Revista ARC DESIGN Edição 35

Page 1

Capa Final

3/26/04

10:44 AM

Page 1

REVISTA BIMESTRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

ARQUITETURA ARCHITECTURE

R$ 14.00

DESIGN

ARTESANATO HANDICRAFT

2004

2004

DESIGN ILUMINAÇÃO LIGHTING

OSCAR NIEMEYER

Nº 35

Nº 35

OSCAR NIEMEYER

FEIRA DE COLÔNIA

QUADRIFOGLIO EDITORA

ARC DESIGN

COLOGNE’S FURNITURE FAIR


Foto Fernando Silveira

Acima, a visão barroco-surrealista de uma floresta tropical, segundo Ingo Maurer. “Povoando” o cenário, esculturas com luz de Niki de Saint Phalle, em primeiro plano as luminárias Bulbo (1966 e 1972), de Ingo Maurer, e ao fundo a Light Structure, de Maurer com Peter Hamburguer (1970), que utiliza lâmpadas fluorescentes. Foto Fernando Silveira / FAAP

À di rei ta, ce nas do ví deo de Arik Levy, mos tram o bri lho de uma ve li nha de ani ver sá rio; fo tos Arik Levy – L De sign, re pro du zi das a par tir do ca tá lo go da ex po si ção


Esta é uma edição muito rica e importante – para nós e também para vocês. Nela publicamos no suplemento especial – Mestres da Arquitetura – uma entrevista exclusiva para ARC DE SIGN, com OS CAR NI E MEYER, nosso grande arquiteto. Obras emblemáticas e projetos recentes, ainda não exe cu ta dos, de poi men tos so bre di ver sos as pec tos de nos sa re a li da de e um po e ma ”auto-re tra to”. Mas o “desfile” de grandes nomes não termina aqui. Da Alemanha, tivemos a visita de INGO MAU RER, criador das instalações especiais na mostra “Iluminar” – talvez a mais bonita que já se fez sobre a luz – com FER NAN DO E HUM BERTO CAM PA NA como autores do projeto cenográfico. Falando nos irmãos CAM PA NA, é incrível a casa que construíram para a mostra institucional na feira de Colônia, na Alemanha! Ain da no ter re no in ter na ci o nal, vi si ta mos e pu bli ca mos o pro je to CASA TOS CA NA, mos tran do a mar ca re gis tra da da re gião, o Selo Ver de das em pre sas mo ve lei ras des se dis tri to in dus tri al. No ce ná rio bra si lei ro, os de sig ners ÂNGELA CARVA LHO e LARS DI E DERICH SEN pes qui sam e reelaboram o repertório da arte e do artesanato popular de diversas regiões do Brasil. O projeto da Caixa Econômica Federal, Artesanato Brasil com Design, é uma boa oportunidade para se discutir até que ponto, ou momento, a mão do designer deve interferir no gesto primordial, artesanal. Arquitetura e, principalmente, interiores, estes a cada dia encarados com maior profissionalismo, merecem uma seção fixa, Radiografia de um Projeto, na qual o arquiteto ISAY WEIN FELD detalha seu projeto para a loja Clube Chocolate. Na seção dedicada aos jovens arquitetos, outro ensaio crítico de PÔLA PAZ ZA NE SE, que nos revela o projeto brasileiro em diversos Estados ... Uma arquitetura de novo significativa. Também presente a indústria brasileira, com o perfil que aborda dois setores contíguos: os móveis em madeira e o granito brasileiro... com muito valor agregado!

Foto Fernando Silveira

Boa leitura!

Maria Helena Estrada Editora


Impor tante e bela mostra com projeto dos irmãos Campana, reúne o melhor do design com 250 luminárias de criadores famosos e ainda instalações de Ingo Maurer

Maria Helena Estrada

PRESENÇA VERDE NA TOSCANA

ARTESANATO BRASIL COM DESIGN

Maria Helena Estrada

Winnie Bastian

IDEAL HOUSES COLOGNE 2004

TODAS AS LUZES. A LUZ

Maria Helena Estrada

14

24

28

32

A exposição institucional da Feira de Colônia mostrou os projetos experimentais de duas duplas de irmãos: Fernando e Humberto Campana, do Brasil, e Er wan e Ronan Bouroullec, da França

Um projeto da Caixa Econômica Federal propicia a Ângela Car valho e Lars Diederichsen uma releitura do ar tesanato brasileiro e a proposta de um novo reper tório

Uma vi si ta ao proje to Gre en Home reafirma a qualidade do mobiliário desse distrito industrial italiano e mostra os caminhos da cer ti ficação am biental

NEWS

8

REVISTA BIMES TRAL DE DESIGN ARQUITETURA INTERIORES COMPORTAMENTO

MUNDO LOW TECH

50

nº 35, março/abril 2004

PUBLI SCA

54


Uma residência, uma estação de transpor te e um projeto de reurbanização: a terceira matéria da série sobre jovens arquitetos brasi lei ra apre senta proje tos que vão da casa à cidade

60

A imagem gráfica utilizada como representação do novo luxo, “evoluído, culto, inovador”, que não se expressa por meio dos valores materiais, dos materiais raros e caros, mas tem sua imagem ligada ao design

Arquitetura e interiores pela mão de mestre de Isay Weinfeld. Uma loja-conceito onde as surpresas estão em cada canto e de ta lhe

PUBLI PRÓTON

58

EXPEDIENTE

66

*

ENGLISH VERSION

Maria Helena Estrada

OSCAR NIEMEYER: ENTRE A INTUIÇÃO E A RAZÃO

DESIGN GRÁFICO E O NOVO LUXO

42

Da Redação

CHOCOLATE COM SURPRESA

Heloisa Helvécia

RADIOGRAFIA DE UM PROJETO

Pôla Pazzanese

PANORAMA VISTO DO CHÃO (OU A PERSPECTIVA DO SAPO)

36

SUPLEMENTO ESPECIAL

Em entrevista exclusiva, Niemeyer fala de arquitetura, dos temas que lhe são caros e apresenta seus mais re centes proje tos, ainda em andamento

73


ACERBIS


ACERBIS


Anuncio Giroflex

3/26/04

12:55 PM

Page 1


Anuncio Giroflex

3/26/04

12:56 PM

Page 2


POS SIBILIDADES INOXIDÁVEIS As múltiplas faces do aço inox agora estão ao alcance de qualquer profissional. Ou pelo menos boa parte delas. Para isso, o Núcleo de Desenvolvimento Técnico Mercadológico do Aço Inoxidável, Núcleo Inox, em parceira com o Steel Construction Institute, e com o International Stainless Steel Forum, disponibilizaram na internet o conteúdo do CD-ROM “O Aço Inoxidável na Arquitetura e na Construção”. Indicado para quem quer conhecer mais sobre as possibilidades do uso do inox na arquitetura, no design, na engenharia... Acesse: www.steel-stainless.org/steelCAL

EM TEMPO...! Para comemorar 150 anos de existência, a Timex promove o concurso Timex 2154 – The Future of Time. A empresa convida designers do mundo inteiro a encarar a proposta – mais do que ousada – de projetar modelos de relógios para o ano 2154! Os vencedores concorrem a 20 mil dólares em prêmios, além de exposições a serem realizadas nos Estados Unidos. As inscrições ficam abertas até 1 de junho. Outras informações pelo site www.core77.com

SINESTE SIAS O encontro inusitado entre música e design é o que oferece a mostra Imagens da Música, no Instituto Tomie Ohtake. Em

ANFÍBIO HIGH TECH

cartaz até o dia 2 de maio, a exposição reúne 50 cartazes cria-

Mais velocidade e menos arrasto é o que promete o novo

dos por Kiko Farkas para os concertos da Orquestra Sinfônica

traje de natação FastSkin FSII Speedo. Desenvolvido a

do Estado de São Paulo, OSESP, durante a temporada de 2003.

partir de tecnologias de engenharia espacial e da

Segundo o designer, as peças são sua “tentativa

indústria cinematográfica, ele apresenta superfície

de interpretação visual de elementos

ideal para o deslize na água, além de comprimir o

presentes na linguagem

corpo para reduzir a vibração e oscilação da mus-

musical, como ritmo, harmo-

culatura. O resultado, garantem os fabricantes, é

nia, composição, melodia, or-

um ganho expressivo de velocidade e a preser va-

dem, desordem, paralelismos...”.

ção de energia do atleta. Presença confirmada

Imagens da Música – Coleção de

entre os nadadores das Olimpíadas de Atenas.

Cartazes de Kiko Farkas para a

www.speedo.com.br

OSESP: de terça a domingo, das 11h às 20h. Instituto Tomie Ohtake: Av. Faria Lima, 201 (entrada pela Rua Coropés), São Paulo, SP. Tel.: (11) 6844-1900.


RENOVAÇÃO PELA COR A Corona acaba de lançar novas cores para a ducha Ballerina, no mercado desde junho de 2002. A empresa aposta na crescente

DE SIGNED IN PERU

uti lização de cores ale-

A técnica – o Paleteado – é

gres e contrastantes nos

ancestral, reconhecida

ba nhei ros, segundo seu

como uma das manifesta-

presidente Amilcar Yamin.

ções artísticas mais anti-

SAC Corona: 0800 11 29 49

gas do homem sul-america-

www.corona.com.br

no. Sua produção, no entanto, foi atualizada pelo design, mas continua nas mãos das comunidades de artesãos da região de Chulucanas, no nordeste do Peru. Os resultados desse trabalho são peças originais e de alto valor agregado que agora estão à disposição do público

PÚBLICO E GRATUITO

brasileiro. Além de trazer os produtos para o país, a empresa

O Programa de Tecnologia para a Habitação, Habitare, agora dispõe de

Paititi, em parceria com o Consulado Peruano em São Paulo e

uma série de obras para download gratuito na internet. O objetivo da

com a Casa de Cultura Peruana, promove uma série de even-

iniciativa é ampliar o papel do programa como difusor do conheci-

tos ao longo do ano para difundir o trabalho. Mais informa-

mento gerado em seus projetos de pesquisa na área do ambiente

ções no site www.paititi.com.br

construído. As obras publicadas contemplam áreas como Inserção Urbana, Habitação e Encostas, Habitações e Ambiente, entre outros. Financiado pelo FINEP, o programa também conta com o apoio do CNPq e da Caixa Econômica Federal.

PRÊMIO CAUÊ DE ARQUITE TURA

Acesse: http://habitare.infohab.org.br/habitare.htm

O 3º Prêmio Cauê de Arquitetura vai escolher as melhores idéias na aplicação do cimento branco em projetos de arquitetos, urbanistas, paisagistas e decoradores. As inscrições vão de 12 de abril a 14 de junho e podem ser feitas pelos sites

DEBATE NECES SÁRIO

www.caue.com.br ou www.iab.org.br

E porque já era hora de pensar no que foi feito da arquitetura brasileira depois das revoluções propostas por nossos modernistas, chega às livrarias o livro de Roberto Segre, “Arquitetura Brasileira Contemporânea”.

UM A MAIS!

Editado pela Viana & Mosley, com

Diferentemente do que publicamos na matéria “Designed in

apresentação de Oscar Niemeyer, o

Brazil” da edição 34, o número de produtos brasileiros pre-

livro analisa 48 obras realizadas no

miados na edição 2004 do IF Design Awards foi 19 e não 18.

país a partir de 1990, divididas em

Ou seja, o reconhecimento da qualidade do design brasileiro

temas como Inter venção Urbana,

está ainda melhor do que imaginávamos... Quem ficou de fora

Memória e Modernidade, Cultura e

da matéria foi a luminária Giro, de Fernando Prado, inscrito no

Educação e Saúde, Lazer e Produção.

IF sem o intermédio do programa Design & Excellence Brazil.

vmeditora@globo.com

www.ifdesign.de 9 ARC DESIGN


TIPOLOGIAS

PENSAR O DE SIGN

Referência indispensá-

Mais um espaço dedicado à crítica, à produção e ao pensamento do

vel para designers e

design. A partir de 29 de março entra em funcionamento o Centro de

profissionais da comu-

Tecnologia em Design do Senac Rio. Idealizado para estimular o

nicação visual, “Fontes

conhecimento na área, o projeto é fruto da parceria Senac Rio e Casa

Digitais Brasileiras: de

Shopping e vai oferecer cerca de 50 cursos de reciclagem e especia-

1989 a 2001” acaba de

lização profissional, além de prestar consultoria e treinamentos a

ser co-editado pela ADG

empresas e lojas e promover seminários nacionais e internacionais.

Brasil e pelas Edições Rosari. Organizado por Gustavo Piqueira,

Centro de Tecnologia em Design do Senac Rio: Av. Ayr ton Senna,

Priscila Farias e Cláudio Rocha, a obra reúne 270 fontes cria-

bloco C, Rio de Janeiro. Tel.: (21) 2108-8219.

das por 63 designers e oferece um panorama da produção tipográfica nacional nos últimos tempos. www.rosari.com.br

QUALIDADE PREMIADA A empresa brasileira Resin Floor, especializada na execução de pisos em resina poliuretânica, acaba de receber da Material Connexion, N. York, o prêmio de Excelência Design 2003 pelo desenvolvimento

IDÉIAS “ALUMINADA S”

e uso de materiais. O prêmio foi dado por unanimidade pelo júri e

Estão abertas as inscrições para o Prêmio Alcoa de Inovação

agora o piso Resin Floor passa a integrar a coleção mais avançada

em Alumínio. Dividido em duas categorias, o prêmio é des-

do mundo em materiais e pro cessos.

tinado a estudantes de arquitetura, design, engenharia e

Resin Floor: Av. Angélica, 580, cj. 81, São Paulo. Tel.: (11) 3822-0858.

administração. As inscrições podem ser feitas até 25 de

resinfloor@uol.com.br

junho pelo site www.alcoa.com.br. Mais informações pelo e-mail: premioalcoa@alcoa.com.br

ÍNDIO DA COSTA Outra novidade é a publicação de Índio da Costa, uma bela passagem pelos quase 50 anos de carreira do arquiteto gaúcho, radicado no Rio de Janeiro, Luiz Eduardo Índio da Costa. Seus principais projetos arquitetônicos e

PRODUÇÃO EM SÉRIE

urbanísticos receberam o tratamento primoroso da edi-

Exemplo das oportunidades que uma boa parceria faculdade-empresa

ção que, além de fotogra-

pode criar, acontece em São Paulo, na Panamericana Escola de Arte e

fias e dados téc ni cos,

Design, a exposição Job Training Panamericana – Case Arredamento.

comple ta-se com o en-

Em cartaz de 6 a 29 de abril, a mostra apresenta os 35 projetos fina-

saio crí ti co de Rober to

listas do Job Training realizado pela escola com a empresa moveleira

Segre e resenhas de Ale-

Arredamento. Entre os destaques está o sofá-cama Fly, da designer

xandre Werneck. Editado

Maria Lúcia Cardim Tubertini, vencedor do programa, que será produ-

pela Casa da Palavra.

zido e comercializado pela Arredamento ainda este ano.

www.casadapalavra.com.br

A exposição acontece na Panamericana Unidade Angélica: Av. Angélica, 1.900. Mais informações pelo telefone (11) 3661-8511.


dpot

03/03/04

16:14

Page 1


INTUIÇÃO ELETRÔNICA

NAS LI VRARIAS...

O último lançamento da Brastemp

Período fértil para o design e a arquitetura no mercado editorial.

revoluciona o mercado de linha

Entre as novidades, o livro “Ergonomia do Objeto, Sistema Técnico

branca: os refrigeradores equipa-

de Leitura Ergonômica”, de João Gomes Filho, tem como destaque

dos com Sex to Sentido “adivi-

a técnica. Editado pela Escrituras, o

nham” o que deve ser feito, dis-

tex to passeia por universos tão dis-

pensando ajustes. Independente

tintos como a engenharia industrial

da quantidade de alimentos armazenada, das oscilações

e a comunicação, do ponto de vista

ex ternas de temperatura ou de quantas vezes a por ta é

da ergonomia do objeto, cujo objeti-

aber ta, o Sex to Sentido adapta as configurações do refri-

vo, segundo o autor, é “adequar os

gerador para garantir a performance máxima. Outras faci-

objetos aos seres vivos, no que se

lidades: modo Festa, que garante o resfriamento mesmo

refere à segurança, ao confor to e à

quando a por ta é aber ta muitas vezes; e modo Férias, que

eficácia no uso”.

mantém o freezer funcionando normalmente e reduz o

www.escrituras.com.br

resfriamento do refrigerador ao mínimo. O produto também inova na forma: por fora, linhas retas,

SOTAQUE CARIOCA

com um chanfro central, vão na contracorrente do que há no

Design e arquitetura cariocas mostram suas caras até o dia 31 de

mercado; por dentro, prateleiras e por ta-latas com altura

janeiro de 2005, na 6 ª edição da Mostra Artefacto Rio. O evento, que

regulável e ar frio adicional direcionável – para manter

acontece no CasaShopping, na capital fluminense, reúne o trabalho de

geladíssimas as latinhas armazenadas na por ta.

54 arquitetos em 40 ambientes especialmente desenhados para a

O projeto consumiu dois anos de trabalho da equipe de

mostra. A homenageada da vez é a decoradora Tita Burlamaqui. Abaixo,

design industrial da Multibrás (empresa que fabrica as

ambiente criado por Alessandro Sartore, Fábio Bouillet e Rodrigo Jorge.

marcas Brastemp e Consul) e um investimento de 20 mi-

Mostra Artefacto: Av. Ayrton Senna, 2.150, bloco K. Rio de Janeiro, RJ.

lhões de dólares, o maior já realizado pela Whirpool –

Tel. (21) 2429-8060. Horário: segunda, das 10h às 22h. De terça a

grupo ao qual per tence a Multibrás – no desenvolvimen-

sábado, das 12h às 22h. Domingo, das 16h às 21h. Entrada franca.

to e lançamento de um produto. Os refrigeradores com Sex to Sentido serão expor tados para Estados Unidos, Europa, Ásia, Austrália, África e todos os países da América Latina. “Estamos fabricando um produto para atender às necessidades de consumidores no país e no exterior”, afirma Newton Gama, gerente geral de design industrial da Multibrás. www.brastemp.com.br


arqdesign2

3/18/04

3:22 PM

Page 1

RST 470 Km 220 | Tel: [54] 2102 2200 | Bento Gonçalves | RS

PROJ. E AMBIENTAÇÃO ARQ. EDGAR CASAGRANDA - FOTO ROALI MAJOLA

www.sca.com.br

S. C. A . A M B I E N T E S P L A N E J A D O S. O E S T I L O Q U E M A I S C O M B I N A C O M O S E U.


TODAS AS LUZES. A LUZ O título, “Iluminar”, não traduz de forma total essa exposição, ela vai além. Lembrando de “Todos os Fogos. O Fogo”, de Cortázar, nos parece que não poderia haver outro nome. Ela nos fala de luz, de sombras e penumbras, de sensibilidade, de fantasia, de emoções e de tecnologia. É o grande espetáculo de todas as luzes Maria Helena Estrada / Fotos Fernando Silveira – FAAP

14 ARC DESIGN


Uma coleção de 250 luminárias – do velho bulbo incandescente ao LED, de 1920 a 2004 – desenvolve o tema “da sombra à luz e retorno” em uma sequência que tem início com a Eclipse (Vico Magistretti), alinhada em série, abre-se com o espaço da Via Láctea e se encerra com o Paraíso das Lâmpadas (ou das “ampoules”, a lâmpada símbolo de Ingo Maurer), em uma floresta surrealista tropical. Ao longo da mostra – que se desdobra ainda em Fantasmas e Ectoplasmas; Fragmentação; Articulação –, instalações especiais de Ingo Maurer sublinham a cenografia criada por Fernando e Humberto Campana. Estes deram a base, o chão em placas de cobre, e a concepção do espetáculo. No conjunto e nos detalhes a cenografia domina, aliada a sons e ritmos, jogos de luz que se alternam, a completar o espetáculo. Entrevistamos Ingo Maurer e Fernando e Humberto Campana, estrelas do espetáculo que organizaram a seis mãos essa viagem à luz.

Nas duas pá gi nas, vistas da Via Lác tea, am bi ente reu nin do lu mi ná rias que evo cam o uni ver so es pa cial e tam bém aque las que “ne gam a luz”. Aci ma, des ta que para ins ta la ção com o sis te ma sus pen so Ya Ya Ho (ao fun do), cria do por Ingo Mau rer em 1984 e ex ten sa men te co pia do até hoje; abai xo deste, ou tras cria çõ es de Mau rer: mesa, ban co e lu mi ná ria em pla cas de vi dro in cor po ram di ver sos LEDs (2003). Na foto à es quer da, lu mi ná ria Ufo, de Ver ner Pan ton (1975) cer ca da por pe ças de Le Cor bu si er, Al var Aal to, Achil le Cas ti gli o ni, Gae Au len ti, Ver ner Pan ton e Gae ta no Pes ce, en tre ou tros


Aci ma, três cu bos flu tuan tes em pa pel abri gam em seu in te ri or as lu mi ná rias da li nha MaMo Nou chies, de Ingo Mau rer. Abai xo, vis ta do se tor Frag men ta ção, com di ver sas lu mi ná rias de Ver ner Pan ton (dé ca das de 1960 e 1970), além da PH Ar ti cho ke, de Poul Hen ning sen (1958) e da Por ca Mi se ria, de Ingo Mau rer (1994). Na pá gi na ao lado, vis ta par ci al do se tor Ar ti cu la ção, com a Mo loch, de Gae ta no Pes ce (1972) e a Su per Ar chi mo on, de sign Phi lip pe Starck (2000), em pri mei ro pla no


ARC DESIGN – Ingo, você é sempre chamado de “poeta da luz”,

poética. Comecei procurando formas, mas logo descobri que a luz

muitas vezes esquecendo que você também é um mestre da tec-

é o mais importante. Hoje combino forma e luz, calculo a sombra.

nologia. Claro, um não exclui o outro. Mas você pode nos dizer

AD – Sua primeira luminária foi um grande bulbo, e ao longo de

em que momentos apela para um ou para outro desses aspectos?

sua carreira a lâmpada crua, despojada, é uma idéia recorrente.

Ou este é um processo inconsciente e simultâneo?

De onde vem essa paixão?

INGO MAURER – Acho que existe uma simbiose entre poesia e

IM – Gosto das coisas honestas, compreensíveis, não-cobertas.

indústria. Primeiro nasce a idéia, mas de forma inconsciente. Com

Você sabe a tradução de “abat-jour”? Significa “abattre le jour”,

minha experiência e minha vontade, sei com que técnica devo tra-

matar o dia! Minha primeira luminária é um grande bulbo, e essa

balhar. Muitas vezes meus técnicos dizem: “você está completa-

é a parte final da mostra, o Paraíso das Lâmpadas, quase todas

mente louco, é impossível fazer isso”; mas sou persistente. A arte

incandescentes, algumas fluorescentes. E todos estarão ali pre-

em meu trabalho é a de criar energia, a de desafiar as pessoas,

sentes: Castiglioni, Sottsass, De Lucchi, Grcic, Arad, Lovegrove,

trazê-las para o presente. Uma tecnologia nunca usada antes

Starck, Gino Sarfatti, Nicki de Saint Phalle, Martine Bedin, Mathieu

torna o objeto misterioso. Na “Wo Bist Du Edison?”, uma holografia

Mercier, Carlo Bellini & Marco Ferreri, minhas próprias

plana de 360 graus, por exemplo, levei 20 anos no desenvolvi-

luminárias, além de mais palmeiras, tigres e até um elefante sim-

mento. E a poesia apenas acontece, confio em meu instinto. A

bolizando a exuberância da floresta, tudo em meio a muito verde.

cada dia a tecnologia está se desenvolvendo mais e melhor,

AD – A tecnologia na iluminação é sempre propiciada pelo

aplicar a expressão poética é muitas vezes difícil, mas pode-se

desenvolvimento de novas lâmpadas, de novas fontes de luz.

jogar com a expressão mínima, e a técnica também pode se tornar

Mas seus projetos envolvem aspectos tecnológicos que são


criações suas. Como se processa esse desenvolvimento?

Queríamos proporcionar às pessoas uma sensação agradável.

IM – Sim. Carrego idéias comigo por muitos anos e, em um dado

Quando elas saem, acho que seus corações estão mais quentes. O gra-

momento, penso, “esta é a hora exata para executá-la”, e é o que

tificante em minha vida é poder tornar as pessoas felizes com a luz.

faço agora, para minha mostra no Salão do Móvel, em Milão. Ainda

AD – Você já veio diversas vezes ao Brasil e já sabia dançar a

não sei se conseguirei terminá-la, mas não gosto de me repetir,

lambada antes dos brasileiros do Sul. O que é o Brasil para você?

gosto de cruzar fronteiras, de arriscar. Sou apaixonado pelo traba-

Um país onde vale a pena investir seu tempo, ou realizar projetos

lho, é a paixão que me leva sempre adiante, e tenho uma equipe

aqui é tarefa muito difícil de concretizar?

fantástica, que me permite sempre criar o novo, caso contrário o

IM – A única dificuldade com o Brasil é a distância, e também

trabalho se torna aborrecido. Meu prazer é realizar experiências

uma diferença de mentalidade. Muitas vezes tenho vontade de

novas, como a que concluí agora, um papel de parede de LEDs.

produzir aqui alguns projetos, porque as pessoas precisam ganhar

AD – Iluminação, luminotécnica, são termos áridos. Como tornar

experiência e precisam trabalhar. Mas ainda é muito difícil. Estou

emocionante uma exposição de aparelhos de iluminação? Qual

desenvolvendo diversos projetos aqui, e um deles, quando ficar

foi a idéia de base para as instalações em “Iluminar”?

pronto terá, realmente, uma expressão muito forte. Por outro lado,

IM – Posso dizer que a base foi a idéia de leveza. Leveza e sur-

eu amo o Brasil. São Paulo é uma cidade formidável, é rápida,

presa. Acho também que uma exposição deve ser um divertimento.

neurótica, anônima. E os brasileiros sentem, convivem de modo

E essa mostra não é apenas sobre luminárias, mas sobre a luz

diverso dos europeus. Se eu fosse mais moço, tentaria fazer

como um todo, para fazer com que as pessoas pensem mais na luz.

minha vida aqui. O país tem alguma coisa muito, muito positiva.

À es quer da, Mozz kito, design Ingo Mau rer (1996); aci ma, Ar ma dil lo Light, design Ron Arad (1987). Na pá gi na ao lado, à es quer da, Ul tra fra go la, design Et to re Sottsass (1970); na se quên cia, Por ca Mi se ria, design Ingo Mau rer (1994)


Ingo Maurer já formou dupla com os irmãos Campana

Em todo o percurso, um caráter iniciático”, concluem.

há alguns anos, em uma exposição conjunta no MoMA,

Mas há ainda um elemento central, como um grande ovo

N. York. Desde lá, a frequência é a mesma. “Ingo é um

espiralado, é a seção Fantasmas e Ectoplasmas, de onde

feiticeiro”, dizem os Campana, “ele é o mago Merlin”. E

parecem nascer as luminárias translúcidas, como as

só assim, com essa afinidade de almas, essa mostra

coleções de Noguchi e Branzi. Nas duas laterais, mais um

poderia ter sido realizada.

espetáculo pontual: Articulação, que valoriza a silhueta

“O cenário da exposição quer contar uma história intri-

das luminárias; e Fragmentação, com grandes lustres de

gante sobre a luz, e que deveria partir da própria

Verner Panton; e a Porca Miseria, de Ingo Maurer.

cenografia. Agir de modo menos técnico e mais subje-

“O piso de cobre é o elemento unificador, ele insere

tivo, que é como abordamos todos os projetos que nos

de imediato o visitante numa espécie de nevoeiro de

são propostos”, dizem os irmãos designers.

luz, quente e luminoso”, explicam Fernando e Hum-

“Na Via Láctea, quisemos fazer imergir, fisicamente,

berto Campana.

o visitante no espaço, introduzi-lo na falta de luz.

“Acho que uma luminária apagada é apenas a metade

Com o laranja, mais quente, fizemos a transição, até

de uma luminária”, frase de Michele De Lucchi, um dos

chegar ao excesso de luz da paisagem verde. Depois

designers apresentados na exposição e entrevistado

o fizemos passar por um corredor negro com 25 metros

para o minucioso catálogo, que nos dá a chave de leitu-

de comprimento e um vídeo de Arik Levy ao fundo.

ra dessa magnífica mostra. ❉


Nes ta pá gi na, vis tas da se ção Fan tas mas e Ec to plas mas. Aci ma, em pri mei ro pla no, K Se ri es, de Shi ro Ku ra ma ta (1972), se gui da pela lu mi ná ria De light, de Frans van Ni eu wen borg e Mar tijn Weg man (1980), pela Nesso, cria da pelo gru po Cit tà Nu ova (1965), pela Pi pis trel lo, de Gae Au len ti (1965), e pela Chi me ra, de Vico Ma gis tret ti (1969). Na foto à di rei ta, lu mi ná rias da li nha Aka ri, design Isa mu No gu chi (dé ca da de 1950). Abai xo, des ta que para a lu mi ná ria de piso La Re li gieu se, design Pi er re Cha re au (1923)


Nesta página, vistas do Paraíso das Lâmpadas, a selva amazônica surrealista de Ingo Maurer, onde reinam os bulbos. Acima, destaque para o Omino, de Michele De Lucchi (1981) e para as luminárias de piso Luminator (à extrema esquerda), design Achille e Pier Giacomo Castiglioni (1955), e ao lado desta, a 1063, de Gino Sarfati (1954). Na foto abaixo, destaque para a escultura iluminada Thoeris Hippo, de Niki de Saint Phalle (1990), e para o pendente Light Structure, de Ingo Maurer e Peter Hambuguer (1970), ambos no centro da imagem; no alto da foto, à esquerda, pendente Taraxacum S, de Achille Castiglioni (1988), parcialmente encoberto pelo 85 Lamps, de Rody Graumans / Droog Design (1993)


“ILUMINAR: DESIGN DA LUZ” 18 de fevereiro a 2 de maio de 2004 Museu de Arte Brasileira – FAAP Curadoria: Sarah Chiarella Vignon e Stéphane Corréard Cenografia: Fernando e Humberto Campana Instalações especiais: Ingo Maurer Iluminação: Maneco Quinderé Composição Musical: Daniel Ciampolini Coordenação Geral: Dominique Besse Assistente de Curadoria: Dorothée Deyries Assistente de Cenografia: Leo Kim (Estúdio Campana) Coordenação FAAP: Fernanda Celidônio Projeto Executivo Arquitetura: Pedro Mendes da Rocha e André Wissenbach (Arte 3) Instalações: Ingo Maurer & Team – Gabi Kümmerlin, Hagen Sczech, Sebastian Utermoehlen, Michel Semples A exposição Iluminar contou com as coleções do Centro Georges Pompidou (Paris), do Fundo Nacional de Arte Contemporânea (Paris), do Museu de Artes Decorativas (Paris) e do Vitra Design Museum (Weil am Rhein), além de peças exclusivas emprestadas por designers como Ron Arad e Michele De Lucchi e outras em produção industrial, fornecidas por galerias e colecionadores estrangeiros e, no Brasil, pelas empresas Dominici (Flos) e La Lampe (Artemide)

Aci ma, ba nhei ro-ins ta la ção emol du ra o bul bo nu, o qual Mau rer de fi ne como “o en con tro per fei to en tre a in dús tria e a po esia”. Abai xo, o cor re dor de saí da exi be o fil me do cu men tá rio “S’éclai rer” (Se ilu mi nar) da sé rie His toi res d’Ob jets, de Fran çois Dar mon, co pro du zi da pelo Cen tro Ge orges Pom pi dou, a ca deia de te le vi são Pa ris Pre mi è re, a pro du to ra Les Films d’Ici e Cré a ti va Agent Con sul tants



IDEAL HOUSES COLOGNE 2004 Confronto entre irmãos, as Casas Ideais projetadas por Fernando e Humberto Campana e por Erwan e Ronan Bouroullec foram o grande destaque na IMM Cologne 2004

Winnie Bastian / Fotos Koelnmesse

Nas duas pá gi nas, vistas da Ideal Hou se “na tu ral” pro posta por Fer nan do e Hum ber to Cam pa na na IMM Co log ne 2004. Desta que para a com bi na ção de tex tu ras: ri pas de ma dei ra (nas pa re des e sob o piso po li u re tâ ni co) e pa lha (na “ilha de me di ta ção”, na foto acima) são os prin ci pais com po nen tes des ta “via gem ao uni ver so Cam pa na”. A gran de es ca da con duz os vi si tan tes di re ta men te ao se gun do pavi men to da fei ra

24 ARC DESIGN


25 ARC DESIGN


Cerca de 120 mil visitantes compareceram à feira do móvel de Colônia, Alemanha, realizada entre 19 e 25 de janeiro. O ponto alto foram as Ideal Houses, projetadas, este ano, por dois pares de irmãos: os franceses Erwan e Ronan Bouroullec e os brasileiros Fernando e Humberto Campana. Campana e Bouroullec, apesar das origens e influências bastante diversas, são unânimes ao afirmar: a casa ideal deve atender às expectativas e necessidades daqueles que a ocupam e, por isso, está em constante mudança. Apesar dessa premissa básica em comum, a visão de casa ideal das duas duplas é bastante diversa. A proposta dos Bouroullec privilegia a agilidade na transformação dos espaços: tapetes que podem ser aumentados ou diminuídos por meio de zíperes, paredes que poNas duas pá gi nas, vis tas par ciais da Ide al Hou se de Er wan e Ro nan Bou roul lec: um gran de jogo de en cai xe. Aci ma, no de ta lhe, “pa re de” com pos ta por gram pos e al gas “fake”, plás ti cas, co nec tá veis. Abai xo, des ta que para o ta pe te re con fi gu rá vel por meio de zí pe res. Na pá gi na ao lado, gran des favos bran cos em po li e ti le no for mam as pa re des in ter nas da casa

26 ARC DESIGN

dem ser desmontadas e reerguidas em outro lugar. Uma espécie de quebra-cabeça gigante, a casa idealizada pelos designers franceses tem grande parte dos fechamentos formada por centenas de milhares de pequenas peças plásticas conectáveis: grampos vermelhos, brancos


e cinza, além de elementos plásticos que lembram algas

Brasileirinho, de Maria Bethânia, e pelas luzes coloridas

marinhas. Algumas “paredes” são formadas por grandes

da luminária Yang (design Carlotta de Bevilacqua para a

favos brancos em polietileno, empilhados, permitindo

Artemide), o visitante pode relaxar no Meditation Pod

rápida reconfiguração.

(misto de poltrona e cama, design Steven Blaess para a

Em contraponto à casa sintética dos irmãos Bouroullec,

Edra), ao mesmo tempo que sente o aroma da palha.

a “casa ideal” proposta por Fernando e Humberto Cam-

Destaque também para a grande “mesa-horta”, com ve-

pana é quase toda construída com materiais naturais,

getais orgânicos. Por trás da imagem de impacto, a sutil

sendo a madeira o principal deles: toda a estrutura da

indução a uma mudança de comportamento. “É preciso

casa é formada por ripas de pinus unidas aleatoriamen-

repartir as riquezas”, comenta Humberto Campana.

te umas às outras, remetendo à cadeira Favela, conhe-

No piso, os mesmos sarrafos de madeira das paredes são

cida criação dos designers.

recobertos com duas camadas de resinas poliuretânicas

As diferenças em relação à proposta dos irmãos france-

transparentes: Desmodur e Desmophen, da Bayer – as

ses não param por aí. À transparência e volatilidade dos

únicas matérias-primas sintéticas de alta tecnologia na

espaços propostos pelos Bouroullec, opõem-se a densi-

Ideal House by Campana, que serviram para destacar

dade e a firmeza da estrutura proposta pelos Campana.

ainda mais a “naturalidade” de todo o espaço proposto

Em vez de centrar o projeto na praticidade, os designers

pelos designers paulistas. “Pensamos em uma casa que

brasileiros privilegiam a satisfação dos sentidos: no

remetesse à nossa infância; a idéia era soltar a memória,

centro da “casa”, uma ilha de meditação, conformada

mas com um olhar contemporâneo”, afirmam.

por duas grandes paredes curvas de palha, se torna

Um verdadeiro espetáculo em meio à gelada sisudez

um centro de atenção. “Embalado” pelo som do CD

de Colônia! ❉

27 ARC DESIGN


Artesanato Brasil com Design Um projeto da Caixa Econômica Federal levou os designers Ângela Carvalho e Lars Diederichsen a conhecer o Brasil, ou melhor, esse Brasil do Norte, Nordeste e CentroOes te que ain da se acre di ta ser o mais rico em tra dições culturais e em expressões artesanais. O resultado é uma bela coleção na qual permanece a mão ar te sa nal e, ao mes mo tem po, se per cebe a sensibilidade do designer Maria Helena Estrada / Fotos Rodrigo Montenegro Artesanato de raiz; artesanato para turistas; produtos urbanos construídos de modo artesanal? Qual seria o caminho de valorização desse fazer que encontramos por todo o Brasil? Radicalizar com o trabalho de designers capazes de realizar uma transposição de linguagem trazendo – por meio de um novo projeto – o objeto puramente artesanal ao universo do design? No pro je to Ar te sa na to Bra sil com De sign, Ângela Car va lho e Lars Di e de rich sen passeiam entre essas diversas vertentes e, a verdade é que, qualquer que seja a linguagem, a dupla artesanato/design entrou na moda. Pergunta-se: o que é válido e mais interessante? Melhorar um pouquinho a qualidade do produto final, dando condição de vida também um pouco melhor ao artesão? Ou “desgrudar” o novo objeto de sua raiz original, trazendo-o para um universo contemporâneo ao introduzir um vocabulário atual? Na entrevista com Ângela Carvalho sobre seu novo projeto Artesanato Com Design, muitas dessas questões são respondidas. 28 ARC DESIGN


No alto das duas pá gi nas, da es quer da para a di rei ta: te ce lãs da As so ci a ção Ar te sa nal Xi que-Xi que (Pe dro II – PI) en ro lan do fios; a ar te sã Ma ria Cân di do na ofi ci na do Cen tro Cul tu ral Mes tre Noza (Ju a zei ro do Nor te – CE); Ângela Car va lho e Lars Di e de rich sen en tram em ação; mes tre on cei ro Jú lio das On ças (Cam po Gran de – MS)

Acima, à direita, bro che de ouro em fi li gra na pro du zi do na Ou ri vesa ria Mes tre Ju ve nal (Na ti vi da de – TO) re presen ta a flor do Ca pim Dou ra do, o “ouro do cer ra do”, que tam bém dá for ma à em ba la gem da jóia. Na pá gi na ao lado, à es quer da, ar tesa na to figu ra ti vo em argi la (Ca rua ru – PE); à di reita, mo ringa e copo em ce râ mi ca com dese nhos ru pestres (La jea do – TO)

29 ARC DESIGN


Ao lado, caixas-brinde com tábua de queijos em madeira reaproveitada e osso bovino (Jardim – MS) e com tecido pintado à mão no Atelier Iza do Amparo (Olinda – PE). No pé da página, peixe em cerâmica produzido na oficina de Mestre Nuca (Tracunhaém – PE), famoso no Brasil e no exterior por seus leões com cara de cachorro

ARC DESIGN – Como surgiu a idéia do projeto? ÂNGELA CAR VALHO – Surgiu da necessidade da Caixa Econômica Federal que buscava alternativas para o universo dos brin des. A par tir de con ver sas com Lars Di e de rich sen, com comunidades artesãs e com a área de marketing da Caixa, surgiu um formato cujo objetivo foi transformar o brinde numa oportunidade de divulgar a missão e o compromisso da Caixa com ações sociais e preservação da cultura. Nossa proposta foi unir o moderno e o tradicional, o conhecimento dos designers à arte do artesão na criação de uma coleção exclusiva que unisse valor estético e cultural e agregasse conteúdo social e emocional. AD – Como foram definidos as regiões a serem visitadas, os núcleos onde atuar e os materiais? AC – Foram estabelecidas algumas prioridades. Geográfica: comunidades urbanas ou rurais das Regiões Norte, Nordeste e

30 ARC DESIGN

Centro-Oeste; Incentivo à Geração de Renda: artesanato como base do seu sustento ou que dele dependam para maior inserção social e econômica; Valor Cultural: trabalho artesanal que contenha originalidade, que espelhe a cultura brasileira e comunique nossas raízes; Segmentos sociais: grupos sociais específicos que estejam conquistando por meio do trabalho artesanal a sua cidadania; Organização: capacidade mínima de organização e de compromisso do grupo de artesãos; Capacidade de Produção: em relação ao prazo estabelecido para o projeto (tivemos menos de quatro meses para cumprir todas as etapas do projeto); Qualidade: aspectos estéticos, de trabalho manual e de acabamento do produto final. Como parâmetro complementar, foi avaliada a adequação ao tema escolhido para a coleção: Gente, Bichos, Flores e Frutos do Brasil. Na pesquisa de campo visitamos 8 Estados,15 cidades e 25 comunidades.


À esquerda, alguns dos brindes do projeto Artesanato Brasil com Design. Abaixo, tábua de frios e talheres em madeira e pedra-sabão rosa (Tepequém – RR)

AD – Quais as principais diferenças quanto ao desenvolvimento, ou seja, o amadurecimento, a qualidade e a modalidade da produção que vocês encontraram, em cada região? Quais os materiais escolhidos? AC – Trabalhamos com todos os tipos de materiais e téc nicas. Cada região ou grupo é diversa. A beleza do ar tesanato está exatamente na maneira peculiar e incomparável como cada ar tesão trabalha. AD – Onde vocês interferiram com o olhar e a mão do designer e onde deixaram o artesanato se expressar no próprio es tágio em que se encontra? Por exemplo, nas jóias e nos quadros de cerâmica, res pectivamente. AC – Ti ve mos dois ti pos de atu a ção: a de fi ni ção do ob je to, ou seja, ca sos como a ce râ mi ca fi gu ra ti va de Alto do Mou ra, en tre ou tros, onde es co lhe mos o ob je to (o olhar do de sig ner) e cri a mos um ce ná rio ca paz de va lo ri zar a obra des ses

ar te sãos. E tam bém a cri a ção con jun ta, como no por ta-jói as e no bro che de ca pim dou ra do, onde nos sa in ter fe rên cia foi mai or. Bus ca mos in se rir os con cei tos de de sign, agre gan do va lor ao produto. AD – Quais os canais, pensados ou já criados, para escoar essa produção? AC – Um ca nal se ria o dos pon tos-de-ven da de mu seus e fun dações culturais nos diferentes Estados. A Caixa está desenvolvendo uma exposição itinerante que também será mostrada nas embaixadas no exterior. As embalagens e toda a progra mação visual criada para a coleção por André de Castro valorizaram e deram a identidade ao projeto. AD – E este terá con ti nu i da de? Co bri rá as mes mas áre as geográficas ou avançará por todo o Brasil? AC – Já es ta mos pen san do na pró xi ma eta pa que de ve rá cobrir outras regiões do Brasil. ❉

À esquerda, xi lo gravu ra de J. Borges (Be zer ros – PE). Co nhe ci do gravu ris ta e cor de lis ta, Borges teve seu tra ba lho es co lhi do para ins pi rar a pa dro na gem uti li za da na iden ti da de vi sual do pro je to. Acima, uma de suas ma tri zes es cul pi das

31 ARC DESIGN


PRESENÇA VERDE NA TOSCANA Em sua terceira edição, o projeto Green Home reúne empresas do setor moveleiro da Toscana, Itália, e designers na busca pela produção em sintonia com o desenvolvimento sustentável, sugerindo novos caminhos para o design ecologicamente correto – e economicamente viável Maria Helena Estrada / Fotos Divulgação

32 ARC DESIGN

A idéia é simples: se uma in-

As empresas que adotam a nova forma de produção

dústria depende de recursos

levam o selo Green Home e a credibilidade – um valor

naturais para sua produção,

agregado? – de quem se preocupa com o mundo ao redor.

há que encontrar a forma

Como resultado dos primeiros três anos de trabalho, o

adequada de explorá-los para

Consorzio destaca a relação estabelecida com os designers

sobreviver. Um pouco além,

que se envolveram no projeto, posicionando seu papel

para que se desenvolva... Foi

nas questões ambientais e disseminando a cultura de

para transformar essa idéia

sustentabilidade entre as companhias do setor.

em fato que o Consorzio

Em entrevista para a revista Casa Toscana, o represen-

Casa Toscana se uniu à Universidade de Florença e ao

tante da empresa Toncelli, que recebe o selo do proje-

Instituto Ambiente Itália no projeto Green Home, uma

to, declarou estar convencido “de que a preservação

iniciativa pela definição de parâmetros de produção

ambiental é crucial para o futuro do nosso setor”. Con-

para as indústrias de mobiliário dessa região italiana,

versa de eco-ativista? Uma nova onda politicamente

visando o desenvolvimento sustentável. O projeto é

correta? Talvez apenas a constatação (um pouco tardia,

um dos integrantes do programa de implementação

é verdade) de que a escassez de matéria-prima é fato e

da política ambiental da União Européia, Life Environ-

que, para continuarmos por aqui, é preciso alterar algu-

ment. Seu objetivo? Reduzir os impactos ambientais

mas rotas adotadas... Nessa nova direção, Alessandro

da produção sem abrir mão da qualidade do produto

Giari, presidente do Casa Toscana, reforça, em prefácio

e de sua viabilidade econômica. Em uma palavra, sem

do livro “Progettare e Produrre per la Sostenibilità”, que

abrir mão do design.

reúne artigos e ensaios sobre a experiência do projeto,

No início dos trabalhos, em 2001, 15 empresas da região

que “essa forma de encarar a produção ainda está dan-

se uniram à proposta e desenvolveram 15 protótipos,

do seus primeiros passos, mas é fundamental para im-

identificando possíveis reduções dos impactos no pro-

pulsionar o desenvolvimento do setor moveleiro toscano,

cesso, desde a extração da matéria-prima até o descarte

tanto em termos de qualidade

do produto final. O trabalho resultou em uma metodo-

quanto de competitividade”.

logia de produção que envolve escolhas simples, como

Parece que o óbvio final-

o uso de madeira certificada, a opção por tintas de base

mente começa a ser assi-

aquosa, a utilização do aço no lugar do alumínio e, claro,

milado e transformado

a otimização dos materiais: quando o assunto é ambiente,

em soluções viáveis. A natureza

menos também é mais.

agradece! ❉


Opção verde: nas duas páginas, diversas configurações possíveis para a linha de cozinhas Living, último lançamento da Toncelli. Nesta página, abaixo, destaque para a grande bancada com tábua deslizante: agilidade valorizada. No alto da página ao lado, acessórios em aço entram no lugar do alumínio sem abrir mão da elegância e da praticidade do conjunto. No pé da página ao lado, poltrona Lips, design Piergiorgio Cazzaniga para Dema: a peça é uma das 15 primeiras prototipadas para o projeto Green Home

33 ARC DESIGN


Aci ma, à es quer da, pol tro nas da li nha Ho tel lo, design C. Bim bi para Dema. Na se quên cia, co zi nha da li nha Iri de, design Stu dio Kap pa & Part ners para a Giem me gi. Abai xo, co zi nha da li nha Atlan ta, cria da pela Giu gia ro Design para a Del Ton go

34 ARC DESIGN


Nes ta pá gi na, co zi nha da li nha Air Flo ren ce, design Stu dio Kap pa & Part ners para a Giem me gi; des ta que para as for mas flu i das, sem can tos “duros”, e para o aprovei ta men to de es pa ço sob o bal cão com pac to (aci ma, à es quer da) e no can to gi ra tó rio (na se quên cia)

ARC DESIGN visitou as empresas integrantes do projeto Green Home a convite do Consorzio Casa Toscana

35 ARC DESIGN


PANORAMA VISTO DO CHÃO ou a perspectiva do sapo* Uma mu lher per cor re o cor re dor lo ta do de do en tes num gran de hos pi tal. Numa rá pi da pa ra da, con for ta um ancião em uma maca, oferecendo palavras de bênção e uma hóstia. Parece o Brasil, mas é o Canadá francês, am bos Amé ri ca. Está co me çan do um dos fil mes mais du ros e pre ci sos so bre os ho ri zon tes exis ten ci ais de uma geração, “As Invasões Bárbaras”, sequência de “O Declínio do Império Americano”, de Dennis Arcand. Na tela como que retine uma katana, fatiando camada por camada o imenso sonho e a ele men tar re a li da de de uma épo ca, o quar to fi nal do sé cu lo 20 Pôla Pazzanese

36 ARC DESIGN


11

8

7 10

9

10 1

9 4

9

9

4 4

2

LEGENDA 1. Praça de Acesso 2. Largo D. Zumira 3. Largo do Viaduto

4. Rua Nova 5. Unidades Habitacionais 6. Praça Central 7. Creche

3

8. Praças / Quadras / Horto Comunitário 9. Urbanização sob a Linha do Trem + Ciclovia

12

10. Ciclovia 11. Central da Comlurb 12. CEMASI – Centro de Atendimento Social, POUSO – Posto de Orientação Urbanística e Social, Biblioteca e Praça

URBANIZAÇÃO DA PARQUE ALEGRIA – “TU PISAVAS NOS ASTROS DISTRAÍDA”: MANUEL, DE ORESTES, EM BANDEIRA, DE BARBOSA A fave la Par que Ale gria (1941) si tua-se no Bair ro do Caju, Rio de Ja nei ro, en tre a Ave ni da Bra sil, a Li nha Ver me lha e o via du to da li nha fér rea carguei ra. Com cer ca de 1.680 do mi cí li os, tem um co mér cio va ria do e seu en tor no é com pos to por áre as in dus triais, por tu á rias, mi li ta res e ou tras fave las, sen do gran de a es cassez de equi pa men tos pú bli cos. A pro posta de ur ba ni za ção inte gra o pro gra ma Fave la-Bair ro (Pre feitu ra do Rio de Ja nei ro) e visa in cor po rar a fave la ao te cido ur ba no, manten do sua identida de. A idéia é me lho rar os es pa ços pú bli cos existentes e criar ou tros que for ta le çam o senti mento de lugar. As prin ci pais açõ es de pro je to são: reestruturação do sistema viário e da circulação interna; remoção das casas sob a linha férrea, eliminando riscos e permitindo a integração com novas áreas de lazer; ur bani zação da Rua Paraíso, afirmando-a como eixo estruturador e comercial; criação de praças e largos em locais seguros e agradáveis; ar bo ri za ção; im planta ção de in fra-estru tu ra bá si ca, equi pa mentos pú bli cos e unida des ha bita ci o nais para re lo car as mo ra dias re movidas. Au to res do pro je to de ar qui te tu ra e ur ba nis mo: João Pe dro Bac kheu ser, Fa bia na Ge ne ro so de Iza ga e Pe dro Lo bão Pe gu ri er. Au to res do pro je to de in fra-es tru tu ra e meio am bi en te: Flá vio Al ber to da Sil va, Car los Fre de ri co Hen rí quez

BLAC ARQUITETURA E CIDADE

6 5


POA HIDROBUS – FALAR “URBANO” COMO “CIVILIZADO”: BAH, QUE TRI...!

STUDIO PARALELO

Sis te ma de trans por te hi drovi á rio pro pos to para a ci da de de Por to Ale gre, RS. Es ta çõ es si tua das em pon tos es tra té gi cos às margens do Lago Guaí ba se riam in ter li ga das a ou tros sis te mas de trans por te, fa ci li tan do o des lo ca men to en tre o cen tro e a zona sul de Por to Ale gre, e tam bém en tre o cen tro de Por to Ale gre e o cen tro de Guaí ba, ci da de da re gião me tro po li ta na por to-ale gren se. Como a es ta ção se re pe ti ria em di ver sos pon tos da orla, a sim pli ci da de do sis te ma cons tru ti vo foi cru cial para o pro je to: duas cai xas (uma em

38 ARC DESIGN

Num outro espaço, em outro tempo, uma mulher mer-

verdadeiro corpo-a-corpo com os valores basilares

gulha seminua na realidade de um povo e, ao emergir

dele. Lina não negava – ou superpunha sua teoria a – o

de volta, traz em seu belo corpo, colados como algas-

que via. Foi bem-sucedida, criou um valor em/por/para

vestes, os mais profundos traços dele: Lina Bo Bardi

nossa cultura, um programa urbano, expressão de pos-

encontra Glauber e o sertão baiano, em meio a um dos

sível – a cidade feudalizada recuperou para todos um

belos movimentos dessa mesma arrojada e generosa

setor de bairro. Lina era uma urbanista, não estava

era, no quarto anterior do mesmo século.

aqui para dourar o que é marrom. Seu concreto é mu-

E, no entanto, Lina nos apresenta, junto a outros bri-

lato como os artistas mineiros do Barroco.

lhantes companheiros de jornada, veredas claras sobre

Vendo daí, pode-se observar, tanto numa casa individual

como realizar a transposição de uma utopia ao real,

como num sistema de transporte público ou numa

sem necessariamente burocratizá-la em gabinetes

praça, quais traços delineiam em sua matéria o que há

hiperintelectualizados e estanques, falha fatal das euro-

de próprio em aparar o excesso retórico típico dessa

centradas, esquizofrênicas e doçamaras personagens

nossa sociedade bacharelesca, para enfrentar as enor-

dos dois filmes iniciais.

mes carências de nossa realidade com soluções cons-

Seu Sesc Pompéia mudou o caráter de espaço institu-

trutivas, cujo respeito à inteligência popular não se dá

cional cultural e popular, ao sintetizar a oferta ao prin-

pelo elogio a um passado-grilhão, a um agrário-exclusão

cipal: qualidade plástica, técnica e ambiental sem os-

ou tampouco a uma populista-axéização.

tentação, programação e partido arquitetônico coerentes,

A casa GA, de Humberto Hermeto, em Minas, na sua

a sutil observação de que ela é uma intelectual vendo o

implantação e distribuição cuidadosa remete à sabedo-

povo a partir de seus próprios pressupostos, mas num

ria das casas “a meia encosta” brasileiras, sem imitá-las


9

2

3

8

7

4 5

6

1

LEGENDA 1. Rampa de Acesso 2. Bar/Café 3. Espaço Comercial 4. Bilheteria 5. Sanitário Masculino 6. Sanitário Feminino 7. Sanitário PPDF 8. Área de Espera 9. Plataforma de Embarque

con cre to e ou tra em es tru tu ra me tá li ca) ori gi nam a se to ri za ção da es ta ção a par tir do pon to em que se in ter cep tam. Ou tro fa tor im por tan te na con cep ção do pro je to foi a per me a bi li da de: o edi fí cio de ve ria ser mar can te, mas sem im pe dir a vis ta do rio a par tir da ci da de. Pro je to apresen ta do na 5ª Bi e nal In ter na ci o nal de Ar qui te tu ra de São Pau lo (2003). Au to res: Lu cia no An dra des, Ga bri el Gal li na e Mar ce lo Pon tes

tolamente na forma, por incorporar sua estratégia logís-

No Rio Grande do Sul, um estudo para estações hidro-

tica de preservar a intimidade, prover o máximo desfru-

viárias metropolitanas do Studio Paralelo, o POA Hidro-

te da paisagem, compreender o sítio, acomodando-se a

bus, nos mostra com que elegante simplicidade se pode

ele por suas fundações. Há diversos pormenores cons-

dar solução a um problema de transporte público de

trutivos e plásticos, decorrentes dessa postura, onde são

massas e ao desenvolvimento de um potencial turístico

desenvolvidas técnicas para a caixilharia versus estru-

e de lazer pouco explorado. Uma dimensão fundamen-

tura, para esta versus canteiro de obras, ou para o dia-a-

talmente urbana do desenho como insumo socioeconô-

dia da casa ser menos formalista e mais “democrático”.

mico de uma sociedade que se deseja desenvolver. Do

Lembra-me também casas mostradas pelo arquiteto Leo-

que decorre, coerentemente, uma abordagem sem esti-

nardo de Paula, em visita à região de Formiga, MG, pro-

lismo, posto que o equipamento público é pensado

funda, com tetos de laje sabiamente apropriados, com

para valorizar as características intrínsecas da questão,

varais coloridíssimos, sobretetos de zinco, churrascos, sa-

ao invés de si mesmo: a paisagem lagunar do Guaíba,

bugos de milho secando e o que mais se imaginasse, ou

a fluidez e acessibilidade dos passageiros, a integração

mineiro fosse. As casas ricas e as da periferia, e desde os

aos demais sistemas de transporte, a demarcação de

anos de 1950/60. Pensamos na inteligência construtiva

uma identidade nitidamente discreta e contemporânea

deles, que incorporava ali o que havia de mais moderno,

para marcar a urbanidade do sistema.

tranquilamente local: ali eles não imitavam um ideal,

Numa paisagem como a de uma metrópole brasileira,

eles eram seu real. Rimos imaginando o Aleijadinho para

com seu exagerado individualismo fundiário e decorrente

o Amílcar de Castro, divertidos: “Ah, se eu tivesse essa

competição pelo destaque “compositivo- formal-mercado-

siderurgia na hora, tu ias ver o que era bom p’ra tosse...”.

lógico” dos edifícios – típico de uma sociedade insegura 39 ARC DESIGN


HUMBERTO HERMETO

sobre as próprias referências, por só pensar-se por exclu-

raiz do problema da exclusão, levando o urbanismo morro

são –, um projeto que só desenha o próprio umbigo é ex-

acima, num processo que torcemos para não ter chegado

celente contribuição ao que há de pior na nossa história.

tarde. Finalmente uma política pública consequente...

E no Rio. Salve o Rio de Janeiro que, bem lembra Sofia

Despoluição, e não soluços & piscinão, o Rio clama.

Telles, não teve qualquer projeto para deixar de ser capital

E o escritório BLAC, dentro do programa Favela-Bairro,

federal, num abandono de origens psicossociais profun-

na (Re...)favela Parque Alegria, nos mostra uma dessas

das que hoje o atola num populismo terminal. Só sobre-

muitas alternativas de, como dizem no memorial, incor-

vive graças a iniciativas quase inacreditáveis em seu he-

porá-la à polis sem comprometer sua identidade local.

roísmo (sim, em muitas ocasiões as equipes têm de nego-

Isso, mais infra-estrutura, começa a solucionar o problema

ciar diretamente com o crime organizado), de enfrentar a

da violência, lhe retirando suas bases: um Estado que não

CASA GA – ROMEU E JULIETA SEDUZEM GANGUES DE N. YORK: RECANTO MINEIRO É ISSO AÍ Lo ca li za do na pe que na ci da de de Bru ma di nho, re gião me tro po li ta na de Belo Ho ri zon te, o ter re no des ti na do a re ce ber esta resi dên cia se ca rac te ri za pela alta den si da de e por te da ve ge ta ção. Assim, o ar qui te to bus cou uma lin gua gem “trans pa ren te” para a casa, co nec tan do vi sual men te es pa ços ex ter nos e in ter nos. O vi dro é o ma te rial de des ta que: está presen te em to dos os fe cha men tos la te rais – in clu si ve nos ba nhei ros, onde fo ram usa dos vi dros opa cos bran cos; as la jes de piso e co ber tu ra são em con cre to. A im plan ta ção em di ver sos ní veis res pei ta a to po gra fia do

40 ARC DESIGN


*“Perspectiva do Sapo”: Paulo Mendes da Rocha por volta de 1988, descrevendo a vista para o Pavilhão de Osaka de seu anexo no subsolo.

os serve, pois só o faz a alguns poucos. Essa identida-

de trazer à comunidade a noção de pertencimento, con-

de, construída no enfrentamento de anos de necessida-

creto, a uma sociedade. Mais do que tentar um tosco mi-

des comuns, solda laços comunitários firmes o sufici-

metismo, conseguem apresentar formas e técnicas comu-

ente para mantê-los vivos como sociedade, emersos da

mente acessíveis apenas às elites “esclarecidas”, e normal-

verdadeira fonte da violência urbana: o total desinte-

mente sonegadas a quem mais delas necessita, trocadas

resse pelos seus destinos por parte das elites, como se

por uma “arquitetura popular” que mal disfarça seu me-

só polícia resolvesse.

nosprezo intelectual pela nossa real e contraditória feição.

Os arquitetos adotam a estratégia de reconhecer os locais

Afinal de contas, seja você erudito, popular, populista

ligados à história local e valorizá-los com toda a ordem de

ou pop, já viu Cartola errar alguma concordância em

equipamento e mobiliário urbano moderno, como forma

seus sambas? ❉

ter re no: o blo co fron tal, mais baixo, abri ga quar tos, sala, co zi nha e ba nhei ros; o blo co de trás reú ne de pen dên cia de em pre ga da, em um ní vel, e um mi nis pa (ja cuz zi, an te câ ma ra e ba nhei ro), em ou tro; o blo co la te ral con cen tra uma mi ni co zi nha de apoio à pis ci na, com chur ras quei ra e fo gão à le nha. O iní cio da exe cu ção do pro je to está pre vis to para abril de 2004. Au tor do pro je to: Hum ber to Her me to. Co la bo ra do res: Ca ro li na Mar ques Co e lho, Pris ci la No guei ra, Mar co Tú lio Hor ta

41 ARC DESIGN


RADIOGRAFIA DE UM PROJETO

CHOCOLATE COM SURPRESA A dis cre ta fa cha da onde se lê “Clu be Cho co la te” ocul ta a nova praia de pau lis ta nos an te na dos. Praia fei ta de sur pre sas, tra ça da por Isay Wein feld. Aqui, ele ex pli ca como pro je tou, do ma cro ao mi cro, a nova “loja-con cei to” da me tró po le Heloísa Helvécia / Fotos Alvaro Povoa

Na entrada da loja, passarela em perobinha faz clima de suspense com iluminação pontuada e manequins italianos, giratórios, mas só até a por ta automática se abrir e revelar a luz natural, que acende a escada em inox e as palmeiras, elegantes até no nome científico: “Ptychosperma elegans”

42 ARC DESIGN



13 11 12 4 5

3

2 11

1

Térreo

8 12 6

10 9 8

7

Subsolo

N 0

1

3

5

10

LEGENDA 1. Acesso 2. Vitrine 3. Hall / Caixa – pacotes

4. Loja 5. Provadores 6. Restaurante 7. Jardim 8. Sanitários

9. Cozinha 10. Depósito 11. Estoque 12. Circulação Serviço 13. Entrada Serviço

Os qua tro an da res to ta li zam 2.400 metros quadrados. Aci ma, plan tas bai xas do sub so lo e do pavi men to tér reo. Na pá gi na ao lado, no alto, pe ças agru pa das para aten der ao es ti lo mi ni ma lis ta, no pri mei ro pavi men to, onde fica tam bém o uni ver so das român ti cas; o res tau ran te do sub so lo, em bai xo, tem mer ca do ri as pen du ra das numa das pa re des e, na ou tra, mo sai co ins pi ra do no cal ça dão de Co pa ca ba na. De fren te para a “praia”, tem-se o pri vi lé gio de sen tar numa Wis hbo ne Chair, de 1950, cri a da pelo di na mar quês Hans Weg ner

44 ARC DESIGN

Sabe a loja Collete, de Paris, a Corso Cosmo 10, de Milão,

de interiores. O imóvel e o cinzeiro têm igual importância,

a Chocolate, do Rio? Não tem nada a ver.

só muda a escala”, diz.

A nova “concept-store” paulistana é igual a ela mesma.

O resultado da obsessão detalhista é uma obra feita de

É óbvio que a Clube Chocolate surge calcada na expe-

metonímias, onde nada é gratuito e cada parte, por me-

riência internacional de reunir tudo de bom num mesmo

nor que seja, traduz o todo.

ponto: tudo de bom e de melhor em moda, gastronomia

Junto com os curadores e consultores de moda da loja, o

e design. É óbvio, também, que essa multimarcas é irmã

arquiteto definiu a disposição das peças à venda. Vale es-

de sangue da butique carioca sua xará. Mas são só refe-

clarecer que, na Clube Chocolate, a maneira de exibir os

rências. O projeto parece espelhar-se apenas nas pró-

objetos, muitas vezes inesperados, não é burocrática. Pin-

prias superfícies de inox, reflexos que ajudam a montar

çados para um público bem-informado e endinheirado,

esse imenso jogo de esconde-e-mostra.

que supostamente valoriza menos a grife e mais o con-

Isay Weinfeld concebeu desde o prédio de quatro pavi-

ceito daquilo que compra, os produtos não são separados

mentos, num total de 2.400 metros quadrados, até os

por marcas, ou organizados à la loja de departamentos,

pequenos arranjos nas mesas do restaurante, instalado

naquela base do “sapatos, bolsas e artigos de couro”. São

sob todos os andares. “Só me interesso pelo trabalho se

agrupados a partir de uma idéia, um estilo, um humor.

puder ir até a última ponta. Para mim, é tudo uma coisa

Cada nicho tem uma ambientação particular. Por exem-

só, não separo a arquitetura dita ‘séria’ da arquitetura

plo: a parte dedicada às mulheres românticas – ou que



Na Clu be Cho co la te, a ex po si ção dos pro du tos se pa ra es ti los ao mes mo tem po que em ba ra lha a moda e o mo bi li á rio, o mo der no e o an ti go, as grifes ca ras e os cria do res emergen tes. Nas duas ima gens à es quer da, o que so bressai é a ma dei ra, seja no par quet “ran dô mi co”, aci ma, seja no re ves ti men to do bar, abai xo, com um efei to de movi men to gra ças a tons di fe ren tes e jun tas ale a tó rias. À di rei ta, no alto, a presen ça es tra té gi ca do pufe que bra o té dio cro má ti co do es pa ço mi ni ma lis ta; em bai xo, mesa an ti ga “fun ci o na” como ex po si tor

46 ARC DESIGN

acordaram românticas – mistura criações da designer

espaço da moda minimalista, todo em preto e branco.

carioca Isabela Capeto com singelos frascos de Leite de

Isay só sabe fazer assim, do macro ao micro, e só aceita

Rosas e peças “um pouco” mais caras, como óculos

a missão quando se identifica com o cliente, o produto

Yves Saint-Laurent.

e o serviço. “Para não me irritar ou ter um infarto ao ver

“Desde o começo, havia o desejo de expor mercadorias

a toalha errada sobre a mesa de um restaurante que

de um jeito inusitado”, conta Isay. É dele o olho por trás

projetei, prefiro fazer tudo e me certificar, antes, de que

dos baldes plásticos cheios de biquínis, do “case” de

aquele é o cliente certo para mim, e vice-versa.”

alumínio saído de um set de filmagem para virar balcão

Neste projeto, houve identificação total. De um lado,

de cuecas, da cadeira Bertoia, também à venda, sobre a

empresários dispostos a oferecer, num mesmo lugar,

qual foram jogadas algumas camisetas.

de flores a CDs, de roupas a livros, da tecnologia mo-

No conjunto de mobiliário e objetos, o que não foi de-

derna ao design eterno, do alimento para o corpo ao

senhado no escritório foi pescado pessoalmente pelo

alimento para alma. De outro lado, um arquiteto que

arquiteto, que não delega a ninguém a tarefa de vascu-

muito antes de projetar a Clube Chocolate já definia o

lhar lixões e antiquários. “Gosto de encontrar coisas de

ofício da arquitetura como a arte de “colocar cinema,

bom desenho no meio de bugigangas. Seria burrice

teatro, dança, culinária e música debaixo de um mesmo

pagar alguém para fazer o que mais amo.”

telhado”. O encontro gerou um espaço que fisga pelos

Misturadas a peças sem sobrenome há a cadeira de

sentidos, interligando os planos sensoriais.

Lina Bo Bardi e luminárias Noguchi – que compõem o

Uma das preocupações do cliente, ao procurar o escritório,


5

5

5

4

5

11

4

5

14

14

5

8

14

11

1

6 9

10

0

1

3

5

10

LEGENDA 1. Acesso 2. Vitrine 3. Hall / Caixa – pacotes 4. Loja

5. Provadores 6. Restaurante 7. Jardim 8. Sanitários 9. Cozinha

10

14

14

10. Depósito 11. Estoque 12. Circulação Serviço 13. Entrada Serviço 14. Escritórios

Acima, cor te longitudinal explicita o par tido do projeto: o edifício todo se volta para o grande vão com palmeiras banhadas por abundante luz natural

era o fato de estar vindo do Rio para entrar na Oscar Frei-

o tempo todo com exterior e interior, embalagem e con-

re, no melhor trecho da rua mais badalada de São Paulo.

teúdo, natural e artificial. É um filme que começou a ser

A grande dúvida era: mostrar ou esconder a origem?

rodado a partir do nível da rua. De cara, em vez de porta,

“Resolvi deixar claro que é uma loja carioca, por achar

o que há é a boca quadrada de um túnel forrado em

que não há por que esconder nada, nunca”, afirma Isay.

madeira, que recebe o visitante com luz dramática. À

Foi assim que o paulistano ganhou um restaurante de

direita de quem entra, manequins enfileirados reforçam

frente para a praia. Mas o arquiteto optou por contar a

a impressão de que se está numa passarela, ou palco,

trajetória do grupo usando um leve sotaque “cario-

com friozinho no estômago e tudo.

quês”. “Quis fugir da forma caricata.” O mosaico portu-

Avança-se mais pelo corredor escuro sem noção do que

guês que recobre uma parede, numa alusão ao ícone

está para acontecer, até que o sensor detecta os passos e

de Copacabana, tem ondas sutilmente demarcadas, são

uma porta automática se abre, escancarando a luz na-

pedras claras encaixadas entre pedras claras. No chão,

tural e revelando, da ponte de aço, aquela “paisagem”

um pedrisco alvo e miúdo põe o sonho da areia aos nos-

inesperada à qual, para o bem ou para o mal, ninguém

sos pés e cerca palmeiras solitárias de até 11 metros. É

fica indiferente. O que se vê é uma vertigem de coqueiros

poesia pura, com um quê de piada. O calçadão de Copa

verdadeiros, multiplicados no espelho da escada espira-

subiu pela parede.

lada. “Quem olha a fachada não imagina o que encon-

Aqui, entretanto, já estamos no subsolo, quase no fim

trará, a história ainda não foi contada. Arquitetura tem

do filme. O projeto é um roteiro de mistério, que brinca

de emocionar, é esse o fundamento do meu trabalho”, 47 ARC DESIGN


resume o arquiteto, que se considera um manipulador de sensações. Talvez por isso seja fã de corredores e escadas, elementos úteis à sua usina de surpresas. Na Clube Chocolate, a escada onipresente contrasta com madeiras foscas, dá tempero picante àquela doçura toda de tons naturais e linhas calmas. “Optei por uma escada escultural, com fundo facetado, mostrando os degraus na mesma madeira usada na loja”, ele explica, mas deixa claro que não supervaloriza a escolha dos materiais. O volume criado no teto do restaurante – uma caixa pendurada a uma estrutura metálica toda solta – foi revestido de madeira. Mas, segundo Isay, poderia ser qualquer outra coisa: “Quis dar um aconchego para uma área grande, daí a madeira. Mas o material aqui não é importante como titânio é para o Frank Gehry”, compara, referindo-se ao arquiteto que projetou o Guggenheim, em Bilbao. Importantes mesmo, para Isay, são duas coisas. A primeira delas é a idéia, que deve vir antes de tudo. Avesso a enfeites, o arquiteto usou, por exemplo, a parede nua do restaurante para pendurar peças de roupa e outros objetos comercializados no prédio. “Cheguei a pensar em expor fotos coloridas do Rio, ou obras de arte, mas eram saídas decorativas. Já a exposição de mercadorias é comercial, dá colorido e amarra todo o conceito, liga o espaço do restaurante à loja onde está inserido.” Junto com a idéia, a outra coisa mais importante é o cliente, que esse profissional considera a “matéria-prima” da arquitetura. Por isso mesmo capricha tanto na seleção dos seus. “Ao contrário da geração anterior à minha, gosto de palpite, o que mais faço é ouvir. Tanto que viro confidente de clientes. É uma relação muito íntima.” Nesse raciocínio, Isay Weinfeld não parece interessado em carimbar seus projetos, repudia a idéia de se autoplagiar: “Minhas obras são diferentes umas das outras. Dizer que reconhecem meu traço não é elogio para mim. Sou o oposto da assinatura. Quero virar a mesa a cada trabalho”. Não deixa de ser uma marca. ❉

À es quer da, a “praia”, foco de to das as aten çõ es; des ta que para o sutil dese nho do muro em pe dra por tu guesa. Ao fun do, a passa re la me tá lica que con duz o vi si tan te do es cu ro cor re dor de acesso ao ilumi na do in te ri or da loja


SU PLE M E NTO ESPEC IAL ARC DESIG N Nº35

MESTRES DA ARQUITETURA Oscar Niemeyer


83450_394X280 29.03.04 8:23 Page 1 Ret_05 server:FUTURA-83450:Arquivos:Lito:

CIMENTO BRANCO CAUÊ. FIDELIDADE ABSOLUTA À SUA IMAGINAÇÃO. O Cimento Branco Cauê é o que você procura para valorizar o seu projeto. Padrão de qualidade internacional, alto nível de brancura, resistência final similar à do cimento cinza e grande apelo arquitetônico fazem do Cimento Branco Cauê uma ótima escolha para quem quer diferenciar a obra e torná-la única. Além disso, o Cimento Branco Cauê oferece maior fidelidade às cores quando pigmentado, o que permite novos caminhos à sua imaginação, com total liberdade de criação.

futura

www.caue.com.br Central de Atendimento Cauê 0800 703 9003


83450_394X280 29.03.04 8:23 Page 1 Ret_05 server:FUTURA-83450:Arquivos:Lito:

CIMENTO BRANCO CAUÊ. FIDELIDADE ABSOLUTA À SUA IMAGINAÇÃO. O Cimento Branco Cauê é o que você procura para valorizar o seu projeto. Padrão de qualidade internacional, alto nível de brancura, resistência final similar à do cimento cinza e grande apelo arquitetônico fazem do Cimento Branco Cauê uma ótima escolha para quem quer diferenciar a obra e torná-la única. Além disso, o Cimento Branco Cauê oferece maior fidelidade às cores quando pigmentado, o que permite novos caminhos à sua imaginação, com total liberdade de criação.

futura

www.caue.com.br Central de Atendimento Cauê 0800 703 9003


Uma Publicação Quadrifoglio Editora / A Quadrifoglio Editora Publication Diretora Editora / Publisher – Maria Helena Estrada Diretor de Marketing / Marketing Director – Cristiano S. Barata Diretora de Arte / Art Director – Fernanda Sarmento Redação / Editorial Staff: Editora Geral / Editor – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico / Graphic Design Editor – Fernanda Sarmento Chefe de Redação / Editor in Chief – Winnie Bastian Equipe Editorial / Editorial Staff – Jô A. Santucci (Revisora) Tatiana Palezi (Produtora) Tradução / Translations: Paula Vieira de Almeida Arte / Art Department: Designers – Cibele Cipola Milena Codato Estagiária – Isabelle Carramaschi

Oscar Niemeyer nasce em 1907 na cidade do Rio de Janeiro. Mais significativo do que enumerar seus projetos ou traçar uma cronologia é tentar retratar, captar seu espírito, que perpassa as citações encontradas em sua própria obra ou em livros que sobre ele foram escritos. “Na Arquitetura debrucei-me por toda a vida. Foi o meu hobby, uma das minhas alegrias, procurar a forma nova criadora que o concreto armado sugere. Descobri-la, multiplicá-la, inseri-la na técnica avançada, criar o espetáculo arquitetural”. Oscar Niemeyer

“A arquitetura é como uma grande escultura esvaziada, na qual o homem penetra, caminha e vive”. Bruno Zevi

Gerente de Publicidade / Advertising Manager: Ivanise Calil Foto da Capa / Cover Photo: Nelson Kon

English version available on the last pages of ARC DESIGN 35

www.arc de sign.com.br

“O que move o homem a pensar, a procurar o conhecimento, é o espanto.” Aristóteles


Aci ma e abai xo de se nhos de Os car Ni e me yer; aci ma, as ilus tra çõ es “ra bis ca das” nas pa re des de seu es cri tó rio

AUTODEFINIÇÃO Na folha branca de papel faço o meu risco, retas e curvas entrelaçadas, e prossigo atento a tudo e tudo arrisco na procura das formas desejadas. São templos e palácios soltos pelo ar, pássaros alados, o que você quiser. Mas se os olhar um pouco devagar, encontrará, em todos, os encantos da mulher. Deixo de lado o sonho que sonhava. A miséria do mundo me revolta. Quero pouco, muito pouco, quase nada. A arquitetura que faço não importa. O que eu quero é a pobreza superada, a vida mais feliz, a pátria mais amada. Oscar Niemeyer


OSCAR NIEMEYER Entre a intuição e a razão, a inquieta serenidade do mestre Um dos prédios mais antigos da Av. Atlântica, Rio de Janeiro, com formas curvas – como con vém ao ar qui te to –, que há mu i tos anos tem ali seu es cri tó rio. Do 9º andar de grandes vidraças, a visão do mar e montanhas – fonte de inspiração. Uma lousa branca, algumas cadeiras em forma de auditório para a visão dos trabalhos, para as aulas de filosofia e de cosmologia. É ali onde o arquiteto trabalha e estuda, das 10 horas da manhã às tantas da noite. Foi aí que entrevistamos o arquiteto Oscar Niemeyer Maria Helena Estrada

Fotos Haron Cohen

ARC DESIGN – Em sua obra transparece a intuição no traço livre de suas construções, e a razão, na obstinação de traduzir em palavras essa arquitetura. É verdade? Esse é um processo que nasceu espontâneo, natural, ou foi a incompreensão e polêmica em relação à sua obra que o fez adotá-lo? Para quem o senhor “explica” e reflete sobre seus projetos? Para a própria prancheta ou para os outros? oSCAR NIEmEyER – Quando desenho uma forma qualquer – a mais livre e inesperada – penso ao mesmo tempo no que ela vai significar funcionalmente na minha arquitetura. AD – Como se processa essa capacidade de sintetizar, com sua arquitetura, o pensamento contemporâneo e o papel do homem na sociedade? Parece-me claro que ao traço puro, à curva perfeita, vem sempre associada a mensagem política. Como se dá esse processo? oN – A arquitetura baseia-se nos programas apresentados, que não raro pouco ou nada representam no campo ideológico. Dentro dessas limitações o arquiteto elabora a sua arquitetura.

À es quer da, de cima para bai xo, sede da Mon da do ri (Mi lão, Itá lia, 1968), o Mu seu de Arte Con tem po râ nea (Ni te rói, RJ, 1991) e a Casa de Cul tu ra (Le Havre, Fran ça, 1972). À di rei ta, o ar qui te to na ja ne la de seu es cri tó rio em Co pa ca ba na (RJ)


Acervo ARC DESIGN


Aci ma, cro qui do pré dio para o balé Bols hoi (Join vil le, SC, 2003). Abai xo, vis ta de Bra sí lia com a Ca te dral Me tro po li ta na (1958)

AD – Parafraseando Darcy Ribeiro, o que o senhor elencaria como Oscarismos? Um deles lembrei, no verso de um velho poeta de Mato Grosso, Manoel de Barros, ao dizer que “a linha reta não sonha”. oN – Acho que o meu ami go Darcy, ge ne ro so, se re fe ria à mi nha ar qui te tu ra, dan do-lhe a im por tân cia que a nos sa ami za de jus ti fi ca va. AD – Sabe-se, e o senhor já o disse, que a degradação das cidades é gerada pela densidade populacional. Como atrair o homem para fora da cidade? E devemos nos empenhar nesse processo? Qual seria a solução? Poderia ser encontrada no urba nis mo e na ar qui te tu ra ou se ria mais ade qua do, mais efeti vo, che gar a so lu çõ es que le vem a jus ti ça so ci al ao cam po? oN – A ar qui te tu ra trans for ma-se em fun ção do pro gres so téc ni co e so ci al. E, quan do este úl ti mo se des me re ce – como acontece entre nós –, a arquitetura perde o sentido humano que a de ve ria ca rac te ri zar. A ar qui te tu ra não in flui na vida dos homens, esta é que um dia, mais justa, poderá modificá-la. AD – Uma igreja ou mesquita, sem janelas, sem aberturas (Argel e Niterói), fechadas em sua própria estrutura, poderiam simbolizar a


religião e a crença cega que tolhem a amplidão do pensamento? oN – A religião, a prática da religião, começou nas cavernas – sem vidros, sem portas, sem janelas. Eram os homens que acreditavam em Deus e nelas se reuniam para louvá-lo e com ele tentar se entender. Um dia desenhei para os dominicanos de Saint Baume coisa parecida; para eles o local pouco importava – bastava-lhes um pequeno espaço tranquilo e reservado. Depois, vieram as catedrais, as mesquitas e a idéia de Deus a se multiplicar, como uma justificativa para essa vida tão curta e perversa que o destino a todos impõe. AD – Enquanto pensava em seu projeto para o Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, lembrei desta frase de Bruno Zevi, que havia lido em um de seus livros: “A arquitetura é como uma grande escultura esvaziada, na qual o homem penetra, caminha e vive”. Gostaria que nos falasse um pouco sobre esse projeto do Museu, de tão grande impacto, e com espaços tão ricos que os objetos de arte em seu interior parecem se tornar supérfluos. oN – Começo lembrando que Bruno Zevi, depois de criticar a arquitetura brasileira por muito tempo, declarou um dia na Itália: “Para mim, o projeto de Oscar Niemeyer para o Havre na França

está entre as dez melhores obras da arquitetura contemporânea”. No dia em que pretenderem montar no Brasil uma exposição do porte daquela sobre a arte chinesa (“Guerreiros de Xi’An e os Tesouros da Cidade Proibida”, Oca, São Paulo), por exemplo, será no grande salão do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, que ela poderá ser apresentada em toda a sua grandeza. AD – Um fenômeno semelhante acontece com o MAC de Niterói, com a rampa circular junto à entrada, a valorizar a paisagem que o circunda. O senhor poderia nos falar da relação entre arquitetura e espaço, arquitetura e natureza, em sua obra? oN – O próprio MAC serve de exemplo. Lembro quando cheguei ao local – a natureza fantástica, o mar, as montanhas do Rio... É claro que tudo aquilo eu tinha de preservar. E subi com a minha arquitetura. O espaço, a natureza, tudo isso faz parte da arquitetura. AD – O senhor fala em seu livro de car tas com o engenheiro José Carlos Sussekind que estava desenvolvendo um texto sobre o espaço na arquitetura. Esse texto foi finalizado? Poderemos tê-lo? oN – Não. Mas o assunto é importante, e um dia gostaria de desenvolvê-lo com mais vagar. Agora, por exemplo, desenhei a

Foto Ary Diesendruck


Escola Bolshoi em Joinville (Santa Catarina). O terreno é acidentado e foi em função das curvas de nível existentes que dei forma à minha arquitetura. AD – Hoje, me parece que os grandes escritórios de arquitetura praticam, em escala internacional, uma arquitetura-espetáculo, arquitetura para “épater”, ou glamourizada, que tem a intenção de atrair para o consumo. O senhor está de acordo com esse juízo e daria sua opinião sobre esse fenômeno? oN – Prefiro repetir o que Charles Baudelaire declarou um dia. “A surpresa, o espanto são as características essenciais de uma obra de arte.” AD – Seria muito pedir que o senhor nos falasse do Palácio dos Doges, em Veneza, do episódio de Palladio, da Renascença (no sentido de ressuscitar), como se lê em seus diálogos com Sussekind? E também na “escala musical” das arcadas do edifício para a Mondadori em Milão? Os estudantes, e não apenas, hoje precisam tanto de cultura! oN – Você sabe que Ca len da rio, prin ci pal ar qui te to do Pa lá cio dos Do ges, aca bou pen du ra do numa janela? Que Palladio, tão louvado, propôs que esse palácio fosse destruído, e mais ainda, que alguns arquitetos ligados à Bauhaus passaram pelo Palácio dos Doges e, sem compreendê-lo, continuaram a defender o funcionalismo ortodoxo, tão banal e repetido que logo desapareceu? Prefiro repetir o que sempre digo: “Arquitetura é invenção” ou, menos radical, o que Heidegger afirmou: “A razão é inimiga da imaginação”. AD – Em que projetos o senhor trabalha nesse momento? O Caminho Niemeyer, em Niterói, vai avante? E o projeto para a Praça XV, no Rio? E aquele para a Rússia? E quais outros? oN – São vá ri os pro je tos em an da men to. No Bra sil, o Cen tro Ad mi nis tra ti vo de Mi nas Ge rais, o Mu seu do Ce a rá, a Es co la Bols hoi em Join vil le, o se tor cul tu ral de Bra sí lia, que o go ver na dor Ro riz está ini ci an do. No ex te ri or, o mo nu men to à paz em Mos cou e, ago ra, ou tro mo nu men to à paz que o pre fei to de Paris me pe diu dias atrás. Sem fa lar no pro je to de Ra vel lo a que você se re fe re. O Caminho Niemeyer está em construção. Uma obra que me interes sa muito: uma série de edifícios junto ao mar. AD – ““...a vida não tem perspectiva. O impor tante é estar dentro da realidade, saber que tudo é um minuto”, li em um livro seu. Como é possível pensar o minuto e projetar para o futuro, projetar o futuro? oN – O pro ble ma é que esse mi nu to, tão in sig ni fi can te no tempo cós mi co, re pre sen ta para o ser humano esta estranha aventura, que é a sua luta, cheia de sonhos e desilusões, contra o destino implacável. ❉

À di rei ta, au di tó rio da Uni ver si da de de Cons tan ti na (Argélia, 1969); acima, croqui do ar quiteto para o mesmo projeto


Foto Michel Moch


Catedral Católica

Teatro Popular

Memorial Roberto Silveira

“Ao lon go de dé ca das ele (Os car) foi cons tru in do um pa drão os cá ri co, que hoje é um dos pen do res da ar qui te tu ra mun di al. Não é im pos sí vel que, ama nhã, se fale de ar qui te tu ra os cá ri ca como um subs tan ti vo co mum.” Darcy Ri bei ro

Aci ma, projeto do Ca mi nho Ni e me yer (Ni te rói, RJ, 2000); obras ain da não-con clu í das


Fundação Oscar Niemeyer

Catedral Batista

“Ni e me yer odeia o ân gu lo reto e o ca pi ta lis mo. Con tra o ca pi ta lis mo não há mu i to o que fa zer; mas con tra o ân gu lo reto, opres sor do es pa ço, tri un fa sua ar qui te tu ra li vre e sen su al e leve como as nu vens.” Edu ar do Ga le a no

À es quer da, vis ta ex ter na do Mu seu Os car Ni e me yer (Cu ri ti ba, PR, 2000); abai xo, o in te ri or do “olho”, no mes mo mu seu

Fotos Nelson Kon


A Fundação Oscar Niemeyer (FON), criada em 1988, é um centro de informação e

organização e divulgação do acervo sob sua guarda, com serviços de informação

pesquisa voltado para a reflexão e difusão da arquitetura, do urbanismo, do

sobre documentos correlatos em posse de outras instituições e acesso a bases de

design e das artes plásticas, e para a valorização e preservação da memória e do

dados do Brasil e exterior.

patrimônio arquitetônico moderno do país.

• Implantação de um núcleo de pesquisa, para o desenvolvimento de estudos e

Consolidou-se como um importante centro de documentação, ao disponibilizar seu

incentivo à produção e ao intercâmbio de conhecimentos, promovendo cursos,

acervo arquivístico e bibliográfico e oferecer produtos e serviços de informação

seminários, concursos e bolsas de pesquisa.

crítica sobre arquitetura e urbanismo.

• Realização e promoção de publicações, exposições, filmes e outras atividades

Sediada no Rio de Janeiro e no Espaço Oscar Niemeyer em Brasília, a Fundação

culturais, destinadas a diferentes públicos.

Oscar Niemeyer é uma instituição privada sem fins lucrativos, reconhecida de

• Apoio e as ses so ra men to téc ni co à re a li za ção de obras, à pre ser va ção e à

utilidade pública pelo governo federal e pelos governos do Distrito Federal e do

res tau ra ção de es pa ços pro je ta dos por Os car Ni e me yer.

Estado e da cidade do Rio de Janeiro.

A Fundação Oscar Niemeyer é proprietária legal dos direitos relacionados ao

A FON tem como linhas de ação:

nome, à imagem, à voz, à assinatura e às representações visuais de Oscar Niemeyer,

• Constituição de um centro de informação que conjugue atividades de aquisição,

bem como do copyright de produtos relacionados à sua obra.

www.niemeyer.org.br

No alto, cro qui do au di tó rio de Ra vel lo (Itá lia, 2000), pro je to ain da não-exe cu ta do. Abai xo, ma que te da mes qui ta de Ar gel (Ar gé lia, 1968), pro je to não-cons tru í do Foto Michel Moch


83424_197X280 29.03.04 8:33 Page 1 Ret_05 server:FUTURA-83424:Arquivos:Lito:

PARA ALGUNS, FLEXIBILIDADE E CONCRETO NÃO COMBINAM. OUTROS USAM SILMIX. Silmix é a sílica ativa que garante durabilidade superior e confere maior impermeabilidade e resistência ao concreto de alto desempenho. Não é por acaso que Silmix está sendo utilizado em todas as obras do Caminho Niemeyer, no Rio de Janeiro. Silmix permite que os projetos idealizados atinjam o resultado esperado, fazendo com que a ousadia e a imaginação se tornem realidade. Com Silmix, a liberdade de criação está garantida. E a arquitetura cada vez mais criativa, também. Central de Atendimento Cauê 0800 703 9003

futura

www.caue.com.br


futura

83450_197X280 29.03.04 8:12 Page 1 Ret_05 server:FUTURA-83450:Arquivos:Lito:

III Prêmio Cauê de Arquitetura.

Apareça. O Círculo Cauê de Arquitetura, uma iniciativa da Camargo Corrêa Cimentos, e o IAB promovem a terceira edição do Prêmio Cauê de Arquitetura que visa premiar arquitetos e urbanistas que utilizam produtos à base de cimento branco em seus projetos. Os vencedores receberão 34 mil reais em dinheiro e terão seus projetos divulgados nas melhores revistas de arquitetura e decoração do país. Não perca a oportunidade de colocar o seu trabalho na melhor vitrine do mercado. Participe. A arquitetura brasileira agradece. Inscrições de 12/04/2004 a 28/06/2004 Informações e consultas até 28/06/2004 Entrega dos trabalhos até 26/07/2004 Tel.: (11) 3259-6866 www.caue.com.br www.iabsp.org.br


Document2

3/27/04

6:28 PM

Page 1


A seção Mundo Tech transforma-se nesta edição, vai de um extremo a outro e traz o Mundo (Low) Tech. Inspirados nos resultados obtidos pela Escola Cantonal de Artes de Lausanne (ECAL), Suíça, e pelos projetos de

Richard Hutten

alguns designers brasileiros, apresentamos a espontaneidade, o humor e a criatividade de estudantes e de jovens designers, além de alguns nomes já famosos A ECAL desfruta de uma reputação internacional de escola experimental de design visual e industrial. Os workshops começaram a ser realizados na escola em 1996 e hoje são uma constante, atuando como complemento às aulas. Os temas são os mais diversos e o resultado tem sido tão satisfatório que o número de workshops realizados a cada ano cresce constantemente – em 2002, foram nove workshops com designers de diversas partes do mundo. Os projetos desenvolvidos na escola podem ser baseados em um parâmetro predefinido (como um material, uma tecnologia de fabricação, uma metodologia criativa específica ou uma pesquisa temática), ou nascer de outros “estímulos”, como uma exposição – foi o caso dos “milking stools” (mostrados nas duas páginas), desenvolvidos para o Salão Satélite do Salão do Móvel de Milão 2003. A mostra dos “milking stools” itinerou por mais de dez cidades européias; um projeto no qual 40 pessoas, entre designers, professores e estudantes, foram convidadas a repensar o banquinho de ordenha, assunto tipicamente suíço. Alexis Georgacopoulos, diretor do Depar tamento de Desenho Industrial da ECAL, resume a proposta do curso: “Escolhemos não enfocar uma única ‘escola’ de design ligada a um país ou a um grupo de indivíduos. Em vez disso, tentamos oferecer aos estudantes o maior número de ‘inputs’ possível, para permiti-los criar sua Sebastian Bergne 50 ARC DESIGN

própria posição em meio a uma grande variedade de experiências”.


Alexis Georgacopoulos

Fernando e Humberto Campana

Luke Pearsson & Tom Lloyd

Alexandre Gaillard 51 ARC DESIGN


CAMISOLE

PLATEAU

Camisa-de-força para os Dedos, design Mar tino

Bandeja, design Martino D’Esposito. Prêmio Especial

d’Esposito no workshop “Campanha Antifumo”, com

Fundação Verdan, 2000, no concurso “Em Torno da Mão”

Marcello Morandini. Encomendado pelo Depar tamento da Formação e da Juventude (DFJ) do cantão de Vaud, 2001

THE GIANT

AVARICE

Escada, da série “O Gigante”, design Yves Fidalgo;

Avareza, da série “Os Sete Pecados Capitais”, de Fran-

diploma de graduação 2001

cisco Torres. Diploma de graduação 2001. Prêmio Willy Guhl 2001, no concurso “Design Preis Schweiz”

52 ARC DESIGN


MESA LEVE Design Flávia Pagotti Silva. Estrutura em tubo de aço inox polido; bandejas invertidas empilháveis em acrílico texturizado moldado formam o tampo

TAPETE HIDRA Design Alberto Pretel. Em elastômero vegetal com pigmentos orgânicos, não emite vapores tóxicos durante a fabricação, é biodegradável e possui alta absorção de impactos

DOMINÓ

LAVABO VIDAS SECAS

Dominó em poliéster, design Roberta Cosulich. Inova na

Design Gustavo Ber tolini. Mesa em juazeiro (ár vore

forma e na composição das peças, que geram formas

típica da caatinga), balde-pia em porcelana com

cur vas quando combinadas, em vez de ângulos retos

fundo elevado que embute o sifão; grelha do ralo sobreposta ao fundo, com rachaduras que permitem escoar a água. Menção Criati vidade & Humor no Salão Design Movelsul 2004

53 ARC DESIGN


PUBLI EDITORIAL

S.C.A.

Foto Roali Majola

S.C.A. RST 470 Km 220 Bento Gonçalves, RS Tel.: (54) 453-2200 www.sca.com.br

DO MICRO DETALHE AO MACRO AMBIENTE Pro du ção em lar ga es ca la e so lu çõ es sob me di da: esta é a pro pos ta da indústria gaúcha S.C.A. para o mercado de mobiliário residencial e corporativo

Arquitetos e decoradores de todo o Brasil, que antes tinham as pequenas marcenarias como única alternativa para a produção dos móveis exclusivos de seus projetos, agora contam com uma alternativa que alia padrão de qualidade e prazo, com a retaguarda de uma grande empresa – sem perder o “look” do móvel especial. A S.C.A., de Bento Gonçalves (RS), é capaz de atender a essa exigência de personalização dos produtos, apoiada em uma potente fábrica que, em seus 22 mil metros quadrados, tem capacidade para produzir 3.500 peças por dia. Mas não estamos falando de móveis meramente modulados: a flexibilidade construtiva de cada peça varia quase que centímetro a centímetro, permitindo projetos únicos em termos de acabamento e graças à ampla gama de acessórios de que a empresa dispõe. A linha de produtos S.C.A. é formada por mais de 270 mil itens!


Foto Roali Majola

Aci ma, por tas de cor rer em me ta cri la to in te gram co zi nha e área de ser vi ço em bran co e pra ta. Abai xo, dor mi tó rio em pa drão car va lho; des ta que para a trans pa rên cia par cial das por tas dos ar má ri os, que in cor po ram o me ta cri la to. Na página ao lado, no alto, show-room S.C.A. com novo conceito na Avenida Pacaembu, em São Paulo, inaugurado em fevereiro deste ano. Embaixo, o branco evidencia o desenho contemporâneo do banheiro, que conta com prateleiras de vidro iluminadas

Fotos Roali Majola


O segredo está em um engenhoso software, desenvol-

de resolver – graças à parceria com diversos fornece-

vido na própria empresa, que gerencia todo o processo

dores de produtos complementares – vários aspectos

produtivo e logístico e faz a comunicação entre a fábrica

do projeto, representando importante ganho de tempo

e a vasta rede de lojas no Brasil.

em sua execução.

Essa logística exclusiva também permite à S.C.A.

Um moderno conceito de distribuição e comercialização,

atender a seus clientes em prazos muito atraentes:

em parcerias com empresas de produtos afins, permite

da saída do pedido, na loja, até o produto acabado e

às lojas da S.C.A. oferecer equipamentos complemen-

embalado, pronto para o transporte, são necessários

tares em exibição nas lojas, do piso aos eletrodomésticos.

apenas sete dias!

A capacidade de individualização, aliada à velocidade

O profissional, que tem a possibilidade de atender a

produtiva, levou a S.C.A. a se destacar também no

todas as exigências dos espaços e o gosto dos clientes,

mercado corporativo: construtoras, hotéis e empresas

conta com um atendimento diferenciado nas lojas, um

diversas. “Estruturamo-nos para atender a todas as

verdadeiro “pacote” de serviços. Primeiro, um escritó-

exigências de, por exemplo, uma rede de hotéis que vá

rio reservado na própria loja para o atendimento aos

abrir uma nova unidade em Manaus ou no Rio Grande

profissionais e seus clientes; depois, a possibilidade

do Sul; não importa onde, nossas lojas estão aptas a

Fotos Roali Majola

Abai xo, de ta lhes que fa zem a di fe ren ça. Em sen ti do ho rá rio: ca bi dei ro des li zan te (ide al para ar má ri os pou co pro fun dos); gave ta com di vi só rias em me ta cri la to; pra te lei ras de vi dro com ilu mi na ção em bu ti da; gave ta alta com su por tes que se adap tam ao ta ma nho dos pra tos

56 ARC DESIGN


fazer a montagem desses empreendimentos”, afirma Sérgio Manfroi, diretor-superintendente da empresa. A S.C.A. começou a abrir pontos comerciais com marca própria em 1998. Hoje já são mais de 130 lojas em todo o Brasil, número que deve subir para 640 nos próximos dez anos, segundo Manfroi. O principal fator de sustentação desse crescimento está na mentalidade da empresa, que se posiciona não como uma fornecedora de mobiliário, mas de soluções. A S.C.A. exporta para mais de 35 países e possui lojas no México, em Portugal, na Espanha, na América do Sul e no Caribe. O próximo passo é a expansão para os Estados Unidos, onde está em processo de instalação a primeira loja, na Flórida; até o final deste ano, 15 lojas devem ser abertas em todo o país.

Foto Alain Brugier

Aci ma, car ri nho au xi liar em MDF com aca ba men to em la mi na do plás ti co. Abai xo, co zi nha com pac ta com bi na por tas e gave tas me tá li cas àque las em MDF re ves ti do; a co zi nha toda pode ser ocul ta da pe las gran des por tas de cor rer em alu mí nio on du la do Mega Wave

57 ARC DESIGN


PUBLI EDITORIAL

PRÓTON INVESTINDO PARA O DESIGN For ne cen do in for ma çõ es e su por te aos de sig ners, a Pró ton Gra ni to in ves te na in ser ção do gra ni to na in dús tria mo ve lei ra

PRÓTON GRANITO Rua Haddock Lobo, 578 – 2º andar São Paulo, SP – Tel.: (11) 3061-0506 www.proton.com.br

Oferecer aos designers e fabricantes a pos-

destinar os padrões mais nobres da pedra

sibilidade de explorar as propriedades com-

apenas ao mercado externo. A Próton está

positivas e expressivas do granito, trazendo

promovendo uma mudança nessa postura

novos elementos para a indústria moveleira.

ao disponibilizar esses padrões também

Com essa proposta, a Próton Granito se pre-

para o mercado interno.

para para expandir sua atuação para o setor

O comprometimento da empresa com o

moveleiro.

design e a inovação é reforçado pela contra-

Fundada em 1996, a empresa é reconhecida

tação da Yoshio Design, especializada em

por seu trabalho no mercado interno e ex-

planejamento estratégico e gestão do design,

terno de chapas, ladrilhos e recortados.

para assessorar a empresa em sua nova

Para iniciar suas atividades junto ao setor

vertente. A Próton apresentou-se oficial-

moveleiro, a Próton já investiu cerca de 3

mente ao setor moveleiro durante o último

milhões de reais na constru-

Salão Design Movelsul, prêmio realizado

ção de sua nova fábrica, no

entre 8 e 12 de março em Bento Gonçalves

município de Serra, Espírito

(RS), do qual foi patrocinadora. Nele já se

Santo, a qual contará com

pôde vislumbrar o quanto essa parceria pode

maquinário para beneficia-

ser bem-sucedida: empresas como Flexiv,

mento do granito de forma

Cinex e S.C.A. já exibiram produtos empre-

compatível com as necessi-

gando o granito de modo contemporâneo.

dades do setor, como exce-

Uma variável que pode – e deve – ser explo-

lente acabamento e rigor di-

rada no projeto empregando o granito é a

mensional. Um exemplo é o

diversidade de acabamentos: é importante

centro de usinagem totalmente automatiza-

que os designers saibam que podem ir além

do, com central de comando informatizada

da usual pedra polida, com aspecto espelhado.

(sistema CAD/CAM), de fabricação italiana,

Para permitir o uso amplo da pedra com

que deve entrar em operação ainda este ano.

acabamento levigado (lixada, sem verniz,

O intuito é permitir que os designers incluam

com aspecto acetinado), a Próton está reali-

o granito em seus projetos, se valendo das

zando estudos, já em fase avançada, para

novas tecnologias para explorar novas textu-

chegar à impermeabilização do granito sem

ras e formas de aplicação, lançando uma

a perda do aspecto natural – uma alternativa

nova perspectiva sobre um material antigo.

o inédita no mercado brasileiro.

Paulo Lacombe, presidente da Próton, consi-

Optando pelo design, a Próton está traba-

dera que o granito tem sido pouco explorado,

lhando para se tornar um centro de informa-

até hoje, no mercado moveleiro do Brasil.

ção sobre pedras e granitos no setor move-

Isso se deve, além da falta de tecnologia e

leiro. Eis a oportunidade: cabe aos designers

informação sobre o produto, à prática de

e empresários aproveitá-la!


Na pá gi na ao lado, duas apli ca çõ es do gra ni to Ver niz Tro pi cal ex pos tas na Movel sul 2004, em Ben to Gon çal ves (RS). No alto, mesa Byo, design Lu i gi Mas che ro ni para a CHform, no es tan de da Ci nex; em bai xo, mesa Qua tro Ar cos, design Ro nal do Dus che nes e Dari Beck para a Fle xiv, no Sa lão Design. Nesta pá gi na, abai xo, qua tro pa drõ es de gra nito ex traí dos e co mer cia li za dos pela Pró ton; da es quer da para a di reita: Tu nas Gre en Dark, Tu nas Clássi co, Bran co Tro pi cal e Virgin Sand. No pé da pá gi na, bal cão em gra nito Bran co Tro pi cal, pro je ta do para o es tan de da SCA na Movel sul 2004


DESIGN GRÁFICO E O NOVO LUXO “O luxo não é o contrário da pobreza, mas sim da vulgaridade”. Coco Chanel

Sergio Calatroni nasce em 1951. Trabalha desde 1975 com arte, arquitetura, design e comunicação. Foi um dos fundadores da Zeus, uma das empresas de maior sucesso na vanguarda dos anos de 1980. Entre suas obras mais significativas temos os edifícios Roux de Perfe, em Osaka, e N.O.Z. em Shizuoka, também no Japão. Realizou diversos interiores, como o de Romeo Gigli em Milão. No design, criou para a Pallucco Italia a lâmpada Papiro. Recebeu os prêmios: Award Tokyo Art Director Club e o Package Design Biennal 1999 pelo packaging United da Sisheido. Desde 2000 é diretor criativo da Stephanemarais, tendo recebido o prêmio do Ministério do Comércio Japonês por esse trabalho e, em 2003, o Good Design Award e o Category’s Award. Acaba de receber o importante prêmio London International Advertising Awards (LIAA) 2003 pela direção criativa e pelo packaging da marca Stephanemarais/Shiseido. ARC DESIGN entrevistou Sergio Calatroni na ocasião de sua con-

Fotos Calatroni Art Room

60 ARC DESIGN

Foto Studio Mansour

ferência no Museu da Casa Brasileira, São Paulo.


Foto Calatroni Art Room

Em todas as páginas, projetos de Sergio Calatroni para a Stephanemarais. No alto da página ao lado, painel de 300 x 480 mm (2003). Embaixo, o designer e duas vitrines criadas com materiais alternativos. Nesta página, embalagens plásticas dão o tom à vitrine criada para um corner em Berlim (2003)

61 ARC DESIGN


Fotos Ernest Levi

Da Redação

62 ARC DESIGN

O que seria o novo luxo? Aquele proveniente de bens

palavras, a “redefinir o próprio conceito de luxo e, por-

imateriais, como o silêncio, o tempo, o espaço, a liberdade

tanto, a reler as ligações com o projeto de design”.

pessoal, a beleza, a segurança. Categorias enumeradas

É nessa chave de leitura – no ponto de cruzamento

pelo famoso sociólogo Domenico De Masi, e citadas no

entre o luxo e o design – que vemos o projeto criado

livro “Lusso e Design”, de Giovanni Cutolo (Editora

pelo designer italiano Sergio Calatroni para a marca de

Abitare Segesta, Itália, 2003).

cosméticos francesa Stephanemarais, empresa coligada

Mas antes de alcançarmos esse refinamento da noção

à japonesa Shiseido.

de luxo, o novo luxo – em grande parte graças ao

A nova marca nasce de uma necessidade de renovação,

design – já assume contornos diferenciados, que têm

ela se quer mais ágil, moderna, inovadora, capaz de

no conhecimento e na cultura a sua base. Não é mais a

criar um conceito próprio – nos produtos e na imagem.

matéria-prima rara e cara, nem o objeto de arte pre-

Longe da rigidez da estrutura organizacional japonesa,

cioso, que definirão o novo luxo. O novo luxo não se

mas conservando os mesmos critérios de elegância e

baseia e não expressa a ostentação, mas a sutileza. “Ele

sofisticação, a nova marca leva o nome de um

é evoluído, culto e inovador”, afirma Enrico Morteo no

maquiador, colorista famoso, que há sete anos já tra-

posfácio ao mesmo livro, que se propõe, em suas

balhava com a Shiseido: Stephane Marais.


Foram chamadas figuras criativas, livres, marginais às

os móveis, os interiores, as vitrines, os folhetos, as

tendências reinantes, para definir os conceitos básicos da

embalagens, enfim tudo que se relaciona ao packaging.

marca. Entre elas, Sergio Calatroni, arquiteto e designer.

E por que definir este trabalho de comunicação e

Calatroni, que também vem do mundo da moda, mas

design como o novo luxo? A Stephanemarais transmite

conserva a postura do arquiteto, do projetista, foi con-

um estado de espírito, não baseia sua sofisticação na

vocado para cuidar de toda a imagem visual da nova

riqueza dos materiais já consagrados. Ela cria, faz des-

empresa. Estava formado um “casamento” altamente

pertar novos valores imateriais, os valores do design,

conflituoso, mas de resultados positivos. “Marais é

próprios à nova noção de vida luxuosa.

hiper sensível”, explica Calatroni durante a entrevista

“Recolho imagens em todo o mundo, tenho um enorme

para ARC DESIGN, em São Paulo. “Ele é apaixonado

arquivo”, explica Calatroni, “e trabalho pelo método da

pela moda, produz os desfiles da Chanel, trabalhou

colagem. Venho de uma geração quando ainda se

com Rei Kawakubo. Eu atuo censurando os excessos.”

desenhava tudo à mão, quando havia o ‘paste-up’, o

Na empresa, Marais é responsável pela palheta de

cheiro de gesso.” Hoje o designer, que tem estúdio em

cores. Calatroni cuida da imagem gráfica, da loja da rue

Milão e em Marrakesh, no Marrocos, viaja a maior

Saint Honoré em Paris (vizinha da famosa Colette), cria

parte de seu tempo. É em culturas diversas que vai

No alto desta página, justaposição de diversas imagens na página central de press release (2003). No alto da página ao lado, papel de presente para o período natalino (2002) que recebeu em 2003 o prêmio do Ministério do Comércio Japonês. No pé das duas páginas, embalagens de cosméticos (2001 e 2002): destaque para o resultado obtido com colagens de imagens da pesquisa iconográfica realizada pelo designer. Receberam em 2003 o 18th London International Advertising Awards (LIAA) e também o prêmio do Ministério do Comércio Japonês


buscar sua inspiração, numa constante contaminação

novas associações – e emoções –, novos coloridos que

entre grandes fotos, desenhos murais, crianças,

têm a ver com as cores da estação. Sempre operando

pequenos objetos, texturas, cores. O resultado é diver-

uma total inversão de valores já estabelecidos.

so, estranho, mas de forte impacto emocional.

Qual a filosofia que norteia seu trabalho para a criação

Há três anos Calatroni trabalha na criação da imagem

da imagem gráfica da Stephanemarais, perguntamos a

da Stephanemarais. A loja foi inaugurada há dois anos

Calatroni. “O packaging é como um vaso grego. Assim

e, no início, toda ela era mudada de forma radical a cada

como eles, cada embalagem tem uma história, e todas

mês. Hoje as mudanças estão mais espaçadas, mas a

são ligadas entre si com meios diversos e com imagens

cada vez surge, como por encanto, um novo universo,

que podem ser usadas em diferentes suportes.” ❉


Arquivo ARC DESIGN

Fotos Sergio Calatroni

Nas duas páginas, interiores da Stephanemarais da rua Saint-Honoré, em Paris, as quais mudam de identidade a cada três meses. Acima, à esquerda, detalhe da instalação Mimetic for Mama (junho/2002), que utiliza 25 tecidos com padronagens miméticas; na sequência, instalação Imaginary Existence (setembro/2002), com movéis usados. Abaixo, à esquerda, instalação Summercity (março/2003), em acrílico, MDF e tinta dourada; na sequência, instalação Transgoldfusiontest (outubro/2003), na Sephora Champs Elysées, Paris, com impressão digital no piso. Na página ao lado, no alto, inauguração da loja (março/2002). Embaixo, à esquerda, instalação Expeditionen (dezembro/2002), na qual o papelão surge como base para aplicações de imagens, tipos e outros símbolos; na sequência, instalação Copy World (janeiro/2003), com letras adesivas. À direita, sacolas Aereo (2002) e Tour Eiffel (2003)

www.sergiocalatroni.com.br


Uma Publicação Quadrifoglio Editora / A Quadrifoglio Editora Publication ARC DESIGN n° 35, Março/Abril 2004 / March/April 2004

Apoio / Support:

Diretora Editora / Publisher – Maria Helena Estrada Diretor de Marketing / Marketing Director – Cristiano S. Barata Diretora de Arte / Art Director – Fernanda Sarmento Redação / Editorial Staff: Editora Geral / Editor – Maria Helena Estrada Editora de Design Gráfico / Graphic Design Editor – Fernanda Sarmento Chefe de Redação / Editor in Chief – Winnie Bastian Equipe Editorial / Editorial Staff – Jô A. Santucci (Revisora) Tatiana Palezi (Produtora) Traduções / Translations – Paula Vieira de Almeida Arte / Art Department: Designers – Cibele Cipola Milena Codato Estagiárias – Isabelle Carramaschi Tatiana Giovanelli Participaram desta edição / Contributors in this issue: Angélica Valente Ary Diesendruck Fernando Silveira Heloísa Helvécia Pôla Pazzanese Michel Moch Nelson Kon Departamento Administrativo / Administrative Department: Fabiana Ferreira da Costa

Apoio Institucional / Institutional Support:

Arc Design – endereço para correspondência / mailing address: Rua Lisboa, 493 – CEP 05413-000 São Paulo – SP Brazil

Departamento de Publicidade / Advertising Department: Ivanise Calil Rosana Guido

Telefones / Telephone numbers: Tronco-chave / Switchboard: +55 (11) 3088-8011 Fax: +55 (11) 3898-2854

Departamento de Circulação e Assinaturas / Subscriptions Department: Cristiane Aparecida Barboza

e-mails: Administração / Administration: administarc@arcdesign.com.br

Conselho Consultivo / Advisory Council: Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta (Fundação Padre Anchieta’s director); arquiteto (architect) Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia (designer, expert on ergonomy); Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de Arc Design para assuntos internacionais (expert on European culture and design, Arc Design consultant for international subjects) Pré-impressão / Pre-press: Cantadori Artes Gráficas Ltda. Impressão / Printing: Takano Editora Gráfica Ltda. Papel / Paper: Suzano Papel – Couchê Reflex Matt (miolo – 130 g) Supremo Duo Design (capa – 250 g) Os direitos das fotos e dos textos assinados pelos colaboradores da ARC DESIGN são de propriedade dos autores. As fotos de divulgação foram cedidas pelas empresas, instituições ou profissionais referidos nas matérias. A reprodução de toda e qualquer parte da revista só é permitida com a autorização prévia dos editores, por escrito. The rights to photographs and articles signed by ARC DESIGN contributors are property of the authors. Photographs for publicity were provided by the companies, institutions or professionals referred to in the articles. Total or partial reproduction of any part of the magazine is only permitted with prior, written consent by the publishers. Cromos e demais materiais recebidos para publicação, sem solicitação prévia de ARC DESIGN, não serão devolvidos. Chromes and other materials received for publication, but unsolicited by ARC DESIGN, will not be returned.

Assinaturas / Subscriptions: assinearc@arcdesign.com.br Comercial / Marketing: comercial@arcdesign.com.br Direção de Arte / Art Direction: artearc@arcdesign.com.br Editora / Editor: editoraarc@arcdesign.com.br Produção / Production: producao@arcdesign.com.br Redação / Editorial Staff: redacaarc@arcdesign.com.br

Internet Site:

www.arcdesign.com.br



TEL – +55 (11) 3088-8011 FAX – +55 (11) 3898-2854 SITE – www.arcdesign.com.br e-mail – assinatura@arcdesign.com.br Nome

Data de nascimento

Empresa

Ramo de atividade

Endereço

Comercial

Bairro

CEP

DDD

Fone

Cidade Fax

Residencial Estado

e-mail

I.E./RG

CNPJ ou CPF

Data

Assinatura

ASSINATURA ANUAL 6 números da revista 1 PAGAMENTO DE R$ 85,00 2 PAGAMENTOS DE R$ 42,50 FORMA DE PAGAMENTO:

ASSINATURA BIANUAL 12 números da revista 1 PAGAMENTO DE R$ 170,00 2 PAGAMENTOS DE R$ 85,00

Depósito em conta corrente*

Cheque

Cartão de Crédito

*Somente à vista. O comprovante de depósito deverá ser enviado com esta ficha preenchida para o fax (11) 3898-2854. Depósitos: Banco Itaú (341) - Agência 0068 C/C 56762-7

CARTÃO DE CRÉDITO: Nº do cartão

American Express

Diners Validade

Mastercard /

Visa

Para adquirir números anteriores, consulte-nos por e-mail (assinatura@arcdesign.com.br) ou por telefone (11 3088-8011)

Você também pode assinar ARC DESIGN pelo website www.arcdesign.com.br

Name / Company Occupation Address Zip code

City

Telephone

Date

State

Country

e-mail

Signature

ANNUAL SUBSCRIPTION (6 issues) North and Latin America US$ 73,00 Europe and Africa US$ 78,00 Asia and Oceania US$ 86,00 Credit card number

METHOD OF PAYMENT: Mastercard Visa Diners American Express

Expiring date

/

Selected past issues are available for sale (e-mail us for more information: assinatura@arcdesign.com.br) Delivery period: about 15 days.

You can also subscribe to ARC DESIGN through our website www.arcdesign.com.br Quadrifoglio Editora: Rua Lisboa, 493 – CEP 05413-000 – São Paulo – SP – Tel.: +55 (11) 3088-8011. Fax: +55 (11) 3898-2854.




Pag Simples

15/3/04

11:44 AM

Page 1

Cama de Solteiro

Estrutura em aço cromado e cabeceira revestida em tecido Armário Squadra

Porta com moldura em alumínio anodizado fosco e vidro transparente

CAMAS

CADEIRAS

MESAS

E S TA N T E S

ARMÁRIOS

CLOSETS

BUFFETS

H O M E T H E AT E R S

ACESSÓRIOS



This is a very rich and important issue – for us and also for you readers. In the special supplement – Masters of Architecture – we published an exclusive interview with OSCAR NIEMEYER for ARC DESIGN, our great Brazilian architect. There are also emblematic works and recent projects, still not executed, declarations on several aspects of our reality, and a “self-portrait” poem. But the show of great figures does not end here. INGO MAURER came from Germany to visit Brazil. He is the creator of the special installations at the “Iluminar” exhibition – maybe the most beautiful one about light ever – along with FERNANDO and HUMBERTO CAMPANA as authors of the scenographic project. Talking about the CAMPANA brothers, the house they constructed for the institutional exhibition at Cologne’s fair, in Germany, was incredible! Still in the international sector, we visited and published the CASA TOSCANA project, showing the trademark of the region, the Green Seal of the furniture companies located in its industrial district. In Brazil, designers ÂNGELA CARVALHO and LARS DIEDERICHSEN researched and reelaborated the repertory of the popular art and handcraft from several regions of the country. The project of Caixa Econômica Federal, Brazilian Handcraft with Design, is a good opportunity to discuss until which point, or moment, the designer’s hand should interfere in the primordial, handcrafting, gesture. Architecture and, mainly, interiors are constantly facing a higher professionalism and deserve an assigned section: A Project’s X-Ray, in which architect ISAY WEINFELD specifies his project for the store Clube Chocolate. In the section devoted to young architects, there is another critical essay by PÔLA PAZZANESE, who discloses the Brazilian project in several states… An architecture again significant. There is also the Brazilian industry, with a profile that approaches two contiguous subdivisions: wooden furniture and Brazilian granite… with many aggregated values! Have a pleasant reading! Maria Helena Estrada Publisher

ALL LIGHTS. THE LIGHT – page 14 The title, “Iluminar” (“To Light”), does not translate completely this exhibition; it goes beyond it. Recalling “All Fires. The Fire,” by Cortazar, it appears there could not exist a better name. It tells us about light, shadows and dimness, sensibility, fantasy, emotions, and technology. It is the great spectacle of all lights. Maria Helena Estrada

A collection of 250 lamps – from the old incandescent bulb to LED, from 1920 to 2004 – develops the theme “from shadow to light and return” in a sequence that starts with Eclipse (Vico Magistretti), aligned in series, opens with the Milky Way’s space and ends with the Paradise of Lamps (or of the ampoules, the lamps that symbolize Ingo Maurer), in a surrealist tropical forest. Along the exhibition, which is also extended to Ghosts and Ectoplasms, Fragmentation, and Articulation, special installations developed by Ingo Maurer outline the scenography created by Fernando and Humberto Campana. They provided the base, the copper-plated floor, and the conception of the spectacle. In both the whole production and the details, what predominates is the scenography, allied to sounds and rhythms, games of alternating lights, concluding the spectacle. We interviewed Ingo Maurer and Fernando and Humberto Campana, the spectacle’s stars who organized in six hands this journey to the light. ARC DESIGN – Ingo, you are always called “the poet of light” by people, when, many times, they forget you are also a master of technology. Naturally, one does not exclude the other. But could you tell us in which moments you appeal to one

or to the other? Or is it an unconscious and simultaneous process? INGO MAURER – I believe there is a symbiosis between poetry and industry. Firstly the idea is born, though in an unconscious way. With my experience and willingness, I know with which technique I should work. Many times my technicians say: “You are completely insane, it is impossible to do this;” but I am persistent. The art of my work is to create energy, challenge people, bring them to the present. A technology never used before makes the object mysterious. For instance, in order to completely develop “Wo Bist Du Edson?”, a 360º-plain holography, I took twenty years. And poetry simply happens; I trust my instincts. Each day technology is developing more and better. To apply poetical expression is many times difficult, but it is possible to play with the minimum expression, and the technique might also become poetic. I started by looking for forms, but I soon found out light is the most important aspect. Today I combine form and light; I calculate shadow. AD – Your first lamp was a great bulb and, throughout your career, the bare and deprived lamp is a recurrent idea. Where does this passion come from? IM – I like honest understandable things, and not hidden. Do you know the translation of “abat-jour?” It means “abattre le jour,” that is, to kill the day! My first lamp was a big bulb, which is actually the final part of the exhibition, the Paradise of Lamps, almost entirely produced with incandescent lamps, some fluorescent. And everyone will be present there: Castiglioni, Sottsass, De Lucchi, Arad, Lovegrove, Starck, Gino Sarfatti, Nicki de Saint Phale, my own lamps, besides palm trees, tigers and even an elephant symbolizing the forest’s exuberance; everything amongst lots of green. AD – The lighting technology is always provided by the development of new lamps, of new sources of light. But your projects include technologic aspects that are your own creations. How is such development processed? IM – Yes. I do carry ideas with me for many years and, at a certain moment, I think: “This is the right time to perform it.” And that is what I do now, for my exhibition at the Furniture Fair, in Milan. I still do not know if I will get to finish it, but I do not like repeating myself, I like crossing boundaries, taking risks. I love my work, it is the passion that keeps pushing me ahead, and I have a wonderful team, which allows me to constantly create something new, otherwise the work becomes wearisome. My pleasure is to perform new experiences, like the one I have just concluded, a wallcovering made of LEDs. AD – Lighting and lighting design are tiring terms. How to make an exhibition of lighting fixtures exciting? What was the main idea for the installations at “Iluminar?” IM – I can say the main idea was lightness. Lightness and surprise. I also think an exhibition should be entertaining. And this exhibition is not only about lamps, but about light as a whole, in order to make people think more about light itself. We wanted to offer people a pleasant sensation. When they leave, I think their hearts are warmer. What is gratifying in my life is to be able to make people happy with light. AD – You have visited Brazil many times and already knew how to dance lambada before the Brazilians from the south. What does Brazil mean to you? Is it a country where it is worth investing your time, or is the development of projects here a very difficult task to achieve? IM – The only difficulty with Brazil is the distance, and also a difference of mentality. Many times I feel like producing some projects here, because people need to get experience and work. But it is still very hard. I am developing several projects here and, one of them, when ready, will really have a very strong expression. On the other hand, I love Brazil. São Paulo is an excellent city; it is fast, neurotic, anonymous. And Brazilians feel, live together, in a different way, in comparison to Europeans. If I were younger, I would try to make my life here. The country has something very very positive. Ingo Maurer already worked together with the Campana brothers some years ago, in an exhibition at MoMA, New York. Since then, the frequency has been the same. “Ingo is a wizard,” the Campanas say, “The Wizard Merlin.” Only in that way, with such affinity of souls, this exhibition could be carried out. “The exhibition’s scenery wants to tell an intriguing story about light that should start from scenography itself. Performing in a less technical and more subjective way is how we approach all the projects proposed to us,” the designers say.

English Version

EDITORIAL


“In the Milky Way, we wanted to physically immerse the visitor in the space, introducing him to the lack of light. With the orange color, warmer, we made the transition, until reaching the excess of light of the green landscape. After that, we made the visitor go through a 25-meter-long black corridor and an Arik Levy video in the background. There is an initiatory aspect throughout the trajectory,” they conclude. But there is still a central element, such as a big spiraled egg, which is the Ghosts and Ectoplasms section, from where the translucent lamps seem to come, like the collections by Noguchi and Branzi. Situated at the both sides, one more show is performed: Articulation, which values the silhouette of the lamps; and Fragmentation, with large lamps by Verner Panton, and Porca Miseria, by Ingo Maurer. “The copper floor is the unifying element, it immediately inserts the visitor in a type of warm and bright light fog,” Fernando and Humberto Campana explain. “I think a dim lamp is only half of a lamp,” said Michele De Lucchi, one of the designers presented at the exhibition and interviewed for a detailed catalogue, which gives us the key for interpreting such magnificent exhibition. “ILUMINAR: DESIGN DA LUZ” From February 18 to May 2, 2004. Museu de Arte Brasileira – FAAP Curators: Sarah Chiarella Vignon and Stéphane Corréard Scenography: Fernando and Humberto Campana Special Installations: Ingo Maurer Lighting: Maneco Quinderé Musical Composition: Daniel Ciampolini General Coordination: Dominique Besse Assistant to Curators: Dorothée Deyries Scenography Assistant: Leo Kim (Estúdio Campana) FAAP Coordinator: Fernanda Celidônio Executive Project Architecture: Pedro Mendes da Rocha and André Wissenbach (Arte 3) Installations: Ingo Maurer & Team: Gabi Kümmerlin, Hagen Sczech, Sebastian Utermoehlen, Michel Semples

A type of huge jigsaw puzzle, the house idealized by the French designers is mostly formed by millions of interconnected small plastic pieces: red, grey and white clamps, besides plastic elements resembling seaweeds. Some “walls” are formed by great white combs in polyethylene, piled up, allowing quick reconfiguration. The counterpoint of the Bouroullecs’ synthetic house, which was the house proposed by Fernando and Humberto Campana, is almost totally built with natural materials, among which the main is wood: the entire structure of the house is formed by pinus slats randomly interconnected, referring to the Favela chair, a famous creation of the designers. The differences in relation to the proposal of the French brothers are not only those. Opposed to the transparency and volubility of the spaces proposed by the Bouroullecs are the density and firmness of the structure proposed by the Campanas. Instead of choosing practicalness as the center of their project, the Brazilian designers privileged the satisfaction of the senses: in the center of the “house” there is an island for meditation, conformed by two large curved walls made of straw, which became the center of the attention. “Involved” by the sound of Maria Bethânia’s CD called Brasileirinho and by the colorful lights of the Yang lamp (designed by Carlotta de Bevilacqua for Artemide), the visitor may relax on the Meditation Pod (a mixture of armchair with bed, designed by Steven Blaess for Edra) while feeling the scent of straw. The “vegetable-garden table,” with organic vegetables, is also outstanding. Behind the image of impact, there is the subtle induction towards a change of behaviour. “It is necessary to share the riches,” Humberto Campana comments. On the floor, the same wooden slats that covered the wall are recovered by two layers of transparent polyurethane resins: Desmodur and Desmophen, by Bayer – the only synthetic raw-materials of high technology used in the Ideal House by the Campana brothers, that highlighted even more the “naturalness” of the entire space proposed by the designers from São Paulo. “We thought of a house that would remind us of our childhood; the idea was to free our reminiscences, though with a contemporary look,” they say. A real spectacle amongst the cold seriousness of Cologne!

BRAZILIAN HANDCRAFT WITH DESIGN – page 28 The exhibition Iluminar included collections from the Georges Pompidou Center (Paris), the National Fund for Contemporary Art (Paris), the Museum of Decorative Arts (Paris) and from the Vitra Design Museum (Weil am Rhein), besides exclusive pieces lent by designers such as Ron Arad and Michele De Lucchi, and other pieces in industrial production, provided by galleries and foreign collectors and, in Brazil, by the companies Dominici (Flos) and La Lampe (Artemide).

A project carried out by Caixa Econômica Federal led designers Ângela Carvalho and Lars Diederichsen to get to know Brazil, or better, the northern, northeastern and center-western Brazilian regions that are still thought to be the richest in cultural traditions and handcraft expressions. The result is a beautiful collec-

IDEAL HOUSES COLOGNE 2004 – page 24

tion in which handcraft remains and, at the same time, in which the designer’s sensibility is detected

Representing a confrontation between brothers, the Ideal Houses designed by Fernando and Humberto Campana and by Erwan and Ronan Bouroullec were the greatest highlight of IMM Cologne 2004. Winnie Bastian

There were about 120 visitors at the furniture fair in Cologne, Germany, carried out from January 19 to 25. The highlights were the Ideal Houses, designed, this year, by two pairs of brothers: Erwan and Ronan Bouroullec from France and Fernando and Humberto Campana from Brazil. Although having different origins and very diverse influences, both pairs agree on the same statement: the ideal house must live up to the expectations and needs of the ones who inhabit it and, therefore, it is constantly changing. Despite such basic supposition in common, each pair’s vision of the ideal house is pretty diverse. The Bouroullecs’ proposal privileges agility in the transformation of the spaces: carpets that may be enlarged or reduced through zippers, walls that may be disassembled and raised again in another place.

Maria Helena Estrada

Traditional handcraft; handcraft for tourists; urban products constructed in a handcrafting style? Which would be the way of valuing this deed found all over Brazil? To radicalize the work of designers able to perform a language transposition, bringing – through a new project – the object purely handcrafted towards the universe of design? In the project Artesanato Brasil com Design (Brazilian Handcraft with Design), Ângela Carvalho and Lars Diederichsen think over those options, and the truth is that, whatever the language is, the twosome handcraft/design is in fashion. The question is: what is valid and most interesting? To improve a little bit the quality of the final product, giving also better life conditions to the artisan? Or “to detach” the new object from its original roots, bringing it to a contemporary universe when introducing a current vocabulary? In the interview with Ângela Carvalho on her new project Artesanato com Design, many of those questions are answered. ARC DESIGN – How did the idea for the project come up?


ÂNGELA CARVALHO – It came up from the need of Caixa Econômica Federal (a large Brazilian public development bank and the main financial agency in housing and urban services) to find alternatives for the universe of marketing-gifts. After talking with Lars Diederichsen, with communities of artisans and with the marketing department of Caixa, a pattern was created in order to transform gifts in an opportunity to divulge the mission and the commitment of Caixa with social actions and with the preservation of culture. Our proposal was to combine modernity with tradition, the designers’ knowledge with the artisans’ art, in the creation of an exclusive collection that would comprise aesthetical and cultural value and also join social and emotional content. AD – How did you determine the regions to be visited, the centers where to act and the materials? AC – Some priorities were established. Geographic: urban or rural communities from the north, northeast and center-west; Incentive to the Generation of Gains: handcraft as the basis of their maintenance or of dependence for a bigger social and economic insertion; Cultural Value: handcraft work that is original and reflects the Brazilian culture revealing its roots; Social Segments: specific social groups that are achieving their citizenhood through their handcraft work; Organization: minimum capacity of organization and commitment of the artisans’ group; Capacity of Production: in relation to the established deadline for the projects (we had less than four months to fulfill all the phases of the project); Quality: aesthetical aspects of manual work and finishing of the final product. As a supplementary phase, the suitability of the chosen theme for the collection was evaluated: People, Animals, Flowers and Fruits from Brazil. In the field survey, we visited eight states, fifteen cities and twenty-five communities. AD – What are the main differences concerning the development, that is, the improvement, the quality and the modality of the production that you found, in each region? Which materials did you choose? AC – We work with all types of materials and techniques. Each region or group is diverse. The beauty of handcraft is exactly in the peculiar and incomparable way each artisan works. AD – Where did you interfere with the eyes and hands of a designer and where did you let handcraft express itself in the stage it is? For instance, in the jewelry and ceramic paintings, respectively. AC – We had two kinds of performance: the determination of the object, that is, cases like the figurative ceramics of Alto do Moura (among others) where we chose the object (with the eyes of a designer) and created a scenery able to value the work of those artisans. And also the conjunctive creation, such as in the jewelry case made of golden grass and the brooch inspired by its flowers, in which our interference was bigger. We endeavored to insert the concepts of design, adding value to the product. AD – Which sources, thought or already created, will you use to spread this production? AC – One source would be the one from the sale spots of the museums and cultural fusion in the different states. Caixa is developing an itinerant exhibition that will also be held at the embassies abroad. The packages and the whole visual programming created for the collection by André de Castro valued and gave identity to the project. AD – Will this project have continuity? Will it cover the same geographic area or will it expand throughout Brazil? AC – We are already thinking about the next phase that will cover other Brazilian regions.

Maria Helena Estrada

The idea is simple: if an industry depends on natural resources for its production, it must find the suitable way of exploiting them in order to survive. And even a little further, in order to develop itself... To transform this idea into a fact, Consorzio Casa Toscana joined the University of Florence and the Italian Environment Institute in the Green Home project, an enterprise for the definition of production parameters for the furniture industries of the Italian region, aiming at the sustainable development. The project is one of the components of the European Union’s program of implementation of the environmental policy, Life Environment. Its objective? To reduce the environmental impacts of the production without excluding the product’s quality and its economical feasibility. Summarizing in one word: without excluding design. In the beginning of their works, in 2001, 15 companies in the region joined the proposal and developed 15 prototypes, identifying possible reductions of the impacts in the process, from the extraction of the raw-material to the exclusion of the final product. The effort resulted into a methodology of production that involves simple choices, such as the use of certified wood, the option for watery paints, the utilization of steel instead of aluminum and, of course, the optimization of materials: when the subject is the environment, less is more. The companies that adopt the new way of production carry the Green Home seal and the credibility (an aggregated value?) of the ones who worry about the world around themselves. As an outcome of the first three years of work, Consorzio highlights the relation established with the designers that took part in the project, positioning their role in the environmental issues and spreading the culture of sustainability among the companies in the sector. In an interview for the magazine Casa Toscana, the representative of the company Toncelli (which carries the project’s seal) stated to be sure that “the environmental preservation is essential for the future of our sector.” Ecoactivist’s talk? A new politically correct fashion? Maybe only the confirmation (a little delayed, indeed) that the lack of raw-material is a fact and that, in order for us to continue our activities, it is necessary to change some adopted roads... In this new direction, Alessandro Giari, president of Casa Toscana, emphasizes in the preface of the book “Progettare e Produrre per la Sostenibilità” (which includes articles and essays on the experience of the project) that “this way of facing production is still taking its first steps, but it is essential to stimulate the development of the furniture sector in Tuscany, be it in terms of quality or in terms of competitiveness.” It seems the obvious has finally started being assimilated and transformed into feasible solutions. Nature is grateful!

ARC DESIGN has visited the companies that participated of the Green Home project on an invitation by Consorzio CasaToscana.

A VIEW SEEN FROM THE GROUND (OR THE FROG’S PERSPECTIVE)* – page 36 A woman walks through a corridor crowded with sick people in a big hospital. She quickly stops to comfort an old man on a stretcher, offering words of blessing and a piece of holy bread. It resembles Brazil, but it is the French part of Canada, both sit-

GREEN PRESENCE IN TUSCANY – page 32

uated in America. One of the most consistent accurate films about the existential horizons of a generation is starting, “The

In its third edition, the Green Home project comprises companies

Barbarian Invasions,” which is a sequel to “The Decline of the

in the furniture sector of Tuscany, Italy, and designers in search

American Empire,” by Denys Arcand. On the screen, which

of the production in conciliation with the sustainable develop-

resounds like a katana slicing layer by layer the huge dream and

ment, suggesting new paths for the ecologically correct and eco-

the elementary reality of an era, the final room of the twentieth

nomically feasible design

century is seen.


Pôla Pazzanese

In another place and time, a woman dives semi-naked in the reality of a people and, when emerging back to the surface, she brings, attached to her beautiful body as seaweed-garments, this nation’s most intense features: Lina Bo Bardi meets Glauber Rocha and the countryside of Bahia, amongst one of the beautiful movements of the same fearless and generous era, in the previous room of the same century. However, Lina introduces us, along with other brilliant professionals in her area, clear ways on how to perform the transposition of a dream towards reality, without necessarily bureaucratizing it in hyper-intellectualized cabinets and enclosures (which is a fatal mistake of the eurocentered, schizophrenic and conflicting characters from the films mentioned in the beginning of this text). Her Sesc Pompéia (famous cultural center in São Paulo) changed the cultural and popular institution’s status, when the suitable opportunity came up, to the following main status: plastic, technical and environmental quality with no ostentation, coherent architectonical programming and party, and the subtle remark that she is an intellectual who sees the nation with her own assumptions, but in a tight approach towards its basic values. Bo Bardi did not deny – nor superimposed her theory over – what she saw. She was successful and created a value in, through, and for our culture, an urban program, an expression of what is possible – the feudal city recovered, for everyone, a subdivision in districts. She was also an urbanist and was not here to embellish what had its own essence. Her concrete was mulatto, just like the artists from Minas Gerais in the baroque period. Through that point of view, it is possible to observe, be it in an individual house or in a public transportation system or square, which aspects describe in its matter what is peculiar in the act of smoothening the rhetorical excess that is typical of our society full of bachelors, in order to face the huge necessities of our reality with constructive solutions. And, in my opinion, such solutions do not have their popular intelligence generated by compliments to a captivity-past, nor to an agrarian-exclusion and neither to a populist attempt of spreading the rhythm axé. Humberto Hermeto’s GA house, in Minas Gerais, recalls, in its implantation and careful distribution, the wisdom of the Brazilian houses built on hillsides, without imitating them completely in the form, but incorporating their logistical strategy of preserving the intimacy, promoting the most enjoyment of the landscape and acknowledging the place, adapting itself to the site through its foundations. Created by such attitude, there are several constructive and plastic details in which specific techniques are developed, such as techniques for framework versus structure, for structure versus construction site, or for the daily environment of the house to be less formalist and more “democratic.” It also reminds me of houses presented by architect Leonardo de Paula, when visiting the region of Formiga, in Minas Gerais, with wisely appropriate tiled roofs; with very colorful clotheslines, ceiling-cover made of zinc; barbecues, drying corncobs and whatever would come to mind or have a typical aspect from Minas Gerais. The rich and the suburb houses, since the 1950’s and 60’s. We think of their constructive intelligence, which incorporated everything that was very modern, simply local: there they did not imitate an ideal, they were their own reality. It is laughable to imagine Aleijadinho saying to Amílcar de Castro, both amused: “Oh, if only I had obtained this metallurgy in time, you would have had your ass kicked...” In Rio Grande do Sul, a study for metropolitan waterway stations carried out by Studio Paralelo, the POA Hydrobus, shows us the elegant simplicity that is possible to give solution to a problem with mass public transportation and to the development of a not much exploited potential of tourism and leisure. A fundamentally urban dimension of design as a social-economic result from a society that wishes to develop itself. As a result, coherently, there is a styleless approach, considering that the public equipment is thought to highlight the intrinsical characteristics of the issue, instead of itself: the lagoonal landscape of Guaíba, the fluidity and accessibility of the passengers, the integration towards the other means of transportation, the delimitation of a clearly discreet and contemporary identity to indicate the system’s urbanity. In a landscape such as the one of a Brazilian metropolis, with its exaggerating

urban individualism and consequent competition for the buildings’ “compositive-formal-merchandizing” notoriety – typical of a society unsure about its own references – a project that is developed in reflection of itself is an excellent contribution to the worst aspects of our history. And in Rio de Janeiro. Hail, Rio! As Sofia Telles recalls, Rio did not have any projects to stop being the federal capital, abandoning strong psychosocial origins that today degenerate it into a terminal populism. It only survives thanks to the almost unbelievable initiatives in its courage (yes, in many occasions the staffs have to negotiate directly with the organized crime) to face the root of the problem of exclusion, leading the urbanism to go up the hills towards the slums, in a process we hope not to have started too late. Finally a consequent public policy... Rio claims: elimination of pollution, no more fright gasps nor “piscinão” (that is, Piscinão de Ramos, a big swimming pool created for residents of an area with no clean beaches). And the BLAC office, inside the Favela-Bairro program, in the (re-)slum district Parque Alegria, shows us one of those many alternatives of, like they say in the memorial, incorporating it to the polis without compromising its local identity. That, added to infrastructure, starts solving the violence problem, excluding its foundations: a State that does not serve such less-privileged social class, because it only serves a few. Such identity, shaped in the confronting of years with common necessities, strengthens community bonds stable enough to keep them alive as a society, emerged in the true source of urban violence: the elite’s complete disinterest in their destinies, as if only the police would solve the problem. Architects adopt the strategy of acknowledging each place linked to its local history and highlighting it with the entire disposition of modern equipment and urban furnishings, as a way of bringing to the community the notion of possession, concrete, to a society. More than attempting a rough mimicry, they get to accomplish forms and techniques commonly accessible only to the educated elite, and normally omitted to the ones who most need it, exchanged by a “popular architecture” that barely disguises the elite’s intellectual disregard for our real and contradictory appearance. After all, whether you are erudite, popular, populist or pop, have you ever seen popular musician Carlota make a consonance mistake in any of his samba compositions?

* “Perspectiva do Sapo” (The Frog’s Perspective): Paulo Mendes da Rocha, describing the view of the Osaka Pavilion from its underground (1988).

A PROJECT’S X-RAY SURPRISE CHOCOLATE – page 42 The discrete façade with the name “Clube Chocolate” omits the new beach of pretty attentive locals from the capital of São Paulo. A beach made of surprises, designed by Isay Weinfeld. In this article, he explains how he designed, from macro to micro, the new “concept-store” of the metropolis. Heloísa Helvécia

Have you heard of the Collete store, in Paris, of Corso Cosmo 10, in Milan, of Chocolate, in Rio de Janeiro? They have nothing to do with this subject. The new “concept-store” in São Paulo is similar to... itself. Obviously, Clube Chocolate is based on the international experience of gathering all the good products in the same store: all the good and best products related to fashion, gastronomy and design. Evidently, this new multibrand store is the “sister” of the boutique from Rio de Janeiro, its namesake. But those are only references. The project seems to be inspired by its own stainless steel surfaces, which are reflexes that help encase this huge hide-and-show game. Weinfeld conceived the whole project, from the four-storey building of 2,400 square meters, to the small arrangements on the tables of the restaurant, installed throughout the four storeys. “I am only interested in a work if I am


able to develop it completely. For me, it is a whole; I do not separate the socalled ‘serious’ architecture from the architecture of interiors. The building and the ash-tray have the same importance, the only thing that changes is the scale,” he says. The result of the obsession for details is a construction made of metonymies where nothing is gratuitous and each part, for the smaller it may be, expresses the whole. Along with the store’s curators and consultants, the architect defined the disposition of the pieces for sale. It is worth clarifying that, at Clube Chocolate, the way of exhibiting the objects, which are many times unexpected, is not bureaucratic. Carefully chosen for a well-informed and rich public, which supposedly appreciates more the concept of what it buys rather than the brand, the products are not distinguished by their brands, or organized “`a la department store,” in the “leather shoes, purses and accessories” style. They are classified by ideas, styles, moods. Each niche holds a specific adaptation. For instance: the section devoted to romantic women – or to women who woke up in a romantic mood – mixes creations of designer Isabela Capeto, from Rio de Janeiro, with simple bottles of Leite de Rosas (facial and body lotion) and “a little” more expensive pieces, such as the Yves Saint-Laurent sunglasses. “Since the beginning, there was the wish of showcasing merchandise in an unusual way,” Isay comments. It is his eye displayed behind the plastic buckets filled with bikinis, the aluminum case from a filming set that became a counter of men’s underwear, and the Bertoia chair, also for sale, with some T-shirts on it. In all furniture and objects, what was not designed in the office was personally conceived by the architect, who does not entrusts anyone the task of searching garbage or antiquaries. “I like finding well designed things amongst gadgets. It would be silly to pay someone to do what I most love.” Mixed with unnamed pieces, there are Lina Bo Bardi’s chair and Noguchi lamps – which compose the space of the minimalist fashion, all in black and white. Isay is only able to work like this, from macro to micro, and he only accepts the mission when he identifies with the client, the product and the service. “In order not to get irritated or have a heart attack when seeing the wrong towel on a table of a restaurant designed by me, I prefer to do everything myself and firstly make sure of the correct client for me, and vice versa.” In the project mentioned here, there was complete identification. On the one hand, there were entrepreneurs willing to offer, in the same place, from flowers to CD’s, from clothes to books, from modern technology to eternal design, from food for the body up to food for the soul. On the other hand, there was an architect that, way before designing Clube Chocolate, already defined the architecture profession as an art of “placing cinema, theater, dance, culinary and music under the same roof.” Such meeting created a space that calls attention through the senses, interconnecting the sensorial plans. When in contact with the office, one of the client’s concern was the move from Rio de Janeiro to São Paulo, specifically to the best part of Oscar Freire – the most popular street of the capital. The great doubt was: to show or to hide the origin? “I decided to make it clear that it is a store from Rio de Janeiro; I think there is no reason whatsoever to hide anything, never,” says Weinfeld. That was how the citizen from São Paulo got a restaurant facing the beach. But he opted for talking about the group’s trajectory using a slight “carioquês” accent, the one specifically from Rio. “I wanted to run away from the caricatural style.” The Portuguese-stoned mosaic that re-covers a wall, referring to the icon of Copacabana, has waves delimited in a subtle way, which are clear stones incased by clear stones. On the floor, clear and tiny stones bring the dreamy feeling of sand around the feet and surround solitary palm trees of up to eleven meters. It is pure poetry, with a slight jokey tone. The walls reproduce the layout of “calçadão de Copa” (name given to the long and wide sidewalk of Copacabana, a famous district in Rio). At this point, however, we are already on the underground, almost at the end of the movie. The project is a script of mystery, which plays all the time with exterior and interior, package and content, natural and artificial. It is a movie that started being played from the level of the street. Right at first sight, instead of first door, there is the squared mouth of a tunnel quilted with wood, which welcomes the visitor with dramatic light.

On the right of the entrance, lined-up mannequins emphasize the feeling of being on a catwalk or stage, including goose bumps and everything. Further on the dark corridor, it is impossible to know what is to happen; then a sensor detects the steps and an automatic door opens widely, showing natural light and revealing, from the steel bridge, the unexpected “scenery” to which nobody is indifferent, be it in a good or bad way. A vertiginous image of real palm trees, multiplied by the mirror of the spiral staircase, appears. “When you look at the façade, you have no idea of what you will find; the story is about to start being told. Architecture must cause emotion; that is the basis of my work,” summarizes the architect, who considers himself a manipulator of sensations. Maybe that is the reason why he is an admirer of corridors and stairs, which are useful elements for his workshop of surprises. At Clube Chocolate, the omnipresent staircase contrasts with opaque woods, adding a hot spice to the entire sweetness of natural tones and calm lines. “I opted for a sculptural staircase, with faceted step-bottoms, showing the steps made of the same wood used throughout the store,” he explains, though making it clear he does not give too much importance to the choice of materials. The volume created on the ceiling of the restaurant – a box hanging through a completely loose metallic structure – was covered by wood. Yet, according to Isay, it could be anything else: “I wanted to give a cozy feeling to a large area; that is why I chose wood. But the material used here is not as important for me as titanium is for Frank Gehry,” he compares, referring to the architect who designed the Guggenheim Museum in Bilbao, Spain. Two things are really important for Isay. The first one is the idea, which must come before everything. Instead of ornaments, the architect used, for example, the bare wall of the restaurant to hang pieces of clothes and other objects commercialized in the building. “I actually thought of exposing colorful photographs from Rio, or works of art, but those would be decorative solutions. The showcasing of merchandise, however, is commercial, adds color, involves the whole concept and connects the restaurant’s space to the store in which it is inserted.” Along with the idea, the other most important thing for Weinfeld is the client, whom he considers the “raw material” of architecture. That is exactly why he carefully elaborates his choices. “Unlike the generation previous to mine, I like suggestions; what I most do is to listen. And it is so that I become my clients’ confidant. It is a very intimate relationship.” Following such thought, Isay Weinfeld does not seem to be interested in labeling his projects; he rejects the idea of plagiarizing himself: “My works are different from one another. To say that my style is recognizable is not a compliment for me. I am the opposite of the signature. I want to surprise in each work.” That is still a personal style.

FROM MICRO-DETAIL TO MACRO-ENVIRONMENT page 54 Large-scale production and individual solutions: this is the proposal of the industry S.C.A. from Rio Grande do Sul for the residential and corporative furniture market. Architects and decorators from all over Brazil, whose only alternative for the production of their projects’ exclusive furnishings was formerly the small cabinetry shops, are now counting on an alternative that joins quality standard and good terms, with the initiative and assistance of a great company – without losing the special furniture’s look. S.C.A. from Bento Gonçalves (RS) is able to meet the requirement of customized products, counting on the support of a potent factory that, in its 22 thousand square meters, has the capacity of producing 3,500 pieces a day. But this is not about merely modulated furniture: the constructive flexibility of each piece varies almost centimeter by centimeter, allowing unique projects in terms of finishing and thanks to the large range of accessories disposed by


the company. S.C.A.’s line of products is formed by over 270 thousand items! The secret is an ingenious software, developed in the company itself, which manages the entire productive and logistics process and communicates between the factory and the extensive chain of stores in Brazil. This exclusive supply chain also allows S.C.A. to assist its clients in very attractive terms: from the moment the ordered product leaves the store until it is finished and packed, ready to be delivered, only seven days are necessary! The professionals, who have the possibility of meeting all the requirements of their clients’ spaces and preferences, count on a special assistance at the stores, a real “package” of services. Firstly, a specific office in the store is reserved, in order to assist the professionals and their clients; then, it is possible to solve – thanks to the partnership with several suppliers of complementary products – many aspects of the projects, representing a considerable time gained for their execution. A modern concept of distribution and commercialization, in partnership with companies that have similar products, allows S.C.A.’s stores to offer complementary equipments that are exhibited in the shops, from flooring items up to home appliances. The capacity of individualization, allied to the productive fastness, led S.C.A. to outstand also in the corporative market: constructors, hotels and diverse companies. “We were structured in order to meet all the requirements of, for instance, a chain of hotels that will open a new facility in Manaus or in Rio Grande do Sul; it does not matter where, our stores are ready to establish those types of business,” says Sérgio Manfroi, directorsuperintendent of the company. S.C.A. started opening commercial spots with its own brand in 1998. Today there are over 130 stores all over Brazil, a number that will probably increase to 640 in the following ten years, according to Manfroi. The main aspect for sustaining such growing is in the mentality of the company, which classifies itself not as a furniture supplier, but as a supplier of solutions. The company exports its products for over 35 countries and has stores in Mexico, Portugal, Spain, South America and the Caribbean. The next step is to expand itself to the United States, where its first store’s installation is already in process, in Florida; by the end of the year, 15 stores will most probably be opened all over the country.

S.C.A. RST 470 Km 220 Bento Gonçalves, RS – Tel.: +55 (54) 453-2300 www.sca.com.br

making use of the new technologies to exploit new textures and forms of application, adding a new perspective to an old material. Paulo Lacombe, Próton’s president, considers that granite has been not very much explored, until nowadays, in the Brazilian furniture market. That is due to, besides the lack of technology and information on the product, the practice of forwarding the noblest patterns of the rock towards the external market. Próton is promoting a change in this attitude by making such patterns available also in the internal market. The commitment of the company with design and innovation was reinforced by the contract with Yoshio Design, specialized in strategic planning and conduct of design, in order to assist the company in its new sector. Próton was officially introduced to the furniture sector during the last Salão Design exhibition, at Movelsul fair, carried out from March 8 to 12 in Bento Gonçalves (RS), and it was also its sponsor. In it, it is already possible to realize how successful this partnership can be: Companies like Flexiv, Cinex and S.C.A. have already exhibited products with the use of granite in a contemporary way. A version that may – and must – be exploited in the project with the use of granite is the diversity of finishings: it is important that designers know they can go beyond the usual polished rock, with a shiny aspect. In order to allow the wide use of the rock with a levigated finishing (specially polished, with no varnish and having a silky aspect), Próton is developing studies, already in deep process, to make granite impermeable without losing its natural aspect, which is an alternative never adopted before in the Brazilian market. Opting for design, Próton is striving to become a center of information on rocks and granites in the furniture sector. The opportunity is right there: it is up to designers and entrepreneurs to take it!

PRÓTON GRANITO Haddock Lobo Street, 578 - 2nd floor. São Paulo, SP – Tel.: +55 (11) 3061-0506 www.proton.com.br

GRAPHIC DESIGN AND THE NEW LUXURY – page 60 “Luxury is not the opposite of poverty, but of vulgarity.” Coco Chanel Sergio Calatroni was born in 1951. Since 1975 he has been working with arts, architecture, design and communication. He was also one of the founders of Zeus, one of the most successful

INVESTING IN DESIGN – page 57 Providing information and support to designers, Próton Granito invests in the insertion of granite into the furniture industry.

companies in the vanguard from the 1980’s. Among his most significant works, there are the buildings Roux de Perfe, in Osaka, and N.O. Z. in Shizuoka, also in Japan. He has accomplished several interiors, such as the one for Romeo Gigli

To offer designers and manufacturers the possibility of exploiting the compositive and expressive properties of granite, bringing new elements to the furniture industry is Próton Granito’s proposal. With it, the company is prepared to expand its performance to the furniture sector. It was founded in 1996 and is recognized for its work in the internal and external market of granite plates, floor tiles and cut items. In order to initiate its activities along with the furniture sector, Próton has already invested about three million reais in the construction of its new factory, in the municipal district of Serra, in Espírito Santo, which will have a machinery for processing granite in compatibility with the sector’s needs, as an excellent finishing and dimensional rigidity. An example is the factory’s working center, totally automatized, with a computerized command central (CAD/CAM system), fabricated in Italy, which will probably start operating this year. The intention is to allow designers to include granite in their projects,

in Milan. In design, he created the Papiro lamp for Pallucco Italia. He received the following prizes: Tokyo Art Director Club Award and Package Design Biennial 1999 for the packaging of United in Shiseido. Since 2000 he has been the creative director of Stephanemarais, having been awarded the Japanese Ministry of Commerce prize for such work and, in 2003, the Good Design Award and the Category’s Award. He has recently won the London International Advertising Awards (LIAA) 2003 for the creative direction and packaging of the Stephanemarais/Shiseido brand. ARC DESIGN interviewed Sergio Calatroni on the occasion of his conference at the Museu da Casa Brasileira, in São Paulo.


By the Editorial Staff

What would the new luxury be? The one deriving from immaterial assets, such as silence, time, space, personal freedom, beauty, security. Those were categories listed by famous sociologist Domenico De Masi, and cited in the book “Lusso and Design,” by Giovanni Cutolo (published by Abitare Segesta, Italy, 2003). Before we reach this refinement of the notion of luxury, the new luxury – thanks to design mostly – already assumes different shapes, based on knowledge and culture. It is no longer the rare and expensive raw-material, neither the precious object of art, that will define the new luxury. The new luxury does not express nor is based on ostentation, but subtileness. “It is evolved, refined and innovative,” says Enrico Morteo in the postface of the same book. Its proposal is to “redefine the concept of luxury itself and thus reinterpret its links with the design project,” in his own words. It is with that key of interpretation – in the intersection point between luxury and design – that we see the project created by Italian designer Sergio Calatroni for the French cosmetics store Stephanemarais, which is confederated with the Japanese company Shiseido. The new brand came up from the need for renovation; it required more agility, modernity and innovation in order to be able to create a suitable concept for its products and image. Very different from the rigidity of the Japanese organizational structure, but keeping the same criteria of elegance and sophistication, the new brand counts on a famous make-up artist and colorist, who had already been working with Shiseido for seven years: Stephane Marais. In order to define the basic concepts of the brand, creative and free figures relating to the top trends were entitled. One of them is architect and designer Sergio Calatroni. Calatroni, who also comes from the world of fashion though conserving the posture of architect and designer, was convoked to develop the entire visual image of the new company. That was how a highly conflictive engagement was formed, but with positive results. “Marais is hyper sensitive,” explains Calatroni during the interview for ARC DESIGN, in São Paulo. “He loves fashion, produces Chanel fashion shows and has already worked with Rei Kawakubo. I act criticizing the excesses.” At the company, Marais is responsible for the color palette. Calatroni takes care of the graphic image, of the store at rue Saint Honoré in Paris (located next to the famous store Colette), creates its furniture pieces, interiors, shopwindows, brochures, packages and everything else related to its packaging. And why to define this work of design and graphics as the new luxury? Stephanemarais transmits a state of mind and does no base its sophistication on the riches of already renowned materials. It simply creates and induces the awakening of immaterial values, the values of design, peculiar to the new notion of luxurious life. “I gather images all around the world; I have a huge archive,” explains Calatroni, “and I work with the method of pasting-up. I come from a generation that used to draw everything by hand, when the pasteup process was still very used and the smell of plaster was very perceptive.” Nowadays the designer, who has a studio in Milan and in Marrakech, in Morocco, travels most of his time. It is in different cultures that he searches for his inspiration, in a continuous contamination among big photographs, mural drawings, children, small objects, textures, colors. The result is pretty diverse and strange, but has a strong emotional impact. For three years Calatroni has been working in the creation of Stephanemarais’s image. The store was inaugurated two years ago and, in the beginning, it used to be radically changed every month. Nowadays the changes take more time to happen, but in each one a new universe appears in a magical way, as well as new associations – and emotions – and new color mixtures relating to the season’s colors. Those changes always cause a complete inversion of values already established. We asked Calatroni about the philosophy that guides his work for the creation of Stephanemarais’s graphic image. “Packaging is like Greek vases. Just like them, each package has a history, and they are all linked with one other with several methods and images that may be used in different holders.”

OSCAR NIEMEYER BETWEEN INTUITION AND REASON, THE MASTER’S RESTLESS SERENITY AUTO-DEFINITION On the white sheet of paper I draw my scratch; Intertwained straight lines and curves are born The attentive progress towards all I do snatch And I risk all in search of the so wished form. They are temples and palaces loose in the air, Winged birds, whatever comes to your mind. But if by chance to look carefully you dare, In each one the woman’s charm you will find. The dream I have dreamt I leave apart, The world’s misery makes me impetuous. What I want is very little, almost no part. The architecture I make is superfluous I want poverty gone, the life glamourous, And the homeland in people’s heart. Oscar Niemeyer

One of the oldest buildings of Avenida Atlântica, in the capital of Rio de Janeiro, has curved forms – as suitable to Niemeyer – and shelters the architect’s office. From the ninth floor of great windowpanes, the view of the sea and mountains is a source of inspiration. A white board, some chairs placed in form of an auditorium for the visualization of the works, for the philosophy and cosmology classes. That is where the architect works and studies, from ten in the morning until late at night. That is also the place where we interviewed Oscar Niemeyer. Maria Helena Estrada

ARC DESIGN – In your work, the intuition in the free lines of your constructions, as well as the reason in the persistence of putting in words such architecture are slightly visible. Is it true? Is that a process created spontaneoulsy, in a natural way, or was it the incomprehension and polemics in relation to your work that made you adopt it? Do you “explain” and reflect on your projects to someone? Is it to the drawing board itself or to people? OSCAR NIEMEYER – When I draw a form – the freest and most unexpected one – I think at the same time about what it will functionally mean in my architecture. AD – How do you process this capacity of synthesizing, with your architecture, the contemporary thought and man’s role in society? It seems pretty clear that the political message is always associated to the pure line, to the perfect curve. How is such process created? ON – Architecture is based on the presented programs, which quite often mean very little or nothing at all in the ideological field. It is within these limitations that the architect elaborates his architecture. AD – Paraphrasing the words of Brazilian sociologist Darcy Ribeiro, what would you classify as Oscar-isms? Recalling one of them, there is the verse of an old poet from the Brazilian state of Mato Grosso, Manoel de Barros, who said “the straight line does not dream.” ON – I think my generous friend Darcy was referring to my architecture, giving it the importance justified by our friendship. AD – It is known, and you have already mentioned, that the degradation of cities is caused by populational density. How should we attract men to


outside of the city? And should we endeavour in such process? What would the solution be? Could it be found in urbanism and architecture, or would it be more suitable and effective to achieve solutions that would add social justice to the countryside? ON – Architecture is transformed due to technical and social progress. And, when this last one loses its merit – like it happens among us – architecture loses the human meaning that should characterize it. Architecture does not influence men’s life. In fact, it is their life that, one day, when it is juster, shall be able to modify it. AD – Could a church or a mosque, with no windows nor openings (Constantine and Niterói), closed in their own structure, symbolize the religion and the blind belief that prevent the amplitude of thought? ON – Religion, the practice of it, started in the caves – without glass, doors, windows. Men believed in God and met in those caves to praise Him and to try to understand themselves with Him. One day I drew for the Dominicans from Saint Baume something alike; for them, the place did not matter – a small calm and reserved place was enough. Later, way later, the cathedrals, the mosques and the idea of God being spread emerged, as a justification for such a short and perverse life imposed on us by fate. AD – When thinking of your project for the Oscar Niemeyer Museum, in Curitiba, I remembered this sentence by Bruno Zevi that I had read in one of your books: “Architecture is like a large emptied sculpture, in which men enter, walk and live.” I would like you to tell us a bit about this project of the Museum, whose impact is so great and the spaces so rich that the art objects in its interior seem to become superfluous. ON – I start remembering that Bruno Zevi, after criticizing the Brazilian architecture for a long time, stated one day in Italy: “For me, Oscar Niemeyer’s project for the Havre in France is classified as one of the ten best works of contemporary architecture.” When it is decided to carry out in Brazil an exhibition the same size as the one about Chinese art (“The Warriors of Xi’An and the Treasures of the Forbidden City”, Oca, São Paulo), for example, it will be in the great hall of the Oscar Niemeyer Museum, in Curitiba, that it will be presented it in its whole. AD – A phenomenon alike happens with the Museum of Contemporary Art (MAC) of Niterói, with the circular ramp next to the entrance, highlighting the surrounding landscape. Would you tell us about the relation between architecture and space, architecture and nature, in your work? ON – MAC is a good example. I remember the view I saw when I got to the place: the fantastic nature, the sea, the mountains of Rio de Janeiro... Of course I had to preserve all that. I went up with my architecture. The space, the nature, everything makes part of architecture. AD – You wrote in your book of letters with engineer José Carlos Sussekind that you were to develop a text about the space in architecture. Has this text been concluded? Could we have it? ON – No. But the subject is important, and one day I would like to develop it more carefully. Now, for instance, I drew the Bolshoi School in Joinville (Santa Catarina). The terrain was irregular and it was due to the existing level curves that I shaped my architecture. AD – Nowadays, it seems the big architecture offices practice, in international scale, an architecture-spectacle, an architecture for “épater les bourgeois”, or a glamourized architecture, which has the intention to attract for consumption. Do you agree on such judgment and would you give your opinion on this phenomenon? ON – I prefer to repeat what Charles Baudelaire once quoted. “Surprise and astonishment are theessential characteristics of a work of art.” AD – Would it be asking too much to request you to tell us about the Doges’ Palace, in Venice, about the Palladium episode, from the Renaissance (in the meaning of resurrecting), as it is read in your dialogues with Sussekind? And also about the “musical scale” of the arcades of the building for Mondadori in Milan? Students, and not only them, are in so much need of culture today! ON – Did you know Calendario, main architect of the Doges’ Palace, ended up hanging on a window? Did you also know the so-praised Palladio proposed the palace to be destroyed, and even more, some architects linked to the Bauhaus school passed through the Doges’ Palace, without understanding

it, continued to defend the orthodox functionalism, which was so trivial and repeated that it soon disappeared? I would rather repeat what I always say: “Architecture is invention” or, in a less radical way, what Heidegger affirmed: “Reason is the enemy of imagination.” AD – In which projects are you currently working? Does “Caminho Niemeyer” (“The Niemeyer Way”), in Niterói, keep progressing? How about the project for the square Praça XV, in Rio? What about the one for Russia? And which other ones? ON – There are several projects in progress. In Brazil, the Minas Gerais Administrative Center, the Ceará Museum, the Bolshoi School in Joinville and the cultural sector of Brasília, which is being initiated by governor Roriz. Abroad, there is the monument for peace in Moscow, and now there is another monument for peace which was requested by the mayor of Paris some days ago. Without mentioning the Ravello’s project you have already mentioned. Caminho Niemeyer is being constructed. A work which interests me very much: a series of buildings next to the sea. AD – “...life has no perspective. The important thing is to be inserted into reality, to know that everything is one minute,” I read in one of your books. How is it possible to appraise the minute and project it to the future, project the future itself? ON – The problem is that this minute, so insignificant in the cosmic time, represents for the human being this strange adventure, which is his fight, full of dreams and disillusions, against the relentless fate.

The Oscar Niemeyer Foundation (FON), created in 1998, is a center of information and research devoted to the reflection and diffusion of architecture, urbanism, design and plastic arts, and for the valuing and preservation of the memory and the modern architectonical patrimony of the country. It was consolidated as an important center of documentation, for it displays its bibliographic and archivistic collection and offers products and services of critical information on architecture and urbanism. Its headquarters are situated in Rio de Janeiro and at the Oscar Niemeyer Venue in Brasília. The Oscar Niemeyer Foundation is also a non-profit private institution, recognized as a public utility by the Brazilian federal government and by the governments of the Federal District and of the state and city of Rio de Janeiro. FON’s lines of action are: - Constituting a center of information that conjugates activities of acquisition, organization and divulgation of its collection, with services of information on correlate documents possessed by other institutions, and offering access to the databases available in Brazil and abroad. - Establishing a research center for the development of studies and for the incentive towards knowledge production and interchange, promoting courses, seminars, contests and research grants. - Carrying out and promoting publications, exhibitions, movies and other cultural activities devoted to different types of audience. - Providing assistance and technical support to the accomplishment of works, the preservation and restauration of spaces projected by Oscar Niemeyer. The Oscar Niemeyer Foundation is the legal owner of the rights related to the name, image, voice, signature and visual representations of Oscar Niemeyer, as well as the copyright of products related to his work.



domini

03/03/04

16:11

Page 1


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.