Revista Contexto - 9ª edição

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contexto 9ª edição

setembro 2014

A cidade é toda nossa 1


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Índice #editorial

p.4

#ilustra

p.5

#Brasil A cidade é toda nossa

p.8

RAP: Muito além do Ritmo & Poesia

p.11

A reprodução do terror

p.16

SÃO PAULO X ÁGUA

p.20

Ficção científica feminista

p.23

#opinião Aborto: os candidatos temem falar, as mulheres temem morrer

p.28

#prosa&poesia

p.31

#fotocontexto

p.32

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#editorial

Jornalismo para todos (e sempre)

Expediente Editora-Chefe Priscila Bellini

Jornalistas

T

ão perto das eleições, cabe também à juventude fazer parte dos debates sobre questões importantes a serem tratadas pelos governantes. Os jovens devem ter papel mais ativo e garantir que tais pautas não sejam deixadas de lado. Nesta edição de Contexto, você lê as matérias produzidas no workshop da revista em Vila dos Palmares, com alunos da EMEF Marili Dias. Eles falam da crise da água em São Paulo, do rap e das questões relacionadas à periferia em seus artigos, e também da Mostra Fotográfica “Palmares Vive”. Você também encontra matérias sobre o abuso policial e o aborto, além da entrevista com Aline Valek e Lady Sybylla, do Universo Desconstruído. Novamente, agradecemos à Qatar Foundation International pelo apoio e aos que colaboram com a revista. Devemos também agradecer aos professores e alunos da EMEF Marili Dias e José Soró, que apoiaram o workshop Jornalismo para Tod@s em sua primeira edição. Também agradecemos ao professor Hamilton Octavio de Souza, da PUC-SP, pelo apoio. Priscila Bellini Editora-Chefe

Beatriz Carvalho Beatriz Mendes Cícero Ivanilson Gonçalves Gabrielle Lopes Giovanna Sousa Gustavo Lima Hitalo Antônio Igor Germano Itallo Gomes Jarid Arraes Jayne Silva Josaias Elias Lucas Kayque Luis Fernando Coutinho Matheus Silva Milena Pires Monalisa Galdino Murilo Carnelosso de Jesus Noemi Soares Paulo Henrique Hoffmman Paulo Henrique Pereira Samuel Santos Thainá Santana Thiago Reis Vanessa Panerari Vitor Rodrigues Vitória Carvalho

Poesia Rodrigo Martins

Ilustração Rafael Malaquias

Design Fernanda Tottero

Seja bem-vindo à Contexto! Welcome! Ahlan wa sahlan!

Fotografia Cícero Ivanilson Gonçalves Diego Freire Felipe Felix Gilmar Rodrigues Karina de Carvalho

Tradução Priscila Bellini 4


#ilustra

Imagens referentes às ilustrações, feitas por Rafael Malaquias, grafiteiro que ministrou workshops na EMEF Marili Dias. 5


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#Brasil

A cidade é toda nossa Por Cícero Ivanilson Gonçalves, Hitalo Antônio, Josaias Elias, Lucas Kayque, Paulo, Henrique Hoffmman, Paulo Henrique Pereira, Thiago Reis e Vitor Rodrigues

O termo periferia foi criado na década de 1940 para compreender os diferentes papéis no mundo capitalista – os países que estavam no centro e os países que estavam na periferia do capitalismo. Hoje, o termo é usado para caracterizar centro e subúrbio, asfalto e morro, rico e pobre. Se, antes, era essa a divisão da qual vinha o termo, na atualidade a periferia adquire outros significados. A antropóloga Jacqueline Teixeira, da Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do Núcleo de Antropologia Urbana (NAU) defende que não se deve ver a periferia apenas como espaço geográfico, mas também como “categoria discursiva capaz de 8

permear toda a cidade, podendo assumir a posição central de decisões políticas e produção cultural”. Afinal, quando a periferia se torna centro? Um dos casos que vêm à tona ao tratar dessa concepção da periferia é o dos “rolezinhos”, encontro de jovens de regiões periféricas de diversas cidades e municípios em espaços associados à classe média, em especial shoppings. “Esse local, o shopping, é um espaço privado, desenhado para o encontro de pessoas”, explica a pesquisadora Jacqueline Teixeira. “E se ele é um espaço que recebe, muitas vezes, investimento público para se desenhar e se construir, aquele lugar consequentemente também é um


espaço público“, contrapõe. Ainda assim, é necessário entender tal fenômeno social (assim como qualquer outro) a partir da perspectiva que os sujeitos envolvidos possuem sobre tal fenômeno. É nessa análise que a escola, muitas vezes, falha, especialmente ao limitar a periferia à sua condição de espaço geográfico. A partir dessa ideia, reafirma-se a negatividade sobre tal espaço. Não à toa, o assunto desperta a preocupação e o interesse de pesquisadores que se voltam para regiões periféricas. Uma das organizações e espaços que tomam a frente ao tratar da periferia é o Coletivo Comunidade Cultural Quilombaque, localizado em Perus. Em uma verdadeira aula a céu aberto, José Soró, membro do coletivo, discorre sobre a atualidade dos movimentos na periferia. Dar voz aos movimentos da periferia pode ter sido um desafio no passado, mas assume novos contornos e

facilidades, atualmente. “Sempre houve uma preocupação em como conversar com as pessoas, e hoje a comunicação pode fazer isso”, esclarece Soró, em entrevista à equipe do Nas Ondas do Marili. “A tecnologia melhorou a coisas, potencializou a voz da comunidade - agora, qualquer um pode produzir um vídeo com celular e divulgá-lo em poucos minutos na rede”, completa, ao comparar tal situação com a restrição enfrentada no passado. Faz parte de grupos como o Quilombaque a ideia de que “a praça é nossa sala de aula”, em um projeto que permite o encontro entre jovens e arte, e o agrupamento entre diferentes pessoas. Essa pedagogia, segundo José Soró, garante que cada um chegue ao espaço como sujeito e favorece a inserção em um ambiente com arte e cultura. “É uma oportunidade de que a criança veja um teatro, por exemplo, para ter acesso 9


e decidir se gosta. Vamos levar teatro, música e cinema e esperar que as pessoas venham? Não é bem assim, existe uma construção, uma formação, temos que chegar ao público”, explica, ainda sobre o espaço do Quilombaque. Pensando em tudo isso, o movimento na periferia mudou, desde a juventude do ativista? “É bem melhor”, responde, sem hesitar. “A luta na época era unida, nós lutávamos para conseguir as Diretas Já e sonhávamos com um país diferente, e a fala do grupo era formar as pessoas, politizar”, relata. A luta, na atualidade, é para mostrar que ser periférico não significa ser menor. O objetivo é buscar o potencial de cada um, pois sobreviver na miséria é uma superação. Quando sabemos que temos potencial, que somo capazes, que temos direitos, nós quebramos o estigma. Iniciativas como a da arte no Quilombaque têm o poder de dialogar e “são um mecanismo quem vem para diminuir a segregação”. A ligação entre a comunicação e o jornalismo oferece a oportunidade de ser cidadão. De fazemos o que se quer, ter o poder de escolher o que falar e então, a partir disso, estar no centro, ser centro.

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RAP: Muito além do Ritmo & Poesia Por Gustavo Lima, Igor Germano, Itallo Gomes, Jayne Silva, Luis Fernando Coutinho, Noemi Soares, Samuel Santos e Vitória Carvalho

Quem não gosta de uma boa história? Principalmente, a história do rap, que marcou e que marca até hoje, que lutou contra o racismo e a guerra entre as gangues. O rap veio da Jamaica mais ou menos na década de 60, quando começaram a surgir os aparelhos sonoros, que eram colocados nos becos jamaicanos para animar os bailes. De modo geral, o rap tem uma batida rápida e a letra é cantada em forma de discurso - e muitas delas falam das dificuldades da vida nas periferias. A maioria das vezes, o rap é cantado e tocado por uma dupla composta pelo DJ, que fica responsável pelos efeitos sonoros e mixagens, e por MC’s, que se responsabilizam pela letra cantada. Chegou ao Brasil em 1986, na cidade de São Paulo principalmente nos bairros mais pobres. No início, as pessoas não aceitavam o rap, pois consideravam este estilo musical muito violento e tipicamente de periferia. Mas, na década de 90, o rap muda o jogo e ganha as rádios. Assim, as indústrias fonográficas começam a dar mais atenção ao estilo. Os primeiros rappers a fazer sucesso foram Thayde e DJ hum. Logo depois, começou a aparecer novas caras no rap brasileiro, como o grupo Racionais MC’s, Pavilhão 9 e Detentos do Rap. Nos dias de hoje, o rap está incorporado no cenário musical brasileiro. Venceu o preconceito e saiu da periferia para

ganhar público. Vários cds são lançados anualmente, mas nem por isso o rap perdeu a essência de denunciar as injustiças de vida na periferia.

Grupo Salmos O grupo está deixando sua marca por onde passa, com quatro integrantes Isaac Dee (DJ), Pedro MC (vocal), Anderson (vocal) e Sara Queiroz (vocal). O estilo de rap do grupo é mais leve e romântico. Eles passam mensagens de incentivo principalmente para os jovens, para seguirem um bom caminho. Já participaram e participam até hoje de vários projetos dentro da comunidade. Um dos projetos foi Gusmão para Cristo, mais voltado para o gospel. Segundo eles, não importa o estilo de música, só importa ser para Deus. Para conhecer mais esse trabalho, fizemos uma entrevista para tirar dúvidas e curiosidades sobre o grupo. - Nas Ondas do Marili: Por que o RAP? - Isaac: Logicamente pelo fato de amarmos o RAP, pois a cultura hip hop tem se mantido dentro das periferias do Brasil há décadas. São aproximadamente 30 anos de existência no Brasil, pois crescemos ouvindo e vivendo a cultura! Mais o fato mais lógico é que o Rap é o único estilo de musica em que conta realmente a nossa realidade, e também tem o poder persuasivo em transformar vidas, 11


Grupo Salmos

e esse é o nosso objetivo mostrar as pessoas um mundo de possibilidades longe das drogas do crime mais porem pertinho de Deus. - NOM: O que você acha do movimento do RAP hoje na Periferia? - Isaac: O rap tem sido uma grande influencia dentro das periferias, pois o rap em si é o Hip Hop! A junção de 4 elementos (DJ, FREESTYLE, B BOY e GRAFITE) esses elementos se tornam a cultura Hip Hop, incentivando jovens e adolescentes a fazer bom uso da arte’ ocupando seu tempo no intuito de mantê-los longe da criminalidade, uma vez que a arte

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se transforma em profissão, abrindo portas de empregos dando oportunidade no mercado de trabalho. - NOM: Qual a mensagem que sua letra quer passar? - Isaac: Como tinha dito no primeiro tópico, o Grupo Salmos em si tem o objetivo de ajudar as pessoas mostrando um mundo de possibilidades longe da criminalidade tentando ajudar as pessoas em todas as áreas da sua vida,mais porem falando do centro do nosso objetivo a essência do Grupo Salmos que se chama (JESUS SALVADOR) esse é o nosso principal foco transforma vidas por


intermédio do Hip Hop falando do amor de Deus. - NOM: Como o publico reage diante das suas músicas? - Isaac: Quando vamos cantar nas favelas em que sabemos que uma grande proporção do público são pessoas que fazem parte do crime, procuramos ser cautelosos em nossas palavras ao interagir com eles. Depois de ganhar a atenção deles, cantamos. Através das canções, percebemos a transformação naquelas vidas, pois muitos deles esboçam uma reação de reflexão. Em outras palavras, a letra os faz refletir e sabemos que, quando refletimos, procuramos melhorar! - NOM: Qual foi seu incentivo? Conte um pouco de sua trajetória. - Isaac: A nossa dura realidade tornouse o nosso incentivo! O fato de vermos pessoas morrendo todos os dias, famílias passando fome, o desemprego. Principalmente os corações oprimidos, independentemente da cultura, cor ou religião. Tudo isso tem nos incentivado a escrever canções no intuito de ajudar as pessoas, apresentando uma saída, um conforto, uma providência. - NOM: Qual é sua principal influência dentro do RAP? - Isaac: Na verdade, procuramos ser autênticos e ter o nosso próprio estilo musicalmente falando, mas creio eu que cada um dos integrantes tem em particular alguém que serve de incentivo e inspiração. Particularmente falando, eu considero PEDRO MC. Sou bastante eclético, mas tive alguém em minha vida quando era adolescente que me inspirou a cantar que Rap. Outro exemplo é o do Racionais mcs.

- NOM: Você acredita que o rap perdeu espaço na periferia? Muitos dizem que o rap está sendo elitizado, o que você pensa sobre isso? - Isaac: O rap tem entrado em todos os lares, e a alta classe social não tem sido mais um grande problema. O rap tem uma nova vida, uma nova cara, com letras mais inteligentes, agradando tanto quanto o rico quanto o pobre. Então, considerando isso, o rap não é mais somente um movimento periférico mas um movimento para todas as classes. - NOM: E fora do palco, o que vocês fazem? Quais suas ocupações? - Isaac: Fora dos palcos temos uma rotina igual a todos. Levantar cedo pra trabalha, pegar ônibus lotado, passar um pouco de raiva às vezes, estudar...

IDL – Ideologia Disseminada Letalmente Wesllen Cosme de Souza é um rapper criado na Cidade de Cotia, atuante em movimentos sociais, coordenador e idealizador do Cursinho Pré-vestibular de Cotia “Estudante Edison Luiz” e aluno do Curso de Ciências Sociais da FFLCH-USP (Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo). - Nas Ondas Do Marili: Por que o rap? - Wesllen: Desde criança, já ouvia muito rap em casa por influência do meu irmão. Mas foi a partir dos meus treze anos, quando ganhei do meu pai, meio a contra gosto dele, um cd do “Racionais” (Sobrevivendo no Inferno). Daí em diante comecei a entender sobre racismo, desigualdade, política e violência policial. Como diz o mano Brow: “o rap fez ser o

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que sou”. Hoje posso dizer que o rap me salvou e me politizou. - NOM: Qual mensagem você quer passar para o seu público? - Wesllen: Quero passar a ideia de que mudar o mundo é possível e que se nos juntarmos e nos organizarmos tudo é possível. Quero que as pessoas questionem sua situação, a polícia, o governo e os patrões. Quero passar nossa história, a história de um povo guerreiro e lutador. - NOM: Como o público reage a su­­‑ as letras?

- Wesllen: Eu acho que eles curtem. Muitos vêm falar que gostam, chegam pra troca idéia, pedem cd. Alguns pedem autógrafo e a grande maioria vem somar nas ideias e falam que também lutam contra esse sistema. - NOM: Fale sobre suas referências dentro e fora do rap. - Wesllen: No rap minhas referências são Racionais, Gog, Facção Central, Realidade Cruel, Face da morte e Inquérito. Na política, Mariguella, Malcon X, Mandela, Zumbi dos Palmares, os Panteras Negras e Che Guevara. Na vida, meu pai e minha mãe, e as pessoas honestas e humildes como eles. No dia a dia, meus amigos e irmãos de caminhada. - NOM: Você acredita que o rap perdeu espaço na periferia? Muitos dizem que o rap está sendo elitizado, o que você pensa sobre isso? - Wesllen: Acho que o rap perdeu espaço no mercado musical, mas não na periferia. Ainda se ouve muito rap, inclusive os “funqueiros” têm um respeito pelo rap. Acho que houve uma não-renovação do rap na periferia, mas o rap ainda toca nos barracos e nas quebradas e no coração de todo sujeito periférico, seja em conjunto com o samba, reggae ou funk - o rap já tem seu espaço garantido. Acho sim que há uma tentativa de elitização e uma erudição do rap por alguns setores das classes altas a fim de vender o rap, mas ainda acho que o feito na periferia como ferramenta de transformação não se vende e não se elitiza e isso, pra todos nós, é o que importa.

Wesllen

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- NOM: Sabemos que você desenvolve um belo trabalho de militância política


em Cotia. Conte-nos um pouco sobre suas atividades fora dos palcos. - Wesllen: Sempre buscamos usar nossas músicas para transformar o mundo onde vivemos e através do rap passar nossa mensagem. Mas apenas palavras não mudam o mundo, o discurso tem que estar casado com a prática e daí resolvemos nos organizar. Em 2008, começamos a organizar um centro cultural na quebrada, com oficinas culturais, debates, filmes, teatro, musica, etc. Resolvemos começar a construir o mundo que queremos. E hoje estamos construindo nosso espaço próprio.

- NOM: Você participou do 1° Festival de Música e Talentos Marili Dias, festival organizado pelo projeto Nas Ondas do Marili. Conte-nos um pouco sobre essa experiência. O que você guarda daquele dia? - Wesllen: Sempre gosto muito de trabalhar com jovens e escola, pois com eles, em conjunto, construiremos o futuro. E é sempre uma honra ter um canal como o festival pra passar nossa mensagem e trocar, compartilhar, conhecimento. Fomos muito bem recebidos e foi uma grande alegria poder participar do evento.

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A reprodução do terror

Por Murilo Carnelosso de Jesus

Abusos policiais são cada vez mais frequentes, repassando para as ruas o que eles sofrem em suas corporações 80% dos brasileiros têm medo de ser torturados caso sejam detidos por alguma força de segurança. Esse é um dado estarrecedor de um relatório da Anistia Internacional, ONG de defesa dos direitos humanos, divulgado no mês de maio. A pesquisa aconteceu em 21 países diferentes, e a média mundial do medo da polícia ficou em 44%, bem abaixo do resultado brasileiro. “A violência policial é perceptível e está enraizada nas políticas de segurança pública do país”, disse à BBC na época da divulgação do estudo Wadih Damous, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB.

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Outro estudo, organizado por pesquisadores da FGV (Fundação Getúlio Vargas) com o nome de “Crime, segurança pública e desempenho institucional em São Paulo”, dá razão para esse medo de parte da população de sua própria polícia. A pesquisa foi feita com detentos dos presídios de São Paulo e um dos dados que mais chama a atenção é o de que 55% dos entrevistados afirma que foi agredido para que fizesse ou mudasse sua declaração. Os casos de abuso de poder ou violência policial são frequentes também para além dos dados. Cada vez mais casos


chegam ao conhecimento do público e o modo de atuar das polícias brasileiras começa a ser questionado repetidamente. O mais recente caso que recebeu boa repercussão na mídia foi o de Fabio Hideki, técnico de laboratório do Centro de Saúde-Escola na USP e estudante de jornalismo na universidade. Ele foi preso no dia 23 de junho em uma manifestação contra os gastos da Copa do Mundo e ficou 45 dias na cadeia baseado apenas no relato dos policiais do DEIC que o abordaram nas escadas da estação Consolação do Metrô e em um artefato que os policiais diziam ser explosivo e estar sob a guarda de Fabio. Chegou-se à conclusão que aparentemente não era nem uma coisa nem outra. Hideki afirma que o flagrante que acarretou em sua prisão foi forjado, e pior, que foi torturado dentro das instalações do DEIC, departamento da Polícia Civil. Ele teria sofrido pelo menos duas “sessões de socos” antes de ser encaminhado para o Complexo Penitencário de Tremembé, no interior de São Paulo. Isso com um rapaz que era definido assim por seus colegas de trabalho: “Uma pessoa normal, calma, tranquila. É muito brincalhão e gosta muito de crianças. Elas são a paixão dele. Passava a maior parte do tempo alegrando elas e era sempre muito atencioso”. Na primeira semana de setembro o Tribunal de Justiça de São Paulo considerou o repórter fotográfico Alexandro Wagner Oliveira da Silveira culpado por ter levado um tiro de bala de borracha no olho esquerdo em um protesto de professores no dia 18 de maio de 2000. A instância judicial não condenou a atitude violenta da polícia de reprimir protestos com tiros indiscriminados de balas de borracha. A culpa foi

do fotógrafo por ter “se colocado em posição de risco”. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) lançou uma nota repudiando a decisão da Justiça. “A decisão do desembargador Abreu Amadei dá carta branca para que essa violência persista e, quiçá, se agrave, já que não é passível de punição. Trata-se, portanto, de uma ameaça à liberdade de imprensa”, diz a nota. Esse tipo de tratamento que perdoa a truculência policial e prefere culpar a vítima se reflete morbidamente na atuação da corporação. Os “autos de resistência”, forma de colocar quem foi assassinado por algum policial militar como culpado pela própria violência sofrida, eram utilizados indiscriminadamente nos boletins de ocorrência para retirar a responsabilidade da ação policial. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo aboliu essa denominação em janeiro de 2013, e desde então os mortos pela polícia não podem entrar mais para as estatísticas como culpados pela própria morte. Uma pesquisa feita pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública junto à Fundação Getúlio Vargas, que mostra a opinião de policiais tanto militares quanto civis, da polícia rodoviária, federal, científica e dos bombeiros, sobre a postura das corporações que trabalham, mostrou alguns dados estarrecedores. Quase metade dos entrevistados (43,2%) concorda em certa medida com a afirmação “policial que mata criminoso deve ser premiado pela corporação”. Mais de 40% também considera justo que um policial que matar um suspeito seja inocentado. Por outro lado, os próprios policiais têm convicção de que o modo como as polícias brasileiras atuam hoje é 17


insuficiente. Nesta mesma pesquisa, ao serem perguntados qual o modelo de polícia mais adequado à realidade brasileira, 35% dos próprios policiais acredita que a criação de uma nova polícia, de ciclo completo e caráter civil é o melhor que pode acontecer para as forças de segurança Outros 22% acham que o melhor a fazer é unificar as Polícias Militares e as Civis, formando novas polícias estaduais integradas e civis. Apenas 14 % dos entrevistados acredita que o ideal é manter o sistema policial como está, com a polícia militar no trabalho ostensivo e a polícia civil no trabalho investigativo e judiciário. Outros dados continuam mostrando a insatisfação dos que trabalham nas polícias e clamam por mudanças urgentes. 77% dos entrevistados são contra a subordinação e a semelhança da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros ao Exército. Outros 53% acreditam que os policiais militares devem parar de ser julgados por uma Justiça Militar, e 58% concordam que a hierarquia muito rígida na estrutura policial provoca desrespeito 18

e injustiças profissionais. O governo de Santa Catarina divulgou no começo de setembro um levantamento que mostra que o número de mortes em confrontos com a polícia do estado aumentaram em 72% do ano passado para este. O número de morts subiu de 36 para 62 no período até setembro, sendo 10 pessoas mortas pela polícia civil e 52 pela polícia militar. Essa é uma tendência quase que uniforme em vários outros estados do país. A polícia mata cada vez mais, mas os dados de violência só crescem. O livro Rota 66, do jornalista Caco Barcellos, já tem mais de 20 anos desde quando foi escrito, mas sua abordagem sobre a violência policial ainda é bem atual. Uma de suas várias críticas ao modus operandi da Polícia Militar, em particular ao seu esquadrão de elite, a Rota, está o alto índice de mortalidade nestes “confrontos” com criminosos. Ele questiona a grande quantidade de mortes nos confrontos com tiros na cabeça ou nas costas, muito improváveis em situações reais de confronto. Ele diz que utiliza-se


da justificativa do confronto para se assassinar os moradores das áreas mais pobres, muitas vezes inocentes. A pesquisa do Fòrum de Segurança por isso perguntou aos policiais se não seria melhor encerrar a existência de uma justiça militar para julgar os crimes de policiais militares. 63% dos policiais concorda que essa medida é interessante para recuperar a corporação. A estrutura hierárquica rígida e militarizada da Polícia Militar acaba por muitas vezes deixando de lado aspectos primários dos direitos de quem trabalha nessas funções. Direitos trabalhistas básicos, como o direito à greve, são deixados de lado no ambiente da corporação. Mais de 86% dos policiais acredita que o direito à sindicalização e à greve deveria ser regulamentado para os policiais militares. Imersos em um ambiente onde direitos básicos não são respeitados e a

humilhação por superiores muitas vezes é rotina, os profissionais da Polícia Militar transferem essa realidade para o tratamento com a população. Seja passando por cima de direitos de manifestantes no centro, com prisões arbitrárias, flagrantes forjados e truculência na forma de bombas de gás e bala de borracha, ou na ronda ostensiva na periferia, que mata jovens todos os dias em nome de uma interminável guerra às drogras. Os abusos policiais acabam não se mostrando como desvios de conduta, e sim como a reprodução dos problemas enfrentados dentro das forças de segurança pública de forma sistemática. Os próprios policiais sabem que sua corporação tem defeitos e lhes retira direitos, mas normalmente não tem outra escolha de profissão e passam a reproduzir nas ruas o que eles mesmos sofrem dentro dos batalhões e delegacias.

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SÃO PAULO X ÁGUA Por Beatriz Carvalho, Beatriz Mendes, Gabrielle Lopes, Giovanna Sousa, Matheus Silva, Milena Pires, Monalisa Galdino e Thainá Santana

A crise hídrica que afetou a região Sudeste Brasileira. Nos últimos meses, a região Sudeste do Brasil vem mostrando uma crise preocupante em relação à água. Os principais sistemas de abastecimento como Cantareira estão com níveis muito baixos. A falta de chuvas é o ponto alto de olhares. Mas, como explicar uma falta de água tão preocupante se o sistema que abastece a região metropolitana de São Paulo é um dos maiores existentes no país? Diante deste problema, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) corre sério risco de ficar inteiramente sem água. E também outras cidades que dependem dos rios que abastecem o Sistema Cantareira já estão sofrendo com o desabastecimento - podendo 20

afetar principalmente a população das cidades menores, com pouca condição financeira. No país, há uma concentração de mais ou menos 12% da água superficial de todo o planeta. Entretanto, essa água é distribuída de forma irregular entre as grandes cidades onde está concentrada a maioria da população Brasileira. E não é de hoje que os sistemas de abastecimento de água da Rede Municipal de São Paulo vêm trabalhando no limite. Afinal, pouca coisa foi feita no sentido de aumentar a capacidade de reserva e distribuição. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), nos últimos vinte anos, não houve a


construção de um único sistema de tratamento de água. Na lista, estão: Cantareira (construído em 1973); Alto Tietê (construído em 1993); Guarapiranga (construído em 1958); Rio Grande (construído em 1957); Ribeirão da Estiva (construído em 1973); Baixo Cotia (construído em 1960); Alto Cotia (construído em 1914); Rio Claro (construído em 1937). Isso pode ser considerado um fator que justifique o racionamento nas cidades da região Sudeste, visto que chegamos ao ponto de o nível estar tão critico. É que o problema não é tão recente como parece e vem acontecendo há algum tempo. Como outro ponto interessante, pesquisas também mostram que se perde muita água no País em função de vazamentos entre a captação e a chegada

ao consumidor, especialmente nas cidades grandes. Mas já que estamos falando de água, por que não damos uma espiadinha no que a população (que nesse caso é a mais afetada), tem a dizer sobre a situação? Para desenvolver essa conversa, visitamos algumas donas de casa da região para verificar como o problema interfere no dia-a-dia dos moradores. A dona de casa Joselita, que mora no bairro Vila dos Palmares-Morro Doce, disse que “a água é um bem natural e deve ser distribuída por igual a todos”. Ela ainda reforça: “eu economizo reaproveitando toda a água da lavagem das roupas para lavar a garagem e a calçada. Depois de tudo isso minha conta diminuiu”. Outras moradoras da região relatam

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situações semelhantes à de Joselita. Gildete, uma das donas de casa, defende que “a água deveria ser usada com mais cuidado pela população, para evitar racionamento e falta d’água”. Ela também destaca a conscientização da população. Mas o quadro de falta da água em São Paulo teve, no caso dela, efeito negativo. “depois desse problema minha conta aumentou, pois quando não tem água o relógio roda apenas com a pressão e ar que passa pelos canos”, explica Gildete. Dona Aparecida, que também reside na região, ressalta que “a solução para esse problema é ter consciência de que dependemos da natureza, usar a água com responsabilidade”. Conversar com os moradores deixa claro que a população é muito afetada pelo assunto. Em entrevista a equipe, o técnico da Sabesp Reginaldo Prado afirma que a cidade não passa ainda por racionamento, e garante que o problema se deve apenas pela onda de calor que a cidade sofreu no último verão. Isso teria desencadeado

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a redução brusca nas chuvas da estação. Reginaldo é funcionário da Sabesp há vinte e seis anos, formado em Tecnologia de Obras Hidráulicas, e trabalha no projeto Educação Comunitária da região. Para prevenir o racionamento de água “a Sabesp adotou uma cultura de paz, que está oferecendo um abono para quem reduzir o consumo em 20%”. Com isso, mais de 80% da população já está colaborando economizando água. Também estão sendo instaladas válvulas que reduzem a pressão da água (VPR), para evitar vazamentos no sistema. “Além disso, a interligação do sistema garante um aumento da oferta dos recursos hídricos na região”, complementa o técnico. Reginaldo ainda afirma que a cidade de São Paulo não vai sofrer com a falta de água. Para reforçar isso, convida para uma reunião que acontecerá no dia 29 de novembro com toda a equipe da Sabesp no Centro de Educação Unificado de Perus (CEU). Resta a todos nós acompanhar.


Ficção científica feminista Entrevista com Aline Valek e Lady Sybylla Por Vanessa Panerari

Ficção científica feminista é um subgênero da ficção cientifica que surgiu para questionar as desigualdades de gênero. O Sonho de Sultana foi a obra que inaugurou o estilo. Nela, a autora Roquia Sakhawat Hussain aborda questões relacionadas aos papéis de gênero em sua sociedade. A ficção cientifica sempre foi uma possibilidade de fazer criticas sociais, questionamentos sobre comportamento ou sobre política - mas, ainda assim, majoritariamente escrita por homens. No Brasil, Aline Valek e Lady Sybylla idealizaram uma coletânea de contos chamada Universo Desconstruído, que descontrói estereótipos de gênero,

engajada em discutir racismo, misoginia, homofobia e violência. -A ficção cientifica que vocês conheciam representava o que vocês queriam? Aline: Não. Recentemente comecei a perceber isso, a maioria dos autores que eu conheço são homens e os filmes, livros e seriados trazem heróis homens. A mulher está sempre em um papel secundário e eu penso: é só essa a representação que a gente tem? O Asimov tem duas obras completamente opostas nesse sentido de representação feminina. “Eu, robô” tem a 23


participação de uma narradora mulher bastante presente. Já a “Fundação”, que eu acho que foi quando essa representação feminina começou a me incomodar, não tem uma personagem feminina. Aparece uma mulher na história toda, mas é praticamente uma figurante. Então começamos a discutir se não existem mesmo obras que vão discutir questões que pra nós são interessantes. Vamos ter que ficar esperando alguém tratar disso pra gente? Foi aí que decidimos fazer do nosso jeito e escrever as histórias que gostaríamos de ler. -Existem diferenças entre a ficção cientifica feminista nacional e a estrangeira? Aline: Com certeza. Fora do Brasil, é mais aceito, tem mais material e já existe há mais tempo também. No Brasil, não havia uma iniciativa que destacasse esse gênero. Nos sites gringos, por exemplo, o que acontece muito são concursos de contos de ficção científica feminista. Aqui no Brasil não existia essa produção, até porque aqui a própria ficção científica não tem muito espaço. Ela é considerada um gênero menor, não é levada a sério. Lá fora não. Aqui no Brasil é muito incipiente, um nicho muito fechado ainda. Sybylla: Não só o mercado literário é maior lá fora como os fãs também são em maior quantidade. A produção na tv e no cinema também é muito maior do que aqui. Então lá o mercado acaba sendo maior e você tem mais espaço. Até o “Universo Desconstruído” sair, acho que o termo ficção científica feminista não existia por aqui. Teve gente que tirou sarro quando foi lançado ou que estávamos

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deslegitimando o movimento, como se ficção cientifica não fosse algo sério. Mas também dentro do movimento muitas meninas agradeceram pela obra . -Como é o processo criativo de vocês? Aline: No caso do Universo Desconstruído o trabalho foi bem colaborativo. Formamos um grupo de pessoas que gostamos do que escrevem e deixamos cada um escrever o que quisesse. Limitamos o prazo e o limite de caracteres. Então criamos um grupo na internet pra compartilhar ideias, coisas legais que vimos. Todo mundo dava opinião. Eu comecei a escrever uma história, fui vendo o que as pessoas mandavam e acabei tendo ideia para outra história, que é a “Eu, incubadora”. Foi isso. Reunimos essas pessoas , cada um trouxe sua própria visão e foi uma troca muito boa de ideias não só sobre os contos, mas sobre a nossa própria visão de feminismo. Sybylla: Tinha gente no grupo que tinha um pouco de medo de escrever ficção científica. As pessoas não estão muito acostumadas a escrever esse gênero. -Quem é o público de vocês? Aline: Acho que nosso público é bastante jovem. É um universo de imaginação que atrai mais os jovens. As feministas também são público, porque querem ver as ideias que acreditamos refletidas nesse universo. Faz parte dessa vontade de mudar o mundo, o anseio de imaginar um universo diferente. E os curiosos. Muitos caras leram e acabaram achando legal, não só a construção de outros mundos como também o contato com


Aline Valek - Foto de Marcos Felipe

as ideias feministas. Acho que ajudou um pouco a assimilar as ideias. Sybylla: Teve gente também que comentou no blog que tinha se afastado do universo da ficção cientifica por conta do machismo, do preconceito, da misoginia. Muitas moças nerds acabam se sentindo acuadas porque o gosto delas é sempre visto como algo pra chamar atenção dos homens e não como um gosto genuíno. Muitas delas voltaram a ler esse gênero por causa do Universo Desconstruído. É uma sensação de dever cumprido. -Que outras autoras ou produções vocês gostam? Sybylla: Jogos Vorazes eu acho que foi uma produção que não só mostrou que mulher pode escrever obras de cunho menos romanceado, como colocou uma protagonista feminina que não tem que

ficar dependendo de um personagem masculino . A própria Mary Shelley, que é considerada fundadora da ficção científica, autora de Frankenstein, quebrou várias barreiras por ser mulher e escrever em um círculo literário tão fechado. A autora de Divergente, apesar de não ser tão bom, traz mais personagens femininos também. Aline: Tem a Virginia Woolf , que inclusive era feminista. A Jane Austen. Quanto às brasileiras, eu fico pensando em algo além de Clarice Lispector. A Olivia Mayer que é contemporânea, do gênero policial, é muito boa, gosto muito do que ela escreve. A Clara Averbuck também. Tem muita mulher produzindo, o que falta é visibilidade. -Quais os projetos individuais de vocês? Sybylla: Tanto eu quanto a Aline aca­­25


­­­ba­­­mos escrevendo mais para o público que está no blog. A gente acaba sempre fazendo contos para o blog ou e-books gratuitos. Mas é aquela coisa, não dá pra alcançar um público muito grande. É difícil divulgar além dos círculos feministas. Às vezes no próprio círculo feminista conseguimos mais cliques de indignação do que de aprovação. Eu queria aumentar a abrangência do Universo Desconstruído, acho que temos muito para falar ainda. Aline: Eu estou enveredando nesse caminho difícil de ser autora independente. Já lancei um e-book meu esse ano e tenho outro pra editar e lançar no fim do ano. Estou escrevendo um romance de ficção científica porque é o gênero que eu mais gosto de ler, assistir e pesquisar. Escrevo pra Carta Capital agora, tenho meu blog e ainda tenho a newsletter. O Universo Desconstruído é uma das iniciativas que estão fazendo parte desse meu projeto pessoal de trabalhar com literatura, criando ou editando. -O espaço que vocês criaram com o Universo Desconstruído é importante para falar de questões como o aborto, por exemplo? Aline: Sem dúvidas. Posso usar de exemplo a questão do aborto. No conto que escrevi pra coletânea, foi imaginando um futuro distópico em que o estatuto do nascituro existisse, fosse levado às últimas consequências e que o feto realmente fosse um cidadão desde o momento da sua concepção e de que não pudesse haver aborto. Então usei esse cenário que era um medo meu, de que o estatuto fosse aprovado, pra trazer os questionamentos para o meu próprio 26

conto. A ficção permite que a gente se coloque no lugar do outro, em uma situação que não nos colocaríamos normalmente. Se não adianta debater a questão porque as pessoas já tem suas opiniões formadas, vamos extrapolar um pouco e ver pra onde isso vai levar. Recebo comentários de pessoas que leem o Universo Desconstruído, vão procurar saber mais sobre feminismo pra entender as ideias que tratamos e começam a considerar outros pontos de vista. Acaba sendo uma porta de entrada, um primeiro contato. Tem contos que tocam em pontos muito polêmicos, como a questão transexual e identidade de gênero, então pra muitas pessoas esse primeiro contato com esse tipo de tema é importante para servir de incentivo a se informar mais. Sybylla: Você embalar um assunto desse, que sempre gera polêmica, sempre gera uma reação exagerada das pessoas, em um enredo ficcional pode deixar muito mais fácil. Fica mais tranquilo atingir o leitor, do que se você chegasse com um discurso pronto. Ele vai estar mais aberto a refletir sobre o que está sendo tratado ali. Isso já é ótimo. -Como é a divulgação desse trabalho? Sybylla: Basicamente pela internet, através dos nossos blogs. Com os autores da primeira coletânea combinamos uma blogagem coletiva, assim cada um poderia atingir o seu próprio público. As páginas feministas e de ficção científica compartilharam também. Aline: Os e-books são gratuitos, queremos realmente que mais pessoas leiam. Para baixar, a pessoa precisa antes postar


no Facebook ou no Twitter uma mensagem. É o “preço” que cobramos para ajudar na divulgação. Não temos recursos para pagar anúncios, então foi um mecanismo que arrumamos. Ainda tem o boca a boca, as resenhas que as pessoa escrevem. O que custa um tweet? Tem tanta gente que posta divulgando esses colunistas reacionários toda semana… Por que ao invés disso não divulgar algo que você acha bacana? Ao invés de dar audiência pra gente ruim, melhor valorizar o que é positivo. Quais os próximos planos em relação ao “Universo Desconstruído”? Aline: Agora o Universo Desconstruído é mais que uma obra só. Com o lançamento do Sonho de Sultana a gente transformou isso em um selo editorial, no sentido de trazer novas obras nessa mesma linha. Vamos trazer novas obras clássicas ou escritas por mulheres ou de ficção cientifica feminista, e novas traduções pra tornar essas obras mais acessíveis para o público brasileiro e fazer novas coletâneas também. Sybylla: Sempre perguntam quando vem o próximo. E é engraçado, vi comentários de caras dizendo: nossa, esses contos foram escritos por mulheres? Que incrível. Como se a gente não tivesse condições de produzir algo desse tipo, que seria mais técnico. Estamos desconstruindo um mito em relação a produção literária feminina. A gente faz o que consegue, mas é aquela coisa, somos só eu e a Aline. Nosso trabalho é importante mas é de formiguinha, nós que fazemos tudo.

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#opinião

Aborto: os candidatos temem falar, as mulheres temem morrer Por Jarid Arraes

O primeiro debate entre os presidenciáveis aconteceu em 26 de Agosto na Rede Bandeirantes de televisão. Para o movimento feminista, o que chamou atenção foi a abordagem corajosa de dois candidatos de esquerda: Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL) defenderam o direito ao aborto legalizado e a vida das mulheres, em rede nacional, sempre mantendo uma postura combativa. Eduardo Jorge chegou a questionar o candidato Aécio Neves, perguntando se concordava com a prisão de mulheres que realizaram um aborto. Aécio respondeu a pergunta de forma desconversada, visivelmente desconfortável. O tema é um grande tabu e claramente causa medo a muitos candidatos, assim como causou a Dilma Rousseff (PT). Afinal, são votos que estão em jogo. Nas eleições de 2014, há pressão conservadora por parte de grupos religiosos para que assuntos como o aborto não sejam debatidos. Os candidatos que estão em foco não querem manchar a reputação e arriscar perder o valioso apoio das camadas fundamentalistas. Foi com esse temor que Dilma levou seu governo, barrando avanços e cedendo para retrocessos no tocante a saúde pública das mulheres brasileiras. A portaria 415/14 do SUS, que regulamentava os procedimentos já legalizados de aborto na rede de saúde pública, seria uma importante conquista para as mulheres brasileiras, mas foi revogada 28

em Junho de 2014 pelo Ministério da Saúde, que cedeu à pressão da bancada fundamentalista religiosa no Congresso. Embora a portaria apenas repassasse uma quantia de R$ 443,30 por cada interrupção de gravidez - exclusivamente em casos de estupro, anencefalia fetal ou risco de morte para a gestante, todos previamente legalizados – as conhecidas práticas de chantagem do congresso fizeram a revogação da portaria acontecer imediatamente após entrar em vigor. Essa revogação é apenas um exemplo de como o tema do aborto é tratado no Brasil. Enquanto a maioria dos candidatos à presidência se recolhem e evitam o assunto, milhares de mulheres morrem todos os anos, vítimas de uma realidade criada pela misoginia e nutrida pela ignorância. A maior parte desses números assombrosos é composta por mulheres negras e pobres, mas tudo o que temos visto é a omissão dos candidatos e partidos. Não há no trio do pódio - formado por Marina Silva, Dilma Rousseff e Aécio Neves - qualquer compromisso em pautar a necessidade da legalização do aborto como um problema de saúde pública, uma questão que precisa ir além dos preconceitos e crenças individuais. Como é costumeiro, o tema do aborto é pautado pelos movimentos sociais e pelos partidos de esquerda, ambos os segmentos formados por grupos de pessoas estigmatizadas e politicamente perseguidas. O movimento feminista muitas


vezes precisa encarar a sombra da criminalização quando luta pela legalização do aborto e acolhe mulheres vítimas da clandestinidade. Lamentavelmente, mesmo em casos já legalizados, como quando crianças são estupradas e engravidam, as militantes feministas sofrem represálias de comunidades religiosas.

Por que o aborto precisa ser discutido nas eleições Segundo dados da OMS, cerca de 70 mil mulheres morrem todos os anos por causa da clandestinidade do aborto. Isso acontece porque os países onde esses abortos clandestinos são realizados, em sua maioria, possuem leis retrógradas e proibitivas, o que impede o acolhimento e qualquer tipo de ajuda para essas mulheres. O Brasil está entre esses países:

são realizados no país mais de 250 mil internamentos por ano devido a complicações em abortos provocados clandestinamente. Muitas dessas mulheres são hostilizadas ao procurarem socorro médico e têm o atendimento intencionalmente negligenciado e retardado. Os maus tratos por parte da equipe de enfermeiros também são recorrentes em diversos relatos. Por outro lado, nos países em que o aborto é legalizado, as mulheres não morrem por causa da clandestinidade e, na verdade, até mesmo o número de abortos caiu. Como no Uruguai, que legalizou o aborto em 2012 e hoje comemora a queda nas taxas da mortalidade materna. Isso tudo é possível porque esses países providenciam acompanhamento psicológico e assistência para

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educar a população a respeito dos métodos contraceptivos e sobre o planejamento familiar. A legalização do aborto seria uma excelente medida para trabalhar diversos problemas reprodutivos no Brasil. Essa medida certamente salvaria milhares de vidas femininas e contribuiria com o estímulo do pensamento crítico, reforçando a obrigatoriedade da laicidade do Estado e assegurando o respeito à diversidade de opiniões, crenças e escolhas.

Enfrentando o retrocesso É extremamente improvável que candidatos como Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL) ou Mauro Iasi (PCB), que defendem abertamente a legalização do aborto, conquistem votos que garantam uma participação notável sequer no primeiro turno. Porém, parte do que causa essa realidade é a falta de motivação que toma os próprios eleitores, que apesar de se identificarem com propostas mais assertivas e laicas, temem a tomada do poder por governantes ainda mais retrógrados do que o Governo Dilma. Assim, a cultura do voto no “menos pior” continua forte e dominante, tirando a força dos votos de quem poderia representar as demandas feministas de forma íntegra e politizada. Não seria fácil causar mobilização suficiente para demonstrar nas urnas a quantidade de pessoas a favor da legalização do aborto. É necessário que as pessoas se conscientizem a respeito da importância do voto e se engajem politicamente, questionando criticamente o

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próximo governo a ser eleito. Enquanto população, cabe nos perguntarmos até que ponto estamos nos acovardando e, principalmente, por que motivo a legalização do aborto não tem sido nossa prioridade política. O fato é que enquanto as demandas femininas forem consideradas pautas secundárias – algo recorrente inclusive nos movimentos sociais e grupos de esquerda -, continuaremos contabilizando mortes de mulheres devido à clandestinidade do aborto. O movimento feminista também precisa de mais autocrítica, para que aprenda a avançar mais não somente como reação contra os conservadores, mas tomando também ações preventivas de protesto e campanhas de conscientização política. Apesar do quadro negativo, ainda há outras candidatas a deputadas estaduais e federais, por exemplo, que priorizam a causa feminista e são defensoras da legalização do aborto. A página no Facebook “Vote numa feminista” (https://www.facebook.com/votenumafeminista) é um excelente ponto de partida, listando mulheres abertamente comprometidas com os direitos femininos em cada estado do Brasil. Sem o apoio das massas feministas, jamais conseguiremos levar candidatas comprometidas com os direitos das mulheres ao congresso. Precisamos insistir para que o aborto se torne mais do que um calo nos pés dos candidatos omissos, mas sim um direito legítimo das mulheres brasileiras - que merecem ter suas vidas protegidas e o direito de fazer escolhas preservado.


#prosa&poesia

Desculpe-me, leitor mas nem sei se estou fazendo um verso não tenho certeza se construirei esse poema. E se o fizer, amigo não posso lhe garantir nada, nada além de palavras. Ultimamente tenho defenestrado todo o amor lido bastante viajando ao azul “des-sentindo” tudo e as linhas tem escorrido bem mais do que a tinta. Perdoe-me, meu caro por lhe escrever tal carta, sei que não há coisa alguma que aqui possa ajudá-lo (e por muito só queremos ajuda) mas não vai parar de ler (por favor) sei que não vai acima de tudo quer saber sobre o mísero poeta e sente-se bem ao sentir-se necessitado por mim continue lendo, eu continuo continuo escrevendo.

Falta-me a rima, sabe, o Amor não, não, sem toda essa métrica do Camões esse dedo de Drummond rima das trovas mas o meu único, só Amor ainda que não-poeta; Que fiz eu com os gritos e choros era o Amor? Se não era, ótimo, ele há de cair com os cabelos brancos enrugar-se como a pele abaixo dos meus olhos e como folha amassada virar folha nova Agora se estou errado, e nem sei se isso me faz, desculpe-me. Desculpe-me, leitor mas essa será minha última carta

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Rodrigo Martins é estudante do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.

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#fotocontexto

Mostra Fotográfica “Palmares Vive” Por Cícero Ivanilson Gonçalves, Diego Freire, Felipe Felix, Gilmar Rodrigues e Karina de Carvalho

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Qual o papel da escola? É o espaço de formação do cidadão com o poder de opinião e critica, ou será que a escola é o espaço de atuação cidadã do aluno? A aula pode e deve ultrapassar as paredes de concreto e chegar à rua, na comunidade onde os alunos vivem. Para alcançar isso, a aula deve ser dinamizada, fazer a integração do ser e da convivência no dia a dia ao que se aprende. Quando o “onde vivo, porque vivo e o que vivo” é colocado em questão pela necessidade identitária, isso desperta o gosto pelo saber. Dessa forma, vra prática, experiências fabulosas, produções autorais e construções coletivas. E o bom, é que já está acontecendo! A Escola Marili Dias é prova concreta. Ao longo do ano letivo, o Projeto Nas Ondas do Marili (EMEF Professora Marili

Dias) realizou alguns dias de OFICINA DE FOTOGRAFIA E EDIÇÃO DE IMAGEM com o Jornalista Wesley Diego Emes e a fotógrafa Thayná Diego Emes, com o objetivo de aprender e produzir material jornalístico. Essas oficinas proporcionaram aos alunos de Ensino Fundamental II experiências na área de fotojornalismo. A princípio, a ideia era fazer um memorial das biografias do bairro. O trabalho de campo consistiria na coleta de nomes das personalidades das ruas. Na prática, isso não aconteceu, e quando os alunos saíram para colher material, tiveram um olhar diferenciado da proposta. Se as professoras explicavam quem foi Noel Rosa, os alunos respondiam contando o que acontece na Rua Noel Rosa: “quando chove, abre um buraco ali e vira uma poça de lama aqui” ou “uma vez caí 33


à noite na calçada, pois estava sem luz no poste” e por aí foram as reclamações. Observando os alunos, as professoras decidiram adaptar a proposta de construírem o caderno de campo, e nele conter também os relatos. Também optaram por fazer a oficina de Fotojornalismo e realizar a mostra “Palmares Vive” com essas fotografias. Outra ideia que veio à tona foi de usar uma enquete para a participação do público, da comunidade no geral. Assim, posteriormente, aconteceria um Fórum Participativo com a escola, os moradores e autoridades políticas e culturais para culminar as ações do projeto no ano. No dia 20 de agosto, o Subprefeito de Perus, Carlos Roberto Massi, visitou a escola, em que foram apresentados os resultados das oficinas, a Mostra de Fotografia “Palmares Vive” e a demanda da comunidade a respeito dos problemas enfrentados. Nesse dia, ficou acordado que haverá uma proposta de soluções e um Fórum Participativo, que ocorrerá no mês de setembro. O aluno Diego Freire, que participou das oficinas, relata: “Nas oficinas de fotografia, conseguimos aprender muito mais do que só à função dos botões da câmera. Além de termos ganhado o conhecimento teórico sobre planos, cores e grandes fotógrafos, tivemos a oportunidade de colocar tudo em prática fotografando as ruas e problemas de diversos ângulos do bairro. E isso tudo seguindo as dicas dos instrutores! O melhor é que depois de fotografar o bairro, aprendemos como editar as fotos no computador, e os programas certos para isso. E não para por aí: agora vamos selecionar as melhores, 34

e as expor numa mostra. O difícil vai ser escolher entre uma e outra!” E, é claro, não vamos perder a oportunidade de fazer uma entrevista com realizadores dessa oficina que nos trouxeram além de aprendizado no ramo jornalístico, mas também nos trouxeram a oportunidade de ser cidadão e participar na prática de uma mobilização da comunidade de das autoridades responsáveis. - Na s O n d a s d o M a r i l i : Q u a l s u a formação? -We s l e y : E u s o u f o r m a d o e m Comunicação Social, com ênfase em jornalismo. -Thayna: Fotógrafa. -NOM: Com o que você já trabalhou? -Wesley: Eu trabalhei durante 8 anos na Folha de S.Paulo, fui editor-chefe de um portal de internet musical e também apresentei programas de TV on line. -Thayna: Com ensaios pessoais. -NOM: Você já trabalhou como jornalista muito tempo, como surgiu o interesse pelo fotojornalismo? -Wesley: Eu sempre gostei de foto, e nas aulas de fotojornalismo na faculdade eu tinha muito destaque, mas o interesse surgiu pra valer há mais ou menos dois anos. Mas primeiro veio o interesse pela foto e depois pelo fotojornalismo, pois está mais ligado à minha formação. -Thayna: Nunca trabalhei como jornalista, mas pelo meu curso técnico de fotografia tive uma experiência com o fotojornalismo. -NOM: Qual a importância do fotojornalismo do ponto de vista social? -Wesley: Não só o fotojornalismo, mas qualquer outro tipo de fotografia que


outras escolas do bairro e mostrar o lado da arte para muitos adolescentes.

tenha um certo compromisso. A foto pode trazer sentimentos que um texto ou um vídeo não podem - texturas, sombras, enfim. Por se tratar de um registro do momento, ela traz uma relação mais sincera entre o fotógrafo e quem vê a foto. -Thayná: Fotojornalismo é importante pois mostra a realidade do lugar, das pessoas e mostra exatamente que o fotógrafo quer. -NOM: O que você acha da iniciativa do projeto da nossa escola? -Wesley: Esse projeto é maravilhoso, é muito importante que jovens tenham acesso a vários tipos de expressão artística. Eu tive um pouco nas escolas onde passei, acho que vocês devem aproveitar o máximo todas as alternativas que a escola oferece. Não há muitas oportunidades como essa em outras escolas, ou no ensino médio. -Thayna: É um ótimo projeto, começando com o Marili, podemos levar para

-NOM: Você gostou de trabalhar fotografia com jovens? Como foi a experiência? -Wesley: Amei dividir um pouco as experiências e conhecimentos, se depender de mim esse projeto continua por muito tempo. Descobri alguns alunos muito talentosos. A melhor coisa de fotografar com jovens é justamente por terem mentes mais abertas que os adultos, são muito criativos e isso é fundamental para a fotografia. -Thayna: Gostei muito e pretendo continuar nesse projeto. Foi uma das melhores experiências que tive. -NOM: Quais as suas expectativas desse trabalho com os adolescentes? -Wesley: As melhores possíveis, mas principalmente quero que eles entendam que eles são capazes de produzir material artístico de alta qualidade. -Thayna: mostrar para eles o lado da fotografia, como é mágico esse lado da arte. -NOM: E para você, como foi a experiência de fotografar nosso bairro? -Wesley: Muito boa, sempre saio para fotografar fora, quase nunca estou fotografando pelo bairro. É bom, me dá uma outra visão do bairro. Descobri coisas muito bonitas, ainda quero fazer um ensaio de retratos no Morro Doce. -Thayna: Foi uma ótima experiência e pretendo começar o meu projeto pelo bairro.

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contexto

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