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ano dez | nº 60 | novembro / dezembro 2017 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
FOTO DE GIANNE CARVALHO – SEMINÁRIO PLURALE 10 ANOS – CLUBE SOCIEDADE GERMÂNIA – RIO DE JANEIRO
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ÁRTICO, PERU E A TRADIÇÃO DE MINAS
ESPECIAL SEMINÁRIO 10 ANOS DE PLURALE:
URGÊNCIA DO CLIMA, PROPÓSITO E INSPIRAÇÃO
ARTIGOS INÉDITOS
De uma simples
batedeira de cozinha,
criamos um mundo melhor
O ideal de conservação da natureza é uma das belezas que saíram desta batedeira. Em 1990, foi criada a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, que hoje é uma das organizações mais reconhecidas do Brasil. Com ela, financiamos mais de 1.500 iniciativas e preservamos mais de 11 mil hectares de Mata Atlântica e Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Esse DNA da sustentabilidade também está no dia a dia do Grupo Boticário, garantindo um modelo responsável de negócio. Aqui, temos um amplo programa de reciclagem de embalagens pós-consumo, adotamos a ecoeficiência como prática e não fazemos testes em animais. Como você pode ver, para começar a fazer um mundo mais belo, não é preciso muito. Uma batedeira basta.
JOÃO VICTOR ARARIPE
Contexto
26. Bazar ético
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Especial Seminário 10 anos de Plurale: a urgência da crise climática e cases inspiradores DIVULGAÇÃO
14.
ARTIGOS INÉDITOS,
de Gláucia Terreo, Sonia Consiglio Favaretto e Marcus Quintella ADRIANA BOSCOV – DE SVALBARD
44.
Cerveja sustentável
Viagem ao Ártico,
40
por Adriana
LUCIANA TANCREDO – SANTA RITA DE OURO PRETO
Dois anos da Tragédia de Mariana
42 Coluna Ecoturismo, por Isabella Araripe
60 Cinema verde, por Isabel Capaverde
62
Boscov
34.
Minas tradicional: 4ª Prosa Cortante das Gerais, por Luciana Tancredo
E ditorial GIANNE CARVALHO
ADRIANA BOSCOV
ÁLBUM PESSOAL
Seminário 10 anos de Plurale reuniu amigos e parceiros como relatam Nícia Ribas e Isabel Capaverde nesta Edição 60. Também abordamos o que acontece em dois diferentes locais afetados pela urgência da crise climática – o Ártico, em matéria incrível de Adriana Boscov e as montanhas coloridas do Peru, aqui apresentadas por Giuliana Preziosi.
Plurale, 10 anos – Uma festa plural Ao longo de 10 anos, temos sido convidados para palestrar para diferentes públicos – seja falando sobre Sustentabilidade ou para contar sobre a trajetória de Plurale. Sempre destacamos a importância do conceito de rede e a força de unir pessoas em torno de ideias e ideais. Não gostamos da palavra crise, mas destacamos que por estas ironias do destino, retirando uma só letra, o S, fica “crie”, justamente o conceito mais forte para ser praticado em tempos de recursos finitos e oportunidades imensas. Foi este conceito que norteou o planejamento do evento comemorativo pelos 10 anos de Plurale, produzido com a determinante ação de Diversa Comunicação Consciente, liderada pela engajada Renata Mondelo. Um seminário, com conteúdo relevante, unindo grandes nomes – por sorte imensa, amigos de jornada – em um lugar especial - o bucólico Clube Sociedade Germânia - e ações alinhadas com a nossa proposta. Felizmente, conseguimos alinhar os astros para realizar este sonho. Com a ajuda de parceiros, com propósito (mais do que patrocinadores), pudemos não só ter palestras incríveis, mas também congregar, em clima de alto astral, amigos e parceiros de jornada. O nosso muito obrigada a todos
que viabilizaram esta festa plural! Confira em Especial os melhores momentos do evento, com texto das nossas sempre plurais Nícia Ribas, Isabel Capaverde e Lília Giannotti e fotos de Gianne Carvalho. Nosso agradecimento também a todos que participaram desta Edição de Número 60, tão rica em variedade como tem sido cada uma, mas também tão singular. Trazemos expedições a dois lugares que estão sendo diretamente afetados pelas mudanças climáticas. Adriana Boscov, alma de aventureira e faro de jornalista científica, esteve de férias com o marido no distante e incrível Arquipélago de Svalbard, Noruega, quase no Polo Norte. Ali se concentra a maior população de ursos polares do planeta – um quinto da espécie. Ela conta sobre esta viagem ao fim do mundo, Latitude 78º, fala dos efeitos dramáticos por conta da urgência da crise climática e compartilha fotos lindas. Já Giuliana Preziosi, nossa colunista viajante, partiu para Cusco, Peru e visitou um lugar incrível – as Montanhas de Sete Cores, em Vinicunca. Há pouco tempo atrás, cerca de nove a dez anos, toda essa região era coberta pela neve, sua alta altitude e as baixas temperaturas mantinham o lugar inacessível. Mas com o degelo causado pelo aquecimento global e o solo extremamente rico em minerais o lugar “desabrochou”, impressionando até mesmo a população local.
Não é só. Esta edição também apresenta artigos inéditos – um de Glaucia Terreo e Sonia Consiglio Favaretto e outro de Marcus Quintella – e uma entrevista da IHU On-Line sobre concentração de renda. De Minas Gerais, reunimos duas matérias diferenciadas. A nossa Editora de Fotografia, Luciana Tancredo, esteve no “4ª Prosa Cortante”, evento que mistura o que há de melhor preservado pelas montanhas mineiras – boa prosa, comida e tradições. Já a jornalista e advogada, Maria Augusta de Carvalho, conta que o Governo de Minas assumiu gestão do Parque das Águas de Caxambu prometendo investimentos de R$ 11 milhões. De Niterói, a jornalista Sônia Apolinário, marca sua estreia no jornalismo independente lançando um Portal – o Comunic Sônia Apolinário - com grandes reportagens sobre comportamento e arte - e uma coluna focada em cervejas artesanais. Compartilha com os nossos leitores a saborosa história da cerveja sustentável que nasceu no Reino Unido e está chegando ao Brasil: pães não vendidos que seriam descartados, viram ingrediente da cerveja; por sua vez, a “sobra” da brassagem do rótulo é reaproveitada e vira pão. Saúde! Boa leitura! Que 2018 nos reserve harmonia e prosperidade.
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Somando solidariedade, boa vontade e dedicação, o Banco Rio de Alimentos faz a diferença na vida de muita gente. Há 17 anos, o Banco Rio de Alimentos atua no combate à fome e ao desperdício utilizando uma fórmula que consiste em: recolher produtos alimentícios não comercializáveis nas empresas doadoras parceiras e entregar em instituições sociais, que os utilizam no preparo de suas receitas. Uma verdadeira rede de solidariedade unindo doadores, instituições assistenciais, voluntários e funcionários, que dividem o mesmo ideal para multiplicar a esperança, a cidadania e o desenvolvimento social. Saiba mais em: www.sescrio.org.br/banco-rio-de-alimentos
UM PROGRAMA
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Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Gianne Carvalho, Giulianna Preziosi, Glaucia Terreo (GRI), Keli Vasconcelos (Site Jornalirismo), Marcus Quintella (FGV), Maria Augusta de Carvalho, Patrícia Facchin (IHU On-Line), Rede de Especialistas de Conservação de Natureza, Sônia Apolinário (Portal Comunic Sônia Apolinário/ Coluna Lupulinário), Sonia Consiglio Favaretto (B3) e Vanessa Wagner (Zóia) Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais.
EMISSÕES CONTABILIZADAS
Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932
4,08 tCO2e Setembro e Outubro de 2017
Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Cartas
cc a a r tr at a s s @@ pp l ul u r ar a l el e . c. c oo mm . b. b r r
“Cara Sônia,no fundo do mar e tam“Completar a primeira se move É sempre uma cultura grata satisfação década de uma publicabém a rica mediterrânea, ção regular é um grande de oliveiras, cortiça receber esta publicação queehávideiras. feito. Chegar aos dez Não imaginei quepara esta oito anos abre espaço o história anos com qualidade seria editada em Plurale, uma diálogo entre empresas, chega a ser um ato de importantee arevista brasileira tão especialistas sociedade, com heroísmo no Brasil. Se, animada rica emosdetalhes. Fio objetivo deepromover bons ainda, a publicação tem quei impressionado com a desexemplos de preservação do um veio central, o meio crição clara,Parabéns simplesa etodos completa meio ambiente. ambiente, que não tem que exalta as características da os profissionais envolvidos e ESTRADAS merecido a atenção que PELAS Sardenha e seus habitantes, o DO ARIZONA, votos de uma vida longa e deveria ter do estado respeito pela natureza e seu trasustentável à Plurale em revista.” e da sociedade, é uma balho e a longevidade das escomissão quase impossível. Mas aí estão lhas alimentares. Foi um prazer ler o Miguel Krigsner – Fundador a Plurale e Sônia Araripe para mostrar artigo de Nicia Ribasdo naGrupo Edição 59 de Boticário e da Fundação Grupo que é possível. Plurale é plural, sabe unir Plurale. Muito obrigado pelo espaço Boticário de Preservação da Natureza, a temática central a outros temas relededicado à Sardenha. Também em Curitiba (PR), por e-mail vantes da cena contemporânea.” nome de todos os sardos, obrigado Sérgio Abranches, jornalista, cien- por oferecer ao Brasil o conhecimenda Associação dosuma Analistas tista político e escritor, do Rio de“Em nome to da Sardenha, ilhae que, por Profissionais de Investimentoédoquase Mercado de pequeJaneiro/ Por e-mail sua diversidade, um Capitais SP), parabenizo toda ae explorar.” no(Apimec continente para visitar equipeAndréa de PluraleMastino, por seus oitos anos de “Muito bom ter a Plurale presente em Sardenha, Itália, mais um grande encontro do vegetariapore,e-mail atividades acima de tudo, pela seriedade e nismo. A matéria retratou bem o espírito qualidade do serviço prestado à sociedade, de união entre os ativistas, o engajamen“Depois anos sendo leitora ao tratar de temasde tãotantos relevantes quanto to cada vez maior de vários setores da da Plurale e agora participar sustentabilidade e meio ambiente. Que da edição sociedade, o crescimento do movimento 59muitos é sem dúvida venham outros anos!” uma grande honra. no Brasil e, claro, o alto astral do evento Obrigada Ana Carolina Maia e Sônia Ricardo Tadeu Martins , Presidente realizado em Campos do Jordão.” Araripe pelo lindíssimo trabalho e por da Apimec SP, São Paulo (SP), por Marly Winckler, presidente da e-mailmostrarem de forma tão delicada o IVU (International Vegetarian nosso trabalho no Espaço GastronômiUnion), por e-mail co Alter do Chão. Gratidão. ” “Deslumbrante a natureza da Serra do Cipó , Juana Calcagno Galvão, de Alter retratada pela Ana Cecília e Artur Vidaurre, na “Parabéns ao repórter Hélio Rocha pela do Chão (PA), por e-mail edição 49 desta prestigiosa revista que excelente entrevista com o Professor recentemente conheci. Parabéns à toda Paulo Artaxo sobre a questão do clima, “Meu abraço a vocês todos, meus equipeparabéns de Plurale! Como nunca havia publicada na Edição 59 de Plurale em remaismineiro calorosos pelo êxito dado a devida importância, apesar vista. Sanções econômicas e comerciais formidável da Plurale.”de ter visto falar em aulas de geografia nos anos 60 sobre são sempre eficientes quando se fala Roberto Saturnino Braga, jornalisesse parque ambiental; como temos belezas de grandes economias. Entre os países ta, escritor e Senador Constituinemdo nosso desconhecemos, signatários não se fariam necessárias,naturais já te, Riopaís deeJaneiro / Por e-mail situação que está sendo resgatada por esta que o tratado é decorrente dos esforços revista “Parabéns dedicada ao meio ecologia.e equie interesse desses participantes. Mas, paraambiente Sônia eAraripe Parabéns abraçarem nobre missão e falta ao Acordo do Clima um comprope por pelo notáveltão trabalho desenvolvido pelos 8em anos de edição sucesso. misso de sanções contra os países nãoPlurale aoelongo destes 10 anos” por vislumbrar tãomédico, bela revista. ” de -signatários, ou ao comércio de bensAgradecido e Roberto Franco, Rio produtos poluentes ou de empresas não Janeiro/ Por e-mail adequadas.” Benedito Ari Lisboa, engenheiro, São Gisele Helt Velloso, advogada eJosé dos “A reportagem napor Edição Campos (SP), e-mail59 de Plumoderadora de conflitos, do Rio rale em revista, sobre a llha João de Janeiro, pelo site (SC) foiaum presenteda para nós “LetíciaCunha Spiller tornou-se “embaixadora” que amamos Porto Belo e não quecampanha Desmatamento Zero, do “Quando os primos da minha esposa remos ver a Região sendo modificaGreenpeace Brasil. Em entrevista na Edição estiveram aqui como nossos convidada por construções ou por modifica50 de Plurale em revista, comemorativa de dos, pela primeira vez no início do recenções drásticas no meio ambiente. É oito anos, a atriz revelou que sua preocupação te verão, minha maior preocupação era uma das únicas praias da Costa Escom as causas ambientais é antiga. Ela e tornar a sua estadia o mais agradável meralda que resiste à especulação outras atrizes e atores falam sobre o possível, oferecendo o melhor da nossa imobiliária graças à ação da ONG engajamento causas sociais culinária da Sardenha e fazê-los apreciar Portonas Ambiental, dae ambientais. população de Parabéns à querida e equipe as maravilhas herança natural que consPorto BeloSônia e deAraripe pessoas como a jore pelos oitoRibas, anos de Plurale!” titui nosso patrimônio natural, culturalpela e matéria nalista Nícia empenhada em Anna trabalhar Maria Ramalho, jornalista, do Rio histórico de que tanto nos orgulhamos. em prol da preservação do de Janeiro por e-mail Entretanto, não foi possível, pela bremeio (RJ), ambiente. Parabéns pelo texto vidade do tempo, ver muito mais, e pelas fotos.” mas conseguimos ver e apreciar “Sônia: a Lúcia Peixoto professoviva, amiga querida!Cherem, Eu sei que não é clareza das águas cuja transparência ra, depara Curitiba (PR), pelo site fácil; parabéns, você e todos os que fazem ano dez | nº 59 | setembro / outubro 2017 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
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ARTIGOS INÉDITOS, ESPECIAL VEGETARIANO E SARDENHA
UM POUCO DA AMÉRICA PROFUNDA
FOTO DE LUCIANA TANCREDO - ANTILOPE CANYON - ARIZONA (EUA)
Quem faz
vi•são
(substantivo feminino) 1
Do latim VISIO,ONIS. Ato ou efeito de ver. Percepção de formas, cores e relações espaciais de um sistema de captação e elaboração de imagens formado pelos olhos e pelo cérebro. 2 Enxergar o mundo em seu sentido mais amplo, visualizando diferentes possibilidades com conhecimento, inovação, ousadia e inteligência para oferecer experiências únicas a cada cliente, parceiro e colaborador. Assim, sua empresa gera ainda mais valor de marca, com uma forma diferenciada de pensar os negócios. Termos relacionados:
Acelerar a transformação digital, estimular a inovação, proteger ativos de informação, criar experiências diferenciadas para os clientes.
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Entrevista ARQUIVO PESSOAL
“A QUESTÃO É: QUE TIPO DE PAÍS QUEREMOS SER?” Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do IPEA Por Patrícia Fachin, da IHU On-Line Fotos: Arquivo Pessoal e Agência Brasil
Ao analisar os dados do Imposto de Renda brasileiro num período que compreende quase um século, entre 1926 e 2013, em sua tese de doutorado intitulada ‘A desigualdade vista do topo: a concentração de renda entre os ricos no Brasil 1926-2013 (2016), Pedro Ferreira de Souza, doutor em Sociologia, constatou que a concentração de renda no topo combinou estabilidade e mudança. “Por um lado, não houve qualquer tendência secular de aumento ou redução, com a fração do 1% mais rico oscilando entre 20% e 25% durante boa parte do tempo; por outro lado, essa estabilidade não significou pura estagnação, pois houve idas e vindas, por vezes abruptas, que acompanharam os grandes ciclos políticos do Brasil”, diz à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por e-mail. Segundo ele, os dados demonstram que nos anos 1950 “entramos em uma trajetória moderada de redução da concentração no topo”, mas ela foi “interrompida e revertida pelo Golpe de 1964”. Nos últimos anos, resume, “a estabilidade macroeconômica contribuiu para certa redução na concentração no topo, mas desde a virada do século pouca coisa mudou. O quadro atual é sobretudo de estabilidade em um patamar muito elevado — as comparações internacionais mostram o Brasil sempre entre os mais desiguais”. Além de uma série de fatores históricos que ajudam a explicar as desigualdades no país. Souza frisa que “há uma clara vinculação da desigualdade com a nossa dinâmica política e com a estrutura do Estado brasileiro. De novo, o melhor exemplo remete ao golpe militar de 1964: o programa adotado pela ditadura explicitamente almejava reduzir a participação dos salários na renda nacional, e foram feitas reformas abrangentes para atingir esse objetivo”.
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Pedro Ferreira de Souza é graduado em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro e doutor na mesma área pela Universidade de Brasília - UnB. Atualmente é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea. Confira a entrevista. IHU On-Line - A quais resultados e constatações você chegou ao analisar os dados do Imposto de Renda entre 1926 e 2013, na sua tese de doutorado? A partir da pesquisa, o que foi possível vislumbrar sobre a concentração de renda no Brasil no período analisado? Pedro Ferreira de Souza - O principal resultado diz respeito à concentração de renda no topo, que combinou estabilidade e mudança: por um lado, não houve qualquer tendência secular de aumento ou redução, com a fração do 1% mais rico oscilando entre 20% e 25% durante boa parte do tempo; por outro lado, essa estabilidade não significou pura estagnação, pois houve idas e vindas, por vezes abruptas, que acompanharam os grandes ciclos políticos do Brasil. Para citar um exemplo, nos anos 1950 entramos em uma trajetória moderada de redução da concentração no topo, que foi, infelizmente, interrompida e revertida pelo golpe de 1964. Com efeito, nos primeiros anos da ditadura militar a concentração no topo voltou a crescer rapidamente. Outros períodos cruciais de nossa turbulenta história política também coincidiram com inflexões importantes. No período mais recente, tudo indica que a estabilidade macroeconômica contribuiu para certa redução na concentração no topo, mas, desde a virada do século, pouca coisa mudou. O quadro atual é sobretudo de estabilidade em um patamar muito elevado — as
PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2017
comparações internacionais mostram o Brasil sempre entre os mais desiguais. De modo geral, os dados brasileiros confirmam alguns achados internacionais: em tempos normais, é muito difícil promover a redistribuição a partir do topo, que tende a mudar só em momentos críticos, como rupturas institucionais, catástrofes e afins. Empiricamente, não há casos bem conhecidos de países que tenham partido de um grau tão alto de concentração de renda e avançado gradualmente, de forma tranquila, até percentuais semelhantes aos vistos hoje em boa parte da Europa. A própria Europa só remodelou sua distribuição de renda, de forma muito traumática, no período entre a Primeira e Segunda Guerras Mundiais. IHU On-Line - Foi possível identificar se em alguns períodos ao longo desses 90 anos a concentração de renda foi maior ou menor no Brasil? Ainda nesse sentido, o que foi possível constatar em relação tanto às desigualdades quanto ao debate sobre essa questão em períodos específicos, como antes de 1930, depois de 1930 até 1945, durante o governo Getúlio Vargas, e nos governos que o sucederam, até 2013? Pedro Ferreira de Souza - Grosso modo, a concentração de renda nas mãos do 1% mais rico teve dois picos, durante a Segunda Guerra Mundial e na segunda metade dos anos 1980. O primeiro caso é mais fácil de entender: estávamos em pleno período ditatorial, com o Estado Novo, a oposição havia sido desmantelada, havia imenso controle estatal sobre sindicatos e perseguição a militantes de esquerda. Com a eclosão da guerra, o caminho de desenvolvimento escolhido alinhou-se
ainda mais com o empresariado. Para aproveitar as oportunidades temporárias trazidas pelo conflito, foram tomadas medidas como a suspensão de direitos trabalhistas em “indústrias de guerra”, entre outras. O segundo caso é um pouco mais complicado, pois a aceleração da inflação torna inclusive a mensuração da renda mais difícil. É provável que parte do aumento da desigualdade no período seja, portanto, artificial. Ainda assim, também foi um período de maior concentração no topo, e a própria escalada da inflação também pode ser interpretada em termos dos conflitos distributivos que vieram à tona com a redemocratização. Ao que tudo indica, o período de menor desigualdade foi no final dos anos 1950 e início dos anos 1960. Infelizmente, como mencionei, o processo foi abortado e revertido depois do golpe militar de 1964. Hoje estamos mais ou menos na nossa média histórica. IHU On-Line - Quais são os fenômenos que explicam as desigualdades no Brasil? Ainda sobre essa questão, que conexões estabelece entre o comportamento das desigualdades no país e a dinâmica política nacional? Pedro Ferreira de Souza - Não é possível culpar um único fator pela alta desigualdade brasileira. Como quase sempre ocorre em ciências sociais, nossa distribuição de renda é resultado do acúmulo histórico de decisões políticas, choques econômicos e afins. Por isso, muitos fatores são pelo menos parcialmente responsáveis: nosso atraso educacional, o passado escravocrata, a concentração fundiária, o sistema tributário pouco progressivo, entre outros. Do ponto de vista mais geral, há uma clara vinculação da desigualdade com a nossa dinâmica política e com a estrutura do Estado brasileiro. De novo, o melhor exemplo remete ao golpe militar de 1964: o programa adotado pela ditadura explicitamente almejava reduzir a participação dos salários na renda nacional, e foram feitas reformas abrangentes para atin-
gir esse objetivo. Em uma democracia, é impossível fazer isso. Mas também parece impossível, ou ao menos muito difícil, fazer o oposto, isto é, promover ou criar condições para a redistribuição de renda a partir do topo. Nosso conflito atual gira bastante em torno disso. Propostas radicais tendem a ter vida curta, seja pelo medo de criar desorganização econômica, seja pela necessidade da cooperação dos mais ricos para promover crescimento econômico, seja porque, em última instância, os mais ricos são potencialmente os grandes financiadores da classe política. Além disso, a própria complexidade do Estado moderno e o toma-lá-dá-cá típico das democracias criam amplas oportunidades para que os setores abastados consigam reverter ou minimizar perdas — até porque várias decisões que beneficiam os mais ricos são, em geral, bem menos visíveis e muito mais difíceis de entender do que as decisões que afetam a massa da população, por se tratar de questões de refinanciamento de dívidas, regulações, subsídios e afins. IHU On-Line - Na sua tese você comenta que vários países desenvolvidos distribuíram renda após a Segunda Guerra Mundial. Por que isso foi possível nesses países? Pedro Ferreira de Souza - O período entre 1914 e 1945 foi crítico em muitos países. Simplificando, pode-se afirmar que a necessidade de mobilização popular para a guerra ensejou um conjunto de reformas e políticas amplamente redistributivas, ao mesmo tempo em que as grandes fortunas também foram corroídas pela inflação, pela Depressão de 1929 e, no limite, pela própria destruição física causada pelas guerras. Com isso, muitos países mudaram radicalmente sua distribuição de renda em pouco tempo. Na tese, cito dois exemplos. Nos Estados Unidos, as duas guerras provocaram grande expansão e maior progressividade do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas. Além disso, o National War Labor Board imAGÊNCIA BRASIL
pôs uma significativa compressão da estrutura salarial durante a Segunda Guerra. No Japão, as intervenções foram ainda maiores, incluindo regulação de dividendos, redução deliberada dos retornos financeiros de ações, padronização de salários, criação de conselhos de trabalhadores em empresas, limitação aos bônus pagos a executivos, reforma agrária, expansão do imposto de renda, e muitos mais. IHU On-Line - Que tipo de medidas, sejam elas econômicas, sociais, políticas, adotadas ao longo desses 90 anos foram mais efetivas para contribuir para a redução das desigualdades? Pedro Ferreira de Souza - É difícil generalizar, pois várias medidas dependem do contexto apropriado. Por exemplo, o efeito do salário mínimo varia muito ao longo do tempo, em função tanto do grau de cobertura quanto do seu valor. A importância da reforma agrária também depende da composição setorial do país. Ainda assim, algumas medidas gerais podem ser apontadas. Aumentar o escopo e a progressividade dos impostos sobre a renda e o patrimônio parece essencial. Limitar o acesso de elites econômicas a benesses concedidas pelo Estado também, assim como combater o corporativismo da própria burocracia pública, que contém muitos grupos que ocupam o topo da distribuição de renda. Por outro lado, o gasto social deve ser bem direcionado. Até hoje não conseguimos lidar com carências históricas em termos de saneamento básico e educação. IHU On-Line - Durante os governos Lula e Dilma falou-se dos ganhos relativos à distribuição de renda no país e ao enfrentamento das desigualdades, mas hoje alguns estudos que usam como base a análise dos dados do Imposto de Renda sinalizam que não houve uma redução significativa das desigualdades nos últimos 15 anos. Apesar dos avanços, o que tem dificultado o enfrentamento das desigualdades? Pedro Ferreira de Souza - O mercado de trabalho realmente ficou menos desigual, mas os rendimentos e ganhos de capital impediram a queda da desigualdade como um todo. Houve alguma redistribuição entre os 70% ou 80% mais pobres, sem, no entanto, mudanças na enorme concentração no topo. Ou seja, nossa democracia funcionou bem melhor em termos de inclusão do que de redistribuição: amplas camadas da população
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Entrevista
ganharam acesso a padrões mínimos de vida, principalmente no que diz respeito a bens de consumo, mas a desigualdade de renda como um todo mudou muito pouco. Do ponto de vista político, o maior problema é que é quase impossível imaginar uma grande coalizão capaz de tirar do papel um programa de médio ou longo prazo realmente redistributivo. Pelo contrário, há exemplos abundantes de corporações tentando obter vantagens no varejo. IHU On-Line - Muitos especialistas apostam numa reforma tributária para enfrentar as desigualdades no país. Que aspectos fundamentais deveriam ser incluídos nessa reforma? Ainda nesse sentido, em que consiste sua proposta de mudar a composição da carga tributária? Pedro Ferreira de Souza - Há muito a ser feito quanto ao nosso sistema tributário. Por enquanto, a maior parte da discussão sobre o tema gira em torno da simplificação da burocracia e do conflito federativo. Infelizmente, a questão distributiva aparece bem mais só nas muitas propostas de cunho mais acadêmico sobre o tema. Seria fundamental que nossas elites políticas abraçassem também esse lado. Acho que uma reforma poderia partir do diagnóstico de que é preciso mudar a composição da carga tributária, sem alterar seu nível como um todo. Há muitas propostas específicas nesse campo. Grosso modo, o ideal seria aumentarmos sensivelmente a arrecadação e a progressividade dos tributos sobre renda e patrimônio, compensando isso com reduções na tributação sobre o consumo e a cadeia produtiva. Para o Imposto de Renda, seria importante discutir a criação de alíquotas marginais mais elevadas (acima dos atuais 27,5%), a redução ou mesmo a eliminação de várias deduções (por exemplo, despesas com educação e saúde) e as distorções na tributação dos lucros e dividendos, que são isentos no IRPF. Ainda no âmbito federal, urge ampliar o escopo do Imposto Territorial Rural, que é o equivalente rural do IPTU. Hoje, a despeito de toda a pujança do agronegócio, o ITR tem arrecadação ínfima. Nas esferas municipal e estadual, o mais urgente é ampliar a arrecadação e progressividade do IPTU e do imposto sobre heranças e doações. Como pode a arrecadação com o IPTU ser menor do que a do IPVA? Não faz sentido para mim.
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Queremos viver em um país com renda tão concentrada nos mais ricos? É possível ter uma democracia funcional nessas condições? IHU On-Line- Recentemente você comentou que no Brasil há uma tendência histórica em “acomodar todas as demandas pelo lado do gasto público até o momento em que não dá mais”, porque isso gera uma crise fiscal. De outro lado, hoje alguns setores da sociedade fazem uma crítica às propostas de austeridade adotadas pelo governo brasileiro. Diante dessa situação, como equacionar, de um lado, o gasto público e, de outro, evitar uma crise fiscal? Pedro Ferreira de Souza - Abstratamente, é simples: basta fazer escolhas, priorizando os gastos que beneficiam a base da distribuição de renda. Na prática, isso é muito difícil. O que vemos recorrentemente é o processo de acomodação: benefícios visíveis que chegam às massas, mas que são compensados por gastos às vezes ainda maiores que favorecem as elites. Seja por opção sincera ou por restrições políticas, nenhum dos nossos governantes conseguiu fugir muito disso. A própria austeridade pode e deve ser discutida; há, digamos, austeridades e austeridades. A despeito de todos os nossos problemas fiscais, lemos diariamente sobre perdão de dívidas, refinanciamentos e afins para grandes grupos empresariais, igrejas e outros lobbies poderosos. IHU On-Line – Hoje volta-se a discutir a possibilidade de o Estado distribuir uma renda mínima para todas as pessoas. Como você vê esse tipo de proposta? Ela ajudaria a enfrentar as desigualdades sociais? Pedro Ferreira de Souza - Eu acho uma ideia excelente. Não é algo que sairá do papel do dia para a noite, mas tem o poder de reorientar o debate e de ajudar na racionalização das políticas públicas. Hoje temos várias políticas de transferência de renda, do Bolsa
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Família à dedução do Imposto de Renda para dependentes. Algumas são muito mais visíveis e questionadas do que outras. O simples debate sobre renda mínima ajuda a aclarar as semelhanças entre essas políticas e deixa as injustiças evidentes. Na prática, as duas maiores críticas à proposta dizem respeito ao custo e à ineficiência no combate à desigualdade. O argumento é que transferências focalizadas são muito mais baratas e, por definição, ajudam mais a reduzir as desigualdades. Matematicamente, é verdade. Mas isso não tira o mérito da ideia, que está principalmente em trazer para a esfera pública o reconhecimento explícito de que vivemos em sociedades ricas o suficiente para assegurar incondicionalmente um padrão mínimo de vida para todos. Além disso, todo o debate ajuda a desestigmatizar a questão das transferências de renda. Em termos de políticas públicas, o melhor caminho para o Brasil seria justamente o de racionalizar, dar transparência e, preferencialmente, unificar as transferências existentes. Com isso, algumas deficiências ficariam claras. A partir daí, poderíamos começar por uma renda mínima para crianças, um grupo particularmente vulnerável e com índices de pobreza ainda muito altos. IHU On-Line - Que questões centrais deveriam estar presentes num debate social, político e econômico sobre o enfrentamento das desigualdades no Brasil, considerando a nossa história? Pedro Ferreira de Souza - Temos sempre que partir da perspectiva histórica. Somos um país profundamente marcado pela brutalidade da escravidão e até hoje convivemos com esse legado, que é atualizado e reproduzido ao longo do tempo. Nossa experiência democrática é curta e turbulenta. Não adianta discutir em cima do tudo-ou-nada, porque isso só gera cinismo e decepção. É preciso enxergar para além da cortina de fumaça da polarização política, inclusive para explicitar os conflitos distributivos em vários casos. Muitas das decisões capazes de ajudar na luta contra a desigualdade têm um componente técnico muito forte, mas são, em última instância, decisões políticas. A questão central é: queremos viver em um país com renda tão concentrada nos mais ricos? É possível ter uma democracia funcional nessas condições? Como o próprio Estado ajuda a reproduzir essa situação?
Ser sustentável é olhar para o futuro e enxergar novas oportunidades A Enel acredita que compartilhar valor é a melhor forma de desenvolver soluções inovadoras para um mundo mais sustentável. Em 2016, foram realizados mais de 100 projetos, que beneficiaram cerca de 2,3 milhões de pessoas e geraram R$ 2,5 milhões de renda nas comunidades. O projeto Ecoenel concedeu mais de R$ 1 milhão em bônus na conta de luz, reciclando mais de 5 mil toneladas de materiais. É assim que a Enel se abre para fornecer energia com ética, responsabilidade e inovação para você.
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Colunista Marcus Quintella
O SOFRIMENTO DO POVO COM O TRANSPORTE PÚBLICO
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péssima qualidade do transporte público nas cidades brasileiras é um problema que parece não ter fim e que pouco sensibiliza os governantes e políticos de nosso país. Os cidadãos brasileiros sofrem com sistemas de transportes públicos que não atendem suas necessidades de deslocamentos e são pouco abrangentes, pois não alcançam todas origens e destinos das regiões metropolitanas onde vivem e trabalham, não são totalmente integrados de forma física e tarifária, visto que não permitem viagens em todos os modos de transporte possíveis, com um só bilhete, são desconfortáveis, impontuais, pouco frequentes, inseguros e absurdamente caros, dado que oneram excessivamente os orçamentos das famílias, especialmente, as mais carentes. É notório o descontentamento da população com essas condições inaceitáveis e politicamente desastrosas do transporte público, em todas as médias e grandes cidades brasileiras. Em outubro de 2016, o jornal Valor Econômico publicou a pesquisa denominada “Mobilidade para ir e vir do trabalho”, sobre a insatisfação dos trabalhadores usuários do transporte público, em dez capitais. Em média, o resultado mostrou que 45% dos entrevistados percebem os modos de transporte por ônibus e trem como ruins ou péssimos. As cidades com as piores avaliações para o modo ônibus foram Brasília (59%), Recife (57%), Salvador (49%) e Belo Horizonte (48%). Os trens de São Paulo foram avaliados como ruim ou péssimo por 47% dos entrevistados. No caso do modo metroviário, a rejeição verificada foi de apenas 28%, em média, nas dez capitais do país. A pesquisa em questão comprova a falta de capilaridade, frequência e integração dos modos de transporte, uma vez que, nas dez capitais pesquisadas, o tempo médio de deslocamento varia em torno de uma hora e 43 minutos, no percurso
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casa-trabalho-casa, com trajeto médio 28 km. Essa pesquisa mostra apenas o tempo médio perdido com o transporte público, todavia, nas grandes metrópoles brasileiras, milhões de pessoas perdem entre 3 a 4 horas, ou mais, dentro de um modo de transporte, todos os dias, no trajeto casa-trabalho-casa, em condições desconfortáveis, inseguras, inviáveis economicamente e insatisfatórias operacionalmente. Na prática, esse sofrimento humano com o transporte público é um extraordinário problema ambiental antrópico, visto que impede a mobilidade urbana da população e prejudica as condições de saúde, lazer, trabalho e relações sociais das pessoas. O trânsito e os meios de transporte têm um papel fundamental no dia a dia da população, de forma direta ou indireta, uma vez que participam de praticamente todas as atividades cotidianas dos cidadãos. O transporte público faz parte desse contexto e sua precariedade e escassez causa malefícios psicológicos, ambientais, físicos e sociais, ou seja, sofrimento humano. Penso que existe uma tendência geral de menosprezo por esse tipo de sofrimento humano, especialmente pelos governantes e políticos, pois se trata de um sofrimento solitário, subjetivo, silencioso e de difícil mensuração. Na realidade, diante da falta de investimentos maciços e eficazes no setor, as pessoas reclamam e suplicam por melhores condições de transporte, mas acabam se acostumando e se conformando com o sofrimento diário, pois precisam tra-
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balhar e viver. Assim, o sofrimento com o transporte público fica banalizado e as pessoas acabam achando normal essa situação, e as soluções são eternamente postergadas. Durante o seminário Transporte público urbano: desafios e oportunidades, realizado em 01/06/17, em Brasília, pelo jornal Valor Econômico, em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o Ministério das Cidades (MCid) afirmou que existem recursos financeiros disponíveis para o financiamento de sistemas de mobilidade urbana no país, suficientes para realizar muito mais do que vem sendo feito nas cidades brasileiras. Entretanto, todo esse dinheiro não é convertido em melhorias na mobilidade urbana porque faltam projetos de qualidade, que não promovem a integração entre os municípios das regiões metropolitanas, entre outras imperfeições. Segundo o MCid, essa falta de uso dos recursos disponíveis acarretará na redução do orçamento para a mobilidade urbana, no período 2017 a 2020. Para agravar ainda mais a situação, o transporte público brasileiro está baseado no modo rodoviário, sendo, portanto, movido a gasolina e óleo diesel, com grandes emissões na atmosfera de gases tóxicos que contêm monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio, hidrocarbonetos, óxidos de enxofre e material particulado. Tais emissões causam danos ambientais, como o aumento do efeito estufa, e contribuem fortemente para o adoecimento e morte de milhares de brasileiros, todo ano, por causa da poluiFOTOS DE DIVULGAÇÃO
ção atmosférica. O monóxido de carbono causa tonturas, vertigens, alterações no sistema nervoso central e pode levar ao óbito, em grande quantidade, em ambientes fechados. O dióxido de enxofre, presente na combustão do óleo diesel, provoca coriza e danos irreversíveis aos pulmões e também pode ser fatal, em alta dosagem. A fuligem pode atingir o pulmão das pessoas e agravar quadros alérgicos como asma e bronquite, irritação de nariz e garganta e facilitar a propagação de infecções gripais. Tudo isso é sofrimento humano. Outro fator de sofrimento humano é a poluição sonora produzida pelo trânsito caótico, que provoca distúrbios do sono, estresse, perda da capacidade auditiva, dores de cabeça, náuseas, perda de concentração, taquicardias e alergias. A solução é bastante simples, mas complexa, ao mesmo tempo, pois depende da percepção do sofrimento alheio pelos governantes e políticos. A reversão desse quadro é um desafio que precisa do envolvimento de toda a sociedade. Não podemos abrir mão do transporte público e precisamos buscar soluções que não prejudiquem o meio ambiente antrópico. Precisamos reverter essa situação de sofrimento humano com pesados investimentos em transporte público não poluente, confortável, rápido, pontual, frequente, seguro, barato, integrado e abrangente. Isso, sim, proporcionará felicidade, bem-estar e qualidade de vida para a população, ao menos no quesito transporte público. No Brasil, mesmo com todas as barreiras políticas, limitações financeiras e impedâncias éticas e morais, entendo que seja possível a construção de sistemas de transportes dignos e com preço justo, próximo ao que existe na maioria das cidades europeias, por exemplo. Refiro-me a sistemas de transportes multimodais e intermodais, planejados e integrados de forma física e tarifária, com-
postos por trens e metrôs, subterrâneos, elevados e em superfície, nos corredores de altas demandas, VLTs e BRTs, em corredores de médias e baixas demandas, e ônibus comuns, micro-ônibus, teleféricos, funiculares e barcas como modos alimentadores e complementares. Além disso, os sistemas de transportes devem ser suportados por terminais de integração, estacionamentos públicos, táxis organizados, ciclovias seguras e sinalizadas, infraestrutura viária competente, com semaforização inteligente e calçadas humanizadas. Nossas cidades precisam de autoridades metropolitanas, com independência orçamentária e amplos e irrestritos poderes para planejar, projetar, regular, fiscalizar e gerenciar o transporte público, sem interferências políticas e partidárias e com visão de longo prazo. O inciso V do artigo 30 da Constituição Federal preconiza que o poder público municipal é o responsável primário pelo transporte público urbano. A Emenda Constitucional 90, de 15/09/2015, fruto da PEC 74/2013, torna o transporte um direito social, no mesmo nível de outros direitos já reconhecidos constitucionalmente como essenciais ao bem-estar social dos cidadãos, como educação, saúde, segurança, moradia e previdência. Existem todos os tipos de soluções para resolver o problema do caótico transporte público no Brasil, mas a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU tem as seguintes propostas, que, acredito sejam consensuais entre os especialistas: priorização das políticas públicas que privilegiam o transporte coletivo sobre o transporte individual, construção de sistemas de transporte conceitualmente corretos, garantia orçamentária de continuidade dos projetos de longo prazo, desoneração permanente dos tributos federais, estaduais e municipais incidentes sobre os serviços do setor, utilização dos orçamen-
tos públicos para custear os benefícios tarifários que tanto sobrecarregam os usuários comuns, instituição de um fundo com recursos dos combustíveis para subvencionar o transporte público coletivo viabilizando um transporte de qualidade com tarifa acessível à toda a população, ou seja, distinguir a tarifa pública cobrada dos usuários da tarifa de remuneração do operador, implantação de uma política de preços reduzidos para o óleo diesel e energia elétrica consumidos no transporte público urbano. Em última análise, qual seriam as razões para o direito ao transporte continuar no papel e não ser transformado em realidade? Será que os governantes e políticos não entendem que toda a população, incluindo eles próprios e suas famílias, são vítimas do descaso com o transporte público? Será que os governantes e políticos não possuem inteligência suficiente para entender que o binômio transporte público-segurança pública é o alicerce para a construção de cidades humanas e socialmente justas, visto que esses dois serviços públicos são os únicos que participam e afetam cotidianamente as vidas de todos os cidadãos, independentemente de raça, credo, idade ou posição social? Será que os governantes e políticos não conseguem perceber que, sem transporte público e segurança pública, as ações e projetos para as áreas da educação, saúde, trabalho, alimentação e lazer estarão fadadas ao insucesso e o desperdício de dinheiro público será inevitável? Vamos refletir e agir. (*) Marcus Quintella (mvqc@uol. com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Mobilidade. É Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.
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Artigo
O BRASIL NO CONTEXTO DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Por Sonia Consiglio Favaretto e Glaucia Terreo
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inguém duvida das vantagens de uma agenda de sustentabilidade para a sociedade global. Embora sejamos todos beneficiários, o mundo corporativo tem a criatividade, o poder e a escalabilidade para fazer a diferença nesse contexto. As empresas também compartilham vários dos problemas endereçados por essa agenda, como aquecimento global, pobreza e desigualdade social, tornando-se grandes interessadas na transformação. No entanto, a inclusão desses temas nos planos estratégicos das empresas ainda é um trabalho de longo prazo. O motivo é simples: as companhias ainda não têm a percepção de que iniciativas sustentáveis podem ter impacto positivo no seu negócio.. Por esse motivo, o trabalho de entidades e atores próximos às empresas se torna ainda mais importante: podem mostrar como atuar em direção a objetivos que aparentemente nada têm a ver com a natureza de seu core business. Em setembro de 2015, durante a Cúpula de Desenvolvimento Sustentável, a Organização das Nações Unidas (ONU) propôs a assinatura da Agenda 2030, plano global composto por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável*** e 169 Metas, a ser seguida por seus 193 países membros. Os objetivos – que incluem da erradicação da pobreza à igualdade de gênero – vêm para reverter o cenário de pessimismo quanto ao futuro das próximas gerações refletido nos in-
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Sonia Favaretto
dicadores econômicos, sociais e ambientais dos últimos anos. A definição de objetivos comuns, no entanto, não é suficiente para garantir a transformação. É necessário estabelecer metas de curto, médio e longo prazo e, a partir delas, elaborar estratégias para cumpri-las. No Brasil, a B3 começou a trabalhar nesse sentido em 2012, com o relatório “Relate ou Explique para Relatório de Sustentabilidade ou Integrado”. A ideia era estimular as empresas listadas a aderirem à agenda de sustentabilidade, e saber quais
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companhias já publicavam relatório de sustentabilidade e, caso ainda não publicassem, por quê. A iniciativa durou três anos. Em 2016, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) passou a incluir uma questão específica sobre ações socioambientais em seu Formulário de Referência. No início deste ano, a B3 deu um novo passo para desenvolver e aperfeiçoar o mercado de capitais no país, com o lançamento do “Relate ou Explique para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)”. O
Glaucia Terreo
intuito, agora, era ver quais empresas já estavam considerando os objetivos definidos em seus relatórios anuais e, consequentemente, em seus planos estratégicos. Das 443 empresas listadas, 60 já consideram ODS em seus relatórios anuais e 87 explicam por que ainda não. Dentre essas, 36 estão avaliando a possibilidade e, para 17 empresas, a inclusão do ODS no balanço “não está na prioridade da companhia no momento”. Como os ODS são relativamente recentes – tinham pouco mais de um ano quando a iniciativa da B3 foi divulgada – os resul-
tados são positivos, mas também mostram que há muito trabalho a ser feito. Para as 296 empresas que não responderam à pesquisa, planejamos uma série de palestras e workshops em parceria com a Global Reporting Initiative (GRI) para traduzir os objetivos da ONU e estimular um olhar menos óbvio: ODS relacionados à água não dizem respeito somente a empresas de saneamento. De modo geral, o objetivo é não ser um mundo paralelo, mas fazer parte da gestão. As empresas precisam entender quais são os objetivos
mais relevantes para o seu negócio e perceber que se tornam mais produtivas ao incorporar no seu dia a dia as três dimensões do desenvolvimento sustentável – econômica, social e ambiental. * Sonia Consiglio Favaretto é diretora de Imprensa, Sustentabilidade, Comunicação e Investimento Social da B3 e uma das 10 pioneiras de ODS do Mundo: https://www.unglobalcompact.org/sdgs/sdgpioneers/2017 **Glaucia Terreo é diretora da Global Reporting Initiative (GRI) Brasil ***Conheça os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Erradicação da Pobreza; Fome Zero e Agricultura Sustentável; Saúde e Bem-Estar; Educação de Qualidade; Igualdade de Gênero; Água Potável e Saneamento; Energia Limpa e Acessível; Trabalho Decente e Crescimento Econômico; Indústria, Inovação e Infraestrutura; Redução das Desigualdades; Cidades e Comunidades Sustentáveis; Consumo e Produção Responsáveis; Ação contra a Mudança Global do Clima; Vida na Água; Vida Terrestre; Paz, Justiça e Instituições Eficazes; Parcerias e Meios de Implementação. Saiba mais em: https:// nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/
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Estante O Útil ao Agradável, por Celina Côrtes, Editora Chiado, 176 págs, R$ 36 Chegar aos 60 com o mesmo peso que você tinha aos 20 anos pode parecer um sonho distante para a maioria das pessoas. Mas, ao optar por uma rotina constante de exercícios físicos ao ar livre e alimentação equilibrada, a jornalista Celina Côrtes chegou lá. Estas histórias ela conta no livro O útil ao agradável, que acaba de lançar pela Editora Chiado simultaneamente no Brasil e em Portugal. Celina Côrtes, carioca de 1956, é jornalista e passou pelo Jornal do Brasil, O Globo, O Dia e TV Bandeirantes. Em 2010 lançou Ilha da Trindade, veo de mysteriosob a flor d’água (Editora Andaluza); em 2011, Procura-se um milagre (Editora Nova Era) e em 2017, O útil ao agradável, histórias de amor, humor e boa forma (Editora Chiado).
"O sofrimento é opcional- Como o zen budismo pode ajudar a lidar com a depressão", por Monja Coen, Bella Editora, 112 págs, R$ 45 Os princípios do budismo podem ajudar a prevenir ou mesmo vencer a depressão, doença que atinge 320 milhões de pessoas no mundo? A Monja Coen acredita que sim. Uma das mais importantes e admiradas líderes budistas do Brasil lançou, pela Bella Editora, O sofrimento é opcional- Como o zen budismo pode ajudar a lidar com a depressão. A obra detalha como o budismo enxerga a depressão e como seus preceitos podem ajudar a superá-la. O livro tem prefácio do jornalista e budista Heródoto Barbeiro. Em cinco capítulos, Monja Coen escreve sobre Buda e a depressão, sobre “as quatro nobre verdades”, sobre como superar a depressão e sorrir para a vida, sobre os oito aprendizados de uma grande pessoa e dá sugestões “Zen para viver bem”. A Monja conta também como superou a doença e uma tentativa de suicídio. “Quando me pediram para escrever este livro, pensei que fosse uma tarefa fácil. Entretanto, pouco conhecia sobre a depressão e tive de me debruçar sobre livros e escrever algo que pudesse ajudar todas as pessoas que procuram um caminho de libertação. Senti-me deprimida durante o processo. Seja qual for o seu caso – e o meu –, espero que as reflexões e os ensinamentos de Buda possam ajudar a superar amarras e libertar todos os seres”, diz.
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Sem Megafone, com Smartphone - práticas, desafios e dilemas da comunicação com os empregados, por Paulo Henrique Soares e Rozália Del Gaudio, Aberje Editorial, 165 págs Unindo reflexões teóricas de comunicação com empregados (ou comunicação interna) e depoimentos de comunicadores dos cinco continentes, somado ainda à prática dos autores de anos de trabalho em organizações, o livro é um tratado essencial para a boa liderança. No ambiente complexo que se tornou o campo das comunicações, da tecnologia e das relações de trabalho, a obra analisa as transformações da sociedade e as relaciona com as estratégias comunicativas das organizações. Com trajetórias profissionais exemplares no campo da Comunicação Corporativa, os autores, Paulo Henrique Soares e Rozália Del Gaudio, trazem nas páginas do livro Sem Megafone, com Smartphone os principais dilemas e possibilidades que têm marcado a comunicação das organizações com os empregados.
América do Sul Sobre Rodas, por Max Fercondini e Amanda Richter, Editora Novo Conceito, 240 págs, R$ 38 O casal aventureiro de atores da TV Globo Max Fercondini e Amanda Richter estará na 18ª Bienal no livro do Rio de Janeiro para conversar com os diversos fãs e leitores entusiastas por viagens. Eles, experts em mochilões, aventuras e grandes jornadas, vão revelar os segredos, dicas, relatos e experiências que também estão documentadas no livro América do Sul Sobre Rodas, e na série da Globo homônima. América do Sul Sobre Rodas é muito mais que um guia de viagens. Contém listas de itens essenciais para uma aventura, receitas típicas das regiões que o casal visitou, curiosidades de cada cidade e local, bem como indicações de outros pontos turísticos que o turista pode visitar. Os 21 mil Km da jornada que fizeram em 6 países da América do Sul estão totalmente documentadas, com belas fotos e relatos incríveis.
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Bazar ético | Há dez anos
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é sinônimo de sustentabilidade criativa
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rte, design e sustentabilidade são os pilares da ZÓIA, marca brasileira de acessórios contemporâneos criada, em 2007, pela designer Vanessa Wagner, que busca com seu trabalho quebrar paradigmas e sensibilizar as consumidoras com o seu conceito da “SustentHABILIDADE Criativa”. “Nem tudo que é criativo é sustentável, mas tudo que é sustentável é criativo pela nossa necessidade maior de mudança de atitudes, paradigmas e sobrevivência do planeta. Dessa forma, o primeiro passo é a consciência, o começar a fazer alguma coisa.” – diz, acrescentando que eficiência e sobrevivência são as outras ideias subsequentes atreladas a este processo. E é por isso, que, através do Projeto “FAÇO PARTE”, a marca vem coletando, cada vez mais, matéria-prima para os seus produtos com a colaboração das próprias clientes, que assim participam, de alguma forma, do ciclo de produtos, obtendo em contrapartida descontos na compra das peças. Nestes dez anos de existência, transitando entre o design, a moda e o fazer manual apurado, sempre permeada pela questão da sustentabilidade, a ZÓIA, vem sendo reconhecida não só pelas clientes como pelo mercado. Em 2016, conquistou o selo TOP100 de Artesanato, promovido pelo Sebrae Nacional, como uma das unidades
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produtivas de referência de um artesanato brasileiro de qualidade. Em 2015, recebeu na categoria INOVAÇÃO EM DESIGN, o Prêmio V.I.É.S MODA, promovido pelo Governo do Rio e pelo Instituto Europeu de Design para ações sustentáveis na moda e, em 2012, na categoria MODA e INOVAÇÃO, o Prêmio Brasilidade, promovido pelo Sebrae para empresas com ações de impacto sustentáveis. O conceito ZÓIA surgiu ainda na Incubadora do Instituto Gênesis da PUC-Rio, para representar um fazer artesanal otimizado, aliado à identidade em design e ideias de sustentabilidade. Desde então, a marca cria produtos com materiais transformados que impactam não só pela estética mas também pela consciência dos hábitos de consumo em prol de um mundo mais simples e diferente. As coleções surpreendem pelo uso diversificado de materiais como cápsulas de café recicladas, tetrapak, chapas de raio-x tratadas e papelão, têm a cerâmica plástica presente nas diversas linhas de produtos (“Resíduos Urbanos”, “Novos Usos” e “Ideias”), conferindo autoria à marca. O nome ZÓIA, que significa “vida” em grego, representa ainda o desafio da transformação e a ressignificação de materiais presente na sua proposta, produzindo identificação imediata entre as consumidoras. Afinal como diz Vanessa Wagner: “Nem jóias nem bijuterias. Criamos Zóias.”
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A ZÓIA pode ser encontrada em lojas multimarcas, na sua loja virtual e na POPUP MALHA, no Rio Design Leblon. CONTATOS: Vanessa Wagner vanessa@zoia.com.br 21 98815-7443 / 2512-931 Facebook / Instagram: zoiabrasil loja.zoia.com.br www.zoia.com.br
Pelo Brasil Emissões do Brasil sobem 9% em 2016 Dados do SEEG mostram que país lançou mais gases de efeito estufa no ar mesmo em meio à pior recessão de sua história; desmatamento puxou elevação, a maior em 13 anos Da Rede de Especialistas de Conservação da Natureza
As emissões nacionais de gases de efeito estufa subiram 8,9% em 2016 em comparação com o ano anterior. É o nível mais alto desde 2008 e a maior elevação vista desde 2004. O país emitiu no ano passado 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), contra 2,091 bilhões em 2015. Trata-se de 3,4% do total mundial, o que mantém o Brasil como sétimo maior poluidor do planeta. Os dados são da nova edição do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), que será lançada nesta quinta-feira (26) em São Paulo pelo Observatório do Clima. O crescimento é o segundo consecutivo, e ocorre em meio à pior recessão da história do Brasil. Em 2015 e 2016, a elevação acumulada das emissões foi de 12,3%, contra um tombo acumulado de 7,4 pontos no PIB (Produto Interno Bruto), que recuou 3,8% em 2015 e 3,6% em 2016. O Brasil se torna, assim, a única grande economia do mundo a aumentar a poluição sem gerar riqueza para sua sociedade. A elevação nas emissões no ano passado se deveu à alta de 27% no desmatamento na Amazônia. As emissões por mudança de uso da terra cresceram 23% no ano passado, respondendo por 51% de todos os gases de efeito estufa que o Brasil lançou no ar. Por outro lado, quase todos os outros setores da economia tiveram queda nas emissões. A mais expressiva foi no setor de energia, que viu um recuo de 7,3% - a maior baixa em um ano desde o início da série histórica,
em 1970. O setor de processos industriais teve redução de 5,9%, e o de resíduos, 0,7%. As emissões da agropecuária subiram 1,7%. Hoje a atividade agropecuária é, de longe, a principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa no país: ela respondeu por 74% das emissões nacionais em 2016, somando as emissões diretas da agropecuária (22%) e as emissões por mudança de uso da terra (51%). Se fosse um país, o agronegócio brasileiro seria o oitavo maior poluidor do planeta, com emissões brutas de 1,6 bilhão de toneladas (acima do Japão, com 1,3 bilhão). Entre 1990 e 2016, o setor de uso da terra no Brasil emitiu mais de 50 bilhões de toneladas de CO2e, o equivalente a um ano de emissões mundiais. “O descontrole do desmatamento, em especial na Amazônia, nos levou a emitir 218 milhões de toneladas de CO2 a mais em 2016 do que em 2015. É mais do que duas vezes o que a Bélgica emite por ano”, disse Ane Alen-
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car, pesquisadora do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e responsável pelos cálculos de emissões por mudança de uso da terra no SEEG. “Isso é dramático, porque o desmatamento é em sua maior parte ilegal e não se reflete no PIB do país.” Com efeito, a chamada intensidade de carbono da economia brasileira, ou seja, o total emitido por unidade de PIB gerada, cresceu 13% - na contramão da maior parte das grandes economias, em que a intensidade de carbono vem declinando. Em 2016 o Brasil emitiu 1,1 tCO2e para cada milhão de dólares de PIB (MUSD) enquanto a média global é de 0,7 tCO2e/MUSD. Para uma economia de baixo carbono em meados do século estima-se que este valor deveria ser inferior a 0,1. No setor de energia, que antes da crise vinha crescendo rapidamente em emissões, a queda de 7,3% foi puxada pela retração da economia e pelo crescimento da participação das energias renováveis na matriz elétrica.
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Representantes das instituições realizadoras e apoiadoras do prêmio participaram da cerimônia de lançamento
29ª Edição do Prêmio Jovem Cientista é lançada Documento foi assinado pelo CNPq, Fundação Roberto Marinho, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e Banco do Brasil. Tema desta edição será “Inovações para a conservação da natureza e transformação social” Foi assinado, no dia 24 de outubro, termo de cooperação entre o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) / Ministério de Ciência e Tecnologia, Fundação Roberto Marinho, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e Banco do Brasil, para a realização da 29ª edição do Prêmio Jovem Cientista. Instituído em 1981, o Prêmio Jovem Cientista tem o objetivo de revelar talentos, impulsionar a pesquisa no país e investir em estudantes e jovens pesquisadores que procuram soluções inovadoras para os desafios da sociedade. Considerado um dos mais importantes reconhecimentos aos cientistas brasileiros, o prêmio apresenta, a cada edição, um tema importante para o desenvolvimento científico e tecnológico, que atenda às políticas públicas e seja de relevância para a sociedade brasileira. O tema da 29ª edição é “Inovações para a conservação da natureza e transformação social”. Cinco categorias são premiadas: Mestre e Doutor; Estudante do Ensino Superior; Estudante do Ensino Médio, Mérito Institucional e Mérito Científico para um
pesquisador doutor que, em sua trajetória, tenha se destacado na área relacionada ao tema da edição. As inscrições serão abertas em 2018. “O Prêmio Jovem Cientista é uma iniciativa de abrangência nacional, consolidada em 29 edições anuais, entre o CNPq e a Fundação Roberto Marinho com apoio de importantes patrocinadores, que visa motivar e despertar os melhores talentos jovens do País para a área da ciência, tecnologia e inovação. É, portanto, uma iniciativa de grande relevância para o Brasil, por um lado no sentido de investir na criatividade e talento dos jovens cientistas brasileiros e por outro, ao mostrar à sociedade que a CT&I é um pilar essencial para o desenvolvimento nacional”, disse Mario Neto, presidente do CNPq. “Para nós do BB, investir em pesquisa é fundamental. Ao fazer isso, estamos investindo nos nossos talentos, nos pesquisadores que estão construindo o futuro. Acredito que o prêmio será um grande fornecedor de inovação para indústria financeira também”, destacou Paulo Caffarelli, presidente do Banco do Brasil.
“O Prêmio Jovem Cientista reconhece a importância da pesquisa científica e da inovação para o desafio de construir um país mais justo e sustentável, com melhor qualidade de vida para todos. Nesse sentido, parcerias como as que firmamos para esse prêmio, realizado desde 1981, precisam ser mantidas e ampliadas, para que nossos jovens pesquisadores prossigam na missão de encontrar soluções para os desafios de hoje e os de amanhã”, afirmou a gerente de Meio Ambiente da Fundação Roberto Marinho, Georgia Pessoa. “A Fundação Grupo Boticário atua para que a conservação da natureza ganhe relevância na sociedade e que esteja integrada na tomada de decisão dos diversos setores. Para isso, disseminamos novas soluções e estratégias de conservação, compartilhamos conhecimento, firmamos parcerias e engajamos pessoas. Nosso apoio ao Prêmio Jovem Cientista é uma dessas parcerias, na qual estamos incentivando a conservação entre os jovens para que eles levem essa prática para o futuro”, declarou o presidente do Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário, Miguel Krigsner.
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Pelo Brasil
Especial
Metodologia GRI orienta melhorias na gestão da sustentabilidade dos negócios Coppead/UFRJ passa a ministrar programa para Certificação GRI Por Flávia Ribeiro, Especial para Plurale (*) Como utilizar os indicadores da Global Reporting Initiative (GRI) para preparar as estratégias de negócio de sua empresa? Qual o propósito de publicar um relatório de sustentabilidade? Com o objetivo de demonstrar a importância dos indicadores GRI (G4) e como eles respondem às questões de materialidade, o Instituto Coppead de Administração da UFRJ ministrou um curso entre os dias 24 e 25/10 para 15 alunos de instituições e empresas interessadas em conhecer mais a metodologia. O grande desafio foi provocar entre os participantes uma mudança de consciência sobre a aplicação da GRI, inspirando-os a efetivamente realizar mudanças de pensamento nas organizações. De acordo com o professor Celso Lemme, coordenador do curso,
há muitas oportunidades para acelerar a sustentabilidade nos negócios, em especial, através do estímulo à cultura de inovação em pequenas e médias empresas. “Não dá para mudar cultura sem mudar pessoas. É preciso democratizar o acesso à informação e promover a proposição de novas ideias entre líderes e empreendedores”, destacou. Ao longo dos dois dias de treinamento, as instrutoras Sandrine Cuvillier e Verônica Mirilli reforçaram a importância do processo de materialidade para medir os impactos das atividades rotineiras e a influência na tomada de decisão junto dos stakeholders. Foram abordados conceitos teóricos, os princípios da construção do conteúdo e qualidade de informações e o manual de implementação GRI (G4). Os alunos puderam vivenciar também, através de dinâmica em grupos, que só é possível tornar o negócio perene quando gerenciamos temas materiais.
A metodologia GRI é realmente eficaz quando gera reflexão entre executivos da alta direção sobre questões críticas do negócio. “A ferramenta fortalece o processo de relato e empodera os operadores das áreas de sustentabilidade”, informa Verônica que ressalta também a fase de preparação e engajamento dos stakeholders como essenciais. A ONG holandesa Global Reporting Initiative é referência mundial na elaboração de relatórios de sustentabilidade corporativa, atuando em mais de 90 países. Seu principal objetivo é promover mudanças significativas rumo a uma economia sustentável, auxiliando as organizações de todos os setores a avaliar seus impactos, mensurar seu desempenhonas dimensões econômica, ambiental e social, e implementar melhorias nos seus processos produtivos. *Especialista de Sustentabilidade e Colaboradora da Plurale, a convite da Coppead/UFRJ. DIVULGAÇÃO – COPPEAD/ UFRJ
Professor Celso Lemme, coordenador do curso Programa para Certificação GRI, na Coppead/UFRJ: “Não dá para mudar cultura sem mudar pessoas. É preciso democratizar o acesso à informação e promover a proposição de novas ideias entre líderes e empreendedores.”
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PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2017
Instituto Profissionalizante Mangueira firma parceria com a CVM Do Rio
Foi realizado no dia 6 de outubro, no Instituto Profissionalizante Mangueira - IP.Mangueira, a World Investor Week 2017, promovida pela organização Internacional das Comissões de Valores- IOSCO. Esse evento é uma campanha global de proteção e educação dos investidores, bem como educação financeira. Tal iniciativa congregou a oferta de oportunidades educacionais à população de mais de 50 países. IP. Mangueira é uma organização sem fins lucrativos, inseri-
do no Programa Social da Mangueira e tem como missão a promoção do desenvolvimento do público atendido através uma prática socioeducativa, oferecendo qualificação profissional para a inserção no mercado de trabalho, minimizando assim, a desigualdade social e impactando positivamente em sua qualidade de vida. Compartilhamos o sucesso deste evento, ‘’ Educação Financeira no Dia a Dia’’,com cerca de 80 alunos e como palestrantes contamos com profissionais altamente envolvidos como: Fly Vagner (diretor da Rede Globo),
Mara Luquet (jornalista), Alexandre Vasco (superintendente da CVM) e Júlio Cesar Dahbar (Analista da Coordenação Financeira da CVM). Todos os participantes ficaram impressionados, o objetivo foi alcançado, despertando o interesse em obter informações referentes ao tema ‘’ Educação Financeira’’ e a vontade de colocar em pratica no dia a dia. O IP.Mangueira acredita que agora com a parceria CVM estará mais perto de conseguir implantar o módulo de Educação Financeira em todos os cursos de qualificação profissional.
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Especial Por Lília Giannotti, Nícia Ribas e Isabel Capaverde, de Plurale Do Rio Fotos de Gianne Carvalho
O
cenário, um clube bucólico, com cerca de 190 anos, em meio ao pouco que sobrou na região de Mata Atlântica preservada. Na pauta, um debate sobre a urgência da crise climática reunindo feras no tema e também a apresentação de cases de empresas sustentáveis e ONGs. Como plateia, mais de 150 pessoas entre especialistas, gestores de empresas, acadêmicos, imprensa, lideranças sociais e representantes do terceiro setor. O clima, de preocupação, mas também de comprometimento e esperança, com direito a pedidos de resistência, luta e protagonismo. Assim foi o Seminário 10 anos de Plurale - Sustentabilidade como propósito, que marcou o aniversário de uma década de Plurale em revista e em site, editados e dirigidos pela jornalista Sônia Araripe. O evento foi patrocinado por Enel Brasil, Grupo Boticário, Lojas Americanas e B2W Digital e PwC Brasil. “A crise ambiental que vivemos hoje é ética. Ninguém aguenta mais tanto descaramento e descompostura entre os tomadores de decisões. Não é por falta de conhecimento, ciência e tecnologia que estamos vivendo esta crise que ameaça o Planeta. Há quem se locuplete, há quem viva disso. Temer e Trump vão passar. Plurale tem que continuar fazendo barulho, pressionando. Sabemos o caminho a seguir, cada um de acordo com suas convicções”, disse o jornalista André Trigueiro, editor do programa Cidades e Soluções , da GloboNews, que também está completando 10 anos. O jornalista fez um retrato duro da situação atual, mas pediu à plateia resistência, pressão e protagonismo. Como pontos positivos, citou os avanços na área de energias alternativas: “a eólica já significa uma Belo Monte e já temos quase um giga com telhado solar”. Desafio gigante Ao lado de Trigueiro na mesa de
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Sustentabilidade
como propósito FOTOS DE GIANNE CARVALHO
A urgência da crise climática foi muito bem abordada por Alfredo Sirkis, André Trigueiro e Sérgio Besserman.
abertura, o economista Sérgio Besserman, presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio de Janeiro, destacou que vivemos uma revolução inédita e que é preciso conscientizar e sensibilizar. “O tema deste nosso debate é a urgência da crise climática. Mas a crise já foi urgente. Estamos atrasados. Estamos frente a uma revolução maior do que todas as que já aconteceram na história da humanidade. Neste cenário, a desigualdade social será ainda mais profunda e extremamente aumentada pela mudança climática. A pessoa pobre sofrerá de forma arrebatadora. Temos um desafio gigante. Complexo, mas dá para resolver nos próximos 20 ou 30 anos”, afirmou, sempre com uma visão otimista. Fechando a mesa de abertura, o ambientalista Alfredo Sirkis, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, alertou para o fato de serem os polos terrestres as áreas mais vulneráveis. Segundo ele,
PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2017
no momento de incerteza em que vivemos é possível identificar algumas certezas. Lutar e conscientizar são ações necessárias, destacou. “A imensa maioria da humanidade tem a perder com as mudanças climáticas. Vai provocar guerras, como a da Síria. Mas apesar dos constantes furacões e incêndios – sinais climáticos extremos –, a boa notícia é que nos últimos três anos o PIB mundial tem crescido e as emissões de gases de efeito estufa encontram-se estáveis com ligeira queda. Estarão erradas as estatísticas? Só temos uma certeza: lutar é necessário! ”. Redes foram decisivas A Editora de Plurale, Sônia Araripe, agradeceu as palestras, as presenças de tantos amigos desta trajetória de 10 anos da mídia, e destacou a relevância da mídia ter se consolidado sempre no conceito de redes. “Não conseguiríamos chegar até aqui sozinhos. Empreender no Brasil é muito difícil, ainda mais no
Patrocinadores com propósito: Luciana Pacheco (Lojas Americanas e B2W Digital), Odailton Arruda (ENEL Brasil), Malu Nunes e Bianca Brasil (Grupo Boticário e Fundação Grupo Boticário) e Patrício Roche (PwC Brasil).
segmento de mídia independente. Mas tivemos a imensa sorte de contar com grandes parceiros e colaboradores nesta trilha sustentável. Sem eles, não teríamos conseguido perseverar”, disse. Falou das novidades de Plurale, como a TV web com entrevistas (confira no site as entrevistas em vídeo realizadas no evento), a força das mídias sociais e também os projetos especiais (publieditoriais), com focos temáticos. Cases com propósito Na segunda parte do seminário moderado pela experiente jornalista Amanda Pinheiro, especializada nesta temática - gestores apresentaram cases de sustentabilidade como propósito. Entre os palestrantes, estiveram Malu Nunes, diretora-Executiva da Fundação Grupo Boticário e Gerente de Sustentabilidade do Grupo Boticário;
Odailton Arruda, responsável pela área de Novas Oportunidades em Projetos de Sustentabilidade da Enel e Luciana Pacheco, gerente geral de Comunicação e Sustentabilidade de Lojas Americanas e B2W Digital. Enel Brasil Odailton Arruda, Responsável por Novas Oportunidades em Projetos de Sustentabilidade da Enel Brasil, destacou que o grupo investe fortemente em energias renováveis no mundo e tem liderado fortes investimentos também no Brasil. “Só para citar como exemplo, a primeira planta mista de eólica e solar foi feita pela Enel em Pernambuco e, agora, estamos inaugurando a maior planta solar da América Latina no Piauí. Portanto, a Enel chegando a frente, colocando como uma ponte entre a sustentabilidade, clientes e
as energias renováveis através de suas plantas solares e eólicas.” Especialista em Ecoeficiência, Odailton frisou em sua palestra que “a melhor energia é a energia economizada” e apresentou a ação neste sentido desenvolvida pela Enel Brasil. “Fazemos isso de maneira bastante efetiva, incentivando os clientes a não desperdiçar energia, não ter a geração solar e eólica apenas para compensar o carbono, mas para economizar energia, fazendo com que tenhamos a energia efetivamente gasta, com eficiência.” Grupo Boticário e Fundação Grupo Boticário Malu Nunes, Diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário e Gerente de Sustentabilidade do Grupo Boticário, apresentou para o público não só como a sustentabilidade é estratégica para o Grupo nas suas unidades operacionais e no negócio, mas também detalhes da história de 27 anos da Fundação Grupo Boticário, uma das principais do país na proteção da biodiversidade. “A Fundação surgiu em 1990, já com este foco de proteção da biodiversidade, em um país tão rico em biodiversidade, mas que ainda precisa evoluir muito no cuidado desta biodiversidade. Para que, assim, garantir a nossa qualidade de vida e também das atividades produtivas. A Fundação Grupo Boticário
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Especial FOTOS DE GIANNE CARVALHO
Outro destaque do evento foi a fala inspiradora de Tião Santos, liderança entre catadores, Presidente da Associação de Catadores do Aterro do Jardim Gramacho Odailton Arruda, da ENEL Brasil, apresentou o programa de Ecoeficiência e também falou da liderança do grupo em energias renováveis no Brasil.
Malu Nunes, do Grupo Boticário, falou não só sobre a prática da sustentabilidade no negócio, como também do relevante trabalho de 27 anos da Fundação Grupo Boticário
Luciana Pacheco, da Lojas Americanas e B2W Digital, destacou o propósito nas ações e o patrocínio para iniciativas e ONGs como a Galpão Aplauso e Recode.
A jornalista Amanda Pinheiro, especializada em Sustentabilidade, foi a moderadora do Seminário
ao financiar projetos e apoiar pesquisadores que estão em campo, protegendo esta biodiversidade ou estudando, traz um resultado que é perene. Além das 150 espécies de fauna e flora descobertas no âmbito destes projetos, a Fundação tem muitos resultados que alavancam proteção de áreas, criação de novas áreas protegidas, além das nossas próprias”, frisou. Destacou que a Fundação tem duas áreas próprias criadas e protegidas: uma no bioma Mata Atlântica, a Reserva Natural de Salto Morato, no Paraná e a Reserva Natural da Serra do Tombador, no bioma cerrado, em Cavalcante, Goiás. Lojas Americanas e B2W Digital Luciana Pacheco, gerente geral de Comunicação e Sustentabilidade de Lojas Americanas e B2W Digital, apresentou o case das duas empresas que integram o mesmo grupo. “Lojas Americanas e B2W Digital acreditam na sustentabilidade como propósito, na gestão sustentável e procuramos trazer isso para o nosso dia-a-dia, para os nossos negócios. Investimos em projetos de sustentabilidade, de responsabilidade social por meio do esporte, do bem-estar e lazer e também da educação. Temos a formação como principal meta.” Luciana contou que na B2W Digital há uma plataforma de tecnologia e alia à gestão sustentável, investindo em projetos em prol da formação de talentos nesta área. Na mesma forma, explicou, na Lojas Americanas investe em cursos como do Galpão Aplauso, que forma talentos em Logística. “Procuramos dar acesso a estes jovens talentos que eles dificilmente teriam, contribuindo para o desenvolvimento sustentável”, disse. A economista Ivonette Albuquerque contou a história do Galpão Aplauso, projeto criado por ela, que já capacitou mais de 11 mil jovens nas áreas culturais, artísticas e empresariais, promovendo inserção no mercado de trabalho. Ivonette falou sobre o Curso
Profissionalizante de Logística, fruto de uma parceria entre a entidade e a Lojas Americanas, que capacitou 320 jovens em uma nova profissão. Na sequência, Elaine Pinheiro, CEO da ONG Recode, apresentou o projeto inovador TecEscola, em parceria com a B2W Digital, uma iniciativa de empoderamento digital implementado em 50 unidades de ensino da Rede Estadual do Rio de Janeiro. Também fez parte da programação do seminário a apresentação de histórias inspiradoras, como a de Tião Santos, o catador que foi protagonista do filme “Lixo extraordinário” e do livro “Tião – do lixão ao Oscar” e liderança dos catadores no processo de fechamento, em 2012, de Jardim Gramacho, considerado o maior aterro sanitário da América Latina, hoje Presidente da Associação de Catadores do Aterro do Jardim Gramacho. “O trabalho dos catadores é um serviço público prestado a sociedade e às empresas”, frisou Tião Santos. A ambientalista Fernanda Cubiaco, do Movimento Lixo Zero, também falou sobre engajamento e ações práticas para reduzir o lixo em restaurantes, eventos e também nas praias. O consultor de sustentabilidade, Paulo Loiola, da Humana Consultoria, encerrou o evento falando sobre a relevância do resgate do coletivo. A PwC Brasil, tradicional parceira de Plurale ao longo de sua história, também foi patrocinadora do Seminário, tendo sido representada por Patrício M. Roche e Anna Ortiz. O público pode conferir a campanha institucional “O mundo pede novas leituras”, que traz conceitos tão relevantes e inspiradores, como “visão” e “governança”. Presente no país desde 1915, a PwC Brasil possui cerca de 4.500 profissionais distribuídos em 17 escritórios em todas as regiões brasileiras. Como era dia de festa, os convidados também concorreram, através de sorteios, a alguns brindes, lembranças oferecidas pelos patrocinadores: como produtos de O Boticário; copos reutilizáveis e retráteis da ONG “Menos 1 Lixo”, da designer Fernanda Cortez, oferecidos no portal “Sou Barato” (outlet da Americanas.com); canetas e uma bolsa de viagem oferecida pela PwC Brasil.
Plurale tem selo de compensação de emissões de gases de efeito estufa EMISSÕES CONTABILIZADAS
Como parte das novidades pela década de realizações, Plurale passa a ter selo de compensação de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Em parceria com a WayCarbon, referência em soluções para a sustentabilidade, cada edição terá suas emissões de GEE contabilizadas e compensadas. “É com extrema satisfação que a WayCarbon celebra a parceria com a Revista Plurale. A partir de agora, as edições da Revista terão as suas emissões de gases de efeito estufa contabilizadas e compensadas por meio do Programa Amigo do Clima. Essa ati-
Setembro e Outubro de 2017
tude reforça a proatividade e o compromisso da Plurale com o desenvolvimento sustentável 4,08 tCO e e a responsabilidade climática”, destacou Rafael Carmo, Gestor Executivo do Programa Amigo do Clima. A WayCarbon, localizada em BH, RJ e SP, é uma empresa de base tecnológica que atua para solucionar os desafios da sustentabilidade, produzindo respostas para um mundo em transformação. Diversos clientes – de diferentes portes – têm se relacionado com a empresa, como a Confederação Nacional da Indústria (CNI), CPFL Renováveis, 2
Rafael Carmo
Grupo Invepar, MRV Engenharia, Grupo Pão de Açúcar, Ticket Log, CEBDS, Grupo Libra e Vale.
Evento sustentável e com pausa para reflexão
O Seminário 10 anos de Plurale foi pensado dentro de um conceito alinhado com propósito, sustentabilidade e inspiração. “Há anos temos pensado em um evento que lidasse não só com o conceito de inspiração no sentido de criação e iluminação do pensamento, mas também com o lado mais fisiológico, de inspirar ar, respirar com calma. “Este duplo sentido, assim como o conceito de propósito se encaixavam perfeitamente com o que esperávamos transmitir para o público com o evento”, explicou Sônia Araripe, diretora de Plurale. Coube à Diversa Comunicação Consciente executar a produção, buscando materiais e ideias ancoradas no conceito, sem esquecer da sustentabilidade como norte. Na entrada, um varal com capas de Plurale em revista davam já o tom da festa. A produção também cuidou de usar material reciclado na decoração: a árvore dos desejos (com mensagens para a equipe Plurale) foi reaproveitada de galhos secos e garrafas de vidro decoradas ajudavam a dar um clima eco. “A gente precisa compreender, de uma vez por todas, que nossas ações repercutem e interferem na qualidade de vida de todos, na comunidade em que es-
tamos e no ambiente em que vivemos. Só temos a ganhar se fizermos escolhas mais conscientes! Obrigada, Plurale! Vibramos muito e aprendemos demais estando com vocês em mais esse projeto”, destacou a jornalista Renata Mondelo, fundadora da Diversa Comunicação, projeto independente após carreira sólida de 20 anos em várias empresas de grande porte, como Coca-Cola, Vale e Transpetro. Para trazer ainda mais inspiração do Seminário, houve uma pausa de meditação coordenada pela Academia de Massagem de Som Peter Hess Brasil. A dinâmica, realizada por Leila Rosimere da Silva, Regina Santos, Adenias Filho, Léa Garcez e grupo, foi muito bem recebida pelo público presente. O Método Peter Hess® de Massagem de Som é uma técnica desenvolvida há mais de 30 anos na Alemanha, pelo engenheiro físico e pedagogo Peter Hess (www.peter-hess-institut.de) , que utiliza os sons e vibrações de Taças de Som Terapêuticas como meio de promover um relaxamento profundo e regenerador. É uma massagem vibro-acústica que atua a nível celular, onde as vibrações passam pela nossa pele, epiderme, músculos, cavidades, líquidos, chegan-
Leila Rosimere e Adonias Filho da Academia Peter Hess Brasil - Massagem de Som; decoração sustentável produzida pela Diversa Comunicação Consciente e a terapeuta Lou Fernandes fez dinâmica sobre economia humana.
do até os nossos ossos, onde nenhuma outra massagem consegue chegar. Outro momento inspirador do evento foi a palestra sobre “Ecologia humana” por Lou Fernandes – Prem Indira, Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina da UFRJ. Jornalista, escritora, palestrante e terapeuta. “Ecologia Humana é cuidar do corpo e da mente como cuidamos de um jardim que queremos ver florido. Assim o que realizamos por dentro, com os nossos sentimentos e pensamentos, mudará a realidade externa”, explicou.
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Especial
Uma manhã
inspiradora
Amigos, leitores, executivos, comunicadores e especialistas em Sustentabilidade estiveram presentes no Seminário 10 anos de Plurale, realizado no último dia 18 de outubro. Todos fizeram questão de conferir a programa-
ção inspiradora e levar um abraço para a equipe Plurale. O local não poderia ser mais apropriado, o bucólico Clube Germânia, com 197 anos de história. Confira nas fotos de Gianne Carvalho o bom astral do evento.
Carina Almeida (Textual), Marco Simões (Conselho do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e ABA) e Cláudia Jeunon (Invepar) confraternizam com a Diretora de Plurale
Na saída, todos receberam lembranças: um creme de mão Boticário, um imã de geladeira de chapinha reciclada (Ecotampas) e um saboroso brownie.
Apimec-Rio presente no Seminário – Luiz Fernando Bello, diretor e Gilberto Esmeraldo, assessor da Presidência.
O administrador de empresa José Luiz Farani e o economista Marcos Rechtman fizeram questão de prestigiar o evento
Grupo de relevantes jornalistas
Unidos pelo propósito: Vanessa Wagner (Zóia); Paulo Loiola (Humana Consultoria), Sônia Araripe (Plurale), Alfredo Borret (Ecotampas) e Fernanda Cubiaco (Lixo Zero).
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FOTOS DE GIANNE CARVALHO
Os salões do Clube Germânia ficaram lotados
Os convidados foram recebidos com um saboroso e farto café da manhã, preparado pelo Buffet do Clube Germânia
Academia presente: Professoras Isabel Barreto, Marilene Lopes (ambas da PUC-Rio) e Cristina Mafra de Mello
PwC Brasil – O mundo pede novas leituras
Jornalista Ana Fonseca, Prof. Renê Garcia (FGV), Jornalista Rosa Cass, Sônia Araripe e Dra. Rita Scarponi.
Recepcionistas recebiam os convidados com a Edição Especial 10 anos e kit sustentável para anotações
Ivonette Albuquerque apresentou Curso Profissionalizante de Logística, fruto de uma parceria entre a entidade e a Lojas Americanas, que capacitou 320 jovens em uma nova profissão
A designer e ambientalista Fernanda Cortez (Menos 1 Lixo) com o copo que criou – reutilizável e retrátil.
Elaine Pinheiro apresentou o projeto inovador “TecEscola”iniciativa da B2W Digital e da ONG Recode de empoderamento digital implementado em 50 unidades de ensino da Rede Estadual do Rio de Janeiro
Jornalistas unidas pelo propósito e amizade: Renata Mondelo (Diversa Comunicação Consciente), Sônia Araripe (Plurale) e Amanda Pinheiro, que moderou o evento.
Especial
Frases “A crise ambiental que vivemos hoje é ética. Ninguém aguenta mais tanto descaramento e descompostura entre os tomadores de decisões. Não é por falta de conhecimento, ciência e tecnologia que estamos vivendo esta crise que ameaça o Planeta. Há quem se locuplete, há quem viva disso. Plurale tem que continuar fazendo barulho, pressionando. Sabemos o caminho a seguir, cada um de acordo com suas convicções.” ANDRÉ TRIGUEIRO, editor do programa Cidades e Soluções da GloboNews
“Apesar dos constantes furacões e incêndios, tenho uma boa notícia: nos últimos três anos o PIB mundial tem crescido e as emissões encontram-se estáveis com ligeira queda. Estarão erradas as estatísticas? Só temos uma certeza: lutar é necessário!” ALFREDO SIRKIS, secretário executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas “Estamos frente a uma revolução maior do que todas as que já aconteceram na história da humanidade. Temos um desafio gigante. Complexo, mas dá para resolver nos próximos 20 ou 30 anos”.
“O trabalho dos catadores é um serviço público prestado a sociedade e às empresas.” TIÃO SANTOS, Presidente da Associação de Catadores do Aterro do Jardim Gramacho
SÉRGIO BESSERMAN, economista, ambientalista, Presidente do Instituto Jardim Botânico do Rio
“A Fundação Grupo Boticário ao financiar projetos e apoiar pesquisadores que estão em campo, protegendo esta biodiversidade ou estudando, traz um resultado que é perene. Além das 150 espécies de fauna e flora descobertas no âmbito destes projetos, a Fundação tem muitos resultados que alavancam proteção de áreas, criação de novas áreas protegidas, além das nossas próprias” MALU NUNES, Diretora-executiva da Fundação Grupo Boticário e Gerente de Sustentabilidade do Grupo Boticário
“A primeira planta mista de eólica e solar foi feita pela Enel em Pernambuco e, agora, estamos inaugurando a maior planta solar da América Latina no Piauí.” ODAILTON ARRUDA, Responsável por Novas Oportunidades em Projetos de Sustentabilidade da Enel Brasil
“Lojas Americanas e B2W Digital acreditam na sustentabilidade como propósito, na gestão sustentável e procuramos trazer isso para o nosso dia-a-dia, para os nossos negócios. Investimos em projetos de sustentabilidade, de responsabilidade social por meio do esporte, do bem-estar e lazer e também da educação. Temos a formação como principal meta.” LUCIANA PACHECO, gerente geral de Comunicação e Sustentabilidade de Lojas Americanas e B2W Digital
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Resumo com vídeos, fotos e matérias sobre o Seminário pode ser acessado em:
www.plurale.com.br
A Equipe Plurale agradece a presença de todos e o apoio de parceiros!
Patrocínio
DIGITAL
Realização
Organização
Parceiros
Tradição
Integrantes da 4ª Edição do Prosa Cortante reunidos para uma foto oficial
Texto e fotos por Luciana Tancredo, Editora de Fotografia de Plurale De Santa Rita de Ouro Preto (MG)
A
s montanhas mineiras, com a sua gente e a sua prosa - eternizadas pelas letras de escritores mineiros ilustres, como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Otto Lara Rezende – ainda resistem. O 4º Prosa Cortante das Gerais, realizado este ano em outubro, em Santa Rita de Ouro Preto (distrito a 30 quilômetros da histórica Ouro Preto), recebeu uma verdadeira legião de amantes desta junção do que há de mais mineiro: natureza preservada, comida quente, boa prosa e cuteleiros e suas facas moldada na forja. Para fazer uma mistura bem mineira, se juntaram também artistas que trabalham com ferro, cervejeiros artesanais, a turma do arco e flecha, da esgrima histórica renascentista e da falcoaria.
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Prosa cortante das
Gerais Quarta edição do evento, que reúne bons causos, ferreiros, cervejeiros tradicionais e falcoaria, virou tradição de uma Minas que não vê o tempo passar
A cada ano o encontro acontece em uma cidade histórica de Minas, tendo Tiradentes abrigado o de 2016. Mas, com novo espaço de eventos, o Atelier Paiol Albanos, em Santa Rita, a ideia é que volte a ser, em 2018, neste mesmo local novamente. Quem idealizou e coordena o evento é Markito Amato, jornalista de formação, um grande agluti-
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nador de gente, ideias e ideais. Com o apoio da mulher, Flávia, que é médica de família, na região, o casal abandonou há alguns anos a cidade grande e foram buscar as raízes, saúde e a vida calma do interior. A casa da família, no alto da montanha de Santa Rita, ilustra bem esta preocupação: sustentável, sem energia elétrica, abastecida por painéis
Markito começa os trabalhos na Bigorna.
Visitantes se divertem aprendendo arco e flexa.
de energia solar, horta orgânica, etc. O que mais toca os visitantes é ver o comprometimento de todos em pautar as suas atividades em torno da sustentabilidade do resgate das tradições. O evento foi um mergulho no passado, como se fosse um roteiro de filme medieval, que parece não ter ficado no passado: os cuteleiros fazendo suas
facas na forja; artistas que trabalham com ferro; cervejeiros artesanais; aulas de arco e flecha (da Federação Mineira de arco e fecha); demonstração da esgrima de combate renascentista e os especialistas em Falcoaria (com especialistas que treinam águias, falcões e corujas para controlar o espaço aéreo dos aeroportos).
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Tradição
Pé-de-moleque: calçamento típico da região
Para quem não conhece ainda o bucólico distrito de Santa Rita de Ouro Preto, a região é uma ótima alternativa a já tradicional histórica e concorrida Ouro Preto, que está a apenas 30 km. Seus primeiros habitantes chegaram no início do século XVIII, com a bandeira de Martinho de Vasconcelos, à procura do ouro às margens do Ribeirão Falcão, mas encontraram em abundância a esteatita, conhecida como pedra-sabão. Essa mesma pedra sabão que hoje pode ser encontrada na forma do belo artesanato da região, no Paiol Albanos, um atelier que reúne peças de vários artistas locais e cedeu o espaço onde o evento aconteceu. A origem do nome se deve à devoção à Santa Rita de Cássia, imagem trazida pelos bandeirantes tornando-se a santa de devoção da população da cidade. Passou a chamar Santa Rita de Ouro Preto quando foi elevado a distrito de Ouro Preto. A exuberante região tem várias cachoeiras e passeios espetaculares. Em Lavras Novas, além do circuito das cachoeiras e da represa - que o
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visitante pode chegar de quadriciclo alugado (há duas agências de turismo no centro que alugam - tem também ótimas pousadas e restaurantes. É para curtir e esquecer o corre-corre diário das grandes cidades. Ah! E ainda tem como curiosidade as vacas que vivem soltas pela cidade: como ficavam revirando as latas de lixo, como se fossem cachorros vira-latas, um morador artesão teve a ideia de fazer uma latinha em formato de vaquinhas coloridas que não podem ser abertas pelos animais. A turma da falcoaria representava três entidades: Associação Brasileira de Falcoaria, BH Hawking Club e Gavilan Serviços Ambientais. Eles fazem o resgate de animais apreendidos para devolver a natureza, e também tem trabalho muito interessante nos aeroportos, para prevenção de acidentes com aves que atrapalham decolagens e aterrisagens. Juro que não é “causo” mineiro (rs). Confira nas fotos alguns momentos incríveis que presenciamos e compartilhamos aqui em Plurale.
Igreja Nossa Senhora dos Prazeres, em Lavras Novas
E n s a i o
FOTOS E TEXTO:
Luciana Tancredo
Imagem de Santa Rita, esculpida em pedra sabĂŁo
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Tradição
O ninho da Siriema é no alto da árvore
E n s a i o
Cachoeira do Falcão na parte baixa
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FOTOS E TEXTO:
Luciana Tancredo
Represa do Custódio, em Lavras Novas
Vegetação típica de campos de altitude
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Comportamento
Toast:
a cerveja maturada no conceito de economia circular Por Sônia Apolinário, Editora do Portal Comunic Sônia Apolinário Especial para Plurale
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olocar em prática a economia circular e evitar o desperdício de alimento. É isso o que o público vai “consumir” ao abrir uma garrafa da nova Toast, rótulo que as cervejarias Antuérpia e GreenLab lançaram no Mondial de la Bière, que aconteceu em outubro, no Pier Mauá, no Rio de Janeiro. Pães não vendidos que seriam descartados, viram ingrediente da cerveja. Por sua vez, a “sobra” da brassagem do rótulo é reaproveitada e vira pão. Nesse projeto também está envolvida a ONG Gastromotiva. O novo rótulo está sendo apresentado pela Antuérpia como sendo a primeira Toast Ale brasileira: uma Craft Lager com 5% Vol e 26 de IBU. Foi produzida com 192 quilos de pães não vendidos, coletados em padarias artesanais de Juiz de Fora (MG), cidade que faz divisa com Matias Barbosa, onde a cervejaria está instalada. “A meta é reduzir o desperdício de pães na cidade.”, explica Marco Antonio Frederico, Diretor de Branding da Cervejaria Antuérpia. A Toast já é fabricada na Inglaterra seguindo exatamente esse conceito de economia cir-
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cular. Foi desenvolvida após a constatação, por parte da empresa, que 44% do pão produzido no Reino Unido são jogados fora ao longo da sua cadeia de fornecimento. Parte dos lucros obtidos com a venda da Toast UK é revertido para a Feedback, organização que combate o desperdício de alimentos, com sede em Londres. A cervejaria carioca GreenLab trouxe para o Brasil o licenciamento da receita e buscou a Antuérpia para fazer a produção. Na consultoria de sustentabilidade do projeto é que entra a Gastromotiva. A ONG visa a transformação social por meio da gastronomia. Atua em São Paulo, Salvador e no Rio de Janeiro. No bairro carioca da Lapa, mantém o Reffetorio Gastromotiva. Ali, produtos não utilizados pelos restaurantes são transformados em refeição pelos alunos dos cursos da Gastromotiva e servidos para a população vulnerável. Tudo sob supervisão de vários chefs renomados. O projeto é liderado pelo chef David Hertz. Serão os alunos da Gastromotiva que transformarão as sobras das brassagens da Toast brasileira em pão. Parte do lucro das vendas desse rótulo será revertido para a Gastromotiva. “Para nós, da Gastromotiva, desenvolver produtos com critérios fundamentados na economia circular é fundamental. Assim, cada vez mais forte e legítimo se torna o Movimento global da Gastronomia Social que envolve chefs, empresas e a sociedade civil global”, Nicola Gryczka, CEO da Gastromotiva. A Antuérpia lançou mais cinco rótulos no Mondial de la Bière. Além da Toast, outro destaque é a New England IPA Vert Mont (8,1%Vol / IBU 59,6).
Jornalista Sônia Apolinário se reinventa: cria blog e coluna especializada em cervejas artesanais Uma revista digital, com ênfase em Cultura, Comportamento e Nova Economia de Rede, com direito a rádio própria e uma coluna cervejeira. Assim é o Comunic Sônia Apolinário. Jornalista responsável pelo site, Sônia Apolinário trabalhou, por muitos anos, nos principais jornais do país como O Globo, Folha de S.Paulo e Estado de São Paulo. Sempre nas áreas de Cultura e Comportamento. “Foi preciso aprender a me reinventar. Gosto de contar boas histórias e apurar matérias de comportamento e cultura. As cervejas artesanais também são um diferencial em nosso portal”, conta Sônia, que está conquistando bons patrocinadores e parceiros para o projeto solo. Atualmente envolvida em confrarias cervejeiras e iniciada
na produção da bebida, criou a Coluna Cervejeira Lupulinário, que tem Instagram próprio: @ lupulinario. O site reserva um espaço para Publieditoriais e inovou ao aceitar criptomoedas como Bitcoin como pagamento de anúncios e mídia Publi. Conheça: www.comunicsoniaapolinario.com.br/
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Tragédia de Mariana completa dois anos: moradores atingidos sofrem com depressão e outros problemas de saúde Rompimento da Barragem de Fundão, da Samarco – controlada por duas das maiores mineradoras do mundo, a australiana BHP e a brasileira Vale –, que provocou 19 mortos, centenas de desalojados e atingiu a biodiversidade da Região do Rio Doce, até hoje não teve os culpados responsabilizados Sumaia Villela - Enviada especial à Mariana (*) Repórter da Agência Brasil Fotos de José Cruz / Agência Brasil
Há dois anos, a folha do calendário das casas de dois distritos de Mariana e um de Barra Longa, em Minas Gerais, foi virada pela última vez. O dia 5 de novembro de 2015 se eternizou nas paredes das casas que ficaram de pé em Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira. Desde então, a vida dos atingidos pela lama da mineradora Samarco está suspensa - 730 dias depois do rompimento da Barragem de Fundão, ainda se espera pelo reassentamento, pela indenização, pelo rio límpido, cujas ações de reparo, complexas, enfrentam atrasos e obstáculos que desafiam os órgãos envolvidos. A espera e a mudança brusca de vida se transformam em depressão nas comunidades. Algumas pessoas não viveram para testemunhar as mudanças. Seus parentes apontam a tristeza como o agente catalisador dos problemas de saúde. São os novos mortos da tragédia de Mariana. “Meu pai morreu de tristeza” Enquanto faz arroz na cozinha da casa alugada e mobiliada pela mineradora Samarco, na sede do município de Mariana, em Minas Gerais, Leonídia Gonçalves, de 46 anos, lembra que um dos maiores prazeres do pai, de 67 anos, Alexandre, era tocar moda de viola e jogar baralho todas as noites, no bar de Paracatu de Baixo. As filhas dela, gêmeas, brincavam na rua quando queriam. Todos moravam lado a lado, já que, ao se casar, Leonídia construiu sua casa no terreno
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do pai. Agora, essa é uma lembrança que não se repetirá nem mesmo quando a família for reassentada na nova Paracatu, que deve ser construída como reparação. Alexandre morreu em março deste ano, de infarto. A agricultora tem a convicção, no entanto, de que a causa verdadeira da morte é a depressão. Seu pai foi diagnosticado e chegou a tomar medicamento para tentar reverter a doença. “A gente era feliz. Tinha de tudo. Hoje, tá todo mundo distante. Lá era todo mundo família, era um na casa do outro, à noite a gente ficava na rua, não tinha perigo de nada. E chegando à cidade agora, a gente se assusta”, relata, ao falar sobre a mudança de hábitos do meio rural para o urbano. Quando os 39,2 milhões de metros cúbicos de rejeito avançaram pelo Rio Gualaxo do Norte (afluente do Rio Doce) e chegaram às ruas de Paracatu, um modo de vida foi soterrado. Para abrigar os moradores, a Samarco alugou residências na cidade de Mariana, de acordo com a disponibilidade do mercado, sem que as casas dos familiares ficassem próximas. Os atendidos devem aguardar até que o novo distrito seja construído. Foi assim que Alexandre e Leonídia viraram moradores de bairros diferentes. O aposentado, transferido de casa mais de uma vez, mudou também de hábitos. Não saía de casa, emagreceu de forma repentina e, hipertenso, passou a adoecer com frequência. Os filhos o levavam ao médico, mas ele não se recuperava. Ficou depressivo. E é das últimas palavras que trocou com a filha que a agricultora tira a argumentação mais forte sobre o motivo de sua morte. “O fim de semana em que ele morreu, estava aqui comigo. À tardezinha falou: minha
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FOTOS DE JOSÉ CRUZ – AGÊNCIA BRASIL
Tragédia de Mariana
filha, eu não quero que vocês briguem. São seis irmãos. E não chora, não. Eu perguntei porque ele tava falando isso. “Eu sei que estou dando amolação para vocês, vocês chegam do trabalho, têm que ir lá para casa”. Eu falei: “Vem morar comigo então, perto das duas meninas”, porque ele era apaixonado por elas. Aí meu irmão levou ele embora. Às 19h30, minha irmã ligou e disse que ele tinha ido para o hospital. Quando cheguei lá, já tava morrendo. A gente culpa é essa lama”. Era dia 5 de março de 2017. No domingo, 5 de novembro, aniversário de dois anos da tragédia de Mariana, ela passará o dia nos escombros de Paracatu para lembrar os oito meses de falecimento do pai. “Caso não é isolado” Embora a Comissão de Atingidos da Barragem de Fundão não tenha um levantamento de todas as vítimas, o caso de depressão e morte pós-desastre de Alexandre Gonçalves não é o único. Quando a reportagem pediu para se lembrarem de histórias semelhantes, citaram pessoas - sobretudo idosos - que morreram nos últimos dois anos, normalmente depois de sintomas que os levam a acreditar que a causa foi a tristeza. Na própria família de Leonídia, há casos de agravamento de doenças que ela atribui à lama. Sua sogra atualmente está internada em Ouro Preto por causa de um problema no coração. Sintomas como medo de sair de casa, tristeza profunda e constante e esquecimento de fatos recentes estão nos relatos da maioria das pessoas ouvidas pela reportagem. Como no caso de Marino D’Ângelo Júnior, de 47 anos, morador de Paracatu de Cima e membro da Comissão de Atingidos. “Fiquei um tempo sem aguentar trabalhar, porque tive depressão. Hoje eu tomo dois antidepressivos, o que aumentou minha glicose. Fiz exame e chegou a dar diabetes, estou esperando para ver se vou ficar mesmo. Mas, antes de tomar esses remédios, eu só
Ruínas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), dois anos após a tragédia do rompimento da Barragem de Fundão, da mineradora Samarco José Cruz/Agência Brasil
chorava”, conta. “Depois do rompimento, a gente tem que aprender a viver de novo. E o pior é que, além de passar por tudo, você tem que lutar para conseguir as coisas”. Preconceito Existe ainda o sofrimento causado pelo preconceito. São muitos os relatos de hostilidades sofridas pelos atingidos que foram morar em Mariana. Luzia Nazaré Mota Queiroz, de 52 anos, moradora de Paracatu de Baixo,“vendia sonhos” em uma loja de noivas da cidade de Mariana antes da tragédia. Ela saiu do emprego porque não aguentava mais ouvir comentários de clientes. “Eu tinha que estar sempre sorridente, alegre. Com o tempo, as pessoas entravam na loja e diziam: ‘eu não aguento mais esse povo falando da barragem’. Tinha uns que diziam que a gente era folgado”. Segundo Luzia, a dona da loja a apoiou, mas ela optou por pedir demissão. “Ou eu vou sofrer alguma coisa, ou a senhora vai sofrer alguma coisa. Ela relutou, mas depois entendeu”, disse. “Pessoas que moram em Mariana acham que os atingidos se aproveitam da situação. Porque a Samarco é quem move a economia da cidade, é quem gera emprego. Mas a gen-
Na casa alugada e mobiliada pela mineradora, Leonídia Gonçalves, de 46 anos, relembra os tempos em que vivia em Paracatu de Baixo, área que foi destruída pela lama José Cruz/Agência Brasil
te não construiu barragem para romper em cima da gente”, argumenta Marino D’Ângelo. O desemprego em Mariana passou de 20%. Há placas na cidade pedindo a volta da Samarco. O prefeito Duarte Júnior (PPS) afirma que 89% da receita do município vêm da mineração e da arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que caiu de R$ 11 milhões para R$ 8 milhões. Ele projeta nova queda, para R$ 6,5 milhões, no próximo ano, quando a Samarco, até hoje com atividade paralisada, zera o pagamento do imposto. O prefeito respondeu ao questionamento da Agência Brasil sobre o motivo pelo qual essa dependência não foi reduzida antes da tragédia. “Quando assumimos, começamos a pensar em um distrito industrial. Mas, o que realmente acontece é que Mariana sempre foi uma cidade muito rica. Então, era muito mais interessante você receber esse dinheiro que vinha e gastar sem ter que se preocupar. Ninguém nunca se preocupou com a possibilidade de a mineração acabar, então ninguém tomava a primeira atitude. Tivemos que tomar esse tapa na cara”. Atendimento psicológico A Fundação Renova, criada para desenvolver as ações de reparação e compensação dos estragos provocados pelo rompimento de Fundão, não dispõe de um levantamento de pessoas atingidas que estão em depressão ou morreram durante esses dois anos, mas pretende fazer um estudo sobre o tema. É o que diz Albanita Roberta de Lima, líder do Programa Saúde de Bem-Estar Social da instituição, financiado pela Samarco e orientado por um Comitê Interfederativo (CIF), composto por órgãos públicos e a sociedade civil. Albanita argumenta também que existe um serviço disponível aos atingidos para trabalhar com a questão da saúde mental. “Desde o dia do rompimento, já foi disponibilizado um conjunto de profissionais, que vão de médicos a psiquiatras, primeiro contratado pela Samarco e depois pela fundação”, diz. “A gente entende que é um sintoma normal, porque mexemos com a vida dessas pessoas. Elas foram tiradas da sua vida, do seu cotidiano, e isso precisa ser reparado. É preciso lembrar que determinadas pessoas têm mais dificuldade para superar esse, vamos dizer assim, inconveniente que ocorre em sua vida”. A Faculdade de Medicina da Universida-
de Federal de Minas Gerais (UFMG) vai desenvolver o projeto Prismma, para pesquisar a situação da saúde mental das famílias atingidas pela tragédia. A equipe estará em Mariana entre os dias 15 e 17 de novembro para aplicar um questionário a 1,2 mil vítimas. Sofrimento será cobrado na indenização, diz promotor O promotor do Ministério Público de Minas Gerais, Guilherme Meneghin, atua em ações e acordos extrajudiciais para garantir os direitos dos moradores de Mariana. Ele diz que existe uma complexidade na questão, por não existir a causa de morte por depressão, mas confirma que os casos de sofrimento mental são comuns. Não só pelo trauma que viveram há dois anos, mas pelas consequências de mudança de moradia do meio rural para o urbano, as confusões com o cadastro de atingidos e o atraso na construção dos reassentamentos. “Tivemos uma audiência na semana pessada, em que metade das pessoas era idosa e não foi contemplada com os auxílios. Várias delas desmaiaram. Saíram chorando da audiência. Quem era contemplado, de emoção. Quem não era, de profundo ultraje”, relata. A Samarco e suas acionistas Vale e BHP Billiton, além da companhia contratada VogBR e 22 pessoas, entre dirigentes e representantes, já respondem a um processo criminal pela morte das 19 vítimas de 5 de novembro de 2015. A acusação é de homicídio com dolo eventual. A ação é de responsabilidade do Ministério Público Federal. De acordo com o promotor do MPMG, Guilherme Meneghin, é difícil enquadrar as mortes de atingidos com depressão no contexto criminal, mas é possível atuar na área cível. “Esse sofrimento será cobrado na indenização”. Até agora, os custos com velório e o enterro do pai de Leonídia foram da família. Segundo ela, nunca receberam uma ligação para manifestar pesar pela morte de Alexandre. Mas Leonídia diz que não quer nada disso. Seu maior desejo é ir embora da cidade. “A única coisa que quero é que eles entreguem minha casa. A de todo mundo. Eles têm que agilizar a compra do terreno. Aqui tem muita família que não está feliz. Eu quero ir embora. A gente era muito feliz”, repete durante a entrevista. *A repórter da Agência Brasil viajou a convite da Fundação Renova
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Pelo Mundo
Viagem ao fim do mundo:
Latitude 78° Efeitos do clima podem ser percebidos no Arquipélago Svalbard, que concentra a maior população de ursos polares: um quinto de toda a população de ursos polares no planeta em seu habitat natural Texto e fotos por Adriana Boscov Especial para Plurale De Svalbard, Noruega
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ossa viagem teve início na capital da Noruega, a linda e eclética Oslo. Coincidentemente, foi nessa região da Noruega que nasceu Gro Harlem Brundtland, que veio a se tornar primeira-ministra da Noruega e que presidiu a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da ONU nos anos 80 onde se definiu o conceito de desenvolvimento sustentável como o conhecemos hoje “...o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.” (Our Common Future)
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Muitos amigos e familiares sempre me perguntam: “qual seu próximo exótico destino?” ou “para qual fim de mundo vocês vão desta vez?”. E os destinos sempre são os mais inusitados: Alasca, Quênia, Atacama...ou onde a terra ainda persiste em se manter como ela nasceu com muita vida selvagem. Buscamos, assim como Sebastião Salgado, a Gênesis de nosso planeta. Nossa última viagem foi com certeza a mais “exótica” ou “inóspita”: o arquipélago de Svalbard entre o Polo Norte e a Noruega. Nosso destino foi chegar onde todos os grandes cientistas e aventureiros que estudaram o Ártico e quiseram chegar no Polo Norte passaram: a um passo do fim do mundo. Um lugar tão longe que é quase impossível conseguir conexão, seja de celular ou internet, uma vez que na latitude 78,
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onde o mundo literalmente faz a curva, os sinais de satélite não conseguem chegar. Apesar de muitos pensarem que não há nada para ver ou fazer no Ártico, passamos 15 dias fazendo, vendo e aprendendo muita coisa sobre essa parte do planeta que apesar de remota, mantém o controle do clima. Não, não é tudo branco e cheio de gelo, mas sim cinza, azul, branco neve, branco-acinzentado, branco-azulado, marrom, bege, verde, amarelo e vermelho; cheio de montanhas, rios e lagos e muita vida selvagem. A viagem começou em Oslo, capital da Noruega, de onde pegamos um voo para Logyearbyen, capital do arquipélago, e onde vive a maioria de seus pouco mais de dois mil habitantes. De lá nosso barco partiu rumo ao fjord de Bellsund onde visitamos uma antiga base para depois contornar a parte sul e parar no Storfjorden, onde tivemos nosso primeiro encontro com a vida selvagem do arquipélago. Continuamos circundando o arquipélago até o
Estreito de Hinlopen ao norte onde avistamos ursos polares e belugas. Devido ao gelo denso, não conseguimos circundar o arquipélago e tivemos que retornar a Bellsund de onde partimos para a ilha de Jan Mayen (próxima história de viagem). O Gelo e as Mudanças Climáticas Cientistas e ambientalistas de todo o mundo tem comemorado o ano de 2017 pela espessura, distância e qualidade do gelo formado no Ártico. Mas ainda uma comemoração com restrições e desconfianças, uma vez que o fenômeno de concentração e espessura do gelo no Ártico tenha sido totalmente fora de época e dos padrões dos últimos 10 anos. Mas porque o gelo do mar do Ártico é tão importante? Porque esse gelo é em sua maior parte coberto por neve que é branca e portanto reflete os raios solares. Quando o gelo derrete muito rápido, ao invés
de refletir 80% dos raios solares incidentes nos pólos, o mar absorve 90% desses raios, aumentando a temperatura dos oceanos e criando um ciclo vicioso de degelo e aumento da temperatura na terra. Isso porque os pólos são os controladores da temperatura na terra, como se fossem os “refrigeradores” de casa, nossa casa, o Planeta Terra. A principal consequência da queda contínua da formação de gelo nos pólos que vem sendo monitorada há 10 anos (veja o gráfico) é o aumento da temperatura dos Oceanos Ártico e Antártico, o que gera um aumento nas temperaturas dos demais oceanos, acelerando o aquecimento global e as mudanças de tendências climáticas, ou seja, mais chuvas, menos neve, mais seca, e assim por diante. Fonte: https://www.carbonbrief. org/analysis-the-highly-unusual-b ehav iour-of-arctic-s ea-ice-in-2016
Adriana Boscov
Pelo Mundo FOTOS DE ADRIANA BOSCOV- SVALBARD
Urso Polar se secando na neve
Em Svalbard, a maioria dos ursos morre antes dos 30 anos e as fêmeas tem seus primeiros filhotes a partir dos cinco anos. Um urso macho adulto pode chegar a 600 quilos e alcançar uma altura de 4 metros quando de pé sobre as patas traseiras. Infelizmente muitos não conseguem chegar a procriar pois morrem em disputas territoriais ou de fome, como essa fêmea.
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Vida Selvagem O Ártico é a casa de muitas espécies de pássaros e mamíferos, onde a principal atração “turística” é o urso polar. O arquipélago de Svalbard concentra a maior população desses animais, um quinto de toda a população de ursos polares no planeta em seu habitat natural, que nos últimos anos vem enfrentando uma perda gradativa de sua população para a fome. Isso mesmo, os ursos polares estão morrendo de fome em seu próprio habitat. O urso polar, nunca sai de seu território gelado, a não ser que não encontre comida. Ursos polares precisam se alimentar de 50 a 75 focas por ano para conseguir sobreviver, e a maior parte dessa comilança acontece nos meses de primavera e verão (junho a setembro). Eles podem ficar sem comer nada por oito longos meses e facilmente andar 5 mil quilômetros para encontrar comida. Mas quando não encontram comida, param de caminhar e esperam a morte. Com o frio, as carcaças demoram a se decompor, como essa fêmea que se encontra nesse estado há sete meses em uma praia ao norte de Longyearbyen, capital do arquipélago. Para além do urso polar, essa região abriga diversas espécies de mamíferos e pássaros. A Rena de Sval-
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bard é uma delas e se tornou uma espécie diferente de suas ancestrais por ter se adaptado ao terreno vulcânico de Svalbard, diferente das planícies da Lapônia. Por isso elas são menores, mais “troncudas” e com pelo mais espesso que suas ancestrais. Já as raposas do Ártico tem uma característica incomum: elas são marrons durante os meses quentes, com um pelo fino e curto, enquanto que no inverno são cobertas por um pelo branco macio que faz um isolamento térmico para não deixar o corpo esfriar. Aliás, foi por esse pelo, tão desejado pela alta sociedade da Europa, que muitos caçadores vieram a Svalbard nos séculos XVIII e XIX. A caça era realizada nos meses frios que antecedem a troca do pelo e pudemos ver e visitar alguns dos “lodges” desses caçadores que chegavam a passar 4 a 6 meses de inverno caçando raposas. Atualmente a caça é proibida e somente alguns moradores decendentes de caçadores ainda podem caçar as raposas, mas com número determinado para não levar a espécie a extinção, como quase ocorreu no passado. Um pássaro curioso e destemido que encontramos por todos os lados no Ártico é a Andorinha
Rena do Ártico adulta
Casal de morsas Black Guillemot
Ganso do Ártico Raposa do Ártico caminhando Renas – mãe e filhote
do Ártico (Artic Stern em inglês) que tem a mais longa jornada de migração de todas as aves: mais de 30 mil quilômetros do círculo polar ao Círculo Antártico. E ele faz essa rota todos os anos levando em média 40 dias para cada trecho. Elas vivem em grupos e fazem seus ninhos no chão, por isso cuidado ao caminhar pela tundra. Além de poder pisar “sem querer” em um ninho, você também pode ser atacado por este passarinho que parece inofensivo
mas que pode atacar até ursos polares. Quando veem seus ninhos ou filhotes em perigo, eles fazem rasante sobre o inimigo, bicando onde quer que seja e defecando a cada ataque. Um encontro nada agradável. Svalbard também é refúgio de muitas espécies de baleias que aproveitam o verão não tão quente para procriar e se alimentar dos peixes que ali habitam. Nessa viagem avistamos belugas, baleia azul, cachalote (sperm whale) e jubartes. A diferença dos encontros
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Pelo Mundo FOTOS DE ADRIANA BOSCOV- SVALBARD
Saxofrage roxa e musgo
nessas águas é que as baleias não costumam fazer acrobacias como se vê no pacífico. Aqui elas são mais tímidas. Flora O Ártico é coberto pelo “permafrost”, uma camada de gelo que nunca derrete e que fica a cerca de um a dez metros do solo onde nasce a tundra. Por essa razão, toda a vegetação é rasteira e a maioria das plantas são da altura da grama que conhecemos aqui nos trópicos. As flores podem ser do tamanho de uma unha do dedo mindinho e tem cores vibrantes que vão do amarelo ao rosa. A tundra também oferece um risco: as lamas movediças. Assim como as lendárias areias movediças que vimos muitas vezes em filmes, a lama em Svalbard pode sugar uma pessoa até ela ficar com metade do corpo abaixo da lama. E qualquer batalha para sair só drena as energias e afunda ainda mais a pessoa. A solução é
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Andorinha do Ártico
Tundra e osso de baleia
contar com um pedaço de madeira ou uma corda para ser içado da lama. Como chegar em Svalbard? O jeito mais fácil é voar até Oslo, capital da Noruega, e de lá pegar um voo que dura cerca de três horas. Também existem voos da Norwegian e SAS de outras cidades da Noruega. O ideal é ir com uma agência especializada, uma vez que Svalbard é terra de ursos polares e você nunca sabe quando e onde vai encontrar um. Inclusive há uma lei que obriga todo morador de Svalbard a ter uma arma consigo em todo e qualquer momento. Nossa viagem foi com a National Geographic e Lindblad, mas também existem outras mais acessíveis. Para encontrar a melhor agência e atividades de acordo com suas paixões, visite o site http://www.visitsvalbard.com/en/Travel-to-Svalbard
Longyearbyen, capital do arquipélago de Svalbard
Astronomia ALEXANDRE CRISPIM – UTFPR - CURITIBA
Por Nícia Ribas, de Plurale Do Rio
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o Rio, para participar do 20º. Encontro Nacional de Astronomia - ENAST, realizado de 2 a 5 de novembro, no Planetário da Gávea, o professor doutor Felipe Braga Ribas falou sobre a recente descoberta de um anel em Haumea, o primeiro planeta anão do Sistema Solar a ter essa peculiaridade. O objetivo de sua participação no ENAST é formar uma rede com os astrônomos amadores. “Queremos que eles venham colaborar com as nossas observações, diz ele, em entrevista exclusiva para Plurale. O astrônomo brasileiro integra o Programa de Pós-Graduação em Física e Astronomia da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná). Além dele, fazem parte da equipe que fez a descoberta outros sete brasileiros do Observatório Nacional (RJ) e do Observatório do Valongo, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e cientistas de instituições internacionais, como o Instituto de Astrofísica da Andaluzia (Espanha) e o Observatório de Paris-Meudon (França). Felipe já despertou o interesse da comunidade internacional de astronomia quando, em 2013, durante seu pós-doutorado, descobriu dois anéis de fragmentos cósmicos, chamados por ele de Oiapoque e Chuí, em torno do asteroide Chariklo, que fica nos limites do Sistema Solar. “Até aquele momento a gente só conhecia anéis em torno de
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Brasileiros se destacam em descobertas no
universo planetas gigantes. Ao descobrir os anéis de um pequeno asteroide pudemos avançar nas pesquisas sobre a formação do Sistema Solar.” Ele admite que essa primeira descoberta contribuiu para a nova, ocorrida em Haumea, pois astrônomos do mundo todo passaram a contar com a possibilidade de existência de anéis em outros corpos. Publicada na revista Nature de 12 outubro, a descoberta em Haumea foi liderada pelo espanhol José Luis Ortiz, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia. Além de terem observado os anéis, foi possível constatar seu formato alongado, parecendo uma bola de rugby, o que pode ser consequência da sua rotação, uma das mais velozes da região onde se encontra.
Mais detalhes O Sistema Solar Exterior, onde está o asteroide Haumea, é a parte do sistema solar além de Júpiter. Até Marte, os corpos celestes que orbitam ao redor do sol são rochosos. De Júpiter a Netuno os objetos são formados por gelo e rocha e a área é chamada de Sistema Solar Exterior. Com dimensões comparáveis às de Plutão, ele leva 3,9 horas para dar uma
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volta em torno do seu eixo. Além disso, o planeta anão possui dois satélites, uma enorme mancha vermelha na sua superfície e é o maior na área onde se encontra. Haumea é um dos cinco planetas anões conhecidos (os outros são Ceres, Plutão, Eris e Makemake) e tem uma órbita que está entre 35 e 51 unidades astronômicas (ua). Cada ua representa a distância entre o Sol e a Terra, que é de aproximadamente 150 milhões de quilômetros, levando cerca de 285 anos para dar uma volta ao redor do sol. Seu nome é uma homenagem à deusa havaiana Haumea da fertilidade e do parto. Antes desses anéis agora descobertos, só eram conhecidos os de Saturno, observados por Galileu Galilei em 1610 e os de Urano, de Júpiter, e de Netuno, nas décadas de 1970 e 80. Acreditava-se que os anéis constituídos por pequenas pedras de gelo eram exclusividade dos planetas gigantes. Desde 2005, uma equipe internacional estuda corpos distantes no Sistema solar através de ocultações estelares, que é o tema da palestra de Felipe no 20º. ENAST, intitulada Poderosa técnica de ocultação estelar e a descoberta de anéis.
Conservação
IX CBUC está com inscrições abertas para trabalhos técnicos Há cinco eixos temáticos para artigos, das quais três são de ações de conservação, um de comunicação e um de economia. Selecionados serão apresentados em um dos mais importantes encontros internacionais sobre áreas protegidas da América Latina
E De Curitiba
stão abertas até o dia 30 de novembro as inscrições aos interessados em enviar trabalhos técnicos para o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (IX CBUC), realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os artigos devem apresentar ferramentas, procedimentos e modelos inovadores para gestão das Unidades de Conservação – preferencialmente com resultados consolidados – e podem ser inscritos por meio deste link. Neste primeiro momento, não é necessário estar inscrito no evento para submeter os trabalhos. Ao todo, são cinco linhas de trabalhos técnicos, das quais três são temáticas tradicionais de proteção da biodiversidade, além de uma de comunicação e outra de economia – exemplo desta são ferramentas estratégicas para a valorização dos ecossistemas naturais. Os eixos temáticos são: Biologia da conservação, voltada a quem desenvolve estudos que contribuem para garantir a conservação da biodiversidade; Novas soluções para gestão de áreas naturais, para quem busca inovar e encontrar soluções para a gestão de UCs; Políticas públicas para conservação, para quem luta pelo direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; Comunicação e mobilização da sociedade, para quem desenvolve iniciativas transformadoras que possam trazer uma nova realidade para a conservação de áreas protegidas; e Natureza, economia, saúde e bem-estar,
para quem busca demonstrar os benefícios das áreas naturais à sociedade. “Nesta edição, a apresentação dos trabalhos será em formato de pôsteres digitais, o que evita a impressão em papel e traz um caráter dinâmico e interativo para a discussão. Isso reforça o nosso compromisso com a sustentabilidade do evento”, afirma a diretoria executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes. IX CBUC Realizado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, o Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC) é um dos mais importantes encontros internacionais sobre áreas protegidas e conservação da natureza da América Latina. A nona edição ocorrerá entre os dias 31 de julho e 2 de agosto de 2018, em Florianópolis (SC). Nesta edição, especialistas do Brasil e do mundo estarão reunidos para discutir o tema “Futuros Possíveis: Economia e Natureza” e definir diretrizes para a implementação de políticas públicas de conservação. A programação preliminar do IX CBUC está disponível no sitewww.
fundacaogrupoboticario.org.br/cbuc. Sobre a Fundação Grupo Boticário A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.528 projetos de 501 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. Na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/ fund_boticario e www.facebook.com/ fundacaogrupoboticario.
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Ecoturismo
Pelas montanhas coloridas do
PERU FOTOS DE GIULIANA PREZIOSI
Texto e Fotos de Giuliana Preziosi, Especial para Plurale De Cusco, Peru
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uita gente vai a Cusco para conhecer um pouco dos lugares que marcaram a história da civilização inca, é comum percorrer desde a região conhecida como Vale Sagrado, as pequenas cidades ao redor, até a tão falada “cidade perdida dos incas”, Machu Picchu. O que poucos sabem é que ainda há outros segredos espalhados nesta região, e não vêm dos mistérios das civilizações antigas, mas sim da mudança que nós homens estamos causando na natureza. Todas as vezes que me deparei com as os efeitos das mudanças climáticas pelo mundo afora a sensação foi de tristeza e destruição em ver algo que deixou de existir, mas e se fosse ao contrário? Algo surgindo em função do aumento da temperatura no Planeta... Na pequena cidade de Vinicunca à 5.000 metros de altitude encontra-se um dos lugares mais impressionantes que já visitei, as chamadas “Montañas de Siete Colores” ou “Rainbow Mountain”. Há pouco tempo atrás, cerca de 9 a 10 anos, toda essa região era coberta pela neve, sua alta altitude e as baixas temperaturas mantinham o lugar inacessível. Mas com o degelo causado pelo aquecimento global e o solo extremamente rico em minerais o lugar “desabrochou”, impressionando até mesmo a população local. O governo peruano, que vem investindo fortemente em turismo nos últimos anos,
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Giuliana Preziosi
enxergou a oportunidade, criou uma estrutura mínima de acesso à região e no ano passado as montanhas coloridas foram abertas para a visitação. São poucos os lugares do mundo onde a natureza nos brinda com cores tão surpreendentes e paisagens impressionantes como esta, mas não pensem que é muito simples ter o prazer de ver tudo isso ao vivo. Vai depender de seu preparo físico e adaptação do corpo em relação à alta altitude. Para evitar os problemas com o “soroche”, como eles dizem - que significa
o mal estar causado pela altitude - bala, chá e até mesmo as folhas de coca são as recomendações mais ouvidas. No entanto, o que me deu segurança para enfrentar esse desafio foi quando descobri o segredo utilizado pelos médicos e guias da região que lidam com a altitude todos os dias. O santo remédio chama-se “Água de Florida”, custa R$ 4,00 e encontra-se facilmente em qualquer farmácia. E não é que o negócio funciona mesmo! Basta colocar um pouco nas mãos e inalar. O cheiro é ótimo, como uma água com ervas que
“limpa” os pulmões. Vinicunca fica há aproximadamente 4 horas de Cusco. Saímos de madrugada e paramos para um café da manhã em Pitumarka, depois a van seguiu por uma estrada sinuosa à beira do penhasco, daquelas que dá uma ligeira aflição de ficar olhando pela janela, até chegar em Pampachiri, quando começa o percurso a pé. Ali já estávamos à 4.500 metros de altitude, são 2h30 de caminhada até checar nas famosas montanhas. Sinceramente, sem preparo físico não é recomendável. O percurso é pequeno, são cerca de 6 Km mas a altitude e o caminho de frequentes subidas é que fazem disso um desafio para poucos. Mas para tudo pode se encontrar alternativas, e os peruanos são espertos
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neste quesito. A comunidade local viu uma oportunidade de gerar renda com o aumento do turismo na sua região. Homens e mulheres das cidades próximas vão até o local e oferecem aos visitantes o serviço para fazer o percurso à cavalo. A organização me surpreendeu, além de oferecer os cavalos, eles construíram banheiros ao longo do caminho e pedem uma pequena doação aos visitantes para manterem esses espaços limpos. Um povo simples, simpático e muito educado que faz esse caminho todos os dias para garantir a comida na mesa de casa. Vale dizer que é uma região muito carente, com pouca infraestrutura e afastada dos grandes centros. Não pensei duas vezes e logo estava em cima do cavalinho, acompanhada do apressado e atencioso Rubem que seria o meu condutor. Mesmo a cavalo é preciso desmontar e ir a pé nas subidas mais íngremes para não judiar do animal, por isso é bom estar preparado. Para compensar o esforço físico as paisagens de toda a trilha são maravilhosas. Descansar pelo percurso é obrigatório, não só pela falta de fôlego, mas pela oportunidade de ver montanhas enormes com picos nevados, uma nascente de rio, criações de lhamas e alpacas, casinhas de pedras que parecem ter
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FOTOS DE GIULIANA PREZIOSI
Ecoturismo
saído de lendas antigas e muita natureza intocada. Ao final do trajeto vem uma escada natural de formações rochosas, com uma subida de 200 metros para ter a tão esperada vista das montanhas coloridas. Depois da cavalgada chegando até ali, é hora de respirar fundo e encarar a subidinha. Ao alcançar o topo a sensação é
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incrível, um lugar único daqueles de cair o queixo e te fazer refletir sobre os encantos que só a natureza pode nos proporcionar. Estava a 5.100 metros de altitude, temperatura de 4 graus, vento forte e o sol deixando o colorido ainda mais impressionante. Ao meu redor pessoas de várias idades, algumas mais empolgadas com as fotos, outras reflexivas, alguns se recuperando da cami-
SERVIÇO
nhada e outros somente observando todo o movimento. Minha tia foi a minha companheira nesta aventura, ela tem 60 anos e disse que o segredo para chegar ali é saber escutar seu corpo, respeitar os limites, saber a hora de parar, ir no seu tempo e entender os sinais. Assim como Machu Picchu nos faz pensar sobre os mistérios da civilização inca, a ação do homem nas suas construções, na forma de entender os astros, suas ligações com o solstício etc., a trilha até as montanhas coloridas volta nossa atenção para o poder da natureza. São lugares diferentes, mas que nos fazem refletir sobre o agora. O momento de estar ali, de se ver presente em um lugar único e olhar para trás pensando em tudo que aconteceu para que aquilo se tornasse hoje uma das sete maravilhas do mundo ou uma paisagem de tirar o fôlego literalmente.
Como chegar? O tour para as montanhas coloridas pode ser encontrado facilmente em qualquer agência de turismo em Cusco. São várias espalhadas pela Praça das Armas, um dos símbolos da cidade. Custa aproximadamente R$ 85,00 com almoço e café inclusos. No entanto vale pesquisar para garantir a segurança necessária no caso de alguma emergência. Verifique as opções que incluem o acompanhamento de um médico, oxigênio e ambulância. Dica: procure nas agências pessoas que fizeram o passeio, como é algo relativamente novo tem muita gente que fala sem nunca ter ido. Fechamos com um brasileiro casado com uma peruana que já tinha feito esse passeio duas vezes, foi excelente. O nome da agência é “Super Tour”. Tem saída todos os dias, mas vale olhar a previsão do tempo porque com chuva o passeio fica mais perigoso e não é a mesma coisa. Para contratar os cavalos basta falar com o seu guia ou procurar diretamente as pessoas da comuni-
dade local. Não é preciso reservar antes. Custa cerca de R$ 60,00 (só ida) e 90,00 (ida e volta) e não tem negociação. Quanto tempo? É um passeio de um dia inteiro, começa 3h30 da manhã saindo de Cusco com retorno por volta das 19h. O que levar? Casaco, protetor solar, água, chapéu ou boné, pode-se também levar ou alugar um bastão para ajudar na caminhada, além das precauções para o mal de altitude como bala de coca e chocolate (glicose) e não se esqueça da “Água de Florida”. Mais informações: https://vinicunca.net/vinicunca-preguntas-frecuentes/ Por Giuliana Preziosi para Plurale Palestrante, criadora do Blog Histórias pelo Mundo e Sócia na Conexão Trabalho Consultoria www.giulianapreziosi.com.br
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Água FOTOS DE DIVULGAÇÃO
Por Maria Augusta de Carvalho, Especial para Plurale De Caxambu (MG)
O
Parque das Águas de Caxambu, principal atração turística da cidade localizada no Sul de Minas Gerais, ganhou nova administração desde primeiro de outubro passado. A Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig), proprietária do empreendimento, assumiu a gestão do espaço, que estava sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal da Cidade desde 1989, prometendo realizar investimentos próximo a R$ 11 milhões. A troca de operador se deu pelo fim do contrato entre as entidades, sem mais possibilidade de renovação. O contrato de gestão do local, referência para todo sul de Minas, entre a Prefeitura da Cidade e a Codemig, se extinguiu no último dia de junho passado, prorrogado por mais 90 dias, até 30 de setembro, quando a empresa pública estadual decidiu não mais renovar o contrato de cessão gratuito à gestão municipal. Com 210 mil metros qua-
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Governo de Minas assumiu gestão do Parque das Águas de Caxambu prometendo investimentos de R$ 11 milhões drados, o Parque oferece bosques, coretos, jardins e alamedas cuidadas paisagisticamente, além das 12 fontes da águas minerais, gasosas e medicinais, que possuem propriedades químicas diferentes entre si. Antes deste prazo se esgotar, o prefeito de Caxambu, Diogo Curi Hauegen, havia proposto um modelo de gestão conjunta do Parque à Codemig. “Propusemos um modelo em que juntaríamos o Centro de Convenções – ativo do Município de Caxambu - com o Parque das Águas – que é ativo da Codemig - e formaríamos assim um empresa pública de desenvolvimento regional, servindo também para abrigar e consorcia-se com equipamentos que a Codemig tem nas cidades vizinhas, de
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Lambari e Cambuquira. O objetivo seria criar uma empresa que tivesse como objetivo o desenvolvimento da região Circuito das Águas, com sede em Caxambu”, reiterou Diogo Curi. Entretanto, a Codemig não viu futuro na proposta. Para o presidente da empresa, Marco Antonio Soares da Cunha Castello Branco, a criação de uma empresa pública para exploração dos ativos da Prefeitura e da Codemig estaria submetido às restrições das legislações que regem os entes estatais. “E, portanto, de difícil viabilidade econômica em um mercado cada vez mais competitivo”, afirmou em documento endereçado ao prefeito, em abril passado. “O caminho perseguido pela Codemig é o de estabelecer uma parceria
com empresa privada para assegurar condições de comercialização competitiva para suas águas minerais e de seus parques termais”, finalizou. A Codemig é detentora da concessão das fontes de águas minerais das marcas Araxá, Caxambu, Cambuquira e Lambari, localizadas nesses municípios. Já a região Circuito das Águas de Minas Gerais é formado por quartoze cidades; dentre elas, Baependi, Cambuquira, Campanha, Carmo de Minas, Caxambu, Conceição do Rio Verde, Lambari, Maria da Fé, Soledade de Minas e Três Corações. Investimentos A partir do recebimento das chaves, em 30 de setembro, a empresa pública fez um levantamento inicial do custo total estimado para colocar em melhores condição de uso o equipamento público. Foi orçado em, aproximadamente, R$ 11 milhões, quando uma equipe de engenheiros realizou vistoria no local, para avaliação das condições das edificações e dos equipamentos do Parque, visando o recebimento do patrimônio público estadual. Foram examinados os serviços no Balneário (caldeira, pinturas, equipa-
mentos, pisos, paredes, telhado, calhas, instalações, limpeza geral), na área da piscina, nas lojas, na área do pedalinho, nas portarias, nos fontanários e coreto, além de redes internas, quadras de esporte de tênis, bocha e vôlei, brinquedos, pavimentações, cercamento, regularização junto ao Corpo de Bombeiros, desassoreamento do lago, iluminação e instalações elétricas, entre outros. A primeira ação da Codemig será providenciar a recuperação do Balneário, inativo há alguns meses em face da ausência de manutenção da caldeira. O funcionamento do Parque das Águas e o acesso da comunidade e dos turistas serão mantidos, permanecen-
do o valor de entrada de R$5,00 para os turistas e R$2,50 para a comunidade caxambuense, assegura a empresa. Anteriormente, a Codemig havia feito levantamentos cadastrais e de diagnósticos dos fontanários e do coreto. Esse serviço já concluído, em maio deste ano, demandou investimentos de R$79.043,75. Também foi providenciada a individualização das drenagens dos três poços da fonte Mayrink até a fonte Venâncio, ação concluída em julho deste ano, com investimento implementados de R$79.898,80. Entre 2007 e 2009, foram promovidas obras de reforma e restauro, bem
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como a compra de móveis e utensílios para o Balneário, com investimentos da ordem de R$ 7,5 milhões. Licitação Dados apresentados pela Prefeitura Municipal de Caxambu à Codemig apontaram para um resultado financeiro do Parque historicamente deficitário: de 2013 a 2016 houve um déficit acumulado de R$ 1.089.695,64. Segundo os relatórios apresentados, parte do prejuízo deve-se ao número excessivo de empregados contratados pelas seguidas administrações municipais e à não cobrança dos aluguéis referentes a cessão de espaços à terceiros. “Em meio a esse cenário contábil de reiteradas perdas e frente aos desafios que se impõem ao alcance e à manutenção da viabilidade econômica em um mercado cada vez mais competitivo, a Codemig considerou essencial a construção conjunta de uma solução eficaz e efetiva”, informa a empresa pública em seu site. O objetivo maior é potencializar o dinamismo do empreendimento, ampliando o público-alvo do local e valorizar a eficiência na prestação dos serviços à população, além de contribuir para maior projeção de Caxambu e Minas Gerais no segmento turístico, respeitando sempre as comunidades local e regional, entende a empresa. Em paralelo, a Codemig está preparando licitação para captar um parceiro privado visando à formação de uma sociedade em conta de participação para o negócio de engarrafamento das águas minerais e seus correlatos. A fábrica engarrafadora das águas Caxambu funciona dentro do Parque. Audiência Pública No dia 28 de setembro, foi realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (Almg) sobre a entrega da administração do Parque à Codemig. Estiveram presentes, o vice prefeito Luiz Henrique Diório de Souza, vereadores, o presidente da Câmara Municipal de Caxambu, vereador Mário Luiz Alves e a presidente da Associação dos Ami-
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FOTO DE MARIA AUGUSTA DE CARVALHO
Água
gos do Parque das Águas (Ampara), Maria Antônia Wiliams Muniz Barreto Siqueira, dentre outros. A Codemig não mandou representantes. Maria Antônia reiterou o posicionamento da entidade no sentido de que a gestão do Parque seja pública e compartilhada. “Um patrimônio público deve ser gerido para o bem comum. Sabemos que as empresas privadas gerem seus negócios de olho no lucro, daí a nossa preocupação”, disse na ocasião. Ela também defendeu que, independente de quem assuma momentaneamente a administração do parque, seja firmado um compromisso de gestão compartilhada entre a Codemig, a prefeitura e sociedade civil de
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Caxambu. Para contemplar essa gestão compartilhada, Maria Antônia defendeu que se estabeleça um prazo para a busca de um modelo institucional, nos moldes de fundação pública, e que a participação social no processo de gestão se concretize através de um conselho gestor e que sejam estabelecidos critérios para que recursos advindos de atividades econômicas exercidas na área sejam revertidos proritariamente para a sua preservação. A Câmara Municipal já havia realizado, em fevereiro deste ano, uma outra audiência pública sobre mais uma questão relativa ao Parque: a licitação da concessão da exploração das águas minerais.
Ecoturismo
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ISABELLA ARARIPE
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DIVULGAÇÃO
Parque Nacional de Ubajara promove passeio noturno
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Parque da Chapada dos Veadeiros reabre para visitação Cartão postal do Centro-Oeste brasileiro e santuário ecológico da fauna e flora do Cerrado brasileiro, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros foi reaberto para visitação no dia 1° de novembro. O local estava fechado desde o dia 18 de outubro quando um incêndio destruiu 28% de sua área. Das quatro grandes trilhas de visitação, três estarão abertas. A trilha dos Saltos, com 11km de extensão ida e volta; a trilha dos Cânions, que possui 12 km de extensão ida e volta; e a trilha da Seriema, com 800 metros, são os atrativos do momento. A Travessia das Sete Quedas - aberta para visitação apenas no período da seca (abril a setembro) - foi prejudicada pelo fogo e segue fechada. DIVULGAÇÃO
Praia das tartarugas marinhas Localizada na costa mediterrânea da Turquia, na província de Muğla, a praia de Iztuzu recebe vigilância 24 horas da guarda ambiental local. O motivo de ter seus cinco quilômetros de areais protegidos são as mágicas tartarugas marinhas, que utilizam o local para a desova entre os meses de março a setembro. Conhecida assim como Praia das Tartarugas, Istuzu é a primeira área de preservação ambiental instituída pelo país. O local de preservação abrange também as montanhas no arredor, as florestas de Pinus e Liquidambar e a região do Lago de Köyceğiz, considerado um dos maiores do país.
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O Parque Nacional de Ubajara, na Serra da Ibiapaba no Ceará, promoveu nos dias 3 e 4 de novembro um passeio noturno pelas trilhas e atrativos da unidade. As noites foram de lua cheia. O passeio noturno já faz parte do calendário de eventos da unidade, que é administrada elo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) No passeio, os turistas puderam contemplar o espetáculo do nascer da lua cheia no mais novo atrativo do parque nacional, o Mirante do Pendurado, que oferece visão panorâmica da unidade de conservação e do seu entorno. Na visita ao atrativo, o turista conhece também um pouco da cultura e lendas do lugar.
DIVULGAÇÃO
Parque das Neblinas comemora treze anos O Parque das Neblinas, reserva privada da Suzano Papel e Celulose, administrada pelo Instituto Ecofuturo, completou treze anos em outubro e ofereceu uma série de atividades para os visitantes. Entre elas trilhas guiadas e autoguiadas em meio à Mata Atlântica, canoagem, camping e ciclo turismo e passeio de bicicleta. Localizado em São Paulo nos municípios de Mogi das Cruzes e Bertioga, o Parque tem uma área de seis mil hectares e abriga mais de 1.250 espécies da biodiversidade. Há um valor para visitação que varia de acordo com as atividades escolhidas. O local recebe diariamente até 50 pessoas. As reservas podem ser realizadas pelos telefones (11) 4724-0555/(11) 4724-0556, de segunda à sexta, das 8h30 às 17h, ou no e-mail parquedasneblinas@ecofuturo.org.br. O DIVULGAÇÃ
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CINEMA
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Portugal convida especialistas brasileiros para simpósio
Quarta edição da Mostra de Cinema de Gostoso
O IV Simpósio Internacional Fusões no Cinema acontece em novembro, em São João da Madeira, Portugal. Esta 4.ª edição do Simpósio será co-organizada pelos Caminhos Film Festival e pela Unidade de Desenvolvimento dos Centros Locais de Aprendizagem (UMCLA) da Universidade Aberta. Professores foram convidados a participar gratuitamente do Simpósio, que contará com conferências virtuais de especialistas internacionais do México e do Brasil.
A 4ª Mostra de Cinema de Gostoso acontece na cidade de São Miguel do Gostoso – considerada uma das mais lindas praias do litoral do Rio Grande do Norte com uma tela de cinema (12 m de comprimento) montada ao ar livre, na Praia do Maceió em novembro. O projeto oferece uma série de cursos de formação técnica e audiovisual para 53 jovens de São Miguel do Gostoso e distritos arredores. Ao longo de cinco anos o grupo de jovens já realizou 33 oficinas, produziu dez curtas-metragens e três edições da Mostra de Cinema de Gostoso, evento dirigido por Eugenio Puppo e Matheus Sundfeld. Durante a Mostra a população tem a oportunidades de assistir os mais recentes lançamentos do cinema nacional.
Defendendo o veganismo A mudança de postura em relação ao tratamento dos animais passa pela alimentação e propagação do veganismo. É o caso do documentário “What The Health” (disponível na plataforma Netflix) do diretor Kip Anderson, que já causou polêmica em seu filme anterior que tratava sobre colesterol. O filme traz uma série de informações sobre alimentação, especialmente sobre o consumo de carnes, laticínios e ovos. Foi realizado através de financiamento coletivo e traz posições defendidas por médicos e pela OMS – Organização Mundial da Saúde.
Menos crítico e mais lúdico Tratando a questão de forma mais lúdica outra produção americana, “The Last Pig”, documentário finalizado em fevereiro de 2017, mostra através de uma jornada pessoal, a igualdade, o valor da compaixão e a santidade da vida. A narrativa nos leva ao último ano de criação de porcos de um fazendeiro, a luta para reinventar a vida e os fantasmas que o perseguirão para sempre. São reflexões íntimas de alguém passando pelo conflito de viver vendendo a morte. O documentário é dirigido e produzido por Alison Argo, conhecida por filmes carregados de emoção e reflexão. No site do filme é possível conhecer alguns fatos pouco divulgados sobre a vida dos porcos (http://www.thelastpig.com). Vale conferir.
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Mostra Internacional de Cinema Pelos Animais Os animais têm cada dia mais espaço na cinema, com direito a uma mostra internacional organizada pela Cinemateca do MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com entrada gratuita no mês de novembro. Serão dez produções inéditas nos cinemas brasileiros, entre curtas, médias e longas metragens, alguns traduzidos em português pela própria organização da Mostra e três curtas brasileiros premiados em edições passadas. Os temas vão da caça, a convivência de cães nas comunidades, vida e morte de peixes, o abandono e comércio de animais, a indústria de produtos alimentícios entre outros. O objeto é desenvolver na sociedade uma nova visão em relação à postura dos seres humanos diante dos animais e da vida no planeta.
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Pelas Empresas
ISABELLA ARARIPE
ENEL confirmada pela CDP como líder global no combate às mudanças climáticas
A De Roma
Enel foi admitida pelo segundo ano consecutivo na lista Climate A da plataforma global sem fins lucrativos para a divulgação de dados ambientais CDP (anteriormente Carbon Disclosure Project), que inclui empresas de todo o mundo que foram identificadas como líderes globais na atuação corporativa relativa às mudanças climáticas. A CDP reconheceu as ações da Enel para reduzir as emissões de carbono, mitigar os riscos climáticos e desenvolver a economia de baixo carbono. “A inclusão nesta conceituada lista confirma a nossa contribuição para a luta contra as mudanças climáticas, um dos desafios mais urgentes que o mundo enfrenta hoje e que requer o envolvimento total dos atores do mundo dos negócios”, disse Francesco Starace, CEO do Grupo Enel. “O envolvimento da Enel em ações climáticas é parte integrante da estratégia de negócios do Grupo, conforme demonstrado em
nosso compromisso de tornar-se livre de CO2até 2050 e nosso foco no crescimento renovável do Grupo, alinhado com o nosso compromisso com o Objetivo 13 de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que envolve ações urgentes para combater as mudanças climáticas.” A lista Climate A de 2017 engloba 112 empresas globais, selecionadas entre
mais de duas mil empresas que participam do programa de transparência de mudanças climáticas da CDP. A inclusão na Lista Climate A se baseia numa pontuação que avalia a consciência de uma empresa com relação a questões climáticas, métodos de gestão e progresso em direção às ações tomadas sobre mudanças climáticas.
Sistema Fecomércio RJ destacou soluções de Economia Circular durante a 4ª edição do Veste Rio para impulsionar o crescimento sustentável do setor moda do estado do Rio de Janeiro Do Rio
O Sistema Fecomércio RJ, por meio do Sesc RJ e do Senac RJ, pôs em voga soluções de Economia Circular, durante a 4ª edição do Veste Rio: A Moda Aqui é Fazer Negócio, que aconteceu entre os dias 25 e 29 de outubro, nos armazéns 2, 3 e 4 do Píer Mauá. A instituição, que apresentou o evento realizado pela Vogue e pelo Caderno Ela, pretende com oficinas de Upcycling e Wearables, além de palestras voltadas para empreendedorismo e inovação, impulsionar o crescimento sustentável no setor de Moda do estado do Rio de Janeiro.
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Mais que fomentar a economia criativa no estado do Rio de Janeiro, o Sistema Fecomércio RJ alavanca o desenvolvimento de todo o setor do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, promovendo a conexão de todos os envolvidos - empresários, profissionais da moda, gestão e sustentabilidade, consumidores e alunos – para pensar novos arranjos produtivos, reaproveitar elementos e, dessa forma, permitir o desenvolvimento de negócios sustentáveis. O Espaço Sistema Fecomércio RJ de Moda ofereceu uma área de 200m² dedicados em cada um dos dois polos comerciais dos segmentos de joias e vestuário do estado do Rio de Ja-
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neiro. Ambos estiveram presentes nas duas áreas do evento: Salão de Negócios e Outlet.
Coca-Cola Brasil lança edital para projetos de alimentação e nutrição Do Rio
O Movimento Coletivo, plataforma de impacto social privado criada pela Coca-Cola Brasil, está lançando edital de Alimentação e Nutrição no valor total de R$ 1,5 milhão, a serem destinados a projetos de educação e conscientização nutricional, acesso à informação e acesso a alimentos saudáveis. O programa busca soluções transformadoras colaborativas para melhorar a nutrição dos brasileiros. As inscrições
estão abertas até 17 de novembro no sitecocacolabrasil.com.br/movimentocoletivo.
“A Coca-Cola Brasil possui iniciativas em diversas áreas com impacto social. O Movimento Coletivo nasceu do diálogo com representantes de diversos setores da sociedade, que nos ajudaram a perceber uma oportunidade de direcionar nossos investimentos de uma forma diferente e mais transparente, mais focada em ações relacionadas à educação nutricional em colaboração com empreendedores que já atuam na área”, conta Andrea Mota, diretora de Categorias da Coca-Cola Brasil.
Investimentos globais em pesquisa e inovação ultrapassam US$ 700 bilhões, mostra Global Innovation 1000 De São Paulo
Os investimentos globais em pesquisa e desenvolvimento cresceram 3,2% em 2017, atingindo US$701,6 bilhões e superando, pela primeira, vez a marca de US$ 700 bilhões. Em 2016, foram investidos US$ 680 bilhões. A indústria de software e internet puxou o aumento, com crescimento de 16,1% em P&D, seguido pela indústria de saúde com 5,9% de acréscimo. Até 2018, este segmento deve liderar os investimentos em inovação . É o que mostra a
13ª edição do Globo Innovation 1000, estudo realizado pela Strategy&, consultoria estratégica da PwC.
Quatro empresas brasileiras figuram no ranking de investimento em inovação da Strategy&: a Petrobrás com US$ 561 milhões, a Vale S.A. com US$ 337 milhões, a Embraer com US$ 212 milhões e a TOTVS com US$ 102 milhões. No mundo, a Amazon aparece como a empresa que mais investe em P&D. Na edição 2016, a companhia ocupou a terceira posição no ranking. Em geral, os setores de computação e eletrônica, saúde e automotivo são os que mais investiram em P&D industrial, representando 61,3% dos recursos globais do setor em 2017.
Projeto Livros nas Praças recebeu a visita da jornalista e escritora Luciana Savaget DIVULGAÇÃO
Do Rio
O ônibus-biblioteca do projeto “Livros nas Praças”, patrocinado com exclusividade por Lojas Americanas e Americanas.com, estacionou na Praça Mauá para emprestar livros gratuitamente e receberá a visita de Luciana Savaget, jornalista e autora de diversos livros, como “Jararaca: um homem com nome de cobra” e “Sertão do Conselheiro Antônio”. O encontro fez parte das comemorações pelo Dia Nacional do Livro (29/10) e contou
com a presença de 300 alunos da Escola Padre Francisco da Motta. Com um acervo formado 70% por livros de autores brasileiros, a biblioteca sobre rodas oferece 60 livros com ilustrações em braile para crianças, 35 livros em fonte ampliada para pessoas com baixa visão, 20 audiobooks para deficientes visuais e 30 livros em braile para adultos. O veículo ainda dispõe de cadeira de transbordo, própria para cadeirantes e idosos com dificuldades de subir a escada de acesso, além de banheiro e água mineral para os leitores que utili-
zarem o ônibus como espaço de leitura, garantindo a acessibilidade de todos. O projeto Livros nas Praças é uma das iniciativas que integram o posicionamento de responsabilidade social da Lojas Americanas e da Americanas.com.
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DESEJAMOS UM FELIZ 2018 Humanize-se Por Keli Vasconcelos* Em minha finitude Preciso tomar uma atitude Constatar a plenitude Do meu ser Ser humano Emanar a consciência Que somente o amor Pode combater a violência A mudança não está lá Nem acolá Mora aqui Na esperança dentro de mim Sim, eu espero Mudança, meu coração Eis a razão Vazão do meu altruísmo Salve-se Ame-se Humanize-se Pois você Ser finito e puro É parte da mudança Que verás no mundo No futuro (Futuro é hoje!) (*) Keli Vasconcelos é jornalista nascida em São Paulo (SP), fotógrafa amadora e gosta de desenhar. Sempre em busca de sonhos, escreve, como voluntária, crônicas, poesias e resenhas, com destaque para o site Jornalirismo. Autora de “São Miguel em (uns) 20 contos contados” (Editora In House – Coleção Jornalirismo, 2014).
KELI VASCONCELOS
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