REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
Nº 56 ARC DESIGN
R$ 16.50 QUADRIFOGLIO EDITORA
Nº 56
2007
2007
10 ANOS
O DESIGN BRASILEIRO EM 58 PRODUTOS O BRASIL NA ÁFRICA UMA INCRÍVEL ARCA DE NOÉ ARQUITETURA DE INTERIORES ENTREVISTA: ARQUITETO LEGORRETA MOSTRA GUTO LACAZ
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October 11, 2007
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Em uma árEa tão compEtitiva rEconhEcimEnto é o maior prEsEntE. uma homEnagEm do sEnac aos 10 anos da rEvista arc dEsign. dEsign EssEncial Esta é nossa estratégia para um mundo melhor. Design gráfico Design De interiores Design De movelaria Design De moDa Design De proDuto Design De interfaces Digitais artes visuais comunicação visual proDução De multimíDia publiciDaDe auDiovisual
0800 883 2000 www.sp.senac.br
Dez anos de trans for ma çõ es – bem ao gos to de ARC DE SIGN. Pa rar no tem po, re pe tir ve lhas fór mu las, não é nos sa op ção. Nes tes dez anos vi mos a pri ma zia do de sign eu ro peu se cur var à ne ces si da de de um so pro de vida: jo vem, des com pro mis sa do... e mu i to cri a ti vo. Quem possuía essa vitalidade? O Brasil, claro. E assim, com nosso artesanato (sustentável, de raízes profundas) começamos a influenciar o design europeu. ARC DE SIGN logo ficou alerta a esse fenômeno. E na edição que comemora seus dez anos, mostramos que nosso know-how (e não apenas os produtos) já está sendo exportado. Para se ter uma idéia da reviravolta no design e nos projetos brasileiros, publicamos 16 páginas com o novo repertório para a casa, disponível no mercado! Sirvam-se, é qualidade garantida. Uma edição de aniversário deve também ser alegre, lúdica, então descobrimos a nova e maravilhosa Arca de Noé, totalmente sustentável... e divertida. No artesanato brasileiro o crochê e o “biscuit” interagem, trazendo as aves do “mar de dentro”. No design, uma visão crítica e bem-humorada de dois jovens recifenses. Sempre idéias inéditas e capazes de abrir novas “picadas”. E por fa lar em no vos ca mi nhos, uma das cor ren tes do atu al mer ca do eu ro peu é, de cer ta for ma, uma re to ma da do que acon te ceu nos anos 1980. Na ma té ria so bre a úl ti ma ex po si ção da So theby’s, Lon dres, vo cês vão des co brir as di fe ren ças e cons ta tar mais uma vez a pre sen ça de nos sos de sig ners in ter na ci o nais – os ir mãos Cam pa na. No design gráfico, a mostra antológica de Guto Lacaz e os depoimentos de três de seus companheiros de profissão: Rafic Farah, Ricardo van Steen e Mario Cafiero. Interiores: a partir desta edição mostraremos arquitetos de interiores com uma panorâmica de sua obra. Não apenas um projeto, mas uma filosofia projetual. Na arquitetura, a obra de Ricardo Legorreta. E não é preciso dizer mais nada. A sustentabilidade é vista em seus aspectos sérios, imprescindíveis, e também naqueles educativos, que chamam à consciência os futuros consumidores. Sirvam-se, o cardápio é variado! Maria Helena Estrada Editora
Na capa: ilustração criada pelo estúdio Fogo Design, para a edição comemorativa dos 10 anos de ARC DESIGN
Moçambique, África. Um grupo de designers brasileiros expor ta knowhow de atuação em comunidades carentes, envolvendo o ar tesanato local. Destacamos algumas tribos e povoados, e três materiais básicos: prata, madeira e palha. Admire-se com os resultados!
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Dezesseis páginas com design e produção brasileiras têm foco em mó veis e lu mi ná rias pro duzidos industrialmente e – como não inclu ir? – um pouco de ar tesanato. É a safra 2008 no mercado, são as indústrias e as lojas que apostam na criação brasi lei ra
Espaço de sobra, pe ças de bom desenho em meio a obje tos de arte e um cli ma contemporâ neo, que foge ao tão usado bran co e pre to, no dú plex pau lista proje tado pelas ar quite tas Alessandra Pi res e Car la Bar ran co
DENISE BARRETTO
Ana Sant’Anna
MARCA REGISTRADA
Ana Sant’Anna
CONTEMPORÂNEO E ELEGANTE
DISPONHA! SÃO TODOS BRASILEIROS
Maria Helena Estrada
Maria Helena Estrada
EXPORTANDO KNOW-HOW
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Projetos de interiores as si nados pela arquiteta Denise Barretto. Uma visão de suas obras e de sua trajetória. Marca Registrada é a nova rubrica de ARC DESIGN que, a cada edição, ilustrará a carreira de um arquiteto ou decorador
REVISTA DE DESIGN ARQUITETURA SUSTENTABILIDADE INOVAÇÃO
NEWS
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nº 56, outubro/novembro 2007
CASA BRASIL UMA FEIRA DE SUCESSO
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Dois jo vens de sig ners do Re ci fe atuam no terreno limítrofe entre a criação do objeto puramente utilitário e as referências que estes provocam. Um trânsito que vai do lúdico ao humor negro, longe da mesmice, criando um universo inusitado e original
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A sustentabilidade analisada em relação à arquitetura eficiente; aos materiais e métodos utilizados nas empresas; à cidade ideal do ponto de vista do combate ao aqueci mento; e uma deliciosa arca de Noé em materiais reciclados e recicláveis, exposta no Museu Skirball, Los Angeles, EUA
Em recente visita ao Brasil, o arquiteto mexicano Ricardo Legorreta falou à ARC DESIGN sobre os conceitos que lhe são caros na busca pela boa arquitetura e também sobre a relação, em seus projetos, entre público e privado, tema da 7ª Bienal Internacional de Arquitetura
Mario Cafiero, Rafic Farah, Ricardo van Steen
GRÁFICA DE GUTO LACAZ
RICARDO LEGORRETA
Winnie Bastian
ENTREVISTA
CADERNO SUSTENTAÇÃO
Mariana Lacerda
FOGO DESIGN
Mariana Lacerda
ENTREVISTA
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A trajetória do arquiteto e ar tista gráfico Guto Lacaz, em exposição até 9 de dezembro no Centro Cultural São Paulo, na visão de três profissionais de destaque. Car ta zes, capas de CDs, projeto gráfico e capas de livros e revistas além de desenhos, reais brincadeiras irônicas
HOMENAGEM
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COMO ENCONTRAR (ENDEREÇOS)
DESIGN SEM FRONTEIRAS
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ENGLISH VERSION
102 www.arcdesign.com.br
DIRE TO DO RECIFE PARA SÃO PAULO Mais uma novidade na Al. Gabriel Monteiro da Silva: a loja Desiderato (abaixo). A empresa pernambucana traz para a Região Sudeste soluções sob medida para dormitórios, cozinhas e escritórios, além de sofás, cadeiras e poltronas. Instalada em um imóvel de três andares, a loja se distribui em 700 metros quadrados. No primeiro piso fica o mobiliário pintado ou com acabamento em folhas de madeira natural importadas da Europa. No segundo pavimento, uma combinação de pintura e revestimento melamínico. E no terceiro andar, a linha Contratto, que utiliza painéis com acabamento melamínico, e é direcionada para escritórios e hotéis. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.158, São Paulo, SP. Tel. (11) 3061-9898. www.desiderato.com.br
BRA SIL PELO BURACO DA AGULHA Mostrar o Brasil – do Monte Roraima a Foz do Iguaçu – com uma câmera fotográfica acoplada a uma casa sobre rodas é a proposta deste projeto. A idéia dos expedicionários Mica Costa-Grande e Sofia Salgado é rodar 25 mil quilômetros – cerca de nove meses – sobre um caminhão totalmente mobiliado pela S.C.A. A casa itinerante, projetada pela arquiteta Isabel Debenetti, inclui uma máquina fotográfica gigante. A técnica utilizada para retratar o país chama-se “pinhole”: através de um furo de 2 milímetros, a exposição de cada foto à luz é de 8 a 12 horas. Os negativos de 5 metros quadrados são cerca de 5 mil vezes maiores do que o formato 35 milímetros. Espere para ver no Guiness Book of Records a maior câmera fotográfica móvel do mundo.
LOJA EM N. YORK
CELEBRAÇÃO DE 50 ANOS
A metrópole norte-americana acaba de ganhar mais uma loja
Se hoje são irreverentes e lúdicas, há 50 anos – quando foram
da Alessi. Entre as avenidas Park e Madison, na 30 E, 60th St.,
criadas por Achille e Pier Giacomo Castiglioni – eram, sem dúvi-
a marca italiana vai expor cerca de 3 mil itens de design. São
da, de vanguarda. A Sella é feita de selim de bici-
500 metros quadrados reservados para objetos e acessórios
cleta e a Mezzadro, composta de um as-
desenhados para vários ambientes da casa, mesa, escritório e
sento de trator com base em chapa de aço.
outros. A loja Alessi é a segunda da marca aberta em N. York no último ano, após o endereço do Soho. Tel. 212-317-9880. retail.madison@alessi.com, www.alessi.com
A segunda, desde 1972, faz parte da coleção permanente do Museu de Arte Moderna de N. York (MoMA). Partes do catálogo da Zanotta, as duas peças estão em exposição no estúdio-museu da Triennale Milan, situado no antigo ateliê no qual os irmãos trabalhavam. achillecastiglioni@triennale.it
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O designer acha o máximo. O arquiteto acha perfeito. O empresário acha ideal. O decorador acha tudo de bom.
Celebradas no mundo inteiro por seu design inconfundível, as cadeiras Herman Miller também reúnem o máximo em conforto e funcionalidade. Desta forma, combinam com todo tipo de ambiente e agradam a todos os públicos. Venha comprovar.
Herman Miller. Referência absoluta em design. Distribuição em todo o Brasil T (11) 3049 3055 www.hermanmiller.com
1.000 M2 DE PURO DE SIGN Foram necessárias várias viagens para a França e para a Itália antes de inaugurar a Moveo, no dia 21 de setembro. A intenção do decorador José Roberto Moreira do Valle – que assina desde a produção da loja até a iluminação cenográfica – era encontrar soluções eficientes no processo de fabricação dos produtos, além de observar de perto as tendências européias. O resultado é a megaloja de móveis, objetos decorativos, esculturas e obras de arte. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.206, São Paulo, SP. Tel. (11) 3064-2222.
Maureen Bisilliat
CULTURAS ENTRELAÇADAS O espaço é diminuto, mas a criatividade que permeia o local, não. Na Alojiinha, inaugurada dia 23 de outubro com a exposição “Urubu Rei: Encontro das Terras”, a fotógrafa Maureen Bisilliat escolheu a dedo peças artesanais, tradicionais e derivadas, catadas, reunidas e feitas, algumas, sob medida. “Abrir o olhar às Américas, introduzindo trabalhos artesanais continentais, é a nossa vontade”, diz Maureen. Por ora, na lojinha do Pavilhão da Criatividade, no Memorial da América Latina, encontram-se, entre outros, objetos indígenas, bancos talhados e bichos de madeira, cenas do cotidiano das figureiras de Taubaté e seus pavões azuis, talhas e tecidos de artistas populares, Eliara’s Colares e camisetas bordadas. A exposição, organizada por Renato Imbroisi, é o resultado de um intercâmbio cultural ligando Minas Gerais e Moçambique (veja matéria nesta edição de ARC DESIGN). Inaugurada na mesma data, termina em 25 de novembro. Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, São Paulo, SP. Tel. (11) 3823-4684.
CLÁSSICO REEDITADO Diferentes medidas. Esta é a novidade que a Futon Company e a Objekto agregaram à cadeira Tripolina. Desenhada em 1938 pelos arquitetos argentinos Antonio Bonet, Juan Kurchan e Jorge Ferrari-Hardoy, a peça – que ainda interage nas casas contemporâneas – ganhou uma versão mais confortável: a Large, com 90 cm de largura x 76 cm de profundidade e 57 cm de largura. Dobrável e fácil de transportar, está à venda em eucalipto maciço natural ou café, com assento e encosto em lonita crua, colorida ou em couro. Chega ao consumidor em uma sacola com alça. www.futon-company.com.br
RE VESTIMENTO PARA PAREDES O conceito AlDesign, da Alcan Composites, é ideal para revestir paredes internas e externas. Além de ser 100% reciclável, inquebrável, de fácil manutenção, limpeza e instalação, pode
PALESTRAS NA ,OVO
ser aplicado sobre azulejo ou outros tipos de superfície. Está
O ciclo de debates Ações Contemporâneas
disponível em módulos feitos sob medida ou em painéis de
tem o objetivo de proporcionar aos arquitetos,
grandes proporções. O sistema permite diversas composi-
designers, estilistas, cineastas e profissionais da área de gas-
ções, inclusive aplicação em cur vas, dobras, cantos, recor-
tronomia uma incursão pelo pensamento criador. Abertas ao público
tes e volumes. Possui ainda vários acabamentos e cores,
e gratuitas, as palestras vão até dezembro. No mês de novembro: dia
que possibilitam a composição com outros materiais. Tel.
7, Marcio Kogan destrincha todas as etapas de construção de uma
(11) 3043-7611. vendas.composites@alcan.com
casa; dia 13 (data sujeita a confirmação), os arquitetos do escritório Triptyque debatem sobre o projeto Harmonia 57 (imagem acima), prédio na Vila Madalena com sistema de tratamento de água e paredes cobertas por plantas; dia 19 (data sujeita a confirmação), palestra do curador Felipe Chaimovic; dia 21, da artista plástica Lúcia Koch; e dia 28, do estilista Marcelo Sommer. Em dezembro, dia 5, é a vez do arquiteto Marcelo Rosenbaum. Sempre às 20 horas. Rua Gomes de Car valho, 830, São Paulo, SP. Tel. (11) 3045-0309. www.ovo.art.br
COLEÇÃO MÃE Inspirada em barrigas e seios, a coleção Mãe, da joalheira Sandra May, apresenta formas orgânicas e generosas. Lançado na Paralela Gift, em São Paulo, SP, o colar abaixo mistura fios de palha de seda, pendente de prata e pedra brasileira dentrita – muito encontrada em Minas Gerais e Goiás. A profissional, que trabalha há dez anos no mercado de jóias, costuma utilizar como matéria-prima a prata misturada ao ouro e a diversos tipos de pedra ou outros elementos. “É muito raro empregar apenas o metal, assim como é bastante difícil desenhar peças pequenas, delicadas”, diz Sandra. Tel. (11) 3865-0509. www.sandramay.com.br
LUZ EM GRANDES PROPORÇÕES Nada mais, nada menos que 1,74 m de altura e 32 cm de diâmetro. Essas são as medidas da luminária de piso Cadmo Floor. Criada pelo designer Karim Rashid para a italiana Artemide, a peça tem corpo de aço e é laqueada externa e internamente de branco. Indicada para iluminação indireta e difusa, tem dois interruptores, o que permite o funcionamento independente de suas duas fontes de luz – uma halógena de 300 W e outra de 75 W. Importada com exclusividade pela La Lampe. Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.258, São Paulo, SP. Tel (11) 3069-3949.
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MUITO MAIS QUE INTERRUPTORES
A casa mais confortável e facilmente controlada com um simples toque. Com o Sistema de Automação MY HOME da BTicino ao mesmo tempo pode-se aumentar a luz, regular a temperatura, o som, intercomunicar-se de vários pontos da casa e disparar alarme na área externa num único toque ou até mesmo pelo telefone, pocket PC ou computador via internet. Mais conforto, segurança e economia de energia e tudo isso com a tecnologia e o exclusivo design BTicino.
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ALTO DE SEMPENHO A norte-americana Haworth retorna ao Brasil e apresenta a cadeira Zody. Certificada pela American Physical Therapy Association, ela conta com um suporte pélvico em plástico, PAL®, além de um sistema regulável de suporte lombar assimétrico. Seus moldes foram desenvolvidos pelo Instituto de Desempenho Humano da Universidade Ocidental de Michigan e pela ITO Design, empresa alemã, em parceria com a equipe de desenvolvimento e engenharia da Haworth. Graças a suas inovações e a seu respeito à sustentabilidade, a Zody recebeu o Prêmio Silver Best of NeoCom em junho de 2005, o Gold IIDEX da NeoCom Canadá em setembro do mesmo ano e, em dezembro, o Good Design Award, do Chicago Athenaeum Museum of Architecture and Design. No campo das certificações, ela faz jus ao certificado Cradle to Cradle Gold, da indústria química, e ao aval da American Physical Therapy Association. www.haworth.com
NOVIDADES NO SE TOR MOVELEIRO A Todeschini acaba de comprar a Móveis Carraro S.A, que administra a marca Criare. A empresa gaúcha assume a Carraro com um faturamento médio de 15 milhões de reais por mês. No ano passado, a Todeschini faturou 250 milhões de reais. Para 2007, a expectativa é alcançar 300 milhões de reais, 20% a mais do que em 2006. O presidente do Conselho da Todeschini, José Eugênio Farina, pretende manter o quadro funcional da Carraro – cerca de 700 funcionários. Em seus mais de 60 anos de existência, a Todeschini é representada por
DUAS EXPOSIÇÕES NO MCB
400 lojas exclusivas e fabrica modulados para todos os tipos
“Casas do Brasil 2007” e “Um Mar de Vidros - Murano 1915/2000” estão
de ambiente, como residenciais e comerciais. Além disso, a
em cartaz, no Museu da Casa Brasileira. A primeira, até 25 de novem-
empresa gaúcha atende o setor hoteleiro. A Móveis Carraro
bro, pretende gerar um debate sobre a ocupação do espaço urbano
S.A., há 46 anos no mercado, possui 115 lojas espalhadas
e as moradias nas metrópoles. “Mais do que retratar tipos e formas, a
pelo país. Fabrica mesas, cadeiras, salas de jantar, racks, es-
exposição levanta aspectos que transitam entre a fantasia
tantes, dormitórios, móveis para jardim e outros.
da casa própria idealizada, a construção do interior de
www.todeschinisa.com.br
uma residência de classe média e a realidade abrupta daqueles que constroem moradias improvisadas em locais irregulares”, diz o curador, jornalista e fotógrafo Eder Chiodetto. Já em “Um Mar de Vidros - Murano 1915/2000”, até 18 de novembro, será apresentado um panorama de quase 70 anos com peças representativas da vidraria que fizeram famosa a ilha de Murano, no século 20. Av. Brig. Faria Lima, 2.705, São Paulo, SP. Tel. (11) 3032-3727. www.mcb.sp.gov.br
EXPORTANDO KNOW-HOW Experiência brasileira transplantada para a África. É esta a mais recente façanha do grupo de designers liderado por Renato Imbroisi. Reconhecido e apreciado, o design brasileiro de raiz artesanal, aquele baseado em culturas ou fazeres populares locais, já é sucesso – e não só no Brasil (veja ARC DESIGN 33). Agora, a convite de Fundações que atuam em Moçambique, esta capacidade de criação e transformação chegou a outras partes do país Maria Helena Estrada / Fotos Lucas Moura
Aci ma, flo res em pra ta, resul ta do da ori en ta ção dada pelo gru po de desig ners bra si lei ros na África. Abai xo, re gião de Cabo Del ga do, nor te de Mo çam bi que, ven do-se a vila (foto à es quer da) e a ilha Ibo, ao fun do da foto à direita
18 ARC DESIGN
Nesta página, ha bi tan te lo cal com uma das pe ças da nova co le ção em pra ta, que fará par te de uma gran de ex po si ção em Mo çam bi que, reu nin do to dos os tra ba lhos ar tesa nais das di fe ren tes re giões
A região da província de Cabo Delgado, ao norte de
comunidades que há mais de 200 anos exercem o ofí-
Moçambique, quase divisa com a Tanzânia, foi o local
cio de ourives. As criações partiam sempre de fios e
onde a equipe de brasileiros, com orientação de Rena-
seu desenho era tosco. Mas, se na região havia fartura
to Imbroisi e outros especialistas, começou a atuar.
da prata, hoje ela escasseia e os artesãos derretem
Com três materiais básicos, algumas tipologias escolhi-
moedas e peças antigas! Com o preço atual da prata,
das, e diversas comunidades, realizaram trabalhos em
era preciso agregar valor às peças. Assim, conservando
grupo, visando agregar valor ao artesanato que, por
a tradição local dos fios, a equipe de designers
tradição, já exerciam. Prata, madeira e palha são os
brasileiros propôs – aos artesãos da Ourivesaria
materiais que ARC DESIGN selecionou para mostrar o
Moderna e da Fortaleza – a criação de outros desenhos.
exímio trabalho dos artesãos moçambicanos.
Trouxeram do Brasil mostruário de diâmetros de
Na ilha de Ibo, a equipe brasileira atuou com duas
anéis, lixas finas para acabamento e pouco mais.
Na página ao lado, um dos lo cais de tra ba lho dos ar te sãos. Aci ma, à es quer da, co lar fo to gra fa do no cor po do pró prio ar te são; na sequência, o brin co tem de se nho di ver so, mas sem pre re a li za do com fios de pra ta tra ba lha dos. Abai xo, a par tir da es quer da, a fun di ção na for ja, os ins tru men tos para o ar re ma te e de ta lhe de co lar
Aci ma e abai xo, mu lheres da re gião de Gu lu do, na fron tei ra com a Tan zâ nia, onde to das ape nas tran çavam lon gas ti ras de pa lha, sem tin gi men tos: hoje a co mu ni da de tin ge os fios, une as ti ras e pro duz gran des es tei ras co lo ri das
Ao lado, co lar fei to em ar go las de pa lha tran ça da a par tir da ori en ta ção dos de sig ners bra si lei ros e, no de ta lhe acima, o co lar ain da em pro du ção
A comunidade ainda conserva e utiliza seus antigos
Com o ébano, ou pau-preto, madeira africana duríssi-
instrumentos de trabalho. Foram criados 60 modelos,
ma – que já deu origem a máscaras famosas, inspirado-
divididos entre os dois grupos, gerando colares, pul-
ras de uma geração de artistas como Picasso –, hoje os
seiras e anéis.
nativos fazem esculturas que traduzem o entorno da
O trabalho com a palha seguiu a mesma filosofia: par-
região. Na cidade de Pemba, capital da província de
tir de técnicas do artesanato tradicional e recriar, com
Cabo Delgado, os brasileiros encontraram a tribo
o olhar voltado para o presente e para o mercado. A
Makondo, habilidosos artesãos da madeira. E foi esta
artesã e empresária Rose Mendes e o professor Hisako
maestria no entalhe que inspirou a nova coleção de
Kawakami, especializado em tingimentos vegetais,
objetos. São, por exemplo, colares, que também repro-
ambos de Brasília, se uniram à equipe. Em julho de
duzem animais, mas suas dimensões são mínimas. O
2006 fizeram a primeira visita à comunidade de
material é de reaproveitamento das sobras de entalhes,
Guludo, em Palma, situada na divisa com a Tanzânia, e
e a precisão no desenho dos detalhes de cada animal,
em outubro do mesmo ano passaram a residir no local.
um trabalho realizado a canivete, é inacreditável.
Trançar a palha, o dia inteiro, mesmo enquanto anda-
Essa exportação brasileira de know-how não é única
vam no caminho para as roças, era tudo que sabiam fa-
no mundo. Já existem outras ONGs que se dedicam ao
zer. Poucas sabiam criar desenhos, e o tingimento era,
desenvolvimento de populações carentes, a partir do
quando realizado, apenas em uma cor. O desenvolvi-
artesanato, contando com a colaboração de designers
mento dos novos artefatos em palha ainda está em fase
europeus famosos, como é o caso de Tord Boontje e
inicial, mas já são diversas as cores e os desenhos, nas
Hella Jongerius. Um trabalho coordenado que, graças
longas tiras trançadas que, quando unidas, formam
à associação com outra ONG, resolveu os problemas
grandes tapetes ou outros objetos.
da produção em série e da distribuição. No Brasil, os 23 ARC DESIGN
Aci ma, pul sei ras em pau-pre to, ou éba no, com dese nhos de bi chos: tra ba lho da tri bo Ma kon do, no povoa do de Pem ba, ca pital de Cabo Delga do, Mo çam bi que. Abai xo, co lar com toda a fau na da África, em mi nia tu ras de cer ca de 4 cm, e exem plos de gi ra fa, por co-es pi nho e bode
caminhos ainda são “emperrados”, mas transferir, exportar nosso know-how é um bom começo. “A África negra não é um lugar único, ela apresenta tantas diversidades como um grande continente”, comenta o designer e fotógrafo gaúcho Lucas Moura, morando há um ano em Moçambique em função dos projetos que registrou. Ele agora volta ao Brasil, ainda sob o impacto dessas novas culturas com as quais conviveu – algumas se reorganizando depois do período de revoluções pela independência, outras ainda em estado tribal. “Volto impregnado por essa vivência, pronto para traçar, por meio do design, um caminho de mão dupla com a cultura africana.” ❉
FICHA TÉCNICA Direção geral: Renato Imbroisi Coordenação e ges tão: Eli a ne Damasceno Fotografia: Lucas Moura PROJETO PRATA Técnica em ourivesaria: Gabriela Ricca PROJETO PALHA Empresária e artesã: Rose Mendes Técnico em tingimento vegetal: Hisako Kawakami 24 ARC DESIGN
PROJETO PAU-PRETO Direção: Renato Imbroisi EXPOSIÇÃO “URUBU REI: ENCONTRO DAS TERRAS“ De 23/10 a 25/11 de 2007 Memorial da América Latina Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664 Tel.: 11 3823-4684
DISPONHA! SÃO TODOS BRASILEIROS Apresentamos o design contemporâneo, brasileiro, com um primeiro repertório de móveis, luminárias e objetos. Todos disponíveis no mercado, para o seu bom gosto e bom senso. Entre neste mundo de realidades e tendências... e escolha em que “mood” você vai acordar, viver e conviver Maria Helena Estrada
Acima, aparador Ubatuba de Claudio Cor rêa, em frei jó. Co le ção Marcenaria Baraúna. Ao lado, revisteiro Luiza, de Patricia Naves, em madeira compensada e lâmina de rovere. A base em MDF e a lâ mi na de su maú ma es cu recida dão leveza à peça, que parece não tocar o chão. Na Zona D
Car
los
Albe
rto
Ben
Ao lado, pol tro na Co pa ca ba na, design Pe dro Moog e Le o nar do Lat tavo, re pro duz o dese nho da cal ça da de Co pa ca ba na e do Te a tro Ama zo nas (sua origem). Base em aço e assento e en costo ar ti cu la dos, em ma dei ra. À ven da na Lat tavo
26 ARC DESIGN
E A MADEIRA VENCEU... Ela vence... disparada. Mas agora esta vitória vem acompanhada de cer ti fi ca çõ es de ori gem, de res pei to ao nos so tão abu sa do meio am bi en te. A tra di ção bra si lei ra com o uso da ma dei ra co me çou há 500 anos! Não terá che ga do o tem po de rein ven tar mos seu uso, apri mo rar mos tec no lo gias, re tro ce der – quem Fa bio Abu
sabe – à glo ri o sa dé ca da de 1950, mas sem re pe tir as mes mas for mas, ape nas o uso par ci mo ni o so da ma dei ra, de idéi as e pro je tos ino va do res, como fi ze ram Ten rei ro e Za ni ne, por exem -
Aci ma, ca dei ra mul ti fun ci o nal Es ca da, design Ma nu el Ban dei ra, brin ca com as vá rias for mas de sentar. Estru tu ra em aço, re vestida com lâ mi nas de ma dei ra, en costo e assento em MDF. Ven da sob en co men da com Eli sa beth Hein. No alto da pá gi na, à di rei ta, sofá da li nha Java em ma dei ra Teca de re flo res ta men to e es tru tu ra em alu mí nio sol da do com pin tu ra ele tros tá ti ca. Co le ção Ti del li
plo. Pa re ce in crí vel, mas é o mes mo Ser gio Ro dri gues da pol tro na Mole, lan ça da em 1957 quem mais se ar risca no uso da madeira, fina, elegan te, cur va da
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Aci ma, pol tro na Os car, de Por fí rio Val la da res, em la mi na do mol da do, aca ba men to em fo lha de ma dei ra e laca au to mo ti va. À ven da na Mi ca sa (SP), Ar ma zém da De co ra ção (GO), Hill Hou se (DF), Ou vi dor (CE). À es quer da, mesa Pan to grá fi ca, design Wal ter Bah ci van ji em ma dei ra de re flo res ta men to Teca, pode ser usa da em vá rias con fi gu ra çõ es, con for me sua aber tu ra. Co le ção Be ne dixt
27 ARC DESIGN
Pau lo R. Vas con cel los Cel so Chit to li na
Acima, mó vel para som Ama ro ne por Re ja ne Car va lho Lei te. Em ma dei ra ma ci ça com mul ti la mi na do, à ven da na Sil vio Ro me ro (MG), Pon to e Li nha (AL) e Novi tá (SP). Pro du ção Schus ter
Ro ber to Stel zer
Aci ma, mesa Ló tus, de Ilse Lang, é versá til e sim ples, assume duas medidas e configurações. Em MDF la mi na do ou la quea do, é ven dida na Faro Design (RS). Abai xo, sofá Seu re, design Ju lia na Llussá, em frei jó pro du zido com téc ni cas tra di ci o nais de en cai xe. Na Mar ce na ria Llussá
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Acima, ban co Ne tu no, design Ro Schmitt. Es tru tu ra em com pen sa do, re ves ti men to em ma dei ra la mi na da, la quea ção ou pele de rã. Assen to re moví vel com aca ba men to em laca. Co le ção Brentwo od
O artesanato pode ser lido em diversas formas. Há aquele intocado, puro, como o indígena; o de tradição, ao qual se une o trabalho do designer para
Ro ber to Ma jo la
BREVE TOQUE DE NOSTALGIA
agregar valor; há também o design de autor, de pequenas séries ou objetos únicos, mais próximos à arte – e hoje disputado por galerias e colecionadores internacionais. No mobiliário brasileiro começamos a encontrar uma nova leitura para o artesanato – aquele que é incorporado à produção industrial. No Salão Design Casa Brasil, uma novidade da Prima Design, a poltrona Flor, já na coleção do Empório Beraldin. Qual seria o grande apelo do artesanato? Uma referência à memória afetiva, a possibilidade de personalizar produtos massificados? O certo é o sucesso, inclusive internacional, desse “estilo brasileiro”
Aci ma, pol tro na e pufe Gi se le, de sign Aris teu Pi res. Re fe rên ci as es can di navas, e le ve za tro pi cal no as sen to e en cos to em fi nas ti ras de cou ro sola. Co le ção Sac ca ro. À es quer da, mesa Mandala, design Claudia Moreira Salles, com es tru tu ra em ma dei ra ma ci ça, tam po em MDF e man da la ar te sa nal em pa lha de car naú ba. À ven da na Casa 21
No alto da página, à direita, pol tro na Flor, design Eu lá lia de Sou za An sel mo, com es tru tu ra em aço inox e es to fa men to bor da do com flo res de cro chê em lã na tu ral. Presen te na fei ra CASA BRA SIL, ago ra é par te da co le ção Em pó rio Be ral din. À direita, cadeira Hamaca, design Mariana Betting e Rober to Hercowitz, com estrutura em madeira maciça e assento e encosto em macramé tecido com fios de couro. À venda na Dpot
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SUSTENTÁVEIS, CLARO! Criar obedecendo aos limites da sustentabilidade é uma premissa que hoje é a base do design.
excesso de matéria-prima e materiais não-recicláveis são hoje terreno proibido a quem projeta nosso entorno. É o designer que detém a chave dessa questão primordial. Com maior ou menor rigor o Brasil adquire consciência. Você quer uma casa ambientalmente correta? Aqui
Estúdio Maurício Pepe Fotografia
Destruição de florestas naturais, poluição, descartes,
vão algumas sugestões, que incluem a madeira de reciclo, a de florestas sustentáveis e a certificada. Há ainda o PET e, nos projetos do arquiteto Martinez Flores, um adeus à velha Bauhaus e um aceno à ironia e ao humor. Mas sem perder seu clássico rigor
À es quer da, gave ta de se gre dos Bola, cria da para guar dar pre ci o si da des. Em ma dei ra ma ci ça, design Sil via Me coz zi, na Mar ce na ria Tran co so. No alto da pá gi na, mesa Arua que, design Cris tia no Ri bei ro do Val le, com base em ma dei ra gua ru ba e tam po em vi dro. À ven da na Tora Bra sil
À es quer da, mesa de centro Cai xa de Fru tas, design Au ré lio Mar ti nez Flo res. Ri pas de cai xas de fru tas e tam po em cris tal. Co le ção Fir ma Casa. Aci ma, ban co Hor ti fru ti é uma edi ção li mi ta da do ar qui te to Au ré lio Mar ti nez Flo res, usan do cai xo tes de fei ra com es to fa men to em seda pura. Co le ção Fir ma Casa
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Leo Cal das Ro mu lo Fi al di ni
Acima, bolsa Fruta por Wallace Barros é feita com câmera de ar descar tada de caminhão e cabo de áudio. À venda sob encomenda. No alto da página, luminária Nega Maluca, design Ana Bor ba e Bete Paes. Produ zida em material descar tado (garrafas PET), é desenvol vida, fabricada e vendida pela Lixiki (PE)
Aci ma, ca dei ra Guaiu ba em ma dei ra ma ci ça cu ma rú, cer ti fi ca da pelo Fo rest Ste wards hip Coun cil (FSC), com aca ba mento em cera. Cria ção de Car los Mot ta, à ven da no ate liê do desig ner, em seus re presentantes, nos EUA e em Lon dres. À di reita, mesa Enge nho Central, cria da por Etel Car mo na, é pro du zida em ipê ma ci ço, com de ta lhes nas al ças la te rais do tam po. Na Etel Inte ri o res
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Alan Vis to chi
DA NECESSÁRIA LEVEZA A moda invade o design, com sua riqueza, seu caráter volátil e veloz. O Salão do Móvel de Milão dita tendências – e entram em cena o branco, a leveza e as transparências. E o design brasileiro acompanha de perto. A Conceito Firma Casa inova com o uso do alvíssimo vidro Guardian, a estação de trabalho Flexiv também se desmaterializa junto à parede branca e Ilse Lang, designer gaúcha, propõe um inovador e quase imaterial cabideiro, em cordão de algodão natural, com uma “alma” que o sustenta e molda. Tudo pronto para neutralizar a moda dos co lo ri dos ade si vos flo rais. E viva a li ber da de bem de co ra da!
Acima, Bergère Glass, do estúdio Nada Se Leva, é um redesenho atuali zado da clássica bergère, de 1720. Em vidro DiamondGuard, da Guardian, com transparência total e resistência a riscos. À ven da na Con ceito Fir ma Casa (SP), Ou vidor (CE), Home Design (BA), Dese nho Design (PE)
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Sér gio Cad dah
No alto da página, à esquerda, Home Kit Flexiv, design Ronaldo Duschenes e Estúdio Flexiv. Composto pela mesa Móbile e pelo Wall Organi zer, cria compactos ambientes de trabalho. À venda na Flexiv em Curitiba e São Paulo. Acima, cabideiro Laço de Ilse Lang, em barra de aço cur vada e revestida por uma corda de algodão, pode ser usado isolado ou conectado em sequência. À venda na Faro Design (RS). Abaixo, mesa Sagu de Bianca Bar bato, em acrílico, com bolinhas de piscina infantil. À venda no Ateliê Bian ca Bar ba to (RJ) e na Via Manzo ni e Da qui Design (RJ)
Fa bio Fer raz
Ao lado, mesa de estar Fita, design do estú dio Nada Se Leva, tem base em Corian® moldado e tampo de vidro. À ven da na Fir ma Casa (SP), Ou vidor (CE), Home Design (BA), Dese nho Design (PE), Via Manzo ni (RJ), Stu dio Con ceito (SC)
À esquerda, ca dei ra Bá si ca, design Mar ce lo Li gie ri, em aço inox po li do e ma dei ra la quea da. À venda na Be ne dixt. Abaixo, vaso Gelo em ce râ mi ca es mal ta da, design Ale ver son Ec ker, Hen ri que Ser be na, Lí ber Paz e R. Luiz Pel lan da Ju ni or, pro du zi do pela Ho la ria Ce râ mi ca. À ven da na Zona D e Be ne dixt
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Cí ce ro Ma fra
SEU MUNDO É COLORIDO? Mas quem suportaria uma casa totalmente branca, etérea? Assim entra em cena o verão 2008, de muitas cores. É uma forma de inovar e de sair do famoso “bege e marrom” tão apreciado pelos discretos, inseguros, receosos. Do papel de parede e seus ara bes cos mo der nos à ma dei ra pin ta da – rei na a cor. Tendências conflitantes? Não, apenas o espírito livre, leve e solto para construir e tornar pessoal e única a sua casa. Misture, combine e descombine – assim como você,
Fa bio Abu
sua casa pode mostrar múltiplas facetas
Acima, à esquerda, ca dei ras Caos, design Mar ce lo Ligie ri, em aço car bo no. À ven da na Dpot. Acima, à direita, lu mi ná ria Mam ma, design Ro naldo Ma fra, faz par te de uma li nha de lu mi ná rias com cor po di fu sor em po lí me ro bran co e siste ma de co res com leds RGB, ou com luz bran ca. À ven da nos re presentantes Ilu mi nar em todo o Bra sil e na Argenti na
Aci ma, ban qui nho em pi lhá vel Eu val do, em Lyptus tin gi do, de sign Ma nu el Ban dei ra. Sua es tru tu ra com três pés res ga ta os an ti gos ban qui nhos de bo te co. À ven da sob en co men da com Eli sa beth Hein. Ao lado, mesa lateral Flet cha, de sign Ra fael Mor gan, em acrí li co mol da do, pode ser po si ci o na da de di ver sas ma nei ras. Única peça des ta re se nha que ain da aguar da um pro du tor
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Ro ber to Ma jo la
Ga bri el Aran tes
À direita, estante Bis, design Lu cia na Mar tins e Gerson de Oli vei ra. Em ma dei ra la quea da, tem com par ti mentos aber tos e fe cha dos, com com po si çõ es em co res. À ven da na loja ,Ovo. Abaixo, ca dei ra Ane lí de os Ba lan ço, design Eu lá lia de Sou za An sel mo, é uma versão com pac ta da antiga Ane lí de os. Estru tu ra em aço inox e assento e encosto em fatias com distanciadores, ambos em EVA. À ven da nos re presentantes da Pri ma Design (RS)
Abaixo, ca dei ra Sola, design Ma ri e ta Fer ber, tem es tru tu ra em tubo me tá li co, aca ba men to em pin tu ra ele tros tá ti ca pre ta ou bran ca fos ca. Assen to e en cos to em tra ma de per cin tas de cou ro sola. À ven da na Be ne dixt
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OBJETOS DIRETOS Neste campo todas as influências, tradições, liberdades são possíveis. Da nossa cármica madeira ao aço inox, da raiz escandinava à cultuPa blo Hardt
ra brasileira. Na Paralela Gift encontramos o melhor repertório: Rosa Pinc, e sua coleção bem-humorada de vasos; Svenja, e a reafirmação de um trabalho de qualidade. Dentre as lojas paulistanas, destaque para a Benedixt e a Zona D. Carlos Alcantarino, Cacá Alvarez e Petry são os designers em destaque nesta edição, com metal, renda, cerâmica e resina. Um universo que cresce em qualidade e deixa para trás a matriz italia-
Car los Guer ri e ro
na. Objetos sem as extravagâncias da “moda luxo”, e por isso mesmo puro luxo
No alto, à esquerda, garrafinhas da série "Memórias", design Rosa Pinc, argila esmaltada em branco “off white”. Acompanha uma estrutura de ferro envelhecido. À venda no Atelier Rosa Pinc. Acima, Prato Lua Ice, de Cacá Alvarez, em resina polida, usa a técnica Ice. À venda na Benedixt
ca ro lo Da ni el Ba r
Acima, conjunto para salada Kyoto, design Ger tri Bodini, usa retalhos de chapas de aço inox e madeira cer tificada Lyptus. É produ zida pela Aracruz. À venda na Presentes Mickey (SP) e Zona Útil (RJ)
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Fabio Ferraz
ri e ro Ca r lo s Gu er
Tuca Rei nés
No alto da página, ban de ja Es pe lha da, design Car los Al can ta ri no, em ma dei ra la quea da com pintu ra em laca de alto bri lho, sua tex tu ra é feita em silk-scre en cria da com uma ren da de papel. À venda na Be ne dixt. Acima, bowl com bor da ir re gu lar, cria ção Pe dro Petry, pro du zida no tor no com ma dei ra tom ba da cam ba rá. Co le ção Be ne dixt
Inspirado na geometria da cobra Jararaca, o faqueiro Ar thur Ca sas, (acima) é produzido em aço ino xi dá vel e pra ta pela Riva. De sig n Ar thur Ca sas, à venda em São Paulo na Con cei to Fir ma Casa, Zona D, Be ne dixt, Mic key Pre sen tes, Cleu sa Pre sen tes e Ro ber to Si mõ es
À direita, Bowl oval Pa lha Ouro ou Pra ta, por Sven ja Kal teich, fei to em massa de por ce la na, à ven da na Ar chi for ma, Con tem po râ nea, Onze Design (SP), Den tro Design, Ar ka na (RJ), Dese nho Design (PE) e Ter ra Arte (SC)
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Fotos Fabio del Re
FLORESTA INFANTIL Bi chos do Mar de Den tro, nome des ta co le ção, são os ani mais sil ves tres da Cos ta Doce, no Rio Gran de do Sul, uma re gião que vai de Guaí ba ao Chuí e é o mai or com ple xo la gu nar do mun do. Bi guá, ca pivara, cisne-do-pescoço-preto, coruja-do-campo, garçabranca, guaxaim, quero-quero são desenhados, tricotados ou feitos em biscuit, e se transformam em cobras que são echarpes ou chapéus, em camisetas, almofadas, e em um in crí vel jogo de xa drez. Pro je to do Se brae co or de na do por Re na to Im broi si e Tina Mou ra, de sign de pro du to de He loi sa Croc co e Lúcia do Val le, de se nhos de Lui Lo Pumo, con tou ain da com con sul to ria téc ni ca em bi o lo gia e oce a no gra fia de Tâ nia Ari gony e Lau ro Bar cel los
No alto da pá gi na, dese nho dos bi chi nhos im presso so bre capa de al mo fa da; à es quer da, a co bra lis tra da, que brin ca com a crian ça e ain da ser ve de cha péu; abai xo, jogo de xa drez Aves, em “bis cu it”
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Acima, ao lado e abaixo, fantoches de dedo com biguá, coruja, ratão e jararaca da praia. Todos os bichos são feitos em crochê pelas crocheteiras da Casa do Artesão de Camaquã e da Coope rativa das Crocheteiras de Costa Doce, com produção executiva de Karine Perufo
Acima, caixa Habitat, em taim verde, com cobra, gar ça, jacaré, coruja-do-campo e outros bichos, feitos em diversos materiais
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Car los Emi lio
SERES ILUMINADOS Iluminar: “espalhar luz sobre alguma coisa”. Será mesmo? A definição simplista da palavra, encontrada nos dicionários, está cada vez mais longe de representar as criações dos designers nacionais e internacionais envolvidos na produção luminotécnica. Cheios de subjetividade e poética – sem perder o caminho da razão, fundamental para o novo mundo dos leds e da baixa voltagem –, os produtos transcendem os estreitos limites da forma e função. Usar a luz para aguçar os sentidos é, sem dúvida, uma extensão da linguagem presente nesse universo
Nelson Kon
Ana Sant’Anna Acima, luminária Essa ya ge, com es tru tu ra em ara me de aço e di fu sor de “não-te ci do” (com pos to de fi la men tos de po li e ti le no). Desig n Baba Va ca ro, para a Do mi ni ci. À es quer da, aran de la em aço inox Cut 2, design Fer nan do Pra do, para a Lu mi ni
Gran des pro por çõ es (1 m de di â me tro e 42 cm de al tu ra) no pen den te King Size, design Cris tia na Ber to luc ci na co le ção Fora de Es ca la, à venda na Ber to luc ci. Em ma dei ra teca com fe cha men to in fe ri or em opa li na
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Cí ce ro Ma fra Mau rí cio Seidl
Aci ma, Aba jur zin, em aço inox, design Mar ce lo Ki o ka wa Aoki, à venda na Zona D. À di rei ta, luminária Bol, em alu mí nio com pin tu ra gra fi te. Coleção Stu dio La Lam pe. No alto da página, à di rei ta, luminária Ora Bo las, design An dré To le do e Inês Ya ma gu chi, em vi dro e alu mí nio. À venda na Ilu mi nar
Lu mi ná ria Sha kti, desig n Fer nan da Fu nes, em alu mí nio ma ci ço tor ne a do, aço ino xi dá vel po li do e mó du los di fu so res semicir cu la res em acrí li co bran co. À ven da na Fir ma Casa nas ver sõ es teto, pa re de, mesa e piso
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CASA BRASIL
UMA FEIRA DE SUCESSO Iniciativa do Sindmóveis de Bento Gonçalves, RS, a primeira CASA BRASIL, realizada em agosto 2007, mostrou que o mercado mudou, o gosto do consumidor também, e que viver de acordo com o próprio tempo é fundamental. Razão do grande sucesso alcançado pela feira? Respirava-se
Fotos Alexandre Machado
design, inovação, qualidade
Da Redação Uma feira de produtos contemporâneos de qualidade não se contenta em ser apenas mostruário de peças à venda. Ela inclui uma programação cultural paralela que, pelo seu nível, já define o objetivo a ser alcançado, o público-alvo, a ambição de seus expositores e realizadores. A “experiência CASA BRASIL” mostrou o acerto dessa fórmula: uma feira sem produtos do século XIX e sem cópias de mestres famosos, graças a um conselho curatorial exigente e atento. A resposta das empresas cheAci ma, hall de en tra da da CASA BRA SIL. Abaixo, Sergio Ro dri gues, ho me na ge a do, re ce be pla ca em ja ca ran dá das mãos do designer Guto Indio da Cos ta e Vol ney Be ni ni, presi den te da fei ra
gou rápida e segura, mostrando uma qualidade e um empenho não imaginados. Os estandes eram puro esmero e, junto a seus produtos, permitiram que, desde a entrada, o visitante tivesse a sensação de conhecer, pela primeira vez no Brasil, uma feira de alta qualidade. O seminário “Design Hoje”, um dos pontos altos da programação cultural, teve a presença de conferencistas europeus e de um brasileiro. Designers famosos como Tom Dixon (Inglaterra) e jovens como os irmãos Adriano (Itália), a especialista em tendências e cores Cláudia Kuechen (Alemanha), o crítico de design Enrico Morteo (Itália) e o mais conhecido desenhista industrial brasileiro, Guto Indio da Costa. Dentre as mostras destacamos a Design Anônimo com objetos de uso cotidiano, raros e curiosos, alguns
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Acima, à esquerda, de ta lhe da exposição Design Anô ni mo. Na sequência, a mostra Os Se gre dos do Design In dus trial, ven do-se em pri mei ro pla no a ca dei ra de ba lan ço, ori gi nal, da Thon net e, ao lado, a Ces ca, de Mar cel Breu er, tam bém ori gi nal. Abaixo, as pec tos do Sa lão Design, com os pro du tos pre mia dos e os se le ci o na dos
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vindos na bagagem dos imigrantes italianos, outros aqui fabricados por eles e resgatados por Carlos e Tina Moura. Um privilégio, a oportunidade de conhecer a mostra MoMA/FIESP, de mobiliário do século XX. Realizada com a curadoria de Ary Perez e Cyntia Malaguti, é um acervo de raridades. Ressaltando a inovação, havia a coleção de mobiliário em Corian e uma exposição de projetos universitários. Joel Jordani
E o Salão Design? Uma tradição que vem do concurso Movelsul e viu confirmada a importância de apresentar novos produtos em regiões próximas a pólos produtivos e, também, como parte integrante de uma feira aberta ao público especializado, da indústria ao comércio. O Salão CASA BRASIL inclui um vasto repertório de tipologias e, se bem que ainda com propostas tímidas, já foi compreendida como um espaço aberto à inovação. Parabéns ao Sindmóveis e à sua equipe pela ambição e
Joel Jordani
o critério com que pensaram esta nova feira. i A pró xi ma CASA BRA SIL será re a li za da em Ben to Gon çal ves, de 04/08 a 08/08 de 2009
Divulgação
No alto da página, “Gourmeteria”, um dos quatro ambientes do estande Criare, projeto dos arquitetos Marcia Doernte e Albert Wainer, de Por to Ale gre com lustre Fanta sia, que uti li za con chas para so pei ra. Ao centro, de ta lhe do estan de da Ber to li ni, com pa re des/pai néis re cor ta dos a la ser, e onde tam bém se re a li zavam en con tros eno gas tro nô mi cos. Abaixo, o am plo e es me ra do am bi en te da To des chi ni, com a es tan te Bi bli o te ca Gris
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CONTEMPORÂNEO E ELEGANTE Espaço de sobra, um clima contemporâneo que foge ao tão usado branco e preto, e peças de design – como a cadeira Gaivota, de Reno Bonzon, e a poltrona e banqueta Charles Eames – em meio a objetos de arte. Foram as escolhas das arquitetas Alessandra Pires e Carla Barranco para esta cobertura paulista que esbanja conforto em seus 560 metros quadrados Ana Sant’Anna / Fotos Ricardo Breda 48 ARC DESIGN
Aci ma, a chur ras quei ra de al ve na ria re ves ti da de li mes to ne é equi pa da com ade ga e for no de piz za. In te gra da à va ran da, ela fica no piso su pe rior do apartamento. No alto da página ao lado, os sofás Wall (Brentwood), alinhados, indicam as proporções do living, situado no piso inferior. Ain da na mes ma pá gi na, abai xo, a sala se in te gra à va ran da gra ças à re ti ra da da es ca da, que fi cava onde hoje está a mesa de cen tro. Pol tro nas Gai vo ta, de Reno Bon zon. Es cul tu ra de Bre che ret. Tela de New ton Mes qui ta
Avistar o Parque do Ibirapuera, assistir a um show no
vista para o sky line da cidade”, afirma Alessandra. A
telão ou apreciar uma autêntica escultura de Brecheret.
nova escada, erguida no canto da sala – tomando parte
Tudo isso sentado em um dos sofás, alinhados lado a
da área antes usada para o quinto dormitório –, liberou
lado no living. São apenas alguns dos privilégios dos
espaço e ampliou o living. “Também conferiu leveza ao
moradores deste dúplex de 560 metros quadrados. As
ambiente, já que foi projetada com guarda-corpo de vi-
arquitetas Alessandra Pires e Carla Barranco, autoras
dro e degraus de madeira que parecem flutuar”, com-
do projeto de reforma, priorizaram a integração e flui-
plementa a profissional. Outras mudanças se adapta-
dez dos espaços. Começaram justamente pelo piso in-
ram ao gosto do jovem casal com um filho pequeno.
ferior, colocando abaixo a escada posicionada no cen-
Ainda no andar inferior, as arquitetas propuseram alte-
tro do living. Com dois lances e um patamar, o elemen-
rações na planta que permitiram priorizar o quarto de
to arquitetônico ficava onde atualmente estão as mesas
brinquedos e a suíte máster, além do dormitório do me-
de mármore. “Além de dividir o ambiente, obstruía a
nino – transformado em suíte – e de um escritório. 49 ARC DESIGN
Aci ma, no pavi men to su pe ri or, vis ta fron tal do home the a ter com pis ci na ao fun do. Abai xo, o ter ra ço mais pró xi mo da sala de TV. Ob ser ve: pen san do em uni fi ca rem as áre as e ex pan di rem a en tra da de luz na tu ral, as ar qui te tas con ce be ram am bi en tes sem por tas – com ex ce ção do quar to de hós pe des – e in te gra ram in te ri or e ex te ri or por meio de cai xi lhos de vi dro
Quanto ao mobiliário, as escolhas são marcadas com peças de design, que se misturam a objetos de arte. Já a marcenaria foi empregada como elemento organizador dos espaços. Exemplo disso são as portas de correr, que se fecham em esquina, formando o hall principal. “Quando abertas, ampliam o living, totalizando 90 metros quadrados de área social”, diz Alessandra. Isso sem contar a sala de jantar que, integrada à cozinha e ao estar, soma mais 14 metros quadrados ao piso inferior. No andar de cima, as proporções não são diferentes. O pavimento, antes um único salão escuro, ganhou quarto de hóspedes, terraço com churrasqueira, spa e até home theater com vista para a piscina. Os terraços, um pertinho do home theater e outro, oposto, ao lado da churrasqueira, totalizam 145 metros quadrados. Mas, além de generosos espaços, o projeto traduz um estilo de vida contemporâneo e elegante. i 50 ARC DESIGN
FICHA TÉCNICA Arquitetura de interiores: A1 Arquitetura Projeto de luminotécnica: Mingrone Iluminação Paisagismo: Marcelo Bellotto Obra civil: Construtora Matec
FORNECEDORES Marcenaria: Tora-Tora Automação: Cynthron Caixilharia: Brantec Mármores: NPK Mármore Mobiliário: Brentwood Futons: Futon Company Tapetes: Casa Matriz, Avanti Carpet
by
Rua Aspicuelta, 145
Vila Madalena Fone: 11 3097 9344
3097 8994
loja@decamerondesign.com.br
Marcus Ferreira
w w w. d e c a m e r o n d e s i g n . c o m . b r
Em ple no vi gor cri a ti vo, Ser gio Ro dri gues co me mo ra 80 anos. Ou me lhor: co me mo ram por ele, ilus tre ho me na ge a do, com inú me ras ma ni fes ta çõ es em todo o país. A ini ci a ti va da em pre sa gaú cha Sac ca ro é uma das idéi as pen sa das para ex pan dir, ou
e o “fazer” Sergio Rodrigues, sua forma amigável e rigorosa de trabalhar a madeira... Aci ma, ca be cei ra de cama, de sign das ar qui te tas gaú chas Lui Lo Pumo, Tina Mou ra e Dé bo ra Ei chen berg. Le ve za e eco no mia de ma te ri al. Ao lado do tí tu lo, o bem-hu mo ra do ca bi dei ro Bi go de, de sign Pe dro Use che
certificada, é claro
HOMENAGEM
Maria Helena Estrada / Fotos Joel Jordani ... e a madeira venceu. Já escrevemos isto em outra matéria desta edição. Sergio Rodrigues é um dos responsáveis por essa fidelidade brasileira ao seu material mais abundante – e mais perigoso. Mas se ainda privilegia esta matéria-prima, ela foi se transformando ao longo das décadas e, do jacarandá das primeiras peças, chegou ao lyptus, madeira de reflorestamento. Outra característica importante de sua trajetória é a substituição da estética “robusta”, como na poltrona Mole, pelas delicadas estruturas de suas últimas criações. A iniciativa da Saccaro é pioneira: convidar um grupo de designers, cujos nomes já são afirmados no mercado, para projetar peças em homenagem a Sergio. Carlos Motta, Ana Vasquez, Maneco Quinderê, Ivan Rezende, entre outros, compõem a nova coleção. O avanço tecnológico e o cuidado artesanal nos acabamentos, próprios da Saccaro, permitiram realizar as mais diversas alusões ao universo rodriguiano. Em todas, a preocupação com a economia do material, com a estética contemporânea na essencialidade das formas e, também, com uma certa dose de humor – tão peculiar a Sergio Rodrigues –, como é o caso do cabideiro Bigode, de Pedro Useche. Fiel aos mesmos materiais, Sergio sempre se renova, e “trabalha” suas criações até atingirem aquela forma perfeita, que os manterá – por muito tempo – atuais. Sem dúvida uma boa fonte de inspiração – mas, por favor, não de imitação! ❉ Aci ma, ca dei ra e ban que ta com esto fa mento em cou ro na tu ral. Design Za ni ni de Za ni ne, o fi lho de José Za ni ne Caldas, Rio de Ja nei ro. Ao lado, chai se longue Guri do desig ner gaú cho Ro que Friz zo, com esto fa mento em cou ro pre to
Sergio Rodrigues
“infiltrar” entre os designers brasileiros, a filosofia
An Dominici DOJum
15.06.07
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MARCA REGISTRADA
DENISE BARRETTO São tantas obras acumuladas ao longo
Rômulo Fialdini
dos seus 22 anos de carreira e outras tantas viagens a trabalho com destinos dos mais variados, que chega a espantar quem bate os olhos no currículo de Denise Barretto. Mas, mesmo causando essa sensação para alguns, para a arquiteta paulista tudo é perfeitamente possível. Incansável, ela continua imprimindo seu dinamismo e, ao mesmo tempo, uma certa serenidade nos seus projetos espalhados de São Paulo ao Cazaquistão
João Ribeiro
Ana Sant’Anna
54 ARC DESIGN
CASA COR SÃO PAULO 2004 Na Sala do Hobby do Dono da Casa, um am bi en te de 100 m 2 pro je ta do para um co le ci o na dor de arte, os tons bege e mar rom ga nham lu mi no si da de. Abai xo, ár vo res es cul pidas por José Bento (Ga le ria Ma rí lia Ra zuk), pontua das por ni cho e re cor tes na pa re de e teto. Na página ao lado, so bre o piso de cou ro, es cul tu ra de ma dei ra de Mar ce lo Sil vei ra (Ga le ria Nara Ro es ler) João Ribeiro
55 ARC DESIGN
Uma superfície texturizada que demarca a área central
todo”, diz Denise, que deixa evidente essas escolhas
de um ambiente, um nicho na parede ocupado por
nos ambientes da Casa Cor 2004, 2006 e 2007. Já o ob-
obras de arte, um facho de luz feito para acentuar deter-
jetivo da arquiteta quando opta por materiais de dife-
minado elemento. São alguns recursos utilizados pela
rentes texturas é mexer com os sentidos do usuário e
arquiteta Denise Barretto para organizar visualmente os
evitar espaços monótonos. Como na Stimma Propagan-
espaços. Em mais de 700 projetos – incluindo obras de
da, em São Paulo, e também no apartamento carioca, re-
arquitetura, paisagismo, interiores para residências, es-
presentados nesta reportagem, ela consegue, em uma
critórios, lojas, restaurantes, hotéis e ainda mostras de
bem pensada mistura, equilibrar o uso de bambu e pe-
decoração –, a profissional revela dinamismo na forma
dras, madeira e vidro ou outros materiais contrastantes
de expressão e, ao mesmo tempo, certa serenidade em
que considera adequados ao cliente, ao perfil do empre-
suas composições. A paleta de cores, por exemplo, cos-
endimento e, claro, ao clima local. Outra característica
tuma ser usada com parcimônia. Geralmente, especifica
marcante em sua trajetória é imprimir “movimento” ao
cinza e bege, marrom e preto, além de tons metalizados.
projeto. Quase como numa brincadeira de esconde-es-
“A idéia é, sem contrastes excessivos, harmonizar o
conde, ora revela, ora oculta elementos arquitetônicos e
H.STERN, SHOPPING RIO DESIGN BARRA, RJ, 2006 Abaixo, em 592 m 2, spa e loja com iden ti da de vi sual con tem po râ nea onde a ar qui te ta pri vi le gia for mas orgâ ni cas no projeto arquitetônico e no mobiliário. Ca dei ra e ban que tas, de Pe dro Use che Guin ter Pars chalk
Fotos João Ribeiro Rômulo Fialdini
STIMMA PROPAGANDA, SP, 2004
APARTAMENTO LEBLON, RJ, 2004
230 m 2 de cor e ir re ve rên cia. Aci ma, à es quer da, mesa de vi dro bran co e pa re de de cru ze tas (Em pó rio dos Dor men tes). À di rei ta, ao lado do me za ni no, cam po de fu te bol de bo tão para as ho ras de re lax e can to com tatame usado no aten di men to de clientes
Pro je ta da para um jovem sol tei ro, a resi dên cia de 160 m 2, abai xo, com bi na piso de Si les to ne, for ro de ma dei ra amên do la e pa re de de bam bu (Agavee). A idéia é unir con tem po ra nei da de e acon che go. Pen den te de Ingo Mau rer (FAS) e mó veis Atri um
João Ribeiro
decorativos: às vezes um pórtico que não deixa evidente duas alas do mesmo espaço ou um corredor estreito obstruindo a vista de um amplo salão. Além do estilo projetual, a quantidade e diversidade de obras listadas em seu currículo desde 1985 – quando se formou pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, em São Paulo – comprovam o espírito dinâmico da arquiteta. Só as lojas H.Stern somam 180 unidades espalhadas pelo mundo. “Desde que criei outra identidade visual para a marca, em 1996, implementei lojas na Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, Portugal, França, Estados Unidos, México, Peru, Argentina e até Israel, Kuwait e Cazaquistão”, conta. Tudo isso a distância? “Não. Chego a viajar mais de dez vezes por ano, para acompanhar todas as obras de perto. Até estranho
CASA COR SÃO PAULO 2006
CASA COR SÃO PAULO 2007
Mistu ra de tex tu ras no Restau rante, de 200 m 2, acima: fo lha de no guei ra no ni cho ilu mi na do (Mar ce na ria Fê nix), pai nel central de MDF com estu que ve nezia no (Ate li er Adria na & Car lo ta) e ca dei ra (Ar te fac to) com te li nha no en costo
Abai xo, no Li ving de Con vi vên cia, con for to e sen sa çõ es tá teis nos 50 m 2. Pa re de e teto re ves ti dos de car pe te Avan ti. Pro je to lu mi no téc ni co de Guin ter Pars chalk e lu mi ná ri as Lu mi ni. Sofá, pufe e te ci dos, Em pó rio Be ral din; cadeira Forma
Guin ter Pars chalk
quando fico mais de três meses em São Paulo.” i
DESIGN SEM FRONTEIRAS 60 ARC DESIGN
O rompimento dos limites entre arte e design retorna com força ao cenário internacional. Se na década de 1980 esse movimento partia dos designers, que desejavam romper os grilhões da “boa forma”, agora são as instituições ligadas à arte que propõem, valorizam e “publicizam” essa dupla contaminação Maria Helena Estrada
Londres. Sotheby’s na Chastworth House. A proposta “Beyond Limits” se apresenta nos britânicos jardins desse palacete do século XVII, famoso por abrigar a coleção do duque de Devonshire, a qual abrange 4 mil anos de artes e “crafts”. Mas a proposta nesta segunda edição é um pouco diversa, e mostra obras de um grupo internacional de artistas e designers capazes de extrapolar os limites de sua própria criação. O tema central é a justaposição entre a escultura contemporânea e No alto da página enorme assento escultural de Zaha Hadid, vendo-se ao fundo a Chastworth House. Acima, mesa ou banqueta, objeto criado por Fer nando e Humber to Campana para a mostra “Beyond Limits”, que amplia a simples função da mesa Sushi. Abaixo, Les Vibrations II, de Anish Kapoor, uma pedra negra cujo volume se tor na incer to pela vibração da luz na super fície polida
a herança e tradição de Chastworth. Encontram-se nos jardins, em harmonia, artistas famosos, entre os quais Marc Quinn, com uma Ninfa de mais de 3 metros de altura, em bronze pintado de branco, cujo modelo foi a atriz Kate Moss em posição de ioga. Hadid, Arad, Kapoor, o próprio Quinn e os irmãos Campana receberam convite especial para a exposição. Algumas peças, como os bancos de Zaha Hadid e o dos irmãos Campana, ficam na fronteira entre o design e a arte, e convivem em harmonia. Les Vibrations II, de Kapoor, é também outro exemplo dessa ausência de limites entre a arte para se olhar e aquela para ser usada. Esta segunda edição da Sotheby’s em Chastworth, de acordo com seus curadores, já tem sua continuação garantida. i
DP_gaivota_Arc design.ai
05.10.07
12:18:24
FOGO DESIGN
ENTREVISTA: Carloise
Recifenses, Miguel Sanches e Ramsés Marçal têm nas narrativas dos lugares onde estão ou estiveram, vivendo ou de passagem, as principais referências para criação de seus objetos. Sócios do escritório Fogo Design, em São Paulo, para eles o projeto transcende a forma e a utilidade e deve, quando necessário, subverter lógicas para se aproximar da história de vida de cada um de nós, seja para afirmá-la seja para contestá-la. Não raro, a dupla atribui às suas invenções o sentido de “grotesco” e não perde a oportunidade de imprimir humor e risada às suas idéias, como contam nesta entrevista à ARC DESIGN Mariana Lacerda
Nes ta pá gi na, aci ma, Ram sés Mar çal (pri mei ro pla no) e Mi guel San ches, cria do res do es cri tó rio Fogo Design, em São Pau lo. Ao lado, por ta-faca Co ra ção: em di men sõ es va ria das, em ma dei ra ou resi na
Aci ma, à es quer da, lu mi ná ria Pa li to. Em ta ma nhos di ver sos, tem a ca be ça do fós fo ro em si li co ne, que pro te ge a lâm pa da di crói ca. Na se quên cia, re vis tei ro Gar ra fei ra: são 24 gar ra fas em ma dei ra tor ne a da. Abai xo, vaso Pa ra le le pí pe do
ARC DESIGN – Como definem o trabalho do
AD – Para vo cês, a for ma é im por tan te?
Fogo Design?
Rm – Claro que sim. Mas nos atrai mais ainda sermos genero-
RAm SéS mAR çAl – Di zemos que nos so tra -
sos e, por meio da forma, poder sugerir outras reflexões e até
ba lho é “agreste”. Agreste porque é árido, seco, não tem voltas
um pouco de humor. Como a toalha de mesa que criamos, cuja
nem meio-termo. Ou seja, o que fazemos não tem a intenção
estampa é uma renda composta por moscas. A renda é uma
de apresentar uma poesia lírica, não tem nada a ver com o
linguagem forte do Nordeste. E quando você viaja por esse
luar do sertão – que é uma imagem recorrente a certas re-
Nordeste e pára em um restaurante de beira de estrada per-
giões do interior de Pernambuco.
cebe que é lotado de moscas. Pegamos esses dois elementos,
mIGuEl SANChES – Penso muito no fato de sermos recifenses.
a renda e a mosca, linguagens muito nossas, e transformamos
Por mais que tentemos fugir do estigma “nordestino morando
numa toalha de mesa.
em São Paulo”, não há como negar que imprimimos no trabalho
mS – Hoje, a “boa” forma está acessível à maioria das pessoas.
as nos sas ori gens, que é o Nor des te e que, sim, é bas tan te
Produtos bonitos, “moderninhos” e com bom preço estão em
for te. É óbvio que essa reflexão carrega todo o racionalismo
toda a parte. Achamos tudo isso bom, mas queremos ir além
que a tentativa de retornar às origens pode trazer. E resulta
e propor elementos cotidianos que façam as pessoas pensa-
em um trabalho visceral, cujas bases estão em nossas histó-
rem e se reconhecerem em seu lugar e história. Trabalhamos
rias de vida, relações, passados.
sempre com temas que estão ou estiveram ao nosso redor,
Rm – E ao trazer nossas origens para os dias de hoje, questio-
mas cujas formas suscitam idéias interessantes. Por exemplo,
namos o presente, o tempo todo. Não criamos o objeto pelo
o Revisteiro. São as garrafas que dão o suporte às revistas, en-
objeto, que também não precisa ser bonito. São nossos ques-
quanto seria mais fácil imaginar o engradado, um suporte, para
tionamentos e referências que transformamos em objetos. A
servir de revisteiro. Trabalhamos com a lógica oposta. Por outro
faca é um exemplo. Nela, cabem dizeres que se encaixam mui-
lado, o oposto também é óbvio. O exercício, portanto, deve ser o
to bem na idéia de faca. Outro exemplo é o tapete de banhei-
de não cair no lugar-comum da negação, que seria o “oposto ób-
ro que tem formato e desenho de uma tampa de bueiro.
vio”. Isso seria fácil de atingir e também não é o que queremos. 63 ARC DESIGN
Aci ma, à es quer da, lu mi ná ria Cai xa de Fós fo ro, que a cen de quan do aber ta. In ter na men te, pai nel de acrí li co lei to so com ade si vo im pres so com a ima gem dos fós fo ros. Na se quên cia, de ta lhe da to a lha de mesa Mos cas, com de se nho ren da do a par tir de mos cas im pres sas em ta ma nho na tu ral. Ao lado, ban co Mi li o ná rio, em plás ti co in je ta do. Abai xo, as fa cas: em aço inox, têm fra ses im pres sas em cor e re le vo
Rm – Sem falar na forma resultante das garrafas, que juntas
formam um volume interessante. Outra coisa notável é que as pessoas não se aproximam do revisteiro e, quando o tocam, é com certo cuidado, com medo que as garrafas caiam, pois elas parecem estar soltas aleatoriamente. AD – É um lado lú di co do tra ba lho de vo cês? mS – Sim. Surpreende a possibilidade de mexer com o contex-
to dos objetos. Um elemento que participa de um cenário urbano, da cidade, como uma tampa de bueiro, e que é deslocado para um espaço privado e íntimo. Numa época em que as coisas estão cada vez mais impessoais, propomos que você leve a sua cidade – e não importa quais problemas que ela tenha – para dentro da sua casa. Hoje, as casas não têm nada que faça realmente parte do universo de quem a habita, seja da sua infância, seja do seu passado, seja do lugar de onde veio. Não encontramos nenhum bibelô jegue ou brega, nada que foi um presente de mau gosto de uma avó. Os ambientes estão como os da revista Wallpaper, tudo meio acético, ou conforme modas. Ou mesmo muito bonitinhos, impecáveis, atapetados, mas sem a presença de nenhum desejo realmente forte.
Acima, à esquerda, Jardineira Duchamp. O objeto faz par te de um projeto do Fogo Design que inclui ilustrações e instalações (à direita) inspiradas na idéia de Marcel Duchamp: apropriar-se do que já existe. Abaixo, tapete Tampa, com 54 cm de diâmetro. Em PVC injetado, produzido pela Mueller
Rm – Nosso discurso é o oposto. E por isso propomos um ob-
criando produtos que virão acompanhados de um inflável. Nin-
jeto como um porta-facas em forma de coração. Não tem jei-
guém, portanto, poderá tocá-los. Queremos, assim, questionar
to, é uma pancada. Uma alusão, claro, ao Sagrado Coração de
o fato de os móveis existirem não para serem usados, nem
Jesus, que é um símbolo da culpa cristã, a qual determinou o
mesmo contemplados, uma vez que estão sempre cobertos.
modo como fomos educados ou “preparados” para o mundo.
Mas sim para dizer algo sobre poder e, sobretudo, posse.
Na vida real, no entanto, o que acontece é outra coisa. É esse
Rm – Às vezes, pensamos em criar objetos que arrriscam se
o lado que tentamos mostrar. Algumas pessoas se emocionam,
tornar pesados demais, grotescos, até.
outras acham punk demais, ou expressão de humor negro. AD – Por exem plo? AD – Subverter a ordem das coisas, questionar e ironizar a rea -
Rm – Uma luminária em forma de porco, que faremos a par-
lidade seriam, então, a tônica do trabalho de vocês?
tir do molde tirado do bicho morto. Trata-se de um animal que
mS – O que incomoda e o que diverte causam interesse. Eu me
várias religiões contestam, acham repugnante. No entanto,
incomodo com a mania que as pessoas têm de envolver suas
nós, humanos, temos muitas semelhanças com o porco. Sua
coisas. Compra-se um carro novo e fica com o plástico do banco. Temos um projeto que estuda essa relação
pele é parecida com a nossa, por exemplo. No Japão, os tatuadores treinam a profissão em peles de porco. Ou
comum e estranha que as
seja, ao mesmo tempo que o
pessoas têm com seus ob-
porco é objeto de pecado,
jetos. Novamente, o tema é
ele é também você. A idéia é
a falta de envolvimento das pessoas com as suas coisas. Estamos
colocar o porco, o pecado, ao lado, iluminando você. i 65 ARC DESIGN
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Foto: Roali Majola Proj. Arq. Edgar Casagranda
ARQ DESIGN 03 NV
cozinha em MDF branco | frentes em oliva post forming e perfil de alumínio com metacrilato | tampo e revestimento parede em DuPont Corian® | sistema push de abertura de portas
Fábrica: Tel.[54] 2102 2200 | Vale dos Vinhedos | Bento Gonçalves | RS | www.sca.com.br
ARQ DESIGN 03 NV
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SUSTENT A ÇÃO SUSTENTABILIDADE NA ARQUITETURA, DESIGN E CONSTRUÇÃO CIVIL
SALVOS DO DILÚVIO EXPOSIÇÃO EM LOS ANGELES MOSTRA BRINQUEDOS COMO OBJETOS DE MANIFESTO
PROGRESSO SUSTENTÁVEL UM PROJETO DE LEI QUE ALMEJA UMA SÃO PAULO COM MENOS GÁS CARBÔNICO
BO CHRISTENSEN ENTREVISTA: UMA VISÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PRODUTO SUSTENTÁVEL
EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DEVERÁ SER OBRIGATÓRIA EM NOVAS CONSTRUÇÕES
Foto capa Grant Mudford
Os dados surpreendem. Entre 2002 e 2006, a frota de veículos da cidade de São Paulo aumentou em 19,54%. No ano passado, o número de viagens realizadas diariamente na capital paulista foi de 15 milhões. Anda-se de carro. Mas a velocidade média no horário de pico no final do dia é de apenas 17,7 km/h. Em 2005, foram internadas 49.900 pessoas em São Paulo com doenças provocadas pela poluição. Os números divulgados pelo Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade surpreendem e mostram, no mínimo, que algo está errado, precisa ser mudado – e logo. As iniciativas em prol de cidades melhores são realidade e assunto desta edição do Caderno SustentAção. Em comum, os temas abordados nas próximas páginas mostram que não são necessários aportes caros, nem tecnologias sofisticadas para se fazer diferente – e melhor. Iniciativas institucionais são mais que necessárias, a exemplo da elaboração de uma nova lei para a capital paulista capaz de guiar do consumo inteligente às compras públicas, do destino do lixo aos meios de locomoção. Objetivo? Minimizar as emissões dos gases causadores do efeito estufa na atmosfera. Outro tema também volta a estas páginas: eficiência energética em edifícios. Em um futuro próximo, será obrigatória, em todo o Brasil, a construção de prédios que consumam menos recursos energéticos. Uma entrevista exclusiva mostra um exemplo de como o tema sustentabilidade pode render oportunidades e lucros a uma empresa. E porque o mundo também é feito de pequenos e grandes encantos, ARC DESIGN não poderia deixar de apresentar uma exposição emblemática e oportuna, em um museu de Los Angeles, que mostra o quanto a vida de objetos e materiais já sem uso pode ser prolongada. Trata-se da bela Noah’s Ark: a prova de que o design também pode expressar-se a favor da natureza, da diversão e da fantasia.
Mariana Lacerda Coordenadora do Caderno SustentAção
Quem investe em SustentAção:
À direita, um ta man duá de bar ban te, e, abai xo, a ze bra: quem di ria, dois ve lhos exaus to res dão for ma ao seu cor po es bel to enquanto um teclado faz a vez dos pêlos! Na página ao lado, a Noah’s Ark, ergui da em ma dei ra cer ti fi ca da pela Fo rest Ste wards hip Coun cil (FSC). A ca be ça da gi ra fa vem acom pa nha da de efei tos es pe ciais de ani ma ção que dão a im pressão de que ela se mexe
A mostra Noah’s Ark, do Skirball Cultural Center, em Los Angeles, propõe uma leitura cenográfica da lenda bíblica e conduz crianças e adultos a uma reflexão pertinente sobre mudanças climáticas (dilúvios) ao revelar que não há limites para a vida útil que um objeto pode ter antes do seu destino final – o lixo. E encanta ao nos dizer o quanto um brinquedo pode ampliar o seu significado ao se tornar manifesto e arte Mariana Lacerda / Fotos Grant Mudford 72 ARC DESIGN
Aci ma, en tra da da Noah’s Ark. Um de ta lhe: na arca não exis te um Noé! A idéia é que as crian ças fa çam o pa pel do ve lhi nho sim pá ti co. Ao lado, a tar ta ru ga tem es tru tu ra em me tal e re a provei ta pe da ços de cou ro enlaçados. Toda a montagem da mostra e dos animais é feita com mais de 30 mil laços e nós, manualmente
Prepare-se. Aqui você vai descobrir que o mundo pode
Ao todo, foram cinco anos entre pesquisa e montagem
ser bem mais interessante do que parece quando en-
da Noah’s Ark. E não seria para menos. São 8 mil metros
contramos serventia para pneus gastos, escovas ou lu-
quadrados de arca, todos erguidos com madeira certifi-
vas de boxes carregadas de lembranças de vitórias –
cada, e aproximadamente nada menos que 300 animais,
mas há tempo sem serem usados. Idealizados com ta-
idealizados pelo designer Alan Maskin, professor da
manha criatividade pelo experiente escritório do arqui-
University of Washington´s Department of Architecture.
teto Jim Oslon, o Oslon Sundeberg Kunding Allen Ar-
Para o êxito da montagem, Maskin e Oslon trabalharam
chitects, os bichos que estão na mostra Noah’s Ark,
ao lado do designer Chris M. Green e do artista plástico
inaugurada em junho deste ano, nos fazem acreditar
Ned Kahn, especializados em movimentos de animais e
que cordas, tampinhas de canetas, assentos ou guidões
interpretação dos fenômenos naturais pela arte. O arqui-
de bicicleta foram inventados não para serem o que um
teto Moshe Safdie complementou a equipe.
dia já foram, mas, exatamente, para um dia alcançarem
O trabalho resultou numa representação da lenda bí-
a vida póstuma, ou vida própria, ao dar forma a veados,
blica que talvez nunca tenha sido tão simbólica, nes-
jacarés, girafas, zebras e ratinhos-do-mato.
ses tempos em que a humanidade se debruça sobre
No que pode resul tar do en con tro en tre um pe da ço de pneu, a cai xa de um ins tru men to mu si cal, a has te de um vi o li no, tam pi nhas de ca ne ta e uma mis te ri o sa luva pre ta? Nos inu si ta dos ja ca rés das ima gens aci ma
74 ARC DESIGN
À es quer da, três le ques es pa nhóis ser vem de asas e cau da da co ru ja e são sus ten ta dos por uma mola. Abai xo, lu vas de bo xes sur ra das apoia das em pin céis des gas ta dos pa re cem dar o movi men to pre ci so a esses sim pá ti cos ani mais, co nhe ci dos na Amé ri ca do Nor te como “kiwi”
No pé da página, à esquerda, os es pi nhos do por co são fei tos com ca nu dos de bor ra cha e, um de ta lhe: seus olhos são de dais. Na sequência, a ove lha cujo ros to é um ve lho ban co de bi ci cle ta
os impactos de seus hábitos sobre a Terra; e, como
que os constituem têm. Talvez
consequência, mudanças climáticas e a idéia de proxi-
por isso mesmo pinguins e jaca-
midade de grandes dilúvios localizados. Por isso mes-
rés inertes pareçam estar carregados de vida. Porque
mo, nada tão pertinente quanto a escolha dos materi-
de fato os elementos que emprestam suas formas tive-
ais para criação e montagem dos animais: cada uma
ram um dia outras vidas.
das espécies criada propõe o reuso e um novo cami-
Agora manipulados por crianças, uma vez que toda a
nho para as nossas coisas velhas.
mostra é interativa, os animais salvos do dilúvio (ou os
Além disso, a idéia de deslocar um objeto de seu con-
objetos salvos do lixo) terminam por revelar aquilo que
texto original (um banco de bicicleta, por exemplo)
um dia escreveu Vinícius de Moraes em seu doce dis-
para compor uma nova forma (como a de um veado)
co dedicado às crianças, “A Casa de Brinquedos”: a
confere uma espécie de encanto aos animais da
idéia de que um brinquedo não é um brinquedo, mas
Noah’s Ark. Encanto também conseguido pelo fato de
“duas ou três partes de plástico, de lata.... matéria fria,
os bichos criados pela equipe de Jim Oslon e Alan
sem alegria, sem história... Mas não é isso, não é, filho?
Maskin darem continuidade à história que os objetos
Você lhe dá vida, você faz ele voar, viajar”. i
75 ARC DESIGN
Mariana Lacerda Ciclovias disponíveis e, em lugares estratégicos, estacio-
vale para projetos de recuperação e reforma de imóveis.
namento para suas bicicletas. Transporte público possí-
A arborização de ruas, a construção de 100 parques em
vel e funcionando com biocombustível. Trabalho perto
toda a São Paulo, a obrigatoriedade de que a construção
de casa (ou em casa!), mas, se você precisar de um car-
de novos empreendimentos garanta extensões em áreas
ro para alcançá-lo, ofereça ou pegue carona. Nada de ir
verdes (e com espécies nativas) e a recuperação de re-
ao supermercado sem a própria sacola. E quando você
giões degradadas também estão previstas no texto da
for, esperamos que seja caminhando por ruas seguras,
PMMC. “Serão fomentados programas de incentivos
arborizadas e, claro, com calçadas recuperadas com la-
para que o carro fique na garagem”, diz o sociólogo
jotas permeáveis, para retenção das águas pluviais.
Volf Steimbaum, que trabalha no gabinete da Secreta-
dem, quem sabe, tornar-se reais na mais complexa metrópole do Brasil: São
sustentáveis seja obrigação de qualquer política que se pretenda contemporâ-
mento a sua Política Municipal sobre
nea, São Paulo pode dar um passo im-
Mudança do Clima (PMMC), a pri-
portante com a PMMC. Talvez, pela
meira do país que prevê medidas das
primeira vez na sua história, a cidade
mais simples (como o estímulo ao não-
tenha um plano que ordene o seu cres-
complexas (como a criação de uma rede de transporte público eficiente). Juntas, visam, con-
ARC DESIGN
Muito embora a implantação de agendas
Paulo. O município elabora neste mo-
uso de sacolas descartáveis) às mais
76
ria Municipal do Verde e do Meio Ambiente.
cimento visando a qualidade de vida de seus cidadãos (e não de uma minoria). Inovador também porque a PMMC prevê medidas de lon-
forme o documento ainda em elaboração, um único ob-
go prazo. Muito diferente do que sempre se viu na capi-
jetivo: diminuir as emissões dos gases causadores do
tal paulista: um crescimento condenado ao imediatismo.
efeito estufa. Se aprovada integralmente pela Câmara
Outra boa notícia, o texto está sendo elaborado por téc-
dos Vereadores de São Paulo (a idéia é que o texto final
nicos da prefeitura, em parceria com pesquisadores da
da lei esteja pronto em novembro), a nova norma para
Fundação Getúlio Vargas; em debate com representan-
o município irá mexer com diretrizes de toda a adminis-
tes de órgãos públicos e organizações não-governa-
tração pública e com a vida de cada um de nós.
mentais. Assim, se espera que a Política Municipal so-
Uma das seções deverá mudar definitivamente o código
bre Mudança do Clima tenha autonomia, não esteja
de obras da capital. “As novas edificações deverão obe-
“atrelada” a nenhum partido político e possa ser então
decer a critérios de eficiência energética a serem defini-
transformada em lei e implementada, tão logo possível,
dos em regulamentos específicos”, diz o texto. O mesmo
em nossa cidade. i
Imagens Mr Funkenstien e Anayu / Dreamstime.com
Idéias assim, aparentemente utópicas, po-
Em discussão pela sociedade civil, a Política Municipal sobre Mudança do Clima para São Paulo almeja, ao reduzir as emissões dos gases causadores do efeito estufa, uma cidade de vida mais prazerosa, verde e bem mais justa
Sabrinus / sxc.hu
No Brasil, novos prédios comerciais, de
Mariana Lacerda
ser vi ços e pú bli cos de ve rão obe de cer a
O país está prestes a ter uma ferramenta de força que estimule a construção de casas e edifícios que econo-
nor mas de efi ci ên cia ener gé ti ca, numa
mizem energia. Em breve, as novas obras, e também
ini ci a ti va que deve mu dar toda a ca deia
aquelas em reforma, poderão obter selos que indiquem a eficiência energética de seu uso, a partir do
pro du ti va da cons tru ção ci vil
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, o Procel, do Ministério de Minas e Energia.
A regulamentação para se obter o selo resulta de um trabalho extenso feito pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LEEE) da Universidade Federal de Santa Catarina. O documento já está disponível na internet para consulta. Trata-se, antes de tudo, de um guia para engenheiros, arquitetos e toda a cadeia produtiva da construção civil com dicas e normas de projetar e reformar prédios visando a economia máxima de energia – e assim a obtenção dos novos selos do Procel. Por enquanto, a etiquetagem será voluntária para construções ou reformas de edifícios públicos, de serviços e comerciais. Com o nome de Regulamentação para Etiquetagem voluntária de Nível de Eficiência Energética, deverá ser implementada ainda este ano pelo Ministério de Minas e Energia, porém ainda de caráter voluntário para aqueles que desejam agregar o valor do consumo sustentável de energia aos seus projetos. A idéia, contudo, diz o pesquisador Roberto Lamberts, é que a regulamentação e a etiquetagem de prédios eficientes tornem-se, em um prazo máximo de cinco anos, obrigatórias em todo o Brasil. Além disso, deverá se estender não apenas para reformas ou novas construções de uso público ou comercial. As obras residenciais também deverão, nesse prazo, estar enquadradas. “Será um marco no país rumo à construção sustentável”, diz Lamberts. Faz sentido, uma vez que mexerá com toda a cadeia produtiva da construção civil. A regulamentação, por exemplo, orienta ao aproveitamento das energias renováveis como a advinda do sol, assim como a escolha precisa de materiais especificados no momento do projeto. Uma das recomendações, por exemplo, é que os vidros utilizados tenham certificações como a ISO 15099 e a ISO 9050, ou seja, que apresentem cálculos normalizados para absorção do fator solar e índices de desempenho energético de ambientes envidraçados. A etiquetagem inclui três requisitos principais: a primeira diz respeito ao sistema de iluminação; a segunda, à potência instalada de condicionamento de ar; e, a última, quanto ao desempenho térmico do edifício – o que inclui sua orientação em relação ao terreno, Ao lado, edi fí cio Com merz bank, em Frank furt. O pro je to de Nor man Fos ter, cons tru í do em 1997, inau gu rou o sis te ma “dou ble skin” de fa cha da, que per mi te ven ti la ção na tu ral mes mo em es tru tu ras de gran de por te
aproveitamento da iluminação natural e escolha de materiais ecoeficientes. A etiquetagem pode indicar se o prédio é eficientemente energético numa variável de “A” até a letra “E”, dependendo do seu desempenho. Num futuro próximo, espera-se que os novos edifícios, tanto comerciais quanto residenciais, possam obter uma economia de até 50% do consumo de energia elétrica em relação aos edifícios comuns. Um avanço e tanto e que está prestes a se tornar possível. ❉
ARC DE SIGN en tre vis tou, em São Pau lo, Bo Chris ten sen, ad mi nis tra dor do pro gra ma de emis são de car bo no da em pre sa Ha worth. Com uma vi são crí ti ca e pro fun da, ele nos ex pli ca seus mé to dos para de sen vol ver pro du tos sus ten tá veis como tam bém ana li sa o fu tu ro e o ser hu ma no. Será que ain da há tem po para cor ri gir mos o pas sa do e re cu pe rar mos o fu tu ro? Daniel Paronetto
ARC DESIGN – Como você integra o processo de desenvolvimento
sustentáveis; para o uso eficaz da energia; por um impacto po-
de produtos, que envolve toda a parte conceitual e funcional de
sitivo no meio ambiente. Projetamos, também, visando o ciclo
um projeto, com as exigências de um produto sustentável. Isto li-
de vida do produto.
mita a possibilidade de criação do designer? Bo ChRIStENSEN – De sen vol ver um pro du to é um as sun to
AD – Fala-se muito sobre sustentabilidade, mas há uma discrepân-
complexo e para fazê-lo é necessário a colaboração de pes-
cia entre “falar e fazer”. O que você sugere para as empresas que
soas de diversas áreas. Tentamos reunir todos os princípios
querem tornar-se sustentáveis e não sabem por onde começar?
que que re mos em nos sos pro du tos e a sus ten ta bi li da de é
BC – Pri mei ro é ne ces sá rio iden ti fi car de que tipo de empre-
ape nas uma dentre muitas considerações que temos que to-
sa você participa, pois existem regras diferentes para seguir.
mar. Nós a vemos como uma pré-qualificação para se fabri-
Você é um fabricante? Um provedor de serviços? Seu trabalho
car um produto. Não sei se limitar é a palavra correta, mas
envolve a propriedade intelectual? Se você for um fabricante,
com certeza isso obriga os designers a tomarem certas deci-
há alguns aspectos da produção que têm de ser reavaliados,
sões. Há materiais que não podemos mais usar, e é como se
como limite de emissão de poluentes, uso adequado de ener-
eles não existissem.
gia, embalagens, transporte do produto e da matéria-prima, mínimo de impacto no ambiente, normas de segurança, direi-
AD – Na sua opinião, quais os parâmetros para o de-
80 ARC DESIGN
tos trabalhistas, boas condições de trabalho, treinamento ade-
senvolvimento de um produto sustentável?
quado para funcionários, entre outros. Se você não for um fa-
BC – Se gui mos nove pas sos ao cri ar um pro du to. Pro-
bricante, você terá de ser mais criativo para ser considerado
je ta mos para a saú de hu ma na e eco ló -
uma empresa sustentável. Por exemplo, um banco, que cede
gi ca; para sistemas fechados de recupe-
empréstimos para seus clientes comprarem sua casa própria,
ração de nutrientes; por uma boa quali-
pode oferecer um desconto nos juros se o cliente concordar
dade do ar; para a equidade econômica
em instalar em sua casa elementos ecológicos como painéis
da comunidade; com atenção à versatili-
solares, tanques para recolher água da chuva etc. A chave da
dade e reuso; para espaços e edifícios
sustentabilidade é ser criativo.
Daniel Paronetto
“Se tirarmos uma foto do mundo, você consegue ver a economia? Não. Você consegue ver a sociedade? Dificilmente. Vemos só o meio ambiente, mas agimos como se só a economia fosse importante”. Bo Christensen
AD – O conceito de sustentabilidade está na moda e muitas
AD – Quan to tem po se ria ne ces sá rio para que em pre sas co me -
empresas se aproveitam disso. Como o consumidor pode identi-
çassem realmente a se tornar sustentáveis e, assim, tornar pal-
ficar uma empresa verdadeiramente sustentável?
pável uma diferença na qualidade do meio ambiente?
BC – Chamo essa moda de “Lavagem Verde”. As únicas defesas
BC – Esta é uma pergunta muito difícil, com muitas opiniões
são a experiência e a informação. Só com essas armas é pos-
conflitantes a respeito. Eu me baseio no que vejo e escuto. Mas
sí vel iden ti fi car a ve ra ci da de e apli ca ção da em pre sa em re -
acredito que se cumprirmos o que todos acham correto, que
la ção à sustentabilidade. É um processo que pode ser estimu-
seria ter, até 2050, uma diminuição de 60% de emissão de CO2
lado pelo governo com a criação de programas de incentivo
na atmosfera, poderemos chegar ao nível de carbono de 1990,
que direcionem o olhar da população. É necessário muito pla-
ou seja, 370-390 partes por unidade. Isso seria ideal, mas
nejamento estratégico para ser sustentável, como também se-
existem pessoas que dizem não ser mais possível. Mas novas
parar um orçamento específico e, acima de tudo, contar com
tecnologias estão surgindo e há muitas mudanças já realiza-
pessoas experientes e dedicadas ao seu trabalho. A sustenta-
das. Vejo essa realidade não como um problema, mas como
bilidade tem de permear todas as áreas da empresa.
uma oportunidade. Com certeza criaremos produtos que jamais faríamos se não tivéssemos a obrigação de mudar, e é aí
AD – O que seria de fato uma postura sustentável?
que mora a oportunidade.
BC – É pre ci so re for çar que não po de mos, por exem plo,
com prar um car ro e di zer que, para com pen sar, va mos
AD – Por muito tempo cientistas e biólogos nos alertaram sobre os
plan tar ár vo res que cor res pon dem à quan ti da de de CO2 que
perigos que hoje fazem parte de nossa realidade. Por que o ser hu-
ele irá emi tir. Isso é er ra do. Na ver da de, você de ve ria com -
mano tem que experimentar o extremo antes de tomar uma atitude?
prar um car ro me nor, ou elé tri co, ou até uma bi ci cle ta. No
BC – Acredito que isso faça parte da nossa natureza. Só mu-
caso das em pre sas, as que pro vo cam im pac tos am bi en tais
damos quando obrigados. E é possível identificar muitas ca-
têm que mi ni mi zá-los ao má xi mo. E quan to mais você pen -
racterísticas humanas no mundo empresarial, pois ele é um
sa em mé to dos no vos, mais se tor na cri a ti vo e ca paz de
reflexo do nosso comportamento. Um modo de ver imediatis-
con se guir êxi to.
ta, que tende a superenfatizar os valores econômicos. i 81 ARC DESIGN
lim va ita gas da s
Inovação com Sustentabilidade 30 DE OUTUBRO DE 2007 - DAS 8H30 ÀS 17H30 - SENAC CONSOLAÇÃO (R. Dr. Vila Nova, 228) - SÃO PAULO
ESCRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS. PROJETOS PARA QUEM SE PREOCUPA COM O MEIO AMBIENTE! Definir o “conceito” do projeto com design ambiental é o primeiro passo para desenvolver escritórios com inovação e sustentabilidade. É nas premissas do projeto que a equipe de profissionais de arquitetura, luminotécnica, ar-condicionado e ventilação, juntamente com o investidor darão o primeiro passo para definir se o caminho dos escritórios sustentáveis é o melhor.
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Arquitetura Ar-condicionado e Ventilação Consultorias Construtoras e Incorporadoras Design de Interiores, Lighting e Móveis Engenharia
Eloise Amado Green Building Council Brasil e AsBEA
Esther Stiller Arquiteta e Consultora especializada em Arquitetura de Iluminação
Sidonio Porto Arquiteto
João Alves Pacheco Diretor Cushman & Wakefield
Milene Abla Arquiteta Aflalo & Gasperini Arquitetura
Amílcar João Gay Filho Presidente da Associação Brasileira de Facilities - ABRAFAC
Newton Figueiredo Presidente da Sustentax
Alessandro do Carmo Diretor de Operações CB Richard Ellis
Fernando Serapião Editor Executivo da revista Projeto & Design
Arthur Brito Arquiteto LEED AP da Kahn do Brasil, formado pela FAU/USP
Paulo Afonso Engenheiro Operacional Sócio da EPT Engenharia
Veja o time de profissionais de maior destaque do mercado que vai debater com você!
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Ergonomia Facilities Luminotécnica Mobiliário e Divisórias Tecnologia e Equipamentos Vidros e Caixilhos
SORTEIO! de 2 cadeiras.
PARTICIPE! PREÇOS ESPECIAIS PARA GRUPOS E ENTIDADES APOIADORAS* INSCRIÇÕES NO SITE:
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(11) 5505 7548 informacoes@designforum.com.br
*Preços especiais para grupos com 5 ou mais profissionais e para associados de entidades apoiadoras do evento.
UM EVENTO PARA PROFISSIONAIS DE:
SOMBRA JUSTA Na cidade de Juazeiro, localizada às margens do Rio São Francisco, na Bahia, não raro a temperatura atinge os 40 graus. Por isso mesmo, o escritório Sete 43 Arquitetura, em Salvador, optou em sombrear a Praça Dedé Caxias, no centro da cidade sertaneja. Com a reforma, o lugar passou a ser chamado por seus frequentadores de “Praça Turca”, uma vez que faz referência à arquitetura árabe, com uma sucessão de planos e pilares sem a predominância de um eixo central. O mais interessante, contudo, é o material escolhido para compor os 225 metros quadrados de área coberta da praça. Foram selecionados filetes de Recipac, chapa que pode ser utiliza-
MATE RI AIS
da para revestimentos e coberturas, feita a partir da reciclagem de
UM SUBS TI TU TO PARA O AMI AN TO
embalagens Longa Vida. As tiras foram costuradas em uma estrutu-
Duas pesquisas que visam encontrar uma alternativa ao ci-
ra metálica tubular que, por sua vez, está apoiada sobre pilares de
mento-amianto geraram novas patentes no Instituto Nacio-
concreto (foto à esquerda). “O desenho foi especialmente pensado
nal de Propriedade Intelectual (INPI). A primeira delas é um
para atender ao conceito estético do projeto e assemelha-se ao
método para melhoramento mecânico de componentes do
tronco das palmeiras, vegetação comum em países como a Turquia”,
fibrocimento, material que utiliza cimento misturado com
diz um dos arquitetos envolvidos no projeto Zílton Cavalcanti. Os de-
fibras vegetais e sintéticas, e foi desenvolvida pelo profes-
talhes da obra, que aliou conceito arrojado com uso de materiais re-
sor Vanderley John, do Depar tamento de Engenharia Civil,
ciclados, fizeram com que ela fosse uma das 20 construções brasi-
da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, USP. A
leiras a ser encaminhadas para a seleção internacional da VI Bienal
outra pesquisa é uma telha de fibrocimento vegetal (foto à
Ibero-Americana, em Madri, na Espanha.
direita) e resulta do trabalho do Grupo de Construções Rurais, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos, USP. Ambas as pesquisas são uma alternativa sustentável para o amianto, que, além de ter origem mineral (não-renovável), é cancerígeno. A telha de fibrocimento vegetal aproveita diferentes resíduos agroindustriais, como as fibras de malva, bananeira, coco, sisal e eucalipto, assim como descar tes da indústria siderúrgica, como escórias de alto-fornos. Os dois estudos foram coordenados pelo professor Holmer Savastano Júnior e financiados pela Fapesp e Finep, por meio do Programa de Tecnologia de Habitação, o Habitare. www.habitare.org.br
FIOS DE NATURE ZA O linho é um tecido muito interessante. A planta da espécie Linum usitatissimum tem um único caule reto, com cerca de 1,10 metro de altura e, não raro, com uma flor azul ou branca na ponta. Para extração de sua fibra, a planta adulta é arrancada inteiramente e seu cultivo é, portanto, renovável. Durante a produção do tecido de linho, todo o descarte é aproveitado. A palha que envolve a fibra é utilizada para serragem de cavalos, as sementes são comestíveis. As fibras curtas que não podem ser usadas para fiação são transformadas em papel. Um dos tecidos mais antigos da história, o linho
A VIDA EM CICLOS
perdeu espaço para os sintéticos. No Brasil, contudo, o Linfício
Um espiral sugere movimentos circulares, o que inspira a
Leslie aposta na tradição e lança as coleções das próximas esta-
idéia de ciclo, continuidade. Nada mais contundente, portan-
ções, verão e alto verão, para moda e decoração. Com 56 anos no
to, que a instalação do designer e artista plástico Nido Cam-
mercado têx til nacional, a empresa optou pela independência de
polongo, no Conjunto Nacional, em São Paulo. São 34 anéis
fornecedores de origem belga e francesa, e iniciou o cultivo das
de compensado laminado, com 90 cm de diâmetro, que, jus-
plantas de linho em Santa Catarina. Um exemplo de que retornar
tapostos, compõem uma instalação em forma de uma “Espi-
aos antigos modos ar tesanais de produção de tecidos pode, tam-
ral”, o título do trabalho. Nas partes internas desses anéis,
bém, fazer surgir belas paisagens.
uma série de texturas e cores surge como consequência da
www.leslie.com.br
mistura dos materiais escolhidos: alumínio, garrafas pet, papelão, madeira, todos reciclados e recicláveis, e que completam nessa obra mais um ciclo de vida. A instalação ocupa as rampas de acesso às galerias e ao terraço do edifício que é símbolo da Avenida Paulista, projeto de David Libeskind, construído em 1952. A inspiração, diz Campolongo, vem da obra “O Método 2, a Vida da Vida”, do filósofo Edgard Morin: a linguagem visual que não busca relacionar-se senão com ela mesma e, por outro lado, a escolha por uma estética que comunica boas práticas socioambientais ao dar vida longa aos materiais, uma das marcas for tes dos trabalhos atuais de Nido Campolongo.
LIVRO
O OLHO DA RUA Houve um tempo em que
ENTREVISTA
criança brincava mesmo
AÇÃO SUS TEN TÁ VEL: MAU RÍ CIO BROINIZI
era na rua. Sim, vale dizer
Pelo terceiro ano consecutivo, São Paulo aderiu ao Dia Mundial sem
que esse tempo ainda
Carro, 22 de setembro. Embora poucos carros tenham permanecido
existe, nas ruazinhas da
na garagem, a iniciativa foi tida como sucesso pelo Movimento Nos-
periferia, nas vielas e pra-
sa São Paulo: Outra Cidade, à frente da ação
cinhas das cidades do interior. Brincadeira de rua,
Como avaliar os resultados
contudo, tornou-se coisa
do Dia Mundial sem Carro
rara para moradores de condomínios. Uma pena. É essa a
em São Paulo?
principal crítica do livro “Mãe da Rua”, escrito pelo design
Trata-se de uma opor tuni-
catarinense Ettore Bottini e recém-lançado pela Editora Co-
dade de trazer ao centro do
sac Naify. As crianças abandonaram suas travessuras nos
debate temas como a rela-
centros das grandes metrópoles brasileiras, trocando seus
ção entre a mobilidade ur-
campinhos desenhados no chão pela diversão entre quatro
bana e a nossa qualidade
paredes. Perdendo assim a chance de fazer da rua um “ter-
de vida. Ganhamos em di-
ritório defendido a paus e pedras das hostes inimigas”, lugar
vulgação e conscientiza-
que, ao proporcionar os primeiros jogos inocentes, cria os
ção e, cada vez mais, a so-
códigos sociais, as regras de convívio e as iniciações para a
ciedade tem condições de reivindicar as alternativas possíveis.
vida adulta. Manual sobre como fazer brinquedos ar tesanais, como o pião, o carrinho de rolimã e a pipa – alguns
Como quais?
dos exemplos clássicos do design anônimo, o livro “Mãe da
Por exemplo, aproveitamos o fato de o tema estar na mídia para fa-
Rua” termina por resgatar a memória das brincadeiras de
zer uma pesquisa do Ibope. Ao todo, 41% dos
rua e, ao fazer isso, propõe o debate sobre a qualidade de
entrevistados apóiam um segundo dia de ro-
nossos espaços públicos, um dos temas escolhidos pela
dízio de veículos na capital paulista. Seis
7ª Bienal de Arquitetura.
propostas para a cidade também surgiram a par tir do evento, entre elas a implantação de ciclovias nos fins de semana e melhoria do
MADEIRA DO BEM
transpor te público.
Empresas, comunidades, instituições e especialistas em manejo florestal, do Brasil e do mundo, estarão reunidos de 16 a 18 de abril de 2008, em São Paulo, durante a III Feira Brasil Certificado. O evento, promovido pelo FSC Brasil, em parceria com as organizações não-governamentais Amigos da Terra, Imaflora e Imazon, deverá promover os vários aspectos da certificação: produções empresariais e comunitárias, integração da cadeia produtiva, responsabilidade corporativa e o consumo responsável. www.fsc.org.br
Mau rí cio Broi ni zi é co or de na dor da Se cre ta ria Exe cu ti va do Mo vi men to Nos sa São Pau lo: Ou tra Ci da de. www.nos sa sao pau lo.org.br
EN TRE VIS TA:
RI CAR DO LE GOR RE TA
Conhecido pelo uso das formas puras e cores vibrantes, o trabalho de Ricardo Legorreta vai muito além dessas características evidentes. Em recente visita ao Brasil, por ocasião do lançamento do livro “Sonhos Construídos”, o arquiteto mexicano falou à ARC DESIGN sobre os conceitos e aspectos que considera essenciais para a produção da boa arquitetura.
Cris ti a no Mas ca ro
Além disso, criticou a superficialidade da produção arquitetônica atual e a egolatria de seus profissionais: “a arquitetura não é feita No alto das duas pá gi nas, o con junto residen cial Zo ca lo, em Santa Fé, Novo Mé xi co, de monstra o res peito pe las ca rac te rísti cas lo cais, tanto ge o grá fi cas (como a to po gra fia) quanto cul tu rais (o ar quite to toma como re fe rên cias o mer ca do de Santa Fé e os antigos pu e blos)
90 ARC DESIGN
para fotografar bem ou para impressionar: é feita para fazer as pessoas felizes” Winnie Bastian
Lour des Le gor re ta
ARC DE SIGN – Em suas obras, a ques tão das re fe rên ci as cul tu -
tante ter responsabilidade. É preciso ser suficientemente sério,
rais é muito forte. Gostaria que você falasse sobre a importân-
mas ao mesmo tempo suficientemente livre. E esse ponto de
cia dessas referências no seu processo criativo.
equilíbrio é fascinante, é uma oportunidade belíssima.
RICARDO LEGORRETA – É igual a você, como pessoa: suas refe-
rências culturais são seus pais, avós, irmãos, seus genes... O
AD – E o conceito de “verdade”?
mesmo acontece na arquitetura. Não podemos simplesmente ne-
RL – Todos sabemos quando alguém está dizendo a verdade ou
gar essas relações, pois elas são a base para seguirmos adian-
não. E na arquitetura é a mesma coisa. Não se pode fazer jogos,
te na evolução de uma cultura. Não defendo que se faça as
é preciso ser verdadeiro no que se está fazendo. Por verdadei-
coisas como antigamente, mas creio que é muito importante
ro não entendo rígido ou conservador, é possível ser muito ou-
conservar as influências culturais. E não como uma obrigação,
sado, mas verdadeiro. Pode-se ter – e creio que se deva ter –
mas como uma oportunidade. É muito difícil começar do zero.
senso de humor, mas sem deixar de ser verdadeiro, sem ser cínico.
AD – O livro “Sonhos Construídos” menciona rapidamente os con-
AD – O conceito de verdade também está diretamente ligado com
ceitos de “liberdade” e de “verdade”, que você emprega em seu
o respeito às características locais, não é?
trabalho. Fale um pouco mais sobre eles...
RL – Exatamente. Não se pode chegar a um lugar – qualquer que
RL – É importante ter liberdade. Mas uma coisa é a liberdade e
seja: a montanha, a praia, a selva, a cidade – ou a outra cultu-
outra é a libertinagem. Não se deve fazer algo simplesmente
ra e simplesmente impor algo, pois aí estaremos simplesmente
porque se quer, tem que haver disciplina, processo. Mas esse
levando “objetos”, e não fazendo cidades. Tudo isso é parte da
processo não deve ser limitador. Devemos poder sonhar, pois o
honestidade, um elemento que é manipulado atualmente, porque
arquiteto é um fazedor de sonhos. Ao mesmo tempo, é impor-
vivemos uma época de comércio, de superficialidade, e quando 91 ARC DESIGN
Cris ti a no Mas ca ro
© Hans Ge org Roth/Corbis
Aci ma, à es quer da, Pla za Ma yor, em Sa la man ca, ci ta da por Le gor re ta como exem plo da vi va ci da de que os es pa ços pú bli cos pro por ci o nam ao am bi en te ur ba no. Na se quên cia, des ta que para o tra ta men to dado à luz na tu ral (e às suas som bras) em pro je to de re si dên cia em São Pau lo
se trabalha as coisas somente na superfície, se corre esse ris-
começa a ser ocupada muito cedo, com as crianças que vão à
co de propor arquiteturas fora de contexto.
escola. Depois chegam as mães com os filhos, mais tarde vêm os idosos para passear e tomar sol, voltam os estudantes. É todo um
AD – Outro ponto que chama atenção na sua obra é o cuidado que
processo que a torna o coração da cidade. Nós perdemos isso.
você tem com a escala e a proporção, tanto no edifício em si
E não só os espaços públicos, mas também os exteriores. Temos
como no espaço que o circunda...
que integrar mais o interior e o exterior, principalmente em paí-
RL – A escala e as proporções são a essência da arquitetura.
ses como os nossos [México e Brasil], onde o clima favorece essa
Pode-se ter materiais extraordinários, luxo, pode-se até cons-
integração. O ar-condicionado é necessário em alguns lugares,
truir com ouro, mas se as proporções não são boas, de nada
mas exageramos: às vezes o clima está melhor lá fora do que
adianta. Com as proporções e com a escala vem todo o resto:
aqui dentro, mas colocamos o ar-condicionado mesmo assim.
o uso da luz, das texturas, dos materiais, das cores. É preciso fazer lugares cuja escala responda ao objetivo. É possível ter um
AD – E como você trata da relação dos seus projetos com o entorno?
espaço que seja muito íntimo, mas que também seja grande, mas
RL – Em cada caso é di fe ren te. Tal vez exis ta um pro je to em
ele precisa estar na escala do ser humano, pois a arquitetu-
que se precise fazer algo que chame a atenção. Mas há mo-
ra é pa ra o ser hu ma no. E o fas ci nan te é que não há re gras.
mentos em que se deve ser mais discreto, e outros ainda em que o edifício quase tem que desaparecer. Isso é a boa arqui-
92 ARC DESIGN
AD – Estamos às vésperas de inaugurar nossa Bienal de Arquitetura,
tetura, é quando o arquiteto realmente faz uma contribuição
cujo tema é “o público e o privado”. Como você vê essa questão?
para que aquele ambiente seja melhor. Faça um exercício: pe-
RL – Nós não temos dado a devida importância a essa relação
gue os edifícios que considere os melhores projetos dos últi-
entre público e privado, sob uma série de pretextos: o da efi-
mos anos e coloque-os todos em uma mesma rua, e verá que
ciência, o do custo, o da segurança... E fomos abandonando os
rua tão feia será essa. Isso porque é preciso que haja um res-
espaços públicos, e creio que esse é um erro muito grave. Há
peito de um edifício em relação ao outro também. E isso re-
uma praça maravilhosa na Espanha, na cidade de Salamanca, que
quer muita humildade.
Cris ti a no Mas ca ro
Aci ma, a mesma residência, construída no interior de São Paulo em 2005. Des ta que para a in te gra ção en tre os es pa ços ex ter nos e in ter nos, e para a for ma como o ar qui te to tira par ti do dos ele men tos na tu rais – ain da que “do mes ti ca dos”, como a água, nes te caso – para essa in te gra ção
AD – An tes você men ci o nou a luz como um dos ele men tos prin -
AD – Você menciona no livro que “a boa arquitetura é a que faz
cipais de seu trabalho, vindo depois da escala e da proporção.
as pessoas felizes”. Fale um pouco mais sobre essa concepção...
Como você costuma lidar com a luz no seu trabalho?
RL – Faz parte de ver a arquitetura como uma atividade huma-
RL – Em nossa vida diária, a luz é quase a primeira coisa com
na. Não é uma atividade intelectual e separada do ser humano.
que começamos o dia. Na arquitetura, tratamos a luz como
A arquitetura deve ser feita para quem vai usá-la. Se o arqui-
um elemento especial. Mas a luz é essencial, pois se não há
teto não pensa em quem vai usar aquele espaço, não está fa-
luz, não há nada; não sentimos nada, não nos emocionamos
zendo boa arquitetura: está fazendo um experimento, ou um ato
com nada. O importante é que ao usar a luz de diferentes for-
de egolatria, mas não arquitetura, que, afinal de contas, está
mas podemos conseguir ambientes completamente diferentes.
a serviço das necessidades humanas, a serviço da sociedade.
Há mil possibilidades, mas a luz é essencial, não se pode co-
Eu insisto que a arquitetura é para fazer as pessoas felizes.
meçar a projetar sem luz. AD – E parece que essa consciência está se expandindo... OcorAD – E além da luz você tam bém con si de ra o opos to dela, a som -
reu-me a lembrança o livro “A Arquitetura da Felicidade”, lança-
bra, não é?
do recentemente pelo filósofo suíço Alain de Botton. Você acha
RL – Sim, a sombra é como se fosse um tipo diferente de luz.
que essa cultura está começando a se difundir?
A luz e a sombra também têm relação com a temperatura. Um
RL – Sim, tenho esperança... Acho que no século 21 já chega-
exemplo é a mudança que acontece quando, ao atravessarmos
mos ao extremo da egolatria do arquiteto. Um exercício muito
a rua, passamos para o lado da sombra. Creio que em luga-
bom – eu gostaria de chegar lá, ainda não cheguei e não sei
res quentes o lado da rua que tem sombra é o que deveria
se um dia chegarei – seria se fizéssemos edifícios que ninguém
abrigar o comércio. E o lado do sol deveria ter simplesmente
soubesse quem é o autor. O reconhecimento é muito bom, e
o verde, ou ter uma proteção em pórticos, por exemplo. Mas
necessário, mas deve ser um apoio e não o objetivo. i
fazemos as ruas para caminhar dos dois lados, como se fossem iguais. E não são.
O livro “Ricardo Legorreta – Sonhos Construídos” inaugura a coleção “Educação do Olhar: Arquitetura”, recém-lançada pela BEI Editora 93 ARC DESIGN
Retrato e reproduções fotográficas Edson Kumasaka
GRÁFICA DE GUTO LACAZ
Uma exposição, muitos trabalhos e um catálogo. É a obra de Guto Lacaz, que percorre os vários meios de expressão do design gráfico, sempre com um traço minimalista, e se revela em de se nhos crí ti cos e con ci sos – bem-hu mo ra dos. Pau lis tano, formado em arquitetura em 1974, Guto logo direcionou sua expressão para o desenho. Para falar do profissional, do colega e amigo, convidamos três expoentes da cultura gráfica brasileira, que juntos iniciaram suas carreiras: Rafic Farah, Ricardo van Steen, Mario Cafiero
À es quer da, ilustra ção 3D para a mú si ca “Pro messa de Pes ca dor”, da ex po si ção “A Ima gem do Som de Do ri val Caym mi”, Paço Im pe rial, RJ, 2005. No alto das duas pá gi nas, dese nhos pu bli ca dos no Jor nal Fo lha de S. Pau lo, nas dé ca das de 1980 e 1990, e reu ni dos no li vro “Des cul pe a Le tra”, Ate liê Edito rial, 2000
Aci ma, se quĂŞn cia de car ta zes de Guto La caz, que tra du zem o es pĂ rito dos eventos que anun ciam... sempre com hu mor e iro nia
95 ARC DESIGN
Foto Jor ge Ro sem berg
Acima, à esquerda, capa do LP de Premeditando o Breque, “O Melhor dos Iguais”. Na sequência, exemplares da coleção de guias “São Paulo para...”, Editora Panda Books, 2004. No pé da página, à esquerda, Guia Papaiz – Itália, 1990, país que sediou a Copa do Mundo naquele ano. Na sequência, li vro infantil “Num Zoológico de Letras”, Regis Bonvicino e Guto Lacaz, Editora Maltese e capa e lombada do li vro “Um Hospício no Japão”, Editora Marco Zero, 1990
Se con si de rar mos o tem po que du rou o clas si cis mo, o mo der no
cais. Qua se não há tra ba lho meu, em que esse seu sa ber não
deve du rar ain da mais uns sé cu los. É um pri vi lé gio para nós es -
me acom pa nhe, em que não me fie lá do nos so iní cio, ven do-o
tar mos tão per to ain da de seus cri a do res. Um dos mais sig ni -
com as ca ne tas a nan quim, tra çan do so bre o man tei ga. Mu i tas
fi ca ti vos ar tis tas mo der nos do mun do, na atu a li da de, está bem
ve zes quan do es cre vo, ou falo, ouço, ima gi no-o em suas en tre -
aqui per ti nho; mora no Jar dim Pau lis ta no. Em cada uma de suas
vis tas, de poi men tos, pa les tras; seus tex tos têm a mes ma con -
obras, é evi den te o mo der no per sis tin do com ex tre ma vi ta li da -
ci são de seu de sign, e de toda sua arte. Arte em seu sen ti do
de e so fis ti ca da cons ci ên cia. Cos tu mo di zer que ele é a re en -
ple no e mai or, de ar ti cu la ção de sa be res, de re fle xão so bre o
car na ção de Cal der. Hu mor lí ri co, po e sia des po ja da de ador nos.
real na con fi gu ra ção de um novo sa ber. Em res pei to a ele, não
A ele gân cia que só o es sen ci al tem. E, des cul pem-me pelo lu -
di ria aqui que sua obra é ge ni al. Pa re ce ria um “eu te amo” que
gar-co mum, a es sên cia pro fun da men te pau lis ta na de Guto uni -
o aman te diz para sua aman te no mo men to do te são má xi mo.
ver sa li za sua obra. Ou se ria sua ra di ca li da de. Como fa zem fal -
Ora! sa be mos que isso não é amor. Ao apre ci ar sua obra, com -
ta os es pí ri tos ra di cais no mun do con tem po râ neo! Quan do de -
pre en de mos a lu ci dez de quem já per cor reu ca mi nhos com ple -
se nhá va mos jun tos (ele que, ge ne ro sa men te, me con ven ceu que
xos e com pre en de mos tam bém que o sim ples não é sopa. E o
eu sa bia de se nhar), me di zia: seja ra di cal, te mos de ser ra di -
sim ples pode ser bo ni to. Pode ser. No caso dele é sem pre. Belo. Rafic Farah
96 ARC DESIGN
Aci ma, à es quer da, capa da re vis ta Around, junho de 1984, cujo pro je to grá fi co foi re de se nha do por Guto La caz em par ce ria com Ra fic Fa rah. Na se quên cia, re vis ta Jun guia na, tam bém re de se nha da por Guto, em 1990, para a So ci e da de Bra si lei ra de Psi co lo gia Ana lí ti ca. Abaixo, à direita, lo go mar ca para a Aca de mia de Fil mes
Foi em Pa ris, em 1974, que uma ami ga apre sen tou um blo co de sul fi te com de se nhos em ca ne ta-tin tei ro, com ce nas inu si ta das de hu mor, fei tos por um jo vem ar qui te to pau lis ta. Guto La caz. Quan do vol tei ao Bra sil, nos tor na mos su pe ra mi gos. Tra ba lhei em re vis tas e li vros como dire tor de arte, mas sem pre de se nhei e essa ati vi da de se tor nou um for te elo na nos sa re la ção. Eu fi ca va fas ci na do com suas cri a çõ es: ti jo los com alça, ré guas com ro di nhas, cata-ven tos, rá di os-pes ca do res, e ain da de se nha va em pa pel sul fi te. Lem bro que dei a ele um pa pel Scho ell ler. Ele me deu um ca ni ve te su í ço e um imã. Em 1982, ele fez sua pri mei ra in di vi du al na Ga le ria São Pau lo, de pois Bi e nal, Per for man ces Arte Ci da de, Bra zil Pro ject Usa, Ge or ges Pom pi dou, Pa ris… e não pa rou mais! É o ar tis ta que nos ins pi ra por sua ca pa ci da de cri a do ra e gran de ami go por sua fi de li da de.
Abaixo, RG Enig má ti co: im pres so ra mo vi da a pe dal com ca rim bos que re pro du zem de for ma icô ni ca o RG de cada pes soa que ope ra a má qui na. Os íco nes re pre sen tam as pec tos da cul tu ra bra si lei ra. Cada pes soa com põe, im pri me e leva seu RG Enig má ti co para casa
Mario Cafiero
flora
fauna
artes
política
energia
índios
tropical tecnologia águas minerais
97 ARC DESIGN
À es quer da, capa do CD “Anti He rói”, de Agui lar e Ban da Per for má ti ca. Acom pa nha o CD um brin de-es cul tu ra: “anti-he rói com antisom bra”, em me tal re cor ta do a la ser. Na pá gi na ao lado, al gu mas das ilus tra çõ es para a se ção “Um dese nho”, pá gi na cria da men sal men te por Guto La caz, des de 1997, para a re vis ta Ca ros Ami gos
O que eu mais lembro dessa fase é do bom humor. Tanto Guto quanto Rafic eram muito engraçados e só pensavam em resolver problemas de alguma maneira bem-humorada. O Guto sempre vinha com soluções extremamente bem-estudadas, seus croquis e artes-finais eram tão lindos, objetos do meu desejo total. Em todos estes anos só consegui roubar uns dois ou três, infelizmente. Com eles a conversa sempre foi na direção do desconhecido, muito mais que no universo de referências. A gente nunca teve muito hábito de ficar trocando figurinhas. Naquele tempo, a gente pensava em revolução, como qualquer jovem, e passávamos dias e noites imaginanAci ma, ócu los-con vite do Ba zar Ate li er Pau lista. Abai xo, lo go mar ca para o Balé da Ci da de de São Pau lo, 2001
do como quebrar tudo e fugir da mesmice. Fizemos, a três mãos, a marca para o nosso estúdio, que ficou uma jóia. Todos nós a mantemos em nosso portfólio até hoje. O Guto me ajudava muito na criação das revistas, sobretudo a que fizemos para a Pirelli, naquela época já sob a batuta do Mario Cohen. Cada sessão de diagramação era apreciada por mim como se fosse uma execução de música ao vivo. Discutíamos até filosofia para decidir se uma vírgula devia ficar solta no espaço ou não. Os parâmetros do Guto eram muito definidos, os meus também. Não eram muito parecidos (o meu era bem mais re bus ca do que o dele), o que ren dia tra balhos sempre novos para nós dois. Fizemos uma embalagem de fechadura que era tão moderna e inventiva quanto a própria, uma raridade naqueles tempos. De uns anos para cá passamos a colaborar menos, mas continuamos nos encontrando com regularidade e falamos sempre sobre nossos trabalhos. O Guto sabe criticar construtivamente, outra raridade nos dias de hoje! Ricardo Van Steen
98 ARC DESIGN
99 ARC DESIGN
Uma Publicação Quadrifoglio Editora ARC DESIGN nº 56, outubro/novembro 2007
Apoio:
Diretora Editora Maria Helena Estrada Diretor de Marketing Cristiano S. Barata
Apoio Institucional:
Diretora de Arte Fernanda Sarmento REDAÇÃO Editora Geral Maria Helena Estrada Redatoras Ana Sant’Anna Mariana Lacerda Assistente de Redação Daniel Paronetto Revisora Jô A. Santucci ARTE Chefe de Arte Betina Hakim Designer Ana Beatriz Avolio
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Publicidade publi@arcdesign.com.br publi1@arcdesign.com.br publi2@arcdesign.com.br
Publicidade Christiane de Almeida Sandra Pantarotto Silvia Carneiro Circulação e Assinaturas Lúcia Martins Pereira Conselho Consultivo Professor Jorge Cunha Lima, diretor da Fundação Padre Anchieta; arquiteto Julio Katinsky; Emanuel Araujo; Maureen Bisilliat; João Bezerra, designer, especialista em ergonomia; Rodrigo Rodriquez, especialista em cultura e design europeus, consultor de ARC DE SIGN para assuntos internacionais
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Pré-impressão e Impressão Eskenazi Indústria Gráfica
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Cadeira Hamaca Cadeira Sola www.benedixt.com.br
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Conjunto para Salada Kyoto
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Bandeja Espelhada
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Bergère Glass www.conceitofirmacasa.com.br (SP) www.desenhodesign.com.br (PE) www.homedesign.com.br (BA) www.lojaouvidor.com.br (CE)
Bichos do Mar de Dentro www.bichosmardedentro.com.br
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