DiversiDaDe eM QuestÃO
Turismo:
Bahia, GranaDa e caMBOja
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Paraty e a culinária sustentável
FOTO DE GEISE ASSIS MASCARENHAS/ CASARIO DE PARATY
ano sete | nº 39 | janeiro / fevereiro 2014 | R$ 10,00
AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
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Divul gação / Instit uto Steve Biko
Diversidade, a Bahia de afrodescendentes, Ilhéus e Dorival Caymmi, culinária sustentável em Paraty, Camboja, Granada, artigos inéditos e muito mais
Raquel Ribeiro
Geise Assis Mascarenhas
Editorial
Outro “prato” de resistência desta edição tão variada é internacional. Os sempre incríveis Raquel Ribeiro e Jean Pierre Verdaguer estiveram em Granada, na Espanha, e trouxeram fotos lindas da tríade Alhambra, Generalife e Albaicín. Do outro lado do planeta, a jovem Carolina Araripe mergulhou em uma viagem incrível de quase um ano por países da Ásia. Nesta primeira reportagem especial para os leitores de Plurale, Carolina apresenta o sítio arqueológico Angkor Wat, no Camboja, símbolo da cultura do Khmer, cenário que já atraiu até mesmo Hollywood para o filme “Tomb Rider”, com a estrela Angelina Jolie. A correspondente na Comunidade Europeia, Vivian Simonato, também manda notícia. Não é só. Entrevistei o estilista Carlos Tufvesson, famoso não só por suas criações em moda, mas também por sua luta em defesa da causa LGBT como Titular da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Cidade do Rio de Janeiro. E temos ainda as colunas Pelo Brasil, Pelo Mun Mundo, Vida Saudável, Energia, Ecoturismo, Pelas Empresas e Estante.
Paulo Lima
M
ais um ano, novos desafios. Trazemos nesta edição um verdadeiro “caldeirão” de temas, tão diverso como se propõe Plurale que caminha para o sétimo aniversário em 2014. Da Bahia vem um bloco forte de reportagens: Tom Correia visitou o Instituto Cultural Steve Biko e nos conta o trabalho intenso com a cultura de afrodescendentes. Já Paulo Lima se embrenhou pela literatuliteratu ra de Jorge Amado e foi conferir em Ilhéus os cenários reais que embalaram um dos mais famosos escritores brasileiros. Para completar esta série baiana, a seção Frases homenageia o centenário de outro ilustre, Dorival Caymmi. Geise Assis Mascarenhas desvenda os segredos da culinária sustentável de Paraty (RJ), com fotos que por si só já são saborosas e ainda revela uma receita deliciosa. Nícia Ribas traz duas histórias incríveis – uma do Maranhão e outra sobre pesquisa com botos. Isabel Capaverde nos traz as últimas novidades em sua coluna Cinema Sustentável e apresentamos ainda artigos inéditos de Marcus Quintella e Roberto Saturnino Braga.
Carolina Araripe
Por Sônia Araripe, Editores de Plurale em revista
Boa leitura!
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CIEDS/DIVuLGAÇÃO
Conte xto
08.
entrevista cOM carlOs tufvessOn, Da cOOrDenaDOria esPecial Da DiversiDaDe sexual DO riO, POR SÔNIA ARARIPE
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Bahia:
iinstitutO s steve BikO, e ilhÉus,
BaZar ÉticO
POR PAuLO LIMA
36.
56.
Paraty, GastrOnOMia sustentável,
ParQue arQueOlóGicO De anGkOr Wat, nO caMBODja,
GEISE ASSIS MASCARENhAS,
POR GEISE ASSIS MASCARENhAS
POR CAROLINA ARARIPE
PELO BRASIL
POR NÍCIA RIBAS
PELO MUNDO
POR VIVIAN SIMONATO
46 e 56 CINEMA SUSTENTÁVEL
POR ISABEL CAPAVERDE
4
CAROLINA ARARIPE
18
65
DIVuLGAÇÃO
43.
POR TOM CORREIA
12.
artiGOs inÉDitOs POr Marcus Quintella e saturninO BraGa
PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2014
Quem faz
Cartas c a r t a s @ p l u r a l e . c o m . b r
Diretores Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcelo Tristão e Marcos Gomes Fotografia Luciana Tancredo e Eny Miranda (Cia da Foto); Agência Brasil e Divulgação Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Carolina Araripe (Blog Garota de Projetos), Cristina Curti (Envolverde), Fabiano Ávila (Carbono Brasil), Fernando Frazão (Agência Brasil), Fundação Grupo Boticário, Geise Assis Mascarenhas, Jean Pierre Verdaguer, João Felipe Toledo (Ascom do Cieds), Márcia Vaz e Luiza Genari (Fetranspor), Marcus Quintella, Paulo Lima (Balaio de Notícias), Raquel Ribeiro; Raphael Lima, Tata Barreto, Tatiane Amorim (Fotos/ Cieds), Roberto Saturnino Braga e Tom Correia.
Impressa com tinta a ` base de soja Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: WalPrint
Plurale em Revista é impressa em papel certificado, proveniente de reflorestamentos certificados pelo FSC de acordo com rigorosos padrões sociais e ambientais. Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Plurale em revista, edição 38 “Caras Sônia e Isabella, Recebi as revistas. Agradeço muitíssimo a matéria sobre o Seminário Internacional de Responsabilidade Social, Empresarial e Sustentabilidade (SIRSS), realizado pelo Sistema Fiemg. Abraços!” Laura Boaventura de Andrade, Gerência de Desenvolvimento Social, SESI - Serviço Social da Indústria, SISTEMA FIEMG - Federação das Indústrias de Minas Gerais, Belo horizonte (MG) “Christian, Você incendiou-nos com essa análise crítica do panorama social em que nos vemos um tanto atordoados e assim cutucou o gigante que voltou a dormir depois de breve espreguiçada. Essa indignação é a solução para nossa nação, dos indigentes aos bem posicionados cidadãos deste país de instituições mal estruturadas. E será a educação, sem dúvida, que nos fará duvidar dessas tantas e tontas farsas políticas, econômicas, sociais em que a nação é levada a adormecer sua consciência à mercê de muitas estórias da carochinha, bois da cara branca, entre outras. Parabéns pelo fôlego para uma tal complexidade.” Ivan Maia, Professor Adjunto na unilab - universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, Fortaleza (CE) “Christian, Mais uma vez tenho o prazer de ler seus artigos, sempre com alta capacidade de síntese reunindo as partes de um quebra-cabeça que parece não ter fim e conseguimos, enfim, enxergar o quadro de acúmulo de nexos e camadas do fato social total e podemos combinar a frase: é isso aí que todos os brasileiros estão sofrendo. Agora, vamos dar nome aos bois (não quero falar de bois, pois estaremos xingando esses belos e dóceis animais), digo os sujeitos institucionais históricos que usam e abusam desse Brasil como quintal do lixo tecnológico, material, cultural, financeiro e vem para cá ou para turismo sexual, ou para fugir dos roubos e falcatruas em seus próprios países, ou para casar e ter visto permanente e financiar a máfia da comunicação, das telecomunicações, da jogatina, da pornografia, das armas, das drogas e do governo. Alguns os chama de reptilianos, mas para mim são a escória humana. O gigante acordou e com os investimentos em educação, não dormirá mais.” Patricia Almeida Ashley, professora da uFF (RJ), Rede Ecociências e Ecocidades
“Nélson Tucci, Pura verdade o seu artigo “O caso Tinga e a estratégia do tacape e da borduna” em Plurale em site. O ser humano chega a ser desprezível puramente egoísta, com suas convenções e moralismos. Quem é perfeito e correto a tal ponto de apontar e dizer seja assim ou faça isso, impondo modos e medidas? Ninguém é melhor do que ninguém. Todos somos cheios de defeitos. Muitos são egoístas e prepotentes, cheios de moralismos e preconceitos.” Andréa Guadalupe, por email “Sônia Mando este e-mail em nome de Gustavo Pimentel, da SITAWI Finanças do Bem, para agradecer a gentileza do envio da edição 37 da revista Plurale. Aproveitamos para manifestar nosso apreço pela publicação de vocês. Plurale nos traz sempre conteúdo diversificado, abordado com profundidade e atualidade, e a qualidade da informação se destaca tanto nas matérias, quanto nas colunas e artigos, numa contribuição fundamental para consolidar a imprensa especializada em Meio Ambiente e Sustentabilidade no Brasil. Obrigada.” Beatriz Carvalho Diniz, Comunicação e Marketing da SITAWI - Finanças do Bem/ Finance for Good, Rio de Janeiro (RJ) “Olá, Sônia Aqui é Guilherme Carvalho, secretário executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Estou escrevendo para agradecer pelo espaço que a Plurale vem dedicando aos eventos que temos promovido; em especial ao Vegfest, que foi um tremendo sucesso graças a este tipo de veiculação. A mídia raramente apresenta a opção vegetariana com tanta simpatia. Além disso é muito bom estar presente em uma publicação que fala de sustentabilidade com o devido embasamento. Um abraço e um grande obrigado! Guilherme Carvalho, Secretário-executivo da Sociedade Vegetariana Brasileira, de São Paulo, por e-mail “Cara Sônia O terceiro encontro anual da Plataforma Liderança Sustentável foi um sucesso. Cerca de 320 convidados prestigiaram o evento presencialmente. E quase 2 mil acompanharam a transmissão online. Certamente, o seu apoio foi fundamental para esse resultado. Mais uma vez, muito obrigada pelo seu apoio. Seguimos juntos!” Ricardo Voltolini e Cláudia Piche, Editores da Ideia Sustentável, São Paulo (SP), por email
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Participantes
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Empresas
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Atrações internacionais
60
Palestrantes Workshops com especialistas Competição de start-ups Sessões vivenciais em projetos Programação pós-evento
2 dias
De grande aprendizado
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Entrevista Foto: Tata Barreto / Cieds
CARLOS tufvessOn,
estilista e titular da coordenadoria especial da Diversidade sexual do rio
“O preconceito é o grande mal do século”
estilista é reconhecido por suas coleções e também pelo engajamento na causa lGBt. t em t. entrevista à Plurale fala sobre o trabalho atual, o combate à homofobia, o preconceito da sociedade, a repercussão da causa em novelas e também no segmento empresarial. Por Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Fotos: Raphael Lima, Tata Barreto e Tatiane Amorim/ Cieds, Divulgação
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ue ninguém se iluda. Por trás da aparência à primeira vista frágil, esteja certo que aqui se esconde um “hércules” quando o assunto é defender a militância LGBT. O famoso estilista Carlos Tufvesson transita com habilidade entre linhas, agulhas, assim como em passeatas e seminários sempre em defesa de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais. Titular da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual da Cidade do Rio de Janeiro, criada pela Prefeitura do Rio,
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Tufvesson, que já militava há cerca de 18 anos, se engajou dia e noite pela causa. Em entrevista à Plurale, ele conta que ainda há muito preconceito sim e como tem sido o trabalho de combate à homofobia. “Educação. Educação. Educação. Esse medo do que nos é diferente vem de uma insegurança muito orquestrada por pessoas de imensa má fé. Creio que chegou a hora da sociedade entender sua importância para que o estado democrático de direito seja de fato assegurado em nosso país”, afirma. Esclarecido, com acesso ao que há de mais moderno e atualizado no mundo em defesa da diversidade, o carioca não hesita em denunciar o que chama de “bandeira
PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2014
política”. “Preocupa-me ver como o preconceito vem sendo usado como bandeira política, tornando até os políticos muitas vezes “escravos eleitoreiros” desse sistema que nada tem em prol do cidadão”, denuncia. Após duas décadas juntos, Carlos Tufvesson casou-se no ano passado, em cerimônia cercada de amigos e as famílias com o arquiteto André Piva. Não conseguiu oficializar na Justiça, mas nem isso tirou o encantamento da união oficialmente selada. O estilista e militante defende a união estável entre pessoas do mesmo sexo, fala sobre a abordagem do tema em novelas recentes e sobre a diversidade no mundo corporativo. Acompanhe a entrevista à Plurale.
Militar é acreditar que você é parte da transformação em uma sociedade melhor e mais justa, onde todos possam ter seus direitos igualmente reconhecidos” Plurale em revista - Qual a sua análise do movimento LGBT hoje no Brasil? Avançou ou deveria já ter avançado mais? Carlos Tufvesson - Depende do pontode-vista. Se analisarmos o modelo clássico de militância, orgânico, com exceção das paradas, acredito que houve uma perda de representatividade pela adoção nos últimos anos de uma estratégia de ação muito ideológico partidária que terminou por afastálo de seus representados, pois somos de todas as ideologias, raças, religiões. E por isso plural e inclusivo. Como deve ser um movimento de direitos humanos. Mas outras formas de militância foram surgindo hoje muito representadas nas redes sociais. O que também não é um avanço, pois ela vai até certo ponto e desconsidera toda uma questão histórica que tem um movimento para ter força e coerência! Mas também é louvável perceber que a militância LGBT no Brasil não está restrita ao movimento dito organizado. Ela possui também uma grande diversidade de LGBTs que lutam por direitos de forma autônoma. Militar é acreditar que você é parte da transformação em uma sociedade melhor e mais justa, onde todos possam ter seus direitos igualmente reconhecidos. Plurale - Ainda há muito preconceito da sociedade de uma forma geral? Tufvesson - É notório que avançamos na luta contra o preconceito. Em contrapartida, vivemos num período de instrumentalização da informação, um populismo perigoso e um maniqueísmo exacerbado presente na vida de todos nós. Nada do que já não
tenha acontecido na história e, por isso, já deveríamos saber como agir. Preocupa-me ver como o preconceito vem sendo usado como bandeira política, tornando até os políticos muitas vezes “escravos eleitoreiros” desse sistema que nada tem em prol do cidadão. Se antes tínhamos o famoso voto de cabresto – dos coronéis do Nor Nordeste – hoje esse cabresto apenas mudou de mãos. Vivemos em nosso país um período de intolerância nunca visto antes. Hoje em dia, grupos religiosos tentam impor as regras de sua religião para toda nossa sociedade independente da religião do outro, como se o seu Deus “fosse melhor” do que o de outro cidadão. Obviamente, a certeza da impunidade contribui muito para esse flagrante desrespeito diário ao código penal. E me deixa perplexo ver que tudo é gravado e postado no “You Tube” na certeza da impunidade, como em um desafio ao Estado Democrático de Direito. Plurale - Você é um designer de moda famoso, reconhecido também no exterior, bem remunerado e decidiu arregaçar as mangas pela causa LGBT. Alguns amigos e familiares ficaram surpresos com o seu engajamento na causa ou aceitaram bem? Enfrentou preconceito? Tufvesson - Milito há 18 anos nesse país por direitos civis e humanos. Meus amigos, as pessoas à minha volta e o público que me acompanha sabe que além de assinar coleções e ser um profissional de moda, meu papo como cidadão sempre foi o de militante por direitos civis, igualdade e, numa área da saúde, na área de DSTs/AIDS.
Pela coerência e seriedade, sempre recebi muito apoio de diversas formas e conto com meus amigos sempre para divulgar o trabalho da nossa Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual. Não enfrentei preconceito, só recebi coisas boas. Se enfrentasse preconceito de um amigo, logo perceberia que essa amizade não valeria a pena. Plurale - O que falta, na sua avaliação, para que a diversidade sexual seja aceita pela sociedade de uma forma geral sem preconceito? Tufvesson - Educação. Educação. Educação. Esse medo do que nos é diferente vem de uma insegurança muito orquestrada por pessoas de imensa má fé. Creio que chegou a hora da sociedade entender sua importância para que o estado democrático de direito seja de fato assegurado em nosso país. É deprimente ver hoje muitas pessoas estimulando o ódio dos preconceitos (seja racial, de gênero, religioso, etc) como bandeira política. Como basta entender a história pra vislumbrarmos o futuro, cabe lembrar que métodos semelhantes foram usados por Hitler ao mandar para os campos de concentração judeus, homossexuais e ciganos. Nosso país hoje está sendo denunciado em cortes internacionais por romper tratados de direitos humanos do qual o Brasil é signatário. Isso é temerário! Os crimes de ódio crescem por aqui há seis anos e numa curva ascendente sem sinal de política pública efetiva para combatê-los. Pelo contrário. Cada dia que passa, tem alguém querendo “pendurar uma melancia no pescoço”, falando qualquer barbaridade racista, pra cavar um
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Entrevista
Se eu não sou negro e luto contra o racismo, não sou judeu e luto contra o antissemitismo, não sou mulher e luto contra o machismo, ora, ninguém precisa ser gay pra lutar contra a homofobia ou transexual pra lutar contra a transfobia. Basta ser humano. Basta ser cidadão” cantinho num programa, mesmo que de meio ponto no Ibope. É assustador! Há não muito tempo, essas pessoas tinham vergonha de se manifestar. Hoje são orgulhosas de seus racismos e suas variadas formas (homofobia é o racismo de origem sexual). Plurale - Que avanços já foram conseguidos com o trabalho da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual? O que ainda falta por ser feito? Tufvesson - Cerquei-me de uma equipe, com total liberdade de escolha e critérios exclusivamente técnicos, que embarca comigo com dedicação e profissionalismo como
em tudo o que fazemos em nossas vidas. E nesse ritmo, completamos três anos de existência com muitas realizações efetivas não só em prol da população LGBT, como para todos os cariocas e turistas. Nosso desejo é de um Rio igual para todos, um Rio livre de discriminação, conforme diz a lei orgânica de nosso município, art. V, parágrafo 1º (“Ninguém será discriminado, prejudicado ou privilegiado em razão de nascimento, idade, etnia, cor, sexo, estado civil, orientação sexual, atividade física, mental ou sensorial, ou qualquer particularidade, condição social ou, ainda, por ter cumprido pena ou pelo fato de haver litigado ou estar litigando com órgãos municipais na esfera administrativa ou judicial”). E os avanços podem ser sentidos na forma como nosso programa Rio sem Preconceito é reconhecido pela população carioca hoje em dia. Trabalhamos incessantemente propostas de políticas públicas de promoção de cultura de respeito à livre orientação sexual e identidade de gênero que favoreçam a visibilidade e o reconhecimento social do cidadão e da cidadã LGBT carioca - lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais no Município do Rio de Janeiro. Plurale - A homofobia ainda está enraizada em parte da sociedade. Como isso poderá ser vencido? Tufvesson - Somente quando entendermos que a luta contra a homofobia e suas variadas formas todas pérfidas de ação, são nocivas a toda nossa sociedade de devem pela união de todos nos pessoas de bem ser combatida. Se eu não sou negro e luto contra o racismo, não sou judeu e luto contra o antissemitismo, não sou mulher e luto contra
o machismo, ora, ninguém precisa ser gay pra lutar contra a homofobia ou transexual pra lutar contra a transfobia. Basta ser humano. Basta ser cidadão! Plurale - A legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo pode ajudar neste processo da sociedade deixar de ser tão conservadora? Tufvesson - Pode não. Já ajudou! Quando o STF reconheceu por unanimidade a isonomia de direitos civis aos casais do mesmo sexo, já tirou aquele ranço que os de má fé tentam impor a sociedade: que a relação entre duas pessoas do mesmo sexo não é uma relação de amor, mas sim sexual. E promíscua! Esse foi um dia emocionante para todos nós militantes. Mas ao mesmo tempo, imaginem, que louco ter de lutar tanto por direitos que já são nossos desde nascer. Juridicamente falando, nossa constituição assegura isso. O Art. V diz que a lei é igual para todos! Se todos somos iguais perante a lei, independente de gênero, não há porque os direitos assegurados a dois cidadãos em união ter distinção quando forem do mesmo sexo. O preconceito é um grande atraso, é o mal do século. Por isso, creio que a luta não acaba, ela evolui. Talvez no dia que não existirem mais crimes no mundo, podemos dizer que estamos bem. Mas acho que o ser humano caminha para um lado oposto, o da autodestruição. Somos o único animal que cospe na água que bebe ou mata por esporte. Ou por maldade mesmo. Cabe a nós mudarmos essa posição. Plurale - E o casamento de vocês? Apesar de não terem conseguido casar na Justiça, como foi a emoção do casamento com amigos e família? Tufvesson - Veja o absurdo. Negaram-nos um direito já reconhecido pelo STF. Veja a que ponto vai o preconceito! Ouvir de um magistrado que ele desconhece a decisão do Supremo Tribunal Federal, proferida seis meses antes, é jocoso. Mas somos guerreiros de luz, então treva nenhuma estragaria aquele dia lindo, emocionante de amor, juntos de nossas famílias e amigos mais
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2014
queridos! Foi uma emoção indescritível. Fomos abençoados por nossas mães, pessoas que lutam pelo amor e com minha querida avó, que já faleceu e infelizmente não pode ver seu neto casado civilmente. Mas vejam como esse é um grande exemplo do porquê de tanta luta. E do porquê de não termos tempo pra esperar. Apenas porque um juiz de primeira instância se recusou, por seu entendimento meramente pessoal, a seguir a decisão do STF me negando o direito à plenitude de minha cidadania. Minha avó se foi antes de ver seu neto casado civilmente de acordo com as leis de nosso país. E isso jamais perdoarei esse senhor. Mas ao contrário do que você citou na pergunta, o casamento civil é um direito assegurado aos casais do mesmo sexo em nosso país. Plurale - A novela “Amor à vida” tem na trama central o amor de homossexuais e a próxima novela, de Manoel Carlos, também terá. Isso ajuda ou não a causa? Tufvesson - “Amor à Vida” discutiu a vontade de gays terem filhos e isso é positivo. O jeito primoroso como o Thiago Fragoso moldou o Niko fez com que o público esperasse pelo marcante momento do beijo entre ele e o Félix. O beijo foi uma resposta. Não tinha um contexto bem definido para que esse beijo rolasse antes. Agora teve uma grande torcida e isso fez a diferença. Claro que ajuda a causa. Ajuda a entender o amor entre pessoas do mesmo sexo. Um amor que tem vontade de construir, unir e seguir em frente, como todo amor de verdade. Acredito que “Amor à vida” tenha seguido um caminho construído muito bem pavimentado pelo Gilberto Braga em “Insensato Coração”. Naquela trama, o crime de ódio por homofobia foi discutido mostrando os horrores dos ataques, mas também da importância de denunciar como única forma de ter seus direitos civis garantidos. Fomos inclusive consultados na época para falar de nossa lei municipal, pioneira no país, que pune estabelecimentos comerciais e órgãos municipais pelo atendimento diferenciado e inibição da manifestação do afeto. O diferencial, e a grande sacada do Walcyr, foi a construção do personagem Niko, um cara do bem, família, que luta para poder ter a guarda de seu filho, amar. Como é a maioria dos casais, inclusive os do mesmo sexo (filhos a parte). E isso conquistou o público e fez com
que o beijo fosse uma demanda do povo brasileiro. Não foram os LGBTs a escreverem pra Globo pedindo esse beijo. E essa é a grande virada de nossos tempos, dessa cena que parecia final de copa do mundo! Como se vê tanta intolerância e esse fundamentalismo criando uma “guerra santa marqueteira” contra cidadãos gays desse país, percebemos que o povo brasileiro não aceita esse ódio, ainda mais quando se refere a violência que hoje vemos estampadas nas páginas de nossos jornais diariamente de jovens LGBTs perseguidos por crimes de ódio. A dor, tristeza que traz a uma família não pode ser aceita por ninguém de coração. Essa impressão que faz
parte e uma religião! NÃO FAZ! É sempre muito “opinião pessoal”. Sou religioso e fico muito à vontade para falar isso. Plurale - Muitas empresas se dizem liberais, que aceitam a opção sexual de seus funcionários. Mas, na prática, isso não é bem assim, sabemos disso. Gays têm dificuldade de se assumir em alguns segmentos e muitos até evitam para não sofrerem discriminação profissional. Você acredita que isso está começando a mudar? O movimento LGBT tem conseguido mudar também este preconceito entre o mercado corporativo? Tufvesson - O “movimento” somos nós. Melhor exemplo disso é a campanha ““It Gets better”, feita pela NASA. Só é triste constatar que vivemos em um mundo onde empresas precisem, devido ao alto índice de suicídio de adolescentes LGBTs, fazer campanhas pra dizer a eles que “segurem a onda e não se matem. Quando você ficar adulto, você conseguirá segurar a barra”. Por que a pessoa por ser LGBT tem de ser submetida a humilhações, ameaças e tanto sofrimento que sabemos fazer parte da vida dos LGBTs? E não por ser algo próprio, mas pelo enorme preconceito vindo de uma sociedade heteronormativa que vivemos. Até quando? Sempre nos perguntamos: até quando o Estado brasileiro resolver cumprir a Constituição e governar para todos resguardando o direito das minorias, que é quem mais precisa da tutela do Estado. E isso em nosso país não tem acontecido.
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Colunista Roberto Saturnino Braga
O DESENVOLVIMENTO
SOCIAL
H
á uma forte ascensão social no Brasil, tão noticiada e evidente que dispensa comprovação de dados estatísticos. Essa ascensão resulta da ação de alavancas econômicas reconhecidas: o crescimento do emprego; o crescimento dos salários e das rendas do trabalho puxado pela valorização do salário mínimo; as transferências feitas pelo sistema previdenciário universalista; vários programas de redistribuição de renda sendo o Bolsa-Família o mais importante; o acesso mais fácil das famílias ao financiamento bancário. Como há também a ação de alavancas eminentemente sociais, como os vários conselhos criados juntamente com dispositivos legais de promoção da igualdade racial e da igualdade de gênero; outros de combate à violência contra
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mulheres, contra homossexuais e contra crianças e adolescentes. Essa gigantesca movimentação social que transferiu dezenas de milhões de brasileiros da pobreza para a condição de dignidade resultou, sim, em última instância, de uma decisão política da sociedade de retomar o comando da economia pelo Estado para promover, planejadamente, o desenvolvimento segundo um novo modelo que prioriza a redistribuição da riqueza nacional em busca de mais justiça, admitindo taxas mais modestas de crescimento do PIB. Desta maneira, politicamente, pela via democrática, criou-se no Brasil um enorme contingente de classe média nova que constituirá, com certeza, uma verdadeira fortaleza contra novos atentados à democracia e, ademais, uma força de empuxo para aperfeiçoamentos dessa democracia em direção a formas mais participativas, isto é, mais democráticas. A primeira etapa do desdobramento desta formidável ascensão tem que ser a
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universalização do ensino médio. É desdobramento e exigência; é o alicerce sólido desta nova classe média, coluna vertebral da nova sociedade e da Nação. Evidentemente houve também grande progresso nesta área: a taxa de escolarização dos jovens de 15 a 17 anos, que era de menos de 60% no início dos noventa hoje ultrapassou bem a faixa dos 80%; mas é preciso chegar bem mais perto dos 100%. É condição absolutamente necessária: são 1,5 milhões de novas matrículas a preencher rapidamente. A qualidade também melhorou, como atestam os resultados do ENEM (o Exame Nacional do Ensino Médio). Pois que continue melhorando. Necessariamente O conhecimento, pelo lado econômico tão decantado na mídia, é o capital mais importante de um povo no seu trabalho produtivo. Da perspectiva política e humanística, de outro lado, não tão enfatizado, é o fator mais importante, decisivo mesmo, para a compreensão do mundo, a busca da felicidade e o exercício da cidadania numa sociedade. A existência dessas duas perspectivas enseja o debate entre as posições que priorizam
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A Democracia é o diálogo construtivista que se funda na efetiva igualdade dos interlocutores, com seus interesses e expressões reconhecidos mutuamente em plenitude.
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ora a formação geral, ora a formação profissional no ensino médio. É saudável que esta polêmica se desenvolva desde que seu resultado seja a priorização de ambos os tipos de ensino; desde que o ensino profissional seja gratuito mantendo a boa qualidade do que é ministrado pelas entidades patronais do sistema S; e desde que este ensino profissional tenha um mínimo de conteúdo humanístico que conduza o jovem à maturidade social ademais da perícia no seu trabalho. É saudável, também, a polêmica mais atual sobre o uso das novas tecnologias para o alargamento da abrangência do ensino médio e superior. Não sou dos que condenam o ensino à distância como algo necessariamente limitado na sua capacidade de transmitir humanidades, além das técnicas. A limitação, a meu juízo, não está neste ponto mas no fato de serem os cursos à distância um tipo de aprendizado solitário, que retira o estudante da convivência, tão absolutamente necessária na juventude, o momento vital propício às amizades e às afeições, ao aprendizado da convivência humana. O processo da educação compreende, obrigatoriamente, o ensino do diálogo, e o ensino à distância é próprio para pessoas maduras, que já ingressaram no mundo do trabalho, tendo ou não aprendido a dialogar e a conviver.
A leitura e o comentário de obras literárias, na medida em que mostra diferentes aspectos do grande diálogo da vida humana, pode suprir carências e enriquecer muito a capacidade de compreensão dessas pessoas que ultrapassaram a chamada idade escolar e procuram o conhecimento à distância. Essa leitura deveria ser obrigatória nesses cursos de formação na fase adulta. E obviamente, constituindo parte essencial das referidas Humanidades, é de importância decisiva também na formação da juventude. A compreensão de que a educação primordial ensina sobretudo o diálogo deve estar presente especialmente na mente dos professores e conformar toda a sua atividade em sala de aula. Deve presidir toda a política de educação de uma nação democrática que quer ser cada vez mais democrática. A Democracia é o diálogo construtivista que se funda na efetiva igualdade dos interlocutores, com seus interesses e expressões reconhecidos mutuamente em plenitude. As tecnologias novas podem e devem servir à construção desse modelo mais democrático que será a grande realização da Humanidade no novo século, podendo o Brasil ter um papel da maior importância nessa construção, impelido precisamente por esse dinamismo social de sua nova política.. O mundo, postado num interregno de crise, aguarda indicações de rumo. A América do Sul, com um presidente operário no Brasil ainda em plena liderança; um presidente revolucionário na Venezuela recentemente desaparecido mas com sua imagem ainda viva; um presidente índio na Bolívia ainda no poder; um presidente filósofo no Uruguai que abre caminhos novos para o mundo; um presidente que constrói a Cidade do Saber no Equador; e uma presidenta socialista que retorna ao poder no Chile para remodelar toda a educação e a previdência; esta nova América do Sul, que os elegeu, a todos eles, pelo livre voto popular, este novo Continente aponta novos rumos, e certamente será observado e escutado pela outra parte mergulhada na crise.
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Não sou dos que condenam o ensino à distância como algo necessariamente limitado na sua capacidade de transmitir humanidades, além das técnicas. A limitação, a meu juízo, não está neste ponto mas no fato de serem os cursos à distância um tipo de aprendizado solitário, que retira o estudante da convivência, tão absolutamente necessária na juventude, o momento vital propício às amizades e às afeições, ao aprendizado da convivência humana.
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Roberto Saturnino Braga é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre sustentabilidade. Ex-senador, com experiência pública de toda a vida, coordenador da ONG Instituto Solidariedade Brasil, autor de vários livros. O último é “Ética e Política” (Editora Contraponto).
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Artigo Marcus Quintella
a frOta naciOnal De veÍculOs e a MOBiliDaDe urBana
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dos pelo Denatran, podem comprovar os danos ambientais e os congestionamentos responsáveis pelo sofrimento da população. Quando escrevi o artigo citado, em março de 2011, o Brasil possuía uma frota registrada de 66 milhões de veículos, sendo 38 milhões de automóveis. Isso correspondia a quase 8 veículos por km2 ou um veículo para cerca de 3 habitantes. Se considerarmos a área média ocupada por um veículo em aproximadamente 12 m2, todos os veículos da frota brasileira, colocados lado a lado, ocupariam uma área de cerca de 794 km2, equivalente ao município de Campinas-SP ou ao município de Angra dos Reis-RJ. Atualmente, o Brasil contabiliza uma frota registrada de aproximadamente 83 milhões de veículos, sendo 46 milhões de automóveis, que corresponde a quase 10 veículos por km2 e, se colocados lado a lado totalizariam a área de 996 km2, a mesma dos municípios de Itápolis-SP e de Nova Friburgo-RJ. Nesse período de 36 meses, houve um aumento de 25,8%
Agência Brasil
m março de 2011, na edição 21 da revista Plurale, escrevi o artigo intitulado O sofrimento humano causado pelo transporte público, para alertar que a precariedade da mobilidade urbana das grandes cidades brasileiras é um extraordinário problema ambiental antrópico, altamente prejudicial às condições da saúde física e mental e limitador do lazer, trabalho e das relações sociais das pessoas. Hoje, três anos depois, o problema dos congestionamentos está significativamente mais grave, visto que seus números crescem de forma expressiva e impiedosa, enquanto as medidas mitigadoras caminham em ritmo bastante lento. Como o modo de transporte predominante e persistente em nosso país ainda é o rodoviário, movido pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e óleo diesel, grandes emissores de gases tóxicos na atmosfera, somente um olhar para a quantidade de veículos que circulam nas metrópoles brasileiras, divulga-
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da frota nacional, que equivale a um crescimento médio de 7,95% ao ano, bem acima do crescimento do PIB nacional. Em 2020, caso seja mantida essa taxa de crescimento, a frota nacional aumentará quase 60%, pois alcançará 131 milhões de veículos, sendo 73 milhões de automóveis, equivalente a 15 veículos por km2. Essa frota toda junta ocupará 1.572 km2, podendo cobrir inteiramente os municípios de LondrinaPR, Caxias do Sul-RS, São Paulo-SP ou Rio de Janeiro-RJ. Somente no município de São Paulo, onde existem os piores congestionamentos do país, o Denatran registra, atualmente, 7 milhões de veículos, com 5 milhões automóveis, que corresponde ao impressionante quantitativo de 4.596 veículos por km2 ou um veículo para quase dois habitantes. A área coberta por esses veículos é de 84 km2, a mesma área dos municípios de Itaquaquecetuba, Guarani d´Oeste e Parisi e superior a outros 44 municípios paulistas. O município do Rio de Janeiro contabiliza números mais modestos, mas também possui terríveis congestionamentos. Em terras cariocas, existem 2,5 milhões de veículos, com 1,8 milhões de automóveis, que corresponde a 2.113 veículos por km2. A área coberta por essa frota é de 30 km2, bem maior que o município de Nilópolis. Penso que os números acima explicam facilmente os problemas de mobilidade urbana das populações de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como das demais grandes cidades brasileiras, uma vez que os sistemas de transporte público dessas urbes ainda não conseguem retirar as pessoas dos congestionamentos diários, que tanto as penalizam e as maltratam. Para o leitor ter ideia dos problemas ambientais causados pelos absurdos nú-
Os congestionamentos produzidos por esse trânsito infernal custam muito dinheiro para a sociedade como um todo, prejudicam a saúde física e psicológica da população e atrapalham o crescimento econômico e social do país.” meros da frota brasileira, encontrei na Internet uma matéria com o professor Genebaldo Freira, pesquisador e diretor do Programa de Mestrado e Doutorado em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB), que cruzou os dados do Denatran e chegou à conclusão que, para neutralizar as emissões de gás carbônico da frota nacional de veículos, o Brasil precisaria aumentar em mais de 11 vezes a cobertura de Mata Atlântica atualmente existente. Para fins pedagógicos, o professor considerou que cada veículo roda, em média, 50 km por dia, utilizando o combustível utilizado majoritariamente, o gasol, mistura de gasolina e álcool, e que a média de emissão é de 150 gramas de CO2 por quilômetro rodado. Baseado nessas premissas pode-se estimar que a frota atual,
caso esteja rodando ao mesmo tempo, emite em torno de 205 milhões de toneladas de CO2 por ano, sendo necessários 1,13 milhões de km2 de Mata Atlântica para neutralizar essas emissões, área correspondente a 13,3% da superfície do país. O pesquisador ressalta que não possuímos essa biomassa disponível para efetuar esse trabalho, logo, grande parte dessas emissões se juntará às outras e aumentará a concentração do CO2 na atmosfera. Atualmente, de acordo com dados da Fundação S.O.S. Mata Atlântica, esse tipo de floresta ocupa apenas 1% do território brasileiro. Na mesma matéria, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) estima que, em 2020, o setor de transporte rodoviário poderá emitir cerca de 270 milhões de toneladas de CO2 na atmosfera, sendo que 36% dessas emissões virão da frota de caminhões, 13% de ônibus, 40% de automóveis e 3% de motocicletas. Esse indesejável e incontrolável crescimento da frota nacional de veículos, que coloca em circulação, diariamente, uma quantidade absurda de automóveis, ônibus, caminhões e motocicletas, provoca o caótico trânsito de nossas mais populosas cidades. Os congestionamentos produzidos por esse trânsito infernal custam muito dinheiro para a sociedade como um todo, prejudicam a saúde física e psicológica da população e atrapalham o crescimento econômico e social do país. Em outra pesquisa na Internet, a Secretaria de Estado dos Transportes Metropolitanos de São Paulo estima que as perdas financeiras com acidentes de trânsito, poluição e engarrafamentos em São Paulo ultrapassam R$ 4 bilhões por ano e o Instituto de Estudos Avançados da USP calcula em R$ 11 milhões as per perdas diárias da sociedade paulistana com tempo e combustível, nos congestionamentos. Em termos anuais, os custos com os congestionamentos chegam a R$ 3,3 bilhões, o tempo perdido pelas pessoas no trânsito atinge 240.000 horas, em média e são desperdiçados cerca de 200 milhões de litros de gasolina e álcool e 4 milhões de litros de diesel nos engarrafamentos da cidade de São Paulo. Em última análise, os números mostrados neste artigo são importantes para alertar as pessoas sobre o gravíssimo
problema que estamos vivenciando e ainda perdurará por muitas décadas, caso não haja um equilíbrio na matriz brasileira de transporte, entre os transportes rodoviário e ferroviário, visto que as projeções de crescimento para a frota nacional de veículos são alarmantes, os incentivos ao setor automobilístico são cada vez maiores e o crédito para a aquisição de automóveis é muito fácil e atraente. Certamente, o setor automobilístico é extremamente importante para a economia nacional, mas o país precisa prestar atenção no outro lado da moeda e não pode parar de continuar a investir pesadamente no setor metroferroviário das metrópoles e incentivar as ferrovias de carga e de passageiros de média e longa distância, para que a nossa matriz de transporte se torne mais justa, em termos sociais, econômicos e ambientais. A qualidade mobilidade urbana está diretamente relacionada à qualidade de vida da população urbana e ao desenvolvimento econômico e social das cidades. Marcus Quintella (marcusquintella@uol.com.br) é Colunista de Plurale, colaborando com artigos sobre Sustentabilidade e Transportes. Doutor em Engenharia de Produção pela COPPE/UFRJ, mestre em Transportes pelo Instituto Mi Militar de Engenharia, considerado um dos principais especialistas em transportes urbanos. Professor da FGV e do IME.
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Frases Dorival Caymmi O cantor e compositor de samba e bossa nova, mais conhecido pela música “O que é que a baiana tem” completaria 100 anos em 2014. Além de uma carreira brilhante na música, deixou como herdeiros de seu legado Danilo Caymmi, Dori Caymmi e Nana Caymmi. Baiano apaixonado por sua terra, amante da natureza, um poeta sempre inspirado, deixou em suas músicas ou em entrevistas algumas frases marcantes para a história.
“É doce morrer no mar Nas ondas verdes do mar” “Quem não gosta de samba bom sujeito não é É ruim da cabeça ou doente do pé.” “Sou o mesmo de quando me casei. Meus filhos são maiores de idade e já seguiram seus caminhos, mas eu continuo no mesmo ambiente de violão e livros” 16
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“Eles nos prometeram um Brasil que nunca aconteceu. Daí a melancolia da minha geração”
“O que eu vou fazer pra ficar em paz, pra não te esquecer nem lembrar de mais...”
“Eu guardo em mim, dois corações, um que é do mar um das paixões, um canto doce, um cheiro de temporal, eu guardo em mim um Deus, um louco um santo um bem um mal.”
“Descolar a retina é fácil. Difícil no Brasil é descolar uma grana”
SEMANA DAS ÁGUAS 2014. CIÊNCIA E INOVAÇÃO NA GESTÃO DAS ÁGUAS. Em comemoração ao Dia Mundial da Água, o Governo de Minas discute os desafios e perspectivas do uso da água para o futuro. A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável realiza, nos dias 25, 26 e 27 de março, a Semana das Águas 2014. O tema da Semana é Ciência e Inovação na Gestão das Águas, e serão discutidas questões relacionadas ao uso da água, desafios e soluções para a conservação e preservação dos recursos hídricos de Minas Gerais. Faça sua inscrição e participe!
Informações e inscrições pelo site: www.semanadasaguas.com.br
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P e lo B rasi l
ÊxODO nO MaranhÃO uma história de superação
Texto e Fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista De Manaus (AM)
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da de um pedaço de terra que possuía, Beth comprou as passagens de ônibus até Belém e de avião até Manaus para ela e as meninas, uma com 12, outra com seis anos. Logo arrumou emprego de carteira assinada e passou a receber salário míni-
criança, começaram a ajudar e acabaram adotando a Silmara, hoje com seis anos. Beth sai de casa antes do sol nascer e só volta ao escurecer. Com seu trabalho de diarista em casa de famílias e com a venda de produtos Natura e Romanel
mo. “Aqui só não é bom para quem não gosta de trabalhar, daqui não saio mais”, afirma, com a expressão alegre que lhe é peculiar e que o sofrimento não apagou.
nas suas idas e vindas para as casas das patroas, procurando sempre guardar um pouco do que recebe, Elizabeth da Glória Ferreira garante uma renda mensal acima de R$ 2 mil e acaba de adquirir um terreno, onde logo pretende construir, livrando-se do aluguel. Geyce, 21 anos, cursa a faculdade de Administração de Empresas e trabalha na Masa da Amazônia desde os 16 anos. As duas menores nunca faltam às aulas e ajudam no trabalho doméstico. Beth se considera uma vitoriosa. E é.
violência no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís (MA), que rendeu páginas na imprensa internacional, é apenas a ponta do iceberg da miséria que assola o Estado com um dos maiores índices de insegurança alimentar do País. A Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, que denunciou o Brasil à OEA (Organização dos Estados Americanos), apresenta dados assustadores: 1.6 milhão de pessoas sobrevivem em níveis extremos de pobreza e sem acesso à alimentação adequada. Essa situação de penúria tem provocado o êxodo dos maranhenses para outros estados brasileiros, em busca de empregos e de melhores condições de vida. Uma história que ilustra bem a crise do Maranhão é a de Elizabeth da Gloria Ferreira, 43 anos, maranhense de Pinheiro, que, em 2007, conseguiu fugir para Manaus com duas filhas. Ao ser questionada sobre o principal motivo para seu ato de coragem, ela, que no geral é sorridente e brincalhona, reflete por alguns segundos, franze o cenho, e responde com apenas uma palavra: fome. Criada pela avó, aos 12 anos, Beth foi para São Luís e começou sua vida profissional, trabalhando em casas de família. “Trabalho tinha, mas pagavam muito pouco”, lembra ela. Aos 23 anos, engravidou de Geiyce e, aos 29, de Gabriele. Salário mínimo ela nunca recebeu pelo trabalho doméstico. Moravam de favor na casa de um tio, numa situação insuportável, que ela nem gosta de lembrar. Quando conseguiu mudar-se para um lugar só dela com as filhas, o ganho era tão escasso que Beth guardava seu almoço para levar para as meninas. Geyce, com seis anos, cuidava do bebê Gabriele e Beth emagrecia. Ela ouvia falar de outras cidades onde havia boas chances para quem quisesse trabalhar. Uma de suas irmãs e o marido tinham se mudado para Manaus e a animaram a tentar a sorte por lá. Com a ven-
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Vida que segue Instalada num casebre na periferia da cidade de Manaus, Beth percebeu que na casa vizinha, um casal totalmente desajustado, com problemas de drogas, maltratava a filha recém nascida. Ela e as filhas, penalizadas com a situação da
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Luciano Candisani
Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza: Edital financiará projetos de conservação em todo o Brasil Da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza está com seu tradicional Edital de Apoio a Projetos de conservação aberto. A submissão de propostas é realizada exclusivamente pelo site http://www.fundacaogrupoboticario.org.br, até 31 de março. Em média, a cada edital são aprovadas 20 iniciativas e o valor total dividido entre os selecionados soma em torno de R$ 750 mil. Podem concorrer ao apoio financeiro projetos que contribuam para a conservação da natureza em todas as regiões do Brasil e que sejam realizados por
instituições sem fins lucrativos, como organizações não governamentais ou fundações ligadas a universidades. O processo de seleção das propostas inscritas nos editais é independente: os pareceres são emitidos por 123 especialistas de todo o país que atuam como consultores voluntários. A aprovação final é feita pelos membros do Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário, que inclui profissionais de renome das áreas de conservação da natureza, direito ambiental, comunicação e gestão.
Sustentabilidade na TV é uma marca que o programa ECO Negócios pretende consagrar. Lançado no último dia 18 de fevereiro, levou como primeiro tema a inclusão. “O social é um dos pilares do triple bottom line, reforçado pela discussão que permeia o Brasil nos últimos anos”, justifica o seu criador e apresentador Nelson Tucci. Veiculado em canal fechado, no ABC Paulista, também pode ser acessado pelo canal da ECO TV no Youtube e é amplamente divulgado por Plurale. “Quando você lança um produto na mídia é interessante que seja suportado por um grande volume de recursos e fundamental sair com muita credibilidade”, comenta Nelson Tucci, que também é colaborador de Plurale. “No nosso caso, saímos sem recursos financeiros mas dentro de uma TV regional de boa imagem reputacional e apostamos na credibilidade de toda a equipe que o produz. Fazer parceria com Plurale foi algo extremamente relevante para o ECO Negócios, porque além da sinergia temática a revista e o site possuem uma história embasada na credibilidade e no ativismo das causas cidadãs”, completa o jornalista.
Renata Costa/ECOTV
ECO Negócios estreia na ECO TV com apoio de Plurale
O jornalista e apresentador do programa, Nélson Tucci (E) entrevistou o advogado, exconsultor da ONU e coordenador do curso de Direito da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, Vander Andrade, que falou sobre “educação de valor” e preconceito.
A ECO TV está no Canal 9 da NET ABC. O programa vai ao ar às 3ªs, 21h, e reprisa aos sábados às 17h30. No Youtube o endereço é redeecotv.com.br “O desafio é grande, pois estamos em uma região politizada,
com 2,6 milhões de habitantes, onde praticamente 50% são cobertos pela NET. Agora o desafio maior é levar a informação correta, ajudar a pensar e acima de tudo praticarse a sustentabilidade”, finaliza Tucci.
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Boto do araguaia,
Prazer em conhecê-lo!
ainda há muito o que descobrir na amazônia Texto e Fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista De Manaus (AM)
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comunidade de mamíferos aquáticos da Amazônia está mais rica desde a recente descoberta de uma nova espécie no rio Araguaia, o Inia araguaiaensis, que está sendo chamado de Boto do Araguaia. Desde o ano 2000, um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) vêm realizando estudos e acabaram descobrindo uma nova espécie de boto e chamando a atenção do mundo científico para o Brasil. “Na Amazônia existem hoje três espécies de botos: aquela com maior distribuição ((Inia Inia geoffrensis geoffrensis), ), a que está restrita à Bacia do Rio Madeira e rios da Amazônia Boliviana ((Inia Inia bioliviensis bioliviensis)) e agora a espécie restrita à bacia Tocantins- Araguaia ((Inia Inia araguaiaensis araguaiaensis)”, )”, revela à Plurale, a bióloga do Inpa que participou da descoberta, Vera Maria Ferreira da Silva, que há cerca de 30 anos estuda os botos da Amazônia, tendo feito seu mestrado e doutorado sobre eles. O artigo científico descrevendo a nova espécie, liderado pelo pesquisador da UFAM Tomas Hrbek, foi publicado na revista científica PLoS One. Esta é a quinta espécie de golfinho de água doce já registrada em toda a História, sendo que a última havia sido descrita em 1918. Ele vem sendo chamado de “Boto do Araguaia” e se parece bastante com as outras espécies. O grupo de pesquisadores constatou algumas características próprias da nova espécie, como o crânio mais longo e a menor quantidade de dentes. O bico alongado, por exemplo, permite a caça de peixe na lama, no fundo dos rios. Segundo Vera, a avaliação do DNA do Inia araguaiaensis foi fundamental para a
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identificação da nova espécie. As análises genéticas foram feitas no Laboratório de Evolução e Genética Animal (LEGAL) da UFAM, e as de morfometria no Laboratório de Mamíferos Aquáticos do INPA. “Fizemos expedições ao longo de 2013 , com a ajuda da Força Aérea Brasileira e do Batalhão Ambiental de Goiás. Recolhemos alguns animais mortos que foram submetidos a análises moleculares. A avaliação do DNA mostrou que não há compartilhamento de linhagens. Outras espécies desconhecidas também podem existir na região”, diz ela. Foi constatado que a espécie se separou dos seus semelhantes da América do Sul há aproximadamente dois milhões de anos, quando houve mudanças geológicas no baixo curso do Rio Araguaia/ Tocantins. Hoje, eles vivem isolados. A Associação Amigos do Peixe-boi – AMPA (www.ampa.org.br), é apoiadora do Projeto Boto e financia parte dos custos com as pesquisas; por meio dos recursos do Projeto Mamíferos Aquáticos, patrocinado pela Petrobras, através do Programa Petrobras Ambiental. Risco de extinção O novo golfinho acaba de ser descober descoberto e já está ameaçado de extinção. Segundo estimativa dos pesquisadores, o total desses animais - que vivem na região próxima à barragem da Hidrelétrica de Tucuruí, no estado do Pará - não chega a mil e é considerada uma das espécies mais raras do Planeta. Vera ressalta a necessidade de um trabalho de preservação. Práticas como a pesca esportiva, a construção de hidrelétricas, o fluxo turístico e o bombeamento de água do rio para a irrigação das plantações de arroz da região representam grandes ameaças. “Os botos na Amazônia estão sendo mortos para uso como isca na pesca da piracatinga, um peixe que está sendo vendido em supermercados e feiras de Manaus
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e de várias cidades do Brasil com o nome fantasia de Douradinha. Existem vários movimentos e iniciativas da AMPA, wspa e SDSAmazonas para coibir essa prática. O boto do Rio. Araguaia sofre fortes pressões antrópicas - população fragmentada por inúmeras barragens construídas ao longo dos rios Tocantins e Araguaia, sendo a maior delas a de Tucurui, que isolou totalmente o contato dessa população com os congêneres do Rio Amazonas/ Rio Pará, margens dos rios destruídas pelas fazendas e programas agropecuários; turismo desordenado e pesca esportiva. Pescadores matam esses golfinhos com arma de fogo”, diz ela. Os três botos coletados próximos ao lago Jurumirim, no Rio Araguaia, para esse estudo, foram encontrados mortos com ferimento de bala. Já as amostras de tecido usados para as análises genéticas foram coletadas em duas expedições feitas especialmente para esse fim ao longo do Rio Araguaia, entre Barra do Garça e a confluência com o Rio Tocantins. Vera afirma que há chance de existir outras espécies desconhecidas de mamíferos aquáticos na Amazônia: “Ainda conhecemos pouco as espécies de mamíferos que ocorrem na Amazônia e poucas áreas de ocorrência foram estudadas do ponto de vista genético e morfológico. Todos os rios da bacia que apresentam corredeiras fortes e cachoeiras acentuadas com populações de botos à montante e à jusante desses potenciais obstáculos podem abrigar espécies ou subespécies diferentes do boto da calha do Rio Amazonas.” “Tanto rio, tanta vida, um mundo a ser descoberto e preservado pelas gerações futuras. Haja bom senso e amor à natureza, lugar de interação, ar puro, relaxamento”, diz ele num intervalo do bate-papo com outros ciclistas na Praça Burle Marx, uma das mais movimentadas do Parque.
Projeto Irrigar Saberes oferece oficinas de Gestão Social com ênfase em Empreendedorismo Social Iniciativa do Centro de Assessoria ao Movimento Popular – CAMPO selecionada no I Edital de Seleção de Projetos 2013 do Instituto Invepar, o Projeto Irrigar Saberes Sociais – Por uma Cidadania Participativa está capacitando em Gestão Social com ênfase no Empreendedorismo Social, através de oficinas gratuitas, moradores e lideranças de comunidades atendidas pela Linha 2 do MetrôRio. O objetivo do projeto é despertar nos participantes o interesse por gestão de políticas, programas e projetos sociais junto às organizações governamentais, empresariais e da sociedade civil, buscando o desenvolvimento comunitário. Entrando em sua segunda etapa, o projeto – iniciado em outubro do ano passado
Divulgação / O Campo
Do Rio de Janeiro
- já tratou, nas oficinas, de temas como “Gestão de Projetos Sociais”, “Direitos de Cidadania, Política e Legislação Social”, “Movimen-
tos Sociais e Controle Social”, entre outros, ampliando a visão dos participantes e contribuindo assim para futuras conquistas.
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Educação
a força revolucionária da educação há mais de 20 anos o Instituto Steve Biko vem despertando a consciência de jovens negros da periferia de Salvador e abrindo um horizonte profissional através do acesso ao ensino superior. Mas a iniciativa vai muito além disso. Tom Correia, Especial para Plurale em revista De Salvador (BA) Fotos: Divulgação - ISB
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m 1992, um grupo de nove amigos do Movimento Negro começou a se reunir nos jardins da Faculdade de Economia da Universidade Federal da Bahia, no centro de Salvador. O objetivo era a criação do primeiro prévestibular no Brasil dedicado aos afro-
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descendentes da escola pública, numa época em que as chances de aprovação eram mínimas. Assim surgiu o Instituto Cultural Steve Biko, como uma forma de combate à desigualdade flagrante vista nas salas de aula das faculdades da capital baiana e, especialmente, com propostas que mais tarde
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se revelariam como uma revolução silenciosa e frutífera: promover a ascensão político-social da população negra por meio da educação e do resgate dos seus valores ancestrais. Hoje, 22 anos depois, mais de 5 mil alunos oriundos da periferia cheia de problemas e limitações passaram
“É melhor morrer por uma ideia que vai sobreviver do que viver por uma ideia que morrerá” – Steve Biko
pelas salas do instituto. Mais de 1 mil deles foram aprovados e tiveram oportunidade de ver seus nomes nas listas de presença das faculdades baianas. E, nesse universo, há os que se graduaram, se pós-graduaram, desenvolveram projetos voltados à inclusão digital, participaram de projetos de ações afirmativas, tornando-se como uma espécie de infiltrados conscientes de seus valores e da necessidade de mudança de paradigmas em ambientes que continuam apostando em modelos arcaicos, socialmente estagnados. E, não raro, discriminatórios. Envolvida com a Biko desde os
difeRencial pedagógico A lei 10.639, em vigor no Brasil desde 2003, prevê a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura da África e Afrobrasileira em escolas públicas e particulares do ensino fundamental ao ensino médio. A proposta era estabelecer novas diretrizes no currículo para valorizar desde as religiões de
Negra (CCN). Com enfoque no resgate da cultura afrobrasileira, destacando questões da religiosidade, ancestralidade e nomes de ativistas que são referências na luta contra as desigualdades, o CCN influencia a postura e pensamento dos jovens negros. Para a maioria deles, ter o contato com esse novo mundo de informações se transforma num divisor de águas. O depoimento do Administrador Michel Chagas para o livro comemorativo “Bikud@s – Histórias de Cidadania e Consciência Negra” ilustra o nível da mudança. “Na verdade eu não tinha referencial. Não tive um professor ne-
matrizes africanas até o pensamento dos intelectuais negros. Na Biko, por sua vez, mais de dez anos antes da lei existir, já havia uma disciplina obrigatória para todas as turmas, considerada pelos educadores como o grande diferencial da instituição: Cidadania e Consciência
gro na faculdade e não sabia onde eu queria atuar. A Biko ampliou minha visão e me ensinou a ousar”, declara. Além do pré-vestibular, os jovens bikudos e bikudas, como são conhecidos e como se tratam os alunos do ICSB, também podem participar de uma série de programas oferecidos
proporcionar o ingresso de negras nas universidades com uma formação sólida em relação à conscientização. Mas queremos mais do que isso: a carreira deles deve estar a serviço da comunidade negra”, afirma.
“
nosso interesse é proporcionar o ingresso de negras nas universidades com uma formação sólida em relação à conscientização. Mas queremos mais do que isso: a carreira deles deve estar a serviço da comunidade negra de crescimento.
”
Jucy Silva
primeiros anos de fundação, quando os recursos se resumiam a um quadro negro, giz, xerox de apostilas e muita determinação, a educadora e diretora executiva do instituto, Jucy Silva, destaca a importância de se formar multiplicadores no ambiente acadêmico e profissional. “Nosso interesse é
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Educação
“
Cheguei até a última etapa de uma seleção para um programa de trainee de um grande banco privado, mas percebi que lá dentro eu poderia ter um bom emprego, mas não contribuiria diretamente para que jovens negros tenham oportunidades reais de crescimento.
Paulo Rogério Nunes
”
eventualmente a partir de parcerias com outras instituições nacionais e estrangeiras. Nessas duas décadas, já foram desenvolvidas ações como o Oguntec [ciência e tecnologia], o Dhar [Antirracismo e Direitos Humanos] e o Pompa [Projeto Mentes e Portas Abertas para exercício da liderança], além de programas de intercâmbio culturais. Um dos mais atuantes ex-alunos do Pompa é Paulo Rogério Nunes, 33. Nascido no Alto da Terezinha, subúrbio ferroviário de Salvador, vem desenvolvendo ações que se destacam pela seriedade e alto nível de engajamento. Foi um dos primeiros moradores do bairro a ter acesso ao nível superior e desde cedo esteve atento à configuração social desmedida que o cercava. Entretanto, ao concluir seu curso de Comunicação Social, ele não se acomodou. “Cheguei até a última etapa de uma seleção para um programa de trainee de um grande banco privado, mas percebi que lá dentro eu poderia ter um bom emprego, mas não contribuiria diretamente para
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que jovens negros tenham oportunidades reais de crescimento”, declara. Além de ser um dos fundadores do Instituto Mídia Étnica, que se dedica à promoção da diversidade étnica nos meios de comunicação, Paulo Rogério foi além das fronteiras: recentemente concluiu um curso na Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, onde estudou Jornalismo e Novas Mídias com uma bolsa do programa da Fulbright. Conheceu os principais veículos de comunicação do mundo, como o The New York Times, Washington Post, Bloomberg e rede ABC, além de estagiar no Media Lab do renomado Massachusetts Institute of Technology (MIT). Prêmios coletivos e individuais Os anos de atuação no combate à desigualdade renderam ao ICSB reconhecimento tanto para a instituição quanto para seus alunos. Em 1999, o
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Ministério da Justiça concedeu o Prêmio Nacional de Direitos Humanos; em 2003, foi a vez do Prêmio Cidadania Mundial, outorgado pela Comunidade Bahái do Brasil. Ainda em termos de premiação, um destaque individual é Sheila Regina Santos, 32. Moradora de Paripe, um dos bairros mais populosos do subúrbio ferroviário, ela sempre estudou em escola pública. Entre 2000 e 2001, ela teve um encontro que mudaria radicalmente a sua trajetória, com grande impacto também sobre a sua família: ela descobriu as aulas do ISB. “Foi lá que a prendi a me valorizar enquanto mulher negra e a lutar pelos meus objetivos. A Biko tem um papel fundamental na minha autoestima e na minha formação técnica e política”, revela. Em 2008, ela desenvolveu o trabalho “Oguntec: uma experiência de ação afirmativa no fomento à educação científica”, que lhe valeu o Prêmio Jovem Cientista do Conselho
“O racismo não implica apenas a exclusão de uma raça por outra - ele sempre pressupõe que a exclusão se faz para fins de dominação.” – Steve Biko
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [CNPq] e uma bolsa para um mestrado. Atualmente Sheila é professora substituta do Departamento de Estatística da Universidade Federal da Bahia [UFBA] com mestrado em Estatística pela Universidade de Campinas e doutoranda do programa de Pós-graduação em Educação da UFBA.
tempo de despeRtaR Os ambientes dos shoppings mais sofisticados de Salvador, uma das cidades com maior concentração de negros, pardos e afrodescendentes do mundo, são um dos termômetros explícitos da assimetria social que carregamos nas costas há séculos: trabalhadores negros e afrodescen-
dentes ocupam quase que exclusivamente postos de trabalho que exigem baixa qualificação e sem perspectivas de ascensão. Mas existem as exceções que escapam desse círculo vicioso e socialmente claustrofóbico. Ariana Reis, 32, estudou na Biko em 2000 e fez parte do Oguntec em 2002. Tinha 15 anos quando precisou socorrer o sobrinho que havia levado um corte na testa. Um médico os atendeu, a princípio mostrando-se muito simpático e extrovertido, mas durante o procedimento, Ariana contou que estudava muito para ser médica como ele. A mudança foi radical. “Naquele momento houve um silêncio Achei que ele não tinha escutado e repeti a frase com a voz mais alta. Foi quando ele me olhou seriamente com um olhar de reprovação como se dissesse ‘ponha-se em seu lugar’”, relata. O que aconteceu com a então adolescente sonhadora remete às palavras do ativista sul-africano que inspirou todo o conceito da ISB: “Vivi toda minha vida consciente dentro da estrutura de um ‘desenvolvimento em separado’, institucionalizado. Minhas amizades, meu amor, minha educação, meu pensamento e todas as outras facetas de minha vida foram formados e modelados dentro do contexto da segregação racial”. A colação de grau da Drª. Ariana aconteceu no dia 31 de janeiro. Ela quer se tornar cirurgiã.
saiBa Mais:
www.stevebiko.org.br 71 3241-8708
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Educação
“A arma mais poderosa nas mãos do opressor é a mente dos oprimidos.” – Steve Biko
O leGaDO De steve BikO na Bahia O sul-africano Steve Bantu Biko (19461977) foi um dos ativistas mais importantes na luta contra o regime de Apartheid em seu país. Pela sua atuação contra o sistema segregacionista, foi banido pelo governo, sendo constantemente vigiado e mantido incomunicável em sua casa. Foram proibidas citações de suas declarações e discursos até nas conversas informais nas ruas de Johanesburgo. Foi preso e acorrentado à uma janela da penitenciária, onde seria espancado até morrer aos 30 anos de idade. Biko acreditava que o resgate da autoestima da população negra era essencial para sua completa libertação.
investiMentO Da funDaçÃO cOca cOla PODe acelerar O PrOjetO Da faculDaDe steve BikO Pelas ações que vem desenvolvendo há mais de duas décadas, a Steve Biko foi uma das instituições brasileiras selecionadas pela The Coca-Cola Foundation e Instituto Coca-Cola para receber apoio financeiro visando novos projetos de inclusão. O investimento conjunto de R$ 5 milhões foi anunciado em janeiro deste ano e contou com a presença da presidente da CCF, Lisa Borders, neta de ativista de Direitos Humanos e o consultor Joe Beasley, que fez parte da comissão que selecionou as instituições beneficiadas. O apoio pode dinamizar um sonho antigo do ISB: a criação da Faculdade Steve Biko, que já conta com um imóvel no
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centro de Salvador doado pelo governo estadual em 2011. Entretanto, o antigo casarão de 504 m² precisa ser totalmente reformado.
Foto:Divulgação
Da esquerda para a direita: Joe Beasley, consultor americano em Direitos Humanos; Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola Brasil e Lisa Borders, presidente da The Coca-Cola Foundation
Coca-Cola Brasil anuncia investimento em projeto de inclusão para afrodescenDENtes brasileiros Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista
C
om a presença de vários representantes de ONGs e de entidades ligadas às questões afro-brasileiras, a Coca-Cola Brasil e a Coca-Cola Foundation, braço social da Coca-Cola mundial, anunciaram em 14 e janeiro investimento conjunto de R$ 5 milhões (US$ 2,1 milhões) em projetos de inclusão socioeconômica de afro-brasileiros. Da matriz da corporação, localizada em Atlanta (Geórgia), berço da região sulista nos Estados Unidos, veio a presidente da Coca-Cola Foundation, a negra Lisa M. Borders, neta de ativista da questão de Direitos Humanos e o consultor especializado no tema, o também negro, Joe Beasley, fundador da fundação com o seu nome, que atuou na seleção das instituições beneficiadas. Com esse aporte, as ações da empresa envolvendo a população afrodescendente vão impactar diretamente cerca de 100 mil pessoas nos próximos três anos. O investimento tem foco em educação, cultura e comunidade. O presidente da Coca-Cola Brasil, Xiemar Zarazúa, explicou que os projetos já foram selecionados com a ajuda do consultor Joe Beasley. Entre os selecionados estão, por exemplo, a Afobras, que terá incentivo para novos cursos na Faculdade Zumbi dos Palmares,
única universidade negra da América Latina, e apoio para a reconstrução da sede do jornal Voz da Comunidade, no Completo do Alemão, no Rio, que pegou fogo no ano passado, coordenado pelo jovem blogueiro René Silva. Também o Instituto Cultural Steve Biko, com sede em Salvador (BA) foi contemplado. Os executivos da Coca-Cola explicaram que entre as iniciativas está a criação do Coletivo Conexão, nova modalidade da plataforma Coletivo Coca-Cola, que vai desenvolver habilidades audiovisuais e fomentar novas formas de comunicação em comunidades de baixa renda. Desde 2009, o Coletivo Coca-Cola impacta positivamente na geração de renda e valorização da autoestima a partir de treinamento técnico, empoderamento comunitário e acesso ao mercado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 68% da população dessas comunidades é formada por pretos e pardos. “É inspirador saber que podemos usar nosso negócio para melhorar a vida de milhares de brasileiros. Até hoje, o Coletivo já possibilitou o desenvolvimento de oportunidades para mais de 70 mil pessoas. Com esse novo investimento, vamos ampliar nosso alcance e parcerias nas comunidades. Essa é uma caminhada para fazer a diferença na proporção necessária para um país com o tamanho e a importância do
Brasil”, disse Xiemar Zarazúa, presidente da Coca-Cola Brasil. “O Brasil é uma das nações mais miscigenadas do mundo. Ainda assim, existem profundas disparidades de renda, educação e emprego”, afirmou Lisa M. Borders, presidente da Coca-Cola Foundation. “Acreditamos que nosso financiamento vai ajudar a mudar o destino econômico de centenas, se não milhares, de estudantes afro-brasileiros que buscam uma educação melhor.” Para Joe Beasley, que atuou na seleção das instituições beneficiadas, a iniciativa é inovadora. “Esperamos que, em um futuro próximo, outras empresas se inspirem a se envolver no apoio de programas em prol dos afrodescendentes no país”, afirma ele que, por meio da fundação que leva seu nome, contribui com projetos de inclusão socioeconômica de negros em todo o mundo. O investimento foi feito com recursos diretos e não via incentivos fiscais. O vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil, Marco Simões, explicou que esta tem sido a estratégia da companhia. “Já usamos incentivos fiscais em outras situações, mas temos feito este tipo de aporte com recursos próprios e diretos”, contou. A escolha de instituições foi principalmente em torno de quem tinha trabalho a mostrar, com histórico de sucesso.
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Literatura
na terra de jorge amado, ilhéus é cenário de alguns romances do mais cultuado escritor brasileiro Textos e Fotos: Paulo Lima, Especial para Plurale em revista
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stou na terra de Jorge Amado. E do cacau. Acabei de chegar, estou deixando o aeroporto. O táxi envereda por umas ruelas. A primeira impressão que tenho de Ilhéus não é lá muito animadora. Permanecerei quatro dias. Entre outras coisas, sairei em busca de Jorge Amado. Ou melhor, de sua memória. “Tem uma fábrica de chocolate que vale a pena visitar”, diz o taxista, em resposta a minha pergunta sobre os atrativos da cidade. Eu também queria saber se o cacau ainda continuava fazendo fortunas, como antigamente. Depois de alguns minutos, chegamos a uma bela enseada. “Caramba!”, disparei. Agora de fato eu estava em Ilhéus. Jorge, aqui vou eu! Eu fazia o tipo turista acidental. O que caísse na rede seria peixe. Mas, para efeito de minha busca pelas pegadas de Jorge Amado, ao menos dois lugares se impuimpu nham e atiçavam minha curiosidade. O Bar Vesúvio. O Bataclan. Na minha mente vinham cenas da novela da Globo que o país inteiro acompanhou há algumas décadas. Uma história de amor entre uma retirante e um turco. A lânguida Gabriela se derretendo toda pro moço Nacib. Uma chuva torrencial havia desabado sobre a cidade nas últimas horas. O cinza tomava conta da paisagem, mas a temperatura estava agradável. Bom assim. “É aqui”, avisou o taxista. Um hotel na praça da catedral. Piso no solo sagrado de Jorge Amado. Dou uma olhada ao redor.
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Mal dá pra acreditar. Bem ali, a poucos metros, está o Vesúvio! “Droga”, pensei. Eu queria um poupou co de mistério, até que pudesse enfim descobri-lo. Mas o bar famoso estava ao alcance de algumas passadas. Um casarão de esquina de fachada azul claro perto da igreja. O sacro e o pagão convivendo lado a lado. Anoto a ironia. A igreja, na verdade a Catedral de São Sebastião, tem uma arquitetura esquisita. Suas abóbadas se assemelham a velhas igrejas russas. Bem, Jorge Amado militou nas fileiras do Partido Comunista. Isso fazia sentido. Agora, sempre que eu me voltasse pra aquela Casa do Senhor, iria pensar numa aldeia perdida nas estepes. Então, o Vesúvio. Decidi não explorálo de imediato, eu não estava pronto, não estava ainda no clima. Essas coisas pepe dem que você esteja atento, com os sentidos ligados, você não pode ir chegando simplesmente. Eu tinha vindo de um voo ferrado, com conexões absurdas e esperas eternas. Tudo que queria era tirar uma boa soneca. No dia se-
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BAR E RESTAuRA NTE VESÚVIO Palco do ro Gabriela e mance entre N em frente acib possui uma de Jorge A estátua mado
guinte eu sairia no enen calço de Jorge Amado. Já podia avistar uma Gabriela em cada esquina. Estou na área mais turística de Ilhéus, que fica depois da enseada. E a praça que vejo agora do segundo andar de meu quarto no hotel parece ser o epicentro da badalação. A manhã está começando, mas já noto a movimentação de turistas, que acionam suas câmeras a todo instante, explorando as paisagens da Casa do Senhor e do Vesúvio, mergulhado na mais completa
placidez. Na noite anterior, dormi como uma pedra. Hoje é dia de explorar o território. Calço sandália de dedo, visto bermuda e camiseta. um sheRlock tRopical Tomo o café da manhã. Na recepção do hotel, um empregado uniformizado me dá a primeira pista importante. A casa onde Jorge Amado morou está ali perto, e nela funciona um museu conservando a memória do escritor. Em Ilhéus, ao menos na área central, tudo é perto. A cidade é limpa, e as ruas, transformadas em sua maior parte em calçadões, são pontilhadas por casarões coloridos, símbolos dos tempos áureos do cacau. Muitas delas são revestidas de pedras, fato que confere um ar ainda mais retrô à cidade. A casa de Jorge Amado é um sobrado amarelo de um andar com o primeiro piso acima do nível da rua, o que dá a falsa impressão de ser mais alta. Está situado exata exatamente na... rua Jorge Amado... número 21. Tomo nota em meu bloquinho. Uma pequena placa de metal encimando uma ima imagem do escritor identifica o local. Mas nem precisa. A casa deve ser automaticamente conhecida pelos ilheenses.
Para entrar na casa/museu, paga-se uma bagatela de 6 reais. Fotos, me avisa uma senhora na recepção, estão autorizadas. OK. Vai lá, Sherlock, com sua câmera! Museus cutucam minha imaginação. Me sinto transpondo um umbral. Na minha infância, em visita a um museu de Aracaju, rasguei e roubei um pedaço de uma bandeira nazista. Eu achava que aquela era uma forma de eu estar próximo daqueles acontecimentos distantes. Era mais do que um souvenir. Começo a visita junto com um pequeno grupo de turistas, cerca de 15 pessoas. Licença aí, Jorge. Somos recepcionados por uma adolescente, que vem a ser a guia. Ela é tímida. Se pudesse, não estaria ali exercendo aquele papel. As explicações vão saindo de sua boca como se ela lesse um teleprompter. “A rua era de chão batido de terra”, ela diz pro círculo de pessoas ao seu redor. “O pai, seu João, resolveu fabricar tamancos”. Vou anotando, enquanto aplico uma panorâmica na sala. “Ele comprou o título de coronel”, ouço a moça falar. Ela fala mais rápido do que consigo escrever. Desisto do tour guiado e sigo outro rumo.
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Literatura
o povo. O povo. As pessoas simples de Ilhéus. Onde, onde hoje em dia veremos o povo presente num evento dessa natureza? Onde? Uma certa intelectualidade brasileira sempre torceu o nariz para a literatura de Jorge Amado. E, no entanto, naquela foto, estava uma prova de sua popularidade. Vou para o primeiro andar da casa. Há uma parede preenchida por placas com os testemunhos de artistas e escritores sobre a obra do escritor baiano. Tomei nota de algumas. A mais próxima de traduzir o sentido de seus romances é a declaração do escritor Hélio Pólvora: “Jorge Amado abriu janelas na sua obra e deixou entrar um vento com cheiro de suor do povo”. Bela e precisa. Releio o que escrevi no pequeno bloco durante a visita. Um tópico: “Paisagem fria dos museus. O verdadeiro Jorge está nas ruas de Ilhéus”. Lembro de ter ido até uma janela do sobraCASA DE C uLTuRA do e ter contemplado um JORGE AM ADO pouco a rua lá embaixo. Casa onde Jorge Ama Seria aquela a visão que do morou na infância, Jorge também teria? E o hoje muse u que teria visto? Hoje a rua é um calçadão movimentado, a Algumas roupas que pertenceram a despeito da cidade pequena. Nada que se Jorge Amado, suas indefectíveis batas co- compare à Ilhéus das três primeiras décaloridas, estão em exposição. Uma sequên- das do século 20, quando cavalos trotavam cia de fotos, de diferentes épocas, o mosmos por seus caminhos estreitos e enlameados. tra com sua fiel escudeira Zélia Gattai. É Coronéis impunham um ritmo de violêncurioso. Ele quase não aparece sorrindo, cia e sangue. ao contrário da simpática Zélia. Seu sorriMuseus são de fato ambientes frios. Eu so era quase um esboço, nada efusivo. estava diante de parte da memorabilia de Ouço a voz da guia que se afasta, indo Jorge Amado, sabendo que os temas que em direção a outro canto da casa, seguida inspiraram sua literatura estavam/estão nas pelo grupo. Deixo irem embora. Traço eu ruas, no suor do povo. mesmo meu roteiro. Foi nesse espaço, Estou praticamente sozinho na casa, leio, que Jorge Amado escreveu seu pri- tal o silêncio. Mas de repente a guia remeiro romance, No país do carnaval, em aparece, dessa vez acompanhada de 1931. Leio ainda que ele nasceu, na verda- um casal. A mulher é morena, bonita e de, em Itabuna, cidade vizinha a Ilhéus. magra, bem mais alta que o marido. Eu Numa parede, vejo uma fotografia em- a imagino uma Gabriela. Começo a ver blemática mostrando o dia da inauguração Gabrielas por toda parte. do museu, em 27 de junho de 1997. Jorge “É verdade que a família de Nacib não e Zélia estão entrando na casa seguidos gosta de Jorge Amado?”, pergunta o maripor um séquito de autoridades e, lá atrás, do. A guia diz que... a família... de Nacib...
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não é mais a mesma... da época do romance... Não consegui anotar sua resposta completa. De repente, o marido se aproxima e me pergunta se eu lembrava do nome da personagem de Gabriela na novela. “Sônia Braga”, respondo. “Um nome tão simples e a gente não lembrava”, diz a mulher, agradecida. Aproveito e pergunto a eles se leram a obra de Jorge Amado. Havia a evidente intenção de testá-los. Eles admitem que não leram nada, mas viram a novela. Faço o mesmo teste com a guia. “Li Capitães de Areia”, ela disse, “uma leitura difícil, mas muito interessante”. Resolvo encerrar a visita. Uma frase de Zélia Gattai, que li há alguns anos, martela meus ouvidos. “A verdadeira felicidade é ver o sonho na realidade”. Ganho a rua, deixo o sobrado para trás. O sonho que Jorge Amado viu um dia deve estar em algum lugar daquela cidade. Saio a sua procura. Vai lá, sheRlock Chove e faz algum frio. Avanço pelo calçadão. É hora do almoço. O centro fervilha de gente. A próxima etapa de minha busca pela lembrança de Jorge Amado deveria ser o Bataclan, se eu seguisse um roteiro pré-estabelecido. Um gigante liliputiano seria capaz de atravessar Ilhéus com apenas alguns passos. Percebo que, sem estar familiarizado com a cidade, me descubro girando em círculos. Você pode fazer o roteiro básico e obrigatório em pouco tempo, daí voltar ao hotel, encerrar a conta e tomar um táxi para o aeroporto. Mas qual seria a graça? Os segredos de uma cidade estão em seus recônditos pouco visitados e em suas histórias ocultas. Tomo a decisão de entrar numa loja e comprar uma camisa. Eu precisaria dela para um de meus compromissos na cidade. Sou atendido por uma garota jovem e morena. Elegância e educação transbordam de cada gesto dela. Seria uma Gabriela? Jorge Amado teria se inspirado num modelo assim de carne e osso? Numa esquina, um homem bastante velho descansa recostado numa parede, como se apenas matasse o tempo. Penso em me aproximar dele e perguntar se ele conheceu Gabriela e Nacib. Se ele algum dia conversou com Jorge Amado. Se sabia boas histórias do Bataclan. “Você é algum lunático?”, achei que ele poderia perguntar, ou quem sabe me rechaçar com zombaria querendo saber de onde eu tinha saído.
BATACLAN Bataclan, antigo cab aré, cenário de romances de Jorge Ama do. Abaixo , interior e p alco do Bataclan
Achei que era hora de ir ao Bataclan e conferir de perto aquele palco da perdição. Vai lá se divertir, Sherlock! No caminho, dou de cara com uma banca de revistas. As capas de sempre, as manchetes habituais. Não estou interessado nelas. Me faz bem aquela atmosfera ilheense, com um pé no presente e outro no universo romanesco de Jorge Amado. Na interseção dos dois deveria estar a aura do escritor, um abre-te Sésamo para um túnel do tempo,
para o passado. O que eu queria achar na banca era algo tipicamente de Ilhéus que tivesse alguma ligação com Jorge. Eu queria saber quão vivo ele permanecia na cidade que tanto amou. Vi alguns cordéis à amostra e pensei, “aí está algo que vale a pena”. Mas não havia um único folheto dedicado a Jorge Amado ou a sua literatura. O vendedor me garantiu que eu ia encontrar algo no... ele descreveu o lugar... anotei mentalmente. Acabei
comprando um folheto alheio a meu tema, contando o encontro de Chico Anísio e Lampião no céu. “Isso promete”, pensei. (À noite, já no hotel, li o folheto. Até que era engraçado, mas a ortografia e o português do cordelista eram um terror. Parecia que havia escrito às pressas, sob a ameaça de Lampião e seu bando). Perambulei por uma área que me pareceu o centro nervoso do comércio, e alguém acabou me mostrando o caminho até o Bataclan. Eis-me lá. O restaurante Bataclan fica defronte de uma praça, às margens de um rio. Conserva a antiga fachada. Lá dentro, o ambiente é limpo e arejado. O prédio é uma espécie de pé-direito alto, com um balcão do tipo faroeste, mas a atmosfera pretende imitar mesmo os antigos cabarés parisienses. Algumas fotos em preto e branco expondo mulheres nuas da década de 20 contribuem para o clima de rendez-vous. As mariposas. Um escândalo para a época, mas tão pudicas para os dias de hoje. À esquerda de quem entra, um cartaz fa fazendo as vezes de cardápio chama a atenção. Mas não há qualquer informação sobre pra pratos servidos ali. Trata-se de um poema com estrutura meio concretista falando do Bata Bataclan. Eu o transcrevo inteiro no meu bloco de notas. Os primeiros versos dizem assim:
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Literatura Se acaso alguém/tivesse uma grande/espátula r daquela/de/bolo/corta se nela/colocas o/Bataclan e/ao/mundo fosse/oferecer a! sem dúvida/sem dúvid o/mundo/todo haveria/de/querer! E quiseram. O Bataclan era um dos inferninhos mais requisitados de Ilhéus. Era onde os velhos coronéis do cacau iam arrotar poder e libertinagem. Desço os olhos até o fim do poema e confiro o nome do autor, Barão de Popoff. Barão... de... Popoff? Mas que diabo de nome é esse? Que estranha comenda, um barão na terra dos ex-coronéis. Quem será o barão? Um russo? Sherlock anotando a dúvida para posterior esclarecimento. Possivelmente, o Bataclan hoje é apenas uma versão fake do original. No teto, um poderoso lustre se impõe sobre o ambiente. Ao fundo do recinto, repleto de mesas ao longo do amplo salão, há um palco. Diante dele, você pode perfeitamente imaginar um pequeno lance teatral como se estivesse num cabaré fin-de-siècle. Por módicos 5 reais, qualquer mulher pode ir até o palco e posar de prostituta. Enquanto estive por lá, muitas se submeteram ao teste com muito ânimo. Envoltas em lantejoulas e com piteiras, posaram para a posteridade observadas por acompanhantes, namorados e maridos. Quengas por um dia. Um empregado moreno alto e articulado conta voluntariamente a história do cabaré. Esgotado o estoque de explicações por ali, ele conduz os visitantes para os fundos do Bataclan. Lá, um de seus maiores atrativos. O quarto de Maria Machadão, a cafetina mais famosa de sua época. Um odor nauseante de cacau invade nossas narinas. Pra chegar lá, sobe-se um pequeno vão de escada. Na alcova de Maria Machadão, procurouse reproduzir parte de seus apetrechos mais caros. As roupas, a cama, os sapatos, os perfumes. Um clima perfeitamente retrô, faltando apenas a própria e seus artifícios. Vejo uma foto e pergunto ao rapaz feito de guia se a mulher ali reproduzida era a cafetina. “Não”,
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QuARTO D MARIA MACh E ADÃO Quarto de Maria Macha dão, personagem de Jorge Amado
responde, “não há registro dela. Com a deca decadência do Bataclan, ela foi embora para o Rio de Janeiro e nunca mais foi vista”. Baita mistério, Sherlock. Anota isso aí. Que fim terá levado Maria Machadão? Como terá terminado seus dias? Será que abriu um novo e próspero negócio de agenciamento na Lapa? Constituiu uma sociedade com as polacas? Casou-se com algum velho empresário francês e viveu o resto da vida em Paris? Esse fim misterioso fica reverberando na minha cabeça. Gosto de histórias que envolvem sumiços e desaparecimentos. São capazes de tirar o fôlego de um leitor. Os bons romancistas do gênero sabem isso e nos torturam como ninguém com sua imaginação. Um cheiro bom de comida vem da cozinha do Bataclan, mas eu decido ir almoçar em outro lugar. É hora de seguir novas pistas. Ilhéus está tão perto e, contudo, tão distante. Jorge Amado deve ter se divertido à beça ali. Volto ao hotel de olho na fauna humana. O vai e vem é intenso. Caminho até o Vesúvio, a apenas um quarteirão de distândistân cia do Bataclan. Àquela hora, começo da tar tarde, os garçons estão a todo ritmo. As mesas fora do restaurante estão quase todas ocupadas. Algum comensal ali estaria pensando em Gabriela? E Nacib? Volto a matutar sobre o Barão de Popoff. Preciso encontrálo. Ele deve conhecer histórias sobre Jorge Amado. Quem sabe tenha sido seu amigo. Dou uma espiada nas pessoas. Um senhor destoa do ambiente. Ele está bem vestido e até usa um cachecol. Perscruta o ambiente com a curiosidade de um escritor. seRá ele o BaRão? Uma brisa deliciosa alvoroça os cabelos das pessoas. Uma estátua de Jorge Amado está ali perenemente sentada, congelada
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no tempo. Na verdade, suas feições pouco lembram o escritor. É trabalho de um escultor mineiro. Jorge está diante de um livro. As pessoas se aproximam e o fotografam constantemente. Estará naquele busto a verdadeira aura de Jorge Amado em Ilhéus? Quantos daqueles turistas que o fotografam sem parar conhecem de fato sua obra? O Barão deve conhecê-la. Talvez tenha conhecido o próprio Jorge. Por onde andará o Barão? Tenho de encontrá-lo. Resisto ainda a explorar o Vesúvio. Fico apenas em suas adjacências, limitado a per permanecer em uma de suas mesas, sem consumir nada, correndo o risco de ser enxotado. Vou almoçar no hotel e descansar. Durmo um pouco e volto às ruas. Às ruas de Ilhéus e de Jorge Amado. As chuvas deram uma trégua. Nas árvores em frente ao hotel, um bando de jandaias promove uma algazar algazarra deliciosa, que vai aumentando num ritmo crescente à medida que a tarde vai caindo. A praça da Catedral do Senhor mantém seu fluxo constante de visitantes. Poucas vezes vi uma cidade interiorana com uma agitação tão desproporcional a seu tamanho. Ao lado do hotel há um quiosque que vende chocolate. Coisa pra turista. Os chocolates parecem deliciosos... e caros. Bato o olho num sabor, cravo e canela. Pergunto à vendedora se ela sabe dizer por que o chocolate tem aquele nome. Ela se derrete num sorriso. É uma típica Gabriela. “Porque o sabor é de cravo e canela”, responde. Ouviu isso, Jorge? Ela não sacou a homenagem. Sigo pela rua Jorge Amado, passo pela frente do museu, olho mais uma vez o sobrado amarelo. Algumas pessoas estão entrando no prédio. Eu vou indo. Pergunto a um passante onde tem uma livraria. Sempre procuro visitá-las, mesmo que esteja no Fim do Mundo. O passante me dá uma dica precisa. Chego à livraria em minutos. A cidade liliputiana.
Na livraria, faço a ronda. Pequena e bem mignon e sensual a tal ponto que a persona personasortida. Uma surpresa. Vou até o balcão. gem parece ter sido talhada especialmente Uma mulher magra e com ar de esgotada para ela, uma conjunção perfeita”. me atende. Pergunto a ela se há livros de No romance, Jorge Amado desfaz duas Jorge Amado na loja. “Sim”, responde. Pede confusões. A primeira, Gabriela era mulapra esperar. Espero e folheio livros ao aca- ta. Mulata, não morena. A segunda, Nacib so. Ela demora um pouco, daí vem com não era turco. Era brasileiro naturalizado. uma pilha de 14 livros. Ela os deposita so- Chegou ao Brasil ainda criança, vindo da bre uma pequena mesa, me dá uma olhada Síria. Na verdade, ele detestava ser chamacomo quem diz “sirva-se”, e se afasta. do de turco. “Quais desses romances falam do VesúA noite vai alta quando o sono bate à vio?”, pergunto sem esperança na resposta. porta. O tempo fechou lá fora. Até as janMas a vendedora parece ser das boas. “Tem daias se recolheram, cessando seu canto. Gabriela, cravo e canela, mas ele também Espio pela janela. A praça está vazia. O fala do Vesúvio em Terras do sem fim”, Vesúvio está às escuras. Amanhã irei visitáela responde. Compro o primeiro livro, pago, caio fora. A vendedora me dá uma última olhada, que decodifiquei como de admiração. Ponto pra você, Sherlock. Chega e noite. Decido jantar no próprio restaurante do hotel. Peço uma pizza de atum. O ambiente é agradável, chove canivete lá fora. Por mim, tudo bem. A fome me faz ir direto à pizza, sem mais delongas. Uma delícia. Mas... que porra é isso! O que está acontecendo? Parece que há alguns dragões à solta em minha boca. “Puta que pariu”, quase berrei. “Puseram pimenta na pizza!” Isso era uma tremenda idiossincrasia culinária. Botaram um quilo de pimenta na pizza. E o pior é que estava muito gostosa. Mas eu tenho um estômago fodido. Tive de devolver a pizza, reclamei e notei o ar preocupado da garçonete. Subo para meu quarCATEDRAL to. Mergulharei no livro, ILhÉuS que não conhecia, na e Catedral d companhia de Gabriela. ião, st a b e S o ã S Réu confesso. em Ilhéus O livro é uma beleza. É lo de novo. Vou pôr meus pés lá uma maravilha estar ali vendo dentro. Lá no território de Gabriea cidade ser descrita com tintas la e Nacib. E Jorge Amado. literárias, vendo-a tomar forma. “O sonho na Mosquitos me atormentaram durante realidade”, como falou Zélia Gattai. Releio as a noite. Travei uma pequena guerra contra notas que tomei no hotel sobre o livro: “Pela eles. Acordo tarde. Tomo o café da manhã, primeira vez, noto a rima, que adiciona uma saio para dar uma volta. Passo pela frente pitada a mais de poesia ao título já poético. do Cine Teatro Ilhéus, um belo prédio Talvez estivesse incrustado em minha mente que dizem estar em reforma. Numa esquidesde sempre, a ponto de soar natural”. na, topo com uma lanchonete, que leva o É impossível ler o romance ou pensar nome de Jorge Amado. em Gabriela sem imaginar a figura de Sônia Ele é onipresente em Ilhéus. Na sorveBraga. Em meu bloquinho, eu havia escrito a teria ao lado do Vesúvio, há fotos dele, de seguinte observação: “A meu ver, jamais ha ha- várias épocas. O restaurante de meu hotel verá outra Gabriela que possa ocupar o pa pa- se chama “Gabriela cravo e canela”. E enpel que pertence a Sônia Braga, uma morena contrei pelo menos um café com o nome de
Jorge. Nesse café, por sinal, me deparo com mais versos do Barão de Popoff estampados nas paredes. Pergunto sobre ele à garçonete com jeito de Gabriela. “Ele mora em Ilhéus”, disse, “ontem mesmo apareceu aqui”. Puta merda! Falta pouco para encontrá-lo. “E ele traz os livros dele pra vender?”, pergunto. “Sim, ele vende aos clientes”. Eu tinha esperança de encontrá-lo antes de ir embora. Meu tempo estava se esgotando. Estou no Vesúvio pela segunda vez. Hoje irei conhecê-lo por dentro. Já é hora. Chego lá no meio da manhã, sento a uma mesa, observo as pessoas tirando fotos com Jorge Amado. A estátua é um fenômeno. Decido provar os kibes de Nacib. Peço três deles. Enquanto aguar aguardo para ser servido, noto um sujeito grandalhão com cara de americano numa mesa, a poucos metros. Está acompanhado do que parece ser a esposa. Tem um boné na cabeça. Parece um Hemingway voluntariamente exilado em Ilhéus. Meus kibes chegaram. Vêm acompanhados de limão e pimenta. Três kibes capazes de valerem por um almoço. Jorge Amado também provou desses quitutes? Ataco o primeiro deles, que se esfarela no prato. Embora a consistência seja ruim, o sabor é bom. Aplico um pouco de limão. Dispenso a pimenta. A muito custo, consigo dar conta do prato. Nisso, noto a chegada da figura do escritor que julgo ser o Barão de Popoff. Fico nervoso. Pode ser a última chance. Como quem não quer nada, chamo um dos garçons e pergunto se ele conhece o Barão. É uma maneira indireta de saber se o sujeito ali ao lado é ele. Não quero despertar suspeitas. “Ele esteve aqui ontem”, disse o garçom. “Puta que pariu”, pensei. Foi minha última chance. Amanhã cedo irei embora. Acho que vai ficar para a próxima. No dia seguinte, bem cedo, fecho a conta e tomo o táxi para o aeroporto. No trajeto, meu taxista explica que o aeroporto mudou de nome para Jorge Amado, mas antes se chamava Brigadeiro Eduardo Gomes. “Não tinha nada a ver, né?”, perguntou. “Não, não tinha”, eu disse, enquanto nos aproximávamos de nosso destino.
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viDa Saud ável Couve, a “queridinha” da vez
Chia no lugar dos ‘crouttons’ de pão
Por décadas, a couve ficou muito conhecida como complemento certo nas feijoadas brasileiras. O gosto amarguinho, contrastando com o do prato típico agradou em cheio diferentes paladares. Ultimamente, a couve ganhou status de estrela top nas dietas, principalmente as do tipo detox. Crua batida em sucos, refogada ou na forma de sopa, a couve é, sem dúvida, a queridinha da vez. Os nutricionistas explicam que as propriedades da couve incluem a sua ação tônica, vermifuga, laxante, além de possuir compostos fenólicos que ajudam a combater o câncer. Mas nada de sair ingerindo esta folha em excesso: é comum dar gases ou até provocar diarreias em pessoas mais sensíveis. Como todos os alimentos, na dose certa, combinado?
A dica é boa para quem gosta de dar um ar crocante na salada de todo dia. Muitos gostam de incluir os crouttons de pão, quadradinhos, deliciosos por cima da salada. Mas já existe uma opção ainda mais saudável com efeito parecido e com maiores benefícios à sua alimentação. No lugar do pão, salpique sementes de chia ou se não gostar de mastigar sementes, pode substituir pela farinha de chia. Os especialistas explicam que o grão tem forte presença das fibras, com excelente capacidade de formação de gel. Desta forma, atua no controle da glicemia, na redução do colesterol, na melhora do funcionamento intestinal e também no processo de emagrecimento. O ômega-3 encontrado na chia oferece diversos benefícios, como a prevenção de doenças do coração, entre e outros.
Alimentos que ajudam a combater a acne
Itália é líder do mercado orgânico na Europa
Engana-se quem imagina que apenas limpeza e medicamentos específicos podem auxiliar no combate à acne. A Dra. Ana Huggler, nutricionista da Global Nutrição, alerta que “alimentos com alto índice glicêmicos são os mais prejudiciais à aparência da pele. Ao ingerir em excesso doces, tortas, balas e bolos o indivíduo estará contribuindo para a elevação dos níveis de açúcares no sangue. Tais alimentos são pobres em fibras e nutrientes e podem provocar rugas e flacidez na pele”. Na lista dos produtos recomendados ela lista os peixes, ricos em Ômega 3, frutas e verduras amarelas, como pera, banana, melão amarelo, abóbora, cenoura, damasco e também a ingestão de muita água ao longo do dia.
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2014
Por Cristina Curti, para o Portal EcoDebate
O mercado das indústrias de alimentos orgânicos sobe às alturas na Europa. De acordo com pesquisa feita pela AIAB (Associação Italiana de Agricultura Orgânica), com base na análise de mercado executada pela Fundação italiana de Pesquisa em Agricultura Orgânica e Biodinâmica, no primeiro semestre de 2013 houve uma queda de 3,7% no consumo de alimentos convencionais, mas o crescimento do consumo de alimentos orgânicos foi de cerca de 9 %. Outros recordes vem se estabelecendo neste setor, tais como: 50 000 trabalhadores, 1,2 milhão de hectares de área cultivada, gerando cerca de 3 bilhões de euros. O forte crescimento econômico deste nicho de mercado é um forte impulso para a exportação desta categoria de produtos e a Itália ganhou a liderança na Europa de exportações de produtos orgânicos gerando mais de um bilhão de euros.
28 de março de 2014 Hotel Pullman Ibirapuera - SP
A comunicação deve ir além de sua função informacional: ela deve trazer afetividade e reconhecimento. Focar nas emoções, na criatividade, nos desejos e na humanização dos processos. Por isso, a 14ª edição do seminário Mix Aberje de Comunicação Interna e Integrada conta com a palestra magna “O Afeto nas Organizações”, pela filósofa Marcia Tiburi e mais 3 painéis com experiências premiadas que vão dar um novo sentido a sua carreira.
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Culinária
Os caminhos da Gastronomia Sustentável em Paraty Texto e fotos: Geise Assis Mascarenhas, Especial para Plurale em Revista de Paraty (RJ)
“Vino di qualità, alimentazione e territorio sono concetti densi di significato, di valori e di “peso” per la coscienza individuale e la cultura collettiva”. Ricardo Pastore
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PLURALE EM REVISTA | Janeiro / Fevereiro 2014
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entRe a seRRa e o maR araty é uma pequena e encantadora cidade localizada entre a serra e o mar (Serra do Mar), na região da Costa Verde, no meio do caminho entre Rio e São Paulo. Seus encantos naturais e arquitetônicos foram reconhecidos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura) e tombados pelo IPHAN, órgão do Ministério da Cultura que tem a missão de preservar o patrimônio cultural brasileiro. Estar na cidade é, ao mesmo tempo, viver um pouco da nossa história colonial e se sentir fazendo parte da construção de um futuro sustentável cujos principais atores são os produtores agroecológicos, os pescadores artesanais, os chefs de res-
taurantes, os moradores e os turistas que buscam imprimir um ritmo adequado ao desenvolvimento para que não impacte a qualidade de vida e o meio ambiente local. A cidade tornou-se referência nacional e internacional pela realização de eventos como a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que reúne escritores do mundo inteiro; o Festival da Cachaça, Cultura e Sabores e a Festa do Divino, dentre outros. pisando em históRia Andar em Paraty é pisar em história que a gente imagina existir apenas nos livros. As pedras pés de moleque do centro histórico imprimem um ritmo mais lento no caminhar e na vida da cidade. Em vez de carros, proibidos de circular na parte antiga, bicicletas e charretes se integram à
arquitetura colonial. O lugar encanta muita gente que vem passear e acaba ficando. Até mesmo turistas, anônimos, contribuem para preservar o lugar. Um deles financiou a reconstrução de uma rua inteira. Entre os habitantes locais estão os caiçaras, os indígenas, os quilombolas, os paulistas, os mineiros, os cariocas, os fluminenses, os pernambucanos, os cearenses... Uma mistura de sotaques que se somam às muitas línguas que se ouve pela cidade, destino preferido de franceses, italianos, argentinos, americanos e turistas do mundo inteiro que vêm em busca da beleza e dos prazeres que a cidade oferece. No Brasil Colônia, Paraty era sinônimo de boa cachaça e a região chegou a ter mais de 200 engenhos. A cachaça de Paraty era consumida na corte e exportada para a Europa – foi o primeiro produto brasileiro a desbancar similares no mercado internacional. Hoje restam menos de 10 alambiques, mas a qualidade da cachaça artesanal continua inquestionável, “especialidade tão notória que se tornou sinônimo de produto local, como na França se deu com o champanhe e o conhaque”, declarou o escritor Caio Prado Júnior. A cachaça de Paraty é um dos poucos produtos brasileiros a receber a certificação de Indicação Geográfica, conferida a produtos que são característicos do seu local de origem, que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (savoir-faire). Cachaça Maria Izabel, fabricada em Paraty que é famosa pelas cachaças artesanais.
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Culinária A culinária caiçara Não são poucos os autores que falam sobre a contribuição das raças na formação da cultura e da sociedade brasileira, e a alimentação é apenas um dos resultados dessa diversidade humana e ambiental. Os clássicos Casa-Grande & Senzala, de Gilberto Freyre; Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda e Formação do Brasil Contemporâneo, de Caio Prado Júnior são as melhores referências da história de miscigenação do branco com o índio e com o negro e da sua contribuição para a profusão de cores e sabores existentes no Brasil. Em Paraty, a culinária caiçara é também o retrato da alimentação do Brasil colonial: os pratos são feitos com farinha de mandioca e peixe (influência indígena), banana da terra, milho e cana de açúcar (influência dos escravos) e os condimentos trazem as influências ibéricas. A comida caiçara tem um traço nítido da personalidade do povo mestiço e, no caso de Paraty, ali se fundem ainda as influências do caiçara da serra e do caiçara da praia. O elemento mais importante na culinária caiçara é a banana (da terra, prata, maçã, nanica, naniquinha, nanicão, vinagre...) utilizada verde, madura, de vez, verdolenga. Com a banana verde, cozida em panela de ferro, se faz o peixe azul marinho. Os peixes e os frutos do mar têm lugar de destaque nos cardápios dos restaurantes locais. O peixe seco da Praia do Sono, raros e saborosos , são disputa-
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A magia do lugar e a alquimia dos sabores marcam para sempre. O Cônsul Geral dos Estados Unidos ligou para saber como se fazia aquela sobremesa cujo sabor ainda estava vivo na lembrança...
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dos pelos chefs locais. As sobremesas têm o gosto e o cheiro das frutas da região e, para terminar, o café de cana, coado com o caldo da cana de açúcar. Para os caiçaras a arte de preparar alimentos está estreitamente ligada às atividades de produção, aos ciclos da natureza e à disponibilidade dos produtos e incorpora relações sociais de ajuda mútua, como a pesca de arrastão e o mutirão entre vizinhos para preparação da terra e colheita. O trabalho sempre termina em festa, com comida e dança (fandango) ao som da viola e da rabeca. A magia do lugar e a alquimia dos sabores marcam para sempre. O Cônsul Geral dos Estados Unidos ligou para saber como se fazia aquela sobremesa cujo sabor ainda estava vivo na lembrança: era o Massapão, um doce feito com gemas e coco, herança lusitana adaptada ao sabor local.
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A Gastronomia Sustentável Na contramão de mundo globalizado, que tende a padronizar e massificar, fazer da alimentação a mesma em qualquer lugar, a Gastronomia Sustentável de Paraty é um movimento que inova e ganha cada vez mais adeptos, tanto de consumidores que sempre voltam para experimentar novos pratos, como de chefs interessados em participar do processo. O movimento procura preservar e resgatar os conhecimentos tradicionais e a riqueza gastronômica da região, através da releitura feita por chefs criativos e engajados em projetos de relevância social, econômica e de sustentabilidade. Esta experiência tem sido registrada por historiadores, antropólogos, escritores e até por estudiosos internacionais, como Fabio Parasecoli, Professor e Coordenador do Programa de Estudos da Alimentação da New School of New York City, no livro “Eat your way through culture; gastronomic tourism as performance and bodily experience. HYPERLINK “http:// www.cabdirect.org/search.html?q=do% 3A%22Slow+tourism%3A+experience s+and+mobilities%22” Slow tourism: experiences and mobilities”, escrito em parceria com o brasileiro Paulo de Abreu e Lima, gastrônomo profissional, mestre em cultura e comunicação alimentar. No sistema de compra direta os restaurantes, os pescadores artesanais e os agricultores familiares e agroecológicos
discutem o preço justo, promovem a culinária tradicional e caiçara e possibilitam o envolvimento e a integração da população e dos turistas nas questões socioambientais. Os circuitos curtos de comercialização contribuem para que o alimento chegue fresco à mesa além de reduzir os impactos causados pelo transporte de regiões distantes. a agRoecologia em moVimento Os produtores de Paraty trabalham no sistema agroecológico, experimentando formas inovadoras de gestão dos ecossistemas que valorizam os recursos locais e preservam o meio ambiente e a saúde tanto dos produtores e quanto dos consumidores. A valorização de produtos com atributos diferenciados cria novas oportunidades de inserção para os pequenos agricultores do lugar. Uma nova ruralidade se forma a partir da integração dos nativos com os novos adeptos à vida no campo. Ana Luiza Tepedino, apicultora e especialista em agricultura biodinâmica, nasceu na cidade grande e veio para a “roça” com o marido por opção: “nosso plano é viver da terra em Paraty, ter uma vida simples, comercializando o excedente. Esse é o nosso plano de vida e a agrofloresta é o veículo para isso acontecer”, declara. Vilma Rodrigues Soares, artista plástica e agricultora nascida em Paraty, rodou o Brasil inteiro mostrando a arte caiçara. Cansou da vida de artista e voltou para sua casa no meio do mato. A arte agora fica restrita à magia da natureza que se apresenta a cada dia, ao vivo e em cores, em seu pequeno paraíso. Hoje Vilma fornece para os restaurantes da cidade uma variedade de abóboras e mini morangas que ajudam os chefs na sua arte de alimentar os olhos e o paladar. Da vida de artista diz não sentir falta, pois “plantar é também um jeito de se expressar e é muito gratificante saber que estou produzindo verduras limpas e orgânicas, contribuindo para a saúde das pessoas e do planeta”. Uma nova geração assume o movimento da agroecologia iniciado pelos seus pais. Miguel Corrêa, da Secretaria Municipal de Pesca e Agricultura, responsável pela organização da feira dos produtores rurais, diz há uma relação intergeracional bem interessante acontecendo na região. “Está rolando uma passagem de bastão. É muito importante
esta relação dos jovens com a agroecologia e com os antigos para que a agricultura continue viva em Paraty”. Ele acredita que o movimento iniciado há mais de 10 anos ainda vai durar muito tempo. o desenVolVimento no feminino O movimento da Gastronomia Sustentável se transformou em uma associação com o objetivo de organizar a prática, aglutinar os interesses e favorecer a troca entre produtores rurais, pescadores artesanais, hotéis, pousadas e restaurantes. À frente do movimento uma significativa presença feminina (produtoras rurais e chefs), demonstrando os fortes laços que ligam as mulheres à sustentabilidade. Para a professora Maria José Carneiro, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a importância da mulher na agricultura familiar não está limitada apenas à produção, mas também à reprodução, como guardiãs e transmissoras privilegiadas de valores, e fortalecimento dos laços de solidariedade e de pertencimento. O pesquisador Luiz Carlos Mior, autor do livro “Agricultores familiares, agroindústrias e redes de desenvolvimento rural”, destaca a ressignificação do papel da mulher no âmbito das organizações das agroindústrias familiares, observando que elas possuem “competência e conhecimentos técnicos, táticos e organizacionais de grande importância para o bom êxito de empreendimentos de agregação de valores”.
A identificação no cardápio da origem dos produtos (nome do produtor e local onde vive) é uma clara referência ao fair trade e a utilização da cachaça local, que deve ser levada à mesa ao ser servida, uma tentativa de fortalecer o reconhecimento da marca e de restringir o contrabando de cachaças mineiras, mais baratas, servidas como sendo de Paraty. Jorge Ferreira, produtor rural, que está no Cardápio do Bistrô Casa do Fogo como fornecedor de palmito pupunha, fala da emoção (recíproca) de ter sido reconhecido por um turista. Para ele “juntar quem produz, com quem tem ha-
O grupo que faz parte do movimento criou parâmetros de referência para a Gastronomia Sustentável, que buscam: • priorizar a utilização de produtos locais, preferencialmente orgânicos ou agroecológicos e produzidos pela agricultura familiar; • dar preferência por frutos do mar pescados artesanalmente ou produzido em fazendas marinhas de pescadores da região e respeitar a época do defeso; • indicar a procedência dos produtos utilizados no cardápio; • incentivar a aproximação e a interação entre turistas, produtores e comunidades; • separar o lixo e óleo vegetal usado, que será encaminhado para a reciclagem; • evitar uso de embalagens não recicláveis; • utilizar caixa de gordura e implantar, em médio prazo, sistemas de filtros biológicos para tratamento das águas servidas e esgotamento sanitário; • gerenciar o uso de energia visando à redução do consumo; apoiar e articular o processo de certificação local dos produtores; e • monitorar e avaliar o processo através de indicadores confiáveis.
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Culinária
Bistrô Alquimia dos Sabores, oferece aos visitantes de Paraty pratos com sabor inesquecível.
bilidade para preparar o alimento e os que vêm para degustar cria uma base interessante para o desenvolvimento sustentável”. Para a Chef Ronara Toledo, do Restaurante Caminho do Ouro, a preocupação com a sustentabilidade deve fazer parte de todo o processo: “as mesas do nosso restaurante foram feitas com as sobras de marcenaria, resto de madeira que ia para o lixo. Colocamos lâmpada de LED, substituímos as garrafas pet por jarrinhas de água que colocamos nas mesas e também separamos o lixo, mesmo que ainda não tenha coleta seletiva na cidade”. Por conta da Gastronomia Sustentável e da sua vocação para o turismo ecológico, a cidade foi escolhida como destino piloto da campanha “Passaporte verde”, uma iniciativa global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que visa reduzir os impactos negativos do turismo no meio ambiente e na cultura e estimular uma atitude de consumo responsável. E foram exatamente as iniciativas existentes
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na cidade e a performance socioambiental dos hotéis e restaurantes, que resultaram na recomendação por parte dos delegados da Rio+20. os pRatos liteRáRios Desde 2010 a Gastronomia Sustentável faz parte da FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) com pratos literários que homenageiam escritores e artistas. A Chef Ana Bueno, do Restaurante Banana da Terra, diz que eventos especiais como o circuito gastronômico da Flip exigem muita criatividade e doses certas de texturas e sabores, mas a Gastronomia Sustentável significa também respeitar os ritmos da natureza e, por isso, os cardápios são (re)feitos de acordo com os produtos disponíveis em cada estação. Para a criação do prato literário “às vezes a gente parte de um ingrediente, de um conceito contido na obra de um autor. De alguma forma aparece algum elemento que vai se concretizando num prato”, exempli-
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fica Leila Passini, do Bistrô Casa do Fogo. A chef Juliana Frateschi, do Bistrô Brasil, afir afirma que “a cozinha precisa de muita leitura, cultura e intimidade com os ingredientes”, mas para Luciana Marinho, do Bistrô Alquimia dos Sabores, criar um prato é simples quando se tem produtos de qualidade. Ronara Toledo, chef do Restaurante Caminho do Ouro, destaca que as melhores combinações estão nas coisas simples da terra como milho com galinha, carne com jabuticaba e os doces com as frutas da região. “É preciso despertar no cliente o gosto de uma coisa que ele nunca provou, mas parece que já comeu, que está ali guardada na lembrança...” É alquimia pura! O chef Caju, do Bistrô Casa do Fogo, trabalha com comidas flambadas na cachaça dos alambiques locais e utilizou o Capucho, um peixe comum em Paraty, para criar o prato literário em homenagem ao poeta caiçara Flavio de Araújo. Na primeira estrofe do poema “Alôito na Peixaria”, construído com nomes de peixes,
moluscos e crustáceos encontrados na cidade o poeta já dá o ar de sua graça:
“Moro em Paraty embora lula presidente aqui quem manda é o polvo fruto do mar é a gente”. identidade pluRal Para alguns autores não existe uma identidade no Brasil, mas uma pluralidade de identidades, construída por diferentes grupos sociais. Outros defendem que as tensões do mundo atual contribuem para recomposição e afirmação das identidades e dos territórios. Neste sentido, as pessoas sentiriam, cada vez mais, necessidade de se inserir em locais de pertencimento, como Paraty, que congrega diferentes tribos em busca de um futuro comum. “Em Paraty tem a população daqui e a população que escolheu viver aqui, e esta mistura faz com que as pessoas gostem de cuidar bem do lugar e de trabalhar juntas pelo desenvolvimento da cidade de forma positiva. As pessoas aqui fazem a diferença”, diz Leila Passini, da Casa do Fogo. Maria Isabel Costa, do Restaurante Refúgio, concorda: “quem escolhe Paraty para viver tem um encantamento com o lugar, com a natureza. Gosta e cuida”.
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sa do Fogo Capucho em Coentro e Gengibre - Ca
Chef responsável pela receita: Caju
A Gastronomia é apenas um dos elementos do movimento em prol do desenvolvimento sustentável que, “através da revalorização do saber fazer local, respeitando as diferenças culturais, resgata formas tradicionais de produção associadas às práticas ambientalmente corretas e socialmente justas”, diz Domingos Oliveira, do Fórum de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS) e da Agenda 21 de Paraty. Os membros do movimento acreditam que é no dia a dia, na alimentação, que os critérios de consumo consciente podem começar a fazer diferença na saúde do planeta e no bem estar de todos. Para eles é necessário mudar os hábitos de consumo e construir novos valores compatíveis com a preservação do meio-ambiente. Essa mesma tendência está expressa no Princípio 8º, da Declaração Rio 92, que alerta para a necessidade de reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo para que se possa alcançar mais qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável. Como em qualquer sistema vivo, onde há relações de interdependência e cooperação, o mundo atual requer uma mudança de paradigmas para que possa ser entendido como um conjunto de sistemas interconectados e não como uma coleção de partes dissociadas, como defende Fritjof Capra, e esse parece ser ensinamento que nos deixa Paraty.
Ingredientes da receita 200g de filé de capucho; 1 colher de sobremesa de azeite; 1 dente de alho picado em juliene; 1 cm de gengibre picado em juliene; meia pimenta dedo de moça picada em juliene; 2 raízes de coentro picadas; 1/2 cebola roxa pequena; 3 ramos de cebolinha cortada em pedações de 8 cm; 20g de pimentão vermelho picado em juliene; 1 colher de sopa de sumo de limão cravo;1/2 colher de sopa de açucar mascavo; 125 ml de vinho branco seco; 50 ml de cachaça de alambique; molho de peixe a gosto; folhas de coentro picadas para decorar. Modo de preparo da receita Em uma frigideira grande de t-fal aqueça o azeite. Flambe o peixe com a cachaça e acrescente a pimenta, o alho, o gengibre e as raízes de coentro. Com o peixe no ponto adicione a cebolinha, o pimentão e a cebola roxa. Em seguida o açucar mascavo, o limão cravo e o vinho branco. Deixe reduzir um pouco, tempere com o molho de peixe. Sirva decorando com folhas de coentro picado.
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Ecoturismo
Parque nacional dos lençóis Maranhenses vai ganhar novos investimentos
turismo se apoia em belezas naturais para impulsionar o setor
O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses vai receber um centro de atendimento ao visitante. O Centro de Atendimento ao Visitante do Parque, parte de um conjunto de obras na Unidade de Conservação, no valor de R$ 2,7 milhões, tem o objetivo de facilitar o acesso e melhorar as condições de recepção aos turistas. Além deste aporte, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses receberá investimentos de R$ 1 milhão do projeto Parques da Copa, que vai destinar R$ 10,4 milhões para obras de acesso e sinalização em 11 unidades de conservação federais. A expectativa é que os novos investimentos aumentem em 30% o fluxo no parque maranhense, que hoje recebe 200 mil visitantes por ano. O MTur financiará também obras em municípios do entorno do parque.
Antonio Lopes
Adriana Boscov
O país vive um momento especial com a realização dos grandes eventos no Brasil. Segundo o secretário Nacional de Políticas de Turismo, Vinícius Lummertz o turismo brasileiro tem crescido o dobro dos demais países do mundo. O país tem o sexto maior PIB turístico, cerca de US$ 76,1 bilhões. “Mas é possível evoluir mais, especialmente se o setor aproveitar o potencial de seus recursos naturais”, afirma Lummertz. O Brasil é o primeiro no mundo em recursos naturais, de acordo com o Relatório de Competitividade do Fórum Econômico Mundial. “Temos 20% das espécies da Terra, 69 parques nacionais, duas das sete maravilhas naturais (Amazônia e Foz do Iguaçu) e 800 mil km quadrados de áreas protegidas”, diz. De acordo com o Plano Nacional do Turismo, a meta é elevar o PIB do turismo brasileiro de 6º para 3º do mundo; um crescimento de US$ 76,1 bilhões para US$ 175 bilhões, com um volume de turistas chegando a 11,1 milhões.
luau das cataratas: um passeio para contemplar e registrar Nos próximos dias 14 e 15 de março, o Parque Nacional do Iguaçu (PR) realizará mais uma edição do Luau das Cataratas. O passeio é uma ótima oportunidade para os amantes da fotografia e para aqueles que gostam de ar puro, natureza e uma caminhada noturna. O ingresso para participar do Luau das Cataratas custa R$ 45,00 e inclui a entrada e o transporte no Parque Nacional do Iguaçu e deve ser adquirido na bilheteria do Centro de Visitantes, das 20h às 21h40, somente nos dias do passeio. Do Centro de Visitantes os participantes são levados de ônibus até as Cataratas do Iguaçu. Os interessados têm até a 0h para vivenciar o atrativo, quando circula o último ônibus de retorno. O passeio é uma realização do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e da Concessionária Cataratas do Iguaçu S.A. Em caso de clima adverso para a realização da atividade, o Luau das Cataratas pode ser cancelado por medida de segurança.
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cachoeiras tornam destinos turísticos mais atraentes As cachoeiras possuem um forte apelo para os turistas, como revela um estudo da Associação Brasileira de Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, encomendado pelo Ministério do Turismo. Estima-se que 46% dos viajantes brasileiros valorizem cachoeiras, rios e mares como as principais riquezas do país. A constatação é uma excelente notícia para o turismo brasileiro. O país tem algumas das maiores e mais belas cachoeiras do mundo. Entre elas, as Cataratas de Foz do Iguaçu (PR), terceiro destino mais visitado por turistas estrangeiros, além de Salto Yacumã (RS), a maior cachoeira em extensão do planeta (1.800 metros). As cachoeiras, no entanto, podem oferecer riscos – e os turistas devem estar atentos a medidas de segurança. O programa Viaje Legal, um guia de informações e dicas ao viajante brasileiro, do Ministério do Turismo, recomenda que a prática de turismo de aventura seja orientada por condutores e empresas especializadas no segmento.
Bazar ético Bolsa Pirarupet R$129.90
Jogo de damas açaí R$249,90
Artesanato do Coletivo usa material reciclado e também da Amazônia Já ouviu falar em Pirarupet? Calma, não se trata de nova espécie de peixe da família do Pirarucu, gigante que reina na região Amazônica. A ideia foi desenvolvida pela designer Mônica Carvalho, justamente inspirada na escama deste peixe gigante, confeccionada a partir de PET lixado. O material é artesanalmente trabalhado por artesãos – principalmente mulheres - de cinco comunidades localizadas na Reserva do Rio Negro, a uma hora e meia de Manaus (AM). Confira o resultado final deste produto do Coletivo Artes na foto desta bolsa super fashion que custa R$ 129,90 e tem feito a alegria de consumidoras antenadas do Rio e de São Paulo. “O Coletivo Artes faz parte da plataforma da Coca-Cola Brasil cujo objetivo é integrar toda a cadeia de valor da empresa, com a finalidade de transformar a vida de milhares de pessoas, especialmente mulheres, proporcionando valorização da autoestima e geração de renda”, explica Claudia Lorenzo, Diretora de Negócios Sociais da Coca-Cola Brasil. Ao todo, são 25 peças disponíveis no catálogo da Rede Asta, parceria do Instituto Coca-Cola Brasil desde 2011. A atuação do Coletivo na região mostra que as comunidades podem se sustentar da floresta, sem depredá-la. Em Tumbira (AM), por exemplo, uma das comunidades envolvidas, o trabalho de artesanato é voltado para a utilização de sementes, um dos recursos naturais da região. Na comunidade, também se faz um trabalho muito importante de educação ambiental voltado para a integração entre a pessoa e o meio ambiente. Além do Rio Negro e Parintins (AM), também há ações do Coletivo Artes em comunidades no Rio, São Paulo e Curitiba. Desde o lançamento do Coletivo Artes, em novembro de 2011, artesãs de comunidades do Rio de Janeiro já tiveram sua renda mensal aumentada em mais de 30%. Com isso, são impactados 21 grupos produtivos em cinco estados, atendendo cerca de 250 artesãos. Criado em 2009, o Coletivo Coca-Cola oferece capacitação em Varejo, Logística, Eventos e Empreendedorismo, além de apoio de gestão e treinamentos para cooperativas de catadores de material reciclado e grupos produtivos de mulheres artesãs. Trata-se de um dos mais ambiciosos programas de valor compartilhado propostos pela iniciativa privada no país. Hoje o programa está presente em 150 comunidades de 12 estados brasileiros e no Distrito Federal e já impactou aproximadamente 50 mil pessoas em seis modalidades: além do artesanato, também envolve varejo, reciclagem, eventos, logística e empreendedorismo.
Bolsinha Cobre R$ 79,90
Carteira Tucum R$299.90
Carteira Buripet R$49.90
serviço: Fruteira Cabaça Vermelho R$59.90
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Por sônia araripe, Editora de Plurale em revista
Para comprar os produtos na Rede Asta: http://coletivococacola.redeasta.com.br/ Sobre a Plataforma Coletivo Coca-Cola Brasil http://www.coletivococacola.com.br/
Cuia Ondas Vermelhas R$29.90
Pauzinho Jussara R$19.90
Este espaço é destinado à divulgação voluntária de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e oNGs.
Estante ASCENSÃO E Q QuEDA DO IMPÉRIO X De Sergio Leo, Editora Nova Fronteira (Grupo Ediouro), 264 págs, R$ 39,90 Virou livro pela editora Nova Fronteira (do Grupo Ediouro) a espantosa trajetória das empresas X, de Eike Batista, que, em três anos passou de maior bilionário brasileiro a responsável pelo maior desastre empresarial da América Latina. O livro é “Ascensão e Queda do Império X”, do jornalista Sergio Leo, que traz as jogadas e os bastidores da fortuna perdida de mais de US$34 bilhões. O jornalista – um dos mais brilhantes de sua geração, com larga experiência nas maiores redações do País - entrevistou ex-executivos das empresas de Eike, integrantes dos governos federal e estaduais, amigos e desafetos do empresário, para montar, em tom bemhumorado, um crônica da derrocada. O livro mostra as jogadas de marketing da sua ascensão, a omissão de más notícias, e o equivocado modelo de premiação dos seus executivos. Está disponível em versão digital do livro e impressa.
DIONISIO DIAS CARNEIRO, uM huMANISTA CÉTICO De Luiz Roberto Cunha (organizador), com os cientistas políticos e professores Maria Antonieta Leopoldi e Eduardo Raposo, Editora PuC-Rio, 324 págs, R$ 65,00 Considerado um dos mais influentes economistas do país, admirado por colegas das mais variadas vertentes e ídolo dos alunos, o economista e professor Dionisio Dias Carneiro (1945-2010) é homenageado com o lançamento do livro Dionisio Dias Carneiro, um humanista cético – uma história da formação de jovens economistas (Editora PUC-Rio/GEN). Trata-se de uma biografia, complementada por depoimentos de meia centena de alunos e amigos, narrando lembranças e histórias vividas com o professor. Amigo de Dionisio por mais de 40 anos, o decano de Ciências Sociais da PUC-Rio, professor Luiz Roberto Cunha, organizador do livro (com os cientistas políticos e professores Maria Antonieta Leopoldi e Eduardo Raposo), explica que o intuito é recordar um pouco do homem que foi Dionisio, e apresentá-lo a quem não teve a oportunidade de conhecê-lo.
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IMAGEM & REPuTAÇÃO NA ERA DA TRANSPARÊNCIA - AS BOAS PRÁTICAS DE COMuNICAÇÃO A SERVIÇO DOS LÍDERES De Elisa Prado, Aberje Editorial, 108 páginas, R$ 35,00 - Vendas pelo site www.aberje.com.br Acaba de ser lançado “Imagem & Reputação na Era da Transparência - as boas práticas de comunicação a serviço dos líde líderes”, escrito por Elisa Miranda Prado.. É uma compilação de relatos e experiências ao longo da carreira da executiva que hoje comanda as áreas de Comunicação Corporativa, Interna e Externa da Tetra Pak, nos países da América Central e do Sul e é, desde 2009, membro do Conselho Deliberativo da Aberje. Este é o quarto livro da coleção “Grandes Nomes” da Aberje Editorial em lançamento. O trabalho é proposto como contribuição para auxiliar os dirigentes de empresas a enfrentar a complexa missão de liderar – preferencialmente pelo exemplo e com transparência – utilizando a comunicação de maneira competente como estratégia para atingir objetivos.
NO TEMPO DAS TELAS: RECONFIG RECONFIGuRANDO A COMuNICAÇÃO COM De Pollyana Ferrari e Fábio Fernandes, Editora Estação das Letras e Cores, 128 págs, R$ 32,00 Um thriller científico, com personagens ficcionais que vivenciam experiências reais do nosso dia a dia conectado onde suas interrelações mediadas por telas acabam se tornando uma espécie de rizoma deleuziano, mas sem o peso didático. São cenas baseadas em fatos reais ou mesmo ficcionais, em coisas que aconteceram com nós mesmos ou amigos, amigos de amigos, pedaços de diálogos entreouvidos na rua, enfim, o mundo multifacetado como ele é hoje.
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P e lo Mundo O desperdício do lixo é um desperdício
Por Vivian Simonato, De Dublin Correspondente de Plurale na União Europeia
A recente fase da campanha Generation Awake da Comissão Europeia, lançada em fevereiro, destaca as consequências ambientais, econômicas, sociais e pessoais que o desenfreado padrão de consumo atual têm sobre os recursos naturais. Por meio de um site totalmente interativo (www.generationawake.eu (www.generationawake.eu www.generationawake.eu), ), lançado em 2011 e disponível nas 24 línguas da União Europeia, o novo personagem animado Richard Rubbish, uma lata de lixo, e sua turma - The Awakeners, mostram como as decisões de compras diárias impactam no meio-ambiente. No site, os internautas descobrem o valor dos resíduos, mostrando como eles po-
dem ser reutilizados, reciclados, trocados e reparados, em vez de serem descartados. A página do Facebook ((www.facebook. com/generationawake)) convida os cida com/generationawake cida-dãos a assumirem desafios como reduzir o desperdício de alimentos e diminuir o uso de água. Todos são encorajados a espalhar a mensagem: os resíduos não podem ser evitados, mas eles tornam-se recursos valiosos e economia de recursos significa poupar dinheiro. A nova fase da campanha conta também com uma competição fotográfica que convida os cidadãos a publicarem até três fotos que mostrem como o desperdício do lixo é um desperdício. O prêmio é uma viagem à Copenhage, a Capital Verde da Europa de 2014. A verdade é que a simpática campanha traz uma mensagem séria: o lixo, muitas vezes contém materiais valiosos que podem ser reintroduzidos no sistema econômico. Hoje, uma quantidade significativa de po-
tencial matéria-prima secundária é perdida para a economia da União Europeia, devido à má gestão desses resíduos. Em 2010 a produção total de lixo no bloco ascendeu a 2.520 milhões de toneladas, uma média de 5 toneladas por habitante, por ano. A redução, reutilização e reciclagem de resíduos podem contribuir para uma economia vibrante e um ambiente saudável. Apesar das elevadas metas de reciclagem, que têm sucesso em determinadas áreas, a verdade é que os resíduos da Europa ainda são enormemente subutilizados. Um estudo elaborado para a Comissão Europeia estima que se aplicada em sua plenitude a legislação comunitária relativa aos resíduos renderia à UE uma economia de 72 bilhões de euros por ano, aumentaria o volume de negócios anual de gestão e reciclagem de resíduos em 42 mil milhões de euros e criaria mais de 400 mil novos postos de trabalho até 2020.
Energia eólica cresceu quase 200 GW em cinco anos Por Fabiano Ávila Fonte: Instituto CarbonoBrasil / ABEEólica
O Conselho Global de Energia Eólica (Global Wind Energy Council – GWEC) divulgou nesta quinta-feira (5) em seu relatório anual que foi registrada uma queda de 10 GW nas instalações de 2013 com comparação às do ano anterior, mas que mesmo assim a capacidade global do setor cresceu 12,5%. Segundo o GWEC, teriam sido instalados 35,47 GW em 2013, abaixo dos 45,17
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GW de 2012. A justificativa para essa queda seria a redução dos investimentos nos Estados Unidos, devido a incertezas políticas criadas pelo Congresso. Os norteamericanos teriam instalado apenas 1,08 GW no ano passado. Porém, países como a China, que instalou sozinha 16 GW, a Alemanha, com 3,2 GW, e o Canadá, com 1,6 GW, ajudaram a empurrar a capacidade instalada global para 318,14 GW, praticamente 200 GW a mais do que existia em 2008, 120 GW.
22 e 23 de julho de 2014 Local de realização: Fecomercio – São Paulo/SP REALIZAÇÃO:
Estão abertas as inscrições para o maior evento da área de RI e Mercado de Capitais da América Latina. As vagas são limitadas, faça já sua inscrição. O maior encontro do mercado de capitais brasileiro e da América Latina, em Relações com Investidores, já tem data marcada: dias 22 e 23 de julho próximos. Uma vez mais a capital de São Paulo sediará o Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais, promovido conjuntamente entre a ABRASCA – Associação Brasileira das Companhias Abertas e o IBRI – Instituto Brasileiro de Relações com Investidores. O 16º Encontro Nacional de Relações com Investidores e Mercado de Capitais é parte do calendário de eventos das principais companhias abertas, agentes reguladores, dirigentes de entidades, analistas e profissionais de investimentos, bem como advogados, auditores e especialistas em relações com investidores de todo o Continente. Como acontece todos os anos, representantes de companhias abertas, bolsas de valores estrangeiras, consultorias internacionais e companhias listadas no exterior deverão passar pelo evento, que reúne público superior a 700 pessoas em seus dois dias de realização. Paralelamente aos painéis da programação oficial, haverá uma exposição de serviços composta de estandes onde as empresas e instituições expõem seus produtos e serviços pra um público customizado, tornando-se também um oportuno ponto de encontro de todo o mercado.
PATROCINADOR DIAMANTE:
Maiores Informações: (11) 3107.5557 - (11) 3106.1836 www.encontroderi.com.br
PATROCINADORES OURO:
C
PATROCINADORES PRATA:
PARCEIROS DE MÍDIA:
APOIO INSTITUCIONAL:
ABRAPP, ABVCAP, AMEC, ANBIMA, ANCORD, ANEFAC, APIMEC NACIONAL, APIMEC SÃO PAULO, CODIM, FIPECAFI, IBEF, IBGC, IBRACON e IBRADEMP
E n s a i o GRANADA RESPLANDECE Palco de alguns dos mais importantes acontecimentos da história europeia e vitrine de um conjunto arquitetônico sem igual, Granada se orgulha de sua pujante vida noturna, da alvissareira proximidade com as pistas de esqui de Sierra Nevada e de um por do sol que muitos consideram o mais belo do velho continente. Mas a alcunha popular da cidade – “Pedra preciosa da Andaluzia” – se deve mesmo à tríade Alhambra, Generalife e Albaicín.
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Textos e fotos:
RAQUEL RIBEIRO e JEAN PIERRE VERDAGUER
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ouros e cristãos, ao longo de séculos de pelejas, formaram um legado artístico e arquitetônico para lá de harmonioso. Vencedores em última instância, as monarquias cristãs tentaram se impor ao erguer catedrais onde antes brilhavam mesquitas; ou coroando com brasões reais portais onde antes figuravam poemas mouros. Mas gerações de hábeis artesãos muçulmanos, integrados à “nova direção” (embora fieis aos preceitos islâmicos), cobriram a alvenaria católica de motivos arabescos e a rechearam de referências ao Corão. Assim foram surgindo, como flores de lótus que germinam na lama de tantas guerras, as construções que formam Alhambra (sécs. XIII-XIV) e Generalife (séc. XIV). Situado no alto da colina Cerro Del Sol, este icônico conjunto arquitetônico andaluz pode ser apreciado a partir de inúmeros pontos de Granada. O mais especial, porém, é o Mirador San Nicolás, no ponto culminante de Albaicín. O mirante, de onde também se avista a imponente Sierra Nevada em dias de céu claro, é ápice de um delicioso passeio pelo bairro árabe Albaicín: ruelas sinuosas, fachadas em estilo mudéjar com varandas repletas de flores, laranjeiras carregadas de frutas em cada esquina, músicos entoando melodias típicas em calçadas ancestrais, restaurantes convidativos que oferecem apetitosos menus completos e charmosas praças com suas mesas ao sol. Turístico, vibrante e histórico, pontilhado de vestígios culturais do período nazaríe (dinastia árabe que governou a cidade por 700 anos), o bairro prepara o clima – e as pernas! – para o destino mais almejado de Granada: a Alhambra. Para entender esse complexo arquitetônico, precisamos voltar no tempo.
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Sua construção teve inicio com uma fortaleza militar chamada Alcazaba. Em 1237, quando o fundador da dinastia Nazaríe, Muhammad I, se muda de Albaycín para a colina, tem inicio a transformação da fortaleza em sede do governo mouro. Numa época de relações pacíficas e diplomáticas com os reis cristãos, seu neto Muhammad III constrói a Gran Mezquita. Em meados de 1340, Yusuf I, sultão de Granada, ergue o formidável Palácio de Comares. Coube a seu filho, Mohamed V, ampliar e decorar as torres, construir a Casa de Baños, o Cuarto de Comares, a Sala de La Barca e o inesquecível Patio de Los Leones. Arrematando, assim, com chave de ouro, a fase puramente árabe do complexo. A partir de 1492, os reis católicos tomam posse definitiva da Espanha e, por tabela, de Alhambra, que recebe novas intervenções arquitetônicas. Para situar o visitante nesse confuso mosaico, mapas distribuídos na entrada de Alhambra distinguem quatro áreas principais: a Alcazaba (zona militar fortificada), o Partal (cidadela amurada ou medina), os magníficos Palacios Nazaríes (tão especiais que merecem tickets de entrada separados, com horário de visitação predeterminado) e, completando o conjunto, o Generalife com seus palacetes cercados de fontes e jardins a la Versailles. Ao explorar Alhambra, somos envolvidos por uma misteriosa sensualidade árabe que extrapola as sensações causadas pela arquitetura: água correndo em fontes e canais, jogos de luzes e sombras, cenários emoldurados por jardins caprichosos. Aqui e ali, algumas intervenções cristãs e/ou ocidentais não chegam cortar o clima, como o convento de São Francisco, a Igreja de Santa Maria e o majestoso Palácio de Carlos V. O imperador mandou
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construí-lo quando, ao se mudar para Granada, em 1526, sua jovem esposa Isabel de Portugal não aprovou os aposentos adaptados no palácio mouro, apesar da nova decoração. Assim, ao lado da casa real que seus avós, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, haviam ocupado após a conquista, foi erguida a nova moradia do imperador (que mal a aproveitou, pois passou a vida guerreando). Capítulo a parte na visita a Alhambra, em estilo renascentista e com um imenso pátio circular dentro de uma planta quadrada, o Palácio de Carlos V destoa do conjunto, mas tem sua graça, pois abriga o excelente Museu Nacional de Arte Hispano-Musulmán e o Museu de Bellas Artes. Alhambra foi fortaleza militar, sede da ocupação moura na península ibérica, residência de sultões e palácio de reis cristãos! Patrimônio Mundial da UNESCO desde 1984, recebe diariamente centenas (talvez milhares) de visitantes ávidos para beber da fonte de histórias deste lugar que impressiona tanto pela grandiosidade geral quanto pela riqueza de detalhes. No quesito visitação, aliás, merece destaque a organização, o rigor e a qualidade do serviço prestado pelo Patronato de La Alhambra Y Generalife, organismo governamental responsável pela restauração, manutenção e divulgação do complexo. E pensar que Alhambra não figura entre as sete maravilhas do mundo moderno. Em seu lugar está o Cristo Redentor. Talvez signifique que, por não estar exposta a todos como o concorrente de braços abertos, “continuará mágica y duradera por los siglos de los siglos.”
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PURA RENDA Ao atravessar cada recinto, maravilhas decorativas enchem os olhos. Cúpulas preenchidas por intrincados padrões geométricos, janelas ornadas com delicados relevos, colunas realçadas por precisos entalhes em pedra, pisos revestidos por ladrilhos hipnóticos, divisórias esculpidas como se fossem rendas, paredes repletas de mosaicos e arabescos em vermelho, azul e dourado: assim é o Palacio de los Leones, cujo pátio interno é a atração maior, onde 124 colunas entalhadas à mão emolduram um reluzente piso de mármore branco entrecortado por canaletas que conduzem a água proveniente de uma fonte central sustentada por doze leões. Dizem que esse riquíssimo exemplo da estética andaluz representa o Paraíso. Certamente era um paraíso para o sultão, já que ali costumava reunir o seu harém...
COMO CHEGAR A Iberia tem voos regulares de São Paulo e Rio de Janeiro para Madrid, com conexão até Granada (em voo que dura cerca de uma hora). Há centenas de opções de hotéis em Granada, com diárias a preços que variam muito de acordo com a temporada (considerada alta no verão). No inverno, quando a temperatura chega a zero grau, encontram-se bons hotéis por 80 euros (diária) e há menu completo por 10 euros. A visita a Alhambra deve ser agendada com antecedência de no mínimo três dias, e os ingressos podem ser comprados em Granada mesmo ou pelo site. http://www.alhambradegranada.org/es/ info/comprarentradasalhambra.asp Mais informações? http://www.Alhambra.Info
Sierra Nevada fica a menos uma hora de ônibus a partir do centro de Granada. Você pode embarcar na estação ou, se estiver em grupo, alugar uma van. No vilarejo Borreguiles, muy hermoso, há restaurantes, bares, mini mercados e lojas de aluguel de equipamentos para esqui. O bilhete que dá acesso a todas as pistas custa 48 euros por dia.http://sierranevada.es/estacion.aspx
Fotos:
raQuel riBeirO e jean Pierre verDaGuer
Água
ONU alerta que até 2015 três bilhões de pessoas não terão acesso à água
Conservação de áreas naturais e conscientização da população são imprescindíveis para a proteção dos recursos hídricos, afirmam especialistas. 54
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Fundação Grupo Boticário de Apoio à Natureza
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uito se tem falado sobre uma possível ‘crise da água’, mas qual o impacto disso para a saúde e a sobrevivência da população; e para a biodiversidade? E quais as causas e as soluções para essa questão? Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em 2013 cerca de 770 milhões de pessoas em quase todos os continentes do mundo não possuíam acesso a uma fonte de água potável. Se essa tendência de escassez continuar, fruto do mau uso dos recursos naturais, é provável que para o ano que vem as estatísticas sejam ainda piores, com três bilhões de pessoas vivendo em situação de falta desse recurso. Para a administradora-adjunta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Rebeca Grynspan, são vários os fatores que influenciam para essa carência de água. “Além do fato de que o mundo experimenta um crescimento explosivo na demanda por recursos hídricos, existe também o desperdício de água e a poluição, que ameaçam cada vez mais a integridade dos ecossistemas aquáticos, vitais para a vida”, explica. No caso brasileiro, a poluição das águas é uma realidade crítica. Esse é o resultado da análise divulgada em 2013 pela ONG SOS Mata Atlântica e que coletou informações de 30 rios das regiões Sudeste – a mais populosa do país – e Nordeste – a que mais sofre com a falta de água. A pesquisa revelou que nenhum deles estava em situação satisfatória de conservação, sendo que 70% foram considerados de qualidade regular e os outros 30% como ruins. Segundo o engenheiro florestal André Ferretti, existe ainda outro elemento que contribui para uma potencial crise hídrica da wqual o país pode estar se aproximando. “As mudanças climáticas alteram o ciclo da água, intensificando eventos climáticos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas”, explica. Ferretti atua como coordenador de Estratégias da Conservação na Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, ONG que possui iniciativas relacionadas à manutenção de recursos hídricos. Ele explica que a mudança climática está intima-
mente ligada com o desmatamento, pois as florestas nativas possuem grande importância na regulação do clima, sendo relevantes também no ciclo da água. Para contribuir na manutenção da regularidade desse ciclo e para contribuir com a conservação de mananciais de abastecimento público, a instituição premia financeiramente proprietários de terra que mantêm áreas com vegetação nativa em suas propriedades, além do exigido por lei. Isso acontece por meio do Oásis, uma iniciativa de Pagamento por Serviços Ambientais ((confira mais detalhes abaixo, em ‘Caminhos para a solução’). anfíBios já estão sofRendo Em locais onde a pressão sobre áreas nativas é muito intensa, com prejuízo dos recursos hídricos, os efeitos já são sentidos pela biodiversidade. Segundo o pesquisador Michel Garey, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu (PR), a população de anfíbios já está em declínio em todo o mundo, sendo que uma das hipóteses para essa redução é a poluição dos ambientes aquáticos. “Os anfíbios são muito vulneráveis, pois dependem intrinsecamente da água durante sua fase de girino. Algumas espécies chegam a depender dos riachos, lagos e lagoas durante toda a sua vida”, explica. Ele destaca que a poluição proveniente da agricultura, com o despejo de agroquímicos nos corpos d’água, ameaça a formação dos sapos, rãs e pererecas. “Com a contaminação da água os anfíbios têm má formação dos seus corpos, com patas a mais ou a menos, cegueira, podendo chegar até a morte, em alguns casos”, destaca. Além dos anfíbios, outras espécies aquáticas podem sofrer, ou já sofrem, com a poluição das águas. É o caso da baleia-azul ((Balaenoptera musculus), um dos maiores mamíferos aquáticos: em um único indivíduo dessa espécie já foram encontrados vestígios de diversos pesticidas, resultado da poluição dos mares pelo aporte das substâncias através dos rios. As tartarugas-marinhas também têm sofrido, principalmente a tartaruga-verde (Chelonia mydas), que já se encontra na lista das espécies ame-
açadas de extinção. No Brasil, destaca-se a lontra-brasileira ((Lontra longicaudis), que sofre tanto com as doenças causadas pela poluição das águas dos rios quanto pela escassez de espécies das quais se alimentam, as quais morrem por conta do habitat alterado. O peixeboi-da-amazônia(Trichechus inunguis) é outro caso: a espécie também é vítima da ingestão de lixo que é jogada nos rios, o que provoca a morte da espécie, que está ameaçada de extinção. caminhos paRa a solução Para impedir que essas e outras espécies, inclusive os seres humanos, sejam ainda mais prejudicadas, há algumas ações que podem ser realizadas. Ana Lúcia Brandimarte, bióloga doutora em Ecologia pela Universidade de São Paulo (USP) e responsável pela pesquisa “Crise da água: modismo, futurologia ou uma questão atual?”, afirma que alguns dos problemas relacionados à água podem ser evitados com conscientização. “As pessoas têm acesso à informação, mas não interiorizam”, afirmou. Ela destaca algumas medidas para ajudar a solucionar o problema da escassez de água. A primeira delas é a economia doméstica, que inclui ações simples, como reduzir a duração do banho ou fechar a torneira durante a escovação dos dentes, bem como consertar vazamentos rapidamente. O segundo caminho é o reaproveitamento, que deve ser feito antes que a água atinja a rede de esgoto, isto é, a água utilizada durante o banho pode ser reaproveitada para a descarga do vaso sanitário, assim como a água da chuva pode ir para a lavagem de calçadas ou para a rega das plantas, por exemplo. A terceira medida é a reutilização da água, quando a água é utilizada após ter passado por uma estação de tratamento, solução já usada em vários países principalmente para os processos industriais. Além dessas dicas, outra solução que tem se mostrado bastante eficaz é o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), estratégia que estimula a conservação de ambientais naturais fundamentais para produção de água, o que é mais barato e mais saudável do que o tratamento pós-
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a poluição das águas é uma realidade crítica. esse é o resultado da análise divulgada em 2013 pela OnG sOs Mata atlântica e que coletou informações de 30 rios das regiões sudeste – a mais populosa do país – e nordeste – a que mais sofre com a falta de água.
PLurALE Em rEVisTA, EDiÇÃo 40: EsPECiAL AL ÁGuA ANuNCIE: NCIE: (21) 3904 0932 / comercial@plurale.com.br
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poluição. “A proteção da vegetação natinati va garante a produção de água de melhor qualidade e em maior quantidade, direto na fonte, diminuindo a necessidade de passar por processos de tratamento”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. Na iniciativa de PSA da instituição, o Oásis, os proprietários que protegem áreas de mata nativa em suas propriedades, além do exigido por lei, recebem uma premiação financeira. “Esse valor é variável de acordo com o tamanho da propriedade e com base em uma série de itens que calculam o estado de conservação e a capacidade das áreas de contribuir para a proteção dos mananciais”, destaca Malu. Ela ressalta que desse modo é possível proporcionar a reflexão e a mudança de comportamento daqueles que são responsáveis pela terra. A Fundação Grupo Boticário atua desde 2006 com o Oásis, protegendo nascentes de água em quatro estados do Brasil (São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais). Até o momento, 228 proprietários já foram beneficiados diretamente, contribuindo para a conservação de mais de 2.478 hectares de áreas naturais e de 743 nascentes. Indiretamente, cerca de oito milhões de pessoas se beneficiam dessa proteção, por utilizarem a água produzida nessas áreas.
P e lo Mundo ANGKOR WAT: SÍMBOLO DO IMPÉRIO KHMER NO CAMBOJA Texto e Fotos: Carolina Araripe, Especial para Plurale em revista Do Blog Garota de Projetos http://garotadeprojetos.wordpress.com/
Destino de muitos mochileiros do globo que aventuram-se pelo sudeste asiático, o Camboja tem como parada obrigatória o parque arqueológico de Angkor, complexo de templos que é símbolo da civilização Khmer. Considerado patrimônio da humanidade pela UNESCO, ele estende-se por 400 km², incluindo sua área florestada, de acordo com a organização. Construído pelo rei Suryavarman II no início do século XII em Angkor, antiga capital do império Khmer e maior cidade pré-industrial do mundo (cerca de 1000 km²), o complexo fica localizado seis quilômetros ao norte da atual Siam Reap. Obra prima da arquitetura Khmer, seus templos impressionam pela maneira como suas estruturas são feitas através de um quebra cabeça de pedras e pela riqueza de detalhes das infinitas esculturas presentes em suas construções. Para o melhor entendimento do significado de tais estruturas, é aconselhável a contratação de um guia local.
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Apesar da falta de registros escritos sobre a história da civilização Khmer, acreditase que o complexo tenha sido erguido em sinal da reverência religiosa da população de Angkor pelo seu sistema de irrigação. Construída em uma região naturalmente favorecida, entre um rio e montanhas, sua localização possibilitou um engenhoso sistema de lagos e canais, viabilizando a fertilização e irrigação de seu solo, não mais comprometendo a suas plantações de arroz, principal alimento da população. Historiadores acreditam, no entanto, que o desvio de esforços e verbas do sistema de irrigação para a construção do santuário do Angkor Wat tenha sido o estopim do fim do império Khmer, que ocupou boa parte do território do sudeste asiático, entre os séculos IX e XV. Símbolo nacional que é, é possível ver a imagem do Angkor Wat, templo principal do complexo, por todos os lados: desde a bandeira do país, a estampas de souvenirs e até mesmo no rótulo da Angkor, cerveja nacional mais famosa. O complexo de templos também foi destaque em Hollywood, com o lançamento do filme “Lara Croft: Tomb Raider” no ano de 2001. Angelina Jolie, esteve por lá rodando cenas de ação para o longa, que é baseado em um jogo de videogame de mesmo nome.
P e lo Mundo Uma das cenas mais famosas deste filme foi gravada no templo de Ta Prohm, onde é possível ver inúmeras e enormes árvores que ganharam vida sobre sua estrutura. Como viajante recém-chegada da Ásia, aqui vai o meu conselho para quem quiser explorá-lo: invista quarenta dólares no passe de maior duração (3 dias), para que você possa explorar a imensidão de templos do complexo sem pressa, conferindo os detalhes de cada construção. E, por último, esteja em dia com as atividades físicas, pois o sobe e desce de muitos degraus lhe exigirá um bom preparo físico.
dicas paRa chegaR ao angkoR Wat e paRa quando estiVeR lá: É possível chegar de avião a Siam Reap, partindo das principais cidades do sudeste asiático, como Bancoque (Tailândia) e Vientiane (Laos), ou de ônibus, partindo de diversos destinos turísticos da Tailândia, do Laos e do próprio Camboja. Para chegar ao parque arqueológico do Angkor Wat, é possível escolher entre contratar um tuk-tuk, que conduz os passageiros de templo a templo durante todo o dia, ou alugar uma bicicleta e explorar os templos sobre duas rodas. Uma vez no Camboja, é importante estar preparado para barganhar desde a diária do hotel até o preço de souvenirs e de um prato de comida, que pode acabar saindo até pela metade do preço declarado no cardápio. PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2013
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Fotos:
carOlina arariPe
soBRe caRolina aRaRipe: Carolina Araripe se autoentitula Garota de Projetos em seu blog, que leva o mesmo nome. Formada em administração de empresas, tinha um emprego estável em uma grande multinacional, quando decidiu que queria viver novas e diferentes experiências. Tinha acabado de completar 24 anos quando, em janeiro de 2013, entrou em um avião que seguia para a Ásia, continente no qual passou o último ano de sua vida. Começou sua jornada na Índia, no estado natal de Gandhi, onde implementou a atividade de marketing digital em uma start-up de tecnologia da informação. Após sete meses de trabalho, entendeu que era hora de partir dali e explorar um pouco mais a Índia e a Ásia. Jogouse na estrada, no projeto chamado por ela de “Mochilão Ásia – 100 pros 25”, uma referência aos cem dias que faltavam para que completasse seus vinte e cinco anos, e viajou por quase quatro meses pela Índia, Laos, Camboja e Tailândia. Viajou sozinha, mas nunca esteve sozinha; conheceu mochileiros dos quatro cantos do mundo. Dos lugares que visitou, gosta de destacar a incrível vista dos Himalayas e a cultura budista no norte da Índia, a pequena cidade de Vang Vieng no Laos, a imensidão da ar arquitetura e riqueza cultural dos templos no Camboja e as paradisíacas praias das ilhas no sul da Tailândia. Adorava passar horas e horas barganhando para conseguir descontos e trouxe na bagagem aventuras inesquecíveis como pegar carona em uma floresta tailandesa, subindo em cima de carros do tipo 4x4, com bicicleta e tudo. Atualmente, já de volta ao Brasil, divide seu tempo compartilhando suas experiências com pessoas próximas e se dedicando aos seus projetos profissionais, através dos quais presta consultoria de projetos, inovação e marketing, explorando o potencial de pequenos negócios. Isso tudo sem deixar de sonhar e começar a planejar outros projetos futuros, é claro. Para saber mais sobre a Carolina e seus projetos, basta visitar: www.garotadeprojetos.wordpress.com
P e las Em pr esas alusa engenharia: campanha de prevenção de acidentes com as mãos
Divulgação
A campanha da Alusa Engenharia tem por objetivo incentivar os colaboradores para analisar os riscos de suas atividades, bem como chamar a atenção para a necessidade de proteger a principal ferramenta de trabalho do ser humano: suas mãos. As marcas dos colaboradores podem ser vistas nas paredes de entrada do Canteiro ADM. Além da ação de pintura das mãos foram realizados treinamentos e DDSMS sobre o assunto nas frentes de serviços.
Egberto Nogueira/ Imã Galeria
Bradesco: crescimento de 15% das transações de pessoas com deficiência visual nas máquinas de autoatendimento
Do Bradesco
O volume de transações realizadas por clientes com deficiência visual nos equipamentos de autoatendimento Bradesco Dia & Noite atingiu a marca de 15 mil operações mensais, em 2013. O número representou
Victor Bicca
coca-cola realiza treinamento para gestão de resíduos nos estádios da copa do mundo da fifa
A Coca-Cola Brasil, em parceria com a FIFA, será a responsável pela ação de gerenciamento de resíduos sólidos da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. A ação, que teve como teste a Copa das Confederações da FIFA 2013, quando 70 toneladas de material foram destinadas à indústria de transformação, será realizada nas 12 cidades-sede do megaevento. Para garantir a excelência do projeto, a empresa irá treinar toda a equipe de catadores de lixo que trabalhará durante os jogos, realizan-
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um crescimento de 15% em relação a 2012. Dois fatores explicam essa elevação: ampliação das opções de serviços disponíveis e o incentivo ao acesso das pessoas com deficiência visual ao mercado de trabalho. Segundo Raul Barreto, superintendente executivo do Bradesco Dia & Noite, 2014 deverá confirmar essa tendência de evolução no uso dos equipamentos de autoatendimento pelas pessoas com deficiência visual. “Vivemos um período positivo de inclusão financeira de crescentes camadas da população que estavam à margem do acesso ao domicílio bancário”, afirma. “Esse cenário representa aos bancos o desafio de buscar mais simplicidade e praticidade para todos os clientes.”
do o Treinamento para Gestão de Resíduos nos Estádios da Copa do Mundo da FIFA. Ao todo, serão 840 catadores de lixo capacitados. Natal foi a primeira cidade-sede a receber o treinamento, em fevereiro. No dia 8/04, será a vez do Rio de Janeiro. Durante a Copa, todo o lixo sólido produzido nos estádios será coletado e encaminhado à reciclagem nas cooperativas apoiadas pela Coca-Cola Brasil participantes do projeto Coletivo Reciclagem, que oferece suporte para a
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Pensando nisso, o Bradesco lançou em janeiro um contador de voz que identifica as cédulas sacadas no autoatendimento. O serviço é exclusivo para o cliente com deficiência visual, que, por meio de um fone de ouvido, interage com a máquina para realizar operações de saldo, saque, extrato e transferência, entre outras possibilidades. O serviço de identificação de cédulas será um conforto a mais. “O cliente reconhece a nota de dinheiro pelo tato, mas essa facilidade da informação pelo sistema de voz amplia a segurança e dá rapidez ao processo”, explica Barreto. Atualmente, o Bradesco atende a mais de 3 mil clientes com deficiência visual e oferece acesso a eles em todo o parque de 33.500 máquinas de autoatendimento. gestão e capacitação em 300 cooperativas em 22 estados. A estimativa é que sejam produzidas cinco toneladas de lixo a cada partida da Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014. Desse total, 40% são resíduos sólidos, passíveis de reciclagem. “Avaliamos a experiência realizada na Copa das Confederações de forma bastante positiva e, em parceria com a FIFA, resolvemos levar a ação para as 12 cidades-sede. A participação dos catadores foi fundamental para o resultado. Pensando na Copa do Mundo, decidimos ir além e contribuir também para o crescimento profissional e pessoal desse grupo. Por isso, criamos o Treinamento para Gestão de Resíduos nos Estádios da Copa do Mundo da FIFA”, explica Victor Bicca (foto), Diretor de Assuntos Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil para a Copa do Mundo da FIFA Brasil 2014.
ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS.
O Boticário é marca preferida entre os brasileiros A empresa O Boticário tem a melhor colocação na lista das dez maiores marcas do Brasil, elaborada por meio da ferramenta YouGov BrandIndex, plataforma que monitora a percepção de consumo das marcas por meio de pesquisas com o público brasileiro. Cada marca recebe uma pontuação (ou Buzz) baseada no fato de os indivíduos terem ouvido algo positivo ou negativo sobre uma marca nas últimas duas semanas, por meio de peças publicitárias, notícias, ou “boca a boca”.
Apesar de ter uma parcela de mercado inferior à rival Natura, que ficou em segundo lugar no ranking de marcas, a rede O Boticário é mais reconhecida pelos compradores brasileiros. A marca de higiene bucal Oral-B é a terceira da lista, batendo a sua maior rival, Colgate, que ficou com o quinto lugar. A Colgate tem uma longa história no Brasil, mas, nos últimos anos, a Oral-B consolidou seus investimentos no país, o que tem surtido efeito com o consumidor.
fiema Brasil 2014, a maior vitrine de soluções ambientais da américa latina A Fiema Brasil 2014 (Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente) vai reunir mais de 200 expositores em Bento Gonçalves, de 22 a 25 de abril de 2014. Realizada pela Fundação Proamb, a maior vitrine de soluções ambientais da América Latina chega à sexta edição com um crescimento de 28,7% com relação à edição de 2012. Na avaliação do coordenador da Fiema Brasil 2014, Fernando Tecchio, a feira reflete como o Rio Grande do Sul e o Brasil caminham para o desenvolvimento ambiental mais responsável, seja
por força de legislação ou pela visão de muitos empresários, que buscam nas soluções para o meio ambiente a otimização de seus processos produtivos. “A Fiema é uma feira de oportunidades – para quem busca soluções, para quem as apresenta, para quem quer investir.” Com participação majoritária de empresas gaúchas (60%), a Fiema Brasil confirma a presença de expositores e palestrantes
de países referência na área, como Estados Unidos, Alemanha, Itália, Holanda e Portugal. Mais informações no site: http://www.fiema.com.br/2014/
levantamento da kPMG : relatórios de sustentabilidade ganharão cada vez mais espaço e importância no meio corporativo À medida que aumentam as preocupações sobre as mudanças climáticas, os desafios ligados ao desenvolvimento sustentável e a desconfiança em relação ao mercado de capitais, cresce também a pressão sobre as organizações por maior transparência, aumentando a importância dos relatórios de sustentabilidade nas empresas. Essa é uma das conclusões da 3ª edição do estudo “Carrots and Sticks”, realizado pela KPMG e que
apresenta um panorama sobre o cenário regulatório em torno dos relatórios de sustentabilidade. O relatório traz, dentre outras informações, alterações e mudanças em normas governamentais, iniciativas no mercado de capitais, além de identificar 180 medidas de caráter voluntário ou mandatório para a adequação de 45 países/regiões que desejam divulgar seu desempenho organizacional.
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casOs De PrOGraMas sOciais
Programa Diálogo jovem fetranspor social Por Márcia Vaz - Gerente Responsabilidade Social e Luiza Genari - Especialista em Responsabilidade Social
O projeto ‘Diálogo Jovem sobre Mobilidade’ foi desenvolvido pela área de Responsabilidade Social da FETRANSPOR (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) para fomentar transformações importantes em seu modelo de negócio, que utiliza o diálogo como principal metodologia de trabalho entre os diferentes stakeholders. O jovem foi escolhido como protagonista deste modelo pelo seu perfil inovador, dinâmico, ousado, e por estar sempre conectado às novas tecnologias – sobretudo as redes sociais – o que faz dele um potencial formador de opinião. Além dessas características desejáveis em processos de transformação, o jovem faz parte do sistema e também representa o futuro cliente – público estratégico e principal beneficiário dos programas de Responsabilidade Social da FETRANSPOR, como o ‘Mobilidade Cidadã’ – programa incorporado ao Diálogo Jovem e que promove encontros entre estudantes de escolas públicas para debater sobre mobilidade. O Programa surgiu com o desafio de incorporar a cultura do diálogo aberto dentro da Federação – aproveitando-se da experiência bem-sucedida do Mobilidade Cidadã – e de conquistar o apoio dos
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stakeholders do sistema. Dessa forma, o Diálogo Jovem agregou diversas inovações no Sistema Fetranspor, como: • A elevação do Jovem e futuro cliente ao papel de protagonista no sistema; • A adoção do programa pelos líderes das organizações envolvendo pessoas que viessem a dar credibilidade e perenidade ao Diálogo; • O diálogo entre stakeholders internos e externos, independentemente de idade, cargo ou função, no coração do negócio; • O empoderamento dos stakeholders na construção colaborativa de propostas para o sistema; • A utilização de metodologias participativas e não hierárquicas de interação e diálogo, inclusive nas mídias sociais; • A utilização da arte na busca de soluções criativas; • O debate com jovens sobre o tema mobilidade de forma interdisciplinar; • A promoção da mudança da cultural organizacional como forma de melhorar a qualidade do serviço prestado aos clientes; • O protagonismo da área de Responsabilidade Social ao propor uma iniciativa com impacto direto e indireto no modelo de negócio da FETRANSPOR.
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O programa-piloto foi lançado no 15º ETRANSPORT em 2012, um dos maiores eventos sobre transporte na América Latina e por onde passariam mais de 10 mil pessoas. Foram selecionados 60 jovens, entre participantes do Mobilidade Cidadã, aprendizes e estagiários que trabalham na Federação e nas empresas do sistema, que tiveram a oportunidade de trocar experiências, participar de palestras, conhecer novas tecnologias, entrevistar e dialogar com executivos do setor e outros convidados. Ao final do evento elaboraram propostas de melhorias no setor e apresentaram três delas, juntamente com um vídeo participativo produzido por eles, na plenária de encerramento do evento com mais de 400 pessoas presentes, incluindo stakeholders da Federação, lideranças políticas, jornalistas, empresários e o público em geral. Além de encantar e conquistar o apoio dos stakeholders da Federação, o programa-piloto validou a proposta do Diálogo, incorporou ideias ao planejamento estratégico de 2013 da FETRANSPOR, desencadeou novos encontros, gerou 3 matérias em revistas e atingiu 300 membros no grupo do Facebook e a repercussão na mídia atingiu um público de mais de 130 mil pessoas. Os encontros presenciais envolveram três Coordenadorias Regionais de Educação (CREs) que representam 317 escolas com 234 mil alunos e 15,4 mil educadores. Os jovens multiplicaram os aprendizados em suas escolas, criaram blogs, mudaram a consciência sobre hábitos de transporte e os que atuam no sistema foram promovidos para áreas estratégicas em suas empresas. Devido ao êxito do piloto, em 2013 o Diálogo Jovem tornou-se um programa da Fetranspor Social, contando com a colaboração das empresas e sindicatos do Sistema Fetranspor. A proposta ampliada prevê o diálogo entre stakeholders do setor, reflexão sobre os principais desafios do transporte e contribuição para o alcance dos objetivos estratégicos de empresas, sindicatos e da Federação alinhadas com a meta global da UITP (União Internacional do Transporte
Divulgação
O evento que culminou com o encerramento da edição de 2013 ocorreu no início de dezembro e reuniu, além dos participantes, autoridades, personalidades do setor e representantes da sociedade civil.
Público), para dobrar a participação de mercado de transporte público até 2025. Na segunda edição o foco é um público jovem parcialmente diferenciado do anterior: são, em sua maioria, colaboradores das empresas de ônibus e sindicatos e busólogos, além de estudantes da rede pública de ensino do município do Rio de Janeiro. A maior parte desse grupo jovem é de univer universitários entre 18 e 29 anos, atuais usuários e futuros líderes e clientes do Sistema de Transportes do Estado do Rio de Janeiro. O programa 2013 contou com a participação de 55 jovens nos encontros, que tem repercutido na página do Facebook entre os seus 130 seguidores e alcançado aproximadamente 1.000 pessoas em apenas dois meses de existência. Durante todo o ano de 2013, os jovens participantes demonstraram, mais uma vez, engajamento e dedicação nos encontros realizados pelo Diálogo Jovem. Foi um ano de atividades, debates e reflexões. Os jovens, indicados por empresas e sindicatos, mostraram que o tema mobilidade não é algo para ser discutido somente entre operadores e poder público. O evento que culminou com o encer encerramento da edição de 2013 ocorreu no início de dezembro e reuniu, além dos par participantes, autoridades, personalidades do
setor e representantes da sociedade civil. O Secretário de Transportes do Município do Rio, Carlos Roberto Osório, participou, falando sobre ações que estão contribuindo para a mobilidade na cidade e respondendo a várias perguntas sobre obras e mudanças no Rio. Foram apresentados as propostas elaboradas pelos jovens para a melhoria da Mobilidade no Estado, bem como outros produtos do programa, como vídeos participativos e facilitação gráfica dos encontros anteriores desse grupo. Com vistas a atingir de forma eficaz os jovens, a estratégia de comunicação baseiase nas mídias sociais (Facebook e YouTube) e conta com o apoio de uma agência de co-
municação jovem, que tem o papel de cobrir os encontros e atividades relacionadas ao projeto, difundindo as ações. O programa é replicável devido ao empoderamento dos jovens como formadores de opinião, uma vez que envolve um público estratégico e impacta socialmente. Isso foi fundamental para a formação de parcerias e na sua ampliação. Incorporadas ao planejamento estratégico da FETRANSPOR e implementadas, as melhorias propostas pelos jovens podem contribuir para a imagem do sistema de transporte público e atrair novos usuários. Cabe destacar que a promoção e difusão do diálogo sobre as vantagens do transporte público são fundamentais para a fidelização dos atuais clientes – potenciais compradores de automóveis – e conquista de novos, pois estarão convencidos de que melhorias no sistema proporcionam o melhor custo-benefício para a sociedade. O diálogo com os clientes atuais e futuros também é fundamental para conhecer suas necessidade e identificar novas fontes de arrecadação para o negócio. Através desse caminho, o sistema Fetranspor estará se aproximando da meta proposta pela UITP. Para tornar esse programa viável, a Fetranspor Social contou com a parceria e cooperação dos sindicatos e empresas do sistema de transporte e Secretaria Municipal de Educação. A consultoria PARES participou da elaboração da proposta, que aliada à ProPlaneta (ONG), foi responsável pela facilitação das atividades participativas. Nas mídias sociais, a Agência PapaGoiaba difundiu as ações do programa.
resultados Diálogo jovem 2012
57 jovens durante os 3 dias do 15º ETRANSPORT 28 empresas de ônibus envolveram seus líderes e colaboradores; 8 sindicatos mobilizaram seus líderes, colaboradores e empresas. Estudantes da 9ª Coordenadoria Regional de Educação;
resultados Diálogo jovem 2013
55 jovens oriundos de 34 empresas de ônibus, 7 sindicatos, Fetranspor, do BSG - Grupo Busólogos de São Gonçalo e da rede municipal de educação. Provenientes de 12
municípios do Estado do RJ.
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cineMa
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Natura apresenta websérie e longa sobre Dominguinhos
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Querendo ajudar professores, especialmente de escolas mais conservadoras, a pensarem em alternativas e novas maneiras de ensinar, três jovens decidiram pesquisar e registrar iniciativas educacionais que seguem novas ideias. “Será que é possível criar essa escola? Uma escola que seja uma escola alegre, prazerosa? Ou a escola tem que ser o serviço militar obrigatório aos 7 anos?” questiona um dos entrevistados do documentário “Quando Sinto Que Já Sei”, produzido com financiamento coletivo através do site Catarse. Ao lado de mais dois amigos, o diretor e produtor Antônio Sagrado, estudante de engenharia de gestão na UFABC e empreendedor na Despertar Filmes, percorreu o Brasil captando diferentes experiências, como escolas democráticas, de educação integral, entre outras. Trechos do filme estão disponíveis no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=lpnQddudcGA
Abertas inscrições para o Fica
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Documentário apresenta propostas alternativas de educação
“Um Dominguinhos que pouca gente conhece: jazzista, improvisador, universal. Virtuoso que nunca estudou música”. Assim Mariana Aydar sintetiza o porquê do seu interesse em realizar uma obra que homenageia este que é um dos ícones da música brasileira. Nela, a cantora menciona uma singularidade bastante marcante na obra desse exímio sanfoneiro: seu refinamento musical, sua universalidade. “Assim era Dominguinhos. Grande, muito grande. Simples, muito simples”, reforça. Tudo isso está presente nos oito capítulos da web série Dominguinhos +, exibidos semanalmente, às quartas-feira, até 16 de abril (através dos endereços www.facebook.com/dominguinhosmais e www.youtube.com/dominguinhosmais), e no documentário Dominguinhos, previsto para estreia em maio. O projeto foi realizado por Mariana Aydar, Duani e Eduardo Nazarian, em associação com a bigBonsai, produtora audiovisual paulistana, e obteve patrocínio do programa Natura Musical mediante seleção no edital nacional de 2010.
Dez anos de Festivalma
Festivais de Cinema Social São muitos os festivais do chamado cinema social - com temática inclusiva – ao redor do mundo. Um deles é o “Social Mundial Film Festival”, realizado em Sorrento, na Itália. Ele pode ser considerado não apenas uma mostra de cinema, mas também como um espaço para reflexão do cinema social como meio de comunicação internacional. A necessidade desse espaço para o social tem sido expressa pelo fato de que muitos se interessam por curtas-metragens, documentários e longas-metragens, produções independentes e de baixo orçamento com base na temática social.
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O Fica 2014 – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental será realizado entre os dias 27 de maio e 1º de junho, na Cidade de Goiás. As inscrições deverão ser realizadas por meio do site do evento, até às 18 horas do dia 20 de março. No total, serão destinados R$ 240 mil para a premiação de filmes da Mostra. São aceitas obras audiovisuais de curta (até 29 minutos), média (de 30 a 69 minutos) e longa-metragem (filmes com mais de 70 minutos), nos gêneros ficção, animação ou documental, com temática ambiental, produzidas em qualquer parte do mundo, realizados a partir de 1º de janeiro de 2012. A 10ª edição do Festivalma – festival de cinema, cultura, arte e música que expressa a importância do esporte como estilo de vida - está sendo festejada com o tema “Transcender”. Até dia 2 de março o evento ocupará o Parque Ibirapuera, em São Paulo, com exposições de fotos e quadros, curtas metragens e shows gratuitos. O festival de curtas será aberto e interativo. O público poderá participar enviando curtas sobre o universo do surf e praia de até 30 minutos para os organizadores do Curtalma. Os três melhores vídeos serão avaliados pelo curador Guilherme Felberg, uma comissão julgadora composta por formadores de opinião do segmento e o voto da população. Além da premiação de R$ 5 mil, R$ 3 mil e R$ 2 mil para os três eleitos, as respectivas produções serão exibidas na mostra de cinema do evento.
enerGia & carBOnO riO De janeirO cOnQuista terceirO selO sOlar Do Instituto Ideal
Arquivo Pessoal
A moradora de uma casa do Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, é a terceira da capital carioca a receber o Selo Solar, pela instalação de um sistema fotovoltaico. A certificação do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal)
é um reconhecimento para proprietários de residências e empresas do país que adotam a eletricidade vinda do sol. O Selo foi conferido no dia 21 de fevereiro para a arquiteta Isabelle de Loys, que fez da própria casa um bom exemplo para os cursos e consultorias que realiza. Com o sistema de 2kW de potência, operando desde junho de 2013, praticamente toda a energia consumida na casa vem da fonte fotovoltaica.
nOvas instituiçÕes se cOMPrOMeteM a nÃO investir eM cOMBustÍveis fósseis Por Fabiano Ávila do Instituto Carbono Brasil
Em 2013, o Banco Mundial anunciou que limitaria seus financiamentos para projetos de carvão, medida que foi seguida pelo governo norte-americano, que afirmou que só ajudaria iniciativas de carvão em outros países caso não exista outra opção energética viável. Também no passado, um estudo da Universidade de Oxford identificou 41 fundos de pensão e grupos de investimen-
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tos que já possuíam algum tipo de ação para diminuir a participação de petróleo e carvão em seus portfólios. No início de fevereiro, 17 fundações norte-americanas, que juntas somam US$ 1,8 bilhão em recursos, se comprometeram a não investir mais em empresas de combustíveis fósseis. “Cada vez está ficando mais claro para as fundações que, se você possui combustíveis fósseis em seu portfólio, você
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é em parte responsável pelas mudanças climáticas”, afirmou Ellen Dorsey, diretora do Fundo Global Wallace, ao jornal The New York Times. Entre as fundações que estão abandonando o carvão e o petróleo se destacam a Park Foundation, que administra US$ 335 milhões, e a Schmidt Family Foundation, com US$ 304 milhões e fundada pelo presidente do Google, Eric E. Schmidt.
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I m a g e m Foto: Fernando
Frazão
Agência Brasil
O
assassinato do cinegrafista Santiago Andrade, da BAND, enquanto cobria manifestação no Centro do Rio, chocou o país e teve repercussão também internacional. Dois jovens acusados de terem soltado o rojão que atingiu o cinegrafista estão presos. Sua morte marcou também uma série de desdobramentos, como medidas para garantir maior segurança à imprensa neste tipo de cobertura. Aqui, em foto de Fernando Frazão, da Agência Brasil, protesto silencioso, de colegas cinegrafistas e fotógrafos, em homenagem ao colega. À família de Santiago e aos colegas da BAND, nossa solidariedade.
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FEIRA INTERNACIONAL DE TECNOLOGIA PARA O MEIO AMBIENTE
RECICLE SEUS NEGÓCIOS Novos comportamentos. Novos conhecimentos. Novos negócios.
22 a 25 de abril de 2014 Fundaparque Bento Gonçalves - RS
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Visite a Fiema Brasil 2014 e participe dos eventos simultâneos.
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