Plurale em Revista - Edição 66

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PARIS SUSTENTÁVEL

O BELO EXEMPLO DE RESERVA NO ACRE

PARQUE SESC SERRA AZUL (MT): AVISTAMENTO DE PÁSSAROS E CACHOEIRA DE ÁGUA CRISTALINA

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE w w w. p l u r a l e . c o m . b r

FOTO DE ISABELLA ARARIPE – RPPN SESC SERRA AZUL – ROSÁRIO DO OESTE (MT)

ano doze | nº 66 | maio / junho 2019 R$ 10,00


Entre tantas essências que utilizamos, uma está em tudo que fazemos: empreendedorismo. Mesmo quando já éramos a maior franquia de beleza do Brasil, nós nos tornamos um grupo multimarca e multicanal que hoje é referência no país. Nossa essência empreendedora fala mais alto. Somos muito mais que a união de grandes marcas de sucesso. Somos um grupo com vocação para realizar. O Boticário; Eudora; quem disse, berenice? e The Beauty Box estão presentes em quatro mil pontos de venda próprios, e-commerce e venda direta. Com Multi B e Vult, ampliamos a nossa presença para mais de 35 mil outros pontos de venda, como farmácias e lojas multimarcas. Crescemos acima da média do setor e já somos uma das dez maiores redes de varejo do país. É assim, transformando oportunidades em negócios, que estamos escrevendo a nossa história. E ela está só no começo.


grupoboticario.com.br


FOTO DE GIANE GATTI/ PARIS

Contexto

FOTO DE BRUNO BIMBATO (ICMBIO) – RESERVA EXTRATIVISTA DE CAZUMBÁ-IRACEMA, NO ACRE

40.

56.

CAZUMBÁ-IRACEMA - UMA RESERVA CONSIDERÁVEL DE ENERGIA E ATITUDE NO ACRE Por Maurette Brandt FOTO DE SÔNIA ARARIPE

DIVULGAÇÃO/BALL AMÉRICA DO SUL

PARIS SUSTENTÁVEL, Por Giane Gatti Entrevista com Cida Hess e Mônica Brandão sobre o livro “Orquestra Societária”

14.

ARTIGOS INÉDITOS: André Ferreti, João Alceu Amoroso Lima, Marcus Quintella e Thaís Moraes

8 A arte abraça Brumadinho/ Pelo Brasil

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FOTO DE RODRIGO GOROSITO/ DIVULGAÇÃO

Exposição Roda Gigante, de Carmela Gross

52 Estante, por Nícia Ribas

54 Cinema Verde, por Isabel Capaverde

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26. 16.

PARQUE SESC SERRA AZUL (MT) É LINDO, Por Isabella Araripe e Sônia Araripe

48.

DIÁLOGOS GIGANTES JOVENS PROTAGONISTAS EM DESTAQUE


E ditorial FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL

O Pantanal e sua gente: o pantaneiro ribeirinho Dito Verde mostra o som de sua viola de cocho para as repórteres Sônia Araripe, Isabella Araripe e Gabriela Sant`Anna (Sesc Pantanal)

No Acre, Maurette Brandt (de chapéu) visitou a Reserva Cazumbá – Iracema na companhia de Cibele Castro, do Ipê e Equipe

A Jornalista Giane Gatti relata as inovações sustentáveis da Prefeita de Paris e projetos em curso.

Edição diversificada: Acre, Mato Grosso, Paris, protagonismo de jovens cariocas, artigos inéditos, governança corporativa e muito mais

A

Por Sônia Araripe, Editora de Plurale

lgumas passagens da vida ficam marcadas. Foi assim, por exemplo, quando estivemos pela primeira vez com os filhos conhecendo a DisneyWorld, em Orlando, Flórida. Nunca tínhamos ido – seja por falta de condições ou mesmo por não ter sido prioridade como destino turístico antes dos filhos nascerem – mas como resistir à pressão infantil dos personagens animados? Com a vantagem fantasiosa da época da paridade do dólar com o real, em 1998, lá fomos com duas crianças pequenas (o caçula nasceria apenas três anos depois) estrear na terra do Mickey Mouse. A Disney, como corporação, tem trabalho relevante de experiência profissional para jovens americanos – e também de outros países, como do Brasil – para estagiar no parque. Eis que o pai resolve se aventurar sozinho na montanha russa e fico eu sentada em um banco de lanchonete ao ar livre com os meninos. Uma estagiária americana muito simpática resolve me ajudar entre lanchinho e brinquedos. Batemos papo e ela pergunta de onde somos. Feliz por conhecer mais um brasileiro – “São tantos aqui!” – a estudante de pacata cidade no interior da Georgia, muito curiosa e com bom conhecimento para a média de jovem

estudante norte-americana na sua idade, que sonhava em ser advogada, me pergunta: “Me desculpe a curiosidade. Nunca estive fora da minha cidade. É a primeira oportunidade que tenho. E meu sonho seria poder conhecer o Brasil, suas praias, suas florestas...não entendo bem, mas com um país tão lindo e tão variado, por que vocês vêm tanto aqui à Disney? Foi uma pergunta que me marcou. Tentei explicar para a estudante – Mary o nome dela – que estar ali era quase um “sonho”, uma ilusão para crianças e pais brasileiros. Admiti que era mesmo estranho...que o nosso Brasil tinha mesmo muito a ser visitado ....sei lá se consegui responder à altura...foi, sem dúvida, uma pergunta mesmo emblemática. A cada vez que estou diante da exuberante variedade de biomas brasileiros lembro da jovem...tomara que tenha se formado e que tenha já conseguido, sabe-se lá, visitar o nosso país. Você está certíssima! O Brasil é mesmo muuuuito maior do que qualquer parque de diversão. Esta edição estivemos em algumas destas “pérolas” brasileiras. Eu e Isabella Araripe estivemos a oportunidade de estar por uma semana no Mato Grosso, acompanhando relevante evento sobre o Pantanal e ainda visitando a maior RPPN do Brasil – a RPPN Sesc Pantanal – e sua gente tão querida, assim como a região de Nobres e Rosário do Oeste, já em

área de Cerrado preservado onde fica o Parque de ecoturismo Sesc Serra Azul. Passamos dois dias curtindo a Cachoeira de águas verde esmeralda, avistando pássaros e contemplando a natureza. Não é bonito...é lindo! Maurette Brandt foi até os rincões do Acre, terra do ambientalista Chico Mendes, visitar uma experiência muito bem-sucedida de Reserva Extrativista de castanha. Também esteve do outro lado deste Brasil tão continental, em Porto Alegre, de onde nos relata a incrível exposição da genial artista Carmela Gross. Trazemos ainda nesta edição histórias incríveis de jovens da periferia do Rio de Janeiro, protagonistas em projeto chamado Diálogos Gigantes, do Instituto Net Claro Embratel. Não é só. Temos ainda artigos inéditos de André Ferretti, da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza; de João Alceu Amoroso Lima, presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde); do Professor da FGV, Marcus Quintella e de Thaís Moraes , Gerente de Comunicação e Comunidades da Ball América do Sul. A Colunista Plurale, Giane Gatti – experiente jornalista com passagens por grandes veículos de mídia – visitou Paris com olhar da sustentabilidade. Esteve também em Brumadinho (MG), acompanhando o projeto #aarteabracabrumadinho. Boa leitura!

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Quem faz

Diretora Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Fundadores Carlos Franco e Sônia Araripe Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter e no facebook: http://twitter.com/pluraleemsite https://www.facebook.com/plurale Comercial comercial@plurale.com.br Arte Amaro Prado e Amaro Junior Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Hélio Rocha, Isabel Capaverde, Isabella Araripe, Lília Gianotti, Nícia Ribas e Paulo Lima. Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição: Ana Lígia Petrone, Vicente de Mello e Vera Matagueira (Fotos de Carmela Gross), André Ferretti (Fundação Grupo Boticário), Bruno Bimbato (ICMBio), Carmela Gross, Cibele Castro, Cibele Quirino, Cibelle e Paula Piccin (Equipe Ipê), Cida Hess e Mônica Brandão (Orquestra Societária), Equipe CEBDS de Comunicação, Equipe Fenasaúde de Comunicação, Equipe do Instituto NET Claro Embratel, Gabriela Sant`Anna e Equipe Sesc Pantanal, Giane Gatti, Juliana Nogueira (Usaid), Marcus Quintella, Maurette Brandt, Raquel Ribeiro (de Florianópolis), Rodrigo Gorosito (Fotos de Diálogos Gigantes) e Thaís Moraes (Ball South America). Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da revista.

Impressa com tinta à base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda CNPJ 04980792/0001-69 Impressão: WalPrint

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Cartas

c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r

“Cara Sônia,

“Agradecemos à excelente pintora. É sempre uma grata Nícia nos Plurale e, em espelevou àsreceber verdadeiras miusatisfação esta cial, à Editora Sônia dezas que tanto encantam publicação que há oito anos Araripe e o Repórter os abreleitores.” espaço para o diálogo Hélio Rocha, pela Mônica Cotta, jornalisentre empresas, especialistas imensa contribuição ta, do Rio de e a sociedade, comJaneiro o na cobertura dos (RJ), pelo site objetivo de promover os Jogos Escolares da bons exemplos de Juventude realizados “Foi uma grande alegria preservação do meio pelo Comitê Olímpico ver na Plurale uma matéambiente. Parabéns a todos do Brasil, em Natal ria sobre as baleias franca os profissionais envolvidos (RN). A Edição 65 da que anualmente frequene votos de uma longa Revista trouxe para tam a costavidade Santa e sustentável especialmente à Plurale em o segmento as ações Catarina, revista.” de sustentabilidade e Garopaba. Vivi lá por dez Miguel Krigsner cidadania conciliadas anos– Fundador e registreidomomenGrupo e da Fundação a prática e a educação tos de Boticário grande beleza e emoção com Boticário de Preservação da adquiri no esporte em mais uma de nossasGrupo o equipamento fotográfico que Curitiba (PR), e-mail Missões. Parabéns por mais uma ex-Natureza, especialmente parapor isso. Parabéns, celente edição, Plurale.” equipe Plurale pela iniciativa! Também Manoela Penna, diretora de interessante a reportagem “Emmuito nome da Associação dos Analistas e sobre Comunicação e Marketing do o Ecoturismo no Pantanal. Riqueza Profissionais de Investimento do Mercado de Comitê Olímpico do Brasil, do brasileira a SP), ser parabenizo preservada”” Capitais (Apimec toda a Rio de Janeiro (RJ), por e-mail equipe Maria Bernadete Mader de Plurale por seus oitos anos Ribas, de aposentada, Campo Grande atividades e, acima dede tudo, pela seriedade e “Parabéns para toda a Equipe Plura-qualidade (MS),dopor e-mail serviço prestado à sociedade, le. Que edição esta de número 65: aao tratar de temas tão relevantes quanto começar pela reportagem de capa,sustentabilidade “A matériae meio sobre violência sofrida ambiente. Que do repórter Hélio Rocha, sobre a tra-venham por muitos mulheres é muito oportuna e outros anos!” gédia de Brumadinho (MG), provoca- necessária. Que venham outras seTadeu para Martins Presidente da da pelo rompimento de barragem daRicardo melhantes nos, conscientizar da Apimec SP, São Paulo Vale, deixando um rastro de centenas problemática cultural (SP), e dopor tamanho e-mail de mortos, desabrigados e a biodiver- do desafio de transformar o comsidade afetada. Capa emocionante e portamento humano. Em tempos de a natureza da Serra do Cipó , hudramática. Incrível também a matéria“Deslumbrante ética, transparência, a dignidade pela Ana Cecília Artur Vidaurre, na da repórter Nícia Ribas, sobre as ba-retratada mana precisa ser eresgatada e Pluraprestigiosa que contribui leias no litoral de Santa Catarina. Nãoedição le 49 emdesta revista, sem revista dúvida, conheci. Parabéns à toda é só. Também fiquei encantado comrecentemente com isso. Parabéns pelo conteúdo e de escolha Plurale! Como mineiro nuncaFernanda havia a experiência exemplar do ecoturismoequipe pela da socióloga a devida importância, apesar de ter visto no Hotel Sesc Pantanal e ainda com adadoVasconcelos.” apresentação da Reserva Legado dasfalar em aulas de geografia nos anos 60 sobre Águas, em São Paulo. Plurale fez ain-esseClaudio Andrade, Ratio parque ambiental; comoCEO temosda belezas da seu papel na divulgação de boasnaturais Inteligência em Sustentabilidaem nosso país e desconhecemos, iniciativas ao comparecer aos Jogossituação de, que de está Sãosendo Paulo (SP), pelo site resgatada por esta Escolares da Juventude, mostrando arevista dedicada ao meio ambiente e ecologia. garotada que está fazendo a diferençaParabéns “Olá!por Sou o escultor quemissão reproduziu abraçarem tão nobre e através dos esportes. Um Brasil lindopelosas8 réplicas da fragata da reportagem anos de edição e sucesso. de se ver! A cada Edição, Plurale seAgradecido publicada na Edição 65revista. sobre por vislumbrar tão bela ” Nisupera. Orgulho de ser leitor desde o nhos Artificiais, implantados na Ilha número um.” de Trindade, litoral capixaba, São com o Benedito Ari Lisboa, engenheiro, Newton Victor Meyohas, Espe- José apoio da Fundação Grupo Boticário dos Campos (SP), por e-mail cialista em Telecomunicações, de Proteção à Natureza. É um trado Rio de Janeiro (RJ), por balho muito interessante com uma “Letícia Spiller tornou-se “embaixadora” e-mail nobre causa. Já afiz réplicas dedamuicampanha Desmatamento do tos animais como Zero, caranguejos uça, Greenpeace Brasil. Em entrevista na Edição “Que sorte eu tive em conhecer pes- baleias jubarte, boto cinza, tartaruem revista, soalmente Manoel de Barros! E, por50 de gaPlurale marinha, lobocomemorativa marinho, de toninha, oito anos, a atriz revelou que preocupação conta de uma amizade de mais de 40 mas é a primeira vezsua que o resultado as causas ambientais será é antiga. Ela eexclusianos com o poeta e sua família, nãocomdo meu trabalho feito atrizes e atores sobre o olharem. pude deixar de me emocionar com aoutras vamente para falam as fragatas nas causas e ambientais. belíssima matéria publicada na Plura-engajamento Uma alegria ver sociais Plurale em revista à queridaoSônia Araripe e equipeSe alle. Parabéns à jornalista Nícia Ribas,Parabéns divulgando nosso trabalho! matériaquiser e pelos mais oito anos de Plurale!” sobre que tão bem captou a delicadeza dospelaguém informações versos do Pantanal e mergulhou fundoAnna o Maria nossoRamalho, trabalhojornalista, pode enviar para do Rio na arte de Martha Barros, que, alémde Janeiro caculedson@gmail.com.” (RJ), por e-mail de ilustradora da obra do pai é uma Edson Menezes, artista, pelo site


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Entrevista

ORQUESTRA SOCIETÁRIA: COMO O ALINHAMENTO DE SÓCIOS E ADMINISTRADORES PODE SER DECISIVO PARA O SUCESSO DE UMA ORGANIZAÇÃO CIDA HESS E MÔNICA BRANDÃO Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Divulgação

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enhum outro tema é mais relevante no momento do que a governança corporativa. Junto com a ética e as boas práticas de sustentabilidade. Uma nova abordagem é apresentada pelas especialistas Cida Hess Loures Paranhos e Mônica Mansur Brandão no recém-lançado livro “Orquestra Societária – a Origem” (Editora Sucesso). A governança e a gestão sustentável – ou, principalmente a falta deste conjunto – parece ter impacto nos recentes casos dramáticos de empresas que falharam em seus processos de gestão e abriram espaço para acidentes tirando a vida e atingindo em cheio a biodiversidade. É o caso, por exemplo, da Samarco – empresa meio a meio de duas das maiores mineradoras do mundo, a australiana BHP e a brasileira Vale – envolvida no rompimento de barragem de rejeitos em Mariana e novamente da Vale, desta vez em Brumadinho, ambas em Minas Gerais. O livro foi maturado antes destes tristes episódios, mas aproveitamos a conversa com as autoras para fazer a analogia da teoria para a prática. A metáfora com a orquestra de música não é por acaso. Cida e Mônica explicam que as empresas, como o conjunto musical, regido por maestro, precisam ter harmonia. Nove dos 11 capítulos tratam sobre o alinhamento entre sócios, entre sócios e administradores (conselhos de administração e diretorias executivas) e entre estes últimos. “Adotar modelos de gestão sustentáveis otimiza os resultados econômico-financeiros, sociais e ambientais

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das organizações. No capitalismo atual, não é possível focar apenas resultados financeiros, sendo prudente alinhar conceitos, pessoas, ideias. O desalinhamento de hoje pode se tornar risco relevante mais à frente”, advertem as autoras. Foram feitas entrevistas com dois grandes maestros: a primeira, com o maestro João Carlos Martins, regente da Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP, e a segunda, com o maestro Fabio Mechetti, regente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com maior número de integrantes. Em ambas as entrevistas, os regentes tratam de dimensões como estratégia, estrutura, processos, pessoas e sistema de recompensas dentro de uma orquestra musical, cada qual com a sua visão, e de cada visão emerge a lógica de um modelo de gestão essencial para a conquista de resultados que encantem e comovam as plateias. Experiência e boa formação não faltam para estas duas talentosas e lindas mineiras. Cida Hess é graduada em Economia, pela PUC Minas, e em Con-

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 2019

tabilidade, pela Newton de Paiva, ambos centros de ensino de Belo Horizonte. Fez mestrado em Ciências Contábeis e Atuariais pela PUC São Paulo. A dissertação de mestrado discorreu sobre modelos de gestão e estratégia e a pergunta da pesquisa realizada foi: o modelo de gestão é fundamental à materialização da estratégia em resultados sustentáveis para as organizações? A hipótese para essa pergunta, foi confirmada: sim, isto é verdade. Foram entrevistados grupos de dirigentes organizacionais e de professores universitários para chegar à confirmação. Já Mônica Brandão é graduada em Engenharia Elétrica pela PUC Minas, com mestrado em Administração pela mesma Universidade, em Belo Horizonte. A dissertação de mestrado foi sobre governança corporativa e a influência de acionistas não controladores (minoritários) no sistema que produz as decisões estratégicas de uma companhia com ações em bolsa de valores. Baseada em uma pesquisa exploratória, a dissertação procurou identificar as principais barreiras visíveis e não


visíveis a serem enfrentadas para que os minoritários possam influir nas decisões estratégicas empresariais. Confira os principais pontos desta entrevista para Plurale. Plurale - Como surgiu a ideia do livro? Cida Hess - A ideia surgiu quando percebemos que estávamos produzindo um conteúdo relevante a partir da finalização do quinto artigo publicado na coluna “Orquestra Societária”, da relevante Revista RI – Relações com Investidores, e que poderia ajudar públicos corporativos a refletirem sobre as práticas de gestão de suas empresas. Nosso livro reúne os 11 primeiros artigos publicados desde março de 2014 nesta coluna. A Revista RI é a mais longeva do mercado de capitais nacional, conduzida pelo editor e amigo Ronnie Nogueira. Após mais de 40 artigos publicados, houve evolução conceitual da Orquestra Societária, explicada na introdução do livro, bem como ao final de cada capítulo, de modo que os leitores possam compreender o que foi pensado inicialmente e a evolução ocorrida. Plurale - Qual a correlação entre a orquestra de música e a orquestra societária? Mônica Brandão - A analogia entre o mundo empresarial e o mundo musical tem sido feita por vários autores. A metáfora musical tem sido, por vezes, usada para se referir ao trabalho das organizações. Em que nos diferenciamos então, quando usamos a metáfora de uma orquestra musical para tratar de organizações da realidade? Nos conceitos de “Modelo de Gestão Sustentável” (MGS) e de “Sinfonia Corporativa”, também presentes nas orquestras musicais. Citamos aqui entrevistas que fizemos na coluna “Orquestra Societária”, na Revista RI (onde às vezes, nos colocamos no papel de “repórteres”): a primeira, com o Maestro João Carlos Martins, regente da Orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP, e a segunda, com o Maestro Fabio Mechetti, regente da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, com maior número de integrantes. Em ambas as entrevistas, os ilustres regentes tratam de dimensões como estratégia, estrutura, processos, pessoas e sistema de recompensas dentro

de uma orquestra musical, cada qual com a sua visão, e de cada visão emerge a lógica de um modelo de gestão essencial para a conquista de resultados que encantem e comovam as plateias. Plurale – Governança é, sem dúvida, um dos temas mais falados nos últimos anos no meio empresarial. Sem governança não há empresas sustentáveis... não há governos democráticos... como vocês abordam esta questão no livro? Cida Hess - Governança corporativa está na base da “Orquestra Societária”. Aliás, o tripé Ética-Governança-Corporativa-Sustentabilidade é básico no desenho da “Orquestra Societária”, o que é dito já na introdução do livro. Os três conceitos estão visceralmente relacionados. E neste livro, governança corporativa é a tônica, já que tratamos, em 9 dos 11 capítulos, de alinhamento entre sócios, entre sócios e administradores (conselhos de administração e diretorias executivas) e entre estes últimos. Alinhamento, aliás, não se esgota na Alta Administração, perpassa toda a organização, mas como focalizamos esses três públicos, “Orquestra Societária – a Origem” é um livro com forte ênfase em governança corporativa, no alinhamento entre agentes acima da cúpula (entre os sócios) e na cúpula das organizações empresariais. Nossa expectativa é que o livro incite reflexões importantes em leitores preocupados com governança corporativa e, muito especificamente, com alinhamento de interesses. Sobre a importância da governança corporativa no contexto democrático, concordamos integralmente, pois transparência, pres-

tação de contas, equidade e responsabilidade corporativa são princípios que democratizam a informação e os resultados organizacionais. Plurale Vocês falam no livro que é possível sonhar com a Governança - quando os sócios e dirigentes da organização tiverem vontade política de adotar o que chamam de “Modelo de Gestão Sustentável” (MGS), um conjunto de princípios, valores e crenças, transpostos a práticas de administração amplamente respeitadas e aceitas pelos públicos organizacionais, fortemente embasadas em alinhamento e gestão de riscos. Parece uma utopia... conhecem casos no Brasil e no mundo realmente que seguem este modelo? Mônica Brandão – Estamos migrando de “modelos de gestão robustos” para “Modelos de Gestão Sustentáveis” (MGS’s), que se não serão perfeitos – construções humanas são imperfeitas –, serão melhores. Como algumas empresas conseguem durar anos, décadas, quando tantas morrem a cada dia? Quem ler o livro “Built to last” (“Feitas para durar”), publicado em 1994 por James C. Collins e Jerry I. Porras, constatará que por trás dos 18 exemplos de empresas “visionárias” ali citados, há mais do que estratégias vencedoras, há modelos de gestão que chamaremos de robustos, já que os conceitos de sustentabilidade e do Triple Bottom Line (suas vertentes econômica, social e ambiental) seriam propostos pelo britânico John Elkington em 1997, na obra “Cannibals with forks” (Canibais com garfo e faca). Se os modelos de gestão dessas corporações não podem ser chamados de sustentáveis, eles têm importantes características de MGS’s, na gestão da estratégia, de processos e pessoas, por exemplo. Um exemplo sui generis que também gostaríamos de citar no Brasil e que chamaríamos de modelo de gestão robusto é o da Semco, liderada por Ricardo Semler, autor dos livros “Virando a Própria Mesa” (1988) e “Você está Louco” (2006). O primeiro livro, em especial, teve grande sucesso em muitos países. Quando analisamos especialmente “Virando a Própria Mesa”, percebemos que Semler fez muito mais do que mudar a estratégia do negócio herdado da família: ele alterou em

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Entrevista profundidade o desenho organizacional, na gestão da estratégia, de pessoas e processos. Atualmente, Semler é sócio e presidente do conselho de administração da Semco Partners. Pode-se dizer: mas tal portfólio de empresas é diferente do formato original familiar. Certamente, mas, entretanto, ele traz, em seu DNA, as inovações de gestão criadas por Ricardo Semler. E certamente há outros exemplos de empresas no Brasil que mereceriam ser citadas por seus modelos de gestão. Por fim, citamos o caso do Instituto Cultural Filarmônica, que administra a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: para essa Instituição, podemos falar em Modelo de Gestão Sustentável (MGS), já que há mais de uma década ela tem operado de forma bem-sucedida nas vertentes econômica, social e ambiental. O futuro pode não repetir o passado, pois o ambiente externo pode mudar o jogo, mas estamos diante de um exemplo de vontade política de fazer uma orquestra musical se viabilizar, de um caso de longevidade com reconhecimento do público mineiro. Aliás, imaginamos que a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e a Fundação Osesp também se enquadram neste mesmo modelo de gestão, ou similar. Plurale - Por que vale a pena administrar por meio de um MGS? Cida Hess – Adotar modelos de gestão sustentáveis otimiza os resultados econômico-financeiros, sociais e ambientais das organizações. No capitalismo atual, não é possível focar apenas resultados financeiros, sendo prudente alinhar conceitos, pessoas, ideias. O desalinhamento de hoje pode se tornar risco relevante mais à frente. Desalinhamentos entre sócios, entre sócios e administradores e entre esses últimos podem criar riscos consideráveis. O mesmo pode ser dito sobre o desalinhamento entre a estratégia e a gestão de processos e pessoas, por exemplo. Adicionalmente, é preciso trabalhar nos riscos, identificá-los, qualificá-los, quantificá-los e mitigá-los. Riscos mal geridos podem destruir uma organização. Citemos aqui dois exemplos, do mercado de capitais estadunidense, os casos Enron e Worlcom. A Enron, em

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especial, chegou a ser a empresa mais admirada dos EUA. Estes dois exemplos ilustram, no pior sentido possível, o que pode acontecer com organizações que não cuidam de seus riscos. Os dois casos entre outros culminaram em uma forte intervenção do Estado para melhorar a qualidade do mercado de capitais: a Lei Sarbanes-Oxley (SOX), de 2002. Por fim, não podemos deixar de lado as questões socioambientais. Não é por acaso que um amplo conjunto de nações firmou, em 2015, o Acordo de Paris, substituto do Acordo de Kyoto a partir de 2020 (infelizmente, os resultados de Kyoto foram modestos) e no âmbito do qual centenas de países se comprometem a fazer um esforço sério para reduzir emissões de gases de efeito estufa (GEE´s), de maneira que o aquecimento global não se torne perigoso para a humanidade – o risco disso acontecer é real, conforme alertam cientistas. Tampouco é por acaso que a ONU criou, em 2015, a Agenda 2030, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS’s), dos quais o primeiro é erradicar a miséria no Planeta. Os requisitos socioambientais criam, aliás, grandes oportunidades de novos negócios para muitas organizações. Plurale - Um CEO é um maestro essencial na orquestra societária? Mônia Brandão – Sem dúvida, mas não apenas ele. A organização, na “Orquestra Societária”, é constituída de maestros em cadeia, cadeia esta que vai do conselho de administração, quando essa instância existir, até os coordenadores de pessoas nas instâncias operacionais. O CEO tem desafios específicos; entre os quais, ser ponte, elo de ligação entre o conselho de administração e o restante da empresa. E ele é um dos principais responsáveis pela consistência do modelo de gestão. Por que? Por ser ele, em nível executivo, a principal liderança em gestão. Assim, ele é um dos mentores e o principal guardião do modelo de gestão, mas não trabalha sozinho, pois fazer a gestão acontecer dentro de um modelo adequado é papel de todos os dirigentes e demais gestores. Plurale - E qual o papel dos “músicos” – os colaboradores?

PLURALE EM REVISTA | Maio / Junho 2019

Cida Hess – Eles são uma das partes fundamentais da “Orquestra Societária”, um dos vértices da chamada Estrela de Galbraith, proposta pelo professor Jay R. Galbraith para representar a arquitetura de uma organização (estratégia, estrutura, processos, pessoas e sistema de recompensas). Um dos stakeholders mais importantes de uma organização. Assim como sem os músicos, é impossível ter uma orquestra musical, sem as pessoas, não é possível ter uma organização que se comporte, em boa medida, como uma “Orquestra Societária”. Aliás, nem é possível ter organização, na maioria dos casos. As pessoas devem ser objeto de grande preocupação das organizações de todos os tamanhos. Seus desempenhos determinam o desempenho da organização, para o bem ou para o mal. Alinhar os interesses das pessoas que atuam em uma organização, seja qual for o nível hierárquico, aos interesses dos sócios é um dos mais relevantes desafios de governança corporativa. Plurale - Que avaliação fazem de casos recentes como as crises provocadas pela Vale no rompimento de duas barragens, uma em Mariana e outra em Brumadinho, ambas em Minas, deixando um rastro de centenas de mortos e a biodiversidade seriamente atingida? Foi uma crise provocada pela falta de governança? Mônica Brandão – Esta pergunta cria uma oportunidade excelente de refletirmos sobre os dois casos, Mariana e Brumadinho, à luz da “Orquestra Societária”. Nossa mais recente coluna da Revista RI foi precisamente sobre essas duas tragédias. Procuramos, com base no conceito de “Modelo de Gestão Sustentável” (MGS) e em seus 20 fundamentos, por nós identificados em recente edição da RI, levantar questões sobre o que teria conduzido, especialmente no âmbito da Vale S/A, aos dois desastres. Nossa análise aponta a possibilidade de falhas em cinco fundamentos do mo-


FOTO DE ISAC NÓBREGA/ SECOM- PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

delo de gestão corporativo. O ocorrido pode estar relacionado a fundamentos como ética – à luz do Código Brasileiro de Governança Corporativa, no que tange à sua concepção sobre o princípio da responsabilidade –, governança corporativa, alinhamento, sustentabilidade e gestão de riscos. E sem dúvida, a governança tem um papel crucial nesse contexto, pois os sócios e dirigentes da Empresa certamente lidam com os outros quatro temas citados em suas esferas respectivas. Plurale - Que lições estas crises recentes deixam para outras empresas? Cida Hess – Empresas precisam gerar resultados econômico-financeiros – afinal, o sistema econômico é o capitalismo –, mas com equilíbrio, retornando-se aqui ao conceito de “Sinfonia Corporativa”. Afinal, eventos desastrosos podem ter efeitos devastadores sobre as finanças empresariais e, no limite, destruir a empresa. No caso da Vale, acreditamos que esta tem recursos e condições de mudar seu modelo de gestão, para evitar novos eventos similares a Mariana e Brumadinho; até porque, mesmo para uma organização com recursos, a ocorrência de sucessivos desastres terá limites. Sobre o rompimento da barragem de Mariana, Vale, BHP Billiton (sócia da primeira na Samarco) e Samarco se comprometeram, no bojo de um acordo envolvendo várias partes (governos de Minas Gerais, Espírito Santo e entidades do governo federal), com um programa de 42 ações reparatórias, as quais estão sob responsabilidade da Fundação Renova, criada para esse fim. Bilhões de reais terão sido gastos nesse programa, ao término de 15 anos. E ainda existe o processo jurídico na esfera criminal, cujo andamento tem sido especialmente lento, mas que poderá criar mais penalizações de grande monta em anos futuros. Talvez o caso de Brumadinho tenha desdobramentos similares e outros decorrentes dos trabalhos da Comissão Parlamentar

de Inquérito (CPI) de senadores, criada para apurar as causas do ocorrido. Contudo, nem toda organização terá condições de lidar com as consequências de um desastre, que pode ser físico ou mesmo decorrente de más decisões empresariais. Assim, acreditamos que as reflexões das empresas devam envolver, fundamentalmente, seus princípios éticos e suas práticas de governança corporativa, sustentabilidade e gestão de riscos. A principal lição das recentes crises talvez seja repensar esses elementos e revisar em profundidade o modelo de gestão organizacional no que tange aos mesmos (uma lição em dois tempos).

dade das mudanças. Plurale - Quais são os dilemas enfrentados? Cida Hess – A nosso ver, um dos principais dilemas é cultural e tem a ver com internalização conceitual. Exemplifiquemos o dito indagando: em que medida as grandes organizações realmente internalizam conceitos como ética, governança corporativa, sustentabilidade e gestão de riscos? Outro dilema tem a ver com a dicotomia clássica de governança corporativa: priorizar os interesses dos sócios versus equilibrar interesses de vários stakeholders, sem deixar de rentabilizar sócios em patamares adequados.

Plurale - Como enxergam a sustentabilidade nas empresas no Brasil hoje? É mais difícil para uma pequena e média empresa seguir este modelo do que para uma grande empresa? Mônica Brandão – Sob o prisma das grandes empresas, a percepção é que o caminho a percorrer ainda é longo. Isto porque é preciso diferenciar entre o discurso da sustentabilidade e a prática efetiva da sustentabilidade. Há grande diferença entre dizer “somos sustentáveis” e a organização ser sustentável, na prática. Ter um discurso com foco em práticas sustentáveis somente será positivo se a mentalidade vigente e as práticas forem correspondentes ao que se diz. Temos dúvidas sobre tal sincronização, especialmente quando tomamos conhecimento sobre escândalos surpreendentes, envolvendo grande descaso com acionistas. Pode parecer pessimismo, mas não é, é apenas o reconhecimento da etapa atual de um longo processo de evolução das organizações, no Brasil e no mundo. Já uma empresa de pequeno porte certamente não criará uma superintendência de sustentabilidade, ou gerará reportes de sustentabilidade detalhados, ou mesmo participará de grandes indicadores de sustentabilidade. Ao mesmo tempo, se a sustentabilidade for trazida ao dia a dia das empresas de qualquer tamanho, estas poderão adotar boas práticas. Exemplifiquemos com o combate ao desperdício: qual empresa não pode fazer algo a respeito? Em tempo, o maior tamanho e poder de fogo de uma organização nem sempre favorecerão a veloci-

Em nossa visão, as mudanças no ambiente institucional serão fundamentais para mudar as organizações. Quando as regras do jogo exigem que as organizações e as pessoas se comportem de determinada forma, sob risco de penalização financeira ou mesmo criminal, cremos que isso altera o nível dos dilemas nas organizações. A dúvida não mais reside entre fazer ou não fazer o que, em tese, deveria ser feito (mas não é), mas entre assumir o risco de ser penalizado ou não. Plurale - Quais são os próximos passos em relação à Orquestra Societária. Haverá novos livros? Cida Hess – Estamos finalizando a “Orquestra Societária – a Origem” em inglês, na versão digital, e seu lançamento deverá ocorrer ainda neste ano. E após, nos dedicaremos a um livro focado no Modelo de Gestão Sustentável (MGS) e em seus fundamentos. Este é um projeto de prazo mais longo, para até o final de 2020. Estamos muitos entusiasmadas com esses novos projetos, os quais consideramos de curto e médio prazos. Mônica Brandão – Sobre o primeiro projeto, ele necessita de especial atenção com a versão para o inglês, que está sendo cuidadosamente trabalhada. Por que essa atenção especial? Porque tratamos, no livro, de raciocínios elaborados, que precisam ser transpostos para leitores de vários cantos do mundo e isso não é trivial. Quanto ao segundo projeto, estamos elaborando seu planejamento inicial e ele será baseado nos 20 fundamentos que tornam um modelo de gestão sustentável.

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Os valores da família e a criação de valor na empresa

Os valores familiares determinam a forma como os negócios são feitos e definem os princípios que regem os negócios.”

Empresas familiares são mais focadas no longo prazo e na continuidade dos negócios, e se diferenciam pelas práticas responsáveis de gestão e maior prudência nas negociações financeiras. Elas levam em consideração as necessidades de seus funcionários, investem em relacionamentos duradouros com clientes e fornecedores e possuem estreita ligação com as comunidades locais. Ao associar o lucro à sustentabilidade, as empresas familiares criam valor sustentável, a princípio, para si mesmas, mas também para seus stakeholders e para a sociedade. Proprietários e gestores de empresas familiares são, em geral, movidos por um senso de responsabilidade pela preservação do negócio. Eles não se preocupam apenas em gerir os ativos e obter bom desempenho, mas também com o principal legado, que são os valores passados de geração em geração. Os valores que sustentam a continuidade do negócio e sua cultura. Comportamento e cultura, por sua vez, ocupam um lugar especial nos negócios familiares. Eles são, sem dúvida, os motores por trás da criação de valor – ou de sua destruição – numa empresa familiar. O desafio é conseguir manter os valores da família e os princípios do negócio alinhados e minimizar os riscos inerentes à dinâmica familiar preservando esses valores.


Líderes que possuem um senso claro dos valores familiares de sua empresa

79%

Global

Líderes que possuem um senso claro dos valores familiares de sua empresa e os têm no papel

82%

49%

68%

Brasil

Global

Brasil

* Resultados da Pesquisa global da PwC com líderes de empresas familiares

Os valores familiares determinam a forma como os negócios são feitos e definem os princípios que regem os negócios. A formulação desses princípios, baseados nos valores da família, na estratégia de negócio, na marca, na estrutura de governança e na expectativa dos funcionários, investidores e demais stakeholders, define o comportamento desejado na empresa. Ao definir os princípios do negócio a partir dos valores da família, é estabelecido um código moral que passa a guiar todas as relações da organização. As empresas familiares são, em geral, bem-sucedidas em disseminar a cultura que desejam. Para isto, não basta somente transmitir os valores e princípios familiares para as estruturas de gestão, mas também ter isto formalizado e documentado – mesmo que seja apenas para determinar o grau de transparência e profissionalismo necessários para lidar com os desafios representados pelo crescimento dos negócios, sucessão e globalização (tanto internamente quanto externamente).

No Brasil, os percentuais são maiores, 82% e 68% respectivamente. A pesquisa revela ainda uma clara relação entre valores e resultado, ao constatar que, segmentando somente as que tiveram crescimento anual de 10% ou mais no ano passado, 84% possuem um conjunto claro de valores. Isto indica que existe uma grande oportunidade de utilizar os valores como um ativo social e obter retorno sobre eles. Geralmente, os gestores consideram os valores e as relações familiares como algo natural, que não precisa ou não deve ser discutido. E, assim, questões importantes acabam sendo ignoradas, seja por não saberem como abordá-las ou pelo receio em mudar o que sempre foi feito do mesmo jeito. Iniciar este diálogo requer liderança e coragem. Trazer estas questões, às vezes consideradas “menores”, para a discussão e formalizá-las evita que a gestão da empresa seja influenciada por interesses individuais não expressos, frustrações e conflitos na família.

No entanto, valores familiares e princípios empresariais, na maioria das vezes, não são formalizados. De acordo com uma pesquisa global da PwC com líderes de empresas familiares, 79% deles afirmam possuir um senso claro dos valores familiares, mas apenas 49% os têm no papel.

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Neste documento, “PwC” refere-se à PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda., firma membro do network da PricewaterhouseCoopers, ou conforme o contexto sugerir, ao próprio network. Cada firma membro da rede PwC constitui uma pessoa jurídica separada e independente. Para mais detalhes acerca do network PwC, acesse: www.pwc.com/structure © 2019 PricewaterhouseCoopers Brasil Ltda. Todos os direitos reservados.


Artigo André Ferretti

TEMPORAIS:

DE ONDE VÊM E O QUE FAZER

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s primeiros meses de 2019 estão sendo marcados por grandes tempestades. Cidades em todo o país registraram chuvas intensas com mais de 100 milímetros em poucas horas, fortes rajadas de vento, quedas de árvores, desmoronamentos e alagamentos de ruas e avenidas, impactando a vida de milhares de pessoas. Fenômenos como esses são relativamente comuns no período do verão, mas as análises apontam cada vez mais uma irregularidade nos eventos climáticos, com volumes de chuva muito acima das médias registradas nas últimas décadas e mudanças na sua distribuição ao longo do ano. No Rio de Janeiro, por exemplo, as chuvas que antes fechavam o verão estão menos abundantes em janeiro e fevereiro. Por outro lado, passaram a ocorrer nos meses de abril e maio. O reflexo disso é que o Rio de Janeiro foi a capital mais quente do Brasil em janeiro, com média de temperatura máxima de 38ºC, a mais quente na cidade desde 1922, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A pergunta que muitos estão fazendo é: o que estaria causando essas mudanças no padrão de chuvas e temperaturas em todo o país? Apesar de não ser possível afirmar que um único caso seja efeito da mudança global do clima, sabemos que o aumento na intensidade e frequência desses eventos extremos

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FOTO DE TÂNIA REGO - AGÊNCIA BRASIL

é sim resultado dessa mudança. Um estudo conduzido pela Universidade da Califórnia, publicado no International Journal of Climatology, revela que as mudanças climáticas são responsáveis pela alteração no padrão de chuvas no Brasil. As conclusões do trabalho, baseadas em 70 anos de dados meteorológicos, mostram que as ilhas de calor em grandes metrópoles criam condições para a formação

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de tempestades, que são intensificadas devido à proximidade com o Oceano Atlântico. O levantamento ainda destaca a tendência de um ressecamento das regiões Norte e Nordeste e um umedecimento do Sul e do Sudeste. O clima já mudou e, infelizmente, continuará sofrendo alterações se a população mundial não adaptar rapidamente seus hábitos de vida e consumo. A grande ex-


FOTO DE STÉPHANI SANI

ploração de combustíveis fósseis como diesel, gasolina, querosene e carvão mineral; os altos índices de desmatamento; e a produção agropecuária com alta intensidade de emissões de gases de efeito estufa (GEE), sem o uso de técnicas de redução, são os principais fatores que agravam o problema. A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas recomenda há anos que todos os

países membros tenham um plano de ação para adaptação. Em maio de 2016, o Brasil instituiu o “Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima” (PNA), com o objetivo de promover a redução da vulnerabilidade nacional às mudanças climáticas e realizar uma gestão do risco associada a esse fenômeno. É mais do que urgente a necessidade de o poder público implementar o PNA nas esferas nacional, estadual

e municipal. O primeiro passo a ser dado é um amplo reconhecimento pelas instâncias de governo e pela sociedade como um todo que a mudança global do clima é um dos maiores desafios da nossa civilização. A partir dessa consciência, é preciso investir em políticas públicas de redução de emissões de GEE e de adaptação para garantir a segurança e a qualidade de vida da população, bem como aproveitar as oportunidades decorrentes da necessidade global de tecnologias e produtos de baixo carbono. Por se tratar de uma tendência mundial, os empresários que investirem nesse segmento terão cada vez mais demanda por produtos e tecnologias como: veículos elétricos; combustíveis e energias renováveis; máquinas e equipamentos mais eficientes; e alimentos e produtos mais saudáveis, que possuem baixa de emissão. Também é preciso mapear as regiões mais vulneráveis a alagamentos e deslizamentos de terra e retirar as pessoas das áreas de risco, como margens de rios e encostas íngremes. É necessário manter parques, praças e ruas arborizadas para diminuir o efeito das ilhas de calor, que atraem as grandes tempestades. Outras ações importantes são a instalação de pavimentos mais permeáveis e o descarte correto do lixo. Trata-se de uma questão de segurança pública e sua efetiva implementação é fundamental para a redução de riscos e impactos socioeconômicos e ambientais. (*) André Ferretti é engenheiro florestal, mestre em Ciências Florestais, gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.

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Colunista Marcus Quintella

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brasileiro é um povo empreendedor por excelência e a abertura de um negócio próprio faz parte do sonho de quase a metade da população, segundo pesquisas especializadas, ainda mais no momento atual de transição política, crise econômica e desemprego elevado no país. Em 2018, segundo pesquisa do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), principal estudo da atividade empreendedora no mundo, a taxa total de empreendedorismo no Brasil foi de 38%. Isso significa dizer que existem cerca de 38 empreendedores, iniciais ou estabelecidos, em cada grupo de 100 brasileiros pertencentes à população economicamente ativa (idade entre 18 e 64 anos). Assim, podemos estimar que possuímos em torno de 50 milhões de empreendedores no país. Diante desses números animadores, muitas pessoas demitidas de seus empregos logo pensam em utilizar suas indenizações, rescisões e FGTS para abrir um negócio próprio. A questão é a seguinte: deve-se abrir o próprio negócio por que houve a identificação de uma oportunidade de mercado ou pelo fato de estar sem emprego? Outro estudo do GEM para o caso brasileiro aponta um aumento do empreendedorismo por oportunidade, vis -à-vis ao declínio dos novos negócios abertos por necessidade. A identificação de uma oportunidade de mercado foi a motivação de 62% de novos empreendedores brasileiros para a abertura do próprio negócio, enquanto que 38% dos entrevistados disseram ter empreendido por necessidade, em virtude da falta de outras possibilidades para geração de renda e de ocupação. Sem dúvida alguma, a identificação de uma oportunidade de negócio é a opção mais adequada para aqueles que não conhecem bem o mercado empresarial, mas isso não quer dizer o empreendedor terá vida fácil e segurança para os seus recursos investidos. Todo negócio empresarial tem riscos envol-

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FUI DEMITIDO, DEVO PARTIR PARA UM NEGÓCIO PRÓPRIO? O Brasil é um campo fértil para o empreendedorismo em qualquer conjuntura política e econômica e as oportunidades sempre existirão, mas dependem muito da identificação do mercado a ser atingido.” vidos, que devem ser minimizados por meio de planejamento, pesquisa de mercado e conhecimento dos produtos ou serviços que serão oferecidos. Na realidade, o empreendedor tem grande interesse na prosperidade do seu negócio e, por isso, sempre deve partir de um bom plano de negócios. Não obstante, os planos de negócios e os estudos de viabilidade não garantirão o sucesso dos projetos, mas, pelo menos, permitirão ao empreendedor conhecer melhor as suas chances de sucesso e não tomar decisões com base em “achologia” ou “chutologia”. Certamente, o processo decisório do empreendedor terá grande dose de subjetividade, pois a sensibilidade pessoal e o “conhecimento” do negócio sempre existirão, para o bem ou para o mal do negócio. Mesmo assim, na prática, os verdadeiros empreendedores precisam de boa visão multidisciplinar e de noções de estudos e previsão de mercado, estratégia de marketing, planejamento estratégico, recursos

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humanos, contabilidade, economia, tributarismo, informática e finanças. Por isso, uma boa formação acadêmica ou a busca por conhecimento são essenciais para aquele que pretende dar asas ao seu espírito empreendedor. O Brasil é um campo fértil para o empreendedorismo em qualquer conjuntura política e econômica e as oportunidades sempre existirão, mas dependem muito da identificação do mercado a ser atingido. O panorama atual está muito voltado para o empreendedorismo digital, via Internet, mas também não deixa de existir o negócio físico, especialmente no comércio e serviços, onde podemos citar os setores de alimentação, beleza e cuidados pessoais, reparos domésticos, assistência personalizada, entre outros. O empreendedor deve prestar a atenção nos nichos de mercado, por exemplo, do setor de alimentação, que são bem ativos, como aqueles voltados para diabéticos, celíacos, veganos e vegetarianos. Ele deve olhar também os nichos do mercado de beleza e cuidados pessoais, aqueles voltados para pessoas especiais, negras, ruivas, obesas ou com outras características incomuns. Existem muitos nichos a serem explorados dentro de todos os tipos de mercados existentes. Cabe ressaltar que os insucessos são mais comuns do que os sucessos, tanto que as taxas de mortalidades das empresas são altas, para os primeiros dois anos de vida. As estatísticas mostram que cerca de 50% dos pequenos negócios “morrem” antes de completarem o primeiro ano e que 75% não completam cinco anos. O problema é que a mídia só mostra os casos de sucesso e as pessoas acham que empreender é fácil. Não é assim, por isso, recomendo muita determinação e estudo do mercado antes de abrir um negócio.


Independentemente de sua motivação para empreender, por oportunidade ou necessidade, recomendo muita pesquisa do mercado alvo antes de começar, pois você precisa saber se realmente existirá aqueles que poderão comprar o seu produto ou contratar o seu serviço, ou seja, aqueles que gerarão a receita que sustentará o seu negócio e retornará o investimento realizado. Visite os concorrentes, observe a área de influência do seu negócio, tente conhecer os hábitos, gostos e características do seu público-alvo. Estude e conheça bem o seu negócio. Não seja apressado nem se apaixone pelo negócio, seja racional para ver as possibilidades de insucesso. Aliás, a paixão é o pior inimigo do empreendedor ansioso, que quer abrir um negócio de qualquer maneira, sem gastar tempo com pesquisa de mercado, conversa com outros empreendedores, estudo das técnicas e métodos operacionais, entre outros entendimentos prévios necessários. A paixão não permite que o empreendedor enxergue as possibilidades de fracasso e também o impede de abortar o processo de abertura do negócio quando o estudo de avaliação financeira indica inviabilidade. Outro ponto a ser considerado pelo empreendedor é a doce ilusão de que ser dono do próprio negócio acarretará liberdade de agenda ou inexistência de um chefe controlando sua vida. Muda tudo na vida daquela pessoa que decide investir e empresariar o próprio negócio, pois a dedicação integral é a chave do sucesso. Lembre-se sempre daquele velho ditado popular: “o olho do dono é que engorda o boi”. Não subestime a importância de sua presença à frente do negócio e não delegue a condução do seu negócio a terceiros, como sócios ou parentes. Um

negócio requer disciplina e obediência aos padrões e modelos estabelecidos pelo mercado, que, na prática, será o seu novo patrão. Na prática, você passará a ter centenas ou milhares de patrões exigentes todos os dias, que serão os seus clientes. Pense nisso. Sem esses patrões, o seu negócio fracassará, portanto, trate-os bem e invista no relacionamento com seus clientes, pois isso poderá ser um diferencial de sucesso. O seu grau de liberdade será diretamente proporcional à sua capacidade de gerir o seu negócio e aos seus objetivos de sucesso. Se você decidiu pela implantação do negócio, depois de todos os cuidados

Independentemente de sua motivação para empreender, por oportunidade ou necessidade, recomendo muita pesquisa do mercado alvo antes de começar, pois você precisa saber se realmente existirá aqueles que poderão comprar o seu produto ou contratar o seu serviço, ou seja, aqueles que gerarão a receita que sustentará o seu negócio e retornará o investimento realizado.”

citados, não perca tempo e coloque rapidamente o plano de negócios em operação. Após a decisão positiva, o investimento do primeiro real significa, em linguagem popular, que o juiz apitou o início do jogo e a bola começou a rolar. Agora, todo o plano de jogo precisa ser cumprido para se ganhar o jogo. O seu negócio agora não se encontra mais somente no papel, ele precisa materializar-se, ganhar vida. Você agora é um empresário e precisa preocupar-se, em primeiro lugar, com a sobrevivência de seu negócio, em segundo lugar, com o seu crescimento, e, em terceiro lugar, com a sua perpetuação no mercado. Não deixe de investir em treinamento de seus colaboradores e em seu próprio treinamento, reveja permanentemente o plano de negócios, corrija os erros, altere os rumos e gerencie incansavelmente seus recursos financeiros, materiais e humanos. O plano de negócio apresentará uma estimativa de retorno de lucratividade, rentabilidade e tempo de retorno do capital investido. Em última análise, tenha sempre em mente que o empreendedorismo é uma atividade econômica de risco e que você deve ter consciência sobre a sua disposição em assumir riscos. Lembre-se também de que um plano de negócios utiliza métodos e técnicas não exatas, visto que trabalha o tempo todo com uma variável fora de nosso controle, o futuro. Como não temos condições de prever o futuro com 100% de certeza, tudo que está contido no plano de negócios é probabilístico e parte de premissas e cenários imaginados. Dessa forma, as orientações devem ser seguidas, sem dúvida alguma, como forma de minimização dos riscos, mas elas não garantirão o sucesso do negócio. Pense, então: se um negócio poderá fracassar com todos os cuidados sugeridos acima, imagine sem eles. Boa sorte! (*) Marcus Quintella é Colunista Colaborador de Plurale, Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ. Professor e Coordenador Acadêmico do MBA e Empreendedorismo da FGV.

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Artigo Thaís Moraes

SOBRE AQUELE PROPÓSITO QUE VALE A PENA

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ropósito. Incrível como essa palavra anda grudada por aí nas bocas de tantos líderes de organizações, estudiosos das relações humanas, profissionais da comunicação e marketing e de toda uma geração de millennials. Motivo tem, viu? Para se ter uma ideia, a edição 2019 da Trust Barometer, pesquisa conduzida pela Edelman Global, que avalia a confiança em governos, empresas, ONGs e mídia, afirma que 70% das pessoas consideram importante ou essencial ter empregadores com propósitos maiores, com impacto social significativo. E isso é o #vadelata para mim. Isso foi o #vadelata no carnaval. Para quem não conhece, o #vadelata é um movimento criado pela Ball Corporation, maior fabricante de latas de alumínio do mundo e minha empregadora. O objetivo é propor uma reflexão sobre escolhas de consumo e mostrar, de forma descontraída, quais são os benefícios da embalagem mais amiga do meio ambiente: a latinha de alumínio. Uns dirão que é fácil se conectar com o produto para o qual você trabalha. Será que é mesmo? Até pode ser fácil criar alguma conexão sim, mas não é fácil virar um defensor ativista desse produto. É porque eu realmente acredito que as latas para bebidas são a melhor solução hoje em embalagens para o meio ambiente, para combater a ameaça do plástico, para os tão baixos índices de reciclagem de vidro no Brasil e sua logística reversa complicada, que

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FOTOS DE DIVULGAÇÃO/ BALL AMÉRICA DO SUL

eu tomo tempo de vida, de estudo e de trabalho para conseguir mostrar para mais e mais pessoas que é possível, sim. Que dá para viver, ser feliz, se divertir, encontrar os amigos e ainda encontrar um espacinho na agenda para deixar um legado para sua geração e para as demais. O planeta não vai esperar! E, como eu ia dizendo, isso foi o #vadelata no carnaval. Durante a campanha “Quem curte natureza e diversão, cai na folia de latinha na mão”, além das mais variadas ações para colocar o debate sobre as escolhas responsáveis de consumo, literalmente, na mesa do consumidor – desde vídeos com o canal Porta dos Fundos; passando por patrocínios de artistas em São Paulo e Recife que são conectados com a causa; até a parceria com influenciadores digitais, que pouco conheciam do tema, os convidando a viver uma preparação mais sustentável para o carnaval – uma iniciativa foi resgatar lá no cantinho do meu coração aquele propósito do qual eu falava: o projeto Do Meu Lixo Cuido Eu. Patrocinado pelo #vadelata, o “Do meu lixo cuido eu” deixou um legado no Carnaval 2019, coletando para reciclagem mais de 30 toneladas de resíduos durante os ensaios técnicos e desfiles oficiais na Marquês de Sapucaí (Rio de Janeiro),

O objetivo foi aproveitar o momento de grande consumo de bebidas no carnaval parar gerar uma reflexão sobre o descarte correto dos resíduos, além de reforçar o papel de todos na preservação do meio ambiente, que é de governos e indústrias, mas também é do consumidor.” superando em mais de 100% a meta inicial. A iniciativa montou uma cooperativa de materiais recicláveis no sambódromo, mais precisamente no setor 1. Lá, a equipe separava, tratava os resíduos e encaminhava -os para a destinação correta. Além disso, um trabalho de educação ambiental foi realizado nas arquibancadas e frisas, distribuindo sacolas

recicláveis e ensinando os foliões a separarem resíduos orgânicos e recicláveis durante a festa. O objetivo foi aproveitar o momento de grande consumo de bebidas no carnaval parar gerar uma reflexão sobre o descarte correto dos resíduos, além de reforçar o papel de todos na preservação do meio ambiente, que é de governos e indústrias, mas também é do consumidor. Para medir a quantidade coletada e quais os ganhos para o meio ambiente, o projeto ainda utilizou um Placar da Reciclagem, que contabilizava a economia gerada em tempo real. Para se ter uma ideia do resultado, foram poupados cerca de 443 m³ de água e 148 MWh de energia – o suficiente para abastecer mais de duas mil residências populares durante um mês. Um arraso das latinhas, que, como campeãs de reciclagem mundial, representaram 66% de toda a coleta; um arraso dos cerca de 95 catadores da Associação de Catadores do Aterro Metropolitano de Jardim Gramacho, que trabalharam no projeto; e um arraso nesse propósito comum de conectar pessoas para gerar impacto social, e ambiental, claro! (*)Thaís Moraes é Gerente de Comunicação e Comunidades da Ball América do Sul

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Artigo João Alceu Amoroso Lima

JUDICIALIZAÇÃO EXCESSIVA DA SAÚDE: CAUSAS, CONSEQUÊNCIAS E SOLUÇÕES

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judicialização na saúde no Brasil se tornou uma prática tão corriqueira que cria efeitos colaterais indesejáveis para todos os participantes do sistema privado, inclusive os próprios beneficiários de planos de saúde. Uma das razões é que, na maioria das vezes, a decisão judicial privilegia o pleito do indivíduo em desacordo aos direitos da coletividade – os planos são regidos no conceito do mutualismo; ou seja, a solidariedade entre pessoas diferentes, mas que têm um interesse em comum: no caso, o acesso a serviços de cuidado à saúde de qualidade. Posto esse cenário, vale uma ressalva: quando um beneficiário tiver um direito legítimo não atendido, cabe a ele fazer valer, inclusive pela via judicial após esgotar todas as possibilidades de ações junto à operadora. Mas o excesso de processos na Justiça não significa que o atendimento assistencial ofertado pelos planos de saúde é insatisfatório ou deficiente. Muitas vezes, quando um juiz decide favoravelmente ao consumidor, invariavelmente essa decisão ou ignora o que está previsto no contrato assinado entre beneficiário e operadora, ou contraria o que consta do Rol de Procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), órgão regulador do mercado. Em ambas situações quem paga a conta final é o próprio beneficiário de plano privado de assistência, porque os custos judiciais são repassados no cálculo dos reajustes praticados pelas operadoras. O avanço da judicialização da saúde chama a atenção para um desequilíbrio perigoso, a médio prazo, para a viabilidade econômica do segmento. Em recente estudo realizado pelo

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Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a pedido do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), viu-se um pouco da dimensão do excesso de ações judiciais no sistema de saúde público e privado do Brasil. De acordo com o Insper, em uma década (de 2008 a 2017) o número de demandas judiciais relativas à saúde aumentou 130%, enquanto o número total de processos judiciais cresceu 50% no período. Pois bem, para se ter ideia do que isso representa, segundo o Ministério da Saúde, seus gastos com demandas judiciais somaram mais de R$5 bilhões, em um período de oito anos. No sistema de saúde privada, o quadro não é diferente. Basta dizer que o elevado grau de judicialização na saúde suplementar afeta direta e indiretamente 47,3 milhões de beneficiários de planos de saúde, além de toda uma cadeia que engloba operadoras e prestadores de serviços de assistência à saúde. De acordo com o relatório ‘Justiça em Números 2018’, ano-base 2017, foram classificados 564.090 proces-

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sos, em todas as instâncias, na categoria de direito do consumidor de planos de saúde – o equivalente a quase 1/3 das ações registradas referentes à judicialização da saúde. O que vemos, na prática, é que a judicialização leva a decisões que concedem procedimentos não previstos em contratos e que decorrem de demandas muitas vezes equivocadas, causando desorganização no sistema, desequilíbrio orçamentário do setor, além da já mencionada desigualdade de direitos. Em grande monta, a origem dessa crescente demanda judicial na saúde está na falta de informação, tanto por parte do usuário de plano de saúde quanto ao que se refere aos magistrados que julgam os casos. Na mesa das divergências, não é raro situações em que os juízes desconhecem a dinâmica da Saúde Suplementar. Eis o xis da questão, afinal não se pode desprezar as regras


estabelecidas pelo órgão regulador, a ANS, nem tão pouco pode-se ignorar as cláusulas dos contratos assinados entre as partes. Ciente de que a informação correta e transparente pode ajudar a dirimir a cultura do litigioso no país, a Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) iniciou, há anos, ampla campanha de esclarecimento de como funciona a saúde privada e como os benefícios contratados devem ser demandados. Além da participação ativa nos colóquios realizados em várias capitais do país, com a participação dos Procons, de Tribunais de Justiça e representantes de outros órgãos diretamente e indiretamente envolvidos nas questões, a Federação vem distribuindo kits aos tribunais e nas escolas de magistratura com publicações acerca de direitos e deveres dos beneficiários, tipos de cobertura dos planos, Rol de Procedimentos, contratos, entre outros assuntos. O desconhecimento da Justiça sobre a dinâmica da Saúde Suplementar, inclusive, gera insegurança jurídica para as operadoras. Por isso, a FenaSaúde defende a expansão dos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário

(NAT-Jus) – que visam dar respaldo aos magistrados para melhor embasar a tomada de decisão – e outras iniciativas que tragam conhecimento, baseado em evidências científicas, como os enunciados/recomendações e pareceres. Segundo o CNJ, essa série de instrumentos permite auxiliar os magistrados para que sejam mais rígidos com os critérios probatórios para comprovar a necessidade do fornecimento de remédios, tratamentos, procedimentos, órteses e próteses. Entretanto, o mesmo estudo do Insper mostra que apenas 20% das decisões sobre saúde citam os protocolos de apoio do CNJ. Ou seja, apesar do aumento de mecanismos técnicos à disposição sobre o setor de saúde, os juízes e desembargadores brasileiros continuam a decidir questões sobre saúde com pouco embasamento técnico. A Federação e suas associadas entendem que um bom caminho para evitar o crescimento desordenado da judicialização na saúde passa pelo estímulo ao uso dessas ferramentas pelo Poder Judiciário; ampliação do acesso a informações sobre as regras que norteiam a atividade de gestão de planos de saúde;

e pela conscientização de todos os atores do sistema, do paciente aos profissionais e magistrados, sobre a utilização mais adequada dos meios jurídicos. Nesse sentido, é importante destacar todo trabalho que vem sendo feito pelas operadoras, como a qualificação de pessoal, produção de vídeos, anúncios explicativos para a sociedade, e oferta de canais de comunicação com o consumidor, como SACs, Ouvidorias, sites e guias com esclarecimentos etc. Já se percebe que muitas dúvidas acabam sanadas após o consumidor buscar os canais gratuitos de atendimento, o que evita, em último caso, a judicialização. Essa postura ativa das operadoras já traz relevantes resultados. De acordo com levantamento feito pela FenaSaúde, a partir de dados de canais oficiais de atendimento ao cidadão, comprovase a redução do número de reclamações dos beneficiários de planos de saúde nos últimos anos. Segundo os dados de 2018 do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (Sindec) – órgão da Secretaria Nacional do Consumidor, ligado ao Ministério da Justiça, que reúne os Procons de todo o país –, o segmento aparece, atualmente, na 16º posição entre os 20 listados, com apenas 1,28% do total de reclamações ou 28.023 queixas. Em 2015, por exemplo, os planos de saúde estavam no 14º lugar, com 42.080 reclamações, o equivalente a 1,66% do total. A FenaSaúde entende, portanto, que a Justiça não seja o melhor caminho para resolver questões ligadas à Saúde Suplementar, que funciona sob regras rígidas de conduta e governança. A melhor via para esclarecer dúvidas é sempre o diálogo, cujos canais já foram abertos pelas operadoras – cada vez mais atentas às demandas do consumidor. É preciso intensificar o método de resolução de conflitos e instaurar, de forma definitiva, a cultura do diálogo. (*)João Alceu Amoroso Lima, Presidente da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde)

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Pelo Brasil Quando a arte abraça Brumadinho Texto e Fotos de Giane Gatti De Brumadinho (MG)

“Eliane era muito alegre e festeira. Adorava baladas e cavalgadas. Ela era meu tudo!” É assim que a engenheira civil Josiane Melo se refere à irmã grávida de cinco meses, uma das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho no dia 25 de janeiro. Na tragédia morreram 271 pessoas e 37 estão desaparecidas. No dia 25 de abril, três meses após, Eliane faria 40 anos. O corpo só foi identificado por impressão digital 69 dias depois. Eliane trabalhava como analista de planejamento numa empresa terceirizada para a Vale desde agosto de 2018. E estava na mina na hora do rompimento da barragem. A maioria das vítimas era de Brumadinho. A cidade ainda está sob grande comoção. Basta andar pelas ruas e conversar com qualquer pessoa. Todo mundo perdeu alguém importante, as pessoas se conheciam. O clima de tristeza é muito grande. Josiane conta que as duas, engenheiras civis, planejavam abrir uma empresa de patologia civil e iriam começar a fazer mestrado, após o nascimento de Maria Elisa. E foi na música que Josiane e a mãe Maria encontraram um pouco de conforto. Mais precisamente na canção “Esperança e amor” do músico e um dos coordenadores do Batucabrum, Sanrah Ângelo e do parceiro Marcos Aranha do Brasil. “A primeira vez em que a gente ouviu a música estava no desespero. Fazia 30 dias da tragédia. A igreja fez um evento na ponte e a gente ainda tinha 1% de chance de acreditar que ela e a bebê estariam vivas. Sanrah cantou a música e ela retratava tudo que a gente realmente queria: “Se a gente pudesse voltar atrás, sorrir novamente...” Ela conta que no mesmo dia foi com a mãe se encontrar com o músico para agradecer. “A gente queria abraçar a Eliane de novo. Ficamos muito comovidas com a música. Nós temos um grupo no WhatsApp de parentes de vítimas ainda não localizadas e colocamos essa canção lá. Ela

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também serviu para um grupo de famílias unidos pela dor”, revela. A música foi gravada por artistas como Zelia Duncan, Flávio Venturini, Leila Pinheiro, Zizi Possi, Marcus Viana, entre outros. Ninguém cobrou cachê. “O videoclipe ficou espetacular e ainda mais com o coral das crianças do Batucabrum. Todos aqueles artistas cantando uma música de Brumadinho. Ela está dando voz à população para que ninguém se esqueça. Eu queria que toda vez que tocasse essa música, as pessoas parassem e se lembrassem de Brumadinho. Para que isso não caia no esquecimento. E as crianças do Batucabrum remetem à esperança de um país melhor, com justiça, com leis. Entendemos que a mineração é muito importante, mas que seja administrada de uma maneira correta e que proteja os trabalhadores”, pede Josiane. O poder transformador da música O pedreiro Renato Menezes estava trabalhando na barragem 7 no dia do rompimento. “Éramos nove pessoas e cinco desceram para almoçar justo no horário. Não sei se eles estavam já almoçando ou se preparando. Só que infelizmente foram almoçar e não retornaram. Eu não desci porque fiquei adiantando o serviço”, conta. Rafaela, de 11 anos, filha de Renato, começou a participar do Batucabrum. O projeto, que existe desde 2006, tem sido muito importante para ajudar a lidar com as perdas da tragédia. “Eu entrei para o projeto após o rompimento da barragem. Eu perdi um amigo e eu sinto que estou cantando para ele”, conta

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enxugando as lágrimas. A vendedora Kátia afirma que o filho andava muito triste, mas que após entrar para o projeto “ficou mais alegre, mais comunicativo e sociável”. Segundo Sanrah Ângelo, o projeto é uma ocupação positiva para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Ele e o irmão Lecy Giovani o têm “como uma missão. “Acreditamos na música como um mecanismo muito eficiente para retomar a autoestima, para fazer com que mude a realidade de vida aqui de Brumadinho, que foi muito pesada. Esse trabalho com as crianças é muito importante. A gente nota isso através do depoimento dos pais. A arte em geral tem esse poder”, garante Sanrah. O evento cultural realizado pela Fundação Dom Cabral trouxe à cidade a peça teatral “Missa para Clarice” de Eduardo Wotzik e a Orquestra Maré do Amanhã do Rio de Janeiro, que se apresentou com o Batucabrum. “Levar nossa Missa Para Clarice a Brumadinho é uma missão. Por isso aceitamos imediatamente o chamado. É restituir ao mundo o caráter curativo que a Arte tem. Necessária para esses momentos de desamparo. A arte tem o poder de restaurar a alma, refazer o indivíduo, reconstruir”, afirmou Wotzik. “A gente acredita que a arte, a música pode trazer consolo, tocar os corações e fazer com que a cidade renasça. A gente quer mostrar que nós, que o Brasil também é brumadinense e está com vocês nesse sofrimento. Receba nossa arte e nosso abraço”, diz o maestro Carlos Eduardo Prazeres.


Bradesco recebe evento Fórum Global CCU Por Sônia Araripe, Editora de Plurale De São Paulo

O evento Fórum GlobalCCU, que reúne a cada dois anos líderes das principais universidades corporativas do mundo, aconteceu pela primeira vez na América Latina, em São Paulo, nos dias 7, 8 e 9 de maio. A Universidade Corporativa Bradesco (UniBrad), vencedora do prêmio GlobalCCU 2018, foi patrocinadora do Fórum. Cerca de 200 pessoas, representando empresas de diversas partes do mundo, participaram do evento. Durante a solenidade de premiação deste ano, o Presidente Executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, lembrou que a Fundação Bradesco atende a 100 mil crianças carentes em todos os Estados do Brasil, o que envolve investimento de R$ 650 milhões anuais. “A UniBrad é importante para a Organização ao tornar os funcioná-

rios protagonistas de suas carreiras. Queremos profissionais capacitados e imbuídos dos valores de cidadania e brasilidade.” Octavio de Lazari Junior contou que começou no banco como office-boy, entregando documentos, e foi subindo na carreira. “Somos capazes de crescer, desde que nos deem oportunidades. A educação é o caminho.” O Bradesco - citou o Presidente Executivo do Bradesco- investiu R$ 175 milhões em capacitação de pessoas em 2018. “Esta é uma área estratégica para a organização”, afirmou, lembrando que no mundo em transformação são as pessoas que fazem toda a diferença. O Membro do Conselho de Administração do Bradesco, Maurício Machado de Minas, participou de um painel sobre a BIA – Bradesco Inteligência Artificial. “Além de responder dúvidas de correntistas, a BIA consegue até mesmo dar acon-

selhamento de portfólio de investimentos.” Para a Diretora Executiva do Bradesco, Glaucimar Peticov, participar de uma iniciativa como o GlobalCCU é uma demonstração de compromisso do Banco com a capacitação profissional e o desenvolvimento. “Para o Bradesco, o investimento em educação é essencial.” Cases de Universidades Corporativas brasileiras foram premiados, Entre os premiados estiveram experiências bem-sucedidas de Universidades Corporativas do McDonald`s, da FCA (leia-se Fiat e Crysler), do Banco do Brasil, Santander e Caixa. Também foram agraciados com prêmios, gestores de escolas voltadas para gestores de empresas globais da França, Indonésia, Índia, EUA e Ucrânia. A grande premiada do dia foi a Universidade Corporativa da principal empresa de telefonia da Indonésia, a Telekom Indonesia. FOTO DE DIVULGAÇÃO/ BRADESCO

A Diretora Executiva do Bradesco, Glaucimar Peticov e o Presidente Executivo do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, destacaram o papel transformador da educação

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Pelo Brasil Evento reuniu cerca de 400 convidados entre personalidades do setor de seguros e representantes do governo FOTO DE DIVULGAÇÃO/ CNSEG

Confederação das Seguradoras realiza cerimônia de comemoração da posse para próximo triênio De São Paulo Uma ilustre cerimônia reuniu grande parte do PIB do setor segurador no dia 9 de maio, em São Paulo, para celebrar a posse dos presidentes e das diretorias da Confederação das Seguradoras (CNseg) e de suas quatro Federações (FenSeg, FenaPrevi, FenaSaúde e FenaCap), além dos respectivos conselhos para o triênio 2019/2022. Em discurso, o presidente eleito da CNseg, Marcio Coriolano, lembrou as condições macroeconômicas desafiadoras de seu primeiro mandato (2015/2018). “O setor cresceu 4,5% reais no período, ao passo que o PIB decresceu 1,2%”, afirmou ele. E chamou atenção ainda para “a revolução silenciosa do mercado, responsável por um novo padrão de desenvolvimento, pelo reposicionamento estratégico das seguradoras em diversos segmentos e pelo salto da inovação em seguros”. Marcio Coriolano agradeceu o apoio do Conselho Diretor da CNseg e das Federações pela sua recondução à Presidência pelo triênio 2019/2022. Lembrou a solidez do setor, que não só alcançou a emblemática marca de R$ 1 trilhão em reservas técnicas, como também apresentou melhoria dos indicadores de eficiência operacional das associadas, além de ratificar o protagonismo dos clientes em todas as dimensões da atividade. O presidente eleito da FenaSaúde e vice-presidente do Grupo Notredame Intermédica, responsável pela Interodonto, João Alceu Amoroso Lima, destacou medidas propostas pela entidade em prol da sustentabilidade do segmento. Para ele, são relevantes questões como a adoção de programas de APS - Atenção Primária à Saúde e Redes Hierarquizadas e a admissão de hospitais públicos nas redes credenciadas das operadoras privadas. Ele também ressaltou o protagonismo da FenaSaúde no setor. “Sabemos que podemos contribuir de forma mais contundente, não apenas para a promoção da saúde e prevenção de doenças dos ci-

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Da esq. para a dir.: Marcelo Farinha, presidente da Fenacap; Jorge Pohlmann Nasser, presidente da FenaPrevi; Marcio Coriolano, presidente da CNseg; João Alceu Amoroso Lima, presidente da FenaSaúde e Antonio Trindade, presidente da FenSeg.

dadãos, mas também para um ambiente favorável ao crescimento e desenvolvimento econômico e social do Brasil, desonerando o orçamento público, promovendo emprego, atraindo investimentos e gerando renda”, concluiu. O presidente eleito da FenaCap e da Brasilcap, Marcelo Farinha, observou que o segmento contribui para ampliar o bem-estar das famílias, movimentar a economia e reforçar a poupança de longo prazo no país. “Nesse contexto, merece destaque o posicionamento estratégico da capitalização, que evoluiu de um estágio inicial em que os produtos eram apenas instrumentos para guardar dinheiro e concorrer a prêmios para um novo patamar, que consiste na oferta de um conjunto de soluções de negócios com sorteios, em atendimento a novas demandas dos consumidores. É solução para a conquista da disciplina financeira, para garantia locatícia, para o exercício da filantropia ou para incremento de outros segmentos econômicos. Isso explica, em parte, a resiliência do mercado em momentos de instabilidade”, ressaltou. O diretor presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leandro Fonseca, destacou a modernização regulatória como o caminho para tornar o segmento mais produtivo e assegurar seu desenvolvimento sustentável. “Em

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razão disso, a modernização constará da nova agenda regulatória da ANS para o período compreendido entre 2019 e 2021”, afirmou Fonseca. Já o presidente eleito da FenSeg e da Chubb no Brasil, Antonio Trindade, demonstrou otimismo com o setor e destacou o papel estratégico do seguro. “O segmento de Seguros Gerais é responsável por um amplo leque de produtos, desde automóveis e satélites, residências, obras de infraestrutura, até a produção agrícola do interior do País. Caminha para um cenário de crescimento sustentado nos próximos anos e quer ser um parceiro para concretizar a agenda social e econômica do Brasil, ao proteger a população de toda a espécie de riscos e desonerar o orçamento do Estado”, afirmou. O presidente eleito da FenaPrevi, da Bradesco Vida e Previdência e da Bradesco Capitalização, Jorge Pohlmann Nasser, disse que, no contexto da Reforma da Previdência Social, já não se pode mais discutir se deve ou não reformar o modelo de Previdência Social do país. “Devemos discutir qual a reforma possível nesse momento. E que seja da amplitude suficiente para recolocar o Brasil na rota de desenvolvimento sustentável. A FenaPrevi deu sua contribuição, ao apresentar sugestões para a Reforma, através do trabalho realizado pela FIPE, em parceria com CNSeg, ABRAPP e ICSS”, afirma.


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Ecoturismo

PARQUE SESC SERRA AZUL (MT):

Especial Serra Azul

CACHOEIRA DE ÁGUAS CRISTALINAS, TIROLESA, ARVORISMO, CICLOTURISMO E AVISTAMENTO DE PÁSSAROS Por Sônia Araripe e Isabella Araripe, de Plurale Fotos de Isabella Araripe / Plurale De Rosário do Oeste e Nobres (MT) / RPPN Sesc Serra Azul

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ense em natureza ainda sem muita interferência humana, com a possibilidade de flutuar em águas cristalinas, fazer arvorismo, cicloturismo e tirolesa e ainda avistar pássaros ao cair da tarde. E o que é melhor: sem aquele tumulto de dezenas de grandes grupos de visitantes correndo e fazendo barulho. Pode parecer quase impossível, mas ainda há um destino pouco explorado por turistas brasileiros e estrangeiros. Quase uma joia encrustada em pleno “coração” brasileiro, no Mato Grosso. Trata-se do Parque Sesc Serra Azul, distante apenas 145 quilômetros de Cuiabá, capital que garante voos para os mais variados destinos, como São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, sem falar em outros mais distantes a partir de conexões. Localizado em Rosário do Oeste, junto da região de Nobres – já bem famosa– o Parque Serra Azul está começando a se tornar “debutante” na categoria turismo de aventura e contemplação. Sim, porque se tem algo que ninguém se cansará por estes lados é apreciar a natureza, curtir momentos que são cada vez mais raros. Desconectar e reconectar - A primeira dica é, portanto, desconectar o celular e se conectar com a natureza. Até porque, dependendo do local, o sinal nem chega. Aproveite para “entrar no

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Região ainda pouco explorada por turistas de diferentes pontos do Brasil e do exterior encanta pela conservação em pleno Cerrado e pelas belezas naturais. Variedade de pássaros e de espécies encanta os visitantes em área que reúne transição única dos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia


FOTOS DE ISABELLA ARARIPE/ PLURALE

clima” e aproveitar cada momento desta experiência inesquecível. Com cinco mil hectares, a área reúne a transição única no estado do Mato Grosso dos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia. Curiosamente, toda a área abrigava, anteriormente uma grande fazenda de gado. Seu Tonho, ou melhor, Antônio Carlos Ribeiro da Silva, 45 anos, é deste tempo: nascido e criado na região, trabalhava na Fazenda Santo Antônio e foi aproveitado pelos novos administradores. Nos tempos da fazenda, ele cuidava da pequena usina de luz e depois que foi desativada, passou a cuidar de serviços gerais, como arrumar as cercas do gado e dos tratores. Foi fazendo a manutenção de um trator que encontramos Seu Antônio. Tímido, ele não entendeu muito bem o objetivo da prosa. Mas quando soube que as jornalistas do Rio tinham vindo de longe para falar de Serra Azul , abriu um sorriso. “Isso aqui é um paraíso. Não troco por nada. É a minha vida, sou muito feliz”, resume. Certíssimo. Tivemos dois intensos e lindos dias para explorar com calma os encantos

anunciados pelo Seu Tonho. Começamos a conhecer o Parque Serra Azul pelo seu principal cartão de visitas - a cachoeira de águas cristalinas. Para isso é preciso subir 470 degraus íngremes, mas bem seguros, até chegar na queda d`água. Como há tirolesa, quem quiser descer com aventura tem que carregar seu próprio equipamento – capacete e cordas. Não chega a ser pesado, mas é bom ter esta notícia para saber que é bom deixar todo o peso extra nos armários antes de subir, como mochilas e máquinas fotográficas pesadas. Antes de programar a sua visita, veja se vai querer todas as atividades ou apenas algumas. O preço do ingresso varia de acordo com as opções escolhidas. Se quiser arvorismo ou cicloturismo paga-se a mais. Enfim, planeje com calma o que fará no parque, inclusive qual a melhor época para a viagem. Em julho e feriados , como o Carnaval, há muitos visitantes. No ano de 2018, o Parque recebeu 17.559 turistas, que realizaram 27.321 atividades. Recomendamos que se faça a subida

da trilha até a cachoeira cada um a seu ritmo. Os mais jovens sobem rapidamente, claro, mas preferimos ir apreciando a paisagem, tirando fotos com o celular e curtindo a natureza. Como tinha chovido antes de irmos, corria água nos degraus até a cachoeira. Há corrimão, mas é bom também ter esta informação para garantir que a subida será segura e não será obstáculo para pessoas com dificuldade de locomoção. A boa nova é que o Sesc Pantanal – administrador do Serra Azul – está preparando reformas para tornar mais acessível o Parque. Cachoeira com águas da cor verde esmeralda - Chegando ao alto, é possível entregar o equipamento da tirolesa para monitores e trocar pelo kit de coletes de flutuação e máscara simples de mergulho. Pronto, é hora de seguir para a Cachoeira. Faltam apenas poucos degraus – na descida – até o ponto-alto da visita. Que deslumbre! Que maravilha! As águas são cristalinas, como se fossem esmeraldas na forma líquida. A queda d`água de 40 metros deixa qualquer um – mesmo os mais experientes viajantes que praticam o ecoturismo – de boca aberta. Os paredões de arenito dão uma dimensão ainda mais espetacular para a piscina natural. Com a ajuda da máscara dá para curtir os peixes e também as pedras coloridas. Monitores controlam o fluxo de turistas no local e evitam também acidentes. Ninguém pode chegar muito próximo da queda d`água, nem pular das pedras ou fazer estripulias. Monitores também podem fazer fotos no seu celular, caso não tenha levado a capa a prova d`água. O monitor Epaminondas explica que a beleza exuberante tem atraído não só turistas brasileiros, mas também estrangeiros. “A visitação tem crescido muito.” O tempo do banho é possível ficar até 50 minutos de flutuação na cachoeira. Mas fora da água é possível caprichar nas fotos, ficar em um cantinho e até tentar meditar e rezar par agradecer cada minuto neste paraíso. Foi o que fizemos. Curtimos a água - e depois aproveitamos para as fotos e contemplação. A garotada curte muito também a volta do passeio. Entregando os coletes de flutuação para os monitores, recebe-se o capacete, cordas e

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Ecoturismo Especial Serra Azul

Seu Antônio Carlos Ribeiro da Silva é nascido e criado na região e trabalha por aqui desde os tempos da Fazenda de gado.

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ganchos para a tirolesa. Calma! Tudo bem seguro e garantido. Enquanto estivemos lá vimos pessoas na faixa de 60 anos descendo tranquilos e com toda a segurança. Todos – especialmente os mais jovens - são advertidos antes da descida que não se deve fazer “acrobacias” aéreas, como descer de cabeça para baixo. A tirolesa leva o turista de volta à base em menos de um minuto, voando sobre a floresta. Após a flutuação, a descida fica fácil pela tirolesa de 700 metros, em meio a mata, que chega a 60 km/h. Perto do local da descida, a estrutura do arvorismo, com rede de trilhas e obstáculos suspensos, exige força e calma para concluir o percurso, sempre acompanhado de guias. A trilha de cicloturismo permite que o visitante curta ainda mais aventura e explore o parque nas áreas permitidas. A cachoeira da Serra Azul é um dos principais atrativos da região, conhecida como Circuito das Águas, que engloba os municípios de Nobres, Rosário Oeste, Jangada, Chapada dos Guimarães, Diamantino, Nortelândia, Nova Brasilândia e São José do Rio Claro. “Em cada atividade é possível viver uma experiência única. Na flutuação a contemplação da cachoeira cristalina, na tirolesa o frio na barriga da descida, a concentração e tranquilidade do arvorismo e a energia do cicloturismo, numa trilha de aventura. As atividades contemplam as diversas preferências para quem quer aproveitar os dias de folga de um jeito diferente”, destaca o gerente do Parque Sesc Serra Azul, Marcus Kramm. Cerrado preservado - Com cinco mil hectares, a área do Parque Sesc Serra Azul reúne a transição única no estado dos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia, onde é possível também ver animais selvagens. Quando chegávamos


E n s a i o à área ficamos impressionados com o avanço do agronegócio. Há fazendas de soja e de gado bem próximas do parque – lembrando ter sido antes também uma fazenda de gado. Recentemente, a região de Bonito – no Mato Grosso do Sul - ficou com águas turvas por conta de fazendas próximas. Aliás, a “comparação” com Bonito é feita por turistas das região que ainda são os principais visitantes deste parque. Apesar de, no passado, o Mato Grosso ter sido um só estado, após a separação do estado do Sul, é comum ter uma certa rivalidade entre os dois “Aqui não é Bonito ....é lindo”, resumia uma jovem de Cuiabá enquanto flutuava nas águas esverdeadas. O Restaurante Buritizal – inaugurado este ano - dá um toque especial para a visita. Servindo comidas típicas da região – como o peixe pacu e doces de frutas típicas, feito o pequi – tem visual clean e grandioso. Grandes janelas permitem que o almoço aconteça com a vista do lago e de pássaros. A moradora de Cuiabá, Pamela Gandra, comerciária, estava encantada com a primeira visita ao parque de esportes radicais. “Curtimos todas as atrações pela manhã e agora estamos aqui no Restaurante descansando, contemplando os pássaros e a natureza antes de voltar para casa. Que passeio inspirador”, contou. De acordo com a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano,

FOTOS: ISABELLA ARARIPE / PLURALE PARQUE SESC SERRA AZUL (MT) a inauguração do restaurante a instituição pretende atrair visitantes de todo o estado e estimular o turismo na região. “Assim, após a flutuação na cachoeira, tirolesa, arvorismo e cicloturismo, os turistas podem almoçar no restaurante e contemplar a vegetação do cerrado e os animais que vivem ali, como jacarés e aves de diversas espécies, entre elas a arara Canindé. É uma experiência única em Mato Grosso.” Na solenidade, em abril, o presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) e presidente do Conselho Nacional do Sesc, José Roberto Trados destacou que a inauguração do restaurante faz parte do planejamento de ampliação de atrações no parque. “O turismo está entre as nossas bases de sustentação e esta região precisa ser mostrada ao mundo para que isso se transforme em mais emprego, renda e tributos. Até 2021 vamos oferecer ainda mais serviços e oportunidade para que os privilegiados turistas de Mato Grosso possam admirar essa natureza exuberante”. Adquirido pelo Departamento Nacional do Sesc em 2011, o Parque Sesc Serra Azul, que funciona das 9h às 17h, fica no município de Rosário Oeste, entre a Serra Azul e a margem esquerda do rio Cuiabazinho. Com cinco mil hectares, a área reúne a transição única no estado dos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Pantanal.

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Ecoturismo Especial Serra Azul Gerente do Parque Sesc Serra Azul, Marcus Kramm - “Em cada atividade é possível viver uma experiência única. Na flutuação a contemplação da cachoeira cristalina, na tirolesa o frio na barriga da descida, a concentração e tranquilidade do arvorismo e a energia do cicloturismo, numa trilha de aventura. As atividades contemplam as diversas preferências para quem quer aproveitar os dias de folga de um jeito diferente.” FOTOS DE DIVULGAÇÃO/ SESC PANTANAL

O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviço e Turismo (CNC) e presidente do Conselho Nacional do Sesc, José Roberto Trados, compareceu à inauguração do Restaurante Buritizal, em abril

A localização, explica a superintendente, é estratégica, pois está próxima da nascente do Rio Cuiabá – que passa em frente ao Hotel Sesc Porto Cercado e margeia a Reserva Particular do Patrimônio Nacional (RPPN), em Poconé. “Assim, a atuação na região colabora, ainda, com a conservação de uma das cabeceiras do Rio Cuiabá e, consequentemente, com o futuro do Pantanal”, completa. Também serão implantados neste ano a canoagem e o boiacross, conta a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano. “Este é um momento importante por fomentar o turismo na região e é emblemática a presença do Sesc Pantanal neste lugar, pois assim contribuímos para a conservação de um dos rios que formam o Pantanal. Queremos que cada vez mais pessoas conheçam e aproveitem o que oferecemos aqui. Por isso, a partir do segundo semestre deste ano, va-

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mos ter essas duas novas atividades. E tem muito mais até 2021”, declara. A vegetação típica do cerrado pode ser conferida de perto em um passeio em volta do Restaurante Buritizal. Tivemos como super guia ninguém menos que o anfitrião, o gerente do Parque Sesc Serra Azul, Marcus Kramm, um grande entusiasta do potencial turístico da região. A bordo de um pequeno veículo com tração nas rodas – como se fosse um bugue pequeno – atravessamos parte da gigantesca área. Não chegamos a visitar grutas (são várias), mas vimos riachos, vegetação nativa preservada e áreas que eram de criação de gado e – com a supervisão de agrônomos/ pesquisadores da Esalq – estão sendo mantidas para “aluguel” de engorda de pasto para fazendeiros da região. “Onde o gado pisa abre espaço para a vegetação do Cerrado voltar. Mantivemos alguns animais como uma experiência para ver o que irá acontecer”, explica Kramm.

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Segundo a superintendente do Sesc Pantanal, Christiane Caetano, a inauguração do restaurante a instituição pretende atrair visitantes de todo o estado e estimular o turismo na região.

Ficamos encantados com a biodiversidade rica do Cerrado. Flores secas, pacas, siriemas, pássaros lindos voando daqui e acolá, araras canindés soltas... enfim, um infinito colorido preservado. Não tivemos tempo para visitar com calma e encontrar tatu-bola e até mesmo animais maiores. Para quem gosta de avistamento de pássaros, o espetáculo do por do sol, junto do Restaurante Buritizal, é simplesmente deslumbrante. A foto de capa desta edição – por Isabella Araripe – é apenas uma amostra do que se avista por estes lados. Patos selvagens, picapau, bandos de pássaros pequenos e até mesmo um gavião caboclo. O lago convida todos para um “banquete” visual da natureza. Celular só para fotos. E para quê mais serve mesmo esta invenção do homem? (rs) (*) Plurale viajou a convite do Sesc Pantanal.


FOTO DE ISABELLA ARARIPE/ PLURALE

SERVIÇO Tarifas - Há uma tabela de valores da entrada. Consulte o site para saber todos os detalhes. Turistas em geral precisam escolher que atividades desejam fazer e se vão almoçar (recomendamos que sim). Há tarifas diferenciadas para quem possui o Cartão Sesc. Imaginando um pacote completo, day use, incluindo visita à Cachoeira, tirolesa e arvorismo, sai a R$ 215 para o púbico em geral e R$ 170 para quem tem o Cartão Sesc. Os valores mudam se a opção for sem almoço e sem todas as atividades. O Parque Serra Azul fica aberto de 9h às 17h. - Somente agências de turismo de Cuiabá, Rosário do Oeste e Nobres são credenciadas para vender pacotes para visitar a região. Pesquise no site todas as opções. Uma boa ideia, já que está mesmo visitando o Mato Grosso é combinar um pacote que também inclua visita a Nobres e ainda ao Pantanal, no Hotel Sesc Porto Cercado e RPPN Sesc Pantanal, em Poconé; - Os moradores de Rosário Oeste têm descontos de 50% de desconto na entrada, conforme a Lei Municipal nº1480/2017, mesmo benefício dado a crianças de 5 a 10 anos. Localização e acesso O acesso a partir de Cuiabá é através da rodovia Emanuel Pinheiro (BR-251) pela saída norte. Após percorrer 16,5 km, adentra-se à es-

querda no trevo no sentido do lago da UHE do Manso pela MT-351. Percorre-se 116,2 km, numa via principal pavimentada, passando pela ponte próxima à barragem da UHE Manso, até o trevo que dá acesso ao distrito de Bom Jardim, já no município de Nobres. Segue-se à direita na MT-241 por mais 5,5 km até Bom Jardim. Deste Distrito, continuando pela mesma rodovia, após percorrer 6,1 km numa estrada não pavimentada, passando pela ponte sobre o Rio Cuiabazinho (divisa dos municípios de Nobres e Rosário Oeste), adentra-se numa vicinal à esquerda, percorre-se 3,5 km até chegar a entrada do Parque Sesc Serra Azul. Avistamento de pássaros e Restaurante Buritizal - O ideal é passar dois dias no local, para conhecer a cachoeira, praticar o arborismo e no dia seguinte voltar apenas para contemplar a natureza e pássaros. Há inúmeras opções de pousadas tanto em Rosário do Oeste como em Nobres. Como nem sempre é possível ter este tempo para contemplação, reserve ao menos um dia inteiro para o Parque. Após a manhã na cachoeira e tirolesa é possível almoçar com calma no Restaurante Buritizal e ali ficar até a tarde, hora que os pássaros começam a chegar. Como as pousadas ficam bem próximas, é possível sair do Parque já na hora do fechamento – às 17h - no

entardecer e seguir para o descanso. A comida do Buritizal é ótima e sua estrutura acaba de ser inaugurada. - Situado em um cenário paradisíaco, o Restaurante Buritibzal, que funciona de terça a domingo, das 11h30 às 15h, fica às margens de um lago, rodeado pela paisagem que originou seu nome: as árvores Buritis, um tipo de palmeira do cerrado. Dicas - Use sempre protetor solar e repelente – levamos de diferentes marcas e os que mais funcionaram foram os de longa duração – e vista roupas claras (se possível de caminhadas, que sequem facilmente) e confortáveis. Leve um chapéu que não caia da sua cabeça; - Se o seu celular tira boas fotos, ótimo. Compre um protetor de água para o celular (como se fosse um crachá grande,à prova de água e pendure no pescoço. Para o banho de cachoeira prefira maios ou biquínis que não corram o risco de cair (rs). Evite levar mochilas pesadas. Na tirolesa não se pode ir com nada na mão para evitar cair e é terminantemente proibido fazer “acrobacias” aéreas, como descer de cabeça para baixo. - Se você gostar de fotografar pássaros, pode levar equipamento com objetivas. Mas atenção – evite subir com esta carga pesada até a cachoeira. O ideal é usar a máquina na área plana, em torno do Restaurante Buritizal.

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Ecoturismo

O PANTANAL,

Especial Pantanal

SUA GENTE E SUA BIODIVERSIDADE RPPN Sesc Pantanal, no Mato Grosso, a maior do Brasil, conserva riqueza natural da incrível biodiversidade de bioma. Hotel Porto Cercado atrai turistas com várias atrações que buscam valorizar a cultura e a genuína alma pantaneira Por Sônia Araripe e Isabella Araripe, de Plurale Fotos de Isabella Araripe De Barão de Melgaço e Poconé (MT)

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aímos na pequena e moderna lancha voadeira pelo Rio Cuiabá, no Mato Grosso, ainda no escuro. São cinco horas da manhã e parece que nem mesmo os animais acordaram. Estamos em um grupo de apenas dez pessoas e, ainda sonolentos, vivenciamos uma das mais incríveis experiências em tempos tão hiperconectados, turbulentos e agitados das grandes cidades. Somos apenas nós, o barulho suave da lancha entrecortando o rio imenso, pilotado pelo experiente barqueiro, orientando o que iremos ver, e o mais fantástico quadro que a natureza poderia nos recepcionar. Faz um pouco de frio, venta, mas nada que um bom casaco corta-vento e um boné não resolvam. Em menos de cinco minutos de passeio começamos a “colher resultados”: o barqueiro aponta uma potente lanterna, no que chamam de focagem, e começa a mostrar, nas margens do Rio Cuiabá, os “moradores” silvestres destas terras alagadas. O “desfile” da biodiversidade pantaneira está apenas começando. São garças brancas, bandos de macacos, tuiuiús (símbolo da região), biguás, mutum de penacho e por aí vai. “Do lado direito”, fala, baixo o barqueiro para não assustar os animais. A luz de longe é capaz de mostrar a exuberân-

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cia de cada espécie. Alguns parecem querer mesmo “desfilar”: se mexem lentamente e na lente das máquinas como se estivessem posando. Alguns mais arredios, tentam fugir da luz. Maior RPPN do Brasil - Nesta região, a margem direita do Rio Cuiabá abriga nada menos que a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, a RPPN Sesc Pantanal. Ao todo são quase 108 mil hectares, em Barão de Melgaço, com acesso por Poconé. É tão extensa que sobrevoamos mais tarde para conseguir entender melhor a dimensão. Por conservar grande parcela da maior planície alagada do planeta, o Pantanal, é designada internacionalmente como Sítio Ramsar e Núcleo da Reserva da Biosfera – UNESCO. Conforme o barco avança pelo rio, o despertar do sol vai dando um espetáculo à parte. Dos tons bem fechados, passa para os azuis mais escuros e depois o desabrochar de laranja, amarelo e azuis claros. Quase como

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um jogo de cores na aquarela infantil sobre os papeis escolares. O passeio dura cerca de uma hora e meia, ida e volta, e todos voltam entusiasmados para o farto café-da-manhã. Inebriados de tanta beleza natural. Desembarcamos no mesmo ponto de partida: o cais do Hotel Sesc Porto Cercado. Para quem ainda não conhece, este Hotel e a RPPN Sesc Pantanal ficam na parte norte do bioma alagado, próximo da capital matro-grossense, Cuiabá, após uma tranquila e rápida viagem de carro por cerca de duas horas, dependendo do trânsito. A gigantesca área – antes ocupada por fazendas de gado - foi comprada há 22 anos pelo Departamento Nacional do Sesc com o objetivo de conservação da biodiversidade e também para iniciativas de desenvolvimento de turismo sustentável em pequena área. Bacana ver também o conceito por trás de tudo. Como o Sesc tem foco nos trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo, as ações estão voltadas


A família Fontana já esteve algumas vezes no Hotel, mas foi pela primeira vez o passeio de barco e a trilha. “Quero uma máquina fotográfica profissional feito a de vocês para fotografar tudo”, pediu a jovem Júlia, 11 anos.

para um turismo financeiramente sustentável para este segmento. Ao contrário de outras iniciativas do Pantanal com valores em dólar e direcionada principalmente para estrangeiros, aqui o foco é mesmo o turista brasileiro, a maioria comerciários, que respondem por 75% das reservas feitas até hoje em mais de 20 anos de história. Há ações voltadas também para a comunidade local, conjugando os chamados três vértices do tripé que formam a sustentabilidade – o ambiental, o social e o econômico. “Fomos crescendo e consolidando o projeto aos poucos. Hoje, 22 anos depois, temos o reconhecimento de um trabalho sólido e consistente que semeamos lá atrás. Estamos certos que o turismo sustentável é uma ótima solução para a conservação do Pantanal”, afirma Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal. Várias atrações - A família da comerciante Ceia Fontana estava encantada com a “descoberta” da biodiversidade

pantaneira. Apesar de serem da vizinha Cuiabá e já terem visitado o Hotel outras vezes, ainda não tinham vivenciado algumas das experiências oferecidas aos hóspedes como passeios extra: a alvorada de barco pelo Rio Cuiabá; a vivência da Trilha do Estirão e subida na Torre de observação e ainda as atrações do Hotel, com a visita ao borboletário e à estação de energia solar. “Confesso que tinha medo de barco, de altura. Mas superei o medo e estou adorando esta incrível visita”, contou Júlia, filha de 11 anos, , comemorava cada descoberta. Vibrou com os pequenos jacarés avistados na trilha, com a deslumbrante vista do alto da torre e com o ambiente aquático do bioma. “É mesmo incrível. Preciso de uma câmera fotográfica feito a de vocês para voltar e registrar tudo em detalhes”, disse, sorrindo para os pais. A Trilha do Estirão é alcançada de barco e a caminhada de cerca de dois quilômetros é feita por cima da água em uma espécie de passarela de madeira com

Trilha do Estirão só pode ser feita no período de seca, de maio até setembro

corrimão. Só é possível conhecê-la no período da seca – entre maio e setembro – porque no resto do ano está completamente encoberta pela água do Rio Cuiabá. Dependendo da sorte dá para avistar de longe até mesmo pequenos jacarés e muitos outros animais da região. Calma! Não se assuste! Tudo é feito com guias experientes – os chamados guarda-parques, e a trilha fica bem distante e segura da morada dos animais. Não vamos mentir. Há mosquitos, muitos mosquitos e diferentes insetos, como em toda região de natureza preservada e ainda mais com tanta água. Mas nada que bons repelentes e vestuário correto para estas ocasiões não resolvam. Evite roupas escuras – se possível, use as beges, marrons e verdes e camufladas – e decotadas. Melhor sempre usar manga comprida, mesmo no sol forte para evitar os mosquitos. Acompanhados de botas ou botina apropriada para caminhada e chapéu, nunca esqueça o chapéu, se possível, um legítimo pantaneiro.

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Ecoturismo Especial Pantanal Usina solar

Espaço Vida & Saúde

Spa luxuoso - Apesar de termos ido fora da alta temporada (o auge de ocupação fica por conta de grandes feriados como o Carnaval e as férias escolares de julho), o Hotel de 142 quartos (sendo dois para PCDs), divididos em sete categorias, do vila e standard ao super luxo, estava com lotação completa. Com bons preços e tantas atrações – naturais e também festivas, como shows à beira da piscina e fartura nas refeições que privilegiam a culinária pantaneira – há quem venha várias vezes e se torne mesmo “de casa”. Os quartos são bem agradáveis, sem muito luxo, e os funcionários do Hotel garantem o cartão-de-visitas da famosa hospitalidade pantaneira. Não é só. Pagando por fora há ainda a possibilidade de acessar a sofisticada e luxuosa estrutura do Spa Espaço Vida e Saúde. A belíssima construção, que deixa entrar a luz natural, abriga não só piscina com duchas, mas também salas reservadas para massagem e outras terapias. Os preços variam de acordo com o que o hóspede desejar e é preciso agendar horário. Conhecemos o espaço e ainda o maravilhoso jantar especial no Restaurante Cambará, preparado por chef com ingreA bióloga Izana Gajo coordena o processo de reciclagem e compostagem no Hotel Sesc Pantanal: adubo é aproveitado na horta orgânica.

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dientes típicos da culinária pantaneira, com o maravilhoso peixe pacu e verduras colhidas na horta orgânica. Culinária, um capítulo à parte – Gastronomia é, sem dúvida, um diferencial para quem se hospeda por aqui. São três refeições incluídas no valor da diária – café, almoço e jantar – com várias opções de saladas, proteínas e doces. Uma delícia. Grupos de senhorinhas e casais de aposentados fazem fila para se servir. Mas nem tão somente de boa comida que atrai os visitantes. É, sem dúvida, a possibilidade de conhecer de perto a genuína vida pantaneira – e sua simpática gente. Preocupados com a sustentabilidade e para evitar ao máximo o desperdício, os funcionários do Hotel Porto Cercado seguem uma rotina que inclui da seleção do cardápio à 100% de reciclagem de garrafas pet, vidros, óleo de cozinha, papelão, latinhas; até a compostagem dos orgânicos misturada à poda dos jardins. “Procuramos fechar o ciclo por completo”, explica a bióloga Izana Gajo, 37 anos, gestora de todo este processo ambiental no Hotel. Ela nos leva até a área onde é feita a reciclagem – que segue dali para Cooperativa de Mulheres de Poconé – e a compostagem. “Me orgulho de ver a terra tão rica que é reaproveitada no plantio de nossa horta orgânica.” Já os materiais que não podem ser reciclados ou compostados são enviados para empresas licenciadas para tratamento adequado e destinação final. Usina solar – O Hotel Sesc Porto Cercado conta com uma usina solar: as 1.240 placas juntas têm capacidade instalada de

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300 kW/h e produção mensal de 49.500 kW/h, suficiente para suprir a necessidade por energia elétrica de 50% do hotel e equivale ao consumo de 309 famílias de até quatro pessoas no decorrer de um mês. No fim de 2018 vieram dois reconhecimentos para o complexo: o Prêmio Braztoa e também o Certificado de Responsabilidade Social da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Em outubro de 2018, o Hotel Sesc Porto Cercado venceu o Prêmio Braztoa - que seleciona as melhores ações hoteleiras sustentáveis - na categoria Resort e ainda foi o grande vencedor do Prêmio Top Sustentabilidade. “O hotel pode ser considerado uma espécie de modelo para o turismo sustentável, pois sua gestão contribui de diversas maneiras à sustentabilidade ambiental. Além de estendermos o uso da energia renovável, a unidade também faz o tratamento de água, esgoto e resíduos sólidos, assim como é feita a compostagem do lixo orgânico, que vira adubo e é utilizado na horta cultivada dentro das dependências do hotel”, destaca Christiane Caetano. Em dezembro de 2018, o Sesc Pantanal recebeu, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso o Certificado de Responsabilidade Social um reconhecimento pelos esforços empregados na conservação da biodiversidade, educação ambiental, turismo sustentável e ação social para as comunidades no entorno de suas unidades.


SEU DITO VERDE E SUA VIOLA DE COCHO Aproveitamos a lancha voadeira da tarde para visitar a casa do famoso Seu Dito Verde, carregando nos erres do verde, batizado como Benedito Alves da Silva, 71 anos. Bom de prosa e de cantoria, Seu Dito conta que já foi casado seis vezes, pai de 13 filhos e avô de 12 netos. Hoje, no entanto, vive sozinho, mas nunca está só, assegura. “Isso aqui é uma paz. Estou sempre protegido pelo Pantanal e pelos animais”, garante. Ele foi o único morador que não quis vender para a RPPN e os administradores deixaram ele ficar. Assim, ninguém mais tem casa por estas bandas. Orgulhoso, mostra a casinha simples de taipa que ele mesmo construiu, bem limpinha e até com quadros de suas reportagens mais famosas. “Pode olhar, pode entrar. É casa humilde, mas está tudo no lugar.” De avião – Para entender melhor a dimensão da maior RPPN do país, tomamos um pequeno avião para sobrevoar os limites. Do alto é possível entender ainda melhor o dilema do Pantanal: onde está alagado só dá para criar gado e mesmo assim se a cheia não for forte. Fazendas vizinhas da Reserva já sofreram interferências: onde tem verde forte e robusto está protegido, e onde o solo está marrom e desgastado é resultado da ação do homem. Os Rio Cuiabá, Cuiabazinho e outros menores singram de tal forma que mais parece um desenho riscado no chão. Grandes árvores parecem proteger a riqueza da região. Após cerca de 15 minutos de voo chegamos em uma subsede, ponto chamado Santa Isabel, antiga fazenda de gado. Lá ficam dois guardas-parque por turno – dependendo da época pode durar 12 dias ou até mais – monitorando possíveis invasores e o risco de incêndio. “Adoro isso aqui. É minha vida”, conta Manoel Pedro da Penha, ou apenas Manoelzinho, como é mais conhecido, 19 anos trabalhando para a RPPN Sesc Pan-

Seu Dito Verde já teve seis esposas, mas hoje vive sozinho na única casa de morador da maior Reserva Privada do país. Ele foi o único morador que não quis vender para a RPPN e os administradores deixaram ele ficar. Encanta com a sua poesia e a sua prosa.

É na cantoria, com sua viola pantaneira de cocho e muita poesia, que Seu Dito encanta. Canta na moda pantaneira, misturando uma palavra na outra, quase uma “embolada”. A palavra saudade vira “sodade” e por aí vai. Mas é possível perceber a pureza da sua poesia. Faz tanto sucesso que há alguns anos passou a receber um salário, como ajuda de custo do Hotel

para se apresentar para os hóspedes e contar seus causos. Como boa parte dos turistas que visita o Pantanal vem das regiões Sul e Sudeste – assim como do Nordeste – há a preocupação grande em mostrar a cultura pantaneira para os hóspedes. Como a roda de viola, a saborosa culinária da região, as danças locais e, principalmente, a sua gente acolhedora.

tanal. É um dos mais antigos nesta função. “Não gosto de escritório. No campo sou mais feliz”, resume, contando que nasceu na região e se orgulho de ser um legítimo pantaneiro. Seu Manelzinho, guarda-parque da RPPN Sesc Pantanal – “Adoro isso aqui. É minha vida.” Pedimos para ele nos mostrar os arredores da casa e a pequena capela para Santa Isabel.

Perguntamos se nos autorizava tirar uma foto sua. Simpático, correu para apear o seu cavalo e só tirou a foto paramentado com o chapéu pantaneiro. Seu parceiro de jornada de trabalho é Amauri Moura da Silva, 37 anos, há 11 trabalhando para o Sesc Pantanal, mas nem por isso menos entusiasmado. “Estamos aqui para proteger a Reserva. Não troco por nada.”

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Ecoturismo

Seu Manelzinho, guardaparque da RPPN Sesc Pantanal – “Adoro isso aqui. É minha vida.”

Seu João das borboletas parece encantar os animais.

E n s a i o

FOTOS: ISABELLA ARARIPE / PLURALE PARQUE SESC SERRA AZUL (MT) Os encantadores de borboletas – As crianças que visitam o Hotel ficam encantadas com o Borboletário. É possível entrar na estutura de ferro e vidro transparente que abriga cerca de duas mil borboletas de 20 a 30 espécies diferentes. Outro pantaneiro genuíno toma conta do “tesouro”. João da Silva, mais conhecido como o João do Borboletário, de 58 anos , é um verdadeiro encantador das pequeninas – e outras nem tão pequenas - voadoras. Entra conosco na “casa” delas e parecem que elas o reconhecem: pousam nele e parecem bailar para o ilustre cuidador. “Quer que eu mostre as que eu mais gosto?”, pergunta. E lá vem o Seu João com um prato grande cheio de uma espécie linda, com as asas que parecem camufladas. Um detalhe nos chamou a atenção: a camisa que ele usava tem a imagem aérea da Reserva. Uma foto que também marca a nossa história de Plurale: a foto é de nossa Editora de Fotografia, Luciana Tancredo, quando esteve na primeira visita de Plurale à região, há nove anos. Os hóspedes também podem co-

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Especial Pantanal

SERVIÇO Site - https://www.sescpantanal. com.br/hotel.aspx?s=8&i=6#!p2_1

Leonite Mendes dos Santos é a presidente da Associação de Criadores de Borboletas de Poconé

nhecer o formigueiro, que ainda é visitado por grupos de estudantes capazes de entender ao vivo e a cores a estrutura de uma verdadeira “cidade” de formigas. As borboletas são “criadas” em um berçário na cidade vizinha de Poconé. Moradores locais foram selecionados para criarem as ovas, lagartas e pupas, as formas juvenis de borboletas. Leonite Mendes dos Santos, 54 anos, conta que sua vida mudou em 2003 quando soube de seleção para criadores de borboletas. “Nem nunca tinha ouvido falar nisso. Mas me inscrevi e estou nesta vida linda até hoje”, contou. É a presidente da Associação de Criadores de Borboletas de Poconé, ganhando um salário mínimo que a ajudaram não só com as despesas mensais, mas também com melhorias da casa. “Minha vidinha de aposentada ficou muito mais tranquila com as bichinhas em casa.” Ela já conhece tanto de borboletas que pode até dar aulas. No quintal, pés de maracujá, laranjeita e outras frutíferas ajudam no seu “ofício”.

Como chegar Há voos diretos (ou com uma só parada) para Cuiabá das principais capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro. Depois há van ou ônibus do próprio Hotel até o local em uma viagem rápida de cerca de duas horas. Outra opção é ir de carro para quem vai com mais calma, com tempo de conhecer a região toda. Se informe bem antes de sair sobre condições de estrada, meteorologia e outros detalhes da logística. Tarifas As diárias do Hotel dependem da época e também da categoria do hóspede. Quem tem carteira do Sesc paga bem menos, mas mesmo para os que não o são, a diária é bem abaixo do padrão internacional de grandes resorts da região. Passeios Os passeios externos na RPPN são pagos no Hotel a parte da diária. É preciso agendar logo que chegar para garantir lugar. Sempre são muito procurados e como os barcos são pequenos, nem sempre é possível conseguir vaga no dia desejado. Recomendamos todos os passeios, se houver disponibilidade financeira e de tempo. A visita ao Seu Dito é incrível, mas quem não puder ir até a sua casa pode perguntar se haverá roda de conversa e show com sua viola

pantaneira no hotel de noite. Roupas e dicas Recomendamos ter sempre um bom repelente e remédios para alergias a insetos. Evite roupas escuras e muito decotadas. Use botinas de caminhadas ou botas bem confortáveis nos passeios. No hotel é como se fosse um ambiente de lazer, mas nos passeios é preciso ir preparado. Idosos e crianças devem se informar com a administração do Hotel sobre a disponibilidade de passeio e quanto aos detalhes de infraestrutura. Spa A estrutura do Espaço Vida & Saúde vale, especialmente para relaxar após um dia intenso de caminhadas e alvoradas pantaneiras muito cedo. As tarifas são cobradas a parte. Cada hóspede escolhe o que deseja, sendo preciso agendar. Veja se consegue também jantar no restaurante do Espaço. Culinária pantaneira gourmet. Vale cada garfada. Redondezas Como está por estes lados, recomendamos ao menos passar em Poconé e se tiver mais tempo ainda, uma pescaria de chalana (há porto particular bem próximo do Hotel e uma ida até a região de Nobres (leia matéria anterior sobre o Parque Serra Azul), ou à Chapada dos Guimarães. O Mato Grosso é lindíssimo e vale aproveitar a viagem.

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Ecoturismo

CARTA CAIMAN 2019

Especial Pantanal

TERCEIRA EDIÇÃO DO ENCONTRO DEBATE CAMINHOS PARA GARANTIR A SUSTENTAÇÃO CONTÍNUA DO BIOMA PANTANAL Evento foi promovido pelo Instituto SOS Pantanal em parceria com o Sesc Pantanal, no Hotel Sesc Porto Cercado, Mato Grosso, durante o Dia Mundial da Água, 22 de março

De Poconè (MT) / Hotel Sesc Porto Cercado Fotos de Isabella Araripe / Plurale

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ovas propostas para garantir a sustentação das Reservas Particulares do Patrimônio Nacional (RPPN) foi um dos resultados do III Encontro da Carta Caiman, promovido pelo Instituto SOS Pantanal em parceria com o Sesc Pantanal, no Hotel Sesc Porto Cercado, Mato Grosso, durante o Dia Mundial da Água, 22 de março. Também foram focos dos debates do grupo, formado por representantes do terceiro setor, iniciativa privada e governo, formas de calcular a equivalência ambiental de uma região de grande importância ecológica em relação a outras áreas degradadas. A criação de um fundo que garanta a sustentabilidade das RPPNs foi uma das alternativas debatida na palestra “Conservação em Ciclo Contínuo – Como gerar recursos com a natureza e garantir a sustentabilidade financeira das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) ”, ministrada pelo consultor e especialista em direito ambiental, Flávio Ojidos. Ele alertou sobre a necessidade da autossuficiência das RPPNs no Brasil como uma garantia para a proteção ambiental. “Quando criamos uma RPPN estamos tomando uma decisão que transcende a

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nossa existência, pois essa conversão de uma área privada para uma Reserva é imutável. Já há RPPNs nas quais o herdeiro não tem a mesma motivação do fundador. Se essas áreas não garantirem um retorno financeiro que viabilize a sua gestão corremos o risco de termos no futuro muitas reservas apenas no papel”, afirmou Ojidos. Existem cerca de 1500 RPPNs no Brasil, mas segundo o consultor ainda é um número pequeno. Caso essas áreas apresentassem alternativas de lucro e fossem sustentáveis poderíamos ter um contingente maior. Em suas pesquisas Ojidos mapeou mais de 30 atividades que poderiam ser empreendidas para garantirem um retorno econômico para as RPPNS. “Em algumas áreas o Endowmment, o investimento para gestão da reserva, é baixo e a criação de um restaurante pode pagar todos os custos. Em alguns casos em 20 ou 10 anos o investimento para

criação e implementação da RPPN se paga, olhando para um futuro envolvendo as próximas gerações é uma oportunidade”, disse Ojidos. Nove das 33 atividades propostas já acontecem em RPPNs de todo o país. “Isso revela que podemos ir além do tradicional uso apenas para pesquisa, visita e conservação. Existem oportunidades como o ICMS ecológico, o mercado voluntário de carbono e muitos outros caminhos”, conclui. Para a superintendente do Sesc Pantanal, polo socioambiental do Sesc, Christiane Caetano, a realização do encontro contribuiu para os esforços de integração das ações entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “O Pantanal é um só, temos que estar todos alinhados, por isso foi importante trazermos o evento para Mato Grosso, as últimas edições foram em Miranda (MS). Assim podemos alinhar os diálogos para um trabalho em conjunto de forma mais abrangente na região”, afirmou Christiane. Equivalência ecológica? Outras soluções possíveis para a proteção do bioma foram apresentadas no evento. A calculadora para avaliar a equivalência ambiental das regiões que poderiam ser usadas para compensação am-


Palestrantes, organizadores e convidados comemoram os bons resultados do Evento Carta Caimã 2019

biental de outras áreas foi uma delas. A proposta é fruto de um estudo produzido por 112 pesquisadores e que será publicado este ano pela Embrapa Pantanal. A Embrapa Pantanal é uma das instituições que mantém um compromisso com a Carta Caiman para a construção de políticas públicas para o Pantanal. O estudo apresentada pelo pesquisador Walfrido Moraes Tomas é fruto das articulações da Rede Pantanal - uma parceria entre o Institutos SOS Pantanal e o Smithsonian Conservation Biology Institute (SCBI), a Embrapa Pantanal, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e outras instituições. A proposta também seguiu demandas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e as decisões mais recentes do Supremo Tribunal Federal sobre a questão da compensação ambiental em áreas geograficamente distintas. “O que temos é uma compensação desfavorável de 1 em área para 1. Que causam desequilíbrio no mercado de terra, aumentado o preço por hectare e não apoia a proteção de áreas como o Pantanal”, afirmou Walfrido. “Os proprietários de terras mais baratas perdem dinheiro e isso gera distorções. Outra questão é que foi plantando como compensação de uma área não garante ser tão eficiente tal qual o que foi devastado”. Para corrigir essas distorções a Embrapa estuda um novo modelo que considera a equivalência ecológica por meio de offsetting – uma maneira de se garantir a equivalência mediante uma ação de compensação adicional. “Esse mecanismo prevê que para compensar o que não poderá ser restaurado em sua plenitude, termos que fazer sempre um pouco a mais. E em algumas situações, se eu fizer a compensação em áreas de altíssima relevância ecológica, a área

FOTOS DE ISABELLA ARARIPE/PLURALE

dessa compensação poderá ser menor do que a destruída”, explicou o pesquisador da Embrapa. O modelo de offsetting, pode garantir uma proteção maior do que aquela feita hoje, que segue a regra de uma proporção de 1:1. “Dessa forma o ganho para a conservação da biodiversidade é maior do que aquele que seria obtido recuperando o déficit no local onde foi perdido baseando-se na mesma área. Também podemos estabelecer um mercado de compensação ambiental mais justo e efetivo, valorizando as áreas onde a vegetação nativa que esta conservada e permitindo a compensação em regiões distantes daquela onde o déficit se localiza”, concluiu. Com essa proposta, a proteção do Pantanal ganharia um grande incentivo. “No contexto de recuperar as áreas degradas, isso poderia aumentar a proteção do bioma. Apesar de ser um dos mais protegidos, o avanço da degradação ficou claro para nós no mapeamento do desmatamento da Bacia do Alto Paraguai que o SOS Pantanal realizou em 2017, quando percebemos claramente como a agricultura está avançando em direção ao bioma”, disse Felipe Dias, diretor-executivo do Instituto. “É uma dicotomia, o pantaneiro preservar e não ter um retorno. Precisamos primeiro divulgar a região, cerca de 80% da população não conhece o Pantanal, e pior, as 4 mil nascentes dos rios que formam Pantanal estão fora do bioma. Esse tipo de conhecimento precisa chegar às pessoas para que o pantaneiro seja valorizado e criarmos políticas públicas para proteger esse bioma, o mais preservado do país, com 86% de áreas intactas”, afirmou Alexandre Bossi, presidente do Instituto SOS Pantanal.

A Carta A primeira edição da Carta Caiman, realizada em 2016, no Pantanal de Miranda, Mato Grosso do Sul, foi um marco para estabelecer os temas-chaves da proteção do bioma. Com a presença do ministro do Meio Ambiente e governadores dos dois estados, foram firmados compromissos referentes a cinco temas: a Lei do Pantanal; os econegócios na planície e planalto; o plantio de monoculturas; o pagamento por serviços ambientais – PSA, e as ações para assegurar o modelo de conservação da Reserva da Biosfera. O II Encontro da Carta Caiman, realizado em 2017, abriu uma porta de diálogo entre os atores que efetivamente vivem na região em prol do uso e da proteção do Pantanal. Entre os avanços está a concretização de ações como a retomada dos comitês estaduais para a assegurar o modelo de proteção ambiental da Reserva da Biosfera, título que o Pantanal estava para perder em 2016. A participação do então Presidente da República, Michel Temer, que acompanhou as discussões e anunciou quatro decretos que podem contribuir com a proteção do Pantanal, foi um dos destaques da última edição da Carta Caiman. Ao todo, foram mais de 90 representantes de diversos setores do Pantanal, entre eles Ministério do Meio Ambiente, Ibama, Agência Nacional de Águas (ANA), Embrapa e Federações da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

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Amazônia

CAZUMBÁ-IRACEMA UMA RESERVA CONSIDERÁVEL DE ENERGIA E ATITUDE Por Maurette Brandt, Especial para Plurale Da Reserva de Cazumbá-Iracema, Acre Fotos de Juliana Nogueira (Usaid) e Bruno Bombato (ICM-Bio)

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o Núcleo da Comunidade Cazumbá-Iracema, uma gostosa casa de madeira elevada do chão, a varanda está cheia de botinas de todo tipo e tamanho, em geral cobertas de lama. “Por favor, não entre calçado”, diz um caprichado cartaz afixado acima da porta de entrada. Nada mais natural: os mais de 750 mil hectares da Reserva Extrativista de Cazumbá-Iracema território maior que muitos países, entre os quais a Palestina, as Ilhas Canárias, Brunei e Luxemburgo, para citar apenas alguns – reúnem muitas das características típicas do clima tropical, com lama aqui e ali, locais com acesso mais difícil, mata cer-

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União de forças de relevantes organizações - Ipê, Usaid , Fundação Gordon & Betty Moore e ICMBio – em prol de Reserva Extrativista no interior do Acre mostra ser possível fazer o desenvolvimento sustentável na Amazônia baseado no fortalecimento de redes e comunidades locais rada e outros desafios. A casa está cheia de gente e o alojamento, repleto. Calor humano e alegria é o que não falta: no dia seguinte, um sábado, acontece o Encontro do Saber, evento muito esperado pelas comunidades locais. A proposta é comunidade e entidades parceiras apresentarem e pensarem, junto com todo mundo, o que os resultados do programa Monitoramento Participativo da Biodiversidade dizem sobre a saúde da reserva e o que todas as partes envolvidas – parceiros e comunidade – têm feito para a conservação da Reserva.

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Os preparativos não param: o local escolhido – a nova sede que foi construída para abrigar a produção de artesanato em látex – está sendo preparado pela equipe organizadora. As cadeiras foram cedidas pelo Sr. Adelino, de uma igreja da comunidade. O farto almoço a ser compartilhado será preparado em mutirão pelas mulheres das comunidades. Cientistas, biólogos e os monitores locais trocam informações. Algumas pessoas dormirão em camas, outras em redes. E o entusiasmo é contagioso. Organizações como ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiver-


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sidade), Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas) USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e Fundação Gordon e Betty Moore, que são parceiras no desenvolvimento da Reserva, se uniram para organizar o evento, que celebra, com muita troca de conhecimento, os cinco anos de vigência do Programa Monitoramento Participativo da Biodiversidade, gerenciado pelo Instituto Ipê no âmbito do Projeto MONITORA, na Reserva de Cazumbá-Iracema. O que é o Monitora O Programa Monitora é uma iniciativa do ICMBio para proteger o patrimônio natural e promover o desenvolvimento socioambiental das unidades de conservação gerenciadas pelo órgão. Com coordenação do Ipê e o apoio de parceiros internacionais, locais e comunidades da Amazônia, o Projeto “Monitoramento Participativo da Biodiversidade”, mais conhecido como MPB, está sendo implementado, desde 2013, em 17 unidades de conservação na região amazônica. Cazumbá-Iracema, onde o MPB começou em 2014, é uma delas. A decisão sobre quais aspectos monitorar, em cada unidade, é tomada de comum acordo com cada

CAZUMBÁ-IRACEMA Foto de Bruno Bimbato / ICMBIO comunidade. Em Cazumbá-Iracema, o MPB atua em quatro frentes: Castanha-da-Amazônia, Aves Cinegéticas e Mamíferos de Médio e Grande Porte, Borboletas Frugívoras e Plantas Lenhosas. Os monitores são formados na própria comunidade e seguem protocolos específicos, que levam em conta a sazonalidade (época do ano em que é realizado) e metodologias adequadas a cada tipo de monitoramento. O do castanhal, por exemplo, acontece nos meses de janeiro, fevereiro e março, enquanto o florestal (plantas lenhosas) é realizado em abril, maio e junho. Durante o encontro, monitores, biólogos e pesquisadores falaram de suas experiências com entusiasmo e comemoraram os resultados. Por que a castanha? A primeira escolha da comunidade de Cazumbá-Iracema recaiu sobre a castanha porque o castanhal estava envelhecendo – e, consequentemente, a produção diminuía. Com o monitoramento, descobriu-se que, no roçar do mato ao pé das castanheiras, as árvores jovens, ainda em muda, estavam sendo cortadas também. A partir do momento em que os trabalhadores passaram a reconhecer essas mudas, tudo mudou. Outros fatores também afetam a produção de frutos - como a incidência de cupim, resina em excesso, o cipó e a qualidade da copa das árvores - passaram a ser vigiados e controlados. Com isso, o castanhal voltou a crescer. O apogeu da produção é atingido pela castanheira adulta pouco antes de começar a envelhecer – algo em torno

de 363 cocos (o fruto que contém as castanhas) por árvore. Essas árvores têm, em média, circunferência entre 1,5 m e 2 m. As mais jovens, com circunferência até 1 m, produzem em média 114 frutos. As adultas jovens, cuja circunferência fica entre 1 m e 1,50 m, têm produção média em torno de 288 frutos. E a produção das árvores mais velhas, acima de 2 m de circunferência, tende a cair para um média de 234 frutos. A colheita 2018/2019, que ocorre no período entre outubro e janeiro, teve como resultado uma produção total de 650 kg de castanhas. Borboletas, aves, mamíferos e plantas lenhosas O monitoramento desses personagens fundamentais da natureza resulta em indicadores importantíssimos para medir a saúde da floresta – e o equilíbrio tão necessário para que a vida funcione como deve ser. O monitoramento de aves e mamíferos percorreu, entre 2014 e 2017, 600 quilômetros de trilhas. Foram 150 km por ano, divididos em três trilhas diferentes. O monitoramento consiste em avistar o animal, calcular a distância em que se encontra em relação ao observador e marcar o local do avistamento. Em quatro anos foram avistadas 33 espécies em 982 avistamentos. As borboletas são grandes termômetros da saúde de qualquer área da floresta; se desaparecem ou proliferam em excesso, é sinal de que há alguma situação de desequilíbrio acontecendo naquele local. As borboletas caem em armadilhas preparadas a determinados intervalos de distância e, em menos de 48 horas, são recolhidas, identificadas (marcadas com canetas especiais) e libertadas. É um procedimento muito delicado, que preserva a vitalidade dos espécimes. Em 2017 foram observadas 12 tribos de borboletas, com maior incidência das Satyrini (1.352), seguidas das Ageroniini (186). A menor incidência foi das Melanitini (2). Ao todo, as armadilhas receberam 1763 espécimes de borboletas. O monitoramento das plantas lenhosas inclui, além das castanheiras,

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Amazônia

Equipe do Encontro do Saber

a copaíba, palmeiras, tabocais e cipós. Em 2017 foram monitoradas 306 árvores, 61 palmeiras e 2 tipos de cipó. Outra medida interessante é a circunferência das árvores à altura do peito do monitor, conhecida como CAP. Essa medida variou entre 31 cm e 341 cm, em 2017. Dentro do monitoramento das plantas, o ecossistema dominado pelo bambu, conhecido como tabocal, é muito rico e merece cada vez mais atenção, no estudo da sustentabilidade da floresta. Os tabocais ou bambuzais têm um ciclo médio de 30 anos de vida; sua entrada e saída de cena precisam ser cuidadosamente monitoradas, pois esses dois momentos causam grandes impactos em todo o entorno. - O tabocal seleciona espécies de crescimento rápido. E quando morre o morcego faz a festa; 3,5% das árvores

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perecem a cada ano no entorno – diz o pesquisador Marcos Silveira, da Universidade Federal do Acre. O monitoramento e suas histórias Os monitores de Cazumbá-Iracema foram capacitados ao longo dos últimos três anos. O processo foi muito além de um saber acadêmico; o ajustamento dos protocolos à realidade local inclui a apropriação de saberes potenciais de escalas diferentes. A troca permanente entre a comunidade, os parceiros e a equipe de biólogos e cientistas é a chave para que o processo seja permanentemente enriquecedor, privilegiando o protagonismo local. Foi que se viu durante o Encontro. - Hoje é o momento mais importante pra gente – comemora Chico Preto, presidente do Núcleo Comunitário. –

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A comunidade pergunta e os pesquisadores e monitores respondem. A informação tem que alcançar a reserva toda e a gente tem que pegar e usar ela pra vida da gente – alegra-se. Bióloga formada pela Universidade do Acre, Ilnaiara Sousa, a Naná, 30 anos, é consultora do projeto de Monitoramento em Cazumbá-Iracema. – Comecei em 2010, durante o mestrado – conta. – Minha tese avaliava a comunidade de peixes nos igarapés de pequeno porte. Assim conheci a Reserva – relata. – O Monitoramento, aqui em Cazumbá-Iracema, veio de um anseio da comunidade, que tinha necessidade ter um estudo melhor da sua produção e das áreas de castanhais dentro da Reserva, para que conseguisse agregar um valor maior ao seu produto final – explica. E acrescenta: - O maior desafio que nós tivemos foi o fato de os monito-


FOTOS DE BRUNO BIMBATO/ ICMBIO

res não conseguirem identificar os “indivíduos jovens” de castanheira. Então promovemos uma capacitação, para que o trabalho tivesse continuidade. Fizemos também um levantamento da cadeia de valor do produto e também da prática de manejo que fazem no castanhal, antes de vender a castanha. Para Naná, o essencial é ter o envolvimento da comunidade no processo. – Se a comunidade não estiver envolvida, o monitoramento não terá continuidade – diz. – Agora, se a comunidade está ali, fortalecida e trabalhando junto com os parceiros, o monitoramento com certeza terá uma longa vida – adianta. - Está dando super certo – diz Charles Afonso de Souza, um dos primeiros a decidir participar. – Eu queria conhecer, por isso aderi – conta. Já Ismar veio porque “é bom trabalhar pelo respeito aos animais.” Incentivou o filho Jocimar, que fez o curso, entrou no grupo e passou a gostar muito. Para Raimundo Nonato, a interação do homem com a natureza e a biodiversidade é fundamental. – Precisa conhecer e respeitar os outros animais, que também têm seu direito – explica. – O homem acha que domina todos os animais, mas nem sempre é assim – brinca. – Conhecer o que é o monitoramento foi uma experiência nova – diz Cleudo. E Antonio – que confessou ter achado Naná “um pouco chata” no início (risos gerais) - diz que começou a gostar do curso de capacitação porque sempre teve vontade de trabalhar com os animais. - Os bichos não têm uma legítima defesa – diz. – Judiar, matar pra urubu comer, disso eu não Artesanato em látex

gostava nada – desabafa. O monitoramento dos animais é realizado em duplas. A trilha é marcada de 50 em 50 metros. Um dos monitores vem na frente e o outro o segue a uma distância calculada. – Cada um animal tem medo do outro – relata Nonato. – Quando saem da toca vão em busca de comida, mas com as antenas ligadas. A qualquer rumor, fogem –explica. O monitor precisa ver o animal, medir a distância da trilha até onde ele está. – O primeiro vê, o outro segue e, quando chega, a gente faz a medição – diz Nonato. Nonato recorre a um “causo” para exemplificar a relação que se estabelece entre o animal observado e os monitores. – Nesse dia eu saí na frente e o Cleudo vinha atrás. Então eu vou e encontro um veado no meio da trilha. - Pausa. – Nós olhamos um para o outro, eu e o animal. O Cleudo, de onde estava, não via. Ficamos um bom tempo assim. De repente ele deu um salto e entrou na mata. Impressiona a gente – confessa. - Quando a gente passa a respeitar o animal, ele se sente bem porque vê que ganha um amigo – reflete Nonato. – O animal conhece o cheiro da pessoa e sabe – remata Cleudo. - O bicho tem medo é da morte! Mais vida no castanhal O monitoramento do castanhal começa com a mensuração do diâmetro da castanheira. A partir dessa medida, os monitores conseguem determinar a idade da árvore, que recebe uma placa e uma marcação em vermelho. É feita também uma coleta de 40 “ouriços”, que é como são chamados os re-

Cristina Tófoli: protagonismo da comunidade na conservação”

ceptáculos que guardam as castanhas. Os ouriços são então abertos e o conteúdo é pesado. Com isso, além de ter uma estimativa da produção média, é possível ter uma ideia de quantas castanheiras jovens, quantas adultas e quantas antigas tem aquele castanhal. Ao longo dos trabalhos, os pesquisadores e monitores analisaram vários castanhais e identificaram diferenças que precisam ser verificadas durante o próprio processo de monitoramento, para saber por que há áreas grandes produzindo pouca castanha e outras, menores, com maior produção. O dia começa cedo para os castanheiros. Seis e meia da manhã e lá se vão Francinez, 38 anos, Charles, 43, Silvania, 20, Ricardo, 18 e Riquelmo, 16, de faca em punho, rumo ao castanhal. É um trecho e tanto andando a pé, com direito a lamaçal e sol quente chegando. Charles conta que uma castanheira “madura” pode chegar a 4, 5 metros de diâmetro. – Tem até de 7 metros! – espanta-se. – As pequenas, tem até de 30 cm – conta. – Em média, um castanhal pode ter umas 230 árvores – conta Charles, que já plantou mais de cem árvores e hoje tem seu próprio castanhal. Criado pelos pais “na seringa”, que é como chamam a atividade nos seringais, que feneceu em função da queda dos preços do látex no mercado internacional, Charles se entusiasma com

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Amazônia

FOTOS DE BRUNO BIMBATO/ ICMBIO

a produção do artesanato com esse material, uma alternativa a mais para aproveitar o período da coleta, ainda que em menor escala. – É um projeto lindo – anima-se. – Se ele acontecer como a gente quer, eu mesmo vou “cortar a seringa” pro pessoal trabalhar – decide. Ipê: parceiro de fé em muitos projetos amazônicos O Ipê – Instituto de Pesquisas Ecológicas – veio ao mundo não como árvore, como pode parecer à primeira vista, mas como animal. Foi criado em 1978 para preservar o mico-leão preto, espécie ameaçada de extinção no estado de São Paulo. Seu fundador, Cláudio Paiva, deixou para trás uma carreira de administrador para se dedicar à Biologia e à defesa daquele animal. Com a esposa Suzana e três filhos, mudou-se para o Pontal do Paranapanema, onde iniciou as pesquisas – e onde chegou à conclusão de que, para preservar o mico-leão preto, seria preciso atuar intensamente em seu habitat. Nascia aí o trabalho de educação ambiental da entidade. Na Amazônia, o Ipê atua por meio das chamadas Soluções Integradas: Planos de Manejo, Monitoramento Participativo da Biodiversidade (MPB), Motivação e Sucesso (MOSUC) e Legado Integrado da Região Amazônica (LIRA), que começa a ser implementado em diversas frentes. Segundo Fabiana Prado, que responde pela Articulação Institucional e Coordenadoria de Projetos, o trio formado por MPB, MOSUC e LIRA resume a estratégia desenhada pelo Ipê para integrar os diversos projetos que a entidade desenvolve nas Áreas Protegidas da região amazônica. - Trata-se de pensar em como as ações individuais criadas para cada projeto podem se articular e, assim, ser potencializadas - explica. – É pensar essa integração internamente e, em campo, integrar os diversos atores de modo que todos tenham visibilidade e trabalhem com o mesmo sentido de comprometimento.

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A hora e a vez dos monitores Monitores em diálogo com a comunidade

Na hora de escolher as áreas, a entidade procura fazer as superposições onde elas se encaixam melhor. Cazumbá-Iracema, por exemplo, vai ter ações do LIRA no âmbito da carteira de projetos que o Ipê já desenvolve por lá. Fabiana explica que, às vezes, não é possível fazer essas superposições: - Muitos de nossos financiadores abrem linhas específicas para alguns

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tipos de ações. A USAID, por exemplo, tem uma linha específica para a biodiversidade. Outro eixo muito forte é a educação. Todos os projetos incluem capacitação e são estruturados em torno da formação de pessoas. Fabiana esclarece que o eixo central, porém, é pensado num espectro mais amplo. – É preciso entender o espaço e a importância da ação. Não gostamos de levar informação


Debate com biólogos sobre o ciclo de vida dos tabocais

pronta: é importante construir todo o processo com a comunidade. O MOSUC, por exemplo, atua em pequenas organizações locais, na intenção de preparar pessoas com base no princípio de liderança. No processo da castanha, Fabiana ressalta que a comunidade gerencia os estoques, e que os projetos geram informação também para o negócio, além de desenvolver formação para os indivíduos e produzir informações para o manejo local, para políticas públicas... Isso inclui também a elaboração de instruções normativas para o próprio projeto de Monitoramento. - O processo histórico da Amazônia tem sua própria complexidade – reflete. – Há muitas ameaças, grandes empreendimentos e tudo o mais. Por isso é tão importante ter pessoas empoderadas e críticas. Foi muito tempo de esquecimento, por parte de governos, em relação à Amazônia. Então, formação e desenvolvimento de lideranças são aspectos fundamentais para o sucesso das iniciativas em áreas protegidas – declara. O recente Projeto LIRA é de grande amplitude e vem se expandindo gradualmente para áreas indígenas, inclusive. – São 47 áreas protegidas,

somando-se ao MPB e ao MOSUC, e 41 áreas indígenas – orgulha-se. – Buscamos trabalhar em rede com outros parceiros que já atuam nesses territórios, contribuindo com planejamento e com o fortalecimento das estruturas locais, além de desenvolver cadeias de valor e pequenos negócios a partir de produtos da biodiversidade – explica. E vai além: - É importante ter um pé na realidade diante do necessário enfrentamento da questão ambiental nessas áreas. E o LIRA é uma janela para isso – finaliza. Organização, consciência e vontade - As áreas protegidas e as reservas extrativistas têm contextos de organização comunitária bem diferentes – aponta Cristina Tófoli, coordenadora executiva do MPB nas áreas de conservação amazônicas, entre outras atribuições. – As Resex são muito organizadas e isso se dá de forma mais produtiva do que nas áreas de proteção integral – reflete. – Desde os seringais e do legado de Chico Mendes, as comunidades vêm atingindo uma consciência ambiental mais profunda. Isso vem ocorrendo desde o século passado, no Médio Juruá e aqui em Cazumbá, por exemplo. A

gestão da informação é padronizada, com a aproximação das pessoas e a discussão dos dados com participação das comunidades. Aliás, a ideia é essa: ter o protagonismo da comunidade na conservação. O projeto do Monitoramento Participativo da Biodiversidade promove o engajamento da população. Este é o objetivo das ações do Ipê: implementar e apoiar. Em Cazumbá-Iracema, o processo começou em 2013, com cinco anos para ser implementado; no longo prazo, temos mais dois anos para estruturar. A ideia, depois, é só acompanhar. O Monitoramento também está sendo implementado em terras indígenas. Já avançamos bastante, pois começamos com 7 projetos e hoje são 17. Tudo isso em cinco anos – orgulha-se. Cristina explica que é importante utilizar um modelo que seja fácil de implementar, para que a comunidade não dependa da instituição para que o processo funcione. – As Unidades de Conservação têm recursos para isso – adianta. – Mas a maior dificuldade que enfrentamos, na fase de implementação, ainda é a carência de pessoal. É preciso ter o gestor lá na ponta, para que o trabalho que é feito nas comunidades possa fortalecer as políticas públicas nacionais, juntamente com o governo e com a comunidade científica. Para Cristina Tófoli, o exemplo de Cazumbá-Iracema reflete uma visão transformadora. – Quando a gente pensa em desenvolvimento da Amazônia, ainda há muito a ideia de “desmatar, colocar gado”, ou de “desmatar, colocar soja”. Mas a gente tem uma riqueza natural aqui no país que, a meu ver, ainda é muito pouco acessada pela visão grande da economia – pondera. – Acredito que o futuro é a gente trabalhar as três coisas: deixar as pessoas dignas na floresta – com água, com luz, com saneamento básico -, promover a geração de renda com os produtos da floresta e, com isso, também trabalhar o acompanhamento da biodiversidade – resume.

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Amazônia

PRIMOS DE TODO MUNDO FOTO DE CIBELE TARRAÇO

Por Maurette Brandt, Especial para Plurale Da Reserva de Cazumbá-Iracema, Acre

É comum o pessoal da Reserva dizer que, lá, todo mundo é parente. Manoel Cerqueira Maia, 42 anos, primo de Nonato, nasceu no Cazumbá. – Iracema é um seringal que fica longe – explica. – Os patrões montavam a “colocação” bem na estrada da seringa. Aí quando acabou, a vida ficou muito difícil lá, então a gente resolveu acudir o pessoal e trouxe todo mundo pra cá. É por isso que a comunidade se chama Cazumbá-Iracema – conta. O avô, mateiro, veio do Ceará e ficou num barracão na beira do rio, para trabalhar na “seringa”. Cada seringueiro era responsável por três estradas de seringa – ou seja, tinha de fazer a coleta em 70 a 120 seringueiras em quatro dias. A mãe, também seringueira, morreu num acidente cortando seringa aos 42 anos, quando Manoel tinha quatro anos. Deixou 12 filhos, que o pai criou com todo esmero. - Meu pai colocou todo mundo na escola. Os meus irmãos foram, mas eu não consegui ir, porque não podia deixar o pai ir sozinho pro seringal - e segui ele. Por isso fui o único que não estudou. Mais tarde eu até que tentei, mas não tinha muito jeito pra isso – resume. Manoel ficou na seringa e hoje está na castanha. Acredita que os governantes deviam olhar mais para quem vive aqui e dar mais apoio. - É importante ter assistência dentro da Reserva para poder conviver aqui dentro sem ter que procurar a vida lá fora. – diz, e lembra a riqueza da floresta em plantas medicinais: – Dá pra tirar de uma maneira que ajuda, o que é uma boa fon-

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Maurette, repórter de Plurale, ao lado dos entrevistados Nonato (E) e Manoel (D) em CazumbáIracema

te de renda também – lembra. – Meu pai curava malária com chá de quinaquina. E meu cunhado e meu primo se tratavam com a raiz do aça . Isso tudo ainda está aí, à disposição – lembra. Manoel, que é casado com Maria Antonia e pai de Ludmila (22), Maicon Ramon (17) e Raiane (11), expressa seu maior desejo: - Quero que as pessoas possam extrair todo o potencial que Deus deixou na natureza, respeitando o direito de cada um – afirma. – Ele colocou nós no mundo para sobreviver de uma maneira digna. E cada um tem a sua função – define. Raimundo Nonato Soares, 53 anos, trabalha no monitoramento de aves e animais, é líder comunitário e um reconhecido guia da floresta em Cazumbá-Iracema. Na varanda do Núcleo, várias fotos suas em ação testemunham o desvelo pela mata. Seus avós também vieram do Ceará, o que confirma a lenda de que quase todos os acreanos descendem de cearenses – e são parentes. O pai, hoje com 87 anos, nasceu no próprio rio, a 5 km da reserva. Nonato tem 11 irmãos e incontáveis

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sobrinhos. – Só se pegar a calculadora pra calcular – brinca. Casado com Leonora, a Nói, que também é atuante na Reserva, é pai de Elias (32), Elium (30) e Evla (20). – A comunidade se reúne muito aqui – orgulha-se. – Tanto pra trabalhar quanto pra se divertir – sorri. Além do monitoramento, da função de guia e da participação na liderança comunitária, Nonato atua em muitas outras frentes. – Esta Reserva serve para o mundo inteiro, mas o que chega pra nós é o mínimo – desabafa. – - Aqui na beira do rio é um pouco mais fácil – explica. – Tem a castanha uma vez por ano, que ajuda. Tem o artesanato, a farinha, o açúcar preto. A gente cria um pouquinho de vaca também – diz. – E ainda tem o açaí, em março e abril. Então a gente vai levando, mas temos potencial para crescer muito mais ainda, com tudo que a floresta tem a oferecer. Viu as frutas? – pergunta, apontando para o calendário afixado na parede da sala. – Tem fruta o ano inteiro! A gente ainda tem muita coisa para fazer por aqui – resume.


EM NOME DO RIO, EM NOME DO VERDE, EM NOME DA VIDA EM CAZUMBÁ-IRACEMA Por Maurette Brandt, Especial para Plurale Da Reserva de Cazumbá-Iracema, Acre

A água parda estremece sob as pequenas ondas que lhe faz a voadeira, barco versátil e habituado à sua rotina rio acima, rio abaixo, dia após dia. Da borda rente do casco posso tocar a água, que só refresca quando riscada pelo vento fino, refrescante. Além da faixa de água, só verde, alguma vegetação seca, ilhada, e esparsos trechos onde a mão do homem passou. Aos olhos desavisados, a quietude aparente pode ter ar de sossego: silêncio, fresca, um ou outro barco que nos acena, em sentido contrário. Ledo engano. Das entranhas da floresta, algo intumesce. Mesmo nessa morna serenidade, intuo mil olhos em alerta nas folhas que beijam a margem, nos troncos rijos ou vergados, em pequenas criaturas entre voos e rastejos, ou em animais de peso adivinhado, guardando cada milímetro do território. O impacto é grande. Lembro-me do delírio de Fitzcarraldo em terras amazônicas, subjugado pela força da natureza, e minha fragilidade se manifesta em ligeiros arrepios. Aqui sou eu a estranha, na segurança fugaz da voadeira que, indiferente à patrulha da floresta, singra o rio calma e confiante nas braçadas do barqueiro. De um lado e de outro, a floresta nos espreita em sua superioridade e grandeza. Quem passa em paz recebe paz, na companhia dos olhares que pulsam, certeiros, e nos acompanham. Há algo de proteção nisso, junto com a defesa dos mistérios do território. O passante que não se iluda: assim como tomou de assalto os trilhos do progresso, a floresta sempre pode mostrar que é mais forte, se for preciso. Mas só se for preciso.

FOTO DE JULIANA NOGUEIRA/ USAID – DA RESERVA CAZUMBÁ-IRACEMA ( ACRE)

Para viver plenamente o seu apogeu, precisa apenas de si mesma, de seu ciclo da vida vegetal e animal, da cadeia alimentar natural, dos restos que amaciam a terra, brotam e florescem. Nessa embarcação, voejo ilesa em meio aos pulmões do mundo. Em silêncio e bem devagar, peço licença e agradeço o tempo todo por estar ali, sem tocar em nada além da água, ain-

da que de leve, e pela energia potente que nos envolve. É meio como ensaiar uma oração e sentir febre, como sentir alegria e um medinho no fundo, logo trocado por uma estranha certeza de que, afinal, sou bem-vinda. (*) Plurale esteve na Resex Cazumbá-Iracema (Acre) a convite do Ipê (Instituto de Pesquisas Ecológicas).

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Educação

Olavo, Karim, Luma, Guilherme e Gelson (da esq para a dir): jovens protagonistas nos Diálogos Gigantes 2019

A VOZ FORTE DE JOVENS MORADORES DE COMUNIDADES DO RIO DE JANEIRO Por Sônia Araripe, Editora de Plurale Fotos de Rodrigo Gorosito/ Divulgação

T

rinta e sete jovens de comunidades cariocas de projetos apoiados pelo Instituto NET Claro Embratel no Rio de Janeiro foram convidados a falar sobre os maiores problemas que enfrentam no dia a dia, com base nos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - da ONU. A iniciativa promovida pelo Instituto fez parte do evento “Diálogos Gigantes – Ideias que transformam”, realizado no dia 27 de fevereiro, no Theatro NET Rio, e contou com as presenças de representantes da ONU, da Unicef e de várias ONGs. A facilitadora da conversa com os estudantes foi a jornalista Astrid Fontenelle, que comanda o programa “Saia Justa” no Canal GNT. “Dar voz aos jovens e trazê-los para o

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Trinta e sete jovens de cinco projetos e instituições apoiados pelo Instituto NET Claro Embratel no Rio de Janeiro foram convidados a falar sobre os problemas que enfrentam no dia-a-dia, com base nos ODS – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - da ONU, como Educação, Preconceito e Desigualdade. Três manifestos foram apresentados no evento e um foi mais votado pelo público pela internet centro da discussão é de extrema relevância para que eles contribuam com o futuro do país. A construção dos manifestos vai ao encontro do compromisso que o Instituto NET Claro Embratel carrega em seu DNA para superar as barreiras geográficas e sociais por meio da educação, inclusão e tecnologia, promovendo uma sociedade mais justa, com maior acesso ao conhecimento e mais conectada”, comentou Daniely Gomiero, vice-presidente de

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Projetos do Instituto NET Claro Embratel e diretora de Responsabilidade Social e Comunicação da Claro Brasil. Os três manifestos apresentados trouxeram temas muito próximos da realidade deles e de tantos outros meninos e meninas que vivem em periferias – no Rio e em outras cidades brasileiras. Como parte do processo de criação dos manifestos, os jovens participaram, na véspera do dia do evento, de uma imersão, com o apoio de


Daniely Gomiero, vice-presidente de Projetos do Instituto NET Claro Embratel e diretora de Responsabilidade Social e Comunicação da Claro Brasil - “Dar voz aos jovens e trazê-los para o centro da discussão é de extrema relevância para que eles contribuam com o futuro do país.”

FOTOS DE RODRIGO GOROSITO/ DIVULGAÇÃO

O vice-presidente administrativo e financeiro do Instituto NET Claro Embratel, Luiz Bressan, cumprimenta os novos técnicos em Telecomunicações.

facilitadores. Gustavo Barreto, do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil, também esteve presente para contribuir com o desenvolvimento dos manifestos. Por meio de metodologia específica, eles foram incentivados a considerar diferentes abordagens para o conteúdo das declarações apresentadas durante o Diálogos Gigantes. O clima informal

era quase de “jogo de futebol”, uma algazarra produtiva e alegre, como costumam ser os encontros de jovens. Os três manifestos passaram por votação aberta do público ao longo de um mês de votação pelo site do Instituto NET Claro Embratel. No dia 8 de abril foi anunciado que o manifesto 3 foi o mais votado, com 68,09% dos votos.

Entre as temáticas presentes nele, estão desigualdade, preconceito, educação de qualidade e futuro da juventude. Os jovens que desenvolveram os manifestos participam de programas apoiados pelo Instituto NET Claro Embratel, como o Dupla Escola - que oferece formação técnica profissionalizante em telecomunicações com modelo integrado ao ensino médio; Ação Social Pela Música - voltado à inclusão social por meio do ensino da música clássica para crianças, adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social; Campus Mobile - concurso de ideias e soluções mobile para melhorias da sociedade; e da parceria com o Unicef para redução do número de jovens em situação de distorção idade-série nas escolas. O evento de fevereiro também marcou a formatura de estudantes. O vice-presidente administrativo e financeiro do Instituto NET Claro Embratel, Luiz Bressan, cumprimentou os formandos do programa Dupla Escola. Gustavo Barreto, do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil, destacou o alinhamento dos manifestos preparados pelos estudantes com os 17 ODS. “Um de nossos lemas é não deixar ninguém para trás. E vocês estão preocupados com isso”, disse, ao participar da roda de diálogo do evento. A apresentadora Astrid Fontenelle contou ser filha de professora de escola pública em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, e ter crescido vendo a mãe empenhada em mutirões com pais de alunos para tentar melhorar a realidade da escola. “Não há outro caminho. Só a educação nos salvará”, frisou. A jornalista destacou que estava revoltada com recentes casos de racismo noticiados pelo país. “Sou mãe de filho negro, baiano, adotado. Não é este o Brasil que tanto lutamos. Onde perdemos a compaixão pelo outro?”.

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Educação

A jornalista Astrid Fontenelle foi a moderadora do evento “Diálogos Gigantes”, que também contou com a participação de Gustavo Barreto, da ONU Brasil.

Mas foram os jovens, sem dúvida, as “estrelas” da noite. Com falas emocionantes e histórias incríveis. Como a de Gelson Henrique Silva da Silva, 20 anos, morador de Jardim Damasco, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Articulado, desenvolto, Gelson brinca que é um “Silva” em dose dupla porque o pai e a mãe carregam o mesmo sobrenome da maioria de tantos outros Silvas por este Brasil. O menino alegre, de sorriso fácil, passou no Vestibular para Ciências Sociais, na Universidade Federal Rural. “Não queremos ser apenas mais um número nas estatísticas que matam jovens negros e favelados. Queremos ter voz e construir as nossas narrativas”, disse à Plurale, o estudante, envolvido no projeto social Cijoga (Caravana Itinerante da Juventude). Por conta de seu protagonismo, Gelson foi selecionado quando atuava como militante na defesa dos Direitos da Criança e Adolescente, passou em seletiva e conheceu a Bélgica por 22 dias. “Quero ir longe.” De outra região do Rio, ganhou voz a jovem Luma Moura,

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22 anos, moradora de São Gonçalo. “Temos que ajudar a construir o futuro de todos nós”, afirmou. Para Plurale, ela contou que estuda Engenharia de Produção na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói, e desenvolveu protótipo de um aplicativo para ajudar na questão do lixo de seu município. “Há vários lixões clandestinos a céu aberto e as pessoas não sabem também como descartar corretamente o seu lixo. Quero ajuda para que o nosso app possa auxiliar milhares de moradores da nossa região.” Ela vibrou ao ver o manifesto 3, o qual participou e leu no evento, ser o mais votado. “Ao mostrar esse manifesto para a população, compartilhamos esse sentimento com mais pessoas, criando outros agentes transformadores de suas próprias realidades. É como reacender uma chama no coração de cada um que perdeu a esperança num futuro melhor”, disse a participante da sétima edição do Campus Mobile, Luma Moura. Com nome e porte de músico, Olavo John, 18 anos, de Inhaúma, disse que foi indicado para dar

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voz aos jovens no evento vindo de programa o qual participa de música, o Ação Social pela Música do Brasil, apoiado pelo Instituto NET Claro Embratel. “Amo a música e acredito que este evento possa ser só o começo de um diálogo forte.” Olavo acredita que a iniciativa é importante por ouvir os jovens. “Foi fenomenal a experiência de ver o Instituto dar voz para que pudéssemos contar nossas histórias. Espero que cada vez mais tenhamos nosso espaço de fala”, comentou. Outros dois jovens que formam o grupo protagonista – Karim Silvano Elwasiaa e Guilherme Santos da Costa - são do mesmo projeto – o Dupla Escola – se formando em Técnicos de Telecomunicações em colégio público de Pedra de Guaratiba, Zona Oeste do Rio, bem perto de onde a Embratel tem centro de telecomunicações. “Os jovens não costumam ser ouvidos”, frisou Karim Silvano Elwasiaa, descendente de família de origem árabe, 17 anos, e que está estudando Designer de Moda. Guilherme Santos da Costa, 18 anos, planeja seguir na área de telecomunicações. “Esta troca de experiências foi incrível. A experiência do Diálogos Gigantes nos permitiu uma mistura de realidades”, reforçou. Ele foi super aplaudido ao encerrar o evento com um rap forte que misturou rimas de sentimentos e problemas enfrentados pelos jovens e suas famílias diariamente:

“Eu sou a resistência do povo Eu sou o pobre que caí, e levanta de novo Eu sou o vira-lata que revira a luz Eu sou a mãe que chora na fila do SUS Eu sou a Marielle que ainda tá presente.”


FOTOS DE RODRIGO GOROSITO/ DIVULGAÇÃO

“Ao mostrar esse manifesto para a população, compartilhamos esse sentimento com mais pessoas, criando outros agentes transformadores de suas próprias realidades. É como reacender uma chama no coração de cada um que perdeu a esperança num futuro melhor.” Luma Moura, 22 anos

“Foi fenomenal a experiência de ver o Instituto dar voz para que pudéssemos contar nossas histórias. Espero que cada vez mais tenhamos nosso espaço de fala.” Olavo John, 18 anos

“Não queremos ser apenas mais um número nas estatísticas que matam jovens negros e favelados. Queremos ter voz e construir as nossas narrativas.” Gelson Henrique Silva da Silva, 20 anos

Os jovens não costumam ser ouvidos.”

Esta troca de experiências foi incrível. A experiência do Diálogos Gigantes nos permitiu uma mistura de realidades.”

Karim Silvano Elwasiaa, 17 anos

Guilherme Santos da Costa, 18 anos

Sobre o Instituto NET Claro Embratel A área de Responsabilidade Social do Grupo Claro Brasil, composta pelas marcas NET, Claro e Embratel, investe continuamente em ações relacionadas à Educação e à Cidadania, por meio do Instituto NET Claro Embratel, com o objetivo de atuar em frentes sociais que integram a tecnologia e a informação como fonte de desenvolvimento e conhecimento. Desta forma, realiza e apoia projetos como o Campus Mobile, o Educonex@o, o Progra-

ma Dupla Escola, entre outros. O Instituto NET Claro Embratel é qualificado como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) pelo Ministério da Justiça, e é reconhecido pelo Departamento de Informação Pública das Nações Unidas (DPI/ ONU) como uma organização não governamental corporativa que promove os ideais e princípios sustentados pela Carta das Nações Unidas. Além disso, através de sua Plataforma Institucio-

nal, as marcas NET, Claro e Embratel propõem a conexão entre as pessoas para a construção de um amanhã gigante. O movimento é parte de uma inciativa que aborda a gestão corporativa e manifesta o compromisso com a sociedade. Entre as iniciativas estão os Theatros NET São Paulo e Rio de Janeiro, Estação NET Cinema, NET Live Brasília, entre outros. Conheça outras realizações no site do Instituto: https://www. institutonetclaroembratel.org.br/

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Arte

S S O R G A L E M R A C EM GÊNER O, NÚMERO E GRAU

Por Maurette Brandt, Exclusivo para Plurale Direto de Porto Alegre Fotos de Ana Lígia Petrone, Vicente de Mello e Vera Matagueira

O

impressionante salão do edifício histórico, plantado em pedra bem no centro da capital gaúcha, fervilha em expectativas. A poucos dias da reinauguração de um espaço que tem 15 anos de história na cena cultural na cidade, a equipe de montagem trabalha sem parar nos ajustes finais. Carmela Gross e sua assistente, Carolina Caliento, acompanham cada passo com aquela incerteza tão normal em qualquer antevéspera: ajustam cordames, testam telas e vídeos, revisam objetos e trajetos, enquanto a supervisão de montagem se ocupa de variados acertos: iluminação, sistemas de tecnologia, colocação de legendas e plaquetas para leitura em braille em cada obra. Vicente de Mello, fotógrafo e artista plástico que assina as imagens do catálogo da mostra, percorre os ambientes com a precisão de um agrimensor, registrando tudo milimetricamente. É dele a foto da artista que abre a matéria, exclusiva para Plurale. A equipe de filmagem registra em vídeo impressões, flagrantes e depoimentos da artista, do curador e de outros especialistas. Ao olhar de quem chega, tudo parece pronto – mas o ajuste fino,

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competente e invisível, está em curso por toda parte. A obra inédita, Roda Gigante, se alça a alturas que não se mede com o olhar, ainda que esteja cravada no chão. As colunas do prédio, autênticas e imensas, desaguam num vitral esplêndido que logo capta o olhar: figuras helênicas enlaçam palavras como FORTUNA, TROCA, TRABALHO, PROGRESSO. Mas no momento seguinte, os cordames – numa teia que se parece com aqueles cruzamentos de laser que costumam proteger tesouros – nos

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atraem imediatamente e nos lembram que a Roda Gigante chega àquelas alturas como uma voz que ecoa os artefatos reais dispostos no chão, em contrapeso e presença. A primeira tentação é caminhar entre eles, mas a iniciativa é vã; as múltiplas ramificações de cordas de todo tipo e cor nos restringem, assim como na vida: aqui pode, ali na frente não. O irremediável configura novas alternativas, como pensou Carmela Gross ao confrontar a majestade do espaço do edifício com a apropriação diversificada da via pública por pessoas que têm de inventar habitats inusitados, fabricados com qualquer material ou objeto disponível. Baldes, livros, caixas de isopor, pesos, ferramentas, areia, esculturas de jardim, livros empilhados, engenhocas diversas. Todos eles clamam por seu valor e utilidade e estendem suas cordas ao alto, ora em espessos cruzamentos, ora em ballets acrobáticos e mesmo escaladas até a mais alta das colunas. Do céu de vidro, as musas observam, sem mover uma palha. Carmela Gross é uma artista acostumada a remexer nas contradições humanas, a confrontar a cidade com quem a habita, a homenagear com delicadeza, e por vezes com imagens fortes, os sentimentos de toda gente que passa, que vive, que transita entre os espaços urbanos. São bons exemplos obras marcadas pela luz, como Aurora (2003) ou Eu Sou Dolores


(2002) e intervenções em áreas degradadas, como é o caso de Se Vende (2008). Uma de suas mais fascinantes propostas para espaços a céu aberto é Cascata (2005), escadaria variante em concreto e ferro que hoje impera na bela e recente orla do Rio Guaíba, nessa mesma Porto Alegre. Roda Gigante enuncia o ciclo de vida de objetos que já foram imprescindíveis e que, hoje, estão relegados ao esquecimento ou viraram outra coisa, em contraposição a toda uma vida virtual que acredita ser real – e que, no entanto, transporta muita gente a mundos que não têm qualquer conexão com a matéria viva do dia a dia. Enquanto se lucra com bitcoins, é fácil esquecer que embaixo, no mundo real, desigualdades se acentuam. Enquanto uma criança não consegue viver sem o celular, outra se preocupa com o que vai comer. O meio-termo, a solução, é areia movediça, em tempos de transformações velozes. Daí o enfrentamento sutil que a arte de Carmela Gross nos sugere, em suas variadas formas de expressão. Enquanto os finalmentes se sucedem rumo a uma esperada reinauguração do espaço, que marca também uma nova relação com o tempo cultural da cidade, a arte escorre pelos corredores e se avoluma também em altitudes improváveis. Obras que compõem um

panorama específico da trajetória de Carmela Gross, cuidadosamente selecionadas pelo curador Paulo Myiada, podem, talvez, dar conta de situar o espectador num universo marcado pelo rigor e pela contundência como ferramentas de reinterpretar o mundo. A luz, em distintos formatos, é uma constante e marca muitas fases do trabalho da artista. Na via que circunda o espaço central ocupado por Roda Gigante, uma versão de Sul (2002) em neon se dependura com suavidade sobre nossas cabeças, reluzindo em vidro transparente, enquanto a Carga (1968), em sua crueza e despojamento, nos confunde e emociona. Perto de uma das saídas, a Negra (1997) se impõe como resistência e alerta: é uma mulher expandida, prestes a reagir ao que a rodeia. Luz del Fuego II (2018) é um vídeo que aparenta esmaecer, com o uso do preto e branco, o intenso matiz da primeira versão colorida, mas que na verdade aprofunda ainda mais a dimensão dos conflitos mundo afora que retrata, como termômetro de uma humanidade entre o caos e o impossível. Para quem um dia se aventurou a construir um céu como obra de tese – falo de Projeto para Construção de um Céu (1981), não incluída no panorama -, Carmela Gross está sempre ligada no mundo que acontece, no aqui onde as pessoas

vivem e enfrentam seus próprios percursos, muitas vezes duros, sem esmorecer. Outras obras, como Asa (1995), Quasares (1983), X (1989), 13 Passantes (2015/16), Monumentos (2000) e o instigante Figurantes (2016) revelam sua força e relevo no entorno da cena principal. Ao atingir o topo do prédio, por tortuosos caminhos internos, encontramos um andar de vidro, superposto aos vitrais do teto, que foi batizado de átrio. Difícil olhar para baixo, mas testamos nosso passo inseguro nesse território impreciso e elevado, onde testemunhamos uma inesperada apoteose: a obra REAL PEOPLE ARE DANGEROUS, que explode em luz e cor, e que pela primeira vez é montada em sua dimensão original. Dois imensos letreiros luminosos, confeccionados com tubos de luz fluorescente vermelha, se colocam frente a frente, em lados opostos, e surpreendem o espectador. De dia, a profusão de luz natural é bemvinda, mas à noite a sensação é insuperável, pela miríade de reflexos que a obra espalha e faz vazar para o chão, para o teto e em cima de quem trafega pelo meio. O impacto é tremendo. Roda Gigante, de Carmela Gross, reinaugurou o Farol Santander de Porto Alegre em 25 de março deste ano e segue em cartaz até 23 de junho.

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Estante

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Dos pés à cabeça, De Luiza Aquim, Texto de Isabel Capaverde, Edição de Lúcia Koury, da Outras Letras, 208 páginas, R$ 65,00

O Tiê da mata atlântica, De Cristina Rappa, Ilustrações de Maurício Veneza, 48 págs, R$ 56, Florada Editorial

Por Nícia Ribas, de Plurale

Por Nícia Ribas, de Plurale

Lançado no final de março, o livro Dos pés à cabeça conta a vida de uma mulher forte, inteligente e generosa, Luiza Aquim. Foi escrito na primeira pessoa, com texto e edição da jornalista Isabel Capaverde, colaboradora da Plurale, que, com dedicação e paciência ouviu os relatos de Luiza e fez um belíssimo trabalho. A edição da Outras Letras, graças ao empenho e à delicadeza de Lúcia Koury, ficou primorosa. Mesmo quem não conhece Luiza e sua família de chefs, como Samantha Aquim (filha), destaques no mercado de gastronomia carioca, vai se emocionar com sua trajetória, valorizando a verdade acima de tudo. Com simplicidade e muita sensibilidade, Luiza puxa pela memória e faz uma narrativa desde a infância em Santa Tereza com os cinco irmãos, numa casa que mais parecia um clube. Para se ter uma ideia do tipo de pessoa que é Luiza, aqui está um trecho do depoimento de sua amiga Vania Chalfun: “Luiza tem uma disposição e uma criatividade impressionantes. Sempre dormiu cedo e acordou muito cedo. Ela mesma capinava e varria os jardins. Tem muitos focos de interesse. Ela quer saber de gastronomia, de escultura de pintura, de poesia. E faz tudo muito bem. É capaz de preparar um almoço maravilhoso e servir numa mesa impecável em poucas horas.” Hoje, depois de ter dirigido por muito tempo o buffet Aquim, ela trabalha em seu atelier, moldando peças de cerâmica. A veia artística também se manifesta através de poemas, incluídos no livro: “Tenho o mesmo sonho desde criança: que abro a janela e voo.”

”Pássaros, tartarugas, tamanduás, macacos, onças-pardas, antas, e muitos outros animais da nossa mata atlântica se unem para protestar na estrada em defesa do ambiente onde vivem. Liderada por um casal de tiês-sangue (Ramphocelus bresilius, espécie linda e emblemática da mata atlântica do sudeste brasileiro), a manifestação tem como objetivo chamar atenção dos humanos para questões como o desmatamento, o atropelamento de animais e a poluição das águas, do mangue e das praias. Segundo livro do Projeto Aves & Biomas, O Tiê da mata atlântica, de autoria de Cristina Rappa e ilustrações de Maurício Veneza, leva crianças e jovens leitores a refletir sobre esse bioma, que hoje conta somente com cerca de 8% de sua área original. “Assim como em O Soldadinho da Caatinga, quero, com este livro, fazer com que todos tenham mais consciência dos problemas gerados por nós, humanos, à natureza”, diz Cristina Rappa. Apesar de abordar assuntos sérios e de alta relevância, a obra traz linguagem leve e bem-humorada. Indicada para crianças de 8 a 12 anos, pode ser trabalhada em sala de aula por diversas disciplinas, já que introduz conceitos de Geografia, História, Meio Ambiente, Cidadania e Ciências. O livro pode ser encomendado em livrarias como a da Amazon.com.br, Bok2, Mercado Livre e Maritaca Expeditions. Cristina Rappa é jornalista, observadora de aves e autora dos livros Topetinho Magnífico (Ed. Melhoramentos, 2012), Florestas – por que precisamos delas (Melhoramentos, 2014) e O Soldadinho da Caatinga (Florada Editorial, 2018), além de coautora de Primatas no Brasil – Cada Macaco no Seu Galho (Avis Brasilis, 2015).

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Pelo Mundo

PARIS Por Giane Gatti, Especial para Plurale Fotos de Giane Gatti e Prefeitura de Paris De Paris

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e acordo com a Comissão de Meio Ambiente da União Europeia (UE), 400 mil mortes prematuras por ano estão ligadas ao ar poluído e 130 cidades de 23 dos 28 membros da UE excedem os padrões de qualidade do ar. A UE multou seis países, no ano passado, por não fazerem o suficiente para impedir que seus cidadãos sejam “envenenados por ar tóxico”. São eles Grã-Bretanha, França, Alemanha, Hungria, Itália e Romênia. O comissário de Meio Ambiente da UE, Karmenu Vella, afirmou que os estados encaminhados ao Tribunal receberam “suficientes ‘últimas chances’ ao longo da última década para melhorar a situação” e que “não poderia esperar mais” para agir. Esforços parisienses Uma cidade que está tentando correr atrás do prejuízo é Paris, capital do sexto país mais rico do mundo, com uma população de 2,2 milhões, mas que tem até 5 milhões de pessoas circulando diariamente e que deu o nome ao mais importante Acordo Climático (COP 21) aprovado pelos 195 países parte da Convenção -Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC em inglês) em 2015. Segunda a própria prefeita de Paris, Anne Hidalgo, primeira mulher a ocupar o posto na cidade e que teve como mote de campanha em 2014 melhorar a qualidade do ar, 2.500 pessoas morrem por ano em Paris como consequência da poluição. Trata-se de uma questão de saúde pública. A Agência de Saúde Pública da França estima que cinco mil mortes prematuras por ano poderiam ser evitadas na metrópole.

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E SUA CAMINHADA EM DIREÇÃO À CIDADE DO AR PURO Anne Hidalgo preside o grupo C40 de Grandes Cidades que combate as mudanças climáticas e é uma das principais vozes no país sobre a necessidade de reduzir a presença dos veículos nas metrópoles que geram “dois terços das emissões de dióxido de nitrogênio e 56% das partículas finas na capital francesa”, diz ela. Não faltam críticas por parte da oposição de olho nas próximas eleições municipais de 2020 sobre as medidas tomadas por ela, como as obras focadas em mobilidade para ampliação das ciclovias, que geram engarrafamentos. A reclamação também vem dos usuários de automóveis da capital francesa e arredores. Muita coisa na cidade ainda precisa ser feita, mas se levarmos em consideração que 70% da população mundial viverão nas cidades até 2050, quando seremos cerca de 10 bilhões de pessoas (dados da Organização das Nações Unidas – ONU), acho salutar ressaltar as boas iniciativas implementadas. Passei dez dias em Paris conhecendo as ações da prefeitura para tornar a cidade com ar mais puro e também mais sustentável. Belos exemplos para o Brasil se inspirar. 1ª Zona de Baixa Emissão na França (oficialmente conhecida como Zona de Circulação Restrita). Já estamos cansados de saber que os combustíveis fósseis são os grandes responsáveis pela emissão de CO2 na atmosfera junto com a produção de carne industrial (desmatamento para pastagens e produção de grãos, além das emissões de metano pelo gado). Esses dois vilões estão destruindo o planeta! E para piorar, mais de 70 mil compostos químicos diferentes utilizados na indústria acabam indo parar na atmosfera e no meio ambiente. E muitos deles são prejudiciais à saúde. A poluição atmosférica mata 3,3 milhões de pessoas por ano, de acordo com estudo do Instituto Max Planck da Alemanha (dados de 2016). Paris foi a primeira cidade francesa a ter Zona de Baixa Emissão. A medida, que atinge 5,61 milhões de habitantes e

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cobre 79 unidades administrativas, é um dispositivo apoiado pelo Estado para reduzir as emissões de poluentes especialmente nas grandes cidades, melhorar a qualidade do ar e garantir que os moradores respirem ar que não prejudique sua saúde. Já adotada por 200 cidades europeias, é reconhecida como bastante eficaz na redução de emissões de poluentes do tráfego rodoviário, sendo o carro uma das principais fontes de poluição da cidade. Seu princípio é limitar a circulação dos veículos mais poluidores dentro de um perímetro definido. Para circular, um adesivo da Crit’Air deve ser afixado no para-brisa e ele distingue os veículos com base no nível de emissões de poluentes atmosféricos. Os mais poluentes e os “não classificados” não poderão (exceto as derrogações) circular na Zona de Baixa Emissão em determinados intervalos de tempo. Desde julho de 2016, os carros com 19 anos ou mais não têm vez na capital francesa. A prefeitura proibiu a circulação dos veículos construídos antes de 1997 e das motos fabricadas antes de 1999, apontados como os mais poluentes. A medida vale para os dias úteis, das 8h às 20h, e integra um plano de médio prazo para reduzir as emissões geradas pelos automóveis - a fonte de poluição mais grave na cidade. O plano atinge cerca de 420 mil veículos, do total de 6 milhões de carros que circulam na região parisiense, incluindo a periferia. Há várias categorias de multas. Em julho deste ano novas interdições acontecerão nos dias úteis, das 8h às 20h, para veículos de duas rodas anteriores a 2000, veículos à gasolina anteriores a 1997, veículos pesados e ônibus a diesel anteriores a 2006, entre outras. “Paris respira” “Paris respira” é uma iniciativa que impede a circulação de veículos em vários locais da cidade. Alguns acontecem apenas no primeiro ou no último domingo do mês e outros em todos os domingos e feriados do ano. Em algumas


áreas apenas durante o verão e em outras durante o ano todo. São vias em mais de 15 bairros, incluindo a turística Avenida Champs Élysées. Durante os bloqueios de tráfego, as áreas permanecem acessíveis aos residentes mediante apresentação do cartão de registo do endereço de moradia em questão. Há também o Dia Sem Carro (em 16 de setembro, das 11h às 18h) em que apenas bicicletas elétricas e convencionais e patinetes podem circular. Os veículos de serviços essenciais, de pessoas portadoras de necessidades especiais também estão liberados e exceções em que é necessário solicitar autorização junto à prefeitura. A data foi criada em 1997, na França, e aos poucos passou a ser adotada por outros países. Um dia pode parecer pouco, mas na ação do ano passado, Paris registrou 40% de queda nos níveis de poluição do ar e 50% na poluição sonora em diversas partes da cidade. Em 2018, Hidalgo recebeu o prêmio anual da Fundação Europeia de Pulmão, que reúne os profissionais de saúde e pacientes dos países membros da UE, pelo seu engajamento e resultados em favor da qualidade do ar e da redução das doenças respiratórias. Honraria concedida no passado ao ex-prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg. Subvenção para carros elétricos novos ou usados A prefeitura disponibiliza algumas formas de ajuda para apoiar os motoristas automobilísticos e de veículos de duas rodas em direção a uma mobilidade mais sustentável. Um parisiense que renunciar ao seu veículo poluente pode se beneficiar de um auxílio de € 400 para a cobertura parcial do passe Navigo (tipo de bilhe-

te único para transporte público) por um ano e da assinatura por um ano do Vélib (bicicletas compartilhadas - falarei mais adiante) ou reembolso de até € 400 para a compra de uma bicicleta elétrica ou bicicleta convencional. Um habitante da chamada Grande Paris (que engloba as áreas de carro com placas 75,92,93 e 94) que renunciar ao veículo poluente por um carro (novo ou usado elétrico, a hidrogênio, híbrido recarregável ou GNV) ou transporte de duas rodas novo ou com menos de cinco anos recebe da prefeitura ajuda que vai de € 500 a 5 mil, limitando-se a 25% do preço de compra. Um link no site da prefeitura permite calcular e avaliar o custo da troca de carro. Por exemplo, um modelo básico elétrico que custa € 23.500 pode sair a € 7.500, levando-se em conta a ajuda de até € 5 mil da prefeitura, mais € 2.500 de bônus pela conversão, mais € 2.500 de bônus para 20% dos lares mais modestos e € 6 mil de bônus ecológico. Bélib Belib é a rede de estações para veículos elétricos e híbridos recarregáveis. Há cerca de mil pontos na cidade, sendo que 200 são responsáveis por 80% dos carregamentos usados. O serviço funciona com ou sem assinatura. O tempo de carregamento e o valor da hora depende da potência selecionada da estação: 3kW ou 22kW. E o valor da hora de carregamento, dependendo da modalidade escolhida, custa € 1 a € 4. Em alguns casos o carregamento é gratuito entre 20h e 8h. Eu conversei com alguns motoristas, inclusive de táxis elétricos, que se dizem muito satisfeitos com a quantidade e qualidade das estações de carregamento, além do preço acessível. Serviço Free to move Lançado em novembro do ano passado por meio de uma parceria entre a prefeitura e o grupo PSA (Peugeot-Citroën), o serviço de mobilidade Free to move disponibiliza 550 veículos elétricos

no sistema free-floating – o usuário aluga um carro sem prévia reserva e o devolve escolhendo locais disponibilizados em um perímetro determinado. A ideia é aumentar a quantidade de veículos e levar também para os arredores da cidade. Já existente em Washington, o serviço foi facilitado pelas antigas vagas e estacionamento de carros elétricos do Autolib´ (serviço de compartilhamento de carros lançado em 2011 que deu muito prejuízo e surpreendeu os assinantes com o término, gerando enormes críticas a Anne Hidalgo) e das mil estações de recarga. Ele está disponível 24h/dia e baixando o aplicativo é possível identificar o veículo mais perto, reservá-lo, abri-lo e descobrir onde pode deixá-lo após uso. Há duas formas de pagamento: com e sem mensalidade (o preço do minuto usado varia) SVP - Serviço de Veículos Compartilhados (sigla em francês) O SVP incentiva os serviços de veículos compartilhados, oferecendo às operadoras mais de 200 vagas de estacionamento. Cada estação tem dois veículos e depende de um único operador (Communauto, Ubeeqo ou Zipcar). Todos os veículos atendem aos requisitos do plano de controle de poluição. Você reserva o carro de acordo com suas necessidades, faz o registro junto ao operador (consulte os termos e condições aplicáveis a cada um deles) e os veículos podem ser emprestados e reportados à mesma estação. Ainda tem a vantagem de custar menos do que ter seu próprio veículo e arcar com seguro, manutenção, estacionamento, etc. Segundo a prefeitura, um veículo compartilhado substitui uma média de sete carros em circulação, contribuindo na redução dos gases de efeito estufa e as emissões de poluentes. 2020: Paris, capital da bicicleta Um plano ambicioso 2015-2020 e investimentos da ordem de € 150 milhões vão permitir duplicar a extensão das ciclovias até 2020. Um total de 61 km são previstos até o ano que vem com pistas de tráfego nos dois sentidos. Anne Hidalgo, que foi braço direito

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Pelo Mundo do antecessor Bertrand Delanoë por 13 anos, entende bastante da pasta de urbanização. Algumas das principais ações são: - € 63 milhões para o desenvolvimento de ciclovias; - € 30 milhões para financiar o programa “Paris a 30 km/h”, incluindo o ciclismo de duas vias de todas as ruas, fora das principais estradas que são mantidas a 50 km/h; - € 7 milhões para a criação de mais de 10 mil lugares de estacionamento para bicicletas; - € 10 milhões para assistência na aquisição de bicicletas e ciclomotores elétricos, scooters e bicicletas de carga; - Cerca de € 40 milhões dedicados a instalações de ciclismo no contexto de projetos de transportes públicos e reestruturação dos principais eixos e criação de uma rede de bicicletas expressas. Vélib É um sistema de aluguel de bicicleta mecânicas e elétricas (com autonomia de 50 km e velocidade de 25 km/h), que já existe na cidade desde 2007, mas que vem sendo aperfeiçoado. As “magrelas” verdes são convencionais e as azuis elétricas. Ele funciona 7 dias/semana, 24h/dia e, segundo o operador, ainda na primavera parisiense, haverá 1.400 estações espalhadas pela cidade. Para se ter uma ideia, apenas no dia 4 de abril foram percorridos 170 mil km e realizados 65.500 trajetos com o uso do Vélib. Também nesta data foram disponibilizados novos 1.236 pontos. Ha várias categorias para usuários frequentes e ocasionais. Paga-se uma caução de € 300 e é preciso cadastrar um cartão bancário. O serviço é operado pelo consórcio Smovengo, formado por quatro sociedades internacionais de mobilidade urbana: Smoove (que atua em mais de 20 cidades na França e no mundo), Moventia (empresa espanhola que atua no país, mas também na Itália, México, entre outros), Mobivia (líder europeu de novas mobilidades) e Indigo (líder mundial de estacionamento e de mobilidade individual). O segundo lançamento do Vélib aconteceu no começo do ano passado. Usuários reclamaram da qualidade da

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bicicleta do prestador anterior, das poucas vagas de estacionamento e das poucas bicicletas elétricas disponíveis. Houve ainda greve dos funcionários do consórcio atual. O que mostra que o caminho da transição ecológica é complexo, mas é um caminho sem volta! SoliCycle, oficinas solidárias de bicicletas Nos ateliês SoliCycle, os usuários aprendem a consertar as bicicletas às quartas e sábados. Lá também é possível doar as bicicletas não usadas para serem recicladas, recondicionadas e revendidas ou recuperadas como peças de reposição. A SoliCycle promove a economia circular e trabalha para reduzir o desperdício do ciclo. No local, você também pode comprar ou alugar uma bicicleta usada a um preço baixo. O valor da venda varia entre € 5 e € 150. Patinetes e scooter elétricos A cidade assinou acordo com empresas que oferecem soluções compartilhadas de duas rodas além das bicicletas. São as patinetes e scooters elétricos. Mas isso requer uma convivência harmoniosa com os pedestres, usuários de veículos, etc. Por isso há termos de compartilhamento do espaço público com possibilidade de multas a quem desrespeitar as regras. Vários prestadores estão disponíveis por meio de aplicativo no celular. São eles: Lime, Bird, Bolt (ex-TxFy), Wind, Voi, Tier, Flash, VOI e Wind. De acordo com a prefeitura, há 15 mil patinetes elétricos disponíveis na cidade e que podem chegar a 40 mil até dezembro de 2019, mas isso tem gerado problemas de segurança aos pedestres, principalmente idosos e crianças, além do estacionamento desordenado pela cidade. No começo do mês, a ministra de Transportes Élisabeth Borne anunciou regras mais rígidas nas grandes cidades francesas para patinetes elétricos e outros

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dispositivos motorizados de movimentação pessoal (EDPM, sigla em francês) como monociclos elétricos, segways e hoverboards. A partir de setembro eles estão proibidos de circular nas calçadas e a multa, em caso de infração, será de € 135. Gratuidade do Transporte Público Em março de 2018, a prefeita Anne Hidalgo solicitou um estudo sobre gratuidade e/ou redução do valor do transporte público. Baseado nele, quatro medidas passarão a valer a partir de 1º de setembro: - gratuidade do transporte público para parisienses de 4 a 11 anos; - gratuidade do transporte público para parisienses portadores de necessidades especiais com menos de 20 anos; - reembolso de 50% do passe Navigo (bilhete único) para estudantes dos ensinos fundamental e médio; - gratuidade da assinatura do Vélib (bicicletas compartilhadas) aos parisienses dos 14 aos 18 anos. As novas ações custarão € 5 milhões apenas este ano e serão financiadas por meio de redistribuição de receitas. Fica claro o foco da prefeitura em engajar as novas gerações sobre a necessidade da transição energética na cidade. Plano Climático Em 2007, a cidade de Paris adotou um Plano Climático que previa reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o consumo de energia em 25% e aumentar a quota de energias renováveis ​​e de recuperação para 25% entre 2004 e 2020. Mas a urgência devido aos efeitos das mudanças climáticas em todo o mundo


fez com que ocorresse a 21ª Conferência Internacional pelo Clima (COP 21), que reuniu, em 2015, 20 mil representantes de quase 200 países em Paris. Com as novas ações acordadas na COP 21, a cidade lançou um novo Plano Climático após consulta pública que durou quase um ano. Os participantes identificaram três temas prioritários: alimentos sustentáveis, eficiência energética e adaptação territorial. As principais ações apresentadas foram: reciclar e recuperar 100% dos resíduos, transporte público limpo em 2025, alcançar 90% de alimentos sustentáveis, renovar instalações públicas, fazer de Paris 100% a capital de ciclismo, entre outras. Até 2030, será implementado um plano de ação operacional com o objetivo de reduzir as emissões de GEE em 50%, o consumo de energia em 35% e as energias renováveis ​​em 45%. A meta para 2050 é construir uma cidade neutra em carbono e 100% de energia renovável. Cidade mais sustentável O mundo produz cerca de 300 milhões de toneladas de lixo plástico a cada ano. E somente 9% desse lixo gerado foi reciclado e 14% coletado para reciclagem, segundo a ONU Meio Ambiente. Diariamente três mil toneladas de lixo são coletadas pela prefeitura de Paris, que tem como obrigação a retirada dos resíduos domésticos. Desde 1º de janeiro de 2019, novas diretrizes de reciclagem foram introduzidas na cidade para facilitar a ação. Elas visam melhorar a taxa de reciclagem dos resíduos parisienses. Hoje, apenas 20% são reciclados na cidade, contra 39% na França e 45% na Europa. Há três tipos de contêineres: amarelo, verde e branco. O amarelo é para os resíduos recicláveis, onde pode-se colocar papel de embalagem, papelão, plástico e metal. Como cerca de 15% dos prédios na capital não possuem esse tipo de contêiner por falta de espaço nas áreas comuns, a prefeitura disponibiliza estações chamadas Trilib, onde os cidadãos podem levar o lixo para reciclagem. No contêiner verde coloca-se tudo o que não passou por uma triagem. Após recolhidos, os resíduos são enviados di-

reto à incineração e transformados em eletricidade e aquecimento. Há mil contêineres para vidro na cidade. Em 2010, a taxa de reciclagem de vidro na França era de 60% enquanto que na Alemanha chegava a 70%. Reciclagem têxtil Há 300 contêineres específicos para reciclagem têxtil. Neles podem ser colocados roupas, toalhas, lençóis, calçados, bolsas, luvas, etc. Após uma triagem, o que ainda pode ser usado é revendido a um preço acessível e o restante vai para a reciclagem. Lixo orgânico para compostagem “Comer é quase um ato político, pois as decisões que tomamos sobre a nossa alimentação provocam impactos ambientais, sociais e econômicos nas cadeias de produção de alimentos”, diz Carolina Siqueira, analista sênior do WWF-Brasil. Dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO apontam que aproximadamente 30% da produção mundial de alimentos é perdida no processo ou vai para o lixo no final da cadeia. Usamos um terço da superfície do mundo para produzir alimentos. Na França, quase 70% do conteúdo do lixo pode ser evitado, com ações de redução, reutilização e valorização, segundo a própria prefeitura. Paris adotou uma estratégia de “desperdício zero” em 2014, que consiste em não enviar ao aterro e à incineração os resíduos que podem ser recuperados. Para os habitantes que não dispõem de espaço para uma composteira foi criado um sistema de reciclagem de resíduos orgânicos que vem se expandindo e pode ser encontrado em alguns

pontos da cidade. Mas há também associações que recolhem o lixo orgânico nas casas e apartamentos. Regime “Flexitariano” De acordo com a prefeitura, para alcançar os objetivos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) oriundos dos alimentos, o equilíbrio alimentar dos cidadãos terá que evoluir para um regime “flexitariano”. Ele consiste em ter menus que incluem mais frutas e verduras e menos carne e peixe, ao mesmo tempo em que favorece canais de circuitos curtos do produto ao consumidor que, além de terem menor impacto no meio ambiente, garantem melhor qualidade de vida e de renda aos produtores. A estratégia alimentar sustentável de Paris, que surgiu após a assinatura do Pacto de Milão em 2015 por 160 cidades visa promover um sistema inclusivo, resiliente, seguro e diversificado, mitigando e adaptando-se aos efeitos das alterações climáticas. Através da implementação de 40 ações em colaboração com os atores do sistema alimentar do território, a cidade de Paris se compromete até 2030: - reduzir em 40% a pegada de carbono “alimentar” do território; - contribuir para a mudança do equilíbrio alimentar dos cidadãos para um regime “flexitariano”; - eliminar qualquer situação de insegurança alimentar; - difundir a participação do transporte elétrico e fluvial para o abastecimento de alimentos; - apoiar o desenvolvimento da agricultura biológica a fim de atingir 20% das terras agrícolas orgânicas na Île-de-France (composta por sete departamentos além de Paris).

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Pelo Mundo

FOTOS DE GIANE GATTI/ PARIS

SEGUNDA VERDE Somos 7 bilhões de humanos, mas criamos e abatemos mais de 70 bilhões de animais terrestres — e um número ainda maior de animais aquáticos — todos os anos para consumo, informa a Sociedade Vegetariana Brasileira. Só no Brasil, são quase 6 bilhões de animais terrestres abatidos por ano (IBGE). A manutenção desses animais como estoque de alimento exerce uma pressão sem precedentes sobre todos os ecossistemas além de produzir resíduos sólidos, líquidos e gasosos em grande quantidade: 83% das terras agrícolas do planeta são usadas como pastagens ou produção de ração. As vendas de produtos vegetarianos e veganos aumentaram 24%, gerando € 380 milhões em 2018 na França, segundo o Instituto de Estudos Xerfi. “Diversas causas explicam o crescimento: escândalos da indústria alimentícia, os questionamentos sobre os benefícios do leite e da carne e, sobretudo, a banalização do ideal do “flexitarianismo”, que propõe uma abordagem menos radical no consumo de produtos de origem animal”. Na França, 500 personalidades como o fotógrafo e ativista Yann Arthus-Bertrand e a atriz Isabelle Adjani participam da campanha “Segunda Verde”, nem carne nem peixe, para estimular a população a uma mudança de comportamento no país. A campanha ressalta a produção industrial, grande responsável pela deflorestação e que agrava o aquecimento climático, a sobrepesca que destrói os ecossistemas, os riscos de câncer aliados ao consumo de carne vermelha, mas também o sofrimento animal. Para haver uma transformação por meio da conscientização é preciso conhecer e se conectar com o tema em questão. Adultos e crianças estão cada vez mais desconectados da natureza. A Fazenda Mobile é um projeto

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em que cada mês ela vai a um distrito da cidade de Paris dando a possibilidade ao público de ver cabras, galinhas, coelhos e outros animais, mas também tirar dúvidas sobre criação, etc. Minha conclusão é de que ainda há muito a ser feito na cidade, mas os esforços e melhorias para se tornar uma cidade com melhor qualidade de vida são evidentes! Cabe também à população fazer sua parte ao tomar consciência de que todos os nossos atos têm um impacto no planeta e há décadas essa conta não está fechando. Ressalto também o empenho da cidade para que se compre dos pequenos produtores e por uma alimentação orgânica. Mesmo com a diferença de câmbio do euro para reais, encontrei muitas frutas e legumes mais baratos em Paris do que no Rio de Janeiro, além da farta oferta de produtos orgânicos a um preço

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acessível em supermercados, bem diferente da realidade brasileira. Yann Arthus -Bertrand afirma que é tarde demais para sermos pessimistas e que precisamos agir. Ele ilustrou a Encíclica Laudato Sí do Papa Francisco sobre meio ambiente. É a única autoridade espiritual a falar sobre o tema no mundo. Precisamos reduzir o consumo desenfreado e insustentável. Entender que tudo está conectado e fazemos parte de uma única família global. O que está em risco é a vida humana na Terra. O planeta vai ficar muito bem obrigado sem nós. Nós é que dependemos dele! “O meio ambiente é um bem coletivo, patrimônio de toda a humanidade e responsabilidade de todos. Quem possui uma parte é apenas para administrar em benefício de todos. Se não o fizermos, carregamos na consciência o peso de negar a existência aos outros.” Papa Francisco Fontes: Prefeitura de Paris, RFI, ONU, Unicef, AFP, Le Point, OMPE (Organisation Mondiale pour la Protection de l’Environnement) et Le Monde.


ISABELLA ARARIPE

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Ecoturismo

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FOTOS DE DIVULGAÇÃO

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Sítio Roberto Burle Marx: próximo de concorrer a Patrimônio Mundial Parque Nacional das Emas: aventura em Goiás O Parque Nacional das Emas, em Goiás, atrai turistas em Goiás. A observação de aves e animais típicos do Cerrado é o principal atrativo do parque. Entre os bichos mais avistados, destacam-se macacos, tamanduás-bandeira, porcos-do-mato, lobos-guará, emas, antas e até onças (pintada e parda). São 354 km de trilhas. É possível percorrer as trilhas de bicicleta ou no carro safári com capacidade para 20 turistas. O passeio, com duração de até 8 horas, também pode ser realizado à noite para observação de animais com hábitos noturnos.

AquaRio ganha selo “Friend of the Sea” O Aquário Marinho do Rio ganhou o selo “Friend of the Sea”, certificação internacional que atesta produtos e instituições que prezam e trabalham pela sustentabilidade marinha. Durante dois meses, o AquaRio passou por uma rigorosa auditoria e após ter confirmado vários requisitos, recebeu a honraria.

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A candidatura do Sítio Roberto Burle Marx, em Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, será analisada durante a reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, em 2020. A confirmação foi anunciada no fim de abril, por meio da delegada do Brasil para a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A próxima etapa será a realização da missão de avaliação técnica do Sítio por especialistas do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos). O Sítio, onde Burle Marx morou até o final de sua vida, está sob a gestão do Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan). Ele guarda uma coleção botânico-paisagística, com mais de 3,5 mil espécies de plantas tropicais cultivadas. A propriedade constitui o maior e mais importante registro de memória da vida e obra do artista.

Observação de aves no Amazonas Presidente Figueiredo (a 107 quilômetros de Manaus), que é conhecida como a “Terra das Cachoeiras”, tem se destacado de outra forma: como destino para quem pratica birdwatching (observação de aves). O local possui 480 aves catalogadas, entre elas algumas raras como o misterioso uirapuru (Cyphorhinus arada) e o galo da serra (Rupicola rupicola). Na Reserva de Patrimônio Privado Natural (RPPN) da Onça, há duas trilhas de observação (Orquídeas e da Onça) de mais de 1 quilômetro, além da Cachoeira da Onça.

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CINEMA

Verde

ISABEL CAPAVERDE

i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r

Filme mostra país sendo engolido pelo mar

Jardim Botânico do Rio é estrela de documentário

FOTOS DE DIVULGAÇÃO

O filme “A Arca de Anote” ( Anote´s Ark) que teve pré-estreia no último Festival de Sundance, mostra o drama real vivido pela nação das ilhas do Pacífico de Kiribati (100 mil habitantes) um dos lugares mais remotos do planeta, aparentemente distante das pressões da vida moderna. Kiribati é um dos primeiros países que deve enfrentar o principal dilema existencial do nosso tempo: a aniquilação iminente do aumento do nível do mar. Enquanto o presidente Anote Tong, corre para encontrar uma maneira de proteger o povo de seu país e manter sua dignidade, o população começa a procurar um porto seguro no exterior. Tendo como pano de fundo as negociações sobre clima internacional e direitos humanos, a luta de Anote para salvar sua nação está entrelaçada com o destino de Sermary, uma jovem mãe de seis filhos, que luta para migrar sua família para a Nova Zelândia. Em jogo a sobrevivência do povo de Kiribati e os 4 mil anos de sua cultura. Para acessar o trailer: https://vimeo.com/244728466

Com 59 minutos de duração, “Templo Verde”, dirigido por Luiz Eduardo Lerina nos conduz a um jardim com uma rica fauna e flora, onde estão abrigadas quase duas centenas de espécies de aves e milhares de espécies de plantas, algumas ameaçadas de extinção: o Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Com participação especial da paisagista Cecilia Beatriz da Veiga Soares, dos biólogos Gustavo Martinelli e Henrique Rajão e do fotógrafo de natureza João Quental, somos guiados pela diversidade e exuberância da natureza existente nos seus 137 hectares, sendo 54 de área cultivada em plena Zona Sul do Rio de Janeiro, entre a Floresta da Tijuca e a área urbana da cidade. O documentário é um convite para uma reflexão sobre os riscos e desafios para sua conservação, e a necessidade de uma conscientização para preservar o que ainda resta da fauna e flora nativa da Mata Atlântica do Rio de Janeiro. Para acessar o trailer: https://vimeo.com/326480058

“Ilha das Flores” faz 30 anos Trinta anos depois, o documentário Ilha das Flores, do gaúcho Jorge Furtado, continua sendo um retrato real do Brasil ao abordar temas como desigualdade social, fome e pobreza. Com uma trajetória brilhante, Ilha das Flores tem em seu currículo inúmeras premiações, sendo considerado pela crítica europeia como um dos 100 curtas mais importante do século XX. O filme mostra o absurdo de uma situação em que, numa escala de prioridade, os seres humanos se encontram depois dos porcos. Na Ilha das Fores, localizada à margem esquerda do Rio Guaíba, a poucos quilômetros de Porto Alegre é levada grande parte do lixo produzido na capital. Depositado num terreno de propriedade de criadores de porcos, empregados separam parte dele para o consumo dos porcos, e o que sobra é dado a homens e mulheres que esperam do lado de fora do local.

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Cine Ceará reserva espaço para diretoras mulheres O Cine Ceará – Festival Ibero-americano de Cinema está com inscrições abertas para as mostras competitivas Ibero-americana de Longa-metragem e Brasileira de Curta-metragem da 29ª edição, que acontecerá no mês de setembro de 2019 em Fortaleza, Ceará. As inscrições são gratuitas pelo website do festival www.cineceara.com. Uma novidade é que a partir deste ano o Festival reservará para mulheres diretoras, no mínimo 30% do total de produções concorrentes nas três mostras juntas: Competitiva de Longa, Competitiva de Curta e Olhar do Ceará (curtas cearenses não escolhidos para mostra competitiva).


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Pelas Empresas

ISABELLA ARARIPE

Em cinco anos de operações na Bahia, Grupo Boticário torna-se referência em inovação e automação industrial

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De Camaçari, BA

Grupo Boticário, referência no varejo de beleza e detentora das marcas O Boticário, Eudora, quem disse, berenice?, The Beauty Box, Multi B e Vult, completa cinco anos em operação na Bahia. Desde 2014, o Grupo avançou significativamente em automação, conquistou reconhecimento internacional em tecnologia, inovação e automação no setor de cosméticos e vem criando oportunidades na região, com iniciativas socioambientais nas comunidades onde atua.

O investimento inicial para implantação de duas unidades operacionais no Estado - uma fábrica no Polo Industrial de Camaçari e um Centro de Distribuição em São Gonçalo dos Campos - foi de R$ 732 milhões, montante que permitiu à empresa a instalação de um dos maiores parques de produção de cosméticos do País. A fábrica foi projetada com equipamentos de última geração e alto grau de automação, o que confere ao Grupo Boticário capacidade de produção de grandes lotes, em menor tempo e com alta produtividade. Um dos destaques vai para robôs capazes de realizar a colocação de tampas em fragrân-

cias como o Malbec, que tem sua produção toda automatizada, do início ao fim, e hoje figura entre os produtos mais vendidos do portfólio do Grupo. Desde 2014, já foram produzidos mais de 215 milhões de frascos de fragrâncias e envasados mais de 24 milhões de potes de creme.

Accor é a rede hoteleira oficial da Parada do Orgulho LGBT+ DIVULGAÇÃO

De São Paulo

Quem viaja para São Paulo para curtir a 23ª Parada do Orgulho LGBTI+ só quer um espaço para descansar depois dos desfiles, não é mesmo? Para estes clientes, a Accor, rede hoteleira oficial do evento pelo segundo ano consecutivo, irá proporcionando experiências exclusivas, tais como hospedagem no mesmo hotel que alguns artistas da Parada e programação especial nos bares. Ou seja, quem for acompanhar a Parada, no dia 23 de junho, só terá uma

preocupação: aproveitar a viagem, pois o conforto, a segurança, os melhores pratos e as melhores opções de hospedagem já estarão garantidos com as marcas da Accor. “Apoiamos a promoção da diversidade e a difusão do orgulho LGBT+ em todas as nossas ações com os colaboradores e na interação com o público em geral. Essa iniciativa de ser a rede oficial da Parada e de oferecer experiências exclusivas é parte do nosso esforço em sermos inclusivos e promotores de uma sociedade mais justa e diversa”, afirma a

vice-presidente de Comunicação e Responsabilidade Social Corporativa Accor América do Sul, Antonietta Varlese.

Inscrições abertas para o Prêmio Abrasca Relatório Anual DIVULGAÇÃO

De São Paulo

Estão abertas as inscrições para o 21º Prêmio Abrasca Relatório Anual, que avaliará os melhores relatórios anuais, distribuídos neste ano e relativos ao exercício de 2018, sob a forma de relatório impresso ou on-line. Concorrerão, em categorias separadas, Companhias Abertas; Empresas Fechadas; Organizações Não-Empresariais. E há incentivo, de dois pontos, pra quem

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entregá-lo ainda dentro deste mês de abril. “Atingimos os objetivos educacionais e as companhias brasileiras hoje estão no mesmo nível dos melhores trabalhos, em ter-

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mos internacionais”, avalia o professor Lélio Lauretti, idealizador do prêmio. A avaliação ocorrerá essencialmente em termos de conteúdo e não poderão concorrer os relatórios divulgados exclusivamente em jornais. As inscrições poderão ser realizadas até o dia 31 de julho de 2019. O regulamento do prêmio é público (http://www. abrasca.org.br/Uploads/arquivos/ABRASCA-21-Premio-Regulamento-2019.pdf) e as inscrições gratuitas.


Ausência de ato regulatório impactou 15% das despesas com saúde suplementar no Brasil DIVULGAÇÃO

Um estudo inédito conduzido entre os meses de agosto de 2017 e 2018 pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) e a PwC Brasil apresenta um conjunto de medidas regulatórias e legislativas, além de ações econômicas e de implementação de políticas de transparência, necessárias para prevenir e combater fraudes no sistema privado de saúde do Brasil. De acordo com o levantamento, só em 2016 o total de gastos em contas hospitalares relacionados a fraudes foi de R$ 20 bilhões, o que responde por 15% das despesas assistenciais da saúde suplementar brasileira. “É evidente que o setor precisa instituir mecanismos efetivos de controle e transparência para combater as fraudes. Além de mapear o que está sendo feito nesse sentido e propor novas so-

luções, o trabalho também apresenta uma agenda a ser conduzida pelo Poder Público e aborda ações capazes de

desestimular essas práticas”, afirma Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS.

Marca da Coca-Cola Brasil inova o mercado com três sabores de chás para infusão a frio A Leão vai levar o preparo de chás a um novo patamar. Apostando em inovação, a marca lançou em abril o seu primeiro chá

para preparo sem necessidade de infusão em água quente. São três novos sabores exclusivos desenvolvidos especialmente para infuDIVULGAÇÃO

são em água gelada: Chá Verde com Gengibre e Limão, Chá Preto com Frutas Vermelhas e Chá Mate com Groselha Negra. Favoritos do brasileiro, os chás verde, preto e mate são as bases para as novas combinações. As ervas passam por um tratamento térmico especial para garantir a qualidade da infusão. “As ervas passam por um processo especial, fundamental para a experiência sensorial de sabor, cor e odor”, afirma Luiza Rossi, gerente de água e chá da Coca-Cola Brasil. A facilidade da infusão à frio atende pessoas que buscam opções práticas e saudáveis para diferentes necessidades e momentos do dia. Com a proposta de versatilidade aliada à naturalidade e sabor, Leão quer levar o hábito e o consumo de chá para mais pessoas.

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I m a g e m FOTO DE HÉLIO ROCHA/ DE PEQUIM, CHINA

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lurale conta agora com correspondente na China. O repórter HÉLIO ROCHA, colaborador de Plurale há quatro anos, foi selecionado para bolsa concedida pelo Governo Chinês para jovens jornalistas da América Latina. Serão seis meses de estudos, viagens por diferentes regiões do Continente Vermelho e entrevistas para que conheçam melhor as transformações pelas quais passam a maior economia do planeta. Teremos, portanto, este olhar cuidadoso para os leitores de Plurale a partir da China. Esta linda foto de HÉLIO ROCHA foi tirada no antigo Jardim imperial, localizado ao lado da cidade proibida. O Parque Zhongshan inclui vários salões e pavilhões construídos para os membros da família imperial, arcos de pedra e uma vegetação que alberga flores frescas em exibição durante todo o ano. A vegetação compreende 39 variedades de tulipas oferecidas ao parque em 1977 pela princesa da Holanda.

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Confira as tendências e perspectivas do mercado

ORGANIZAÇÃO

PATROCINADOR DIAMANTE

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2 TC 6 e E 27 Sã ven de t o j Pa s C unh e o ul o nte -S r P

REALIZAÇÃO

PATROCINADORES OURO

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PARCEIROS DE MÍDIA

ENTIDADES APOIADORAS

ABRAPP | ABVCAP | AMEC | ANBIMA | ANCORD | ANEFAC | APIMEC NACIONAL APIMEC SÃO PAULO | CODIM | IBEF SP | IBGC | IBRACON | IBRADEMP

Informações e inscrições (11) 3107-5557 nilsonjunior@abrasca.org.br www.encontroderi.com.br



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