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plurale em revista
ano um | nº 1 | outubro/2007 | R$ 10,00
PASTORAL DA CRIANÇA
ZILDA ARNS A MULHER QUE SALVA VIDAS UMA VIAGEM AO MUNDO DE
AL GORE AS VERDADES INCONVENIENTES UM DEBATE PLURAL
BOLSA-FAMÍLIA, ESCOLA E ESMOLA
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Contexto
MUNDO SUSTENTÁVEL 8E9
BAZAR ÉTICO 15
PELO BRASIL 16 A 20
10.
ENTREVISTA ZILDA ARNS
D C B T P
ESTANTE 27
PELO MUNDO 32 A 36
CARBONO NEUTRO 64 E 65
4 REVISTA PLURALE | Outubro/2007
IMAGEM PLURALE 31
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22.
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50. CONSERVAÇÃO A FLORESTA DO MIGUEL
28.
DEBATE PLURAL CRISTOVAM BUARQUE, TREVISAN E PATRUS ANANIAS
PERFIL AL GORE
POLÊMICA USINA DO MADEIRA
37.
58. MERCADOS NO PREGÃO DAS BOLSAS
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Cartas
Quem faz a plurale Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale Diretor de arte Marcelo Begosso plurale@plurale.com.br Diretor comercial Henrique Bertini comercial@plurale.com.br Jornalista responsável
Contar histórias comprováveis de sucesso nessa área. Exemplos a serem seguidos. Estímulo a outros fazerem igual ou melhor é o princío da roda, começa rodando devagar, devagar e se vai longe. Tenham todo o meu bom olhado. Sérgio Reis
diferentes óticas e, neste sentido, acredito que venha a inovar, já que os assuntos ambientais costumam ser tratados na mídia quase como que monopólios de "eco-maníacos", o que tem contribuido para desvirtuar o debate, transformando-o em um monólogo. Ubiratan Jorge Iório
A Plurale acende a luz verde da esperança, não apenas por sua proposta de tratar cases sócioambientais, mas principalmente a de apresentá-los mostrando diferentes pontos de vista de profissionais que vêm estudando o terceiro setor. Representa uma tentativa muito bem vinda de tratar temas importantes sob
Tenho certeza que Plurale chega para suprir o mercado como uma publicação com espaço aberto para a reflexão sobre temas contemporâneos. Sempre, claro, com a qualidade e primazia jornalística característica dos profissionais envolvidos no projeto. William Parron
Sônia Araripe mtb 177787 Fotografia Cacalos Garrastazu e ABr
Frases
OS PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO TÊM ASSUMIDO O SEU PAPEL NO COMBATE À MUDANÇA CLIMÁTICA,MAS PRECISAM INTENSIFICAR AS MEDIDAS QUE JÁ ESTÃO SENDO TOMADAS.
Colaboradores nacionais Múcio Bezerra, Isabel Capaverde, Marcelo Pinto, Vicente Senna, Tiago Ribeiro Colaboradores internacionais Renata Mondelo, Virginia Silveira, Yume Ikeda, Marta Lage e Ivna Maluly Plurale é a uma publicação da Editora Olimpo (CNPJ 07.596.982/0001-75) em parceria com a SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) Impressão: Gráfica Ideal Revista impressa em papel reciclado
A FORÇA DO CANDOMBLÉ ESTÁ NO SANGUE VERDE DAS PLANTAS E NÃO NO SANGUE VERMELHO DOS ANIMAIS
MARINA SILVA MINISTRA DO MEIO AMBIENTE EM DISCURSO NA ONU, EM NOVA YORK,
FOLHA DE S. PAULO 25/9/07
PAI AGENOR PROFESSOR DO COLÉGIO PEDRO II, ESCRITOR E POETA
DIZEM QUE O ACORDO DE KYOTO FOI DURO, MAS ELE FOI ATÉ SUAVE DEMAIS.
MAURICE STRONG,
(1907-2004)
SECRETÁRIO-GERAL DA RIO-92, QUE CULMINOU COM O SURGIMENTO, 5 ANOS DEPOIS, DO PROTOCOLO DE KYOTO O GLOBO, 19/9/07
Uberlândia (MG) | Avenida Afonso Pena, 547/sala 95 CEP 38400-128 | Tel.: 0xx34-32530708 São Paulo | Alameda Barros, 66/158 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-92310947 Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-39040932
SERÁ QUE O CORTE DE CANA-DE-AÇÚCAR É MUITO MAIS PENOSO DO QUE TRABALHAR NUMA MINA DE CARVÃO? E POR QUANTAS DÉCADAS E SÉCULOS O CARVÃO DETERMINOU A ECONOMIA DO MUNDO?
LULA
PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, EM VISITA À ESPANHA
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AGÊNCIA BRASIL, 17/9/07
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Editorial
odos nós cansamos, sem que para isso fosse necessário fazer movimento ou assinar qualquer documento sobre o assunto, de ouvir de empresas e empresários que a mídia não abre espaço para notícias boas, só quer escândalo ou negócios, como compra e aquisição, e sobretudo disputas concorrenciais. Portanto, segundo esses mesmos interlocutores, a mídia fica fechada às boas notícias, como os trabalhos sociais e ambientais que executam. Foi assim, então e depois de experiência acumulada em décadas, em várias redações, e também porque igualmente a todos os cidadãos fomos chamados a participar de uma reflexão global que toma corpo sobre sustentabilidade -– Qual planeta deixaremos para seus futuros habitantes? -, é que eu (Carlos Franco) e Sônia Araripe (jornalista de primeiro time e amiga de longa data) decidimos arregaçar as mangas, longe das redações, e elaborar um projeto. Um projeto de mídia que traz notícias boas e alerta para as ruins, dentro do contexto da responsabilidade, individual e coletiva, social, econômica e ambiental. Depois de muita discussão, decidimos que ele deveria ser abrangente, que não se limitasse às questões ambientais, que também abrisse espaço para as inclusões sociais e econômicas, a responsabilidade que cada um de nós tem com nossos pares, além da fronteira dos lares aos quais dedicamos todo o nosso afeto e o que de melhor podemos planejar e executar com visão de futuro. Chegamos, então, à conclusão de que não poderia ser projeto conjugado no singular, mas no plural. Buscamos o radical latino dessa palavra mágica - a palavra que une e agrega - e chegamos à Plurale. Nova batalha se desenhou diante de nós. Para ser plural, realmente no plural, teríamos, ainda que, sem estrutura financeira sólida, buscar conjugar a idéia com nossos pares - e o fizemos. O resultado não poderia ser mais exitoso. Trouxemos nesse esforço e para participar do projeto amigos também de longa data, jornalistas que sempre atuaram no mercado com competência e visão de futuro. O texto sensível de Múcio Bezerra, que os leitores de O Globo e Jornal do Brasil dos bons tempos certamente sentem falta. A empolgação de Isabel Capaverde, especialista em cultura e informática, e de Vírginia Silveira, que durante anos escreveu sobre Aviação, Ciência, Tecnologia e Assuntos Militares na Gazeta Mercantil, hoje morando em Madri. O olhar de olhos meigos e puxados de Yume Ikeda. A sensibilidade de Renata Mondelo, que hoje mora na Suíça, e continua, como sempre, atenta a lançamentos literários, ao consumo ético e à verdadeira febre sustentável que tem raízes na Comunidade Européia. A visão arrojada de Ivana Maluly, também experiente repórter da Gazeta Mercantil, que está na Bélgica, mais amigos que temos ao redor da Terra, dispostos a enviar notícias de outras partes, que buscam recompor a parte Terra, o planeta, para que todos, no plural e não no singular, possamos viver melhor.
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DO LATIM PLURAL Geraldo Samor, ex-correspondente do Wall Street Journal no Brasil, hoje consultor de fundos de investimento internacionais, é outro que veio em nosso socorro, de primeira hora, sugerindo, participando ativamente de todas as discussões. No caminho, se agregou Matilde Silveira, vinda de longa passagem em O Globo, que corrigia com imensa paciência e cuidado os meus e os erros da Sônia para que os leitores do Jornal do Brasil pudessem ler, no passado hoje distante, reportagens mais claras, mais objetivas. Também nessa trajetória, tivemos reencontros, com o Marcelo Pinto, jornalista de primeira, pai de duas lindas crianças, e sempre atento ao que ocorre ao redor. Nessa caminhada, chegamos ao Henrique Bertinni, homem de marketing e consultoria, que assumirá a área comercial de Plurale. O design e publicitário Marcelo Begosso assina o belo projeto gráfico. Boa leitura
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PATRÍCIA ALMEIDA ASHLEY
HISTÓRIA AMBIENTAL, SOCIAL E ECONÔMICA COMO MARCADA SUSTENTABILIDADE uando nos contam sobre quem e como produziu o que compramos, passamos a saber o passado, a origem de um produto. Quando ficamos sabendo as características do produto e do ambiente em que nos é apresentado e oferecido na hora de decidirmos pela sua compra ou fruição, conhecemos o presente de um produto no tempo de sua compra. Quando ficamos sabendo o quanto e como o produto proporciona satisfação aos nossos desejos e expectativas enquanto é consumido ou utilizado ao longo do seu tempo de uso, conhecemos o futuro de um produto no tempo de seu uso ou consumo. Quando, por acaso, ficamos sabendo para onde foi o que restou de um produto após concluirmos o tempo de seu uso ou encerrarmos a escolha de ficarmos com o produto, conhecemos o futuro do produto na fase pós-consumo de quem o usufruiu. Estando nós conscientes ou não, de fato vendemos, compramos, consumimos e usufruimos toda uma história do momento passado, do momento presente e do momento futuro dos produtos que nos possam ser acessíveis de forma privada ou de forma pública. Ou seja, todos somos co-responsáveis sobre a história social, econômica e ambiental dos produtos que são extraídos, produzidos, comercializados, transportados, consumidos e descartados.
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O comércio varejista é o segmento da economia que tem a maior capilaridade na sociedade e que chega junto às famílias e, também, o varejo organizado em associações pode reconfigurar e construir redes de fornecedores para que compartilhem valores e princípios de responsabilidade social e ambiental. Está no varejo uma excelente oportunidade para a prática da responsabilidade social e ambiental, incentivando a formação de fornece-
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dores para uma rede ou associação de varejo que ofereça uma marca de varejo responsável a ser agregada a imagem da empresa que cuida: do produto que oferece e do ambiente das instalações que abriga os seus produtos (presente), do que escolhe como fornecedores e conta sobre a origem de seus produtos (passado), do que faz com os resíduos/lixo de sua atividade comercial (futuro do processo de venda), do que informa sobre como o produto deve ser manuseado, usufruido, consumido e descartado após o seu consumo (futuro do processo de consumo e pós-consumo). O varejo e suas lojas precisam exibir mais o valor que dão ao passado, presente e futuro do que nos oferecem para venda. Buscar saber e contar a história dos produtos produzidos e comercializados faz parte da responsabilidade social empresarial. As etiquetas precisam contar mais sobre o que compramos. Entretanto, há de se repensar um novo Pacto Social entre Economia, Sociedade, Meio Ambiente e Governo. Quando fica mais caro ser empresa legal, alguma coisa está errada nas políticas públicas. Quando é mais barato, para os empresários, os empreendimentos não apresentarem cuidado ambiental, alguma coisa não está certa na nossa sociedade e economia. Quando os preços de venda dos produtos ficam mais baratos só porque o patrão obriga seus empregados a trabalharem mais do que a legislação permite, sem haver compensação financeira para os empregados, nem cuidado com a saúde e segurança dos trabalhadores, alguma coisa está muito errada em nossa economia e sociedade. O Governo Federal, governos estaduais e municipais precisam encontrar instrumentos tributários e financeiros que incentivem o mercado com menor carga tributária e menores taxas de financiamento para as empresas que atuem de forma correta nas relações de trabalho e nas questões ambientais, privilegiando melhores condições econômicas para a sustentabilidade de empresas que cumprem sua responsabilidade social e ambiental no local de trabalho
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e ao longo da rede de fornecedores que atuam em parceria com a empresa. Que sejam criados Imposto de Renda Ecológico e Social, ICMS com alíquotas diferenciadas para empresas que cumprem sua responsabilidade social e ambiental, IPI Ecológico e Social, Financiamento Ecológico e Social, Encargos Sociais Diferenciados para Empresas Socialmente Responsáveis, Legislação para Licitações diferenciando fornecedores que oferecem Certificados ou Selos Sociais e Ambientais para diferenciar a pontuação, alíquotas menores de IPTU para os que investem em melhores condições ambientais do solo, da água e do ar da cidade. Quando o meio ambiente e os trabalhadores recebem melhores condições e investimentos para a qualidade ambiental e de vida no trabalho, ganha toda a sociedade e toda a economia, proporcionando condições para um território sustentável, uma economia sustentável e uma sociedade sustentável. A economia, a sociedade e o meio-ambiente precisam estar inseridos concomitantemente nos critérios para tomarmos as decisões de empreender, de produzir, de trabalhar, de comercializar, de transportar, de consumir, de legislar, de tributar, de governar, de financiar. Precisamos somar e integrar ações do governo, das empresas e da sociedade civil, da educação superior, básica e infantil, para que contribuam no desenvolvimento de mercados e políticas públicas para empresas responsáveis, criando, assim, condições para sociedades, organizações e territórios sustentáveis.
Profa. Dra. Patrícia Almeida Ashley Rede de Educação e Pesquisa em Mercados Responsáveis - Departamento de Ciências Administrativas e Contábeis - Universidade Federal de São João Del-Rei Contatos: patricia@ufsj.edu.br Projeto Ecocidades: www.ecocidades.org
Desenvolvimento Sustentável, segundo a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidas (ONU), é aquele que atende às necessidades presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. A idéia deriva do conceito de ecodesenvolvimento, proposto nos anos 1970 por Maurice Strong e Ignacy Sachs, durante a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo, 1972), a qual deu origem ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA. Em 1987, a CMMAD, presidida pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu relatório Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como Relatório Brundtland. O conceito foi definitivamente incorporado como um princípio, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de 1992 - Eco-92, no Rio de Janeiro. O Desenvolvimento Sustentável busca o equilíbrio entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu como base para a formulação da Agenda 21, com a qual mais de 170 países se comprometeram, por ocasião da Conferência. Trata-se de um abrangente conjunto de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado.
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L ZidA
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Entrevista
A pastora de crianças
ARNS COORDENADORA DA
PASTORAL DA CRIANÇA
DEFENDE OS EXCLUÍDOS E CRITICA QUEM NÃO SE PREOCUPA COM A DESIGUALDADE SOCIAL
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Amazônia Ana Laura Arantes Pereira, de sete meses, encontrou alento nos braços da Pastoral da Criança
TEXTO [SONIA ARARIPE] FOTOS [JADER ROCHA E FERNANDO SOUZA]
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uem vê esta senhora entrar e sair de casebres simples em rincões longínquos com a disposição de uma jovem voluntária não tem dúvidas. A médica pediatra Zilda Arns Neumann, fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da Criança, nasceu para cumprir esta missão. Seja em Florestópolis, no interior do Paraná, cidade de bóias frias onde começou o projeto, em 1982, ou nas comunidades simples de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde esteve em setembro. Ali, a carinha rechonchuda da pequena Ana Laura Arantes Pereira, sete meses, é o retrato vivo de que é possível acreditar no milagre da multiplicação dos pães. Ou melhor, do soro caseiro e da boa orientação em torno de alimentos saudáveis. Aos 73 anos, viúva, mãe de cinco filhos e avó de 10 netos, Dona Zilda, como é mais conhecida, poderia estar curtindo a melhor idade lendo ou debatendo temas relevantes para o desenvolvimento sustentado do planeta. Mas, junto com Dom Geraldo Majella Agnello, Arcebispo Primaz do Brasil e Presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na época Arcebispo de Londrina, aceitou a sugestão da Unicef (Fundo das Nações Unidas de Proteção à Infância) para desenvolver um projeto social que combatesse a desnutrição e a violência no Brasil. O reconhecimento mundial por este trabalho que envolve cerca de 267 mil voluntários confirma os resultados: a médica foi indicada quatro vezes ao Prêmio Nobel da Paz e o programa é seguido em 16 países. Ela sabe que não está mais pregando para um deserto. Conquistou a parceria de importantes empresas, governos e pessoas comuns que se encantam pela missão de tirar da desnutrição milhares de crianças. Os resultados comprovam a eficácia do trabalho. Após 24 anos, a Pastoral acompanha 1,9 milhão de crianças menores de seis anos e 1,4 milhão de famílias pobres, em 4.063 municípios brasileiros. Dona Zilda se dirige aos que se escondem na crítica ao assistencialismo para não ajudar os mais necessitados. Como economistas, empresários e políticos. “Há muita impunidade e tolerância, falta de ética no trato com os interesses da população, especialmente com os mais pobres. Os profissionais liberais, autônomos, trabalhadores públicos e privados também precisam ter compromisso com o bem comum. A pobreza, a baixa escolaridade, a violência e a corrupção só são combatidos com a soma de esforços.” No fim do ano ela deixará a coordenação da Pastoral da Criança, mas continuará a participar do projeto, dedicando-se, no entanto, mais à Pastoral da Pessoa Idosa e à Pastoral da Criança Internacional.
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Entrevista
Já são 24 anos de trabalho intenso na Pastoral da Criança. Que balanço a senhora faz do que já foi feito? Em que projetos, metas vocês estão envolvidos para o futuro? Começamos o projeto-piloto da Pastoral da Criança no ano de 1982, em Florestópolis, uma pequena cidade canavieira no Norte do Estado do Paraná. Lá, 74% do plantio e corte da cana de açúcar era feito por bóias-frias. A mortalidade era de 127 crianças por mil nascidas vivas; depois de um ano de mobilização comunitária, educação das famílias e melhorias nos serviços públicos de saúde, essa taxa caiu para 28 por mil. Hoje, a Pastoral da Criança está presente em todos os estados brasileiros, 267 mil voluntários acompanham 1,9 milhão de crianças de zero a seis anos e 97 mil gestantes. Além de contribuir para promover a saúde e o pleno desenvolvimento de crianças de zero a seis anos, também trabalhamos com o fortalecimento do tecido social, a articulação de políticas públicas, a defesa dos direitos das crianças e adolescentes e a alfabetização de jovens e adultos. Nossos líderes voluntários conseguem acompanhar 20% das crianças pobres do Brasil, nossa meta é chegar a todas elas. Temos outro grande desafio, que é reduzir a anemia entre as crianças e os jovens. Para isso, promovemos a educação alimentar das famílias acompanhadas pela Pastoral da Criança, com ações de valorização dos alimentos regionais ricos em ferro, como feijão, ovos, fígado, miúdos de galinha, e o cultivo de hortas caseiras. Que resultados efetivos podem ser apresentados? As ações da Pastoral da Criança salvam, a cada ano, cerca de cinco mil vidas. Entre as crianças acompanhadas apenas 3,6% encontram-se desnutridas, índice que é considerado controlado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A taxa de mortalidade é de 13 por mil, quase metade da média nacional, sendo que em comunidades em que atuamos, favelas e bolsões de pobre-
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AS AÇÕES DA PASTORAL SALVAM, A CADA ANO, 5 MIL VIDAS
za, a mortalidade chega a ser mais que o dobro da média nacional, antes de serem implantadas as ações básicas de promoção da saúde, educação e cidadania. Várias empresas colaboram com o programa. A participação do setor privado tem sido essencial? Nós buscamos a união de esforços de todos os setores para a promoção humana das crianças mais pobres no seu contexto familiar e comunitário. O apoio das empresas contribui para a realização das ações complementares, como o projeto Brinquedos e Brincadeiras, Geração de Renda, pesquisas e manutenção de equipes de apoio. Várias empresas nos apóiam, como o Banco HSBC, a Rede Globo/Unesco, com o projeto Criança Esperança, Gerdau, Gol Linhas Aéreas, entre diversas outras. Também temos convênios em alguns estados com empresas distribuidoras de energia elétrica, que viabilizam doações espontâneas da população pela conta de luz. No entanto, mais da metade dos recursos da Pastoral da Criança vêm do Ministério da Saúde, contamos com esse apoio desde 1985, e também temos convênios com diversos governos estaduais e municipais. Como a sra. vê a participação cada vez maior da sociedade civil engaja-
da - em ações voluntárias - na luta para um Brasil mais fortalecido, com inclusão social, cultural e econômica? Isso significa um potencial enorme, as pessoas querem oportunidades para trabalhar voluntariamente naquilo em que acreditam. O crescimento das instituições sociais e das ações de empresas nas áreas social e ambiental gera mais oportunidades. A mídia também colabora quando divulga informações que sensibilizam as pessoas e as tornam mais conscientes. A construção de uma sociedade fraterna, na qual haja justiça, depende das atitudes de cada um de nós. Devemos valorizar as relações humanas e sociais, não só o que tem valor econômico e financeiro, e consolidar a ética orientada pela honestidade, pela solidariedade e a co-responsabilidade social. A criança no Brasil hoje se alimenta melhor do que há alguns anos? Há uma diferença em relação à criança do Norte, do Nordeste ou do Sudeste/Sul? Ou uma criança subnutrida é igual, independentemente da região? Encontramos menos crianças desnutridas nas regiões mais desenvolvidas. Entretanto, há bolsões de pobreza, miséria e violência em todas as regiões do país. Os hábitos alimentares mudaram, as mães trocam o feijão com arroz por macarrão, sanduíches, doces e outros. Precisamos retomar o consumo de alimentos regionais e tradicionais como os ovos, alimentos ricos em ferro, como o fígado e verduras verdes escuras. Pesquisa realizada pela Pastoral da Criança, em conjunto com a Universidade de Pelotas, em 2004, demonstrou que há mais de 50% de crianças pobres anêmicas. Tanto no Sul quanto no Norte do Brasil, principalmente nas periferias das cidades grandes, as pessoas que vivem nas comunidades mais pobres têm uma alimentação com poucos nutrientes e muitos carboidratos. Há necessidade de ensinar às famílias a buscarem uma alimentação saudável, rica em ferro e em
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vitamina C, que é necessária para a sua absorção pelo organismo. Ainda há muito desperdício de alimentos no Brasil. E uma fartura que não é totalmente aproveitada. A sra. acredita que isso possa mudar com um bom trabalho de educação? Para que não haja desperdício de alimentos é necessário ter conhecimento de como produzi-los, transportá-los e utilizá-los. Vemos que há falta de estímulo à produção e consumo dos produtos regionais, o que aumenta o valor dos alimentos e o risco de perdas. As três esferas de governo necessitam da colaboração da sociedade civil para desenvolver políticas públicas de segurança alimentar que cheguem realmente às famílias mais pobres e que possam, ao mesmo tempo, promover a cidadania e não a dependência. Mas, além das ações do governo, as pessoas precisam aprender a valorizar os alimentos, devem saber que para uma boa nutrição também é preciso amor, investir tempo para seu preparo e mesmo no seu cultivo, quando é possível. Estamos começando um projeto de hortas caseiras, que mostra que mesmo onde há pouco espaço,
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como nas favelas, usando a criatividade é possível usar baldes, bacias, tampos de fogões velhos para plantar verduras, frutas e temperos. Na base de tudo há um problema econômico. Na sua visão, a economia brasileira vive hoje dias melhores? Qual a sua visão da economia brasileira hoje e para os próximos anos? Desde 1994, vivemos dias melhores, temos mais estabilidade na economia e na inflação, o que contribui para a segurança alimentar. Com a inflação controlada, as famílias têm mais condições de ter acesso contínuo aos alimentos, o que é importante para o controle da desnutrição. O Brasil, mesmo assim, continua entre os países com maior índice de desigualdade do mundo. Se por um lado as pessoas têm mais acesso à educação e aos serviços de saúde, ainda há muito o que fazer para que haja qualidade na educação pública em tempo integral, com esportes, artes, e mais investimento em emprego e programas de geração de trabalho e renda. Outro grande problema é a corrupção, que pode desviar muitos recursos que deveriam atender interes-
ses públicos. Esse é um dos grandes cânceres do nosso país, que precisa ser combatido com urgência. Acredito que a desigualdade de renda e a corrupção só serão reduzidos com a educação de qualidade, fundamentada em valores culturais éticos, desde a infância. A sra. não acha que falta visão social aos economistas em geral? Debatem muito os juros, o câmbio, o superávit e se preocupam pouco com a pobreza, com a educação, com a microeconomia. Não só os economistas, mas também políticos e muitos empresários, pessoas de todas as áreas. Há muita impunidade e tolerância, falta de ética no trato com os interesses da população, especialmente com os mais pobres. Os profissionais liberais, autônomos, trabalhadores públicos e privados também precisam ter compromisso com o bem comum. A pobreza, a baixa escolaridade, a violência e a corrupção só são combatidos com a soma de esforços. Qual é o papel do Estado no Brasil? O Estado, de uma maneira geral, não está faltando com o seu papel de
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O PAPEL DO ESTADO É EXECUTAR POLÍTICAS PÚBLICAS SEM DESVIAR DINHEIRO
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provedor das condições básicas para os cidadãos, como direito à escola, saúde, segurança, etc? Para haver desenvolvimento todos devem ter garantidos os seus direitos sociais básicos, que estão na Constituição. Sabemos que problema da desigualdade de renda está relacionado com a baixa escolaridade. A violência é diretamente proporcional à concentração de renda. A falta de estrutura familiar e social é conseqüência da ausência de valores éticos e de diversos fatores econômicos e sociais. O papel do Estado é elaborar e executar políticas públicas efetivas, sem desviar dinheiro, e a sociedade civil precisa estar unida e articulada para cobrar a qualidade dos serviços e contribuir para o seu aprimoramento. O controle social deve acontecer em todas os níveis de governo e em todos os setores. Qual a sua opinião sobre o programa Bolsa Família? Recentemente, o presidente anunciou sua ampliação, chegando ao jovem de até 17 anos. É esta a solução? A transferência de recursos diretamente para a família é um estímulo para que as crianças e jovens permaneçam na escola. Mas por si só não garante um futuro melhor, se não for acompanhada pela educação de qualidade, que proporcione o desenvolvimento integral, ou seja, físico, cognitivo, social e espiritual. Os programas sociais devem promover a inclusão social, o empreendedorismo e a paz nas famílias e comunidades. Assistencialismo resolve o problema da fome e da pobreza no Brasil? Não resolve, mas quem tem fome, e está sem casa, não consegue estudar e trabalhar, precisa de ajuda. Temos que pensar em ações conjuntas que resolvam os problemas urgentes e abram caminhos para soluções permanentes. Não faltam programas efetivos de geração de renda para esta população tão mal assistida? Temos bons exemplos, mas ainda são poucos perto da grande necessidade de oportunidade das pessoas mais pobres. Programas de geração de renda exigem maior investimento, pessoas capacitadas, estudo das vocações locais e regionais, além de acompanhamento das microempresas no período inicial. Como a sra. avalia especificamente a questão das crianças índias e herdeiros de quilombolas? Esses grupos são mais vulneráveis e precisam de atenção especial por parte dos governos e de toda a sociedade. Em 2006, a Pastoral da Criança acompanhou 7.789 crianças indígenas. A média de desnutrição entre elas foi de 8%, o dobro da média nacional entre todas as crianças acompanhadas por nós. Houve uma significativa redução na mortalidade infantil entre os índios acompanhados pela Pastoral da Criança, de 32 por mil nascidos vivos, em 2005, caiu, significativamente, para 11,6 por mil, em 2006. Nas comunidades quilombolas, nas quais acompanhamos 868 crianças, a mortalidade infantil, em 2006, foi de 20 por mil e a desnutrição está em 8%. A sra. tem sido reconhecida mundialmente pelo trabalho desenvolvido. Que é de toda uma legião de voluntários e envolvidos. A sra não teme que, de alguma forma, o projeto fique muito centralizado na sua figura? A Pastoral da Criança completará 25 anos em 2008; costumo dizer que é uma bela moça, bem gerada e estruturada e com todas as condições para continuar seu caminho. Ela já construiu o seu espaço, pelos resultados alcançados, pela sua maneira de trabalhar, com amor, generosidade, fé e vida, além do conhecimento científico aplicado. Ela multiplica nas redes comunitárias toda a sua sabedoria e solidariedade. No final desse ano, será eleita uma nova coordenadora nacional da instituição, mas continuarei na Pastoral da Criança, filha que gerei, até quando eu possa servi-la. Quero me dedicar mais à Pastoral da Criança Internacional e à Pastoral da Pessoa Idosa, porque tenho certeza que a Pastoral da Criança irá continuar crescendo em sabedoria e graça, levando fé e vida a milhões de crianças no Brasil e no mundo.
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ético
Imãs artesanais R$ 3,50 cada
TAMAR da junção das palavras tartaruga marinha é um projeto que visa preservar essa espécie. Quem compra esses produtos contribui para a iniciativa www.projetotamar.org.br
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PELO BRASIL UM VENTO SAGRADO
CLIMA QUENTE NO BRASIL O Brasil sofrerá sérias mudanças climáticas nos próximos 50 anos se não forem tomadas medidas de preservação ambiental, como a redução dos índices de desmatamento e de liberação de gases causadores do efeito estufa. É o que aponta o estudo "Cenário climático futuro: avaliações e considerações para a tomada de decisões", coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estudo leva em conta dois cenários: um pessimista e outro otimista. No primeiro, estima-se que o desmatamento e a poluição continuem na proporção em que ocorrem atualmente e que o Protocolo
Bel Kutner, Camila
de Quioto não seja seguido. Nesse caso, nos próximos 50 anos, a tem-
Amado, Ciro Barcelos,
peratura na Amazônia poderia sofrer aquecimento entre 6 e 8 graus
Fernando Alves Pinto,
e redução da chuva em 20%.
Maria Zilda, Pedro Bial e
O cenário otimista considera uma sociedade ecologicamente corre-
Regina Casé se uniram, no
ta, onde seriam reduzidas a poluição e o desmatamento e seguido o
mês passado, ao ministro
Protocolo de Quioto. O aumento de temperatura na região amazôni-
da Cultura, Gilberto Gil,
ca não seria evitado, porém seria menor, entre 4 e 5 graus e a redução
para celebrar o centenário
das chuvas ficaria entre 10% e 15%.
de Agenor Miranda da
O Nordeste seria outra região. De acordo com o estudo, o clima
Rocha (1907/2004) na
pode passar de semi-árido para árido, que se assemelha ao de deser-
Biblioteca Nacional, no
to, sem chuvas. A alteração teria, inclusive, conseqüências sociais, como
Rio.
a migração da população local, aponta o estudo. (ABr)
Pai Agenor foi uma das maiores autoridades religiosas na história do Candomblé. Nascido em Luanda, na Angola, mudou-se para a Bahia aos 5 anos de idade. Foi iniciado na religião afro-brasileira por Mãe Aninha (Ana Eugênia dos Santos) e tornou-se erúdito defensor da liberdade religiosa. Foi professor do Colégio Pedro II, escritor e poeta.
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BRASÍLIA COM CRÉDITO TEXTO [MARCELO PINTO]
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mudas ficará por conta da empresa Max Ambiental, que concede o selo “Carbono Neutro”. Já as mudas serão produzidas no Viveiro da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal (FUNAP) e depois plantadas nas bordas de 200 nascentes ameaçadas, a maioria delas na cidade de Brazlândia, a 50 quilômetros de Brasília. As áreas de plantio serão monitoradas por cinco anos. Segundo a Max Ambiental, não há registro, no segmento de restaurantes ou churrascarias, de iniciativas semelhantes no Brasil nem no exterior. “Hoje, não dá mais para conceber a expressão responsabilidade social sem uma participação mais efetiva na questão ambiental. É isso que dá lastro à imagem ins-
Há três meses, a capital da
titucional”, avalia Henrique Bertini, consultor de Marketing e diretor da HBertini,
República entrou definitivamente
empresa que promoveu a parceria entre o Porcão Brasília e o programa Plantando
no mercado de crédito de carbono.
o Futuro – que tem o apoio da SOS Mata Atlântica e da Frente Parlamentar
Quem saiu na frente foi o restau-
Ambientalista, liderada pelo deputado Sarney Filho (PV-MA) e composta por mais
rante Porcão, que, em sociedade
de 300 deputados federais e senadores de diversos partidos políticos.
com o programa Plantando o Futu-
Segundo Bertini, a época de lançamento do programa não foi uma escolha ale-
ro – da ONG brasiliense Amigos
atória, tendo sido determinada pelo Ano Nacional do Desenvolvimento Limpo –
do Futuro – se comprometeu a
lançado pelo governo federal e que vai de junho de 2007 a junho de 2008. Instituí-
plantar mudas de espécies do
do por decreto, no último dia 11 de maio, sob a assinatura de três ministérios – Meio
Cerrado para neutralizar o gás
Ambiente, Ciência e Tecnologia, e Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
carbônico emitido por suas insta-
– o “Ano” tem como objetivo mobilizar a sociedade para a adoção de instrumen-
lações.
tos capazes de compatibilizar as aspirações de crescimento econômico e de inclusão
O cálculo da quantidade de
social com a proteção ao meio ambiente.
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PELO BRASIL A ONU E A
VIDA DE ÍNDIO
Foto: ABr
A Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) aprovou no dia 13 de setembro a Declaração dos Povos Indígenas. Ela recomenda medidas que assegurem o direito de participação política dos índios, acesso à terra e aos recursos tradicionais e preservações do territórios. O texto foi aprovado com votos contrários de Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Outros 143 países votaram a favor e 11 se abstiveram. O documento não é um marco legal obrigatório, e os países podem decidir se cumprem as recomendações. A declaração também condena a discriminação contra os indígenas e propõe a adoção de medidas assegurando a participação dos índios na formulação de políticas voltada para essa população. Além disso, reconhece o direito dessas etnias de decidir sobre seu desenvolvimento econômico, social e político. Ao todo, vivem em cerca de 70 países 370 milhões de indígenas, segundo a ONU. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, disse que o documento é
rio durante a cerimônia de aprovação da Declaração, Ki-moon também chamou a sociedade civil a pressionar pela inclusão dos índios nas políticas públicas.
“uma forma de os países membros da ONU
Em 2006, a Declaração dos Povos Indígenas foi adotada pelo Con-
e os povos indígenas se reconciliarem com
selho de Direitos Humanos da ONU. No entanto, três países africa-
passado doloroso e seguir em frente para
nos – Botsuana, Namíbia e Nigéria – questionou os princípios de
avançarem na garantia dos direitos huma-
auto-determinação, relacionados à territorialidade. O argumento
nos, justiça e desenvolvimento para todos”.
era de que isso poderia enfraquecer a integridade ou a unidade polí-
Em nota lida pela porta-voz do secretá-
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tica de nações. (ABr)
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Elza Fiúza/ABr
A MINISTRA E A FLORESTA Brasília – A Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em Rondônia, será a primeira do país a ser entregue, por concessão, à iniciativa privada. A unidade de conservação do Jamari tem 220 mil hectares de extensão, dos quais 90 mil hectares serão alvo da concessão por até 40 anos. O anúncio foi feito pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. As empresas que ganharem a licitação (a ser aberta em 31 de outubro) poderão fazer o manejo sustentável, retirando do local uma quantidade de produtos que não prejudiquem sua recuperação. Dentro dos 90 mil hectares podem ser explorados frutos, madeira, sementes, resinas, óleos etc. Também serão permitidas atividades de serviços como turismo ecológico. Não poderão, no entanto, retirar recursos genético, minerais, hídricos ou a fauna da floresta.
A LUTA CONTRA A PROSTITUIÇÃO INFANTIL Uma campanha publicitária para combater a exploração sexual
Foz do Iguaçu (Brasil) pelos gover-
durante a 3ª Jornada Pelos Direi-
nos dos três países.
tos das Crianças e Adolescentes
e comercial infantil será feita na
O assunto foi debatido em
contra o Tráfico e a Exploração
região da tríplice fronteira - nas
Puerto Iguazú por representan-
Sexual na Tríplice Fronteira - Três
cidades de Puerto Iguazú (Argenti-
tes dos poderes Executivo, Legis-
Países, Três Poderes, no início
na), Cuidad del Este (Paraguai) e
lativo e Judiciário desses países,
deste mês.
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PELO BRASIL
GOL
DE PLACA
O ex-jogador de futebol Zico marcou um gol de placa ao aceitar convite da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) para gravar comercial para a “Campanha Nacional de Combate ao Câncer de Pênis”. Zico não cobrou cachê. “Jogue limpo com o seu amigo. A prevenção está em suas mãos”, é o que ele diz no filme. Nos anúncios impressos, Zico faz uma advertência simples: “Água e Sabão. Esta é a estratégia vencedora no jogo contra o câncer de pênis”. O câncer de pênis pode ser prevenido com uma boa higiene genital, mas quando a doença se instala geralmente é necessária a amputação do membro. Segundo a SBU são realizadas 1 mil amputações de pênis por ano no País. No Maranhão existe a maior incidência de
G2B PARA O MUNDO
A top model Gisele Bündchen vestiuse de água para campanha criada pela W/Brasil, a agência do publicitário Washington Olivetto, para o lançamento das sandálias Ipanema G2B, da Grendene, que leva também a assinatura da WWF. "Porque a Terra é azul” é o mote da iniciativa que tem como tema a preservação e o uso consciente da água. E para ser politicamente correta, a agência reutilizou toda a água do filme ao final da gra-
casos da doença. Por isso foi realizada cara-
vação, para a limpeza e lavagem do estú-
vana itinerante, em 18 cidades este ano. Em
dio e também na irrigação das plantas dos
cada parada foi apresentado um vídeo, distri-
jardins. G2B é uma alusão à fórmula da
buídos folhetos, um sabonete e um gibi falan-
água (H2O) utilizando as iniciaia bela
do sobre a importância da prevenção.
Gisele.
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Pol锚mica
O rio da disc贸rdia
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AS USINAS HIDRELÉTRICAS NO RIO MADEIRA, QUE CORTA A CIDADE DE PORTO VELHO, EM RONDÔNIA, SÃO ALVO DE DEBATE E POLÊMICA ENTRE GOVERNOS E AMBIENTALISTAS E O MINISTÉRIO PÚBLICO
JIRAU E SANTO ANTÔNIO A AGÊNCIA BRASIL CONFERIU AS POSIÇÕES E PREPAROU AMPLO MATERIAL PARA
SERVIR DE BASE PARA AS DISCUSSÕES QUE DEVEM ACONTECER ATÉ O FINAL DO ANO E QUE LEVARAM O GOVERNO A ADIAR A LICITAÇÃO DA PRIMEIRA USINA
TEXTO [VLADIMIR PLATONOW - AG. BRASIL] FOTOS [WILTON DIAS JÚNIOR/ABr]
R
io de Janeiro - O presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, é um defensor das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, cuja viabilidade ambiental está em análise no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Destaca o alagamento previsto, baixo em comparação com o de grandes usinas do País, e diz que os dois projetos são excelentes tanto do ponto de vista energético como do ambiental. Tolmasquim é engenheiro e economista, com doutorado pela Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris. A seguir, trechos da entrevista do homem que comanda a empresa ligada ao Ministério das Minas e Energia: O senhor está convicto de que não haverá problemas quanto à sedimentação e aos impactos ambientais no Rio Madeira? Eu tenho certeza de que as usinas do Madeira são projetos excelentes, tanto do ponto de vista energético quanto ambiental. Em média, as usinas brasileiras alagam, para cada megawatt gerado, uma área de 0,52 quilômetro quadrado. As usinas do Madeira alagam 0,08 quilômetro quadrado. Se descontarmos a água que está na calha dos rios, esse valor cai para 0,03 quilômetro quadrado. São usinas praticamente a fio d'água, com alagamento pequeno, baixa queda, usarão tecnologia de turbinas de bulbo – serão 44 turbinas em cada uma. Além disso, na questão do sedimento, foi trazido ao Brasil um grande especialista mundial, chamado Sultan Alan, que é a grande referência em sedimentologia. Ele foi a várias praias, analisou o tipo de areia e constatou que as condições são excelentes, que não há riscos de sedimentação acima do normal. Mas alguns ambientalistas apresentaram estudos demonstrando que por causa dos sedimentos as usinas teriam vida útil de apenas dez anos... Uma usina construída no Madeira tem vida útil de 100 anos, sem problema nenhum. Quanto à questão sobre os peixes, existem 350 espécies e só duas delas, de bagres, têm longa migração, nadando mais de 2 mil quilômetros. Uma delas parece que desova nos Andes. Para essa espécie, vai se construir um canal para que possa migrar e desovar. Esses canais vão ser muito melhores do que em outras usinas, como em Itaipu. Não tenho dúvida de que, do ponto de vista ambiental, essa é uma excelente obra, que permitirá que a energia que é fundamental seja pro-
duzida sem ter danos ambientais. Sempre lembrando que a opção de não se construir essas usinas é construir usinas mais poluentes. A eficiência energética é possível, mas ela não atenderá, por si só, a necessidade de desenvolvimento de que o país precisa. Não poderá ser eólica, que fica muito caro e que não atenderia as necessidades do país. As outras opções são as usinas a óleo ou a carvão, que aumentam as emissões de carbono. O Brasil aumenta a demanda por energia entre 5,3 a 5,5% ao ano. É preciso 3,5 mil megawatts a 4 mil megawatts por ano, mesmo fazendo ações de conservação. O país corre o risco de um novo apagão, sem as usinas do Madeira? Eu não acredito que isso vá ocorrer, porque vai estar sempre sendo licenciada alguma usina nos estados, onde é facílimo obter licença para usina a carvão, em quatro ou cinco meses. Para uma hidrelétrica, leva dois ou três anos. Vão proliferar as usinas a carvão, importando tecnologia da China e carvão de outros países. Alguns setores argumentam que o licenciamento ambiental é muito demorado. Qual sua opinião? É um processo fundamental, para verificar se o empreendimento está apto para ser construído. Desde o novo modelo, criado em 2004, ficou definido que só se coloca em leilão o que tiver licença ambiental prévia concedida. Pelo modelo antigo, as usinas do Madeira já poderiam ter sido licitadas. Mas a gente achou que isso era um verdadeiro faz-de-conta, pois estava licitando um empreendimento que depois não ia poder sair do papel. Como a expansão do setor energético depende dessa licença, é claro que é importante uma celeridade nesse processo, se não você não tem bem claro a possibilidade de construção de usinas. Quem está no setor energético precisa garantir à população que não vai faltar energia.
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Polêmica
MINISTÉRIO PÚBLICO NO CURSO DO RIO
TEXTO [SABRINA CRAIDE - AG. BRASIL] FOTOS [WILTON DIAS JÚNIOR/ABr]
Porto Velho (RO) - O promotor de Justiça Marcos Tessila, do Ministério Público de Rondônia, fala à Radiobrás sobre as usinas projetadas para o Rio Madeira Brasília - A proximidade de uma das usinas hidrelétricas projetadas para o Rio Madeira da capital de Rondônia, Porto Velho, pode acarretar impactos sociais e econômicos na área urbana, que poderá não suportar a demanda de saúde, educação, infra-estrutura e empregos que será gerada. Essa é a avaliação do promotor Marcos Tessila, do Ministério Público de Rondônia. O órgão realizou estudos independentes sobre as possíveis consequências do empreendimento para o estado. “Todo empreendimento desse naipe, segundo a literatura que nós estudamos, acarreta impactos principalmente na área urbana. No caso das hidrelétricas do Madeira nós temos um componente muito interessante: uma das barragens será construída ao lado da cidade [a 7
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quilômetros]. Portanto, é inevitável que você tenha um afluxo de pessoas para essa região. Conseqüentemente, você terá novas necessidades, e talvez a região não tenha como absorver essa demanda”, avalia Tessila, em entrevista na Radiobrás. As duas usinas que o governo federal quer construir no rio, em Rondônia, somam 6.450 megawatts – aproximadamente metade da potência de Itaipu, a usina mais potente do país, e cerca de 8% da demanda nacional, segundo cálculo do governo. A obra depende da concessão de licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O governador Ivo Cassol diz que a obra vai gerar 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, e que o estado está preparado para receber “de braços abertos” as pessoas que chegarem com a migração prevista. O promotor Marcos Tessila afirma que o Ministério Público estadual irá
acompanhar todas as etapas da obra, caso o licenciamento ambiental seja autorizado. Tessila explica que o órgão irá priorizar o diálogo com o Ibama. “Caso o Ibama opte pelo licenciamento, a gente terá que analisar se as pretensões defendidas pelo Ministério Público foram ou não acolhidas. Porém, de nossa parte, a linha principal é evitar o Judiciário. A idéia que se tem é construir e consolidar um diálogo administrativo”, afirma. Tessila destaca o ineditismo da posição do Ministério Público estadual, por acompanhar a discussão do projeto desde o início do debate. “A Constituição Federal diz que o Ministério Público deve defender direitos e garantias fundamentais, o meio ambiente e outros direitos de relevância. Como defendê-los? Não é só indo até o Poder Judiciário, mas também levando contribuições ao poder público para que ele possa adotar as providências cabíveis”, diz o promotor.
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TEXTO [SABRINA CRAIDE E ELIANE
ENTREVISTA
GOVERNADOR IVO CASSOL DEFENDE CONSTRUÇÃO DAS USINAS
GONÇALVES - RADIOBRÁS] FOTO [MARCELLO CASAL JÚNIOR/ABr]
P
orto Velho (RO) Brasília - O potencial do Rio Madeira para geração de energia é parte de uma riqueza que não está sendo aproveitada, avalia o governador de Rondônia, Ivo Cassol. Em entrevista à Radiobrás, ele diz que a construção das usinas de Jirau e Santo Antônio vai gerar 30 mil empregos diretos e 100 mil indiretos, e que o estado receberá “de braços abertos” as pessoas que chegarem com a migração prevista. Também defende que o interesse nacional da obra se sobrepõe ao das comunidades que terão de ser deslocadas: “Se tiver meia dúzia de famílias, isso não vai atrapalhar milhões de pessoas que precisam dessa energia”. Quais são os pontos positivos da construção das duas usinas em Rondônia? O grande ponto positivo é nos aproveitarmos a riqueza que o estado tem e não está sendo aproveitada. Esse projeto é diferente de Itaipu, das usinas com alagamentos, com impacto ambiental muito grande. Simplesmente, nós temos a cheia e permanecendo cheia, com isso aproveitando o fluxo normal. Da água do Rio Madeira para gerar energia não só para Rondônia, mas para o Brasil inteiro. Ou o Brasil constrói novas hidrelétricas ou arruma um outro sistema que possa gerar energia, ou vai ficar no escuro. Para Rondônia é ótimo, porque nós vamos ter 30 mil empregos diretos, mais de 100 mil indiretos, dar essa expectativa de uma condição de vida melhor para o povo. O estado está preparado para o fluxo migratório que pode acontecer? Se nós formos ver pelo lado negati-
vo, “porque tem malária”, “porque tem isso”... Nós já temos a questão da malária, ainda não foi descoberta uma vacina que evite a propagação. O que nós temos que fazer é continuar combatendo. Da mesma maneira, se nós vermos o problema social. Já está faltando água aqui em Porto Velho, faltando esgoto, o que falta para nós é recurso. Os organismos internacionais e o próprio governo federal nos cobram muito, nos prometem bastante e não nos dão nada. Então, nós temos que aproveitar essa potencialidade que o estado tem, mesmo que tenha uma migração um pouco maior, não acredito que vai ser tão grande. Mesmo vindo mais cidadãos brasileiros para Rondônia, nós vamos receber de braços abertos e estaremos preparados para isso. O que o estado vai fazer para evitar a proliferação da malária? Aumenta o número da malária quando você tem a cheia e depois tem a seca, quando prolifera o mosquito. Com a cheia normal, natural, simplesmente a água vai estar naquele patamar o tempo inteiro. Porque, nas usinas do Madeira, o fluxo é normal. Não é uma barragem para poder fazer um armazenamento de água. Conforme a água entra, ela sai. O resto é conversa fiada. O que nós precisamos é o governo federal voltar a fazer o dever de casa, assumir a Funasa [Fundação Nacional da Saúde], que são os “malarientos”, como a gente dizia, o pessoal que cuidava da malária, que hoje colocaram nas mãos do município. Foi no governo passado, eu era prefeito e dizia que não funcionava. Esses servidores federais que estão à disposição dos municípios para combater a malária, infelizmente a maioria dos municípios não trabalha. Ou não tem carro, ou não tem estrutura, ou não tem condições de fazer o trabalho. Como fazer com as pessoas que serão desabrigadas pelas barragens? Pode ter certeza de que desabrigado não tem. Não tem os das barragens não sei o que, isso é pura fanfarra. Se tiver algum pode ter certeza de que dentro do projeto já tem recurso alocado para ele se transferir com a sua
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Polêmica moradia, com o seu conforto no mínimo mil vezes melhor. Se tiver meia dúzia de famílias, isso não vai atrapalhar milhões de pessoas que precisam dessa energia. [O estudo de impacto ambiental prevê que quatro comunidades serão afetadas; para o Ibama, serão seis.] É o povo brasileiro, o povo de Brasília, o povo do Rio, de São Paulo, dos grandes centros, que precisa dessa energia. Energia limpa. Para alguns dos críticos do projeto, o problema maior é a intenção de fazer uma hidrovia com o Madeira... O Rio Madeira é navegável, tanto que a produção de soja do Mato grosso, a produção de milho, mesmo carne, o produto que é feito na Zona Franca de Manaus, geladeiras, televisões, sobe o rio até Porto Velho e aqui acaba sendo distribuído para o Brasil inteiro. Além disso, tem o Aeroporto Internacional de Manaus, que leva para outros países. Nós temos a cachoeira, ela é intransponível hoje, e com as eclusas o rio vai se tornar navegável. Nós podemos sair daqui e ir até Vila Bela, no Mato Grosso. Lógico para isso seria preciso construir mais duas usinas para cima. Então as eclusas é simplesmente você ir projetando o futuro. Senão, lá na frente, você precisa depois o triplo do dinheiro para fazer. Num projeto desses tem que deixar prevenido uma obra estruturante para que a gente possa desenvolver as regiões sem ter medo de devastação. O que nós temos que ter é medidas rigorosas em locais proibidos, e em Rondônia nós temos o zoneamento socioeconômico, que foi aprovado e diz o que pode e o que não pode. E onde não pode, não pode, acabou. Há fiscalização? Lógico. Nós acompanhamos passo a passo. E as áreas que têm migração, invasão, são áreas devolutas, da União, onde quem devia estar atuando é a União. Das derrubadas que acontecem no estado, 95% você pode ter certeza que é nessas áreas. Existem denúncias de que o governo está usando a estrutura do estado para colher assinaturas em favor das usinas. Isso procede, está acontecendo? Eu quero que esses segmentos aí expliquem para o povo de onde eles tiram dinheiro para ficar aqui em Porto Velho. O que eu estou defendendo é a economia do estado de Rondônia. O que a sociedade num todo está defendendo são obras necessárias para o Brasil. Em cada local está lá o abaixo-assinado que as pessoas podem assinar. E ninguém é obrigado a assinar. E nas escolas, estão sendo colhidas assinaturas? Em todos os lugares estamos colhendo assinaturas. E pegando opinião não só do comércio, mas também dos nossos alunos. Todo mundo que queira participar para dar o seu depoimento, pró ou contra, nos ajuda. Mas, para nossa alegria, estamos aí com 99,9% das pessoas favoráveis. Mas o que se fala é que as pessoas estão sendo coagidas, estão sendo forçadas, que tem uma barganha para que elas assinem. Essa barganha que eles estão falando é igual história de Papai Noel.
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O rio e A SOJA TEXTO [WELLTON MÁXIMO AG. BRASIL]
Brasília - O projeto das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia, pode trazer reflexos que vão além do alagamento provocado pela elevação no nível do Rio Madeira e dos possíveis obstáculos para a reprodução dos peixes da região: ao atrair contingente populacional e estimular o desenvolvimento da agricultura, as usinas podem trazer um impacto semelhante ao causado pela expansão da soja sobre o Mato Grosso. O alerta é da ONG Conservação Internacional. No início de maio, a entidade divulgou um estudo no qual aponta os impactos dos principais projetos de infra-estrutura no Brasil e no continente sobre as unidades de conservação e os territórios indígenas. No caso das usinas do Rio Madeira a influência dos empreendimentos não se restringiria a Rondônia e também abrangeria o interior da Bolívia, conclui a ONG. “Em relação a esse projeto, a maior preocupação não é com o que se diz, mas com o que não é dito”, adverte Isabella Freire, especialista em Política Ambiental da Conservação Internacional. De acordo com a organização, os impactos ambientais e sociais das hidrelétricas se tornariam ainda mais intensos porque os dois empreendimentos, considerados prioridade no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), são apenas parte de um grande projeto de integração do Brasil com a Bolívia.
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Um guia de sobrevivência para os novos tempos TEXTO [RENATA MONDELO, DE LAUSANNE, SUÍÇA]
A
parentemente The Live Earth Global Warming Survival Handbook, ou Manual Live Earth de Sobrevivência ao Aquecimento, de David de Rothschild, tinha tudo pra ser mais um daqueles produtos de marketing muito bem embalados que, de uma hora pra outra, passam a fazer parte da nossa vida sem que tenhamos sequer opção. Quando lançado aqui na Suíça, ganhou espaço nos cafés mais badalados da cidade. Estava claro: esse era o livro de bolso dos leitores fashions de plantão para 2007. Mas, como as aparências enganam, o livro surpreende e muito. Não somente em sua forma diferente de apresentar o problema mais em voga da humanidade – o aquecimento global – como na maneira simples de transformar fórmulas e equações em linguagem de entendimento geral. Ao percorrer as 160 páginas, o leitor encontra 77 dicas simples e essenciais que elucidam temas importantes da questão climática como emissão de gases, destino de resíduos, reciclagem, novas e possíveis atitudes, sustentabilidade, empregos do futuro, consumo ético, entre outros. E o melhor e que para cada uma dessas 77 dicas, o livro sugere um site e/ou comunidade com órgãos que tratam e discutem o assunto em referência. A solução gráfica também encanta - é dinâmica, interativa - e através de mensagens visuais, o leitor encontra escalas que indicam o tempo que o mesmo gastará com cada ação realizada, seu custo, benefícios, níveis de dificuldade de execução e principais impactos para a humanidade. O livro (lançado no Brasil pela Editora Manole) pode ser encontrado em livrarias brasileiras e sites especializados, custa em torno de R$ 34 e parte de sua renda será destinada ao financiamento de projetos da Aliança de Proteção ao Clima, instituição beneficiária dos concertos Live Earth. Dando bom exemplo para as gráficas, o livro e impresso em papel 100% reciclado e utiliza tintas vegetais não poluentes.
O EDITOR DA HARVARD UNIVERSITY PRESS VEIO AO BRASIL LANÇAR INIMIGOS DA ESPERANÇA UNESP 96 PÁGINAS, R$ 17,00. FEZ UM ALERTA:
LINDSAYWATERS É PRECISO GASTAR PAPEL APENAS COM
O QUE INTERESSA
AS LIÇÕES DE CLINTON
Uma longa fila na conceituada livraria Barnes & Noble, em Nova York, em meados de setembro, dava a dimensão exata do sucesso do novo lançamento de Bill Clinton. Ao que tudo indica, a tiragem inicial de 750 mil exemplares vai se esgotar rápido. Foi assim no estréia, com a autobiografia, “Minha Vida”, em 2004, que vendeu 400 mil exemplares em um só dia. O ex-
presidente dos EUA em campanha pela mulher Hillary Clinton assume o papel de defensor de causas nobres. E discute como as doações podem mudar não só cada um dos cidadãos, mas também o mundo. Boa parte do livro fala sobre como a caridade está ajudando a África. Parte da renda irá para entidades beneficientes. A Fundação Clinton atua em questões ligadas à saúde, pobreza, meioambiente e economia. Giving: How Each of Us Can Change the World, Bill Clinton, Editora Knopf Publishing. US$ 15 27
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G L Alo rE
Perfil
O homem da chapa quente
O HOMEM QUE PERDEU AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS AMERICANAS PARA GEORGE W. BUSH É HOJE
O
PROTAGONISTA DA LUTA CONTRA
O AQUECIMENTO GLOBAL. UM PORTA-VOZ ACIMA DE PARTIDOS E NAÇÕES,
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TEXTO [GERALDO SAMOR] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
O
norte-americano Albert Arnold Gore Jr., que entrou para a vida pública como Al Gore, perdeu as eleições para George W. Bush em 2000, mas não saiu de cena. O homem que, seguindo a tradição política dos Estados Unidos, fez-se quase anódino durante os oito anos da Era Clinton talvez seja hoje a liderança mais visível no debate sobre aquecimento global. Quando delegados da Organização das Nações Unidas se reunirem em dezembro em Bali, na Indonésia, para negociar um tratado que sucederá o Protocolo de Kyoto, que chega ao fim em 2012, e o qual os EUA se recusaram a assinar, Gore será tudo – menos anódino. Será um dos poucos não representantes de países a falar na reunião de cúpula. Só que esse democrata, nascido em 31 de março de 1948, em Washington, não será a única estrela. Ultimamente, Gore tem começado a dividir a arena ambiental com o republicano Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia e astro de filmes truculentos de Hollywood, que também entrou no debate e tem adotado medidas e um discurso firme e forte de combate ao aquecimento global, exigindo legislação rigorosa para evitar riscos ambientais às gerações futuras. Descendente de uma linhagem de políticos ilustres dos EUA e primo distante do escritor e ensaísta Gore Vidal, Gore tem a seu favor o fato de ser bem visto em todas as rodas, de dirigentes de ONGs ambientalistas a chefes de Estado, passando pela mídia. Desde que perdeu a corrida pela Casa Branca, Gore vem pregando e arrebanhando seguidores ao redor do mundo. O ápice deste prestígio veio ano passado, quando lançou o livro e o filme-documentário “An Inconvenient Truth” (Uma Verdade Inconveniente) sobre mudanças climáticas, especificamente sobre o aquecimento global. Mais que levar o Oscar, ao lado do diretor Davis Guggenheim, de melhor documentário em 2006, e o Leão Verde do Festival Internacional de Publicidade de Cannes 2007, Gore conseguiu que o filme e o livro aumentassem sua influência e estimulassem jovens diretores, como o ator Leonardo DiCaprio, a se empenhar nessa causa. Em newsletters que envia a amigos e correligionários pela internet, Gore tem promovido o último fruto desse engajamento: o documentá-
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Perfil
rio “The 11th Hour” (A Undécima Hora) de DiCaprio, que usa mais de 150 horas de entrevistas com alguns dos melhores cérebros do planeta – do físico Stephen Hawking à queniana Wangari Maathai, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2004 por seu trabalho em prol do desenvolvimento sustentado. [Em 1977, Maathai fundou o Movimento Cinturão Verde, que desde então já plantou mais de 30 milhões de árvores no Quênia para evitar a erosão do solo, rendendolhe o apelido carinhoso de “MulherÁrvore.] No filme, geleiras derretem, furacões levam do chão pessoas e casas, tsunamis invadem praias. Ainda assim, alguns conservadores dizem que falta pesquisar melhor a relação causa-efeito entre as mudanças climáticas e o aquecimento global. Gore tem dado de ombros. Está convencido de que sua contribuição é alertar o planeta. Mais que isso: político veterano, Gore vai assim ganhando espaço entre os líderes dos novos tempos. Os amigos dão endosso. Em seus sites, não é raro encontrar mensagens de atrizes como Susan Sarandon e da onipresente apresentadora de televisão Oprah. Ele é convincente nos argumentos, no chamado às empresas para que reflitam sobre o futuro – o futuro do próprio negócio, que pode simplesmente não existir se a natureza continuar sendo agredida. É nesse palco que também se movem chefes de Estado, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua cruzada em defesa do etanol. Tem conseguido respaldo e, com isso, mesmo sem muito planejamento, aos poucos tem colocado o venezuelano Hugo Chávez e sua bandeira petroleira em segundo plano. Não à toa, Gore – que perdeu a Casa Branca para um legítimo representante da indústria do petróleo – inicia seu documentário com uma brincadeira: "Eu costumava ser o próximo presidente dos EUA". Será? O jogo da sustentabilidade também é político.
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CRÍTICA
UM CONVENIENTE POWERPOINT [ADRIANO CIVITA]
Quem assiste no cinema ou compra o DVD do filme-documentário “An Inconvenient Truth” (Uma Verdade Inconveniente) – por sinal, com embalagem politicamente correta, em papel reciclado, como a que adquiri em Nova York – não espere por recursos cinematográficos ou por um momento de puro lazer. O filme é um conveniente PowerPoint, dirigido por Davis Guggenheim, em que vale mais as informações do que a arte. O conteúdo é forte – resumo: o meio ambiente está indo para o beleléu e, se a coisa continuar nessa toada, o Homo sapiens vai junto. Ou seja, nada que alguém não saiba ao ler notícias que todos os dias são publicados em jornais e revistas. A diferença é que, durante 90 minutos, você fica diante dessas verdades, realmente inconvenientes, que assustam aqueles que sonham com o futuro. O documentário alerta a todos para o aquecimento global, para catástrofes maiores que as vivenciadas até agora e que são temíveis caso não se aperte já o “stop” de um PowerPoint real em que cada lâmina é uma árvore cortada, um carro que polui, um rio
que morre silenciosamente. As imagens, devo confessar, me surpreenderam, não que fossem novas, mas a edição, a velocidade com que são apresentadas, causam impacto. O filme é para os não-iniciados na questão do aquecimento global. Al Gore é didático. Faz uso de tudo o que aprendeu na vida política americana. É respeitoso mas não tolerante, é forte porém sereno ao apresentar quadros e mais quadros, estatísticas e mais estatísticas. O filme cumpre o seu papel: convence! Tanto que o comprei para rever depois. Na sala de cinema, o que se tem é o choque das imagens. Já no choque das palavras, contrapõem-se a vida [e o consumo] que temos hoje e a indagação inquietante de como viveremos no futuro. Essas verdades são ditas de forma inconveniente ao cinema, mas conveniente ao futuro e à mensagem de homens como Gore, que estão assumindo uma posição de líderes globais acima e além da política partidária. Adriano Civita é sócio da Pródigo, produtora de filmes para cinema, televisão e publicidade, que tem no portfólio produções como o longa "Cama de Gato" e os documentários "Motoboys Vida Loca" e "O dia em que o Brasil esteve aqui". Apaixonado por documentários, ele acompanha com olhar crítico a produção mundial desse mercado.
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PELO MUNDO UMA BASE BELGA NO GELO
Cinquenta anos após a construção de sua primeira estação científica na Antártica (fora de funcionamento há anos), a Bélgica está pronta para instalar uma nova base no continente branco destinada à pesquisa sobre mudanças climáticas e à busca de soluções. Ela
TEXTO [IVNA MALULY - BRUXELAS]
acolherá de 12 a 20 pesquisadores belgas e internacionais. É a primeira do gênero a funcionar inteiramente com energias renováveis. As primeiras missões científicas só sairão em 2009, ano de inauguração oficial. Mas a partir de novembro deste ano já tem cientista desembarcando no pólo. A Princess Elisabeth, assim chamada, de 700 metros quadrados, não soltará quase nenhum gás carbônico. Além disso, pode suportar altas temperaturas e ventos com mais de 200 quilômetros/hora. Será capaz ainda de estocar 90 a 95% das energias solar e eólica. E o lixo gerado será 100% reciclado. O projeto é desenvolvido pela Fundação Polar Internacional e coordenado pelo Escritório de Política Científica Federal da Bélgica (BELSPO, na sigla em francês). O custo total é da ordem de 11,5 milhões de euros.
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OS SALVADORES DO CLIMA putadores, porém, devem chegar ao mercado mais caros, mas certamente representarão um passo a mais na sustentabilidade do planeta. Entre as companhias que participam dessa "seita" estão Hewlett-Packard (HP), Lenovo, Dell e Microsoft. Pat Gelsinger, vice-presidente do setor de empreendimentos digitais da Intel, tem dito em entrevistas que o preço a mais não deverá a assustar os consumidores, isto é, é menor que os efeitos climáticos a que estes estarão submetidos ao longo tempo. Sua estimativa é a de que um servidor tenha acréscimo de US$ 30,00, facilmente pago com contas de luz menores. O parâmetro usado pelo grupo é Energy Star, da Environmental Protection Agency, a agência de proteção ambiental TEXTO [YUME IKEDA - TÓQUIO]
dos Estados Unidos. É seguindo essa padrão que a informática pretende entrar
Climate Savers Compunting Initiative, o nome "Iniciativa de
no mercado verde e de crédito de carbo-
Computação dos Salvadores do Clima" pode parecer o de uma
no, contribuindo com iniciativa pioneira
seita e de certa forma o é, pois reúne homens e mulheres que
para evitar o aquecimento global. Não
têm um compromisso de fé, assegurado por empresas globais de
deixa de ser uma boa notícia. Os japone-
informática que têm como meta, até 2010, prover computadores
ses que são loucos por tecnologia apro-
com 92% de eficiência e ecologicamente corretos.
vam a idéia. Os efeitos das bombas atômi-
O primeiro passo são computadores que reduzam o consu-
cas lançadas em Hiroshima e Nagazaki em
mo de energia, uma vez que, hoje, cerca de 90% do que conso-
1945 ainda deixam reflexos e a preocu-
mem os PCs de mesa é energia desperdiçada, que poderia
pação ambiental em cidades como Tóquio
implicar em menor necessidade de eletricidade. Os novos com-
e Osaka é levada extremamente a sério.
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PELO MUNDO BRASIL BEM NA FITA Estudo divulgado pela Divisão de Estatísticas das Nações Unidas indicou que o Brasil é o quinto colocado da lista de países que
O DRAMA DAS COLMÉIAS
mais reduziram o consumo de
clorofluorcarbonetos
TEXTO [VIRGINIA SILVEIRA - MADRI]
(CFC). O CFC é culpado pela destruição da camada
Os apicultores europeus estão alarmados com o despovoamento das colméias,
de ozônio, que envolve a
um problema que pode eliminar mais de 70% das abelhas de uma colônia. As cau-
Terra
da
sas desse misterioso desaparecimento de colméias, conhecido na Europa como
radiação solar.Entre 1995 e
“Síndrome do desabelhamento” e nos EUA como “Problema de Colapso das Colo-
2005, o país cortou o uso
nias”, não está associada a nenhum vírus, bactéria, pesticida ou mudanças climá-
destes gases em 9.928 tone-
ticas. Pesquisadores do Centro Apícola Regional, em Marchamalo, Guadalarrara
ladas de potencial destrui-
(Espanha), afirmam ter identificado a causa mais provável para o fenômeno em
dor de ozônio - unidade
todo o mundo: o parasita “Nosema ceranae”.Trata-se de um fungo unicelular
criada para medir prováveis
encontrado nas células das abelhas e originário do sul da Ásia. Os cientistas espan-
danos ao escudo do plane-
hóis analisaram 290 colméias em distintas regiões da Espanha, França, Suiça e Ale-
ta.Estão na frente do Brasil
manha e o resultado é preocupante: o parasita já domina 75% das colônias fran-
neste esforço: a China, que
cesas, 64% das suíças, 78% das alemãs e na Espanha 35%.Os dados do laborató-
cortou 62.167 toneladas, os
rio espanhol estabelecem uma correlação inquestionável do parasita com o
Estados Unidos, com 34.033
desaparecimento das abelhas, tendo em vista que sua presença em uma colônia
toneladas, o Japão, com
aumenta em seis vezes o risco de despovoamento. Segundo dados do Ministerio
23.063 toneladas e a Rússia,
de Agricultura, Pesca e Alimentação da Espanha, em 2003 havia 2.464.601 de col-
com 20.641 toneladas. Ao
méias no país. Três anos depois, este número foi reduzido em 6%, mas estudos
todo, foram citadas na lista
extraoficiais, do Centro Agrario de Marchamalo, calculam que a redução das col-
172 nações
méias espanholas já beira a cifra dos 30% a 40%.
protegendo-a
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MORRE A MULHER DO
[RENATA MONDELO
CONSUMO ÉTICO
TEXTO
LAUSANNE SUIÇA]
O RANKING DA POLUIÇÃO Pesquisa divulgada pelo Instituto Blacksmith – grupo ambientalista independente apontou quatro cidades da Rússia como as mais poluídas do mundo. Como Dzerzhinsk, que até o final da Gue-
Quem acompanha a
rra Fria era um dos mais
história da Body Shop sabe
importantes centros de pro-
bem a diferença que a rede
dução de armas químicas da
fez ajudando a impulsio-
Rússia, e Chernobyl, na Ucrâ-
nar o consumo ético no
nia, ex-república soviética,
mundo. Soube da morte de
onde em 1986 ocorreu o pior
sua fundadora ao entrar
acidente nuclear da história.
em uma loja, aqui na Suíça.
Cidades da China, Índia e
Anita Roddick morreu no dia 10 de setembro, aos 64 anos de um
Peru também são citadas no
derrame cerebral – depois de descobrir este ano que tinha contraí-
ranking. O Brasil não consta
do Hepatite C em uma transfusão de sangue em 1971 - ao lado do
da lista.
marido e duas filhas em Sussex, na Inglaterra. A Body Shop nasceu em 1976, em Brighton. Anita foi pioneira em lançar produtos de beleza éticos, que estivessem livres de crueldades como testes em animais. Liderou movimento em 1996 neste sentido e, munida de um abaixo assinado com quatro milhões de assinaturas, pressionou outras empresas a seguirem o mesmo caminho, proibindo uso de cobaias nos testes de comésticos. Em 1998, o governo decretou a proibição oficial dos testes em animais em toda a Grã-Bretanha. O primeiroministro britânico Gordon Brown destacou a bela empresária como “uma das verdadeiras pioneiras do país” e como inspiração para outras empresárias.
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PELO MUNDO
BARBIE
PEDE DESCULPAS COMO NASCE UM A Mattel, fabricante ameri-
LEÃO EM CANNES
cana de brinquedos que anunciou três grandes recalls por conta da presença de chumbo
na 54ª edição do Festival de Publicidade
nas tintas e imãs e peças que
de Cannes 2007 pela porta da frente. O
podem ser engolidas pelas
Grand Prix de Outdoor foi para campan-
crianças, pediu desculpas for-
ha do banco Nedbank, da Africa do Sul,
mais à China. O pedido foi fei-
criada pela sul-africana NET#WORK
to por Thomas A. Debrowski,
BBDO, de Johannesburg.
vice-presidente executivo de
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O discurso da sustentabilidade entrou
Quem vê o o outdoor, sem conhecer
operações internacionais da
a história que está por trás desta peça
Mattel, durante uma reunião
publicitária, pode até achá-lo sem graça,
com Li Changjiang, diretor de
sem falar que na cidade de São Paulo, o
segurança de produtos do
alcaide Gilberto Kassab o impediria de
governo chinês, em setembro.
estar em qualquer lugar. É um outdoor
O executivo da Mattel disse
simples, mas que esconde uma idéia
que os problemas ocorreram
brilhante, literalmente brilhante. Ele
por erro de projeto e não por
exibe a pergunta "E se um banco real-
defeito de fabricação nas uni-
mente desse poder para as pessoas?”.
dades chinesas. "Nossa repu-
Em cima da peça, placas de captação de
tação foi abalada pelos recalls.
energia solar iluminavam o painel e ali-
A Mattel assume a inteira res-
mentavam o bairro onde estava exposto,
ponsabilidade e pede descul-
na região pobre de Soweto. O outdoor
pas pessoalmente ao povo
fornece energia para a cozinha de uma
chinês e a todos os nossos
escola local, alimentando 1100 crianças;
clientes que receberam os brin-
a escola. A idéia está atualmente sendo
quedos", declarou ele.
levada para outras regiões do país.
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Ponto
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CRISTOVAM BUARQUE
x
BOLSA-FAMÍLIA BOLSA-ESCOLA uando o governo do presidente Lula transformou o programa Bolsa-Escola em Bolsa-Família, dava para prever que haveria uma piora na educação. Isso porque, ao tirar a palavra escola do programa, a educação saiu da cabeça das famílias mais pobres. Antes, quando recebiam o BolsaEscola, pensavam: "Recebo essa bolsa porque meus filhos estão na escola e, pela escola, vão sair da pobreza". Hoje, quando recebem o BolsaFamília, pensam: "Eu recebo essa bolsa porque sou pobre e, se sair da pobreza, perco a bolsa". A Bolsa-Família descaracterizou um programa educacional importante que havia no Brasil. Tirou a palavra escola que é sinônimo de educação da cabeça das pessoas que pensavam todo dia em escola, escola, escola... Agora as famílias não pensam mais nisso. Além do mais, ao levar o programa Bolsa-Escola com o novo nome (Bolsa-Família) do Ministério da Educação para o Ministério do Desenvolvimento Social, houve uma descaracterização completa: a bolsa passou a ser um instrumento de apoio social e não de mudança pela educação. Há muitas razões para que nós não progredirmos na área da educação, mas, sem dúvida, um das razões é essa descaracterização do programa Bolsa-Escola transformado em Bolsa-Família. Antes, as família do Bolsa-Escola recebiam o dinheiro, mas se interessavam pela educação de seus filhos. . Agora recebem dinheiro sem estarem preocupadas com ela. Esse erro precisa ser reconhecido, consertado: trazer de volta o Bolsa-Escola com aquilo que o governo Lula fez de
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bom: aumentar, e muito, o número das famílias que recebem a bolsa.O Bolsa-Escola só é um investimento se ela for mantida o tempo necessário para uma geração terminar o ensino médio. Interrompida antes disso, não passa de uma assistência social provisória e insuficiente para famílias carentes. Concluído entre 10 e 15 anos, o programa é um investimento; interrompido, ele se parece com os esqueletos de obras inacabadas; com a diferença de estarmos brincando com gente, crianças e suas famílias, e não com cimento e pedra. É necessário, também, dizer que a freqüência às aulas tem de ser rigorosamente fiscalizada, e a bolsa não será paga às famílias cujos filhos faltarem às aulas. O Bolsa-Escola só é eficaz se junto com ele outro programa estiver junto, o Poupança-Escola. Cada criança que recebe o BolsaEscola, ao passar de ano, terá uma quantia depositada para que ela retire, com juros, quando concluir o seu curso secundário. Não basta ter as crianças na escola, é preciso ter todas as escolas com qualidade. Por isso, é preciso contratar 500 mil novos professores e, pelo menos, dobrar o atual salário médio. Requer construir-se, pelo menos, mais 30 mil escolas e equipá-las com modernos equipamentos. Contratar auxiliares e pagar-lhes corretamente.
Cristovam Buarque Senador da República, foi governador de Brasília e reitor da Uniniversidade de Brasília (UnB). Líder do PDT é crítico das políticas sociais relacionadas à educação do governo Lula.
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Contra Ponto
ANTONINHO MARMO TREVISAN
POR QUE INVESTIR NA MERENDAESCOLAR
?
a minha infância, por várias vezes eu ouvi minha mãe dizer “saco vazio não pára em pé”. E lá ia eu para a escola lembrando do bordão dito por ela e já tentando adivinhar qual seria o prato servido no grupo escolar de Ribeirão Bonito, minha cidade natal, no interior de São Paulo. Tinha sopa de arroz, de feijão, de legumes e até de fubá com carne; a minha preferida. Minha memória olfativa se liga toda vez que esses pratos e seus temperos aparecem por perto. E me vem uma agradável lembrança desses momentos tão felizes. A frase de minha mãe me vem à mente todas as vezes em que leio alguma notícia sobre a merenda escolar ou quando reflito sobre a realidade educacional brasileira. Para mim e para muitos brasileiros a merenda era o grande momento das atividades nas escolas públicas pois resolvia uma sensação desagradável: a fome! E liberava a cabeça e a emoção para as outras coisas que a escola oferecia. Entre elas o aprender. Ninguém consegue aprender sentindo fome! Não é à toa, portanto, que um dos mais importantes programas públicos do Brasil é o programa de merenda escolar, que existe no Brasil há mais de 50 anos. Gerido de diferentes maneiras ao longo dessas cinco décadas, este programa foi o responsável pela única refeição de várias gerações de crianças em regiões absolutamente pobres do país. Atualmente, pela introdução do tema educação alimentar e com a qualidade nutricional dos cardápios escolares é possível afirmar que, para muitos estudantes brasileiros o programa de merenda é a única garantia de acesso a pelo menos uma refeição diária com qualidade nutricional. A longevidade do programa, a sua manutenção ao longo dos diferentes governos e o ritmo intenso de modificações para o aprimoramento da execução atestam a
N
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importância desta política. E qualquer atitude que comprometa a qualidade da merenda ou limite a quantidade dos alimentos deve ser repreendida vigorosamente. Durante muitos anos, eu sempre pensei que apenas os alunos e os pais de alunos eram capazes de avaliar a importância da merenda. Acreditava também que só quem passou por escolas públicas na infância era capaz de avaliar o que significava a hora da merenda. Sem saber, subestimava a capacidade de sensibilização de empresas e empresários que, além de consciência social, investem indiretamente na boa execução do programa de alimentação escolar financiando o projeto Gestão Eficiente da Merenda Escolar, que tem o objetivo de garantir que os recursos públicos destinados à merenda sejam efetivamente gastos em merenda de qualidade e em quantidade suficiente para todos os alunos do sistema público de ensino. São mais de 90 empresas brasileiras que cooperam para a execução das várias ações deste projeto entre elas, o prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar destinado aos municípios que se destacam por gestões criativas e inovadoras do programa Nacional de Alimentação Escolar, também conhecido por PNAE. Em 2007, mais de setecentos municípios brasileiros se inscreveram no prêmio. Isto significa que essas cidades acreditam tanto no trabalho que realizam, que o colocam à disposição de uma avaliação científica e metodologicamente construída. Nos quatro anos de existência, a equipe que coordena o prêmio reuniu exemplos de soluções que comprometem a imagem de displicência e falta de cuidado que normalmente habita o imaginário das pessoas em relação ao serviço público. Até hoje são 25 cidades, de diferentes tamanhos e com diferentes realidades, que ganharam o prêmio gestor eficiente da merenda escolar. O que têm em comum é o fato de entenderem a merenda como uma decisão política relevante que se reflete nos seguintes aspectos: em primeiro lugar, a complementação financeira da prefeitura para aquisição de alimentos ou para investimentos em projetos de infra-estrutura como refeitórios, cozinhas, equipamentos, são iguais ou superiores ao repasse do governo federal e representa em média um esforço de 9% da receita do município; o segundo dado importante a ressaltar é o fato de que essas cidades possuem uma nutricionista responsável pelo balanço nutricional dos cardápios e que, na maioria das vezes, conta com a ajuda de técnicos de nutrição; em terceiro lugar, nos municípios pequenos, que desenvolvem atividade rural, os governos locais estimulam a produção local organizando os pequenos produtores em torno de cooperativas, utilizando os programas do governo federal que estimulam a aquisição do pequeno produtor. É comum verificar que nessas cidades existem leis municipais que facilitam o comércio com o pequeno produtor que vê na meren-
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da escolar um comprador fiel. E finalmente, as prefeituras premiadas possuem um conselho de alimentação escolar atuante. O conselho de alimentação escolar é o principal instrumento de controle do programa de merenda. É um grupo independente e com poder de decisão formado por sete pessoas que tem de fiscalizar a prefeitura e não pode se deixar controlar por ela. Um conselho de alimentação atuante é aquele que se reúne freqüentemente, acompanha as compras das prefeituras, analisando as notas fiscais e verificando a qualidade dos alimentos comprados, visita periodicamente as escolas e observa a qualidade da merenda ofertada aos alunos, controlando os desperdícios e apontando os cuidados com a higiene. O trabalho dos conselheiros não é remunerado mas é tão importante que deveriam ganhar uma medalha. . Conhecendo os casos premiados é possível constatar muitos exemplos que podem ilustrar boas práticas de administração pública. Todos eles podem ser resumidos na seguinte receita: são decisões tomadas a partir da idéia de uma pessoa bem intencionada que constrói uma rede de apoios que alcança a decisão política do gestor local. E o que vale é a decisão política Este Brasil revelado por meio da metodologia do prêmio Gestor Eficiente da Merenda Escolar é um país silencioso que age sem luzes e holofotes e constrói uma nação revigorada, sem fome, com predisposição para a aprendizagem e que dá orgulho para quem conhece.
Antoninho Marmo Trevisan, é presidente do comitê gestor da Ação Fome Zero, organização não governamental de empresários que desenvolve o projeto Gestão Eficiente da Merenda Escolar. É também diretor da Trevisan Escola de Negócios.
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Ponto Final
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PATRUS ANANIAS
É PRECISO COMBATER A ESMOLA combate à esmola tem sido uma das vertentes das campanhas contra a exploração de mão-de-obra infantil, inclusive servindo como uma ponte de conversa com a sociedade e mesmo de mobilização e conscientização em torno do problema. Há muitas maneiras de combater a esmola. Uma delas parte da própria condenação do ato de dar esmolas, considerando basicamente dois pressupostos: primeiro, que a condição da existência da esmola - a desigualdade - é indigna; segundo, porque, na perspectiva republicana, as pessoas que necessitam de ajuda devem ser assistidas por políticas públicas permanentes e normatizadas e não podem depender de favores. Essas condições nos remetem a uma reflexão: para haver condenação do ato de dar esmolas é necessário ter certeza de que temos as condições sociais para eliminálas. A primeira condição é o fim da desigualdade social. Mas isso, entre nós, ainda é uma realidade em construção, alcançada por um caminho que estamos trilhando, calçando com vigorosas políticas, mas ainda não é fato. Precisamos então verificar se temos as políticas sociais estruturadas adequadamente de modo que as pessoas necessitadas possam ter a devida ajuda do Estado. Esse é um dos propósitos da estruturação e consolidação da ampla rede de proteção e promoção social em torno da qual estamos trabalhando no governo federal. É uma rede formada por políticas normatizadas em lei, amplamente discutidas com a sociedade, com objetivos, normas, procedimentos e metas definidas por critérios objetivos. No entanto, para que essa rede republicana funcione efetivamente, é fundamental a adesão e participação de todos os entes federados para que as políticas cheguem, efetivamente, àqueles que mais precisam. A crítica da esmola é pertinente na medida em que denuncia as condições sociais que permitem sua existên-
O
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cia e que evidenciam o seu lado indigno. Mas devemos cuidar para que essa crítica não resvale para crítica ao ato de ajudar o próximo. Há um significado importante da esmola e o resgate de sua essência, dando a ela o devido lugar que ocupa na construção de valores de fraternidade e solidariedade, é outra maneira de combater a falta de indignidade que reside no ato de dar ou receber esmolas. No contexto religioso, a esmola guarda a dimensão de combate a injustiça. Na quaresma de 1979, o Papa João Paulo II lembrava que essa abordagem é mesmo anterior ao evangelho, indicando o caminho para Deus. Em hebraico, a palavra utilizada, como observou o Papa em seu texto, é "sedaqah", que significa "justiça". Nas traduções do Novo Testamento, a palavra em grego, "eleemosyne", vem "eleos", que significa compaixão e misericórdia. A crítica da esmola é pertinente na medida em que denuncia as condições sociais que permitem sua existência A perda das referências ética, moral e social conferida dentro da tradição cristã tem contribuído para reforçar o papel imobilizador e indigno da esmola porque, na origem, ela é a expressão de uma prática de compartilhamento, de doação, de fraternidade, de solidariedade. Para São Francisco de Assis e seus seguidores, a esmola significava estar no lugar onde estavam todos os excluídos doentes, leprosos, mendigos, mulheres e crianças. São várias as passagens do Evangelho onde Jesus se aproxima dos excluídos e exalta o valor da partilha, da ajuda, da fraternidade, da misericórdia, da "eleemosyne". A mais conhecida passagem está na imagem do Juízo Final descrita por Mateus: "Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber; era peregrino e recebestes-me; estava nu e destes-me de vestir; adoeci e visitastes-me; estive na prisão e fostes ter comigo". Então, os justos responder-lhe-ão: "Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos peregrino e te recolhemos, ou nu e te vestimos? E quando te vimos doente ou na prisão, e fomos visitar-te?". E o Rei dir-lhes-
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á em resposta: "Em verdade vos digo: Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt. 25, 35-40). Outra passagem do Evangelho, em Lucas, descreve o exemplo da viúva pobre que deixa no templo, em esmola, tudo o que tinha para viver. E Jesus observa o gesto, dizendo que era a maior das esmolas porque não havia sido tirada do supérfluo. Era a verdadeira partilha entre os pobres. A esmola, na dimensão transformadora do amor cristão, não é aquela que é retirada das sobras. É o próprio compartilhamento. É a própria indignação diante das diferenças. Os pobres não merecem as sobras. O que é necessário é acabar com a pobreza e tirá-los da condição de necessidade. A esmola tem de ser antes uma ponte de diálogo com os pobres, como prega a tradição franciscana pautada pelos princípios evangélicos, uma forma de conhecer o outro, de saber de suas necessidades e se aproximar dele. Se, ao contrário, for entrega de sobras e, assim, ser uma fuga do contato com os pobres, não tem nenhum valor e se inscreve na perspectiva da humilhação porque deixa a falta mais evidente. No mesmo princípio fundador da esmola misericordiosa, vamos encontrar o argumento para discutir a função social do lucro e da propriedade, a necessidade de divi-
dir, de compartilhar, de formar uma sociedade mais justa, onde não seja necessário rogar por esmola, onde não haja submissão e inferioridade de um cidadão diante do outro. Não nos esqueçamos que a esmola, em toda sua história que remonta a tradição judaico-cristã - e também de outras religiões - é um gesto de momento. Portanto, temos de reconhecer que uma grande conquista dos nossos tempos, do Estado Democrático de Direito, é o fato de hoje permitirmos que o atendimento das necessidades básicas das pessoas não sejam movidas por momento, mas que sejam um compromisso solidário de todas as pessoas para assegurar o acesso regular e constante a todos os serviços e direitos necessários à dignidade humana: alimentação, segurança econômica, assistência social, trabalho, saúde, educação, moradia etc. A maior justiça que podemos alcançar com esse ideal de fraternidade é ter Estado e sociedade compartilhando bens e valores na construção de um projeto de nação que promova o mais forte sentimento de pertencimento, de pátria.
Patrus Ananias é ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
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Inclusão Educacional
Nas asas do ensino EM
SÃO JOSÉ DOS CAMPOS,
600 ADOLESCENTES TÊM NOVE HORAS DIÁRIAS DE
AULA DE QUALIDADE
E, ASSIM, FICAM MAIS PRÓXIMOS DAS MELHORES UNIVERSIDADES DO PAÍS TEXTO [CARLOS FRANCO] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
S
ão 15 horas de um dia ensolarado de setembro. A sineta toca. Das salas que carregam nomes de deuses egípcios como Horus, Isis e Osíris saem crianças em disparada. É hora do lanche, uma pausa na rotina diária de nove horas de ensino, refeições, educação física e ambiental dos 600 alunos do Colégio Engenheiro Juarez de Siqueira Britto Wanderley, no bairro de classe média baixa e periférico de Eugênio de Melo, no quilômetro 134 da rodovia Presidente Dutra, em São José dos Campos. As crianças, na verdade adolescentes, que deixam as salas de Horus, Ísis, Osíris têm pressa. São alunos do terceiro colegial, a um passo do vestibular e com grandes chances de ingresso nas melhores faculdades do País - a média de ingresso é de oito a cada dez alunos desse colégio. E é por meio da educação, de uma formação profissional de altíssimo nível, preferencialmente nas universidades públicas, que esses alunos esperam ingressar e contribuir, assim, para o próprio futuro e o de suas famílias. Em comum, os 600 alunos desse colégio, mantido pela Embraer, vieram de escolas públicas. São, em expressiva maioria, oriundos de famílias pobres, algumas em situação de risco, e estão encontrando na educação um novo alento, ganhando asas para romper fronteiras, a que separa os pobres e remedia-
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dos dos ricos, daqueles que têm poder de consumo e o devolvem à sociedade em forma de novos empregos e renda. Um sonho movido a conhecimento, nas asas de um projeto educacional iniciado em 2001, com a abertura das portas do colégio em fevereiro de 2002, quando ingressou para o primeiro ano colegial dessa instituição de ensino a sua primeira turma de 200 alunos, supervisionada pela rede mineira Pitágoras. Quem entra nesse funil, para o qual é preciso prestar prova - só os melhores conseguem a vaga - não desiste fácil. A média de evasão é de 5%, enquanto em escolas normais chega a 50%, muitas vezes pela necessidade de o aluno trabalhar para ajudar no sustento da família. Tanto melhor que esses alunos hoje devolvem o conhecimento acumulado nas salas de química, biologia, educação ambiental e matemática à comunidade. Nos fins de semana, ensinam vizinhos e familiares a fazerem velas ecologicamente corretas, que afastam mosquitos sem agredir a natureza e outros produtos desenvolvidos nos laboratórios do colégio, fazendo uso de reciclagem. Outra diversão é o plantio de árvores em áreas de riachos que abastecem a cidade com água. São mananciais expostos ao risco - rios, córregos e riachos - que enfrentam o drama do assoreamento face ao desmatamento inconsciente e predador. João, Pedro, Maria, Osvaldo, Eurípedes, Paulo, Antônia, José e Ana procuram assim, e a exemplo da mitológica Ísis, juntar partes separadas, partidas da natureza, para a fazerem reinar novamente, tal qual Osíris. Horus - o deus pássaro-, é claro, se encarrega, como se todos os alunos o fossem, de espalhar as sementes desses projetos entre a comunidade. Os olhos do diretor de Desenvolvimento Social da Embraer, Luiz Sérgio Cardoso Oliveira, brilham quando ele fala do retorno que os R$ 20 milhões investidos até agora pela empresa nesse projeto de educação tem dado. "Não pretendemos nos responsabilizar pelo ensino em São José dos Campos, mas decidimos criar um modelo, estabelecer custos e treinar professores para um ensino de qualidade, capaz de abrir as portas das melhores universidades para os alunos de escolas públicas. Agora, esse modelo está pronto, podemos entregá-lo a governos municipais, estaduais e federal, criando assim um compromisso de que possa ser adotado em larga escala, contemplando mais alunos do que comportam o projeto da Embraer". O custo de cada aluno é mais elevado do que o das redes públicas, superando a US$ 200 mensais, mas é bem menos que a quantidade de recursos de que dispõe o poder público para educação e que acaba o empregando sem a medição dos resultados e sem o retorno da baixa evasão e do ingresso em cursos superiores de qualidade. "É importante que alunos não se frustrem. Esse é o principal motivo da evasão escolar e também que encontrem na escola, em nove horas diárias, o conhecimento e os desafios necessários ao futuro. Também é vital que a comunidade perceba o retorno dessa ação e que a escola crie a exemplo de universidades alternativas de renda e ensino também para os familiares desses alunos". Dito assim, pode parecer muito simples. Mas foram precisos mais de três anos, com todas as salas do primeiro ao terceiro ano do segundo grau, o antigo colegial, lotadas para que a Embraer consolidasse seus conhecimentos na área de ensino. Valeu á pena, diz Cardoso Oliveira, porque, agora, a escola de linhas curvas e modernas, plantada na fronteira do quase nada com o nada ao redor, começa a seguir por seus próprios passos. Nem a diretora do Colégio Engenheiro Juarez Wanderley, Maria Regina Almeida Paz, do grupo Pitágoras, deseja mais voltar para Minas Gerais, onde nasceu e vivia até 2001. "Hoje, eu diria que o meu lugar é aqui". E ela tem motivos de sobra para comemorar resultados, expostos num mural na entrada do colégio, com as estatísticas daqueles que passaram no vestibular. E, findo o recreio, esses alunos mais uma vez têm pressa. Voltam para as salas, certos de que amanhã estarão naquele painel, trocarão o colégio pela universidade. Inclusão social, para Cardoso Oliveira, é isso. Simples assim.
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Inclusão Educacional
Decolagem No pátio, o avião da Embraer está pronto para conquistar os ares. Nas salas de aula e nos laboratórios do colégio mantido pela empresa são os alunos queaprendem que o futuro pode e deve ser sustentável
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Inclus達o
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O concerto da Vale INVESTIMENTOS SOCIAIS E AMBIENTAIS PROCURAM AMENIZAR IMPACTO DA SEGUNDA MAIOR
MINERADORA DO
MUNDO. PROJETOS CULTURAIS, REFLORESTAMENTO TRILHOS ECOLÓGICOS SÃO ALGUMAS DESTAS AÇÕES
TEXTO [SONIA ARARIPE] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
O
s acordes das Bachianas, número 2, de Villa-Lobos, invadem o Teatro Cecília Meirelles, no Centro do Rio de Janeiro. A camerata formada por 13 jovens de bairros simples da região em torno de Vitória (ES) impressiona não só pela dedicação, mas também pelo som que parece sair da alma dos garotos. Regidos pelo experiente maestro Marcelo Bratke, no projeto Alma Brasileira – 120 anos de Villa-Lobos – o grupo capixaba se apresenta durante cerca de duas horas. Emociona o público principalmente na performance do famoso Trenzinho Caipira – com toques do ritmo regional congo. Estão ali para escrever talvez o mais importante capítulo de suas vidas. “São jovens muito talentosos. Alguns, se seguirem as aulas e ensaiarem bastante, poderão vir a se transformar em músicos profissionais”, prevê o orgulhoso maestro. É fácil perceber a emoção dos jovens. Depois de turnê por seis cidades brasileiras, eles ensaiam ainda mais para viajar ao exterior, corrrendo, como o trenzinho caipira, por alguns destinos que os meninos e meninas só conheciam de nome. “Fecho os olhos e não sei se é um sonho ou se é verdade. Tem sido mara-
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Inclusão
vilhoso”, confessa Jonatas Nascimento, sem se importar com o peso – literal e da responsabilidade – de envergar o contrabaixo. Ele e os outros integrantes da Camerata Vale Música foram descobertos participando de programa Vale Música da Fundação Vale do Rio Doce em regiões carentes próximas de Vitória. O programa tem como objetivo promover a inclusão social e a educação por meio da música. Mistura música clássica com os ritmos regionais. Já ensinou jovens também em outras regiões onde a Vale atua, como em Belém (PA) ou Corumbá (MT). È apenas um dos projetos do braço social da Companhia Vale do Rio Doce. Além da cultura, há outros voltados, por exemplo, para a educação, desenvolvimento regional e voluntariado. Para 2007 estão orçados investimentos sociais de US$ 174 milhões. Uma campanha institucional, batizada de “O Brasil que Vale”, em horário nobre, foi criada pela agência África para enfatizar estes programas. O diretor-executivo de Assuntos Corporativos da Vale, Tito Martins, assegura que não é discurso da boca para a fora. E que o objetivo não é apenas amenizar os impactos intensos da segunda maior mineradora diversificada do mundo em ações no Brasil e também em países distantes, como Moçambique, Gabão, Canadá ou Austrália. “Estamos realmente envolvidos com a sustentabilidade. Não somos o Estado. Mas temos um papel importante a cumprir com a sociedade”, afirma. Todos os dias 2,5 milhões de pessoas – entre empregados diretos (são 40 mil), indiretos, familiares e outros envolvidos na operação – acordam de alguma forma ligados a Vale. É quase um exército. Espalhado não só por diferentes pontos do Brasil, mas também no exterior. Com um telhado tão grande, a novena de pedidos e demandas para a mãe Vale é grande. Sem falar nos conflitos com comunidades indígenas e moradores próximas das usinas hidrelétricas e das três ferrovias da Vale. Cabe
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CAMERATA VALE MÚSICA EMOCIONA PLATÉIAS EXIGENTES
ao habilidoso Tito Martins, aos 44 anos, administrar o que pode se transformar em um conflito explosivo. “Cada caso é um caso. Precisamos ouvir, negociar, conversar e mostrar a nossa posição.” Assim, não adianta que todos os prefeitos de cidades com projetos da Vale
queiram que a gigante construa hospitais de ponta e escolas de primeiro mundo em seus municípios. A Vale tem procurado agir em rede, apoiando um belo projeto educacional profissionalizante em Parauapebas (PA), por exemplo, enquanto ali próximo, em Canaã, no projeto do cobre, a prioridade pode ser ajudar na formação de administradores públicos. Sempre tomando o cuidado de não ocupar o espaço que é legitimamente do Estado. “O programa que mais gosto é o que ajuda a reciclar o conhecimento de professores. Tem efeito multiplicador. Estamos somando e não substituindo”, diz Martins. O Escola que Vale já atingiu cerca de 4 mil professores, diretores e coordenadores pedagógicos. Sustentabilidade ganhou tanto peso que passou a ter status de diretoria na mineradora. As ações avançam. Nas ferrovias, por exemplo, dormentes de madeira reflorestada estão sendo trocadas para aço e borracha. E 20% de todo o óleo diesel (a Vale é a maior consumidora de diesel no Brasil) que abastece as três ferrovias da Vale são, desde janeiro, substituídos por biodiesel. A empresa protege 3,1 bilhões de árvores ao redor do mundo, nos países onde atua, numa área de 2,3 milhões de hectares: são 16 árvores para cada brasileiro hoje. A maior área protegida está no Pará, onde está localizada Carajás, a maior reserva de minério de ferro a céu aberto do mundo, operada pela CVRD. São 2,2 bilhões de árvores em uma área de 1,5 milhão de hectares. Mas além de preservar e também recuperar áreas degradadas, a mineradora está reflorestando em outras regiões. Planeja plantar 346 milhões de árvores nos próximos três anos nas regiões onde atua. Isto equivale a duas vezes a cidade de São Paulo. Não serão suficientes para zerar a conta de carbono, mas, mesmo não sendo o principal objetivo, ajudará também neste sentido. O compromisso maior, assegura a Vale, é com a bioesfera.
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Campanha O ritmo regional do congo também faz parte do projeto “Alma Brasileira”. A ação de marketing “Brasil que vale” destaca ações sociais e ambientais da mineradora, envolvendo US$ 174 milhões
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Inclusão Ambiental
A
Floresta do Miguel ELE QUERIA PLANTAR UMA ÁRVORE A CADA PRODUTO VENDIDO MAS ACABOU POR COMPRAR
O CONSERVACIONISTA
UMA ÁREA ONDE OS BIOMAS SÃO PRESERVADOS TEXTO [CARLOS FRANCO] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
Q
uem chega a Curitiba, desembarcando no Aeroporto Internacional Afonso Pena, dá de cara, no saguão de desembarque, com uma estilizada cachoeira e, em todo o hall, com sons e aromas da Mata Atlântica e do Cerrado. Ali, descobre que há 17 anos a paranaense O Boticário preserva a natureza, num compromisso que não ganhou rótulo nos seus produtos nem campanhas de marketing ligadas ao consumo deles. "Nós somos conservacionistas, não somos extrativistas. Não fazemos da nossa relação com a natureza um instrumento de marketing, propagandeando o uso da flora e da fauna nos produtos. Temos é um compromisso com o meio ambiente, como cidadãos e como empresários, e dele queremos que outros venham a participar, a investir nessa idéia", diz Miguel Krigsner, o dono de O Boticário, alfinetando concorrentes. Bem antes de a Natura atrelar brasilidade à sua marca e aos seus produtos, investindo pesado em marketing ligado à fauna e à flora brasileira nos últimos dez anos, visando o mercado externo e o de grandes capitais, a Fundação O Boticário já havia comprado em 1994 um
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pedaço de floresta na Mata Atlântica, com área de 2.340 hectares, criando a Reserva Florestal Salto Morato, no Paraná, hoje reconhecida pela Unesco como Reserva Florestal da Humanidade. Agora, com apoio financeiro da The Nature Conservancy (TNC), a Fundação O Boticário de Proteção á Natureza, comprou uma nova área, no Cerrado, de 8.700 hectares que deu origem à Reserva Natural do Tombador, em Cavalcante (Goiás). A intenção, diz Krigsner, é criar espaço para a conservação dos biomas brasileiros, possibilitando a pesquisa e estimulando investimentos em preservação de flora e fauna. "Não temos nenhum compromisso com o extrativismo, queremos é conservar e estudar essa fauna e essa flora, visando que outras gerações venham a conhecer tais riquezas", diz reenfatizando a sua visão sobre a questão da sustentabilidade, hoje em pauta nas empresas. Além dessas duas áreas, a Fundação O Boticário participa de projetos de conservação do meio ambiente em diversas regiões brasileiras. Em São Paulo, implantou há dois anos o projeto Oásis, que visa preservar as áreas próximas de mananciais, conservando a qualidade da água da Grande São Paulo, mesmo que, para isso, seja necessário desembolsar recursos e comprar áreas, evitando a poluição desses mananciais. Na Amazônia, a Fundação O Boticário doou US$ 1 milhão para o Programa de Áreas Protegidas da Amazô-
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nia (ARPA), que tem como meta preservar 50 mil hectares de floresta virgem. Uma mudança significativa no modo de pensar de Krigsner, que, num primeiro momento, pensava em plantar uma árvore a cada produto vendido, mas acabou por perceber, em conversas com ecologistas, dentro e fora do País, que isso não traria nenhum resultado ou benefício. Seria apenas mais uma floresta plantada, sem conservar a biodiversidade existente. "Então, é por isso que hoje vivo a repetir que somos conservacionistas, não somos extrativistas, nem reflorestadores. As duas outras visões são negócios, a nossa é de responsabilidade ambiental". E Krigsner fica feliz ao ver a floresta de Salto Morato, um oásis na Mata Atlântica. O filho de imigrantes judeus que fugiram da Guerra e que nasceu em La Paz, vindo para o Brasil ainda menino, tem olhar focado na exuberante vegetação do Pais que o acolheu e onde fez fortuna. Em troca, preserva os valores e tesouros dessa terra, que diz ser a sua terra.
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Inclus達o Digital
PIRA Dias de festa em
Palavra chave legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda legenda
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A CIDADE DE 24 MIL HABITANTES AGORA VÊ O MUNDO NAS TELAS DO
COMPUTADOR E MOSTRA QUE É
RAÍ
POSSÍVEL LEVAR INCLUSÃO DIGITAL COM
VELOCIDADE DE BANDA LARGA
TEXTO [VICENTE SENNA] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
D
urante cinco dias no mês de setembro, o pequeno município de Piraí, no Médio Paraíba Sul Fluminense, com pouco mais de 24 mil habitantes, viveu dias movimentados, causados por dois ilustres visitantes: o ministro Gilberto Gil e o governador Sérgio Cabral Filho. Acompanhados de grandes comitivas, eles tinham um interesse comum: ver o que é que Piraí tem e o tão falado Projeto Digital local, hoje uma referência em todo o País e que deu ao pequenino município, em 2005, um prêmio que nem as metrópoles do Brasil têm: o cobiçadíssimo Top Seven Inteligent Communities. Traduzindo: Piraí é uma das sete cidades mais inteligentes do mundo. Isso explica, em parte, por que Piraí tem sido considerado um modelo bem-sucedido de gestão pública. O governador esteve em Arrozal, 2o Distrito do município, no dia 6 de setembro, para ver de perto e inaugurar um projeto pioneiro no país: a implantação Projeto UCA – Um Computador por Aluno, programa experimental do Ministério da Educação, que visa à reforma do sistema ensino-aprendizagem, mediante a utilização da informática. O projeto foi implantado no CIEP municipalizado Professora Rosa da Conceição Guedes, onde todos os cerca de 430 professores e alunos já usam um lap top no dia das atividades escolares. Num segundo estágio, as crianças poderão levar o notebook para casa, para promover a inclusão digital de toda a família. Somente cinco cidades brasileiras receberão o Projeto UCA. As outras quatro são Porto Alegre, São Paulo, Palmas e Brasília. Portanto, só Piraí não é capital. Por que o privilégio? É o resultado de um projeto de inclusão digital bem- sucedido, surgido há cerca de 10 anos e que vem dando o que falar. Fala-se bem aqui e no exterior. São dezenas de prêmios nacionais e internacionais, entre eles os da Unesco e da Red Iberoamericana de Ciudades Digitales. São centenas de reportagens publicadas aqui e no exterior, em jornais e revistas – das mais ecléticas, como a americana Newsweek, às especializadas, como A Rede -, bem como matérias em TVs e rádios. Manter toda a parafernália digital em funcionamento custa caro. E muito mais ainda levar banda larga a todos os rincões dos 504 quilômetros quadrados do município. A opção para manter abertos ao público telecentros e quiosques espalhados pelas mais distantes localidades seria cobrar uma taxa módica das casas particulares que utilizassem a rede de acesso da Prefeitura. Mas a Anatel não concorda e, com isso, a atitude pioneira de Piraí criou um impasse: como as empresas de telefonia não têm interesse em investir numa localidade com pouco mais de 8 mil domicílios, por que não permitir que o poder público faça o dever de casa das teles e cobre uma taxa bem mais em conta? Todos os municípios que seguiram o modelo de Piraí estão na expectativa de que cessem as supostas pressões das teles sobre a Anatel e Piraí saia vitorioso. Um marco na gestão do município Seja qual for o resultado da questão, o Projeto Piraí Digital é considerado, com inteira razão, pelo Prefeito Arhur Henrique Gonçalves Ferreira, Tutuca, um marco na história do município. Ao criar uma rede de transmissão de dados e voz, o projeto teve um devastador efeito positivo em todas as áreas de atividades no município. Possibilitou a criação de um novo
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Inclusão Digital
GIL, CABRAL E TUTUCA NA ESCOLA DIGITAL DO FUTURO
padrão de gestão e, em conseqüência, oportunidades de desenvolvimento: “Antes, tínhamos que correr atrás das empresas para que elas se instalassem aqui. Agora, pelas vantagens oferecidas, elas é que nos procuram”, frisa Tutuca. A procura tem motivos: além de benefícios fiscais, as empresas encontram, em Piraí, escolas, assistência médica, segurança e facilidade de locomoção para seus empregados. Ou sejam, as condições ideais para que eles produzam mais e melhor. Em Piraí, não há escola nem hospital particular. Tudo é público. A Prefeitura investe cerca de 34% do orçamento em educação e 28% em saúde. Muito mais do que o exigido pela Constituição Federal - 25% para educação e 15% para saúde. Todas as escolas da rede municipal oferecem café da manhã (raridade no país), merenda escolar e estão aparelhadas com laboratório de informática, com acesso à internet em banda larga. As médias obtidas pela rede de ensino municipal no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) são superiores às do Estado e do País. Além disso, parcerias com a Comunidade Européia e a Sequoia Foundation, dos EUA, propiciam dois
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importantes projetos – o X-Cross e o ELL. No primeiro, os próprios alunos utilizam toda a tecnologia moderna para produzir suas próprias aulas, com a ajuda de monitores. O segundo oferece ensino de língua inglesa, inclusive a crianças dos jardins de infância. Na área de saúde, pouquíssimos municípios no país conseguem fazer com que o Programa de Saúde da Família (PSF) esteja em 100% do seu território. Piraí consegue. Médicos, enfermeiros, dentistas e pessoal paramédico visitam com regularidade todos os lares do município. Graças ao Projeto Digital, toda a rede de saúde está interligada e a Prefeitura já trabalha em projetos mais ambiciosos. Como o Telemedicina. Em convênio com universidades, o projeto vai abrir a possibilidade de que casos mais complicados tenham diagnóstico fornecido com auxílio da informática. Tudo isso motivou o Ministro Gilberto Gil a programar uma visita a Piraí. Entusiasmado, passou todo o dia 10 na cidade. Visitou as instalações do projeto digital, escolas,; participou de uma oficina sobre banda larga, com experts de vários estados, inaugurou o Ponto de Cultura da cidade e, como não poderia deixar de ser, fechou a visita com um belíssimo show, cantando por mais de duas horas seguidas, em praça pública, sucessos antigos e novos. Entre eles, a música Banda Larga de Cordel, uma homenagem ao Projeto Piraí Digital. Durante todos aqueles dias, mais uma vez Piraí foi o centro das atenções no Sul Fluminense. Mais um golaço do Projeto Piraí Digital.
Conferência O governador Sérgio Cabral de volta à sala de aula
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OM SEU PAINEL DE INSTRUMENTOS DE DOIS NÍVEIS, QUE MANTÉM A ILUMINAÇÃO POR MEI INSTRUMENTOS DE DOIS NÍVEIS, QUE MANTÉM A ILUMINAÇÃO POR MEI INSTRUMENTOS DE DOIS NÍVEIS, QUE MANTÉM A ILUMINAÇÃO POR MEI INSTRUMENTOS DE DOIS NÍVEIS, QUE MANTÉM A ILUMINAÇÃO POR MEIO DA TECNOLOGIA LED (LIGHT EMITER DIODE)
ANTONIO CARLOS BRASILEIRO JOBIM, E EM BREVE NA COR PRATA GLOBAL METÁLICO, O CIVIC SI 2007
REIVSTA PLURALE Setembro/2007
É PRODUZIDO NA FÁBRICA
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CARLOS FRANCO E MARCELO EM UMA LUTA EMOCIONANTE DURANDO 12 ASSALTOS E VITÓRIA BRASILEIRA NOS JOGOS PAN DE 2008
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Os mercados são sustentáveis LEILÃO DE CRÉDITOS DE CARBONO. BOVESPA TEM ÍNDICE
BM&F REALIZA, COM SUCESSO, PRIMEIRO DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
TEXTO [EQUIPE PLURALE] FOTOS [DIVULGAÇÃO]
F
modernas bolsas de futuros do mundo – um grupo holandês
oi-se o tempo em que uma bolsa
arrematou da Prefeitura de São Paulo créditos gerados pelo
negociava apenas ações, produtos
Aterro Sanitário de São Paulo.
agrícolas ou contratos futuros. Em tem-
Foram colocados à venda 800 mil certificados de emissão
pos cibernéticos e de preocupações
reduzida - os títulos negociados no ambiente do Protocolo de
ambientais e sociais, também créditos
Kyoto - provenientes da captura e queima de 808.450 tone-
de carbono podem ser comercializa-
ladas de gás metano no Aterro Bandeirantes.
dos. São os mercados cumprindo seu
Este gás, se fosse liberado todo na atmosfera, ajudaria a
papel em busca da sustentabilidade do
poluir ainda mais a megalópole de São Paulo. O gás meta-
planeta.
no é um dos maiores responsáveis pelo aquecimento do pla-
No fim de setembro, dia 26, foi realizado em São Paulo,
neta; 80% de sua queima no aterro são utilizados para acio-
na Bolsa de Mercadorias e de Futuros (BM&F), o primeiro
nar uma usina termelétrica com capacidade para gerar 175 mil
leilão de créditos de carbono do mundo em uma bolsa. Em
MWh/ano - energia suficiente para atender cerca de 400 mil
sistema eletrônico high-tech – a BM&F é uma das mais
habitantes.
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Bolsas Localizado na Zona Norte, o Aterro Bandeirantes é considerado um dos maiores do mundo, recebendo cerca de 7 mil toneladas diárias de lixo, meta-
O QUE SÃO CRÉDITOS DE CARBONO?
de do total produzido em São Paulo. Desde 2006, o aterro começou a receber os créditos de carbono previstos pelo Protocolo de Kyoto ao adotar um mecanismo que queima o metano liberado na decomposição do lixo. Para os mais céticos, o sucesso pode ser conferido pelo resultado: o banco holandês Fortis Bank NV/AS arrematou por R$ 34 milhões créditos de carbono pertencentes à Prefeitura de São Paulo. Em relação ao preço
Os créditos de carbono são como se fosse um cheque ao portador. Empresas poluidoras ou bancos podem comprar estes créditos para r “abater” nas metas de redução de emissões globais, definidas pelo Protocolo de Kyoto. Isso criou um mercado de créditos de carbono, que começou a funcionar em fevereiro de 2005. O
mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL) - adotado nos aterros de São Paulo é um dos instrumentos de flexibilização estabelecidos pelo Protocolo de Kyoto para facilitar as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa definidas para os países que ratificaram o acordo mundial. Cada tonelada de CO2 equivalente que deixar de ser emitida ou for retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento poderá ser negociada no mercado mundial, criando novo atrativo para a redução das emissões globais.
estabelecido inicialmente, o comprador pagou ágio de 27,5%. Os recursos serão investidos na região de Perus, onde fica o Aterro, uma das mais carentes da capital paulista. Apresentaram-se 14 interessados e a disputa foi tão acirrada que a BM&F
tra Neto. “Os recursos serão utilizados
precisou ampliar em até uma hora o
em melhorias ambientais nos bairros
O mercado de créditos de carbono
tempo do leilão para receber todas as
vizinhos ao aterro sanitário. Todo recur-
começou a vigorar em fevereiro de 2005.
ofertas. O lance vencedor alcançou 16,20
so arrecadado será revertido em melho-
Nele, os países desenvolvidos que têm
euros por tonelada, ante 12,70 euros
rias para a população que há anos con-
metas de redução das emissões de gases
do preço mínimo. O resultado é consi-
vive com o aterro.” A Prefeitura deve
de efeito estufa podem comprar títulos
derado muito bom por especialistas do
lançar, até o fim deste ano, mais um lote
de projetos que reduzem a poluição
mercado: os créditos de carbono resul-
para negociação. Diante do sucesso, a
em outros países. O Brasil tem cerca de
tantes de MDL estão cotados hoje entre
BM&F estima realizar pelo menos dez
230 projetos em fase de aprovação pela
14 e 16 euros a tonelada. Participaram
pregões em 2008, incluindo créditos de
ONU. A venda dos créditos na BM&F
do leilão outros fortes bancos e grupos
empresas privadas.
demonstra a viabilidade financeira des-
começou em junho deste ano.
internacionais como Merrill Lynch Com-
A prefeitura aguarda aprovação da
modities, ABN AMRO Bank, Ecosecuri-
ONU para obtenção de certificado que
1,2 bilhão até 2012, só no País.
tes Capital, Goldman Sachs International
a habilite a também vender crédito
Empresas responsáveis
e Morgan Stanley.
de carbono do Aterro São João, recep-
na Bovespa
se mercado, que tem potencial de US$
O prefeito de São Paulo, Gilberto
tor da outra metade do lixo da cidade.
Também a Bolsa de Valores de São
Kassab, comemorou o resultado com o
A queima do metano desse aterro,
Paulo (Bovespa) está empenhada em
presidente da BM&F, Manoel Félix Cin-
localizado na Zona Leste da capital,
avançar rumo à sustentabilidade. Seguin-
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do tendência mundial dos investidores que procuram empresas socialmente responsáveis, sustentáveis e rentáveis para aplicar seus recursos, a Bovespa lançou o Índice de Sustentabilidade
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BOVESPA E EMPRESAS DE CAPITAL ABERTO NA LINHA DE FRENTE
Empresarial (ISE). Participaram desta iniciativa o Instituto Ethos, o Ministério do Meio Ambiente e várias entidades ligadas ao mercado de capitais, como a das fundações de previdência abertas e a dos analistas de investimento. O ISE tem por objetivo refletir o retorno de uma carteira composta por ações de empresas com reconhecido comprometimento
A
Bolsa Social criada pela Bolsa de Valores de São Paulo em 2003 é hoje exemplo de como os mercados podem cumprir importante papel na captação de recursos para projetos sociais. Foram R$ 20 milhões que irrigaram até hoje importantes projetos sociais. Em troca, além de desconto no Imposto de Renda, o investidor passa a acompanhar resulta-
com a responsabilidade social e a sus-
dos, sempre comoventes, da aplicação do seu dinheiro, em tempo real
tentabilidade empresarial, e também
por meio da internet, exatamente como funciona a bolsa que a criou.
atuar como promotor das boas práticas no meio empresarial brasileiro.
Paralelamente, a Bovespa estímula hoje o ìndice de Sustentabilidade
Empresarial (ISE), que é voluntário por parte das empresas listadas. Uma experiência que tem aberto as portas dos mais importantes fóruns glo-
Estas organizações criaram um Con-
bais para a bolsa brasileira.
selho Deliberativo presidido pela Bol-
Entre os dias 5 e 6 de julho, por exemplo, o presidente da Bovespa,
sa de São Paulo, que é o órgão respon-
Raymundo Magliano Filho, expôs em Genebra esses projetos a platéia
sável pelo desenvolvimento do ISE.
de líderes globais, a convite do ex-secretário da ONU Kofi Annan, que
Posteriormente, o Conselho passou a
secretaria o Pacto Global. Em 2004, a Bovespa também participou do
contar também com o PNUMA em sua
fórum logo paós ter anunciado a sua adesão ao Pacto Global, sendo a pri-
composição. A Bolsa é responsável
meira bolsa de valores mundial a fazê-lo.
pelo cálculo e pela gestão técnica do
Para Magliano, em países emergentes, como o Brasil, a sociedade civil
índice. O ISE é uma ferramenta impor-
tem uma missão inadiável: a de ajudar o governo a construir uma socie-
tante para ampliar o entendimento
dade mais justa e um planeta mais saudável.
sobre empresas e grupos empresariais
Segundo Magliano, a Bovespa e as empresas já avançaram muito e
comprometidos com a sustentabilidade
estão mais conscientes de seus deveres em relação a direitos humanos,
empresarial, diferenciando-os em ter-
trabalhistas e ambientais, além do respeito à ética nos negócios.
mos de qualidade, nível de compromis-
"Cada um deve fazer a sua lição de casa, e sempre mais, sempre para
so, transparência, desempenho, dentre
o alto. Por isso, todo o trabalho que as empresas e instituições signatá-
outros fatores relevantes para investido-
rias do Pacto vêm fazendo merece ser celebrado. Devemos aplaudir, por
res com preocupações éticas.
exemplo, a declaração "Zelando pelo Clima", lançada neste fórum, sobre-
Em setembro, 34 empresas integravam o ISE, entre elas algumas das maio-
tudo porque ela reforça o ataque a um problema que não pode mais esperar: as mudanças climáticas derivadas do efeito estufa".
res como Aracruz, Bradesco, Cemig,
Para o presidente da Bovespa, o ISE é uma poderosa ferramenta de
Embraer, Gerdau, Itaú, Petrobras, Suza-
incentivo das práticas de responsabilidade socioambiental, trabalhista
no e Unibanco.
e ética. "Ela cria valor tanto para as empresas como para os investidores".
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CARBONO NEUTRO
SÔNIA ARARIPE
s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r
MAIS QUE UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA
FUTURO A Penha Papéis e Celulose assinou acordo com o banco
Sou do tempo em que carbono era principalmente uma folha de cor escura, entre o
alemão KFW se com-
roxo e o preto, que se colocava entre duas notas ou duas páginas para que a cópia saísse
prometendo a vender
do outro lado. Denuncia ainda mais a idade se lembrarmos que não existia computador,
30 mil toneladas de
nem fax, nem muito menos Xérox nos tempos de escola. Era apenas o velho mimeógrafo. A
CO2 por ano. Os crédi-
mãe professora lembra-se bem do cheiro de álcool invadindo a sala. Ah, sim! Carbono tam-
tos se referem à fábrica
bém era algo - lá longe - estudado na aula de ciências. O tal do dióxido de carbono, ou
em Santo Amaro (BA),
CO2 para simplificar, emitido pelos carros e por chaminés. Mas tenho certeza que meus fil-
que substituiu a queima
hos - e outros milhões de jovens - quando ouvirem a palavra carbono associarão logo à
de óleo combustível
poluição, ao esforço que todos nós – habitantes do planeta Terra – precisamos fazer para
por biomassa de bam-
evitar tantas emissões, para combater o aquecimento global e garantir uma vida mais limpa.
bu para a produção de
Virou uma febre: produto livre de carbono, carbono neutro, carbono zero, leilão de créditos
papel. Assim, o Brasil
de carbono... Não se trata apenas de uma questão de semântica. Mas sim de posicionamen-
se tornou o primeiro
to diante do compromisso com as novas gerações. São estes temas que debateremos aqui
país da América Latina
neste espaço.
a fechar o primeiro contrato de comerciali-
PLANTANDO O FUTURO
zação de créditos de carbono que vigorará após 2012, quando, teo-
O Itaú lançou, em setembro, campanha – Plante o amanhã. Foram distribuídas em 150 agências do banco mais de 150 mil sementes de Angico-Vermelho, também conhecida como guarucaia, brincos de sagüim, brinco de sauí e Paricá. Cada árvore desta espécie, aos 30 anos neutraliza 300 kg de CO2. “Com essa ação, queremos estimular a sociedade a consumir com consciência e reduzir seus impactos ambientais. Vamos mostrar que pequenas mudanças no dia-a-dia fazem a diferença”, explica Antonio Matias, vice-presidente do Itaú e da Fundação Itaú Social.
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ricamente, chega ao fim o Protocolo de Kyoto.
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WWW. REVISTAPUBLICITTA. COM. BR
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BELO EXEMPLO
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A Natura, fabricante de cosméticos, com sede em Cajamar (SP) anunciou,
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em setembro, que fixou a meta de reduzir suas emissões em 33% nos próxi-
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mos cinco anos, em relação aos níveis atuais. A empresa mapeou a poluição gerada nas fábricas e também ao longo da cadeia produtiva - da extração da matéria-prima até o descarte das embalagens dos cosméticos. A cadeia de
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negócios da empresa foi responsável pela emissão, na atmosfera, de cerca
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de 270 mil toneladas de gás carbônico em 2006.
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NOS RÓTULOS
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Depois de dados sobre calorias e gorduras, agora chegou a vez da emissão de CO2 também ser informada nos rótulos. A medida entrará em breve em
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vigor no Reino Unido, ainda de forma opcional. Coca-Cola, Cadbury (fabrican-
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te de balas e chicletes, aqui no Brasil conhecida pelo chiclete Adams) e outras empresas vão indicar em seus rótulos as emissões de dióxido de carbono resultantes da fabricação, uso e descarte de seus produtos. Os cálculos das emissões poderão levar até seis meses.
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CO2
Símbolo do dióxido de carbono. É responsável pela maior
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parte do aquecimento global. Este gás resulta principalmente
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da queima de combustíveis fósseis, como o petróleo. A quanti-
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dade de gás carbônico lançada na atmosfera continua a crescer especialmente porque países como a China e a Índia estão alimentando seu agressivo crescimento econômico com a queima de quantidades crescentes de carvão. O Protocolo de Kyoto estabelece metas de combate às emissões. Os EUA não aderiam ao Protocolo. Carbon free ou carbono livre é uma prática de incentivo de plantio de árvores e definição de metas para redução de emissão de carbono.
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