Diana Palmer - The Snow Man PT_BR

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publicado na antologia "Christmas with my Cowboy".


Os invernos no Colorado são inóspitos e frios, mas não há nada mais quente que o beijo carinhoso de um cowboy para inflamar o espírito da estação... Meadow Dawson precisa que o Papai Noel lhe traga uma solução para a gestão do enorme rancho no Colorado que herdou do pai. Os vídeos do YouTube simplesmente não são suficientes. Pena que ela não tenha uma boa relação com o único homem que poderia ajudá-la... O rancheiro Dal Blake só quer que a cadela de sua bela, muito desastrada e muito inexperiente vizinha pare de invadir sua casa. Mas neste Natal, o presente inesperado do amor surpreenderá os dois.

O Homem da Neve (The Snow man) Diana Palmer


CAPÍTULO UM Meadow Dawson apenas olhou para o cowboy magro e idoso que estava de pé na varanda da frente com o chapéu encostado no peito. Seu nome era Ted. Ele era o capataz do rancho de seu pai. E estava falando grego, decidiu, ou talvez alguma forma de linguagem arcaica que ela não conseguia entender. ─ O abate. - Ele persistiu. ─ O Sr. Jake queria que nós o adiantássemos e os enviássemos para o fazendeiro de quem compramos as novilhas de reposição. Ela piscou. Conhecia as três posições que podia usar para disparar uma Glock Calibre 40. Era experiente em técnicas de interrogatório. Participou de uma operação antidrogas com outros agentes do escritório de St. Louis, Missouri, onde esteve de serviço durante sua breve permanência no FBI como agente especial. Infelizmente, nenhuma dessas experiências a ensinou o que era um abate ou o que fazer com ele. Ela empurrou para trás o longo cabelo loiro dourado e seus olhos verdes pálidos se estreitaram observando o rosto idoso. Ela piscou. ─ É para abater algum tipo de vida selvagem? - Ela perguntou vagamente. O cowboy se dobrou de rir. Ela fez uma careta. Seu pai e sua mãe se divorciaram quando tinha seis anos. Ela foi morar com a mãe em Greenwood, Mississippi, enquanto o pai ficou aqui no enorme rancho do Colorado, nos arredores de Glenwood Springs. Mais tarde, ela passou algumas férias com o pai, mas só depois de estar no último ano do ensino médio e poder argumentar com sua amargurada mãe, que odiava o ex-marido. O que ela lembrava sobre gado era que eles eram barulhentos e sujos. Realmente não tinha prestado muita atenção ao gado enquanto esteve no rancho ou às referências pouco frequentes de seu pai aos problemas do rancho. Não esteve lá vezes suficiente para aprender a rotina. ─ Eu trabalhei para o FBI. - Disse ela com fraca beligerância. ─ Eu não sei nada sobre gado. Ele se endireitou. ─ Desculpe, senhora. - Ele disse, ainda lutando contra o riso. ─ Os abates são de vacas que não pariram na primavera. O gado não produtivo é separado do rebanho ou abatido. Nós os vendemos como gado de corte ou como mães substitutas para gado de raça pura. Ela assentiu e tentou parecer inteligente. ─ Eu entendo. - Ela hesitou. ─ Então, estamos punindo o pobre gado feminino por não poder ter bezerros repetidamente durante um período de anos. O rosto do cowboy endureceu. ─ Senhora, posso lhe dar alguns conselhos amigáveis sobre gestão de ranchos? Ela encolheu os ombros. ─ Tudo bem. ─ Eu acho que você faria um favor a si mesma se vendesse este rancho. - Disse ele sem rodeios. ─ É difícil ganhar a vida na pecuária, mesmo que a pessoa tenha feito isso por anos. Seria um pecado e uma pena deixar todo o trabalho duro de seu pai se perder. Desculpe, senhora. - Ele acrescentou respeitosamente. ─ Dal Blake era amigo de seu pai e ele é dono do maior rancho de Raven Springs. Pode valer a pena falar com ele. Meadow conseguiu dar um sorriso através da raiva homicida. ─ Dariell Blake e eu não nos falamos. - Ela informou a ele. ─ Senhora? - O cowboy soou surpreso. ─ Ele disse ao meu pai que eu havia me transformado em uma mulher-macho que provavelmente nem tinha... - Ela engoliu com força a palavra que não conseguia dizer. ─ De qualquer forma... - Acrescentou ela. ─ ele pode manter suas opiniões ultrapassadas para si mesmo. O cowboy fez uma careta. ─ Desculpa. ─ Não é sua culpa. - Disse ela, e conseguiu dar um sorriso. ─ No entanto, obrigada pelo conselho. Acho que vou entrar na Internet e assistir a alguns vídeos no YouTube sobre gerenciamento de gado. Eu poderia ligar para um desses homens ou mulheres para pedir conselhos.


O cowboy abriu a boca para falar, mas pensou em como os empregos estavam escassos e fechou-a novamente. ─ Como quiser, senhora. - Ele recolocou o chapéu. ─ Vou voltar ao trabalho. Está, uh... tudo bem separar os abates? ─ Claro que está tudo bem. - Disse ela, franzindo a testa. ─ Por que não estaria? ─ Você disse que estávamos punindo as vacas. Ela revirou os olhos. ─ Eu estava brincando! ─ Oh. - Ted se iluminou um pouco. Ele inclinou o chapéu respeitosamente e foi embora. Meadow voltou para a casa e sentiu um vazio. Ela e seu pai tinham sido próximos. Ele amava o rancho e a filha. Conhecê-la adulta foi muito divertido para os dois. Sua mãe manteve a tensão enquanto vivia. Ela nunca acreditou que Meadow pudesse amá-la e a seu ex-marido igualmente. Mas Meadow os amava. Ambos eram pessoas maravilhosas. Eles simplesmente não podiam viver juntos sem discutir. Ela deslizou os dedos pelas costas da cadeira de balanço onde seu pai sempre sentava, perto da grande lareira de pedra. Era novembro e estava frio no Colorado. A neve já estava caindo. Meadow lembrou-se dos invernos do Colorado da sua infância, antes de seus pais se divorciarem. Seria difícil gerenciar a folha de pagamento, quanto mais todos os pequenos extras que ela precisava, como comida e eletricidade... Estremeceu mentalmente. Conseguiria, de alguma forma. E faria isso sem a ajuda de Dariell Blake. Ela só podia imaginar a expressão presunçosa e hipócrita que apareceria nas feições esculpidas se lhe pedisse para ensiná-la a criar gado. Ela preferia morrer de fome. Bem, na verdade não. Ela considerou suas opções, e não havia muitas. Seu pai era o único dono do rancho. Ele devia equipamentos agrícolas, como colheitadeiras e tratores. Devia ração e suprimentos para marcação e coisas assim. Mas a terra era dela agora, livre e desimpedida. Havia muita terra. Valia milhões. Ela poderia vender o rancho e recomeçar. Mas seu pai a fez prometer que não faria isso. E a conhecia muito bem a essa altura. Ela nunca fazia uma promessa que não pudesse cumprir. Seu próprio senso de ética a acorrentou em uma posição que odiava. Ela não conhecia nada sobre pecuária! Seu pai sempre mencionava Dariell, a quem todo mundo do lugar chamava de Dal. Bom rapaz, ele comentava. Impetuoso, bem disposto e adorava os animais. A parte de adorar os animais estava se tornando um problema. Ela tinha adotado uma linda husky siberiano branca, com alguns pêlos vermelhos nas orelhas e na cauda. Se chamava Snow, e Meadow brigou com as autoridades para mantê-la em seu pequeno apartamento. Ela era perfeita, e Meadow a escovava e banhava dedicadamente. Finalmente, o senhorio do apartamento havia cedido, com relutância, e deixado Snow ficar, depois que Meadow ofereceu um depósito considerável pelo apartamento, que ficava perto de seu trabalho. Ela fez amizade com um técnico de laboratório do apartamento ao lado, que tomava conta de Snow quando Meadow tinha que viajar a trabalho. Era um bom acordo, exceto que o técnico de laboratório realmente gostou de Meadow, que não retribuiu o sentimento. Embora gentil e terno, o técnico não interessou a Meadow nem fisica nem emocionalmente. Às vezes ela se perguntava se seria realmente fria. Homens eram legais. Ela namorou. Até se entregou a carícias leves com um deles. Mas nunca teve essa ânsia que fazia com que as mulheres quisessem se casar, se estabelecer e ter filhos com um homem. A maioria dos homens que namorou era voltada para a carreira e, antes de tudo, não queria casamento. A mãe de Meadow era religiosa. Meadow cresceu com profundas crenças que estavam em constante conflito com as normas da sociedade moderna. Ela era muito reservada, para dizer a verdade. E amava seu trabalho desde que começou como investigadora do Bureau. Mas havia um pequeno problema. Meadow era desastrada. Não havia outro jeito de colocar isso. Tinha dois pés esquerdos, e estava sempre caindo ou fazendo as coisas do jeito errado. Era uma


maldição. Sua mãe escolheu o nome Meadow porque estava lendo um romance na época e a heroína tinha esse nome. A heroína era gentil, doce e um membro ativo da comunidade onde vivia, em 1900 em Fort Worth, Texas. Meadow, infelizmente, não era nada parecida com sua xará. Certa vez, uma operação policial foi montada. Meadow tinha sido designada, com outro agente especial, para vigiar um criminoso que atirou em um policial. O policial estava vivo, mas o homem responsável seria julgado por tentativade homicídio e fugiu. Um IC, ou Informante Confidencial, havia dito a eles onde o homem provavelmente estaria em uma noite de sexta-feira. Era um clube local, frequentado por pessoas não convencionais. Meadow foi designada para vigiar a porta dos fundos enquanto o outro agente especial entraria no clube pela porta da frente e tentaria localizá-lo. Com certeza, o homem estava lá. O outro agente foi reconhecido por um cliente habitual, que avisou o criminoso. O homem fugiu pela porta dos fundos. Enquanto Meadow tentava tirar a arma do coldre, o fugitivo correu em direção a ela e os dois caíram no chão. ─ Vaca desajeitada! - Exclamou. Ele a virou e empurrou seu rosto com força no asfalto do estacionamento, depois deu um pulo e correu. Ferida e sangrando, Meadow conseguiu se levantar e puxar sua arma. ─ FBI! Pare ou atiro! ─ Você não poderia acertar em um celeiro mesmo se estivesse dentro dele! - Foi a resposta sarcástica do homem que corria. ─ Eu vou mostrar a... você! - Enquanto falava, ela recuou e tropeçou em uma pedra grande, seus pés saíram de debaixo dela, e a arma disparou direto no para-brisa do SUV em que ela e o agente especial chegaram. O criminoso tinha fugido há muito tempo quando Meadow se recuperou da queda. ─ Você o pegou? - O outro agente ofegante perguntou quando se juntou a ela. Ele franziu a testa. ─ O que diabos aconteceu com você? ─ Ele caiu em cima de mim e bateu com o meu rosto no asfalto. - Ela murmurou, sentindo o sangue no nariz. ─ Mandei que ele parasse e tentei atirar quando tropecei em uma pedra... O rosto do outro agente refletia um pensamento que ele era muito gentil para expressar. Ela engoliu em seco. ─ Desculpe pelo pára-brisa. - Acrescentou ela. Ele olhou para o SUV do Bureau e balançou a cabeça. ─ Talvez pudéssemos dizer que foi um abutre. Você sabe, eles às vezes voam em direção aos pára-brisas dos carros. ─ Não. - Ela respondeu severamente. ─ É sempre melhor dizer a verdade. Mesmo quando é dolorosa. ─ Acho que você está certa. - Ele fez uma careta. ─ Sinto muito. ─ Ei. Todos nós temos dons. Eu acho que o meu é tropeçar nos meus próprios pés em qualquer momento perigoso. ─ O agente especial no comando vai ficar chateado. - Observou ele. ─ Eu não duvido. - Ela respondeu. *** Na verdade, o agente especial em comando foi eloquente sobre seu fracasso em prender o fugitivo. Ele também perguntou em voz alta, retoricamente, como qualquer instrutor de arma de fogo ficou bêbado o suficiente para deixá-la passar na academia. Ela ficou quieta, imaginando que qualquer coisa que dissesse só pioraria a situação. Ele não recolheu o distintivo dela. No entanto, a designou como auxiliar de outro agente que estava refazendo arquivos no porão do prédio. Era um trabalho administrativo, para o qual ela nem sequer foi treinada. E a partir desse ponto, sua carreira como agente do FBI começou a decair drasticamente.


Ela sempre teve problemas de equilíbrio. Achava que seu treinamento ajudaria a compensar, mas estava errada. Parecia ser um completo fracasso como agente do FBI. Seu superior obviamente pensava assim. Ele deu a ela uma segunda chance, meses depois. Ele a enviou para interrogar um homem que confessou ter sequestrado uma garota menor de idade para fins imorais. As perguntas de Meadow, as que ela havia formulado de antemão, o irritaram ao ponto dele a agredir fisicamente. Ele atacou Meadow, que estava totalmente despreparada para o que equivalia a uma surra. Ela lutou e gritou sem sucesso. Foi preciso que um carcereiro tirasse as mãos do homem da garganta dela. Claro, isso acrescentou outra acusação as que ele já estava enfrentando: agressão a um oficial federal. Mas Meadow reagiu muito mal ao incidente. Nunca lhe ocorreu que um criminoso pudesse atacá-la fisicamente. Ela aprendeu a disparar uma arma, aprendeu defesa pessoal, combate corpo a corpo, todas as maneiras do mundo para se proteger. Mas quando se deparou com um criminoso desarmado, mas violento, quase foi morta. Seu treinamento não foi suficiente. Ela sentiu tanto medo que não conseguiu reagir. Esse foi o começo do fim. Tanto ela como o Bureau haviam decidido que ela estava na profissão errada. Eles foram muito amáveis sobre isso, mas ela perdeu o emprego. E Dal Blake achava que ela era uma mulher-macho, realmente uma policial focada. Era engraçado. Ela era exatamente o oposto. Metade do tempo nem conseguia lembrar de fechar os botões do casaco direito. Suspirou enquanto pensava em Dal. Ela teve uma queda por ele no ensino médio. Ele era quase dez anos mais velho do que ela e a considerava uma criança. Sua única tentativa de chamar sua atenção terminou em desastre... *** Ela tinha ido visitar seu pai durante as festas de final de ano, muito contra a vontade de sua mãe. Era seu último ano do ensino médio. Ela se formaria na Primavera. E sabia que era jovem demais para atrair um homem da idade de Dal, mas estava apaixonada, fascinada por ele. Ele vinha ver seu pai com frequência porque ambos eram membros ativos na associação local de pecuaristas. Então, uma noite, quando soube que ele estava vindo, Meadow se vestiu com seu melhor vestido de domingo para seduzi-lo. Era um vestido de decote baixo, vermelho, muito natalino e festivo. Tinha mangas compridas e fendas laterais. Era muito adulto para Meadow, mas seu pai a amava, então ele a deixou escolher e o comprou para ela. Meadow entrou na sala enquanto Dal e seu pai conversavam e sentou em uma cadeira próxima, com um livro nas mãos. Tentou parecer sexy e atraente. Usava muita maquiagem, mas não se deu conta disso. Todas as revistas diziam que a maquiagem enfatizava as melhores características das mulheres. E Meadow não tinha muitas "melhores características". Seu nariz reto e a boca em arco eram mais ou menos atraentes, e tinha lindos olhos verdes claros. Ela abusou do delineador e do rímel e usou muito blush. Sua melhor característica era o cabelo loiro longo, espesso e bonito. Ela o usava solto naquela noite. Seu pai lhe deu um olhar suplicante, que ela ignorou. Sorriu para Dal com o que ela esperava fosse sofisticação. Seus olhos escurou brilhavam quando ele a olhou. A expressão no rosto dele abalou toda a sua autoconfiança. Ela corou e fingiu ler seu livro, mas estava trêmula por dentro. Ele não parecia interessado. Na verdade, parecia muito enojado. Quando o pai saiu da sala para pegar alguns documentos que queria mostrar para Dal, Meadow se obrigou a olhá-lo e sorrir. ─ É quase Natal... - Ela começou, tentando encontrar um assunto para conversar. Ele não respondeu. Levantou-se e aproximou-se dela. Isso a desconcertou ainda mais. Ela se atrapalhou com o livro e o deixou cair no chão. Dal a puxou para fora da cadeira e segurou-a pelos ombros com firmeza.


─ Eu sou dez anos mais velho que você. - Ele disse sem rodeios. ─ Você é uma adolescente. Eu não roubo bebês em berços e não gosto das suas tentativas de me seduzir na sala de estar do seu pai. Entendeu? Sua respiração ficou presa. ─ Eu... eu não... - Ela gaguejou. Sua boca esculpida se curvou expressivamente enquanto ele olhou para o rosto chocado dela. ─ Você está pintada como uma cartomante de um parque de diversões. Excessivamente maquiada. Sua mãe sabe que você usa roupas assim e dá em cima de homens? - Ele adicionou friamente. ─ Eu pensei que ela era religiosa. ─ Ela... é. - Meadow gaguejou, e sentiu sua idade. Ela era muito jovem. Seus olhos se afastaram dos dele. ─ Eu também sinto muito. ─ Você deveria sentir mesmo. - Ele retrucou. Seus dedos fortes se contraíram nos ombros dela. ─ Quando você vai para casa? ─ Próxima sexta-feira. - Ela conseguiu dizer. Estava morrendo por dentro. Nunca se sentiu tão envergonhada em sua vida. ─ Bom. Pegue o avião e não volte. Seu pai tem problemas suficientes sem tentar mantêla longe de confusão E da próxima vez que eu vier aqui, não quero que você se instale na sala de estar, como uma aranha que caça moscas. ─ Você é uma mosca muito grande. - Ela deixou escapar, e corou um pouco mais. Seu lábio contraiu. ─ Você é totalmente despreparada, criança. - Ele soltou os ombros dela e a afastou dele, como se ela tivesse alguma doença contagiosa. Seus olhos foram para o decote baixo. ─ Se você saísse na rua assim, em Raven Springs, receberia propostas. Ela franziu a testa. ─ Propostas? ─ Prostitutas geralmente recebem propostas. - Disse ele com aversão. Lágrimas ameaçaram cair, mas ela se empertigou, bem distante dele, e o olhou. ─ Eu não sou uma prostituta! ─ Desculpa. Prostituta em treinamento? - Ele acrescentou pensativo. Ela queria bater nele. Nunca quis tanto nada na vida. Na verdade, ela levantou a mão para tirar aquele olhar arrogante do rosto dele. Ele segurou o braço dela e afastou a mão. Mesmo assim, naquela tenra idade, seu equilíbrio não era o que deveria ser. Seu pai tinha uma lareira grande e elegante na sala de estar para aquecer a casa. Usava carvão em vez de madeira, e era muito eficiente por trás de sua firme estrutura de vidro. Havia uma caixa de carvão bem próxima a ela. Meadow perdeu o equilíbrio e caiu direto na caixa de carvão. O carvão se espalhou no piso de madeira e sobre ela. Agora havia manchas pretas em todo o seu lindo vestido vermelho, para não mencionar o seu rosto, cabelos e mãos. Ela se sentou no meio da bagunça, e lágrimas de raiva correram por suas bochechas cobertas de fuligem quando olhou para Dal. Ele estava rindo tanto que quase se dobrava. ─ Isso mesmo, ria. - Ela murmurou. ─ Papai Noel vai passar por aqui a caminho de sua casa para conseguir carvão suficiente para encher sua meia, Darriell Blake! Ele riu ainda mais. O pai dela voltou para a sala com uma pasta em uma das mãos, parou, olhou duas vezes para a filha sentada no chão em uma pilha de carvão. ─ O que diabos aconteceu com você? - Ele explodiu. ─ Ele aconteceu comigo. - Ela gritou, apontando para Dal Blake. ─ Ele disse que eu pareço uma prostituta! ─ Você é a única em um vestido vermelho apertado, querida. - Dal riu. ─ Eu só fiz uma observação. ─ Sua mãe teria um ataque se a visse nesse vestido. - Disse seu pai com pesar. ─ Eu nunca deveria ter deixado você me convencer a comprá-lo. ─ Bem, isso não importa mais, está arruinado! - Ela se levantou, enxugando as lágrimas em seus olhos. ─ Eu vou para a cama!


─ Bem é o que deveria fazer. - Comentou Dal, enfiando as mãos nos bolsos da calça jeans e olhando para ela com um sorriso arrogante. ─ Vá flertar com homens da sua idade, garota. Ela olhou para o pai em busca de ajuda, mas ele apenas olhou para ela e suspirou. Ela ficou de pé, espalhando mais carvão. ─ Vou varrer isso antes de ir para a cama. - Disse ela. ─ Eu farei isso. Vá se limpar, Meda. - Seu pai disse suavemente, usando seu apelido. ─ Vá. Ela saiu da sala resmungando. E nem olhou para Dal Blake. *** Isso foi há vários anos, antes de ela trabalhar na polícia no Missouri e finalmente se juntar ao FBI. Agora ela estava desempregada, administrando um rancho sobre o qual não sabia absolutamente nada, e famílias inteiras que dependiam do rancho para viver dependiam dela. A responsabilidade era tremenda. Ela honestamente não sabia o que ia fazer. Assistiu a alguns vídeos no YouTube, mas eles não ajudaram muito. A maioria deles eram descrições de pequenos fazendeiros sobre seus métodos de lidar com o gado. Era interessante, mas eles assumiam que o público sabia algo sobre a pecuária. Meadow não sabia. Ela começou a ligar para a associação de pecuaristas locais, até que alguém lhe disse quem era o presidente do comitê. Dal Blake. Por que ela não adivinhou? Enquanto estava se afogando em incertezas, houve uma batida na porta da frente. Ela a abriu para encontrar um homem bonito, de olhos escuros, cabelo loiro espesso, de pé na varanda. Ele estava vestindo um uniforme de xerife completo com distintivo. ─ Senhorita Dawson? - Ele disse educadamente. Ela sorriu. ─ Sim? ─ Eu sou o xerife Jeff Ralston. ─ Prazer em conhecê-lo. - Disse. E apertou a mão que ele estendeu. Ela gostou do aperto de mão dele. Era firme sem ser agressivo. ─ Prazer em conhecê-la também. - Respondeu ele. E mudou de posição. Ela viu que estava nevando de novo e ele devia estar congelando. ─ Você não quer entrar? - Disse como uma percepção tardia, dando espaço para ele passar. ─ Obrigado. - Ele respondeu. E sorriu. ─ Está ficando mais frio aqui. Ela riu. ─ Eu não me importo com a neve. ─ Você vai se importar quando estiver perdendo gado para ela. - Disse ele com um suspiro quando a seguiu para a pequena cozinha, onde ela fez com que ele se sentasse em uma cadeira. ─ Eu não sei muito sobre gado. - Ela confessou. ─ Café? ─ Eu adoraria uma xícara. - Disse ele exausto. ─ Eu tive que sair da cama ao amanhecer e verificar um roubo em uma casa local. Alguém entrou pela janela e saiu com uma valiosa lamparina Vitoriana.* Ela franziu a testa. ─ Apenas uma lamparina? Ele assentiu.

*lamparina Vitoriana


─ Roubo estranho, esse. Normalmente, os criminosos carregam qualquer coisa em que possam colocar as mãos. ─ Eu sei. - Ela sorriu timidamente. ─ Eu trabalhei com o FBI durante dois anos. ─ Eu ouvi sobre isso. Na verdade... - Ele adicionou enquanto ela começou a fazer café. ─ é por isso que estou aqui. ─ Você precisa de ajuda com a investigação de roubo? - Ela perguntou, puxando duas canecas para fora do armário. ─ Eu preciso de ajuda, ponto. - Ele respondeu. ─ Meu investigador acabou de se demitir para morar na Califórnia com sua nova esposa. Ela é de lá. E me deixou com pouca gente. Estamos com um orçamento apertado, como a maioria das pequenas agências de aplicação da lei. Eu só tenho um único investigador. Tinha, é isso. - Ele olhou para ela. ─ Eu pensei que você poderia estar interessada no trabalho. - Acrescentou ele com um sorriso caloroso. Ela quase derrubou as canecas. ─ Eu? ─ Sim. Seu pai disse que você tinha experiência como policial antes de ir para o Bureau e que você era notável por suas habilidades de investigação. ─ Notável não era bem a palavra que eles usavam. - Disse ela, lembrando-se da raiva que seu chefe havia liberado quando ela estragou o interrogatório de um prisioneiro. Isso também trouxe de volta memórias da brutalidade que o homem usou contra ela em um ataque físico. Para ser justa com seu chefe, ele não sabia que o prisioneiro a tinha atacado até que leu o relatório. Ele pediu desculpas enfaticamente, mas o dano já estava feito. ─ Bem, o FBI tem seu próprio jeito de fazer as coisas. Eu também. - Ele aceitou a caneca de café quente com um sorriso. ─ Obrigado. Eu adoro café preto. ─ Eu também. - Ela riu, sentando-se à mesa com ele para colocar creme e açúcar no seu próprio. Ela notou que ele tomou o café puro. Ele tinha mãos bonitas. Muito masculinas e fortes. Nenhuma aliança de casamento. Nenhuma marca reveladora de onde uma poderia ter estado também. Imaginou que ele nunca tinha sido casado, mas era uma pergunta muito pessoal para fazer a um estranho. ─ Eu preciso de um investigador e você está desempregada. O que você me diz? Ela pensou nas possibilidades. E sorriu. Aqui estava, como destino, uma chance de provar ao mundo que poderia ser uma boa investigadora. Era como a resposta a uma oração. Ela sorriu. ─ Eu aceito e agradeço. Ele soltou a respiração que estava prendendo. ─ Não. Eu agradeço. Não aguento a carga sozinho. Quando você pode começar? ─ É sexta-feira. Que tal na manhã de segunda-feira? - Perguntou ela. ─ Isso seria bom. Vou colocar você no turno da manhã para começar. Você precisa se apresentar ao meu escritório às sete da manhã. Muito cedo? ─ Ah não. Eu geralmente vou para a cama às oito e acordo as cinco da manhã. Suas sobrancelhas levantaram. ─ É a minha cadela. - Ela suspirou. ─ Ela dorme na cama comigo e acorda às cinco. E quer comer e brincar. Então eu não posso voltar a dormir ou ela vai comer o tapete. Ele riu. ─ Qual a raça? ─ É uma husky siberiano branca com reflexos vermelhos. Linda. ─ Onde ela está? Ela recuperou o fôlego quando percebeu que deixou Snow sair para ir ao banheiro uma hora antes, e ela ainda não havia arranhado a porta. ─ Oh, Deus! - Ela murmurou quando percebeu onde a cadela provavelmente estava. Junto com esse pensamento veio uma batida muito forte na porta dos fundos, perto de onde ela estava sentada com o xerife. Apreensivamente, ela se levantou e abriu a porta. E lá estava ele. Dal Blake, com Snow em uma coleira improvisada. E não estava sorrindo.


─ Sua cadela se convidou para o café da manhã. Novamente. Ela foi direto para a minha maldita casa pela portinhola do cachorro! Ela sabia que Dal não tinha mais um cachorro. Sua velha labrador havia morrido há algumas semanas, seu capataz lhe contou, e o homem chorou pela cadela idosa. Ele a tinha por quase 14 anos, acrescentou. ─ Sinto muito. - Disse Meadow com uma careta. ─ Snow. Menina má! - Ela murmurou. A husky com seus risonhos olhos azuis veio pulando para sua dona e começou a lambêla. ─ Pare com isso. - Meadow riu, afastando-a. ─ Que tal um biscoito, Snow? - Ela foi pegar um no armário. ─ Ei, Jeff. - Dal cumprimentou o outro homem, apertando a mão dele quando Jeff se levantou. ─ Como vão as coisas? - Perguntou Jeff a Dal. ─ Lentas. - Foi a resposta. ─ Estamos reformando os galpões de parto. É um trabalho lento nesse clima. ─ Eu que o diga. - Disse Jeff. ─ Nós tivemos duas cercas caídas. As vacas as atravessaram e começaram a ir para a rodovia. ─Talvez houvesse uma venda de roupas. - Disse Dal, ironicamente ao ver Meadow, atrapalhada, dando um biscoto a sua cadela. ─ Eu adoraria ver uma vaca usando um vestido. - Ela murmurou. ─ Você gostaria? - Dal respondeu. ─ Um de seus homens acha que esse é o seu objetivo final, colocar as vacas na escola e ensiná-las a ler. ─ Qual homem? - Ela perguntou, seus olhos faiscando para ele. ─ Oh, não, eu não vou dizer. - Dal respondeu. ─ Coloque as botas e o jeans e descubra por si mesma. Se você souber andar a cavalo, quero dizer. Isso trouxe outra lembrança triste. Ela tinha ido montar em um dos cavalos mais bravos do seu pai, confiante de que poderia controlá-lo. Estava em seu segundo ano de faculdade, passando impecavelmente pelas matérias do seu currículo básico. Pensou que poderia controlar o cavalo. Mas ele percebeu o seu medo de altura e de velocidade e a levou em uma desabalada corrida subindo pela encosta de uma pequena montanha e descendo novamente tão rapidamente que Meadow perdeu o equilíbrio e acabou caindo em um banco de neve. Para aumentar sua humilhação, porque o cavalo idiota foi correndo de volta para o celeiro, provavelmente rindo o tempo todo, Dal Blake estava ajudando a movimentar o gado em seu próprio rancho, e viu tudo. Ele veio trotando no momento em que ela limpava o último floco de neve do rosto e do casaco. ─ Você sabe, o Spirit não é uma boa escolha de cavalo para uma cavaleira* inexperiente. ─ Meu pai me disse isso. - Ela murmurou. ─ Pena que você não o escutou. E sorte que você acabou em um banco de neve em vez de descer uma ravina. - Ele disse solenemente. ─ Se você não pode controlar um cavalo, não deve montá-lo. ─ Obrigada pelo conselho útil. - Ela respondeu friamente. ─ Novata da cidade. - Ele murmurou. ─ Estou surpreso que você não tenha se matado. Ouvi dizer que seu pai teve que colocar um corrimão nos degraus da escada depois que você caiu. Ela corou. ─ Eu tropecei no gato dele. ─ Você poderia se beneficiar de algum treinamento de artes marciais. ─ Eu já tive isso. - Disse ela. ─ Eu trabalho para o departamento de polícia local. ─ Como o quê? - Ele perguntou educadamente. ─ Como oficial de patrulha! - Ela disparou de volta. * Cavaleira - Durante muto tempo se usou a palavra amazona para designar o feminino de cavaleiro. No entanto, o feminino de cavaleiro é cavaleira, substantivo utilizado para se referir à mulher que monta a cavalo. A palavra amazona também pode ser utilizada, no entanto esse termo era mais utilizado para designar a mulher que montava a cavalo sentada lateralmente com uma saia longa, na época medieval. Amazona era, também, o nome da saia utilizada nessa ocasião.


─ Bem. - Ele comentou, virando o cavalo. ─ Se você dirige um carro como anda a cavalo, terminará mal um dia. ─ Eu posso dirigir! - Ela retrucou atrás dele. ─ Eu dirijo o tempo todo! ─ Deus ajude os outros motoristas. ─ Você... você... você... - A tensão aumentava com cada repetição da palavra até que ela estava quase gritando, e ainda não tinha conseguido pensar em um insulto ruim o suficiente para dizer a ele. Isso não teria adiantado. Ele continuou andando. E nem olhou para trás. *** Ela voltou ao presente. ─ Sim, eu posso andar a cavalo! - Ela informou a Dal Blake. ─ Só porque eu caí uma vez... ─ Você caiu várias vezes. Este é um país montanhoso. Se você for montar, leve um celular e se certifique de que ele está carregado. - Ele disse seriamente. ─ Eu o saudaria, mas ainda não tomei minha segunda xícara de café. - Ela falou lentamente, aludindo a um antigo costume de realeza. ─ Você me ouviu. ─ Você não me dá ordens em minha própria casa. - Ela respondeu veementemente. Jeff pigarreou. Os dois olharam para ele. ─ Eu tenho que voltar ao trabalho. - Disse ele enquanto colocava sua cadeira de volta no lugar. ─ Obrigado pelo café, Meadow. Espero você na manhã de segunda-feira. ─ A espera para que? - Dal perguntou. ─ Ela vai trabalhar para mim como minha nova investigadora. - Jeff disse com um sorriso suave. Os olhos escuros de Dal se estreitaram. Ele viu através do homem, a quem conhecia desde a escola primária. Jeff era um bom xerife, mas queria acrescentar terras ao seu rancho. Ele possuía propriedades adjacentes a de Meadow. Como Dal. Aquela área tinha água em abundância, e no momento, a água era o bem mais importante que qualquer fazendeiro tinha. Meadow estava, obviamente, perdida tentando dirigir um rancho. Sua melhor aposta seria vendê-lo, então Jeff estava dando o primeiro passo, oferecendo-lhe um emprego que a manteria perto dele. Ele percebeu tudo isso, mas apenas sorriu. ─ Boa sorte. - Ele disse a Jeff, com um olhar firme para uma furiosa Meadow. ─ Você vai precisar. ─ Ela vai se sair bem. - Jeff disse confiante. Dal apenas sorriu. Meadow recordou aquele sorriso dos anos passados. Ela teve muitos acidentes quando visitava o pai. Dal estava sempre em algum lugar próximo quando eles aconteciam. Ele não gostava de Meadow. E tornou o seu desagrado por ela aparente em todas as ocasiões possíveis. Houve uma festa de Natal organizada pela associação de pecuaristas locais quando Meadow começou a faculdade. Ela veio passar o Natal com o pai e, quando ele pediu que fosse à festa com ele, concordou. Ela sabia que Dal estaria lá. Então usou um vestido escandaloso, ainda mais revelador do que o que tinha usado quando estava no último ano do ensino médio e ele a ofendeu. Infelizmente, o vestido atraiu a atenção da pessoa errada. Um pecuarista local que bebeu cinco doses a mais fez uma proposta a Meadow junto à tigela de ponche. A reação dele a seu vestido a abalou e ela tropeçou em seus sapatos de salto alto e derrubou a tigela de ponche. A toalha de linho ficou encharcada. Assim como a pobre Meadow, em seu vestido escandaloso. Dal Blake riu até seu rosto ficar vermelho. Como a maioria das outras pessoas. Meadow pediu ao pai para levá-la para casa. Foi a última festa de Natal que ela participou em Raven Springs.


Mas pouco antes do incidente com o ponche, houve outro. Dal e ela debaixo do visco... Ela afastou o pensamento e olhou para Dal.

CAPÍTULO DOIS Dal não saiu quando Jeff o fez. Ele permaneceu de pé na varanda da frente, ambas as mãos nos bolsos da calça jeans. ─ Onde está o meu gato? - Ele perguntou quando Meadow estava prestes a engasgar, reprimindo as palavras ásperas. Ela fez uma pausa e olhou para ele. ─ Seu gato? ─ Meu gato. Jarvis. - Seu lábio superior se curvou. ─ Gato Maine coon.* Macho. Vermelho. Lembra dele? Você deve. Ele passa mais tempo aqui do que em casa! Jarvis. Ela fez uma careta. O gato dele vinha visitá-la frequentemente. Ele estava apaixonado por Meadow. Encontrava sempre uma maneira de se esgueirar pela casa e se empoleirar nas costas de sua cadeira. Esfregava a cabeça no rosto dela, ronronava e tentava se sentar no colo dela. Ele pesava quase vinte quilos e era lindo. Sua grande cauda peluda, reminiscente de um guaxinim, era sua melhor característica. Foi a característca que deu o nome a raça. ─ Eu não o vi hoje. - Ela confessou. ─ Uma história improvável. ─ Eu posso provar! Ela voltou para a casa, deixando-o segui-la. Ele a perturbava com aquele passo leve e calmo. Ela sabia que ele caçava alces e veados no outono. Ele sabia andar silenciosamente. Era desconcertante quando fazia isso em sua casa. ─ Jarvis! - Ela chamou, confiante de que poderia provar que ele não estava dentro da casa. Um miado alto veio do banheiro. Os olhos de Dal se arregalaram. ─ Você trancou meu gato em um banheiro? - Ele exclamou. ─ Eu não sei como ele chegou lá. - Ela gemeu. ─ Eu nem o vi entrar na casa. Eu só deixei a porta aberta por um minuto ou dois enquanto levava o lixo para fora. - Ela acrescentou. ─ Eu certamente não o vi no banheiro! ─ Ele ama água. - Disse. ─ Ele se senta na pia quando eu não a estou usando, e adora a banheira. ─ Estranho, não é? Para um gato, quero dizer. ─ Gatos da raça Maine coon não são como os outros gatos. Eles são mais como cachorros. - Ele disse quando ela abriu a porta do banheiro e Jarvis veio trotando para fora, como se fosse dono do lugar. ─ Você pode ensiná-los a jogar e obedecer comandos. ─ Claro. - Ela murmurou. ─ Eu posso simplesmente ver você pastoreando gatos.* Ele lhe deu uma breve avaliação, passando pelo jeans largo e o suéter bege de gola alta que ela usava. ─ Você não usa mais coisas chamativas. *Maine Coon é uma raça de gato estadunidense. Considerada a raça americana de pelo longo mais antiga, além de ser a maior de todas as raças de gato do mundo. Foi reconhecida como raça oficial no estado norte-americano do Maine, onde era famoso pela sua capacidade de caçar ratos e tolerar climas rigorosos.

* Pastorear gatos - Expressão idiomática que denota uma tentativa fútil de controlar ou organizar uma classe de entidades que são inerentemente incontroláveis, como na dificuldade de tentar comandar um grande número de gatos em um grupo (rebanho).


─ Perda de tempo. - Disse ela, desviando os olhos. ─ Eu não tenho tempo para treinar um homem para morar comigo. Ele fez um som ofensivo no fundo da garganta. ─ Não prenda a respiração à espera de que qualquer homem se mude para cá. - Ele retrucou. ─ Miss América você não é! ─ Você é o homem mais insultuoso que eu já conheci. - Ela explodiu. ─ Qual é o seu problema? ─ Você. - Disse ele. ─ Você é meu problema. Você tem alguma ideia do quanto seu pai sacrificou para manter esse lugar? Ele dedicou sua vida a isso. E aqui está você assistindo vídeos no YouTube para aprender sobre ranchos! ─ Quem disse isso a você? - Ela exigiu. ─ É verdade? - Ela mordeu o lábio inferior. Ele não se aproximou, mas seu olhar a penetrou. ─ É verdade? - Ele repetiu a pergunta friamente. Ela levantou as mãos. ─ Eles ajudam! Meu pai nunca me ensinou gestão de rancho! E meu diploma é em idiomas, predominantemente espanhol. Essa foi a minha especialização. As sobrancelhas dele arquearam, fazendo uma pergunta silenciosa. ─ Eu queria prender os traficantes no sul do Texas. - Ela murmurou. ─ E olhe como isso funcionou para você. - Ele murmurou. Ela bateu o pé. ─ Você pode pegar o seu gato pele-vermelha e ir para casa? Ele pegou Jarvis, que ronronou e se acomodou em seus braços. ─ Você vai dizer ao seu rato branco para ficar fora da minha casa? - Ele retrucou, indicando Snow, que estava sentada na portinhola do cachorro, rindo com seus olhos azuis e sua língua pendurada. Ela se perguntou o que faria para manter seu animal de estimação em casa. Então percebeu do que aquele rancheiro alto e insolente tinha dito. ─ A Snow não é um rato! Ela é um tesouro! ─ Eu não a quero na minha casa. - Ele disse friamente. ─ Então tire a portinhola do cachorro! Ele parecia momentaneamente vulnerável. ─ Ainda não. - Disse ele. ─ Eu não estou preparado. Ela se sentiu culpada. Entendia o que ele estava dizendo. Ele lamentava pelo sua labrador. E não queria mudar nada. Provavelmente ainda tinha os brinquedos da cadela em uma caixa em algum lugar e sua cama. Era a única coisa sensível nesse homem duro, seu amor pelos animais. Isso era verdadeiro. Ela tinha ouvido falar que ele se sentava à noite com novilhas que estavam parindo pela primeira vez, tirava todos do alojamento para ajudar a encontrar um bezerro desaparecido. Ele amava seu rebanho. E também amava sua cadela idosa. Meadow entendia. Ela teve um gato na casa de seu pai que já estava na família há vinte e três anos quando morreu. Era um gatinho perdido, quando entrou na casa, na mesma época em que Meadow nasceu. Mittens tinha sido parte de sua vida e ela sofreu por meses, quando ele morreu, quando ambos tinham vinte e três anos. Ela se sentia idiota com sua dor até ler em um site de animais de estimação que os animais de companhia eram como crianças peludas para as pessoas. Elas os criavam, treinavam, proviam, amavam, como se fossem humanos. Quando morriam, as pessoas lamentavam, às vezes excessivamente. Era natural. Os donos de animais de estimação sabiam disso, mesmo que aqueles que nunca tivessem animais de estimação não soubessem. ─ Eu não deixei o papai jogar fora as tigelas ou a cama de Mittens, e mantive sua tigela exatamente onde estava quando ela estava viva. - Ela confessou suavemente. ─ Eu lamentei por meses. O rosto dele estava sombrio. ─ Eu ainda tenho a tigela de Bess na cozinha. Eu a tive por catorze anos. Eu lamentei mais do que por alguns parentes que morreram. Ela assentiu.


─ Eu li este artigo em uma revista sobre tristeza. As pessoas que não têm animais de estimação não entendem como é traumático perder um. O artigo dizia que luto por um animal não é uma aberração. É uma reação natural quando você cuida do animal todos os dias desde que você o pegou. Eles são como crianças peludas. - Acrescentou lentamente. ─ Demora muito tempo para superar isso. - Ela olhou para Snow, deitada no corredor, seus olhos azuis encarando Dal amorosamente. ─ Eu peguei Snow de um abrigo em St. Louis. Ela morava comigo no meu apartamento até eu voltar para cá. Eu estava... - Ela hesitou. ─ sofrendo por causa da minha mãe e Mittens. Pensei que conseguir outro animal poderia me ajudar. - Ela sorriu. ─ Isso aconteceu. Snow aparou as arestas da dor. ─ É por isso que eu tenho jarvis. - O homem alto respondeu calmamente. ─ Ele ajuda a aliviar a dor de perder Bess. ─ Sinto muito que Snow continue incomodando. - Disse ela. ─ Vou tentar me certificar de que ela não perambule quando a deixar sair. Ele ainda estava segurando Jarvis, suavemente alisando sua grande mão sobre a cabeça do animal. ─ Jarvis se move como um relâmpago. - Ele confessou. ─ Eu costumo confiná-lo ao seu quarto e ao pátio cercado durante o dia para que ele não consiga fugir. Mas ele é tão rápido que minha empregada de meio período não consegue acompanhá-lo. Ele é sorrateiro também. Ela riu. ─ Da próxima vez, vou verificar todos os quartos quando eu deixar as portas abertas. Ele encolheu os ombros. ─ Eu acho que poderia colocar um pedaço de madeira sobre a portinhola do cachorro e pregá-la. - Ele olhou para Snow. ─ Ela foi uma adoção? Meadow assentiu. Seu rosto se contraiu. ─ O abrigo disse que seu dono a mantinha acorrentada no quintal e muitas vezes se esquecia de alimentá-la ou lhe dar água. Quando ela uivava, tentando se soltar, ele batia nela. Quando ela foi para o abrigo, estava cheia de pulgas, sarna e não comia nos primeiros dias. O veterinário pensou realmente que ela ia morrer. Por acaso eu fui ao abrigo no dia em que ela estava programada para ser... - Ela engoliu em seco. ─ sacrificada. Isso era comum no abrigo. Snow me viu entrar em sua gaiola e parecia ter ganhado na loteria. Ela pulou em cima de mim. Eu a levei direto ao veterinário e deixei ela ficar lá até que ele a curasse. Eu a visitava todos os dias. Quando a trouxe para casa, ela se transformou no melhor cão que eu já tive. Ela gosta de andar no carro. - Ela assistiu o rosto de Dal ficar rígido com a revelação sobre o abuso de Snow. ─ Até hoje, uma mão erguida a faz fugir. Ela tem medo de gravetos. Eu tenho que usar um frisbee se for brincar com ela lá fora. ─ Ele foi preso? - Ele perguntou. Ela balançou a cabeça negando. ─ Onde eu morava quando a peguei, não existiam leis contra o abuso de animais. Era uma pequena cidade fora de St. Louis e o homem era um político local. Mas eles recolheram Snow e a colocaram para adoção. ─ Pena ele não morar em Raven Springs. - Disse Dal entredentes. Ela sorriu. ─ Eu estava pensando a mesma coisa. Ele fez uma careta. ─ Bem, eu vou para casa. Você vai realmente aceitar esse trabalho com Jeff? ─ Sim. Ele arqueou uma sobrancelha e sorriu. O sorriso lhe disse que a trégua tinha terminado. ─ Eu posso vê-lo agora, entregando-lhe uma única bala para sua arma e prendendo a respiração se você tiver que disparar. ─ Eu posso acertar o que eu miro! - Ela retrucou. Ele balançou a cabeça e se virou. ─ Eu posso! Ele olhou por cima do ombro. ─ Seu pai e eu finalmente achamos a bala alojada no trator. - Ele disse casualmente.


Ela ficou vermelha. Sentiu que apertava as mãos dos lados do corpo. ─ Eu tinha apenas dezesseis anos e nunca tinha disparado uma arma! ─ Eu ganhava competições de tiro ao alvo quando tinha dez anos. ─ Sr. Perfeito. - Ela murmurou. ─ Garotinha imperfeita. - Ele retrucou. ─ É Srta. para você! ─ Ah com certeza. Você é uma mulher-macho, tudo bem, assim como seu pai sempre disse. Ela ficou chocada. ─ O que? Ele virou. Sua aversão era evidente. ─ Ele disse que você amava competir com os homens no trabalho, sempre tentando ficar um passo à frente das pessoas em sua unidade. Ele disse que você nunca pensaria em se casar porque não iria querer desistir do controle de sua vida por outra pessoa. Ela sentiu um aperto no coração. Seu pai disse isso sobre ela, para seu pior inimigo? Por que notou a falta de resposta dela, acrescentou. ─ Não que seja problema meu, de qualquer maneira que se olhe para isto. - Ele adicionou com uma risada fraca. ─ Eu gosto de minhas mulheres femininas e doces. Estou namorando uma florista. Ela cultiva orquídeas em um quarto nos fundos. E gosta de trabalhar no jardim. - O rosto dele endureceu. ─ Se eu estivesse com vontade de casar, ela seria a mulher que eu escolheria. Mas as mulheres são traiçoeiras. Eu aprendi isso da pior maneira possível. Elas manipulam, lisonjeiam, fingem que se importam. Então, quando conseguem o que querem, o traem com outro homem e riem com ele sobre o quão estúpido você foi. Ela começou a entendê-lo um pouco. Ele tinha sido traído, e estava na defensiva. Ela procurou seu rosto duro. ─ Eu tive que interrogar um prisioneiro em uma investigação criminal. Eu disse algo que o atingiu do jeito errado e ele me atacou, bem ali na sala de interrogatório. - Ela engoliu em seco, lutando contra o medo de novo. ─ Eu nunca pensei que qualquer homem me atacaria fisicamente, não desse jeito. Ele quebrou um osso no meu rosto e acho que ele teria me matado se eu não tivesse sido capaz de gritar. - Ela colocou os braços em volta de si mesma. ─ Isso meio que... me afastou dos... homens. Ele recuperou o fôlego. ─ Você falou com um psicólogo? Ela assentiu. E sorriu tristemente. ─ Ela foi muito legal. Mas você sabe quanto custa entrar em terapia e permanecer nela por anos? Eu não tenho dinheiro. Então fui enquanto o Bureau estava disposto a pagála. - Ela respirou fundo. ─ Honestamente, isso não ajudou muito. Ainda tenho medo de que isso aconteça novamente. Ele estava muito calmo. Até sorriu para mim. Eu pensei que ele era um tipo gentil de pessoa... - Ela parou. A lembrança doía. Ele franziu o cenho. Isso não soava como uma mulher-macho da qual ele tinha ouvido falar. Ele namorou uma policial uma vez e a viu subjugar um suspeito fugitivo. Ela era pequena, mas o prisioneiro não teve chance. Ela lutou com ele e o algemou. Ela até sorriu enquanto estava fazendo isso. Meadow não era como a policial. Ela tinha uma sensibilidade que ele não esperava. Seu pai exagerou algumas de suas características. Ele se perguntou agora se o pai dela não tinha feito isso para afastar Dal. Isso até fazia sentido. Dal era determinado e agressivo, até com os homens. Mas ele também era persistente com as mulheres que perseguia, e geralmente conseguia o queria. Se ele soubesse como Meadow realmente era sob a máscara que ela mostrava ao mundo, ele poderia achá-la ainda mais atraente do que sua florista. O pai dela estaria com medo de que ele pudesse querer Meadow, que já era fascinada por ele, e deixá-la arrasada depois de um breve caso que ela não poderia evitar? Ele não tinha certeza se poderia responder a essa pergunta, mesmo em sua própria mente. Ela era muito atraente. Não queria se sentir atraído por ela, mas ele era. Ela era religiosa. E esperaria as palavras, um anel, casamento. Ele não podia fazer isso,


a florista sabia que ele era obcecado pela liberdade. Era uma coisa casual. Meadow seria... diferente. Meadow percebeu o jeito que ele estava olhando para ela, e isso a deixou nervosa. Ela cruzou os braços sobre os seios e se mexeu um pouco. ─ Vou me esforçar mais para manter Snow em casa. - Disse ela para distraí-lo de sua expressão carrancuda. Ele encolheu os ombros. ─ Tempo perdido. - Ele murmurou enquanto se virava com seu gato. ─ A mesma coisa se aplica ao seu gato. - Disse ela. Ele apenas continuou andando. Ela fechou a porta e se recostou contra ela com um suspiro. Era difícil quando estava perto dele. O passado continuava incomodando. Ele provavelmente tinha esquecido há muito tempo, mas quando Meadow completou dezoito anos, houve uma festa de Natal em Catelow em que ela e seu pai compareceram. Aquela que terminou no incidente humilhante com o ponche. Ela tinha começado a faculdade naquele semestre e estava entusiasmada com suas novas experiências. Ela entediara tanto um rancheiro com suas revelações sobre o History 101* que ele sorriu, pediu licença e realmente saiu do prédio. Dal estava dançando com uma mulher loira e bonita, mas foi ao banheiro e depois a mesa do ponche ao mesmo tempo que Meadow. Meadow o adorava desde a primeira vez em que o vira, usando roupas de trabalho manchadas, uma camisa de cambraia suada com botas feitas a mão e um Stetson preto surrado. Ele era alto e bonito. As mulheres sempre pairavam em torno dele em qualquer reunião social. Ele nunca parecia se cansar da atenção, embora gostasse de curtir a vida. Não estava em um relacionamento sério na época. Ela olhou para ele e se lembrou do incidente com a caixa de carvão, seu vestido vermelho arruinado e os comentários desagradáveis dele sobre ela parecer uma prostituta. Porco arrogante! A banda estava tocando uma música lenta. As pessoas estavam dançando. Meadow usava um vestido de noite com adornos e sapatos pretos de saltos altos. Seu cabelo loiro caía sedoso e espesso ao redor dos ombros. Ela usava apenas rímel suficiente para delinear seus grandes e suaves olhos verdes. Não era bonita, mas podia ser atraente quando trabalhava nisso. Dal deu-lhe um longo olhar, mas desviou os olhos para a tigela de ponche, como se um breve olhar fosse o suficiente para lhe dizer que ela não valia a pena. Ela estava colocando canapés em um prato de papel. Seus dedos estavam instáveis. E rezou para que ele não notasse. Na verdade, ele não o fez. Estava interessado na loira. Eles não se falaram. Um casal ao lado deles estava apontando para o visco acima e rindo. ─ Vamos lá, gente, é Natal! Paz na Terra! Ame seu próximo. ─ Ou próxima! - Um jovem insinuou. Meadow desviou os olhos do casal se beijando ao lado dela e estava prestes a ir embora quando Dal de repente estendeu a mão grande, agarrou sua cintura e puxou-a para ele. ─ Que diabos. - Disse ele, com a cabeça inclinada. ─ Não podemos também desperdiçar o visco. - Ele tomou sua boca sob a dele e a beijou com instantânea e ardente paixão, torcendo seus lábios macios sob os dele até que eles se abriram e sua cabeça caiu contra o ombro largo com a força do beijo. Ela estava muito surpresa para realmente desfrutar. Além disso, ela nunca tinha sido beijada de uma maneira adulta, e não sabia como corresponder. Não ajudava que houvesse pessoas uivando por perto enquanto Dal se alimentava de sua boca. Se ela sonhou em beijá-lo, e ela o fez, não era em um lugar público com os espectadores fazendo piadas sobre isso. * History 101 - Vários anos atrás, o departamento de história da Universidade de Michigan, antecipando os efeitos do que veio a ser conhecido como a “crise das humanidades” , começou a reestruturar seu currículo de graduação. O History 101 é um dos resultados dessa reformulação, um curso mais abrangente e aberto a outros cursos com os de economia, antropologia, psicologia e sociologia.


Ele se afastou, franzindo a testa ao ver a surpresa e a incerteza no rosto oval e suave. Suas bochechas estavam coradas e ela deixava transparecer seu desconforto. ─ Bom trabalho aí, Dal. - Um companheiro pecuarista disse rindo. ─ Coisas de Hollywood, certamente. - Outro companheiro acrescentou. A loira, percebendo a atenção que eles estavam recebendo, voltou e se agarrou ao braço musculoso de Dal. ─ Ei, pare de provar as refeições locais e me mostre do que você é capaz cowboy. - Ela ronronou. Ele riu alto, tomou um longo gole de ponche e se virou para a mulher. Envolveu-a nos braços e a beijou com tanta avidez que Meadow se virou, com o estômago embrulhado. O visco estava cumprindo a sua função. Ela ainda podia sentir o gosto dele em sua boca. As sensações que teve quando ele a beijou a fez doer em lugares estranhos. Ela sonhava com isso, esperava por isso, desde os seus dezesseis anos. Agora sabia como era. Mas o modo como isso aconteceu a arrasou. Ele tornou óbvio que isso não significou nada. Ele atraiu a companheira para perto e não olhou para Meadow pelo resto da noite. Ela dançou com alguns outros homens, mas seu coração não estava mais nisso. Isso a levou ao rancheiro bêbado, ao ponche derramado e a sua total humilhação quando Dal Blake ficou ali com a cabeça inclinada rindo enquanto tentava lidar com outro constrangimento. Seu pai notou a sua depressão muito antes dela receber as atenções do rancheiro bêbado. Ela pediu que ele a levasse para casa. ─ Deixe-me dizer-lhe algo sobre Dal. - Disse ele quando estavam dentro de casa e ela estava secando seu lindo vestido arruinado. ─ Ele é mulherengo. Ele não acredita em cercas e crianças, e provavelmente nunca irá acreditar. A mãe dele fugiu com o melhor amigo de seu pai quando ele tinha doze anos. Sua primeira verdadeira namorada o traiu com um agente imobiliário e riu dele por pensar que ele era mais importante para ela do que qualquer outro homem. Ele nunca vai se estabelecer. ─ Eu sei disso. - Disse ela, desconcertada. Seu pai não tinha falado com ela assim antes. ─ Você está atraída por ele. - Seu pai continuou gentilmente, acenando para a expressão chocada. ─ Nada de errado com isso. Você tem que começar por alguém. Só não fique muito perto dele. Ele partiria seu coração e iria embora. Realmente ele não gosta de mulheres, Meda. Ele se alegra com corações partidos. ─ Eu notei isso. - Disse ela. E forçou um sorriso. ─ Não se preocupe, pai, eu sei que ele não é meu tipo. Além disso, o encontro dele era linda. ─ Você é linda por dentro, querida, onde isso realmente conta. - Ele disse solenemente. ─ Eu faria qualquer coisa para mantê-la longe de Dal Blake. Você merece alguém melhor. ─ Aw, isso é doce. - Ela murmurou e riu quando o abraçou. ─ Obrigada, papai. Ele retribuiu o abraço e a soltou. ─ Agora, troque de roupa e venha tomar café na cozinha como costumávamos fazer quando sua mãe estava viva. - Ele acrescentou, aludindo ao súbito e triste falecimento de sua mãe no ano em que ela começou a faculdade. ─ E me conte sobre essa aula de história que você gosta tanto! *** Isso foi há anos, mas Meadow nunca superou a dor. Ela sabia que Dal Blake nunca se interessaria romanticamente por ela, mas era doloroso ver como o seu pai se opunha a que qualquer coisa se desenvolvesse entre eles. Ela sabia que o pai estava certo. Com o passar dos anos, a reputação de Dal com as mulheres tornou-se ainda mais notória. Dizer que ele curtia a vida era um eufemismo. Ele era bonito, rico e conseguia quase qualquer mulher que quisesse. Ele namorou estrelas de cinema, políticas, médicas, até mesmo uma psicóloga. Mas nunca se comprometeu com nenhuma delas e seus casos não duravam muito tempo. Ele as tirava de sua vida quando tentavam se tornar sérias. Meadow não era descartável. Ela queria um homem que pudesse se estabelecer e criar filhos com ela. Claro, isso pressupondo que um homem realmente quisesse ter


filhos com ela um dia. Até agora, seus poucos encontros foram em grande parte desastrosos. Ela saiu com um agente do FBI que passou o encontro inteiro falando sobre suas marcas e modelos de carros favoritos e descreveu detalhadamente como ele reconstruiu o motor de um carro esportivo clássico. Depois houve o empresário que negociava ações. Ele falou durante duas horas sobre os benefícios da diversidade em uma carteira de investimentos. Como se Meadow, mesmo com seu bom salário, fosse capaz de ter uma carteira de investimentos sobre a qual ele estava falando. O último homem com quem ela saiu foi um eletricista. Ela o conheceu quando a geladeira e o fogão pararam de funcionar ao mesmo tempo em seu apartamento. Uma fase elétrica defeituosa foi a responsável. Durante o conserto eles conversaram, e ele a convidou para sair. Sua esposa telefonou na noite seguinte para perguntar se Meadow gostaria de ir ao encontro dela e de seus filhos. Horrorizada, quase chorou. Ela realmente não tinha ideia de que ele era casado. A mulher tinha se acalmado. Ela lamentava. O marido tinha o hábito de fazer isso. Estava grávida de seu terceiro filho e ele estava correndo atrás de outras mulheres. Novamente. Meadow pediu desculpas. Bloqueou as chamadas do homem e nunca mais o viu depois disso. Ela praticamente desistiu de namorar depois disso. Já fazia mais de um ano desde que alguém a tinha convidado para sair. Não era um animal social, preferia um bom livro a uma festa regada a álcool. Não tinha amigas íntimas. Sua colega de faculdade havia se casado e se mudado para a Inglaterra. Suas amigas do colegial estavam todas casadas e espalhadas pelos quatro cantos. Sua mãe morreu logo depois que ela se mudou para o dormitório da faculdade em seu primeiro semestre lá. Seu pai havia morrido semanas atrás. Então agora era apenas Meadow e sua cadela. Ela se lembrou daquele beijo caloroso e ávido que Dal lhe deu sob o visco há muito tempo. Ela deu a ele seu coração e ele nunca soube. Não teria importado. Seu pai se certificou de que ele nunca a quisesse. Sabia que Meadow não resistiria a Dal, considerando seus sentimentos por ele. Ele a estava protegendo, fazendo com que Dal a visse como uma agente federal agressiva que não gostava muito de homens, que queria apenas competir com eles e superá-los na profissão que escolheu. Era meigo seu pai se importar tanto. Provavelmente ele a salvou, caso Dal tivesse desenvolvido algum sentimento por ela. Não que isso fosse provável, considerando o quanto ele ficava zangado quando tinha que trazer Snow de volta para casa ou vir buscar Jarvis. A única emoção que ela parecia provocar nele era uma extrema irritação. Seria bom se os sentimentos dela por ele tivessem desaparecido. Ele nunca a tinha encorajado. Suas únicas lembranças dele eram cobertas pela humilhação e pelo ridículo. Mas o amor era tão resistente quanto uma erva daninha e tão difícil de erradicar. Seu coração alimentava-se apenas com a visão dele, como havia sido por tantos longos anos. Ela teria uma chance melhor de laçar a lua e puxá-la para casa. Saber disso não ajudava. *** Ela usava um terninho verde escuro para trabalhar na segunda-feira de manhã, com sapatos de sola macia. Também usava sua velha pistola, uma Glock calibre .40, em um coldre na cintura. O Departamento de Polícia do Condado de Juniper ocupava um escritório no Tribunal do Condado, no centro de Raven Springs, há quase cem anos. Ainda havia o Centro de Detenção a uma milha da cidade, onde os prisioneiros ficavam alojados e que estava sob os cuidados do capitão Rick Sanders. Jeff ficou feliz em vê-la. Ele a apresentou a recepcionista, a seus dois policiais de patrulha e a seu Chefe adjunto ou sub-xerife, Gil Barnes, que mal teve tempo de dizer alô porque estava correndo para atender a ligação do 911 local. ─ É uma operação pequena. - Explicou Jeff timidamente. ─ Temos nosso escritório aqui no tribunal, já faz quase cem anos. O centro de detenção é mais recente, mas nós


atuamos principalmente aqui na cidade. Não mudou muito desde que meu avô foi xerife. Ela se lembrou de conversar com ele sobre o avô, que era um grande policial. E apenas assentiu. Ele olhou para a arma em seu cinto. ─ Uma Glock? ─ Eu gosto delas. - Disse ela. ─ Elas são leves, fáceis de usar e, se você as deixar cair na lama, ainda disparam. Ele riu. ─ Bom argumento. - Ele indicou a enorme Colt .45 modelo 1911 no coldre em seu próprio cinto largo de couro trabalhado manualmente. ─ Eu gosto de algo com poder de imobilização. ─ Você já teve que atirar em alguém? - Ela perguntou solenemente. Ele assentiu. Seu rosto endureceu. ─ Um cara que tinha acabado de matar o filho de cinco anos de idade. Ele estava cheio de metanfetamina e veio pra cima de mim com uma faca de combate. - Ele desviou os olhos brevemente. ─ Eu tinha uma pistola de 9 milímetros, como a sua. - Acrescentou. ─ Eu a descarreguei nele e ele me pegou pela garganta. Se o meu sub-xerife, Gil Barnes, não tivesse sido enviado para ajudar pelo operador do 911, eu estaria morto. Você deve ter notado, de relance que Gil tem uma .45, como a minha. Ele derrubou o homem. Foi uma difícil lição. Às vezes você precisa, em uma situação com risco de morte de uma arma que derrube um homem. Foi por isso que as pistolas calibre .45 foram inventadas inicialmente, pelo seu poder de imobilização. Seus lábios se separaram em uma respiração apressada. Ela se lembrou do homem que a atacou na sala de interrogatório, onde ela estava desarmada. Ela se perguntou se teria coragem de matar um homem que ameaçasse sua vida. Seu desempenho em confrontos armados era desanimadora. ─ Você teve sorte. - Ressaltou. Ele assentiu. ─ Muita sorte. Então pense e decida se quer manter isso. - Ele indicou sua pistola. ─ Ou trocá-la por uma como a minha. Ela sorriu tristemente. ─ Jeff, minhas mãos não são feitas para armas grandes. Ela mostrou a ele. ─ Eu até tive problemas com a .38 com a qual treinei na academia. Meu instrutor de tiro disse que eu precisava continuar fazendo exercícios com as mãos para aumentar minha força. Mas isso nunca funcionou. Eu tenho mãos pequenas. Ele suspirou. ─ Vou me certificar de que você sempre tenha apoio. - Ele prometeu. ─ Mas aquele tiroteio foi o único em que estive envolvido nos sete anos em que sou xerife. - Ele disse encorajadoramente. ─ Então talvez você tenha sorte. Ela sorriu. ─ Talvez eu tenha. OK. Estou aqui. Fui fotografada, fichada, interrogada, desencorajada e licenciada para portar outro tipo de arma escondida, se assim desejar. Então, o que eu faço primeiro, chefe? Ele riu. ─ Eu gosto disso. Chefe. - Ele se virou para sua mesa e pegou uma pasta de arquivo. ─ Esta é uma foto que tirei da Internet. Ele mostra uma lamparina como a que foi roubada recentemente. ─ Eu sei, é um caso simples, mas estou começando com coisas fáceis com você. OK? Ela não se ofendeu. Era cedo. ─ Isso é bom. O que você quer que eu faça? ─ Vá a Raven Springs e fale com Mike Markson no Yesterday Place. É a nossa única loja de antiguidades. Veja o que ele pode nos dizer sobre a lamparina. Se soubermos o quanto vale e a quem interessa, poderemos determinar um suspeito. ─ Eu vou agora mesmo. ─ A loja fica na rua principal. - Ele disse a ela. ─ Você pode dirigir um dos nossos carros, se quiser.


─ Eu prefiro dirigir meu próprio SUV. - Disse ela. ─ Já que eu sou uma investigadora à paisana. - Ela franziu a testa. ─ Você quer que eu use um uniforme? ─ Não é necessário. - Disse ele simplesmente. ─ Use o que você quiser. Bem, menos vestidos vermelhos decotados. - Acrescentou ele, forçando um sorriso inocente. Ela olhou para ele. ─ Ele disse a você! Ele começou a rir. ─ Desculpe. Sim ele disse. Eu simplesmente não pude resistir. Dal disse que você caiu na caixa de carvão. Ela rangeu os dentes entrecerrados. ─ Dal Blake é um animal. - Disse ela. Ele levantou ambas as sobrancelhas. ─ Bem, quando se trata de mulheres, ele provavelmente é. - Ele concordou. E riu. ─ Somos amigos desde a escola. Eu daria tudo para ter o charme dele. ─ Há outras palavras para isso. - Ela murmurou. ─ Bem. - Ele disse gentilmente. ─ Ele só partiria seu coração se você se envolvesse com ele. Ele não é o tipo de cara de para sempre. ─ Eu sei disso desde que o vi pela primeira vez. - Ela confessou. E conseguiu sorrir. ─ Não se preocupe, eu não estou partindo meu coração por ele. Eu tinha uma queda enorme por ele quando comecei a faculdade. - Ela forçou uma risada. ─ Não sobreviveu a última festa de Natal. Ele franziu os lábios e assobiou, rindo. ─ Isso foi memorável também. Eu não estava lá, mas eu ouvi sobre isso. A esposa do velho Grayson o infernizou durante todo o caminho para casa por ele ter assediado você, para não mencionar tê-la envergonhado por fazê-la derrubar o ponche em seu vestido. Ela encolheu os ombros. ─ Não era um bom vestido. - Ela confessou. ─ Dal disse isso. - Ele desviou os olhos. Ele estava exagerando, mas não queria que ela olhasse na direção de Dal. Ele queria aquele rancho, e ela eventualmente teria que vendê-lo. Ambos os homens precisavam dos direitos sobre a água. Jeff os queria mais. Ela não era feia, e ele não tinha uma garota firme. Então, se cortejá-la o fizesse conseguir a terra, por que não? ─ Dal pode calar a boca. - Disse ela em voz baixa. ─ A opinião dele não é da minha conta. Ele sorriu. ─ Exatamente. Agora vá até lá e encontre aquela lamparina. ─ Sim, senhor. - Ela sorriu quando saiu pela porta.

CAPÍTULO TRÊS A Yesterday Place era uma pequena loja na rua principal em Raven Springs. Tinha o nome estampado no vidro que parecia um pouco irregular nas bordas. Mas por dentro, era acolhedora e amigável. O dono, Mike Markson, era careca e tinha grandes olhos castanhos. Era baixo e um pouco robusto. Meadow gostou dele imediatamente. Ele era simpático e acolhedor, não o tipo de homem que tinha uma vida oculta. Pelo menos, seu treinamento no FBI ensinou sobre linguagem corporal e como perceber traços criminosos. Este homem parecia tão reto quanto uma flecha. ─ Eu sou Meadow Dawson. - Ela se apresentou, apertando a mão dele com um sorriso caloroso. ─ Sou a nova investigadora do xerife Ralston. ─ Prazer em conhecê-la. Eu sou Mike. Estou aqui há tanto tempo que sinto que tenho metade da Main Street. - Ele riu. ─ Nossa família remonta a três gerações em Raven Springs. Eu perdi meu pai recentemente. - Ela acrescentou.


─ Eu conheci seu pai. - Ele respondeu. ─ Bom homem. Eu lamentei ouvir que ele morreu. Foi rápido? Ela assentiu. Era difícil falar sobre isso. A ferida estava fresca. ─ Ataque cardíaco. Ele fez uma careta. ─ Minha esposa foi assim. - Disse ele. ─ Meu filho nunca superou perdê-la. Ele e eu nos damos bem, mas ele é mais duro com as pessoas do que eu. - Ele deu de ombros. ─ Talvez isso seja bom. Eu costumo ser um pouco generoso demais nas minhas ofertas. Ele riu. ─ Gary pode negociar um objeto por uma fração do que ele realmente vale. Meadow teria chamado isso de uma personalidade criminosa, mas ela não ia dizer isso ao pai do homem. ─ Eu gostaria que você olhasse para algo, se não se importa. - Ela disse educadamente. ─ Seria um prazer. Ela pegou a foto que tirou da Internet da pasta embaixo do braço e a colocou no balcão. ─ Esta lamparina? - Ele levantou os óculos com um sorriso quando se inclinou sobre a foto. ─ Óculos de leitura. - Ele riu. ─ Tenho que tirá-los para ver qualquer coisa de perto. - Ele franziu a testa. ─ Esta é uma lamparina magnífica. John Harlow tinha uma igual. Eu insisti muito para ele me vender, mas ele não cedeu. Meu filho, Gary, o especialista em antiguidades, teve um ataque por causa disso. Ele ofereceu a John uma pequena fortuna por ela. John disse que era uma relíquia de família, e não podia se separar dela. Ela pertenceu à família do Presidente Andrew Jackson no passado. Ela tem uma história. - Ele balançou a cabeça. Franziu a testa e olhou para Meadow. ─ Por que estou olhando para esta lamparina? ─ Ela foi roubada, recentemente, da casa do Sr. Harlow. ─ Não me diga! - Mike ficou chocado. ─ Mas nós não temos pessoas roubando antiguidades por aqui. - Acrescentou rapidamente. ─ Na verdade, quase nunca temos ladrões, a menos que alguém esteja desesperado por dinheiro para drogas. Houve um caso no mês passado, um homem que roubou uma caixa de aço com armas da casa de um morador local e a abriu com C4. - Ele franziu a testa. ─ Um vizinho ouviu a explosão e chamou a polícia. Eles se aproximaram no momento em que o criminoso tirava as armas da caixa. ─ Azar dele. - Ela acrescentou. Ele balançou sua cabeça. ─ Danificou uma das armas. Um Krieghoff,* que vale cerca de cinquenta mil dólares. Ela ficou boqiaberta. ─ Isso tudo por uma arma? ─ Não é qualquer arma. - Disse ele. ─ É um rifle de competição. Eles são caros. O dono é um atirador classe A. Ele participa do World Skeet Shooting Competition em San Antonio, Texas, todos os anos e ganha prêmios. ─ Uau. - Ela balançou a cabeça. ─ Eu tive problemas para pagar a minha Glock. - Ela confessou. Ele sorriu. ─ Eu mesmo tenho uma espingarda calibre doze. - Disse ele, apontando para a parte inferior do balcão em que ela estava apoiada. ─ Não posso me arriscar. Eu tenho algumas coisas muito valiosas aqui. Eu nunca fui roubado, mas sempre há uma primeira vez. O sino na porta da frente soou e um jovem alto e magro, com cabelos castanhos e um olhar desconfiado, entrou. ─ Aqui está o meu filho! Gary, esta é Meadow Dawson. - Disse ele. ─ Ela é do departamento do xerife, sua nova investigadora. Srta. Dawson, meu filho, Gary.

* Krieghoff


─ Prazer em conhecê-la. - Disse ele, mas parecia apreensivo enquanto olhava para ela. Sem lhe estender a mão. ─ Ela está aqui por causa da lamparina que foi roubada da casa de John Harlow. Explicou o homem mais velho. ─ Eu entendo. - Os olhos de Gary se estreitaram. ─ Tem alguma pista? ─ Ainda não. Eu estava checando com seu pai sobre o valor da peça. Eu também gostaria de saber se você tem algum contato que possa me informar sobre potenciais compradores de um item como este. - Acrescentou ela a Mike. Ele franziu os lábios. ─ Na verdade não. Eu lido com pessoas locais. Mas Gary tem alguns links na Internet para compradores especiais, não é mesmo filho? Gary deu a seu pai um olhar frio. ─ Não muitos. Eu lido com as grandes casas de leilões do leste para os itens raros. Itens muito raros. - Enfatizou. Ele olhou a foto da lamparina. ─ Esse é um item barato. ─ É? - Mike perguntou, surpreso. ─ Eu pensei que havia uma grande demanda por antiguidades desse período agora, especialmente aquelas com uma história como a de John. ─ Houve. Já passou agora. Foi uma moda passageira. Os hábitos de compra mudam rapidamente com as antiguidades. - Acrescentou o rapaz bruscamente. ─ Vou pegar o café da manhã. Quer alguma coisa? - Ele perguntou ao pai. ─ Uma torta folhada e café preto, por favor. - Mike disse a ele. ─ Pegue o dinheiro da caixa para isso. - Acrescentou com uma risada, porque seu filho já estava mergulhado na caixa registradora. ─ Volto em um ou dois minutos. - Prometeu Gary, acenando várias notas de vinte dólares. As sobrancelhas de Meadow se arquearam. Ela se perguntou que tipo de torta folhada custaria quase cem dólares. Mike percebeu onde estava a atenção dela e a que conclusão chegou. E riu. ─ Sim, ele tirou várias notas de vinte da caixa registradora, percebeu? Ele precisa abastecer aquela grande Ford Expedition que está dirigindo. - Mike disse a ela. E balançou a cabeça. ─ A gasolina aumentou bastante. Custa quase setenta dólares para encher o tanque com a premium. Meadow, que dirigia uma econômica SUV e colocava gasolina regularmente, ficou surpresa. Mas apenas riu. ─ Por que ele dirige um veículo tão caro? ─ Ele faz a maior parte das entregas para mim. - Explicou. ─ Eu comprei o SUV para esse propósito. Tínhamos uma caminhonete, mas quando está chovendo ou nevando, até mesmo uma lona não impede a umidade. As antiguidades são delicadas. ─ Eu entendo. - Ela sorriu e voltou para a foto, recolhendo toda a informação possível que ele pode dar para o seu relatório. Quando ele terminou, ela apertou a mão dele novamente. ─ Muito obrigada pela sua ajuda. Não é necessário dizer, se alguém tentar vender uma lamparina assim para você... ─ Eu vou ligar para você imediatamente. - Ele acrescentou. Ela enfiou a mão na bolsa e hesitou. ─ Eu ainda não tenho cartões de visita, mas você pode entrar em contato comigo no escritório do xerife no tribunal. ─ Eu tenho o número. - Disse ele. ─ E vou ligar para você. ─ Muito obrigada. Prazer em conhecê-lo. ─ O prazer foi meu. Quando ela voltou para o carro, ainda não havia sinal do filho que tinha ido comprar o café da manhã para o pai.

*** Ela passou a informação para Jeff. ─ Ele sabe muito sobre antiguidades. - Disse ela.


Ele assentiu. ─ Ele é nosso especialista local. E faz avaliações também. ─ Eu conheci o filho dele. Ele fez uma careta. ─ Gary. Não é nada parecido com o pai. Ele nunca conseguiu manter um emprego e tentou ser um monte de coisas, incluindo motorista de caminhão. - Ele balançou a cabeça. ─ Se o pai não o tivesse ajudado, ele provavelmente estaria morando em um abrigo em algum lugar. Não gosta de trabalhar, mas adora dinheiro. Combinação ruim. ─ Eu vi isso levar a problemas. - Ela comentou. ─ Ele esteve no reformatório umas duas vezes por pequenos furtos. - Comentou Jeff, referindo-se a prisão juvenil, onde pessoas menores de idade eram colocadas quando acusadas de crimes. ─ O que você achou dele? - Jeff perguntou inesperadamente. Ela fez uma careta. ─ Ele não me causou uma boa impressão. ─ O pai está no ramo de antiguidades durante a maior parte de sua vida. Ele conhece o negócio e tem uma boa vida. ─ Boa sorte para ele. Eu não acho que ele vai encontrar muitas coisas valiosas por aqui. - Ela suspirou. ─ Você pode se surpreender. - Comentou ele. ─ Dal Blake tem uma pequena mesa que foi usada para assinar a rendição em Appomattox.* - Disse ele. ─ Vale uma fortuna. Dal tem o cuidado de manter as portas trancadas. Ele a herdou de sua avó. ─ Uau. - Ela comentou. ─ Isso é realmente uma relíquia de família. ─ Sim, é. - Jeff concordou. E riu. ─ Mas nós realmente não temos muitos roubos nesta comunidade. Nós temos sorte. ─ Assim parece. - Respondeu ela, recordando os muitos casos que tinha visto no Missouri, quando trabalhava para o Bureau. ─ Gostaria de interrogar alguns suspeitos para mim? - Jeff perguntou. ─ Eu tenho um roubo de gasolina e dois possíveis suspeitos. Temos uma foto da câmera de vigilância que poderia ser de dois homens. ─ Eu vou interrogá-los. - Disse ela com um sorriso. ─ Eu voltarei em breve. - Ela prometeu, e foi trabalhar. *** O roubo na bomba de gasolina era um caso triste, um crime que se agravou pelo aumento dos preços e pelo desemprego. ─ Eu tenho que chegar ao meu trabalho. - O jovem beligerante gemeu quando Meadow apareceu em sua porta com uma cópia da foto da câmera de vigilância. ─ O bebê adoeceu e tivemos que pagar o médico adiantado. Sem gasolina, sem emprego... ─ Eu entendo o quão difícil as coisas podem ficar. - Disse ela suavemente. ─ Mas roubar ainda é contra a lei, independente do motivo. Ele respirou fundo. ─ Eu acho que estou preso. - Disse ele resignado. ─ O proprietário está disposto a retirar a queixa se você pagar a gasolina. Ele se iluminou um pouco. Enfiou a mão nos bolsos e tirou várias notas de um dólar e algumas moedas. ─ Eu tirei apenas oito dólares. - Explicou ele. Enquanto contava o dinheiro. ─ Isso é tudo. - Ele corou quando o entregou a ela. ─ Sinto muito mesmo. Prometo que não vou fazer de novo. ─ Escute... - Ela disse suavemente. ─ há vários lugares nos quais você pode conseguir ajuda. Sua igreja local provavelmente tem fundos de emergência para coisas como esta. Há o Sharing Place, que tem roupas e produtos enlatados. Eles também têm fundos de emergência. Você deveria falar com eles. *Campanha de Appomattox - Foi uma série de batalhas travadas entre 29 de março e 9 de abril de 1865 no estado sulista da Virgínia, que culminou com a rendição dos exércitos confederados sob comando do general Robert E. Lee, no prédio de Appomattox Court House, em 9 de abril de 1865. Esta campanha marcou em efetivo o fim da Guerra Civil Americana.


As sobrancelhas dele estavam arqueadas. ─ Eles ajudam pessoas como nós? - Ele perguntou. ─ Eu pensei que era apenas para pessoas que estavam desabrigadas. Ela balançou a cabeça. ─ É para qualquer um que precise. O Seviço de apoio municipal à família e a criança também pode ajudar. Existem todos os tipos de programas. Há até um caminhão que vem uma vez por semana no centro para distribuir mantimentos para pessoas que não podem pagar por eles. Ele parecia ter ganhado na loteria. ─ Temos um novo bebê e ficamos sem algumas coisas para comprar o novo leite de soja que ele precisa, ele é alérgico ao leite de vaca. Ela sorriu. ─ Pergunte ao seu chefe por uma hora de folga e vá falar com algumas dessas pessoas. ─ Senhora, eu vou fazer isso mesmo. Obrigado por não me prender. E agradeça ao Sr. Billings no posto de gasolina. Diga-lhe que sinto muito mesmo. Se ele precisar de alguma coisa, eu vou fazer isso de graça, para ajudar a compensar o roubo. ─ Eu vou dizer a ele. Ela voltou para o escritório, triste com o estado do mundo. ─ Por que você está tão desanimada? - Jeff perguntou. Ela sorriu. ─ Suponho que se nota, não é? Eu estava apenas pensando em como a vida é difícil para algumas pessoas. O jovem assumiu o roubo da gasolina. Eles têm um novo bebê e ele tem que tomar leite de soja... As sobrancelhas dele arquearam loucamente. Ela piscou. ─ Foi algo que eu disse? ─ O nome do jovem é John Selton. Ele não é casado. Ele não tem um filho. Na verdade, ele não tem um emprego. - Ele acrescentou, segurando uma folha de papel. ─ Ele acabou de sair da prisão estadual por passar cheques sem fundos. Ela sentou-se na borda da mesa. ─ Bem! ─ Ei, pelo menos você conseguiu o dinheiro da gasolina do Sr. Billings de volta. - Disse ele, tentando animá-la. Ela sorriu ligeiramente. ─ Você acha que algumas pessoas nunca deveriam trabalhar na polícia? - Ela perguntou. Ele riu. ─ Às vezes temos que aprender que nem todo mundo é honesto. ─ Estou na polícia há vários anos. - Ressaltou. ─ Fui policial no Missouri e estive com o FBI por dois anos. Se eu não aprendi a avaliar as pessoas até agora, não há muita esperança de desenvolver essa habilidade. Ele quase mordeu a língua tentando não dizer o que estava pensando. Ele concordava com ela. Ela era o policial menos provável que ele já tinha conhecido, mas era basicamente um homem gentil. Então apenas sorriu.

*** Ele a encarregou de investigar os casos arquivados, enquanto mandou seu subxerife verificar o acidente com a patrulha na rodovia e seus assistentes verificarem os casos de vandalismo e pequenos furtos. Meadow encontrou um interessante caso arquivado, de um antigo órgão de tubos* roubado que havia pertencido a um famoso político. Diziam pertencer a sua avó. Desapareceu quatro anos antes, na mesma época em que um incêndio atingiu o ponto turístico, local onde o político tinha vivido. ─ Você tem certeza de que não queimou no fogo? - Jeff perguntou a Meadow quando ela descreveu o caso para ele.


─ Não sobrou o suficiente para se ter certeza de que um órgão estava ou não entre os móveis destruídos. - Ela respondeu. ─ Eu conversei com o chefe dos bombeiros. Ele se lembrou do caso. E disse que era muito provavelmente um caso de incêndio criminoso, mas como foi iniciado com gravetos de pinheiro e jornal, não havia provas suficientes para traçar um suspeito. ─ Quatro anos atrás. - Jeff franziu a testa. ─ Eu me lembro do caso. Nós investigamos. Na verdade, fizemos Mike Markson dar uma olhada em um órgão parecido que encontramos em um catálogo de antiguidades. A coisa valia mais de cinquenta mil dólares. Mas o órgão roubado nunca apareceu. Honestamente, não tenho certeza se teríamos reconhecido, se tivesse. Um órgão é um órgão. Nós pedimos a Mike e a Gary que observasse qualquer um que tentasse vender um. ─ Eles nunca tiveram um pedido de informação? Ele balançou a cabeça. ─ Mike lida principalmente com móveis antigos e lamparinas, ele não é musical. E Gary certamente também não. Quando ele viu a foto que usamos para comparação, ele pensou que era uma pianola.* - Ele riu. ─ Eu acredito que nem todos podemos ser musicais. - Ela concordou. Ele checou seu relógio. ─ Vá para casa. - Disse ele. ─ Está passando do seu horário. A propósito, eu gosto do que você está fazendo com os casos arquivados. - Ele adicionou. ─ Nenhum de nós jamais pensou em colocá-los no computador. Ela sorriu. ─ É mais fácil verificar e fazer referências cruzadas se você os tiver no computador. Disse ela. ─ Desculpe, mas seu sistema de arquivamento é... como posso dizer isso... antiquado? ─ Obsoleto. - Ele corrigiu com um sorriso. ─ Não se preocupe em ferir meus sentimentos. - Ele lhe deu um longo olhar. ─ Que tal jantar? As sobrancelhas dela arquearam. ─ Apenas jantar. - Acrescentou preguiçosamente. ─ Eu não tenho planos de pedir a sobremesa. Ela começou a rir. ─ Oh. Tudo bem. Isso seria legal. Eu nem pensei sobre o que iria cozinhar. ─ Você sabe cozinhar? Ela deu a ele um olhar eloquente. ─ Eu posso fazer pão caseiro e tortas. - Disse arrogantemente. ─ Minha avó me ensinou há alguns anos. ─ Eu posso abrir essas latas de biscoitos colocá-las em uma assadeira no forno. - Disse ele. ─ Caso contrário, é comida congelada. ─ Não admira que você seja tão magro. - Ela o repreendeu. Ele riu. ─ Bem, isso é principalmente porque eu estou sempre correndo. Se não é o trabalho aqui, é o trabalho com o gado. ─ Eu esqueci. Você tem um rancho. Ele assentiu. ─ Ele se junta no lado norte com a propriedade de seu pai. - Disse ele. Olhando pela janela. ─ E parece que nossa primeira neve está a apenas um ou dois dias de distância. Nós estaremos lá fora procurando nas matas pelo gado perdido. Ela franziu a testa. Ela deveria estar preocupada com isso? *Pianola - A pianola também conhecda como piano mecânico, é um piano que executa músicas automaticamente.

* Órgão de tubos século

XVIII


─ Oh, Deus! - Disse ela. ─ Eu acho que deveria estar preocupada com isso também. ─ Você tem cowboys competentes que farão isso por você. - Ele assegurou. ─ Nada com que se preocupar. Ela fez uma careta. ─ Eu não sei o que estou fazendo. - Ela confessou. ─ Eu nunca tive que administrar um rancho. Papai sabia de todas essas coisas, mas eu não estava interessada em aprender, então nunca o ouvi falar sobre administração. - Ela suspirou. ─ Espero que toda a equipe não tenha que sair na neve por minha causa. Ele mordeu a língua para não fazer uma oferta pelo lugar naquele momento. Tinha que esperar o momento certo. Devagar, Jeff, ele disse a si mesmo, você tem que ir devagar. ─ Vamos jantar no restaurante chinês, se estiver tudo bem. ─ Eu adoro frango com gergelim. - Ela confessou. Ele riu. ─ Eu gosto de chow mein.* Mas, ei, ainda é chinês. ─ Bom argumento. Que horas? ─ Eu vou buscá-la por volta das seis. ─ Tudo bem. Até lá então. *** Ela vasculhou o armário procurando um belo vestido. Ela tinha muitos terninhos, mas uma saída à noite parecia exigir algo um pouco menos estruturado e funcional. Tinha um belo vestido preto de noite. Ela o combinou com elegantes sapatos de salto e seu único bom casaco, um de lã preta com uma pequena gola de vison. Pensou em colocar o cabelo para cima, mas quando o escovou, adorou a maneira como caía em torno de seus ombros. Isso suavizava as linhas de seu rosto, fazendo-a parecer mais feminina, mais jovem. Por fim, ela o deixou solto. Quando terminou de se maquiar, houve uma batida beligerante na porta da frente. Ela suspirou pesadamente. Quase certamente sabia quem era, já que Jeff não chegaria por mais trinta minutos. Resignada, ela abriu a porta e lá, na neve, estava Dal Blake com Snow. A cadela passou correndo, deixando Meadow lidar com ele. Mas a beligerância pareceu desaparecer quando ele olhou para ela com os olhos escuros e entrecerrados. ─ Vai a algum lugar? - Ele perguntou. ─ Sim. - Ela respondeu secamente. ─ Jeff me convidou para jantar. Ele franziu os lábios enquanto a olhava. Ela estava sexy pra caramba naquele vestido, e parecia bonita com o rosto maquiado. Lembrou-se do gosto de sua boca sob o visco em uma festa de Natal há muito tempo e odiou a excitação repentina que se acendeu nele. Passou anos sem vê-la. Ela não era seu tipo de mulher. Não fazia sentido começar algo que não conseguiria terminar. Mas seu corpo reagiu agudamente à visão dela naquele vestidinho tentador. Jeff certamente se sentaria e apreciaria. Por que isso era tão irritante? Ele franziu o cenho. ─ Não é um vestido escandaloso! - Ela deixou escapar, desconfortável com a maneira como ele a estava olhando. ─ Eu nunca disse que era. - Ele hesitou. ─ Você parece... bonita. Seu coração pulou. Ela ignorou isso. ─ Obrigada. Me desculpe, Snow estava em sua casa de novo? Ele apenas assentiu. Enfiou as mãos grandes nos bolsos do pesado casaco de pastor. Sob a aba larga de seu chapéu, onde os flocos de neve se juntavam, ele parecia muito um homem do oeste. *Chow mein - É um macarrão(tipo de yakissoba), com cebola, cenoura, repolho, caldo de frango,cebolinha, óleo de amendoim, óleo de gergelim, shoyo. É particularmente popular na Índia, no Nepal, no Reino Unido e nos EUA, além é claro da China.


Ela se mexeu. Realmente não sabia o que dizer. Ela esperava um ataque verbal violento sobre seu animal de estimação, mas ele não estava beligerante. Ainda não, pelo menos. Ele levantou a cabeça. ─ Só uma dica. - Disse ele depois de um minuto. ─ Jeff adora perfume fortes, e é um liberal de carteirinha. Se você quiser causar uma boa impressão, isso ajudará. Ela se iluminou. Pelo menos ele não a estava insultando. ─ Ok. - Ela fez uma pausa. ─ Obrigada. Ele encolheu os ombros. ─ Jeff é meu amigo. Ele é um cara legal. Ela sorriu. ─ Sim ele é. Ele é um ótimo chefe. ─ Bem, o seu cachorro está em casa. Tenho trabalho a fazer. Até logo. ─ Vou me esforçar mais para mantê-la em casa. Desculpa. Ele nem sequer respondeu a ela. Continuou andando até o cavalo amarrado a uma árvore próxima, a que ele obviamente o tinha amarrado. Ele montou e partiu, ainda sem olhar para ela. Ela fechou a porta e foi colocar mais perfume. *** Jeff apenas a olhou quando ela abriu a porta, o casaco pesado, mas desabotoado e sua bolsa na mão. Ele sorriu devagar. ─ Bonita. - Ele disse, colocando tanto sentimento na única palavra que ela corou um pouco. Ela não estava acostumada a admiração masculina. Ele também parecia muito bem de calça escura, camisa branca de algodão, gravata vermelha e jaqueta de lã. ─ Obrigada. - Disse ela. ─ Shay shay. - Disse ele. Ela levantou ambas as sobrancelhas. ─ Isso significa obrigado você. - Disse ele. ─ Uma das garçonetes do restaurante chinês vai para a faculdade em Denver. Ela está me ensinando. Ela riu. ─ Isso parece divertido. ─ Ela vai ensinar você também. Nunca é demais saber um pouco sobre outras línguas e culturas. Isso nos integra. ─ Eu concordo totalmente. ─ Bem, se você estiver pronta... ─ Eu estou. - Ela fechou a porta atrás dela, trancou-a e colocou a chave na bolsa. Notou quando eles entraram no sedã de Jeff que ele parecia desconfortável e estava tossindo. ─ Se importa se eu ligar o ar-condicionado um pouco, só para renovar o ar? - Ele perguntou, e parecia rouco. Estranho, ar-condicionado em temperaturas congelantes, mas ela apenas sorriu e acenou concordando com a cabeça. ─ Tudo bem. Ele o ligou, respirou fundo. E parou de tossir depois. *** A garçonete era muito boa. Ela riu quando Jeff explicou que ele estava ensinando a Meadow o que ela havia lhe ensinado. ─ Vou me certificar de adicionar palavras novas toda vez que você vier aqui. - Ela disse a ele com olhos negros cintilantes. ─ O que vocês gostariam? Eles fizeram seus pedidos e se acomodaram com xícaras de chá quente de jasmim. Meadow estava se divertindo até a campainha da porta da frente tinir e Dal Blake entrar com uma morena impressionante. Jeff olhou furiosamente para eles. ─ Dana. - Ele murmurou.


─ Quem? ─ Dana Conyers. Ela é dona da floricultura local em Raven Springs. - Ele disse, seus olhos nunca deixando a morena. ─ Ela é uma mulher doce. Canta no coro da igreja metodista, ensina na Escola Dominical, é voluntária no Sharing Place local aos sábados. É uma vergonha que ela ande por aí com um homem que troca de mulheres como troca de lenços. Isso soou amargo. Ela o observou olhando a florista. Ele estava um pouco interessado demais para um observador casual. Ficou mais interessante quando Dana Conyers o viu com Meadow e abruptamente voltou a olhar para Dal. ─ O mundo está cheio de mulheres. - Disse Jeff em voz baixa. ─ Por que ele tem que sair por aí com ela? ─ Ela gosta dele. - Disse Meadow. ─ Dá para perceber. Ele fez uma careta. ─ Ele é gentil com ela. Traz flores. A leva para sair. Ela nunca teve um namorado de verdade. Mas ele não vai se casar com ela. Ele não é do tipo. ─ Talvez ela não queira se casar. - Ela se aventurou. ─ Ela adora crianças. - Ele brincou com a colher em sua xícara de chá. ─ Ela é voluntária na festa de Natal, distribuindo presentes para as crianças. ─ Eu entendo. - Ela não entendia, mas era algo para dizer. Dal segurou Dana pelo cotovelo e a guiou enquanto seguiam a garçonete até o cubículo onde Meadow e Jeff estavam sentados. Dal levantou ambas as sobrancelhas. ─ Pensei que você não namorasse colegas de trabalho. - Disse ele a Jeff. Jeff o olhou furiosamente. ─ É só um jantar. Dal encolheu os ombros. Seus olhos escuros deslizaram por Meadow em seu vestido bonito, mas conservador, no comprimento de seus longos cabelos. Ela apenas sorriu. E não disse uma palavra. ─ Você dá a ela mais de uma bala para a arma? - Dal perguntou a Jeff informalmente. ─ Isso não foi legal. - Jeff abanou o dedo para ele. ─ Eu sou Dana Conyers. - Disse a morena a Meadow. ─ Eu acho que vi você pela cidade. ─ Eu sou filha de Jake Dawson. - Disse Meadow. ─ Oh, sim, nós fizemos os arranjos de flores para o funeral. - Disse a outra mulher. ─ Eu sinto muito. Ele parecia uma boa pessoa. ─ Ele era. - Disse Meadow, e lutou contra as lágrimas. ─ Desculpe novamente. - Dana fez uma careta. ─ Deve ser difícil. ─ Você já encontrou a lamparina de Harlow que foi roubada? - Dal perguntou a Jeff. ─ Ainda não. Meadow está no caso. Dal deu-lhe um olhar eloquente. ─ Bem, isso certamente aumenta o nível de confiança, não é? Meadow olhou para ele. ─ Estou na polícia há anos... - Ela começou. ─ Eu mencionei que seu pai e eu encontramos a bala que se alojou no trator no celeiro? - Dal a interrompeu. Os lábios de Meadow fizeram uma linha fina. ─ Você me disse várias vezes. ─ A garçonete está apontando para você. - Disse Jeff rapidamente, apontando para ela. Dal sorriu sarcasticamente. ─ Então eu acho que devemos ir. Bom ver você, Jeff. ─ Certamente. ─ Prazer em conhecê-la, Srta. Dawson. - Acrescentou Dana. Meadow apenas assentiu. Ela não tinha certeza se conseguiria pronunciar as palavras, estando tão zangada. Deixou que esse, esse, rancheiro a fizessese sentir inferior! Ele trabalhava arduamente nisso, também. ─ Não o deixe aborrecê-la. - Disse Jeff, notando sua irritação. ─ Ele só faz isso para chamar sua atenção.


─ Ele é a pessoa mais irritante e desagradável que eu já conheci. - Ela disse entredentes. ─ E ele também se esforça para isso. - Jeff retribuiu com um sorriso. Ela riu. ─ Sim ele faz. A garçonete voltou e renovou o chá. A conversa voltou a fluir enquanto esperavam pelos pedidos. *** Foi uma refeição agradável. Meadow gostou da companhia de Jeff. Ele era interessante para conversar. Estava na polícia há muito mais tempo do que ela, desde os dezessete anos e tinha uma grande quantidade de histórias que compartilhou com ela sobre a vida em Raven Springs, passada e presente. ─ Qual é o caso mais incomum que você investigou? - Ela perguntou. Ele riu. ─ O bisbilhoteiro Tom. Suas sobrancelhas se arquearam em uma pergunta. ─ Nós tivemos um cara que espiava pelas janelas, sempre muito cedo de manhã, quando as mulheres se preparavam para ir trabalhar. Sempre eram as mesmas casas também. Ele andava descalço, pudemos afirmar isso pelas marcas que ele deixou. Ele nunca tentou invadir nem uma, mas apenas o fato de termos um cara assim na comunidade era perturbador. ─ Você o pegou? ─ Oh, sim. - Ele deu um sorriso suspeito. ─ Ele tropeçou no triciclo de uma criança e caiu em uma poça de lama depois de uma chuva de primavera. Acontece que ele não estava tentando olhar para mulheres nuas. Ele perdeu o gato e achou que uma das duas famílias o havia roubado, então ele espiava no início da manhã, esperando vê-los alimentar o gato. ─ Agora eu ouvi tudo. ─ Fica pior. - Ele estava engolindo o riso. ─ Acontece que o gato dele estava realmente em uma das casas. A garotinha, aquela do triciclo em que ele tropeçou e caiu, levou o gato para casa com ela e o escondeu em seu quarto. Nenhuma caixa de areia, você entende. A mãe dela notou um cheiro desagradável, mas achou que era a lata de lixo do lado de fora da janela. ─ Ele conseguiu reaver o gato? ─ Ele conseguiu, com um pedido de desculpas da criança. - Ele acrescentou, tomando chá com uma risada. - Ele conseguiu liberdade condicional pela acusação. ─ Ele devia amar o gato. ─ Muito. ─ E a menina? ─ A mãe dela comprou um gato e uma caixa de areia para ela. - Ele acrescentou com uma risada. Meadow sorriu. ─ Eu costumava ter gatos quando era criança. Eu não era realmente uma pessoa de cachorro, mas eu amo minha Snow. Ela é uma excelente companheira, e pelo menos uiva quando alguém aparece do lado de fora. Ele franziu a testa. ─ Uivos? ─ Ela é uma husky siberiano. Eles não latem. Eles uivam. ─ Bem! Ela riu da surpresa dele. Lembrou-se então do que Dal lhe disse sobre a opinião política de Jeff, então começou a comentar o atual governo em Washington e a perda da política liberal. Não era realmente sua posição, mas ela queria impressionar seu chefe. Ela não percebeu no começo que ele se fechou e falou pouco. Era intrigante, ele quase parecia se sentir ofendido.


CAPÍTULO QUATRO Eles terminaram a refeição, Jeff a acompanhou até o carro e a ajudou a entrar. Estava nevando fortemente. Ele não teve problemas em dirigir, mas Meadow notou que ele estava quase em silêncio durante todo o caminho de volta para a casa dela. ─ Eu disse alguma coisa errada? - Ela perguntou quando ele parou em sua porta. ─ O que? Oh. Não, não! Claro que não. - Respondeu ele. Muitas negações significavam que ele estava pensando exatamente o oposto. Ela se lembrava muito de seus anos na aplicação da lei. Ela se lembrou do que Dal havia dito a ela. Ela pensou na tosse e no arcondicionado. Jeff estava tossindo novamente, na verdade. ─ Você realmente não gosta de perfume forte, não é? - Ela perguntou. Ele fez uma careta e puxou um inalador. Ele aspirou fundo e colocou de volta no bolso. ─ Bem, honestamente, não. - Ele confessou timidamente. ─ Eu tenho alergia. Meadow prendeu a respiração. ─ Eu sinto muito! Eu sinto muito! ─Não é sua culpa. Você não sabia. ─ E você também não é liberal, não é? Ele fez uma careta. ─ Bem não. Eu sou conservador. ─ Oh! Aquele homem! Aquele homem odioso! E eu pensei que ele estava sendo legal e me ajudando, e o tempo todo... As sobrancelhas de Jeff se arquearam. ─ Que homem? ─ Dal Blake. - Ela quase cuspiu o nome. Seu rosto estava corado de mau humor. ─ Ele trouxe Snow de volta para casa pouco antes de você chegar. Ela praticamente mora na casa dele. Eu disse a ele que íamos sair. Ele disse que você adorava perfume fortes e era um liberal de carteirinha. Jeff entendeu. E começou a rir. ─ Prestativo, não é? ─ Aquele homem! - Ela repetiu furiosamente. ─ Bem, um homem prevenido vale por dois. - Ele citou. ─ Não lhe dê atenção. ─ Por que ele faria isso? ─ Eu suponho que é melhor ser honesto, mesmo quando pareça errado. - Disse ele em voz baixa. ─ Veja, Meadow, o seu rancho faz fronteira a leste com o rancho de Dal e a oeste com o meu. - Disse ele. ─ Este rancho... - Ele olhou ao redor. - tem a melhor água do condado, e muito dela. Ele espera que você não se envolva comigo porque ele quer a terra. Ele tentou comprar o rancho do seu pai, mas seu pai não vendeu. Ele disse que era um legado familiar e ia deixar para você. ─ Eu começo a ver a luz. - Ela estava olhando para ele com desconfiança agora. ─ Foi apenas um jantar. - Ele mentiu, rindo. ─ Eu não tenho segundas intenções. Mas aparentemente, meu amigo Dal tem. ─ Eu estou começando a perceber isso. - Ela disse entredentes. ─ Lembre-se disso. - Disse ele, apontando o dedo para ela. ─ A água é o recurso mais importante que temos nesta parte do Colorado. ─ Pelo menos eu sei onde está a mente dele. E não vou ouvir mais os conselhos úteis dele sobre você. - Ela prometeu, rindo baixinho. ─ E eu realmente sinto muito sobre o perfume. E a cansativa conversa sobre os liberais. - Ela fez uma pausa. ─ Na verdade, eu mesma votei no candidato conservador. A maioria de nós na aplicação da lei não está com o partido liberal. Nós somos principalmente patrióticos e do lado do direito constitucional. ─ Eu também. Ele saiu e abriu a porta, segurou o braço dela enquanto a ajudava a atravessar um monte de neve e subir os degraus da varanda. ─ Eu me diverti. - Disse ele. ─ Eu também. A comida estava ótima.


─ Faremos isso de novo. OK? Ela sorriu. ─ OK. Ele se inclinou e passou a boca suavemente sobre a dela. ─ Durma bem. Ele se foi antes que ela decidisse se gostou ou não de beijá-lo. Não houve uma faísca, ele não fez seu coração disparar. Mas era cedo. Agora que ela entendeu por que Dal Blake tentou sabotar o relacionamento deles antes de começar, ficaria atenta. Ela e seu chefe poderiam realmente se conhecer. Estava ansiosa por isso. Ela se despiu e vestiu uma comprida camisola amarela com a qual ela gostava de dormir, penteou o cabelo depois de tirar a maquiagem. Jeff era tão legal. Realmente gostava dele. Seu celular tocou o tema do Sherlock. Adorava a série na PBS.* Ela apertou o botão para atender. ─ Alô? ─ Como foi o encontro? - Dal falou lentamente. ─ Muito mal, graças a você! - Ela retrucou. ─ Como você pôde? ─ Jeff é um bom esportista, mesmo que você não seja. - Ele murmurou. ─ Ele tem alergia! Como você pode me dizer que ele gostava de perfume forte? ─ Ele tem remédio para alergia. - Ele disse simplesmente. ─ Foi maldade! ─ Então, eu sou mau. - Ele respondeu. ─ Pelo menos você sabe agora o quanto ele quer o seu rancho, não é? Ele não disse nada sobre o perfume forte e a conversinha liberal, não é? Seu tom era duro e firme. Ela o odiou porque ele estava certo. Jeff não tinha sido honesto até que ela o forçou a ser. Ela sabia que Dal, em seu lugar, teria se queixado imediatamente do perfume, e teria discutido sobre suas opiniões liberais improvisadas. Independente de qualquer coisa, ele era honesto. ─ Eu não me importo... - Ela fez uma pausa. Houve um alto miado por trás dela. Ela se virou, o telefone na mão, quando Jarvis entrou no quarto como se fosse o dono e começou a ronronar e esfregar-se contra as pernas dela por sobre a camisola. ─ Seu gato está aqui! - Ela murmurou. ─ Pregue a portinhola do cachorro. - Ele sugeriu sarcasticamente. ─ Eu não posso! A Snow não poderia sair quando ela precisasse usar o banheiro! ─ Falando em Snow, adivinhe onde ela está? Ela respirou fundo. ─ Bem, isso é ótimo! Vou colocar um casaco e levar o seu gato para você! ─ Não há necessidade. Eu levarei Snow e encontrarei você na porta da frente. Ela mordeu a língua tentando não fazer uma observação maliciosa. Ela não queria ter que sair na neve até os joelhos em sua camisola e casaco. ─ Tudo bem. Obrigada. - Acrescentou de má vontade. ─ Sem problema. Ele desligou. Ela levou Jarvis até a porta da frente e pegou um casaco. Não daria a Dal a oportunidade de fazer qualquer comentário desagradável sobre ela estar vestida para dormir e tentar atraí-lo como uma aranha para uma teia. Ela pensou em si mesma como uma aranha gigante em uma camisola amarela e começou a rir ruidosamente. *** Ele chegou em menos de cinco minutos, dirigindo um caminhão do rancho. Abriu a porta, deixou Snow sair e caminhou até a porta da frente, onde Meadow estava esperando. * Public Broadcasting Service, mais conhecida como PBS, é uma rede de televisão americana de caráter educativo-cultural, em contraponto às grandes redes comerciais que operam no país. Antigamente ela se chamava NET, até que em 5 de outubro de 1970 mudou para o nome atual.


Ele olhou para ela envolvida no casaco. Ele era negro, e destacava o longo, e encaracolado cabelo loiro mel sobre os ombros. Ela parecia cansada e com sono. Seus olhos verdes estavam sem brilho. ─ Você acabou de sair em um encontro quente. Não deveria estar com os olhos brilhantes e alegres? - Ele a repreendeu. Ela olhou para ele. ─ Foi um bom jantar chinês. Ele encolheu os ombros. ─ Eu voei com a florista até San Antonio na semana passada para um jantar com fajitas e salsa. ─ Sorte dela. Ele franziu os lábios. ─ Isso não seria ciúme? ─ Como se eu pudesse ficar com ciúmes de um homem que uma vez se referiu a mim como uma aranha! - Ela explodiu. Ele levantou uma sobrancelha escura e grossa. ─ Acredito que o termo que usei foi "prostituta em treinamento". E você mereceu isso. Dezessete anos e tentando seduzir um homem da minha idade. - Ele zombou. ─ Seu pai estava lívido. Ela corou e desviou os olhos. ─ Adolescentes se apaixonam por todo tipo de pessoas inadequadas. - Ela murmurou. ─ Sim elas fazem isso. Estava muito frio. Ela deixou a porta aberta para que Snow pudesse entrar. Jarvis veio quando ela chamou por ele. Ele passou por ela e pulou nos braços de Dal. ─ Obrigada por trazer Snow de volta para casa. - Disse ela. Ele ainda estava olhando para ela, daquele jeito estranho. ─ Você deveria consultar um médico. ─ O que ?! ─ Eu falo sério. - Ele repetiu, seus olhos escuros se estreitando. ─ Jeff disse que você caiu hoje no trabalho. ─ Eu tropecei em uma lata de lixo. - Ela disse. ─ Você caiu duas vezes no Natal, dois anos seguidos. - Lembrou ele. ─ Você disse a Jeff que caiu quando perseguiu um criminoso em St. Louis e acertou um tiro no trator do seu pai quando caiu aqui. Não lhe ocorreu que um problema de equilíbrio como esse tem uma causa? ─ Não, esse não tem. - Ela nunca pensou em quantas vezes caiu. ─ Eu não tenho um problema médico. - Disse ela beligerante. ─ Eu sou apenas desajeitada. ─ Eu não penso assim. - Respondeu ele. ─ Me faça um favor. O velho Dr. Colson ainda está atendendo, e não estamos tão longe de Denver. Você tem seguro que pagará pelos exames, não tem? Ela tinha um seguro particular que contratou quando deixou o Bureau. ─ Sim. - Disse ela relutantemente. ─ Exames nunca mataram ninguém. - acrescentou. ─ Vou pensar sobre isso. Ele inclinou a cabeça e olhou para ela atentamente. ─ Pode ser que não seja nada. Mas é algo que precisa ser verificado. E se você estivesse perseguindo um criminoso em um lugar alto e caísse? Ela pensou nisso uma ou duas vezes sozinha. Mas negou os problemas de equilíbrio por causa do que eles poderiam revelar se ela fizesse exames. Sabia que tumores cerebrais poderiam causá-los. Ela tinha dores de cabeça... Ela ergueu o queixo. ─ Isso é tudo? Os olhos dele estavam em sua boca macia. ─ Nenhum beijo de boa noite? - Ele murmurou. ─ Eu não vou beijar você! As sobrancelhas dele arquearam.


─ Deus me livre! - Exclamou ele. ─ Eu estava me referindo ao fato de que Jeff obviamente não a beijou. Sua boca não está inchada. - Ele sorriu zombeteiramente. ─ O perfume o desencorajou? ─ Você... você... - Ela estava procurando a palavra certa quando ele colocou Jarvis na varanda e estendeu a mão para ela. Antes que ela pudesse falar, sua cabeça se curvou e ele a beijou. Realmente a beijou. Tão forte e faminto que ela não pode lutar com ele. Ela queria. Ela deveria... Sua boca se abriu suavemente, ele gemeu e a beijou com mais insistência. Ela sentiu o choque de todo o corpo para cima e para baixo, e gemeu também. Suas mãos foram sob o casaco aberto, até a cintura e, em seguida, ao redor dela, trazendo-a contra a extensão de seu corpo longo e duro. Ele a envolveu contra ele, devorando sua boca macia e quente no frio, enquanto flocos de neve se acumulavam sobre eles. Depois de um minuto, ele recuou com alguma relutância, uma grande mão indo para a bochecha corada dela, seus dedos seguindo até sua boca inchada enquanto observava a confusão e o prazer que ela não podia esconder dele. ─ Agora você parece ter sido beijada, Meadow. - Ele disse com voz rouca, e não sorriu. Ela ainda não conseguia encontrar as palavras. Ele franziu os lábios. Como o dela, eles estavam levemente inchados. ─ Pelo menos agora, quando Jeff a beijar, você vai ter alguém para comparar, não vai? Ele se afastou lentamente. Ela recuperou a voz. ─ E você terá alguém com quem comparar sua florista! Ele riu baixinho. ─ Ela não tem comparação. - Ele disse escandalosamente. ─ Ela sabe como beijar. - Ele levantou uma sobrancelha. ─ Você precisa praticar. Ela olhou para ele, sua expressão furiosa. ─ Não com você! ─ Oh, claro que não. Eu não preciso de prática. - Ele acrescentou, rindo. Não ia discutir isso com ele. Ela puxou o casaco para mais perto, virou-se, passou por Jarvis, chamou Snow para dentro e fechou a porta com firmeza, antes que ele pudesse segui-la. Um minuto depois, ouviu o caminhão ligar e partir. Ela se olhou no espelho do corredor e prendeu a respiração. Estava quase bonita. Seus olhos verdes brilhando de excitação, sua expressão era de absoluta alegria. Aquele homem! Aquele homem horrível! Ele disse que era assim que ela deveria parecer depois de seu encontro com Jeff. Ele estava certo, embora nunca fosse admitir isso a ele. Era enlouquecedor, ele ter sabotado seu encontro e depois vir até aqui para zombar dela. Mas por que ele a beijou? Não fazia sentido. Ele disse muitas vezes que estava em um relacionamento com sua florista local, e nunca fez um segredo do fato de que Meadow não o atraía. Então, por que ele a beijou e com tanta avidez que sua boca ainda estava inchada? Ela pensou que nunca o entenderia. Ele disse que ela precisava de prática. Claro que era inexperiente. Nunca foi íntima com um homem. Certamente percebeu isso rapidamente, e então zombou dela por isso. Ele exibiu sua própria experiência. Certamente ele sabia o que fazer com a boca de uma mulher. Era um especialista. Ela corou, lembrando o quão excitada ele a fez ficar, com um beijo que nunca, realmente saiu do seu controle. Ela queria que tivesse saído do controle. Isso era humilhante, querer tanto um homem, deixá-lo saber e ele ridicularizá-la por isso. Ele estaria apontado a óbvia pouca experiência de Jeff com as mulheres? Bem, isso não era uma desvantagem para Meadow. Ela não queria um homem que tivesse sido usado como uma toalha em um cachorro sujo. Isso a irritou e ela começou a rir. Dal era uma toalha de banho. Ela balançou a cabeça, deu um tapinha na cabeça de Snow e levou-a para o quarto. Como uma reflexão tardia, ela fechou a porta do quarto, tentando impedir a cadela de sair.


─ Você vai ter que me acordar se precisar ir ao banheiro. - Disse ela sorrindo a Husky. ─ Eu não vou deixar você me colocar frente a frente com Dal Blake duas vezes em uma noite. Ela se arrastou para a cama, acertou o relógio e apagou as luzes. Mas não dormiu até quase amanhecer. E quando ela finalmente o fez, Dal figurou proeminentemente em seus sonhos confusos. Ela se perguntou por que Dal insistiu em que ela consultasse um médico sobre sua falta de jeito. Não era como se ela significasse alguma coisa para ele. Ele a fez dolorosamente ciente disso ao longo dos anos. Havia considerado uma razão física para suas quedas, mas não tinha sintomas reais, e parecia uma perda de tempo investigar. De qualquer maneira tinha uma consulta para o mês seguinte. Não faria mal mencionar isso ao médico, supôs. Mas isso não seria uma prioridade.

*** A neve começou a cair intensamente no sábado seguinte. Meadow estava de folga, o que era uma coisa boa, porque seus cowboys estavam enlouquecendo tentando alimentar e encontrar gado na tempestade. Meadow, preocupada, na verdade vestida com jeans, botas e um casaco de pastor, foi buscar um cavalo. ─ A se... senhora... - Gaguejou o tratador de cavalos. ─ não vai sair e procurar o gado, vai? ─ É o meu rancho. - Disse ela arrogantemente. ─ Claro que vou! Ela o fez selar o cavalo e depois ficou ao lado dele, rangendo os dentes, enquanto se perguntava como iria subir na sela. Fazia anos desde que havia cavalgado. ─ Uh, senhora, há um bloco de montar. - O mais jovem dos dois cowboys apontou para ele, na entrada do estábulo. ─ Obrigada. - Ela disse tensa. Ela conduziu o cavalo até o bloco, subiu nele e saltou para a sela. ─ Bem. - Ela disse para si mesma. ─ Isso não foi tão ruim... Assim que ela disse isso, suas mãos puxaram o freio e o cavalo empinou e saiu em disparada com ela. Ouviu um grito atrás dela e depois o som de cascos de cavalo ressoando na neve. Pelo menos eles iam tentar salvá-la. Ela pegou a crina do cavalo e apertou as pernas ao redor de seus flancos, tentando se agarrar como se a sua vida dependesse disso. Seu pai havia dito algo sobre cavalos fugitivos, mas tudo o que ela conseguia lembrar era de se segurar e não ser jogada. Ela tentou guiar o cavalo com as pernas, mas ele estava inquieto e indiferente. Esperava que ele não a jogasse para baixo de suas patas e a matasse. Manteve a cabeça baixa e rezou para ele parar. Os cascos dos cavalos pareciam mais próximos. Um minuto depois, o cavalo estava sendo desacelerado à força, e uma voz firme e profunda o chamou, acalmando-o enquanto ele parava, finalmente, e ficava ofegante. ─ Você está bem? - Dal Blake perguntou, montando seu cavalo próximo ao dela, mas na direção oposta. ─ Meadow? Engraçado, ele realmente parecia preocupado. Ela estava tentando recuperar o fôlego. ─ Sim. Obrigada. - Ela ofegou. ─ O que aconteceu? Ela fez uma careta quando levantou os olhos até os dele. ─ Eu puxei as rédeas quando o montei. ─ Ela. - Ele corrigiu com paciência forçada. ─ É uma égua. - Ela olhou para ele. Ele se abaixou e pegou as rédeas, entregando-as de volta para ela. ─ Siga-me de volta ao rancho. Eu não vou deixar você aqui. E ela precisa ser levada para o estábulo. Ela queria discutir, mas sentia pena do cavalo. ─ Tudo bem.


As sobrancelhas dele arquearam. ─ Meu Deus, você está realmente concordando comigo? ─ Isso não vai abrir um precedente. - Ela murmurou. ─ Sem dúvida. Vamos. Me acompanhe. Ela o seguiu de volta ao rancho, onde dois vaqueiros a esperavam. Ela levou a pobre égua até o bloco de montar, onde meticulosamente a desmontou. Suas pernas estavam doloridas e com hematomas apenas pelo curto passeio. Ela começou a perceber que não seria capaz de montar e desmontar da sela e andar o dia todo sem alguns passeios preliminares para se ajustar ao cavalo. Ela fez uma careta quando chegou ao chão, deixando um dos cowboys levar o animal de volta para dentro estábulo e cuidar dele.

*** Dal olhou para o vaqueiro mais velho que a ajudou com a égua. ─ Ted, é melhor você levar os homens para checar o gado. Você não pode se dar ao luxo de começar a perder bezerros. ─ Eu ia levar as mães grávidas para mais perto do estábulo. - Ted disse a ele. ─ Estamos com poucas mãos hoje. Essa maldita gripe os derrubou. ─ Vou mandar alguns dos meus homens para ajudar. - Ele notou a boca aberta de Meadow. ─ É o que fazemos aqui. - Disse ele antes que ela pudesse falar. ─ Nós nos ajudamos. Vizinhos fazem isso. Ela fechou a boca e deu uma resposta curta. ─ OK. Obrigada. - Ela adicionou como uma reflexão tardia. Ele inclinou o chapéu. ─ De nada. - Ele olhou para ela. ─ Jeff disse que vai levar você para jantar novamente hoje à noite. Ela corou. ─ Sim. Para o novo Steak Place. ─ Eles têm boa comida. Eu levo a florista lá às vezes. Ela o ignorou. Estava com ciúmes da florista. Mas não o deixaria saber disso nunca. ─ Obrigada novamente. Ela começou a mancar de volta para a casa da fazenda. ─ Você tem que começar a andar todos os dias para fortalecer os músculos de suas pernas. - Ele falou atrás dela. ─ Sentar na sala de estar tricotando não vai ensiná-la a montar. ─ Obrigada por essa observação brilhante, Sr. Blake. Houve uma risada suave antes de fechar a porta atrás dela.

*** Ela mergulhou em uma banheira de água quente, gemendo quando seus músculos protestaram. Ela não montava há muito tempo. E sabia que os vaqueiros provavelmente estavam lá fora, com o tão superior Dal Blake rindo da sua inexperiente patroa. Obviamente, mais alguns vídeos do YouTube seriam necessários para que ela aprendesse alguma coisa sobre o rancho. Talvez um ou dois sobre montar a cavalo e como lidar com um arredio. Mas não esta noite. Ela tinha um encontro! *** Jeff deu um sorriso quando viu o jeito que ela estava andando. Ela usava um simples terninho cinza hoje à noite, com uma camisa rosa por baixo, e botas de couro forradas a lã com um casaco. Uma coisa que ela aprendeu foi como se vestir para o frio.


Jeff também usava um casaco pesado, jeans e uma camisa de mangas compridas. Eles concordaram que seria uma noite informal. Meadow ficou agradecida. Suas pernas ainda a estavam matando. ─ Ouvi dizer que você teve uma aventura hoje. - Ele comentou quando caminavam na fila passando por toda a comida deliciosa que os garçons estavam colocando em pratos para eles. Ela fez uma careta. ─ Eu acho que Dal lhe contou. ─ Ele disse que um cavalo disparou com você. - Ele respondeu. E não ia acrescentar que seu melhor amigo parecia preocupado com ela, ou que sua preocupação tinha sido visível. ─ Você precisa de aulas de equitação. Já faz muito tempo desde que você montou, não é? ─ Sim, faz. - Ela disse com relutância. ─ Tudo que eu pude fazer foi aguentar. Eu puxei o freio. Aparentemente, a égua é muito nervosa. Eu deveria ter escolhido uma gentil. ─ É preciso deixar seus homens fazerem isso por você. - Disse ele. ─ Eu sei. Eu estava com pressa. Acabei pegando um e disse para eles selarem. Ted tentou argumentar comigo, mas... - Ela fez uma careta. ─ Eu sou cabeça-dura. Como o meu pai, eu acho. Ele riu. ─ Nada de errado em ser teimoso às vezes. É o que a leva a resolver os casos arquivados. ─ Eu suponho que sim. ─ Pernas doloridas? Ela riu. ─ É aparente? ─ Bem, você está andando como um idoso. - Ele acrescentou quando eles passaram pela fila e estavam sentados em um cubículo. ─ Eu tinha esquecido como montar pode nos deixar doloridos. - Ela confessou. ─ Eu sempre gostei de montar, mas nunca fui boa nisso. Eu tenho medo de cavalos. - Ela adicionou, abaixando sua voz. ─ Esta não é a primeira vez que eu tive um cavalo disparando comigo. A última vez terminou mal. Ele parou de repente e eu voei por cima da cabeça dele e caí em um riacho raso. Bati minha cabeça. - Ela franziu a testa. ─ Eu tinha dezesseis anos. Eu tinha esquecido disso. ─ Seu pai levou você a um médico, não é? ─ Eu estava montando com minha mãe, no Mississippi. Nosso primo tem uma grande fazenda lá, e ele mantém cavalos quarto de milha que nos deixava montar. - Ela hesitou. ─ Mamãe me levou ao médico, mas ele não fez exames. Ele me examinou e disse que eu tive uma leve concussão. Eu nunca estive em perigo real. ─ Entendo. ─ Mas meio que me afastou de andar a cavalo, se você me entende. - Ela riu. ─ Eu posso entender o porquê! ─ Isso é muito bom. - Ela exclamou, tendo provado o filé mal-passado que havia pedido. ─ Eles usam um monte de especiarias. - Disse ele. ─ Isso realça o sabor. - Ele fechou os olhos enquanto mastigava e gemia baixinho. ─ Deus, isso é ótimo! Ela riu. ─ Agora eu entendo porque o lugar está tão cheio. É apenas... - Ela parou, olhando além dele e rangeu os dentes. Ele deu a ela um olhar curioso antes de virar a cabeça. E viu o motivo de sua consternação. Lá estava Dal Blake com a florista, atento e sorridente enquanto se dirigiam para um reservado ao lado de Jeff e Meadow. ─ Bem, que coincidência. - Dal exclamou, abaixando o prato para apertar a mão de Jeff. ─ O que vocês dois estão fazendo aqui? ─ Comendo. - Disse Meadow sem esboçar um sorriso. Dal riu. ─ Alguém está de mau-humor. Talvez essa sobremesa consiga adoçar você.


Ela apenas olhou para ele antes de voltar sua atenção para a florista. Ela forçou um sorriso. ─ Prazer em vê-la novamente, Srta. Conyers. Dana retribuiu o sorriso. ─ É bom ver você também, Srta. Dawson. Este é o nosso ponto de encontro favorito nos fins de semana. - Ela acrescentou com um olhar de adoração para Dal, que franziu a testa e pareceu ligeiramente irritado. ─ É um dos vários que vamos. - Ele emendou. Estudou Meadow em seu terninho. ─ Nenhum vestido? - Ele comentou. Ela afastou o longo cabelo loiro. ─ É um sábado informal. - Disse ela. Dal olhou diretamente para Dana em seu curto vestido vermelho e branco com renda no decote e mangas compridas. Ela tinha lindas pernas que estavam em exibição, discretamente realçadas por meias pretas justa. ─ Eu gosto de mulheres em vestidos. - Disse ele, e sorriu quando Dana corou de prazer com a observação. ─ Você só gosta de olhar para as pernas fabulosas de Dana. - Jeff o repreendeu, e então pareceu morder a língua com a observação. Os olhos de Dana se iluminaram e ela riu. ─ Obrigada, Jeff. Isso foi doce. ─ Ela tem pernas fabulosas. - Dal concordou, estudando-as com apreciação masculina. Meadow fez o possível para ignorá-lo, ocupada mastigando purê de batatas com molho. ─ Obviamente, a Srta. Dawson não gosta de ter as suas em exibição. - Disse Dal com sarcasmo. ─ As minhas não são fabulosas então eu tenho que escondê-las em calças. - Disse Meadow sem olhar para ele. Houve risos abafados de Jeff. Dana riu. ─ Essas batatas estão incríveis. - Disse Meadow a Jeff. ─ Eu geralmente não gosto de alho, mas eles adicionam muito ao sabor. ─ Difícil para homens amorosos, no entanto. - Dal disse deliberadamente. ─ Certo, Jeff? - Ele repreendeu. Jeff parecia envergonhado. Ele limpou a garganta. ─ Eu gosto de alho. Meadow odiava ter seu chefe envergonhado. Ela olhou para Dal. ─ Eu gosto de alho também. Estou um pouco menos impressionada com porcos machos arrogantes. Os olhos de Dal brilharam. ─ Viu algum ao redor? ─ Estou olhando diretamente para um. - Ela disparou de volta. ─ Uh, Dal, não deveríamos chegar à nossa mesa? O filme começa em uma hora... ─ Certamente. - Ele disse a Dana, sorrindo quando a empurrou para a cabine e deslizou para dentro em frente a ela. Meadow olhou para Jeff e revirou os olhos comicamente. Ele riu, aliviado com a interrupção. Durante toda a adorável refeição, era impossível não ouvir a voz profunda e lenta de Dal, elogiando a aparência de Dana e referindo-se a outros encontros, lugares em que eles estiveram e pessoas que conheceram. Quando Meadow terminou o último pedaço de sua sobremesa e seu café agora frio, ela estava mais do que pronta para sair do restaurante pelo método mais rápido possível. ─ Você está pronto para ir? - Ela perguntou a Jeff, esperançosa. Ele estava olhando tristemente para a parte de trás da cabeça de Dana. Ele se conteve e sorriu. ─ Claro.


Jeff deixou uma gorjeta debaixo da bandeja e acenou para o casal atrás deles. Ele não disse adeus. Nem Meadow. Jeff pegou a mão de Meadow quando saíram do restaurante. Ele parecia fazer isso deliberadamente, para que Dana pudesse ver. Meadow estava tendo uma clara suspeita de que Jeff tinha um interesse pela bela florista. Boa sorte para ele, ela pensou, porque Dal Blake era uma competidor formidável, e ele obviamente gostava da mulher. Deus sabia o porquê. ─ Foi uma refeição adorável. - Disse ela quando estavam de volta ao carro. ─ Há alguns bons filmes no cinema. Quer ver um? - Perguntou Jeff. Meadow lembrou-se de que Dana havia mencionado que eles iam para lá depois de comerem. ─ Não, eu acho que não, obrigada. - Disse ela abruptamente. Ele riu. ─ Nem eu. Dal pode pensar que os estamos seguindo por aí. Ele é possessivo com Dana. - Acrescentou com um rancor em seu tom. ─ Ele não tem poder de permanência. - Disse ela quando eles estavam em pé na varanda. ─ Ele quer curtir a vida. Se ela não tomar cuidado, ele partirá seu coração. Papai disse uma vez que ele era um verdadeiro mulherengo. Ele olhou para ela, surpreso pelo veneno em seu tom. ─ Você não gosta dele, não é? ─ Não. - Ela disse simplesmente. ─ Ele é como uma bandeja de canapés que foi passada demais em uma festa. Não é o meu tipo de homem. De modo nenhum. Ele suspirou. ─ Eu sou do tipo oposto. Eu não saio muito. Ela riu. ─ Nem eu. ─ Então, podemos ficar juntos, apenas pela sobrevivência, como Chris Pratt disse naquele filme, Jurassic World. - Ele brincou. ─ Não é uma má ideia. - Ela concordou. ─ Sabe, você é um bom chefe. E eu gosto de sair com você. ─ Também gosto de sair com você, Meadow. - Ele a atraiu para ele, curvou-se e a beijou com muita gentileza. Ela sorriu. Ele sorriu. E a beijou novamente, um pouco mais intensamente. Mas não houve faísca. Não para qualquer um deles. E foi dolorosamente óbvio. ─ Bem, eu vou dormir. Vejo você na igreja amanhã. - Ela acrescentou, porque ambos frequentavam cultos na igreja metodista local. ─ Conte com isso. Vejo você lá. ─ Obrigada. Eu me diverti. ─ Eu também! Ela acenou para ele e entrou.

CAPÍTULO CINCO O sub-xerife de Jeff, Gil Barnes, estava trabalhando em um caso arquivado que tinha ligações com o roubo da lamparina Vitoriana que Meadow estava investigando. Ele era um pouco mais alto que Jeff, mais parecido com um cowboy de rodeio, com cabelo castanho com reflexo loiro, olhos pretos e uma expressão sombria. ─ Este órgão de tubos que foi roubado de repente apareceu em um catálogo de antiguidades em uma casa de leilões em Nova York. - Gil disse a ela. ─ Eu acho que isso está ligado ao roubo da lamparina. ─ É possível. - Ela teve que concordar. ─ Mas já se passaram quatro anos desde o roubo? - Ela perguntou. Ele assentiu. ─ Provavelmente o ladrão o guardou. - Ele disse tristemente. ─ Mas pode ser possível rastreá-lo. Eu vou ver se o xerife vai me deixar voar para o leste e interrogar algumas pessoas.


─ Seria bom se você pudesse encontrar uma ligação com a lamparina. Você acha que pode aparecer na mesma casa de leilões? - Ela acrescentou. ─ Seria uma hipótese difícil. - Disse ele. ─ Mas podemos ter sorte. ─ Eu ainda tenho alguns contatos na Agência, se você precisar deles. - Acrescentou. E sorriu timidamente. ─ Bem, eu tenho pelo menos um que pode entrar em contato comigo se ele não reconhecer meu nome. Eu meio que estraguei tudo. Ele franziu a testa. ─ Como? Ela respirou fundo. ─ Tropecei sobre meus próprios pés e disparei uma arma no para-brisa do Bucar enquanto perseguia um suspeito. - A referência que ela usou é a que os agentes chamam o veículo do FBI, Bucar. Ele deu-lhe um sorriso simpático. ─ No primeiro caso em que eu trabalhei, nós tivemos uma tempestade de gelo e eu estava perseguindo um suspeito por uma longa colina. Resumindo, derrapei, esqueci de corrigir e acabei no rio. ─ Oh, caramba! - Ela disse. ─ Você congelou? Ele riu. ─ Você é a primeira pessoa que está mais preocupada com meu bem-estar do que com o carro. Ela encolheu os ombros. ─ Você pode substituir carros. Pessoas, não tanto. ─ Eu sabia que gostava de você. - Ele disse suavemente. Ela corou. ─ Obrigada. Você também é legal. ─ E agora que resolvemos isso, que tal começarmos a trabalhar? - Perguntou Jeff, recostando-se na porta. ─ Posso pegar uma passagem de avião para Nova York? - Perguntou Gil abruptamente. As sobrancelhas de Jeff se arquearam. ─ Eu não sou tão louco. Gil riu. ─ É sobre esse caso arquivado do órgão de tubos que eu estou trabalhando. Jeff fez uma careta. ─ Enquanto aplaudo seu entusiasmo, posso me ver de pé diante da comissão do condado tentando explicar por que financiei uma viagem a Nova York por causa de um roubo de órgão de tubos. Gil respirou fundo. ─ Valeu a tentativa. Ok, vou ver o que posso fazer com o computador e o Skype. ─ Agora isso é uma boa ideia. - Disse Jeff. ─ A passagem de avião teria sido melhor. - Retrucou o sub-xerife antes de voltar para sua mesa. ─ Ainda estou procurando a lamparina Vitoriana. - Disse Meadow ao xerife. ─ Eu só tenho um pressentimento de que ela está conectada ao caso arquivado do órgão de tubos. Ambas são valiosas antiguidades, ambas roubadas localmente. ─ Há um padrão definido. - Admitiu Jeff. ─ Mas eles são casos menores. - Ressaltou. ─ Temos cinco assaltos, quatro roubos de joias e dinheiro, três tentativas de assalto, dois cheques falsificados... ─ E saúde para dar e vender. - Meadow soltou, corou e depois riu quando Jeff começou a rir. ─ Em minha defesa, é quase Natal. - Ressaltou. ─ Sim é verdade. Haverá uma festa de Natal no centro cívico no próximo sábado. Você irá comigo? Ela hesitou. ─ É formal? Ele encolheu os ombros. ─ Não tenho certeza. ─ Se for, eu não posso ir. - Disse ela com tristeza. ─ Eu só tenho um vestido. Eu ficaria envergonhada de usá-lo duas vezes seguidas.


As sobrancelhas dele alcançaram a linha do seu cabelo. ─ Por quê? ─ Eu visto... Eu uso... ternos para trabalhar. - Ela olhou furiosa para ele. ─ Bem, não é digno perseguir fugitivos vestindo saias curtas, meias finas e saltos altos. Não é eficiente também. Ele inclinou a cabeça e a estudou. Ela estava usando outro terninho, este azul escuro com uma blusa branca simples. Parecia curiosamente elegante, mas menos feminina do que Dana Conyers, que ele tinha levado ao baile no ano passado, antes de discutirem. Dana usava coisas sensuais. Adorava o jeito que ela ficava nelas. Ele franziu a testa enquanto pensava sobre o que eles discutiram. Dana estaria na festa, ele tinha certeza disso e com Dal. ─ Eu pareço tão mal assim? - Perguntou Meadow. ─ O que? ─ Você está olhando para mim. ─ Eu estava pensando em Dana. - Ele deixou escapar. ─ Fomos ao baile juntos no ano passado. Nós tivemos uma espécie de discussão, e ela não fala comigo desde então. ─ Uma discussão? - Ela pressionou. Ele mudou de posição. ─ Eu pensei que as roupas que ela usava eram muito provocantes e disse isso. Ela retrucou que as roupas que vestia não eram assunto meu e perguntou em que século eu vivia. Meadow se aproximou. ─ Eu costumava usar coisas sexy também. - Disse ela. ─ Bem, não muito sexy, mas mais reveladoras do que o que eu uso agora. Eu tive que interrogar um prisioneiro em uma cadeia fora de St. Louis. O prisioneiro parecia muito gentil e calmo, então pedi que eles o soltassem enquanto conversávamos. Eu até pedi que trouxessem café. - Sua expressão endureceu. ─ Era um caso de agressão sexual. Eu fiz uma pergunta para ele. Ele disse que eu me vestia como uma mulher que realmente queria muito sexo, e veio pra cima de mim. Quando lutei, ele me bateu. - Ela engoliu em seco. A lembrança era dolorosa. ─ Eu nunca usei nada revelador novamente. - Ela olhou para ele, lendo a simpatia em seu rosto duro. ─ Eu acho que Dana teve muita sorte. Ou talvez eu esteja apenas no tipo errado de profissão. - Ela sorriu. ─ Talvez eu devesse bater em Dana para pegar seu emprego vendendo flores. - Ela riu. ─ Se eu não estiver armada, não sou um perigo para o público. ─ Você não é um perigo para ninguém. - Ele disse suavemente. ─ Você teve uma experiência ruim, várias delas, e perdeu sua autoconfiança. Eu vou ajudar você a recuperá-la. Eu prometo. Sua expressão era reveladora. ─ E se eu não for adequada para trabalhar com a aplicação da lei realmente? Sabe, quando eu estava no departamento de polícia, a maior parte do que fiz foi serviço burocrático. Eles me deixaram treinar com um policial, mas ouvi depois que ele disse que eu seria um desastre se eles me soltassem em um carro. - Ela encolheu os ombros. ─ Ele estava certo. Eu destruí um carro-patrulha. Depois disso, eu fiz principalmente o trabalho investigativo e procurei pistas. O Bureau me deu um voto de confiança, mas acho que eles se arrependeram disso depois. O agente que me recrutou era amigo do meu pai. Ele me ajudou a entrar para a academia. ─ Nenhum de nós começa bem na aplicação da lei. - Ele disse, mas estava pensando que ela poderia estar certa sobre a escolha de sua profissão. Ele não iria colocá-la na linha de fogo, isso era certo. ─ Você quer que eu continue com o caso da lamparina, ou... ─ Eu gostaria que você investigasse esses cheques falsificados, se não se importar. Você pode falar com o chefe de segurança do banco. Seu nome é Tom Jones.* Ele vai ajudar. Ela arregalou os olhos. ─ Ele não se aposentou da carreira de cantor? *Thomas Jones Woodward - É um cantor e ator galês. Mora nos Estados Unidos, mas visita frequentemente a sua terra natal no País de Gales. Alcançou a fama durante os anos 60, e depois de vários sucessos no Reino Unido, tornou-se um cantor de casinos de Las Vegas.


─ Saia daqui. - Jeff disparou para ela. ─ "Não é incomum ser amado por alguém..." - Ela saiu cantarolando. ─ Se você cantar essa música para ele, use tênis! - Ele falou atrás dela. ─ Você pode acreditar em mim que ele não tem absolutamente nenhum senso de humor! Ela apenas riu. Ela percebeu que ele não a estava mandando investigar casos que a colocariam no caminho de homens violentos. Estava grata por um lado e desapontada por outro. Ele não confiava nela para não se atrapalhar. E provavelmente estava certo. Doeu, mesmo assim. Mas era seu trabalho seguir ordens. Então ela o fez.

*** Tom Jones não se parecia em nada com o famoso cantor. Ele era grande, corpulento, tinha cabelo preto grosso e mãos do tamanho de pratos. Ele não sorriu. Seus olhos escuros se estreitaram em seu rosto, como se a avaliasse. ─ O xerife me enviou para perguntar sobre alguns cheques falsificados. - Começou ela. ─ Entre no meu escritório e vamos conversar. Ele liderou o caminho até um escritório com fachada de vidro, ofereceu-lhe uma cadeira de couro acolchoada e afundou-se no couro de sua cadeira. ─ Um desses suspeitos já tinha sido preso. - Disse ele. ─ E ambos fazem serviço particular como cuidadores de idosos em nossa comunidade. Eles roubaram cheques de seus empregadores e aprenderam a falsificar as assinaturas. Tivemos a sorte de ambos os clientes perceberem a cobrança errônea nos extratos bancários e nos ligarem. Nós descobrimos os roubos rapidamente. ─ Bom trabalho. Ele sorriu, se aquele leve repuxar de um lado de sua boca pudesse ser chamado de sorriso. Ele entrelaçou os dedos no peito. ─ O outro suspeito é amigo daquele que identificamos. - Acrescentou. ─ Ele só conseguiu uns dois mil. Seu amigo, aquele com ficha criminal, roubou trinta mil de seu cliente. Podemos reunir todas as informações necessárias para processá-los, e vou testemunhar no tribunal se você precisar. ─ Obrigada. - Ela disse sinceramente. ─ Eu vou falar com você sobre isso. Neste momento, tenho que fazer alguns interrogatórios. ─ O primeiro suspeito, Russell Harris, foi preso um tempo por agressão. - Ele informou. ─ Se você for interrogá-lo, não vá sozinha. A vítima era uma mulher. Ela sentiu seu coração pular, mas sorriu. ─ Obrigada pelo conselho. ─ Nós ouvimos sobre o que aconteceu com você no Bureau. - Disse ele, surpreendendoa. ─ Nós vamos cuidar de você aqui. Se você não conseguir um apoio para ir com você, eu irei. Eu tenho porte de armas e não tenho medo de homens que batem em mulheres. O sorriso cresceu ainda mais. Ele era legal. ─ Obrigada. ─ Raven Springs é uma pequena comunidade. - Comentou ele. ─ Não temos muitos recém-chegados, por isso quando temos, começamos a fazer perguntas. De um jeito legal. - Ele acrescentou. ─ Nós realmente não queremos bisbilhotar, mas gostamos de saber quem são nossos vizinhos. Sinto muito pelo que aconteceu com você. Acrescentou. ─ Eles deveriam ter enviado um agente masculino com você naquele interrogatório. Quando eu estava na Agência, me assegurava de que as agentes femininas tivessem apoio. ─ Você esteve com o Bureau? - Perguntou ela. Ele assentiu. ─ Por cinco anos. Foram bons anos. Mas eu queria raízes. Tenho uma esposa e dois filhos pequenos. - Acrescentou ele rindo ao virar a foto para ela. Era uma bonita família. Ela notou que sua esposa era loira, jovem e bonita. ─ Seus filhos parecem com você. - Disse ela.


─ Eles parecem. - Disse ele com um suspiro. ─ Eu queria uma linda garotinha loira como minha amada aqui. - Ele indicou a foto. ─ Mas Deus realmente não aceita ordens. - Ele riu. ─ Sempre há esperança. - Ela ressaltou. ─ Sempre. - Ele se levantou. ─ Tudo o que você precisar, basta perguntar. - Ele franziu a testa. ─ Por que você deixou o Bureau depois de apenas um ano? ─ Eles me colocaram arquivando e digitando relatórios. - Ela disse tristemente. ─ Não era o que eu pensei que faria. Pelo menos aqui, o xerife me deixa fazer investigações e conversar com pessoas que não usam armas. ─ Tenho certeza de que ele é grato pela ajuda. - Acrescentou. ─ O trabalho não paga muito, mas vem com uma certa quantidade de prestígio, de certa forma. Bem vinda, Srta. Dawson. Você vai gostar de morar aqui. Seu pai era um bom homem. ─ Ele era. Obrigada. ─ Se você precisar de ajuda durante o inverno, pode sempre pedir a Dal Blake. Acrescentou. ─ O rancho dele é bem ao lado do seu, e ele é um bom homem. Ele fará o que puder por você. ─ Tenho certeza disso. - Disse ela sem sentir. ─ Obrigada novamente, Sr. Jones. ─ Não, eu agradeço. Ela se virou, curiosa. ─ Pelo que? ─ Bem, por um lado, por não perguntar se eu me aposentei de uma carreira de cantor. Ele começou a rir de sua expressão. ─ Eu posso apenas imaginar o que Jeff contou sobre mim. Diga a ele que o próximo jogo de xadrez é meu por castigo. ─ Eu vou dizer a ele. - Ela sorriu. ─ Prazer em conhecê-lo. ─ Prazer em conhecê-la também. *** Jeff estava sorrindo quando ela voltou para o escritório com os documentos impressos que obteve com uma ordem judicial, só para que tudo fosse legal. ─ Você perguntou se ele cantava? ─ Ele disse que você perdeu o próximo jogo de xadrez. - Ela riu. Ele suspirou. ─ Bem, eu acho que mereci. Mas ele é um bom esportista. Bom segurança também. Ele era da inteligência do Exército no exterior, e foi policial e agente do FBI. ─ Ele me disse. Aposto que ele era bom nisso. ─ Ele era, mas tinha uma namorada, agora sua esposa, que o informou que ela não ia entrar na fila para ser uma viúva com ele nesse tipo de trabalho. Ele teve que escolher e ela ganhou. Eu não acho que ele tenha se arrependido disso. Se você os vir juntos, eles são como duas metades de um todo. Ainda profundamente apaixonados depois de dois filhos. - Ele balançou a cabeça. ─ Surpreendeu muita gente quando ele se casou com ela. Há uma diferença de idade de quatorze anos. Ela disse que o amor não tem limite de idade e ignorou as fofocas. - Ele riu. ─ Eu acho que o amor triunfa. ─ Eu acho que sim. - Ela estava pensando na diferença de idade entre ela e Dal Blake e se odiou por isso. ─ Eu gostaria que você reconsiderasse o baile. - Jeff disse solenemente. ─ Você poderia usar um terninho. Ninguém fofocaria sobre você. Ela deu um longo suspiro. ─ Deixe-me pensar sobre isso por um dia ou dois, ok? Eu não sou realmente uma pessoa de festa. E Dal Blake provavelmente estará lá. - Acrescentou sombriamente. ─ Você realmente não gosta dele, não é? - Ele perguntou, e pareceu satisfeito. ─ Não. Eu realmente não gosto. Ele é arrogante, sarcástico e indelicado... Jeff levantou a mão. ─ Não há tempo para isso agora. Nós temos que voltar ao trabalho. Estou enviando Gil com você para entrevistar Russell Harris. Ele trabalha meio período na lanchonete Bar


K Burger. Ele estará em seu intervalo de almoço em dez minutos. Eu já avisei o chefe dele que você está a caminho. Ela sorriu. ─ Obrigada. ─ Ninguém vai agredir você por aqui. Não no meu turno. - Acrescentou ele, e parecia imponente. ─ Obrigada, xerife. ─ Jeff. ─ Não. Durante o horário de trabalho, você é o chefe. Então é xerife. Ou chefe. ─ Eu gosto mais de chefe. - Ele comentou. ─ OK. Chefe. ─ Gil! ─ Estou indo. - O outro homem respondeu, deslizando em seu casaco grosso quando se juntou a eles. ─ A neve começou de novo. ─ Temos correntes nos carros de patrulha. - Ressaltou Jeff. ─ Acho que vamos precisar delas. A previsão do tempo parece confusa nos próximos dias. ─ Estamos no Colorado. - Suspirou Jeff. ─ A neve é uma espécie de modo de vida. ─ Assim é. Você está pronta para ir? - Ele perguntou a Meadow. ─ Sim eu estou. Ela o seguiu até o carro-patrulha, puxando o capuz de sua parka enquanto a neve caía sobre eles. ─ Esta neve é dolorosa. - Ela comentou. ─ É granizo misturado com neve. Pica como uma abelha, não é? - Ele respondeu. ─ Sim. Ele saiu para a estrada e dirigiu um quilômetro e meio até a pequena hamburgueria que ficava ao lado da rodovia. Havia vários carros no estacionamento, mas Jeff encontrou uma vaga e parou nela. ─ Isso é uma multidão nesse clima. - Ela comentou. ─ Eu reconheço quatro desses carros. - Ele riu. ─ Eles são da EMA. Ela franziu a testa. ─ Equipe de gerenciamento de Emergência. - Disse ele. ─ Eles estão sempre fora se as pessoas estão perdidas, e nós temos um excursionista desaparecido na mata. Ele abriu a porta para ela e a seguiu para dentro. Quatro homens de aparência mais velha estavam debruçados sobre o balcão, tomando café e comendo panquecas. ─ Como vai, Brad? - Perguntou Gil ao homem de casaco de pastor. Um rosto largo e não barbeado, com pálpebras pesadas, olhou para ele. ─ Mal. - Disse ele. ─ Encontramos algumas pistas, mas a neve as cobriu junto com quase tudo mais. Jerry foi para casa para pegar seu cachorro. Ele encontrará a trilha. ─ Sim, ele vai. O velho Redhide é famoso no lugar. - Gil disse a Meadow. ─ Ele pode rastrear qualquer coisa. Brad riu. ─ Ele com certeza pode. Encontrou a garotinha dos Candles quando ela entrou na floresta atrás do cervo que viu, no verão passado. Seus pais compraram para ele o que parecia ser um suprimento vitalício de brinquedos e guloseimas para dar a Redhide. Meadow sorriu. ─ Eu tenho um Husky. Ela ama isso também. ─ Um Husky. Ela é uma especialista em fuga? - Brad perguntou. Ela suspirou. ─ Sim é. Eu a mantenho dentro de casa, mas ela tem uma portinhola de cachorro para emergências noturnas. Eu não tenho que procurá-la muito longe, no entanto. Só no meu vizinho. Ela o ama. ─ Dal Blake. - Brad assentiu. ─ Ele com certeza sente falta da sua velha labrador. Coisa difícil, perder um animal de estimação. ─ É. - Concordou Meadow. ─ Você está aqui para comprar para todos nós o café da manhã, por causa do excelente trabalho que fazemos? - Brad brincou.


Gil riu. ─ Não. É hora do almoço e nós estamos aqui por outro assunto. O rosto de Brad ficou tenso. Ele olhou para a última cabine, onde um homem desleixado de cabelos claros estava descansando arrogantemente, ainda de avental. ─ Ele está ali. Minha prima em segundo grau era a mulher que ele atacou. Eu esperava que ele nunca saísse. Mas ele teve sorte com defensores públicos. ─Alguns têm. - Disse Gil despreocupadamente. ─ Até mais tarde. Tenha cuidado. ─ Você também. *** Meadow não gostou de Russell Harris à primeira vista. Ele era o tipo de homem que ela tinha visto com demasiada frequência na cadeia. Ele ainda tinha tatuagens de prisão em ambos os braços e enormes bíceps. E estava usando um lenço amarrado na testa. ─ Você queria falar comigo? - Ele demorou, olhando para eles. ─ Eu não fiz nada de errado. Eu não estou prestes a violar a lei. Não quero voltar para a prisão. Se ele estava em liberdade condicional, pensou Meadow, um caso de cheque falsificado o mandaria de volta para a prisão. Ela odiava o prazer que o pensamento lhe deu. ─ Nós queremos falar com você... - Ela começou. ─ Eu vou falar com ele. - Harris interrompeu sarcasticamente. ─ Eu não respondo às mulheres nunca! ─ Não, você só as surra até que se submetam, não é, Sr. Harris? - Ela perguntou docemente. O corpo dele retesou. ─ Se você fizer um movimento em direção a ela... - Gil disse suavemente, seu braço em um ângulo estranho. ─ você vai se mover novamente na sala de emergência. Importa-se de olhar debaixo da mesa? - Ele adicionou. Harris sabia, sem olhar, que um 45 Colt estava destravado e apontado para a sua barriga. Ele sentou-se na cabine. ─ Eu não falsifiquei cheques. Meadow tirou duas folhas de papel. Ela teve que esperar até que suas mãos parassem de tremer para colocá-las na mesa. ─ A folha à esquerda tem sua assinatura em um cheque do seu empregador. A folha à direita tem o nome dele falsificado em alguns cheques. As assinaturas são as mesmas. São suas. ─ Eu não vou voltar para a prisão! - Harris disse, e deu um pulo. Gil o pegou antes que ele pudesse correr, o virou, o derrubou e o algemou tão rapidamente que Meadow mal estava de pé antes que o suspeito estivesse sob custódia. Ela percebeu então que a equipe de resgate se reuniu perto, caso eles precisassem. Ela sorriu para eles. É bom saber que a polícia tinha esse tipo de apoio de outros membros da comunidade. Eles retribuíram o sorriso e sentaram-se. ─ Você não pode provar que eu fiz isso. - Harris estava furioso todo o caminho para o carro patrulha. ─ Esse papel não prova nada! Eles o ignoraram. Pararam na janela do drive-in para pegar hambúrgueres e batatas fritas e disseram ao chefe que ele ia ficar sem um funcionário por um tempo. *** Russell Harris foi colocado em uma cela para ser acusado. Meadow e Gil voltaram ao escritório com a comida. O xerife se juntou a eles para o almoço. ─ Devemos prender os cozinheiros com mais frequência. - Comentou Jeff entre as mordidas de seu hambúrguer e batatas fritas. ─ Especialmente na hora do almoço. Eu não acho que o outro suspeito trabalhe em um restaurante, trabalha?


Meadow riu. ─ Ele trabalha em uma loja de ração. Eu não acho que os brotos de alfafa teriam o mesmo gosto. Jeff sorriu. ─ Esse foi um ótimo trabalho policial. - Disse Meadow a Gil. ─ Puxa, o jeito que você derrubou esse cara foi incrível! Eu tinha um instrutor na academia que podia fazer isso. Eu nunca pude. - Ela confessou. ─ Eu sou muito desajeitada. ─ Estou na polícia desde o ensino médio. - Confessou Gil. ─ E estive no serviço militar, era da polícia do exército. Acho que estou acostumado com pessoas violentas. ─ Que bom. - Comentou Meadow. ─ Porque realmente achei que ele ia me atacar. - Ela se moveu inquieta. Ele trouxe de volta dolorosas recordações. ─ Obrigada por me salvar. - Acrescentou. ─ Você teria se saído bem. - Gil disse a ela. ─ Não se aprende a fazer um trabalho a menos que o deixem fazê-lo, errando e tudo mais. - Ele disse seriamente. ─ Seus chefes não ajudaram muito colocando você para fazer trabalho burocrático. Ela sorriu calorosamente. ─ Obrigada. Mas eles tinham um bom motivo. - Ela disse a ele. ─ Eu tenho dois pés esquerdos. Questões de equilíbrio. ─ Já consultou um médico sobre isso? - Jeff perguntou. ─ Na verdade não. Eu tive uma concussão, mas foi leve. ─ Eu vi um programa sobre pancadas na cabeça em jogadores de futebol. - Respondeu Jeff. ─ Mostrava graficamente o que acontecia com eles ao longo do tempo. Isso é sério. Mesmo uma pequena lesão na cabeça pode causar danos permanentes. ─ Houve o caso daquele lutador, você se lembra dele, que matou algumas pessoas, e disseram que ele tinha o cérebro de uma pessoa de oitenta anos por causa de todos os anos que passou no ringue. - Comentou Gil. ─ Caso trágico. ─ É por isso que os jogadores de futebol usam capacetes. - Disse Jeff. ─ Sim, mas as lesões acontecem apesar dos capacetes. - Gil retrucou. ─ E lutadores não usam capacetes. ─ Eu adorava assistir o The Rock no Monday Night Raw.* - Confessou Meadow. ─ Agora eu o vejo em filmes. ─ A Montanha enfeitiçada foi um dos meus favoritos. - Disse Gil. ─ Oh, Um espião e meio é o meu. - Jeff acrescentou. ─ Todos gostam do The Rock. Ele tem um coração do tamanho de uma montanha para combinar com todo aquele talento. ─ E ele é sexy. - Acrescentou Meadow com um sorriso. Eles apenas riram. *** Meadow não conseguiu encontrar o segundo suspeito da falsificação dos cheques, embora ela o localizasse em um motel local. Ele se registrou por uma semana e foi embora no final de semana. Meadow disse a Jeff que ela tentaria novamente na segunda-feira, e ele respondeu que estava tudo bem, mas Gil ou um dos outros auxiliares iria com ela. Apenas por precaução. Ela não discutiu. Podia não ser politicamente correto, mas ter um homem forte como apoio não incomodou nem um pouco o orgulho dela. Não depois de quase ser morta por um suspeito. Ela foi para casa cansada e ansiosa por uma refeição rápida e cama. Mas quando chegou lá, dirigindo sob a neve, não conseguiu encontrar sua cadela. *Monday Night Raw - É um programa de televisão de luta livre profissional produzido pela WWE que atualmente vai ao ar ao vivo nas noites de segunda-feira na USA Network nos Estados Unidos e na Fox Sports 2 no Brasil. O show estreou em 11 de janeiro de 1993, e desde então tem sido o programa carro-chefe da programação da WWE. * The Rock - Dwayne Johnson


Ela andou por toda a casa, chamando Snow uma e outra vez. Sua voz ecoou pelas colinas, mas a cadela não respondeu. Ela sabia que um vizinho próximo montava armadilha para animais na floresta. Estava preocupada que Snow pudesse ter seguido um coelho ou esquilo e caído em uma delas. Havia ursos na floresta, lobos, Deus sabia o que mais. No caminho de casa, ela passou por uma enorme carcaça de alce perto da estrada. Parecia ter acabado de ser morto. Ele provavelmente havia sido atingido por um dos enormes caminhões que passavam pela estrada. Isso trouxe outra tragédia possível à sua mente. Ela entrou em seu carro e dirigiu para cima e para baixo até que estava convencida que Snow não estava morta, ferida, na estrada. Mas isso não resolvia o problema de onde ela estava. Então ela pensou em Dal Blake. Se Snow tivesse ido à casa dele... Ela pegou o celular e ligou para ele. O telefone tocou e tocou. Ela estava prestes a desistir quando ele atendeu, bruscamente, como se tivesse irritado por ser interrompido. ─ É Meadow Dawson. - Ela começou. ─ Sua cadela não está aqui. - Ele disse rapidamente. ─ Oh Havia uma pergunta em uma voz suave e feminina. Meadow a reconheceu e agora sabia por que a interrupção tinha aborrecido Dal. Ele e a florista... Ela interrompeu o pensamento. ─ Desculpe incomodá-lo. - Disse ela, e desligou. Ela colocou o telefone no bolso e caminhou até o celeiro, onde um dos caubóis mais velhos estava sentado. ─ Você viu Snow, Harry? - Ela perguntou esperançosamente. Ele olhou para cima. ─ Não senhora. Bem, não desde hoje de manhã. Ela estava brincando na neve. Ela ama o ar livre, não é? ─ Sim, ela ama. - Ela lutou contra as lágrimas. ─ Eu não consigo encontrá-la. Eu pensei que ela poderia estar no rancho de Dal Blake, mas ele não a viu também. ─ Que tal nós selarmos dois cavalos e sairmos para procurá-la? - Ele perguntou gentilmente. Ela quase pulou sobre ele em agradecimento. ─ Poderíamos? ─ Vai ser difícil para as suas pernas, você não tem o costume de montar. ─ Eu não me importo se elas quebrarem, se eu puder encontrar minha cadela. - Ela disse, e teve que lutar contra as lágrimas. Ele viu aquela angústia e entendeu. ─ Ela deve estar bem. Provavelmente apenas se afastou atrás de um coelho. - Ele se levantou. ─ Eu vou selar os cavalos. ─ Harry, obrigada. - Ela disse com voz rouca. ─ Senhora, qualquer um de nós faria o que pudéssemos por você. - Ele disse gentilmente. ─ Nós vamos encontrar a sua cadela. Ele foi selar os cavalos. Meadow estava na neve quase até o topo de suas botas e estremeceu em seu casaco grosso. Estava usando um gorro de lã que deveria ter repelido a umidade, mas parecia absorvê-la. E até esqueceu suas luvas. Bem, ela conseguiria. Tinha que encontrar Snow! Harry trouxe dois cavalos, ambos castrados. Ele deu o mais velho dos dois para Meadow pelas rédeas. ─ Ele é velho e gentil. Não vai derubá-la. O nome dele é Mickey. - Acrescentou com um sorriso. ─ Olá, Mickey. - Disse ela, acariciando sua crima. ─ Não me derrube, ok? O cavalo levantou a cabeça e olhou para ela com grandes olhos castanhos. ─ Ele é meigo. - Disse ela. ─ Sim ele é. Vamos lá. Ela montou e cavalgou atrás de Harry enquanto desciam a estrada da fazenda que passava pelos galpões onde as vacas prenhes eram mantidas em tempestades, pelos pastos cobertos onde fardos redondos enormes de feno ficavam protegidos do tempo em invólucros plásticos.


─ Eles se parecem com marshmallows gigantes. - Ela comentou. ─ Sim eles parecem. Isso impede que o feno apodreça. - Ele respondeu. ─ Não é uma coisa ruim. ─ Nem um pouco. - Ela montou ao lado dele. ─ Harry, o Sr. Smith não coloca armadilhas para pegar animais e retirar as peles? ─ Sim, ele faz. - Esse pensamento ocorreu a ele também. ─ Quer procurar na terra dele? ─ Eu gostaria. ─ Está bem então. É este caminho. Ele retornou a trilha e subiu uma pequena elevação, olhando para trás para se certificar de que Meadow o estava seguindo. Suas pernas já estavam doloridas e suas mãos estavam congelando, mas o único pensamento em sua mente era que tinha que encontrar sua cadela. Oh, Snow, ela pensou miseravelmente, por favor, uive, lata, faça algo para me deixar saber onde você está! Eu não posso perder você. Eu não posso! Harry notou sua expressão preocupada. Ele tinha o mesmo pensamento que ela, que Snow poderia estar presa em uma armadilha. Se ela estivesse, e eles não pudessem encontrá-la... Bem, era melhor pensar positivamente. ─ Eu gostaria que tivéssemos mais pessoas procurando. - Ele comentou. ─ Todos os homens estão checando o gado, exceto eu. ─ Vamos fazer o que for preciso. - Ela respondeu. ─ Você poderia ligar para Dal e pedir ajuda. - Disse ele. Ela enrijeceu toda. ─ Eu prefiro pedir ajuda ao próprio diabo. Ele ergueu as sobrancelhas, mas não comentou. Assim que começaram a descer outra colina coberta de neve, o celular dela tocou.

CAPÍTULO SEIS Meadow reconheceu o número de telefone na chamada. Ela tinha acabado de usálo. A tentação de deixar que tocasse era grande, mas seu medo por Snow era maior. ─ Alô. - Ela disse secamente. ─ Você a encontrou? - Ele perguntou. Ela engoliu em seco. Seus lábios pareciam entorpecidos. ─ Não. ─ Onde você está procurando? ─ Harry e eu estamos indo para o rancho do Sr. Smith. - Disse ela, e sabia que ele entenderia o motivo sem ser informado. ─ Smith foi para o Oregon para os feriados. - Disse ele. ─ Ele não está em casa. Ela respirou gelada. ─ Suas armadilhas ainda estarão lá, mesmo que ele não esteja. - Ela disse rapidamente. Houve uma pausa. Ela ouviu a voz feminina novamente. Isso gelou seu coração, enquanto a neve esfriava a pele que estava exposta a ela. ─ Quando você a viu pela última vez? - Ele perguntou. ─ Esta manhã, no café da manhã. Ela saiu um pouco antes de eu ir trabalhar. Eu nunca pensei que ela fugiria... - Ela teve que parar. Sua voz estava sufocando. ─ Vou mandar alguns dos meus homens darem uma olhada ao redor do leito do rio. Ele disse secamente. ─ Houve relatos de lobos lá e perto da casa de Smith, então fique atenta. Você está armada? Ela mordeu o lábio. ─ Não. ─ Harry está? Ela olhou para o homem ao lado, notou o rifle no estojo e disse: ─ Sim, ele está. ─ Diga a ele para ter cuidado. Vamos começar a procurar.


─ Obrigada. - Respondeu. Ela lutou contra as lágrimas. ─ Ela é a única família... que eu tenho. - Sua voz falhou. Ela se sentiu humilhada por ele ter ouvido essa fraqueza. E apenas desligou. ─ Dal está mandando homens? - Harry perguntou. Ela lutou para impedir que sua voz sufocasse novamente. Engoliu em seco. ─ Sim. Ele está enviando alguns homens para ajudar. Diz que eles vão procurar no leito do rio. ─ Há muitos lobos lá embaixo. - Disse Harry. Ele percebeu o medo dela. ─ Os lobos geralmente não atacam sem provocação, mesmo quando os humanos chegam perto deles. - Ele disse. ─ Eles fazem parte do ciclo da natureza. Nós poderíamos legalmente matá-los, mas não o fazemos. Eles pertencem a este lugar. Como as montanhas. Ela conseguiu dar um sorriso para ele. ─ Você não acha que eles machucaram Snow? ─ Não, a menos que estejam morrendo de fome. E ainda há muita caça por aí. ─ Ok, obrigada, Harry. Ele assentiu, puxou o chapéu para baixo para proteger os olhos do granizo, e seguiu em frente. *** Quanto mais tempo eles procuravam, mais o ânimo de Meadow enfraquecia. Não havia sinal de Snow. O celular dela tocou. ─ Onde você está? - Dal Blake perguntou. ─ Você a encontrou? - Ela perguntou com desamparada preocupação. ─ Ainda não. Mas pedimos a Jerry Haynes para trazer o velho Redhide. Você tem algo de Snow que ele possa cheirar? ─ Oh, obrigada! - Ela disse, quase chorando de alívio. ─ Sim, tem o cobertor azul em que ela dorme. Está do lado de dentro da porta dos fundos. - Ela hesitou. ─ Não está trancada. Eu esqueci. Eu estava tão assustada... ─ Está tudo bem. - Sua voz soava estranhamente gentil. ─ Vamos dar a Redhide o odor para que ele possa procurar e vou mantê-la informado. Nós vamos encontrá-la. Acrescentou ele com tanta confiança que um pouco do medo foi embora. ─ Tudo bem. - Disse ela. E hesitou. ─ Obrigada novamente, por ajudar. ─ Ela praticamente mora comigo. - Ele disse, e não parecia zangado. ─ Eu sinto alguma responsabilidade por ela. Eu entrarei em contato. O seu telefone está totalmente carregado? Ah, se ele não tivesse perguntado isso. Ela olhou para o telefone. Uma barra desapareceu. Ela rangeu os dentes. ─ Mais ou menos. - Ela confessou. ─ Pergunte a Harry se o dele está. Ela fez. Harry riu e assentiu. ─ Sim. ─ Dê-me o número dele. Harry falou para ela e ela retransmitiu para Dal. ─ Vou ligar para ele quando soubermos alguma coisa. Está com as suas luvas? Ela mordeu o lábio com força e não respondeu. ─ Vamos continuar em direção às armadilhas. - Ela disse em vez disso. ─ Tudo bem. Ela desligou. Eles seguiram em frente. *** A neve e o granizo aumentaram tanto que era difícil ver alguns metros à frente. Meadow estava preocupada que Harry pudesse desistir até que a tempestade diminuísse, mas ele não o fez. Ele continuou sem uma única reclamação.


Meadow pensou em Snow quando a resgatou, na companhia que a cadela era, nos momentos felizes que compartilharam. Snow tinha sido seu conforto quando o mundo caiu sobre ela. Uma alma doce e gentil que amava sua dona. Ela não podia perder Snow. Ela simplesmente não podia! Harry olhou para ela. ─ Nós vamos encontrá-la. - Disse ele. ─ O velho Redhide pode rastrear qualquer coisa. Ele é famoso. Até o FBI o usou uma vez para rastrear um fugitivo que veio para o nosso condado para se esconder. Ele o achou em uma velha mina alguns minutos depois de sentir o cheiro dele. - Ele riu. ─ Se tivermos esse cachorro procurando, sua cadela está praticamente encontrada. ─ Obrigada, Harry. - Ela disse suavemente. ─ Estou com medo, só isso. Snow teve uma vida tão difícil até que eu a recolhi do abrigo... ─ Tem que ter fé. - Disse ele. E sorriu. ─ Ela opera milagres. ─ Estou tentando. Mesmo. Eles seguiram em frente. Meadow estava congelando, mas tentou esconder de Harry. Todos os homens sabiam que ela era inexperiente, filha de um fazendeiro ou não. Suas pernas a estavam matando também. Mas se ela pudesse encontrar Snow, não importaria. Nada mais importava. ─ É aí que ele coloca armadilhas. - Disse Harry, observando um trecho de floresta. ─ Temos que ir a pé, Srta. Dawson. E observar cada passo. Ele também coloca armadilhas para ursos. ─ Eu odeio armadilhas. - Ela murmurou. ─ É como ele ganha a vida, vendendo peles. No passado, foi um grande negócio no oeste. Os caçadores iam a todo o lugar para conseguir peles para as companhias do leste. ─ Eu acho que sim. - Ela engoliu seu medo. ─ As armadilhas matam os animais rapidamente? Ele hesitou. Mas não estava acostumado a mentir. ─ Normalmente não. ─ Droga. - Ela disse baixinho. ─ Quando ele está aqui, as verifica periodicamente durante todo o dia. - Continuou ele. ─ Ele sacrifica rapidamente os animais que encontra. ─ Pelo. - Ela olhou para ele. ─ Eu não possuo um único pedaço de pelo. Bem, exceto os que estão na Snow. - Acrescentou com um sorriso forçado. ─ Veja por onde anda. - Ele entregou-lhe uma vara. ─ Apenas por precaução. Se a vara desarmar uma armadilha, ela não vai machucar você. Ela assentiu. ─ Obrigada. Eles caminharam por um longo trecho da floresta, mas, felizmente, não havia animais nas armadilhas. Também não encontraram Snow. Foram duas das horas mais longas da vida inteira de Meadow. Ela sabia que Dal e seus homens, estavam procurando, que o cachorro estava na trilha farejando, mas e se Snow estivesse... Ela engoliu o medo. Harry estava certo. Ela tinha que acreditar que sua cadela estava bem. Enquanto processava o pensamento, o telefone de Harry tocou. ─ Eles a encontraram? - Perguntou Meadow, angustiada. Harry olhou para ela, fez uma careta, falou ao telefone. ─ Eu vou dizer a ela. Nós estamos indo. ─ Ela está viva? - Ela perguntou rapidamente. Era melhor saber de uma vez. ─ Ela está viva. - Respondeu ele. ─ Ficou presa em uma cerca de arame farpado e não conseguiu sair, com todo aquele pelo. Eu sei onde é. Ele liderou o caminho. Snow estava viva. Snow ficaria bem. Ela sentiu lágrimas escorrendo por suas bochechas frias e nem tentou secá-las. Graças a Deus, ela pensou, pelos milagres diários. ***


Quando chegaram à cerca, Dal estava de joelhos com um cortador de arame, tirando o último fio do pelo espesso de Snow enquanto ela lambia a mão dele. Era evidente que ela amava o fazendeiro, embora sua dona o evitasse como a peste. As pernas de Meadow estavam tão dormentes que ela quase caiu do cavalo. Ela tropeçou na cerca. ─ Oh, Snow. - Ela sussurrou, sufocando quando se ajoelhou na neve para abraçar sua cadela. Havia vestígios de sangue em sua pele. ─ Snow! Os grandes olhos azuis da cadela riram dela, como se dissessem: Tola humana, claro que estou bem, meu outro dono me salvou! ─ Suas mãos devem estar congeladas. - Comentou Dal quando entregou os cortadores de arame para outro cowboy. ─ Você não tem luvas? ─ Eu tenho dois pares, na verdade. Elas estão na minha casa. - Ela estava muito ocupada abraçando Snow e sendo lambida para se preocupar com as críticas. ─ E seus jeans estão encharcados. - Ele continuou. ─ Vamos levar vocês duas para casa. ─ Snow precisa ver o veterinário. - Disse ela. ─ Meu veterinário faz visitas domiciliares. Ele está a caminho da sua casa. - Ele não acrescentou que o veterinário estava à disposição, ou que Dana estava irritada por Dal tê-la deixado para procurar a cadela de Meadow. Isso o irritou. Ele amava animais. Dana não. Um rapaz de cabelo ruivo juntou-se a eles. ─ Oi. - Ele disse. ─ Eu sou Jerry Haynes. - Ele se apresentou. ─ E este é Redhide. Havia um enorme bloodhound* ao lado dele, ofegante mesmo no frio. ─ Oi, grandão. - Ela disse suavemente e estendeu a mão para ele cheirar. ─ Obrigada por salvar meu bebê. Jerry riu. ─ Ele é um marshmallow. - Ele comentou quando o cachorro grande subiu em suas pernas dobradas e lambeu seu rosto. ─ Ele adora as mulheres. ─ Ele é maravilhoso. Jerry sorriu. ─ É melhor irmos. - Disse Dal secamente. ─ Eu estou com o caminhão aqui. Eu vou carregar Snow para você. ─ Obrigada. - Ela disse suavemente. Ele deu ordens aos seus homens, agradeceu a Jerry, levantou Snow e levou-a até o caminhão. ─ Eu vou segurá-la. - Disse Meadow rapidamente quando abriu o lado do passageiro do caminhão e subiu. ─ Ela está sangrando. - Disse ele. ─ São só roupas. - Ela respondeu. ─ Por favor? - Seus olhos verdes o tinham quase hipnotizado. Ele deslizou a cadela grande para o colo dela e fechou a porta com uma batida. ─ Snow, meu bebê, meu pobre bebê. - Ela sussurrou, abraçando o cachorro. ─ Cinto de segurança. - Disse ele. ─ Eu vou tentar. - Ela estendeu a mão e conseguiu colocá-lo em volta da cintura sob Snow. ─ Eu faço isso. Dal pegou o cinto de segurança e encontrou a mão dela. Mesmo através de suas luvas de couro, ele podia sentir o frio. ─ Suas mãos estão como gelo. - Disse ele. ─ Elas estão bem. - Disse ela. ─ Apenas um pouco dormentes. - Ela abraçou Snow. ─ Eu estava com tanto medo de encontrá-la em uma das armadilhas do Sr. Smith. *Cão de Santo Humberto ou Bloodhound, é uma raça canina oriunda da Inglaterra e da Bélgica. Criados no convento de Santo Humberto, possue sua origem e seu reconhecimento como farejadores.


Ele também tinha estado, mas não disse. Ele ligou o caminhão. ─ Você precisa encontrar uma maneira de fechar a portinhola do cachorro à noite para que ela não fuja. Ou colocar uma cerca alta em concreto ao redor da casa. ─ Eu vou comprar um helicóptero para a Bat caverna, enquanto faço isso. - Ela murmurou. Ele lhe deu um olhar curioso. ─ Eu trabalho para o Departamento do xerife. - Ressaltou. ─ Meu orçamento é muito mais Walmart do que Park Avenue. Ele franziu a testa. Não considerou a situação financeira dela. Provavelmente estava faltando dinheiro, ou ela não estaria trabalhando tanto. Pena que ela não sabia nada sobre pecuária. Se soubesse, teria pelo menos dinheiro suficiente para cercar seu quintal. Ele entrou no longo caminho de acesso a garagem. ─ Você precisa vender o rancho para alguém que saiba o que fazer com ele. - Disse ele sem rodeios. ─ Seu tato sempre me surpreende. Ele olhou para ela. ─ Eu não tenho nenhum tato. ─ E eu não estou surpresa. - Ela apontou. ─ Mas obrigada por salvar minha cadela. - Ela desviou os olhos. ─ Ela é tudo o que tenho. Ele sentiu a dor dessas palavras como um golpe. Ele as entendia. Sua grande labrador, Bess, era sua única família. Sua perda, apesar da companhia de Jarvis, seu gato, o deixou desolado. Dana não entendia por que ele guardava os pratos do cachorro em seu lugar na cozinha. Ela os pegou para jogá-los fora e ele os arrancou das mãos dela. Ela riu. Que coisa tola e sentimental a fazer, ela comentou. Isso levou a algumas palavras duras que o telefonema de Meadow havia interrompido. Ele e Dana discutiam mais e gostavam menos da companhia um do outro. Dal realmente não era muito de formar famílias e Dana era. Acabaria em breve, como todos os outros casos breves terminaram. Ele não confiava em mulheres o suficiente para ficar com uma. Ele saiu do caminhão na porta da frente de Meadow e carregou Snow para ela, esperando enquanto Meadow pegava duas toalhas de banho grossas para colocar no chão para aparar as gotículas de sangue. ─ Deixe-me ver suas mãos. - Disse Dal. Ela deixou Snow tempo suficiente para mostrar as mãos a ele. Ele fez uma careta ao tocá-las. ─ Vermelhas e em carne viva, mas sem congelamento. Você teve sorte. Não saia sem luvas novamente. - Ele instruiu. ─ Não me dê ordens. - Ela retrucou. ─ Eu não pertenço a você. ─ Graças a Deus. - Disse ele com um leve sarcasmo, seus olhos depreciando o rosto dela. ─ Eu gosto de minhas mulheres suaves e femininas. Ela sorriu docemente. ─ Que sorte a sua por ter Dana, que é as duas coisas. ─ Sim. Sorte minha. Ele prendeu os olhos dela mais tempo do que pretendia. Ela sentiu o choque de prazer por todo o corpo até os dedos dos pés e desviou os olhos rapidamente para impedi-lo de perceber. Seu coração estava loucamente acelerado. Odiava o efeito que ele tinha sobre ela. Ele estava quase noivo da florista, afinal. Ela não deveria nem pensar dessa maneira. Ele estava pensando um pouco. Era um homem experiente. E conhecia os sinais quando uma mulher o achava atraente. Meadow sempre o fez. Mesmo aos dezessete anos, seu coração disparava quando ele chegava perto. Ele tinha sido cruel, para evitar que ela chegasse perto o suficiente. Agora ela estava mais velha e começava a chegar até ele. Ele pensou que ela era dura, fria, só se importasse com o trabalho. Mas ela era vulnerável, sensível, e amava aquela cadela. Era um lado dela que ele não tinha conhecido, e isso o tocou profundamente.


Mas ele lembrou que ela ia à igreja todo domingo e nunca teve um caso. Isso a fazia perder pontos. Ele poderia se interessar por algumas noites na cama com ela, mas não estava disponível para o " para sempre." Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans e olhou para ela por baixo da borda larga de seu Stetson. Seus olhos escuros eram expressivos. ─ Você ainda me quer. - Ele comentou, e com desgosto. ─ Impossível, querida. Você ainda não é meu tipo. ─ Querer você? - Ela se levantou até a sua altura total e seus olhos verdes faiscaram para ele. ─ Ora essa, você é um arrogante, presunçoso, convencido vaqueiro! Você já nasceu convencido ou teve aulas? Ele franziu os lábios. ─ Você sempre foi tão mal-humorada ou teve aulas? - Ele retrucou. ─ Eu me dou bem com a maioria das pessoas! ─ Elas devem ser cegas e surdas. ─ O que? - Ela perguntou com raiva. ─ Não conseguem ver os chifres e cauda pontuda ou ouvir o som de enxofre borbulhando quando você aparece. - Disse ele com um sorriso vago. As bochechas dela coraram ainda mais do que pelo frio. ─ Agora, escute aqui! A batida na porta o salvou. O veterinário, Dan Johnson, era alto, louro e agradável. Ele examinou Snow, disse que suas feridas eram superficiais e deu instruções a Meadow de como cuidar dela nos próximos dias. ─ Eu vou deixar isso com você. - Disse ele, entregando-lhe uma solução tópica para as feridas. ─ Eu dei a ela uma injeção de antibiótico. Ele cuidará de qualquer infecção que possa ocorrer. Mantenha-a por perto por alguns dias. Se você vir alguma vermelhidão incomum, inchaço, esse tipo de coisa, leve-a para mim. ─ Eu vou. Muito obrigada. Eu estava com tanto medo. - Ela disse, e riu de forma insegura. ─ Eles chegam perto de você, não é? - Ele perguntou, sorrindo. ─ Eu gosto de pastores alemães. Eu tenho duas fêmeas, e elas dormem comigo. - Ele deu de ombros. ─ Eu acho que é por isso que eu nunca me casei. Não sobrou muito espaço na cama. - Acrescentou ele, rindo. Ela apertou a mão dele. ─ Aqui, eu tenho um cartão de visita. Você pode pedir ao seu contador para me mandar a conta? Ele olhou para Dal, que telegrafou uma mensagem com os olhos. ─ Claro, eu vou. - Disse ele, pegando o cartão. ─ Obrigada novamente. - Disse ela. Dal se ajoelhou para acariciar Snow. ─ Eu espero que você melhore, menina má. - Ele disse. ─ Fique fora do arame farpado, ok? Snow o lambeu. Ele se levantou e seguiu o veterinário até a porta. E virou. ─ Você vai ficar bem? - Ele perguntou. ─ Estou com frio e dolorida. Eu vou ficar bem. - Disse ela. ─ Obrigada novamente. Ela acrescentou um pouco rigidamente. ─ Desculpe ter que incomodar você. ─ Não foi um incômodo. Eu estava apenas tendo uma maldita discussão que você interrompeu. Nada demais. Até logo. Ele saiu, deixando-a curiosa sobre com quem ele estava discutindo. Certamente não Dana, que obviamente o adorava. *** Gil havia recebido a nota fiscal do antiquário em Kansas City, mas não continha nenhuma informação útil. Quando ele tentou rastrear o dono do órgão de tubos, ele chegou a um impasse. Ficou óbvio que o homem listado como vendedor mais recente


do órgão de tubos era um homem que estava enterrado no cemitério de Billings há cerca de vinte anos. ─ Que legal. - Comentou Gil. ─ Um cara morto ainda pode comprar e vender antiguidades. Quem teria advinhado? ─ Billings não é uma escolha estranha de lugar para procurar nomes em cemitérios? Ela perguntou em voz alta. ─ Temos alguém por aqui com parentes em Billings? Talvez a prima ou tia de alguém que morreu recentemente pode ter sido enterrada lá? Gil sorriu. ─ Você é uma maravilha. Essa é uma ótima ideia. Eu vou começar a checar. Ela sorriu. Isso fez com que se sentisse bem por não ser totalmente inútil. Voltou a trabalhar no caso do falsário. O seguiu até um restaurante no meio da cidade, onde ele estava comendo bife e batatas. Ele a viu chegando e apenas suspirou. Largou o garfo e a faca e bebeu o café. ─ Você é a nova investigadora do xerife, certo? - Ele perguntou resignado. ─ Eu acho que estou preso. Minha garota queria um anel de diamante, e esse velho tinha um milhão de dólares em uma conta investimento. Eu não achei que ele fosse perceber a falta de uns dois mil, sabe? Ela balançou a cabeça. ─ Sinto muito, mas roubo é roubo, independentemente da riqueza da vítima. ─ Bem, eu não vou resistir. Eu não quero acabar como Russell Harris. - Ele adicionou com um sorriso fraco. ─ Gil é muito feroz, não é? ─ Ele é. Ele inclinou a cabeça. ─ Você estava com o FBI. Deve ser uma investigadora experiente, para me rastrear rapidamente. Ela escondeu o orgulho que as palavras invocaram. ─ Apenas fazendo o meu trabalho. Se você está disposto a vir sem resistência, eu não vou algemá-lo. Ele se levantou, sorrindo. ─ Obrigado. Muito amável da sua parte. Ela saiu com ele. ─ Já esteve em apuros com a lei antes? ─ Nunca. Esta nova garota, ela quer muita coisa bonita. - Ele suspirou. ─ Acho que eu deveria ter desistido dela. Eu apenas trabalho por um salário. Não cabe muitos anéis de diamante nisso. ─ Uma mulher que o ame não vai se importar se você está falido. - Ela disse categoricamente. ─ Eu sei disso. Eu simplesmente não posso resistir a garotas más. ─ A prisão pode modificar essa mentalidade um pouco. - Ressaltou. ─ Isso é o que dizem. Ela o colocou na traseira do carro-patrulha e entrou sob o volante. ─ Se você não foi preso antes, pode obter o status de réu primário. Mantenha uma boa conduta e eles limparão sua ficha. ─ Eles vão? - Ele parecia entusiasmado. ─ Eu vou para a cadeia? ─ Talvez não por muito tempo. Não é uma acusação de homicídio. - Ela acrescentou secamente. Ele se inclinou para trás. ─ Obrigado. - Disse ele. ─ Eu deveria ter me entregado. Pensei sobre isso, mas minha garota disse que era uma má ideia. ─ Sua garota é uma má ideia. - Ela respondeu. ─ Se você quiser ficar longe de problemas, é melhor encontrar alguém menos ganancioso. ─ Bom argumento. *** Ela o levou à detenção para ser fichado. Então voltou ao escritório de Jeff para relatar o que aconteceu.


─ Ele simplesmente veio com você sem resistir? - Jeff perguntou atordoado. ─ Sim. Ele foi muito educado. - Ela inclinou a cabeça. ─ Por que você parece tão surpreso? ─ Porque Tuck Freeman é um dos homens mais violentos da cidade. - Respondeu ele. ─ Nós nunca o prendemos, mas o tiramos de algumas brigas desagradáveis em que seus oponentes tiveram que ir para a sala de emergência. Ele não é conhecido por sua maneira educada. ─ Ora! - Ela exclamou. ─ Ele disse por que ele veio sem resistir? Ela riu. ─ Sim ele fez. Ele disse que Gil era feroz e que ele não queria acabar como Russell com acusações extras por resistir à prisão. ─ Ele tem um argumento. - Ele admitiu. ─ Gil tem uma reputação própria. Poucos homens são mais duros. Ele poderia ter trabalhado em qualquer Departamento da cidade grande com sua experiência, mas ele gosta de cidades pequenas. Minha sorte foi ele ter gostado da nossa. Todo o condado poderia quase caber dentro dos limites da cidade de Denver. - Ele riu. ─ É um lugar agradável. Eu o adorava quando era pequena. Odiei quando meus pais se divorciaram e eu tive que ir embora. Se eu pudesse ter ficado com papai, saberia o que fazer com o rancho. Ele desviou os olhos. ─ Já pensou em vendê-lo? ─ Todos os dias. - Ela confessou, e perdeu o brilho de seus olhos repentinamente. ─ Mas então penso em meu pai e em como ele trabalhou duro para torná-lo próspero, e percebo que não posso vendê-lo. Então, minhas únicas opções são aprender administração de ranchos ou contratar um profissional. ─ Contratar um profissional pode ser arriscado. - Ele disse para desencorajá-la. ─ Você não sabe em quem pode confiar até que seja tarde demais, às vezes. ─ Esta sou eu. Eu, realmente não confio mais nas pessoas. - Disse ela. ─ Bem, voltarei a trabalhar no próximo caso. Aquele caso de assalto... ─ Não. Ela olhou para ele. ─ Esse é o caso de Gil. - Disse ele. E sorriu. ─ Nós vamos mantê-la fora de enrascadas perigosas, só por um tempo. OK? Ele era um cara muito legal. ─ OK. ─ Pensou mais sobre o baile? Ela tinha pensado. E algo a fez mudar de ideia. Seu pai havia investido em uma companhia de petróleo, e os cheques da empresa de investimentos estavam sendo depositados diretamente na conta corrente conjunta que ela e o pai abriram quando viram a saúde dele começar a enfraquecer. Ela teve um lucro de várias centenas de dólares. Mais do que suficiente para comprar um belo vestido e sapatos para combinar. ─ Eu vou. - Disse ela. Ele se iluminou. ─ Você irá? Isso é ótimo! ─ O que é ótimo? - Gil perguntou quando entrou. ─ Meadow vai para a festa de Natal comigo. Gil o fulminou com o olhar. ─ Não é justo. Eu nem tive a chance de convidá-la. Meadow se sentiu valorizada. Ela sorriu para ele. ─ Eu ainda vou dançar com você, se você for. ─ Eu posso dançar qualquer ritmo. - Disse Gil, zombando do xerife. ─ Ele fica parado em um lugar e arrasta os pés. Meadow riu. ─ Eu não me importo. ─ Você pode ter uma dança. - Disse Jeff a seu sub-xerife. ─ Eu sou seu chefe. Agora vá trabalhar antes que eu o voluntarie para controlar o trânsito no jogo de futebol da escola.


─ Sádico. - Gil murmurou quando ele passou. Todos eles riram. *** Meadow comprou um vestido vermelho. Ela não queria, mas continuava se lembrando dos comentários depreciativos de Dal Blake sobre seus esforços para seduzilo quando estava com dezessete anos. Vestidos vermelhos tinham desempenhado um papel importante no relacionamento dos dois. O primeiro vermelho tinha terminado em uma caixa de carvão, o segundo em uma tigela de ponche. Será que o terceiro, lhe traria sorte, se perguntou. Mas este vestido vermelho não era como o que não se salvou no acidente com a caixa de carvão. Era feito de veludo vermelho escuro com detalhes em preto. Descia até os seus tornozelos. O corpete era drapeado, com alças largas que aumentavam sua elegância e faziam os seios pequenos de Meadow parecerem maiores. A cor, justiça seja feita, a favorecia. Assim como o recorte que enfatizava sua cintura pequena e os quadris bem arredondados. Ela comprou sapatos de saltos altos de couro preto com tiras para usar com ele. Planejava fazer um leve ondulado no cabelo para o evento, deixá-lo solto em volta dos ombros e colocar uma orquídea de seda preta. O efeito seria exótico, para dizer o mínimo. E esperançosamente isso apagaria a lembrança de Dal da jovem desajeitada e deprimente que ela foi aos dezessete anos. Também, com sorte, apagaria a lembrança do segundo vestido vermelho que tinha sido manchado pelo ponche, na festa de Natal onde Dal a beijou tão avidamente na frente de toda a multidão. Só de pensar naquele beijo sob o visco a fez sentir um formigamento por todo o corpo, e isso é mau. Ela dançaria apenas com Jeff, e talvez Gil, e deixaria Dal com sua florista. Ela sabia que ele nunca iria querer dançar com ela. Ele nem gostava dela. *** Snow estava se recuperando bem. Tinha se curado do acidente com a cerca de arame farpado, e Meadow tinha sido cuidadosa sobre sair com ela a qualquer momento que ela tivesse que usar o banheiro durante a noite e de manhã cedo. Quando Meadow ia trabalhar, fechava a portinhola do cachorro. Não era a solução perfeita, mas parecia funcionar. Pelo menos, Snow não estava visitando Dal. Mas Jarvis ainda estava fazendo suas rondas, com neve e tudo. Ela se perguntou como o gato grande conseguia atravessar a neve, quando ela já estava com quase trinta centímetros de profundidade. Ele chegou no final da tarde e enroscou-se nos tornozelos dela, ronronando feito louco. ─ Menino mau. - Ela o repreendeu. ─ Você vai me colocar em apuros novamente. Ele apenas ronronou mais um pouco. E até se esfregou contra Snow, ela gostava dele. Animais estranhos, estava pensando quando pegou seu celular. Muito estranhos! O telefone tocou e tocou. Finalmente, ele atendeu. ─ Alô. - Ele atendeu rispidamente. Não era uma saudação amigável. Ele reconheceu seu número. ─ Seu gato está aqui embaixo. - Ela disse sucintamente. ─ Você o atraiu com guloseimas de frango ou o sequestrou como uma desculpa para me ver? - Ele perguntou. Ela apertou o botão vermelho e jogou o telefone no sofá. Uma sequência de maldições se seguiram a isso. Ela poderia ter gritado. Só queria ter um telefone antigo, um que ela pudesse bater o fone nos ouvidos dele, o porco! Minutos depois, seu caminhão parou do lado de fora. Ela esperou alguns segundos depois que ele bateu para ir até a porta da frente. Estava com Jarvis em seus braços quando abriu a porta. ─ Aqui. - Disse ela, entregando-lhe o gato grande. Suas sobrancelhas arquearam sobre os olhos castanhos. ─ Nenhum convite para tomar café e conversar?


─ Eu não bebo café à noite, e eu não quero conversar com você. A estrada é ali. - Ela apontou. ─ Você com certeza se levantou do lado errado da cama. - Comentou ele. ─ Jeff é um amante tão ruim assim? Ela corou. ─ Minha vida particular não é da sua conta. ─ Devo ser grosseiro e lembrar que salvei sua cadela? A branca aqui que gosta de me seguir para casa? - Ele indicou Snow, que estava sentada pacientemente na frente dele, obviamente apaixonada. Ela cruzou os braços sobre o peito. ─ Eu agradeci por isso. ─ É, você agradeceu. Ela olhou para ele. ─ Tudo que você faz é me insultar. Não espere uma recepção calorosa aqui. ─ Nunca passou pela minha cabeça. - Disse ele, estudando seu rosto zangado. ─ Você vai com Jeff para o baile de Natal? ─ Sim. ─ Eu vou com Dana. Ela pode dançar. Meadow também podia, mas não ia perder seu tempo dizendo isso a ele. ─ Você dança? - Ele perguntou. ─ Eu nunca vi você fazer isso. A tigela de ponche ficou no caminho... ─ Estou congelando. - Ela indicou a porta aberta atrás dele. ─ Quer que eu entre e feche a porta? - Ele perguntou em um tom brincalhão. ─ Que tal fechá-la do lado de fora? - Ela replicou. ─ Mulher sem coração. Se você não me quisesse aqui, por que atraiu meu gato? ─ Eu não tenho que atrair seu gato, ele acha que mora aqui! ─ Sua cadela acha que é minha. - Ele indicou Snow lambendo a mão que não estava segurando Jarvis. ─ Vou falar com ela com firmeza. - Disse ela. ─ Agora, boa noite. Ele riu baixinho. ─ Você só tem melhorado com a idade. ─ Eu tenho realmente? Desculpe, mas sua opinião está muito abaixo da minha lista de coisas que importam. ─ Provavelmente sim. - Seus olhos escuros deslizaram por seu rosto e até sua boca macia. ─ Eles terão visco no baile. Ela corou com a lembrança. ─ Bem eu tenho certeza que você e Dana vão treinar bastante. - Disse ela sarcasticamente, quase o empurrando para fora da porta. ─ Eu posso deixar você me beijar. - Ele provocou. ─ Nunca em um milhão de anos. - Ela respondeu. ─ Eu não tenho ideia de por onde você esteve! - E antes que ele pudesse responder, ela fechou a porta na cara dele, apesar dos protestos de Snow. Ela podia ouvir uma risada suave do lado de fora antes de sair da sala.

CAPÍTULO SETE A coisa realmente interessante em se trabalhar na polícia, pensou Meadow, era a infinita variedade de incidentes que aconteciam a cada novo dia. Nunca se sabia o que poderia acontecer. Poderia haver uma acusação de vandalismo para investigar, uma reclamação sobre um estabelecimento que se recusava a compensar um produto defeituoso, um tiroteio, uma perturbação doméstica, alguém em excesso de velocidade. Tanta variedade tornava o trabalho interessante. E às vezes, perigoso. As pessoas que trabalhavam na aplicação da lei sabiam que os distúrbios domésticos eram os responsáveis por grande parte da morte de policiais. De vez em quando, inclusive, a própria pessoa que ligava para o 911 para denunciar uma agressão estava armada e se vingava se o agressor fosse preso. Tiroteios não eram raros, e fatalidades frequentemente aconteciam.


Mas não em Raven Springs. Ninguém se lembrava da última vez que alguém local foi baleado. O único susto que algum agente da lei já teve, com exceção do incidente de tiro de Jeff, foi quando Bobby Gardner derrapou com seu carro-patrulha para fora da estrada, bateu em um banco de neve e quebrou o pára-brisa. Considerando os tiroteios trágicos em escala nacional recentemente envolvendo policiais, era um milagre que a polícia local tenha permanecido em segurança. Meadow ainda estava trabalhando no roubo da lamparina Vitoriana. Ela enviou a foto para várias casas de leilões, mas sem respostas até o momento. Gil disse que isso não era nenhuma surpresa. ─ O órgão de tubos desapareceu aqui. - Ele lembrou. ─ E acaba de aparecer naquela grande casa de leilões no leste. Obviamente, o ladrão esperou até que ninguém local pudesse notar. Ele se sentiu seguro para tentar vendê-lo. - Ele franziu os lábios. ─ Interessante, no entanto, a maneira como ele encobre seus rastros. Usar a identidade de um homem morto na nota fiscal é ser cauteloso. Se não tivéssemos investigado, poderia ter passado despercebido. A nota de venda parecia legítima. ─ Sim, parecia. - Ela concordou. ─ Duas antiguidades, que originalmente pertenciam a pessoas famosas, ambas roubadas localmente. Uma volta para o leste, a outra ainda está desaparecida. ─ Bem, nós sabemos que quem levou os dois itens sabia o seu valor. - Ele fez uma careta. ─ O problema é que quase nunca temos roubos desse tipo aqui. Quero dizer, as pessoas invadem, roubam dinheiro e armas, principalmente. Poucas pessoas saberiam o valor de antiguidades como essas. Ela assentiu. ─ Há quanto tempo o Sr. Markson está aqui? ─ Ele veio com a cidade. - Ele riu. ─ Ele está aqui há muito tempo e é tão honesto quanto o dia é longo. E se você está pensando que Gary foi o responsável, o rapaz mal tem energia suficiente para colocar gasolina em seu caminhão. Ele não é o tipo de invadir. Ele é muito preguiçoso. ─ Eu acho que você está certo. - Ela concordou. ─ Ele teria sido meu primeiro suspeito. Ele a estudou com um sorriso. ─ Ele conhece antiguidades e tem laços com casas de leilões no leste. Talvez ele gostasse de algo como aquela mesa elegante que Dal Blake possui. Tem uma história que a torna inestimável. É um item pelo qual um vendedor pode estipular seu próprio preço e consegui-lo. - Ele franziu a testa. ─ Como a lamparina Vitoriana e o órgão de tubos. Não é o status de antiguidade deles que os torna valiosos, são os proprietários originais. Ambas as peças pertenciam a ex-presidentes. Mas a mesa de Dal, hoje é a verdadeira história. ─ Por outro lado... - Ela riu. ─ se desaparecesse, seria quase impossível colocá-la no mercado sem contar sua história. ─ É verdade. - Ele concordou. ─ Mas há colecionadores particulares, sabe disso. O tipo que compra antiguidades inestimáveis e as mantém em cofres pessoais, à portas fechadas. Milionários que podem pagar qualquer quantia de dinheiro. ─ Vamos esperar que o Sr. Blake nunca precise se preocupar com alguém tentando roubá-lo, então. - Disse ela. ─ Eu não gostaria de tentar invadir a casa de Dal. - Gil riu. ─ Não com aquele gato grande lá dentro. Na verdade, ele atacou um cowboy de Dal que entrou no escuro sem acender a luz. Era uma espécie de emergência, mas Jarvis não se importou. O cowboy ficou com arranhões de cabo a rabo. Ele gritou a plenos pulmões para Dal salvá-lo, no final. ─ Jarvis é muito grande. - Ela concordou. E riu. ─ Eu acho que ele é feroz o suficiente para se qualificar como um vigia, mas ele gosta de mim. ─ Nós ouvimos sobre isso. Passa a vida no seu rancho, como a sua cadela passa no de Dal. Animais estranhos. ─ Eu estava pensando a mesma coisa. Um telefone tocou no escritório externo e a recepcionista, a velha Sra. Pitts, enfiou a cabeça pela porta um minuto depois.


─ Alguém avançou o sinal vermelho e bateu no Lincoln do velho Barkley. Quem quer salvar o motorista da ira dele? Era um fato bem conhecido localmente que Barkley comprou o Lincoln novo e o polia à mão. Era o bebê dele. O outro motorista estaria correndo risco de vida. ─ Eu vou. - Disse Gil. ─ Eu posso ter que prender o outro motorista. - Ele riu. ─ Boa sorte. - Gritou Meadow atrás dele. ─ Esse é um bom rapaz. - Observou a Sra. Pitts quando Meadow a seguiu até o escritório externo. ─ Você vai ao baile de Natal com ele? ─ Não. - Disse Meadow. ─ Com Jeff. Ela riu. ─ O xerife não sai muito. Ele estava saindo com a Dana Conyers até ela colocar o laço em Dal Blake. - Ela fez uma careta. ─ Jeff tem um bom rancho, mas ele não pode igualar as contas bancárias com as de Dal. Criatura desagradável, aquela mulher. Ela finge muito bem. Vai à igreja, ensina na Escola Dominical, faz trabalho voluntário. Ela vende flores, mas ela não gosta disso, sabe? - Ela acrescentou de repente. Meadow franziu a testa. ─ Você não entende, não é? - A senhora Pitts perguntou gentilmente. ─ Veja, as pessoas que cultivam flores se enquadram em uma categoria especial. Eles são pessoas solidárias, do tipo que parariam para salvar uma pessoa que estivesse se afogando ou ajudariam um pequeno animal a sair da estrada. Dana herdou a loja de sua tia. Ela super fatura tudo e quando as pessoas pedem algo exótico ela troca por flores menos caras. Foi chamada pelo pastor da nossa igreja Metodista depois que um membro que comprou flores lhe disse que Dana não havia entregue o que ele encomendou. ─ Ela não me parece uma florista típica. - Meadow teve que admitir. ─ Mas ela é muito bonita. ─ Muito bonita do lado de fora, eu acho. - A mulher mais velha concordou. ─ Eu prefiro ser bonita por dentro. Um coração bondoso é mais importante do que a embalagem em que ele vem, sabe disso. Ela sorriu. ─ Eu sei. ─ Você conhece Dal Blake há muito tempo. ─ Desde que eu tinha cerca de treze anos. - Ela respondeu. ─ Ele e meu pai eram sócios. Ele frequentava a nossa casa às vezes quando eu estava visitando. ─ Seu pai gostava dele. - Disse ela. ─ Mas ele não o queria perto quando você estava no ensino médio. E até na faculdade. Ele disse que você poderia conseguir alguém muito melhor do que um homem que colecionava corações. ─ Você conheceu o papai? Ela assentiu, sorrindo. ─ Estudamos juntos. Ele era um bom homem. Sua mãe não era daqui. Nós esperávamos que ela se estabelecesse e ficasse com ele, mas nós éramos muito rurais para ela se adequar. Desculpa. Eu não quis ofender. ─ Não ofendeu. - Respondeu Meadow. ─ Eu amava minha mãe, mas ela realmente era uma pessoa esnobe. ─ Seu pai não era. Ele nunca julgou as pessoas pelo que elas tinham. Machucou todos nós perdê-lo. - Acrescentou. ─ Ficamos felizes quando você voltou para cá. O rancho faz parte de nossa comunidade desde que seu pai o fundou, há muito tempo. ─ Eu gostaria de saber como administrá-lo corretamente. - Confessou Meadow. ─ Eu não estive perto o suficiente para aprender as manhas. Agora é tarde demais. Eu tenho que depender dos homens para saber o que fazer. Mas isso não vai salvá-lo. Precisamos de um administrador experiente. Esses são escassos. ─ Você deveria se casar com Jeff e deixá-lo cuidar disso para você. - Disse a sra. Pitts maliciosamente. Ela riu. ─ Ele é um homem muito bom, mas... - Ela encolheu os ombros. ─ Eu sei o que você quer dizer. Ele ainda está preso a Dana, apesar de tudo. - Ela balançou a cabeça. ─ Nunca deixa de me surpreender o quanto alguns homens amam ser maltratados por uma mulher. Ela o criticou, o enganou, o fez de bobo, o xingou e ele


continuou voltando. - Ela sentou-se à sua mesa. ─ Isso não vai funcionar com Dal Blake. Ele vai dispensá-la e sair pela porta. Nunca conheci uma mulher da qual ele não pudesse se afastar. Nem mesmo quando era mais jovem. O pensamento fez Meadow ficar triste, mas ela escondeu isso. Ela foi para sua própria mesa. ─ Bem, eu tenho trabalho a fazer. É melhor eu fazê-lo antes que precise sair pela porta para procurar um novo emprego. - Ela riu. ─ Jeff não vai demitir você. Ele está muito grato pela ajuda. - Ela balançou a cabeça. ─ Tem sido difícil para ele desde que nosso investigador saiu. ─ Eu não estou fazendo muito progresso com a lamparina Vitoriana. ─ Você vai. - A Sra. Pitts disse a ela. ─ Você tem uma boa cabeça em cima desses ombros. Tudo que você precisa é de um pouco de auto-estima. As sobrancelhas de Meadow se arquearam em uma pergunta. ─ Não deixe Dal Blake passar por cima de você. - Foi o comentário inesperado. ─ Ele vai, se você deixar. ─ É melhor que ele esteja usando botas grossas. - Ela retrucou. A Sra. Pitts apenas riu. *** Meadow foi até a única loja de conveniência da cidade para investigar o roubo de uma jaqueta e um par de botas que pertenciam ao proprietário. Ninguém trancava as portas por aqui. Alguém entrou pela porta dos fundos enquanto o proprietário atendia um cliente e saiu com os itens. A coisa estranha era que o ladrão havia colocado as botas. O proprietário reconheceu o padrão do solado quando eles caminharam no quintal onde a neve estava caindo. ─ Agora, isso não é um absurdo? - O homem disse, exasperado. ─ Ele rouba minhas melhores botas de neve e simplesmente sai andado com elas! Ele não se importou com os rastros? ─ Eu acho que ele pode ter abusado da cerveja. - Meadow riu. ─ Eu vou ver se posso pegá-lo. ─ Seja cuidadosa. É fácil se perder nos bosques quando a neve está caindo assim. ─ Eu vou. Obrigada. Ela começou a seguir os rastros pela parte de trás. Eram como migalhas de pão. Ela riu para si mesma. Que ladrão estranho. A trilha descia a colina, atravessava um riacho congelado e subia até a parte de trás da churrascaria local. Na verdade, levava direto para a porta dos fundos. Ela bateu e um jovem surpreso abriu a porta e olhou boquiaberto para ela. Ela olhou para baixo. Ele estava usando as botas. Botas de neve. Com a neve ainda grudada nelas. ─ Bem, droga! - O rapaz explodiu. ─ Você gostaria de se explicar? - Meadow perguntou. Ele soltou um suspiro irritado. ─ Billy Joe roubou minha garota. - Ele deixou escapar. ─ Eu fiquei furioso. Eu a vi saindo da loja de conveniência e chutei um galho, eu estava tão bravo... e rolei colina abaixo até o riacho. Molhei meus tênis e meu casaco. Então eu entrei pela porta dos fundos e peguei os de Billy Joe. - Ele acrescentou beligerantemente. Ela notou o par de tênis encharcados e jaqueta no chão ao lado dele. ─ Vá em frente, me algeme, me prenda. - Ele murmurou. ─ Eu não tenho nada pelo que viver de qualquer maneira, desde que Billy Joe roubou minha garota! Meadow fez uma careta. ─ Sinto muito. - Disse ela. ─ Mas, independentemente do motivo pelo qual você os levou, o fato é que foi um roubo. Tenho que prender você. ─ Compreendo. Tudo bem. - Ele respirou fundo. ─ Que dia ruim!


Meadow chamou um dos policiais para buscá-lo e levá-lo ao centro de detenção enquanto carregava as botas e a jaqueta até a loja de conveniência e pedia a Billy Joe para identificá-los. Ele o fez, mas disse que não iria prestar queixa. ─ Eu não pretendia roubar a namorada dele, mas ela gostava mais de mim e não queria ir embora. - Ele disse simplesmente. E riu. ─ Eu acho que algumas garotas são difíceis de se conseguir manter. De qualquer forma, ele não deveria perder o emprego e a liberdade porque teve um ataque de raiva. Ela sorriu. ─ Você é um bom camarada. Ele riu. ─ Ela é uma boa garota. *** Jeff riu quando ela contou a ele sobre o trabalho da manhã. ─ Não se pode dizer que este trabalho seja sempre aborrecido. - Ressaltou. ─ Não. Certamente não se pode. Ela e Jeff pararam no restaurante local para almoçar. Era estilo self-service. A comida era boa e barata. Muitas pessoas almoçavam lá todos os dias. Quando ela e Jeff levaram as bandejas para uma cabine, Meadow notou Dal Blake e Dana Conyers dividindo uma mesa próxima. Ela desviou os olhos deles e sorriu para Jeff enquanto eles descarregavam suas bandejas. ─ Eu gosto do jeito que eles fazem o peixe. - Comentou Jeff. ─ O cozinheiro veio de Los Angeles. Ele disse que o tráfego o estava deixando maluco. Ela riu. ─ O ritmo mais lento é muito bom. - Disse ela. ─ St. Louis também tem sua parcela de tráfego. ─ Dana é de Los Angeles. - Comentou Jeff, olhando irritado para a mesa que ela estava compartilhando com Dal. ─ Sua tia adorava isso aqui, mas Dana tem preferência por Champagne. É melhor não apostar em que Dal vá colocar um anel no dedo dela. Nenhuma mulher jamais conseguirá levá-lo a um altar. ─ Eu não estou surpresa. - Disse Meadow despreocupadamente. ─ Ele gosta de curtir a vida. ─ Se eu tivesse o dinheiro dele, poderia... não, isso não é verdade. - Ele adicionou com um suspiro. ─ Eu gostaria de encontrar uma mulher legal e me acalmar. Construir uma família. Tenho trinta e cinco anos. Eu não quero passar o resto da minha vida sozinho. ─ Há coisas piores. - Ela apontou. Seus olhos deslizaram pelo rosto dela. ─ Você quer se casar? Ela encolheu os ombros. ─ Não está no topo da minha lista de prioridades. - Ela confessou. E não acrescentou que ninguém ainda quis se casar com ela. Ela era irmã caçula de todo mundo no trabalho, geralmente. Seus encontros eram infrequentes e geralmente infelizes. Ela não tinha ilusões sobre si mesma. Mas não disse isso para Jeff. ─ É difícil para as pessoas que trabalham na aplicação da lei se relacionarem com alguém que não compartilha o trabalho. - Comentou ele. ─ Eu já vi muitos divórcios desde que comecei. Nós não queremos levar o trabalho para casa. Há tantas coisas horríveis que temos que ver, coisas que não podemos dizer para as pessoas de fora. ─ Eu sei o que você quer dizer. - Disse ela. ─ Os civis têm dificuldade em entender as demandas do trabalho, muito menos o estresse que ele causa ou o senso de família que cria. ─ Compartilhamos coisas que pessoas de fora não conseguem entender. - Ele concordou. Ele fez uma careta. ─ Eu nunca poderia falar com Dana sobre nada disso. Ela dizia que não era algo sobre o qual queria ouvir falar. Pensava que era idiota se carregar uma arma, e não gostava que eu fosse chamado todas as horas nos casos. Ela disse que eu deveria pendurar o distintivo na porta e esquecer até a manhã seguinte.


─ Isso não daria certo quando um homem estivesse espancando sua esposa e filho até a morte e você fosse chamado para salvá-los. ─ Eu sei, certo? - Ele tomou um gole de café. ─ Eu acho que sabia que não daria certo. Mas eu era louco por ela. ─ Você não pode se forçar a amar as pessoas certas. - Ela riu. ─ Você já esteve apaixonada? - Ele perguntou. ─ Não. - Ela mentiu. ─ E espero que nunca estar. Meus pais pareciam se amar, mas não podiam viver juntos. Eu não quero acabar como eles. ─ Meus pais foram casados e felizes por cinquenta anos. - Ele lembrou com carinho. ─ Eles morreram juntos em um acidente, o carro passou por cima da grade de proteção na Floresta Nacional de Shoshone no Wyoming durante uma tempestade de chuva. Nenhum deles poderia ter vivido muito tempo sem o outro. - Acrescentou. ─ Eles eram como duas metades de um todo. ─ Você tem irmãos? - Ela se perguntou. Ele balançou sua cabeça. ─ Eu era filho único. Eu tinha começado a trabalhar como adjunto no departamento do xerife quando eles morreram. Foi difícil, no entanto, perder os dois ao mesmo tempo. ─ Eu sinto muito. ─ Sua mãe morreu há algum tempo atrás, não é? Ela assentiu. ─ Erámos apenas nós duas. Nós nos desentendíamos, mas nos amávamos. Foi difícil. Mas perder papai... - Ela parou e tomou um gole de café, para não chorar. ─ Fica mais fácil, com o passar do tempo. ─ Sim. Mike Markson entrou na porta um minuto depois e parou na mesa para cumprimentá-los. ─ Como você está indo no caso da lamparina roubada? - Ele perguntou a Meadow. ─ Lentamente. - Disse ela com um sorriso. ─ Mas ainda estamos no começo da investigação. ─ Gil rastreou o órgão até o leste. - Jeff disse a ele. ─ Foi vendido através de um antiquário em Kansas City. ─ Sério? - Mike perguntou. ─ Quem foi? Eu conheço alguns negociantes lá... ─ Você não poderia conhecer esse, Mike, - Disse Jeff, enquanto colocava sua xícara de café na mesa. ─ Ele está enterrado em Billings. ─ O que? ─ Um cara morto vendeu o órgão de tubos para o antiquário em Kansas City. - Disse Jeff com olhos brilhantes. ─ Incrível, como ele conseguiu isso. Mike assobiou. ─ Deus do céu! ─ De qualquer forma, a pista esfriou depois disso. Mike sacudiu a cabeça. ─ O velho Halstead era de Billings. - Ele mencionou. ─ Ele tinha parentes lá. Na verdade, sua tia morreu recentemente. ─ Velho Halstead? - Meadow perguntou. ─ O dono do órgão de tubos que foi roubado. - Mike disse a ela. ─ Na verdade, pedi a Gary que o levasse até lá para o funeral, para que ele pudesse falar com o antiquário que de quem ele comprou o órgão. Ele esperava que o homem se lembrasse de alguém perguntando sobre isso, você sabe, sobre quem o comprou. Alguém com um interesse incomum nele. ─ Havia uma pessoa? - Perguntou Meadow. ─ Na verdade, havia. - Mike disse a ela. ─ O comerciante teve que recusar um homem que lhe ofereceu uma pequena fortuna, porque ele prometeu o órgão a Halstead. ─ Eu adoraria falar com esse revendedor. - Disse Jeff. ─ Eu vou enviar Gil para vê-lo, se você puder nos fornecer um nome e número de telefone. ─ Vou pegar as informações quando voltar para a minha loja e enviá-las por e-mail para você, que tal assim? - Mike perguntou, sorrindo. ─ Seria uma grande ajuda. - Disse Jeff. ─ Gary não está com você hoje?


─ Ele ainda está dormindo. - Mike disse cansadamente. ─ Ele fica sentado a noite toda em salas de bate-papo, conversando com pessoas que não conhece. Quando não está jogando videogames online. - Acrescentou. ─ Eu continuo esperando que ele tenha um interesse maior no negócio. Eu não estou ficando mais jovem. Mas Gary não se interessa por antiguidades de pouca importância. ─ Vergonha. - Disse Jeff. ─ É realmente. Eu deveria ter tido mais filhos. - Mike disse suspirando. ─ Bem, eu vou almoçar e depois envio as informações pra você. É bom ver vocês dois. Eles assentiram. ─ Isso pode nos dar uma folga. - Comentou Jeff com um sorriso. ─ Eu adoraria poder devolver esse órgão para o Sr. Halstead. Pertenceu a sua bisavó, se perdeu, ele o recuperou. Ele a amava muito. Não é tanto o valor monetário, mas sim o valor sentimental. ─ Não é assim com a maioria das coisas? - Ela perguntou em voz alta. ─ Eu tenho o kit de costura da minha mãe. É antigo e nada chique, mas é inestimável, porque pertenceu a ela. ─ Por que vocês dois não estão trabalhando? - Dal Blake perguntou sarcasticamente, segurando a mão de Dana enquanto fazia uma pausa na mesa deles. ─ Vadiando na hora do condado, não é? Meadow se arrepiou, mas Jeff apenas riu. ─ Saia daqui. Estamos na hora do almoço. Até a polícia precisa comer. ─ Oi, Jeff. - Dana ronronou. ─ Você vai ao baile de Natal? ─ Sim. Eu vou com Meadow. A sobrancelha de Dal se levantou. ─ Pelo amor de Deus, poupe-nos a todos e não use um vestido vermelho, ok? Meadow olhou para ele. ─ Qual o problema com um vestido vermelho? - Dana sondou. ─ A primeira vez que ela usou um, acabou na caixa de carvão da lareira na casa do pai. - Dal falou lentamente, se divertindo. ─ Na segunda vez, ela caiu na poncheira e levou o conteúdo para casa. Dana estava rindo ruidosamente. ─ Você é desajeitada, não é? - Perguntou a Meadow. Jeff olhou para ela. ─ Nem todo mundo é perfeito. - Disse ele rapidamente. Dana corou. ─ Eu não insinuei... - Ela começou. Jeff jogou o guardanapo no chão e se levantou. ─ Pronta para ir? - Ele perguntou a Meadow com um sorriso caloroso. ─ Sim, eu estou. - Disse ela, e retribuiu o sorriso. Dal olhou para os dois. Ao lado dele, Dana ficou furiosa com o modo como Jeff a desprezou. Eles saíram sem outra palavra para qualquer um dos dois ainda de pé perto da mesa. ─ Ela é insuportável. - Disse Jeff secamente, voltando-se para Meadow no carropatrulha. ─ Não a deixe atingi-la. Ela gosta de alfinetar as pessoas. ─ Eu sou impermeável. - Ela mentiu com uma risada. ─ Eu tento ser. Ela gosta de esfregar Dal Blake na minha cara. - Ele acrescentou secamente. ─ Ela até me disse que se eu fosse um pouco mais rico, ela nunca teria me trocado por ele. ─ Que meiga! - Ela murmurou. ─ Ele não foi muito gentil, com essa observação sobre o seu vestido. Você deveria usar um vermelho só para irritá-lo. - Acrescentou. Ela sorriu. ─ Na verdade, comprei um novo vermelho. - Ela respondeu. ─ E eu não pretendo acabar na poncheira desta vez.


─ Eu vou me certificar que você não acabe. - Ele olhou para o outro lado do estacionamento, onde Dal estava ajudando Dana a entrar no seu grande Lincoln. ─ É melhor voltarmos ao trabalho. ─ Pronta quando você estiver, chefe. - Ela dise tranquilamente. Ela representou bem, mas seu coração estava partido. Dal era insensível. Ela deveria ser grata por ele não gostar dela. Um homem assim transformaria seu orgulho em farrapos. Mas parte dela ainda tinha dezessete anos, atenta a cada palavra, tão apaixonada que doía até olhar para ele. Ela esperava poder manter esses impulsos sob controle. A última complicação que precisava em sua vida era dar a Dal Blake a ideia de que ela não poderia viver sem ele. *** A neve veio de repente, era tal nevasca que Meadow nem sequer conseguia ver o caminho para chegar a seu SUV. Ela colocou óculos escuros, o que ajudou um pouco. Encontrar seu carro foi difícil. Quando ela o encontrou, ele estava sob pelo menos um metro e meio de neve, ela percebeu que precisaria desenterrá-lo para depois começar a desobstruir a sua entrada de automóveis. Limpar essa quantidade de neve levaria horas e ela nem sequer possuía uma pá de neve. Estava ao lado de seu SUV enterrado, com o capuz de sua parca puxada sobre o cabelo loiro, e tentando decidir o que fazer a seguir, quando ouviu o tilintar de sinos. Se virou e lá estava Jeff em um trenó, puxado por dois cavalos. Ele parou o trenó ao lado do SUV e sorriu para ela por baixo da aba do chapéu. ─ Quer carona? - Ele brincou. Ela sorriu carinhosamente. ─ Eu quero! Muito obrigada! Acho que estaria aqui até depois do Natal se tivesse que tirar meu pobre SUV daí. Ele ajudou-a a entrar no trenó e fez os cavalos se mexerem. ─ E o seu gado? - Ele perguntou. ─ Eu conversei com meu capataz. Ele disse que os homens chegariam até eles, mesmo se tivessem que sair de sapatos de neve de pás.* - Ela balançou a cabeça. ─ Faz muito tempo desde que eu vi neve tão profunda. ─ É o Colorado. Nós temos muita neve. Ela sorriu para ele. ─ Esta é uma boa maneira de começar a trabalhar. ─ Bem... - Respondeu ele. ─ é até a neve derreter. Ela riu ─ O que você faria então? ─ Deixaria o trenó nos fundos do escritório e pediria a Gil que me ajudasse a levar os cavalos para casa, montado em pelo, eu acho. Ela gostou de sua desenvoltura. ─ Eles são uma boa equipe. - Ela comentou. ─ Eu ouvi que alguns cavalos não podem ser treinados para puxar trenós ou qualquer tipo de carga. ─ Isso é verdade. Há cavalos que você monta e cavalos que você usa para puxar cargas ou trenós. Algumas pessoas aprendem isso da maneira mais difícil. - Ele riu. ─ Como o velho Beasley, que atrelou uma égua arisca a uma carroça e achou que ela se acalmaria assim que se acostumasse. ─ O que aconteceu? - Ela perguntou. ─ Ela ouviu o cano de descarga de um carro ao longe, empinou, virou a carroça, Beasley e tudo, e caiu no riacho. Ele trocou a égua comigo por um bom cavalo de tração. ─ O que você fez com ela? *Sapatos de neve de pás


─ Ela se tornou um dos melhores animais de sela que eu já tive. Existem métodos para acostumar um cavalo arisco ao ruído, para dessensibilizá-lo. Trabalhei com ela por algumas semanas e ela superou seus episódios nervosos. ─ Isso é bom. - Ela comentou. Ele sorriu para ela. ─ Eu gosto de animais. ─ Sim. Eu também. Ela recostou-se no banco e observou a paisagem nevada passar como um slide enquanto os cavalos trotavam através da neve. ─ Deveríamos estar cantando algo como "Winter Wonderland"? - Ela perguntou com uma risada. ─ Que tal "Jingle Bells" em vez disso? ─ Ok! Eles cantaram a música popular até a cidade, rindo entre os refrões. *** Na noite do baile de Natal, Meadow vestiu seu vestido vermelho sexy, decidiu prender o cabelo cuidadosamente em um penteado elegante no alto da cabeça com pentes de rubi sintéticos, e fez uma maquiagem perfeita. O resultado a fez se sentir bem. Não era bonita, mas se fizesse um esforço, poderia parecer bastante atraente, ela decidiu enquanto estudava seu reflexo no espelho. Ela pensou sobre os comentários venenosos de Dal Blake sobre seus dois últimos vestidos vermelhos e corou de raiva. Ele sempre a insultava, não importava o que ela dissesse, fizesse ou usasse. Se perguntou por que ele era tão antagônico com ela. Ela não fez nada para merecer tal tratamento. Deus sabia, escondia seus sentimentos por ele tão bem que ninguém ao seu redor suspeitava que gostasse dele. Mas ele fazia o possível para insultá-la. Tentou não pensar no último baile de Natal que participou, quando seu pai estava vivo. Aquele baile em que Dal a beijou tão vorazmente sob o visco havia colorido toda a sua vida desde então. Ela não podia esquecer. Teve uma ideia maluca de que ele também sentia algo por ela, naqueles poucos segundos intermináveis e comoventes em que sentiu sua boca dura contra a dela. Claro, ele estava bebendo. E fez comentários sarcásticos depois. Quando o bêbado a assediou e a fez derramar o conteúdo da tigela de ponche sobre ela, Dal jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada. Ele nem sequer tinha sido compreensivo enquanto ela estava ali com o ponche escorrendo do seu lindo vestido, humilhada além do aceitável. Seu pai, abençoado seja, a levou para casa. Ele disse algumas palavras duras sobre e para Dal Blake depois. Ele disse a Meadow que o homem nunca seria bem-vindo em sua casa novamente, não depois disso. Meadow disse que isso não importava. Ela morava longe e Dal era gentil com seu pai, mesmo que não fosse gentil com ela. Às vezes, ela disse filosoficamente, as pessoas acabam desenvolvendo aversões por outras pessoas. Não era lógico, mas era assim. O fato é que Dal Blake não gostava de Meadow Dawson. Ponto. Sim, ele a beijou sob o visco, mas ele estava bebendo. Homens sob influência do álcool muitas vezes faziam coisas estranhas. Como policial veterana, Meadow sabia disso melhor do que muitas pessoas. Ela teve que lidar com maridos bêbados espancando esposas, filhos, até animais de estimação durante momentos de fúria enquanto estava no departamento de polícia de St. Louis. Infelizmente, sua falta de jeito havia causado alguns problemas lá, muito antes de ir para o FBI. Ela se mantinha equilibrada sob ataque. Nunca perdia a calma, não importa o quão violentas as coisas ficassem no trabalho. Mas tinha problemas de equilíbrio. Pensou em algo que Dal havia dito, sobre suas muitas quedas. Na verdade, ela se perguntou se não havia uma razão física para seu problema de equilíbrio. Pensou que, após o novo ano, ela poderia ver um médico para fazer alguns


exames, só para ter certeza. Teve um acidente sério enquanto estava no ensino médio, foi jogada de um cavalo e bateu com a cabeça. Ficou atordoada. Sua mãe a levou ao médico, mas nenhum exame foi feito. O velho médico gentilmente fez um exame superficial e assegurou a ela e a sua mãe que era apenas uma leve pancada, apenas uma concussão. Nada para se preocupar. Mas Meadow havia lido que até mesmo pequenos ferimentos na cabeça poderiam produzir problemas mais tarde na vida. Queria saber se tinha um problema que deveria preocupá-la. Era o que faria. Iria ver um médico. Apenas por via das dúvidas. Pensar nos comentários de Dal trouxe de volta outra lembrança, o beijo faminto que ele lhe deu do lado de fora da porta da frente, quando ela chegou em casa daquele primeiro encontro com Jeff. Ela corou involuntariamente. Ele a beijou e não estava bêbado. Obrigou-se a não pensar em Dal Blake. Dois beijos em anos separados, não constituíam um relacionamento. Especialmente não com um mulherengo como o Dal.

CAPÍTULO OITO Jeff vestiu um terno azul-marinho para o baile, com uma camisa branca impecável e uma gravata azul estampada. Ele parecia muito elegante, seu cabelo loiro brilhando como ouro sob as luzes do Centro Comunitário de Raven Springs. Ao lado dele, Meadow parecia extraordinariamente sedutora. O homem de cabelos e olhos escuros parado ao lado da poncheira encontrava-se olhando impotente para ela, inebriando-se com a aparência dela naquele vestido vermelho justo. Ele a insultou sobre os vestidos porque não conseguia esquecer o muito que a queria. Aquele último baile de Natal que ela participou, quando ele a beijou, tinha iluminado sua vida desde então. Até mesmo Dana, com todas as suas artimanhas não conseguiu apagar a memória. Ou o prazer. O beijo que eles compartilharam depois de seu encontro com Jeff, se fixou em sua mente ainda mais porque era mais recente. Ele a queria há muito tempo. Ultimamente, estava pior. E lá estava ela, agarrada ao braço de Jeff, parecendo pertencer a ele. Ele odiava até mesmo a ideia de que ela estivesse dormindo com Jeff. E se perguntou se ela estava. Ela parecia... amada. ─ Por que você está olhando para a nova investigadora de Jeff? - Dana o repreendeu. ─ Ela parece ridícula nesse vestido. - Ele mentiu. ─ Como uma prostituta procurando uma esquina. As sobrancelhas de Dana arquearam. Isso era cruel, mesmo para Dal. Mas ela deu de ombros. Todos sabiam que ele não suportava Meadow. Seu gato continuava indo para a casa dela, enquanto a cadela dela continuava indo para a casa dele. Alguém deveria fazer algo sobre esses animais. ─ Ela precisa manter aquela cadela em uma corrente. - Dana murmurou. ─ Que cadela? - Ele perguntou, seus olhos ainda fixos em Meadow. ─ A cadela dela! Aquele hursky. ─ Oh. A Snow vive dentro de casa. ─ Bem, ela sai, não é? - Perguntou Dana com arrogância. ─ E toda vez, ela corre direto para você. ─ Ela gosta de mim. Dana se aproximou dele. ─ Eu também gosto de você. Ele encolheu os ombros. ─ Eu sugeri que ela fechasse a portinhola do cachorro à noite. ─ Ela fez isso? ─ Eu acho que sim. - Respondeu Dal. ─ A Snow não tem mais aparecido. Ela percebeu que ele já tinha enchido um segundo copo com uísque e refrigerante. ─ Você geralmente não bebe tanto. - Ela apontou. ─ Não aborreça. - Ele disse sucintamente. Ela respirou fundo.


─ Jeff parece muito bem. - Disse ela em voz alta, esquadrinhando-o com os olhos. ─ Você também. Ela riu, surpresa com o comentário. E olhou para ele. Sabia que o vestido de noite curto preto valorizava o seu corpo. Mas era bom ouvir o elogio de qualquer maneira. Dal não era conhecido por ser bajulador. Não que ele não a tivesse lisonjeado mais do que o habitual desde que Meadow voltou a Raven Springs. ─ Obrigada. - Disse ela. ─ Estou faminto. - Comentou ele. ─ Vamos ver o que podemos encontrar na mesa do bufê. ─ Boa ideia! ***

Gil apareceu minutos depois, em um terno cinza escuro com uma gravata vermelha chamativa. Ele sorriu para Meadow quando se juntou a ela e a seu chefe na multidão. ─ Há muitas pessoas aqui. - Comentou o sub-xerife, seus olhos negros brilhando com humor. ─ Eu quase não encontrei um espaço no estacionamento. ─ Eles gostariam de ampliar o estacionamento, mas o terreno que precisam pertence a Ned Turner e ele não venderia nem um centímetro. - Disse Jeff com um suspiro. ─ Ele nem gosta da ideia do próprio Centro Comunitário. Ele diz que o barulho todo fim de semana o deixa maluco. - Ele ergueu as mãos. ─ Se ele odeia tanto isso, por que não vai para o interior na floresta nacional? ─ Eu suponho que ele precise de muita documentação legal para obter permissão. Acrescentou Meadow. ─ Mas o Serviço Florestal às vezes negocia lotes de terra. Se houver alguma terra que queiram, eles trocarão outra por ela. Alguém com terras que eles querem poderia trocar pelo terreno ao lado do centro comunitário, e o dono do terreno vizinho ao Centro Comunitário trocar depois essa terra pela que quiser com o serviço florestal. ─ Isso é um pensamento engenhoso. - Disse Jeff, sorrindo enquanto segurava as mãos frias de Meadow entre as suas. Ela retribuiu o sorriso. ─ Obrigada. ─ Olá, Jeff. - Dana Conyers disse com um divertido sorriso quando se juntou a eles com um uísque com soda em uma mão. Ela estava usando um vestido de renda preto, o cabelo escuro solto em volta dos ombros. Estava muito bonita, algo que Jeff percebeu imediatamente. ─ Oi, Dana. - Ele respondeu. ─ Você está bonita. ─ Obrigada. Você não está nada mal. - Ela olhou em volta. ─ Eu não consigo encontrar Dal em lugar algum. Ele está sempre vagando para conversar com outros fazendeiros. Ela fez uma careta. E olhou para Jeff com olhos sensuais, ignorando Meadow completamente. ─ Quer dançar? - Ela perguntou. Jeff soltou a mão de Meadow com um olhar de desculpas, colocou o copo na mesa e conduziu Dana para a pista de dança. Meadow, que não tinha sentimentos românticos reais por Jeff, no entanto, sentiu-se mal por ele quando o viu se arrastar pela pista de dança com Dana em seus braços. Ela sabia como ele se sentia sobre a outra mulher. Pobre homem. Ela estava apenas brincando com ele, provavelmente para deixar Dal com ciúmes. Esperava que Jeff soubesse disso. Os homens eram tão cegos sobre as mulheres e seus motivos... ─ Bem, bem, você encontrou outro vestido vermelho. - Disse Dal Blake atrás dela. Ela se preparou para não demonstrar nenhuma emoção. Se virou e olhou para ele. ─ Eu tive alguns minutos livres, então retirei as cortinas e fiz um vestido de festa. - Ela disse sarcasticamente. Seus olhos escuros deslizaram sobre ela como mãos a acariciando, fazendo seu pulso acelerar e sua respiração ofegar. Aqueles eram sinais que ele era experiente o suficiente para não perceber. Ela ainda estava ligada a ele. Ele odiava isso. E a odiava.


Ela era uma mulher que tinha cerca de piquete branca* escrita na testa, e ele nunca quis se estabelecer. ─ Engraçadinha. - Ele comentou. Tomou um longo gole de sua bebida. ─ Eu espero que você tenha seus homens cuidando das novilhas grávidas. Você não pode perder gado. ─ Eles sabem o que fazer. - Ela respondeu. ─ Eu apenas os deixo trabalharem. - Ela olhou para a pista de dança. Jeff tinha Dana apertada em seus braços e ela parecia estar devorando-o com os olhos. ─ Infiel. - Dal murmurou, seguindo seu olhar. ─ As mulheres nunca se dedicam a um homem só. Elas só querem curtir a vida. Ela encolheu os ombros. ─ É um mundo novo. Ele olhou para ela com olhos escuros e irritados. ─ Sim. Um novo mundo. Seus olhos correram sobre ela novamente. ─ Você está fazendo uma declaração, com esse vestido? Ela corou. Ela o usou deliberadamente, para provocá-lo. Ele provavelmente já sabia disso. Ela odiava o quão transparente era para ele. ─ É o único vestido de festa realmente bom que eu tenho. - Ela mentiu. ─ Está certo. Você não deve ter nada feminino. - O sorriso que ele lhe deu era mais afiado do que uma navalha. Ela corou. ─ É difícil perseguir criminosos em um vestido de festa e saltos altos. - Ela respondeu. Ele tomou outro gole de sua bebida. Os olhos escuros dele deslizaram até sua boca e demoraram tanto tempo que era como uma marca. Ela se moveu inquieta. Ele deu um passo para mais perto, de modo que havia apenas alguns centímetros de espaço entre eles. Ela se preparou para não sentir nada. ─ Eu não gosto do seu cabelo assim. - Ele comentou suavemente. ─ Eu gosto deles soltos e sedosos, caindo em torno de seus ombros. Seu coração pulou. ─ É por isso que Dana usa os dela soltos, imagino. Para você. - Acrescentou enfaticamente. Ele inclinou a cabeça. Ela podia sentir o hálito mentolado, o calor do corpo dele tão perto do dela. Ela queria fugir, mas isso seria demais. ─ Cabelo longo é sexy. - Ele comentou. Seus olhos ainda estavam em sua boca. Ele olhou para ela até que os lábios dela se separaram sob a força de sua respiração acelerada. ─ É... isso? - Ela gaguejou. Ele se aproximou. Agora estava bem próximo a ela. Podia sentir seu calor, envolvendo-a. ─ Seu coração está acelerado. - Ele sussurrou. ─ Você ainda me quer. Ela sentiu suas bochechas queimarem. ─ Eu não quero. - Disse ela, enfatizando cada palavra. ─ Mentirosa. - Ele sussurrou. Ela tentou se afastar, mas uma mão de aço segurou sua pequena cintura e a trouxe diretamente contra ele. Não era preciso ser uma mulher experiente para saber que ele estava excitado. Ela nunca sentiu um homem assim, nem tão perto. Isso a deixava desconfortável. ─ Você precisa... me deixe ir. - Ela conseguiu dizer. ─ Por quê? - A mão em sua cintura moveu-se suavemente contra sua caixa torácica, aproximando-se da parte inferior de um pequeno seio empinado. * As cercas de piquete são um tipo de cerca frequentemente usado decorativamente para limites domésticos, distinguidos por suas placas verticais uniformemente espaçadas, os piquetes , anexados a trilhos horizontais. As cercas de piquete são particularmente populares nos Estados Unidos, a cerca de piquete branco simboliza a vida suburbana da classe média ideal.


─ Pessoas... podem nos ver. - Ela respondeu. Ele pegou o copo que estava na mão dela e o colocou na mesa, junto com o dele. Pegou-a pelo braço e a levou através da multidão, direto pela porta lateral e sob o toldo. Estava frio e ela não estava com um casaco. Ele a puxou bruscamente para os seus braços, para dentro de seu paletó desabotoado, contra o calor de seu corpo. ─ Você está na minha cabeça. - Ele grunhiu com sua cabeça inclinada. ─ Eu odeio o que você faz comigo! Antes de terminar a frase, sua boca quente e dura estava se movendo contra a dela, exigente e insistentemente. Havia uma paixão tão crua no beijo que ela não tinha defesa contra isso. Ela gemeu asperamente de encontro a sua boca devoradora. Ele ouviu o som comovente e reagiu imediatamente. Sua mão grande deslizou pelas costas até os quadris dela. Ele os puxou com força para os dele e os manteve lá, apesar dos fracos protestos dela. ─ Fique parada. - Ele mordeu os lábios dela. ─ Não torne isso pior. Ela não entendeu o que ele estava dizendo. E não se importava. Ele a estava beijando como se o mundo estivesse acabando e essa fosse a última chance que ele teria de chegar tão perto. Ela cedeu ao seu ardor sem sequer uma luta, amando a sensação de seu corpo excitado e sabendo que ela era responsável por ele. Suas unhas curtas cravaram na camisa branca sob o paletó enquanto ela se aproximava, seus braços o circundaram, seu corpo tremia faminto... Ele gemeu angustiadamente. Queria empurrá-la contra a parede mais próxima, puxar o vestido para cima e fazer amor com ela tão vorazmente que ela nunca seria capaz de olhar para outro homem enquanto vivesse. Ele a queria. Deus, ele a queria! Ele tinha bebido o suficiente para estar perto do limite de seu controle. Ele encontrou o zíper que segurava o vestido no lugar e começou a abri-lo. Foi quando Meadow voltou a si. Apesar de estar amando o que ele estava fazendo com ela, não podia deixar isso continuar. Havia pessoas do lado de dentro da porta, pelo amor de Deus! ─ Dal, nós não podemos. - Ela gemeu contra sua boca. Ele tomou o que ele esperava que fosse uma respiração controlada, mas estava olhando para a boca macia, quente e doce. Ele se curvou novamente, abandonando o zíper, mas suas grandes mãos se aproximaram e descaradamente se moveram sobre seus seios, sentindo as pontas duras, amando sua resposta precipitada para ele. ─ Você é doce para beijar. - Ele sussurrou, mordiscando o lábio inferior dela. ─ Venha para casa comigo. - Acrescentou grosseiramente. Ela estava tentando manter seus sentidos intactos. Não era fácil. Sua cabeça estava girando, como se tivesse bebido demais. Na verdade, ela só tinha tomado um gole de algo alcoólico. Ele era como uísque. Era doce para beijar também, mas antes que ela pudesse dizer, sua boca estava contra a dela novamente. Ela sentiu as mãos dele se movendo sobre ela, seduzindo-a. Ele era experiente e demonstrou. Ele provocou e seduziu até que ela estava ansiosa por qualquer coisa que ele quisesse fazer com ela. ─ Venha para casa comigo. - Ele repetiu contra sua boca. Se ela o fizesse, sua vida acabaria. Pelo menos sabia disso. ─ Você veio com... Dana. - Ela protestou fracamente. ─ Dana. - Ele levantou a cabeça. Estava girando. Ela era inebriante. Ele a odiava. Por que estava tentando seduzi-la em frente a um prédio cheio de gente? Ele recuou. Sua mão foi para sua cabeça e ele fez uma careta para ela. ─ Eu sei. - Disse ela, levantando a mão. ─ Você bebeu demais e me confundiu com o seu encontro. ─ Não há muita esperança disso. Ao contrário de você, ela se veste como uma dama. Disse ele, irritado com sua própria fraqueza. ─ Você parece uma garota de programa! Ela bateu nele. Foi um impulso do qual quase se arrependeu. Ela se virou e entrou no prédio, indo direto para o banheiro para reparar o dano que ele causou em sua maquiagem e colocar água fria em seus lábios para reduzir o inchaço. Isso, se a Dana não aparecesse por lá!


Ela não apareceu. Meadow retocou a maquiagem, arrumou o cabelo com uma pequena escova que guardava na bolsa e pôs água fria nos lábios com papel toalha molhado. Depois de um minuto ou dois, ela se sentiu normal o suficiente para voltar para a pista de dança. Ela saiu pela porta com a cabeça erguida. Esperava que Dal tivesse que explicar a marca vermelha em sua dura bochecha para o encontro dele. Isso a faria se sentir melhor sobre sua resposta a ele. O vestido que ela usava era elegante, mesmo que fosse vermelho! E não parecia com uma prostituta! Jeff estava de pé ao lado da tigela de ponche, com um ar sombrio. ─ O que há de errado? - Meadow perguntou gentilmente. Ele olhou para ela e forçou um sorriso. ─ Nada. Nada mesmo. Quer dançar? Ela estava pensando em maneiras de recusá-lo quando Gil se juntou a eles. ─ Quem pode dançar um cha-cha-cha* selvagem? - Ele perguntou a seus colegas de trabalho. ─ Por favor, diga não. - Ele acrescentou para Jeff, que ainda estava parecendo sombrio. ─ Eu odiaria dançar com seus pés esquerdos, chefe. Isso fez Jeff rir. ─ Não, eu não posso dançar o cha-cha-cha. Gil ergueu as sobrancelhas para Meadow. ─ Você pode apostar que eu posso. - Disse ela, e atirou sua pequena bolsa de volta por cima do ombro. ─ Vamos! Gil a levou para a pista de dança, onde a música latina pulsava como um batimento cardíaco. Meadow podia dançar. Sua mãe a fez ter aulas de dança, para ter certeza de que ela adquirisse traquejo social. Ela ficou devastada quando Meadow quis ser uma policial em vez de uma debutante. Sua mãe tinha até escolhido um bom homem rico para ela. Meadow evitou a apresentação e voltou ao trabalho. ─ Você é boa! - Gil exclamou com uma risada. Ela sorriu. ─ Você também. Eles se moveram ao redor da pista de dança, alheios ao homem furioso e de olhos escuros que olhava para eles do lado de fora da pista. ─ Bem, ela sabe dançar. - Dana murmurou com relutância. ─ Ela parece uma garota de programa com esse maldito vestido. - Ele disse. ─ Ela deveria ter usado algo sóbrio. ─ Por quê? - Perguntou Dana, curiosa. Ele olhou para ela. Estava ciente de que não estava agindo racionalmente. Ainda estava vibrando pela longa e doce sessão com Meadow fora do prédio, no frio congelante. Nenhum deles notou, estavam muito envolvidos um no outro. Nem em seu melhor momento Dana poderia ter competido com Meadow, não desse jeito. Ele gostava da mulher ao seu lado, gostava da companhia dela. Até gostava de beijá-la, embora não tivesse ido além de beijos, mau para os negócios tornar uma empresária local em sua amante e exibi-la. Mas beijar Meadow Dawson era como entrar no fogo. Em sua experiência, e ele tinha bastante, nunca encontrou uma mulher que dominou os seus pensamentos como ela fazia. Mas ela ainda tinha cerca de piquete branca escrita em cima dela, e ele não era um homem de para sempre. ─ O que aconteceu com a sua bochecha? - Dana perguntou, franzindo a testa ao notar. ─ A garota de programa e eu tivemos o que você poderia chamar de um confronto. - Ele murmurou e tomou mais um gole de sua bebida. ─ Ela se ofendeu com o que eu disse. ─ Se você a chamou assim, não é de admirar. - Disse Dana, impelida a defender uma colega de seu sexo contra um ataque tão injustificado. ─ Dal, esse é um vestido caro. Não há nada nele que possa provocar qualquer homem a dizer tal coisa. Eu sei que você não gosta dela, mas isso está indo longe demais. ─ Você deveria estar do meu lado. - Ele disparou. * O chá-chá-chá ou chachachá é um estilo de música originário de Cuba, sobre o qual se constrói a dança homónima. É considerada uma derivação do mambo.


─ Bem, eu estou. Claro que sim. - Ela respondeu. ─ Mas ela tem uma reputação que a maioria das mulheres inveja. Até eu. - Ela teve que confessar. Sabia que as pessoas falavam sobre ela, especulavam, desde que começou a sair com Dal, que todo mundo sabia que era um mulherengo. ─ Que tipo de reputação? - Ele perguntou. ─ Uma impecável. - Ela disse a ele. ─ Eu tenho uma amiga que namorou o chefe de Meadow em St. Louis. Ele disse que Meadow raramente namorava alguém, e ela nunca dormiu com qualquer um. ─ Talvez ela estivesse ansiando por mim. - Ele riu friamente. ─ Por você? ─ Ela tem uma fixação em mim, você não notou? - Ele perguntou, seus olhos indo furiosamente para a mulher no vestido vermelho, movendo-se tão elegantemente na pista de dança. ─ Ela é fixada em mim desde os dezessete anos. Dana não sabia o que dizer. Ela apenas olhou para ele. ─ Oh, pelo amor de Deus, ela é apenas uma criança. - Disse ele quando viu a expressão. ─ Eu não seduzo crianças! ─ Ela tem vinte e cinco. - Ela disse, confusa. ─ Ela ainda tem dezessete anos. - Ele disse, meio em voz baixa, assistindo Meadow dançar como uma fada o ritmo latino, graciosa e habilidosa. ─ Ela caiu na caixa de carvão, vestida de vermelho. Eu ri. - Recordou a expressão de Meadow naquela época, a mágoa em seus olhos. Ele fez isso deliberadamente, tentando afastá-la. Mesmo aos dezessete anos, ele a queria. Ele sempre a quis, sempre negou, sempre lutou contra isso. Ele não ia ceder. Ele não acreditava em para sempre. ─ Se você diz. - Respondeu Dana. Ela sorriu para si mesma. Pelo menos Dal não estava preso à mulher mais jovem. Isso significava que ela ainda tinha uma chance. ─ Quer dançar? - Ela perguntou. ─ Não. Eu não sei danças latinas. - Ele disse ressentido enquanto observava Gil girar Meadow ao redor da pista de dança. ─ Gil pode. - Suspirou Dana. ─ Ele sempre foi hábil em seus pés. Ele olhou para ela, espantado. ─ Dançar não é uma habilidade! ─ Bem, na verdade, é. - Ela respondeu. ─ A maioria dos homens não sabe dançar. Céus, você não viu Jeff na pista de dança? Ele mal consegue mexer os pés. Dal sabia dançar. Não o fazia frequentemente. No entanto, não sabia dançar ritmos latinos. Mas dançava magistralmente uma valsa. Não que ele tivesse muita chance de mostrar essa habilidade hoje à noite. As pessoas aqui não eram de dançar a valsa. A maioria das músicas tocadas era ocidental* ou country. A música latina foi só para Gil. Ele viu o homem se aproximar do líder da banda mais cedo para poder dançar com Meadow. Dal não gostou de vê-la dançando com o homem mais jovem. Ele tomou outro gole de sua bebida. Sua cabeça estava começando a parecer um balão cheio de ar. ─ Vamos ter que ir em breve. - Disse ele a Dana. ─ Eu sinto muito. Eu já bebi demais. Ele confessou. ─ Eu vou dirigir. - Ela informou a ele. Ele encolheu os ombros. Meadow e Gil saíram da pista de dança, ofegantes e sorridentes. O rosto dela estava corado. Ela parecia... linda. Dal mal conseguia tirar os olhos dela. O vestido vermelho era elegante. Ele sentia muito pelos comentários que tinha feito. Meadow o viu olhando para ela. O olhar que ela deu a ele era abrasador, e não de uma maneira sexy. Ela parecia querer vê-lo fritando em uma grelha. Também havia mágoa nele. Ele a fez se sentir barata, quando essa era a última coisa que ela era. * Música ocidental(western music) - É um tipo de música country e caipira composta por e sobre as pessoas que se estabeleceram e trabalharam no oeste dos Estados Unidos e no oeste do Canadá. A música ocidental celebra a vida do caubói nas cordilheiras abertas, nas Montanhas Rochosas e nas pradarias do oeste da América do Norte.


Ele teria se desculpado, mas muito rapidamente ela disse algo para Jeff. Ele deu um olhar melancólico para Dana, assentiu e procurou as chaves do carro. Eles pegaram o casaco de Meadow e saíram pela porta. Dal sentiu como se tivesse sido jogado de cabeça em um banco de neve. Se sentiu culpado. Ele se virou para Dana. ─ Que tal me levar para casa? - Ele perguntou em tom seco. Ela viu a expressão dele e sentiu suas esperanças diminuindo. A luz se apagou nele quando Meadow saiu do prédio. Foi uma revelação. Dal era louco pela outra mulher, e nem parecia perceber isso. ─ Vou pegar meu casaco. - Disse Dana com um sorriso discreto. Oh, bem, ela pensou. Jeff tinha sido muito atencioso e rabugento por ela estar com outro homem. Eles tinham sido o assunto da cidade até discutirem. Ela não conseguia nem lembrar por que eles discutiram. Jeff não era tão rico quanto Dal, mas tinha esse enorme rancho e era um membro respeitado da comunidade. Poderia ser pior. Mais cedo ou mais tarde, Dal iria ceder aos seus sentimentos por Meadow, ou Meadow voltaria para St. Louis. De qualquer maneira, Dana sobreviveria. Ela tinha perspectivas. Isso era tudo que ela precisava. *** Meadow sorriu quando Jeff a beijou levemente na bochecha. ─ Obrigada. - Disse ela, tentando esconder a dor que Dal lhe proporcionou. ─ Foi um bom baile. ─ Não, não foi. - Disse Jeff com um suspiro. ─ Você ainda está ligado em Dana. - Ela disse em voz alta. Ele encolheu os ombros. ─ Eu sou um homem de uma mulher só, mas perdi a mulher para alguém mais rico. Ele disse amargamente. ─ Ela estava olhando para nós na pista de dança. - Ela comentou prestativamente. Ele se animou. ─ Ela estava? Ela sorriu. ─ Sim ela estava. Ele riu. ─ Talvez haja esperança. ─ Talvez haja. Obrigada por me levar. ─ Obrigado por ir comigo. Vejo você na primeira hora da manhã de segunda-feira. ─ Pode apostar. Boa noite. ─ Boa noite. - Ele respondeu enquanto voltava para o carro, ligou o carro, e partiu com um aceno de sua mão. Meadow entrou em casa. Estava silenciosa e sombria. Assim como o seu coração. Dal disse coisas terríveis a ela, coisas dolorosas. E quis dizê-las. Ele achava que ela parecia uma prostituta. Ela riu friamente para si mesma. Ela viu prostitutas nas ruas. Deveria colocá-lo no carro e levá-lo para Denver, deixá-lo ver por si mesmo quão pouco ela se parecia com uma verdadeira prostituta em seu vestido elegante. Mas isso não faria diferença. Ele a odiava. E tornou isso evidente hoje à noite. Ela se perguntou por que ele a beijou tão vorazmente. Dana era sua garota, todo mundo sabia disso. Ele a tinha confundido com Dana? Ele estava bebendo muito. Isso era incomum. Todos sabiam que ele raramente bebia destilados. Alguém da família dele era alcoólatra, o avô, lembrou ela. Deve ter sido difícil para o pai dele. Ele era filho único. Dal teria crescido com más lembranças de homens que se deixavam levar pela bebida. Mas ele estava bebendo esta noite. Por quê? Ela desistiu de se perguntar e foi para a cama. ***


Seus sonhos foram selvagens e eróticos. Dal figurou fortemente neles. Pouco antes de acordar, ele a estava beijando novamente, devorando-a como fez do lado de fora do prédio na noite anterior. Foi tão terno. Ele sussurrou alguma coisa. Ela estava tentando tanto ouvir quando Snow começou a uivar em seu ouvido. Acordou imediatamente. O focinho branco estava se esgueirando sob as cobertas, frio e insistente em sua bochecha. Ela riu e abraçou Snow. ─ Precisa ir, não é? Ok. Apenas um minuto, querida. Eu tenho que ir com você para você não fugir. Depois das coisas que Dal havia dito, ela não queria deixar Snow vagar até o rancho dele. De novo não. Nunca mais. Ela vestiu suas botas de neve e um casaco, assumiu a liderança e saiu com sua cadela. *** Ela pensou que levaria muito tempo para ver Dal novamente, mas ele estava sentado na beira da mesa de Jeff quando ela entrou em seu escritório no tribunal. Ele lançou-lhe um olhar de desaprovação, os olhos indo para a pistola em seu cinto, ao lado de seu distintivo. ─ Você anda com essa arma o tempo todo? - Ele perguntou. ─ Vai com o trabalho. - Ela respondeu calmamente, recusando-se a ser provocada. ─ Oi, chefe. - Ela acrescentou, com um sorriso para Jeff. ─ Oi, garota. - Disse ele com um sorriso. ─ Eu tenho um trabalho para você. ─ Você tem? - Ela perguntou cautelosamente. ─ Eu tenho que sair hoje à noite. - Dal disse secamente. ─ E preciso de alguém para ficar lá e vigiar minha escrivaninha antiga. Eu tive uma tentativa de arrombamento na noite em que levei Dana ao baile. Tenho certeza de que ele tentará novamente, e esta é a sua melhor chance. Todo mundo sabe que vou a Denver comprar um novo lote de puros-sangues. Acredito que não devo chegar em casa até a meia-noite. ─ Isso seria segurança privada. - Disse ela friamente. ─ Sim, seria. - Respondeu ele. ─ E é um trabalho remunerado. Você não trabalha à noite. Não há mais ninguém. - Acrescentou, com acidez o suficiente para que ela soubesse que isso não era uma ideia sua. ─ Eu meio que ofereci você. - Jeff disse desculpando-se. ─ Se você não quiser fazer isso, ninguém vai insistir. Dal inclinou a cabeça. ─ Você pode trazer Snow com você. - Ele disse sarcasticamente. ─ Já que ela acha que mora no meu rancho, de qualquer maneira. Ela se curvou como um gato eriçado. ─ Olhe aqui... - Ela começou. ─ Aqui. - Dal colocou uma chave na mão dela. ─ Um dos meus homens está vigiando a casa agora, mas ele tem que sair às cinco. É quando você precisa rendê-lo. Os outros homens estão fora com as novilhas grávidas. Outra tempestade de neve está vindo em nossa direção. Ela queria protestar, mas não conseguiu encontrar uma saída que não envolvesse dar um soco na boca sensual de Dal para retirar aquele sorriso afetado. ─ Tudo bem. - Disse ela sucintamente. ─ Vou deixar o cheque na mesa do telefone. - Acrescentou Dal. ─ Obrigado, Jeff. - Ele saiu sem outro olhar para Meadow. Bom, ela pensou, esse era Dal, agradecendo a seu chefe e sem uma única palavra de aprovação para ela. ─ Desculpe por isso. - Disse Jeff quando seu amigo foi embora. ─ Eu tentei recusá-lo, mas ele é da nossa jurisdição. E é meu amigo... ─ Não se preocupe, não me importo. - Acrescentou ela. E franziu a testa. ─ Essa é a mesa em que uma das maiores rendições foi assinada quando a Guerra Civil acabou, não foi? - Ela perguntou.


─ Sim, foi. Vale uma fortuna. Foi passada de geração em geração na família de Dal. Seu avô vendeu em uma de suas bebedeiras. - Acrescentou. ─ O pai de Dal levou um ano para ganhar o suficiente para comprá-la de volta. Triste história. É uma espécie de herança familiar. ─ Como o órgão de tubos e a lamparina Vitoriana que pertenceu a ex-presidentes. - Ela estava pensando em voz alta. ─ Eu tive o mesmo pensamento. - Respondeu Jeff. ─ Nosso ladrão é muito seletivo sobre o que ele rouba. Se for o mesmo homem, eu estou supondo que é um homem, porque nunca tivemos uma ladra na cidade, então foi provavelmente ele quem tentou entrar na casa de Dal enquanto todos nós estávamos no baile. Ainda bem que o capataz dele estava em casa recebendo uma fatura na hora e ouviu o barulho nos fundos da casa. Perseguiu o ladrão, mas o perdeu na floresta. ─ Ninguém nos ligou. - Reclamou ela. ─ Dal teria ligado, mas ele estava... - Ele hesitou. ─ incapacitado no momento. ─ Ele estava com a namorada. - Disse ela, tentando esconder sua irritação. ─ Ele estava caindo de bêbado. - Corrigiu Jeff. ─ Dana teve que levá-lo para casa e colocá-lo na cama. Ela disse que ele dormiu o caminho todo para casa. Um de seus cowboys a ajudou quando chegaram ao rancho. - Ele balançou a cabeça. ─ Nunca vi Dal bêbado na minha vida. Ele odeia bebidas alcoólicas. Seu avô o espancou quando ele era pequeno, quando seu pai viajou para vender gado. Ele nunca superou isso. Disse que morreria antes de se tornar alcoólatra. Ela rangeu os dentes. ─ Pobre homem. - Ela disse com relutância. ─ Temos muitos adjuntos que vêm de lares como esse. - Ele mencionou. ─ Eles entram na polícia tentando evitar que outras crianças passem pelo que passaram. Às vezes temos sorte. Às vezes não temos. ─ Isso é verdade. - Ela confessou. ─ Todos nós já passamos por isso, você tenta prender um marido bêbado por espancar a esposa, e a esposa se recusa a depor ou o ataca quando você tenta prendê-lo. - Ela riu. ─ Uma delas jogou um litro inteiro de leite em um dos nossos oficiais em St. Louis. O encharcou. Nós o apelidamos de "o leiteiro". Ela riu da lembrança. ─ Ele levou na esportiva. ─ Não me faça começar. - Disse ele. ─ Eu tenho algumas histórias minhas. - Ela sorriu. ─ OK. Eu vou começar a trabalhar. ─ Muitas oportunidades para isso. Existem vários novos arquivos em sua mesa. Acrescentou ele, desculpando-se. ─ Sem estresse. É para isso que sou paga. Ele olhou para ela. ─ Machucou você, o que Dal disse sobre sua arma. Ela se mexeu inquieta. ─ Ele me odeia. Disse que eu parecia uma garota de programa no meu vestido vermelho. ─ Tenho certeza que ele não quis dizer isso. - Ele defendeu seu amigo. ─ Você estava muito elegante. ─ Obrigada, chefe. ─ Dal diz coisas que ele não quer dizer. E sempre sente muito e tenta fazer as pazes. Eu não sei porque ele é tão duro com você. - Acrescentou, franzindo a testa. ─ Ele não é assim. Ele adora as mulheres. Faz de tudo para garantir que as esposas dos funcionários do rancho tenham qualquer coisa que precisem e muitas coisas que só querem. ─ É uma longa história. - Ela respondeu, recordando o primeiro incidente, seu vestido vermelho que encontrou um terrível destino no carvão. ─ Eu sei que ele não gosta de mim. Não importa. Neste negócio, você se acostuma a ser odiado. - Ela riu. ─ Eu vou apenas fazer o meu trabalho. ─ Boa ideia. Eu vou ganhar meu salário também. ─ A comissão do condado vai adorar você por isso. ─ No meu leito de morte, talvez. - Ele riu. Ela se sentou em sua mesa e foi trabalhar. Pelo menos, manteve sua mente longe de Dal pela maior parte do dia.


CAPÍTULO NOVE Meadow foi para casa e trocou de roupa. Ela vestiu jeans, botas e uma camisa azul de manga comprida com um colete com franjas sob o casaco de pastor. Ela parecia muito cowgirl, especialmente quando usou o seu precioso chapéu de vaqueira de aba de penas para compor o visual. Ela se olhou no espelho e ouviu a voz rouca de Dal a ridicularizando quando visse como ela estava vestida. Ela voltou ao seu guarda-roupa e tirou um conjunto de corrida azul-marinho e uma simples camiseta branca. Pensou em deixar a arma em casa. Como a maioria das pessoas na aplicação da lei, era treinada em combate corpo-a-corpo e sabia como derrubar um adversário, mesmo que estivesse tristemente despreparada quando foi atacada e precisou usá-lo. Ela tinha sido treinada por um veterano das guerras no Oriente Médio, um veterano de combate que era um mestre de treinamento para o departamento deles em St. Louis. Ele era lindo, mas tinha uma esposa adorável e dois filhinhos doces. Ele era fiel, mesmo quando mulheres bonitas flertavam com ele. Ele era um cara e tanto. Amava sua esposa. Ela não podia ver Dal sendo fiel mesmo se casasse. Era hilário. Ele estaria esgueirando-se pela porta dos fundos para a casa de outra mulher enquanto sua esposa estava ocupada na cozinha. Ele nunca seria capaz de se limitar a apenas uma mulher. Houve muitas mulheres em sua vida. Se ela não tivesse ouvido isso de outras pessoas em Raven Springs, teria sabido pela forma excepcional em que ele a beijou no baile. Em apenas alguns minutos ardentes, ela estava pronta para ir para casa dele. Ele a beijou como se estivesse morrendo, como se ela fosse a última mulher que segurasse em seus braços. Foi uma coisa estranha. Ele estava namorando Dana, que supostamente era experiente. Por que ele estava beijando Meadow tão avidamente, se estava conseguindo o que precisava com Dana? Era uma pergunta que ela realmente não queria responder. Dal a odiava. Isso não ia mudar. Se não fosse Dana, seria outra mulher. Sempre seria outra mulher, nunca Meadow. Uma vez que ela conseguisse fazer seu cérebro embotado entender isso, talvez conseguisse esquecê-lo. As lembranças do seu ardor a assombravam. Ela deixou o cabelo loiro longo solto em volta dos ombros, odiando-se por aquela única concessão. Ele amava cabelos compridos. Com raiva, ela encontrou um elástico e enrolou-o em torno de seu cabelo, transformando-o em um rabo de cavalo. Ela olhou para a cintura, que estava vazia. A arma fazia parte de seu equipamento de trabalho. A maioria dos ladrões não andava armada, nem fariam mal a alguém durante um roubo. Mas sempre havia uma exceção. Este ladrão já atacou duas vezes e aparentemente não tinha nenhum remorso pelas invasões. Ela poderia estar em perigo se ele carregasse uma arma. Sua mente voltou para a sala de interrogatório da prisão e o espancamento que ela tinha sofrido do detento que estava interogando. Ela engoliu em seco. Dal não gostou da arma, mas ele não tinha passado o que ela passou. E não tinha o direito de fazê-la se sentir culpada por usar os equipamentos necessários para o seu trabalho. Ela pegou o cinto com o distintivo e passou-o pela cintura. Tirou a Glock da gaveta trancada da sala de estar, carregou o pente e o encaixou na arma, acionou a trava de segurança e enfiou-a no cinto. Usaria sua arma, mesmo que Dal fizesse comentários duros e risse dela. Não que ele fosse estar lá, assegurou a si mesma. Ele já teria saído. Era por isso que ela estava com a chave da casa dele, afinal. Triste, como isso a deprimiu. Ela vestiu o grosso casaco e colocou um gorro de lã igualmente grosso sobre a cabeça. A neve estava caindo abundantemente. *** A casa de Dal estava silenciosa. Snow se acomodou diante do fogo que estava morrendo na lareira com Jarvis, o enorme gato vermelho Maine Coon, que se enroscou nas pernas da calça de Meadow e ronronou efusivamente.


─ Doce menino. - Ela disse suavemente, acariciando-o. Ela deu um tapinha na cabeça de Snow e colocou mais alguns pedaços de madeira no fogo. Parecia ser a única fonte de calor na sala muito fria. A sala era confortável, com cadeiras estofadas e um longo sofá nos mesmos tons terra. Havia uma manta Navajo sobre a cadeira. Meadow tinha visto uma assim em uma exposição a que tinha ido com seu pai em Denver. Dal estava lá. Meadow ficou fascinada com o belo padrão irregular e as cores vivas. Dal tinha zombado de seu entusiasmo e a envergonhou em silêncio. Então, aparentemente, ele comprou aquele mesmo cobertor e o levou para casa com ele. Ela estava surpresa. Ela o tocou, curiosa. Nunca tinha estado na casa dele antes, nem mesmo com seu pai que o visitava com frequência. Ela tentou ficar o mais longe dele possível. Ele sempre teve algo mordaz para dizer a ela. Por que ele comprou a manta que ela queria? Para evitar que ela a tivesse? Isso era hilário. A coisa linda custava quase mil dólares. Era funcional, mas ainda assim uma obra de arte. Meadow, muito menos seu pai, nunca poderiam ter comprado algo tão extravagante. Não que não valesse cada centavo. Era para uma casa como esta, para móveis como estes. Tudo ao seu redor era elegante, não como as coisas de segunda mão ou de liquidação que Meadow tinha em seu apartamento e na casa de seu pai. Ligou a televisão em um game show de que gostava. Ela se acomodou confortavelmente no sofá com uma garrafa de água Perrier que encontrou na cozinha. *** Ela tinha passado por todos os filmes e não conseguiu encontrar um de que gostasse, não encontrou nada para assistir nas estações locais também. Então ela colocou no canal do tempo e assistiu ao avanço da tempestade que estava caindo Raven Springs. Ela ligou para seu capataz para perguntar sobre os cuidados com suas novilhas grávidas e ele lhe garantiu que os trabalhadores noturnos estavam cuidando disso. Ela diminuiu as luzes da sala e abaixou o som no canal. Estava muito cansada. Tinha sido um longo dia. Ela teve que rastrear uma testemunha em um caso de violência doméstica, sempre uma coisa difícil de fazer. A testemunha, uma mulher mais velha, finalmente admitiu o que viu, mas recusou-se a aparecer no julgamento ou até mesmo ir depor. Meadow gentilmente lembrou que a vítima, uma jovem grávida, havia sido internada no hospital com ferimentos que lhe custaram a criança que ela carregava. A testemunha relutantemente concordou em aparecer como testemunha da acusação. Ann Farrell, a procuradora distrital adjunta designada para o caso, tinha ido com Meadow falar com a testemunha. Depois disso, elas almoçaram e trocaram histórias de terror. Os civis não tinham ideia do que as pessoas que lidavam com a lei tinham que enfrentar. Os promotores distritais também estavam envolvidos nas operações diárias das forças de segurança quando tinham que processar um caso. A assistente da promotoria estava confiante de que poderia ganhar o caso. A vítima estava mal o suficiente para testemunhar e, de fato, já havia pedido o divórcio. Como era improvável que o caso fosse julgado até a próxima sessão judicial, o divórcio sairia antes e o marido, sob uma ordem judicial, não se aproximaria da esposa nem teria qualquer contato com ela. Uma esposa podia testemunhar contra o marido, especialmente em um caso criminal em que a própria era a vítima. Meadow imaginou em particular que tipo de criatura baixa levantaria a mão para uma mulher grávida em primeiro lugar. Provavelmente, ela pensou, o mesmo tipo de criatura baixa que prendia um cachorro a uma árvore e esquecia de alimentá-lo e de lhe dar água, como aconteceu com a pobre Snow. Ela estendeu a mão e bagunçou o pelo entre as orelhas de Snow, rindo quando a bela husky levantou a cabeça e fechou os olhos. Snow era um tesouro. Ela amava o pelo branco grosso com suas pontas vermelhas claras. Ela nunca teve um animal de estimação tão inteligente quanto sua cadela. Depois de alguns minutos, ela se esticou no sofá confortável de Dal com uma almofada embaixo da cabeça e cochilou enquanto a televisão continuava ligada.


Ela mal percebeu um ruído fraco na parte de trás da casa, mas Snow ouviu e levantou-se rapidamente. Ela levantou a cabeça, farejando o ar. Olhou para Meadow com seus olhos azuis pálidos e uivou fracamente. Meadow sentou-se. Sua mão foi automaticamente para a pistola quando se levantou e se moveu pelo tapete, silenciosamente, para o corredor. Ela ouviu o barulho novamente. O mesmo fez Snow, que saltou para a frente e correu em direção a fonte do mesmo. O som vinha do escritório de Dal. Ele disse a ela que a escrivaninha antiga era mantida lá, a escrivaninha que ela estava vigiando. Parece que a preocupação dele não era equivocada. O ladrão tinha voltado! Com o coração acelerado, a pistola firme em ambas as mãos, Meadow se moveu com cautela atrás de Snow. Ela queria chamar a cadela de volta, mas sua voz iria alertar quem estava se movendo na sala no final do corredor. Ela esperava que Snow não fizesse muito dano a ele antes que ela chegasse lá. A cadela era agressiva quando precisava, apesar de seu temperamento normalmente dócil. Ela ouviu um baque. Segundos depois, houve um grito alto. ─ Snow! - Meadow chamou e começou a correr pelo corredor. Para o inferno com o modo furtivo. Algo havia acontecido com seu bichinho de estimação! Ela chegou ao escritório onde a escrivaninha era guardada. Seus olhos aguçados notaram o espaço vazio onde a escrivaninha ficava e a janela aberta atrás dele. Jarvis estava miando alto. Estava de pé em uma grande mesa, e havia uma mancha de sangue no papel ofício que estava empilhado ao lado dela, perto da impressora. ─ Você está bem, bebê? - Ela perguntou a Jarvis rapidamente. Ele parecia bem, embora houvesse sangue em uma de suas patas. Ela correu para a janela baixa e olhou para fora. Snow estava caída no chão, silenciosa, imóvel. Seu coração parou em seu peito. Ao longe, havia uma figura alta em um casaco cinza carregando uma grande sacola de pano, semelhante as que os pintores usavam para carregarem suas telas. Ele não olhou para trás. Estava correndo. Então Meadow teve que escolher. Perseguir o ladrão, o que era seu trabalho, ou salvar a vida de seu animal de estimação. Não havia, realmente, uma escolha. Ela guardou a arma no coldre e pulou rapidamente pela janela baixa. Quando se ajoelhou na neve para colocar uma mão no peito de Snow, notou um longo pedaço de lenha ao lado dela, obviamente era o objeto que o ladrão usou para bater em seu pobre animal de estimação. Havia uma mancha na cabeça de Snow, visível contra a ofuscante neve branca sob luz de segurança externa, provavelmente da lenha. O peito de Snow estava subindo e descendo. Ela estava viva! Agora Meadow tinha que conseguir ajuda para mantê-la assim. Era um longo caminho até a entrada onde seu SUV estava estacionado. Ela se esforçou para arrastar Snow pela lateral da casa. A cadela era muito pesada. Ela ainda estava respirando, mas também ainda estava inconsciente. Aterrorizada, Meadow encontrou força que ela nem sabia que tinha e acomodou a grande cadela no veículo e fechou a porta. Ela pegou o celular enquanto acelerava o SUV e saía em disparada pela estrada coberta de neve, deslizando um pouco na pressa. Ela deixou a janela aberta, a porta destrancada. Dal ficaria furioso... Snow podia morrer! Ela não tinha tempo para voltar e proteger a casa. Ela tinha o número do veterinário na discagem rápida, graças a Deus. Havia muita informação sobre os atendimentos fora do horário de expediente, com um número de telefone. Ela parou na estrada, acendeu a luz do teto e pegou uma caneta no console. Escreveu o número em sua mão, não tendo nenhum pedaço de papel a mão, exceto em sua bolsa, no chão. Não havia tempo para procurar algum. Ela ligou para o número e disparou com o grande veículo pela estrada, seu coração acelerado de pavor. O telefone tocou uma vez, duas, três vezes. ─ Vamos lá, vamos lá. - Ela gritou em voz alta, olhando para a forma imóvel da cadela. ─ Por favor! Aparentemente, os anjos existiam, porque uma voz suave e feminina atendeu. ─ Dra. Clay. Como posso ajudá-lo?


─ Eu sou investigadora do xerife. Eu estava vigiando uma antiguidade de valor inestimável quando um ladrão conseguiu entrar na casa e levá-la. Minha husky siberiano tentou detê-lo e ele bateu na cabeça dela com alguma coisa. Um pedaço de lenha, acho, lembro-me de ver um... ela está inconsciente. Ainda respirando. Por favor... - Lágrimas borraram a estrada em seus olhos. ─ Traga-a para o consultório. Estou a menos de cinco minutos de lá. Eu vou encontrar você lá. ─ Obrigada. Muito obrigada! - Meadow chorou. Ela desligou. Estava a cerca de oito minutos de distância. Maldita neve, ela pensou imprudentemente, e pisou no acelerador. Graças a Deus eles tinhama máquina de remover neve trabalhando. Pelo menos as estradas estavam quase sempre limpas, as estradas principais, é claro. Ela tinha que ir da estrada do rancho para a estrada principal, e não era fácil. A neve era profunda. Mas ela passou por ela, derrapando na estrada principal, mas se recuperando rapidamente. Ela olhou para Snow e estendeu a mão para alisar o pelo macio. Ela não notou nenhum sangue ao redor da boca do cachorro, o que, com sorte, significava que não havia nenhum dano fatal. ─ Espere, querida, por favor, espere! Eu não posso perder você. - Ela sussurrou. Sua voz falhou. Ela não suportava a ideia de perder sua cadela, sua companheira, sua amiga. Ela acelerou, preparada para argumentar contra qualquer policial que a pegasse por excesso de velocidade. Felizmente a estrada parecia estar vazia. Ela virou o SUV para fora da estrada para o estacionamento do veterinário, onde outro SUV estava estacionado na porta. A veterinária veio correndo para ajudar Meadow a tirar a cadela grande do veículo e colocá-la na mesa de exame. ─ Traumatismo craniano. - Murmurou a Dra. Clay enquanto as mãos dela passavam pela forma imóvel do cão. Ela abriu a boca de Snow e assentiu. ─ Bom, bom. - Ela pegou o estetoscópio em volta do pescoço, colocou os auriculares nos ouvidos e auscutou. Ela assentiu novamente. Suas mãos sondaram o crânio e ela assentiu novamente. ─ Concussão. - Ela disse. ─ Como você provavelmente adivinhou. Precisamos fazer exames, mas o mais imediato é oxigená-la, iniciar os eletrólitos e elevar a cabeça. Não sinto nenhuma depressão no crânio que indique uma fratura, e a frequência cardíaca dela é boa. Pode haver alguns problemas pulmonares, mas vamos nos preocupar com eles depois que ela estiver estabilizada. Ela precisa ser vigiada continuamente até que desperte. Ela notou que Meadow estava apavorada. ─ O Dr. Bonner virá me substituir, mas vou ficar com ela pelas próximas horas. Ela não disse se ela despertar. Meadow sabia por sua experiência na aplicação da lei que, se um paciente com um ferimento na cabeça não recuperasse a consciência em setenta e duas horas, o paciente provavelmente não sobreviveria. Meadow respirou fundo. ─ Foi minha culpa. - Disse ela. ─ Snow correu na minha frente para pegar o ladrão. Eu não fui rápida o suficiente para impedi-la. ─ Não se culpe. - Disse a Dra. Clay gentilmente. ─ Somos humanos. Nós fazemos o melhor que podemos. Não foi sua culpa. OK? Ela assentiu com a cabeça, os lábios apertados para impedi-los de tremer. ─ Eu vou precisar de ajuda com ela para começar o atendimento. - Disse a médica, e procurou os materiais de que precisava. Ela tinha seu celular no viva-voz. Meadow ouviu o toque e uma voz suave respondeu. ─ Tanny, eu preciso que você venha. Eu tenho um paciente, uma fêmea husky com traumatismo craniano grave. ─ Estou indo. - A técnica veterinária prometeu e desligou. ─ Ela é muito boa. - Clay disse a Meadow quando colocou a máscara de oxigênio em Snow. Ela pegou o cortador e raspou o pelo ao redor da perna da cadela, logo acima da pata, para inserir o soro. ─ Ela tem que viver. - Ressaltou Meadow. ─ Ela só precisa viver. ─ Existem pontos positivos. - Disse a médica. Ela estava elevando a cabeça de Snow com uma prancha. ─ Tenho que observá-la a cada meia hora. - Ela murmurou para si


mesma enquanto trabalhava. ─ Nenhuma fratura óssea, seus sinais vitais são bons, embora estejam um pouco alterados. Qual a idade dela? ─ Dois anos. - Meadow engasgou. A veterinária assentiu. ─ Jovem. E ela está em ótima forma física. Pode haver alguns problemas neurológicos se... quando... - Ela corrigiu depois de um olhar para o rosto desesperado de Meadow. ─ ela se recuperar. Convulsões, provavelmente. Ela terá que tomar uma medicação anticonvulsiva. Olhe para isso. - Ela acrescentou suavemente, notando o movimento brusco e súbito de Snow. Os olhos azuis se abriram e olharam ao redor. Eles fecharam e ela respirou regularmente. ─ Outro bom sinal. Meadow soltou a respiração que estava segurando. Ela estendeu a mão para acariciar o pelo macio de Snow. ─ Quando eu passar pelo meu colapso nervoso atual, vou mover céus e terras para encontrar o homem que fez isso com ela. - Disse ela entredentes. ─ Se você conseguir pegá-lo, eu vou ficar mais do que feliz em testemunhar. - Disse a veterinária severamente. ─ Eu odeio abusadores de animais. ─ Eu também. ─ O Dr. Bonner e eu vamos nos revezar para observá-la, o tempo todo, se for preciso. Mas vamos precisar de alguém especial para ficar com ela uma vez que esteja fora de perigo. Pode ser caro. ─ Eu não me importo com quanto vai custar. - Disse Meadow, engasgando. ─ Isso é tão difícil! A Dra. Clay deu um tapinha no ombro dela. ─ Eu sei. Eu já estive nessa situação. - Acrescentou ela. Seus olhos pálidos eram simpáticos. ─ Você deve ir para casa. Não há nada que possa fazer aqui. Me dê seu número de celular. Vou ligar para você se houver alguma mudança. Meadow deu o número a ela, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. ─ Ela é a única família que me resta. - Disse ela com voz rouca. ─ Também sei como você se sente. - A Dra. Clay pegou o bloco e a caneta que emprestou a Meadow e colocou o número no próprio celular. ─ Será que ela vai sair dessa? - Meadow perguntou depois de um minuto. ─ Honestamente? ─ Eu não sei. - Foi a resposta calma. ─ Em casos como esse, temos que esperar e ver. Eu vou fazer os exames. Eles nos ajudarão a decidir quais tratamentos seguir. Você tem que autorizá-los. ─ Eu assinarei qualquer coisa. A médica sorriu tristemente. ─ Tente não se preocupar. Eu farei o que puder. Eu prometo. ─ Eu sei disso. - Ela alisou o pelo de Snow e rangeu os dentes. ─ Não me deixe, bebê. Ela sussurrou. ─ Por favor, lute. Você tem que lutar. A cadela pareceu se mexer novamente com as palavras. Meadow beijou o pelo atrás de uma orelha. ─ Eu estarei esperando em casa, ok? Ela se afastou, abalada, aterrorizada. Seus olhos arregalados encontraram os da médica. Não havia realmente mais nada a dizer. Era uma questão de esperar agora. Ela assinou o formulário de permissão, lutando contra mais lágrimas. Ela passou pela técnica veterinária a caminho da porta. Era uma mulher jovem, baixa e de cabelos escuros, com um rosto doce e um sorriso compassivo. ─ Eu sou Tanny. - Ela disse a Meadow. ─ Não se preocupe, vamos cuidar bem da sua cadela. - Ela garantiu a Meadow. ─ Um de nós vai se certificar de que você saiba no minuto em que ela acordar. - Acrescentou com um otimismo que Meadow orou para ser justificado. ─ Muito obrigada. - Disse Meadow com voz rouca. ─ Vai dar tudo certo. - Disse a técnica veterinária em voz baixa. ─ Você tem que ter fé. Ela realmente move montanhas. Meadow apenas assentiu.


*** Ela foi para casa, se arrastando, cansada até os ossos, doente de preocupação. Era muito pior do que quando Snow ficou presa na cerca de arame farpado e todos saíram à procura dela. Snow poderia morrer. Se ela pudesse fazer alguma coisa! Seu coração pulou quando viu que o grande caminhão de Dal Blake estava em sua garagem quando chegou lá. Ela saiu do SUV. Ele estava furioso. Ela estremeceu quando ele se aproximou, com o rosto como uma nuvem tempestuosa. ─ Você deixou o ladrão pegar minha mesa pela maldita janela, e nem mesmo o perseguiu! Segui as pegadas dele até a mata, só a dele, a sua ia para a maldita garagem! Você deixou as portas destrancadas, a janela aberta... que tipo de segurança você é? Ela começou, mas não conseguiu falar nada. ─ Da próxima vez que eu quiser que alguém vigie minha casa, pedirei a Jeff para mandar um policial de verdade, não uma maldita mulher maluca que dá as boas-vindas aos ladrões e sai sem nem deixar um bilhete sequer! ─ Deixe-me explicar... - Ela começou. Ele a cortou. ─ Você é inútil. - Disse ele friamente. ─ Como investigadora, e até mesmo como mulher. Você nem sabe beijar, pelo amor de Deus! Sempre me observando, tentando me seduzir... como se eu quisesse alguma virgem que não sabe o que fazer com um homem! A mordacidade dessas palavras a atingiu. No auge da preocupação por Snow, foi demais. ─ Vai para o inferno, Dal Blake! - Ela disse asperamente, as lágrimas escorrendo pelo rosto. ─ Essa mesa estava na minha família há três gerações. - Ele disse entredentes. ─ Foi tudo o que restou da minha avó. E você deixa alguém roubá-la! Ela respirou com dificuldade. ─ Eu sinto muito. ─ Você sente muito! Você não sabe o que é sentir muito, mas vai descobrir. Quando Jeff souber o que fez, vai demiti-la! Não admira que você tenha saído do FBI. Você é incompetente! Ela se virou e foi até a porta da frente. Suas mãos tremiam quando a destrancou. ─ É isso aí, fuja! E ela o fez. Fechou a porta e trancou-a atrás dela. Então ela entrou em seu quarto e desmoronou em lágrimas na cama. Foi uma noite horrível. De muitas maneiras, foi uma das piores noites de sua vida. Ela não colocou uma camisola. Deitou-se no cobertor com as meias nos pés, ainda de terninho, para o caso de ter de voltar correndo para o hospital veterinário. Ela pensou em Snow, pobre Snow que havia se machucado tentando salvar a estúpida mesa antiga do igualmente estúpido Dal Blake. Ele era a pessoa mais horrível do mundo, e ela tinha certeza de que nunca mais queria vê-lo. Snow. Ela se lembrava de tantos momentos felizes com a cadela, dela brincando na neve, correndo ao longo de trilhas na floresta, sentada à lareira à noite, apenas com a luz dos troncos queimando. Snow era mais do que uma cadela, ela era uma companheira, alguém para conversar, alguém para lhe fazer companhia. Snow era como... uma filha. As lágrimas voltaram, fluindo como rios quentes por suas bochechas, escorrendo pelo canto de sua boca. Por favor, ela orou em silêncio, por favor, não deixe ela morrer por minha causa. Eu deveria tê-la perseguido, deveria tê-la parado. Foi apenas mais um erro falta em uma vida cheia deles. E agora a estupidez dela lhe custaria Snow. *** Tardiamente, ela se lembrou do trabalho que estava fazendo quando os trágicos acontecimentos se desenrolaram.


Ela ligou para Jeff em casa no celular. ─ Snow foi ferida? - Jeff exclamou. ─ Eu sinto muito! ─ Eles não sabem se ela vai sobreviver. - Disse ela, conseguindo não explodir em lágrimas. Ela queria tanto ter alguém para abraçá-la e deixá-la chorar. Sem chance disso. ─ Eu vi o ladrão. Ele levava uma grande bolsa de lona, como as que os artistas usam para carregarem suas pinturas, por cima do ombro. Ele era alto. Eu não pude ver muito, mas ele estava com um sobretudo cinza. - Ela hesitou. ─ Ah, e Jarvis tinha sangue em uma pata. Havia uma mancha em alguns papéis na mesa do escritório. Pode pertencer ao criminoso. Jarvis estava bem, mas se ele arranhou o homem, isso poderia explicar o sangue. ─ Isso é um ótimo trabalho de detetive. - Disse ele suavemente. ─ Pelo menos é algo para começar. - Disse Jeff. ─ Vou tirar Gil da cama e mandá-lo para a casa de Dal agora. ─ Dal disse que eu era inútil. - Ela começou, e sua voz vacilou. ─ Sim, ele me ligou. - Disse, e não acrescentou o que mais o homem havia dito. ─ Deixa pra lá. Não tenho planos para demitir você, ok? Eu não a culpo por não arriscar a vida de sua cadela tentando pegar o criminoso, o que é improvável que você pudesse ter feito de qualquer forma se ele tinha uma vantagem inicial. ─ Eu o quero. Muito. - Acrescentou friamente. ─ Eu também. - Respondeu Jeff. ─ Não se preocupe. A Dra. Clay veio até nós de uma prestigiada clínica de animais em Nova York. Ela é uma das melhores que já vi. Ela trata meu cachorro, Clarence. ─ Ela é muito boa. Oh, maldição. - Ela levantou. ─ Tem sido uma noite horrível. Mas me desculpe por deixar o homem fugir. ─ Vamos pegá-lo. - Disse Jeff. ─ Vou telefonar para Gil agora mesmo. Cuide-se. Se você precisar de mim, ligue, ok? ─ OK. Obrigada. *** Gil chegou à porta da frente de Dal aborrecido. Ele soube da história por Jeff. Esse fazendeiro havia partido para cima da pobre Meadow sem sequer lhe dar uma chance de explicar o que aconteceu. Típico de Dal Blake, gritar primeiro. ─ Estou aqui para obter provas. - Disse ele a um Dal irritado. Dal nem sequer respondeu. Ele levou o sub-xerife a seu escritório. Gil foi até a mesa e pegou um kit para obter uma amostra de sangue do papel. ─ Eu preciso ver seu gato. Espero que você não tenha lavado a pata dele. - Acrescentou. ─ Pode haver sangue seco nas garras dele. Vou precisar de uma amostra. ─ Que sangue? - Dal perguntou, franzindo a testa. Ele olhou por cima do ombro de Gil. ─ Há uma boa chance de que seu gato tenha arranhado o criminoso. - Murmurou Gil. ─ Se este é o sangue dele, é uma evidência que se pode levar ao tribunal. Podemos obter um perfil de DNA do laboratório criminal estadual. ─ Eu não sabia que Jarvis o tinha arranhado. - Dal murmurou. Gil nem mesmo respondeu. Ele trabalhou na cena do crime, tirando fotos e fazendo medições, tomando cuidado para recolher as impressões digitais. Mas isso era inútil. Obviamente, o criminoso usava luvas. Ele deu a volta pela casa até a janela aberta e se ajoelhou, olhando as trilhas que começavam perto de onde Snow havia estado. Ele viu a marca do corpo dela. Ali perto havia um pedaço de lenha. Ele direcionou a luz da lanterna sobre ela. ─ Isso é lenha. O que isso está fazendo aqui? - Dal perguntou e começou a abaixar para pegá-la. ─ Deixe isso, por favor. Isso é evidência. ─ É um pedaço de lenha. ─ É provavelmente o que o criminoso usou na cadela de Meadow. - Gil murmurou enquanto colocava a lenha em uma grande bolsa de provas. Dal ficou imóvel. ─ A cadela dela? Snow?


Gil assentiu, preocupado com os rastros. ─ Ela está no Hospital veterinário. Eles não sabem se ela vai sobreviver. - Acrescentou, olhando para seu companheiro. Dal se sentiu com dois centímetros de altura. Agora a marca no chão e as linhas de alguma coisa sendo arrastada faziam sentido. Meadow teve que arrastar Snow ao redor da casa até o veículo. Snow podia morrer, e ele ficou furioso na casa de Meadow e a xingou... ─ Oh meu Deus! - Disse ele em uma respiração pesada. ─ Eu não sabia. Ela tentou me dizer e eu não escutei. - Ele disse. Gil o ignorou. Ele seguiu os rastros até a floresta, fotografando enquanto caminhava. ─ O ladrão é um homem grande. - Ele murmurou. ─ Os rastros são profundos. Eles terminam lá, ao lado da rodovia. - Ele se ajoelhou novamente e fotografou as marcas de pneus. ─ Provavelmente não vai adiantar nada, mas eles podem ser compatíveis com algum padrão. Eu vou tirar fotos disso, de qualquer maneira. Ele ficou de pé. ─ Ele carregava uma grande sacola de lona, usava um longo casaco cinza. Acrescentou Gil. ─ Ele deve ter removido as pernas, para tornar a mesa mais portátil. - Comentou Dal. ─ Elas saem. ─ Eu vou anotar isso. ─ Deus, pobre Meadow! Eles não sabem se a Snow vai sobreviver? ─ Não. - Gil olhou para ele, ainda irritado. ─ Lesões na cabeça são complicadas. Eu estive no Iraque. Um dos homens da minha equipe foi atingido por um pedaço de alvenaria. Ele caiu como um saco de areia e morreu três horas depois sem recuperar a consciência. ─ Eu também vi ferimentos fatais na cabeça. - Respondeu Dal. ─ Eu estive no Afeganistão. Camaradas de armas, Gil pensou, mas não respondeu. Ele estava com raiva do homem que fez Meadow se sentir ainda mais abalada. Ele se lembrava de como ela tinha ficado infeliz no baile de Natal. Dal também era responsável por isso, embora Gil não soubesse o que havia sido dito entre eles. ─ Eu preciso ver o seu gato. - Disse Gil. ─ Eu vou encontrá-lo para você. Eu não notei as patas dele. Gil não disse nada. Ele seguiu o outro homem para dentro da casa. Jarvis estava sentado na pia da cozinha, como de costume. ─ Cuidado. - Disse Dal quando Gil umedeceu um pequeno quadrado de gaze e levantou a pata com sangue sobre ele, apertando gentilmente para fazer as garras aparecerem. ─ Ele morde. Meadow pode pegá-lo, mas ninguém mais pode. Nem mesmo eu. ─ Ela tem um jeito com os animais. - Gil concordou. O gato foi cooperativo. Não tentou morder ou arranhar enquanto ele recolhia a amostra de sangue. Ele guardou as evidências e se virou. ─ Vou voltar ao escritório com eles e enviá-los para o laboratório criminal logo pela manhã. ─ Obrigado por ter vindo. ─ Jeff me mandou vir. - Ele respondeu, indicando que nem cavalos selvagens o teriam arrastado para lá de outra forma. Seus olhos negros se estreitaram. ─ Meadow tem problemas reais de auto-estima. - Ele disse calmamente. ─ Bom trabalho, fazendo-a se sentir ainda pior enquanto sua cadela luta pela vida. Ele se virou e saiu pela porta antes que Dal pudesse responder. Sua consciência o incomodou enquanto o carro do policial se afastava. Ele telefonou para a clínica e perguntou pela Dra. Clay. ─ Como está Snow? - Ele perguntou sem preâmbulo, quando se identificou. ─ Eu sou co-proprietário, você pode me dizer. - Ele acrescentou quando ela hesitou. ─ Ela fica na minha casa tanto quanto na de Meadow. Estou preocupado. ─ Ela ainda está viva. - Foi tudo o que a veterinária admitiu. ─ Nós a estamos tratando agora.


─ As despesas correm por minha conta. - Ele disse rispidamente. ─ Eu cuidarei disso. Eu sei qual a situação financeira da Srta. Dawson. Vai ser difícil para ela arcar com as despesas. Se você pegar uma caneta, eu lhe darei as informações do meu cartão de crédito. Houve uma diminuição visível da tensão. ─ Tudo bem. - Ela respondeu. ─ Gentileza sua. ─ Eu tenho sido grosseiramente cruel. - Disse ele sem rodeios. ─ Talvez isso ajude a fazer as pazes. Pronta? ─ Sim. Ele passou a informação e pediu a ela que ligasse se Snow piorasse. ─ Meadow não tem mais família. - Acrescentou ele. ─ Eu vou cuidar dela se ela perder a cadela. ─ Não desista dela ainda. - Disse a Dra. Clay suavemente. ─ Ela é uma lutadora. ─ Como sua dona. - Disse Dal. ─ Obrigada. Ele desligou e olhou para o relógio. Eram quase nove. Ele imaginou que Meadow nem teve tempo para comer alguma coisa. Nada foi tocado na cozinha. Ele soube pelo pai dela que ela amava pizza de queijo e cogumelos. Ele ligou para a pizzaria local e fez um pedido em nome de Meadow, para ser cobrada na conta que ele mantinha lá. *** Alguém batendo na porta era a última coisa que Meadow esperava naquela hora. Snow tinha morrido e o veterinário veio contar pessoalmente? Era um pensamento ilógico, mas ela estava traumatizada o suficiente para pensar isso. Ela correu para abrir a porta e encontrou um adolescente cheio de espinhas e um grande sorriso na varanda. ─ Entrega de pizza. - Disse ele, entregando-lhe uma caixa. ─ Mas eu não pedi... - Ela começou, chocada. ─ É um presente de uma pessoa que quer permanecer anônima. - Disse ele. ─ Já está paga. Aprecie! Ele correu de volta para seu carro com o letreiro luminoso da pizzaria no topo. ─ Obrigada! - Ela disse tardiamente depois que ele saiu. ─ De nada! Ele saiu da entrada da garagem, desviando do carro do sub-xerife que vinha na sua direção enquanto ele saía. Gil parou na porta e desceu do carro. ─ Pizza? - Ele murmurou, sorrindo. ─ Alguém enviou. - Disse ela, olhando-o com desconfiança. ─ Não eu. - Disse ele com uma risada. ─ Mas cheira bem demais! ─ Entre e compartilhe comigo. - Disse ela. ─ Eu vou fazer café também. ─ Eu não sei... - Ele hesitou. ─ Comer em serviço e tudo mais. Seu celular tocou. Ele atendeu. ─ De pé na varanda de Meadow. Ela acabou de receber uma pizza de presente... com certeza, aqui. Ele entregou o telefone e ela riu. ─ Jeff, muito obrigada pela pizza! Como você sabia que eu gosto de queijo e cogumelo? - Ela disse entusiasmada. Ele hesitou. ─ Bem, foi um palpite de sorte. Que bom que você gosta desse tipo. - Acrescentou ele, felizmente recebendo o crédito pelo presente. ─ Você está bem? Como está Snow? ─ Ainda não sabemos. - Disse ela com tristeza. ─ Foi uma agressão cruel. Quero pendurá-lo pelos polegares quando o pegarmos. - Acrescentou sombriamente. ─ Vou começar a estocar corda. - Ele assegurou. ─ Se você precisar de mim, ligue, qualquer que seja a hora, ok? ─ OK. Obrigada. Gil pode comer pizza comigo? ─ Sim ele pode. Ele tem que pegar o seu depoimento de qualquer maneira. Diga a ele que eu disse isso. Ela sorriu.


─ Eu vou dizer. Tome cuidado. - Ela desligou e devolveu o telefone a Gil. ─ Ele disse que você tem que tomar o meu depoimento, então você pode fazer isso enquanto comemos pizza. Ele esfregou as mãos. ─ Maravilhoso! Ela riu e abriu o caminho para a cozinha. Colocou a pizza na mesa, pegou os pratos de papel e fez café. ─ Jeff foi tão atencioso fazendo isso. - Ela comentou quando eles já tinham devorado duas fatias cada e estavam na segunda xícara de café. ─ Foi, não foi? - Ele riu. ─ Eles fazem uma boa pizza. ─ Eu gostaria de poder... O tema da série de televisão Sherlock explodiu na cozinha vindo do seu telefone. Ela olhou para ele com apreensão e o pegou, procurando o botão para atender. ─ Meadow. - Ela disse rapidamente. ─ Oi. - Disse a Dra. Clay. ─ Só queria que você soubesse que Snow está consciente. Disse ela rindo. ─ Vamos mantê-la por alguns dias, mas o prognóstico passou de ruim para bom. ─ Oh, graças a Deus! - Meadow soltou o ar que estava segurando. Lágrimas escorriam pelo seu rosto. ─ Graças a Deus! Obrigada também! Eu nunca poderei agradecer o suficiente! ─ De nada. ─ Eu vou até aí e passo um cheque... ─ Oh, o Sr. Blake cuidou disso mais cedo esta noite. - Disse a Dra. Clay. - Ele estava muito preocupado com Snow. Ele diz que é quase co-proprietário. Ele deve gostar muito dela. Meadow estava quase sem palavras. ─ Ela causa muitos problemas a ele. - Ela começou. A Dra. Clay riu. ─ Ele não parecia irritado, acredite em mim. Ele também estava preocupado. ─ Isso foi... gentil da parte dele. - Ela disse. ─ Sim. ─ Posso ir ver a Snow? ─ Sempre que você quiser. ─ Eu vou terminar aqui e vou imediatamente! Ela contou a Gil a boa notícia, radiante. Então franziu a testa. ─ Você contou a Dal sobre Snow? ─ Sim. - Disse ele. ─ Eu não estava muito feliz com a maneira como ele tratou você. Eu tenho medo de ter sido um pouco menos do que educado. Eu acho que Jeff vai me demitir. ─ Nunca em um milhão de anos. Vamos fazer assim, eu escrevo o depoimento e o levo para o trabalho de manhã. - Ela sugeriu. ─ Eu realmente quero ir ver Snow. Pouco antes de ele responder, seu rádio tocou. Ele apertou o botão de resposta do microfone móvel em seu ombro. ─ Pronto. A voz do operador do 911 saiu pela linha. ─ Acidente com feridos, na rodovia estadual perto da Kangaroo em Raven Springs no sentido norte. ─ A caminho. - Respondeu. Ele se virou para Meadow. ─ Isso acaba com a minha oferta de uma carona ao veterinário. - Disse ele. ─ Tenho que ir. ─ Eu levo o depoimento amanhã. Você pegou uma amostra de sangue de Jarvis? ─ Sim, eu fiz, e ele não me mordeu. ─ Uau. Ele riu. ─ Animais gostam de mim. Estou feliz por Snow. Boa noite. ─ Boa noite. - Ela falou atrás dele.


Ela guardou as fatias restantes de pizza, eram mais do que suficiente para o jantar, da noite seguinte. Snow ia viver! Ela estava quase flutuando enquanto ia pegar sua bolsa e casaco.

CAPÍTULO DEZ Meadow tinha acabado de trancar a porta quando faróis a cegaram, vindo em direção à casa. Uma grande picape preta parou ao lado dela e Dal Blake saiu. Ele parecia cansado quando se juntou a ela na varanda. ─ Estou indo ver Snow. - Ela começou um pouco friamente. Ele pagou a conta do veterinário, mas ela não podia esquecer a maneira como a tratou. ─ Eu vou levar você. Eu também quero vê-la. - Disse ele em voz baixa. Ele se aproximou mais, elevando-se sobre ela em seu casaco de pastor e Stetson de aba larga, ambos pontilhados pela neve que caía. Ele a segurou gentilmente pelos ombros. ─ Eu sinto muito. - Ele disse suavemente. ─ Maldição! Desculpe. Ela mordeu o lábio inferior. Isso tinha sido uma provação. Ela lutou contra as lágrimas. Era fatal mostrar fraqueza diante do inimigo. Enquanto ela estava pensando, ele a puxou para seus braços e a aconchegou, seus lábios no cabelo em sua têmpora. Há anos não era confortada. Ninguém a segurava quando chorava, ninguém exceto o pai que morreu tão recentemente. O aconchego foi demais para ela. Isso quebrou seu espírito orgulhoso. Ela começou a soluçar. Dal envolveu-a com força, sussurrando em seu ouvido. ─ Está tudo bem. Tudo vai ficar bem. A Snow vai viver, ok? ─ Foi minha culpa. - Ela engasgou. ─ Eu não a impedi. Eu estava com medo de dizer qualquer coisa, com medo que ele me ouvisse. Ela saiu pela janela atrás dele. Ele bateu nela... Sua boca interrompeu as palavras furiosas. Ele a beijou suave e gentilmente. ─ Vamos pegá-lo. - Disse ele. ─ Mesmo se levar anos, vamos fazê-lo pagar pelo que fez. Eu prometo! ─ Ela é meu bebê. - Ela gemeu. Ele deu um longo suspiro. ─ Ela é meu bebê também. - Ele disse ternamente. ─ Incômodo e tudo mais. - Ele alisou o cabelo longo, emaranhado pelo vento, que saía por debaixo do seu gorro. Suas mãos se juntaram, apreciando sua nítida suavidade. ─ Eu sinto muito. - Ele sussurrou. ─ Se eu apenas deixasse você falar... Ela se afastou e olhou para ele sob a luz da varanda, o rosto esgotado pela preocupação, os olhos encharcados de lágrimas. Ele enxugou as lágrimas com os polegares, suas grandes mãos quentes e reconfortantes, onde seguravam seu rosto oval. ─ Pare de chorar. - Ele disse baixinho. ─ Ela vai ficar bem. ─ A Dra. Clay disse que ela pode ter convulsões! ─ Se ela tiver, nós vamos lidar com isso. - Ele interrompeu. ─ Eles têm remédios para lidar com elas. Ela vai viver. Isso é tudo que importa. Ela respirou instável. ─ Ok. - Ela engoliu em seco. ─ A Dra. Clay disse que você pagou a conta. ─ Sim. Eu pensei que era o mínimo que eu podia fazer, sob as circunstâncias. A mesa era valiosa. - Ele adicionou. ─ Mas você não pode igualar uma antiguidade com a vida de um animal de estimação. Eu teria feito exatamente o que você fez, se fosse Jarvis, ou Bess. - Acrescentou. Ela o olhou por mais tempo do que pretendia, corou e desviou o olhar. Ele já sabia mais do que o suficiente sobre seu fascínio por ele. Ela se afastou. ─ Você está lembrando de tudo. - Ele disse com tristeza. ─ Todas as coisas cruéis que eu disse a você, ao longo dos anos. - Ele riu, mas tinha um som seco. ─ Eu suponho que você não tenha percebido o porquê.


Ela inclinou a cabeça, olhando para ele como um passarinho curioso. ─ Não importa. - Ele alisou o polegar sobre sua boca macia. ─ Vamos ver Snow. Ele a ajudou a entrar no caminhão e a levou até o Hospital veterinário, ajudando-a a descer do caminhão com suas mãos grandes circulando sua cintura. Ele a beijou gentilmente e sorriu. ─ Você esteve comendo pizza. Eu senti o gosto de cogumelos e queijo. Ela riu. ─ Sim. Jeff mandou. Eu não comi nada o dia todo. Foi tão gentil da parte dele! Ele não retrucou. No entanto, tinha uma ou duas coisas para dizer a seu amigo sobre deixá-la fazer essa suposição. Ela olhou para ele. ─ Jeff é um príncipe. - Disse ele ironicamente. Ele apertou o botão para que a veterinária pudesse deixá-los entrar. Mesmo aqui, numa área rural, segurança era essencial no consultório de um veterinário. Eles mantinham um estoque de remédios, incluindo narcóticos. Já houve um roubo aqui. Os proprietários eram compreensivelmente cautelosos. A Dra. Clay os cumprimentou e os levou à jaula de Snow, onde ela ainda estava no oxigênio e soro. Ela olhou para eles sonolenta. A Dra. Clay riu. ─ Tivemos que sedá-la. Ela queria se levantar e nos instruir na gestão adequada de seu caso. - Acrescentou ela, irônica. ─ A coisa estranha sobre os huskies é essa atitude tão superior deles. ─ Eu sei. - Meadow riu, sentando-se no chão ao lado de Snow, para afagar seu pelo. ─ Ela é sempre assim. Snow se esfregou contra a mão dela. Olhou para Dal e ofegou, seu olhar azul sorrindo para ele. Ele se ajoelhou ao lado de Meadow e alisou a cabeça de Snow. ─ Pobre bebê. - Ele murmurou gentilmente. A veterinária, observando os dois, estava vendo mais do que eles perceberam. E apenas sorriu. ─ Ela vai se recuperar? - Meadow perguntou depois de um minuto. ─ Sim. Como eu disse, pode haver alguns problemas neurológicos para lidar. Nós a manteremos em observação por alguns dias.Tanny vai ficar com ela esta noite, então ela não ficará sozinha. Se alguma coisa der errado, eu moro a menos de cinco minutos e tenho sono leve. - Ela acrescentou quando viu as novas linhas de estresse no rosto de Meadow. As linhas relaxaram. ─ OK. Obrigada. Muito obrigada. ─ Oh, ela fez todo o trabalho. - Disse a médica com um sorriso. ─ Ela tem coragem. Isso significará muito enquanto ela se recupera. ─ Posso vir vê-la amanhã? ─ Todos os dias, sempre que quiser. - Respondeu a veterinária. ─ Tudo certo. Isso torna isso um pouco mais fácil. ─ Encontre quem fez isso com ela. - Disse a veterinária de repente. ─ Ele precisa ser trancafiado! ─ Vou encontrá-lo. - Disse Meadow, e era uma promessa. Dal a levou de volta para casa. Ele estava relutante em ir embora. ─ Eu não gosto de deixar você aqui sozinha. - Ele disse secamente. ─ Você pode ficar no rancho. Eu tenho cinco quartos de hóspedes. Ela engoliu em seco e corou, certa de que ele ia se irritar e a trégua terminaria quando ela recusasse. ─ Eu entendo. - Ele disse suavemente, sorrindo para seu embaraço. ─ Essa reputação imaculada não permitiria isso. ─ Todos nós temos nossas limitações. - Ela começou. ─ Não é uma limitação. - Ele respondeu, sua voz profunda no silêncio da neve e da escuridão. Ele procurou seus olhos na luz da varanda. ─ Minha avó teria reagido exatamente da mesma forma. Ela era uma mulher pequena, doce, amável e gentil. - O


rosto dele endureceu. ─ Meu avô ficou bêbado e bateu nela. Papai tinha medo dele. Eu nunca tive. Assim que eu fiquei grande o suficiente para reagir, lutei com ele na sala de estar um dia e disse a ele para deixar minha avó em paz. Depois disso, ele ainda bebia, mas nunca mais tocou na minha avó. Ela tocou o pelo branco e macio que aparecia na lapela de sua jaqueta de pele de carneiro. ─ Ninguém na minha família bebia. - Disse ela. ─ Mas comecei a lidar com bêbados quando tinha dezessete anos e fui trabalhar no departamento de polícia de St. Louis. Ela riu. ─ Mamãe teve um ataque. Ela tentou convencer o capitão a não me contratar, mas havia uma insuficiência de policiais. Ele assegurou a ela que eles cuidariam de mim. E fizeram. Eram um ótimo grupo de pessoas. ─ Por que a aplicação da lei? - Ele quis saber. ─ Não tenho certeza. Acho que estava procurando uma maneira de não me casar com esse homem que mamãe havia escolhido para mim. - Confessou ela. ─ Ele era muito mais velho do que eu, muito rico, e ela disse que ele cuidaria de mim. - Ela franziu os lábios. ─ Dois anos depois, ele foi preso por traficar drogas. Eu participei da prisão. Mamãe ficou chocada. - Ela acrescentou com uma risada. ─ Muito mais pelo seu julgamento. - Ele concordou. ─ Ela queria que eu casasse e tivesse uma família. - Ela encolheu os ombros. ─ Eu sabia que isso não ia acontecer. - Acrescentou ela com tristeza. Ele franziu a testa. ─ Por que não? Ela baixou os olhos para o botão de cima da jaqueta dele. A neve caía além da varanda. ─ Eu sou desajeitada e antiquada. Não sou bonita, como muitas mulheres. E não me movo com os tempos. ─ Mas você é adorável. - Ele disse suavemente, franzindo o cenho. ─ Você não sabia? É o que tem dentro de você que importa. Você é terna, amorosa e nunca desiste das pessoas de quem gosta. Essas são virtudes. ─ Ser carinhosa e amorosa com os criminosos não é uma opção. - Disse ela, tentando aliviar a conversa. ─ Eu fiz você se sentir inferior por anos. - Ele disse tristemente. ─ Eu nem sabia o porquê. Agredir você se tornou um mecanismo de defesa. Ela olhou para cima, surpresa. ─ Defesa contra o quê? - Ela perguntou inexpressivamente. Ele segurou seu rosto suave em suas grandes e frias mãos. ─ Contra isso, querida. - Ele sussurrou enquanto se inclinava para sua boca. O carinho a surpreendeu. O beijo foi... maravilhoso. Era suave, gentil e respeitoso. Era o jeito que você beijaria alguém por quem você se importava profundamente. Durante toda a sua vida adulta, Meadow foi pressionada, agarrada ou dominada por encontros. Aqui estava um homem que ela conhecia desde sempre, um homem que ela amava de todo o coração. E ele não a pressionou ou agarrou. Ele a beijou como se ele... a amasse! Ele se afastou depois de um minuto, perplexo. ─ Quando tivermos mais tempo, e não for tão tarde. - Ele pensou. ─ Eu realmente preciso fazer algo sobre esse ego. Sem mencionar suas habilidade. ─ Que habilidades?- Ela perguntou. ─ Exatamente. Ela arqueou as sobrancelhas. ─ Quem está na primeira, o que está na segunda* ─ Eu não dou a mínima, ele é nossa defesa!* - Ele terminou por ela, rindo. Suas mãos se afastaram. ─ Ligue para mim quando quiser ir ver a Snow amanhã. Eu irei com você. ─ Jarvis está bem? - Perguntou ela de repente. ─ Ele tinha sangue em uma pata. * "Who's on First?" ("Quem está na primeira base?"). - É a piada mais conhecida da dupla de comediantes americanos Abott e Costello na década de 50. Depois de um longo diálogo entre os dois em que um não rentende o que o outro está falando, um deles encerra a conversa com a frase "eu não dou a mínima..." Aqui no Brasil o comediante José vasconcellos, traduziu o diálogo, mudando de baseball para futebol com a frase "Quem é o lateral?"


─ Sim, Gil acha que ele arranhou o criminoso. Ele recolheu a amostra de sangue. - Ele franziu o cenho. ─ Ele está interessado em você. ─ O... o que? - Ela gaguejou. ─ Mulherzinha cega. - Ele murmurou, procurando seus olhos chocados. ─ Não consegue ver o que está bem na frente dela. ─ Gil é meu colega. - Ela disse. ─ Ele não é um pretendente em potencial. ─ Você tem certeza sobre isso? ─ Sim, tenho certeza. - Disse ela. Ele franziu os lábios. ─ Está bem então. Eu estava me perguntando quantos problemas teria se tivesse que desafiá-lo. - Ele comentou. ─ Duelo com sub-xerifes é um mau negócio. Seus lábios se separaram. ─ Duelo? Ele tocou sua boca com a dele. ─ Você vai resolver isso. Mais uma coisa... - Acrescentou ele, e foi solene. ─ Eu nunca dormi com a Dana. Caso o assunto apareça. E eu terminei com ela mais cedo hoje, pessoalmente. Ela estava perplexa. Não conseguia entender o que estava acontecendo. ─ Você pode dizer a Jeff, se você lembrar. - Acrescentou sombriamente. ─ E diga também que ele me deve. ─ Pelo que? ─ Ele vai saber. ─ Eu não entendo. - Sua voz vacilou. Ele a puxou para perto. ─ Você vai entender. - Ele riu enquanto inclinava a cabeça. Ele a beijou avidamente. ─ Não fique acordada até tarde. - Ele sussurrou em seus lábios. ─ E mantenha as portas trancadas. Um homem que bate em um cachorro vai bater em uma mulher. Acrescentou ele friamente. ─ Dal... ─ Oh, eu gosto do jeito que isso soa. - Ele sussurrou, e a beijou com mais intensidade. Ela desistiu de tentar decifrar seu comportamento estranho e, em vez disso, retribuiu o beijo com mais entusiasmo do que habilidade. Ele a deixou se afastar devagar. Ele sorriu, seus olhos escuros calorosos e misteriosos. ─ Tente dormir um pouco. A Snow vai ficar bem. Ela deu um longo suspiro. E retribuiu o sorriso. ─ Ok. Ele se virou e começou a andar para a caminhonete. ─ Tenha cuidado. - Ela falou atrás dele. ─ As estradas estão escorregadias. ─ Eu não percebi. - Ele falou devagar sarcasticamente, e continuou andando. Ela o viu manobrar o caminhão, atordoada com o inesperado prazer. Ele parou no meio da estrada e abaixou a janela do lado do motorista. ─ Você não vai entrar? - Ele perguntou. ─ Mandão. - Ela murmurou. ─ Conte com isso. Eu sou um lobo solitário. Você nunca vai me dominar. Mas você pode tentar. - Ele adicionou quase em um ronronar. Ela riu e entrou na casa. Ele não saiu até que ela fechou a porta. *** Ela foi para o trabalho na manhã seguinte determinada. Ia encontrar esse ladrão. Ela acessou alguns softwares que Jeff mantinha em substituição a um desenhista. Não tinha visto o rosto do homem, mas fez um traçado bastante preciso de sua constituição alta, apenas levemente curvada, de seu cabelo escuro e rebelde. Quando ela começou a adicionar coisas ao retrato, lembrou da bolsa que ele estava carregando. Em toda a sua vida, ela só viu uma dessas grandes bolsas de lona uma vez. No entanto, não conseguia lembrar onde.


─ O que você está fazendo? - Jeff perguntou quando voltou após atender o telefone. ─ Oi. - Ela o cumprimentou com um sorriso. ─ Estou tentando fazer um esboço preciso do homem que vi na casa de Dal. Ele olhou por cima do ombro dela. ─ Nada mal, investigadora. - Disse ele. ─ Obrigada. - Ela olhou para ele. ─ Dal pediu para dizer que você deve a ele. E não disse o que. Ele corou um pouco. ─ Eu meio que levei levei crédito por algo que não fiz. - Ele confessou. ─ A pizza. Eu realmente não enviei para você. Dal mandou. Seu coração pulou. ─ Ele mandou? Ele reconheceu aquele olhar em seu rosto. E apenas riu. ─ Sem mais brigas? - Ele provocou. ─ Eu realmente não sei. Ele mudou, subitamente. - Ela procurou os olhos dele. ─ Ele terminou com Dana ontem. ─ Ele fez isso? - Ele estava com a mesma expressão estampada no rosto que ela ao saber a verdade sobre sua pizza. Ela riu. ─ Então talvez eu não seja a única a ter uma surpresa. ─ Por que você está dizendo isso? Ela estava olhando além dele. ─ Você poderia se virar. - Disse ela em um sussurro alto. Ele virou, para ver Dana em um lindo casaco azul parada na porta da frente. ─ Oi. - Ela falou para Jeff. ─ Está quase na hora do almoço. Eu queria saber se você estava livre. ─ Eu não estou, mas sou razoável. - Ele brincou. ─ Oh, você. - Ela brincou. ─ Deixe-me pegar o casaco e vou com você. - Disse ele. ─ Eu vou esperar no carro. - Disse Dana. Ela deu a Meadow um olhar estranho, mas o suavizou com um sorriso e um aceno de cabeça que dizia "sem ressentimentos". Todos os tipos de coisas estranhas estavam acontecendo, pensou Meadow para si mesma. Boas, mas estranhas. Ela finalizou o que pôde lembrar da aparência do homem. Gil voltou alguns minutos depois. ─ A neve está ficando profunda. - Ele disse, rindo enquanto tirava a neve da capa de plástico do seu chapéu Smoke the Bear.* ─ Percebi. Dê uma olhada e me diga se você já viu alguém que se parecesse com meu esboço, ok? ─ Claro. - Ele olhou por cima do ombro para a tela. ─ Esse sobretudo parece meio familiar, mas não consigo imaginar o porquê. A bolsa por cima do ombro é incomum. ─ Eu conheci uma artista uma vez, em St. Louis, que carregava suas telas em uma bolsa igual a essa. Essa foi a última vez que vi uma. Eu não tenho certeza se elas ainda são vendidas. Parecia velha. Lembro-me de pensar que tinha uma mancha na metade. ─ Você não viu o rosto dele? Ela balançou a cabeça. ─ Ele ficou de costas para mim. Estava correndo. E era rápido. - Acrescentou ela. ─ Correr na neve não é fácil. Eu sei. - Comentou Gil. * Smokey the Bear hat


─ Ele tinha pernas longas. - Ela se sentou em sua cadeira. ─ Não temos muitas pessoas em Raven Springs, mas ainda é um grande número. Provavelmente há pelo menos um ou dois artistas que moram aqui e têm bolsas feitas de lona grossa. - Ela hesitou. ─ Existe uma loja de artigos de arte? ─ Não aqui. - Disse ele. ─ Você teria que ir a Denver para achar uma dessas. ─ Outro beco sem saída. - Ela murmurou. ─ Como está a sua cadela? - Ele perguntou. ─ Melhor, obrigada. - Ela respondeu. ─ Dal e eu fomos vê-la ontem. As sobrancelhas dele arquearam. ─ Ele realmente sente muito sobre o que me disse. - Ela disse. ─ Ele pagou a conta do veterinário. ─ Legal da parte dele. - Ele concordou. ─ Eu estava muito aborrecido quando tive que ir lá. Ele nunca deveria ter gritado com você sem saber o que realmente aconteceu. ─ Isso é exatamente o que ele disse. - Ela respondeu. E respirou fundo. ─ Eu acho que todos nós somos culpados por tirar conclusões precipitadas de tempos em tempos. - Seu rosto enrijeceu. ─ Eu quero colocar minhas mãos no homem que bateu em Snow. ─ Eu não culpo você. Eu também quero. Podemos fazer cópias desse esboço... Acrescentou ele. ─ e entregá-las ao comércio local. Alguém pode reconhecer o homem. ─ Bem pensado! ─ Oh, eu sou um gênio. - Ele retrucou. ─ Não mostro porque sou muito modesto em relação aos meus talentos. ─ É mesmo? - Ela riu. Ele encolheu os ombros. ─ Acho melhor ir cuidar dos acidentes. Bom Deus, metade das pessoas nesta cidade nunca deveria ter recebido licença. Eu falei isso para um homem esta manhã. Ele tentou passar o sinal vermelho, perdeu o controle do carro e foi direto para um carro estacionado com uma mulher sentada no banco do passageiro. Sem ferimentos graves, mas eu o autuei por direção imprudente de qualquer maneira. ─ Bom para você. Talvez ele aprenda com o próprio erro. ─ Milagres acontecem. Quer que eu traga o almoço? Ela enfiou a mão na bolsa. ─ Uma salada verde com molho Thousand Island de qualquer lugar que você vá, e obrigada. - Ela entregou-lhe uma nota de dez dólares. ─ Fique ligada. - Ele a deixou sentada em frente ao computador.

*** Eles distribuíram cópias de seu esboço, mas ninguém parecia reconhecer nada sobre o homem nele. Por um capricho, Meadow parou no Yesterday Place a caminho de casa para entregar uma cópia a Mike Markson. Ele olhou para o esboço, franzindo a testa. ─ Quem é esse homem? - Ele perguntou. ─ O homem que roubou uma escrivaninha antiga de Dal Blake. - Explicou ela. ─ E agrediu a minha cadela com um pedaço de lenha. Ela está no veterinário com uma lesão na cabeça. - Acrescentou friamente. ─ Eu realmente quero esse cara. Eu o quero muito. Um homem que brutaliza um animal fará o mesmo com uma pessoa. Mike pareceu ficar pálido enquanto estudava o esboço. ─ Bem, sim, homens... homens assim provavelmente agrediriam as pessoas, de fato. Ele ergueu os olhos para os dela. ─ Sua cadela, está bem? ─ Não, graças ao ladrão. - Ela respondeu. ─ Snow estava inconsciente quando a encontrei. Foi uma noite muito longa até ela recobrar a consciência. Não tínhamos certeza de que ela iria. ─ Pobre animal. Eu tinha um cachorro. - Ele disse com tristeza. ─ Uma fêmea Labrador. Eu... a perdi há dois anos. - Acrescentou com relutância. ─ Eu sinto muito. Eu amo animais.


─ Eu também. - Ele respondeu. ─ Foi um choque tão grande. Ela estava correndo por aí, rindo, do jeito que eles fazem, você sabe, sempre feliz. Eu cheguei em casa e Gary disse que ela correu para a estrada, na frente de um carro. Ela morreu instantaneamente. Foi uma lesão na cabeça... ─ Eu acho que realmente tive sorte com Snow. - Disse ela. ─ Mas sinto muito pela sua perda. Eles são como pessoas para nós. ─ Eles realmente são. - Ele olhou novamente para o folheto. ─ Vou postar e ver se alguém reconhece quem é a pessoa. - Disse ele. ─ Se assim for, eu vou ligar para você. ─ Obrigada. - Disse ela, e sorriu para ele. ─ Alguma sorte com o órgão e a lamparina? Ela balançou a cabeça. ─ Mais becos sem saída, receio. Nada de novo. Mas somos teimosos e persistentes. Um dia, vamos rastreá-los. ─ Espero que sim. - Disse ele. ─ Obrigada pela ajuda. ─ A qualquer momento. Ela saiu pela porta e quase colidiu com um homem alto e magro, com cabelos rebeldes. Gary, o filho de Mike. Ele tinha um corte na bochecha. Ela se perguntou, despreocupadamente, se ele tinha feito a barba. Os homens eram descuidados com a navalha às vezes. Seu pai tinha sido. Ele olhou para ela inquieto. ─ Investigadora. - Disse ele, com um aceno de cabeça. ─ Sr. Markson. - Ela retribuiu o aceno. Achou que ele parecia estranho, mas não parou para pensar sobre isso. Ela estava ansiosa para chegar em casa e ver Snow. Dal ia com ela. Ela sorriu para si mesma quando ligou o SUV e foi embora. Tantas mudanças em sua vida. Ela não conseguia se lembrar de uma época em que se sentiu mais feliz. *** ─ Jeff confessou sobre a pizza. - Ela disse a Dal quando eles estavam a caminho para ver Snow. ─ Ele disse que sentia muito. Ele riu. ─ Ele é um cara legal. - Ele respondeu. ─ Então foi você. Foi uma pizza deliciosa. - Ela olhou para ele. ─ Como você sabia que eu gostava de cogumelos e queijo? ─ Você esqueceu, não é? - Ele brincou. ─ Eu jantei com você e seu pai uma vez. Você pediu duas pizzas. A sua só tinha cogumelos e queijo, e seu pai disse que era porque você não era carnívora como ele e eu éramos. A memória voltou. Dal tinha sido sarcástico com seu desprezo por linguiça. Ele tinha sido assim sobre muitas coisas que ela gostava. ─ Eu era um canalha, não era querida? - Ele perguntou baixinho, olhando para ela. ─ Levei anos para entender por que eu era tão duro com você. ─ Por que você era? - Ela perguntou. ─ Oh, isso não é uma pergunta que você deveria fazer enquanto eu estou dirigindo. As sobrancelhas dela arquearam. ─ Como está sua caçada? Ela se distraiu. ─ Eu fiz um esboço do que eu lembrava de como o criminoso parecia... - Disse ela. ─ no nosso computador no trabalho. Eu fiz cópias e levei para vários comerciantes para eles postarem. Podemos ter sorte. ─ Você trouxe um com você? ─ Está em casa. - Ela respondeu. ─ Eu tenho várias cópias que sobraram. ─ Eu gostaria de dar uma olhada em uma quando voltarmos. Eu morei aqui toda a minha vida. - Ele lembrou a ela. ─ Eu posso reconhecê-lo, se ele for do local. ─ Eu deveria ter pensado nisso. ─ Você tinha muita coisa em mente. ─ Verdade.


Ele parou no hospital veterinário e abriu a porta para ela. Snow estava muito melhor. Ela uivou quando os viu, seus olhos azuis rindo. Eles riram também. ─ Ela está respondendo muito bem ao tratamento. - Disse Clay, satisfeita com o progresso do cão. ─ Eu acho que ela vai ficar bem. ─ As convulsões? Ela suspirou. ─ Bem, sim, isso vai ser um problema contínuo, receio. - Acrescentou. ─ Ela teve uma antes. Mas nós lhe demos fenobarbital e ela respondeu bem. Há uma pequena claudicação no seu modo de andar também, mas acho que isso vai desaparecer com o tempo. As convulsões são algo com que você terá que lidar. ─ Eu vi ataques epilépticos. - Respondeu Meadow. ─ Minha mãe os tinha. Eu aplicava as injeções nela. ─ Que tipo de convulsões? - Perguntou a Dra. Clay. ─ Grande mal. - Respondeu Meadow. A veterinária estremeceu. ─ Essas podem ser assustadoras. ─ Elas sempre foram. - Concordou Meadow. ─ Mas nós lidamos. Eu vou lidar com Snow. Eu sou tão grata por ela ter sobrevivido. Obrigada por tudo que você fez. ─ Apenas o meu trabalho, mas não há de que. - Respondeu a Dra. Clay com um sorriso caloroso. ─ Eu vou deixar você com ela enquanto eu espero por uma emergência que está chegando. Um gato foi atacado por um cão de rua. - Ela suspirou. ─ O dono estava quase histérico. ─ Eu posso me identificar com isso. - Respondeu Meadow. *** A Dra. Clay voltou para a frente. Dal e Meadow sentaram-se ao lado da jaula de Snow, conversaram com ela e a acariciaram. ─ Você voltará para casa em breve, caso você queira saber se eu a tinha abandonado. Meadow disse a seu animal de estimação. Snow pareceu rir. Seus olhos azuis estavam brilhantes e atenciosos. ─ Sinto sua falta à noite. - Confessou Meadow. ─ A casa fica tão solitária. Snow acariciou sua mão. ─ Você conversava com seu cachorro? - Perguntou Meadow a Dal. ─ O tempo todo, do jeito que você fala com Snow. - Ele respondeu. ─ Ela era uma grande companheira. Assim como Jarvis, mas ele é mais arrogante e autossuficiente do que um cachorro. Ele se deixa abraçar, mas apenas em seus termos. Ela sorriu. ─ Nós nunca tivemos gatos. Mamãe não gostava deles. Eu amo Jarvis. - Acrescentou ela. ─ Ele é tão doce. Ele estendeu a mão com vários arranhões visíveis. ─ Eu atrasei o jantar dele. - Ele murmurou. ─ Ele se aborreceu comigo. Ela riu. ─ Ele nunca me arranhou. ─ Ele ama você. - Ele respondeu. ─ Snow ama você. - Ela disse simplesmente, observando o cachorro acariciar a grande mão de Dal. ─ Eles se dão incrivelmente bem, considerando que são inimigos naturais. - Ele comentou. ─ Os animais são singulares, assim como as pessoas. - Disse ela. ─ Alguns se dão bem, alguns não. Ele a estava estudando, seus olhos escuros calorosos e suaves. ─ E alguns fazem uma trégua depois de anos de guerra aberta. - Brincou ele. Ela olhou para ele e sorriu. ─ Sim. Alguns fazem.


CAPÍTULO ONZE Dal levou Meadow de volta para casa e entrou para ver o esboço que ela havia feito do ladrão. Ela deu uma para Dal. Ele estudou com uma carranca. ─ Reconhece alguma coisa nele? - Perguntou ela. ─ Não tenho certeza. - Disse ele. ─ Acho que vi esse casaco em algum lugar. ─ Havia alguma loja de artigos de arte na cidade? - Ela perguntou de repente. ─ Claro, anos atrás. - Ele disse a ela. ─ Markson a comprou e transformou em uma loja de antiguidades. ─ Ele pode ter visto uma bolsa de lona como essa do desenho. - Ela disse animadamente. ─ Vou até lá amanhã perguntar a ele. Obrigada! ─ Oh, eu faria qualquer coisa para ajudar. - Disse ele. ─ Eu gostaria de ter essa mesa de volta antes que acabe em um leilão no leste. Ela tem uma história. Mas é principalmente o sentimento que importa para mim. Minha avó a adorava. Ela sorriu para ele. ─ Ela deve ter sido uma mulher meiga. ─ Ela era. Como você. - Ele fez uma careta. ─ Eu nunca vou me perdoar pelo que eu disse a você sobre essa mesa. Não valia a vida de Snow. ─ Você não sabia que ela estava ferida. - Disse ela. ─ Eu não escutei. - Ele respondeu. ─ Eu tenho a tendência de sair do controle nos piores momentos. Sinto muito pelo que aconteceu. ─ Tudo bem. - Disse ela. ─ Só espero que possamos encontrá-lo. Temos folhetos em todos os lugares, até na Internet. ─ Mesmo que ela tenha o mesmo destino da lamparina Vitoriana e do órgão de tubos que foram roubados, eu estou feliz que Snow esteja bem. Ela sorriu. ─ Eu também. ─ Eu me pergunto... - Ele começou. ─ se podemos... Antes que ele pudesse terminar a frase, um barulho do lado de fora chamou sua atenção. Um caminhão chegou à entrada de Meadow e parou. Dal e Meadow saíram para encontrar o motorista. ─ Não conseguimos encontrar Todd. - Um dos cowboys de Dal falou. ─ Ele foi até a cabana de Davis para checar o velho. Ele saiu de lá em seu caminhão, mas nós o encontramos ao lado da estrada a um quilômetro e meio da fazenda. Não havia rastros fora da estrada, em qualquer lugar! ─ Estou indo. - Disse Dal. Ele se virou para Meadow. ─ Ele tem esposa e um filho de cinco anos. Eu tenho que ir. ─ Se eu puder ajudar. ─ Não há nada que você possa fazer, querida. - Ele disse suavemente, e inclinou-se para beijá-la calorosamente. ─ Volte para dentro. ─ Me ligue quando o encontrarem. Por favor? Ele assentiu. Caminhou até a caminhonete e partiu, seguindo o outro caubói para a estrada. *** Todd era um dos trabalhadores favoritos de Dal. Ele era econômico, meticuloso e um dos melhores domadores de cavalos com quem Dal já havia trabalhado. Ele nunca se atrasou para o trabalho, nunca faltou um dia. Saber que ele tinha desaparecido era perturbador, especialmente porque não havia rastros. Dal parou atrás de Larry, seu capataz, e desligou o motor. Ele fez uma careta para a complicação que acabara de se apresentar. A famíia de Todd, Charity Landers e seu filhinho, Pete, estavam sentados na varanda de Dal. Eles vieram correndo quando viram Dal.


─ Temos que encontrá-lo. - Disse Charity ansiosamente. ─ A neve está tão profunda... Sua voz falhou. ─ Onde está o meu pai? - Pete perguntou a Dal, e pálidos olhos azuis olharam para ele com absoluta confiança. ─ Você vai encontrá-lo, não vai, Sr. Blake? A criança o fascinou. Ele viu o garotinho por perto, foi ao batizado. Mas isso era algo novo. A criança amava o pai e mostrava isto. Dal nunca havia pensado em um filho seu antes. ─ Nós vamos encontrá-lo, Pete. - Ele prometeu, e esperava que pudesse manter a promessa. Assim que ele terminou de falar, um carro subiu pela estrada e parou na frente da casa. Todd saiu, agradeceu ao motorista e caminhou até a varanda, onde foi sufocado por beijos de sua esposa e filho. ─ Nós pensamos que você estava morto ou algo assim! - Charity chorou. ─ Papai, nós estávamos com medo! - Pete chorou contra a garganta do pai quando foi segurado perto. ─ Eu amo muito você, papai! ─ Eu também amo você, filho. - Ele beijou Charity. ─ Ora, estou bem. O maldito caminhão pifou. Eu tive que pegar uma carona para a cidade para conseguir um guincho, mas os guinchos estavam em uso, então eu tive que pegar uma carona de volta para casa... - Ele fez uma pausa. ─ Desculpe, Dal, eu deixei o caminhão estacionado na estrada, mas eles disseram que mandariam o primeiro guincho que tivessem livre. Ele disse que há muitas pessoas presas na neve. Eu vou ter que voltar e esperar por ele. ─ Larry pode ir. - Disse ele, e acenou para o outro homem, que levantou a mão e correu para o caminhão. ─ Pegue sua família e vá para casa. - Ele riu. ─ Você já teve bastante aventura por um dia. ─ Puxa obrigado, chefe. - Disse Todd, sorrindo de orelha a orelha. ─ De nada. Pete se contorceu para descer. Ele caminhou até Dal e estendeu os braços pequenos. Dal o pegou no colo, maravilhado com a perfeição daquele pequeno rosto de perto. ─ Obrigado, Sr. Blake. - Disse ele, e abraçou o homem grande. Dal retribuiu o abraço. Foi a sensação mais incrível, aquele corpo minúsculo tão confiante em seus braços. A criança era uma lembrança do que ele esteve fugindo a maior parte de sua vida adulta. Ele descobriu que gostava da ideia de ter um filho. Ele riu e colocou o garoto de volta nos braços do pai. ─ Bom garoto. - Ele disse a Todd. ─ Nós também achamos. Boa noite, chefe. ─ Obrigada, Sr. Blake. - Acrescentou Charity. ─ De nada. - Ele acenou para eles. A criança estava em sua mente quando dirigiu de volta para a casa de Meadow. Ela saiu para a varanda. ─ Você o encontrou? Ele está bem? ─ Ele está bem. - Disse ele, seguindo-a para a casa. ─ O caminhão pifou e ele teve que pegar uma carona para a cidade para conseguir um guincho. E esqueceu o celular. - Ele riu. ─ Eu mesmo fiz isso uma ou duas vezes. ─ E eu aqui pensando que você fosse perfeito. - Brincou ela. Ele levantou ambas as sobrancelhas. ─ Bem, de certa forma eu sou. - Ele murmurou com um longo olhar para o corpo dela que era extremamente eloquente. Ela corou. ─ Café? - Ele perguntou esperançoso, sorrindo. ─ Está frio aqui fora. ─ Eu posso fazer um bule. - Disse ela. ─ Não tenho bolo, mas tenho queijo e biscoitos. ─ Ainda melhor. - Respondeu ele. *** Eles se sentaram comendo queijo e biscoitos em um silêncio sociável.


─ Você transferiu suas novilhas grávidas? - Ele perguntou. Ela assentiu. ─ O capataz do papai é muito bom no que faz. Tudo o que eu precisei fazer foi ficar de lado e deixá-lo trabalhar. - Ela balançou a cabeça. ─ Eu quase fiz uma bagunça com as coisas. Eu teria lhe pedido ajuda, mas... ─ Mas eu estava sendo agressivo. - Ele respondeu por ela. E sorriu. ─ Eu estou tentando mudar nesse preciso momento. - Ele prometeu. Mordiscou um biscoito. ─ O garotinho de Todd veio correndo quando o pai apareceu. Ele estava chorando. - Ele se mexeu na cadeira. ─ Eu nunca pensei em crianças. - Acrescentou. ─ Na verdade, passei a maior parte da minha vida adulta fugindo de laços. Ela não falou. Apenas esperou. Ele notou isso e sorriu. ─ Eu era um mulherengo. Mas depois de um tempo, todas elas se parecem, falam da mesma maneira. - Ele encolheu os ombros. ─ Até mesmo Dana. Ela era doce e eu gostava dela, mas nunca a imaginei de avental, cercada de criancinhas. ─ Eu não acho que ela goste de crianças, pelo que Jeff disse sobre ela. - Ela respondeu. ─ Ele pensa do mesmo modo. Eles são do tipo que preferem viajar, se tiverem dinheiro. Eles pensam igualmente. Ela assentiu. Ele a estudou. ─ Você tinha dezessete anos quando caiu na caixa de carvão. - Lembrou ele. ─ Você nunca se perguntou por que eu reagi tão mal à maneira como você estava vestida naquela noite? Ela piscou. ─ Bem, de vez em quando. - Ela confessou. Ele olhou para ela. ─ Você era adorável, mesmo nessa idade. Eu queria você. Mas eu sabia que seu pai me mataria se eu tentasse alguma coisa. Você era jovem demais, afinal. - Ele suspirou. ─ Eu recuei e continuei me afastando, especialmente depois que ele me disse como você era competitiva com os homens. - Ele riu secamente ao ver a expressão dela. ─ Era uma mentira, e eu não percebi isso. Ele estava tentando proteger você de mim. ─ Eu acho que sim. - Disse ela. ─ Você tinha uma boa fama. ─ Eu ainda tenho. - Disse ele, e estava sombrio. ─ Levará algum tempo para resgatá-la aos olhos da população local. Mas eu não estou mais correndo, Meadow. - Acrescentou ele em voz baixa. ─ Eu pensei muito sobre o que quero fazer com o resto da minha vida. Eu quero uma família. Suas sobrancelhas estavam arqueadas. Ela tocou a testa. ─ Eu não acho que tenho febre. Como posso estar alucinando? ─ Pare com isso. - Disse ele. ─ Estou falando sério. ─ Eu também. Quem é você e o que você fez com Dal Blake? Ele riu. ─ Eu acho que não pareço comigo mesmo. - Ele inclinou a cabeça. ─ Que tal você e eu começarmos a sair juntos? Podemos até ir à igreja no próximo domingo. Ela perdeu o fôlego. ─ O ministro vai desmaiar no púlpito. ─ Provavelmente, mas se ele fizer isso, mais pessoas aparecerão no próximo domingo por curiosidade. - Ele riu. ─ Você está falando sério? Ele afastou a mesa, levantou-se, pegou-a nos braços e sentou-se com ela numa poltrona confortável na sala de estar. ─ Deixe-me mostrar a você o quão sério eu estou. - Ele murmurou enquanto se inclinava para sua boca. ***


Com um pequeno aviso prévio, ela poderia ter se salvado. Mas ele era tão familiar, tão querido, que ela não teve nenhuma defesa. Ele a moveu, envolvendo-a contra ele, enquanto se alimentava de seus lábios macios e abertos. Ela colocou os braços ao redor dele e cedeu à mais doce tentação que já conheceu. Não protestou, nem mesmo quando sentiu as mãos magras dele por debaixo da sua blusa, contra a pele macia e quente. ─ Sem protestos virginais? - Ele murmurou contra sua boca. ─ Depende. - Ela conseguiu dizer. ─ Depende do quê? ─ Se você quer filhos agora. Ele levantou a cabeça. ─ O que? ─ Bem, eu não sei coisa alguma sobre precauções, apesar de todas as palestras que eu tive que suportar no ensino médio e na faculdade. - Disse ela. Ele riu. ─ Bom argumento. - Ele se inclinou novamente. ─ Então vamos apenas namorar um pouco e depois eu vou para casa tomar um banho frio. Ela se aproximou, adorando o calor do corpo dele contra o dela, o lento toque dos seus dedos contra seus seios dentro do sutiã rendado. Ele era forte. Ela não tinha percebido o quão experiente ele era até que estava quase pronta para implorar a ele que a despisse. Inesperadamente, ela teve um aliado. Um grande rabo vermelho espesso interpôsse entre a boca de Dal e o nariz dela. Ele tentou passar, mas continuou batendo no nariz de Meadow. Ela recuou suspirando. ─ Dal? Há uma almofada peluda no meu colo. ─ Eu notei. - Ele a beijou novamente. ─ Dal, não está se movendo. Ele riu. ─ Eu notei. - Ele se recostou e respirou fundo. ─ Jarvis, peste, como você entrou? ─ Portinhola do cachorro. - Disse ela, passando a boca sobre o nariz dele. ─ Foi uma pergunta retórica. - Ele murmurou. ─ Essa foi uma resposta retórica. ─ Jarvis! - Ele gemeu quando o grande gato vermelho bateu no seu queixo com a cabeça, ronronando o tempo todo. Ela acariciou o gato grande. ─ Ele está apenas com ciúmes. ─ De você ou de mim? ─ Essa é uma pergunta retórica muito boa. Ela se sentou, os olhos arregalados e vazios. ─ O que foi? - Ele perguntou. ─ Jarvis. Sangue em sua garra. Arranhão na bochecha do filho de Mike Markson. Loja de antiguidades. Antiga loja de artigos de arte. Bolsa de lona... ─ Meu Deus! - Dal exclamou quando ela disparou para fora de seu colo. ─ Estava bem debaixo do nosso nariz o tempo todo! Ela já estava pegando seu telefone e discando. Jeff respondeu no primeiro toque. ─ Devagar, devagar. - Jeff riu. ─ Recomece. Ela fez, listando os fatos que repentinamente se conectaram em sua mente. ─ Tem que ser ele! ─ Eu nunca associei a bolsa. - Ele respondeu. ─ Ok, eu concordo que temos evidências suficientes, mas não podemos fazer nada sem um mandado de busca. E eu não quero ir a loja de Markson, a não ser que que eu tenha certeza de achar o que estamos procurando. ─ Vou escrever tudo o que sei. - Disse ela. ─ Enquanto isso, há alguma maneira de obtermos os resultados do DNA no sangue que Gil enviou? ─ Farei algumas ligações. Eu conheço alguém no laboratório criminal estadual. ─ Tudo bem!


─ Enquanto isso, vou trazer Gil de volta para cá e fazer com que ele reuna todos os fatos que ele coletou sobre as antiguidades que foram roubadas antes. ─ Gary não teve tempo de viajar para nenhum lugar. As probabilidades são de que a mesa ainda esteja com ele. - Disse ela. ─ Provavelmente ali na loja. ─ Eu não duvido disso. Mas não vamos dizer nada. Não quero assustá-lo. ─ Seu pobre pai. - Disse Meadow com tristeza. ─ Ele vai superar isso. Não podemos deixar o rapaz sair dessa. ─ Eu sei. É triste. - Disse Meadow. Dal a puxou para o seu lado. Ela disse que encontraria Jeff no escritório logo pela manhã e desligou. ─ Eu resolvi um crime. - Disse ela. Ele riu. ─ Na verdade você resolveu. - Ele se inclinou e beijou seu nariz. ─ Estou orgulhoso de você. É só... - Ele suspirou. ─ Só o quê? Ele inclinou a cabeça. ─ Apesar da xerife legal do filme Fargo, que resolvia os crimes com uma barriga do tamanho de uma bola de basquete, eu realmente gostaria que você pudesse considerar uma linha de trabalho menos perigosa. Enquanto você estiver grávida, pelo menos. As sobrancelhas dela arquearam. ─ Eu não estou grávida. Ele franziu os lábios e seus olhos escuros brilharam. ─ Ainda. Ela estava boquiaberta. Não sabia bem o que dizer. ─ Eu vou pegar os anéis da minha avó hoje à noite quando eu chegar em casa. - Ele disse suavemente. ─ Ela tinha quatro anéis de noivado diferentes, porque não conseguia decidir por apenas um. Ela tinha todo o dinheiro da família. Então, do que você mais gosta, esmeraldas, rubis, safiras ou diamantes? ─ Rubis. - Disse ela imediatamente. ─ Vou levar o anel para o seu escritório de manhã e vamos tomar um café da manhã tarde, depois que você acabar de resolver o crime. OK? Seu coração disparou. ─ OK! Ele a aproximou dele e a beijou avidamente. ─ Eu não vou embora porque quero. - Ele sussurrou. ─ Mas é uma comunidade pequena, e eu não quero que as pessoas deixem dúvidas sobre a sua reputação imaculada da qual seu pai tanto se orgulhava. ─ Obrigada. - Ela sussurrou de volta. Ele sorriu quando a soltou. ─ Vejo você de manhã. ─ Boa noite. ─ Quando podemos trazer Snow para casa? - Ele perguntou. ─ Amanhã. - Ela olhou para a porta, onde Jarvis estava sentado. ─ Ele vai ficar? ─ Eu não sei. Você vai ficar? - Perguntou ele ao gato. Jarvis olhou para ele, miou e foi trotar de volta para Meadow. Ela apenas riu. *** Na manhã seguinte, armados com um mandado de busca, Meadow, Gil, Jeff e um promotor assistente se apresentaram na loja de Mike Markson assim que ele a abriu. Ele rangeu os dentes quando eles lhe entregaram o mandado. ─ Sinto muito, Mike. - Disse Jeff baixinho. ─ Gary está aqui? Ele deu um longo suspiro. ─ Ele ficou acordado até tarde da noite, telefonando para fora do estado. - O velho disse com tristeza. ─ Ele está dormindo. - Ele fez uma careta. ─ Ele fez isso, não foi? Eu suspeitava, mas realmente não queria saber. - Ele engoliu em seco. ─ A escrivaninha


está em seu quarto. Eu ia ligar para você. Eu não podia deixá-lo escapar roubando algo tão valioso. ─ Você sabia sobre os outros roubos? Mike sacudiu a cabeça. ─ Ele é meu filho. Eu o amo, mesmo que ele tenha feito coisas ruins. Mas eu não abrigarei um ladrão nos negócios que passei minha vida construindo. Jeff colocou a mão no ombro do velho. ─ Ele já esteve em apuros com a lei? Mike sacudiu a cabeça. ─ Não como maior de idade. Nem mesmo uma multa de estacionamento. Jeff sorriu. ─ Consiga um bom advogado. Ele pode alegar ser réu primário. Se ele mantiver o nariz limpo, seu registro será apagado. ─ Sério? - O rosto de Mike se iluminou. ─ Mesmo? O promotor assistente se virou para ele. ─ Sim. Mesmo. Mas ele terá que ser colocado em liberdade condicional e não será fácil. ─ Vou me certificar de que ele faça o que deve. - Disse Mike com firmeza. ─ Eu fracassei com ele uma vez. Nunca mais. Jeff e Meadow sorriram. ─ Vamos falar com ele. - Disse Jeff. *** Gary não ficou surpreso ao ver seus visitantes. Ele se entregou sem resistência. Até confessou os roubos e se ofereceu para dar os nomes de seus compradores. Ele foi levado para detenção, fichado e transferido para uma cela aguardando julgamento. ─ Isso não funcionou extraordinariamente bem? - Gil perguntou com uma risada quando estavam de volta ao escritório. ─ Eu sei de outra coisa que vai funcionar extraordinariamente bem. - Meadow refletiu enquanto observava Dal entrar pela porta. ─ Oi. - Disse Jeff. ─ Oi. Vamos tomar o nosso café da manhã tardio? ─ Mas nós pouco nos conhecemos. - Protestou Gil. ─ E você nem me trouxe flores! ─ Cala a boca. - Dal murmurou. ─ Eu não vou levar você a lugar algum. Suas meias não combinam. Gil olhou para baixo e fez uma careta. ─ Não é minha culpa. Eu não acendi as luzes quando me vesti. ─ Ele está me levando para o café da manhã. - Ressaltou Meadow. ─ Sim, e ele está pedindo. - Acrescentou Dal, segurando uma caixa de joalheria aberta. ─ Você disse rubis, não foi? Meadow prendeu a respiração. Ela imaginou uma pequena pedra em um pequeno anel. Esta era uma aliança de casamento repleta de rubis e um solitário que parecia ser de cerca de dois quilates. ─ Você aceita? - Dal perguntou com um sorriso caloroso. ─ Eu... o que? - Ela gaguejou. ─ Bem, se você quer as palavras... - Ele a conduziu a uma cadeira, sentou-a, ajoelhouse, tirou o chapéu de aba larga e disse: ─ Senhorita Dawson, você me dará a honra de se tornar minha esposa? Ela jogou os braços ao redor dele. ─ Sim. Sim! Sim! ─ Acho que isso significa que ela aceita. - Traduziu Gil. Jeff e Gil riram. Meadow lutou contra as lágrimas. Ela amou o homem bobo durante metade da sua vida, e aqui estava ele, oferecendo-lhe a única coisa no mundo que ela mais queria. Ela se perguntou se poderia morrer de felicidade. Mas não queria descobrir! ***


Então eles se casaram no Natal. Snow chegou em casa, com alguns problemas neurológicos persistentes que acabaram se resolvendo. Ela e Jarvis, o gato, se enrolavam juntos para dormir e nunca tiveram uma única briga que tirasse sangue. Gary foi julgado como réu primário. Os itens que ele roubou foram recuperados, incluindo a escrivaninha de Dal, e devolvidos a seus legítimos proprietários. Gary organizou sua vida, voltou para a escola e tornou-se um membro ativo da comunidade, para deleite do pai. Dal e Meadow descobriram que tinham mais em comum do que jamais sonharam. Enroscada na grande cama king-size de Dal, Meadow lutou para recuperar o fôlego depois de uma primeira vez que excedeu seus sonhos mais loucos. ─ Deus! - Foi tudo que ela conseguiu dizer. Ele riu. ─ Agora você entende porque eu tinha que praticar muito nos meus dias de juventude. Ele brincou, pairando sobre ela. ─ Eu estava me preparando para você. ─ Awww. - Ela demorou. ─ Isso é tão meigo. Ele se moveu contra ela, sua boca movendo-se amorosamente contra a dela. ─ E é isso que eu mais amo em você, Sra. Blake. - Ele sussurrou. ─ O que? ─ Você nunca jogar o meu passado na minha cara. - Disse ele solenemente. E levantou a cabeça. ─ Eu também farei uma promessa solene para você, Meadow. - Acrescentou ele. ─ Eu nunca vou trair você. Nem se estivermos casados por cinquenta anos. Ela sorriu e o beijou. ─ OK. ─ Mas você vai procurar um médico e descobrir por que continua caindo. - Ele disse firmemente. Ela se aconchegou novamente em seus braços e deslizou uma longa perna ao redor dele. ─ É bom que você se preocupe comigo. - Ela sussurrou. ─ É bom que você se preocupe comigo também. - Disse ele, e a beijou novamente. Ele a deitou de costas, deslizou entre as pernas dela com uma risada rouca, e começou a instruí-la na arte do prazer mútuo. Levou um longo tempo. E, finalmente, produziu um resultado doce: seu primeiro filho. Os médicos descobriram uma pequena lesão no cérebro de Meadow que explicava seus problemas de equilíbrio. Na verdade, havia uma razão física para isso e um tratamento. Saber que não era um tumor cerebral ou algo que pudesse matá-la, tornava a condição suportável. A lesão se originou da concussão que ela sofreu na adolescência, um acidente que ela nunca imaginou que traria sequelas a longo prazo. Dal preocupou-se com seu trabalho na aplicação da lei. Ele nunca lhe pediu para deixá-lo, mas ela o conhecia muito bem. Sua falta de equilíbrio poderia levar, tão facilmente, à tragédia nas circunstâncias erradas. Então ela teve uma longa conversa com o xerife e o promotor público. E logo depois, conseguiu um novo emprego. Na época em que seu filho, Teddy, começava a andar, Meadow trabalhava confortavelmente como assistente de promotoria pública, tendo trocado seu distintivo e sua arma para um futuro menos perigoso e mais satisfatório do que a carreira policial que abandonou. No ano seguinte, ela deu à luz um segundo filho, a quem deram o nome de Seth. Suas fazendas se fundiram para formar um enorme conglomerado, com Dal no comando. Então ela e Dal viveram felizes para sempre em um rancho no Colorado, com seus filhos, Snow e Jarvis, e algumas milhares de cabeças de gado. E comemoraram muitos aniversários de casamento no Natal. Meadow finalmente tinha o seu homem da neve

FIM


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