Plurale Ed. 63

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ano onze | nº 63 | setembro / outubro 2018 R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

FLORESTA COM ARAUCÁRIA - HAROLDO PALO JR/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTENÇÃO À NATUREZA

w w w. p l u r a l e . c o m . b r

ARTIGOS INÉDITOS

PROVENCE, FLIP DE PARATY E AMAZÔNIA

PRODUTOS DE PINHÃO AJUDAM A PRESERVAR FLORESTA COM ARAUCÁRIA


Entre tantas essĂŞncias que utilizamos, uma estĂĄ em tudo que fazemos: empreendedorismo.


Mesmo quando já éramos a maior franquia de beleza do Brasil, nós nos tornamos um grupo multimarca e multicanal que hoje é referência no país. Nossa essência empreendedora fala mais alto. Somos muito mais que a união de grandes marcas de sucesso. Somos um grupo com vocação para realizar. O Boticário; Eudora; quem disse, berenice? e The Beauty Box estão presentes em quatro mil pontos de venda próprios, e-commerce e venda direta. Com Multi B e Vult, ampliamos nossa presença para mais de 40 mil outros pontos de venda, como farmácias e lojas multimarcas. Crescemos o dobro da média do mercado de beleza, faturamos 12,3 bilhões de reais e já somos a 5ª maior rede de varejo do país. É assim, transformando oportunidades em negócios, que estamos escrevendo a nossa história. E ela está só no começo.

grupoboticario.com.br


FOTO DE HAROLDO PALO JR/ FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA

Contexto

WALTER CRAVEIRO / FLIP

28.

44.

Flip 2018; Paraty das águas, dos livros e dos rios

A riqueza natural da Araucária e os destaques do IX Congresso de às Unidades de Conservação, por Nícia Ribas

16.

ARTIGOS INÉDITOS, DIVULGAÇÃO

por Henrique Luz, Marcus Quintella e Solange Beatriz Palheiro Mendes FOTO DE ADRIANA BOSCOV

52.

Uma história para inspirar brasileiros, por Silvia Franz Marcuzzo

Cores, flores e o perfume da Provence, por Maria Helena Malta

40 Bazar ético: Produtos Anzol Saúde Criança

DIVULGAÇÃO

48 Ecoturismo, por Isabella Araripe

50 Cinema verde, por Isabel Capaverde

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36.

Amazônia: um museu especial no meio da cidade, por Luciana Bezerra


E ditorial

Edição bem variada: um tour pela Provence; Araucária e Pinhão; notícias do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, da Flip; Museu da Amazônia e ainda muito mais Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

Quem nos acompanha ao longo de 10 anos da nossa história sabe que adoramos fotos e boas histórias. Este é o fio condutor da narrativa de Plurale. Quando a jornalista Maria Helena Malta nos contou sobre seus planos de viagem para a Provence, na França, sabíamos que teríamos ali “ouro” na forma de texto e fotos. Maria Helena – jornalista e escritora – é uma das mais brilhantes intelectuais da sua geração, com o frescor de sempre procurar notícias incríveis e de tirar o fôlego. Esperamos que os leitores vibrem com o perfume e poesia deste Especial sobre as cidades desta região francesa. Não é só. Do Brasil, a nossa sempre alerta repórter especial Nícia Ribas conta a força das araucárias, que ainda correm risco de extinção, aqui muito bem apresentadas em fotos lindas – como a que ilustra a nossa capa – do incrível fotógrafo de natureza Haroldo Palo Jr., que nos deixou recentemente para outro plano. Haroldo deixou forte legado na forma de fotos, como estas feitas para a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que promoveu o IX Congresso Brasileiro das Unidades de Conservação, o mais importante desta temática, reunindo grandes especialistas internacionais e nacionais, realizado recentemente em Florianópolis. De Paraty, a jornalista Maurette Brandt, outra colaboradora de renome, acompanhou os quatro intensos dias da Festa Literária Internacional, a Flip, em sua 16ª Edição e nos relata alguns destes encontros mágicos, tendo como homenageada a escritora Hida Hilst.

Jornalistas em ação: Maria Helena Malta visitou a Provence e trouxe o perfume e poesia desta linda região francesa na forma de texto e fotos para os leitores de Plurale; Nícia Ribas fala nesta edição das araucárias e dos futuros possíveis – economia e natureza, tema do IX CBUC, realizado em Florianópolis e Maurette Brandt, especialista em Cultura, cobriu para Plurale os principais momentos da 16ª Edição da Flip, em Paraty.

Da Amazônia, a jornalista Luciana Bezerra apresenta o Musa, Museu da Amazônia, com uma torre de observação no alto das árvores, onde a vista alcança ainda melhor a imensidão do bioma. Trazemos também artigos inéditos, com Solange Beatriz Palheiro Mendes, Henrique Luz e Marcus Quintella. Temas relevantes e atualíssimos. Destaque ainda as colunas

Ecoturismo, de Isabella Araripe e Cinema Verde, por Isabel Capaverde. Para completar uma edição tão variada quanto especial, conversei com o sociólogo Caio Magri, Diretor-Presidente do Instituto Ethos, um dos principais think tank do Brasil com foco em sustentabilidade empresarial, que está completando 20 anos, Boa leitura!

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Quem faz

Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Adriana Boscov, Afra Balazina, Cristina Índio Brasil (Agência Brasil), Keli Vasconcelos, Henrique Luz, Luciana Bezerra (de Manaus), Marcus Vinícius Quintella, Maria Helena Malta, Maurette Brandt, Nélson Tucci, Rejane Romano (Instituto Ethos), Silvia Franz Marcuzzo e Solange Beatriz Palheiro Mendes. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos e®outras fontes controladas certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.

EMISSÕES CONTABILIZADAS

Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932

0,72 tCO2e Julho de 2018

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista

Cartas “Ficamos felizes em ter nosso projeto de reflorestamento na Serra da Canastra (MG) como destaque na Revista Plurale em matéria de Giuliana Preziosi. A AccorHotels, por meio do programa Plant for the Planet, pretende plantar mais de 10 milhões de árvores até 2021 e a participação de todos é fundamental para o sucesso do programa.” Antonietta Varlese, Vice-presidente de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa AccorHotels América do Sul, de São Paulo, por e-mail “Agradeço a remessa em primeiríssima mão da Edição 62 de Plurale, cuja densidade é comprovada a cada edição. Renovo os meus parabéns pela continuada eficiência.” Bernardo Cabral, Confederação Nacional do Comércio, do Rio de Janeiro, por telegrama. “Sônia querida, eu já tinha escutado belas referências a este Paul Allen que fala do futuro energético como um Mandrake real. E a entrevista dele para o site Vilaweb, da Catalunha – traduzida para o português pela relevante jornalista Maurette Brandt - é bem convincente. Achei ótimo o destaque que vocês deram. Faz bem à saúde ler a Plurale! Bem, a qualidade de sempre, na matéria de Giuliana Preziosi sobre a iniciativa feliz da AccorHotels de levar funcionários modestos à Serra da Canastra, conhecer um dos pontos mais belos e mais significativos do Brasil, uma espécie de centro hídrico-geográfico do País. E que fotografias! Esta Edição 62 traz ainda o Fórum Mundial da

cc a a r tr at a s s @@ pp l ul u r ar a l el e . c. c oo mm . b. b r r

“Cara Sônia,

Água, realizado em É sempre uma grata Brasília, com masatisfação receber esta téria primorosa de publicação que há oito Lou anos abreFernandes. espaço para o diálogomuito entre bom: Tudo empresas, especialistas qualidade e ime a sociedade, comdas o portância real objetivo de promover matérias. Os paos bons exemplos de rabéns de sempreservação do meio pre!” ambiente. Parabéns a Roberto Satodos os profissionais envolvidos eBraga, votos de turnino uma vida longa e Escritor e Sesustentável à Plurale nador Constiem revista.”do Rio tuinte, Krigsner –Miguel Fundador do de Janeiro, Grupo Boticário e por e-mail da Fundação Grupo Boticário de Preservação da Natureza, Curitiba (PR), “Vimos por e-mail pelo presente agradecer

pela participação de PLURALE

“Em nomeparceira da Associação dos Analistas como de mídia no 20ºe EnProfissionais de InvestimentoRelações do Mercadocom de contro Internacional Capitais (Apimec SP), parabenizo toda a Investidores e Mercado de Capiequipe de Plurale por seus oitos anos de tais, realizado no dia 20 e 21 de juatividades e, acima de tudo, pela seriedade e nho dedo2018, São àPaulo – SP. qualidade serviçoem prestado sociedade, parceria foirelevantes significativa aoEsta tratar de temas tão quanto para o pleno êxito observado evento. sustentabilidade e meio ambiente.no Que venham muitos outros Esperamos que anos!” ela se perpetue e Ricardo Tadeu Martins , Presidente que continue gerando externalidadades Apimec SP, São Paulo (SP), por e o positivas para a ABRASCA e-mail

IBRI e para para os senhores. Atenciosamente, ” “Deslumbrante a natureza da Serra do Cipó , Comissão de na retratada pela AnaOrganizadora, Cecília e Artur Vidaurre, São49 Paulo, por e-mail edição desta prestigiosa revista que

recentemente conheci. Parabéns à toda equipe de Plurale! mineiro havia “Muito boa aComo matéria denunca Nícia Ridado a devida importância, apesar de ter visto bas, na Edição 62, sobre Caldas falar em aulas de geografia nos anos 60 sobre da Imperatriz (SC). Ficar nesse hoesse parque ambiental; como temos belezas tel em Caldas da Imperatriz é dunaturais em nosso país e desconhecemos, plamente agradável: a acolhida situação que está sendo resgatada por esta é perfeita, os ao banhos revigorantes e revista dedicada meio ambiente e ecologia. Parabéns por abraçarem tão nobre missão e a comida caseira não enjoa nunca. pelos 8 anos de edição e sucesso. Além disso, faz-se uma viagem no Agradecido por vislumbrar bela revista. ”no tempo, imaginando tão a passagem

local do nosso casal Imperial, D.

Benedito Ari Lisboa, engenheiro, São Pedro II e Dona Teresa Cristina, a José dos Campos (SP), por e-mail

napolitana que conquistou o Bra-

sil. Eles foram se tratar nas Caldas “Letícia Spiller tornou-se a “embaixadora” da cujas águas eram consideradas micampanha Desmatamento Zero, do lagrosas... A Imperatriz doou as baGreenpeace Brasil. Em entrevista na Edição 50nheiras de Pluralede emmármore revista, comemorativa de para o hospital oito anos, a atriz revelou que sua preocupação da época e elas estão lá até hoje com as causas ambientais é antiga. Ela e no Hotel histórico. Delícia de lugar outras atrizes e atores falam sobre o muito bem retratado em Plurale!” engajamento nas causas sociais e ambientais. Lúcia àCherem, de Curitiba, Parabéns querida Sônia Araripe e equipe por e-mail pela matéria e pelos oito anos de Plurale!”


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25 de outubro de 2018

Estão abertas as inscrições para o 5º Encontro ABRASCA de Direito para Companhias Abertas, promovido pela ABRASCA. O evento, cujas edições anteriores obtiveram grande sucesso em termos de público e de avaliação, contará com renomados palestrantes e reunirá profissionais da área de todo o Brasil.

Público-alvo CEOs, diretores jurídicos, membros dos conselhos de administração e fiscal das companhias, sócios e advogados dos principais escritórios brasileiros de advocacia, diretores e gerentes jurídicos de companhias abertas, além de dirigentes de entidades e demais profissionais ligados ao mercado financeiro e de capitais. Informacões e inscrições:

11 3107.5557

Realização

Patrocinadores másteres :

Patrocinadores plenos:

Patrocinadores seniores:

Apoio:

nilsonjunior@abrasca.org.br

Organização:

Parceiros de Mídia:

Apoio Institucional: ABRAPP, ABVCAP, ANBIMA, ANCOR, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC, IBRACON, IBRADEMP, IBRI

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Mudanças Climáticas

O próximo risco emergente para os negócios? Dominic Schmal* Em dezembro de 2015, quase 200 nações adotaram o Acordo de Paris, um tratado internacional que tem o objetivo de estabilizar as concentrações atmosféricas de CO2 para limitar o aquecimento do planeta, até o fim do século, em até 2ºC, em relação aos níveis de emissões de gases de efeito estufa do período pré-industrial. Segundo o estudo “The Low Carbon Economy Index”, da PwC, o mundo deveria estar descarbonizando a economia em 6,5% ao ano, para não ultrapassar os 2 graus da meta até 2100. No entanto, só vem diminuindo as emissões em 1,4% por ano. Há um desafio a ser alcançado. Nos últimos dois anos, apenas a China e o Reino Unido apresentaram resultados acima da meta de descarbonização. A necessidade de agir de maneira rápida e eficaz não pode ser subestimada. A probabilidade e a frequência crescente de eventos meteorológicos extremos, como secas e inundações, podem ter um grande impacto sobre o setor privado, interrompendo operações, logística e abastecimento. Os eventos podem danificar instalações ou afetar indiretamente os negócios, devido aos danos nos sistemas em que eles se baseiam, como transporte, fornecimento de energia e comunicações.

Até 2100, apenas quatro impactos do aquecimento global – destruições provocadas por furacões, perdas imobiliárias, custos energéticos e custos de água – custarão quase US$ 1,9 trilhão por ano ou 1,8% do PIB americano, de acordo com o estudo “The cost of climate change”, de 2008 No último Fórum Econômico Mundial, evento anual que reúne os principais líderes políticos e empresariais, foi publicado o “Relatório de Riscos Globais 2018”. O documento apresentou como principais riscos os desastres naturais, o fracasso na adaptação e mitigação das mudanças climáticas e os eventos meteorológicos extremos. Há um conjunto de ações relevantes que os negócios podem contribuir para mitigar esses riscos. Reforçar a resiliência e a capacidade de adaptação aos riscos relacionados ao clima e às catástrofes naturais deve ser uma meta a ser percorrida por todos os setores empresariais.


Uma iniciativa empresarial criada pelo Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês), estabeleceu uma força-tarefa chamada “Task Force on Climate-related Financial Disclosures”. Em 2017, essa iniciativa lançou um relatório com recomendações importantes sobre riscos financeiros relacionados a clima, que incluiu as seguintes temáticas: governança, estratégia, gerenciamento de riscos e mensuração e metas. A implementação das recomendações pelas grandes organizações trará um papel transformador na transparência dos atuais impactos financeiros e um alinhamento maior das práticas de investimento com os objetivos climáticos de longo prazo estabelecidos no Acordo de Paris. É essencial que os riscos climáticos sejam incorporados nos procedimentos de avaliação de riscos e continuidade de negócios. As organizações precisam se planejar não só para o provável aumento na frequência de eventos extremos, mas também para o tamanho do impacto – isso permite que elas tomem as melhores decisões sobre como e onde é necessário desenvolver resiliência climática em suas operações e em toda a cadeia de valor.

Em 2015, quase

200 nações adotaram o

Acordo de Paris O mundo deveria estar descarbonizando a economia em

6,5%

No entanto, só vem diminuindo as emissões em

1,4%

ao ano

por ano

*Dominic Schmal é gerente sênior da PwC Brasil e especialista em Sustentabilidade.

PwC Brasil

@PwCBrasil

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Proibida a distribuição sem a prévia autorização da PwC. O termo “PwC” refere-se à rede (network) de firmas membro da PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto determina, a cada uma das firmas membro participantes da rede da PwC. Cada firma membro da rede constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure © 2018 PwC. Todos os direitos reservados.


Entrevista

INSTITUTO ETHOS COMPLETA 20 ANOS COM PROTAGONISMO NA RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL O sociólogo Caio Magri está à frente do think tank , que tem marcado presença nas principais temáticas ligadas à sustentabilidade e responsabilidade empresarial ao longo deste período, como diversidade, combate ao trabalho escravo, ética empresarial e combate à corrupção. Nesta entrevista exclusiva à Plurale em revista ele fala sobre os avanços e o que ainda está por vir Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Fotos de Divulgação/ Ethos

Muito antes do termo sustentabilidade empresarial se tornar uma bandeira, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Empresarial já estava militando nesta seara. Nomes como Oded Grajew, Ricardo Young, Jorge Abrahão e tantos outros ajudaram a formar este novo conceito. Só para citar um exemplo mais marcante, quando o escândalo da Lava-Jato ganhou as manchetes da imprensa, este já era um tema para lá de discutido nas rodas de diálogo do Ethos. Criado em 1998 por um grupo de

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empresários e executivos da iniciativa privada, o Instituto Ethos é um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável E, para quem ainda não conhece, não pense que se trata apenas de conversas e divagações. Há ações concretas e realizações ao longo destas duas décadas, dentre elas os Indicadores Ethos, que trazem métrica e resultados para o que antes parecia ser só um manual de boas intenções das empresas. Além de muita, mas muita inspi-

PLURALE EM REVISTA | Setembro / Outubro 2018

ração também: como sustentabilidade é um processo em construção, o Ethos tem conseguido disseminar boas práticas, especialmente em seus eventos, como a Conferência Ethos, que será realizada em São Paulo agora em setembro. Além de SP, a Conferência também chegou ao Rio de Janeiro e Belém. À frente do Instituto Ethos, no cargo de Diretor-Presidente, está hoje o sociólogo Caio Magri, cria da casa, trabalhando na Oscip desde 2004, onde começou como assessor de Políticas Públicas. Em 2005, tornou-se gerente executivo de Políticas Públicas, em 2014, diretor executivo e em 2017, foi nomeado diretor-presidente do Instituto Ethos. Participa como membro dos conselhos do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), da Transparência Pública e Combate à Corrupção-CGU, do Pró-Ética, do Comitê Brasileiro do Pacto Global (CPBG) e da Rede Nossa São Paulo, entre outros. Graduado em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), foi ge-


rente de políticas públicas da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança, além de coordenador do Programa de Políticas Públicas para a Juventude da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto (SP). Em 2003 integrou na assessoria especial do ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sob a coordenação de Oded Grajew. Confira a entrevista exclusiva para Plurale em revista. Plurale em revista - Que balanço você faz dos 20 anos do Ethos? Caio Magri – Vinte anos realmente é uma marca muito importante para qualquer organização da sociedade civil no Brasil, principalmente em virtude de todas as dificuldades que demandam estruturar e organizar uma instituição como o Ethos. A simples existência, nesses 20 anos, com relevância, por si só, já é um balanço muito positivo. Há 20 anos, o movimento de responsabilidade social e sustentabilidade estava engatinhando no Brasil. No período, houve um boom de criação de ONGs e institutos voltados para essas agendas, estimulados pelas experiências internacionais. O Ethos nasceu um pouco nesse contexto. Fazendo uma análise, hoje o cenário da responsabilidade social e da sustentabilidade no país é completamente diferente. Há 20 anos, poucas empresas tinham áreas, programas, processos, incorporados no seu negócio. As que possuíam eram basicamente multinacionais. Atualmente, o cenário é bem diferente. Observamos um ganho de escala, uma agenda que, caso a organização não possua, ela está em desvantagem competitiva. Sendo assim, a gente pode dizer que o Ethos teve grande contribuição nesse processo ao longo desses 20 anos.

“Uma marca do Ethos nesses 20 anos é que a instituição construiu uma rede de parceiros muito interessante. Com qualquer um com que falemos ou atuemos, sempre há parceiros a nos apoiar ou dar suporte. Isso é muito valioso. Nunca fazemos nada sozinhos. A gente sempre atua com uma rede que hoje calculamos de 120 organizações parceiras de diferentes setores da sociedade.”

nos seus primeiros 10 anos, está fundamentada no desenvolvimento de práticas empresariais. Então, para isso, focávamos muito no desenvolvimento de ferramentas para ajudar as empresas a melhorarem suas práticas relacionadas à agenda da sustentabilidade. No entanto, 10 anos se passaram e percebemos que, para atingir nossa missão, isso não era suficiente pois, por mais que você transforme as empresas internamente, isso não é suficiente para transformar a sociedade. Não é suficiente porque as empresas estão presentes no contexto, na política, no ambiente, na comunidade. Nesse sentido, é preciso transformar a relação das empresas com a sociedade. Então o Ethos, depois de 2008, a partir de um planejamento estratégico, passou a ter um foco também em políticas públicas. Dessa forma, a história do Ethos nesses 20 anos focou, em sua primeira parte, mais especificamente nas práticas empresariais e, na sua segunda parte, mais nas políticas públicas. Em termos de principais realizações, vale ressaltar a criação do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, que é reconhecido FOTOS DO INSTITUTO ETHOS - DIVULGAÇÃO

Plurale em revista - Quais foram as principais contribuições/ações realizadas? Em que temáticas? Clima, diversidade, trabalho escravo etc. Quais destacaria? Caio Magri - A história do Ethos,

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Entrevista FOTOS DO INSTITUTO ETHOS - DIVULGAÇÃO

lização, ferramentas de tecnologia etc. Tudo isso colabora para o que a gente tem hoje, é um passo necessário e importante para qualquer sociedade que quer lutar contra uma questão como essa, sistêmica e estrutural.

internacionalmente como uma das experiências mais bem-sucedidas a reunir poder público, empresas e sociedade para o combate ao trabalho escravo no mundo. A ação é reconhecida pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além disso, em termos de meio ambiente, o Ethos teve participação importante nas discussões na COP de Copenhagen e na COP de Paris sobre a precificação do carbono, entre outras iniciativas. A Conferência Ethos também é um marco. A gente conseguiu, ao longo desses 20 anos, realizar discussões de vanguarda sobre quais são as tendências desse grande guarda-chuva da sustentabilidade e da responsabilidade social no mundo e no país. Plurale em revista - O Ethos – sempre na vanguarda – começou a falar de alguns temas, que na época nem se imaginava a relevância. Como a questão da governança/ transparência e o pacote anticorrupção para empresas. Bem antes da Lava-Jato, já imaginavam que esse assunto tomaria a proporção que tomou? As empresas e governos perceberam a relevância da transparência e da governança. Esse é um caminho

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sem volta na sua avaliação? Caio Magri - O Ethos abordou alguns temas numa época em que nem se avaliava sua importância. O trabalho escravo é um exemplo. Há alguns anos, quando se falava em trabalho escravo, as empresas se levantavam e iam embora. Hoje é bem diferente. O Ethos tem a posição de provocar, de propor: “Por que não pode ser feito isso, ou de outra forma, ou abordar de modo diferente?”. Outro tema de que tratamos desde a fundação da entidade é o combate à corrupção. A raiz do Ethos é a mesma da palavra “ética”, e a ética está em nossos princípios. Trata-se de um tema que trouxemos para as empresas. De forma mais direta, isso vem se dando desde 2005, com a criação do Pacto pela Integridade, no qual a gente coloca não só o compromisso público, mas também ferramentas que ajudem as empresas a melhorarem suas práticas internas. Atualmente, devido aos recentes escândalos, nunca as empresas estiveram tão engajadas nesse tema e, não só porque as empresas têm melhores políticas, mas também porque as instituições estão funcionando melhor em comparação a 20 anos atrás. Existem órgãos de controle trabalhando, órgãos de fisca-

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Plurale em revista - Questões como diversidade racial e gênero também estão sendo muito enfrentadas/debatidas no Ethos. Você considera que ainda há muito o que avançar no Brasil? Caio Magri - Temos o Perfil, que é a principal fonte de informação no setor privado no que se refere a diversidade desde 2003 e que mostra um avanço, mas a passos lentos e muito tímido em relação ao assunto no mundo corporativo. Sim, o Brasil tem muito a avançar. Se olharmos para a sociedade brasileira e para as pessoas empregadas nas melhores empresas, precisaremos de 150 anos para ter a mesma distribuição racial e de gênero, se continuarmos no ritmo em que estamos. A pergunta que fazemos às empresas é: “Por que é tão lento, quais são as principais barreiras e o que é preciso para acelerar?”. É isso que a gente provoca no Ethos, é isso que a gente espera que avance nos próximos anos, até porque, em relação ao assunto da integridade, mais e mais, as empresas estão dedicando investimento à promoção da integridade. O lançamento do Guia de Diversidade Exame, sem dúvida, é mais um instrumento para as empresas desenvolverem suas práticas e políticas. Plurale em revista - Os fundadores do Ethos tiveram um papel decisivo. A maioria agora no Conselho. Jovens assumindo a liderança. Essa rotatividade/mescla é ótima. Que resultados positivos dessa mescla poderia citar? Caio Magri - Uma particularidade que permitiu essa mescla é que os fundadores sempre quiseram continuar sendo “guardiões” do Ethos. Alguns participam do Conselho, outros participam da Assembleia Geral, sempre voluntariamente e ajudando


a discutir as questões da sociedade e do Ethos. Antes da minha gestão, somente conselheiros foram presidentes. A gente teve o Oded Grajew, o Ricardo Young e o Jorge Abrahão. Os três foram conselheiros e fundadores. Entendemos como renovação, uma “passada de bastão” dos fundadores. Uma marca do Ethos nesses 20 anos é que a instituição construiu uma rede de parceiros muito interessante. Com qualquer um com que falemos ou atuemos, sempre há parceiros a nos apoiar ou dar suporte. Isso é muito valioso. Nunca fazemos nada sozinhos. A gente sempre atua com uma rede que hoje calculamos de 120 organizações parceiras de diferentes setores da sociedade. Isso é um ativo muito rico. Somos um espaço onde esses parceiros propõem. Trata-se de ser um espaço de diálogo, conexão e mobilização onde as empresas associadas atuam. Plurale em revista - A conferência Ethos é um dos principais fóruns de RSE. Um diálogo relevante sobre

essa temática. Quais serão as novidades/expectativas para a Conferência Especial 20 anos de 2018? Caio Magri - O foco é fazer uma reflexão sobre os 20 anos do Ethos, o que mudou no país, no setor privado, nas agendas onde trabalhamos. Além disso, as oportunidades a serem exploradas nos próximos 20 anos. Eu sempre penso na conexão com a nova economia, a economia de startups, de que forma essas novas empresas podem incorporar as agendas que o Ethos trabalha. Por mais que elas tenham um DNA diferente e soluções para problemas cotidianos, nem sempre têm os temas com os quais atuamos em suas agendas. Isso é um desafio. Na conferência, também vamos, nesse processo de refletir os 20 anos e olhar para frente, trazer pessoas que contribuíram e que contribuem para o Ethos: parceiros, pessoas, associados. Há muitas histórias que a gente quer contar na conferência e queremos estimular que as outras pessoas façam o mesmo.

“O Brasil tem muito a avançar. Se olharmos para a sociedade brasileira e para as pessoas empregadas nas melhores empresas, precisaremos de 150 anos para ter a mesma distribuição racial e de gênero, se continuarmos no ritmo em que estamos. A pergunta que fazemos às empresas é: “Por que é tão lento, quais são as principais barreiras e o que é preciso para acelerar?”. É isso que a gente provoca no Ethos, é isso que a gente espera que avance nos próximos anos, até porque, em relação ao assunto da integridade, mais e mais, as empresas estão dedicando investimento à promoção da integridade.”

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Colunista Henrique Luz

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emos vivenciado, nos últimos quatro anos, um Brasil bem diferente. Presidente impedida constitucionalmente, Ex-Presidente da República e Ex-Presidente da Câmara dos Deputados na cadeia e fazendo companhia a grandes empresários e a colegas políticos de diferentes matizes, alguns deles tendo tido enorme relevo na vida pública brasileira. Isto é o mínimo que se pode esperar de um país democrático e que pode dispor, saudavelmente, de uma imprensa livre e de uma constituição que, por mais defeitos que possa ter, funciona quando mais precisamos. A firme presença desses elementos, em um contexto de nítido clamor popular, nos colocou no mais importante momento da história política de nosso País, no que toca à oportunidade de transformação. Refiro-me à busca – claríssima a qualquer observador – por uma nação que se desenvolva em um ambiente que favoreça a ética nas rela-

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ções. Não importa a classe social ou o rincão do Brasil de onde provêm, claro é que todos almejam uma sociedade mais justa, equânime e ética. Entretanto, depois de tantos e tantos anos de desmandos, provocados por uma equação em que a falta de integridade ou a falta de preparo estiveram sempre presentes como fatores parametrais - e, em não poucos casos, ambos juntos operando – não poderíamos chegar a qualquer lugar que não fosse exatamente este onde nos encontramos. Ou seja, sofremos pela ausência dos princípios éticos e, ainda, pela ausência de educação formal básica de qualidade. No fundo, ambos têm a mesma origem. É natural que outras causas de natureza cultural e social têm a sua dose de “culpabilidade” na produção da realidade que enfrentamos hoje. Mas, é inegável que a ausência de investimento maciço na educação fundamental – em beneficio do ensino superior – trouxe, e traz, condições intransponí-

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veis na construção de um país que possa ser minimamente competitivo, com eficiência e produtividade. De um país cujo povo tenha a chance real de almejar um tratamento equânime por parte da sociedade no que toca suas oportunidades de crescer, de se desenvolver. De um país que consiga que suas crianças cheguem saudáveis e instruídas à idade adulta – mesmo tendo sido educadas em escolas públicas - e possam considerar isso um trampolim seguro para a disputa pela vida em condições similares aos que conseguiram trilhar sua educação em instituições privadas. De um país em que Estado e cidadãos são norteados pela ética e pelo respeito. Bem, no que toca à saúde, um problema secular. Mas, no que nos referimos à educação, hoje estamos muitas vezes piores do que há 40 anos. E que não venham mensurar educação com o “marcador” analfabetismo! Podemos, devemos, temos que demandar muito mais para as nossas crianças e jovens do que simplesmente terem sido alfabeti-


zados. O entendimento, por exemplo, dos princípios éticos. Vivemos uma sociedade mais próxima da estética. Nada contra. Mas, como disse Pierre Reverdy, “a ética é a estética de dentro”. Temos uma janela gigantesca de oportunidades quando estamos diante de eleições que não somente definirão o próximo Presidente da República como também determinarão os congressistas que queremos ter. E porque isso - se não inteiramente óbvio em um país como o nosso – é fundamental? Numa democracia, a qualidade dos congressistas é tão importante, ou ainda mais, que a do Presidente da República. Os deputados e senadores têm o poder de refutar ou de aprovar proposições do Executivo, de acordo com critérios que sejam críveis perante a Nação e coerentes com os mandatos que receberam de seus eleitores. Mas, não esperemos soluções “mágicas” para o desenvolvimento. Sofremos de uma doença gravíssima, que vem nos causando uma deterioração muito rápida: o enorme e crescente déficit nas contas públicas. Para isso, contribuem, com protagonismo, a gestão da previdência social e as empresas estatais. A previdência, mantida em níveis impagáveis e, ainda pior, pessimamente gerida, gerando déficits que crescem em uma razão totalmente desproporcional, atingindo centenas de bilhões em 2017. E, ainda, com benefícios desiguais entre os servidores públicos e os da iniciativa privada. Ainda na “fábrica” de déficits, cerca de 150 empresas estatais empregando 500.000 pessoas com um agregado de salários e benefícios superiores, em muito, à média das empresas privadas. E aqui, cabe ressalvar que, diferentemente dessa realidade, os membros de conselhos dessas empresas recebem, como honorários, muito significativamente menos do que nas empresas privadas. Essas estatais têm custado mais de R$1,2 trilhão a cada ano. O resultado liquido disso chega a um rombo nominal absurdo de R$500 bilhões, no exercício de 2017. Além de o País ter tido a sua economia reduzida nos últimos anos, apre-

É natural que outras causas de natureza cultural e social têm a sua dose de “culpabilidade” na produção da realidade que enfrentamos hoje. Mas, é inegável que a ausência de investimento maciço na educação fundamental – em benefício do ensino superior – trouxe, e traz, condições intransponíveis na construção de um país que possa ser minimamente competitivo, com eficiência e produtividade.” senta – de forma quase geral - péssimos índices de produtividade e competitividade, tem um IDH que é uma vergonha, uma educação em padrão totalmente inaceitável, um sistema público de saúde que não funciona, com mais de 50 milhões de pessoas pobres, sendo 14 milhões no nível mais extremo da pobreza. E insistimos em manter os ativos representados pelas 150 empresas estatais. A enorme maioria – e aí a única razão que pode justificar essa insistência - representando tradicionalmente “cabides de empregos” para o jogo das trocas no mundo político, realidade que algumas poucas das grandes sociedades de economia mista já superaram, mais recentemente. Aliás, em adequação até antes da edição da Lei 13.303/2016. A chamada “Lei das estatais” – em-

bora eu não a considere a “blindagem total” que seria desejável – trouxe avanços indiscutíveis em relação à governança das empresas públicas e sociedades de economia mista. Por exemplo, coibiu o tradicional preenchimento dos assentos dos Conselhos de Administração e diretorias executivas pelos “políticos de plantão”, como já me referi acima. Pois bem, não é que a Câmara dos Deputados, ao discutir o Projeto de Lei das agencias reguladoras, há poucos dias, tenta suprimir aquilo que entendemos ser justamente a blindagem contra o uso político-partidário das nomeações? Eu chamo isso de reação do “establishment”. Justamente o “establishment” político que está tão sob o crivo dos demais agentes da sociedade como um todo, inclusive os cidadãos. Pois bem, não há outro caminho para nós que não por via das eleições. Independente de siglas partidárias – que nem sequer conseguem significar qualquer ideologia em nosso País – precisamos popular o Congresso Nacional com pessoas que estejam comprometidas com a ética. E imbuídas do objetivo da transformação. Nada menos do que isso. A transformação do Estado para que este possa gerir e prover a educação e a saúde da população e deixar os setores produtivos da economia para a iniciativa privada, essa, convenhamos, com muito mais vocação para o bemfazer e para o êxito. Creio que, dessa forma, teremos muito mais chances de atingir o estágio em que a ética passa a ser um valor da sociedade e por ela somos balizados. O estágio em que nossas crianças se tornarão jovens que saberão nos levar a uma dimensão de economia muito mais competitiva a partir de saltos de produtividade e eficiência. De forma, oxalá, sustentável. (*) Henrique Luz é membro independente de Conselhos de Administração e Vice-Presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Colunista Colaborador de Plurale.

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Artigo

SAÚDE

MELHOR PREVENIR DO QUE REMEDIAR DIVULGAÇÃO/FENASAÚDE

Por Solange Beatriz Palheiro Mendes

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esde o tempo dos nossos avós, já se dizia que é melhor prevenir do que remediar. Normalmente, a frase é usada em sentido figurado, em situações nas quais uma simples precaução pode evitar grandes dissabores. Quando o assunto é saúde, o sentido é mais do que próprio: evitar a doença é mesmo muito melhor do que obrigar o paciente a tomar um remédio amargo. A população brasileira está se exercitando mais, consumindo mais frutas e hortaliças e menos refrigerantes e também fumando menos. É o que aponta a pesquisa Vigitel do Ministério da Saúde. Mas, ainda assim, uma parcela importante da população está com excesso de peso (54%) ou obesa (19%). Portanto, insistir na adoção de hábitos saudáveis é essencial para reverter esse cenário. Afinal, 80% dos ataques cardíacos prematuros (antes dos 70 anos) e derrames podem ser evitados com alimentação saudável, atividade física regular, controle do consumo de álcool e abandono do cigarro. Bastam 30 minutos de atividade física diária para uma pessoa deixar de ser sedentária. O consumo mínimo diário recomendado para uma alimentação saudável é de cinco porções de frutas e vegetais. Campanhas de promoção à saúde e de prevenção à doença ganham cada vez mais espaço na agenda de empresas empregadoras de todos os setores, incluindo as operadoras de planos de saúde. É uma tendência irreversível que pode, sim, resultar em mais saúde e menos doenças, proporcionando mais qualidade de vida aos colaboradores e reduzindo o absenteísmo no trabalho. Uma pesquisa realizada em 2017 pela consultoria Mercer Marsh Benefícios com 690 empresas do país, que juntas empregam 1,7 milhão de colaboradores,

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mostrou que os investimentos das companhias em programas para melhorar a saúde e o bem-estar dos seus funcionários cresceram 21% no período de dois anos, de R$ 224,15 para R$ 271,21 por funcionário. De acordo com o estudo, 38% das empresas ouvidas pretendiam aumentar seus investimentos em saúde e qualidade de vida nos dois anos seguintes, contribuindo para diminuir o absenteísmo e, em consequência, induzindo a melhoria da produtividade. As ações já realizadas por elas tiveram diversas abordagens. Por exemplo, 21% das 690 companhias realizam mapeamento de perfil de saúde e casos crônicos, das quais 73% fazem mapeamento anual; 17%, bianual; e 10%, semestral. Em relação a atividades físicas, 56% das empresas têm convênio com academias; 46% possuem grupos de corrida; 31%, planos de atividade física; 23% oferecem academia dentro da companhia; e 20% dão subsídio para academia. Além disso, 41% das empresas promovem alguma ação voltada para a saúde emocional dos funcionários. Parceria entre operadoras e empresas Muitas dessas ações são realizadas em

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parceria com seguradoras ou operadoras de planos de saúde. Por sinal, diversas empresas da Saúde Suplementar vêm promovendo programas nesse mesmo sentido, ajudando a melhorar a qualidade de vida de seus beneficiários e a reduzir os gastos com tratamentos. Como sabemos, o maior problema do setor hoje está no ritmo de crescimento dos custos promovido pelo aumento do valor dos procedimentos médicos conjugado com a frequência cada vez maior da utilização. Nesse contexto, ações que ajudem a reduzir e a racionalizar o uso dos procedimentos, por meio de maior conscientização dos beneficiários, serão sempre bem-vindas. Operadoras e seguradoras associadas à Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) oferecem aos seus beneficiários um conjunto de iniciativas de incentivo à saúde e ao bem-estar para estimular hábitos de vida mais saudáveis e prevenir doenças, além de controle de doenças crônicas, como diabetes, doenças cardiovasculares, osteoporose e outras. Nesses casos, por exemplo, há uma associada que monitora seus beneficiários com doenças crônicas. Essa operadora disponibiliza uma equipe de assistên-


cia médica multidisciplinar via telefone, e-mail e visitas domiciliares para atestar a saúde do beneficiário e, ao mesmo tempo, capacitá-lo para manter sob controle suas doenças. Essa maior aproximação entre plano e beneficiários dá resultado. Após um ano de acompanhamento, houve evolução no cuidado pessoal para 20,8% dos participantes e aumento da adesão às consultas médicas para 10% deles. Cerca de 30% dos inscritos tiveram melhora na predisposição para a prática regular de exercícios físicos e para uma alimentação mais balanceada. Já 26% dos fumantes apresentaram mais disposição para deixar o hábito, e 40% adotaram medidas para prevenir a depressão. Em dezembro último, eram mais de 12 mil beneficiários sendo acompanhados nesse programa. Esse tipo de intervenção também resultou na melhora de indicadores clínicos, com evolução nas taxas de colesterol, redução da pressão arterial entre os hipertensos (de 20,3% para 18% das pessoas) e melhora no controle de peso: para 56,3% dos participantes com diabetes e IMC (índice de massa corporal) abaixo do peso ideal e para 38,2% dos que tinham IMC acima do ideal. Por fim, a percepção geral sobre a própria saúde melhorou para 16,4% dos participantes. Já outra associada está focada na gestão empresarial dos benefícios de saúde dos colaboradores. A operadora busca atuar de forma preventiva sobre os maiores fatores de risco da população segurada, difundindo informações acerca de saúde, aumentando o bem-estar das pessoas e, portanto, a produtividade da empresa. O programa envolve diversas ações: screening (rastreamento) direcionado, com mensuração de glicemia, colesterol, IMC, pressão arterial e circunferência abdominal; check-up executivo, para detecção precoce de doenças, melhoria dos indicadores de saúde individuais e redução das faltas no trabalho; imunização (vacinas); educação em saúde, mediante palestras de profissionais especializados sobre temas como saúde da mulher, alimentação saudável, tabagismo e estresse; GDC (gerenciamento de crônicos), com o objetivo de identificar e acompanhar os

colaboradores com patologias crônicas; Gestantes, para acompanhar a gravidez, estimular os exames pré-natais, prevenir riscos e orientar os cuidados com o bebê e o aleitamento materno; e Programa de Abandono do Tabagismo, que inclui consultas médicas e realização de exames, prevenindo doenças e reduzindo o agravamento de doenças causadas pelo tabaco. Outra iniciativa para estimular o beneficiário a ter mais cuidado com sua saúde foi a criação de ambientes preparados para programas de prevenção e de promoção da saúde. Trata-se de unidades específicas de atendimento multidisciplinar baseadas em atenção primária, que contam com equipes compostas por médicos de família, enfermeiros, agentes de saúde, fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos. O programa atende hoje mais de 125 mil pacientes em diversas cidades do país. Por outro lado, há operadora investindo em prevenção desde cedo. Hoje, a obesidade infantil é um grave problema de saúde no país. Diante desse quadro, uma associada à Federação realiza uma série de ações com objetivo de conscientizar a sociedade brasileira sobre a epidemia da obesidade no país – atualmente, um terço das crianças brasileiras está acima do peso. Nos quatro anos da iniciativa, o movimento incluiu campanhas de comunicação e o lançamento de um portal com conteúdo técnico sobre como lidar com a doença. No ano passado, a ação firmou uma parceria com o Unicef para promoção da saúde e da alimentação saudável, por meio do Programa do Unicef Brasil. Cuidados à saúde na terceira idade A sociedade brasileira está envelhecendo rapidamente. O mais recente estudo do IBGE estimou que a proporção de idosos na população brasileira deverá ultrapassar a de crianças e adolescentes a partir de 2040. Em 2060, um quarto da população (25,55%) terá mais de 65 anos. Essa realidade já é sentida pelos planos de saúde. A participação de beneficiários de planos de assistência médica a partir de 60 anos passou de 23,2%, em dezembro

de 2007, para 29,7% em 2017. Nos últimos três anos, a faixa dos beneficiários acima de 80 anos foi a única que apresentou crescimento: 62%. Em todas as demais, houve queda. Diante desse quadro irreversível, as operadoras estão se preparando para atender uma sociedade longeva. E essa assistência não se limita ao cuidado tradicional com a saúde. Por vezes, pessoas do nosso dia a dia também podem fazer a diferença na promoção à saúde. Nesse sentido, uma operadora realiza um programa voltado à capacitação de porteiros de prédios para o cuidado com a saúde de idosos. Esse profissional é preparado para atuar de maneira tanto preventiva quanto proativa na resolução de problemas do cotidiano da terceira idade, como em questões fundamentais de segurança, autonomia e mobilidade. Outra iniciativa desenvolvida e estimulada pela Agência Nacional de Saúde Suplementar, órgão regulador do setor, é o projeto ‘Idoso Bem Cuidado’, que propõe um modelo inovador de atenção aos idosos. Uma operadora associada à FenaSaúde implementou esse projeto voltado para segurados a partir de 65 anos na capital paulista, no ABC e no Rio de Janeiro. São mais de 6.500 idosos sob acompanhamento do programa, que inclui monitoramento presencial, central de urgência 24 horas, rede de apoio e emergências médicas, entre outros benefícios. Com esse acompanhamento e o apoio coordenado, 79% das intercorrências foram solucionadas no próprio domicílio, e a taxa de internação nos últimos seis meses até fevereiro deste ano foi em média de 0,67%, contra 1,41% nessa faixa etária. Essas ações são apenas alguns exemplos importantes de como a cultura da prevenção às doenças vai se disseminando rapidamente entre os próprios beneficiários, empregadores e operadoras de planos de saúde, com resultados mais do que palpáveis. O velho ditado - melhor prevenir do que remediar – está mais atual do que nunca. (*) Solange Beatriz Palheiro Mendes é Presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde)

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Colunista Marcus Quintella

EMPREENDEDORISMO E INCLUSÃO SOCIAL

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empreendedorismo, por si só, é fundamental para o desenvolvimento econômico de nosso país e tem grande relevância para a sociedade como um todo, em virtude de direcionar investimentos para atividades produtivas, de forma a contribuir com a geração de emprego, renda e riqueza. No entanto, o empreendedorismo como estratégia de inclusão social é de vital importância para promover a participação igualitária de todos na sociedade, independentemente de classe social, idade, cor da pele, grupo étnico, nível cultural, opção sexual e condição física. A estruturação e implementação de negócios rentáveis, que, ao mesmo tempo, promovam inclusão social e reduzam a pobreza no país é uma tarefa de difícil execução, mas perfeitamente viável, desde que haja incentivos tributários, linhas de crédito adequadas e suportáveis, apoio governamental e disposição de investidores para aportar capital em negócios inovadores e sustentáveis. Não tenho dúvida alguma de que os micros e pequenos negócios promovem a inclusão social e possuem grande potencialidade para reduzir o número de pessoas beneficiárias de programas sociais oficiais. Por isso, defendo fortemente o estímulo e o acesso ao empreendedorismo para aqueles que dependem dos poderes públicos para suprir suas necessidades básicas de subsistência. Esse tipo de empreendedorismo que estou colocando em pauta tem uma conotação eminentemente social, sem qualquer restrição ao retorno financeiro a ser gerado ao empreendedor. Trata-se

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do chamado empreendedorismo social, estabelecido nos anos 1980, pelo norte-americano Bill Drayton, criador da Ashoka (https://www.ashoka.org/), rede que reúne empreendedores sociais em 90 países e oferece apoio financeiro, logística e mentoria para que ideias saiam do papel. Bill Drayton sofreu forte influência das ideias humanistas de Martin Luther King e Mahatma Gandhi, bem como pela figura de Ashoka, imperador indiano do século III antes de Cristo, que inspirou o nome de sua rede de empreendedorismo social. Segundo a Ashoka, os empreendedores sociais são indivíduos que possuem soluções inovadoras para os maiores desafios sociais, culturais e ambientais da atualidade. São pessoas ambiciosas e persistentes e que abordam questões sociais importantes, oferecendo novas ideias para mudanças no nível sistêmico, sempre com o objetivo de utilizar técnicas de gestão, inovação, criatividade e sustentabilidade para transformar pessoas, comunidades e realidades de vida. Reforçando o aspecto econômico sustentável do empreendedorismo social, cabe ressaltar que os negócios gerados dentro dessa filosofia precisam ter objetivos precípuos claros quanto à redução da pobreza e inclusão social daqueles grupos de pessoas marginalizadas na sociedade, citados anteriormente. Na prática, esses negócios sociais não devem ser concebidos apenas com propósitos de retorno financeiro, mas precisam retornar e remunerar os capitais investidos pelos empreendedores, e, dentro do possível, seguindo os ideais de Bill Drayton, manter os lucros gerados

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FOTOS DE DIVULGAÇÃO

dentro dos próprios negócios, para que haja melhorias, crescimento e perpetuação dos mesmos. Em 2017, a vitrine de negócios sociais Pipe (https://pipe.social) lançou o 1º Mapa Brasileiro de Negócios de Impacto Socioambiental, que listou 579 empreendimentos que atuam nas áreas de educação, tecnologias verdes, cidadania, cidades, saúde e finanças. Essa importante pesquisa indica que 70% dos negócios mapeados já estão formalizados, sendo que 40% ainda não completaram três anos de fundação, até 2016, ano-base da pesquisa. A maioria desses negócios (63%), está localizada no Sudeste, com 43% somente em São Paulo. A região Sul recebe 20% dos negócios sociais. Dos 579 negócios pesquisados, 79% ainda estão na fase de captação de investimentos, junto a fundações, anjos profissionais, incubadoras, aceleradoras, fundos de venture capital e de private equity e por intermédio de crowdfundind e editais de governo. A maioria dos negócios pesquisados, cerca de 43%, sinalizam seus propósitos por meio de comunicações externas, para que sejam alardeados os compro-


missos com a inclusão social e a missão de proteção ambiental. O Brasil possui diversas iniciativas empreendedoras de negócios sociais que vêm promovendo transformações positivas para a camada da população sem acesso às oportunidades dentro da economia. A seguir, são listadas algumas iniciativas sociais importantes. A Graacc (www.graacc.org.br), por iniciativa do oncologista pediátrico Antonio Sergio Petrilli, desde 1991, vem atuando no combate ao câncer infantil, em todo o país, com uma taxa de cura em torno de 70%, de milhares de pacientes. O Instituto Chapada (institutochapada.org.br), idealizado pela pedagoga Cybele Oliveira, tem como foco a melhoria da qualidade da educação pública, apoiando a formação continuada de professores e gestores de escolas, bem como auxiliando na criação de redes colaborativas voltada a fortalecer o ensino formal e políticas públicas de educação. A Gerando Falcões (gerandofalcoes.com), criada por Eduardo Lyra, jovem da periferia de São Paulo, tem o objetivo de melhorar a vida de crianças que passam pelas mesmas dificuldades enfrentadas por seu fundador e já beneficiou cerca de 30 mil estudantes. A Geekie (www.geekie.com.br), criada em 2011, oferece aprendizado adaptativo para todos, por meio de plataformas de ensino a partir de tecnologias inovadoras, e seus idealizadores, Cláudio Sassaki e Eduardo Bontempo, foram premiados com o prêmio Folha de Empreendedores Sociais. A Artemisia (artemisia.org. br), fundada em 2004, tem a missão de contribuir para o fomento de negócios sociais que tenham grande impacto positivo na vida de pessoas com baixa renda. Outro exemplo de negócio transformador e de impacto social é a Feira Preta (feirapreta.com.br), considerada como a maior feira de cultura negra da América Latina, que busca fomentar o empreendedorismo étnico e fortalecer a cultura negra no Brasil. Segundo a empreendedora Adriana Barbosa, em 10 edições, a feira já reuniu 400 artistas, 500 expositores e 40 mil visitantes, contribuindo

com iniciativas colaborativas, coletivas e inclusivas, em um ambiente de encontro e valorização da cultura negra. No exterior, alguns exemplos podem ser destacados, como o caso da empreendedora norte-americana Stacy Zoern, que nunca teve a oportunidade de andar, devido a uma atrofia muscular de nascença, e que resolveu investir no projeto de um carro elétrico para apenas uma pessoa, completamente desenvolvido para as necessidades dos deficientes físicos. Esse projeto ganhou o nome de Kenguru (www.kenguru.com) e, em 2015, foi adquirido pela KLD Energy Technologies (www.kldenergy.com) e, atualmente, existe fila de espera para comprar um Kenguru. Em Atlanta, nos EUA, Brian Preston fundou a Lamon Luther (www.lamonluther.com), com a ideia ousada e inclusiva de contratar moradores de rua para ajudar na construção de móveis domésticos de madeira reciclada. O negócio não é uma organização de caridade ou filantrópica, pois visa lucro como qualquer empresa do mercado, mas tem o propósito de oferecer a oportunidade de uma segunda chance para as pessoas desamparadas e excluídas da sociedade. Os resultados melhoraram a qualidade de vida dos moradores de rua de Atlanta e promoveram a restauração de muitas famílias. Em San Isidro, na Argentina, quatro jovens portadores de síndrome de Down decidiram abrir uma pizzaria voltada para festas e eventos, a Los Perejiles (www.losperejileseventos.com.ar). Em julho de 2016, a empresa realizou o seu primeiro evento para 50 pessoas e o negócio decolou, tendo os próprios jovens como organizadores da rotina de produção, além de empregar voluntários também portadores de sídrome de Down. O empreendedorismo voltado para a inclusão social tem o poder de gerar valor para a marca e passa a ser considerado um ativo com grande potencial para atrair investidores, sem dizer que os negócios com essa filosofia são importantes geradores de emprego para jovens, adultos e idosos que sofrem algum tipo de exclusão para entrar ou permanecer

no mercado de trabalho, ou seja, aquelas pessoas que não têm as mesmas oportunidades dentro da sociedade. Geralmente, os excluídos são aqueles que não possuem condições financeiras dentro dos padrões definidos pela sociedade, além dos idosos, negros, refugiados, estrangeiros ilegais e desqualificados profissionalmente, analfabetos, portadores de deficiências físicas de todos os tipos, como cadeirantes, deficientes visuais, auditivos e mentais, e obesos. Infelizmente, a inclusão social por meio do empreendedorismo é incipiente em nosso país e a nossa cultura ainda permite que as pessoas rejeitem a igualdade de direitos e não venham a cooperar com aqueles que fogem dos padrões de normalidade estabelecido pela maioria da sociedade, apesar do discurso hipócrita e enganoso dos governantes, políticos e da classe rica dominante da população. Em última análise, os empresários, investidores, governantes, políticos e a sociedade, em geral, precisam entender que a inclusão social, ampla, geral e irrestrita, e a igualdade de oportunidades é a chave para o desenvolvimento e o crescimento da sociedade brasileira, como um todo, em termos financeiros, econômicos, sociais, ambientais, morais, éticos, culturais e humanísticos. (*) Marcus Quintella (mvqc@uol.com.br) é Colunista Colaborador de Plurale. É Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.

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Pelo Brasil FOTOS DE BRENNO FÉLIX/ONU BRASIL

André Simoes, sobrinho e afilhado de Sérgio Vieira de Mello, recebeu as homenagens em nome da família na solenidade no palácio do itamaraty, no Rio de Janeiro

Livro e documentário sobre Sergio Vieira de Mello são lançados no Rio Da ONU Brasil

A contribuição do diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello para os direitos humanos e o trabalho humanitário globalmente foi tema do livro e do documentário “Sergio Vieira de Mello: o legado de um herói brasileiro”, lançados no dia 16 de agosto, no Rio de Janeiro. Morto em 2003, em um atentado terrorista em Bagdá que vitimou outros 21 funcionários da ONU, Sergio Vieira de Mello atuou durante mais de 30 anos nas Nações Unidas, tendo como última função o cargo de alto-comissário para os direitos humanos e de chefe da missão da Organização no Iraque. O livro e o documentário foram lançados no Palácio do Itamaraty, centro da capital fluminense, durante evento que reuniu diplomatas, militares e profissionais das Relações Internacionais. O lançamento teve apoio

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do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil (UNIC Rio). “Há 15 anos, morria o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello, vítima de um atentado no Iraque. É algo extremamente triste para seus

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familiares e amigos, e que também marcou uma mudança para a ONU. Nossa bandeira já não significava mais proteção”, disse o diretor do UNIC Rio, Maurizio Giuliano, durante a abertura do evento.


Ler.com: Formar leitores para um mundo melhor DIVULGAÇÃO

Por Nícia Ribas, de Plurale De Curitiba (PR)

Quarta- feira, 8 de agosto, no auditório da Biblioteca Pública do Paraná, um grupo de educadores fundou a Ler. com, que vai despertar nas pessoas o amor pela leitura. A Associação reúne professores de várias áreas das Letras, Literatura e Linguística, Educação, Libras, Psicologia e Informática, em parceria com estudantes pesquisadores oriundos desses cursos e de professores das escolas públicas. “Nossa luta pela formação de leitores tem um objetivo maior, que é tornar as pessoas capazes de entender a realidade do nosso país e buscar melhorias através das suas escolhas políticas”, diz a doutora em Letras, Lúcia Cherem, que há cinco anos lançou a ideia da Associação e agora vibra com a fundação da Ler.com. Ela conseguiu reunir as melhores cabeças das universidades Federal do Paraná e Unicamp, Universidade de Grenoble, e a Associação Francesa de Leitura, de Paris, em torno dos mesmos objetivos. Diamila Medeiros, presidente da Ler.com, em seu discurso de posse, disse: ”Num momento como o que vivemos no Brasil e no mundo, a Ler. com parte não só de um forte laço afetivo com nossos objetos de trabalho, mas também de uma consciência profunda do quanto somente com acesso à educação e à cultura, de forma ampla, nossa população terá a possibilidade do pleno exercício da cidadania em um país plenamente democrático – algo pelo qual sempre lutaremos: democracia e igualdade de acesso e de direitos”. Honrada por ter sido escolhida para presidir a Associação, a jovem doutoranda e mediadora de leitura convidou todos a compartilhar do compromisso de um país com mais acesso à educação.

A vice-presidente, Maria Inês Carvalho Correia emocionou a todos com sua história de luta pela educação. No interior do norte paranaense, ela caminhava 14 quilômetros por dia para ir à escola. Na adolescência, mudou-se para Curitiba, para trabalhar, procurando sempre ler, até que conseguiu voltar para a sala de aula. “Vocês não imaginam o filme que me passa pela cabeça: no meu pouco tempo livre, eu vinha aqui na biblioteca pública para ler, às vezes para apenas escapar da minha dura realidade; enfim, mais uma história de uma brasileira negra, pobre comum, mas com um porém... que sempre sonhou e gostava muito de ler, ouvir histórias”. Na Ler.com, Maria Inês vai trabalhar para que as futuras gerações cresçam em um Brasil no qual “tenham orgulho de serem brasileiros híbridos”. Só se aprende a ler, lendo Desde 2012, sob a orientação da professora Lúcia, essa equipe desenvolve uma Ação Integrada para o Letramento, que vem transformando a educação básica brasileira com a leitura pela via direta, um jeito inteligente de ensinar a ler, seja a língua materna ou estrangeira. Quem explica como fun-

ciona é Lúcia: Não se dá um pouco da língua para depois enfrentar um texto escrito. A língua está nos textos escritos e é entrando em contato com eles de forma cuidadosa e bem trabalhada, que vamos aprendendo e ensinando a ler. Só se aprende a ler, lendo.” Em 2013, a professora Érica Rodrigues, da Escola Municipal João Gueno, de Colombo (Grande Curitiba), entrou em contato com os professores de Letras da UFPR, relatando a dificuldade que estava enfrentando para ensinar seus alunos a ler. Imediatamente o pelotão da Ação Integrada para o Letramento visitou a Escola e iniciou o projeto que já recebeu prêmio VivaLeitura!, do MEC, em 2014, e até virou filme, A Aventura de Colombo, de Matias Dala Stella. Presente ao ato de fundação da Ler.com, Érica contou que o Letramento deu uma guinada na educação da João Gueno. O evento na Biblioteca Pública reuniu todos os envolvidos na Associação e interessados no assunto. Após a leitura do Estatuto e sua aprovação, foi apresentado um trecho do filme A Aventura de Colombo. Em seguida, o trio Caratuva, de chorinho, encantou a plateia, com obras bem brasileiras, encerrando com Chiquinha Gonzaga.

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Pelo Brasil Envolverde completa 20 anos com ótimos resultados como mídia sustentável De São Paulo/ Por Nélson Tucci, Especial para Plurale

A Envolverde festejou, no começo de julho, 20 anos de trabalho e sucesso. “Somos a start up mais antiga do Brasil”, disse seu fundador o jornalista Dal Marcondes para uma seleta plateia de amigos e colaboradores no espaço multiuso da Unibes Cultural, em São Paulo. Ele contou rapidamente a história da Envolverde, de produzir matérias sobre sustentabilidade para a mídia, o mergulho na área de educação e abriu discussão sobre os novos desafios.

O modelo da roda de conversa foi inovador até na sua apresentação. Dal sugeriu aos convidados que se dividissem em dois grupos – podendo, depois, a pessoa trocar de lado – para discutir o futuro editorial da revista digital; e para discutir o modelo de negócio. Ele lembrou que “o eco sistema do jornalismo sustentável” mudou muito e a Envolverde teve perspicácia para mudar junto. Mas os novos tempos já chegaram e mais mudanças estão por vir. O que fazer para antecipá-las?

Sérgio Lüdtke, jornalista e consultor em mídias digitais, fez um bate-papo com o pessoal também, mostrando que a preocupação de Marcondes faz todo o sentido. A propósito, o Dal se encheu de número “8” na fala de abertura. Lembrou, por duas vezes, que a Envolverde nasceu em 08.01.98 (some tudo isso e o resultado será 8), completando 10 anos, portanto, em 2008 e, agora 20 aninhos neste 2018. Na Cabala, o número 8 é o número da vitória, da superação e da prosperidade. Guardem isso. AFRA BALAZINA

O jornalista Dal Marcondes, fundador e Editor da Envolverde, recebeu o também jornalista Sérgio Lüdtke, consultor em mídias digitais

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Uma instituição que já nasce como referência de ensino em comunicação.

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Biodiversidade

PINHÃO NA MESA, FLORESTA VIVA! Por Nícia Ribas, De Plurale Fotos de Haroldo Palo Jr/ da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; de Carlos Dala Stella e Divulgação da Cerveja Insana

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cada inverno, os frondosos pinheiros que sobrevivem nas regiões montanhosas do sul do Brasil, principalmente no Paraná e Santa Catarina, frutificam. As pinhas amadurecem e suas sementes, os pinhões, estão cada vez mais valorizados no mercado de alimentos. Graças ao crescimento do consumo, a floresta com araucárias é conservada, pois mais vale um pinheiro de pé dando frutos do que troncos abatidos para o comércio da madeira. No dia 24 de junho foi comemorado o Dia Nacional da Araucária. Quando chegaram ao Brasil, os primeiros imigrantes europeus encontraram ricas florestas (Ombrófila Mista) com a predominância da araucária (Araucaria angustifolia), espécie que foi quase dizimada nos séculos seguintes por causa da sua madeira de excelente qualidade. Hoje, corre risco de extinção: originalmente, a área com araucária era de 200 mil quilômetros, hoje reduzida a 3% desse total. Iniciativas como o projeto Araucária+, que fomenta novos negócios entre produtores e empresas para preservar as florestas, e a legislação que criminaliza o corte e oferece incentivos fiscais a proprietários de terrenos com a presença de mata nativa, pinheiros que chegam a ter 50 metros de altura continuam se destacando na paisagem dos planaltos do Sul.

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Incentivo legal Morador em área com a presença de 10 pés de araucária em Santa Felicidade, bairro da colônia italiana de Curitiba, o artista plástico Carlos Dala Stella é beneficiado pela Prefeitura Municipal com 50% de desconto no IPTU, desde que conserve em bom estado sua minifloresta. Para ele e sua família, que vivem na mesma propriedade desde o início do século XIX, quando chegaram com os primeiros imigrantes, é um orgulho manter as araucárias e ainda ter o privilégio de catar pinhões no terreno. Carlos calcula entre 120 e 150 anos a idade dos seus pinheiros, destacando uma fêmea, ainda mais antiga, carinhosamente chamada de pinharona, que fica bem no meio da floresta. Pássaros e esquilos que também habitam a área fartam-se: “Quando surgem os primeiros pinhões do ano, os esquilos costumam escondê-los entre telhas e arbustos, garantindo suas refeições futuras”, conta Carlos. Manter a floresta dá lucro A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Certi – Centro de Referência em Tecnologias Inovadoras, vem investindo em ações pró produção sustentável de pinhão e erva mate (que integra a mesma floresta) através do projeto Araucária+, que desde 2013 recupera áreas degradadas no planalto serrano catarinense. A estratégia do projeto é agregar valor aos produtos para incentivar a preservação da floresta. Proporcionando emprego e renda à população, todos passam a cuidar com afinco da sua galinha dos ovos de ouro. Produtores da região recebem orientação técnica para fazer a coleta das pinhas

FOTO DE HAROLDO PALO JR/ ACERVO DA FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO DE PROTEÇÃO À NATUREZA

e outras ações de manejo responsável. Em seguida são conectados a um mercado diferenciado integrado por empresas com estratégias de inovação e sustentabilidade em seus produtos. Numa ponta, estão os produtores

rurais e na outra, empresas dispostas a bancar um sobrepreço pelos insumos sustentáveis de espécies nativas – como o pinhão e a erva-mate. Além de vender seu produto por um preço acima do mercado, o produtor que se dispõe a manter em seu terreno uma área destinada a formar um reservatório genético, recebe uma bonificação: “toda operação comercial gera um percentual para formar um fundo que vai estimular a criação de florestas originais,

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Biodiversidade

não manejadas”, explica Guilherme Karam, coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário. Karam, anuncia a expansão do projeto para outras localidades além do planalto serrano catarinense e até para outros biomas: “Antes queremos formar uma base de produtores cadastrados bem consolidada e buscar maior demanda por meio das empresas compradoras”. Há produtores que não concordam com o padrão sustentável definido por especialistas, que inclui restrições como não poder coletar todo o pinhão ou a erva mate e não usar defensivo agrícola. Hoje o projeto contabiliza 660 hectares de floresta conservada, envolvendo cerca de 20 empresas, sendo que três já realizam operações comerciais com 13 produtores rurais. E mais de 80 produtores e 30 organizações estão se articulando para entrar no esquema. O Araucária+ tem o apoio da Codesc – Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina e já foi reconhecido como case de inovação pela Fundação Getúlio Vargas e pela Fundação Banco do Brasil, além de ter

conquistado o prêmio von Martius de Sustentabilidade e o Troféu Onda Verde do 24º. Prêmio Expressão de Ecologia. Pinhão em alta Sopa de pinhão, farofa de pinhão, ensopado de carne com pinhão e inúmeras outras receitas têm enriquecido a mesa do brasileiro. Chefs famosos já criaram suas iguarias

usando a semente saborosa. Simplesmente cozido em panela de pressão ou assado na brasa, o pinhão é bastante apreciado numa noite típica de inverno. As festas juninas do sul do Brasil não dispensam a panela com pinhão quentinho. E já são tradicionais as inúmeras festas do pinhão, como a de Lages (SC), que costuma atrair centenas de pessoas. Para facilitar o consumo, eles utilizam um descascador de pinhão, vendido em qualquer loja de artigos para casa. Uma cervejaria da cidade de Palmas (PR), chamada Insana, decidiu apostar na semente da araucária e está fazendo sucesso ao mesmo tempo em que fomenta o correto aproveitamento da floresta. Três amigos começaram a fazer cerveja de pinhão em casa e hoje já produzem 45 mil garrafas por ano e distribuem para todo o Brasil. Orientados pelo Araucária+, eles seguem o padrão ecologicamente correto através da colheita na época certa e na quantidade adequada, pois é preciso deixar uma porção de pinhão para os animais e pássaros da área conservada. No rótulo da Insana, um selo do projeto informa que o consumidor está colaborando para a preservação da floresta.

A FORÇA INDÍGENA HÁ 1000 ANOS Arqueólogos acabam de constatar que as imensas florestas de araucária no sul do País, principalmente em Santa Catarina, tiveram uma importante participação dos índios ProtoJê, cujos descendentes atuais são as etnias Kaingang e Xokleng. Isso porque a araucária se expandiu numa época em que o clima era desfavorável ao seu crescimento e tem associação estreita com os assentamentos das principais sociedades indígenas dos planaltos sulinos. Para o arqueólogo Jonas Gregório

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de Souza, da Universidade de Exeter (Inglaterra), os indígenas tinham consciência de que expandindo a planta favoreceriam a subsistência de uma sociedade no longo prazo, uma vez que um pinheiro demora cerca de 40 anos para amadurecer A equipe de estudiosos, que inclui também pesquisadores da USP e da Universidade Federal de Pelotas, verificou que esse tipo de floresta, que abriga também espécies como a Ilex paraguariensis, a erva-mate, passou por uma fase

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inicial de expansão entre 4500 e 3000 anos atrás, época em que ainda havia poucos sinais de atividade agrícola e sedentarismo na região. Nessa fase, o crescimento das araucárias se concentrou principalmente à beira de rios do planalto. Depois disso, há um longo período de estagnação desse avanço, que retorna entre 1500 e 1000 anos atrás, coincidindo com uma fase de expansão e aumento da complexidade e tamanho dos assentamentos Proto-Jê.


Biodiversidade Para a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Malu Nunes, foram dias muito produtivos, nos quais a parceria foi palavra de ordem

NONA EDIÇÃO DO CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ARTICULA AVANÇOS E BATE RECORDES Evento promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza reuniu 1.200 pessoas em Florianópolis. Plurale esteve presente acompanhando e produzindo material ao vivo De Florianópolis Fotos GKG Fotografia / Divulgação

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preservação ambiental foi amplamente debatida durante os três dias do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em Florianópolis (SC), entre 31 de julho e 2 de agosto. Com o tema central “Futuros Possíveis: Economia e Natureza”, o

evento aprofundou as discussões sobre áreas protegidas, mudanças climáticas, saúde, ambientes marinhos, ecoturismo, negócios de impacto, inovação, comunicação, educação, arte e outros assuntos que foram apresentados por dezenas de especialistas, entre eles a pesquisadora sueca Matilda Van den Bosch, o jornalista André Trigueiro, o empresário Pedro Paulo Diniz, o cantor Lenine, a representante da ONU Meio Ambiente no Brasil, Denise Hamú, e o vice-presidente sênior de Mer-

cados e Alimentação do WWF dos Estados Unidos, Jason Clay. Ao todo, o evento contou com 45 palestrantes, sendo dez internacionais, que explanaram suas ideias em duas conferências, três painéis e três simpósios internacionais, reunindo 1.200 pessoas, inclusive de outros países, como Antilhas Holandesas, Austrália, Chile, Colômbia, Equador, Estados Unidos, Peru e Uruguai. Com 15 patrocinadores e apoiadores, o Congresso teve ainda 15 reuniões técnicas (realizadas pelas próprias instituições participantes), 18 eventos abertos ao público na Arena Haroldo Palo Júnior, duas edições do “Arte e Natureza” e 20 estantes de dezenas de instituições na “Mostra de Conservação da Natureza”, que tiveram a participação de centenas de pessoas da comunidade

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Biodiversidade

de Florianópolis. Também foram exibidos gratuitamente quatro documentários: “Sobre a Pata do Boi”, “Pé no Parque”, “O Poema Imperfeito” e “História Depois do Fogo”. Ancorado no conceito de conservação da natureza, o IX CBUC foi sustentável e nenhum dos participantes utilizou, durante o evento, copos, canudos e outros itens plásticos descartáveis. Além disso, todo o lixo gerado teve a destinação adequada. Uma pesquisa respondida por mais de 450 participantes no estande da instituição servirá de base para diversas iniciativas ligadas à conservação. Para a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Malu Nunes, foram dias muito produtivos, nos quais a parceria foi palavra de ordem: “vi muitas conversas produtivas, aproximação entre as instituições, troca de ideias e propostas inovadoras para a ampliação e criação de novas Unidades de Conservação. Fiquei muito feliz com os resultados que atingimos nesta nona edição do Congresso”. Com o olhar voltado para o futuro, a instituição acredita na força da comunicação e no engajamento de diversos públicos (magistrados, promotores, procuradores, pesquisadores, autoridades políticas, outras instituições do setor ambiental, artistas, imprensa, etc.) para demonstrar a força que os negócios de impacto têm. “A natureza tem um potencial enorme para geração de emprego e renda e de melhora da saúde das pessoas. Tudo isso com o compromisso de conservar as áreas naturais, respeitar o meio ambiente e interromper a degradação do planeta”, enfatizou Malu. Moções e Trabalhos Técnicos Foram inscritos para o evento em formato digital e dinâmico - 77 trabalhos técnicos, apresentados durante os três dias de realização do Congresso. Além disso, no último dia também foram aprovadas 34 moções, um recorde que supera

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André Trigueiro destacou que o maior desafio é encontrar um modelo de desenvolvimento que não seja degradador, que apenas explore os recursos naturais sem “devolver” nada

em mais de 20% as 27 aprovadas na última edição do evento, em 2015. Agora, o Comitê de Organização das Moções do IX CBUC fará o encaminhamento e acompanhamento de cada proposta junto aos órgãos responsáveis. Destas, cinco contemplam ações a serem desenvolvidas em Santa Catarina: Criação do Parque Nacional do Campo dos Padres (região de Urubici); mais duas para a Criação dos Refúgios de Vida Silvestre do Rio Pelotas (região de Aparados da Serra e Campos de Cima da Serra) e do Rio da Prata (região do Alto Vale do Itajaí); Integridade e aprovação imediata do Plano de Manejo do Parque Nacional de São Joaquim; e Criação de Mosaico de UCs costeiras e marinhas no entorno da Ilha de Santa Catarina. Entre as moções de outras regiões do País, estão a Criação de UCs costeiras e marinhas em ilhas costeiras; Criação da lei de proteção aos cavalos-marinhos, espécie sensível e ameaçada; Apoio a projeto de lei de incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural; e a Regulação da profissão de guarda-parques,

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cuja data mundial foi celebrada em 31 de julho. Neste ano, a novidade foram as assinaturas digitais (online) dos documentos. O IX CBUC adotou nesta edição, a política de redução de papel e zero plástico durante o evento e as propostas tinham suas assinaturas submetidas por meio do aplicativo do evento. Outro diferencial de 2018 foi o fato de as submissões das moções terem sido abertas antes do evento e realizadas também de forma totalmente digital. Na mesma ocasião, após as votações, o presidente da Associação Brasileira de Membros do Ministério Público de Meio Ambiente (Abrampa), Luís Fernando Cabral Barreto Júnior, leu uma carta que será encaminhada para o corregedor Nacional do Ministério Público, para a Procuradoria Geral da República (PGR), para o presidente da Comissão de Meio Ambiente do Conselho Nacional do Ministério Público, para todos os procuradores gerais e membros do MP e finalizou: “É dever do Ministério Público garantir que a gestão das unidades de conservação, além de transparente,


GKG FOTOGRAFIA / DIVULGAÇÃO

O empresário Pedro Paulo Diniz contou a história da “Fazenda da Toca”, seu negócio de orgânicos

seja participativa. Uma administração feita com as pessoas e não apenas para as pessoas. Esse é o conceito que nós precisamos implementar, o de democracia participativa e que deve ser aplicada nas Unidades de Conservação”. Trigueiro e Pedro Paulo são destaques Na abertura do segundo dia do IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), o jornalista e professor da PUC-RJ André Trigueiro falou sobre “A Relevância das Áreas Protegidas para a Sociedade”. Além da conferência, o dia também contou com painéis e simpósios sobre temas como áreas protegidas, conservação dos oceanos, ecoturismo e investimentos de impacto - todos relacionados ao mote do Congresso promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza: “Futuros Possíveis: Economia e Natureza”. A mediação da palestra de Trigueiro ficou a cargo do também jornalista Alexandre Mansur, que é membro do Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário, e de

Marcia Hirota, diretora executiva da SOS Mata Atlântica. Logo na abertura, André falou sobre a importância das estratégias de conservação e os caminhos para que os objetivos da área ambiental sejam alcançados. Para ele, o maior desafio é encontrar um modelo de desenvolvimento que não seja degradador, que apenas explore os recursos naturais sem “devolver” nada. “Além disso, a nossa justiça precisa ser mais exemplar e punir os crimes ambientais que têm acontecido em importantes áreas protegidas. Entre o preto e o branco não tem cinza. O que é errado é errado. Não podemos mais aceitar a criação desse tipo de jurisprudência”, enfatizou. “Precisamos trocar o paradigma da escassez para o paradigma da abundância”. Com essa afirmação, o empresário e ex-piloto de Fórmula 1, Pedro Paulo Diniz, iniciou um debate cada vez mais atual - a produção orgânica e sustentável como alternativa aos métodos tradicionais de produção de alimentos. Adepto de sistemas agroflorestais, ele transformou gradualmente a propriedade da família, a Fazenda da Toca, em um local de produção 100% orgânica e sustentá-

vel, que é referência nacional. A experiência com a fazenda e outros negócios baseados na natureza foram o tema da palestra “O compromisso da sociedade brasileira pela biodiversidade e cidadania” que Diniz fez durante o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O tema deste ano, “Futuros Possíveis: Economia e Natureza”, retrata bem a realidade proposta pela Fazenda da Toca. “Precisamos falar sobre a inteligência que está por trás da natureza e mudar o paradigma de que para produzir é preciso lutar contra a natureza, para um paradigma de se associar com a natureza”, explica ele, que defende: “fazer uma parceria com a natureza é muito mais útil para todos”. Com seu trabalho, Pedro Paulo Diniz comprova que a produção de orgânicos como modelo econômico é uma alternativa possível e muito provavelmente seja a solução que torne viável o futuro diante das mudanças que o planeta vem sofrendo nos últimos anos. “Precisamos de sistemas que gerem vida em vez de destruir o meio ambiente”, afirmou Diniz.

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Biodiversidade

IX CBUC em Florianópolis: Economia e Conservação da Natureza de mãos dadas GKG FOTOGRAFIA/DIVULGAÇÃO

Por Nícia Ribas, de Florianópolis Fotos de Nícia Ribas e GKG Fotografia (Divulgação)

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esde o primeiro dia, com a sueca Matilda van den Bosch afirmando que a saúde humana depende da conservação da natureza, até o encerramento, com o músico e colecionador de orquídeas Lenine, garantindo que a arte pode ser maravilhosa ferramenta de transformação, o IX Congresso Brasileiro de Conservação da Natureza cumpriu plenamente seu objetivo: provar que é possível crescer economicamente sem destruir o Planeta. Durante três dias, em Florianópolis, 1200 congressistas trocaram ideias e buscaram caminhos e soluções para a conservação da natureza. Como resultado prático do IXCBUC, foram aprovadas 34 moções e apresentados 77 trabalhos técnicos. Agora, o Comitê de Organização das Moções fará o encaminhamento e acompanhamento de cada proposta junto aos órgãos responsáveis. Cinco delas contemplam ações a serem desenvolvidas em Santa Catarina: Criação do Parque Nacional do Campo dos Padres (região de Urubici); mais duas para a Criação dos Refúgios de Vida Silvestre do Rio Pelotas (região de Aparados da Serra e Campos de Cima da Serra) e do Rio da Prata (região do Alto Vale do Itajaí); Integridade e aprovação imediata do Plano de Manejo do Parque Nacional de São Joaquim; e Criação de Mosaico de UCs costeiras e marinhas no entorno da Ilha de Santa Catarina. Entre as moções de outras regiões do País, estão a Criação de UCs costeiras e marinhas em ilhas costeiras; Criação da lei de proteção aos cavalos-marinhos, espécie sensível e ameaçada; Apoio a projeto de lei de incentivo às Reservas Particulares do Patrimônio Natural; Regulação da profissão de guarda-parques, cuja data mundial foi celebrada em 31 de julho; e

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Matilda van den Bosch

passagem para fauna na BR 101, no Rio de Janeiro, apresentada pela Associação do Mico Leão Dourado.. “A natureza tem um potencial enorme para geração de emprego e renda e de melhora da saúde das pessoas. Tudo isso com o compromisso de conservar as áreas naturais, respeitar o meio ambiente e interromper a degradação do planeta”, disse Malu Nunes, presidente da Fundação Boticário, promotora do evento. A mensagem de Matilda A médica sueca foi a Florianópolis para contar que suas pesquisas em países como o Canadá, já concluíram que habitantes de áreas rurais são mais saudáveis e tem muito mais qualidade de vida do que os da zona urbana. ”O acesso a áreas verdes promove saúde, reduzindo doenças cardíacas e evitando a depressão,” disse ela, enfatizando que estresse, solidão, sedentarismo e problemas socioeconômicos, males dos grandes centros urbanos, deterioram a saúde humana. Folheando a Plurale, Matilda comentou sobre a importância da conscientização das pessoas para a preservação do Planeta. Salvando os oceanos O simpósio moderado pelo biólogo do Instituto Oceanográfico da USP, Alexandre Turra, baseou-se nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. Mergulhados no tema “vida

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na água” especialistas como José Truda Palazzo, Claudio Maretti (ICMBio), Ana Paula Prates e Leandra Gonçalves defenderam a formação de uma mentalidade marinha. Turra disse que a década dos oceanos – 2021 a 2030 – será “janela de oportunidade para defender nossos mares de ameaças como a pesca predatória, os arrastões e os malefícios do turismo.” Leandra, do Instituto Oceanográfico, propôs uma lei para o mar: “Precisamos de uma política nacional dos oceanos, pois 80% da exploração de petróleo está sendo realizada no mar.” Ela justificou seu pleito, explicando que as políticas existentes são fragmentadas e falta a integração entre costa e mar. No último dia do Simpósio, foi discutida a possibilidade de se criar uma Parceria Nacional para a Conservação dos Oceanos. O biólogo e zoólogo Ariel Scheffer participou do encontro, trazendo toda sua experiência no setor. Cientistas dedicados aos estudos dos oceanos já estão se preparando para a década dos oceanos, declarada pela ONU. Zélia do Atol das Rocas emocionou a plateia Maurizélia Brito, gestora do Atol das Rocas, participou do painel Conexão entre Conservação e Geração de Valor à Sociedade. Ela narrou sua vivência no Atol desde 1979 até hoje. Durante os três primeiros anos, Zélia, como é conhecida, morou em barraca. E desde 1995 chefia a estação de pesquisa onde só entram cientistas. “Não tocamos nos bichos e temos que defendê-los dos pescadores que chegam em seus barcos”, disse a “xerife do mar”. Ela conta que chegava a ir atrás dos barcos e salvar bichos presos nas redes. Sua melhor amiga é Cida, uma ave que a acompanha por toda parte. Hoje há mais respeito e mais vigilância. Graças à parceria com a ong SOS Mata Atlântica, Zélia conseguiu melhorar a infraestrutura local e hoje tem também participação do projeto Gefmar e do


FOTOS DE NÍCIA RIBAS/PLURALE

ICMbio. Além de Maurizélia, integraram a equipe desse painel, Alvaro Valejo, da UICN; Braulio Dias e José Pedro de Oliveira Costa, do Ministério do Meio Ambiente. Em defesa da vida no fundo do mar Recifes Marinhos artificiais têm sido a salvação do ecossistema marinho em Pontal do Sul, praia próxima à Ilha do Mel, no Paraná. A Associação MarBrasil lançou e mantem o programa Rebimar, que desde 2010 vem instalando recifes artificiais num corredor marinho onde a pesca de arrasto vinha destruindo a rica diversidade da região. “Para cada quilo de camarão, 10 quilos de outras espécies (peixes e invertebrados) são descartados”, informa o engenheiro agrônomo Robin Loose, que mora em Pontal e toca o projeto. Desde o início, pescadores artesanais de Pontal participam do programa e agora já constatam resultados animadores. Grande número de peixes-porco passaram a frequentar a região dos recifes, que se tornaram locais para fixação, abrigo e alimento para diversas espécies. O presidente da Associação, Ariel Scheffer da Silva, que trabalha na Itaipu Binacional, foi quem iniciou o programa, merecedor de prêmios importantes no Estado e no Brasil. Criança e natureza, tudo a ver Na Arena Haroldo Palo, que homenageou o fotógrafo recém falecido, a norte-americana Cheryl Charles encantou os ouvintes com sua palestra A criança precisa da natureza assim como a natureza precisa da criança. “Temos que provocar uma conexão emocional da criança com a natureza”, disse Cheryl. Para ela, é preciso que a família faça passeios em parques e desperte nas crianças o amor e o gosto pelas árvores, rios, mares, pois só conhecendo, elas irão amar e respeitar a natureza. Entre as perguntas da plateia, a de

Maurizélia Brito, gestora do Atol das Rocas

um educador ambiental que atua na ilha de Fernando de Noronha, despertou a atenção de todos: como lutar contra um inimigo como o telefone celular? Ele disse que 90% das crianças do seu entorno estão totalmente voltadas para a telinha e fica muito difícil atrair sua atenção. “É verdade, no meu país também”, disse Cheryl, que veio de New England (EU): “O que podemos fazer é usar a tecnologia como ferramenta para o conhecimento.” Uma passagem sobre a BR 101 para o mico-leão-dourado O mico-leão-dourado, espécie que em 1970 estava ameaçada, com apenas 200 indivíduos no interior do estado do Rio de Janeiro, ganhou dois presentes durante o IX CBUC: saiu a portaria que cria o seu dia, que passa a ser 2 de agosto; e foi aprovada moção para construção de passagem para fauna sobre a BR 101. Luís Ferraz, diretor da Associação do Mico Leão Dourado, e sua equipe estão se sentindo recompensados pela luta em prol na natureza. Hoje existem cerca de 3.200 micos representantes da espécie. Em Silva Jardim (RJ), onde reside, Luís conta que apesar de haver uma APA eficaz em Porto das Antas, a floresta local está muito fragmentada, o que se agravou com a duplicação da BR 101 há quase um ano. “Constava do contrato da construção da rodovia uma passagem para a fauna local, principalmente o mico-leão-dourado, mas a empreiteira não cumpriu até hoje”, informa Luís. Com a moção aprovada durante o IXCBUC, a luta continua.

Os primeiros esforços para salvar o mico-leão-dourado, quase extinto por causa do tráfico, ocorreram na década de 80, com a reintrodução de animais vindos de zoológicos do exterior. Hoje, o tráfico diminuiu, mas o habitat foi degradado devido à agropecuária e precisa ser recuperado. A Associação do Mico-Leão-Dourado trabalha para conectar uma floresta fragmentada e formar uma “grande paisagem de conservação”, diz Luís. A natureza não precisa das pessoas; as pessoas precisam da natureza Inspirados pela frase acima, os congressistas lotaram a Plenária para assistir ao encerramento do Congresso com a presença do músico Lenine, a dramaturga brasileira Edmara Barbosa e o casal Letícia e Juliano Cazarré, num bate-papo sobre preservação da natureza, conduzido por Rodrigo Medeiros, da Conservação Internacional. Edmara, filha de Benedito Rui Barbosa (autor de Pantanal), autora de novelas com forte pegada ambientalista, como Cabocla, Sinhá Moça, Paraíso e Velho Chico, apresentou cenas paradisíacas do rio São Francisco e a questão da transposição integrantes deste seu último trabalho. “Sempre gostei do mato, fiz cindo viagens para conhecer o rio e a população ribeirinha”, revelou. E aproveitou para anunciar a próxima: Arroz de Palma, sobre escolha e preparo dos alimentos, baseada na obra de Francisco Azevedo. Para deleite dos congressistas, foi exibido vídeo de Lenine cantando sua composição Quede Agua. Malu Nunes encerrou o evento, chamando ao palco toda sua equipe e agradecendo efusivamente o empenho de todos. (*) A repórter viajou a convite da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, promotora do evento.

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Amazônia

Um pedaço da

FLORESTA AMAZÔNICA no coração da cidade

O Museu da Amazônia é uma opção turística para quem deseja fazer uma aventura na selva, sem sair de Manaus Texto de Luciana Bezerra ( @luas_bez ) Especial, para a Plurale De Manaus Fotos de Luciana Bezerra, Vanessa Gama e Divulgação / Musa

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anaus, banhada pelos rios Negro e Solimões com um povo gentil e hospitaleiro, tem a natureza a seu favor e a maior floresta tropical do mundo, como playground, no quintal de casa. Aqui, tem roteiros para todos os gostos, bolsos e disposição. Converse com qualquer manauara e logo ele vai querer te apresentar o Teatro Amazonas, a Ponta Negra, o Largo São Sebastião, o Mercado Adolpho Lisboa, o Museu da Amazônia (Musa), variedade de peixes e pratos regionais, as cachoeiras de Presidente Figueiredo e, por aí vai. Como escreveu o concertista e poeta local, Júlio Hatchwell – “Quem vem passear em Manaus quer ficar, quem vive em Manaus ama esse lugar”. O clima, modéstia à parte, é outra característica peculiar da cidade. Há quem diga que em pleno verão amazônico – período que vai de junho a novembro, 30 graus na sombra, é frio. O calor é tanto que Manaus é apresentada pelos moradores como a capital do mormaço. Contudo, os turistas que desembarcam na Amazônia, só pensam numa coisa: Contato com a floresta e sua diversidade de pássaros, árvores centenárias e exuberantes, flores, insetos e animais que habitam a selva tropical. Todavia, nem todos os visitantes têm a oportunidade de desfrutar de roteiros de aventu-

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ra pela imensidão verde da floresta. Mas, nem tudo está perdido. Se você está de passagem ou tem poucos dias na cidade, a dica é visitar o Museu da Amazônia (Musa), localizado na zona norte de Manaus e a cerca de 45 minutos de carro, da área central da cidade. O Musa é o maior fragmento de floresta primária dentro de uma área urbana do país e que atrai turistas do mundo todo interessados em conhecer a mata de perto e sentir um pouco da aventura que a Floresta Amazônica proporciona, sem claro, abrir mão do conforto da cidade. Já na entrada, o visitante é recebido pela exposição “Aturás Mandiocas Beijus”, inaugurada no local em novembro passado e com previsão de ter uma réplica até dezembro, em Washington, nos Estados Unidos. A exposição retrata o sistema agrícola tradicional do rio Negro, registrado, em 2010, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural do Brasil. No mesmo espaço há uma lanchonete

com delicias regionais encontradas somente na região. Musa e suas atividades A programação do local é bastante concorrida. Nossa equipe foi acompanhada pela guia Karoline Araújo, funcionária do museu há quatro meses. Entre as atividades disponibilizadas estão a visita guiada na floresta, a subida na torre de observação, o lago de vitórias régias, o aquário de peixes amazônicos e o serpentário. No local é possível ainda ver de perto árvores centenárias como o angelim-pedra, com 45 metros de altura (pode chegar a 65m), com idade estimada em cerca de 600 anos – a única árvore concorrente é a samaúma (ou sumaúma), considerada o símbolo da Amazônia e que pode chegar até 75m. Entretanto, a subida na torre é o ponto principal desta aventura. São 42 metros de altura, 242 degraus e uma mini trilha com insetos e animais peçonhentos. Porém, compensada quando se chega ao ponto mais alto, com uma paisagem fantástica da cidade de Manaus e do ma-

jestoso verde da floresta. O fato curioso é que na mini trilha que leva à torre, o turista pode ter a sorte de ser com ou sem emoção. Justamente por se tratar de uma floresta e os habitantes nativos transitam normalmente, sem estranham quem está por lá, de passagem. Nossa equipe foi surpreendida por uma michoca cega gigante. A repórter que vos escreve quase ‘morre do coração’, quando do nada, olha para o chão e a minhoca cega está rente a seus pés. O susto foi tamanho que por pouco, não pulei no colo da guia, achando que era uma cobra. Mas confesso que o grito pôde ser ouvido do outro lado do rio Negro. Mais à frente nos deparamos com um grupo de formigas Tapiba, que aparentemente são inofensivas. Todavia, são utilizadas pelos índios como repelente natural para insetos e, reza a lenda, espantam até onças. Você acredita! Do alto, o turista vai apreciar o visual com os olhos de pássaros e passar o tempo que quiser deleitando-se com inúmeros tons de verdes exibidos pelas ár-

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Amazônia

vores. Além, de ver o baile dos tucanos, araras e outras diversidades de pássaros que habitam a região. A sugestão é subir devagar, sem pressa e, acompanhar a altura das árvores passo a passo, são duas plataformas até o topo principal da torre de aço, que comporta aproximadamente 30 pessoas ao mesmo tempo. A torre convida o visitante também a observar o nascer do sol, às seis horas da manhã, o pôr do sol, de 17h30 às 18h30, conforme a época do ano. Ou ainda, contemplar o panorama noturno do céu da Amazônia repleto de estrelas, como faz vez ou outra, o grupo de astrônomos e amadores da atração. De acordo com a funcionária pública Georgiana Pires, amazonense e pela primeira vez no museu, é um roteiro diferente. “O Musa é uma das melhores atrações sem sair da cidade para quem quer vivenciar uma experiência na Floresta Amazônica. Apesar de moradora, sempre adiei esta visita. Mas hoje decidi vir e trazer minha filha para curtir o Musa”. Já o engenheiro paulista Paulo Grant, é uma oportunidade de conhecer a floresta para quem vem a trabalho, sem sair da cidade. “Minha primeira vez em Manaus. Vim a trabalho. Como cheguei à noite, infelizmente não pude ver a floresta de cima e quando soube do museu, nem pensei, corri para cá, pois estou voltando para São Paulo hoje à noite. Agora vou poder dizer para todos que conheci um pedaço da selva amazônica de perto, porque na selva de concreto eu convivo diariamente”, brinca Grant com semblante de felicidade. O início Criado em 2009, o museu ocupa 100 hectares da Reserva Florestal Adolpho Ducke, área de mata nativa, que vem sendo estudada há mais de 60 anos por pesquisadores. No mesmo espaço, o museu convive harmonicamente, desde 2002, com o Jardim Botânico, que leva o nome da reserva e, que veio agregar algumas áreas de intervenção humana voltados para pesquisas. Com atividades como: o viveiro de orquídeas e bromélias, laboratório experimental

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de borboletas e exposições sobre a cultura indígena e a diversidade répteis, insetos e animais comuns na região. Segundo o diretor geral do museu, Ennio Candotti, o espaço é um diferencial dentre as atrações turísticas da região. “O Musa é um museu vivo, um teatro-floresta onde podemos ver os atores, as plantas, os pássaros e os insetos representar o jogo da vida, lá onde nascem se transformam e multiplicam”. Novos ares Em 2017, o Museu da Amazônia passou a integrar o roteiro turístico do Estado, após uma parceria entre a Empresa Estadual de Turismo do Amazonas (Amazonastur) e o Musa. Desde então, o roteiro é promovido pelo governo local nas principais feiras do segmento mundo a fora. Além de promover o museu como um dos locais estratégicos de visitação turística. A parceria prevê também, apoio aos projetos de conservação e segurança atração. Atualmente, o Musa recebe cerca de cinco mil pessoas por mês. Candotti, ressalta que um dos primeiros trabalhos realizados por meio da parceria com a Amazonastur foi a organização do atendimento e da segurança no local, além de melhorar a sinalização das vias de acesso ao museu para que o turista possa chegar até o local com segurança e facilidade. “O número de visitantes aumentou significativamente e estava além de nossas forças, por isso buscamos essa parceria com o governo do estado, através da Amazonastur, para nos organizar e oferecer uma logística mais acessível aos turistas que visitam Manaus e o Musa. O primeiro benefício desta parceria foi a instalação de uma unidade móvel da Polícia Militar, na praça em frente ao museu. O que trouxe mais segurança

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ao local e aos visitantes. O próximo passo, já está em fase de conclusão, prevista para final de junho, será a instalação de uma cerca de segurança em torno da área de floresta, ao longo da avenida principal, na entrada do museu”. Candotti adiantou ainda que a Amazonastur inseriu o Musa na rota turística de dois ônibus de turismo abertos que visitam as principais atrações da cidade. A iniciativa deve ter início até o final de junho. Desta forma, os turistas que chegarem a Manaus, após este período, terão mais uma opção de visitar o Musa, finaliza Candotti.


SERVIÇO Museu da Amazônia Horários: abre todos os dias (exceto às quartas-feiras que é dia de manutenção) de 8h30 às 16h. Preços: R$ 20 (visita guiada), R$ 20 (subida na torre), R$ 30 (visita guiada + subida na torre) e R$ 50 (observação de aves e nascer ou pôr do sol, somente com agendamento); estudantes e idosos pagam meia; e para crianças até 5 anos é gratuito. Já os moradores devem levar um comprovante de residência impresso e nominal acompanhado de um documento oficial com foto. Contatos:(92)3582-3188 ou w w w.mus eudaamazonia. org.br

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Protagonismo

Uma história para inspirar brasileiros Texto de Silvia Franz Marcuzzo, Especial para Plurale De Porto Alegre Fotos de Divulgação

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uita gente quer sair do Brasil em busca de oportunidade, porque não consegue vislumbrar um futuro promissor por aqui. No entanto, a história de um europeu que quer ficar aqui justamente por isso é de chamar a atenção. Lutz Michaelis optou ficar no Brasil, porque enxerga um imenso potencial de coisas pra fazer por aqui. O alemão Lutz, 29 anos, conheceu o Brasil em 2012 e desde lá tem feito tudo que pode para ficar por essas bandas. Engenheiro de Energias Renováveis com mestrado em Sustainable Energy Competence veio para o Brasil para um estágio na Câmara Brasil Alemanha, no Departamento de Meio Ambiente, Energias Renováveis e Eficiência Energética em São Paulo. Ficou seis meses, prorrogou por mais seis. Seu trabalho de conclusão de curso foi sobre o potencial energético de energia eólica no Ceará. Depois de finalizar o bacharelado, voltou para o interior do Paraná para pesquisar biomassa de eucaliptos para produção de energia na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), em Irati, a 200km de Curitiba, entre os anos de 2014 e 2015. Ainda trabalhou na organização Sociedade do Sol

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em São Paulo e contribuiu para a disseminação da tecnologia social do Aquecedor Solar de Baixo Custo (ASBC), que foi desenvolvido pela ONG brasileira. Em 2015 voltou para a Alemanha para acabar o mestrado. Entrou em uma ONG chamada Technik ohne Grenzen – TeoG (Técnica Sem Fronteiras- TwB). A associação implementa soluções técnicas adaptadas às necessidades locais no hemisfério sul nas áreas de educação, energia, saneamento e resíduos. Todos os projetos são desenvolvidos juntos

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com a população local, conforme o lema da organização “Solutions applied together” - “Soluções aplicadas juntos”. Na Alemanha, durante o Simpósio Brasil Alemanha Desenvolvimento Sustentável de 2016, apresentou o case da Sociedade do Sol, sobre a implementação de ASBCs nas periferias da Região Metropolitana de São Paulo. Nessa ocasião, conheceu a professora Kátia Madruga, do Departamento de Energia e Sustentabilidade da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que estava na Alemanha para uma pesqui-


sa de pós-doutorado e conheceu o ASBC por meio de um projeto desenvolvido no campus em Araranguá - SC. Em 2016 começou a fazer trabalhos para a Fundação Plant for the Planet - PftP (Plante pelo Planeta). O alvo da ONG é plantar um trilhão de árvores no mundo para diminuir os Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera e empoderar jovens como Embaixadores de Justiça Climática. As crianças desenvolvem ações com a mensagem do perigo das mudanças climáticas para a hu-

manidade e a necessidade de se plantar mais árvores nas suas comunidades. No mesmo ano, ainda em contato com a Unicentro em Irati, voltou para desenvolver dois projetos socioambientais na cidade. Lá implementou um projeto da Técnica Sem Fronteiras, para a implementação de ASBC em sedes de cooperativas agrícolas, e organizou duas oficinas da PftP em duas escolas. “Quando conheci o Lutz fiquei impressionada com o interesse dele em trabalhar com a transformação do país. Ele percebe que é

possível empoderar a sociedade civil. Nos tornamos amigos e o convidei para palestrar na UFSC e hospedar-se na minha casa”, declara a Profa. Kátia. “Achei que poderíamos juntar forças e motivar os estudantes da engenharia de energia a serem agentes de mudança”. Exibindo um português muito fluente, Lutz conta que no Brasil deparou-se com uma São Paulo metropolitana, os contrastes da miséria da periferia e muita criatividade para solucionar os problemas. Também acrescenta que

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Protagonismo

sentiu o poder dos movimentos sociais e das soluções com energias sustentáveis por aqui. “O Brasil tem o dobro de energia do sol que a Alemanha. Aqui temos muitos recursos naturais que precisam ser usados”, defende o ambientalista. Lutz quer difundir tecnologias de baixo custo, aproveitar o valor nas florestas e “colocando a mão na massa”. Hoje ele é coordenador de programa da Plant for the Planet no Brasil. Atua prospectando novas oficinas e mora em Araranguá, Santa Catarina, pois sua organização realiza atividades com a comunidade através de um projeto de extensão, coordenado pela professora de gestão ambiental e planejamento energético, Kátia, e o professor de biologia, Claus Tröger Pich. Também conta com apoio de um grupo de estudantes da engenharia de energia. Em Araranguá, já foram ofertadas oficinas para alunos de duas escolas estaduais, quatro municipais e uma privada, envolvendo 150 crianças e o plantio de 160 árvores. Em paralelo, apoiou a fundação do primeiro núcleo da Técnica sem Fronteira nas Américas em Araranguá na UFSC e auxilia na comunicação com a sede na Alemanha. Os 26 estudantes associados são formados como líderes de projetos socioambientais em workshops e desenvolvem atualmente um biodigestor de baixo custo para um pequeno produtor rural e um contêiner sustentável onde serão ofertados workshops sobre energias renováveis e eficiência energética para a comunidade local. Mais um detalhe importante: Lutz veio como voluntário e paga todos seus custos dando aulas de inglês e alemão. Ele recebe um pequeno apoio da Plant-for-the-Pla-

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net para cada nova oficina e plantios realizados. No final de junho deste ano, ele ajudou a comandar uma mobilização através do financiamento coletivo na internet para angariar fundos para o PftP. Técnica sem Fronteiras A associação alemã Technik ohne Grenzen –Técnica sem Fronteiras (TsF) foi fundada em 2010 por membros aposentados da Associação dos Engenheiros da

Alemanha (VDI). A TsF não tem fins lucrativos e sua sede fica em Erlangen, Bavária. Projetos são desenvolvidos em grupos autônomos com mais de 600 membros no todo pais. Fora da Alemanha, a TsF tem grupos regionais em Gana e Brasil. Até 2017, já tinha sido realizados 29 projetos na África, Ásia e nas Américas Central e do Sul. https://www.teog.ngo/?lang=en Plantando para o Planeta

Plantando para o Planeta A organização Plant for the Planet foi fundada por um menino de nove anos, hoje com 20, chamado Felix Finkbeiner. Hoje a ONG já realizou trabalhos em 66 países. No Brasil, suas primeiras atividades foram no Rio de Janeiro em 2011. Desde esse ano está registrada como associação no país e sua sede é

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em São Paulo. Atualmente sua atuação é forte em Mariana, onde aconteceu o pior desastre ambiental da história do Brasil. Na região do acidente, promoveu 80 oficinas de empoderamento ambiental para as crianças se tornarem embaixadores de justiça climática. https://www.plant-forthe-planet. org/pt/home


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Realização:

Teatro CIEE Rua Tabapuã, 445, São Paulo SP

INFORMAÇÕES E INSCRIÇÕES (11) 3107-5557 nilsonjunior@abrasca.org.br

Estão abertas as inscrições para o 8º Encontro de Contabilidade e Auditoria para Companhias Abertas e Sociedades de Grande Porte, promovido pela ABRASCA e pelo IBRACON. O evento, cujas edições anteriores obtiveram grande sucesso em termos de público e de avaliação, contará com renomados palestrantes. Os participantes que tiverem CRC estão sujeitos a obter pontuação para o Programa de Educação Continuada do CFC – conselho Federal de Contabilidade.

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GOVERNO FEDERAL Patrocinadores Prata:

Parceiros de Mídia:

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ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANBIMA, ANCORD, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FACPC, IBEF, IBGC, IBRADEMP, IBRI

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Cultura

PARATY DAS ÁGUAS, DAS PEDRAS, DOS LIVROS Plurale acompanhou os mais relevantes momentos da Flip 2018, que homenageou a escritora Hilda Hilst Por Maurette Brandt / Especial para Plurale Fotos de Flávia Rossler, Maurette Brandt e Divulgação - Flip De Paraty (RJ)

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ara além das marcas do tempo, dos fantasmas da história, das edificações renovadas ou não, dos esconderijos, cavernas, vielas, trilhas e espaços ocupados pelo ancestral e pelo novo em permanente diálogo, Paraty enraizou-se na literatura quando um belo bando de sonhadores com fé na palavra escrita resolveram criar uma festa literária bem ali, com a beleza do lugar, em meio aos sinais vivos ou ressuscitados do Caminho do Ouro. Já se vão 16 edições e a Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) é sempre nova. As surpresas são frequentes mas nada se repete - nem mesmo quando um autor retorna à cidade, como aconteceu algumas vezes. A homenageada deste ano, Hilda Hilst, andou pela cidade em fotos emblemáticas, em histórias contadas por bocas e filmes, na irreverência da obra reteatralizada, na contundência da seleção encenada por ninguém menos que Fernanda Monte-

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negro, na abertura da festa. O segundo ano de curadoria da baiana Josélia Aguiar reforçou os alicerces de uma postura voltada para valorizar gênero, raça e cultura no cadinho brasileiro de talentos. E nos oferecer, de bandeja, tudo que a representatividade legítima e incandescente da nossa literatura tem de melhor, lado a lado com a presença do mundo lá fora, encaixada com rigor e competência nesse contexto voltado para olharmos para nós através de espelhos vários. De Geovani Martins, a literatura que ecoa jovem, forte e realista, a Tereza Maia, com sua coleção de histórias dos fantasmas mais famosos e queridos da cidade. De Colson Whitehead, que jura ter tido uma epifania em Paraty que o levou a escrever, a André Aciman, que encantou o mundo ao reapresentar a força sem limite do sentimento de um modo totalmente sutil e inesperado. Dos encontros delicadíssimos de Hilda Hilst com Eder Chiodetto e Zeca Baleiro. Da poética e da performance de Liudmilla Petruchevskaia, personagem viva de mundos inventados, e do êxtase de Christopher Hamel diante de cada manuscrito que toca. Da obra musical de Jocy de Oliveira às

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aventuras que fizeram de Simon Sebag Montefiore talvez o mais completo e fidedigno autor especializado em história russa. Na antiga Tenda dos Autores, rebatizada de Auditório da Matriz, quase tudo é possível. A Flip voou tanto além das Tendas originais que nem se pode chamar de paralela a programação das casas parcerias. Este ano foram 22, um recorde. A concorridíssima e aconchegante Casa Folha espalhava filas constantes pelo centro histórico. Quem não cabia dentro ouvia de fora, engarrafando alegremente a Rua do Comércio. O Sesc, cheio de lançamentos e encontros em três sedes na cidade - uma delas ainda em construção -, trouxe Nelson Rodrigues por Fernanda Montenegro, que mereceu da dama maior do nosso teatro uma segunda sessão, tamanha a quantidade de gente que esperava. A Casa Europa, na Igreja de Santa Rita, debateu o impacto de 1968 no Brasil e no mundo, em mesas comandadas pela excepcional escritora e jornalista Regina Zappa, cheias de revelações e mesmo depoimentossurpresa do público. O Cinema da cidade, cuja restauração concretizou um sonho dos criadores da Flip, fervilhou


de gente o tempo inteiro. A lotação é pequena, os ingressos são gratuitos - e Paraty volta a sonhar pela tela grande, com programação de primeira. Saraus de poesia, muitos lançamentos, encontros e despedidas permitiram que todo mundo tivesse a sua cota de Flip para preencher a alma e o coração. E para as crianças, de lá e de todo lugar, não faltaram livros que dão em árvore, contadores de histórias, brincadeiras e aprendizagens. Instalada numa tenda bem original, no centro da Praça da Matriz, a Flipinha mais uma vez bombou. Na mesma praça, adolescentes concentrados vestiam a camiseta “Repórter Flip” e se iniciavam no fascinante mundo do jornalismo na prática. Mais um projeto da Flip para alimentar a sede de quê dessa juventude tão inquieta e atenta. Caminhar pelas pedras, valsando com o antigo nas asas do novo, visitar com gula anual as tradicionais carrocinhas de doce, degustar os caldos que as irmandades de Paraty servem, a preços acessíveis, para aquecer a alma e o estômago à noite e também financiar as festas religiosas, são delicadezas que não se despreza nessa cidade que se alaga e se esvazia todo dia, ao sabor das marés. Entre o movimento dos barcos e o burburinho das ruas, as bandeirolas e o cheiro dos livros que inundam nossa curiosidade pelas livrarias, a visita à Casa de Cultura é essencial. Lá, também, a Flip ferve e ecoa. Mas o nosso dia continua a ter apenas 24 horas e não dá pra fazer tudo. Para completar a felicidade, o eclipse lunar se fez imenso, generoso, maior. Quem viu, viu - e quem não viu herdou a majestade de uma lua cheia que parecia inesgotável, adjetivo aliás que marcou a Flip no primeiro dia, quando uma emocionada Fernanda Montenegro, vestida de vermelho, brandiu o texto diante da plateia e sentenciou: “Inesgotável Hilda Hilst!”. E resto, meus amigos, é história. Que, para nossa felicidade, vem de novo e será outra no ano que vem. Confira aqui algumas destas matérias. Outras podem ser lidas em Plurale em site e mídias sociais com a #pluralenaflip

ABERTURA: HILDA HILST POR FERNANDA E JOCY Na abertura da Flip, a intensidade da obra de Hilda Hilst pôde ser sentida em seus textos, encarnados literalmente por uma Fernanda Montenegro aguerrida e vestida de vermelho, e nas obras musicais de Jocy de Oliveira, em formato operístico, inspiradas no universo da homenageada. “Penso que escrever serve mais para perdurar, para existir, fora de nós mesmos, nos outros”, sintetiza Hilda Hilst, na voz e no gesto de Fernanda, dirigida por Felipe Hirsch. Em outro texto, interpretado magistralmente por Fernanda e que muito divertiu a plateia, HH cria a brigada exterminadora geriátrica, a ser formada por velhinhas respeitáveis, com suas bengalinhas pontiagudas devidamente embebidas em curare, que se infiltrariam inocentemente nas sessões

WALTER CRAVEIRO / @FLIP_SE .

do Congresso e da Câmara com a finalidade de espetar os “bumbuns assassinos” dos políticos. “Como somos senhoras, ninguém nos notaria”, sentencia Hilda Hilst materializada por Fernanda, diante de uma plateia que quase arrebenta de tanto rir. A atriz Fernanda Montenegro leu trechos da obra de Hilda Hilst, homenageada este ano. Foi aplaudida de pé !!

JOCY CAMPOS EMOCIONA DA PLATEIA Emocionada com o.convite da #Flip2018, Jocy de Oliveira relembrou o primeiro contato com a poesia de Hilda Hilst, na juventude, e a longa convivência com Fernanda Montenegro, que participou de algumas de suas óperas - o drama eletrônico “Apague meu spotlight” (1961) e a ópera miltimídia “As Malibrans”, 40 anos depois - antes de

apresentar duas pocket óperas. A primeira, interpretada pelas sopranos Floriana Mendes e Gabriela Geludi, que remetia às “vozes do além”, que HH procurou registrar em muitas gravações, e a segunda, “Medea Solo”, que recria o mito de Medea a partir de sua resistência, com a ajuda de instrumentos musicais medievais. WALTER CRAVEIRO / @FLIP_SE .

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Cultura

MERGULHO NA LITERATURA RUSSA Um dia, o escritor e historiador Simon Sebag Montefiore recebeu um telefonema da Rússia. - Olha, Sr. Montefiore, nós vamos abrir os arquivos do Sr. Stalin. E o senhor será a primeira pessoa do mundo a ter acesso a eles. Simon sentiu um frio na barriga, arrepios, pensou estar sonhando. Mas não estava. - Venha logo! Ele foi e a promessa foi cumprida. Foi o primeiro a ter acesso aos arquivos desde a primeira caixa. Mas foi na caixa intitulada “Miscelânea” que encontrou um dos tesouros mais preciosos: um pequeno e curto caderno manuscritos com as memórias da mãe do ditador, que tinha sido proibida de se manifestar após ter concedido uma entrevista a uma revista.

Seus assessores também estavam proibidos de escrever suas memórias, mas ela os venceu pelo cansaço. O caderno ficou “esquecido” na caixa Miscelânea por longos 70 anos - e revelou-se a Simon, como um bafejo de sorte ou de bênção. Na mesa “O poder na alcova”, no dia 28 de julho, pela manhã, Simon teve a chance de contar essas e muitas histórias fascinantes sobre o seu

percurso pela história russa, que gerou importantes obras, dentre as quais a história oculta de Catarina a Grande e Potemkin. WALTER CRAVEIRO/FLIP-SE

EMOÇÃO NO ENCONTRO DE POETAS REVELADOS “A liberdade é mais cara a quem a perde.” Assim fala Luís Gama, poeta negro brasileiro do século 18, cuja obra foi descoberta pela historiadora, escritora e catedrática Ligia Fonseca Ferreira. Hilda Machado, poeta carioca morta em 2007 e só agora publicada, teve sua obra resgatada pelo também poeta e editor Ricardo Domeneck. Na mesa 7 - O poeta na torre de capim, mediada por Rita Palmeira - a emoção correu solta pela revelação dessas duas histórias tão singulares, que poderiam jamais ter visto a luz, não fosse pelo esforço e paixão de Ligia e Ricardo. Luís Gama, q nasceu livre e foi vendido pelo próprio pai aos dois anos, foi alfabetizado aos 17 anos

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por um estudante de Direito que morava na casa do seu senhor, em São Paulo. Formou-se advogado, foi republicano de primeira hora, jornalista e poeta. Pe r s e g u i d o pela cor e pelo talento, publicou seus livros em vida. Hilda Machado, carioca, produziu e registrou sua obra poética, mas foi publicada esparsamente em revistas literárias, por

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FLÁVIA ROSSLER

Carlito Azevedo e Ricardo Domeneck. Ouro em pó, garimpado e transformado em livros pela persistência incansável de Ligia e Ricardo.


ENTRE O ÊXTASE E A HISTÓRIA Christopher de Hamel é fascinado por manuscritos antigos desde criança. Não é à-toa que se tornou o maior especialista do mundo nesses documentos. Numa conversa animada com a historiadora Lília Schwartz, contou por que ama qualquer manuscrito que passa por suas mãos e garante que não há limite para

as preciosidades que ainda podem ser descobertas. O autor do livro “Manuscritos Notáveis” encantou a plateia com seu entusiasmo pela beleza das iluminuras e do trabalho dos escribas que, com sua disciplina e arte, tornaram muitos livros possíveis quando ainda não era possível publicá-los.

MEDIADORA DE LEITURA ENCANTA CRIANÇAS Clélia Botelho é mediadora de leitura na Praça da Matriz, em Paraty - onde, durante a Flip, os livros dão em árvore. Sentada entre alegres almofadas e muitos livros de história, exibe seu sorriso resplandecente e me conta sua trajetória. Há nove anos, começou a trabalhar como faxineira na Casa Azul, instituição mantenedora da Flip. Lá teve acesso a muitos livros, que devorava. O pessoal, então, a convidou para fazer curso de mediação. Aí começou o seu ponto de virada. Começou a trabalhar em hospitais da cidade e na APAE como mediadora, ao mesmo tempo em que trabalhava algumas vezes por semana em uma casa de família. Com o incentivo da patroa, começou o curso de Pedagogia à distância, oferecido numa escola privada local. Prestes a se formar, está feliz em trabalhar na Flip e encantar muitas crianças com a magia dos livros e suas histórias sem fim.

FLÁVIA ROSSLER

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Bazar ético | SAÚDE CRIANÇA

vende produtos visando à própria sustentabilidade O projeto conta com artigos de qualidade por preços acessíveis, e a renda é revertida para programas que beneficiam famílias em vulnerabilidade social

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FOTOS DE DIVULGAÇÃO

om foco na sustentabilidade, a Associação Saúde Criança (ASC) investe há 23 anos na área de Produtos. Os artigos são confeccionados por mulheres que já foram assistidas pela instituição. A produção é organizada nas categorias Bebê, Infantil, Bonecos, Bolsas e Acessórios. Atualmente, são vendidos em três quiosques no Rio de Janeiro (RJ) e na loja virtual para todo o Brasil. Toda a renda da venda dos produtos é revertida para os projetos da Associação. O Saúde Criança é uma organização social, que trabalha com metodologia inovadora no atendimento a famílias em vulnerabilidade social, com criança doente em tratamento, nas unidades públicas de saúde. Fundado em 1991 pela Dra. Vera Cordeiro, a ASC não tem fins lucrativos e nem filiação política e/ou religiosa. Como a pobreza e a miséria são multidimensionais, a ASC trabalha de forma integrada em cinco áreas: saúde, moradia, cidadania, renda e educação. A metodologia se baseia no Plano de Ação Familiar (PAF), conjunto de ações com metas e prazos de execução. O PAF é elaborado, em parceria com a família, por uma equipe multidisciplinar. Pontos de venda: · Loja Virtual - loja.saudecrianca.org.br · Shopping Rio Sul - Av. Lauro Muller, 116 4º piso · BarraShopping - Av. Das Américas, 4.666 1º piso · Shopping Leblon - Av. Afrânio de Melo Franco, 290 – G1

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Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos de cooperativas e ONGs vendidos no comércio justo, ético e solidário.


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Ecoturismo

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ISABELLA ARARIPE

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Aventura em Portugal

DANIEL TOFFOLI

O Arquipélago da Madeira, em Portugal, é um refúgio da natureza em meio ao Oceano Atlântico. Com paisagens que vão desde praias até florestas com rios e cachoeiras, os cenários do local são incríveis para explorar. Para quem curte mountain bike, há diversos percursos para conhecer melhor as belezas da ilha sobre duas rodas. Os caminhos passam pelo interior da floresta Laurissilva, considerada um Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO, e há inúmeros mirantes com vistas inesquecíveis. TIAGO SOUSA / DESENQUADRADO

Parque Nacional do Itataia completa 81 anos Criado em junho de 1937, o Parque Nacional do Itatiaia completou 81 anos. Este foi o primeiro parque nacional criado no Brasil. Situado na Serra da Mantiqueira, ele abrange os municípios de Itatiaia e Resende, no Estado do Rio de Janeiro, e Bocaina de Minas e Itamonte, no Estado de Minas Gerais. Para festejar a data, o Parque promoveu eventos de confraternização. O chefe do parque, Gustavo Tomzhinski, anunciou a aquisição de 10 propriedades particulares para contribuir com a regularização fundiária do local, totalizando uma área de 1.100 hectares de Mata Atlântica. Desde 2009, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão gestor da unidade, busca a reintegração de posse amigável ou a doação de áreas particulares dentro do parque.

Bandeira Azul nas praias brasileiras RENATO SOARES

No próximo verão as praias do Brasil estarão ainda mais pontilhadas de bandeiras azuis. Serão 15 certificações internacionais, 50% a mais do que as 10 homologadas no verão passado. A Bandeira Azul hasteada significa mais qualidade da água para os banhistas e moradores dos locais que obtiverem os certificados validados pelo júri internacional. A lista oficial será divulgada em outubro, quando o júri internacional vai homologar as certificações do programa para a próxima temporada de verão no hemisfério sul. Entre as contempladas estão as praias do Estaleiro e do Estaleirinho, em Balneário Camboriú e Piçarras, em Santa Catarina, que poderão hastear a Bandeira Azul, pela primeira vez, a partir de novembro.

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Ararinhas-azuis ganham unidades de conservação Em junho, no Dia Mundial do Meio Ambiente, as ararinhas-azuis, espécie mais ameaçadas de extinção no mundo, ganharam duas unidades de conservação na Bahia: a Área de Proteção Ambiental (APA) da Ararinha-Azul e o Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ararinha-Azul. A proposta de criação em conjunto, constituindo um mosaico de unidades de conservação, visa conciliar os objetivos de conservação de remanescentes de caatinga, o único bioma exclusivamente brasileiro, com o programa de reintrodução da Ararinha-Azul na natureza.

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Realização

APIMEC - Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais agradece aos participantes, patrocinadores e apoiadores do 24º Congresso APIMEC. A sua participação e apoio foram fundamentais para o êxito do evento e para a discussão de temas relevantes sobre nossa área de atuação. Patrocinador Platinum

Patrocinador Ouro

Patrocinador Prata

Patrocinador Bronze

Apoiadores de Mídia

Organização

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Pelo mundo

Fontaine de Vaucluse

PROVENCE: O paraíso é aqui!

Texto e fotos: Maria Helena Malta, Especial para Plurale Da Provence, França Fotos dos Campos de Lavanda de Adriana Boscov, Especial para Plurale Da Provence, França

Reza a lenda que a região da Provence nasceu dos caprichos amorosos de uma princesa grega de rara beleza. No século VI a.C., quando os navegadores chegavam à França pelas águas transparentes do Mediterrâneo, ela deu uma grande festa para arranjar um noivo e acabou escolhendo um nobre guerreiro de outra tribo. Àquela altura, todos os gregos já estavam apaixonados pela terra de colinas verdes e, assim, ao noivo foi dada a incumbência de escolher o local para fundar a cidade que chamou de Massalia e depois seria Marseille (ou Marselha), hoje a porta de entrada da região.

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Muitos anos depois de momentos de paz e de guerra, destruição e reconstrução, a Revolução Francesa causaria grande comoção e divisão entre os provençais: alguns ergueram guilhotinas para os “inimigos” e, em 1792, rumaram em direção a Paris em grupos de voluntários, entoando a sua Marsseillaise, composta por Claude Joseph Rouget, que se tornaria o hino oficial da França. Já em 1942, durante a II Guerra Mundial, a Provence, embora fosse considerada zona livre, foi violentamente bombardeada pelos alemães. Celeiro e exílio de artistas do mundo inteiro Hoje, as ruínas do tempo e das guerras misturam-se na paisagem. A luz exuberante do sol realça o colorido de pedras, montanhas e casas, algumas sobreviventes do período anterior

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à era cristã, em meio a espaços onde a natureza selvagem convive com imensos campos verdes e ondulantes, salpicados aqui e ali de vinhedos, pomares e vilarejos que sobem pelas colinas em volteios alegres e às vezes ofegantes: esta é a simples e, ao mesmo tempo grandiosa beleza da Provence. Os casarões, alguns transformados em lojas de grife, misturam o velho e o contemporâneo, incluindo detalhes rústicos e sofisticados, sem jamais afetar a construção original e sempre convivendo com arcos, abóbodas e outras ruínas históricas, sobretudo as românicas e as celtas. Não por acaso o pintor Paul Cèzanne, nascido na região, morou a maior parte de seu tempo no Jas de Bouffan, propriedade do século XVIII, adquirida por seu pai em 1859. Dali, a um quilômetro e meio da cidade de Aix -en-Provence, o artista que inspiraria


Roussilon

vários modernistas retirou das matas, pinheiros, oliveiras, ciprestes, frutos e rostos a inspiração para o trabalho de toda uma vida. Mas Cèzanne não foi o único. O escritor Émile Zola, autor de J’Accuse e amigo de longa data, vinha sempre de Paris para apreciar a natureza e regalar-se com a boa comida de madame Brémond, a governanta do Jas, como nos contam Jean Bernard Naudin, Gilles Plazy e Jacqueline Saulnier em Le goût de la Provence. Outros artistas que se renderam aos encantos da região foram os pintores Matisse e Picasso, e escritores como Hemingway, Nietsche, Colette, Scott Fitzgerald (autor de The great Gatsby, entre outros) e sua mulher, Zelda. Nos turbulentos anos 20, o casal ergueu uma casa na Côte d’Azur, já nos limites da Provence, que se transformaria no palco de algumas das grandes festas dos americanos sediados em Paris. Foi lá, inspirado pela beleza natural da Riviera Francesa, que Fitzgerald escreveu Suave é a noite. Um vento furioso que tem nome de poeta O calor é forte no meio da tarde, sobretudo quando se caminha pela

mata ou pelas estradas de terra. Mas o Mistral __ aquele mesmo vento que no inverno arranca telhas e janelas sem dó __ volta na primavera-verão completamente transformado, como num passe de mágica, em brisa que ameniza o poderoso efeito do sol. Outro mistério é o nome do vento, que alguns explicam como uma homenagem ao poeta Frédéric Mistral. Mas não há qualquer registro oficial a respeito disso. A região da Provence, quase sempre seca _ são apenas 22 dias de chuva por ano __ é, de fato, um paraíso incrustado no Sul da França. Não por acaso, em 1987, o inglês Peter Mayle trocou o estressante mundo dos negócios londrinos pela paz de um casarào em Mènerbes, onde morreu no início desde ano, depois de fazer sucesso com suas histórias e deixar para o mundo mais de dez livros sobre a região paradisíaca do Sul da França __ entre eles, Bonjour, Provence e Um ano na Provence, este último transformado em filme por Ridley Scott, com o título de Um ano bom, com Russel Crowe e Marion Cotillard nos papéis principais. A fama dos livros de Mayle transformou a região num formigueiro de turistas, sobretudo nas férias escolares de julho, o que aponta para a necessidade de chegar um pouco antes ou um pouco depois. Mas nunca no inverno rigoroso, quando a Provence praticamente fecha todas as suas portas. Basta dizer que há casas construídas sem janelas nas laterais que recebem o furioso Mistral. O viajante deve escolher uma agência confiável e comprar com antecedência todos os passeios com guias experientes, além de traslados e passagens de avião. A menos que prefira alugar um carro, o que lhe dará mais conforto e independência. Na chegada, confirme novamente todos

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Pelo mundo

os tours combinados, pois há empresas inidôneas que trocam suas escolhas na última hora. A primeira parada é Paris, onde se faz a conexão para Marseille. De lá, basta alugar um carro ou pegar o trem até a cidade escolhida para a hospedagem. Que seja interessante para andar a pé nos dias livres de passeios e que seja bem servida de lojas, boulangeries, pâtisseries, livrarias e restaurantes com a típica comida provençal. A menos, claro, que só se busque sombra e água fresca numa pousada de luxo e, nesse caso, vilarejos no alto das colinas, como a pequenina cidade de Gordes, com casas de pedras brancas, são boas opções, de onde sempre se pode sair para um passeio de bicicleta __ aliás um esporte muito apreciado no país, cujo campeonato anual, o Tour de France, é conhecido no mundo inteiro. Uma dica: não deixe de provar o Nougat (torrone) da região e leve sempre na bolsa ou mantenha no frigobar do hotel algumas caixas de Calissons, uma delícia provençal de amêndoas, que também é encontrada em pâtisseries, algumas vezes em formato de sobremesa, bem maior do que a bala. Segundo a lenda, o Calisson foi feito pela primeira vez para o casamento do rei René com a rainha Joana. Escolha as cidades “grandes” para se hospedar Entre as cidades mais fáceis e agradáveis para o visitante montar um

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centro de operações, estão Avignon, às margens do Ródano, que é talvez a mais central, e Aix-en-Provence, uma das mais bonitas. Avignon, a mais de 600 quilômetros de Paris, guarda até hoje o imponente Palácio dos Papas, por cujo trono passaram nada menos de sete pontífices, durante a fase em que a cidade foi o centro do mundo cristão, cultural e artístico. O palácio só foi fechado no período da Revolução Francesa, quando o catolicismo foi abolido na França. Quase ao lado, fica o Hôtel de Ville (Prefeitura) e a Opèra, ambos diante da Place de L’Horloge, que mantém um antigo e bem conservado carrossel e o simpático Hôtel

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de L’Horloge, construído no século XIX e onde é possível contar com a simpatia de Madame Marion e Monsieur Lei. Também perto dali morou o poeta italiano Petrarca, que viveu uma platônica paixão por Laura, a grande inspiradora de sua obra. Paralela à praça, mas escondida pelas edificações, vê-se a ponte sobre o rio Ródano, da qual só restam quatro imensos arcos dos 22 construídos em 1171. Naquela altura da margem, é possível ver a primeira floração das famosas lavandas, ainda em maio. Vale registrar que a chamada lavandine, que se espalha por toda a região, sobretudo nas partes mais baixas, é


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Ponte romana de Bonnieux

a menos procurada; já a delicada lavanda das altas colinas , apelidada de lavander, é a mais valorizada, porque seu perfume é mais forte e entra na fabricação de cosméticos. Ainda na praça principal de Avignon, no restaurante Lou Mistrau, os preços são bons e a dica é pegar um lugar na varanda e desfrutar do maravilhoso escargot na casca, com molho de manteiga e ervas, sem falar de outras iguarias, enquanto se observa o movimento. O local é sempre festivo durante a noite, sobretudo a partir da primavera, quando a luz maravilhosa do dia não se vai antes das 21h ou 22h. A dona do restaurante, que pode ser

chamada de Madame Lou, já morou no Brasil e está sempre pronta para um papo divertido com seus fregueses. Os rostos de Cèzanne e os girassóis de Van Gogh Assim como Aix-en-Provence é dona de uma profusão de fontes belíssimas, lojas, bons restaurantes e mansões de luxo, sobretudo na avenida conhecida como Cours Mirabeau, todas as outras cidades e vilarejos escondem surpresas com marcas de outrora, prontas para serem descobertas. Que o diga Cèzanne, o pintor andarilho,

CAMPO DE LAVANDA/PROVENCE Foto de Adriana Boscov

que amava gravar em suas telas as rochas antigas, alamedas de castanheiros e o rosto rude e belo dos camponeses. Estes, aliás, pareciam mais próximos do que qualquer autoridade local e até mesmo que sua mulher, Hortense (que posara para ele na juventude), e o filho Paul, que moravam em Paris e Cèzanne visitava de vez em quando. Desde que houvesse um prato simples, como “batatas ao azeite” ou uma “macarronada ao molho de cordeiro” e, claro, todos os seus pincéis, ele sabia que teria pela frente um dia feliz. Afinal de contas, a montanha de Sainte Victoire estava sempre ali, mutante em suas cores, dependendo da hora do dia, pronta para ser pintada e protegê-lo. Outra presença forte até os dias de hoje é a do pintor Vincent Van Gogh, um holandês radicado na França, que logo trocaria Paris, onde vivia com o irmão mais próximo, Theo, pelos vilarejos da Provence, no fim do século XIX. Ele era grande amigo de Gauguin, entre outros pintores que seriam famosos anos depois, mas, antes de descobrir a Provence, era obcecado pela pintura do Japão. “É quase uma religião o que esses japoneses nos ensinam, vivendo na natureza como se eles mesmos fossem flores”. No Sul do país, Van Gogh morou em Arles, que ainda guarda museus e ruínas importantes, como a Arena de touros e as Termas de Constantino, e Saint-Remy, onde ainda são encon-

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Monumento aos mortos de Saint-Rémy

trados os restos da cidade de Glanum, saqueada em 480 d.C. Foi nesta última, entre uma e outra de suas crises de depressão, que ele pintou cerca de 100 obras belíssimas, como Girassóis e Retrato do Dr. Paul Gachet, médico que o tratou inúmeras vezes. Nos arredores, o viajante encontra o hospital em que o artista ficou internado, hoje transformado no Espaço Van Gogh, que, além de um pequeno museu, tem obras do pintor espalhadas ao ar livre, no meio do bosque __ entre elas Les Alpilles aux oliviers e Pins sur um ciel du soir. Como ressalta a artista plástica Regina Helena Conde, Vincent Van Gogh era obcecado pela luz do Japão, que se adivinhava, segundo ele, pela clareza das obras que vinham de lá. O

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crítico Derek Fell, autor de Van Gogh’s women, afirma que ele ficou encantado com a luz da Provence, pois já não precisava sonhar com a viagem cara e, portanto, impossível, ao Oriente. Ainda segundo Fell, Vincent comentou com seu irmão, Theo: “Acredito que, se olharmos a natureza sob um céu mais brilhante, teremos uma ideia mais verdadeira da maneira de sentir e pintar dos japoneses”. Mas a vida na Provence, embora tenha rendido tantas obras, teve tragédias e turbulências __ inclusive a briga com Gauguin, que passou várias temporadas com o amigo, a crise que o fez cortar um pedaço da própria orelha, a internação no Hôpital Saint-Paul, em Saint-Remy, e o suicídio, em 1890, em Auvers Sur Oise. Segundo Derek Fell, ele ainda se sentia um fardo para o irmão Theo, que sustentava boa parte da família. Um jogo de luz e sobras dentro das rochas Depois de lembrar Van Gogh, é pre-

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ciso andar um pouquinho até os arredores de Les Baux-de-Perovence, para fazer uma bela foto dos vilarejos que se debruçam no extasiante Val d’Enfer (Vale do Inferno), com destaque para a abandonada cidadela de Les Baux, seu velho castelo e várias casas em ruínas, sem contar os bruxos, gnomos e fantasmas, presentes em todas as lendas locais. Sobrou muito pouco da destruição ordenada em 1632 por Luís XIII, ao ser informado de que o vilarejo se tornara uma fortaleza dos protestantes. Um pouco mais à frente, é hora de vestir um casaco e assistir ao espetáculo Carrières de Lumières __ um inesquecível jogo de luzes e sombras projetado num espaço fechado dentro das rochas frias do local. A impressão é de que se está diante de um resumo surrealista da História do Mundo através da Arte, na qual não costumam faltar as aldeias de Pieter Bruegel e alguns monstrinhos deliciosos de Hieronymus Bosch, só para citar algumas imagens. É importante saber que as


projeções nem sempre são as mesmas. Do lado de fora, vale notar a grande quantidade de pedras e rochas de calcário. A qualquer hora, mesmo depois do almoço, numa pracinha qualquer, o sol de quase verão castiga, mas nem assim se deixa de ver grupos de senhores e senhoras francesas jogando o popular Boule: são três bolas para cada time e uma bolinha diferente, colorida, que deve ser alvejada. Simples assim. Horas depois, com a desculpa de que está mais fresco, eles são capazes de sair dali e brindar com um (ou mais) copinho de pastis, a cachaça local, que tem um leve sabor de aniz. Em todos os roteiros de passeios, há visitas a grandes vinhedos da região, como o Châteauneuf-du-Pape, com sede no castelo construído por João XXII no século XIV. Situado na cidade que leva seu nome, o Châteauneuf du Pape produz 13 cepas diversas no Vale do Rhône. Mas é importante não esquecer que alguns dos melhores vinhos vêm dos vinhedos de cidades pequenas, cuja última novidade é um rosé muito apropriado para o verão, que não lembra nem de perto o vinho de mesmo nome que evitamos

aqui. Sua cor é mais clara, lembra um pêssego quase pálido, e o gosto é suave. Não é gasoso e deve ser tomado bem gelado. O teatro clássico e a fonte dos mistérios Não muito longe, é possível alcançar a cidade de Orange, importante por seu acervo histórico, com destaque para o antigo teatro clássico em reconstrução, que é considerado o mais bem preservado do mundo e um verdadeiro monumento à Antiguidade. Somente a parede traseira que sobe do palco mede 103 metros de comprimento por 37m de altura. Fundada pelo Imperador Augusto, Orange foi assaltada por várias tribos até que, nos idos do ano de 87 a.C. as tropas romanas vieram em socorro, atravessaram Aix-en-Provence e desceram do alto do monte que receberia o nome de Sainte Victoire justamente por este feito heróico. Hoje, mesmo fechando para obras de vez em quando, o teatro já reuniu milhares de espectadores, inclusive, como ocorreu há pouco tempo, para uma apresentação sobre a vida de Sarah Bernhardt, conhecida mundialmente como “a divina Sarah”. Ela

esteve em Hamlet no cinema, mas seu papel mais festejado foi o da peça A dama das Camélias. Num outro dia ensolarado, o viajante pode conhecer a região do Luberon, que mistura espaços de natureza selvagem com lindíssimas aldeias. O destaque é a Fontaine de Vaucluse, o vilarejo de cujas rochas emergem as águas esverdeadas e transparentes do rio Sorgue. É um mistério jamais resolvido: até hoje especialistas tentam descobrir sua profundidade e não encontram respostas. Mas antes de chegar à fonte, o visitante pode apreciar a cidadezinha alegre, com bares e restaurantes que o rio, em certo momento, divide em duas partes. É só caminhar por um dos lados e acompanhar o baile das águas, seus murmúrios ou sua forte correnteza, que jorra até 90 mil litros por segundo e, em certo momento, faz girar a imensa turbina de madeira de uma antiga fábrica de papel artesanal. Nas laterais do rio, há lojas com motivos provençais, restaurantes debruçados na água, hotéis e museus __ inclusive um sobre o poeta Petrarca e outro dedicado à Resistência Francesa, com fotos comoventes da Segunda Guerra Mundial. Na chegada à fonte, outra surpresa: o verde-esmeralda das águas

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Anfiteatro de Orange

fica mais profundo e vai se tornando azul-turquesa a partir do anoitecer. Não muito longe dali, vale conhecer duas pequenas cidades do Vale do Luberon: a já citada Gordes, cujas casas de pedras brancas ficam no alto da colina, e Roussillon, também construída em torno de um monte, com todas as casas em tons de ocre ou laranja, já que são fabricadas pela matéria retirada da terra. Um colorido maravilhoso. Ao Sul de Gordes, há também cabanas em formato de colmeias com pedras sobre-

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postas que, segundo alguns, seriam do período neolítico. Roussillon é ocre e tem um rosé maravilhoso! É de Roussillon um dos melhores vinhos da categoria rosé que encontramos na Provence. Sim, aquele rosé! É leve, não é gasoso, tem uma cor lindíssima e deve ser tomado bem gelado. Perfeito para o calor da fase primavera-verão. Vale provar CAMPO DE LAVANDA/PROVENCE Foto de Adriana Boscov

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uma taça, mesmo na hora do almoço, que aliás pode ser feito em variados restaurantes, como o simpático e tranquilo Le Comptoir des Arts, que tem a vantagem de nunca estar repleto de turistas. É interessante observar e até conversar com os franceses, quase todos saboreando suas férias de verão nas maravilhosas casas encontradas pelo caminho. Saindo de Roussillon e pegando a estrada para o lado norte do Luberon, vale parar no estacionamento que fica na entrada do vilarejo de Bonnieux, plantado em uma das menores colinas da região com muralhas que datam do século XII. Todas as ruas são ladeiras (aqui, mais íngremes do que em Roussillon), mas há tantas coisas lindas para olhar, que nem se sente o esforço de subir. Uma senhora simpática, numa loja de antiguidades, conta histórias do cachorro que ela usa até na caça às trufas. “Os porcos ainda são utilizados, mas são danadinhos: comem a trufa rapidamente, antes que você consiga pegar”, reclama. Perto dali, passamos por outro trecho de Saint-Remy-de-Provence,


onde Van Gogh morou por uns tempos e foi internado. A cidadezinha, muito bonita, guarda até hoje uma lembrança importante de outra celebridade: a casa em que nasceu Michel de Nostradame, o Nostradamus __ astrólogo e médico de Charles IX __ que também praticava a alquimia e causou furor ao publicar suas primeiras profecias em 1555, no volume “Centuries astrologiques”. Depois de Bonnieux vem Lacoste, outra linda cidade de casas de pedras, que também sobem em torno de uma colina. Tem um certo ar de fortaleza e lembra __ ainda mais __ as guerras antigas, quando as montanhas eram valorizadas, por darem proteção contra os inimigos. O castelo do marquês e as enseadas da pequena Cassis Na saída, a estrada chega a um espaço alto, aberto e árido, e uma surpresa: o Castelo do Marquês de Sade (ou Donatien Alphonse François de Sade), aristocrata francês e “escritor libertino” que foi várias vezes trancafiado na Prisão da Bas-

tilha. O castelo está parcialmente destruído pelo abandono e fechado para visitação. Em torno, há esculturas contemporâneas, sem qualquer assinatura. O boato que corre na Provence é que um artista não identificado teria comprado a casa, mas ainda não começou a recuperá-la. Por fim, para os que gostam do mar, vale a pena pegar um tour para Cassis, pequeno porto pesqueiro a vinte quilômetros de Marselha, e aventurar-se num passeio de barco pelo oceano de um límpido azul, salpicado de calanques, que são lindas enseadas com laterais escarpadas formadas por estratos de calcários. Na volta, há vários cafés ao longo do ancoradouro, onde é possível relaxar com uma bela vista, que inclui não apenas o mar, mas o vaivém de pescadores e artistas de rua. Pode-se pedir uma boa cerveja, um cálice de vinho branco da região ou, quem sabe, aquele rosé supergelado que vem dos vinhedos de Roussillon. Depois, só resta brindar: Salut!

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Estante Refúgio no sábado, Por Miriam Leitão, Editora Instrínseca, 288 pág, R$ 39,900 Conhecida pelo público principalmente por sua cobertura jornalística de economia e dos bastidores do poder, Míriam Leitão reúne pela primeira vez suas crônicas, nas quais aborda conversas que a marcaram, memórias da infância e momentos do cotidiano. Os textos, publicados inicialmente no blog de seu filho Matheus Leitão, são uma bela oportunidade para os leitores conhecerem melhor o dia a dia de Míriam, suas origens e o processo de formação de uma escritora. Em suas crônicas, Míriam escreve sobre o que pensa ou sente: conversas com os netos, tristeza, saudade, amizades, música e poesia. Este livro é mais uma prova de que o olhar atento e a escrita elegante da autora a fazem deslizar por diferentes gêneros literários com maestria.

Rio: Desafios para uma Cidade Sustentável, Organizadores - Aspásia Camargo e Rodrigo Medeiros, Editora: Andrea Jacobsen Estúdio, 180 págs, R$ 52 Quais os desafios e como o Rio deve se preparar para se tornar uma metrópole sustentável até 2030? Porque ainda não entendemos a importância de uma governança comum para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro? Estas e outras perguntas estão respondidas no livro ‘Rio: desafios para uma Metrópole Sustentável’, organizado por Rodrigo Medeiros e Aspásia Camargo. O livro aborda os objetivos do desenvolvimento sustentável estabelecidos pela ONU e sua aplicação no Rio de Janeiro. Aqui, a cidade é vista em seu papel de metrópole, reunindo os 21 municípios que a compõem. São apresentados os desafios e as soluções para que a Região Metropolitana do Rio de Janeiro alcance esses objetivos até 2030.

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O último baile da Era Cabral. A história que nunca foi contada, Por Sílvio Barsetti, Editora Máquina de livros, R$ 39,90 A Farra dos Guardanapos é uma minuciosa reconstituição da festa em Paris que marcou o apogeu e a derrocada do governo Cabral. Quem eram os convidados? Quais pratos e vinhos caríssimos foram servidos no banquete? E o que realmente aconteceu naquela noite de ostentação? O leitor é conduzido para dentro da mansão na Champs-Elysées, num relato inédito e detalhado sobre os personagens que comandaram o saque às riquezas do Rio. Sílvio Barsetti, com várias passagens pelas principais redações, é um dos mais relevantes jornalistas investigativos. A capa e a programação visual são de André Hippert, renomado designer.

Marrana! Amor e Intolerância em Tempos de Inquisição, Por Katia Pessanha, Primavera Editorial, 300 págs, R$ 39,90 (papel) e também na versão e-book no Amazon Em busca de seu filho desaparecido, Catarina - uma comerciante judia do século XVII - é forçada a deixar a segurança de sua comunidade em Amsterdã e a arriscar sua vida ao retornar às terras de onde seus ancestrais fugiram, perseguidos pela Inquisição por serem marranos, judeus convertidos que ocultamente mantiveram sua fé. Em clima de suspense, romance e mistério, Marrana! desvenda as origens de boa parte dos portugueses que vieram para o Brasil durante o período colonial enquanto mostra curiosos aspectos do cotidiano feminino daquela época ilustrados por pinturas de mestres da pintura holandesa como Rembrandt e Vermeer. Autora de livros de gestão publicados por editoras de renome (McGraw-Hill, Berkeley e Pearson/FGV), Katia Pessanha teve uma realizadora carreira no mundo corporativo em São Paulo e no exterior, atuando com tecnologia, vendas e desenvolvimento de pessoas. Poetisa e cronista, Marrana! é sua estreia como romancista e exigiu uma entrega tão profunda e prazerosa que Katia terminou por deixar sua carreira corporativa para dedicar-se à literatura.


Seguro social

Seguro DPVAT : nova campanha publicitária conta histórias reais de beneficiários

A

Do Rio

partir do dia 8 de agosto e até o fim do ano, a Seguradora Líder veiculará, em todo o País, uma campanha de mídia nacional sobre o Seguro DPVAT. Com o mote “Estamos aqui para você”, as peças de divulgação serão protagonizadas por histórias de pessoas reais, que receberam o seguro por acidentes de trânsito. A proposta é aproximar ainda mais a população do benefício social, que ampara os mais de 207 milhões de brasileiros. Todas as histórias podem ser conhecidas na landing page da campanha: www.estamosaquiparavoce.com.br

O DPVAT protege todas as vítimas de acidentes de trânsito em todo território nacional, seja motorista, passageiro ou pedestre, sem necessidade de apuração da culpa. Com a campanha, a Seguradora Líder reforça seu compromisso com a sociedade e espera oferecer mais informações aos beneficiários sobre como dar entrada no pedido de indenização, reforçando a gratuidade do benefício. Idealizada em parceria com a Agência 3, a campanha estará presente em TV; rádio; redes sociais; jornais; busdoors; outdoors; sites; aplicativos; entre outras mídias. Além disso, a ação traz uma parceria inédita com os postos Ipiranga: o DPVAT aparecerá em painéis de

LED instalados em 135 postos da marca. “Fomos buscar histórias reais e personagens reais nessa campanha. Foi um trabalho profundo de pesquisa, que trouxe um resultado final emocionante” ressalta Paulo Castro, Sócio VP de Criação da agência. Sobre a Seguradora Líder-DPVAT Em operação desde janeiro de 2008, a Seguradora Líder-DPVAT é uma seguradora privada responsável pela administração do Seguro DPVAT no Brasil. A seguradora se tornou uma das principais fontes para dados relacionados a acidentes de trânsito. No site www.seguradoralider.com.br estão disponíveis para o cidadão diversas informações sobre o Seguro DPVAT e estatísticas.


CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Produções brasileiras são destaque na premiação TAL A série de animação “Guerreiros da Amazônia” que conta a história dos Amazon, povo lendário formado por descendentes de tribos da região que tem a missão de lutar contra os vilões da natureza e destruidores da floresta, foi uma das finalistas ao prêmio TAL (Televisión América Latina) 2018 na categoria Melhor Conteúdo Infantil. Produções exibidas pela TV Escola venceram duas categorias do TAL: O docudrama “1817, a Revolução Esquecida”, conquistou o TAL de Melhor Ficção e a animação “Chico na Ilha dos Jurubebas”, escolhida na categoria Melhor Produção Transmidia. A premiação reuniu 310 produções de TVs públicas de 33 países latinos. A Televisión América Latina é uma instituição sem fins lucrativos com centenas de associados reunidos em uma rede de incentivo, intercâmbio e divulgação de audiovisual do continente latino-americano.

Um filme de representatividades Num momento de tanta intolerância, o filme “Café com Canela” que tem integrado mostras e festivais pelo Brasil pode ser considerado uma produção de representatividades. Filmado e realizado no interior da Bahia, especificamente no simbólico Recôncavo Baiano, ele tem um elenco negro, um cenário de estéticas da negritude, referências às religiões afro-brasileiras, o cotidiano popular interiorano e a força da mulher construindo uma narrativa de sutilezas. A partir do reencontro das personagens Margarida e Violeta, um processo de transformação se desdobra para ambas – a primeira, isolada pela dor da perda do filho; a segunda, entre as adversidades do dia a dia e traumas do passado – e para a visão de quem poderá se reconhecer naquelas identidades. Produzido pela Rosza Filmes, produtora independente fundada em 2011 pelos próprios diretores do filme, como resultado de seleção no Edital de Arranjos Financeiros Estaduais e Regionais, realizado em conjunto pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (IRDEB). Os diretores, Glenda Nicácio e Ary Rosa, residem no Recôncavo Baiano e encontram na cultura popular local a pulsação para o cinema, desenvolvendo filmes onde o processo de produção, a narrativa e a estética são elementos pautados nas dinâmicas do interior A distribuição em salas de cinema é assinada pela Arco Audiovisual, também da Bahia, que se compromete a contribuir para a difusão de obras audiovisuais independentes brasileiras, principalmente as fora do eixo.

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Documentário revela situação do cerrado brasileiro O longa-metragem “Ser Tão Velho Cerrado”, produzido pela Cinedelia e dirigido por André D’Elia (“A Lei da Água” e “Belo Monte, Anúncio de uma Guerra”) alerta que grandes áreas do Cerrado que estão se transformando em pastagens e plantações de soja, impactando na qualidade do ar, fertilidade do solo, qualidade e quantidade de água disponível para abastecimento público. O documentário explica que o desmatamento deste bioma, um dos mais antigos do mundo com cerca de 40 milhões de anos, ocorre de forma “legal”, já que o Novo Código Florestal Brasileiro e algumas leis estaduais deixaram o Cerrado desprotegido. O diretor mostra também a existência da macrorregião do Matopiba ou Mapitoba que envolve partes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O trailer do filme pode ser visto no You Tube: https://www.youtube.com/watch?v=RQR5gfgzytk

ONG Vídeo nas Aldeias agora tem plataforma de streaming Fundada há mais de 30 anos por Vicent Carelli para registrar a realidade dos índios no Brasil e formar cineastas indígenas, a ONG Vídeo nas Aldeias passou a oferecer todo seu catálogo transmitido on line “on demand”. São 88 filmes, em streaming ou por download, que podem ser comprados ou alugados por uma semana. Um acervo que tem como objetivo registrar e revelar múltiplas visões culturais. Desde o início, o trabalho de Vicent fazendo oficinas com os indígenas e filmes é apoiar a luta desses povos, fortalecendo as suas identidades, compartilhando a produção com as comunidades. Interessados podem visitar o link: http:// videonasaldeias.org.br/loja/


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Pelas Empresas

É

ISABELLA ARARIPE

AccorHotels lança campanha para incentivar o desuso de canudos plásticos

bem provável que você já tenha lido sobre os problemas que o consumo exagerado de materiais produzidos em plástico descartável está causando ao meio ambiente devido ao descarte irregular e, em alguns casos, a consequência é letal. Se continuarmos com esse hábito, estima-se que até 2050, teremos mais plásticos do que peixes no oceano. Você, em algum momento, já parou para refletir sobre a importância deste tema e como você pode contribuir para a mudança? Com essa preocupação, a AccorHotels, líder mundial em viagens, lifestyle e inovador digital, iniciou o processo

global de eliminação dos canudos de plástico em todas as suas operações na América do Sul. A partir de agora, as bebidas são servidas sem canudos e apenas para casos necessários há a substituição do item por algum produzido com material sustentável como inox, papel ou até mesmo bambu. A

ideia é incentivar a mudança comportamental no hóspede e que então ele leve esse novo hábito sustentável e dissemine-o. “Temos hábitos de consumo que muitas vezes não questionamos a necessidade e não nos damos conta dos danos ambientais consequentes; é o que acontece com o uso dos canudos. Nós, da AccorHotels, entendemos que temos o dever de levantar essa reflexão e estimular a mudança comportamental em nossos hóspedes e colaboradores”, comenta Antonietta Varlese, vice-presidente de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa AccorHotels na América do Sul.

Legado da Copa: Mata Atlântica mineira receberá até 10 hectares de reflorestamento A cidade de Extrema, em Minas Gerais, receberá um reflorestamento equivalente a até 10 campos de futebol da Mata Atlântica. A ação da Ball Embalagens é resultado da promoção “Quem torce pelo mundo bebe na latinha” e foi lançada pelo #vadelata, movimento que busca conscien-

tizar a população sobre as vantagens das latinhas frente a outras embalagens para bebidas, tem como meta chamar a atenção do consumidor para os benefícios da embalagem mais reciclada do mundo. Consumidores que compraram ao menos duas latinhas de bebidas em qualquer supermercado do Brasil ou em um dos bares parceiros na cidades do Rio de

Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, pode fazer cadastro do comprovante fiscal no site e aí teve uma muda de árvore plantada com o seu nome e concorreu, automaticamente, ao sorteio de 20 mini geladeiras cervejeiras. O simples cadastro já foi convertido em uma muda de planta e um número de sorte para concorrer às mini geladeiras.

Aberje inaugura a sua Escola de Comunicação Em meio século de história, a Aberje se consolidou como referência em comunicação corporativa e organizacional no Brasil. Mais do que reunir as lideranças da comunicação empresarial e lutar pelo fortalecimento da atividade, a Aberje tornou-se também um importante polo de treinamento e desenvolvimento profissional. Atualmente, a associação possui uma das maiores ofertas do mundo em cursos de comunicação, que atendem desde profissionais em formação até altos executivos, e conta com parcerias de prestigiadas institui-

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ções internacionais, como a Syracuse University, dos Estados Unidos. A partir de agora, a área educacional da Aberje ganha independência e passa a se chamar Escola Aberje de Comunicação, uma instituição totalmente nova, mas que já nasce com grande tradição e milhares de alunos formados. “O lançamento da Escola Aberje de Comunicação é a institucionalização do marco fundador do campo da Comunicação em organizações no Brasil. A história da Aberje é a história da formação e afirmação de inúmeros comunicadores que

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atuaram ou atuam nas empresas e instituições brasileiras nesses últimos 50 anos”, explica Paulo Nassar, diretor-presidente da Aberje e professor titular da Escola de Comunicações e Artes da USP, que está à frente do projeto. “Podemos afirmar que a Comunicação Empresarial brasileira tem um DNA Aberje”, explica Nassar.


Conversa entre presidente e jovens talentos da Coca-Cola Brasil abre Relatório de Sustentabilidade 2017 Quando um jovem ingressa em uma grande empresa, é comum acreditar que o presidente seja alguém distante. Aquela pessoa que causa um frio na barriga em um encontro por acaso no elevador, ou diante de quem deve-se pensar mil vezes antes de fazer alguma pergunta. Na Coca-Cola Brasil, porém, essa relação é diferente. Tanto que, em maio deste ano, seis jovens talentos — aprendizes, estagiários e trainees — sentaram com Henrique Braun, presidente da companhia, para conversar e preparar a abertura do Relatório de Sustentabilidade 2017. No bate-papo, a turma aproveitou para falar e ouvir bastante, e saiu de lá com uma mensagem. “Poucas empresas têm o impacto que nós temos em diversos setores, e vocês têm o potencial de

LEO DRESCH

Encontro de Henrique Braun com trainees, estagiários e aprendizes rendeu perguntas, respostas e boas risadas

levar isso adiante. Juntos, dialogando com governos, setor privado e sociedade civil, podemos construir o futuro de ma-

neira sustentável. Existe uma coisa que vocês não podem perder: o propósito”, incentivou o presidente.

Lojas Americanas e Projeto Grael promovem curso de capacitação na área de Varejo Aconteceu no dia 1º de agosto, a aula inaugural do curso de “Operações de Varejo, com ênfase em Atendimento e Liderança”, desenvolvido pela Lojas Americanas em parceria com o Instituto Rumo Náutico – Projeto Grael e o SENAC. O evento foi realizado na sede do Projeto Grael, no bairro de Jurujuba, em Niterói. A iniciativa, que tem o apoio do BNDES, integra as diretrizes de responsabilidade social da Lojas Americanas. “A companhia apoia diversos projetos sociais com foco em educação e empregabilidade. Somos parceiros do Projeto Grael há dois anos e esta relação de confiança permitiu a ampliação do investimento social com a criação de um curso exclusivo para a capacitação técnica dos alunos na área de varejo. Acreditamos nesses jovens com a certeza de que estamos preparando profissionais melhor qualificados para o mercado de trabalho”, afirma Carlos Padilha, Diretor Financeiro e de Sustentabilidade da Lojas Americanas. A capacitação em

“Operações no Varejo” é composta por três turmas de 30 alunos cada, formando 90 jovens ao fim de três semestres. Os alunos, com idade entre 17 e 29 anos, terão aulas de português, matemática, inglês e temas como mercado de trabalho e formação humanística no módulo básico. O módulo específico trabalhará conteúdos relacionados

ao varejo, ministrados pelo SENAC e por gestores da Lojas Americanas, participantes do Programa de Voluntariado da companhia. Para completar a formação, o Projeto Grael oferecerá oficinas náuticas, informática e a prática do esporte de vela para o desenvolvimento de competências profissionais compartilhadas pelo esporte. FOTO DE DIVULGAÇÃO

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I m a g e m ILUSTRAÇÃO DE KELI VASCONCELOS

Qualidades do ser Keli Vasconcelos*

Certa vez, ouvi falar: “A realidade é neutra Não somos o que os outros Dizem que somos” Apenas somos E convenhamos

Nada somos Somos nada E desse “nada” Somos tudo Somamos

(*) Keli Vasconcelos é jornalista nascida em São Paulo (SP), fotógrafa amadora, arrisca-se no desenho e na poesia. É autora de “São Miguel em (uns) 20 contos contados” (Editora In House – Coleção Jornalirismo, 2014). Mais em keliv1.tumblr.com e twitter.com/keliv1


Por meio de uma equipe multidisciplinar e com ampla experiência, integramos a sustentabilidade na estratégia corporativa e no desenho de políticas públicas. Nosso desafio é apoiar a transição para uma Economia de Baixo Carbono.

GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE O CLIMAS é um sistema de gestão de Indicadores de sustentabilidade (GEE, Energia, Resíduos, Água) que coleta, organiza, gerencia e comunica informações, com recursos focados em Business Intelligence. As empresas ganham eficiência, escalabilidade e segurança de dados, permitindo que foquem no que mais importa: bons resultados.

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MOVE

CLIMAS

O QUE OFERECEMOS? Uma plataforma de soluções sustentáveis desenhadas para o sucesso do seu negócio.

5 1 RESPONSABILIDADE CLIMÁTICA O Programa Amigo do Clima é uma iniciativa voluntária, para a compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE). A plataforma conecta projetos de compensação brasileiros a empresas, garantindo transparência e rastreabilidade na transação de créditos de carbono.

www.waycarbon.com

O mundo traz desafios. A WayCarbon, respostas.



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