voltar para ela fez meu coração palpitar no peito, mas me forcei a continuar andando. Haveria mais tempo para isso mais tarde.
Quando a escola finalmente terminou, entrei no meu carro. Eu ainda tinha algo para cuidar. Natan tinha sido inflexível sobre a calcinha, me lembrando três vezes durante o dia na escola que ele poderia dificultar minha vida se realmente quisesse. Eu gemi interiormente quando me sentei no banco do motorista. Não havia como sair dessa. Percorri minhas notificações enquanto esperava, decidindo o que fazer. Eu havia configurado um alerta de busca para o pai de Estella no dia anterior e, agora, meu telefone estava me dizendo que havia um novo artigo sobre Ricardo esperando. Eu cliquei no link, meus olhos se arregalando enquanto eu observava a enorme manchete.
O pregador milionário Carlos Hawthorne é tão limpo quanto parece?
Eu olhei o artigo. O escritor continuava falando sobre um boato ouvido através da videira sobre uma possível investigação sendo aberta sobre o pregador. Parecia uma notícia falsa para mim ─ alguns desses
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blogueiros fariam qualquer coisa para trazer tráfego para o site deles. Mas, ainda assim, não consegui descartá-lo completamente. Se realmente houvesse uma investigação, isso significava que Hawthorne seria examinado cada vez mais. E se encontrassem alguma sujeira dele... não seria bom para Estella. Precisávamos chegar à frente disso. Eu olhei para a escola. Os horários para o escritório de admissões não terminariam por mais uma hora, o que significava que eu tinha algum tempo para conseguir o que precisava. Além disso, eu sabia onde a senhorita James morava agora. Lutando com meus demônios interiores, liguei o carro e saí do estacionamento de Wildwood. Comecei a dirigir em direção à casa dela, me odiando pelo que estava prestes a fazer. Mas quando eu vi Estella na aula de álgebra, ela parecia tão arrasada e chateada. Nós não tivemos a chance de conversar, mas eu tive a sensação de que a mudança na roupa e na maquiagem dela não tinha passado tão bem com todo mundo quanto aconteceu comigo. Eu queria consolá-la, mas não tive uma oportunidade, e agora estava prestes a invadir a casa de um membro da equipe da escola... para roubar algumas calcinhas, nada menos. Porra. Eu dirigi em direção à casa da senhorita James lutando com minha mente por todo o caminho até lá. Finalmente, eu parei na frente de sua entrada vazia. Não havia ninguém por perto, exceto uma mulher idosa andando com um poodle de aparência esquisita. Saí do carro, tentando a porta da frente. Trancada. ─ Porra ─ murmurei para mim mesmo, olhando pelas costas. Quais eram as chances de ela deixar a porta dos fundos destrancada, afinal? A cidade estava segura, mas este não era o melhor bairro do mundo. Andei para a parte detrás da casa, contornando os arbustos que separavam a propriedade da senhorita James, até que a porta dos fundos apareceu.
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Dei uma outra olhada antes de tentar. A porta se abriu facilmente e eu empurrei a porta da tela. Assim, eu estava na casa dela. Soltei um suspiro de alívio, rapidamente percorrendo a casa até chegar ao banheiro. A pequena casa estava impecável, e eu me odiava enquanto vasculhava a cômoda da senhorita James em seu quarto simples, puxando uma calcinha de renda rosa chock. Eu assobiei para mim mesmo e sorri quando a coloquei no bolso. Pelo menos agora eu poderia tirar Nate das minhas costas. Esse era um problema que eu tinha resolvido, pelo menos. Nesse momento, ouvi um carro lá fora, e a cor sumiu do meu rosto. Eu estava prestes a ser pego, mas pelo menos ela não saberia sobre a calcinha. A porta da frente destrancou quando me sentei à mesa de jantar. A mesma em que estávamos sentados quando eu terminei as coisas... ─ Milo? ─ Senhorita James estava na porta, estreitando os olhos. ─ Que diabos ...? ─ Eu... ─ Eu estava lutando para encontrar algo para dizer que desculpasse minha presença sem aviso prévio. ─ Eu queria checar a coisa de Eastvale novamente, já que não tivemos chance na escola. ─ Então você pensou que tudo bem invadir minha casa? ─ Ela estreitou os olhos para mim, fechando a porta atrás dela. ─ Estella está aqui também? ─ O quê? ─ Franzi minhas sobrancelhas. ─ Claro que não, por quê? ─ Eu poderia jurar que vi um carro familiar lá fora. ─ Nós dois olhamos pela janela, mas a rua estava deserta, exceto por nossos próprios carros na garagem. ─ Você não pode simplesmente entrar aqui
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assim, Milo, foi você quem interrompeu as coisas. É seriamente inapropriado. Sim, como se isso fosse um problema para você, pensei comigo mesmo, mas fiquei de boca fechada, sabendo quando era hora de guardar meus pensamentos para mim mesmo. ─ Sinto muito, mas queria falar com você em particular. ─ Oh? ─ Ela colocou sua bolsa na ilha da cozinha, me dando um olhar esperançoso. Porra. Posso me meter em mais problemas aqui? Ela chegou mais perto, e eu me forcei a não vacilar quando ela tocou sua mão na minha. ─ Sobre o quê? Eu estive pensando sobre as coisas... ─ Não sobre... ?Hummm... ─ Eu lutei para dar a ela uma resposta apropriada. Eu arrisquei ter suas esperanças, ou deixá-la ainda mais irritada comigo. Isso não ia acabar bem, e eu já sabia disso. ─ Sobre Eastvale. O que acontece se eu decidir desistir do meu lugar? ─ Desistir? ─ Ela me deu um olhar chocado. ─ Milo, é a melhor escola do estado. ─ Eu sei ─ eu murmurei. ─ Mas eu quero que Estella vá. ─ Ela pediu para você fazer isso por ela? ─ As sobrancelhas da senhorita James se ergueram. ─ Porque isso está errado em tantos níveis que eu não posso nem começar... ─ Não, ela não pediu ─ eu a interrompi. ─ Ela nunca pediria, e ela não quer que eu faça. Mas eu sei o quanto isso significa para ela. Os lábios da senhorita James se contraíram em uma linha fina, e ela me deu um breve aceno de cabeça. ─ Você realmente faria qualquer coisa por essa garota, não faria, Milo?
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─ Praticamente ─ eu murmurei antes que eu pudesse me parar. ─ Ela é... especial. ─ Claro ─ ela assentiu, chegando mais perto de mim. ─ Qualquer um pode ser especial se você se importa com eles, Milo. Nós... nós poderíamos ter sido especiais. ─ Eu... não sei sobre isso. ─ Eu ri nervosamente, levantando-me do meu lugar. Minha mão estava no meu bolso, empurrando sua calcinha mais fundo para que não caísse. Deus não permita que ela descubra sobre isso... Eu nunca a tiraria das minhas costas com isso. ─ É verdade ─ ela disse suavemente, sorrindo para mim. ─ Nós poderíamos ter sido tão especiais, se você não tivesse jogado tudo fora... Diga-me, você se arrepende, Milo? Eu mudei meu peso de um pé para outro, recusando-me a encontrar seu olhar. ─ Eu realmente não penso nisso, senhorita James. ─ Ainda se recusando a me chamar pelo meu nome? ─ Ela riu, dando outro passo à frente. Agora eu estava enjaulado entre ela e a parede, meus nervos tirando o melhor de mim e meu coração batendo mais rápido do que nunca. ─ Eu gostaria que você me beijasse, Milo. Eu realmente, realmente quero que você me beije. ─ Senhorita James, eu realmente não acho que isso seja bom... ─ Shh. ─ Ela estava a centímetros de mim agora, com os olhos brilhando. ─ Não diga nada, Milo. Eu não poderia ter tido nada, mesmo que quisesse. E eu estava ciente de sua calcinha de renda rosa chock no meu bolso. Se ela percebesse que eu a tinha, ela nunca me deixaria em paz. ─ Acho que devo ir ─ consegui sair. ─ Vou me atrasar para o jantar.
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─ Não vá ─ ela ronronou, passando o dedo sobre o meu peito. ─ Ainda há tempo para corrigir as coisas. Você sabe que quer isso, não é, Milo? Apenas pare de lutar. Eu já tive o suficiente. Agarrei seus pulsos gentilmente, mas com firmeza, mantendo-a longe de mim. Ela levantou os olhos para olhar para mim, e eu sabia que ela estava chateada por eu dizer não, mas eu tinha passado do ponto de me importar. ─ Não deveríamos estar fazendo isso ─ lembrei a ela. ─ Realmente, não deveríamos estar fazendo isso. ─ Mas eu conheço você... ─ Não, eu não... ─ eu a interrompi. ─ Eu não quero, e você também não deveria. Foi uma péssima ideia desde o início e eu nunca deveria ter deixado isso ir tão longe quanto deixei. Então, por favor, vamos esquecer tudo o que aconteceu aqui hoje. Vou sair agora e não quero que você diga uma palavra sobre isso a ninguém. Você entendeu? ─ Mas nós... ─ Não há nós, senhorita James ─ Seus pulsos tremiam ao meu alcance, e eu a soltei, vendo seus braços caírem ao lado do corpo. Ela estava chateada. Definitivamente chateada. Mas eu tinha conseguido o que tinha buscado e agora era hora de partir. Eu me afastei dela, caminhando para a porta. Eu meio que esperava que ela fizesse outra jogada, e não fiquei surpreso quando ela me chamou pela última vez. ─ Milo. ─ Sua voz estava gelada dessa vez, e eu sabia que era hora de ela usar o que tinha contra mim para me forçar a fazer algo que eu não queria fazer.
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─ Sim? ─ E se eu disser à escola que você deu em cima de mim? ─ A voz dela era amanteigada, mas eu não ia cair nessa. Essa era apenas outra maneira de ela tentar conseguir o que queria tanto. ─ E se eu disser a eles que você me forçou a uma posição comprometedora? ─ E quem vai acreditar em você? ─ Eu perguntei a ela, olhando por cima do ombro. ─ A nova professora de uma escola de prestígio que vive em um lugar inútil como esse? Ninguém vai comprar essas mentiras, Srta. James. E isso me diz o quão longe você caiu. Como você está desesperada. ─ Eu me virei, olhando-a com pena nos meus olhos. ─ Você deve saber que eu não queria que isso acontecesse, mas vou me defender se você tentar me derrubar. Eu não sou trouxa. Ela ficou teimosamente quieta, seu lábio inferior tremendo enquanto ela me observava. Sorri para ela, um triste lembrete da amizade que poderíamos ter se ela não tivesse me forçado a tentar conseguir o que queria. ─ Adeus, Srta. James. Saí da casa dela, dando um suspiro de alívio quando cheguei ao meu carro. Entrei e saí da entrada da casa dela, dirigindo sem rumo até me encontrar em um ponto panorâmico no topo da cidade. Estacionei, liguei a música e me permiti finalmente respirar novamente. Meu telefone começou a tocar naquele momento e eu atendi, franzindo as sobrancelhas quando vi o número de Finn piscando na minha tela. Nós realmente não ligamos um para o outro, fazendo o possível para evitar a comunicação desde que começamos a ser chantageados, o que significava que isso só poderia ser uma má notícia. Eu atendi a ligação. ─ E aí, como vai?
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─ Milo. ─ Eu praticamente podia vê-lo sorrindo para mim como o gato que pegou o creme. ─ Eu posso ter tropeçado em algo que poderia ser útil para você. ─ Ah sim? ─ Passei a mão pelo meu cabelo. ─ O que poderia ser isso? ─ Eu tenho algumas informações sobre o pai de Estella Hawthorne ─ disse ele. ─ Um passarinho me disse que você está desesperado para saber como derrubá-lo. Minha pele formigou com o pensamento. Finn morava em um bairro de merda não muito longe da Srta. James. Ele tinha contatos, pessoas obscuras que negociavam na melhor moeda que existia ─ informação. ─ O que você sabe? ─ Bem, eu não vou apenas te contar ─ ele riu alto. ─ Garoto nerd bobo. Vai te custar, se você quiser descobrir. ─ Tudo bem ─ eu chorei. ─ Quanto e quando você vai me dizer? ─ Mil dólares ─ ele continuou. ─ Eu quero o mais rápido possível. ─ Mil dólares? ─ Eu repeti. Estava baixo. Muito baixo. Finn deve estar desesperado pelo dinheiro. ─ Tudo bem, você tem um acordo. Podemos nos encontrar agora? ─ Sim. ─ Eu o ouvi levantar. ─ Na cidade. Você conhece aquele spa perto da casa de Clancy? ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Você quer se encontrar lá? ─ Que porra de lugar estranho. ─ Você verá o porquê. Encontro você lá em dez.
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─ Pode deixar. Eu desliguei e verifiquei meu saldo bancário no meu aplicativo de telefone. Havia na minha conta o suficiente para atender às demandas de Finn, mais do que suficiente, na verdade, embora eu tivesse a sensação de que teria algumas explicações a fazer quando chegasse em casa. Afastando-me do local, cheguei ao nosso ponto de encontro minutos depois. Mal tive tempo de transferir o dinheiro da minha conta para o Finn. Finn parou alguns minutos depois em sua moto. Ele tirou o capacete quando me aproximei, sorrindo para mim. ─ Você está pronto para isso? ─ ele perguntou, e eu assenti. ─ Conseguiu o dinheiro? ─ Eu transferi para você ─ eu disse a ele. ─ Como? ─ ele franziu as sobrancelhas. ─ Não quero deixar rastro. ─ Seja como for, cara, eu vou inventar alguma coisa ─ murmurei, embora eu pudesse dizer que ele não estava nada satisfeito com isso. Suspirei, puxando meu telefone novamente e passando a tela. ─ Pronto, apenas adicionamos mais quinhentos. Isso vai te calar? Ele sorriu para mim. ─ Você entendeu, garoto rico. Vamos lá, vamos entrar. Entramos no spa, parecendo dois idiotas em meio a todas as garotas com suas manicures e pedicures. A senhora da recepção nos deu um olhar estranho, mas Finn caminhou até o balcão com um sorriso confiante. ─ Estamos procurando uma massagem ─ disse ele com confiança.
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─ Uma massagem? ─ Ela levantou as sobrancelhas, olhando para nós dois. ─ Mais de dezoito anos? ─ Eu tenho ─ entrei, e ela nos deu outro olhar desconfiado antes de assentir. ─ Ok, você pode vir. Você fica aqui fora, no entanto. ─ Ela olhou para Finn, e eu olhei por cima do ombro enquanto ela fazia sinal para eu segui-la. Eu dei um passo atrás dela, já tendo uma ideia do que isso ia ser. ─ Você paga antecipadamente à sua massagista. ─ É claro ─ assenti, estreitando as sobrancelhas quando entramos em uma parte isolada da sala. ─ Tire a roupa ─ disse ela. ─ A massagista está esperando na sala três. ─ Ótimo. ─ Abri um sorriso e ela saiu com relutância, como se ainda não estivesse convencida sobre minhas verdadeiras intenções. Tirei minha jaqueta, mas no momento em que a porta se fechou atrás dela, eu estava em movimento, ansioso para descobrir como esse lugar estava conectado ao pai de Estella. Eu segui o som da risada até um longo corredor com portas nos dois lados. Porra. Quase não havia chance de encontrar Ricardo Hawthorne lá. No momento em que invadisse um desses quartos, eu seria escoltado para fora do local. Por isso, achei melhor esperar que o homem se revelasse. Eu estava atrás de um separador de quartos, servindo um copo de água de pepino enquanto esperava alguém aparecer. E não demorou muito. Nem cinco minutos depois, uma das portas do lado direito do corredor se abre e sai uma ruiva bonita e jovem, e ninguém menos que o pai de Estella.
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Ele murmurou algo em seu ouvido enquanto eu observava, e ela corou, acenando para ele quando ele saiu. Eu não tinha nenhuma evidência concreta, pelo menos não o suficiente para derrubar Hawthorne. Mas a ruiva ainda estava lá, e ela provavelmente teria algumas respostas. ─ Ei! ─ eu saí de trás da tela. ─ Qual é o quarto três? ─ Ah! ─ Ela apertou o peito. ─ Você me assustou. É aquele ali. ─ Ela apontou para uma porta claramente marcada e me deu um olhar estranho. ─ Eu já te vi antes? ─ Não, eu sou novo ─ sorri, olhando para ela. ─ Ei, e se eu quiser fazer isso com você? ─ São mil dólares extras. ─ Ela cruzou os braços, me encarando. ─ Que tal quinhentos e você me dá algumas informações? ─ Eu sugeri. ─ Eu não... acho que não deveria fazer isso ─ ela murmurou, olhando em volta em busca de apoio. ─ Não se preocupe, eu não sou policial. ─ Cheguei mais perto, tirando algumas notas de cem dólares do bolso e as colocando na palma da mão. Ela não resistiu a mim. ─ Eu só tenho algumas perguntas sobre o homem que acabou de sair. ─ Carlos? ─ Ela empalideceu. ─ Estou com problemas? ─ De modo nenhum. ─ Eu tentei parecer calmo quando dei a ela um sorriso reconfortante. ─ Mas ele pode estar. O que vocês fazem juntos? ─ Tudo o que ele paga ─ ela sussurrou, embolsando o dinheiro. ─ E ele paga bem.
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─ Ele é duro com você? ─ Eu exigi, e ela desviou o olhar sem responder. Mas a resposta estava bem na minha frente, na forma de quatro hematomas no pescoço. ─ Olha, eu posso ajudá-la a sair daqui, se você precisar. Mas preciso que você faça algo por mim. Você precisa divulgar o que esse homem está fazendo com você. ─ Eu não posso ─ ela balançou a cabeça com veemência. ─ Perderia o emprego e tenho pessoas para cuidar. ─ Eu vou ajudá-la ─ tranquilizei-a. ─ Eu tenho dinheiro. Me dê seu número. ─ Entreguei a ela meu telefone e ela hesitantemente adicionou seu número aos meus contatos. ─ Este homem está tratando sua esposa e filhas da mesma maneira que está tratando você. E não vou aceitar isso. ─ Ele é um pregador ─ ela conseguiu dizer fracamente. ─ Eu sei. E precisamos detê-lo. ─ Ela assentiu, nem mesmo brigando comigo pelo que eu disse. ─ Espere minha ligação, ok? Ajudarei você a resolver isso e garantir que não tenha problemas. ─ Obrigada ─ ela sussurrou, e eu assenti, me afastando. ─ Ei, qual é o seu nome? ─ Você pode me chamar de xeque-mate ─ eu sorri. Momentos depois, eu me encontrei com Finn novamente na frente do spa. A mulher do balcão da frente me olhou de novo, mas não se opôs depois que eu coloquei algum dinheiro no balcão, e Finn e eu saímos do prédio. ─ Espero que tenha sido útil ─ ele me disse do lado de fora, pegando o capacete e colocando-o. ─ Eu ouvi alguns rumores sobre aquele idiota abusando de uma das meninas lá. Ele faz o mesmo com Estella? ─ Você não quer saber ─ murmurei.
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─ Babaca. ─ Finn estava sentado em sua moto. ─ Bem, eu te ajudei o suficiente. ─ Mais do que você sabe. ─ Eu levantei minha mão em um adeus e o vi sair antes de ir para o meu carro novamente.
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17 DATA: 17 DE SETEMBRO DE 2019 – 19H LOCAL: CASA DA SRTA. JAMES ESTELLA
Eu olhei pela janela da casa da senhorita James, incrédula. Isso não pode estar acontecendo, por favor, não deixe que isso esteja acontecendo, por favor, não deixe que seja verdade. Mas meus olhos não estavam mentindo, e a cena que se desenrolava bem na minha frente era mais do que real. Peguei uma câmera digital antiga e tirei um monte de fotos de Milo e Srta. James na janela juntos. Você realmente não conseguia ver muito nas fotos, mas achei que alguma prova deles era melhor do que nenhuma. Coloquei a câmera de volta no bolso, meu coração martelando no peito. Nesse momento, meu telefone antigo começou a tocar com uma melodia estridente e eu xinguei baixinho, lutando para sair das cercas que cercavam a casa e rezando para que não tivessem me ouvido. Afasteime, corri pela rua em direção ao carro velho surrado da Inca. Ela estava esperando com o telefone pressionado contra ela, dando um suspiro de alívio quando cheguei. ─ Eu estava tão preocupada ─ ela me cumprimentou com uma careta. ─ Você estava lá há muito tempo! Ele entrou? ─ Sim ─ eu murmurei, me sentando no banco do passageiro e batendo a porta, fazendo minha amiga estremecer. ─ Tão ruim, hein? ─ Eu assenti sem palavras, e ela suspirou novamente, saindo do estacionamento na rua e se afastando do bairro da senhorita James. ─ Você quer pegar um milk-shake ou algo assim?
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Olhei para o relógio no meu telefone, assentindo. Eu tinha mais uma hora antes de meus pais chegarem em casa e eu subornar nossa empregada com algum dinheiro restante de aniversário. Eu só esperava que ela permanecesse fiel à sua palavra e não estragasse minha cobertura. Inca continuou dirigindo, ligando a música quando viu que eu não estava disposta a conversar. Quando chegamos à lanchonete do Clancy, minha mente correu com as possibilidades do que a Srta. James e Milo estavam fazendo agora. Meus pensamentos estavam cheios deles juntos, cada movimento que eu tinha visto naquela casa repetindo na minha cabeça, uma e outra vez. O jeito que ela o tocou... O jeito que ele se afastou a princípio, mas não a impediu quando ela avançou sobre ele novamente. Ele a queria. Ele nunca me quis. As vozes cruéis da dúvida em minha mente estavam determinadas a me fazer sentir terrível pelo que eu tinha visto. Eu não conseguia bloqueá-los,
por
mais
que
tentasse,
e
quando
chegamos
ao
estacionamento de Clancy, eu estava nervosa, minhas mãos tremendo e meus pensamentos ainda nadando com a terrível ideia de Srta. James e Milo juntos. Saí do carro, fechando os olhos com força e tentando me concentrar antes de seguir Inca para dentro do prédio. O Clancy's estava quase cheio, mas conseguimos encontrar uma mesa, pedimos milkshakes e nos sentamos. ─ Você vai me contar o que aconteceu? ─ Inca perguntou suavemente. Dei de ombros. Eu queria contar a ela, mas meu orgulho não deixou. Significava admitir que o que eu tinha visto me machucou. Dizendo a ela que eu tinha sentimentos por Milo, o garoto que provavelmente estava saindo com a oficial de admissão enquanto nos
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sentávamos lá, esperando nosso pedido. ─ Eu gostaria que não tivéssemos ido até lá. ─ Apenas me diga ─ Inca implorou. ─ Qual é. Eu vim até aqui, tirei você da sua casa e te levei até aquele bairro. E eu quero ajudar. ─ Eu acho que você não pode ─ eu murmurei. ─ Eu acho que ninguém pode. ─ A única coisa que pode consertar um coração partido é o tempo, as palavras de minha mãe ecoaram na minha cabeça desde quando Crispin e eu terminamos. Eu estava tão bagunçada naquela época, convencida de que era o pior momento da minha vida. Ah, se eu soubesse o que ainda me esperava. ─ Ele estava lá? ─ Inca continuou, sua voz amável e gentil. ─ Você viu Milo lá? Eu assenti sem palavras, e ela estendeu a mão, colocando a palma da mão sobre a minha mão. ─ Eu não vou julgá-la e não vou contar a ninguém o que aconteceu. Isso fica entre nós, ok, Stells? ─ Sim ─ eu resmunguei, limpando a garganta. ─ O carro dele estava estacionado na garagem. ─ E ele estava na casa? ─ Inca perguntou, e eu assenti. ─ Com ela? ─ Sim. ─ A palavra saiu em um sussurro quebrado. ─ Eles estavam juntos. ─ Fazendo o que? ─ Eu não quero dizer. ─ Stells. ─ Ela apertou minha mão. ─ Eu só quero ajudá-la. Mas não posso fazer isso se você não me contar o que aconteceu.
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─ O que aconteceu é que essa cadela está tentando roubar meu homem ─ eu resmunguei, sentindo a raiva subir profundamente dentro de mim. ─ Ela estava fazendo movimentos contra ele, tentando seduzi-lo. ─ Inca cobriu a boca com a mão livre. ─ Você está falando sério? Ela poderia perder totalmente o emprego por isso. ─ Não se não contarmos a ninguém ─ murmurei miseravelmente. ─ E não se Milo estivesse disposto a deixá-la fazer isso, o que ele definitivamente estava. ─ Eles estavam... ─ Inca olhou em volta antes de continuar. ─ Se beijando? ─ Eu acho. ─ Dei de ombros, incapaz de ajudar, mas ri de seu rosto chocado. ─ Por que você está tão chocada? Você não pensou que esse tipo de coisa acontecia em Wildwood? ─ Não, acho que não ─ disse ela, soltando uma risada. ─ E eu definitivamente não identifiquei Milo como o tipo que ficava com uma professora ou um membro da equipe. ─ Nem eu ─ admiti miseravelmente. ─ Inca, o que eu vou fazer? ─ Eu não sei. ─ Tiramos as mãos da mesa quando a garçonete de aparência entediada chegou com o nosso pedido. Ao colocar os Milk shakes na mesa, derramou um pouco na borda, sem se dar ao trabalho de pedir desculpas ou limpá-lo. Puxei meu milk-shake em minha direção, tirando a cereja marasquino e devorando-a. Inca tomou um gole em silêncio, as sobrancelhas unidas em preocupação. ─ Isso é estúpido. ─ O que? ─ Ela olhou para mim por cima da borda do copo.
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─ Isso ─ gesticulei em volta de mim em um círculo. ─ Eu agindo assim é o fim do mundo. Já terminei antes. Não deveria importar tanto quanto agora. ─ Bem, você acha que talvez desta vez... ─ Ela mordeu o lábio inferior nervosamente. ─ Talvez desta vez, você realmente tenha sentimentos reais pelo cara? ─ Você está dizendo que eu não tinha sentimentos reais por Crispin ou Natan? ─ Eu estreitei meus olhos para ela. ─ Eu não posso responder a isso. Só você sabe a verdade. Eu ponderei as palavras da minha amiga, sabendo no fundo que ela não poderia estar mais certa. Este foi o meu primeiro desgosto oficial, a primeira vez que me vi apaixonada por um garoto. E era tão agridoce, porque por mais incrível que parecesse ter esses sentimentos brotando profundamente dentro de mim, também significava que a dor de ser rejeitada era muito pior. ─ Deus ─ eu gemi. ─ Quando eu me tornei tão patética? ─ Você não é patética. ─ Inca sorriu para mim. ─ Isso é totalmente normal. Todo mundo passa por um desgosto no ensino médio. Eu ficaria mais preocupada se você não tivesse. ─ E você? ─ Eu dei a ela um olhar curioso. ─ Você já se machucou assim antes? ─ Não ─ ela admitiu. ─ Não posso dizer que sim. ─ Não há meninos no horizonte para você? ─ Eu a provoquei. ─ Não há ninguém em quem eu esteja interessada ─ ela deu de ombros, mas um rubor traidor coloriu suas bochechas de vermelho brilhante.
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─ Pequena mentirosa! ─ Não sou ─ ela insistiu, mas o rubor só se aprofundou. ─ Claro ─ eu ri alto. ─ Você não precisa me dizer agora, mas quando estiver pronta, eu estarei esperando. ─ Obrigada, Stells. ─ Sua voz estava cheia de alívio e ela sorriu largamente para mim. ─ Um problema de cada vez. Vamos lidar com a situação de Milo primeiro, ok? ─ OK. ─ Mexi meu milk-shake com o canudo de metal. ─ O que você acha que eu deveria fazer? ─ Sobre a Srta. James? ─ Eu balancei a cabeça e ela suspirou. ─ Eu realmente acho que você precisa falar com Milo antes de tirar conclusões. Tenho certeza de que há uma explicação para tudo o que você viu lá. Sim, como se ele estivesse apaixonado pela nossa oficial de admissões e não me quisesse mais. ─ Eu posso ver onde sua mente foi. ─ Inca bateu na minha mão novamente. ─ Não faça isso com você, Estella. Apenas tente mandar uma mensagem para ele e veja se ele tem algo a dizer sobre isso. ─ Eu não quero. ─ Eu cruzei meus braços teimosamente na frente do meu corpo. ─ Por que eu tenho que ser a única a fazer contato depois do que eu vi? ─ Deus. ─ Inca revirou os olhos. ─ Tudo bem, espere ele entrar em contato então. Você acha... ─ O que?
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─ Você acha que Milo sabe que a Srta. James não enviou sua inscrição? Mordi meu lábio inferior nervosamente. O pensamento me deu palpitações no coração e me fez questionar tudo. Era possível que eles estivessem juntos nisso? Que Milo havia me enganado pelo meu lugar em Eastvale com a ajuda dela, apenas para que ele pudesse oferecer-se para abrir mão de seu lugar e ganhar minha confiança? Certamente ele não faria isso. Certamente ele não mentiria assim para mim. ─ Eu não sei ─ eu finalmente sussurrei. ─ Eu simplesmente não sei mais.
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18 DATA: 17 DE SETEMBRO DE 2019 – 21H 30. LOCAL: CASA DA ESTELLA. MILO
Estacionei uma rua longe da casa de Estella e caminhei até a casa dela, certificando-me de ficar meio escondido nas sombras para que ninguém me notasse. A entrada de automóveis que levava à casa dela estava deserta, e fiquei momentaneamente aliviado, mas assim que subi a cerca e caminhei em direção ao jardim, ouvi um carro entrando no estacionamento e me escondi atrás de uma árvore. Vozes flutuaram ao longe, e eu esperei até que desaparecessem no fundo antes de ir para os fundos da casa e olhar para a janela de Estella. Havia um velho carvalho em frente à casa e usei seus galhos retorcidos para me balançar. Do meu ponto de vista, eu podia ver diretamente o quarto rosa princesa de Stells. Ela estava sentada em sua cama, distraidamente escovando os cabelos e encarando seu reflexo no espelho rosa na parede. Ela não estava usando maquiagem e usava legging e uma blusa simples. Meu coração doeu quando a observei, finalmente inclinando-me para a frente e batendo com o dedo na janela dela. Seus olhos dispararam, e uma expressão ilegível cruzou seu rosto quando ela se levantou, caminhando para a janela. Ela abriu e eu entrei no quarto dela, tentando fazer o mínimo de barulho. ─ Olá princesa. ─ Oi. ─ Eu estava imaginando ou ela estava um pouco hesitante? Não importava, porque eu estava prestes a lhe dar boas notícias, pela primeira vez. ─ O que você está fazendo aqui? Você tem algo a me dizer?
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─ Direto aos negócios, hein? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas para ela. ─ Ok, podemos jogar assim. Sim, eu queria falar com você sobre algo... Ela se sentou na cama e continuou escovando os cabelos enquanto eu tomava a cadeira dela, observando-a silenciosamente. ─ Então? ─ ela perguntou, olhando para mim nervosamente. ─ Cuspa já. Ela estava agindo diferente. Eu não conseguia entender o motivo, mas ela não era minha Estella feliz e borbulhante de sempre. Havia algo em sua mente, mas eu sabia que teria que lutar para tirar essas informações dela, ela não iria me dizer. ─ Acho que descobri uma maneira de afastar você do seu pai. ─ Eu deixei as palavras pairarem no ar entre nós, esperando por uma reação dela, mas ela apenas me encarou sem entender. ─ Você não quer saber o que é? ─ Eu acho ─ ela murmurou, pousando a escova e empurrando o cabelo para trás. Eu segui seus movimentos, bebendo-a. Eu não conseguia o suficiente, e sua relutância só me deixou mais ansioso para pedir mais. ─ Você não tinha mais nada para me dizer? ─ Como o quê? ─ Eu dei a ela um olhar interrogativo, minha mente em branco. ─ Eu pensei que você poderia ter mais alguma coisa para me dizer ─ disse ela, fazendo uma careta para mim. ─ Como algo envolvendo uma certa Srta. James. ─ Você... eu... ─ Eu lutei por palavras, coçando a parte de trás da minha cabeça. ─ Bem, porra...
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─ Porra mesmo. ─ Ela se levantou, estreitando os olhos para mim e caminhando para o armário. Ela tirou a camisola e foi para trás de um separador de quarto rosa. Saber que ela estava se trocando no mesmo quarto estava me deixando louco, e eu tinha certeza que ela sabia o quão louco estava me deixando. Ela se trocou rapidamente, e eu vi suas roupas serem jogadas sobre o separador antes que ela reaparecesse, seus cabelos lisos e seu corpo envolto em uma camisola grossa e fofa. ─ Então, você tem algo a dizer sobre isso? ─ Bem... ─ Eu lutei para encontrar as palavras certas. ─ Talvez fosse mais fácil se você me dissesse o que acha que sabe. ─ O que eu acho que sei? ─ ela zombou de mim. ─ Eu tenho olhos, Milo. Eu sei o que vi. ─ Eu e a Srta. James? ─ Eu consegui dizer e seus lábios se apertaram em uma linha fina antes que ela assentisse. ─ Não há nada acontecendo lá, Stells. ─ Ah sim? ─ Ela estreitou os olhos para mim. ─ É por isso que você estava na casa dela hoje? ─ Como...? ─ Limpei minha garganta. ─ Como você sabe disso, afinal? ─ Eu sabia. ─ Ela olhou, obviamente chateada. ─ Eu sabia que havia algo acontecendo entre vocês dois. Apenas me diga a verdade, Milo. Eu não quero ouvir mais mentiras. ─ Que mentiras? ─ Eu a encarei, uma necessidade de tirar aquela camisola despertada profundamente dentro de mim. Eu queria vê-la nua, sem nada a escondendo dos meus olhos. Não haveria mais privacidade. Não quando eu estivesse por perto, porque eu queria vê-la por completo, toda para mim.
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─ Há algo que você está escondendo de mim ─ ela me acusou. ─ E eu sei o que é. ─ Ah sim? ─ Eu estreitei meus olhos para ela. ─ Por favor, me esclareça. O que estou escondendo de você? ─ Você está com ela ─ ela cuspiu, apertando o nó em volta da cintura. ─ Com a Srta. James. Vocês estão juntos. ─ Claro que não. ─ Então por que você estava lá? ─ Você estava me seguindo ou algo assim? ─ Eu questionei, e ela cruzou os braços na frente do corpo em uma posição defensiva. ─ E se eu estivesse? Estou feliz por estar, na verdade. Caso contrário, eu nunca teria descoberto. ─ Eu não estou com ela ─ eu disse a ela, suspirando. ─ Ela deu em cima de mim. E eu a rejeitei. ─ Toda vez? ─ ela questionou. ─ Ela... ela quase me pegou ─ eu admiti. ─ Mas eu não continuei. Não dormi com ela. ─ Por quê? ─ Estella perguntou. ─ Por que você faria isso? ─ Porque ─ eu chorei. ─ Você estava muito ocupada namorando meu irmão para me notar. ─ Eu poderia vazar isso se quisesse, você sabe ─ ela me lembrou, e eu sorri para ela. ─ Vazar o que, princesa?
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─ Você e a senhorita James. ─ Ela me deu um sorriso satisfeito. ─ Tirei algumas fotos de vocês dois juntos. ─ Por que você faria isso? ─ Porque eu a odeio ─ ela resmungou. ─ Porque ela está tentando roubar o garoto que eu gosto, e eu não gosto muito disso. ─ Eu aposto que não ─ eu sorri. ─ Então, tem alguma outra pergunta para mim sobre a Srta. James? ─ O que você estava fazendo na casa dela? ─ ela exigiu. ─ Pegando a calcinha dela ─ eu respondi suavemente, observando seus olhos se arregalarem em choque. ─ Sua... sua calcinha? ─ Não para mim ─ respondi. ─ Para Natan. Ele queria que eu pegasse isso para ele. Ele disse que se eu fizesse, ele me perdoaria de roubar você dele. ─ Tudo o que eu quero saber é... você está junto com ela? ─ ela perguntou. ─ Não. ─ Eu olhei diretamente nos olhos dela. ─ E eu tenho zero desejo de estar com ela. Acabou, seja lá o que 'era'. ─ Bom. ─ Seus olhos estavam atirando punhais para mim e eu não pude deixar de sorrir. ─ Eu pensei que você gostasse dela ─ ela disse suavemente. ─ Está muito claro que ela gosta de você. ─ Mas eu não. Eu gosto de você. ─ Eu dei um passo mais perto, colocando as mãos nos quadris dela e sorrindo para ela. ─ Você não vê isso?
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─ Eu gosto de ouvir isso ─ ela deu de ombros, me fazendo rir alto. ─ Alguém já lhe disse como você é mimada, Stells? ─ Eu não sou! ─ Ela apertou os lábios, mas ela mal conseguia resistir ao sorriso ameaçando puxar os cantos da boca para cima. ─ Claro princesa. ─ Cheguei mais perto dela, deixando minhas pontas dos dedos permanecerem sobre seu osso exposto. ─ Então, o que você vai fazer sobre essas fotos? ─ Mantê-las ─ disse ela, parecendo distraída enquanto soltava um assobio de ar. Meus dedos tocaram sua pele nua, e seus olhos encontraram os meus, silenciosamente me implorando para continuar. ─ Usá-las quando tiver uma chance. ─ Você acha que é uma boa ideia? ─ Eu murmurei, me aproximando um pouco mais até sentir seu hálito suave contra a minha pele. ─ Me chantagear assim? ─ É para o seu próprio bem ─ ela ronronou quando eu passei meus dedos em torno de seu queixo e a puxei para um beijo. Eu gemi quando provei sua doçura. ─ Essa mulher má está usando você, e eu não gosto nem um pouco. ─ Um pouco protetora, não acha? ─ Eu pisquei para ela. ─ Acha que sou seu agora, não é? É por isso que está ficando tão possessiva? ─ Eu... ─ Ela me encarou. ─ Eu não sou sua. ─ Você não quer ser? ─ Mais uma vez, ela não conseguiu encontrar uma resposta e eu ri dela. ─ Stells. Você precisa parar de lutar contra isso. Eu sei que você é uma boa pessoa embaixo dessa fachada. Só porque seu pai machucou você, não significa que todo mundo vai também.
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─ Como você ousa dizer isso para mim! ─ ela sussurrou, tentando me afastar, mas eu não deixei. ─ Você não sabe de nada. ─ Ah, eu sei ─ eu insisti. ─ E eu vou descobrir ainda mais e afastála desta casa tóxica. Eu vou cuidar de você e protegê-la. Vou garantir que você esteja segura. ─ Por quê? ─ ela exigiu. ─ Por que você faria isso? ─ Por que você acha? ─ Eu perguntei baixinho, deixando meu dedo indicador nos lábios dela. ─ Porque eu me importo. ─ É só isso? ─ Não, não é só isso ─ eu resmunguei. ─ Você quer ouvir mais? Ela assentiu sem palavras, e eu a pressionei contra a parede. ─ Eu me importo com você ─ eu sussurrei contra seus lábios. ─ Eu gosto de você. Eu preciso de você. Eu estou perdido sem você. Você é parte de mim e eu cansei de ficar sem essa parte. De agora em diante, você é minha. Ela choramingou. ─ Mas eu tenho sido tão má com você. Toquei as pontas dos dedos nos quadris dela, inclinando-me para sussurrar em seu ouvido: ─ Bem, está na hora de você aprender a ser melhor.
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19 DATA: 17 DE SETEMBRO DE 2019 – 22H 25. LOCAL: CASA DA ESTELLA. ESTELLA
─ Eu não acho que sei ser legal. ─ Coloquei um fio de cabelo atrás da orelha, esperando que Milo não notasse meus dedos tremendo. ─ Talvez não agora, mas você poderia aprender. ─ Seus dedos encontraram os meus, e ele embalou minha mão, puxando-a contra seu peito. Eu levantei meus olhos, encontrando os dele e sentindo a queimadura em seu olhar. ─ Eu só quero a velha Estella de volta. Aquela que joga a cabeça para trás quando ri. Aquela que não tem vergonha de estar comigo. ─ Isso foi há muito tempo. Não sei se ainda sou a mesma pessoa. ─ Está tudo bem ─ ele murmurou, levando a outra mão aos meus lábios e timidamente pressionando um dedo no meu lábio inferior. ─ Você não precisa ser a mesma pessoa. Mas não precisa apagar tudo sobre você toda vez, apenas para poder começar de novo. ─ Eu gosto de recomeços. ─ Uma risada nervosa escapou dos meus lábios. ─ Sim, eu sei. ─ Sua voz era suave, doce. ─ Mas não largue as memórias só porque você quer uma, ok, princesa? ─ Ok. ─ Minhas palavras mal estavam acima de um sussurro, e senti os cantos dos meus lábios puxando para cima quando ele sorriu para mim. Ele estava deixando meus joelhos fracos, não que eu admitisse isso em voz alta. Eu estava tremendo em sua presença, desesperada pra ele me tocar novamente. ─ Milo...
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─ Sim? ─ Sua voz estava mais rouca agora, áspera. ─ Você vai cuidar de mim? ─ Não. ─ Ele tirou seus dedos dos meus, passando os braços em volta dos meus quadris. ─ Mas eu vou te ensinar como se cuidar. ─ Seus lábios encontraram os meus, dando selinhos por toda a minha boca. Eu não pude deixar de sorrir. Ele sempre soube a coisa certa a dizer. Eu o beijei de volta, logo o puxando para mais perto para ter um sabor melhor da sua boca. Eu queria assumir tudo sobre Milo Earnshaw em minha memória e nunca o esquecer. Porque este momento foi perfeito, ele era perfeito. E juntos, nós éramos perfeitos. Milo gemeu enquanto eu aprofundava o beijo, me puxando firmemente contra ele. Eu podia sentir meu próprio coração batendo contra seu peito, mas ele não mencionou. Uma de suas mãos viajou pela minha espinha e para os emaranhados escuros do meu cabelo, segurando firmemente as madeixas sedosas. ─ Você está me torturando. ─ Eu sussurrei contra seus lábios. ─ Como? ─ Eu quero muito mais. Sua mão pousou no cinto felpudo do meu roupão de banho. ─ Então me dê mais. ─ Eu... ─ Eu estava prestes a mentir, a inventar mil desculpas, mas não consegui fazê-lo. A verdade era que eu queria isso. A mesma coisa que eu mantive sagrado por dezoito anos, não deixando mais ninguém tocar. Mas agora, eu sabia que seria o Milo o tempo todo. ─ Você... já antes?
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Ele balançou a cabeça, seus olhos escuros e tempestuosos quando encontraram os meus. ─ Não, eu estive esperando por você. Eu ri nervosamente, mas ele parecia completamente sério. ─ Milo, isso é... eu não acredito nisso. ─ Eu te disse. Você era minha antes mesmo de perceber. ─ Ele sorriu para mim, alisando meu cabelo com a mão livre enquanto a outra puxava o cinto do meu roupão de banho. ─ Você tem certeza que quer que eu veja? ─ Sim ─ eu consegui sussurrar, corando e olhando para o nó na frente da minha barriga que estava lentamente se desfazendo. Eu olhei para Milo através de cílios grossos, e ele murmurou meu nome enquanto desabotoava o cinto. Seus olhos não foram para a minha pele nua. Não, em vez disso, ele os manteve fixos nos meus, testando minha paciência e vendo como eu respondi ao seu toque. ─ Eu te amo nua para mim ─ ele gemeu. Houve um movimento do lado de fora da minha porta, e ele me puxou para mais perto, pressionando o dedo nos meus lábios. ─ Não faça barulho, princesa. Ficamos juntos, pressionados, pelo que poderia ter sido uma eternidade ou apenas alguns segundos. Nossos olhos estavam trancados, nossos corpos tão perto que eu podia sentir sua dureza rígida cavando no meu estômago. Eu já senti isso antes, com Natan e Crispin, mas desta vez parecia real. E eu queria isso. Eu queria tirar as roupas de Milo e apenas admirá-lo por horas. Eu queria lamber cada centímetro de sua pele nua e musculosa. Mas mais do que tudo, eu queria dar a ele o que tinha sido dele o tempo todo. Tirei meu roupão, ganhando um olhar chocado de Milo. ─ O que você está fazendo?
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Pressionei meu dedo contra seus lábios e deslizei o roupão para baixo, deixando-o em meus pés. O olhar de Milo dançou entre meus lábios e olhos até deslizar minhas mãos pelos meus quadris, deixandoos passear pelas minhas curvas. ─ Você não quer me olhar, Milo? Ele engoliu em seco e eu observei o pomo de Adão dele na garganta. Porra. O garoto estava fazendo coisas comigo que eu mal conseguia entender. ─ Claro que eu quero... ─ Mas? ─ Mas... ─ Ele gemeu, passando a mão pelos cabelos escuros. ─ Eu vou querer muito mais se você continuar fazendo isso. ─ O que você quiser, você pode ter. ─ Eu sussurrei, e seus olhos escureceram mais, enviando um arrepio na minha espinha. ─ Você apenas tem que pedir... ─ Que tal eu apenas pegar? ─ ele rosnou, avançando para mim até as costas das minhas pernas baterem no meu colchão. ─ Você vai me deixar ter isso, princesa? ─ Sim. ─ Eu me virei para minhas costas também. ─ Eu vou deixar você ter tudo. Ele agarrou meus quadris. Não havia gentileza em seu toque agora, apenas a pura necessidade que ele sentia por mim. Ele me empurrou para a frente na cama, e um assobio de ar escapou dos meus lábios quando eu caí de joelhos, olhando-o por cima do ombro. ─ O que você vai fazer comigo? ─ Shh. ─ Senti o beijo da palavra nas minhas costas e tentei me mover, mas Milo me segurou no lugar. ─ Primeiro, vou provar o que você esconde entre suas pernas há dezoito anos.
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─ Milo, por favor... eu... ─ Eu ofeguei alto quando seus lábios fizeram contato com minha boceta. ─ Eu só... eu não posso... Ele agarrou meus quadris com as duas mãos, não me deixando mover uma única polegada enquanto ele me lambia de cima para baixo. Eu me vi gemendo em segundos, esquecendo qualquer tipo de decência e apenas empurrando meus quadris para ele por mais. Ele riu contra a minha bunda, me puxando para mais perto, com a outra mão indo para o meu pescoço e gentilmente me forçando a descer. Deixei que ele me colocasse na posição que ele queria, mãos cruzadas ao lado da minha cabeça, meus olhos se abrindo apenas para nos ver no reflexo do meu espelho rosa de corpo inteiro. ─ Olhe para si mesma agora, Stells ─ disse-me Milo, olhando-nos no espelho. ─ Esta é a garota que eu amo, ali mesmo, no espelho. ─ Eu não a conheço ─ eu sussurrei com voz entrecortada. Em instantes, ele me virou, me deitando na cama de costas e subindo em cima de mim. ─ Mas eu conheço ─ ele me disse gentilmente. ─ E eu vou fazer você amá-la também. Engasguei algo entre um soluço e um gemido enquanto ele se ocupava com o zíper de sua calça jeans. Desespero repentino fez meus dedos se juntarem aos dele, puxando desesperadamente a fivela do cinto, ansiosa para ver o que ele estava escondendo sob aquelas cuecas de seda azul. Ele levantou os óculos, puxou a camisa pelas costas e me deixou fazer o trabalho. Deslizei seu jeans para o chão, depois lentamente empurrei sua cueca. ─ Milo, eu... ─ eu sussurrei, meus olhos se arregalando com a visão, mas ele gentilmente inclinou meu queixo para trás e me fez olhar em seus olhos, em vez do pau latejante entre suas pernas.
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─ Está tudo bem ─ ele disse gentilmente. ─ Eu não vou te machucar. Nunca. Entendeu? Eu balancei a cabeça, e ele começou a beijar uma linha da minha boca ao meu peito, na minha barriga, e novamente no meu centro, onde eu estava pulsando com tanta necessidade que eu não sabia se conseguiria continuar sem gritar por mais. ─ Mais ─ implorei depois de um momento. ─ Beije-me lá... ─ Onde? ─ Aqui. ─ Guiei sua boca entre as minhas pernas. ─ Aí, meu Deus, por favor... Ele mordeu minha boceta. Beliscou. Ele usou as mãos para me abrir, e então chupou um ponto que estava doendo desde que entrou no meu quarto. Gritei, mas Milo pressionou a mão na minha boca no segundo seguinte, abafando meu desespero. Fechei meus olhos com força, lutando contra a sensação de puro prazer que estava ameaçando dominar meu corpo inteiro. ─ Estella? ─ Uma voz soou do lado de fora. ─ Tudo certo? ─ Porra ─ eu murmurei, olhando para Milo. ─ Papa... ─ Estella? ─ Houve uma batida firme na porta. ─ O que está acontecendo? Eu vou entrar. ─ Não! ─ Eu gritei. ─ Eu estou... ─ Lancei a Milo um olhar de pânico, cobrindo meus olhos. ─ Estou experimentando sutiãs! Milo abafou o riso e voltou às minhas coxas trêmulas, seus lábios me torturando enquanto tentava convencer meu pai de que estava fazendo as tarefas mais triviais.
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─ Tudo bem ─ ele respondeu, parecendo um pouco envergonhado. ─ Boa noite, mija. ─ Boa... Noooo-noite! ─ Eu consegui respirar, pressionando minha própria mão sobre a boca enquanto ouvíamos o som de seus passos em retirada. Milo não estava deixando isso detê-lo. Pelo contrário, ele parecia ir atrás do meu primeiro orgasmo ainda mais forte do que antes. E eu sabia que estava por vir. Eu tinha lido artigos suficientes da Cosmo para reconhecer a vibração no meu estômago. ─ Eu sei que você está lutando ─ Milo respirou contra o interior da minha coxa. ─ Eu não vou deixar você fazer isso por muito mais tempo. ─ Por favor, por favor, por favor. ─ Por favor, o que? ─ Por favor... ─ Mordi meu lábio inferior, fechando os olhos com força quando sussurrei: ─ Mais. Desta vez, quando ele enterrou o rosto entre as minhas pernas, ele não foi gentil. Cada movimento, cada pincelada de sua língua pretendia me enlouquecer. Ele me tratou como um pirulito, ansioso para chegar ao centro cremoso, e estava quebrando contra sua língua cruel, pronta para ele me devorar. Ele estava me punindo pelos anos em que me afastei dele, me fazendo pensar se esse tinha sido seu plano desonesto. Para reter esse prazer em mim depois da primeira vez, me fazendo desejar tanto que eu faria qualquer coisa por outro gosto de sua boca, para ele me trazer tão alto com a língua e nada mais. ─ Milo ─ implorei, delirante. ─ Por favor. ─ Pelo que você está implorando? ─ ele gemeu contra minha boceta. ─ Conte-me.
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─ Para gozar ─ eu sussurrei. ─ Eu quero gozar, por favor. Ele olhou para mim, substituindo sua língua com um dedo longo empurrando entre minhas dobras e me fazendo ofegar em voz alta. ─ De jeito nenhum. Eu vou estar dentro de você quando você fizer isso. ─ Agora ─ eu gemi sem fôlego, lutando para mantê-lo baixo. ─ Eu preciso de você dentro de mim agora, Milo. Ele gemeu, afastando o dedo e acariciando seu longo pau. Finalmente, eu estava olhando melhor, e meus olhos bebiam em seu comprimento grosso avidamente. Eu nunca tinha visto um antes. E eles definitivamente não pareciam tão bons nas fotos e vídeos que eu tinha visto online. Latejante, pulsando com a necessidade. Virou para cima, como se estivesse pronto para mirar no meu ponto G e não recuar até que eu tivesse minha dose de orgasmos. ─ Gostou disso? ─ ele perguntou em um rosnado baixo, e eu me peguei assentindo. ─ Peça para tê-lo dentro de você. ─ Eu quero dentro de mim ─ eu sussurrei. ─ Eu disse para pedir. ─ Ele me deu um sorriso maligno. ─ Não me ordene, princesa. ─ M-merda, eu... ─ eu engoli. ─ Por favor, posso tê-lo dentro de mim? ─ Você pode ─ ele resmungou, ajoelhando-se de cada lado de mim. Eu levantei minhas pernas, e ele gentilmente as abriu, gemendo quando olhou como eu estava molhada entre as minhas pernas. ─ Porra, Stells. Você tem certeza disso? ─ Faça ─ eu implorei, tamborilando com os punhos contra seu peito. ─ Agora, Milo.
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Seus dentes cravaram em seu lábio inferior quando ele apontou a ponta de seu pênis brilhante na minha entrada. Ele empurrou os quadris para a frente e eu ofeguei quando ele encontrou resistência. ─ Sabe o que é isso, Stells? ─ ele resmungou e balancei a cabeça. ─ Essa é a sua virgindade que estou prestes a tomar agora. Ele empurrou mais fundo, me fazendo pegar um travesseiro rosa em forma de coração da minha cama e pressionando-o sobre os lábios para que eu ficasse quieta. A dor era terrível, como um chute forte na virilha, me fazendo gritar de novo e de novo. Mas tudo que eu podia ouvir era o som da voz de Milo, me trazendo de volta à realidade, me lembrando tão docemente que tudo ficaria bem. Afastei o travesseiro com as mãos trêmulas, passando os braços em volta do pescoço dele e puxando-o contra mim. Os lábios de Milo pegaram os meus em um beijo profundo e carente quando ele lentamente trouxe seu pau para dentro, então todo o caminho para fora de mim. Ele deixou assim quando nos beijamos, e eu senti a perda dele como um soco no estômago. ─ De volta ─ eu sussurrei contra seus lábios. ─ Coloque de volta dentro de mim. Ele balançou para frente, trazendo seu comprimento dentro de mim polegada por polegada. Eu estava gemendo até o segundo e chamando seu nome pelo sétimo. Quando ele terminou, eu era uma bagunça trêmula da garota que costumava ser. Como é irônico que eu me ajoelhe assim... tremendo de costas com o garoto que eu tanto queria odiar acima de mim, empurrando seu pau profundamente dentro de mim. ─ Você gosta disso? ─ ele perguntou gentilmente, e eu assenti, hipnotizada por seus olhos. ─ Diga-me o quanto você gosta e eu vou deixar você gozar no meu pau.
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─ Eu... eu amo ─ murmurei contra seus lábios. ─ Uh, huh -ele assentiu, me beijando mais fundo. ─ Conte-me. ─ Eu amo como me sinto ─ eu sussurrei. ─ Eu amo o quão profundo dentro de mim você esteve. Mais profundo do que qualquer outra pessoa. Eu vou salvar esse local – esse aqui, sim, merda ─ apenas para você. ─ Ninguém mais? ─ Não ─ eu balancei minha cabeça com veemência, beijando o canto de seus lábios. ─ É seu, Milo Earnshaw. Ele gemeu quando eu o apertei, e continuou entrando em mim. Um momento depois, sua mão direita se juntou ao seu pênis, e ele sentiu o local onde estava entrando com os dedos. ─ Porra ─ ele gemeu. ─ Olha isso, Stells. ─ Ajuste perfeito ─ eu consegui. ─ Por favor, Milo. ─ Você quer gozar? ─ Seus dedos envolveram seu pênis, então apenas metade estava em mim. Ele empurrou levemente, mantendo-se no lugar dentro de mim. ─ Sim... Ele trancou os olhos em mim, sorrindo. ─ Tome-o. Goza comigo. Soltei um gemido, olhando para baixo para ver o que ele estava fazendo comigo. Minha boceta estava esticada, rosa e tão molhada que eu me senti corar de vergonha. O pênis de Milo estava enterrado a meio caminho dentro de mim, seu dedo em um O apertado em torno de sua base. Eu segurei meus tornozelos e deixei a sensação de construção dentro de mim liderar o caminho.
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Meus olhos se fecharam e ouvi Milo murmurando meu nome acima de mim, uma e outra vez. Apertei um músculo que nem sabia que tinha, e sua voz vacilou, depois ficou mais e mais rouca. Eu continuei fazendo isso, fazendo sua confiança fria se transformar em sussurros suaves do meu nome. Seu braço se apertou ao meu redor, e ele me levantou, entrando mais fundo. Eu gritei, a dor quase cegando, mas um momento depois, eu o senti bater em uma parede dentro de mim. ─ Eu preciso de você assim ─ Milo sussurrou em meu ouvido. ─ Eu preciso estar dentro de você, princesa. ─ Não pare ─ eu respirei, e ele gemeu. ─ Eu não acho que posso. ─ Por favor. ─ Mordi o lóbulo da orelha dele. ─ Apenas me encha. ─ Eu-você... ─ Ele gemeu, empurrando dentro de mim. ─ Você está tomando pílula, Stells? ─ Não ─ eu respirei, fazendo-o rosnar de frustração. ─ Eu não deveria ─ ele sussurrou. ─ Eu realmente não deveria. ─ Por favor. ─ Minha voz não passava de um sussurro necessitado agora. ─ Faça. Eu quero. ─ Você... porra. ─ Eu senti algo surgir dentro de mim. ─ Porra, não pare... Apertei mais forte. Eu sabia que ele estava quase gozando, e a sensação inacreditável me fez arquear as costas, fechar os olhos e me soltar. Senti seus sucos escorrendo para fora de mim, e fiz o meu melhor para segurá-lo, para absorver tudo, até a última gota de seu esperma.
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─ Jesus Cristo, porra, Stells ─ Milo murmurou, seus lábios febrilmente encontrando os meus e me beijando. ─ Você... Nós realmente não deveríamos ter feito isso. ─ Você está dizendo que sente muito? ─ Eu sussurrei, beliscando seu lábio inferior. ─ Não ─ ele riu. ─ Porra, não. ─ Ele saiu de mim e eu ofeguei quando senti algo escorrendo pela minha bunda, manchando a cama. Milo colocou a mão debaixo de mim e me segurou, manchando seu esperma por toda a minha boceta, meu estômago e, finalmente, meus mamilos. Ele torceu um mamilo, fazendo-me choramingar quando disse: ─ Eu negligenciei severamente esses seios bonitos hoje, Stells. Você vai ter dificuldade em me fazer deixá-los em paz da próxima vez. ─ Próxima vez? ─ Eu sussurrei. ─ Sim. ─ Ele se levantou na cama comigo, puxando meu corpo trêmulo contra o dele. ─ Haverá uma próxima vez? ─ Você não quer isso? ─ Ele beijou meu pescoço, deixando sua língua vagar sobre minha pele. ─ Eu quero. ─ Eu também. ─ Fique comigo ─ eu sussurrei, me perguntando se tinha sido alto o suficiente para ele ouvir. ─ Aqui? ─ Eu assenti. ─ Tudo bem, princesa. Mas eu tenho que sair antes de amanhecer. Ficarei o tempo que puder.
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─ OK. ─ Minha voz estava pesada, mas me senti feliz pela primeira vez em muito tempo. Eu me acomodei no peito de Milo, inalando profundamente seu perfume limpo. Senti todos os seus músculos contra o meu corpo nu, e queria que este momento não acabasse nunca.
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20 DATA: 23 DE SETEMBRO DE 2019 – 17H LOCAL: CASA DA ESTELLA. ESTELLA
Houve uma batida na minha porta e eu chamei quem quer que fosse para entrar. Mamãe estava na minha porta, a Inca ao seu lado, com um sorriso tímido e uma pilha de livros didáticos. ─ Sua amiga veio estudar com você ─ mamãe disse com um sorriso conspiratório. ─ Eu a deixei entrar. Vou dizer ao papai que você está estudando para um grande exame, ok? ─ Obrigada ─ sorri, correndo até Inca e dando-lhe um abraço apertado. Ela pareceu surpresa, mas mesmo assim me apertou de volta. ─ Entre. Mamãe, muito obrigada. Eu realmente precisava disso. Minha mãe me deu um sorriso caloroso antes de sair da sala e fechar a porta levemente atrás dela. Éramos apenas Inca e eu, e ela largou os livros na minha mesa, sentando na cama da princesa e me dando um olhar desconfiado. ─ Há algo diferente em você ─ ela murmurou. ─ Eu não consigo colocar o dedo nisso... ─ Ela estreitou os olhos e eu mal pude resistir a rir. ─ Meu Deus! ─ O que? ─ Eu sorri amplamente. ─ Você fez sexo! ─ Inca! Shhhh! ─ Fiz um gesto para ela ficar quieta, mas não pude deixar de rir quando seus olhos se arregalaram em choque. ─ Não há necessidade de gritar alto o suficiente para que toda a casa ouça.
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─ Desculpe ─ ela murmurou, sorrindo como o gato de Cheshire. ─ Eu simplesmente não posso acreditar! Estou certa, não estou? Você realmente fez isso? ─ Eu fiz ─ eu sussurrei, segurando meu travesseiro em forma de coração e caindo de costas na cama. ─ E foi perfeito. Inca se juntou a mim, deitada de bruços e me implorando para lhe contar os detalhes. Ela era dois anos mais nova, então estava compreensivelmente curiosa, mas eu me senti protetora dos meus segredos e não queria contar tudo a ela. ─ Foi Natan? ─ ela perguntou suavemente, e eu balancei minha cabeça. ─ Crispin?! ─ Eu balancei minha cabeça novamente. ─ Quem foi, Stells? Oh meu Deus, foi... Inclinei-me para sussurrar em seu ouvido ─ Milo Earnshaw. ─ Meu Deus! ─ ela exclamou, fazendo-me calá-la novamente. ─ Desculpe, desculpe. Mas... você fez sexo com Milo? Eu não posso acreditar. ─ Demorou muito tempo ─ consegui acrescentar, suspirando contente e deitada de costas novamente. ─ E Inca, foi perfeito. ─ Estou tão feliz por você ─ ela jorrou. Passamos a meia hora seguinte conversando sobre Milo, mas tomei cuidado para não revelar o quanto realmente gostava dele. Eu me senti possessiva com meus segredos, determinada a guardá-los para mim até saber para onde a coisa de Milo estava indo. Ele não me convidou para sair ou me pediu para ser sua namorada, e eu estava desesperada por ele fazer isso. Mas havia toda a situação com meu pai em que pensar. Ele nunca iria aprovar Milo, não depois do que havia testemunhado na última vez.
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─ Você quer estudar? ─ Inca sugeriu, olhando para o telefone. ─ Talvez eu precise sair em breve, se seu pai descobrir... não quero que ele suspeite de nada. ─ Na verdade, há algo mais que eu queria fazer ─ eu disse a ela com um sorriso travesso, pulando da cama e pegando-a pela mão. ─ Venha comigo, tenho algo para lhe mostrar. Caminhamos na direção do meu guarda-roupa. Acendi as luzes e a Inca ficou atrás de filas e mais filas de roupas caras de grife. ─ Isso é incrível ─ ela sussurrou enquanto eu mostrava vestido após o vestido, puxando alguns sapatos também. ─ Que tamanho de sapato você calça? ─ Eu questionei, e ela mordeu o lábio inferior. ─ Trinta e seis. ─ Igual a mim. Perfeito. ─ Por que você pergunta? ─ ela tocou as pontas dos dedos no veludo liso de um vestido bodycon, depois corou, deixando a mão cair, como se não devesse estar tocando minhas roupas. Eu estava pensando em fazer o que estava prestes a fazer por um tempo. Minhas roupas tinham servido a seu propósito. Era hora de servir um novo. ─ Porque eu estou te dando tudo ─ continuei, apontando para o conteúdo do guarda-roupa. ─ Tudo aqui é seu, se você quiser. ─ O que? ─ Seus olhos se arregalaram e ela parecia genuinamente chocada. ─ O que você quer dizer? Estamos fazendo reformas?
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─ Não, eu estou lhe dando minhas roupas. E acessórios. E meus sapatos. ─ Mas, por que? ─ Ela parecia genuinamente confusa, franzindo as sobrancelhas para mim. ─ Eu não entendo. ─ Porque estou experimentando essa coisa nova ─ continuei. ─ Onde eu realmente trabalho para minhas coisas. Então, eu só estou mantendo meu uniforme e alguns pijamas e roupas íntimas, mas é isso. ─ Mas, Stells... ─ Inca parecia adoravelmente nervosa. ─ E se você se arrepender disso? Quero dizer, você não pode simplesmente me deixar ter tudo. ─ Qualquer coisa que você quiser ─ eu repeti. ─ Eu já disse à mamãe, e ela estava a bordo. ─ Fui até uma das prateleiras embutidas e peguei algumas sacolas reutilizáveis de roupas. ─ Basta preenchê-las. Pegue o máximo que puder, você pode voltar para pegar mais. ─ Seus olhos estavam brilhando intensamente, mas ela ainda parecia hesitante, então eu a peguei pelos ombros e dei-lhe um olhar severo. ─ Olha. Eu não vou ficar por aqui por muito mais tempo. Vou sair de Wildwood no próximo ano, e você terá dois anos sozinha na escola. Só quero que você esteja... preparada. ─ A Harlem também está saindo este ano ─ lembrou-me Inca. ─ Com ela fora, não haverá ninguém para me provocar. ─ Sempre haverá outra Harlem ─ disse a ela claramente. ─ Tenho certeza de que outra garota má aparecerá e tentará tornar sua vida um inferno. Não subestime intimidações, Inca. Eu só quero que você tenha uma vida um pouco mais fácil enquanto estiver em Wildwood sem mim. Considere isso meu pedido de desculpas por tratá-la... como uma empregada, em vez de uma amiga.
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Ela corou quando eu abri uma das sacolas, apontando para as prateleiras de roupas. ─ Vá em frente. Encha suas malas.
─ Você já teve um emprego antes? ─ O gerente me olhou com desconfiança. Ele era um homem de uns cinquenta anos, corpulento e mais baixo que eu, com um rosto castigado pelo tempo e uma tez permanentemente bronzeada. Eu já o vira muitas vezes em Clancy antes, mas desta vez, foi sério. Se Romi pudesse convencê-lo a me dar um emprego, seria a minha primeira vez trabalhando para alguém. Claro, tudo dependia de suas habilidades de negociação ─ a razão pela qual eu pedi sua ajuda em primeiro lugar. Ela era ótima em convencer as pessoas a fazer o que ela queria. ─ Ela não ─ disse Romilly, sorrindo docemente para o homem. ─ Então, nenhuma experiência de garçonete? ─ Absolutamente nenhuma ─ interrompi. ─ Mas estou mais do que ansiosa para aprender e acho que não vou decepcioná-lo. ─ Acha? ─ Ele riu. ─ Eu vou precisar de um pouco mais do que você achar que pode fazer isso, garotinha. ─ Não a chame assim. ─ Romilly cruzou os braços na frente do corpo defensivamente. ─ Ei, uma garçonete não desistiu, afinal? ─ Sim ─ o gerente respondeu com relutância, balançando a cabeça em descrença. ─ Simplesmente foi embora dois dias atrás. Temos poucos funcionários desde então. Mas não quero contratar alguém que não saiba nada sobre isso.
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─ Pelo que ouvi, você estava em uma situação um tanto terrível e precisando desesperadamente de uma garçonete, então não acho que isso será um problema. É? ─ Romilly deu um sorriso persuasivo. ─ Você deveria contar com a sorte que nós entramos aqui. ─ Talvez ─ ele continuou. ─ Mas ainda não tenho certeza de que ela esteja qualificada para o trabalho. ─ Mesmo que ela não esteja ─ eu interrompi. ─ Ela é uma aprendiz rápida. ─ E você não tem exatamente a opção de ser exigente, agora tem? ─ Romilly piscou. ─ N-não ─ ele murmurou, aparentemente encantado com o sorriso da minha irmã mais velha. Ele até sorriu de volta. ─ Suponho que não. ─ Ele me deu outro olhar preocupado antes de suspirar e finalmente concordar. ─ Tudo bem. Podemos tentar por uma semana, ver como vai. ─ Yah! ─ Romilly saltou para cima e para baixo, virando-se para mim e me dando um alto high five. ─ Viu? Eu sabia que você poderia fazer isso, Stells. ─ Muito obrigada! ─ Apertei-a com força, incapaz de afastar o sorriso do meu rosto e dirigir minha próxima pergunta ao gerente. ─ Quando eu começo? ─ Se estamos realmente fazendo isso, você pode começar na segunda-feira ─ ele me disse, apontando para a parte de trás do prédio. ─ Vou lhe dar um resumo agora e você pode conhecer todos e experimentar seu uniforme. ─ Perfeito. ─ Romilly beijou minha bochecha. ─ Eu tenho que ir agora, você vai ficar bem?
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─ Claro ─ eu assenti. ─ Muito obrigada pela sua ajuda. ─ Por nada. E se o papai tiver um problema com isso... mamãe e eu estamos com você. ─ Ela piscou, acenou e se foi, deixando apenas o leve cheiro de seu perfume em seu rastro. Voltei minha atenção para o gerente, e ele me deu outro olhar incerto antes de me levar para a sala dos funcionários na parte de trás do Clancy. ─ Os vestiários estão lá atrás ─ ele apontou. ─ Você pega seu próprio armário e três conjuntos de seu uniforme. E três aventais, que você deve usar o tempo todo. ─ Ele me deu um olhar longo e persistente. ─ Por que eu tenho a sensação de que você vai lutar comigo no uniforme de trabalho? ─ Eu visto um uniforme para a escola ─ eu disse a ele. ─ Eu posso ver isso. Wildwood, hein? Eu tenho uma garota começando lá em alguns anos ─ continuou ele. ─ Consegui uma bolsa de estudos. ─ Boa sorte ─ murmurei, fazendo-o levantar os olhos de volta. ─ O que isso deveria significar? ─ Bem, é o tipo de lugar que pode comer um aluno não tão confiante vivo ─ admiti. ─ Eu não acho que minha filha vai ter um problema com isso ─ ele riu. ─ Ela é um pouco cuspidora de fogo. A propósito, meu nome é Jeffrey. Jeffrey Cutler. ─ Prazer em conhecê-lo, Jeffrey, Jeffrey Cutler. ─ Apertamos as mãos e ele me olhou novamente.
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─ Eu tenho que dizer ─ ele continuou. ─ Você não é o tipo de garota que geralmente vem para conseguir um emprego. ─ Eu não sou? ─ Ele balançou sua cabeça. ─ Você tem alguma pergunta? ─ Por que você precisa desse trabalho? ─ ele perguntou. ─ Eu não preciso disso ─ expliquei. ─ Mas eu quero. Quero ser uma pessoa melhor, parar de depender dos meus pais para tudo. E estou sempre saindo aqui, de qualquer maneira. ─ Eu já te vi por aí ─ ele assentiu. ─ Tudo bem, vamos dar uma olhada. Aqui está seu uniforme e seu avental. Vá experimentar e me avise se eu lhe dei o tamanho certo. ─ Obrigada. ─ Peguei a pilha de roupas dele. ─ E obrigado por me dar essa chance. ─ Não me decepcione, garota. ─ Ele me lançou um olhar de aviso. ─ Estou falando sério. ─ Sem chance no inferno, Jeffrey.
─ Onde você está indo, mija? ─ Eu congelei com a mão na maçaneta da porta. Papai estava parado atrás de mim, me olhando com desconfiança. ─ Você talvez esqueceu que ainda está de castigo pelo golpe que fez com o garoto Earnshaw? Mordi minha língua para não voltar, contando até três antes de me virar para encará-lo. ─ Na verdade, papai, eu consegui um emprego.
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─ Um trabalho? ─ As sobrancelhas dele se ergueram. ─ Que tipo de trabalho? ─ Um trabalho de garçonete na Clancy's ─ eu disse, defensiva desde o início. ─ Romilly me ajudou a conseguir. ─ Então sua irmã sabe disso, mas eu não? ─ Ele estreitou os olhos para mim. ─ Você não achou que deveria pedir minha permissão antes de aceitar? ─ Claro que sim ─ sorri inocentemente. ─ Mas eu pensei que você ficaria feliz por estar sendo proativa e tentando encontrar um emprego, papai. Vai ficar ótimo no meu currículo da faculdade. ─ Talvez ─ ele continuou. ─ Mas eu quero que você se concentre na escola. Além disso, não é como se você precisasse do dinheiro, Estella. ─ Mas... ─ Não ─ ele balançou a cabeça. ─ Acho que não posso permitir isso. Volte para o seu quarto. ─ O que está acontecendo? ─ Mamãe apareceu atrás dele, piscando pelas costas do papai antes de passar um braço pela sua cintura e lhe dar um beijo casto na bochecha. ─ É sobre o trabalho de Estrellita, Ricardo? ─ Ah, então você sabia disso também ─ ele respondeu friamente. ─ Todo mundo sabe, menos eu, ao que parece. Desde quando mantemos segredos como esse um do outro? ─ Eu apenas pensei que você ficaria feliz por eu fazer isso ─ falei em voz baixa. ─ Eu acho uma ótima ideia, Ricardo ─ mamãe continuou, e ele lançou um olhar duvidoso.
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─ Como assim? ─ Bem, ela vai conseguir ótimos hábitos de trabalho com esse trabalho ─ mamãe começou a contar com os dedos. ─ Ela aprenderá algumas noções básicas sobre como trabalhar com outras pessoas. E, como Estella disse, ficará muito bem em seu currículo, bem como em sua inscrição na faculdade. Você ainda está tentando entrar em Eastvale, não é, Estrellita? ─ Sim. ─ Eu balancei a cabeça solenemente, minha mente voltando ao que encontrei no escritório da senhorita James. ─ Claro que estou. ─ Bom ─ papai bufou. ─ Essas são boas notícias, pelo menos. ─ Ele me olhou antes de continuar. ─ Então, este trabalho... você vai ser garçonete? Não está servindo bebidas alcoólicas, espero? ─ Claro que não ─ eu balancei minha cabeça. ─ Quero dizer, é uma lanchonete, papai. Você já esteve lá antes, lembra? Fomos pegar sundaes uma vez? ─ Certo ─ ele assentiu, dando à mamãe um longo olhar. ─ O que você acha disso? Acha que é uma boa ideia? ─ É ─ ela assentiu, com uma expressão séria. ─ E eu não sei se você notou, mas sua filha tem se esforçado muito para ser mais humilde. ─ De fato ─ ele murmurou. ─ O que incluiu dando todas as suas roupas caras a uma amiga. ─ Porque eu quero trabalhar pelo que tenho ─ falei. ─ Quero merecer tudo o que tenho. ─ Interessante ─ continuou o papai. ─ O que levou a isso? ─ Bem, eu queria deixar você orgulhoso, papai. ─ Eu sorri para ele docemente. ─ Eu queria ver o quanto eu teria que trabalhar para
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conseguir tudo o que você tem me dado a vida inteira. Eu queria surpreender você, mostrando que também sou uma trabalhadora. Ele olhou para mim com aquele olhar impenetrável dele, e eu me perguntei se ele me deixaria continuar com isso. Finalmente, pelo que pareceu horas depois, ele me deu um breve aceno de cabeça e um sorriso frio. ─ Tudo bem. Você pode fazer isso. Mas se eu notar suas notas caindo, ou quaisquer consequências negativas deste trabalho, vamos reavaliar suas prioridades, mija. ─ Obrigada papai! ─ Eu corri até ele, batendo contra ele, dando-lhe um abraço apertado. Eu não abraçava o papai há muito tempo, e ele pareceu surpreso com meu repentino carinho, mas retornou o aperto mesmo assim. ─ Você não ficará desapontado. Mal posso esperar para mostrar o quanto vou trabalhar para isso. Volto em seis horas. ─ Boa sorte, querida ─ mamãe gritou atrás de mim. ─ Ligue se precisar de nós para buscá-la. Acenei e saí de casa. Romilly já estava me esperando em seu carro e buzinou quando eu entrei. ─ Animada? ─ Super animada ─ assenti. ─ Na verdade, mal posso esperar. Conversamos sobre isso e aquilo enquanto dirigíamos para a Clancy's e, quando chegamos, eu já estava dez minutos atrasada. ─ Merda ─ eu murmurei enquanto agarrava minha bolsa. ─ Você não acha que Jeffrey vai ficar bravo, não é? ─ Apenas peça desculpas e trabalhe duro ─ sugeriu Romi. ─ Tenho certeza que ele vai te perdoar.
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Quando entrei no Clancy's, eu estava quinze minutos atrasada e, quando Jeffrey me viu, ele gemeu alto. ─ Já está atrasada, no primeiro dia. Parece um ótimo sinal para o que está por vir. ─ Não seja tão pessimista, Jeff ─ sorri, amarrando o avental. ─ Estou aqui e estou pronta. ─ Com calçados adequados também ─ ele apontou para as sandálias de salto com tiras nos meus pés. ─ Esses vão matar seus pés. ─ Vamos ver ─ sorri. ─ Onde você quer que eu comece? ─ Você pode começar a lavar a louça ─ disse ele. ─ Há um monte na parte de trás, já que estamos com pouca máquina de lavar louça esta semana. Então alguém lhe ensinará a mexer com o caixa. E depois disso, talvez falemos sobre você preparar os pedidos. ─ Eu pensei que este era um trabalho de garçonete ─ eu murmurei, e ele me deu um olhar de aviso. ─ Todo mundo começa na cozinha, princesa ─ ele continuou, usando o meu apelido sem nem mesmo saber o quanto isso me cabia. ─ Vamos ver como você lava a louça e depois falar sobre você fazer outra coisa. ─ Está bem. ─ Fui para a parte de trás do prédio e recuei ao ver uma pia cheia de louça suja. ─ É melhor começar, mocinha ─ um homem alto e volumoso nas costas sorriu para mim. ─ Esses pratos não se lavam sozinhos. ─ Pode deixar, chefe ─ Virei as mangas do meu uniforme e comecei.
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Quando terminei de lavar a louça, eu já estava exausta e meus pés estavam doendo por ficar em pé por muito tempo. Eu subestimei esse trabalho, com certeza, mas não desistiria tão facilmente. Queria provar a mim mesma que podia fazê-lo ─ e não apenas a mim mesma, mas papai, mamãe, Romi... e Milo também. Além disso, seria bom mostrar ao gerente, Jeff, que eu poderia fazer qualquer coisa que ele jogasse para mim. ─ Como está indo, princesa? ─ Jeffrey perguntou quando voltei para a frente da lanchonete. ─ Bem ─ respondi, recusando-me a dizer como eu já estava cansada. ─ Tem outra tarefa para mim? ─ Olhei para a área de estar da lanchonete, empalidecendo quando vi um rosto familiar em uma das mesas. ─ Porcaria. ─ Olha a língua ─ Jeff me lembrou. ─ O que está acontecendo? ─ Tem... ─ Eu engoli. ─ Uma garota que frequenta a minha escola em uma das mesas. ─ Perfeito. ─ Jeff me deu um olhar significativo. ─ Você pode ir e anotar o pedido dela. ─ Agora? ─ Eu gemi. ─ Eu realmente, realmente não quero. Ela é uma garota má, vai me despedaçar se perceber que estou trabalhando aqui. ─ Quanto mais cedo você terminar, melhor. ─ Jeff me deu um tapinha nas costas. ─ Vamos lá, você vai ficar bem. E eu estarei aqui caso você precise de reforços. ─ Ele me entregou um menu laminado, dizendo: ─ Continue.
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Eu sabia que o que iria acontecer a seguir não seria bonito. Mas Jefrey estava certo ─ não podia evitar essas situações para sempre. Trabalhar na Clancy's significava que, sem dúvida, encontraria pessoas que conhecia e precisava enfrentar meus demônios naquele momento. Andando mais perto da mesa de Harlem, engoli meu orgulho, pegando um bloco de notas e uma caneta e cumprimentando a mesa com um sorriso amigável. ─ Bem-vindos ao Clancy's. Posso receber seu pedido? ─ Sim, eu vou tomar um milk-shake de morango e... ─ Harlem finalmente olhou para cima, e seus olhos se arregalaram quando ela me viu. ─ Estella Hawthorne? O que diabos você está fazendo aqui? Isso é uma brincadeira? ─ Não ─ eu sorri docemente. ─ Eu trabalho aqui agora. ─ Hum, ew ... ─ disse Harlem, franzindo as sobrancelhas para mim. ─ Tipo, de verdade? ─ De verdade ─ respondi. ─ Hoje é meu primeiro dia. ─ Nojento ─ ela murmurou antes de um sorriso iluminar seu rosto. ─ Mas estranhamente perfeito. Então, eu tomo aquele milk-shake com leite de soja e morangos de verdade ─ sem calda. ─ Claro. ─ Fiz uma anotação no meu bloco de notas, depois desenhei o nome de Harlem no bloquinho antes de lhe dar um sorriso doce. ─ Algo mais? ─ Ah, não ─ ela ronronou antes de acenar para alguém. ─ Eu estou realmente aqui em um encontro, querida. ─ Ei, Estella. ─ Natan apareceu atrás de mim, deslizando para o assento da mesa ao lado do Harlem e beijando-a nos lábios. ─ Qual a boa?
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─ Estella trabalha aqui agora ─ Harlem disse a ele. ─ Isso não é precioso? ─ Muito ─ Nate murmurou, distraído com o menu. Ele não parecia se importar com o fato de eu estar lá, e eu não tinha certeza se isso era um alívio ou uma decepção. ─ Eu vou pegar o sundae de cereja, por favor. ─ Pode deixar. ─ Não se esqueça, Estella ─ Harlem chamou atrás de mim. ─ Leite de soja. ─ Claro. ─ Voltei para a cozinha para dar a ordem aos funcionários, e Jeff estava esperando por mim. ─ Como foi? ─ Assim como eu poderia ter esperado ─ eu gemi. ─ Ela está aqui com meu ex-namorado. ─ Bem, seja civilizada e não se preocupe com isso ─ Jeff piscou. ─ Vai ficar tudo bem. Eu balancei a cabeça, limpando a bancada enquanto esperava o pedido sair da cozinha. Eu não pude deixar de olhar para Harlem e Nate de vez em quando, e apesar de estar completamente acabado com meu ex, não pude deixar de sentir uma pontada no peito sempre que os olhava. Harlem me pegou observando-os uma vez e ela sorriu docemente antes de gritar: ─ Garçonete? Posso, de fato, conseguir algum atendimento aqui? Corri para a mesa deles, suspirando interiormente, mas dando-lhes um sorriso, apesar da necessidade de esmagar o rosto de Harlem na mesa. ─ Sim, como posso ajudar?
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─ Onde está o meu pedido? ─ Harlem exigiu. ─ A cozinha ainda está preparando. ─ Inaceitável. ─ Ela olhou para mim. ─ Eu gostaria de falar com seu gerente. ─ Hummm ... ─ eu perguntei. ─ Por quê? ─ Acho que você não deve questionar o cliente, querida garçonete ─ ronronou Harlem. ─ Agora pegue nossas bebidas e mande o gerente, continue. Eu assenti, me afastando e dizendo a Jeff o que ela havia pedido. ─ Esse vai ser um problema, não é? ─ ele gemeu. ─ Tudo bem, eu vou para lá agora. Você terminou os pedidos, ok? Eu balancei a cabeça e fui para a cozinha, onde eu mesma fiz o milk-shake de Harlem, fazendo tudo o que ela exigia e recusando o desejo de cuspir em seu copo. Finalmente, eu trouxe o pedido e fui até a mesa deles onde Jeff ainda estava de pé. Coloquei o sorvete e as bebidas na mesa e sorri para o gerente enquanto ele se afastava. ─ Mais alguma coisa que eu possa fazer por você hoje? ─ Eu perguntei educadamente. Harlem me ignorou completamente, tomando um gole de bebida e engasgando dramaticamente com a bebida. ─ Ugh, você entendeu errado meu pedido. Pedi leite de aveia, não soja! ─ Não, você pediu soja. ─ Franzi minhas sobrancelhas para ela, puxando meu bloco de notas e mostrando a anotação que fiz enquanto
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cobria o rosto de demônio que desenhei em torno de seu nome. ─ Veja bem aqui. ─ Você entendeu errado ─ insistiu Harlem. ─ E eu sou tipo, alérgica ao leite de soja. Você está tentando me matar? ─ Não ─ respondi. ─ Eu... ─ Eu não ligo ─ Harlem reclamou. ─ Isso é inaceitável e não posso beber. ─ Ela olhou diretamente para mim enquanto batia no copo com o cotovelo, observando-o passear no chão. Líquido espumoso vermelho pulverizou minhas roupas, e eu a encarei incrédula. Natan não disse uma palavra, cavando alegremente seu sundae. ─ E agora você o derrubou ─ Harlem suspirou dramaticamente. ─ Você vai ter que pagar por isso, você sabe ─ eu disse a ela quando me abaixei para começar a limpar a bagunça. ─ De jeito nenhum eu estou pagando pelos seus erros ─ Harlem assobiou. ─ Agora, traga-me outro milk-shake e acerte dessa vez. Na minha cabeça, eu sabia que tinha duas opções. Chame-a para falar sobre o que ela fez, entre em uma discussão enorme com ela e, possivelmente, seja demitida quando a briga começar. Ou eu poderia dar a outra face e fingir que não era nada, continuar fazendo o meu trabalho e não deixar minha vida pessoal interferir. Contei até cinco na minha cabeça antes de me abaixar e limpar um pouco da bagunça. Quando voltei, Harlem tinha um sorriso presunçoso no rosto e ela esperou que eu mordesse a isca. Quando não o fiz, ela pareceu irritada e cuspiu outro insulto. ─ Ah, como os poderosos caíram. Olhe para você, limpando sua bagunça enquanto eu sento aqui com seu ex.
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─ Como você tem sorte ─ eu ronronei, sorrindo para ela. ─ A garota mais sortuda do mundo. ─ Deixei-os sentados lá, dando um suspiro de alívio quando cheguei ao balcão, pegando alguns materiais de limpeza debaixo da pia. ─ Está tudo bem aí, garota? ─ Jeff perguntou. ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Vai ficar tudo bem. Ele sorriu para mim, sem dizer mais uma palavra sobre o que havia falado com Harlem. Preparei outro milk-shake e, quando terminei, voltei para uma mesa vazia. Natan e sua nova namorada se foram. Coloquei o milk-shake, dizendo a mim mesma que pelo menos haviam deixado algum dinheiro em cima da mesa para pagar por suas bebidas. Isso foi até que vi o copo de cabeça para baixo na mesa. De alguma forma, a água estava no fundo, agora olhando para o teto e, embaixo, havia uma nota de vinte dólares. É claro que, se eu levantasse o copo, iria molhar o dinheiro e derramar todo o líquido sobre a mesa. E ainda por cima, Harlem havia deixado um anel de ketchup ao redor da borda do copo. Eu estava prestes a surtar. A vontade de sair correndo, alcançá-los e tirar aquele sorriso satisfeito do rosto de Harlem era forte. Mas eu me forcei a parar no meu caminho. Contei até dez na minha cabeça antes de me curvar para limpar a enorme bagunça que eles fizeram. E me senti melhor por ser paciente.
Quando as seis horas terminaram, Jeffrey me informou que eu teria que ficar mais 45 minutos para limpar a Clancy's após os últimos clientes. Limpei e esfreguei esses pisos até que eles brilhassem e, quando
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finalmente terminei, estava exausta. Jeffrey pareceu notar que eu estava perto do meu ponto de ruptura, e apertou minha mão assim que terminei de limpar os fogões. ─ Eu tenho que dizer, estou impressionado. ─ Comigo? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas em surpresa. ─ Sim, você ─ ele riu. ─ Você me provou que estava errado. E eu perdi uma aposta com minha esposa por sua causa. ─ Qual foi a aposta? ─ Apostei que você sairia nas primeiras três horas do seu turno. ─ Odeio decepcionar ─ sorri. ─ Então, eu posso voltar amanhã depois da escola? ─ Sim ─ ele assentiu. ─ Definitivamente. Apenas talvez não calce os sapatos. Suas pernas vão te matar até o final da semana, caso contrário. ─ Entendi, chefe. ─ Ah, depois que você trocar seu uniforme ─ ele continuou, sorrindo para mim. ─ Acho que tem alguém esperando por você no estacionamento. ─ Ok, eu vou me apressar. Deixei Jeffrey lá e fui para o vestiário enquanto minha mente corria com as possibilidades. Eu esperava por Deus não fosse o papai que estivesse lá fora, depois de ter mudado de ideia sobre eu trabalhar na Clancy's. Eu mudei rapidamente, gemendo quando vi como meus pés estavam com bolhas pelo salto que eu usava. Jeffrey estava certo. Eu deveria ter usado outra coisa.
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Uma vez que eu tive tudo pronto, saí pela saída dos fundos e entrei no estacionamento, olhando em volta para ver quem estava me esperando com meu coração batendo forte no peito. Por favor, por favor, não deixe que seja papai. ─ Stells, por aqui. Eu me virei na direção da voz, sorrindo largamente assim que vi quem estava me esperando. ─ Milo? Ele saiu das sombras com seu carro e entrou na luz. ─ Olá princesa. ─ O que é isso? ─ Eu cheguei mais perto, incapaz de lutar contra o sorriso que chegava aos meus lábios. ─ Isso é para mim? Milo assentiu, pegando um isqueiro no bolso e acendendo a vela rosa de aniversário em cima do cupcake na mão. ─ Eu pensei que deveríamos comemorar seu primeiro turno. Sei que você deve estar em casa em breve, mas espero que você tenha tempo para uma pequena surpresa. ─ Você é tão doce. ─ Eu respirei, meu estômago dando cambalhotas quando me aproximei dele. Ele estendeu a mão, esperando eu apagar a vela, e eu respirei fundo, soprando na primeira tentativa. ─ Você desejou alguma coisa? ─ Milo perguntou com as sobrancelhas levantadas. ─ É claro ─ eu sussurrei, pegando o cupcake da mão dele e o abraçando. ─ Não me diga ─ ele avisou. ─ Ou então não se tornará realidade. Como foi seu primeiro turno?
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─ Exaustivo ─ suspirei, levando o cupcake até os lábios e tirando a embalagem. ─ Muito obrigado por vir me ver. ─ Eu não poderia perder isso, poderia? ─ Ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha enquanto eu mordia o cupcake, suspirando quando o gosto atingiu minha língua. ─ Oh Deus, é tão bom. Você fez isso? ─ Os meus pais fizeram ─ disse ele se desculpando, bagunçando o cabelo. ─ Coco e chocolate. Você gostou? ─ É delicioso. Quer um pouco? ─ Ele assentiu e eu sorri maliciosamente antes de manchar seus lábios com a cobertura de coco. Ele riu alto, tentando se afastar, mas eu me inclinei para mais perto, lambendo os lábios com a língua e provando mais do cupcake. ─ Você é uma garota tão má ─ Milo murmurou. ─ Você ama isso. ─ Eu meio que amo ─ ele sussurrou, e eu corei ferozmente quando percebi o que ele estava dizendo. Acabamos de dizer a palavra com A? ─ Eu queria te perguntar outra coisa. ─ Ah sim? ─ Minhas sobrancelhas se ergueram. ─ O que? ─ Bem, eu pensei que estava na hora de eu oficialmente te perguntar... ─ Ele sorriu para mim, me puxando pelos quadris até que seus lábios estivessem centímetros dos meus e ele pudesse sussurrar a pergunta para mim. ─ Você quer ser minha namorada, Estella Hawthorne? ─ Você tem certeza? ─ Eu perguntei suavemente. ─ Você tem certeza que quer isso?
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─ Mais do que certo ─ ele assentiu, confiante. ─ Você...? ─ Sim ─ eu sussurrei. ─ Eu realmente, realmente quero. Seus lábios permaneceram nos meus, me dando um doce beijo. ─ Então diga sim. ─ Mas, minha família... papai... Eastvale... ─ Comecei a contar as razões pelas quais não devíamos ficar juntos, mas Milo me interrompeu com outro beijo profundo, me puxando contra ele e reivindicando minha boca de uma maneira que dizia que ele não iria desistir. ─ Eu não ligo para nada disso ─ ele me disse gentilmente. ─ Tudo o que me interessa é que você é minha. E não vou deixar ninguém mais ter você. Então, o que você diz? ─ Eu digo... ─ Eu sorri, dando um selinho em seus lábios novamente. ─ Sim. Eu digo que sim. Milo gritou e eu ri quando ele me puxou ainda mais perto. ─ Até parece que vamos nos casar. ─ Acalme-se aí, Earnshaw. ─ Eu vou me casar com você um dia. Você sabe disso, não é, Stells? ─ Vamos ver, Carino.
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21 DATA: 01 DE OUTUBRO DE 2019 – 19H LOCAL: CASA DA ESTELLA. MILO
Fazia mais de uma semana desde a minha visita ao spa, onde descobri exatamente o que Ricardo Hawthorne estava fazendo e ainda não havia dito a Estella o que havia descoberto. A culpa estava me devorando vivo, sabendo que eu a deixara naquela casa sem ninguém para protegê-la. Mas eu também sabia que era melhor esperar meu tempo, caso contrário, eu pareceria um lunático com uma agenda contra o pregador favorito do país. Não iria dar certo, e eu precisava seguir meu plano para ter sucesso, se quisesse ter alguma esperança de tirar Estella de lá. Por enquanto, eu decidi manter o segredo. Eu deveria encontrar Estella naquela noite. Sua irmã Romilly havia me dito que seus pais estavam saindo em um voo noturno para ir a um sermão em Orange Country pela manhã. Romi também não estava pensando em ficar em casa, o que significava que Estella e eu teríamos a casa só para nós. Havia o problema da criada, é claro, mas eu tinha a sensação de que eu poderia suborná-la para me deixar entrar. Parei na frente da casa de Stells naquela noite com um buquê de rosas vermelhas, sentindo-me como um idiota apaixonado quando toquei a campainha. Foi a criada que abriu a porta e franziu as sobrancelhas, cruzando os braços enquanto esperava a minha explicação. ─ Eu quero vê-la ─ eu exigi. ─ Srta. Estella está indisposta ─ disse ela em voz alta.
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Peguei um maço de notas de cem dólares do bolso e seus olhos se arregalaram com a visão. ─ Sua filha está começando a faculdade no próximo ano, certo? Aqui está algo para ajudar com isso. Ela balançou a cabeça em descrença enquanto eu espalhava as contas. ─ Tudo isso? Por ela? ─ Ela vale muito mais ─ eu murmurei, empurrando o dinheiro em suas mãos antes de passar por ela e entrando na casa dos Hawthorne. Olhei em volta para ter certeza de que estávamos sozinhos antes de subir as escadas. A criada não fez mais comentários. Andando pelo corredor, encontrei o quarto de Estella e bati na porta. ─ Entre ─ ela gritou, parecendo entediada. Empurrei a porta e sorri para ela. Ela usava esses minúsculos shorts jeans e uma blusa abotoada, com os pés descalços. ─ Ei, princesa. ─ Milo? ─ Seus olhos se arregalaram ao me ver, e ela sorriu. ─ Não acredito que você conseguiu! Ela pulou em mim, envolvendo as pernas em volta da minha cintura, e eu beijei seus lábios carnudos. ─ Romilly me disse que você ficaria sozinha, então você tem que agradecê-la. ─ Estou tão feliz que você está aqui. Eu a coloquei no chão, alisando seus cabelos. ─ Como está tudo, princesa? ─ Bem, além do fato de eu não te ver há quase uma semana porque o papai é tão protetor ... ─ ela suspirou. ─ O trabalho tem sido agitado, e tenho certeza de que peguei um casal transando no banheiro feminino hoje.
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─ Elegante ─ eu sorri. ─ Muito. ─ Ela ainda estava sorrindo. ─ Mas eu gosto. É diferente, e acho que é bom. São para mim? Eu balancei a cabeça, entregando-lhe o buquê, e ela sorriu ainda mais antes de encontrar um vaso e colocá-los em sua mesa. ─ Ei, seus pais não estão aqui até amanhã, certo? ─ Eu perguntei, e ela olhou para mim, assentindo. ─ Sim, mas se eu for a algum lugar, Mabel dirá a eles com certeza. ─ Não precisamos ir a lugar nenhum ─ eu disse, apontando para a mochila. ─ Eu tenho tudo o que precisamos aqui. Pipoca com manteiga de micro-ondas, meu laptop para que possamos assistir Netflix e relaxar, e todo o pior tipo de comida do mundo. Ela abriu minha mochila e pegou lanche após lanche, rindo. ─ Você não estava mentindo. Encontramos uma comédia romântica e preparamos os lanches. Stells se aninhou contra mim quando começamos a assistir, e eu a peguei olhando furtivamente para mim durante todo o filme. Eu sorri para mim mesmo quando minhas pálpebras ficaram mais e mais pesadas.
Não sei por quanto tempo estávamos dormindo, mas quando abri meus olhos, o céu estava escuro, e Estella estava roncando suavemente ao meu lado na cama. O filme terminou há muito tempo. Coloquei a tigela de pipoca na mesa de cabeceira e comecei a passar as pontas dos dedos
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pelas costas dela, em um esforço para acordá-la. Ela acordou lentamente, sorrindo antes mesmo de abrir os olhos. Quando ela acordou devagar, ela me puxou para um beijo. ─ Essa é oficialmente a minha nova maneira favorita de acordar. Puxei seu corpo contra o meu, fazendo contato com sua pele enquanto inalava seu perfume limpo e sexy. ─ Bom dia, princesa ─ murmurei contra sua pele nua. ─ Senti sua falta. ─ Eu sei. Eu também. ─ Sua voz era um sussurro no meu ombro, e eu prendi meus polegares no cinto do seu short jeans. Seus olhos se abriram e ela me bebeu, aqueles grandes olhos de corça fazendo meu pau inchar. ─ Fique em cima de mim. ─ Puxei o tecido de brim. ─ Agora mesmo. Em segundos, ela mudou da doce e satisfeita Estella para uma garota carente de mais. Ela montou em mim, seu shortinho pressionando contra o meu pau e me fazendo gemer alto. ─ Assim? ─ ela perguntou, me dando um sorriso perverso enquanto segurava minhas mãos, colocando-as na cintura, logo abaixo do cós da camiseta cortada. ─ Sim ─ eu murmurei. ─ Pare, princesa. Pensei que concordamos em não fazer isso até você receber a receita. ─ Alguns dias atrás, ela me disse que iria encontrar uma maneira de obter contracepção. Tinha sido uma ligação noturna de promessas sussurradas e beijos silenciosamente soprados. Uma noite em que acariciei meu pau com sua voz doce, me dizendo que nunca iria transar com ela com camisinha, sempre nu, sem nada entre nós. Só a memória me fez empurrar uma mão em seus
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cabelos, puxando os fios sedosos. ─ Lembra-se, você me fez prometer não te foder? ─ Sim. ─ Ela gostava de seus lábios em forma de coração. ─ Eu gosto de provocar você. ─ De jeito nenhum. ─ Eu balancei minha cabeça, puxando minha mão e tentando tirá-la do meu colo. Mas ela não deixou ir. Em vez disso, ela colocou as pernas em volta da minha cintura, me puxando contra ela. Os lábios de Estella estavam nos meus, e ela estava me beijando, mordendo-me, exigindo minha atenção. ─ Stells, não. Você vai me causar problemas. ─ Você não precisa entrar dentro de mim ─ ela sussurrou nos meus lábios como se eu não tivesse dito nada. ─ Você pode entrar na minha boca. ─ Convença-me, princesa ─ eu gemi. Ela me deu um sorriso perverso antes de empurrar sua bunda no ar e se abaixar lentamente até seus lábios tocarem o tecido do meu jeans. ─ Jesus. ─ Não tome o nome do Senhor em vão ─ Stells me lembrou com uma piscadela inocente. ─ Me ajude a tirar isso. ─ Não. ─ Eu balancei minha cabeça, sorrindo para ela. ─ Você não está recebendo minha ajuda com tanta facilidade. Quero que você chupe meu pau como uma profissional, e então veremos se você consegue meu esperma em algum lugar. Ela fez beicinho, mas apenas por um segundo. No outro, sua natureza competitiva voltou ao jogo, lembrando-me dos últimos anos em que éramos colegas de classe, como sempre brigamos por aquele lugar de destaque. Eastvale não foi o começo, foi uma vitória em uma guerra de anos. E agora aqui estava eu, pronto para desistir do meu troféu e deixála carregá-lo. Porra, a garota me chicoteava.
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Seus dedos puxaram meu cinto antes de abrir o zíper. Ela tirou meu jeans e cueca com um propósito, como uma ninfomaníaca impaciente. Toquei meus dedos em seu queixo, fazendo-a olhar para mim e acenando para ela continuar. Mas ela não tirou os olhos dos meus, nem por um segundo. Em vez disso, ela passou os lábios pela ponta e começou a me chupar. Seu cuspe deslizou ao longo do meu pau enquanto ela sorria inocentemente para mim, deixando o suco escorrer pelo lábio inferior. Coloquei meus braços atrás da cabeça, mesmo que fosse uma luta, porra. Eu não queria nada além de transar com ela até a cama quebrar, mas eu sabia que tínhamos que ter alguns limites. Além disso, vê-la tentando me impressionar me deixou duro como uma rocha. Ela poderia se divertir com meu pau antes de eu jorrar por todo o seu rosto. Porque hoje à noite, ela seria minha putinha, bem debaixo do teto do papai. Stells lambeu o caminho da base do meu pau até a ponta, fazendo seus lábios se juntarem à diversão, consumindo o liquido pré gozo que estava vazando da fenda. ─ Você gosta disso, Milo? ─ ela sussurrou. ─ Você não tem que responder, eu posso provar o que você gosta. Como você vai se segurar de gozar agora? Boa pergunta, pensei comigo mesmo, mas nunca perdi a compostura enquanto sorria para ela. ─ Se você me fizer gozar antes que eu queira, farei o que quiser. Os olhos dela batem com a proposta. ─ Qualquer coisa? ─ Eu assenti, e ela sorriu mais. ─ Mesmo que eu queira que você se livre do seu carro de merda? ─ Gertie? ─ Eu perguntei, franzindo as sobrancelhas. ─ Por que você quer que eu me livre dela?
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─ Porque é velho e tipo, não deveria mais estar na estrada ─ ela gemeu. ─ Tudo bem ─ eu murmurei. ─ Boa sorte, princesa. Desta vez, quando ela voltou a chupar meu pau, eu realmente questionei se seria capaz de segurar. Sua língua estava desesperada, rápida, unida por suas maçãs do rosto afiadas esvaziando enquanto ela chupava profundamente. Eu resisti ao desejo de envolver minha mão em seus cabelos, em torno de sua garganta, em qualquer lugar onde eu pudesse controlar seu ritmo e apenas jorrar meu esperma todo o caminho em sua garganta. Ela olhou para cima, momentaneamente decepcionada com o fato de eu não ter rebentado uma porca sobre seu ego pecador ainda. Então, ela puxou o ás da manga. Demonstrando que iria tirar sua blusa, ela desfez um botão após o outro. Soltei um suspiro quando a vi provocar seus mamilos através da pele com nervuras. ─ Stells ─ eu gemi. ─ Sim? ─ Seu sorriso era inocente, mas seus olhos eram tudo menos isso. ─ Você quer mais? Eu não respondi e ela desabotoou a blusa antes de puxar o tecido ainda mais, revelando uma polegada de pele aqui, depois ali. Seus belos mamilos cutucaram e eu fechei meus olhos, contando até três antes de abri-los novamente. ─ Eu quero mais, Stells. Me mostre mais, porra. Ela tirou a blusa. Seus seios bonitos que eu tinha negligenciado da última vez me lembraram o que eu estava perdendo todos aqueles anos desde que paramos de sair. Eu queria afundar meus dentes em sua pele. Rastejando em cima de mim, ela agarrou meu pau com as duas mãos e esfregou minha ponta vazando pelos seus seios bonitos. Eu assisti com prazer quando ela lambeu e esfregou, apertou e puxou. Eu estava
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chegando tão perto com isso tudo, foi um esforço para não apenas deixála me ordenhar. Mas eu estava me segurando. Naquela noite, eu estava determinado a Estella engolir minha porra. ─ Fique na beira da cama ─ eu disse e ela parou. ─ Pensei que você tivesse dito que não íamos... ─ Tira. Borda da cama, de joelhos. Agora, porra. Seus olhos se arregalaram, mas ela sabia que não devia dizer nada agora. Apressando-se para fora da cama, ela empurrou aqueles pequenos shorts para baixo, expondo os globos de sua bunda em uma tanga rosa chock. Isso aconteceu a seguir, e ela ficou diante de mim, do jeito que eu queria vê-la. Eu podia sentir o constrangimento que ela sentia, congelando-a no lugar enquanto olhava para qualquer lugar, menos para mim. Mas eu não vi imperfeições. Tudo o que vi foi uma mulher linda e perfeita. Fiz um gesto para ela se deitar e ela seguiu minhas ordens silenciosas, empurrando-a para mim enquanto eu me levantava atrás dela. ─ Você trouxe preservativos? ─ ela perguntou, provavelmente pronta para uma discussão. Eu pensei na pergunta dela antes de cuspir no meu pau e torná-lo agradável e molhado antes de empurrar em sua boceta apertada. ─ Não. Ela choramingou quando eu comecei a transar com ela. Essa boceta ainda estava impossivelmente apertada, e eu tive que abrir espaço para o meu pau a cada impulso dos meus quadris. Suas paredes me abraçaram, agarrando-se a mim com desespero enquanto Estella se dissolvia em gemidos diante de mim. Segurei sua cintura com as duas mãos.
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─ Monte em mim. ─ Meu pedido era simples e ela era sábia o suficiente para obedecer. Um pequeno gemido escapou de seus lábios quando ela começou a pular no meu pau, um pouco desajeitada no começo, mas ficando cada vez melhor a cada movimento de seus quadris. ─ Ainda acha que você pode me fazer gozar? Ela choramingou. ─ Eu não sei se posso. ─ Ah, como se fosse difícil? ─ Perguntei-lhe gentilmente, beijando a nuca e juntando os cabelos em um punho. ─ Vamos, princesa. Você se gabou, agora trabalha pra caralho. Eu podia praticamente sentir suas prioridades mudarem quando ela empurrou seu próprio prazer para o lado. Stells olhou para mim por cima do ombro antes que ela começasse a andar corretamente, seus quadris saltando dos meus enquanto ela batia sua bunda na minha virilha uma e outra vez. Ela não pôde evitar os gemidos que saíam de seus lábios, mas eu já tinha passado do ponto de me perguntar se sua criada arrogante poderia nos ouvir. Em vez disso, gostei da sensação da minha doce mulher trabalhando no meu pau por tudo que valia a pena. E quando eu estava perto o suficiente para explodir, eu o puxei para fora dela, ignorando seus protestos ofegantes e a virando na cama para que sua cabeça estivesse na beira da cama e ela estivesse deitada de costas. ─ Milo... ─ ela sussurrou, seus olhos devorando avidamente meu pau. ─ Me dê seu esperma. ─ Eu vou ─ prometi a ela. ─ Chega de me segurar, prometo. Você decide quando. ─ Mesmo que isso signifique você... você vai perder o seu carro? ─ Ela mordeu o lábio inferior, e eu amaldiçoei interiormente, mas me vi assentindo. Porra, as coisas que eu faria por essa garota. ─ Sim. Apenas chupe.
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Ela sorriu antes de chupar minha ponta entre os lábios. Eu não conseguia ver os olhos dela, não que eu pudesse me manter com os meus abertos. Tudo que eu queria era derramar minha porra por todo o corpo bonito dela. Lembrando que ela estava nua para mim, eu olhei para baixo e brinquei com seus mamilos enquanto ela trabalhava no meu pau. Seu corpo era tão flexível, pronto para fazer o que diabos eu queria, e eu não conseguia o suficiente. As mãos de Stells juntaram-se aos seus lábios, e ela me chupou junto com movimentos rápidos de suas mãos. Finalmente, eu sabia que não aguentaria mais, e o único aviso que ela recebeu foi um grunhido de seu nome antes que minha porra enchesse sua boca. Ela cuspiu e tossiu, agarrando meu pau ainda tremendo e pintando seu próprio corpo com o meu esperma. Eu assisti, hipnotizado, enquanto ela cobria seus mamilos e seios com jorro após jorro do líquido antes de beijar o topo do meu pau. Então, ela enfiou os dedos na bagunça que tinha feito e os levou aos lábios, me observando enquanto se limpava. Sentei-me na cama ao lado dela, inclinando-me e cobrindo sua boca com a minha. Eu ainda podia provar meu próprio esperma, salgado e pegajoso em seus lábios. Eu a beijei profundamente o suficiente para dizer que ela era minha antes de cair na cama, com a cabeça aos pés de Estella. ─ Você vai ser a porra da minha morte ─ murmurei contra sua pele, envolvendo minhas mãos em torno de seus tornozelos e mordendo delicadamente suas pernas. ─ Você tem alguma ideia do que está fazendo comigo, Stells? ─ Eu tenho ─ ela deitou de costas, alegremente olhando para o teto com a mão na minha coxa. ─ Deus, você é tão sordidamente perfeito, Milo. ─ Longe disso ─ murmurei quando ela se apoiou nos cotovelos, franzindo as sobrancelhas para mim.
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─ Você é, você sabe ─ ela disse defensivamente. ─ Você sempre foi melhor que eu, de qualquer maneira. ─ De jeito nenhum ─ eu ri. ─ Melhor no que, exatamente? ─ Não fui eu quem entrou em Eastvale ─ ela murmurou. ─ Stells... eu... ─ Eu me sentei também, puxando seu travesseiro rosa sobre meu pau exposto. ─ Olha, há algo que preciso lhe contar sobre isso. ─ Não ─ ela sussurrou. ─ Hoje não. Agora, eu só quero deitar em seus braços. Talvez você possa fazer o mundo parar de girar, só um pouquinho. Eu sorri para ela antes de puxá-la contra mim. Estávamos ficando bagunçados na cama, mas eu já tinha passado do ponto de me importar. Eu a envolvi naquele cobertor desagradável e a puxei contra meu corpo. Eu beijei a ponta do nariz dela e vi os cantos da boca dela se levantarem enquanto ela descansava a cabeça no meu peito. ─ Eu quero ficar com você para sempre ─ ela sussurrou contra mim. ─ Eu quero isso também. ─ Você acha que papai vai aprovar? A pergunta me atingiu do nada, e eu esperava que ela não me notasse tenso enquanto eu acariciava seus lindos cabelos. ─ Eu não sei, Stells. Isso vai impedir você de ficar comigo? Ela se aconchegou mais perto, balançando a cabeça. ─ Nunca.
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─ Bom. ─ Puxei-a para mais perto, inalando o perfume de seu xampu quando ela se aninhou contra o meu peito. ─ Porque eu não vou deixar você fugir novamente.
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22 DATA: 15 DE OUTUBRO DE 2019 – 11H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD. MILO
A vida finalmente estava no caminho certo. Estella era minha, eu estava indo para a faculdade dos meus sonhos, e as coisas estavam bem em casa. Tudo o que restava a fazer era garantir que Stells também entrasse em Eastvale e colocar o pai dela atrás das grades. Eu ainda estava trabalhando na minha estratégia para contar a Estella o que sabia, mas precisava cuidar primeiro da coisa de Eastvale. Mesmo que eu tivesse me prometido que não iria mais interagir com a Srta. James, me perguntei se deveria acusá-la de não enviar a inscrição da minha garota. Mas certamente havia outra maneira de contornar isso. Meu objetivo não era causar problemas para alguém. Eu só queria ir para Eastvale no próximo outono com a Estella junto comigo. Como se soubesse, eu não precisava encontrar a Srta. James ─ ela me encontrou. Eu estava sentado na aula de história quando os autos falantes da sala de aula estalaram para a vida. Todos olhamos de nossas mesas. Isso geralmente significava problemas. ─ Milo Earnshaw poderia se dirigir ao escritório da Srta. James? ─ a voz da secretária da escola chamou, já soando entediada. ─ Repito, Milo Earnshaw vá ao escritório da Srta. James, por favor. Assobios baixos me acompanharam quando eu peguei minhas coisas e minha mochila do chão. Até o professor, o Sr. Norton, parecia preocupado quando me deu um aceno breve para indicar que eu poderia sair. Eu sabia que o que ia acontecer não seria bom, e gemi interiormente
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enquanto saía da sala de aula e seguia pelo corredor até o escritório da senhorita James. Respirei fundo antes de bater na porta duas vezes. Sua voz me chamou para entrar, e eu entrei em seu escritório com um olhar cauteloso. A Srta. James estava sentada em sua mesa com um sorriso presunçoso, seu vestido de verão substituído por uma saia lápis justa e uma blusa branca combinada. Meu irmão provavelmente já estaria babando em cima dela, mas meu tesão pela Srta. James estava bem e verdadeiramente terminado. ─ Você queria me ver? ─ Eu perguntei enquanto colocava a mochila em meus pés e me sentava na frente da mesa dela. ─ Sim ─ disse ela, dando-me um sorriso satisfeito. ─ Temos algo a discutir, você não acha? ─ Como o quê? ─ Como isso. ─ Ela abriu uma gaveta em sua mesa e puxou um pedaço de tecido rendado rosa quente. Eu me senti ficando quente quando ela balançou sua própria calcinha na minha frente. ─ Confiscado do seu irmão, Natan. Se importa de me dizer como ele colocou as mãos na minha calcinha? ─ Eu... ─ eu engoli. ─ Sinto muito. Foi... uma troca de favores. ─ Entendo. ─ Ela colocou a calcinha de volta na gaveta e sorriu docemente para mim. ─ Mas eu suponho que você as tirou da minha casa quando eu o flagrei lá alguns dias atrás. Eu não respondi, apenas mudei de posição na cadeira, me sentindo culpado pra caralho. ─ Desculpe, Srta. James, eu não deveria ter feito isso.
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─ Não, você não deveria ─ ela me disse, levantando-se da mesa e andando até mim. Ela pousou a bunda na mesa e me deu um olhar preocupado. ─ Milo, receio que seu comportamento tenha sido preocupante durante todo o ano letivo. Eu olhei para ela. Eu sabia de onde isso estava vindo. Ela estava apenas sendo uma vadia porque eu tinha recusado suas tentativas. ─ Sinto muito por você se sentir assim. ─ Infelizmente, eu não sou a única. ─ Ela suspirou e tirou alguns papéis de uma pasta em sua mesa. ─ Alguns de seus testes recentes, nos quais você recebeu um B... Altamente improvável para você, não é, Milo? ─ Acontece com todo mundo ─ dei de ombros. Um par de Bs não era nada para ficar muito chateado. ─ Bem, e há o caso desse teste de química ─ ela continuou, apontando para um C ─ na frente do papel marcado com tinta vermelha manchada. ─ Em que você tem um C- ... muito estranho, Milo, já que você sempre teve A antes disso. ─ Por que você está tão preocupada com minhas notas? ─ Eu perguntei a ela, levantando minhas sobrancelhas. ─ Bem, se isso continuar ... ─ ela continuou. ─ Vou ter que relatar isso para Eastvale e recomendar um candidato diferente para a vaga que eles têm para um estudante de Wildwood. ─ Sim? ─ Eu sorri para ela. ─ Estella Hawthorne, por acaso? Ela empalideceu, mas apenas por um segundo antes de guardar cuidadosamente meus papéis. ─ Veremos.
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─ Por que você me chamou aqui? ─ Eu perguntei, minha irritação tirando o melhor de mim. ─ Existe realmente algo que você queria falar comigo ou você está apenas tentando me ameaçar? ─ Ameaçar você? ─ Ela riu com facilidade, como se nunca tivesse ouvido algo mais engraçado em sua vida. ─ Eu não preciso te ameaçar, Milo. Acho que nós dois sabemos que você fará a coisa certa para manter seu lugar em Eastvale. ─ E o que poderia ser isso? ─ Bem, só pode haver uma razão para você estar pior na escola. ─ Ela encolheu os ombros. ─ Essas coisas são comuns para meninos da sua idade, Milo. Você conhece uma garota, começa a namorar... e assim, suas notas começam a cair e você pode se despedir do seu futuro. Franzi minhas sobrancelhas. ─ Se você está querendo dizer que... ─ Eu não estou querendo dizer nada ─ ela me interrompeu. ─ Eu sei exatamente o que está acontecendo aqui. Você está sob a influência de Estella mais uma vez. Ela o envolveu em seu dedo mindinho, não é? ─ Você não tem ideia do que está falando. ─ Eu me levantei, mas ela me parou com a mão no meu pulso, suas unhas compridas cavando minha pele. ─ Tire suas mãos de mim. ─ Agora, Milo ─ ela ronronou. ─ Isso não é jeito de tratar um membro da equipe de Wildwood. Parece que sua ficha de representante está ficando cada vez pior... Você não quer que eu continue adicionando ofensas, não é? ─ O que diabos você quer? ─ Eu estava perdendo minha paciência com ela. ─ Apenas me diga o que é. Dinheiro?
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─ Dinheiro? ─ ela riu. ─ Não, nem todo mundo é tão obcecado por dinheiro quanto vocês, estudantes de Wildwood... e seus pais. ─ Ela zombou. ─ Eu só quero ter certeza de que você não atrapalhará o seu futuro, querido Milo. ─ Então, o que você quer que eu faça? Eu não sou idiota. Eu sei que você me chamou aqui porque quer alguma coisa. ─ Cruzei os braços na frente do meu corpo, olhando para ela. ─ Por que você não fala logo para que possamos acabar com isso? ─ Você e Estella... ─ Ela levantou o nariz com a menção do nome da minha garota, e eu lutei contra o desejo de forçar aquele sorriso em seu rosto. ─ Vocês estão oficialmente juntos agora? ─ Sim ─ assenti orgulhosamente. ─ Pedi que ela fosse minha namorada, por isso somos oficiais. ─ Tsk, tsk, tsk ─ ela balançou a cabeça. ─ Era disso que eu tinha medo. Sinto muito, Milo, você pode não gostar do que tenho a dizer a seguir. ─ O que? ─ Bem, sinceramente acho que seria do seu interesse terminar com a senhorita Hawthorne ─ ela encolheu os ombros com indiferença. ─ Ela está influenciando suas notas, tornando você incapaz de se concentrar em seus estudos, ela é uma má influência por completo. Eu não acho que vocês pertençam um ao outro, só isso. ─ E em que mundo fodido, isso é da sua conta? ─ Eu reclamei. ─ Olha a língua! ─ Ela me deu um olhar falso horrorizado antes de rir na minha cara. ─ Bem, Milo, sou eu quem está segurando todas as cartas. Ou talvez eu deva dizer... calcinha.
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─ Você também foi quem não enviou a solicitação de Estella para Eastvale ─ eu assobiei. ─ Eu disse que poderia te despedir. Ainda posso fazer isso se eu quiser. Você é realmente corajosa o suficiente para brincar com seu destino assim, Srta. James? ─ Não estou brincando com nada ─ ela ronronou, e eu meio que esperava que ela acrescentasse 'ainda' ao final da frase. Deus, a mulher era malditamente desprezível. ─ Mas eu quero que você saiba que isso não é negociável. ─ Ou então o que? ─ Eu me levantei, encarando-a com determinação. Como diabos eu ia voltar agora. Ela não me pegou pelas bolas – no mínimo, ela me devia. ─ Ou então ─ ela começou, seus olhos se transformando em aço. ─ Vou deixar o diretor saber que você não apenas roubou minha calcinha de uma propriedade privada, mas também me convenceu ─ me seduziu ─ e me disse para não enviar a solicitação de Estella. ─ Você o que?! ─ Eu rugi em ação. Eu estava pronto para derrubar a mulher. Eu já tive o suficiente dela. ─ Você não pode fazer isso. ─ Ah, claro que posso ─ ela golpeou seus cílios para mim inocentemente. ─ Sério, Milo, em quem você acha que ele vai acreditar? Um garoto de dezoito anos que gosta de mim ou uma professora inocente, desde que ele me conheceu? Deixe-me pintar um quadro para você, Milo... Uma vez que isso seja divulgado, sua admissão em Eastvale sumirá tão rápido quando chegou. Você será um pária. Você será forçado a ficar aqui. Estella terá mágoa de você para sempre. E você será fodido... ainda mais fodido que você está agora. ─ Você não pode fazer isso ─ eu consegui dizer. ─ Ah, mas eu posso. Vou ganhar isso, Milo. Aos olhos da equipe, não tenho motivos para mentir.
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Esfreguei meus olhos. ─ Por que diabos você está fazendo isso? Só para se vingar porque eu te rejeitei? ─ Não importa o porquê ─ ela ronronou. ─ Nada disso importa, e enquanto você fizer o que eu peço, ninguém vai descobrir nada disso. ─ E o que você quer que eu faça? ─ Eu disse por entre os dentes. ─ Por favor me esclareça. ─ Bem, isso é simples. ─ Ela sorriu largamente. ─ Como eu disse antes, Milo, você e Estella simplesmente não pertencem um ao outro. Acho que você deveria terminar com ela. Eu a encarei, incapaz de acreditar no que estava ouvindo. ─ Terminar com Estella para não vazar informações falsas de merda? Você realmente acha que eu vou fazer isso? ─ Ah, sim ─ ela riu. ─ Na verdade, eu tenho certeza que você vai. ─ Ela se levantou, endireitando sua saia apertada sugestivamente. Deus, ela ainda não tinha terminado de bater em mim. Este era um jogo de vingança fodida que ela estava jogando, com certeza. A mulher não suportou ser rejeitada. ─ Agora, acho que está na hora de você sair do meu escritório, Milo. Peguei minha mochila e saí correndo. Quando eu estava prestes a bater a porta atrás de mim, ela chamou meu nome e eu me virei para olhá-la por cima do ombro. ─ O que você quer, sua bruxa má? ─ Fui chamada de muitas coisas, mas essa é minha nova favorita ─ ela riu como uma colegial. ─ Deixe-me saber o que você decidiu, está bem? E lembre-se... se você fizer o que eu disse, ficarei muito mais motivada para levar a candidatura de Estella para Eastvale. Quem sabe, ela pode até entrar. Basta pensar na diversão que poderíamos ter no próximo ano juntos.
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Seus lábios estavam cheios de veneno e ela me deu um sorriso perverso quando eu fechei a porta do seu escritório. Resistindo ao desejo de simplesmente cair no chão, me forcei a ficar de pé e continuar andando. Nesse momento, o sinal tocou, significando o fim do período e, em instantes, os corredores estavam cheios de estudantes de Wildwood. Continuei andando roboticamente para minhas próximas aulas quando senti os braços cobrindo meus olhos. ─ Adivinha quem é! Eu não estava com disposição para jogos, então tirei as palmas das mãos dos meus olhos e me virei para encarar Estella. Ela estava mais bonita do que nunca, sem maquiagem, o cabelo trançado e uma camisa branca sob o uniforme. ─ Ei, baby ─ eu murmurei. ─ Você irá ao Clancy amanhã? ─ ela perguntou. ─ Estou trabalhando no turno da tarde, eu esperava que você aparecesse no trabalho, já que não poderei vê-lo de outra maneira. ─ Claro ─ eu respondi depois de um momento de hesitação. Eu precisaria já ter me decidido a essa altura, percebi. Mas pelo menos me deu algum tempo para pensar sobre as coisas. ─ Não perderia por nada no mundo. ─ Perfeito! ─ Estella me abraçou e, quando se afastou, a realidade do que eu estava prestes a fazer me atingiu como uma tonelada de tijolos. Eu era um merda. Eu era escória. Eu estava prestes a partir seu coração, e ela nem sabia disso. Como é que vamos conseguir superar isso? ─ Vejo você amanhã no Clancy's, ok? ─ Sim ─ eu murmurei, não retribuindo o beijo que ela pressionou contra meus lábios. Eu queria desesperadamente, mas senti que a presença da Srta. James estava remanescente ao nosso redor, como se
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ela tivesse olhos me observando em todos os lugares. ─ Vejo você depois, princesa. Ela acenou e desapareceu na multidão de estudantes. Continuei andando até chegar às arquibancadas no campo de lacrosse. Era a minha hora do almoço, mas eu tinha perdido completamente o apetite. Toquei distraidamente meu telefone quando senti uma presença por perto, e olhei para cima e encontrei meu irmão em pé ao meu lado. ─ Ei ─ ele assentiu, sentando-se. ─ Você trouxe comida de casa? ─ Só isso ─ eu murmurei, pegando um pequeno pacote de biscoitos. ─ Você pode tê-lo, se quiser. ─ Obrigado. ─ Natan devorou os biscoitos em questão de segundos. Qualquer outro dia eu teria observado seu apetite, mas estava me sentindo muito deprimido para falar sobre qualquer coisa. ─ Ei, o que te deixou deprimido, mano? ─ Algumas más notícias ─ eu fiz uma careta. ─ Só merda em cima de merda, você sabe como é. ─ Droga, desculpe ouvir isso. ─ Ele escondeu o embrulho dos biscoitos na minha mochila. ─ Posso fazer alguma coisa para ajudar? ─ Duvido. ─ Eu olhei para ele. ─ Ouvi dizer que você foi pego com a calcinha da Srta. James. ─ Ah sim, merda. ─ Ele me deu um sorriso de desculpas. ─ O treinador Jameson pode ter me pego com aquelas... E ele pode ter me ouvido dizendo a quem elas pertenciam também. Desculpe, cara. Ela sabe? ─ Sim. ─ Você está em apuros?
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─ Mais ou menos ─ dei de ombros sem compromisso. ─ Ela não está super feliz comigo no momento, vamos apenas dizer isso. ─ Merda ─ meu irmão murmurou. ─ Sinto muito por ter lhe causado problemas. ─ Tudo bem. Ei, posso perguntar uma coisa? ─ Sim claro. ─ Ele sorriu largamente e eu o encarei, imaginando pela milésima vez como é possível que nós dois fôssemos tão diferentes, uma vez que éramos irmãos. Natan era tudo o que eu não era ─ galã, brincalhão, idiota. Mas, felizmente, ainda nos damos bem. ─ Eu tenho uma situação acontecendo com a Estella ─ eu finalmente admiti. ─ Tipo, ela não entrou em Eastvale, e eu sim. ─ Eu sei ─ ele assentiu, esperando que eu continuasse. ─ Eu tenho uma chance de levá-la ─ eu disse. ─ Mas... vai me custar. ─ Custar o que? ─ Perdendo ela ─ eu murmurei. ─ Tipo, terminando? ─ Sim. ─ Eu balancei a cabeça miseravelmente. ─ O que você acha que eu deveria fazer? ─ Bem... ─ Nate pensou por um momento antes de encolher os ombros para mim. ─ Olha, na pior das hipóteses, vocês ainda terminam em Eastvale no próximo ano. Você pode resolver as coisas com ela novamente então. ─ Claro ─ eu assenti, sabendo que a Srta. James estaria lá também. Certamente, ela encontraria algo mais para segurar sobre minha cabeça.
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Mas, Natan estava certo. Talvez eu possa consertar as coisas em Eastvale. ─ Você acha que a escola é tão importante para ela? ─ Cara ─ Natan suspirou. ─ Era literalmente tudo o que a garota falava quando estávamos juntos. E não apenas por causa de seu pai louco. Acho que ela realmente sonhava em ir para lá a vida toda. ─ Entendi. Então... você acha que ela escolheria Eastvale em vez de mim? ─ Não posso ter certeza ─ Nate murmurou. ─ Mas você não quer que ela se ressinta de você porque ela não entrou, não é? Esses ressentimentos podem durar uma vida. ─ Não, eu não quero ─ suspirei. ─ Obrigado, Nate. Isso foi realmente útil pela primeira vez. ─ Feliz em ajudar ─ ele sorriu, me dando um tapa nas minhas costas. ─ Vejo você em casa, sim? Concordei, observando-o ir embora sem me importar com o mundo. As coisas sempre foram tão fáceis para Nate. Ele tinha tudo a seu favor, afinal. Enquanto isso, eu estava prestes a perder a única pessoa que já amei. E ela ia me odiar por isso... possivelmente para sempre.
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23 DATA: 16 DE OUTUBRO DE 2019 – 16H LOCAL: LANCHONETE DO CLANCY E PISTA DE SKATE. ESTELLA
─ Ei, coisinha bonita. ─ O cara sorriu para mim e eu revirei os olhos, batendo a caneta no bloco de notas que eu usava para anotar os pedidos. ─ O que eu posso trazer para você? ─ Eu perguntei. ─ Que tal você se sentar no meu colo e me falar sobre os especiais? ─ Ele ergueu as sobrancelhas para mim. Foi então que notei a camisa do Silverside que ele usava ─ nossa escola rival. Eles eram um monte de idiotas por lá. ─ Que tal você me dar cinquenta por cento de gorjeta? ─ eu respondi. ─ E veremos que não peço ao gerente que tire você daqui. ─ Chata ─ disse um dos outros caras, fazendo um som de whopwhop. ─ Eu quero um cheeseburger, batatas fritas ao lado. Apresse-se, mamacita. ─ Não me chame assim ─ eu assobiei. ─ Ou então o que? ─ O cara estava igual um pavão, olhando para mim e me desafiando a dizer algo. Mas eu não precisava. Os dedos de Milo envolveram meus quadris quando ele se aproximou de nós. Ele olhou para o grupo. ─ Você deveria cuidar da sua língua ao redor dela. Apenas um conselho geral. Eu só dou os primeiros avisos.
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─ Ah sim? O que vem depois disso? ─ o primeiro cara perguntou, levantando-se e pigarreando quando percebeu que era cerca de trinta centímetros mais baixo que Milo. Eu quase ri alto. ─ Depois disso? ─ Milo sorriu, empurrando-me gentilmente atrás dele e se aproximando. ─ Depois disso, eu digo que se você maltratar minha garota de novo, vou esmagar seu rosto no seu hambúrguer e fazer você comer o resto da sua refeição coberto de ketchup. O Silverside riu, olhando por cima do ombro em busca de apoio. Não gostei da desvantagem ─ havia quatro contra Milo. Mas ele não estava recuando. Não, se alguma coisa, seu olhar enigmático ficou ainda mais feroz. E então ele se virou e foi embora. Todos o assistimos sentar no balcão, empurrar os óculos pela ponta do nariz e puxar um livro. Quando ele começou a ler, o segundo cara riu alto. ─ Que nerd. ─ Ele olhou para mim. ─ Vamos, docinho, não temos o dia todo. Revirei os olhos antes de me retirar para a cozinha, onde passei os pedidos à cozinheira. Lavei alguns pratos antes de pegar os pratos e carregá-los até lá. Coloquei-os na frente do cara número um e do número dois, esperando que eles tivessem mais cérebros do que pareciam. ─ Não é tão corajosa sem o seu namorado? ─ um dos outros dois perguntou, batendo na minha bunda. Os outros três o incentivaram e eu balancei minha cabeça. ─ Não preciso dele para lutar minhas batalhas ─ sorri docemente. ─ Mas é muito divertido vê-lo fazer isso. ─ Olhei por cima do ombro, chamando o nome de Milo. Ele levantou a cabeça e a mesa permaneceu em silêncio enquanto ele se aproximava de nós, sorrindo para o bando de Silverside.
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─ Tem que aprender da maneira mais difícil, não é? ─ ele suspirou. ─ Que pena que os Silversiders sejam tão idiotas. Isso poderia ter sido facilmente evitado. ─ O que? ─ o último cara perguntou. ─ Você quer lutar contra nós quatro? ─ Tudo bem ─ Milo deu de ombros. ─ Eu disse que faria você comer seu hambúrguer, não é? Cada migalha. ─ Eu gostaria de ver você tentar ─ o cara sorriu, olhando em volta da mesa em busca de apoio. Milo sorriu antes de agarrá-lo pela gola da camisa e bater com força na mesa. A lanchonete inteira ficou em silêncio, e todo mundo assistiu em choque quando Milo empurrou o prato do cara para ele. ─ Você está com fome ainda? ─ Pare ─ o cara se contorceu. ─ Você está fodido... você está louco, cara! ─ A primeira coisa que você vai fazer ─ Milo continuou calmamente. ─ Você vai pedir desculpas à minha namorada e nunca mais vai tratar outra mulher tão mal assim, incluindo ela. ─ Foda-se! ─ o cara gritou, mas Milo calmamente pegou o pão de cima do hambúrguer, manchando mostarda e ketchup por todo o rosto do cara. Eu mal conseguia segurar minha risada. O cara gemeu antes de começar a falar, o aperto de Milo em sua camisa nunca vacilou. ─ Sinto muito, ok? Sinto muito, porra! ─ Você não parece tão arrependido ─ continuou Milo. ─ Você quer provar o hamburguer? Eles temperam tão bem aqui...
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─ Não, não porra! ─ o cara gritou. ─ Olha, me desculpe. Nós não vamos vir aqui novamente. ─ Muito bem, vocês não vão ─ disse Milo calmamente. ─ Agora peça desculpas corretamente. Os olhos do cara se viraram para mim. Ele parecia tão desesperado e triste que quase senti um pouco de pena dele. Quase. ─ Me desculpe, por falar com você dessa maneira, não vou fazer isso de novo, nem meus amigos. ─ Obrigada. ─ Eu bati meus cílios nele. ─ E agora... ─ Milo sorriu para mim antes de empurrar o cara novamente. ─ Uma última coisa. Você vai se levantar e dizer ao restaurante o quanto Wildwood é melhor que Silverside. Vá à loucura, seja criativo. Estou esperando. Ele soltou o cara, que limpou a garganta, pegando um guardanapo e limpando o rosto corado. Ele parecia bravo o suficiente para começar uma briga, mas eu tinha a sensação de que ele não queria conhecer o lado ruim de Milo ─ depois do que eu tinha visto, tinha certeza de que ninguém queria. Ele levantou-se sobre a mesa, fazendo todos na sala olharem para ele. ─ Silverside é uma merda ─ ele murmurou. ─ Com licença? ─ Eu perguntei docemente. ─ Você poderia falar um pouco mais alto para as pessoas na parte de trás? O cara rangeu os dentes. ─ Silverside é uma merda, Wildwood é foda. Ele desceu da mesa ao som de aplausos e gritos dos outros clientes, todos estudantes de Wildwood.
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─ Isso vai te ensinar ─ disse Milo agradavelmente. ─ Este é território de Wildwood; eu não quero ver você aqui nunca mais. Entendeu? O cara assentiu timidamente. ─ Estamos saindo, de qualquer maneira. Este lugar é péssimo. ─ Não se esqueça de me dar uma gorjeta ─ eu disse com uma voz de canto enquanto Milo passou o braço em volta da minha cintura e me levou até o balcão. Antes mesmo de chegarmos à cozinha, eu estava me acabando em risadas. ─ Isso foi tão foda! Eu não posso acreditar em você, Milo! ─ Só não quero que aqueles caras te persigam ─ ele murmurou. ─ Se você tiver algum problema com eles ou qualquer outra pessoa de Silverside, deixe-me saber ou Natan, certo? ─ Certo ─ eu assenti. ─ Com certeza. Ei, deixe-me pegar alguns pedidos. Volto em breve, ok? Ele assentiu, sentando-se silenciosamente no balcão com seu livro. Eu estava radiante quando entrei na cozinha, mas meu sorriso desapareceu quando vi Jeff, olhando para mim. ─ Você sabe o que eu vou dizer, não é? ─ Jeff ergueu as sobrancelhas para mim. ─ O que? ─ Eu cruzei meus braços defensivamente. — Ele estava apenas tentando me ajudar. Esses caras estavam sendo maus. ─ Sim, entendi, e da próxima vez, você deveria pedir minha ajuda ─ insistiu Jeff. ─ Eu não posso ter vocês destruindo o lugar com seus argumentos mesquinhos sobre qual escola é melhor, pelo amor de Deus.
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─ Tudo bem ─ eu suspirei. ─ Acho que não tivemos que fazer tanta bagunça. Sinto muito, Jeff. ─ Está vendo? Você está melhorando a cada dia ─ ele sorriu para mim. ─ Eu definitivamente não achei que uma princesa do gelo como você se desculpasse quando veio aqui pela primeira vez. ─ Eu sou cheia de surpresas. Eu mandei um beijo para ele e preparei o restante dos pedidos antes de levá-los aos nossos clientes em espera. Quando saí da cozinha, os Silversiders haviam sumido e haviam deixado uma gorjeta grande sobre a mesa. Sorri para mim mesma enquanto trabalhava o resto do meu turno, olhando continuamente para Milo que ainda estava lendo seu livro no balcão. Toda vez que olhei para ele, senti calafrios na espinha. Havia algo muito especial nele, e eu mal tinha arranhado a superfície dele. Mal podia esperar para descobrir mais, mas já sabia que não me importaria de não ir a Eastvale se isso significasse que eu ficaria com Milo. Eu disse ao papai que estaria em casa uma hora após o término do meu turno, o que me deu uma hora de tempo extra com Milo. Quando coloquei meu avental e uniforme no meu armário e me troquei, fiquei tonta de emoção. Eu queria passar cada segundo do dia com meu namorado, mas o rigor do papai tinha me assegurado que eu era prisioneira em casa. Então tivemos que fazer valer cada minuto que tínhamos juntos. ─ Estou aqui ─ sorri enquanto saía do vestiário. ─ Tudo feito. ─ Ótimo. ─ Milo sorriu para mim, mas havia uma ponta no seu sorriso geralmente cheio de tesão. ─ Tudo certo?
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─ Sim ─ ele respondeu, fechando o livro e colocando-o debaixo do braço. ─ Vamos lá, eu quero levá-la para ver uma coisa. Ele pegou minha mão e me levou para fora. Seu carro de merda estava no estacionamento do Clancy, e nós entramos. O carro guinchou e emitiu sons não muito promissores ao entrarmos. Eu dei a Milo um olhar significativo. ─ Lembra da sua promessa? ─ Como eu poderia esquecer? ─ Ele suspirou. ─ Eu vou desistir de Gertie, eu prometo. ─ Bom ─ eu disse, amarrando-me com o cinto de segurança. ─ Isso me mataria se você se machucasse nessa coisa. Ele não disse uma palavra, e eu brinquei com o rádio antigo que continuava pulando. Milo nos levou para a cidade e depois subiu uma colina. Logo percebi para onde estávamos indo e dei a ele um sorriso travesso. ─ Sério, querido? O ponto de encontro? ─ Apenas dê uma chance ─ ele murmurou, entrando no estacionamento onde alguns outros carros já estavam estacionados. ─ Eu prometo que você vai gostar. ─ Sabe, se você queria dar uns amassos, bastava pedir, ─ eu ronronei, e Milo me deu um sorriso distraído antes de estacionar o carro. Ele deu a volta para abrir minha porta, passando-me a mão. ─ Vamos lá. Quero que você veja essa vista. ─ Peguei sua mão e o segui até a frente do penhasco. Abaixo de nós, não havia nada além de arbustos e terra. Subimos no capô do carro dele, deitados de costas e
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olhando para o céu escuro. ─ Eu costumava vir aqui o tempo todo. Adoro a vista da cidade, mas as estrelas são ainda melhores. ─ É tão romântico ─ eu sussurrei, subitamente dominada pela situação e pela intensidade dos meus sentimentos por Milo. ─ Eu amo isso. Muito obrigada por me trazer aqui. ─ De nada, princesa. ─ Ele pegou minha mão na dele e ficamos olhando o céu por um longo par de minutos sem dizer uma palavra. ─ Eu queria falar com você sobre algo também. Eu me levantei nos cotovelos, dando-lhe um olhar interrogativo. ─ Ah? Algo importante? ─ Sim. ─ Ele mordeu o lábio inferior, e eu vi seus dentes cravarem na pele. ─ Tudo certo? ─ Não, realmente não está. ─ Ele parecia tão perturbado que eu mal conseguia resistir à vontade de me sentar mais perto, envolvê-lo em meus braços e dizer que eu estaria lá, não importava o quê. ─ Nós realmente precisamos conversar, Stells. ─ Falar sobre o que? ─ Os alarmes começaram a tocar na minha cabeça. Sempre que um cara começava uma conversa assim, nunca era uma boa notícia. Eu deveria saber ─ eu tinha passado por minha parte de separações. ─ O que está acontecendo? ─ Eu acho... ─ Ele desviou o olhar, como se fosse muito doloroso manter contato visual. ─ Acho que precisamos terminar, Stells. ─ T-terminar? ─ Eu gaguejei sobre a palavra simples, me sentindo impotente. ─ O quê? Por que você está dizendo isso?
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─ Eu apenas acho que seria melhor para nós ─ ele deu de ombros. ─ Para você, para mim. Preciso prestar mais atenção na escola. Minhas notas estão diminuindo e os professores notaram. Não quero arriscar minha vaga em Eastvale. ─ O que? ─ Eu queria enfiar algum sentido nele, mas meu corpo ficou rígido. Eu mal podia me mexer. ─ Como você pode dizer isso? As coisas finalmente começaram a dar certo para nós, e agora você quer terminar as coisas assim? ─ Sinto muito ─ ele murmurou, finalmente olhando para mim, com culpa nos olhos. ─ Eu me sinto péssimo com tudo isso. Eu não deveria ter levado as coisas adiante com você. ─ Não ─ eu disse friamente. ─ Você não deveria. Por que me trouxe aqui? Você queria uma boa lembrança desse maldito rompimento, ou o quê? ─ Não, eu só queria... ─ O que, Milo? ─ Eu estava furiosa quando pulei do capô do carro dele. ─ O que diabos você estava tentando fazer? ─ Sinto muito ─ ele disse novamente, desta vez ainda mais impotente que a vez anterior. ─ Bem, isso não significa nada para mim. ─ Puxei meu telefone antigo do bolso da calça jeans, lutando para ver através das lágrimas embaçando minha visão. ─ Estou ligando para a Inca vir me buscar. ─ Eu posso te levar para casa ─ ele insistiu. ─ Qual é, Stells, não seja difícil. ─ Difícil? Difícil ?! ─ Eu rugi. ─ Milo Earnshaw?
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Milo se virou e eu segui o seu olhar até encontrar um grupo de caras altos e de ombros largos que pareciam ter a nossa idade, mas que eu nunca tinha visto antes. Um deles carregava inexplicavelmente um taco de beisebol. ─ Sim? ─ Milo perguntou. ─ Estamos meio que no meio de algo aqui ─ eu disse. ─ Cale a boca, vadia ─ um dos caras rosnou para mim, e eu dei um passo para trás em choque. Milo ficou parado na minha frente, bloqueando protetoramente meu corpo da vista deles. Eu estava com tanto medo que aceitei, apesar de nossa discussão. ─ O que vocês querem? ─ Milo exigiu. ─ Eu não tenho dinheiro comigo. ─ Ouvi dizer que você teve um probleminha com o meu irmãozinho hoje em algum restaurante idiota ─ assobiou o taco de beisebol. ─ Agora eu não aceito muito bem, um bando de garotos ricos mimados intimidando alguém da minha família. ─ Ele começou ─ eu cuspi, mas Milo apertou meu braço e eu calei a boca, tremendo. ─ O que você quer? ─ Milo repetiu. ─ Eu vou te dar dinheiro. ─ Eu não quero seu dinheiro, imbecil ─ balançou o taco de beisebol. ─ Eu quero te ensinar uma maldita lição. ─ Ele deu um passo à frente e eu choraminguei de medo quando Milo me empurrou para trás. ─ Você está procurando uma briga? ─ Milo perguntou. ─ Porque eu estou mais do que feliz em fazer isso com você. Todos vocês. ─ Não ─ o cara bateu nos lábios. ─ Eu não estou aqui para começar uma guerra entre Silverside e Wildwood. Já temos problemas suficiente.
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─ Então o que? ─ Milo cruzou os braços. ─ Estou aqui para estragar algo que você ama ─ o cara riu. Eu ofeguei atrás dele enquanto o cara pesava o taco nas mãos e Milo rosnou em seu rosto: ─ Se você tocar na minha garota, eu vou puxar a porra da sua língua do seu cu. ─ Ah não, não ela. ─ O cara sorriu. ─ Este. ─ Ele apontou para o carro. Milo engoliu em seco e pude sentir a raiva saindo dele em ondas. ─ Não toque no meu carro. ─ Ou então o que? ─ o cara perguntou com um sorriso branco perolado antes de dar uma volta no carro de Milo. Fechei meus olhos com força. Eu não pude observar o resto dos caras, aplaudindo o cara da Silverside quando ele quebrou as janelas de Milo antes de passar para a frente do carro. ─ Você deveria contar com suas estrelas da sorte por não fazermos isso com sua garota. Poderia usar um belo pedaço de bunda assim, fodendo conosco, um por um. ─ Cale a boca ─ Milo rosnou quando eu comecei a chorar atrás dele. ─ Merda... merda. ─ Ele puxou minha mão e se inclinou para sussurrar no meu ouvido. ─ Precisamos sair daqui, Stells. Vamos. Os caras riram de nós quando ele pegou minha mão e gentilmente me levou para longe. O tempo todo que fiquei aterrorizada que viessem atrás de nós em seguida, mas, felizmente, eles nos deixaram sair. ─ O que diabos nós fazemos agora? ─ Perguntei a Milo quando estávamos no topo da colina, um pouco longe de onde estava o carro dele. ─ Nós não temos uma carona.
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─ Estou ligando para Natan ─ ele murmurou. ─ É melhor esses caras já terem ido embora quando ele chegar aqui. Mordi minhas lágrimas e desejei a Deus poder retroceder o dia inteiro antes de começar meu turno na Clancy's. ─ Milo... ─ O que? ─ Ele olhou do telefone distraidamente. ─ Você está bem? Eles não machucaram você, machucaram? Eu vou matá-los um por um, se... ─ Não ─ eu balancei minha cabeça. ─ O que você disse lá em cima... Você realmente quer terminar? Ele parecia culpado como se estivesse profundamente dentro dos meus olhos. ─ Sim ─ ele finalmente admitiu. ─ Nós temos que terminar. ─ Você quer saber? ─ Eu respirei fundo. ─ Não se preocupe em pedir ajuda a Natan. Vou encontrar o meu caminho. Com essas palavras, eu saí correndo, ignorando seus gritos atrás de mim. Eu poderia cuidar de mim mesma.
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24 DATA: 16 DE DEZEMBRO DE 2019 – 16H LOCAL: CASA DA ESTELLA. ESTELLA
A carta estava em cima da mesa quando desci as escadas. Mamãe e Romilly estavam sentadas juntas, com os braços cruzados e os olhos arregalados quando encontraram os meus do outro lado da sala. ─ O que está acontecendo? ─ Franzi minhas sobrancelhas enquanto dava um passo à frente, olhando para o único envelope na mesa de jantar. ─ Oh... é isso que eu acho que é? Mamãe assentiu e Romilly falou, dizendo: ─ Chegou minutos atrás... Ouvi dizer que você já estava acordada, por isso esperamos que você a abrisse. ─ Certo ─ eu murmurei, já nervosa. ─ Mas e se... ─ Seja o que for ─ mamãe interrompeu. ─ Nós vamos apoiá-la, não importa o quê. E você sabe que este não é o fim do mundo, se é um não, certo? ─ Claro que não ─ eu ri. Mas todas ouvimos a tensão na minha voz e todas sabíamos que se eu não entrasse em Eastvale, o papai teria outro ataque. As coisas estavam boas nos últimos dois meses. Eu consegui convencê-lo a me deixar sair ocasionalmente com a Inca, embora eu não tenha feito nada tão perigoso ou imprudente quanto eu fazia antes. Eu ainda tinha meu emprego no Clancy's, onde agora trabalhava quatro vezes por semana e, surpreendentemente, comecei a adorar. Eu até gostava do meu chefe, Jeff. Inca e eu passamos a maior parte do tempo
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no Clancy's hoje em dia. E, embora às vezes via Nate, que me dava um sorriso educado, mas de lábios cerrados, nunca mais vi Milo Earnshaw lá desde o nosso rompimento. As coisas estavam geladas do meu lado desde que ele disse que tinha acabado. Naquela noite, eu fugi daqueles caras da Silverside que destruíram o carro de Milo, chamando Inca em lágrimas e implorando que ela viesse me pegar. Eu não tinha falado com Milo desde então. Eu o vi no dia seguinte na escola, mas quando ele veio para verificar se eu tinha chegado em casa bem, o ignorei e me afastei, batendo em seu ombro com força. Desde então, ele nem sequer tentou conversar comigo. E talvez fosse melhor assim. Ainda assim, não pude resistir aos sentimentos que ainda estavam borbulhando na boca do estômago toda vez que pensava em Milo. A luxúria, o amor e o desejo profundo que eu sentia ainda estavam lá, mas eu não estava a fim de me machucar novamente. Não, Milo deixou bem claro que ele não queria nada comigo, e eu estava determinada a conceder seu desejo. ─ Você não vai abrir? ─ Romi falou de novo e eu assenti, saindo do meu devaneio. Dei um passo à frente, meus dedos envolvendo o envelope grosso. Rasguei-o com cuidado, pegando meu tempo recuperando o papel dentro e levantando-o para ler o que dizia. ─ Ah Deus ─ eu gemi. ─ O que? ─ mamãe deu um pulo, mordendo nervosamente o lábio inferior. ─ É um sim ou um não? ─ Não nos torture ─ Romilly se juntou. ─ Nós merecemos saber! Mamãe vai desmaiar se você não nos contar. ─ Eu entrei ─ eu sussurrei. ─ O que? ─ mamãe gritou.
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─ Entrei ─ eu disse novamente, passando o papel para ela e me permitindo sorrir pela primeira vez em meses. ─ Oh, meu Deus, eu nem acredito. Estou dentro! A sala de jantar explodiu em gritos e aplausos e nós três nos abraçamos e dançamos ao redor da sala enquanto ambas olhavam para a minha carta de aceitação. A pior parte foi que eu sabia que veria Milo em Eastvale no próximo ano também. Talvez então possamos fazer as coisas funcionarem. Não! Repreendi-me em silêncio, odiando secretamente ainda esperar que as coisas funcionassem entre nós. Eu não queria que Milo me influenciasse tanto quanto ele já havia feito, mas eu não estava brincando com ninguém, fingindo que estava completamente apaixonada por ele. Eu não tinha saído com ninguém desde que terminamos ─ o papai não permitiria, de qualquer maneira. Mas eu não tinha certeza se poderia marcar um encontro com alguém que não fosse o garoto por quem me apaixonei anos atrás. Respirei fundo quando esse pensamento me ocorreu, assim como uma figura apareceu na porta, fazendo todos nós pararmos. ─ O que está acontecendo aqui? ─ papai perguntou em sua voz profunda e estrondosa. Ele entrou na sala e nós três paramos. As coisas ainda não tinham melhorado em casa, embora papai não tivesse levantado a mão para mim novamente. Por enquanto, até as autopunições que ele fazia comigo acabaram. Mas eu ainda estava de castigo. Não que eu estivesse reclamando. Foi o castigo mais fácil que tive e parecia uma bênção disfarçada. ─ Estella, por que você não conta a ele? ─ Romi me cutucou, apontando para o papai.
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Engoli em seco, olhando para longe do seu olhar implorador enquanto murmurei: ─ Recebi minha carta de inscrição em Eastvale. Eu meio que esperava que ele me abraçasse, me parabenizasse. Mas ele não disse uma palavra, até finalmente pigarrear e murmurar: ─ Mais tarde do que eu gostaria. ─ Sinto muito, papai ─ eu sussurrei. ─ Não importa ─ ele acenou com a mão com desdém. ─ Pelo menos você está finalmente de volta aos trilhos, se nada mais acontecer. Romilly, você vai ficar no fim de semana, não? ─ Sim ─ disse Romi, olhando para ele. Eu poderia dizer que ela estava chateada por ele não ter reconhecido minha carta de aceitação corretamente, mas ela estava com muito medo de entrar no meio da nossa discussão. ─ Bom ─ continuou o papai. ─ Sua mãe e eu temos uma viagem a Atlanta. ─ Atlanta? ─ mamãe perguntou. ─ É este fim de semana? Eu esperava que pudéssemos adiar. Talvez levar Estella para um bom jantar, comemorar isso... ─ Não ─ papai a interrompeu com impaciência. ─ Estamos saindo em uma hora, então é melhor você pedir à Mabel que arrume suas coisas. Mamãe assentiu timidamente, me dando um olhar de desculpas antes de desaparecer pelo corredor até o salão. ─ E Romilly... ─ papai disse quando estávamos sozinhos, me dando um olhar malicioso. ─ Estou contando com você para garantir que tudo corra bem aqui enquanto estivermos fora. Não quero nenhum problema e espero que o lugar esteja intocável quando voltarmos.
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─ Claro ─ Romi sorriu. ─ Eu não vou decepcioná-lo, papai. Ele deu um breve aceno com a cabeça, deixando seus olhos vagarem pelo meu rosto sombrio antes de sair da sala. Olhei para minha irmã que revirou os olhos, me fazendo rir baixinho. ─ Só espere ─ ela sussurrou no meu ouvido. ─ Mamãe queria levála para jantar para celebrar Eastvale, eu vou fazer algo muito melhor.
─ Este lugar parece insano! ─ Eu girei no salão, mal reconhecendo a sala transformada. ─ Como você conseguiu fazer tudo isso? ─ Eu tive alguma ajuda ─ Romi sorriu apontando para uma mulher alta e mandona, latindo algo em um fone de ouvido. ─ A mãe de Tinsley. Ela juntou tudo ─ ela planeja festas e me devia uma. ─ Ela se inclinou para sussurrar no meu ouvido. ─ Embora eu tenha a sensação de que ela pode ter um ataque cardíaco no trabalho se continuar assim. ─ Não! Peônias! ─ A loira gritou no fone de ouvido, suspirando dramaticamente. ─ É como se eu estivesse conversando com um bando de babuínos! Como você pode ser tão incompetente? Romi me deu um olhar aguçado e eu ri. ─ Obrigada por incluí-la ─ eu sussurrei para Romi. ─ Acho que ela está se sentindo um pouco sozinha desde que Tinsley partiu para Eastvale. ─ De nada. E para sua informação, ela ainda te ama. ─ Bom. Como estou? ─ Eu girei na frente dela.
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─ Milo Earnshaw coma seu coração ─ Romi piscou. ─ Não ─ eu a avisei. ─ Ele obviamente não está convidado hoje à noite. ─ Ah, eu o convidei ─ ela jogou por cima do ombro com indiferença. ─ E o irmão dele. Hora de enterrar a machadinha. ─ O que? ─ Eu olhei para ela, cruzando os braços. ─ Eu não os quero aqui. A campainha tocou e Romi me deu um sorriso inocente. ─ Eu entendo. Por que você não passa batom? Vamos esperar por você lá embaixo, estrela! Ela me deu um beijo de batom vermelho e eu gemi enquanto subia as escadas com meus saltos altos demais para serem confortáveis, aqueles que eu paguei por mim mesma. Fechei a porta do meu quarto firmemente atrás de mim, fechando os olhos e contando até cinco. Finalmente, afastei-me da porta e rapidamente pulverizei um pouco de perfume, aplicando uma camada de brilho rosa brilhante nos meus lábios. Eu estava usando um vestido preto que o papai teria queimado na hora, junto com meus saltos pink e meu cabelo alisado em um rabo de cavalo apertado. Eu parecia bem ─ melhor do que em meses, desde que tive acesso à bolsa de maquiagem de Romi. Eu ainda não tinha permissão para usar novamente. Respirei fundo antes de descer a escada para o corredor. Inca me cumprimentou com um sorriso brilhante, e eu quase o perdi ao ver seu irmão mais novo, Orion, se enchendo com coquetéis de camarão e já parecia entediado cinco minutos depois da festa começar. ─ Desculpe ─ Inca fez uma careta. ─ Eu não poderia deixá-lo em casa sozinho. Da última vez ele quase incendiou a casa com um microondas.
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─ Não deixe por trinta e dois minutos e sete segundos seguidos ─ Orion assentiu, sua boca cheia até a borda. ─ Uma lição que aprendi da maneira mais difícil. ─ Está tudo bem ─ falei para a Inca. ─ Quem mais está aqui? ─ Todo mundo ─ ela sussurrou, apontando para o resto da sala e apontando as pessoas da escola. Até a porra da Harlem estava lá, e por mais que eu quisesse arrancar os cabelos ruivos dessa trança artisticamente bagunçada que ela estava usando, tudo o que fiz foi sorrir docemente quando ela me viu. Ela levantou a mão em uma saudação silenciosa, e eu lhe dei um sorriso de lábios apertados. ─ A respeito... ─ Não ─ Inca balançou a cabeça. ─ Mas Nate está logo ali. Eu segui o olhar dela até o canto onde meu ex estava conversando com Finn Bannon. Nate estava vestindo sua jaqueta de lacrosse ─ Deus, como se ele não tivesse mais nada para usar ─ e Finn estava em seu traje habitual de motociclista. ─ Ótimo ─ eu murmurei. ─ Vamos lá, vamos pegar algo para beber. ─ Legal ─ Inca assentiu. ─ Orion, vá jogar o PS4 na sala ou algo assim. ─ Você tem um Playstation? ─ Seus olhos se iluminaram e ele se foi em segundos, com um coquetel de camarão na mão. ─ Deus, aquele garoto! ─ Inca suspirou. ─ Ele é fofo. ─ Eu sorri antes de puxá-la para a cozinha e localizar uma tigela de ponche. Provei com um pouco de cuidado, certificando-me de que ninguém o havia batizado antes de me servir um pouco no copo
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vermelho, um para mim e outro para a Inca. Entreguei a bebida e sussurramos uma para a outra por trás dos copos. Era a minha festa, mas não parecia que eu realmente pertencia a ela. A casa parecia incrível, com pequenas luzes por todo o quintal e uma fonte de chocolate no corredor, mas havia algo faltando. Ou melhor, alguém. Inca pareceu sentir minha decepção com a ausência de Milo, mas ela não disse nada. Ela tentou me distrair com ponche, lanches e caras gordinhos da nossa escola, mas meu coração não estava aqui. ─ Você realmente sente a falta dele, não é? ─ Inca finalmente sussurrou em meu ouvido e eu dei de ombros. ─ Qual é, é óbvio. Por que você não tenta falar com ele? Talvez as coisas tenham mudado... talvez... ─ Talvez ele me queira de novo? ─ Eu ri amargamente. ─ Eu garanto a você, ele não quer. E é tarde demais para isso, de qualquer maneira. O navio Milo e Stells partiu. ─ Se você diz ... ─ Inca murmurou duvidosamente. Claro, no momento em que essas palavras saíram da minha boca, eu o vi. Ele usava óculos de armação grossa e uma jaqueta de couro marrom. E o braço dele estava pendurado na cintura de uma garota. Cintura da Harlem. Ela estava jogando a cabeça para trás, rindo de algo que ele estava dizendo. ─ Oh meu Deus ─ Inca sussurrou quando ela seguiu minha linha de visão. ─ Eu não posso acreditar. Você está... ─ Eu estou bem ─ eu disse, um pouco alegre demais. ─ Mas eu não quero olhar para isso.
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─ Tudo bem ─ Inca concordou. ─ Mas, hum... acho que alguém está vindo para... ─ Stells? Posso falar com você por um segundo? Eu olhei nos olhos de Natan Earnshaw. ─ Uh, claro? ─ Eu balancei a cabeça para Inca e segui Natan para o quintal. ─ O que houve, perdedor? ─ Apenas algo que eu queria discutir ─ Nate sorriu. ─ O pequeno caso de você e meu irmão estarem irremediavelmente apaixonados um pelo outro. ─ Pffft ─ revirei os olhos. ─ Isso foi há dois meses, Earnshaw. ─ Acho que não ─ ele balançou a cabeça, os olhos brilhando. ─ Eu vi você olhando para ele. E, infelizmente, ainda vivo com aquele idiota apaixonado que você está obcecada. ─ E? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas. ─ E vocês dois precisam conversar ─ ele insistiu. ─ Encontre-o na árvore onde costumava estar sua casa na árvore. ─ Hum, ele sabe disso? ─ Eu perguntei. ─ Ele quer mesmo falar comigo? ─ Ele fará assim que eu terminar com ele ─ Nate sorriu maliciosamente. ─ Espere. ─ Puxei sua manga quando ele estava prestes a sair. ─ Por que você está fazendo isso? O que há com você? ─ Eu só não quero mais ver ele se lamentando ─ Nate deu de ombros.
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─ Ele está aqui com a Harlem ─ lembrei-o. ─ Sim, porque eu ameacei mudar a senha da internet se ele não saísse com ela. ─ Nate me deu um olhar significativo. ─ Eu tive que forçálo a vir. E ele não está gostando, viu? Eu segui seu olhar para dentro, onde Milo estava sorrindo desconfortavelmente
com
as
palavras
de
Harlem.
Seus
olhos
continuaram examinando a multidão. ─ Ele está procurando por você ─ Natan sussurrou, e eu revirei os olhos. ─ Tudo bem. Sob a árvore da casa da árvore ─ eu finalmente concordei. ─ Em dez? ─ Ótiiiiiiimo. ─ Ei, Nate... ─ Sim? Eu dei-lhe um abraço estranho. ─ Obrigada por isso. Por tudo. ─ Não é nada, garota. ─ Você é mais novo que eu ─ gritei atrás dele enquanto ele se afastava, mas ele acenou com a mão com desdém, me fazendo revirar os olhos. Passei os dez minutos seguintes no banheiro, reaplicando brilho labial e afofando meu cabelo até ficar satisfeita com minha aparência. Eu definitivamente parecia melhor do que a última vez que Milo falou comigo, quando eu estava uma bagunça sem maquiagem.
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Decidi aparecer embaixo da árvore alguns minutos atrasada, mas quando contornei a esquina da casa, não havia ninguém embaixo da acácia. Meu rosto caiu, mas eu continuei, no entanto. Enquanto a casa da árvore se fora há muito tempo, havia dois balanços pendurados nos galhos agora. Peguei um deles, envolvendo meus dedos ao redor da corrente e me balançando lentamente, apenas o suficiente para levantar meus pés do chão. Um momento depois, senti os empurrões de alguém se juntando por trás e enrijeci quando Milo apareceu atrás do balanço. Sem dizer uma palavra, ele pegou o outro balanço. Eu olhei para frente, observando Milo da minha visão periférica. Ele pegou um maço de cigarros, colocou um na boca e acendeu. Esse era um novo hábito, e eu não gostei nada disso. Ele ainda não tinha dito nada enquanto tirava o cigarro, oferecendo-o para mim. Hesitei antes de aceitá-lo, e quando o tirei de suas mãos, meus dedos tremiam tanto que quase deixei cair a coisa maldita. Colocando-o nos lábios, dei uma tragada e quase engasguei. Eu mal tinha fumado antes, então eu realmente não tinha ideia do que estava fazendo. A bebida sempre foi mais minha coisa do que qualquer coisa que você precisava inalar. ─ Então... ─ Milo finalmente murmurou. ─ Então... ─ eu repeti, acenando para mim mesma e passando o cigarro novamente. ─ Você queria conversar ─ ele continuou, e eu franzi minhas sobrancelhas.
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─ Bem, Nate disse que você queria conversar ─ dei de ombros. ─ Eu? ─ Ele me deu um olhar perplexo. ─ A respeito? ─ A respeito? ─ Eu cerro os dentes com raiva. ─ Hum, aparentemente você tem andado deprimido por minha causa. ─ Sim, certo ─ Milo riu, terminando o cigarro e apagando-o na grama. ─ Então, por que você está aqui? ─ Eu murmurei, me sentindo derrotada. Ele obviamente não queria nada comigo. ─ Sua irmã me convidou. ─ Por que aparecer? ─ Porque eu não pude resistir. ─ Ele passou a mão pelos cabelos escuros. ─ Não resistiu a quê? ─ Eu insisto. ─ Outro gosto ─ ele murmurou. Ele agarrou a corrente do meu balanço e me puxou para mais perto, e eu ofeguei quando o cheirei. A nicotina misturou-se com a hortelã-pimenta de sua pasta de dente e sua loção pós-barba cítrica. ─ O que você quer dizer com isso? ─ Eu consegui. ─ Você quer voltar? ─ Não. ─ Ele balançou a cabeça quando seus olhos finalmente encontraram os meus. ─ Você sabe que não podemos. ─ Por que não? ─ Eu tinha passado do ponto de me preocupar em parecer desesperada. Eu só queria Milo, meu Milo.
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─ Porque eu disse ─ ele insistiu, lembrando-me de quão dominante ele foi comigo quando me fodeu... Deus, ele me fodeu. E não foi uma vez. Eu gemi interiormente. ─ O que diabos você quer então? ─ Eu exigi. Ele virou os balanços, então nossos joelhos estavam se tocando. O rangido da corrente me deixou bem no momento, seus olhos dando à situação uma qualidade de sonho. ─ Como eu disse. ─ Sua voz era suave, gentil. ─ Eu quero provar você de novo, princesa. Só uma vez. ─ M-me beijar? ─ Eu gaguejei, e ele balançou a cabeça. ─ Oh... ok... ─ Não conte a ninguém ─ ele murmurou antes de se inclinar e deixar seus lábios pressionarem os meus. Soltei um suspiro, chocada com seu movimento repentino, inalando seu perfume profundamente e guardando-o na memória. Ele segurou as correntes do meu balanço, aprofundando nosso beijo e me reivindicando mais uma vez. Como diabos eu deveria me apaixonar por outra pessoa quando Milo Earnshaw era tudo que eu sempre quis? Antes que eu pudesse dizer o mesmo, ele se afastou e se levantou. Ele não olhou para mim. ─ Milo, por favor ─ eu resmunguei, e ele se virou, de costas para mim. ─ Você não quer conversar? ─ Não ─ ele insistiu. ─ Porra. Nós não podemos. ─ Por que não? ─ Eu implorei, sem me importar com o quão desesperada eu parecia. ─ Isso não foi tão gostoso só para mim, foi? Você também gostou, Milo, não gostou?
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─ Pare ─ ele gritou, olhando para mim por cima do ombro. ─ Apenas pare de se iludir. ─ Me iludir? ─ Eu repeti, meu coração quebrado. ─ Você e eu, nós nunca ficaremos juntos ─ ele balançou a cabeça. ─ Mas talvez em Eastvale... ─ Não, Stells ─ ele continuou amargamente. ─ Eu disse nunca, e eu falo sério. Levou um momento para sua repentina maldade afundar. Mas quando isso aconteceu, saí do balanço, chutando com raiva a grama nos meus saltos. ─ Vá se foder! ─ Eu rosnei para ele. ─ Vá se foder por me dar esperança e levá-la embora no próximo segundo. ─ Eu não deveria ter beijado você ─ ele percebeu. ─ Não, você não deveria ─ eu murmurei através de um rio de lágrimas quentes agora escorrendo pelas minhas bochechas. ─ Eu nunca mais quero falar com você, Milo Earnshaw. ─ É isso mesmo que você quer? ─ Seus olhos estavam furiosos quando ele se virou para mim, aproximando-se até estar a centímetros de distância. ─ Você não quer nada comigo? ─ Não ─ eu assobiei. ─ Espero, por Deus, que nunca mais te veja. ─ Bem, princesa ─ ele murmurou, me alcançando. Eu congelei quando ele puxou meu rabo de cavalo. ─ Espero que você tenha seu desejo atendido. Com essas palavras, ele se afastou, deixando-me cozinhar no meu próprio desespero.
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25 DATA: 17 DE DEZEMBRO DE 2019 – 09H LOCAL: CASA DO MILO. MILO
Eu não conseguia tirar Estella da cabeça, desde a festa. Todo pensamento girava em torno dela, me lembrando como eu fui tolo nos últimos meses. Eu tinha feito tudo o que Srta. James havia exigido de mim. Mas agora Estella havia sido aceita em Eastvale e seu futuro estava resolvido, e eu não conseguia suportar a ideia de ficar sem ela por mais um segundo. O beijo que eu roubei dela repetiu em minha mente uma e outra vez, lembrando-me o quão desesperadamente eu a queria de volta em meus braços. Eu sabia que não seria capaz de manter distância. Eu queria estar com ela. Eu precisava estar com ela. E eu não iria adiar mais um segundo. Primeiro, porém, eu precisava me vingar da Srta. James, a mulher que arruinou tudo para mim. Deitei na minha cama no meu quarto, jogando uma bola de tênis para cima e a pegando toda vez que ela voltava quando houve uma batida na minha porta. ─ Entre ─ gritei, e meu irmão apareceu no batente da porta, sorrindo amplamente para mim. ─ Ei ─ ele chamou. ─ Você não apareceu no treino de lacrosse hoje. ─ Não é como se alguém precisasse de mim ─ murmurei. ─ Não haverá jogos até a próxima primavera, certo?
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─ Bem, o treinador estava preocupado. ─ Nate entrou no quarto, sentando na cama ao meu lado. ─ E eu também estou. O que aconteceu na festa de Estella, cara? ─ Eu finalmente abri meus olhos e percebi a merda que eu tenho sido ─ eu murmurei, me sentindo culpado. ─ Então, este é o momento em que você finalmente descobre que precisa estar com ela? ─ Acho que sim. ─ Porra, finalmente! ─ Nate me cumprimentou e eu mal conseguia combater o sorriso do meu rosto. ─ Você não sabe há quanto tempo estou esperando por isso, garoto. ─ Mais velho que você ─ lembrei-o, como sempre. ─ Mas não importa. Eu posso precisar da sua ajuda com alguma coisa. Acha que você tem tempo para fazer isso comigo? ─ Claro ─ Natan assentiu. ─ Qualquer coisa para impedi-lo de perambular por toda parte: é deprimente. Nos vinte minutos seguintes, contei tudo a ele, desde o momento em que a Srta. James fez seu primeiro movimento em mim, até a situação precária em que ela me colocou com Estella. Seu rosto ficou cada vez mais pálido enquanto eu falava, e quando finalmente terminei, ele pediu alguns momentos para reunir seus pensamentos. ─ Podemos derrubá-la ─ disse ele. ─ Ela precisa se ferrar pelo que fez. ─ Mas ela ameaçou dizer à escola que eu dei em cima dela ─ eu gemi, passando a mão pelos meus cabelos escuros. ─ E eu estou preocupado que eles acreditem nela e não em mim.
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─ A sério? ─ Nate riu. ─ Ela é uma garota do lado errado da cidade que mal trabalha há um ano ou dois. E você é como a realeza. ─ Eu não diria isso... ─ Cara, confie em mim ─ Nate interrompeu. ─ Você importa mais do que alguma boneca de sexo que quebra as regras da Academia desde o início. Agora é hora de derrubá-la. ─ Como vamos fazer isso? ─ Eu me perguntei em voz alta. ─ Bem, você não é o único que guarda segredos. ─ Ele sorriu para mim. ─ Vamos apenas dizer que sei algo sobre a Srta. James que ela definitivamente não gostaria de vazar aos olhos do público. ─ Como o quê? ─ Eu estreitei meus olhos para ele. ─ Algo que poderia colocá-la em problemas? ─ Ah, definitivamente. ─ Natan sorriu maliciosamente. ─ Você não é o único aluno em que ela deu em cima. E eu sei que ela deu um passo longe demais com o outro cara. ─ Jesus ─ eu murmurei. ─ Eu não posso acreditar. Quem foi? Ele me deu um olhar significativo antes de dizer: ─ Tenho certeza que você entenderá por que não posso revelar isso. É apenas conversa de vestiário dos outros jogadores de lacrosse, mas o cara tinha provas... Vamos apenas dizer que eu sei que ele não estava mentindo. E poderíamos expô-la por dormir com um aluno. ─ OK... ─ Aqui está a melhor parte, no entanto ─ Nate piscou para mim. ─ O cara ainda não tinha dezoito anos.
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─ Porra ─ eu murmurei. ─ Você está me dizendo que a Srta. James cometeu estupro presumido ou estupro consentido? ─ Aos olhos da lei, sim ─ Natan assentiu. ─ Embora aos olhos do cara... eu tenho certeza que foi o melhor dia de sua vida. ─ Não foi Crispin, certo? Quero dizer, ele se foi este ano. Isso aconteceu no ano passado? ─ Eu perguntei. ─ Jesus. É Finn? ─ Sem perguntas ─ Nate me interrompeu, me dando um olhar aguçado. ─ Se você quer minha ajuda com isso, só precisa confiar em mim. Agora, você está pronto para derrubar essa cadela? ─ Mais do que pronto ─ eu disse com um suspiro de alívio. ─ Qual é o plano, garoto?
Estávamos esperando no escritório da Srta. James quando ela chegou, parecendo perturbada e carregando uma pilha de livros didáticos. ─ Natan! ─ ela chamou, sua expressão mudando para um sorriso presunçoso quando me viu de pé ao lado dele. ─ Ah, e Milo também. Meus dois irmãos favoritos em Wildwood. ─ De fato ─ eu respondi com um sorriso. ─ Por que você não se senta, Srta. James? ─ Como vocês entraram no meu escritório? ─ ela perguntou desconfiada. ─ Nós temos nossos meios ─ Nate sorriu. ─ Agora sente-se.
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─ É meio estranho você me dar ordens no meu próprio escritório ─ ela murmurou, mas se sentou na cadeira do escritório. ─ Mas eu vou entretê-lo por enquanto. Como posso ajudar vocês dois? ─ Ah, você pode nos ajudar muito ─ eu disse, apontando para o meu irmão. ─ Eu acabei de contar tudo para Natan. ─ Tudo? ─ Ela me deu um sorriso inocente. ─ Como o quê? ─ Como o fato de você estar chantageando Milo ─ Nate interrompeu, e ela mudou o olhar para ele. ─ E eu decidi compartilhar algumas informações por minha conta. Como seu caso ilícito. ─ O-o que? ─ ela gaguejou, olhando entre nós dois. ─ Que diabos você está falando? ─ Ah, acho que você sabe exatamente do que ele está falando ─ acrescentei, pegando meu telefone e mostrando a ela um vídeo. Nate não estava mentindo quando disse que tinha provas de seu encontro com um aluno. Um vídeo atrevido dela apareceu na tela, e ela empalideceu ao vêlo. ─ Está se reconhecendo aí, Srta. James? ─ Você não sabe de nada ─ ela cuspiu, cruzando os braços defensivamente. Enquanto eu a observava, me perguntei brevemente como poderia tê-la achado atraente. Ela não tinha nada da minha Estella. ─ Ah, mas eu sei. ─ Eu disse a ela docemente enquanto ela olhava para Natan. ─ E eu vou vazar esta filmagem, a menos que você entregue sua demissão. E eu quero dizer agora. ─ Eu não posso fazer isso! ─ ela gritou. ─ O que mais eu vou fazer? ─ Encontre outro emprego ─ Nate deu de ombros. ─ Não vamos arruinar sua reputação, pela qual você deveria estar agradecida. ─ Eu quero ─ eu disse a ela docemente.
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─ Mas eu o convenci a ter calma com você ─ meu irmão acrescentou, apaziguador. ─ Tudo o que estamos pedindo é que você deixe o emprego e tire o inferno da vida de Milo e Estella. Ela olhou para nós, desafiadora. ─ Você não pode me forçar a fazer nada. ─ Não, não podemos ─ respondi. ─ Mas tudo o que precisamos fazer é dizer ao diretor que você está transando com um estudante ─ um estudante menor de idade ─ e você será levada embora algemada. ─ Levantei-me da cadeira desconfortável em frente à mesa dela e Natan seguiu minha liderança. ─ Considere este seu único aviso, Srta. James. Quero que você vá hoje, se não quiser que isso seja divulgado. ─ Mas eu... vocês... eles... ─ ela lutou impotente para encontrar suas palavras. Talvez eu tivesse sentido pena dela meses atrás. Talvez eu ainda a visse como a beleza desamparada e ingênua que ela queria ser retratada como antes de nos enlouquecer. Mas agora, tudo o que vi foi uma cadela com uma agenda. Uma cadela que eu ia derrubar, não importava o quê. ─ Eu não quero ouvir isso ─ eu a interrompi. ─ Considere-se com sorte. Até nunca mais. Nate e eu saímos da sala e uma vez que a porta se fechou atrás de nós, finalmente dei um suspiro de alívio. Natan me deu um tapinha nas costas, me assegurando mais uma vez que nosso plano funcionaria e que eu recuperaria Estella. Seguimos caminhos separados, Nate indo para a próxima aula e eu pegando o almoço. Eu não conseguia parar de olhar em volta, tentando encontrar Stells. Ela não almoçava mais na mesa dos populares. Não, a Harlem estava sentada lá com um monte de líderes de torcida e jogadores
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de lacrosse, mas não havia sinal de Estella em lugar algum. Também não vi a Inca. O resto do dia passou como se estivesse em câmera lenta. Eu estava nervoso pra caralho, esperando por qualquer tipo de notícia que faria a tensão em meus ombros se dissipar. Mas a notícia não chegou até o final do dia escolar. Com minhas aulas terminadas, fui para o corredor para ir para casa quando vi o diretor Weston escoltando a Srta. James para fora de seu escritório. Ela estava segurando uma caixa com suas coisas, mal segurando as lágrimas enquanto ele a acompanhava pelo corredor. Nossos olhos se conectaram por um breve momento enquanto ela caminhava pelo corredor, e ela parou, olhando para mim. Eu não me mexi, não disse uma palavra. Eu apenas a olhei até que ela baixou o olhar em derrota para o chão. Enquanto eu a observava se afastar, um peso enorme saiu dos meus ombros e, pela primeira vez desde que eu descobri que a Srta. James não havia enviado o pedido de Estella em Eastvale, eu me senti livre. Livre para fazer o que eu queria. Livre para ter a garota dos meus sonhos. Livre para seguir em direção ao meu futuro com a cabeça erguida. ─ Ei, Milo. Eu me virei para encontrar Finn parado no corredor. Sempre rebelde, ele usava a mochila pendurada no ombro, substituindo o blazer do uniforme de Wildwood pela jaqueta de couro surrada. Ninguém nunca lhe deu uma merda por quebrar as regras. Eu acho que eles estavam com muito medo.
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─ E aí ─ eu assenti para ele. ─ Ouvi dizer que você fez a senhorita James ser demitida ─ disse ele com desaprovação. Eu me perguntei novamente se ele era o único com quem ela estava dormindo. ─ Todo o povo masculino de Wildwood ficará chateado com você por isso. ─ Confie em mim, ela mereceu. ─ Eu murmurei, e Finn riu, revelando um vislumbre de metal em seu sorriso. Um piercing? ─ Sem dúvida, sem dúvida ─ ele murmurou. ─ Eu vou acreditar na sua palavra. Presumo que seja sobre a sua garota? ─ Você está estranhamente sempre por dentro das coisas. ─ Eu estreitei meus olhos para ele. ─ Como você consegue saber tudo o que acontece por aqui? ─ Eu tenho olhos por toda parte ─ ele deu de ombros com um sorriso. ─ Eu faço questão de saber o que está acontecendo por aqui. Alguém tem que administrar esta escola. Vocês, crianças ricas, não têm ideia de como fazê-lo. ─ Ah sim? ─ Eu ri. ─ E algum punk de dezesseis anos faz? ─ Sim. ─ Ele sorriu. ─ De qualquer forma, parabéns por tirar a Srta. James daqui. Eu, por exemplo, estou satisfeito. Ela ficava me observando em qualquer chance que tivesse. ─ Você não gosta delas mais velhas? ─ Eu provoquei. ─ Eu já tenho uma garota ─ ele murmurou. ─ Ela simplesmente não sabe que é minha ainda. ─ Estranho. ─ Puxei minha mochila mais alto no meu ombro. ─ Vejo você por aí, garoto.
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─ Até mais, perdedor. ─ Finn me saudou antes de continuar pelo corredor. Eu tinha que admitir, o garoto tinha estilo.
─ Alguma sorte? ─ Nate perguntou quando cheguei em casa. ─ Não ─ eu balancei minha cabeça em frustração. ─ O telefone dela está desligado. O pai dela provavelmente pegou de novo. ─ O que a Inca disse? ─ Ela não apareceu na escola hoje ─ respondi. ─ Ela pode estar com alguma coisa. Quero ir à casa dela agora. ─ Eu vou te levar. ─ Dei-lhe um tapa agradecido nas costas. Eu ainda não tinha comprado um carro de substituição desde que perdi minha Gertie para aqueles punks de Silverside, então eu estava tendo carona de Natan por meses. ─ Obrigado cara, eu aprecio isso. ─ Venha, vamos! Descemos as escadas onde os papais estavam trabalhando em outra mistura na cozinha. Nós nos despedimos e entramos no carro de Nate. A casa de Estella ficava a vinte minutos de carro, e eu estava nervoso pra caralho. Havia alguma maneira de ela me perdoar? Eu a empurrei por tanto tempo, me convencendo de que ela estava melhor sem mim. Talvez esse fosse realmente o caso... Mas eu nunca me perdoaria se não tentasse recuperá-la.
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─ Você está nervoso? ─ Nate me questionou enquanto dirigíamos. ─ Esse é o eufemismo do ano ─ eu murmurei. ─ Cara, você está bem. ─ Ele virou uma esquina, me dando um rápido olhar tranquilizador. ─ Ela ficará mais do que emocionada por você finalmente ter mudado de ideia. Como você está planejando contornar o pai dela? ─ Espero que ele não esteja em casa ─ murmurei. Mas verdade seja dita, nada me impediria de chegar a Estella. Eu estava pronto para quebrar qualquer obstáculo no caminho entre minha garota e eu. E era hora de contar a Stells toda a verdade sobre seu pai também. Eu não a deixaria ficar em perigo por muito mais tempo. Aquele bastardo pertencia atrás das grades, e Stells pertencia a mim. Eu só percebi que tinha dito a última parte em voz alta quando Natan riu, dizendo: ─ Acho que ninguém discorda de você. Odiei aquele cara desde o momento em que o conheci. ─ Ele precisa sumir ─ assenti. Passamos o resto do caminho em silêncio. Natan parecia entender o quão nervoso eu estava e me deixou sozinho com meus pensamentos enquanto ele dirigia a distância restante até a casa de Stells. Quando estávamos chegando perto, percebemos que a estrada estava bloqueada e eu gemi, sabendo que o caminho acrescentaria pelo menos mais dez minutos ao nosso tempo de viagem. ─ Porra ─ eu murmurei para mim mesmo. ─ É como se todo o universo estivesse contra nós. ─ Besteira ─ respondeu Nate. ─ Vocês pertencem um ao outro. Todo mundo sabe disso.
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Suspirei e inquieto nervosamente pelo resto do passeio. Chegamos à mansão Hawthorne de um beco lateral e vi os carros da polícia antes de Natan, mas ele falou primeiro. ─ Que porra é essa... ─ Pare o carro ─ insisti. ─ Eu não posso simplesmente... ─ Pare a porra do carro! Ele parou e eu abri a porta do passageiro do carro ainda em movimento, me lançando para fora e correndo para a cena do crime. Já havia fita amarela sendo colocada em volta da casa, mas eu não conseguia ver nenhum dos carros dos Hawthorn na calçada. Dois carros da polícia e uma van estavam estacionados do lado de fora, e um policial me parou quando tentei passar por lá. ─ Você não sabe ler, garoto? Você não pode entrar lá. ─ O que diabos aconteceu? ─ Eu rugi. ─ Onde eles estão? ─ Quem diabos é você? ─ o policial exigiu. ─ Você está com a imprensa? ─ Não ─ eu gemi, passando meus dedos pelos meus cabelos enquanto Natan corria atrás de mim. ─ Ele é o namorado da filha ─ Natan falou. ─ Estella Hawthorne. Essa é a garota dele. Onde estão todos? Na delegacia? ─ Eu gostaria de saber ─ o policial deu de ombros. ─ Tínhamos um mandado de busca nas instalações e prender Ricardo Hawthorne, mas, quando chegamos aqui, todo mundo tinha sumido.
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─ Sumido? ─ Eu repeti, meus olhos se arregalando. ─ Que porra você quer dizer com sumido? ─ Cuidado com a boca, garoto ─ o policial rosnou para mim. ─ Apenas nos diga onde eles estão, por favor ─ Natan implorou em meu nome. ─ Você não pode ver como ele está perturbado? Pelo amor de Deus, nos dê algumas informações! ─ Se eu pudesse ...- o policial murmurou, me dando um olhar que dizia que ele ainda não gostava de mim, mas pelo menos sentiu pena de mim. ─ Tudo o que sei é que eles se foram. Os vizinhos não os viram o dia todo. Estamos revistando a casa agora. ─ Porra ─ eu sussurrei, andando pela calçada. ─ Porra. Porra. Porra. ─ Vai ficar tudo bem, Milo ─ Nate murmurou em um esforço para ajudar, mas eu poderia dizer que ele estava se sentindo mais do que um pouco desesperado também. ─ Eles vão encontrá-los. Eu não pude responder. Eu não podia fazer nada além de enterrar meu rosto nas mãos. Eu deixei aquele homem fugir com a minha garota. E eu seria amaldiçoado se não fosse pegá-la de volta.
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26 DATA: 17 DE DEZEMBRO DE 2019 – 09H LOCAL: POSTO DE GASOLINA, LOCAL DESCONHECIDO. ESTELLA.
─ Você precisa nos contar o que está acontecendo, Ricardo! As meninas estão aterrorizadas. ─ Eu preciso fazer xixi ─ Romilly gemeu. ─ Por favor, pelo menos pare em um posto de gasolina. Todo mundo está com fome e com sede! ─ Pare de choramingar ─ papai grunhiu, seus olhos focados como laser na estrada à frente. ─ Sem distrações. Precisamos continuar dirigindo. ─ Dirigindo para onde? ─ Romilly choramingou. ─ Nós nem sabemos para onde estamos indo! Você nos arrastou para fora da cama por nem Deus sabe a razão! ─ Língua ─ papai rugiu para a vida. ─ Não tome o nome do Senhor em vão! ─ Apenas pare ─ mamãe implorou. ─ Olha, há um posto de gasolina antes da próxima saída da rodovia. Você pode fazer uma pequena parada para que possamos comprar comida, algumas bebidas e ir ao banheiro? ─ Tudo bem ─ papai disse friamente. ─ Vocês têm cinco minutos, então eu sugiro que vocês criem uma estratégia para fazer todas essas coisas. Eu sentei e fiquei colada no meu lugar no banco de trás. Romi gemeu e olhou para mim, esperando por uma reação minha. Normalmente eu seria a primeira a reclamar de tudo, mas, verdade seja dita, fiquei aterrorizada. Eu estava paralisada pelo medo desde que o
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papai nos acordou quatro horas atrás, praticamente no meio da noite, e nos forçou a entrar no carro. Não havíamos feito uma única parada desde então; ele apenas continuou dirigindo. E eu estava com medo. Eu sabia que mamãe e Romi também estavam aterrorizadas, mas nenhuma de nós era corajosa o suficiente para parar o papai. Era como se ele estivesse possuído por um demônio. Ele ignorou nossas reclamações. Ele ignorou mamãe chorando no banco da frente durante a primeira hora de viagem. Ele apenas continuou. ─ Aqui vamos nós ─ ele murmurou enquanto entrava no estacionamento de um pequeno posto de gasolina. ─ Vou abastecer o carro, façam o que for necessário. Certifiquem-se de que ninguém as vejam. Aqui, use-o. ─ Ele jogou um par de óculos de sol na mamãe, um de seus aviadores da Ray Ban. Confusa, mamãe pegou-os dele e colocou enquanto ele se virava em seu assento para encarar minha irmã e eu. ─ Não falem com ninguém, vocês entenderam? ─ Sim ─ nós assentimos em uníssono, com muito medo de discutir com ele. Nós três saímos do carro. Mamãe e Romi foram ao banheiro enquanto eu entrava no posto de gasolina para nos pegar um pouco de comida. Papai me deu uma nota de cem dólares amassada e minhas mãos tremiam quando peguei um pouco de comida das prateleiras, mal olhando para o que estava pegando. Cheguei ao caixa e deixei cair todos os lanches que peguei no balcão. Eu olhei para as pizzas que eles fizeram melancolicamente, mas não havia tempo para esperar a coisa ser feita. O caixa me deu um olhar estranho, somando minhas compras. ─ Isso vai ser tudo?
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Eu assenti, não confiando em mim mesma para falar. Havia uma pequena tela de TV atrás do caixa, e concentrei minha atenção na TV para não precisar conversar com a mulher de meia idade que ainda estava me dando olhares estranhos. ─ Está tudo bem, querida? ─ Sua voz era gentil, preocupada. Por um momento, fiquei com medo de cair em lágrimas, contar tudo a ela. Que papai nos forçou a sair de casa quatro horas atrás, latindo para todos nós para colocar as bundas no carro. Ele não detalhou para onde estávamos indo, e quando mamãe perguntou se ela precisava levar algumas coisas, ele exigiu que ela deixasse tudo onde estava. Eu estava apavorada. Minhas mãos tremiam tanto que eu estava com medo de deixar cair as latas de refrigerante que eu tinha colocado no chão. Eu estava suando por todo o lado. Olhei para a caixa, dando-lhe um sorriso tenso e balançando a cabeça, assim como a novela na TV foi cortada e um repórter apareceu na tela. ─ O famoso pregador de TV e o queridinho da mídia, Ricardo Hawthorne, está sendo procurado pelas autoridades ─ disse a mulher solenemente. ─ São trinta e sete e noventa e nove ─ a caixa disse gentilmente quando meus olhos se arregalaram ao ver a TV. Passei para ela a nota de cem dólares, correndo para pegar tudo do balcão. ─ Espere, querida, você não quer o seu troco? ─ Fique ─ eu murmurei, vendo todos os nossos rostos piscando na tela da TV. Porra. Porra. Porra. Porra. Eu saí do posto de gasolina, para o nosso carro onde o papai tinha acabado de encher o tanque. ─ Pa-papa ...─-eu consegui chamar.
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─ O que? ─ Ele se virou para mim. Ele parecia dez anos mais velho do que na noite anterior, quando tudo ainda estava bem. ─ Estamos na TV ─ eu sussurrei. ─ A repórter... ela disse que estavam nos procurando. ─ Merda. ─ Ele esfregou os olhos, depois olhou para mim com uma determinação de aço recém-encontrada. ─ Entre no carro, Estella. ─ O-o que? ─ Eu estreitei meus olhos para ele. ─ A respeito... ─ Carro. Agora! ─ Ele puxou o cabo de abastecimento para fora do carro, empurrando-o de volta para o suporte com força. Eu me esforcei para entrar no banco de trás, os lanches que comprei indo para todo lugar. Papai entrou no banco do motorista no momento em que vi mamãe e Romi saindo dos banheiros. ─ Espere por elas, papai ─ eu consegui. ─ Elas estão aqui! ─ Não há tempo ─ ele latiu, saindo do estacionamento, as rodas gritando alto no asfalto. ─ Precisamos sair agora. ─ Mas papai! ─ Gritei, colocando as palmas das mãos na janela. ─ Mamãe e Romi, elas... ─ Porra, cale a boca! ─ ele gritou, e senti lágrimas derramando em minhas bochechas quando ele saiu do posto de gasolina, os rostos aterrorizados de mamãe e Romi permanentemente arraigados em minha memória. Não ousei dizer uma palavra. Recostei-me e prendi o cinto de segurança. Papai estava dirigindo como um maníaco e meu coração estava batendo mais rápido do que nunca quando ele entrou na faixa da esquerda, ficando à frente de todos os carros à nossa frente. Vários carros
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buzinaram para nós, mas o papai não se importou, ele continuou dirigindo. Eu parei de acreditar em Deus há muito tempo, mas fiquei tão aterrorizada que meus lábios começaram a se mover em uma oração silenciosa. Dios, salva me. Por favor, Deus, cuide para que tudo fique bem. Não consegui parar de pensar em voltar para Milo. Meus pensamentos circulavam ao redor dele, sempre voltando à imagem de seu rosto risonho, de seus cabelos escuros, dos óculos que ele continuava empurrando para cima do nariz. Milo, meu Milo. Quando eu iria vê-lo novamente? E para onde diabos o papai estava me levando? Eu estava com muito medo de falar, mas meu coração começou a bater mais forte do que nunca quando o ele pisou no acelerador. Estávamos indo rápido demais. Eu estava com medo pela minha vida. Assustada pelo papai. Seja lá do que quer que ele estivesse tentando fugir era ruim, disso eu sabia com certeza. Ele ia nos matar se não prestasse atenção na estrada. Por isso fiquei quieta, concentrando minha atenção nas orações que agora estavam saindo suavemente dos meus lábios. Papai começou a rir quando me ouviu. ─ De repente, virou religiosa agora, não é, pirralha? ─ E-eu... ─ Eu lutei para encontrar as palavras quando outra onda de lágrimas quentes atingiu minhas bochechas. ─ Papa, eu estou com medo! Ele não respondeu, apenas desviou para a esquerda para evitar um carro no caminho, me fazendo gritar de medo. ─ Cale-se! ─ ele gritou, e eu comecei a soluçar baixinho, aterrorizada por minha própria vida.
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O rádio do carro estalou para a vida. ─ Aviso de emergência para quem viaja na estrada M39. Há um motorista imprudente na estrada que se acredita ser Ricardo Hawthorne, agora uma pessoa procurada pela polícia... Papai desligou o rádio, batendo com o punho na tela. Respirei fundo quando ouvi as primeiras sirenes. Olhando por cima do ombro, atrás de nós, vi um carro da polícia ao longe, luzes azuis e vermelhas piscando, o som fraco da sirene se aproximando de nós. ─ Papai, você precisa parar ─ implorei. ─ Eles estão vindo atrás de nós! Ele me ignorou, pisando com mais força no acelerador. Nós aceleramos. Eu estava chorando livremente agora, quase incapaz de ver qualquer coisa na minha frente através das lágrimas. O som da sirene se perdeu à distância e papai riu triunfante. Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Eu não podia acreditar que essa era a minha vida. Eu estava fugindo. Eu estava sozinha com o papai, que parecia estar perdendo a cabeça. E se ele não desacelerasse, corríamos o risco real de sofrer um acidente. Ele fez uma curva acentuada à direita, saindo em uma das saídas da rodovia. Eu gritei quando fui jogada contra a janela direita do carro com força, batendo a cabeça no vidro. ─ Papa, por favor! ─ Eu gritei. ─ Nós vamos nos machucar! Mais uma vez, ele me ignorou. Ele apenas continuou dirigindo como um louco. Ouvi alguém chorando e demorei alguns minutos para perceber que era eu. De repente, outro carro apareceu na nossa frente ─ um carro da polícia. Papai desviou para a esquerda e eu gritei enquanto as rodas giravam no nada. Estávamos caindo, estávamos caindo. Não
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havia mais asfalto sob as rodas, apenas grama. Estávamos indo direto para uma árvore. ─ Papa! ─ Gritei para avisá-lo, e ele desviou o caminho bem a tempo. O tempo parou. O lado esquerdo do carro bateu na árvore e, de repente, fomos suspensos no ar. Eu não conseguia parar de gritar. O carro virou para o lado. Meu cabelo voou por todo o lugar, meus soluços pararam de repente quando minha vida passou diante dos meus olhos. Então, com um baque forte, o carro pousou do lado direito, as rodas ainda girando enquanto tudo ficava totalmente silencioso. A dor explodiu no meu braço esquerdo e eu gritei quando as sirenes se aproximaram de nós novamente. Houve o som de portas de carros batendo, o estrondo das sirenes quase insuportável. Ouvi papai gemer, ouvi alguém usando um megafone do lado de fora, mas mal podia ouvilos sobre o som da minha cabeça. ─ Saiam do veículo. Saiam do veículo imediatamente. Eu gritei. Como diabos eu ia sair? ─ Estou presa ─ gritei. ─ Estou presa! ─ Cale a boca, Estella ─ papai rugiu. ─ Cale-se! ─ Eu o assisti lutar com o cinto de segurança, de alguma forma conseguindo sair pelo lado do passageiro. Ele me deixou lá, nunca se preocupando em verificar se eu estava bem. Eu ouvi tiros. Eu ouvi gritos. Só percebi depois que alguns deles eram meus. E então tudo ficou totalmente preto.
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─ Stells? Stells, você pode me ouvir? ─ Uma mão macia tocou o lado do meu rosto, me acariciando. ─ Tudo vai ficar bem, princesa. Eu prometo. ─ O-o que? ─ Eu lutei para abrir meus olhos. Parecia que eles estavam sobrecarregados, minha mente enevoada. Houve um som de risada aliviada quando meus olhos se abriram, dançando ao redor das pessoas ao meu redor. ─ O que aconteceu? ─ Você está bem, querida. ─ A voz aliviada de mamãe cortou, e outra palma se juntou àquela no meu rosto. O rosto da minha mãe apareceu na minha frente, luzes brilhantes acima dela. ─ Oh, Deus ─ eu gritei. ─ Onde estou? ─ Você está em um hospital, bebê, você quebrou o braço ─ mamãe chorou. ─ Mas você está bem. Tudo vai ficar bem. ─ Onde está o p-papa? ─ Eu gaguejei. ─ Ele está bem? Um breve silêncio se seguiu antes que mamãe assentisse. ─ Ele levou um tiro no pé, mas deve estar bem. Ele está em operação agora. Eu gemi quando me levantei. Meu braço esquerdo estava desajeitado e pesado, e quando olhei para baixo, vi que estava envolto em um gesso rosa pink até o meu cotovelo. Finalmente, olhei em volta da sala. Romi estava lá com mamãe. E ao lado deles, sentado na minha cama, estava Milo. ─ O-o que você está fazendo aqui? ─ Eu perguntei a ele, estreitando os olhos para ele. ─ Ele chegou aqui o mais rápido que pôde ─ Romi me disse suavemente. ─ Ele não saiu do seu lado.
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─ Vi as notícias ─ disse Milo. ─ Eu fui à sua casa ontem de manhã e todos vocês tinham ido embora. Cheguei ao hospital o mais rápido que pude. Você foi trazida para cá ontem à noite, depois que eles consertaram sua mão. Você não estava se mantendo consciente. ─ Por que você veio? ─ Eu perguntei, me sentindo esperançosa. ─ Por que você quer me ver? Mamãe e Romi trocaram olhares antes de se levantarem. ─ Vamos dar um tempo às crianças ─ sussurrou mamãe, e elas saíram do quarto, deixando apenas Milo e eu. Olhei ao redor do quarto: era todo branco e eu era a única paciente. Milo chegou mais perto de mim, pegando minha mão ilesa na dele. ─ Eu consertei as coisas ─ disse ele. ─ Eu... eu tenho muito a lhe dizer. Por razões fora do meu controle, fui forçado a ficar longe de você nos últimos meses. Mas isso nunca vai acontecer novamente, princesa. Eu nunca vou embora. ─ Mas... você não quer ficar comigo. ─ Eu me odiava por chorar de novo, mas não pude evitar. Tudo isso era demais. Demais. ─ Quero sim ─ disse Milo. ─ Não quero ficar com mais ninguém. Quero passar o resto da minha vida me certificando de que você está bem, Stells. Quero que você seja minha. Afastei minha mão, massageando minha têmpora. ─ Estou com medo, Milo. O que vai acontecer conosco? ─ Você está segura agora ─ ele me tranquilizou. ─ A polícia estava procurando seu pai, não vocês três. ─ Mas... o que está acontecendo? ─ Eu perguntei, virando-me para ele com um olhar suplicante. ─ Por que eles o querem?
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─ Eu... ─ Ele balançou a cabeça. ─ Eu vou explicar tudo em breve. ─ Ele está com problemas? ─ Sim, Stells, ele está. ─ Ele me deu um sorriso tranquilizador. ─ Mas você não está. E vamos garantir que você esteja bem. Meus pais reservaram uma suíte em um hotel próximo a Wildwood para vocês. ─ Ok. ─ Eu balancei a cabeça, me sentindo confusa. ─ Por que não podemos simplesmente voltar para nossa casa? Ele apertou minha palma saudável. ─ Eles estão investigando seu pai, Stells. Você não pode voltar para casa, não por um tempo. Parece que a casa pode ser confiscada. ─ Não! ─ eu sussurrei. ─ Não, isso não pode ser verdade. ─ Eu levantei meus olhos esperançosamente para os de Milo, mas seu olhar me disse tudo o que eu precisava saber. ─ O que vai acontecer com o papai? ─ Eu acho... ─ ele suspirou. ─ Acho que ele pode ir para a cadeia, Stells. ─ Por muito tempo? ─ Meus olhos se encheram de lágrimas. ─ Temo que sim. ─ Milo? ─ Sim? Mordi meu lábio inferior quando perguntei: ─ Você vai garantir que ele nunca mais possa nos machucar? Sua expressão ficou séria e ele assentiu gravemente. ─ Sim. Eu prometo a você, Stells. Todos estão do lado de vocês, especialmente eu. E
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vamos mantê-las seguras a partir de agora, como deveríamos estar fazendo desde o início. ─ Ok ─ eu sussurrei, observando-o. Ele estava lá. Ele estava comigo. Isso era tudo o que importava. ─ Milo, você... ─ Eu o que? ─ Você... ─ Mais uma vez, mordi meu lábio inferior. ─ Você ainda se importa comigo? ─ Sim. ─ Ele olhou bem nos meus olhos, e eu sabia sem sombra de dúvida que ele estava dizendo a verdade. ─ Stells, eu... eu te amo. ─ Você ama? ─ Minha voz estava fraca, e eu me odiava pelo quanto precisava ouvi-lo dizer isso. ─ Você realmente... realmente ama? ─ Sim. ─ Ele passou a ponta dos dedos sobre meus lábios. ─ E eu nunca vou parar. Eu sempre estarei aqui por você. A partir de agora, somos você e eu contra o mundo, Stells. Você gostaria disso? Eu me vi concordando, imaginando um mundo onde Milo Earnshaw sempre estaria me protegendo. Era um bom pensamento. ─ Bom ─ ele murmurou. ─ Porque a partir deste momento, não deixarei mais ninguém te machucar, nunca mais.
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27 DATA: 21 DE DEZEMBRO DE 2019 – 09H LOCAL: ACADEMIA WILDWOOD. MILO
─ Eu não sei se posso fazer isso. ─ Ela engoliu em seco. ─ Não quero voltar. Não quero enfrentá-los. ─ Você vai ficar bem. ─ Peguei a mão dela e dei um aperto tranquilizador. ─ Eu estarei bem ao seu lado, certificando-me de que tudo corra bem. E eu não vou deixar ninguém te pegar. ─ Nem mesmo a Harlem? ─ Especialmente a Harlem. ─ Eu sorri para minha garota. ─ Vamos lá, você pode fazer isso. Eu estou com você. Ela respirou fundo antes de aceitar a mão que eu estendi para ela e sair do meu carro novo, um Range Rover azul profundo. Eu poderia dizer o quão nervosa ela estava, tremendo levemente no aperto firme da minha mão. Ajudei-a a levantar-se e passei meu braço em torno de seu quadril, puxando-a para um último beijo tranquilizador. Era o primeiro dia de Estella de volta a Wildwood, e ela estava compreensivelmente nervosa. Felizmente, era o último dia de aula antes do início do feriado de Natal. Ela não teria que sofrer por muito tempo ─ ela só tinha que passar o dia. Ela estava usando maquiagem naquele dia, desde que o acidente de carro havia deixado um hematoma no rosto. Ela cobriu as marcas amarelas e azuis manchadas com corretivo. Seu uniforme era novo, mas não havia sinal da rebelde Estella desde o início do ano, com sua saia
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muito curta e muitos botões abertos na camisa. No entanto, ela parecia mais como ela do que nunca, e eu adorei. Os últimos dias foram um turbilhão. Enquanto Estella se recuperava, seu pai foi levado ao hospital e preso depois disso. Ele quebrou duas costelas e levou um tiro no pé, mas esse era o menor dos seus problemas agora. Ironicamente, o que causou a queda de Ricardo Hawthorne no final foram suas indulgências. Para um homem que era tão publicamente religioso, ele certamente tinha seus vícios ─ e foi um daqueles que o expuseram por quem ele realmente era. Quando visitei o salão de massagens com Finn, conversei com a garota que Ricardo estava vendo há mais de um ano. E foi ela quem encontrou algumas inconsistências nas finanças do spa, trazendo a roupa suja de Ricardo aos olhos do público. Foi o último fragmento de evidência que a polícia precisava para chegar ao pai de Estella. Mas o homem tinha olhos e ouvidos em todos os lugares e recebeu um aviso de um de seus colegas de trabalho bem cedo. Em vez de sair com a cabeça erguida, o homem entrou em pânico, escondeu toda a família no carro e os levou para o apartamento que eu o vira reservar meses atrás. Este era o seu plano alternativo ─ fugir com a família e começar uma nova vida em algum lugar. Mas ele não havia previsto a perseguição que se seguira. E ele não hesitou antes de colocar em perigo a vida de seus entes queridos apenas para fugir. Stells havia aguentado o peso de tudo. Depois que o pai deixou a mãe e a irmã naquele posto de gasolina, chamaram a polícia com a ajuda da caixa, após o que se seguiu uma dramática perseguição. Agradeci minhas estrelas da sorte que Stells havia escapado sem ferimentos graves. Ela só usou o gesso por duas semanas, e os médicos prometeram que ela se recuperaria completamente em um mês.
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Para o pai, as coisas não estavam bem. Ele estava aguardando julgamento na prisão depois que sua família se recusou a pagar a fiança. Eu pensei que isso lhe servia certo. Enquanto a casa dos Hawthorne estava sendo revistada pela polícia, meus pais se ofereceram para pagar por uma suíte em um hotel local para os Hawthorne. Exceto que eles não eram mais os Hawthornes. As três mulheres haviam mudado seu sobrenome de volta para Hernandez. Elas aceitaram a oferta de meus pais com gratidão e ficaram na Baía de Rockdale por alguns dias, se recuperando lentamente do drama. Estella não queria voltar para a escola, mas eu consegui convencêla de que as coisas ficariam bem e eu a tinha de volta. Agora, enquanto ela estava na frente da Academia, mordendo nervosamente o lábio inferior, eu só podia esperar que estivesse certo. Tínhamos a primeira aula juntos e fomos para a escola de mãos dadas. Senti olhares indiscretos em nós, cada aluno ficando quieto quando passamos por eles. A conversa ficou parada enquanto caminhávamos para a sala de aula, e eu podia sentir Estella tremendo ao meu lado. Toda vez que ela me olhava com medo, sorria para tranquilizá-la, e isso parecia ajudar. Nós nos sentamos na sala de aula nas mesas vizinhas, e ela corou quando começou a tirar as coisas da bolsa. Ela era desajeitada, e eu a ajudei a preparar tudo para a aula. Eu podia sentir a presença de Harlem na mesma sala, nos observando como um falcão. Ela estava apenas esperando por uma oportunidade de atacar, mas eu seria amaldiçoado antes de deixar isso acontecer. Eu protegeria minha namorada a qualquer custo.
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Um momento depois, o professor entrou. Ele pareceu surpreso ao ver Estella e fez o possível para continuar, mas foi interrompido por sussurros constantes da classe. ─ O suficiente! ─ ele bateu com o punho na mesa e Stells pulou na cadeira dela. ─ Vocês estão todos tão distraídos hoje. Precisamos falar sobre o elefante na sala? Por favor, não, pensei comigo mesmo. Não torne as coisas mais difíceis para ela do que já são. Mas o professor não deu ouvidos ao meu aviso silencioso, suspirando profundamente e esfregando as têmporas quando ele começou a falar novamente. ─ Como vocês provavelmente sabem, um estudante que está entre nós hoje está envolvido em uma situação dramática ─ ele começou, e eu gemi interiormente, lutando contra o desejo de levantar e dizer a ele para calar a boca. ─ Isso não é motivo para dificultar as aulas para todos. Vocês se sentiriam melhores se Estella dissesse algumas coisas? A turma ficou em silêncio e eu olhei para minha garota, que estava olhando para a mesa dela, os cabelos caindo em uma cortina em torno de seu lindo rosto. ─ Não acho que seja apropriado, senhor Jenkins ─ falei. ─ E quem perguntou sobre sua opinião, Milo? ─ Ele ergueu as sobrancelhas para mim. ─ Estella, levante-se e discuta com a classe. Não podemos continuar com a lição quando todos estão tão distraídos. Minhas mãos formaram punhos no meu colo. Eu queria dar um tapa naquele sorriso presunçoso do professor. Eu queria proteger Estella, não importa o quê. Mas ela me surpreendeu mais uma vez respirando fundo e lentamente se levantando da cadeira.
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─ Tenho certeza que todos vocês viram o que aconteceu no noticiário ─ disse ela, olhando desafiadora para a classe. ─ Se vocês tiverem alguma dúvida, pergunte-me diretamente. Não quero ouvir suas teorias sussurradas de merda. ─ Você acha que é parcialmente culpada pelo que aconteceu? ─ É claro que Harlem foi a primeira a falar, e ela sorriu para Stells quando a pergunta deixou seus lábios suculentos. ─ Tipo, a maneira como vocês viveram. Foi por causa do dinheiro que pessoas inocentes pagaram ao seu pai? Você usou a caridade deles para viver como reis e rainhas? Eu estava prestes a interromper, mas Stells foi rápida demais para mim. ─ Não ─ ela disse calmamente. ─ Papai ganhou a maior parte de seu dinheiro com seu programa de TV e os sermões públicos que ele executou em todo o país. O dinheiro que roubou foi mantido em uma conta no exterior que nenhuma de nós tinha acesso também. Esse dinheiro agora foi congelado e os federais estão tendo certeza de que vai para as pessoas certas. ─ Então você não sente nenhum remorso? ─ Harlem continuou. ─ Você nem se sente um pouco mal por usar aquelas pessoas inocentes? Estella fechou os olhos, e eu praticamente podia ouvi-la contando para se acalmar. ─ Não, eu não me sinto mal, porque os erros de meu pai não são meus, e eu não fiz nada de errado. Não posso nem ficar em minha casa agora. Estou em um hotel com minha mãe e irmã, e nenhuma de nós fez nada de errado. ─ Ela levantou o queixo desafiadoramente antes de continuar. ─ E para ser sincera com você, Harlem, eu estava com pavor de voltar aqui. Temi os comentários e fiquei com medo do julgamento. Mas, no final das contas, a única pessoa que me julga e tem uma opinião, sou eu. E farei tudo o que estiver ao meu alcance para compensar meus próprios erros. É o que posso lhe prometer agora.
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A aula explodiu em aplausos; mais perguntas foram levantadas enquanto Jenkins lutava para manter a ordem. ─ Tudo bem, tudo bem ─ ele levantou a voz. ─ Acalmem-se agora. Precisamos continuar com a aula de hoje. Obrigado por falar sobre o assunto, Estella. A turma se acalmou, mas pelo resto da aula, eu pude sentir os olhos de todos na minha garota. A necessidade de protegê-la despertou dentro de mim, mas quando a observei participar calmamente da aula e ignorar aqueles olhares irritantes, finalmente percebi que Estella Hawthorne não precisava da ajuda de ninguém. Ela era uma potência. Quando o sinal da escola anunciou o fim da aula, peguei minhas coisas com pressa e ajudei Estella a pegar suas coisas. Nossa próxima aula não era junto, o que me deixou nervoso pra caralho. A próxima vez que a veria seria no almoço. ─ Você vai ficar bem? ─ Eu sussurrei em seu ouvido quando ela se levantou da mesa. ─ Claro. ─ Ela me deu um sorriso corajoso. ─ Se eu aguento meu pai, posso lidar com dois estudantes turbulentos. Não se preocupe comigo. ─ A Harlem está na sua próxima aula? ─ Sim ─ ela gemeu. ─ Mas eu posso lidar com ela. Ela é apenas irritante, é tudo. ─ OK. ─ Eu hesitei, pressionando um beijo em sua bochecha. ─ Eu tenho educação física em seguida. Se você precisar de alguma coisa, meu telefone está ligado. Eu irei buscá-la.
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─ Acalme-se ─ Stells riu. ─ Sério, eu vou ficar bem. Vejo você na hora do almoço, está bem? Eu balancei a cabeça, observando-a se afastar de mim e sentindo a dor de perdê-la na boca do meu estômago. Quando ela chegou ao fim do corredor, ela olhou por cima do ombro e me mandou um beijo. Eu sorri amplamente. Ela ainda era a Stells por quem me apaixonei.
O dia na escola passou irritantemente devagar, mas felizmente Estella e eu terminamos ao mesmo tempo. Eu estava esperando do lado de fora do meu Rover no momento em que ela apareceu, correndo para o lado dela para pegar sua bolsa para que ela não sobrecarregasse o braço quebrado. ─ Como foi tudo? ─ Eu perguntei e ela deu de ombros. ─ Tão bem quanto poderia ter sido. Alguns comentários ruins. Não que eu não os estivesse esperando. Eu os mereço, eu acho. ─ Princesa, você não merece. ─ Eu guardei sua bolsa no banco de trás do meu carro. ─ O que seu pai fez não define você. Você não é uma pessoa má. ─ Eu costumava ser ─ ela sussurrou, inclinando-se contra o carro. ─ Eu era terrível para tantas pessoas. Inca. Andrômeda. Pandora. Tinsley.
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─ Tinsley se foi ─ eu disse gentilmente. ─ E pelo que ouvi, ela está mais do que feliz em Eastvale com Crispin. ─ Eu sei ─ ela murmurou. ─ Mas ainda me faz querer acertar as coisas com todo mundo. ─ Andie? ─ Eu perguntei, e ela assentiu. Uma onda de medo passou por mim e eu peguei sua mão na minha. ─ Baby, você sabe que não pode contar a ela o que aconteceu com a irmã. Isso implicaria os Lordes. ─ Ela merece saber o que aconteceu ─ insistiu Stells. ─ Você não gostaria de saber o que aconteceu se Natan apenas desaparecesse um dia? ─ Claro ─ eu murmurei, parecendo derrotado. ─ Mas... todos nós poderíamos ter muitos problemas se a verdade surgisse. ─ Fale com Finn e Nate ─ ela me implorou. ─ Não vou mencionar seus nomes. Vou apenas contar parte da verdade a Andrômeda. Não vou te implicar. ─ Eu ligo para Finn mais tarde. ─ Eu concordei de má vontade, assim que alguém se aproximou de nós. Eu levantei meus olhos para encontrar meu irmão e um monte de líderes de torcida e jogadores de lacrosse, liderados pela Harlem. ─ O que é agora, Harlem? Estamos tendo uma conversa particular aqui. A ruiva cruzou os braços na frente do corpo, fazendo uma careta para Estella, depois para mim. ─ Ah, Estella ─ ela disse docemente. ─ Não era há apenas um ano que você era a rainha de Wildwood? Apenas olhe para você agora. Quero dizer, mesmo Inca, sua pequena serva, está se vestindo melhor do que você hoje em dia.
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─ Que porra você quer, Harlem? ─ Eu assobiei para ela, pronto para começar uma briga. Mas Stells estendeu a mão, fazendo-me dar um passo para trás. Mesmo que ela me dissesse que poderia travar suas próprias batalhas inúmeras vezes, eu ainda estava determinado a defendê-la. ─ Você deve estar realmente entediada, Harlem ─ disse Stells docemente. ─ Desde que você aparentemente não tem nada melhor para fazer do que me atacar. A equipe de lacrosse inteira já se cansou de você? Natan riu por trás da líder de torcida e Harlem lançou lhe um olhar irritado. Ele apenas deu de ombros em resposta. ─ Só estou dizendo que você parece um pouco pior, princesa ─ disse Harlem com um sorriso sarcástico. ─ Quantos degraus da escada você desceu? Com todas as quedas que você tem dado, eu acho que você já caiu no chão. Mas parece que você está determinada a ir ainda mais baixo. ─ Ah, ainda tenho um longo caminho a percorrer até chegar ao seu nível ─ respondeu Estella, e a turma riu da Harlem. A líder de torcida ruiva ruborizou, mas não se deixou perturbar, repelindo um novo comentário instantaneamente. ─ É divertido para mim o quão insignificante você é agora ─ continuou ela. ─ Você era a rainha de Wildwood há um ano e o que é agora? Ninguém. ─ Quem disse? ─ Stells ergueu as sobrancelhas para a garota. ─ Você? ─ Harlem olhou de volta desafiadoramente quando minha garota se adiantou. De alguma forma, mesmo com o gesso, ela ainda era intimidadora como o inferno. ─ Infelizmente, sua opinião não significa nada para mim. Tudo o que me importa é o que ele pensa. ─ Com isso, Stells se virou para mim, me dando um sorriso afetuoso. ─ Você verá,
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Harlem, um dia você crescerá como eu cresci. Talvez então você aprenda que ser uma garota má não te levará a lugar nenhum. Harlem revirou os olhos quando Stells se inclinou e deu um beijo nos meus lábios na frente de todos. Embora eu tenha ficado surpreso no começo, a puxei no segundo seguinte, reivindicando sua boca com a minha. Quando nos separamos, Harlem estava olhando para nós dois, obviamente descontente com a nossa demonstração. ─ Algo mais? ─ Estella perguntou docemente. ─ Se não, vá torturar alguém. Estou ficando cansada do seu rosto. Sem dizer mais nada, Harlem se virou e se afastou. Uma vitória para Estella. E eu não tive nada a ver com isso. Puxei-a contra mim mais uma vez, minha mão persistindo nas costas dela. ─ Alguém já te disse que você é foda? ─ Eu murmurei em seu ouvido, e ela sorriu amplamente. ─ Não o suficiente. ─ Bem, você é incrível, Estella Hawthorne. ─ Eu mordi seu lábio inferior, e ela aceitou o beijo e o aprofundou, seus dentes mordendo suavemente meu lábio inferior e me fazendo gemer. ─ Eu mal posso esperar para você tirar esse gesso para que eu possa fazer você minha novamente. ─ Quem disse que você precisa esperar? ─ ela ronronou, sorrindo quando abriu a porta do carro. ─ O quarto do hotel é todo meu hoje. Romi está
fazendo
algum
evento,
e
mamãe
está
na
delegacia
para
interrogatório. ─ É mesmo? ─ Eu perguntei, levantando minhas sobrancelhas. ─ Você está sugerindo o que eu acho que você está sugerindo?
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─ Definitivamente ─ ela riu. ─ Entre no carro. ─ Meu olhar escureceu e eu dei a ela um sorriso perverso. ─ Você é minha agora, princesa.
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28 DATA: 25 DE DEZEMBRO DE 2019 – 08H LOCAL: NOVA CASA DE ESTELLA. ESTELLA.
─ Eles estão aqui! ─ Eu deixei a cortina fechar e pulei para cima e para baixo em emoção. ─ Acalme-se ─ Romi revirou os olhos. ─ Você não vê Milo todos os dias na escola, sua esquisita? ─ Sim, mas é Natal! ─ Eu não pude evitar o sorriso forçando o meu caminho. ─ E teremos o melhor Natal de todos os tempos. ─ Ugh, tudo bem. ─ Minha irmã massageou as têmporas e eu sorri para mim mesma. Ela não estava tão discretamente cuidando de uma ressaca a manhã inteira. Tentei convencer mamãe a deixar Milo passar a noite, para que pudéssemos abrir nossos presentes de Natal assim que acordássemos, mas ela não deixou. Ela ainda era tão tradicional. Mas tinha sido bom ter a manhã para nós mesmas. ─ Arrume espaço, arrume espaço! ─ Abuelita saiu da cozinha carregando uma tigela enorme. ─ Aqui está o Trifle de chocolate quente. Bem a tempo dos convidados. ─ Parece perfeito! ─ Eu disse, sorrindo quando a campainha tocou. ─ Eu atendo! Passei correndo por mamãe, que estalou a língua para mim com desaprovação, e fui direto para os braços de Milo, do outro lado da porta.
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─ Whoah, whoah ─ disse ele, rindo alto. ─ Acalme-se, princesa. Acabei de te ver ontem. ─ Você está dizendo que não sentiu minha falta? ─ Eu o provoquei, e ele sorriu. ─ Bem, se eu dissesse não, seria uma mentira. ─ Oi ─ cumprimentei os pais de Milo que estavam atrás dele, com as mãos cheias de presentes. ─ Tão bom ver vocês! Por favor, entrem. Temos tudo pronto. Todos eles empilharam a casa. Já era muito menor do que a nova mansão em que morávamos antes, mas com sete pessoas reunidas na sala, ela estava ficando apertada. Não que alguém se importasse. Milo e eu nos sentamos no chão, Romi ajeitou as unhas no sofá, enquanto mamãe e abuelita carregavam bandeja após bandeja de comida da cozinha e os pais de Milo estavam sentados à mesa da sala de jantar usando sorrisos e blusas de Natal combinando. Eles eram muito fofos para palavras. ─ Obrigado por virem ─ mamãe disse com um sorriso exasperado. ─ Muitas coisas deram errado este ano, mas é um alívio saber que, no final do dia, temos o seu apoio para nos manter em atividade. ─ Ela se virou para encarar os pais de Milo, que haviam feito tanto por nós nos últimos meses. ─ Sou eternamente grata a vocês dois. Vocês nos mostraram tanta gentileza, nunca duvidaram de nossa integridade e nos ajudaram a superar o pior de tudo. Obrigada. Do Fundo do meu coração. Jasper corou enquanto Louis acenava com a mão como se o que eles tivessem feito não valesse a pena mencionar. Mas não era esse o caso. Enquanto o mundo inteiro nos olhava com desconfiança, foram eles que nunca duvidaram de nós. Eles pagaram por nossa estadia no Rockdale Bay Hotel sem pedir nada em troca. Agora, recuperamos nossos
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ativos e já os pagamos de volta, embora eu soubesse que mamãe já preparou presentes adoráveis e personalizados para agradecê-los novamente por tudo o que fizeram. Não queríamos ficar na casa velha. Carregava muitas lembranças ruins. Surpreendentemente, ela foi vendida poucas horas depois de ser colocada no mercado e compramos uma casa menor com o dinheiro que recebemos da venda. Mamãe também estabeleceu como prioridade pessoal retribuir todas as pessoas que investiram nos negócios do papai. Então, ela doou a maior parte do dinheiro da venda da casa para uma verdadeira instituição de caridade, não como a que o pai estava enganando as pessoas. ─ Estou tão feliz que estamos todos juntos hoje ─ eu disse, sorrindo para cada um deles. Até Romilly parecia satisfeita, apesar de ter reclamado por ter planos com as amigas mais cedo. Eu sabia que ela secretamente queria ficar conosco, de qualquer maneira. ─ Vamos abrir os presentes! Durante a meia hora seguinte, a sala ficou cheia com o som de papel de embrulho sendo rasgado, conversas animadas e fotos sendo tiradas. Era como se fôssemos uma família de verdade e fiquei imensamente grata aos Earnshaws por nos dar o Natal que nem sabíamos que precisávamos. ─ De quem é esse? ─ Eu perguntei, pegando uma pequena caixa azul. Eu já desembrulhei os presentes da minha irmã, mãe e abuelita. Romilly me deu uma maquiagem de alta qualidade, mamãe me surpreendeu com as chaves de um carro usado que ela comprou para mim, o qual compraríamos mais tarde e abuelita me tricotou um lindo cobertor grosso. ─ Ah, esse é meu ─ Milo falou, sorrindo para mim do seu lugar no chão. Ele apenas desembrulhou meu presente ─ um caderno de couro
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personalizado que eu economizei com meu dinheiro do trabalho de garçonete no Clancy. Ele adorou, e fiquei muito satisfeita com minha escolha. ─ Oh, Deus ─ Romilly gemeu. ─ Ela pode abrir isso aqui? ─ Romi! ─ mamãe a repreendeu e todos riram. ─ Tenho certeza de que é apropriado. ─ Ela deu a Milo um olhar significativo e ele riu alto em resposta. ─ É perfeitamente apropriado ─ disse Milo. ─ Embora eu não tenha certeza de que ninguém além de Stells entenderá. A emoção tomou conta de mim e comecei a rasgar a embalagem, empolgada demais para ter cuidado com o papel azul escuro pontilhado de flocos de neve. Era uma caixa pequena, e algo puxou minhas cordas do coração enquanto eu olhava para ela na palma da minha mão. Então, eu abri a tampa. No interior, aninhado entre veludo branco, havia uma pedrinha minúscula em um bracelete de prata. Senti os olhos de Milo nos meus quando os eventos da noite de 20 de outubro do ano anterior passaram pela minha cabeça. Ele estava me trazendo para casa da festa de Tinsley. Estávamos conversando sobre o futuro, provocando um ao outro sobre Eastvale. Milo ainda estava lutando com o ensaio de admissão. Eu reconheci a pedra. Foi a pedra que chutamos naquela noite, a que eu peguei, coloquei na mão de Milo e disse a ele que isso era apenas o começo de sua vida ─ o primeiro passo para a grandeza. ─ Oh ─ eu sussurrei, lágrimas borrando minha visão. ─ Você guardou isso todo esse tempo?
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─ Eu precisava ─ ele murmurou. ─ Era como um trampolim e significa até onde chegamos desde então. ─ Ele levantou do chão e se aproximou de mim, tirando o colar de prata da caixa e colocando-o com cuidado em volta do meu pescoço. Era uma longa corrente e a pedra pendia entre meus seios como um pingente. ─ Eu amei isso ─ eu sussurrei. ─ É tão perfeito. ─ Muito fofo ─ Romi interrompeu. ─ Isso é um quartzo? Milo riu enquanto alisava meu cabelo para trás. ─ É apenas uma pedrinha. ─ Mas significa mais do que qualquer pedra jamais significou ─ acrescentei, apertando sua mão com gratidão. ─ Obrigada, eu realmente amei. ─ Bem, isso foi adorável ─ disse minha avó, enxugando os olhos com um lenço. ─ Agora, devemos começar a comer! Caso contrário, passei todo esse tempo na cozinha por nada! Todos nós nos reunimos em volta da mesa de jantar e olhamos a comida deliciosa. E enquanto eu me sentava no meio do riso, diversão e felicidade, segurando firmemente a mão de Milo, percebi que às vezes as coisas funcionam da maneira que deveriam, não importa o quanto você tente resistir a elas.
─ Tchau! Até logo! ─ Milo acenou para os pais antes de fechar a porta. Levantei-me do meu assento no sofá onde minha irmã estava mexendo no telefone. Abuelita tinha ido dormir no andar de cima. Ela se
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mudou para sempre conosco assim que compramos a nova casa e todos nós adoramos tê-la lá. Mamãe estava lavando a louça e eu a chamei quando Milo se juntou a mim no corredor. ─ Mamãe, Milo e eu podemos ir para o meu quarto? Ela nos olhou desconfiada, com as mãos ensaboadas com detergente. ─ Tudo bem ─ disse ela com relutância. ─ Mas mantenha a porta aberta, Estrellita. ─ Obrigada mãe! ─ Eu dei a Milo um sorriso malicioso antes de pegar sua mão e puxá-lo pelas escadas para o meu quarto. Fiz o que mamãe disse, deixando a porta entreaberta quando Milo e eu caímos na minha cama. Meu novo quarto era exatamente o novo começo que eu precisava. Eu me livrei de tudo rosa da nossa última casa e substituí por branco com detalhes em prata. O quarto era arejado, iluminado e bonito e me fez sentir como se eu não fosse mais uma criança, o que eu amava. ─ Enfim sós ─ disse Milo quando se juntou a mim no meu quarto, pegando um porta retrato da minha mesa de cabeceira. Nela, Inca, Tinsley e eu sorrimos para a câmera, usando vestidos combinando. Forcei Andrômeda a ficar fora de cena e a memória enviou uma pontada de culpa pelo meu corpo. ─ Esta é uma ótima foto. ─ Pena que vem com tantas lembranças ruins ─ eu sussurrei, pegando-o de suas mãos e colocando-o de volta em seu lugar. ─ Você já pensou em entrar em contato com Tinsley? ─ ele perguntou e eu assenti. ─ Penso nisso com tanta frequência, mas duvido que ela queira me ouvir depois de todas as coisas horríveis que fiz com ela ─ admiti.
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─ Dê um tempo. ─ Milo me tranquilizou massageando minhas costas. ─ O tempo cura todas as feridas. ─ Bem, ainda não é tarde para fazer as pazes ─ continuei. ─ Pelo menos não com a garota que falta nessa fotografia. ─ Andie? ─ Milo perguntou e eu assenti. ─ Quero falar com ela depois das férias de Natal. Quero me desculpar pela forma como a tratei desde que ela começou em Wildwood. Eu tinha sido horrível. Tenho tanta vergonha de mim mesma. ─ Ele sorriu para mim e eu estreitei os olhos para ele. ─ O que é tão engraçado? ─ Nada ─ ele deu de ombros. ─ Só... Você sabe o quanto mudou desde o início do ano letivo? ─ Acho que sim. ─ Olhei para a porta, me aproximando e fechandoa suavemente atrás de mim. ─ Mas há uma coisa que não mudou desde então. ─ O que é? ─ Ele levantou uma sobrancelha para mim, um sorriso brincando nos lábios. ─ Você ainda gosta de mim, princesa? ─ Sempre ─ eu sussurrei, me juntando a ele na frente da cama e passando os braços em volta do pescoço dele. Nós nos beijamos e eu gemi contra sua boca, precisando de muito mais do que ele estava disposto a me dar. ─ Temos que ficar quietos... Mamãe está lá embaixo e a abuelita fica logo no corredor. ─ Bem, é melhor garantir que você fique calada ─ disse Milo docemente. Suas mãos vagaram sob o meu vestido e ele puxou a calcinha de renda que eu estava usando, movendo-a pelas minhas coxas. ─ Eu quero isso agora.
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Ele me ajudou a sair delas, pegando o tecido frágil na mão e fazendo sinal para eu ir para a cama. Ele subiu ao meu lado, mostrando-me a calcinha antes de encher minha boca com o tecido. Protestei com um gemido, mas ele não estava dando a mínima a isso. ─ Eu pensei que meu presente fosse um pouco simples demais ─ disse ele. ─ Então, aqui está a segunda parte. Ele afastou minhas coxas e eu soltei um gemido abafado enquanto suas mãos fortes exploravam meu corpo. Minhas coxas estavam tentando fechar, mas Milo bateu o dedo no ponto sensível entre as minhas pernas, onde minha boceta já estava brilhando para ele. ─ Eu sabia que você estaria pronta ─ disse ele, pensativo. ─ Sempre tão molhada para mim, não é, princesa? Eu balancei a cabeça sem palavras, fechando os olhos quando ele mergulhou a cabeça entre as minhas pernas. Ele beijou uma linha no meu umbigo, sobre minhas coxas e até o ponto que doía mais. Separando meus lábios, ele me lambeu exatamente onde eu precisava dele, me fazendo gemer de prazer. ─ Lembre-se, princesa ─ disse ele, olhando para mim. ─ Você precisa ficar quieta... ou eu vou parar. Entendido? Eu assenti impotente e ele voltou a beijar, beliscando e mordendo no meu centro. Em instantes, eu estava uma bagunça desesperada e necessitada por ele e ele riu baixo, sabendo exatamente o que estava fazendo comigo. Eu nunca descobri quem o ensinou, mas o garoto poderia me comer como se sua vida dependesse disso. Meus dedos emaranhados em seus cabelos e eu o segurei no lugar, ansiosa por mais prazer. Os movimentos do meu corpo eram obscenos e empurrei meus quadris contra sua boca com o desejo desesperado para sair, para gozar por toda a sua boca.
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E quando eu estava começando a me aproximar do êxtase, ele se afastou. Eu gritei em protesto, mas meus olhos se arregalaram quando ele se despiu na minha frente, revelando centímetro após centímetro de pele esculpida. Ainda não entendia como ele conseguia parecer tão bom. Milo Earnshaw, a quem todos viam como nerd, era possivelmente mais trincado que seu irmão caçula. E eu adorava. Ele tirou a calcinha da minha boca e eu respirei profundamente. A boca de Milo cobriu a minha no segundo seguinte, me beijando com fome. Eu podia sentir seu pau latejante sendo apontado para a minha entrada. ─ Faça ─ eu sussurrei. ─ Eu não me importo se eles ouvirem. ─ Remédio? ─ ele latiu, mal conseguindo se conter. ─ Você finalmente conseguiu? ─ Sim ─ assenti impaciente. ─ Minha mãe conseguiu a receita ontem, eu... porra! Ele empurrou dentro de mim sem esperar que eu terminasse. Senti minha boceta se ajustando à sua espessura, quando ele forçou cada centímetro para dentro de mim. Eu vi estrelas, já tão perto de gozar que eu estava convencida de que iria desmoronar antes que ele metesse em mim pela primeira vez. ─ Porra ─ eu respirei. ─ Shhh. ─ Ele pressionou um dedo nos meus lábios, lembrandome que precisávamos ficar quietos, e eu assenti febrilmente, ansiosa por muito mais do que ele estava me dando. Lentamente, Milo começou a balançar os quadris, empurrando seu comprimento cada vez mais fundo dentro de mim e me mostrando o tipo de prazer que só ele poderia me dar. ─ Eu preciso disso ─ eu sussurrei contra seus lábios.
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─ Você precisa do quê? ─ ele perguntou, sua voz vacilando quando ele empurrou todo o seu pau em mim. ─ Diga-me, princesa. ─ Gozar no seu pau ─ eu consegui dizer. ─ Já? ─ Ele riu, prolongando a tortura. ─ Não, acho que você ainda não deveria. Apenas fique na beirada assim, até que eu te encontre na beira. Eu gemi em protesto, mas estava bom demais para detê-lo. Eu amei o jeito que ele me negou. Ele era melhor nisso do que qualquer outra pessoa, de alguma forma conseguindo dizer o mais difícil de conseguir do que fora no início daquele ano letivo. ─ Por favor! ─ Eu consegui dizer, depois que senti ele ficar tenso em cima de mim. ─ Depressa, depressa, depressa. Ouvimos passos do lado de fora e eu mordi meu lábio inferior quando percebi que estávamos prestes a ser pegos. Milo tentou sair de mim, mas eu me agarrei a ele, balançando a cabeça sem palavras. Ele sorriu para mim, colocando a mão sobre a minha boca, entrando em mim novamente, enterrando seu pau na minha boceta até o fundo. ─ Goza ─ ele sussurrou no meu ouvido assim que a batida na minha porta veio. ─ Stells? ─ Sim ─ eu demorei a dizer. ─ Sim. Sim. ─ Mamãe disse que precisava da sua ajuda ─ continuou Romi, assim que as estrelas explodiram na frente da minha visão. ─ Só por alguns minutos, você vem? ─ Em um segundo ─ Milo gritou, afogando meus gritos com um beijo. Nós nos reunimos, e eu senti seu esperma quente e cremoso
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enchendo minha boceta quando me desfiz sob ele. Ouvi o som dos passos da minha irmã se afastando quando fogos de artifício explodiram na frente dos meus olhos e Milo saiu de mim, passando os dedos sobre a minha bagunça e levando-os aos meus lábios. Eu o lambi avidamente, vendo seus olhos queimarem com paixão ardente. ─ Uma garota tão boa, Stells. ─ Qualquer coisa para você ─ eu respirei. ─ Qualquer coisa? ─ Qualquer coisa. ─ Sempre? ─ Ele sorriu para mim. ─ Sempre…
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29 DATA: 05 DE JANEIRO DE 2020 – 09H 30 LOCAL: LANCHONETE DO CLANCY E PISTA DE SKATE. ESTELLA.
─ Ela está vindo? ─ Mordi meu lábio inferior, tirando o avental com pressa e dobrando-o cuidadosamente antes de colocá-lo no meu armário. ─ Ela não está, não é? Ela disse não. ─ Acalme-se. ─ Milo apertou minha mão para me tranquilizar e meus olhos se encontraram com os dele. ─ Sinto muito, estou tão nervosa. Eu tenho muito a pedir desculpas. ─ Eu sei ─ ele disse calmamente, esfregando círculos sobre a minha pele. ─ Ela já está aqui, Stells. ─ O que? ─ Eu ampliei meus olhos. ─ Mas ainda não estamos fechados oficialmente... pensei que ela tivesse vindo depois que tivesse a chance de me limpar um pouco. ─ Ela está esperando em uma das mesas ─ continuou Milo. ─ Olha, você vai falar com ela e eu vou fazer alguns milkshakes. Você consegue fazer isso. Tudo vai ficar bem, eu prometo. ─ OK. ─ Mordi meu lábio inferior antes de passar as mãos pela frente da minha camisa. ─ Deus! Me deseje sorte. ─ Boa sorte. ─ Milo pressionou um beijo na minha bochecha antes de sorrir para mim. ─ Vá atrás deles, tigre. Saí da cozinha. Assim que eu estava no salão de jantar principal, eu a vi. Ela estava mais bonita do que nunca, a semelhança com Pandora
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tão impressionante que me pegou de surpresa. Embora não tivessem as mesmas
características
faciais,
as
duas
adoravam
brincar
de
maquiagem, mas enquanto a Pandora costumava mantê-la simples e minimalista,
Andie
experimentou
cores
diferentes
e
adorava
experimentar coisas novas. Naquela noite, ela estava usando seus adesivos de estrelas, misturando-se com as sardas para criar uma aparência interessante. Seus pés estavam pendurados no banco de couro vermelho e ela observava as pessoas, olhando curiosamente para os últimos clientes que saíam da lanchonete. Eu os observei pegar suas coisas enquanto eu caminhava, oferecendo um adeus educado e fechando a porta atrás deles. Andie me notou então e instantaneamente sua postura ficou rígida. Ela sentou-se ereta, com a boca em uma linha fina enquanto eu me aproximava dela, oferecendo-lhe um oi tímido antes de deslizar no banco ao lado dela. ─ Você queria conversar? ─ ela perguntou, erguendo as sobrancelhas enquanto se dirigia a mim. ─ Eu queria. ─ Então fale. ─ Ela não mediu palavras e eu percebi que ela realmente não queria estar lá comigo. Mas ela estava lá, no entanto, e eu não pude perder minha única chance de redenção. ─ Eu queria falar com você sobre algo ─ comecei, sentindo meu coração batendo forte no meu peito. ─ Mas primeiro, eu queria me desculpar. ─ Pedir desculpas? ─ Ela bufou, aparentemente divertida com a minha declaração. ─ Por que você está se desculpando, Estella? Os anos me tratando como uma merda? Zombando de mim, me fazendo sentir
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inferior só porque não me visto da mesma maneira e faço a maquiagem da maneira que você acha que eu deveria? ─ Sinto muito ─ eu sussurrei. ─ Bem, desculpe, não vai dar certo. ─ Ela bateu uma nota de cinco dólares na mesa. ─ Isso deve pagar minha Coca-Cola. Eu nunca deveria ter vindo aqui. Isso foi um erro. ─ Espere! ─ Gritei quando ela se levantou, pegando sua jaqueta rosa felpuda. ─ Por favor, não vá. Eu tenho algo para te dizer. ─ Bem, eu não ligo ─ ela disse cruelmente. ─ Estou indo embora. Ela saiu da mesa, mas eu a segui e, quando ela estava quase na porta, agarrei sua mão, puxando-a para trás. ─ Solte-me! ─ Eu não posso. ─ Engoli em seco quando ela se virou para mim, o brilho em seu rosto me dizendo tudo o que eu precisava saber. Ela me odiava, e por boas razões. Eu não fui nada além de uma cadela com ela, quando ela nunca fez nada para me machucar. ─ Eu preciso falar com você, por favor. É sobre... é sobre sua irmã. ─ Pandora? ─ Eu observei os olhos dela com a menção de sua irmã que estava desaparecida há quatro anos e me odiava ainda mais. Eu mantive os Lords em segredo, mas a que custo? Uma garota inocente estava sofrendo por causa deles. E eu. Eu também participei de tudo. Agora era hora de fazer as pazes. ─ Sim ─ eu sussurrei. ─ Venha, sente-se. Vou abreviar. Só preciso que você saiba o que realmente aconteceu quatro anos atrás. ─ OK. ─ Ela me deixou levá-la de volta à mesa e deslizamos nos acentos de couro vermelho sem dizer mais uma palavra. Brinquei com o
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guardanapo
de
papel
vermelho,
rasgando
as
bordas
enquanto
Andrômeda esperava que eu falasse. ─ Eu deveria ter lhe contado a verdade desde o início ─ sussurrei. ─ Sim, você deveria. Mas não importa, apenas me diga o que aconteceu agora. ─ Ela agarrou minha mão com o desespero de alguém que está perdido há anos. Foi então que todo o peso do que fizemos afundou em mim, fazendo meus ombros cederem. ─ Por favor, Estella. Eu mereço saber. ─ Você merece ─ assenti, respirando fundo. ─ Você se lembra da escola primária? Milo, Pandora e eu éramos melhores amigos. ─ Sim ─ ela assentiu. ─ Vocês eram. Até ela desaparecer. Eu assenti novamente. ─ Recebemos uma tarefa logo antes do início do verão. Deveríamos pesquisar nossa árvore genealógica, descobrir mais sobre nossa herança. E nós três achamos que seria divertido pedir testes de DNA on-line. ─ Tudo bem ─ disse ela, erguendo as sobrancelhas para mim. ─ O que isso tem a ver com Pandora? ─ Milo pediu os testes ─ eu sussurrei. ─ Nós os fizemos juntos. Foi divertido e nenhum de nós suspeitava do que estávamos prestes a descobrir. Você precisa acreditar em mim quando digo isso, Andrômeda. Nunca pretendemos machucar ninguém, muito menos Pandora. ─ Tudo bem ─ ela disse novamente, sua voz vacilante. ─ Meu teste foi o que eu esperava ─ herança latina. O do Milo era americano, com raízes britânicas e irlandesas. Foi interessante para ele, porque ele é adotado. Ele não conhece seus pais reais, você sabe. ─ E a minha irmã? ─ Andie exigiu.
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─ Sua irmã... ─ Engoli em seco novamente. ─ O teste dela nos deixou confusos. Voltou como americano com algumas raízes italianas. ─ Mas não há italianos em nossa família. ─ Eu sei. ─ Estendi a mão sobre a mesa para a mão dela. ─ Estávamos tirando sarro disso, porque Pandora conversou com seus pais sobre isso e eles não conseguiam pensar em nenhum ancestral italiano que vocês pudessem ter. Milo e eu esquecemos tudo sobre isso durante o verão, mas Pandora não deixou quieto. Ela ficou obcecada em descobrir mais sobre sua herança. Eu gostaria que nunca tivéssemos deixado ela fazer isso. ─ Por quê? ─ Porque nos deparamos com algo que não deveríamos ─ eu sussurrei, fechando meus olhos com força. ─ E nós envolvemos todo mundo. Crispin começou. Ele disse que talvez ela tivesse sido adotada. Ele colocou a ideia na cabeça dela. Ele continuou tirando sarro de Pandora, dizendo a ela que seus pais não eram os pais dela. ─ Isso é ridículo ─ Andie riu e meu coração doeu por ela. ─ Natan fez o segundo teste de DNA ─ continuei em silêncio. ─ E Pandora tirou uma amostra de seus pais. Mandamos de volta para análise com um amigo de Finn. Alguém para quem tivemos que pagar muito dinheiro. ─ Por quê? ─ Ela me deu um olhar confuso. ─ Porque queríamos chegar ao fundo disso. ─ E você?
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Meus olhos lacrimejaram quando assenti. ─ O teste voltou negativo. Pandora não era parente de nenhum dos pais. Na verdade, ela não era uma Amberly. ─ O que? ─ Andrômeda gaguejou. ─ Como isso é possível? ─ Nós não sabíamos ─ eu admiti entrecortadamente. ─ Mas Milo procurou na internet. Ele invadiu um site do hospital onde ela nasceu e olhou as certidões de nascimento. A única explicação que pudemos encontrar foi que o hospital cometeu um erro. ─ Que tipo de erro? ─ ela exigiu. ─ Você quer dizer... você quer dizer que eles trocaram os bebês? ─ Isso ─ eu admiti miseravelmente. ─ E eles nos encontraram cavando. O hospital entrou em contato conosco depois que eles nos pegaram pelo login de Milo em seu site. Eles sabiam que já haviam cometido um erro. Eles já sabiam há anos. ─ Por que eles não disseram nada? ─ ela sussurrou. ─ Porque esses casos são difíceis, cansativos e geralmente terminam em processos de milhões de dólares ─ expliquei. ─ E porquê... a outra família... os pais reais de Pandora, eles são muito ricos. Tipo, não ricos do jeito que somos. Eles são praticamente sangue azul. ─ Espere... ─ Ela esfregou as têmporas. ─ Então, o que você está me dizendo é que Pandora e eu não somos parentes? ─ Não, vocês não são ─ admiti miseravelmente. ─ Mas onde ela está? ─ Andie exigiu. ─ Isso só me dá mais perguntas e ainda não sei onde diabos ela está. ─ A família veio procurá-la ─ eu disse. ─ Ela não queria nada com eles. Mas então eles entraram em contato com seus pais.
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─ Meus pais sabem? Concordei, vendo o mundo de Andrômeda desmoronar diante dos meus olhos. ─ Sinto muito, Andie. Eles queriam que ela voltasse para casa com eles e ameaçaram seus pais se não a deixassem sair. ─ Então, ela simplesmente foi embora? ─ Ela riu amargamente. ─ Ela nunca faria isso. Ela nunca me abandonaria. ─ Ela não queria. ─ Engoli. A parte mais difícil da história ainda estava chegando. ─ Eles ofereceram algo para quem a trouxesse para eles. E eles fizeram. Eles receberam o prêmio e trouxeram Pandora ao ponto de troca. ─ Quem? ─ Andie exigiu. ─ Os Lords de Wildwood ─ eu sussurrei. ─ Finn Bannon, Crispin Dalton, Nathan e Milo Earnshaw. ─ Você está falando sério? ─ ela parecia chateada. ─ Por que eles fariam isso? O que eles receberiam em troca? ─ Reino livre em Wildwood. O que eles quisessem. Eles podem governar a escola, desde que fiquem aqui. ─ E você sabia tudo sobre isso ─ ela cuspiu. ─ E você nunca pensou em me dizer. E nenhum dos caras. Ou meus pais... Deus... meus pais sabiam tudo, não sabiam? Eu assenti. ─ Como eles poderiam desistir dela? A filha deles... ─ Eles não tiveram escolha – consegui falar. ─ Os verdadeiros pais de Pandora não lhes deram uma chance. A outra garota... sua verdadeira
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irmã, suponho... descobriu a mudança e se matou quando percebeu que seria mandada embora. ─ Porra. ─ Sim. ─ Esfreguei minhas têmporas. ─ Depois disso, juramos sigilo tanto pela família quanto por seus pais. Eles pensaram que você não conseguiria lidar com isso e nos fizeram prometer nunca lhe contar. ─ Você acabou de quebrar essa promessa ─ Andie me lembrou. ─ Você acabou de me contar tudo. ─ Eu não conseguia mais esconder isso de você ─ sussurrei. ─ Estava tratando você horrivelmente porque não tinha ideia de como agir ao seu redor. Como fingir que eu não sabia a verdade sobre Pandora. ─ Ela não entrou em contato ─ disse ela. ─ Nem uma vez. ─ Não acho que os pais dela... seus pais biológicos... permitiriam ─ admiti. ─ Pelo que ouvi, eles eram terrivelmente rigorosos. ─ Mas... ela simplesmente me abandonou ─ Andie conseguiu dizer. ─ Eu estive tão sozinha. Desde que Tinsley partiu, o único que me resta é Finn. Eu estou tão sozinha. ─ Não mais. ─ Estendi a mão para apertar sua palma. ─ Você me tem agora. ─ E a mim. ─ Milo apareceu em nossa mesa, sorrindo enquanto colocava dois enormes copos de milk-shake cobertos com chantilly e cerejas marasquino. ─ Sinto muito por tudo, Andie. No final, fomos nós que fodemos a Pandora. Mas acho que a família não teria desistido. Eles fariam qualquer coisa para recuperá-la. Andrômeda assentiu entorpecida quando Milo deslizou no banco ao meu lado.
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─ Estamos aqui para qualquer coisa que você precisar ─ disse honestamente. ─ E se você quiser encontrar uma maneira de entrar em contato com a Pandora, eu ajudarei você a descobrir algo. Porque... acho que ela pode voltar. ─ Como? ─ ela perguntou desconfiada. ─ Ela foi visitar minha avó ─ expliquei. ─ Descobrimos quando fomos para a casa de repouso. Ela disse que Pandora esteve lá. ─ Mas por que ela não me visitou? ─ Andie sussurrou. ─ Tem que haver uma razão e vamos chegar ao fundo disso ─ prometeu Milo. ─ Mas você sabe tudo o que sabemos até agora. Trocamos olhares silenciosos, sabendo que estávamos mentindo. Ainda havia a questão do chantagista anônimo que exigia dinheiro para guardar os segredos dos Lords. Esperávamos agora que tivéssemos contado a verdade a Andie ─ pelo menos em parte, as ameaças finalmente parariam. ─ Obrigado por me dizer. ─ Sua voz estava trêmula, mas ela parecia mais determinada do que nunca ao levantar a cabeça. ─ Vou descobrir o que aconteceu e vou vê-la novamente. Eu tenho que vê-la. ─ Eu sei que você vai ─ assenti. ─ Eu nunca deveria ter mantido esse segredo, Andie. E lamento não ter contado o que aconteceu antes. Ela assentiu em reconhecimento às minhas palavras, mas não disse que estava tudo bem. Ainda assim, parecia que havíamos virado uma nova página. Talvez tenhamos um novo começo, afinal. ─ Eu tenho que ir agora ─ ela finalmente murmurou, levantandose da cabine, seu milk-shake intocado. ─ Você tem certeza? ─ Eu empurrei sua bebida para ela.
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─ Bem, você acabou de me dizer o que queria me dizer ─ disse ela, me dando um olhar confuso. ─ Por que mais eu ficaria aqui? Mais alguma coisa? ─ Não ─ eu consegui dizer timidamente. ─ Mas você ainda pode ficar, se quiser. O gerente me deixou fechar, para que possamos ficar mais um pouco. Termine sua bebida, pelo menos? Ela me lançou um olhar duvidoso e, por uma fração de segundo, fiquei convencida de que ela se recusaria e sairia, deixando eu e o Milo sozinhos. Mas então sua boca se levantou nos cantos e ela assentiu. ─ OK. Acho que tenho tempo para terminar um milkshake.
─ Isso foi difícil ─ respirei horas depois, depois que a mãe de Pandora a pegou na lanchonete do Clancy. ─ Eu estou tão exausta. ─ Estou orgulhoso de você ─ Milo me apertou enquanto lavava nossos copos de milk-shake sujos. ─ Você se saiu muito bem, Stells. E eu sei que os caras vão entender por que você fez o que fez. ─ Obrigada ─ eu murmurei. ─ Você acha que Andrômeda ainda me odeia? ─ Não, ela não te odeia ─ respondeu ele, parecendo mais seguro do que eu. ─ Eu acho que ela nunca odiou, princesa. Mas vai demorar um pouco para ela superar o fato de que mentimos para ela. Confie em mim, ela vai aparecer, no entanto. Tudo vai ficar bem.
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─ Tudo bem ─ eu sussurrei, limpando as mãos em uma toalha quadriculada na pia depois de desligar a água. ─ Ei. Você enviou a carta para Eastvale? ─ Eu enviei. ─ Ele sorriu para mim amplamente. ─ Por favor, não me diga que mudou de ideia. ─ De jeito nenhum. ─ Eu ri quando ele me beijou na bochecha. ─ Eu enviei a minha também. Eu acho que é oficial agora. ─ Eu acho que é. ─ Ele sorriu, seus olhos enrugando quando o fez. Eu percebi com uma pontada o quanto ele significava para mim. Quanto eu precisava dele. ─ Você não se arrepende, não é? Eu balancei minha cabeça com veemência. ─ Não, é a decisão certa. Nenhum de nós sabia por que queríamos ir para Eastvale. Era apenas uma meta que tínhamos há anos... sem tempo ou motivo para planejarmos ir para lá. ─ Estou feliz que você pense assim, porque... ─ Ele enfiou a mão no bolso e sorriu para mim enquanto pegava dois bilhetes. ─ Eu comprei as primeiras passagens de avião da nossa jornada. ─ O que? ─ Eu ri quando peguei o papel, inspecionando o texto neles. ─ Nós estamos indo para a Nova Zelândia? ─ Para começar ─ ele sorriu. ─ Depois disso, pensei em entrar na Austrália. Tasmânia parece bom também. Depois disso, podemos seguir para a Ásia. Eu sempre quis ir para a Tailândia, e os países vizinhos parecem realmente... ─ Eu ri alto, balançando a cabeça. ─ O que é isso? ─ Eu simplesmente não acredito que isso está acontecendo ─ eu sussurrei. ─ Que estamos realmente passando por isso. ─ Você quer dizer o ano sabático ou a viagem?
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─ Ambos. Mal posso esperar, Milo. ─ Nem eu. ─ Um sorriso brilhante iluminou seu rosto quando ele me puxou contra ele. ─ Nós vamos ter o tempo de nossas vidas. ─ Milo? ─ Sim? Ele olhou profundamente nos meus olhos e eu sorri largamente para ele. ─ Mal posso esperar para passar o resto da minha vida com você. Eu te amo. ─ Eu te amo mais do que tudo, princesa ─ disse ele em resposta, seu doce beijo me lembrando que nunca mais ficaria sozinha.
BETTI ROSEWOOD
DATA: 30 DE JULHO DE 2021 – POR DO SOL. LOCAL: KOH TÃO, TAILÂNDIA. MILO
─ Stells! Ela se virou, as ondas da praia batendo em suas costas enquanto sorria para mim, correndo em minha direção. Seu corpo bateu contra o meu e eu ri, segurando-a perto do meu corpo. ─ Eu só fui embora por três horas, princesa ─ eu a lembrei. ─ Você está agindo como se não me visse há um mês. ─ Foram longas três horas ─ disse ela, sorrindo para mim enquanto eu beijava seus lábios. Ela tinha gosto de mojitos de morango. ─ Estava bebendo no bar da praia de novo? ─ Eu perguntei com as sobrancelhas levantadas. ─ Bem, eu tive que comemorar os vinte e um anos de alguma forma ─ ela respondeu docemente. Eu bati na bunda dela antes de tirar minha roupa de mergulho. Estella foi conversar com os outros que estavam praticando mergulho comigo quando eu tirei meu equipamento e fui para a mesa principal, onde o líder do programa, Gustav, sorriu para mim. ─ Ei, cara ─ eu disse, me inclinando para mais perto. ─ Está tudo pronto no bar? ─ Sim ─ ele assentiu com um sorriso. ─ Todos os sistemas estão operacionais. A música será ativada assim que você entrar e também colocaremos o champanhe no gelo, como discutimos.
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─ Perfeito ─ eu sorri para ele, acenando para ele quando voltei para Estella. Desde a última vez que a vi, ela colocou uma flor de frangipani6 no cabelo e ficou ainda mais bonita do que antes. Embora, para ser justo, eu pensasse isso toda vez que a via. Ela sorriu quando me viu, dando adeus aos outros e vindo se juntar a mim. Passei uma mão em volta de sua cintura, puxando-a contra mim. Ela usava apenas um biquíni laranja, com um sarongue amarrado em cima e os pés descalços. A única peça de joalheria que ela usava era o pingente com a pedra que eu lhe dera. Ela parecia radiante. Perfeita. ─ Quer voltar para casa? ─ ela perguntou, apontando a praia para uma das cabanas de praia que estávamos alugando. ─ Eu pensei que você poderia me contar tudo sobre o que viu e então podemos tomar um banho juntos. ─ É mesmo? ─ Eu sorri para ela. ─ Nós podemos fazer tudo isso, mas eu esperava que pudéssemos tomar uma bebida no bar da praia primeiro. Estou ressecado. ─ Certo! ─ Ela assentiu com entusiasmo. ─ Você quer se trocar primeiro? Eu ainda estava usando meu calção de banho molhado, minhas panturrilhas cheias de areia. Meu cabelo estava desleixado e molhado. Pensei em voltar para a cabana para trocar de roupa, mas uma parte de mim queria que as coisas continuassem do jeito que estavam. ─ Não, vamos apenas ao bar.
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Frangipani é uma flor única associada com diferentes significados. ... Frangipani, também conhecida como Plumeria, é um arbusto ou uma árvore comum em climas tropicais ou sub-tropicais.
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─ Legal. Oh, eu trouxe esses para você. ─ Ela puxou meus óculos do sarongue e os entregou para mim. ─ Obrigado, querida. ─ Coloquei-os no alto do nariz, sorrindo para ela enquanto continuávamos andando. ─ Como foi o seu dia? Sentiu muita falta de mim, espero? ─ Foi bom ─ ela assentiu. ─ Eu tive uma longa ligação com Tinsley. ─ Realmente? ─ Eu levantei minhas sobrancelhas. Ela entrou em contato com sua ex melhor amiga algumas semanas antes, mas as respostas de Tens foram curtas e educadas. Eu não esperava que elas começassem a se falar ao telefone tão rápido. ─ Eu realmente não achava que ela estivesse disposta a conversar, apenas liguei para ela por capricho ─ explicou Stells. ─ Mas ela parecia animada em me contar tudo. Ela está atuando bastante agora e ela e Crispin ainda estão em Eastvale. É o último ano deles. ─ Acha que vai falar com ela de novo? ─ Eu perguntei cuidadosamente. ─ Sim. ─ Ela parecia tão segura de si mesma que trouxe um sorriso aos meus lábios. ─ Acho que ficamos surpresas com o andamento da conversa. E eu pedi desculpas. Copiosamente. ─ Boa. ─ Eu dei um tapa em sua bunda, enfiando minha mão sob o sarongue e apertando-a por trás. ─ Isso é muito bom, princesa. Agora vamos lá, você está pronta? Chegamos ao bar da praia e Stells olhou para cima, franzindo as sobrancelhas. ─ Você tem certeza de que não há um evento privado aqui esta noite ou algo assim? ─ ela perguntou, apontando para o deck de madeira com
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vista para a praia. ─ Parece que eles se prepararam para algo e não vejo convidados. ─ Vamos ver ─ dei de ombros, oferecendo-lhe minha mão. Ela me lançou um olhar desconfiado e depois me seguiu pelas escadas até o nosso lugar favorito na ilha. Tinha a vista perfeita do pôr do sol no oceano, a praia abaixo como algo saído de um conto de fadas. O bar servia os mojitos de morango favoritos de Stells e sempre tomávamos um à noite junto com uma tigela de seus famosos cajus salgados. Quando chegamos ao topo da escada, ela ofegou. ─ É definitivamente um evento privado ─ ela disse, observando as cortinas brancas e onduladas ao vento, as rosas em todos os lugares. ─ Provavelmente não deveríamos estar aqui. Espere, o que... o que você está fazendo? Quando ela se virou, eu já estava de joelhos. Eu assisti os olhos dela se arregalarem em choque, então a realização do que estava prestes a acontecer a atingiu e ela não pôde evitar o sorriso puxando os cantos dos lábios. ─ O que está acontecendo? ─ ela sussurrou. ─ O que está acontecendo é ─ comecei, puxando uma pequena caixa de veludo rosa que enfiei no bolso do meu calção de banho mais cedo. ─ Finalmente estou fazendo a pergunta que deveria ter feito anos e anos atrás. ─ Milo... ─ Os olhos dela lacrimejaram e as mãos voaram para o rosto. Ela estava tremendo por todo o lado e eu não queria nada além de colocá-la em meus braços e deixar tudo bem novamente.
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─ Estella Hawthorne ─ comecei. ─ Você roubou meu coração no dia em que te conheci na escola primária. Eu me apaixonei por sua beleza, seu cérebro e o fato de você se recusar a ser alguém que não seja você. Você não se inclina à vontade de ninguém... exceto a minha, quando eu obrigo você. ─ Ela riu nervosamente com isso e eu abri a caixa, revelando o anel de princesa de diamante cortado dentro e fazendo-a ofegar em voz alta. ─ Mas não há nada que eu queira mais do que uma vida inteira para garantir que você seja feliz, amada e bem cuidada. Você me dará a honra de ser minha esposa? ─ Sim ─ ela sussurrou. ─ Sim, claro! Eu sorri, deslizando o anel em seu dedo e me levantando. Ela caiu nos meus braços, lágrimas felizes riscando seu rosto. Eu me ocupei beijando-as, inclinando-me para sussurrar em seu ouvido. ─ Eu pensei que você precisava de um upgrade da pedra. ─ Eu amo a pedra ─ ela riu através das lágrimas. ─ Não descarte o pedregulho, garoto nerd. ─ Nunca ─ eu disse solenemente. ─ Em breve, o mundo saberá que você é minha. Mas até então... vou gostar de ser a única pessoa que sabe que você será a primeira Sra. Earnshaw. ─ Ah, é? ─ Ela sorriu para mim. ─ Você tem uma noite especial planejada para nós? ─ A mais especial. ─ Eu balancei a cabeça solenemente no momento em que um garçom saiu com champanhe. ─ Parabéns ─ ele murmurou educadamente antes de deixar o balde para nós.
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Stells e eu nos acomodamos em nossas espreguiçadeiras favoritas com vista para o pôr do sol à nossa frente e abri a espumante, servindo duas taças para nós e entregando à minha noiva seu copo. ─ Aqui estão novos começos e velhos amores ─ eu disse. ─ E garotos que lêem ─ ela riu alto, tilintando nossos copos juntos. ─ Você me fez a garota mais feliz do mundo, Milo Earnshaw. Empurrei meus óculos pela ponta do meu nariz, observando seu rosto encantado vendo o pôr do sol e apreciando o sabor do champanhe. Eu não precisava dizer a ela que tudo ficaria bem. Porque finalmente, nosso final feliz chegou.
Fim
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