contexto 6ª edição
março 2013
Copa pra quem? 1 Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
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Índice #editorial
p.4
#ilustra
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#Brasil Vai ter Copa, mas não vai ter moradia? Bola murcha no país do futebol – A “Copa” da Baderna
p.8 p.12
#internacional Não à Copa
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#prosa&poesia
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#fotocontexto
p.20
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#editorial
200 milhões
Q
uerem os 200 milhões em ação de vidamente calados. Calados, colo cados em um canto, sem protestos ou a chamada baderna. Ao pensar na Copa do Brasil em 2014, pensar nos direitos dos brasileiros é fundamental. Sem direitos, não haverá Copa. Nesta edição da revista Contexto, você encontra textos sobre a repressão poli cial durante os protestos, sobre as desap ropriações e as organizações que estão na reunião da Organização dos Estados Americanos, a OEA, para falar de todos esses abusos. Na parte de fotografia, Gabriela Batista registra momentos de um protesto com participação dos black blocs, cuja tática tem sido destaque em diversas mídias. Poesia e ilustração ficam por conta de Caio Cartenum, no Festival Sul-Americano de Cultura Árabe, e sua busca por identidade. Novamente, agradecemos a Qatar Foundation International pelo apoio em todas as edições e aos colaboradores da revista. A luta continua e, sem direitos, não haverá Copa.
Priscila Bellini Editora-Chefe
Seja bem-vindo à Contexto! Welcome! Ahlan wa sahlan!
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Expediente Editora-Chefe
Priscila Bellini Jornalistas
Andressa Vilela Marcela Reis Muriel Vieira Priscila Bellini Poesia
Caio Cartenum Ilustração
Caio Cartenum Design
Fernanda Tottero Fotografia
Gabriela Batista Tradução
Priscila Bellini
#ilustra
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Caio Cartenum é artista plástico, poeta e grafiteiro. Suas obras e inquietações estão expostas no Festival Sul-Americano de Cultura Árabe, na BibliASPA, em São Paulo.
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#Brasil
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Vai ter Copa, mas não vai ter moradia?
Por Andressa Vilela e Marcela Reis
“Desapropriações causadas pela Copa do Mundo de 2014 mostram como o Estado brasileiro ainda é omisso e continua violando os direitos humanos” Há quase seis anos, o Brasil foi esco lhido como país-sede da Copa do Mundo de 2014. Mesmo antes do presidente da Fifa (Federação Internacional de Futebol Associado), Joseph Blatter, visitar o país, o que aconteceu em abril de 2007, para avaliar a capacidade do Brasil em rece ber o evento, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia declarado a jornalis tas, em 2006, que o Brasil construiria 12 novos estádios, para ser capaz de sediar a Copa. O último levantamento técnico divulgado pela Fifa aponta que o Brasil já gastou em torno de R$ 8, 9 bilhões com a construção e reforma de estádios, o que representa um aumento superi or a 300% em relação à estimativa de gastos feita em 2007. A fala de Lula aos jornalistas, em 2006, e os dados men cionados acima não só assustam, como se mostram extremamente injustos pe rante a classificação do Brasil de acordo
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com a desigualdade social no país, se gundo o relatório da ONU (Organização das Nações Unidas), divulgado em julho de 2010: o Brasil aparece com o terceiro pior índice. Lembrando que o direito à moradia é universal e violá-lo represen ta um grave desrespeito aos direitos hu manos, surge a questão: a Copa vai ser pra quem? A Ancop (Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa) estimou, no começo deste ano, que cerca de 250 mil pessoas já foram ou serão removidas de suas casas, devido às obras para a Copa do Mundo e Olimpíadas, esta que será se diada no Brasil em 2016. A Copa terá doze cidades-sede e em todas elas há a pre sença de violação dos direitos humanos, como as violentas desapropriações de comunidades para construção de corre dores de transporte, estádios ou pelo simples ato de “higienizar” o país para os
turistas serem bem recebidos. O dossiê ‘’Megaeventos e Violações de Direitos Humanos no Brasil’’, produzido pela Ancop, afirma que: “As estratégias utiliza das uniformemente em todo o território nacional se iniciam quase sempre pela produção sistemática da desinformação, que se alimenta de notícias truncadas ou falsas, a que se somam propaganda en ganosa e boatos”. Em seguida, começam a aparecer as ameaças: “Caso se mani feste alguma resistência, mesmo que de sorganizada, advém o recrudescimento da pressão política e psicológica. Ato fi nal: a retirada dos serviços públicos e a remoção violenta”.
Desapropriações - Em 2010 e 2011,
diversos terrenos foram desapropriados pela prefeitura do Rio de Janeiro, para a construção do corredor BRT TransOeste, que é a principal conexão entre a região oeste da cidade e alguns bairros da zona norte. O Comitê Popular Rio Copa e Olimpíadas denunciou, no final do ano passado, que há terrenos que estão desocupados. De acordo com o presi dente da Associação dos Moradores da Vila Recreio 2, Laércio Chagas, em entre vista para a Agência Brasil, 90% das terras desapropriadas não foi usado para con cretizar projetos da Copa, o que fez com que 400 famílias perdessem suas casas sem necessidade. Completou ainda di zendo que a prefeitura não deu assistên cia alguma aos moradores e que o valor que recebeu de indenização não cobriu a despesa de uma nova casa e ele paga aluguel. As comunidades desvalorizam os terrenos e não atraem novos investi mentos, e a área é considerada território de expansão do mercado imobiliário. Já no Loteamento São Francisco, em Pernambuco, 77 imóveis foram e estão
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Desapropriações no Rio
sendo desapropriados, de acordo com o governo do Estado, no final do ano pas sado. As famílias que ali vivem, porém, afirmam que o número de casas é bem maior. Os habitantes do Loteamento es tão sendo muito atingidos, pois o bair ro está entre dois acessos para a Arena Pernambuco, que sediará alguns jogos. Segundo matéria publicada no portal Terra, em dezembro, a casa de Gerônimo Sebastião Oliveira, morador da região, foi demolida e ele não foi indenizado. O governo do Estado afirmou ao Terra que uma equipe composta por assistentes sociais, advogados, engenheiros e ar quitetos formaram um canal de diálogo com os moradores da região, porém, o que se viu ali foi uma relação autoritária e sem alternativas, os habitantes tiveram se sair, sem ter lugar para ir. Em Belo Horizonte, ano passado, cer ca de 200 moradores estavam sendo despejados de suas casas, pois o proje to inicial era que a Rua Lótus, no bair ro Betânia, não existisse mais, devido a uma obra destinada à Copa de 2014. Os próprios habitantes da região denuncia ram ao Ministério Público Federal (MPF) de Minas Gerais que as desapropriações estavam acontecendo irregularmente.
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Em entrevista à revista Exame, no ano passado, a moradora da rua, Rosana Cristina Duarte, diz que os oficiais da pre feitura chegaram de manhã na região, le ram um ofício e deram um prazo menor que 12 horas para que todos desocu passem suas respectivas casas. Ademais, muitos moradores que foram despeja dos não foram indenizados. O MPF se posicionou contra a ação da prefeitura, afirmando que as famílias devem ter um prazo mínimo de 30 dias, contados a par tir da intimação, para serem despejadas. E completou que as desapropriações só podem acontecer mediante indenização dos moradores.
Estado omisso - De acordo com a re
latora especial do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Raquel Rolnik, em entrevista ao portal Terra, em fevereiro, ‘’o legado urbanístico que a Copa do Mundo vai deixar não é significativo. Alguns projetos viários e de infraestrutu ra relacionados com os deslocamentos necessários para o evento, como BRTs, novas vias de ligação com os estádios e entre aeroportos e zonas hoteleiras e estádios, estão sendo feitos, mas essas não eram as prioridades de mobilidade. Não há outros legados do ponto de vista urbanístico que possam ser menciona dos. Ações esperadas, como a despolui ção da Baía de Guanabara e a melhoria das condições de saneamento gerais da cidade, não foram realizadas. Por outro lado, para a implantação desses projetos de infraestrutura foi necessário remover comunidades e assentamentos que se encontravam naqueles locais há déca das sem que uma alternativa adequada de moradia tenha sido oferecida. Para as pessoas diretamente atingidas, ao invés de um legado, a Copa deixa um ônus’’.
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Raquel afirma ainda que um dos pro blemas mais graves relacionados às de sapropriações é o fato de as indenizações pagas pelo Estado serem incoerentes com o necessário, principalmente num momento em que a especulação imo biliária vem aumentando drasticamente nas capitais do país. Em resposta ao relatório da ONU, a ministra brasileira dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, disse à Reuters que muitas desapropriações aconteceram em áreas de risco, o que deixa claro que não houve tentativa forçada da retirada de pessoas. Ela afirmou ainda que “todas as mudanças vindas para favorecer obras em termos de empreendimentos para a Copa do Mundo vêm para favorecer essas famílias em moradias mais adequadas, o que é sinônimo de direitos humanos nes tas comunidades”. Em contraponto às notícias que foram e ainda são publicadas nos diversos jor nais e portais acerca das desapropriações, o site da Fifa e o portal da Copa, que é do Governo Federal Brasileiro, não divulgam a realidade que assola as comunidades localizadas nas cidades-sede da Copa de 2014. O governo continua tapando os olhos para as violações que comete e fingindo que o povo não está indignado com os diversos direitos que estão sendo tirados dos brasileiros em prol da Copa.
Reação popular - Essa declaração,
entretanto, não acalmou os ânimos da sociedade civil brasileira. Em 2011, foram criados diversos Comitês Populares da Copa -um em cada uma das 12 ci dades-sede-, que é um grupo aberto, horizontal e apartiário de articulação e resistência contra impactos e violações dos direitos humanos na Copa do Mundo de 2014. Estão entre as atividades dos
Comitês a organização de manifestações contra o megaevento, audiências públi cas, além da participação em debates e seminários. A fim de expor as violações de direitos humanos sofridas pela população (em sua maioria pobre, preta e periférica) em virtude da Copa do mundo, A Ancop, que é associação de todos os Comitês, lançou a campanha #CopaPraQuem?. A inicia tiva conta com diversas imagens com pequenos textos, acerca dos problemas gerados pelo megaevento e vem expli cada pela seguinte nota: “Hoje, entrando em 2014, as pessoas se perguntam: mas, Copa Pra Quem? Os/as cidadãos/as do país do futebol não se deixam mais en ganar tão facilmente. Poucos são os que acreditam que a Copa trará qualquer le gado para a população. O que vemos nas 12 cidades-sede da Copa da Fifa: despe jos (remoções forçadas), violação dos di reitos dos trabalhadores e trabalhadoras, uma legislação de exceção, destruição do que era público para a construção de uma cidade privatizada, orientada aos interesses das grandes empresas e cor porações, aumento da exploração sexual infanto-juvenil. Somam-se a tudo isso, ainda, as violentas ações de repressão do Estado sobre a população e, o que é pior,
a falta de diálogo e sensibilidade para com os milhões de indignados que saem às ruas”. As críticas feitas pelos Comitês Populares ultrapassam a esfera dos mo vimentos sociais e da população afeta da e chegam também aos urbanistas. “Estamos frente a um novo pacto terri torial, redefinido por antigas lideranças paroquiais, sustentadas por frações do capital imobiliário e financeiro, e am paradas pela burocracia do Estado”, disse Orlando dos Santos Junior, mestre e doutor em Planejamento Urbano e pro fessor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ao portal Carta Maior. De acordo com a professora, arquiteta e urbanista Mariana Fix, em palestra mi nistrada na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humans da USP), atual mente as cidades estão sendo moldadas segundo um projeto neoliberal, que pri oriza a mercantilização e a privatização do espaço urbano. Esse movimento, por tanto, foi claramente intensificado com os projetos para a recepção da Copa do Mundo no Brasil, que, em nome de uma propaganda para a competição no mer cado mundial tem deixado desabrigadas milhares de famílias.
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Estadão
Bola murcha no país do futebol – A copa da “Baderna”
Por Muriel Vieira
“Com a aproximação da Copa do Mundo e as consequências alarmantes no país, não é de se estranhar que novas manifestações ocorram. Entretanto, o povo que vai às ruas lutar por seus direitos assume os estereótipos de baderneiro, vândalo ou até mesmo bandido” Julho aproxima-se e traz consigo um dos eventos esportivos de maior des taque no globo, a Copa do Mundo, e os preparativos do Brasil são notáveis, para o que uma parcela da população chama de “A grande festa”. Contudo, a realidade brasileira tem entrado em divergência com a alegria do futebol ao se falar da Copa - um acontecimento que tem trazi do mais prejuízos do que compensações ao país. Diante do déficit exorbitante que o Brasil tem deixado à sua população em nome do evento, o povo movimentou-se
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novamente em protestos, buscando chamar a atenção para as dificuldades enfrentadas. Tais manifestações são du ramente oprimidas e criminalizadas pela polícia, sob comando de um governo que “vai combater as manifestações”, como dito pelo governador Geraldo Alkmin. Durante as famosas Jornadas de Junho, o evento futebolístico já vinha sofrendo fortes críticas por parte da po pulação que afirmava preferir transporte, saúde e educação de qualidade ao jogo da FIFA. Os pedidos foram ignorados.
Novos protestos organizados pelo mov imento “Não Vai Ter Copa” e “Na Copa Vai Ter Luta” vem ocorrendo desde o começo de Janeiro, inicialmente com poucas pessoas e, atualmente, alcançan do a marca de dois mil manifestantes, segundo informações da própria polícia, número este que cresce a cada novo ato. Na base destes movimentos, há a pre sença de diversas peças diferentes, to das unidas pelo mesmo objetivo – um país mais justo e mais democrático. Porém, alguns grupos adeptos da tática Black Blocs vêm sendo o principal alvo de ataques das grandes mídias e a chave para a criminalização do movimen to num todo. Diante das manifestações mais agressivas exercidas por estes gru pos como, por exemplo, quebra de vidraças de agências bancárias e grandes lojas, e uso de bombas e pedras contra a força policial, na maioria das vezes res pondendo a agressão da própria polícia,
um consenso vem sendo trabalhado e incutido pelo governo, o principal alvo de críticas, que coloca não apenas estes, mas todos os manifestantes, na desfa vorável posição de vândalos, baderneiros e até mesmo bandidos. Esta imagem desenvolvida com o apoio de grandes mídias traz o objetivo de desestimular os protestos colocando a maior parte da população em desacor do, o que obviamente, também retira a atenção das questões mais preocupantes do país, pontos estes que vem sendo ig norados em favor da Copa. Embora o evento seja duramente criti cado, bem como a FIFA que, a cada nova exigência, onera mais os cofres públicos e consequentemente o bolso dos bra sileiros, é quase consensual que o princi pal problema tratado pelos protestos é o abandono das causas do país em prol das causas do futebol e não a Copa do Mundo em si, como vem sendo erroneamente
Agência Brasil
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mostrado. A maior parte dos manifes tantes mostra-se contrário ao evento pelo dinheiro extra que o país não dispõe para efetuar as reformas e construções necessárias sem que o povo seja lesado, como colocado por uma manifestante presa durante a última manifestação no sábado (22 de Fevereiro) ao dizer “Sou totalmente contra a Copa; acho que o País não tem dinheiro para isso. Mas o que me marcou nisso tudo foi ouvir um PM, dentro do ônibus, falando que não tínhamos ‘direitos coisa nenhuma’”. Juntos aos prejuízos morais, os mani festantes também tem tido de lidar com a violência policial durante os protes tos que tem piorado a cada novo ato. Recentemente, uma tropa especializada em artes marciais foi montada e treinada para agir durante os manifestos – Tropa do Braços – além dos tiros de bala de borracha e bombas de gás lacrimogêneo comumente utilizados. Recentemente, por uma arbitrariedade da Polícia Militar, o jovem Fabrício Proteus Nunes Fonseca Mendonça Chaves (22 anos) foi baleado com projéteis reais e morreu durante um dos protestos contra a Copa do Mundo em São Paulo. Com números massacrantes, as tro pas responsáveis por combater os pro testos tem utilizado força sob o pretexto de conter os grupo mais violentos e im pedir a depredação de patrimônio pú blico ou particular, entretanto, entre os mais de 200 detidos e feridos apenas na última manifestação, não havia inte grantes agressivos, mascarados ou tra jando preto – características dos grupos que eram alvo da policia. Ao tomar con sciência dos atos, a FIFA demonstrou ser contra a repressão dos movimentos e delegou ao governo a responsabilidade de dar voz ao povo ao mesmo tempo em 14
que termina as obras, ainda atrasadas. Em nota, a ONU posicionou-se em carta ao Brasil afirmando preocupação com a forte opressão causada pela polí cia e governo desde as primeiras mani festações de 2013, contudo, a resposta brasileira foi encaminhada apenas no dia primeiro de Fevereiro deste ano. Durante a carta, a organização interna cional afirmou que o país esta violando os direitos humanos ao usar a força de maneira exagerada, prender manifes tantes desnecessariamente e não utilizar seu armamento de maneira correta (refe rindo-se às bombas de gás lançadas em restaurantes, faculdades), etc. Embora a carta tenha sido respondida, nenhuma das exigências feitas pelo órgão foram comentadas ou cumpridas. Com a finalidade de prevenir quais quer atos que coloquem o evento em risco, leis como a Antiterrorismo vem sendo ela boradas e votadas, contudo, suas cláusulas colocam em pauta muito mais a total violação da liberdade de ex pressão do que a proteção de torcedores e jogadores. Dentre os artigos estabele cidos pela lei, o artigo IV diz “provocar ou infundir terror ou pânico generaliza do mediante dano a bem ou serviço”, entretanto, enquadra como terrorismo qualquer ato de revolta ou manifestação social e/ou política. Aos que acreditam que as leis aplicam-se apenas às mani festações, ledo engano. Qualquer meio de disseminação de ideias contrárias ao evento ou governo também são con sideradas terrorismo, ou seja, textos, músicas, imagens, etc. Estas medidas mostram-se como possíveis meios de conter as manifestações referentes não apenas à Copa do Mundo, pois serão válidas mesmo posterior ao térmi no do evento, mas também a qualquer
movimento que faça frente ao governo. Dentre famosos jogadores e personali dades do futebol, as opiniões se dividem e são claramente divergentes. O técni co Carlos Alberto Parreira, ex-treinador e atual coordenador técnico da seleção brasileira de futebol declarou à rádio CBN no dia 26 de Fevereiro suas duras críticas à organização do mundial, dizendo que o Brasil perdeu a oportunidade de mostrar ser um país melhor. Parreira também de clarou apoio às manifestações dizendo que “A Copa não é só o estádio, o torce dor não vive dentro do estádio” e “Tem muita coisa errada no Brasil”. Em contra partida, ao tomar conhecimento da fala do ex-jogador francês Zidane que criti cou a Copa do Mundo no Brasil afirmando que o país precisava de mais hospitais ao invés de futebol, Ronaldo Nazário, ex-fu tebolista e atual membro do Conselho de Administração do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo da FIFA Brasil
2014 disse que “não se faz Copa com hospital”. Juntamente a ele, o ícone do futebol brasileiro Edson Arantes do Nascimento, conhecido como Pelé, pe diu “noção” aos manifestantes afirmando que “brasileiro estraga festa” e pedindo o fim dos protestos. Nos bastidores da Festa do Futebol, as coisas não estão mais tranquilas do que nas ruas do Brasil. A FIFA diz que não teme os protestos, mas receia que as obras não acabem a tempo, muito embora o país tenha tido sete anos para conclu ir as obras. Em nota, Joseph Blatter – presidente da FIFA – afirma que “o Brasil começou a se preparar para a Copa tarde demais” e que “é o país com mais atrasos desde que estou na FIFA”. Comenta-se, nos corredores, que talvez tenha sido o maior erro estratégico da história da ins tituição e embora os investimentos te nham sido altíssimos, ainda restam seis estádios para serem terminados até o
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inicio do evento, fora as demais reformas. Se o que se vê nos estádios não era o esperado por Blatter, basta ir a um posto de saúde ou hospital público para com preender o que levou o povo às ruas contra o evento. Os medicamentos dis tribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) não são encontrados nos postos de distribuição, algo crítico para o trata mento dos mais pobres, faltam aparel hos, médicos e infraestrutura, quesitos estes que deveriam ser manutenidos pe las verbas governamentais que não che gam – desviadas ou utilizadas para as construções da Copa. A educação públi ca, extremamente precária, conta com péssimos salários para os professores – alguns saíram em protesto no Rio de Janeiro e foram duramente reprimidos pelo governo – e escolas sucateadas. No transporte, os esforços do Movimento Passe Livre (MPL) durante as jornadas de Junho mantiveram as passagens ao preço de três reais (aproximadamente um dólar e vinte e oito centavos), contudo, trens e metros continuam sempre lotados e su jeitos a falhas e problemas operacionais constantes, uma vez que suas licitações garantem preços altos e não qualidade, além de muitos outros fatores criticados e discutidos durante as manifestações. Basta uma pesquisa rápida e não mui to profunda para enxergarmos os diver sos assuntos nacionais que pedem muito mais atenção do que a Copa do Mundo, e é direito da população reivindicar este olhar mais cuidadoso de seus gover nantes. Contudo, o país do futebol não
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é o país dos direitos humanos, da justiça, das verbas aplicadas corretamente ou do IDH satisfatório, justamente o que cer ceia os diversos atos que ocorrem desde 2013. Graças à péssima mania brasileira de agradar a visita mais do que ao dono da casa, a presidenta Dilma Rousseff, bem como o governador Geraldo Alckmin e os demais escalões do estado tem ten tado mascaras as manifestações como crimes a serem combatidos, algo que não merece a atenção internacional, e usam toda a força e os artifícios necessário para que isso se cumpra. Incutir o medo na população é a melhor forma de con trolá-lo, entretanto, após cinquenta anos de silencio, o povo brasileiro aprendeu que pode e deve fazer-se ouvir e estas manifestações não serão silenciadas. A consciência que permeia principal mente os jovens é de que é preferível ser chamado de baderneiro ou vândalo a se calar e acovardar-se perante as injustiças do país. “O Brasil pode não mudar, mas não vamos ficar na fotografia dos co vardes. Quem está bagunçando são os políticos”, segundo um manifestante.
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#internacional
Não à Copa Por Priscila Bellini
Organizações brasileiras foram a Wasington DC, Estados Unidos, para de nunciar os abusos cometidos pelo go verno brasileiro durante os protestos. A violência policial ficou evidente em casos presentes nos protestos contra a Copa mas não só nos que iam contra o evento, uma vez que tal relação de violência já é institucionalizada. Afinal, quais foram as reivindicações dos movimentos sociais que foram à Organização dos Estados Americanos, a fim de denunciar abusos? O dossiê da Conectas, uma das orga nizações que representou os brasileiros que sofreram com constantes violações ao direito de protestar, reafirma alguns aspectos que mal obtiveram destaque na mídia: a morte nos protestos, não apenas os contrários à Copa da FIFA. Luiz Felipe Aniceto de Almeida, morto em 2013 ao cair de um viaduto após repressão poli cial em protesto contra o evento, em Minas Gerais; Tasman Amaral Acioly, de 72 anos, atropelado ao fugir da repressão policial no Rio de Janeiro; Leoni Maria de Sena Fonseca, que sofreu parada car diorrespiratória e arritmia por conta de bombas de gás lançadas pela PM. Esses nomes são só alguns dos mortos que foram vítimas da ação dos policiais - e devidamente ignoradas, ou rapidamente esquecidas, pela mídia. O Brasil não aproveitou a chance de colocar em debate e contestar essa ação violenta nos protestos, durante a reunião da OEA. Entre os aspectos aos quais não respondeu, há doze principais.
1) Vedar a imposição de restrições ou limites às manifestações públicas 2) Tornar público todo o material de som e imagem captado pela polícia 3) Que nenhum cidadão seja impedido de registrar imagens em protestos 4) Proibir o uso de armas de fogo e limitar o uso de armas menos letais 5) Que todos os policiais militares estejam identificados nominalmente 6) Dar capacitação técnica a policiais que atuam nas manifestações 7) Ato normativo vinculante parâmetros de atuação para a PM
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8) Novo sistema de segurança pública, baseado em direitos humanos 9) Responsabilização de agentes por órgãos autônomos de fiscalização 10) Levar detidos às delegacias mais próxi mas e garantir a presença de advogados 11) Adolescentes e crianças detidos devem ser levados a delegacias especiais 12) Ampliar esferas de diálogo entre o poder público e a sociedade civil
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Organizações:
- Justiça Global - acesso à justiça, direit os humanos, segurança pública e violên cia institucional.
- Comitês Populares (Portal Popular da Copa e das Olimpíadas) - articulação na cional e regional de cunho popular nas cidades-sede dos eventos.
- Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos - conscientização acerca dos direitos humanos e assessoria jurídica gratuita.
- Artigo 19 - luta pela liberdade de ex pressão e informação e responsabiliza governos e organizações que as violam.
- Sindicato dos Jornalistas do Rio de Ja neiro - organização sindical que luta pelo exercício pleno e livre da atividade jor nalística.
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#prosa&poesia
Singela Alegria Vela verde ao mar O vento sopra a esperança Uma canção ressoa na flauta e um pequeno corpo dança O pequeno corpo gira e move-se como o ar Na delicadeza da vida e na alegria de brincar.
Coração Navegante Mente aberta ouvindo atentamente uma melodia, Amplio o pensamento e sigo minha estrela guia Velejo o vasto mar com os ouvidos aguçados escutando o que os ventos da noite me vem sussurrado. O próprio vento que sopra leva-me a lugares há muito tempo esquecidos Onde habitam criaturas místicas em um vale perdido. Árvores colossais e flores gigantescas Palácios vastos e pinturas pitorescas Uma infinidade de formas, cheiros sabores em um único sonho dando nas poesias que componho.
Caio Cartenum é artista plástico, poeta e grafiteiro. Suas obras e inquietações estão expostas no Festival Sul-Americano de Cultura Árabe, na BibliASPA, em São Paulo.
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Black Bloc A cada protesto, a tática black bloc ganha mais destaque e mais relevância. Nestas fotos, um pouco dos protestos feitos no Rio de Janeiro, Brasil.
Gabriela Batista é fotógrafa e estudante de Jornalismo da PUC-SP.
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