Alunas: Alany Martins, Priscilla Fernanda e Rafaela Rossetti Disciplina de Metabolismo dos Nutrientes II Professora Simone Pereira Fernandes
ESTUDO HIPOTÉTICO SOBRE O APORTE DE MICRONUTRIENTES EM UMA DIETA BAIXA EM CARBOIDRATO E ALTA EM GORDURA
INTRODUÇÃO Com o advento da internet, muitas propostas alimentares - como alimentos específicos ou receitas milagrosas -, tiveram notoriedade no que tange a busca pelo emagrecimento e uma melhora na qualidade de vida. Dietas que propõe uma rápida de peso, assim como a redução de diversas patologias, se tornaram as mais populares, tendo uma aceitação e adesão substancialmente alta. Umas das dietas que mais se difundiu nos últimos anos, é a Low Carb High Fat (Baixa em carboidrato e alta em gordura), que consiste em reduzir o consumo de carboidratos – em especial os refinados –, e aumentar o consumo de gordura – principalmente saturada –, acima dos 10 por cento recomendados pelas diretrizes de referência de consumo dietético e do sugerido por órgãos especialistas em saúde cardiovascular. Todavia, não é apenas o consumo de macronutrientes fora dos padrões das diretrizes, que traz preocupações aos especialistas em saúde pública. A instabilidade em mensuração do consumo de micronutrientes nesta proposta alimentar, é um fator de grande apreensão por parte da comunidade científica em saúde pública. O estudo realizado em 2017 por Zinn et al, denominado Assessing the nutrient intake of a low-carbohydrate, high-fat (LCHF) diet: a hypothetical case study design. Realizou uma análise hipotética para demonstrar qual era o aporte de micronutrientes em uma dieta Baixa em carboidrato e alta em gordura.
OBJETIVO Avaliar transversalmente uma situação hipotética, através da apresentação de dois modelos de dieta baixa em carboidrato e alta em gordura para dois grupos de indivíduos – dois modelos de planos alimentar para o grupo de homens e dois modelos de plano alimentar para o grupo de mulheres –, no qual estes contemplavam uma variedade de alimentos, afim de possuírem os mesmos macronutrientes e micronutrientes, verificando
se haveria ou não um déficit no aporte de micronutrientes para todos os grupos de indivíduos analisados.
MÉTODOS Para calcular o consumo de energia, foi utilizando a equação de Schofield, onde variáveis de peso e altura e um fator de atividade de 1.6 (nível leve) foram inseridos em um software de análise computacional chamado Food Works Professional V.8 (Software Xyris) para delimitar as necessidades diárias de nutrientes consumidas por dois grupos de indivíduos, a fim de atingir pelo menos 95 por cento das necessidades diárias de energia, baseadas em uma determinada população, utilizando o ponto médio de Índice de Massa Corporal de 22,5 quilos por metro quadrado, encontrou-se os seguintes parâmetros: mulheres de 19 a 50 anos, com altura de 1,62 metros e peso de referência de 56,3 quilos com nível de atividade física de 1.6; e homens de 19 a 50 anos, com altura de 1,75 metros e peso de referência de 63 a 71 quilos com nível de atividade física de 1.6. Foram montados dois planos de refeições com somente alimentos integrais ou minimamente processados, onde o que diferenciava para homens e mulheres em cada um dos planos, era o tamanho das porções para se adequar às necessidades energéticas recomendadas. A definição média dos planos alimentares para o consumo de alimentos no grupo de mulheres foi de: com uma média de 2.099 Kcal, ± 64 gramas de carboidratos por dia ou ± 12 por cento do valor energético total; ± 125 gramas de proteínas por dia ou ± 24 por cento do valor energético total; ± 141 gramas de gordura por dia ou ± 60 por cento do valor energético total no qual a gordura saturada, que é encontrada em alimentos de origem animal, ficou ± 30,5 gramas ou ± 19 por cento do valor total de gordura calculada. Sendo que para o grupo de homens, a média das dois planos foi de: com uma média de 2.716 Kcal ± 67,5 gramas de carboidratos por dia ou ± 10 por cento do valor energético total; ± 156,5 gramas de proteínas por dia ou ± 23 por cento do valor energético total; ± 194,5 gramas de gordura por dia ou ± 64,5 por cento do valor energético total no qual a gordura saturada ficou ± 39,5 gramas ou ± 13 por cento do valor total de gordura calculada.
RESULTADOS A quantidade definida de carboidratos em todos os planos alimentares analisados, envolveu a prescrição de alimentos integrais e acessíveis, como nozes e castanhas, iogurte sem açúcar e com teor reduzido de gordura, leite e derivados, como queijo, quantidade abundante de legumes e vegetais como espinafre, tomates, abobrinha couve-flor,
beterrabas, porções de frutas de forma equilibrada e adequada à proposta do estudo, carnes grelhadas variadas, como peixes, carne de gado, lombo de porco, além de ovos e cogumelos. Todos os cereais foram excluídos do estudo, conforme orientações a respeito dos preceitos de uma dieta Low Carb High Fat. Um plano alimentar de cada grupo de indivíduos foi limitado a menos de 10 por cento de gordura saturada do percentual energético total da dieta com o propósito de satisfazer o objetivo do estudo em acordo aos demais nutrientes, afim de verificar se é possível seguir, hipoteticamente, uma dieta baseada com baixos teores de carboidrato e alta em gordura sem que extrapole os níveis de gorduras saturadas que, como se sabe, estão relacionadas ao aumento de doenças cardiovasculares. Em relação aos micronutrientes, há uma ressalva que, nem mesmo com uma dieta padrão que segue exatamente os que as diretrizes alimentares sugerem, é possível alcançar 100 por cento de todas as necessidades recomendadas. No que diz respeito ao ferro, em todas os planos alimentares foi propositalmente excluído vísceras, pois sabe-se que sua aceitação não é exponencialmente elevada. Esta exclusão corroborou para que a necessidade diária de ferro não fosse atingida no grupo de mulheres, que possuem requerimentos diários de ferro de 18 miligramas, quando a média de ferro oriundo do plano alimentar foi de 16 miligramas neste grupo, o que levou a uma deficiência de ± 11 por cento. Todavia, apenas com o acréscimo de 20 gramas de fígado de frango nestes planos alimentares, os requerimentos para ferro seriam alcançados. Nos dois planos alimentares do grupo de homens, o requerimento de ferro foi de ± 20,5 gramas, alcançando sem problemas as necessidades estabelecidas, não atingindo o nível máximo para este micronutriente. Nos dois grupos, o que poderia influenciar a biodisponibilidade de ferro seria o consumo concomitante de cereais integrais, ricos em fitatos, polifenóis e oxalatos. Mas como em uma dieta Low Carb High Fat os cereais não fazem parte do grupo de alimentos utilizados e/ou permitidos, o ferro não teve influência no que diz respeito a sua biodisponibilidade. Com relação a gordura, em especial a saturada, para que as quantidades não extrapolassem as recomendações dietéticas, alguns alimentos que comumente são utilizados em sua forma integral, como leite de vaca integral, queijos gordos, carnes gordas, foram substituídos por suas versões com teor de gordura saturada reduzidos ou sem esse tipo de gordura. Outros produtos foram excluídos dos planos alimentares, como é o caso do coco, tanto a fruta como a sua própria gordura, para que não interferissem nos resultados finais do percentual de gordura saturada. O que deve ser notado, é que outros tipos de gordura, como a insaturada, também tiveram algumas limitações, como a redução do abacate, azeite de oliva e óleo de macadâmia,
para que não houvesse discrepâncias no estudo. Uma preocupação constante com a dieta citada, são os níveis deficientes de vitaminas do complexo B, especialmente a vitamina B1 ou Tiamina, que é abundante em cereais. Todavia, alimentos como nozes, sementes e vegetais verdes, também possuem quantidades importantes de Tiamina. O que apresentou valores animadores em ambos os grupos de indivíduos analisados. A necessidade diária deste mineral para mulheres é de 1,1 miligramas, sendo que a média encontrada neste grupo foi de 1,4 miligramas. Já para os planos alimentares do grupo de homens, os requerimentos diários de Tiamina são de 1,2 miligramas, sendo que a média encontrada neste grupo foi de 1,7 miligramas. Vale considerar que a Tiamina tem uma função importante no metabolismo dos carboidratos, o que se especula que com uma dieta com baixo teor de carboidratos, esta vitamina também pode ter sua necessidade diária reduzida. Entretanto, não se pode deixar de lado que a glicose também deriva de outros processos metabólicos, como a gliconeogênese, por exemplo. Fibras não foram problemas para alcançar as necessidades estipuladas, pois além de serem facilmente encontradas nos cereais, os legumes, vegetais e frutas também possuem grandes quantidades de fibras solúveis e insolúveis. Portanto, nos planos alimentadores dos dois grupos, os requerimentos de fibras foram alcançados, com uma média de ± 39,5 gramas para mulheres; e ± 44,5 gramas para homens, das quais possuem requerimento de 25 gramas diários para ambos os grupos. No que tange as necessidades de proteínas, há um grande equívoco quando se conclui que dietas com baixo carboidrato e ricas em gorduras, também são demasiadamente ricas em proteínas. Tudo depende do ponto de vista e da habilidade do nutricionista em montar um plano alimentar adequado e, principalmente, saber orientar seus pacientes quanto ao consumo correto de carnes ou outros derivados de origem animal. Pois é de conhecimento de estudiosos em metabolismo, que o consumo excessivo de proteína também aumenta o peso do indivíduo. Para desenvolver os planos alimentares dos dois grupos, foi respeitando o que as diretrizes recomendam: de 15 por cento a 25 por cento do valor energético total para proteínas. A média de proteína oferecida no grupo de mulheres foi de ± 125 gramas ou 25,5 por cento; e ± 156,5 gramas para homens ou 23 por cento. Ambos referentes ao valor energético total calculado para o estudo. Quando se trata de Ômega 3 e Ômega 6, de forma resumida, uma proporção elevada de Ômega 6 em relação ao Ômega 3, mostra-se que o Ômega 6 tende a ser mais pró-inflamatório, desempenhando um papel negativo na promoção de doenças cardiovasculares, câncer e doenças autoimunes. Os seres humanos evoluíram com uma proporção de 1:1 de Ômega 6 e Ômega 3. Todavia, os padrões alimentares mudaram,
evidenciando uma proporção de 15-20:1, respectivamente. Os planos alimentares estudados, mostram que a relação de Ômega 6 para Ômega 3 é se 10:1. O que testifica essa baixa proporção, e com isso uma menor incidência das doenças citadas anteriormente, foi o não consumo de alimentos industrializados, embutidos, margarinas, óleos de girassol, canola, soja ou milho. Entretanto, em âmbito populacional, os níveis de Ômega 3 ainda são baixos. A Vitamina A, precursora da manutenção da córnea, de membranas e responsável pelo sistema imune, apresentou um dos níveis mais do que suficiente. Sabendo que esta vitamina é lipossolúvel e que o aporte de gordura foi adequado em todos os planos alimentares dos dois grupos, a sua biodisponibilidade é elevada. Com requerimentos médios diários encontrados de ± 2171 microgramas no grupo de mulheres, onde a necessidade diária de acordo com as diretrizes é de 700 microgramas; e requerimentos médios diários encontrados de ± 2210 microgramas no grupo de homens, onde a necessidade diária de acordo com as diretrizes é de 900 microgramas, sendo que em nenhum dos casos ultrapassou-se os níveis máximos deste micronutriente. Não obstante a este resultado, a Vitamina C, agente fundamental para a absorção de ferro, apontou os níveis mais satisfatórios de todas as vitaminas presentes nos planos alimentares de todos os grupos. Com uma média de ± 370 miligramas para as mulheres, o que corresponde a 720 por cento; e para os homens a média de ± 396 miligramas, o que corresponde a 780 por cento. Todavia, em nenhum dos grupos a Vitamina C atingiu os níveis máximos que é de 2000 miligramas.
CONCLUSÕES Com os muitos modismos alimentares que surgem diariamente nas mídias, a preocupação em relação ao aporte de macronutrientes e micronutrientes por parte dos nutricionistas é elevada, o que os leva a questionar suas próprias condutas em relação ao tratamento de seus pacientes. É evidente que muitas dietas da moda não possuem embasamento científico para a sua aplicabilidade e também são divulgadas sem nenhum controle ou preocupação com o público em relação aos efeitos colaterais que estas possam causam. Todavia, é de suma importância que os nutricionistas sejam capazes de avaliar os pontos positivos e negativos de cada dieta que surge, a fim de adequar a sua conduta de prescrição dietética e ter ferramentas e argumentos que possam orientar adequadamente seu paciente. Quando se trata de dieta Low Carb High Fat, muitos tabus e mitos giram em torno desta proposta alimentar, como o consumo excessivo de gorduras – saturadas e insaturadas –, assim como o consumo exacerbado de proteína. O que é preciso deixar
explicitamente claro é que – além do plano alimentar ser individualizado, desenvolvido para atender as necessidades diárias de nutrientes de cada indivíduo –, como demonstrado com total clareza nos planos alimentares envolvidos no estudo, a base alimentar de uma dieta com baixo teor de carboidratos e alta em gordura não é a gordura em si, mas legumes e vegetais, ou seja, o que mais haverá no prato de um indivíduo que segue este tipo de dieta, será os legumes e vegetais. Além disso, o consumo de produtos alimentícios industrializados, refinados, embutidos com bacon, linguiça, presunto, apresuntado, temperos industrializados prontos e cereais, não foram incluídos e nem considerados para desenvolver este estudo, da mesma forma que não devem ser incluídos no plano alimentar individualizado desenvolvido pelo nutricionista. Sabe-se que o consumo destes produtos, em especial os embutidos, estão relacionados com o aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes, hipertensão arterial, etc. O estudo demonstrou que é possível ter uma alimentação Low Carb High Fat, tendo equilíbrio sem extrapolar as recomendações diárias de macronutrientes, em especial proteína e gordura, e também ter um aporte adequado de micronutrientes – desde que os alimentos sejam apresentados de forma variada – respeitando as diretrizes para não ultrapassar os níveis máximos de cada nutriente.
Palavras-chave: ferro; gordura saturada; Low Carb High Fat; Proteínas; Vitaminas.