DE SIGN BRA SILEIRO: 50 ANOS EM RE VISTA MOSCHINO: HUMOR E IRONIA N A MODA
Nº 23
2002
R$ 12.50
C ARTAZE S DO CONSTRUTIVISMO RUS SO
QUADRIFOGLIO EDITORA
ARC DESIGN
Nº 23
JANEIRO/FEVEREIRO
2002
REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO
DE SIGN HOL AND ÊS + ARTE S AN ATO BRA SILEIRO BANHEIROS: NOVID ADE S NA ITÁLIA E NO BRA SIL ARQ. DE INTERIORE S: SIMPLICIDADE = PERFEIÇÃO
Foto Fernando Perelmutter
A lu mi ná ria que ilus tra a capa des ta edi ção é re sul ta do do tra ba lho con jun to en tre es tu dan tes de de sign ho lan de ses e ar te sãos bra si lei ros (veja ma té ria na pá gi na 17). Pro du zi das a par tir de fi nís si mas lâ mi nas de ma -
Arquivo Arc Design
dei ra co la das, en can tam por sua apa rên cia leve e de li ca da. De se nho de as pec to so fis ti ca do, lem bra ele men tos da cul tu ra po pu lar bra si lei ra, como as lan ter nas de pa pel das fes tas ju ni nas. Pro du to low-tech, não exi ge ma qui ná rio so fis ti ca do – re quer ape nas ha bi li da de ma nu al e mu i ta pa ci ên cia. As lâ mi nas de ma dei ra são re a pro vei ta das de em ba la gens, do a das pe las fá bri cas vi zi nhas à fa ve la Mon te Azul.
Foto Fernando Perelmutter
Um bom de sign... sus ten tá vel!
No alto da página, foto que foi duplicada e espelhada para a montagem da capa. Na foto central, imagem na qual se percebe a elasticidade do material: a madeira é utilizada em sua espessura mínima, tornando-se elástica e ecologicamente correta pela economia de matéria-prima. Uma de suas propriedades que reafirma o ditado “sabendo usar não vai faltar”. Acima, dois modelos desenvolvidos com o mesmo conceito
têm em comum? Poderíamos dizer que todos nascem de um projeto, de um design. Mas sua similaridade, de fato, é que todos esses projetos e produtos estão relacionados com nosso comportamento. É o design que dita o comportamento, os hábitos da vida moderna? Ou são estes que determinam o design dos objetos? Nesta edição, damos uma idéia do que será a nova ARC D E S I G N. Um projeto gráfico ágil, matérias sobre design de interiores, moda, design de produto, design gráfico que, reunidas, traçam um perfil do nosso comportamento atual, moderno, antenado no mundo. Aproveitem! Maria Helena Estrada Editora
ARC DESIGN
O que vitrines de moda, bonecas de pano, banheiros e um espaço de exposições
Ethel Leon
SINGULAR & PLURAL ...QUASE... 50 ANOS DE DESIGN BRASILEIRO
Maria Helena Estrada
IRREVERÊNCIA NA MODA: AS VITRINES DE MOSCHINO
Winnie Bastian Maria Helena Estrada
DESIGN SOLIDÁRIO
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A colaboração entre ar tesãos brasileiros e designers holandeses deu origem a uma série de produtos ar tesanais com alto valor agregado. Confira a exposição, realizada no MAM-Higienópolis, em São Paulo
Humor e contestação eram duas constantes no trabalho do fashion designer Franco Moschino. Mostramos algumas das últimas vitrines de sua grife, nas quais a malícia e a ironia de Moschino permanecem vivas
A exposição que inaugura o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, traz um panorama sobre o design brasileiro, gráfico e de produto, nos últimos 50 anos. Visite-a conosco
PANORAMA BRASIL: BANHEIROS
4 70
MATERIAL CONNEXION
76
EXPEDIENTE
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ASSINATURAS
87
NEWS
REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO
nº 23, janeiro/fevereiro 2002
Design gráfico inovador como ex pressão política; a arte como “instrumento de invenção da realidade”. O construtivismo russo é o tema da exposição “Gráfica Utópica”, que aconteceu até 24 de fevereiro em São Paulo
MUITO PRAZER
Angélica Valente
Winnie Bastian
SIMPLICIDADE PLANEJADA
Da Redação
GRÁFICA UTÓPICA
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O Estúdio Jacqueline Terpins, inaugurado recentemente em São Paulo, combina despojamento, simplicidade formal, espaços generosos e iluminação dramática. Confira o “cenário” criado por Felippe Crescenti, com iluminação de Gilber to Franco e Carlos For tes
Espaço de descanso, au to contemplação e reflexão, mas prin ci pal mente de pra zer, o ba nhei ro con tem po râ neo as su me pa pel em blemá tico na casa contemporâ nea. Publi ca mos os úl ti mos lan ça men tos para lou ças, me tais e aces só rios ex pos tos na Cer saie, Bolog na
PUBLI-EDITORIAIS: Giroflex apresenta a cadeira 63
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Voko, novas cadeiras Duo e Nella
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Firma Casa por João Armentano
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Forma, design com nome e sobrenome
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BANG & OLUFSEN NO RIO A Bang & Olufsen acaba de inaugurar sua primeira loja no Rio de Janeiro, terceira filial no Brasil. Os cariocas terão a oportunidade de conhecer os equipamentos da empresa dinamarquesa de áudio e vídeo, que têm como principais características qualidade em som e imagem e design inovador. A arquitetura da nova loja, seguindo a linha mundial da empresa, apresenta o conceito batizado de Blue Print, com iluminação adequada à demonstração de cada equipamento e painéis azuis distribuídos pelo show-
LUGAR DE BELEZA É NA COZINHA Investir em desenvolvimento de design não é novidade para a Brastemp, que há 30 anos se destaca como uma das empresas que mais investem neste setor. Um dos novos frutos desse investimento é a linha de fornos e fogões Mosaic, que propõe sofisticação e funcionalidade ao ambiente mais disputado da casa. São dominós, cooktops, coifas e fornos de parede modulares, que se adequam a cada necessidade. Vidro e inox são os materiais destacados, em equipamentos de linhas despojadas. As novidades são os fornos com programa Intelligent System, com diversos tipos de programação para o preparo de alimentos, e o sistema Total Clean, um autolimpante total. É mesmo para deixar todo mundo com veleidades de chef... Atendimento ao Consumidor Brastemp: 0800-900-999 www.brastemp.com.br
SALÃO DO MÓVEL 2002, MILÃO A cada ano são inúmeros os leitores que nos procuram pedindo informações ou ajuda para conseguir passagem, hotel ou entradas para as Feiras da Primavera, em Milão. O Salão Internacional do Móvel: EIMU (Salão do Escritório), Eurocucina (Salão da Cozinha) e Salão do Complemento serão realizados de 10 a 15 de abril de 2002. Para que possamos dar uma resposta a quem nos procura, e visando baratear custos por meio da organização de um grupo maior de visitantes, contatamos uma operadora de turismo que poderá esclarecer qualquer dúvida. Informações: Agda – 99088752; Katty – 91798400; escritório – 38845111. 4 ARC DESIGN
room que trazem informações sobre os produtos e serviços da empresa. Bang & Olufsen: Estrada da Gávea, 899 (São Conrado Fashion Mall, loja 223), Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2422-6079. www.bang-olufsen.com.br
RÚSTICO REVISITADO Antigos materiais, soluções inovadoras. A nova coleção de móveis do Empório Beraldin reinventa a utilização de materiais rústicos e cria peças sofisticadas. O couro sai do estofado para revestir mesas, cadeiras ou até paredes e pisos. Pastilhas de chifre, osso ou coco dão visual criativo a tampos de mesas, caixas e baús. O desenho das peças, com linhas simples, valoriza a beleza natural dos materiais e as opções de acabamento ampliam a gama de possibilidades. O Empório Beraldin tem lojas em São Paulo, Rio de Janeiro e
OUSADIA
Salvador. Em São Paulo,
Vermelha, roxa, laranja ou marrom: cores fortes se
o show-room fica na Rua
destacam na nova linha modular de armários e
Mateus Grou, 604.
estantes da Ornare. Para os discretos, elas aparecem
Tel.: (11) 3030-3956.
nos detalhes, em meio à sobriedade do branco ou do wengé; para os mais ousados, assumem o papel principal, em portas e prateleiras coloridas, aliadas a novos elementos de acabamento em alumínio, vidro argentado fosco ou acrílico. Segurança é também destaque da linha: uma das opções de módulos é a gaveta com cofre, que só pode ser aberta
MULTIFACES Possibilidades múltiplas com as linhas de tomadas e interruptores Visage e Duomo Spazio, que a Siemens acaba de colocar no mercado. Visage é leve e sofisticada, e apresenta módulos e molduras na cor branca, que podem ser combinados de acordo com as necessidades de cada projeto. As linhas delicadas foram criadas para facilitar a limpeza, sem esquecer da estética e a praticidade.
com cartão magnético. A equipe da empresa desenvolve projetos personalizados para cada necessidade. A Ornare possui lojas em São Paulo, Salvador, Porto Alegre, Brasília e no Rio de Janeiro. Em São Paulo, o show-room fica na Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.101. Tel.: (11) 3061-0747. www.ornare.com.br
Duomo Spazio tem molduras em 13 opções de cores, e módulos em grafite, branco ou bege. Variações e combinações que se adaptam a qualquer ambiente, permitindo composições simples ou inusitadas. www.siemens.com.br 5 ARC DESIGN
GELADEIRAS ORGANIZADAS A Electrolux, líder mundial do mercado de eletrodomésticos, lança a linha de refrigeradores Electrolux Super, bom exemplo de como se alia design e funcionalidade a cada produto. São oito modelos, todos com baixo consumo de energia elétrica, novidades no aproveitamento do espaço interno e novo projeto para superfícies externas. Nos modelos RE34 e RE37, um “dispenser” coloca as latas no lugar certo, e uma prateleira exclusiva para garrafas garante a organização. Pequenas prateleiras removíveis acomodam diversos tipos de alimento e podem ser levadas diretamente à mesa. O destaque fica por
LUZES PARA A IMAGINAÇÃO Luminária, bolsa, brinquedo, decoração, acessório, a Baguette Lampe, nova luminária da Nuts Design, é um convite à diversão. Leve e descontraída, feita em polipropileno, pode ser montada em formato cilíndrico, cônico, assimétrico. A estampa foi inspirada no calçadão de Ipanema e vem nas cores pink, azul ou branca. A embalagem, uma bolsa baguette feita do mesmo material, pode ser usada como acessório urbano, bolsa de praia, e o que mais a imaginação permitir.
conta do sistema frost-free “Degelo Mágico”, com um indicador luminoso que avisa o momento certo de descongelamento: aperta-se um botão e o degelo acontece automaticamente. O dia-adia doméstico já chega a ser um prazer! Atendimento ao Consumidor Electrolux:
Baguette Lampe, disponível na Benedixt: Pça. Benedito Calixto, 103, São Paulo. Tel.: (11) 3062-6551.
0800-78-8778 www.electrolux.com.br
ORIGENS Contemporâneo e tradicional dividem espaços na nova coleção da Interni. A coleção “Origens”, assinada pela designer Maria Cândida Machado, reúne acessórios, móveis e objetos inspiraAbaixo, poltrona Romeu 04, que integra a coleção Origens
dos em joalheria, cerâmica e esculturas com ares primitivistas. Nos móveis, madeiras como a imbuia, wengé e o cedro escuro ganham destaque, sobriedade de linhas retas que remetem às peças modernistas. Tranças, palhas e outras intervenções dão toque artesanal e de brasilidade. A Interni possui lojas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Informações pelo telefone (11) 3081-9139. www.interni.com.br
6 ARC DESIGN
TAPEÇARIA CONTEMPORÂNEA Acabou-se – enfim! – a era dos carpetes, dos “persas”, na decoração das casas. Um bom momento para a Punto e Filo, que acaba de inaugurar seu show-room em São Paulo. Es-
JEQUITIBÁ
pecializada em tapetes assinados, com design
Novidades na La Lampe: Fernando e Humberto Campana assi-
contemporâneo, a empresa executa projetos
nam a linha Jequitibá, composta por abajur e arandela em
em processo semi-artesanal, com matéria-
acrílico, em formato cilíndrico, com placas coloridas que se
prima de qualidade e acabamento manual. A
encaixam na estrutura. A disposição interseccional das peças
coleção de estréia, assinada pelo artista plástico
permite difusão da luz com efeito cromático. A variedade de
Alfredo de Oliveira, traz 40 criações que podem
cores das placas amplia as pos-
ser revisitadas pelas 68 variedades de cores de
sibilidades de efeito.
fio oferecidas pela empresa. Aguardem novi-
Show-room La Lampe: Al. Gabriel
dades, Mario e Vivian Pisanechi, idealizadores da
Monteiro da Silva, 1.258, São
Punto e Filo, prometem lançar uma coleção assi-
Paulo. Tel.: (11) 3082-4055.
nada a cada seis meses. Punto e Filo: Al. Tietê, 618, casa 6, São Paulo. Tel.: (11) 3061-1412.
“TOK” NOVO PARA O NORDESTE Fortaleza acaba de receber sua maior loja de design e decoração. A Tok&Stok inaugurou no último mês de dezembro sua loja na capital cearense, que já chega com o título de maior do Nordeste. Num espaço de 4,2 mil metros quadrados, em ambiente claro, com iluminação natural, os clientes vão encontrar entre os produtos da loja soluções criativas para casa e escritório. À praticidade característica da loja, soma-se o design exclusivo de marcas como Innovator e Pelikan Design, com espaço também para o design nacional, em peças de Michel Arnoult, Guilherme Bender, Duílio Ferronato. Além do espaço para a exposição de produtos, a filial de Fortaleza conta com um Baby Stok – para as crianças se divertirem enquanto os pais fazem suas compras – e um Café Design relax e descontração para depois das compras.
Acima, tapete Congonhas, design Alfredo de Oliveira
Tok&Stok Fortaleza: Av. Washington Soares, 3.536. Tel.: (85) 273-0422. 7 ARC DESIGN
De sign ho lan dês e ar te sa na to bra si lei ro: duas re a li da des di ver sas reu ni das pelo mesmo projeto. O re sul ta do, ex pos to re cen temen te no MAM-Hi gie nó po lis, São Pau lo, são objetos que unem simplicidade e ri que za for mal, fru to da co la bo ra ção en tre es -
Design Solidário Acima, bolsa em pelica holandesa explora a furação, técnica utilizada pelos artesãos de Serrita na fabricação das vestes dos vaqueiros, que tanto enfeitaram Lampião e Maria Bonita. Ao lado, diversas peles empregadas na fabricação dos objetos em Serrita
Foto Herman Kuijer
Foto Andrés Otero
tudan tes ho lan de ses e ar te sãos bra si lei ros
17 ARC DESIGN
Fotos Herman Kuijer
Winnie Bastian
Artesanato x indústria, rural x urbano, cultura tradicional x diversidade cultural, cultura popular x cultura erudita: o confronto das diferenças culturais
Ao lado, bolsas em couro: em uma ex plora-se a furação como elemento formal e funcional e, na outra, introduz-se o uso do pêlo de cabra, material abundante na região. O geometrismo da costura, na bolsa branca, é um elemento da cultura holandesa que traz variantes para o desenho local
constitui a base do projeto Design Solidário, realizado por A CASA, Museu Virtual de Artes e Artefatos Brasileiros, em parceria com diversas entidades, entre as quais a Design Academy Eindhoven, tradicional escola holandesa de design (veja ARC DESIGN nº 15). O projeto teve início em novembro de 2000, quando professores da Design Academy estiveram no Brasil pela primeira vez, para conhecer a realidade das comunidades com as quais iriam trabalhar. Vídeos com imagens do cotidiano das comunidades e amostras dos materiais tradicionalmente utilizados foram levados para a Holanda e transmitidos aos estudantes. Universos extremamente diferentes, senão opostos, foram alvo deste projeto: Serrita, sertão de Pernambuco, e Monte Azul, favela da cidade de São Paulo. A diferença mais marcante entre ambos é a base cultural que referenciou a produção dos objetos. Em Serrita, onde o artesanato em couro – produção de vestes e acessórios para vaqueiros – era uma tradição sólida, passada de pai para filho, o trabalho referenciou-se na cultura local. Além disso, os artesãos tinham completo domínio do material: sabiam tudo o que ele poderia oferecer e como trabalhá-lo para obter o efeito desejado. Em Monte Azul, como os artesãos já lidavam com a madeira de forma elementar, o trabalho baseou-se em referências (técnicas e formais) externas: o uso da madeira laminada colada na produção de objetos com formas orgânicas. 18 ARC DESIGN
Fo to A n d ré s O te ro
No alto das duas páginas, da esquerda para direita, cenas de Serrita mostram a artes dos arreios; o modo como o couro é colocado para secar; aluna holandesa “experimentando” as peles; dois flagrantes do desenvolvimento dos trabalhos, reunindo mãode-obra brasileira e holandesa e a festa de exposição dos trabalhos. Abaixo, aluna da Design Academy com o traje de vaqueiro
Os objetos resultantes dessa experiência foram expostos no MAM-Higienópolis, São Paulo, e, apesar da diferença de contextos, materiais e técnicas com os quais foram produzidos, traziam um denominador comum: o design. Durante dois meses, os estudantes participaram de oficinas na Design Academy, nas quais desenvolviam protótipos de objetos com os materiais especificados (papel, tecido e madeira, no caso de Monte Azul, e couro, no caso de Serrita). Esses protótipos foram trazidos para o Brasil e, com base neles, estudantes e artesãos chegaram aos produtos finais. “Trouxemos cerca de 20 idéias e escolhemos umas cinco para trabalhar”, explica a designer Hella Jongerius, coordenadora do Het Atelier (ateliê de artesanato) da Design Academy. “O fato de trazermos objetos tornou a discussão mais fácil; é muito difícil falar ‘no ar’: quando você traz algo concreto, podese discutir em cima e dizer ‘sim’ ou ‘não’”. As oficinas preparatórias também funcionaram como uma seleção para escolher os 15 estudantes que vieram ao Brasil. “Apenas os mais capacitados poderiam vir, pois o tempo era muito curto” (os estudantes passaram entre três e quatro semanas no Brasil), diz Liesbeth in’t Hout, diretora da Design Academy. Desse grupo, cinco estudantes trabalharam em Serrita e dez em Monte Azul. Dentre os objetos desenvolvidos no módulo Serrita, três recursos se destacam: a furação e
Foto Herman Kuijer
a moldagem do couro de cabra e a introdução da pele de porco.
Foto Herman Kuijer
Ao lado, artesão trabalha na confecção de sandália. Abaixo, sandália com solado em couro curvado e tiras com aplicação de pele de porco: aos materiais incorporados à tradição local somamse novos, como a chapa de aço inox no solado que marca a numeração do calçado. No pé da página, sandália com tiras elásticas e solado em couro de cabra curvado e colado
Na produção do gibão, veste tradicional do vaqueiro do sertão pernambucano, a furação era seguida da passagem dos fios, era uma etapa da costura das peças. Nos produtos do projeto Design Solidário, essa furação ficou aparente, passando de elemento construtivo a elemento formal. A pele de porco, embora seja abundante na região de Serrita, quase não é empregada nos utensílios tradicionais. Fascinados com a beleza do material, estudantes e professores holandeses sugeriram sua utilização na produção de um par de sandálias, nas quais os pêlos surgem como elemento marcante. O couro de cabra, por sua vez, é um velho conhecido dos artesãos locais, que dominam todas as técnicas de manufatura envolvendo o material. A moldagem do couro de cabra, que já era empregada pelos artesãos locais na fabricação do gibão, foi utilizada para revestir moringas metálicas. Em Monte Azul, o projeto também utilizou materiais já trabalhados anteriormente pelos artesãos – papel reciclado, tecido e madeira –, pois o intuito era o de revitalizar os objetos artesanais sem interferir na tradição local. O papel reciclado, antes utilizado para confeccionar cadernos e artigos de papelaria,
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Ao lado, processo de moldagem do couro para o revestimento das moringas metálicas, que aparecem, já finalizadas, abaixo
Foto Herman Kuijer
Foto Andrés Otero
dessa vez deu origem a brinquedos e utensílios domésticos (tigelas e fruteiras). Com o tecido, os artesãos construíram bonecas, desenvolvidas com base na proximidade existente entre a boneca e sua dona. Todas as bonecas podem ser “anexadas” às roupas das crianças por meio de botões, casas, laços, ou ainda por uma pequena bolsa. Seus braços são longos, podendo ser amarrados em torno da criança, e as mãos são quase “argolas”, na medida exata para envolver o punho: as meninas podem sair “de mãos dadas” com suas bonecas. Além disso, as bonecas exploram o sentido do toque: são feitas em tecido aveludado – o qual é pespontado para que sua “maciez” se torne mais evidente – e seu vestido se transforma de longo em curto com um simples gesto. No que se refere aos trabalhos em madeira, grande parte da matéria-prima utilizada – doada por empresas próximas à comunidade – é formada por “restos”, embalagens reaproveitadas. Objetos com formas elegantes, executados em finíssimas lâminas de compensado moldadas e coladas são excelentes exemplos do uso racional e sustentável da madeira.
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Pode o designer interferir na cultura popular? "O so nho pre ce de a in ven ção". "A for ma se gue a fu são". Fra ses en con tra das na bro chu ra so bre a De sign Aca demy Eind ho ven, que ser vem de mote para um iní cio de dis cus são so bre as ques tõ es que en vol vem as fron tei ras e con ta mi na çõ es en tre ar te sa na to, de sign e cul tu ra po pu lar Maria Helena Estrada
Diz-se do artesanato brasileiro que é, sobretudo, kitsch. Mas o que estará acontecendo, qual o lapso de tempo e espaço – de cultura? – entre a riquíssima criação dos marajoaras, dos indígenas ainda não contaminados pela civilização, das carrancas do São Francisco, de mestre Vitalino, da arte sacra e profana e do barroco brasileiro, dessa cultura que foi vista – e emocionou a todos – na mostra Brasil + 500? Hoje, o que encontramos nas pequenas comunidades perdidas Brasil
Foto
Andr
és O tero
adentro, ou nas cidadezinhas turísticas? Temos de concordar que esse artesanato, atualmente expressão de nossa cultura popular, na maioria das vezes é de baixíssima qualidade: talvez numa tentativa de “acertar” o gosto do público, daquele público que busca “lembrancinhas”. Na definição do crítico norte-americano Clement Greenberg, “o kitsch é a arte feita para acariciar os preconceitos, o gosto passivo e acomodado”, seria como uma expressão de empatia popular, de fácil aceitação. Por outro lado, em entrevista a ARC DESIGN (nº 15, julho/agosto de 2000), Hella Jongerius, em sua primeira visita ao Brasil, declarava que “um objeto se comunica com o meio ambiente e transmite um sinal emocional”, afirmação que pode ser lida como a linha condutora no processo – e no projeto – que
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ora se iniciava, e que partia de uma proposta delicada e perigosa, ou seja, desenvolver um projeto brasileiro – originado pela equipe de A Casa –, envolvendo uma escola de design e um grupo de professores e estudantes holandeses. O resultado é a exposição Brasil-Holanda. Mas os pres su pos tos en vol vem ques tõ es fun da men tais de pos tu ra e me to do lo gia pro je tu al, cuja pre mis sa e per gun ta bá si ca se riam: como li dar com o fa zer ar te sa nal, como agre gar va lor,
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Foto Zaída Siqueira
Na página ao lado, no alto, luminária em madeira laminada curvada, em uma única peça, sem emendas. A base funciona como um “clip”, para prendê-la à superfície da mesa. Diversas ripas, unidas na parte inferior por faixas de tecido, dão origem a bandeja da página ao lado: enquanto aberta, apresenta grande rigidez; ao ser invertida, torna-se maleável, podendo ser enrolada para facilitar o acondicionamento. Nesta página, luminárias em lâminas de madeira coladas: delicadeza, flexibilidade e jogo de sombras geram um produto com apelo formal e lúdico
Fotos Herman Kuijer
No alto das duas páginas, cenas da favela Monte Azul, onde foram desenvolvidos os trabalhos em madeira, papel e pano. Da esquerda para direita: a favela; a oficina de madeira; reunião de trabalho para discussão dos protótipos trazidos da Holanda; o bar do Bola; uma discussão em torno dos primeiros protótipos; prensa para moldagem da madeira
prin ci pal men te li dan do com uma cul tu ra tão di ver sa, como che gar às pró pri as mãos – e alma – do povo que o pro duz? Entre outros exemplos de resultados positivos da interferência do designer nas comunidades artesanais, citamos a Índia, onde há mais de dez anos o governo contrata designers italianos para atuarem junto às comunidades; a Tailândia, onde é visível o resultado obtido ao longo das últimas duas décadas; a própria Itália, que contrata designers de Milão para Abaixo, banco em madeira laminada. As prensas para a produção de todos os objetos em madei ra curvada foram confeccio nadas na Holanda pelos pró prios es tudantes e permitiram a transmissão do know-how aos artesãos da Asso ciação Comuni tá ria Monte Azul
orientar a produção em tradicionais comunidades que trabalham com o vidro ou a porcelana, por exemplo. No Brasil, o Sebrae tomou a si o desafio, elegendo comunidades, selecionando designers brasileiros capazes de transformar aquele empobrecido fazer tradicional em peças que possam ser introduzidas – com sucesso – no mercado. No outro extremo, a Holanda, cuja vertente no design explora o projeto semi-industrial, valoriza os recursos naturais, fala de reciclo e re-uso, pesquisa materiais tecnológicos e os utiliza com tecnologias não-sofisticadas, privilegia o “pensar simples, viver simples”. Delicadeza seria a palavra para definir a ação de professores e estudantes holandeses nesse processo de integração a que se propuseram. Delicadeza, intuição e humildade. Aprender, apreender para poder conduzir, ou melhor, para poder chegar a uma criação conjunta. Nessa complexa missão de fazer reviver a cultura popular e o artesanato de um povo, uma vez iniciado o processo, é preciso ter em mente como escoar essa produção, como fazer com que ela chegue, com sucesso, ao mercado. Um processo no qual não cabem ingenuidade ou sentimentalismo, mas um trabalho de pesquisa bem direcionado, um marketing certeiro. Essa primeira experiência Brasil-Holanda vem caminhando, passo a passo, com seu objetivo final bem-definido. Criar produtos para serem comercializados, e não apenas no Brasil, tendo o cuidado de
Foto Andrés Otero
não se tornar folclórica (no mau sentido), de não trair, como define Emanoel Araujo no catálogo da exposição Brasil + 500, “essa mão brasileira, essa alma brasileira de muitas cores e de muitas origens, que impregna com sua força a criação popular nesse imenso país”. Pelo que foi visto na exposição, os holandeses – e brasileiros – acertaram a mão, criando um universo de objetos com baixa – e muitas vezes nenhuma – tecnologia e alto valor agregado. ❉ 24 ARC DESIGN
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As formas orgânicas e a economia de material foram amplamente exploradas pelos designers holandeses junto aos artesãos de Monte Azul. Acima, conjunto de pratos em madeira laminada curvada; ao pé da página, prato em lâminas de madeira, no qual a costura é o elemento que permite a formação das curvas. Note-se, em todos os produtos, a espessura mínima das lâminas
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25 ARC DESIGN
Ao lado, tabuleiro para xadrez em madeira laminada curvada, formado por 16 tiras entrelaçadas. O mesmo conceito foi utilizado na construção de descansos para pratos
Antes do projeto Design Solidário, os artesãos de Monte Azul já trabalhavam com papel reciclado, que dava origem a cadernos e outros itens de papelaria. Agora (foto abaixo), a técnica do papel machê foi introduzida para criar utensílios domésticos
Foto Herman Kuijer
26 ARC DESIGN
Foto Andrés Otero
Nesta página, bonecas em tecido felpudo: macias e flexíveis, foram idealizadas para estar junto ao corpo da criança. Interação é outro elemento-chave: o “vestido” da boneca pode se transformar de longo em curto com um simples gesto. No fundo da página, desenho conceitual da boneca
O pro je to De sign So li dá rio é uma re a li za ção de A CASA, Mu seu Vir tu al de Ar tes e Ar te fa tos Bra si lei ros, em con jun to com Se brae, De sign Aca demy Eind ho ven, Ur ban Fa bric (em pre sa ho lan de sa es pe ci a li za da em pes qui sa e con sul to ria na área de ar qui te tu ra e ur ba nis mo e in ter câm bio cul tu ral en tre Ho lan da e Bra sil), Fun da ção Pa dre João Cân cio (Per nam bu co), As so ci a ção dos Ar te sãos do Ser tão Cen tral (Ser ri ta-PE) e As so ci a ção Co mu ni tá ria Mon te Azul (São Pau lo). Os produtos resultantes dessa experiência foram expostos no MAM Higienópolis (São Paulo) entre 30 de novembro de 2001 e 6 de janeiro de 2002. A exposição deve seguir para o Espaço Cultural Bandepe (Recife - PE) e, mais tarde, para a Holanda
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MODA
MOSCHINO Irreverência na moda: as vitrines de Moschino . udes t i t a as
ortam p m i ida, “Na v O mesmo se Mod a, pa ra M osch ino, não
aplica à mod a.”
Moschino
era u m
fenô men o frív olo, e Era um i pidé nstrume rmic nto para o. a cap criação de signo aze s sd ec om uni car sua pró pria me nsa gem
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Nesta página, ao lado, “Atelier com Glitter” (setembro/novembro 2000); no pé da página, “Crocodilo” (fevereiro/março 2000). Vitrines do show-room da Via Sant’ Andrea 12, Milão
Maria Helena Estrada
Carismático,
irreverente
e
rebelde,
Moschino ironizava o próprio trabalho e desmistificava o “sistema moda”. O slogan de uma de suas coleções, “Ready to Where?”, foi um dos muitos que usava para “castigar” as “fashion victims”. Formado pela Academia de Belas Artes de Brera, interessado na cultura pop, fashion designer “malgré lui”, Moschino começou sua carreira como ilustrador no ateliê de Gianni Versace, que o convidou a ser o designer da Cadette, tendo criado as coleções da marca por 11 anos. Em 1983 lança sua primeira coleção e, apesar de todas as “anomalias” que suas criações apresentavam, de toda a crítica feroz de que foi alvo, todos concordavam que Moschino era um mestre na arte do corte e costura. Sua última exposição, em um museu de Milão, no início dos anos de 1990 – que
Na página ao lado, no alto, “Anulação” (outubro/novembro 1998); embaixo, “Camuflagem” (setembro/novembro 2000). Vitrines do show-room da Via Durini 14, Milão Nesta página, ao lado, “Figura que Desaparece” (ou tubro/dezembro 1999); no pé da página, “Nos Om bros” (abril/maio 2001). Via Sant’ Andrea 12, Milão
foi também meu primeiro “encontro” com Moschino –, me deixou totalmente estarrecida: “então moda também é isto?” Inteligente, divertida, pura ironia; com diversas referências à arte pop, virava pelo avesso o que até então era entendido como alta-costura. Moschino, mesmo no auge de sua fama, morava em um pequeno apartamento; participava de inúmeras campanhas de caridade e sociais e foi o primeiro a lançar, na moda, um movimento em favor da ecologia, em 1994, com a coleção “Ecouture!”, para a qual escolheu tecidos e cores naturais, levantando a questão do respeito à natureza. Desde 1994, Rossella Jardini é diretora de criação da marca, tendo em sua equipe uma jovem tailandesa formada pelo Art Institute de Chicago, EUA: JoAnn Tann, que iniciou seu trabalho no
Nesta página, ao lado, “Pernas Longas” (setem bro/novembro 2001); abaixo, “Alienígenas” (ju lho/ setembro 2001). Via Sant’ Andrea 12, Milão Na página ao lado, no alto, “Pasta” (setembro/outubro 2001) – Via Durini 14, Milão. Embaixo, “Saia de Panos Velhos” (março/abril 1999) – Via Sant’ Andrea 12, Milão
estúdio como fashion designer, desde 1998 se dedica às vitrines de Moschino. “Vitrine como estrutura comunicativa, pois os produtos à venda não existem sem a sua própria mitologia discursiva, sem a sua retórica cenográfica”, comenta o designer italiano Marco Ferreri no livro sobre a moda “C.P. Company”, cuja resenha será publicada em nossa próxima edição. Para compreender essas vitrines de Moschino, é preciso conhecer um pouco de sua obra, pois elas fazem parte de um enorme trabalho com o qual este rebelde do sistema, “mais artista e filósofo que fashion designer”, introduziu o humor na indústria da moda. “Meu trabalho”, declara Jo Ann, “é basicamente uma continuação (espero merecer este termo) do trabalho de Moschino – desenvolvendo sua tradição de humor, loucura, surrealismo e transgressão. ❉
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Ao lado, de Ligia Clark, capa do disco “Poesias”, década de 1950. No centro, tesoura Ponto Vermelho, design José Carlos Bornancini e Nelson Ivan Petzold, 1993. Abaixo, de Raimundo Nogueira, capa do disco “Orfeu da Conceição”, década de 1950
E XPOSIÇÕES
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Singular e Plural...quase... anos de design brasileiro Convidamos a jornalista Ethel Leon, curadora da mostra "Singular e Plural: ...quase... últimos 50 anos de design no Brasil", para um exercício pouco usual. Mudando de perspectiva, ela lança um novo olhar sobre o tema e nos conta o que foi essa retrospectiva do design brasileiro
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Ethel Leon O que é uma exposição retrospectiva de design brasileiro? Deve-se falar dos clássicos? Deve-se acentuar algumas área menos comentadas? Ou o design “museologicamente” válido é apenas aquele capaz de romper com paradigmas de seu tempo? Várias exposições eram possíveis dentro da temática encomendada: os últimos 50 anos no Brasil. Minha primeira idéia foi construir um panorama que possibilitasse cotejar a produção bidimensional e a tridimensional contendo grandes nomes (mas não apenas eles) e chamando a atenção para a pluralidade das origens do design brasileiro. Uma exposição de peças de escalas tão diferentes quanto uma marca e uma mesa ou uma miniatura de perfume e uma poltrona era um tremendo desafio, inclusive para a montagem. Achamos (e uso o plural porque a idéia foi compartilhada por Ricardo Ohtake, diretor do Instituto Tomie Ohtake), no entanto, que este seria o papel de um centro cultural, afastado das preocupações mercadológicas e afeito às possibilidades de leituras transversais do design. Indo um pouco além disso, ao pensar que essa exposição se realizava
Na foto acima, da esquerda para a direita: poltrona Ouro Preto, design Michel Arnoult e Norman Westwalker, 1960; cadeira para mesa de jantar, design Joaquim Tenreiro, 1960. Abaixo, cadeira de Júlio Katinsky, 1959
num centro cultural que privilegia as artes visuais, parecia importante mostrar as interconexões de artistas plásticos/artistas gráficos. Por isso estão na mostra a capa do disco criada por Lygia Clark e as ilustrações de Aldemir Martins para a indústria de pratos “Goyana”, a revista “Senhor”, de Carlos Scliar, o projeto gráfico do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil feito por Reinaldo Jardim (não conseguimos obter exemplares do projeto desenvolvido por Amílcar de Castro para o JB), a atuação de Carlos Clémen na indústria editorial etc. Há uma aproximação da indústria com a arte que, ao longo do tempo, foi sendo reconfigurada como uma relação da indústria com o campo do design.
PLU RA LI DA DE Os expoentes da pluralidade que a exposição quis acentuar são duas embalagens, ambas magistrais e duradouras: a lata de sardinhas Coqueiro, projeto de Alexandre Wollner, de 1958, e o bombom Prestígio, projeto de Antonio Muniz Simas, da agência de embalagens DIL, de 1961. Apresentadas numa espécie de túnel do tempo, elas são as únicas embalagens de alimentos e estão expostas em grandes painéis, numa espécie de chave de leitura de toda a mostra. Dentre todos os campos do design foi preciso escolher alguns cuja história fosse expressiva nesses últimos 50 anos para que pudéssemos lançar um olhar retrospectivo em direção às mesmas categorias de objetos: cartazes e marcas culturais, livros e discos, 35 ARC DESIGN
À direita, de Sérgio Rodrigues, banquinho Mocho, 1954. À esquerda, capa do livro “Antes, o Verão”, design Eugênio Hirch, década de 1960; na sequência, capa de “O Pasquim”, design Carlos Prosperi, 1969. No pé da página, de Zanine Caldas; Chaise, anos de 1950
imprensa, geladeiras, móveis e utensílios residenciais; embalagens de perfumes e cosméticos. O design aparece então com o destaque que efetivamente tem na vida cotidiana. De tanto em tanto, a exposição faz referência ao processo de produção industrial – seja com um molde em aço ou em gesso de um frasco de perfume; com as provas de impressão corrigidas da capa de um disco; da foto de uma cadeira desmontada. Outros critérios têm um quê de negação à enorme confusão que se faz do território do design – que, por mais diálogo que tenha com a produção artesanal e com a arte, foi capaz de configurar um campo específico e passível de ser compreendido. Foram deliberadamente privilegiados sinais e artefatos reconhecíveis por um grande número de pessoas, porque produzidos em série e daí relevantes para a nossa paisagem. Desse modo, excluímos da mostra qualquer referência desse fazer dos objetos únicos, das galerias de arte e preferimos os livros e os discos que muitos têm em casa, as marcas culturais reconhecíveis e as geladeiras. Os grandes nomes do design autoral foram lembrados. Aqueles que se tornaram industriais como Joaquim Tenreiro, Geraldo de Barros, Sérgio Rodrigues, Zanine Caldas, Jorge Zalszupin e também Carlos Motta, Alessandro Ventura e Pedro Useche, em épocas mais recentes. Estão lá também aqueles que chamo de designers empreendedores, que gerenciam a produção de seus projetos em redes de fornecedores, ou seja, tornaramse pequenos empresários e gestores, mas não industriais tradicionais. Na área de embalagens escolhemos um setor industrial extremamente complexo, que é a perfumaria. Novamente a gestão possibilita que se encontrem num mesmo produto diferentes atores sociais e modos de produção, como na linha Ekos, da Natura, que reúne o trabalho artesanal de Nido Campolongo, e a pequena linha de montagem da Tátil Design ou ainda na Mystères d’Amazonie, que junta a experiência profissional da designer Renata Ashcar com os cestos indígenas comprados de diferentes comunidades amazônicas. 36 ARC DESIGN
Escada, design Alessandro Ventura, 1987. Ao lado, Luminária SSS, design Giorgio Giorgi Jr e Fábio Falanghe, 1988. Abaixo, capa do livro “O Homem Nu”, design Bea Feittler, 1970, e no pé da página, de Geraldo de Barros, banqueta de bar, década de 1950
Dificuldades na obra do próprio Instituto Ohtake Cultural impediram que peças muito significativas de equipamentos urbanos e veículos fossem apresentadas no átrio e que estabeleceriam o diálogo com a rua: móveis urbanos de Curitiba (Manoel Coelho), do Rio de Janeiro (Guto Índio da Costa), de Santo André (Oswaldo Mellone) e painéis do projeto implantado na Avenida Paulista em 1973 por Cauduro & Martino. Também não foram apresentados o automóvel Brasília, da Volkswagen do Brasil, e os desenhos originais de seu projetista Márcio Piancastelli e o novo microônibus da MarcoPolo, o Volare, da equipe de design interna da empresa. Estas são, segundo Ricardo Ohtake, as primeiras peças de uma nova exposição do instituto, cujo tema design do espaço público será tratado em toda a sua especificidade e universalidade. Com certeza, o design brasileiro ganhou com o Instituto Tomie Ohtake um espaço não só de exposição, mas de reflexão sobre seu percurso e suas áreas limítrofes. Além da exposição, foram editados dois materiais, um flyer explicativo sobre o alcance do design no cotidiano e uma publicação de 16 páginas, que contém os nomes dos designers expositores, imagens de vários dos itens expostos e um texto meu discutindo algumas questões do design brasileiro contemporâneo. Um vídeo produzido pela Documenta com direção de Cacá Vicalvi apresenta e explica alguns aspectos da exposição. ❉
A exposição “Singular e Plural” acontece até o dia 3 de março de 2002 no Instituto Tomie Ohtake: Av. Brig. Faria Lima, 201, São Paulo. Catálogo e fita de vídeo podem ser adquiridos pelo telefone (11) 6844-1900, com Daniela Coelho. 37 ARC DESIGN
PUBLI EDITORIAL
GIROFLEX
Projetada pela Zemp+Partner Design, a cadeira para escritórios Giroflex 63 alia ergonomia, tecnologia, conforto e design ao uso sustentável de materiais resistentes e duráveis. O assento da Giroflex 63 possui a parte frontal em curva, o que dá liberdade de movimento para as pernas e evita o desconforto da pressão. O encosto é fabricado em polipropileno, cujas propriedades elásticas permitem distribuir o peso exercido pelo corpo de forma igual por todos os pontos de apoio. Ao optar pelo encosto em plástico aparente, a Giroflex inova, deixando de lado o tradicional encosto estofado (embora essa opção não tenha sido eliminada da linha) e mostrando que o encosto em polipropileno pode ser tão confortável quanto aqueles almofadados. Além disso, sua produção é feita de forma sustentável, com a utilização de materiais recicláveis, pois a ecologia é mais uma das preocupações da empresa. A linha Giroflex 63 apresenta oito versões, com grande variedade de cores. As cadeiras giratórias são oferecidas com ou sem apoio de braços. Os modelos de interlocução são empilháveis e com pequenos engates opcionais na versão de quatro pés (as cadeiras podem compor fileiras que racionalizam a utilização do espaço). Soluções que se adequam à necessidade de cada escritório.
GIROFLEX Rua Dr. Rubens Gomes Bueno, 691 Santo Amaro - São Paulo, SP Tel.: 0800 112580 www.giroflex.com.br 38 ARC DESIGN
Nas duas pá gi nas, Gi ro flex 63, pro duzida com materiais reci clá veis. Nesta pá gi na, ver são com ro dí zios e duas op çõ es de al tu ra de encosto. Na pá gi na ao lado, ver são empi lhá vel, com pés em tubo contí nuo; no alto, detalhe dos encostos estofados (opcionais)
PUBLI EDITORIAL
VOKO A Voko, uma das primeiras indústrias internacionais de móveis para escritório a atuar no mercado brasileiro, está com sua segunda fábrica já em construção, com previsão de início de atividades para o começo de 2002. A fábrica vai produzir as novas linhas Duo, Nela, Sita e Neo. As poltronas e cadeiras Duo, com design clássico, conferem elegância e dinamismo ao escritório. Encosto e
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assento possuem mecanismos sincro-
harmônico. Ajustes precisos permitem
estudos rigorosos, dentro das especifi-
nizados que ampliam o conforto e a
definir diferentes alturas de encosto,
cações do Centro Europeu de Normas
adaptação ao biótipo do usuário, num
assento e braços, e um sistema opcio-
e padrões alemães de qualidade D.I.N.
desenho ergonômico que favorece a
nal sincronizado regula a tensão entre
Somado a isto, a parceria de desta-
postura correta e confortável.
assento e encosto de acordo com o
que com a Franch e sua equipe de
A linha Nela, por sua vez, apresenta
peso do usuário.
designers reconhecidos internacional-
poltronas e cadeiras com design arro-
Priorizando a adequação a padrões in-
mente demonstra os objetivos da Voko
jado, idealizado para empresas dinâmi-
ternacionais de ergonomia e valorizan-
de alcançar a excelência em seus pro-
cas, sintonizadas aos novos ritmos glo-
do o design, a Voko procura qualida-
dutos. O resultado são peças eficien-
bais. Assento e encosto com estruturas
de, funcionalidade e beleza para seus
tes, que garantem conforto e dão per-
independentes compõem um visual
produtos, desenvolvidos a partir de
sonalidade ao ambiente de trabalho.
Na pá gi na ao lado, no alto, cadei ra Duo com ro dí zi os. Embai xo, cadei ra Nela com ro dí zi os, na ver são sem braços. Nes ta pá gi na, aci ma, mo delo com espaldar alto da li nha Nela. À di rei ta, pol tro na da li nha Duo, design de Gabri el Tei xidó; o reves ti mento op ci o nal em cou ro tor na a pol tro na ain da mais so fis ti cada
VOKO Av. das Nações Unidas, 12.995 – Mezanino Brooklin – São Paulo, SP Tel.: (11) 5507-3730 – vendas@voko.com.br
DESIGN GRÁFICO
g
ráfica utópica 1904-1942. Rússia. Época de revoluções e de ênfase nas artes gráficas como portadoras de mensagens políticas e sociais. Qual a importância da gráfica russa para o design gráfico até hoje? Qual a razão de seu prestígio e repercussão?
No alto da pá gi na, li to gra fia de au tor desconhecido: “apesar do es for ço de três anos de ini migos de todo mundo, a revolu ção anda a pas sos de gigante” (71 x 50 cm - 1919 / 1920). Aci ma, da esquerda para a di rei ta: Vladi mir Maya kovsky, em foto de Alexander Rod chen ko (1924); El Lissitzky (1932); Kazi mir Ma levich (1925); A. Rod chen ko e Var va ra Stepa nova (1922). Ao lado, publicidade com arte de A. Rod chen ko e tex to de V. Maya kovsky ( 15,3 x 15 cm - 1923). Na pá gi na ao lado, li to gra fia de I. Gu mi ner (101 x 70 cm - 1927)
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À esquerda, arte de K. Ma levich com tex to de V. Maya kovsky (56,2 x 39,7 cm - 1914). Abai xo, li no gravu ra de V. Lebedev: “camponês, se não queres ali mentar os lati fundi á rios, ali mente o ‘front’...” (81 x 48 cm - 1920). Na sequência, cartaz em li to gra fia de au tor desconhecido: “Moscou ver melha: coração da revolu ção proletá ria mundial” (71 x 53 cm - 1920)
Da Redação
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De 1904 a 1942, o processo de transformações que leva
nítida influência européia, sobretudo inglesa e francesa,
à eclosão da Revolução Russa e ao surgimento da
com o chamado art nouveau. A partir de 1917, ganha
União Soviética compreende períodos distintos que
prestígio a linguagem gráfica de caráter político popular,
marcam a sua organização social e política, e também
com as “Luboks”, que deram origem às “Rostas” – carta-
estão fortemente ligados a uma série de influências cul-
zes políticos que expressavam a ideologia revolucioná-
turais veiculadas no plano da expressão gráfica.
ria. Durante os anos de 1920, evidenciam-se as experiên-
Nesse sentido, é preciso, primeiro, apontar as experiên-
cias gráficas que revelam a influência de movimentos
cias do grafismo do final do século XIX e início do XX, de
como o cubismo e o futurismo. No final dessa década,
com a tomada do poder por Stalin, verifica-se o declínio das manifestações experimentalistas e a virada conservadora para o realismo socialista, quando os construtivistas perdem a força que tinham na máquina de propaganda soviética, ainda nos anos de 1930.
Acima, da esquerda para direita: fragmentos de cartaz em litografia de G. Klutssis, S. Sienkin e A. Rodchenko (107 x 72 cm - 1924) “V. I. Lenin”. Abaixo, da esquerda para direita: capa da revista “Estudante Proletário”, G. Klutsis (27,3 x 19 cm - 1923); A. Rodchenko, publicidade, colagem com tex to de Mayakovsky (36 x 54 cm - 1923);
Arte e política intimamente ligadas e uma geração de grandes talentos – que se esgotou em um curto espaço de tempo – explicam como as artes gráficas na URSS
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foram capazes de deixar marcada sua força, servindo de base e inspiração para muitos movimentos estéticos futuros, principalmente no campo da própria gráfica. Mayakovsky, Rodchenko, Tatlin, Lissitzky, Malevich, os irmãos Stenberg eram as figuras mais importantes. Nas discussões que esse período da história da arte e da gráfica russa ainda incita, Evandro Salles, curador da mostra “Gráfica Utópica”, realizada recentemente em Brasília e em São Paulo, esclarece no texto do catálogo: “os artistas que compuseram a chamada vanguarda russa tinham como objetivo primordial a busca pelas estruturas formativas do olhar. Olhar este que não apenas vê o mundo, mas antes o define, o conforma, o estabelece enquanto realidade. A arte parece ter sido entendida, então, não apenas como um instrumento de ação ou intervenção sobre a realidade, mas bem mais do que isso, de invenção da realidade”. No vasto movimento da vanguarda ideológica e revolucionária, guiado pelo poeta Vladimir Mayakovsky, são Nesta página e na próxima, três pá gi nas do li vro “Isto” (23,8 x 15,7 cm - 1923), que publicava o po ema homô ni mo de V. Maya kovsky. Com arte de A. Rod chen ko, o li vro foi o pri mei ro ilustrado unica mente com o uso de fo tomontagem
duas as correntes que caracterizam a arte soviética dos anos de 1920: o suprematismo e o construtivismo. O suprematismo, guiado por Kazimir Malevich, propõese à síntese da idéia e da percepção na combinação de símbolos geométricos para chegar à abstração absoluta. O construtivismo funda seu programa na eliminação do conceito de representação na arte, para substituí-lo por aquele de construção da própria arte. A ação artística é educativa e se manifesta no campo da arquitetura, do desenho industrial e do design gráfico, sobretudo por meio dos “mass media”. Os artistas mais representativos desse movimento são Rodchenko e Lissitzky, que no plano formal se baseiam na temática suprematista, para transformá-la em verdadeira arte popular. Seguindo os conceitos do manifesto futurista de Marinetti, de 1913, a tipografia passa a ser entendida não apenas como um mero sistema reprodutivo, mas como a arte da construção e colocação de signos, dotados de qualidades icônicas, simbólicas e semânticas, que conduzem a um novo modo de conceber a peça gráfica. A
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Nesta pá gi na, car tazes (litogra fias) de Geor gii e Vladi mir Sten berg para fil mes nor te-america nos. Aci ma, car taz do fil me “Intolerância” (13 x 108 cm - 1926). Abai xo, da esquerda para a di reita, car tazes (108 x 71 cm) para os fil mes: “Ex presso No tur no” (1929); “Fi lhi nho do Papai” (1926); “O General” (1927). Na pá gi na ao lado, no alto, cartaz em li to gra fia de El Lis sitzky: “To dos para o front, to dos para vi tó ria!” (89 x 59 cm - 1941). Na sequência, cartaz em li to gra fia de V. Ku lagui na: “1905 - Ca mi nho para Ou tubro” (105 x 74 cm - 1929)
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utilização de diversas cores e a valorização dos espaços em branco subvertem a ortogonalidade por meio da compenetração de caracteres irregulares, que se multiplicam e se deformam, gerando novas relações compositivas no espaço bidimensional. Houve um grande desenvolvimento nas experimentações tipográficas e tornou-se explícita a predileção pelos caracteres a bastão, usando fontes com desenhos geométricos. O objetivo dessa nova estética foi o de criar uma linguagem que exprimisse dinamismo e tensão, sem perder a harmonia compositiva. Revistas, cartazes de propaganda política e de publicidade de produtos, bem como o anúncio de exposições, de leitura de poemas, de concertos e de debates culturais, ilustração para livros, cartazes para peças de teatro e de cinema eram os suportes sobre os quais atuavam. A nova linguagem gráfica era, ao mesmo tempo, expressão e veículo de mudanças, modelada graças aos novos sistemas de produção, e servia às diversas ideologias políticas e sociais. Celebrava a máquina e desfrutava de sua capacidade e potencial, mas seu ímpeto de fundo era o desejo racionalista de melhorar a organização e a comunicação da informação. “Definindo em poucas palavras o design gráfico moderno, podemos dizer que ele surgiu de uma força democrática e igualitária que eliminou o frívolo decorativismo, símbolo do privilégio de classe, para sublinhar a função do impresso, no qual não a decoração, mas o objeto era a principal forma de arte”, afirma Owen. ❉
A exposição Gráfica Utópica, realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil, já foi apresentada em Brasília e São Paulo e acontecerá de 26 de fevereiro a 28 de abril de 2002 no Centro Cultural Banco do Brasil RJ
Bi bli o gra fia: Catálogo da exposição Gráfica Utópica - Arte Gráfica Russa 1904-1942. OWEN, Wil li am. Magazine Design. Londres: Laurence King, 1991. FI O RAVAN TI, Gior gio. Gra fi ca & Stam pa. Itália: Za ni chel li, 1984.
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INTERIORES
Jacqueline Terpins acaba de inaugurar seu estúdio e show-room em São Paulo. No es pa ço, pro je ta do pelo ar qui te to Fe lip pe Cres cen ti, está ex pos ta gran de parte da obra da designer, revelando sua trajetória ao longo dos últimos 13 anos
SIMPLICIDADE PLANEJADA Winnie Bastian
Fotos Andrés Otero
Acima, composição com cinzeiros Pixel, lançados em 2001. Juntos, assumem outra dimensão: não mais aquela do objeto utilitário, mas a do objeto-arte. A lapidação côncava reflete a imagem fragmentada e multiplicada, mas as bordas – pla nas – de cada peça reproduzem a imagem real
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Ao lado, vista da porta de acesso, emoldurada pelas co lu nas préexistentes. Abaixo, o nível superior do piso térreo, que abriga o show-room direcionado a lojistas
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Quem entra no Estúdio Jacqueline Terpins pela primeira
patamares de escada – dão a impressão de estar flutuando.
vez surpreende-se: é fato. Admira-se com a generosidade do
Outro aspecto importante diz respeito ao contexto do estú-
espaço – que possui, em grande parte, pé-direito duplo e
dio, instalado no piso térreo de um edifício da década de
enormes colunas –, mas a principal surpresa deve-se a um
1950. Localização privilegiada, mas, ao mesmo tempo, ta-
fator inesperado: o despojamento proposital. Espaço dedica-
refa delicada, pois qualquer interferência deve ser estuda-
do a objetos preciosos, o estúdio foi concebido sem ostenta-
da com cuidado para não denegrir ou descaracterizar o
ção, buscando certa neutralidade, “como se fosse um fundo
estilo arquitetônico da época.
infinito para as peças expostas”, explica Felippe Crescenti,
A maior preocupação no momento do projeto, segundo o ar-
autor do projeto arquitetônico. A cor escolhida – a branca –
quiteto Felippe Crescenti, não era fazer um projeto de restau-
e o uso de formas puras vêm ao encontro dessa intenção.
ro, mas conferir ao espaço uma linguagem contemporânea
A leveza do espaço é sublinhada pela soltura de volumes:
condizente com o edifício. Além disso, deveria haver um diálo-
Crescenti trabalhou o conceito da independência de pla-
go entre o espaço novo e o antigo, motivo pelo qual as colunas
nos, ou seja, planos horizontais e verticais não se tocam,
internas – principal elemento de interação entre o estúdio e o
aparentemente. Dessa forma, as colunas parecem “furar” o
prédio – são marcadas com um tom sutil de bege, cor predo-
mezanino e os planos horizontais – prateleiras, lajes, vigas,
minante do edifício. De sutilezas, aliás, é feito esse projeto.
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À direita, nível superior do pavimento térreo; em pri meiro pla no, a escada, que parece flu tuar, revelando o conceito nor teador do projeto arqui tetônico. A integração entre arquitetura e iluminação se explicita na imagem abaixo: uma “língua” de gesso organiza o mezanino – in tegrando o escritório da designer (ao fundo) e a sala de reu niões (em primeiro plano) – e per mi te conjugar ilu minação direta e indireta
Na página ao lado, vista parcial do nível inferior do piso térreo, tendo em primeiro pla no as pol tronas Quatro e, em segundo, o painel e o banco Pixel; ao fun do, grandes panos de vidro de finem o espaço; a por ta hi perdimensionada e as colunas dialogam por meio da esca la. Ao lado, nível superior do pavi mento térreo: grandes calhas me tá licas aparentes ordenam a ilu minação e conferem lógica ao teto
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Outro aspecto relevante é a multifuncionalidade do espaço.
ou função, permitindo que os espaços comportem diversos
Além do show-room da designer, o estúdio abriga áreas
usos em diferentes situações.
dedicadas a vendas para lojistas, ateliê de criação e escri-
Esse conceito também se reflete na iluminação do estúdio,
tório e, ainda, áreas de apoio, como copa, banheiros, cozi-
planejada para acompanhar todas as mudanças às quais o
nha, depósito. A coexistência de diversas funções simultâ-
espaço – principalmente as salas de exposição – está sujei-
neas resultou em espaços sem divisões rígidas, permitindo
to. Para proporcionar a flexibilidade necessária, há a com-
flexibilidade de uso. A única divisão mais definida é entre
binação de diversos sistemas de iluminação (direta e indi-
ambientes sociais (piso térreo) e privados (mezanino). Os
reta), permitindo a variação dos fachos de luz e também de
dois ambientes do piso térreo (show-room e venda a lojis-
posicionamento e angulação.
tas) são separados apenas por um desnível e as duas por-
Nas áreas de exposição, utilizou-se iluminação direta, pois,
tas de entrada não apresentam diferenciação de hierarquia
além do ambiente ser todo branco – a luz que foca as peças
Abaixo, nível inferior do térreo: pureza de formas e iluminação dramática permeiam todo o espaço, que assim assume um caráter cenográfico. Sob o mezanino, um forro de gesso embute spots cujas lâmpadas podem ser rotacionadas em mais de 60 graus em relação ao eixo horizontal. O resultado é liberdade total na hora de dispor as peças, que não precisam se sujeitar à localização do foco
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se reflete nas paredes e ilumina o ambiente –, o objetivo é
A área localizada sob o mezanino, por sua vez, recebeu lu-
valorizar as peças.
minárias embutidas no forro de gesso, cada qual agrupando
Onde há pé-direito duplo, a iluminação foi trabalhada com
quatro lâmpadas giratórias e inclináveis, também visando a
calhas (trilhos), nas quais as lâmpadas são fixadas e direcio-
liberdade de composição das peças em exposição. Nas de-
nadas conforme o layout desejado. Essas calhas são propo-
mais áreas, iluminação direta e indireta se complementam e,
sitalmente largas para auxiliar na composição de um dese-
aliadas ao uso do dimmer, permitem diversos efeitos de luz.
nho lógico para o teto, antes entrecortado por vigas que não
Projeto de nuances sutis, espaços generosos e iluminação
obedeciam a qualquer modulação. “Criamos duas linhas for-
minuciosa: o conjunto da obra de Jacqueline Terpins não
tes de calhas no nível inferior e duas no nível superior para
poderia estar em outro lugar. “Sempre tive vontade de en-
organizar o teto”, explica Gilberto Franco, responsável, ao
trar num espaço que tivesse várias coisas minhas e eu vis-
lado de Carlos Fortes, pelo projeto de iluminação do estúdio.
se o todo desses 13 anos”, diz a designer. ❉
Nos detalhes abaixo, algumas das sutilezas que constroem o projeto, quase todas ligadas ao conceito da independência entre planos horizontais e verticais (note-se a soltura de volumes). Em sentido horário: escada de acesso ao mezanino; início do corredor do mezanino; relação entre piso, coluna e pano de vidro no piso térreo; no lavabo, pia em vidro e, fazendo as vezes de espelho, luminária Mira
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FIRMA CASA
Na página ao lado, destaque para sofá e pol tronas Onda (design De Pas, D’Urbino e Lomazzi, 1985): movimento e leveza aliados à iluminação fazem do living um lugar privilegiado da casa
O design ganha cada vez mais destaque na composição de espaços, tornando-se o diferencial em ambientes contemporâneos. A Firma Casa, que representa marcas conceituadas do design internacional – como as italianas Zanotta e Moroso – e conta com peças exclusivas de design brasileiro, oferece móveis e objetos que agradam aos mais diversos perfis: discretos ou ousados, clássicos ou vanguardistas. Nas fotos, três ambientes projetados por João Armentano para residências distintas ilustram algumas possibilidades para espaços e gostos diversos. À esquerda, a sobriedade clássica do estar social é quebrada pelo design arrojado do banco Plana, de Massimo Iosa Ghini. No pé da página, preto e branco, cores predominantes no projeto, recebem intervenção do amarelo na Nesta página, móveis contemporâneos se destacam em ambientes predominantemente clássicos: acima, banco Plana, de Massimo Iosa Ghini, 1988; abaixo, poltrona Ardea, design Carlo Mollino, anos de 1950
poltrona Ardea, desenhada por Carlo Mollino na década de 1950, que confere luminosidade à sala. Na página ao lado, “as formas curvas do sofá Onda (design De Pas, D’Urbino e Lomazzi), combinadas à iluminação natural abundante, trazem leveza ao espaço, convidando ao relax”, afirma Armentano.
FIRMA CASA Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.487 São Paulo, SP – Tel.: (11) 3068-0377 Av. das Américas, 7.777, Rio Design Barra, Rio de Janeiro, RJ – Tel.: (21) 2438-7586 www.firmacasa.com.br 56 ARC DESIGN
PUBLI EDITORIAL
DESIGN, COM NOME E SOBRENOME
F0RMA
1903
1918
1925
HILL HOUSE Charles Rennie Mackintosh
RED & BLUE Guerrit Rietveld
WASSILY Marcel Breuer
A identidade, seja de um país, de uma cultura ou de uma pessoa, não é um conceito imutável, estático, parado no tempo. “A identidade se constrói enquanto se vive.” O mesmo sucede com as empresas, sobretudo com aquelas que têm uma história a contar, que são parte da própria cultura da sociedade na qual atuam; sem mudar sua postura e filosofia, evoluem no tempo, se reposicionam no mercado. Falamos da Forma, uma das empresas pioneiras na introdução do mobiliário contemporâneo ou, melhor dizendo, do design no Brasil. O design, ou desenho industrial, com assinatura e data de criação, teve início há cem anos, com o nascimento das indústrias. No início do século XIX – e ainda hoje, pasmem! –, o móvel produzido por artesãos era copiado de grossos catálogos que difundiam estilos ou modas de impérios e reinados: Luís XV, Pompadour, D. Manoel e outros, e mesmo o colonial brasileiro. Algumas peças de mobiliário do final do século XIX e da virada do século XX, no entanto, se destacaram pela sua modernidade, pela sua expressão de vanguarda. Hoje, registradas pela história, pertencem a museus ou a coleções particulares. É o caso dos projetos de arquitetos como Hoffmann, Van de Velde, Loos, Wagner. Aqui surge a pergunta: por que algumas cadeiras são copiadas e outras não? A resposta é simples: são copiadas aquelas que já chegaram ao Brasil, há muitas décadas, com prestígio e status, com grande suporte publicitário e de imagem graças à cessão de seus direitos de produção a grandes empresas internacionais. E quem confere esses direitos? Geralmente fundações ou museus que os detêm, juntamente com a posse dos desenhos e protótipos originais. Mas isto é uma outra história … Na verdade, depois de quase um século de vida, esses móveis entram no gosto popular e, devido às cópias, deixam de ser – no campo do mobiliário – os grandes indicadores de status e cultura. Os novos ícones do design são as peças do novo minimalismo, em materiais inovadores, em plásticos de última geração. Mas se queremos ficar no design histórico, há outras fontes a serem exploradas.
1928
1929
1929
LC4 Le Corbusier, P. Jeanneret e C. Perriand
BARCELONA Mies van der Rohe
MR Mies van der Rohe
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59 ARC DESIGN
1948
1952
BRNO Mies van der Rohe
71 Eero Saarinen
DIAMOND Harry Bertoia
Fo to Ne ls on Ko n
19 55
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1930
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1956
1965
1965
POLTRONA TULIPA Eero Saarinen
ALBINSON Don Albinson
POLLOCK Charles Pollock
UM SÉCULO DE DESIGN a ne J G Ar 1957 EG
Na Forma convivem, lado a lado, as cadeiras emblemáticas do século XX. Hoje, suas novas coleções estão apoiadas no seguinte tripé: a vanguarda do mobiliário; a introdução do design escandinavo – o
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histórico e o contemporâneo; o novo conceito para mobiliário de es-
s en
critórios introduzido pela Herman Miller, dos Estados Unidos. Peças mundialmente famosas, como a cadeira Dinamarquesa, da década Foto Nelson Kon
de 1950, chegam ao Brasil em nova linguagem ou roupagem. A clássica poltrona de Paul Kjaerholm, no entanto, permanece imutável em sua forma perfeita. A Fritz Hansen, da Dinamarca, empresa que as produz, propõe também novas tipologias – biombos leves, em materiais inusitados –, além de cadeiras de Vico Magistretti. A italiana Kartell, líder mundial no mobiliário em plástico, lança o mais cristalino dos materiais artificiais, com banquetas que – por essa razão – receberam o nome de Bohem, e com cadeiras que nos remetem à memória dos anos de 1950. Seu autor? Philippe Starck. Da Herman Miller introduz-se o Resolve, projeto de Ayse Birsel. Tendo lançado nos anos de 1970 o escritório de planta aberta, a Herman Miller revoluciona
19 92
L A BY
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T P el i k an
De
sig
conceitos, mais uma vez, nas plantas que trabalham com ângulos de 120 graus. Assim, anos 1950 com materiais de vanguarda, anos 1950 reeditados em novas tonalidades – é o “way of life” que revisita décadas recentes, trazendo sempre uma nova contribuição, em modelos clássicos ou de vanguarda. A nova Forma, sempre mais ágil, traz os últimos lançamentos da Europa, dita comportamentos, em sintonia com a modernidade internacional. 61 ARC DESIGN
n
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1966
1966
1973
MALITTE Sebastian Matta
PLATNER Warren Platner
RASMUSSEN Morrison and Hannah
n
K2 6 P 195
62 ARC DESIGN
au 2 P
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1976
1983
1984
ZAPF Otto Zapf
WESTSIDE Ettore Sottsass
T-LINE Burkhard Vogtherr
NOVOS RUMOS Mas para o sucesso de uma empresa é preciso algo além de uma bela coleção de produtos. Em 1997 a Forma passa a fazer parte do grupo Giroflex e se revitaliza. Fundada em 1955 por dois pioneiros idealistas, que haviam chegado ao Brasil já impregnados pela cultura européia – Ernesto Wolf, OS 1 ER 200
empresário, e Martin Eisler, arquiteto formado em Viena –, a Forma
P h i l i p p e S ta r c k
foi portadora de uma nova mensagem, reunindo a melhor e mais completa coleção de design do Brasil. A partir da década de 1990, com sua participação no grupo Giroflex, a Forma ganha em expansão e prestígio. Adota um moderno planejamento empresarial, moderniza sua estrutura, investe em design, tecnologia e pessoal. O primeiro passo foi a modernização de sua fábrica situada em Taboão da Serra, São Paulo, bem como dos escritórios junto à fábrica. Estes, agora com planta aberta, se tornam mais ágeis. Na fábrica – hoje toda informatizada – são instaladas células de produção rápida e todo o maquinário é de última geração. Na paralela, o acabamento artesanal continua a receber o mesmo cuidado, e o treinamento é passado de geração a outra, mantendo uma tradição da empresa. De acordo com Markus Schmidt, diretor de marketing e comunicação da Forma, “são as pessoas que nela trabalham que fazem a cultura da empresa”. Assim, a Forma investe em seus funcionários com treinamentos constantes, procurando manter seu quadro está-
Por outro lado, os colaboradores externos são sempre bem-vindos, permitindo o diálogo, propiciando a troca com o mundo fora da empresa. A história da Forma prossegue, com a mesma qualidade no de-
Foto Nelson Kon
vel. Um diferencial que o cliente percebe e aprecia.
sign, com a mesma atenção à sua imagem, antenada nas novas tendências e comportamentos, conservando seu papel de liderança no mercado brasileiro. 63 ARC DESIGN
F E I R A S
Muito
prazer
Bolonha, Itália, sede da feira Cersaie, mostrou de 2 a 7 de outubro todo o prazer que tecnologia e design podem proporcionar. Dos chuveiros às ba nheiras, das louças aos metais, a equação é uma só: conforto = prazer. Sem esquecer problemas reais, como economia de água, redução de medidas e facilidade de instalação.
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Foto Guido Barba Gelata
Angélica Valente
“O banheiro é o que resta de indevassável para a alma e o corpo do homem. Neste templo que serve, ao mesmo tempo, ao deus do narcisismo e ao da humildade, é que a civilização contemporânea encontrará sua máxima expressão, seu último espelho – que é o propriamente dito.” Millôr Fernandes
Na página ao lado, modelo de cabine ducha em fibra de vidro muito utilizada na Europa, que já vem totalmente equipada para o uso, com hidromassagem e duchas em diversas alturas. Ao fundo, esponja natural da Accakappa. Nesta página, equipamentos da Cesana, Itália. Acima, cabine ducha com duas va riantes de chuveiro e, ao lado, ba nheira ergonômica com box agregado
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Recanto relax, o banheiro é o lugar da casa onde livremente cantamos, dançamos, secretamente adoramos nossas formas, choramos escondido e saímos de cara limpa. A esse palco particular dedicamos cada vez mais atenção e nos empenhamos na construção de um refúgio para amenizar nosso cotidiano de maneira prazerosa. Tecnologia e design são hoje nossos aliados nessa façanha. Na Grécia Antiga as casas de banhos públicos eram tão movimentadas quanto as ágoras, e era onde, em completo relax, discutiam-se os problemas da pólis. Nas casas de banho romanas, toda a capacidade artística era empregada. Compostas por inúmeras salas, cada uma correspondente às etapas do ritual: salas frias, quentes, secas, molhadas, salas para o repouso, para a preparação. Mosaicos inspiradores, estatuetas, pinturas murais preciosas faziam do ambiente verdadeiros templos da arte. A partir da Idade Média, a prática passa a ser considerada um ato (quem diria...) impuro e os banhos públicos são abolidos. Nesse momento, quase todo o hábito de higiene é relegado a segundo plano, até mesmo nos locais onde se praticava a medicina. Não é de se admirar o surgimento das grandes epidemias de peste que assolaram a Europa por tantos séculos! Ao contrário dos ocidentais, os povos do Oriente sempre fizeram do asseio íntimo um hábito de prazer, um momento especial do dia. O hindu banhase no Rio Ganges para a purificação. Também os No alto da página, gaveteiro de Philippe Starck para a Duravit, Alemanha, produzido com chapas de polipropileno, na qual o corte das laterais permite um encaixe perfeito. Acima, área molhada do ba nheiro Acquagrande, com piso em módulos de cerâmica, Tatami, que se completa em sua linearidade com a área seca para relax. Projeto de Giulio Cappellini e R. Palomba para a Ceramica Flaminia, Itália
66 ARC DESIGN
Foto Guido Barba Gelata
Nesta página, sabonetes da Lush e peças da Cesana, Itália. À esquerda, painel mostrando a vista das cubas em planta; acima, banheira ergonômica com superfície porta-objetos
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primeiros habitantes das Américas nunca abandona-
um gesto muito tímido. Na verdade, a transformação é
ram o hábito de banhar-se junto à natureza, em rios de
conceitual. Passa-se da tradição calvinista norte-america-
águas claras. Na tradição japonesa, reservam-se espa-
na, na qual banho = expurgo de impurezas, para aquela
ços privilegiados para o banheiro, ao ar livre, em conta-
japonesa, que sabe, há milênios, que banho = prazer.
to com a natureza. O banho de imersão é o ápice do ritu-
Hoje o banheiro é o centro das atenções, lugar da casa
al, e só deve ser feito depois de retiradas do corpo, com
onde se é mais pródigo nos gastos. A Cersaie, feira de
panos úmidos, todas as impurezas. O formato do ofurô
louças, metais e complementos para o banho, realizada
induz à acomodação do corpo em posição fetal, dando
na cidade de Bolonha (veja ARC DESIGN nº 22), é uma
uma sensação de segurança.
demonstração clara dessa nova filosofia. Como no mun-
A noção de higiene só volta a ser assimilada pelos oci-
do das maravilhas, vão desfilando as cabines para chu-
dentais no século XIX, quando Pasteur descobre a fauna
veiro com som, espelho antiembaçante, banquinho, três
malévola escondida debaixo de nossas unhas e em ou-
ou quatro jatos em alturas diferentes, que massageiam
tros tantos lugares. Hospitais, açougues, cozinhas, labo-
ombros, corpo, pés e alma. As banheiras são outro palco
ratórios passam a ser revestidos de azulejos brancos
de atrações: a ergonomia mostra sua importância no pro-
para facilitar e evidenciar a limpeza, que agora é palavra
jeto das pias e, principalmente, das banheiras, de formas
de ordem. O banheiro também seria alvo do expurgo da
arredondadas, que nos acolhem, dando um adeus aos ar-
sujeira – e não é à toa que por tanto tempo preservaria o
caicos e desconfortáveis banhos de imersão. Pensa-se
aspecto frio e hospitalar.
nos pequenos e nos grandes espaços, pensa-se em como
Mais tarde, já no século XX, Le Corbusier propõe a “má-
massagear nosso corpo, com relax ou estímulo, regulan-
quina de habitar”: ainda a função, mas não o prazer.
do a intensidade dos inúmeros jatos d’água. Pensa-se em
A introdução das cores talvez tenha sido o primeiro pas-
como economizar a água!
so para as transformações que se seguiram... mas ainda
Para os grandes espaços, a referência clara é o banho
romano: três, quatro salas compõem o ambiente, com espaço para se despojar, para o banho de vapor, ducha fria, imersão e o que mais se desejar. A área seca terá igual importância, para que depois de um banho relaxante – ou estimulante – o ritual continue com a aplicação de cremes e óleos, prolongando a sensação de prazer. E se o banheiro é do casal, pias e louças sanitárias virão em duplas, evitando a repetição de mais uma das pequenas tragédias do cotidiano! País das maravilhas – mas sem passes de mágica –, este dos novos banheiros! Investimento em tecnologia e coragem de arriscar no design e na inovação compõem a fórmula do sucesso de uma indústria que, na Europa e nos EUA, está crescendo vertiginosamente a cada ano. ❉
Na página ao lado, projeto do arquiteto Norman Foster, que também desenhou todas as peças e armários da série Bathroom Foster para a Duravit e Hoesch, Alemanha, nos quais o desenho de cada peça parte de duas semicircunferências. Nesta página, design Citterio e Brioschi para a Join (acima) e para a Pozzi Ginori (abaixo). Nas duas páginas, bolas aromáticas para banho, da Lush
Quan to tem po leva uma nova idéia, sur gi da no mer ca do in ter na ci o nal, para che gar ao Bra sil? De pen de de seu pú bli co con su mi dor e dos in ves ti men tos ne ces sá ri os para sua im plan ta ção. Im por tar ou de sen vol ver a pró pria in dús tria? Ou tra per gun ta cru ci al que as em pre sas, com mai or ou me nor ve lo ci da de, se em pe nham em res pon der. Publicamos os últimos lançamentos da Cersaie – feira italiana que, além dos revestimentos cerâmicos (veja ARC DESIGN nº 22), expõe os lançamentos em louças, metais e complementos para o banheiro – e mostramos a quantas andam o mercado brasileiro e seus produtos mais recentes e atualizados.
Preços pesquisados em jan / 2002
PANORAMA BRASIL
B A N H E I R O S
INTERBAGNO Lavatório Steel, design J. L. Bianchi Aço escovado 55 cm x 50 cm x 84 cm R$ 1.500,00 www.interbagno.com.br
DECA Ducha Acquamax Diâmetro: 21 cm; espessura: 1 cm R$ 390,00 Atendimento Deca: 0800-117-073
DECA Lavatório quadrado de semi-encaixe Dimensões: 41 cm x 41 cm Toalheiro em aço escovado Preços ainda não disponíveis Atendimento Deca: 0800-117-073
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DOCOL Misturadores para parede Docol Formatta Acabamento cromo acetinado R$ 591,81 Atendimento Docol: 0800-474-333 www.docol.com.br
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PEDRAZZI DESIGN Laundry Basket, design Aukje Peters, Holanda Cesto de polipropileno revestido com peça única de malha por dentro e por fora R$ 105,00 pedrazzi@uol.com.br
DOCOL Misturador DocolTronic Acionamento automático e ajuste de temperatura R$ 843,91 Controle remoto opcional R$ 576,98 Atendimento Docol : 0800-474-333 www.docol.com.br
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COZA Cabide para porta da linha Coza/Forma, design Cristina Zatti Aço inox e polipropileno Altura: 40 cm ou 25 cm R$ 40,00 Atendimento ao Consumidor Coza: 0800-703-8585
TOK STOK Tapete Marolinha, design Valter Bahcivanji Espuma vinílica com arruelas de PVC 50 cm de diâmetro R$35,00 Atendimento ao Consumidor Tok&Stok : 0800-160-161 www.tokstok.com.br
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ASTRA Banheira de hidromassagem Linea Serenade Medidas: 180 cm x 90 cm x 48 cm R$1.270,00 Loja de fábrica Astra: Via Marginal Anhangüera, Km 62 Atendimento ao Consumidor Astra: 0800 146 977
DECA Lavatório de cuba redonda com porta-toalhas incorporado Coleção Deca Master Lançamento em março Preço ainda não disponível Misturador cromado linha Revival R$ 685,00 Atendimento Deca: 0800-117-073 www.deca.com.br
INTERBAGNO Armários linha Orbit, design Ivan Scarpelini Em arvoplac (branco) ou compensado naval (ébano), acabamento em PVC Coluna branca: R$ 1.599,00 Módulo bipartido: R$ 844,00 www.interbagno.com.br
PLANCORP Torneira Nobili para cozinha e banheiro, design Pininfarina, Itália Misturador de temperatura monocomando Preço sob consulta Plancorp: Rua Lopes do Amaral, 98, São Paulo. Tel.: (11)3845 0240 plancorp@prestonet.com.br
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O mate rial para esta seção foi for ne ci do pelo Material ConneXion. Tradução: Winnie Bastian
SYNTHETIC FABRICS
mc# 3446-01
Tecidos trançados ou tricotados em poliéster, náilon, viscose e seda; são transparentes, plissados, amassados, triturados, semelhantes ao tafetá ou à organza, laminados, colados, revestidos, impressos, com desenhos texturizados, sombreados, iridescentes e metálicos. Para moda feminina, cortinas, colchas e tapeçaria
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77 ARC DESIGN
Apoio: Uma Publicação Quadrifoglio Editora ARC DESIGN nº 23, janeiro/fevereiro 2002 Diretora Editora – Maria Helena Estrada Diretor Comercial – Cristiano S. Barata Diretora de Arte – Fernanda Sarmento Redação: Editora Geral – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico – Fernanda Sarmento Chefe de Redação – Winnie Bastian Redatora – Angélica Valente Revisora – Jô A. Santucci Produção – Tatiana Palezi Arte: Designers – Adriana Lago Cibele Cipola Participaram desta edição: Andrés Otero Ethel Leon Fernando Perelmutter Departamento Administrativo: Cláudia Hernandez Apoio Institucional: Departamento de Circulação e Assinaturas: Maurício Grazzini Conselho Consultivo: Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo, diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo; Maureen Bisilliat, curadora do Pavilhão da Criatividade do Memorial da América Latina; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, presidente da Federlegno-Arredo, Itália, consultor de Arc Design para assuntos internacionais Fotolito: Relevo Araújo Impressão: Takano Editora Gráfica Ltda. Papel: Suzano Papel – Couché Reflex Matt (miolo – 150 g) Supremo Duo Design (capa – 250 g) Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos.
Arc Design – endereço para correspondência: Rua Lisboa, 493 - CEP 05413-000 São Paulo – SP Telefones: Tronco-chave: (11) 3088-8011 FAX: (11) 3898-2854 e-mails: Assinaturas Redação Direção de Arte Administração Editora
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