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ano onze | nº 65 | março / abril 2019 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
BALEIAS, LEGADO DAS ÁGUAS, ECOTURISMO NO PANTANAL E EQUADOR
ARTIGOS INÉDITOS
BRUMADINHO:
CRIME AMBIENTAL PROVOCADO PELA VALE DEIXA RASTRO DE MORTES E DESTRUIÇÃO
FOTO DE ISAC NÓBREGA – SECOM/PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – SOBREVOO DA REGIÃO DO ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE CÓRREGO DO FEIJÃO, DA VALE – BRUMADINHO (MG)
w w w. p l u r a l e . c o m . b r
NA AVENTURA FIBROSE CÍSTICA
32.
BALEIAS ESTÃO PROTEGIDAS NO LITORAL DE SANTA CATARINA, por Nícia Ribas
Jogos Escolares 2018: COB concilia a prática do esporte e a formação esportiva, individual e cidadã dos jovens atletas, por Hélio Rocha
ÍSIS MEDEIROS – MOVIMENTO DOS ATINGIDOS POR BARRAGENS
Contexto
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Catástrofe em uma das principais atividades econômicas do Brasil, a mineração - Crimes ambientais de Mariana e Brumadinho deixam saldo de mortos, atingidos e a urgência por mudanças de procedimentos Por Hélio Rocha DIVULGAÇÃO – ACCORHOTELS AMÉRICA DO SUL
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ARTIGOS INÉDITOS Antonietta Varlese, Dario Menezes e Frineia Rezende
FOTO DE LUCIANA TANCREDO/ PLURALE – RPPN LEGADO DAS ÁGUAS, SP
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LEGADO DAS ÁGUAS:
Coluna Ecoturismo, por Isabella Araripe
a maior reserva privada da Mata Atlântica do Brasil, por Luciana Tancredo
45 Ecoturismo no Equador, por Elizabeth Oliveira
FOTO DE LUCIANA TANCREDO / PLURALE – RPPN SESC PANTANAL
52 Cinema verde, por Isabel Capaverde
60 Nestlé substitui e elimina canudos, por Nícia Ribas
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46.
36.
ECOTURISMO NO PANTANAL É PREMIADO, por Sônia Araripe
E ditorial FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL
Elizabeth Oliveira
Nicía Ribas Luciana Tancredo
Paulo Cabral
Hélio Rocha com a campeã Fabi Alvim
Rompimento de Barragem da Vale em Brumadinho deixa rastro de mortes e destruição Esta edição bem variada também traz artigos inéditos; ecoturismo na RPPN Sesc Pantanal (MT), Legado das Águas, no Vale do Ribeira (SP) e Baños, no Equador; entrevista sobre feminicídio; proteção das baleias e os Jogos Escolares da Juventude
N
Por Sônia Araripe., Editora de Plurale
estes 11 anos de história de Plurale em revista e Plurale em site, uma cobertura, sem dúvida, nos marcou – a tragédia de Mariana, em Minas, em novembro de 2015, provocada pelo rompimento de Barragem da Samarco, empresa controlada meio a meio por duas das maiores mineradoras diversificadas do mundo – a brasileira Vale e a australiana BHP. O que já havia sido registrada como o maior crime ambiental do Brasil, com saldo de 19 mortos e 700 quilômetros de destruição até a Foz do Rio Doce, em Regência (ES), foi novamente superado pelo rompimento de outra barragem de rejeitos. Desta vez apenas da Vale, da Barragem 1 do Córrego do Feijão, em Brumadinho.
Até o fechamento desta edição, o crime ambiental de Brumadinho já tinha superado – e muito – o de Mariana: 171 mortos e outros 105 desaparecidos, soterrados pela lama que jorrou da barragem da Vale. O repórter Hélio Rocha, que cobriu e acompanhou de perto o desastre de Mariana, conversou com fontes e atingidos. Procuradores do Ministério Público de Minas Gerais pediram a prisão de oito funcionários da Vale, além de dois engenheiros da multinacional Tüv Süd, especializada em laudos técnicos para barragens, que atestou a estabilidade daquela barragem. Trazemos o relato do experiente Correspondente Paulo Cabral, que trabalha para Canal de notícias da TV chinesa, e esteve em Brumadinho cobrindo o desastre. Em texto emocionado ele conta que chorou e precisou ser consolado
por uma vítima de família atingida. Esta edição também apresenta um variado leque de notícias e artigos inéditos. A entrevista é sobre o tema que, infelizmente, tem se tornado corriqueiro – o feminicídio – com a socióloga Fernanda de Vasconcellos, pelos parceiros da IHU-On-Line. Os artigos inéditos são de Antonietta Varlese, Dario Menezes e Frineia Rezende. A Repórter Especial Nícia Ribas apurou duas matérias de destaque: de Garopaba (SC), sobre a conservação de baleias e também a parceria do Nescau com o Projeto Tamar, da Praia do Forte (BA). Ecorturismo é outro destaque desta edição, apresentando a RPPN Sesc Pantanal (MT); Baños, no Equador e na Reserva Legado das Águas, no Vale do Ribeira, por Luciana Tancredo, Editora de Fotografia de Plurale. Boa leitura!
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Quem faz
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Antonietta Varlese, Assessoria do Corpo de Bombeiros MG, Assessoria de Imprensa da Fundação Grupo Boticário, Dario Menezes, Elizabeth Oliveira, Fernando Frazão (Agência Brasil), Fotos de Baleias de Aventura Fibrose Cística, Berna Ribas, Instituto Australis e Karin Groch, Frineia Rezende, Hélio Rocha, Isac Nóbrega (Fotógrafo da Presidência da República), Ísis Medeiros (Movimento de Atingidos por Barragens), João Vitor Santos (IHU On-Line), Ricardo Stuckert Filho e Vladimir Platonow (Agência Brasil). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint
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Cartas
c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
“Cara Sônia,
“Sou leitor desde o número um de “Adoramos a Edição 64 de Plurale em Plurale em revista e fico feliz em ver o revista! Parabéns pelos 11 anos de É sempre uma grata satisfação receber esta desenvolvimento desta mídia ao longopublicação trabalho sério pela sustentabilidade.” que há oito anos abre espaço para Jacqueline Ferraz, comissária destes 11 anos. Parabéns! Me surpre-o diálogo entre empresas, especialistas e a aposentada, de Teresópolis (RJ), endi com a belíssima matéria de capasociedade, pelo com siteo objetivo de promover os da recente Edição 64, sobre a Reser- bons exemplos de preservação do meio va Particular ambiente. Parabéns a todos os “Incrível a matéria sobre a carta escrido Patrimônio profissionais envolvidos e votos de uma ta pelo Twitter pelo fotojornalista espaNatural Estavida longa e sustentável à Plurale em nhol Gervásio Sánchez para o amigo ção Veracel, no revista.” preso Raül Romeva por ter participaSul da Bahia, Miguel Krigsner – Fundador do do da tentativa de independência da de autoria das Grupo Boticário e da Fundação Catalunha. Belíssima traduçãoda da jorjornalistas SôGrupo Boticário de Preservação nalista Maurette Brandt e edição nia Araripe e Natureza, Curitiba (PR), por e-mail também muito bem apurada. A edição 64 Luciana Tande Plurale toda um credo. Feliz por “Em nome daestá Associação dos show!” Analistas e Ricardo Ferreira, economista, ver os pássaros Profissionais de Investimento do Mercado de São Paulo, pelo site de Capitais (Apimec SP), parabenizo toda livres e o dea equipe de Plurale por seus oitos anos de senvolvimento “Meu contato com Plurale atividades e, acima de tudo, pelaem revista é do turismo susrecente e já percebo o “peso” de sua seriedade e qualidade do serviço prestado tentável, beneresponsabilidade em contribuir e agreao tratar de temas tão relevantes ficiando também a comunidade local.à sociedade, garsustentabilidade valor aos seus leitores e à sociedae meio ambiente. Que Adoro pássaros e sou um defensor doquanto de. Das últimas edições que conferi, venham muitos outros anos!” meio ambiente desde sempre! Aqui pudeTadeu aprender com ,visões econômicas Martins Presidente em nossa casa temos várias árvores eRicardo SP, São (SP), por e culturais quePaulo inteligentemente tem os pássaros estão sempre presentes,da Apimec e-mail assim como micos, gambás e outros como pano de fundo valores e princíanimais. Mas gostaria de contar um pios da sustentabilidade, do respeito “Deslumbrante a natureza da Serra do Cipó , episódio recente que os leitores vão e do conhecimento. Fiz um lindo pasretratada Cecília e Artur seiopela atéAna Provence, na Vidaurre, França na guiada gostar. Uma rolinha entrou dentro deedição 49 desta prestigiosa revista que pela Adriana Boscov. Também, enchi nossa sala e fez um ninho na janela.recentemente conheci. Parabéns à toda meu coração de orgulho com as áreas Foi perto do Natal. Logo que desco-equipe de Plurale! Como mineiro nunca havia que abrigam nossos fantásbrimos tivemos o cuidado de zelardadoprotegidas a devida importância, apesar de ter visto biomas que produzem histórias e pela paz do pássaro, assim como afalar ticos em aulas de geografia nos anos 60 sobre oportunidades riquíssimas para possibilidade da rolinha entrar e sairesse parque ambiental; como temos belezas a humanidade. Inspirações e reflexões: um da sala. Os filhotes nasceram e, paranaturais em nosso país e desconhecemos, mundo melhor é possível! Adorei relemnossa felicidade, mãe e filhotes estãosituação que está sendo resgatada por esta brar o IX CBUC pelo excelente registro novamente voando por aí na natureza.revista dedicada ao meio ambiente e ecologia. de Nícia Ribas! tão Parabéns à Plurale e Fico feliz por ter uma casa tão integra-Parabéns por abraçarem nobre missão e obrigada à simpatia e profissionalismo da à natureza. E por poder acompa-pelos 8 anos de edição e sucesso. Agradecido da Sôniatão Araripe. Toda bela revista. ” informação denhar os avanços e novidades sobrepor vislumbrar Sustentabilidade através das edições veria partir do ponto de vista plural! É Plurale!” Benedito Ari Lisboa, engenheiro, São de Plurale. Vida longa!” Tiburcio, dosCelina Campos (SP), por Organa e-mail ConJoaquim Dário d`Oliveira, militar JoséAna teúdo Responsável, São José dos da Aeronáutica aposentado, Rio Campos (SP), pelo site de Janeiro, por e-mail “Letícia Spiller tornou-se a “embaixadora” da campanha Desmatamento Zero, do
“GosteiBrasil. muito matéria Giuliana Emda entrevista nade Edição “Parabéns por mais uma excelenteGreenpeace Lençóis MaranhenPlurale emsobre revista,os comemorativa de edição, que trouxe um resumo do50 dePreziosi ses, aestive lá no que anosua passado e Santo atriz revelou preocupação evento do CEBDS, o Talanoa, edita-oito anos, Amaro realmente é um paraíso que está com as causas ambientais é antiga. Ela e do de maneira tão criativa em layout começando a ser mais explorado. Só outras atrizes e atores falam sobre o arrojado e, como sempre, muito espero nas quecausas haja consciência e diálogo sociais e ambientais. bem escrito. Precisamos sempre deengajamento querida Sônia e equipe nesteà caminho queAraripe vem pela frente.” mais iniciativas jornalísticas de tãoParabéns Lucy Nascimento, administradopela matéria e pelos oito anos de Plurale!” alto nível como Plurale em Revista ra, de São Paulo, por email Maria Ramalho, jornalista, do Rio para tratar dos temas da sustenta-Anna de Janeiro (RJ), por e-mail bilidade.” “Adorei a publicação da minha foto na EdiKelly Lima, Gerente de Comuçãoviva, 64 de Plurale emEu revista. edição “Sônia: amiga querida! sei queAnão é está nicação do CEBDS (Conselho à toda fácil; maravilhosa! parabéns, paraParabéns você e todos os queequipe!” fazem Empresarial Brasileiro para o Lúcia Araújo, bela revista! A matéria dosfotógrafa, oito anos é do Desenvolvimento Sustentável), essaAna Rio de Janeiro, pelo site histórica; fiquei orgulhoso de me ver Rio de Janeiro (RJ), por e-mail antológica,
Entrevista
VIVEMOS UM MOMENTO EM QUE A VIOLÊNCIA SOFRIDA POR MULHERES EM SEU AMBIENTE DOMÉSTICO E/OU FAMILIAR PASSA POR UM PROCESSO DE ACIRRAMENTO FERNANDA DE VASCONCELLOS, SOCIÓLOGA FOTO DE ARQUIVO PESSOAL
Por João Vitor Santos, da IHU On-Line Fotos de Arquivo Pessoal e Agência Brasil
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atiane Spitzner, de 29 anos, e Tatiane Rodrigues da Silva, de 30 anos. Uma era advogada e a outra cabelereira, mas o que elas têm em comum? Ambas foram mortas pelos parceiros, vítimas de feminicídio, uma no Paraná e a outra em Minas Gerais. São dois dos inúmeros casos que têm sido noticiados de mulheres que passam a sofrer violência até chegarem a ser mortas. A socióloga Fernanda de Vasconcellos lembra que esses casos todos que vemos nos noticiários ainda são uma pequena ponta do iceberg. Segundo dados do Instituto Maria da Penha, a cada dois segundos, no Brasil, uma mulher é vítima de violência. Para Fernanda, não existe um padrão dessas vítimas. “A violência está presente em todas as classes sociais: o que varia são as formas como o conflito costuma ser administrado pelas partes nele envolvidas”, pontua. Entretanto, a socióloga pondera que “o que as vítimas deste tipo de violência têm em comum é o fato de que, em algum momento de suas trajetórias pessoais, descumpriram alguma expectativa vinculada
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aos papeis sociais de gênero tradicionalmente atribuídos à mulher: boa esposa, boa mãe, boa dona de casa, possuidora de uma sexualidade ‘controlada’”. Ou seja, se há uma questão de fundo nessas histórias, ela passa necessariamente pela reflexão sobre as questões de gênero e os papéis sociais atribuídos a homens e mulheres. Na entrevista concedida à IHU On-Line, Fernanda ainda lembra que os agressores costumam ter em comum a necessidade de reafirmar suas expectativas de gênero, “as
PLURALE EM REVISTA | Março / Abril 2019
quais estão fortemente relacionadas a uma percepção de que a masculinidade deve ser violenta, patriarcal, viril e honrada”. Por isso, embora reconheça avanços nas ações do Estado no que diz respeito à proteção da mulher – vide a Lei Maria da Penha –, a professora acredita que para estancar a chaga da violência contra a mulher é preciso ações mais amplas, embora complexas. “Debates sobre gênero são fundamentais para a existência de uma política de prevenção de violências contra a mulher”, enfatiza. “Não existe a pos-
sibilidade de enfrentamento do problema por qualquer via que desconsidere a importância destas discussões no contexto da educação: se o debate for evitado no espaço escolar ou for apresentado de modo a manter uma estrutura social com papéis de gênero tradicionalmente atribuídos a homens e mulheres (dentro da lógica “menino veste azul e menina veste rosa”), possivelmente seguiremos observando índices crescentes de violência não só contra a mulher, mas também contra grupos que desrespeitam critérios de heteronormatividade”, completa. A professora ainda faz questão de evidenciar que esse é um debate que tem centralidade na escola, mas que também deve transbordar esse espaço. “É necessária a contínua formação de profissionais que atuam nos diversos âmbitos do sistema de justiça e demais instituições que façam parte da rede de atendimento a mulheres em situação de violência. Sem estas ações de capacitação e aperfeiçoamento, a possibilidade de revitimização é enorme”, adverte. Fernanda Bestetti de Vasconcellos é professora adjunta do Departamento de Sociologia e do Programa de Pós-Graduação em Segurança Cidadã da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS. Doutora em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS, possui mestrado em Ciências Sociais pela PUCRS e bacharelado em Ciências Sociais pela UFRGS. É pesquisadora visitante no Departamento de Criminologia da Universidade de Ottawa, no Canadá, e atua como pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas de Segurança e Administração da Justiça Penal GPESC e do Instituto Nacional de Estudos Comparados em Administração Institucional de Conflitos INCT-INEAC. Confira a entrevista. IHU On-Line – O ano de 2019 começou com uma série de notí-
cias sobre casos de violência contra mulheres. Vivemos um recrudescimento desses ataques? Ou esses casos são recorrentes, sendo que neste início de ano a imprensa apenas tem dado mais atenção a esses fatos? Fernanda de Vasconcellos – Podemos dizer, sim, que vivemos um momento em que a violência sofrida por mulheres em seu ambiente doméstico e/ou familiar passa por um processo de acirramento. De acordo com dados da própria Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul, por exemplo, ocorreu um aumento de 40,9% em homicídios de mulheres já no ano de 2018, em comparação ao ano anterior. O aumento de morte de mulheres, perpetradas por homens que fazem ou fizeram parte de seu contexto relacional doméstico ou familiar, não ocorreu somente no Rio Grande do Sul. Estas mortes fazem parte de uma realidade que se estende por todo o território brasileiro e que podem estar vinculadas a situações que se relacionam com características culturais da sociedade brasileira (como o patriarcalismo, por exemplo) e com possíveis reações conservadoras ao que seria um processo (discursivo) de empoderamento feminino, vivenciado no Brasil a partir de meados da primeira década dos anos 2000. Este crescente processo de exacerbação da violência torna-se objeto de interesse social, em grande parte, pela atenção que a imprensa vem direcionando à questão. De forma similar ao que ocorreu com a entrada em vigor da Lei Maria da Penha em agosto de 2006, quando começam a ser veiculados na mídia nacional discursos que apontam para a ideia de que “é errado bater em mulher”, com a criação da figura jurídica do feminicídio em 2015, a possibilidade de nomear os homicídios de mulheres motivados pelo não cumprimento de expectativas de gênero deu a imprensa a chance de pautar esta violência de modo mais organizado.
Historicamente, mulheres são vítimas de homicídios motivados pela não aceitação do companheiro com o final do relacionamento e as taxas destes crimes crescem anualmente (a despeito da existência de uma lei que criminaliza a violência contra a mulher). Porém, a colocação da figura do feminicídio no nosso ordenamento jurídico permitiu dar uma maior visibilidade social a estas mortes, e não podemos negar que a imprensa tem um papel central neste processo. IHU On-Line – Existe um padrão no perfil das mulheres vítimas de violência? E com relação ao agressor, existe um padrão? Esses padrões são recorrentes ou também têm se transformado ao longo dos tempos? Fernanda de Vasconcellos – É complicado afirmar que exista um perfil padrão de mulheres que sofrem violência doméstica ou familiar. Afirmar isso significaria dizer que a violência está relacionada apenas a questões de vulnerabilidade social, uma vez que a maior parte dos casos oficialmente registrados têm como vítimas mulheres que fazem parte de classes sociais menos abastadas. Podemos dizer que a violência está presente em todas as classes sociais: o que varia são as formas como o conflito costuma ser administrado pelas partes nele envolvidas. Neste sentido, fatores como maior escolaridade, existência de recursos financeiros (que possibilitam um acesso mais fácil a serviços de saúde, por exemplo), normalmente, permitem a administração dos conflitos de modo a evitar o acirramento da violência. O que as vítimas deste tipo de violência têm em comum é o fato de que, em algum momento de suas trajetórias pessoais, descumpriram alguma expectativa vinculada aos papéis sociais de gênero tradicionalmente atribuídos à mulher: boa esposa, boa mãe, boa dona de casa, possuidora de uma sexualidade “controlada”.
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Entrevista
Quanto aos agressores, eles costumam ter em comum a necessidade de reafirmar outras expectativas de gênero, as quais estão fortemente relacionadas a uma percepção de que a masculinidade deve ser violenta, patriarcal, viril e honrada. Mudanças ao longo do tempo O que muda com passar do tempo (de forma bastante lenta, pois estamos falando de expectativas acerca de papéis sociais, algo intrinsecamente ligado à cultura de uma sociedade) são as concepções que os indivíduos internalizam durante suas vidas sobre estes papéis de gênero. Uma mulher divorciada certamente era socialmente julgada de forma mais pejorativa há 30, 40 anos, assim como era socialmente inadmissível um homem dividir as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos com a sua companheira. Ou seja, se nos perguntarmos hoje sobre o que significa ser uma “boa mãe” ou uma “boa esposa”, possivelmente teremos variações nas respostas dadas há 40 anos, o que não significa que tenham deixado de existir expectativas sociais sobre a necessidade moralizante de ser uma “boa mãe” ou “boa esposa” nos dias de hoje. Porém, quando consideramos o acirramento da violência doméstica e familiar contra a mulher, no momento em que ela se torna letal, é possível dizer que existem marcadores sociais de classe e de vulnerabilidade (situação econômica instável, consumo de álcool e/ou outras substâncias, por exemplo) que comumente estão presentes nos perfis de vítimas e agressores. IHU On-Line – O quanto a vulnerabilidade social pesa como ingrediente para um contexto de violência contra a mulher? Fernanda de Vasconcellos – A vulnerabilidade social tem um peso bastante expressivo. Tanto no que se refere à utilização do sistema de justiça criminal para a administração dos conflitos violentos contra
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a mulher, quanto na transformação do conflito em violência letal. Se passarmos um dia em uma delegacia especializada para o atendimento a mulheres, observaremos que a grande maioria das mulheres em situação de violência que procuram a instituição pertence a classes sociais menos abastadas. Observaremos esse fenômeno também se observarmos as audiências realizadas nos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher. Mas, novamente, é preciso pontuar que a violência perpetrada contra a mulher em seu contexto doméstico e/ ou familiar não é exclusiva de uma ou outra classe social, ainda que os conflitos oficialmente registrados ocorram, em sua grande maioria, em contextos de vulnerabilidade. Nestes espaços institucionais, as falas de mulheres em situação de violência costumam apontar abuso de álcool, desemprego, impossibilidade de manutenção econômica das partes envolvidas no conflito (se separadas). Muitas dessas mulheres, ainda que estejam buscando a administração do conflito de que são parte pelo sistema de justiça criminal (o qual normalmente não possui condições de atender a expectativas que estejam além de uma resposta baseada na lógica binária culpado/inocente), esperam que o mesmo faça cessar o ciclo
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de violência da qual são vítimas, mas sem, necessariamente, buscar o fim do relacionamento com o agressor. É algo bastante paradoxal, mas, em grande parte dos casos, o registro criminal em uma delegacia pode significar o acesso (ou informação de como acessar) a serviços de assistência social ou de saúde, os quais poderiam, de alguma forma, prevenir o acirramento de violências sofridas por estas mulheres. Os casos em que a violência sofrida por estas mulheres é exacerbada, resultando em mortes, normalmente estão ligados à não aceitação por parte do companheiro/ex-companheiro da opção pelo término do relacionamento. Uma maioria expressiva das mulheres vítimas deste tipo de homicídios já havia procurado o sistema de justiça criminal em um momento anterior, seja em um primeiro contato buscando alguma resolutividade para o conflito através da punição do agressor ou não. Esse fato aponta para a dificuldade das instituições de segurança pública, responsáveis pela proteção da mulher em situação de violência, em atender a demanda por proteção de parte de sua clientela. IHU On-Line – Quais foram os maiores avanços do Estado no que diz respeito à prevenção e punição nos casos de violência contra a mulher? Fernanda de Vasconcellos – A
que atuam no atendimento às mulheres em situação de violência, da criação de redes de atendimento e proteção eficazes, disponibilização de serviços vinculados à assistência social e saúde previstos na Lei, os quais não ocorreram de forma a proporcionar a efetividade pretendida pela mesma, a criação de novos procedimentos burocráticos e de novas atribuições para o sistema de justiça criminal acabaram por revelar efeitos imprevistos da mesma. IHU On-Line – Quando da sua instituição, a Lei Maria da Penha freou os índices, diminuindo casos de violência. Entretanto, um período depois da vigência da Lei, os casos voltaram a crescer. Que leitura a senhora faz desse cenário? Fernanda de Vasconcellos – É bastante complicado dizer que os índices de violência contra a mulher tenham sido freados em algum momento, mesmo com a entrada em vigor da Lei Maria da Penha. O que se viu, na prática, foi uma explosão na demanda pelo atendimento nas DEAMs (Delegacias Especializadas para o Atendimento de Mulheres), a qual, no primeiro ano da Lei, significou mais do que o dobro de registros policiais de casos de violência, se considerarmos o caso da DEAM de Porto Alegre (parte substancial de tal acréscimo pode ser explicada pelas crescentes campanhas informativas criadas a partir da Lei Maria da Penha,
voltadas para propiciar o conhecimento da mesma pela população brasileira, buscando dar visibilidade ao problema da violência contra a mulher e prestar informações àquelas em situação de violência sobre seus direitos de atendimento e proteção). Mas isso também não significa que os casos de violência contra a mulher tenham mais do que dobrado na época. Pesquisadores da temática geralmente concordam que existe uma cifra oculta enorme relacionada aos casos de violência contra a mulher. Isso significa que existe uma parcela enorme de casos que não chegam ao conhecimento do sistema de justiça criminal. Logo, os índices deste tipo de violência possivelmente são mais elevados do que aqueles oficialmente registrados. Os dados são mais precisos se pensarmos nos casos em que a violência é acirrada e torna-se letal. E se observarmos os índices anuais desses crimes, podemos observar que há um crescimento exponencial no Brasil (sendo apresentadas quedas nos índices de mortes de mulheres brancas e aumento de mortes de mulheres negras). Neste sentido, se há um crescimento anual de homicídios de mulheres, não se pode dizer que a Lei Maria da Penha conseguiu, em algum momento, frear os casos de violência contra a mulher. Leia a íntegra desta entrevista em Plurale em site, na seção de Entrevistas. FOTO DO ARQUIVO DA AGÊNCIA BRASIL
entrada em vigor da Lei Maria da Penha em 7 de agosto de 2006 configura-se em uma importante conquista referente ao reconhecimento formal do Estado brasileiro da extensão do fenômeno da violência doméstica e familiar contra a mulher. Essa conquista representa o que pode ser denominado como uma vitória da luta encabeçada pelo movimento feminista brasileiro, a qual foi iniciada nos anos 1970 e fortalecida com o processo de reabertura política do Brasil nos anos 1980, que denunciava a existência de uma cultura patriarcal nacional que possibilitava um tratamento discriminatório em relação às mulheres e leniente em relação aos homens agressores. A criminalização das violências física e psicológica contra a mulher em seu espaço privado apresentou-se como opção tomada pelo Estado para dar visibilidade, prevenir, proteger e punir os conflitos violentos que foram reconhecidos pela legislação. Neste sentido, foi prevista a articulação entre governo federal, governos estaduais e municipais, de modo a possibilitar a implementação de uma rede de assistência e proteção às mulheres em situação de violência. Considerando a violência contra a mulher um fenômeno complexo e multifacetado, a Lei previu a integração de diversas instituições formais ligadas ao sistema de justiça, segurança pública, assistência social, educação e saúde. Além do desenvolvimento de uma rede que oferecesse serviços de forma integrada, a Lei Maria da Penha previu um processo contínuo de qualificação dos profissionais envolvidos no atendimento às mulheres em situação de violência, no sentido de garantir a prestação de serviços capazes de promover os objetivos da Lei. Independentemente da existência de análises favoráveis ou desfavoráveis às previsões legais e opções formais de administração de conflitos abarcadas pela Lei Maria da Penha, sua entrada em vigor e o funcionamento das estruturas previstas no sistema de justiça criminal e segurança pública não ocorreu sem entraves. Para além de todos os procedimentos de capacitação de profissionais
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es co lha •
•
(substantivo feminino) 1 Do verbo em latim EXCOLLIGERE.
Ato ou efeito de escolher; preferência.
2 Ato de enxergar diferentes possibilidades para identificar
e alavancar suas capacitações competitivas e alcançar o crescimento. Capacidade de se adaptar com agilidade para acompanhar as mudanças do mercado e liderar inovação em seu setor. Atitude fundamental para abrir novas oportunidades que apoiam a cultura, a estratégia e as ambições da sua empresa, impulsionando o seu negócio. Termos relacionados: alinhar custos com estratégia de negócios, crescer e criar vantagem competitiva, estimular a inovação.
O mundo pede novas leituras. www.pwc.com.br/imperativos-negocios
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Colunista Dario Menezes
GERENCIAMENTO DA MARCA E DA REPUTAÇÃO NA ERA DIGITAL – UMA PERSPECTIVA BRASILEIRA
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m recente estudo denominado “Gerenciamento da Marca e da Reputação na era Digital”, publicado no periódico acadêmico europeu Communication Director, os autores Silbershatz e Schubert (1) propõem algumas reflexões interessantes para os dias de hoje em se tratando de gestão de marca. A primeira reflexão é o quanto os desafios de gerenciar marca e reputação cresceram nos últimos anos. A resposta é bastante evidente para nós , profissionais de comunicação, marketing, relações institucionais e sustentabilidade. E as inúmeras crises vivenciadas por empresas brasileiras recentemente comprovam isso. A segunda reflexão é o quanto as mídias sociais ajudaram a tornar o contexto social ainda mais incerto, volátil e imprevisível, expressões que caracterizam o ambiente V.U.C.A. Sim, de certo as midias sociais modificaram o contexto social, acelerando a troca de informações e empoderando os stakeholders, gerando desafios crescentes para as organizações. A terceira é última reflexão remete ao ponto central deste artigo. Será que toda esta revolução digital tornou-se um imenso desafio ou de alguma maneira pode ser aliada das organizações em busca de uma melhor gestão da marca e reputação? Os autores entendem que toda esta revolução digital veio somar a todos os esforços de gestão, inclusive lis-
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“Se por um lado, os desafios de gerenciar efetivamente a marca e a reputação só aumentam nesta era digital, por outro, são mais fáceis de resolver.” Shahar Silbershatz e Holger Schubert tando alguns exemplos de empresas que tem conseguido percorrer de forma correta esse caminho. A partir destas três reflexões colocadas pelos autores, cabe uma pausa para analisarmos a realidade brasileira. Nem sempre o que está dando certo lá fora, pode facilmente ser entendido como uma realidade, aqui, em terras brasileiras. No decorrer do ano de 2018, usando a base de contatos de executivos que eu tenho no Linkedin eu conduzi uma pesquisa semi-estruturada com abrangência nacional para entender o estágio da gestão da reputação corporativa no Brasil. O estudo tem o nome de ‘Reflexões sobre o estágio de maturidade da gestão da reputação no Brasil’ e está
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disponível para download no endereço apresentado no final do artigo (*). Para entendermos a perspectiva brasileira, é necessário analisarmos as respostas obtidas para cinco perguntas centrais do estudo relacionadas ao tema. Combinadas entre si, elas nos darão um retrato fiel do estágio em que estamos no Brasil. Para a primeira pergunta “Na sua opinião, hoje, qual a principal dificuldade da sua organização para fazer uma correta gestão da reputação? ” Tivemos uma resposta indicando que aproximadamente dois terços dos respondentes (62%) apontaram que a falta de tempo e de recursos, o foco no curto prazo somada a falta de priorização do tema na agenda da organização dificultam a implantação do tema reputação na estratégia das corporações. Essa resposta demonstra como a maioria das organizações que operam no Brasil subestimam o tema reputação e deixa claro o conflito da gestão do curto prazo em detrimento dos objetivos de longo prazo. A isto podemos chamar da nova miopia de marketing. Percorrendo um pouco mais o estudo chegamos a segunda pergunta: “Para a gestão da reputação da sua organização, você entende que as mídias sociais trazem oportunidades ou ameaças e riscos? ” 57% das respostas recebidas indicam que os executivos de forma equilibrada compreendem que as mídias sociais trazem riscos e oportunidades na mesma proporção. Considero esta uma boa resposta indicando um correto grau de maturidade dos respondentes sobre a ação das midias sociais, olhando elas tanto como um obstáculo quanto como um parceiro fundamental A questão de número três nos mostra uma luz no fim do túnel. A pergunta era: “Na sua opinião, casos recentes de perda de reputação como o que aconteceu com o Starbucks, JBS, Carrefour e Facebook ajudam na conscientização da importância da gestão da reputação? ” O resultado de 82,1% das respostas computadas confirmam que esses recentes casos verificados com corporações de al-
cance global reforçam a importância da correta gestão da reputação. A isto, podemos chamar de uma nova consciência empresarial. Porém não vamos nos esquecer que na primeira resposta do estudo, 62% indicaram que vários fatores combinados dificultam a implantação de uma gestão da reputação estruturada por parte das empresas que atuam no Brasil. Ou seja, o tema é importante mas as empresas entendem que a ação para uma governança mais estruturada sobre o tema pode esperar mais um pouco. De novo, a tal da miopia imperando nas organizações. A resposta a quarta questão nos apresenta um cenário bastante desafiador. Ela perguntava “Vamos supor que aconteça hoje uma divulgação negativa sobre a sua organização. Você entende que a sua organização está preparada para gerenciar essa crise? ” Exatos 59,5% dos respondentes afirmam que as suas organizações não estão preparadas para gerenciar uma possível crise. Aqui cabe uma reflexão preocupante: os respondentes nos indicam que as suas organizações não estão preparadas para gerenciar uma crise, seja ela causada por maus tratos a um animal, pelo vazamento de dados dos usuários, por conta de delações premiadas ou por conta de acidentes ambientais? Bem, temos sido bastante criativos aqui no nosso país na geração de crises. Várias empresas passaram ou ainda estão passando por esse desafio. Não estar preparada para fazer no mínimo a gestão da crise, me faz lembrar uma frase de um famoso filme: Houston we have a problem… A última pergunta leva a questão central do estudo: “A sua organização hoje dispõe de alguma métrica para gerenciar a sua reputação e possibilitar a comparação com seus concorrentes?
” 78,6% reiteram que suas organizações não dispõem de métricas para a correta gestão da reputação. Essa é uma péssima resposta e acaba conjugando em si só as respostas anteriores. Má gestão associada a ação das mídias sociais e a falta de preparo para crises é fruto de termos uma gestão pobre, sem um acompanhamento de indicadores que nos balizem e sirvam a tomada de decisão. Voltando ao artigo europeu, os autores afirmam que uma melhor colaboração e constante troca de ideias entre as áreas de comunicação e marketing são vitais para uma correta gestão. Ainda no artigo, eles afirmam que a maioria dos processos nas empresas é vista e gerenciada com o auxílio da teoria analítica; com o gerenciamento da marca e da reputação não pode ser diferente. Segundo os autores, o Facebook, Twitter, e a internet e todo o arsenal que a tecnologia digital traz para as corporações mudou todo o nosso contexto. Acelerou a percepção sobre o tema reputação, que hoje acontece na velocidade da luz. Por isso precisamos avançar nas práticas de monitoramento em tempo real. A forma como analisamos o que uma empresa representa, e os nossos esforços para melhorar a reputação da empresa ao longo do tempo devem ser regularmente balizados por meio de informações relevantes prestadas no momento adequado, o que pode ajudar as empresas a compreenderem o que as pessoas pensam e sentem sobre elas, e a interpretarem essas percepções e agirem de acordo, como forma de envolver efetivamente seus públicos. Na era digital, esse processo não é apenas mais importante (devido à multiplicação de pontos de contato e da frequência de interação entre empresas e seus stakeholders relevantes), mas na verdade é também muito mais fácil: a tecnologia digital fornece
às empresas ferramentas que lhes permitem coletar e interpretar informações com mais frequência e eficácia – e compartilhá-las mais amplamente por toda a organização. Grandes empresas em todo o mundo - de gigantes B2C como British Airways, Herbalife, Nestlé e Lego a ícones B2B como SAP, PwC e Airbus usam cada vez mais métricas contínuas de marca e reputação como parte de sua gestão baseada em indicadores. Precisamos acabar com esse contexto nacional de gestão incipiente deste tema tão relevante, no qual 78,6% dos respondentes reiteram que suas organizações não dispõem de métricas para a correta gestão da reputação. Só depende de nós, profissionais antenados na evolução dos processos e tecnologias mudarmos esse quadro. Sair do passado e viver os dilemas e oportunidades do momento presente. Da tecnologia presente. Precisamos mudar esse cenário para o bem, longevidade e competitividade das nossas organizações. As empresas sabem que não há melhor maneira de orientar as atividades de marketing, comunicação e engajamento de partes interessadas, a fim de construir confiança e garantir legitimidade e sucesso a longo prazo. A mesma lógica de gestão deve ser aplicada no Brasil. Imediatamente e de forma profissional. (1) SILBERSHATZ, Shahar. SCHUBERT, Holger. Gerenciamento da Marca e da Reputação na era Digital. Journal Communication Director. Abril 2018 (*) O artigo “Gerenciamento da Marca e da Reputação na era Digital” bem como um sumário executivo do estudo brasileiro estão disponiveis em www.groupcaliber.com (*) Dario Menezes é professor da FGV, FDC e ESPM e é Diretor Associado do GroupCaliber, empresa europeia especializada no monitoramento em tempo real das percepções sobre Marca e Reputação.
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Artigo Antonietta Varlese
UMA NOVA ATITUDE A CADA DIA
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ada atitude que adotamos como cidadãos tem um impacto. Reduzir o consumo e o desperdício de água, reutilizar embalagens, reciclar o lixo, tudo isso impacta na preservação dos recursos naturais do planeta e na redução das emissões de poluentes na atmosfera. O que imaginar então da indústria do turismo, que em 2017 gerou um fluxo de 1,3 bilhão de viajantes no mundo segundo a Organização Internacional do Turismo? A indústria se mostra cada vez mais atenta e preocupada com o seu impacto social e ambiental, pois sabe que cada pessoa que se desloca de seu lugar de residência para qualquer destino gera um impacto. Por este motivo, as empresas do setor devem desenvolver formas de promover, dentro do seu modelo de negócios, o turismo sustentável e reduzir o seu impacto e o dos clientes no ambiente. Nós, da AccorHotels, temos orgulho de ser indutores de um novo pensamento e de novas atitudes em relação ao meio ambiente. Operamos mais de 4.600 hotéis em mais 100 países e empregamos mais de 250 mil pessoas. Sabemos que nosso impacto é gigantesco e que temos o compromisso de conduzir mudança importantes no setor de hospitalidade e, mais além, na sociedade. Dessa forma, desenvolvemos ações que geram um enorme impacto no dia a dia das operações dos hotéis e na vida dos nossos hóspedes. E apresento, aqui, três exemplos de iniciativas que adotamos. Nosso programa Planet 21 reúne
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todas as iniciativas de preservação do meio ambiente. Uma delas é amplamente adotada e com excelentes resultados no mundo todo, sobretudo no Brasil. Por meio do Plant for the Planet incentivamos os hóspedes e camareiras a não trocar as toalhas todos os dias. O dinheiro economizado com os pagamentos às lavanderias é revertido para uma ONG que, por sua vez, faz o plantio de mudas endêmicas na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Além deste replantio, o projeto prevê a recuperação de nascentes nos Rios Paranaíba, Rio Grande e Rio São Francisco, em Minas Gerais. Desde o começo desta parceria, há quase dez anos, 241 nascentes
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foram protegidas e 332 hectares, o equivalente a 442 campos de futebol, foram replantados. Mais recentemente, em julho deste ano, lançamos a campanha “Canudo pra quê?”, em que incentivamos o desuso de canudos em hotéis e nos restaurantes que operamos dentro das unidades. É uma iniciativa ousada, que impacta em uma mudança de costumes de todos. Até o momento, já temos alguns resultados. Em 2017, o Grupo consumiu 54 milhões de canudos na América do Sul. Até junho deste ano conseguimos reduzir o consumo em 20%. E vamos reduzir mais. Não podemos nos acostumar
com cenas de animais marinhos mortos em decorrência do consumo de plástico dos oceanos. E sabemos que os canudos plásticos são muito difíceis de ser reciclados. Por este motivo, estamos retirando os canudos de nossos restaurantes. Quando o cliente solicitar, substituímos por opções de inox, papel ou bamboo. Mesmo assim, nossa ideia é não utilizar nenhum canudo. Temos a consciência de que essa medida irá impactar costumes e induzir a mudanças de hábitos. Além disso, para abastecer os restaurantes com alimentos sempre frescos, a AccorHotels incentiva os hotéis a cultivarem hortas em seus espaços. A colheita pode ser usada para abastecer diariamente o menu do restaurante dos hotéis, além de compor as cestas de alimentos que ficam disponíveis para os clientes. Sabemos que, como cidadãos, podemos reduzir nosso impacto e nossa pegada ambiental. E, como empresa, não é diferente. Nossa responsabilidade é ainda maior, pois somos e queremos sempre ser modelo e exemplo para a sociedade. Não faz sentido sermos líderes em experiências de hospitalidade se não conduzirmos também mudanças que levem a um mundo melhor. É nosso dever, que executamos com prazer. (*) Antonietta Varlese, vice-presidente de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa AccorHotels América do Sul
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Artigo Frineia Rezende
ODS Por Frineia Rezende, Gerente Executiva da Reservas Votorantim, Gestora de Ativos Ambientais da Votorantim S.A
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m 2015, a ONU lançou os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) (figura 1) com o propósito de determinar o curso global de ação, e compromisso, para, além de proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas, erradicar a pobreza e promover prosperidade e bem-estar para os quase 9 bilhões de seres humanos que habitarão o planeta até 2030. Muito embora enfrentemos constantes crises econômicas mundiais, ainda assim muitas pessoas continuam não compreendendo a relação direta existente entre economia, bem-estar social e meio ambiente. Desde que foram lançados, os ODS têm ajudado mais pessoas e governos a compreender essa intricada relação. Em 2016, Johan Rockström, Chairman do EAT Advisory Board, e Pavan Sukhdev, fundador e CEO da Gist Advisory, apresentaram uma interpretação interessante dos ODS na abertura do EAT Forum. Essa interpretação, batizada de bolo de noiva (wedding cake) (figura 2), ressalta a importância de se ter como base os serviços ecossistêmicos (e recursos naturais) protegidos - e funcionais. A leitura que se pode fazer é que não há desenvolvimento social sem conservação de recursos naturais e seu uso/distribuição equilibrados; e, consequentemente, não há prosperidade (desenvolvimento econômico) sem equidade social.
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,PARA ALÉM DE COMPROMISSO
“Não há desenvolvimento social sem conservação de recursos naturais e seu uso/ distribuição equilibrados; e, consequentemente, não há prosperidade (desenvolvimento econômico) sem equidade social. A interdependência é clara.”
A interdependência é clara. Há décadas, biólogos, ecólogos, climatólogos entre outros pesquisadores, que usam dados ambientais como base de pesquisa, vêm apontando que impactos de larga escala podem comprometer o acesso a recursos naturais em níveis que podem acelerar a desigualdade social e, consequentemente, econômica. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), criado em 1988, vem demostrando de que forma as mudanças climáticas afetam a temperatura global e impactam negativamente, por exemplo, culturas agrícolas, florestas e oceanos. Quanto à biodiversidade, cerca de 0,1% das espécies conhecidas
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foi responsável pelo desenvolvimento humano. Ainda assim, conhecemos apenas cerca de 2 milhões de espécies, sendo que se estima que existam de 10 a 100 milhões. Desmatamento, mudanças no clima, escassez hídrica e perda de habitat levam cerca de 15 mil espécies à extinção por ano! 57% de toda a prescrição médica nos EUA deriva de componentes da biodiversidade. O valor estimado de princípios ativos ainda não descobertos na floresta tropical é de U$ 109 bilhões – ou seja, a extinção da biodiversidade leva também à perda de dinheiro. Dados recentes mostram, também, que muitas das espécies que hoje ocupam os trópicos, quando esses se tornarem mais quentes, não serão capazes de permanecer nessas mesmas áreas por não conseguirem adaptar-se às temperaturas mais altas. Inúmeras espécies tendem a se extinguir e aquelas que podem se deslocar migrarão permanentemente. As espécies que vivem nos climas temperados tendem a migrar para os polos; e as tropicais tendem a migrar para as áreas temperadas. Isso tudo também nos oceanos. Sem floresta não há água A produção agrícola e a pesca como vemos hoje serão um desafio praticamente impossível. As florestas, por sua vez, desempenham papel insubstituível no que se refere ao controle da temperatura ao redor do mundo e são responsáveis por chuvas em diversos territórios. Sem floresta, não há água; sem água, não existe também agricultura – que, por sua vez, também é afetada pela ausência de polinização, serviço
Figura 1
Figura 2
ecossistêmico desempenhado por abelhas, morcegos, borboletas e algumas espécies de aves. Ou seja, sem biodiversidade não há agricultura e sem agricultura não se pode alimentar a população. Aqui, refiro-me, principalmente, à agricultura de pequena escala, familiar, que provêm cerca de 70% dos alimentos consumidos mundialmente, principalmente hortaliças e frutas. Ainda sobre biodiversidade, agricultura e dinheiro, cerca de 35% da produção agrícola mundial depende, diretamente, de agentes
polinizadores, boa parte abelhas. O sumiço das abelhas (distúrbio do colapso das colônias) só nos EUA causou um prejuízo de mais de US$ 14 bilhões entre 2006 e 2008 e, nos últimos seis anos, os norte-americanos gastaram US $ 2 bilhões para substituir 10 milhões de colmeias. Fora que amamos mel. A ONU prevê que 2,7 bilhões de seres humanos ficarão sem (acesso direto) água até 2025; atualmente, 1 bi já encara esse problema, sendo que, nos últimos 50 anos, a população mundial triplicou e o consumo de água au-
mentou seis vezes. Outro dado alarmante diz respeito aos países em desenvolvimento, que devem aumentar seu uso de água em até 200% em 25 anos. Além disso, a agricultura é o setor que mais consome água. Como será alimentar quase 10 bilhões de pessoas até 2050? Temos, nesse cenário, o setor que nos alimenta competindo conosco mesmo por água, da qual precisamos beber todos os dias. Adaptar-se a essas condições será um piscar de olhos para o planeta. Mas, não para nós, seres humanos, e nem para o restante da biodiversidade. Adaptar-se, no nosso caso, significa também mudar processos produtivos de cultivo e se moldar à escassez hídrica e problemas na agricultura. Se esse cenário para a nossa espécie parece catastrófico, o melhor seria, então, contribuir para não chegarmos a esse estágio. Os ODS 6, 13, 14 e 15 tratam exatamente dos temas básicos para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, que incluem entre outros, a regulação climática, a disponibilidade hídrica e qualidade do solo. O compromisso é para a nossa sobrevivência. O atingimento de todos os outros objetivos depende de parcerias (ODS 17) para garantir esses quatro objetivos e que levarão ao atingimento dos outros 12. O ditado diz que a natureza possui solução para todos os problemas da humanidade. Que tal proteger os recursos naturais, não só para resolver problemas, mas, para atingirmos os objetivos e permitir que, de fato, a humanidade prospere? (*) Texto originalmente produzido para o relatório de resultados do Legado das Águas, maior reserva privada de Mata Atlântica do pais, administrada pela Reservas Votorantim. Saiba mais em www.legadodasaguas.com.br
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Pelo Brasil Castello Branco assume Petrobras com críticas a monopólio Por Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro
O aumento da competição no setor de petróleo no país vai beneficiar os consumidores brasileiros. A avaliação é do novo presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que tomou posse no dia 3 de janeiro, na sede da companhia, no Rio de Janeiro. “Abrindo a economia, tendo mais competidores. Quanto maior a competição, o benefício se dá em favor do consumidor. Se nós tivermos um único produtor, não será bom para o consumidor”, disse Castelo Branco. Ele explicou o que define como preço justo do produto, conceito igualmente defendido pelo diretor-geral da Agência Nacional de Petróleo, Biocombustíveis e Gás Natural
(ANP), Décio Odone, e pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, presentes à solenidade e que discursaram antes dele. “A Petrobras seguirá o preço de paridade internacional, sem subsídios e sem exploração de poder de monopólio. Nós somos amantes da competição e detestamos a solidão nos mercados. Queremos companhias, queremos competir”, disse Castelo Branco. Segundo ele, a prioridade é fazer crescer a produção de petróleo no país: “O Brasil é muito rico em recursos naturais e tem um potencial imenso para explorar, especialmente na mineração e no petróleo.” O presidente da estatal também lembrou que haverá muita dedicação da companhia na produção de
gás natural, um importante recurso cada vez mais utilizado pelos países, como a China. “Eu sou muito otimista em relação ao gás natural. Não só a produção de gás natural no Brasil tende a aumentar muito e ter novas aplicações para ele. Como por exemplo, a China já usa gás liquefeito de petróleo para abastecer sua frota de caminhões. Já existem mais de 200 mil caminhões abastecidos por gás natural. Isto é mais barato, uma energia mais limpa e, no caso do Brasil, atenderá o interesse dos caminhoneiros e da indústria do transporte de cargas”, disse Castelo Branco. Também participaram da cerimônia o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. FOTO DE FERNANDO FRAZÃO (ABR)
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Manoel de Barros: Miudezas que encantam ILUSTRAÇÃO DE MARTHA BARROS
Por Nícia Ribas, de Plurale Ilustrações de Martha Barros
Seja pobre, seja rico, seja velho, seja moço e até as crianças apreciam e se encantam com as poesias e os versos soltos do poeta mato-grossense Manoel de Barros, grande exaltador da natureza e do cotidiano das pessoas. Falecido em 2014, recentemente foi lançada sua obra completa pela Editora Alfaguara, sempre com capas ilustradas por sua filha, a artista plástica Martha Barros. Em meados de fevereiro foi inaugurada, em São Paulo, a exposição Ocupação Manoel de Barros, um projeto do Itau Cultural. Mergulhada em manuscritos, fotografias, livros, cartas e muitas saudades, Martha colabora na organização cronológica da exposição, que vai incluir seus desenhos originais que viraram capas. Ela encontrou tempo para falar com Plurale: “Papai não se preocupava com datas, fica difícil pôr em ordem toda a documentação, incluindo fotos, entrevistas e a relação de obras” A exposição paulista também vai mostrar cartas de amigos, fãs e poetas contemporâneos dele, como Carlos Drummond de Andrade e Mário de Andrade. O homem que gostava de brincar com as palavras Considerado um dos maiores poetas brasileiros, Manoel de Barros ganhou vários importantes prêmios literários, como o Jabuti por O guardador de águas (1989) e o prêmio Nestlé de Literatura por Livro Sobre Nada (1997). Entre os internacionais, recebeu, em Portugal, o prêmio Sophia de Mello Breyner Andersen por sua Poesia Reunida ((2009), e o prêmio Banif 2012 de Criação Literária . Filho de fazendeiro do Pantanal, o poeta nasceu e passou sua infância em Cuiabá. Adolescente, mudou-se para Campo Grande, estudando em colégio interno. Formou-se em Direito no Rio de Janeiro. Escrevia poemas desde pequeno, mas só em 1937 publicou sua primeira obra: Poemas concebidos sem pecado. Com sua
linguagem simples, coloquial e poética, Manoel de Barros expressou seu amor pela natureza e as coisas simples da vida, conquistando cada vez mais admiradores. Um desses admiradores, o escritor moçambicano Mia Couto, dedicou a ele um de seus contos: “A Manoel de Barros, meu ensinador de ignorânças”, numa alusão a O livro das ignorânças, prefaciado pelo portuguêsValter Hugo Mãe. Carlos Drummond de Andrade declarou, em 1986, que Manoel de Barros era o maior poeta brasileiro vivo. Antonio Houaiss, um dos mais importantes filólogos e críticos brasileiros escreveu: “A poesia de Manoel de Barros, nesta nossa conjuntura, nacional e humana em geral, é um maravilhoso filtro contra a arrogância, a exploração, a estupidez, a cobiça, a burrice – não se propondo, ao mesmo tempo, ensinar nada a ninguém, senão que a vida”. A bióloga Maria Clara Navarrete, amiga e admiradora do poeta, lembra que a fonte de sua inspiração foi sempre o lugar de beleza espetacular em que nasceu e cresceu, o Pantanal brasileiro: “Seu olhar atento às coisas da natureza e seu gosto pela brincadeira com as palavras o levaram à realização dos seus sonhos através da poesia.” Em Nova York, Manoel de Barros frequentou cursos de cinema e
pintura no MoMA. Viajou pela américa do Sul e pela Europa e depois de um ano, voltou e conheceu sua futura esposa, Stella. Casaram-se em 1947 e tiveram três filhos: Pedro, Martha e João. Stella, aos 97 anos, vive em Corumbá, na casa da família. A arte de Martha Barros “Imagens são palavras que nos faltaram”, dizia o poeta. Pois sua filha Martha, a “menina avoada”, como a chamava, escolheu as imagens para extravasar seus sentimentos. Ela também se inspira na natureza, ora pássaros, ora plantas e animais, criando um mundo de cores fortes com seu traço delicado. Muitas de suas telas tornaram-se capas dos livros de seu pai. Carioca, formada em Biblioteconomia, Martha sempre trabalhou com pintura. Ela mantém seu atelier no Rio de Janeiro e atualmente dedica a maior parte do seu tempo à organização da obra do pai. FOTO DE NÍCIA RIBAS
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Pelo Brasil Livro Vermelho da Fauna 2018 registra 1.173 espécies sob risco Por Letycia Bond De Brasília / Agência Brasil
Detentor do maior sistema fluvial do mundo e da mais expressiva variedade de anfíbios e primatas, o Brasil contabiliza atualmente 1.173 espécies da fauna com sua perpetuidade sob risco. Outras 318, embora não estejam prestes a desaparecer, também têm a existência ameaçada. A informação está no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção 2018”, resultado de um estudo que contou com a participação de 1.270 pesquisadores e que foi divulgado sexta-feira (25) pelo Instituto de Conservação da Biodiversidade Chico Mendes (ICMBio). Diferindo do mais antigo levantamento nacional já registrado, realizado em 1968 pelo então órgão ambiental competente, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), o livro aborda, de forma inédita, o risco de extinção da vida animal no Brasil, uma vez que abrange todos os vertebrados que existem no país. . Se considerada somente essa parcela, o total de espécies chega a quase 9 mil. Com 4.200 páginas, a nova edição da lista oficial de animais sob risco de extinção dá continuidade a relatórios produzidos em 2003, 2004, 2005 e 2008. Os números vigentes revisam as listas publicadas pelo Ministério do Meio Ambiente no final de 2014, conforme as portarias nº 444 e 445 da pasta, e o Livro Vermelho 2008. Além disso, atualiza algumas das nomenclaturas de espécies anteriormente empregadas nesses documentos. Ao comparar dados do livro de 2008 com a edição mais nova, é possível notar que 716 espécies animais do território brasileiro entraram
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para a lista daquelas consideradas sob ameaça de extinção, enquanto 170 deixaram de integrá-la. Conforme o ICMBio, ao longo de todos esses anos, a quantidade de espécies ameaçadas só cresceu. Da lista da década de 1960, por exemplo, constavam 44 espécies nessa condição, incluindo mamíferos, aves e répteis, e ainda 13 da flora brasileira. Desse total, 30 ainda são hoje mencionadas, por merecer alerta. Para a elaboração do Livro Vermelho 2018, os pesquisadores tiveram como escopo o exame de 12.254 táxons (unidades de classificação de seres vivos), dos quais 226 (1,8%) foram incluídos na categoria Não Aplicável (NA) para a avaliação, por não pertencer de fato à fauna local. “A maioria dessas espécies é de aves, peixes marinhos ou ma-
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míferos marinhos, muitas com comportamento migratório, ampla distribuição fora do Brasil e ocorrendo apenas ocasionalmente em território brasileiro”, explica a autarquia. Outra evidenciação importante é que a Mata Atlântica é o bioma que apresenta maior número de espécies ameaçadas, tanto em números absolutos quanto em proporcionais à riqueza dos biomas. Do total de espécies ameaçadas do Brasil, 50,5% se encontram na região, sendo que 38,5% são próprias desse bioma. Do total de táxons ameaçados de extinção, 1.013 (86%) são continentais - que se opõem, na divisão dos pesquisadores, aos marinhos -, sendo que 662 ocorrem em ambientes terrestres e 351 em água doce.
Ninhos artificiais e réplicas de aves serão usados para salvar espécies em extinção Iniciativa será implantada na Ilha da Trindade, na Costa Capixaba Da Fundação Grupo Boticário
Localizadas a 1.300 quilômetros do Espírito Santo, no meio do Oceano Atlântico, as ilhas da Cadeia Vitória-Trindade abrigam cerca de 130 espécies, entre plantas, peixes, aves, crustáceos e répteis. Algumas dessas espécies são endêmicas, ou seja, são encontradas apenas naquele arquipélago e em mais nenhuma região do planeta. Um exemplo são as fragatas-de-trindade, conhecidas cientificamente como Fregata trinitatis, que são aves marinhas com menos de 30 indivíduos em todo o mundo, e por isso são consideradas criticamente ameaçadas de extinção. O principal motivo do baixo número populacional é a escassez de árvores, que servem como local de reprodução das aves. Para garantir a sobrevivência desses animais, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, desenvolveram ninhos artificiais que serão implantados na Ilha da Trindade. Eles simulam o ninho e a árvore real, com réplicas das espécies e com os sons que as aves emitem durante o acasalamento, para impulsionar a reprodução. Segundo a analista ambiental do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres, Patricia Serafini, o projeto é experimental e inovador, uma vez que nenhuma estratégia do tipo foi implementada em território brasileiro. “Essa pode ser a última chance dessas espécies. Por isso, nós precisávamos de uma estratégia rápida e acabamos optando pelos ninhos artificiais. É a primeira vez que esse projeto está sendo testado no país, então, ainda não sabemos qual será a taxa de eficiência. Iremos adaptar de acordo com o comportamento das aves”, explica. Outras aves como a fragata-grande, a noivinha, a petrel-de-trindade e o atobá-de-pé-vermelho também serão beneficiadas pelo programa. Para a pesquisadora, a
forma ideal de garantir a continuidade das espécies seria por meio de uma restauração da vegetação natural, com translocação de mudas. Porém, o processo poderia demorar décadas e só estaria pronto quando as aves possivelmente já estivessem extintas. A escassez de árvores na Ilha da Trindade é reflexo dos processos de colonização. Apesar da região não ter nenhum morador fixo, muitos navegadores passaram por lá nos últimos 500 anos, por ser um ponto de parada nas viagens entre a América e a África. Nessas visitas, uma parte da vegetação foi queimada e outra foi destruída por espécies introduzidas, como ratos, cabras e porcos. A hipótese levantada pelos pesquisadores é de que as aves terrestres da região estão extintas justamente por não encontrarem plantas para a alimentação. As aves marinhas sobreviveram por se alimentarem basicamente de peixes. Porém, a ausência de árvores pode prejudicar a reprodução das futuras gerações. A Cadeia Vitória-Trindade também é alvo de pescarias sem manejo adequado de embarcações locais e internacionais, que por vezes acontecem em áreas berçárias de animais marinhos. O local passou a ser uma Área de Proteção Ambiental, restringindo a pesca em determinadas regiões consideradas essenciais para o desenvolvimento das espécies, visando um equilíbrio ecológico. Atualmente, as atividades na região são fiscalizadas pela Marinha brasileira. De acordo com o coordenador de Ciência e Conservação da Fundação Grupo
Boticário, Robson Capretz, ações de conservação da ilha já foram iniciadas no passado, mas no momento são necessárias estratégias para garantir a presença dessas espécies endêmicas no futuro. “Trabalhar com ilhas é super importante porque o fato de estarem isoladas pelo mar torna aqueles ecossistemas muito frágeis. Por isso, um grande trabalho de fiscalização deve ser feito por governo, Marinha e pesquisadores, para proteger esses ecossistemas nas unidades de conservação recém-criadas. Ainda assim é preciso fazer um diagnóstico da vegetação, dos ninhos e das aves para garantir a reprodução e a sobrevivência das espécies”, ressalta. Apoio a novos projetos O programa desenvolvido em Trindade foi um dos trabalhos selecionados em 2018 para receber o apoio da Fundação Grupo Boticário. O edital de 2019 foi aberto em 1º de fevereiro. Interessados de todo o Brasil poderão inscrever trabalhos de conservação da natureza até 31 de março pelo site da instituição. Ao todo, serão cerca de R$ 2 milhões destinados aos projetos selecionados. Diferentemente dos anos anteriores, em 2019 as inscrições serão todas concentradas no primeiro semestre, sem a abertura de um novo edital na segunda metade do ano. Nesta edição, serão selecionados projetos dentro das temáticas: unidades de conservação de proteção integral e RPPNs; espécies ameaçadas; ambientes marinhos; e inovações e novas tecnologias. PATRÍCIA SERAFINI
Projeto simula o ninho e a árvore real, com réplicas das aves para impulsionar a reprodução
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Especial
Catástrofe em uma das principais atividades econômicas do Brasil Crimes ambientais de Mariana e Brumadinho não deixam apenas lições, mas urgência por mudanças de procedimentos e desespero de moradores e atingidos FOTO DE RICARDO STUCKERT FILHO
Por Hélio Rocha, Especial para Purale De Juiz de Fora (MG)
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á três anos, quando se rompeu a barragem da Samarco - empresa controlada meio a meio pelas duas maiores mineradoras do mundo, a brasileira Vale e a australiana BHP em Mariana (MG), matando 19 pessoas, devastando o meio ambiente em mais de 500 km pelo leito e bacia do Rio Doce, deixando centenas de desabrigados e danos sociais e ambientais irreparáveis, Plurale em Revista iniciou cobertura jornalística sobre os perigos, danos e desastres da mineração, consequências de prováveis crimes ambientais ligados à má gestão privada e negligência. Jamais, contudo, era possível imaginar que em tão curto prazo ocorreria nova tragédia, agora em estrutura operada diretamente pela Vale, e dessa vez de proporções humanas dez vezes mais devastadoras. Um mil cento e setenta e sete dias de sofrimento, para os atingidos de Mariana e para os mineiros que passaram a conviver com a incerteza de se viver sob mais de 700 barragens, número que chega à casa dos milhares se aplicados a todo o país, não pareceram suficientes para que se encontrasse soluções eficazes para tornar mais segura uma das
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principais atividades econômicas do Brasil. Para vítimas e moradores de regiões afetadas, em primeiro lugar, mas também para movimentos sociais, especialistas e autoridades, urge tanto cumprir com as regras de construção e fiscalização de barragens quanto intensificar o controle
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e a criação de planos de emergência em caso de desastres como esse e seu predecessor. Afinal, agora são, somando-se dois episódios que podem se consolidar numa só tragédia da mineração brasileira, 190 mortos (19 em Mariana e 171 em Brumadinho até o fe-
FOTO DE ISAC NÓBREGA/ SECOM – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
chamento desta edição) e 106 desaparecidos (um ainda de Mariana, os demais de Brumadinho). O número de mortes se amplia conforme novos corpos são encontrados, o que em tese deveria fazer cair o número de desaparecidos, que vem mantendo o patamar porque novos comunicados de desaparecimentos surgem na Polícia Civil de Minas Gerais, para além dos números divulgados pela Vale. É fundamental, apontam todos os envolvidos, que se recorra a novos métodos de armazenamento de rejeitos e aperfeiçoe-se procedimentos de segurança, logística e evacuação, para que novas tragédias não se repitam. De todos os lados, a mesma apreensão: são ainda centenas de barragens e, o que aumenta o drama, a que ruiu no último dia 26 de janeiro era considerada 100% segura por diversos laudos, inclusive de empresas estrangeiras. Foram presos três engenheiros no dia 29 de janeiro, depois liberados, os quais teriam emitido os laudos de segurança. A
Polícia Civil ouviu os envolvidos e está apurando as responsabilidades. Entretanto, a sensação, advinda de diversos depoimentos, é de que a punição a profissionais, ainda que peças-chave na cadeia de relações políticas e econômicas que pode ter implicado o desastre, mostra-se insuficiente para uma discussão madura do problema. “Ele falava que saía umas águas (da barragem). Estava minando água e tudo, mas nunca disse com essa preocupação de romper”, disse ao portal G1 Josiane Martins, irmã do funcionário da Vale morto no dia 26 de janeiro Alisson Martins. “O galpão que ele trabalhava era bem debaixo, bem perto do escritório, do refeitório”. “Cadê eles (os gestores da Vale)? Onde que eles estão? Se qual a outra cidade que eles vão matar duzentas, trezentas pessoas?”, questionou à TV Band uma outra parente de pessoa desaparecida, que preferiu se identificar apenas como Sueli. Os depoimentos que correram o Brasil pelo jornalismo diário, seja
nas rádios ou na TV, juntam-se àqueles que Plurale já vem ouvindo desde o fim de 2015, quando do estouro de Fundão em Mariana. “O cidadão mineiro agora convive com o medo. Como vamos colocar a cabeça no travesseiro para dormir, sabendo que vivemos cercado por barragens, principalmente na zona rural?”, questiona o líder dos ex-moradores resistentes de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, Antônio Gonçalves. Ele, assim como centenas de outras famílias, aguarda a reparação prometida pela Samarco, que se arrasta há três anos. A maior parte dos atingidos de Mariana ainda vive em casas alugadas pela empresa e precisa de subsídios pagos pela Fundação Renova, criada pela mineradora para reparar danos sociais e ambientais do crime de 2015. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) vem sendo inclemente na luta em defesa da população que vive às sombras dessas gigantescas estruturas de diques, lama e minérios, que erguem-se em cada
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Especial FOTO DO CORPO DE BOMBEIROS MG
canto do país, sobretudo em Minas Gerais, mas que também vêm crescendo no Pará. Lá, a Vale argumenta empreender projetos ambientais e sociais de sucesso em paralelo com a mineração. Defende, também, que nos empreendimentos mais recentes emprega técnicas mais seguras para armazenamento de rejeitos que aqueles utilizados na estrutura que se rompeu em Brumadinho. Entretanto, ouvido por Plurale, o membro da coordenação geral do MAB, Joceli Andriolli, descreve um cenário amedrontador que se afigura principalmente devido à informalidade. O diagnóstico é preciso: “O cenário nacional das barragens é marcado pela atividade informal. O Brasil possuía, até dezembro de 2017, 24.092 barragens cadastradas pelos órgãos fiscalizadores. Das barragens cadastradas, apenas 13.997, ou 58%, possuem algum tipo de ato de autorização, seja outorga, concessão, autorização, licença, entre outros, e estão regularizadas. Pelas informações dos órgãos reguladores, 4.510 barragens, o que dá 18,7% do total cadastrado, submetem-se à Política Nacional de Segurança em Barragens. Em Minas, são mais de 700 barragens de mineração e cerca de 50 em risco de rompimento.” Por que ruíram duas barragens em três anos? A informalidade e a falta de licenciamento de muitas barragens cadastradas, como informa o Mab, não explica, no entanto, como as estruturas que estão ruindo não são aquelas que estão à margem nesse setor econômico, e sim duas barragens ligadas indireta e diretamente à maior mineradora do país: a Samarco em Mariana, sociedade da Vale com a australiana BHP, e a Vale como administradora direta em Brumadinho. Entender o que aconteceu é primordial, inclusive, para que o país não perca um dos principais ativos
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de seu Produto Interno Bruto (PIB), visto ser a exportação de commodities de minério, principalmente para a China, um dos motores do crescimento que o país experimentou nos últimos anos, antes da atual crise econômica. Tal atividade, portanto, já proporcionou enriquecimento do país e os consequentes aumento nos índices de emprego e bem-estar social. Em que o setor deve se reinventar para tornar-se sustentável no Brasil? O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) divulgou nota reforçando “que a atividade econômica não pode estar subordinada aos interesses privados, mas à ampla e complexa rede de atividades e relações sociais que ela congrega e desencadeia”. Milhões de pessoas, milhares de trabalhadores e centenas de atividades são impactadas ou estão engendradas na exploração do minério brasileiro. “É imperativo que sejam tomadas todas as medidas cabíveis urgentemente para resolver a situação de centenas de barragens em condições semelhantes à de Mariana e Brumadinho, com a realização de inspeções nas documentações e auditorias realizadas”, afirmou, por nota, a entidade, em mensagem assinada por sua presidente, Marina Grossi. Uma das soluções apontadas por especialistas é punir os responsáveis,
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a fim de coibir a redução de investimentos em segurança para maximização dos lucros, um dos possíveis motivos (a se investigar) das duas tragédias. O engenheiro especialista em gerenciamento de risco Gustavo Cunha Mello, frisou em várias entrevistas que “não é correto demonizar as barragens”, mas “é preciso responsabilizar os gestores quando houver situações como essa. Tem que ter uma legislação que puna toda a cadeia a ponto de o fiscal ter medo, ou melhor, ter cuidado ao emitir um laudo”, este último detalhamento, em entrevista cedida ao canal de notícias 24h GloboNews. Também o pesquisador , do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz, Diego Xavier, advertiu que dissertação de Mestrado de 2010 já alertava que já havia problema naquela Barragem de Córrego do Feijão. “O mundo caminha para a sustentabilidade. E o Brasil está caminhando para trás, para o começo do Século 20. Como pode? Por conta do lucro? Que modelo econômico é este” - Diego Xavier Vale vai fechar 10 barragens em Minas Neste sentido, vem sendo unanimemente apontado como ameaçador o chamado processo de armazenamento de rejeitos por “alteamento a montante”, empreendido até hoje por muitas mineradoras brasileiras, entre elas a Vale e a Samarco nas duas
FOTO DO JORNALISTA PAULO CABRAL – CEDIDA PARA PLURALE
barragens que se romperam. Após as duas tragédias, o Presidente da Vale, Fábio Schwartzman, anunciou no dia 29 de janeiro, em Brasília, quatro dias após o rompimento, o fim de 10 barragens em Minas Gerais do mesmo tipo de Brumadinho e Mariana, fazendo o que técnicos chamam de descomissionamento. “É a resposta cabal e à altura da enorme tragédia que tivemos em Brumadinho. Este plano foi produzido três a quatro dias após o acidente”, ressaltou o executivo. Schvartsman afirmou que descomissionar significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza. “A decisão da companhia é que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem. Tomamos a decisão de acabar com todas as barragens a montante”, disse o executivo em Brasília. O presidente da Vale disse que o prazo para executar as ações é de no mínimo um ano e no máximo três anos. Os trabalhos devem ter início dois meses após a expedição das li-
cenças. A Vale estima que serão aplicados cerca de R$ 5 bilhões para efetivar o plano. Prefeitos das cidades afetadas temem pelo impacto para seus municípios diante do fechamento de atividades da mineradora. No Chile, por exemplo, o segundo maior país em mineração da América Latica (depois do Brasil), tal processo foi proibido nos anos 1980. Isto porque consiste na construção de diques que não se apoiam num eixo central ou no solo, mas erguemse sobre a própria base de lama que sustentam, “como numa pilha de tijolos em diagonal que só não caem porque abaixo deles há uma camada de areia. Se um deles se rompe, todos que estão acima vêm abaixo”, explicou a Plurale uma autoridade da Defesa Civil que preferiu não se identificar. Já o alteamento a jusante, hoje proposto pela Comissão de Barragens da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) como obrigatório, impõe que os diques estejam todos construídos sobre
um eixo central e apoiados no solo, “como se cada tijolo fosse sobreposto por outro maior, que cobre o que está abaixo e alarga o muro de contenção. Assim, a barreira nunca perde contato com o solo e só fica mais resistente”. Há, ainda, armazenamentos ainda mais seguros, como aqueles feitos a seco. Entretanto, preparos simples de inteligência e logística podem fazer a diferença sem mais investimentos pelas empresas. É o que apontou, em entrevista cedida à Plurale, o professor Orlando Gomes, especialista em catástrofes, engenheiro da Defesa Civil do Rio de Janeiro, lembrando que a sirene da Vale para alerta de desabamento não foi acionada porque, antes que pudesse fazê-lo, foi engolida pela lama. “Pelo depoimento dele mesmo (o diretor da Vale) em falar que a sirene foi engolfada, então só aí já tem um erro. Efetivamente, ela deveria estar numa localização que tivesse ajudado os trabalhadores. Sistema
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Especial
FOTO DA AGÊNCIA BRASIL
Presidente da Vale – Fábio Schvartsman
de alerta por sirene é mais antigo que qualquer outra coisa”, ratifica Gomes, explicitando a desatenção a um procedimento básico. Desgoverno na Vale e silêncio nas entidades do setor Perguntado pela imprensa se a empresa não aprendeu com as lições de Mariana, o presidente da Vale, Fábio Schwartzman, lamentou-se e afirmou “se está acontecendo de novo, é porque não”. Entretanto, até agora, por meio de notas, tanto a empresa quanto as organizações ligadas à mineração vêm se posicionando de forma pouco taxativa em relação às suas responsabilidades e reparações. O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, anunciou no dia 31 de janeiro, quase uma semana após o rompimento, o repasse de R$ 80 milhões ao município de Brumadinho como compensação pela queda na arrecadação de impostos. Ainda disse que a empresa vai pagar R$ 100 mil a cada família com pessoa desaparecida ou morta no desabamento. Em entrevista concedida à imprensa, levou reprimenda de um cidadão
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que chamou a empresa de “criminosa”. Pouco antes, tinha afirmado que “a família Vale foi profundamente atingida e dilacerada”, figura de linguagem que soou pouco sensível ao dilaceramento das famílias reais que perderam parentes e amigos e/ ou estão desabrigadas e devastadas pelo desastre. Ponto positivo para a Vale foi a decisão de interromper todas as suas barragens até entender o ocorrido em Brumadinho, assim como encerrar atividades em suas estruturas construídas a montante. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que não tem responsabilidade sobre o ocorrido nem responde por ele, mas congrega representantes de diversas mineradoras que utilizam os mesmos procedimentos, bem como entidades e empresas associadas ao setor, emitiu nota curta, apenas informando que o “está de luto”. A Associação Nacional de Mineração (ANM), por sua vez, informou que interditou ações da Vale em Brumadinho e enviou equipes para a região atingida, a fim de estudar as causas do problema e prestar solidariedade à população.
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Pesquisadores da Fiocruz alertam para risco de doenças Pesquisadores do Observatório Nacional de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Emergência de Desastres em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Cepes/Ensp/Fiocruz), divulgaram estudo alertando para os riscos de doenças a serem contraídas pelos atingidos pelo rompimento da Barragem da Vale. A pesquisa chama a atenção para a perda de condições de acesso a serviços de saúde, que pode agravar doenças crônicas já existentes na população afetada, assim como provocar novas situações de saúde deletérias como doenças mentais (depressão e ansiedade), crises hipertensivas, doenças respiratórias e acidentes domésticos, além de surtos de doenças infecciosas. De acordo com o estudo, as alterações ecológicas provocadas pelo desastre podem promover a transmissão de esquistossomose, principalmente se levado em consideração que grande parte do município de Brumadinho e municípios ao longo do Rio Paraopeba não é coberta por sistemas de coleta e tratamento de esgotos.. A Fiocruz apresentou resultados de estudo realizado em Barra Longa (MG), cidade, vizinha à Mariana (MG), foi uma das mais afetadas em 2015 pelo rompimento da barragem da mineradora Samarco (controlada pela Vale e BHP). “Comparando os dados de saúde de 2014 com os de 2016, sete meses após o desastre, constatou-se a elevação de 25 vezes os registros de ansiedade”, disse Carlos Machado, pesquisador do Centro de Pesquisas e Estudos sobre Desastres (Cepedes) da Fiocruz. Os casos de ansiedade se multiplicaram, junto com casos de diabetes, dengue, dermatite, hipertensão e doenças respiratórias, acrescentou.
Repórteres também choram Por Paulo Cabral, Jornalista Especial para Plurale
Câmeras gostam de lágrimas. Pode ser piegas, é verdade mas o choro sincero - discreto ou convulsivo - é sempre um retrato inequívoco de emoção. Por vezes, até de alegria, mas com frequência o que a gente vês nas telas é o choro de tristeza, de desespero, de desconsolo… Era desses tipos o choro que se via em Brumadinho depois do rompimento da barragem da Vale. Tem vez que o choro do entrevistado vem inesperado mas tem também entrevistador macaco-velho-sacana sabe manobrar as entrevista pra arrancar as lágrimas. Naquele caso eu não estava fazendo isso. Estava só olhando pra Shirley Aparecida enquanto ela me contava que não tinha notícias do marido - que estava trabalhando na Vale - desde o desastre (quase 48 horas antes). Tinha falado com o marido de manhã quando ele saiu pra trabalhar e depois… Quando a encontrei estava tentando chegar na casa de uma parente pra buscar documentos do marido desaparecido e não conseguia chegar ao destino porque a ponte, que une os dois lados da cidade, estava interditada por conta do alarme de risco de mais um rompimento de barragem. Estava atento ao rosto dela, observando expressões e reações e me perguntando “será que chora?” Entre um pensamento e outro, chorei eu. Era um ambiente difícil, pesado. Sabia-se que a chance de sobreviventes ali era mínima pouco tempo depois do acidente. A dura e importante missão dos bombeiros era tirar as pessoas da terra para então poder enterra-las com dignidade e dar às famílias o consolo mínimo de um fechamento. Nosso trabalho (missão?) ali era observar e reportar aquilo tudo. O mito da objetividade jornalística já há muito caiu. O jornalista é um sujeito
e por sua subjetividade é que passará e se traduzirá a informação. Não se trata de objetividade, mas de uma subjetividade honesta. Sinto que minhas lágrimas em Brumadinho me ajudaram a sentir e entender melhor a história para retratar para quem estava de fora a enorme dor que se sentia em meio a lama e às incertezas. Esse foi um dos dois momentos em que chorei. O outro foi no Cemitério Parque das Rosas, onde fui acompanhar o sepultamento de Maurício de Lemos. A cena toda era impressionante. Num canto sendo enterrado - o primeiro da tragédia naquele cemitério - e ao fundo 60 covas já preparadas para mais corpos. Completavam a cena os coveiros que continuavam trabalhando (voluntários, inclusive) e o rabecão chegando com o seguinte a ser sepultado. Entrevistas parente e amigos em velórios e enterros são terríveis, mesmo para quem as faz imagino que
ainda mais para quem as concede. É um momentos em que comparar jornalistas a abutres faz mais sentido. O que perguntar? O velho “o que você está sentindo?” chega a ser uma caricatura do que não fazer. O caminho é só abrir o espaço e escuta sincera e empática para o entrevistado. No cemitério Parque das Rosas fui caminhando um pouco ao lado da filha de Mauricio, Juliana de Lemos, e a abordei: “Sou repórter, você gostaria de falar alguma coisa?” Respondeu que sim. “Então fala, diga o que você quiser.” Desabou em lágrimas dizendo “mataram meu pai, mataram meu pai.” Fui junto na dor e no choro. Mas um aprendizado interessante na minha experiência jornalística que já me colocou em algumas desgraças de diversos tipo mundo afora - é que dá para ficar bem, mesmo no meio do mal. Tem horas sim em que a dor do mundo nos pega fundo e vêm as lágrimas, a emoção, a identificação e até o começo da constru-
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Especial
ção de uma empatia. Mas há que entrar e sair, até porque sofrer junto com o outro não é (pelo menos não sempre) a melhor maneira de ajuda-la. Claro que o entorno nos toca e nos faz sentir mas dá para buscar nestes momentos a energia em nossas próprias vidas – olhar para nossa bolha mais próxima mesmo - e dela se alimentar. Sinto nestes momentos difíceis – de convívio com muito sofrimento - que focando em mim, no meu trabalho, nas pessoas à minha volta, nos amigos que amo que não estavam ali, nos colegas que estavam trabalhando comigo, em minha família e meu filho me esperando em São Paulo… conseguia me manter bem, empático a dor do outro, mas evitando ser contaminado por ela. Para mim, foi uma lição aprendida ao longo dos anos nos campos de batalha (inclusive literais) do jornalismo, mas que serve para procurar manter minha sanidade e alegria em meio a um mundo tão difícil e cheio de dores. (*) Paulo Cabral é reporter desde 1996. Com grande experiência em coberturas internacionais viu e viveu sua parcela de situações difíceis em coberturas de conflitos no Oriente Médio (morou no Cairo por dois anos, entre 2005 e 2006, como correspondente do BBC World Service) além de outros desastres naturais e/ou provocados pelo ser humano ao redor do mundo. Foi também correspondente da BBC em Washington e apresentador da emissora em Londres, trabalhou como repórter no jornal O Estado de São Paulo e na Agência Folha. Atualmente é correspondente no Brasil da TV chinesa CGTN America, que transmite internacionalmente em inglês.
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Erros e acertos nos âmbitos federal e estadual Por Hélio Rocha, Especial para Plurale
Se pode haver um campo em que lições foram aprendidas com Mariana, esse é o Estado. E, neste caso, não se está falando do gestor público A ou B, politizando a questão. Procedimentos foram aprendidos desde Mariana e tanto Polícia Militar, Defesa Civil e Bombeiros Militares quanto a Administração direta de Minas Gerais e da União saíram-se melhor que em 2015. Em grande parte, porque a latência de Mariana, ainda tão recente na memória dos brasileiros, deixou à gestão pública um legado de procedimentos uns que devem ser adotados e outros não, de acordo com especialistas ouvidos por esta reportagem.. Em 2015, a presidente Dilma Rouseff (PT) e o governador Fernando Pimentel (PT) não compareceram ao local com a mesma celeridade que o atual presidente, Jair Bolsonaro (PSL). Levaram uma semana para sobrevoar Mariana. Entretanto, a então chefe do Executivo nacional permitiu aos atingidos o saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), com decreto de urgência que alterava o conceito de desastre natural para incluir o rompimento de barragens, atuando em prol das vítimas, mas produzindo um verdadeiro “Frankenstein” jurídico que vem sendo injustamente espalhado como cumplicidade com a mineração predatória (uma “fake news”). O mesmo decreto, agora, deu lastro ao Governo Bolsonaro para liberar para os atingidos de Brumadinho o mesmo dinheiro, retido pela Caixa Econômica Federal e só liberado em casos especiais, entre eles a demis-
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são sem justa causa (sua finalidade principal), mas igualmente em crises financeiras graves e para vítimas de desastres naturais, aos quais foi incluído o rompimento de barragens. Fernando Pimentel, por sua vez, foi considerado – pelos especialistas ouvidos - leniente com as políticas estaduais de fiscalização de barragens, sendo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) responsável por diversos licenciamentos e monitoramentos em atividades de mineração. Entre os principais problemas apontados para a fiscalização das mineradoras está a negociação com a contrapartida econômica das mesmas para as finanças estaduais e municipais (o que foi relatado por Plurale em matérias sobre possível retorno da Samarco, em 2017 e 2018). Por outro lado, seu partido foi o mais atuante na ALMG na luta por aperfeiçoar a legislação para construção de barragens em Minas Gerais, sendo o mais articulado com o Mab e outros movimentos sociais. O deputado estadual Rogério Correia (PT-MG) foi relator
FOTO DE ISAC NÓBREGA/ SECOM – PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
“Lira itabirana”, por Carlos Drummond de Andrade Seria uma profecia? da Comissão de Barragens até janeiro deste ano na Assembleia, e em fevereiro assumiu cargo na Câmara dos Deputados, para a qual foi eleito em 2018. O então presidente da Comissão, Agostinho Patrus (PV), foi eleito este ano presidente da Casa, e pretende manter a fiscalização em regime extraordinário. O novo governador, Romeu Zema (PN), recém-chegado e já tendo que enfrentar a gestão de crise desta proporção, assumiu quase indeciso o andamento dos resgates, demorando a comparecer ao local e conceder entrevista sobre o desastre, mas seu gabinete de crises vem se mostrando eficaz na localização dos corpos e, notadamente, as figuras que recebem mais reconhecimento popular desde a tragédia são os policiais e bombeiros mineiros, que estão na cadeia de comando do Governo estadual. Zema já bloqueou R$ 5 bilhões da Vale, em ação pedida à Justiça pelo Ministério Público de Minas Gerais (MP-MG), já sob sua gestão. Bolsonaro, por sua vez, embo-
ra rápido na atenção aos atingidos de Brumadinho (a bem da verdade, em grande parte através de seu porta-voz, o general Otávio Santana do Rego Barros), foi hesitante no emprego das tropas federais que, a princípio, sairiam da 4a Brigada de Infantaria Leve, sediada em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira. Atribui ao Governo de Minas o não aproveitamento dos militares colocados à disposição. O presidente protagonizou talvez o único efeito de desarmonia entre os órgãos de Estado neste episódio, ao misturar diplomacia com questões internas e conclamar militares estrangeiros para atuar num problema para o qual as Forças Armadas nacionais (Exército, Marinha, Aeronáutica) e de Segurança estaduais (Bombeiros e Policiais Militares) dispõem de efetivo e equipamentos suficientes. Por fim, afinou-se a questão e foram convocadas forças estaduais de outras unidades da Federação, reforçando o efetivo de buscas, o que deveria ter ocorrido desde o princípio.
O poeta/escritor Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira (MG), onde a #Valecomeçou a sua história. Este poema abaixo, de 1984, jamais foi publicado ... Parece profecia . I O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse Mais leve a carga. II Entre estatais E multinacionais, Quantos ais! III A dívida interna. A dívida externa A dívida eterna. IV Quantas toneladas exportamos De ferro? Quantas lágrimas disfarçamos Sem berro?
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Conservação
EM SANTA CATARINA,
PONTO PARA AS BALEIAS CIB MANTÊM PROIBIÇÃO À CAÇA
Por Nícia Ribas, de Plurale De Garopaba (SC) Fotos de Berna Ribas; Divulgação do Instituto Australis ; Karina Groch e Aventura Fibrose Cística
Ameaçadas de extinção, as baleias saíram vitoriosas da reunião da Comissão Internacional Baleeira (CIB), ocorrida em setembro do ano passado em Florianópolis. Países como Japão, Islândia e Noruega defenderam a flexibilização da moratória imposta à caça das baleias em vigor desde 1986. Mas perderam por 47 votos contra 21. A Declaração de Florianópolis reafirma o banimento da caça comercial de baleias em águas internacionais. São permitidas apenas a caça para fins científicos e a caça aborígene de subsistência praticada por povos tradicionais em determinadas regiões. “A caça comercial não é mais uma atividade econômica necessária e a caça com fins científicos não é mais uma alternativa válida para respon-
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der às questões científicas, dada a existência de abundantes métodos de pesquisa não letais”, diz a Declaração. O argumento dos caçadores em potencial foi o crescimento da população desde a proibição pela CIB. Na mesma ocasião, a proposta brasileira para a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul foi novamente rejeitada pela Comissão Baleeira Internacional. O texto alcançou a maioria dos votos válidos, 60%, com 39 a favor, 25 contra e três abstenções, além de duas ausências. Ficou abaixo da proporção de 75% necessário para aprovação. Após a votação, o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, agradeceu o apoio recebido e garantiu que o país não abdicará da ideia. O Brasil discute a criação do santuário desde 1998 e sempre reapresenta a proposta ao plenário da Comissão. Ao longo dos anos, o texto foi refinado e ganhou força com apoio da Argentina, Uruguai, África
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do Sul e Gabão. Em todas as votações, o projeto conseguiu a maioria dos votos, mas nunca os 75% necessários. Cada vez chegam mais baleias ao litoral brasileiro Municípios como Imbituba e Garopaba, com suas praias paradisíacas, no litoral sul de Santa Catarina, recebem cada vez maior número de baleias da espécie franca no período de junho a novembro. Foi registrado um crescimento anual de 12% aproximadamente. Os mamíferos marinhos, que chegam a medir de cinco a oito metros, vêm das águas geladas da Patagônia em busca de um lugar tranquilo e confortável para dar à luz. E depois ficam por ali amamentando e brincando com seus filhotes para encanto dos moradores e turistas. Em setembro, no auge da temporada reprodutiva, através de sobrevoos, foram registrados 284 indivíduos. O Programa de Pesquisa e Con-
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FOTOS DE BERNA RIBAS
Conservação
servação das Baleias Franca foi criado em 1982 e atualmente é mantido pelo Instituto Australis. Desde o seu mestrado, há 20 anos, a bióloga Karina Groch, diretora de Pesquisa do Instituto, mantem pontos de observação na região. Atualmente são 10 pontos, com seis funcionários e 15 voluntários fazendo o monitoramento a partir da terra. “Pelas calosidades de cada uma podemos identificá-las e chegamos a dar-lhes nomes e números. Algumas voltam para cá a cada três anos. Uma baleia pode ter até nove filhotes”, informa Karina. Ela explica que os japoneses não tem interesse na baleia franca, mas sim nas da espécie minke, cuja carne comercializam. O interesse comercial nas baleias franca seria pelo seu óleo. Do seu ponto de monitoramento na Enseada do Porto, o biólogo Fábio Pereira, funcionário do Instituto Australis, mantem-se atento, juntamente com sua equipe, munidos de potentes binóculos e máquinas fotográficas. “Este ano o movimento está bem maior, elas vêm para cá para ter seus filhotes e ficam por aí amamentando-os”, diz ele, sem esconder a satisfação com a profissão
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que escolheu. O Instituto Australis presta serviços de consultoria sobre preservação ambiental para o Porto de Imbituba e com isso obtém recursos para viabilizar a observação e estudo da baleia franca. Os cetáceos escolhem a região por três motivos, segundo a bióloga: “nosso litoral recortado que garante mais proteção, a temperatura amena da água e a ausência de predadores como orcas e tubarões.” Turismo em alta A temporada das baleias no sul catarinense costuma incrementar o turismo. Caminhadas culturais guiadas para observação no Costão da Vigia atraem turistas para a avistagem da baleia franca no período de junho a novembro. No entanto, a recente proibição do turismo embarcado fez cair esse movimento. Para Karina, o turismo embarcado bem controlado poderia gerar lucros e fazer crescer ainda mais a empatia dos humanos com os cetáceos. “As baleias pertencem à megafauna carismática, isto é, animais de grande porte que têm um forte apelo para o público, por sua aparência ou docilidade”, explica ela.
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Em Caravelas, Bahia, o Banco dos Abrolhos assiste com entusiasmo ao retorno das baleias jubarte para sua temporada de reprodução. O turismo de observação de baleias, oferecido por 10 operadoras, recebeu em 2018 mais de 10 mil turistas entre julho e outubro. Para comemorar 30 anos do Projeto Baleia Jubarte, patrocinado pela Petrobras, foi realizada a Semana Cultural da Baleia Jubarte, de 29 de outubro a 3 de novembro. Entre as principais atividades realizadas por turistas estão mergulho para visualização da vida marinha e a observação de baleias. Essas atividades geram renda e valorizam a preservação dos cetáceos. Moradores da Região curtem as visitas anuais e acabam se apaixonando pelas baleias e seus filhotes. Alguns, como Maria Bernadete Mader Ribas munidos de máquinas fotográficas, tripés, binóculos, tornam-se observadores voluntários, ficando horas na vigia até conseguir as melhores fotos. Bernadete, moradora de Garopaba, vibra com as melhores avistagens e possui um arquivo com mais de cinco mil fotos. Ela tem até um blog sobre o tema: Fotos da Berna.
FOTOS DE KARINA GROCH
Abrolhos luta para crescer Há seis anos tramita o processo de ampliação do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. A área cobre apenas 1,8% do maior banco de corais do Atlântico Sul – refúgio da biodiversidade marinha brasileira, com espécies endêmicas, ameaçadas, vulneráveis e em recuperação, como a baleia jubarte. Além do incremento ao turismo, a área é fundamental para a manutenção de estoques pesqueiros e da garantia do equilíbrio ambiental. O Instituto Baleia Jubarte lançou a campanha #MaisAbrolhos durante o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (CBUC), em Florianópolis. Uma moção foi aprovada por unanimidade e foi encaminhada para a Presidência da República, Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Instituto Chico Mendes de Conserva-
ção da Biodiversidade – ICMBio. Na ocasião, o presidente do Instituto Baleia Jubarte, Eduardo Camargo, informou que diversas instituições estão dando seu apoio para que esse processo seja concluído o mais rápido possível: “Focamos animados com o compromisso do Presidente do ICMBio, assumido publicamente durante o IX CBUC, de realizar as Consultas Públicas logo após as eleições de outubro. Pretendemos colaborar com ele e o MMA para conscientizar a sociedade e os demais órgãos de governo de que essa ampliação é boa para todos, dos pescadores artesanais ao setor de Turismo”, disse. Engajado na campanha #MaisAbrolhos, José Truda Palazzo - que na época da entrevista para Plurale, no fim de 2018, ainda era vice -presidente do Instituto Augusto
Carneiro, do Rio Grande do Sul , não tendo ainda assumido cargo no Ministério do Meio Ambiente- demonstrou a sua “indignação com a lerdeza do processo.” A partir de 1o. de janeiro, através das redes sociais, as pessoas começaram a se manifestar-se junto ao novo Governo, exigindo a conclusão desse processo. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), existem mais de 15,3 mil áreas marinhas protegidas no mundo, cobrindo o equivalente a 7,2% da superfície total do oceano. Somente no Brasil, até 2020, deve-se proteger pelo menos 10% dos mais de 8,5 milhões de quilômetros de litoral, segundo a meta 11 de Aichi estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB-ONU).
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Ecoturismo
PRATICANDO A SUSTENTABILIDADE NO
BIOMA PANTANAL Hotel Sesc Porto Cercado e RPPN Sesc Pantanal conquistam visitantes e ganham premiações por conjugar ações ambientais, econômicas e sociais
FOTOS DE LUCIANA TANCREDO- PLURALE- RPPN SESC PANTANAL
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Luciana Tancredo, de Plurale e Divulgação | Sesc Pantanal
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exuberância natural do bioma Pantanal, por si só, já vale a visita de turistas. Em passeios guiados por monitores, os turistas podem conferir e fotografar com segurança jacarés, aves, cobras, borboletas e outros animais soltos na natureza. Mas conseguir praticar a sustentabilidade de verdade, em atividade de ecoturismo na região há mais de 20 anos não é tarefa simples. Imagine manter a estrutura de um hotel ecológico integrado à realidade da região, junto à maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do Brasil, que, por conservar grande parcela da maior planície alagada do planeta, o Pantanal, é designada internacionalmente como Sítio Ramsar e Núcleo da Reserva da Biosfera - UNESCO. Há ações voltadas também para a comunidade local, conjugando os chamados três vértices do tripé que formam a sustentabilidade – o ambiental, o social e o econômico. “Fomos crescendo e consolidando o projeto aos poucos. Hoje, 22 anos depois, temos o reconhecimento de um trabalho sólido e consistente que semeamos lá atrás. Estamos certos que o turismo sustentável é uma ótima solução para a conservação do Pantanal”, avalia Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal. Para quem não conhece ainda, o Hotel Sesc Porto Cercado e a RPPN Sesc Pantanal ficam em Mato Grosso, na parte norte do bioma, perto da capital Cuiabá e das cidades de Poconé e Barão de Melgaço. A área – antes ocupada por fazendas de
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A exuberância da biodiversidade do bioma pode ser conferida de perto em visitas guiadas pelos monitores do Hotel na RPPN Sesc Pantanal
gado - foi comprada há mais de 20 anos pelo Departamento Nacional do Sesc com o objetivo de conservação da biodiversidade e também as iniciativas de desenvolvimento de turismo sustentável em pequena área. São várias as iniciativas do Sesc Pantanal: o Hotel Sesc Porto Cercado com 142 apartamentos e foco em ecoturismo; a RPPN Sesc Pantanal (a maior do Brasil) com 108 mil hectares to-
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talmente conservados e nativos; o Parque Sesc Baía das Pedras, com 4.200 hectares e foco em visitação e Educação Ambiental; o Parque Sesc Serra Azul, com 5.700 hectares, em Rosário Oeste, com acesso por Bom Jardim (Nobres); Sesc Poconé, que tem em sua estrutura o Centro de Atividades, a Escola Sesc Pantanal (Educação Infantil e Ensino Fundamental) e o Parque Aquático, desenvolve ações culturais, de educação, de saúde e lazer, bem como de educação ambiental, voltadas para as comunidades locais. São ações integradas de construção da cidadania, com um detalhe que faz toda a diferença: como o Sesc tem foco nos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, as ações estão voltadas para um turismo financeiramente sustentável para este segmento. Ao contrário de outras iniciativas do Pantanal com valores em dólar e direcionada principalmente para estrangeiros, aqui o foco é mesmo o turista brasileiro, a maioria comerciários, que respondem por 75% das reservas feitas até hoje em mais de 20 anos de história. Prêmios - No fim de 2018 vieram mais dois reconhecimentos para o complexo: o Prêmio Braztoa e também
FOTOS DEDIVULGAÇÃO- SESC PANTANAL
O turismo ecológico oferecido a partir da integração do Hotel Sesc Porto Cercado - que promove a educação ambiental e a redução do impacto ao meio ambiente - com a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal - a maior do Brasil - faz deste destino único no país.
O Hotel Sesc Porto Cercado conta com uma usina solar: as 1.240 placas juntas têm capacidade instalada de 300 kW/h e produção mensal de 49.500 kW/h, suficiente para suprir a necessidade por energia elétrica de 50% do hotel e equivale ao consumo de 309 famílias de até quatro pessoas no decorrer de um mês.
o Certificado de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Em outubro de 2018, o Hotel Sesc Porto Cercado venceu o Prêmio Braztoa - que seleciona as melhores ações hoteleiras sustentáveis - na categoria Resort e ainda foi o grande vencedor do Prêmio Top Sustentabilidade. “O hotel pode ser considerado uma espécie de modelo para o turismo sustentável, pois sua gestão contribui de diversas maneiras à sustentabilidade ambiental. Além de estendermos o uso da energia renovável, a unidade também faz o tratamento de água, esgoto e resíduos sólidos, assim como é feita a compostagem do lixo orgânico, que vira adubo e é utilizado na horta cultivada dentro das dependências do hotel”, destaca Christiane Caetano. Em dezembro de 2018, o Sesc Pan-
tanal recebeu, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso o Certificado de Responsabilidade Social - um reconhecimento pelos esforços empregados na conservação da biodiversidade, educação ambiental, turismo sustentável e ação social para as comunidades no entorno de suas unidades. Nesta 13º edição da concessão do selo, a superintendente da entidade Sesc Pantanal, Christiane Caetano recebeu moção de congratulação pelo trabalho desenvolvido. Sustentabilidade – Há todo um engajamento estratégico em torno das instalações do Hotel Porto Cercado. A mais recente foi a inauguração de uma usina de energia solar: as 1.240 placas juntas tem capacidade instalada de 300 kW/h e produção mensal de 49.500 kW/h, suficiente para suprir a
necessidade por energia elétrica de 50% do hotel. A energia entra na rede da operadora local e depois é abatida para os gastos do Hotel. O gerente do Hotel, o pantaneiro Paulo Proença, natural de Poconé, se orgulha também da destinação correta de todo o lixo gerado e ainda de ações voltadas para os moradores da região. Hoje, entre as práticas sustentáveis do hotel estão a reciclagem de 100% dos resíduos gerados no atendimento aos hóspedes, como garrafas pet, vidros, óleo de cozinha, orgânicos, alumínio (latinhas) e papelão, encaminhados para cooperativas locais. Os restos de alimentos, bem como a poda dos jardins, passam por processo de compostagem e retornam ao hotel para adubar a horta orgânica, vasos de plantas e jardins. Outros materiais, não passíveis de reciclagem ou compostagem, são enviados a empresas licenciadas para tratamento adequado e destinação final. Práticas importantes já que o Hotel recebeu em torno de 30 mil pessoas, entre hóspedes e visitantes em 2018. “Cerca de 90% dos 155 funcionários do Hotel são dos municípios próximos, Poconé e Barão de Melgaço, valorizando a mão-de-obra local. Ajudamos a formação de uma cooperativa de mulheres envolvidas na reciclagem. Estamos gerando renda e conhecimento”, destaca Paulo. Ele mesmo é um exemplo: começou há 20 anos no Hotel, na época no almoxarifado, mas foi se especializando, fazendo cursos no Sesc , galgando degraus passando por várias experiências até chegar ao cargo atual de Gerente. “Sou cria da casa”, comemora. Outra moradora da região também beneficiada pelo Hotel é Vânia Lúcia Prado, doceira de mão cheia. A sogra se aposentou e deixou o negócio familiar para o filho e nora, que se orgulham de ver os doces em compota servidos no restaurante do Hotel Porto Cercado e na loja para hóspedes. O mais pedido é o tradicional furrundu, feito de mamão ralado e melado de cana. “Nosso negócio cresceu, com funcionários e toda tecnologia que aprendemos
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Ecoturismo
FOTOS DEDIVULGAÇÃO- SESC PANTANAL
O passeio pela RPPN, disponível para os hóspedes do hotel, tem início com a navegação pelo Rio Cuiabá, com 1h30 de duração, seguido por uma caminhada de 2 km pela trilha do Estirão, possível somente no período de seca, em que os visitantes também podem ouvir o som da natureza, guiados pelos guarda -parques, profissionais responsáveis por acompanhar os pesquisadores nos trabalhos de campo.
FOTOS DE DIVULGAÇÃO- SESC PANTANAL
As crianças e os adultos ficam encantados com o Borboletário, uma área que abriga aproximadamente duas mil borboletas de 20 a 30 espécies diferentes, mantida por famílias locais de Poconé que recebem um salário mínimo mensal para cultivarem árvores frutíferas em seus quintais para, assim, alimentar cerca de 290 crisadálias.
com os parceiros do Hotel”, conta Vânia, que segue rígidos padrões de higienização e padronização para comercializar seus doces. Cultura pantaneira – Como boa parte dos turistas que visita o Pantanal vem das regiões Sul e Sudeste – assim como do Nordeste – há ainda uma preocupação grande em mostrar a cultura pantaneira para os hóspedes. Como a roda de viola, a saborosa culinária da região, as danças locais e, principalmente, a sua gente simpática e acolhedora. “Procura-
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mos aliar o turismo ecológico com a educação ambiental e também a experiência cultural”, explica Christiane Caetano. O gerente do Hotel, Paulo Proença, complementa: “Nós, pantaneiros, gostamos de conhecer pessoas e fazer amigos. Aprendemos fácil a atividade turística. Somos hospitaleiros por natureza”. As crianças e os adultos ficam encantados com o Borboletário, uma área que abriga aproximadamente duas mil borboletas de 20 a 30 espécies diferentes, mantida por famí-
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lias de Poconé que fazem parte da cooperativa e recebem cerca de um salário mínimo mensal para cultivarem árvores frutíferas em seus quintais para, assim, alimentar cerca de 290 crisadálias. Toda a atuação do Sesc Pantanal tem como base a educação ambiental. Seja no hotel, parques ambientais, centro de atividades, escola e ações sociais, é ela que dita como serão as atuações e projetos. Além disso, o Sesc Pantanal possui espaços especialmente criados para vivências da educação ambiental. O Borboletário, o Formigueiro, a Coleção de Insetos, que formam o Eixo de Educação Ambiental do Hotel, estão abertos à visitação de hóspedes, escolas e instituições. Passeio no Rio Cuiabá - Mas é ao ar livre, nos passeios com monitores, sem dúvida, que a exuberância do Pantanal se mostra em todas suas matizes e diversidades. Em que outro lugar o visitante poderia se deparar com jacarés, cobras, tantas aves – como o famoso tuiuiú, símbolo do Pantanal-, macacos e outros animais livres e soltos na natureza? O passeio pela RPPN, disponível para os hóspedes do hotel, tem início com a navegação pelo Rio Cuiabá, com 1h30 de duração, seguido por uma caminhada de 2 km pela Trilha do Estirão, possível somente no período de seca, em que os visitantes também podem ouvir o som da natureza, guiados pelos guarda-parques, profissionais responsáveis por acompanhar os pesquisadores nos trabalhos de campo. O visitante pode ainda se deparar com os indícios da presença da onça -pintada, como pegadas, arranhões em árvores, carcaças de presas. Na chegada ao Posto de Proteção Ambiental do Estirão ainda é servido um café pantaneiro tradicional com quitutes regionais. Com a rede de atuação das cinco unidades, que se complementam, o Sesc Pantanal fecha o ciclo de sustentabilidade construído ao longo de 22 anos.
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Esportes
FORMAR, EDUCAR E RENOVAR
O ESPORTE NO BRASIL Texto e Fotos de Hélio Rocha, de Plurale (*) De Natal (RN)
Comitê Olímpico inicia 2019 com desafio de ampliar o sucesso dos Jogos Escolares, levar o esporte a mais regiões e contribuir para a educação
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prática de esportes desde a infância contribui para o aperfeiçoamento pessoal, psicológico e motor de crianças e adolescentes. Para isso são promovidos anualmente os Jogos Escolares da Juventude (JEJs), evento oficial do Comitê Olímpico do Brasil (COB), que em 2018 ocorreu em novembro, entre os dias 12 e 25, na ensolarada cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte. A competição mostrou ao Brasil o quanto o investimento na base dos esportes individuais e de equipes pode resultar não só no aprimoramento de atletas, mas na educação para a cidadania. Plurale em Revista foi conferir os Jogos e o trabalho COB para a formação cidadã. Também conheceu a história de jovens de origens diferentes, mas que aparecem para figurar entre os grandes do esporte brasileiro na próxima década, já orientados sob os projetos pedagógicos do Comitê. Do vôlei, talvez hoje o esporte mais popular nas escolas de classe média, vem Giovana Scalizi, 13 anos, que, apesar de idade, já mostra em quadra o desempenho de uma jogadora que se vê na TV. Ela competiu como central (a antiga “meio de rede”) pelo Colégio Amorim, da cidade de São Paulo, que conquistou a medalha de bronze. No saque ou na rede, atinge facilmente um metro de impulsão. Quando recebe as bolas rápidas da levantadora pelo centro, corta e causa dificuldade às adversárias, o
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mesmo ocorrendo quando sobe no bloqueio. A menina, que ainda cursa ensino fundamental, é filha da ex-jogadora Alessandra Scalizi, 38, que atuou por Corinthians, Ypiranga e São Caetano, e desde criança recebeu incentivo da família. “Eu comecei aos nove anos em 2015, por incentivo da minha mãe. Fiz ela me ensinar a dar toque e manchete, porque tinha medo de passar vergonha quando treinasse”, explica, com sinceridade e espontaneidade. “Depois, em 2016 já estava no Clube Atlético Ypiranga e,
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em 2017, fui chamada no São Caetano e continuo lá até hoje. Esse ano, competindo pela escola e pelo clube, acho que foi o ano em que decidi levar o esporte como profissão, comecei a exigir mais de mim mesma para chegar onde eu quero, que é ser profissional”. Outra garota que desponta como possível estrela do Brasil é a já mais madura Lissandra Maysa Campos, 16, que pode já estar nos Jogos Pan-Americanos de Lima em 2019 e nas Olimpíadas de Tóquio em 2020. Nos JEJs 2018 ela quebrou o recorde da competição
Lissandra Campos, do Mato Grosso, alvo possível dos projetos do COB
FOTOS DE HÉLIO ROCHA
e atingiu 6,12 metros, abaixo dos 6,70 metros que ela deve atingir no próximo ano. “Fiquei em oitavo lugar nos Jogos Olímpicos (da Juventude, a base das Olimpíadas profissionais) de Buenos Aires com uma marca bem inferior à que eu conquistei aqui (5,98m). Esse resultado me deixaria algumas posições à frente. Mas não posso reclamar do meu ano. Aqui em Natal consegui saltar bem, apesar de estar acima do peso”, disse Lissandra à assessoria do COB. “Sinto que estou evoluindo e tenho muito a crescer na prova. Vou me cuidar bastante e espero saltar pelo menos 40, 45 centímetros melhor”. Trabalhar a formação da pessoa para encontrar atletas Os JEJs 2018 foram a maior edição dos jogos até agora, com 5.038 competidores e, pela primeira vez, jovens de 12 a 14 anos e de 15 a 17 anos estiveram reunidos numa mesma celebração do esporte escolar brasileiro, com 2.157 escolas de todos os estados do país, além de 464 árbitros e vários voluntários. As informações são do COB.
O evento, no entanto, não parou por aí e inovou no que diz respeito à sustentabilidade e à cidadania. A reportagem conferiu como o Comitê tem conciliado a prática do esporte e a formação esportiva, individual e cidadã. Duas iniciativas ressaltam, uma promovida para o evento, outra de longo prazo: a primeira diz respeito à dispensa de materiais descartáveis pela organização dos JEJs 2018, ante a consciência de que, ao reunir mais de cinco mil atletas num mesmo evento, o que seria um momento de congraçamento poderia resultar na produção de lixo em larga escala numa cidade litorânea, uma combinação agressiva ao meio ambiente. A segunda, busca criar a consciência cidadã tanto do ponto de vista ambiental quanto social. O Projeto Transforma, iniciado em 2016 no Rio de Janeiro como parte do Comitê Rio 2016, almeja levar os valores olímpicos de amizade, respeito e excelência para as escolas públicas do ensino fundamental.
Desta forma, através de ações interdisciplinares que envolvem a pedagogia esportiva, mas a transcendem para a formação ética, psicológica e motora, o COB estabelece parceria com as redes de educação municipais, em sintonia com a base nacional curricular, para trabalhar o esporte e buscar novos talentos, mas igualmente formar cidadãos. Durante os Jogos, o programa foi apresentado a crianças da cidade de Natal, das escolas municipais Maria Ilka de Moura e Amadeu Araújo, além do Colégio Maristella e o Instituto Compartilhar. Foram realizadas atividades lúdicas, como gincanas e brincadeiras. Também foi apresentado um vídeo com a história e os valores do movimento olímpico. O ponto alto foi um bate-papo da criançada com a ex-jogadora de vôlei, bicampeã olímpica em Pequim e em Londres, 2012, Fabiana Alvim, a Fabi. Certamente um espelho para a menina Giovana, Fabi, que participou da geração de maior sucesso olímpico do vôlei brasileiro ao
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Esportes
FOTOS DE HÉLIO ROCHA, DE NATAL (RN)
E n s a i o lado de Mari, Sheilla e Fernanda Garay, tem sua origem nas escolas públicas, ao contrário de atletas de sucesso identificadas no vôlei escolar para a classe média. “É um dia inesquecível que elas vão ter. Eu nunca esqueci o dia em que teve a primeira atividade cultural na minha escola. A primeira vez que eu assisti uma peça de teatro foi inesquecível. É importante fazer parte de um projeto que envolva levar esporte e cultura, que caminham juntos, para as escolas”, explicou Fabi à Plurale. “O esporte tem valores que ficam para a vida. Não é um dia só especial para elas, mas para mim também.” De acordo como o gerente de desenvolvimento esportivo do Transforma, Kenji Sato, a ideia é levar o projeto para outras cidades a partir de 2019, e o COB estuda aquelas que têm o melhor perfil para receber a ação. “Há perfis que interes-
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sam, especialmente as regiões em que as estruturas privadas ensino e de incentivo ao esporte e à cultura são mais escassas”, afirmou, lembrando que no Sul do país, no Distrito Federal (DF) e em São Paulo, por exemplo, há redes consolidadas de formação de atletas. O quadro de medalhas se encerrou com São Paulo na ponta, 65 ouros e 149 medalhas; Paraná em segundo, 30 vitórias em 84 pódios; e DF em terceiro, com 13 ouros e 38 medalhas (resultado considerável, dada a pequena população de Brasília e adjacências). A gerente de culturas do Transforma, Carolina Araújo, ressalta a importância de não apenas buscar desportistas, o que neste projeto é um objetivo periférico, visto a própria faixa etária que trabalha. “A ideia é difundir valores, contribuir para formação pessoal e ajudar o COB a exercer seu papel para me-
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lhorar a sociedade”, o que era uma ideia do barão Pierre de Coubertin quando resgatou a cultura grega dos Jogos Olímpicos, no fim do século XIX. VOV e CIEVO Os eixos de trabalho do Transforma são os módulos Valores Olímpicos para a Vida (VOV) e Curso de Introdução Esportiva e Valores Olímpicos (CIEVO), que participam na formação do indivíduo de formas diferentes, porém complementares. O VOV propõe uma formação mais ampla, trabalhando a parte ética e psicológica das crianças, formando-as de acordo com os valores de amizade, respeito e excelência para que sejam compreendidos como não apenas olímpicos, mas de todos os seres humanos. “Bom ressaltar que o valor da excelência não diz respeito a ser melhor que os
Giovana Scalizi sacando para mais uma conquista de São Paulo, que lidera investimentos e medalhas nos Jogos
outros, mas buscar sempre novas metas”, esclarece Kenji, sintetizando o que já está no discurso de Giovana Scalizi e Lissandra Campos sobre chegar a novos horizontes e melhores marcas. Já Carolina lembra que este módulo pode ser trabalhado por qualquer professor da escola básica, e “envolve atividades coletivas com os alunos, buscando ministrar os três valores e seus desdobramentos”. O CIEVO, por sua vez, tem um viés mais técnico e esportivo, trabalhando não ainda a competição, mas a formação motora das crianças, identificando aptidões que elas podem escolher aprimorar até chegar ao alto nível, que é a competição já percebida nos Jogos Escolares da Juventude. “O CIEVO, porém, ainda resguarda a integração com a formação inicial da pessoa, trabalhando o corpo e suas potencialidades, de forma mais lúdica e
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Esportes
A campeã do vôlei, Fabi Alvim, deu palestra para as crianças como uma das Embaixadores dos Jogos Escolares de 2018.
divertida, sem incentivo à competição”, explica Carolina. Ação educativa na Praia de Ponta Negra O COB também promoveu, durante o evento, atividade para formação da consciência ambiental dos atletas, em parceria com a ambientalista Fê Cortez, embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente e líder do movimento Mares Limpos. A chamada “Operação Praia Limpa” levou dezenas de jovens e membros do Comitê à praia da Ponta Negra, uma das mais importantes de Natal, para recolher lixos descartáveis ao longo da orla. “A praia, olhando agora, parece limpa, mas é porque a maré da noite levou para dentro d’água toda a sujeira de ontem”, explicou Fê. Os adolescentes caminharam pela orla recolhendo principalmente materiais plásticos, reunindo uma sacola repleta de materiais que fazem mal à fauna marinha e ao ser humano. “O mar não está para plástico”, afirmou a ambienta-
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O COB também promoveu, durante o evento, “Operação Praia Limpa”, atividade para formação da consciência ambiental dos atletas, em parceria com a ambientalista Fê Cortez, embaixadora da Organização das Nações Unidas (ONU) para o meio ambiente e líder do movimento Mares Limpos
lista, reforçando o “slogan” de seu projeto, “um objeto desses ingerido por um peixe ou tartaruga tem consequências muito grandes para nós. As pessoas ainda pensam ‘natureza’ como algo separado do ser humano, e não é. Nós somos natureza e,
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quando descartamos esses materiais, estamos nos fazendo mal” (*) com informações do Comitê Olímpico do Brasil O repórter viajou a convite do Comitê Olímpico do Brasil
ISABELLA ARARIPE
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Ecoturismo
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Opção para curtir o verão no Paraná O Parque Estadual de Vila Velha, localizado em Ponta Grossa, no Paraná, faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana. A Unidade de Conservação possui atrações como os Arenitos, formações rochosas como a famosa taça; a parte de Furnas, que é um lençol subterrâneo; e a Lagoa Dourada, que recebe esse nome por ficar dourada ao refletir a luz do sol. No local, há várias atividades que custam de R$ 30 a R$ 60. Mais informações: http://www.pontagrossa. pr.gov.br/parque-estadual-vila-velha
Ecoturismo sul-mato-grossense concorre a prêmio Três passeios de ecoturismo do Mato Grosso do Sul foram indicados ao prêmio de sustentabilidade do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) deste ano. Os passeios finalistas são: flutuação no Rio da Prata, flutuação com mergulho na Lagoa Misteriosa e trilha com cachoeira na Estância Mimosa. A região é um dos principais polos brasileiros de ecoturismo. Os atrativos recebem cerca de 50 mil visitantes por ano MÁRCIO CABRAL/RECANTO ECOLÓGICO RIO DA PRATA
ENRICO MARCOVALDI
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Abrolhos ganha nova trilha subaquática Localizado entre a Bahia e o Espírito Santo, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, unidade de conservação administrada pelo ICMBio, inaugura, em fevereiro, a trilha subaquática do Chapeirão Mau-Mau. São 140 metros de extensão, com 14 pinos instalados na areia e cabos que interligam os pontos de interesse, guiando o trajeto e facilitando a interpretação de cada ponto com seus atrativos específicos. O percurso da trilha, que poderá ser feito à noite com mergulho autônomo, acompanhado por condutores, tem tudo para proporcionar aos visitantes uma experiência inesquecível aos visitantes.
Serra da Capivara inaugura Museu da Natureza O Parque Nacional da Serra da Capivara inaugurou, no fim de dezembro, o Museu da Natureza, no município de Coronel José Dias, no Piauí. O complexo oferecerá aos visitantes uma imersão pela história natural da região. O Museu da Natureza oferece uma visão panorâmica dos paredões da Serra da Capivara. O funcionamento é de quarta a domingo, das 13h às 19h. DIVULGAÇÃO
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Reserva
LEGADO DAS ÁGUAS: A MAIOR RESERVA PRIVADA DA MATA ATLÂNTICA DO BRASIL
Texto e fotos de Luciana Tancredo, Plurale Do Vale do Ribeira, São Paulo
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ão 31mil hectares de floresta conservada ao alcance dos amantes da natureza. A riqueza da fauna e flora do Legado das Águas possibilitam o desenvolvimento de pesquisas nas mais diferentes áreas. Dentro da Reserva, mais de 50 parceiros realizam projetos e geram informações e conhecimento público sobre a Mata Atlântica, o bioma com a maior biodiversidade do planeta, e ao mesmo tempo, o mais ameaçado. A gestão compartilhada, modelo inovador utilizado pela Votorantim para o projeto da Reserva Legado das Águas, facilita os avanços em estudos científicos, educação ambiental, uso público, proteção de espécies ameaçadas de extinção e desenvolvimento socioeconômico da região. Hoje, suas atividades são estruturadas em quatro eixos: Gestão Institucional, Capital Humano e Social, Capital Natural e Capital Econômico. Com 1,5% dos 9% restantes da Mata Atlântica, esta reserva particular passou recentemente a oferecer diversas atividades ao público em geral. Entre as principais atividades está o ecoturismo, com as trilhas de bike e os passeios de caiaque, e também as travessias a pé, com dois percursos, a Volta Menor com 13 km e a Volta Maior com 23 km e direito a acampamento no meio da floresta. Outras opções mais “calmas” são o Jardim Sensorial, a Trilha da Figueira com acessibilidade, a Trilha do Cambuci, também pequena e de baixo nível de exigência, e o Viveiro de Mudas, este último é comercial, com venda de mudas para paisagismo e reflorestamento de Mata Atlântica, em que o visitante
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E n s a i o pode levar um pedacinho da floresta para casa. Todos esses passeios podem ser comprados e agendados pelo site www.legadodasaguas.com.br. Mais de 1700 espécies de plantas e animais já foram catalogadas no Legado das Águas. Entre os inúmeros animais que circulam pela área como mamíferos, pássaros e répteis, tem uma anta albina, espécie raríssima, que já virou símbolo da Reserva, ela foi registrada várias vezes pelas câmeras fotográficas remotas instaladas na floresta. Entre as espécies vegetais - orquídeas raras, o Palmito Jussara – ameaçado de extinção, o Breu-Branco, a Copaíba e Figueiras centenárias. Uma das estrelas do Legado é o projeto de biotecnologia desenvolvido em parceria com Mauro Rebelo, professor adjunto do Instituto de Biofísica da UFRJ e chefe do Laboratório de Biologia Molecular Ambiental. Há dois anos é desenvolvido um trabalho de sequenciamento do DNA de 57 plantas nativas. Com isso, tem sido possível montar o maior banco de dados digital da Mata Atlântica. Este é um trabalho pioneiro e promissor de pesquisa aplicada, sendo que um dos principais objetivos da pesquisa é buscar proteínas que possam ter interes-
TEXTO E FOTOS DE LUCIANA TANCREDO, DA RESERVA LEGADO DAS ÁGUAS, VALE DO RIBEIRA (SP)
se comercial para serem aplicadas na indústria farmacêutica, de cosméticos, entre outras. Além das pesquisas voltadas para a flora, fauna e o já citado projeto de biotecnologia, o Legado também tem diversas ações voltadas ao desenvolvimento territorial. Localizado no Vale do Ribeira, no Estado de São Paulo, o Legado das Águas também tem como uma de suas missões ser um catalisador de iniciativas sociais e econômicas que possam trazer melhorias à população de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, os três municípios que o cercam. Nesse sentido, a Reserva tem criado várias ações de apoio à gestão pública, de valorização da cultura, de educação inclusiva, de estímulo ao empreendedorismo e de fomento ao turismo. Plurale esteve na reserva para ver de perto o trabalho de conservação que é feito no Legado das Águas e conhecer todos os projetos ambientais que são desenvolvidos por lá. Veja nas fotos o que te espera nessa viagem para dentro do coração de uma floresta única e extremamente preservada. (*) Plurale esteve na Reserva Legado das Águas a convite, em grupo de jornalistas.
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TEXTO E FOTOS DE LUCIANA TANCREDO, DA RESERVA LEGADO DAS ร GUAS, VALE DO RIBEIRA (SP)
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Estante Necessários Guardiões da Alma Carioca, Texto de Aydano André Motta, Fotos de Paulo Marcos de Mendonça Lima e design de Télio Navega, Editora: Portunhol, 178 págs, R$ 70,00 No cotidiano da metrópole embrutecida e intolerante, há quem defenda e preserve a chama da alegria e da solidariedade, que forjaram a alma carioca. Gente que zela pela boa convivência entre vizinhos e visitantes, moradores e turistas, frequentadores habituais e bissextos. Vamos contar a história dos personagens que se dedicam à causa de um lugar melhor para viver. Necessários Guardiões da Alma Carioca descreve outra cidade, que sobrevive apesar dos problemas. Os personagens espalham-se por todos os bairros, em vários formatos, estilos, propostas. Suas trajetórias desfilam por 176 páginas de um livro ilustrado, com texto de Aydano André Motta, fotos de Paulo Marcos de Mendonça Lima e design de Télio Navega. A obra ainda traz homenagem a uma guardiã inesquecível – Marielle Franco.
O Soldadinho da Caatinga, Por Cristina Rappa, com ilustração de Maurício Veneza, Florada Editorial, 48 págs Em um passeio pela Chapada do Araripe, que abriga floresta, área de proteção ambiental e geoparque com sítio paleontológico, na divisa dos Estados do Ceará, Piauí e Pernambuco, Soldadinho-do-Araripe e sua parceira encontram, além de muitos amigos, problemas que ameaçam a vida na região – seca, incêndio, desmatamento, tráfico, abandono de animais... mas, nem só de preocupação vive a ave-símbolo de conservação, mesmo sendo uma das espécies mais ameaçadas do planeta. Em seu terceiro livro infantil, o primeiro do projeto Aves & Bioma, a jornalista e observadora de aves, fala sobre a Caatinga e suas particularidades. Aborda seus problemas, chama atenção a suas ameaças, mas sem perder o equilíbrio e a leveza, como num voo de pássaro, para poder apresentar também suas riquezas e encantos. Indicado para crianças de 7 a 12 anos, a obra pode ser trabalhada em sala de aula por diversas disciplinas, já que introduz conceitos de Geografia, História, Meio Ambiente, Sustentabilidade, Paleontologia e Cultura popular.
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Joias do Rio, Por Roberto Saturnino Braga, Editora Alameda, R$ 52,00 ”Esforcei-me por falar bastante sobre o Rio em toda a minha vida. Por amor. Falar sobre a gente do Rio, a história, a filosofia do Rio, a geografia do Rio. Senti então vontade de falar sobre as feições mais ricas do Rio, as belezas especiais, as joias do Rio. As joias do meu coração. Escolhi treze, que é o meu número. Afastei, empurrei as outras que são muitas; conheço todas, já fiz campanhas, fui síndico. Poderiam ser cento e trinta ou até mil e trezentas, mas acariciei essas treze. Dormi várias noites sobre elas. E um dia acordei com catorze. Rejeitei, rejeitei várias vezes e recontei, queria treze. E eram catorze. Bem; ei-las.” R. Saturnino Braga Sobre o autor: Roberto Saturnino Braga nasceu no Rio de Janeiro em 1931.Engenheiro de formação, funcionário de carreira do BNDES, embrenhou-se desde cedo pela politica, tendo sido deputado federal, prefeito do Rio de Janeiro, vereador e senador por três mandatos. Dedica-se hoje a escrever textos políticos e literários. É atualmente diretor-presidente do Centro Internacional Celso Furtado e do Instituto Casa Grande.
A casa das 365 janelas, Por Deolinda Saraiva, Synergia Editora, 195 págs, R$ 40,00 Amores proibidos e reprodução de escravos formam a narrativa do livro sobre a fictícia “Fazenda Amoreiras”, Esta semana foi lançado o livro “A Fazenda de 365 Janelas”, pela Editora Synergia, de autoria da jornalista Deolinda Saraiva, moradora de Conservatória. O prefácio é da premiada jornalista Elvira Lobato. No romance ficcional, a autora narra, com texto leve e envolvente, como acontecia a reprodução de escravos e as relações de poder na casa grande, toda construída em pau a pique, com 365 janelas – uma para cada dia do ano; 52 quartos – um para cada semana; e 12 salões – um para cada mês. “O livro tem por base alguns fatos históricos ocorridos no desenvolvimento do Vale do Café, em Minas Gerais e no Sul do Estado do Rio. Mas a opção da narrativa foi pela ficção, para retratar o amor naqueles rudes tempos. Assim, pesquisei duas histórias reais sobre fazendas com 365 janelas, que aconteceram em Minas e em Pirenópolis, Goiás. São elas as mais importantes personagens do livro”, diz a autora.
REALIZAÇÃO
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Pelo mundo
EQUADOR, UM PAÍS SURPREENDENTE Texto e fotos por Elizabeth Oliveira Especial para Plurale De Quito, Mindo e Banos de Água Santa, Equador
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diversidade natural, cultural e paisagística do Equador salta aos olhos dos visitantes, seja caminhando pelas movimentadas ruas e praças de Quito, ou de outras cidades, como Mindo e Baños de Água Santa, algumas das mais procuradas na região dos Andes pelos adeptos do ecoturismo. As viagens entre a capital e outras localidades já permitem perceber como o país é privilegiado em termos de ambientes bem conservados e de expressiva beleza cênica (veja o mapa turístico em um dos links desta reportagem). Contemplar vulcões, florestas, rios entrecortando montanhas, além de outros cenários compensa os deslocamentos e pode surpreender os turistas, antes mesmo da chegada ao destino final. A amabilidade do povo equatoriano também faz a diferença. Assim como as belezas naturais se destacam nas paisagens urbanas, a arquitetura colonial está presente em várias partes de Quito, mas o conjunto mais expressivo se concentra no centro histórico, considerado o maior e o mais bem conservado da América Latina. Uma demonstração disso é a Praça da Independência, muito frequentada pela população local, onde estão igrejas, museus, casarões, prédios públicos e outras construções seculares. Não por acaso, a cidade foi a primeira capital do mundo a receber o títu-
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Baños de Água Santa
Escadaria do Pailon del Diabo/ Baños de Água Santa Catedral do Voto Nacional e Teleférico, ambos em Quito
lo de Patrimônio Cultural da Humanidade da Unesco, em 1978. A Basílica do Voto Nacional, a maior catedral de estilo gótico da América Latina, é uma das inúmeras expressões do patrimônio equatoriano. A moeda oficial do Equador é o dólar. Apesar de sua economia dolarizada, o país é considerado um dos destinos mais baratos da América do Sul para os viajantes, sobretudo, em termos de hospedagem, alimentação e transporte. Em restaurantes e lanchonetes de Quito e de outras cidades equatorianas é possível tomar café da manhã ou almoçar por 3 dólares. O sistema de transporte da capital é bem organizado, tem ônibus modernos e as passagens custam 25 centavos. Há dois grandes terminais rodoviários
(zonas sul e norte) de onde se pode viajar para diversas cidades turísticas de forma econômica (veja alguns exemplos de passeios em destaque nesta reportagem). Atenção especial à altitude e ao clima Alguns cuidados especiais são necessários diante da altitude característica do Equador. Quito, por exemplo, está situada a 2,8 mil metros acima do nível do mar. Essa particularidade do país andino requer um período de adaptação dos turistas para evitar sintomas como dores de cabeça, náuseas e dificuldade de respiração. Nesse caso, é recomendável deixar as visitas aos locais turísticos ainda mais altos para os últimos dias da viagem.
Há exemplos de passeios imperdíveis na capital como o teleférico (4.053 m), com suas cabines de vidro transparente e uma infraestrutura de visitação na parte mais alta. De lá, em dias menos nublados, é possível ter uma visão privilegiada de vulcões que cortam a paisagem da cidade como o Cotopaxi (5.897 m), o Cayambe (5.790 m) e o Antisana (5.704 m). O ingresso custa 8,50 dólares. Já no espaço conhecido como El Panecillo, de acesso gratuito, há um mirante (3.035 m), onde está a imagem da Virgem Alada, uma estátua de 45 metros que pode ser vista de várias partes da cidade (réplica da escultura que está na igreja de São Francisco, no centro histórico). O verão equatoriano vai de junho a novembro e o inverno de dezembro a maio. Mas a temperatura média em Quito é de 17°C. Mesmo em dias ensolarados, as tardes e as noites na cidade costumam ser mais frias. É importante ter sempre casaco, gorro e cachecol à mão, principalmente, se o interesse for de fazer visitas aos pontos turísticos mais altos. Muito influenciado pela dinâmica climática da cordilheira dos Andes, o tempo na capital e em outras cidades equatorianas também pode mudar bruscamente, passando de nublado a chuvoso rapidamente. O diferencial das frutas dos Andes Até mesmo os brasileiros, acostumados com a abundância e a diversidade de frutas nacionais, podem se surpreender com o diferencial de cores, sabores e formatos de muitas frutas equatorianas, principalmen-
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A colorida capital Quito
te com as da região dos Andes. Um exemplo é o babaco, também chamado de papaya da montanha, que se parece com um mamão papaya, embora seja maior e mais aromático. É usado em sucos e sobremesas. O tomate de árbol ou tamarillo, por fora se assemelha a um tomate italiano, mas por dentro é alaranjado e azedinho. Cresce em regiões monta-
nhosas e é usado em um suco muito popular no Equador. Já a naranjilla, ou lulo, é muito usada no canelazo, uma tradicional bebida equatoriana servida quente, na qual se mistura o suco e pedaços dessa fruta cítrica com aguardente e canela. O maracujá também é muito comum no país, mas se percebe a variedade dessa fruta nos mercados e feiras.
Links úteis para saber mais sobre turismo no Equador O Equador está dividido em quatro regiões que expressam a sua diversidade natural, cultural e paisagística: a costa (com praias banhadas pelo oceano Pacífico), a serra (cortada pelos Andes), a amazônica (com seus ambientes de floresta e grande destaque para a sociobiodiversidade), além da área insular de Galápagos (um dos arquipélagos mais ricos em biodiversidade do planeta, cujo patrimônio está resguardado por um parque nacional).
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http://www.vivecuador.com/MapaTuristicoEcuador.jpg Ministério do Turismo https://www.turismo.gob.ec/ Principais atrativos https://ecuador.travel/pt/ Agências de viagens brasileiras https://ecuador.travel/pt/planejesua-viagem/brasil/ Orientações para os viajantes brasileiros http://www.portalconsular.itamaraty.gov.br/seu-destino/equador
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Parque Nacional Cotopax
FOTOS: ELIZABETH OLIVEIRA, EQUADOR
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Parque Nacional Cotopaxi, um ícone equatoriano Um dos vulcões ativos mais altos do mundo, o Cotopaxi (5.897 metros acima do nível do mar), é um dos principais cartões postais do Equador e um símbolo da sua riqueza natural, cultural e paisagística. Montanhistas de várias partes do mundo buscam esse destino para escaladas. Mas não é preciso ter o condicionamento físico de atleta para ver mais de perto esse ícone equatoriano, situado no Parque Nacional Cotopaxi, um dos mais visitados do país. Além de escaladas, no parque são permitidas atividades como caminhadas, ciclismo e piquenique. Há também áreas específicas para acampamento. Para quem pensa em se hospedar no local, há ainda o refúgio José Ribas, localizado a 4.810 metros de altitude e a cerca de 20 quilômetros da
entrada principal. Beleza a perder de vista Em dias ensolarados é possível enxergar com mais nitidez o contorno do vulcão Cotopaxi e observar melhor o seu cume nevado na capital. No próprio parque, apesar da proximidade reforçar a imponência dessa montanha, a visibilidade pode ser prejudicada em dias nublados. Entretanto, a beleza rústica da biodiversidade integrada à paisagem não passará despercebida pelos visitantes. O ecossistema dominante é o chamado páramo andino (inserido em regiões montanhosas e áridas de países como a Bolívia, o Equador e o Peru) no qual as plantas desenvolveram a capacidade de adaptação às rígidas condições ambientais, sobretudo, à es-
cassez de água. Raposas e lobos vivem nessa área protegida de 33.393 hectares, criada em 1975, embora seja difícil avistá-los. Coelhos, patos, além de gaivotas e vários outros tipos de pássaros andinos são mais fáceis de serem vistos, com exceção do condor, um dos maiores do mundo e considerado criticamente ameaçado de extinção, embora represente um símbolo nacional (estampado na bandeira equatoriana). Enquanto se caminha pelo parque, é possível sentir o inconfundível aroma de baunilha pelo ar. O experiente guia turístico, Mario Yánez, conta sobre a forte ligação cultural das populações andinas com algumas plantas e menciona o exemplo da escovinha (escobilla), transformada em vassouras artesanais para a limpeza das casas
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indígenas. Na medicina tradicional, ele ressalta a importância da chuquiragua ou chiquirahua, conhecida como a flor do andinista, usada para aumentar o calor corporal e ajudar os esportistas a enfrentarem o frio em áreas de expressiva altitude, além de ter efeitos laxante e diurético. Já a valeriana é muito recomendada para chá contra a insônia. Todas estão presentes na flora do Cotopaxi. Como chegar Em Quito, as agências de turismo costumam cobrar de 50 a 70 dólares por um passeio ao Parque Nacional Cotopaxi, por pessoa (podendo incluir alimentação, além de guia e transporte). Mas é possível se chegar ao local de ônibus (há opções no terminal rodoviário ao sul da capital que custam menos de 3 dólares). O trajeto pela rodovia Panamericana tem cerca de 60 quilômetros e algumas paradas, mas leva menos de duas horas. Uma inconveniência do trajeto de ônibus é a falta de sinalização indicando a área do parque nacional. Por isso, é preciso pedir ao motorista para descer nas suas imediações. Há um largo na rodovia onde os veículos (caminhonetes brancas) de guias credenciados aguardam os turistas, embora no local se perceba também a ausência de algum tipo de abrigo para os viajantes. Não é cobrada taxa para entrada nessa área protegida, mas os turistas estrangeiros devem ser acompanhados pelos guias credenciados, conforme orientação do governo, para que a visitação possa dinamizar a economia local. Em geral, os passeios guiados custam 25 dólares, mas dependendo do percurso escolhido e da quantidade de pessoas, é possível negociar os preços diretamente com esses profissionais especializados, moradores do entorno. Para saber mais sobre o Parque Nacional Cotopaxi http://areasprotegidas.ambiente.gob. ec/es/areas-protegidas/parque-nacional-cotopaxi
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Parque Nacional Cotopaxi
Lagoa Quilotoa
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FOTOS: ELIZABETH OLIVEIRA, EQUADOR
Lagoa Quilotoa, a paisagem que vale a viagem Com uma vista de tirar o fôlego, a lagoa Quilotoa é, sem dúvida, um passeio que merece ser priorizado em uma visita ao Equador. Suas águas que variam do azul turquesa ao verde esmeralda, dependendo da intensidade do sol, estão dentro de uma cratera de um vulcão inativo de mesmo nome e tornam a paisagem inesquecível para turistas do mundo inteiro. Em busca da fotografia mais perfeita, os viajantes se divertem diante desse cenário natural que vale a viagem. Para chegar até lá, geralmente os turistas partem do terminal rodoviário da cidade de Latacunga, onde os ônibus até a lagoa custam 2 dólares e o trajeto leva cerca de uma hora e meia. Motoristas de táxi chegam a oferecer o traslado por até 25 dólares. A lagoa está inserida na Reserva Ecológica Los Ilinizas, onde a entrada é gratuita e há várias opções de trajetos para caminhadas, incluindo uma esticada até à borda e passeios de caiaque na parte mais baixa. Mas é importante estar atento à altura do vulcão (3.900 metros), o que pode tornar exaustivo o retorno. No entorno
desse popular ponto turístico há ampla oferta de hospedagem, artesanato e alimentação. É possível também vir direto de Quito para Latacunga, de ônibus, em um percurso de pouco mais de uma hora, pagando cerca de 3 dólares. Mas os viajantes geralmente buscam conciliar uma visita ao Parque Nacional Cotopaxi, com esse passeio a Quilotoa, já que há muita frequência de ônibus em direção a Latacunga pela rodovia Panamericana, na saída do parque. Esse deslocamento leva cerca de uma hora e custa em torno de 2 dólares.
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Outras dicas de passeios imperdíveis Otavalo Uma das grandes expressões da diversidade étnico-cultural do Equador pode ser percebida no seu tradicional artesanato, geralmente produzido por comunidades de origem indígena. Aos sábados, a pequena Otavalo se transforma em uma das maiores feiras a céu do mundo. Mas, diariamente há barracas na praça principal da cidade com grande variedade de roupas, mantas, quadros, peças de cerâmica e tantos outros produtos artesanais que encantam pelas cores, pela qualidade e pela beleza. Há opções de ônibus para essa localidade saindo com frequência de Quito (terminal sul). O trajeto é de cerca de duas horas e a passagem custa 2,65 dólares. Mas caso seja impossível fazer a viagem, muitos artesãos de Otavalo também vendem seus produtos no Mercado de La Mariscal, um dos bairros mais famosos da capital equatoriana, muito procurado pelos turistas. Mitad del Mundo Um dos passeios mais famosos no país andino é visitar o parque Mitad del Mundo, localizado na pequena cidade San Antonio de Pichincha, a apenas 13 quilômetros ao norte de Quito. Esse grande monumento arquitetônico, dotado de museu e ampla estrutura de visitação turística, tornou-se reconhecido mundialmente por ser cortado pela latitude 0° 0’ 0. Segundo registros da expedição científica, iniciada em 1736 (chamada Missión Geodésica), esse é o ponto onde se dividem os hemisférios norte e sul pela imaginária linha do Equador. Os turistas se divertem com as tradicionais fotografias com um pé em cada lado do “globo terrestre”. A entrada custa 3 dólares e é fácil visitar o local saindo de ônibus de áreas urbanas da capital. Jardim Botânico de Quito Caso seja impossível visitar outras cidades, além de Quito, é possível ter
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Mitad del Mundo
uma ampla visão da biodiversidade do Equador, um dos países mais ricos em flora e fauna do mundo, visitando o Jardim Botânico da capital. O lugar é amplo, bem estruturado e tem uma grande variedade de plantas de todas as regiões equatorianas. Dentro des-
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se espaço, os visitantes também serão surpreendidos por outra opção de passeio: o Museu do Bonsai, onde miniaturas de árvores emblemáticas da América do Sul estão distribuídas em uma ampla área construída em estruturas de bambu.
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No Netflix – sugestão 1 A provedora global de filmes e séries via streaming (forma de distribuição digital de conteúdo multimídia) com mais de 130 milhões de assinantes, tem opções para quem se interessa por sustentabilidade. Como estamos em pleno verão, temporada de praia no Brasil, a primeira sugestão é “Oceano de Plástico” (“A Plastic Ocean”) documentário de aventura em que o jornalista Craig Leeson e a mergulhadora de estilo livre Tanya Streeter se unem a uma equipe internacional de cientistas e investigadores, viajando para 20 locais ao redor do mundo durante quatro anos, explorando o estado dos nossos oceanos e fazendo descobertas alarmantes sobre a poluição do plástico. Além de apontar o problema, o documentário apresenta soluções.
No Netflix – sugestão 2 A segunda sugestão é o documentário “Sustentável” (“Sustainable”) dirigido por Matt Wechsler e Annie Speicher, sobre a instabilidade econômica e ambiental do sistema americano de produção de alimentos. Um filme que fala da perda de solo, do esgotamento de água, da mudança climática, do uso de pesticidas e das pessoas que trabalham na terra e estão dispostas a ir contra o sistema a fim de garantir a sustentabilidade para as futuras gerações.
No Netflix – sugestão 3 A terceira sugestão é o documentário “Terra” que reflete nossa relação com outras criaturas do planeta na medida em que fomos nos afastando da natureza. Dirigido por Alaistair Fothergill e Mark Linfield, o filme arrebata pela fotografia e pela forma como trata o tema nos fazendo refletir. Mostra no Ártico, um urso polar e seus dois filhotes despertando com os raios solares, o que faz com que tenham que buscar comida antes que o gelo à sua volta derreta. No deserto do Kalanari, uma aliá e seu filhote encontram água após uma longa caminhada, mas precisam dividi-la com um grupo de leões. Uma baleia precisa manter seu filhote a salvo durante a migração do Equador à Antártida, um percurso de mais de 6 mil km.
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A história do Brasil revisitada Previsto para entrar em circuito comercial em meados de 2019, o filme “Marighella”, dirigido por Wagner Moura - mais conhecido por suas atuações - reconta episódio da cena política brasileira, a história dos últimos anos de Carlos Marighella, guerrilheiro que liderou um dos maiores movimentos de resistência contra a ditadura militar no Brasil, na década de 1960. No elenco Seu Jorge, Adriana Esteves, Bruno Gagliasso, Herson Capri, entre outros.
Mais do nosso cinema A Spcine Play, em parceria com o serviço brasileiro de streaming Looke, lança uma seleção de filmes do cineasta, ator e roteirista José Mojica Marins. Considerado um mestre do terror nacional, Mojica hoje com 82 anos, produz desde a década de 50 tendo sido uma das influências do movimento Cinema Marginal. Nos anos 1960, criou Zé do Caixão, coveiro sádico inspirado por um pesadelo do cineasta em que um homem de preto o levava para a cova. Além de protagonizar as principais obras da carreira de Mojica, o personagem apresentou programas de TV nas décadas seguintes, virando um ícone do pop nacional.
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Sustentabilidade
Nescau anuncia a substituição e eliminação de canudos plásticos Marca da Nestlé também se associou ao Projeto Tamar pela preservação de tartarugas marinhas, lançando o projeto #jogajunto DIVULGAÇÃO
Texto por Nícia Ribas, de Plurale Da Praia do Forte, BA Fotos de Nícia Ribas e Divulgação
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m “casamento festivo” nas areias da Praia do Forte (BA) pode ter sido o marco de uma nova era na luta pela preservação da natureza. O noivo, Nescau da Nestlé, contraiu núpcias com a tartaruga-marinha, do Projeto Tamar. Brincadeiras à parte, a união da mega multinacional com a instituição que há 38 anos cuida do meio ambiente brasileiro e garante a sobrevivência de cinco das sete espécies de tartarugas marinhas existentes no Planeta, tem mesmo que ser celebrada. Foi em clima de festa o encontro do dia 5 de fevereiro entre diretores da Nestlé, coordenadores do ProjetoTamar, representantes da mídia e a comunidade. “Estamos felizes porque uma grande empresa lembrou-se de nós, só existimos porque acreditam na gente”, disse o coordenador nacional do Projeto Tamar, Guy Marcovaldi ao saudar o projeto #JogaJunto, uma parceria inédita com a marca Nescau para reduzir o plástico e melhorar a saúde do mar e seus habitantes. Na ocasião, a diretora de bebidas
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da Nestlé, Fabiana Fairbanks, não escondia sua satisfação ao anunciar a parceria e aproveitou para expor a meta global da sua empresa de buscar impacto ambiental neutro em todas as suas operações até 2030: “Uma série de ações, a partir deste mês de fevereiro, ajudarão a conscientizar consumidores sobre o descarte correto das embalagens e a redução do plástico existente em nossos produtos”. Além do apoio financeiro a projetos de pesquisas do Tamar, a Nestlé investirá em comunicação e embalagens sustentáveis. Todos ganham com esse casamento: “Poder contar com o Tamar, reconhecido pelo seu importante trabalho de preservação, é fundamental para nós”.
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Três pilares Tudo começou porque a Nestlé queria retirar o canudinho plástico da embalagem da caixinha do Nescau, contribuindo para a redução de plástico nos mares. Foi aí que entrou a tartaruga marinha, uma das maiores vítimas do lixo. Num primeiro movimento, a marca Nescau lançou a campanha #jogapradentro em todas as embalagens, estimulando os consumidores a empurrar o canudo para dentro da caixa, garantindo a reciclagem. “Como é muito pequeno, o canudinho acabava se perdendo e indo para o lixo comum”, explicou Fabiana. Num segundo movimento, embalagens especiais levaram para dentro das casas dos consumidores
Fabiana Fairbanks, Diretora de Bebidas da Nestlé, destacou que “uma série de ações, a partir deste mês de fevereiro, ajudarão a conscientizar consumidores sobre o descarte correto das embalagens e a redução do plástico existente em nossos produtos.”
essa questão da reciclagem correta e redução de plástico. Algumas caixinhas passaram a ter canudo de papel reciclado e outras simplesmente não tinham canudo. “Estimulamos o consumidor a ter boas ideias e dar sugestões para substituição do canudo, como por exemplo, o uso de macarrão furadinho, copinhos sanfonados, etc” Uma terceira ação foi no sentido de fomentar a inovação aberta na comunidade, lançando o desafio ao público. Qualquer pessoa pode através do site da Empresa, até o dia 7 de abril, enviar projetos que, se considerados inovadores, poderão ser adotados e colocados em prática pela marca. Para Fabiana, o canudo é apenas a ponta do iceberg. Muitas ações estão a caminho no sentido de promover uma mudança de hábito na população.
e coleta de dados para pesquisa. Ao receber os convidados para o lançamento do Projeto #Joga Junto, o biólogo do Tamar, Gonzalo Rosta, apresentou sua equipe, que acompanhou uma visita ao museu, onde vivem indivíduos das cinco espécies existentes no Brasil. A maior tartaruga chega a medir dois metros e pesar 900 quilos, alcançando 1 mil metros de profundidade, em busca de algas marinhas e águas vivas para sua alimentação. Durante a visita, a bióloga Taís fez a soltura de uma tartaruga da espécie cabeçuda, que estava há três meses em tratamento no Tamar. “Agora ela está pronta para voltar ao seu habitat”, disse. Com a ajuda de um grupo de crianças, também foram soltos uma infinidade de filhotinhos para encanto de todos os presentes, que emocionados, aplaudiram. Nina Marcovaldi, filha de Guy, o coordenador nacional do Tamar, nasceu quase junto com o Projeto e é uma entusiasta da preservação dos oceanos. Ela informou aos visitantes que a principal ameaça à tartaruga marinha é a pesca incidental e a segunda é o plástico: “As mudanças são difíceis, mas de pouco em pouco podemos conseguir”. Em todas as praias monitoradas pelo Tamar, ocorrem programas de sensibilização, educação ambiental e valoriza-
ção cultural com moradores locais e a comunidade. Desde1980, o Projeto Tamar protege as tartarugas marinhas no Brasil. A Petrobras é sua patrocinadora oficial. São alvos de suas pesquisas e cuidados cinco espécies que ocorrem no país, todas ameaçadas de extinção: tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-verde (Chelonia mydas), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea). O Tamar protege cerca de 1.100 quilômetros de praias e está presente em 26 localidades, em áreas de alimentação, desova, crescimento e descanso das tartarugas marinhas, no litoral e ilhas oceânicas dos estados da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Já noite, ao deixar o local do encontro, caminhando pela areia da Praia do Forte, um grupo de convidados foi surpreendido pela presença de uma tartaruga que acabara de desovar e voltava tranquila para o mar. Uma cena de arrepiar. Parecia mesmo que ela estava ali para agradecer o esforço Nescau+Tamar. (*) A repórter de Plurale viajou em grupo de jornalistas a convite da Nestlé Brasil. FOTOS DE NÍCIA RIBAS
“Estamos felizes porque uma grande empresa lembrou-se de nós, só existimos porque acreditam na gente”, disse o coordenador nacional do Projeto Tamar, Guy Marcovaldi
As tartarugas agradecem Desde setembro, as tartarugas marinhas estão desovando, em pleno verão, quando as praias ficam lotadas. Por isso, o Projeto Tamar trabalha a todo vapor nessa época do ano, com monitoramento constante
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Pelas Empresas
ISABELLA ARARIPE DIVULGAÇÃO
Comunidade de Jardim Gramacho ganha biblioteca comunitária patrocinada pela Ball
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Ball, maior fabricante de latas para bebidas do mundo, inaugurou mais uma biblioteca comunitária, do projeto Cantos de Leitura. Dessa vez a Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (ACAMJG), em Duque de Caxias, foi a beneficiada pelo projeto. O Cantos de Leitura tem como proposta proporcionar o contato de catadores de material reciclável e de toda a comunidade com a literatura. A biblioteca está situada na sede da própria cooperativa, localizada em um local que ficou conhecido pelo “lixão de Gra-
macho”, que chegou a ser considerado o maior aterro sanitário da América Latina e que foi desativado há seis anos. No espaço, terão mesas e cadeiras de leitura, ambientação lúdica, brinquedos educativos e já começará a funcionar com cerca de 1200 livros, com títulos da literatura brasileira e universal sob o pilar da diversidade e inclusão com edições em braile e audiobooks. O projeto conta com o apoio de Tião Santos (foto), presidente da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho (ACAMJG). Ex-catador do lixão Jardim Gramacho, hoje ele lidera um projeto de conscientização sobre
descarte correto de lixo e reciclagem. “Comemoramos a chegada desse espaço porque entendemos que será uma forma de acesso ao conhecimento, tanto para nossos catadores, que são pessoas entre 30 e 40 anos que pouco tiveram acesso aos livros, como para seus filhos que poderão usar a biblioteca para adquirir conhecimento e fazer pesquisas escolares. “
Coca-Cola Brasil vai levar água potável a 73 mil pessoas em 2019 DIVULGAÇÃO
A aliança Água+ Acesso, liderada pelo Instituto Coca-Cola Brasil, chega ao final de 2018 contribuindo para ampliar o acesso à água segura para cerca de 40 mil pessoas de 100 comunidades em áreas rurais do Brasil. Formada em 2017, a aliança reúne algumas das principais organizações do setor para atuar em soluções inovadoras e modelos autossustentáveis para que este impacto seja efetivo e tenha continuidade. Dentre alguns dos desafios enfrentados em comunidades de áreas rurais em regiões como Nordeste e Norte estão o tratamento de água
salobra, a alta carga de contaminação orgânica, metais pesados, assim como soluções de saneamento ou acesso à energia para bombeamento de água em áreas isoladas unifamiliares. Até o momento, a Coca-Cola já investiu R$ 8 milhões na iniciativa e, até 2020, serão R$ 15 milhões para fomentar projetos de acesso e tratamento de água no Brasil. Atualmente, cerca de 85% dos beneficiados estão no Nordeste e outros 10% na região Norte. Há projetos ainda em Minas Gerais e no Espírito Santo. Ao longo de 2018, o programa ampliou a
atuação de 15 para 100 comunidades e de três para oito estados. O objetivo para o próximo ano é beneficiar mais 33 mil brasileiros, totalizando 73 mil pessoas em 190 comunidades atendidas.
Novotel Rio de Janeiro Praia de Botafogo conquista o Selo Verde da Hotelaria DIVULGAÇÃO
Após a apresentação do projeto Food Waste que, por meio de conscientização dos hóspedes e colaboradores na transformação de sobras em novos produtos, reduziu em 70% o desperdício alimentar, o Novotel Rio de Janeiro Praia de Botafogo, marca midscale da AccorHotels, recebeu o Selo Verde da Associação de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ). A categoria Selo Verde da Premiação da Hotelaria no Rio de Janeiro, da
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ABIH-RJ, reconhece ações realizadas por estabelecimentos hoteleiros ligadas à sustentabilidade e preservação do meio ambiente. O prêmio inclui, ainda, as categorias Ação Social, Empreendedorismo, Expansão Hoteleira. “É uma honra sermos consagrados com este selo que traduz a essência da AccorHo-
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tels. O desperdício de alimentos é uma das principais ações dentro do nosso Programa de Desenvolvimento Sustentável (Planet21), cujas iniciativas visam a mudança comportamental e o consumo consciente”, comenta Larissa Lopes, gerente de Desenvolvimento Sustentável da AccorHotels América do Sul.
Convênio firmado entre Veracel e Universidade Federal do Sul da Bahia é inédito no Brasil DIVULGAÇÃO
Em iniciativa inédita, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e a Veracel Celulose firmam parceria para oferecer assistência técnica para apoiar 252 famílias a cultivar a terra de forma adequada e se organizar para gerar renda numa área de 3.319 hectares, o equivalente a 4.650 campos de futebol. No evento de assinatura do termo de cooperação, que ocorreu no dia 15 de janeiro, estavam presentes autoridades do governo estadual e municipal, além de representantes da empresa, de movimentos sociais, associações de agricultores familiares e da área acadêmica. O valor total do convênio com a UFSB é de R$ 5.100.00,00 (cinco milhões e cem mil reais) e terá duração de cinco anos, com desenvolvimento em etapas. A primeira consistirá em um diagnóstico ambiental e do potencial agrícola das áreas, do perfil socioeconômico das famílias. No segundo
ano, iniciam-se as ações mais efetivas de extensão rural, de planejamento produtivo, de implantação de áreas demonstrativas e uma série de outras iniciativas relacionadas à Francisco Mesquita (E), vice-reitor da UFSB e Andreas Birmoser, formação dos presidente da Veracel comemoram o acordo. agricultores. “É fundamental para a universidade cultores e a empresa - com mediação do promover a troca de conhecimento e apri- governo estadual - foi além do manual emmorar o desenvolvimento da agricultura presarial. “Trabalhamos muito para buscar familiar, tema cujo recursos atualmente uma solução imparcial e equilibrada para estão muito limitados”, complementa ambos os lados. É uma conquista muito Francisco Mesquita, vice-reitor da UFSB. grande, uma contribuição para a transforPara Andreas Birmoser, presidente da Ve- mação e desenvolvimento da região”, disse racel, a construção do acordo entre os agri- Birmoser em seu discurso.
Cerca de 43% dos CEOs brasileiros projetam crescimento de suas empresas em 2019, afirma pesquisa da PwC DIVULGAÇÃO
Executivos no Brasil estão com melhores expectativas em relação ao crescimento de suas empresas nos próximos 12 meses. De acordo com os números da 22ª Pesquisa Global com CEOs da PwC (22st Annual Global CEO Survey), cerca de 43% dos líderes brasileiros acreditam que suas empresas devem crescer ao longo de 2019. Na pesquisa anterior, que considerava o sentimento para 2018, esse índice era de 39% (um aumento de 4 pontos percentuais). Já a média global de CEOs que esperam aumentar o faturamento de suas empresas nos próximos 12 meses é de 35%. Por outro lado, quando perguntados sobre a expectativa para os próximos três anos, 48% dos CEOs brasileiros acreditam que suas companhias devem crescer, ante 54% na pesquisa anterior. Para confirmar o aumento no faturamento de suas empresas, cerca de 91% dos CEOs brasileiros esperam ter crescimento orgânico em 2019, enquanto 89% buscarão aprimorar a eficiência operacional, 76% de-
vem lançar novos produtos e serviços e 57% visam trabalhos conjuntos com empreendedores e startups. As alianças e possíveis joint-ventures estão nos planos de 52% dos líderes brasileiros nos próximos 12 meses e outros 39% devem participar de processos de fusões e aquisições. Apesar da retração econômica dos últimos anos, a pesquisa mostra que o Brasil segue em destaque no cenário global: o país ocupa o sexto lugar entre os países mais citados pelos CEOs globais como possíveis focos de investimentos ao longo de 2019, atrás de EUA, China, Alemanha, Índia e Reino Unido. Entre as principais preocupações dos CEOs locais para o próximo ano, destaque para o crescimento da carga tributária (mencionada por 96%), seguida do excesso de regulação (93%). Fatores políticos seguem como motivo de preocupação: incertezas como o cenário da política nacional foram citadas por 91%, enquanto a instabilidade social representou 89% e o populismo outros
85%. “A retomada do crescimento econômico brasileiro dá sinais de avanços. A pesquisa mostra que o país não saiu do radar internacional para fins de investimentos. O momento exige esforços das empresas para focar em processos disruptivos que mantenham suas organizações em destaque aos olhos do mundo”, afirma Fernando Alves, sócio-presidente da PwC Brasil.
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I m a g e m FOTO DE VINÍCIUS ASSIS, KRUGER SAFARI, ÁFRICA DO SUL
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asseio em família numa manhã nublada de sábado. Parou o trânsito no Kruger Safari. África do Sul, 2018. A foto é do jornalista VINÍCIUS ASSIS , que tem 14 anos de profissão e depois de passar nas principais redações de telejornalismo no Rio de Janeiro está morando em Johannesburgo, onde é correspondente da GloboNews.
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