AÇÃO | CIDADANIA | AMBIENTE
ano três | nº 22 | março/abril 2011 | R$ 10,00
ENTREVISTA:
ÁGUA E DESENVOLVIMENTO ARTIGOS INÉDITOS
AQUÍFERO GUARANI, GRANDE ESPONJA SUBTERRÂNEA
Especial ÁGUA
FOTO DE JOSÉ PAIVA, RESERVA NATURAL SERRA DO TOMBADOR (GO), PROTEGIDA PELA FUNDAÇÃO GRUPO O BOTICÁRIO - ACERVO
www.plurale.com.br
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Conte xto
8.
ENTREVISTA:
16.
Acervo Fundação Grupo Boticário
PROFESSOR ENÉAS SALATI SOBRE A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA PARA O DESENVOLVIMENTO
ARTIGOS
37. BAZAR
30.
ÉTICO
MANANCIAL
SUBTERRÂNEO
PELO BRASIL
CINEMA VERDE
41 VIDA SAUDÁVEL
48 PELO MUNDO
56 4
Aline Gatto Boueri, de Buenos Aires
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PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2011
58.
ÁGUA POLUÍDA
Editorial
Planeta Água Sônia Araripe e Carlos Franco, Editores de Plurale em revista
N
em mesmo as fantásticas histórias de Júlio Verne ou outros escritores poderiam prever que ondas gigantes iriam engolir regiões inteiras, arrastando tudo o que encontrassem pela frente, matando milhares de pessoas. Muito menos que a força da água das chuvas tivesse a velocidade de um avião a jato e também devastassem. Nunca a fúria da natureza se fez tão forte. Os recentes episódios no Japão e em diferentes regiões do Brasil, como no Estado do Rio de Janeiro e no Paraná, evidenciam que não passará incólume a ação do homem por este planeta. Esta edição é dedicada a este debate. A água, que desempenha papel tão relevante em todas as etapas da vida, não é mais um insumo, como se imaginava, infinito. Nem pacífico. Muitos ainda morrem de sede em diferentes pontos da Terra e este número irá ser ampliado daqui para a frente com as mudanças climáticas aceleradas. Entrevistamos o Professor Enéas Salati, um dos maiores especialistas no tema, para mostrar que há uma forte correlação entre a água, o desenvolvimento e as mudanças climáticas. Apesar do alerta, Salati sinaliza que o Brasil pode tirar proveito da situação vantajosa por deter preciosas reservas de água doce. Nícia Ribas e Romildo Guerrante nos apresentam a imensidão subterrânea da água profunda, dos aquíferos. Do
Ceará, Flamínio Araripe mostra o papel crucial dos açudes no sertão, enquanto, do extremo Sul, Marisa Pereira relata o esforço de fábricas para devolver água limpa à natureza. Como resultado de recente viagem aos Lagos Andinos, Luciana Tancredo nos descortina a imensidão e o colorido da Patagônia. Também da Argentina, a correspondente de Plurale, a jovem Aline Gatto Boueri navegou pelas águas poluídas do Riachuelo e conta o que viu por lá. Wilberto Lima Jr., correspondente nos Estados Unidos relata como o debate nuclear esquentou, enquanto Mônica Pinho e Vivan Simonato trazem novidades da Austrália e Irlanda. Artigos inéditos de vários especialistas ajudam a completar com maestria esta edição temática. Trazemos ainda matérias sobre o lixo nos mares e também o impacto do derretimento dos mantos de gelo na Antártida e na Groenlândia. Sugerimos ainda dicas de como poupar água, de vida saudável e cases de empresas na reutilização e economia. Sem falar na sempre estreita parceria com os designers gráficos Marcos Gomes e Marcelo Tristão, que tão bem interpretam nossos sonhos e ajudam a torná-los realidade na forma de cada nova edição. O objetivo de toda equipe Plurale é ajudar na reflexão sobre um tema decisivo. Na próxima vez que beber um copo de água, lembre-se disso. Boa leitura!
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Quem faz Diretores Carlos Franco carlosfranco@plurale.com.br Sônia Araripe soniaararipe@plurale.com.br Plurale em site: www.plurale.com.br Plurale em site no twitter: http://twitter.com/pluraleemsite Comercial comercial@plurale.com.br Arte SeeDesign Marcos Gomes e Marcelo Tristão Fotografia Luciana Tancredo, Cacalos Garrastazu, Agência Brasil e Maradentro Colaboradores nacionais Ana Cecília Vidaurre, Geraldo Samor, Isabel Capaverde, Isabella Araripe (estagiária), Nícia Ribas, Paulo Lima e Sérgio Lutz Colaboradores internacionais Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Ivna Maluly (Bruxelas), Vivian Simonato (Dublin), Wilberto Lima Jr.(Boston) Colaboraram nesta edição Claudia Siebert, Ernesto Cavasin, Flavia Takeuchi, Flamínio Araripe, Gilmar Gomes, Graciane Furini, Helio Mattar, Heloísa Garcia da Mota, Ingo Wahnfried, Ismar Ingber, Jéssica Lipinski, Jetro Menezes, Leonardo Costa, Lília Gianotti, Malu Nunes, Marco Simões, Marisa Beatriz Pereira, Mônica Pinho, Newton Medeiros, Pedro Freiria e Romildo Guerrante. Plurale é a uma publicação da SA Comunicação Ltda (CNPJ 04980792/0001-69) em parceria com a Editora Olympia (CNPJ 07.596.982/0001-75) Impressão: WalPrint Revista impressa em papel reciclado Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 São Paulo | Alameda Barros, 122/152 CEP 01232-000 | Tel.: 0xx11-9231 0947 Os artigos só poderão ser reproduzidos com autorização dos editores © Copyright Plurale em Revista
Cartas p l u r a l e @ p l u r a l e . c o m . b r Plurale em revista, Edição 21 “Acuso e agradeço a gentileza da remessa de exemplar da Edição 21 de Plurale em revista e felicito esta empresa pela qualidade da publicação” Maurício Azêdo, Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Rio de Janeiro “Plurale em revista é uma publicação indispensável e feita com muita sensibilidade e competência. Os textos são estimulantes para a conscientização da importância da sustentabilidade do nosso planeta. Tanto no nível empresarial como no pessoal. Parabéns à toda a equipe!” Claudia Fialho, Diretora de Relações Públicas do Copacabana Palace “Parabéns para a jovem Isabella Araripe que fez a entrevista com o blogueiro, adolescente, fenômeno do Morro do Alemão. Interessantíssima a matéria sobre a “semente do bem, capaz de fazer a diferença”. Sou antigo e gosto de ler papel. Assim, cada número da revista impressa é um regalo para mim: este último especialmente pela matéria sobre Mauá, que é uma das preferências minhas desde muito jovem, e Fragária, que eu não conheço, pensando que já conhecia tudo do nosso estado. Gostei muito do artigo do Marcus Quintella sobre o “sofrimento” do “João da Silva” no transporte público do Rio, realmente a maior calamidade desta nossa bela cidade. Adorei também a homenagem aos poetas na seção “Frases” e a reportagem sobre Isla Negra, a morada de Neruda. Enfim, obrigado pelo deleite. Parabéns à toda a equipe mais uma vez.” Roberto Saturnino Braga, escritor e ex-senador, Rio de Janeiro
intermediado com o refresco de ecoturismo.” Lia Lombardi, Assessora de Imprensa do CEBDS, Rio de Janeiro Recebi as revistas (edição 21), com a reportagem especial sobre Ecoturismo em Visconde de Mauá. Muitíssimo grata! Ficou lindo. Vou aumentar e enquadrar a imagem. Toda a revista esta excelente, cada vez melhor, parabéns! Muita luz!” Kashi Dhy, chefe de cozinha vegana, Visconde de Mauá, RJ “Parabéns à equipe da PLURALE por este belo e sustentável projeto. Abraço” Noemia Eggers, técnica em Meio Ambiente, Teutônia (RS) “Que delícia de edição. Parabéns!” Soraya Pereira, da Assessoria de Imprensa da Embrapa Agroindústria, Rio de Janeiro “Lindo! Adoramos a Edição 21 de Plurale em revista não só por causa de nossa reportagem na seção Bazar Ético, que ficou maravilhosa, mas porque a publicação é toda interessante, com ótimas reportagens de assuntos muito bons para ler. Nossos parceiros também gostaram muito. Gostamos de verdade. Muito obrigada e muito boa sorte neste trabalho de divulgação e conscientização da preservação do meio ambiente. Histórias lindas! Obrigada em nome de toda a nosssa equipe” Geni Theobald, fundadora e presidente da Coopermesa, Toledo (PR) Minhocasa “Acusamos o recebimento dos exemplares da Revista : Plurale, edição 20. Agradecemos imensamente a divulgação do nosso trabalho pelo jornalista Romildo Guerrante. Abraço fraterno.” Equipe Minhocasa, Brasília (DF)
“Que bela surpresa ver a filha da querida Sônia Araripe, Isabella, dando os primeiros passos em sua promissora carreira, com a entrevista do blogueiro Rene Silva dos Santos. Aliás, que garoto bacana! Outra matéria com a qual me deliciei, pelo tema e pelo autor, foi sobre Isla Negra, antológico refúgio de Pablo Neruda, assinada por Romildo Guerrante. Sou fá dos dois: de Neruda e do Romildo. Por isso, essa edição da Plurale teve um gostinho tão especial.” Ticiana Azevedo, jornalista, sócia da Prima Press, Rio de Janeiro
Plurale em site
“A entrevista de Isabella Araripe com Rene Silva dos Santos está ótima: o abre, as perguntas, a pauta. Isabella está de parabéns. Plurale tem uma excelente colaboradora. Estou curioso para acompanhar as próximas matérias dela. Aliás, toda a edição 21 está bárbara. Leio na internet, mas gosto muito também de ver a versão impressa. Nada como o papel.” Paulo Lima, jornalista e escritor, Editor de Balaio de Notícias, Aracaju (SE)
“Elis, achei o seu relatório muito importante em se tratar de mencionar de fato bem claro e realista o que vem acontecendo em Bom Jesus de Itabapoana. Moro em Guaçuí, Espírito Santo, bem próximo a Bom Jesus, e aqui a situação não foi muito diferente. Foi um caos, de fato. As estatísticas foram alarmantes. E eu mesma sofri na pele os efeitos da dengue e tenho sequelas até hoje. Nossos governantes deveriam investir, de fato, na prevenção.” Alba Regina Soares, Guaçuí, Espírito Santo
“Parabéns. A revista está com ótima seleção de pautas, registros importantes como o TEDxRio, reflexão imprescindível sobre as chuvas, ótimo resgate de personagem com o blogueiro do Alemão, tudo
Correção: A meta de economia de água para cada cidadão de Perth (Austrália) é de 60 litros por mês e não por ano como informou a Edição 21, seção Pelo Mundo.
Artigo sobre aumento de casos de dengue em Bom Jesus de Itabapoana, por Elis Monteiro “Elis, gostaria de parabenizá-la e agradecê-la pela publicação. Sua atitude deveria ser seguida pela população, me incluo também. Estamos todos de acordo que devemos cuidar de nossas casas, de nosso quintal, de nossa cidade, portanto, tem que haver respaldo. Temos que fazer e também cobrar o que é de direito.” Pedro Renato, Bom Jesus de Itabapoana, RJ
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Entrevista
Especial Água
Eneas Salati, professor “A falta de água é a principal barreira ao desenvolvimento” Professor, grande especialista em Hidrologia, adverte que as doenças infecciosas, muitas delas relacionadas à qualidade da água, matam duas vezes mais do que câncer, enquanto a falta de água limpa ou saneamento mata 1,7 milhão de pessoas por ano, das quais 90% são crianças
Texto: Sônia Araripe, Editora de Plurale em revista Foto: Divulgação
O
tom de voz é agradável como um professor entusiasmado pelo ensino. Mas não se engane. O senhor com jeito bonachão tem um recado firme e duro para dar sobre a questão da água. O professor Eneas Salati, um dos maiores especialistas em Hidrologia da Amazônia, com vários cargos públicos e acadêmicos, falou à Plurale sobre os desafios para as próximas gerações. Com a experiência de quem estudou durante toda a vida o tema, o professor adverte que o debate sobre este insumo, um dos mais relevantes para a sobrevivência dos homens no Planeta, não passa apenas pela quantidade disponível, mas, principalmente pela distribuição, hoje feita de forma ineficaz e socialmente injusta. Nesta entrevista à Plurale em revista, Eneas Salati alertou que “a falta de água é a principal barreira ao desenvolvimento e um motivo determinante para que tantos pobres do mundo continuem pobres.” Não esperem, no entanto, um pessimista de plantão, aguardando o próximo tsunami ou seca drástica na Amazônia para confirmar a profecia apocalíptica. O professor é, acima de tudo, um otimista de plantão. “Sou otimista e acredito que haja solução pací-
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fica”, garantiu. Frisou o papel de cada um nesta “guerra”, destacando o uso de tecnologia para melhor aproveitar os recursos hídricos e também o consumo consciente, com cada um de nós desempenhando o papel de “gestor” de um recurso tão relevante. A melhor notícia é que o Brasil, como a maior reserva de água doce, com a Bacia Amazônica, tem papel de destaque, destacou. “O Brasil precisa aproveitar as oportunidades – sociais e econômicas – de ser a principal reserva de água doce do mundo, hoje”, afirmou. Agrônomo, especialista em Hidrologia e Ecologia da Amazônia, professor de Física e Meteorologia da USP. Membro do INPE. Foi diretor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, do Instituto de Física e Química de São Carlos (USP) e do Centro de Energia Nuclear na Agricultura - CENA (USP/CNEN). Membro de várias instituições científicas, foi agraciado com a Medalha do Mérito Científico Brasileiro. Confira, a seguir, os principais pontos deste diálogo. Plurale em revista - O mundo vive quase uma “guerra” por água. Mas o senhor defendeu, recentemente em artigo em Plurale em revista, que esta “guerra” pode ser pacífica. Pode mesmo? Eneas Salati - Sou otimista e acredito que haja solução pacífica. Mas nem por isso podemos ignorar o problema ou adiar a tomada de
providências urgentes. Em um mundo extremamente afetado pela falta de cuidado com os recursos naturais e marcado pelo consumo sem limites, a questão da água não passa apenas pela quantidade disponível, mas, principalmente pela distribuição, hoje feita de forma ineficaz e socialmente injusta. Cerca de 70% da Terra é coberta por água, portanto não se pode falar que não há água suficiente no planeta. Mas, deste total 97,5% são salgadas e apenas 2,5% são águas doces, das quais menos de um terço está disponível para o uso humano. Em 2000, o mundo usou duas vezes mais água do que em 1960. E as previsões revelam que este número não parará de crescer. Tais fatores tornam a água o recurso natural mais estratégico para qualquer país do mundo. Dados do IWMI (International Water Management Institute) projetam que em 2025, cerca de 1.8 bilhões de pessoas de diversos países deverão viver em absoluta falta de água, o que equivale a mais de 30% da população mundial. Ainda assim, acredito que seja possível distribuir a água de maneira justa e de acordo com as necessidades de cada comunidade. O que precisamos fazer é mudar a postura diante deste bem natural. Plurale - Água e desenvolvimento estão diretamente interligados. Há solução ou as pessoas dos países menos desenvolvidos vão mesmo morrer de sede? Salati - Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), nos países pobres do Hemisfério Sul, um bilhão de pessoas não dispõe de água potável. E segundo o Instituto Worldwatch, as doenças infecciosas, muitas delas relacionadas à qualidade da água, matam duas vezes mais do que câncer, enquanto a falta de água limpa ou saneamento mata 1,7 milhão de pessoas por ano, das quais 90% são crianças. A falta de água é a principal barreira ao desenvolvimento e um motivo determinante para que tantos pobres do mundo continuem pobres, uma vez que estes têm menos acesso a tecnologia e muitos estão localizados em locais que já sofrem, por questões regionais, com o abastecimento de água, a exemplo da região do Sul do Saara. Mas a humanidade não precisa morrer de sede. Pode e deve repensar as formas de distribuir a água limpa, em recursos que aumentem a eficácias do uso da água na agricultura, na adoção de tecnologia de reciclagem e reuso por parte da indústria, no uso consciente. Em um mundo pós-ONU, há ainda que se contar com a interação entre os países pobres e ricos, que podem ajudar com recursos financeiros e também tecnológicos. Plurale - A questão da água está diretamente ligada ao clima global? Salati - Sim. O aquecimento global implica em um aumento da temperatura do oceano e com as temperaturas elevadas, há também maior evaporação de água, mais energia e, consequentemente, a formação de mais sistemas climáticos extremos como furacões e ciclones, que passam a ser mais fortes e mais frequentes. Essas mudanças no clima atual podem até não modificar exageradamente a quantidade de água, mas certamente impacta na distribuição de chuvas, o que já pode ser observado em várias regiões do mundo, com eventos climáticos extremos experimentados nos últimos anos, inclusive no Brasil. É muito evidente, por exemplo, a concentração de chuvas em um mesmo período, por isso dizemos: choveu hoje em São Paulo o volume da águas previsto para o mês inteiro. Se falarmos especificamente da Amazônia, estudos demonstraram que a floresta não é uma consequência simples do clima. Em anos de observação na região foi possível constatar que o clima e a floresta sofreram uma co-evolução e à medida que a floresta foi se
estabelecendo modelou o clima até chegar ao equilíbrio que existe hoje. O balanço climático atual da Amazônia depende intrinsecamente da floresta. Se a floresta for cortada, o clima daquela região poderá mudar, porque é o bioma existente que define o equilíbrio das condições climáticas e do balanço hídrico. Dados já publicados indicam que em algumas regiões deverá haver um aumento das precipitações, além de uma variabilidade da distribuição anual das chuvas. Para algumas regiões, o período seco ou de estiagem poderá ser ampliado. As áreas mais críticas do ponto de vista do déficit de água são o Nordeste brasileiro, a zona de transição para a Amazônia, que compreende Piauí e Maranhão, e as áreas orientais da Amazônia. Plurale - Como especialista, que avaliação o senhor faz sobre as águas doces no Brasil? Salati - O Brasil é um país abençoado em termos de recursos hídricos. Não há nenhuma região desértica, e mesmo na semi-árida, chove 700 ml de água por ano, o que é uma boa média. O maior problema no nordeste semi-árido é o armazenamento, uma vez que o solo é formado por rochas aflorantes e a água fica presa em suas fendas. Resultado: o solo não armazena água. No Nordeste a precipitação média não é baixa, o que há são períodos de estiagem e cerca de 90% da água desta região é perdida por evapotranspiração. Ainda assim, uma técnica milenar adotada por gregos e romanos pode ser usada para armazenamento de água, hoje feito por meio de cisternas comunitárias. Plurale - O Brasil pode tirar “proveito” da condição de ter uma das maiores reservas de água doce do mundo? Temos um tesouro subestimado? Salati - Exato, o Brasil precisa aproveitar as oportunidades – sociais e econômicas – de ser a principal reserva de água doce do mundo, hoje. Em vários aspectos o tesouro brasileiro é subestimado, uma vez que nossos recursos hídricos também permitem a produção de energia limpa (hoje, 85% da energia usada no Brasil é proveniente de hidroelétrica), que pode ser comercializada para outros países e o pode facilitar uma produção muito maior de alimentos, para consumo interno e exportação. O Brasil é um país privilegiado com uma descarga de 5,67 X 1012 metros cúbicos de água por ano. Aqui também se encontram o maior rio do mundo – o Amazonas – com uma vazão média de 200 mil metros cúbicos por segundo e o maior reservatório de água subterrânea do planeta - o Sistema Aquífero Guarani. No entanto, essa água está mal distribuída: 70% das águas doces do Brasil estão na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população, e apenas 3% de água para o Nordeste semi-árido aonde ocorrem períodos de seca extrema um grande problema para as populações. Plurale - Existem alternativas para aumentar a disponibilidade hídrica em diferentes regiões? Salati - A quantidade de água natural existente no planeta é aquela. Não vamos aumentá-la. O que devemos fazer é aumentar a eficácia do uso da água. E já existem sim alternativas e tecnologias disponíveis para aumentar a disponibilidade. Uma delas é a dessalinização, já experimentada em diversos países, a maioria no Oriente Médio. Mas a quantidade de água do mar transformada em água doce ainda é mínima: responde por apenas 1% do consumo mundial de água, principalmente porque exige uma tecnologia cara e uma enorme quantidade de energia. Outra possibilidade é a transposição de água das regiões mais úmidas para as mais secas e ainda a coleta d’água de chuva e seu armazenamento em cisternas como já faziam os romanos e os hebreus há mais de dois mil anos.
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Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678 Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088 ou acesse bb.com.br
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Entrevista
Especial Água
Foto: Nicia Ribas
“O Brasil precisa aproveitar as oportunidades – sociais e econômicas – de ser a principal reserva de água doce do mundo, hoje” Plurale - Há soluções para o Brasil? Salati – Claro, há sempre soluções. Para o Nordeste, por exemplo, está sendo feito o desvio de água do Rio São Francisco para aquela região, o que não será suficiente. Talvez a solução definitiva seja a transposição de água da bacia do Rio Amazonas, que permitiria o transporte de maior quantidade de água, permitindo maior eficácia nas atividades agrícolas econômicas em maiores áreas do sertão nordestino. Já me acusaram de ter ideias faraônicas quando à distribuição da águas. Mas nas décadas de 1980 e 1990 partes de icebergs (água de excelente qualidade) foram deslocadas e puxadas por transportes marítimos, até os países de clima semi-árido. E podemos negar que na era dos faraós, foram construídas pirâmides – e uma série de outras estruturas aparentemente impossíveis de serem erguidas. A tecnologia existe, basta termos a vontade política. Plurale - Poderia, por favor, analisar especificamente a questão da água na Amazônia e na Bacia do Xingu? Salati - A Amazônia é a maior região hidrográfica do mundo e 200 mil metros cúbicos por segundo água de excelente qualidade do Rio Amazonas lançada no oceano. Já a Bacia do Rio Xingu tem especial particularidades, em função da riqueza de biodiversidade ali encontrada. São 52 milhões de hectares, 24 povos indígenas que falam mais de 20 línguas e detêm conhecimentos milenares, além de comunidades ribeirinhas tradicionais e imigrantes vindos de diversas regiões do país. Trata-se de um dos maiores corredores de áreas protegidas do mundo. O grande desafio do Brasil diante do tema água é garantir a definição de uma política para gestão dos recursos hídricos, considerando as diferenças entre os estados. Não podemos repetir erros históricos sob pena de perdermos essa abundância. A legislação atual que estabelece a política nacional de recursos hídricos foi feita para situações de escassez e de conflito para uso da água. No caso da Amazônia, esse não é um problema. Esta é uma região estratégica, mas o que está faltando a essa área é qualidade e distribuição adequada da água. Portanto, nosso verdadeiro problema é o de definir as prioridades. Plurale - O Brasil tem uma área costeira de mais de 7 mil quilômetros. Nós cuidados dessas águas? Salati - A qualidade das águas de muitas regiões costeiras do Brasil é um tema que vem desafiando tanto os técnicos como os
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órgãos de saneamento. O litoral do país se estende da foz do Rio Oiapoque, no Cabo Orange, ao norte, até o Arroio Chuí, no sul. A linha costeira tem uma extensão de 7.491 km, constituída principalmente de praias de mar aberto. O que se tem observado nas áreas paradisíacas do litoral brasileiro é uma degradação constante e contínua da qualidade das águas que atingem especialmente as áreas mais procuradas para turismo e lazer. As praias estão sendo contaminadas especialmente pelo esgoto urbano e industrial, e às vezes pelo tráfico marítimo, incluindo terminais petrolíferos. Exemplos típicos podem ser encontrados praticamente em todos os estados brasileiros. Uma das áreas em que a informação é bastante detalhada é o litoral norte do Estado de São Paulo. Praticamente todas as praias urbanas de Ubatuba e Caraguatatuba estão constantemente impróprias para o banho e essa degradação das qualidades das águas costeiras afeta economicamente a região. Plurale - A falta de saneamento é um drama ainda no Brasil do Século 21. Como resolver? Salati - No Brasil o maior problema nas regiões densamente povoadas é a degradação da qualidade da água pela contaminação com esgoto urbano e industrial. Segundo o IBGE, 48% dos municípios e 64,5% dos domicílios do país não têm tratamento de esgoto, ou seja, as águas servidas são descartadas diretamente nos córregos e rios mais próximos. Regiões metropolitanas e grandes cidades despejam extensos volumes de esgotos sem tratamento nos rios e mares. Apenas 49% deles são coletados por meio de rede, destes somente menos de 10% é tratado. Trata-se do retrato de um Estado que investe no tratamento de água, mas não no de esgoto. Há décadas o problema é bem conhecido, porém pouco tem sido feito para se encontrar uma solução viável. Portanto, trata-se de uma questão de definição de prioridades e não de falta de tecnologias ou de recursos. Plurale - No caso específico da Baía de Guanabara, o que pode ser feito para despoluí-la? Salati - É bem mais simples do que se imagina. Para despoluir completamente as águas a Baía de Guanabara, basta que o lançamento de esgoto seja imediatamente suspenso e que deixemos a natureza agir sozinha. O sistema biológico da Baía tem capacidade inerente para limpar suas águas – por meio de vegetação, combinação química e clima. Não há necessidade de grande investimento, muito menos de qualquer tecnologia que já não se tenha disponível.
Não há passo mais importante do que o próximo.
A Usiminas, líder no mercado nacional de aços planos, realizou investimentos significativos no ano que passou e concluiu projetos importantes, como a implantação de uma tecnologia exclusiva para a produção de aços especiais para o pré-sal. Para 2011, os investimentos previstos chegam à ordem de R$ 2,8 bilhões, nos quatro pilares de negócios da empresa – Mineração, Siderurgia, Transformação do Aço e Bens de Capital. Tudo isso para construir uma Usiminas ainda mais moderna, eficiente e capaz de oferecer soluções completas. É assim que a Usiminas investe. É assim que a Usiminas trabalha para ser cada vez melhor.
Usiminas. Fazer melhor sempre. www.usiminas.com
Especial Água
Mundo:
dois terços
Cerca de da superfície da Terra está coberta por água;
1,6% da água encontra-se em aquíferos (na forma subterrânea);
Os cinco oceanos contêm
0,63%
Do total da água, apenas é água doce, e grande parte dela é imprópria para consumo;
97,2%
da água do planeta;
1,75% da água está
congelada na Antártica, na região do Polo Norte e em outras geleiras. O aglomerado de gelo na Antártica (região mais a sul do globo) contém cerca de de toda a água potável existente no planeta;
90%
70%
da água doce do mundo é Cerca de consumida pela agricultura;
Alerta: em 2000, o mundo usou duas vezes mais água do que em 1960. E este número só avança;
a cada oito segundos morre uma criança no planeta vítima de
A ONU adverte que
doenças relacionadas ao consumo de água contaminada;
cerca de 20 mil crianças morrem antes de completar cinco anos de idade por
Segundo a UNICEF, na América Latina e no Caribe
causa de diarreias agudas, o que poderia ser evitado com acesso a condições de higiene adequadas, infraestrutura de saneamento básico e água potável. Pesquisadores estimaram que em 2025
mais de 30% da população mundial sofrerá com a falta de água potável. 14 14 PLURALE EM REVISTA
| Março/Abril 2011
Brasil: De acordo com a Agência Nacional de Águas, cerca de
17 milhões de brasileiros
ainda não tem acesso a água potável
Está no Brasil o maior rio do
Amazonas,
mundo, o com uma vazão média de 200 mil metros cúbicos por segundo e o maior reservatório de água subterrânea do Planeta, o
Aquífero Guarani.
No entanto, esta água está mal distribuída: 70% das águas doces estão na Amazônia, onde vivem apenas 7% da população e 3% no Nordeste, semi-árido, onde ocorrem períodos de
seca extrema.
Grande parte do corpo humano é feita de água, assim como em todos os outros seres vivos: é o elemento em maior quantidade nas células e no sangue dos animais e também na seiva das plantas. Sem água, o planeta seria uma imensidão sem vida.
A água é um componente essencial para o bom funcionamento geral do organismo, ajudando em algumas funções vitais, tais como o controle de temperatura do corpo, por exemplo.
Dicas para
economizar e utilizar mais racionalmente este recurso:
Prefira água filtrada na jarra e não em garrafas e copos plásticos; Nunca “varra” as calçadas com mangueiras; Evite lavar o carro com a mangueira. Prefira o balde e pano úmido; Feche a torneira da pia e do chuveiro se não estiver utilizando a água. É muito comum escovar os dentes com o jato d` água constante e também o mesmo acontece no banho. E não tome banhos demorados; Antes de lavar os pratos, retire com um papel absorvente os resíduos. Isto facilitará a lavagem e deixe de molho a louça com sujeira mais pesada;
Só utilize a máquina de lavar loupa e de roupa quando tiver uma quantidade suficiente para lavar de uma só vez; Confira com um especialista se não há vazamentos em sua casa ou em instalações comerciais/industriais; Procure reutilizar a água da máquina de lavar para lavar banheiros, por exemplo. Basta tapar o tanque e depois retirá-la em baldes; Valorize equipamentos e soluções que poupem água. Já existem, por exemplo, válvulas de banheiro “inteligentes” que gastam menos água para número 1 e mais no caso de número 2.
Fonte: Agência Nacional de Águas, Água na Jarra, Instituto Akatu, International Water Management Institute, ONU, Unicef, Wikipédia.
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Artigo
Malu Nunes
Fundação Grupo Boticário: transformando possibilidades em ações efetivas de conservação Acervo Fundação Grupo Boticário
Alberto Eduardo Cardoso de Mello, proprietário da Fazenda Nossa Senhora da Piedade, em uma das nascentes abrigadas em sua propriedade, a maior que integra o Projeto Oásis São Paulo.
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PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2011
Q
uando a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza lançou o Projeto Oásis, em 2006, mecanismos de pagamento por serviços ecossistêmicos (PSE) eram novidade no Brasil. A iniciativa foi precursora no país na premiação a proprietários de terra que, historicamente, conservaram suas áreas de florestas. Eles recebem pelos serviços ecossistêmicos que suas terras geram à sociedade, graças a uma metodologia que, em linhas gerais, valora as áreas naturais conservadas – uma inovação em relação a outros projetos no país. Serviços ecossistêmicos são as funções desempenhadas pelos ecossistemas e que trazem benefícios essenciais para a vida no planeta, entre eles a produção de água, a regulação do clima e a manutenção da qualidade do ar e do solo. Uma das formas de se remunerar um proprietário pelas funções das áreas naturais de sua propriedade é utilizar, indiretamente, um mecanismo de compensação. Isso pode ser feito pelo cálculo do custo de oportunidade, em que o proprietário recebe, por cada hectare de área com vegetação natural conservada nas suas terras, um valor equivalente ao que teria caso utilizasse a mesma área para produção agropecuária convencional daquela região. Outra maneira possível de se valorar serviços ecossistêmicos é pelo custo de reposição, que calcula quanto custaria para se repor um serviço prestado pelo funcionamento do ecossistema natural. Essas duas formas de cálculo podem até chegar a valores financeiros semelhantes para uma mesma área avaliada, porém têm diferenças filosóficas cruciais. No custo de oportunidade, mais comum no Brasil, a conservação somente acontecerá de fato se a remuneração pelos serviços for superior ou equivalente ao rendimento médio de alguma atividade produtiva, pois o raciocínio é de compensação pelo ganho potencial do que teria sido perdido, ou seja, o proprietário é pago por estar deixando de produzir. No custo de reposição, a área natural é considerada prestadora de serviços ecossistêmicos e a premiação financeira é um reconhecimento àqueles que a conservaram, sendo que o proprietário enxerga a floresta em pé como um ganho. O Projeto Oásis é uma das poucas iniciativas implementadas no Brasil que valora os serviços ecossistêmicos por meio do custo de reposição. A Fundação Grupo Boticário seguiu a linha por considerá-la mais adequada à realidade do local onde o projeto foi implantado inicialmente: a Bacia da Guarapiranga, na Grande São Paulo, que está numa região decretada por lei como área de proteção aos mananciais. No projeto, o valor de referência para as premiações financeiras é calculado com base em quanto vale a conservação dos recursos hídricos promovida pela manutenção
Especial Água Acervo Fundação Grupo Boticário
Sítio do Sargento, uma das 13 propriedades integrantes do Projeto Oásis São Paulo de áreas naturais. Utilizou-se, por exemplo, um estudo do Instituto de Economia Agrícola de São Paulo que calcula o prejuízo que se tem com a perda de solo por erosão em áreas sem cobertura vegetal natural no estado e, consequentemente, quanto vale o serviço prestado pela conservação dessa vegetação. Depois de implantar efetivamente o projeto na Grande São Paulo, a Fundação Grupo Boticário se tornou uma das primeiras instituições nascidas na iniciativa privada a manter um programa de PSE no país. O Projeto Oásis passou, também, a figurar entre outros mecanismos que compensam financeiramente quem contribui para a conservação de mananciais, como o programa Produtor de Água, desenvolvido pela Agência Nacional de Águas (ANA) e executado em diversos municípios brasileiros, e o Projeto Grandu, no estado do Rio de Janeiro. Inicialmente implementados pela iniciativa privada, esses mecanismos passaram a ser incorporados por políticas públicas no Brasil. Nessa linha, o governo do Espírito Santo foi pioneiro na criação de uma lei estadual de serviços ambientais e de um fundo de financiamento (Fundágua) que apoia, dentre outros, o programa Produtor de Água. Em 2009, a prefeitura de Apucarana, na região central do Paraná, também instituiu lei que criou um programa de pagamento por serviços ambientais (PSA), do qual a Fundação Grupo Boticário é parceira. O Projeto Oásis Apucarana, implantado pela Secretaria de Meio Ambiente e Turismo do município, prevê a premiação de pequenos e médios agricultores que conservem suas áreas protegidas e adotem boas práticas de uso do solo. A metodologia para o cálculo das premiações financeiras foi desenvolvida pela Fundação Grupo Boticário, seguindo a mesma filosofia da adotada em São Paulo, mas com forma de cálculo adaptada à realidade do município. Replicar o Projeto Oásis, estimulando governos e outras instituições a adotar ou desenvolver ações semelhantes, sempre foi a intenção da Fundação Grupo Boticário. Sua metodologia pode ser adaptada a qualquer região do país, uma vez que o projeto está inserido em um mercado ambiental voluntário, com arcabouço legal próprio, independente de leis e de recursos ou controle governamental. A criação de mecanismos de PSE/PSA por meio de leis, como em Apucarana, só fortalece a iniciativa. O Projeto Oásis é mais um exemplo de como ações de conservação da natureza, nascidas no berço da iniciativa privada, podem transformar a realidade dos envolvidos e se frutificar se houver vontade política para
isso. Em outros países, mecanismos de PSE já foram utilizados como forma de sustentação econômica para a conservação de áreas naturais pelos seus respectivos governos. Por aqui, uma proposta com esta finalidade já existe e está em tramitação na Câmara dos Deputados na forma de um projeto de lei que institui a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais. O projeto prevê, em linhas gerais, o fortalecimento das iniciativas já existentes e criaria um fundo para financiar um programa federal de PSA. Financiamento, aliás, é uma questão fundamental. Para que um programa de PSE seja colocado em prática, é necessário que exista um consumidor do serviço ecossistêmico disposto a pagar pela sua produção. Hoje, os principais mercados no mundo são para água e carbono, e já há alguns para polinização. Entretanto, pouco se paga pela paisagem natural: por exemplo, o recurso gerado pela atividade turística em locais onde há grande diversidade de plantas e animais, como o Pantanal, praticamente não chega aos proprietários que mantêm as áreas onde essas espécies vivem. O próprio Projeto Oásis paga somente pelos serviços relacionados com produção e qualidade de água. Porém, por estimular ações que vão além daquelas previstas em lei e incentivar o manejo adequado das áreas naturais das propriedades, também contribui para a conservação da biodiversidade do local. Em São Paulo, as premiações financeiras são pagas com apoio da Mitsubishi International Corporation Foundation. A iniciativa de Apucarana é uma dos poucas no país em que é o beneficiário final do projeto – no caso, a empresa de abastecimento do estado – que paga pelo serviço garantido pelo proprietário de terra. Os recursos para os agricultores paranaenses são provenientes da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), que repassa, mensalmente, 1% do seu faturamento na cidade para o Fundo Municipal do Meio Ambiente. As expectativas são que, ao longo dos anos, os mecanismos de PSE se aprimorem e existam mais consumidores dispostos a pagar pelos diversos tipos de serviços ecossistêmicos. A efetiva implementação da política nacional será um impulso para que essas iniciativas se multipliquem no Brasil, assim como os benefícios que elas trazem para todos nós. No entanto, sabemos de antemão que a lei, sozinha, não dará conta de uma realidade de conservação da natureza que se espera para o país, inclusive em relação à produção e à qualidade de água. Voltamos à esfera da iniciativa privada: sua contribuição potencializa os esforços públicos e é fundamental para garantir a preservação que se espera. * Malu Nunes é engenheira florestal, mestre em Conservação da Natureza e diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.
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Artigo
Ernesto Cavasin
Flávia Takeuchi
Uma antiga, e promissora,
questão ambiental
P
ara a geração nascida nos anos oitenta, a primeira das preocupações com o meio ambiente era relacionada à água. Fechar as torneiras sempre, levar menos tempo no banho, não jogar lixo em córregos, e filmes futuristas apocalípticos onde super-heróis deviam enfrentar os vilões num mundo onde imperavam os desertos faziam parte da realidade de toda sociedade. Estritamente conectada com outras questões ambientais como as mudanças climáticas e a proteção da biodiversidade, a água faz parte de compromissos internacionais, como a Agenda 21, a Carta da Terra ou os Oito Objetivos do Milênio. Previsões sobre as conseqüências do manejo inadequado dos recursos hídricos tornaram-se preocupações do presente, seja em casos graves de poluição, na escassez do recurso em algumas regiões do mundo, e nas alterações no ciclo hidrológico que alteram o regime de chuvas. Diante dos fatos, constatam-se o aumento de ferramentas que buscam incentivar e conscientizar a sociedade civil, governo e empresas da importância do manejo da água em nosso cotidiano, como a pegada de água, a água virtual, e o pagamento por recursos hídricos. Um dos mais interessantes conceitos sobre o consumo de água e que está obtendo grande relevância nos últimos tempos é a “pegada de água” (water footprint). Estudado com grande profundidade pelo professor holandês Arjen Y. Hoekstra e pelo professor nepalês Ashok K. Chapagain, este conceito refere-se ao uso da água relacionado ao consumo de produtos e serviços dentro de um país. Através de diversos estudos, eles comprovaram que a maior quantidade de água é
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utilizada na produção de commodities agrícolas – superior ao consumo nos setores doméstico e industrial. Assim, com o foco do estudo na fase primária de produção de culturas agrícolas pelos países produtores e das relações comerciais que existem entre os países que importam e exportam essas commodities, há a possibilidade de identificar a influência do comércio no uso de água de determinado país. Atrelada à pegada de água, eles criaram o conceito de água virtual, que se trata do volume de água utilizado para produzir uma commodity e que está virtualmente inserida na mesma. O cálculo da água virtual permite que países que precisam de grande quantidade de água para produzir uma
Heloísa Garcia da Mota
Leonardo Costa
commodity agrícola e/ou que obtêm baixos níveis para a produção da mesma possam “economizar” esta água de suas fontes domésticas e importar esta cultura de outro país que a produz de maneira mais eficiente (menor relação m3 de água/ hectare). O Brasil, por ser um grande exportador de commodities, atingir boa produtividade agrícola, possuir clima favorável e grande disponibilidade de terras agriculturáveis, é um dos maiores exportadores de água na forma virtual. Com a pegada de água, é possível demonstrar que o comércio global de bens e serviços afeta de maneira significativa os sistemas hidrológicos. De maneira simplificada, a compra de produtos brasileiros pelos países da União Europeia contribui para o esvaziamento dos rios no Brasil. Assim inicia-se um pensamento focado na responsabilidade compartilhada das nações sobre o recurso. Outras ferramentas importantes que visam a conservação dos recursos hídricos é o pagamento por recursos hídricos (Payment for Watershed Services) e o mercado de água (Water Quality Trading), o primeiro é caracterizado por iniciativas voluntárias que disponibilizam incentivos financeiros para proprietários de terras, e o segundo trata-se de iniciativas reguladas por padrões específicos em regiões que definiram sistemas para redução da poluição da água. De acordo com um relatório sobre pagamentos por recursos hídricos, publicado em 2010 pela Ecosystem Marketplace, atualmente existem 288 programas que envolvem o pagamento de recursos hídricos no mundo, concentrados em sua maioria na América Latina. Em 2008, o número de programas era 127. Desde sua criação, o mercado movimentou mais de nove bilhões de dólares americanos, e é reconhecido por especialistas como uma das principais soluções para a valorização da água, e a geração de recursos que financiem medidas remediadoras e protetoras das bacias hidrográficas. No Brasil, um dos principais incentivos com relação à água, além do Comitê de Bacias Hidrográficas, é o pagamento por serviços ambientais, uma ferramenta que visa à valoração dos serviços ambientais prestados, normalmente, por uma floresta na área de cabeceira de um corpo hídrico. Os serviços ambientais estão relacionados à preservação da biodiversidade, absorção ou estoque de carbono e formação ou manutenção do sistema produtor de água. De maneira simplificada, o PSA visa compensar de alguma forma o produtor rural que mantenha sua floresta ou que promova o plantio de mudas nativas em sua área, gerando como benefício os serviços ambientais a uma determinada população, seja pelo fornecimento de água de melhor qualidade ou maior quantidade, pela conservação da biodiversidade e o estoque do carbono. O cálculo do valor devido aos proprietários rurais é feito considerando o custo de oportunidade, ou seja, é feita a identificação de atividades que poderiam ser desenvolvidas pelos proprietários rurais,
Especial Água
tais como atividade pecuária, agricultura, entre outros. Existem diversos programas de PSA em andamento no Brasil, com diferentes “compradores” dos serviços ambientais, que podem ser um ente público, privado ou, uma vez que se trata de projetos florestais, fazer parte de um mercado de carbono. O primeiro projeto de PSA baseado em água foi implantado em Extrema (MG), após a aprovação da lei municipal e desenvolvida em parceria com a TNC (The Nature Conservancy), Instituto Estadual de Florestas (IEF – MG) e Agência Nacional das Águas (ANA). O projeto está dentro da iniciativa que vem sendo desenvolvida pela ANA, por meio do programa “Produtor de Água”, que envolve a identificação da bacia hidrográfica e de potenciais agentes financiadores, monitoramento do projeto e pagamento. Há projetos nas bacias do Piracicaba (SP), Benevente (ES), Camboriú (SC), Piripau (DF), Guandu (RJ), além da Bacia de Posses que compreende o projeto de Extrema. A vantagem para os compradores destes serviços é o abatimento dos custos com o tratamento de água, que possui melhor qualidade, por conter menos material proveniente de erosão e sedimentos, e quantidade, uma vez que a oferta de água é regularizada devido à alimentação do lençol freático pelas florestas. A assembléia legislativa do estado de São Paulo aprovou em fevereiro de 2011 o projeto de lei 271/2010, que prevê a utilização dos recursos do Fundo Estadual para a Prevenção e Controle da Poluição (Fecop) para o pagamento dos serviços ambientais, alterando a lei 11.160/2002 (dispõe sobre a criação do Fecop). A aprovação deste projeto de lei é conseqüência da Política Estadual de Mudanças Climáticas, instituída pela Lei 13.798/2009, que prevê o pagamento de PSA a produtores rurais e também prevê a aprovação do Programa de Remanescentes Florestais. A intenção do projeto é estimular a formação de corredores biológicos dos remanescentes florestais por meio do PSA a produtores rurais. Incentivos financeiros, como é o caso do pagamento por recursos hídricos e a água virtual, são exemplos do amadurecimento de iniciativas em busca da proteção e manutenção adequada dos recursos hídricos. Mais do que isso, os conceitos exemplificados demonstram a importância do reconhecimento da responsabilidade compartilhada pelos recursos naturais, seja entre nações, entre governos e sociedade civil, e entre as empresas. O desafio ambiental cresce sob diferentes perspectivas, e o maior desafio de especialistas no assunto é definir com criatividade quais as novas ferramentas que poderão trazer soluções integradas abrangendo respostas para temas como a gestão da água, mudanças climáticas, biodiversidade e desenvolvimento econômico e social. (*) Especialistas em Sustentabilidade da PwC
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Artigo
Marco Simões
Sustentabilidade como princípio
A
Sustentabilidade, que está na ordem do dia das empresas e é uma realidade para a Coca-Cola Brasil e para a companhia em todo o mundo desde sempre. Faz parte do DNA da empresa e, desde 2008, está sistematizada sob o guarda-chuva Viva Positivamente, que abrange todo o seu pensamento sobre sustentabilidade. A transformação dos impactos produzidos pelo ser humano no mundo, está vinculada a profundas alterações no entendimento do processo que produz a ação humana. Desde a Reduzir, reciclar e repor são as três premissas da Coca-Cola para cuidar da água. Em Reduzir, a empresa tem reduzido seu consumo de água ano a ano, atingindo níveis que são benchmark para todo o segmento de bebidas. Em Reciclar, desde 92 a empresa assumiu o compromisso de devolver ao meio ambiente a água utilizada nos processos de fabricação, em um nível compatível com a vida aquática. No Brasil, todas as 46 fábricas usam processos de decantação ou estações de tratamento para assegurar que toda a água devolvida ao meio ambiente é de alta qualidade. E, finalmente Repor, está envolvida em 120 projetos em mais de 50 países com o objetivo de proteger e preservar os recursos naturais de água, assim como também prover às populações acesso à água potável. Ao longo dos anos, a empresa também fechou acordos com USAID, CARE, UNDP e WWF, entre muitas outras organizações, destinados à conservação da água. No País, dois importantes parceiros nesse segmento têm sido a SOS Mata Atlântica e a TNC, que estão reflorestando áreas extensas de proteção de bacias hidrográficas, dentro do programa Água das Florestas, do Instituto Coca-Cola Brasil. A gestão da água é um dos aspectos prioritários nas operações do Sistema Coca-Cola Brasil, que vem reduzindo substancialmente o consumo deste recurso natural nas 46 fábricas brasileiras e buscando formas de contribuir para a preservação das bacias hidrográficas e dos aquíferos que abastecem de água doce o país. Presente em praticamente tudo o que o ser humano consome – seja no cultivo, na composição, no processo industrial ou na assepsia dos alimentos –, a água é
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um bem valioso para a sobrevivência das nações e das indústrias. Mais ainda: para a manutenção da vida no planeta. Para a Coca-Cola, em especial, a água é também um dos ingredientes mais importantes de suas bebidas e está indissoluvelmente associada à qualidade de todos os produtos que levam a marca da maior empresa de bebidas não-alcoólicas do Brasil e do mundo. A Coca-Cola vê a água não apenas como um insumo, mas como um bem natural que deve ser preservado e usado de forma racional por indivíduos e organizações. A Coca-Cola Brasil acredita que a Sustentabilidade deve ser pensada em todas as suas ações. E da mesma forma devem agir seus 16 fabricantes e todos os fornecedores. Se a principal matéria-prima das bebidas é a água, é sua obrigação tratar o uso da água com toda atenção. E assim tem sido feito: na década de 90, o consumo de água para produzir um litro de bebida era de 5,4 litros. Em 2010, atingimos a marca de 1,95 litro para cada litro produzido, incluindo o litro que vai dentro da embalagem, o que vem a ser um dos melhores índices do mundo. Hoje, 16 das nossas 46 fábricas no País também utilizam a captação da água da chuva no processo produtivo. Os índices do Sistema Coca-Cola Brasil resultaram de uma série de iniciativas e investimentos realizados nos últimos anos. Nossos fabricantes têm concentrado seus esforços em ações efetivas para reduzir os possíveis pontos de desperdícios; otimizar o uso água e minimizar o consumo, através da redução, reutilização e reaproveitamento deste recurso; buscar fontes alternativas de captação da água e assegurar a melhoria contínua da qualidade do tratamento de seus efluentes. É nesta fonte alternativa de captação de água, a chuva, que todo o Sistema vem
apostando. Como exemplo, uma fábrica com 56 mil m2 de área potencial para captação, em uma região com índice pluviométrico de 1.100 mm/ano, permite captar em torno de 4 milhões de litros/mês. A preocupação com a preservação da água está expressa na política de meio ambiente da Coca-Cola e tem no Sistema de Gestão Ambiental da companhia a principal ferramenta para transformar as diretrizes em ações. O uso racional da água é uma questão, não apenas de responsabilidade sócio-ambiental, como também de sobrevivência econômica de organizações e países. Para consolidar esta cultura dentro do Sistema Coca-Cola Brasil, a empresa criou, em 1995, o Programa Água Limpa. Minimizar o consumo, evitar o desperdício, reutilizar a água, buscar fontes alternativas de captação (como a chuva) e assegurar a qualidade dos efluentes devolvidos à rede de esgoto pelos fabricantes são as metas do programa. Este programa visa orientar os grupos fabricantes na direção das melhores práticas para a otimização do uso da água e do papel das empresas na preservação dos recursos hídricos. Alguns fabricantes chegaram a reduzir em 25% o consumo de água, após realizar balanços hídricos completos de suas unidades e verificar que medidas como substituição de válvulas de descarga e torneiras fazem grande diferença ao final do mês. O projeto piloto deste balanço hídrico foi feito na sede da Coca-Cola Brasil, com resultados já muito expressivos para um escritório não-fabril. Os investimentos na melhoria contínua do tratamento de efluentes (ETEs) também geram importantes resultados ambientais: os resíduos líquidos da fabricação de refrigerantes da Coca-Cola Brasil recebem um tratamento especial que lhe concede um grau de pureza suficiente para permitir a criação de peixes. A maior prova disso são os aquários e viveiros de peixes existentes em fábricas da Coca-Cola no Brasil – país que possui o maior número desses habitats em unidades de produção da companhia em todo o mundo. Com o objetivo de reforçar o papel que os grupos fabricantes têm a desempenhar na preservação dos recursos hídricos, a Coca-Cola Brasil desenvolveu um manual de gerenciamento de águas subterrâneas – iniciativa inédita na indústria de bebidas no País. Chegará um momento, porém, em que atingiremos o limite da eficiência, quando, pelo menos teoricamente, chegaremos perto de produzir um litro de bebida com um litro de água. Para avançar ainda mais na gestão da água, a Coca-Cola desenvolve uma matriz que permite avaliar riscos e buscar soluções a partir da análise de seis aspectos relevantes: a bacia hidrográfica, a confiabilidade do suprimento, a eficiência, os aspectos econômicos, o atendimento à legislação e aos padrões internos e o uso da água pela sociedade e seus impactos. Na realidade, a Coca-Cola Brasil vem antecipando ações na busca da melhoria da gestão da água, que é o ponto crucial da Política Nacional de Recursos Hídricos. Esta política tem amparo na Lei das Águas (Lei 9433/97), que disciplina a utilização dos recursos hídricos no Brasil – ou seja, o uso da água –, estabelecendo um modelo de gestão do uso dos rios através de comitês de bacias hidrográficas. Criada em 1997, essa legislação estabelece um modelo de
gestão do uso dos rios brasileiros através de comitês de bacias. Eles devem ser representados não só por autoridades da área ambiental e de saneamento básico, como também por empresas – como as unidades da Coca-Cola Brasil, que vem participando de vários comitês – e a sociedade organizada. Nos próximos anos, o Brasil terá dezenas de comitês de bacias, com suas respectivas agências, as quais serão responsáveis pela cobrança do uso e captação das águas dos rios estaduais, dentro dos sistemas de outorga – um verdadeiro “divisor de águas” na gestão deste recurso. Evitar o desperdício, um dos princípios do Programa Água Limpa, deve ser um princípio adotado por todas as empresas e cidadãos responsáveis, como aconteceu na época em que foi necessário realizar racionamento de energia, com a colaboração de empresas e cidadãos. Infelizmente, não se aproveitou o momento de sinergia para indicar outras saídas para problemas que enfrentaremos nesse século, já batizado pelos ambientalistas como a era da escassez. O Projeto do Milênio, plano de ação para combater a pobreza, a fome e doenças opressivas que afetam milhões de pessoas, lançado em 2002 pelas Nações Unidas, já divulgou a existência de mais de 1 bilhão de pessoas no mundo sem acesso à água potável e 2,6 bilhões (mais de 40% da população mundial) sem coleta ou tratamento de esgoto, ou seja, sem saneamento básico. Por sorte, o Brasil possui o maior fluxo interno de água do mundo, com 5,4 trilhões de metros cúbicos de água, equivalentes a mais de um décimo das reservas superficiais do planeta. Tal riqueza está distribuída desigualmente: cerca de 80% estão na região amazônica e os 20% restantes, pelo país, atendendo a mais de 90% da população. O Brasil também é rico em água subterrânea, hospedando um dos maiores aquíferos do mundo – o Guarani, com mais de 40 trilhões de metros cúbicos de água. Sua maior ocorrência se dá em território brasileiro (2/3 da área total), abrangendo os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mas a má gestão dos recursos hídricos, a degradação dos mananciais e das áreas do entorno, o desmatamento, os despejos industriais e urbanos não tratados, a ocupação desordenada e outras ações humanas, dentro de algum tempo podem vir a tornar a água um recurso natural de acesso limitado e de uso restrito em nosso País. É contra este cenário que cidadãos, poder público, empresas e ONGs devem lutar. Devem buscar o uso responsável da água em todos os momentos. Cada gota economizada é muito importante para nosso futuro. Marco Simões é Vice-Presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Coca-Cola Brasil
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Especial Água
Texto: Flamínio Araripe, Especial para Plurale em revista - De Fortaleza
Agenda
Planetária
O livro “A Morte Azul” (Saberes Editora), de autoria do médico Robert D. Morris, Ph.D em Engenharia Ambiental, mestre em Bioestatística e Epidemiologia, alerta sobre os perigos de doenças causadas pela contaminação da água. Relata, na forma de romance, as grandes crises com mortalidade em massa por doenças transmitidas pela água, desde a cólera na Londres do século XIX até epidemias nos anos 90 na África, em cidades dos Estados Unidos e Canadá.
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E
specialista internacional nas relações da saúde e água potável, o autor aponta casos na história em que a contaminação hídrica matou milhões de pessoas. O livro é um dos mais graves alertas ambientais e da saúde pública. Antes da identificação da bactéria Vibrio choleare causadora da cólera, o médico John Snow, um pesquisador autônomo, já reunia evidências para provar que a transmissão da doença em Londres se dava pela água. A canalização dos esgotos da cidade para o rio Tâmisa no intuito de proteger a saúde pública agravou numa escala de epidemia os óbitos pela morte azul, denominação dada pela tonalidade do rosto dos pacientes na agonia final. No século XIX, as equipes de Robert Koch, da Alemanha, e Louis Pasteur, da França, identificaram o Vibrio choleare. No século XX as doenças de fonte hídrica ainda são problema de saúde pública. Em 1993 ocorreu a maior epidemia transmitida pela água da história dos Estados Unidos, em Milwaukee, causada por critosporídio. Em Ontário, no Canadá, em 2000, outra epidemia transmitida por coliforme na água, o E. coli O157:H7 atingiu 2,3 mil pessoas. O furacão Katrina destruiu 1,2 mil estações de tratamento de água e 269 estações de esgoto. O livro evidencia motivos para a inclusão da qualidade da água como uma agenda planetária. Alguns antigos desafios vencidos pela ciência e tecnologia deram lugar a novos problemas que demandam a geração do conhecimento ou apenas a sua aplicação, com investimento. O autor defende a melhoria da qualidade da água e aponta caminhos com indicação do uso das novas
tecnologias para a substituição de métodos de tratamento quase seculares. “O Ar, Águas e Lugares” é o título de um dos primeiros textos de Hipócrates, pai da medicina científica ocidental, escrito há cerca de 2.400 anos. Já então, o artigo relacionava os nexos causais entre doenças e estações do ano, os lugares e a qualidade da água consumida. Esta assertiva consolidou-se como inquestionável até os nossos dias. O livro do epidemiologista americano Robert Morris “A Morte Azul” relata de forma romantizada o bom debate que marca o nascimento da saúde pública moderna. Este debate ocorreu em Londres, nos meados do século XIX, entre os sanitaristas londrinos liderados por Edwin Chadwick e o médico anestesista John Snow. Este foi um belo capítulo da saúde pública ocidental. Os sanitaristas queriam o saneamento de Londres. Conseguiram. Os esgotos foram drenados para o rio Tamisa. Este fato coincide com o surgimento da grande epidemia londrina de cólera. O “vibrio cholerae” não era conhecido. Snow desconfiou que a drenagem sanitária de esgotos contaminava a água e esta provocava a doença. Após longa batalha, Snow foi vitorioso e comprovou com evidências científicas a sua tese da contaminação por via hídrica. A “revolução Pasteuriana” consolidou os achados. Esta revolução clareou as obscuridades científicas. Mas o desafio da universalidade da água segura e de qualidade nunca foi tão atual. No Ceará e em outros estados do Nordeste, a existência civilizatória está relacionada ao armazenamento da água. Construir açudes e barragens é marca da história na região. Quando D. Pedro II disse que daria as últimas jóias da Coroa para garantir água no Ceará, o Cedro, em Quixadá, foi construído. Hoje os 133 açudes monitorados pela Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) acumulam 17,8 bilhões de m³. Entre 1994 e 1996, houve uma epidemia de cólera em Quixadá que fez emergir a questão da quantidade e qualidade da água. Já naquele momento as pessoas resistiam a beber água do Cedro, mesmo tratada pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece). O Cedro estava morrendo como fonte de água potável e de qualidade. Hoje Quixadá recebe água de adutoras do açude Pedras Brancas. Fenômeno semelhante ocorre com o açude Forquilha, outro município cearense. O tempo de residência associado à eutrofização fez com que a qualidade da água destes açudes ficasse prejudicada. Com a transposição do Rio São Francisco, o Cinturão das Águas e o Pacto das Águas, o desafio da quantidade fica resolvido por um bom horizonte de tempo. Temos agora o grande desafio da universalização da água com qualidade. Bem como a universalização do esgotamento sanitário. Não podemos reproduzir o dilema londrino do século XIX em que o esgotamento sanitário inviabilizou a qualidade da água. Já é hora de pensarmos no tratamento terciário em nossas estações de tratamento para que o lançamento final no corpo receptor seja feito após a desinfecção das águas residuais para a remoção dos organismos patogênicos. Resolver a remoção de nutrientes como o nitrogênio e o fósforo responsáveis pela eutrofização das águas receptoras que afeta a maioria dos nossos rios, hoje perenizados com pequenas lâminas de água que alimentam nossos grandes açudes, é importante para garantirmos água segura e de qualidade para as gerações futuras.
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Estante AVES DO BRASIL: PANTANAL & CERRADO John A. Gwynne, Robert S. Ridgely e Martha Argel, WCS e Editora Horizonte, 322 págs, R$ 44,00
A Wildlife Conservation Society (WCS) e a Editora Horizonte acabam de lançar o Guia Aves do Brasil: Pantanal & Cerrado, o primeiro de uma série que deverá contar com cinco volumes que abordam as aves de todos os biomas brasileiros, permitindo sua identificação. Com linguagem simples e todo ilustrado, o livro tem o objetivo de popularizar a observação de aves no Brasil e estimular a conservação do meio ambiente. O primeiro volume da série apresenta 740 espécies de aves do Pantanal e do Cerrado, entre nomes bastante conhecidos, como a ema e a arara-azul-grande, e espécies ainda pouco conhecidas pelos cientistas, como o belo pica-paudo-parnaíba e o raríssimo tiê-bicudo.
JOÃO HAVELANGE - O DIRIGENTE ESPORTIVO DO SÉCULO XX
José Mario Pereira e Silvia Marta Vieira, Selo COB Cultural e Editora Casa da Palavra, 240 págs, R$ 120,00 O livro João Havelange - O dirigente esportivo do século XX, organizado por José Mario Pereira e Silvia Marta Vieira, é o quadragésimo lançamento do selo COB Cultural, do Comitê Olímpico Brasileiro e da editora Casa da Palavra. Em edição especial, bilíngue (português/inglês), em capa dura, o livro de 240 páginas traz diversas fotos e depoimentos inéditos sobre o empresário, atleta (destaque nas piscinas, campeão de natação e polo aquático) e dirigente esportivo que revolucionou o futebol mundial, desde sua infância, no Cosme Velho, até a presidência da FIFA.
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PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2011
Por Carlos Franco, Editor de Plurale em Revista
ÉTICA NOS NEGÓCIOS: CONDIÇÕES, DESAFIOS E RISCOS Roberto Patrus-Pena e Paula Pessoa de Castro, Editora Atlas, 224 págs, R$ 49,00 O desafio da busca de harmonia entre o discurso ético e sua prática efetiva exige o aperfeiçoamento constante da teoria para orientar sua aplicação empírica. A emergência da reflexão ética no campo da administração não assegura uma mudança de paradigma no modelo tradicional de fazer negócio. A possibilidade de a ética nos negócios constituir-se como uma alternativa depende da vigilância científica para impedir que um novo modelo seja pensado à luz de paradigmas antigos. O discurso da ética corre o risco de ser apropriado pelas empresas com o propósito de maquiar ações que prejudicam trabalhadores, clientes, comunidades e outros stakeholders.
A GESTÃO DA AMAZÔNIA – AÇÕES EMPRESARIAIS, POLÍTICAS PÚBLICAS, ESTUDOS E PROPOSTAS
Jacques Marcovitch, Editora USP, 310 págs, R$ 48,00 Considerando a crescente densidade populacional da Amazônia e a complexidade de aspectos ambientais, econômicos e sociais da região, o professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), conclui que a sustentabilidade amazônica é indissociável do crescimento econômico e de estratégias de gestão voltadas para o empreendedorismo. Diante desse contexto, em seu novo livro A Gestão da Amazônia – Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas, Marcovitch analisa os desafios estratégicos da região e, a partir de experiências concretas de gestão ambiental, indica aos tomadores de decisão – no âmbito das empresas, governos e sociedade civil – quais são as ações prioritárias para que o Brasil assuma sua responsabilidade diante da sustentabilidade do bioma.(Por Fábio de Castro, da Agência FAPESP)
Frases “A água tem um preço e sua gratuidade prenuncia escassez.” JACQUES CHIRAC ex-Presidente da França
Selecionamos nesta edição frases memoráveis sobre água
“Seja qual for o Deus, eu sou o mestre do meu destino e capital da minha alma.” NELSON MANDELA
“Jamais se desespere em meio as sombrias aflições de sua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda.” PROVÉRBIO CHINÊS
“Enquanto o poço não seca, não sabemos dar valor à água.”
THOMAS FULLER “Dinheiro é como água do mar: quanto mais você toma, maior é sua sede. O mesmo se aplica à fama. SCHOPENHAUER
“ Saudade é uma água que só nos deixa molhados, sem nos limpar” JORGE REIGADA
“Água, tomada com moderação, não pode fazer mal a ninguém.” MARK TWAIN
“Se tens que lidar com água, consulta primeiro a experiência, depois a razão”. LEONARDO DA VINCI 25
Foto: Wikipedia
P e lo B rasi l
Captura predatória diminui população de botos-vermelhos no Amazonas Christina Machado, da Agência Brasil
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população de botos-vermelhos na região de Tefé, interior do Amazonas, caiu 10% na última década. A informação é de Nívia do Carmo, pesquisadora do Projeto Boto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCT) e presidente da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa). A causa da diminuição pode ser a captura predatória de botos-vermelhos para serem usados como isca na pesca da piracatinga (espécie de peixe necrófago – que come carniça de animais mortos), de porte médio, podendo medir até 45 centímetros (cm). O peixe é muito abundante na região amazônica e consumido em larga escala pelos colombianos. Os estudos são realizados, desde 1993, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá – distante de Manaus cerca de 700 quilômetros (km). Em outubro e novembro do ano passado, pesquisadores do Inpa percorreram as comunidades em torno de Tefé. Durante a excursão, eles constataram que a caça dos botos é constante e tratada de forma natural pelos moradores, embora tenham consciência de que a pesca ou caça de animais silvestres é crime ambiental. A Colômbia é um grande apreciador de peixes Siluriformes (peixes lisos ou de couro) da Amazônia brasileira e a pesca da piracatinga se torna uma atividade lucrativa para os ribeirinhos que habitam essas localidades.
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PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2011
Nova espécie de peixe do Rio Amazonas é descrita
Da Agência Museu Goeldi
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rtigo publicado na Revista Zootaxa em janeiro de 2011 apresenta mais um resultado positivo das expedições que desbravaram a Calha Norte da Amazônia desde 2008. Dessa vez, o destaque da pesquisa científica veio da área de Ictiologia, que descreve uma nova espécie de peixe localizada no Igarapé Curuá, afluente da margem esquerda do Rio Amazonas (no estado do Pará), na Estação Ecológica Grão Pará, a maior unidade de conservação de proteção integral do mundo, com mais de 4 milhões de hectares. “É um peixe muito pequeno, que foi coletado quase no fim dos trabalhos no igarapé. Devido ao seu tamanho, acreditamos ser uma espécie difícil de ser encontrada, tanto que só conseguimos coletar um único individuo” relata Wolmar Wosiacki. Wolmar é pesquisador e curador da coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), e juntamente com Luciano Montag, professor da Universidade Federal do Pará, e Daniel Coutinho, do Programa de Pós-Graduação em Zoologia, mantido em parceria pelas duas instituições, são os autores do artigo que descreve a espécie Stenolicmus ix. Esta espécie de peixe difere das outras pelo comprimento dos barbilhões (filamento olfativo ou gustativo) nasais e maxilares; pelo padrão de coloração da região dorsal do tronco e pelos olhos e comprimento da cabeça proporcionalmente grandes, entre outras características descritas no artigo. O indivíduo de Stenolicnus ix foi coletado com uma peneira nas cabeceiras do Rio Curuá (PA) e, com ele, outras quinze espécies foram observadas. Segundo os autores do artigo, não é possível afirmar o tipo de ambiente utilizado por S.ix, porque não foram realizadas observações das espécies em seu habitat natural. No entanto, pode-se sugerir uma associação a ambientes arenosos considerando o fato de que a maioria das espécies próximas à descrita são associados a este tipo de ambiente. A nova espécie é conhecida somente pelo exemplar encontrado durante as expedições à Calha Norte. A Revista Zootaxa é a principal publicação sobre taxonomia do mundo, com mais de 8 mil autores desde 2001. E pode ser acessada no link http://www.mapress.com/zootaxa/.
foto: Valter Campanato ABr
Campanha da Fraternidade quer ampliar debate sobre mudanças climáticas Luana Lourenço, de Brasília, da Agência Brasil
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Igreja quer mobilizar fiéis sobre os impactos das mudanças climáticas e estimular ações práticas para preservar o meio ambiente. Com o tema Fraternidade e a Vida no Planeta, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, no dia 9 de março, a 48ª Campanha da Fraternidade, que pretende alertar os católicos para a gravidade das consequências do aquecimento do planeta. No texto-base da campanha, a CNBB expõe as principais conclusões da ciência sobre as mudanças climáticas e a participação humana no problema,
faz críticas ao modelo energético que ainda privilegia fontes fósseis – grandes emissoras de gases de efeito estufa, ao desmatamento e até ao agronegócio. Segundo o secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa (foto), a ideia é aproximar o debate sobre mudanças climáticas das pessoas e estimular mudança de hábitos e políticas públicas que ajudem a preservar a vida e o planeta. “Pergunta-se o que o cidadão comum pode fazer. As enchentes em São Paulo e em outros capitais, por exemplo, poderiam ser minimizadas se não houvesse uma massa de detritos jogados nos rios”, citou dom Dimas. Entre as ações práticas sugeridas pela campanha estão a redução do uso de sacolas plásticas, o uso de energias renováveis e mudanças de hábitos de consumo. “As campanhas da Fraternidade são caracterizadas pela capilaridade, chegamos ao ribeirinhos da Amazônia e aos grandes condomínios. Isso contribui para o alcance da reflexão.” Durante a apresentação da campanha, o secretário-geral da CNBB criticou a falta de investimentos em fontes alternativas de energia, como a eólica e a solar, o risco de aprovação de mudanças no Código Florestal sem considerar a opinião de movimentos ligados à terra e a construção de grandes projetos de infraestrutura sem garantia de contrapartidas sociais.
Chuvas atingem várias cidades no Mato Grosso do Sul Carolina Pimentel, de Brasília, da Agência Brasil
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ais de 66 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas em Mato Grosso do Sul nos últimos dias. A Defesa Civil estadual contabiliza 2.402 desalojados (que estão em casas de parentes ou amigos) e 497 desabrigados (que perderam a casa e estão em ginásios ou paróquias), conforme boletim divulgado no dia 9 de março. Cinco municípios decretaram situação de emergência – Aquidauana, Anastácio, Dois Irmãos do Buriti, Coxim e Paranaíba – e mais cinco estudam
adotar a medida. São elas: Ribas do Rio Pardo, São Gabriel do Oeste, Rio Verde, Bandeirantes e Sidrolândia. Em Paranaíba, o sistema de abastecimento de água opera parcialmente para atender os 43 mil habitantes. Em São Gabriel do Oeste, a colheita de soja está prejudicada. De acordo com a Defesa Civil, 14 pontes caíram em Rio Verde, na região do Pantanal. Em algumas cidades, o nível dos rios subiu quase 7 metros. Em Aquidauana, o nível do rio de mesmo nome passou de 3 metros, considerado normal, para 9,8 metros. A ponte que liga o município à Rodovia BR-262 foi destruída.
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P e lo B rasi l Mais da metade dos municípios podem ficar sem água em 2015 Luana Lourenço Repórter da Agência Brasil
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ono do maior potencial hídrico do planeta, o Brasil corre o risco de chegar em 2015 com problemas de abastecimento de água em mais da metade dos municípios. O diagnóstico está no Atlas Brasil – Abastecimento Urbano de Água, lançado no Dia Mundial da Água (22 de março) pela Agência Nacional de Águas (ANA). O levantamento mapeou as tendências de demanda e oferta de água nos 5.565 municípios brasileiros e estimou em R$ 22 bilhões o total de investimentos necessários para evitar a escassez. Considerando a disponibilidade hídrica e as condições de infraestrutura dos sistemas de produção e distribuição, os dados revelam que em 2015, 55% dos municípios brasileiros poderão ter déficit no abastecimento de água, entre eles grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre e o Distrito Federal. O percentual representa 71% da população urbana do país, 125 milhões de pessoas, já considerado o aumento demográfico.
PLURALE EM REVISTA | Março/Abril EM REVISTA | Julho/Agosto 2010 2011 28 PLURALE
“A maior parte dos problemas de abastecimento urbano do país está relacionada com a capacidade dos sistemas de produção, impondo alternativas técnicas para a ampliação das unidades de captação, adução e tratamento”, aponta o relatório. O diretor-presidente da ANA, Vicente Andreu, disse que o atlas foi elaborado para orientar o planejamento da gestão de águas no país. Segundo ele, como atualmente mais de 90% dos domicílios brasileiros têm acesso à rede de abastecimento de água, a escassez parece uma ameaça distante, como se não fosse possível haver problemas no futuro. “Existe uma cultura da abundância de água que não é verdadeira, porque a distribuição é absolutamente desigual. O atlas mostra que é preciso se antecipar a uma situação para evitar que o quadro apresentado [de déficit] venha a ser consolidado”, avalia. De acordo com o levantamento, as regiões Norte e Nordeste são as que têm, relativamente, os maiores problemas nos sistemas produtores de água. Apesar de a Amazônia concentrar 81% do potencial hídrico do país, na Região Norte menos de 14% da população urbana é atendida por sistemas de abastecimento satisfatórios. No Nordeste, esse percentual é de 18% e a região também concentra os maiores problemas com disponibilidade de mananciais, por conta da escassez de chuvas. O documento da ANA calcula em R$ 22,2 bilhões o investimento necessário para evitar que o desabastecimento atinja mais da metade das cidades brasileiras. O dinheiro deverá financiar um conjunto de obras para o aproveitamento de novos mananciais e para adequações no sistema de produção de água. A maior parcela dos investimentos deverá ser direcionada para capitais, grandes regiões metropolitanas e para o semi-árido nordestino. “Em função do maior número de aglomerados urbanos e da existência da região do semi-árido, que demandam grandes esforços para a garantia hídrica do abastecimento de água, o Rio de Janeiro, São Paulo, a Bahia e Pernambuco reúnem 51% dos investimentos, concentrados em 730 cidades”, detalha o atlas. “Esperamos que os órgãos executores assumam o atlas como referência para os projetos. Ele é um instrumento de planejamento qualificado, dá a dimensão de onde o problema é grande e precisa de grandes investimentos e onde é pequeno, mas igualmente relevante”, pondera Andreu. Além do dinheiro para produção de água, o levantamento também aponta necessidade de investimentos significativos em coleta e tratamento de esgotos. O volume de recursos não seria suficiente para universalizar os serviços de saneamento no país, mas poderia reduzir a poluição de águas que são utilizadas como fonte de captação para abastecimento urbano. Andreu espera que o diagnóstico subsidie a elaboração de projetos integrados, compartilhados entre os órgão executores. “Ao longo do tempo, o planejamento acabou se dando apenas no âmbito do município, que busca uma solução isolada, como se as cidades fossem ilhas. É preciso buscar uma forma de integração, de planejamento mais amplo, preferencialmente por bacia hidrográfica”, sugere o diretor-presidente da agência reguladora. “Ainda não estamos no padrão de culturas que já assumiram mais cuidado com a água. Mas estamos no caminho, e o atlas pode ser um instrumento dessa mudança”.
UFF lança Curso de Bacharelado em Ciência Ambiental
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UFF lançou curso de graduação em Ciência Ambiental. Foram 30 vagas através do Vestibular para o 1º semestre de 2011, além de disponibilizar 10 vagas para reingresso e transferência de alunos. Com uma carga horária total de 3.190 horas, o tempo esperado de forma-
ção são quatro anos, em turno integral, contemplando 360 horas de estágio supervisionado, 120 horas de trabalho de conclusão de curso, 240 horas de atividades complementares, 300 horas de disciplinas eletivas e optativas e 2.170 de disciplinas obrigatórias. O curso é oferecido pelo Instituto de Geociências – IGEO, no Campus da Praia Vermelha, em Niterói. Entre 14 e 18 de março foi realizada a Semana de Integração da Turma 2011, encerrando com a mesa-redonda “Consciência e Práticas Socioambientais”. O evento foi organizado pela Coordenação do Curso de Bacharelado em Ciência Ambiental, do Instituto de Geociências da UFF. A coordenadora do curso, Professora Patricia Almeida Ashley, buscou na proposta do evento, convidar representantes com destaque nacional e internacional e de diferentes segmentos da sociedade do Estado do Rio – acadêmico, governo, empresarial, mídia e Terceiro Setor. Os alunos ouviram palestras de vários representantes de diferentes segmentos ligados à Sustentabilidade: Maria Lúcia Wil-
lemsens, diretora-superintendente da da Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa; Luiz Firmino Martins Pereira, ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente, hoje subsecretário-executivo da Secretaria de Estado de Ambiente; Raimundo Nonato Damasceno, professor da UFF; Álvaro Cysneiros, do Movimento Niterói como vamos e a jornalista Sônia Araripe, diretora de Plurale em revista e Plurale em site. A moderação foi do Professor Ivan de Oliveira Pires e a coordenação da Professora Patrícia Almeida Ashley. Maria Lúcia mostrou o case da Cultura como empresa socialmente responsável; Firmino contou para os jovens como é a vida de uma autoridade na área ambiental e a relevância da gestão pública efetivamente participativa; outro tema foi a perspectiva da integralidade e interdisciplinaridade no conhecimento e inovação científico da Ciência Ambiental abordado pelo Professor Damasceno; Cysneiros apresentou o Niterói como vamos e Sônia mostrou a relevância da mídia sustentável.
Lançamento do Movimento Niterói Como Vamos Isabel Capaverde, de Plurale em revista/ De Niterói
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Seminário “Cidades Sustentáveis: Sociedade, Mobilização e Cidadania” marcou o lançamento oficial do Movimento Niterói Como Vamos (NCV), no dia 24 de março, na cidade vizinha ao Rio. Com a participação de universitários, professores, autoridades – entre elas o secretário de Meio Ambiente de Niterói, Fernando Guida e o ex-senador Saturnino Braga – representantes de instituições e associações, o evento que se estendeu das 16h30 às 20hs, lotou o auditório da Ampla. Depois das boas vindas de André Moragas, diretor de Relações Institucionais da Ampla, Álvaro Cysneiros, coordenador do NCV, apresentou o movimento que segue a mesma linha de atuação do Bogotá Como Vamos, Nossa São Paulo, Rio Como Vamos e outros que integram a Rede Social Brasileiras de Cidades Justas e Sustentáveis e a Rede Latino-americana de Cidades Justas e Sustentáveis. Monitorando indicadores de gestão urbana em áreas como saúde, transporte, educação, meio ambiente, habitação, saneamento entre outras, o NCV pretende promover uma maior integração entre as políticas públicas e as reais necessidades e interesses dos moradores da cidade. Álvaro esclareceu que o objetivo não é brigar com a prefeitura de Niterói, nem tão pouco defen-
der interesses partidários ou ambições políticas. A ideia é mobilizar o cidadão para que juntos, sociedade civil e governo, busquem transformar a cidade num lugar melhor para todos viverem. Exemplificou como atua o NCV, através de GTs, grupos de trabalho e disse que uma das metas para 2011 é aumentar a participação de jovens e lideranças sociais no movimento. Em seguida, foi a vez da convidada Patricia Ashley, pesquisadora, escritora e professora adjunta do Departamento de Análise Geoambiental do Instituto de Geociência da UFF, falar sobre “Democracia Participativa e o seus diversos atores”. Patricia ilustrou a palestra citando sua experiência em São João Del Rey, de 2004 a 2009, no projeto EcoCidades e em como as universidades podem ajudar nessa luta por cidades sustentáveis, nos seus diversos campos de conhecimento, qualificando os gestores. Falou de como percebemos e avaliamos a realidade, de como podemos construir oportunidades, articular as responsabilidades sociais, além dos instrumentos e meios de realização. “A democracia participativa não pode ser apenas formal, mas também deve ser essencial. A relação que estabelecemos e construímos com a cidade reflete e, ao mesmo tempo, modifica a sua qualidade social”, disse Patrícia.
Logo após a primeira rodada de perguntas do público, mediadas pela jornalista Sônia Araripe, Editora de Plurale, Thereza Lobo, socióloga, diretora da Solidaritas e do Rio Como Vamos, falou sobre “Os papéis da juventude e das empresas. Controle cidadão sobre o orçamento público”. Thereza discorreu sobre o Rio Como Vamos, movimento “irmão” e mais experiente que o NCV, sua trajetória e resultados obtidos até agora, como o fato de já serem consultados para algumas decisões da prefeitura do Rio. Destacou a campanha de cultura cidadã que o movimento tem feito, com o slogan Deixa de Ser Mané, disseminando as boas práticas de convivência na cidade como não jogar lixo nas ruas e praias e, no trânsito, deixar os cruzamentos livres. Ao final mais uma rodada de perguntas dirigidas a todos os palestrantes. Vale ressaltar que durante todo o evento houve a tradução em libras e no lugar das garrafas plásticas de água, água na jarra para os palestrantes. Encerrando a noite, um coquetel com música ao vivo.
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Especial Água
Subterrânea
Aquífero Guarani, a grande esponja subterrânea Texto: Romildo Guerrante, Especial para Plurale em revista (*)
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pedra formada há 250 milhões de anos pela transformação da areia de um grande deserto em rocha porosa e permeável pode não ser a pedra filosofal dos antigos alquimistas, que pretendiam com ela fabricar ouro e um milagroso elixir de longa vida. Mas, certamente, o arenito extenso que se encontra a mais de 300 metros de profundidade no noroeste de São Paulo, e que dali se estende ao Uruguai e à Argentina, pode ser um elixir de salvação da vida diante das ameaças de um mundo em que a água não será suficiente para todos. A água, explica José Luiz Galvão Mendonça, geólogo do departamento estadual que licencia e fiscaliza os poços do Aquífero Guarani, existe na Terra na mesma quantidade desde que o mundo é mundo. Não aumentou nem diminuiu. Evapora, forma nuvens, cai, infiltra-se no chão, alimenta os rios. Esse ciclo hidrológico em nada mudou. Por que então o mundo vive sob a ameaça de não ter água para todos dentro de 20 anos? Por três razões principais, explicam todos os especialistas em água, alimento insubstituível da vida: aumento da população; crescimento da agricultura irrigada (para aumentar a produção de alimentos); e aumento do consumo individual nas regiões ricas. Então, os 2% de água doce aproveitável da natureza não vai dar pra todos. E não vai porque a população mundial, que hoje é estimada em 6,5 bilhões de pessoas, vai levar o sistema ao colapso quando atingir 10 bilhões, prevê a ONU para 2025. Isto se não mudarmos os hábitos de consumo e não formos rígidos na defesa dos mananciais existentes. Inclusive os que ficam debaixo da terra. As águas subterrâneas, que constituem mais de 90% da água doce existente no mundo, são um grande reservatório da humanidade. Mas não são “um mar de água doce”, como se dizia há alguns anos. Podem exaurir-se pelo mau uso, pela contaminação, pelo desperdí-
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cio. Estima-se, com base numa espessura média de 250 metros da camada de arenito, cuja porosidade efetiva é de 15%, que as reservas permanentes do aquífero (água acumulada ao longo do tempo) sejam da ordem de 45 mil quilômetros cúbicos. É muita água? É, mas não se pode esbanjar. Nem poluir. Poluir aquífero então, nem pensar, porque aí a condenação é eterna. E nem toda a água do Aquífero Guarani serve para o consumo humano, grande parte é salinizada. No Brasil, a proteção aos aquíferos só veio em 2008, por meio de portaria do Conama – Conselho Nacional do Meio Ambiente, quando a utilização já era intensa desde a década de 70, acentuando-se vinte anos depois. São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul usam regularmente as águas do Aquífero Guarani. No Paraná e em Santa Catarina as condições geológicas não são muito favoráveis. Em São Paulo, onde ocorre a zona de recarga do Aquífero, próximo da cidade de Boa Esperança, as condições são muito favoráveis, não só pela escassa profundidade do manancial, quanto pelas características positivas de aprisionamento da água nos poros do arenito. A protegê-la, outra camada ainda mais forte, esta de basalto – rocha nascida de lava vulcânica -, que foi a responsável pela compressão sobre as areias do vasto deserto que as transformaram em pedra. Pedra porosa que funciona como depósito de água em poros minúsculos. Acima dela, a pedra preta e resistente que é a maior defesa do Aquífero. A água vem do arenito que fica debaixo dessa pedra. Não é um rio subterrâneo. É como o petróleo, que fica semiconfinado em poros que são quase alvéologos comunicantes. Para vazar a dureza da pedra, da “pedra rude”, cuja rigidez serviu à construção de boa parte da poesia áspera de João Cabral de Melo Neto, não se usa o cinzel dos lapidadores, mas brocas poderosas que custam até R$ 100 mil cada uma. Muitas delas se perdem na perfuração, ainda que lubrificadas com uma lama química que faz o que pode para suavizar e esfriar o choque do aço com o basalto preto que já escorreu vermelho há milhões de anos, na forma de lava, pelas encostas de extintos vulcões. Há sempre uma pedra no caminho dos geólogos, assim como na rota dos poetas. Mas ela é vencida pela disposição do homem em superar obstáculos. A lama resiliente que ajudou a broca na luta contra a pedra se agrega depois à parede dos poços, evitando que matéria sólida se desprenda e se junte à
foto: Romildo Guerrante
Fonte: Boscardin Borghetti
água que agregou o calor das profundezas e que está sendo bombeada para vazar a céu aberto, ao ritmo de 150 a 700 metros cúbicos por hora.. Em algumas regiões, a água chega ao topo a 49 graus centígrados, o que é um grande estímulo à exploração de estâncias termais. Por ser diferenciado em cada uma de suas nove partes já estudadas, o Aquífero Guarani tem uso restrito no Paraná, limitado no Uruguai e quase nulo na Argentina e no Paraguai. A salinidade é, em muitos casos, um fator até impeditivo. Há regiões em que o sal é três vezes mais presente que na água do mar. A profundidade é outro fator limitante, porque torna antieconômica a exploração. São Paulo é o estado que mais se vale das águas desse manancial para abastecimento urbano. Fica em São Paulo a cidade de Ribeirão Preto, a única cidade com 100% de abastecimento com água subterrânea do Aquífero Guarani, extraída em 102 poços para abastecer 600 mil habitantes. Ribeirão tira tanta água do subsolo que em sua área central já não se autoriza a abertura de novos poços. Mas nem cogite sugerir à prefeitura que vá buscar água do Rio Pardo. Fica longe e exigiria a montagem de custosos sistemas de coleta, tratamento e distribuição. Embora um poço custe entre R$ 300 mil e R$ 700 mil (existem poços que chegam a custar até
R$ 3 milhões), é muito mais barato que um sistema convencial de mananciais a céu aberto. Mas houve quem defendesse o transporte das águas do Aquífero para a capital paulista, onde o custo de tratamento da água de superfície é cada vez mais alto. Segundo a ABAS – Associação Brasileira de Águas Subterrâneas, existem 300 mil poços em operação no Brasil – são 300 milhões no mundo inteiro. A cada ano, abrem-se mais 10 mil novos poços. Nesse ritmo, é preciso controlar o licenciamento, pois em alguns pontos o nível das águas baixou. Episodicamente, aqui e ali. O que houve? Extraiu-se muita água num período de tempo muito curto. O ciclo hidrológico normal não conseguiu repor essa água. Então, a autoridade responsável limita as autorizações. Ribeirão e Bauru (400 mil habitantes) são as duas cidades paulistas que mais consomem água do Aquífero. O abastecimento de Bauru, diferentemente do sistema de Ribeirão, funciona com 65% de águas subterrâneas, sendo o remanescente obtido no Rio Batalha. Para o geólogo José Luiz Galvão de Mendonça, do DAEE, o departamento estadual situado em Araraquara que licencia os poços, o consumo excessivo e a poluição (que ocorre geralmente nas áreas mais próximas da superfície, nas chamadas “áreas de recarga”), são os grandes inimigos do manancial de águas subterrâneas. Por isso o controle.
A pedra que guarda água
O
Aquífero Guarani ocupa uma área de 1,2 milhão de km2, da qual 70% está em território brasileiro, estendendose pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Embora pouco utilizado fora de nossas fronteiras, o manancial alcança a Argentina, o Paraguai e o Uruguai. O Aquífero se formou, em diferentes etapas, entre 150 milhões e 250 milhões de anos, quando essa região era um enorme deserto. Ocorrências vulcânicas extremas, talvez uma das maiores do planeta, cobriram de lavas o imenso areal. A rocha preta e dura que se formou da lava esfriada é o basalto. Sob o peso do basalto, a areia virou numa rocha porosa, o arenito, totalmente infiltrada de água. A água contida não é um rio subterrâneo, como muita gente pensa, mas uma espécie de esponja, muito semelhante à que guarda o petróleo. O Aquífero é continuamente abastecido pela infiltração das águas da chuva na área de afloramento, situada principalmente no noroeste de São Paulo. Nos rumos Sul e Oeste, o Aquífero é cada vez mais profundo, passando de mil metros na fronteira com os vizinhos do Cone Sul. Mas, na região de Boa Esperança, perto de Araraquara, onde a rocha está à flor da terra, ocorre a maior parte da recarga do Aquífero. Ali está a área mais vulnerável à poluição. Por isso, há quem defenda a transformação de toda essa área em reserva nacional, para evitar a contaminação. Pesquisa feita em 2009 pela Cetesb, a empresa ambiental de São Paulo, em conjunto com o IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, não detectou contaminação. Pelo menos por enquanto. (*) Matéria originalmente publicada na Revista Bio.
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Especial Água
do rio
Especialistas estudam
Mananciais
Subterrâneos
Texto e fotos: Nícia Ribas, de Plurale em revista, de Manaus (AM)
Cerca de 55% dos municípios brasileiros já utilizam, para pelo menos parte do abastecimento público, água subterrânea
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mbora a água do Rio Amazonas represente 16% de toda a água doce que chega aos oceanos do Planeta, há rios da região que, durante as fortes estiagens, cada vez mais frequentes, não dão conta de suprir a população que vive às suas margens. Nas cheias, abundância. Na seca, escassez. O paradoxo das águas marca a vida dos moradores das várzeas, que sofrem com falta de água ou com a má qualidade daquela que consomem. É por isso que os mananciais subterrâneos são a bola da vez. Segundo dados do IBGE, cerca de 55% dos municípios brasileiros já utilizam, para pelo menos parte do abastecimento público, água subterrânea. Ribeirão Preto (SP), Maceió (AL), Natal (RN) e Manaus (AM) são exemplos. É um recurso estratégico não apenas para atender a população com água de boa qualidade, como para abastecer a indústria, a agricultura (irrigação) e o lazer.
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A ONU já alertou: em 2025, cerca de 2,7 bilhões de pessoas, em todo o mundo, enfrentarão a falta d’água se as populações continuarem a tratá-la como um bem inesgotável. Por isso, o mundo todo está de olho em países como o Brasil, que detêm grandes reservas de água doce. Não é à toa que o Ministério do Meio Ambiente e a ANA mergulham fundo nos estudos do potencial hídrico dos aqüíferos brasileiros. O Tratado de Cooperação Amazônica, assinado em 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, República da Guiana, Peru, Suriname e Venezuela, prevê ações para proteção ambiental e gestão sustentável dos recursos hídricos subterrâneos na Região Amazônica. Como parte do Tratado, e do Plano Nacional de Recursos Hídricos, do Ministério do Meio Ambiente, a ANA - Agência Nacional de Águas lançou em 2010 um edital para estudar os aquíferos da Amazônia.
O edital demonstra que a ANA já se preocupa com a demanda crescente de água subterrânea, principalmente na Região Amazônica, onde está a maior e mais complexa rede hidrográfica do mundo (7,3 milhões de km2). Nosso Planeta Azul tem 70% da sua superfície coberta por água, mas apenas 2,5% é doce. Da água doce existente, 68,9% formam as calotas polares e geleiras; 0,9% estão na umidade do solo e pântanos; 0,3% nos rios e lagos; e os 29,9% restantes são águas subterrâneas. Extrair volume maior do que o reposto pela natureza pode prejudicar o abastecimento de rios, provocando seca nas nascentes. Sem contar os problemas decorrentes da contaminação das águas pelos homens, como a construção de fossas, esgotos domésticos e industriais, vazamentos em postos de gasolina e outros. Muitos fatores ameaçam a fartura de água doce, e estudá-la torna-se imprescindível para que não falte no futuro. maioR Do mUnDo Pesquisadores da Universidade Federal do Pará apresentaram, ano passado, um estudo preliminar sobre o aquífero Alter do Chão, localizado sob os estados do Amazonas, Pará e Amapá, com volume estimado de 86 mil km3 de água doce, que seria o maior reservatório subterrâneo de água potável do mundo. Em comparação com o aquífero Guarani, que também passa pela Argentina, Paraguai e Uruguai,com volume de 45 mil km3, considerado, até agora o maior do País, a reserva de Alter do Chão teria quase o dobro de água. Esse tipo de reserva, segundo o estudo, segue a proporção de tamanho da Bacia Hidrográfica que fica acima dela, no caso, a do Amazonas/Solimões.. Numa segunda etapa da pesquisa, eles visitarão os poços já existentes na região do aqüífero para avaliar
seu potencial de vazão e tentar mensurar a capacidade de abastecimento da reserva e definir a melhor maneira de exploração da água, sempre com o cuidado de não comprometer o meio ambiente. Como a Região Amazônica é pouco habitada, a água dessa reserva é potável, o que demanda menos tratamento químico. Além[IW1] disso, no Aquífero de Alter do Chão, a formação rochosa – mais arenosa – permite a filtragem da recarga de água na reserva subterrânea. No entanto, segundo os pesquisadores, antes de afirmar que temos o maior aquífero do mundo, é preciso conhecer o comportamento hidráulico e as interligações entre as Bacias Sedimentares do Acre, do Solimões e do Amazonas, que ocupam, no Brasil, uma área aproximada de 1.250.000 km2. eStUDaR É pReCiSo Doutor em hidrogeologia pela USP, área que estuda a água subterrânea, Ingo Wahnfried, morador de Manaus, conversou com Plurale em revista. Plurale em revista - Qual seria o caminho para garantir fartura de água no futuro? Ingo Wahnfried - Investir em pesquisa aqui na nossa Região é fundamental para termos uma noção do tamanho e importância do recurso. A compreensão exata das dimensões do Aquífero Guarani levou mais de 30 anos de estudos. Plurale- Há estudos sérios em andamento ? Ingo – Somente estudos pontuais. Na Amazônia o desafio é maior por causa das distâncias e dificuldade de acesso. Ainda assim, não é aceitável que em pleno século 21 ainda não tenhamos quantificado uma reserva de água subterrânea que figura entre as maiores do mundo. Plurale - Essa iniciativa da ANA, lançando edital para estudar os aquíferos da Amazônia vai garantir o melhor aproveitamento dos nossos recursos hídricos? Ingo - O edital da ANA é uma iniciativa fundamental, mas é apenas o começo. A água na Amazônia sustenta a floresta que detém a maior concentração da biodiversidade da Terra, numa região que apresenta baixos índices socioeconômicos e enfrenta problemas decorrentes da falta de infra-estrutura urbana e de serviços públicos, como água tratada. É necessário criar, pelo menos, um centro de pesquisa regional dedicado às águas subterrânea e superficial.
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Colunistas
Jetro Menezes
Água, Saúde e Proteção do Ambiente
S
e os municípios brasileiros têm falhado no cuidado com a qualidade de suas águas, não se pode dizer que é por falta de uma legislação que auxilie os governos a criar formas de resolver o problema. O art. 1º, Inciso II da Política Nacional de Recursos Hídricos, Lei Federal 9433/97, diz que a água é um recurso natural limitado e dotado de valor econômico. No Inciso VI, diz: a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades. A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, Inc. X, trata da educação ambiental em todos os níveis do ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Mesmo sem citar todo o aparato legal existente, mas apenas as leis de âmbito federal, já é possível iniciar um planejamento. Está certo que alguns municípios se valem de uma legislação própria para as questões da água, amparada nas leis federais e estaduais, mas são insuficientes. Estamos falando não só da água, mas ampliando essa questão para saúde e meio ambiente. Falar dos benefícios da água é falar do óbvio. Este bem é fundamental para manter o plantio (familiar
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Especial Água e agronegócio), saciar a sede (humana e animal), produzir alimentos, fazer a higiene pessoal, para a indústria, o lazer e o transporte, além de muitas outras formas de uso. A água sem tratamento de esgoto adequado traz impactos negativos para a saúde da população, por meio de vetores causadores de doenças como a malária, a diarréia e, nos casos da falta de saneamento, a proliferação dos insetos que causam febre amarela e mesmo da dengue. A partir do diagnóstico da situação da bacia hidrográfica estudada, serão levantados os problemas e, a partir deles, podem surgir os programas, as metas e o planejamento municipal para a gestão local dos recursos hídricos. Esta é (ou deveria ser) a lição de casa para as prefeituras, em um trabalho conjunto com todos os usuários e a comunidade em geral. Uma das tarefas mais difíceis será manter um programa permanente de conscientização ambiental, voltado para a proteção dos mananciais. Estudos devem ser realizados em conjunto com as mais diversas secretarias municipais. A secretaria de Saúde, por exemplo, pode apresentar um relatório com os casos de doenças e mortes relacionados à veiculação dos recursos hídricos no município. A Secretaria de Meio Ambiente deverá detectar os mananciais e criar os mecanismos de informação, formação, proteção e capacitação dos servidores municipais e da população. A Secretaria de Educação deve pulverizar as informações sobre a água do município, por meio de professores e alunos. O principal fórum para este tipo de discussão e participação desses agentes, do setor privado e da comunidade, é formado pelos Comitês de Bacia e os Conselhos de Meio Ambiente de cada município. É importante que cada pessoa procure o Subcomitê de Bacia do seu município e participe das reuniões e fóruns de discussões. Toda gestão que ainda não adotou políticas públicas de meio ambiente no seu município revela, sem dúvida, um amadorismo e um , conservadorismo injustificáveis. O prefeito que não se mexe para atender a população de forma justa e saudável, no que tange às questões de meio ambiente, está agredindo a Constituição do Brasil, no seu artigo 225. Não podemos permitir que em pleno ano de 2011, mais de 1,5 milhão de crianças com menos de 5 anos de idade morram de diarréia e febre amarela pelo mundo afora por falta de água potável e saneamento básico. Ao menos metade das mortes poderia ser evitada com o simples ato de lavar as mãos com sabão e de beber água limpa. O maior desafio para os gestores públicos, o setor privado e a comunidade em geral, no presente século, é a formação de uma sociedade que entende a importância de preservar e por isso conserva o meio ambiente hoje, com um olhar no futuro.
Referência Bibliografia: • OLIVEIRA, Cecy; Maria do Carmo Zinato. Caderno de Estudos e Pesquisas – Água e Saneamento Básico. Pós-Graduação a Distancia – Áreas de Meio Ambiente. POSEAD-FGF. Brasília:DF,2010. Fls.23 a 34. Jetro Menezes (jetromenezes@gmail. com) é Gestor e Auditor Ambiental, Consultor da www.jetroambiental.com.br e atualmente é Diretor de Meio Ambiente da Prefeitura de Franco da Rocha/SP.
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13ยบ 11 e 12 de julho de 2011
Realizaรงรฃo
Informaรงรตes e Inscriรงรตes $%5$6&$ ,%5, ZZZ DEUDVFD RUJ EU ZZZ LEUL FRP EU
6KHUDWRQ 6mR 3DXOR :7& +RWHO $Y GDV 1Do}HV 8QLGDV 3LVR & %URRNOLQ 1RYR 6mR 3DXOR 63
Patrocinadores Ouro
C
Patrocinadores Prata
Apoio
Organizaรงรฃo
Divulgaรงรฃo
Educaรงรฃo Financeira e Investimentos
RI
RELAร ร ES COM INVESTIDORES
Apoio Institucional
ABRAPP | ABVCAP | ADEVAL | AMEC | ANBIMA | ANCOR | ANEFAC | APIMEC NACIONAL | APIMEC-SP | IBEF-SP | IBGC | IBRACON | INI | INSTITUTO CHIAVENATTO | IBRADEMP
Bazar ético
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Este espaço é destinado à divulgação de produtos éticos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
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Cooperativa Modelarte:
garrafas plásticas são recicladas em pufes
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Brasil, que já é recordista global na reciclagem de latinhas de alumínio, com um índice de 98,2%, também tem mostrado o valor do reaproveitamento das garrafas plásticas de PET, alcançando 55,6%. As artesãs da Cooperativa Modelarte estão fazendo – com muita garra e charme – a sua parte. Moradores ajudam a recolher garrafas e caixas de leite do, assim como catadores também separam o material manualmente. A ajuda vem ainda de pescadores da região de São Gonçalo que retiram garrafas das águas da Baía de Guanabara. “É um imenso prazer ver o material reaproveitado, virando pufes, poltronas e outros produtos”, conta Maria Helena Pinheiro, 54 anos, uma das 17 artesãs que dão duro na Cooperativa Modelarte. Sua história se parece com a de tantas outras trabalhadoras dali. Estava desempregada quando apareceu a oportunidade de fazer um curso de costura e artesanato. Aprendeu, entrou para a cooperativa, que tem sete anos, e nunca mais saiu. “Juntas somos mais fortes”, resume. Depois de ter patrocínio que garantiu boas encomendas e visibilidade (chegaram a produzir 200 mil bolsas), as cooperadas agora estão buscando novos patrocinadores, apoio e parceria. Além dos pufes e poltronas, a Modelarte produz também mesa feita com jornal; ecobags confeccionada com 100% algodão; bolsas reaproveitando banners de propagandas e bolsas feitas com caixas de leite, revestidas com juta. Os pedidos podem ser feitos através do email cooperativa moderlarte@bol. com.br ou pelo telefone (21) 26046584, procurando Valter.
Este espaço é destinado à divulgação de produtos étnicos e de comércio solidário de empresas, cooperativas, instituições e ONGs.
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Artigo
Claudia Siebert
Pós-desastre:
A semelhança entre as tragédias que assolaram Blumenau e a Região Serrana do Rio
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Foto: mbernardes.wordpress.com
omo se mede uma tragédia? Se nosso instrumento de mensuração for o número de mortes, o desastre socioambiental da Região Serrana do Rio de Janeiro - com 249 mm de chuva entre 11 e 12 de Janeiro de 2011, que resultou em mais de 800 mortes confirmadas e de 400 desaparecidos - foi dezenas de vezes maior do que o desastre que atingiu Blumenau em 2008. No entanto, se nossa régua for a precipitação, os 500 mm de chuva que Blumenau recebeu em dois dias - com recorde histórico de 283 mm em 24 horas, entre os dias 22 e 23 de Novembro de 2008 - foi maior, apesar de só (só?) ter causado 24 mortes. Mas como não estamos em uma competição macabra pelo maior desastre, assistimos ao noticiário do Rio de Janeiro com a angustiante sensação de dejà vu. A tragédia transformada em espetáculo pela mídia; o solo argiloso exposto em feridas abertas pelos deslizamentos nas encostas; as casas destruídas como brinquedos pela força das correntes de lama; o desespero dos sobreviventes na busca pelos parentes desaparecidos; o heroismo do Corpo de Bombeiros, do Exército
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Nova Friburgo/ Foto de Valter Campanato/ Abr
Reconstruindo a armadilha
e da Defesa Civil nos resgates; a desesperança dos desabrigados alojados em ginásios; a solidariedade dos voluntários e dos donativos. O Haiti é aqui, e a Região Serrana do Rio de Janeiro pode ser Blumenau amanhã. Aqui, como lá, os desastres não são fenômenos naturais ou divinos, mas sim construções sociais decorrentes da interação conflituosa entre sociedade e meio ambiente. Os desastres foram socialmente construídos por um modelo de urbanização que não respeita os limites do
Blumenau - 2008 | Março/Abril 2011
meio natural e por décadas de omissão do poder público na produção de habitação social para a população de baixa renda. A chuva intensa foi apenas o fenômeno natural catalisador do desastre preparado pelas condições pré-disponentes: vales íngremes, solo argiloso, ocupação irregular de áreas de risco com remoção de vegetação e sem drenagem. Como já vimos este filme, já sabemos, lamentavelmente, o que vai acontecer nos próximos meses no Rio de Janeiro: após o desastre, o próximo capítulo será a reconstrução, com ações do poder público e da sociedade civil. Passando a chuva e abrindo o sol, as famílias desabrigadas cansarão de esperar por ações governamentais e voltarão para suas casas em áreas de risco, em estado pós-traumático de negação da tragédia. Como se não fosse acontecer de novo por que não queremos que aconteça. As verbas públicas prometidas enfrentarão os labirintos burocráticos para serem liberadas. As empreiteiras, be-
Especial Água
neficiadas pelos decretos de calamidade pública que permitem a contratação sem licitação, faturarão como nunca. A economia local vai receber o impulso do FGTS liberado, que se transformará em material de construção, móveis e eletrodomésticos. Em caso de desemprego futuro, os trabalhadores não poderão mais contar com esta rede de segurança. Os decretos de calamidade pública também dispensarão a execução de estudos de impacto ambiental para obras emergenciais, que não respeitarão a legislação ambiental. Com isto, serão removidas as barreiras de terra que cairam sobre ruas construídas penduradas entre rios e morros, tornando a desestabilizar a base das encostas e voltando a dar acesso a áreas que nunca deveriam ter sido ocupadas. A terra removida destas barreiras será depositada em terrenos baixos, que serviam de espaço para os rios extravasarem nas suas cheias. Assim, confinados, os rios ganharão velocidade e transbordarão com mais violência nas próximas chuvas. As árvores serão declaradas culpadas e executadas sumariamente pelas moto-serras, deixando de contribuir com seu sistema radicular para a contenção das encostas. A reconstrução das pontes será feita estrangulando os cursos d´água. A contenção de encostas será feita de maneira tecnicamente incorreta, aumentando o peso nas partes altas com gabiões. Veremos obras de drenagem subdimensionadas, muros de arrimo sem fundação, dinheiro público e privado mal aplicado. Veremos, mais uma vez, a insistência em dominar a natureza, em inventar impossíveis terrenos planos escavando encostas, em reforçar construções que foram destruídas pelas águas, em vez de aceitarmos que há locais inadequados à urbanização que devem ser deixados em paz, liberando a passagem das águas. Conjuntos habitacionais serão edificados nas periferias, desperdiçando a oportunidade de inclusão social oferecida pelos vazios urbanos e edificações sub-utilizadas em áreas centrais. Com isto, os deslocamentos casa-trabalho consumirão o tempo e a renda dos trabalhadores, contribuindo para sobrecarregar o sistema de circulação urbana. Além disto, estes conjuntos habitacionais atenderão apenas às famílias que perderam suas casas, deixando para o próximo desastre as famílias que continuarão morando em área de risco. Lamentavelmente, observamos que a oportunidade de aprendizado social propiciada pelos desastres não são aproveitadas para repensar as relações entre sociedade e natureza. Nossa civilização está cada vez mais urbana, com metade dos seis bilhões de habi-
das Chuvas
tantes do planeta residindo em cidades. Com a concentração da população nas cidades, os impactos da urbanização sobre o meio ambiente nos levam ao questionamento sobre a sustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento urbano, predatório e excludente. A urbanização decorrente da industrialização no século XIX baseou-se nas possibilidades trazidas ao homem pela mecanização da natureza. Acreditava-se que o meio ambiente poderia e deveria ser submetido às necessidades humanas e do capital; e que a natureza assimilaria, indefinidamente, os resíduos da nossa civilização, modo de produção e consumo. Assim, para que a civilização urbana prosperasse, era considerado não só aceitável, mas até necessário, que o meio natural fosse subjugado. O corte de morros, a ocupação e o aterro de áreas inundáveis, a canalização e retificação de cursos d´água, a destruição de florestas, restingas e manguezais, eram vistos, no século XIX e boa parte do século XX, como triunfos da civilização, como sinais de progresso. Estas práticas têm resultado em deslizamentos e inundações que sistematicamente atingem populações despreparadas, vulneráveis em suas ocupações precárias, transformando o desastre e a calamidade pública em triste rotina. Sem aprendermos, lamentavelmente, o que temos visto após os desastres socioambientais são obras de reconstrução que não respeitam o meio natural, e que buscam, mais uma vez, dobrar a natureza à vontade humana. Repetem-se, assim, os erros do passado, criando-se armadilhas que poderão ocasionar, futuramente, novos desastres, alimentando o círculo vicioso de desastre-reconstrução. Precisamos romper este círculo com medidas preventivas, investindo não na reconstrução das áreas de risco, mas sim em uma política habitacional consistente, que evite a continuada ocupação destas áreas. Caso contrário, no próximo verão, poderemos novamente protagonizar o trágico espetáculo da insustentabilidade indo por água abaixo. Claudia Siebert csiebert.arq@gmail.com é professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Pesquisadora do NEUR – Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais da Universidade de Blumenau. Artigo originalmente publicado no Jornal Expressão Universitária, da Universidade de Blumenau (SC).
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das Chuvas
Foto: Valter Campanato/ABr
Especial Água
Chuva que atingiu serra fluminense é rara
e deve demorar 500 anos para se repetir, mostra estudo
A
Thais Leitão, da Agência Brasil chuva que castigou a região serrana fluminense há pouco mais de dois meses e causou a morte de mais de 900 pessoas foi tão rara que pode levar cerca de 500 anos para ocorrer novamente. A conclusão faz parte de um estudo da Coordenação de Programas de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). O documento já foi encaminhado à Presidência da República e esta semana será entregue ao governo do Rio de Janeiro. De acordo com o professor Paulo Canedo, especialista em hidrologia da Coppe e responsável pelo levantamento, os estragos observados na região foram consequência de uma combinação de fatores. Ele explicou que primeiro houve uma chuva não muito forte, mas de longa duração, que deixou o solo encharcado e instável. Em seguida, uma chuva frontal, decorrente de uma frente fria, incidiu sobre o Sudeste e particularmente sobre a serra, causando uma série de desastres. Ao mesmo tempo, uma chuva fortíssima atingia alguns pontos localizados, proveniente de uma formação de nuvens chamadas cúmulos-nimbos, que são de grande intensidade.
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“É a famosa chuva de verão, quando ocorre aquela pancada. O problema é que ela dura no máximo dez, 15 minutos. Na serra, durou quatro horas e meia, o que é absolutamente singular. Ela se formou de maneira estupidamente forte, com nuvens de 14 quilômetros de altura. Conforme ela desabava, ia se formando outra. Foi como se tivessem caído 18 tempestades de verão seguidamente, com um enorme poder de destruição”, afirmou. Segundo o especialista da Coppe/UFRJ, o fenômeno teve uma agravante: a formação de barragens naturais nos rios com o material – imenso volume de terra, enormes pedras, árvores, entre outros – que deslizou das encostas e foi arrastado pela tromba d’água. Segundo ele, essa barragem não aguentou o acúmulo da água proveniente da chuva “astronomicamente grande” e se rompeu. “Quando isso acontece, cria-se uma enorme onda de choque com uma força avassaladora. Para se ter ideia, na 2ª Guerra Mundial, os países procuravam criar uma onda de choque desse tipo para destruir os inimigos. Eles dinamitavam barragens de concreto armado porque, com isso, a força da água destruía tudo o que estivesse pela frente”, acrescentou. Paulo Canedo destacou que diante desse cenário não seria possível evitar uma tragédia na região. Ele defende, no entanto, que algumas medidas preventivas poderiam ter reduzido o número de vítimas. “Contra um ataque cardíaco fulminante não se tem o que fazer, mas isso não quer dizer que não devamos ter uma vida saudável, porque serve para proteger contra pequenos desvios do coração. Na serra, era necessário haver uma política de ocupação adequada, projetos de mitigação de efeitos de cheias, por exemplo. Não evitaria a catástrofe, mas, em vez de morrerem mil, morreria a metade talvez”, enfatizou.
CINEMA
Verde
ISABEL CAPAVERDE
i s a b e l c a p a v e r d e @ p l u r a l e . c o m . b r
Água em Movimento Esse é o nome do Concurso Nacional de Animação para Internet promovido em parceria pelo Centro Cultural Banco do Brasil e Anima Mundi. O tema aborda a preservação da água com o objetivo de estimular o debate sobre o uso sustentável, consumo consciente e a conservação dos nossos recursos hídricos. As inscrições já estão abertas e após o encerramento, os filmes ficarão disponíveis para receberem votos dos internautas. Os vencedores serão premiados durante o 19º Anima Mundi, que será realizado de 15 a 31 de julho de 2011, no Rio de Janeiro e São Paulo. Atenção roteiristas, animadores e diretores de animação: regulamento e inscrições para o Água em Movimento no site www.animamundi.com.br.
O que é o Green Nation Fest? Um festival ambiental de cinema e novas mídias para sensibilizar as pessoas a agir por um mundo sustentável, que acontecerá no próximo mês de agosto no Rio de Janeiro. O Green Nation Fest será na verdade a primeira atração do Green Nation, um grande portal que converge cultura, informação e proteção ambiental e interage com os usuários. No festival serão aceitos além de filmes, blogs, twitters, fotos e álbuns de fotos e os vencedores serão conhecidos durante cerimônia de sugestivo nome: Tapete Verde. Paralelo também estão programados uma feira interativa/sensorial e um seminário internacional que promete ser uma preparação para a Rio +20, conferência que reunirá líderes mundiais na cidade ano que vem, para renovação dos compromissos assumidos na ECO-92. O Green Nation Fest é uma realização da ONG CIMA- Centro de Cultura, Informação e Meio Ambiente. Mais detalhes: www. greennationfest.com.br
Foto: Stefano Figalo
Iniciativas muito bem-vindas Salas de cinema onde o povo está e com ingressos a preços acessíveis. Tudo começou com o Ponto Cine, a primeira sala popular de cinema digital no Guadalupe Shopping, zona norte do Rio, inaugurada em 2006. Climatizada e automatizada, com poltronas ergonômicas e fileiras equipadas com assentos para obesos, tem capacidade para 73 pessoas e detém a maior taxa proporcional de ocupação no país. De olho no público a ideia fez escola. Desde o ano passado Sulacap, subúrbio carioca, ganhou o projeto Cine 10, cinco salas construídas num supermercado, numa parceria do Carrefour com recursos da Agência Nacional de Cinema (Ancine) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O próximo local a receber o Cine 10 é o bairro do Limão, em São Paulo. E no Complexo do Alemão, comunidade da zona norte do Rio recentemente pacificada, foi inaugurada uma sala de cinema 3D. Os ingressos também são populares e subsidiados pela prefeitura. Em tempo: o Ponto Cine é primeiro Cinema da América Latina a possuir o Selo Carbon Free.
Também merece nota Outra iniciativa que merece nota é da ONG Casa da Arte de Educar e que em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado do Rio e a Programadora Brasil, criou na comunidade do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, uma sala de projeção com capacidade para 40 lugares. O pequeno cinema, que vai funcionar na sede da ONG, terá 70% da programação dedicada a produções nacionais e uma sessão por semana, gratuita e aberta ao público. O premiado longa “O ano em que meus pais saíram de férias”, de Cao Hamburguer, foi quem abriu os trabalhos, precedido de quatro curtas de animação feitos por adolescentes das comunidades da Mangueira e Macacos.
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Especial Água
Pesca
Pesquisa identifica qualidade da água nos açudes Estudos científicos visam garantir sustentabilidade ambiental aos investimentos na ampliação da pesca no Ceará Texto e Fotos: Flamínio Araripe, Especial para Plurale em Revista de Fortaleza (CE)
E
studo de Qualidade de Águas em Açudes Cearenses identificou os parâmetros físico-químicos de quatro reservatórios do Ceará – Castanhão, Orós e Banabuiu, os três maiores, e Riacho do Sangue -, que correspondem a 64% do volume de água dos 118 açudes com potencial para piscicultura. A pesquisa foi realizada pelo Instituto Centec para a Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), para dar respaldo científico de sustentabilidade ambiental na atração de investidores para a ampliação da produção de pescado nos açudes do estado. O coordenador de Cadeias Produtivas de Aquicultura e Pesca da Adece, Pedro Lopes, informa que o estudo foi feito para atender à ne-
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PLURALE EM REVISTA | Março/Abril 2011
cessidade da empresa espanhola Pesca Nova, que condicionou a garantias ambientais o investimento no projeto de produção de 40 mil toneladas de tilápia. Segundo ele, a empresa argumentou que o aspecto da sustentabilidade ambiental é muito forte na Europa, e exigiu um estudo que comprovasse não haver impacto ambiental no empreendimento. “A missão da Adece é atração de empresas”, afirmou Lopes. Coordenado por Jeanete Koch, do Instituto Centec, com apoio da Adece, o estudo avaliou 18 indicadores de qualidade de água para piscicultura nos açudes cearenses. Hoje o Ceará produz cerca de 25 mil toneladas de pescado nos açudes. Conforme o engenheiro de pesca da Adece, a produção pode chegar a 240 mil toneladas em 15 anos. “Os açudes suportam bem a ampliação, sem afetar a qualidade da água”, ele assegura. “A capacidade de produção está muito aquém do que pode ser feito na piscicultura. Pode ser pleiteado o aumento da produção nos açudes, sem interferir na qualidade da água”, conclui Pedro Lopes. No curto prazo segundo ele, a produção pode chegar a 40 mil toneladas por ano, sem problema. Para o sucesso dos cultivos, todavia, a Adece considera de fundamental importância obter dados e informações sobre diversos indicadores físicosquímicos de qualidade da água dos açudes cearenses. A ideia é manter o monitoramento com base nos parâmetros físico-químicos observados anualmente ou a cada dois anos.
Pedro Lopes disse os avanços na metodologia do cultivo visa a sustentabilidade da produção dos açudes, ao dar subsídios para trabalhar dentro de uma realidade de respeito à qualidade da água. Segundo ele, já tem orçamento definido para a continuidade do estudo para mais 57 açudes ainda este ano. A encomenda da segunda etapa dos estudos de qualidade da água dos açudes pelo Instituto Centec será feita pela Secretaria estadual da Pesca, criada este ano, com a missão de fazer a gestão da atividade, tanto em águas continentais como marinha. A Adece continuará focada na atração de empresas para o Ceará, observa Pedro Lopes. leGiSlaÇão Se BaSeia em paRÂmetRoS alheioS À RealiDaDe ReGional De acordo com Pedro Lopes, no estudo foram utilizadas imagens de satélite para estabelecer com precisão a localização dos açudes e como se comporta a área de entorno, matas ciliares, assentamentos urbanos e outros aspectos, de modo a identificar possíveis impactos na qualidade da água. Todos os pontos para coleta de água nos açudes na pesquisa estão georeferenciados. Outro subsídio importante trazido pela pesquisa de qualidade de águas dos açudes é a oferta de informações às entidades ambientais e de outorga de licença para a implantação de parques aquícolas com a instalação de tanques-redes, com o estabelecimento de parâmetros físico-químicos com dados da realidade dos açudes do Ceará. As normas de qualidade da
água vigentes no Brasil são generalizadas e se baseiam em resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). A Agência Nacional de Águas (ANA) é o órgão que concede a outorga para criação de pescado em tanques-redes. O estudo recomenda levar em conta os aspectos físicoeconômicos das bacias hidrográficas em que se encontram localizados os quatro açudes da avaliação para melhor compreensão do comportamento da qualidade da água desses açudes. A coleta de amostras da água para a pesquisa ocorreu em pontos específicos dos quatro açudes estudados em profundidades de 0,3 metro, 5 metros e 10 metros. As incursões ao campo foram realizadas em dezembro de 2009, janeiro, fevereiro e março de 2010.
Os parâmetros físico-químicos foram verificados e registrados in loco e a análise de nutrientes a partir de amostras de água coletadas foram levadas em recipientes de vidro ao laboratório especializado da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec). Os pontos de coleta foram distribuídos de forma a representar significativamente a amostragem de cada açude, tendo sido georeferenciados com auxilio do software GPS TrackMaker 13.6. A análise compreendeu os parâmetros de temperatura, condutividade elétrica, TDS, salinidade, saturação de OD, OD, pH, cloreto, amônia, nitrato, nitrito, nitrogênio total, fósforo total, turbidez, UNT, clorofila, coliformes termotolerantes e bactérias heterotróficas. Jeanete Koch observa que este é o primeiro trabalho de longa duração com açudes no Ceará. “Não temos tradição de pesquisa com série histórica, de compreender os açudes na sazonalidade – no período de chuva e na estiagem”. A coordenadora informou ainda que no estudo foi feito o georeferenciamento de um terço do estado do Ceará, e destacou a importância deste trabalho em termo de uso e ocupação do solo. Segundo ela, a pesquisa foi muito bem aceita pela comunidade internacional, em apresentação a investidores da Noruega e da Espanha. O ex-presidente da Adece, Antonio Balhmann, hoje deputado federal, apresentou o estudo a investidores na Alemanha. CeaRÁ liDeRa pRoDUÇão e ConSUmo De tilÁpia no paÍS A tilápia (Oreochromis niloticus) lidera o cultivo de pescado nos açudes do Ceará. A produção cresce com o estímulo de um mercado regional receptivo. O estado é o maior polo produtor e consumidor de tilápia do Brasil. A piscicultura é favorecida pelo clima local, a boa adaptabilidade de várias espécies, e pelo trabalho pioneiro do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), na Estação de Piscicultura Rodolfo Von Ihering de Pentecoste, a disponibilidade de açudes privados e públicos. A Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh) gerencia 133 açudes. “A disponibilidade de açudes públicos gerenciados pelo Estado favoreceu a rápida expansão dos cultivos, sobretudo em tanques-redes”, contata a pesquisa. Em 2002, o Dnocs enviou dois técnicos à Tailândia para buscar matrizes de alevinos de tilápia. A tilápia geneticamente pura, sem alteração, só existe naquele país asiático. Embora seja tilápia do Nilo, até ali é escassa. Na Tailândia ela foi conservada na fazenda do imperador Hiroito e se disseminou pelo país. A importação dos alevinos de tilápia gerou estudos no Dnocs, que dominou o seu ciclo reprodutivo com melhoramento genético e disseminou alevinos para açudes de todo o Nordeste por meio das estações de piscicultura.
A Tilápia (Oreochromis niloticus)
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Artigo
Helio Mattar
Pegada de água no rótulo dos produtos ajudaria o consumidor
A
adesão dos consumidores ao consumo consciente deve analisada a partir de dois pontos de vista: atitudes e comportamentos. “Atitude” significa o grau de adesão a valores e conceitos relacionados à sustentabilidade e ao consumo consciente. Já o “comportamento” está ligado à prática cotidiana de ações de consumo consciente que gerem impacto positivo (ou menos negativo) para o meio ambiente, a economia, o bem-estar pessoal e a sociedade como um todo. As atitudes, sem a prática de consumo, são um primeiro passo, demonstrando que há uma sensibilização para a importância do tema. O que se busca é que, de fato, haja uma adesão a comportamentos de consumo consciente que se transforme em uma nova cultura na forma de consumir. Se tomarmos o consumo de água, o aumento populacional e o estilo de vida dominante vêm levando ao crescimento da demanda individual por este recurso tão precioso. Este fato, aliado à limitação crescente no volume disponível de recursos hídricos de boa qualidade, apontam para um importante papel a ser desempenhado pelos consumidores no enfrentamento do problema de escassez de água. A pressão sobre a água é crescente, seja pelo auPLURALE EM EM REVISTA REVISTA ||Março/Abril Março/Abril 2011 2011 44 PLURALE
mento das populações nas cidades, seja pela poluição das águas, seja pelo aumento da produção da agroindústria, que consome muita água. Segundo a ANA (Agência Nacional de Água), a agricultura aparece disparada como o maior consumidor deste recurso: de cada 100 litros de água consumidos no país, 81 litros ficam na irrigação e no abastecimento animal. Vale destacar que apenas o consumo dos nossos rebanhos animais empata com o consumo de toda a população de 190 milhões de brasileiros. Consumo de água no Brasil por setores Setor de Consumo
Consumo de Água (m3/s)
(%)
Agricultura (irrigação)
680
69
Abastecimento Animal
118
12
Abastecimento humano urbano – uso doméstico
99
10
Indústria
69
7
Abastecimento humano rural – uso doméstico
20
2
Total
986
100
Fonte: ANA (www.ana.gov.br, dados nacionais de 2009)
Especial Água Esses dados alertam para a necessidade de, além do cuidado no uso doméstico desse bem tão escasso, os consumidores cuidarem também do uso da água nas cadeias produtivas dos produtos e serviços por eles consumidos. É bastante claro que, frente ao uso majoritário da água na agricultura e pecuária, para que haja uma redução significativa no uso de água não basta o esforço, ainda que importante, de redução de desperdício no uso doméstico. É preciso influenciar o padrão de produção, buscando fazer com que no Brasil, e em todo o planeta, sejam produzidos os mesmos produtos e serviços utilizando menos água, especialmente quando se tratar de produtos gerados da agricultura. Isto somente é possível por mudanças nos métodos de produção agrícola de forma a reduzir o uso de água por unidade de produto. O relatório Estado do Mundo – 2010 caracteriza o momento atual como sendo do “Consumismo para a Sustentabilidade”, subtítulo do relatório lançado no Brasil em uma parceria entre o Instituto Akatu e o Worldwatch Institute. Naturalmente, o gasto com água, em qualquer de suas formas, faz parte desse esforço. Segundo pesquisa do Akatu, 71% dos consumidores brasileiros declaram “fechar a torneira quando escovam os dentes” o que estatisticamente se relaciona também com outros cuidados para não desperdiçar água. Isto é, quem fecha a torneira para escovar os dentes, tende também a reduzir o desperdício em outros usos da água. É possível até mesmo que se trate apenas de uma declaração de intenções por parte dos consumidores e não de comportamentos efetivamente estabelecidos. No entanto, o próprio fato de que os consumidores declaram praticar tal comportamento mostra que existe uma consciência da importância de adotá-lo, indicando não ser uma tendência efêmera ou uma moda, mas uma mudança que vem para ficar. De outro lado, vem sendo utilizados selos de certificação e os rótulos em produtos contendo informações sobre a emissão de carbono ou outros aspectos referentes aos impactos ambientais ou sociais de uma dada empresa ou de um dado produto. Estes servem o propósito de informar o consumidor e permitir que sua decisão de consumo também leve em consideração aspectos ambientais ou sociais. Inspirados por selos e rótulos dessa natureza, neste mês em que comemoramos o Dia Mundial da Água, o aniversário de 10 anos do Instituto Akatu e o Dia do Consumidor, faço uma proposta que, ao lado de ser inovadora, seria simples de ser entendida pelos consumidores: que se busque estabelecer entre as empresas de cada setor uma forma de declarar, nos rótulos dos produtos, a quantidade de água por unidade de medida (por litro do produto, por 100 gramas do produto etc). Para que haja uma homogeneidade de critério tanto na forma de cálculo quanto na apresentação do resultado no rótulo, seria importante que fosse envolvida a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas, órgão neutro que pode contribuir para tornar comparáveis os valores apresentados nos rótulos dos diversos produtos pelas diversas empresas. A essa informação se dá o nome de “pegada da água”, isto é, o número de litros de água consumidos em toda a cadeia de produção, industrialização e transporte por unidade de um dado
produto. Esse seria um instrumento da maior importância para orientar os consumidores em seu processo de escolha de produtos. Ao saber a água gasta na cadeia de produção de um dado produto consumido cotidianamente, o consumidor poderá optar por produtos e marcas que, por unidade de produto, tenham a menor quantidade de água. Essa ação complementará a busca de redução de desperdícios em casa, buscando tomar banhos mais curtos, escovar os dentes com a torneira fechada, não “varrer” o chão com a mangueira de água etc. Após a implementação de um rótulo com essas características, é possível pensar em uma segunda etapa, buscando um processo de certificação, isto é, um processo no qual terceiros independentes garantem que os dados apresentados pela empresa são de fato confiáveis, o que aumenta o conforto do consumidor ao utilizar a informação contida no rótulo. No entanto, isto não quer dizer que, em não havendo certificação, um selo ou rótulo não tenha valor informativo ou confiabilidade quando são selos ou rótulos auto declaratórios, isto é, contendo informações dadas pela própria empresa. Dada a enorme exposição proporcionada pelas mídias digitais e pelos meios de comunicação de massa, as empresas certamente não farão afirmações de má fé que possam ser desmentidas, colocando em risco a sua credibilidade e de suas marcas. Para as empresas, pode ser uma grande oportunidade de aperfeiçoamento de seus processos na direção de inovar tecnologicamente e de redução de desperdícios, além da inegável valorização de sua marca junto ao consumidor. Afinal, como comprovam as pesquisas do Akatu, o consumidor brasileiro declara premiar as empresas pelas suas práticas de responsabilidade socioambiental, comprando seus produtos e as recomendando a amigos e familiares, valorizando especialmente os programas de redução de uso de água pelas empresas. Claramente, o viver sustentável não é mais – seja para consumidores, empresas ou governos – uma questão de escolha, mas sim de sobrevivência. É absolutamente essencial a mudança do padrão atual de produção e de consumo, caso contrário se aprofundarão os riscos já existentes para a vida no planeta. Segundo o relatório Planeta Vivo 2010, da WWF, hoje a humanidade já consome 50% a mais do que a Terra é capaz de repor em recursos naturais. E isso acontece quando apenas 16% da população mundial consomem 78% do total de recursos extraídos da natureza. Portanto, não apenas é preciso explorar os recursos naturais dentro de limites que preservem o equilíbrio dos ecossistemas, mas é também preciso uma melhor distribuição dos recursos extraídos. O desafio é enorme e nenhuma solução ou agente social individualmente será capaz de resolvê-lo. Um rótulo informando sobre o uso da água na cadeia produtiva de um dado produto pode mobilizar o consumidor a contribuir para a redução do uso desse recurso tão escasso e que já falta em um enorme número de lares no Brasil e no mundo. Helio Mattar é Diretor-Presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente
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P e las Em pr esas
ISABELLA ARARIPE
Usiminas: índice de recirculação da água chega a 95% A Usiminas emprega tecnologias que permitem reutilizar a água de forma contínua no processo produtivo. O resultado é que as duas plantas siderúrgicas da empresa, localizadas em Ipatinga (MG) e Cubatão (SP), passaram a reaproveitar 95% (ou 1,41 bilhão de m3 em 2010) de toda a água doce necessária ao processo de produção – em 1997, por exemplo, o índice era de 88%. A água é utilizada em várias fases do processo de produção de aço, sendo uma de suas funções mais importantes o resfriamento de equipamentos e do aço fabricado. Os investimentos da Usiminas para uso eficiente da água se concentraram nos últimos anos na construção de sistemas de recirculação de água e Estações de Tratamento de Efluentes (ETEs), utilizando técnicas como, por exemplo, decantação, floculação e filtragem.
Nova campanha de sustentabilidade do Banco do Brasil A Master foi escolhida pelo Banco do Brasil, após concorrência interna, como a agência responsável pela comunicação dos projetos de sustentabilidade da instituição que, no ano passado, definiu a água como eixo central de suas ações neste campo e lançou o Programa Água Brasil . Lançado pelo Banco do Brasil em 2010, o programa é resultado de um acordo entre a Agência Nacional de Águas (ANA), a Fundação Banco do Brasil e o WWF-Brasil. Com o objetivo de promover a conscientização e mudanças de atitude para uma utilização sustentável dos recursos hídricos, o programa prevê a implantação de projetos que envolvem bacias hidrográficas em biomas brasileiros e de iniciativas voltadas para o estímulo ao consumo consciente e tratamento de resíduos sólidos.
Tetra Pak: selo FSC em 5 bilhões de embalagens A Tetra Pak anunciou, em março, o marco de 5 bilhões de embalagens produzidas no Brasil em 2010 com o selo de certificação do Forest Stewardship Council (FSC). O selo garante que o papel utilizado como matéria-prima das embalagens é proveniente de áreas florestais manejadas de forma responsável, permitindo ao consumidor monitorar toda a cadeia que envolve a produção do papel da embalagem, desde o plantio das árvores até o produto final. Desta forma o consumidor
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pode identificar florestas que estão sendo gerenciadas de acordo com padrões ambientais, sociais e econômicos pré-estabelacidos. No Brasil, desde junho de 2008 as embalagens produzidas nas unidades da Tetra Pak em Ponta Grossa (PR) e Monte Mor (SP) utilizam papel certificado FSC fornecido pela Klabin. A inclusão do selo nas embalagens é feita conforme solicitação dos clientes e cresce cada vez mais, demonstrando o interesse destes em comunicar o seu compromisso com as questões ambientais.
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Unimed-Rio e Cedae fecham parceria O Hospital da Unimed-Rio vem buscando a sustentabilidade mesmo antes de sua inauguração, prevista para o final de 2011. Além do Leed (selo de Liderança em Engenharia e Design Ambiental) foi fechada uma parceria com a Cedae, empresa responsável pelo fornecimento de água no Estado. O Termo de Cooperação assinado vai viabilizar a instalação, pela cooperativa, de um tronco coletor de esgoto ligando o sistema do hospital ao da rede pública. A medida evitará a construção de uma Estação de Tratamento que atenda somente ao novo empreendimento
Coca-Cola Brasil alcança marca de 1,95 litro para cada litro de bebida produzido O Sistema Coca-Cola Brasil reduziu em 1,5% o volume de água utilizado no processo fabricação de seus produtos no ano de 2010, alcançando a marca de 1,95 litro para cada litro de bebida produzido – o que inclui o líquido que vai dentro da embalagem. Com isso, tornou ainda mais eficiente o seu índice de consumo do recurso hídrico, que já era o menor da indústria de bebidas do Brasil e um dos menores do mundo. O índice alcançado é resultado de esforços contínuos da empresa ao longo de vários anos, em busca da meta global de, até 2020, devolver à natureza toda a
água utilizada em seu processo industrial. Para se ter uma ideia da eficiência desse processo, em 2001 eram necessários 2,54 litros de água para produzir um litro de bebida. O índice alcançado em 2010 representa uma redução de 23% no consumo, graças a ações como a captação da água da chuva para realimentação de lençóis freáticos e o replantio de árvores para recuperação de bacias hidrográficas.
Gráfica Walprint adquire a mais brasileira das Ryobi Em mais um arrojado investimento, a WalPrint Gráfica e Editora, com sede no Rio, bateu o martelo por uma Ryobi 928. A Ryobi 928 foi desenhada sob medida para o mercado nacional. “Depois que adquirimos a Ryobi 925 – que tem o mesmo formato da Ryobi 928, permitindo a impressão de revistas 21 x 28 cm e 21 x 29.7 cm até cadernos de 16 páginas a uma velocidade de 16 mil/hora – notamos que tivemos uma redução no custo operacional”, explica
o gerente de novos negócios da WalPrint, Felipe Barbosa. “Por analogia, pensamos que com uma máquina oito cores, em que o trabalho não precisa passar duas vezes pelo equipamento, esse custo seria ainda mais otimizado.” A nova integrante da família Ryobi foi visitada em fevereiro pela direção da WalPrint. A aquisição de uma máquina oito cores coloca a WalPrint –que completa 10 anos em 2011 – em um novo patamar perante as gráficas.
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VIDA Saudável A importância da água em nossa saúde
A água é elemento essencial em nossas vidas, ressalta a Dra Maura Soares – gerente de Gestão de Saúde da UnimedRio. “As teorias evolucionistas postulam que somos seres marinhos viventes em um ambiente terrestre. Todas as trocas orgânicas, condução de impulsos nervosos, metabolismo de alimentos e percepções do mundo externo dependem diretamente desta substância primordial”, complementa. Tamanha é esta necessidade – lembra a médica - que nosso corpo possui sinalizadores específicos onde, a sede é o grande alerta da falta de água em nosso corpo. No entanto, a Dra. Maura adverte que à medida que envelhecemos, em alguns indivíduos, o centro nervoso responsável pela percepção da sede sofre uma drástica atrofia e a percepção da mesma torna-se totalmente errônea. Portanto, quando o idoso sente sede, seus níveis de “água” no organismo estão em depleção podendo trazer grave prejuízo à saúde. “Assim, não espere que tenha sede para beber água. Mesmo não seja idoso, adote hábitos saudáveis onde a ingestão deste precioso líquido seja feita rotineiramente e várias vezes ao dia”, aconselha. E, claro, consulte seu médico para que maiores orientações possam ser partilhadas.
Aveia com sabores A Vitalin acaba de lançar a linha Aveia Mais Quinoa e Amaranto em flocos, uma ampliação no mix da marca, trazendo ao consumidor uma inovadora combinação de três cereais integrais altamente nutritivos, importantes para uma excelente manutenção do organismo. A quinoa e o amaranto – grãos nobres cultivados nos Andes e já comercializados com sucesso em diversos produtos da Vitalin - são alimentos naturalmente ricos em aminoácidos essenciais e proteínas de alta qualidade. A adição da tradicional aveia complementa a receita de uma refeição matinal ou lanches variados, com opções nos sabores tradicional, banana e mel, ou maçã com canela. Sem adição de açúcar, este é um produto light – com uso do adoçante natural Stevia.
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Apoio:
Alimentos com grande quantidade de água
Os nutricionistas ensinam que é possível se hidratar não só diretamente com líquidos, mas também com alguns alimentos que têm grandes quantidades de água. Exemplos? Melancia, melão, laranja, tangerina, chuchu e maçã. Mas nada que substitua a importância de beber muito líquido, como água natural, água de coco e sucos.
Água na jarra Quem viaja muito para diferentes países já está acostumado: sentou na mesa, o primeiro serviço, costuma ser água filtrada na jarra. Sem nenhum custo. Aqui no Brasil, também está virando hábito em vários restaurantes e eventos. Ponto para o Movimento Água na Jarra, lançado pela Igtiba, uma organização sem fins lucrativos, e propõe a substituição do consumo de água engarrafada pelo consumo de água tratada e purificada. Desta forma deixamos de gerar uma enorme quantidade de resíduos poluentes e vamos contribuir para a criação de um estilo de vida mais responsável e mais sustentável. Além disso, o movimento se propõe a medir a quantidade de garrafas que estão sendo “economizadas” através da iniciativa. De acordo com o portal, deixaram de ser descartadas até o dia 26 de março 54172 garrafas de água.
Piso à base de milho e trigo Olhe por onde anda. Imagine que já existe um tipo de piso feito 100% à base de milho e trigo. Isso mesmo. A ACE Revestimentos acaba de trazer para o Brasil os pisos do fabricante francês Gerflor, cujos plastificantes são 100% à base de milho e trigo. O produto foi lançado durante a ExpoRevestir, feira do segmento que aconteceu no fim de março em São Paulo no Transamérica Expo Center. Estes pisos vinílicos fornecem soluções para os vários ambientes corporativos, pois são condutivos, antiderrapantes e acústicos
CARBONO NEUTRO
SÔNIA ARARIPE
s o n i a a r a r i p e @ p l u r a l e . c o m . b r
PEGADA HÍDRICA: BRASIL PODE TER VANTAGEM COMPETITIVA
A utilização racional da água nos processos de produção pode ser uma vantagem competitiva para o Brasil, na avaliação de Arjen Hoekstra, professor de Gestão dos Recursos Hídricos da Universidade holandesa de Twente e criador do conceito de pegada hídrica. Para Arjen, o país deverá atrair a atenção internacional, nos próximos anos, por ser um grande exportador de itens que precisam de muita água para serem elaborados, como as commodities agrícolas. Segundo o especialista, para produzir a soja que é exportada para o Reino Unido são consumidos 1,43 milhão de metros cúbicos de água por ano. Mesmo com o grande impacto sobre os recursos hídricos, o professor destaca que o Brasil ainda é mais econômico do que outros países que vendem itens semelhantes. “Em muitos casos, a pegada hídrica do Brasil é muito menor do que a do Oriente Médio e a dos Estados Unidos”,ressaltou. A pegada hídrica é um conceito desenvolvido por Arjen Hoekstra e difundido pela Water Footprint Network. A proposta é padronizar a quantificação da água usada e contaminada na elaboração de produtos. Com isso o consumidor pode saber quais itens são mais sustentáveis. (Daniel Mello, Repórter da Agência Brasil)
FBDS ADERIU AO PRI A Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) aderiu ao PRI - Princípios para o Investimento Responsável, iniciativa das Nações Unidas para promover a sustentabilidade nos mercados financeiros. Os mais de 40 signatários brasileiros do PRI reuniram-se no Rio de Janeiro, no dia 24 de março, para discutir este tema e como podem influenciar as empresas brasileiras na adoção da agenda da sustentabilidade. Uma das iniciativas mais recentes foi demandar das empresas a publicação de relatório de sustentabilidade de acordo com a metodologia da GRI - padrão global para relatos desta natureza. A FBDS coordenará um grupo de trabalho para auxiliar investidores institucionais, dentre os quais grandes bancos, fundos de pensão e seguradoras, a incluírem variáveis socioambientais em suas decisões de investimento. O PRI é uma rede internacional de investidores institucionais, com aproximadamente 25 trilhões de dólares de ativos sob gestão, os quais acreditam que as questões ambientais, sociais e a governança corporativa (ESG) são materiais e podem impactar o desempenho de suas carteiras de investimentos
RAIOS SOB DIFERENTES ÂNGULOS Pesquisadores do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estão começando a observar as descargas atmosféricas (raios) sob diferentes ângulos. Em janeiro, eles capturaram em São José dos Campos (SP), na região do Vale do Paraíba, as primeiras imagens coloridas de raios já registradas no mundo com câmeras com altas resolução e velocidade. As câmeras foram adquiridas com apoio da FAPESP por meio do Projeto Temático “Detecção de sinais de variabilidade relacionados a mudanças climáticas na incidência de descargas atmosféricas no Brasil”. Segundo o coordenador do projeto e do Elat, Osmar Pinto Júnior, as imagens produzidas pelas câmeras permitirão analisar, pela primeira vez, com maior acuidade, as características dos raios e avaliar os impactos sobre os objetos que atingem no solo. (Por Elton Alisson, da Agência FAPESP )
HORA DO PLANETA BATE RECORDE NO BRASIL Com a participação de 20 capitais em um conjunto de 123 cidades, os estados do Acre e do Espírito Santo, além de mais de 1.948 empresas e organizações, a Hora do Planeta 2011, realizada no dia 26 de março, bateu recorde de participação desde que o evento global é realizado no Brasil, há três anos. Em 2009, foram 113 cidades, e, em 2010, 98 cidades. Atrelado ao maior movimento global contra o aquecimento planetário, milhões de brasileiros puderam apagar as luzes de suas residências e conferir monumentos, prédios públicos, empresas e outras edificações sem iluminação por uma hora. Pode parecer pouco, mas o gesto chama para uma grande reflexão e ações sobre os desafios impostos pelas mudanças climáticas e questões ambientais em geral. “A participação de pessoas, organizações e governos na Hora do Planeta é um gesto concreto em direção à sustentabilidade. Significa que todos estão preocupados e atentos ao aquecimento global e que queremos fazer a nossa parte pelo direito de nossos filhos e netos herdarem um planeta habitável”, afirmou Denise Hamú, secretária-geral do WWF-Brasil.
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Tecnologia
Especial Água
Gaúchos querem água limpa da fábrica Texto: Marisa Pereira, Especial para Plurale em revista de Bento Gonçalves (RS) Fotos: Gilmar Gomes, Graciane Furini e Banco de dados Proamb
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otos prontas para cartões postais, as paisagens da Serra gaúcha revelam o vigor e a exuberância natural da região. Uma grande parte da cadeia produtiva local, alias, está intimamente ligada a esses bens – vide o turismo de aventura e o setor vitivinícola, por exemplo. Mas, esse cenário divide espaço também com um destacado setor industrial, puxado principalmente pelos segmentos moveleiro e metal-mecânico. Para estabelecer regras mais
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saudáveis para o jogo entre um e outro – natureza e produção -, a legislação do Rio Grande do Sul, aliada ao bom senso de algumas empresas e o auxílio fundamental de especialistas têm se cruzado. Esse é o claro caso da resolução 129/06 do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema), que especifica padrões de toxicidade para as águas que voltam para a natureza após seu uso nos processos produtivos. Essas referências, que são comuns na Itália, para citar um país modelo, têm entre seus objetivos fazer com que córregos límpidos de água permaneçam sendo assim, mesmo com fábricas em seu curso. Coordenadora da assessoria técnica ambiental da Fundação Proamb (Bento Gonçalves), especialista em toxicidade, com formação na área na Universidade de Brescia (Itália), Andressa Brandalise diz que a avaliação de efluentes industriais através de testes toxicológicos fornece informações seguras dos efeitos do mesmo sobre a biota (conjunto dos seres vivos) aquática e vem a complementar o monitoramento físico e químico usual. “O mapeamento da toxicidade é complexo e demorado. É necessária a realização de um estudo minucioso das fontes geradoras de efluentes líquidos dentro do processo. O foco principal nesse estudo é conhecer a composição química exata dos efluentes. Só assim é possível tomar ações dentro do processo produtivo e preparar o processo de tratamento dos efluentes para remover substâncias que hoje são desconhecidas”, explica ela. Atualmente o processo de tratamento é voltado a remoção apenas de contaminantes conhecidos que são previstos devido ao tipo de processo produtivo. A falta de conhecimento mais profundo sobre a composição química do efluente e a sinergia ocorrida entre os compostos impede o monitoramento adequado e a remoção de substâncias que causam a toxicidade. Pela complexidade do processo e certa resistência da média das empresas de buscarem a solução que os deixe em conformidade com a resolução, o Consema precisou prorrogar o prazo de adequação, que inicialmente tinha sido de quarto anos. Conforme a resolução 251/2010, publicada pouco antes da virada para 2011, as empresas passam a ter mais dois anos para atender aos padrões de emissões de toxicidade. Entretanto, durante essa prorrogação as fontes geradoras deverão apresentar periodicamente ao órgão ambiental competente do Rio Grande do Sul (Fepam) relatório e cronograma de ações que tenha o objetivo de cumprir os níveis exigidos.
Mas, há alguns casos, pouco é preciso lembrar, de empresas que fizeram o dever de casa. É o caso da Cooperativa Vinícola Aurora, de Bento Gonçalves. A indústria superou o problema da toxicidade antes mesmo da legislação entrar em vigor. O efluente produzido na Aurora é originário da limpeza de pisos e equipamentos utilizados no processo de fabricação de vinhos e sucos – famosos no país inteiro - e também do laboratório de controle de qualidade. Com o direcionamento dado pelos técnicos da Fundação Proamb foi composto um grupo de trabalho com representantes de diversas áreas da vinícola, que
desenvolveu o estudo das fontes geradoras de efluentes. “Os técnicos da Proamb avaliaram cada possível contribuição e as causas da toxicidade do efluente foram sendo esclarecidas. Algumas fontes críticas foram isoladas, alguns produtos químicos utilizados no processo de tratamento foram substituídos e outros tiveram a utilização minimizada e controlada. Isso, além de diversos ajustes operacionais nas unidades de tratamento”, conta Andressa. O resultado desse estudo, que teve duração de dois anos, é um sistema de tratamento de efluentes com 98% de eficiência na remoção de matéria orgânica e níveis mínimos de toxicidade nos três níveis tróficos: algas, microcrustáceos e peixes. É um exemplo de utilização de um recurso natural com responsabilidade e sustentabilidade. A água é usada no processo produtivo e depois de tratada, devolvida ao arroio vizinho à vinícola sem causar qualquer dano ao ecossistema. Outro exemplo positivo vem da Metalúrgica Meber que após a realização de estudo técnico investiu em equipamentos objetivando a economia da água utilizada no processo de galvanoplastia. As águas de lavagem de alguns banhos galvânicos nas peças de metais sanitários produzidos pela empresa passaram a ser submetidas a um evaporador, que permite, além da descontaminação da água, o retorno dessa ao processo. Com o sistema de evaporação também é possível a reutilização do metal concentrado que volta a compor os banhos. A utilização de um sistema de resinas de troca iônica completa o projeto que visa à minimização do consumo de água. O volume de água residuária descartada após a implantação das melhorias diminuiu 90%. Hoje, com o volume de efluente reduzido, os tratamentos se tornaram mais espaçados o que permitiu aprimorar o processo de tratamento e melhorar a qualidade do efluente final a fim de atender integralmente a legislação.
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Ilhas e Lanin
E n s a i o
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Praia de Quila Quina
Álamo
O COLORIDO DOS
LAGOS ARGENTINOS
A
fotógrafa Luciana Tancredo já viu águas nas mais diferentes regiões do planeta. Esteve várias vezes na Floresta Amazônica, com sua imensidão e igarapés; no Pantanal, onde a terra parece nem mais existir, engolida pelas águas; em áreas congeladas; belos Parques Nacionais do que sobrou da exuberância da Mata Atlântica, etc. Uma de suas recentes incursões foi pela região dos Lagos Argentinos, próximos de Bariloche, na Patagônia. “O silêncio da natureza é algo que sempre me fascinou. Ainda mais nesta região tão deslumbrante”, conta Luciana. Ao todo, são sete lagos, cujo mais famoso é o Lago Nahuel Uapi. O visual é arrebatador, com montanhas de picos nevados e lagos com águas límpidas, formando espelhos d’água. Entrecortando, uma estradinha que, por cerca de 260 km, entre Bariloche e San Martín de los Andes, no sul da Argentina, segue serpenteando por entre o imponente cenário. Assim é a a Rota dos Sete Lagos. O detalhe da rosa mosqueta, que, segundo nativos, tem efeitos milagrosos e, na forma de creme ou líquido, pode corrigir rugas e até apagar cicatrizes. O álamo, quase um monumento pedindo que todos se lembrem da relevância da natureza. No Bosque de Arrayanes, que serviu de inspiração para Walt Disney no filme Bambi, uma floresta que parece ter “rosto” de tão expressiva. No caminho surgem alguns cogumelos, como este vermelho, que mais parece de desenho animado, e também as esculturas na rocha que marcam a região.
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Cogumelos vermelhos
Montanhas rochosas cobertas por neve
Vista da regiรฃo dos sete lagos
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Rosa mosqueta
Floresta de araucรกrias
Fotos:
Luciana Tancredo Lago Nauel Uapi
Esculturas rochosas 55
P e lo Mundo Energia nuclear, um assunto em ebulição nos EUA Wilberto Lima Jr, Correspondente de Plurale em revista nos EUA, de Boston
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m março deste ano, após o trágico terremoto e o tsunami que ocorreram no Japão, o mundo acendeu a luz amarela para a questão das usinas nucleares. Aqui nos Estados Unidos não foi diferente, pois o acidente na planta japonesa de Fukushima, na região nordeste do país, reviveu os difíceis momentos do acidente de 1979, na Usina de Three Mile Island, em Nova York. Serviu também para acirrar as críticas dos opositores do uso da energia nuclear, mesmo que para a geração de eletricidade. Atualmente, neste país, existem 104 reatores nucleares em atividade, para produzir energia elétrica. Eles são responsáveis pela geração de cerca de 800 Bilhões de KWh, ou seja, 20% da energia elétrica produzida. São 69 PWR - Pressurized Water Reactors (reatores de água pressurizada) e 35 BWR - Boiling Water Reactors (reatores de água em ebulição). Estão situados em 31 estados americanos . As preocupações expressas são muitas. Cerca de 30% das plantas nucleares geradoras de energia elétrica deixaram de reportar defeitos que podem significar riscos substanciais de segurança, entre dezembro 2009 e setembro 2010, conforme relatório apresen-
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tado pelo Office of the Inspector General, da Nuclear Regulatory Commision -NCR. Esta é a Agência Reguladora criada em 1974 para controle do uso energia nuclear, materiais radioativos e resíduos (lixo) nucleares. Outro problema é a carência de defesas julgadas apropriadas para enfrentar terremotos ou tsunamis (não avaliados apropriadamente antes) de intensidade como os do Japão. Imaginem como estão os moradores da Califórnia, onde duas de suas plantas estão sobre a famosa Falha de S. Andre ou ainda os do estado de Nova York, com plantas em frente ao mar. Aqui mesmo, na região da Nova Inglaterra, uma delas situada em Seabrook, New Hampshire (vizinha à cidade onde moro) fica há pouco mais de uma milha do mar e não possui proteções para enfrentar ondas decorrentes de um tsunami. A grande maioria dos reatores usados na geração de energia foi construída entre 1970 e 1990, principalmente, na década de 80. A vida útil deles é muito longa, mas a manutenção tem que ser muito precisa. A competição com o gás afetou muito a implantação de novas usinas, pelo custo superior comparado. A NCR, com base no relatório mencio-
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nado e face aos acontecimentos recentes decidiu implementar um plano de duas etapas para rever a segurança das usinas nucleares e seus reatores. A primeira etapa, de curto prazo, deve ser conduzida em 90 dias (a partir do final de março) e a segunda, até o final do ano. Enquanto isso o noticiário constante sobre Fukushima vai revelando os erros da empresa operadora e dos falhos controles da agencia nuclear japonesa. A opinião pública mundial fica inevitavelmente afetada pela desconfiança. Outra questão que também preocupa é o destino dos resíduos nucleares, ou lixo nuclear. Em 2002, através de lei americana, ficou estabelecido que eles seriam depositados em Yucca Mountain, no estado de Nevada, a 100 milhas ao noroeste da cidade de Las Vegas. A construção e início de funcionamento daquele depósito, entretanto, vem sendo postergados por conta de embates políticos e jurídicos, o que faz com que as usinas nucleares, em sua maioria, continuem estocando o seus próprios resíduos. A Agência Reguladora diz que os métodos de armazenamento hoje usados, são seguros, mas os críticos mostram que vários são os mesmos usados pela planta de Fukushima. Para se ter uma ideia mais ampla do volume, até hoje, nos EUA foram produzidas 70.000 toneladas de lixo nuclear. A previsão é de que até 2055 esse número vai chegar a 153.000 toneladas. No calor dos acontecimentos atuais, a solução da questão do depósito de Yucca Mountain pode acontecer mais rapidamente. Vale lembrar que a administração do Presidente Barack Obama estabeleceu como meta buscar fontes alternativas de energia, sendo a nuclear uma delas. Até o momento, prevê-se um acréscimo de quatro a seis reatores até 2020. Olhando para o quadro presente, o que se pode concluir é que muita coisa vai acontecer no campo da energia nuclear nos EUA, envolvendo cientistas, ambientalistas, Governo, opinião pública e não parece que será em ambiente calmo ou morno.
Perth, exemplo de consciência no uso da água Mônica Pinho de Perth, da Austrália - Especial para Plurale em revista - http://monicaemperth.blogspot.com/
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erth é a capital e a maior cidade do estado de Western Australia, além de ocupar a quarta posição entre as maiores cidades do país, com uma taxa de crescimento acima da média nacional. É uma das metrópolis mais isoladas do planeta e um importante centro comercial e industrial do país. Fica no estuário do Rio Swan e sua área metropolitana encontra-se entre o Oceano Índico e uma zona baixa costeira conhecida como Darling Range. O maior desenvolvimento econômico de Perth começou após a descoberta de vários depósitos de ouro em Karlgoorlie após a conclusão das obras da ferrovia transcontinental em 1917. O clima mediterrâneo de Perth se caracteriza-se por invernos frios e úmidos e verões secos e quentes. A pluviosidade média anual é de 864 mm e a maior concentração de chuvas entre maio e setembro, e quase nada, de Novembro a Março. Quer regar o jardim? Pois antes, é bom consultar o site “water-saving tips” e saber quais os dias permitidos na semana. Por essas e outras razões, a água, por aqui, é uma preocupação constante e um assunto seriíssimo.
Água sem inimigos
O
Por Vivian Simonato, Correspondente de Plurale na Irlanda, de Dublin
ual o futuro da água? O que podemos fazer para este futuro ser melhor? A água pode ser utilizada, distribuída, protegida, purificada, guardada e transportada em meios mais eficientes do que aqueles que empregamos atualmente? Essas foram algumas das questões levantadas dentro da iniciativa Futuro da Água, liderada pela Galeria de Ciências da Universidade Trinity College de Dublin, que também envolve diversas instituições Europeias e a Universidade de Harvard. A ideia, lançada no Dia Mundial da Água das Nações Unidas, tem como objetivo reunir estudantes de diversas disciplinas em torno de “sementes de ideias” para combater a escassez de água nos campos das artes, ciências e engenharia. Por meio de um Laboratório de Tradução de Ideias (Idea Translation Lab) os estudantes têm como missão gerar pro postas inovadoras para promover o acesso à água especialmente em países em desenvolvimento. Os resultados dos trabalhos poderão ser conferidos em outubro, quando os protótipos e potenciais soluções para resolver o problema
mundial de água estarão na Exposição Internacional Futuro da Água, na Galeria de Ciências da Universidade Trinity College. Em paralelo ao lançamento da iniciativa, o evento Dia Mundial da Água 2011: Água para cidades – Respondendo ao Desafio Urbano discutiu os desafios de abastecimento de água nos centros urbanos. Considerando as previsões sobre mudanças climáticas pelas quais cerca de 1,8 bilhão de pessoas viverão em condições de escassez de água até 2025 e metade da população mundial (especialmente aqueles que vivem em regiões áridas e semi-áridas) terão o acesso à água altamente piorados até 2030, possivelmente haverá um aumento da migração para os centros urbanos, que já sofrem com a demanda por água da atual pop ulação. O painel de discussão contou com a participação da vice-prefeita de Dublin Edie Wynne; do representante do Partido Verde e ex-Ministro de Energia da Irlanda Eamon Ryan; do Embaixador da Nigéria Georges Alabi e do presidente da organização Edo Global Seo Ogbonmwan. O consenso que permeou a discussão é que cada vez mais a tecnologia desempenhará um papel decisivo na otimização do uso da água, mas também que os desafios vão exigir uma maior parceria entre as nações. “A água é um recurso crítico para todas as atividades humanas e está relacionada com direitos, cultura, religião, desenvolvimento. É uma responsabilidade mundial, temos de trabalhar juntos pelo futuro e justiça na utilização da água sem fazer disso uma disputa, porque a água deve unir nações e não gerar inimigos”, afirmou Georges Alabi, embaixador da Nigéria.
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Especial Água
do rio
Texto e fotos: Aline Gatto Boueri, Correspondente de Plurale na Argentina, de Buenos Aires
Desta S áAgua nAo beberAs Em um passeio de bote pela bacia hidrográfica mais poluída da Argentina, encontramos crianças brincando - e morando entre indústrias e depósitos de lixo a céu aberto.
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ão sete horas da manhã de um dia de calor na Cidade de Buenos Aires. Estamos prestes a embarcar em um pequeno bote para percorrer o Riachuelo, o curso d´água mais contaminado da Argentina. Nosso anfitrião, Felix Cariboni, do Greenpeace Argentina explica: “Não é que eu quisesse fazer ninguém acordar cedo, mas depois das 10 da manhã, com o calor que está fazendo, fica impossível o passeio de barco pelo rio. O cheiro é insuportável.” Não era exagero. Mesmo se cuidando com a hora, esta repórter passou o dia inteiro com dores de cabeça e sem nenhum apetite depois de duas horas de passeio. Essa triste história começa no final do século XIX, auge do período agroexportador da Argentina, quando os frigoríficos e, com presença ainda maior na época, as curtidoras de couro começaram a usar o Riachuelo para despejar os restos dos animais que não serviam nem para comer nem para vestir. Na virada do século, chegaram as metalúrgicas, os estaleiros e as oficinas ferroviárias. Com a grande expansão industrial da Argentina entre os anos 1930 e 1960, o processo de concentração industrial na área se intensificou e até hoje o Riachuelo, que marca o limite a Sul e a Leste entre a Capital Federal e o estado de Buenos Aires, é um curso d´água onde é possível encontrar chumbo, cromo, cádmio, mercúrio, mas onde há mais de 100 anos não há oxigênio. Na bacia estão instaladas cerca de 20 mil empresas e 40% do PIB da Argentina vêm daí. Nosso passeio começa em um dos lugares mais turísticos de Buenos Aires. Ali se consagrou Maradona com a camiseta azul e amarela de um dos maiores times de futebol da Argentina. La Boca, o famoso
bairro portenho, cheio de casas coloridas em seu Caminito, foi testemunha do nascimento de uma grande cidade latino americana, de glórias futebolísticas e de uma triste história sobre descaso, contaminação e falta de iniciativa política. Já nos primeiros cinco minutos do percurso, encontramos um antigo navio, de alguma das empresas falidas que outrora estiveram instaladas às margens do Riachuelo, quando aí ainda havia um porto e as águas eram mais profundas por conta das constantes dragagens. É um dos três gigantes que continuam apodrecendo no rio enquanto esperam a que se cumpra a ordem de retirá-los daí. Se as indústrias que já não estão são um problema, as que permanecem nem se fala. Muitas não se preocupam em respeitar sequer os padrões internacionais, que segundo Félix, são insuficientes pela condição particular de concentração industrial na zona. Para piorar, não são apenas as indústrias da margem que despejam seus resíduos no Riachuelo. “Muitas que estão mais longe da margem tratam uma pequena parte dos resíduos e despejam a maior parte por meio de conexões clandestinas a desembocaduras pluviais, o que barateia os custos”, afirma. “Existe forma de controlar isso, comparando a produção com o volume de resíduos tratados, por exemplo, mas o que não existe é vontade política”, denuncia. “O principio básico de sanear, que é deixar de contaminar, ainda não está posto em prática”, completa. Filho feio não tem pai Os 2.240 km² de extensão e o fato de que o rio é federal, mas banha tanto a província quanto a cidade de Buenos Aires geraram um problema de magnitudes proporcionais ao seu tamanho. Como nunca esteve claro de quem era o problema da contaminação, nunca ninguém fez nada. Até novembro de 2006, limpar o Riachuelo era um eterno jogo de empurra-empurra entre os governos nacional, estadual e municipal. Foi uma iniciativa de moradores dos bairros afetados pela
contaminação no rio que gerou o primeiro passo para resolver o impasse institucional. Em 2004, os vizinhos decidiram entrar com um processo judicial para exigir o saneamento do rio e ressarcimento pelos danos sofridos por conta da poluição. A Corte Suprema da Argentina sentenciou então que os governos deveriam se unir para propor um Plano Integrado de Saneamento Ambiental (PISA) do Riachuelo. Se criou também um órgão público intergovernamental para executar o plano. A Autoridad de Cuenca Matanza Riachuelo (Acumar) reúne representantes nacionais, estaduais e municipais e está presidida pelo ministro de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Nação. Como o Ministério Público se absteve de participar do caso, o povo está representado por um Cuerpo Colegiado, formado pela Defensoria Pública e um conjunto de organizações ambientais que também fazem o controle e o monitoramento da aplicação do PISA pela Acumar. Plurale tentou falar com representantes do órgão, mas foi informada por meio da assessoria de imprensa que preferiam manter “baixo perfil” com os meios de comunicação. Segundo Andrés Nápoli, diretor da Área Riachuelo da Fundación Ambiente y Recursos Naturales (FARN), uma das que fazem parte do Cuerpo Colegiado, a criação da Acumar é positiva no sentido de que agora existe um organismo centralizado para tomar decisões e a quem reclamar soluções. Ele ressalta também a importância dos censos industriais. “Pela primeira vez na história sabemos a quantidade de indústrias instaladas aí.” Mas a Acumar não vai muito além, segundo Nápoli. “Todas as decisões são tomadas a partir de sentenças judiciais. Todos os prazos estipulados pela Corte Suprema estão vencidos. Desde os de adaptação das indústrias a um modelo de desenvolvimento sustentável aos de relocalização da população que vive às margens do rio.” Neste caso, as autoridades correspondentes de cada governo são multadas e, como no
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caso do último ministro de Meio Ambiente do país, chegam a perder cargos pelo custo político da sanção. Mesmo assim, a realidade não muda muito. Depois do encontro com o navio, passamos por uma das muitas villas (favelas) instaladas às margens do rio. A concentração industrial na zona do Riachuelo e a falta de políticas sérias de habitação fizeram com que, desde o início da Argentina como estado nacional, esta seja também a zona de maior concentração populacional, onde grande parte dos moradores sobrevivem sem serviço de esgoto ou água potável. “Não há terras nas zonas centrais, o acesso à moradia é difícil. E essa população está vulnerável a inundações e exposta ao esgoto cru que corre ao lado de suas casas”, aponta Andrés. Félix Cariboni explica que o esgoto bruto jogado no Riachuelo pelos moradores dos assentamentos precários das margens não é o maior problema. Durante os anos 90, no governo de Carlos Menem, a privatização do sistema de esgotos – reestatizado em 2006 - foi fatal para o Riachuelo. “O investimento em obras públicas diminuiu muito e, ao mesmo tempo, Buenos Aires e a Grande Buenos Aires cresceram muito”, aponta. Curiosamente, as primeiras leis ambientais da Argentina começam a aparecer na mesma época. “O meio ambiente é que não percebeu”, brinca Andrés Nápoli. Pela margem direita do Riachuelo chegam os dejetos do estado de Buenos Aires, entre eles o do município de La Matanza – o segundo maior do país em população -, que vem quase todo sem tratamento. Do lado da capital, o esgoto só chega no Riachuelo quando supera a capacidade da rede e se abrem os tubos, o que se torna um grande problema para uma rede que há mais de 20 anos cresce em desproporção à população que atende. Se o cenário já era complexo, outro problema surgiu nos últimos anos. Com a ausência do Estado e falta de políticas públicas que atendam a população do Riachuelo em suas necessida-
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des básicas de moradia, água potável e direito à vida, começaram a aparecer depósitos clandestinos de lixo a céu aberto. “Para não gastar dinheiro com o tratamento do lixo, que corresponde à Coordinación Ecológica Area Metropolitana (CEAMSE), muitos subornam os punteros (algo parecido a um líder comunitário) para que permitam jogar o lixo aí”, afirma Félix, enquanto passamos por um monte de sacos plásticos que quase parecem fazer parte da paisagem. o RiaChUelo QUe toDoS QUeRemoS Félix Cariboni e Andrés Nápoli coincidem em que uma parte importante da tarefa de sanear o Riachuelo é que ele seja recuperado como espaço público. Relocalizar a população que mora nas margens em moradias dignas, igualmente centrais, poderia abrir espaço para liberar os 35 metros da margem que propõe o PISA e que as pessoas possam voltar a frequentar o lugar. “As pessoas têm que recuperar o Riachuelo, desfrutá-lo. O direito a desfrutar o espaço hídrico tem a ver com o direito à qualidade de vida, que é o que determina a Corte Suprema quando fala do saneamento do Riachuelo”, enfatiza Andrés. “Fala-se de sanear para uso recreativo-passivo, ou seja, que se possa usar o entorno do rio, mas não suas águas. Nós exigimos que o uso seja abrangente à água, porque sanear pela metade não é sanear”, desafia Félix. “Sou de uma geração que nunca viu o Riachuelo limpo, que escutou muitas promessas e nenhuma ação. É difícil convencer que com vontade política é possível recuperar este espaço e usá-lo como rio”, lamenta. Enquanto isso, às margens do Riachuelo, meninos ficando azuis acenavam para o bote da porta de suas casas.
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Poluída
DO O Ã Ç A R E P U REC O C I X É M O D O GOLF AIS M R A V E L Á PODER O D A R E P S E O DO QUE o Instituto a Lipinski, d Texto: Jéssic peace Fotos: Green
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sil CarbonoBra
contrário do que disse Kenneth Feinberg, responsável por administrar o fundo de compensação sação da petrolífera BP pelo derramamento de petróleo no Golfo do México, a recuperação do local pode não acontecer até 2012. Pelo menos é o que afirma Samantha Joye, cientista marinha da Universidade da Geórgia. De acordo com Joye, que comandou cinco expedições submarinas – a última em dezembro – por mais de quatro mil quilômetros quadrados do solo do Golfo, há pontos em que a camada de petróleo chega a 10 centímetros de espessura. Para se certificar de que o petróleo era o mesmo derramado pela BP, a pesquisadora recolheu amostras do combustível e submeteu-os à análise química. Contrariando outras pesquisas mais otimistas que garantiam que micro-organismos já haviam consumido quase todo o petróleo, a cientista assegurou que apenas cerca de 10% do combustível foi absorvido por micróbios. “Ainda temos que identificar por que o material aparentemente não está se degradando”, disse Joye. Terry Hazen, pesquisador do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, afirmou os microorganismos estavam agindo rápido sobre material, e que sua pesquisa diferia da de Joye porque ele observou pontos diferentes em
momentos diferentes. Joye fotografou e filmou alguns locais atingidos e a vida marinha local afetada, e segundo ela, a região não se recuperará até 2012, como afirmou Feinberg. A cientista acha que até 2012 será possível perceber o impacto real que o derramamento teve sobre a área, mas que levará muito mais tempo até que as condições voltem ao normal. “Organismos filtradores, invertebrados, corais, caranguejos, estrelas do mar – todos esses seres foram substancialmente impactados – e por impactados, eu quero dizer mortos”, explicou. Ela afirmou também que o gás natural liberado na explosão de 2010 também afetou o local, e que corresponde entre 1,5 e 3 milhões de barris. A plataforma petrolífera Deepwater Horizon, da BP, explodiu em abril de 2010, liberando cerca de 4,9 milhões de barris de petróleo e lançando 500 mil toneladas de metano na região do Golfo do México por três meses. Atualmente, os EUA são o maior consumidor de petróleo do mundo, consumindo cerca de 20 milhões de barris por dia, três vezes mais que o segundo país da lista, a China. Durante muitas décadas, em vez de procurar fontes renováveis e reduzir o consumo, os EUA focaram sua produção no desenvolvimento de combustíveis fósseis.
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do mar
A “bomba relógio tóxica”
dos fertilizantes e plásticos no ambiente marinho Especial Global Garbage/ Mercado Ético*
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nnormes normes quantidades de fertilizantes fosfatados - um fertilizante valioso e necessário para alimentar a crescente população mundial estão atingindo os oceanos como resultados da ineficiência na agricultura e da falha na reciclagem de águas residuais. A poluição por fosfato, juntamente com outras descargas descontroladas como as de nitrogênio e esgoto, está relacionada ao aumento no crescimento de algas, que por sua vez prejudicam a qualidade da água, aumentam a quantidade de peixes envenenados e comprometem o turismo costeiro. Somente nos Estados Unidos, os custos estão estimados em mais de US$2 bilhões por ano, o que indica que no mundo todo anualmente o prejuízo pode chegar a dezenas de bilhões de dólares. Ao mesmo tempo há uma preocupação crescente quanto ao impacto que bilhões de fragmentos de plásticos, tanto grandes quanto pequenos, causam à saúde do ambiente marinho global. Novas pesquisas sugerem que os plásticos em pequenos fragmentos espalhados nos oceanos - juntamente com os pellets descartados pela indústria - podem absorver uma variada gama de elementos químicos tóxicos ligados ao câncer e impactar os processos reprodutivos dos seres humanos e da vida selvagem. Especialistas afirmam que tanto as descargas de fosfato quanto as novas preocupações referentes aos plásticos salientam a necessidade
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de um melhor gerenciamento do lixo mundial e também da melhoria nos padrões de consumo e produção. Os dois assuntos são colocados como questões-chave - considerados como persistentes ou emergente - no Year Book 2011 do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (em inglês, UNEP) que está sendo lançado hoje antecedendo a reunião anual de ministros mundiais de meio ambiente, com abertura em 21 de fevereiro de 2012. Achim Steiner, Sub-Secretário-Geral e Diretor Executivo do UNEP, disse: “A ciência é fundamental para ajudar os governos a priorizarem ações sobre os desafios persistentes e emergentes - de fato, as questões emergentes serão o tema central nos próximos 15 meses, à medida que os ministros se preparam para a decisiva Conferência Rio+20, a ser realizada no Brasil no próximo ano”. “O fosfato e as histórias de plásticos no ambiente marinho evidenciam a necessidade urgente de se preencher lacunas científicas, mas também de se catalisar uma transição global para uma Economia Verde a fim de se concretizar o desenvolvimento sustentável e o combate à pobreza”, acrescentou. A partir daqui - no Conselho Governamental do UNEP/Fórum Ministerial Global para o Meio Ambiente - começaremos consultas globais e regionais sobre uma pequena lista dos principais desafios científicos que precisam ser tratados a fim de auxiliar nessa transição e apoiar os governos na Rio +20�, disse Steiner. “O foco estará também sobre as soluções e
oportunidades. Seja fosfato, plástico ou qualquer outro dos tantos desafios enfrentados pelo mundo moderno, há, claramente, inúmeras oportunidades para a geração de novos tipos de empregos e também de indústrias mais eficientes”, acrescentou. “Algo que traga uma gestão mais inteligente, um imperativo para a reciclagem transformadora de resíduos e seus impactos ambientais e de saúde, a partir de um problema sério em um valioso recurso, e que mantenha a área ocupada da humanidade dentro de limites planetários”, complementou. FoSFato - o DeSpeRDÍCio De Um ReCURSo pReCioSo À aGRiCUltURa
O UNEP Year Book 2011 destacou o fosfato, cuja demanda disparou durante o século 20, em parte por causa do debate acalorado sobre a possibilidade das reservas finitas de rocha fosfática acabarem em breve. Estima-se que 35 países produzam fosfato de rocha e entre os dez países com as maiores reservas estão a Algéria, China, Israel, Jordânia, Rússia, África do Sul, Síria e Estados Unidos. Novas minas de fosfato têm sido comissionadas em países como Austrália, Peru e Arábia Saudita e há países e também empresas buscando por novos horizontes mesmo que distantes, inclusive no fundo do mar na costa da Namíbia. Alguns pesquisadores sugerem que o consumo de fosfato no mundo é, a médio e longo prazo, insustentável e que o pico de produção, com um posterior declínio, poderá ocorrer no século 21. Outros discordam. O Centro Internacional de Desenvolvimento de Fertilizantes recentemente revisou para mais além as estimativas de reservas de cerca de 16 bilhões de toneladas para 60 bilhões de toneladas - considerando taxas de produção atuais, estas reservas poderiam durar por mais 300 a 400 anos. O Serviço Geológico dos Estados Unidos também ajustou recentemente as suas estimativas para
65 bilhões de toneladas. No entanto, os defensores da teoria do pico do fosfato argumentam que mesmo que o cronograma possa variar, a questão fundamental quanto ao fornecimento de fosfato, barato e facilmente acessível é, em última análise, limitada, e isso não vai mudar. O Year Book conclama para uma avaliação global do fosfato e para o mapeamento mais preciso dos fluxos deste material no meio ambiente e quanto ao prognóstico dos níveis de reservas economicamente viáveis. De acordo com o Year Book, a utilização global de fertilizantes que contêm fosfato, nitrogênio e potássio aumentou 600% entre os anos de 1950 e 2000. Ele acrescenta que o crescimento populacional nos países em desenvolvimento e o aumento dos níveis de laticínios e da carne na dieta global são susceptíveis de aumentar ainda mais o uso de fertilizantes. “Embora existam quantidades comercialmente exploráveis de rocha fosfática em diversos países, aqueles que não têm reservas nacionais poderão estar particularmente vulneráveis no caso de insuficiências globais”, observa o Year Book . Mais pesquisas são necessárias para que se possa conhecer a forma como o fosfato se desloca pelo meio ambiente, a fim de maximizar a sua utilização na produção agrícola e pecuária e também reduzir o desperdício e impactos ambientais, inclusive em rios e oceanos. O Year Book aponta para a enorme oportunidade da reciclagem de águas residuais: nas mega- cidades dos países em desenvolvimento, até 70% desta água - carregada de nutrientes e fertilizantes, como o fosfato - é despejada sem tratamento em rios e zonas costeiras. Outras medidas para reduzir as liberações incluem a redução da erosão e da perda da camada superior da terra onde grandes quantidades de fosfato estão associadas com as partículas do solo e com fertilizantes em excesso que são armazenados após a aplicação. As medidas de gestão da terra incluem a aração em contornos; o plantio em curva de nível de cercas-vivas em encostas íngremes, a aplicação de mulch e a plantação de culturas de cobertura e outra vegetações no solo. Aumentar as taxas de reciclagem em minas de fosfato também poderia ajudar na conservação dos recursos e reduzir as descargas de sistemas de água local.
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A segunda questão emergente destacada no Year Book 2011 é quanto à necessidade da intensificação das pesquisas sobre o impacto dos plásticos que estão chegando aos oceanos. Os cientistas estão se preocupando não somente com o dano direto à vida selvagem, mas quanto à toxicidade potencial de alguns tipos de materiais chamados de micro plásticos. Estes micro-plásticos são pequenos pedaços com dimensão inferior a cinco milímetros que são descartados como pellets pelas indústrias, ou que se formam como resultado de pedaços maiores de plástico que se partem, por exemplo, devido à ação das ondas ou pela luz do sol. A quantidade exata de plásticos, incluindo os micro-plásticos, que estão entrando ou se formando nos oceanos a partir das descargas terrígenas - mas também de embarcações e barcos de pesca- é desconhecida. O que se sabe é que o consumo per capita de plástico, da embalagem até as sacolas plásticas e da indústria até os bens de consumo, têm aumentado acentuadamente. Preocupações anteriores relacionadas ao plástico incluem danos e morte na vida selvagem por emaranhamento. Existe também uma preocupação quanto à vida selvagem se alimentar frequentemente de plásticos, pensando se tratar de alimento. Os albatrozes, por exemplo, podem confundir plástico vermelho com lulas, da mesma forma tartarugas podem achar que sacolas plásticas são águas vivas. Aves marinhas jovens de algumas espécies podem sofrer de má nutrição se elas se alimentarem de muito plástico, pensando estar ingerindo alimento. Mas, o Year Book levanta uma bandeira sobre uma nova preocupação designada de “substância persistentes, bioacumuláveis e tóxicas” associadas ao lixo marinho plástico. A pesquisa indica que pedaços pequenos ou minúsculos de plástico estão absorvendo e concentrando, a partir da água do mar e de sedimentos, uma ampla gama de produtos químicos que vão dos bifenilos policlorados (PCBs) até pesticidas DDT. “Muitos desses poluentes, incluindo os PCBs, causam efeitos crônicos como a desregulação endócrina, mutagenicidade e
carcinogenicidade”, relata o Year Book. Espécies como o espadarte e as focas que estão no topo da cadeia alimentar - são citadas como potencialmente vulneráveis. Estas espécies são também consumidas pelos seres humanos. O Year Book registra uma série de iniciativas novas e já existentes, linhas de orientação e leis que visam à redução das descargas de plásticos e outros tipos de lixos. Elas vão desde a Convenção Internacional para Prevenção da Poluição por Navios das Nações Unidas até o Programa Global de Ação para a Proteção do Ambiente Marinho das Atividades Baseadas em Terra do UNEP. O Year Book apela para uma melhor aplicação de tais regras, para a conscientização do consumidor, para mudanças comportamentais e também para um melhor suporte às iniciativas nacionais e comunitárias. Há ainda uma necessidade urgente de um melhor e mais inovador sistema de monitoramente de plásticos em todo o ambiente marinho, dado que ainda há lacunas reais quanto ao destino final destes materiais. Há evidências de que alguns plásticos não estão flutuando, mas sim afundando e se acumulando no fundo do mar. “Lixo plástico tem sido observado no fundo do oceano a profundidades que vão do Estreito de Fram, no Atlântico Norte, até os cânions de águas profundas ao largo da costa do Mediterrâneo - acredita-se que a maior parte do plástico existente no Mar do Norte resida no fundo do mar”, diz o Year Book. Ele também apela para a introdução progressiva de mudanças na coleta, reciclagem e reutilização de plásticos. “Se o plástico fosse tratado como um recurso valioso, ao invés de apenas um resíduo, todas as oportunidades para criar um valor secundário para o material ofereceriam incentivos econômicos para a coleta e reprocessamento”, ressalta o Year Book. (*) Tradução Global Garbage/Miriam Santini
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Geleiras
Derretimento dos mantos de gelo pode acelerar aumento nos níveis oceânicos Estudo desenvolvido pela NASA sugere que degelo na Antártida e Groenlândia pode ser maior contribuinte para avanço do nível do mar
Por Jéssica Lipinski, do Instituto CarbonoBrasil, com informações do The Independent e Science Daily
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derretimento dos mantos glaciais pode estar ocorrendo mais cedo e mais rápido do que se esperara, aponta um estudo desenvolvido pela NASA. De acordo com a pesquisa, o degelo dos mantos glaciais (regiões cobertas de gelo com área superior a 50 mil km2, que atualmente só ocorrem na Antártida e na Groenlândia) tem sido maior do que o de geleiras alpinas (áreas de gelo encontradas em regiões altas e montanhas) e que o de calotas polares (regiões de gelo com superfície inferior a 50 mil km2). Isso significa que o aumento no nível dos oceanos pode ocorrer muito mais rapidamente do que previam modelos anteriores. O estudo, realizado entre 1992 e 2009, revelou que quantidades enormes de gelo derretido estão vertendo para os oceanos. O diagnóstico mostrou níveis recordes de perda de massa de gelo a partir de 1992. Segundo a pesquisa, os mantos de gelo perderam cerca de 475 bilhões de toneladas por ano, enquanto a média da perda de geleiras e calotas foi de 402 bilhões de toneladas anuais. Só a perda ocorrida nos mantos é suficiente para aumentar em 1,3 milímetros por ano o nível do mar. Além disso, a pesquisa indicou que a cada ano, a perda da massa de gelo ocorrida nos mantos acontece em uma velocidade maior. Na Antártica, o acréscimo na quantidade de gelo perdida por ano é de 14,5 bilhões de toneladas por ano, enquanto na Groenlândia
A camada do gelo Ártico 0
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esse aumento é de 21,9 bilhões de toneladas. No total, a perda dos mantos aumenta em 36,3 bilhões de toneladas em relação ao ano anterior. Eric Rignot, do Laboratório de Motores a Reação da NASA em Pasadena e da Universidade da Califórnia em Irvine, afirmou: “que os mantos de gelo dominarão o futuro do aumento dos níveis do mar não é surpreendente – eles possuem muito mais massa de gelo que as geleiras alpinas. O que é surpreendente é que o aumento dessa contribuição pelos mantos de gelo já esteja acontecendo”. “Se essa tendência continuar, é provável que o nível do mar fique significativamente mais alto do que os níveis projetados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU em 2007. Nosso estudo ajuda a reduzir as incertezas nas projeções em curto prazo sobre o aumento do nível do mar”, acrescentou Rignot. A pesquisa realizada comparou duas técnicas de medição independentes. A primeira observa e compara dois tipos de dados: sons de eco, que medem a saída de gelo dos mantos, e o clima atmosférico regional, que quantifica o gelo que é adicionado aos mantos. A outra técnica utiliza oito anos de dados coletados pelos satélites da NASA, que rastreiam as mudanças ocorridas a cada minuto no campo gravitacional da Terra devido à distribuição de massa, incluindo o movimento do gelo. Ambas chegaram a resultados semelhantes sobre o derretimento dos mantos glaciais. Isabella Velicogna, do Laboratório de Motores a Reação da NASA, disse que “as duas técnicas são totalmente independentes, então é uma grande conquista que os resultados sejam parecidos. Isso demonstra um tremendo progresso que tem sido feito em estimar quanto de gelo os mantos glaciais estão ganhando e perdendo e em analisar a variação dos dados gravitacionais”. Os autores da pesquisa concluíram que, se as taxas de degelo dos mantos glaciais continuarem assim pelas próximas quatro décadas, a perda cumulativa pode elevar o nível do mar em 15 centímetros até 2050. Além disso, deve considerar-se ainda uma contribuição de oito centímetros pelo derretimento de geleiras e calotas, e de nove centímetros pela expansão térmica dos oceanos, totalizando um aumento que poderia alcançar 32 centímetros. A NASA declarou que “enquanto o estudo indica a potencial contribuição que os mantos de gelo podem ter o nível do mar no próximo século, os autores têm o cuidado de considerar que ainda há incertezas em estimar a futura aceleração na perda de gelo”. A pesquisa, da qual também participaram o Instituto para Pesquisa Marinha e Atmosférica, a Universidade Utrecht da Holanda e o Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica de Boulder, Colorado, será publicada no jornal Geophysical Research Letters.
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I m a g e m Foto: Ismar
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Água Sagrada
água está diretamente relacionada com a História da humanidade. E também com as religiões. Para os hindus o Rio Ganges é sagrado e para os católicos, judeus, evangélicos e outras religiões, o Rio Jordão também tem um fortíssimo significado. De acordo com os Evangelhos, João Batista desenvolveu a sua pregação nas proximidades do Jordão, onde Jesus foi batizado e não terá sido longe daí que decorreu o período das suas tentações. Está situado na Terra Santa, e ajuda a formar o Vale do Jordão, fronteira natural entre Israel e Jordânia. Jordão significa “aquele que desce” ou também “lugar onde se desce, ou bebedouro”. O Rio Jordão deságua no Mar Morto. O fotógrafo Ismar Ingber esteve no norte de Israel,
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Ingber/ Rio Jordão, Israel
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visitando a região do Rio Jordão, e fez este take espetacular. “Me chamou a atenção o colorido e inocência da pequena menina em cenário tão deslumbrante e místico”, conta Ismar. Hoje, muitos peregrinos – inclusive brasileiros – visitam a região para serem batizados nas águas sagradas do Jordão. A característica principal deste rio é o seu progressivo aumento da salinidade, à medida que avança para o Mar Morto. Quando chega ao seu curso final, está com 325 partes de salinidade, o que é 25% mais salino que os oceanos. Infelizmente, devido ao intenso uso de suas águas para consumo humano e para atividades agrícolas, o Rio Jordão teve sua vazão original reduzida em 90%. Além disso, os níveis de poluição são bastante elevados, especialmente após o Mar da Galileia.