Plurale em revista 18

Page 1

ano três | nº 18 | julho/agosto 2010 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

AMAZÔNIA:

EDUCAÇÃO:

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS ELEIÇÕES:

A SUSTENTABILIDADE EM PAUTA

FOTO: SÉRGIO LUTZ / COLEIRINHO NA SERRA DA BOCAINA

PLURALE EM REVISTA

JUL/AGO 2010

Nº 18

UMA EXPOSIÇÃO E UMA EXCURSÃO



3


Editorial

A

FOTO: [CLÁUDIA ANDUJAR] - EXPOSIÇÃO AMAZÔNIA, A ARTE

Marcados para viver

o partirmos para mais uma cobertura, nunca sabemos ao certo o que vamos encontrar. E foi assim que a Amazônia e sua biodiversidade cruzou esta edição por duas vezes de forma ímpar. Carlos Franco esteve em Vitória (ES), a convite da Fundação Vale, para conferir de perto a exposição “Amazônia, a arte”. Conversou com a sensível Cláudia Andujar, que marcou história com sua bela arte ao imortalizar o povo Yanomami. Se sua família – e de outros tantos milhões de judeus – foram marcados para morrer, Cláudia procurou, através de sua arte, marcar os índios para viver. Uma belíssima história contada, com o lirismo de sempre, em texto poético de Franco, que também descortina o olhar de outros artistas. Pela segunda vez, o verde e a exuberância amazônica cruzou nossos caminhos nesta edição. Desta vez, através da viagem de férias da jovem Aline Gatto Boueri, nossa correspondente de Buenos Aires, ao apresentar ao marido argentino a riqueza natural nos rincões dos afluentes do caudaloso Amazonas, que tantas vezes repetimos nas aulas do Ensino Fundamental. Casos e causos enriquecem nosso objetivo de mostrar um Brasil em transformação a cada novo número de

4 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

Plurale em revista. Nícia Ribas conta como é a técnica do letramento, capaz de alfabetizar adultos, sempre com a dedicação dos mestres. Raquel Ribeiro revela que há alternativas menos agressivas à natureza para o ciclo menstrual das mulheres. Da Serra da Bocaina, na divisa do Rio de Janeiro e São Paulo, Sérgio Lutz descortina a beleza dos pássaros e seus segredos. Do coleirinho que ilustra a capa até a imponência de gaviões e carijós no ensaio que encanta. Letícia Freire, do portal Mercado Ético, parceiro de primeira hora, colabora apresentando como a união faz diferença na recuperação da região do Vale do Paraíba. Os Articulistas – Antônio Everton Chaves Jr., Cláudia Cataldi e Dario Menezes - trazem novos temas para o debate sobre Sustentabilidade. A jornalista Elizabeth Oliveira apresenta como este tema poderá fazer diferença nas eleições que se aproximam, em outubro. E de xará para xará, Sônia Araripe entrevista Sonia Consiglio Favaretto, Diretora de Sustentabilidade da Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros – terceira maior do mundo em valor de mercado - sobre o processo de inclusão de práticas sustentáveis no dia-a-dia das empresas abertas brasileiras. Boa leitura!



Conte xto

30.

ENSAIO: PÁSSAROS

FOTO: [ALINE GATTO BOUERI]

FOTO: [SERGIO LUTZ]

54.

AMAZÔNIA: UMA VIAGEM E UMA EXPOSIÇÃO

27.

BAZAR ÉTICO

50.

ARTIGOS

LETRAMENTO: EM BUSCA DO TEMPO PERDIDO

14 VIDA SAUDÁVEL

45 PELO MUNDO

58 ESTANTE

61 CARBONO NEUTRO

65

6 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

20.

A SUSTENTABILIDADE NAS ELEIÇÕES


Sustentabilidade é a energia que motiva nossas certificações!

Nossa responsabilidade com o Meio Ambiente se comprova com nossas certificações. Trabalhamos com um Sistema Integrado de Gestão nas áreas Ambiental, de Qualidade, de Saúde e Segurança.

Certificações


Ca rta s

Quem faz a Plurale Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz

Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Logistica Newton Medeiros Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda

(CNPJ 04980792/0001-69) em parceria com a Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) Impressão: WalPrint

Revista impressa em papel reciclado

Rio CEP São CEP

de Janeiro| Rua Etelvino dos Santos 216/202 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 Paulo| Alameda Barros, 122/152 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947

Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores

© Copyright Plurale em Revista

8 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r

Edição 17 “A matéria sobre inclusão, publicada na edição 17, é de grande importância para as pessoas com deficiência física, por trazer informações que muitas vezes não chegam até elas. E a mídia tem sido propagadora dessa causa. Por isso gostaria de parabenizar a revista Plurale pela matéria e pela proposta editorial. A publicação tem feito um belo trabalho e vem cumprindo o seu papel. Obrigado também pelo apoio que tem dado a ABBR. Vida longa à Plurale” Deusdeth Gomes do Nascimento, Presidente da ABBR (Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação), Rio de Janeiro, RJ ano três | nº 17 | maio/junho 2010 | R$ 10,00

AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE

ENSAIO:

A DIVERSIDADE DA CAATINGA COLUNISTAS PLURALE

IDOSOS

NA MELHOR IDADE E FELIZES

“É sempre bom podermos contar com a mídia no processo de inclusão da pessoa com deficiência. Hoje, vejo que o assunto realmente está ganhando novos recortes dentro dos meios de comunicação. Um exemplo disso é a matéria de Plurale em revista sobre consumo e deficiência. A reportagem mostrou que o nosso público representa um potencial de mercado incrível. Parabéns pela abordagem”. Mara Gabrili, Vereadora (PSDB), São Paulo, SP “Em nome do Grupo Adapt, parabenizo Plurale em revista pela matéria sobre inclusão publicada na edição 17. Ao oferecer produtos e serviços diferenciados para pessoas com deficiência, acreditamos no potencial deste mercado e cumprimos nosso papel no meio empresarial. O Rio de Janeiro está carente de centros que atendam a este público com a devida atenção e profissionalismo. Afinal, aproximadamente 15% da população do Estado do Rio de Janeiro têm algum tipo de deficiência e necessitam de atendimento especial. Aproveitamos a oportunidade para convidar os leitores da revista para conhecer nosso espaço, totalmente acessível, localizado na Rua Haddock Lobo, 203. Nossa equipe está à disposição para atender a todos os interessantes também via email (atendimento@grupoadapt.com.br) ou telefone (21 3296 1888 / 3273 1567).Um forte abraço” Marcelo Maia, Sócio-Diretor do Grupo Adapt, RJ, RJ “Acusamos o recebimento e agradecemos a Edição 17 de Plurale em revista, sempre uma leitura interessante.” Adionel Carlos da Cunha, assessor de Imprensa da Arquidiocese do Rio de Janeiro, RJ Bazar ético “A matéria ficou muito boa. Obrigado pela ajuda em divulgar o nosso trabalho. Temos muitas histórias destas comunidades que queremos divulgar.” Lars Diederichsen, presidente do Instituto Meio, São Paulo, SP

”Obrigada pelo apoio ao nosso trabalho e das comunidades. A matéria ficou excelente. Nos encarregaremos de enviar para conhecimento das comunidades, e tenha certeza que ficarão muito felizes vendo o trabalho delas tão bem retratado. Grande abraço,” Marta Mendes, Comunicação do Instituto Meio, São Paulo, SP Prêmio João Valiante “Sônia, Parabéns! Prêmio mais que merecido.” Aspásia Camargo, vereadora (PV-RJ) “Meus parabéns a vocês.” Alberto Borges Matias, professor da FEA-USP, Ribeirão Preto, SP “Parabéns pelo Prêmio!” Eliana Cardoso, professora, Washington (EUA) “Cara Sônia, Parabéns por mais essa bela e merecida conquista. Desejo mais e mais sucesso, hoje e sempre.” Vera Lúcia Ferreira Soares, Superintendência de Comunicação da Bradesco Seguros, Rio de Janeiro, RJ Parcerias “Entre os dias 19 e 21 de maio, no Rio de Janeiro, o Reputation Institute realizou, pela primeira vez no Brasil, a 14ª Conferência Internacional sobre Reputação Corporativa, Marca, Identidade e Competitividade, com o tema “The Sustainability Imperative: a Strategic Role for Reputation Management”. O evento foi o momento mais importante para a geração e a disseminação de conhecimento sobre Reputação em 2010. Agradecemos, mais uma vez, a importante contribuição dada pela Plurale na realização da 14ª Conferência. Ana Luisa de Castro Almeida, Diretora Reputation Institute, Belo Horizonte, MG “A Fundação Proamb, como organização preocupada e voltada para todos os meandros da boa gestão ambiental e da sustentabilidade, procura ter ao seu lado empresas e pessoas que compartilhem de uma visão elevada e realizem ações efetivas para a melhoria do mundo em que vivemos. É por esse motivo que sentimos o maior orgulho de sermos parceiros da Plurale e da sua equipe. A publicação e o grupo que a conduz são veículos preciosos e inteligentes de informação, conhecimento e boas práticas para a comunidade. Tê-los junto conosco na 4ª Feira Internacional de Tecnologia para o Meio Ambiente – Fiema Brasil 2010 – e ver nosso trabalho sendo levado ao seu selecionado público nas páginas da revista é muito gratificante. É um sinal que estamos na estrada certa. Mas há muito a ser feito. Por isso, esperamos ampliar nossa parceria no dia-a-dia na fundação e na construção da Fiema Brasil 2012.” Diretorias Proamb/Fiema – Bento Gonçalves, RS


9


Entr ev i sta

Sonia Consiglio Favaretto, Diretora de Sustentabilidade da BM&FBOVESPA

Sustentabilidade: empresas abertas estão na direção certa TEXTO:[SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE PLURALE EM REVISTA] FOTOS:[DIVULGAÇÃO/ BM&FBOVESPA]

P

ara os mais céticos, aí vai uma boa notícia: as empresas abertas estão sim empenhadas em seguir as melhores práticas de Sustentabilidade. Esta é a opinião de Sonia Consiglio Favaretto, especialista no tema, a primeira Diretora de Sustentabilidade da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBovespa), considerada a terceira maior do mundo em valor de mercado. Jornalista, Sonia incorporou, no dia-a-dia, a formação sólida em Responsabilidade Social Empresarial (RSE) a partir de anos no BankBoston e depois no Itaú. Foi dirigente da Febraban desta área e teve participação ativa no Ethos e em outros Fóruns. Nesta entrevista para Plurale em revista, a executiva fala sobre os seis anos do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE); sobre o novo índice de carbono e também do progresso das empresas neste processo. Ela destaca: “A agenda da Sustentabilidade entra nas empresas ou pelo amor, ou pela dor, ou pela inteligência.” Acompanhe os principais pontos da entrevista. Plurale em revista – Na sua opinião, as empresas abertas brasileiras, hoje, estão preparadas e seguindo um padrão de sustentabilidade global? Em que cenário estão inseridas as companhias brasileiras? Sonia Consiglio Favaretto – Acredito que houve sim um avanço grande. A sustentabilidade passou a fazer mesmo

10 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

parte da pauta. Al Gore falou desta questão mundialmente e o furacão Katrina trouxe o tema para a prática pela pior forma possível. Foram como divisores de águas de um movimento que já vinha acontecendo, mas ainda deixava um pouco na dúvida: “será que eu tenho mesmo que entrar nessa agenda?” “Será que isso não é moda?” Mas o Katrina deixou claro que acontecem desastres, perdas financeiras para as empresas, mostrando que essa é uma agenda inevitável. Neste cenário, há empresas se comportando de diversas formas. Tem uma frase que sempre uso, da qual gosto muito dela, que é assim: “Essa agenda da sustentabilidade entra nas empresas ou pelo amor, ou pela dor, ou pela inteligência.” – Que diferentes estágios seriam estes? – Há empresas que desde sempre, ou mais recentemente, trouxeram essa agenda pela convicção, na qual os líderes são visionários, que acreditam, e executivos que praticam porque sabem como a causa é importante. Pela dor são aqueles executivos que aprenderam quando mexeram no bolso, tiveram perdas financeiras ou perceberam que é um grande risco para o negócio. Neste caso, a empresa passa a seguir uma agenda estratégica porque não deseja mais passar por isso. O outro estágio é pela inteligência, que é o diferencial competitivo. São empresas que trazem isso pra sua estratégia, começam a desenvolver produtos e serviços diferenciados, visando já uma economia de baixo carbono. Portanto, vejo as empresas brasileiras sim nessa discussão. Mesmo as que estão mais atrasadas, na prática também participam da discussão, o que eu acho importante. Seja por meio de federações, seja por meio de órgãos representativos. A Bolsa também está atuando neste sentido. As companhias estão participando dos debates


para entender como trazem o tema para a prática. No caso de uma empresa de capital aberto, acaba sendo impulsionada nesta direção, até por força das regulações e das auto-regulações. Lembro do novo mercado, das condições de governança. Isso tudo favorece muito a aplicação dessa agenda. Portanto, há um cenário no Brasil bastante interessante, mas bem diferenciado. E é bom lembrar também do caso de empresas brasileiras que também se tornam multinacionais ou que atuam globalmente. - O Índice de Sustentabilidade Empresarial, o ISE, foi lançando em 2005. Já está na sexta versão da carteira. Qual foi o aprendizado ao longo desse período? - Ao longo deste ano, estamos buscando exatamente essas respostas de forma estruturada. Estamos organizando cinco

primos um papel de formar mercado e puxar. No início, as empresas queriam entrar no ISE e começavam respondendo o questionário. Naquele momento era só uma ação de responder questionário, não era nem olhar de uma forma mais estratégica, mas, ao responder o questionário, a companhia tinha que se repensar. Começava a ver que não respondia uma série de perguntas e começava a perceber que aquela era uma tendência de mercado, do novo mercado. Temos vários depoimentos de executivos de empresas nessa linha. O quanto o ISE ajudou a área de sustentabilidade, ou os profissionais que naquele momento estavam responsáveis por isso, a construir uma agenda, a discutir esse tema internamente por meio de uma iniciativa da Bolsa, que aquela empresa queria fazer parte. Portanto, acredi-

“O processo de construção da sustentabilidade é participativo por natureza. Estamos construindo algo que não existe. Todos devem opinar.” diálogos com stakeholders diferentes: já ouvimos a imprensa, as empresas, também a academia e especialistas, analistas e investidores e funcionários da Bolsa. Fizemos este debate de cerca de três horas com cada público justamente pra entender: “o que deu certo?” ;“o que não deu”; “qual é próximo passo?”. No fim do ano, teremos um material para apresentar bastante estruturado. O que posso dizer, sem furar este material, é a mesma opinião em todos os contados: nestes seis anos, o ISE cumpriu um papel fundamental, e ainda cumpre, obviamente dependendo da empresa, de ajudar a introdução desse tema da Sustentabilidade na agenda da empresa, como ferramenta de gestão de gestão. - Há poucos anos, Sustentabilidade nem era uma palavra muito conhecida... - Exato. Se olharmos para trás, em 2005, quando surgiu o ISE, este foi um movimento muito pioneiro do Brasil. Realmente, o índice chegou antes até do mercado, cum-

to que este foi um papel inquestionável do ISE. Sempre digo: o ISE não existe por si só, mas acaba refletindo num movimento de sustentabilidade. - E os investidores, os analistas já reconhecem este valor? - Hoje estamos exatamente tratando desta questão. Precisamos que o ISE seja cada vez mais uma decisão do analista, do investidor. Que o analista também considere a empresa a fazer parte do ISE ou não, que faça parte da recomendação para o investidor. Que os gestores de recursos também percebam cada vez mais, utilizem cada vez mais o ISE como um instrumento importante. Isso ainda não existe, quer dizer, existe, porém, em uma escala muito pequena ainda. Mas podemos discutir isso hoje, depois de cinco anos do índice se consolidando, e as empresas tomando contato com essa ferramenta, e começando a desenvolver suas iniciativas. O ISE reflete também um movimento de mercado.

- Na sua avaliação, chegará um momento, como você disse, no qual gestor, o investidor vão se dar conta dessa importância, e isso passará por uma mudança de mentalidade também? Por que lá atrás, quando sustentabilidade começou a surgir, era um pouco que um modismo, todo mundo queria ser verde. Será que viveremos o momento em que todos vão se dar conta de que se investir dessa forma estará ajudando a construir uma sociedade e um mundo melhor? - Eu não tenho dúvida. É uma tendência pessoal minha, o que me move nessa agenda: estamos construindo uma mudança de mundo. Desta forma, resumo o trabalho que a gente faz em sustentabilidade. É uma mudança de mundo e por isso que ela não acontece do dia para a noite. Por isso gera desconforto, assim, às vezes é desacreditada, pode ser considerada uma moda. O que estamos falando é que não será possível fazer negócio da mesma forma, nem consumir da mesma forma. Não poderá mais ser como tem sido sempre até aqui, porque o mundo não tem mais espaço para isso. Portanto, é uma mudança completa de paradigma, de cultura. E o mais bacana é que ela vai acontecendo nos mínimos detalhes e quando percebemos, você já está fazendo parte do processo. - É algo dinâmico. Mas às vezes também parece um processo lento... gostaríamos que fosse mais rápido. - Exato, é bem dinâmico. Ao contrário de antigamente, as pessoas não estão mais lavando tanto os carros com desperdício de água, varrendo a calçada com jatos de água: isso incomoda. Hoje, as pessoas começam a ter um controle social do consumo, que não existia há 10 ou 15 anos. É a sustentabilidade na prática. Mas isto é parte de um processo. Já está trazendo muitas mudanças importantes. A primeira vez que me falaram de crédito de carbono eu demorei a entender. Isso foi ainda quando estava no BankBoston, em 2004. Parecia um conceito maluco: era negociado algo que não existia, um crédito futuro. Hoje são conceitos que fazem parte do dia-a-dia. Acho incrível: estamos participando, colaborando com uma mudança de mundo.

11


Entr ev i sta

- Voltando ao ISE, que mudanças mais relevantes foram propostas neste processo de debate? - Em 2010/2011 teremos uma grande mudança que é a criação da dimensão das mudanças climáticas em relação ao questionário. Isto é bastante emblemático. Antes até tivemos debates em relação ao tema dentro do Conselho. Havia algumas perguntas desta temática, o ISE não ignorava o assunto. Era preciso definir: se deveria continuar como estava ou ampliar a dimensão de mudanças climáticas. Concluímos que não era só uma decisão de aumentar a quantidade de perguntas. Deveríamos dar uma mensagem muito assertiva de que mudanças climáticas é uma variável de negócio, que uma economia de baixo carbono é o caminho que estamos trilhando. Assim, a criação da dimensão de mudanças climáticas realmente é a grande novidade, passando a ser parte do preenchimento obrigatório, porém, não contando ponto, ao menos no início. Isso também é importante. - Não contará ponto? - Deixa eu explicar melhor. Há um aspecto operacional. Há um índice, já com cinco anos, o qual as empresas conhecem a trajetória, estão preparadas. Não podemos chegar do dia para a noite e falar: “a partir de agora tem esta nova dimensão contando ponto”. O resultado é que podese colocar todo o trabalho que a empresa vem fazendo - por uma simples questão metodológica, operacional - por água abaixo. Portanto, as empresas terão um tempo para entender, para se preparar para estas melhores práticas. Assim, também será possível perceber a ponderação dessa dimensão no questionário e ser justo com o que a gente vem praticando até então. Por isso digo que é uma questão operacional, mas é assim que se fazem as questões de sustentabilidade acontecerem. É preciso ser progressivo. - A Bolsa deve ter acompanhado alguns comentários e críticas do mercado. Comentava-se – e alguns ainda comentam – se há mesmo lógica na metodologia. Em relação à exclusão e inclusão de empresas que, de certa forma, não eram consideradas sustentáveis. Como vocês avaliam esta polêmica, estes comentários?

12 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

- Como parte do processo. Porque é preciso aprender sim. Mas também é relevante ressaltar que há critérios técnicos, chancela do corpo técnico da Fundação Getúlio Vargas, que temos um Conselho formado por representantes dos principais órgãos envolvidos nesta agenda. - Mas são conceitos que nem todos são possíveis de serem medidos. Nem tudo na Sustentabilidade passa por métrica... - O ISE tem esta característica. É diferente do Índice de Carbono, por exemplo, que iremos lançar. Ali é só métrica, um índice bem matemático. O ISE não, há sim um espaço também de subjetividade. Existem realmente algumas questões, entendo, como uma resposta binária: sim e não, e de repente ela está num processo. Tem alguns momentos nos quais, realmente, temos que passar uma régua, pela garantia do processo como um todo. Mas, eu considero sim que isso é parte do processo. E aí, por isso que o processo do ISE tem uma característica fundamental que é ser participativo. Esta é a principal característica do processo. Fazemos audiências públicas, chamamos as empresas e apresentamos o questionário, fazemos audiência pela internet, audiência presencial. É um índice, por natureza, participativo. “Porque o processo

de construção da sustentabilidade é participativo por natureza. Estamos construindo algo que não existe. Todos devem opinar.” - Quando o novo índice de carbono eficiente deve estar em funcionamento? - Ele vai ser lançado antes da COP-16. Este é o nosso deadline, porque este é um processo complexo. Um dos mais complexos e interessantes do qual já participei. Temos o gol de lançar entre outubro e novembro, talvez seja novembro, mas, certamente antes da COP-16. Até porque, queremos entregar alguma coisa anunciada na COP-15. Há esta questão simbólica. Temos conseguido uma super adesão das empresas, mais de 70%. Superou a expectativa. Lógico que a gente gostaria de ter 100%, mas sempre existem algumas questões principalmente setoriais. Já estamos agora começando a interagir com as companhias. O próximo passo vai ser receber os inventários e aí o nosso parceiro nesta área começará a fazer todas as simulações para ser possível, de fato, desenhar o índice, fazer o trabalho técnico de montar o índice. Acredito que será um momento importante também de posicionamento do Brasil em relação à questão do carbono, à gestão de mudanças climáticas.


13


Artigo

ANTONIO EWERTON CHAVES JUNIOR

PROFISSÕES

DO FUTURO

T

anto a evolução quanto as rápidas mudanças tecnológicas têm imprimido na sociedade um ritmo alucinante de transformações de comportamento, tanto nas diversas formas de produção de bens e serviços quanto nas de consumo e novos padrões de comportamento, trazendo modernidade, informação, novas formas de relacionamento e, evidentemente, de gosto e de satisfação das necessidades. O fenômeno implica, hoje, procurar vislumbrar o que está por acontecer, tomando como base os parâmetros técnicos existentes e aqueles que se encontram incipientes, em fase de estudo e de elaboração. Objetiva-se com este texto apresentar algumas profissões do futuro, as carreiras que deverão se destacar na sociedade do amanhã (ou daqui a pouco). Seguramente, essas profissões acompanharão as mudanças sociais e econômicas para poderem se constituir na solução dos problemas referentes ao envelhecimento, ao estresse, à escassez dos recursos naturais, à agressão ao meio-ambiente, à conquista espacial, entre outros, relacionando-se com o descobrimento de no-

14 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

vas tecnologias e novas modalidades de oferta ao homem de segurança e qualidade de vida. Tanto segurança quanto qualidade de vida (criação de condições para que o homem viva mais e de forma saudável) são temas recorrentes, cujas soluções merecem aprofundamento do conhecimento científico e da formulação de políticas públicas, dado que o crescimento das cidades cosmopolitas trazem inúmeros problemas e conflitos na distribuição do espaço e no atendimento às necessidades dos residentes. O que no tempo dos nossos ancestrais poderia parecer ficção, como nos filmes de Flash Gordon, as aventuras do homem no espaço a partir dos anos 60 representam a realidade do começo das viagens siderais rumo à expansão da atividade humana sem fim. Se antigamente dominar o cosmo era algo impensável, hoje é uma pretensão presente a ser consumada no futuro. Com o passar do tempo, isso significará enterrar práticas de produção em direção a descobertas de novas formas de trabalho. Com o crescimento das grandes cidades, das sociedades cosmopolitas e dos mercados, o mundo passou a enfrentar


problemas acumulados, tais como os relacionados ao envelhecimento humano, à escassez de fontes de energia e de água, à produção de alimentos, ao clima, ao comportamento social e à moral, entre outros. Em contrapartida aos problemas, passou a refletir e a explorar novas vertentes em áreas como a nuclear, a médica, a física, a nanotecnológica, a de engenharia e a das ciências sociais, entre inúmeras outras. Para estabelecer as profissões que vão lidar com os problemas da humanidade no futuro não muito remoto, tomando como base previsões para 2030, a consultoria britânica FastFuture organizou o estudo The Shape of Jobs to Come (Os tipos de trabalho que virão, em tradução livre), entrevistando 489 especialistas de 58 países em 5 continentes. Policiais do clima, nanomédicos, fabricantes de partes do corpo humano, farmagranjeiros, geriatras, cirurgiões para aumento da memória, especialistas em ética científica, organizadores de vidas eletrônicas, destruidores de dados pessoais e especialistas em reversão de mudanças climáticas seriam algumas das profissões a ser criadas ou aprimoradas nas próximas duas décadas, considerando novos paradigmas tecnológicos e de produção e outros padrões de comportamento e de consumo. No Brasil, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares da Universidade Federal de Minas Gerais fez um trabalho semelhante e projetou as profissões do futuro. Um pouco diferente das previsões do exterior, por aqui algumas carreiras promissoras seriam gestor de resíduos (ou lixólogo), tradutor cultural, cientistas socioambiental, especialista em desastres e epidemias, gestor de cidades e organizador de dados. Sobre o estudo, o Diretor que conduziu a pesquisa na universidade mineira fez uma colocação bastante interessante com relação à associação entre o que acontece no presente e o que está por vir no futuro: “Mapear as profissões do futuro não é um exercício de futurologia, mas uma maneira de engravidar a possibilidade do presente, inclusive engravidar coisas que vão satisfazer o mercado ou mesmo contrariar os caminhos do presente”. Dada a velocidade das transformações por que o mundo passa, refletir sobre o tema representa fincar novas bases para o desenvolvimento e gerar novas relações sociais de produção em favor da criação de melhores condições de trabalho, para que o resultado das atividades científica e econômica possa se converter em mais tempo de vida e em maior qualidade para o homem, segundo a evolução dos padrões técnicos. Com a modernização dos meios de produção, uma fase como a vivida pelo Brasil, hoje retomando o crescimento, fazse acompanhada do aumento da demanda de mão-de-obra especializada (universitária ou técnica), sendo que nem todos os ramos industriais estão sendo atendidos, como é o caso da construção e da petroquímica, entre outros. Tal fenômeno semeia a importância da capacitação do trabalho, tanto no presente quanto no futuro, para a economia do País, em face da disputa das empresas por profissionais melhor qualificados, num contexto de economia cada vez mais competitiva, principalmente por força da ação dos vetores que a impelem para o mercado globalizado.

Portanto, a concorrência será cada vez mais acirrada na medida em que o mercado vai se tornando mais exigente, e, como já se viu, o mundo externa preocupações maiores com a economia global, o meio ambiente, as fontes de energia, as tecnologias, os combustíveis não renováveis, a alimentação, a ciência, o espaço sideral, a demografia e a longevidade humana – problemas atuais que tendem a tomar proporção maior no futuro pouco remoto. Com o mesmo foco dos estudos anteriores, visando levantar as profissões com maiores chances de sucesso até 2015, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN) elaborou, há alguns anos, pesquisa junto a 415 empresas. Como não poderia deixar de ser, o resultado ratificou a engenharia como a carreira universitária mais importante, apontando também outras de nível técnico como sendo prioritárias. As 10 principais foram: engenheiro de petróleo; engenheiro ambiental; técnico em produção, conservação e de qualidade de alimentos; ajudante de obras civis; analistas de sistemas (TI); trabalhadores da fabricação de cerâmica estrutural para construção; técnicos de produção de indústrias químicas, petroquímicas, refino de petróleo, gás e afins; técnicos em fabricação de produtos plásticos de borracha; técnicos florestais; e técnicos em manipulação farmacêutica. Para se ter ideia do quanto é importante pensar no amanhã para construir novas bases para fazer o planeta conseguir suportar as pressões que virão com o passar do tempo, se hoje existem aproximadamente 6,8 bilhões de residentes no mundo, pode ser que, até a metade do século, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU) prevê, o número chegue a 9,1 bilhões. Portanto, daqui a 40 anos a Terra deverá possuir contingente populacional bastante significativo, cuja demanda por bens, alimentos e qualidade de vida exigirá, em contrapartida, resposta da produção com velocidade e qualidade – fluxo de bens e serviços que deverão ser possíveis graças aos padrões técnicos que ainda estão por surgir. Ao levar em consideração a finitude dos fatores de produção e dos recursos naturais, e também outros fatores como os econômicos, ambientais, políticos, sociais, científicos, demográficos e, notadamente, os gastos crescentes do setor público com saúde e idosos, o quadro que se espera para daqui a quatro décadas requererá, portanto, da ciência e da tecnologia maiores avanços, no sentido de proporcionarem condições necessárias para elevar o grau de bem-estar social, já que os equipamentos ligados a lazer, conforto e segurança, mais os da robótica e da medicina, por exemplo, deverão corresponder aos apelos humanos, servindo de pilares da sociedade que vai sendo construída para viver no futuro, evidentemente graças ao usufruto dos produtos e serviços das profissões que estão por se desenvolver ou surgir. Antonio Ewerton Chaves Junior (juniorchaves@ cnc.com.br • juniorchaves@cnc.com.br) é Economista da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio, de Bens, Serviços e Turismo.

15


Colunistas Plurale

DARIO MENEZES

A GESTÃO da reputação no contexto da ESTRATÉGIA CORPORATIVA

A

pós as mudanças ocorridas no mundo dos negócios nos últimos cinco anos, com um cenário global permeado por incertezas econômicas e ambientais, intensificação dos processos de fusões, aquisições e internacionalização, crescimento das mídias sociais, do papel das ONGs e do ativismo anticorporativo, intensificou-se o questionamento do papel dos governos e principalmente das empresas passando a existir maior pressão da sociedade por uma atuação mais responsável por parte das organizações, que deveriam pautar sua atuação nos fundamentos da lógica e da coerência: falar o que faz e fazer o que fala. Por conta desse contexto é crescente nos últimos anos a publicação de estudos nacionais e internacionais sobre o tema reputação corporativa. O tema saiu da esfera das discussões acadêmicas e de forma definitiva integrou-se à agenda das empresas, priorizando direcionamentos estratégicos e a forma como as organizações desenvolvem e gerenciam o relacionamento com os seus diversos stakeholders. Para os que ainda não estão familiarizados com o tema, é importante frisar que reputação não é um conceito novo. Ele resgata o conceito da percepção que os stakeholders têm sobre as ações passadas e possíveis iniciativas futuras de uma empresa englobando os seus empregados, acionistas, clientes e fornecedores bem como o governo, mídia, academia, associações, ONGs e formadores de opinião. Não estamos falando de imagem ou marca mas sim de um ativo valioso que se constrói por meio de ações e relacionamentos consistentes, transparentes e coerentes ao longo dos anos, reduzindo conflitos, ajudando a empresa a tratar com eficiência a diversidade, gerando valor e benefícios mútuos para os seus públicos de interesse, estabelecendo uma nova dimensão para a gestão da empresa. O primeiro passo é construir o alinhamento da visão estratégica, da cultura e das percepções dos stakeholders. O segundo passo é estabelecer uma estratégia de comunicação transparente com os seus públicos e de forma coerente e consistente com os valores da organização. De uma forma natural, a organização começa a conquistar percepções positivas junto aos stakeholders e recebendo de volta comportamentos de apoio favoráveis como a intenção de compra, o suporte em momento de crises corporativas, o interesse em colaborar no desenvolvimento da empresa e das suas ações sociais por exemplo, levando-a a um círculo virtuoso de desenvolvimento. Por tratar-se de um conceito ainda relativamente novo no nosso país, aparecem dúvidas baseadas em falsas premissas, crenças e práticas existentes dentro das empresas. Alguns dos principais erros de entendimento sobre o tema estão listados abaixo:

16 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


Reputação e marca – Enquanto a marca (nome, símbolos, normas, cores, mensagens, experiências e comportamentos) expressa a promessa da empresa no bem servir a sua estratégia e posicionamento de mercado, a reputação avalia a experiência de longo prazo dos stakeholders corporativos, tangibilizando o quão eficiente a empresa foi na efetiva entrega da sua promessa de marca. Uma boa forma de exemplificar é fazer um exercício mental muito simples: Pense em duas ou três empresas que têm uma ótima estratégia de marca e comunicação, porém possuem uma fraca reputação. Pois é essa é a diferença na prática entre marca e reputação; Reputação e o scorecard corporativo – Foram desenvolvidas, por algumas consultorias, metodologias de avaliação da reputação das empresas que permitem além da comparabilidade com seus concorrentes e benchmarks, a criação de indicadores – KPI’s – e a respectiva inclusão no scorecard corporativo, permitindo a análise competitiva de oportunidades e fragilidades, a comparação entre países ou regiões, o estabelecimento de metas e o direcionamento eficaz de recursos. Dessa forma, pode-se afirmar que existem hoje métricas consistentes para a avaliação da efetividade da comunicação da empresa; Reputação não é mais um jargão corporativo – Nos últimos anos as principais consultorias internacionais de estratégia divulgaram estudos sobre o impacto da reputação no desempenho organizacional e o seu vertiginoso crescimento de importância em um mundo pós 11 de setembro e pós crise econômica de 2009. Várias empresas passaram também a elencar reputação como um dos seus principais riscos corporativos bem como um dos seus ativos intangíveis mais valiosos, consolidando o caminho para a adoção deste conceito e de suas métricas; Reputação é uma responsabilidade de todos da empresa – Criar, gerir e manter a reputação é responsabilidade de todos os setores da empresa, independente de ser um setor comercial, industrial ou corporativo. Não adianta orquestrar uma excelente estratégia de comunicação se a experiência direta dos stakeholders com a empresa for péssima. Todos da organização - do presidente ao porteiro - devem entender e estar comprometidos com o seu papel na construção da reputação; Gestão da reputação é fundamental para todos os tamanhos e segmentos de empresa – Independente do seu tamanho, segmento de mercado e região geográfica de atuação, todas as empresas são avaliadas pela qualidade do relacionamento com os seus stakeholders e principalmente pelo nível de estima, admiração e confiança gerados a partir desses relacionamentos. É relevante perceber que à medida que a empresa se estrutura gerando essas novas formas de relacionamento e diálo-

gos, elas por sua vez irão agir sobre a teia social e cultural dos seus diversos públicos, transformando-a de forma considerável; A formação da reputação – A reputação é fruto de uma observação coletiva de um conjunto de stakeholders informadores sobre as ações da empresa. Seu processo de construção está baseado em três grandes vetores: a experiência direta dos stakeholders com a organização (ex: produtos, atendimento ao cliente e prestação de serviços), nas mensagens emanadas pela organização (ex: marca, marketing e relações públicas) e pela influência de terceiros (ex: mídia tradicional e social e ONGs). Dos três vetores acima, experiência direta e influência de terceiros possuem a maior parcela de importância o que reforça o conceito de que em um mundo interconectado, transparente e com diferentes mídias e formas de relacionamento, a publicidade não gera mais o retorno efetivo de uma década atrás; Reputação e Estratégia caminham juntas – Se lembrarmos das forças descritas por Michael Porter, veremos que reputação é uma barreira natural contra concorrentes estabelecidos e novos entrantes pois cria diferenciação e vantagem competitiva por derivar de uma característica única da empresa não sendo copiável por um concorrente. Como possibilita a comparabilidade com competidores e benchmarks promove a melhoria organizacional contínua, identificando as melhores práticas e a importância dada pelos stakeholders a cada uma das iniciativas organizacionais. Além disso, prioriza e redireciona recursos para as dimensões mais estratégicas no relacionamento com os stakeholders. Por tudo isso, temos a convicção de que o tema veio para desempenhar papel fundamental no redesenho dos processos internos das organizações. Desses processos surgirão empresas mais proativas nos seus relacionamentos com os seus stakeholders e mais compromissadas com o seu posicionamento e estratégia, mantendo-se alinhadas com os mandamentos da boa reputação: alinhar os valores e cultura da empresa com o que ela faz na prática e com o que diz de si mesmo. Dario Menezes (dario.menezes@ig.com.br) é Diretor de Novos Negócios do Reputation Institute. Tem mestrado em Administração e ampla experiência profissional nas práticas de engajamento de stakeholders, gestão da reputação, marketing e estudos de mercado. Atuou como executivo de marketing na Varig e na Vale e é professor da ESPM/RJ e do IBMEC/RJ.

17


Colunistas Plurale

I

mpossível mencionar a agricultura e não falar de história, sociologia e antropologia, já que ela é anterior à escrita e seu incremento se confunde com o desenvolvimento do pensamento humano e com a organização dos primeiros núcleos sociais. Há cerca de doze mil anos, o homem percebeu que as sementes dos frutos que os alimentava, em contato com o solo originavam plantas que posteriormente produziriam frutos idênticos àqueles dos quais extraíram as sementes. Tal experiência aumentou a quantidade de alimentos, fazendo surgir as primeiras lavouras e com elas, o povo que antes era nômade, fixou-se num só lugar mudando o designo do homem de caçador para agricultor. Nossos antepassados sejam africanos, asiáticos ou europeus, tiveram suas sociedades organizadas inicialmente com base na agricultura. No Brasil, as comunidades indígenas que aqui viviam, antes da chegada dos portugueses, praticavam a pesca, a caça e a agricultura, que talvez tenha sido um dos principais atributos aos olhos estrangeiros, que antes de tomarem conhecimento do Pau-Brasil ou das riquezas minerais, citaram em carta ao velho mundo, “que nesta terra, em se plantando tudo

18 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

CLAUDIA CATALDI

Vida

Agricultura

é

dá.” Com essa informação, foi dado início a devastação das nossas matas litorâneas. Primeiro em busca da madeira rara, depois pela cultura de exportação, como a da cana-de-açúcar e mais tarde o café. E foi exatamente a escassez de alimentos, devido ao esgotamento do solo, que levou os europeus a intensificarem suas pesquisas científicas e tecnológicas no final do século XIX e início do século XX, na busca de fertilizantes químicos, melhoramen-


to genético, motores a combustão e máquinas. Por aqui, expandiam-se fronteiras agrícolas em busca de novas terras agricultáveis, sem pouco se importar com a destruição florestal. Foram as descobertas feitas no século XX que deram origem à agricultura moderna. Cientistas como Saussure, Boussingaut e Liebig desacreditaram a dita “teoria do húmus” de que as plantas poderiam extrair tudo o que precisavam a partir da matéria orgânica do solo, defendendo que o volume da produção agrícola é proporcional à quantidade de componentes químicos aplicados no solo. Oficialmente, já não éramos mais colônia nessa época, mas pelas leis que regem o capitalismo, embarcamos na onda do agrotóxico, ignorando as palavras de Caminha e tudo aquilo que não precisamos de nenhum estrangeiro pra dizer. Temos terras a perder de vista, climas diferentes em diferentes regiões. Pra que influenciar quimicamente a produção, se a natureza está em nosso favor? Se tantos quilômetros de mata já foram devastados, o que temos não é suficiente? Essas e outras indagações, engrossaram o coro dos “ecologicamente conscientes”. E pasme, não são tão atuais como se imagina. Um grupo de estudantes brasileiros da Universidade de Coimbra no final do século XVIII e início do século XIX, condenava o tratamento dado ao meio ambiente no Brasil naquela época, e escritos de José Bonifácio, garantira a continuidade das ideias ao longo da monarquia. O próprio D. Pedro, tinha a sua volta, intelectuais e naturalistas que conduziam o Museu Nacional e o Instituto Geográfico Brasileiro. Políticos e fazendeiros da corte do Rio de Janeiro, na época capital, já mostravamse preocupados com as questões ecológicas, acreditando que o mundo urbano que estava sendo implantado, era um modelo indesejável do padrão de vida europeu. Na década de 70, surgiu o termo “agricultura alternativa” e sustentabilidade. Podemos dizer que aí sim começou-se a fazer algo. Foram criadas organizações como a Internacional Federation on Organic Agriculture (IFOAM) além de normas de certificação de orgânicos. No Brasil, encontros realizados em 81, 84 e 87 concentravam as críticas na degradação ambiental e nos meios tecnológicos sobrepondo condições sociais às políticas e ecológicas. Surgiam também algumas ONGs setoriais e o termo agroecologia. A partir da ECO 92, no Rio, o termo sustentabilidade ganhou força e com ele os processos de certificação ambiental como os “selos verdes”, incentivando a produção sem uso de meios e processos que degradem o ambiente. A evolução é um processo lento e é importante acreditar que estamos no caminho certo. Uma trilha construída tijolo a tijolo que tem como matéria base o conhecimento e o raciocínio. Não podemos agora em pleno século XXI,

depois de testar o certo e o errado, retroceder e culpar a agricultura de todos os problemas ambientais. Esse não é o caminho. Devemos sim valorizar essa arte e seus artistas, parando de enxergar o agricultor como o matuto ignorante que pouco conhece de modernidades. Uma herança errada deixada por Monteiro Lobato e seu “Jeca Tatu” que tantos “ Nersos da Capitinga” e “Jecas Gay” nos fazem acreditar até hoje. São eles que põem a comida em nossa mesa e somente através do trabalho suado, sol a sol dessa gente, é que temos acesso à matéria prima pra fazer remédios, roupas, papel, borracha e tantos outros itens de primeira necessidade que depois de prontos, ninguém quer saber de onde vieram. Precisamos repensar a agricultura familiar que hoje representa mais de 84% dos imóveis rurais do país e é responsável por aproximadamente 40% do valor bruto da produção agropecuária e por uma parcela significativa dos alimentos que chegam à nossa mesa, como o feijão (70%); a mandioca (84%); a carne de suínos (58%); de leite (54%); de milho (49%); e de aves e ovos (40%). A poder público e algumas ONGs, tem feito sua parte através de vários órgãos como as Empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) existentes em todo país dando suporte e investindo para que os agricultores familiares tenham mecanismos para fazer agricultura sustentável. A feira “Brasil Rural Contemporâneo” que nas suas duas últimas edições aconteceu na Marina da Glória no Rio de Janeiro mostrou a força da agricultura familiar no país. Um sucesso de público que poderia ter sido muito maior se nós, cidadãos, estivéssemos um pouco mais dispostos a saber o que podemos fazer como indivíduos, parte de uma sociedade. E isso vai além de simplesmente criticar a agricultura e os agricultores sentados na poltrona assistindo novela. Temos que botar literalmente as mãos na massa, nos informando mais, conhecendo a fundo a história e a relação da agricultura e do homem e acima de tudo, consumir com consciência, preocupando-nos com segurança alimentar que nada tem a ver com a qualidade dos alimentos como se pode erroneamente pensar, mas sim no equilíbrio entre o que se produz e se consome. Quem sabe assim, trocamos de vez o título de sociedade do consumo pelo de sociedade da consciência. Claudia Cataldi (claudiacataldi12@yahoo.com. br) é jornalista, apresentadora do programa Responsa Habilidade exibido na TV Band. É pós-graduada na ONU em Israel na área de Responsabilidade Social. Presidente do Instituto Responsa Habilidade, é apresentadora do programa Claudia Cataldi, na Fluminense AM e na Super Rádio Tupi, onde é comentarista.

19


P o l í ti ca

Sustentabilidade no discurso

Proximidade da sucessão presidencial levanta debate sobre o meio ambiente e questões sociais. TEXTO: [ELIZABETH OLIVEIRA, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA] FOTOS:[FÁBIO RODRIGUES E VALTER CAMPANATO JR. (AGÊNCIA BRASIL), FÁBIO NASSIF (CAMPANHA PLÍNIO ARRUDA SAMPAIO), LEANDRO RAMOS (TNC) E DIVULGAÇÃO]

C

ada vez mais presente na mídia e puxada, principalmente, pelos dilemas que envolvem as mudanças climáticas, a crise ambiental tem-se revelado mais evidente para os brasileiros e começa a ganhar espaço, também, na agenda política. Eleitores mais atentos já perceberam que, em plena corrida sucessória, os discursos dos presidenciáveis incorporaram tons de verde, mas especialistas em questões de sustentabilidade consideram que ainda falta muito para que as intenções dos candidatos com a proteção dos recursos naturais sejam capazes de decidir voto. O economista José Eli da Veiga, professor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) é um

20 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

dos que acreditam que os brasileiros estão ainda em processo de aprendizado com relação aos dilemas nacionais e à conexão entre as questões sociais e ambientais. “Há uma pequena parte da população que já dá muita importância aos chamados temas ambientais. Mas a grande maioria sequer percebe que grande parte de seus problemas habitualmente classificados de sociais são, na verdade, socioambientais”, opina. Em junho, 13 ONGs ambientalistas enviaram uma carta aberta na qual cobravam dos presidenciáveis uma postura contrária às alterações no Código Florestal Brasileiro, legislação que entrou no centro de uma grande polêmica nacional. Quando indagado se considerava essa mobilização social um sinal de crescimento da preocupação dos brasileiros


em relação às questões ambientais, José Eli foi enfático: “Infelizmente não dá para tirar tal conclusão. Mesmo a lista das 13 ONGs não chega a ser suficientemente abrangente ou representativa do movimento socioambiental, que é muito mais amplo.” Da mesma forma, o economista também não acredita que exista uma tendência de que as questões ambientais deixem de ser tratadas de forma periférica e passem a exercer posição de destaque nas políticas públicas. “Ainda estamos longe disso”, ressalta. A candidata do PV à sucessão presidencial é a única com capacidade para mudar esse quadro, segundo opina José Eli: “Apenas Marina Silva tem propostas socioambientais avançadas.” Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente, ressalta que a entrada de Marina Silva na disputa pela sucessão presidencial trouxe as questões ambientais à pauta de outros candidatos. Apesar dessa constatação, ele pondera que o Brasil é um País marcado pelas desigualdades sociais. Tal realidade, se reflete no comportamento dos eleitores, o que o leva a acreditar que as questões econômicas ainda irão dominar a plataforma dos candidatos e serão fatores que pesarão na decisão de voto. “Ainda que as pesquisas do Akatu venham mostrando que há uma preocupação significativa com o meio ambiente, não creio, pessoalmente, que este tema dividirá as opiniões dos eleitores, ainda que propostas na área ambiental possam ser um diferencial a mais nos programas de governo”, ressalta Mattar. Um exemplo mencionado por Mattar tem a ver com os desafios globais impostos pelas mudanças climáticas. Para ele, o tema deveria se tornar obrigatório na pauta eleitoral deste ano, sobretudo, porque o Brasil pode contribuir com parte das soluções para o fortalecimento de uma economia de baixo carbono, levando em consideração o seu potencial de produção energética mais limpa. Mas reconhece que a valorização da temática também depende do interesse dos eleitores e ressalta que, diante das circunstâncias, a discussão deve ficar aquém do desejável. De olho no clima Fernanda Carvalho, coordenadora de Políticas do Clima da organização The Nature Conservancy (TNC), ressalta que o processo ainda está em construção, mas demonstra alguma esperança na sensibilização do eleitor brasileiro para os dilemas socioambientais do País. Para ela, não é a toa que os principais candidatos à Presidência da República estiveram em Copenhague (durante a 15ª Reunião das Partes da Conferência do Clima da ONU – a COP15), em dezembro do ano passado. Para a ambientalista, se Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) fizeram questão de acompanhar o evento de perto, é porque estavam preocupados com a opinião do eleitorado em função das dimensões globais que a agenda do clima conquistou. Àquela época, embora não fosse oficial, os três tinham pretensões de disputar a campanha presidencial. “As questões ambientais estão ganhando mais espaço nas preocupações da sociedade e isso se reflete na agenda política”, ressalta. O advogado ambientalista Rogério Rocco, ex-superintendente do Ibama no Rio de Janeiro e candidato a deputado estadual (PV/RJ), concorda. Ele destaca a questão climática como incentivadora de novas posturas políticas e, também, recorda a presença dos principais candidatos à Presidência na Conferência de Copenhague. Mas vai um pouco além para explicar o fenômeno: “O grande avanço para a questão ambiental nestas eleições presidenciais é a entrada da ex-ministra e senadora Marina Silva na disputa.

Sem dúvida alguma, sua aparição já trouxe reflexos na postura dos outros candidatos desde o ano passado”. Para Rocco, existe um dilema. Por um lado, o eleitor brasileiro quer compromisso dos candidatos com o meio ambiente. No entanto, existe um risco de vulgarização do tema e de uso indevido da agenda ambiental por candidatos que não têm afinidades com as causas ecológicas. “Caberá ao eleitor fazer a distinção entre aqueles que estão apenas aventurados eleitoralmente com o meio ambiente, daqueles que de fato já estão efetivamente comprometidos com políticas públicas vinculadas às preocupações contemporâneas sobre a questão ecológica”, observa. Os candidatos Dilma Rouseff e José Serra – até o fechamento desta edição os dois primeiros preferidos nas pesquisas de intenção de votos, técnicamente empatados - também têm procurado mostrar preocupação com o tema socioambiental em seus discursos. A questão do Bolsa Família, por exemplo, foi tema de embate entre os dois. Serra diz que o programa, na verdade, nasceu ainda no Governo Fernando Henrique e desmente a intenção de extingui-lo. Dilma, por seu turno, tem discursado que há intenção sim do opositor em mexer em políticas públicas, podendo, inclusive encerrar o Bolsa Família. Em maio, durante a abertura da Conferência do Ethos 2010, em São Paulo, representantes dos dois partidos – PT e PSDB, além também de outro do PV e do candidato Plínio Arruda Sampaio - apresentaram para a palestra atenta as propostas ambientais de cada candidato. O ex-ministro Carlos Minc reforçou o compromisso do PT com a energia limpa e com a repressão aos desmatadores. Minc disse que Dilma defendeu – dentro do governo - que o Brasil assumisse metas de redução de emissões de gases estufa na Conferência do Clima em Copenhague, Dinamarca, no final de 2009. “Não vamos ter retrocesso”, garantiu. Para ele, Dilma vai garantir incentivos que possam tornar verde a economia real. Para isso é preciso uma política fiscal nessa direção. “Hoje carro elétrico paga mais imposto”, comentou. O secretário de Ambiente de SP, Francisco Graziano, mostrou a preocupação com o desenvolvimento sustentável do PSDB e criticou o que chamou de falta de propostas claras na questão do clima, por exemplo, do atual governo. Apresentou o que foi feito em São Paulo como bom modelo de desenvolvimento sustentável e criticou Belo Monte. “Belo Monte, da forma como foi feita, não seria construída em São Paulo”, disse. No evento, Plínio deu algumas alfinetadas. Fez a plateia rir quando disse que “Lula é a direita que a esquerda sempre sonhou e pediu a Deus” e não poupou nem Marina Silva. “Ela parece tão frágil...” Políticas contraditórias Apesar de alguns avanços na política ambiental, entre os quais citou o compromisso voluntário assumido pelo governo brasileiro de reduzir o desmatamento da Amazônia, como alternativa de controle das emissões de carbono e outros gases do efeito estufa, Fernanda Carvalho vê como grande contradição nacional a proposta polêmica de flexibilização do Código Florestal. “Cadê a coerência?”, questiona a ambientalista que considera a questão de aumento da vulnerabilidade dos remanescentes florestais como um grande dilema a ser enfrentado pelo próximo governo. Segundo Fernanda, até o final de junho, somente a can-

21


P o l í ti ca didata Marina Silva tinha respondido à reivindicação das ONGs e se posicionado contrária ao projeto de alteração do Código Florestal. “Estou curiosa para saber o que dizem os outros candidatos.” O candidato do PSOL, Plínio Arruda Sampaio, em entrevista à Plurale afirmou: “Sou absolutamente contra a proposta de revisão do Código Florestal conforme relatada pelo deputado Aldo Rebelo”. Segundo ele, “o Código atual tem brechas que permitem que proprietários inescrupulosos burlem seus dispositivos e precisa ser melhorado”. No entanto, o candidato acredita que “a proposta construída pela bancada ruralista no Congresso Nacional significa anistia aos predadores que arrasaram mais de 40 milhões de hectares de matas de 1996 até hoje, bem como a retirada de proteção legal de 35 milhões de hectares de florestas na Amazônia”. Plínio Arruda destacou que a sua resposta às ONGs que enviaram a carta aberta pedindo o apoio dos presidenciáveis sobre o Código Florestal está disponível no site oficial da sua campanha para presidente. Um resumo de como as questões socioambientais são tratadas nas propostas dos candidatos à Presidência da República. PLATAFORMA DE DILMA ROUSSEFF

Meio Ambiente “Fortalecer a proteção ao meio ambiente, reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo; mantendo a vanguarda nacional na produção de biocombustíveis e desenvolvendo nosso potencial hidrelétrico; e cumprindo as metas voluntárias assumidas na Conferência do Clima, haja ou não acordo internacional.”

Programas sociais “Manter e aprofundar a principal marca do governo Lula - seu olhar social -, ampliando programas como o Bolsa Família e implantando novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.”

Indústria, Agricultura e Inovação “Aprofundar os avanços da política industrial e agrícola, enfatizando a inovação, o aperfeiçoamento dos mecanis-

22 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

mos de crédito e o aumento da produtividade. Agregar valor a nossas riquezas naturais e produzir tudo o que pode ser produzido no Brasil. Continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.”

Reforma urbana “Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas da população. Melhorar a habitação e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente. Reforçar os programas de segurança pública.” Acesse as propostas de governo da candidata: http://www.dilmanaweb.com.br/paginas/propostas/

PLATAFORMA DE JOSÉ SERRA Até o fechamento desta edição, o programa de governo do candidato José Serra estava recebendo colaboração pela internet, para o qual é esperada uma mobilização de 100 mil pessoas, entre as quais, 3 mil devem participar diretamente na elaboração da plataforma de governo. Para atingir esse objetivo, 40 temas foram colocados em discussão on-line. A seguir, algumas das ideias do candidato em notícias veiculadas na mídia ou no seu site oficial de campanha.


PLATAFORMA DE MARINA SILVA

Crescimento econômico

Mudanças climáticas “Como governador de São Paulo José Serra sancionou a Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC), regulamentada em junho último. A meta dessa iniciativa é de promover a redução de 20% das emissões de carbono e outros gases de efeito estufa em todos os setores da economia, em comparação com o ano de 2005. Pelo decreto que regulamentou a Política, foi criado, ainda, o Conselho Estadual de Mudanças Climáticas, de caráter consultivo e tripartite, com participação de 42 representantes de órgãos governamentais, dos municípios e da sociedade civil.”

“Uma economia sustentável exige políticas econômicas consistentes e previsíveis que possam suavizar variações bruscas nos agregados de produto e preços. Além disso, o desenvolvimento na economia sustentável tem que ser compatível com a absorção de novas tecnologias de baixo carbono e o aumento contínuo da qualidade de vida para todos.”

Agronegócio sustentável

“Segundo Serra, o déficit do saneamento é imenso. Metade da população não é atendida. “É uma carência que afeta nossa saúde e o meio ambiente”. De acordo com o candidato, se a sua sugestão tivesse sido adotada desde 2007, quando foi apresentada por ele ao governo federal, Estados e municípios já teriam utilizado R$ 8 bilhões a mais em saneamento “De que adianta tributar o setor e depois por a Caixa Econômica Federal para emprestar recursos do Fundo de Garantia para serem aplicados em saneamento?”, questiona José Serra.”

“O agronegócio brasileiro deve ter sua orientação estratégica direcionada ao aumento de produção pelo ganho de produtividade (expresso em geração de riqueza por hectares de solo ocupado, por litro de água consumido e por tonelada de gases de efeito estufa emitida), aliada à conservação e restauração dos recursos naturais, incluindo o desmatamento zero em todos os biomas e a redução do uso de agroquímicos e uma transição para o modelo da agroecologia. Essa estratégia permitirá intensificar o uso das áreas já ocupadas pela agropecuária, freando a expansão da fronteira agrícola, principalmente na Amazônia e no Cerrado.”

Bolsa Família

Bem-estar

“O candidato afirmou: “Para se ter uma ideia, 10% do que se gasta em juros (pela dívida pública) são suficientes para mais 50% para o Bolsa Família. É possível atrelar o benefício ao programa Saúde da Família e a bolsas de estudo para cursos profissionalizantes destinadas a jovens (Protec).”

“Saneamento básico integrado ao direito à moradia digna e qualidade de vida. Articular o acesso ao saneamento básico às ações de superação do déficit habitacional e de promoção da saúde. Manter investimentos constantes, progressivos e melhor distribuídos no território nacional visando aumentar o ritmo de superação do déficit de acesso à rede de coleta e tratamento de esgotos (atualmente metade da população não tem acesso a redes de coleta de esgotos, e mais de 80% do esgoto gerado no país é lançado nos corpos d’água sem nenhum tratamento, inclusive mananciais de abastecimento).”

Saneamento básico

Saúde “O candidato conheceu o programa da Prefeitura de Curitiba, quando era prefeito de São Paulo e pretende ampliá-lo como proposta de saúde para as mulheres. “Peguei esta ideia e implantei em São Paulo. Agora este programa será estendido para todo o Brasil, dando assistência no pré-natal para todas as brasileiras grávidas”, afirma o candidato que também pretende retomar os mutirões de saúde, além de promover a construção de 150 ambulatórios especializados e de garantir atendimento especial para usuários de drogas.” Acesse informações de campanha do candidato: http://www.serra45.com.br/

Diversidade sociocultural e ambiental “Diversidade é um valor superior para a vida. Promovêla na centralidade das políticas públicas é investir no aprofundamento da democracia e na sustentabilidade do Brasil, assim como na originalidade da nossa contribuição para o equilíbrio da vida no planeta. O Brasil é chamado de megadiverso por sua biodiversidade e sua diversidade de ecos-

23


P o l í ti ca

Proteção ambiental “Os demais candidatos propõem apenas medidas paliativas, que não solucionam o problema porque não enfrentam o capital. Num governo do PSOL não seriam liberados os transgênicos, nem Belo Monte, nem a transposição das águas do São Francisco. As florestas brasileiras seriam efetivamente protegidas do agronegócio nacional e internacional, até por uma questão de soberania. E não exploraríamos o pré-sal com a sanha que está sendo proposta, sem levar em conta os custos sociais e ambientais, a soberania brasileira e a capacidade de nossas forças armadas para defender nosso território.” Acesse o programa de governo do candidato: www.pliniopresidente.com

sistemas, mas o deveria ser graças à sua sociodiversidade.” Acesse as diretrizes de governo da candidata: http://www.minhamarina.org.br/home/home.php

PLATAFORMA DE PLÍNIO ARRUDA SAMPAIO

Crescimento econômico “Nosso modelo de desenvolvimento tem que ser radicalmente modificado. O Brasil vem correndo atrás de taxas de crescimento de 6%, 7% ao ano, mas esse crescimento beneficia apenas uma pequena parcela. O PSOL propõe que o crescimento econômico deve estar baseado em uma verdadeira distribuição de renda que combata a segregação social, a desigualdade e respeite o meio ambiente.”

Reforma agrária “A nossa proposta é de reformar a Constituição de forma a liberar toda área rural acima de mil hectares para desapropriação. Isso permitiria assentar seis milhões de famílias pobres. Essa proposta é defendida pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) e pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que inclusive fará um plebiscito em setembro para discutir com toda a população essa questão. A minha candidatura é a única com condições de assumir esse compromisso porque não tem nenhuma amarra com o agronegócio.”

24 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

“Educação é crucial” Para o físico e ambientalista, Germano Woehl Junior, ao contrário do que possa parecer, o comprometimento de fato com o meio ambiente não conquista voto. Ele pondera que políticas duras para conter os atuais níveis de esgotamento ou degradação dos recursos naturais são necessárias, mas questiona sobre quem teria chances de emplacar um mandato com promessas que soassem radicais para a sociedade. “Que chances teriam um candidato que aparecesse no horário eleitoral e prometesse proibir a mineração, além de tomar medidas drásticas para não permitir a elevação do consumo”, questiona. Um discurso contrário à implantação de novos loteamentos no litoral, ou ao avanço da agropecuária ou, ainda, intenções declaradas de proibição de construção de hidrelétricas, estradas, portos e outras obras podem afugentar parte do eleitorado, na opinião do ambientalista. Woehl Junior também pergunta: “o que seria do candidato que, publicamente, assumisse adotar mais rigor contra empresas e empreendimentos


que provocam danos ambientais, além de proprietários rurais que não cumprissem o Código Florestal (legislação em vigor que está no centro de uma polêmica)?” Para o ambientalista, desagradar o poder econômico pode custar caro a qualquer político bem intencionado. Mas, se o cidadão brasileiro está cada vez mais atento às questões ambientais porque o discurso dos candidatos em favor da sustentabilidade não decide voto? A resposta do ambientalista é simples: “O problema é que os eleitores mais exigentes representam minoria em países como Brasil. Somos uma sociedade que ainda está em construção. Não é por acaso que a maioria das pessoas aceita e se conforma com todas as atrocidades que ocorrem por aí”. Mudar o atual cenário, fazendo com que a sociedade tanto cumpra as leis como exija o seu cumprimento é uma questão que exige educação, além de princípios éticos de cada cidadão, segundo Woehl Junior. “Pessoas bem informadas e éticas têm mais chances de compreender as questões ambientais e de ter noção do quanto é possível avançar no sentido de deter a devastação do que resta de nossas áreas naturais - os indicadores mais precisos e evidentes de que nosso modo de vida não é sustentável. A busca da felicidade precisa ser feita através da ética. Não há como uma sociedade prosperar com a maioria sendo egoísta e gananciosa. Vai demorar, mas nós chegaremos lá. A ONG que criamos para defender a natureza, o Instituto Rã-bugio para Conservação da Biodiversidade, atua em parceria com as escolas do ensino básico com esse objetivo”, pondera. Enquanto o acesso à educação, sobretudo sobre as questões ambientais não avança, a maior parte dos políticos prefere a defesa da “exploração sustentável”, segundo Woehl Junior: “é um termo politicamente correto e serve para qualquer situação embaraçosa. Agrada a todos: tanto os querem destruir, isto é, ganhar dinheiro, como os que querem salvar”.

os desaFios Para o PróXimo Presidente na Visão dos entreVistados

“Levando em consideração que a questão climática tornou-se uma das maiores preocupações globais, o Brasil precisa buscar coerência nas suas políticas públicas para avançar no processo de transição para uma economia de baixo carbono. A proposta de alteração do Código Florestal é uma prova de incoerência já que abrirá espaço para o aumento do desmatamento e está na contramão das metas voluntárias de redução de carbono assumidas pelo Brasil.” Ambientalista Fernanda Carvalho, coordenadora de Políticas de Clima da ONG The Nature Conservancy (TNC).

“O principal desafio brasileiro é combater a segregação social e a dependência externa. Só se faz isso enfrentando o capital, o que nenhum governante no Brasil até hoje teve coragem. Minha proposta é atacar o mal pela raiz. Não à Usina de Belo Monte, aos transgênicos e à revisão do Código Florestal que isentará os grandes latifundiários das multas que já deveriam ter pago por destruir a nossa biodiversidade. Seria esse o caminho de um governo do PSOL.” Promotor público aposentado, candidato à Presidência pelo PSOL, Plínio Arruda Sampaio.

25


P o l í ti ca “Fazer com que o Brasil cresça melhor e manter esse crescimento em torno dos 5% ao ano, com prioridade absoluta para educação, saúde e sustentabilidade ambiental. Esse seria o rumo do ecodesenvolvimento, o que hoje quer dizer essencialmente organizar a transição para a economia de baixo carbono.” Economista José Eli da Veiga, professor titular do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

“O desmatamento da Amazônia, de acordo com dados do INPE chegou a 26.130 quilômetros quadrados entre agosto de 2003 e agosto de 2004. Já em 2009, foi de 7.000 quilômetros quadrados. Na época do Brasil Colônia, o ciclo da cana-deaçúcar levou 150 anos para devastar 7.500 quilômetros de Mata Atlântica. Ou seja, estamos conseguindo devastar em menos de 4 meses a área que levava 150 anos no passado. Os danos ambientais são consideráveis, com graves conseqüências para o futuro do Brasil. A perda de biodiversidade é para sempre. Ocorre também alteração do regime hídrico em grande parte do território brasileiro, que pode afetar a produção agrícola do País, sem falar das emissões de gases do efeito estufa que agravam o problema do aquecimento global.” Físico e ambientalista, Germano Woehl Junior, criador do Instituto Rã-bugio.

26 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

“Talvez o maior desafio seja o controle das emissões de gases do efeito estufa. Mas temos um tema atualíssimo que é a definição da matriz energética para o século 21, que hoje mistura desde termelétricas a carvão e nucleares, passando pelas gigantescas hidrelétricas projetadas principalmente para a Amazônia. Temos ainda a necessidade de firmar as políticas de proteção ao patrimônio genético brasileiro e ao conhecimento tradicional associado; além da discussão acerca da utilização de organismos geneticamente modificados; da necessidade de afirmação de políticas de conservação da biodiversidade marinha; e mais umas dezenas de outras.” Advogado ambientalista Rogério Rocco, ex-superintendente do Ibama/RJ e candidato a deputado estadual (PV/RJ).

“O desafio da sociedade brasileira é incluir a parcela excluída, criando um novo modelo de produção e consumo que garanta vida digna a todos no presente, mas proteja a natureza de uma exploração predatória e não sustentável. Obviamente, há um papel importante para o poder público no sentido de educar a população em geral, criar incentivos para as empresas investirem na direção de tecnologias mais limpas, e prover serviços que viabilizem mais facilmente o consumo consciente, seja na forma de selos e informações, ou na forma de regulação e legislação.” Helio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.


Bazar

ético

27>

Serviço: Loja - 4° piso do shopping RioSul, Loja D75. site - http://www.grifeprovidencia.org.br/ • novosnegocios@providencia.org.br Telefones: (21) 3257 2769/ (21) 9369 7878/ Helena Rocha Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de cooperativas, instituições e ONGs.

27


P ar cer i a

Vale do Paraíba ganha

corredor ecológico TEXTO: [LETÍCIA FREIRE], DO MERCADO ÉTICO, ESPECIAL PARA PLURALE EM REVISTA FOTOS: [DIVULGAÇÃO]

A

Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba lançou no início de junho, na cidade de Guaratinguetá (SP), seu plano de ação para dar vida ao Projeto Corredor Ecológico nos municípios de São Luís do Paraitinga, Lorena e Guaratinguetá. Para a construção do corredor ecológico, foi realizado um estudo detalhado da ecologia da paisagem e foram identificadas diferentes formas de uso e ocupação do local. A ideia é ter os fragmentos preservados e conectados com uma produção compatível no meio, garantindo que o proprietário não destrua a mata. A meta do projeto é ambiciosa: serão 150 mil hectares de Mata Atlântica - inicialmente na porção paulista da bacia hidrográfica do rio Paraíba do Sul - preservados e restaurados nos próximos dez anos. Desse total, 122 mil serão de espécies nativas da floresta e 28 mil hectares serão voltadas ao uso econômico (Eucalipto).

28 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

As iniciativas desenvolvidas no Vale do Paraíba envolvem governo, sociedade civil e empresas. Atualmente participam da iniciativa o Intituto Tomie Ohtake, Fundação SOS Mata Atlântica, AMCE, Grupo Santander Brasil, Fibria, Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul e Institutos Ethos e Oikos. A PricewaterhouseCoopers (PwC) fará a auditoria pro bono das atividades do projeto, garantindo a transparência e efetividade das ações. A proposta de recuperação da cobertura vegetal dessa região vai permitir a criação de faixas contínuas de matas ou um mosaico de atividades sustentáveis, de maneira a interligar trechos de florestas, e, assim, propiciar a recuperação da biodiversidade daquele bioma, de seus recursos hídricos, do trânsito de animais, além de permitir que a floresta exerça seu papel como reguladora do clima.


Valores humanos e culturais Para Paulo Valladares, secretário executivo da Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba (ACEVP), esse não é um projeto apenas de plantio de árvores. “Não estamos brincando de plantar florestas”, disse. “Quem me garante que daqui a um ano ela estará lá? É preciso envolver a comunidade, cuidar das pessoas que estão na região”, frisou o secretário. Ao recuperar áreas degradadas e reconectar partes isoladas de floresta, o corredor ecológico também atuará com as comunidades locais por meio de projetos de geração de renda e valorização cultural. Segundo José Luciano Penido, presidente do Conselho de Administração da Fibria e presidente do Conselho da ACEVP, “a prática de atividades sustentáveis nas áreas intermediárias, beneficiará pequenos produtores que vivem na região. É um projeto de todos e para todos”.

Ainda segundo Penido, o maior desafio da iniciativa é a recuperação da biodiversidade, incluindo pessoas. “Queremos que elas sejam protagonistas e parceiras do projeto”, reforça ele. incentiVo As opções de incentivo do projeto para as populações do entorno são variadas. Existem propostas de pagamento pela soma de serviços ambientais prestados (conservação do solo e água, floresta recuperada e floresta conservada), estímulo ao plantio de espécies nativas e de espécies para o uso econômico, além de plantios consorciados. Há também a opção das propriedades cultivarem e comercializarem plantas medicinais ou oferecerem matéria-prima para artesanato. “Dessa forma, eles co-

meçam a ter uma cesta variada de opções para que suas propriedades gerem mais recursos com a floresta do que com a degradação do meio ambiente”, lembra Valladares. PreserVação dos mananciais Outra preocupação do Projeto Corredor Ecológico é a preservação dos mananciais da parte paulista do rio Paraíba do Sul, responsável pelo abastecimento de cerca de 10 milhões de pessoas - incluindo a indústria e a agricultura em São Paulo e 90 % da população da região metropolitana do Rio de Janeiro. Para que a água continue disponível em abundância, com qualidade e regularidade, o projeto vai promover junto às comunidades uma série de práticas conservacionistas para manter a porosidade do solo. “Proteger as nascentes responsáveis pela formação

dos rios e a mata da região são condicionantes indispensáveis para isto”, lembra Valladares. Plante uma semente VocÊ tambÉm Pessoas físicas ou jurídicas que queiram contribuir com o plantio de árvores, podem fazê-lo por meio do Programa Arvorecer. Ao custo de R$ 15,00, qualquer um pode plantar uma árvore e ajudar os projetos socioambientais e culturais a serem financiados pela Associação Corredor Ecológico do Vale do Paraíba. Já as empresas podem entrar em contato com a coordenação do projeto pelo site e desenvolver projetos específicos. Outros municípios interessados na iniciativa também são bem-vindos. Para participar e obter mais informações acesse www. corredordovale.org.br

29


E cotu r i smo

O lado B da

Amazônia

Um roteiro barato para quem pensa que visitar o pulmão do mundo é coisa de gringo.

E

TEXTO E FOTOS: [ALINE GATTO BOUERI], DE PLURALE EM REVISTA (*)

m Manaus chove e nas ruas se agradece. O período de secas que castigou a região norte do país no fim de 2009 estava terminando. Chegava o “inverno amazônico” e eu, poucos dias antes do Natal, embarcava no Anna Karoline II rumo Santarém – o primeiro trecho da viagem pelo Rio Amazonas até a cidade de Belém. Marinheira de primeira viagem, literalmente, havia passado pelo impressionante Porto de Manaus em busca de uma passagem em algum barco que estivesse indo a Santarém o mais rápido possível, já que o dinheiro, curto, não comprava mais do que belas refeições de tucunaré, uma das delícias da região, nos bares que rodeiam o Teatro Amazonas. Tentativa frustrada: os preços pareciam muito maiores que a minha expectativa de gastos. O turismo em Manaus, quase sempre oferecido em inglês, espanhol, francês e italiano, antes do português, é caro, ainda mais em dezembro. Um passeio pelo rio Negro, como uma visita ao encontro das águas, por exemplo, não sai por menos de R$100 por pessoa nessa época. E olha que é logo ali. Numa dessas caminhadas pela cidade, onde a chuva intensa e contínua às vezes parava um pouco para deixar lugar ao calor úmido e à noite tranquila do centro da cidade, depois do tucu-

30 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

naré, uma manga cai de uma árvore, pronta para ser comida. Durante toda a viagem, episódios como este fizeram a sobremesa ser mais gostosa. No dia seguinte, depois de uma conversa animadora com um comerciante local, decidi ir ao “porto informal”de Manaus. Distante apenas alguns quarteirões do porto oficial, em barraquinhas vizinhas, diferentes barcos a diferentes preços (entre R$80 e R$130, dependendo da data da viagem) eram oferecidos pelos agentes. Um pouco de pechincha e outro tanto de lábia me permitiram pagar R$100 para pendurar minha rede em um barco que deixava Manaus rumo a Santarém em duas horas. O camarote - com ar condicionado, televisão e beliche - sai o dobro. anna Karoline ii: da lama ao caos O barco que me levaria pelo Amazonas até a cidade de Santarém, Anna Karoline II, já tinha suas tantas redes penduradas no primeiro e no segundo andar. O pior lugar para a viagem de dois dias que me esperava era o único que estava vago: ao lado do motor, o calor insuportável e o barulho ensurdecedor me fizeram entender por que o lugar estava vago. A Amazônia me dava a primeira lição: duas horas antes da partida já é tarde demais para obter um bom lugar nos barcos de transporte comercial de passageiros. O segundo andar do barco, mais disputado, não sofria tanto


com o ruído do motor, mas o som altíssimo do bar – no terceiro andar – não deixava impunes os que tinham conseguido se acomodar na área de luxo. Calcinha Preta e Vitor e Leo se alternavam no som do bar, que vendia cerveja a preços acessíveis e garantia um clima de festa na viagem. Já preocupada com a noite de sono impossível que poderia vir se eu continuasse no mesmo lugar, desci do bar decidida a conseguir um lugar melhor. Fui educadamente convidada a me retirar de cada gancho que improvisei entre uma rede e outra. O transporte é usado principalmente por moradores da região, muito mais entendidos que eu nessa difícil tarefa que é encontrar um espaço para a rede. Sem desanimar, esperei o horário do jantar. Neste momento, algumas redes são retiradas para dar lugar a uma grande mesa onde se serve o tradicional – e farto – PF que tanto salva a vida dos mochileiros no Brasil. Com preços entre R$10 e R$15, o prato alimenta duas pessoas. Era o momento-chave: a mesa se levanta, passam alguns minutos e os lugares continuam lá, vazios, longe do motor. Penduro aí a rede e escuto a chuva, que tinha voltado, substituir o barulho que continuou incomodando os menos atentos. o Primeiro sol

A manhã no barco começa cedo. Às cinco o sol já começa a aparecer e às seis já há movimento na cozinha do barco. O café com pão, a R$5, une os passageiros numa manhã ensolarada que começa a aparecer. A essa altura, já amiga dos vizinhos de rede – com quem inevitavelmente esbarrei durante toda a noite – subi ao bar, sempre acompanhada dos pertences mais importantes, para escutar um pouco de música e ver. Como o menino do conto do uruguaio Eduardo Galeano que vê o mar pela primeira vez, com os olhos cheios de verde, eu pedia ajuda para ver. Ao longo do caminho, a paisagem não muda muito: é sempre exuberante. Fora alguns pequenos povoados, o que se vê são árvores de um lado e de outro, um ou outro barco pequeno de

pesca, e alguns navios de carga. Longe das margens, o Anna Karoline II desliza devagar pelo Amazonas, sem pressa e ajudado pelo rio que corta o pulmão do mundo. O dia também acaba cedo por aí. Às seis da tarde já não há luz, como se o sol tivesse gastado toda sua força no poente. Uma bola laranja mergulha na floresta: o fim de tarde no Amazonas é um espetáculo à parte, que enche os olhos de quem presencia. bem-Vindos a santarÉm Aportamos em Santarém quase de madrugada. Sem nenhuma ideia do que ia encontrar na cidade, decidi passar a noite no barco, que só voltaria a sair na manhã do dia seguinte. Os tripulantes, gentilmente, me permitiram manter a rede pendurada aí enquanto eles também tomavam seu merecido descanso depois de 40 horas de viagem. Nas primeiras horas da manhã fui acordada pelo movimento do porto de Santarém (e pela fauna do barco). Era hora de colocar a mochila nas costas e percorrer a cidade para encontrar hospedagem barata antes que o sol começasse a castigar os ombros. É possível dormir aí por R$20 ou R$30 (sem ar condicionado) ou pagar um pouco mais por um quarto em que se possa guardar entre meio-dia e 16h: a esta hora quase todo o comércio fecha e o calor úmido é quase sufocante. o caribe amaZÔnico A 30 km daí, ligada a Santarém por um ônibus de linha que custa menos que o metrô carioca, está Alter do Chão, pequena vila que fica em uma enseada do rio Tapajós, conhecido como o “Caribe Amazônico.” A beleza impressionante do lugar faz jus ao apelido pomposo. Algo raro na região amazônica, o Tapajós tem águas cor de esmeralda, transparentes, assim como o Lago Verde, cujas praias ao redor deram fama internacional a Alter do Chão. Aí não tem banco. É preciso ir a Santarém, o que não é difícil do ponto de vista prático, mas se torna uma missão quase impossível quando o assunto é deixar as lindas praias de Alter para viajar até uma fila de banco na calorosa vizinha. Em compensação, a maioria dos restaurantes aceita cartão, mas é sempre bom levar dinheiro vivo suficiente para não ter que se preocupar. Paraíso pouco conhecido e pouco acessível (a melhor maneira de chegar a Alter é por Santarém, aonde só se chega em barco ou avião), Alter do Chão fica cheio nos fins de semana, quando os moradores da região vão curtir a praia com o porta-malas do carro aberto e o forró a todo volume, mas durante a semana volta a ser um povoado tranquilo e silencioso. Daí é possível contratar passeios de barco, com pernoite na floresta incluído, pelo Tapajós e seus braços. Custam em média R$250 por pessoa e, com o orçamento apertado, optei por alugar um caiaque a R$5 a hora na Ilha do Amor, que fica de cara para a praça central de Alter, e espiar a vila de dentro do Lago Verde. Não pude ver os famosos botos, mas sei que eles estavam no seu lugar. E eu também. Outra opção no estilo “bom, bonito e barato” é a trilha para o Morro da Piroca (isso mesmo), que tem um lindo

31


E cotu r i smo mirante de onde se vê a Ilha do Amor, o Lago Verde e o Tapajós sem fim. Não é preciso contratar um guia para encontrar o caminho se você é um mochileiro experiente em trilhas, mas é preciso levar muita água e evitar os horários de sol forte. O protetor sempre à mão também não é um mau negócio: são cerca de 40 minutos de caminhada, e o trecho final é bastante íngreme. A noite em Alter do Chão é típica de um vilarejo pequeno, engatinhando no turismo. Os restaurantes da vila funcionam até cerca de 2h da manhã (e se é noite de apagão, é possível

desfrutar um lindo jantar à luz de velas). Aí se come bem e barato: uma refeição para duas pessoas com fome pode custar entre R$20 e R$30 – com peixe, arroz e salada. Outra opção é a gastronomia local nas barracas da pracinha central. Um prato de tacacá serve um e custa R$5. Dá pra comer sentado à sombra da mangueira – sempre de olho nas frutas que caem maduras a cada cinco minutos. Mais que isso é reunir-se com os amigos para ver a lua na praia do Lago Verde ou pendurar a rede em alguma árvore – a melhor opção para escapar das formigas – e passar a noite aí. Alter do Chão pode não ser boêmia, mas tem noites inesquecíveis. de Volta ao amaZonas Uma semana depois de chegar a Santarém era hora de voltar a carregar a mochila e entrar em movimento de novo. De Santarém saem barcos a Belém quase todos os dias, e os preços são parecidos aos do porto de Manaus. Desta vez, já acompanhada por um grupo grande, conseguimos negociar a R$80 a viagem, que dura dois dias e meio e começa no encontro entre o Tapajós e o Amazonas, marcado pelo contraste impressionante entre o verde do primeiro e o marrom claro do segundo. O segundo trecho do caminho em direção ao oceano é diferente. O barco passa por mais portos, ancora por alguns minutos para que entrem e saiam passageiros e vendedores

32 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

de comida, bebida e artesanato. Ao longo do caminho já é possível observar mais sinais de que o homem chegou por ali, e não sempre em missão de paz. Em alguns momentos se vê em uma margem a vegetação amazônica, na outra grama e gado. Já mais afastados do que próximos a Santarém, as margens se aproximam e vemos pequenas casinhas fincadas no Amazonas, cuja saída, passando a porta, é um píer com um pequeno barco de pesca à porta. Desses pequenos povoados saem adultos e crianças remando em direção ao nosso barco. Olho para o lado e vejo que outros passageiros jogam bolsas plásticas que são rapidamente recolhidas pelos mais ágeis. São roupas, remédios e biscoitos que flutuam no rio para chegar às casas que dele vivem. Desta vez o barco era um pouco maior, estava mais vazio, e o meu lugar era invejável: sem muitos vizinhos, eu estava no segundo andar, longe do motor e perto da festa. A trilha sonora se mantinha, Vitor e Leo ou Calcinha Preta, mas os passageiros pareciam mais animados. Talvez pela viagem ser um pouco mais longa e o controle de horário do bar mais rígido, a festa – diurna – se armou em poucas horas. Éramos poucos no barco e todos queriam aproveitar o bar aberto, além de escutar a música que, por sorte, estava a um volume que permitia o sossego dos de baixo e a animação dos de cima. No terceiro dia, depois de aproveitar a festa, a tranquilidade e a alegria de estar flutuando sobre o Rio Amazonas, aparecem os primeiros sinais de que a viagem está chegando ao fim. O rio vai mudando de cor e os mais impacientes – e experientes – já vão desarmando a rede e arrumando a mala. De repente, de longe, uma imagem que parecia fora do contexto: edifícios enormes misturados com arquitetura colonial davam a pista de que em meia hora chegaríamos ao porto de Belém. Mas aí é outra história.

Moradores das margens do Amazonas se aproximam do barco de passageiros.


Para viajar nos tradicionais barcos de transporte comercial de passageiros do Amazonas o ideal é chegar ao barco com antecedência. Duas horas antes do horário de partida os melhores lugares já estão ocupados. Fuja, correndo se possível, da área próxima ao motor do barco.

Onde pagar pouco e dormir bem: manaus Hostel Manaus (http://www.hostelmanaus.com) Filiado à rede Hostel International, tem quartos com ar condicionado ou ventilador, banheiro privado ou compartido. Há quartos compartidos, individuais e para casal. Tem café-da-manhã incluído e cozinha coletiva para economizar no restaurante. A internet é grátis. alter do chão: Albergue da Floresta (http://www.alberguedaflorestaalterdochao.blogspot.com/)

Os desprevenidos que queiram viajar em rede não precisam se desesperar. Basta dar uma volta pela zona do porto não-oficial de Manaus e, com um pouco de pechincha, comprar excelentes redes por R$25.

As águas claras de Alter do Chão deram ao lugar o apelido de Caribe Amazônico

O albergue tem cômodos amplos e ventilados onde se pode pendurar a rede (com mosquiteiro, sempre) e dormir a preços módicos. Para os que estão em casal, mas não querem gastar muito, a opção é descolar um cantinho para montar uma barraca. A opção mais confortável é ficar em algum dos quartos, mas é bom reservar antes. O atendimento é impecável, uma boa cozinha coletiva e o ambiente é excelente. belÉm Hotel Amazônia (http://www.amazoniahostel.com) Gentileza e simpatia no atendimento. Tem cozinha coletiva e internet (paga). Os quartos não são muito bons, mas é o melhor custo-benefício para uma viagem de mochila. (*) A repórter fez o roteiro Manaus-Santarém-Alter do Chão em viagem de férias com o marido argentino, Frederico, ao longo de duas semanas

33


P elo BRASIL Descafeinado no pé

FÁBIO DE CASTRO, DA AGÊNCIA FAPESP

E

m 2004, um grupo de pesquisadores brasileiros anunciou, em artigo publicado na revista Nature, a descoberta de pés de café desprovidos de cafeína. No entanto, a ideia de explorar comercialmente o café descafeinado natural tem se mostrado frustrada pela baixa produtividade das plantas, provenientes da Etiópia. Agora, utilizando uma técnica para induzir mutação em sementes, um pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) obteve, a partir de sementes de um cafeeiro já utilizado comercialmente, sete plantas mutantes que combinam a produtividade e a ausência de cafeína. O estudo, apoiado pela FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, foi realizado por Paulo Mazzafera, professor do Departamento de Biologia Vegetal e diretor do Instituto de Biologia da Unicamp. No artigo de 2004, o cientista teve a colaboração de pesquisadores do Instituto Agronômico, de Campinas (SP).

34 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

Segundo Mazzafera, seu experimento utilizou sementes do cafeeiro comercial Catuaí Vermelho, da espécie Coffea arábica, que foram tratadas com dois tipos de mutagênicos. As cerca de 28 mil plantas resultantes da germinação foram analisadas por um método qualitativo que identificava a presença ou ausência de cafeína. “Com o tratamento, obtivemos sete cafeeiros que são praticamente desprovidos de cafeína. São plantas bastante vigorosas que já estão produzindo flores. Já fizemos boa parte das análises bioquímicas e moleculares dessas plantas e procuramos uma empresa brasileira interessada em implantar comercialmente esse café naturalmente descafeinado”, disse à Agência FAPESP. O cientista explica que o campo experimental onde foi feito o experimento tem atualmente 250 plantas. Com as sementes disponíveis é possível plantar cerca de 5 hectares para testes.

“Se der tudo certo, vamos fazer mudas com essas sementes e levar tudo a campo em 2011”, disse Mazzafera, que é um dos membros da coordenação da área de Agronomia e Veterinária da FAPESP. Segundo ele, o interesse comercial pelo café descafeinado é pequeno no Brasil, diferentemente do que ocorre em outros países. Menos de 1% do café comercializado em território brasileiro é descafeinado. Enquanto isso, na Europa e nos Estados Unidos, a divulgação dos efeitos adversos da cafeína tem provocado um aumento crescente do mercado de café descafeinado. “O café descafeinado corresponde a cerca de 10% do total do café comercializado no mundo. Certamente, é um mercado muito interessante e muito valorizado. A alternativa de um café desse segmento que não tem necessidade de passar por processos industriais para ser descafeinado é bastante promissora em termos de mercado”, destacou. Existem três processos para produção do café descafeinado. O método que emprega o solvente diclorometano, o método suíço, que utiliza água para retirar a cafeína, e o método de gás carbônico supercrítico. “No método suíço, a água retira a cafeína, mas leva junto muitos elementos importantes do café, tendo que ser retornada ao processo. Já o supercrítico exige instalações muito caras”, explicou Mazzafera. Patente O processo mutagênico utilizado para a obtenção das plantas descafeinadas foi patenteado. “No Brasil, não podemos patentear o material, por isso patenteamos o processo. No momento em que uma companhia brasileira se interessar em implantar o café descafeinado natural, poderemos fazer uma patente internacional relativa aos produtos provenientes desse café, cobrando royalties para quem for produzir”, disse.


Na Floresta, educação ambiental

TEXTO: [NÍCIA RIBAS], DE PLURALE EM REVISTA

Educação ambiental

m Alter do Chão, comunidade ribeirinha de cinco mil habitantes, em Santarém (PA), funciona a Escola Cajueiro, um dos projetos da ONG Grupo de Ação Ambiental Vila Viva, detentora do Prêmio Escola Viva 2007, do Ministério da Cultura (MinC). Instaladas em choupanas de palha, crianças de três a 10 anos recebem uma educação especial, que inclui a compreensão da realidade em que vivem e como se posicionar diante de problemas como o desmatamento da floresta. “Por aqui, a idéia de preservação não foge do que vemos no resto Brasil ou no mundo: poucas pessoas estão preocupadas com a proteção do meio e com o futuro”, diz a bióloga Adriana Kohlrausch, doutora pela USP, que começou em 2006 a fazer um trabalho voluntário de educação ambiental na comunidade e hoje coordena um projeto na Escola Cajueiro. A Vila Viva sobrevive graças às doações individuais de bolsas, cujo valor é calculado pelo custo mensal de uma criança na escola. “Este ano tivemos uma grande redução no número de bolsas e a escola está correndo risco de fechar. Por isso resolvemos intensificar a busca por colaboradores” diz Adriana.

Campeão em grilagem de terras no País, o Pará tem muitas madeireiras clandestinas e até um porto para escoar soja sem EIA/RIMA, em Santarém. Embargado sucessivamente pelo IBAMA, graças a liminares, sempre volta a funcionar. Nascidos e criados nesse ambiente, os alunos da Escola Cajueiro recebem educação fundamental reconhecida pelo Ministério da Educação e educação ambiental. “Realizamos também cursos abertos para crianças da comunidade, onde discutimos, entre outras coisas, a relação entre os organismos vivos e não vivos do planeta – a teia da vida, os biomas brasileiros e a Amazônia”, explica Adriana. Entre as atividades realizadas com as crianças, estão programas na rádio comunitária, eventos na praça, teatro, gincanas ambientais, doação de mudas nativas, etc… Mais recentemente, Alter do Chão tem crescido muito devido ao turismo – muitos estrangeiros atraídos pelas belezas naturais das praias do rio Tapajós – e muitos profissionais de todo o Brasil que trabalham em Santarém (Universidade Federal do Pará, Programa LBA, Saúde e Alegria e outras ONGs, IPAM, Incra, Ibama, Justiça Federal), e preferem morar lá. Tanta riqueza natural contrasta com o empobrecimento crescente da população. “Além de não terem noção da importância e da vulnerabilidade de sua terra, os moradores de Alter não dispõem de apoio técnico, incentivos e retaguarda institucional para desenvolver suas potencialidades”, conclui Adriana. Todo o trabalho do Grupo Vila Viva está voltado para a formação de crianças e adolescentes em caráter permanente, tanto com a educação formal quanto educação ambiental, com a meta de reverter este quadro. Contatos: www.vilaviva.org.br ceicajueiro@yahoo.com.br Telefones: (93) 3527 1218 (93) 3527 1149 ou 9123 1451 (Alessandra Faria) (93) 3527 1170 (Adriana)

E

Como colaborar: Bolsa de estudos para a Educação Infantil R$133,00 Bolsa de estudos para o Fundamental R$209,00 Programa de Formação Continuada das educadoras Jogos e brinquedos educativos, livros, CDs, DVDs Alimentação, equipamentos de cozinha Material de artes e papelaria Equipamentos de informática Outras doações e voluntariado

35


P elo BRASIL Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis: inscrições até 10 de agosto

O

prazo de inscrições do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis se encerra no dia 10 de agosto: jornalistas e estudantes universitários podem se inscrever. O objetivo do Prêmio é disseminar o conceito e o debate sobre a questão e estimular a produção de matérias jornalísticas e trabalhos acadêmicos sobre o tema. Dividido em duas categorias - Trabalhos Jornalísticos e Trabalhos Acadêmicos – a edição 2010 do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis terá mais duas modalidades. Além de Jornais e Revistas, a categoria voltada à imprensa contará também com a modalidade Mídia Digital. A categoria específica para estudantes universitários, formada em 2008 pelas modalidades Lato Sensu e Stricto Sensu, ganha também a modalidade Graduação. A inscrição é gratuita e deve ser feita por meio do site www.itaufinancassustentaveis.com.br. Após a inscrição, os trabalhos podem ser enviados até o dia 27 de agosto através do mesmo endereço eletrônico. Podem participar do prêmio jornalistas com matérias publicadas de 1º de outubro de 2008 a 27 de agosto de 2010 e acadêmicos com trabalhos aprovados em banca do 2º semestre de 2008 ao 1º semestre de 2010. O regulamento completo do Prêmio Itaú de Finanças Sustentáveis está disponível no site.

Prêmios Santander Universidades

O

s Prêmios Santander Universidades estimulam o empreendedorismo, a pesquisa científica, a extensão universitária e a busca pela excelência das universidades, sempre com foco no desenvolvimento sustentável. Para participar, os interessados devem acessar o endereço www.santanderuniversidades.com.br/premios e fazer sua inscrição até 27 de agosto. No hotsite também é possível conferir cases das edições anteriores, com o histórico dos projetos vencedores. Segundo Jamil Hannouche, responsável pela Divisão Santander Universidades no Brasil, essas iniciativas ajudam a transferir conhecimento e tecnologia do campus para a sociedade. Uma grande novidade da edição deste ano é que todos os inscritos nos Prêmios Santander Universidades serão contemplados com um curso online da Babson College, instituição norte-americana que é referência mundial em empreendedorismo. O curso, desenvolvido especialmente para o Santander Universidades, visa a proporcionar aos participantes formação básica, com certificação em empreendedorismo voltado à criação de novas empresas. Serão quatro módulos: Medo e Empreendedorismo; O Caminho de Drunkard’s; A Importância do Marketing; e Encontrando Uma Oportunidade.

36 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


Um sexto da humanidade consome 78% de tudo que é produzido no mundo

O

Instituto Akatu e o Worldwatch Institute (WWI), organização com sede em Washington, lançaram no fim de junho a versão em português do relatório “Estado do Mundo – 2010”. O documento é uma das mais importantes publicações periódicas mundiais sobre sustentabilidade. Produzido pelo WWI, o “Estado do Mundo” traz anualmente um balanço com números atualizados e reflexões sobre as questões ambientais. Este ano, em parceria com a WWI, o Akatu fez a tradução do documento para o português. Um dos dados que mais chama atenção no relatório é que ele aponta que apenas um sexto da humanidade con-

some 78% de tudo que é produzido no mundo. E conclui “sem uma mudança cultural que valorize a sustentabilidade em vez do consumismo, nada poderá salvar a humanidade dos riscos ambientais e de mudanças climáticas. O lançamento do anuário contou com um debate sobre o tema foco do relatório de 2010: “Transformando Culturas – do Consumismo à Sustentabilidade”. Participaram da discussão mediada por Hélio Mattar, diretor-presidente do Instituto Akatu, Eduardo Athayde, diretor da WWI, Ricardo Abramovay, professor titular da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo

(FEA-USP) e presidente do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu e Lívia Barbosa, diretora de pesquisa do centro de Altos Estudos da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e membro do Conselho Acadêmico do Instituto Akatu. Erik Assadourian, diretor da pesquisa, participou do evento por teleconferência, a partir de Washington, nos Estados Unidos.

Pesquisadores usam planta medicinal brasileira contra veneno da surucucu

U

ma pesquisa apresentada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) revelou que o barbatimão, uma planta medicinal da biodiversidade brasileira, pode neutralizar o veneno da cobra surucucu. A descoberta dessa propriedade do barbatimão (foto) pode significar um antídoto quase 50% mais barato do que o soro antiofídico usado atualmente. De acordo com o orientador do estudo, o biomédico e professor do Instituto de Biologia da UFF, André Lopes Fuly, a surucucu “é uma serpente que, apesar de registrar número de acidentes no Brasil pequeno (2% do total de mais de 49 mil casos registrados entre 2001 a 2006 pelo Ministério da Saúde), quando comparada com a jararaca, responsável por 90% dos ataques, o índice de letalidade dela é bastante expressivo, três vezes mais letal que o da jararaca”. Fuly destacou ainda que o baixo número de acidentes também compromete a produção do soro para o veneno da surucucu. Para o biomédico, a escassez de pesquisas é apenas um dos aspectos que justificam a busca por alternativas antiofídicas. “O soro é produzido por três laboratórios públicos no Brasil (Instituto Vital Brazil, em Niterói; Instituto Butantã, em São Paulo, e Fundação Ezequiel Dias, de Belo Horizonte) e tem vantagens e desvantagens, como qualquer outro tratamento. A vantagem é que, apesar do índice

elevado de acidentes (com cobras), o número de óbitos é baixo. Mas as desvantagens são importantes, como as reações alérgicas dos pacientes (de 30% a 40% dos casos), que podem evoluir para o óbito, o processo de produção e logística de transportes é caro e, ainda, o soro não reverte os efeitos do veneno com 100% de eficácia”, explicou Fuly. A tese desenvolvida pelo pesquisador Rafael Cisne de Paula, sob a orientação do biomédico, revelou ainda que o barbatimão, já reconhecido pela Agência Nacional de Saúde (Anvisa) como medicamento fitoterápico com propriedades cicatrizantes e antidiarreicas, foi eficiente também na inibição do veneno da surucucu, mesmo depois de submetida ao aquecimento de 80°C.

37


Lim p ez a

FOTO:[DIVULGAÇÃO] TEXTO:[ISABEL CAPAVERDE], DE PLURALE EM REVISTA

Será possível limpar o Rio de Janeiro em 24 horas? E depois fazer o mesmo em Belo Horizonte, São Paulo e outras cidades do país...

38 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

A

ideia é ambiciosa e foi exportada da Estônia, país do leste europeu. Foi lá que surgiu o movimento Let´s Do It!, liderado pelo empresário Rainer Nõlvak que conseguiu a proeza de limpar seu país em um único dia em maio de 2008. Rainer contagiou cerca de 4% da população do país de pouco mais de 1,3 milhão de habitantes, num trabalho voluntário para recolher todo lixo. O sucesso da empreitada chamou atenção da mídia e Rainer passou a ser procurado por outros países interessados no seu know-how. É o caso da ONG Atitude Brasil e parceiros que pretendem replicar a ideia por aqui em 2011, no projeto que ganhou o nome de Limpa Brasil. A primeira cidade brasileira a passar pela faxina será o Rio de Janeiro. Tarefa nada fácil, levando em conta que o Rio tem mais de 6 milhões de habitantes com o péssimo hábito de descartar o lixo em qualquer lugar, menos dentro da lixeira. O problema é tão grave que instalado nas areias da praia de Copacabana existe o lixômetro, um medidor eletrônico que marca a quantidade de lixo recolhida por mês nas ruas, praias, parques, praças, florestas. As toneladas já estão na casa dos cinco dígitos. Vem daí a dúvida: será possível limpar o Rio em 24 horas? Rainer esteve no Brasil recentemente. Veio convidado para falar num evento de comunicação e sustentabilidade e também para lançar as sementes do projeto Limpa Brasil. Simpático, estava encantado com o Rio e com a energia dos


Quando tudo começou, Rainer queria apenas limpar as belas florestas da Estônia brasileiros. Era sua primeira vez no país. Aliás, primeira vez também que visitava um país que iria realizar o projeto. Nem na Lituânia, país vizinho ao seu, e que também exportou o Let´s Do It ! (em português “Vamos fazer”) ele esteve. Explicou que são os países que o procuram e não o contrário. Mas quando tudo começou, ele queria apenas limpar as belas florestas de coníferas da Estônia. Jamais imaginou que as coisas tomassem essa proporção e que fosse praticamente abandonar sua vida de empresário de tecnologia e dedicar seu tempo ao movimento ambiental. Hoje seu sonho é limpar o planeta. O modelo de limpeza bem-sucedido do estoniano envolveu organizações, governo, iniciativa privada e voluntários. Foram oito meses de muito trabalho até o dia “D”. Primeiro foi preciso formar uma equipe para estruturar e organizar tudo, depois mapear o lixo do país, em seguida passaram para a fase de mobilização que contou com a participação de artistas e personalidades da Estônia. “Vieram voluntários até de outros países da Europa”, conta. Além da Lituânia, também Romênia e Portugal passaram pela faxina. E estão agendadas limpezas na Índia e conversações com o México. Durante a estada no Brasil, Rainer revela que pessoas da Guatemala também mostraram interesse. “Os países que nos procuram tem liberdade de fazer do seu jeito. Portugal, por exemplo, antes do dia “D” fez pequenos pilotos em aldeias. Em Nova Déli, na Índia, como eles querem limpar 300 bairros estão procurando 300 empresas para que cada uma se responsabilize pela coordenação de um bairro”. Detalhando melhor como funciona o movimento, revela que hoje eles mantém uma espécie de grupo de discussão pela Internet, onde profissionais dão suporte em todas as etapas do projeto, do engajamento das pessoas que irão coordenar, passando pelo mapeamento dos locais onde há lixo, até chegar ao recrutamento dos voluntários. Conforme outros países vão fazendo a limpeza, novos profissionais e experiências se agregam a essa lista. Acaba sendo quase uma obrigação moral ajudar os demais.

Indagado como resolver a nossa falta de cultura do voluntariado – estimativas indicam que somente para limpar o Rio será preciso cerca de 150 mil voluntários – ele desmistifica a Europa, que julgamos tão adiantada nesse quesito. “Na Romênia eles tiveram o mesmo problema. A maioria dos voluntários que limpou o país era da Áustria. Os romenos achavam absurdo fazer esse trabalho de graça”. Sua sugestão para entusiasmar a participação é ao mapear o local do lixo, mostrar esse lugar para quem mora próximo dele. Segundo Rainer, a pessoa se anima se pensar que terá a praia, o parque, o rio, o lugar onde ele passa todo dia ou vai se divertir, limpo. E vai mais longe: acredita no Rio e no Brasil em geral, por já existir a figura do catador de lixo que vive da reciclagem, esse trabalho será ainda muito mais fácil. Outra dúvida que surge é sobre a manutenção dessa limpeza. A Estônia permanece limpa? “Existe uma organização dentro do governo que monitora isso. É claro que eles não podem estar em todos os lugares, o tempo todo. Mas nunca mais tivemos aquela infinidade de lixo pelo país. Também temos multas para quem é pego jogando lixo. Multas que podem chegar a dois mil dólares”. Mas Rainer insiste que o projeto só dará certo se além dos voluntários, o governo brasileiro estiver totalmente envolvido. E lembra que o objetivo do movimento não é somente limpar, mas mudar a atitude da população e conscientizar sobre os problemas ambientais.

39


Var e jo Verde que te quero verde Supermercado Zona Sul terá loja sustentável na Barra da Tijuca em 2011 e investe em projeto de reciclagem

TEXTO: [SÔNIA ARARIPE], EDITORA DE PLURALE EM REVISTA FOTOS: [DIVULGAÇÃO]

A

rede de supermercados Zona Sul foi uma das primeiras no Rio de Janeiro a acreditar no mercado de orgânicos. Foi só o primeiro passo para perceber que há sim um público ávido por produtos cultivados de maneira mais natural. De olho neste mercado, o grupo está começando o projeto para inaugurar no segundo semestre de 2011 uma nova loja na Barra da Tijuca totalmente sustentável. Não é só. Também começou um projeto de reciclagem, através da compostagem orgânica, em 12 lojas da rede e ainda está reciclando também outros mate-

40 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


Compostagem

riais de seu lixo, como lâmpadas fluorescentes, baterias de telefones e bandejas de isopor. Em apenas quatro meses, o grupo reduziu 660 toneladas do lixo orgânico, antes enviado aos aterros. “Não é marketing. Temos um projeto consistente de sustentabilidade e não é de hoje. Temos todo um conjunto de ações para oferecer ao consumidor o que é mais saudável e sustentável”, assegura Jaime Xavier, diretor comercial do Zona Sul em entrevista à Plurale em revista. No caso dos orgânicos, por exemplo, a procura tem sido grande, apesar dos preços costumarem ser um pouco além dos cobrados por produtos tradicionais. “Os consumidores querem e pagam por produtos que assegurem uma vida mais saudável”, frisa o executivo. Nas gôndolas da rede são encontrados, por exemplos, as hortaliças do sítio do ator Marcos Palmeira, produzidas no bom clima da Serra de Araras (RJ) e também vários itens de diferentes pontos do país, como galinhas e ovos orgânicos. Um dia, deu um estalo: os resíduos também poderiam ser inseridos na cadeia sustentável. Assim, nasceu o novo projeto que faz a compostagem dos resíduos. Compostagem - O Zona Sul fez parceria com duas empresas: a Venativ, de gerenciamento de resíduos, e a VideVerde, com foco na compostagem. A primeira oferece treinamento de colaboradores e orientação de coleta seletiva. A segunda, realiza o processo de compostagem no centro de tratamento de resíduos localizado em Resende. A rede tem caminhões próprios de lixo e chegou a fazer compostagem ainda em processo interno. Mas, com o crescimento do grupo, ficou claro que era preciso profissionalizar. O objetivo é ir expandindo a ação também para outras lojas, aos poucos. “Estamos deixando de enviar uma grande quantidade de lixo para os aterros”, destaca o diretor comercial. E não é só o mercado que está fazendo sua parte. Também os clientes são convidados a colaborar: as lojas têm Caixas Verdes para recolher as embalagens dos produtos nos caixas. O exemplo das sacolas reutilizáveis confirma mesmo o comprometimento dos clientes com a causa. Cientes de que este material leva até 100 anos para se decompor, muitos usuários passaram a levar suas sacolas reutilizáveis de casa. Ou então compravam na rede por um preço em conta de menos de R$ 3,00. “Vendemos muitas”, diz Jaime. Vários consumidores passaram e-mails reclamando dos sacos plásticos. O trabalho de conscientização foi crescendo e não chegou a ser mistério a exigência da nova lei no Rio (leia mais nesta edição nas Colunas Vida Saudável e Carbono Neutro), oferecendo desconto de R$ 0,03 por cada cinco itens que deixarem de ser ensacados em plástico. Mas é preciso não utilizar nem uma só sacola plástica. Loja verde - Sobre a nova loja verde, Jaime Xavier conta que o projeto já começou a sair do papel antenado com todos os detalhes sustentáveis. “A loja começará verde desde o projeto, desde o início”, disse. Ele não dá muitos detalhes da localização, admitindo apenas que é na região da Barra da Tijuca. Até o entulho da obra será aproveitado e a construção irá seguir todos os passos da arquitetura sustentável. Fincada em uma região de altíssimo poder aquisitivo – que valoriza o conceito de sustentabilidade – a nova loja deverá atrair ainda mais público para o grupo. A inauguração está prevista apenas para o segundo semestre de 2011.

41


Consumo

Ecologia

íntima Bioabsorventes são alternativas ecologicamente corretas e saudáveis para mulheres conscientes

TEXTO: [RAQUEL RIBEIRO], ESPECIAL PLURALE EM REVISTA DE VISCONDE DE MAUÁ (RJ)

T

emos a tendência de nos livrar do lixo com facilidade e rapidez. Será que se olharmos criteriosamente para ele há chance de repensar nosso modelo consumista? Ao separar, limpar e armazenar o que é reciclável e fazer compostagem do lixo orgânico, podemos mudar nossos hábitos, passar a consumir menos e nos sentir responsável pelo lixo que produzimos? Acredito que sim. Porque nos damos conta especialmente do volume de embalagens desnecessárias que juntamos – e a partir dessa noção passamos a recusar essas embalagens nas nossas compras. Além de evitar produtos que geram um lixo que não é reciclável, nem é “compostável”. Caso de quase todos os biscoitos industrializados, cujas embalagens misturam papel e alumínio. No Brasil, poucas empresas de reciclagem têm tecnologia para separar os dois materiais – e esse processo é oneroso. Evitar o consumo desses biscoitos é simples, mas como uma mulher vai comprar menos absorventes do que precisa? Esse é um produto que gera impacto ambiental tanto no processo de produção quanto no seu descarte. Dos três bilhões

42 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

de mulheres que habitam o planeta, as que moram em cidades e tem entre 11 e 50 anos de idade (ou seja, a priori menstruam) usam e descartam 1,8 bilhões de absorventes por dia. Isto significa que, por ano, no mundo, se jogam fora aproximadamente 432 bilhões. São 13.699 absorventes a cada segundo. E essa cifra é conservadora, pois não leva em conta a população rural que, em muitos, casos também as utiliza. Despejado em lixões ou aterros sanitários, esse resíduo polui o solo, a água e o ar – e ainda libera carbono, contribuindo para o aquecimento global. Feito de derivados de petróleo de lenta decomposição, certas partes do absorvente podem levar 100 anos pra se decompor. E essas partículas “recheadas” de produtos químicos podem chegar aos mares, onde ajudam a compor a macabra fauna marinha de plásticos que matam milhares de seres vivos todos os dias. Como ficar ecologicamente em paz se eu descarto, a cada mês, 25, 30 absorventes? Por ano, chega-se a 300. Em dez anos, são três mil. Ou seja, em 30 anos de vida fértil eu jogaria ao menos nove mil absorventes no lixo.


FOTO: [JULIANA MELLO]

Imaginava, no entanto, que esse era um mal necessário dos tempos modernos e que para os absorventes não haveria substituto. Ledo engano. Pela web qualquer mulher pode comprar um acessório eficaz, saudável e ecologicamente correto: o copo menstrual. Trata-se de um copinho de silicone, que fica encaixado na entrada da vagina e, depois de cheio, é retirado com facilidade. O conteúdo, riquíssimo em material orgânico, ainda pode servir de adubo para as plantas. Para as mulheres habituadas a usar absorventes internos, a adaptação tende a ser tranquila. Com a vantagem de o copinho não conter as químicas do “ob”. Quem prefere absorvente de uso externo é candidata aos bioabsorventes confeccionados com puro algodão. Hoje, a produção é basicamente artesanal, feita por grupos de mulheres em São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Santa Catarina. Consciência ecológica, cuidados com a própria saúde e busca do resgate do feminino são os denominadores comuns dessas empreendedoras. “São produtos de um novo paradigma de consumo e da criação de um mercado mais consciente e sustentável, no sentido mais amplo possível”, avalia Nara Gallina, produtora do Modser, em Brasília. Mil vezes mais confortável que o descartável, o bioabsorvente tem um layout semelhante ao descartável, mas não irrita a pele, não deixa um odor desagradável, nem contamina a lixeira do banheiro. Há kits nos tamanhos P, M e G, e todos são reutilizáveis. Usou, deixou de molho, lavou com sabão neutro e pronto: está

novo. A água, tingida de vermelho ainda serve como adubo. Perfeito, não? Na verdade, quase. Se você passa o dia inteiro na rua fica chato carregar os bioabs usados. E ao chegar exausta em casa não vai querer lavar roupa... Para quem tem uma rotina assim, o ideal são os copos menstruais. O fato é que tanto o pano como o copo provocam pouco impacto ambiental durante o processo de produção. Gasta-se algodão, água e energia para fazer os bioabsorventes. Depois, água e sabão em cada lavagem. No caso do coletor, um pouco de água já resolve, mas o mesmo é feito de silicone, um derivado de petróleo. O coletor chega a durar dez anos; o bioabsorvente, uns três anos. Para concluir, diria que no placar geral o copo traz mais vanta-

Um mais um é mais que dois A simples ação individual de ser adepto dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar) está longe de resolver a enorme encrenca da produção do lixo no Brasil. Mas é ela quem nos dá respaldo moral para exigir grandes mudanças – basta lembrar a máxima “agir localmente, pensar globalmente”. É o que explica o sociólogo Pedro de Assis Ribeiro de Oliveira, professor da PUC de Belo Horizonte: “O problema é que o grande lixo não é apenas o somatório dos lixos individuais e familiares, mas também o industrial. A importância da separação para a reciclagem e compostagem é menos de ordem quantitativa do que qualitativa: pouco significa como diminuição do lixo total, mas significa muito como prática consciente. Em outras palavras: se eu cuido do meu lixo, tenho moral para exigir uma política pública de cuidado com o Planeta; se não faço minha parte, como posso exigir que os governos assumam sua responsabilidade política?”. PARA SABER MAIS http://lunasbioabsorventes.blogspot. com/2009/04/como-usar-lunasbioabsorventes.html

gens. Mas, pessoalmente fico com os dois. Gostei de revezar ao longo do período menstrual, o kit completo (P, M e G) dos paninhos e o copo. Na rua e durante o dia, com fluxo intenso, o copo é mais jogo. No início e final do período menstrual, os bioaborventes pequenos resolvem. Para dormir, o tamanho G me pareceu mais seguro. “Quando nos oferecem uma opção que, além de mais ética, é mais confortável, prática e segura, não há muita margem para negar sua utilização”, completa Isabel Wittmann, que coordena uma visitadíssima comunidade na web sobre os copos menstruais, a Coletores & Cia, www.orkut.com.br/Community. aspx?cmm=64856357

http://www.coisasdemulher.com.br/ abio.htm www.vegvida.com.br modserbrasilia@gmail.com http://ellenvicious.multiply.com/journal/item/25/Como_Fazer_um_aBiosorvente Entre as marcas de copos menstruais feitos de silicone, tem o DivaCup (www.divacup.com), The Moon Keeper (www.keeper.com), Fleurcup (http://fleurcup.com), Femmecup (http://www.femmecup. com), MoonCup. Venda do copo no Brasil: www.GuiaVegano.com.br

43


NĂŁo perca o maior evento da AmĂŠrica Latina na ĂĄrea de Relaçþes com Investidores e Mercado de Capitais, onde serĂŁo abordados temas da maior relevância como: – CenĂĄrios para a Economia Brasileira 2011-2014 – Ambiente RegulatĂłrio – O que Mudou e como as Companhias EstĂŁo se Adequando – Instrução CVM 480 e 481 – Os Seis Meses Iniciais da ,PSODQWDomR 3ULQFLSDLV 'LÂżFXOGDGHV H 3HUVSHFWLYDV GH $GHTXDo}HV GDV Companhias – Implantação do IFRS no Brasil: Impacto no Valuation, Principais 0XGDQoDV TXH RV $QDOLVWDV 9mR 2EVHUYDU &RPSDUDWLYR GDV 'HPRQVWUDo}HV %UDVLO ; (XURSD ; 86$ Âą &ULDomR GH 9DORU SRU ,QWHUPpGLR GH 5, &RPR $YDOLDU" Âą &RPR R 0HUFDGR $YDOLD HVVD 4XHVWmR 0HWRGRORJLDV H )HUUDPHQWDV GH $YDOLDomR GD ĂˆUHD GH 5,

14 e 15 de julho de 2010

– Acesso a Mercados Diferenciados – Road Shows em Mercados Diferenciados como Asia e Golfo PĂŠrsico: Diferenças em Relação DRV 5RDG 6KRZV HP 0HUFDGRV 7UDGLFLRQDLV &RPR 86$ H 8. Âą )HUUDPHQWDV GH 7DUJHWLQJ QHVVHV 0HUFDGRV 'LIHUHQFLDGRV &DVHV Âą $FHVVR DR 0HUFDGR GH 'tYLGD Âą 'HErQWXUHV QR %UDVLO ; &DSWDo}HV QR ([WHULRU &XVWRV GH &DSWDomR 2 TXH 0XGRX ,QYHVWLGRU GH 'tYLGD &DUDFWHUtVWLFDV H 1HFHVVLGDGHV 5HODFLRQDPHQWR FRP $JrQFLDV GH 5DWLQJ &DVH Âą &RQFOXV}HV GD &RQIHUrQFLD $QXDO GR 1,5, UHDOL]DGD HP -XQKR GH QRV 86$ Âą 3UHVHQoD &RQÂżUPDGD GH -HIIUH\ 0RUJDQ 3UHVLGHQWH 1,5, Âą 1DWLRQDO ,QYHVWRU 5HODWLRQV ,QVWLWXWH 86$

Realização

Informaçþes e Inscriçþes ABRASCA IBRI ZZZ DEUDVFD RUJ EU ZZZ LEUL FRP EU

Sheraton SĂŁo Paulo WTC Hotel $Y GDV 1Do}HV 8QLGDV 3LVR & %URRNOLQ 1RYR 6mR 3DXOR 63 Patrocinadores Ouro

C

Patrocinadores Prata

Organização

Divulgação

Apoio Institucional ABRAPP | ABVCAP | ADEVAL | AMEC | ANBIMA | ANCOR | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC-SP | IBEF-SP | IBGC | IBRACON | INI | INSTITUTO CHIAVENATTO


VIDA Saud á v e l

SÔNIA ARARIPE - PLURALE EM REVISTA

Deu certo

Muito interessante acompanhar de perto a reação dos consumidores cariocas que, diante da exigência de lei municipal, de autoria do exministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, estão sendo estimulados a deixar de lado as sacolas plásticas. Muitos tiraram do armário o velho carrinho de feira, outros estão levando suas ecobags e há ainda um time imenso que passou a preferir empacotar as compras em caixas de papelão doadas pelo supermercado. Assim, o supermercado cumpre a lei e também se livra deste material que passa a ter uso mais nobre. Uma grande ideia: quem sabe não cresce a reciclagem do papelão? É bom lembrar que o Brasil é hoje líder na reciclagem de latas de alumínio, com um índice de cerca de 95%.

Outra opção para aposentar as sacolas plásticas Uma outra opção para substituir as sacolas plásticas foi apresentada recentemente no prêmio EcoPET, promovido pela Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). Trata-se de um sistema de carrinho onde são encaixadas caixas dobráveis, confeccionadas a partir de PET reciclado. Essa inovação, que concorreu na categoria Pesquisas e Processos e foi criada pela equipe da Ice Pack e Inovatec, está com mais uma novidade: um equipamento que processa as embalagens utilizadas, recebendo materiais recicláveis como plástico, vidro, metal e papel. Para encerrar o ciclo, catadores precisarão retirar os materiais processados por esse equipamento.

3º Congresso Vegetariano Brasileiro na terra do churrasco

Porto Alegre, terra dos churrascos, quem diria, irá sediar o 3º Congresso Vegetariano Brasileiro. Calma, a colunista não está variando. O encontro será realizado de 16 a 19 de setembro, no Sesc Campestre da capital gaúcha e contará com palestrantes consagrados, oficinas de ativismo, almoço vegano, demonstrações culinárias e feira vegetariana. Veja mais informações no site do Congresso: http://www.svb.org.br/3cvb/ . Plurale é parceira do evento.

45>

Arroz preto

Você já experimentou esta novidade? A princípio, parece estranho, principalmente para quem está acostumado com o grão branquinho. Este tipo de arroz ainda não é muito consumido pelos brasileiros devido a fatores culturais da culinária brasileira e também pela facilidade de se encontrar no comércio o arroz branco. Porém, as vantagens contidas neste grão especial são inúmeras, uma delas é a presença de Ômega 3, considerada a gordura boa para o organismo e muito importante a muitos órgãos do corpo humano. A película que envolve o grão do arroz preto é rica em hidratos de carbono, óleos, proteínas, compostos fenólicos, fibras, cobalto, vitaminas: A, B1, B2, B6, B12, niacina, ácido nicotínico, ácido pantatênico, pró-vitaminas C e E. Vários fabricantes estão apostando no produto. Basta pesquisar na loja de produtos naturais.

Santa abóbora O livro Festa Vegetariana, produzido pela Sociedade Vegetariana Brasileira, contou com a colaboração de cozinheiros de mão cheia. Entre eles, destacase Michele Maia, que cursou nas escolas Le Cordon Bleu e Lenôtre de Paris. “Acredito na gastronomia vegetariana, orgânica e funcional. Amo cozinhar e falar sobre comida”, diz a autora do blog http:// www.michelevege.blogspot.com. Ingredientes Entre as delicias publicadas • Abóbora com alcaparras, curry e gengibre por ela, seleciona• 500 g de abóbora descascada em cubo s mos uma perfeita • 1 colher de sopa de alcaparras para acompanhar • 1 colher de sopa de azeite • 1 colher de chá de curry os dias mais • 1 colher de chá de gengibre fresco ralad frios: abóbora o • sal a gosto com alcaparras, curry e gengibre. 1 - Deixe as alcaparras de molho em água por 10 Michele lembra min. Escorra e reserve. que a abóbora 2 - Aqueça o azeite em uma panela e junte o curry é riquíssima em e o gengibre. Deixe refogar um pouco. magnésio e for3 - Acrescente a abóbora e mexa. Junte as talece o sistema alcaparras, tempere com sal e deixe cozinhar cardiovascular. em fogo baixo com a panela tampada. Se necessário Ainda pode ajufor, pingue água aos poucos, só para não gruda r. dar a combater alergias e asma, Bom apetite!!! cálculos renais e aliviar a TPM.

45


Arte

Biodiversidade da

Amazônia

Exposição no Museu Vale, em Vitória, apresenta diferentes olhares sobre as matas e povos da floresta TEXTO E FOTOS: [CARLOS FRANCO,EDITOR DE PLURALE EM REVISTA] DE VITÓRIA (ES)

A

aclamada biodversidade da Amazônia salta das matas e dos povos da floresta para a arte. Uma arte que carrega a diversidade do olhar e do consumo para o espaço do Museu da Vale, em Vitória, antes de ganhar terreno e seguir para outras capitais. São 32 artistas que, em separado e no conjunto, convidam a um novo olhar sobre a Amazônia, entre os quais os aclamados Cildo Meirelles e Claudia Andujar, convidados especiais que dão norte a esse olhar diversificado. Cildo Meirelles com a famosa obra do final da década de 70 (1977), o “Zero Cruzeiro”, em que o índio e o louco ocupam o lugar das famosas efígies, dando a noção do valor das pessoas. Já Claudia Andujar, filha de judeus marcados para morrer, marca os índios da etnia Yanomami para viver. São numerados para se poder controlar a administração de vascinas nos anos 80, uma vez que morriam de sarampo e outras doenças de brancos. Os rituais dos Yanomamis estão nos desenhos de Orlando Nakeuxima Manihipi-Theri (da terra Indígena Yanomami em Roraima), que morreu de sarampo. Nascidos no Acre, Amazonas, Amapá, Roraima, Rondônia e Maranhão, os artistas que participam da mostra “Amazônia, a arte” têm na bagagem fotografias, esculturas, pinturas,

46 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

FOTO DE CLÁUDIA ANDUJAR


ÉDER OLIVEIRA

vídeos e instalações que formam em sua totalidade um painel desafiador desses sobreviventes, os índios, caboclos, mulatos, povos da florestas, brasileiros como nós. O paraense Orlando Maneschy, que assina a curadoria da mostra idealizada pelo crítico de arte Paulo Herkenhoff, diz que procurou nos jovens, inseridos no contexto artístico da Amazônia, um olhar que não fosse o do folclore, nem aquele com o qual muitos ainda veem a região, mas que retratasse o consumo. O modo de ver desse povo. O resultado é surpreendente. De artistas consagrados como Hélio Melo, Emmanuel Nassar e Luiz Braga àqueles que são promessa de um novo olhar, como Thiago Martins de Melo (MA), Melissa Barbery (PA), Marcone Moreira (PA) e Éder Oliveira (PA), a mostra no ano internacional da biodversidade exibe 24 fotos da Floresta Nacional de Carajás (Flona),

POR ALEXANDRE SIQUEIRA

47


Arte

que a Vale preserva, feitas por Patrick Pardini, revelando novos olhares sobre esse tesouro verde do Pará a partir de uma seringueira nativa. Pardini há dez anos se dedica ao projeto “Arborescência”, com o qual revela, em fotos, a riqueza da região.

POR MELISSA BARBERY

RONALDO BARBOSA, DIRETOR DO MUSEU VALE

ORLANDO MANESCHY

Thiago Martins Melo, em obra de grande sensualidade e sexualidade animal e humana retrata em telas os escombros da vida no Maranhão, enquanto Melissa Barbery usa de todos os penduricalhos tecnológicos vendidos na zona franca da Amazônia para criar o seu “Low-Tech Garden”, um jardim imaginário e fantástico de cores e luzes. Éder dá vazão a uma arte contemporânea e efêmera, criando grafites que revelam os rostos amazônicos e que retira das páginas policiais dos jornais locais, como fotos três por quatro carregadas de lirismo embora extraídas de uma realidade policial. Para Ronaldo Barbosa, diretor do Museu Vale, a mostra é um retrato da pluralidade da região amazônica, onde a Vale se insere como empresa e agente de mudanças e transformação, abrindo caminho para a arte. A exposição temporária que fica em Vitória até 5 de setembro, seguirá para outros capitais é um extrato, como o látex das seringueiras, que cola na retina uma nova e contemporânea imagem da Amazônia. Uma descritível realidade de uma indescritível beleza. (*) O editor viajou a convite da Fundação Vale.

48 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


FOTO: CLÁUDIA ANDUJAR

Marcados para viver

MARCADOS PARA VIVER

O

olhar viaja apaixonado por fotos do final dos anos 70 e 80. Nelas, mulheres, homens, crianças e idosos de uma etnia ainda ameaçada pela civilização, se é que se pode chamar de civilização aquelas que excluem uma, de homens, mulheres, crianças para criar outra, aparecem marcados, numerados. São os Yanomamis que uma fotógrafa marcou para viverem ao contrário daqueles marcados para morrer pelo nazi-fascismo, entre os quais estavam homens, mulheres, crianças e idosos da família da fotógrafa. Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931, viveu na Transilvânia com a família nas décadas de 30 e 40, família judia que foi parar e morrer nos campos de concentração, marcados, numerados. Décadas depois, a fotógrafa que veio conhecer o Brasil e aqui acabaria fixando residência e nacionalidade se deparou com a mesma ameaça a que tinha sido exposta, mas desta vez sem fazer parte da etnia, da raça ou da religião: os yanomamis. Só que em vez de marcá-los para morrer decidiu que marcá-los para viver daria um significado maior à sua trajetória. Foi, então, que Claudia Andujar, no final da década de 70, se juntou a médicos sanitaristas e sertanistas que nos rincões da Amazônia para salvar um povo ameaçado pelo desbravamento da região pela Transamazônica, os Yanomamis. Um dos primeiros passos foi a criação da Comissão pela Criação do Parque Yanomami, mas que isso não resolveria problemas imediatos, como a morte por sarampo e outras doenças dos “brancos” que começavam a dizimar esse povo, Claudia partiu para um projeto radical: emprestar a sua arte da fotografia para marcar os índios.

O resultado são fotos expressivas, de uma beleza radical e a serviço da vida, ao contrário daquelas mesmas a serviço da morte que lhe eram comuns na infância. Neste ano em que a artista é destaque da mostra “Amazônia, a arte”, promovida pela Fundação Vale, seu olhar ainda continua firme, assim como a voz com forte sotaque alemão, e ainda se deixa levar por caminhos a descobrir, na sua obra e na obra de outros. Foi no galpão da Fundação Vale, em Vitória do Espírito Santo, ponto de partida de uma mostra que irá percorrer outras capitais, numa noite fria de junho, que Claudia Andujar disse à Plurale em Revista que ainda falta muito para a Amazônia ser descoberta, ser defendida e marcada para viver, assim como a seus povos. Da mostra, que mais que a selva folclórica que imaginamos dentro de nós quando o assunto é a Amazônia, está a contemporaneidade de um povo que vive e convive com a civilização que por muitas e inúmeras tentativas tenta apagar o rastro dessa gente. Uma gente que vive e sobrevive com os mesmos valores de consumo, alguns adaptados, que ressurgem nas obras expostas. Um conjunto de artista que chama a atenção da mulher destaque em bienais da arte e referência no mundo em fotografia. Mas a referência dos povos indígenas é a que mais atrai o olhar de Claudia. E ela diz, como numa letra de música, que começaria tudo outra vez se preciso fosse. E é verdade. Ainda que a debilidade que os anos nos imputam de caminhar, não retiram a força do olhar nem as memórias as quais, generosamente, compartilha. “Quando chegávamos naquelas ainda, indo de barco ou por meio da selva, em picadas abertas, tínhamos medo e temor. O

medo de não encontrarmos aqueles que pretendíamos salvar e o temor de que não percebessem que não os queríamos dizimar. Foram anos difíceis até que conquistasse a confiança de um povo e a desconfiança de militares - o Brasil vivia uma ditadura. E Claudia soube caminhar ereta, nem se importando com os ataques. O militar Carlos Alberto Lima Menna Barreto, por exemplo, no livro A Farsa Ianomâmi, de 1995, diz que o povo Yanomami é na verdade uma ianomamização dos povos Xirianás, Uaicás, Macus e Maiongongues, ou seja, a fotógrafa Claudia Andujar forjou um povo para criar o Parque Yanomami. O militar que foi Comandante de Fronteira de Roraima usa o mesmo argumento - ainda que ao avesso - que os nazi-fascistas usavam para dizimar judeus ao dizer que não eram alemães, poloneses, austríacos, mas um povo à parte. Então, se não eram todos Yanomamis, faz crer o militar poderiam não ter direitos, não ter reservas e continuar se enfraquecendo até desaparecer, sem legado, sem serem marcados para viver. Claudia contribuiu decisivamente para tornar esse povo fortalecido ao agrupar aquilo que o militar queria desconectado, como se brancos, índios, negros não fossem brasileiros como ele, como eu, mas povos à parte, sem identidade e, portanto sujeitos à dizimação. Então, é salvadora a obra da fotógrafa e os marcados para viver, hoje vivem, foram salvados da fúria de uma precária civilização de conceitos fúteis que militares como Carlos Alberto Lima Menna Barreto insistem em apregoar na tentativa sempre de dizimar. Ainda bem que a vida é mais que preconceitos a serviço da destruição. E é a vida aquilo que retrata a obra da artista que a Vale compartilha por meio da Fundação Vale aos olhares de todos. E é bonito de se ver. (Carlos Franco, Editor de Plurale em revista)


Ed uca ç ã o

o t n me

a r t e L

do a c us rdido b m E po pe tem iza

a bet gue f l a se ica Técn os e con íveis. t s adul tados vi l resu

TEXTO: [NÍCIA RIBAS], PLURALE EM REVISTA, DO RIO FOTOS: [DIVULGAÇÃO]

M

uito se fala na importância da educação para o desenvolvimento de uma nação, mas pouco se tem feito por ela. Embora venha diminuindo o número de analfabetos brasileiros – atualmente são 14 milhões, o que significa 10% da população com mais de 15 anos - vai ser difícil cumprir a meta estabelecida durante a Conferência Mundial de Educação, em Dacar (Senegal), no ano 2000. Com outros 128 países, o Brasil assinou um pacto para melhorar a qualidade do ensino e, entre as metas estabelecidas, está reduzir pela metade a taxa de analfabetismo até 2015, chegando ao percentual de 6,7%. Conseguirá? A principal estratégia do Ministério da Educação para atingir a meta é o programa Brasil Alfabetizado, que dá apoio técnico e financeiro para que municípios e estados criem turmas de jovens e adultos. No entanto, além disso, o Brasil enfrenta outro grande desafio: o chamado analfabetismo funcional, que atinge 25% da população com mais de 15 anos, de acordo com a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. O indivíduo com menos de quatro anos de estudos completos é considerado um analfabeto funcional quando lê e escreve frases simples, mas não é capaz de interpretar textos e colocar ideias no papel. Mal lendo e escrevendo

50 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

e fazendo apenas contas básicas, ele enfrenta dificuldades no seu dia-a-dia, principalmente na hora de entrar para o mercado de trabalho. Como disse o presidente da ONG Ação Educativa, Sérgio Haddad, à Agência Brasil, “o analfabetismo funcional é um fenômeno novo que se deve, principalmente, à baixa qualidade do ensino público.” Na avaliação dele, é preciso eliminar o mal com a educação de qualidade para que crian-


ças e jovens saiam da escola com domínio pleno da leitura e da escrita. Essa incapacidade de dominar os textos, reflexo do mau funcionamento do sistema de ensino, é um problema que vem sendo bastante discutido pelos educadores em todo o mundo. E a solução pode ser o letramento. Paulo Freire, no Brasil; Jean Foucambert e Célestin Freinet, na França, lançaram as bases da formação pedagógica necessária para mudar o ensino da leitura. Para eles, o ato da leitura é um ato político e uma prática social. no ParanÁ, Foco no letramento O Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Paraná já agendou para 27, 28 e 29 de outubro sua Ação Integrada para o Letramento 2010, encontro que realiza há três anos, com a finalidade de disseminar esse modo de ler. O pedagogo francês, Jean Foucambert, autor de diversos livros sobre leitura, estará presente, pela segunda vez, ao encontro paranaense. A edição de junho da revista Les Actes de Lecture (www.lecture.org), da AFL- Associação Francesa para Leitura, de Paris, destaca o trabalho desenvolvido pela equipe do Departamento de Letras da UFPR. Para a professora Lúcia Cherem, formada em Letras,

Professora Lúcia Cherem, entusiasta do Letramento, na Universidade Federal do Paraná. com doutorado em literatura e professora de francês, coordenadora do Projeto de Pesquisa de Iniciação Científica, que trabalha com o letramento, “o ensino da leitura, voltado para a realidade do nosso cotidiano, poderá ser o salto que a educação brasileira, apoiada por outros setores da sociedade, tanto precisa dar.” Ela e sua equi-

pe acreditam numa promoção social coletiva no momento em que todos os alunos das escolas públicas e privadas tiverem acesso à leitura e á escrita. Paralelamente ao trabalho de pesquisa, eles oferecem cursos de extensão universitária para professores de línguas estrangeiras e materna das redes de ensino básico e médio municipal e estadual. Ao todo são 100 professores alfabetizadores e 70 chefes regionais das escolas estaduais a cada ano. A pedagoga Nara Salamunes, Diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria de Educação Municipal de Curitiba, que desde 2005 trabalha com foco na atualização continuada dos professores da escola básica, garante: “No convívio constante com os professores, já percebemos sua satisfação e compromisso crescente com os resultados desse trabalho.” leitura Para todos O fato de Curitiba ser a capital com maior número de bibliotecas por habitante no país (2,9), não é suficiente para garantir a formação de leitores: “É preciso promover ações que tornem as bibliotecas lugares atrativos e de ação, com bons agentes de leitura e com contadores de história. A literatura é importante, mas é preciso também oferecer jornais e revistas, com visões críticas da sociedade. E também livros sobre vários temas, como trabalho, problemas de gênero, imprensa, questões sociais próximas dos leitores”, diz Lúcia. Para a equipe da UFPR, a questão social está diretamente relacionada ao domínio da leitura. “Nossa sociedade se divide entre letrados e iletrados. É claro que os letrados detêm o poder e ditam as regras. Há letrados conscientes desse problema e há outros que se veem privilegiados nessa posição e acham normal que isso continue assim. No entanto, todos têm que ter acesso ao mundo da escrita, seja para ler, para escrever, posicionado-se, ou para organizar sua vida por escrito. A leitura e a escrita são extremamente importantes no tipo de sociedade em que vivemos. Experimente ir a um supermercado com lista e sem lista de compras. Você vai sentir a diferença nessa coisa básica. Imagine para o entendimento melhor da sociedade, para entender o seu lugar nela e para poder votar de forma mais consciente. E também para a estruturação da própria personalidade, por ser uma forma de autoconhecimento. Ler e escrever podem ajudar em muitas coisas, estão cada vez mais presentes em qualquer atividade humana”, diz a professora. No Brasil, a questão da educação com qualidade depende de vontade política. “É claro que tem que passar pela escola, como já acontece em muitas delas através do trabalho excelente de alguns professores, mas não pode ficar apenas dentro da escola. Podemos colocar as crianças em contato com livros, sem pedir a elas que façam ficha de leitura e trabalho escolar. Elas precisam entrar nos livros, se envolver com eles. Contar sobre suas leituras a seus amigos e colegas, dividir suas experiências como numa rede, assim como fazem quando falam dos vídeo games, dos jogos que conhecem e que querem compartilhar. Isso contagia. Ler é contagiante”, afirma. Nas bem sucedidas práticas de leitura que já vêm acon-

51


Ed uca ç ã o tecendo no Brasil, os alunos são levados a ler em conjunto, com setores que aproveitam essa experiência. Discutem, por exemplo, a presença e a imagem dos velhos nos livros infantis, os estereótipos, leem com os velhos em asilos; há escolas que já promovem esse tipo de coisa, preparando com as crianças um material a ser lido com futuras mães, por exemplo, em postos de saúde, sobre amamentação, contracepção, etc...”A leitura deixa de ser uma tarefa apenas escolar, um martírio, para ter uma função social; a literatura também provoca prazer, alegria em se descobrir um jeito novo de lidar com a linguagem, como na linguagem poética. Há muita coisa a ser descoberta quando se domina o mundo da escrita.” garante a professora Lúcia Cherem. no rio, a cÁtedra unesco Instalados numa casa branca dentro do campus da PUCRio, uma equipe de estudiosos prepara material para abastecer professores, pais, agentes culturais, agentes de saúde e demais adultos responsáveis pela formação de pessoas em todo o Brasil. Trata-se de um projeto coletivo desenvolvido pela Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio, sob a coordenação da professora Eliana Yunes: “Grupos de pesquisa formados por alunos, ex-alunos, mestrandos e doutorandos da Universidade, além de outros especialistas, desenvolvem programas de formação do leitor, que estão sendo colocados em prática pelo país a fora, com parcerias e articulações entre outros compromissados”, explica ela. Desde quando descobriu que ler não é apenas a decodificação do texto gráfico, a professora, formada em Letras, com pos-doc na Alemanha, vem disseminando esse novo conceito da leitura, que para ela, é transversal em tudo na vida humana: “Tudo é legível, não apenas a literatura; mas também uma exposição de arte, um espetáculo teatral, um filme, um acontecimento político.” Para Eliana, leitura não se limita a

52 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

uma atividade intelectual e não pode ser dissociada dos sentimentos e afetos. E vai além: “ler mobiliza mais que a cognição e a sensibilidade, ler mobiliza a intimidade, a subjetividade de cada um”. Quando assumiu a diretoria da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, em 1985, ela pôde sentir o encantamento que a leitura exercia sobre as crianças até a 3ª. e 4ª. séries: “Elas se envolviam com as histórias, era um aprendizado que mexia com emoções e com a inteligência, permitindo que tirassem lições de vida; mas da 5ª série em diante, o trato da literatura nas escolas deixava de ser a hora para conhecer a própria vida, passando a ser aula de informações críticas, com práticas construtivas, notas, avaliações sob um ponto de vista fechado, ditado pelo livro do professor”, lembra. Como professora universitária, Eliana percebeu que os alunos não sabiam, de fato, ler: “Eles liam Graciliano Ramos, por exemplo, interessados apenas na crítica acadêmica construída, sem buscar sentir o ponto de vista dos personagens e sem entender o seu próprio, que é o verdadeiro aprendizado”. Ela constatou o grande abismo existente entre leitura e vida. Aqueles jovens, já cursando universidade, não tinham aprendido a ler; apenas acumulavam informações intelectuais desconectadas de sua realidade. Consequentemente, o sujeito que ia ensinar a experiência humana, nos 1º e 2º Graus, não tinha afinidade com a prática de leitor efetivo, que percebe a vida, os sentimentos, através da leitura. Diante da constatação, a professora concluiu que era necessário, com urgência, operar uma mudança pedagógica, teórica e política: “Precisávamos de uma Política Pública de Leitura, que também oferecesse novos rumos pedagógicos, capazes de afetar a educação e a cultura como um todo.” Desde o início da década de 90, Eliana dedica-se em tempo integral ao estudo da leitura, da formação do leitor, e dos modos de transmitir essa prática de forma sedutora. Ela mantém um grupo de jovens pesquisadores, construindo um saber sobre o tema. e nasceu o Proler Depois de uma série de estudos no exterior, em 1991 Eliana integrou temporariamente a equipe da Biblioteca Nacional, onde Affonso Romano de Sant`Anna, então diretor, acabara de criar uma área de leitura. Foi nessa época que participou da criação do Proler – Programa Nacional de Incentivo à Leitura. Em carta para os então quase cinco mil municípios brasileiros, a equipe do Proler perguntou se gostariam de participar de uma experiência inovadora de estímulo à leitura. Setenta e dois responderam, interessados. A estes foram enviados questionários para conhecer os equipamentos e os recursos de que dispunham. Vinte e um preencheram as respostas e estes receberam a visita da equipe do Proler, que organizou encontros de sensibilização com a finalidade de mostrar que “a leitura tem que mexer com os nervos, o coração, a inteligência.”


Paralelamente à experiência do Proler,foi sendo construída uma pedagogia da leitura. Em cinco anos, a equipe visitou 600 municípios, formando agentes locais, que passaram a coordenar os encontros. “Hoje o Proler tomou outro jeito, mas continua existindo, apesar da falta de desdobramentos nos governos seguintes”, diz Eliana, que não acredita em fórmulas, receitas prontas, mas sim em prática, vivência, experiência, que resultam em políticas locais com força mobilizadora da sociedade dentro e fora da escola. PrinciPais ProJetos da cÁtedra Valeu a pena ter desistido de outras casas universitárias, onde era professora concursada, para atender ao convite da PUC-Rio para trabalhar em tempo integral com o ensino da leitura. “Agora temos aqui na Cátedra um projeto coletivo com base acadêmica na prática política que estuda pilotos de programas para serem colocados em prática, testados país a fora.

• Digitalização de Banco de Dados sobre Leitura, uma biblioteca Temática, em português e espanhol que estará disponível no site www.catedra. puc-rio.br, com apoio do MEC. • Análise de texto e imagem de uma seleção de seu acervo de 19 mil livros de literatura infantil, para criar a primeira biblioteca digital de LIJ no Brasil.

O gosto pela leitura começa em casa, com os pais lendo para os filhos. “Trabalhamos com a formação dos adultos, pois eles são os mediadores para as novas gerações”, diz ela, relacionando alguns projetos em andamento: • Com o Ministério da Cultura promove o Programa Nacional de Formação de Agentes de Leitura, dirigido a jovens de 18 a 28 anos. A Cátedra forma os supervisores, os multiplicadores e prepara o material pedagógico;

• Para o Ministério da Educação analisa o Prêmio Viva Leitura, que já reuniu 10 mil projetos de leitura no País. Faz mapeamento da leitura no Brasil: quem faz o que, onde e como, com que recursos. Resultados estarão disponíveis para todos. • Fórum e chats na Internet para as comunidades inscritas e organizadas enquanto rede de pesquisadores e promotores de leitura. A equipe da Cátedra Unesco PUC-Rio de Leitura oferece seu assessoramento para um novo modo de ler e, consequentemente, de pensar, refletir sobre si mesmo e a vida. “O que a Cátedra busca é registrar o conhecimento que se produz mundo a fora por equipes diversas, além da nossa, que se constituem parceiras deste trabalho no qual se busca fomentar uma autonomia possível de mediadores e gestores em um programa permanente de incentivo à leitura, como hoje preconiza o PNLL – Plano Nacional do Livro, da Leitura e da Literatura. Para nós não interessa a cereja sobre o chantilly do bolo; o que nos interessa é o fermento na massa,” diz Eliana Yunes.

53


SUCURUÁ

Ensai o PLURALE

54>

Reserva Biológica do Atol das Rocas (RN)

CARCARÁ

54 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


Além da beleza das aves

Q

CABURÉ

uem nunca se admirou com o céu estrelado? Percebeu a beleza, a arte e o mistério profundo da criação ao olhar a Via Láctea, ou mesmo ao observar um pequenino pássaro pousado num galho a tomar banho de sol? Sentimentos e (in) compreensões que se descortinam diante de todos e talvez unam a humanidade de uma forma atemporal e infinita. Tornar-se um astrônomo ou um observador de pássaros é apenas um detalhe, uma curiosidade e um desejo de caminhar por estrelas e asas que aos poucos se tornam familiares como um tico-tico ou o Cruzeiro do Sul. Além da beleza das aves, o que me comove quando estou a fotografar esses seres alados é a independência e a confiança que esses bichinhos aparentemente frágeis possuem. Capazes de voar quilômetros para chegar a um refúgio selvagem no momento em que uma semente está madura. Convivem com os homens nas cidades, nas lagoas, nas praias, nos campos e florestas. Também podem estar em penhascos inacessíveis ou passear nas praças mais movimentadas. Arquitetos e construtores biológicos fazem casas com galhos, folhas, barro; pendurados, apoiados, escondidos ou bem à vista. Ninho que resiste a chuva, vento, sol, frio e calor. Deus (o acaso, o tempo, ou seja lá quem for) estava feliz quando se expressou em passarinhos. Deu a eles tudo, muita comida espalhada pela natureza, um bom casaco para os dias de frio, e os dons de cantar e voar.

BEIJA-FLOR

Já sonhou que estava voando? Voando de verdade, com a leveza e agilidade dos pássaros, sensação maravilhosa que nossos sonhos podem produzir. Pena que ao acordar estejamos com os pés atados ao chão. Podemos até voar em um avião, num helicóptero, num foguete, ou num balão, mas não é a mesma coisa do que voar como os pássaros ou em sonhos. Os mais audazes realizam o sonho de Ícaro em suas asas ou parapentes, mas um simples urubu humilha qualquer campeão de voo livre. Uma das primeiras sensações quando se abre os olhos para o mundo alado é de que os passarinhos são muitos e “como eu nunca tinha notado?” Mesmo em cidades grandes como o Rio de Janeiro existem mais de uma centena de espécies. Como pode alguém que ama os pássaros conviver com gaiolas? Sim é bonito o canto de um coleirinho, ou de um canarinho, e se eles cantam dentro de gaiolas, imagine quando estão livres. Para ter esses exímios cantores por perto não é preciso gaiolas,

55


SAÍ ANDORINHA

basta uma árvore, um bosque, um canto de natureza. Bando de sanhaços circulam junto com micos e outros pássaros pelas árvores e fios do Leblon. Amanhece o dia e uma sinfonia para quem tem ouvidos. No entardecer do verão as cigarras também trazem alegria. Gaivotas, e biguás voam para lá e para cá em linha, em forma de V, em dezenas ou apenas alguns. Martins-pescadores, garças e socós frequentam as lagoas, os canais e rios apesar de tudo que fazemos com nossas águas. Trazem beleza, inspiração e esperança esses bichos. E o que os olhos procuram? E durante um tempo grande o número de espécies que se observa vai sempre aumentando. Claro, existe um limite, e de repente fica mais difícil encontrar uma novidade, mas sempre existe uma foto diferente, um hábito, uma relação com a natureza que se apreende. E aí você já pode antecipar que os saí-andorinhas vão chegar quando as sementes da canela estiverem maduras. Que os pistacídeos vão fazer algazarra quando o pinhão estiver no ponto. E mesmo que você não esteja enxergando o tucano, ele está por aí, pois você

56 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

56>

reconhece o cráaaa-cráaaa tão típico desta família. Ou um uru que canta ao entardecer, ou uma saracura que “gemepia” tão diferente. E quanto mais se observa, mais se conhece, mais intimidade se ganha com este mundo maravilhoso que nos cerca e insiste em sobreviver mesmo com tanta devastação. E quando as novidades rareiam, muda-se de bioma e aí começa tudo de novo. Muitas espécies novas se apresentam para quem deixa a Mata Atlântica e vai para o Cerrado. Uma ema desengonçada e engraçada corre na Chapada dos Veadeiros, que bicho lindo! Um dia sem mais nem menos um falcão peregrino cruza o seu olhar, e você não estava com a máquina para fotografar, quem vai acreditar? Uma hárpia se deixa observar por minutos e a sua câmera está sem bateria... Não houve registros, mas o seu ser entrou em contato com aquele pássaro tão belo e independente. Esta sensação vale mais do que a foto, do que os prêmios e exposições. E quando você quiser lembrar, basta fechar os olhos e olhar para dentro, lá estarão os pássaros, os voos, as constelações e estrelas cadentes, os mistérios da criação dentro do seu coração.


GUAXE

CANARINHO

57> FOTOS E TEXTO:

SÉRGIO

LUTZ

PLURALE EM REVISTA DA SERRA DA BOCAINA (NA DIVISA DO RJ E SP) 57


P elo UE: novas regras para metas ousadas e necessárias TEXTO: [VIVIAN SIMONATO], CORRESPONDENTE DE PLURALE EM REVISTA, DE DUBLIN (IRLANDA) - FOTO: [PEDRO FREIRIA]

O

biocombustível para o mercado europeu terá de ser sustentável e certificado. Os Estados-Membros chegaram a um acordo sobre a meta global da União Europeia, em utilizar 10% de energias renováveis no setor dos transportes para 2020, dos quais 6 a 9% devem vir dos biocombustíveis. Em outras palavras, somente os que cumprirem critérios especiais de certificação contarão para atingir as metas nacionais, o que deve refletir nas exigências aos fornecedores. Segundo dados da União Europeia de 2007, cerca de 30% do biodiesel utilizado é proveniente de importações, sendo que a maioria do abastecimento vem dos Estados Unidos e Brasil. A iniciativa surgiu do medo de ativistas de que países (principalmente em desenvolvimento) cortem as florestas para suprir as indústrias e, consequentemente, o lucrativo mercado de energias renováveis da União Europeia, sacrificando comunidades e natureza locais. A União Europeia não certificará biocombustíveis provenientes de florestas convertidas em plantações, zonas úmidas ou de proteção da natureza. Os membros do grupo até podem utilizar os produtos sem a certificação, mas não serão contados nos esforços do país para atingir as metas individuais estabelecidas, que são ousadas. Cada país do bloco tem sua cota nacional definida de acordo com o impacto que causavam em 2005. O desafio da Irlanda é grande, já que a utilização nacional de energias renováveis deverá ser de 16%. Somente para os biocombustíveis, no setor dos transportes (2008), a Irlanda usa 1,6% de biocombustíveis, ligeiramente abaixo da média global da UE, que é de 3,4%. A Alemanha está na liderança com 6%, seguida pela França (5,7%), Áustria (5,5%) e Suécia (5%).

A certificação também propõe que só os biocombustíveis com rendimentos elevados e alta eficiência podem contar e estabelece como isso é calculado. O novo regime aplica-se a todos os biocombustíveis, do próprio país e importados. Segundo Günther Oettinger, Comissário responsável pela Energia, “nos próximos anos, os biocombustíveis são a principal alternativa para a gasolina e gasóleo utilizados nos transportes, que produz mais de 20% das emissões de gases de efeito estufa na União Europeia. Temos que garantir que os biocombustíveis utilizados também provenham de fontes sustentáveis. Nosso sistema de certificação é o mais rigoroso do mundo e garantir que nossos biocombustíveis satisfaçam os mais elevados padrões ambientais terá efeitos positivos também em outras regiões, pois abrange os biocombustíveis importados.”

Arte e sustentabilidade

O

CARLOS FRANCO, EDITOR DE PLURALE

vazamento de petróleo no Golfo do México, que a poderosa BP ainda procura conter totalmente o avanço, naquela que se transformou na maior tragédia ambiental dos Estados Unidos na última década, inspira campanhas de protestos e também manifestações de arte. A mostra “Crude Awakening” do TEXTO: [GILBERTO COSTA, REPÓRTERfotógrafo americano Jane Fulton Alt, DA AGÊNCIA BRASIL,DE BRASÍLIA nascido em Chicago em 1951 e uma das FOTOS: JOSÉ CRUZ, DA ABR principais referências da fotografia con-

Maio/Junho 2010 2010 58 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto

temporânea, é um bom exemplo. O fotógrafo que fez uma mostra sobre o desastre provocado pelo furacão Katrina em New Orleans, agora lança o olhar sobre o acidente do Golfo do México que derramou petróleo nas águas desde abril, com previsão de que apenas no final deste ano de 2010 o problema esteja completamente solucionado. Alt coloriu com óleo (na verdade maquiagem) pessoas, para revelar um olhar de arte sobre a tragédia.


Genéricos belgas

TEXTO: [IVNA MALULY], CORRESPONDENTE DE PLURALE, DE BRUXELAS (BÉLGICA)

S

etenta e cinco por cento dos belgas estimam que os medicamentos genéricos são um método eficaz de controlar o orçamento de seus gastos com a saúde. A metade dos belgas utiliza regularmente medicamentos genéricos e logo que estão em consultas médicas pedem receitas de medicamentos genéricos. E quando estão na farmácia, fazem a mesma coisa, de acordo com uma recente pesquisa do escritório de estudo iVOX. Para cada cinco belgas, quatro belgas conhecem a diferença entre os medicamentos genéricos e os medicamentos patenteados. Mas de acordo com o manager da Ivox, Steven Deketelaere, contatou-se que 50% dos entrevistados não deram uma boa justificativa no que se trata de definir o produto”. Para a metade dos entrevistados, um medicamento barato é exclusivamente associado a um medicamento genérico. Somente 16% sabem que muitos remédios incluindo os patenteados tiveram uma diminuição nos preços. Para cada dez belgas, sete estão atentos a durabilidade do atual modelo da saúde. E para cada dez belgas, oito (77%) estão muito satisfeitos. Para manter um equilíbrio financeiro, 76% dos entrevistados estão dispostos a mudar de remédio. (*) Com agências belgas.

Mesquita verde COLABORAÇÃO DE RITA BASTOS, DE LONDRES

N

a Inglaterra, começa a ser projetada em Cambridge a primeira mesquita muçulmana amiga da ecologia (eco-friendly) criada pela designer Marks Barfield, que prevê um investimento de 13 milhões de libras esterlinas. A mesquita terá capacidade para mil pessoas e terá também um café e uma área de ensino acoplada, alem de salas disponíveis para reuniões. Inspirada nos “Jardins do Paraíso (Éden)”, a obra terá telhado verde e toda a infra-estrutura ecológica, com uso de energia solar e espaços refrigerados, aproveitando a temperatura externa. A designer disse em entrevista para a especializada Greenprophet, de Londres, que a “civilização islâmica foi baseada na rejeição de resíduos como uma subestimação da benção de Deus e assim a construção da mesquita nos mostra que estávamos muito à frente do movimento ambiental local, com uma pegada de carbono quase zero “. A fé realmente é capaz de mover montanhas.

59


Business

2010

60 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


Estante OÁSIS AZUL DO

MÉIER

ALTAMIR TOJAL

Editora

OÁSIS AZUL DO MÉIER Altamir Tojal, Editora Calibán, 104 págs, R$ 20,00

Oásis azul do Méier, de Altamir Tojal, é uma coleção de oito contos, com diversidade de temas, ritmos, vozes e construções narrativas. Em comum, há o encontro do insólito com o trivial e, também, a paisagem da cidade do Rio de Janeiro. O livro, com o selo da Editora Calibán, é o segundo do autor, que estreou com o romance Faz que não vê (Editora Garamond, 2006). O escritor Alberto Mussa assina a apresentação e destaca que o livro é um dos melhores do gênero que surgiram no país nos últimos tempos. “O conto-título, inclusive, é uma obra-prima que certamente marcará presença em antologias futuras”. Segundo Mussa, o autor conhece bem o fundamento do conto: “o conflito se define logo nas primeiras linhas – geralmente uma situação absurda ou inusitada que contrasta com o caráter trivial das personagens – e nos prende a atenção até a surpresa do desfecho”.

FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO Norma Sueli Padilha,Editora CampusElsevier, 448 págs, R$ 85,00 O selo Jurídico da editora Campus-Elsevier está lançando o livro Fundamentos Constitucionais do Direito Ambiental Brasileiro, uma obra que apresenta aos leitores uma visão geral e simplificada dos fundamentos constitucionais que dão base para a construção das leis ambientais nacionais. O livro é fruto de uma profunda reflexão da autora Norma Sueli Padilha, como pesquisadora, professora e militante no campo do Direito Ambiental. De acordo com a autora, a intenção do título é denotar a importância deste novo e crescente ramo da ciência jurídica, o direito Constitucional Ambiental, destacando seu papel primordial na imposição de limites éticos e jurídicos na atuação e interferência humana no meio ambiente, seja ele natural ou artificial. Entre os assuntos tratados por Padilha está a Constituição Federal de 1988, um importante marco jurídico para o alcance de uma gestão ambiental sustentável, pois incorporou as bases primordiais da sustentabilidade ambiental.

O PLANETA ESTÁ COM FEBRE Luciana Rosa, Zit Editora, 32 págs, R$ 19,90 Um certo dia o planeta Terra acordou sentindo-se mal, com o nariz entupido, dores pelo corpo e febre muito alta. Resolveu ir ao médico e descobriu que estava doente. Terra recebeu o diagnóstico de Aquecimento Global. Ele ficou triste, porém encontrou uma forma muito especial de reverter essa situação. Ele precisaria ensinar as pessoas a viver com amor. Somente um sentimento tão nobre seria capaz de gerar uma mudança de comportamento e resgatar o espírito de coletividade. Para isso, é claro, ele contou com a ajuda de crianças do mundo inteiro que se comprometeram a melhorar a saúde do querido planetinha. Assim começa a obra O Planeta está com febre, escrita por Luciana Rosa, ilustrada por Salmo Dansa. O prefácio é assinado pelo ex-ministro do Meio Ambiente, o deputado Carlos Minc. Ao comparar o Aquecimento Global com a febre, a autora cria um elo com a vida cotidiana das crianças aproximando as práticas de preservação ambiental da realidade delas, o que facilita a aprendizagem.

CORPO ANÁLISE, SOMA E PSYCHÊ CONSTRUINDO UMA RELAÇÃO EQUILIBRADA Gerry Maretzki, Editora Senac Nacional, 173 págs, R$ 35,00 A Corpo Análise é uma proposta de trabalho que ensina as pessoas a conhecer as informações do corpo somático, a saber “ouvi- lo” e, assim, poder administrá-lo. Não se resume apenas a técnicas, conceitos e verdades científicas. Contribui para a conquista de um estado de consciência integral, onde os aspectos físicos, emocionais, psicológicos e espirituais se fortalecem, enquanto parte de um todo interligado e interdependente. Conceitos como estes estão no livro CORPO ANÁLISE – Soma e psychê construindo uma relação equilibrada, recentemente lançado pelo Senac Nacional. A autora, Gerry Maretzki, é bailarina, coreógrafa e professora. Nascida em Berlim, na Alemanha, mas naturalizada brasileira, integrou o corpo de baile do Teatro Municipal de São Paulo, descobriu a dança contemporânea com Alvin Nikolais, em Nova York, e, em 1980 criou a Corpo-Análise. Atualmente mora em Arraial da Ajuda(BA).

61


PPELAS elas EMPRESAS ISABELLA ARARIPE

TIM LANÇA RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE A TIM acaba de lançar o Relatório de Sustentabilidade referente ao ano de 2009, elaborado sob as diretrizes do Global Reporting Iniciative (GRI) e verificado pela Ernst&Young. O

COCA-COLA: CAMPANHA SEMANA OTIMISMO QUE TRANSFORMA CRESCE A Semana Otimismo que Transforma, ação promovida pela Coca-Cola Brasil e seus fabricantes na 1ª semana de maio, e que reverte parte das vendas de todos os seus produtos aos projetos de educação e meio ambiente do Instituto Coca-Cola Brasil, arrecadou R$ 5,8 milhões este ano - montante 16% superior ao da edição do ano passado. Na foto, o vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da CocaCola Brasil, Marco Simões e a atriz Isabel Fillardis, da ONG Doe seu lixo.

62 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010

documento está disponível no site de Relações com Investidores (www. tim.com.br/ri) e destaca iniciativas que demonstram o compromisso da operadora com a sociedade e que levaram a sua inclusão no Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa pela segundo ano consecutivo. O relatório também traz os compromissos assumidos pela TIM para 2010. Este ano, a operadora pretende aumentar o percentual de reciclagem de resíduos gerados nos escritórios, reduzir o consumo de água e energia elétrica em suas unidades, avaliar mais fornecedores em questões relativas à sustentabilidade, aumentar o número de horas de treinamento de seus colaboradores, dentre outras metas. No ano passado, a empresa se reposicionou no mercado, mas manteve seu foco em uma gestão sustentável. Os novos planos lançados contribuíram para facilitar o acesso e a universalização do serviço de telefonia móvel no país e a rede da TIM chegou a 188 municípios brasileiros onde ainda não havia nenhuma cobertura de Serviço Móvel Pessoal. A operadora também passou a oferecer aos seus clientes uma linha de aparelhos de baixo impacto ambiental, ampliou a quantidade de celulares, acessórios, pilhas e baterias portáteis recolhidos em seus postos de coleta para reciclagem, utilizou sua tecnologia em campanhas de interesse público, trabalhou no desenvolvimento das sete Orquestras Brasileiras do projeto TIM Música nas Escolas (foto), além de diversas outras ações que reforçam o objetivo da TIM de conciliar suas operações com o desenvolvimento sustentável.

LOJA VIRTUAL DE SUSTENTABILIDADE DO BB O Banco do Brasil lançou em julho a Loja da Sustentabilidade para a comercialização de produtos das comunidades atendidas pela sua estratégia negocial Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS). O acesso à loja é feito por meio do link www.bb.com.br/lojadasustentabilidade e a compra é efetuada pela troca de pontos acumulados pelas transações efetivadas com o cartão Ourocard. Nesta primeira fase, os produtos colocados à disposição são os confecionados pelas comunidades Artesanato do Seridó, comunidade de bordadeiras do interior do Rio Grande do Norte; Coop Couro, cooperativa de Presidente Prudente, interior paulista; Dom & Arte, núcleo cooperativo de bonecas de pano de Dom Aquino, no Mato Grosso; e Futurarte, cooperativa de artesãos de Betim, em Minas Gerais.


ESTE ESPAÇO É DESTINADO A NOTÍCIAS DE EMPRESAS. ENVIE NOTÍCIAS E FOTOS PARA ISABELLA.ARARIPE@PLURALE.COM.BR

UNIMED-RIO PATROCINA FORMATURA DE JOVENS Em julho, uma formatura especial movimentou a Ilha da Gigóia (Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio): 42 jovens e crianças receberam seus diplomas após concluírem as atividades do Núcleo de Educação Digital (NED) do Projeto Arredores, iniciativa desenvolvida pela Unimed-Rio em parceria com a ONG Terrazul. Os diplomas dos formandos foram entregues por Conca, craque do Fluminense. O Projeto Arredores desenvolve atividades ligadas à educação, capacitação profissional e preservação do meio ambiente, beneficiando os moradores de área próxima à sede da cooperativa na Barra da Tijuca. Desde 2006, o Núcleo de Educação Digital já formou 390 alunos em cursos de informática, edição de imagem, edição de vídeo e montagem e manutenção de equipamentos.

VALE: RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS NA REGIÃO AMAZÔNICA

A Vale está fazendo experimentos utilizando a associação entre certos fungos do solo e raízes de plantas nativas da região Amazônica, com o objetivo de utilizá-los no processo de recuperação de áreas que foram utilizadas pela mineração. Com esta tecnologia, plantas associadas a esses fungos poderão diminuir o tempo no processo de reabilitação de áreas degradadas. Com isso, estima-se um aumento na produção de mudas de espécies nativas, que serão utilizadas na revegetação de áreas do projeto Onça Puma, no município paraense de Ourilândia do Norte. A expectativa é que sejam revegetados, aproximadamente, 720 hectares. Essa técnica contribui para o crescimento e sobrevivência das plantas, por meio do incremento significativo da absorção de água e nutrientes. Além disso, a tecnologia possibilitará uma melhoria da estruturação do solo, contribuindo para o estabelecimento e desenvolvimento das plantas, mesmo em solos com baixos teores de nutrientes, como os que ocorrem em algumas áreas localizadas na região Norte. O experimento é baseado em vários estudos realizados pela Universidade Federal de Pernambuco, que utiliza fungos em mudas de diversas espécies típicas da região de Mata Atlântica. A equipe de meio ambiente da Vale está testando essa metodologia para avaliar a viabilidade da técnica com espécies da Floresta Amazônica.

PROGRAMA PETROBRAS AMBIENTAL: INSCRIÇÕES ABERTAS Estão abertas até 27 de agosto as inscrições para a Seleção Pública de Projetos 2010 do Programa Petrobras Ambiental (PPA). A seleção, que acontece a cada dois anos, faz parte de uma das ações estratégicas do Programa Petrobras Ambiental, que incluem ainda fortalecimento das organizações ambientais e suas redes e disseminação de informações sobre o desenvolvimento sustentável. Para esta seleção, serão destinados R$ 78 milhões. Os projetos devem ter como foco principal a gestão de corpos hídricos superficiais e subterrâneos; a recuperação ou conservação de espécies e ambientes costeiros, marinhos e de água doce; e a fixação de carbono e emissões evitadas. Todas as iniciativas devem promover educação ambiental, visando o consumo consciente, a eficiência energética e a conservação de recursos naturais. Serão aceitas inscrições de projetos sob a responsabilidade de pessoas jurídicas sem fins lucrativos, com atuação no Terceiro Setor, como associações, fundações, ONGs, Oscips e demais organizações sociais. Podem ser inscritos projetos que solicitem patrocínio no valor de até R$ 3,6 milhões e que sejam executados entre 18 e 24 meses. Mais detalhes: www.petrobras.com.br/ppa2010

63


64 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010


CARBONO NEUTRO

SÔNIA ARARIPE

s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r

RAIO X DO LIXO

FAÇA SUA PARTE

Um recente estudo, encomendado à PricewaterhouseCoopers pelo SELUR (Sindicado das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo) e a ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Urbana) traz dados mais do que relevantes ao debate. Intitulado “Gestão da Limpeza Urbana - Investimento para o futuro das cidades”, o trabalho foi realizado ao longo do ano passado e mapeou os mecanismos, estruturas e modelos dos serviços de limpeza pública em 14 capitais - 8 estrangeiras e 6 brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e Goiânia. O objetivo foi verificar como é o manejo de resíduos e a gestão empregada e, a partir dos modelos existentes, inspirarem governantes a planejar o gerenciamento dos resíduos em suas cidades. resultados - De acordo com os dados coletados, as cidades brasileiras analisadas

ainda têm muitos pontos a melhorar na gestão do lixo, quando se compara à realidade das capitais estrangeiras que foram objeto do estudo, como, por exemplo, Londres, Tóquio e Paris. Também fica claro no estudo que as boas iniciativas existentes no Brasil ainda são isoladas e os investimentos são insuficientes para resolver a problemática de destinação adequada dos resíduos domésticos. É interessante notar também outro ponto mais do que óbvio: cada um de nós – cidadãos – e as indústrias têm sim um papel decisivo nesta batalha. Vamos arregaçar as mangas enquanto é tempo.

ECOBAG FASHION Uma ideia é deixar sempre a mão uma ecobag bem prática. Há várias no mercado, algumas bem práticas, que podem ser dobradas e ficar tão pequenas quanto um celular. Uma marca muito famosa lá fora chegou ao Brasil, a Envirosax. Nascida na Austrália, em 2004, a sacola fashion é feita de poliéster e o casal proprietário se compromete a participar do comércio ético e justo. É produzida na China e pode ser encontrada em uma infinidade de modelos e cores. Pode substituir ao longo de sua vida útil cerca de 6 mil sacolas plásticas. Mais informações no site www.envirosax.com

Você faz coleta seletiva? Ajuda a reciclar o material eletrônico? Recolhe o óleo usado? Há várias boas ações de empresas, ONGs, governos e pessoas físicas que estão apenas aguardando o seu engajamento.

PAMPA AMEAÇADO De acordo com dados divulgados recentemente pelo Ministério do Meio Ambiente, o bioma Pampa, que ocupa a maior parte do Rio Grande do Sul, já perdeu quase 54% da vegetação original. De acordo com o levantamento, entre 2002 e 2008, 2.183 quilômetros quadrados (km²) de cobertura nativa foram derrubados. No total, o bioma já perdeu mais de 95 mil km² da vegetação original.

PARQUES AFRICANOS NÃO CONSEGUEM PROTEGER MAMÍFEROS

FABIANO ÁVILA, DO CARBONOBRASIL (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Segundo um estudo da Universidade de Cambridge, a rede de parques nacionais no continente africano não está sendo eficiente para evitar a queda na população dos grandes mamíferos. O número de zebras, búfalos e leões, por exemplo, teve uma redução em média de 59% desde 1970. Os pesquisadores afirmam que essa queda se deve à falta de recursos para policiar e manter os parques. Mas ainda assim, reconhecem nos parques uma boa maneira de proteger os animais e ainda gerar renda para a população local. “Apesar dos parques não estarem mantendo a população desses mamíferos, a situação fora deles é muito pior. Muitas espécies, como os rinocerontes, estão praticamente extintas fora dos parques”, disse Ian Cragie, líder do estudo.

65


ImageM PLURALE

Arte de Oscar Araripe

F

lores costumam marcar datas festivas, amores e viagens. Para o premiado pintor Oscar Araripe, é tudo isso é muito mais. Carioca, radicado há anos na histórica Tiradentes (MG), ele conta que aprendeu a dar suas primeiras pinceladas soltando pipa no subúrbio do Encantado (Zona Norte carioca), em meio às bolas-de-gude, festas de São João e muita alegria. Telas como esta acima – que mistura flores e o casario de Tiradentes – estarão expostas na Galeria Manuel Bandeira, da Academia Brasileira de Letras, de 1º de setembro até 8 de outubro. Um programa imperdível. Como destaca Alexei Bueno, curador da exposição, “as flores dos quadros de Oscar são como borboletas, as suas pétalas são asas, e não sabemos se as flores são borboletas pousadas nos caules ou se as borboletas são flores que passaram a voar.”

66 PLURALE EM REVISTA | Julho/Agosto 2010




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.