ano dez | nº 58 | julho / agosto 2017 R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE w w w. p l u r a l e . c o m . b r
CINEMA VERDE, ANDRÉ TRIGUEIRO E ARTIGOS INÉDITOS
ESPECIAL PANTANAL:
CONSERVAÇÃO, TURISMO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CONVIVEM JUNTOS
LUCIANA TANCREDO/ FOTO AÉREA DA RPPN Sesc PANTANAL – MATO GROSSO
CAMINHO DE SANTIAGO DE COMPOSTELA
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E ditorial
Jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale, foi indicada mais uma vez como finalista na categoria Mídia Sustentável do Prêmio Comunique-se 2017.
A repórter Isabel Capaverde esteve no SESC Pantanal (MT) e conta a experiência bemsucedida de 20 anos de convivência pacífica da conservação da biodiversidade com turismo e desenvolvimento local
Tivemos a honra de entregar em mãos a Edição 56 da revista para o Tenor José Carreras no Rio de Janeiro, com matéria sobre o trabalho de sua Fundação para o tratamento e cura da leucemia, reportagem de Maurette Brandt e Guida de Finis
Histórias emocionantes que se entrelaçam: Pantanal, Caminho de Santiago de Compostela e muito mais Gostamos de dar e também de receber boas notícias! Recentemente, Plurale tem sido destaque em vários eventos e premiações. A melhor notícia é que a Editora Sônia Araripe foi novamente indicada como finalista no renomado Prêmio Comunique-se 2017, na categoria Sustentabilidade. “Apenas a indicação como finalista já vale um prêmio”, disse Sônia. A votação sobre os vitoriosos sai em agosto, quando comemoramos 10 anos de trajetória. Outro momento inesquecível foi a oportunidade generosa – alcançada pela jornalista Maurette Brandt e Guida de Finis de entregar, em mãos, exemplar da Edição 56 de Plurale em revista para o tenor José Carreras em sua recente apresentação, em junho, no Rio de Janeiro. Cordial e simpático, Carreras não só nos recebeu no camarim, como fez questão de tirar foto e saber um pouco mais sobre Plurale, que trouxe em destaque o trabalho voluntário do tenor pelo tratamento e cura da leucemia.
Nesta Edição 58, apresentamos o case da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN Sesc Pantanal, no Mato Grosso, que conjuga, há 20 anos, conservação da biodiversidade, turismo e desenvolvimento local. Nossa repórter Isabel Capaverde esteve lá e conta todos os detalhes desta história que se mistura com a nossa: já estivemos outras duas vezes nesta Reserva e compartilhamos ensaio incrível da Editora de Fotografia, Luciana Tancredo. É o começo de uma série que revisita lugares e entrevistados ao longo desta nossa década de trajetória pela mídia sustentável. Do outro lado do planeta, mas com a mesma energia e exuberância, Vivian Simonato relata a peregrinação com o seu pai, Ariston Breda Simonato, pelo Caminho de Santiago de Compostela. Também o repórter Hélio Aguiar foi peregrino, mas pelo Caminho Português e nos apresenta a emoção e fé desta caminhada. Não é só. Temos também artigos inéditos de Giuliana Preziosi
e Dario Menezes e uma entrevista exclusiva com ninguém menor do que o nosso parceiro e guru da mídia sustentável, André Trigueiro. Mais uma vez, um entrelaçado de emoções e histórias: o editor do programa Cidades e Soluções, da GloboNews comemora também 10 anos, como nós. De Minas, o repórter Hélio Rocha revela a pressão para que a Samarco volte a funcionar depois do desastre ambiental de 2015. E sempre destacando que juntos somos mais fortes, apresentamos matéria especial da Amazônia, por Claudia Silva Jacobs, dos parceiros do Projeto Colabora, apresentando os riscos em torno de projeto da mineradora canadense Belo Sun, com fotos espetaculares de André Teixeira. Estivemos também no famoso Festival Internacional de Cinema Ambiental, o FICA 2017, realizado na Cidade de Goiás (GO), terra natal da poetisa Cora Coralina e acompanhamos relevantes eventos sobre clima e sustentabilidade. Boa leitura!
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A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo atua em diversas frentes, tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável das empresas do setor terciário e do Brasil. Com iniciativas internas e externas focadas na sustentabilidade, o Sistema Comércio contribui para a disseminação de boas práticas e para a qualidade de vida da população, buscando conciliar as atividades econômicas com os fatores sociais e ambientais.
Criação: Programação Visual / Assessoria de Comunicação - CNC
Ações de representação, como o Grupo Técnico de Trabalho sobre Meio Ambiente (GTT-MA), geram debates e documentos orientadores sobre gestão socioambiental que ajudam os empresários do nosso segmento.
O Sistema CNC-Sesc-Senac aplica internamente o Programa Ecos, que visa mitigar os impactos socioambientais, otimizar o uso dos recursos das instituições e conscientizar os funcionários.
Por meio do Serviço Social do Comércio (Sesc), administra a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do País, o Sesc Pantanal.
Conheça as ações da CNC e leia nossas publicações sobre o tema:
http://bit.ly/cncambiente https://issuu.com/sistemacnc
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LUCIANA TANCREDO / RPPN SESC PANTANAL
Contexto
24.
Especial Pantanal: conservação, turismo e desenvolvimento local convivem juntos, por Isabel
Capaverde e Luciana Tancredo
HISTÓRIAS PELO MUNDO – HOLY FESTIVAL – ÍNDIA
Bazar ético
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16.
ARTIGOS INÉDITOS:
DIVULGAÇÃO - NANNACAY
por Giuliana Preziosi e Dario Menezes VIVIAN SIMONATO – CAMINHO SANTIAGO DE COMPOSTELA
44.
Caminho de Santiago de Compostela,
Virada Sustentável no Rio
por Vivian
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ANDRÉ TEIXEIRA- PROJETO COLABORA
Ecoturismo, por Isabella Araripe
42 Samarco pode voltar a operar até o fim do ano, por Hélio Rocha
52 Pelas empresas
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Simonato e
hélio araújo
56.
Belo Sun, muitos riscos, poucas respostas, Claudia Silva Jacobs, do Projeto Colabora por
PLURALE EM REVISTA | Julho / Agosto 2017
Quem faz
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: André Trigueiro, Ariston Breda Simonato, Bianca Cesário (Instituto Ethos), Claudia Silva Jacobs e André Teixeira (Projeto Colabora), Dario Menezes, Equipe Virada Sustentável, Giuliana Preziosi, Gustavo Pedro, Hélio Aguiar, Hélio Rocha e Lou Fernandes Prem Indira. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.
Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint
Plurale em Revista foi impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Cartas
cc a a r tr at a s s @@ pp l ul u r ar a l el e . c. c oo mm . b. b r r
“Cara Sônia,
“Querida Sônia Araripe melhor não pode abrir mão do divino e e equipe, que felicidade douma transcendente ou mergulharemos em É sempre grata satisfação receber esta que há oito anos abre espaço ver nossa iniciativa nopublicação desvios e desordens, caos. Aspara justificativas entre empresas, especialistas e a ou à direita jornalismo online como diálogo para autoritarismos à esquerda sociedade, com o objetivo de promover osno Brasil o site Curta Botafogo como a história já nos mostrou bons exemplos de preservação do meio (www.curtabotafogo. e no mundo. Os imprevistos da travessia ambiente. Parabéns a todos os profissionais com) nas páginas daenvolvidos seriam frutos podres uma e votos de uma vidade longa e permanente 57ª edição da Plurale,sustentável celebração Do inovador, do à Pluraleda emmudança? revista.” essa revista tão diversificada, que disruptivo que, novamente, nos remetem traz sempre temas atuais e relevantes, promundo líquido cujas do águas não formam MiguelaoKrigsner – Fundador Grupo Boticário e da Fundação Grupo superficiais movendo reflexões importantes, desde revínculos, apenas conexões Boticário de Preservação da Natureza,dianlações no mercado de trabalho a avanços ampliando assim as intolerâncias Curitiba (PR), por e-mail científicos. Que a revista continue plural e, te até de imigrantes cujas culturas são ao mesmo tempo, única e indispensável! baseadas em tradições seculares como “Em nome da Associação dos Analistas e Parabéns pelo belo trabalho nestes dez no caso dos muçulmanos? Novamente Profissionais de Investimento do Mercado de anos de publicação!” a (Apimec transcendência e o divino Capitais SP), parabenizo todame a parecem Carla Paes Leme, jornalista, Editora fundamental da qualidade equipeparte de Plurale por seus oitos anos de de nossa do Portal Curta Botafogo, por e- atividades travessia. Sem eles,pela apenas com euma e, acima de tudo, seriedade qualidade do materialista serviço prestado à sociedade, -mail, do Rio de Janeiro visão ou científica das coisas e ao tratar temas tão relevantes quanto dodemundo estaremos condenados à deriva e meio abraço” ambiente. Que “Querida Sônia Araripe e toda equipe dasustentabilidade eterna. Grande venham muitos outros anos!” Plurale, nossos mais sinceros agradeLuiz Antônio Gaulia, consultor em Ricardo Tadeu Martins , Presidente cementos à matéria feita sobre o Ateliê da Apimec Comunicação, pelo(SP), site,por do Rio de SP, São Paulo Oriente. Para nós, uma honra poder fazere-mailJaneiro parte de uma revista que sempre está à a natureza da Serra Cipó , frente, trazendo histórias de grande rele-“Deslumbrante “Caro Luiz, Obrigado pelodo comentário. A retratada pela Ana Cecília e Artur Vidaurre, na incomvância para a sociedade.” fluidez dos tempos líquidos é, sim, 49 desta prestigiosa revista que Ana Luiza Prudente. Fundadora doediçãopatível com a criação de vínculos sustentárecentemente conheci. Parabéns à toda Site Muda Tudo veis no longo prazo. Daí eu enfatizar a naequipe de Plurale! Como mineiro nunca havia das soluções ao dado atureza devidatransitória importância, apesar de ter surgidas visto “Excelente reflexão em artigo da Edição falar 57 emlongo Nem todo imprevisto, aulasda de transição. geografia nos anos 60 sobre de Plurale em revista. “Os brasileiros lidam porém, é fruto podre da transição. esse parque ambiental; como temos belezas Alguns emas nosso país e desconhecemos, mal com a igualdade”, não há afirmativanaturaissão sementes do novo, que contribuique estáformar sendo as resgatada por esta mais correta. Em uma cultura em que assituação rão para novas sociedades nas revista dedicada ao meio ambiente e ecologia. pessoas estão sempre preocupadas em quais desaguará a transição. Um abraço” Parabéns por abraçarem tão nobre missão e se dar bem, em levar vantagem, como esSérgio Abranches, cientista político pelos 8 anos de edição e sucesso. Agradecido perar um comportamento igualitário ou de e social, site, ”do Rio de Janeiro por vislumbrar tão pelo bela revista. preocupação com o bem coletivo? Mudar o comportamento de uma sociedade é oBenedito “Gostei da engenheiro, Edição 57 de São Plurale em Ari muito Lisboa, trabalho muito profundo que passa, como revista, em especial da matéria José dos Campos (SP), por e-mail sobre a Liliana bem afirmou, pela educação, direito Uberização do trabalho, por Ricardo MaSpiller tornou-se a “embaixadora” da do qual nós brasileiros carecemos muito.“Letíciachado, da IHU On-Line. Parabéns! campanha Desmatamento Zero, do Parabéns, pelo ótimo texto!” Cristina Amaral, jornalista, por eGreenpeace Brasil. Em entrevista na Edição Juliana Leite, assessora de impren-mail, do Rio de Janeiro 50 de Plurale em revista, comemorativa de sa, pelo site, do Rio de Janeiro oito anos, a atriz revelou que sua preocupação Sonia, recebi a última com as“Querida causas ambientais é antiga. Ela e edição da “Muito interessante a entrevista com o outras Plurale. minhao filha, Fernanda, atrizes e Sabe atores que falamasobre engajamento nasda causas sociais citada e ambientais. Professor Sérgio Abranches, na Edição 57 é amiga Ana Petrik, na coluna Parabéns à querida Sônia Araripe e equipe de Plurale em revista. Diante de Zigmunt Bazar Ético? Amei o ensaio fotográfico da e pelos oito anos de Plurale!” Baumann e seu mundo líquido, me per- pela matéria Luciana Tancredo, assim como a matéria Anna Maria Ramalho, jornalista, do e Rio gunto se tamanha fluidez não é incompada Nícia Ribas sobre Amsterdã a história de Janeiro (RJ), por e-mail tível com a sustentabilidade e a criação da cientista brasileira que está entre as de vínculos no longo prazo? Vínculos e 100 pessoas mais influentes do mundo. “Sônia: viva, amiga querida! Eu sei que não é transcendência são fundamentais para, fácil; parabéns, Parabéns para a equipe!” para vocêtoda e todos os que fazem na minha opinião, termos uma jornada essa bela Mônica revista! ACotta, matériaassessora dos oito anos de é imprende qualidade. A utopia de um mundo antológica, sa, histórica; por e-mail, do Rio de Janeiro fiquei orgulhoso de me ver
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Entrevista
ANDRÉ TRIGUEIRO, JORNALISTA, SOBRE O LIVRO QUE ABORDA OS 10 ANOS DO PROGRAMA “CIDADES E SOLUÇÕES” ODERVAN SANTIAGO- DIVULGAÇÃO
Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista
O
Fotos de Divulgação
s principais temas sobre sustentabilidade nos últimos 10 anos foram apresentados na tela do programa “Cidades e Soluções”, apresentado na GloboNews pelo jornalista André Trigueiro. Clima, água, energia, a questão do lixo e reciclagem, acidentes como o que soterrou dois distritos de Mariana (MG) pela mineradora Samarco (o maior da história da América Latina) e tantos outros assuntos tiveram destaque na abordagem desta que é uma das principais mídias no segmento. Nesta entrevista exclusiva para Plurale, André Trigueiro conta que a ideia surgiu a partir da observação de sua mulher, Cláudia, ao perceber o legado importante que deveria ser eternizado em livro. Na agradável conversa, o colega jornalista seleciona algumas das reportagens que mais ficaram marcadas em sua memória nesta década. “A virada energética da Alemanha (2013), a guerra contra a poluição do ar na China (2014) e o terrível desastre de Mariana (2015) foram as reportagens mais marcantes que fiz.” Conta também sobre o privilégio de ter entrevistado alguns dos principais pensadores e âncoras do movimento sustentável neste período, como Noam Chomsky, Vandana Shiva, Al Gore, Jeffrey Sachs, entre outros, permitindo “semear” o que chama de ecodicas para os espectadores.
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Super premiado, sem jamais perder o foco na simplicidade, o jornalista conta que tem uma identificação espiritual com o tema sustentabilidade. E,
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apesar de 30 anos na atividade, ainda se sente “um aprendiz diante de tanto conhecimento, tanta informação relevante. É um universo apaixonante.”
Tivemos a sorte de sermos testemunha ocular da trajetória profissional de André: começamos praticamente na mesma época, ele pela Rádio Jornal do Brasil, eu na redação da Economia do Jornal do Brasil. Curiosamente, também a nossa Plurale completa 10 anos agora, em setembro de 2017. Orgulho de trilharmos e militarmos a mesma busca pela migração para a economia de baixo carbono. Otimista, assegura que “as soluções existem”. André Trigueiro dispensa apresentações, mas destacamos um resumo de sua relevante carreira. Trigueiro é jornalista com pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ (onde leciona a disciplina Geopolítica Ambiental), professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC-Rio. É editor-chefe do Cidades e Soluções da GloboNews e repórter da TV Globo. Atua ainda como comentarista da rádio CBN, colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro e da Rádio Boa Nova, articulista da Folha de S. Paulo e do portal G1. É autor dos livros Mundo Sustentável: Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em Transformação, Mundo Sustentável 2: Novos Rumos para um Planeta em Crise e coordenador editorial e coautor de Meio Ambiente no Século 21. Escreveu também Viver É a Melhor Opção: A Prevenção do Suicídio no Brasil e no Mundo e Espiritismo e Ecologia. Confira a entrevista. Plurale - Como surgiu a ideia do livro? Como fizeram o “garimpo” para selecionar os principais temas, já que o programa ao longo destes 10 anos apresentou um sem número de reportagens e abordagens as mais variadas? André Trigueiro - Foi ideia da minha mulher. Claudia é telespectadora assídua do Cidades e Soluções e achou que esses 10 anos de existência (mais de 400 programas exibidos e 24 prêmios conquistados) constituíam um legado importante que deveria ser eternizado num livro. Mas a obra não é simplesmente uma
coletânea dos melhores programas. A seleção que fizemos justificou uma atualização dos dados e novos conteúdos que foram adicionados à obra. Compartilhamos ainda “ecodicas”, histórias deliciosas sobre os bastidores das gravações e um resumo das entrevistas que fizemos com alguns pensadores ilustres como Noam Chomsky, Vandana Shiva, Al Gore, Jeffrey Sachs, entre outros. O resultado é espetacular. Plurale - Você vem de uma longa trajetória como jornalista, à qual tivemos o privilégio de acompanhar, desde os tempos da Rádio Jornal do Brasil. Se encontrou na TV não só no telejornalismo do noticiário diário, mas, especialmente, como especialista em Sustentabilidade. Como foi desbravar e assegurar este espaço na GloboNews? Trigueiro - Não planejei essa trajetória. Ela vem acontecendo, e devo dizer que nada me foi dado de bandeja. Tenho orgulho de olhar para trás e perceber que fui conquistando a confiança das pessoas próximas a partir do meu trabalho. Tenho uma identificação espiritual com o tema da sustentabilidade e fui buscar uma formação fora do jornalismo para entender melhor a complexidade desse assunto que se renova a cada dia. O incrível é que já estou nessa há quase 30 anos e me sinto um aprendiz diante de tanto conhecimento, tanta informação relevante. É um universo apaixonante. Plurale - O público passou a acompanhar e gostar deste tema em uma década? Deixou de ser um tema para “os iniciados/ os mesmos”? Trigueiro - Sem dúvida. Se ainda estamos na grade da GloboNews (com reprises no Canal Futura e presentes no acervo de vídeos do Museu do Amanhã) é porque esse tema vem crescendo em importância e interesse. A evolução do conhecimento na área da sustentabilidade vem determinando mudança de
hábitos, comportamentos, estilos de vida e padrões de consumo. Em 10 anos há mais gente preocupada em economizar água e energia, andar de bicicleta nas cidades, consumir com moderação, priorizar alimentos orgânicos, reciclar o lixo, etc. É um processo que avança lenta e progressivamente. Trata-se de uma nova cultura, e não se muda cultura por decreto ou medida provisória. É devagar mesmo. Mas não tem volta. Plurale - Há um efeito cada vez mais multiplicador - pessoas, ongs e empresas replicando as boas soluções apresentadas pelo programa? Trigueiro - Já inspiramos projetos de Lei em Brasília, políticas públicas no Ministério do Meio Ambiente, novos modelos construtivos, aulas em escolas e universidades...A lista é longa, mas evito compartilhar os detalhes porque poderiam confundir isso com exibicionismo. O que me importa é ser útil para alguém. O jornalismo precisa ser útil. Num mundo que experimenta uma crise ambiental sem precedentes na História da Humanidade, as soluções se tornam ainda mais urgentes e preciosas. Plurale - O mercado publicitário
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Entrevista
A jornalista Sônia Araripe realizou esta entrevista e marcou presença no lançamento do livro de André Trigueiro, no Rio
passou realmente a entender a relevância da mídia sustentável? Trigueiro - Quem patrocina as mídias antenadas com sustentabilidade descobre rápido que está posicionando a marca no lugar onde estão a esperança, a verdadeira prosperidade, o prazer de viver num planeta em equilíbrio. Cresce o interesse das pessoas em saber como transformar o mundo num lugar melhor e mais justo. Isso passa pela sustentabilidade. São muitas as mídias que realizam a nobre missão de reportar os caminhos de um estilo de vida mais sustentável, e há patrocinadores atentos a isso. Mas eles podem ser mais numerosos. A hora de apoiar é essa. Plurale - Qual foi a reportagem que mais te marcou ao longo destes 10 anos? A tragédia de Mariana? Trigueiro - A virada energética
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da Alemanha (2013), a guerra contra a poluição do ar na China (2014) e o terrível desastre de Mariana (2015) foram as reportagens mais marcantes que fiz. Mas tive o privilégio de acompanhar de perto tantos movimentos curiosos e inovadores...Difícil resumir 10 anos numa resposta. Plurale - E qual foi, por outro lado, o programa que gerou maior audiência/retorno do público ao longo destes anos do ponto-de-vista positivo, de multiplicação? Trigueiro - Os programas que mostram soluções caseiras para o lixo (reciclagem, criação de minhocas, composteiras, etc.) são invariavelmente inspiradores para muita gente. Certa vez mostramos um programa sobre plantas que limpam o ar de casa ou do escritório que também “bombou”. Outro pro-
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grama que foi muito bem avaliado mostrou como tratar o esgoto das cidades usando plantas da Bacia do rio Nilo, sem adicionar produtos químicos ou gastar energia. Tudo isso funciona muito bem e inspira as pessoas. Plurale - Em 10 anos, muitos fatos e mudanças marcaram a área socioambiental - no Brasil e no mundo. Como a Rio + 20; a questão do clima; a crise da água; investimentos fortes no Brasil em energia renovável; avanços nas cidades e também em empresas em ações realmente sustentáveis e por aí vai. O Cidades e Soluções registrou estas mudanças. O que você imagina que ainda virá pela frente? Quais são as tendências dos próximos 10 anos? Trigueiro - Uma estrondosa revolução energética que vai surpreender muita gente, e que deverá produzir terríveis estragos nos setores da economia ainda fortemente vinculados aos combustíveis fósseis. A capacidade de estocar em baterias inteligentes a energia do sol ou do vento é a bola da vez. A Tesla deu o pontapé inicial com a Powerpack e a Powerwall. Uma corrida tecnológica mobiliza países como Estados Unidos, China e Alemanha. O mundo será bem diferente a partir dessas inovações. Outra mudança importante será a universalização da água de reuso. Beber água tratada de esgoto será algo comum. Isso já acontece nos Estados Unidos, Namíbia e Cingapura. Eu bebi e não senti nenhuma diferença (rs). Plurale - Que recado você gostaria de deixar para o seu público? Trigueiro - Todas as crises trazem lições valiosíssimas. Não tenho dúvida alguma de que a informação acelera processo na direção de uma nova consciência, mais ética e sustentável. O jornalismo também serve para isso, inspirar as mudanças que precisam ter lugar no mundo em favor da coletividade. Este livro foi escrito com esse objetivo. As soluções existem. Quanto mais gente souber disso, melhor.
Inscrições até 03 de agosto
“
O coroamento de um trabalho inovador
“Receber o Prêmio Aberje pelo Projeto Nossa casa tem Fibria foi o coroamento de um trabalho feito em equipe. Para nós da área de comunicação, o reconhecimento da Aberje atesta que as nossas estratégias estão em consonância com as melhores práticas de comunicação do Brasil, valorizando e fortalecendo a importância estratégica da comunicação nas organizações.
”
A chegada do troféu à empresa foi como a chegada de um maratonista à linha de chegada de um corrida: um misto de orgulho e de motivação para fazer cada vez mais.”
PEDRO MORAES TORRES PINTO Vencedor da Etapa Brasil na Categoria Comunicação e Relacionamento com a Sociedade do Prêmio Aberje 2016
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M Ú S I C A • T E AT R O • DA N Ç A • C I R C O • A R T E S V I S UA I S • AU D I O V I S UA L • L I T E R AT U R A
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ARTE NO SOM, NO AR PARA MULTIPLICAR-TE. Considerado o maior evento cultural multilinguagem do Brasil, o Festival Sesc de Inverno – em sua 16ª edição – se inspira nos múltiplos universos da Tropicália, trazendo uma reflexão sobre os 50 anos do movimento e sua influência na criação contemporânea. São mais de 950 horas de programação cultural, que envolve 480 artistas e contempla mais de 130 atrações. Uma explosão de arte que vai multiplicar sua visão de mundo.
www.sescrio.org.br
Colunista Dario Menezes
A COMPREENSÃO DOS JOVENS SOBRE ESSA TAL SUSTENTABILIDADE SHUTTERSTOCK
“Eu tenho pressa Tanta coisa me interessa Mas nada tanto assim” Kid Abelha – Nada tanto assim
C
omo professor eu sempre tive a curiosidade de entender o alcance das minhas aulas sobre sustentabilidade. Entender se de fato estou conseguindo fazer os jovens terem compreensão da relevância, alcance e magnitude do tema para o nosso futuro comum e para as suas iniciativas de empreendimento. Ao longo dos meus quase 10 anos como mestre, pude constatar que quando falamos sobre sustentabilidade existem geralmente três grupos bem distintos de alunos: (i) os que já tem contato com o tema, praticam atitudes sustentáveis e defendem o tema, (ii) os que ainda não conhecem do tema e portanto tem curiosidade sobre o tema e dúvidas naturais da sua aplicabilidade e dos fatos relacionados aos temas e (iii) os céticos que expressam a sua desconfiança sobre o poder do dinheiro fazer valer a sua força sobre todas as decisões. E aqui cabe uma reflexão: eu particularmente acredito que ninguém nasça cético. Infelizmente, o ceticismo é resultado direto de um sistema de ensino básico e de nível médio ineficientes no tocante as discussões sobre sustentabilidade, fazendo com que o aluno não tenha formado a sua consciência sobre o tema. Simples assim. Voltando aos grupos listados acima, confesso que tenho conseguido (a) não decepcionar os apaixonados, fazendo eles entenderem mais sobre o tema, (b) conscientizar a maioria dos que ainda não
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conheciam sobre o tema, levando a eles conhecimento, perspectivas e alternativas e (c) pelo menos fazer os céticos entenderem que existem outros valores na nossa vida além do dinheiro. Esse resultado tem me feito feliz e prazeroso da minha atividade. Mas uma dúvida sempre persistiu: e como será a avaliação, conhecimento e consciência dos demais jovens sobre essa tal da sustentabilidade? Dos que não tem a mesma oportunidade de aprender sobre o tema? E aí como diz a música mencionada acima, dentro das diversas frentes de conhecimento que eu tenho para mim, nada é tão importante quanto entender o olhar, o pensar, o compreender do jovem sobre o tema sustentabilidade. Bem para melhor entendimento do tema, junto com a minha turma de sétimo período de graduação de Jornalismo, arregaçamos a luta e fomos a campo. Apresentados aos poucos, aos diversos conceitos que compõem a sustentabilidade, os alunos perceberam a falta de conhecimento prévio do grupo àquele respeito e, surpresos com o fato de não saberem muito sobre esse assunto, cuja relevância social é tão grande, decidiram realizar uma pesquisa, para verificar a hipótese de que, fora do ambiente acadêmico avançado ou do ambiente corporativo, as pessoas têm pouco ou nenhum contato com informações sobre a sustentabilidade. A pesquisa foi aplicada entre em Maio deste ano, e recebeu 150 consideradas válidas, dentro dos filtros pré-estabelecidos
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para o estudo. A conclusão da análise fundamenta a teoria dos alunos: o público jovem conhece pouco sobre sustentabilidade. Sustentados por noções gerais sobre o assunto, os alunos reproduziam um discurso pouco específico e baseado em estereótipos, por pura falta de familiaridade com o tema. Por exemplo quase 80% dos entrevistados não estavam familiarizados com o conceito do Triple Bottom Line, também chamado de Três “Ps” (people, planet and profit - pessoas, planeta e lucro, em tradução livre), formulado na década de 80 pelo consultor e sociólogo John Elkington. Para 80% dos entrevistados, o conceito de sustentabilidade significa apenas “desenvolverem hábitos de consumo mais conscientes”, e 78% dos entrevistados acreditam que “consumir produtos que não agridem o meio ambiente e a saúde humana” são a melhor definição de consumo sustentável. Além disso, o estudo também mostrou o que os jovens compreendem como hábitos sustentáveis, o uso de transporte público, a redução de consumo, reciclagem e separação de resíduos. O resultado da análise das respostas evidencia a falta de educação prévia e de veiculação de informações sobre um tema cuja importância remete à sobrevivência, não apenas dos seres humanos, mas de todos os ecossistemas que dependem do planeta. Muitas empresas adotam um discurso
de postura sustentável e/ou demonstram preocupações em se adaptar aos padrões internacionais de sustentabilidade, mas a sensação de incoerência entre o discurso de responsabilidade social das marcas e as práticas de fato adotadas por elas foi de incríveis 60% entre os entrevistados, o que indica uma descrença na aplicabilidade das práticas sustentáveis e o descrédito dos discursos corporativos. Outro dado bastante significativo: 90,7% disseram que deixariam de utilizar os serviços e/ou consumir os produtos de uma marca caso soubesse que a empresa pratica algum tipo de exploração dos trabalhadores. Em contraponto, 38% dos entrevistados não se consideram consumidores conscientes, ou seja, não levam em conta a postura das marcas em relação à saúde humana e ambiental e às relações justas de trabalho, no momento da escolha de produtos e serviços. Voltamos nesse ponto a questão do sistema de ensino falho que não está formando devidamente os nossos futuros líderes sobre as questões essenciais de sustentabilidade. Os que responderam recusar o consumo ou a utilização de serviços de marcas que ferem práticas da sustentabilidade indicaram os seguintes motivos para esta atitude: utilização de mão de obra escrava, extração de recursos naturais em áreas preservadas, uso de animais para testes químicos e utilização de produtos não recicláveis. A pesquisa quis saber sobre a percepção das empresas pelos jovens. Para eles, as que que mantém práticas sustentáveis são: em primeiro lugar, a Natura; em segundo, a Coca-Cola; em terceiro, O Boticário; o quarto lugar ficou empatado
entre as empresas Itaú, a Ipê, Bioderm, Lolla Cosmetics e a Avon e, o quinto lugar ficou com a Nestlé. Nesta classificação, nota-se uma divergência na percepção sobre a imagem das empresas e o posicionamento pessoal frente às práticas das corporações revela uma boa intenção dos 90% que dizem se importar com as práticas trabalhistas das empresas, mas, em contradição há 38% que se consideram “consumidores inconscientes”. A confusão trazida nas respostas, evidencia falta de educação, conscientização e de conhecimento sobre o que é sustentabilidade, de modo geral Além da relação com as empresas, a pesquisa buscou compreender posturas individuais, como a preocupação com descarte apropriado do lixo. Mais da metade dos entrevistados (56%) não procuram locais adequados para o tratamento de lixo. No entanto, os que demonstraram preocupação com o descarte, afirmaram que apenas de um a três
fabricantes dos produtos que consomem viabilizam retorno ou fornecem orientação sobre o descarte apropriado e apenas 10% disseram conhecer mais de seis fabricantes que praticam esta ação. Pensando no universo de marcas que gravitam ao redor dos jovens, esse resultado de apenas um a três fabricantes é desalentador. Desta forma, embora o debate sobre sustentabilidade tenha aumentado nos últimos anos, há um claro lapso de compreensão sobre o tema e pouco esclarecimento por parte das grandes mídias e do governo. A sustentabilidade não pode ser vista como uma prática inalcançável, quando, sem ela, nos colocamos no papel causadores de externalidades sem criação de medidas de contenção dos efeitos provocados. Junto com Plurale, estamos planejando outras pesquisas para o segundo semestre de 2017. Vamos à luta visto que o tema nos interessa como professores e cidadãos conscientes. (*) Dario Menezes (dario.menezes@ ig.com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. Tem mestrado em Administração e é professor da Fundação Dom Cabral, Fundação Getúlio Vargas e IBMEC. Atuou como Diretor de Novos Negócios do Reputation Institute além da experiência executiva na área de Marketing na VARIG e na Vale. Consultor de empresas e palestrante. Mais infos - http://performancesustentavel.com/
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Colunista Giuliana Preziosi
UM ANO DEPOIS DE UMA VOLTA AO MUNDO
FOTOS DO SITE HISTÓRIAS PELO MUNDO
Em Ubud, Indonésia
Em Nara, Japão
E
se pudesse viajar pelo mundo por quase dois anos passando por diferentes países, buscando histórias e exemplos de quem faz a diferença, encarando realidades distintas, aprendendo com a pobreza e com a riqueza e enfrentando frente a frente as questões socioambientais que desafiam o Planeta em que vivemos? Esse era o dilema que passava pela minha cabeça em 2014 quando tomei uma das decisões mais difíceis da minha vida ao sair de um emprego que eu adorava e tinha uma carreira promissora, trabalhando com sustentabilidade há mais de 10 anos. Foi ali que surgiu o projeto Histórias pelo Mundo, uma viagem de 530 dias pelo mundo com um objetivo muito simples: entender o mundo em que vivemos. Inocente eu em achar que teria uma resposta fácil para uma questão tão complexa como esta. Mas ter a oportunidade de conhecer pessoas, experimentar novas culturas, passar por situações contraditórias, ora ameaçada pela escassez ora regida pela abundância, e aprender sobre realidades que nos fazem sair da nossa zona de conforto, foi sim a experiência mais incrível da minha vida. Faz um ano que voltei para o Brasil. A volta de qualquer viagem é sempre regada
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de muitas emoções. Para mim a saudades se misturou à angustia de um novo recomeço e ao espanto de um país em crise e quase à beira do caos. A sensação de que o tempo voa, naquele momento era explicada pela velocidade dos meus pensamentos quando me dava conta de tudo o que aconteceu em quase dois anos de viagem. Era como se eu estivesse dentro de um filme e voltava para vida real. Imagina o Neil descobrindo que a Matrix era só um sonho ou Peter Pan voltando definitivamente da Terra do Nunca. Um momento fácil de se perder e mergulhar em dúvidas, mas também uma fase de mudanças e redescobertas. Foi neste momento que eu me dei conta de quanto o mundo tem a nos ensinar. Somos apenas 7 bilhões de pessoas em um único planeta dentro de um universo com 100 trilhões de galáxias, segundo estudo da Astrophysical Journal. E o principal problema é que a gente acha que o “meu” é sempre o mais importante do que o “seu”. Queria eu um dia poder viajar pela galáxia, mas por enquanto fiquei pelo Planeta Terra mesmo. Viajar assim fez com que me desprendesse do meu “eu” e entendesse um pouco mais o “outro”. Foi viajando que eu descobri um novo sentido para a palavra “nosso”.
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Pensando neste Planeta tão singular em que vivemos, uma vez me perguntaram quais seriam as características comuns que eu destacaria entre todos os povos que conheci, independente de religião, raça, idade, local. Algo como o que de fato nos une quando falamos em humanidade. Posso não ter as soluções para os complexos problemas que enfrentamos ou as ideias que precisamos para resolver dilemas em um mundo à beira de um colapso de valores e quebras de paradigmas, mas, depois de viajar por tanto tempo descobri características que alimentam a esperança em acreditar que ser humano pode ser menos “eu” e mais “nosso”. A primeira característica é a Fé. Conheci budistas, hinduístas, mulçumanos, islamistas, católicos, evangélicos, ou seja, praticantes das mais diferentes religiões. Em todas elas o que predomina é a fé. Isso é tão forte que algumas cidades criaram templos dedicados a todas as religiões, são ambientes sagrados de adoração a Deus, qualquer que seja Ele. Em Nova Deli, na Índia, conheci o Bahai Lotus Temple, um templo lindo e impressionante com uma arquitetura no formato de uma flor de lótus. Lá o objetivo é exatamente esse, um templo da fé, para qualquer que seja o seu Deus.
Em Nova Déli, Índia
Na Tailândia, em Chiang Rai, o chamado Templo Branco desperta interesse justamente pela sua diversidade. A exótica mistura de personagens da ficção dos filmes americanos, desde Batman à Harry Porter, que decoram o jardim se mistura com uma sala de espelhos, um teto pintado de céu e ensinamentos budistas . Construído em 1997 foi criado por um artista tailandês que queria representar o céu e o inferno em sua obra. Independente de estar ligado ao budismo, o lugar atrai pessoas pela sua originalidade. A fé tem o poder de nos unir como humanos, na crença de algo além deste plano e, principalmente, na esperança de um mundo melhor, independente de religião. A segunda característica é a solidariedade. Mesmo em meio a escassez de recursos, as pessoas se ajudam, seja para carregar um balde de água ou para dar alimento ao seu vizinho. Nos países mais pobres percebi um senso de comunidade que me surpreendeu, as pessoas que tem situações semelhantes de carência acabam se reunindo para ter acesso aos recursos básicos porque juntos são mais fortes para enfrentar os problemas. Conheci famílias no Quênia e em Uganda com um senso de coletividade extremamente superior à maioria que vive em cidades grandes. Pessoas andando mais de 6 ou 7 quilômetros carregando baldes de água na cabeça, não para serem usados em suas casas exclusivamente mas para encher o poço do vilarejo. O ser humano é egoísta para muitas coisas, mas numa situação de emergência ele se sensibiliza e se mobiliza para ajudar aquele que mais precisa. E, por fim, a terceira característica é a esperança no amanhã. Mesmo com todas as catástrofes e desastres que têm ocorrido em nosso Planeta, e olha que não são poucas, as pessoas em geral têm esperança em um futuro melhor, por mais difícil que isso
possa parecer. Saí do Nepal dois dias antes do terremoto que destruiu o país em 2015, foi a primeira vez que vivi o sentimento da perda pelo “nosso”. Pessoas que eu mal conhecia, mas que eu tinha conversado, ou que tinham gentilmente me abrigado em suas casas, crianças que passei a tarde brincando, poderiam não existir mais. Lugares onde eu tinha tirado fotos há dois dias, estavam destruídos. Diferente de quando perdemos alguém da família é a perda pela coletividade. Mas, depois de ouvir histórias de reconstrução e mobilização social em prol de uma vida digna, a superação dos nepaleses me mostrou que problemas também vêm acompanhados de oportunidades. Ao chegar em Samoa, no meio do oceano Pacífico, o jornal estampava a manchete “Ciclone a caminho”, por um momento a tensão tomou conta e minha preocupação era encontrar um local seguro para passar aquela noite. Olhava a estrutura do hotel fazendo suposições mentais do que poderia acontecer sem nenhuma expertise técnica sobre o que meus pensamentos me mostravam. Ao ver população se mobilizando para superar esse desafio e
conversando com as pessoas da região que de alguma forma estavam acostumadas a passar por aquilo, a tranquilidade veio e a certeza de que juntos passaríamos pelo ciclone me trouxe conforto e coragem de enfrentar a noite chuvosa e barulhenta que tive pela frente. No dia seguinte, após a passagem do ciclone a população se reunia nas diversas igrejas espalhadas pela ilha para a tradicional missa de domingo enquanto agentes do governo limpavam as estradas e desbloqueavam caminhos que haviam sido interrompidos pela força da chuva. A esperança é a chama que precisamos manter acesa porque seu poder é necessário para enfrentarmos as mudanças que estão por vir. Se esta chama um dia se apagar será o fim de tudo. Hoje tenho clara a minha missão, o mundo me ensinou que não adianta reclamar dos problemas ao nosso redor e ficar no sofá assistindo as notícias do dia a dia sem fazer nada. É fácil ser pessimista e dizer que o mundo vai acabar um dia, o difícil é ser otimista e lutar para mudar as coisas que nos incomodam. (*) Giuliana Preziosi (giuliana@preziosi.com.br) trabalha com Responsabilidade Socioambiental e Sustentabilidade há mais de 13 anos. Formada em Comunicação Social, tem especialização em Planejamento Estratégico pela Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA) e MBA em Gestão da Sustentabilidade pela FGV. Trabalhou na Arno e Bradesco. É palestrante no tema. Saiba mais em www. Holy Festival, Índia
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Pelo Brasil Iniciativas empresariais para prevenir mudanças climáticas são apresentadas na Conferência Ethos DIVULGAÇÃO – INSTITUTO ETHOS
Por Bianca Cesário, do Instituto Ethos
A Conferência Ethos 2017 no Rio de Janeiro, realizada em 1º de junho, discutiu as diversas temáticas transversais ao desenvolvimento sustentável, entre eles as mudanças climáticas. Na mesa, “As empresas e a adaptação à mudança do clima: inovação nas práticas empresariais”, oferecida pela Coca-Cola, empresas discutiram seu papel nas mudanças climáticas e como projetos inovadores, incluindo sua cadeia de valor, propõe novos olhares sob a questão. Ao início da mesa, o climatologista Carlos Nobre deu um parecer amplo sobre a realidade brasileira frente às mudanças climáticas e à que tipo de mudanças e riscos o país está suscetível e destacou que o caminho para reduzir radicalmente as causas do aquecimento global é a redução da emissão dos gases do efeito estufa. Entre as consequências do aquecimento global para o Brasil estão o aumento do nível dos mares e as cidades litorâneas brasileiras; o abastecimento de água e a produção agrícola. “São muitos os desafios brasileiros frente às mudanças climáticas, entre eles o desaparecimento da vila olímpica construída, no Rio de Janeiro para as Olimpíadas, devido ao aumento do nível dos mares. A produção de soja no cerrado brasileiro também está ameaçada por conta do aumento da temperatura. Com temperaturas mais elevadas, a produtividade cai e pode vir a se tornar inviável”. O pesquisador do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas observou que o Brasil vinha diminuindo a emissão de gases do efeito estufa, mas voltou a crescer no último ano e complementa “não podemos ficar parados esperando que os governos tomem medidas para diminuir as emissões. É preciso uma ação urgente, em especial quanto a tomada de consciência das empresas neste papel”.
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Os caminhos possíveis para reduzir o avanço das mudanças climáticas são muitos e Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem compartilhou o caminho percorrido pela organização para avançar de políticas de mitigação, para políticas de adaptação. “Percebemos que as políticas de mitigação não eram suficientes e para entender os outros caminhos possíveis de atuação procuramos especialistas no tema para avaliar os riscos e oportunidades existentes no nosso negócio em relação às mudanças”. Entre as ações desenvolvidas pela empresa está a de tratamento e prevenção de perda da água e o mapeamento, acompanhamento e redução das emissões de gases em seus processos. “A chave de virada foi a percepção de como as mudanças climáticas podem impactar os negócios de maneira negativa, o que pode causar prejuízos na entrega de produtos aos nossos clientes ”. Soto avalia que um dos maiores aprendizados deste processo é que as ações devem ser coletivas, feitas em conjunto com o objetivo de alcançar resultados em escala para que as empresas e a sociedade possam superar este desafio. Sobre as possibilidades de criação de alternativas para as mudanças climáticas nas empresas, Flavia Neves, gerente de sustentabilidade e valor com-
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partilhado da Coca-Cola Brasil, relatou a experiência da companhia neste caminho. “Nós nos perguntamos, é possível alinhar os interesses do business, com os interesses da sociedade? E entendemos que sim, é possível. No nosso novo modelo de valor compartilhado, os problemas da sociedade são foco de ação da empresa. Não focamos mais em projetos isolado é necessário ter um esforço coletivo dos diferentes setores da sociedade”, apresentou Neves. Com isso Neves compartilhou que as ações começaram com mitigação e depois partiram para a adaptação às mudanças climáticas, por entenderem que apenas a mitigação não era suficiente. Um exemplo apresentado foi a ação com a água, que está no core do trabalho da empresa e pode ser afetado pelas mudanças. A Coca-Cola atuou em diversas frentes no projeto Água Mais, que tem três pilares: mais eficiência, mais preservação, mais acesso. Entre as ações está a diminuição do uso da água nos processos de produção e o investimento em iniciativas que promovem acesso à água de qualidade. “Nosso desafio agora é engajar ainda mais a nossa cadeia de valor, em especial nossos fornecedores, nos processos e projetos de adaptação às mudanças”, finalizou a gerente de sustentabilidade e valor compartilhado da Coca-Cola Brasil.
DIVULGAÇÃO – FIRJAN
Alternativas para redução de desperdício e consumo consciente de recursos naturais são debatidos em seminário na FIRJAN Do Rio
Reduzir a poluição e o consumo de recursos naturais, eliminando sistematicamente o desperdício, é algo cada vez mais essencial às empresas. Para debater alternativas neste sentido, levando em conta ferramentas de gestão, o Seminário FIRJAN de Ação Ambiental reuniu, em 6 e 7 de junho, especialistas e empresários de diversas áreas. A gestão lean – filosofia focada na redução de sete tipos de desperdício: superprodução, tempo de espera, transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e defeitos - foi tema de uma das discussões. Ricardo Guadanim, presidente da D&C Móveis Planejados, falou sobre como a ferramenta contribui para a competitividade do seu negócio e para a redução da geração de resíduos. “Trabalhamos com produção puxada, ou seja, temos zero de es-
toque em processo e em produto pronto, guardamos só matéria-prima. Só produzimos quando fechamos a venda com o cliente”. O empresário destacou que, com as sobras de produção dos móveis, acabou encontrando um segundo negócio: ele vende os pequenos pedaços de madeira para uma outra empresa, que os utiliza como matéria-prima para a produção de pufes. “Somos concorrentes, mas por que não contribuir um com o outro? Assim colaboramos com a proteção do meio ambiente e fazemos o mercado girar”, disse. Ivanaldo Silva, coordenador de Planejamento de Materiais da Sabó, descreveu como a empresa ganhou produtividade ao aplicar conceitos de lean. “Redesenhamos nosso processo de produção e eliminamos etapas desnecessárias. Tiramos a maioria das fases de inspeção, por exemplo, porque entendemos que a qualidade tem que nascer junto com a concepção do
produto”, explicou. Segundo ele, com o novo modelo, a empresa conseguiu diminuir o consumo de energia, mesmo com o aumento de quase 50% da produção; reduziu o descarte de matéria-prima por validade vencida e ainda desenvolveu um processo para reciclagem plástico, que chega a 12 toneladas por ano. Segundo Vinícius Albert Sabin, chefe de Departamento de Relações Públicas e Assuntos Governamentais da Toyota, qualquer projeto da empresa precisa seguir diversos critérios, e o primeiro deles é atender as exigências relacionadas à segurança e meio ambiente. Além disso, contou Sabin, a Toyota tem em seu planejamento estratégico o desafio de, até 2050, produzir carros que contribuam para a diminuição da emissão de CO2 no planeta. “Queremos que nossos veículos, ao irem para as ruas, não emitam CO2. Mais do que isso, queremos zero de emissão ainda no processo fabril”.
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Pelo Brasil
Especial
Sesc RJ teve programação especial do Meio Ambiente durante todo o mês de junho A Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu, em 1972, o 5 de junho como o Dia Mundial do Meio Ambiente. Por isso, durante todo o mês de junho, o Sesc RJ realizou uma extensa programação especial em suas unidades Tijuca, Ramos, Madureira e Engenho de Dentro, na capital do Rio, e em outras unidades do estado como Nova Iguaçu, São João de Meriti, Duque de Caxias, São Gonçalo, Niterói, Campos, Nova Friburgo e Barra Mansa. A iniciativa faz parte do programa de educação ambiental Sesc+ Verde, que visa contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais consciente e sustentável, considerando as problemáticas atuais e futuras. Cursos, exposições, oficinas, debates e vivências teatrais com foco em
ecologia e sustentabilidade fizeram parte da programação voltada para educação ambiental. Toda a programação foi gratuita e aberta à comunidade. Consciência ambiental - Segundo pesquisa recente realizada pela Fecomércio RJ/Ipsos, o brasileiro tem buscado manter boas práticas em relação ao meio ambiente. Nove em cada dez brasileiros apagam as luzes ao sair de um recinto e fecham a torneira ao escovar os dentes. Além disso, 63% buscam adquirir eletrodomésticos que funcionem com menor consumo de energia e 53% procuram utilizar o transporte público ou bicicleta ao invés de carro (53%). Em relação ao consumo de alimentos, 79% dos brasileiros informaram que verificam armários e geladeira antes de efetuar
compras e o mesmo percentual utiliza sobras de refeições para fazer uma nova refeição. No entanto, o país ainda tem muito a caminhar no que diz respeito ao tratamento de lixo, por exemplo: menos da metade da população brasileira (48%) separa os resíduos para reciclagem e a coleta pública ainda não utiliza critérios e, na opinião de 67% dos brasileiros, o lixo reciclado acaba sendo misturado na coleta pública, sem a devida separação, o que acaba desestimulando a prática.
Estante Itinerância, Por Roberto Saturnino Braga, Editora Contraponto, 232 páginas, R$ 40 Itinerância é a biografia do Senador Constituinte e ex-prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga, um dos poucos homens públicos honestos e sinceros. Político que lidou bem com a política. O livro não tem amarras didáticas. O autor escreve o que pensa e o que sente. Apresentação do jornalista Maurício Dias.
No reino das girafas, Por Jacqueline Farid, Editora Jaguatirica, 108 págs, R$ 42,90 O calor intenso obriga a descansar durante o dia. O nascer do sol e o entardecer são os momentos passíveis de sair de máquina fotográfica em punho, para flagrar instantes da vida selvagem com todo seu impacto: animais devorando uns aos outros, disputando espaço à margem à beira de poucos lagos junto ao deserto, a ameaça de serem os turistas a próxima presa. É a terceira viagem à África de um casal, narrada do ponto de vista da mulher. Através de suas palavras e percepções, compreendemos que o relacionamento está perto do fim, que ela, em sua intimidade, já se encontra sozinha. Em seu primeiro romance, No reino das girafas, Jacqueline Farid nos guia através das deslumbrantes paisagens da Namíbia, enquanto conta uma história sufocante e envolvente, em meio uma atmosfera opressiva e ao mesmo tempo fascinante, que lembra um pouco O céu que nos protege, de Paul Bowles. O desfecho nos alcança sedentos e curiosos, e a conclusão é uma só: por mais que tentemos ludibriar o destino, a vida sempre surpreende. Jacqueline Farid é jornalista nascida em Minas Gerais, mas escolheu o Rio de Janeiro para viver, há 17 anos. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, sempre na editoria de Economia. Atualmente é assessora de comunicação. Viajou a Namíbia em 2009, 2010 e 2011. No reino das girafas foi escrito em 2012.
Carlos Franco – Editor de Plurale em revista
Hebe – a biografia, Por Artur Xexéo, Editora BestSeller , 266 págs, R$ 34,90 Hebe Camargo começou a vida artística como cantora, primeiro em programas de calouros, aos 13 anos, para ajudar a complementar a renda de sua família humilde, que morava em Taubaté; depois em boates, no rádio e na indústria do disco. Mas foi na televisão brasileira que ela se tornou uma grande estrela. E a sua relação com a TV começou antes mesmo desta ser criada: como integrante do casting das Emissoras Associadas, pertencentes a Assis Chateaubriand, Hebe fez parte da caravana do empresário que levou artistas ao Porto de Santos, em 30 de janeiro de 1950, para receberem os primeiros equipamentos do primeiro canal televisivo que Chatô criaria no Brasil, a TV Tupi. Mais tarde, no dia da inauguração das transmissões, Hebe foi escalada para cantar o Hino da Televisão. A artista alegou estar doente e pediu para a amiga Lolita Rodrigues substituí-la. O motivo da ausência de Hebe, no entanto, era outro, e essa é uma das revelações que o jornalista Artur Xexéo faz sobre a vida da apresentadora no delicioso “Hebe – a biografia”, que a editora BestSeller lançou em maio.
Atlas de serviço ambientais do Sistema Cantareira, do Ipê, download gratuito no site O IPÊ acaba de lançar o Atlas do Sistema Cantareira. A publicação sintetiza os resultados de muitos anos da atuação do Instituto na região de influência do Sistema Cantareira, entre eles a criação de um banco com informações geoespaciais com mapas de alta resolução sobre o uso do solo, a hidrografia, o relevo e os remanescentes de Mata Atlântica. O download do material pode ser realizado no site do IPÊ. Uma das organizações mais atuantes no cenário do Sistema Cantareira, o IPÊ tem como foco de atuação a proteção dos recursos hídricos em municípios que influenciam a qualidade da água no sistema. Ações como combate a erosão e produções sustentáveis junto com produtores rurais, reflorestamento e educação ambiental estão no escopo deste trabalho. O Atlas traz informações relevantes dentro deste contexto como as áreas prioritárias para conservação e restauração; áreas mais vulneráveis a processos erosivos; e áreas com maiores passivos ambientais, relacionados à ausência de APPs (Áreas de Preservação Permanente). A publicação contém também informações socieconômicas das populações dos 12 municípios que compõem o Sistema Cantareira, a partir de levantamentos de campo e de dados secundários.
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Especial
Pantanal:
a preservação transformando vidas
RPPN Sesc Pantanal completa 20 anos com trabalho relevante. É uma iniciativa do Serviço Social do Comércio (Sesc), participando da política nacional de conservação da biodiversidade, ao proteger significativa parcela do Pantanal LUCIANA TANCREDO
Por Isabel Capaverde, da RPPN Sesc Pantanal Fotos de Isabel Capaverde e Luciana Tancredo, de Plurale e Divulgação – RPPN Sesc Pantanal
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or duas vezes, em 2010 e 2012 (edições 15 e 28) Plurale visitou o Sesc Pantanal que se estende pelos municípios de Poconé, Rosário Oeste e Barão de Melgaço, no Mato Grosso, formado pelas unidades Hotel Sesc Porto Cercado, Parque Sesc Baía das Pedras, Parque Sesc Serra Azul, Sesc Poconé e a Reserva Particular do Patrimônio Na-
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tural – RPPN Sesc Pantanal, a grande estrela do complexo. A beleza do bioma foi registrada pelas lentes da fotógrafa Luciana Tancredo que tem encantado os leitores com flagrantes da natureza desde o lançamento da revista. Pois agora, nos 10 anos de Plurale, voltamos ao Sesc Pantanal, que completa 20 anos de um trabalho contínuo de monitoramento, prevenção e conservação da região. Acompanhamos avanços e ficamos felizes ao reencontrar personagens importantes de nossas reportagens que nos ajudam a contar esta história. Conservação da biodiversidade - O
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Sesc Pantanal está localizado no Mato Grosso, e a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), com 107.996 hectares, é a sua principal unidade de atuação. É uma relevante iniciativa do Serviço Social do Comércio (Sesc), participando da política nacional de conservação da biodiversidade, ao proteger significativa parcela do Pantanal, área com características e belezas extraordinárias. Ao acompanhar as mudanças no contexto ambientalista no Brasil e no mundo, a atuação do Sesc na área socioambiental, através do Sesc Pantanal, fortalece o seu esforço de construção
da cidadania em todo o Brasil. Além da RPPN, integram o Sesc Pantanal o Hotel Sesc Porto Cercado, com 140 unidades habitacionais; o Parque Sesc Baía das Pedras, com 4.200 hectares; o Sesc Poconé, com 4.350 metros quadrados; o Parque Sesc Serra Azul, com 5.700 hectares; e a Base Administrativa, em Várzea Grande, vizinha a Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso. Antonio Oliveira Santos, Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e dos Conselhos Nacionais do Sesc e do Senac, é um dos maiores entusiastas do Sesc Pantanal. “Este empreendimento demonstra a capacidade do Sesc, em face dos inadiáveis desafios sociais, econômicos e ambientais de nosso país. Reafirma a confiança no futuro do Brasil e seu compromisso fundamental com a valorização da vida”, afirma. O Sesc Pantanal está situado nos municípios mato-grossenses de Poconé, Barão de Melgaço e Rosário Oeste. Singular em sua organização, atua com nativos, com a comunidade indígena, com pesquisadores, universidades, institutos de pesquisas e organizações não governamentais. A tônica é a sustentabilidade ambiental. O compromisso é com a melhoria da qualidade de vida dos que habitam ou trabalham no Pantanal. Como a apresentação institucional destaca, a pesquisa no Projeto Sesc Pantanal amplia o conhecimento técnico-científico necessário a uma gestão ecológica sustentada. Para isto, são estabelecidas parcerias com universidades nacionais e internacionais, instituições de pesquisa, escolas, organizações da sociedade civil de interesse público, dentre outras, para o apoio à projetos de pesquisa científica na RPPN sobre a fauna, flora, recursos hídricos, solos, clima, turismo, organização social e educação ambiental. Serviços ecossistêmicos – Administradores destacam que a implementação da Reserva vem possibilitando a manutenção de serviços ecossistêmicos vitais à reprodução da dinâmica do Pantanal, contribuindo para o provimento de água em quantidade e qualidade, manutenção da biodiversidade, adaptação às mudan-
ças climáticas e diminuição de riscos associados aos fenômenos naturais extremos, serviços que a natureza promove e que são possíveis mediante o manejo e cuidado das áreas protegidas, especialmente áreas mais extensas, como é o caso da RPPN Sesc Pantanal. Além destes impactos positivos, a Reserva se constitui ainda numa das bases sobre a qual se sustenta a economia da região, possibilitando o progresso econômico e social das comunidades em seu entorno e do município como um todo. Sua existência contribui para o ICMS Ecológico, um recurso financeiro destinado ao município pelo Estado, que tem como base de cálculo a extensão de áreas protegidas em seu território. Palco de pesquisas como o da sucuri-amarela e objeto de mais de 130 publicações científicas Em 20 anos a Reserva recebeu inúmeros projetos de instituições de ensino do Brasil e do exterior que resultaram em mais de 130 publicações científicas. Para aceitar qualquer projeto, o Sesc tem como requisito básico que ele apresente uma contrapartida social ou ambiental para as comunidades locais. Atualmente, um dos projetos é do biólogo Fábio Fogaça, apaixonado por cobras desde a infância em Sorocaba(SP), que está mapeando a área de vida e o padrão de movimento da sucuri-amarela. Seu objetivo é desmistificar a sucuri, abordando diretamente os moradores ribeirinhos. “No período das águas, quando o Pantanal fica 70% alagado, as sucuris
buscam alimento e invadem as casas dos ribeirinhos. Elas que normalmente comem aves, peixes, roedores e capivaras, atacam animais da criação doméstica dos moradores e acabam sendo mortas por eles que temem pela segurança das suas famílias. Tenho visitado residências e explicado os hábitos do animal. O pessoal pensa que a sucuri mata quebrando os ossos de sua presa. Isso não é verdade. Ela mata por sufocamento”. Fábio mostra a sucuri-amarela que está em tratamento de uma inflamação na boca. “Essa cobra estar aqui conosco é a prova de que os ribeirinhos estão entendendo e se conscientizando. Ela entrou num galinheiro por um buraco na tela e comeu uma galinha. Ao tentar sair, ficou presa. O ribeirinho ao invés de matar nos chamou. Como vimos que ela estava com a boca muito inchada, trouxemos para tratar. Breve ela estará de volta ao seu habitat”. O biólogo explica que para estudar os hábitos do animal, existem oito sucuris com chips implantados sendo monitoradas na Reserva. Da vida de peão ao mundo das borboletas Há espaços para educação ambiental no Hotel Sesc Porto Cercado, como o Borboletário, onde encontramos João da Silva, ou simplesmente, João do Borboletário. João foi peão e tocou muita boiada. Há 15 anos deixou essa vida para trás. Do tempo de peão restaram apenas o chapéu e um cordão cujo pingente é a cabeça de um cavalo. Fala que no início a família estranhou a mudança de atividade. Mas lidar ISABEL CAPAVERDE
Biólogo Fábio Fogaca
Especial
ISABEL CAPAVERDE
com as borboletas, tudo que aprendeu sobre elas e sua importância na preservação do Pantanal, lhe deixou um homem menos “durão”. Hoje o seu mundo é o laboratório, local onde ovos, lagartas e pupas, as formas juvenis de borboletas são mantidas até o nascimento, o viveiro de plantas que alimenta lagartas e borboletas e o viveiro de visitação, uma área que abriga cerca de duas mil borboletas de 20 a 30 espécies diferentes. No viveiro de visitação há um jardim em que é possível sentar em bancos e ao som de uma pequena cascata, apreciar as borboletas voando ao redor. As borboletas também mudaram a vida de Leonite Mendes dos Santos que desde 2003 faz parte do projeto social que liga a cidade de Poconé ao Borboletário. Ela preside a Associação de Criadores de Borboletas de Poconé que reúne 25 famílias que criam as borboletas em suas casas e recebem mensalmente R$ 850 reais. Para isso precisam cultivar em seus quintais plantas como maracujá, jaborandi, bananeira, para assim alimentar cerca de 290 crisálidas. “As borboletas nos ensinam, pois elas são frágeis e fortes ao mesmo tempo e estão em transformação. São como a vida em constante transformação”. Como existem espécies mais fáceis de criar e outras mais difíceis, as famílias participam de um sorteio para saber qual espécie levarão para casa. Sorteio realizado nas dependências do Sesc Poconé, mais conhecido como CAP – Centro de Atividades de Poconé. Na vizinhança da Reserva Pelo SESC Poconé, situado no início da rodovia Transpantaneira, circulam cerca de mil pessoas diariamente, segundo seu gerente, Marcus Vinicius. Oferece entre outros serviços, uma escola para 400 crianças, um parque aquático recentemente inaugurado, promoveram o primeiro festival internacional de circo, o Ispiaí – que já entrou para o calendário da cidade - e breve terão um espaço de criação, aberto a população, com computadores e impressoras 3D. Neste espaço a pessoa poderá desenvolver o seu produto e levá-lo pronto. Menos impacto na natureza Buscando causar a cada dia menos
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Leonite Mendes dos Santos com criação de borboletas
impacto na natureza o Sesc Pantanal está construindo uma usina fotovoltaica que deverá produzir 992.800 KW/mês. A estimativa é que ela possa substituir de 35% a 50% da energia oriunda da concessionária. Essa oscilação deve ocorrer nos meses de dezembro/ janeiro/ julho onde o consumo energético aumenta. Hoje entre as práticas sustentáveis 100% das garrafas pet, vidros de doce, óleo de cozinha, orgânicos, alumínio (latinhas), papelão são reciclados ou compostados. Em torno de 80% dos plásticos não reciclados e vidros são utilizados para
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embalar os resíduos (lixo) e vidros oriundo de quebra de janelas, por exemplo. Resíduos de obra, ambulatoriais e contaminantes (eletrônicos, elétricos, óleos de motor, pilhas e baterias) são destinados a empresas qualificadas e licenciadas para tratamento. Práticas importantes para quem em 2016 recebeu 25 mil visitantes, contabilizando nos dois últimos anos um aumento de 40% no número de hóspedes no hotel. (*) Plurale viajou a convite do Sesc Pantanal.
“Quero ser o melhor intérprete do Pantanal para quem o visita” ISABEL CAPAVERDE
Nossas histórias - de Plurale e da RPPN Sesc-Pantanal - se cruzam. Basta dizer que a imagem Antônio Coelho é escolhida para ser a remonitor ambiental na presentação dos 20 anos, seção de Recreação e estampada nas camisetas Passeios do Hotel dos monitores ambienSesc Porto Cercado tais é uma foto de nossa Luciana Tancredo: a vista aérea da imensidão verde dos aproximadamente 108 mil hectares da Reserva. Fomos reencontrar pantaneiros que nos receberam nas outras duas ocasiões como Antônio Coelho e Agno Antônio de Oliveira e conhecer outros homens e mulheres que dedicam seus dias a preservação, conscientes da importância do que realizam. Antônio Coelho era barqueiro no Sesc Pantanal e hoje é monitor ambiental na seção de Recreação e Passeios do Hotel Sesc Porto Cercado. Conta que ganhou uma bolsa de estudos do curso na Escola Técnica Estadual, em Poconé, onde se formou em 2014. Mostra orgulhoso a carteira de guia de turismo cadastrado no Ministério do Turismo que leva no peito, pois quer se especializar nas aves pendurada como crachá. da região e já vem sendo recoTem estudado ornitologia, nhecido até nos hotéis da vizi-
nhança como um guia de aves do Pantanal. Durante um passeio guiado por ele, pede ao motorista que pare a Van para os turistas verem a tachã, a ave símbolo do Mato Grosso, observarem o voo do tuiuiú, símbolo do Pantanal, as garças, emas e outras tantas espécies que povoam o lugar que vive de maio a setembro seu período de seca. Fala com propriedade sobre os jacarés do Pantanal, onças, a vegetação típica. Nenhuma pergunta que lhe fazem fica sem resposta. No sexto semestre da faculdade de Gestão Ambiental da Unisul – Fundação Universidade do Sul de Santa Catarina, cursando a distância, Antônio diz que quer adquirir mais conhecimento. Tem planos de aprender novos idiomas. “Sinto que os visitantes estão cada dia mais interessados e exigentes. Não só os estrangeiros. Também os brasileiros”, avalia. Observa que o jovem que vem com a família chega mais bem informado e preocupado com a conservação. Então, ele precisa estar preparado. “Quero ser o melhor intérprete do Pantanal para o visitante”.
“Tenho saudades da RPPN, mas volto de vez em quando” Agno Antônio de Oliveira foi guarda-parque da Reserva por 10 anos. Deixar o trabalho na RPPN foi uma opção para ficar mais perto da família que mora em Cuiabá. Casado, três filhos, ele chegava a passar até 18 dias sem ir
em casa. “Principalmente na época da seca, era preciso ficar de olho nos focos de incêndio. A gente não podia se afastar, o que diminuía a escala de folgas”, lembra. Participou de um processo seletivo interno no Sesc e passou para
o setor de Compras e Patrimônio que fica no escritório em Várzea Grande Como uma das funções de Agno é fazer conferência do Patrimônio, de vez em quando ele volta a Reserva de onde confessa ter saudades.
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Especial
Pantanal alagado e preservado Quem conhece bem o Pantanal sabe a importância da água para este bioma tão rico em biodiversidade. Dizem os pantaneiros que lá só existem duas estações: a alagada, que costuma acontecer entre novembro e abril e a seca, de maio a outubro, aproximadamente. A ação do clima e, principalmente, do homem tem alterado um pouco não só esta rotina, mas também chega a ameaçar a riqueza natural da região. Nossa experiente editora de Fotografia, Luciana Tancredo, visitou a Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, por duas vezes e pode vasculhar a exuberância de cada por do sol, dos animais soltos, enfim, o valor da preservação. Conheceu tanto o período alagado e também o de seca. “Foram experiências incríveis. Jamais esquecerei”, lembra. Aqui, neste ensaio especial, apresentamos um recorte deste incrível material “colhido” na Reserva.
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Ela passou dias literalmente “imersa” na vida pantaneira, que tanto inspirou o poeta Manoel de Barros. “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito”, como bem escreveu o poeta pantaneiro. Ao lado da RPPN Sesc Pantanal fica um complexo hoteleiro de alta infraestrutura, o Hotel Sesc Porto Cercado, que dá acesso ao Parque Sesc Baía das Pedras, onde o turista pode ter maior contato com a natureza. O empreendimento é especializado em receber não só turistas brasileiros, mas também estrangeiros interessados em conhecer melhor a região. Dependendo da época, a procura é grande. O ideal é reservar com antecedência: no portal já há aviso de várias datas com lotação esgotada este ano. Mas ainda há outras tantas vagas. Na verdade, o objetivo de Luciana
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era mesmo se embrenhar pelas terras alagadas. Ali, na RPPN, clicou verdadeiras pinturas vivas, como as que ilustram estas páginas, rios, árvores, fauna e flora. Registrou animais típicos da região, como o tuiuiú, espécie de cartão-postal da região; de jacarés; ariranhas que parecem bailar no rio; as tão bem preservadas ararinhas azuis; tamanduás; veados e ainda o gavião belo solene, parecendo zelar por toda a área. “Fiquei impressionada não só com a beleza do lugar, mas, principalmente, com a tranquilidade da biodiversidade seguindo seu curso sem ser importunada pela ação de caçadores e oportunistas”, conta Luciana. Como a área da reserva é imensa – são 107.996 hectares – há um grupo de atentos guarda -parques para vigiar a área de caçadores e aventureiros, além de brigadistas de apoio. Mais informações no portal http://www.sescpantanal.com.br/
Vista aérea do hotel Sesc Porto Cercado
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Bazar ético |
NANNACAY
CREATIVE HANDS TRANSFORMING LIVES CAPACITA FAMÍLIAS PARA A CRIAÇÃO DE PRODUTOS ÚNICOS
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ifundir histórias e transformar vidas. Esses são os principais objetivos de Marcia Kemp, a empreendedora à frente da Nannacay. Dona uma bem-sucedida carreira como executiva de multinacional, Marcia sempre se interessou pelo novo, pelo exótico e por cidadania coorporativa. Em suas muitas viagens por destinos pouco comuns, deparou-se com a possibilidade de traduzir paixões em negócio conectado à economia criativa. Hoje, com dois anos de vida, a Nannacay atua principalmente no Peru, onde capacita e desenvolve os talentos de artesãos de comunidades locais. De lá, sai a maior parte dos produtos feitos em junco cru ou tingido, que ganham status
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de objetos de desejo nas mãos das principais fashionistas do país e nas mais importantes multimarcas nacionais. Cerca de cem famílias vivem atualmente da produção da marca e estão espalhadas em solo peruano: de tribos indígenas da selva amazônica a comunidades nos arredores de Lima, passando por vilarejos no topo da Cordilheira dos Andes e pela população carcerária de cidades no entorno da capital. No Brasil, também há dez famílias pantaneiras produzindo chapéus desde o início do ano com incentivo da Nannacay. Com o foco maior em propagar o trabalho dos artesãos espalhados pelo mundo, a empresa produz um mix amplo que inclui shopping bags multicoloridas, clutches, sapatos, bijoux, caftãs e ain-
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da uma linha home com cestaria primorosa. A tag das peças carrega sempre o nome da pessoa que a desenvolveu, valorizando tanto a mão de obra quanto o caráter handmade de cada um dos produtos. Apesar do curto tempo de vida, a Nannacay já despertou o interesse do mercado internacional. A jovem marca acaba de ganhar showroom fixo em Nova York e de entrar para a poderosa seleção do Moda Operandi, e-commerce europeu que vende as melhores marcas do mundo e é conhecido por fazer apostas certeiras. Um grande passo para a Nannacay, que tem o desejo de estender seu potencial transformador para outros países, capacitar e sustentar mais famílias e expandir sua expertise gerando mudanças positivas pelo planeta.
Serviço https://www.nannacay.com/ Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos de cooperativas e ONGs vendidos no comércio justo, ético e solidário.
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Clima
Conferência Rio Clima reúne 80 especialistas e mais de 500 pessoas na plateia Debate sobre mudanças climáticas resulta em proposta Por Lília Giannotti, Especial para Plurale Fotos de Marcelo de Jesus / Divulgação
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os dias 13 e 14 de junho, a quarta edição da Conferência Rio Clima reuniu mais de 80 especialistas, entre acadêmicos, gestores públicos, representantes da área científica e do setor privado para debate, no Centro de Convenções da FIRJAN, no Rio de Janeiro. O encontro internacional – com a presença de franceses, americanos, indianos, brasileiros, noruegueses e italianos – foi organizado pelo Centro Brasil no Clima, o Instituto OndAzul e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Na plateia, mais de 500 participantes estiveram atentos aos painéis de debates. O tema-chave proposto foi “a descarbonização da economia”, mas o evento também foi marcado pela comemoração dos 25 anos da Rio92 e das bodas de prata da Convenção do Clima. Ministro, embaixadores, convidados internacionais e gestores públicos falam na abertura O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro - Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, abriu a Conferência afirmando que o tema mudanças climáticas precisa ser prioritário para governos, indústria e sociedade. “A Firjan assinou os compromissos do Acordo de Paris, e quando vemos o presidente norte-americano retirar os Estados Unidos do Acordo e as empresas daquele país se posicionando contra a decisão, fica claro que o tema não é secundário e não pode ser tratado como tal. A indústria brasileira tem dado exemplos extraordinários
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de adaptação a essa nova consciência”. Em seguida, foi exibido um vídeo com depoimentos da ex-secretária executiva da UNFCCC, Christiana Figueres, e do Nobel da Paz, Al Gore, que afirmou: “a Rio92 foi o primeiro passo coletivo e global para fazer frente às mudanças climáticas. Nunca vou me esquecer do Rio e daquela vontade de mudar que é, ela própria, uma energia sempre renovável”. De fato, aquele evento, há 25 anos, duraria uma semana e mudaria a história climática mundial. “Foi a primeira vez que a humanidade, de forma coletiva e multilateral, adotou uma ação contra as mudanças climáticas. Na ocasião, foram assinadas a Convenção do Clima, a Convenção da Desertificação, a Agenda 21, e ainda abriu caminho para que meses depois fosse assinada a Convenção da Biodiversidade”, disse o secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas e diretor-executivo do Centro Brasil no Clima, Alfredo Sirkis, à frente da Convenção. O embaixador José Antônio Marcondes de Carvalho, subsecretário de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do Ministério de Relações Exteriores foi categórico: “em meio às mudanças geopolíticas internacionais, que podem afetar o desenvolvimento do trabalho climático mundial, é imprescindível compreender que esta não é uma agenda apenas ambiental, mas, sobretudo, é uma agenda econômica e assim deve ser tratada pelos governos e a sociedade”. Representando o prefeito Marcelo Crivella, a secretária de fazenda, Maria Eduarda Berto afirmou que há uma área estratégica para o tema: “cotidianamente pensamos ações e mecanismos para pro-
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mover uma cidade sustentável. As cidades consomem dois terços da energia e são responsáveis por 70% das emissões de gases. Estamos fazendo parcerias setor público-privado para mudar, por exemplo, o parque de energia pública, e vamos criar o IPTU Verde, com incentivos para os imóveis sustentáveis”. Logo após a cerimônia de abertura, o Ministro de Estado das Relações Exteriores da Rio92, Celso Lafer fez uma linha do tempo dos últimos 25 anos. A história da Rio92 contada por quem ajudou a escrevê-la Muitos dos que estiveram presentes à 4ª edição do Rio Clima, foram protagonis-
Alfredo Sirkis coordenou o evento
Autoridades participaram da abertura do Evento, realizado na sede da Firjan
tas da Conferência, realizada há 25 anos, e dos eventos que a precederam. O painel Rememorando a Rio92 reuniu depoimentos de cinco testemunhas desta importante façanha da história mundial. O diplomata Marcílio Marques Moreira, na época ministro da Fazenda e do Planejamento, relembra: “o Brasil era considerado desorganizado, pirata e incendiário. Foi um grande esforço fazer a transformação de um país desmatador para o anfitrião da primeira conferência climática mundial”. Um dos mais significativos legados da Rio92 foi a participação da sociedade, como lembra Roberto Smeraldi, que na ocasião foi presidente do Comitê Internacional da Sociedade Civil. “As ONGs puderam participar de todas as negociações, o que até então era inédito. Organizamos 140 reuniões preparatórias, no mundo inteiro, em cada um dos países que fariam parte do acordo, com a produção de um documento da sociedade civil, entregue às autoridades, no Rio de Janeiro”. O cientista político Tony Gross, diretor do Instituto Socioambiental - ISA, foi um dos mentores do Fórum Global 92, evento paralelo à conferência oficial. “Durante dois anos fomos trabalhando junto às ONGs e construímos uma aliança que reuniu mais de 200 entidades representando todos os setores. O Fórum reuniu 17 mil organizações de 180 países, em 48 tendas, com centenas de atividades e mais de 400 mil participantes. Para um evento que inicialmente seria apenas intergover-
namental, fomos um marco”. Também cientista político, Israel Klabin, presidente da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável - FBDS, afirmou: “Estamos trabalhando num cenário de desorganização dos modelos econômicos, sociais e políticos. Temos obrigação de procurar uma nova ética, com a inclusão social como objetivo principal. Nosso desafio está muito mais na esfera humanística do que climática”. Para fechar o debate, o astrofísico Luiz Gylvan Meira Filho fez um alerta: “Muito dinheiro foi gasto pelo Governo Federal com melhores sistemas de observação, mais estações e satélites artificiais. Mas os impactos ainda virão. Estamos adaptados ao clima atual e isso levou séculos. Caso o clima fique diferente, ficaremos mal adaptados. É preciso evitar esse quadro”. Que tipo de governança queremos para o Brasil? O ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, abriu o debate do painel A governança climática no Brasil, o que muda com o Acordo de Paris? e falou de como a adoção de políticas públicas pode ter efeito em pontos determinantes, como a redução do desmatamento e a questão dos lixões nas cidades. Também compondo a mesa, a secretária-adjunta do FBMC, Natalie Unterstell, afirmou: “temos 30 instâncias do governo federal, que atuam no tema. Fizemos um diagnóstico delas para avaliar eficácia e
transparência na atuação, sobreposições, e assim entender que governança é essa. Ainda precisamos avançar muito”. Para Rachael Biderman, diretora-executiva da WRI Brasil, a governança climática brasileira aponta para uma ineficiência das estruturas. “Faltam ambição, penetração e transparência. Temos uma lei florestal de 2012 que até hoje não foi regulamentada, isso atrapalha nossa economia. Somos líderes em legislação ambiental, mas quando parte para execução, nada se faz. China e Índia estão se colocando como líderes da revolução energética. E o Brasil?” André Andrade, da Casa Civil, afirmou: “temos que pensar que há uma nova complexidade: como vamos destravar R$ 90 trilhões, até 2035, para infraestruturas verdes? O debate se tornou complexo e a governança se tornou complexa. A governança climática precisa ser integrada e ultrapassar os limites do MMA para outros ministérios. Já começamos esse processo”. Descarbonização da economia: como financiá-la? Três trilhões de Dólares por ano. Esse é o montante estimado para promover a descarbonização da economia mundial. Num cenário de governos com déficits e altos níveis de endividamento, e com o dinheiro do mundo no setor privado e aplicado de forma especulativa, como fazer para financiar o processo rumo a uma economia de baixo carbono? Responder essa e outras questões foi o desafio do painel Mecanismos econômicos para a descarbonização. “É preciso um novo modelo de negócios que permita canalizar investimentos para atividades sustentáveis. Estamos trabalhando na articulação de uma estratégia nacional”. Essa é a aposta de Everton Lucero, Secretário de Mudança do Clima e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, que foi da equipe negociadora do Acordo de Paris e, junto com Alfredo Sirkis, conseguiu introduzir o parágrafo 108, aquele que reconhece valor econômico nas ações de mitigação e no carbono-menos. Também do governo federal, Aloisio
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Clima
Diálogo sobre Clima e Inovação Tecnológica
Melo, coordenador geral de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Ministério da Fazenda, disse: “a precificação positiva de carbono pode trazer muitas oportunidades, mas é uma questão complexa. Do ponto de vista da economia real e das políticas de países, usar um instrumento econômico-ambiental é viável e já existe, a exemplo dos tributos de carbono. Para avançar, temos que desenvolver uma política doméstica de clima”. Rogério Studart, que foi representante do Brasil no Banco Mundial e hoje está no think tank Bookings Institution, acredita que as transformações necessárias para se manter o planeta sustentável são muitas. “Economicamente, será preciso mudar as formas de produção e de consumo. Isso é uma imensa oportunidade econômica. O governo deveria criar plataformas para alavancar o investimento privado”. VikramWidge, chefe da Iniciativa de Finanças Climáticas e Carbono do International Finance Corporation, e Vincent Aussilloux, chefe de Economia-Finanças da France Strategie, e Marina Gross, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), também compuseram a mesa debatedora. Inovação tecnológica: Brasil está atrasado? Os caminhos e os gargalos em termos de inovação nos diversos setores brasileiros foram abordados no painel Inovação tecnológica para a descarbonização, desafios globais e específicos, mediado pela jornalista Sônia Araripe,
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editora da Revista Plurale. Suzana Kahn, cientista do IPCC, abriu o painel: “acho extremamente preocupante o Brasil não ter nenhuma menção à inovação, ciência e tecnologia, em sua Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC). A bioeconomia, por exemplo, pode ser a chave para o desenvolvimento da agricultura, e o país poderia investir nessa área, mas ainda discutimos o uso de etanol. O Brasil precisa repensar a importância do papel da tecnologia e da inovação”. O pesquisador e professor do Coppe-UFRJ, Roberto Schaeffer, questionou qual é a ambição do setor energético e em que prazos o país quer alcançá-la. “Se o Brasil quer ajudar o mundo a ir para um caminho de mínimo custo e cumprir os dois graus até 2050, esquece biocombustíveis, porque o país terá que ter 100% de carros elétricos. A inovação tecnologia é muito importante para o cenário de mudanças climáticas, mas é preciso saber em que horizonte de tempo estamos falando e no que apostar”. Secretário de Meio Ambiente do Estado de Pernambuco, Sergio Xavier, mostrou exemplos de como um governo estadual pode trabalhar para ajudar o Brasil a cumprir suas metas climáticas. “Estamos experimentando um conjunto de inovações interligadas: carro elétrico, energia solar e eólica, aplicativos e sistemas de compartilhamento de espaços das cidades. Trata-se de um conjunto de políticas públicas em prol do clima. Essa é nossa aposta”.
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Especialistas propõe documento pós-Rio Clima O painel de encerramento do primeiro dia de trabalho foi mediado por Aspásia Camargo, com recomendações para florestas e agropecuária, energia, mobilidade, indústrias e cidades. No debate final, Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima observou: “o que é destinado ao Plano de Agricultura de Baixo Carbono (Plano ABC) é irrisório. Como vamos avançar?”. Também na mesa, Ana Toni, do Instituto Clima e Sociedade afirmou: “no Brasil, a agenda do clima ganhou força e tornou-se também uma agenda econômica, mas ainda distante da sociedade e do Congresso Nacional”. Com uma visão otimista, Luís Pinguelli Rosa, da Coppe-UFRJ, destacou um ponto positivo na política brasileira do clima: “Avançamos muito quanto à energia eólica no país e isso deve ser comemorado”. O segundo dia de trabalho, 14 de junho, foi marcado por uma reunião fechada que começou às 9 horas da manhã e só foi encerrada perto das 18 horas. O tema era “novos caminhos para descarbonização da economia”. Em uma mesa modelo ONU, 33 especialistas debateram à exaustão sobre possíveis caminhos rumo a uma economia de baixo carbono. “Desse encontro, sairá uma carta de recomendações para que possamos avançar na contenção do aquecimento do planeta, contribuindo para mudar o quadro, que hoje é aterrador. Temos que nos comprometer e agir já. Não é possível protelar a questão climática”, garante Alfredo Sirkis.
Sustentabilidade
Plurale é destaque em vários eventos e entrevistas
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omo parte das comemorações pelos 10 anos, temos tido a honra e a alegria de participar de vários eventos e entrevistas. São oportunidades preciosas para expressarmos e relatarmos o trabalho em rede de Plurale. Por conta da semana de Meio Ambiente, em junho, Plurale foi convidada a participar de relevantes ações. Como a moderação
da Abertura da primeira edição da Virada Sustentável no Rio, realizada no Museu de Arte do Rio (MAR). A Editora Sônia Araripe ainda fez a moderação do Seminário sobre Saúde, Sustentabilidade e Agroecologia no INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva), que contou com cerca de 200 participantes. E ainda na Conferência Clima 2017, realizada na Firjan (matéria nas págs 36 e 37).
Rádio MEC-AM – Programa Bate-Papo.Com – Entrevista para Cadu Freitas (ao centro), que contou com a participação do estudante de Jornalismo da ECO-UFRJ, Lucas Freitag (à direita)
Nos sentimos muito honrados pelo generoso convite para duas entrevistas, uma na rádio e outra na TV: entrevista para Cadu Freitas no programa Bate-Papo.com da Rádio MEC-AM e também conversa com a jornalista Fátima Medeiros, na FASE TV, de Petrópolis sobre sustentabilidade e mídias sociais. O programa da rádio e a entrevista podem ser conferidos em Plurale em site.
Entrevista para a jornalista Fátima Medeiros – Programa em Questão - Fase TV – Petrópolis
Abertura da Virada Sustentável-Rio
Seminário – Saúde, sustentabilidade e agroecologia - Inca
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Conscientização
Virada Sustentável atinge 50 mil pessoas em sua primeira edição no Rio
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
N Do Rio
a Semana Mundial do Meio Ambiente, a Virada Sustentável Rio 2017 provocou uma virada de consciência na população carioca. De 09 a 11 de junho, o festival realizou 435 atividades, espalhadas em 84 locais diferentes, e reuniu um público aproximado de 50 mil pessoas. A Virada Sustentável surgiu há sete anos em São Paulo, onde é realizada anualmente, e já chegou a Manaus, Salvador e Porto Alegre, entre outras cidades. “Foi impressionante o nível de engajamento e mobilização das centenas de organizações, coletivos e projetos cariocas que participaram ativamente dessa edição, mostrando que o Rio é a ‘cidade maravilhosa’ não apenas por suas belezas naturais, mas também pela força de sua sociedade civil organizada”, afirma o jornalista André Palhano, um dos idealizadores do festival. Com atrações culturais, música, performances, atividades zen, palestras e rodas de conversa, o festival foi realizado em diversos pontos do Centro, da Zona Sul, Zona Norte e Zona Oeste. O Parque Madureira, por exemplo, recebeu atividades como a peça “Próspero e os Orixás”, do Grupo Tá na Rua, a apresentação da Orquestra Tubônica e a intervenção urbana “Mão”. Os painéis de conhecimento com temas como igualdade de gênero, água e mobilidade urbana estavam concentrados no Museu de Arte do Rio (MAR) e no Museu do Amanhã. A Praça Mauá ainda recebeu uma programação musical, como o “Palco Delas”, com shows de Larissa Luz, Pietá, Tais Feijão e As Bahias e Cozinha Mineira. Já a programação infantil, como o festival Mundaréu, e as atividades zen foram os destaques do Parque Lage.
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As atividades da Virada Sustentável são baseadas nos temas apontados nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas), tais como Igualdade de Gênero, Erradicação da Pobreza, Boa Saúde e Bem-Estar, Cidades e Comunidades Sustentáveis, Consumo e Produção Responsáveis e Água Limpa e Saneamento. Uma das ações mais relevantes da Virada no Rio foi uma projeção mapeada (mapping) relacionada aos ODS no Cristo Redentor, em parceria com o Rio Mapping Festival e a Paroquia São Jose da Lagoa. “Foi inesquecível, um verdadeiro exemplo de como a arte e o encanto podem ajudar a promover as causas de nossa sociedade”, diz a publicitaria Mariana Amaral, também idealizadora do evento. A Inté, empresa especializada em gestão de resíduos de eventos, recolheu nos dois dias da Virada na Praça Mauá e no Parque Lage 200 quilos de recicláveis
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(plástico, latinhas de alumínio, papelão e garrafas Pet), 400 quilos de vidro e 150 quilos de orgânicos para compostagem. Todo o material reciclável será encaminhado para a cooperativa de Jacuiba, no município de Cachoeiras de Macacu. Os 8.000 litros de esgoto dos 25 banheiros químicos da QBan também na Praça Mauá e Parque Lage serão encaminhados para uma estação de tratamento especializada para virar água de reuso, utilizada no cultivo de mais de 800 árvores frutíferas. O festival é realizado em parceria com PNUD e teve nesta edição o patrocínio das empresas Braskem e Ball, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio institucional da EAV Parque Lage, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Cultura, Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro e seus órgãos gestores da Praça Mauá e Parque Madureira, MAR, Museu do Amanhã, Globo/Menos É Mais e Cristo Redentor.
Uma declaração de amor à cidade do Rio. E que venham mais ações como esta FOTOS DE LOU FERNANDES
Por Lou Fernandes Prem Indira, Especial para Plurale
A participação do Movimento Awaken Love na Virada Sustentável do Rio foi mais do que uma prova de amor à Cidade, revelou o quanto a espiritualidade pode unir pessoas de diferentes crenças, saberes e posturas políticas. A prática de meditação que realizamos no sábado, na Praia do Arpoador, mesmo com um vento frio que convidava a um cineminha, mostrou o quanto meditar pode ser uma atitude amorosa no cotidiano da relação a dois. Ressaltando que muitos compartilhavam desta prática meditativa pela primeira vez. Uma grande novidade foi participação da Awaken Love Band no encerramento da Virada na Praça Mauá, por ser a primeira vez que a Awaken Love Band do Rio subia num palco público, específico para shows de bandas de rock, sertanejo, música popular. Fazemos isso muito no Espaço Rampa, em Copacabana; algumas vezes na grama da Lagoa Rodrigo de Freitas. Mas num palco foi uma novidade maravilhosa ouvir mantras com todos acompanhando e fazendo uma grande festa Para quem ainda não conhece, a Awaken Love Band é uma ação voluntária de músicos de várias partes do mundo que se unem para despertar o amor, a auto responsabilidade, a gentileza através da música. Assim como são as ações do Awaken Love, um movimento inspirado por Sri Prem Baba, que e se manifesta por meio de atitude no mundo e também dentro de cada. A intenção deste movimento é dar força
para que qualquer pessoa, em qualquer lugar, possa aplicar seus talentos, criando formas mais íntegras de interagir consigo mesmo, com o outro e com o todo. Portanto, despertar o amor pela Cidade foi um dos nossos maiores propósitos ao participar da Virada Sustentável do Rio. Gratidão a todos que colaboraram para que esta declaração de amor e cuidado pelo Rio de Janeiro acontecesse. E que venham mais. (*) Sri Prem Baba- Líder humanitário e mestre espiritual brasileiro, herdeiro da antiga linhagem indiana Sachcha. Seu trabalho está focado na construção de pontes entre o ocidente e o oriente e na ciência e espiritualidade, unindo saberes com o propósito de restabelecer e elevar valores humanos, espirituais e sociais. Querendo saber mais visite o site: www. sriprembaba.org
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Ecoturismo
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ISABELLA ARARIPE
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Brasília concorre ao título de cidade criativa NICOLAU EL-MOOR/ DIVULGAÇÃO
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Voo de balão em Juazeiro do Norte A Secretaria de Turismo e Romaria (SETUR) e a empresa Iguanna Turismo e Aventura estão finalizando os últimos ajustes para trazer a prática do balonismo ao Cariri. A conquista irá promover o ecoturismo da região. A previsão é que o voo inaugural aconteça no fim de julho, sobrevoando a Chapada do Araripe. O projeto está dividido em duas partes, a princípio um grupo de pilotos de Boituva, cidade do interior de São Paulo, referência em balonismo e paraquedismo no Brasil, farão estudos de ventos e rotas, bem como o treinamento e consultoria para a viabilidade de registro junto à Agência Nacional de Aviação (ANAC) para a prática do esporte aéreo na região, já que o balão é uma aeronave tripulada. Nesta etapa, também serão realizados alguns voos com turistas. A segunda fase acontecerá no Centro de Balonismo, onde será feita a aquisição do balão próprio e os pilotos tirarão os brevês para dar início às atividades sobre a Chapada.
Pirenópolis oferece ecoturismo com acessibilidade Além do centro histórico, a cidade de Pirenópolis (GO) também oferece paisagens para o turismo de natureza. Um desses refúgios ecológicos é a chácara localizada ao pé da Serra dos Pireneus e que fica às margens do Rio das Almas. A propriedade guarda resquícios da extração de minérios na região, que foi intensa entre os séculos XVIII e XIX. A extração das pedras tem sido substituída pelo turismo. Aberto à visitação, o espaço foi adaptado para permitir o acesso de pessoas com mobilidade reduzida e cadeirantes. O local também foi equipado com sinais sonoros e sinalização em braille, para acolher o público com deficiência visual. Boa parte do labirinto de 900 metros pode ser feito por cadeirantes, idosos e demais pessoas com mobilidade reduzida. São diversas ações sustentáveis como aproveitamento da água da chuva, minhocário, tratamento de dejetos e produção de hortaliças. Um dos destaques é o jardim sensorial, com mais de cem plantas medicinais, condimentares e ornamentais.
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A capital do País quer ser reconhecida como cidade criativa. O governo do Distrito Federal lançou a candidatura ao título concedido pela Unesco na categoria Design. A ideia é que Brasília troque experiências com as demais integrantes da rede com o intuito de promover e desenvolver a cultura e turismo local. A expectativa é que o documento com o pleito seja entregue à entidade até 16 de junho e o anúncio das cidades selecionadas deverá ser feito em 31 de outubro. Reconhecida há 30 anos pela própria Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade, a cidade já havia submetido uma candidatura à categoria Música em 2015, sem sucesso. Agora, um novo projeto com foco no Design será apresentado e as perspectivas são positivas.
Parque Nacional de Itatiaia celebra 80 anos No coração da Serra Mantiqueira, entre os municípios de Bocaina de Minas e Itamonte, em Minas, e Itatiaia e Resende, no estado do Rio de Janeiro, nasceu o Parque Nacional de Itatiaia que comemorou, em junho, exatos 80 anos de criação. O primeiro e mais antigo parque do Brasil foi instituído em 1937. Hoje, oficialmente, com mais de 28 mil hectares, o parque, que é administrado pelo ICMBIO, é considerado um local com alto índice de biodiversidade da Mata Atlântica. No dia do aniversário foi inaugurado o novo Centro de Visitantes. O local foi revitalizado e sua estrutura melhorada, de modo a atender com mais conforto e eficiência a demanda por visitação da unidade, que aumenta a cada ano.
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Especial Compostela
Os seguidores de
Conchas:
quando um sonho encontra-se com a realidade Breve relato de uma filha com seu pai que andaram do O Cebreiro até Santiago de Compostela
Texto e fotos de Vivian Simonato, com participação de Ariston Breda Simonato
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De Santiago de Compostela, Espanha
primeira memória que tenho sobre o Caminho de Santiago de Compostela é de quando eu tinha pouco mais de seis anos e perguntava ao meu pai o que significava aquilo. Meu pai sempre foi minha
conexão com um mundo maior, mais interessante. Com ele sempre assisti documentários, filmes, especiais de TV, lia sobre diversos assuntos naquelas enciclopédias, cujos livros eram muito pesados e grandes para uma garotinha segurar sozinha. Lembro dele me explicando que pessoas, na maioria das vezes por questões de fé, andavam por dias até chegarem a Catedral de Santiago de Compostela, na região
da Galícia, Espanha. O nome dado a essas pessoas, peregrinos, nunca saiu da minha cabeça. No dia 7 de março desse ano nós dois entrávamos para esse grupo. Pela primeira vez na vida éramos peregrinos. Não somente por questões de fé, mas, porque um dia, lá atrás, prometemos que embarcaríamos nessa aventura juntos. Por vezes comentamos sobre esse projeto. No entanto, ele sempre parecia muito distante, inatingível e louco. Naquela terça-feira gelada nosso sonho encontrou-se com nossa realidade e, mesmo andando um pequeno trecho do Caminho, às 8 horas da manhã, iniciávamos nossa jornada. O Cebreiro Uma neblina forte cobria O Cebreiro, nosso ponto de partida. Conforme andávamos o povoado ia se revelando. A praça, a igreja, um café, poucas casas. Tudo feito de pedra. Essa seria para sempre nossa primeira recordação dessa aventura. Eu, 36 anos. Meu pai, 68. Os dois carregando apenas o essencial em mochilões que pesavam não mais de oito quilos. Cerca de 155 quilômetros e sete dias nos separavam do nosso destino, a Catedral de Santiago de Compostela. Claro que existia o entusiasmo, a felicidade em estar ali. Mas, por um momento, senti medo. Uma sensação de estar fazendo algo muito grande, amedrontador, além das minhas condições e das condições dele. Meu pai, cheio de saúde, mas já um idoso. Eu,
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FOTOS DE VIVIAN SIMONATO
acostumada a vida de escritório, nunca participei nem dessas maratonas que hoje estão na moda. E se não aguentássemos? E se acontecesse algum coisa ruim? E se…. No entanto, tudo passou quando meu pai me chamou para dar um abraço, já que tínhamos começado a andar há alguns minutos sem desejar boa sorte um ao outro. “Vem aqui, peregrina, me dá um abraço que hoje o dia é muito especial porque estamos começando a realizar um sonho!”. Depois disso, não tive mais um segundo de dúvida, nenhuma outra incerteza ou medo. Nosso momento especial estava começando de verdade. Para ele, eu sempre serei aquela garotinha, que agora ele tinha a oportunidade de desbravar o mundo junto. Para mim, ele sempre será minha fortaleza, coisas que o tempo não muda. Mas também descobriria ao longo do Caminho que me transformei na fortaleza dele.
saber aonde ir. Esse era o momento que começávamos a entender a dimensão daquilo tudo, a importância do Caminho, sua multiplicidade, as várias razões pelas quais pessoas decidem embarcar nele. O aprendizado e exercício de desapego eram diários. Me descobri cuidadora do meu pai. Aprendi que ele precisava muito mais de mim do que eu pensava. Eu era sua tradutora, a que com visão melhor
sempre achava primeiro a concha de Vieira ou a seta amarela quase apagada que nos guiava. Sempre fui péssima com mapas, mas essa também foi tarefa minha - checar nossa direção, o que nos esperava, juntamente com a de decidir quando íamos parar, aonde, por quanto tempo. A ele coube ditar o ritmo da caminhada, que por vezes eu não conseguia acompanhar. Ele também foi o campeão em A correspondente de Plurale na Comunidade Europeia, Vivian Simonato, 36 anos, e o seu pai, Ariston, de 68 anos, fizeram juntos o caminho francês juntos, com muita fé e alegria.
A jornada Logo no primeiro trecho, até Triacastela, aprendemos que a trajetória era desafiadora e ao mesmo tempo libertadora, tanto física quanto mentalmente. Sem dúvida alguma as subidas eram árduas, mas, o pior eram as descidas, a concentração para se localizar,
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Especial Compostela
FOTOS DE VIVIAN SIMONATO/ CAMINHO FRANCÊS
bom humor, mesmo às 5 da manhã quando começávamos a andar e ele sempre me dava um “high-five” seguido de abraço dizendo: “Aqui são os peregrinos da alegria começando mais um dia”. Mesmo com sono, meio mal-humorada por acordar tão cedo, sem café, não tinha como não rir e entrar no clima dele, que já engatava contando suas histórias. Ele também foi o responsável pela trilha sonora de cada dia. A maioria das vezes fomos de Roberto Carlos. Outras, Tião Carreiro e Pardinho, Sergio Reis, Tonico e Tinoco. Mas, também, foram vários os momentos que ficávamos em silencio, em comunhão com a paisagem espetacular que nos acompanhou e a energia especial de nós dois juntos, realizando aquele sonho. Por vezes também pensei que quando se faz algo tão grandioso o tempo passa diferente. A serenidade de cada um daqueles dias e a qualidade daqueles momentos nos nutria.
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Cada trecho concluído representava uma conquista, mesmo quando choveu, quando os nossos pês incharam e criaram bolhas, quando a comida acabou, quando ficamos perdidos e andamos 4 quilômetros a mais. Mas, esses foram percalços insignificantes diante das infinitas memorias felizes que levaremos pro resto de nossas vidas. A alegria dele aprendendo a tirar selfies ou realizando a maravilha de ouvir música pelo Spotify não importava aonde estivéssemos. Nós dois rindo quando ele sempre achava um jeito super criativo de pendurar no quarto a roupa que tinha lavado no chuveiro. Nossas considerações a cada dia sobre o melhor Menu do Peregrino. Um café da manhã que pagamos 3 euros cada e quando achávamos que tinha terminado a moça trouxe mais outro tanto de tostadas (que olhamos um pro outro e começamos a embrulhar tudo pra levar). A visita ao monastério de Samos (que depois ele confessou que
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não entendia porque eu queria fazer um desvio de 6 quilômetros para ver ruinas). Mas que, chegando lá viu que era uma construção linda, em funcionamento e que após nossa visita ele até foi convidado pelo monge Lorenzo a voltar quando quiser pra organizar a farmácia do Monastério quando descobriram que ele era farmacêutico. A diversão dele quando eu gravava vídeos nossos e ele queria saber se muitas pessoas tinham curtido o vídeo com o “Peregrinão”, apelido carinhoso que dei a ele. Ele envergonhado respondendo “gracias” quando nos desejavam “Buen Camino!”. A felicidade em cada “selo” do peregrino que conseguíamos. A chegada em Santiago de Compostela… nos dois exaustos, emocionados, ouvindo a canção “Amigo” do Roberto Carlos e olhando a catedral sem acreditar que tínhamos conseguido, que havíamos realizado um sonho e que agora éramos oficialmente peregrinos.
SERVIÇO Leve um bom guia que especifique os trechos, quilômetros entre as cidades e informação sobre o relevo. Em muitos trechos o celular fica sem sinal e o guia é essencial. Nosso roteiro: O Cebreiro – Triacastela (21km) Triacastela – Sarria (passando por Samos – 19,7km) Sarria – Portomarin (21,5km) Portomarin – Palas de Rei (25km) Palas de Rei – Arzua (29,5km) Arzua – O Pedrouso (20km) O Pedrouso – Santiago de Compostela (20km) Decidimos andar somente sete dias por questões pessoais que envolviam dias limitados de férias e dúvida quanto ao preparo físico. Mas, voltaremos algum dia para andar completamente o Caminho Francês, partindo de Saint Jean Pied de Port (aproximadamente 800km). Adoramos fazer o caminho em março. Não é cheio, não e tão calor nem tão frio. A única desvantagem é que nem todos os comércios estão abertos por conta de não ser alta temporada (que é depois da Páscoa). No entanto, não tivemos maiores problemas. Acomodação – muitos peregrinos que conhecemos ficaram nos albergues municipais. Como não fomos em alta temporada eles estavam vazios. No entanto, outros peregrinos que já tinham feito o caminho outras vezes, disseram que em alta temporada é necessário sair muito mais cedo pra garantir lugar, já que os albergues lotam facilmente. Ficamos apenas duas noites em albergues – Triacastela e Arzua. Como meu pai já é um senhor e achei que o melhor seria ter mais privacidade, nas outras noites reservamos hotéis ou pousadas. Comida – sempre é bom carregar um lanche. Muitas vezes andávamos por horas sem encontrarmos nenhum comércio (ou estavam fechados por não ser alta temporada). Assim, nossa sacola de merenda sempre incluía pão, queijo, chorizo, azeite (pequeno porque pesa) e jamón. Água – pelo trajeto há várias fontes de água potável. Como também levamos garrafas com filtro embutido, comprávamos água quando chegávamos ao nosso destino, mais para beber na acomodação. Também tínhamos uma canequinha cada para facilitar
beber qualquer outra coisa. Em todas as cidades encontramos restaurantes que ofereciam o Menu do Peregrino. Normalmente, o menu custa 10 euros e inclui: entrada, prato principal, sobremesa, vinho ou água. Não se assuste se optar por vinho e trouxerem a garrafa inteira. Achei que tinha sido um engano, mas a senhora de um restaurante explicou que era para eu beber o quanto quisesse. O melhor Menu do Peregrino que comemos foi em Palas de Rei. Pedimos caldo Galego de entrada, Pulpo a la Gallega (super tradicional em toda região e delicioso), torta de amêndoa e vinho. O que levar? O mínimo possível! Dizem que a mala não pode ter mais que 10% do peso corporal de quem a carrega. Mesmo seguindo essa regra sentimos a mala pesada várias vezes. Felizmente, companhias de courier trabalham em parceria com as acomodações e pagando entre 3 a 5 euros existe a opção de mandar a mochila para o próximo destino. Basta preencher o envelope com o endereço da acomodação seguinte e deixar o dinheiro. Caso você não saiba ainda aonde vai dormir, a empresa deixa a mochila no albergue municipal do seu próximo destino. Usamos o serviço mais de 3 vezes e foi perfeito. Credencial do Peregrino ou Passaporte do Peregrino – É um documento que permite ao peregrino comprovar os locais que passou para requerer a Declaração do Peregrino na Oficina de Acogida al Peregrino. A declaração é concedida aos que andaram 100km ou mais a pé ou a cavalo, ou 200km de bicicleta. Conseguimos o nosso passaporte na acomodação que ficamos antes de começar a caminhada, chamada As Miguiñas do Cebreiro, em Piedrafita. O simpático dono da nossa pousada, Manoel, nos vendeu os passaportes do peregrino por 1,50 euro cada e explicou como preencher. Basicamente, você coloca os detalhes pessoais, local e data de início e carimba o passaporte ao longo do trajeto toda vez que encontrar um comércio. O carimbo é chamado “selo”. Chegando a Santiago de Compostela, já na Oficina de Acogida al Peregrino, mostre o passaporte para retirar a Declaração do Peregrino. Há uma versão gratuita e outra que custa 6 euros, nós quisemos as duas.
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Especial Compostela FOTOS DE HÉLIO ARAÚJO
Emoções no Caminho Português Texto e fotos de Hélio Araújo, Especial para Plurale
Fazer o Caminho Português de Santiago de Compostela foi, para mim, uma experiência MARAVILHOSA, indescritível em palavras. Foram 260 km em 11 dias, a pé, do Porto, (Portugal) a Santiago de Compostela (Espanha), em julho de 2015. Muitas alegrias e emoções - e dores também, por conta da tendinite na perna esquerda e das bolhas nos pés, que me acompanharam durante TODO o trajeto e me levaram a solicitar atendimento médico em três oportunidades ao longo da caminhada, o último deles após concluir o Caminho, em Santiago. Cada peregrino tem a sua razão (ou razões) para fazer o Caminho, seja o Português, o Francês, o Primitivo, o Aragonês, etc. A grande maioria é pela religiosidade, pela força espiritual que
é atribuída ao Caminho. É claro que as sensações, as percepções, os ‘encontros’ e os ‘sinais’ variam de pessoa para pessoa, da forma como fazem o Caminho, como encaram a vida, as tarefas do dia a dia, a religião, a espiritualidade e o trato com o ser humano, o seu semelhante. Antes de mais nada, você precisa ‘estar a fim’ de fazer o Caminho, sentir que aquilo vai ser algo de bom para você, apesar das dificuldades que possam surgir. No meu caso, decidi que iria fazer o Caminho Português quando estava em frente à Catedral, em 2014, em minha segunda visita à cidade como turista. A partir dali dei início ao meu projeto, com leitura de livros, busca de informações na internet, participação nas reuniões da Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago (AACS-Brasil) e melhora das condições físicas. Uma das razões que me
levaram a fazer o Caminho foi a homenagem ao meu irmão Moreira, falecido prematuramente em 2012, e à minha cunhada Sheila, viúva de meu irmão, que faleceu em maio de 2013, exatamente no dia de Nossa Senhora de Fátima, de quem era devota. Por isso, além de todo o material básico que o peregrino carrega em sua mochila, eu levava a ‘certeza’ de que eles, junto com minha mãe, Maria Cândida, ‘caminhavam’ ao meu lado, me ajudando nos momentos mais difíceis. O Caminho tem dessas coisas: ele te aproxima ainda mais das pessoas que você ama, estejam presentes fisicamente ou não. Por isso, aumenta a saudade de quem ficou em casa ou dos que estão em um plano superior. Mas isso, é claro, depende de cada pessoa, de cada peregrinão. Eu curti muito o MEU Caminho, apesar das dificuldades de ordem físi-
ca. Tentei fazê-lo da forma mais suave possível, sem pressa, prestando atenção em detalhes que um peregrino um pouco mais apressado não prestaria. Além disso, minha paixão pela fotografia fez com que as paradas para os registros aumentassem a demora em concluir os trajetos, já acentuada por conta das dores nos pés, mas resultassem em imagens que considero muito importantes, pois captaram a essência do MEU Caminho, daquilo que os meus olhos viam e meu coração sentia, embora esse sentimento não possa ser traduzido em imagens. Desde a saída da Sé do Porto, em Portugal, até Santiago de Compostela, na Espanha, passei por muitas cidades e povoados, alguns dos quais típicos de contos de fadas. Castelos, pontes medievais, igrejas seculares, plantações, flores e povos atenciosos foram comuns nos lugares por onde andei, como Barcelos, Ponte de Lima, a temida Serra da Labruja, Rubiães, Valença do Minho, Porriño, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis e Padrón, entre outros. A Natureza, exuberante em quase todo o Caminho Português, os símbolos religiosos presentes em diversos momentos e a sinalização para o peregrino, com suas setas/flechas amarelas e conchas/vieira, foram meus três ‘alvos’ preferidos nas centenas de imagens que registrei com a máquina fotográfica e o celular. Caminhar 16, 20, 25 ou mesmo 34 quilômetros por dia é, realmente, uma tarefa muitas vezes estafante, mas plenamente recompensada pela magia e belezas do Caminho, além das amizades que surgem em um simples desejo de “Buen Camiño”, dito em diversos idiomas. É comum, ao longo da caminhada, encontrarmos peregrinos das mais variadas compleições físicas, nacionalidade, idade e motivo pelo qual estão ali. Não há, na verdade, uma ‘regra’ para ser peregrino. Tem que ter o desejo de caminhar – e as razões também são variadas, como disse no início – e estar com os exames médicos em dia, ou seja, ter cuidado com a saúde. É desejado que se faça uma preparação física meses antes de iniciar o Cami-
nho, mas não é difícil encontrarmos peregrinos sedentários, que saíram diretamente do sofá da sala para o Caminho. Os que têm doenças crônicas devem ter cuidado redobrado com os remédios e a alimentação durante a caminhada. O menu do peregrino, que varia de cidade para cidade, pode ser bom para uns, mas prejudicial para outros. A hidratação também é fundamental e, por isso, garrafas de água são muito bem-vindas e devem estar cheias ao sair dos albergues pela manhã. A água poderá ser renovada nas diversas fontes encontradas em diversos pontos. Mas, atenção: algumas não são potáveis e, nesses casos, geralmente há uma placa com tal informação. O custo diário de um peregrino é estimado de 30 a 50 euros, dependendo do albergue escolhido. Nos municipais, mantidos pelas Prefeituras ou voluntários, é feita doação que varia de 5 a 10 euros, embora não seja obrigatória. Mas neles só podem pernoitar quem apresenta a Credencial de Peregrino, que deve ser carimbada ao longo do Caminho e vai permitir, ao final, a retirada da Compostelana na Catedral de Santiago. Há também os albergues privados, que custam geralmente de
8 a 20 euros, variando desde beliches em espaços coletivos – não tão grandes como nos municipais – até quartos com banheiros privativos. Apesar das dificuldades físicas, acredito que tenha concluído com êxito o meu objetivo, pois sempre confiei em mim e mantive o foco, a fé, a determinação e a esperança naquilo que queria. Para fechar com ‘chave de ouro’ o MEU Caminho, pude assistir à Missa do Peregrino, comungar, ver o espetáculo do Botafumeiro (incensário), abraçar a imagem do Apóstolo Santiago e visitar sua cripta no dia de minha chegada a Compostela. Além, é claro, de receber a Compostelana e o Certificado de Distância. Também assisti à queima de fogos e a missa especial do dia 25, quando se comemora o Dia de Santiago – e também o MEU ANIVERSÁRIO. Emoção em dobro, é claro, que estou ansioso para repetir. Buen Camiño!
SERVIÇO - Mais informações e dicas no site da Associação Brasileira dos Amigos do Caminho de Santiago www.caminhodesantiago.org.br
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Especial Compostela
FOTOS DE HÉLIO ARAÚJO / CAMINHO PORTUGUÊS
FOTOS DE VIVIAN SIMONATO/ CAMINHO FRANCÊS
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E n s a i o
FOTOS: VIVIAN SIMONATO, DO CAMINHO FRANCÊS DE SANTIAGO DE COMPOSTELA E HÉLIO ARAÚJO, DO CAMINHO PORTUGUÊS
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Tragédia de Mariana
O diretor-presidente da Samarco, Roberto Carvalho, apresentou ao Legislativo ações tomadas para mitigar os prejuízos sociais e ambientais causados pelo desastre cometido pela empresa.
Por Hélio Rocha, Especial para Plurale De Minas Gerais Fotos de Divulgação , SECOM-ES e Agência Brasil
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assados um ano e meio da tragédia de Mariana, até hoje o maior crime ambiental já cometido no Brasil, uma nova batalha se inicia, num terreno hoje fértil para impasses: a política. Isto porque, tanto no Legislativo mineiro quanto nas Prefeituras de cidades direta ou indiretamente envolvidas economicamente com a Samarco, a demanda é pelo retorno das atividades da companhia. A mineradora, controlada pelas gigantes do setor Vale e BHP Billiton, é responsável pelo rompimento da barragem de Fundão, que matou 19 pessoas em novembro de 2015, deixou centenas de desabrigados e dois vilarejos destruídos nas proximidades de Mariana/MG, além de ter poluído com lama de minérios o Rio Doce, um dos mais importantes da região Sudeste. Ela não opera desde então e o argumento para a retomada
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Samarco deve voltar a operar até o fim do ano Poder Público articula para que mineradora volte às atividades e não prejudique arrecadação. Atingidos temem impunidade e denunciam erros na reparação dos danos. das atividades é de que os municípios dependem de sua produção. Entidades de defesa dos direitos civis e das minorias discordam, afirmando que esta possibilidade aponta no caminho do esquecimento e da impunidade. Cidadãos entendem a necessidade do retorno, preocupados com o desemprego e falta de renda dos que dependiam da empresa, mas também são reticentes quanto à reparação. O imbróglio se arrasta desde o final de abril, e ganhou proporções mais notáveis no final do mês de maio. Os
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prefeitos de Mariana, Duarte Júnior (PPS), e Anchieta/ES, Fabrício Petri (PMDB), são as principais vozes desta requisição para volta da Samarco, e têm o apoio de municípios como Ouro Preto, Catas Altas e Matipó, em Minas Gerais. A empresa afirma que pretende retornar no segundo semestre de 2017, mas depende de cartas de conformidade emitidas pelas Administrações das cidades do entorno de sua área de operação, para em seguida protocolar pedido de licença operacional corretiva junto à Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais (Semad). Este aval tem se tornado o empecilho, visto que Lelis Braga (PHS), prefeito da mineira Santa Bárbara, recusa-se a autorizar a volta aos trabalhos, afirmando que as obrigações da Samarco quanto à recuperação de um manancial no município não foram cumpridas, ao que a empresa rebate dizendo que tal compromisso não decorre da tragédia e que, por isso, não pode ser critério para a liberação. Até o fechamento desta edição, Santa Bárbara permanece irredutível e a Justiça deu dez dias para que sua Administração explique oficialmente sua posição. Para Mariana, de acordo com o prefeito, tal situação esvazia os cofres públicos, apesar da necessidade de punição à mineradora pelo ocorrido. “Reconhecemos o sofrimento que as pessoas da região passaram e temos enorme respeito pelas famílias. Por isso, aguardamos que a Justiça diga quais foram as falhas e puna os responsáveis. Isso é importante, mas também é importante o retorno das atividades, para as pessoas não serem ainda mais penalizadas”, argumentou Duarte Júnior, durante audiência pública da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), realizada no dia 23 de maio. Ele contabiliza que 89% das receitas municipais advêm da mineração, recursos que mantém serviços essenciais, e cuja falta pode levar Mariana à bancarrota e causar aumento do desemprego. Petri segue a mesma linha argumentativa: “o pronto atendimento do hospital de Anchieta, que serve a toda a região, está prestes a ser fechado e o serviço de transporte escolar também terá que ser reduzido”. Além disso, segundo o prefeito, o Programa Saúde da Família (PSF) também está ameaçado e o índice de desemprego na cidade está em torno de 25%. Durante esta mesma sessão, o diretor-presidente da Samarco, Roberto Carvalho, apresentou ao Legislativo ações tomadas para mitigar os prejuízos sociais e ambientais causados pelo crime cometido pela empresa. Ele destacou a criação da Fundação Renova,
O prefeito de Mariana, Duarte Júnior, defende a volta à operação da mineradora no município
que desde outubro de 2016 passou a ser responsável por todas as ações de reparação e compensação de danos. Apesar disso, não tocou na questão das centenas de pessoas que ainda não receberam a reparação devida, vivendo até hoje de um salário mínimo pago em cartão fornecido pela fundação, conforme Plurale em Revista registrou em sua edição de um ano da tragédia, no fim do ano passado. Carvalho também defendeu que o rompimento da barragem incentivou pesquisas e planos de ação para prevenir novos problemas e que a mineração se tornou uma atividade mais segura. A empresa e os prefeitos receberam o apoio de boa parte dos deputados mineiros, que dizem compreender a necessidade de retorno da Samarco visando à arrecadação pública. “Os próprios moradores da área afetada exigem a retomada imediata para restabelecer a vida cotidiana. Se voltar a operar, a empresa terá condições de firmar melhores acordos com o poder público e alavancar o desenvolvimento econômico”, afirmou o deputado Roberto An-
drade (PSB), autor do requerimento da reunião. Uma das poucas vozes dissonantes vem da bancada do PT, liderada pelo relator da Comissão Extraordinária de Barragens, Rogério Correia. Ele afirma que, enquanto não houver diretrizes claras sobre novos procedimentos de segurança para as barragens, é temerário que a empresa volte a operar, além de tal medida apontar no sentido da impunidade. O coro favorável ainda é fortalecido por uma voz importante que, embora não tenha participação na tomada de decisões, atua como um importante negociador: o Governo Federal. Segundo o ministro das Minas e Energia sob a presidência de Michel Temer (PMDB), Fernando Coelho, a pasta atua para “cuidar pessoalmente do relacionamento com a presidente do Ibama, com o pessoal do estado de Minas Gerais, com as Prefeituras”. As palavras foram ditas durante o seminário Brasil Futuro, em São Paulo/SP. “Quem vai reparar as famílias e o meio ambiente?”
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Tragédia de Mariana
AGÊNCIA BRASIL – ARQUIVO – DEZEMBRO 2015
DISTRITO DE BENTO RODRIGUES – Antes e Depois
Entre os atingidos pela tragédia, a sensação que fica, das montanhas de Minas Gerais ao litoral do Espírito Santo, é de impunidade e sobreposição do poder econômico ao interesse público. Principal organização de defesa das minorias frente a empreendimentos privados e governamentais que impactam o meio ambiente e o solo no Brasil, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) tem atuado com reuniões e visitas para que os moradores se organizem a fim de garantir todos os seus direitos. De acordo com o movimento, a empresa ainda toma decisões que prejudicam a população, principalmente a mais pobre, nos arredores do local onde ocorreu a catástrofe. No município de Barra Longa, que também teve sua região central destruída pela lama da barragem de Fundão, os moradores agora convivem com uma rotina difícil: o local se tornou um canteiro de obras. O prefeito Elísio Barreto (PMDB) autoriza, desde o início dos trabalhos de recuperação das áreas atingidas, a utilização do Parque de Exposições do Município como depósito de lama retirada nas obras de restauração do centro da cidade. O resultado é óbvio: removidos os rejeitos de minério da região nobre da cidade, eles são levados para o local e atingem os moradores próximos, mais pobres e que não tinham sido afetados pela catástrofe. “É a Samarco levando a lama aonde a tragédia não chegou”, ironiza Sergi-
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nho Papagaio, morador da cidade, em depoimento prestado à assessoria do MAB. Thiago Alves, integrante da coordenação do movimento, afirma que, diante da pressão em defesa da saúde dos moradores próximos ao Parque, a Samarco decidiu desalojá-los. “Mas como? Para onde eles vão? Quais as garantias?”, questiona o ativista, também em fala à própria assessoria. A empresa se defende e afirma que a comunidade foi consultada e o projeto foi protocolado pela Semad. A Fundação Renova informou que vem monitorando a qualidade do ar, da água e do solo em todas as regiões atingidas pela tragédia e por intervenções decorrentes das obras de reparação, e até o momento não há indícios de danos à qualidade de vida. Quanto aos desalojamentos, a mesma Fundação garante que novas moradias serão construídas nos projetos de reconstrução dos locais destruídos ou utilizados para obras de reparação. Em seu site, o órgão ligado à Samarco produziu um detalhado infográfico sobre a recuperação de Barra Longa, disponível em: http://www. fundacaorenova.org/noticia/barra-longa-tem-parte-de-sua-infraestrutura-reconstruida/. Apesar das ressalvas, muitos moradores de regiões impactadas pela tragédia de 2015 são favoráveis ao retorno da empresa, não como um indicativo do esquecimento, mas como constatação de que, sem ela, os empregos somem
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Logo após o acidente, a Foz do Rio Doce, em Regência, no Espírito Santo, ficou totalmente tomada pelo barro e rejeitos de materiais pesados que percorreram cerca de 800 kms
e a economia pode, de fato, colapsar. Para Antônio Gonçalves, membro do Comitê de Moradores da Comunidade de Bento Rodrigues, a entidade não vai permitir que fique para trás o que ocorreu, mas o olhar adiante e a reconstrução passam, necessariamente, pelo retorno da mineração como principal player econômico da região. “O que precisamos é continuar trabalhan-
FOTOS DE DIVULGAÇÃO
ARQUIVO SECOM-ES- DEZEMBRO 2015
do para que seja erguido o ‘novo Bento’, como nós chamamos a vila que vai abrigar todos que perderam suas casas para a lama de Fundão”, ressalta. O depoimento vai ao encontro da opinião sustentada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), que endossa a transparência desde o primeiro momento, assim como a responsabilidade social e ambiental
da Samarco no caso. “A paralisação forçada da empresa efetivamente gerou uma grave lacuna na geração de empregos e renda, refletindo direta e indiretamente na arrecadação de tributos, prejudicando as economias tanto em Minas Gerais quanto no Espírito Santo. O Brasil também deixou de contar com toneladas de minérios de alta qualidade que poderiam ser exportadas e, com isso, gerar divisas.” Dilema da qualidade da água é desafio Outra questão que suscitou debates, nos últimos meses, foi a falta de consenso entre especialistas sobre a qualidade da água do Rio Doce, contaminada por ocasião da tragédia. A lama com rejeitos de minério rapidamente se deslocou para afluentes do rio, contaminando-o da altura de Mariana até a Foz, em Linhares/ES, no distrito conhecido como Regência Augusta. Com ampla cobertura da mídia nacional, cientistas contabilizaram índices altos de metais, em números comparáveis aos de 2015, quando a lama atingiu o curso d’água. O problema foi, em parte, atribuído às chuvas do início do ano. Porém, geólogos encarregados de pesquisas no local afirmaram ao Jornal Nacional que os níveis de metais assustaram. Foram 20 vezes mais ferro e dez vezes mais alumínio, aferidos pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). A leitura de artistas e ambientalistas ligados às comunidades ribeirinhas
do Rio Doce é de que o impacto da tragédia ainda não acabou, visto que os pescadores ainda estão impedidos de exercer seu trabalho, a água ainda é de qualidade duvidosa e a lama, de tempos em tempos, volta à superfície dos cursos d’água e do mar. No último dia 5 de junho, Dia Mundial do Meio Ambiente, os cineastas Pedro Serra e Hermano Beaumont lançaram o documentário “Rio Doce: Histórias de Uma Tragédia”, que trata da contaminação das águas pela lama de Mariana. Foram registrados depoimentos de diversos moradores e pescadores afetados. Outra iniciativa vem do professor da Universidade de Vila Velha (UVV) Levy Gomes, que vai levar peixes para repovoar o Rio Doce, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo (Fapes). Serão reinseridas 100 mil espécies de robalo e 1 milhão de larvas de curimatá e lambari. Entretanto, a concretização do projeto necessita da garantia sobre a qualidade da água, que ainda não é clara. A Fundação Renova garante que vem monitorando a qualidade da água e, até agora, não encontra modificação relevante, apesar de as chuvas realmente terem trazido lama do fundo dos leitos à superfície dos rios e do mar. Procurado por Plurale em Revista, o Conselho da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (CBH-Doce) diz que só vai se posicionar em plenária que será realizada em agosto, devido às limitações de seu poder decisório, visto que é um
Especial do Projeto Colabora
Belo Sun:
muitos riscos, poucas respostas
Críticos do projeto temem acidente com barragem de rejeitos, tal qual em Mariana; empresa afirma que empreendimento é seguro
Por Claudia Silva Jacobs, do Projeto Colabora Fotos de André Teixeira De Altamira (PA) Leia todo o Especial sobre Belo Sun no Projeto Colabora (http://projetocolabora. com.br/)
À
margem direita do Rio Xingu, uma imensidão verde vai se transformar num pote de ouro. É lá a propriedade da Belo Sun Mineração, de onde a companhia canadense espera extrair 5 toneladas do metal precioso a cada ano. Na área projetada para a mina a céu aberto, uma casa solitária dá o tom poético daquela paisagem, que se pode admirar por horas. Difícil imaginar como tudo ficará após ser rasgada pelas caves de exploração que, juntas, somam quase 3 quilômetros de extensão, a apenas 200 metros do curso do afluente do Amazonas. O uso das águas do rio nesse garimpo moderno é uma das preocupações dos críticos do empreendimento, assim como a barragem – de 600 metros de extensão – que precisará conter 14 mil piscinas olímpicas de rejeitos. As possíveis remoções dos que ainda vivem na área gigantesca, de 2.759,51 hectares, também estão na longa lista de temores. Quem visita o local hoje não vê muito do que está por vir nas próximas três décadas. As obras, que seriam iniciadas em setembro de 2017, nem começaram. A Licença de Instalação foi suspensa por uma liminar no mês de abril, mas a Belo Sun parece ter certeza que vai conseguir superar a enxurrada de críticas e ações judiciais, tanto que
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estampa, na versão em inglês do site do Projeto Volta Grande – como o empreendimento no Xingu é chamado -, sua determinação: “Rapidly advancing our gold project” (Nosso Projeto de Ouro avança rapidamente). Caso aconteça a liberação da LI, serão possivelmente dois anos de preparação para a mina começar a funcionar, com possibilidade de prorrogação do prazo em três anos, em caso de atraso. Com 75% da obra de instalação construída, Belo Sun pode dar entrada na Licença de Operação. A partir dai, serão 12 anos de operação, dois anos de desativação e oito anos de acompanhamento dos rejeitos, no total de 24 anos. Isso, no projeto aprovado de extração de ouro. Como a região é rica em outros minérios, outras propostas de exploração podem surgir, como a própria empresa deixa em aberto, para o desespero dos que lutam contra a ins-
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talação da mina na Volta Grande do Xingu. A bordo de um um barco do tipo voadeira, a equipe do Projeto #Colabora partiu de Altamira rumo ao terreno da Belo Sun, a convite da empresa. Além de funcionários da companhia, estavam na embarcação o prefeito de Senador José Porfírio (Souzel), Dirceu Biancardi, e a secretária de Educação, Vanessa Anabelle, que aproveitaram a viagem para fazer a entrega de doações da própria Belo Sun para a escola da Vila da Ressaca – distrito de município – numa demonstração da proximidade entre as autoridades e a mineradora. Não é para menos. A empresa apresenta o Projeto Volta Grande como “um precursor do desenvolvimento da indústria mineral no centro-oeste do Pará” e destaca que o empreendimento como o primeiro exclusivamente dedicado à
FOTOS DE ANDRÉ TEIXEIRA, PROJETO COLABORA
extração de ouro, com aproveitamento legal. “É uma oportunidade de diversificação econômica em um município onde o maior empregador formal ainda é a gestão municipal”, avalia a empresa. E é no viés do desenvolvimento da economia local que o projeto vem ganhando apoio de parte moradores e das autoridades, em meio a muita controvérsia. Barragem de rejeitos ao lado do rio Uma das grandes polêmicas em torno de Belo Sun é a utilização da água do rio. O receio é que essa captação deteriore ainda mais as condições do Xingu, impactado severamente nessa região pela Hidrelétrica de Belo Monte. A empresa afirma que fez modificações no projeto original, optando pela construção de dois lagos para a captação de água de chuva, sem utilizar a água do rio. Outro ponto que assusta moradores ribeirinhos e ambientalistas é a barragem, que terá pouco mais de 600 metros de extensão, com um total de 35,43 milhões de metros cúbicos de rejeitos. Volume que equivale a um terço do que fora anunciado anteriormente pela em-
presa, que alega ter feito ajustes no projeto. Mesmo assim. olhando o grande vale, pode se ter uma projeção assustadora da quantidade de rejeitos a serem acumulados em uma área a um quilômetro das águas do Xingu, cercada de muito verde. A empresa afirma que o sistema de depósito dos resíduos em Belo Sun será seguro: “No sistema à jusante, você vai
construindo a barreira como se fossem escadas. Tem uma base no fundo e nas laterais vamos construindo andares de acordo com o aumento dos rejeitos. Isso dá uma segurança muito maior do que apenas uma barreira única (à montante), como a de Mariana”, pondera Mauro Barros, Diretor Geral de Belo Sun, que acompanhou o #Colabora na visita. “As chances de um acidente
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Especial do Projeto Colabora
como o de Mariana é de 0,01%”, completa Barros, mostrando o grande vale, do lado oposto à região de exploração, onde será construída a barragem que terá, ao final de 12 anos, a altura de 44 metros (o equivalente a um prédio de 14 andares). O processo de separação do ouro das rochas é outro ponto de alerta. Para essa etapa, é utilizado o cianeto, composto químico altamente tóxico, que pode afetar animais e ambiente. A empresa esclarece que o uso do produto é rigorosamente controlado, estocado em tanques fechados e protegidos. Depois utilizado, o cianeto será neutralizado e destruído dentro de tanques de cianetação para, em seguida, ser levado à barragem de rejeitos, cumprindo medidas estabelecidas pelo Código Internacional de Cianeto. E o futuro? Mas após as décadas de exploração, como ficará a região? A dúvida paira no ar, já que o que sobra é uma montanha de rejeitos. A empresa explica que o projeto prevê dois anos de desativação das instalações e mais oito monitorando os rejeitos. Depois, o processo fica a cargo do município, o que é motivo de preocupação para ambientalistas e moradores. E não é à toa. Não há ainda uma clara definição do futuro, como pode ser ates-
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tado ao ler a posição da empresa sobre o assunto. “O Projeto Volta Grande possui um Plano de Fechamento de Mina, apresentado e validado pela Secretaria de estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade. Este plano tem as diretrizes técnicas e operacionais para o fechamento correto da mina, de forma segura e sustentável, após os 12 anos de operação do empreendimento. Nele existem diversas possibilidades para o reaproveitamento da área. A Belo Sun Mineração investirá no retorno da área à condição natural de floresta, mediante a sua recuperação. A empresa mantém diálogo com o Incra e a área também poderá ser utilizada para fins de reforma agrária.” A decisão final, no entanto, sobre se a área terá algum aproveitamento para usos futuros alternativos, caberá aos públicos de interesse da Belo Sun Mineração: comunidades, instituições e órgãos públicos diretamente envolvidos com o empreendimento. Quem adquirir a área, por exemplo, assumirá eventuais passivos de manutenção, bem como a responsabilidade dos novos impactos a serem gerados. Portanto, todo uso futuro no período de pós-fechamento estará sujeito à legislação, inclusive com novos licenciamentos ambientais para qualquer tipo de atividade, se necessário”, informa a empresa.
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Circulando pela região A recuperação da floresta é uma promessa para o fim da mineração, mas hoje a empresa afirma que 30% da área já estava descaracterizada mesmo antes da implantação do empreendimento. Agricultura, pecuária e exploração ilegal de madeira teriam contribuído para a degradação, mas não há como constatar se ela chega ao patamar informado pela empresa. A compensação financeira, por danos ambientais ao município de Senador José Porfírio, está fixada em R$ 10 milhões. Mas o que vai ser feito desse dinheiro depende das autoridades locais e do Estado do Pará, o que preocupa muito os opositores do projeto. Famílias ainda vivem na área da Belo Sun, e o futuro delas ainda está em discussão. Muitas venderam suas terras para a mineradora, que continua fazendo aquisições e expandindo seus domínios. Mas, ao circular pelo terreno, o que se vê é uma área pouco povoada, com partes sem vegetação e também sem estrutura, com estradas estreitas. No momento, garimpeiros artesanais e ilegais seguem trabalhando entre os rejeitos. Mas quando a mina da empresa canadense entrar em atividade, eles serão afastados. Todos esperam uma chance de trabalhar no projeto. Mas esse ponto preocupa a empresa, que se comprometeu a usar parte
E n s a i o
FOTOS:
ANDRÉ TEIXEIRA PROJETO COLABORA – DE ALTAMIRA (PA) Questões ainda não definidas como a remoção ou não de moradores das comunidades ribeirinhas mais próximas do empreendimento como a Vila da Ressaca e a Ilha da Fazenda, a situação das comunidades indígenas da Volta do Rio Grande, entre outros fatores deixam os moradores, principalmente das áreas mais próximas a Belo Sun, em compasso de espera. A empresa diz que esse assunto só será tratado novamente após a liberação da Licença de Instalação. A expectativa da Belo Sun é que isso aconteça em até 90 dias.
da mão de obra local. O número de vagas não se compara com os tempos de Belo Monte, que chegou a empregar 30 mil pessoas. Belo Sun, nos anos de implementação, vai ocupar de duas mil pessoas da região. A socióloga Juliana Magalhães, Gerente de Desenvolvimento Social da Belo Sun, trabalha junto às comunidades para explicar a situação e entender anseios e necessidades: “Belo Monte passou de 30 mil de empregados, uma quantidade muito grande de pessoas, mas que ficaram por
um curto período de tempo, por dois anos. Isso deixou uma espécie de trauma e muitos temem que isso se repita novamente. Essa sombra está sempre presente. E a impressão é que as pessoas querem uma compensação para justificar esse impacto. Isso está diretamente ligado à necessidade de se expandir o entendimento sobre o empreendimento, como a mineração funciona. O número de funcionários se estabiliza e vamos oscilar 564 empregados, o que é muito diferente”, explica.
(*) Claudia Silva Jacobs, carioca, formada em Jornalismo pela PUC- RJ. Trabalhou no Jornal Dos Sports, na Última Hora e no Globo. Mudou-se para a Europa onde estudou Relacões Políticas e Internacionais no Ceris (Bruxelas) e Gerenciamento de Novas Mídias (Birkbeek College). Foi produtora do Serviço Brasileiro da BBC, em Londres, onde participou de diversas coberturas e ganhou o prêmio Ayrton Senna de reportagem de rádio com a série Trabalho Infantil no Brasil. Foi diretora de comunicação da Riotur por seis anos e agora é freelancer e editora do site CarnavaleSamba.Rio. Está em fase de conclusão do portal cidadaoautista.rio.
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Cultura DIVULGAÇÃO - FICA
O festival de cinema que consagrou o meio ambiente como estrela Texto e fotos de Isabel Capaverde, de Plurale Da Cidade de Goiás (GO)
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urante seis dias a Cidade de Goiás vive o FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental que em junho de 2017 completou 19 edições. Cidade Patrimônio Histórico e Cultural Mundial, uma joia encrustada no coração de Goiás, a terra de Cora Coralina no inverno tem sempre céu azul com sol forte e noite estrelada, o que colabora com o clima de festa cultural e consciência de preservação do meio ambiente que toma o lugar. O tema da edição deste ano foi “Cidades Sustentáveis: Desafios do Século XXI” que permearam toda a pro-
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gramação composta por dez mostras de filmes, fóruns e oficinas de cinema e meio ambiente, tendas de práticas populares de saúde e multiétnica com os povos do cerrado, shows e concertos musicais.
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Atividades que se espalharam pelos cartões postais da cidade como a Praça do Chafariz, o jardim do Museu Casa Cora Coralina, o pátio do Convento do Rosário, a Praça do Coreto, o Largo da Ca-
rioca, o Palácio Conde dos Arcos, o Mercado Municipal, o Cine Teatro São Joaquim. O FICA que fica Rodrigo Borges Santana, nascido e criado na cidade – pequi da terra, como brincam, se referindo à árvore nativa do cerrado - e que entrou no FICA como voluntário em 1999 e desde 2009 é Coordenador Operacional Geral, conta que em 19 anos de festival eles foram aprendendo na medida que iam fazendo. “No primeiro toda equipe para realizar o festival foi trazida de Goiânia e com o fim nada ficou para a cidade, gerando muitas queixas da população”. A partir de então, passaram a capacitar a comunidade local sendo que hoje o festival é feito com 230 pessoas da cidade. Vários projetos direcionados aos moradores foram idealizados ao longo dos anos como o FICA na Comunidade com atividades ambientais e culturais como o Memorial do FICA, localizado no Centro de Referência do FICA, um dos grandes legados para a cidade, com todo acervo do festival acessível aos moradores e visitantes o ano todo. Enquanto durante o festival entra em ação o esquadrão do FICA Limpo, pessoal que cuida da limpeza da cidade, as lixeiras de madeira instaladas com uma plaquinha com a logo do festival, são parte do mobiliário urbano. Há também o Se Liga no FICA, projeto de oficinas comunitárias de produção audiovisual que além de gerar novos cineastas, forma plateias. A novidade em 2017 é o Cine Teatro São Joaquim que ficou dois anos sendo reformado e depois da sua reabertura no FICA será uma sala com mostras de cinema mensais. “Através de uma parceria da Subsecretaria Estadual de Educação, responsável pela coordenação pedagógica e uma curadoria da área de cinema, as mostras terão temas que complementem o processo de aprendizagem dos jovens da cidade”, explica Rodrigo.
Vanessa Fernandes
A voluntária que já foi plateia Estudante da faculdade de Turismo da Universidade Estadual de Goiás, Vanessa Fernandes, que nos anos anteriores já havia sido plateia do FICA, nesta edição podia ser encontrada todos os dias como voluntária na Tenda Multiétnica. Aos 18 anos, apaixonada pela cultura indígena estava feliz de ter contato com um pouco de sua história. “Meus tataravôs maternos e meus avós paternos era índios. Como saíram de suas tribos muito cedo nunca tive proximidade com a cultura”, revela. Vanessa além de prestar informações sobre o festival aos visitantes, também estava ajudando no café de manhã de alguns dos convi-
dados da Tenda com os índios da tribo dos Avás-Canoeiros que tinham vindo do norte do estado. “A experiência está sendo maravilhosa”. Na Mostra Lançamento um filme rodado há 10 anos No meio de mais de 100 filmes em dez mostras, na Mostra Lançamento um caso curioso: um filme rodado há dez anos que estava guardado e teve sua montagem finalizada dois meses antes do FICA. “Amazônia INC. Sociedade Anônima”, dirigido por Sabrina Bogado, é um documentário sobre os habitantes da floresta que arriscam suas vidas para proteger a Amazônia do capital internacional que quer destruir não só sua casa como sua cultura. Sabrina tinha 70 horas de material gravado e num trabalho hercúleo de edição chegou a 76 minutos em que trata de temas como o assassinato de irmã Dorothy, a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, grilagem de terra, comunidades indígenas em risco, coisas que ainda preocupam dez anos depois. “Pois é, o filme continua atual. Na época que filmei eu já tinha a produtora (Levante Filmes), mas ainda não havia o Ancine. O filme foi bancado com dinheiro do meu bolso. Nesse tempo surgiram outros tantos projetos e no meio do ano passado eu me dei conta do quanto esse material continuava super atual. Não consegui montar para participar da seleção da Mostra Competitiva. Mas estrear no FICA já é abrir o diálogo”,
Cultura FOTOS DE ISABEL CAPAVERDE
fala a diretora. Sabrina agora tem planos de transformar o documentário num projeto transmídia para ser exibido em outras mídias e plataformas. “A visão que se tem da Amazônia é parcial. É sempre uma visão do ponto de vista do Sul e Sudeste do país. Temos que ampliar a pluralidade que existe no Brasil para provocar o diálogo”. A inesquecível tia Tó e a recuperação do rio Vermelho Ir à Cidade de Goiás para o FICA e conhecer pessoalmente a tia Tó é um privilégio. Não que Artolinda Baia Borges, conhecida carinhosa e respeitosamente como tia Tó, seja inacessível. Ao contrário. Ela é muito requisitada. Aos 85 anos, quando não está na sua Pousada do Sol, está tratando de assuntos da cidade que ajudou a tombar pelo Iphan em 1978 e depois ser reconhecida como Patrimônio His-
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tórico Mundial em 2001. “Como eu me sinto a cada FICA? Com esperança que as coisas vão melhorar. O FICA veio para reforçar a luta pelo meio ambiente. E com 19 anos já é um adulto começando a dar frutos. Vai nos ajudar a recuperar o rio Vermelho, o rio que deu sentido a criação da Cidade de Goiás”, explica oferecendo em seguida um suco da cajazinho com bolinho de fubá de farinha arroz, típicos da região. O rio Vermelho é um dos afluentes do Araguaia e tia Tó está trabalhando em um projeto para a recuperação do rio Vermelho. Viveu sua juventude na beira desse rio que, segundo ela, foi caudaloso. Hoje agoniza e pede socorro. “Trouxe um geólogo aqui e ele disse que não será difícil. Está preparando um projeto. Tem que limpar o leito do rio, fazer o replantio na cabeceira, educar e conscientizar o povo para manter esse líquido maravilhoso”.
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O grande vencedor e presenças celebradas “Martírio”, um documentário que mostra a retomada dos territórios sagrados Guarani Kaiowá na década de 1980 e volta ao assunto mais de vinte anos mais tarde, depois dos relatos de sucessivos massacres, buscando as origens de tanta violência, dos conflitos de forças frente o agronegócio foi o grande vencedor do troféu Cora Coralina do FICA 2017. Filme de Vincent Carelli, com co-direção de Tita e Ernesto de Carvalho. Entre as presenças celebradas nesta edição, destaques para o jornalista André Trigueiro, a atriz Dira Paes, o cineasta Eduardo Escorel, a documentarista norte-americana Mìchelle Stephenson e o público de mais de 3 mil pessoas. (*) A repórter viajou a convite do FICA.
CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
FICA parte 1: um júri só de mulheres Na 19º edição do FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, realizada na Cidade de Goiás (GO), o júri da Mostra Competitiva foi composto apenas por mulheres. Foram elas as brasileiras Sandra Kogut, cineasta especialista em vídeo-arte e documentários, Ilda Santiago, diretora do Festival do Rio, Marília Rocha, cineasta, documentarista e pesquisadora, Dora Jobim, neta de Tom Jobim, produtora de DVDs musicais e sócia da Samba Filmes, que produz documentários musicais e a naturalizada norte-americana Michèlle Stephenson, produtora, documentarista e diretora indicada a três Emmys pelo filme “American Promisse”.
FICA parte 3: cineasta cria do festival Um dos maiores públicos do FICA 2017 foi o da exibição do curta “Hugo”, sobre o escritor goiano Hugo de Carvalho Ramos, dirigido pelo também goiano Lázaro Ribeiro, cineasta que é cria do festival. No primeiro FICA , Lázaro era um adolescente que descobriu a paixão pelo cinema na sala escura do antigo Cineteatro São Joaquim. Nas edições seguintes passou a ser presença constante. Além de registrar tudo com sua câmera, fazendo making offs, via todos os filmes possíveis e participava de todas as oficinas oferecidas durante os festivais. De lá pra cá contabiliza 25 filmes no currículo, entre documentários e biografias. Em destaque, “Maria Macaca”, vencedor do voto popular no Fica em 2015, com Elisa Lucinda no elenco e “Caminho de Pedras”, sobre a jovem Cora Coralina, estrelado por Samara Felippo.
FICA parte 5: números desta edição Em seis dias de festival, foram mais de 100 filmes exibidos, somando mais de 50 horas de projeção, em oito mostras, cinco mesas de discussão tanto do fórum ambiental quanto no de cinema, 17 minicursos e oficinas, 20 shows e concertos. As duas salas de cinema – Cineteatro São Joaquim e Cine Cora Coralina – receberam cerca de três mil e quatrocentas pessoas. A organização do FICA estima que o movimento na Cidade de Goiás gerou um retorno para a comunidade de quase R$ 2 milhões.
FICA parte 2: exposição vai para AVCésio O FICA 2017 que teve em sua programação a Mostra em Parceria com o Uranium Film Festival 30 Anos do Acidente com Césio 137 em Goiânia, também recebeu a exposição “Mãos de Césio”, realizada no pátio do Convento do Rosário. Agora esse acervo passa para a Associação das Vítimas do Césio 137 de Goiânia (AVCésio). “Mãos de Césio” é uma exposição fotográfica sobre o acidente radiológico de Goiânia, realizada pelo jornalista alemão Norbert G. Suchanek e que foi exibida pela primeira vez em 2011, no Rio de Janeiro, no Centro Cultural Municipal Laurinda Santos Lobos, em Santa Teresa, como parte do primeiro International Uranium Film Festival e que foi atualizada para o FICA. Concebida para ser itinerante, quem tiver interesse em exibir a exposição deve entrar em contato com a AVCésio que também promove debates e palestras sobre a realidade das vítimas do acidente.
FICA parte 4: cineteatro com tecnologia de ponta A Cidade de Goiás e o FICA ganharam um cineteatro revitalizado através do PAC Cidades Históricas, com projeção no formato Digital Cinema Package(DCP). Este formato de alta definição é usado pela indústria do cinema há cerca de oito anos, garantindo mais qualidade à imagem e ao som. Com 160 anos de história, o Cineteatro São Joaquim tem hoje espaço para 292 pessoas, quatro acessos na sua fachada e ambientes internos modificados para oferecer acessibilidade. O FICA entra para a vanguarda dos festivais com esta tecnologia de ponta para as exibições e a cidade ganha um cinema que será utilizado pela população o ano inteiro com programação de qualidade.
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Pelas Empresas
ISABELLA ARARIPE
Coca-Cola Brasil investe R$ 3 milhões em editais para desafios sociais De Rio de Janeiro
A
Coca-Cola Brasil lançou, durante a Conferência 360º do Instituto Ethos, em junho, a plataforma de investimento social Movimento Coletivo. Até o fim de 2017, serão destinados R$3 milhões, por meio de chamadas públicas, para iniciativas que alavanquem causas como acesso à água, educação nutricional e equidade de gênero e raça. “Com o Movimento Coletivo pretendemos alavancar iniciativas de diversas áreas de impacto social de uma forma dife-
rente. Na área de saúde e alimentação, por exemplo, ao longo dos últimos três anos, fomos ampliando nossa rede e dialogando com muitas pessoas e entidades da Sociedade Civil Organizada. Aos poucos, vimos que havia uma oportunidade de direcionar
nossos investimentos de uma forma diferente, mais focada em ações relacionadas à educação nutricional e em colaboração com empreendedores que já atuam na área”, afirma Andréa Mota, diretora de categorias da Coca-Cola Brasil. “Da mesma forma, vimos que havia a oportunidade de expandir essa ideia para se tornar uma plataforma de investimento em ações de impacto social em outros temas relevantes para o país”. Do total, R$600 mil serão para o primeiro edital relacionado ao programa Água+ Acesso, que pretende viabilizar soluções inovadoras para o acesso e tratamento de água para consumo.
CNC faz projeções otimistas para o comércio REPRODUÇÃO DA TV CNC
De Rio de Janeiro
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) faz projeções otimistas para o setor neste segundo semestre e em 2018. O dado mais importante na avaliação feita pelo economista Fabio Bentes em encontro com jornalistas realizado em 6 de julho, em Brasília, é a abertura líquida (mais novos estabelecimentos em relação ao número dos que fecharão suas portas) de lojas no
próximo ano. Já no primeiro trimestre de 2017, o fechamento de lojas foi 75% menor na comparação com o mesmo período do ano anterior, o que, na sua análise, significa “uma piora menos intensa da atividade econômica.” Outro dado positivo é a projeção de crescimento de 1,2% no varejo ampliado (varejo restrito, veículos, motos e peças e material para construção) neste ano em relação a 2016, apesar da queda de 1,8% ao final do primeiro quadrimestre. Alguns se-
tores estão puxando a recuperação. Ele citou vestuário e calçados, materiais de construção, móveis e eletrodomésticos.
Primeiros cinco meses de 2017 fecham com 242 operações de fusões e aquisições no Brasil De São Paulo
O mês de maio apresentou crescimento no número de fusões e aquisições no Brasil, se confrontado com o mesmo período do ano passado. Foram 44 transações, ante 41 em 2016 – um número 7% maior. Destas 44 transações, 34 foram anunciadas na região Sudeste. O Estado de São Paulo lidera 55% das transações realizadas, com 133 transações. Tecnologia da Informação (TI) segue liderando as operações. Com 50 transações, o setor representa 21% dos investi-
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mentos realizados em maio – um crescimento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado. Em segundo lugar aparecem os serviços auxiliares (26 transações), cujo crescimento é de 8% em relação ao ano passado (maio 2016 – 24 transações). Os serviços públicos aparecem na terceira posição, com 22 transações. Os investimentos realizados no Brasil representaram 55% de participação nas negociações e os investimentos de origem estrangeira somaram 124 negociações (crescimento de 4% quando comparado ao mesmo período de 2016 - 119 transações).
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FIEMA Brasil confirma sua oitava edição em abril de 2018 De Bento Gonçalves (RS)
Em um contexto de crescente preocupação acerca da saúde dos negócios – especialmente no que se refere ao seu poder competitivo – buscar soluções de produção sustentável é exercício permanente para indústrias que querem seus nomes associados às práticas reconhecidas pela eficiência. A Fiema Brasil, amiga desse conceito, renova tal compromisso e anuncia sua oitava edição para 2018. De 10 a 12 de abril do próximo ano, a feira de negócios, tecnologia e conhecimento em meio ambiente vai apresentar e discutir pesquisas e tecnologias nessa área para quem visitar o Parque de Eventos de Bento Gonçalves. A disseminação de conhecimento é um dos propósitos do encontro e trunfo no desafio de construir um mundo melhor para as pessoas e pessoas melhores para ele – um dos ideais de atuação da entidade promotora da feira, a Fundação Proamb. “Incentivamos as empresas a refazerem sua visão do futuro, tendo a gestão ambiental como foco. A criação científica, para a qual a Fiema é uma vitrine, com trabalhos acadêmicos mostrados e premiados, ajuda a desenvolver o setor de negócios ambientais no país, que tem muito mercado a ser explorado”, observa o presidente da Proamb, Neri Basso. ANA CRIS PAULUS
A Beleza do Amanhã De São Paulo
“A sustentabilidade é a materialização do nosso propósito, que está expresso e impresso em nossa alma. Sustentabilidade é o nosso jeito de mudar o futuro, hoje. Enquanto lá fora é sonho e teoria, no Grupo Boticário é realidade”. Com essa frase, o CEO do Grupo Boticário, Artur Grynbaum, abriu seu discurso no evento “A Beleza do Amanhã”, realizado no dia 19 de junho, no auditório do MAM, em São Paulo, para discutir o nosso papel no futuro. Também participaram do evento o jornalista e escritor Clóvis de Barros; Adriano Silva, do Projeto Draft; a empreendedora e psicóloga Glaziella Cavallaro; e um dos mais importantes e laureados cientistas brasileiros, Sidarta Ribeiro. Marina De La Riva
Artur Grynbaum, CEO do Grupo Boticário.
encerrou a noite cantando Dorival Caymmi, com Bruna Lombardi, Carlos Alberto Riccelli e Ricardo Corte Real na plateia. O evento proporcionou um diálogo entre expoentes de diferentes áreas para contribuir com a geração do conhecimento e foi palco também do lançamento do Relatório de Sustentabilidade 2017 do Grupo Boticário.
Energia renovável já representa 25% do consumo da Vivo De São Paulo
Presente pelo quinto ano consecutivo no ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da BM&FBovespa, que reúne as companhias com as melhores práticas de governança e gestão, a Telefônica, dona da marca Vivo, anuncia o avanço da companhia no consumo de energia renovável no Brasil. Atualmente, 25% da energia consumida pela empresa é proveniente de fontes renováveis, obtida no mercado livre, contra os 22% registrados em 2015. Isso equivale a 388,4 milhões de kWh, o mesmo consumo de energia de um município como Guaratinguetá, em São Paulo, com aproximadamente 118.378 habitantes. As informações são destaque no novo Relatório Integrado de Sustentabilidade da empresa, elaborado com metodologia do International Integrated Reporting Council – IIRC. A meta global da companhia é de que até 2020, pelo menos 50% da energia consumida tenha origem em bases renováveis. O desafio, que vale para o Brasil e demais países de atuação da Telefônica, é chegar a 100% até 2030. O Relato Integrado, que
traz informações financeiras, sociais e ambientais e dimensiona a contribuição da companhia para o desenvolvimento sustentável, destaca também a conquista da certificação ISO 14000, obtida em 2016, para os 51 municípios mais representativos para a operação da empresa. A certificação abrange os processos de planejamento, implementação, manutenção e operação das redes móvel e fixa e fortalece a política ambiental da empresa.
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I m a g e m FOTO DE GUSTAVO PEDRO
A
pós uma década de imersão no Parque Estadual dos Três Picos, o fotógrafo, ambientalista e montanhista GUSTAVO PEDRO revela no livro bilíngüe (português/inglês), que leva o nome do parque, as entranhas do maior Parque Natural do Estado do Rio de Janeiro. Folhear a obra é acompanhar o olhar de Gustavo pendurado no ponto culminante da Serra do Mar (a cerca de dois mil metros de altura), rastejando em matas densas, se espremendo em trilhas muito fechadas ou mergulhado por horas nas águas das nascentes. O resultado é uma seleção com cerca de 170 fotos onde uma rica biodiversidade desfila toda sua hipnótica exuberância. Uma verdadeira festa para os olhos que conta com textos de 71 convidados prá lá de especiais, como teólogo e escritor Leonardo Boff, o ator e humorista Hélio de la Peña, o corredor Cristiano Goldenberg, o diretor de Biodiversidade do Instituto Estadual do Ambiente (INEA) Paulo Schiavo, entre tantos outros. Para o fotógrafo, o livro e a mostra são uma forma de conscientizar a população sobre a importância deste patrimônio ambiental. “Com tantos superlativos, o parque não contava até agora com uma publicação que celebrasse tamanha relevância, não só em termos de conservação ambiental, mas também para a pesquisa científica, o turismo e as práticas esportivas, educativas e culturais desse valioso remanescente da Mata Atlântica”, diz ele.
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“Terra enfrenta catastrófica perda de espécies.” - THE GUARDIAN 22 de julho de 2006
“Toma essa, extinção: pandas gigantes e outros animais resistem.” - THE GUARDIAN 05 de setembro de 2016
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